28
Água, o combustível da vida EDIÇÃO 1 - ABRIL - 2013 Água, o combustível da vida 2013: Ano Internacional de Cooperação pela Água

Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O objetivo da revista virtual colaborativa é, seguindo o pensamento da ONU, conscientizar sobre a necessidade de cooperação envolvendo esse recurso e sobre os desafios no que diz respeito à gestão da água.

Citation preview

Page 1: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

Água, o combustível da vida

EDIÇÃO 1 - ABRIL - 2013

Água, o combustível da vida

2013: Ano Internacional de Cooperação pela Água

Page 2: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

Ouça o PodAcqua

Um canal semanal para conhecer trabalhos e opiniões de pesquisadores dedicados ao tema

Acessível toda quarta-feira emhttp://podcast.unesp.br,

na aba PodAcqua

Para participar, escreva [email protected]

Para colocar o Player, acessehttp://podcast.unesp.br/podcast-no-meu-site

Page 3: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

Ilustração de Constança Lucas

Conheça a artista em: http://constancalucas.blogspot.com

3

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013 Imagem

Page 4: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

4

índice

Água, o combustível da vidaA importância deste precioso líquido e as consequências da falta de cuidado com ele. Pág. 8

Foto

de

rich1

15

Visão economicistade gestãoAté onde a Agência Nacional de Águas (ANA) pode ajudar nas questões socioambientais? Pág. 14

Caminhos do serTexto e imagens de Edson de Camargo Bueno. Pág. 22

artigos ..::

reportagens ..::

artes ..::

Page 5: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

5

Utilização de recursos hídricos locaisDiversificar no abastecimento garante maior preservação dos recursos naturais. Pág. 10

:.. Artigos

Para preservar águas urbanasProfessor em Planejamento Urbano da Unesp destaca importância de nascentes e mananciais. Pág. 12

Reportagens ..::

Deterioração de córrego paulistaRibeirão da região de Assis, SP, sofre efeitos da ação humana. Pág. 16

Água na sala de aulaPesquisa discute o ensino do tema nas escolas. Pág. 18

::.. Artes

Foto

de

ange

la7d

ream

s

Fluir de imagens

Adriana Zoudine, Carlos Alberto Antonholi e Evandro Angerami constroem universo visual. Pág. 20

Foto de Ole Houen

Page 6: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

6

expediente

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

ReitorJulio Cezar DuriganVice-reitoraMarilza Vieira Cunha RudgePró-reitor de AdministraçãoCarlos Antonio GameroPró-reitor de Pós-GraduaçãoEduardo KokubunPró-reitor de GraduaçãoLaurence Duarte ColvaraPró-reitora de Extensão UniversitáriaMariângela Spotti Lopes FujitaPró-reitora de PesquisaMaria José Soares Mendes GianniniSecretária-geralMaria Dalva Silva PagottoChefe de GabineteRoberval Daiton VieiraAssessor-chefe da Assessoria de Comunicação e ImprensaOscar D’Ambrosio

Coordenador EditorialOscar D’AmbrosioArteMarcelo Carneiro (Chello)Design Gráfi coCamila Moraes, Darlene Magalhães, Gustavo de Souza, Marcelo Correia (graduandos em Design Gráfi co pela FMU)ColaboradoresImagens¦ Adriana Zoudine, Alessandro Bonvini, Angela7dreams, Cecilia Auxiliadora Bedeschi de Camargo, Chico Tupynambá, Constança Lucas, Edson de Camargo Bueno, Evandro Angerami, Fernando Mafra, JD Hancock, Luciana Cavichioli, Mathias Rhomberg, Ole Houen, Paul Hocksenar, Rich 115 e San Bertini. Textos¦ Cínthia Leone, Edmar José Scaloppi, Edson Bueno de Camargo, José Xaides de Sampaio Alves, Oscar D’Ambrosio e Vininha F. Carvalho. Ilustração da Capa¦ Luiz Fernando Santos.RevisãoMaria Luiza SimõesProjeto Gráfi coMarcelo Carneiro (Chello)ProduçãoMara Regina MarcatoApoio administrativoThiago Henrique LúcioEndereçoRua Quirino de Andrade, 215, 4° andar, CEP 01049-010, São Paulo, SP. Tel. (11) [email protected]¦//www.unesp.br/revistaacquahttp¦//www.unesp.br/projetoacqua

Page 7: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

7

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

editorial

A A ssessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp, a partir de 22 de m a rço ú lt i mo, Dia Mundial da Água, promoveu o

chamamento para textos, de no máximo 4.500 caracteres com espaços, e imagens, com resolução mínima de 300 DPIs, para editar, mensalmente, a revista virtual Acqua.

A ação será desenvolv ida ao longo de 2013, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional de Cooperação pela Água.

O objetivo da revista virtual colaborativa é, seg ui ndo o pensa mento da ON U, conscientizar sobre a necessidade de cooperação envolvendo esse recurso e sobre os desafios no que diz respeito à gestão da água.

Podem participar pessoas de dentro ou de fora da Unesp. Vêm sendo recebidos textos e imagens que trabalham, das mais diferentes formas, temas com foco na água, como educação ambiental, diplomacia, gestão em regiões fronteiriças, cooperação financeira, redes legais nacionais e internacionais, entre outros assuntos, envolvendo as mais variadas carreiras em todas as áreas do conhecimento: Biológicas, Exatas e Humanidades, incluindo manifestações artísticas na forma de texto (contos e poesias), imagem (fotografias, desenhos, pinturas, gravuras e ilustrações) ou poemas visuais.

A publicação fica disponível virtualmente pela Internet a cada 30 dias, a partir de 22 de abril, em www.unesp.br/revistaacqua ou www.unesp.br/projetoacqua

O leitor poderá ter acesso, com a revista Acqua, a uma publicação que permitirá conhecer um pouco de textos e imagens dedicados a um tema que já é um dos protagonistas deste sécu lo: a ág ua.

M ater i a l p o de s er env i ado p a r a o e-mail [email protected]

D ú v i d a s s o b r e a r e v i s t a v i r t u a l colaborativa devem ser encaminhadas para [email protected]

A publicação divide-se em três partes: Artigos, Reportagens e Arte. A sua principal característica é a pluralidade de ideias e concepções de mundo. Nesse sentido, agradecemos aos primeiros colaboradores, que incluem, por exemplo, professores e alunos da Unesp e de outras instituições de ensino superior, e integrantes da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Universidade.

