21
1 Esta edição da Revista Agenda 21 – Brasil Sustentável apresenta os diferentes caminhos que trilhamos - sempre em parceria com a sociedade – em busca da sustentabilidade no país. São muitos os desafios e dificuldades para consolidarmos um novo modelo civilizatório em direção de sociedades sustentáveis, e esse processo dialógico já aponta experiências e resultados significativos que procuramos compartilhar para ampliar o entendimento e o compromisso com a sustentabilidade ampliada e progressiva que caracteriza a Agenda 21 Brasileira. Apresentamos diferentes olhares sobre a questão: na fala da Ministra Marina Silva e dos diversos Secretários responsáveis por programas que trabalham junto com a Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável e o Programa Agenda 21, na formulação e implementação de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, temos a dimensão institucional, incorporada ao plano de governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva. Ao mesmo tempo, nossos parceiros da sociedade civil relatam as suas experiências ao assumirem a Agenda 21 como um poderoso instrumento para o desenvolvimento local. Deixamos ao leitor o desafio de, a partir da experiência brasileira, qualificar e questionar o processo de desenvolvimento no qual está inserido. Boa leitura! Gilney Viana Secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável Pedro Ivo de Souza Batista Coordenador da Agenda 21

Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

1

Esta edição da Revista Agenda 21 – Brasil Sustentável apresenta

os diferentes caminhos que trilhamos - sempre em parceria com a

sociedade – em busca da sustentabilidade no país. São muitos os desafios

e dificuldades para consolidarmos um novo modelo civilizatório em

direção de sociedades sustentáveis, e esse processo dialógico já aponta

experiências e resultados significativos que procuramos compartilhar

para ampliar o entendimento e o compromisso com a sustentabilidade

ampliada e progressiva que caracteriza a Agenda 21 Brasileira.

Apresentamos diferentes olhares sobre a questão: na fala da Ministra

Marina Silva e dos diversos Secretários responsáveis por programas que

trabalham junto com a Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento

Sustentável e o Programa Agenda 21, na formulação e implementação

de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, temos a dimensão

institucional, incorporada ao plano de governo do Presidente Luis

Inácio Lula da Silva. Ao mesmo tempo, nossos parceiros da sociedade

civil relatam as suas experiências ao assumirem a Agenda 21 como um

poderoso instrumento para o desenvolvimento local. Deixamos ao leitor

o desafio de, a partir da experiência brasileira, qualificar e questionar o

processo de desenvolvimento no qual está inserido. Boa leitura!

Gilney VianaSecretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável

Pedro Ivo de Souza BatistaCoordenador da Agenda 21

Page 2: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

2

EXPEDIENTE

República Federativa do BrasilLuiz Inácio Lula da SilvaPresidenteJosé Alencar Gomes da SilvaVice-Presidente

Ministério do Meio AmbienteMarina SilvaMinistra do Meio AmbienteClaudio LangoneSecretário ExecutivoGilney Amorim VianaSecretário de Políticas para o Desenvolvimento SustentávelRoberto VizentinDiretor de ProgramaPedro Ivo de Souza BatistaCoordenador da Agenda 21Equipe Agenda 21Antonio Carlo BrandãoAry da Silva MartiniKarla MatosKelly Anne Campos AranhaLeonardo CabralLuciana Chueke PurezaLuis Dario GutierrezMárcia FacchinaMichelle MilhomemPatrícia KranzPedro Ivo de Souza BatistaValéria Viana

Agenda 21 - Brasil SustentávelEdição EspecialEdição e RevisãoKarla Matos e Valéria VianaProjeto Gráfico e ArteGrupo VintenoveCapaLuis Guilherme DelmontIlustraçõesDaniel SilvaProdução EditorialValéria Viana

Ministério do Meio AmbienteSecretaria de Políticas para o Desenvolvimento SustentávelCoordenação da Agenda 21Esplanada dos MinistériosBloco B Sala 830 - 8º andar70068-900 - Brasília DFTel.: 55 61 3171142Fax: 55 61 2267047Site: http://www.mma.gov.bre-mail: [email protected]

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

Nono no nonono no nonono nono no nono no nonono

01

03

07

10

15

18

22

27

31

32

35

38

39

40

Plataforma das 21 ações prioritárias

A economia da poupança na sociedade do conhecimento

Produção e consumo sustentáveis

Ecoeficiência e responsabilidade social das empresas

Retomada do planejamento estratégico, infra-estrutura e integração regional

Energia renovável e a biomassa

Informação e conhecimento para o desenvolvimento sustentável

Inclusão social para uma sociedade solidária

Educação permanente para o trabalho e a vida

Promover a saúde e evitar a doença

Inclusão social e distribuição de renda

Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente e a saúde

Estratégia para a sustentabilidade urbana e rural

Gestão do espaço urbano e a autoridade metropolitana

Desenvolvimento sustentável no Brasil rural

Promoção da agricultura sustentável

Promover a Agenda 21 Local e o desenvolvimento integrado e sustentável

Implantar o transporte de massa e a mobilidade sustentável

Recursos naturais estratégicos: água, biodiversidade e florestas

Preservar a quantidade e melhorar a qualidade das bacias hidrográficas

Politica florestal, controle do desmatamento e corredores de biodiversidade

Depois do processo de consulta nacional para a elaboração da Agenda 21 Brasileira, a CPDS propôs sua plataforma de ação e definiu com lideranças do Poder Executivo, do Poder Legislativo, da comunidade científica, das organizações não-governamentais e das organizações produtivas os meios e os compromissos de implementação da Agenda 21. O objetivo foi envolver todos aqueles que influenciam na tomada de decisões ou podem influenciá-las, tornando a plataforma legítima e efetiva.

Page 3: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

3

UM BRASILSUSTENTÁVEL

A idéia de que é necessário um esforço comum e planetário para corrigir os rumos do modelo de desenvolvimento econômico e social se firmou no cenário político mundial de forma irreversível. Não há como afirmar que o desenvolvimento vigente no mundo globalizado possa ser chamado de sustentável com o atual panorama de concentração de poder econômico, de renda, especulação financeira, sobre exploração dos recursos naturais, poluição e impactos ambientais, em escala global, capazes de causar fenômenos climáticos devastadores. O fato de assistirmos a uma crescente preocupação com os problemas ambientais e com o desenvolvimento saudável da humanidade e do planeta é um sinal animador de que os problemas estão gradativamente penetrando na consciência da população. E não é somente isso: nos últimos 10 anos houve um enorme avanço do conhecimento científico relacionado a essas questões que estão provocando uma revolução nos paradigmas atuais. Vivemos o início de um ciclo de uma nova forma da organização do saber baseada na transdisciplinaridade.

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - Rio 92 - 179 países assinaram a Agenda 21. Esse documento passou a ser o mais importante resultado do evento. Ele reúne um conjunto amplo de premissas e recomendações sobre como as nações devem agir para alterar seu vetor de desenvolvimento, em favor de modelos sustentáveis, deflagrar programas de sustentabilidade, inserindo a questão ambiental na matriz do desenvolvimento.

Todo esse contexto sugere que a Agenda 21 entrou na vida de nossas sociedades de forma definitiva seja como um fator organizador da pauta prioritária das localidades seja como mecanismo de melhoria da qualidade de vida de toda a população. A Agenda 21 agregou uma grande quantidade de novos atores e grupos sociais ao longo de seu processo de construção. Por essa razão, a sociedade se reconhece no resultado obtido.

De fato, sustentabilidade e Agenda 21 são dois conceitos que estão, lado a lado, marcando nosso vocabulário desde a última década. Mas quais são os princípios norteadores das ações que nos levam a crer que podemos implementá-los? Em primeiro lugar, a premissa máxima é a defesa da vida com busca constante de qualidade e equilíbrio das relações entre as pessoas e delas com a natureza. A partir desse princípio, podemos buscar um desenvolvimento voltado para a justiça social. Para o nosso governo, isso significa que a maioria da população não seja exposta aos efeitos ambientais negativos das ações políticas e econômicas que tenha acesso eqüitativo aos recursos naturais, bem como às informações relevantes sobre esses recursos, riscos ambientais, processos democráticos de decisão sobre políticas e projetos de sua localidade, etc.

O desafio é grande. O consenso é de que é impossível termos soluções ambientais dissociadas das sociais, econômicas, culturais e éticas. No entanto, o discurso continua fragmentado e de difícil assimilação. Nesse sentido, é preciso reunir esforços para traduzir a sustentabilidade nas mais diferentes dimensões, sem perder sua unidade. A sustentabilidade é, por si só, estratégica, integrada e seu caráter transversal faz com que possa se tornar a grande ferramenta para o exercício político dos governantes no Brasil. Para isso, o País já conta com uma base forte identificada pelo amadurecimento das relações entre os diferentes grupos e setores do campo sustentabilista e pela existência de uma gama de informações de qualidade sobre o tema, com foco na ação governamental.

Não temos dúvida de que a Agenda 21 atende aos complexos requisitos para acionar e manter funcionando o motor da sustentabilidade. De acordo com os princípios estabelecidos pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, de ter uma política ambiental que seja integrada e que dialogue com o desenvolvimento, a Agenda 21 se torna um dos principais instrumentos para atingir a transversalidade da gestão ambiental nas políticas de governo. Sua metodologia viabiliza a inclusão social com desenvolvimento no seu sentido mais

“...as pessoas estão se dando conta de que estamos em um momento decisivo para humanidade que é necessário redescobrirmos o equilíbrio na direção de sociedades sustentáveis.”

“ de acordo com os princípios estabelecidos pelo governo Luis Inácio Lula da Silva, de ter uma política ambiental que seja integrada e que dialogue com o desenvolvimento, a Agenda 21 se torna um dos principais instrumentos para se atingir a transversalidade da gestão ambiental nas políticas de governo.”

“temos hoje 469 processos em curso e nossa meta é termos, até o final do governo, 1500 experiências em todo o País.”

Page 4: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

4

Marina Silva é Ministra do Meio Ambiente.

amplo, assim como a geração de renda e a preservação do meio ambiente. Mas como isso pode ser viável? A Agenda 21, que tem provado ser um guia eficiente para processos de união da sociedade, compreensão dos conceitos de cidadania e de sua aplicação, é um dos grandes instrumentos de construção de uma democracia participativa e uma cidadania ativa para o Brasil.

A Agenda 21 Local, programa de implementação da Agenda 21, tem hoje 469 processos em curso, o que significa o dobro do número catalogado até 2002. A meta do governo para 2006 é mais ousada: 1.500 experiências em todo o País. Ainda durante 2003 foi lançado um edital para a construção de 64 novas Agendas 21 locais, o maior em demanda induzida da história do Fundo Nacional do Meio Ambiente em parcerias institucionais.

