Revisional de Juros - Tabela Price

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  • 7/29/2019 Revisional de Juros - Tabela Price

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    EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _______ VARA CVEL DACOMARCA DE ________________________.

    FULANO DE TAL,

    brasileira, casada, portadora do RG_______________________ e do CPF______________________, residente e domiciliada Rua__________________________________, nesta cidade de ____________________, porintermdio de seu procurador in fine assinado, vem com o devido respeito ante a presena deVossa Excelncia para interpor a presente

    Ao Revisional de Contrato de Financiamento

    Com pedido de antecipao de tutela

    em desfavor de

    BANCO XYZ, instituio financeira, inscrita no ____________________________,estabelecida rua ____________________________, nesta cidade de______________________________, na pessoa de seu representante legal, pelos

    fundamentos de fato e direito a seguir esposados:

    SNTESE DOS FATOS

    Em ___.___.2008 a requerente firmou contrato de financiamento junto ao Banco requerido,nXXXXXXXXXXXXXXXXXX, no valor de R$XXXXX a ser pago em XXXX parcelas de

    r$xxxxxxx. Deste contrato, como vem se transformando em praxe no Brasil, a autora norecebeu cpia alguma.

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    A autora vinha efetuando o pagamento das parcelas regularmente - 13 parcelas at omomento. Acreditando estar o valor do financiamento muito elevado, submeteu o seu contratoa uma anlise de perito financeiro-contbil que acabou por identificar que a instituio

    financeira utilizou a tabela price para clculo da amortizao das parcelas.

    No laudo elaborado, o perito demonstra que no contrato em comento houve a aplicao dosistema francs de amortizao, que utiliza-se de juros compostos (progresso geomtrica) oque resultou em uma parcela de R$ XXXXX quando na verdade o requerido deveria utilizar omtodo linear ponderado, com juros simples.

    No laudo anexo, verifica-se que a parcela do financiamento obtida atravs da aplicao dos

    juros simples (progresso aritmtica) seria de R$ ________________________ ficandomanifesta a cobrana de valores indevidos pela instituio financeira r, com flagrantelocupletamento sem causa.

    Constatando que estava pagando um valor de R$ ______ a mais do que deveria, a autora noviu alternativa a no ser procurar o Judicirio para rever o valor das parcelas referentes ao seucontrato de financiamento e reaver o que j pagou indevidamente requerida.

    E vale lembrar que a autora firmou o contrato padro que lhe foi apresentado, documento dedifcil interpretao para o homem comum, e a ele aderindo e submetendo, sendo de formaobtusa impedida de questionar a substncia de suas clusulas, o que vem se tornando praxenos contratos celebrados com instituies financeiras no Brasil.

    I DO DIREITO

    1. Da possibilidade de reviso dos contratos luz do CDC

    1.1. Breve escoro histrico

    De incio, cumpre verificar acerca da possibilidade de reviso judicial de contratos bancriosdiante do desequilbrio na relao contratual, tendo em considerao a idia de clusulaabusiva no momento de formao do contrato, a vantagem exagerada de uma das partes e aleso subjetiva (ou o chamado dolo de aproveitamento).

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    H que se analisar, primeiramente, se o princpio do pacta sunt servanda - queindubitavelmente vlido e necessrio deve ser encarado como princpio, ou se, ao contrrio,trata-se de dogma que no pode jamais ser colocado em questo. Para tanto, h que se fazeralguma digresso sobre a evoluo das idias sobre a teoria geral do contrato.

    Sabe-se que a teoria geral clssica do contrato tem sua origem nos sc. XVIII e XIX poca emque na filosofia vigorava o individualismo de base Kantiana; na economia explodia o liberalismoe na poltica desenvolviam-se as idias de abstencionismo, recomendando-se ao Estado queno se imiscusse nas atividades privadas e nas relaes negociais entre particulares.

    O reflexo dessas idias no direito contratual foi a consagrao do voluntarismo jurdico, ouseja, a construo jurdica no direito obrigacional voltou-se completamente para a autonomiada vontade e liberdade contratual.

    Nesse contexto, as normas jurdicas que disciplinam as relaes privadas individuais sopraticamente todas de carter dispositivo e supletivo, atuando elas apenas na falta deregulamentao em sentido contrrio pelas prprias partes interessadas.

    Como corolrio natural do princpio da liberdade contratual foi desenvolvido o princpio da foraobrigatria dos contratos (pacta sunt servanda), segundo o qual o contrato faz lei entre aspartes (conforme a conhecida frmula do "Code Napoleon").

    So caractersticas desse princpio a coercibilidade do que foi avenado e a irrevogabilidadeunilateral das clusulas contratuais. Somente o caso fortuito ou de fora maior pode liberar aparte contratante de cumprir a avena. Ao Judicirio restaria apenas o controle formal docontrato, sendo-lhe defesa a anlise das questes relativas justia contratual.

    Nesse sistema, fundado na mais ampla liberdade de contratar, no havia lugar para a questoda intrnseca igualdade, da justia substancial das operaes econmicas.

    Tal concepo jurdica (do voluntarismo contratual) atingiu seu apogeu no sculo passado, porinfluncia do Cdigo Civil francs, e entrou em franco declnio no sculo presente, diante daconstatao de que a igualdade entre as partes contratantes era apenas terica e formal,chocando-se com uma desigualdade material entre os indivduos. E quando as partes estodesigualadas materialmente, e se lhes concede liberdade para estabelecerem as clusulascontratuais, a inexorvel conseqncia a explorao da parte mais necessitada pela parteeconomicamente mais avantajada. O liberalismo contratual mostrou, assim, toda a suainsuficincia, diante da ausncia de uma efetiva vontade contratual. Havia necessidade de umafuno social do direito privado.

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    Uma nova realidade contratual se manifesta nos nossos dias, tornando necessria a vinculaoda teoria do contrato com a base econmica geral. Percebe-se nitidamente o surgimento doscontratos de massa, que so previamente definidos atravs de clusulas contratuais gerais,elaboradas por uma das partes contratantes e impostas aceitao da outra parte, quenormalmente no tem alternativa seno aceitar, em bloco, tais clusulas. A liberdade contratualtornou-se apenas um ideal - inexistente na prtica.

    O que se constata que a realidade diverge francamente do que havia outrora quando daconstruo da teoria geral do contrato. No se pode mais aplicar, de forma automtica emecnica, os ideais do voluntarismo jurdico e da obrigatoriedade do pacta sunt servanda.

