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RELATÓRIOS DE PESQUISA EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO v.14, n. B3, p. 24-53. Artigo submetido 1/5/2014. Versão final recebida em 11/7/2014. Publicado em 16/7/2014. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE COWORKING SPACES Gustavo Barreto Universidade Federal Fluminense Fernando Toledo Ferraz Universidade Federal Fluminense Resumo Baseado na revisão bibliográfica sobre coworking spaces, o artigo contextualizará o fenômeno com outros, como home-office, economia colaborativa, e abordará o assunto através das principais questões apresentadas nos artigos que compõem a revisão. Os capítulos são sobre: valores dos coworking spaces e suas relações com alguns trabalhos; esforços para tipificação desses espaços; relação dos coworking spaces com outros fenômenos; a influência do ambiente nesses espaços; e oportunidades e ameaças no uso dos coworking spaces. Na conclusão, faz-se uma breve crítica aos trabalhos além de uma análise do fenômeno. Palavras-chave: coworking, coworking spaces, futuro do trabalho. Abstract Based on the literature review about coworking spaces, this paper will context this phenomenon with others, like home-office, collaborative economy and will approach the topic through the main issues presented in the papers that form the review. The chapters are about values of coworking spaces and its relationship with some works; efforts to typing these spaces; opportunities and threats in the use of the coworking spaces. At the conclusion, it has done a brief comment about the other works, besides an analysis of the phenomenon. Keywords: coworking, coworking spaces, future of work

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RELATÓRIOS DE PESQUISA EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO v.14, n. B3, p. 24-53.

Artigo submetido 1/5/2014. Versão final recebida em 11/7/2014. Publicado em 16/7/2014.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE COWORKING SPACES

Gustavo Barreto Universidade Federal Fluminense

Fernando Toledo Ferraz Universidade Federal Fluminense

Resumo

Baseado na revisão bibliográfica sobre coworking spaces, o artigo contextualizará o fenômeno com outros, como home-office, economia colaborativa, e abordará o assunto através das principais questões apresentadas nos artigos que compõem a revisão. Os capítulos são sobre: valores dos coworking spaces

e suas relações com alguns trabalhos; esforços para tipificação desses espaços; relação dos coworking

spaces com outros fenômenos; a influência do ambiente nesses espaços; e oportunidades e ameaças no uso dos coworking spaces. Na conclusão, faz-se uma breve crítica aos trabalhos além de uma análise do fenômeno.

Palavras-chave: coworking, coworking spaces, futuro do trabalho.

Abstract

Based on the literature review about coworking spaces, this paper will context this phenomenon with others, like home-office, collaborative economy and will approach the topic through the main issues presented in the papers that form the review. The chapters are about values of coworking spaces and its relationship with some works; efforts to typing these spaces; opportunities and threats in the use of the coworking spaces. At the conclusion, it has done a brief comment about the other works, besides an analysis of the phenomenon.

Keywords: coworking, coworking spaces, future of work

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1. Introdução

Existe uma relativa dificuldade em definir qual é a origem histórica dos coworking

spaces (JACKSON, 2013). Todavia, a hipótese mais aceita, e a que iremos utilizar neste trabalho, considera Brad Neuberg o criador desse estilo de trabalho como nós conhecemos.

Brad Neuberg é um programador de softwares que, em 2005, decidiu criar um espaço para trabalhar lado a lado com outros programadores. A ideia desse espaço surgiu quando ele estava discutindo sobre como unir aquilo que ele mais gostava entre o trabalho de freelancer, um espaço estruturado e o senso de comunidade (JACKSON, 2013).

Dessa forma, em 9 de agosto de 2005 foi aberto o primeiro coworking space. Ele foi instalado dento de um espaço coletivo feminista, o Spiral Muse em São Francisco na Califórnia e foi denominado por Brad Neuberg como “Coworking Group”.

Sobre a criação do primeiro coworking space no Spiral Muse, Neuberg em seu blog, escreveu o seguinte em 16/01/2014.

Àquela altura eu estava confuso porque eu tinha trabalhado sozinho e trabalhado em um emprego tradicional e estava triste porque não poderia combinar todas as coisas que eu gostaria ao mesmo tempo: a liberdade e

independência de trabalhar para mim mesmo com a estrutura e a comunidade de trabalhar com outros.

(NEUBERG, 2014, p.1, tradução nossa)

Naquela época, o espaço funcionava nos três dias da semana em que o centro de saúde e bem estar do Spiral Muse estava ocioso. Nesses dias, Brad e seus colegas saíam de suas casas e iam trabalhar lado-a-lado, mas mantinham o etos do espaço com atividades de saúde e ioga ocorrendo diariamente (JACKSON, 2013).

O passo seguinte dado por Brad Neuberg foi a criação do primeiro coworking space a trabalhar em esquema full time, ou seja, funcionando durante toda a semana e não apenas nos dias em que havia ociosidade de outra atividade, conforme o esquema no Spiral Muse. O Hat Factory foi esse espaço, criado também na cidade de São Francisco. Sobre a Hat Factory:

Em um determinado momento, aproximadamente um ano dentro do Spiral Muse, parecia que o espaço havia morrido, parecia que o coworking havia

morrido. Mas todas essas pessoas que pegaram a ideia e a refizeram, acabaram criando um novo espaço chamado Hat Factory.

(DULLROY, 2012, p.1, tradução nossa)

Brad Neuberg junto com Tara Hunt e Chris Messina, fundou um outro espaço, o Citzen Space, que está em funcionamento até hoje, diferentemente do Hat Factory. Também foram criados um Google Group e uma Wiki (coworking wiki) para discutir o assunto e ajudar a propagação do movimento, “como qualquer pensador de open source faria” (JACKSON, 2013, p.34, tradução nossa).

No Brasil, não há nenhuma referência acadêmica sobre qual foi o primeiro espaço de coworking criado no país. O Pto de Contato, de São Paulo se proclama como tal em seu site, que aponta 2008 como o ano em que coworking começou no Brasil. Também não foi encontrado até agora um levantamento de quantos espaços e quantas pessoas trabalham nesse esquema no Brasil. O mais próximo disso foi o mapa interativo, criado pelo portal Movebla, onde os espaços se cadastram e ficam marcados no mapa. Até o dia 09/02/2014, 103 espaços foram classificados dessa forma no mapa do Movebla (MOVEBLA, 2014). No mundo, segundo a terceira pesquisa mundial sobre Coworking Spaces feita pela Deskmag, existem 2072 espaços até 2012 (DESKMAG, 2012b).

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De forma objetiva, podemos definir coworking spaces como espaços onde são compartilhadas as facilidades de um escritório, como internet, impressora, fotocopiadora entre outros. Todavia essa definição não apreende toda a complexidade associada ao tema, principalmente no que tange ao tipo de relações existentes neles e o aprofundamento do entendimento desses espaços é um dos objetivos do presente trabalho. Tal complexidade é confirmada na afirmativa feita por Döring (2010) citada por Deijl (2013) em seu estudo.

Os benefícios imateriais dos coworking spaces, tais como transferência de conhecimento, trocas informais, a colaboração e a interação com outras

pessoas são para os usuários destes espaços não apenas um efeito colateral, mas a principal razão para utilizarem os coworking (spaces), em vez de

apenas ter um espaço flexível de trabalho.

(DÖRING, 2010 apud DEIJL 2013, p.4, tradução nossa)

Algumas das motivações encontradas por Neuberg para fundar o Coworking Group, estão relacionadas a limitações inerentes ao esquema de home-office, principalmente associadas à falta de convívio presencial com os colegas de trabalho. Leforestier (2009) cita em seu trabalho uma pesquisa feita com mais de 2000 entrevistados nos Estados Unidos, onde 79% tem medo da solidão associada ao esquema de home-office, sensação compartilhada por 50% dos funcionários públicos no país. A situação do isolamento causado pelo esquema de home-office gerou até um comentário sardônico dos funcionários da IBM, onde a sigla da empresa significaria “I’m By Myself” (eu estou sozinho, em tradução livre) (JOHNS; GRATTON, 2013)

As limitações dos esquemas de home-office para os funcionários ficam evidenciadas na conclusão do trabalho de Isabel da Costa (2007), onde a autora afirma:

Por fim, cabe notar que as falas dos entrevistados sugerem que, possivelmente, voltar ao espaço do escritório poderia provocar um efeito

libertador: liberar o espaço de casa (da privacidade, da intimidade, do descanso), liberar horas trabalhadas, liberar os indivíduos de pensar no

trabalho o dia todo.

(DA COSTA, 2007, p.123)

O isolamento dos funcionários também se tornou algo desvantajoso para as empresas: se antes o esquema de home-office significava uma transferência de gastos com aluguel de prédios, energia elétrica, água, entre outros, dela para os funcionários, agora a alta divisão do trabalho necessária a esse esquema, causou uma redução na colaboração; os encontros casuais que são fundamentais para a troca de ideias necessárias para a inovação, cessaram. E essa falta de comunicação poderia, no caso mais extremo e em longo prazo, causar a perda do conhecimento tácito/organizacional à medida que os funcionários mais antigos começassem a se aposentar. (JOHNS; GRATTON, 2013)

Dessa forma, era esperado que boa parte das pessoas que trabalham em coworking

spaces, às quais serão referidas pelo termo “coworker” de agora em diante nesse trabalho, fossem antigos trabalhadores do esquema de home-office. A segunda pesquisa anual sobre coworking feita pela Deskmag, aponta que 58% dos entrevistados, antes de ingressar em um coworking space, trabalhavam em esquema de home-office, enquanto apenas 22% trabalhavam em um escritório tradicional. (DESKMAG, 2012a)

É interessante a comparação entre o perfil médio do trabalhador do esquema de home-

office e o perfil médio do integrante de um coworking space. Gajendran e Harrison fizeram em 2007 um trabalho que compilou os resultados de 47 artigos sobre teletrabalho, principalmente

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associados a home-office. Sua amostra apontava o perfil do trabalhador do esquema de teletrabalho/home-office: gerente (31%), de vendas e marketing ou TI (57%), com idade média de 39 anos e homem (51%) (GAJENDRAN; HARRISON, 2007, p.1531).

