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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA FEDERAL- SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MATO GROSSO. ........................................., brasileiro, casado, bacharel em direito, portador do RG nº. SSP/RJ, inscrito no CPF/MF sob o número , residente e domiciliado na Rua São Benedito, nº. , Bairro , Cuiabá-MT, CEP, por seu advogado que esta subscreve, instrumento do mandato incluso (doc.01), com escritório profissional no endereço especificado no rodapé, onde recebe intimações e comunicações de estilo, na forma do Inc.XXXIV, Artigo 5º. da CF/88 e com fundamento no Código de Defesa do Consumidor, Lei nº. 8.078/90, e demais legislação atinente à espécie, vem, à douta presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO DECLARATÓRIA DE REVISÃO DE CONTRATO COM TUTELA ANTECIPADA INAUDITA ALTERA PARTE 1

Revisional Fies

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA FEDERAL-

SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MATO GROSSO.

........................................., brasileiro, casado, bacharel em direito,

portador do RG nº. SSP/RJ, inscrito no CPF/MF sob o número , residente e domiciliado na Rua

São Benedito, nº. , Bairro , Cuiabá-MT, CEP, por seu advogado que esta subscreve, instrumento

do mandato incluso (doc.01), com escritório profissional no endereço especificado no rodapé,

onde recebe intimações e comunicações de estilo, na forma do Inc.XXXIV, Artigo 5º. da CF/88

e com fundamento no Código de Defesa do Consumidor, Lei nº. 8.078/90, e demais legislação

atinente à espécie, vem, à douta presença de Vossa Excelência, propor

AÇÃO DECLARATÓRIA DE REVISÃO DE CONTRATO COM TUTELA

ANTECIPADA INAUDITA ALTERA PARTE

em desfavor da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF (agência n° - cidade, estado),

Instituição Financeira sob a forma de Empresa Pública com personalidade jurídica de direito

privado, com sede na Rua , n°, Bairro , CEP, cidade estado, na pessoa de seu representante legal,

pelas razões de fato e direito a seguir expostos:

I - DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF

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As violações dos direitos e interesses da estudante-consumidora do

serviço de financiamento com finalidade educacional, com a infração de lei, resultando em

cobrança indevida de juros e encargos contratuais, torna inafastável a legitimidade passiva da

CEF, para fins de condenação ao ressarcimento dos valores cobrados indevidamente e para

adequação do contrato celebrado aos ditames legais.

No contrato firmado com a autora, a CEF figura como CREDORA, nos

termos da Lei n° 10.206/2001, que, em seu art. 3º, inc. II, determina que " A gestão do FIES

caberá à Caixa Econômica Federal, na qualidade de agente operador e de administradora dos

ativos e passivos, conforme regulamento e normas baixadas pelo CMN".

Inafastável, por conseguinte, a legitimidade passiva ad causam da CEF.

II - DOS FATOS

No mês de XX de XXX, a autora ingressou no curso de graduação de

Bacharelado em Direito na Universidade de XXXX , arcando com o total das mensalidades no 1°

semestre do curso. No entanto, os valores referentes as mensalidades tornou-se insuportáveis,

fazendo com que a autora recorresse ao Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino

Superior (FIES), gerido pelo MEC, operado e administrado pela Caixa Econômica Federal.

Na data de XXXX , a parte autora firmou contrato de financiamento

estudantil (n° XXXX), dando início ao Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino

Superior (FIES) referente ao XXX semestre de XXX, ocasião em que optou pelo custeio de 70%

dos encargos educacionais do curso de graduação de Bacharelado em Direito, sendo a instituição

requerida o agente operador da contratação do financiamento.

Diante das inúmeras vantagens e facilidades apresentadas, firmou um

contrato padrão, a ele aderindo, sem qualquer possibilidade de questionamento sobre a

substância de suas cláusulas pré-impressas.

O referido contrato teve aditamento semestral junto à requerida em

período estipulado pelo MEC, sendo que o valor total do financiamento seria igual ao somatório

de todas as parcelas aditadas semestralmente e incorporadas mensalmente ao saldo devedor.

A contratação se desenvolve nas seguintes condições: os 70% financiados pela requerida seriam

incorporados ao saldo devedor em 6 parcelas mensais, sendo que a autora pagaria

trimestralmente os juros incidentes sobre o valor financiado, ou seja, sobre os 70%, que seria no

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valor de R$ 50,00, o que totalizaria o montante de R$ 100,00 correspondente aos juros incidentes

a cada semestre.

Ocorre, que o saldo devedor é apurado mensalmente e tem a aplicação da

taxa efetiva de juros de 9% ao ano com capitalização mensal, desde a data da contratação até a

efetiva liquidação da quantia mutuada.