    Hoje, continua-se reconhecendo a importncia fundamental do contrato, mas busca-seassegurar realmente o equilbrio contratual. Ampliam-se as conseqncias do princpio da boa-f, consagrado no 242 do BGB (Cdigo Civil Alemo) e acolhido pela doutrina obrigacional

    universalmente, o qual veio a ser expressamente albergado como princpio bsico do Cdigode Defesa do Consumidor ptrio (art. 4, inc. III, da Lei 8.078/90).

    Como conseqncia necessria desse movimento de idias, possibilita-se ao judicirio ocontrole da comutatividade contratual e no s das formas extrnsecas.

    Definido, assim, que possvel a reviso do contrato em vigor entre as partes, cumpre ver seh clusulas abusivas no mesmo.

    Na espcie em tela, no aceitvel, frente aos modernos postulados e evoluo do direito,invocar-se obedincia cega ao princpio pacta sunt servanda para subjugar a parte contratantemais fraca aos efeitos de clusulas que contm, realmente, onerosidade to excessiva quechega a desequilibrar o sinalgma do negcio jurdico.

    A presso econmica, ou a necessidade do dinheiro, de tal tamanho que a autora no teveescolha seno acolher a srie de clusulas de difcil entendimento, a ela impostas sem que lhe

    fosse dada a menor oportunidade de contestao.

    Por todas essas razes, a presente ao para possibilitar a reviso contratual, reduzindo-seos encargos ou os expungindo, evitando-se, assim, a onerosidade excessiva, para declarar oque pode e deve ser cobrado.

    1.2. Da aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor ao presente caso.

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    Todos os contratos celebrados a partir do advento da Lei n. 8.078, de 11.09.90, desde que serefiram s relaes de consumo, no podem passar ao largo de suas preceituaes, ainda quecelebrados sob a gide da lei civil comum. Neste ponto, vale frisar que os servios prestadospelas instituies financeiras aos seus clientes, dentre eles os contratos de concesso de

    crdito, devero ser regidos pelas normas do CDC, conforme j amplamente pacificado pelajurisprudncia. Nesse sentido:

    AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCRIO. CDIGO DEDEFESA DO CONSUMIDOR. INCIDNCIA. INVERSO DO NUS DA PROVA.

    1. Os servios prestados pelos bancos a seus clientes esto garantidos pela lei de defesa doconsumidor, em especial as cadernetas de poupana e os contratos tipicamente bancrios deconcesso de crdito, em suas diversas formas: mtuos em geral, financiamentos rural,comercial, industrial ou para exportao, contratos de cmbio, emprstimos para capital de

    giro, abertura de crdito em conta-corrente e abertura de crdito fixo, ou quaisquer outrasmodalidades do gnero (REsp n 106.888/PR, Segunda Seo, Relator o Ministro Cesar AsforRocha, DJ de 5/8/02).

    2. A hipossuficincia do autor foi aferida pelas instncias ordinrias atravs da anlise dascircunstncias do caso concreto, o que no foi alvo de ataque no momento oportuno.

    3. Agravo regimental desprovido.

    (AgRg no REsp 671.866/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,TERCEIRA TURMA, julgado em 22/02/2005, DJ 09/05/2005 p. 402)

    RECURSO ESPECIAL - AO REVISIONAL DE CONTRATO DE ABERTURA DE CRDITOEM CONTA-CORRENTE - APLICAO DO CDC AOS CONTRATOS BANCRIOS -INTELIGNCIA DO ENUNCIADO N. 297 DA SMULA/STJ - LIMITAO DOS JUROSREMUNERATRIOS - INADMISSIBILIDADE - CAPITALIZAO DE JUROS -POSSIBILIDADE, NA FORMA ANUAL - MULTA CONTRATUAL - AUSNCIA DEPREQUESTIONAMENTO - INCIDNCIA DO ENUNCIADO N. 211 DA SMULA/STJ - TAXAREFERENCIAL E MULTA "AD/EXC" - INEXISTNCIA DE PREVISO CONTRATUAL -REEXAME DE PROVAS - IMPOSSIBILIDADE - APLICAO DOS ENUNCIADOS NS. 5 E 7DA SMULA/STJ - REPETIO DO INDBITO - ADMISSIBILIDADE - PROVA DOPAGAMENTO EM ERRO - DESNECESSIDADE - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE

    PROVIDO.

    I - "O Cdigo de Defesa do Consumidor aplicvel s instituies financeiras" (enunciado n.297 da Smula/STJ);

    II - No incide a limitao dos juros a 12% ao ano, prevista no Decreto n. 22.626/33, salvohipteses legais especficas, tais como nas cdulas de crdito rural, industrial e comercial;

    III - Admite-se a capitalizao de juros em periodicidade no inferior anual nos contratosbancrios em geral, de acordo com a jurisprudncia anterior;

    IV - Para a repetio do indbito, nos contratos de abertura de crdito em conta-corrente, no

    se exige a prova do erro. (enunciado n. 322 da Smula/STJ);

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    V - Recurso Especial parcialmente provido.

    (REsp 1039052/PR, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em12/08/2008, DJe 03/09/2008)

    O posicionamento foi definitivamente firmado atravs da Smula 297 STJ, que preceitua: OCdigo de Defesa do Consumidor aplicvel s instituies financeiras:

    Smula: 297

    rgo Julgador: SEGUNDA SEO

    Data da Deciso: 12/05/2004

    Fonte: DJ DATA:09/09/2004 PG:00149

    RSTJ VOL.:00185 PG:00666

    Ementa

    O Cdigo de Defesa do Consumidor aplicvel s instituies financeiras.

    Referncias Legislativas: LEG:FED LEI:008078 ANO:1990

    CDC-90 CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

    ART:00003 PAR:00002

    Precedentes

    REsp 57974 RS 1994/0038615-0 DECISAO:25/04/1995

    DJ DATA:29/05/1995 PG:15524

    JTARS VOL.:00097 PG:00403

    REsp 106888 PR 1996/0056344-6 DECISAO:28/03/2001

    DJ DATA:05/08/2002 PG:00196

    RSTJ VOL.:00161 PG:00226

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    REsp 175795 RS 1998/0039197-5 DECISAO:09/03/1999

    DJ DATA:10/05/1999 PG:00171

    REsp 298369 RS 2000/0145758-6 DECISAO:26/06/2003

    DJ DATA:25/08/2003 PG:00296

    REsp 387805 RS 2001/0171862-8 DECISAO:27/06/2002

    DJ DATA:09/09/2002 PG:00226

    Desta feita, no resta dvida quanto aplicao do Cdigo de Defesa do consumidor aopresente caso, onde se questiona a aplicao de juros em contrato de financiamento firmadoentre a consumidora Nilza e a instituio financeira requerida.