Com relação ao coworker, 53% são freelancers, ou seja, trabalhadores autônomos e 14% são donos de empresas e possuem empregados; apenas 6% trabalham em empresas com mais de 100 funcionários (DESKMAG, 2012b). Em 2012, 62% dos coworkers eram homens, percentual semelhante ao dos trabalhadores de esquema home-office (DESKMAG, 2012b).

No Brasil, o portal Movebla fez pesquisa semelhante, com uma amostra de 321 entrevistados. Há uma ressalva a ser feita sobre essa amostra: 33,75% nunca usou um espaço de coworking, são apenas interessados pelo tema. Dos entrevistados, coworkers ou apenas interessados no assunto, 54,69 % são empreendedores e 17,50% são freelancers (COSTA, 2013) tendência oposta a apresentada pela pesquisa mundial.

Desde as criações de Brad Neuberg, os coworking spaces se propagaram de forma geométrica, na proporção de praticamente 100% ao ano. A figura 1 mostra a quantidade de coworking spaces por ano desde 2006. O número de 2012 era uma estimativa e foi corrigido com o valor efetivo do fechamento daquele ano: havia 2072 coworking spaces no final de 2012. (DESKMAG, 2012a)

Figura 1 – Quantidade de coworking spaces por ano

Um fator que ajuda a justificar a tendência de crescimento na quantidade de coworking

spaces é o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC): a maior oferta de conexão móvel à internet, seja via tecnologias de conexão celular de terceira geração

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(3G) ou das conexões de área local sem fio conhecidas popularmente como wi-fi, e a miniaturização dos dispositivos (notebooks, tablets, smartphones), oferece a mais pessoas a oportunidade de trabalhar em qualquer lugar, criando, contudo, um paradoxo, definido por Tony Bacigalupo no trabalho de Jackson (2013) como:

A ironia de poder trabalhar em qualquer lugar é que não existe nenhum lugar projetado para pessoas que podem trabalhar em qualquer lugar, então um movimento se formou em volta disso e esse movimento é o coworking

(JACKSON, 2013, p.34, tradução nossa)

A afirmativa de Tony Bacigalupo é corroborada pelo depoimento de Pat Ramsey, um dos donos do Cospace, apresentado no artigo de Spinuzzi (2012). Ele afirma que os trabalhadores independentes necessitam de uma casa base onde eles possam interagir, mas que esta não seja como um escritório full-time onde você vê as mesmas pessoas todos os dias. (SPINUZZI, 2012, p. 415)

Uma outra evidência da crescente relevância do tema é observada através do google trends. O google trends é um serviço que gera gráficos baseados na quantidade de vezes que um determinado termo é pesquisado no google.

Figura 2 – Google Trends sobre coworking spaces

Observa-se na figura 2, que o termo passa a ganhar relevância a partir de 2007. Tal cenário pode ser justificado pela grande crise econômica que eclodiu nesse período. A crise teve como uma de suas consequências o aumento da taxa de desemprego em diversos países. Nesse cenário, os coworking spaces surgiram como alternativa para criação de empregos para si e para outros. Ademais, a insegurança no trabalho foi mais um estímulo para que as pessoas adotassem o regime de trabalho autônomo. (JACKSON, 2013)

Uma outra característica dos coworking spaces que ajuda a explicar seu crescimento durante e após a crise, é o seu valor. Um aluguel da posição de trabalho em coworking space

custa, geralmente, menos do que o de um escritório corporativo, devido às economias de escala; nos coworking spaces há o uso compartilhado do espaço e das facilidades de um escritório (cafezinho, internet, impressora, fotocopiadora e em alguns casos até office boy).

Apesar da pequena participação de trabalhadores de grandes empresas nos coworking

spaces, igual a 6%, de acordo com a terceria pesquisa sobre coworking spaces (DESKMAG, 2012b), estas começam a observar o sucesso de iniciativas nesse formato e a promover iniciativas semelhantes. Um exemplo é o GRID70 localizado em Grand Rapids, nos Estados

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Unidos. Amway, Meijer, Wolwerine Worldwide e Steelcase dividem o espaço de 2600 m², distribuído em quatro andares. Cada empresa possui espaços próprios dentro do GRID70, mas há uma área aberta de 930 m² onde as empresas compartilham processos, descobertas e recursos como estagiários (JOHNS; GRATTON, 2013). John Malnor, um dos vice-presidentes da SteelCase justifica o investimento no GRID70 pelo seguinte argumento: “Nossa crença é de que misturar times criativos de diferentes áreas proliferará encontros de serendipidade que inspirarão inovação, novos produtos e novas formas de pensar”. (JOHNS; GRATTON, 2013, p.7, tradução nossa)

A questão da apropriação do modelo de coworking spaces por grandes companhias já consolidadas será aprofundada posteriormente no trabalho.

2. Valores dos Coworking Spaces (Coworking Wiki)

De acordo com a Coworking Wiki, existem cinco valores básicos associados a todos os coworking spaces. São eles: sustentabilidade, acessibilidade, openness, comunidade e colaboração. É importante ressaltar que a Coworking Wiki não funciona de forma reguladora, logo esses valores não são impostos de forma alguma a esses espaços.

2.1. Sustentabilidade

A sustentabilidade está associada ao tripé ecológico-financeiro-social. O compartilhamento de recursos existentes nos coworking spaces, além da redução no deslocamento casa-trabalho, já que os coworking spaces tendem a ser mais próximos de casa do que os escritórios tradicionais, os torna inerentemente sustentáveis do ponto de vista ecológico. (HILLMAN, 2011a)

Sobre o viés financeiro da sustentabilidade, Alex Hillman usa o exemplo do espaço que criou e administra, o Indy Hall, localizado na Filadélfia:

Olhamos para modelos com e sem fins lucrativos e determinamos que, para que pudéssemos persistir e nos tornar sustentáveis, ser uma empresa com

fins lucrativos seria uma forma de negócio mais eficiente. Mas com a condição de continuarmos sendo benevolentes e orientados sob a premissa de uma comunidade. Mais importante ainda, iríamos crescer de uma forma

que não seríamos dependentes de ninguém, exceto das pessoas que se beneficiariam dos recursos que teríamos disponíveis em nosso espaço.

(HILLMAN, 2011a, p.1, tradução nossa)

Sobre a parte social do tripé da sustentabilidade o mesmo Alex Hillman, diz o seguinte:

Este é um equilíbrio perfeito para nós, e continua sendo a forma como temos crescido ao longo de quase quatro anos. Enquanto nossos clientes

precisam de nós, nos mantemos sustentáveis e independentes. Quando eles já não precisarem de nós da forma como existimos hoje, ou nos

transformaremos no que eles precisam, ou o negócio acaba.

(HILLMAN, 2011a, p.1, tradução nossa)

Ainda com relação à componente social da sustentabilidade, Julia Ferguson, co-fundadora do Coworking Frederick em Maryland nos Estados Unidos, define que:

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[...], em um ambiente saudável, o balanço entre o que é dado e o que é recebido ocorrerá naturalmente entre os membros da comunidade. Mas, nós

curadores de coworking spaces, gerentes de comunidades, ou o que quer que nos chamemos, podemos estragar isto e devemos estar cientes dessa

possibilidade. Para nós, coworking é uma questão de propósito. O crescimento tem que ser balanceado. Cresça muito rápido, ou de forma

insustentável, e o sistema – a comunidade – irá acabar entrando em colapso. Se isso ocorre, não estaremos mais ‘cotrabalhando’ de uma forma comunal, colaborativa, com suporte, que é o significado do termo. Isso significa não

correr atrás para preencher os lugares vazios com pessoas aleatórias que querem wi-fi e uma posição de trabalho. Isso significa divulgar os nossos

valores de coworking e convidar pessoas a fazerem partes de nossa comunidade que as abraçará todos os dias.

(FERGUSON, 2013, p.1 tradução nossa)

2.2. Acessibilidade

A acessibilidade está associada ao fato de as pessoas que trabalham em um coworking

space estarem lá por decisão própria, o que difere das empresas tradicionais, onde a alocação espacial do colaborador é uma prerrogativa da empresa. A acessibilidade também existe no sentido oposto, ou seja, o coworker deixa de fazer parte do espaço no momento em que não sentir mais como parte da comunidade.

O coworking funciona como uma espécie de “cadinho” (vaso para fundição de metais), e possibilita que todos os extremos se encaixem por

conta própria. Quando as pessoas têm de lidar com outras pessoas diretamente – ao invés de possuírem gestores, mediadores ou recursos

humanos que resolvam seus problemas para elas – na maior parte das vezes as coisas, com o passar do tempo, se acertam sozinhas.

(HILLMAN, 2011b, p.1 tradução nossa)

2.3. Openness

O openness está ligado às chamadas iniciativas de open source, o que em português significa “fontes abertas”. Open source é um termo que se popularizou para descrição de softwares cujo código-fonte está disponível para o público. A transcrição dessa filosofia para um coworking space, passa por três conceitos, segundo Hillman (2011c): liberdade, forkability e interoperabilidade.

A liberdade está associada à escolha de trabalhar no ambiente em que o usuário preferir, sem ter que possuir ligação com nenhum espaço, como ocorre com o emprego tradicional. A própria escolha de trabalhar em um coworking space em vez de outra modalidade é um viés dessa liberdade.

