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101 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 17 • abril 2002 • quadrimestral TEORIA Revisitando a antropofagia: os estudos culturais brasileiros nos anos 90 RESUMO Este ensaio procura situar as cor rentes principais de apreensão de fenômenos culturais na década de 90: uma, herdeira dos estudos sociológicos de Antonio Can dido e da Teoria Crítica praticada por Roberto Schwarz, onde a História entra como peça fundamental e o aporte marxista serve como ponto de partida para uma re visão contemporânea. Uma outra que, uti lizando os avanços formalistas e a au toridade cienca conferidos por abordagens estruturais, retoma as vozes dos fundadores de uma “semiótica brasileira”, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari. E a problematização do conceito de entrelugar (elaborado por Silviano Santiago no nal dos anos 70) que vai re presentar uma das saídas mais consistentes para o eterno dilema entre formalismos e so ciologismos da cultura brasileira. ABSTRACT This essay pre sents a mapping of contemporary cul tural critique in Brazil with its main ap proaches: one by the heirs of Antonio Candido and the Critical theory represented by Roberto Schwarz, in which history and Mar xian tradition are articulated in a contemporary revision. Another perspective given by the struc turalist and semiotic tradition that recovers founders like Haroldo de Cam pos, Augusto de Cam pos and Décio Pignatari. And a third one which develops the n otion of the entrelugar (the in-between) as dened by Silviano Santiago by the end of the seventies, which is one of the most consistent alternatives to the always present opposition between “formalisms” and “sociologisms” in Bra zilian culture. Keywords Brazil, Critical theory, identity, Cultural Studies. PALAVRAS-CHAVE (KEY-WORDS) - Brasil - Teoria crítica (Critical Theory) - Identidade e Estudos Culturais (Identity and Cultural Studies) Angela Prysthon Profa. Dra. PPG Comunicação da UFPe NO BRASIL  DA  DÉCADA  DE  8 0 , o ethos dominan te envolve o pós-moderno, grande par te dos conceitos que o circundam, e as nuances mais intensas de um cosmopoli tismo mais tradicional. Como se obedecendo à ondulação de um pêndulo, a década de 90 assiste à reemergência da busca da iden ti dade nacional, a retomada da “essência brasileira” nas artes e cultura. T odas as tendênci as e políticas culturais mundiais originadas mais ao final dos anos 80, como o multiculturalismo, o politicamente correto, a world culture, contribuíram para essa reorientação cultural. A crítica da cultura brasileira contemporânea vai sendo influen ci ada pelos Estudos Culturais e pelas teorias pós-coloniais contemporâneo s europeus e norte-americanos, e também re di men si ona da pelo quase súbito e crescente prestígio internacional e nacional que gozam certos nomes de uma arraigada tradição da teoria brasileira como Roberto Schwarz, Silviano Santiago, Antonio Candido, Heloísa Buarque de Holanda e Renato Ortiz, entre outros. Tais fatores vão ser cardeais no sen ti do de fazerem reaparecer com força noções que andavam parcialmente adormecidas durante toda uma década. Grande parte da teoria cultural elaborada a partir do nal dos anos 80 vai ser baseada nessas noções ou abordagens. A premissa elaborada por Schwarz, por exemplo, em Ao Vencedor as batatas (1977), sobre “as idéias fora do lugar” na sociedade brasileira  – a sabe r, o ensaio especíco sobre o liberalismo adotado no Brasil do século XIX e usado como discurso de um regime escravocrata – é retomada no Brasil e no

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TEORIA

Revisitando aantropofagia: osestudos culturaisbrasileiros nosanos 90RESUMOEste ensaio procura situar as correntes principais deapreensão de fenômenos culturais na década de 90: uma,herdeira dos estudos sociológicos de Antonio Candido e da

Teoria Crítica praticada por Roberto Schwarz, onde a Históriaentra como peça fundamental e o aporte marxista serve comoponto de partida para uma revisão contemporânea. Umaoutra que, utilizando os avanços formalistas e a autoridadecientíca conferidos por abordagens estruturais, retoma asvozes dos fundadores de uma “semiótica brasileira”, Haroldode Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari. E aproblematização do conceito de entrelugar (elaborado porSilviano Santiago no nal dos anos 70) que vai representaruma das saídas mais consistentes para o eterno dilema entreformalismos e so ciologismos da cultura brasileira.

