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Revista Agricultura & Engenharia 1

Revista Agricultura & Engenharia

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Panorama da agricultura Brasileira

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Abordaremos nesta edição o importante trabalho realizado pela ESALQ/USP (Es-cola Superior de Agricultura “Luiz de

Queiroz”) em prol da agricultura brasileira.

Há mais de 110 anos a ESALQ vem formando os melhores profi ssionais e através de estudos e pesquisas modernizando nossa agricultura.

Hoje recebe diariamente cerca de dois mil alu-nos em seus seis cursos de graduação e outros 986 frequentam os 17 programas de pós-graduação. Formou mais de 12,7 mil profi ssionais nos cursos de graduação e 9 mil titulados, entre mestres e doutores, pelos programas de pós-graduação.

Abordaremos tambem a união de 3 importan-tes empresas para alavancar os agronegocios do Brasil, veja tambem o artigo profº Zilmar José de Souza, sobre Bioeletricidade e uma importante matéria sobre Água. Finalizando prestamos uma homenagem ao Prof Roberto Rodrigues, em um texto escrito pelo Prof. Julio Cezar Durigan.

Boa leitura a todos,

Os Editores

ESALQESALQESALQESALQESALQESALQ Editorial

Na Agricultura Nacional

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Agronews ................................06 Notícias

Mercado....................................12 Agronegócio ganha modalidade inédita para alavancar fi nancia- mentos

Matéria de Capa.......................14 ESALQ na agricultura nacional

Perfi l Empresarial....................34 Especial 175 anos John Deere

Opinião......................................36 Bioeletricidade

Eventos.....................................40 35ª Expointer

Meio ambiente.........................42 Água, sem ela seremos o plane ta Marte de amanhã

Homenagem.............................44 Profº Roberto Rodrigues, um grande educador

Panorama da Agriculrura Nacional

Conselho Editorial

Presidente: Prof. Dr. Roberto RodriguesConselheiros: Prof. Dr. Paulo Sergio G. Magalhães Sr. Cesário Ramalho da Silva Prof. Dr. Roberto Testeziaf Prof. Dr. Silvio Crestana

Uma publicação:Lúcida Artes Gráfi cas LtdaRua Carneiro da Cunha, 212 ­ Saúde11­2339­4711 / 2339­4710E­mail: [email protected]

Diretor ­ Editor ResponsávelDr. J. Márcio da S. Araú[email protected]

Depto ComercialGilberto Cozzuol

AdministraçãoYvete Togni

CirculaçãoChristian A. Kaufman

Redação Lucida Editorial Ltda

Agradecimento: Assessoria de Comunicação USP ESALQAv. Pádua Dias, 11 Cp 9Piracicaba ­ SP ­ 13418­900

As opiniões expressasou artigos assinados são

de responsabilidadedos autores.

AgriculturaAgriculturaAgricultura &&&EngenhariaEngenhariaEngenhariaEngenhariaEngenharia

Expediente Sumário

Volume V - Nº 5 - 2012

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A quebra na safra de grãos tanto da região Sul quanto dos Estados Unidos con­tinua gerando reflexos na economia do Brasil. Os preços dos alimentos estão cada vez mais altos. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio­econômicos (Dieese), Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, possui a cesta básica mais cara do país.

O grande vilão continua sendo o tomate. Só em agosto, o aumento foi superior a 10%, ao passo que em julho a alta foi de 70%. O valor do quilo está, em média, R$ 6,20.

Quebra na safra de grãos causam alta no preço dos alimentos

A Embrapa passará a disponibilizar 750 mil variedades de sementes ainda este ano, com a inauguração de seu banco genético. Durante audiência pública em Brasília (DF), nesta quarta, dia 5, na qual tomou posse o novo Comitê Assessor Externo da entidade, especialistas debateram os desafios para o próximo ano. A principal missão do grupo em 2013 será organizar e caracterizar todo o material, para possibilitar a ampliação da pesquisa na área agrícola.

O Comitê é composto por 11 profissio nais, que devem acompanhar e avaliar os estudos desenvolvidos pelos técnicos. Se­gundo o chefe geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Mauro Carneiro, o novo banco terá espaço para armazenar sete vezes mais sementes.

– Essas variedades são a base de desen­volvimento de todo o programa de melho­

Segundo o Dieese, a alta do tomate é ex­plicada pela quebra da safra, que aconte­ceu devido à falta chuva nas regiões produ­toras.

Produtos importantes da cesta básica, como feijão, tomate, carne e arroz, foram os que mais tiveram alta. A carne é o que mais teve alta, pois representa 40% do valor da cesta, que custa em média R$ 308,00, equivalente à metade de um sa­lário mínimo. O motivo para a elevação do preço da carne está ligada à quebra na safra de grãos nos Estados Unidos e no Sul do Brasil.