Denota-se que estão inseridos à contratação valores indevidos e abusivos

a título de juros e encargos, de forma que já na primeira prestação está a pagar valores onerosos e

indevidos, pois a autora efetuou todos os pagamentos trimestrais (docs. anexo) com a aplicação

de taxas de juros abusivas e capitalizadas mensalmente, quando já vige em nosso ordenamento

jurídico a Súmula 121 do STF que proíbe a capitalização de juros.

Relata-se ainda que, após o término do curso superior, a requerente

deveria pagar nos 12 primeiros meses o valor equivalente a mensalidade paga para instituição de

ensino no mês de conclusão do curso e, após o 13º mês, deveria pagar as prestações mensais

sucessivas, composta de principal e juros, calculadas segundo o Sistema Francês de Amortização

–Tabela Price (conforme o item 9.1.3 do contrato).

Sobreleva notar que o referido contrato de financiamento mostra-se

abusivo em torno do reajuste e remuneração do saldo devedor, vez que os itens entabulados no

contrato denuncia por si só a abusividade da conduta desta instituição financeira para com a

autora.

A demandante sempre manteve em dia o pagamento das prestações,

contudo, ao efetuar tais pagamentos, esses não estão sendo suficientes para amortizar o saldo

devedor, gerando um resíduo praticamente impagável pela autora, visto que há grande diferença

entre o valor financiado (somatório de todas as parcelas aditadas semestralmente) e o valor atual

do saldo devedor (consequência da aplicação da taxa de juros mensais, capitalização e o sistema

francês de amortização, além dos demais elementos contratuais), que continuam subindo mês a

mês, mesmo após o pagamento de 27 prestações (docs. anexo).

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Destaca-se, que a amortização perpetrada pelo banco réu (Tabela Price),

a qual acaba por acarretar um aumento substancial do saldo devedor do contrato de

financiamento é um procedimento irregular, conforme se verá a seguir.

Assim, resta claro que a questão se desenvolve primeiramente em torno

do reajuste e remuneração do saldo devedor do financiamento, caso este típico em todos os

contratos de adesão na modalidade de financiamento educativo elaborados pela Caixa

Econômica Federal, o quê denuncia por si só a conduta abusiva desta instituição financeira em

prejuízo de centenas de estudantes.

Conclui-se, então, que por serem totalmente coativas e abusivas ditas

circunstâncias, a autora pretende ver revisadas todas as condições do pactuado, em condições de

igualdade e à luz do direito, livre dos desmandos da ré, através desta ação ordinária. Veja-se:

DEMONSTRATIVO DO FINANCIAMENTO:

Custeio dos encargos educacionais do curso de graduação aditamentos

repassados para as Entidades Escolares.

Data do 1° aditamento: Valor financiado referente ao 1° semestre/ano : valor

Data do 2° aditamento: Valor financiado referente ao 2° semestre/: valor

Prazo do empréstimo: 165 prestações – Falta pagar..

Valor do somatório de todas as parcelas aditadas a cada semestre: R$ 21.797,42

DEMONSTRATIVO DAS PRESTAÇÕES PAGAS:

Ddata

Ddata

Vvalor

Pparcela

Vvalor

rprestaçao

Vvencimento

Ppagamento

Ddevido

Aamortizaçao

Ppago

ç    P

parcela de  

     J

juros    0

012

0/12/20031

5/12/2003

R$ 13,64 R

$ 0,00

R$ 13,64 0

022

0/03/20043

1/03/2004

R$ 50,00 R

$ 0,00

R$ 51,00 0

032

0/06/20040

7/06/2004

R$ 50,00 R

$ 0,00

R$ 50,00 0 2 0 R

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32 0/10/2009 6/10/2009 R$ 149,70 $ 0,00 R$ 149,70

Soma Total

Pago............................................................................................................................... R$

2.765,04

Demonstradas, assim, nos quadros acima, as brutais diferenças entre o

valores aditados, valores já pagos e o valor devido até a data de ...., conforme posição da dívida

fornecida pela requerida (doc. anexo).

Diante dos quadros postos, a requerente permite-se questionar os valores

cobrados e não continuar pagando valores abusivos e indevidos que lhe são exigidos.

A fim de obstar eventual pretensão da demandada, no sentido de utilizar

meios coercitivos para impor o ilegal pagamento, busca tutela jurisdicional, única esperança de

ver restabelecido o equilíbrio e o direito violado, para que sejam revistas as cláusulas contratuais,

como os encargos, os juros, a forma de amortização do saldo devedor e a capitalização mensal

dos juros, declarando-se nulas àquelas acima dos permissivos legais.