    1.3. Da reviso do contrato de financiamento atravs das normas do CDC

    Depois das breves consideraes acima, cumpre-nos frisar que a possibilidade de reviso dasclusulas contratuais est inserida no contexto do Cdigo de Defesa do Consumidor, queconforme vimos aplicvel espcie:

    Art. 6 - So direitos bsicos do consumidor:

    (...)

    V - a modificao das clusulas contratuais que estabeleam prestaes desproporcionais ousua reviso em razo de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

    (...)

    VIII - a facilitao da defesa de seus direitos, inclusive com a inverso do nus da prova, a seufavor, no processo civil, quando, a critrio do juiz, for verossmil a alegao ou quando for elehipossuficiente, segundo as regras ordinrias de experincias;

    Uma vez sepultada a celeuma sobre a aplicao ou no do Cdigo de Defesa do Consumidor

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    aos contratos realizados entre as instituies financeiras e seus clientes-consumidores e apossibilidade de sua reviso nos termos do artigo 6, inciso V, passamos a elencar osdispositivos aplicveis ao presente caso, no escopo de proteger os direitos da autora,notadamente pisoteados pela requerida ao impor a aplicao do sistema francs deamortizao.

    Rezam os artigos 47 e 51 do Cdigo do Consumidor in verbis:

    Art. 47 - As clusulas contratuais sero interpretadas de maneira mais favorvel ao consumidor

    Art. 51 (in omissis)

    1 - Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

    (...)

    III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza econtedo do contrato, o interesse das partes e outras circunstncias peculiares ao caso.

    No caso em questo, a clusula contratual que estabelece a aplicao da Tabela Price, quederiva da aplicao de juros compostos, exagerada, pois gera o locupletamento sem causada instituio financeira.

    A previso de nulidade para esta espcie de clusula contratual tem uma razo de ser: maisdo que comum que as instituies financeiras, como o requerido, aproveitarem-se daansiedade e aflio a quem est com dificuldades financeiras ou ansiando por comprar um

    bem e impingirem ao contratante de financiamento uma srie de clusulas abusivas e semdestaque algum no texto, freqentemente estas clusulas sequer so lidas no momento daassinatura do contrato.

    por esta razo que o Cdigo de Defesa do Consumidor ao tratar dos contratos de adesoelucida que as clusulas que implicarem em limitao de direito do consumidor devero serredigidas com destaque, permitindo sua imediata e fcil compreenso, in verbis:

    Art. 54 - Contrato de adeso aquele cujas clusulas tenham sido aprovadas pela autoridadecompetente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou servios, sem

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    que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu contedo.

    (...).

    3 Os contratos de adeso escritos sero redigidos em termos claros e com caracteresostensivos e legveis, cujo tamanho da fonte no ser inferior ao corpo doze, de modo afacilitar sua compreenso pelo consumidor.

    4 - As clusulas que implicarem limitao de direito do consumidor devero ser redigidascom destaque, permitindo sua imediata e fcil compreenso.

    No presente caso, autora no foi dada nenhuma oportunidade de discutir o sistema deamortizao aplicado pelo banco, alis esta sequer recebeu uma cpia do contrato definanciamento. Apenas aps a contratao de um perito contbil, que com base no valor dofinanciamento, nmero de parcelas e valor da parcela imposta pelo banco requerido, a autorasoube da aplicao da Tabela Price e da onerosidade excessiva do contrato.

    De todo exposto, fundamentadamente, ante a possibilidade de reviso do contrato, nos termosdo artigo 6, V do CDC a fim de que se evite o locupletamento indevido do requerido,passaremos a relacionar as clusulas abusivas e irregularidades, nos termos do CDC,

    requerendo-se ao final o que de direito.

    1.4. Os Princpios Gerais do Direito Vedao ao locupletamento sem causa.

    Princpios Gerais de Direito so os princpios que decorrem do prprio fundamento dalegislao positiva, que, embora no se mostrando expressos, constituem os pressupostos

    lgicos necessrios das normas legislativas.

    considerado, em nosso ordenamento filosfico-jurdico, Princpio Geral de Direito, a vedaoao enriquecimento sem causa. O locupletamento ilcito pode ser definido pelo aumento nopatrimnio de algum, motivado pelo empobrecimento injusto de outrem.

    No presente caso, a aplicao do sistema francs de amortizao resultou no pagamento deum valor manifestamente superior ao realmente devido, se fosse aplicado o mtodo linear

    ponderado atravs de aplicao de juros simples (progresso aritmtica). Assim, configurado olocupletamento sem causa da instituio financeira requerida, que atravs do contrato de

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    adeso em comento, est exigindo valores indevidos por meio de aplicao da Tabela Price.

    2. Clausulas abusivas

    2.1 Da violao ao princpio da boa f e direito de informao

    No caso, houve antes de tudo a violao ao princpio da boa f objetiva pela instituiofinanceira requerida, vez que no atendeu norma implcita de conduta consistente eminformar previamente o consumidor sobre as conseqncias da contratao a prazo, pelosistema de amortizao de juros compostos.

    O princpio da boa f objetiva o fundamento jurdico do direito informao plena, inclusive

    sobre o preo que pago pelo produto/servio que se adquire.

    A boa-f norma de comportamento positivada nos artigos 4, inciso III, e 51, inciso IV, doCdigo de Defesa do Consumidor, que cria trs deveres principais: um de lealdade e dois decolaborao, que so, basicamente, o de bem informar o candidato a contratante sobre ocontedo do contrato e o de no abusar da outra parte.

    ANTONIO JUNQUEIRA DE AZEVEDO ensina:

    (...) a admisso da boa-f, no nosso ordenamento, no se limita, pois, ao microssistema dodireito do consumidor, mas a norma deve ser aplicada pela jurisprudncia, no seu papel deagente intermedirio entre a lei e o caso, a todo o direito (inclusive ao direito pblico). A boa-f

    objetiva , do ponto de vista do ordenamento, o que os franceses denominam notion-quadre,isto , uma clusula geral que permite ao julgador a realizao do justo concreto, sem deixarde aplicar a lei (Responsabilidade pr-contratual no Cdigo de Defesa do Consumidor: estudocomparativo com a responsabilidade pr-contratual no direito comum, in Revista de Direito doConsumidor n 18, abril/junho 1996).

    O banco requerido em momento algum alertou a autora sobre a aplicao da Tabela Price esuas conseqncias, e ainda, no forneceu cpia do contrato de financiamento, como deveria.O aludido comportamento da requerida contraria a boa-f objetiva, que um princpio geral dedireito incorporado ao ordenamento jurdico brasileiro por meio do artigo 4 da Lei de

    Introduo ao Cdigo Civil, assim como pelo artigo 4 - III, da Lei n 8.078/90 (Cdigo deDefesa do Consumidor).

