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Revista Agricultura & Engenharia Especial - 35 anos Embrapa 1

Revista Agricultura & Engenharia

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Universo da agricultura Brasileira

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 1

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Revista Agricultura & Engenharia2 Especial - 35 anos Embrapa

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 3

T

Palavra do Presidente

Tecnologia e Inovação são conceitos fundamentais para o sucesso em empreendimen-tos na Sociedade da Informação e do Conhecimento. A Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária - Embrapa comemorou ao fazer 35 anos de existência, em 2008, o que juntocom o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, é o resultado de uma parceria frutíferaentre produtores e cientistas: uma nova agricultura, produtiva, eficiente, vigorosa e, acimade tudo vitoriosa, referência no que diz respeito aos trópicos.

A união bem sucedida é que hoje permitiu obter na safra de 2007/8 uma produçãorecorde de grãos, da ordem de 144,1 milhões de toneladas. Possibilitou também que de1975 a 2008, enquanto a produção dos cinco principais grãos (soja, trigo, milho, arroz efeijão) aumentasse três vezes, houvesse o incremento de apenas 40% na área plantada, commostras evidentes de grande aumento da produtividade, propiciado pela adoção detecnologias. No mesmo período o preço da cesta básica caiu de base 100 para base 30, ouseja, uma redução de cerca de 70% nos preços ao consumidor, considerando o poder decompra e preços reais já corrigidos e deflacionados.

Mas criação e inovação são constantes e, por isso, que ao completar 35 anos lançamoso desafio: pensar como será o Brasil e o mundo em 2023, nos 50 anos da empresa. Combase nessa reflexão, elaboramos o 5º Plano Diretor da Embrapa. Com este horizonte, a longoprazo visando garantir a competitividade e a sustentabilidade da agricultura brasileira, comênfase em novo patamar tecnológico para a agroenergia e biocombustíveis, uso sustentáveldos biomas e integração produtiva das regiões brasileiras e, ainda, desenvolvimento de pro-dutos diferenciados.

Além disso, temas como mudanças climáticas, nutracêutica, (combinação dos termosnutrição e farmacêutica que estuda os componentes fitoquímicos nas frutas, legumes, vege-tais e cereais como benéficos à saúde e possíveis curas de doenças) e nanotecnologia (cons-trução de estruturas e novos materiais a partir dos átomos) foram consolidados na agendade pesquisa.

Rumo ao Futuro

Dr. Silvio Crestana - diretor-presidente da Embrapa

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Revista Agricultura & Engenharia4 Especial - 35 anos Embrapa

casos. Arranjos como esse foram concluídos, porexemplo, com os municípios de Franca e Ituvera-va, no estado de São Paulo.

Mas a busca pelo novo vai além das frontei-ras nacionais e tem consonância com a políticaexterna brasileira, materializada com a criaçãodos nossos Laboratórios Virtuais nos Exterior -Labex, presentes nos Estados Unidos, França eHolanda e com previsão de abertura , ainda em2009, no Reino Unido e Coréia do Sul. Em outravertente, estamos levando nossas tecnologiaspara a África, onde nos instalamos em 2006, etambém para a Venezuela, com criação do escri-tório da Embrapa em Caracas, em ambos os ca-sos, praticando uma forma diferenciada de trans-ferência de tecnologia .

Não podemos também deixar de mencionaros quase 115 mil empregos gerados em 2007,que segundo o nosso Balanço Social registrouum lucro social de 15 bilhões de reais, signifi-cando que para cada real aplicado, R$ 13 retor-naram para a sociedade brasileira, com quemtemos o nosso maior compromisso.

Aliados aos desafios que se apresentamhoje para a pesquisa agropecuária, todos os re-sultados são para nós motivo de orgulho e in-centivo, na busca de mais inovações e índicesmais arrojados que auxiliem no crescimento eco-nômico, com justiça social e sustentabilidadeambiental.

Silvio Crestana

Diretor - Presidente da Embrapa

Mas criação e inovação são

constantes e, por isso, que ao com-

pletar 35 anos lançamos o desa-

fio: pensar como será o Brasil e o

mundo em 2023, nos 50 anos da

empresa.

Silvio Crestana

Foi também o ano do Plano de Crescimen-to e Fortalecimento- PAC Embrapa. O programadestinará à pesquisa agropecuária até dezembrode 2010, cerca de R$ 914 milhões. Desse mon-tante, R$650 milhões serão investidos direta-mente na Embrapa. Outros R$264 milhões, apro-ximadamente, serão repassados pela empresa aorganizações estaduais de pesquisa agropecuá-ria que integram o SNPA. Vemos nessa ação, porparte do Governo, uma sólida demonstração dereconhecimento ao trabalho da empresa e deconfiança no seu potencial de contribuir conti-nuamente para o futuro do país.

E dentro de uma maneira de agir semprepautada no pioneirismo e na maneira de ser daciência , de se antecipar aos problemas e plane-jar soluções é que criamos a Embrapa Agroener-gia, e dentro em breve teremos os nossos hori-zontes ampliados com a implantação de três no-vos Centros de Pesquisa de âmbito nacional,sediados em Mato Grossso, Tocantins e Ma-ranhão, estados que ainda não contavam comUnidades da Empresa.

No que diz respeito ao setor privado, bus-camos diversas formas de entendimentos, comdestaque para a participação em parques tecnoló-gicos, incubação de empresas, estabelecimentode redes de pesquisa. Algumas modalidades iné-ditas como o Programa de Parceria de InovaçõesTecnológicas – Parcintec - concebido pela nossaAssessoria de Inovação Tecnológica (AIT). Trata-se de uma parceria de base tecnológica entre aEmbrapa e empresas do setor privado com oenvolvimento do governo municipal, em alguns

Palavra do Presidente

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Revista Agricultura & Engenharia6 Especial - 35 anos Embrapa

Volume 1 - Edição 2 - Ano II - 2009

Diretor e EditorJosé Márcio da Silva [email protected]

PublicidadeGilberto [email protected]

Administração e CirculaçãoEdmetec Ltda

Produção GraficaLucida Ltda

Impressão & AcabamentoDuograf

Uma publicação:Edmetec Edições Médicas,Técnicas e Científicas Ltda

CorrespôndeciaRua Dra. Maria Augusta Sarai-

va,74 - Vila Olimpia - CEP 04545-060

ContatoF: (011) 3849-1768Fax: (011) [email protected]

textos e FotosAssessoria de ComunicaçãoSocial Embrapa

ExpedienteExpediente

Sr. Cesário Ramalho da Silva

Presidente da Sociedade Rural Brasileira

Profº Dr. Paulo Sérgio Graziano Magalhães

Profº. Titular da Feagri-Unicamp

Profº Dr. Roberto Rodrigues

Ex- Ministro Agricultura

Profº Dr. Roberto Testeziaf

Profº Titular da Feagri- Unicamp

Prof . Dr. Silvio Crestana

Diretor Presidente da Embrapa

Conselho Editorial

Nesta edição nossa homenageada e uma das maisimportantes instituições de pesquisas do setor agrícolado mundo, com atuação em quase todos segmentos daagricultura, estamos falando da Embrapa que completou35 anos de sucesso na pesquisa agrícola.

Nesta edição apresentamos a historia, os serviçosprestados e os desafios que a Embrapa superou ao longodesses anos. Na seção “Palavra do Presidente” o Dr. Sil-vio Crestana – nos faz um balanço das atividades da Insti-tuição e nos revela as metas da mesma para o futuro.

Prof. Dr. José Teixeira Filho, coordenador de gradua-ção da FEAGRI, fala sobre a profissão do Engenheiro Agrí-cola, artigo que todo profissional da área deveria ler. As-sim como a matéria que abordamos sobre agronegócio,onde destacamos todas as atividades deste setor.

Para encerrar essa edição apresentamos um artigodo Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Sr,Reinhold Stephanes, onde faz uma analise do Agronegócioem tempo de crise.

Crise que não assustou os anunciantes desta edição,agradecemos a todos eles que acreditaram nesse projetoe tornou possível a concretização desta edição em que ho-menageamos esta instituição modelo para todo nós.

Parabéns Embrapa pelos 35 anos de sucesso.

Boa Leitura

35 anos de Sucesso

EditorialEditorial

O conteúdo dos artigos assinadosé de inteira responsabilidade

dos autores

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 7

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Revista Agricultura & Engenharia8 Especial - 35 anos Embrapa

Palavra do Presidente................................................03

Dr. Silvio Crestana - Diretor Presidente da Embrapa

Agronews......................................................................10

Notícias da área agrícola

Profissão.......................................................................16

artigo sobre a carreira do Engenheiro Agícola

Capa...............................................................................18

35 anos de sucesso - Embrapa

Fatos que marcaram a história da Embrapa.........26

Linha do Tempo

Serviços da Embrapa..................................................32

serviços prestados pela Embrapa à comunidade

Agronegócio..................................................................40

Uma analise das oportunidades no agronegócio brasileiro

Artigo.............................................................................48

O Agronegócio em tempo de crise - Ministro Reinhold

Stephanes

SumárioSumário

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Revista Agricultura & Engenharia10 Especial - 35 anos Embrapa

Três novos híbridos de milho geneticamente modificados com tecnologia YieldGard® foramlançados pela Agroeste Sementes no Show Rural Coopavel 2009, que aconteceu nos 9 a 13 defevereiro, em Cascavel (PR). São eles o superprecoces AS 1551YG, indicado para a Safra de Verãoe Safrinha e AS 1590YG para Safrinha; e o precoce AS 1572YG para safra verão, que é o primeirohibrido YieldGard® recomendado para silagem de planta inteira e grãos úmidos no Brasil.

A tecnologia YieldGard® caracteriza-se por conferir resistência a algumas espécies de lepidóp-teros-praga. O híbrido com essa característica carrega uma proteína eficaz contra os insetos-alvo,promovendo a proteção da planta antes mesmo que a praga consiga causar danos à cultura. Aplica-da aos híbridos convencionais da Agroeste Sementes, já reconhecidos pelo mercado, a tecnologiapassa a oferecer aos agricultores uma produção mais sustentável, com redução de uso de defensi-vos agrícolas e mais benéfica ao meio ambiente (www.yieldgard.com.br). Conheça também os híbri-dos AS 1596YG e AS 3421YG com tecnologia YieldGard®. Mais informações: www.agroeste.com.br

Agronews

Wurth lança produto que protege máquinas

agrícolas dos efeitos do tempo

e produtos químicos

O contato com adubos e outros produtos químicos provoca grande desgaste nas máquinasagrícolas, como tratores e plantadeiras. Em razão disso e do elevado custo deste tipo de equipa-mento, entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, a Wurth do Brasil, multinacional alemã especializada empeças de fixação, ferramentas e produtos químicos, desenvolveu o Protetor de Superfície. Produto abase de resina acrílica, forma um filme impermeável e transparente para proteger máquinas agríco-las.

Resultado de intensos investimentos para o desenvolvimento, que incluíram rigorosos testesde qualidade, de acordo com os padrões determinados pela matriz na Alemanha, o protetor é resis-tente à água e não agride o meio ambiente, já que é biodegradável. Sua aplicação também é bemsimples, basta o local estar limpo, aplicar o produto por um processo de pulverização e esperarcerca de 30 minutos para secar.

Além de poder ser aplicado em veículos em geral o Protetor de Superfície também pode serutilizado para proteger implementos agrícolas, como arado, grade e plantaderia. O produto garanteque elas estejam protegidas das corrosões causadas por produtos químicos utilizados nas lavouras,como adubo e uréia.

“É fundamental a proteção de todo tipo de superfícies externas. Fatores naturais como raiossolares e maresia estragam a pintura e deixam o veículo com uma má aparência. Os investimentospara se ter uma dessas máquinas é muito alto, e para comprar e aplicar o Protetor de Superfície ébaixo e garante maior durabilidade e conservação da máquina.”, explica Evandro Cordova, gerenteda Divisão Cargo.

Para divulgar seu evento, produtos e ou serviços nessa seção

enviar e-mail aos cuidados da redação para:

[email protected]

Agroeste Sementes lança híbridos de milho

superprecoces com tecnologia YieldGard®

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Revista Agricultura & Engenharia12 Especial - 35 anos Embrapa

Sementes De Atitude:

Projeto inédito da Vipal já distribuiu

mais de 50 mil sementes

Kits contendo sementes de ipê roxo,

jacarandá, pau-formiga e imburana foram distri-

buídos entre os colaboradores, escolas, clientes

e jornalistas em todo o país, visando incentivar

o replantio de árvores e a troca de conhecimen-

to sobre ações de preservação do meio ambien-

te. Sementes de Atitude possui também um site

exclusivo com notícias, jogos e uma árvore virtu-

al, entre outras ferramentas de interatividade.

Por isso, o projeto vai além de um progra-ma de replantio de árvores. Sementes de Atitu-de possui um site exclusivo (www.atitudevipal.com.br), onde são disseminadas idéias, conteú-dos e discussões sobre as ações em prol de umfuturo melhor. “Há décadas realizamos açõesecológicas. Aliás, o nosso negócio é especialmen-te ecologicamente correto. Mas sentíamos faltade um canal de troca de informações e de incen-tivo às ações ambientais. E nada melhor do quea Internet para proporcionar acessibilidade e dis-seminação dos temas”, destaca João CarlosPaludo, presidente executivo da Borrachas Vipal.

Ao entrar no site www.atitudevipal.com.bre digitar o número, o visitante conhece a espé-cie de árvore que recebeu, como plantá-la e tratá-la. Interagindo com o site, navegando e respon-dendo às questões sobre meio ambiente, o visi-tante também fará crescer uma árvore virtual,estimulando também os cuidados com a árvoreque recebeu. “Integramos a teoria, a prática, oconteúdo, a acessibilidade e o apelo para a pre-servação do planeta”, afirma João Carlos

Em 2008, o rendimento médio da safra detrigo paranaense atingiu o recorde de 2.820 kg/ha e a produção, que chegou a 3,2 milhões tone-ladas, foi uma das melhores já obtidas no Esta-do. Conforme avaliação do engenheiro agrôno-mo Otmar Hubner, do Departamento de Econo-mia Rural (Deral), a qualidade física dos grãoscolhidos foi beneficiada pelas condições climá-ticas. Porém, “mais uma vez, os produtores têmdificuldade em vender e os preços não são atra-tivos”, avalia Hubner. Em 2008, até aos primei-ros dias de fevereiro os paranaenses tinham ven-dido 89% do trigo colhido na safra 2006/07,agora, a comercialização da safra 2007/08 vemseguindo lentamente, tendo chegado a 65% daprodução em 09 de fevereiro. Os baixos preçose a falta de compradores são as principais cau-sas. O preço médio praticado no Paraná está emR$ 29,62 por saca de 60 kg, variando de R$26,00 a R$ 33,00 nas diferentes regiões do Es-tado. Em abril e em maio de 2008, quando osprodutores estavam semeando o trigo, o valormédio estava em R$ 41,00. Em dezembro de2008 a média foi de R$ 25,32 e em janeiro de2009 houve ligeira reação, chegando a R$26,80. Para Hubner, falta de liquidez do trigobrasileiro tem por principal causa o fato de asindustrias comprarem o mesmo conforme a ne-cessidade imediata ao longo do ano, tambémimportando parte do consumo, principalmente daArgentina e do Paraguai, países que estão geo-graficamente próximos do Paraná. “A reação quetem sido verificada desde início do ano nos pre-ços do trigo é devida à frustração da safra ar-gentina que foi castigada por estiagem, sendoque, o produto comprado em outras praças ten-de a custar mais caro por causa da maior distân-cia e do aumento verificado no estoque mundial,conforme divulgado pelo Departamento de Agri-cultura Americano que estima safra mundial re-corde para o período 2008/09”, conclui o agrô-nomo do Deral.

