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Revista 1º Fórum Brasil-África

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Revista Cidade - Edição Especial Fórum Brasil-África: Cooperação, Oportunidades e Desenvolvimento

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COM O APOIO DO BNDES,A COMPETITIVIDADE DA SUA EMPRESA CRESCE. E AS EXPORTAÇÕES TAMBÉM.

O BNDES oferece linhas de fi nanciamento para que empresas brasileiras de todos os tamanhos possam produzir e comercializar seus bens e serviços e competir no mercado externo. Com a linha BNDES Exim Pré-embarque, é possível fi nanciar a produção tanto de bens quanto de serviços. Já a linha BNDES Exim Pós-embarque é voltada para comercialização. Além disso, o BNDES atua em conjunto com mais de 170 bancos no Brasil e no exterior. Crédito e parceria: com o BNDES sua empresa tem fi nanciamento para ganhar o mundo. Acesse www.bndes.gov.br/bndesexim e saiba mais.

Ouvidoria: 0800 702 6307

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COM O APOIO DO BNDES,A COMPETITIVIDADE DA SUA EMPRESA CRESCE. E AS EXPORTAÇÕES TAMBÉM.

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BNDES no Fórum Brasil Africa

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Cooperação, Oportunidades e Desenvolvimento nas Relações Brasil África.

FIEC Instala unidade de atendimento em Cabo Verde.

Investimentos Econômicos eDireitos Humanos.

Estratégias de cooperação para realização de negócios.

BNDES no Fórum Brasil África

A Africa é parte de nós!

UNILAB: Uma instituição autônoma e solidária.

O Papel da diplomacia no crescimento do comércio.

Brasil: Relações afinadas com a Africa.

Brasil e África: Particularidades e Semelhanças

Cooperação técnica em saúde e tecnologia: Fiocruz em Moçambique

Brasil: Competitividade e Segurança para Investimentos.

Os resultados e as perspectivas do encontro de Fortaleza.Entrevista - Professor João Bosco Monte.

Agricultura e Sustentabilidade.

O Brasil e o continente Africano.

Usina de energia solar gera empregos no Ceará.

Evolução do setor aéreo oferece novas alternativas

A África é um lugar de oportunidades.

Ceará, Protagonista em Exportação.

Embaixador Murade Isaac é o novo dirigente da CPLP

Africa: Oportunidades de Negócios Inexplorados.

As diferentes realidades africanas abrem caminho para a competitividade.

O caminho da solidariedade.

Espaço de Intercâmbio e Experiências.

Ministério das relações exteriores atende demanda do Nordeste.

Empresa Sul Africana em operaçãono Aeroporto de Guarulhos

Itamaraty intensifica relações diplomáticas com a Africa

Cooperação, Oportunidades e Desenvolvimento nas Relações Brasil Africa.

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Brasil e Africa: Particularidades e Semelhanças

Entrevista Professor João Bosco Monte.

Especial l Fórum Brasil África

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É com satisfação que apresentamos a edição especial da Revista Instituto da Cidade, alusiva ao Forum Brasil África.

Durante três dias o evento recebeu diplomatas, agentes governamentais, empresários e acadêmicos, onde foram abordadas diversas alternativas para o desenvolvimento das relações comerciais do Brasil e seus parceiros africanos visando a abertura e a consolidação de negócios entre os países envolvidos.

O Brasil tem se mostrado sensível a esta realidade e considera a África como um mercado cada vez mais importante para seus produtos de exportação e serviços, e empresas brasileiras veem o continente africano como um sério potencial para seus investimentos.

O Forum Brasil África, que contou com delegações de mais de trinta países oportunizou o debate sobre o renascimento africano que coloca aquele continente na berlinda da cena internacional contemporânea.

Além da retórica oficial, que explica a acelerada aproximação afro-brasileira vivida através de relações históricas e as semelhanças étnicas e culturais, o ativismo diplomático nos últimos anos implantou a atenção de Brasília em direção à África, abrindo o mercado africano para as empresas brasileiras.

Assim, o Forum Brasil África avança nos debates sobre as oportunidades em aéreas como energias renováveis, financiamento de projetos estruturantes, capacitação, ciência e tecnologia, saúde e agronegócio, transformando ideias em ações.

Esperamos que as discussões animadas e as perspectivas apresentadas nesta revista contribuam para entender melhor as relações, além de propiciar parcerias mutuamente benéficas entre o Brasil e a África.

Boa leitura!

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Instituto da CidadeRua Eduardo Bezerra, 83

São João do Tauape | 60130-270(85) 3253.3441 | (85) 86265683

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Editorial

O Instituto da Cidade é:

Entidade sem fins lucrativosque tem por objetivo congregaras propostas da sociedade civilpara a construção da Cidade Acessível e Sustentável.

Diretor-CoordenadorJoão Eduardo Arraes de Alencar

Diretor FinanceiroAntonio Pereira da Costa

Diretora AdministrativaAna Lúcia Viana

Diretora de ProjetosRijarda Aristóteles

Diretora de Estudos e PesquisasMileide Flores

Conselho FiscalAnderson Rafael Cavalcante NunesRoberto dos Santos da SilvaTúlio Roberto Nogueira Menezes

Conselho DeliberativoAna Angélica SantosAna Paula LessaAngela MarinhoCarlos Augusto DiógenesCarlos José da SilvaDuarte DiasEdílson MeloFabiano TávoraFelipe PenaforteFrancileuda SoaresFrancisca Eveline AbreuLuiz Carlos AnteroMaria Aurélia SilvaNadja DutraNorma PaulaPedro Henrique TorresThereza Neumann SantosValton de Miranda

AR Eventos e ComunicaçãoR Joaquim Nabuco, 2326Dionisio Torreswww.ar-eventos.comwww.arsustentavel.blogspot.com

Jornalisa ResponsávelAngela MarinhoMTb CE686JP Entrevistas:Anderson PiresIsabel Filgueiras Estagiárias de JornalismoCibele MarinhoFernanda Yara Peres Fotos: Felipe AbudNely Carvalho

Design e Projeto Gráfico:Pedro Torres

Tiragem de 3.000 exemplares Impressão PrintColorComercial: Lindomar Aristóteles 8722.7822

Expediente

Eventos

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Cooperação, Oportunidades e Desenvolvimento nas Relações Brasil Africa.

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Quando o operário nordestino Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência da República, disse que a África seria uma prioridade em seu governo. A afirmativa foi além do discurso,

gerando ações e reações do Governo Federal com relação ao continente africano, que logo encontraram eco em setores produtivos da sociedade brasileira. Teve início um processo de aproximação, que só se intensificou durante os oito anos seguintes e tem continuidade no governo da presidenta Dilma Rousseff.

Na esteira desse processo, estudiosos brasileiros voltaram as suas atenções para o novo momento da política externa do Brasil. O consultor internacional João Bosco Monte, pós-doutor em Relações Internacionais, interessou-se em conhecer e ordenar essas idéias, à luz da academia. O primeiro passo foi visitar os países africanos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, que falam português, além de Portugal e Timor Leste (ex-colônia portuguesa, que compõem um arquipélago, junto com a Indonésia, no sudeste asiático). Mas era importante abrir os horizontes também para as outras Áfricas, as quais tinha interesse de conhecer e estudar.

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São 1 bilhão de habitantes, distribuídos em 54 países, uma riqueza de costumes, línguas, dialetos e culturas diversificadas, buscando espaço após superarem guerras internas e encontrarem o caminho do

desenvolvimento e da paz. De forma explícita, Lula trabalhou durante seus oito anos de governo, para conquistar a confiança dos mandatários africanos, no entendimento de que essa aliança com esse continente é crucial para a projeção global do Brasil, e na disputa silenciosa por espaço de poder frente à China, que leva vantagem por seus investimentos no Continente Negro, comenta Bosco Monte.

O Brasil e a África estão passando por um bom momento econômico e seu futuro se mostra promissor. Ambas as regiões compartilham os desafios do desenvolvimento, do crescimento e da desigualdade, e ambas são regiões com população jovem e vastos recursos naturais, além de boas perspectivas de crescimento econômico. É convencido por esta realidade, que Bosco Monte coordenou a realização do Fórum Brasil África – Cooperação, Oportunidades e Desenvolvimento, reunindo em Fortaleza embaixadores, investidores, executivos, especialistas da área, brasileiros e africanos.

A intenção do Fórum Brasil África é despertar o interesse dos investidores brasileiros na África, que se desenvolve consideravelmente, após a instalação de multinacionais do setor agrícola, petroleiro e da construção civil, contribuindo para o aumento da demanda de outros setores. Mas a troca de investimentos é uma perspectiva real, diante do bom momento da economia brasileira, relativamente estável, e incertezas que abalam Europa e Estados Unidos. As relações comerciais, culturais e econômicas entre Brasil e África foram temas de debates, durante três dias, a fim de buscar novos caminhos e possibilidades de negócios, acenando para boas possibilidades para ambos os lados.

Se a identificação sócio-cultural e geográfica entre o nosso país e o continente africano é inegável, a nossa dívida social também

o é. Quem afirma é Gerhard Seibert, pesquisador do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e do Centro de Estudos Africanos (CEA), um dos palestrantes convidados do Fórum Brasil África – Cooperação, Oportunidades e Desenvolvimento. O Professor Gerhard Seibert, foi um dos participantes dos Debates Acadêmicos Brasil África, sobre A Cooperação Brasileira em África: Atores, Práticas e Parceiros.

O Fórum vai à Academia

O primeiro dia do Fórum Brasil África, aconteceu no Teatro Celina Queiroz, da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), para o público acadêmico. A sessão de abertura dos debates do fórum, contou com as

presenças de Oladiran Bello, pesquisador da Fundación para las Relaciones Internacionales y el Diálogo Exterior (FRIDE) da Nigéria, Gerhard Seibert, pesquisador do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e Centro de Estudos Africanos (CEA), Alexandra Arkhangelskaya, pesquisadora da Russian Academy of Sciences, Institute for African Studies e Ana Cristina Alves, pesquisadora do South African Institute of International Affairs de Angola.

“Devemos entender que a cultura ancestral africana é fundamental para a identidade latina. E a África torna-se, cada vez mais, relevante nas relações sul-sul”.

Gladys Teresita Lechini. Professora da Universidade Nacional de Rosario

“A África tem muito a contribuir para o bem estar global”Oladiran Bello

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O pesquisador Oladiran Bello defendeu novas alianças entre o Brasil e África. Para ele, o Brasil tradicionalmente foca em países lusófilos (onde se fala a língua portuguesa) e isso dificulta em parte as relações brasileiras com a Nigéria e as demais federações da África Ocidental (Benin; Burkina Faso; Cabo Verde; Camarões; Chade; Costa do Marfim; Gabão; Gâmbia; Gana; Guiné; Guiné Equatorial; Guiné-Bissau; Libéria; Mali; Mauritânia; Nigéria; São Tomé e Príncipe; Senegal; Serra Leoa e Togo), que revisaram sua política interna. “As pequenas e médias empresas brasileiras são bem vindas. Ao contratar mão de obra local, favorecem o mercado interno. Diferentemente das empresas chinesas que importam seus próprios funcionários”. O nigeriano acredita que a postura geral do Brasil sobre a África Ocidental deve ser mais efetiva, como já acontece com a China e outros países europeus. Bello destaca o potencial econômico da região e a gama de oportunidades no setor de energia. Para ele, a economia nigeriana irá ultrapassar a da África do Sul até 2023, tendo em vista que a Nigéria é líder no segmento entre alguns países sul-africanos. Segundo o representante nigeriano, o modelo de inclusão social brasileiro é atraente para os africanos, que perdem por não implementar uma integração concreta com suas microrregiões. Através de sua influência política, o Brasil pode desenvolver cooperações e suporte para o alcance de objetivos regionais, em parceria com a Nigéria. O pesquisador afirma que a relação entre as potências só tem a crescer: A África, que está expandindo seu valor manufator, tem muito a contribuir para o bem estar global, concluiu.

A relação histórica entre Brasil e África foi um dos temas abordados pelo pesquisador Gerhard Seibert. Ele defendeu o aumento na criação de projetos estruturantes de longo prazo, uma cooperação horizontal na relação sul-sul, ressaltando os investimentos anuais realizados na África nos últimos anos nos setores de energia, mineração, construção civil e biocombustível. De acordo com o pesquisador, o Brasil dispõe de recursos financeiros sólidos para proporcionar uma cooperação mais ampla na economia africana, pois se trata de um instrumento importante da política externa que reforça relações bilaterais em outras áreas. Para Seibert, temos afinidades histórico-culturais com a África superestimadas e essa relação resulta numa parceria natural de benefícios mútuos.

Líder mundial na produção de minério de cobre, a África e suas riquezas minerais foram destacadas pela pesquisadora Alexandra Arkhangelskaya, da Russian Academy of Sciences e Institute for African Studies. Alexandra destacou a importância da África na extração de metais ferrosos como o manganês, urânio e cobalto - um dos minerais mais importantes para as novas tecnologias e na fabricação de computadores.