    2.2 Breves consideraes sobre a Tabela Price

    Os juros podem ser fixados de forma linear ou composta. Juros lineares ou simples soaqueles resultantes da incidncia direta dos juros sobre o capital inicial. Juros compostos ouexponenciais so aqueles resultantes da incidncia dos juros sobre o capital inicial e sobre o

    valor dos juros acumulados no perodo. Assim:

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    Juros simples = progresso aritmtica

    Juros compostos = progresso geomtrica

    Como se sabe, Richard Price, filsofo e telogo ingls, criou o sistema de amortizao deemprstimos a partir da teoria dos juros compostos, sendo o sistema desenvolvido na Frana econsistente em amortizao da dvida em prestaes peridicas, iguais e sucessivas, sendo ovalor da prestao composto de duas parcelas, uma de juros e outra de capital, ou amortizaoefetiva.

    Dessa forma, a prestao calculada com base no sistema de amortizao francs ou TabelaPrice a resultante da composio de duas parcelas distintas:

    a parcela referente aos juros, obtida atravs da multiplicao da taxa de juros pelo saldodevedor existente no perodo imediatamente anterior; e

    a parcela referente ao capital, chamada de amortizao, resultante da diferena entre o valorda prestao e o valor da parcela de juros.

    A taxa de juros composta ou exponencial, pois resulta da sua incidncia sobre o capital iniciale sobre o valor dos juros acumulados no perodo anterior. Assim, o regime de capitalizaoadotado , consequentemente, o composto, quando a taxa de juros incide sobre o capital iniciale sobre os juros acumulados.

    Na dico de Luiz Antonio Scavone Junior:

    P

    ortanto, o que evidente, e qualquer profissional da rea sabe, at porque aprendeu nosbancos da faculdade, que a tabela price o sistema de amortizao que incorpora, porexcelncia, os juros compostos (juros sobre juros, juros capitalizados de forma composta oujuros exponenciais).

    Se incorpora juros capitalizados de forma composta, a tabela price abarca juros sobre juros e,portanto, absolutamente ilegal, a teor do que dispe o art. 4, do Decreto n 22.626/33(Smula 121 do STF), e isso parece que esses profissionais desconhecem (Obrigaes, Ed.

    Juarez de Oliveira, 2 ed., pg. 182).

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    Tambm Mrcio Mello Casado em estudo publicado na Revista de Direito do Consumidor (n29, pgs. 72 e segs.), afirma

    N

    o mbito do modelo Price, especificamente, a capitalizao dos juros se faz incontroversa ,reproduzindo, para tanto, a frmula adotada, para concluir, no ponto: "Incontroverso que ametodologia de clculo denominada mtodo Francs de Amortizao ou Tabela Price, acarretaa ilegal capitalizao de juros. At porque a matemtica uma cincia exata, onde no seadmitem diversas explicaes para o mesmo fenmeno. Assim, em havendo o elemento (1 +i)n na equao, h a presena de frmula que prestigia a contagem de juros sobre juros"

    A forma de capitalizao, neste caso, composta, pois os juros obtidos pela aplicao soincorporados mesma, passando os juros do perodo seguinte a incidir sobre o resultadodessa incorporao. A variao, assim, d-se sem sombra de dvida em progressogeomtrica.

    2.3 Ilegalidade da aplicao da Tabela Price

    A questo que est em tela a aplicao da Tabela Price ao sistema de amortizao dasprestaes, sob o ngulo da vedao da capitalizao.

    Capitalizao de juros compostos expresso equivalente a: capitalizao progressiva, juroscapitalizados, juros exponenciais e variao geomtrica de juros, entre outras.

    O sistema de amortizao pela Tabela Price parte do conceito de juros compostos, da

    decorrendo um plano de amortizao em prestaes peridicas e sucessivas, considerado otermo vencido. Com isso, a aplicao de juros sobre juros inerente ao prprio sistema!

    A este respeito, preceitua o artigo 4, do Decreto n 22.626, de 7 de abril de 1933: proibidocontar juros dos juros.

    Sobre o tema j se manifestou o Colendo Supremo Tribunal Federal, conforme consta daSmula n 121, in verbis:

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    vedada a capitalizao de juros, ainda que expressamente convencionada.

    ilegal, alm da fixao de juros que excede aos percentuais mximos fixados em lei, o

    anatocismo. Anatocismo a contagem de juros vencidos ao capital ou sobre outros jurosvencidos, nas relaes pecunirias. A lei probe, portanto, o acrscimo de juros ao capital, paracontabilizao de novos juros.

    Novamente invoca-se a pena de LACERDA DE ALMEIDA:

    O

    anatocismo a acumulao dos juros vencidos ao capital para por sua vez vencerem juros, oumelhor, a contagem de juros compostos. Proibidos no cvel, so-no igualmente proibidos no

    comercial, onde o art. 253 do Cdigo expressamente os condena, admitindo apenas aacumulao de juros no encerramento anual das contas correntes.

    O anatocismo absolutamente proibido, estipulado ou no .

    A taxa dos juros e o modo de cont-los depende de conveno das partes ou de determinaolegal. Isto, porm no obsta a que a obrigao de pagar juros esteja sujeita a certas restriesdestinadas a coibir freqentes abusos. Assim proibido o anatocismo, isto , o acumular os

    juros vencidos ao capital ou cont-los sobre os juros vencidos.

    No permitido ao credor deduzir antecipadamente os juros entregando ao devedor o capitaldesfalcado da respectiva importncia, salvo se o juro inferior taxa da lei, e unicamente deum ano; e quando faa o contrrio, pode o devedor descont-los no capital.

    Chegando a soma dos juros vencidos a igualar a quantia do capital, cessa o curso deles, atserem recebidos no todo ou em parte, se so moratrios; no assim, se so compensatrios,

    pois estes em regra extinguem-se pelo efetivo embolso da dvida.

    A resciso por leso enorme e o freio que cobe os possveis abusos, o corretivo querestabelece a igualdade nos contratos comutativos, e a ancora, o ponderador da justia nestaordem de relaes (Obrigaes, Rio, Revista dos Tribunais, 2a edio, 1916, p. 176, 179,180, 394 e 395).