Trigo: Paraná

Obteve Produtividade

Recorde Na Safra

2008

Agronews

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 13

Os efeitos da forte seca na região Sul e par-te de Mato Grosso do Sul provocaram uma que-bra de 6,5% na safra nacional de grãos, fibras ecereais. Mas a quebra de 9,4 milhões de tonela-das detectada até meados de janeiro pela Com-panhia Nacional de Abastecimento (Conab) deveser ampliada. A estatal prevê uma colheita de134,68 milhões de toneladas, longe do recordehistórico de 144,11 milhões ocorrido na safraanterior.

Os indícios de uma quebra ainda maior nes-ta safra são corroborados pela elevação no volu-me de comunicados de perdas nas lavouras doCentro-Sul do país. Os prejuízos potenciais rela-tados por 48 mil produtores somam pelo menosR$ 500 milhões, segundo dados do Banco Cen-tral e do Banco do Brasil. Até ontem, o sistemade seguro oficial do governo (Proagro) registrou44 mil pedidos de indenização. As perdas poten-ciais no seguro privado operado pelo Banco doBrasil chegaram a 3.844 comunicados formais.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stepha-nes, estima uma quebra de 8%, mas o ritmo dospedidos de indenização sugerem um índice aci-ma de 10%. No sistema do Proagro, as perdaspotenciais estão em 9% da carteira total de 485mil apólices. No Banco do Brasil, o índice sobe a11% num universo de 35.852 contratos. “Podehaver uma variação aí. Mas acho que vai ficarnesse intervalo entre 6% e 8% porque ainda te-mos consequências climáticas que não foramtotalmente medidas”, disse Stephanes.

Estado mais castigado pela estiagem, oParaná contabiliza 21.572 comunicados de per-da no Proagro e 3.309 pedidos de indenizaçãono Banco do Brasil. O milho, principal alimentousado na cadeia das carnes, foi a cultura maisprejudicada pela seca. A quebra superou 7 mi-lhões de toneladas, dos quais 3,7 milhões ape-nas no Paraná. Mas o tombo do milho atingiutodo o país. No Centro-Sul, a produção quebrou14,6% - no Paraná, chegou a 38%. Na regiãoNorte-Nordeste, a queda foi de 10%. Termôme-tro para a rentabilidade das lavouras em geral, aprodutividade média no milho recuou 15% no

país, 24% na região Sul e 33% no Paraná. Dian-te do tamanho da quebra, os impactos nos pre-ços aos consumidores de milho e de carnes jáestão no radar do governo.

“O milho é a nossa maior atenção, com re-cuperação importante agora da safrinha”, disseo diretor de Logística da Conab, Silvio Porto. “Jáque tivemos na primeira safra uma redução desete milhões de toneladas, é importante termosuma boa segunda safra para assegurar um qua-dro de suprimento ao longo desse ano”. Os esto-ques finais de milho devem ficar em 6,8 milhõesde toneladas, suficiente para abastecer o mer-cado interno e ainda garantir exportação de 9milhões de toneladas, segundo ele. Na safra pas-sada, o estoque era de 11,9 milhões.

A safra de soja também deve sofrer umasignificativa redução de 2,8 milhões de tonela-das (-4,7%), segundo a Conab. A colheita foi re-estimada para 57,21 milhões de toneladas.Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e Maranhãopuxaram a quebra. A produtividade nacional re-cuou 5,4%. No algodão, a estimativa da Conabinforma uma redução 22,2%, para 1,25 milhãode toneladas de pluma. Foram 356 mil tonela-das abaixo das 1,6 milhão de toneladas colhi-das na safra passada.

Na outra mão, a boa colheita estimada paraarroz e feijão estaria garantida. Para o arroz, aprojeção indica a produção de 12,35 milhões detoneladas (+2,5%). Na soma das três safras defeijão, os produtores devem colher 3,59 milhõesde toneladas (+1,9%). “Entendemos que os pre-ços estão em equilíbrio e não devemos fazer in-tervenção para reduzir preço ao produtor nessasituação”, afirmou Silvio Porto.

Produção de grãos poderá

ser ainda menor

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Revista Agricultura & Engenharia14 Especial - 35 anos Embrapa

Por um acidente climático na vizinha Argen-tina, o Brasil pode assumir este ano, pela pri-meira vez, a posição de segundo maior exporta-dor mundial de milho, apontam dados do Depar-tamento de Agricultura dos Estados Unidos(Usda). O novo levantamento reduziu as exporta-ções argentinas referente a safra 2008/09 àmetade, 7 milhões de toneladas. Ainda de acor-do com as projeções do Usda, as vendas exter-nas de milho brasileiro devem ficar próximas à10 milhões de toneladas. Mesmo com um volu-me inferior em um milhão de toneladas ao em-barcado em 2007, o Brasil ficaria atrás apenasdos Estados Unidos, com exportações estimadasem 45 milhões de toneladas. O Brasil ficaria ain-da à frente da Ucrânia, com vendas externas es-timadas no ciclo 2008/09 em 4 milhões de to-neladas, da África do Sul, que deve embarcaroutras 2,5 milhões de toneladas, da União Euro-péia , 2 milhões, e até da China, que de grandeexportador passou a coadjuvante no mercadoexterno de milho com estimativa de embarcarapenas 500 mil toneladas. A seca na Argentinacontraiu a safra para 13,5 milhões de toneladas,

ante as 16,5 milhões de toneladas previstas. Em2008, o país colheu 20,85 milhões de tonela-das. A produção brasileira também foi afetada,mas em proporções menores. Segundo o Usda, oPaís deve produzir 49,5 milhões de toneladas.Em janeiro, o Departamento de Agricultura ame-ricano estimava uma safra de 51,5 milhões. Noano passado foram colhidas 58,6 milhões. Deacordo com dados do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Mapa), o estoque depassagem foi superior a 10 milhões de tonela-das. Esse volume estocado da temporada passa-da e o consumo interno estável em 2008 garan-tiriam oferta suficiente para as exportações pre-vistas para o Brasil. Segundo informou um corre-tor, a Argentina está com licença de exportaçãosuspensa. Enquanto isso, o Brasil contabiliza doismilhões de toneladas embarcadas em 2009.“Mas é um market share pontual, graças à umacatástrofe climática e não ao esforço brasileiro”,avalia Paulo Molinari, da Safras&Mercado. A“pontualidade” assinalada pelo analista éjustificada pela logística do player vizinho e peloconsolidado consumo doméstico brasileiro.

Brasil toma mercado argentino de milho

A produção de cana-de-açúcar no Centro-Suldo país deverá superar pela primeira vez a mar-ca de 500 milhões de toneladas nesta safra(2008/09), graças à continuidade da moagemda matéria-prima durante o período de entres-safra, confirmou ontem a União da Indústria daCana-de-Açúcar (Unica). Até o dia 15 de janeiro,46 usinas mantiveram o processamento da canae pelo menos dez unidades poderão emendaruma safra na outra, se o clima permitir. Até ago-ra, 26 unidades continuam em operação.

Levantamento da Unica mostra que até odia 15 de janeiro a moagem totalizou 499,6 mi-lhões de toneladas, volume 15,88% maior emrelação ao ciclo anterior. Na primeira quinzenado mês, a moagem totalizou 2,34 milhões detoneladas de cana.

“A moagem ainda continua porque muitosprojetos de novas usinas iniciaram suas opera-ções no fim do ano passado”, afirmou Antoniode Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica. A

maior produtividade registrada no período tam-bém colaborou para o bom desempenho do se-tor sucroalcooleiro.

A produção de açúcar totalizou 26,75 mi-lhões de toneladas até o dia 15 de janeiro, altade 2,11% sobre a safra 2007/08. A oferta deetanol, no mesmo período, atingiu 24,79 bilhõesde litros, 22,59% superior ao total produzido nasafra anterior.

No mercado interno, as vendas de etanolentre abril de 2008 e o dia 15 de janeiro de 2009foram de 16,4 bilhões de litros, 25,2% maiorsobre igual período do ciclo anterior. Já as ex-portações no mesmo período ficaram em 3,98bilhões de litros, 67,2% superior ao verificadono mesmo período da safra passada.

Para 2009/10, a expectativa do mercado éde que a safra bata novo recorde, mesmo comboa parte das usinas passando por uma situa-ção financeira delicada. O aumento da produçãorefletirá as expansões em curso de grupos dosetor.

Colheita de cana superará 500 milhões de toneladas

Agronews

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 15

Safra de 137 milhões

de toneladas

Levantamento divulgado pela Conab no iní-cio de janeiro estima que a safra nacional degrãos 2008/2009 deva alcançar 137 milhões detoneladas. O resultado, quase 5% inferior ao di-vulgado anteriormente, já considera os efeitosda estiagem e do excesso de chuvas em algu-mas regiões do Sul do Brasil. A previsão da áreaplantada é de 47,49 milhões de hectares. A pes-quisa foi realizada no período entre 15 de no-vembro e 19 de dezembro. Informações maisdetalhadas podem ser obtidas no sitewww.conab.gov.br.

Novas frutas

Abacaxi sem espinhos e com sabor maisdoce, bananas com alta resistência a doenças,variedades de maracujá ricos em vitamina C, to-lerantes a pragas e que reduzem os gastos comdefensivos. O arsenal de pesquisas da Embrapana área de fruticultura permite aos produtoresaumentar a produtividade, diminuir custos e agre-gar valor à produção. Os avanços da pesquisatransformaram o Vale do São Francisco no maiorpólo de fruticultura do Brasil. Manga e uvas, asprincipais frutas cultivadas na região, ocupamárea de 33 mil hectares ente Petrolina (PE) eJuazeiro (BA), que já se destacam também nafabricação de sucos, polpas e alimentos indus-trializados.

“Big Brother” do Boi

Os pesquisadores da Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa) captaram, emum ano, mais de 500 mil imagens de satélite de375 mil km2 da faixa da divisa entre o Acre e oParaná. São pontos estratégicos para a defesasanitária brasileira. Essas áreas fronteiriças sãoas mais preocupantes. Somente no municípiosul-mato-grossense de Eldorado, existem 42 es-tradas de acesso ao Paraguai, segundo dadosda Embrapa Monitoramento por Satélite.

Flor no cacau

Produtores de cacau da Bahia continuamdiversificando as suas fazendas. Agora resolve-ram investir no plantio consorciado de flores tro-picais. Boa parte dos produtores que formarama Associação dos Produtores de Flores e PlantasOrnamentais do Sul da Bahia (Florassulba) tam-bém produz cacau. Segundo a associação, omercado baiano de flores tropicais já movimen-ta cerca de R$ 5 milhões por ano. Em Ilhéus eItabuna, há cerca de 100 hectares plantados comflores e plantas tropicais. O objetivo do projeto éa exportação. Na Alemanha, a Musa é vendidapor até 15 euros, enquanto por aqui vale no má-ximo R$ 1,50. Mais informações sobre o projetopodem ser obtidas pelo telefone (73) 3231-1783ou e-mail [email protected]

Porteira aberta

Desde o dia 1° de dezembro de 2008, es-tão liberadas as exportações de carne in naturapara a União Européia, provenientes de bovinosabatidos em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais eMato Grosso. Com a habilitação dessas áreas,mais 40 milhões de bovinos podem sercomercializados para o mercado europeu.

Inovação na cana

A Syngenta lançou uma nova tecnologiapara o plantio de cana-de-açúcar no Brasil. Se-gundo os técnicos da empresa, o sistema, queutiliza mudas tratadas com produtos da empre-sa, pode reduzir em até 15% os custos de plan-tio por hectare.

O emprego de pequenas mudas, de 6 centí-metros de altura, deve simplificar o trabalho deplantio. A John Deere está participando da novatecnologia desenvolvendo a máquina a ser utili-zada no plantio.

Du Pont prevê avanço

A DuPont, segunda maior empresa de se-mentes do mundo, prevê que os lucros de suadivisão agrícola crescerão mais de 15% ao anoaté 2013 com o desenvolvimento de novostransgênicos e pesticidas, diz a Bloomberg.

Page 16: Revista Agricultura & Engenharia

Revista Agricultura & Engenharia16 Especial - 35 anos Embrapa

O

Engenharia Agrícola

O engenheiro no ambiente ruralO profissional de engenharia com importante atuação na

preservação e na conservação ambiental.

O Engenheiro Agrícola é um profissional qua-lificado para levar ao campo soluções inovado-ras que contribuem com o avanço tecnológico dossistemas de produção agrícola e agroindustriais,incluindo produção, processamento e distribui-ção de produtos agrícolas em todas as fases dacadeia produtiva do agronegócio, em harmoniacom o meio ambiente e com o desenvolvimentosustentado. Esse profissional é habilitado para:

- Planejar métodos de armazenagem e deconservação de produtos agrícolas, elaborandoprojetos de unidades armazenadoras e sistemasde refrigeração;

- Projetar e construir obras e estruturas re-lacionadas a sistemas de produção animal e ve-getal, dentro dos princípios de ambiência e depreservação ambiental;

- Otimizar o uso dos recursos naturais e suaconservação, projetando açudes, barragens,obras hidráulicas e sistemas de irrigação, drena-

gem e saneamento;- Elaborar, modificar e projetar máquinas e

equipamentos agrícolas, sendo especializado nouso de energia e de recursos naturais;

- Contribuir, dentro do conceito de susten-ta-bilidade, para a destinação adequada de resí-duos gerados nas atividades agropecuárias eagroindustriais, visando o controle de poluição eda contaminação ambiental;

- Atuar na administração e gerenciamentode empreendimentos agrícolas, baseado em con-ceitos de agricultura de precisão e visando aotimização do uso dos insumos agrícolas e a ra-cionalização do uso de energia;

- Trabalhar em pesquisa nos setores agro-pecuário e agroindustrial, gerando e desenvol-vendo sistemas de produção e componentestecnológicos.

- Atuar na gestão de recursos naturais, naperspectiva da sustentabilidade.

Profissão

Page 17: Revista Agricultura & Engenharia

Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 17

É para você?

Se você deseja se tornar um Engenheiro Agrí-

cola, você terá garantido para si uma carreira

multifacetada com inúmeras possibilidades de tra-

balho. O mercado globalizado demanda alimentos

mais saudáveis e que sejam produzidos em maior

quantidade levando-se em conta, além dos custos,

questões sociais e ambientais. O aumento da produ-

tividade exige a introdução de novas tecnologias, mais

apropriadas para cada sistema produtivo. As cultu-

ras voltadas para produção de energia (bio-combus-

tíveis) ganham espaço na matriz energética mundial

e requerem o aprimoramento e o desenvolvimento

das tecnologias de produção, manuseio e uso. O agro-

negócio brasileiro conquista espaços no mercado

mundial de carne, soja, açúcar, álcool e mostra po-

tencial ainda pouco explorado para frutas, hortali-

ças e flores, dentre tantos outros produtos. Em espe-

cial, atuando para sustentabilidade do meio ambi-

ente para uma melhoria da qualidade de vida. Des-

ta maneira, o Engenheiro Agrícola tem um papel

muito importante no atual cenário mundial, desen-

volvendo um trabalho de grande responsabilidade

perante nossa sociedade e atuando de forma decisi-

va no desenvolvimento de nosso país.