Oladiran Berro

Gerhard Seibert

Alexandra Arkhangelskaya

O Fórum Brasil África – Cooperação, Oportunidades e Desenvolvimento é uma realização da Fundação Edson Queiroz – Universidade de Fortaleza (Unifor), com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES e Banco do Nordeste do Brasil e apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, Grupo de Embaixadores Africanos em Brasília, Departamento África do Ministério das Relações Exteriores, Governo Federal, Hospital Jório da Escóssia, Núcleo de Estudos Internacionais, Jornal Diário do Nordeste, Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos – Apex Brasil, Frente Nacional de Prefeitos, Instituto da Cidade, Câmara Brasil Angola no Ceará, Câmara Brasil Portugal no Ceará, Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Departamento Ceará – SENAI, Serviço Social da Indústria do Ceará - SESI e Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas do Ceará - SEBRAE, com organização da AR Eventos.

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Revista Cidade10

Ao comentar a instalação de empresas de pequeno e médio porte na região, considera que as companhias brasileiras contratam mão de obra local, favorecendo o mercado interno. Diferente das empresas chinesas, que importam seus próprios funcionais. Ela reconhece que o Brasil tem uma imagem melhor com relação a outros países emergentes envolvidos no continente, como também o aprofundamento das relações políticas aumentou consideravelmente o comércio entre Brasil e a África Subsaariana (países ao sul do deserto do Saara) nos últimos dez anos. Do ponto de vista político, a pesquisadora russa acredita que o Brasil tem potencial para interferir nos conflitos Líbia e Somália, contribuindo para o fim de conflitos que interferem no desenvolvimento do continente africano.

Professores e estudantes da Unifor participam do debate.

O auditório lotado por alunos e professores da Unifor demonstrou o interesse pelo tema. Jéssica Luma, estudante do 5º semestre do curso de Direito, considera importante a participação

efetiva do Brasil no mercado de países como a Angola, tendo em vista os benefícios e vantagens expostos pela pesquisadora Ana Cristina Alves, mediadora da sessão. Ela comenta sobre o valor do fórum para as disciplinas do curso: Esse evento contribui, principalmente, para a disciplina de direito internacional, porque podemos ter uma visão mais abrangente do que está acontecendo no mercado externo.

A pesquisadora do Núcleo de Estudos Internacionais da Unifor (NEI), Milvia Albuquerque, considera que as negociações internacionais entre Brasil e África são essenciais para expansão do setor de mineração, que tem ampliado consideravelmente suas atividades, e para o desenvolvimento contínuo dos demais segmentos da economia africana. Sobre a postura política do Governo Federal com relação à África, mantém-se otimista: Ainda há muito tempo e espaço pela frente para o progresso nessa relação Brasil-África no governo Dilma.

De acordo com o professor e coordenador do curso de Publicidade, Carlos Bittencourt, essa aproximação com a África é fundamental, tanto do ponto de vista comercial, quanto intelectual, pois desperta para os alunos e professores uma possibilidade de expansão e compreensão de outros mercados e culturas. Acrescenta que a Unifor, ao receber anualmente alunos da África, em especial de Cabo Verde, contribui para o estreitamento dessa relação.

O coordenador, que desenvolve um projeto de trabalho para um grupo cabo-verdiano, comenta sobre a imagem que construímos da África: Nós ainda temos os olhos muito fechados em relação às questões africanas. Até do ponto de vista de produção de conhecimento, de relações de proximidade. Devemos repensar como enxergamos os países africanos. Esse tipo de aproximação é muito bom pra gente, até como mercado. E acredita que eventos como este podem reativar instâncias superiores do Governo, a fim de dar continuidade, não só ao processo iniciado, mas o que pode trazer de benefícios mútuos.

LULA É HOMENAGEADONA ABERTURA DOS DEBATES

O segundo dia de debates do Fórum Brasil África – Oportunidades, Cooperação e Desenvolvimento foi aberto pelo seu coordenador geral, prof. João Bosco Monte, para fazer uma homenagem

de reconhecimento ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por seu incansável apoio e determinação em promover a cooperação, o desenvolvimento econômico e a materialização de oportunidades entre o Brasil e a África.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi representado pelo coordenador executivo para África do Instituto Lula, Celso Marcondes. Na semana que anteceu o Fórum em Fortaleza, o coordenador geral João Bosco Monte e a diretora da AR Eventos Rijarda Aristóteles estiveram com o ex-presidente Lula da Silva, no seminário Investindo na África: Oportunidades, Desafios e Instrumentos para a Cooperação Econômica, organizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, para oficializar a homenagem.

Incentivador do evento de Fortaleza, o ex-presidente, durante seus dois mandatos, fez 33 viagens, visitou 23 países e abriu 19 embaixadas brasileiras no continente africano. Segundo Marcondes, o Brasil tem uma dívida de solidariedade com os países africanos, que ajudaram a construir nossas riquezas. Foram 350 anos de escravidão e há aproximadamente 120 anos estamos sem ela. Esta foi a primeira homenagem a Lula pelo respeito ao trabalho que exerceu no continente africano, fortalecendo a relação Brasil – África durante seu mandato.

Coordenador executivo para África do Instituto Lula,Celso Marcondes recebe a homenagem.

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Gerhard Seibert

Especial Fórum Brasil Africa 11

FIEC instala unidade de atendimento em Cabo Verde

O século XXI é momento da África e da Ásia. Essa é a previsão Eduardo Bezerra Neto, superintendente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC).

Para Bezerra Neto, enquanto a Europa não tem condições econômicas de atuar e os EUA já fizeram o que podiam fazer, cabe

agora aos países destes dois continentes tomarem a frente, como protagonistas na economia mundial. Não é o caso dessas economias proeminentes chegarem à supremacia econômica em curto prazo, mas existem os recursos financeiros para alavancar essas potencialidades e muitos deles estão aguardando bons projetos, que compensem o investimento.

No caso da África, apesar de não ter capital próprio, todo o continente surge como um território de amplas oportunidades. O que se faz necessário é ter um olhar bem intencionado para o futuro, observa Eduardo Bezerra. De acordo com a sua análise, os

países africanos precisam de praticamente tudo e essas oportunidades, que ainda são pouco exploradas, estão abertas, não só para os grandes empreendimentos, mas também para a atuação das pequenas e médias empresas. E afirma que na África Atlântica, como em Cabo Verde, e na África Subsaariana, nos casos de Angola e Moçambique, muita coisa já vem sendo feita.

Bezerra Neto lembra que a FIEC, apostando do desenvolvimento das relações entre África e Ceará, instalou uma unidade de formação técnica para capacitação de mão obra especializada na cidade de Praia, capital de Cabo Verde. O projeto acontece em parceria com o Itamaraty, que oferece a infraestrutura para o funcionamento das atividades. Os empreendedores agora devem trabalhar para apresentar bons projetos e

aproveitarem as oportunidades, finaliza.De acordo com Eduardo Bezerra Neto, o

Ceará tem condições geográficas vantajosas de atuação nesses mercados, por ser o ponto brasileiro mais próximo dos continentes africano e europeu, e também da costa leste dos Estados Unidos da América. Mas o avanço das transações esbarra na falta de logística marítima e aérea para o transporte de mercadorias na região Nordeste do Brasil. Para o executivo, uma das medidas que amenizariam esta condição seria a atuação em parceria dos portos de pernambucanos e cearenses, que aumentariam suas capacidades de armazenamento e embarque. Já existe uma articulação política em andamento para discutir possíveis melhorias no setor.

Eduardo Bezerra Neto - CIN/FIEC

Cidade da Praia - Capital de Cabo Verde

Coordenador executivo para África do Instituto Lula,Celso Marcondes recebe a homenagem.

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Embaixador da Repú blica do Zimbábue no Brasil, decano do Gru po de Embaixadores Africanos em Brasília, Thomas Sukutai Bvuma, defende uma parceria diferenciada com em presas brasileiras, tendo em vista

a competitividade exercida pelos brasileiros, com relação aos demais países latino-americanos. Ele per cebe desafios para uma cooperação econômica eficaz, compartilhando operações com entidades locais, o que pode garantir uma visibilidade positiva na mídia, além de lucros contínuos.

Outro desafio para a África, se gundo o embaixador do Zimbábue, é a competição entre suas federa ções a fim de atrair empresas de pequeno e médio porte para revi gorar o fortalecimento do mercado interno. Para Bvuma, as compa-nhias devem romper suas barreiras preconceituosas, quando hesitam em montar instalações de suas in dústrias alegando altos riscos locais como questões políticas, corrupção, déficit de trabalhadores, as guerras e a AIDS. Para ele, fazer negócios significa correr riscos. As empresas precisam ver em loco as oportunida des do outro lado do Atlântico.

O embaixador dá uma boa no tícia: se uma empresa quer investir no seu país, há uma estratégia que inclue um pla no de isenção fiscal. O investidor não paga impostos por cinco anos. Os investidores em potencial são recebidos por uma comitiva de es-pecialistas, responsáveis por passar orientações sobre formas de inves timento, incentivos fiscais e tribu tações.

INVESTIMENTOS ECONÔMICOS eDIREITOS HUMANOS

ESTRATÉGIAS DE COOPERAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS

Professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB), Pio Penna considera importante a discussão entre áreas tão diferentes como as acadêmicas, empresariais e governamentais, para

analisar as possibilidades de sucesso do relacionamento entre brasileiros e africanos, na promoção dos contatos e geração de conhecimento. O professor destaca o desenvolvimento das relações do Ceará com comerciantes africanos.

Ao comparar o comportamento dos investidores da África com os do Brasil, Pio Penna sugere a dinamização das relações e internacionalização da visão dos empresários brasileiros, que permanecem muito focados no mercado interno.

O professor contrabalança as ações positivas, lembrando a existência das precariedades sociais e políticas em diversos territórios africanos. Juntamente com as possibilidades de investimentos, é importante se observar também as questões relacionadas ao nível de vida da população e o comportamento político vigente, alerta. Para Pio Penna, o desenvolvimento econômico e comercial tem que estar em concordância com o respeito aos direitos humanos. Este debate não pode ser deixado de lado, nas rodas de negociação comercial e acordos governamentais.Prof. Pio Penna Filho - UNB

Thomas Sukutai - Embaixador da República do Zimbábue

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BNDES NO FÓRUM BRASIL AFRICA

Especial Fórum Brasil Africa 13

Os investimentos entre os dois lados do Atlântico merecem a atenção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Revista Cidade Especial Brasil Africa, entrevistou o chefe do Departamento de Relações com o Governo Antonio José Alves Jr.

Revista Cidade: Sabe-se que privilegiar o relacionamento bilateral com a África foi uma decisão política do ex-presidente Lula da Silva. Como esta opção foi percebida pelo BNDES e pelo mercado?

Antonio José Alves Jr.: Além de ressaltar os aspectos culturais, o presidente chamava bastante atenção para as oportunidades econômicas, com uma visão que surpreendia boa parte do empresariado nacional, que já operava na África. O que se mostrou correto: o crescimento da África persiste, e acima da média do crescimento mundial.

A África tem recursos, dotações e facilidades logísticas, além da proximidade com a Ásia e Europa. Nos principais mercados consumidores de commodities, o continente pode se posicionar muito bem, como muitos países estão fazendo, aproveitando oportunidades.

Se o processo de crescimento continuar, acompanhado de distribuição de renda, a demanda por bens de consumo duráveis na África vai explodir. E isso já acontece na telefonia celular. O volume de ligações cresce numa velocidade enorme, como o número de celulares habilitados. O continente africano já reúne condições políticas para colocar essa agenda adiante, desde que tenha suas necessidades de infraestrutura supridas. A África tem que ser vista país a país: as suas perspectivas econômicas, a ambição de cada país, o arcabouço institucional.

Revista Cidade: A aproximação do BNDES com a África não é de hoje. O banco há muito tempo mantém relação com países africanos, em alguns com maior intensidade. É o caso de Angola, onde já existe um grande volume de operações, viabilizando negociações de exportação de serviços de construção e de bens de capital brasileiro, em condições competitivas.

Antonio José Alves Jr.: É verdade. Um exemplo: o Brasil e Angola desenvolveram um instrumento sofisticado, em que os pagamentos dos financiamentos de Angola são garantidos por uma conta-petróleo. Após longas negociações, se estabeleceu um instrumento financeiro que mitigou completamente o risco angolano, especialmente depois que os preços do petróleo começaram a subir. E Angola se tornou para o Brasil, um país de risco 1 de 7, segundo nomenclatura da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O instrumento rende muitos negócios entre os dois países. Até agora já foram aprovados empréstimos de US$ 5,2 bilhões entre os países e o Brasil acabou de abrir uma linha de mais US$ 2 bilhões para a Angola. O modelo aplicado à Angola já está valendo para Gana e Moçambique. E foi anunciado um financiamento (ainda não oficial) de recursos não-reembolsáveis de US$ 6,5 milhões para oito países que pertencem à União Econômica e Monetária do oeste da África. O objetivo desse estudo é avaliar a possibilidade do desenvolvimento de biocombustíveis, além de outros negócios. Um outro indicador do momento profícuo é um plano de cooperação com o Banco de Desenvolvimento africano, que está em andamento, para aumentar a capacidade de conhecer e induzir a estruturação de projetos na África. O BNDES se aproximou de um ator privado, o Standard Chartered (Bank Brazil) que tem uma experiência longa na África.

Revista Cidade: Um relatório da Reuters diz que o Brasil se diferencia da maior parte dos países com investimento externo direto na África, exatamente por valorizar o emprego dos trabalhadores africanos e não se negar a transferir tecnologias Os investimentos brasileiros na África levam em consideração os projetos que são apontados pelos países que vão receber estes investimentos.