    Segundo pacificado no STJ, a existncia, ou no, de capitalizao de juros decorrente do

    Sistema Francs de Amortizao - Tabela Price constitui questo de fato, insuscetvel deanlise na via do recurso especial. Nesse sentido:

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    PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SFH. CONTRATO DEFINANCIAMENTO HABITACIONAL. VIOLAO DO ART. 535, I, DO CPC. TESE REPELIDA.TABELA PRICE. CAPITALIZAO DE JUROS. MATRIA DE FATO.

    SMULA 7/STJ. DISPOSITIVOS LEGAIS APONTADOS COMO MALFERIDOS. SMULAS

    282 E 356/STF. ART. 23 DA LEI N 8.004/90. PAGAMENTOS EFETUADOS A MAIOR.COMPENSAO COM PRESTAES VENCIDAS E VINCENDAS DO FINANCIAMENTO.

    1. (...)

    3. Esta Corte consolidou o entendimento de que a existncia, ou no, de capitalizao de jurosdecorrente do Sistema Francs de Amortizao - Tabela Price constitui questo de fato,insuscetvel de anlise na via do recurso especial. Incidncia da Smula 7/STJ.

    7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, no-provido.

    (REsp 910.084/SC, Rel. Ministro JOS DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em

    03/05/2007, DJ 24/05/2007 p. 334)

    Assim, a matria dever ser decidida luz do entendimento pacificado no Tribunal de Justiade So Paulo, pelo que se passa a colecionar alguns julgados recentes importantes sobre aconturbada questo da ilegalidade ou no da aplicao da Tabela Price.

    Como ponto de partida para a tese ora defendida pela autora, partimos do julgado exarado naApelao n 7.258.861-1, Publicado Acrdo em 01/12/2008, da 14 Camara de Direito Privado

    do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, relatada pelo Des. MELO COLOMBI.

    'JUROS -CAPITALIZAO -SISTEMA FRANCS DE AMORTIZAO (TABELA PRICE) -Ilegalidade, por encerrar clculo exponencial (juros compostos) na obteno do valor daprestao Smula 121 do E. STF -Substituio do Sistema Francs de Amortizao pelomtodo de Gauss, com recalculo desde a origem do pacto -Revisional parcialmente procedente- Recurso provido em parte para esse fim " (Apelao n 7.258.861-1/ So Paulo, Des. MELOCOLOMBI)

    O V. Acrdo supra, sobre o tema, assim preleciona:

    "N

    o que tange adoo da Tabela Price, este Relator, aps longa reflexo sobre o tema, achoupor bem se curvar ao entendimento predominante na Turma Julgadora, no sentido dailegalidade da sua aplicao na obteno dos valores das parcelas, porquanto vislumbrada aincidncia de juros sobre juros.

    Com efeito, consoante restou consignado no julgamento da apelao 1.316.383-8:

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    '...em brilhante voto na Apelao n 921.350-3, o eminente Des. WALDIR DE SOUZA JOSbem esclareceu a questo, demonstrando que a capitalizao ocorre no momento em que utilizada a frmula R=Px[i(l +i)"]+[(l +i)" -1], porque " nesse momento que ocorre a utilizaode um critrio de juros compostos para obteno do valor da prestao.

    nesse instante que age o FATOR EXPONENCIAL, fazendo com que na equao dosnmeros que iro consubstanciar a frmula, ocorra a incidncia de juros sobre juros. O clculoque a equao da tabela Price encerra exponencial. Os juros crescem em progressogeomtrica. Em outras palavras: na tabela Price a capitalizao aperfeioa-se de uma nicavez (mas que desmembrada em tantas vezes forem as prestaes), porque no momentoem que se aplica a frmula (prenha do critrio de juros compostos) que se descobre o valor daprestao mensal. Depois que foi determinado o valor da prestao mensal, no momentomesmo em que os nmeros so lanados no papel, no acarretar uma nova capitalizao nodecorrer do financiamento", salvo no caso de inadimplemento, porque a capitalizao j

    ocorreu no instante em que foi aplicada a frmula para determinao do valor da prestao.

    Oportuno ainda registrar o exemplo da Apelao 964.203-3, do mesmo Relator Waldir deSouza Jos, fez anlise comparativa entre a utilizao da Tabela Price e o mtodo de GAUSS(juros simples), onde, tomando-se como exemplo um emprstimo de R$60.000,00, mesmataxa de 10% ao ano, pelo mesmo prazo de 15 anos (180 meses), implicaria, pelo mtodoGauss, uma prestao mensal, constante e invarivel de R$477,33, enquanto utilizando-se aTabela Price, o valor da prestao mensal seria de R$629,03.

    Ainda, em decorrncia da utilizao da Tabela Price, para que o saldo seja zerado na ltimaprestao, cada prestao deve ser sempre maior que o valor dos juros devidos e incidentesobre o saldo devedor, porque, caso contrrio, a dvida se torna perptua ou vitalcia. E, casoos juros no sejam pagos integralmente na parcela mensal (amortizao negativa) o seuexcedente se incorpora ao saldo devedor, servindo esse novo valor para o clculo daprestao mensal seguinte, o que tambm caracteriza a contagem de juros sobre juros (anatocismo).

    E, nem se alegue que o anatocismo somente ocorre quando da incidncia de juros sobre juros

    vencidos, porque ao dispor o Decreto n 22.623/33 que " proibido contar juros dos juros ",acabou por vedar qualquer maneira de contagem de juros que no fosse da forma simples,salvo nas excees que ele mesmo contempla. "

    Outro bom exemplo do posicionamento que vigora no Egrgio TJSP o voto da Ilustre Des.LIGIA ARAJO BISOGNI 14 Cmara Direito - Privado, que, por sua pertinncia, pedimosvenia para transcrever integralmente:

    "N

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    o que diz respeito utilizao da TABELA PRICE, como vem entendendo esta C. Cmara, noresta dvida que existe sim a ocorrncia de anatocismo, como, alis, decidiu o ColendoSuperior Tribunal de Justia em deciso recentssima (cf REsp. 668.795-RS), principalmenteporque, com a aplicao desta tabela, os juros crescem em progresso geomtrica, onde,quanto maior o nmero de parcelas a serem pagas, maior ser a quantidade de vezes que osjuros se multiplicam por si mesmos.