Formação dos Engenheiros

Os Engenheiros Agrícolas na UNICAMP são ca-

pacitados e motivados para atuarem na área de

engenharia com base técnica diversificada e com

preocupação social, econômica e ambiental. O futu-

ro Engenheiro Agrícola recebe uma formação que

tem como base as ciências exatas – fundamental-

mente os recursos da física, como nas engenharias

tradicionais – ainda que façam parte do currículo

do curso disciplinas com ênfase nas áreas social,

econômica e ambiental. Portanto, é fundamental que,

ao optar pela Engenharia Agrícola, o interessado se

prepare para receber uma formação plena como

engenheiro. Isto significa estudar, nos dois primeiros

anos, disciplinas comuns a outros cursos de enge-

nharia, como física, matemática e química. O currí-

culo básico inclui ainda a introdução ao processa-

mento de dados e técnicas de planejamento, entre

outras. A partir do terceiro semestre é que o aluno

começa a se aprofundar em disciplinas específicas.

Algumas delas: resistência dos materiais, fundamen-

tos do cálculo estrutural, hidráulica geral, hidrologia,

processamento e interpretação de imagens, sanea-

mento, laboratório de máquinas agrícolas, barragens

e obras de terra, formação e desenvolvimento da agri-

cultura brasileira e armazenamento de produtos

agrícolas. O profissional é capacitado para gerar e

difundir conhecimento para o meio rural, propondo

alternativas viáveis, de forma a atender as necessi-

dades e demandas da sociedade, respeitando os

princípios de sustentabilidade ambiental. Com essa

formação, o engenheiro agrícola atua em Institutos

de Pesquisa, Universidades do Brasil e do Exterior,

Escolas Técnicas Agrícolas e diversas Empresas do

Setor Agroindustrial.

Capacitação profissional.

O Engenheiro Agrícola é reconhecido no país e

no exterior como símbolo de excelência, pela atua-

ção no ensino, pesquisa e extensão em áreas afins

das Ciências Agrárias. O Engenheiro trabalha de for-

ma interdisciplinar e cooperativa, e participa na for-

mulação de políticas públicas na área das Ciências

Agrárias. O Engenheiro Agrícola busca contribuir

para a produção de alimentos, usando a combina-

ção de conhecimentos científicos e de engenharia

para encontrar soluções que respeitem o uso sus-

tentável dos recursos naturais, preocupado sempre

com a questão socio-econômica. Assim, o Profissio-

nal graduado deve sistematicamente buscar infor-

mações para poder se atualizar constantemente, não

medindo esforços intelectuais para o desenvolvimen-

to da comunidade nos aspectos: social, cultural,

cientifico, tecnológico e econômico.

Oportunidades

Parte significativa dos alunos tem oportunida-

de de participar ativamente em atividades de pes-

quisa, na forma de bolsistas de Iniciação Científica.

Essa importante atividade permite ao aluno manter-

se em contato com as novidades tecnológicas mais

recentes do setor agroindustrial. Estágios em empre-

sas e/ou no exterior também são incentivados, como

forma de preparar adequadamente os alunos para

o mercado de trabalho.

Prof. Dr. José Teixeira Filho,

coordenador de graduação

da FEAGRI - Unicamp

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Revista Agricultura & Engenharia18 Especial - 35 anos Embrapa

D

Capa

35 anos de sucesso

EmbrapaDécada de 70. A agricultura se intensificava no Brasil. A população e a renda per

capita cresciam em ritmo acelerado. Ao mesmo tempo, profissionais da extensão ruralquestionavam a falta de conhecimentos técnicos genuinamente brasileiros para repassaraos agricultores e o País se abria ao exterior, conquistando novos mercados consumidores.O cenário era claro: sem investimentos em pesquisa agropecuária, o Brasil não conseguiriaatender a crescente demanda por alimentos e fibras.

Nesse contexto, o então ministro da Agricultura, Luiz Fernando Cirne Lima, constituiuum grupo de trabalho para alavancar a pesquisa agropecuária nacional. O objetivo eraidentificar limitações, sugerir providências, indicar fontes e formas de financiamento epropor uma legislação adequada para o setor. O relatório final desse grupo de trabalho,denominado “Sugestões para a Formulação de um Sistema Nacional de Pesquisa Agro-pecuária (SNPA)”, acabou se transformando no famoso “Livro Preto”, pois tinha uma capade cartolina negra, a única disponível no momento.

Entre as recomendações desse relatório, estava a criação de uma empresa públicacapaz de gerir e fomentar com eficiência e agilidade o SNPA. Era a semente da Embrapa,definitivamente plantada em 28 de março de 1973, com o Decreto nº 72.020, que aprovouos estatutos da Empresa e determinou sua instalação em 20 dias. A posse da primeiraDiretoria aconteceu em 26 de abril de 1973: José Irineu Cabral foi nomeado o primeirodiretor-presidente da Embrapa, apoiado pelos diretores Eliseu Roberto de Andrade Alves,Edmundo da Fontoura Gastal e Roberto Meirelles de Miranda.

Instalada provisoriamente no Edifício Palácio do Desenvolvimento, em Brasília, DF, adiretoria da nova empresa buscou no mercado os quadros que pudessem liderar as ativida-des da nova estrutura de pesquisa. O problema começou a ser resolvido no final de 1973,quando uma portaria do Executivo extinguiu o Departamento Nacional de Pesquisa e Expe-rimentação (DNPEA), que coordenava todos os órgãos de pesquisa existentes até a criaçãoda Embrapa.

Embrapa

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 19

Com isso, a Empresa herdou do DNPEA umaestrutura composta de 92 bases físicas: 9 sedesdos institutos regionais, 70 estações experimen-tais, 11 imóveis e 2 centros nacionais. A partirdaí a Embrapa começava a sua fase operativa,passando a administrar todo o sistema de pes-quisa agropecuária no âmbito federal.

Hoje, os frutos daquela semente plantadaem 1973 estão por todo o País, na forma detecnolo-gias e produtos gerados pelas 38 Unida-des de Pesquisa e três de Serviços presentes emquase todos os Estados da Federação. E para al-cançar o sucesso brasileiro na agricultura tropi-cal a Empresa investiu principalmente no treina-mento de recursos humanos: atualmente, pos-sui 8.275 empregados, dos quais 2.113 são pes-quisadores – 25% com mestrado e 74% comdoutorado.

Nasce a nova agricultura dos

trópicos

O Brasil vive um processo de adoção detecnologias modernas de velocidade e intensi-dade desconhecidas até mesmo nos países avan-çados. Em pouco mais de três décadas, o Paíscriou uma poderosa cadeia produtiva - o agro-negócio - que responde por 25% do PIB nacionale contribui com cerca de 37% do valor das ex-p o r t a ç õ e s .

Além de sua participação no abastecimen-to de produtos tradicionais como madeira, açú-car e café, o Brasil está entre os grandes expor-tadores do complexo soja, de carnes bovina, suínae de frango, frutas, suco de laranja, milho, e ce-lulose. É o maior produtor e já exportador de ál-cool de cana de açúcar e voltou a ser um impor-tante fornecedor de algodão.

O País se tornou um ator destacado no ce-nário mundial. Não só passou a influir decisiva-mente no preço e no fluxo de alimentos e outrascommodities agrícolas, como desembarcou nocentro de todas as disputas legais e diplomáti-cas em torno de subsídios, cotas e outras barrei-ras que impedem o acesso dos produtores agrí-colas aos mercadores consumidores.

O Brasil se construiu líder na agriculturamundial. O sucesso no desenvolvimento doagronegócio, que se verificou desde então, foiengendrado pela conjunção de políticas públicasacertadas e continuadas, a existência de umempresariado empreendedor, ousado e persisten-te, e pela disponibilidade de algum capital pú-blico, doméstico e internacional.

Além da industrialização, que tem suasraízes na década de 50, o país passou a fazervultosos investimentos em infra-estrutura de es-tradas, portos, aeroportos, telecomunicações earmazenagem, em crédito rural, educação eciência&tecnologia. Uma das políticas públicasmais decisivas foi a de modernização da agricul-tura brasileira, iniciada com a reforma da estru-tura federal de pesquisa agrícola para criaçãoda Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuáriae de um Sistema Nacional de Pesquisa Agrope-cuária.

A partir de sua ação, o País estimulou a cri-ação e consolidação de uma indústria de semen-tes certificadas de âmbito nacional, estabeleceua indústria e o uso metódico de fertilizantes, cor-retivos e defensivos químicos, e ampliou suabase agroindustrial de padrões internacionais.Dessa maneira, reinventou sua agricultura. Naverdade, criou uma nova agricultura, tão eficien-te quanto a dos países desenvolvidos, de climatemperado, mas uma agricultura essencialmen-te tropical, provando ser possível fazê-lo nessalatitude do Planeta Terra.

O problema,

o propósito e o foco

O ano de 1973 foi um divisor de águas. Atéentão, a agricultura brasileira tinha um caráterextrativista ainda bastante acentuado. Seu cres-cimento decorria primordialmente da abertura denovas fronteiras agrícolas em busca do aprovei-tamento da fertilidade natural dos solos, nas vár-zeas e nos talhões da chamada “terra de cultu-ra”.

Em números aproximados, a produção decarne (2 milhões de ton.) e leite (7,5 bilhões delitros) era extraída em sua maior parte de pasta-

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Revista Agricultura & Engenharia20 Especial - 35 anos Embrapa

gens naturais, de baixa capacidade de suporte,onde se criava um rebanho expressivo de 90 mi-lhões de bovinos. Pouco mais de 20% das pas-tagens (35 milhões de hectares) eram plantadas.As granjas forneciam cerca de 700 mil ton. decarne suína e 400 mil ton. de frango.

A produção de grãos concentrava-se no Sule no Sudeste, que respondiam por 16,7 milhõesdos 23,8 milhões de hectares cultivados em todoo país. O Nordeste flagelava-se com as incerte-zas da seca em 4,6 milhões de hectares paracultivar milho, feijão e algum arroz. O Centro-Oeste ousava enfrentar seus “veranicos” em 2,4milhões de hectares: na metade produzia arrozde sequeiro (como forma de domar o solo paraoutros cultivos) e no restante extraía algum mi-lho e feijão. O Norte era na sua quase totalidadeuma floresta extrativista, cultivando arroz, feijãode corda e milho em escassos 190 mil hectares.

O uso de fertilizantes, sementes melhora-das, corretivos dos solos, controles sanitários ede outras formas de inteligência e conhecimen-to na operação agrícola era bastante reduzido.Esses traços de modernidade ficavam pratica-mente restritos aos estados do Sul e notadamen-te em São Paulo, mercê da presença dos des-cendentes de imigrantes europeus e japonesese de sólidas universidades e institutos de pes-quisa agrícola.

No mais, o uso de tecnologias importadas,por impróprias ao clima tropical, resultava desani-mador. Não havia práticas conservacionistas eas queimadas eram rotina aceita no preparo daterra. De maneira geral, os produtores viviam aosabor das incertezas do clima, castigados por se-cas, geadas, chuvas concentradas e surtos ines-perados de pragas e doenças.

Nesse cenário, as crises de abastecimentoeram constantes. Nas cidades, que já então abri-gavam mais de 70% da população, convivia-secom a escassez de carne, de leite e do feijão,clamava-se contra a inflação do chuchu ou doovo, vigiava-se o preço do pãozinho de sal, pau-tado pela cota do trigo importado a peso de dó-lar.

A oferta de frutas, legumes e verduras eraescassa e sazonal, restrita a uns poucos itens, a

poucos meses do ano, às cidades mais desen-volvidas. Maçãs, uvas, nozes e castanhas, só im-portadas, no Natal. Frango, reservado para o“ajantarado” de domingo ou a canja dos conva-lescentes.

A missão de criar uma base tecnológica parao desenvolvimento da agropecuária, confiada àEmbrapa pelo I Plano Nacional de Desenvolvi-mento (I PND, 1970-74), tinha propósitos muitosimples e claros: garantir o abastecimento nascidades, onde vivia a maioria dos pobres; interio-rizar o desenvolvimento, criando empregos e ren-da na larga maioria de municípios de base rural;preservar recursos naturais; e criar excedentesexportáveis.

A primeira grande alteração nesse cenáriofoi uma mudança de mentalidade. O movimentode modernização da agricultura, liderado pelaEmbrapa e ancorado nas universidades e institu-tos estaduais de pesquisa agrícola, conseguiuconvencer a sociedade brasileira – sobretudo po-líticos e empresários – de que era preciso au-mentar a safra por meio do crescimento da pro-dutividade, em vez de abrir novas áreas de plan-tio.

O movimento fez governantes e cidadãoscompreenderem que era preciso desenvolver eusar tecnologias adequadas ao ambiente tropi-cal. Isso demandava criar competência própria econhecer bem esse universo, de maneira a sa-ber escolher e usar as contribuições relevantesda ciência mundial, mas com o cuidado de nãoser dependente das tecnologias feitas fora doBrasil. Um projeto de soberania.

Capa

Page 21: Revista Agricultura & Engenharia

Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 21

Com capitais nacionais e internacionais, aEmbrapa atualizou e ampliou a estrutura de pes-quisa herdada do Ministério da Agricultura. Seuslaboratórios foram aparelhados com métodos eequipamentos de última geração. Tal estruturafoi estabelecida de forma equânime e proporcio-nal ao tamanho da tarefa: 6 centros de pesqui-sas nas florestas amazônica, e sete em cada umdos ecossistemas restantes, no semi-árido do Nor-deste, nos cerrados do Centro-Oeste, nas áreassubtropicais do Sudeste e nas áreas temperadasdo Sul, totalizando 34 estações de pesquisa.

Com pequenas adições, é o conjunto de 38centros de pesquisas que se tem hoje e que, comas universidades e os institutos estaduais formauma rede nacional de pesquisa agrícola e de ca-racterística multidisciplinar, em estreita parce-ria com os centros internacionais de pesquisa.Para essa rede nacional, foi estabelecido um pro-grama de trabalho que tinha um único foco, mui-to preciso, delineado em três tarefas: conhecere avaliar os recursos de solo, água, clima, plan-tas, animais, insetos e microfauna, e suas rela-ções de causas e efeitos; desenvolver e avaliarusos e aplicações sustentadas para esses recur-sos naturais, seja em novos sistemas de produ-ção ou nos sistemas existentes; avaliar e adap-tar às condições ambientais do Brasil as tecno-logias de origem estrangeira relevantes para ospropósitos estabelecidos para a agropecuárianacional.

A Embrapa iniciou então um dos mais ambi-ciosos programas de capacitação, que treinou,nas mais importantes universidades do Brasil edo exterior, mais de 4 mil pesquisadores agríco-las. Não apenas os seus, mas também os pes-quisadores das universidades e dos órgãos esta-duais de pesquisa. Tal programa, já menos ambi-cioso, continua até hoje.