Forkability é a capacidade de se utilizar o “código-fonte” e começar um novo projeto. Dentro dos coworking spaces, os “códigos-fonte” seriam os valores centrais, as lições aprendidas e as ideias executadas. (HILLMAN, 2011c) Os primeiros donos desses espaços, divulgaram seus valores, as ideias e as lições para que outras pessoas pudessem fazer parte do movimento e adaptá-lo de acordo com as suas necessidades. Brad Neuberg dizia, na época do Spiral Muse, quando iam visitar o espaço: “pegue essa ideia, roube-a e faça do seu jeito”. (NEUBERG, 2014, p.1 tradução nossa)

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A ideia do Forkability passa por encarar um coworking space como uma tela em branco, onde os participantes do espaço irão fazer o desenho, modelar aquele espaço de acordo com as suas individualidades.

Por fim, segundo Hillman (2011c), a interoperabilidade é o sentido oposto do conceito forkability. A ideia é: depois de absorver as ideias dos outros espaços na montagem de um novo espaço e de aproveitar as contribuições de todos que venham a trabalhar nele, há a retroalimentação da comunidade dos coworkings com novas lições, ideias e valores, para manter o ecossistema funcionando plenamente.

2.4. Comunidade

Esse valor está associado ao fomento das interações entre os membros de um coworking space sobre assuntos relacionados ou não ao trabalho através de eventos que promovam tal socialização, que poderá, em um segundo momento, desenvolver relações de confiança entre os membros do espaço.

A importância da confiança pode ser observada na pesquisa feita por Angel Kwiatkowski, dona do Cohere, um cowokring space em Fort Collins, nos Estados Unidos (KWIATKOWSKI, 2011). Ela fez um estudo com os membros do Cohere, perguntando como eles foram atraídos a ir para aquele espaço. A resposta mais óbvia seria através de anúncios na internet, pela facilidade de propagação da informação; mas essa parcela só correspondeu a 11%. Do total de entrevistados, 55% foi atraído por contato humano, ou seja, decidiu fazer parte do Cohere porque alguém falou com ele presencialmente sobre isso.

Segundo Kwiatkowski, a construção de uma comunidade passa pela construção relações de confiança e o estabelecimento de uma reputação. A melhor forma de propagar confiança e, consequentemente, construir uma comunidade é através da utilização de laços pré-existentes, como, por exemplo, indicação de um amigo após ele expor detalhadamente as características do espaço e dessa comunidade.

Segundo Hillman, o desenvolvimento das relações de confiança é facilitado pela ausência de características típicas do modelo tradicional de trabalho, como a política de escritório, as hierarquias, os planos de sucessão. (HILLMAN, 2011e)

É interessante citar algumas dimensões que o conceito de confiança possa apresentar. No seu trabalho, Spinuzzi (2012), observou nas entrevistas com os coworkers, diferentes dimensões do conceito de confiança. A primeira delas, seria a confiança de que os outros coworkers sejam bons parceiros para negócios; a segunda, reside em confiar que os outros coworkers não irão revelar os segredos de negócio sem que seja necessário qualquer acordo formal para a manutenção de sigilo; a última, seria a confiança em deixar seus pertences dentro do espaço e que eles não serão furtados.

Hillman (2011d) afirma que não é um coworking space que possui uma comunidade, mas uma comunidade que utiliza aquele espaço. O espaço somente possuirá sentido se as pessoas que nele estiverem formarem uma comunidade e o dono do espaço não pode se ver como dono da comunidade, mas sim como parte dela.

2.5. Colaboração

A colaboração é o passo seguinte à comunidade. Depois da construção das relações de confiança que sustentarão a comunidade, é mais fácil que as pessoas colaborem umas com as outras.

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Essa interação também é facilitada pelo ambiente de um coworking space que, conforme citado na parte relativa à comunidade, não possuí alguns dos vícios típicos do escritório tradicional, pautado na hierarquia. A ausência desses vícios cria nas pessoas uma tendência a se comunicarem mais vezes e de maneira casual, contrastando com o cenário do escritório tradicional, onde a comunicação é feita de forma mais formal, movida por necessidades pontuais e esse novo estilo de comunicação facilita a colaboração (HILLMAN, 2011e). E a colaboração é propagada através do exemplo. Os membros mais antigos, trabalham juntos com os outros e com o espaço, servindo de exemplo para os mais novos. Estes, por quererem estar em um ambiente colaborativo, apreendem o exemplo dos mais antigos, remodelam-no através de suas características e transformam-se em novos exemplos, num movimento que lembra o forkability da acessibilidade.

3. Relação entre alguns trabalhos e os valores da Coworking Wiki

À luz da definição dos cinco valores dos coworking spaces, resumida acima e fornecida pela Coworking Wiki, poderemos analisar como alguns trabalhos se articulam com as mesmas.

Em “The Strenght of Weak Cooperation” (AGUITON; CARDON, 2007), os autores apresentam o conceito de cooperação forte (strong cooperation) e cooperação fraca (weak

cooperation). A cooperação forte é bastante semelhante às definições dos valores de colaboração e comunidade presentes na coworking wiki. Segundo os autores, relações sociais comuns e modalidades de troca definidas, dão aos indivíduos a sensação de que eles pertencem a uma comunidade e compartilham uma visão comum; há uma relação comunitária entre as pessoas antes delas colaborarem.

Por outro lado, para apresentar o conceito de colaboração fraca, os autores utilizam o exemplo do ambiente da web 2.0, onde os usuários passaram a publicar conteúdo através de sites como Wikipedia, Youtube, blogs entre outros. Nesses casos, há várias questões relacionadas à individualidade, para a publicação de conteúdo: bloggers (pessoas que publicam em blogs) querem apresentar sua produção; usuários do Youtube e do Flickr querem publicar seus vídeos e fotos, respectivamente; usuários da Wikipedia querem escrever artigos sobre questões de seu próprio interesse.

Apesar das motivações individuais, todo esse material é uma forma de colaboração, já que o artigo publicado por um usuário na Wikipedia pode servir de base para uma pesquisa; um post no blog pode ser útil para outra pessoa obter uma informação urgente etc. Nesses exemplos, não há estabelecimento de relação, seja física ou virtual, entre as pessoas que estão colaborando e elas não compartilham dos mesmos objetivos.

A cooperação fraca ocorre a posteriori, pois, primeiramente, o conteúdo é publicado, para em um segundo momento alguém utilizá-lo e a colaboração se consumar. Isso é o oposto da cooperação forte, onde as pessoas compartilham de um mesmo objetivo e assim produzem o conteúdo.

Segundo Aguiton e Cardon (2007), dentro do espectro de cooperação, que vai da cooperação mais fraca até a mais forte, a partir dos conceitos acima definidos, a cooperação nos coworking spaces (assim como nos BarCamps) são consideradas mais fracas que os modelos tradicionais de colaboração empresarial, onde existiam equipes dedicadas à inovação, ou ainda, às comunidades de free-software, em que indivíduos colaboram remotamente para a construção de um projeto específico, como o Linux. Todavia, as cooperações nos coworking

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spaces são mais fortes que a típica da web 2.0, já que requerem contatos face-a-face e maior comprometimento entre os envolvidos.

Podemos observar uma diferença sutil entre a forma que Aguiton e Cardon (2007) observam a colaboração dentro de um coworking space e a forma que ela é definida pela Coworking Wiki. Os primeiros consideram que a cooperação dentro de um coworking space

não é tão forte como nos modelos mais clássicos de cooperação já que não há um objetivo concreto de colaboração. Todavia, as definições de colaboração e comunidade da Coworking Wiki sugerem que a intenção de colaborar em si seja esse objetivo concreto da colaboração, isto é: dentro de um coworking space as relações de confiança criam a comunidade e, tendo esse sentimento de comunidade enraizado, a cooperação ocorre de forma natural e é um subproduto dessa visão comunal. Se na visão dos autores franceses a colaboração é casual, na visão da Coworking Wiki, as pessoas vão a esses espaços para colaborar através da serendipidade.

Para melhor compreendermos a influência da vontade em colaborar, podemos lançar mão de alguns resultados oriundos da terceira pesquisa feita pela Deskmag sobre os coworking

spaces (DESKMAG, 2012b). Foi perguntado se os entrevistados escolheram aquele espaço pois ele oferecia compartilhamento de conhecimento; 42% dos entrevistados afirmou que sim, ou seja, esse compartilhamento era um motivo que os fizeram adotar os coworking spaces.

Nessa mesma pesquisa, 36% dos entrevistados apontou a relevância das descobertas e oportunidades aleatórias geradas por este espaço e 12% considerou que a possibilidade de trabalhar em grupos foi um fator que os influenciou a frequentar esses espaços.

Na conclusão do artigo, Aguiton e Cardon (2007) citam uma tendência de longo prazo, da redução das comunidades de laços fortes, baseadas na cooperação forte, e aumento das comunidades de laço fraco, associadas à cooperação fraca, pois nas últimas a mobilização de mais recursos e à exposição a uma quantidade maior de ideias, é facilitada pela interação com maior número de pessoas. Todavia, aplicando essa visão ao caso dos coworking spaces, para aumentar a quantidade de indivíduos que frequentam esses espaços, dado que eles são limitados fisicamente, a primeira opção seria ampliar a rotatividade nele. Por seu turno, essa rotatividade minaria a colaboração e o senso de comunidade dentro desse espaço, já que estes passam por relações de confiança que precisam de tempo para ser construídas e contato para serem mantidas.

Uma solução para este dilema é a ampliação da comunidade de um coworking space

para além de seus limites físicos e indícios desse movimento já podem ser observados. É bastante comum ver nos sites desses espaços, blogs que publiquem conteúdo relacionado ao seu trabalho, como forma de estabelecimento dessa cooperação fraca. Também é recorrente a existência de espaços que possuem acordos de colaboração entre si, como o Coworking Luz e o Templo, ambos no Rio de Janeiro. A própria Coworking Wiki, o Coworking Group do Google Groups são formas de colaboração fraca, todavia, mais focadas no entendimento e no funcionamento desses espaços.