Além do Encontro Nacional das Agendas 21 Locais e da Conferência Nacional do Meio Ambiente, classificados como atividades disseminadoras e educativas, foi desenvolvido e executado, em parceria com o Ministério da Educação, o Programa de Formação em Agenda 21 voltado para a formação de cerca de 10.000 professores das escolas públicas do País. Outra ação relevante foi o decreto assinado pelo Presidente da República ampliando a Comissão de Política para o Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Nacional - CPDS, de 10 para 34 membros, dando-lhe maior representatividade e capacidade de coordenação do processo da Agenda 21. Soma-se a isso a criação da Frente Parlamentar mista da Agenda 21, composta de 107 deputados e 26 senadores que tem como papel principal articular o Poder Legislativo para maior fluência na discussão dos temas ambientais. Incorporar os princípios da sustentabilidade nas políticas públicas nacionais, assim como nas ações dos diferentes segmentos sociais é um processo que exige mudanças culturais, de padrões e hábitos enraizados há muito em nossa sociedade. Desse é o desafio do governo e desse esforço não podemos abrir mão.

“ E s s e é o grande

desafio: você buscar uma ação em

que as políticas públicas, implementadas pelo governo

sejam capazes de induzir processos de produção e consumo compatíveis tanto

com os objetivos da sustentabilidade ambiental, como também os objetivos econômicos e sociais, ou

seja, geração de emprego, renda, melhoria da qualidade de vida, do conjunto da população, preservando o meio ambiente”,

Roberto Vinzentin, Diretor de Produção e Meio Ambiente, Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, MMA.

“Para a promoção da Agenda 21 na escola, o primeiro momento é informar os professores sobre o potencial da Agenda 21 como instrumento de articulação, discussão,

de pensamento, de cidadania. O segundo momento é incentivar os professores a trabalhar Agendas 21 nas escolas, envolvendo não apenas os alunos das escolas, mas as famílias e

comunidades do entorno da escola”. Marta de Azevedo Irving, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

“Nossa escola está trabalhando com a Agenda 21 para melhorar o nosso planeta”. Anderson Bezerra de Oliveira, 7 anos, aluno da 2ª série da Escola Freinet, Natal-RN.

“A questão ambiental é uma questão de visão de mundo, de sensibilidade e de comportamento, então é uma questão eminentemente cultural. Se nós não conseguirmos introduzir os valores que garantem a sustentabilidade, a cultura que garante a sustentabilidade, não há possibilidade de vitória nem da Agenda 21, nem das teses que buscam a sustentabilidade no mundo”. Juca Ferreira, Secretário Executivo do Ministério da Cultura.

“ A busca pela sustentabilidade é a tradução mais correta da Agenda 21 para as comunidades que vivem e conservam o meio ambiente e os conhecimentos que desenvolveram ao longo do

tempo sobre a Amazônia. Há muito tempo esses moradores da diversidade cultural da região perdem no confronto com projetos econômicos que pouco reconheceram seus direitos

elementares e as propostas participativas formam um salto não apenas de cidadania mas de esperança para o futuro da floresta, de seus rios, de seus lagos e de seus

campos. É claro que esperam o desenvolvimento, mas de um tipo de permita manter sua dignidade e seu acesso a avanços contemporâneos sem a perda

de seus elementos essenciais.” Maria Araújo de Aquino, presidente da Rede GTA - Grupo de Trabalho Amazônico -, que reúne

mais de 500 entidades sociais e ambientais dos nove estados da região.

Page 5: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

5

Trabalho sobre o Desmatamento e a elaboração do Projeto de Lei sobre Biossegurança que enviamos ao Congresso Nacional com uma posição de consenso do Governo.

Outra diretriz é o fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente. O SISNAMA não é apenas um conjunto de instituições e órgão públicos ambientais no país nos níveis federal, estadual e municipal. É o espaço no qual a participação da sociedade se materializa por meio dos Conselhos de Meio Ambiente. E esse conjunto é o principal guardião das leis, dos procedimentos e dos conhecimentos sobre o ambiente que o Brasil acumulou nas últimas décadas. É por isso que demos regularidade e construímos uma Agenda comum com Estados e Municípios através da Comissão Tripartite Nacional e já com o início da instalação das Comissões Tripartites nos Estados. Um dos principais desafios do MMA é o de resgatar o papel de coordenador do Sisnama para que possamos recuperar a capacidade de planejamento, aperfeiçoando a política ambiental brasileira, nos dedicando às questões estratégicas e às ações estruturantes.

Nossa quarta diretriz é o controle e a participação social. Acreditamos que cuidar do Brasil não é tarefa apenas do governo, mas da sociedade como um todo. A participação não é apenas um direito da cidadania, mas um dever constitucional. Nesse contexto, o MMA tem valorizado e investido no bom funcionamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, espaço já consagrado de participação e controle social do SISNAMA. Além disso, reformulou, de forma ampliar a participação, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético e criou a Comissão Nacional da Biodiversidade, a Comissão do Programa Nacional de Florestas, além dos Grupos de Trabalho da Mata Atlântica e do Cerrado. E já estamos em fase de formação do GT da Caatinga.

Reafirmando a importância do controle e a participação social, em novembro de 2003, foi realizada a Conferência Nacional do Meio Ambiente e a Conferência Nacional Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente, evento que consolidou o compromisso do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a qualidade de vida e a sustentabilidade socioambiental como pressupostos de um novo ciclo de desenvolvimento para o país. O processo de construção da Conferência Nacional do Meio Ambiente, versão adultos, contou com a participação direta de mais de 70 mil pessoas em encontros preparatórios regionais, municipais, setoriais e nas 27 Pré-Conferências Nacionais nos Estados. Os 912 delegados eleitos, representantes do governo e da sociedade discutiram os seguintes temas: recursos hídricos; biodiversidade e espaços territoriais especialmente protegidos; infra-estrutura: energia e transportes; agricultura, pecuária, recursos pesqueiros e florestais; mudanças climáticas; meio ambiente urbano.

Em sua versão Infanto-juvenil, a Conferência Nacional do Meio Ambiente envolveu mais de 5,3 milhões de pessoas entre estudantes, professores e a comunidade em cerca de 15 mil Conferências nas Escolas de ensino fundamental de todo o país. A Conferência Nacional do Meio Ambiente trouxe as propostas e demandas da sociedade brasileira para se cuidar do Brasil. Marca o inicio de uma nova relação dos brasileiros com a natureza e aponta que o caminho para a sustentabilidade perpassa pelo trabalho conjunto e responsabilidade compartilhada.

Assim, a consolidação da Política Nacional de Meio Ambiente exige ações que contribuam para fortalecer e habilitar os órgãos e as entidades responsáveis pelo planejamento, regulação, gestão e execução das políticas públicas. É fundamental também que as questões ambientais sejam vivenciadas no nível local, onde os danos ocorrem e onde podem ser geradas e implementadas as soluções. Para dar conta desse desafio, torna-se estratégica a parceria entre governo e sociedade na construção e na implementação das políticas públicas. Para isso, os órgãos governamentais devem atuar de forma coordenada e ter à sua disposição instrumentos adequados, legislação consolidada e vontade política para socioambientalizar a consciência brasileira rumo a um padrão de desenvolvimento mais justo e sustentável.

Claudio Langone é Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente.

Política Nacional de Meio Ambiente fortalece a Construção do Brasil Sustentável

O Brasil conta hoje com uma sociedade cada vez mais consciente e com alto padrão de cobrança quanto ao seu futuro ambientalmente sustentável. Estamos vivendo um processo de amadurecimento da sociedade civil muito importante para a consolidação de um padrão diferenciado de relacionamento entre os cidadãos e cidadãs e o Poder Público. Hoje a sociedade consegue estabelecer uma relação com o Governo que não é baseada apenas na cobrança em relação ao cumprimento das responsabilidades por parte dos governantes. Há também uma predisposição muito grande em participar ativamente dos debates, compartilhar responsabilidades e desenvolver parcerias. É um aprendizado com via de mão dupla. O Ministério do Meio Ambiente – MMA - sob a orientação da Ministra Marina Silva - no sentido de consolidar o A Política Nacional de Meio Ambiente, uma demanda da sociedade, tem quatro diretrizes que orientam todo seu trabalho: desenvolvimento sustentável, transversalidade, fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente e controle e participação social.

Com a visão que compreende o meio ambiente não como um entrave ao desenvolvimento assumimos o conceito de desenvolvimento sustentável como contraponto aos tradicionais modelos de desenvolvimento econômico, caracterizados pelos fortes impactos negativos na sociedade e no meio ambiente. As sociedades modernas vêm gradualmente reconhecendo, em todas as suas dimensões, os problemas inerentes à contínua busca de crescimento econômico. Esse crescimento passa a considerar suas repercussões e seus impactos negativos nos grupos sociais e no meio ambiente, identificando custos econômicos expressivos, anteriormente desprezados. A tarefa de reconhecer e minimizar esses custos representa uma excelente oportunidade de transformar as práticas de desenvolvimento econômico em todo o mundo, criando as condições para a implementação do desenvolvimento sustentável. O MMA tem, por exemplo, investido na implementação de projetos demonstrativos de desenvolvimento sustentável, com base nos princípios da gestão ambiental descentralizada e da indução do uso sustentável dos recursos naturais. Podemos citar o Programa Amazônia Sustentável que está sendo construído em parceria com o Ministério de Integração Nacional, os Governos Estaduais e a Sociedade Civil, e que dará novo contexto às ações do Programa Piloto para as Florestas Tropicais do Brasil. A Agenda 21, programa que através da CPDS articula 15 Ministérios, 2 entidades governamentais e 17 ONGs, para o desenvolvimento de planos de desenvolvimento local sustentável onde a parceria entre governo e sociedade é condição sine qua non, é outro exemplo positivo de que é possível mudarmos a forma de pensarmos o desenvolvimento.

A transversalidade, entendida como o trabalho integrado entre os diferentes ministérios, tem tido boa receptividade para a construção de agendas bilaterais com os diversos ministérios com os quais trabalhamos. Dessa forma, poderemos planejar a infraestrutura pensando desde o princípio nas questões socioambientais e não mais somente quando, uma vez o projeto pronto, o Governo tiver de submetê-lo ao processo de licenciamento ambiental. Exemplo disso foi a recente assinatura do Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério de Minas e Energia para a construção de uma agenda ambiental que viabilize a implementação de políticas públicas conjuntas e articuladas e baseadas, entre outros objetivos, que além de promover o uso racional de energia, assegure que a expansão da oferta energética no país se dê em condições sócio-ambientais sustentáveis. Essa nova forma de atuar está expressa nos nossos programas que dialogam com o Fome Zero e introduzem também a idéia de um Sede Zero. Não podemos nos permitir de ver projetos importantes embargados na Justiça por não termos sido capazes de planejá-los de forma a atender a legislação do país. E, além das agendas bilaterais, citamos o Grupo Interministerial de

Page 6: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

6

“...a Agenda 21 vêm se constituindo em um instrumento de fundamental importância na construção dessa nova ecocidadania, num processo social no qual os atores vão pactuando paulatinamente novos consensos e montando uma Agenda possível rumo ao futuro que se deseja sustentável.”

Gilney Amorim Viana é Secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente

A Agenda 21 expressa um desejo de mudanças para um modelo de civilização em que predomine o equilíbrio ambiental e a justiça social através do planejamento participativo que analisa a situação atual de uma comunidade e planeja o futuro de forma sustentável. Esse processo de planejamento deve envolver todos os atores sociais na discussão dos principais problemas e na formação de parcerias e compromissos para a sua solução a curto, médio e longo prazos.