Assim, desde já, requer que, na fase instrutória, seja realizada perícia

contábil capaz de apurar os reais valores devidos na contratualidade, para ao final declarar o

verdadeiro "quantum debeatur".

Por motivo de atendimento à boa processualística, seguem os justos argumentos para corroborar a presente lide, salientando, mais uma vez, a necessidade de acordo no intuito de se resolver a lide ora estabelecida.

Diante de todos esses fatos, o autor busca, através da presente Ação Revisional, o cumprimento, sim, do contrato firmado entre as partes, mas em condições compatíveis não só com sua modesta condição financeira, mas com a legalidade.

DOS FUNDAMENTOS

O FIES, Programa de Financiamento Estudantil, foi criado em 1998. Ele substituiu o antigo crédito educativo, CREDUC, que se tornou inviável financeiramente por causa da alta taxa de inadimplência (70%). Os estudantes de cursos que tiveram bom conceito no chamado "provão", universitários carentes, além dos alunos dos cursos de licenciatura e aqueles que tenham bom rendimento acadêmico, têm sempre prioridade no dito financiamento.

Ao percentual financiado deveriam ser aplicados elementos justos de capitalização, juros e cobrança de multa, ou mora, pelo atraso de pagamento. Ocorre contudo,

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que o Demandante não entende a razão do valor da prestação ter subido tanto. É claro que o autor entende que, passada a fase dos primeiros 12 (doze) meses após a conclusão do curso, é chegada a fase de amortização da dívida. Contudo, tal quantia extrapola qualquer valor justo, uma vez que, em sua essência, estão embutidas taxas, comissões de permanência, capitalização irregular, além de cobrança de juros sobre juros, e outras ilegalidades.

Aplicação do CDC aos contratos do FIES

O contrato de financiamento de crédito educativo, ajustado entre a Caixa Econômica Federal e a autora esta sob a tutela do Código de Defesa do Consumidor. Tal assertiva tem fundamento em recentes decisões provenientes do STJ.

É evidente, nesse caso, a ofensa ao CDC, porque os reajustes das prestações são semelhantes aos contratos de finalidade lucrativa. Dessa forma,: a) é indevida a capitalização trimestral e semestral dos juros; b) a TR é inapropriada aos contratos que regulam relação de consumo; c) é nula a cláusula que prevê a aplicação do sistema Price; d) deve ser afastada a "Comissão de Permanência"; e) é ilegal a cobrança de juros sobre juros; f) é ilegal a cobrança das multas da maneira como o são; g) ilegalidade da "cláusula mandato"h) limitação de juros.

Os fatos supramencionados, por si só, já demonstram com clareza a onerosidade sofrida pela autora in casu, os quais, por si só, certamente autorizam a iniciativa, a qual nada mais busca senão a aplicação de ditames justos.

Da possibilidade de revisão

O eminente professor Washington Luiz de Andrade, in Revista Consulex, nº. 20, de agosto de 1998, já lecionava:

"De fato, o contrato bilateral pressupõe a existência de um equilíbrio entre a prestação e a contraprestação. Tal equilíbrio é obtido num sistema de livre contratação, a tal ponto que manter inalterado um contrato cuja relação de equivalência foi desmontada, pelas circunstâncias econômicas ou pelo poderio de uma das partes, implicaria desnaturalização do contrato." (Grifo nosso).

Á Título de Ilustração

É do conhecimento da Sociedade, bem como do seguimento bancário e financeiro do nosso país, que no término do Curso das Ciências Jurídicas, aquele que teve a felicidade de ser aprovado no citado curso, mesmo tendo angariado conhecimento não está apto para exercer o mister. Mesmo dominando o conhecimento, o Demandante não aufere qualquer renda com os valores contratado junto a Instituição Financeira CEF, más tem o firme propósito de continuar honrando os compromissos Firmados, por assim saber que é de sua inteira responsabilidade.

A Lei 8.078/90, precisamente em seu artigo 6º, inc. V, c/c o artigo 83, autoriza o consumidor à propositura de qualquer demanda visando à modificação ou revisão de contratos contra legem, como no caso presente. Da mesma forma, o artigo 51, caput, especialmente no seu § 4º, do mesmo diploma especial, cujas normas perfeitamente coadunam-se com o disposto nos artigos 145 e 147 do Estatuto Material, atestam a possibilidade do

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consumidor buscar essa recomposição contratual. Dessa forma, as normas que amparam o presente pleito são variadas, dentre as quais necessário ressaltar o artigo 4º do Código de Ritos e o próprio artigo 5º, XXXV, da Carta Magna, mas aplicam-se perfeitamente ao caso em apreço.