    Mesmo no se tornando impossvel do cumprimento, o contrato se torna abusivo em relao aomuturio, onde v sua dvida somente crescer, tornando o valor do imvel exorbitante,maculando, inclusive, os prprios fins sociais do Sistema Financeiro da Habitao. Na TabelaPrice, percebe-se que somente a amortizao que se deduz do saldo devedor. Os jurosjamais so abatidos, o que acarreta amortizao menor e pagamento de juros maiores emcada prestao, calculados e cobrados sobre saldo devedor maior em decorrncia da funoexponencial contida na Tabela, o que configura juros compostos ou capitalizados. Ademais,vedada a capitalizao dos juros nos contratos de financiamento pelo SFH, a utilizao daTabela Price ilegal, "...no s porque utiliza o sistema de juros compostos, mas, tambm,

    porque no d ao muturio o prvio conhecimento do que deve pagar, violando desta forma oprincpio da transparncia insculpido no CDC, e ao qual se submetem as instituiesfinanceiras, cujas atividades incluem-se no conceito de servios, por disposio expressacontida no seu 3o, do artigo 20 (Lei 8.078/90).

    O contrato em exame foi celebrado em 26/11/1994, portanto, sob a gide do CODECOM. Nadoutrina, defendem a ocorrncia do anatocismo na Tabela Price, Mrcio Mello Casado(Proteo do Consumidor de Crdito Bancrio e Financeiro, Ed. RT, 2000, pg. 125) e o ilustrepatrono dos Autores, o dr. Luiz Antnio Scavone Jnior (Obrigaes - Abordagem Didtica, Ed.Juarez de Oliveira, 2 edio, 2000, pg. 180), que encontra ressonncia na jurisprudncia (cf

    julgados daquela extinta Corte AP. 886.106-1, rei. Juiz Silveira Paulilo; no Tribunal de Justiado Rio Grande do Sul, Ap. 598.565.587, rei. Des. Rejane Maria Dias de Castro Bins; doTribunal de Alada do Paan, Ap. 153.354-2, rei. Miguel Pessoa; Ap. 176.450-7, rei. JuizManasses de Albuquerque).

    Insta observar, que o artigo 5, inc. III, da Lei 9.514, de 20.11.97, que dispe sobre o sistemafinanceiro imobilirio, manda observar nas operaes de financiamento imobilirio em geral, nombito do S.F.I., a capitalizao de juros, no especificando, contudo, entre a capitalizaosimples e a composta, de sorte que perdura a redao do art. 4o da Lei de Usura, que verberaa contagem de juros sobre juros. Em decorrncia disto, o contrato sofreu desequilbrio, na

    medida em que, juros extraordinrios foram acrescentados nas prestaes ao longo do prazoestabelecido, por fora daquela forma de clculo de juros compostos" (cf Apel. 987.111-8, REL.DES. SOUSA OLIVEIRA).

    E verdade que tanto na doutrina como na jurisprudncia h entendimentos no sentido dalegalidade da aplicao da Tabela Price, porque no vislumbrada a incidncia de juros sobrejuros. Todavia, em brilhante voto na Apelao n 921.350-3, o eminente Des. WALDIR DESOUZA JOS bem esclareceu a questo, demonstrando que a capitalizao ocorre nomomento em que utilizada a frmula R=Px[i(l+i)"J+f(l+i)" -1], porque " nesse momento queocorre a utilizao de um critrio de juros compostos para obteno do valor da prestao.

    nesse instante que age o FATOR EXPONENCIAL, fazendo com que na equao dos nmerosque iro consubstanciar a frmula, ocorra a incidncia de juros sobre juros. O clculo que a

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    equao da tabela Price encerra exponencial.

    Os juros crescem em progresso geomtrica. Em outras palavras: na tabela Price acapitalizao aperfeioa-se de uma nica vez (mas que desmembrada em tantas vezes

    forem as prestaes), porque no momento em que se aplica a frmula (prenha do critrio dejuros compostos) que se descobre o valor da prestao mensal.

    Depois que foi determinado o valor da prestao mensal, no momento mesmo em que osnmeros so lanados no papel, no acarretar uma nova capitalizao no decorrer dofinanciamento ", salvo no caso de inadimplemento, porque a capitalizao j ocorreu noinstante em que foi aplicada a frmula para determinao do valor da prestao.

    Oportuno ainda registrar o exemplo da Apelao 964.203- 3, do mesmo Relator Waldir deSouza Jos, fez anlise comparativa entre a utilizao da Tabela Price e o mtodo de GAUSS(furos simples), onde, tomando-se como exemplo um emprstimo de R$60.000,00, mesmataxa de 10% ao ano, pelo mesmo prazo de 15 anos (180 meses), implicaria, pelo mtodoGauss, uma prestao mensal, consante e invarivel de R$477,33, enquanto utilizando-se aTabela Price, o valor da prestao mensal seria de R$629,03.

    Ainda, em decorrncia da utilizao da Tabela Price, para que o saldo seja zerado na ltimaprestao, cada prestao deve ser sempre maior que o valor dos juros devidos e incidentesobre o saldo devedor, porque, caso contrrio, a dvida se torna perptua ou vitalcia. E, caso

    os juros no sejam pagos integralmente na parcela mensal (amortizao negativa) o seuexcedente se incorpora ao saldo devedor, semindo esse novo valor para o clculo daprestao mensal seguinte, o que tambm caracteriza a contagem de juros sobre juros(anatocismo).

    Como se percebe, apesar de ser uma matria que ainda gera discusses, encontra-se muitobem direcionada no Tribunal de Justia do Estado de So Paulo. O sistema francs deamortizao denominado Tabela Price engloba juros compostos por natureza e, portanto deveser considerada ilegal e ter afastada a sua aplicao.

    1.5. Da constatao do anatocismo na aplicao da tabela price no clculo das prestaes.

    A capitalizao composta comprovada ao se analisar o sistema de clculo das parcelas aserem pagas. O sistema Francs de amortizao caracteriza-se pelas seguintes premissas:pagamentos em prestaes iguais e sucessivas, cada qual composta por um componentedecrescente de juros e um componente crescente de amortizao.

    Tal sistema de amortizaes promove a capitalizao mensal de juros, porque, o conceito de

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    capitalizao de juros compreende realizao - ou pagamento - dos mesmos. Se, conformeexplicitado na planilha acima, ao ser efetuada uma parcela de pagamento da dvida, o saldodevedor do financiamento no subtrado na mesma cifra, mas do resultado do valor daprestao diminudo do valor dos juros sobre o saldo devedor, fica claro que, parcela a parcela,o valor dos juros incorporado ao saldo devedor do financiamento, para serem realizadosexponencialmente e onerar o saldo devedor do cliente.

    Fica assim, ento, caracteriza a ocorrncia do anatocismo na aplicao desta frmula declculo, o que no pode se permitir j que tal prtica (composio de juros) repudiada pelaLegislao e pelos Tribunais.