A análise e o encaminha-mento das propostas para o futuro devem ser feitos dentro de uma abordagem integrada e sistêmica das dimensões econômica, social,

Agenda 21 e sustentabilidade

cultural, ambiental, ética e político-institucional. Em outras palavras, o esforço de planejar o futuro, com base nos princípios de Agenda 21, gera produtos concretos, exeqüíveis e mensuráveis, derivados de compromissos pactuados entre todos os atores, fator esse que garante a sustentabilidade dos resultados.A Ministra Marina Silva, em sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente, definiu a necessidade de concentrar esforços para a “moldagem de uma política geral de governo, na qual a área de meio ambiente esteja adequadamente colocada, saindo de seu tradicional isolamento”. Para cumprir esse papel formulador, busca-se a construção de uma política socioambiental. No conjunto de ações direcionadas por estas diretrizes, a Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável – SDS - tem atuado para promover políticas e instrumentos que implementem os princípios e práticas do desenvolvimento sustentável, com justiça ambiental e integrando as ações do governo e sociedade. Internamente, a SDS dividiu seus campos de ação em três núcleos estratégicos: desenvolvimento rural sustentável; sociedade e território e sustentabilidade; e economia e meio ambiente.

A SDS vem trabalhando com intervenções em porções territoriais estrategicamente priorizadas no sentido de adensar a presença das políticas públicas federais a nível local e regional. Com essas intervenções, espera-se debilitar a lógica que associa progresso à degradação ambiental e avançar para uma maior sustentabilidade nos processos de ocupação do território, traduzida em fortalecimento da infraestrutura local, com recuperação da produtividade e multifuncionalidade das paisagens degradadas, e consolidação do desenvolvimento regional, fortalecendo os novos atores sociais, os novos usos do território e a união dos espaços produtivos com as áreas protegidas.

Num processo de consolidação da presença efetiva do MMA nesses territórios, é necessário envidar esforços para organizar informações e desenvolver instrumentos econômicos, legais e institucionais que viabilizem e fortaleçam a forma correta do fazer socioambiental, apoiando os segmentos sociais locais na construção de novas formas de cidadania, onde a vontade e a opinião de todos seja considerada num processo de discussão democrático, voltado a uma visão de futuro da nação.

Por meio da organização e mobilização dos segmentos sociais presentes nas áreas de atuação priorizadas, e da informação qualificada sobre estes territórios, é possível se estabelecer processos indutores do desenvolvimento sustentável, traduzidos em projetos demonstrativos que estimulem e fortaleçam as diferentes dinâmicas e estratégias de desenvolvimento regionais, a partir de respostas efetivas aos problemas e demandas identificadas

e apoiadas por uma dinâmica solidamente construída, em conjunto pelos interessados, para que não se corra o risco de retrocessos, ou que o poder público não abra mão de suas responsabilidades para com a gestão do meio ambiente, patrimônio co-mum de todos.

Nesse contexto, a Agenda 21 vem se constituindo em um instrumento de fundamental importância na construção dessa nova ecocidadania, num processo social no qual os atores vão pactuando paulatinamente novos consensos e montan-do uma Agenda possível rumo ao futuro que se deseja sustentável. O traba-lho de mobilização que vêm sendo desenvolvido na construção das Agendas 21 Locais permite o aporte de informações que garantam uma melhor consciência na tomada de decisões, ao mesmo tempo que garante a ampla participação dos segmentos sociais, fazendo com que os processos avancem na medida exata do conjunto de demandas sociais presentes, permi-tindo o resgate do desenvol-vimento sustentável como um processo dinâmico, onde o horizonte, no que pese o melhor subsídio dos instrumentos de gestão disponíveis, é aquele que a soc iedade consegue vislumbrar e almejar naquele momento.

Page 7: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

7

A Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável - SDS - atua na formulação e implementação de políticas e instrumentos que visam promover a inserção dos princípios do desenvolvimento sus-tentável nas diferentes ações de governo, nos empreendimentos do se-tor produtivo e demais segmentos da sociedade. Para cumprir essa diretriz institucional, a SDS es-truturou suas estratégias de atuação em três núcleos temáticos: Sociedade, Ter-ritório e Desenvolvimento Sustentável; Desenvolvimento Rural Sustentável e Eco-nomia e Meio Ambiente. Esses núcleos dialogam com diferentes atores go-vernamentais, acadêmicos e da sociedade civil e reúnem programas, projetos e ações que se complementam e se integram em torno de metas e resultados comuns.

Sociedade, Território e Desenvolvimento Sustentável - articula programas e ações voltados para a gestão e planejamento do território, visando à construção da sustentabilidade, com base em processos participativos, democráticos e de apoio ao desenvolvimento local.

Desenvolvimento Rural Sustentável - concentra as atividades e programas associados ao uso sustentável dos recursos naturais, à gestão e à capacitação ambiental no meio rural, ao desenvolvimento de cadeias produtivas derivadas da biodiversidade e à remuneração dos serviços ambientais da produção familiar rural.

Economia e Meio Ambiente - elabora estudos, diagnósticos e indicadores sobre as interações entre meio ambiente, produção, comércio e consumo, desenvolvendo estratégias para induzir os agentes econômicos e sociedade a incorporarem os princípios da sustentabilidade em suas ações.

PROGRAMAS DA SDS

Instrumentos Econômicos

O uso de instrumentos econômicos na gestão ambiental visa induzir mudanças no comportamento dos agentes, atuando nas áreas tributária e creditícia para estimular o uso sustentável dos recursos naturais e valorizar a geração de serviços, empregos, e empreendimentos desenvolvidos em bases ecoeficientes. A SDS desenvolve propostas para inserir no sistema fiscal e tributário mecanismos (por meio de impostos e subsídios) direcionados à sustentabilidade. Quanto aos instrumentos de crédito, o objetivo é estabelecer novas bases para que as fontes e agências oficiais de financiamento utilizem critérios ambientais para o financiamento de empreendimentos, assim como mecanismos de fomento para implementar políticas e projetos de desenvolvimento sustentável.

Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural - Proambiente

O Proambiente é um Programa que visa incentivar e consolidar um novo padrão de desenvolvimento para a produção familiar rural, baseado nos princípios da agroecologia e da remuneração dos serviços ambientais. Contempla os agricultores familiares, beneficiários da reforma agrária, extrativistas, pescadores artesanais, populações indígenas e populações tradicionais. O programa se organiza por meio de pólos regionais. Em cada pólo é criado um conselho gestor, que coordena a elaboração e implementação de um plano de desenvolvimento sustentável e planos de uso das unidades de produção, nos quais devem estar previstas as técnicas a serem utilizadas e os serviços ambientais a serem gerados por um período de 15 anos.

Gestão Ambiental Rural - Gestar

O Gestar promove o desenvolvimento rural sustentável por meio da aplicação de um conjunto de instrumentos de gestão ambiental que conduzam à melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente de assentamentos humanos localizados no meio rural. Este programa tem o apoio da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação - FAO e conta com a participação efetiva da comunidade, das organizações e instituições que atuam no espaço rural.

Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEEO Programa Zoneamento Ecológico-Econômico tem por objetivo implementar o ZEE no Brasil e gerenciar as informações necessárias à gestão do território, integrando-o aos sistemas de planejamento em todos os níveis da administração pública. Nesse sentido, o Programa subsidia a formulação de políticas territoriais da União, Estados e Municípios, orientando os diversos níveis decisórios na adoção de políticas convergentes com as diretrizes de políticas do Governo. Além disso, propõe soluções de proteção ambiental que considerem a melhoria das condições de vida da população e a redução dos riscos de perda de capital natural.

Bioprospecção e Desenvolvimento Sustentávelde Produtos da Biodiversidade - Probem

O Probem é um programa nacional voltado para o desenvolvimento regional com foco na formação de cadeias produtivas derivadas da biodiversidade. Incentiva a geração de bioprodutos (fitoterápicos, cosméticos, alimentos, entre outros) que agreguem valor e permitam ampliar e diversificar a estrutura produtiva nos diversos biomas brasileiros. Promove, assim, a valorização econômica, social e cultural da biodiversidade e o uso sustentável dos ecossistemas que a abrigam, contribuindo para a sua conservação e para a redução das taxas de desmatamento no país.

Page 8: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

8

Produção e Consumo Sustentável

A SDS articula parcerias com diferentes atores públicos e privados no sentido de promover a adoção de práticas ecoeficientes e de produção mais limpa, bem como a consciência pública sobre a necessidade de mudança de valores e hábitos de consumo que reduzam a pressão sobre os recursos naturais. A partir de estudos de cadeias produtivas que permitam avaliar os impactos da produção e do consumo sobre o meio ambiente, desenvolvem-se diferentes estratégias de ação que incluem: a disseminação de informações à sociedade, a proposição de mecanismos de certificação e de estímulo à ecoeficiência nas empresas, o fortalecimento do comércio ético e solidário e a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento dos econegócios.

Agenda Ambiental na Administração Pública A3P

No contexto da agenda de produção e consumo sustentável, a A3P é uma ação estratégica que objetiva induzir os diversos níveis de governo a incorporarem princípios de planejamento e gestão que impliquem melhoria do desempenho socioambiental dos órgãos públicos, com base em padrões de uso eficiente dos recursos naturais. Essa Agenda visa, ainda, promover a adoção de critérios ambientais nas compras governamentais, valorizando a produção sustentável e a criação de novos mercados para produtos sustentáveis.

Estatísticas Ambientais e Indicadores de Desenvolvimento Sustentável

Em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE - são desenvolvidas iniciativas que visam incorporar novos dados que retratem a relação entre o desenvolvimento econômico, a perda dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente no sistema estatístico nacional. Além de contribuir na geração de informações sobre a gestão ambiental municipal, a SDS atua na formulação de um sistema de indicadores para aprimorar a percepção e a tomada de decisão dos agentes em questões relativas ao desenvolvimento sustentável.

Comércio e Meio Ambiente

O meio ambiente é fortemente afetado pelas negociações de comércio internacional. A SDS promove estudos e debates de forma a incluir salvaguardas ambientais ou compensatórias na pauta de negociações do Governo nos foros comerciais internacionais Mercosul, Área de Livre Comércio das América (ALCA), Mercosul-União Européia e Organização Mundial do Comércio (OMC) para que os ganhos comerciais assegurem o desenvolvimento sob bases sustentáveis, com inclusão social e com equilíbrio no uso dos recursos naturais.

Carbono para o Desenvolvimento Sustentável

A qualidade de vida das gerações presentes e futuras é fortemente afetada pela emissão de gases de efeito-estufa na atmosfera. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima adotou o Protocolo de Quioto, que estabelece metas quantificadas de redução de emissões por parte dos países industrializados. O cumprimento das referidas metas é realizado por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que é uma oportunidade de captação de investimentos dos países desenvolvidos em projetos nos países em desenvolvimento. Com relação a esta temática, a SDS visa orientar projetos relacionados ao MDL no Brasil, voltados à fixação de carbono, bem como à redução de emissões de CO2, como, por exemplo, pelo uso de fontes de energia renovável (biomassa, eólica, solar) e que promovam a inclusão social, a geração de emprego e renda e a proteção do meio ambiente.