Antonio José Alves Jr :O mérito é conseguir induzir investimentos brasileiros atendendo aos interesses dos empresários brasileiros e aos interesses de quem recepciona esses investimentos. Há países que investem para formar economias de enclave. Constroem um conjunto de infra-estruturas visando a exploração de um recurso mineral, tiram o minério da mina e levam até o porto, pedem a exclusividade em troca desses investimentos, utilizam até mão-de-obra própria e não deixam sequer informações do projeto no país que recepciona o investimento. O resultado é uma capacidade muito baixa de articulação com a economia local. O BNDES participa do desenvolvimento africano com o crédito desta relação das possibilidades de desenvolvimento do mercado interno. O Brasil se interessa em exportar automóveis para África, mas talvez o verdadeiro filão econômico da África esteja na sua própria industrialização. E o Brasil pode participar desse processo por meio do investimento direto de suas empresas, da exportação de capital e da importação daquilo que a África puder produzir, para complementar a nossa estrutura produtiva.

Antonio José Alves Jr. - BNDES

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do rio chamado Atlântico, que não foi inventado pelo Banco Mundial, nem pelos seus economistas ou pelo renascimento econômico chinês... A África é parte de nós, a nossa fronteira Atlântica. Uma vizinhança separada pelo oceano que é de paz, cooperação e não intervenção.

Para o professor da UnB, tal realidade permite uma economia de elevação, vontade política dos dois lados, razões para reencontro e seus limites. E convida à ação: Nós queremos atravessar o Atlântico. E aqui estão alguns programas, coisas que estamos fazendo mesmo com algumas dificuldades, de forma horizontal, com as parcerias das nossas embaixadas africanas em Brasília. O professor afasta a possibilidade da dívida histórica do Brasil para com a África ser um risco para a criação de uma postura paternalista. Os interesses comerciais mútuos e pragmáticos não precisam ser contrários ao idealismo político e o imperativo moral. Ir à África e receber a África é um imperativo moral, mas é também campo de interesse. Não há contradição! Tudo isso pode vir junto, no campo moral e ético. O reconhecimento da dívida histórica surge em forma altruísta de cooperação, de mitigação da pobreza, dividindo as nossas dificuldades, conclui.

José Flávio Sombra Saraiva, professor da Universidade de Brasília (UNB), é um entusiasta nas relações entre Brasil e África. Ele define o momento como uma festa: A África está na moda! Do Banco Mundial ao FMI, do Banco Chinês aos

bancos das velhas metrópoles... Mas também, a África com seus 54 países com enorme diversidade, formação histórica diferenciada estado a estado, região a região... Segundo ele, a euforia se deve ao fato do continente alcançar a sua aquinta década completa de independência dos estados nacionais, de formação de um estado moderno, com transformações estruturais importantes. Temos uma nova geração e uma certa nova elite africana, com toda essa diversidade e as dificuldades mencionadas, que querem cuidar da sua própria história e do seu destino.

Ele percebe possibilidades de desenvolvimento, com novas indústrias, crescimento econômico, distribuição social, um novo padrão civilizatório e, naturalmente, democracia, cada um com o direito de organizar internamente as suas razões do poder político.

Diretor do Instituto de Relações Internacionais da UnB, Saraiva faz uma analogia entre a fronteira ocidental do Brasil, com 10 países, uma das mais pacíficas do mundo, sem contencioso importante com os vizinhos da América do Sul. A outra fronteira são os países

A AFRICAÉ PARTEDE NÓS!

Os interesses comerciais mútuos e pragmáticos não precisam ser contrários ao idealismo político e o imperativo moral.

Prof. José Flavio Sombra - UNB

Junto com o Brasil, com suas 19 décadas de estado nacional, o professor da Universidade de Brasília (UNB), José Flávio Sombra Saraiva, preconiza a construção de uma dupla autonomia, que permite participar do sistema internacional.

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Especial Fórum Brasil Africa 15

Uma inovação na carreira tradicional das universidades federais é a presença de metade do corpo docente como visitante. O intercâmbio de professores vai além dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), abrindo para profissionais dos centros de estudos africanos, áreas prioritárias das universidades a partir de convênios e parcerias, prioritariamente na cooperação sul-sul. Mas já foram identificadas possibilidades de cooperação trilateral com países do hemisfério norte. Estão sendo desenvolvidos projetos com a França e Canadá, no aporte da perspectiva da cooperação solidária.

No âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, está em construção uma rede de instituições de ensino superior Brasil – África – Ásia - Europa, que terá uma base de articulação e estruturação que permita um intercâmbio ágil entre estudantes, professores e pesquisadores. Durante a nossa visita preliminar a todos os países de língua portuguesa, dirigentes das empresas brasileiras ali instaladas (a Vale e a Petrobrás, em Angola) reconhecem a importância da contribuição que a Unilab pode dar na formação de quadros profissionais indisponíveis nos locais onde atuam.

Os projetos para o futuro são promissores e ambiciosos: Estamos com duas cooperações bilaterais. Uma com São Tomé e Príncipe, para estruturação da Universidade Nacional de São Tomé e Príncipe, conjuntamente; e com a Guiné Bissau, para reerguer a Universidade Amílcar Cabral, que foi criada, mas ainda não foi implementada, planeja Speller.

Por sentimento expresso pelo presidente Lula, por ocasião da sua fundação, a universidade de Redenção não é uma universidade federal a mais, nem tão pouco um instrumento de política comercial brasileira. Ela foi

criada como uma universidade pública, autônoma, assentada no princípio fundamental da cooperação solidária. O que ela busca, realmente, é a construção em conjunto com os países, com os seus governos, com seus movimentos sociais e, sobretudo, com as universidades desses países, do caminho da cooperação solidária. E é o que estamos fazendo neste momento, diz Speller.

A fundação da Unilab foi precedida por estudos realizados por uma comissão de implantação, com a participação de várias instituições, entre elas a Embrapa, Fio Cruz, UNESCO, várias universidades e o Itamaraty. A capacitação de quadros profissionais, tecnológicos e no campo da pesquisa foi prioritária, levando em consideração trabalhar numa perspectiva de formação conjunta com as universidades locais. Fazemos a formação inicialmente no Brasil. Na fase final, retornamos estudantes aos seus países de origem para a diplomação. Somos uma universidade internacional que investe na cooperação e desenvolvimento de expertises dos estudantes brasileiros e africanos.

Estão em funcionamento os cursos de Enfermagem, Ciências Humanas, Engenharia de Energias, Administração Pública e, com foco na formação de professores, a primeira licenciatura em Ciências da Natureza e Matemática. Gestão é outra importante demanda. Estamos desenvolvendo uma proposta de um projeto para o campo na Gestão Pública nos conselhos, usando tecnologias de educação à distância, informa Speller, que investe também em uma área que é absolutamente estratégica, de engenharia em energias. São cursos que tomam um alto investimento, totalmente financiados pelo governo brasileiro. E nós recebemos estudantes numa perspectiva residencial, algo absolutamente novo.

O reitor da Unilab considera que a evolução da universidade faz parte de um processo de expansão do ensino superior brasileiro.Segundo Speller, interiorizar o ensino superior no Brasil significa dar condições não apenas de acesso, mas de permanência do estudante e condições para que ele possa avançar e concluir os seus estudos. Somos uma universidade de tempo integral, com condições de moradia e alimentação. Nossos alunos recebem bolsas que permitem integração nos vários aspectos da vida da universidade. É uma nova proposta de estrutura de universidade.

UNILAB: uma Instituição autônoma e solidária

Somos uma universidade internacional que investe na cooperação e desenvolvimento de expertises dos estudantes brasileiros e africanos.

Reitor Paulo Speller - Unilab

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ANUNCIO IC

países, no universo de 54: Egito, África do Sul, Argélia, Nigéria, Angola. Essas características da pauta comercial Brasil-África também se fazem refletir num aspecto que é muito importante que é a logística - o transporte de cargas. Por exemplo, o petróleo que vem da África em navios granel-líquido, voltam pra África vazios. Já os produtos brasileiros são transportados em navios de transporte-container, que vão pra África e voltam vazios.

Os obstáculos poderão ser removidos, mas nem todos em curto prazo. Oliveira reconhece o papel extremamente relevante que a diplomacia comercial vem desempenhando para o crescimento do comércio Brasil-África, após os dois mandatos do presidente Lula, e agora, com a presidenta Dilma: Não existia Apex, não existia Ministério do Desenvolvimento do Comércio Exterior. Hoje, temos muitos parceiros institucionais, também da área privada, com quem podemos dividir essa grande tarefa de promover nosso comércio internacional.

Oliveira conta que quando o Brasil instalou sua embaixada na Etiópia, recentemente, o embaixador brasileiro foi procurado pelo ministro dos Transportes etíope para que transmitisse ao Brasil o seguinte pedido – era preciso construir estradas, mas que fossem feitas por empresas brasileiras; não queria empresas de outros países, que têm uma forma diferente de investir. O embaixador passou uma mensagem, o Itamaraty encaminhou junto às associações de construtoras, a empresa Andrade Gutierrez mandou dois executivos pra lá e estamos começando a construir um grande projeto, que certamente vai gerar outros projetos, vai gerar uma aproximação maior entre as sociedades, vai haver um intercâmbio de brasileiros e etíopes, se conhecendo mutuamente, conhecendo os mercados e poderão se desenvolver. Então a importância das embaixadas é muito grande.

Um estudo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior( Funcex) feito há uns cinco anos, diz que os custos de transporte entre Brasil e África do Sul giram em torno de 10%. Naquele ano, o intercâmbio total entre Brasil e África do Sul foi cerca de US$ 900 milhões, a um custo de transporte de quase US$ 90 milhões.Temos que estabelecer uma nova estratégia de maximizar e potencializar essa parceria que já aumentou muito e está aumentando cada vez mais, conclui o diplomata.

O intercâmbio está desequilibrado em diversas vertentes e a favor da África. A afirmação é de João Tabajara de Oliveira, Chefe da Divisão de Inteligência Comercial do Itamaraty. Em 2011, o

Brasil exportou cerca de US$ 12 bilhões e importou 15. Isso se deve à concentração excessiva da pauta comercial. Por exemplo, o Brasil adquire da África cerca de 60% de suas necessidades totais de petróleo e outros importados. Só da Nigéria, o Brasil importou quase US$ 8 bilhões de dólares. Ou seja, 55% do total das importações brasileiras da África em um só país – outro desequilíbrio.

O Brasil ainda importa petróleo de outros mercados como da Guiné Equatorial, Argélia e da República Democrática do Congo, em quantidades menos expressivas. A concentração de parceiros preocupa Oliveira. Segundo ele, no ano passado, 60% das exportações brasileiras para a África foram destinadas a cinco

O intercâmbio comercial entre o Brasil e a África cresceu de US$ 5 bilhões para 27 bilhões, em 10 anos, um incremento de quase 500%. São números expressivos, se comparados ao mesmo período, com outros mercados. A evolução com relação à União Européia é o dobro, 240%. E os Estados Unidos, o principal parceiro comercial do Brasil, não passa de 140%. A forma como esta evolução se configurou conduz a algumas reflexões e sugere desafios.

a diplomacia comercial

“Os obstáculos poderão ser removidos, mas nem todos em curto prazo.”

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João Tabajara de Oliveira - Itamaraty

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O banqueiro informa que a África é rica em recursos naturais, mas ainda pouco explorados, com um elevado potencial econômico. As taxas de crescimento estão acima da média mundial, resistindo aos choques econômicos globais. Temos cerca de 35% dos 50 países com a maior taxa de crescimento da década, com um mercado consumidor de aproximadamente um bilhão de pessoas. A expectativa positiva de crescimento é elevada, junto ao aumento das exportações de consumo interno para os próximos anos.

Ibraimo reconhece que o seu continente ainda é pouco desenvolvido, com um baixo nível de escolaridade, força de trabalho pouco qualificada, miséria, fome e doenças.

São 25 países africanos entre os 30 mais pobres do mundo. Há muitas desigualdades sociais, com a existência ainda de focos de instabilidade política em alguns de seus países. É um continente vulnerável a mudanças climáticas, com falta de infraestruturas básicas como escolas, hospitais, estradas, pontes de energia, comunicações e um elevado déficit de investimento público e privado.

A evolução do Brasil pode significar - em muitos aspectos - soluções importantes para tais problemas sociais: O Brasil é um país dono de uma das economias com mais rápido crescimento econômico no mundo e uma história de sucesso recente, na luta contra a pobreza. Ele acredita que tecnologias brasileiras podem ser adaptadas a regiões da África, com as mesmas condições geológicas e climáticas, como também seus programas de proteção social inovadores para a proteção da pobreza extrema, que estão atraindo a atenção de países africanos.

O caminho da cooperação - Os países africanos são diferentes entre si, em termos políticos, econômicos, sociais, culturais e religiosos. Cada país é uma realidade. E também, diferentes do Brasil. O ambiente de negócios para investimento na África também não é homogêneo. Para que esta cooperação se torne uma realidade, é indispensável que haja maior informação e conhecimento mútuo sobre essas particularidades.

É imprescindível o respeito mútuo pela soberania e integridade territorial dos países e das suas leis. Ibraimo percebe uma tendência em alguns lugares, de empresas e grupos multinacionais se influenciarem e organizarem localmente, impondo suas regras de funcionamento. Isto é um erro total! É necessário que se implante um sistema de cooperação que crie auto-suficiência e desenvolvimento econômico dos países, aliados a uma não dependência. E sugere como base de cooperação empresarial entre Brasil e África o princípio daquilo que os ingleses chamam win-win, o benefício mútuo, em que todos ganham.