Felizmente, já nesta primeira edição, não pudemos utilizar todo o material recebido. Portanto, algumas colaborações serão publicadas na próxima edição, que vai ao ar em 22 de maio. Continuem enviando seus artigos, reportagens e imagens. Esta iniciativa foi tomada justamente para ampliar o diálogo da Unesp consigo mesma e com a sociedade como um todo. Contem com a gente, pois a revista Acqua conta com vocês, leitores e colaboradores, para existir.

Até breve!

Page 8: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

8

Artigos

A origem da vida em nosso planeta foi a água. Ao longo de mi lhões de anos de evolução, os

organismos vivos se diversificaram e se espalharam pela Terra , sendo que a sobrevivência de todas as espécies animais e vegetais continua ligada à água. O ser humano, durante a gestação, desenvolve-se dentro do ventre da mãe, envolto em água. Após o nascimento, abre os olhos para a existência chorando e os fecha pela morte sob a unção das lágrimas. A lágrima é menor que uma gota d’água, mas se comporta como um meio de comunicação universal, sendo a mensageira da dor e da alegria.

A importância deste precioso líquido manifesta-se de forma física, devido à dependência do nosso corpo, que é constituído de 75% de água, e também pela espiritualidade. Na tradição cristã, ela está ligada ao batismo, à purificação e à regeneração.

A ablução com água é fundamental em todas as religiões, do Islã ao taoísmo. Para Lao Tsé, no livro Tao Te Ching, a água simboliza a suprema virtude. Para os hindus, banhar-se ritualmente no rio Ganges é uma experiência transcendente.

O “Rig Veda” dos hindus exalta a água como elemento que traz vida, força e pureza: “Vocês, águas que reconfortam: tragam-me a força, a

grandeza, a alegria e a visão” , diz um hino dos Vedas, pouco antes de definir a água como regente dos povos. Para o Alcorão, a água benta que cai

do céu é um dos símbolos divinos.Os jardins do paraíso islâmico têm riachos e fontes de água límpida.

A maior parte da superfície terrestre é coberta de água, mas um volume pouco maior que 2% é doce, e mais de 90% dela estão congelados nas regiões polares ou armazenados em depósitos subterrâneos muito profundos.

O Brasil é a maior reserva hidrológica do mundo. Da água doce disponível no país: 70% estão na região Norte, 15% na região Centro-Oeste, 6% no Sudeste, 6% no Sul e 3% no Nordeste. Há, pelo menos em tese, 34 milhões de litros de água para cada brasileiro, embora 20% da população urbana não disponha de rede de água e esgoto e 65% das internações pediátricas sejam causadas pela poluição da água.

A irrigação de um hectare no nordeste brasileiro consome 18 mil metros cúbicos de água por ano, em

A água, o combustível da vidaVininha F. Carvalho

A importância deste precioso líquido e as consequências da falta de cuidado com ele

Em alguns países da África e do Oriente Médio, a água já está

escassa

PescariaAves na natureza

Page 9: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

9

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

A água, o combustível da vidaIsrael fica em torno de 600 metros cúbicos.Enquanto um habitante do oásis no Saara usa cerca de 3 litros de água por dia, um habitante do Rio de Janeiro gasta 450, de

Moscou 600 e de Nova York, 1045. A quantidade média diária para satisfazer todas as necessidades de uma pessoa é de 40 litros no máximo.

O consumo mundial de água multiplicou-se por sete no século XX, mais do que o dobro da taxa de crescimento da população.Em alguns países da África e do Oriente Médio, a água já está escassa, e por isso há racionamento. A escassez também é a principal causa da degradação da qualidade de vida para um bilhão de pessoas, sem acesso à

É provável que a água se torne cada vez mais fonte de

tensão

Pinturas de San Bertini

quantidade diária ideal estimada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

No continente africano, cerca de 62% da população só têm acesso a algo em torno de 4 m3/habitante/dia, sendo que, em algumas regiões, o índice é inferior a 3 m3/habitante/dia. Em média, o continente com maior disponibilidade de água é a Oceania, seguido de América do Sul, América do Norte, África, Europa e Ásia.

Neste Ano Internacional de Cooperação pela Água, precisamos chamar a atenção para os problemas — inclusive de sobrevivência das espécies — que o mundo enfrenta em decorrência da perspectiva da falta deste recurso precioso e finito, a água potável. É provável que a água se torne, cada vez mais, fonte de tensão e de uma feroz competição entre as nações, se a atual tendência se mantiver; contudo, ela pode ser também um catalizador da cooperação.

Devemos nos conscientizar de que as águas não vão acabar no planeta,

e nem mesmo estão diminuindo em seu volume de moléculas de H2O, porque este ciclo é fechado e estável. A fa lta de cuidados adequados na captação de chuvas e, consequentemente, a poluição dos rios e dos lagos, é que acabará reduzindo o volume de águas doces superficiais, exigindo soluções de alto custo, como a busca de águas subterrâneas profundas ou a dessalinização de águas oceânicas.

Procure lembrar de todo o significado cultural, simbólico e socioeconômico da água na próxima vez em que você for saciar sua sede. O copo de água que você segura nas mãos hoje contém mais de 10 milhões de moléculas que estiveram em contato com os nossos ancestrais. Precisamos revitalizar a água, pois ela representa um elo com o passado e um compromisso com o futuro das próximas gerações.

Vininha F. Carvalho — jornalista, administradora de empresas, economista, ambientalista e presidente da Fundação Animal Livre ( www.animalivre.org.br).

Praia da Cocanha

Page 10: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

10

Artigos

Utilização de recursos hídricos locais

Existe, atualmente, uma conscientização progressiva da sociedade em direção à preservação, racionalização

e sustentabilidade nas iniciativas que envolvem o uso de recursos naturais. Com certeza, os recursos hídricos ocupam o topo dessas aspirações.

O descaso histórico pela preservação dos recursos hídricos acabou determinando um ônus signifi cativo às populações urbanas brasileiras.

Para satisfazer uma demanda quantitativa crescente, as municipalidades têm sido obrigadas a incorporar recursos hídricos com qualidade cada vez mais indesejada e a aprimorar o rigor nas estações de tratamento.