Ecoturismo

O Programa Nacional de Ecoturismo - PNE - é uma das estratégias para geração de alternativas econômicas que permitam a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais, promovendo inclusão social e ambiental das comunidades que vivem em áreas com potencial para o ecoturismo. Com atuações nos diferentes biomas, articula ações para disciplinar a gestão do ecoturismo e contribui para o estabelecimento de critérios de sustentabilidade para a concessão de crédito. O PNE executa ainda ações de capacitação em ecoturismo e em práticas sustentáveis a ele associadas, para a inserção qualificada das comunidades e desenvolve um sistema de informações georreferenciadas das áreas com potencial ecoturístico, para subsidiar os diferentes níveis de governo e a sociedade em suas atividades de planejamento e na tomada de decisões sobre investimentos no setor.

Page 9: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

9

E N T R E V I S T A

P E D R O

I V OBATIS TA

Page 10: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

10

O programa de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva propõe uma grande convergência para a implantação de um modelo de desenvolvimento gerando empregos e incentivando ve-ementemente a participação popular no estabelecimento das prioridades e tomada de decisões. Entre os princípios estabelecidos está o de ter uma política ambiental integrada, que envolva a sociedade e o governo como um todo e que dialogue com o desenvolvimento. Com esse horizonte, a Agenda 21 Local entra em cena como um dos principais instrumentos para se conduzir processos de mobilização, troca de in-formações, geração de con-sensos em torno dos problemas e soluções e estabelecimento de prioridades para a gestão de desde um estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, até um bairro, uma escola, empresa, sem deixar de levar em conta a diversidade local, política, cultural em um país de dimensões continentais.

A Agenda 21 Local é de fato eficaz, pois, ao longo do tempo, tem gerado processos de fortalecimento da sociedade, compreensão dos conceitos de cidadania ativa e influenciado a formação de políticas públicas

capazes de construir uma verdadeira democracia participativa. O momento agora é o de colocar todo o seu potencial em plena atividade, num esforço conjunto dos setores da sociedade e do governo para que os processos de implementação em curso e a serem iniciados vençam a resistência e se constituam em Fóruns permanentes, ativos e participativos de desenvolvimento local sustentável.

Neste ano, após um extenso processo de levantamento de informação de dados, a Coordenação da Agenda 21 organizou uma base de dados que identifica 469 processos de Agenda 21 Local em curso. Para operacionalizar esse processo, esforços em torno de incentivos aos diversos atores da sociedade a implementá-las em suas localidades estão sendo empreendidos pela equipe do Programa e do MMA como um todo para capacitar e monitorar processos em comunidades e acompanhar a implementação dos Fóruns da Agenda 21 Local.

Trabalhando para a sustentabilidade da sociedade brasileira

AGENDA 21 LOCAL Contextualizando, no Brasil, os processos de Agenda 21 Local começaram a realizar-se em algumas cidades do país, apesar do atraso em relação à meta de 1996 fixada pela Agenda 21 Global. Até 1998, a maioria das cidades que elaboraram sua Agenda 21 eram de médio a grande porte,capitais e áreas metropolitanas. As experiências, em geral, apresentavam-se como processos ainda incipientes, periféricos aos núcleos de poder de decisão dos governos, denotando o caráter preliminar em que se encontrava o envolvimento institucional no País com a Agenda 21. Nesse momento, coube ao movimento social e a sociedade civil a iniciativa de inciar o processo de elaboração e implementação das agenda locais. Desde aquela época, entre todas as propostas para o fortalecimento do processo no País, articulações regionais incluindo Universidades e institutos de pesquisa para o apoio à elaboração de políticas para a Agenda 21 com estatísticas e dados mais precisos eram apontadas como fundamentais.

Atualmente, a Agenda 21 está inserida em um contexto bem mais avançado. Em 2003, a Agenda 21 tornou-se Programa no Plano Plurianual - PPA 2004 - 2007 -, composto por três ações fundamentais: promover a internalização dos princípios e estratégias da Agenda 21 Brasileira; articular uma estratégia nacional para a formação continuada de agentes regionais que promovam o desenvolvimento local sustentável, por meio da disseminação dos princípios e estratégias da Agenda 21 Brasileira e indução dos processos de elaboração e implementação de Agendas 21 Locais e, promover a elaboração e implementação de Agendas 21 Locais com base nos princípios e estratégias da Agenda 21 Brasileira que, em consonância com a Agenda global, reconhece a importância do nível local na concretização de políticas públicas sustentáveis.

A internalização da Agenda 21 Brasileira na construção de políticas públicas nos diferentes níveis de governo é outra ação considerada fundamental para a construção da sustentabilidade no País. Em novembro, o presidente da república assinou o decreto ampliando a CPDS - Comissão de Política para o Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Nacional, de 10 para 34 membros, dando-lhe maior representatividade e capacidade de coordenação do processo da Agenda 21 e procurando envolver o conjunto do governo federal nesse processo. As instituições que compõe este novo quadro são: Ministério do Meio Ambiente, que preside a Comissão, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que exercerá a vice-presidência, Casa Civil da Presidência da República, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério das Relações Exteriores, Ministério das Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Fazenda, Ministério da Cultura, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Integração Nacional, Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente – ANAMMA, a Associação Brasileira das Entidades de Meio Ambiente – ABEMA, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável – CEBDS, Fórum da Reforma Urbana; entidade representativa da juventude, de organização de direitos humanos, de comunidades indígenas, de comunidades tradicionais, de direitos do consumidor; de entidades empresariais, da comunidade cientifica, do Fórum Brasileiro das ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - FBOMS e de centrais sindicais. A CPDS atua no âmbito da Câmara de Políticas dos Recursos Naturais do Conselho de Governo e dentre as suas competências estão a coordenação da implementação da Agenda 21 Brasileira, o apoio a processos de Agendas 21 Locais, inclusive com propostas de mecanismos de financiamento, e o acompanhamento da elaboração e avaliação da implantação do PPA.

Em resumo, os principais desafios da Agenda 21 Local consistem no planejamento voltado para a ação; na construção de propostas pactuadas, voltadas para a construção de uma visão de futuro entre os diferentes atores envolvidos; condução de um processo contínuo; descentralização e controle social e incorporação de uma visão multidisciplinar em todas as etapas do processo. Desta forma, governo e sociedade estão em parceria, utilizando este poderoso instrumento de planejamento estratégico participativo para a construção de cenários consensuados, em regime de co-responsabilidade, que devem servir de subsídios à elaboração de políticas públicas sustentáveis, orientadas para harmonizar desenvolvimento econômico, justiça social e equilíbrio ambiental.

Page 11: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

11

Page 12: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

12

propostas apresentadas e projetos aprovados neste edital (ver quadro abaixo), a iniciativa, que liberou cerca de 1,5 milhões de reais, cumpriu o importante papel de despertar o interesse da sociedade e de organizações não-governamentais para a necessidade de também construir suas agendas locais.

A análise dos resultados obtidos e a experiência da primeira ação proporcionaram uma significativa melhoria na elaboração do segundo edital (nº 02/2003). Desta vez, foram colocados à disposição cerca de 10 milhões de reais, o que representa um dos maiores volumes financeiros alocados pelo FNMA em um único edital. Além disso, o sucesso da construção de Agendas 21 Locais se deu pela ampla parceria com 3 secretarias do MMA e com outros quatro ministérios.

Pelo MMA, participaram a Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento sustentável (SDS) – responsável pela coordenação da agenda 21 –, a Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos (SQA) – por intermédio do Projeto de Gestão Integrada do Ambiente Costeiro e Marinho – e a Secretaria de Coordenação da Amazônia, SCA – pelo Subprograma de Política de Recursos Naturais, SPRN. Os ministérios parceiros foram: o Ministério da Cultura (Programa Monumenta), Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (Programa FOME ZERO), Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde) e o Ministério das Cidades (Secretaria Nacional de Programas Urbanos).

O edital foi dividido em 3 Chamadas. Na chamada I, destinada à elaboração das Agendas 21 nos municípios da Amazônia, o FNMA, em parceria com o SPRN, traçou uma estratégia que possibilitou aos municípios concorrerem entre si, tornando, assim, mais justa a disputa por recursos. Na chamada II, orientada para os municípios costeiros, foi possível integrar o

“... o sucesso da construção de Agendas 21 Locais se deu pela ampla parceria com três secretarias do MMA e com outros quatro ministérios.”

“Desta forma, o MMA também está fortalecendo o controle social nas políticas locais e uma integração de políticas de governo...”

Raimunda Monteiro foi Diretora do Fundo Nacional do Meio Ambiente, MMA, de janeiro de 2003 a março de 2004.

Agendas 21 Locais mostram que a transversalidade é possível

gerenciamento costeiro e a gestão ambiental dos territórios e contou com o apoio do Projeto Orla, desenvolvido pela SQA. Os demais municípios brasileiros foram contemplados na chamada III, que beneficiou regiões onde a elaboração das Agendas Locais é vital para a manutenção ou a recuperação dos patrimônios naturais e artísticos, a saúde ambiental e a reversão de quadros sociais negativos.

A participação do FNMA no fomento às Agendas 21 locais contribui para a concretização da política de fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente, destinando recur-sos para a mobilização social nos municípios em torno do estabelecimento de pactos de desenvolvimento sustentável.

Desta forma, o MMA também está fortalecendo o controle social nas políticas locais e uma integração de políticas de governo que, certamente, estão contribuindo para uma nova cultura no Poder Público e na gestão de políticas entre Governo e Sociedade.

���

���

���

���

��

�������������������

��������������������

���������������������

��������������������

�������������������

������ �������

������ ������

���

��

���

��

��

��

��

� �

���

Em um país de dimensões continentais, de culturas diversas e composto por seis biomas distintos (amazônia, caatinga, cerrado, mata atlântica, pantanal e campos sulinos), como se colocar em prática uma política pública articulada entre as várias áreas do governo e os segmentos da sociedade interessados no desenvolvimento sustentável? Certamente esse foi o grande desafio dos líderes de governo quando, a partir do ano 2000, deu-se início a ações de apoio à implementação da AGENDA 21 brasileira.

Os primeiros projetos de construção de Agendas 21 locais apoiados pelo FNMA ocorreram em 2001 após o lançamento das linhas temáticas definidas pelo Plano Plurianual - PPA 2000-2003. Apesar de poucas

Page 13: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

13

Nesse sentido, vale registrar o esforço do FBOMS e do MMA – Ministério do Meio Ambiente com a reformulação das a-tribuições e da composição da CPDS – Comissão de Política de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 brasileira. A CPDS, cum-prida sua primeira missão – de elaborar a Agenda 21 Brasileira – passa a ter maior responsabilidade, pois incorpora em suas atribuições, funções de acompanhar o PPA – Plano Plurianual de desenvolvimento nacional, o estímulo às Agendas 21 Locais, e a colaboração com outras áreas e instâncias governamentais, incluindo o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, para a contínua inserção e implementação de propostas de desenvolvimento sustentável nas políticas do país.