A falta de respeito pela cultura e regras locais de funcionamento por parte do investidor, tem gerado situações de aversão, que se transformam em convulsões sociais. Por outro lado, a cooperação que privilegia o desenvolvimento de projetos locais oferece retorno mais rápido, com impacto social imediato.

Durante quase quatro séculos, a relação entre Brasil e África assenta numa herança ancestral. Negros africanos foram trazidos ao Brasil para trabalhar como escravos, separados das suas famílias, do seu povo, da sua terra.

Poucos conseguiram voltar, depois da abolição da escravatura. Os ex-escravos foram aos poucos se adaptando a uma nova língua, a novos costumes e a um novo país, se misturando com brancos europeus colonizadores e com os índios da terra, compondo uma população brasileira miscigenada e contribuindo para a formação da diversificada cultura brasileira.

O presidente da Comissão Executiva do Banco Comercial e de Investimento SARL, Ibraimo Ibraimo, de Moçambique, acredita que a contribuição dos africanos na formação do Brasil foi essencial, tanto na composição física da população, como no que viria a ser a cultura, língua, culinária, religião, música, estética e valores sociais. Ele percebe entre o Brasil e África particularidades e muitas semelhanças. O Brasil é o maior país da América do Sul, o quinto maior do mundo em área territorial, equivalente a 47% do território sul-americano. A África é o terceiro continente mais extenso, depois da Ásia e da América, com cerca de 30 milhões de quilômetros quadrados, cobrindo 20% da área total da terra firme do planeta.

O Brasil tem uma população com mais de 200 milhões de habitantes, em 26 estados. A África - enquanto segundo continente mais populoso da Terra, atrás da Ásia - com cerca de um bilhão de pessoas, representa aproximadamente um sétimo da população do mundo, com 54 países independentes. O PIB per capita do Brasil é de US$ 10 mil 200 dólares, colocando-o na 64ª posição, de acordo com dados do Banco Mundial. As diferenças sociais no continente africanos levam a África do Sul, por exemplo, a possuir sozinha, um quinto do PIB de toda a África.

O Brasil é uma das nações mais multiculturais e etnicamente diversas do mundo, resultado da forte imigração de diferentes origens. A África apresenta uma grande diversidade étnica, cultural, social e política. O Brasil é hoje a maior economia da América Latina e a segunda das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, e sexta maior do mundo. A África é considerada o continente mais pobre do mundo, que sofre com inúmeros conflitos armados - que dizimam populações esquecidas – e um alto índice de contaminação pelo HIV, do vírus da AIDS, conhecida por SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) nos países africanos que falam a língua portuguesa.

Reservas minerais - O continente africano detém grandes reservas minerais, principalmente ouro e diamantes, respondendo pela maior parte da produção mundial do setor. É igualmente rica em fontes energéticas, como petróleo e gás natural. A caça, a pesca e a coleta de produtos naturais também constituem importantes fontes de renda para grande maioria da população, basicamente jovem. Cerca de 44% tem menos de 15 anos de idade, a mais jovem do mundo.

BRASIL E ÁFRICA: PARTICULARIDADESE SEMELHANÇAS.A contribuição dos africanos para a formação da nação brasileiraIbraimo Ibraimo - Presidente da Comissão

Executiva do BCI/SARL

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Para Rawlinson Dias Rodrigues, Analista do Núcleo de Cooperação Internacional da Fundação Oswaldo Cruz, o processo de ins talação da fábrica é a ação mais signifi cativa da Fiocruz em países africanos. “O Brasil não terá retorno econômico, mas se beneficiará com toda o aprendizado adquirida no processo” , esclarece. Com o apoio dado para a construção da fábrica, o Brasil estabelece um novo patamar de cooperação com países de África, com foco na Saúde Global.

A iniciativa, que já é avaliada como um caso de sucesso, gerou o interesse de outros países, que também estão pro-curando o governo brasileiro para a for mulação de parcerias semelhantes, des tinadas a combater o avanço da AIDS.

As carências sociais que afli gem os países africanos, como o déficit nos serviços de atendimento em saúde públi ca, chamam a atenção das autoridades brasileiras do setor. A Fun dação

Osvaldo Cruz (Fiocruz) já opera no continente, através do Núcleo de Co operação Internacional de Farmangui nhos, instituição centenária que trabalha para a promoção da saúde e da qualidade de vida, realizando cooperações interna cionais em quase todos os continentes do mundo. Farmanguinhos é a unidade técnica e científica da Fiocruz, voltada à produção de medicamentos.

A Fiocruz tem parcerias com os go vernos da África do Sul, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique, no intercâmbio em pesquisas para combate a doenças; transferência de tecnologias; educação e produção farmacêutica. Uma fábrica pública e sustentável está se instalando em Moçambique, para produzir antirretrovirais e outros medi camentos. O projeto foi idealizado em 2003. Depois de um elaborado processo de planejamento e execução, que envol veram acordos políticos, estudos de via bilidade técnico-econômica, aquisição e adequação do espaço, documentação e registro, instalação dos equipamentos e capacitação técnica e gerencial, o objeti vo final já está prestes a ser conquistado.

A previsão é de que as máquinas comecem a funcionar ainda em 2012, iniciando com a produção de 21 medi-camentos essenciais para o atendimen to básico, além de seis antirretrovirais. Mais de 220 milhões de unidades farma-cêuticas serão produzidas por ano, na fá brica moçambicana, ampliando o acesso aos medicamentos para pacientes porta-dores do HIV/AIDS.

COOPERAÇÃO TÉCNICA EM SAÚDE E TECNOLOGIA:Fiocruz em Moçambique

A iniciativa, que já é avaliada como um caso de sucesso, gerou o interesse de outros países, que também estão pro curando o governo brasileiro para a for mulação de parcerias semelhantes, des tinadas a combater o avanço da AIDS.

Rawlinson Dias Rodrigues - Fiocruz

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A inflação está controlada, apesar de não ser pequena. Temos que trabalhar para criar mecanismos para torná-la pequena. Estamos fazendo isso com essa medida da caderneta de poupança, diminuindo o acordo de pagamento que tem o governo. Macedo conclui afirmando que, se um empresário investir no Brasil, ele pode repetir esse negócio dez vezes, porque tem 200 milhões de consumidores. Essa competitividade eu não consigo ver em nenhum país latino-americano, conclui o presidente da Braslink.

A política macroeconômica brasileira está amparada em cinco itens: o crescimento da economia; o controle da inflação; o controle das contas públicas; o câmbio flutuante; e o respeito às regras da

economia nos contratos. Quem aposta na importância desses elementos é o economista Alcântara Macedo, presidente da Braslink. Ele reconhece que - na condição de um dos BRICS – o país está crescendo abaixo da média dos demais, mas com sustentação de produtividade. O comportamento da economia mudou, assim como o modus operandis de atrair investidores. Nós temos inflação baixa, um banco central independente, um mercado de 200 milhões de habitantes e segurança institucional compatível com a necessidade dos investidores, com respeito aos contratos e estabilidade política, comemora o economista.

Segundo Macedo, o Brasil tem reservas cambiais bem acima da dívida e é credor do mercado internacional. Tem US$ 370 bilhões para uma dívida de US$ 305 bilhões, o que significa um superávit de mais de US$ 140 bilhões, considerando que dois terços da dívida brasileira é da iniciativa privada e só um terço é do governo. O Brasil está como nunca aconteceu antes. Temos um nível de sustentabilidade de não ter vulnerabilidade muito grande na área financeira internacional, o que faz com que as crises internacionais americana e européia não tenham a mesma intensidade aqui dentro.

O presidente da Braslink reconhece no Brasil quatro diferenciais importantes para o investidor. O primeiro é a segurança institucional. Saímos de um regime de exceção, um presidente foi eleito pelo voto indireto, morreu antes de assumir, o vice assumiu e governou. Em seguida, elegemos um rapaz de 39 anos, um ano e meio depois o mandamos pra casa sem um tiro. Anos depois, elegemos um operário e ele governou por oito anos. Não preciso falar da segurança institucional para os investidores, diante desses fatos. São 20 anos de fatos concretos de respeito a quem corre risco no Brasil.

A outra garantia é a independência do Banco Central do Brasil, não legalmente, mas de fato. O Copom se reúne, baixa a Selic, a presidente pode até expressar a sua vontade através dos seus ministros, através dela mesma, mas o Copom toma a decisão depois que um colegiado técnico gerencial analisa a conjuntura econômica e as perspectivas financeiras.

Temos um nível de sustentabilidade de não ter vulnerabilidade muito grande na área financeira internacional, o que faz com que as crises internacionais americana e européia não tenham a mesma intensidade aqui dentro.

Brasil: Competitividade e Segurança Para InvestimentosAlcântara Macedo - Braslink

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ENTREVISTA

PROF. JOÃO BOSCO MONTE

Três dias de intenso debate e troca de experiências, resultaram em grandes perspectivas de negócios, acordos e intenções para o estabelecimento da cooperação entre países africanos e o Brasil.

Empresários, representantes de empresas públicas e corpo diplomático em simbiose e sinergia na construção de pontes para o desenvolvimento e geração de oportunidades. Coordenando as ações e facilitando os encontros, o Professor João Bosco Monte recebeu nossa equipe para uma conversa.

Revista Cidade: Como surgiu a ideia de realizar o Fórum Brasil África, com o foco na Cooperação, Desenvolvimento e Oportunidades, precisamente em Fortaleza?

João Bosco Monte: Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, disse que a África seria uma prioridade para o governo, sinalizou o direcionamento da política externa do seu governo. Houve, então, uma convergência de olhares para o continente africano. A partir daquele momento, pudemos perceber uma reaproximação positiva do Brasil com a África.

Nos dois mandatos do ex-presidente Lula muita ação e, também, reação foram mostradas nas articulações entre o Brasil e a África. Ficou claro para a Comunidade Internacional que não era só discurso de intenções. Muitos acordos bilaterais e multilaterais foram propostos pelo Brasil. Incentivos econômicos ao desenvolvimento de vários paises africanos foram feitos. Investimentos financeiros foram direcionados.

Por outro lado,na comitiva do presidente Lula em suas visitas presidenciais, era natural e a participação de empresários brasileiros, demonstrando que a Africa,como parceiro comercial era potencialmente importante para os investimentos brasileiros. Era uma nova forma de olhar o continente africano.

Esta nova modalidade de ver a África contagiou praticamente todos os setores. De acadêmicos a empresariais. Despertou um interesse maior dos estudiosos e africanistas. Para mim que sou além de um estudioso aplicado na questão do desenvolvimento africano, também como Consultor Internacional enxerguei o enorme potencial econômico, de desenvolvimento, de relações bastante promissoras entre o Brasil e diversos paises africanos. Em síntese, percebi que era o momento propício de propormos algo ousado, factível e de inclusão de idéias.

RC: Sabemos que não é fácil juntar em um mesmo evento fórum a representatividade política e econômica que se viu no Fórum Brasil África. Como aconteceu esse processo de interesse pelo Continente como um todo?

JBM: Num primeiro momento, fiz uma incursão pelos países da CPLP- Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que

congrega 5 países africanos, do total de 8 ( além do Brasil, compõe a CPLP, Portugal, Timor Leste na Ásia, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde). A Comunidade de Países de Língua Portuguesa tem no total 250 milhões de habitantes aproximadamente. Essa aproximação com os países de língua portuguesa, despertou o desejo de estudar melhor as “outras Áfricas”. Direcionei meu interesse para os outros países, embora não tenha sido fácil, pois é necessário fazer uma tem uma análise localizada, país a país para termos então uma análise geral. A África tem 54 Estados nacionais. Essas nações não são iguais.ao contrário, tem muitas diferenças. Se nós pudéssemos dividir a África, nós dividiríamos em 5 grandes regiões. A África do Norte com países como a Líbia, a Argélia, Marrocos e Egito. Temos a África Subsaariana. Temos a África Ocidental. Temos a África Oriental. E temos outra que é a África do Sul que por localização e principalmente pela infraestrutura se destaca mais do que outros países.

Como discutir isso de uma maneira objetiva e promover interesses do lado de cá do Atlântico com interesses do outro lado? O que surgiu de mais prático foi colocar atores africanos e atores brasileiros sentados em torno de uma grande mesa, para discutir o tema que está na agenda, que são as oportunidades entre o Brasil e o continente africano. Portanto, o Fórum Brasil África surgiu desse interesse que já existia e que, talvez como observador deste interessante processo, decidimos trazer aqui para o estado do Ceará esse evento.

RC: Então, com todas as condições de interesse entre os atores nacionais, africanista de outros paises, como Portugal, Alemanha e Reino Unido, o senhor conseguiu juntar todos em torno do Fórum Brasil África. Qual foi o percurso para que este sucesso acontecesse de maneira tão visível?