Des. Claudir Fidelis Faccenda, em decisão resultante de recurso de apelação (nº 598449544, 16ª Câmara Cível do TJRS), ainda no ano de 1999, foi muito feliz ao expor seu entendimento, salientando a necessidade do bom senso sobrepor-se a posições evidentemente criadoras de injustiça, sobretudo no tocante a revisões de contratos:

"O princípio do "pacta sunt servanda" adstringe-se aos limites do interesse privado e somente prevalece se o contrato em sua integralidade mantém-se dentro dos limites da legalidade estrita. Flagrada qualquer irregularidade em suas cláusulas resta ferido o interesse público, autorizando a parte prejudicada socorrer-se do Estado-Juiz a fim de que sejam extirpadas as ilegalidades do mesmo."

Nas precisas palavras do mestre Miguel Reale, foi salientada aquela que viria a ser não só uma idéia já defendida pelo Código de Defesa do Consumidor de 1990, mas agora uma realidade reconhecida e aclamada pela nova codificação material:

O sentido social é uma das características mais marcantes do programa destinado aos estudantes de nível superior. Portanto na aplicação do direito o “Juiz deve atender os fins sociais a que ela se dirige e as exigências do bem comum”, afastando pretensões nefastas que em nada ajuda o desenvolvimento da nação.

Da capitalização trimestral de juros

A instituição demandada capitalizou os juros trimestralmente, quando tal procedimento é vedado pelo art. 4º, do Decreto 22.626/33, bem como pelo contido no art. 192, § 3º, da Constituição Federal. Agindo assim, a requerida obteve dividendos consideráveis. A doutrina e as decisões dos Colegiados demonstram o cristalino entendimento sobre a matéria.

Além disso, a capitalização de juros deve pressupor expressa disposição legal, devendo, para os contratos de financiamento para crédito educativo, ocorrer somente anualmente. Tal é o que dispõe a MP nº. 1963-17⁄2000.

Diante do fato, necessário se faz corrigir a distorção provocada pela demandada, ou seja, que os juros aplicados ao contrato sejam recalculados com base na nova legislação, conforme faculta a Resolução 3.842/2010 do Banco Central do Brasil, observada a operacionalidade dentro do termo anual, ou seja, deve se limitar ao teto de 3,40% ao ano.

Do uso indevido da TR como indexador

O uso da TR no contrato em apreço deve ser afastado. É consorte a jurisprudência atual em considerar a TR como indexador destinado a corrigir operações financeiras, já possuindo, em seu conteúdo, juros. Ademais, é inadmissível a incidência da Taxa Referencial (TR) como indexador, uma vez que, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui, por outro lado, índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda.

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A aplicabilidade da TR, após 1991 (Lei 8.177 de 1991), não constitui indexador da economia, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, já que, com a extinção do BTNF, nenhum outro índice de indexação foi criado. Vedado, portanto, qualquer outro indexador e afastada, assim, a aplicação da TR como índice de correção monetária.

Da Comissão de Permanência

É sabido que a comissão de permanência pode ser utilizada como critério de atualização do débito. Entretanto, é sabido, também, que ela não pode ser cumulada com a correção monetária, encargos de multa e de juros moratórios nos termos da Súmula nº 30/STJ que dispõe: "A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis".

Das Cláusulas Contratuais

Existe previsão que autoriza a instituição ré a efetuar a inclusão alem do nome do tomador, também de seus fiadores, contrariando a legislação pertinente à espécie, haja vista, que hoje existe várias decisões no âmbito dos Tribunais Regionais Ferais, que dispensa a pessoa do fiador nos contratos celebrados com o Fies. Inclusive contrariando ao CDC, conforme disposto na norma protetiva. Assim, tal cláusula caracteriza o poder abusivo a demandada, sendo nula porque viola o art. 51, IV e VIII do CDC.

Das multas

Prevê, ainda o Contrato em questão a aplicação de multa de 2% (dois porcento) sobre os juros, o que não é possível, sob pena de dupla penalização, vez que ao longo do citado Contrato, ainda prevê multa “pro rata die” na aplicação de multa ao autor em caso de cobrança extrajudicial, ou judicial, no percentual de 20%, de maneira cumulativa. Deve, portanto, ser extirpada tal previsão de incidência.

Limite de Juros

Tabela Price e capitalização dos juros remuneratórios

O Sistema Francês de Amortização caracteriza-se pelo fato de o mutuário pagar a sua dívida periodicamente (por mês, bimestre, semestre..), reembolsando o mutuante do capital emprestado e dos respectivos juros por meio de prestações de uma renda imediata constante, ou seja, os encargos são fixados conforme a periodicidade do pagamento. A Tabela Price é um caso particular, espécie do gênero Sistema Francês, quando a prestação é mensal, com taxa de juros fixada ao ano. Em qualquer dos casos a parcela é fixa, e calculada por fórmula única e mundialmente utilizada.