São esses os heróis anônimos e as condi-ções decisivas que criaram a nova agricultura,de talhe tropical, que o Brasil hoje exibe para omundo. Uma cadeia complexa e sofisticada derelações, causas e efeitos, que pode ser sinteti-zada em uma única palavra: Conhecimento. Oumelhor ainda: Informação, que é o Conhecimen-to em movimento.

Estabeleceu-se então um ciclo virtuoso: osnovos conhecimentos, traduzidos como informa-ções e tecnologias, incorporam-se aos sistemasprodutivos agropecuário e florestal e produzemmais informações (respostas e questionamentos)que ensejam a produção de novos conhecimen-tos.

A nova agricultura tropical

Em 1985 já se vislumbrava que algo novo ediferente acontecia, em proporções inesperadas.O rebanho bovino, já com 127 milhões de cabe-ças, se sustentava já em 74 milhões de hectaresde pastagens melhoradas. A área de pastos na-tivas voltara aos níveis de 1970.

A oferta de leite crescera mais de 50%, che-

gando a 12 bilhões de litros, e a de carne cerca

de 70%, somando 3,4 milhões de ton. Mas isso

se deu mais em regiões não tradicionais: a pro-

dução de leite, quase dobrou no Sul e no Norte e

quase triplicou no Centro-Oeste. O tamanho do

rebanho duplicou no Norte e aumentou 60% do

Centro Oeste.

A área plantada com grãos também cresceu2,5 vezes no Centro-Oeste e 3,5 vezes no Norte.Sobretudo, nas culturas de milho e a soja quepermitem maior agregação de valor: a área decultivo da soja no Centro Oeste multiplicou-sequase 20 vezes nesse período.

Nesse período, o aumento da safra aindadependia da abertura de novas áreas, mas eram

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Revista Agricultura & Engenharia22 Especial - 35 anos Embrapa

mitiu que a irrigação chegasse redentora ao semi-árido nordestino, e com ela um enorme avançona produção de frutas e hortaliças e redução dosseus preços para os consumidores, fazendo doBrasil um dos grandes exportadores de frutas.

Dessas mudanças resultaram a ampliaçãoda oferta e variabilidade de produtos agrícolas ea estabilização do abastecimento. A estabilida-de na oferta ensejou o desenvolvimento da agro-indústria e da logística de armazenamento e dis-tribuição, reduzindo os problemas de sazonali-dade. Produtos raros como frutas de clima tem-perado e as castanhas e sucos da Amazônia e doNordeste tornaram-se acessíveis a qualquer ci-dadão.

Numa decorrência direta dessas mudanças,ampliou-se a variedade de itens que compõem adieta básica da população, antes restrita aos tra-dicionais arroz, feijão, carne ou ovos, farinha demandioca, e macarrão, mas hoje enriquecida pelaatual riqueza de frutas, legumes e verduras, lei-tes e carnes, de produtos pré-processados e deoutras fontes de carboidratos e proteínas.

A nova tecnologia agrícola criou um movi-mento de mobilidade social, transformando eminclusão social o que era ameaça de marginali-zação. Parte considerável dos então jovens agri-cultores sem acesso à terra, da década de 70,são hoje os eficientes produtores da nova geo-grafia da safra. Outra dimensão da democratiza-ção da nova agricultura é o acesso dos peque-nos agricultores à tecnologia gerada no própriopaís. A tecnologia importada estava restrita aosprodutores capitalizados.

A nova agricultura se notabiliza também porsua busca incessante por novas evoluções, paraagregar mais ganhos de qualidade e de eficiên-cia. Novas máquinas como detectores de prenhez,medidores de toucinho por ultra-som, tomógrafosde solos, raízes e de alimentos, e “chips” de ras-treamento, revolucionam a prática agrícola e aprática científica, pavimentando o caminho paraa agricultura de precisão e para a expansão dabase tecnológica à serviço da agricultura.

regiões não tradicionais, com cultivos não tradi-cionais: era fruto de um conhecimento novo. E aprodutividade média também crescia: de 1280para 1620 kg/ha. Tudo isso delineava uma novarealidade, que seria uma constante nas décadasa seguir.

De lá para cá, a contribuição mais impor-tante da Embrapa e instituições associadas nãoterá sido uma ou outra tecnologia isolada, mas ofato de que criou e adaptou, às condições do país,um conjunto de plantas, animais, práticas, má-quinas e manejos que formam uma agriculturatotalmente diferente daquilo que o Brasil prati-cava até o início dos anos 70.

Dentre os principais atributos dessa novaagricultura estão o elevado índice modernizaçãotecnológica dos sistemas de produção, as altastaxas de produtividade física e a competitividadedaí decorrente. Talvez o mais relevante deles sejaa nova geografia da produção, redesenhada a par-tir do aproveitamento dos Cerrados e do Semi-Árido Nordestino, como áreas nobres para pro-dução de grãos, carnes, fibras, hortaliças e fru-tas.

Conhecimentos e investimentos foram inte-riorizados, deslocando-se o eixo de produção ecriando riquezas e bem-estar em regiões desco-nhecidas e distantes como o Norte do Mato Gros-so, o Sul do Piauí ou o Vale do Açu. O que erasinônimo de atraso, tornou-se paradigma de efi-ciência produtiva.

A conquista dos cerrados, no Centro-Oestee fímbrias da região amazônica, é uma façanhaímpar da moderna agricultura e teria sido impos-sível sem o concurso da ciência. Foi preciso co-nhecer bem, nos seus detalhes, as relações en-tre o clima, solo, água, planta, animais e micro-organis-mos para que as práticas de irrigação ede uso de adubos, corretivos e micronutrientesfossem bem sucedidas, proporcionando 2,5 sa-fras de grãos por ano e o avanço tecnológico daprodução de açúcar e álcool.

Da mesma maneira, esse conhecimento per-

Capa

Para anunciar:

entre em contato com nosso departamento comercial - Fones: (11) 3849-1768 / 3849-2137

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 23

Defesa ambiental:

O pilar invisível

Não tão visível quanto os ganhos de produ-tividades e safras crescentes, mas particularmen-te crucial para a sustentabilidade do agronegó-cio, o arsenal de práticas e manejos de defesaambiental incorporados à tecnologia de produ-ção é um dos atributos mais relevantes da novaagricultura, e que retrata a riqueza de conheci-mentos da base tecnológica colocada à disposi-ção dos agricultores. Desde seus primeiros dias,a Embrapa buscou concluir o primeiro mapa desolos do Brasil, que evoluiu para o zoneamentoagroecológico e, depois, para o zoneamento agro-climático. Combinando dados de solos, vegeta-ção, e ocorrências climáticas para definir as re-giões de cultivo e de risco ambiental, o zonea-mento orienta políticas públicas importantescomo o seguro agrícola, reduzindo os riscos dosempreendimentos agrícolas.

O conhecimento amplo da microbiologia eda flora tropical tanto ajudou a prevenir desas-tres ecológicos quanto a operar a regeneraçãoambiental. De um lado, bactérias associadas àsoja e ao feijão, a árvores e à cana-de-açúcarreduziram a adubação nitrogenada, afastando orisco de nitrificação dos lençóis freáticos e ma-nanciais de água. De outro, têm operado arevegetação das lagoas de decantação de miné-rios, dos montes de escória siderúrgica e de gran-des voçorocas nas hidrelétricas e rodovias.

No plano de defesa das lavouras e doscriatórios, o monitoramento diário de pragas edoenças agrícolas, domésticas e exóticas tempermitido às instituições de pesquisa se anteci-parem aos ataques e contaminações e buscar omelhores métodos de profilaxia e controle des-sas pragas e doenças, evitando que se tornemendêmicas e causem prejuízos de monta.

O controle biológico dos gafanhotos, cigar-rinhas das pastagens, mosca das frutas, moscada carambola e mosca branca, e o bem sucedidomanejo integrado de pragas tais como lagartada soja, pulgão do trigo, vespa da madeira, mos-ca do chifre, lagarta do cartucho do milho e tra-ça do tomateiro, são exemplos de como o uso de

inimigos naturais combinados com defensivostêm contribuído para a redução do uso de agrotó-xicos. Além dos ganhos ambientais, registram-se ganhos na qualidade dos alimentos in natura,na saúde dos produtores, e na economia da pro-dução.

O uso de barragens genéticas, mediante se-leção de gens promotores de resistência a pra-gas e doenças, e a obtenção, por processosbiotecnológicos, de plantas livres de vírus sãoresponsáveis por importantes ganhos ambientaise econômicos nos cultivos de hortaliças, frutas,fibras e grãos. No caso do “bicudo” do algodoei-ro, variedades precoces romperam o ciclo de re-produção do inseto, propiciando o renascimentoda cotonicultura no Nordeste e garantindo assafras recordes dos Cerrados.

Todas essas práticas ecológicas incorpora-das aos sistemas de produção, além de outrascomo o plantio direto, aliadas aos ganhos de pro-dutividade, à mudança da geografia de produ-ção elevaram a competitividade de nichos da agri-cultura, produziram um efeito indireto valorosopara a questão ambiental: a relativa estabiliza-ção da área plantada, reduzindo o ímpeto da aber-tura de novas fronteiras agrícolas e liberandoáreas declivosas da Mata Atlântica e do litoralpara preservação ou projetos ecologicamentebenéficos.

O país está obtendo efeito similar com a re-cuperação de pastagens degradadas, atravésdos sistema de integração lavoura-pecuária, quepode atingir 40 milhões de hectares. Assim, aslavouras estão se expandindo em terras já incor-poradas, e a pecuária está compensando a per-da de área com um incrível aumento de produti-vidade e capacidade de suporte dos pastos.

Vigorassem hoje as taxas de produtividadedos anos 40, teríamos nos transformado em gran-des importadores líquidos de alimentos e devas-tado a maior parte das reservas florestais. Emoutras palavras, a nova agricultura tropical, cria-da pelos pesquisadores agrícolas e pelos agri-cultores brasileiros, estava conseguindo que oBrasil produzisse mais e melhor, e com custosambientais bem menores que os do passado.

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Revista Agricultura & Engenharia24 Especial - 35 anos Embrapa

A redenção do interior

A nova agricultura tropical está enriquecen-do o Brasil e melhorando a vida dos brasileiros.Em todos os rincões. No interior, a mudança foisendo percebida a olho nu. A princípio, foi cres-cendo o comércio de interesse direto da produ-ção: as sementes, os adubos, os defensivos,máquinas e implementos. Depois, vieram as ofi-cinas, as pequenas indústrias e agroindústrias,os agentes financeiros, a assistência técnica, osarmazéns, as empresas atacadistas e as expor-tadoras.

Por fim, os serviços que atendiam à famíliado agricultor: as escolas, os hospitais, os video-clubes, os servidores de informática, telefoniamóvel, internet, os supermercados, shoppings eempresas de lazer. Com eles, mais renda, maisempregos.

Os benefícios foram percebidos também nasgrandes cidades. A população do país foi desdeentão fortemente beneficiada pela queda dos pre-ços de produtos importantes para sua nutrição,como o arroz, derivados do milho e da soja, fei-jão, batata, carnes, ovos, leite, frutas e hortali-ças.

Assim, a democratização dos alimentos, pelaqual a massa de consumidores teve acesso a ali-mentos de preços compatíveis com o seu poderde compra, com reflexo importante na diminui-ção da fome entre os brasileiros, é uma das maisimportantes contribuições da modernização daagricultura ao bem-estar da sociedade brasilei-ra, porque significa a valorização real do saláriodo trabalhador.

O mundo hoje tem duas agriculturas, duassafras de igual importância tecnológica e econô-mica: a tradicional, das áreas de clima tempera-do, conhecida e consolidada; e a nova agricultu-ra, de base tropical, ainda restrita ao Brasil. Comelas, o mundo tem hoje possibilidades bem maisconcretas de enfrentar a fome endêmica, insta-lada exatamente na faixa tropical da AméricaLatina, da África e da Ásia.

O mercado mundial de alimentos e bens debase rural, e a competição nele estabelecida, semodifica todos os dias, demandando novas solu-ções tecnológicas. As fronteiras da ciência e osmeios de produção de conhecimentos se alargama cada dia. Tudo isso exige, da Embrapa e suasassociadas, constante atualização para enfren-tar os novos desafios tecnológicos e manter aagricultura tropical vigorosa e competitiva.

A Embrapa não ignora de que a manuten-ção do capital científico do Brasil, expresso numtime de profissionais bem treinados, motivadose equipados para trafegar nas fronteiras do co-nhecimento, é a única garantia de o país vai con-tinuar a contribuir para o crescimento do agrone-gócio tropical, em bases ambientalmente susten-tadas.

Com sua rede de laboratórios no Exterior,os Labex-EUA e Labex-Europa (e agora com a de-finição da instalação do Labex-Coréia, na Ásia),a Embrapa amalgama parcerias produtivas coma comunidade internacional de pesquisa agríco-la, para manter a capacidade brasileira de inves-tigar o futuro, antecipar as perguntas, e come-çar desde já a construir as respostas que o bemestar da humanidade vão requerer.

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 25

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Revista Agricultura & Engenharia26 Especial - 35 anos Embrapa

Confira abaixo os principaisfatos que marcaram ahistória da Embrapa:

26 de abril de 1973. No salão do BrasíliaPalace Hotel, é realizado o ato formal e solenede instalação da Embrapa. Na foto, da esquerdapara a direita, estão José Irineu Cabral, primeirodiretor-presidente da Empresa, Luiz FernandoCirne Lima, então Ministro da Agricultura, o Em-baixador da Alemanha no Brasil, o representan-te das Nações Unidas no país e o representanteda Agência Norte-Americana para o Desenvolvi-mento Internacional (USAID) em Brasília. Alémde José Irineu Cabral, a primeira diretoria da Embrapa era formada por Roberto MeirellesMiranda, Eliseu Roberto Andrade Alves e Edmundo da Fontoura Gastal.

Março de 1974. O então presidente da Re-pública, Ernesto Geisel (E), visita a Embrapa logonas primeiras semanas de seu governo. A sededa Empresa ainda funcionava no Palácio do De-senvolvimento, em Brasília. Após a reunião, dis-se ao ministro da Agricultura Alysson Paulinelli(C) e ao diretor-presidente José Irineu Cabral (D):“Não mudem a rota: o caminho é este que foitraçado”.

1974 – São inauguradas cinco Unidades Des-centralizadas da Embrapa: Centro de Tecnologia Agrí-cola e Alimentar (CTAA – Rio de Janeiro/RJ), CentroNacional de Pesquisa de Gado de Corte (EmbrapaGado de Corte – Campo Grande/MS), Centro Nacio-nal de Pesquisa de Gado de Leite (Embrapa Gadode Leite – Juiz de Fora/MG), Centro Nacional de Pes-quisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia(Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia –Brasília/DF) e Centro Nacional de Pesquisa Trigo(Embrapa Trigo – Passo Fundo/RS).

Capa

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 27

1975 – Em um único ano, a Empresa ganha nadamenos que 24 novos centros de pesquisa, dentre eles oCentro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados(Embrapa Cerrados – Planaltina/DF).

É instituído o Prêmio Frederico de Menezes Veiga, emhomenagem ao pesquisador amazonense que desenvolveunovas variedades de cana-de-açúcar e ajudou a colocar oBrasil numa posição de destaque como maior produtor mun-dial e um dos maiores exportadores de açúcar do mundo. Ovencedor da primeira edição foi o pesquisador UrsulinoVeloso, Ph.D, criador de variedades de algodão para o Nor-

deste, e Antônio Teixeira Vianna (Fazenda Canchin/SP).