JBM: A participação das muitas autoridades estrangeiras presentes ao evento, certamente confirmam o interesse desses especialistas e nos confirma que o planejamento foi essencial para chegarmos aos resultados alcançados. Nós passamos um ano desenvolvendo o jrojeto Forum Brasil África. Eu estive, desde o início das articulações até o mês que antecedeu o evento, 12 vezes em diversos países, visitando, conversando com autoridades, com formadores de opinião. Foram muitas reuniões com autoridades governamentais do Brasil e estrangeira, empresários e acadêmicos. E vendo o resultado, posso afirmar que superou nossas expectativas. Tivemos uma assistência bastante significativa de empresários, de acadêmicos, de representantes de governos, tanto do Brasil como da África, com as presenças de 10 embaixadores africanos. Poderia citar a presença direta de grandes empresas nacionais como BNDES, Vale, MPX,BNB,APEX,EMBRAPA,SENAI,SEBRAE e FIOCRUZ. Além de empresas estrangeiras como BCI,BRAFIC e ACSA [Airports Company South África] que é uma empresa sul africana, que controla agora juntamente com outra empresa do Brasil, as operações do aeroporto de Guarulhos.

Professor João Bosco Monte - Coordenador Geral do Evento

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RC: Após tanto trabalho e articulação diplomática, qual a avaliação que o senhor faz do evento?

JBM: Essas participações demonstram o interesse do público em estar presente nesse Fórum. O resultado, depois de três dias de evento, foi muito significativo, entendendo que tivemos 21 delegações estrangeiras. Sendo a primeira versão de um evento para discutir oportunidades de negócios, entendo que alcançamos o encontro real dos interesses. Obviamente há muita coisa ainda a se fazer e os frutos deste evento acontecerão depois. A ideia era apresentar interesses e a partir da apresentação desses interesses, os envolvidos arregaçariam as mangas e começariam as suas discussões. Era possível a gente ver em algumas conversas, nas trocas de cartões, o interesse em avançar em algumas ideias tratadas durante os painéis. É possível que demande algum tempo para vermos resultados práticos, mas o fato de ter interesse já é a redundância daquilo que aconteceu durante as discussões. Foi interessante ver alguns embaixadores africanos conversando com empresários locais. Depois, a gente fica sabendo o resultado: Já está em negociação com o governo do Zimbabwe e uma empresa do Ceará, a instalação de uma usina de reciclagem de resíduos sólidos em Harare, capital do país; a delegação de Gana está conversando com representantes locais sobre a instalação de um voo de Acra para o Nordeste( Fortaleza ou Recife); autoridades da África do Sul, me procuraram para fazer uma rodada de negócios com empresários sul-africanos e empresários da região Nordeste. Estes são alguns exemplos dos que aconteceu durante o evento, mas tem muita coisa que nós não sabemos depois das articulações concretizadas. E isso é muito bom.

RC: A partir do Fórum Brasil África como o senhor vê a África atual? O que mudou?

JBM: O locus África, na minha cabeça, existe como um continente. Não existe interesse específico em um país. Por exemplo, não existe mais atenção no Quênia do que no Burundi. Obviamente os interesses que se apresentam ou as informações que surgem sobre determinados países, podem variar de acordo com aquilo que país tem para mostrar. A África do Sul se notabilizou com os investimentos destinados ao Mundial de Futebol de 2010. Não resta dúvida que o mundo teve mais acesso às informações e imagens do país africano com o advento da Copa do Mundo.

Dois ícones vivos que expressam para o mundo as possibilidades e disponibilidades cooperativas pela paz que são Desmond Tutu e Nelson Mandela, dois Prêmios Nobel, que conseguiram trazer para a realidade da África do Sul uma introspecção. Nelson Mandela mais do que Desmond Tutu, conseguiu se transformar num ícone de diálogo, de integração.

A África do Sul se destaca também por isso. Entretanto, o continente africano é além da África do Sul. O continente tem uma população de 1 bilhão de habitantes, cujo crescimento médio em 2011 foi de 5,9%.

O IDE – Investimento Direto Externo - recente na região foi incentivado pelo aumento da concorrência global por recursos naturais, aumento dos preços das matérias-primas, crescimento económico robusto e uma classe média em rápido crescimento. Países ricos em recursos, como Gana, Moçambique e Nigéria, atingiram taxas de crescimento superiores a 7%. Esses dados demonstram que existe um mundo de potencialidades e a África é vista cada vez mais como um destino de investimento

Sou um entusiasta do potencial africano e dos grandes negócios entre o Brasil e os paises da África.

RC: O senhor já percebe resultados desse trabalho?

JBM: O nosso desejo é ver no dia seguinte os cifrões aparecerem na nossa frente. Não é, porém, assim que se articulam, do ponto de vista estratégico, as operações entre dois territórios, principalmente quando pensamos em temas infra estruturais. O Forum Brasil Africa, em sua gênese é estratégico. Nós colocamos dentro de um espaço comum, pessoas que têm interesses comuns. Então, nesse encontro uns apresentam suas demandas e outros mostram de que forma podem resolver essas demandas. Quando isso vai acontecer, vai depender da celeridade e das iniciativas dessas partes. Aí não depende de nós. Para dar um exemplo claro, a matriz energética na África é praticamente vocacionada para os resíduos fósseis, para o diesel. E há uma necessidade de se pensar uma nova oportunidade energética. Nossa indicação é pensar uma nova matriz a partir de fontes renováveis, como energia eólica e solar. O estado do Ceará já fabrica painéis e células fotovoltaicos. O representante da empresa participou do Forum e fez uma apresentação sobre essa experiência da MPX. Eu tenho certeza de que esta apresentação se transformará em um diálogo próximo com os países que têm deficiência energética.

O que acontecerá em um determinado tempo é uma incógnita, mas a semente foi plantada, o interesse foi despertado.

RC: Qual a sua posição pessoal nesse processo?

JBM: Gostaria de destacar que como africanista, tenho duas realidades: como acadêmico e consultor de negócios internacionais. De forma pragmática, quando pensamos no evento, o interesse não era especificamente mostrar teses, embora isso seja absolutamente importante. O que mais chamava a nossa atenção era mostrar as experiências práticas, principalmente que realidades os Estados africanos oferecem para empresas brasileiras e quais condições são oferecidas para investidores africanos que querem vir para o Brasil.

No nosso entendimento isso aconteceu e nos dá a grata sensação de objetivo alcançado. Isso reitera o êxito daquilo que nós propusemos no início.

Por outro lado, nós pensávamos que dependendo dos resultados, teríamos que responder uma outra séria questão: E depois do Forum, o que vai acontecer?. A resposta aconteceu quase que imediatamente. Nos últimos momentos do Fórum, quando pensávamos que já não tinha mais nada para fazer, surgiram as “provocações”. Quando e onde será a próxima edição do Forum Brasil Africa?

RC: E as perspectivas para o futuro?

JBM: Já recebemos convites para realizarmos o Fórum Brasil Africa, em outros estados e até mesmo no exterior. Isso demonstra que aquilo que nós pensamos, e que foi executado durante o Forum, nos dá a ideia que não se trata de evento pontual e que pode se tornar uma instituição. A semente foi plantada!

É preciso sabedoria e sensibilidade entender para que lado devemos direcionar as nossas forças para a próxima edição do Forum Brasil Africa.

Abertura do Evento.

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uma evolução constante. Investir na indústria de processamento é uma forma de reduzir o índice de perdas, geralmente muito grande, principalmente nas pós-colheitas de frutas frescas. Estima-se que até 2028 esse setor vai ocupar aproximadamente 81% dos recursos que o movimentam.

As tendências nessa área de processamento, principalmente na área de alimentos, estão relacionadas com a crescente demanda por alimentos e produtos agrícolas; a elevação da renda per capita, com mudanças de hábitos em termos de consumo; o crescente processo de urbanização; o aumento das mulheres como força de trabalho; e a questão do commodities com alto valor agregado. Há uma busca muito grande por produtos processados, alimentos prontos para o consumo, a questão das dietas especiais, dos alimentos étnicos, indicações de origem e geográficas. Todo esse conjunto de mudanças na demanda constitui excelentes oportunidades para a agricultura de uma maneira geral. Não só para diversificação das linhas de produção, mas especialmente quando se fala em agregação de valor..

O motor à frente dessas mudanças está no desenvolvimento das agroindústrias. Elas têm um papel significativo, quando se fala de geração de empregos e agregação de valor, geralmente ofertado por micro e pequenas empresas, aproximadamente 94% da atividade produtiva no Brasil. Elas representam uma fatia significativa do valor bruto da produção industrial, ocupando a primeira posição entre todos os segmentos do setor. E é o segmento que mais emprega hoje, aproximadamente 20% dos postos de trabalho de todas as atividades relacionadas à transformação, informa Oliveira.

Ficou no passado a atividade agrícola produtiva pura e simples. Produzir, colher e vender. Agregar valor a um produto significa criar um diferencial para atrair o consumidor. Os processos que agregam valores são os

que diferenciam os produtos e serviços de um agente produtivo - ante os seus concorrentes - sob a ótica do cliente. Eles podem acontecer na produção, no processamento e na distribuição. Na realidade moderna do agronegócio, agregar valor significa encontrar formas de produzir com eficiência, acondicionar, transportar e expor produtos, evitando o desperdício.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) fornece tecnologia e acompanha processos de evolução na área. Possui 47 centros de pesquisa instalados em todo o Brasil e de cooperação internacional com as Américas, Europa, Ásia e África, com escritórios em Gana, Moçambique, Malawi, Senegal. Está presente no Panamá e na Venezuela. Tem parcerias internacionais envolvendo 78 acordos bilaterais, com 89 instituições, 56 países e 20 acordos multilaterais, com presença nos EUA, França e Reino Unido, Coréia do Sul, China e Japão e cooperação técnica com projetos, principalmente em transferência de tecnologia na África.

A Embrapa de Fortaleza tem atuação histórica com o continente africano, principalmente em Gana, Costa do Marfim, Tanzânia, Moçambique e Guiné Bissau. A cooperação internacional da empresa acontece além do ponto de vista técnico e científico, nas áreas de transferência de negócios, sob a forma de vendas de produtos e sementes, licenciamento para produção de sementes e desenvolvimento de material genético, licenciamento para utilização das tecnologias e suporte para empresas brasileiras no exterior.

A Plataforma África - Brasil foi criada para incrementar a inovação e o desenvolvimento da agricultura no continente africano e na região latino-americana e caribenha. Lançada em 2010 recebe aporte de recursos de vários fundos, inclusive da Fundação Gates. Oferece cursos destinados aos países africanos. 30 vagas serão ofertadas neste segundo semestre de 2012. Este curso internacional tem duração de 40 dias aproximadamente, promovido pela Agência Japonesa de Cooperação (JAICA) e Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores.

Segundo Vitor Hugo de Oliveira, da Embrapa Agroindústria Tropical, um importante foco desse processo é na produção de frutas frescas. É um mercado que gira, em termos globais, a uma cifra US$ 9 bilhões. Mas quando se fala em matéria-prima processada, o valor sobe para US$23 bilhões de dólares. As projeções do setor de processamento e distribuição apontam para

AGRICULTURA E SUSTENTABILIDADECOMO FAZER NEGÓCIOS E PROMOVER O DESENVOLVIMENTO

A Embrapa de Fortaleza tem atuação histórica com o continente africano, principalmente em Gana, Costa do Marfim, Tanzânia, Moçambique e Guiné Bissau.

Vitor Hugo de Oliveira- Chefe Geral da EMBRAPA

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Tauá é um município localizado no Sertão Central do Ceará, no chamado Polígono das Secas, do semiárido nordestino, com uma incidência pluviométrica baixa e o sol brilhando praticamente o ano todo. A instalação de um empreendimento do nível da usina de energia solar é importante fonte de riqueza e geração de emprego para a região.

Uma resolução da Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de abril de 2912, muda a regulação de geração para mini e microgeradores. Era uma reivindicação dos fabricantes, diante da constatação que a energia solar é dita hoje como uma energia de boutique, pelos altos custos em relação às outras energias. Os equipamentos são caros, diante das dificuldades geradas pela relação demanda e disponibilidade. Nos últimos 10 anos, esses equipamentos baratearam em cerca de 50% e há uma expectativa de que até 2016, estejam mais 50% baratos. Vai haver a possibilidade de competir com a energia eólica, levando-se em consideração que a energia hidroelétrica está praticamente esgotada na exploração dos seus mananciais, prevê o engenheiro.

O sol produz cerca de 10 mil vezes a necessidade de consumo do planeta. Segundo a Associação das Indústrias Europeias Fotovoltaicas, em 2011 foram produzidos mais que 69 giga watts

de energia gerada por painéis solares fotovoltaicos de produção global, alimentadas pela energia solar. Isso é o suficiente para alimentar 20 milhões de residências. A quantidade de watts de energia fotovoltaica instalada na Europa é de 80 unidades por habitante e nos Estados Unidos chega a 12. Mas no Brasil, a produção alcança apenas 0.2% por habitante. Na África, o índice é praticamente zero, salvo a África do Sul, que se aproxima dos 0.8.

A Alemanha e Itália dominam mais de 50% da capacidade instalada. Vem depois Japão, Espanha e outros. O enorme galpão que abrigou a delegação da Itália na Rio+20, no Parque dos Atletas, no Rio de Janeiro, era alimentado por esse tipo de energia sustentável. Tirando a Europa, destacam-se China, EUA e Japão. Se levarmos em consideração, que os países com maior aproveitamento estão fora da região equatorial, a grande oportunidade de negócios que existe nas relações entre Brasil e África nesse tipo de energia é evidente.