Novo banco genético da Embrapa disponibilizará 750 mil variedades

de sementesramento da Embrapa. Esse material básico vai gerar as novas cultivares, as novas es­tirpes de microorganismos, as novas tecno­logias e tudo o mais. Então, isso é a base de todo um sistema de melhoramento – ex­plica.

Para o coordenador do Centro Agronegó­cio da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues, a pesquisa tem papel funda­mental no desenvolvimento do setor no Brasil. Segundo ele, o país tem tecnologia e terras de sobra para aumentar a produção agrícola, ms falta estratégia.

– O seguro rural ainda é precário, o preço mínimo não tem vigor, a política de comér­cio interno está precária. (É necessário) mais investimento em tecnologia. Inclusive na defesa sanitária – pontua. Fonte: CANAL RURAL

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A exportação de carne bovina in natura registrou o melhor desempenho do ano em agosto. Os embarques somaram 90,6 mil toneladas, alta de 37,5% na compara­ção com o mesmo mês de 2011, quando foram embarcadas 65,9 mil toneladas do produto.

Segundo o Ministério do Desenvolvimen­to, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o faturamento em agosto foi de US$ 421,4 milhões, 21,3% maior que no mesmo mês em 2011. O preço médio pago pela tone­lada no mês passado atingiu US$4,6 mil, 11,8% menor na mesma base de compa­ração.

Em relação a julho o volume exportado

registrou aumento de 8,8%. A receita foi 11,5% maior, e os preços médios pagos por tonelada foram reajustados em 2,4%.

“Na comparação anual, a redução na co­tação da arroba e a desvalorização cambial aumentaram a competitividade da carne bovina brasileira”, aponta José Carlos Haus­knecht, sócio da consultoria MB Agro.

Segundo o analista, outro fator que fa­vorece o bom desempenho das exporta­ções é o aumento da demanda pela pro­teína animal no mercado externo, comum no segundo semestre do ano. "A tendência é que o volume e, possivelmente, a receita sigam em ascensão até o final de 2012", completa.

Exportação de carne bovina cresce 37,5% em agosto

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A safra de cereais, leguminosas e ole­aginosas do Brasil em 2012 deve ser 2,8% superior à obtida no ano anterior – quando o resultado de 160,1 milhões de toneladas foi recorde. De acordo com a oitava esti­mativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti­ca (IBGE) nesta quinta­feira (6), a produção nacional deve atingir 164,5 milhões de toneladas em 2012.

A estimativa de agosto também é 0,7% maior que a de julho, quando a entidade previa safra de 163,3 milhões de toneladas para o ano.

A área a ser colhida em 2012, de 49,5 milhões de hectares, apresenta acréscimo de 1,6%, frente à área colhida no ano an­terior e aumento de 0,2% na comparação com a avaliação do mês passado.

Na última semana, o IBGE divulgou que a economia brasileira cresceu 0,4% no se­

gundo trimestre de 2012 em relação aos três primeiros meses deste ano. Dentre os setores analisados, o agropecuário foi jus­tamente o que teve o melhor desempenho, com crescimento de 4,9%.

Culturas

As três principais culturas – o arroz, o milho e a soja – que somadas representam 91,3% do volume da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas do país, respon­dem por 85,1% da área a ser colhida.

Em relação ao ano anterior, o arroz teve sua área reduzida em 13,4%, enquanto o milho e a soja tiveram um acréscimo de área de 11,1% e 3,8%, respectivamente.

Quanto à produção, a do milho aumen­tou em 29,3%, mas a de arroz e a de soja sofreram decréscimos de 14,9% e 12%, pela ordem, na comparação com 2011.

Safra de grãos em 2012 pode superar em quase 3% recorde de 2011

A Valtra foi a grande vencedora da ca tegoria “Fornecedores Mais Indicados do Setor Sucroenergético do Centro­Sul do Brasil” no Prêmio MasterCana 2012. A em­presa foi a mais indicada por empresários e profissionais do setor na premiação que aconteceu em Sertãozinho (SP).

O Prêmio MasterCana é realizado desde 1988 e destaca os melhores do setor su­croenergético em eventos que reúnem re presentantes de grande parte da produção brasileira.

Valtra ganha Prêmio

MasterCana 2012A linha Jacto kids atraiu crianças ao es­

tande da Jacto na Expointer 2012.

Os pequenos ficam curiosos para conhecer os personagens da linha educa­tiva.

No estande, as crianças receberão brindes e materiais exclusivos.

A Jacto Kids tem por objetivo conscien­tizar os futuros agricultores e valorizar a cultura do campo, através de personagens, histórias e jogos.