1976 – Inaugurado o Centro de Pesquisa Agroflorestaldo Amapá (Embrapa Amapá – Macapá/AP)

1978 – A Empresa ganha o Centro Nacional de Pes-quisas de Florestas (Embrapa Florestas – Colombo/PR).

Em sua passagem pelo Brasil,o príncipe Charles, da Inglaterra, visita a Embrapa Cerrados(Planaltina – DF), que ainda se chamava Centro Nacional de Pes-quisa do Cerrados. Ele recebe, das mãos do então ministro daAgricultura, Alysson Paulinelli, e do presidente da Embrapa, J.Irineu Cabral, uma sela modelo brasileiro.

1981 – É inaugurado o Centro de Pesquisa Agroflorestal de Roraima (EmbrapaRoraima – Boa Vista/RR).

1982 – Fundado o Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento e Avaliação deImpacto Ambiental (Embrapa Meio Ambiente – Jaguariúna/SP).

1985 – O Centro de Tecnologia Agrícola e Alimentar(CTAA) ganha novas instalações físicas e se transforma emCentro Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindústria deAlimentos (Embrapa Agroindústria de Alimentos – Rio de Ja-neiro/RJ). Inaugurados o Centro Nacional de Pesquisa e De-senvolvimento em Informática para a Agricultura (EmbrapaInformática Agropecuária – Campinas/SP) e Centro Nacionalde Pesquisa e Desenvolvimento de InstrumentaçãoAgropecuária (Embrapa Instrumentação Agropecuária – SãoCarlos/SP).

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Revista Agricultura & Engenharia28 Especial - 35 anos Embrapa

30 de agosto de 1986. O então presidente daRepública José Sarney observa a técnica de bipartição deembriões acompanhado pelo presidente da EmbrapaOrmuz Rivaldo, pelo diretor Ali Saab e pelo pesquisadorda Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia RobertoDe Bem.

26 de abril de 1989. É inaugurado o edifício sede daEmbrapa, em Brasília. Até então, a sede da Empresa funcionavano Edifício Venâncio 2000, no coração da Capital da República.A nova sede foi inaugurada com a presença do então presidenteJosé Sarney, do ex-ministro da Agricultura Iris Rezende Macha-do, da diretoria da Embrapa e de dezenas de empregados. Naocasião, foi feita uma exposição de produtos pesquisados pelaEmpresa.

1989 – Inaugurado o Centro Nacional de Pesquisade Agrobiologia (Embrapa Agrobiologia – Seropédica/RJ).

1990 – Criado o Centro Nacional de Pesquisa deMonitoramento por Satélite (Embrapa Monitoramento porSatélite – Campinas/SP).

1991 – Inaugurado o Serviço de InformaçãoCientífica e Tecnológica (Embrapa InformaçãoTecnológica – Brasília/DF).

19/06/1996 – É instalada a Comissão Técni-ca Nacional de Biossegurança (CTNBio), encarrega-da de fiscalizar o desenvolvimento de pesquisasgenéticas e fazer análise de risco de todas as ativi-dades relacionadas à manutenção, uso e comerciali-

zação de organismos geneticamente modificados (transgênicos) por meio da engenha-ria genética. O Comitê é composto de 36 membros e a Embrapa é a instituição commaior número de representantes.

10/07/1997 – A Embrapa ganha um poderoso instrumento para a divulgação ecomercialização de seus livros: a Livraria Virtual, onde é possível adquirir, online, publi-cações da Empresa que abordam os mais variados temas do setor agropecuário.

Capa

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 29

04/08 – Aprovado o Decreto 2.291, que cria o Conselho de Administração (CA) daEmbrapa como órgão de deliberação superior. O Conselho conta com a participação da inici-ativa privada e da sociedade em geral, com mais transparência e menos corporativismo.

28/04/1998 –É assinado o convênio para a criação do Laboratório Vir-

tual nos Estados Unidos, o Labex EUA. Silvio Crestana é esco-lhido para ser o primeiro coordenador do Laboratório, que temo objetivo de ampliar a cooperação científica e tecnológica,explorando novas oportunidades em pesquisa e negócios agrí-colas entre os dois países.

1999 – É inaugurada a Embrapa Café (Brasília – DF).

O Sistema EmbrapaSat é utilizado pela primeira vez no País, permitindo a comunicaçãode voz, fax e videoconferência, via satélite, entre a Sede e as Unidades Descentralizadas daEmbrapa distribuídas em todo Brasil. Trata-se de uma das mais completas redes privadas de

telecomunicações via satélite do setor público.

17/03/2001 – Nasce a bezerra Vitória da Embrapa,o primeiro bovino resultante da clonagem por transfe-rência nuclear produzido na América Latina. O aprimora-mento da técnica abre a possibilidade de multiplicaçãode bovinos de elevado padrão genético pela clonagem apartir de indivíduos adultos.

2002 – É criado o Labex França, com o objetivo dedesenvolver pesquisas estratégicas para o agronegóciobrasileiro e acompanhar os avanços científicos etecnológicos na Europa na área de agricultura.

05/02/2004 – Nasce a bezerrinha Vitoriosa daEmbrapa, clone da Vitória. Ou seja: é clone de um clone.

30/05/2004 – Morre a bezerra “Vitoriosa daEmbrapa”, por choque cardiogênico causado por hi-pertensão arterial.

24/05/2006 – Criada a Embrapa Agroener-gia, com sede em Brasília, mas atuação nacional,por meio de uma rede formada por profissionaisdas Unidades descentralizadas da Embrapa e ou-tras instituições parceiras.

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Revista Agricultura & Engenharia30 Especial - 35 anos Embrapa

/11/2006 – Os pesquisadores Cláudio Bragantini, da Embrapa Arroz e Feijão (SantoAntônio de Goiás - GO) e Paulo Roberto Galerani, da Embrapa Soja (Londrina - PR), embar-cam para Acra, capital de Gana, onde é instalado o Escritório da Embrapa na África.

10/03/2008 – Com a instalação de um Escritório de Negócios na Venezuela, o Paísvizinho passa a contar com produtos e serviços desenvolvidos pela Embrapa. A iniciativaque segue o formato do trabalho desenvolvido em Gana, com foco na transferência detecnologia, formação de recursos humanos e atuação com organizações voltadas para odesenvolvimento sustentável da agricultura.

10/03/2008 – Brasil e Coréia do Sul assinam um memorando de entendimento. Oacordo de cooperação bilateral prevê a instalação de um laboratório virtual (Labex) naCoréia e, em contrapartida, a criação de um laboratório da Agência de DesenvolvimentoRural da Coréia (RDA), nos mesmos moldes do Labex, no Brasil. O foco principal do projetoé a troca de experiências. Enquanto o País asiático poderá se beneficiar do conhecimentobrasileiro sobre biocombustíveis, a Embrapa aproveitará a vasta experiência dos coreanosna área de nanotecnologia aplicada à agricultura.

Paulo Roberto Galerani

Cláudio Bragantini,

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 31

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Revista Agricultura & Engenharia32 Especial - 35 anos Embrapa

D Depois de chegar aos Estados Unidos, França, Holanda, África e Venezuela, a EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se prepara agora para alcançar mais um con-tinente: a Ásia. China, Índia, Japão e Coréia do Sul estão no páreo para receber o mais novoLaboratório Virtual da Empresa (Labex). A possibilidade de estreitar relações com os paísesasiáticos anima o diretor-presidente da Embrapa, Silvio Crestana.

“A Ásia é a próxima fronteira a ser explorada por nós. São parceiros muito interessantespara o avanço de temas complexos de pesquisa que devem conformar a base científica datecnologia do agronegócio do futuro. Além disso, existe interesse dos países desse continen-te em conhecer as tecnologias que nós desenvolvemos para o mundo tropical”, destacaCrestana. O nome do país escolhido para sediar o Labex Ásia deve ser divulgado ainda esteano.

A presença internacional da Embrapa segue modelos de ação diferentes em cada umadas regiões do planeta. Os Labex, por exemplo, são laboratórios de prospecção e parceriatecnológica com países do Hemisfério Norte. O primeiro foi instalado em 1998, em Washing-ton, fruto de uma parceria com o Agriculture Research Service (ARS), com o objetivo de acom-panhar pesquisas nas áreas de biotecnologia, nanotecnologia, mudanças climáticas,agroenergia e bioenergia.

Na Europa, o Labex compartilha a rede de pesquisas do pólo de ciência e tecnologia daAgrópolis, em Montpelier, e na Holanda a Embrapa trabalha com a Universidade de Wageningenem investigações sobre biologia avançada e genômica. Assim, a relação da Empresa com osparceiros do Hemisfério Norte é de troca. “Temos liderança na agricultura tropical e eles nade clima temperado. Conseguimos criar um modelo de equilíbrio”, explica Crestana. Essetambém deve ser o modelo do Labex Ásia. “Nesses países há instituições de pesquisa conso-lidadas, com pessoal muito qualificado. Dá para ter política de cooperação”, justifica o dire-tor-presidente da Embrapa.

Embrapaamplia suas fronteiras

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 33

Transferência

Já no Hemisfério Sul o modelo é outro. “Narelação Sul-Sul nossa posição é de liderança,uma vez que o Brasil tem hegemonia científica etecnológica em agricultura tropical. É mais umprojeto de transferência de tecnologia. Em al-guns lugares, como no caso do Haiti, a relação éde cooperação humanitária”, comenta Crestana.A Embrapa atua em parceria com o governohaitiano para levar tecnologias para a cooperati-va de produtores AFÈ NÈG COMBIT (ANC), queabrange 80 comunidades, num total de aproxi-madamente 4 mil agricultores.

Em maio, a Embrapa se instalou na Vene-zuela com o objetivo de transferir tecnologia ver-de-e-amarela para o vizinho sul-americano, queimporta 75% do alimento consumido pela popu-lação. Para reduzir essa dependência, o governovenezuelano quer aumentar a produção de leite,ovos e frango com a ajuda da estatal brasileira.“Estamos transferindo tecnologia de produção demilho, soja e forrageiras, além da nossa experi-ência em genética”, ressalta o diretor-presiden-te. O compromisso envolve parceria com o Insti-

tuto Nacional de Investigaciones Agrícolas e é oembrião de um projeto bem mais ambicioso: aEmbrapa América Latina.

Na África, a Embrapa mantém um grupo depesquisadores desde 2006 na cidade de Acra,capital de Gana. A Empresa desenvolve no conti-nente africano projetos de uso sustentável de re-cursos naturais, sistemas produtivos e proteçãosanitária de plantas e animais, fruticultura ehorti-cultura tropical, zoneamento agrícola,biotecnolo-gia e troca de material genético, en-tre outros. Os países africanos respondem atual-mente por 60% das solicitações de assistênciatécnica e de desenvolvimento de recursos huma-nos à Embrapa.

Mas a estatal brasileira também espera co-lher alguns frutos dessa parceria no futuro. “Emdecorrência das possíveis mudanças que ocorre-rão no sistema produtivo agropecuário de mui-tos países no continente africano, espera-se aabertura de oportunidades para estabelecimen-to de novos mercados aos produtos do agronegó-cio brasileiro”, diz Elísio Contini, chefe da Asses-soria de Relações Internacionais da Embrapa.

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Revista Agricultura & Engenharia34 Especial - 35 anos Embrapa

O maravilhoso mundo da

informação

Imagine um banco de dados com mais de10 mil documentos – entre livros, folhetos, te-ses, artigos de periódicos, trabalhos apresenta-dos em eventos, documentos eletrônicos, siste-mas de produção, etc –, todos disponíveis on-line, sem nenhum custo. Pode parecer utopia, masessa Bases de Dados da Pesquisa Agropecuáriajá existe.

A tecnologia, desenvolvida pela EmbrapaInformática Agropecuária (Campinas – SP), pos-sibilita o acesso às informações de forma rápidae eficiente, com apresentação visual dos resul-tados bastante inovadora. Nessa base de dados,encontra-se nada menos do que toda a literaturatécnico-científica existente nas bibliotecas dasUnidades de pesquisa da Embrapa em todo terri-tório nacional, bem como o acervo documentalda Empresa.

As bases são atualizadas toda semana, paralevar o conhecimento à sociedade de forma rápi-da e segura. O projeto gráfico do portal permiteao visitante encontrar as informações desejadascom facilidade. “O usuário encontra todas as in-formações em apenas uma página”, explica umdos criadores do sistema, o pesquisador MarcosCezar Visoli.

O visitante também pode acessar todos osregistros disponíveis, relacionados ao tema de-sejado. Outra vantagem do portal refere-se àbusca avançada, que oferece ferramentas depesquisa, como busca por ano ou período, idio-ma, tipo e origem da publicação, além da possi-bilidade de realizar a pesquisa em unidade es-pecífica da Embrapa.

Diagnóstico do futuro

Um computador capaz de diagnosticar do-enças em plantas pode parecer coisa de ficçãocientífica, mas acredite: já existe um sistemacapaz de fazer esse trabalho. É o Diagnose Virtu-al, um software que já faz o diagnóstico de doen-ças do milho e passará a detectar doenças nofeijão, na soja, no trigo, no tomate e no pimen-tão. Futuramente, o sistema será ampliado pararealizar diagnósticos em sanidade animal.

O sistema, desenvolvido pela EmbrapaInformática Agropecuária (Campinas – SP), pos-sui um módulo acessado por especialistas, parainserção de dados relacionados a doenças dasplantas estudadas. Outro módulo está disponí-vel para o produtor, em que este registra os sin-tomas detectados em sua cultura, respondendoquestões colocadas pelo software. Por exemplo,em que parte da planta a doença se manifesta,qual é a cor e o formato da lesão etc. Dessa for-ma, é possível detectar o tipo de doença e possí-veis medidas de controle.

“Esse tipo de tecnologia pode colaborar coma agricultura sustentável, diminuindo o uso defungicidas e herbicidas”, diz a pesquisadora Sil-via Massruhá, líder do projeto. “O produtor quetem as informações de possíveis doenças na plan-tação pode tomar uma ação preventiva em vezde uma corretiva, o que contribui com a seguran-ça alimentar da sociedade em geral”, afirma.

O projeto de pesquisa tem como parceirosno seu desenvolvimento a Embrapa Arroz e Fei-jão (Santo Antônio de Goiás, GO), Embrapa Mi-lho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), Embrapa Hortali-ças (Brasília), Embrapa Soja (Londrina, PR),Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), Embrapa MeioAmbiente (Jaguariúna, SP), Embrapa Instrumenta-ção Agropecuária (São Carlos, SP) e EmbrapaTabuleiros Costeiros (Aracaju).

Tecnologia de ponta,

chova ou faça sol

Para saber se vai chover ou fazer sol, o agri-cultor costuma olhar para o céu e observar o com-portamento dos bichos. Mas hoje em dia, além

A Base de Dados fica no endereço eletrôni-co http://www.bdpa.cnptia.embrapa.br/

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 35

Cerrado ainda possui boa

cobertura nativa

O Cerrado brasileiro mantém 61% de vege-tação nativa, sendo 13% de pastagens nativas e48% de cobertura vegetal remanescentes. É oque mostra o projeto “Mapeamento de remanes-centes de cobertura vegetal natural do Cerrado”,da Embrapa Cerrados (Planaltina – DF). Ao todo,foram mapeados 204,7 milhões de hectares pormeio de 114 cenas do satélite Landsat.