Em consequência, grande parte da população acabou por ignorar os repetidos apelos assegurando a potabilidade da água fornecida pelas empresas concessionárias de abastecimento às edifi cações e passou a adquirir rotineiramente a água envasada para o consumo.

Recentemente, porém, as grandes metrópoles americanas têm procurado convencer seus cidadãos a utilizarem a água das torneiras para consumo, restringindo o uso de água envasada,

em um apelo ambiental consciente para reduzir a produção de embalagens de poli(tereftalato) de etileno, popularmente chamadas de garrafas PET.

Um fato amplamente reconhecido em muita s comun idades é a existência de mananciais de água subterrânea surgentes na forma de nascentes ou minas que, apesar de pontuais, poderiam contribuir para o fornecimento de água com melhor qualidade que os recursos superficiais. A utilização desses recursos pontuais deve reduzir a demanda nas estações de tratamento e, principalmente, conscientizar a população de usuários sobre a importância da preservação e do uso racional de recursos naturais limitados e facilmente degradados.

As águas subterrâneas têm a grande vantagem de exibir melhor qualidade que as águas superfi ciais, pelo efi ciente sistema de fi ltragem natural a que são submetidas desde o processo de infi ltração na superfície do solo até o defl uxo em nascentes ou poços perfurados até os mananciais. Outras vantagens adicionais decorrem da eliminação de várias etapas do tratamento, como a fl oculação e a decantação, que reduz o custo e não interfere

em suas qualidades organolépticas. Em localizações privilegiadas, reduzem o consumo de energia para bombeamento, podendo até mesmo dispensar a necessidade de i n st a l açõ es de re c a l que.

A rigor, apenas a fi ltragem da água torna-se necessária. A desinfecção com cloro permite assegurar a qualidade bacteriológica nos reservatórios de armazenamento e na rede de distribuição. Até mesmo a fluoretação, para colaborar na redução da incidência de cárie dentária na população consumidora, poder ia ser cr iter iosa mente incorporada à rede de distribuição.

As áreas reservadas para extração de água potável deveriam ser rigorosamente preservadas, para evitar qualquer possibilidade de contaminação (o tratamento sempre aumenta o custo e interfere na qualidade). Havendo viabilidade, a recomendação seria substituir as tradicionais estações de tratamento pelos efi cientes sistemas de fi ltragem natural nas bacias hidrográfi cas. Cabe aqui destacar a reconhecida qualidade da água fornecida à cidade de Nova York, retirada a 200 km de distância e 1 200 m de altitude, nas montanhas de Catskill, cabeceiras

Edmar José Scaloppi

Diversifi car no abastecimento garante maior preservação dos recursos naturais

Foto

de M

atth

ias R

hom

berg

Page 11: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

11

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

do rio Delaware. O Conselho Agrícola da Bacia, formado pelos proprietários rurais, investiu mais de US$ 100 milhões (doados pela cidade de Nova York) em ações nas propriedades para preservar a qualidade da água e melhorar a receita líquida dos agricultores. Dentre essas ações destacam-se a preservação das áreas de captação de água e a coleta, bombeamento e armazenamento de esgotos domiciliares e de dejetos de rebanhos bovinos, para a disposição oportuna em locais seguros, minimizando os riscos de contaminação da água. Em consequência, o sistema de abastecimento de água da cidade de Nova York oferece água fi ltrada, e não tratada, a seus usuários, a um custo estimado sete vezes inferior ao va lor cobrado por tradicionais estações de tratamento de água existentes na maioria dos centros urbanos brasileiros.

Os rebanhos em geral devem ser manejados procurando-se evitar ou restringir seu deslocamento constante nas áreas de pastejo, principalmente em direção aos bebedouros naturais. A experiência tem demonstrado que o deslocamento contínuo do rebanho aos bebedouros naturais, sistematicamente localizados nas áreas de menor cota das bacias hidrográfi cas, constitui um processo acelerado de degradação do solo e da paisagem, poluição e assoreamento dos reservatórios e cursos de água.

Caprichosamente, a pastagem constitui uma cobertura efetiva do solo que reduz o impacto mecânico das gotas de chuva, dificulta o escoamento superfi cial e aumenta a infi ltração. O pastejo, por outro lado, predispõe a um processo erosivo causado por escoamentos preferenciais que comprometem t a n t o a qu a l i d a d e qu a n t o a quantidade de água disponível nos reservatórios e cursos de água.

Recentemente, a Agência Nacional de Águas (www.ana.gov.br), do Ministério do Meio Ambiente, instituiu o Programa Produtor de Água, cujo objetivo resume-se à redução da erosão e do assoreamento de mananciais no meio rural, melhorando a qualidade da água e aumentando as vazões médias dos corpos de água de importância estratégica para o país. O Programa,

alinhado à tendência mundial de pagamento por serviços ambientais e bonifi cação aos usuários que geram benefícios a toda bacia hidrográfi ca, prevê apoio técnico e fi nanceiro à construção de terraços e de bacias de contenção, readequação de estradas, recuperação e proteção de nascentes, refl orestamento nas áreas de proteção permanente e reserva legal, saneamento ambiental, etc.

Aproveitamento de águas pluviais

Uma das formas mais efetivas para a preservação dos recursos hídricos consiste na utilização das águas pluviais para inúmeras finalidades não potáveis, como irrigação, limpeza e uso em sanitários. Diversos municípios brasileiros já dispõem de legislação específica sobre o aproveitamento obrigatório desses recursos em edificações. Para ilustrar, a cidade de Curitiba, PR, através da Lei 10.785/2003 regulamentada pelo Decreto n° 293/2006, estabeleceu medidas que induzem a conservação, o uso racional e a utilização de fontes alternativas

para captação de águas nas novas edificações urbanas. No Rio de Janeiro, esta regulamentação tornou-se obrigatória a partir do Decreto n° 23.940/2004. A cidade de Londrina, PR, a partir de 1° de janeiro de 2010, tornou obrigatória a captação de águas pluviais nas novas edifi cações com área total construída igual ou superior a 200 m2. Nas edifi cações comerciais e industriais com área total construída igual ou superior a 5 000 m2, deverá ser executado um sistema de reuso, após tratamento, das águas servidas provenientes de chuveiros e lavatórios para utilização em final idades não potáveis.