ABSTRACTThis essay presents a mapping of contemporary culturalcritique in Brazil with its main approaches: one by the heirsof Antonio Candido and the Critical theory represented byRoberto Schwarz, in which history and Marxian tradition arearticulated in a contemporary revision. Another perspectivegiven by the structuralist and semiotic tradition that recoversfounders like Haroldo de Campos, Augusto de Campos andDécio Pignatari. And a third one which develops the notionof the entrelugar (the in-between) as dened by Silviano

Santiago by the end of the seventies, which is one of themost consistent alternatives to the always present oppositionbetween “formalisms” and “sociologisms” in Brazilian culture.Keywords Brazil, Critical theory, identity, Cultural Studies.

PALAVRAS-CHAVE (KEY-WORDS)- Brasil- Teoria crítica (Critical Theory)- Identidade e Estudos Culturais (Identity and Cultural Studies)

Angela PrysthonProfa. Dra. PPG Comunicação da UFPe

NO  BRASIL  DA   DÉCADA  DE   80, o ethosdominante envolve o pós-moderno,grande parte dos conceitos que ocircundam, e as nuances mais intensasde um cosmopolitismo mais tradicional.Como se obedecendo à ondulação deum pêndulo, a década de 90 assiste àreemergência da busca da identidadenacional, a retomada da “essênciabrasileira” nas artes e cultura. Todas astendências e políticas culturais mundiaisoriginadas mais ao final dos anos 80,como o multiculturalismo, o politicamentecorreto, a world culture, contribuíram paraessa reorientação cultural. A crítica dacultura brasileira contemporânea vai sendoinfluenciada pelos Estudos Culturais epelas teorias pós-coloniais contemporâneoseuropeus e norte-americanos, e tambémredimensionada pelo quase súbito ecrescente prestígio internacional e nacionalque gozam certos nomes de uma arraigadatradição da teoria brasileira como RobertoSchwarz, Silviano Santiago, AntonioCandido, Heloísa Buarque de Holanda eRenato Ortiz, entre outros.

Tais fatores vão ser cardeais nosentido de fazerem reaparecer comforça noções que andavam parcialmenteadormecidas durante toda uma década.Grande parte da teoria cultural elaborada apartir do nal dos anos 80 vai ser baseadanessas noções ou abordagens. A premissaelaborada por Schwarz, por exemplo, emAo Vencedor as batatas (1977), sobre “asidéias fora do lugar” na sociedade brasileira

 – a saber, o ensaio especíco sobre oliberalismo adotado no Brasil do séculoXIX e usado como discurso de um regimeescravocrata – é retomada no Brasil e no

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exterior como ponto de partida para umacrítica marxista do aporte celebratório dadiferença e para o redimensionamento doconceito de dependência:

Schwarz, that is, thinks of the“national” as a product – social,economic, histo-rical – of theinternational, the global. The partis thought through the whole.“Dependency”, it now becomes ap-parent, could never, despite its formalgrasp of imperialism and colonialismas global and systematic, do otherwisethan think the whole through thepart, the international through thenational. Those who currently protestthe anachronism of the “national” assuch, reducing all to a question of the“transcultural” and global hybridity,merely think the whole withoutthe part, apparently “solving” theproblem by conceptual at but in factcondemning themselves to theoreticaland political irrelevance. (LARSEN,1995, 214-5)

 Schwarz é o mais relevante dos

críticos para a continuidade – ou talvezaté constituição – de uma teoria críticano pensamento brasileiro. Tal teoria estábaseada na constante vigilância contraas armadilhas da inversão do binarismocópia/original, contra o elogio do “atraso”,contra, enm, um sentido de “nacional porsubtração”:

Quem diz cópia pensa nalgumoriginal, que tem a precedência, estánoutra parte, e do qual a primeira éo reflexo inferior. Esta diminuiçãogenérica freqüentemente respondeà consciência que têm de si as eliteslatino-americanas, (...). Nem porisso adianta passar ao pólo oposto:as objeções losócas ao conceitode originalidade levam a considerarinexistente um problema efetivo,que seria absurdo desconhecer. A

historiograa da cultura cou devendoo passo glo-balizante dado pelaeconomia e sociologia de esquerda,que estudam o nosso “atraso” comoparte da história contemporâneado capital e de seus avanços.(SCHWARZ, 1987, 47-8)

Se Schwarz vai ser recuperado nosanos 90 como a expressão máxima deum marxismo renovado e da teoria críticacontemporânea no Brasil, seu antecessor(e podemos arriscar até mentor) AntonioCandido é visto não apenas como omarco zero de uma sociologia da culturabrasileira, mas também como o antídotopara os excessos do estruturalismo e pós-estruturalismo que haviam se instalado nopaís desde os anos 60, e passa, inclusive,a ser apontado em algumas esferascomo precursor dos estudos subalternoscontemporâneos (mais ou menos nummesmo sentido em que RaymondWilliams foi recuperado de forma geralna América Latina1). Seus textos sobrea literatura regional e as relações entresubdesenvolvimento e literatura marcaramtoda uma geração de críticos brasileiros,tanto os que adotam, como os quere jeitaram veementemente a abordagemsociológica da cultura. Para Candido,a consciência do subdesenvolvimentoeconômico e da dependência culturalé pré-requisi to fundamental para umapossível superação deles, especialmentedesta última. Tal discussão vai servir comoperspectiva inicial para a ligação feita porAlberto Moreiras da sociologia culturalde Candido com o grupo de estudossubalternos latino-americanos:

En mi opinión esta afirmada “nor-malidad” o “naturalidad” de la de-pendencia cultural se convierte enel asunto decisivo y en la piedra detoque contra la que el subalternismolatinoamericano puede y debeorganizar su deseo de oponerse aparadig-mas previamente articulados.

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(MO-REIRAS, 1996, 881)

Antonio Candido é um dos poucoscríticos latino-americanos a comentar eprocurar as razões para a distância e afalta de intercâmbio entre os diversospaíses que compõem a América Latinae particularmente entre os dois blocoslingüísticos ma jo ri tá rios, as Américasespanhola e portuguesa. Com umaobra que se destaca no pensamentobrasileiro desde os anos 40, Candidovem recolocando ao longo das décadaso papel da literatura na construção da“nacionalidade”, as questões sobre cópiae original, a dialética do cosmopolitismobrasileiro (mesmo que indiretamente), aexistência de uma latino-americanidade eas denições de subdesenvolvimento.  Considerada como derivação doatraso e da falta de desenvolvimentoeconômico, a dependência tem outrosaspectos que manifestam a suarepercussão na literatura. Lembremosde novo o fenômeno da ambivalência,traduzido por impulsos de cópia e rejeição,aparentemente contraditórios quando vistosem si, mas que podem ser complementaresse forem encarados desse ângulo(CANDIDO, 1989, 156).

Em 1998, ano em que Candidocompleta oitenta anos de vida, saium suplemento Mais! da Folha deSão Paulo em sua homenagem. Nelereúnem-se desde usuais admiradores econtinuadores da sua sociologia crítica (ecrítica sociológica) — Walnice NogueiraGalvão, Luiz Costa Lima, Maria SylviaCarvalho Franco — até dois dos maisrenomados teóricos da linguagem literáriano Brasil— Haroldo de Campos e LeylaPerrone-Moisés. Essa reunião em tornode Candido dá uma medida aproximada dagrande uidez teórica entre “formalismos”,“historicismos” e “sociologismos” nadécada (de certo modo, demonstrandoa continuidade do processo iniciado nosanos 80 com a nova história brasileirae uma maior autocrítica por parte do