    Ficou apurado pelo perito contbil contratado pela autora (doc. Anexo) a utilizao dessemtodo de clculo de prestaes (Tabela Price) no financiamento em tela. Segundo documentoacostado a presente inicial, o financiamento realizado pela autora no valor de R$__________

    para pagamento em 60 meses com a aplicao de taxa de juros de 2,457% ao ms, caso fosseutilizado o mtodo linear ponderado (Gauss), resultaria em uma parcela deR$_________________

    A frmula utilizada neste sistema foi a seguinte:

    FRMULA DE CLCULO DA PRESTAO

    {R$ 12.000,00 x {1+ [(29,484 / 1200)]}} / {60 x {1 + [(60-1)] x (29.484/1200)}/2]}

    {R$ 12.000,00 x {1+ [(0,02457x60)]}} / {60 x {1 + [(59 x 0,02457)]}/2]}

    {R$ 12.000,00 x 2.4742}/{60x{1+0724815}}

    {R$ 29.690,40/103,4889} = R$ 286,89

    P = R$ 286,89 (valor da prestao a juros simples)

    Pelo laudo anexo, o valor da parcela se aplicado o mtodo linear ponderado seria deR$_____________/. Em lugar disso, a autora vem pagando o valor de R$________________,devido aplicao da Tabela Price pelo banco requerido.

    Dessa forma, deve-se determinar a nulidade da clusula contratual permissiva da aplicao dosistema francs de amortizao, determinando a adequao das parcelas referentes aofinanciamento contratado pela autora, com a aplicao do sistema linear ponderado (MTODOGAUSS), nos termos do laudo contbil apresentado.

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    3. Da repetio do indbito

    Uma vez comprovado que o sistema francs de amortizao foi utilizado para o clculo dasparcelas do financiamento contratado pela autora, que vem sendo pago regularmente, o bancorequerido vem recebendo indevidamente valores indevidos, infringindo mais uma vezdisposio do CDC, agora no pargrafo nico do artigo 42: .

    Art. 42 (...)

    Pargrafo nico: O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito repetio doindbito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correo monetriae juros legais, salvo hiptese de engano justificvel."

    A prpria Lei da Usura Decreto 22.626/33, alis, em seu artigo 11, prescreve a repetio doindbito:

    Art. 11. O contrato celebrado com infrao desta lei nulo de pleno direito, ficando assegurada

    ao devedor a repetio do que houver pago a mais.

    O Superior Tribunal de Justia em recentssimas decises vem interpretando que a norma emquesto possui natureza objetiva, bastando sua incidncia que o credor haja apenas comculpa quando da cobrana indevida (imprudncia, negligncia ou impercia), alargando seualcance para alm das hipteses de m-f. Nesse sentido:

    CONSUMIDOR. REPETIO DE INDBITO. ART. 42, PARGRAFO NICO, DO CDC.ENGANO JUSTIFICVEL. NO-CONFIGURAO.

    1. Hiptese em que o Tribunal de origem afastou a repetio dos valores cobradosindevidamente a ttulo de tarifa de gua e esgoto, por considerar que no se configurou a m-fna conduta da SABESP, ora recorrida.

    2. A recorrente visa restituio em dobro da quantia sub judice , ao fundamento de que bastaa verificao de culpa na hiptese para que se aplique a regra do art. 42, pargrafo nico, doCdigo de Defesa do Consumidor.

    3. O engano, na cobrana indevida, s justificvel quando no decorrer de dolo (m-f) ouculpa na conduta do fornecedor do servio. Precedente do STJ.

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    4. Dessume-se das premissas fticas do acrdo recorrido que a concessionria agiu comculpa, pois incorreu em erro no cadastramento das unidades submetidas ao regime deeconomias.

    5. In casu, cabe a restituio em dobro do indbito cobrado aps a vigncia do CDC.

    6. Recurso Especial provido.(RECURSO ESPECIAL N 1.079.064 - SP (2008/0171607-0)RELATOR, Ministro HERMAN BENJAMIN, DJe 20/04/2009)

    RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE GUA. CONSUMIDOR. DESTINATRIO FINAL.RELAO DE CONSUMO. DEVOLUO EM DOBRO DOS VALORES PAGOSINDEVIDAMENTE. APLICAO DO ARTIGO 42, PARGRAFO NICO, DA LEI N 8.078/90.HONORRIOS ADVOCATCIOS. AO DE NATUREZA CONDENATRIA. INCIDNCIASOBRE O VALOR DA CONDENAO. ART. 20, 3, DO CPC.

    I - O Tribunal a quo afastou a incidncia do art. 42, pargrafo nico, do CDC, que determina arestituio em dobro dos valores cobrados indevidamentes nas relaes de consumo, pelaausncia de dolo (m-f) do fornecedor. Entretanto, basta a culpa para a incidncia de referidodispositivo, que s afastado mediante a ocorrncia de engano justificvel por parte dofornecedor.

    II - No circunlquio ftico delimitado pelo acrdo recorrido, ressai a no-demonstrao, porparte da recorrida, da existncia de engano justificvel, tornando-se aplicvel o disposto noartigo 42, pargrafo nico, da Lei 8.078/90. Precedentes: REsp n 1.025.472/SP, Rel. Min.FRANCISCO FALCO, DJe de 30/04/2008; AgRg no Ag n 777.344/RJ, Rel. Min. DENISEARRUDA, DJ de 23/04/2007; REsp n 263.229/SP, Rel. Min. JOS DELGADO, DJ de09/04/2001.

    III - Havendo condenao, os honorrios advocatcios devem ser fixados sobre o valor dacondenao, nos termos do que dispe o art. 20, 3, do CPC . Precedentes: REsp n874.681/BA, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJe de 12/06/2008; AgRg no Ag n 516.249/PR,JOO OTVIO DE NORONHA, DJ de 28/06/2004; AgRg no REsp n 665.107/SC, Rel. Min.JOS DELGADO, DJ de 14/03/2005.

    IV - Recurso especial conhecido e provido.( RECURSO ESPECIAL N 1.085.947 - SP(2008/0192225-6) RELATOR: MINISTRO FRANCISCO FALCO, DJe 12/11/2008)

    Como corriqueiro nas operaes que envolvem as instituies financeiras como parte, emvista da adesividade dos contratos bancrios, a autora foi submetida pela instituio financeira aplicao do sistema francs de amortizao sem qualquer possibilidade de contestao.

    As condies contratuais, tais como taxas de juros, indexador monetrio, encargos deinadimplncia, foram obliquamente impostas pelo Banco-Ru, de modo que a autora efetuou opagamento sem saber que estava a pagar parcela onerada em excesso, atravs dacapitalizao de juros o que vedado pela Legislao.