Um dos maiores benefícios associados ao aproveitamento de águas pluviais consiste na redução do defl úvio por ocasião das chuvas. A existência de instalações para aproveitamento em um grande número de edificações em uma cidade poderia contribuir para reduzir a ocorrência de transbordamentos e inundações que castigam as populações, regularizando as descargas no sistema de saneamento.

Edmar José Scaloppi é professor do Departamento de Engenharia Rural da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp do Câmpus de Botucatu, SP.

Conheça as referências

bibliográfi cas deste artigo em:

http://bit.ly/YzunKC

As águas subterrâneas

exibem melhor qualidade que as

superfi ciais

Page 12: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

12

Artigos

Para preservar águas urbanasProfessor em Planejamento Urbano da Unesp destaca importância de nascentes e mananciais

José Xaides de Sampaio Alves

As cidades nasceram e continuam dependentes das águas, desde a antiguidade até o presente. Para a escolha dos territórios de fixação urbana, a existência de nascentes,

córregos e rios era estratégica como elementos de transporte, abastecimento de água e saneamento.

No Brasil, a presença do mar em toda a costa trouxe e fixou no litoral os portugueses e outros imigrantes em Salvador, Rio de Janeiro, Recife, São Vicente, São Francisco do Sul, Porto Alegre etc., quase sempre na foz de um ou mais rios. Os rios e córregos guiaram, além dos índios, as entradas e bandeiras, que fixaram capelas, freguesias, vilas e cidades no período colonial: São Paulo, Taubaté, Guaratinguetá, Baependi, Juiz de Fora, Vassouras, Barra Mansa, inúmeras cidades mineiras e nordestinas ao longo do

“Velho Chico”, também no Sul, Norte e Centro-Oeste. Outras cidades se fixaram pela presença de ouro, diamantes e outras pedras preciosas em suas águas: Ouro Preto, São João Del Rei, Diamantina, Mariana, etc.

Os trajetos por transporte animal, de início, e depois por trem a vapor eram dependentes das fontes e mananciais de águas. O trem necessitava de uma fonte de água e de madeira a cada 20 km. Esse fato impôs regras e formas controladas de ocupação e distribuição territorial e formou a organização da rede de cidades que penetrou o território do centro--oeste do Estado de São Paulo, o norte do Paraná e outras regiões, dando origem a cidades como Bauru, Jaú, Araraquara, Marília, Lins, Ourinhos, Araçatuba, Limeira, Rio Claro, Londrina, Maringá etc.

Se a evolução tecnológica dos meios de transporte, através do automóvel e da aviação, possibilitou traçados de vias e rotas mais independentes dos recursos aquíferos que definiram a nossa urbanização, as cidades modernas continuaram dependentes das águas como fonte de abastecimento e meio de transporte e saneamento de seus dejetos, casos de Brasília e Palmas; outras nasceram e/ou se desenvolveram por

Fernando Mafra

Page 13: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

13

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

influência direta das necessidades do uso da água como elemento também logístico e estratégico para a produção de energia e/ou o uso do lazer e turismo aquático nos lagos formados por represas hidroelétricas: Ilha Solteira, Barra Bonita, Boraceia, Itapuí, Itaipu, Urubupungá, Paulo Afonso etc.

Há inúmeras razões históricas, mas sobretudo funcionais para se preservarem as nascentes e mananciais dos córregos e rios de nossas áreas urbanas, que continuam sendo fontes de abastecimento e de saneamento. Cidades como Bauru crescem ocupando todos os mananciais da cabeceira de seus córregos e rios, que poderão, no limite desta especulação, até secar.As cidades atuais que se desejam saudáveis e sustentáveis exigem o uso conjugado da preservação das águas com o crescimento urbano, tendo maior necessidade de espaços livres para preservação de cabeceiras e margens — que podem servir como áreas de lazer e esporte — de preservação de matas em fundos de vales, destinados para parques integrados, ou mesmo como

áreas de maior permeabilidade e recebimento natural de águas de chuvas, minimizando problemas ambientais atuais de enchentes e assoreamentos dos rios e córregos.

Fatos que impõem a necessidade de a gestão pública ampliar a conquista destes territórios nas cidades, para além das possibilidades da Lei 6.766/79, piorada pelas novas regras do código florestal em debate, exigindo novos métodos, formas de parcerias e instrumentos urbanísticos sustentáveis economicamente; e não apenas o instrumento já questionável da desapropriação.

Nesse sentido, o CP –Cidades da

Faac de Bauru desenvolve pesquisas e extensões de adoção concreta e coesa de instrumentos do Estatuto da Cidade para ampliar as áreas de terras protegidas em torno das nascentes, córregos e de reservas de matas urbanas, sem onerar o poder público e com vantagens econômicas aos proprietários de terras para sua adoção.

Trata-se de estabelecer um sistema, jurídico, urbanístico e de gestão democrática aprovado no Plano Diretor Participativo, que pressupõe os seguintes passos: definição de um coeficiente de aproveitamento básico de referência para toda a cidade (sugestão: próximo de um); definição das áreas de Tombamento Ambiental e Paisagístico, com regras de uso privado possível, mas bastante limitado; definição de áreas no entorno valorizado, onde os proprietários de terras das áreas tombadas poderão recuperar por Transferência do Direito de Construir (com regras claras e com incentivos) os potenciais construtivos não exercidos nas áreas tombadas, desde que doando essas terras ao poder público, que passa também a ficar com o ônus de manutenção, reflorestamento e preservação, anteriormente de obrigação privada.

A adoção desses instrumentos significará: economia pública; incentivos à iniciativa privada; novos paradigmas urbanísticos para o desenvolvimento urbano; preservação das nascentes, córregos, rios e matas; e a conquista de cidades mais saudáveis e sustentáveis.

José Xaides de Sampaio Alves, Prof. Dr. em Planejamento Urbano e Regional do CPCidades da Faac/Unesp, Câmpus de Bauru.

As cidades nasceram e continuam

dependentes das águas

Cecil

ia Au

xiliad

ora B

edes

chi d

e Cam

argo

Page 14: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

14

Reportagens

O cientista político André Scantimburgo, doutorando da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp em Marília, afi rma que a estrutura em que foi formulada a Agência

Nacional de Águas (ANA) facilita sua utilização para atender a interesses do mercado e do governo. “No contexto de crise de água que se avizinha, em que setores econômicos buscarão garantir o privilégio no acesso à água, a ANA, em sua atual formatação, não teria força política para contemplar reivindicações socioambientais” , diz o pesquisador, que se dedica a observar as decisões da Agência em seu projeto atual, sob orientação do professor Francisco Luiz Corsi.