Ambos os sistemas diferenciam-se, conforme visto, na medida em que os juros no Sistema Francês de Amortização são fixados por período, enquanto na Tabela Price o juro é fixado ao ano e cobrado mensalmente. Neste caso, o cálculo utilizado para compor a taxa mensal de juros, encargo embutido na parcela fixa devida, é feito mediante utilização de equação matemática prévia da Tabela Price, tendo por base o capital inicial, a taxa anual e o período de pagamento.

O resultado encontrado, então, não é simples divisão por 12 (meses) da taxa anual fixada. A chamada taxa nominal, indicada no contrato, não é usada diretamente nos cálculos mensais, servindo para calcular a taxa efetiva, encargo realmente pago. Utilizando

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simples cálculo aritmético de divisão, a taxa cotada anual de juros não seria igual à taxa anual de retorno, também chamada de taxa anual efetiva de juros. Na Tabela Price tal distorção não ocorre, tendo em vista que a fórmula usada para encontrar a taxa efetiva, em valor que, ao final do ano, não ultrapasse a taxa nominal, é:

__________________¹² v1 + taxa cotada anual - 1

Encontrada a taxa efetiva, utiliza-se a Fórmula Price, considerando:

P = prestaçãoC = capital inicialm = períodoi = taxa de juros

sendo a fórmula:

P = C x (1 + i)m x 1(1 + i)m - 1

Nos contratos de FIES, como o que ora se analisa, por força do disposto no artigo 5º, inciso II, da Lei n.º 10.260/2001 e na Resolução BACEN n.º 2.647/99, a taxa de juros, via de regra, vem contratualmente estipulada em 9% ao ano. Aplicando-se a primeira equação matemática supraindicada com base nessa taxa, obtém-se uma parcela mensal de juros de 0,72073%, exatamente igual àquela constante do contrato, que obviamente, fica aquém do índice mensal de 0,75000%, que se alcançaria a partir da divisão simples da taxa de 9% por 12 meses. Como corolário lógico disso, entendo que, dada a natureza exata da ciência matemática, para que a capitalização composta seja afastada, basta a determinação de que seja observado o limite de juros anual fixado para a contratação - ou seja, a taxa efetiva - porque, nessa hipótese, em princípio, não haverá a possibilidade de a taxa cotada anual vir a ser ultrapassada ao final do ano.

Tal raciocínio subsiste íntegro ainda quando levada em consideração a redução do percentual anual de juros de 9% para 3,4% sobre o saldo devedor, a partir de 10 de março de 2010, nos moldes da Lei n.º 12.202/2010 e da Resolução BACEN n.º 3.842/2010. Ou seja, constatando-se que a taxa efetiva acarreta uma taxa anual de retorno superior à taxa cotada anual de juros, pode-se evitar a capitalização composta simplesmente fazendo prevalecer a última taxa - atualmente estabelecida em 3,4% ao ano - mesmo que isto implique a revisão anual dos valores pagos a título de juros e amortizados a título de principal.

Em síntese: sendo observada a amortização mediante dedução mensal de parcela de amortização e juros, a partir do fracionamento mensal da taxa convencionada, resta desconfigurada a capitalização de juros tal qual vedada em nosso ordenamento jurídico, apesar da previsão contratual da cobrança de juros capitalizados (cláusula décima), como inclusive já declarou o Excelentíssimo Ministro do Superior Tribunal de Justiça Franciulli Netto, por ocasião do julgamento do RESP 587639/SC, DJ 18/10/2004.

Daí que, a priori, o emprego da Tabela Price para apuração das prestações de contratos de financiamento não é ilegal e não contraria o direito das partes envolvidas, mormente em uma economia inflacionária. Até porque, nesse método de cálculo, que busca encontrar os valores das prestações regulares ao longo de um determinado período, visando a amortização do saldo devedor principal e sua quitação ao final do contrato, o mutuário

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sabe o valor e a quantidade das parcelas que pagará a cada ano, de modo que sua utilização, tomada isoladamente, não importa nenhum prejuízo ao devedor.

Pois bem. Muito embora, a utilização isolada da Tabela Price não acarrete por si só o anatocismo, a prática nacional de certa forma acabou desvirtuando o sistema original, o que pode vir a significar, ao final de cada ano, a superação dos juros anuais. Em razão disso, e considerando que "O art. 6º da Resolução nº 2.647 do BACEN extrapola os limites da Lei nº 10.26/2001, ao prever a capitalização de juros." (TRF4, AC 2009.71.00.012677-5, Quarta Turma, Relator Sérgio Renato Tejada Garcia, D.E. 23/11/2009).