estruturalismo).Tanto Candido como Schwarz

são extremamente influentes no meioacadêmico brasileiro, com vários nomesde peso tendo sido formados nessatradição. Cabe destacar o trabalhode Flora Süssekind, que nas suasmeticulosas análises literárias, tentaapreender, ao lado de uma abordagemestilística geral, as implicações dodiscurso social das épocas que tomacomo objeto de estudo. Nesse sentido,podem ser consideradas a concepçãosociologizante da tradição de Candidoe Schwarz e também uma dedicadapercepção histórica, como demonstramseus estudos mais longos desde o naldos anos 80, Cinematógrafo de Letras(1987), sobre as relações entre técnicae a literatura pré-modernista brasileira, eO Brasil não é longe daqui (1990), sobreos narradores-viajantes nas décadas de1830 e 1840. Outro nomeque vem trabalhando no sentido de darcontinuidade à essa abordagem histórico-social da literatura —sem perder devista a dimensão estrutural, é óbvio— éFrancisco Foot Hardman, que relacionaconcepções de progresso, modernidade,ideologia e política ao discurso do trabalho,do anarquismo e da literatura no Brasil donal do século XIX e início do século XX,em Nem pátria, nem patrão (1985) e Tremfantasma. A modernidade na selva (1988).

Essa nova concepção brasileirade discurso acadêmico —que tentafronteiras mais fluidas entre análiseliterária, sociologia da cultura e discursohistoriográco— vai ser o lado mais bem-sucedido —embora nada disso seja muitoinédito ou propriamente pós-moderno— da“pós-modernização” da cultura brasileira.Mesmo alguns dos mais estabelecidose tradicionais professores de literatura,como Alfredo Bosi, experimentaram essafusão da sociologia literária à maneirade Candido, de uma historiograa maisaberta e da análise formal. Em Dialéticada colonização (1992), Bosi desvela

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as implicações da experiência colonialbrasileira através não só de uma história euma literatura especícas e os comentáriossobre essas, mas as relações entre elasna contemporaneidade, num exercícioconstante de diálogo entre o passado, opresente e o futuro brasileiros —sempre emrelação a um contexto universal:

É então que imagens míticas deoutros tempos se atualizam namemória das culturas tentando fazer

 justiça à densidade sempre novada condição humana. No caso daformação colonial brasileira, essastransferências simbólicas, quevaram tempos e lugares, operamcom experiências sociais peculiaresà nossa história: mas, enquantomodos de produzir significados,elas confirmam uma constante doprocesso de aculturação tal como oconhecemos desde, pelo menos, aantigüidade oriental e mediterrânea.(BOSI, 1992, 383)

É notável, contudo, a ausência dasalusões diretas ao pós-modernismo oua pós-modernidade no discurso teóricobrasileiro contemporâneo. Uma dasexceções é Sergio Paulo Rouanet, quena maioria dos ensaios de Mal-estar namodernidade (1993), retoma o conceito depós-moderno (ou, mais precisamente, asua negação) na década de 90 – na décadaanterior havia sido um dos principais“divulgadores” do conceito no país – paranovamente especular sobre as condiçõesda crise e da continuidade da modernidadeno mundo e na periferia. Retomando o temade um Iluminismo renovado em “A coruja eo sambódromo”, seu principal ataque é aorelativismo cultural e aos “etnocentrismos”que parecem ter invadido todas as esferasteóricas nos últimos anos.