Scantimburgo iniciou sua pesquisa em 2004, no mestrado, ao analisar a política nacional de recursos hídricos de 1995 a 2002 e o marco regulatório brasileiro sobre o tema, criado naquele período.

“Essa legislação foi altamente infl uenciada pelo contexto neoliberal do fi m dos anos 90” , diz o estudioso, que teve acesso durante a pesquisa a relatórios do Banco Mundial que tratavam da formulação dessa regulação. O Banco, dedicado a fi nanciar países em desenvolvimento dispostos a adotar políticas de liberalização da economia (retiradas da regulação dos mercados), atuou diretamente na criação da lei brasileira, que acabou se tornando um modelo para outros países latino-americanos.

A norma determinou a existência de um órgão gestor centralizado, neste caso, a Agência Nacional de Águas, criada em 2001. Também estabeleceu que toda bacia hidrográfi ca deve ter uma instância participativa — os comitês de bacias hidrográfi cas —, composta por diferentes setores da sociedade civil.

Sca nt i mbu rgo d á como exemplo d a v is ão neoliberal presente na legislação o estabelecimento da cobrança pelo uso da água e não apenas pelos serviços prestados de distribuição e coleta de esgoto.

Além disso, ele lembra que a norma procurou ret i ra r do Estado a atr ibuição de ga ranti r o abastecimento, entregando essa responsabilidade a grupos empresariais com fins lucrativos.

Visão economicista na gestão de águas no Brasil

Cínthia Leone

Até onde a Agência Nacional de Águas (ANA) pode ajudar nas questões socioambientais?

Paul

Hock

sena

r

Page 15: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

15

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

Para parte dos pesquisadores do tema, a lei representou um avanço ao estabelecer regras para a utilização dos recursos hídricos, como a inclusão do uso e ocupação do solo na gestão de bacias hidrográficas. A própria

criação dos comitês também é vista como positiva, por representar a possibilidade de democratização das decisões tomadas no tocante a r ios, córregos e aquí feros.

“M a s, i n fe l i zmente, esses comitês têm um caráter muito mais consultivo do que deliberativo” , diz Scantimburgo. Ele justifica sua fala ao citar as decisões contrárias de comitês às obras de transposição do rio São Francisco e também à criação de novas hidrelétricas na Amazônia, ignoradas nos dois casos pela ANA.

O doutorando ressalta que a lei também foi inspirada em modelos

europeus de gestão hídrica, que não se aplicam inteiramente à realidade brasileira. Nos comitês, por exemplo, a participação da sociedade civil enfrenta dificuldades devido à pouca informação disponível à população, enquanto é cada vez mais comum a profissionalização de membros designados por empresas para defender seus interesses nesses fóruns.

“Os conflitos sobre os múltiplos usos da água estão ficando cada vez mais evidentes, opondo ambientalistas e populações locais diretamente afetadas a setores econômicos industriais e agroindustriais” , diz o doutorando. Ouça mais no PodAcqua Unesp especial para o Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março.

À margem

A Agência Nacional de Águas (ANA), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, funcionou durante dois anos durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas foi nos dois mandatos do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva que a Agência exerceu com mais visibilidade seu papel de gestora. Isso porque foi nesse período que houve mais investimento em

Os conflitos sobre os múltiplos usos da água estão ficando

cada vez mais evidentes

infraestrutura, com obras de grande porte, a exemplo das já citadas e polêmicas usinas hidrelétricas em rios da Amazônia, como o Madeira e o Xingu, e a transposição do rio São Francisco. Nesses casos, a agência demonstrou sua autoridade ao anular as decisões dos comitês locais.

Para André Scantimburgo, esses casos tiveram mais repercussão, mas há outras comunidades no país em situação crítica no que diz respeito ao acesso e às formas de uso da água. “Movimentos sociais ambientalistas denunciam cada vez mais casos em que, atingidos por barragens, indígenas, quilombolas e ribeirinhos ficam marginalizados nas tomadas de decisão” , afirma.

Ouça Podcast com André

Scantimburgo

http://bit.ly/115RPAI

JD H

anco

ck

Page 16: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

16

Reportagens

Deterioração de córrego paulista

O médio e o baixo curso do ribeirão Água do Cer-vo, na região de Assis, SP, apresentam uma

deterioração da qualidade de suas águas, como indicado pela altera-ção dos parâmetros físico-quími-cos, sendo verificados elevados valores de condutividade elétrica e turbidez, além de medidas não satisfatórias de oxigênio dissolvi-do.

Essa é a conclusão do trabalho “Avaliação da qualidade da água e do entorno de um rio sob influ-ência rural localizado no oeste do estado de São Paulo” , desenvol-vido pelo biólogo Antoniel dos Santos Pimenta e por Solange

Ribeirão da região de Assis, SP, sofre efeitos da ação humana

Bongiovanni, professora do De-partamento de Ciências Biológi-cas da Unesp, Câmpus de Assis, ligada ao Laboratório de Geologia Ambiental da unidade.

Os autores apontam que as ati-vidades antrópicas provocam muitos impactos no ambiente, incluindo o uso, ocupação e ma-nejo do solo para as práticas agro-pecuárias, que podem causar a deterioração da água, afetando os ecossistemas ripários.

Há assim a necessidade de se avaliar a qualidade das águas de rios sob influência rural, como é o caso do ribeirão estudado.

O projeto teve como objetivos avaliar a qualidade das águas de um rio situado no oeste paulista, por meio de parâmetros físicos, químicos e biológicos, e caracteri-zar o seu entorno.

Oscar D’Ambrosio

Balei

a, Ch

ico Tu

pyna

mbá

As atividades antrópicas provocam

impactos no ambiente

Page 17: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

17

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

sa e ocorrem avançados processos de erosão e assoreamento. Com isso ficou clara a influência do en-torno sobre a qualidade da água, existindo, ainda, a possibilidade de piora das condições ambien-tais observadas, tendo em vista a grande vulnerabilidade dessas áreas a distúrbios antrópicos.