A fixação do novo limite para os juros remuneratórios (3,4% ao ano em lugar dos 9% contratados) não representa para a CEF nenhuma espécie de reformatio in pejus, já que, por decorrer de lei cogente (Lei n.º 12.202/2010 e Resolução BACEN n.º 3.842/2010), vincula de modo inexorável a instituição financeira, devendo ser imediatamente aplicado na seara administrativa, com a adequação dos contratos já formalizados aos seus preceitos, independentemente de pronunciamento judicial a respeito.

Esse entendimento acerca da capitalização não viola o Decreto n.º 22.626/33 (Lei da Usura), nem a orientação sumulada pelo Supremo Tribunal Federal sob o nº 121: "É vedada a capitalização mensal de juros, ainda que expressamente convencionada".

A superveniência da Lei n.º 4.595/64 não afastou a vedação referida e tampouco o fez a Súmula n.º 596, também do Pretório Excelso, segundo a qual "As disposições do Decreto 22.626, de 1933 não se aplicam às taxas de juros e a outros encargos cobrados nas operações realizadas em instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional.", tendo em vista que os precedentes que a fundamentaram consideraram revogado apenas o artigo 1º do Decreto n.º 22.626/33 pela Lei nº 4.595/64, o qual diz respeito à taxa de juros estipuladas nos contratos, não se confundindo com o anatocismo.

Igualmente não restam afrontados os artigos 421 e 422 do Código Civil, que cuidam da função social do contrato, uma vez que, em que pese estar-se diante de um contrato de adesão, a parte livremente contratou com a CEF para financiar seu estudo.

A par do ensino gratuito em universidades públicas, os governos federal e estadual colocam à disposição dos cidadãos programas de financiamento estudantil - como o FIES - que facilitam o acesso de pessoas de baixa renda aos centros privados de educação superior, viabilizando o seu direito de acesso à educação. Estes programas garantem o pagamento posterior mas, não se tratando de ensino gratuito, não afastam a necessidade de quitação da obrigação contratual nos termos em que avençada, se não vislumbrada qualquer abusividade, como in casu.

A função social do contrato não se confunde com o assistencialismo integral, de modo que o contratante não está dispensado de adimplir a obrigação que validamente assumiu.

Assim, tendo presente a especial natureza jurídica do contrato do FIES, vinculado à cooperação da sociedade em promover a educação, nos termos do art. 205 da Constituição Federal, e em observância a Resolução 3.842 do Banco Central do Brasil o juros deve se limitar ao teto de 3,40% ao ano.

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Da Inversão Do Ônus Da Prova.

Data venia, torna-se necessário a declaração da inversão do ônus da prova devendo ser atribuída ao banco a incumbência de produzir provas contrárias as alegações iniciais do autor, principalmente com relação aos débitos lançados advindo dos juros e taxas abusivas;

“Durante” a contratação, houve uma imposição de cláusulas em contratos padronizados, de adesão, redigidas unilateralmente pelo réu, tornando-se, a parte autora, submissos, sem poder alterar, ou mesmo opinar sobre as condições impostas, coercitivamente;

“Após” as contratações continuaram vulneráveis considerando-se que com o inadimplemento contratual, sem culpa dos autores, estarão sujeitos a meios de cobrança que infringem o art. 42 do C.D.C.;

Estando presente a vulnerabilidade (técnica, jurídica ou faticamente – socioeconômica) como demonstrado retro não foi a parte autora tutelada pelos preceitos do C.D.C., ficando “expostos” às práticas previstas nos capítulos V e VI do C.D.C.

Com a inversão do ônus da prova estará o M.M. Juiz garantindo a proteção legal/contratual e o acesso da parte autora, parte mais fraca na relação obrigacional, ao Poder Judiciário, facilitando o direito de ação conforme preceito contido no art. 6º, VIII do C.D.C., que se requer seja declarado ab initio em vista da oportunidade da instrução processual que objetivará apurar o equilíbrio contratual e a licitude das cobranças ocorridas por parte do banco.

DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO.

Conforme RESOLUÇÃO Nº 3.842, DE 10 DE MARÇO DE 2010 o BACEN regulamentou a disciplina da taxa de juros, reduzindo-os para 3,40% ao ano, estendendo a limitação a contratos já formalizados.

Diante da redução dos juros para 3,40% ao ano já deveria a requerida em março de 2010 ter reduzido o juros fato este não ocorrido.