Para os países tropicais, energia renovável pode ser sinônimo de energia solar. Quem faz esta leitura é o engenheiro Antonio Carlos Carvalho, sênior de Usina Solar de Tauá, uma experiência bem sucedida da MPX no Sertão Central cearense, a primeira usina de geração de energia renovável solar da América Latina, conectada ao sistema nacional. A MPX compõe o Grupo EBX, do empresário Eike Batista, um dos homens mais ricos do mundo. Seu conglomerado empresarial é formado por diferentes ramos de negócios como MMX voltada pra mineração, a LLX Logística, e a MPX de energia, petróleo e gás, indústria naval. O grupo atua na América do Sul, no Rio de Janeiro, no Ceará, Maranhão, Chile, Colômbia, Amapá e Rio Grande do Sul.

A instalação de um empreendimento do nível da usina de energia solar é importante fonte de riqueza e geração de emprego para a região.

USINA DE ENERGIA SOLAR GERA EMPREGO NO SERTÃO DO CEARÁ

Antonio Carlos Carvalho- Usina Solar de Tauá

Revista Cidade26

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Especial Fórum Brasil Africa 27

conectividade para um número ainda mais expressivo de países, reconhece Natália.

Renegociando mercados - Enquanto a autoridade brasileira de aviação civil, a ANAC atua em coordenação ao Ministério das Relações Exteriores, no estabelecimento dessa conectividade e dessa aproximação com outros países. Nos últimos anos, a agência renegociou os principais mercados em termos de tráfego aéreo dentro da África, na África do Sul, Angola, Nigéria, Quênia, Marrocos e Gana. Foram celebrados três novos acordos nos últimos dois anos. O Zimbábue e Burkina foram acordos exemplos para o Brasil. Por um acordo de “céus abertos”, se configura um modelo mais adequado que o governo brasileiro enxerga em termos de desenho regulatório de regulamentação da aviação internacional. É uma excelente sinalização para os demais parceiros em países africanos, nessa proposta, nessa maior aproximação, acredita a técnica da ANAC.

São três as empresas africanas que voam do Brasil pra África: a TACV que faz Fortaleza - Cabo Verde; a TAAG, que voa do Rio e São Paulo pra Ruanda e a Empresa Sul-Africana, de São Paulo pra Joanesburgo. São 17 frequências semanais (uma frequência é um par de vôos - ida e volta) entre Brasil e África. Ao longo dos últimos 10 anos, o fluxo cresceu15%. Mas quando analisamos as taxas de crescimento da aviação internacional, separadas por mercados no Brasil, fica evidente que o mercado africano ficou a reboque desse crescimento. Houve um decréscimo nesse volume de passageiros transportados, diante do aumento bastante expressivo para Ásia, Europa, América do Sul e América Central. Isso nos aponta a necessidade de mudança de trajetória, de retomada daquele crescimento verificado nos últimos anos, e que se estagnou por alguma razão. Porque do ponto de vista econômico, a realidade só melhorou para ambas as regiões.

O crescimento da classe C no Brasil, somada às classes A e B, significa uma demanda potencial de serviços aéreos de 125 milhões de pessoas. Considerando que uma pessoa pode viajar mais de uma vez ao ano, em um vetor simples de duas viagens, serão 300 milhões de passageiros nesse leque de possibilidades de exploração e captação de tráfego. É um mercado muito promissor e caberá às empresas aéreas fazer os investimentos necessários, e ao governo propiciar condições de infraestrutura aeroportuária que garanta a expansão dessas operações, reflete Natália.

Ela lembra os grandes eventos que o Brasil receberá nos próximos anos como a Jornada Mundial da Juventude (um evento católico em 2013), a Copa do Mundo (em 2014) e as Olimpíadas (em 2016) que darão maior visibilidade do Brasil no exterior enquanto destino turístico. O cenário é bastante positivo em termos de novos negócios. Caberá às empresas a opção de aproveitar as oportunidades que estão sendo lançadas.

O setor aéreo é o principal instrumento de integração efetiva entre dois territórios separados pelo oceano. A boa notícia é que o transporte aéreo no Brasil triplicou na última década. Temos

atualmente um transporte aéreo de massa, uma aviação doméstica que já conduz 80 milhões de passageiros por ano e a aviação internacional, 17 milhões. É a primeira vez que a aviação internacional converge em termos de taxas de crescimento com a aviação doméstica. O crescimento foi de 15% na aviação internacional, nos dois últimos anos. Do ponto de vista histórico, é clara a mudança na curva de passageiros transportados pela aviação internacional, a partir de 2007. O componente reflete uma visão econômica de reposicionamento do Brasil, de aumento de renda e de barateamento das passagens, mas principalmente um componente regulatório.

Natália Ferreira, analista de Relações Internacionais da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), comenta que navegar pelos céus da América do Sul, não só por uma proximidade geográfica, como também por uma questão de preço, é o principal mercado internacional no Brasil, seguido por Europa, América do Norte, América Central, Ásia e finalmente a África. Em 2011, apenas 2% do tráfego internacional do Brasil se dirigiu e veio para o Brasil do continente africano. O que representa em torno de 300 mil passageiros por ano.

O Brasil já tem 16 acordos de serviços aéreos com países africanos. A análise em números absolutos pode parecer pequena frente aos 54 países existentes, mas em termos de peso econômico, isso representa 65% da população do continente, 70% do PIB e 75% da corrente de comércio exterior com o Brasil. Hoje, é possível dizer que esses 16 acordos já garantem condições regulatórias necessárias ao incremento da conectividade efetiva entre as partes. O que não nos furta o desafio de expandir essa

EVOLUÇÃO DO SETOR AÉREOOFERECE NOVAS ALTERNATIVAS

Nos últimos anos, a agência renegociou os principais mercados em termos de tráfego aéreo dentro da África, na África do Sul, Angola, Nigéria, Quênia, Marrocos e Gana.

Natalia Ferreira - ANAC

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Roberto Marinho - Câmara Brasil-Angola Ceará

Felipe Tavares Pereira - Construtora Queiroz Galvão

Revista Cidade28

As oportunidades são completamente novas. Ainda não sabemos onde vai dar, mas tudo aponta para um lado positivo. Esta é a reflexão de Roberto Marinho, presidente da Câmara Brasil-Angola no Ceará, vice-

presidente da Câmara Brasil-Portugal também no Ceará e o gerente da Regional Nordeste da Câmara de Comércio, Indústria

Com esta frase o diretor de operações e financiamentos internacionais da Construtora Queiroz Galvão, Felipe Tavares Pereira, inicia sua enrevista a Revista Instituto da Cidade - Fórum Brasil África. Ele considera

necessário o estreitamento das relações entre os países africanos e o Brasil, mas reconhece que o caminho para isso já está sendo trilhado.E destaca a parceria da construtora com o governo de Angola, onde realiza a reconstrução da malha viária local, destruída durante as décadas de guerra civil naquele país.

A empresa mantém convênios de cooperação técnica, selecionando estudantes angolanos e brasileiros das áreas de Engenharia, arquitetura e Tecnologia da Informação para atuarem nas obras. A intenção é fazer transferência de conhecimentos, junto com os investimentos, evidencia Pereira. Os empreendimentos também procuram contratar operários nas comunidades onde acontecem as obras e a empresa faz a doação das estruturas usadas durante o processo, para as prefeituras locais. Existe o interesse da Queiroz Galvão em atuar em Gana, Gabão e Moçambique. Os focos seriam os projetos de estradas, aeroportos e usinas. Mas as expectativas positivas contrapesam com algumas dificuldades encontradas. Há carência de matéria prima. Existe a necessidade urgente de investimentos em infraestrutura, tanto dos fundos públicos como privados, em todo o continente, exemplifica.

e Agropecuária Brasil-Moçambique. Neste panorama, ele avalia que a hora é de partir para a ação e não ficar apenas no discurso. O questionamento apontado por ele é o imediatismo do investidor brasileiro, que quer ter resultados rápidos. O empresariado está disposto, mas ainda se vê preso na economia nacional. O mundo está globalizado e este é o momento de aproveitar. Os africanos querem o Brasil, mas não a qualquer custo. Deve-se ter respeito e cooperação mútua em todos os procedimentos, considera.

Roberto Marinho destaca que no processo de aproximação entre Brasil e África, o Ceará é um porto de convergência e captação de empresas e investidores. Duas Câmaras de Comercio Brasil África funcionam no Estado. O avanço das relações que, muitas vezes, depende do transporte marítimo de mercadorias, pode ocorrer de forma ainda mais dinâmica com a efetivação de uma linha marítima entre os portos do Ceará e de Cabo Verde. Medidas como cooperação técnica e comercial, redução dos custos com tarifas portuárias, aumento e modernização dos espaços para armazenamento de cargas já estão sendo negociadas. Existe o interesse mutuo entre a Empresa Nacional de Administração dos Portos de Cabo Verde (ENAPOR) e a Companhia Docas do Ceará para que esse processo avance, declara.

Mesmo com os obstáculos, Felipe está otimista. A África é um lugar de oportunidades. O exemplo disso é a expansão de nosso trabalho em todo o continente, declara ele apostando na superação das dificuldades. Mais financiamentos da construtora estão em fase de análise pelos investidores, entre eles o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Sul Africano de Desenvolvimento e outras instituições privadas.

O Brasil e o Continente Africano Hora de partir para a ação

A África é um lugar de oportunidadesO caso da Construtora Queiroz Galvão em Angola

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Embaixador Murade Isaac - Secretário Executivo da CPLP

Daniel Pereira - Embaixador de Cabo Verde no Brasil

Especial Fórum Brasil Africa 29

O Brasil e o continente africano tiveram, simultaneamente, uma enorme evolução econômica nos últimos anos e este foi um dos fatores que estimulou a aproximação. Com base

nesta visão, o embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, acredita que a relação tem grandes possibilidades de avanço, apesar de reconhecer a necessidade de novas ações. E o Ceará pode ser um dos protagonistas neste processo.

De acordo com Daniel Pereira, a atuação brasileira em Cabo Verde é bastante expressiva, principalmente por meio do Sebrae, da Embrapa e do Centec, mantido pelo Governo do Estado do Ceará, que atuam na formação de quadros técnicos e na transferência de tecnologias no país. O relacionamento entre os dois países é de colaboração e não de imperialismo ou submissão, destaca o embaixador, avaliando positivamente o comportamento do Brasil.

No entanto, para que todas as vantagens desta troca possam ser efetivadas, os países precisam se conhecer melhor. Cabo Verde tem grandes atrativos para o público brasileiro, como suas belas praias. São ótimas condições para se tornar um grande destino turístico, destaca Daniel Pereira. Além disso, existe o interesse dos cabo-verdianos por roupas e calçados do Brasil e pelos camarões cearenses criados em cativeiro.

A relação entre o Ceará e Cabo Verde começou a se estreitar em 2005, relata o embaixador. Para ele, as similaridades culturais, climáticas e geográficas ajudaram neste processo, mas a maior facilidade é a linha aérea Fortaleza – Cabo Verde. Vários estudantes cabo-verdianos, participantes de programas

No fechamento desta edição especial da Revista Cidade – Fórum Brasil África, nos congratulamos com o Embaixador moçambicano Murade Isaac Miguigy Murargy, por sua eleição como Secretário

Executivo da CPLP, durante a IX Conferência dos Chefes de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, realizada em Maputo, no dia 20 de Julho de 2012. O Embaixador Murade Isaac sucede no cargo ao guineense Domingos Simões Pereira.

Presente e grande incentivador do Fórum Brasil África, realizado em Fortaleza, o novo Secretário Geral da CPLP é Embaixador de carreira diplomática, foi durante dez anos Secretário-Geral da Presidência de Moçambique. Chefiou a missão diplomática moçambicana em Paris, França e atuou como embaixador extraordinário e plenipotenciário na Alemanha, Suíça, Tunísia, Gabão, Mali, Costa do Marfim, Senegal e Irã, tendo sido também delegado permanente de Moçambique na UNESCO.

de intercâmbio educacional, moram no Ceará. Atualmente, o passo mais importante para o crescimento dessa relação, citado por Daniel Pereira, é a criação da linha marítima entre os portos cearenses e de cabo-verdianos.

Uma linha marítima direta entre Cabo Verde e o Ceará diminuirá o tempo de tráfego das mercadorias para menos de uma semana. A criação dessa nova linha traria enormes vantagens para a exportação e importação de materiais de construção civil, carnes, frutas e sucos e equipamentos, defende o embaixador Pereira, que vê a proximidade geográfica do Ceará com Cabo Verde e de Cabo Verde com os demais países africanos como uma grande vantagem para a realização de um projeto nestes moldes.

Embaixador Murade Isaac Novo Dirigente da CPLP

O CearáComo protagonista em Exportação

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Revista Cidade30

passa por importantes transformações. Uma cidade nova está sendo construída, a 60 km de Nairóbi, Konza City, que já ganhou o apelido de Savannah Silicon Valey.

Brandalise percebe interesses estratégicos de diferentes origens da economia global, voltados para o continente africano. A China, a Índia, a Turquia (um país que está extremamente agressivo na África) estão aumentando rapidamente seus investimentos em países africanos, ultrapassando os tradicionais investidores norte-americanos e europeus. Todos estão de olho no potencial de consumo de mais de um bilhão de pessoas. Estima-se que a metade da África vive com menos de um dólar por dia, a outra metade não, estes ansiosos por produtos e serviços.