Concluiu-se que o rio estudado encontra-se degradado pela gran-

de pressão exercida pelas ativi-dades agrícolas, sendo a falta de mata ciliar outro fator decisivo para esta condição.

A avaliação do entorno mostrou uma situação preocupante, pois constatou-se que as margens do ribeirão Água do Cervo encon-

Para isso, foram mensuradas variáveis físico-químicas da quali-dade de água e aplicou-se a técni-ca do azul de metileno como indi-cador de poluição orgânica.

Também foram realizados um biomonitoramento com macroin-vertebrados bentônicos e a análi-se das características do entorno do rio, buscando verificar sua influência sobre os recursos hí-

dricos e identificar as áreas mais suscetíveis a impactos.

Os resultados obtidos pelas di-ferentes abordagens empregadas mostraram uma deterioração da qualidade das águas do rio estuda-do, principalmente nos trechos fi-nais, onde as atividades agrícolas são intensas, a mata ciliar é escas-

Painel Água, Chico Tupynambá

tram-se ocupadas por plantações de cana-de-açúcar, praticamente não existindo mais cobertura ve-getal.

“Esses fatores foram determi-nantes para a degradação da qua-lidade da água, deixando clara a influência do uso, ocupação e manejo do solo sobre esse curso d’água” , comenta Antoniel.

Os pesquisadores concluem que o ribeirão Água do Cervo está sofrendo os efeitos da ação an-trópica, apresentando condições ambientais ruins e que podem ser agravadas, uma vez que possui alta suscetibilidade a impactos, devido às características do entorno.

“Mas, apesar dos problemas, as soluções existem e são estrita-mente necessárias para a recupe-ração desse precioso bem da natu-reza” , finaliza o pesquisador.

Há a necessidade de se avaliar a qualidade das águas de rios sob

influência rural

Page 18: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

18

Reportagens

Água na sala de aulaPesquisa discute o ensino do tema nas escolas.

Oscar D’Ambrosio

Defender a relevância de discutir a questão da água como conteúdo essencial para a formação do aluno do Ensino Fundamental é o assunto da pesquisa “Educação Ambiental e água:

concepções e práticas educativas em escolas municipais”.O objetivo é identificar e avaliar como o tema água

é abordado no contexto da Educação Ambiental nas Escolas Municipais do Ensino Fundamental, especificamente nos quartos anos, da cidade de Presidente Prudente-SP. Este trabalho, nesse sentido, investigou como o tema água comparece nos Projetos Especiais das Escolas, nos planos de ensino, nos livros didáticos de Ciências e de Geografia adotados pelo município, e como é abordado pelos docentes, a partir das suas concepções teórico-metodológicas.

A pesquisa, dissertação de mestrado de Natália Teixeira Ananias, sob orientação de Fátima Aparecida Dias

Gomes Marin, integra o Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp, Câmpus de Presidente Prudente. É uma pesquisa qualitativa, do tipo “estudo de caso” , em que os dados foram coletados a partir da análise documental dos Planos Diretores de 28 escolas e da aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas com quatro docentes.

Os dados foram analisados com base no referencial teórico a respeito da água, Educação Ambiental e prática docente. Os resultados obtidos na pesquisa apontam a existência de Projetos Especiais a

respeito da Educação Ambiental em dez escolas, porém não tratam especificamente da água.

Os docentes não t iveram acesso durante a formação inicial e continuada a discussões sobre Educação Ambiental e água, o que revela a urgência de investimentos na qualificação profissional.

As concepções e saberes dos quatro docentes estão baseados principalmente nos conteúdos dos livros didáticos, em textos veiculados pela mídia, e em pesquisas de sites na Internet, cujos conteúdos merecem uma avaliação criteriosa, sendo constatados casos em que a abordagem do tema água é feita de maneira superficial.

As práticas educativas são baseadas em aulas expositivas, leitura de textos informativos ou contidos nos livros didáticos, pesquisas e experimentos físico-químicos. Os docentes consideram relevante ensinar sobre a água e destacam principalmente os hábitos e atitudes em prol do seu uso racional na escola e nas residências. Contudo, os conteúdos merecem aprofundamentos teóricos, complementações e articulações com a realidade vivida.

Os docentes não mencionaram os mananciais de abastecimento da cidade de Presidente Prudente e

Cabe a cada um cumprir o seu papel frente às questões

ambientais

Ilustr

açõe

s Luc

iana C

avich

ioli

Page 19: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

19

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

tampouco os materiais educativos disponibilizados sobre a questão da água no contexto local. Este estudo permitiu um olhar atento sobre as concepções e práticas educativas dos docentes, com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino, no que diz respeito principalmente à formação de professores para a Educação Ambiental. “A realização da pesquisa proporcionou o conhecimento de como a Educação Ambiental, especifi camente no que diz respeito ao tema água, está sendo desenvolvida no município de Presidente Prudente, com alunos do quarto ano” , conclui Natália.

Os docentes não tiveram acesso a discussões sobre

Educação Ambiental

A pesquisa discute o tema água e a sua relevância para a formação do aluno no sentido de compreender e intervir na realidade, e conclui que as escolas investigadas contemplam a Educação Ambiental em seus projetos especiais, contudo não apresentam projetos específi cos. “Cabe a cada um de nós cumprir o seu papel frente às questões ambientais e principalmente à água, elemento

essencial para a vida. Indivíduos mais conscientes e atentos às questões ambientais são capazes de contribuir no sentido de conservar, recuperar e preservar os recursos hídricos” , conclui a pós-graduada. “O desafi o é promover a Educação Ambiental de qualidade, crítica, transformadora em todos os ambientes escolares e em todos os níveis de ensino, o que inclui a formação universitária e continuada dos profi ssionais envolvidos.”

Ela acredita que investimentos para estabelecer parcerias entre a Rede Municipal de Ensino e órgãos competentes vinculados à questão da água, como por exemplo o Comitê de Bacias Hidrográficas do Pontal do Paranapanema (CBH-PP), Organizações Não-Governamentais, Secretarias Municipal e Estadual do Meio Ambiente, são oportunos no sentido de qualificar o trabalho realizado sobre Educação Ambiental, especificamente sobre o tema água.