Sendo assim faz jus a requerida a repetição do indébito, nos termos do artigo 42, parágrafo único, da Lei 8.078/90, Código de Defesa do Consumidor, condenado o requerido a ressarcir em dobro o que efetivamente tiver cobrado indevidamente, acrescidos os juros legais, conforme o quantum debeatur apurado em perícia, e que seja a parte Requerente compensado nas contraprestações vincendas, dos valores pagos ilegalmente e/ou restituído dos valores pagos a maior, ilegal e abusivamente.

DA TUTELA ANTECIPADA - COIBIR INCLUSÂO NOS CADASTROS DE DEVEDORES

A medida antecipatória de proibição da inclusão do demandante, e seus fiadores, nos cadastros de devedores (SERASA, SPC, CADIN, etc), da mesma forma, requer justa procedência. Como se vê claramente no caso, os valores cobrados da requerente consistem

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em valores discutíveis. A discussão de tais valores pela demandante, como se sabe, por si só já a exime de tal iniciativa por parte da ré.

"Deferimento de liminar, com antecipação dos efeitos tutela, para que a Instituição Demandada não proceda à inscrição dos nomes dos signatários junto aos órgãos de proteção ao crédito, haja vista estar pendente demanda judicial, onde se discute a legalidade dos aumentos abusivos por parte da instituição ré. Inclusive que seja arbitrada multa diária no caso de desobediência a r. Justiça.

Pretende o Demandante discutir o montante do débito através de Ação de Revisão de Contrato nos parâmetros atuais, conforme lhe faculta a legislação vigente.

Assim, afastado que seja, qualquer possibilidade da inclusão do seu nome e dos fiadores no SERASA, CADIN e SPC e demais órgãos de proteção ao crédito”.

É sabido que, enquanto não houver posicionamento judicial a respeito do valor devido, não há que se falar em inclusão em tais cadastros . Por isso a medida antecipatória de coibir a demandada de qualquer atitude nesse sentido reveste-se de toda legalidade.

Ainda, a título de esclarecimento, encontram-se presentes, também neste caso, os elementos que darão sustentação ao pleito da medida de tutela antecipada para a proibição de inclusão do nome da demandante, e seus fiadores, em cadastros negativos de crédito. A saber:

a) Fumus Boni Iuris

A chamada "fumaça do bom direito", como se viu anteriormente, encontra-se presente in casu de maneira evidente, através da legislação pátria e doutrina. No tocante à jurisprudência é assente a questão, na medida em que se percebe o posicionamento amplamente favorável, tendente a propiciar a liminar relativa à proibição de inclusão em tais cadastros. Por isso, "Configura constrangimento indevido e ato de objetiva retaliação e abusividade a inscrição do nome do devedor principal e de seus garantes solidários em órgãos de cadastro de inadimplentes (SERASA, CADIN, SPC e assemelhados) quando o débito da forma como foi acrescida é o objeto de impugnação judicializada nos planos da existência, validade e/ou eficácia."

b) Periculum in mora

A medida de tutela antecipada in casu, também encontra forte arrímo nesse elemento, eis que a inclusão do nome em tais cadastros trará prejuízos de grande monta, e de difícil reparação, entre eles o abalo de crédito, constrangimento a si, e seus fiadores, entre outros fatores.

Encontram-se atendidos, portanto, os requisitos legais que autoriza o Magistrado no deferimento da Tutela Antecipada.

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Pedido de Justiça Gratuita

Por fim, o requerente respeitosamente chama a atenção de Vossa Excelência para a necessidade de que seja deferida a Justiça Gratuita no presente caso.

Ocorre que, o autor é um cidadão comum, sem qualquer tipo de luxo em sua vida econômica que, para iniciar sua vida profissional, trabalha por um salário mínimo. O padrão de vida do autor, e de sua família, é modesto, e, atualmente, vê-se em perigo de minguar-se, frente à recessão inesperada que impõe, entre outros, a alta de juros.

Salienta-se, mais uma vez, que o valor destinado aos depósitos judiciais resultantes dessa lide, será fruto de ajuda familiar. Enfim, o justo deferimento da justiça gratuita (assistência judiciária gratuita) seria não só um alento, mas um alívio.

Diante disso, o requerente pede vênia para postular a Vossa Excelência, mediante a juntada de declaração anexa (doc. 10), as benesses da Justiça Gratuita (assistência judiciária gratuita) in casu, nos moldes da Lei 1.060/50 e art. 5º da Carta Magna.