Outro trabalho notável sobre esses espaços foi realizado por Mark Bilandzic e Marcus Foth e chama-se “Libraries as Coworking Spaces” (BILANDZIC; FOTH, 2013). O título do trabalho é bastante transparente quanto ao objetivo da pesquisa: a utilização de bibliotecas como coworking spaces. É importante fazer uma ressalva quanto ao conceito de bibliotecas utilizado pelos pesquisadores. Tradicionalmente, o conceito de biblioteca nos remonta a um lugar onde vários livros estão disponíveis para leitura e estudo e onde conversas são indesejadas, para que se mantenha o silêncio tão característico desses ambientes. Todavia, o espaço utilizado nessa pesquisa, o The Edge, que faz parte da State Library of Queensland (SLQ – biblioteca estadual de Queensland) investe em lounges, salas de reunião e ambientes

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de convívio, quadros brancos, projetores, cafés e lanchonetes; se, no conceito tradicional de bibliotecas, o aprendizado é feito na relação entre indivíduo e livro, nesses espaços, há o estímulo ao aprendizado social. Iniciativa semelhante foi feita em Phoenix, nos Estados Unidos, no projeto chamado Hive. (CONJUNCTURED, 2014)

Entretanto, o perfil dos frequentadores observado pelos pesquisadores nas bibliotecas ainda está longe do adequado para o estabelecimento das relações comunitárias necessárias ao desenvolvimento de um coworking space. Os autores citam que 70% das pessoas que frequentavam o The Edge, utilizaram apenas a internet para acessar sites como Facebook e Youtube.

A metodologia do trabalho de Bilandzic e Foth (2013) reforça a questão da importância do perfil dos frequentadores. No trabalho, os autores criam cinco padrões de frequentadores do The Edge, a partir dos seus interesses, que eles chamam de personas. Em seguida, eles resumem os interesses destes frequentadores em três grupos:

• Acessar as facilidades do espaço (internet, impressoras, softwares pagos); • Trabalhar nesse lugar, como um third place ou seja, um lugar que não é tão formal

quanto um escritório, mas sem as perturbações de uma casa, onde pode haver serendipidade;

• Um lugar onde aconteça a aprendizagem informal em workshops, palestras, exibições e similares.

Diferentemente de um coworking space tradicional, onde há uma coesão maior de objetivos, na biblioteca utilizada no exemplo, há uma heterogeneidade de interesses que pode dificultar a criação de uma comunidade mais sólida.

Na conclusão, os autores dizem que:

A observação dos usuários e entrevistas mostram que a aprendizagem social em uma biblioteca pública como essa não ocorre naturalmente. Percebe-se a

falta de facilidades que promovam diretamente ou indiretamente a aprendizagem entre desconhecidos criativos no espaço.

(BILANDZIC; FOTH, 2013, p.270, tradução nossa)

4. Esforços para tipificação dos Coworking Spaces

A partir da grande variedade de comportamentos e propósitos verificados nesses espaços, tanto por parte de quem frequenta, quanto por parte de quem é o dono ou curador, foram feitos alguns esforços acadêmicos no sentido da tipificação dos mesmos.

Antes de citá-los é interessante fazermos duas ressalvas no sentido de distinguir o conceito de coworking spaces de outros esquemas de trabalho.

É costumeiro que haja em alguns casos dificuldades para a diferenciação entre os conceitos de incubadoras de empresas e coworking spaces. O artigo de Leforestier (2009) faz uma distinção entre tais conceitos. Segundo a autora, as incubadoras não buscam fomentar relacionamentos sociais entre os membros; não há foco na parte colaborativa e informal do processo. Nos dois casos há a ideia da comunidade como uma cooperativa, todavia uma incubadora possui uma estrutura menos independente do que um coworking space

(LEFORESTIER, 2009), ou seja, Leforestier cosnidera que a comunidade dentro de uma incubadora estabelece-se dentro da dimensão formal e em um coworking space através das

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dimensões formais e informais. Heikkilä (2012), considera que uma incubadora (business

incubator, no texto) possui como alvo um pequeno grupo de pessoas e que ajudam o crescimento dos negócios, mas depois estimulam-nos a procurarem um novo espaço.

Também coworking spaces não devem ser confundidos com Business Centers, ou outros espaços que permitam trabalho flexível. A grande diferença, de acordo com Deijl (2013) é que nos coworking spaces existe uma ênfase na construção de uma comunidade, enquanto nos business centers e afins, de fato, os usuários mal sabem o que seus colegas fazem e a troca de conhecimento ocorre por mera coincidência, quando ocorre.

O primeiro dos trabalhos a tentar classificar os coworking spaces é o de Spinuzzi (2012) chamado “Working Alone Together”. Ele foi feito em nove coworking spaces da região metropolitana de Austin, nos Estados Unidos. Neles foram entrevistados, além dos donos desses espaços, 17 usuários dos mesmos. Spinuzzi frisa que os dados estão menos baseados em suas observações do que nas descrições que os usuários fizeram dos espaços e dos seus objetivos dentro dos mesmos.

A primeira parte das definições dos coworking spaces foi fundamentada nas observações dos donos. A partir destas, foram listadas três categorias.

A primeira delas, foi denominada “espaço de trabalho comunitário” (community work

spaces, no texto original). Estes espaços foram projetados para servir à comunidade com seus serviços como ioga, creche, massagem e, obviamente¸ coworking. Tais espaços prezam por limitar a interação entre usuários às áreas de convívio, possuindo políticas de silêncio dentro do escritório. As pessoas trabalham lado-a-lado, mas não com as outras. Tal definição está muito mais próxima do conceito de Business Center citado por Deijl (2013), do que de qualquer conceito de coworking space.

A segunda categoria refere-se aos chamados espaços de trabalho federativos (federated

work spaces, no texto original). São espaços que visam fomentar o relacionamento entre os colaboradores, todavia, há o estímulo para que essas relações atinjam níveis mais formais, com os associados firmando parceiras ou referenciando no mercado uns aos outros. Essas associações são as federações que dão nome a esta categoria. Há um viés mais empreendedor nesse tipo de espaço e eles têm por hábito a organização de eventos que atendam a determinados grupos como encontros sobre startups para os empreendedores tecnológicos, encontros de grupos que se interessam pelo wordpress entre outros. Sobre as federações, é interessante observar o seguinte comentário de um dos coworkers entrevistados: “Eu vejo-os interagir, eu vejo-os fazer contratos e entregar ou não entregar... Quer melhor entrevista do que essa”? (SPINUZZI, 2012, p.426, tradução nossa)

Por fim, temos a categoria denominada unoffice. Ela é relativa aos espaços que aspiram a recriar características dos escritórios, como a socialização entre os funcionários, cuja ausência é sentida por boa parte dos indivíduos que trabalham sozinhos, todavia sem possuir o foco dos espaços federativos na criação de relações formais. Nesses espaços eles podem encontrar com clientes e interagir com os outros coworkers, trocando ideias e obtendo feedbacks destes. Uma das características observadas nesses espaços é a maior diversidade de setores industriais no mesmo espaço, com relação aos espaços federativos. Eles podem empreender parcerias em níveis mais formais, mas, devido a esta diversidade, elas assumem o formato cliente-prestador, como para vender uma casa ou o comissionamento do design de interior de uma seção (SPINUZZI, 2012).

Do ponto de vista dos membros, exceto os donos, dos coworking spaces pesquisados, foram extraídas seis visões. Os entrevistados foram coworkers dos três espaços com maior número de membros. A primeira delas foi a do coworking space como uma alternativa para um escritório e muito semelhante a um; 15 dos 17 entrevistados analisaram o espaço dessa forma.

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A segunda visão é a do coworking space como um escritório mais barato que o aluguel de uma sala empresarial. Apesar da significativa diferença de preço citada pelo autor, apenas três entrevistados viam o seu coworking space dessa forma. A terceira é a visão desses espaços como um hub social, um local onde ideias possam ser discutidas. De acordo com outro entrevistado, os coworking spaces são locais que “combinam networking e trabalho em um ambiente relaxante onde o estresse não existe” (SPINUZZI, 2012, p.417, tradução nossa). Seis dos dezessete entrevistados citaram os coworking spaces como um lugar onde é possível discutir as suas ideias, enquanto nove citaram de alguma forma a componente social do espaço.

A quarta, é a visão do coworking space como um espaço para colaboração, onde seja possível a realização de projetos em parceria com outros membros. Dos três espaços cujos coworkers foram entrevistados, dois foram definidos pelos donos como um espaço de trabalho federativo, ou seja, espaços onde, em tese, devam ocorrer esse tipo de colaboração. Apenas cinco dos entrevistados citaram essa visão, e desses, quatro trabalhavam no único espaço que foi classificado pelos seus donos como unnofice.

A quinta visão é aquela onde os entrevistados observaram o espaço como um lugar onde existiam pessoas com interesses homogêneos ou onde existiam pessoas com interesses heterogêneos. Três entrevistados observaram o espaço como um local de pessoas semelhantes a eles enquanto outros três classificaram o espaço como um local onde havia uma grande heterogeneidade de ideias.

A última visão é a do coworking space como um local que separa a sua vida pessoal da sua vida profissional, algo que é um dos grandes limitantes do esquema home-office. Apenas dois entrevistados definiram isso como parte da ideia do coworking, apesar de que outros entrevistados citaram esse fato como um motivador, mas não como parte da definição.

No final do seu trabalho, Spinuzzi (2012) consolidou dois grupos de sistemas de atividades que existiriam dentro dos coworking spaces.

Os bons vizinhos, são aqueles grupos onde as pessoas trabalham em paralelo, isto é, com baixo número de parcerias formais entre os membros do espaço. Nesses espaços, os coworkers tendem a possuir clientes físicos, que necessitem visita-los, e, por isso, prezam pela existência de um clima mais profissional dentro desses ambientes e por amenidades que facilitem as interações com os clientes, como salas de reunião, serviço de cafezinho entre outros. Conforme vizinhos, estes coworkers estarão desconectados em suas vidas profissionais, mas compromissados em dividir e melhorar um espaço comunitário. Esta configuração pode ser representada no diagrama da figura 3.