O iluminista latino-americanocombate o eurocentrismo, porqueé a extra-polação abusiva de

uma particu la ridade que se querhegemônica. Mas combate tambémo latinocentrismo, forma equivocadade responder a um particularismocom outro particu-larismo. Nessecombate, ele pode apoiar-se naprópria tradição, a tradição dasLuzes, época universalista e portantoantietnocêntrica por excelência.(ROUANET, 1993, 90)

Entretanto, passado o gosto pelapo lêmica das primeiras encarnaçõesdo conceito de pós-moderno no país, oproblema parece ser agora definir emque medida os conceitos relativos àou modificados pela pós-modernidade(e em menor escala, mais fechado naanálise de cada gênero artístico e certosestilos, ao e pelo pós-modernismo) —determinam as condições da modernidadebrasileira e o papel do país em relaçãoao desenvolvimento e aos desafiospropostos por essa nova acepção deglobalização surgida nos anos 90. Nessalinha, destaca-se a obra de Renato Ortiz,sociólogo e teórico da comunicação, quevem reetindo desde os anos 80 sobrecomo a modernidade e os discursosque a caracterizam — principalmente osdiscursos relativos à cultura de massas— vêm se acomodando no Brasil (semcontar com o trabalho sobre os inícios damodernidade na Europa e, particularmente,na França - 1991). Primeiro com Culturabrasileira e identidade nacional (1985),no qual faz um apanhado das principaisidéias que embasaram a cultura do país,desde a ideologia do branqueamento doséculo XIX até as utopias revolucionáriasda década de 60. Depois com A modernatradição brasileira (1988), em que relata aemergência de uma indústria cultural nopaís. Mas é com Mundialização e cultura(1994) que ele problematiza as questõesrelativas à identidade nacional tendo emvista as transformações e complexidadestrazidas à tona pela globalização (entendidacomo desdobramento transnacional do

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capitalismo tardio).

Refletir sobre a mundialização dacultura é de alguma maneira secontrapor, mesmo que não seja deforma absoluta, à idéia de culturanacional. Diante deste desao, temosàs vezes a tendência em negar oprocesso que estamos vivendo, nosrefugiando nas certezas e convicçõescontidas nas análises clássicas dasCiências Sociais. (ORTIZ, 1994,116)

Como a literatura, a teoria literária e asociologia da cultura, outra área de estudosque se benecia de um viés múltiplo e maisaberto (e talvez mais relativista, como temeRouanet) de análise no Brasil do nal dadécada de 80 e início da década de 90 é ahistória. Há uma preocupação com a devidarepresentação das manifestações culturais(literatura, particularmente) não apenascomo mera apresentação de documentos,mas como partícipe e agente da história.O caso evidente de Nicolau Sevcenkodemonstra as possibilidades da NovaHistória associada à multidisciplinaridadedos Estudos Culturais. Seu livro Orfeuextático na metrópole: São Paulo,sociedade e cultura nos frementes anos20 (1992) combina expressão literária,apreciação minuciosa dos arquivos daépoca e o mapeamento do imagináriopopular coletivo para delinear conceitosde modernidade e os efeitos dessamodernidade na história brasileira —comuma concentração maior, naturalmente, nahistória da cidade de São Paulo.

Ocupando uma trincheira quaseoposta a essa interpretação mais social ehistórica da cultura e do discurso literárioestão membros igualmente destacados dosEstudos Culturais brasileiros. Como se ahistória cultural brasileira estivesse sempremarcada por essa oposição entre análisehistórica e social e análise formalista eestetizante. O que é sugerido através dapolêmica ocorrida em meados dos anos80 entre Roberto Schwarz e Augusto de

Campos sobre o poema póstudo, escritopor este último, onde foram discutidasquestões como pós-moderno, formalismos,conteudismos. Tal polêmica caracterizariaum confronto permanente na teoria literáriabrasileira que, segundo José Miguel Wisnik,teria duas leituras possíveis:  Nós teríamos de fato, na polêmicaentre Roberto Schwarz e Augusto deCampos, um confronto entre uma leituraliterária que privilegia a prosa e outra queprivilegia a poesia. Uma que privilegia ovínculo da História social interna à obra eoutra que, de certo modo, descaracterizaesse vínculo como sendo importante e seinteressa pelo diálogo sincrônico da obraliterária, pelo permanente diálogo entreas obras, o que se faria como um modode reler o passado, recriar o passadoe o futuro no permamente presente dalinguagem (WISNIK, 1988, 258).