Implementar Agendas 21 locais ou dar efetividade aos objetivos da CPDS, incluindo a implementação da Agenda 21 Brasileira, não são tarefas fáceis. Analogamente, são complexos os desafios da Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU em assistir na criação das condições e políticas para a implementação dos acordos da Rio-92. Continuamos a pre-senciar muitos obstáculos, inclusive vários que dificultaram o resultado esperado da Cúpula de Joanesburgo, entre os a pouca adesão de alguns países e organizações

“... as Agendas 21 locais devem ser compreendidas e realizadas no marco de processos participativos de planejamento e gestão do desenvolvimento humano para a transição e construção de sociedades sustentáveis.”

“A concretização das propostas da Agenda 21 dependerá, entre outros fatores, de torná-la instrumento de referência para a sociedade brasileira, como um todo, e especialmente para lideranças dos vários segmentos, inclusive nos três níveis de governo e nas instituições dos Poderes legislativos.”

A Agenda 21, em qualquer esfera, constitui-se em processo e instrumento de transformações do conteúdo e das formas de elaborar e gerir políticas de desenvolvimento. A Agenda 21 global, assinada na Rio-92, configurou um produto que refletiu um processo de negociação multilateral de programas para a transição para o desenvolvimento sustentável, que envolveu e pactuou atores bastante diversos, com atuação local, nacional ou internacional, não obstante no sistema Nações Unidas somente os Estados Nacionais tomam decisões formais. A Agenda 21 baseou-se, pelo menos formalmente, em princípios de eqüidade, precaução, transparência, salubridade e seguridade am-biental, gestão participativa, entre outros expressos na Declaração do Rio de Janeiro para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, necessários para caracterizar os esforços de construção da sustentabilidade socioambiental, eco-nômica e cultural do desenvolvimento.

Entendemos1 que Agendas 21 Locais devem ser compre-endidas e realizadas no marco de processos participativos de planejamento e gestão do desenvolvimento humano para a transição e construção de sociedades sustentáveis.

Para os integrantes do Grupo de Trabalho para Agendas 21 do FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (FBOMS)2, rede nacional criada em 1990 para articular grupos da sociedade civil brasileira em torno dos processos de negociações e implementação

dos compromissos da Rio-92, processos de Agenda 21 Locais são necessários e oportunos pois permitem maior engajamento de cidadãos e organizações comunitárias na busca de soluções para a melhoria da qualidade de vida e gestão do desenvolvimento local. Ao discutir os desafios da realidade de cada comunidade, no marco da gestão participativa, as Agendas 21 Locais contribuem para o exercício e construção de sociedades democráticas; valorizam percepções e condições de titularidade (ownership) e transparência (accountability) e facilitam a consideração das peculiaridades de cada localidade, tanto nas suas características culturais ou ambientais. As Agendas 21 Locais contribuem também para sensibilizar técnicos e gestores municipais, levando-os a considerar as propostas de desenvolvimento local, integrado e sustentável ao lado de demais instrumentos e processos de planejamento e administração pública.

Em 2003, o Governo federal desencadeou diversos processos participativos de discussão de políticas públicas setoriais, com conferências nacionais nas áreas de cidades, pesca, meio ambiente, entre outras. Relevantes por trazer para a Administração Federal, as contribuições e sugestões de atores muito diversos, a partir de debates públicos nos municípios e estados, tais processos poderiam ter servido para alavancar iniciativas já previstas na Agenda 21 Brasileira ou ainda para disseminar e fomentar Agendas 21 Locais. No processo da I Conferência Nacional do Meio Ambiente, a Agenda 21 Brasileira foi tomada como um documento de referência, mas, lamentavelmente, o tempo (timing) do processo não permitiu que soluções e propostas já amplamente discutidas pudessem ser trabalhadas suficientemente na perspectiva de sua implementação imediata.

De fato, há grande des-conhecimento sobre o que venha a ser a Agenda 21 por parte de muitos técnicos, lideranças e representantes de órgãos governamentais, de ONGs, de movimentos so-ciais e populares, sindicatos, empresas, e demais grupos principais (major groups), especialmente os que ainda não atuam diretamente com questões ambientais. Visões setoriais, ao invés de sistêmicas e transversais, além de interesses imediatos, embora muitas vezes legítimos, são também partes do desafio a ser lidado com aqueles que pretendem valer-se da Agenda 21, em qualquer escala, como instrumento de integração de políticas para assegurar a integridade da Vida.

Agenda 21

Desafios para governos e sociedade

1 Na perspectiva do Vitae Civilis Instituto – www.vitaecivilis.org.br2 Ver www.fboms.org.br

Page 14: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

14

fortes aos compromissos multilaterais da Conferência do Rio-92 (por exemplo, na mitigação de causas e efeitos de mudança de clima; na cooperação financeira internacional, com destino de 0,7% do PIB para ajuda aos países em desenvolvimento; na mudança de padrões de consumo, etc.). Instituições globais e nacionais, como o FMI – Fundo Monetário Internacional, OMC - Or-ganização Mundial do Comércio - e bancos re-gionais ou nacionais de fomento entre outros, continuam a operar com instrumentos de uma visão de crescimento econômico que só se sustenta, la-mentavelmente, com a contínua externalização de efeitos sociais (pobreza), e ambientais (degradação e poluição).

Agendas 21 Locais ou a Agenda 21 Brasileira, são na nossa opi-nião e na visão do GT Agenda 21 do FBOMS, oportunidades e instrumentos de se obter resultados práticos, por um lado, e o diálogo com a sociedade e os tomadores de decisões, por outro, para mudar o rumo das políticas. Superar o “voluntarismo” da Agenda 21, tornando-a parte da dinâmica do processo decisório é desafio em sua implementação. A concretização das propostas da Agenda 21 dependerá, entre outros fatores, de torná-la instrumento de

referência para a sociedade brasileira, como um todo, e especialmente para lideranças dos vários segmentos, inclusive nos três níveis de governo e nas instituições dos poderes legislativos. Importante ressaltar que o setor empresarial deve tomar as diretrizes da Agenda 21 com esse mesmo empenho, mudando a forma e conteúdo da atividade econômica e não simplesmente restringindo-se a atingir marcas de ecoeficiência, uma vez que a Agenda 21 Brasileira aponta também para mudanças efetivas nos atuais padrões de produção e consumo.

Para esse fim, precisaremos também de indicadores que possam apontar, ao cidadão leigo ou aos técnicos e dirigentes do país, se as transformações em nossa sociedade estão no rumo da sustentabilidade e melhoria progressiva das condições de vida. Um conjunto de indicadores, que sem perder a especificidade do que deva ser avaliado, permitam uma leitura sistêmica de nossa realidade, com a devida credibilidade, certamente dependerá do empreendimento e envolvimento de diversas organizações.

Finalmente, é preciso que as autoridades públicas coordenem forças para popularizar – sem banalizar – a Agenda 21, tornando a idéia de sustentabilidade tão conhecida e factível a ponto de qualquer cidadão, dos quatro cantos do planeta, possa facilmente entender sua importância social e política e cobrar sua implementação.

Rubens Harry Born é coordenador executivo do Instituto Vitae Civilis para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz , membro da CPDS – Comissão de Política de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Brasileira. www.vitaecivilis.org.br.

Page 15: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

15

No último quarto do século XX, a humanidade finalmente despertou para o problema da conservação do meio ambiente. Por vários séculos, agrediu impunemente a natureza, destruiu recursos naturais, envenenou o ar, a água e o solo, sem se dar conta de que estava comprometendo seu próprio futuro. Alguns cientistas deram o alerta, e a sociedade civil se organizou em seguida, especialmente na forma das conhecidas organizações não-governamentais (ONGs), passando a cobrar sistematicamente dos governos nacionais, que refletiam muitas vezes apenas os interesses dos grandes conglomerados, providências para controlar e reverter os danos que estavam sendo identificados. Aos poucos, a consciência dos problemas ambientais foi ampliada pela mobilização da opinião pública, que chegou a colocar empresas e governos na defensiva.

“O Poder Legislativo, creio, deve ocupar uma posição central na implementação da Agenda 21 em nosso país.”

O Poder Legislativo, creio, deve ocupar uma posição central na implementação da Agenda 21 em nosso país, à semelhança do que vem acontecendo em outras nações onde o processo se encontra mais avançado. Desenvolver soluções que harmonizem interesses é a essência do trabalho legislativo em uma sociedade onde se exercita a democracia plena. Entretanto, as tarefas não se esgotam no nível Federal. Parte significativa do esforço de discussão e proposição de ações positivas voltadas ao desenvolvimento sustentável deve acontecer no âmbito municipal, em estreita colaboração com a sociedade civil organizada localmente.

Como parlamentar e cidadã, compreendo que podemos promover ações conjuntas com empresários, Ongs, governo e associações, como o Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia. Tal medida é importante porque a utilização dos recursos das florestas e do espaço urbano, que sofre com uma ocupação desenfreada, precisa ser alvo de intensa discussão. Segundo o IBGE de 1989, o País produz diariamente 241.614 toneladas de lixo, das quais 75% são jogadas a céu aberto. Desse total, somente 23% recebem tratamento adequado. A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental também revela que, em 1996, somente 3% dos municípios brasileiros trataram seu lixo de forma adequada.

A criação da Frente Parlamentar Mista para o Desenvol-vimento Sustentável e apoio às Agendas 21 Local, conhecida como Frente Agenda 21, busca a articulação do Poder Legislativo brasileiro, em níveis Federal, Estadual e Municipal, para permitir uma maior fluência na discussão dos temas ambientais, uma disseminação maior de infor-mações relacionadas a eles e uma melhor conexão com a sociedade civil. Os 107 Deputados Federais e 26 Senadores que a compõem desde meados do ano de 2003, se propõem a ser catalisadores políticos desses debates por todo o país, dentro e fora do Parlamento, dialogando com as diferentes forças sociais, econômicas e políticas interessadas nos temas.

Nossa Agenda 21 será, por esse caminho, uma obra fundamentalmente coletiva, construída passo a passo pela via democrática do entendimento, da mobilização social e política e do respeito ao saber local. Com isso, ganha também o próprio Legislativo, cada vez mais revigorado em seu papel de refletir os anseios nacionais e buscar

FRENTE AGENDA

21solução negociada para nossos problemas.

SERYS MARLY SLHESSARENKO, Senadora da República, Presidente da Frente Parlamentar Mista de Desenvolvimento Sustentável – Agenda 21 Local.

Page 16: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

16

O Brasil de hoje é um país que aspira por mudanças, que sonha com o resgate da cidadania para milhões de brasileiros e brasileiras sem acesso aos requisitos mínimos para uma vida digna. Essas expectativas têm se traduzido principalmente na demanda por um cres-cimento econômico capaz de gerar emprego, renda e justiça social.

A CUT, assim como o conjunto dos movimentos sociais, não só compartilha essas expectativas, mas busca ser protagonista da luta para recolocar o nosso país nos trilhos do desenvolvimento econômico-social. Contudo, para nós essa justa aspiração deve necessariamente incorporar o conceito de sustentabilidade, pois de outro modo, a consistência e o futuro do próprio crescimento econômico e, por conseguinte, da própria justiça social, estariam comprometidos. Por isso, cremos que este é um momento privilegiado para avançarmos nesse debate urgente.