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Figura 3 – Configuração “bons-vizinhos”

A segunda configuração foi chamada de “bons-parceiros” pelo autor. Nela, os trabalhadores independentes se conectam dentro do coworking space para solucionar um problema, ou seja, realizar um projeto. Esses problemas são os objetos de suas colaborações momentâneas, todavia, o objeto mais estável é a rede formada que facilita a formação rápida dessas instâncias de trabalho cooperativo (SPINUZZI, 2012). A figura 4 apresenta o exemplo de tal configuração.

Figura 4 – Configuração “bons-parceiros”

No exemplo descrito pela figura 4, podemos perceber a formação de uma equipe com uma unidade (que pode ser entendida como um membro ou uma microempresa) de

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desenvolvimento web¸ outra de otimização de mecanismos de busca, outra de serviços de web e outra de copywriting.

Ao contrário da configuração de bons-vizinhos, que preza por passar uma imagem para os clientes dos coworkers de profissionalismo, na configuração de bons-parceiros o enfoque é na criação de um ambiente que facilite a colaboração entre as diferentes unidades. Isso se reflete em ambientes mais descontraídos e menos formais.

Nessa configuração onde a ênfase está no trabalho colaborativo, o coworking space é o espaço onde são forjadas as conexões entre os membros nas suas vidas profissionais que se estendem para suas vidas pessoais.

Jackson (2013) em seu trabalho conceitua alguns espaços que “substituem os nossos escritórios, espaços que evoluíram e novos espaços que emergiram onde nós nos achamos trabalhando” (JACKSON 2013, p.7, tradução nossa). Destes, os mais pertinentes à nossa pesquisa são:

Laboratórios universitários (university labs): espaços onde estudantes de diversos cursos reúnem-se para solucionar problemas, realizar brainstormings e criar as futuras startups e ideias disruptivas. A autora cita como exemplo iniciativas como o The Harvard iLab e o MIT CoLab.

Cafeterias Evoluídas (coffee shops +): Muitos dos coworkers antes de ingressar nesses espaços, estavam acostumados a trabalhar em cafeterias, utilizando-se das conexões de internet sem fio disponíveis. A grande limitação desses espaços é o fato deles não terem sido projetados para o trabalho, logo há muita conversa e as mesas não são ergonomicamente adequadas. Nas cafeterias evoluídas, há um clima mais comunitário, mobiliário mais funcional para o trabalho, maior quantidade de tomadas e conexões de internet mais rápidas.

The Jelly (a geleia): São eventos onde pessoas encontram-se em cafeterias ou nas casas dos organizadores, para discutir ideias e trabalhar juntos. Uma jelly pode ser o embrião de um coworking space, já que, conforme dito por Hillman (2011d) o coworking space é o espaço de uma comunidade e não o contrário; esses eventos podem ser os catalizadores da formação dessa comunidade.

Coworking Lab: São espaços promovidos por grandes corporações que permitem que seus clientes trabalhem neles de forma a observar seus padrões de consumo e desenvolver novos serviços para os seus mercados. O Google Campus em Londres e os ING Direct Cafes são exemplos desta modalidade.

Na página inicial do site do Google Campus (GOOGLE, 2014) o espaço é definido como:

[...]um co-working space no coração de East London Tech City que foi criado pelo Google para oferecer às startups as ferramentas de que elas precisam para serem bem sucedidas. Pense em sete andares de espaços

flexíveis de trabalho, internet de alta velocidade de graça e suporte para fomentar suas ideias, desde programas de mentoring até eventos de

networking e muito mais. Se você está em uma startup baseada em Londres ou passando pela cidade, Campus é o lugar para você.

(GOOGLE, 2014, p.1, tradução nossa)

A definição dada no site do Google Campus retoma bastante à ideia de uma incubadora de empresas, todavia, no início do capítulo, diferenciamos incubadoras de coworking spaces.

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Na página dos ING Direct Cafes do Canadá, (ING DIRECT, 2014), há a seguinte mensagem: “[...] aprender sobre dinheiro não deve ser complicado. Na verdade, nós achamos que isso pode ser tão fácil como desfrutar de um copo de café com os amigos”. (ING DIRECT, 2014, p.1, tradução nossa). Os ING Direct Cafes são utilizados para também solucionar dúvidas de clientes sobre aplicações financeiras e permitir que a ING observe os padrões de consumo de seus clientes

O Capital One, banco concorrente do ING, fez um projeto semelhante, chamado Capital One 360 Café. No site do projeto (CAPITAL ONE, 2014) esses espaços são definidos como:

[...]um espaço comunitário único onde você pode aprender novas formas de economizar tempo e dinheiro enquanto usa wi-fi grátis e desfruta de um

bom copo de café. Então visite-nos e conheça nossos associados e parceiros que poupam dinheiro.

(CAPITAL ONE, 2014, p.1, tradução nossa)

Uma iniciativa bastante interessante, para melhor entendimento do sentido da experiência de um coworking space foi feito pelo Hub Melbourne (CASHMAN, 2012). A ideia era gerar através da interação com os próprios membros do espaço um conjunto de valores que refletisse o que era o espaço. Para tal, foram feitas entrevistas presenciais e comentários nos encontros do Hub aspirando ao estabelecimento de um etos, baseado num diagrama onde as palavras que aparecem em tamanho maior são as mais citadas.

Bilandzic e Foth (2013) citam em seu trabalho os conceitos de encontros de alta intensidade e de baixa intensidade, cunhado por Audunson (AUDUNSON, 2005 apud BILANDZIC; FOTH, 2013). Encontros de baixa intensidade, são aqueles em que os indivíduos estão expostos a outros com características heterogêneas a eles. Essa heterogeneidade está, por sua vez, associada aos diferentes valores, crenças e interesses. Os encontros de alta intensidade são aqueles onde as pessoas estão lá justamente por compartilhar interesses, como algum hobby, ou por fazerem parte de alguma subcultura.

O fato de um encontro ser de alta ou baixa intensidade varia de indivíduo para indivíduo que faça parte dele. Se um fotógrafo comparecer a um encontro onde sejam discutidas novas técnicas de fotografia, equipamentos, flashes entre outros, esse será um encontro de alta-intensidade para ele. Caso o mesmo fotógrafo, vá a um encontro com um grupo de robótica, e ele sabendo pouco acerca do assunto, esse será um encontro de baixa intensidade para ele, todavia, será de alta intensidade para quem já faz parte do grupo e tem conhecimentos mais avançados em robótica.

Nesses dois tipos de encontros há a possibilidade de aprendizagem. Nos encontros de baixa-intensidade, o aprendizado ocorre como um subproduto da sociabilização, já que o próprio fato de estar exposto a novos conhecimentos é uma forma de adquirir novos conhecimentos. Nos encontros de alta intensidade, o indivíduo aproveita-se do encontro para preencher lacunas de conhecimento que existam na área que une as pessoas naquele encontro, como o fotógrafo que resolve uma dúvida sobre qual tipo de flash é mais adequado para um casamento diurno ao ar livre.

A partir dos conceitos citados acima, podemos inferir que, dentro dos espaços federativos citados por Spinuzzi, onde a ideia é que os coworkers possam ser parceiros em projetos, a aprendizagem vá seguir o modelo dos encontros de alta-intensidade. Isso pode ser confirmado pelo seguinte comentário de um coworker de um espaço federativo: “Eu me sinto confortável a ponto de quando eu tenho questões difíceis, eu posso perguntar às pessoas que estão ao meu lado”. (SPINUZZI, 2012, p.426, tradução nossa)

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Nos espaços classificados por Spinuzzi, como unoffice, a aprendizagem pode seguir os dois modelos. A aprendizagem de baixa intensidade, ocorre devido à diversidade de profissionais. Um coworker entrevistado por Spinuzzi, disse que: “Você pode ter uma ideia melhor do que as pessoas pensam fora do setor em que você trabalha”. (SPINUZZI, 2012, p.418, tradução nossa)

Por outro lado, nos unoffices também pode haver a aprendizagem de alta-intensidade. Nestes casos, o assunto em comum não é o setor industrial de cada um deles, como tecnologia ou indústria criativa, mas os conhecimentos de negócios, transversais a essas áreas. Um entrevistado disse que pretende aprender melhor sobre planilhas e confecção de orçamentos (SPINUZZI, 2012).

5. Contextualização dos Coworking Spaces e sua relação com outros fenômenos.

Para que possamos entender quais são as ameaças e oportunidades associadas ao futuro dos coworking spaces é interessante primeiramente contextualizarmos o fenômeno. Certamente a expansão desses espaços foi facilitada pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC), que, da mesma forma que influenciou a expansão do home

office e tornou mais fácil o trabalho móvel, longe da sede da empresa ou do cliente do funcionário. Todavia, tanto o home office, quanto os coworking spaces não podem ser tomados apenas pelo determinismo tecnológico. Isabel da Costa em seu trabalho (DA COSTA, 2007), apresenta a abordagem de Gerstel sobre o teletrabalho: “(o) teletrabalho pode não ser tanto um capítulo na história da tecnologia, quanto um capítulo na história das ideologias e estratégias gerenciais visando o controle e o uso eficiente do trabalho”.(GERSTEL, 2000 apud DA COSTA, 2007, p.106)

A justificativa do controle gerencial citada por da Costa (2007) pode não ser aplicável para justificar a expansão dos coworking spaces, dado que a maioria dos seus usuários são freelancers ou empreendedores. Todavia, outros fatores não-tecnológicos explicam o desenvolvimento desse movimento.