Essa segunda facção da críticacultural brasileira caracteriza-se também poruma retomada das teorias antropofágicassugeridas na obra de Oswald de Andradee a adoção da semiótica geral comometodologia possível. Seus mais famosos—e antigos— membros incluem os poetase teóricos Augusto e Haroldo de Campose Décio Pignatari, ativos propagadores dasemiótica desde os anos 50 e 60.

Entretanto, o que interessa nessaversão pós-moderna, fim-de-secular, deparadigmas teóricos da modernidade ede estratégias estilísticas do modernismo,mais do que o conjunto de obras teóricase críticas desses autores especicamente,é a adaptação de seus esquemas depensamento, de suas teorias da tradução,da sua estética literária baseada na idéiade canibalismo cultural tirada do ManifestoAntropofágico de Oswald de Andrade parao campo da crítica cultural contemporânea,dos Estudos Culturais propriamente ditose de uma emergente teoria pós-colonialbrasileira, como sugere, por exemplo, ElseVieira:

The perspective I would like to fore-

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ground is that the Orient-importedlabel, by reintroducing a heightenedawareness of a (post)colonialcondition, brings to visibility a LatinAmerican body of postcolonial theoryand even enables its constitution assuch. (...) In the early 1920s, Oswaldde Andrade and Mário de Andrade,associated with the movement ofanthropophagy (can-nibalism) againstmental colonialism, also emerge aspostcolonial thinkers. (VIEIRA, 1999,274)

  A Antropofagia cultural, tal comoproposta por Oswald e mais ainda poruma interpretação que talvez pudéssemoschamar de semiótica, seria a condutora dadiferença brasileira e, assim, serviria comoestatuto para a constituição de um ponto devista pós-colonial para a teoria brasileira epara a superação das noções de atraso edescompasso.

But the main point is that cannibalismor the mask or getting into anotherʼsskin are diverse ways of describinga relation not grounded on binarypower oppositions (superior-inferior)but on the notion of continuation andbecoming, a becoming that operatesat threshold of “fusion and distinction”,permanence and transcendence,union collateral with autonomy (sic),etc. (VIEIRA, 1996, 11)

Nem sempre utilizando umaperspectiva lingüística ou semiótica àmaneira dos irmãos Campos ou Pignatari,os “canibalistas” pós-modernos, entretanto,propõem a identidade nacional como umaconstrução discursiva que visa a delineardiferenças, inverter e subverter oposiçõese questionar a dependência cultural. Omodernismo —especialmente as duasguras-chave, Oswald de Andrade e Máriode Andrade— vai sendo viabilizado, atravésdas interpretações contemporâneas,como o discurso que primeiro enuncia a

relação de alteridade como constitutivada formação da cultura brasileira. Osmanifestos de Oswald são tomados comopontos de partida para a constituição deuma teoria da cultura “nativa”: 

Os Manifestos dão conta da ausênciade teorias explicativas da realidadelocal e, mais, da explicação sempreenviesada pelas teorias cosmopolitasespelhadas no liberalismo econômicoe social. Propondo assim uma viaalternativa de análise dos modelossociais, crítico às mais recentespesquisas desenvolvidas no campodo pensamento europeu da época.(VERONA, 1996, 47)

  O Manifesto Antropofágico de Oswaldde Andrade torna-se, assim, para esseviés de interpretação, um dos textosfundamentais de uma teoria “brasileira”da cultura, uma espécie de atestado deuma “precoce” pós-modernidade latino-americana, quase como a precondição deexistência de Estudos Culturais brasileiros,uma espécie de pedra de toque de umaabordagem pós-colonial no país.  Fazendo uma pilhagem filosóficaem Freud, Marx, Kierkegaard, Nietzsche,Schopenhauer e Engels, Oswald deAndrade vai propor que a força vital dohomem é a devoração. Ou seja, ela é oimpulso necessário para a criação e críticade um projeto cultural e ideológico quequestione a dependência e a colonização.(...) Assim, pela antropofagia como perdaprodutiva, articulada à paródia e à inversãohierárquica carnavalizante, Oswald deAndrade reinstala uma modalidade deprática sacricial (HELENA, 1996, 62).