“Com a realização deste estudo, esperamos que os debates a respeito da Educação Ambiental e o tema água, principalmente no que tange à formação inicial e continuada dos docentes no município de Presidente Prudente, recebam maior atenção. Nesse contexto, docentes comprometidos e com formação adequada sobre água colaboram para a construção de espaços formativos e na educação de indivíduos mais preocupados com as questões ambientais, o que possibilita novos caminhos para o futuro da sociedade”, conclui.

Page 20: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

20

Artes

Sobre a artista plásticaAdriana Zoudine dedica-se à pintura a óleo sobre tela, à pintura sobre vidro (fused glass) e à xilogravura. Sempre teve interesse no reflexo das imagens e da luz na água. Daí a sua atração pe-las paisagens aquáticas, sejam mares, lagos ou rios, e por cidades onde a água desempenha o papel de uma perso-nagem fundamental. O eco da linda arquitetura nos canais e as amplas pai-sagens com águas proporcionam um leque sem fim de possíveis temas. Saiba mais em:

http¦//bit.ly/10swNkS

Adriana ZoudineAd

riana

Zou

dine

Adria

na Z

oudin

eAd

riana

Zou

dine

Adria

na Z

oudin

e

Summertime

60º N - Outono - Canal em Petersburgo

Summertime - Mangue

52º22' N - Outono - Canal Petersburgo - Zurich

Page 21: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

21

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

I

lua refletiuchuva de prata no rioágua com estrelas

SOBRE ONDAS E REDES

ondas das águas,das horas...radioativas,sonoras...de frio e de calor.ondas e redesquando não acalmamjogam ao marpara de alimentoservir aos peixesredes de dormir,de pescar...redes sociaisque formamparadigmas.balançamoscilam e desequilibram.-ondas e redes.como compreender (?):fluxo da vida.

Sobre o poetaCarlos Antonholi nasceu na cidade de Araras, São Paulo, em 1972. Sua formação abrange a habilitação de ator pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul e Letras pela Faculdade São Bernardo. É dramaturgo com algumas peças encenadas e poeta.Saiba mais em:

www.micropoetricidade.com.br

Carlos Alberto AntonholiHAICAIS

II

Um lago sem águacéu isento de estrelasalma invernada

III

no espelho d'águaduas carpas coloridas:uma tela viva

Page 22: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

22

Edson Bueno de Camargoave agourenta

a ausência do somque se faz antes da chuvacria um silêncio tão altoque o ouvem os passarinhosse espantam as moscas

e eu insanofeito ave agourentaperturbadodançando de braços abertos

lábios roxosde frio e piedademassa d’água cobrindo a cabeçagelo frio das alturas

não me abalo com que dizesjá não creio

Caminho das Pedras

vertente ferroviáriacaminho de jeguese carroções puxados por burros

pedras angularespedreiras centenáriascapões de mato e taperasolarias abandonadas

água grandetravessiaguarús distraídospegos de surpresa

uma ausênciapermeia meus ouvidos

o silêncio

potes paridos

o bloco de granitoem seu sonho de sílica e alumíniorespira pratos e xícaras

inspira para o interior da terrao calor de fornos de mil graus

a terra bebe a sedeágua de potes de artesania incomparável

potes paridos por oleiros besuntados de argilahomens cinzahomens barroe cabelos emaranhados de porcelana cruaárvores humanase seus frutos torneados a frio

poteiros com os pés fi ncadosna terra agora úmidae depois matéria-prima que seca ao sol

o chão da ofi cinaé fábrica e útero do mundoda criação dos seres e das coisasda lapidação de deuses inconscienteso calor da fornalhaque a tudo devorae ama

ArtesEd

son B

ueno

de C

amar

go

Edso

n Bue

no d

e Cam

argo

Page 23: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

23

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

estilhaço

um pássaro aberto no ventoem atitude de desvendar continentese derribar abismosa partir de um estilhaço de ferro no centro do cérebro

fazer a corteàs pedras(sina de gigantes)e sua dor consistente

dobrar o espaço em partes semelhantescomo colcha e lençóisaproximando as realidades no quântico hino do poemae sua alquimia léxica

tudo se consome em espelhoslavados em sangue limpode línguas mutiladaspelo duro cristal da palavralavrada em vidro vulcânico

com letras fincadas na pele lisavão dos dedosa membrana que lembraque já fomos filhos da água

(a ave mergulha no marcom a certeza líquidaque o oceano não é sólido)

ouro para o nascer do sol

postas à terratrês moedas de pratacom faces de deuses há muito esquecidos

para lembrar a naturezatrinado sagradoe o caminho que deve ser trilhado

sete moedas de bronze ou de cobrecomo pagapara entrar no campo dos mortosem livre passagem

porque aquilo que é levado para aliali deve permanecer

mas às vezes é necessário conversar com os mortosaplacar sua ira e o medo deles para com o destino dos vivos(muitos ainda se lembram vivos)

um cântaro repleto de águapara que toda a sede seja saciadae o destino das aves seja adequadamentetraçado no céu

e semente abundantepara a fome de todos aplacar

também é necessário terra fresca para a raiz das árvorese os pés cansadose todas as trilhas e pedras da jornada

porque é preciso breu para pintar a noiteouro para o nascer do sole algodão para tecer as nuvens:.só assim poderásdescansar sob o véu do céu

primavera

primeiro o vento te cobre a pelecom aquela brisa gostosao arrepio de frioo sentir-se vestido de ar

depois o cheiro da gramada terra molhada

fechar os olhose ouvir a vinda dos pingoso breve silêncioa parede de água a se aproximar

a roupa molhada colada ao corpo

abrir a boca e sentiro gosto da água geladamisturado ao suor recente do rosto

tudo tem cheiro de soltem gosto de solmas o sol não está

por fim abrir os olhose ver as réstias de sol furando as nuvense estas mitigando coadas da chuva

tem prazeresque o tempo não come

Edson Bueno de Camargo — Santo André — SP, 1962, mora em Mauá – SP. Poeta, pedagogo, fotógrafo extemporâneo e entusiasta de arte-postal. Publicou: “cabalísticos” Orpheu – Editora Multifoco – Rio de Janeiro – 2010; De Lembranças & Fórmulas Mágicas Edições Tigre Azul/ FAC Mauá - 2007; Mapa do Abismo e Outros Poemas Edições Tigre Azul/ FAC Mauá - 2006, Poemas do Século Passado 1982-2000. Participou de algumas antologias poéticas e publicações literárias diversas: Babel Poética, Zunai, Germina, Meiotom, Confraria do Vento, O Casulo, Celuzlose, entre outras. <http://umalagartadefogo.blogspot.com>.