Os coworking spaces tiveram seu desenvolvimento impulsionado também pela web 2.0. Leforestier (2009) explica que, a partir da cultura freelancer da web 2.0 foram construídas comunidades que tomaram formas dentro desses espaços. Sobre esta relação, a autora cita definição do artigo de Brad Reed que afirma: “O coworking é um exemplo de que as relações online podem ser traduzidas em interações face-a-face”. (LEFORESTIER, 2009, p.6, tradução nossa)

Outro trabalho que relaciona as ideias da web 2.0 com os coworking spaces é o de Aguiton e Cardon (2007). Os autores relacionam ainda os dois temas com os chamados BarCamps. Segundo eles, a inovação antes da web 2.0 era baseada em dois modelos, denominados modelo corporativo e modelo free-software. O primeiro dava espaço para pequenas companhias, ou até empreendedores individuais, ocuparem alguns nichos tecnológicos, de tempos em tempos, saltando com uma tecnologia diferenciada como os algoritmos de ranqueamento da Google; o segundo era baseado na cooperação remota de diversos desenvolvedores, como o caso do Linux.

A cooperação na web 2.0 segue um modelo mais horizontal. Nele as pessoas conseguem cooperar a posteriori, sem estarem engajadas em um mesmo objetivo. Por exemplo, uma pessoa pode fazer um post em um blog sobre como resolver um determinado problema de programação, simplesmente por gostar de um assunto, mas um outro indivíduo pode utilizar essa informação para resolver este problema que é crucial para seu projeto. O fato de, na web 2.0, todos poderem produzir conteúdo possibilita esse tipo de situação; os papeis de quem ajuda e de quem é ajudado são trocados continuamente.

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Os autores ainda citam duas outras características que ilustram o modelo de cooperação da web 2.0: a primeira delas é o fato das aplicações da web 2.0 estarem entre o modelo fechado dos softwares patenteados e o modelo dos free-softwares; a segunda é uma nova ligação entre os usuários dos serviços e a cultura free-software. Antes os desenvolvedores concentravam seus esforços no desenvolvimento de aplicações de nível mais baixo, de entendimento mais complexo para os usuários comuns, para que estes pudessem trabalhar sobre elas e que são base para que as aplicações de mais alto nível operem. Na web 2.0 o enfoque foi justamente para as aplicações de alto nível que podem ser utilizadas e até editadas por usuários comuns sem tantos conhecimentos sobre programação como economistas, sociólogos entre outros.

O estilo de cooperação da web 2.0 é a base dos BarCamps, que podem ser definidos como conferências virtuais (geralmente através de vídeos em tempo real transmitidos pela internet) onde qualquer pessoa pode participar e todos tem o direito de falar de suas ideias, ou seja, todos são palestrantes e todos são plateia. Apesar da existência de organizadores, o conteúdo dos encontros vem dos participantes que constroem o evento numa abordagem bottom-up auto-organizada (AGUITON; CARDON, 2007). Quem vai a um BarCamp não sabe o que irá lá descobrir, mas sabe que terá uma chance de apresentar as suas ideias, de aprender novas coisas e de ganhar novos contatos e atualizar antigos. Estas características são semelhantes àquelas associadas à web 2.0 (AGUITON; CARDON, 2007).

Aguiton e Cardon (2007), classificam os coworking spaces como espaços permanentes e não temporários como os BarCamps, mas que objetivam também a essa cooperação horizontal. Os autores afirmam que em conversas com entusiastas dos coworking spaces estes classificam os espaços como um third place. Um coworking space não é uma mesa em um escritório, nem a casa da pessoa; é um tipo de espaço público onde qualquer indivíduo pode chegar quando quiser, com a garantia de desfrutar de alguma vida social e a chance de trocas úteis de conhecimento. São espaços de encontros casuais, assim como os BarCamps, encontros estes que fazem as fracas ligações necessárias para a colaboração fraca, cujo conceito foi apresentado anteriormente nesse trabalho, associada à web 2.0.

Jackson (2013), por sua vez, relaciona os coworking spaces ao consumo colaborativo. Segundo a autora:

Esse crescimento do coworking e dos coletivos e de outros novos espaços de trabalho, estão todos sob a grande bandeira e tendência corrente do

consumo colaborativo – porque comprar meu próprio escritório no atual clima (econômico) se eu posso compartilhar com outros um recurso que

todos nós necessitamos e posso efetivamente compartilhar uma nova facilidade de acesso. Mas essa tendência não parece que é só para o clima

econômico atual; nós estamos mudando nossos hábitos e retomando alguns valores básicos que tínhamos perdido um pouco nas nossas densas áreas

urbanas, onde a desconfiança não nos permitiu compartilhar e um histórico de propagandas comerciais nos encorajou a ter.

(JACKSON, 2013, p.39, tradução nossa)

Um dos valores centrais do consumo colaborativo é a confiança. Em serviços como o Airbnb, onde qualquer pessoa pode alugar um quarto de sua casa ou de seu sítio para viajantes, o índice de confiança de um determinado usuário é fundamental para que ele possa ser bem-sucedido. Segundo Rachel Botsman em seu TED talk citado na pesquisa de Jackson: “A reputação está se tornando uma moeda que será mais poderosa no século XXI que qualquer outra forma de crédito”. (BOTSMAN, 2012 apud JACKSON, 2013, p.39, tradução nossa)

Conforme citado na análise relativa aos cinco valores dos coworking spaces a confiança é fundamental na construção da comunidade o que mostra mais uma sinergia entre coworking spaces e consumo colaborativo.

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6. A influência do ambiente nos coworking spaces

Nas duas vezes que entrei em um coworking space o que me chamou a atenção era o ambiente, ou melhor, o quão diferente era este ambiente de trabalho; da arquitetura ao clima, era distinto do ambiente de um escritório tradicional.

Uma pesquisa citada no trabalho de Leforestier (2009) feita com 120 entrevistados, perguntou o grau de importância, numa escala de 0 a 5 de um conjunto de treze itens, para uma boa experiência dentro de um coworking space. O primeiro lugar, com nota 4,5 foi a atmosfera do espaço, o segundo lugar foi a sensação de comunidade, com 4,3 e o terceiro lugar com 4,1 foi o ambiente colaborativo. Essas características, fortemente ligadas ao sentido do ambiente e a fatores emocionais ficaram à frente de questões mais relacionadas às necessidades objetivas como localização (4,0), oportunidades de networking (3,9), espaços silenciosos (3.4), segurança (3.2), acesso 24 horas (3.1).

Em pesquisa publicada pelo portal Movebla (COSTA, 2013), foi perguntado quais fatores foram importantes para que o coworker escolhesse o espaço que frequenta atualmente. Dos três mais citados, dois eram relacionados ao sentido de ambiente e fatores emocionais: “uma atmosfera agradável” (citado por 68,6%) e “interação com outros coworkers” (citado por 59,3%). O fator mais citado foi “boa estrutura de escritório” com 75,6%.

Tais resultados podem ser justificados pela pesquisa de Liliana Marante (MARANTE, 2010). Ela aborda a teoria de sentido de comunidade que é baseada em quatro dimensões, a saber: pertença, influência, ligações emocionais e satisfação de necessidades. A pesquisadora, utiliza-se de outras teorias e, realiza uma pesquisa com 300 pessoas. A partir do tratamento estatístico dos resultados desta pesquisa, Marante define uma nova escala onde as três primeiras dimensões citadas anteriormente passam a serem englobadas dentro de uma nova dimensão chamada envolvimento.

A autora conclui que o significado que a comunidade tem para a pessoa, relacionado a dimensão do envolvimento, é mais importante que a satisfação das necessidades que ela encontra em seu seio. Transportando essa visão para os coworking spaces, poderíamos inferir que, para um coworker, mais importante do que satisfazer as necessidades de um ambiente de trabalho e encontrar parceiros profissionais, seriam as relações pessoais dentro daquele espaço. E foi exatamente isso o observado nas duas pesquisas supracitadas.

A questão do ambiente é recorrente em vários trabalhos sobre o assunto. Spinuzzi (2012) citou diversas vezes em seu trabalho as falas dos seus entrevistados, que consideravam o ambiente do espaço Link tinha com um caráter mais profissional o que facilitava o funcionamento dele no estilo good neighbours, onde havia a preconização das relações entre membros do espaço com seus clientes. Por seu turno, o ambiente do espaço Conjunctured, mais descontraído também tinha papel importante para que os membros do espaço pudessem colaborar mais em projetos uns com os outros, o que satisfaz a configuração good partners.

A influência do ambiente no trabalho e o seu funcionamento dentro dos coworking

spaces é o ponto central do trabalho de Marshall e Witman (2010). De acordo com os autores, nos ambientes tradicionais de trabalho, a colaboração é dificultada por um certo grau de ansiedade associada com a confusão entre linguagem, autoridade, direção e papéis (LADR – sigla em inglês). Isso inibe os comportamentos autônomos necessários para a criatividade, contrastando com os ambientes de coworking onde a colaboração ocorre de forma orgânica, criativa e com menos ansiedade pessoal.

Conforme apresentado pelos autores, algumas empresas recorrem a expedientes para estimular tal colaboração como workshops baseados em psicologia e jornadas de autoconhecimento. Todavia esses métodos podem ser de difícil compreensão por parte dos

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colaboradores, emocionalmente desgastantes e causar hesitação devido ao estigma associado à psicologia.

O artigo aponta a disciplina de humantics como a solução para o contorno desses problemas, que, por sua vez é definida como a ciência que governa colaborações sustentáveis. Humantics é vista como um estágio no desenvolvimento da psicologia e do design, que utiliza-se de uma abordagem de processo de projeto com pesquisa, análise, prototipagem e teste (MARSHALL; WITMAN, 2010). São feitas entrevistas, seus resultados são analisados e buscam-se padrões. Em seguida há um feedback com os participantes do grupo para validação da análise e para estimular a participação destes no processo de desenvolvimento do grupo.

Os pesquisadores desenvolveram ferramentas que, testadas em dois ambientes, mostraram-se bem sucedidas na missão de granjear a colaboração. Estas ferramentas foram, finalmente, arranjadas em um conjunto de forma a ajudar a solucionar esse tipo de problema em ambientes acadêmicos.