Fundamentando, pois, a subversão(canibal) parodística como o principalelemento de desestruturação da hegemoniaocidental, a antropofagia como teoriaestética instaura simultaneamente o lugarda tradição num discurso que se pretendede ruptura (o discurso da modernidade).O que essa condição paradoxal provoca

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é precisamente as duas linhas deinterpretação do canibalismo culturalbrasileiro: a primeira que vê a antropofagiacomo sinal de uma modernidade acríticae a outra que conclui da deglutição (quepode ser associada a um estado híbrido,

 já que se devora o Outro, digere-se oOutro, tornando-se um pouco esse Outro)o espaço pós-moderno avant la lettre naAmérica Latina.

Repete-se um pouco a tensãoentre os dois pólos da crítica de culturabrasileira, o da linha sociológica e o doda linha estruturalista. Renato Ortiz, porexemplo, através do instrumental fornecidopela teoria crítica frankfurtiana, detectana modernidade brasileira um sentido deacomodação:

Moderno como tradição, mas nãocomo colocava Octavio Paz, enquantotradição de ruptura; os sinais da“modernidade” brasileira indicam querealmente “somos”, e que por isso nãodevemos nos rebelar na direção deum outro futuro.(ORTIZ, 1988, 209-10)

Um dos mais influentes críticosbrasi leiros contemporâneos, SilvianoSantiago, por sua vez, propõe omodernismo brasileiro (e particularmenteo modernismo de Oswald de Andrade)como recuperação suplementar da tradiçãoeuropéia, como discurso utópico do “eternoretorno em diferença” (SANTIAGO, 1989,109), como possiblidade de repensar asvanguardas em relação à tradição (fazendodesse modo uma ponte com o pós-modernoatravés do discurso modernista), comoponto de partida para a constituição de umpensamento pós-colonial que desconstruaa história da dependência:

O sentido da paródia em Oswald deAndrade é você comer o outro paraser mais forte. O pensamento deleestá muito vinculado, a meu ver, auma discussão sobre dependência

cultural. É uma maneira do Brasilse afirmar pela via oposta à dacolonização. (IDEM, IBIDEM, 121-2)

  A discussão sobre dependênciacultural vai ser, aliás, um dos pontos departida para que Silviano Santiago, baseadonuma abordagem pós-estruturalista einspirado pela desconstrução derrideana,elabore a sua definição de entrelugar,primeiramente no ensaio escrito em 1969,mas estendida até os anos 90, quandovai ser recorrente não só no trabalho dopróprio Santiago, mas principalmente eminúmeros outros teóricos brasileiros. Em “Oentre-lugar2  do discurso latino-americano”,Silviano Santiago lança mão da históriacolonial e das relações entre indígenase catequizadores para chegar a umaproposição talvez por demais generalizantepara a contemporaneidade cultural daAmérica Latina.

Entre o sacrifício e o jogo, entre aprisão e a transgressão, entre asubmissão ao código e a agressão,entre a obediência e a rebelião entrea assimilação e a expressão, — ali,nesse lugar aparentemente vazio, seutemplo e seu lugar de clandestinidade,ali se realiza o ritual antropofágico daliteratura latino-americana. (IDEM,1978, 108)

O entrelugar explicariafundamentalmente a diferença subalternacomo devendo ao mesmo tempo às idéiasde progresso e modernidade — cumprindouma espécie de pacto com a Históriaocidental — e à incorporação de elementosalternativos das minorias lingüísticas,sociais e culturais que compõem os tempose espaços multifacetados das culturasda América Latina. Com essa mesclade culturas e imaginários, a AméricaLatina representaria desde o período decolonização não somente esses processosde hibridização em si, mas a consciênciadeles:

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A maior contribuição da AméricaLatina para a cultura ocidental vem dadestruição sistemática dos conceitosde unidade e de pureza: estes doisconceitos perdem o contorno exatodo seu signicado, perdem o seu pesoesmagador, seu sinal de superioridadecultural, à medida que o trabalho decontaminação dos latino-americanosse afirma, se mostra mais e maisecaz. (IDEM, IBIDEM, 18)

  A sua proposta, contudo, revela-seaplicável não só à cultura latino-americana,mas ao que ele chama de “culturadominada” em geral; constituindo então adesconstrução da hierarquia colonizador-colonizado.