É necessário reconhecer que na última década ocorreram avanços consideráveis no tocante às políticas públicas destinadas à preservação ambiental. Isso refletiu, em parte, uma maior consciência social em relação aos problemas ecológicos, mas foi também fruto do intenso protagonismo de ONGs e movimentos ambientalistas, principalmente a partir da Rio-92. Sob o governo Lula, o Ministério do Meio Ambiente tem procurado ampliar as suas ações, envolvendo amplas parcerias e diálogos com ONGs e movimentos ambientalistas, logrando resultados significativos.

Todavia, constatamos que, em todos esses anos, as ações públicas têm sido voltadas prioritariamente para a chamada “agenda verde”, associada basicamente

com metas destinadas à preservação florestal, defesa da biodiversidade e a proteção da camada de ozônio, entre outras questões. E nesse aspecto, embora haja muito ainda a ser feito, houve avanços importantes, como o aumento de áreas legalmente protegidas (parques, reservas extrativistas, florestas nacionais, etc.).

Pensamos que, sem prejuízo da agenda verde, é chegada a hora do poder público enfrentar de frente os desafios colocados pela “agenda marrom”, incidindo sobre problemas cruciais como a poluição urbana, saneamento, resíduos sólidos, produção industrial. Em particular, ressaltamos a necessidade de implementação de políticas voltadas para a indústria, essenciais para qualquer política pública que assuma a perspectiva da sustentabilidade.

Em primeiro lugar, queremos deixar claro que não se trata de contrapor agendas. Elas não são excludentes, pelo contrário, todas as agendas - a verde, azul e marrom -, são complementares entre si. Em segundo lugar, é preciso lembrar que cerca de 80% da população brasileira habitam as cidades, e desse total, grande parte vive nas grandes cidades e áreas metropolitanas, onde graves problemas socioambientais se manifestam em toda sua complexidade. Por fim, o lugar da produção, no interior de qualquer sociedade, é onde ocorre o processo metabólico entre os seres humanos e a natureza, constituindo-se, assim, em um elo vital da complexa engrenagem de relações econômico-sociais.

Os grandes dilemas que se colocam quanto às perspectivas futuras de sobrevivência do planeta e da própria humanidade emergiram com o próprio advento da sociedade industrial capitalista. E a sua resolução, no estágio crítico em que nos encontramos, requer uma reavaliação e reformulação dos paradigmas de produção e consumo vigentes. Não somos utópicos para imaginar que tais paradigmas possam ser transformados repentinamente, mas sabemos que postergar o debate, em nome de quaisquer razões contingenciais , significaria perder uma oportunidade histórica para implementar medidas que se contraponham aos riscos de uma futura catástrofe socioambiental.

Uma política eco-industrial implica no estabelecimento de processos produtivos limpos, adequados, que não sejam eletro-intensivos, que se baseiem no uso de matérias-

Temístocles Marcelos Neto é Coordenador da Comissão Nacional de Meio ambiente da CUT e Secretário executivo do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Desenvolvimento Sustentável (FBOMS)

“Uma política eco-industrial implica no estabelecimento de processos produtivos limpos, adequados, que não sejam eletro-intensivos, que se baseiem no uso de matérias-primas renováveis, que não sejam danosos à saúde dos trabalhadores envolvidos na produção, que produzam um mínimo de carga residual sobre o meio ambiente.”

primas renováveis, que não sejam danosos à saúde dos trabalhadores envolvidos na produção, que produzam um mínimo de carga residual sobre o meio ambiente. Embora seja evidente que alguns ramos da indústria apresentam um quadro mais problemático e complexo, essa política não pode ser restrita a ramos ou setores produtivos específicos, e deve abarcar, além disso, todos os elos da cadeia produtiva.

É nossa convicção que esta é uma tarefa urgente para o futuro do nosso país, para que o necessário desenvolvimento econômico e social possa ser também um marco no processo de definição de novos paradigmas de produção e consumo, no rumo da sociedade sustentável que todos almejamos. E a Agenda 21, enquanto ins-trumento indispensável na luta pela sustentabilidade, cumprirá papel decisivo para a sua concretização.

OS TRABALHADORESE A AGENDA 21A HORA E A VEZ DA AGENDA MARROM

Page 17: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

17

empresariais instalados no país, o CEBDS assumiu a missão de se tornar o interlocutor do setor empresarial junto ao governo e à sociedade civil organizada para disseminar o conceito de sustentabilidade. Assim, o Conselho passou a integrar a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 e participou, como um dos organizadores, de uma série de audiências públicas promovidas por todo país e abertas à sociedade para discutir a formulação da Agenda 21.

Paralelamente a esta discussão teórica e ao trabalho de mobilização com objetivo de produzir uma Agenda 21 Brasileira que seja motivo de orgulho, o setor empresarial do país tem feito o seu dever de casa. Independentemente das formalidades e de protocolos, os mais importantes grupos empresariais do país vêm adotando uma série de práticas previstas no Capítulo 3.1 da Agenda 21 Global, que propõe 21 objetivos, entre os quais podemos destacar alguns: produção e consumo sustentáveis, ecoeficiência, responsabilidade social corporativa, implantação de projetos de energia renovável e difusão do conhecimento do desenvolvimento sustentável.

Entre esses objetivos do capítulo 3.1, dois deles estão consolidados e são cada vez mais aplicados nas ações dos grupos empresariais instalados no Brasil. Um deles é a ecoeficiência. Os grandes grupos já perceberam que é possível obter ganhos econômicos e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental da produção, através de uma série de intervenções no processo produtivo, racionalizando o uso de matérias-primas e energia, reciclando rejeitos etc. As siderúrgicas brasileiras têm dado bons exemplos ao mundo. O aço brasileiro está entre os mais competitivos no mercado internacional. Uma das razões para esse aumento de competitividade está nos projetos desenvolvidos pelas siderúrgicas, reaproveitando a água e gerando energia a partir do calor produzido por suas coquerias. Para disseminar o conceito de ecoeficiência nas empresas de menor porte, o

CEBDS, junto com órgãos governamentais e com a ONU, tem trabalhado como gestor da Rede Brasileira de Produção Mais Limpa. Hoje, cerca 250 empresas estão envolvidas diretamente nesse projeto. E os resultados econômicos, com o aumento da competitividade, melhoria de imagem, entre outros benefícios, não poderiam ser melhores. Em média, para cada R$ 1 investido, o retorno é de R$ 5.

Outro objetivo previsto no capítulo da Agenda Global que merece destaque é o da responsabilidade social corporativa. Essa preocupação permanente tem motivado participação do CEBDS, como interlocutor do setor empresarial, nas mais importantes discussões nacionais e internacionais em parceria com o governo. Além da nossa participação na Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), estamos presentes no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEn), no Comitê Gestor de Produção Mais Limpa e das delegações brasileiras nas COPs de Mudanças do Clima/Protocolo de Quioto e nas COPs sobre Diversidade Biológica (CDB). Mais recentemente, levamos a contribuição do setor empresarial para o seminário sobre Possibilidades e Perspectivas para o Desenvolvimento Sustentável, na Missão Brasil-Índia, em janeiro. Vale ainda destacar o pacto que o CEBDS vem estabelecendo com o setor acadêmico, através de parcerias com a UFRJ, PUC-Rio, FGV-SP e Fundação Dom Cabral, desenvolvendo ferramentas para disseminação de estratégias e práticas para implantação da sustentabilidade progressiva no país.

Um marco que caracteriza bastante a inclusão definitiva do setor empresarial na questão da sustentabilidade é a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002, em Johanesburgo. Sob liderança do CEBDS, o empresariado teve participação de destaque nos preparativos para a conferência, como membro da Comissão Interministerial para a Preparação do Brasil na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável.

A partir da conferência de Johanesburgo, criaram-se as condições para pôr em prá-tica as decisões contidas nos documentos internacionais aprovadas e expressas na Agenda 21 Global. As parcerias do tipo II, como foram definidas, representam um avanço fundamental, porque abriram a porta para o trabalho conjunto entre governos, setor empresarial e sociedade civil organizada.Apesar de todos esses avanços verificados principalmente a partir da Rio-92, devemos ter consciência de que essa radical mudança de cultura não é tarefa fácil. O complexo processo de transição do modelo convencional de desen-volvimento para o modelo sustentável representa, com toda certeza, o maior desafio deste século. Ainda temos um longo caminho a percorrer. A compreensão exata sobre o que representa o desenvolvimento sustentável, no sentido latu sensu, tem se ampliado bastan-te, mas não o suficiente. É fundamental que essas ações comecem a ser percebidas em índices sócio-econômicos, como o IDH. Contudo, numa reflexão sobre o que aconteceu nesses últimos 30 anos, chegaremos à conclusão de que estamos no caminho certo para

resolver os graves problemas sociais e ambientais do planeta e garantir dias melhores para as futuras gerações. E o setor empresarial consciente tem dado demonstração efetiva de que é possível mudar o rumo da economia dentro de uma ótica social e ambiental.

“.. . os mais importantes grupos empresariais do país vêm adotando uma série de práticas previstas no Capítulo 3.1 da Agenda 21 Global, que propõe 21 objetivos, entre os quais podemos destacar alguns: produção e consu-mo sustentáveis, ecoeficiên-cia, responsabilidade social corporativa, implantação de projetos de energia renovável e difusão do conhecimento do desenvolvimento sustentável.”

Fernando Almeida é presidente executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável - CEBDS

PARTICIPAÇÃO

EMPRESARIAL

NA AGENDA 21

No processo de formulação da Agenda 21, o setor empresarial foi, sem dúvida, um dos que mais evoluiu e se adequou à nova visão proposta de desenvolvimento da sociedade.

A partir daí, o setor mais consciente do empresariado mundial passou a compreender que o novo conceito não era um mero modismo, mas sim a visão pragmática de que a sobrevivência das futuras gerações - e do próprio mercado econômico - só seria assegurada com a adoção de mecanismos capazes de conciliar produção de bens e serviços com a preservação dos recursos naturais e qualidade de vida para todos. Em menos de cinco anos, o conceito de desenvolvimento sustentável estava consolidado. E este foi o norte que guiou a discussão dos temas e propostas hoje incorporadas ao texto final da Agenda 21 Brasileira.

No Brasil, o Conselho Em-presarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável - CEBDS foi criado em 1997. Representando grandes grupos

Page 18: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

18

A Carta da Terra é um compromisso idealizado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 - Rio 92 - assumido pela sociedade civil e lançado na Holanda no ano de 2000. Sua visão ética inclusiva afirma uma pedagogia da sustentabilidade, reconhecendo que a proteção ambiental, os direitos humanos, o desenvolvimento humano eqüitativo e a paz, são interdependentes e indivisíveis. Isso fornece um novo marco com relação à maneira de pensar sobre estes temas e de como abordá-los. A Carta da Terra é uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma sociedade global no Século XXI, que seja justa, sustentável e pacífica, oferecendo um conceito claro sobre o que é sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.