A influência do ambiente sobre os resultados de uma empresa e dos seus funcionários pode ser vista no exemplo citado por Johns e Gratton (2013). A Telus, uma provedora de serviços de telecomunicações, estima que apenas 30% dos seus funcionários trabalham regularmente nos escritórios. Dentro dos escritórios, as pessoas se agrupam não em função de sua área, mas sim em função de algum propósito. Por exemplo, pessoas que servem o mesmo cliente sentam-se juntas; os funcionários podem trabalhar em qualquer lugar do prédio em espaços compartilhados. A companhia reporta que a produtividade aumentou em 5% e atribui esse ganho a menor perda de tempo de trabalho e às melhores adjacências que os empregados criaram. Utilizando-se do exemplo do design espacial dos coworking spaces, a Telus criou um hub urbano em Toronto para acomodar os 70% dos trabalhadores que não trabalham nos escritórios e encorajá-los a se reconectar com seus colegas e à marca da companhia.

Entretanto ainda existem algumas limitações a serem trabalhadas para que o ambiente possa melhor funcionar no sentido de granjear a colaboração, dentro de um coworking space. Bilandzic e Foth (2013) concluem em seu artigo que ainda há uma dificuldade para que um usuário de um coworking space, no caso estudado por eles, uma biblioteca, encontre e aborde um outro usuário que possa ajuda-lo, devido a uma percebida ansiedade para abordar “estranhos”. Essa dificuldade de relacionamento, por seu turno, atrapalha a aprendizagem social.

Nesse sentido, os autores fazem a seguinte provocação: se em bibliotecas tradicionais existem catálogos que classificam os livros por áreas de interesse, data, autores, entre outros, porque não há algo semelhante em uma biblioteca mais moderna que descreva para os outros usuários as atividades, habilidades e interesses daqueles que frequentam o mesmo espaço?

Os próprios autores citam que mídia locativa, aplicativos móveis (os apps dos celulares) e a computação ubíqua podem ser formas de se iniciar interações reais entre pessoas que estejam fisicamente próximas. Essas tecnologias ultrapassam as barreiras espaciais e temporais no mundo real (BILANDZIC; FOTH, 2013). Um aplicativo baseado na localização pode prover informações sobre usuários próximos, bem como informar se tais usuários estão ou não dispostos a colaborar naquele determinado momento.

Eles citam quatro dimensões onde possam ser traçadas estratégias, com base na utilização dessas facilidades como as citadas no parágrafo acima, para quebrar as barreiras que atrapalham a comunicação entre os usuários da biblioteca. São elas

1) Usuários ou grupos de usuários que estão simultaneamente na biblioteca em encontros de alta intensidade;

2) Usuários que estão na biblioteca e usuários que estão realizando encontros de alta-intensidade fora da biblioteca, mas ao mesmo tempo;

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3) Usuários que estão na biblioteca e as atividades dos usuários que estiveram nela anteriormente;

4) Usuários da biblioteca que estejam em diferentes locais de encontros de alta intensidade e em momentos diferentes.

Isso está ilustrado na figura 5, onde os números estão relacionados às quatro dimensões.

Figura 5 – As dimensões espaço-temporais de Bilandzic e Foth

Todavia, algumas limitações devem ser levadas em conta e os autores citam duas. Diferentemente dos ambientes corporativos, as bibliotecas como ambientes públicos devem possuir configurações, regulamentos e limitações de privacidade mais fortes. E estes serviços devem ser socialmente inclusivos, ou seja, não podem excluir quem não possua certas ferramentas de tecnologia, como smartphones.

Para solucionar esses problemas, os mesmos autores em outro artigo (BILANDZIC; SCHROETER; FOTH, 2013) desenvolveram um sistema onde os usuários fariam um check-in virtual, que eles chamaram de Gelatine.

No gelatine, os usuários acessam um website onde podem atrelar ao seu perfil algumas palavras-chave, as chamadas tags que estarão relacionadas a seus interesses, habilidades, ou áreas nas quais querem aprender mais. Estas informações são, por sua vez, associadas aos cartões RFID de sócios que os usuários possuem. Os cartões são passados nos leitores RFID (checkin-points) distribuídos pelas entradas e outros espaços na biblioteca, de forma a confirmar que os usuários estão presentes no espaço. As tags dos usuários presentes no espaço são atualizadas em tempo real em duas telas presentes na biblioteca de forma que os presentes saibam quem está no espaço e quais interesses, habilidades e dúvidas os mesmos têm. Na figura 6 está o esquema ilustrativo do Gelatine.

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Figura 6 – Diagrama do Gelatine

As telas funcionam no sistema de tag clouds ou, em tradução livre, nuvens de etiquetas, que descrevem as habilidades e necessidades (um em cada tela) de quem está dentro do espaço. Na figura 7 está a imagem das duas telas.

Figura 7 – As telas do Gelatine

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Sistema semelhante a esse, opera dentro do Seats2Meet, um coworking space na Holanda (DEIJL, 2013). Os usuários fazem check-in através de seus telefones celulares e mencionam sobre que tipo de conhecimento eles podem compartilhar. Outros usuários podem ver essa lista de conhecimentos disponíveis, de forma semelhante à tela do gelatine.

Na conclusão, Bilandzic, Schroeter e Foth (2013) afirmam que, para que haja a colaboração, mais importante do que um sistema como o gelatine é a própria vontade do usuário em colaborar; o sistema apenas supriu as necessidades dos usuários que buscavam interagir com os outros. Os usuários que não tinham interesse em interagir com os outros, não mudaram de ideia após o gelatine.

7. Oportunidades e ameaças ao uso dos coworking spaces

Devido a toda a complexidade demonstrada nesse texto sobre os coworking spaces e a diversidade de motivações, de classificações e de usos, são várias as oportunidades para estes tipos de espaços. Portanto separaremos elas em conjuntos diferentes.

7.1. Para trabalhadores individuais.

Coworking spaces são mais baratos que escritórios alugados, permitem a socialização que não existe ao se trabalhar em casa, além de amenizar algumas limitações do esquema de home-office como a dificuldade para separar espaço/tempo vida pessoal e de trabalho. Permitem oportunidades de networking, seja em relações cliente/prestador de serviço como quando um empreendedor precisa de um advogado para lidar com os problemas burocráticos de sua empresa e, no mesmo espaço encontra este profissional, seja quando um programador precisa de um parceiro para desenvolver um projeto que lhe foi oferecido.

De Alves (2005) cita em seu trabalho a afirmação de Zarifian (ZARIFIAN, 2003 apud DE ALVES, 2005) de que a flexibilização das relações de trabalho torna os contratos de trabalho cada vez mais próximos do modelo de contratos comerciais, ou seja, é crescente a quantidade de relações patrão-empregado no modelo contratual empresa-empresa. Deijil (2013) também observa que as empresas estão preferindo terceirizar a contratar novos profissionais.

Um dado que corrobora o citado acima é a estimativa de que, até 2020, 40% da força de trabalho norte americana será composta por freelancers (NEUNER, 2013). E estes precisarão de um espaço de trabalho mais funcional que as suas próprias casas. Costa (2007) afirma que há uma tendência de desregulamentação dos contratos de trabalho, desde a década de 70. Segundo a autora:

Em um ambiente de competição econômica global, empresas e Estados focaram suas estratégias de ajuste competitivo no princípio de flexibilidade

e desregulamentação do trabalho e da redução dos gastos sociais. Em muitos países, estas políticas significaram o abandono das metas de pleno

emprego e o aumento dos regimes de emprego precários ou não-regulamentados [...]O desenvolvimento e a incorporação de equipamentos

automatizados e novos métodos de organização produtiva aceleraram o processo de racionalização assentado na desverticalização das empresas e

na emergência de sistemas de subcontratação de produtos e serviços

(COSTA, 2007, p.1)

Por outro lado esses espaços podem ser barulhentos, o que interfere na produtividade de algumas pessoas. Além disso, há o risco de, ao se discutir uma ideia na busca por feedback que esta seja roubada (LEFORESTIER, 2009).

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7.2. Desenvolvimento Econômico Regional

Deijl (2013) busca em seu trabalho analisar qual é a influência dos coworking spaces no desenvolvimento econômico dos países, através do prisma da teoria de crescimento econômico endógeno.

De acordo com os modelos de crescimento econômico endógenos, as mudanças nos níveis de conhecimento em um país, afetam o seu nível tecnológico. Os trabalhadores e o próprio capital tornam-se mais produtivos e isso eleva o nível do produto interno bruto (PIB). Por fim, maior crescimento econômico afeta os níveis de capital, educação e inovação e entra-se em um ciclo virtuoso. Então pode-se considerar que a formação de capital humano é um motor para o crescimento econômico infinito na sociedade do conhecimento.

Para aferir se os coworking spaces podem ser vistos através deste prisma, Deijl (2013) formulou quatro hipóteses a serem testadas.

• O coworking aumenta a troca de conhecimento entre empreendedores; • Empreendedores são mais produtivos em coworking spaces; • Coworking spaces aumentam a colaboração entre diferentes empreendedores e daí

surgem produtos ou projetos novos e inovadores; • Coworkers possuem renda maior que a média dos outros empreendedores.

Em suma, o coworking aumentaria a receita de quem o pratica, assim como, para o país, aumentaria o PIB. A figura 8 descreve o modelo.

Figura 8 – Esquema teórico de Deijl

A pesquisadora distribuiu questionários em nove desses espaços além de ter feito mais oito entrevistas a fim de validar seu modelo.