    Porm, aps a realizao da percia por contador, percebeu que as parcelas haviam sido

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    calculadas a mais, gerando um valor de R$__________________ pagando indevidamente aoBanco-Ru at o ms de 05/2009 (13 parcelas ao total)o valor apurado de R$____________________ motivo pelo qual desejam exercer o seu direito repetio do indbitonos termos do artigo 42, pargrafo nico do CDC e artigo 11 do Decreto 22.626/33.

    Dessa forma, em virtude da prtica de clculos ilegais por parte do Banco-ru, sob pena deenriquecimento ilcito, a presente lide objetiva a repetio do valor pago indevidamente, o queser requerido ao final.

    4. Do pedido de tutela antecipada

    Diz o artigo 273 do Cdigo de Processo Civil:

    ''Art. 273 - O juiz poder, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitosda tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequvoca, se convena daverossimilhana da alegao e :

    I - haja fundado receio de dano irreparvel ou de difcil reparao; ou

    II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou manifesto propsito protelatrio do ru.''

    Pretende a requerente seja deferida a tutela antecipada para o depsito mensal das parcelasobtidas atravs da aplicao de juros simples, mtodo linear ponderado (GAUSS), no valor deR$ ________________ at a final deciso da presente lide.

    Ainda no campo de tutela antecipatria, requer seja determinado ao requerido que se abstenhade incluir o nome dos requerentes nos cadastros de consumidores negativados, bem comofornecer cpia nos autos do contrato de financiamento firmado pela autora FULANA DE TAL,no fornecido at o presente momento pelo requerido.

    Com efeito, preceitua a Lei que, requerer-se- a consignao no lugar do pagamento,cessando para o devedor, tanto que se efetue o depsito, os juros e os riscos. Posto isto, temcabimento o pedido de consignao, tanto para as parcelas vencidas quanto para as parcelasvincendas.

    4.1 Do fumus boni iuris

    No caso dos autos, o fumus boni iuris e a prova inequvoca da verossimilhana das alegaes

    da autora encontram-se corporificados nas diversas decises trazidas colao nos itensanteriores e citaes doutrinrias, as quais repudiam, de forma incontestvel, as atitudes que

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    h muito tempo vm sendo tomadas pelos bancos, enriquecendo-os demasiadamente em totalafronta legislao vigente.

    Isso aliado s concluses obtidas atravs da percia contbil realizada, a qual apurou que aautora vem pagando um valor de R$ ________________ a mais do que realmente deveriapagar pelas parcelas do financiamento, tendo, inclusive, direito repetio do valor que foi

    pago indevidamente, justamente em razo da ilegal metodologia de clculo praticada naoperao, e que onerou excessivamente o contrato, objetivando um lucro patrimonialexagerado para o banco.

    Segundo laudo em anexo, a autora j havia pago at a parcela de 05/2009 ao banco requeridoum total de R$______________ a mais do que deveria ter pago. Assim, mais do quecomprovada a boa-f da autora que em momento algum deixou de pagar pelo financiamento ea verossimilhana das suas alegaes diante dos precedentes aqui colacionados e daconcluso do perito contbil sobre a aplicao indevida da Tabela Price ao financiamentocontratado.

    4.2 Do periculum in mora

    J o periculum in mora se revela no risco que pode advir da demora no reconhecimento dodireito da autora, considerando-se a possibilidade de leso grave e de difcil reparao eineficcia do provimento final.

    A autora vem adimplindo com as parcelas do financiamento, mas esta vem se tornando muitoonerosa correndo a autora risco de deixar de honrar com seus compromissos.

    No justo, diante de questo to controversa e da verossimilhana de suas alegaes,submeter a autora tortuosa via do solve et repete, pela qual esta dever pagar ofinanciamento nos termos impostos pelo banco requerido, para somente depois, em caso deganho de causa, executar a sentena para reaver o que pagou indevidamente.

    Ao contrrio no existe risco para a instituio, uma vez que os valores sero depositados pelaautora e a tutela antecipada poder ser revista a qualquer momento pelo presente juzo.

    III DOS REQUERIMENTOS

    Posto isso, requer-se que Vossa Excelncia se digne, nos termos do art. 273 do CPC,LIMINARMENTE, at o trnsito em julgado do processo, sob pena de multa, determinar:

    1) Seja deferida a TUTELA ANTECIPADA para o depsito mensal desde julho de 2009 dasparcelas do financiamento recalculadas atravs do mtodo GAUSS, no valor deR_____________at a soluo final da presente lide;

    2) Seja igualmente deferida a TUTELA ANTECIPADA para determinar ao BANCO XYZ S/A quejunte cpia do contrato de financiamento n_______________ firmado pela autora, uma vezque a esta no foi oferecida via adicional;

    3) A citao via postal do BANCO XYZ S/A, no endereo citado no prembulo da presente

    inicial, para que querendo no prazo legal venha contestar a presente Ao Revisional, sobpena de revelia;

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    4) A inverso do nus da prova, nos termos do Cdigo de defesa do consumidor, diante dahipossuficincia evidente da autora ante a instituio financeira requerida,

    5) A PROCEDNCIA TOTAL DA PRESENTE AO, com declarao de ilegalidade dacobrana de juros capitalizados mensalmente pela amortizao do Sistema Price, com a

    necessria REVISO DO CONTRATO DE FINANCIAMENTO n XXXXXXXXXXXXXXX ,partindo-se dos valores iniciais e pagamentos mensais, declarando-se nulas as disposiescontratuais abusivas segundo o CDC;

    6) Seja determinada a repetio do indbito dos valores que o requerido recebeuindevidamente, em dobro nos termos do artigo 42 do CDC, com juros legais e correomonetria de acordo com a tabela do EG. TJSP.

    7) A condenao do requerido em custas e honorrios advocatcios, estes fixados em 20% daao.

    8) Por fim, requer a concesso da Justia Gratuita, na forma da Lei 1.060/50, com a dispensa

    do pagamento das custas, encargos processuais e honorrios, por no ter a autora condieseconmicas e financeiras, para suportar os encargos do presente processo, juntando, paratanto, a inclusa declarao necessria (doc.Anexo ). (pedido alternativo a ser colocado caso aautora pea gratuidade, devendo para tanto juntar declarao de pobreza)

    Protestam provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, notadamentepela oitiva de testemunhas e percia contbil..

    D-se a presente causa o valor de R$ _____________________correspondentes ao valor docontrato objeto desta lide, para efeitos fiscais e de Alada.

    Termos em que,

    P. Deferimento,

    OAB/

    fonte: http://vademecumjuridico.blogspot.com/2009/10/acao-revisional-tabela-price.html