Com experiência no mercado queniano desde 1992, Brandalise percebeu na hora certa que o desenvolvimento do leste africano estava prestes a acontecer. Víamos um Brasil anos atrás. Era impossível ignorar a quantidade de oportunidades disponíveis, não só no Quênia, mas em toda a região do leste africano. Contando com o apoio e confiança de empresas brasileiras, que também visualizaram o potencial das oportunidades de negócio, iniciamos operações de vendas de equipamentos para processamento de produtos agrícolas e alguns eletrodomésticos.

A BrazAfric conta atualmente com 140 funcionários diretos e aproximadamente 40 indiretos, distribuídos em filiais. A matriz é no Quênia, com escritórios em Uganda, Tanzânia, Etiópia, Ruanda e mais recentemente em Moçambique, com subagentes em Burundi, Congo, sul de Sudão e Somália. Com exceção do presidente e de dois consultores, todo o quadro de funcionários é de profissionais locais dos países em que atua. Nós da BrazAfric acreditamos que o estilo brasileiro de fazer negócios, juntamente com os produtos e serviços destinados em atender às condições brasileiras, se encaixam perfeitamente no contexto africano, com excelentes vantagens para o empresário africano e resultados positivos para africanos e brasileiros. Em março de 2011, a empresa realizou a I Brazil Eastern Africa Expo 2011, uma semana cultural, uma feira e uma conferência. Levamos o Palmeiras para lá, organizamos um campeonato infantil, para crianças abaixo de 15 anos. Foi um evento de bastante sucesso. Estamos organizando a segunda edição para março de 2013. Outra iniciativa foi a organização de uma equipe técnica brasileira, que treinou a seleção de voleibol de Ruanda, por um ano. Os atletas africanos passaram três meses treinando no Brasil.

O investidor brasileiro continua descobrindo novas possibilidades. Será lançado um projeto de lojas de varejo agrícola, um conceito que ainda não existe no leste africano, com uma central para facilitar o empresário brasileiro a distribuir seus produtos no leste africano. Nossa estimativa de investimento, entre dois a quatro anos será de aproximadamente 20 milhões de dólares. Acreditamos na região.

O apelo é o empresário brasileiro Marcos Roberto Garin Brandalise, presidente da BrazAfric Enterprises Ltd , com investimentos no Quênia há 16 anos, começou sua intervenção no Fórum Brasil

África. A empresa já atua em outros países africanos e tem uma posição de liderança em várias áreas do mercado, competindo com empresas europeias, indianas e mais recentemente chinesas. Somos referência de mercado em nosso campo de atuação em todo o leste africano. Levantamos a bandeira brasileira no leste africano e a do leste africano no Brasil. Uma maior interação desses dois importantes pólos econômicos e sociais sempre foi uma expectativa presente em nossos planos estratégicos. Estamos satisfeitos que finalmente esse momento tenha chegado.

A BrazAfric atua na área de produtos e equipamentos brasileiros utilizados no processamento de café, arroz e outros grãos, no Kênia e mais seis países do leste africano. Empresas que apoiaram a iniciativa hoje são líderes de mercado na região: a Lorenzetti (chuveiros elétricos); a Pinhalense (líder mundial em processamento de café); e a Zaccaria (de São Paulo – processamento de arroz). O mercado é promissor. O Kênia

“É necessário mostrar que a África não é viável tão somente para grandes negócios tais como Vale, Petrobrás e Odebrecht, mas também para pequenas e médias empresas”.

Africa: Oportunidades de Negócios Inexplorados

Marcos Roberto Garin - Presidente da BrazAfric Enterprises

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africano e num setor que o Brasil ainda é pouco competitivo. A APEX tem oferecido importante apoio na área de exportação para o continente africano, na promoção de máquinas e equipamentos brasileiros para formação de capital fixo no continente africano. As iniciativas nesse sentido são a Embrapa e Fiocruz, entre outros parceiros do Brasil.

Como virar o jogo - Rodrigo Iglesias reconhece que não é uma tarefa simples aumentar a competitividade exportadora brasileira na África. É necessário compreender quem é a África, quais são os países que a compõem, quais as suas necessidades efetivas, as especificações desses países, a dinâmica local, regional, continental, os países do norte, que são fortes culturas árabes.

A APEX trabalha em dois processos de desmistificação: a questão de formação de linhas de crédito, viabilizando os procedimentos e oferecendo garantias contra os riscos; entender que as negociações precisam ser vistas em longo prazo. A partir de 2011, o foco da APEX é priorizar negociações de máquinas e equipamentos, intensificando os postos de exportação desses produtos para o continente africano. Em seguida, aproveitar a grande participação brasileira e manter a presença – já existente - na área de alimentos e bebidas, onde Brasil é líder no fornecimento para o continente africano, acompanhado dos Estados Unidos e da França. São 54 países na África, mas precisamos ter foco em nível espacial. Os mercados prioritários são aqueles que o Brasil vai fortalecer suas ações: África do Sul, Moçambique, Angola, Nigéria e Egito. Mercados secundários serão trabalhados em conjunto com os mercados prioritários, num processo de promoção das exportações: Argélia, Tunísia, Sudão, Marrocos, Gana, Etiópia, Tanzânia e Camarões.

A análise contemplou o continente africano, do ponto de vista das macrorregiões. O primeiro desafio da agência foi desmistificar a África, que não é um país, mas um continente com 54

países. “O nosso papel dentro da Apex, como uma agência que promove exportações, também é o de levar conhecimento ao empresário, em relação às diferenças existentes entre esses mercados, explica Iglesias.

A África Ocidental desponta economicamente, a partir de 2011, com um crescimento de aproximadamente de 6% ao ano e tem chamado atenção de empresas brasileiras exportadoras. Mas é na África Austral onde o Brasil tem maior volume de exportações. Há previsão de 3 a 4% de crescimento nos próximos anos. Em relação às demais, tanto a África Austral quanto a Central são as regiões que têm a previsão de menor crescimento, mas ainda acima das previsões de crescimento do Brasil.

Petróleo e carvão mineral - Segundo análises da APEX, a previsão de crescimento de Moçambique é uma das maiores do mundo, de aproximadamente 8% ao ano. Isso chama a atenção do empresariado brasileiro, que até 10 anos atrás tinha pouquíssimas relações comerciais com Moçambique. O Brasil tem muitas relações comerciais com a África voltada pro Atlântico, mas agora está descobrindo o leste, constata Iglesias. A Tanzânia, que faz fronteira com Moçambique, fica em segundo colocado em termos de crescimento, dentre os 13 países selecionados pela Apex Brasil como mercados a serem fortalecidos nas relações comerciais.

Muitas dessas economias estão atreladas à questão das exportações do petróleo. O crescimento do Sudão, Egito, Argélia, Líbia, Nigéria e Angola são mobilizados pelas exportações do petróleo, ao contrário de Moçambique, que tem sensibilizado os investidores brasileiros pela exploração de carvão mineral. Iglesias informa que a Vale já faz esse investimento, mas há um potencial de crescimento ainda maior. Acreditamos na troca baseada em concessões, uma tendência entre as empresas e o próprio governo brasileiro e as nações africanas, viabilizando o crescimento das importações no Brasil e da troca comercial. Não só exportar, mas também importar produtos dos países africanos.

Na área das importações, o analista lembra que a comercialização de máquinas e equipamentos tem se tornado cada vez mais importante no continente africano. O Brasil precisa estar atento a isso. Entre 2005 e 2010, cerca de 40% das importações de todo o continente africano estão voltadas para máquinas e equipamentos. Estamos muito preocupados com a entrada de nações concorrentes do Brasil no continente

AS DIFERENTESREALIDADES AFRICANAS ABREM CAMINHO PARA A COMPETITIVIDADE EXPORTADORA

Acreditamos na troca baseada em concessões, uma tendência entre as empresas e o próprio governo brasileiro e as nações africanas, viabilizando o crescimento das importações no Brasil e da troca comercial.

Rodrigo de Andrade Iglesias - APEX

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Especial Fórum Brasil Africa 33

RC: O senhor que tem esta relação bem profícua e sistemática com Cabo Verde desde 2006 como percebe o desenvolvimento econômico das Ilhas?

JdE: Sempre que chego a Cabo Verde percebo a evolução: são novas estradas, pavimentações, comércio crescendo e surgindo novos. Sente-se uma certa efervescência econômica. O interessante é que são cidades particulares: cada ilha tem suas características próprias. Cabo Verde por sua proximidade com a Europa e Estados Unidos está despertando para a cadeia de serviços, notadamente para o turismo. Existe um vínculo muito forte dos caboverdianos com Boston(EUA) com voos diretos ligando os países. As reservas naturais das ilhas são outro atrativo turístico bastante apreciado. A Ilha do Fogo tem uma vinícola em solo vulcânico que produz um vinho de ótima qualidade, através de uma cooperação entre Alemanha e Cabo Verde. A Ilha do Sal com foco no turismo de esportes como windsurf, é lá que fica o aeroporto internacional.

RC: Quais são os próximos passos da Clínica Jório da Escóssia em solo africano?

JdE: Fomos recentemente convidados a desenvolver o mesmo trabalho em Angola. Já estamos estabelecendo as parcerias com colegas angolanos. Acredito que será tão interessante quanto o que temos em Cabo Verde. Hoje posso assegurar que mais do que satisfação profissional é um privilégio conviver com os amigos que tenho em Cabo Verde, desenvolvendo e participando de projetos sociais. É um projeto de vida.

O que leva um bem sucedido empresário cearense, dono de uma das mais importantes clínicas odontológicas do Brasil, professor da Universidade de Fortaleza, a vistar até quatro vezes por ano as

Ilhas de Cabo Verde? A Clínica Jório da Escóssia recebe 25% de sua clientela de paises como Itália, Estados Unidos, Suiça e do continente africano, mas é no arquipelágo caboverdiano que o empresário sente-se “casa”.

Revista Cidade: Como começou a sua relação com a África e, mais precisamente, com Cabo Verde?

Jório da Escóssia: Há dez anos fiz uma viagem para a África do Sul. Conheci uma realidade fantástica e diferente da imagem que temos do continente africano. Uma realidade particular em relação ao conjunto de países do continente. Em 2006, um casal de amigos, Victor e Sonia Gobato, ele o embaixador do Brasil em Cabo Verde, nos convidou para desenvolver um trabalho social em África. Fui conhecer o Arquipélago com suas ilhas e fiquei fascinado pela diversidade. Desde então transformei Cabo Verde em minha segunda casa.

RC: Como se deu este envolvimento social e o que efetivamente a Clínica Jório da Escóssia faz em Cabo Verde?

JdE: A parceria iniciou-se em 2006 e desde então eu vou pelo menos quatro vezes por ano a Cabo Verde. Lá desenvolvemos principalmente atendimento preventivo com foco na odontopediatria. Cuidados básicos com a higiene e atendimentos. O cabo-verdiano é muito parecido com o brasileiro. E com enorme satisfação me entrego a este trabalho. Que é pouco por que gostaria de fazer muito mais. Lá eu consigo ter como clientes gerações inteiras. Árvores genealógicas, quase completas, que atendo. Isto é fantástico!

RC: E estruturalmente como funciona?

JdE: Temos parceria com uma clínica local para o suporte e assim podemos fazer atendimentos em Cabo Verde como faço na minha clínica em Fortaleza. Nós tivemos a felicidade de sermos introduzidos na vida africana de maneira correta e séria com o embaixador Gobato, para que a população do arquipélago tivesse acesso às modernas técnicas odontológicas.

O Caminho da SolidariedadeEntrevista com o empresário Jório da Escóssia.

Temos parceria com uma clínica local para o suporte e assim podemos fazer atendimentos em Cabo Verde como faço na minha clínica em Fortaleza.

Jório da Escóssia - Diretor Clínico do Hospital Odontológico Jório da Escóssia

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Revista Cidade34

Forum Brasil África: Espaço de intercâmbio e experiências

A Revista Cidade Especial Fórum Brasil África, conversou com os Professores Antonio Walber Muniz, do Núcleo de Estudos Internacionais e com o Professor Mário Henrique Ogasavara. Ambos professores da Universidade de Fortaleza e Coordenadores do evento.

RC: Professor , para o NEI o que significou o evento?

Walber Muniz: Para o Núcleo de Estudos Internacionais da UNIFOR o Fórum Brasil África representa uma convergência de esforços entre as partes envolvidas para concretização da produção e difusão e aprofundamento de conhecimentos técnicos-científicos relativos à relação Brasil - África, gestado por todos os seus participantes

e organizadores inclusive dos Professores do Programa de Doutorado em Administração da UNIFOR. A incansável disposição do nosso pesquisador Prof. Bosco Monte, na costura do evento dialogando com autoridades das mais diversas é digna de mérito.

RC: E qual a importância para a formação de estudantes de graduação o contato com as informações geradas por embaixadores e outros representantes diplomáticos dos países africanos?

Walber Muniz: Significa o envolvimento destes estudantes com o raciocínio, a sabedoria, a técnica, o preparo e a profissionalização dos mais experientes e que estão em função de comando ou representativa dos interesses de seus países. A presença e participação de estudantes entre autoridades que fomentam relações internacionais pode servir de alerta para formação e transformação do homem de ontem e de hoje no homem de amanhã. É ver o ensino associado à práticas profissionais que em muito podem contribuir para o crescimento intelectual dos mesmos. Particularmente vejo o Fórum como o canal necessário para trocas de experiencias e ideias lado a lado. Aproximação de países, com vínculos comuns e em expansão, por meio de representantes de suas instituições públicas e privadas. Uma arena onde cada país se mostra, interage e busca ampliar suas relações a partir de temáticas estratégicas. Torcemos para que o próximo Fórum reúna cada vez mais maior número de países africanos e de participantes de variados segmentos da sociedade civil e política.