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As quatro hipóteses foram confirmadas, todavia algumas ressalvas foram feitas, destacando-se aquela associada ao fato dos rendimentos financeiros dos coworkers serem superiores ao de outros indivíduos que trabalham de forma autônoma. Segundo a autora, isso pode dever-se tanto à hipótese levantada por seu modelo, quanto pelo fato de que indivíduos que ganham mais tem a possibilidade de gastar algum dinheiro indo para um coworking space,

em vez de trabalhar em casa. Os resultados obtidos não podem ser observados de forma garantida em outros países, devido a fatores como as diferenças culturais, a importância do capital humano em regiões distintas e do quão tecnologicamente desenvolvido é o país ou a região. A produtividade e o nível de difusão do conhecimento foram avaliados de forma subjetiva, pelos próprios usuários. Para esta análise um experimento natural traria um resultado mais assertivo.

Todavia a autora sugere que os países devam testar os investimentos nesses tipos de espaço de forma a avaliarem os resultados obtidos.

Outro trabalho interessante para este propósito é o de Sallinger (2013). Nele, o autor comparou as políticas públicas de San Francisco e Nova Iorque para fomentar a indústria de tecnologia, através de incubadoras e coworking spaces.

Em San Francisco, a política foi baseada apenas em cortes de impostos. Apesar do baixo impacto orçamentário, que foi superado com o desenvolvimento do setor e consequente aumento na arrecadação de outros impostos, Sallinger adverte que deve se ter cuidado com o volume desses abonos. Ademais, ele sugere que o desenvolvimento dessa indústria na região deve-se mais a outros fatores como a existência de mão-de-obra qualificada, de empresas de venture capital, à cultura de empresas de tecnologia na região e, consequentemente, as empresas plataformas, que são grandes empresas cujos funcionários usam-se do que foi aprendido nelas para criar startups.

Nova Iorque também utilizou-se de cortes de impostos, mas sua política é mais progressista, dado que ela construiu algumas incubadoras e coworking spaces. Segundo Sallinger (2013), Nova Iorque esbarra em alguns problemas devido a sua falta de tradição no setor de tecnologia como a falta de profissionais especializados, principalmente engenheiros que acabam sendo absorvidos pelo mercado financeiro, e a falta das empresas plataformas. O autor acha válida a manutenção dos investimentos para fomentar esse setor, mas adverte que a prefeitura deveria objetivar também outros setores onde a cidade possui maior tradição como finanças, moda e até mesmo o cinema.

7.3. Oportunidades e ameaças ao uso dos coworking spaces para grandes empresas.

A participação de funcionários de grandes empresas dentro dos coworking spaces ainda é pequena. Segundo a terceira pesquisa sobre coworking feita pela Deskmag (DESKMAG, 2012b), apenas 6% dos coworkers eram funcionários de empresas com mais de 100 funcionários, enquanto 9% eram de empresas entre 6 e 100 funcionários.

Todavia, conforme citado no texto, diversas empresas já articulam formas de abrirem espaços próprios e aproveitar o desenvolvimento do movimento dos coworking spaces. Foi citado anteriormente no trabalho o exemplo do GRID70 que hospeda colaboradores de quatro empresas diferentes: Amway, Meijer, Wolwerine Worldwide e Steelcase.

A maioria destas iniciativas estão baseadas na ideia de permitir que funcionários próprios e funcionários não-próprios compartilhem esse espaço, como o Grid 70. Por um lado, conforme apresentado no trabalho de Deijl (2013) a troca de conhecimento é uma forma de aumentar a quantidade de conhecimento dentro da empresa o que gerará mais e melhores ideias que, por fim, resultarão em maiores lucros por parte das empresas.

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Entretanto, a troca de informações poderá fazer com que questões confidenciais vazem e, dependendo do teor da informação e de como a empresa vê esse tipo de vazamento, trariam efeitos deletérios ao negócio.

Uma alternativa para as empresas que temem o vazamento de segredos corporativos seria adotar algumas premissas dos coworking spaces para modernização de seus escritórios. A questão da acessibilidade é um exemplo: as empresas poderiam deixar a cargo de seus funcionários a escolha sobre qual sede trabalhar e pulverizá-las criando mais e menores escritórios de forma a vencer o problema do deslocamento casa-trabalho, agravado pela intensa imobilidade urbana vista nas grandes metrópoles brasileiras. Essa pulverização dos escritórios também seria uma alternativa para os gastos imobiliários, dado que as sedes das empresas geralmente estão nas áreas mais valorizadas das cidades e para os gastos com vale-transporte.

Somado a isso, as empresas também poderiam delegar aos funcionários a escolha do expediente de trabalho para que ele possa ter um melhor ajuste entre trabalho e vida pessoal. Tais facilidades poderiam ajudar na retenção de talentos por parte da companhia.

7.4. Para os Governos

Os países, estados e municípios também podem obter vantagens desses esquemas de trabalho. A primeira delas, já citada no item relativo ao desenvolvimento econômico regional seria o aumento no capital humano do país que se refletiria no aumento do produto interno bruto (PIB). A segunda delas tange à mobilidade urbana, um dos problemas centrais das metrópoles por todo o mundo, já que o natural é que as pessoas trabalhem em coworking

spaces próximos às suas casas. Dessa forma, menos deslocamentos seriam feitos e isso poderia reduzir a necessidade de investimentos em infraestrutura de transporte urbano como expansão do metrô e dos trens urbanos, criação de novas avenidas e manutenção de todos esses sistemas.

Ademais, uma sensação de bem-estar associado aos coworking spaces é relatada pelos seus colaboradores. Na figura 9 está um diagrama presente na terceira pesquisa anual sobre coworking spaces realizada pela Deskmag (DESKMAG, 2012b). Foi perguntado aos entrevistados qual adjetivo estava mais relacionado aos coworking spaces. Quanto maior a fonte no diagrama, mais vezes a palavra foi citada.

Figura 9 – Diagrama presente na terceira pesquisa sobre coworking spaces.

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A palavra mais citada foi fun, que em português significa diversão e friendly que significa amigável foi a segunda. Esse resultado demonstra que, mais do que os ganhos financeiros e de produtividade associados a esses espaços, há um ganho de saúde na vida dos coworkers. E esse ganho significa redução nos gastos públicos com saúde, principalmente em um momento onde as doenças associadas ao trabalho têm um papel cada vez mais destacado nas estatísticas gerais sobre saúde pública.

Uma terceira forma de ganho governamental com os coworking spaces está associada ao planejamento urbano. Uma das questões de pesquisa do trabalho de Salinger (2013) é: se as prefeituras alvejarem certas indústrias e geografias (através dos cowokring spaces e incubadoras) elas podem ajudar a revitalizar certas regiões e assegurar um mix de indústrias estável e diverso?

Para responder esse questionamento, ele usou o exemplo da estratégia de Nova Iorque. O exemplo mais emblemático é o do Sunshine Bronx Business Incubator, localizado no distrito do Bronx, um dos mais pobres da cidade. Segundo a autor, porém, essa estratégia pode não ter validade, dado que foi observado a existência de significativa parcela de utilizadores do espaço que não habitam aquela região.

8. Conclusão

A partir do apresentado nesse estudo, é nítida a complexidade associada ao tema coworking spaces. O tema possui grande multidisciplinaridade e engloba áreas como economia, sociologia, engenharia de produção, psicologia e arquitetura; ele cresce em relevância em função do aumento da quantidade desses espaços no mundo na taxa de quase 100% ao ano, em função do interesse de empresas e de governos nestes espaços, além do aumento de artigos acadêmicos escritos recentemente.

O assunto também levanta algumas provocações interessantes. Uma delas, presente no artigo de Deijl (2013) é a de que uma economia baseada na colaboração pode se desenvolver melhor do que uma economia baseada na competição, como tradicionalmente vemos no sistema capitalista.

Aguiton e Cardon (2007) faz uma provocação interessante ao final do seu trabalho. Os autores consideram que o desenvolvimento da web 2.0, bem como a expansão dos coworking

spaces representam a democratização nos acessos às redes de inovação, acesso este que era restrito às elites e às classes que ditavam as regras no processo de inovação.

A grande crítica a ser feita, de forma geral, aos trabalhos que exploram o assunto é a falta de esforço na investigação dos fatores que possam limitar ou ruir o movimento. O trabalho de Leforestier (2009) cita alguns pontos negativos e nos questionários de Heikillä (2013) são explorados os pontos negativos desses espaços. À exceção desses trabalhos, não há a busca para os pontos negativos, fundamentais para a tentativa de inferir como se desenvolverá o movimento de agora em diante.

Os coworking spaces estão baseados, de forma geral, em alguns valores que são pouco vistos em uma sociedade cada vez mais competitiva e individualista, como a comunidade e a confiança mútua. Conforme dito na seção 2.4 deste trabalho, a ausência de características do ambiente de trabalho tradicional, como a política de escritório, as hierarquias e os planos de sucessão, que acirram a competitividade, são facilitadoras para a construção de relações de confiança. E estas relações de confiança são os pilares sobre os quais serão desenvolvidas as comunidades.

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Todavia, na ótica da engenharia de produção, talvez a grande mudança desse esquema de trabalho com relação a outros é que ele é completamente baseado na visão bottom-up e não a visão top-down. Seja na fábrica de Taylor ou de Ohno, onde as mudanças organizacionais, as relações no trabalho e a ergonomia seguiam as orientações de seus tutores, dentro dos coworking spaces não há um indivíduo ou entidade, nem a nível global, nem a nível local que definam suas diretrizes.

A forma dos espaços, as facilidades neles disponíveis, os valores da comunidade e a escolha dos membros são escolhidos e construídos de acordo com o interesse da comunidade de forma direta ou indireta. Dificilmente um membro é convidado a se retirar de um espaço como esse; como a acessibilidade existe, se ele não se entrosar com a comunidade ele próprio tende a não querer mais fazer parte do espaço.

Essa abordagem bottom-up dá a flexibilidade e o dinamismo necessários para que esses espaços possam se adaptar às demandas dos seus membros e do mercado de forma a manterem-se funcionais por mais tempo.

Uma sugestão de estudo, seria a avaliação do potencial dos coworking spaces em causar economia de gastos com transporte público e na promoção de uma melhor mobilidade urbana, temas cruciais nas grandes metrópoles brasileiras.

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