DOS REQUERIMENTOS

DO EXPOSTO, requer a Vossa Excelência:

Diante do exposto, requer a parte autora a concessão imediata de TUTELA ANTECIPADA, inaudita altera parte, visto que é plenamente cabível a concessão da medida, como ora requerida, sem a prévia oitiva da parte adversa, para:

1 – determinar à ré, CEF, a imediata suspensão, no cálculo das prestações, da prática de abusividades contratuais, representada pelo modo de reajuste das parcelas, amortização do saldo devedor, taxas de juros de 9% ao ano e capitalização mensal de juros, previstas nos itens citados na exordial por ausência de previsão legal, mantendo-se, por conseguinte, no cálculo das referidas prestações, a taxa de rentabilidade de 3.4% ao ano, apropriada anualmente, e incidente apenas sobre o valor do financiamento, excluída a capitalização de juros sobre juros;

2 – determinar à ré que proceda à imediata exclusão dos nomes da autora e sua fiadora, caso tenham sido incluídos em razão disso, nos registros do SPC, SERASA, CADIN ou outros, por inadimplência esta existente em função da aplicação dos itens supramencionados, os quais instituem a prática de abusividade contratual no financiamento estudantil;

3 – determinar à ré obrigação de não-fazer, consistente em abster-se de enviar o nome da autora e sua fiadora nos registros do SPC, SERASA, CADIN e outros, até que sejam revistos todos os itens considerados abusivos no contrato ora questionado;

5 – determinar que a ré não promova qualquer processo administrativo, especialmente a execução extrajudicial prevista no Decreto-Lei n° 70/66, enquanto o contrato estiver sub judice;

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6 - que seja cominada multa diária, a ser arbitrada por este Juízo, em caso de descumprimento da tutela antecipada.

No mérito, confirmando-se a tutela antecipada, requer e espera a parte autora:

1 – que seja decretada a nulidade dos itens do Contrato de Financiamento Estudantil que preveem a utilização do sistema francês de amortização – Tabela Price - por constituir causa de enriquecimento da instituição financeira em detrimento da espoliada consumidora;

2 - que seja decretada a nulidade dos itens do Contrato de Financiamento Estudantil que possibilitam à instituição financeira ré cobrar juros capitalizados mensalmente, de acordo com a Súmula 121 do STF e art. 4° da Lei de Usura;

3 – que seja a ré condenada no cumprimento de obrigação de fazer, consistente na realização dos recálculos de atualização dos valores do saldo devedor do contratos referente ao Financiamento Estudantil firmado em XXXXX, instituindo-se como encargo remuneração, apenas, juros que não ultrapassarão a 3.4% ao ano, excluída a aplicação de juros sobre juros;

4 - que a ré não promova qualquer processo administrativo, especialmente a execução extrajudicial prevista no Decreto-Lei n° 70/66, enquanto o contrato estiver sub judice;

5 – que seja reconhecida a relação de consumo entre os litigantes e, consequentemente, sejam aplicadas aos normas do Código de Defesa do Consumidor ao contrato em tela, nos moldes dos artigos 6°, V, 42, 47, 51, 52 e 54 deste diploma legal;

6 - que seja a ré condenada às custas e honorários advocatícios, a serem arbitrados por Vossa Excelência, nos termos do Código de Processo Civil, bem como a suportar outros encargos decorrentes da sucumbência.

7 - a citação da ré, CEF, por intermédio de seu(s) representante(s) legal(is), no endereço constante do preâmbulo desta exordial, para, querendo, contestar o feito e acompanhá-lo em todos os seus trâmites até o julgamento final, sob pena de revelia.

Requer a parte autora a produção de provas por todos os meios em direito admitidos, especialmente a prova pericial, depoimentos pessoais e juntada de novos documentos.

Por fim, requer a parte autora que seja concedido o Benefício da Assistência Judiciária Gratuita, com base no fundamento constitucional insculpido no inc. LXXIV do art. 5° da Constituição Federal, bem como Leis 1.060/50, 7.115/83 e 7.510/86, tendo em vista não possuir condições econômicas de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios,

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periciais, conforme declaração de pobreza em anexo, sem prejuízo de seu sustento próprio e de sua família.

Prequestiona-se os artigos 1°, caput, II, III; 3°, III; 5°, XXXII, XXXIV, LIV, LV; 6°; 48, XIII; 119, caput, I; 170, V; 205, todos da Constituição Federal/1988 e Súmula 121 do STF.

Dá-se a causa o valor de R$ 21.445,05 (vinte e um mil, quatrocentos e quarenta e cinco reais e cinco centavos).

Nesses termos,

Pede deferimento.

Local e data

advogado

Documentos que instruem esta petiçãoDoc. Referência:I Procuração ad judicia.II Cópia da CI/RG n.º III Cópia da CIC (CPF/MF) n.º. da RequerenteIV

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