RC: Qual foi a importância da UNIFOR promover um evento de alto nível diplomático e acadêmico?

Mário Ogasavara: A Unifor, como universidade que preza pela excelência nos três pilares: educação, pesquisa e extensão, quer colocar o estudantes da graduação como também da pós-graduação (especialização,

mestrado e doutorado) a par dos assuntos de grande importância de discussão

tanto nacional como internacional. A Africa está neste cenário. O continente africano vem tendo importância para o Brasil tanto na questão política como também econômica, particularmente nestes últmos anos (iniciado no Governo do Presidente Lula). A necessidade do Brasil em diversificar seus mercados e criar novas oportunidades de investimento, atraem empresas brasileiras a investir nos países africanos. O Brasil ainda possui uma boa imagem perante os africanos e isto facilita o acesso aos mercados e o auxliio para questões sociais. Claro que a corrente deve ser nos dois sentidos Brasil-Africa como também Africa-Brasil. Apesar de ter um aumento do contato com a África, tanto em questões diplomáticas (abertura de embaixadas/consulados nos dois lados), na questão de comércio/investimento, como em questão de pesquisa/ensino (Embrapa, abertura da UNILAB no brasil (Ceará) em que atraem estudantes africanos, Fiocruz), ainda há muito caminho a ser percorrido.

RC: E o que significa para os estudantes o acesso a este tipo de encontro? O que se pode esperar de um evento com a complexidade do Fórum para o desenvolvimento acadêmico destes estudantes?

Mário Ogasavara: Com relação aos alunos, não apenas incrementar o conhecimento do continente africano (que para muitos ainda é um continente desconhecido), mas também despertar o interesse em pesquisar sobre a Africa. Tanto no Brasil como na literatura internacional, demandam cada vez mais conhecer a Africa, um continente que vem atingindo alto crescimento em comparado ao baixo crescimento dos países desenvolvidos. Inclusive o termo BRICs agora é BRICS com “S” maiúsculo, para incluir South Africa ou seja, a Africa do Sul como uma nação emergente que também vem trazendo impacto significativo no crescimento da região. Pesquisar como a questão do desenvolvimento sustentável está sendo aplicado nos países africanos. Enfim, diversos tópicos podem emergir e despertar o interesse dos estudantes em conhecer e investigar mais sobre a Africa, não apenas para os estudantes de graduação, mas particularmente para os cursos de mestrado e doutorado.

Walber Muniz - UNIFOR Mário Ogasavara - UNIFOR

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O embaixador Isnard Penha Brasil Junior acredita que os longos trajetos entre países africanos e o Brasil são causados por conexões fora de rota, que podem ser reduzidos para trechos diretos e

rápidos. Já como resultado concreto do evento em Fortaleza e intermediado pelo Consultor Internacional e Coordenador do Fórum Brasil África João Bosco Monte, aconteceu a reunião entre o embaixador Isnard Penha, com representantes da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e do órgão regulador do tráfico aéreo de Gana,com vista a concretização de uma linha aérea direta ligando o nordeste brasileiro ao continente africano, através de Acra. Foi definido um encontro, em breve, com pessoas das linhas aéreas ganenses e da TAM, Gol e Azul, para estudarem quem vai fazer o pulo por cima do Atlântico, diz o Embaixador Isnard. A atual ponte aérea que leva passageiros de Recife, por exemplo, para um país do oeste africano pode passar de 12 horas, enquanto um vôo direto duraria apenas três horas. A inadequação das atuais conexões marítimas e aéreas entre o Brasil e o continente africano resulta em custos de transporte elevados, que tendem a produzir impactos negativos nos fluxos de comércio. Para o Embaixador, “a situação afeta o comércio exterior, à semelhança do verificado para as tarifas aduaneiras e as taxas de câmbio. A redução no custo do transporte estimula diretamente exportações e importações. Assim como a apreciação cambial torna as exportações mais competitivas, na medida em que torna o produto nacional mais barato em moeda estrangeira. Como a redução das tarifas aduaneiras domésticas, que diminui os custos dos produtos importados.”

Pela proximidade geográfica entre o Nordeste e o continente africano, Embaixador Isnard apresenta alternativas de transporte marítimo: as linhas transoceânicas podem ser as linhas-pêndulo (que é a linha que serve a uma costa e depois e serve à outra costa), cobrindo a costa do Brasil de um lado, atendendo Recife, Natal, Pecém... Um desses portos faria o salto através do alcance do Atlântico, passava, cobria a costa ocidental da África e voltava fazendo a mesma coisa. Faz a travessia oceânica e depois serve a outra costa. É uma linha para containeres. E tem as linhas diretas que são aquelas com um porto de origem, outro de destino e – normalmente - transportam granel exclusivo, em porão. É um navio que só vai para um porto, só volta para aquele porto, só transporta uma carga. Todas são viáveis, conclui.

SERVIÇO

Indicadores de 2002 mostravam que, em média, os cus-tos de transporte intra - IBAS (Índia/Brasil e África do Sul) representavam um mínimo de 8,78% do valor total das importações da Índia com origem na África do Sul e até o máximo de 12,24% do valor total das importações da Índia provenientes do Brasil, apesar de terem evoluído. Nas ações previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC I), o Governo Federal investiu R$ 1,6 bilhão no Programa Nacional de Dragagem, R$ 1,8 bilhões em obras de melhora-mento da infraestrutura portuária e R$ 50 milhões em ações de inteligência logística. Os investimentos previstos para o período de 2011 a 2014, no âmbito do PAC 2 são da ordem de quase R$ 1 bilhão, para o Plano Nacional de Dragagens, R$ 2,8 bilhões para infraestrutura portuária e R$ 350 milhões para inteligência logística.

Ministério das Relações Exteriores atende demanda do nordeste

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Isnard Penha Brasil Jr. - Embaixador

Assim como a apreciação cambial torna as exportações mais competitivas, na medida em que torna o produto nacional mais barato em moeda estrangeira.

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Revista Cidade36

em Guarulhos, mas revelou uma das soluções para o complexo aeroportuário: um novo ter minal será implantado para facilitar o embarque e desembarque, em especial, durante a Copa do Mundo de 2014. O empreendedor se preocupa com o siste ma internacional que mede a eficiência dos aeroportos. Assim como acontece como os hotéis, que recebem estrelas em cumprimento a critérios de excelência, os complexos aeroportuários também devem entrar na linha, para não caírem no conceito. A classificação pode aju dar a deixá-los mais eficientes, podendo conquistar de novos investimentos.

Para alcançar a meta, a empresa quer criar uma estrutura atrativa, fun cional e agradável. O design dos aero portos não acontece por acaso, informa Relquien. Tudo naquele espaço, segun do ele, tem um motivo para estar ali. O empreendedor ressaltou a importância de uma organização lógica para cada passo dado pelos passageiros. Antecipa remos quantas pessoas circularão no ae roporto e trabalharemos em cima desse número, explica. De acordo com Relquen, o segredo do sucesso na administração de aero portos está na combinação das habilida-des acadêmicas à prática, aliadas ainda à experiência. Depois dos bons resulta dos na África do Sul (desde 1993) e na Índia (sete anos de concessão), é a vez do Brasil entrar na mira da ACSA. Nós temos maestria no gerenciamento de ae roportos, gaba-se, otimista.

Diferente da Índia que, assim como a África do Sul, fala inglês, o desafio no Brasil é maior por conta das barreiras idiomáticas, segundo o executivo. No entanto, Relquen acredita ter boas ex-pectativas. Segundo ele, a empresa espe ra contratar profissionais brasileiros, a quem considera muito bem qualificados

A Airports Company South África (ACSA), empresa que ganhou a concessão para ge renciar o Aeroporto Interna cional de Guarulhos, em São Paulo, tem o compromisso de investir R$ 4,9

bilhões no aeroporto, nos 20 anos em que ficará responsável pela gerência, conforme as exigências do acordo firmado com a Agência Na cional de Aviação Civil (Anac). O cresci mento da economia brasileira culminou no aumento do poder aquisitivo da clas se média. As pessoas passaram a com prar e viajar mais. Logo, companhias internacionais lançaram olhares mais interessados ao país, com sede de inves timentos. Isso entusiasma Cristopher Relquen, CEO (Chief Executive Officer) da ACSA. Segundo Relquen, durante o período, a empresa buscará atrair novas linhas aéreas e possibilidades de cresci mento no volume de vôos e abertura de novas rotas.

A ACSA administra os aeroportos sul-africanos como Mumbay e Johanes burgo, que movimentaram cerca de 30 milhões de passageiros no último ano, o correspondente ao tráfego do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. A empresa é uma estatal, com 80% de suas ações do Governo e 20% pertencentes a um fundo de pensão sul-africano, que acaba de ganhar a concessão para gerenciar o Aeroporto Internacional de Guaru lhos, em São Paulo. Segundo Relquen, a oportunidade de negócios gerados na administração de aeroportos é um fator determinante para o sucesso de eventos grandiosos, como a Copa do Mundo, que impulsionam a infraestrutura de um país. Para ele, os aeroportos devem ser vistos de forma lucrativa e receber de fontes não aeroportuárias.

O executivo não quis enumerar os problemas que percebeu

EMPRESA SUL AFRICANA EM OPERAÇÃO no AEROPORTO DE GUARULHOS

O segredo do sucesso na administração de aero portos está na combinação das habilida des acadêmicas à prática, aliadas ainda à experiência.

Christopher Relquen - CEO da ACSA

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EMPRESA SUL AFRICANA EM OPERAÇÃO no AEROPORTO DE GUARULHOS

Política de cooperação - Morais de Lima chama a atenção para a importância da política de cooperação, que cresceu exponencialmente nos últimos anos, em termos de países atendidos e valores investidos. O processo funciona a partir da demanda: os países dizem o que querem, o que ganham e o que precisam, na perspectiva de alcançar uma capacidade instalada. A ideia é que, em algum momento, o país que recebe a cooperação, se aproprie daquela tecnologia, daquele conhecimento que está sendo dado, para se tornar agente do seu próprio desenvolvimento. Essa cooperação tem sido muito intensa.

Grandes empresas brasileiras já se instalaram no continente, como a Odebrecht e Petrobras. Sua maior capacidade estrutural faz frente ao desafio de chegar num país desconhecido, se instalar e investir, abrindo caminho para outras e até criando uma demanda que vai ser atendida por empresas de médio e pequeno porte. Acho que foi em Angola que a Petrobras começou a se instalar e precisava de uma empresa que fornecesse alimentação pros seus funcionários. Isso estimulou outra empresa brasileira se instalar, inicialmente atendendo à Petrobras, para depois passar a explorar o mercado angolano, comemora o diplomata.

E conclui com uma frase do ex-ministro das Relações Exteriores, atual ministro da Defesa, Celso Amorim: o governo não pode fazer chover, mas ele pode ajudar a criar as nuvens. Morais de Lima reconhece que o Governo Brasileiro faz o seu papel de estimulador, fomentador e facilitador, para que os investidores desempenhem seus papéis.

Precisamos sensibilizar o empresariado para o potencial que o mercado africano tem, sem esquecer a dimensão da solidariedade. Alguma coisa que se aproxime do desenvolvimento sustentável, pois não há crescimentos se os benefícios não forem mútuos. Acho que a nossa relação com a África tem procurado seguir esse modelo.

O Itamaraty mantém um departamento específico para tratar das relações diplomáticas entre o Brasil e a África. O diplomata Paulo André Morais de Lima, coordenador Geral dos Países da

Comunidade de Língua Portuguesa do Itamaraty, acredita que um novo momento da presença do Brasil na África começou com os retornados. É assim que, segundo ele, o Itamaraty chama os muitos ex-escravos que decidiram voltar para a África, com o fim da escravidão. Criaram comunidades, construíram suas famílias e juntos com os seus descendentes, são conhecidos como brasileiros, mesmo em solo africano. Um dos exemplos é a comunidade de agudás, no Benin.

São vários momentos de picos e recessos, mas com o presidente Lula, houve um novo impulso diplomático nessas relações. Hoje, o Brasil tem relações diplomáticas com todos os estados africanos que são membros das ONU. A República Centro-Africana teve esta relação estabelecida há dois anos. Ano passado, no mesmo dia em que foi declarada a independência do Sudão do Sul, o Brasil também estabeleceu relações diplomáticas.

O Brasil aumentou significativamente a política de implantação de embaixadas. Atualmente, são 37 países africanos com suas embaixadas, sendo 19 abertas a partir de 2003. Em dois países, além da embaixada, existem também consulados gerais: na Nigéria temos o Consulado Geral em Lagos e na África do Sul temos o Consulado Geral na Cidade do Cabo. A embaixada é um status importante das relações bilaterais com o país, porque ela concretiza a presença naquele país, oferece visibilidade, explica. Em termos da questão comercial e empresarial, a embaixada se torna uma referência para o investidor que queira negociar com aquele país, além de fazer o trabalho de promoção comercial, intensificando os negócios.

ITAMARATY INTENSIFICA RELAÇÕES DIPLOMÁTICASCom a África

O processo funciona a partir da demanda: os países dizem o que querem, o que ganham e o que precisam, na perspectiva de alcançar uma capacidade instalada.

Paulo André Morais de Lima- Itamaraty

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