O mapeamento indica os tipos de interfe-rência dominantes no Cerrado brasileiro. Porexemplo: em Minas Gerais, prevalece a pasta-gem; já em solo paulista, a cultura agrícola. Se-gundo o pesquisador Edson Sano, coordenadordo estudo, o objetivo do trabalho é evitar queoutras áreas sejam devastadas “por meio do de-senvolvimento de tecnologias como o zonea-mento agrícola e alternativas de manejo do soloque permitam o aumento da produção de alimen-tos sem novos desmatamentos”.

Cada cena do satélite cobre 185 km2 e pos-sui precisão de mapeamento 33 vezes maior doque as utilizadas em estudos anteriores. Omapeamento do Cerrado via satélite dividiu oBioma em 172 cartas planimétricas. O estudoaponta também a área preservada em cada umdos quadrantes, assim como a porcentagem devegetação nativa por bacia hidrográfica e porestados. No Distrito Federal, por exemplo, o es-tudo aponta que 51% da cobertura vegetal énativa.

O estudo custou R$ 700 mil, financiadospelo Ministério do Meio Ambiente e Banco Mun-dial, e teve a participação de 14 bolsistas doCNPq (Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico) e pesquisadores daEmbrapa Cerrados, Universidade Federal deUberlândia e Universidade Federal de Goiás.

da sabedoria popular, ele já conta com um recur-so pra lá de moderno: a internet. Com o Sistemade Monitoramento Agrometeorológico (Agritem-po), qualquer pessoa pode acompanhar em tem-po real, por meio da rede mundial de computa-dores, as informações meteorológicas e agrome-teorológicas de diversos municípios e estadosbrasileiros.

Desenvolvida pela Embrapa InformáticaAgropecuária (São Carlos – SP), essa ferramen-ta oficial do Ministério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento possibilita, por exemplo, obterrespostas muito mais rápidas para as consultasde monitoramento agrometeorológico das cultu-ras contempladas pelo zoneamento agrícola.Entre os vários produtos que o Agritempo ofere-ce pela internet, há sistemas de alerta para do-enças e identificação de áreas atingidas poreventos climáticos extremos, como temporais,geadas, seca, veranicos. O sistema gera diaria-mente mais de 800 mapas referentes a estia-gem, evapotranspiração, dias com chuva paratodo o Brasil, entre outros.

Apresenta, ainda, mapas de índice de seca,comparando longos períodos, com análise deséries históricas e mapas de índice de vegeta-ção, que permitem acompanhar grandes safras,como produção de soja e de cana-de-açúcar. Tam-bém possui mapas de solo para os estados deSão Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito San-to, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Goiás, Distri-to Federal e Rio Grande do Sul.

Atualmente, o Agritempo é alimentado por1.280 estações espalhadas pelo País, além de11.200 estações virtuais, as quais utilizam ima-gens do satélite TRMM da Nasa – a agência es-pacial norte-americana, para estimar dados cli-máticos, informa o analista da Embrapa SílvioEvangelista. Os serviços oferecidos pelo Agritem-

po contam com a parceria do Centro de Pesqui-sas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas àAgricultura – Cepagri, da Universidade Estadualde Campinas, além de outras 30 instituiçõesnacionais e de 11 centros de pesquisa daEmbrapa.

Para acessar o sistema, basta ir ao endere-ço eletrônico http://www.agritempo.gov.br/

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Revista Agricultura & Engenharia36 Especial - 35 anos Embrapa

Qualidade e segurança dos alimentos na ponta do dedo

No que depender do Projeto Além do Rótulo, num futuro bem próximo, com apenas um toquena tela de um monitor, qualquer consumidor poderá ter acesso às principais informações sobrediversos tipos de alimento. Ao encostar a ponta do dedo na “Telinha do Consumidor”, é possíveldescobrir as propriedades nutricionais, recomendações, restrições, critérios de escolha, dicas dearmazenamento e preparo de 150 produtos, entre frutas, legumes, verduras e condimentos.

A “Telinha do Consumidor” é um totem desenvolvido pela Embrapa Agroindústria de Alimentos(Rio de Janeiro – RJ) que em breve estará nos supermercados, ao alcance de todos que buscaminformações sobre qualidade e segurança dos alimentos. O Projeto Além do Rótulo tem potencialpara atingir mais de 50 mil supermercados em todo o Brasil, mas seu conteúdo também já pode seracessado pela internet, no endereço www.alemdorotulo.com.br

“Saber alimentar-se bem é um desafio para a população que está sendo constantemente bom-bardeada por propaganda consumista. Além disso, vemos que a maioria das pessoas não lê rótulos,se lê, não entende, e, se entende, tem dificuldade para incorporar a informação ao cotidiano. Orótulo tem espaço, conteúdo e linguagem limitados”, explica Fénelon do Nascimento Neto, pesqui-sador da Embrapa Agroindústria de Alimentos.

Um grupo de especialistas ligados a nutrição, comunicação e informática desenvolveu o siste-ma de navegação e o conteúdo que incorpora saberes além dos existentes no rótulo e ligados asaúde, nutrição e pós-colheita de alimentos. Se o consumidor não encontrar o que quer, pode escre-ver para os especialistas e terá a resposta personalizada por e-mail. A nova informação será incor-porada à base de dados enriquecendo o sistema a partir das demandas do próprio consumidor.

O projeto Além do Rótulo conta com a parceria da Embrapa Informática Agropecuária (Campi-nas – SP), Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Católica de Brasília. Novos parcei-ros estão sendo contatados para execução da Fase 2, que terá início em 2009, com a introdução deoutra centena de alimentos in natura e processados e informações sobre sistemas de produção,políticas de saúde pública e meio ambiente.

Pó de café e arroz vira barrinha com sabor de café e chocolate

A Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro-RJ) desenvolveu um processo que com-bina o pó de café e o arroz para produzir uma farinha mista que entra na composição de uma barrinhacom sabor de café e chocolate. O produto é uma alternativa para a indústria alimentícia que quercolocar o sabor de café em novos produtos numa perspectiva de expansão de mercados.

A farinha, composta de 30% de pó de café e 70% de arroz, é obtida graças a um processo deextrusão que funde as duas matérias-primas num só produto, gerando a farinha mista e instantâneacom sabor café e as propriedades nutritivas dos alimentos que lhe deram origem como óleos essen-ciais, fibras e proteína.

“Depois da extrusão do café e do arroz, o processo é bem simples e basta adicionar à farinhamista ingredientes como açúcar, mel, leite e chocolate. A etapa seguinte é o cozimento até que amassa desprenda-se do fundo do recipiente. Então, a massa é colocada numa superfície lisa e,depois de esfriada, cortada em pedaços e embalada”, explica o pesquisador José Luis Ascheri, daEmbrapa Agroindústria de Alimentos.

Alternativas como essa, levam o sabor do café a outros produtos e isso contribui para ampliaros negócios que envolvem a cultura do café. Hoje, a bebida de café, feita de grão torrado e moído,é responsável pelo consumo de mais de 400 bilhões de xícaras de café em todo o mundo.

Mas empresas ligadas ao setor estão preocupadas com o mercado futuro, principalmente nacamada jovem da população, e o desenvolvimento de produtos derivados de café amplia as oportu-nidades de negócio, além de ofertar ao consumidor alimentos mais saborosos e nutritivos.

Serviços Embrapa

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Revista Agricultura & Engenharia38 Especial - 35 anos Embrapa

O andamento e os impactos decorrentes dediversas barragens, estradas, gasodutos, viasférreas, projetos de irrigação, terminais portuá-rios, usinas de biodiesel e obras de saneamen-to, realizadas pelo Programa de Aceleração doCrescimento (PAC), serão monitorados, por meiode satélite em todo o território nacional.

Como os satélites representam uma ferra-menta operacional confiável e segura para re-tratar, de forma permanente e objetiva, a situa-ção de cada obra, esse trabalho ampliará a ca-pacidade do Governo Federal de fiscalizar e acom-panhar a realização efetiva do programa. Aestruturação e a operação do sistema serão fei-tas pela Embrapa Monitoramento por Satélite(Campinas – SP).

O sistema possui um protótipo operacionalconstruído em função das demandas da Casa Civilda Presidência da República para um grupo deobras prioritárias. Serão utilizados diversos sa-télites (europeus, sino-brasileiros, norte-america-

Além de representar uma importante fontede custos para a indústria têxtil, o tingimento detecidos resulta na produção de resíduos nocivosao meio ambiente e em um elevado consumo derecursos naturais, principalmente água. Mas ese o algodão já saísse da lavoura colorido? Coi-sa de cientista “maluco”? Não para os pesquisa-dores da Embrapa Algodão (Campina Grande –PB), que desde 2000 já desenvolveram quatrocultivares de algodão colorido: BRS 200 Marrom,BRS Verde, BRS Safira e BRS Rubi.

Todas foram obtidas por meio de métodosde melhoramento genético convencionais e suapluma tem tido crescente demanda no mercado.Além de adaptadas às fiações modernas, as cul-tivares de algodão colorido da Embrapa reduzemos custos de produção para a indústria têxtil e olançamento de efluentes químicos e tóxicos, pordispensarem o uso de corantes. Na Paraíba, aexploração do algodão colorido está a pleno va-por. Para se ter uma idéia, com ele os produto-

nos, canadenses e israelenses) em função da fre-qüência e do detalhamento das observaçõesrequeridas por cada obra, dada sua natureza, seucronograma de execução e sua localização geo-gráfica. Foram testados satélites que produzemimagens com detalhes inferiores a um metro eserão empregados com maior ênfase nesse sis-tema, para garantir um monitoramento mais pre-ciso.

Para atender as demandas específicas decada caso, o sistema terá subsistemas demonitoramento por satélite das obras instaladostambém na Presidência da República, na CasaCivil, no Gabinete de Segurança Institucional e,futuramente, no Ministério do Planejamento. Aproposta inclui ainda treinamentos de pessoalda Presidência da República no uso dessas fer-ramentas, apoio no desenvolvimento desubsistemas locais, geração de produtos comográficos, mapas e relatórios regulares sobre aevolução das obras do PAC monitoradas.

res ganham até o dobro do valor pago pelo algo-dão branco convencional.

Mas além de beneficiar o pequeno produ-tor, a cadeia produtiva do algodão colorido en-volve várias pessoas ligadas a cooperativas as-sociadas a uma empresa que fabrica roupas eoutros artigos com o produto, como enfeites eadereços. O maior consumo de produtos feitoscom algodão colorido é nacional, mas já há sig-nificativa exportação do produto para vários pa-íses da Europa e para o Japão. É tecnologia ver-de-e-amarela ganhando o mundo.

De olho no PAC

Algodão verde-e-amarelo,

literalmente

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 39

Minimizar o uso de produtos químicos nocontrole de parasitas em animais, de modo a di-minuir o impacto de resíduos no meio ambientee nos produtos alimentícios de origem animal,como leite, carne e derivados. Esse é o objetivoda nova linha de pesquisa implantada naEmbrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP), so-bre controle alternativo de parasitas por meio demedicamentos feitos a partir de plantas, afitoterapia.

Os estudos têm como objetivo controlar osparasitas animais com a utilização do princípioativo das plantas, isoladamente ou associados aformulações químicas. Em alguns casos, a plan-ta pode ser utilizada diretamente como umvermífugo natural. Por isso, pode ser facilmenteadotada pelos agricultores e pecuaristas, famili-ares ou capitalistas.

Um dos fatores positivos é que a fitoterapiaelimina ou, ao menos, reduz, o uso de produtosquímicos, com efeitos positivos para o meio am-biente e também para a qualidade de alimentos,como leite e derivados e carnes bovina e ovina.Outras vantagens são a redução de custos parao pecuarista, além de maior vida útil do medica-mento, pois a resistência do parasita é menor.Nos últimos anos os parasitas se tornaram maisresistentes ao princípios ativos (químicos).

Entre os principais problemas da fitoterapiaestá a variação do princípio ativo das plantas,de acordo com o local, o solo e o clima. Nem sem-pre uma planta que apresenta ótimos resultadosna Região Sul, terá o mesmo desempenho noNorte do País. “Por isso, é preciso a realizaçãode pesquisas regionalizadas e controle de quali-dade por meio de técnicas de análise do materi-al vegetal”, opina a pesquisadora.

Em função da rápida aquisição de resistên-cia, por parte dos parasitas, aos produtos quími-cos comerciais, a fitoterapia tem sido amplamen-te estudada na atualidade. Os experimentos sãorealizados com o apoio da fitoquímica e toxico-logia, para conhecimento das substâncias ativas

das plantas e seus efeitos.Atualmente, Ana Carolina estuda um produ-

to feito à base de eucalipto. Os resultados nolaboratório foram de grande eficácia e os resul-tados em bovinos tratados indicaram efeito acampo também. O novo fitoterápico é feito a partirdo óleo de eucalipto, que é comprado diretamen-te de empresas especializadas, algumas produ-zindo em larga escala. “Essa foi uma forma queencontramos para fugir um pouco da dependên-cia de fatores climáticos, de solo, entre outrascoisas”, diz ela. A intenção agora é aprimorar oproduto com o apoio da tecnologia disponível emempresas fabricantes de medicamentos veteri-nários. Dessa forma, um produto fitoterápicocomercial poderia ser disponibilizado aos produ-tores.

Medicamentos naturais mostram eficácia no combate

a parasitas de bovinos

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Revista Agricultura & Engenharia40 Especial - 35 anos Embrapa

MModerno, eficiente e competitivo, o agrone-

gócio brasileiro é uma atividade próspera, segu-ra e rentável. Com um clima diversificado, chu-vas regulares, energia solar abundante e quase13% de toda a água doce disponível no planeta,o Brasil tem 388 milhões de hectares de terrasagricultáveis férteis e de alta produtividade, dosquais 90 milhões ainda não foram explorados.Esses fatores fazem do país um lugar de voca-ção natural para a agropecuária e todos os ne-gócios relacionados à suas cadeias produtivas.O agronegócio é hoje a principal locomotiva daeconomia brasileira e responde por um em cadatrês reais gerados no país.

O agronegócio é responsável por 33% doProduto Interno Bruto (PIB), 42% das exportaçõestotais e 37% dos empregos brasileiros. Estima-se que o PIB do setor chegue a US$ 180,2 bi-lhões em 2004, contra US$ 165,5 bilhões alcan-çados no ano passado. Entre 1998 e 2003, ataxa de crescimento do PIB agropecuário foi de4,67% ao ano. No ano passado, as vendas exter-nas de produtos agropecuários renderam ao Bra-sil US$ 36 bilhões, com superávit de US$ 25,8bilhões.

Nos últimos anos, poucos países tiveram umcrescimento tão expressivo no comércio inter-

Uma Oportunidade de Investimentos

Agronegócio Brasileiro:

Agronegócio

nacional do agronegócio quanto o Brasil. Os nú-meros comprovam: em 1993, as exportações dosetor eram de US$ 15,94 bilhões, com um supe-rávit de US$ 11,7 bilhões. Em dez anos, o paísdobrou o faturamento com as vendas externasde produtos agropecuários e teve um crescimen-to superior a 100% no saldo comercial. Essesresultados levaram a Conferência das NaçõesUnidas para o Comércio e Desenvolvimento(Unctad) a prever que o país será o maior produ-tor mundial de alimentos na próxima década.