A redação desse documento ocorreu durante toda a década dos 90 através de um processo de consulta aberto e participativo. Pessoas e organizações proveniente de todas as regiões do mundo, de diferentes culturas e de diversos setores da sociedade participaram da redação do documento que representa um tratado dos povos, que se estabelece como expressão das esperanças e aspirações provenientes da sociedade civil global.

A Carta da Terra também reflete o progresso em relação ao direito ambiental internacional, como também consensos já pactuados nos debates internacionais ocorridos no marco das sete Reuniões de Cúpula realizadas durante os anos 90.

A Agenda 21 também foi elaborada a partir da Rio 92 e estabelece um plano de ação para o século 21. Esse documento, propõe o paradigma da sustentabilidade, entendendo que nossa atual trajetória de ocupação e exploração da Terra dá mostras inequívocas de esgotamento. Assim, através da formulação e implementação de políticas públicas nacionais e locais, por meio do planejamento estratégico, descentralizado e participativo, estabelece as prioridades a serem definidas e executadas em parceria governo-sociedade, buscando juntos as respostas para um novo modelo civilizatório, no qual a mudança de nossa concepção de desenvolvimento é o principal desafio.

A Agenda 21 Brasileira propõe a pedagogia da sustentabilidade como modeladora dos códigos éticos do século XXI. A Agenda reforça a necessidade de divulgação dos princípios da Carta da Terra enquanto guia para os governos, sociedade civil e empresários. A Carta da Terra é um instrumento educacional de promoção do desenvolvimento sustentável e seu objetivo é inspirar a humanidade em seus códigos de conduta.

Neste sentido, o Programa Agenda 21, propõe a discussão e reflexão, com vistas à internalização dos princípios e estratégias da Carta da Terra e Agenda 21 Brasileira, na perspectiva da sustentabilidade. Apresentamos, assim, a reflexão de Moacir Gadotti e Leonardo Boff. Gadotti, educador articula a Agenda 21 e a Carta da Terra, propondo uma Ecopedagogia como referência de sustentabilidade. Leonardo Boff, teólogo, representante brasileiro da Secretaria Internacional da Carta da Terra no Brasil, que ajudou na redação final da Carta da Terra reflete a dicotomia desenvolvimento sustentável e sustentabiliade, propondo um novo olhar que garanta a vida na Terra.

ESPECIAL AGENDA 21 E CARTA DA TERRA

Instrumentos da sustentabilidade

O encontro entre a Agenda 21 e a Carta da Terra deu-se de forma natural pois é evidente que o novo modelo de desenvolvimento precisa de uma nova sustentação ética. A Agenda 21, por sua vez, representa a base para a despoluição do planeta e a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável, isto é, que não agrida o ambiente e não esgote os recursos disponíveis. A Agenda 21 não é uma agenda ambiental. É uma agenda para o desenvolvimento sustentável, cujo objetivo final é a promoção de um novo modelo de desenvolvimento.

Princípios e valores para o desenvolvimento sustentável

“A Carta da Terra, concebida como um código de ética global por um desenvolvimento sustentável e apontando para uma mudança em nossas atitudes, valores e estilos de vida, envolve três princípios interdependentes: os valores que regem a vida dos indivíduos; a comunidade de interesses entre Estados; e a definição dos princípios de um desenvolvimento sustentável.”

“Lado a lado com a Agenda 21 e baseada em princípios e valores fundamentais, que deverão nortear pessoas e Estados no que se refere ao desenvolvimento sustentável, a Carta da Terra servirá como um código ético planetário.”

Page 19: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

19

A Agenda 21 não é um documento normativo pois não obriga as Nações signatárias, mas é um documento ético que se reduz a um compromisso por parte deles. Não é um documento técnico, mas político. Mais da metade dos países signatários já elaboraram planos estratégicos de implantação da Agenda 21, em muitos casos pressionados pela sociedade civil. Ela tem se constituído muito mais numa agenda da sociedade do que dos Estados. As Conferências Mundiais têm proporcionado grande mobilização, sobretudo da mídia. A participação ativa da sociedade civil nessas Conferências Mundiais, principalmente através das ONGs, tem contribuído para pressionar as Nações Unidas e os Estados a assumirem as agendas da sociedade.

A Agenda 21 transformou-se em instrumento de referência e mobilização para a mudança do modelo de desenvolvimento em direção de sociedades cada vez mais sustentáveis.

Lado a lado com a Agenda 21 e baseada em princípios e valores fundamentais, que deverão nortear pessoas e Estados no que se refere ao desenvolvimento sustentável, a Carta da Terra servirá como um código ético planetário. Uma vez aprovada pelas Nações Unidas, a Carta da Terra será o equivalente à Declaração Universal dos Direitos Humanos no que concerne à sustentabilidade, à eqüidade e à justiça.

O projeto da Carta da Terra inspira-se em uma variedade de fontes, incluindo a ecologia e outras ciências contemporâneas, as tradições religiosas e as filosóficas do mundo, a literatura sobre ética global, o meio ambiente e o desenvolvimento, a experiência prática dos povos que vivem de maneira sustentada, além das declarações e dos tratados intergovernamentais e não-governamentais relevantes. Moema Viezzer, presidente de uma das entidades não-governamentais mais atuantes na área de educação ambiental, a Rede Mulher de Educação e também integrante da rede global Aliança por um Mundo Solidário e Responsável afirma que “a elaboração da Carta da Terra vem sendo divulgada como um evento planetário tridimensional: um texto em preparação, um processo de aprendizagem, um movimento ético. Neste sentido, mais do que um produto elaborado para ser entregue às Nações Unidas, pretende-se que o mesmo represente um processo de aprendizagem nos níveis local, nacional, regional, internacional, conectado com uma visão de futuro representativa da busca de muitas mulheres e homens que no nível pessoal e institucional estão comprometidos em tecer novas relações entre os seres humanos e da Humanidade com o Planeta Terra”1. A Carta da Terra deverá constituir-se em um documento vivo, apropriado pela sociedade planetária, e revisto periodicamente em amplas conzsultas globais2.

A Carta da Terra, concebida como um código de ética global por um desenvolvimento sustentável e apontando para uma mudança em nossas atitudes, valores e estilos de vida, envolve três princípios interdependentes: os valores que regem a vida dos indivíduos; a comunidade de interesses entre Estados; e a definição dos princípios de um desenvolvimento sustentável. Um ética global para uma sociedade global: esse é o objetivo final da Carta da Terra. Embora possamos distinguir sociedade global de comunidade global, nos documentos produzidos para a minuta da Carta da Terra, eles são usados indistintamente. Todavia, costuma-se falar mais em “comunidade” quando se quer realçar o mutualismo, os laços de reciprocidade, como em comunidade religiosa, local, étnica... e mais em “sociedade” quando se quer realçar a equivalência e a organização, como em sociedade civil planetária. A comunidade mundial seria uma espécie de princípio, de fundamento da sociedade planetária. A Terra pode ser vista como uma única comunidade organizada em uma sociedade global, com “espírito comunitário”. Uma sociedade global supõe uma mudança de atitudes e de valores de cada indivíduo.

A Carta da Terra constituiu-se numa declaração de princípios globais para orientar a questão do meio ambiente e do desenvolvimento. Ela inclui os princípios básicos que deverão reger o comportamento da economia e do meio ambiente, por

parte dos povos e nações, para assegurar “nosso futuro comum”. Ela pretende ter a mesma importância que teve a “Declaração dos Direitos Humanos”, assinada pelas Nações Unidas em 1948. Contém 27 princípios com o objetivo de estabelecer uma nova e justa parceria global através da criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, setores importantes da sociedade e o povo. Para conseguir o desenvolvimento sustentável e melhor qualidade de vida para todos os povos, a Carta da Terra propõe que os Estados reduzam e eliminem padrões insustentáveis de produção e consumo e promovam políticas demográficas adequadas.

A Carta da Terra deve ser entendida sobretudo como um movimento ético global para se chegar a um código de ética planetário, sustentando um núcleo de princípios e valores que fazem frente à injustiça social e à falta de eqüidade reinante no planeta. Cinco pilares sustentam esse núcleo: a) direitos humanos; b) democracia e participação; c) eqüidade; d) proteção da minoria; e) resolução pacífica dos conflitos. Esses pilares são cimentados por uma visão de mundo solidária e respeitosa da diferença (consciência planetária). O intercâmbio planetário que ocorre hoje em função da expansão das oportunidades de acesso à comunicação, notadamente através da Internet, deverá facilitar o diálogo inter e transcultural e o desenvolvimento desta nova ética planetária. A campanha da Carta da Terra agrega um novo valor e oferece um novo impulso a esse movimento pela ética na política, na economia, na educação etc. Ela se tornará realmente forte e, talvez, decisiva, no momento em que representar um projeto de futuro um contraprojeto global e local ao projeto político-pedagógico, social e econômico neoliberal, que não só é intrinsecamente insustentável, como também essencialmente injusto e desumano.

O “discurso ecológico” pode ter sido, muitas vezes, manipulado pelo capital, mas a luta ecológica não. Ela não é elitista. Como diz Antônio Lago3, “os mais pobres são os que recebem com maior impacto os efeitos da degradação ambiental, com o agravante de não terem acesso a condições favoráveis de saneamento, ali-mentação etc., e não poderem se utilizar dos artifícios de que os mais ricos normalmente se valem para escapar do espaço urbano poluído (casas de campo, viagens, etc.)”. Segundo Stephen Jay Gould4, o movimento conservacionista - que precedeu ao movimento ecológico - surgiu como uma “tentativa elitista dos líderes sociais ricos no sentido de preservar áreas naturais como domínios para o lazer e a contemplação dos privilegiados”. O que é necessário é se livrar desta visão do ambientalismo como algo “oposto às neces-sidades humanas imediatas, especialmente as necessidades dos pobres”. O ser mais ameaçado pela destruição

do meio ambiente é o ser humano e dentre os seres hum anos os mais pobres são as suas principais vítimas. O movimento ecológico, como todo movimento social e político, não é um movimento neutro. Nele também, como movimento complexo e plu-ralista, se manifestam in-teresses os mais diversos, inclusive das grandes cor-porações5. O que importa não é combater todas as formas de sua manifestação, mas entrar no seu campo e construir, a partir do seu interior, uma perspectiva popular e democrática de defesa da ecologia. Ele pode ser um espaço importante de luta em favor dos seres humanos mais empobrecidos pelo modelo econômico capitalista globalizado. Nessa luta por um planeta saudável, tanto a Carta da Terra quando a Agenda 21, como resultado da conjunção de tantos esforços, se constituem em instrumentos insubstituíveis.

Moacir Gadotti é prof. Titular da Universidade de São Paulo e diretor do Instituto Paulo Freire.

1 Instituto Paulo Freire. Resumos do primeiro encontro internacional da Carta da Terra na perspectiva da Educação (São Paulo, 23 a 26 de agosto de 1999). São Paulo, IPF, 1999, p. 39.2 Para uma visão abrangente da “iniciativa” da Carta da Terra veja-se Elisabeth M. Ferrero & Joe Holland, The Earth Charter: a Study Book of Reflection for Action, San José, Costa Rica, Conselho da Terra, 2002. O texto está disponível no site <www.ECreflection4action.org>. Mais informações no site do Conselho da Terra <www.earthcharter.org> e no site do Instituto Paulo Freire <www.paulofreire.org>.