Paradoxalmente, o texto des-colonizado (frisemos) da culturadominada acaba por ser o mais rico(não do ponto de vista de uma estreitaeconomia interna da obra) por conterem si uma representação do textodominante e uma resposta a estarepresentação no próprio nível dafabulação, resposta esta que passa aser um padrão de aferição cultural dauniversalidade tão ecaz quanto os

 já conhecidos e catalogados. (IDEM,1982, 23)

  A obra teórica de Santiago de umacerta maneira representa uma alternativaao esquema binário da crítica brasileiradividido entre “conteudismo” e “formalismo”.Dialogando com as duas frentes, Santiagotenta escapar de uma ortodoxa concepçãode identidade nacional embutida naprimeira proposta, como também de umadeterminada a-historicidade da segunda.

Daí, talvez, a sua posição estratégicanos Estudos Culturais brasileiros, sendoum dos nomes mais conhecidos dateoria latino-americana contemporânea.A expressão entrelugar passa a sercorrente no domínio da teoria brasileiracontemporânea tanto como expressão do

cosmopolitismo periférico implicado na pós-modernidade quanto como terminologiaespecicamente brasileira da teoria pós-colonial.

Além do Manifesto Antropofágico,outro texto literário que vai ser fundamentalpara os Estudos Culturais brasileiroscontemporâneos é o conto “A terceiramargem do rio” de Guimarães Rosa,retrabalhado, especialmente a partir dosanos 90, como instância para se pensaro Brasil sob a ótica dessa condição deentrelugar, de diferença, de terceirotermo. Uma série de críticos brasileirose latino-americanistas utiliza o conto paradelinear questões teóricas pertinentes àpós-modernidade, ao pós-colonialismo eà própria história brasileira. Essa “terceiramargem” apontada por Rosa pode ser umlugar inatingível, do silêncio, da imobilidadeou de uma promessa ainda a ser realizada:

A threshold that we never ventureacross, and which even now we donot confront. A symbolic prison, so tospeak, or the bank of a river, the edgeof a sea or cliff, from which bridgesare not built and from which we cannotset off back to the interior whence wecame, because of the conviction thatreality lies neither at the beginningnor at the end, but in the middle ofthe crossing. It is now an advantagefor this restrictive impe-rative ofmagic to be laid bare, but how manyalternatives for the ima-gination arethere ourishing on the third bank ofthe river? (SEVCENKO, 1992, 83)

Ou ainda o território daproblematização do sujeito, alternativa aosbinarismos redutores, um entrelugar, umespaço de interpenetrações:

And so the textualizing —ctionally,narratively, historically— of the thirdterm echoes both poetically ande-thically through Latin American,European, Latin American spaces as

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the play of the in-terpenetration of Self

in Other in Self extends ever across,

ever trans(Atlantically) only as soon-to-be unsettled term of provisionality.

Play before presence and absence?Before Self, before Other? (McGUIRK,

1996, 195) .

Notas

1 Ver em Beatriz Sarlo, “Raymond Williams. Uma releitura”,Paisagens imaginárias. São Paulo: EDUSP, 1997, pp.85-95, a discussão mais especíca sobre a inuência deRaymond Williams no panorama acadêmico argentinodesde as décadas de 60 e 70.

2 Na primeira aparição do termo, Santiago utilizava o hifen.Já nos ensaios subseqüentes dos volumes Vale quantopesa e Nas malhas da letra, ele passa a abolir o hifen deentrelugar.

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