O Brasil é um dos líderes mundiais na pro-dução e exportação de vários produtos agrope-cuários. É o primeiro produtor e exportador decafé, açúcar, álcool e sucos de frutas. Além dis-so, lidera o ranking das vendas externas de soja,carne bovina, carne de frango, tabaco, couro ecalçados de couro. As projeções indicam que opaís também será, em pouco tempo, o principalpólo mundial de produção de algodão e bioco-mbustíveis, feitos a partir de cana-de-açúcar eóleos vegetais. Milho, arroz, frutas frescas, ca-cau, castanhas, nozes, além de suínos e pesca-dos, são destaques no agronegócio brasileiro, queemprega atualmente 17,7 milhões de trabalha-dores somente no campo.

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Modernização

O bom desempenho das exportações do se-tor e a oferta crescente de empregos na cadeiaprodutiva não podem ser atribuídos apenas à vo-cação agropecuária brasileira. O desenvolvimen-to científico-tecnológico e a modernização da ati-vidade rural, obtidos por intermédio de pesqui-sas e da expansão da indústria de máquinas eimplementos, contribuíram igualmente paratransformar o país numa das mais respeitáveisplataformas mundiais do agronegócio. A adoçãode programas de sanidade animal e vegetal, ga-rantindo a produção de alimentos saudáveis, tam-bém ajudou o país a alcançar essa condição.

É evidente, entretanto, que o clima privile-giado, o solo fértil, a disponibilidade de água e ainigualável biodiversidade, além da mão-de-obraqualificada, dão ao Brasil uma condição singularpara o desenvolvimento da agropecuária e de to-das as demais atividades relacionadas ao agrone-gócio. O país é um dos poucos do mundo onde épossível plantar e criar animais em áreas tempe-radas e tropicais. Favorecida pela natureza, aagricultura brasileira pode obter até duas safrasanuais de grãos, enquanto a pecuária se esten-de dos campos do Sul ao Pantanal de Mato Gros-so - a maior planície inundável do planeta.

Para fortalecer essas vantagens competiti-vas, tornando o agronegócio um investimentoainda mais atrativo, o governo tem modernizadoa Política Agrícola. A espinha dorsal desse pro-cesso é o seguro rural. Indispensável à garantiade renda do produtor, ele também é essencial àgeração de empregos no campo, ao avançotecnológico e à efetiva incorporação do setor aomercado de capitais.

Outros modernos instrumentos de PolíticaAgrícola, como o Fundo de Investimento do Agro-negócio (FIA), o Certificado de Depósito Agrope-cuário e o Warrant Agropecuário, têm sido de-senvolvidos e aperfeiçoados pelo Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento. Com isso,o governo busca atrair parte do patrimônio demais de US$ 165 bilhões dos fundos de investi-mentos ao financiamento das atividades agro-pecuárias para impulsionar ainda mais o setorpor meio do crédito rural.

O governo acaba de modernizar os contra-tos de opção de venda, trazendo o setor privadopara dentro das políticas públicas do setor. Des-

sa forma, aumenta o potencial de alavancagemdos recursos públicos aplicados na agropecuáriae garante ainda mais liberdade ao setor privado.Essas mudanças certamente impulsionarão ain-da mais o agronegócio, responsável pela totali-dade do superávit da balança comercial brasilei-ra nos últimos anos.

Com uma população superior a 170 milhões,o Brasil tem um dos maiores mercados consumi-dores do mundo. Hoje, cerca de 80% da produ-ção brasileira de alimentos é consumida inter-namente e apenas 20% são embarcados paramais de 209 países. Em 2003, o Brasil vendeumais de 1.800 diferentes produtos para merca-dos estrangeiros. Além dos importadores tradi-cionais, como Europa, Estados Unidos e os paí-ses do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai),o Brasil tem ampliado as vendas dos produtosdo seu agronegócio aos mercados da Ásia, Ori-ente Médio e África.

Superprodução

O desempenho da agropecuária brasileiraé incomparável. Nenhum outro país do mundoteve um crescimento tão expressivo na agrope-cuária quanto o Brasil nos últimos anos. A safrade grãos, por exemplo, saltou de 57,8 milhõesde toneladas para 123,2 milhões de toneladasentre as safras 1990/1991 e 2002/2003. Nes-se período, a evolução da pecuária também foiinvejável, com destaque para a avicultura, cujaprodução aumentou 234% - ou incríveis 16,7%ao ano -, passando de 2,3 milhões para 7,8 mi-lhões de toneladas. Não é por acaso, portanto,que o setor, dono de uma alta produtividade, ex-celente nível sanitário e alta tecnologia, tem atra-ído cada vez mais investimentos internacionaisnos últimos anos.

De 1990 para cá, a produção de grãos noBrasil cresceu 131%. Nesse período, a área plan-tada ampliou-se apenas 16,1%, passando de36,8 milhões para 43,9 milhões de hectares. Aabundância foi obtida, portanto, graças ao au-mento de 85,5% no índice de produtividade nes-sas últimas 13 safras. O rendimento das princi-pais culturas agrícolas saltou de 1,5 toneladapara 2,8 toneladas por hectare. Por trás desseavanço, estão as digitais da pesquisa agropecuá-ria, responsável pelo desenvolvimento de 529novos cultivares adaptados especificamente a

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cada clima e solo nas principais regiões produ-toras do Brasil. Pesaram também o emprego detécnicas mais avançadas e ambientalmente cor-retas, como o plantio direto na palha, e o traba-lho de correção de solos e recuperação de áreasdegradadas de pastagens e outras culturas.

Com pelo menos 90 milhões de terrasagricultáveis ainda não utilizadas, o Brasil podeaumentar em, no mínimo, três vezes sua atualprodução de grãos, saltando dos atuais 123,2milhões para 367,2 milhões de toneladas. Essevolume, porém, poderá ser ainda maior, conside-rando-se que 30% dos 220 milhões de hectareshoje ocupados por pastagens devem ser incor-porados à produção agrícola em função do ex-pressivo aumento da produtividade na pecuária.O país tem condições de chegar facilmente a umaárea plantada de 140 milhões de hectares, coma expansão da fronteira agrícola no Centro-Oes-te e no Nordeste. Tudo isso sem causar qualquerimpacto à Amazônia e em total sintonia e respei-to à legislação ambiental.

PecuáriaA exemplo da agricultura, a pecuária regis-

tra um crescimento espetacular. De 1990 a 2003,a produção de carne bovina aumentou 85,2% -ou 6,1% ao ano -, passando de 4,1 milhões para7,6 milhões de toneladas. Nesse período, a suino-cultura cresceu 173,3%, ou 12,4% ao ano. A pro-dução de carne suína saltou de 1 milhão para2,87 milhões de toneladas. O complexo carnes,que inclui outros tipos do produto, também in-veste em pesquisa, por intermédio do melhora-

mento genético, e na certificação de origem doproduto. Tudo para oferecer aos consumidoresalimentos seguros e de alta qualidade, como ochamado “boi verde”, um animal alimentado ape-nas com pastagem, muito diferente dos sistemasmantidos em outros países produtores.

Dono do maior rebanho bovino comercial domundo, o Brasil tem mais de 83% das suas 183milhões de cabeças em áreas livres da febreaftosa, uma doença altamente contagiosa e eco-nomicamente devastadora. O país também é con-siderado pelo Comitê Veterinário da União Euro-péia como “área de risco desprezível” para a ocor-rência do chamado mal da “vaca louca”, a doen-ça que dizimou populações inteiras na Europa echegou recentemente ao continente americano.

Ao mesmo tempo, a maior parte do territó-rio brasileiro está livre de doenças como “New-castle”, que pode exterminar plantéis inteiros defrangos e até mesmo contagiar o homem, e apeste suína clássica, letal para animais jovens.O país também não registra qualquer caso deinfluenza aviária, a chamada “gripe do frango”,um vírus altamente contagioso que tem infectadoaves na Ásia, América do Norte e Europa. No se-tor avícola, o país é o segundo maior do mundo.Em suínos, tem a terceira maior população doglobo.

Álcool e Açúcar

Introduzida no Brasil para consolidar a co-lonização portuguesa e, ao mesmo tempo, ga-rantir grandes lucros à metrópole, a cana-de-açú-car tornou-se um dos produtos mais importantes

Agronegócio

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 43

do agronegócio brasileiro. Do auge durante o cha-mado ciclo da cana (séculos XVI e XVII) aos diasde hoje, a cultura manteve uma forte participa-ção na economia nacional. O país é o maior pro-dutor mundial de cana, com uma área plantadade 5,4 milhões de hectares e uma safra anual decerca de 354 milhões de toneladas. Em conse-qüência disso, também é, naturalmente, o maisimportante produtor de açúcar e de álcool.

Em 2003, segundo dados consolidados pelaSecretaria de Produção e Comercialização (SPC),as exportações de açúcar atingiram 12,9 milhõesde toneladas, com receitas de US$ 2,1 bilhões,um resultado 2,2% superior ao registrado em2002. Os principais destinos do nosso produtoforam Rússia, Nigéria, Emirados Árabes Unidos,Canadá e Egito. A produção em 2003/2004 che-gou a 24,8 milhões de toneladas de açúcar.

A cana também é matéria-prima para extra-ção de álcool. Cada tonelada de cana tem o po-tencial energético de 1,2 barril de petróleo. Atu-almente, o álcool movimenta 15% da frotaautomotiva do país. Em 2003/20004, o Brasilproduziu 14,4 bilhões de litros de álcool. No anopassado, o volume de embarques bateu em 800milhões de litros.

Combustível não-poluente, o álcool é umproduto que cada vez mais interessa às naçõesinteressadas em reduzir a emissão de gases no-civos à saúde humana. Países como a China e oJapão já manifestaram intenção de importar ocombustível. A perspectiva é de que as exporta-ções de álcool dêem um salto espetacular nospróximos anos.

CaféDa Etiópia, no

nordeste da África,ao Brasil, o caféfez um longo per-curso. Primeiro, mi-grou para a Penín-sula Arábica, entre600 e 700 d.C, con-quistando mourose cristãos. Durantea Idade Média, che-gou à Europa, onde era conhecido como a “vinhada Arábia”. No início do século XVIII, as primei-ras sementes do produto chegaram ao territóriobrasileiro trazidas da Guiana Francesa. Depois

de tentativas frustradas de desenvolver a cultu-ra no Norte, a cafeicultura se fixou no Sudestedo país e, mais tarde, expandiu-se por Paraná eBahia, transformando o Brasil no maior produtore exportador mundial de café.

Com uma área plantada de 2,2 milhões dehectares, o Brasil teve uma safra de 28,82 mi-lhões de sacas em 2003/04. No ano passado,as exportações brasileiras do produto chegarama 1,43 milhão de toneladas, com faturamentode US$ 1,51 bilhão. Os principais destinos fo-ram Estados Unidos, Alemanha, Itália e Japão. Opaís detém 28% do mercado mundial de café emgrão in natura.

Carnes e Couro

A pecuária brasileira é hoje uma das maismodernas do mundo. O alto padrão da sanidadee qualidade dos produtos de origem bovina, suínae de aves elevaram as exportações do complexocarne a US$ 4,1 bilhões em 2003, com um au-mento de 31% em comparação com o resultadode 2002. Com isso, o Brasil passou a liderar oranking dos maiores exportadores de carne bo-vina e de frangos.

As exportações de carne bovina in natura eindustrializada cresceram 40% em 2003, chegan-do a US$ 1,5 bilhão. Em volume, totalizaram 1,4milhão de toneladas e foram embarcadas princi-palmente para Chile, Países Baixos, Egito, Rei-no Unido, Itália, Arábia Saudita e Alemanha, en-tre outros. Esse desempenho colocou o país emprimeiro lugar no ranking mundial das vendas dosetor, superando a Austrália, até então o lídercomércio internacional do produto.

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Em 2003, o país assumiu ainda a liderançado ranking dos maiores exportadores do setoravícola, com crescimento de 20% em relação a2002. As exportações brasileiras de frango innatura e industrializado somaram US$ 1,8 bilhão,representando cerca de 2 milhões de toneladas.A maior parte dos embarques foram para a ArábiaSaudita, Japão, Países Baixos, Alemanha, Rússiae Hong Kong.

O Brasil também registrou crescimento nasvendas externas de carne suína, que aumenta-ram 12%, chegando a US$ 526 milhões - ou cer-ca de 550 mil toneladas. Rússia, Hong Kong,Argentina, Cingapura e Uruguai foram os princi-pais importadores da carne suína brasileira.

As exportações de couros cresceram maisde 10,2% em 2003, saltando a US$ 1,06 bilhão.O couro acabado foi o que apresentou o melhorresultado, ampliando seu volume de negócios em29,5%, o que correspondeu a quase US$ 469milhões. Com isso, atingiu 44% da exportaçãototal de couros. As vendas externas dos produ-tos de couro foram de quase US$ 1,4 bilhão noano passado. Os calçados de couro representa-ram 91,5% das exportações. Os Estados Unidoscompraram 91,5% de todos os produtos de cou-ros, seguidos do Reino Unido e Canadá.

SojaOriginária da China, a soja é hoje o princi-

pal grão do agronegócio brasileiro. O país é osegundo maior produtor mundial da oleaginosa,

com uma safra de 52 milhões de toneladas e umaárea plantada de 18,4 milhões de hectares natemporada 2002/2003.

A soja é conhecida há mais de cinco milanos. No Brasil, chegou em 1882, quando foiintroduzida no tórrido território baiano. A partirde 1940, começou a ganhar importância na agri-cultura. Passados quase 64 anos, transformou-se no maior destaque do agronegócio brasileiro.No ano passado, o Brasil assumiu a liderança nomercado internacional do complexo soja (grãos,farelo e óleo), com exportações de US$ 8,1 bi-lhões, 31% acima do valor alcançado em 2002.

A expansão do plantio de soja é um dos mai-ores exemplos do potencial e vocação agrícolabrasileira. Até a década de 80, as lavouras daoleaginosa se concentravam nos estados do Sul- Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.Graças ao desenvolvimento de cultivares adap-tados ao solo e ao clima das diferentes regiõesbrasileiras, a soja se espalhou também pelo Cen-tro-Oeste, nos estados de Mato Grosso, MatoGrosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal, alémde parte do Nordeste - principalmente no oesteda Bahia e no sul do Maranhão e do Piauí.

O crescimento da soja no Brasil também foifantástico. Em 1990/1991, a colheita foi de 15,3milhões de toneladas, com uma área plantadade 9,7 milhões de hectares. Com a safra de 52milhões de toneladas em 2002/03, a produçãomais do que triplicou em 12 safras, em conse-qüência dos ganhos de rendimento.

Sucos e Frutas

A fruticultura é estratégica para o agrone-gócio brasileiro. Com um superávit de US$ 267milhões em 2003, o setor ocupa uma área de3,4 milhões de hectares. A produção de frutaspermite obter um faturamento bruto entre R$ 1mil e R$ 20 mil por hectare. Hoje, o mercadointerno absorve 21 milhões de toneladas/ano eo excedente exportável é de cerca de 17 milhõesde toneladas.