3 Antônio, Lago e José Augusto Pádua. O que é ecologia. São Paulo, Brasiliense, 1994, p. 56.4 Stephen Jay Gould. “É preciso arte para negociar com a Terra”. In O Estado de S. Paulo, Caderno Especial, 6 de junho de 1993, p. 4.5 Carlos Walter Porto Gonçalves. Os (des)caminhos do meio ambiente. São Paulo, Contexto, 1999.

Page 20: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

20

Arnold Toynbee, após escrever 10 tomos sobre as grandes civilizações históricas da humanidade, deixou consignado no final de seu ensaio autobiográfico Experiences (1969) esta constatação dramática: “Vivi para ver o fim da história humana tornar-se uma possibilidade intra-histórica, traduzida em fato não por um ato de Deus mas do homem”. A Carta da Terra (assumida pela Unesco em 2000), documento que representa a nova consciência ecológica e ética da humanidade, na frase de abertura, faz semelhante constatação:”Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e cuidar uns dos outros ou arriscar nossa destruição e a da diversidade da vida pois as bases da segurança global estão ameaçadas”.

As afirmações do grande historiador e deste documento mundial não são alarmantes nem apocalípticas. Revelam a real encruzilhada a que chegou a humanidade. Ela criou o

princípio da auto-destruição. A máquina de morte já construída das armas químicas, biológicas e nucleares pode devastar profundamente a biosfera e impossibilitar a continuidade do projeto planetário humano, quem sabe até, pondo fim à espécie homo sapiens/demens...

Até o irromper desta consciência, por mais que houvesse guerras e agressões à natureza, todos tínhamos como pressuposto que os recursos naturais seriam inesgotáveis e a Terra continuaria indefinidamente evoluindo em direção do futuro. Esta pressuposição é ilusória. Os recursos são limitados e a Terra pode se transformar num planeta Marte. Em outras palavras: o futuro da Terra e da Humanidade não está mais garantido pelas forças diretivas da evolução. Ele depende de uma decisão ética e política dos seres humanos. Precisamos querer esse futuro. Por isso, a Carta da Terra diz com realismo:”Devemos decidir viver com sentido de responsabilidade universal”.

Que resposta devemos dar? O sistema político mundial pretendeu encontrar na expressão desenvolvimento sustentável uma resposta adequada e suficiente. Desde que esta palavra se impôs em todos os documentos oficiais dos Governos e das Empresas a partir do Comissão Brundland de 1987, os fatos e a crítica acadêmica mostraram os impasses deste conceito. A expressão em si revela uma contradição in terminis. Desenvolvimento é um termo que vem da economia capitalista hoje mundializada. Concretamente e em sua dinâmica interna de competição, sempre produz desigualdades e implica uma relação de exploração dos recursos da natureza. A sustentabilidade vem da biologia e da ecologia e enfatiza a interação e a cooperação de todos com todos, base do dinâmico equilíbrio natural. Como se depreende são duas lógicas que se opõem e sua união desenvolvimento sustentável confunde e não sinaliza uma nova forma de pensar e de salvar a Terra e a Humanidade.

Precisamos mudar de paradigma: passar do desenvolvimento para a sustentabilidade. Esta é a categoria central. Urge primei-ramente garantir a sustentabilidade da Terra, da Humanidade, dos ecossistemas, da sociedade e da vida humana para só então podermos legitimamente buscar um desenvolvimento que seja sustentável.

A Carta da Terra cunhou uma expressão que pode representar a grande alternativa, um verdadeiro novo paradigma civilizacional: modo de vida sustentável. Ele supera os equívocos do desenvolvimento sustentável e pode garantir concretamente o futuro da Terra e da Humanidade. Mas ele demanda uma revolução nas mentes e nos corações, nos valores e nos hábitos, nas formas de produção e de relacionamento para com a natureza. Modo de vida sustentável supõe, nas palavras da Carta da Terra, “entender que nossos desafios ambien-tais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados” que “a Huma-nidade é parte de um vasto universo em evolução”, que “a Terra é viva e é o nosso Lar”. Supõe também viver “o espírito de parentesco com toda a vida” e assumir “a responsabilidade

pelo pre-sente e pelo futuro do bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos, pois importa respeitar e cuidar da comunidade de vida”. Destas atitudes nasce a sustentabilidade que signi-fica, então, o uso racional dos bens da natureza de tal forma que não pre-judique o capital natural nem afete as gerações fu-turas que também têm o direito à integridade da natureza e à satisfação de suas necessidades, sempre “voltadas primariamente a ser mais do que a ter mais”, vivendo “com reverência o mistério da existência, com gratidão o dom da vida e com humildade o nosso lugar na natureza”.

Como se depreende, este mo do de vida sustentável visa criar o homem e mulher novos com uma relação cooperativa e sinergética com a natureza. Somen-te através dele podemos responder “juntos na espe-rança” aos desafios de vida e de morte que pesam sobre a Terra e a Humanidade.

“... o futuro da Terra e da Humanidade não está mais garantido pelas forças diretivas da evolução. Ele depende de uma decisão ética e política dos seres humanos.”

“Urge primeiramente garantir a sustentabilidade da Terra, da Humanidade, dos ecossistemas, da sociedade e da vida humana para só então podermos legitimamente buscar um desenvolvimento que seja sustentável.”

Leonardo Boff é teólogo, escritor, membro da Comissão da Carta da Terra e portador do Prêmio Nobel da Paz Alternativo de 2001.

Modo de vida sustentável

Page 21: Revista Agenda 21 Brasil Sustentável

21

A escassez generalizada, a destruição gradual e o agravamento da poluição dos recursos hídricos em muitas regiões do planeta, aliado à implantação progressiva de atividades impactantes exigem o planejamento e manejo integrado desses recursos. Essa integração deve incluir as águas de superfície e subterrâneas e sua relação com as águas estuarinas e costeiras, deve considerar os aspectos qualitativos e quantitativos conjuntamente e a interrelação com o meio ambiente, reconhecendo o caráter multissetorial dos recursos hídricos vinculado aos interesses múltiplos na sua utilização para o abastecimento humano, afastamento dos efluentes, agricultura, indústria, geração de energia, pesca, transportes, recreação dentre outros.

O manejo integrado dos recursos hídricos fundamenta-se na percepção da água como parte integrante do ecossistema, um recurso natural de valor biológico, social, cultural, simbólico e econômico, cujas quantidade e qualidade determinam, em muito, a natureza de sua utilização.

A proteção dos ecossistemas aquáticos e a perenidade do recurso, assim como a satisfação das necessidades básicas devem ser a prioridade no atendimento às necessidades de água para as atividades humanas.

O planejamento deve ser feito ao nível da bacia ou sub-bacia hidrográfica buscando promover uma abordagem dinâmica, interativa e multisetorial do manejo das águas, identificando e protegendo as fontes potenciais de abastecimento de água doce, cujos planos para a utilização deve considerar o uso racional e o manejo sustentável a partir das necessidades e prioridades da comunidade, os projetos e programas devem ser economicamente eficientes, socialmente justos e com ampla participação pública. E devem identificar, fortalecer e desenvolver mecanismos institucionais, legais e financeiros que

assegurem a implementação da política de recursos hídricos como promotora do desenvolvimento sustentável.

Os principais problemas que afetam a qualidade das águas tem sido os esgotos domésticos e industriais sem tratamento, os resíduos sólidos urbanos e rurais, os agrotóxicos, a atividade mineraria sem controle ambiental. A erosão, o desmatamento, práticas agrícolas inadequadas, queimadas, levam ao aumento da degradação do solo e do processo de desertificação agravando ainda mais as condições de qualidade e quantidade dos recursos hídricos.

Uma outra questão fundamental é a construção do desenvolvimento urbano sustentável, que devido ao crescente processo de urbanização tem gerado aumento da demanda por água, poluição pela descarga de resíduos municipais e industriais e conseqüente ameaça ao meio ambiente com ampliação dos riscos de contaminação devido as condições muitas vezes precárias de saneamento.

A Agenda 21 aponta como metas garantir que todas as pessoas que vivem em zonas urbanas tenham um mínimo de 40 litros de água potável por dia, que seja estabelecido e aplicado normas quanto a qualidade e quantidade de água para despejo de efluentes e apresenta a meta de 75%, no mínimo, de atendimento a população urbana de serviços de saneamento próprio ou comunitário, incluindo também a destinação adequada dos resíduos sólidos. A Conferência na África do Sul, 10 anos depois, ratifica metas para o atendimento ao abastecimento de água e saneamento para os países, devido a gravidade do quadro atual das precárias condições existentes sobretudo naqueles menos desenvolvidos e em desenvolvimento, o que tem levado a doenças e mortes milhões de pessoas, principalmente as crianças por falta de condições sanitárias.

Priorizar os investimentos em saneamento é ação de saúde preventiva e de preservação dos recursos hídricos. Esforços devem ser feitos no sentido de convencer os países desenvolvidos a reduzirem o consumo de água e a financiarem o desenvolvimento de programas para melhorar significativamente os baixos índices de saneamento nos demais países.

Outros desafios se colocam neste novo século como: tratar das águas residuais, ampliar as reservas hídricas e, sobretudo, recuperar e conservar a qualidade de água mais vulnerável à contaminação, viabilizar técnica e economicamente

a dessalinização, a exploração de águas subterrâneas profundas, reduzir a evaporação em reservatórios, reduzir os desperdícios, desenvolver programas de educação ambiental para conservação e reutilização da água, promover a gestão das águas de forma descentralizada e participativa.

Estas razões acima e os números e estatísticas que optei por não citar neste artigo, apontam a gravidade do quadro sanitário e suas conseqüências à saúde e a qualidade de vida das populações fizeram que a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU elegesse o tema “Água e Saneamento” como prioridade.

A responsabilidade é de todos e proporcional à consciência e a capacidade econômica de cada um sendo maior para aqueles que tem mais.

Um desafio ético se coloca: “não podemos aceitar que ninguém no planeta, neste novo milênio possa morrer por falta de água e saneamento”.

João Bosco SenraSecretário de Recursos Hídricos/ MMA - Brasil

A Agenda 21 em seu Capítulo 18 trata do tema água e saneamento a partir de um panorama da situação, estabelece alguns objetivos e atividades e aponta meios de implementação através de financiamento, meios técnicos e científicos, do desenvolvimento de recursos humanos e conseqüente fortalecimento institucional.

Por ser essencial à vida e fundamental a todos os processos produtivos, desconsiderar a importância de uma boa gestão das águas é caminhar de braços e peitos abertos ao conflito iminente, à inviabilidade econômica, à injustiça social, à degradação ambiental.

O desafio de assegurar oferta adequada de água de boa qualidade a todas as pessoas do planeta, preservando as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas, adequando as atividades humanas aos limites da capacidade da natureza, de forma a preservar a biodiversidade, é a tarefa que se impõe a todos.

Água e Saneamento