Page 24: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

24

Artes

Litorais da existência

Evandro Angerami realiza suas paisagens marítimas pintando in loco no Brasil e no exterior. Inicia seu

trabalho ao vivo e o termina no ateliê ou o produz totalmente entre as quatro paredes do seu estúdio.

As pinturas transmitem vivência e intensidade espiritual no ato de lidar com cavaletes, pincéis e tintas. Suas imagens acentuam o caminhar de um processo criativo em que o mar e a areia são pretextos para o desenvolvimento de uma linguagem própria e aprofundada pelo desafio pessoa l de se impor e vencer dificuldades técnicas e imagéticas.

O pintar de Angerami é um estar no mundo que se apoia num tripé: educação, cultura e comunicação. Suas paisagens ensinam a ver, são uma forma de conhecimento daquilo que chamamos realidade e transmitem a plena convicção de um artista jovem, mas progressivamente íntegro em sua devoção ao ato de criar.

Evandro Angerami é mestre em Artes Visuais pela New York Studio School of Painting, Drawing and Sculpture (NYSS), de Nova York, EUA, e licenciado em Artes Visuais pelo Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo. Frequentando os ateliês de Aldemir Martins e Rubens Matuck desenvolveu a técnica e o olhar. Realizou exposições individuais em Nova York, Paris, São Paulo e Santos. Imagens do artista podem ser acessadas em: www.angerami.com

Oscar D'Ambrosio

Page 25: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

25

Revista Acqua - Edição 1 - Abril 2013

Page 26: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

26

Podcast

Podcast Unesp lança PodAcquaObjetivo é divulgar pesquisas e opiniões sobre o tema

Em 6 de março deste ano, para gerar debate sobre o tema Água, o Podcast Unesp, produzido pela Assessoria de Comunicação e Imprensa da Universidade, lançou o PodAcqua Unesp,

um canal em que o ouvinte poderá conhecer um pouco do trabalho de pesquisadores dedicados ao tema.

O produto, semanal, disponível às quartas-feiras, em http://podcast.unesp.br, na aba PodAcqua, traz trechos de entrevistas com especialistas da Unesp e de outras instituições sobre água, nas mais diferentes áreas do conhecimento, com atenção especialmente voltada à gestão responsável dos recursos hídricos.

Cada edição tem cerca de 3min30s e pode ser baixada, reproduzida e veiculada livremente, medi-ante os devidos créditos.

A jornalista responsável pelo projeto é Cínthia Leone. Formada pela Unesp de Bauru, integra a equipe da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp. Especializada em Divulgação Científica pelo Núcleo José Reis da USP e em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP), é aluna de mestrado em Ciência Ambiental pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.

Os interessados em divulgar seus projetos p or meio do Po d Acqu a p o dem enca m i n h a r e-mail para [email protected]

Foto

de

Ale

ssan

dro

Bon

vini

Conheça os entrevistados entre 6 de março e 17 de abril

José Xaides de Sampaio Alves, especialista em planejamento urbano e regional da Unesp em Bauru, acredita que o mercado imobiliário representa atualmente o maior risco para recursos hídricos das cidades brasileiras.

Francisca Alcivania de Melo Silva, agrônoma da Unesp em Registro, defende uso do resíduo após desinfecção.

Fernando Tangerino Hernandez, engenheiro agronômo da Unesp em Ilha Solteira, montou rede para auxiliar agricultores da região a obter irrigação mais eficiente.

Luiz de Campos Júnior, um dos idealizadores da iniciativa Rios & Ruas, comenta sobre o projeto que visa sensibilizar a população de São Paulo em relação aos rios invisíveis da cidade.

André Scantimburgo, cientista político da Unesp em Marília, analisa o papel da Agência Nacional de Águas na atual política de recursos hídricos do país.

Didier Gastmans, geólogo da Unesp em Rio Claro, comenta sobre o aperfeiçoamento das medições de idade geológica de águas subterrâneas.

Ricardo Hirata, geólogo formado pela Unesp e professor da USP, explica as dificuldades de gestão de águas subterrâneas no Brasil e cita situação crítica no Recife.

Antonio Thomaz Júnior, geógrafo da Unesp em Presidente Prudente, pesquisa disputas pelo acesso à terra e a outros recursos naturais.

Player do Poscast Unesp

Q u e m d e s e j a r t a m b é m p o d e r á ut i l i z a r o player de aúdio deste e dos demais canais do Podcast Unesp diretamente no seu site, blog ou página pessoal. Para saber mais, clique em http://podcast.unesp.br/podcast-no -meu-site

Page 27: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013

Unesp Agência de Notícias - UnANVoltado a jornalistas, difunde as principais atividades da Universidadehttp://www.unesp.br/agenciadenoticias

Portal UnespDivulga notícias de ensino, pesquisa, extensão e administraçãohttp://www.unesp.br

Podcast UnespDisponibiliza arquivos de áudio com pesquisas e opiniões de especialistashttp://podcast.unesp.br

Minuto UnespInformativo diário em áudio e vídeo sobre diversas atividadeshttp://unesp.br/agenciadenoticias/minutounesp

Revista Unesp CiênciaÉ a revista de divulgação científi ca da instituiçãohttp://www.unesp.br/revista

Jornal UnespEnfoca pesquisas e atividades de ensino e extensãohttp://www.unesp.br/jornal

Unesp InformaEstá voltado aos funcionários da Universidade http://www.unesp.br/unespinforma

Guia de Profi ssõesÉ destinado a orientar o estudante do Ensino Médio sobre os cursos oferecidos pela Unesp http://www.unesp.br/guiadeprofi ssoes

Blog ACIRealiza cobertura on-line de importantes eventos nacionais ou internacionaishttp://blogaci.unesp.br

Debate AcadêmicoPublica artigos sobre os mais diversos temashttp://www.unesp.br/debate-academico/

Você Sabia?Traz, de forma bem-humorada, dados inusitados da Unesp.http://www.unesp.br/vocesabia

Page 28: Revista Acqua - Edição 1 - Abril - 2013