Com uma fruticultura diversificada, o Brasilé um dos maiores pólos mundiais de produçãode sucos de frutas. No ano passado, as exporta-ções do setor alcançaram US$ 1,25 bilhão. Dototal, 95,5% corresponde a suco de laranja, doqual o país é o maior produtor e exportador. Osetor gerou receitas cambiais de US$ 1,2 bilhão

Agronegócio

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 45

em 2003, um resultado 14,6% acima do valorvendido ao mercado externo em 2002. Os prin-cipais destinos foram Bélgica, Países Baixos,Estados Unidos e Japão.

O Brasil é o terceiro pólo mundial de fruti-cultura, com uma produção anual de cerca de 38milhões de toneladas. Em 2003, as vendas ex-ternas de frutas frescas alcançaram US$ 335,3milhões, com um aumento de 39% em compara-ção aos US$ 241 milhões obtidos em 2002. Nesteano, devem crescer algo em torno de 15%, che-gando a US$ 375 milhões. Com isso, torna-secada vez mais factível a meta brasileira de ele-var a US$ 1 bilhão as exportações de frutas fres-cas até o final desta década.

Consciente do enorme potencial do país naárea de fruticultura, com plenas condições deampliar sua participação do mercado internacio-nal, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento e os produtores do setor estão inves-tindo em um sistema de cultivo de frutas de altopadrão de qualidade e sanidade. É o programade Produção Integrada de Frutas (PIF), que prevêo emprego de normas de sustentabilidadeambiental, segurança alimentar, viabilidade eco-nômica e socialmente justa, mediante o uso detecnologias não agressivas ao meio ambiente eao homem.

As frutas cultivadas no sistema de produ-ção integrada vão para o mercado com um selode conformidade, atestando a sua qualidade esanidade. Desde que foi implantada, a PIF per-mitiu uma redução de 63% no uso de agrotóxicosnos pomares de manga; de 50% no mamão; de32% na uva; e de 30% na maçã.

Produtos Florestais

A indústria brasileira de papel e celulosetem vocação exportadora, graças a sua competi-tividade, o que tem se refletido no aumento desua participação no comércio internacional. Em2003, as exportações de celulose crescerammais de 50% em relação ao ano anterior, saltan-do de US$ 1,1 bilhão para US$ 1,7 bilhão. Osprincipais destinos foram Estados Unidos, Chi-na, Japão e países da União Européia. Já as ven-das externas de papel chegaram a US$ 1 bilhãoem 2003, 21,5% acima do valor comercializadoem 2002, de US$ 900 milhões.

Papel, celulose, madeiras e suas obras com-põem um importante item da pauta de exporta-ções brasileiras. No ano passado, o país expor-tou US$ 4,9 bilhões de produtos florestais, re-presentando um aumento de 28,6% em compa-ração ao valor alcançado em 2002.

As exportações de madeira e suas obras au-mentaram 18,4%, passando de US$ 2,2 bilhõesem 2002 para US$ 2,6 bilhões em 2003. Os Es-tados Unidos é o principal comprador brasileiro,absorvendo 44% das vendas. Outros importan-tes destinos foram Reino Unido, China, Bélgica,França, Japão e Espanha.

Algodão

O cultivo de algodão no Brasil deve dar umsalto nos próximos anos. A expansão do plantioindica que o país também poderá assumir papelde destaque na cotonicultura mundial. As plan-tações têm crescido especialmente em estadoscomo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e na

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Bahia. Com alto grau de tecnologia, as lavourasde algodão apresentam resultados animadoresem termos de produção e produtividade.

As exportações da pluma dobraram em ape-nas uma safra, passando de US$ 93 milhões em2002 para US$ 188,5 milhões em 2003. Na tem-porada 2003/04, o país deve produzir 1,2 mi-lhão de toneladas do produto em pluma, contra847,5 milhões de toneladas do período anterior.Isso representa um crescimento de 46,3%, o quesignificou um acréscimo de 392,6 milhões detoneladas na produção de algodão. A área plan-tada deve passar de 735,1 milhões de hectarespara 1 milhão de hectares.

Cacau

Bebida sagrada para os povos indígenas daAmérica, o cacau passou a ter importância co-mercial no Brasil dos fins do século XVII. Emboratenha sido cultivado inicialmente no Norte dopaís, o cacau só ganhou força depois de ser in-troduzido no sul da Bahia, onde encontrou ascondições naturais favoráveis para se expandir.Até hoje, a região é a principal pólo de produçãoda cacauicultura, setor cuja trajetória teve im-portante participação na economia e na políticabrasileira das últimas décadas. As exportaçõesde cacau e seus derivados aumentaram 55,4%em 2003, saltando de US$ 206 milhões em 2002para US$ 321 milhões no ano passado.

Agricultura Orgânica

O aumento crescente da demanda por pro-dutos livres de agrotóxicos tem impulsionado aagricultura orgânica no Brasil. Sistema de ma-nejo sustentável que dispensa o uso de agro-tó-xicos sintéticos, esse sistema agrícola privilegiaa preservação ambiental, a biodiversidade, osciclos biológicos e a qualidade de vida do ho-mem. Com uma área plantada de 842 mil dehectares, o setor movimentou cerca de US$ 1bilhão em 2003. O país tem 19 mil propriedadesorgânicas certificadas e 174 processadoras es-palhadas em diversas regiões.

A agricultura orgânica brasileira cresce auma taxa anual de 20% e já tem grande partici-pação no mercado interno e, em breve, deveampliar sua presença no mercado internacional.A crescente demanda por produtos orgânicosestá fortemente relacionada ao aumento da exi-gência dos consumidores, internos e externos,com a qualidade dos alimentos e com os impac-tos da agricultura sobre o meio ambiente. A ex-pansão da agricultura orgânica também pode seratribuída ao desenvolvimento de um mercadomais justo para produtores e consumidores, queé altamente gerador de empregos.

Em 2003, o Brasil aprovou uma lei específi-ca para a agricultura orgânica. Ao mesmo tem-po, elaborou um plano de trabalho para executaro Programa de Desenvolvimento na AgriculturaOrgânica, contemplado no Plano Plurianual2004-2007. Com isso, o governo brasileiro valo-riza o segmento, estruturando o gerenciamentofísico e financeiro das ações para a área.

Revista Agricultura & Engenharia

Agronegócio

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Revista Agricultura & EngenhariaEspecial - 35 anos Embrapa 47

Pesquisa &

Desenvolvmento

O conhecimento e tecno-logia são instrumentos im-prescindíveis ao crescimentosustentável do agronegóciodo Brasil. A Empresa Brasilei-ra de Pesquisa Agropecuária(Embrapa) tem papel funda-mental no desenvolvimentode pesquisas e na produçãode novas técnicas agrícolas epecuárias, além de contribuircom a agroindústria.

Reconhecida como umadas grandes responsáveispelo aumento da produçãobrasileira de grãos, que atin-giu 9,5% em 2003, a Embra-pa lidera o Sistema Nacional de Pesquisa Agrope-cuária (SNPA). Essa rede engloba, além das uni-dades de pesquisa e desenvolvimento da empre-sa, centros de pesquisa agropecuária estaduais,algumas universidades brasileiras e outras insti-tuições privadas. Também fazem parte do siste-ma os Laboratórios Virtuais no Exterior (Labex)da Embrapa, implantados atualmente nos Esta-dos Unidos e na Europa (França).

Estudos de simulação feitos pelo Institutode Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demons-traram que os investimentos em pesquisa e de-senvolvimento podem elevar a produção de grãosno Brasil a 295 milhões de toneladas com a uti-lização da tecnologia já disponível, hoje usadaapenas por uma parte dos produtores brasilei-

ros. De acordo com especia-listas da área, a Embrapa de-senvolve 52% dos projetosem agricultura no Brasil. Go-vernos estaduais contribuemcom 20%. Universidades, com21%.

As variedades de semen-tes desenvolvidas pela Em-brapa representaram 77%das variedades de arroz ofe-recidas no Brasil entre 1976e 1999; 30% do feijão; e 37%da soja. Entre os materiaisdesenvolvidos pela empresaaté 2004 são contabilizadas91 variedades de arroz, 36 defeijão, 68 de milho, 87 de tri-go, 37 de algodão e 210 vari-edades de soja.

O imenso potencial do

agronegócio brasileiro, aliado à capacidade ins-talada de suas instituições e à reconhecida criati-

vidade de seus pesquisadores, abrem enormespossibilidades de investimentos externos e pri-

vados em pesquisa e desenvolvimento no país.Cosméticos, nutracêuticos, uso da biotecnologia

para desenvolvimento de raças e variedades re-sistentes a parasitas, doenças, pragas, estresse

hídrico e secas prolongadas, juntamente cominformática agropecuária e agricultura de preci-

são, são algumas das áreas que apresentam asmelhores oportunidades de investimento por in-

termédio de parceria público-privado para a ge-ração de conhecimento técnico-científico.

A revista Agricultura & Engenharia

parabeniza a

por seus

35 anos de sucesso da pesquisa agrícola

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Revista Agricultura & Engenharia48 Especial - 35 anos Embrapa

A

Artigo

Além de estar sujeita às intempéries climá-ticas periodicamente, a agricultura tem quedriblar efeitos de crises financeiras. Foi assimao longo das décadas de 1980 e 1990, com ocongelamento de preços, inflação e sucessivosplanos econômicos. E agora não é diferente. En-quanto o país acumula recordes nas safras degrãos, surge a crise financeira mundial ameaçan-do o plantio e a comercialização.

Apesar de o quadro de dificuldades e de pre-visões pessimistas de algumas autoridades emesmo de especialistas, até o momento oagronegócio brasileiro tem reagido positivamen-te. Isso se deve principalmente ao dinamismo dosetor, que sendo a base econômica de mais dequatro mil municípios, proporciona o superávitda balança comercial, e ainda financia o déficitdos demais setores da nossa economia.

Mesmo que haja divergência sobre a inten-sidade da crise, a expectativa é que todos ospaíses serão afetados, em menor ou maior di-mensão. Afinal, reduzindo o crescimento mundi-al, as exportações também recuam, enxugandomercados até então com grande potencial deexpansão, como o da China, da Rússia e de paí-ses do Oriente Médio, importantes consumido-res de produtos agropecuários.

O primeiro impacto da crise financeira foi aqueda generalizada de preço no mercado mundi-al das commodities agrícolas, em função da di-minuição de compras futuras e do aumento docusto de carregamento de estoques. Esse pro-cesso afetou as tradings e outras instituições de

O agronegócio em

tempo de crise

crédito privado que financiam segmentos do se-tor rural, principalmente no Centro-Oeste brasi-leiro. Quase 60% da produção agropecuária doEstado de Mato Grosso, por exemplo, dependi-am destas instituições.

Mesmo sob impacto da crise, o Brasil plan-tou uma área equivalente a do ano anterior e tema estimativa de queda na produção de 8%, o quesignifica voltar ao nível da penúltima safra. Orecuo se dará principalmente na produtividade,devido à diminuição do uso de tecnologia e defertilizantes. Vale lembrar, no entanto, que a secaque vem atingindo o sul do país também contri-buiu para esse resultado. Não obstante os preju-ízos enfrentados pelos produtores de feijão, sojae milho, considerando o recorde de crescimentoda safra anterior, de 9%, o recuo da safra, emtermos de Brasil, ainda pode ser visto como su-portável.

Merece destaque, porém, o caso do algo-dão, que, assim como o café, ficou de fora damelhoria dos preços nos últimos dois anos. Naverdade, os preços estão nos piores níveis des-de 2003, com uma queda de 25% na área deplantio, e sem perspectiva de aquecimento domercado neste momento.

No caso do milho, o baixo preço no merca-do externo e o alto estoque interno foram res-ponsáveis pela diminuição da área de plantio.Porém, a quebra da safra, em função da seca nosul do país, e a recuperação dos preços nas últi-mas semanas, melhoram a perspectiva destacommodity. É bom lembrar que o milho é extre-

Reinhold Stephanes

Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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mamente importante, pelos subprodutos gera-dos, que se destinam à alimentação humana e àcadeia de frangos e suínos.

Ainda em relação ao milho, a preocupaçãoatual é quanto ao plantio da safrinha, que no anopassado foi produzida em um valor elevado e atéaqui se mostra sem tendência positiva. Situaçãoque indica a necessidade de oferecer uma políti-ca de crédito específica ao produtor, pois semapoio, ele não vai plantar.

A variação de preços e o fluxo da produçãosão preocupações do governo federal. Garantira comercialização da safra será vital para evitarnovos prejuízos para o setor e para a economia.Sabe-se que, embora os estoques mundiais dealimentos estejam baixos, o investimento pararecompô-los é muito alto. E, sem recursos, ospaíses vão comprar da mão para a boca, o quepode dar margem ao oportunismo de grandescorporações.

O contexto, que deixa apreensivos governoe setor rural, indica que o atual modelo de crédi-to agrícola está esgotado, sendo preciso adotarmedidas que perpassem as crises e blindem aagricultura. Para isso, devemos rever as políti-cas de garantia, de preços e do seguro rural. Valelembrar que a última reestruturação das dívidasdo setor ocorreu, em junho, sob perspectivasextremamente otimistas, com mercado e preçoaquecidos. E esse cenário não se concretizou.

Regularizar a situação do produtor junto aoagente financeiro permite que ele volte a seradimplente e consiga ter acesso ao crédito. Adívida rural se acumula há mais de 20 anos comconstantes renegociações. E esta dívida surgia

normalmente por duas questões principais: cli-máticas e de mercado. No caso de problemascom o clima, a baixa cobertura do seguro nosúltimos anos acabou endividando o produtor. Jáa questão de mercado ocorre quando o produtorplanta com preço bom, mas depois o preço cai eo ele não consegue cobrir o custo do plantio. Te-mos que encontrar um novo caminho, um novomodelo. Um grupo de especialistas estuda o as-sunto, reunindo o Ministério de Agricultura, Con-federação da Agricultura e Pecuária do Brasil(CNA), Federação dos Bancos, Banco do Brasil eMinistério da Fazenda.

A crise reforça as dificuldades que vamosenfrentar em 2009 e nos obriga a agir de formamais rápida. Até aqui, a agricultura tem mostra-do capacidade para atravessar esse período deturbulência e um exemplo são as perspectivaspositivas para produtos como soja, carne, açú-car, feijão e arroz. Além disso, levando em consi-deração a existência de crises, numa série histó-rica de três décadas, as projeções mostram queo Brasil manterá a liderança no mercado mundi-al e o mercado interno será um grande fator decrescimento.

Para os próximos 10 anos, a previsão é quea demanda no mundo vai crescer 50%; um au-mento extraordinário. E o Brasil tem o melhoracervo tecnológico entre os países tropicais, pro-fissionais qualificados e terras agricultáveis dis-poníveis, hoje ocupadas por pastagens que po-derão ser remanejadas, com ganhos de produti-vidade. Temos condições de garantir o abasteci-mento interno e ampliar ainda mais as exporta-ções dos produtos do agronegócio, que hoje jáchegam a mais de 180 países.

“ Apesar de o quadro de dificuldades

e de previsões pessimistas de algumas

autoridades e mesmo de especialistas,

até o momento o agronegócio brasilei-

ro tem reagido positivamente”Reinhold Stephanes

Artigo

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