Linha Jacto Kids atrai crianças ao estande da Jacto

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A Unidade de Proteção de Cultivos da BASF inaugurou na última quinta­feira, dia 2 de agos­to, em Santo Antonio de Posse (região metro­politana de Campinas/SP), seu novo Centro de Tecnologia para Tratamento de Sementes. O novo complexo da BASF tem como principal objetivo dar apoio tecnológico às atividades de tratamento de sementes da empresa.

Com maquinário de última geração para o tratamento de sementes, o novo Centro con­tribuirá no desenvolvimento de produtos e tecnologias que atendam as necessidades da agricultura brasileira, bem como na prestação de serviços voltados à cadeia de valor semen­teira, por meio de capacitação, treinamentos, workshops e dias de campo. Coordenado pelo Dr. Reinaldo Bonnecarrere, gerente Técnico de Tratamento de Sementes da BASF para a América Latina, contará com dez profissionais trabalhando exclusivamente nesta unidade.

Esse investimento reforça a posição da Estação Experimental de Santo Antônio de Posse como uma referência para a BASF glo­balmente, já que figura como um dos pólos de desenvolvimento de novas tecnologias para os

trópicos no desenvolvimento de produtos e ser­viços voltados ao agronegócio. “Trabalharemos com o desenvolvimento de novos produtos para atender as necessidades das empresas de se­mentes. Os principais cultivos a serem anali­sados são soja, milho, algodão, feijão, trigo, cevada, girassol, canola, sorgo e amendoim”, explica Leandro Martins, diretor de pesquisa e desenvolvimento da BASF da Unidade de Pro­teção de Cultivos para a América Latina.

“A inovação tecnológica faz parte da es­tratégia da companhia – somente em 2011, a BASF investiu cerca de US$ 2 bilhões em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), e a maior porcentagem deste valor total (cerca de 26%) foram destinados exclusivamente ao negócio de proteção de cultivos.

O novo Centro recebeu um aporte de apro­ ximadamente US$ 2,5 milhões, um montante considerável quando falamos de pesquisa agrí­cola no Brasil”, comenta Eduardo Leduc, Vice Presidente Sênior da Unidade de Proteção de Cultivos da BASF para América Latina e de Sus­tentabilidade para a América do Sul.

BASF investe em novo Centro de Tecnologia para Tratamento de Sementes

O suco de uva produzido no Brasil terá de conter, no mínimo, 50% de polpa ou néctar da fruta. A determinação está publicada nesta sexta­feira (31) no Diário Oficial da União, na Norma Instrutiva 24, assinada pelo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho. Os produ­tores e empresários terão 180 dias para ade­quação à ordem.

Os especialistas dizem que há diferença entre suco, polpa, sumo e néctar de frutas. De acordo com a legislação brasileira, a maioria dos sucos não pode conter água para pertencer a essa categoria específica, exceto no caso de alguns frutos, como os tropicais do tipo pitanga e tamarindo.

O néctar, segundo estudiosos, é uma bebida

adoçada e diluída em água, pronta para con­sumir. Há ainda o chamado refresco da fruta, que é a bebida com menor concentração de fruta. Nos supermercados e mercearias do país são vendidos a bebida em pó, o chamado suco de saquinho, que é utilizado em água.

O Ministério da Agricultura informa que a produção de uva no país ocupa 81 mil hectares, destacando as regiões do Rio Grande do Sul que concentram 330 milhões de litros de vinhos e os chamados mostos ­ sumo de uvas frescas que ainda não tenham passado pelo processo de fermentação. Também há produção de uvas em Petrolina (Pernambuco), Juazeiro (Bahia) e no Vale do São Francisco.

Governo determina que suco de uva produzido no país tenha 50% de polpa ou néctar da fruta

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Em uma operação inédita no mercado, as empresas Octante, Syngenta e Bunge Brasil lançam

a primeira Oferta Pública de CRAs (Certifi­cados de Recebíveis do Agronegócio) para investidores pessoas físicas, criando um tí­tulo de crédito para levantar financiamento para agricultores. A modalidade permite que os produtores de soja e grãos finan­ciem um pacote completo de insumos. A liquidação dos CRAs ocorreu no início do mês de agosto e o lançamento oficial da modalidade foi realizado em (16/08/2012) na BM&F.

O valor nominal unitário da primeira série desta primeira emissão de CRAs para investidores qualificados é de R$ 300 mil. A demanda pelos investidores foi superior a 150% do total ofertado, de R$ 85,5 mi­lhões de CRA Sênior, e a Bunge Brasil ad­quiriu os CRAs Subordinados de 5% corres­pondentes a R$ 4,5 milhões. “Enquanto fornecedores de fertilizantes para os agri­cultores brasileiros e negociadores de par­te da produção nacional de grãos, acredita­mos que este novo instrumento é decisivo para fomentar e desenvolver ainda mais o agronegócio no país. Por isso, atuamos como investidores, já adquirindo os CRAs Subordinados, antes mesmo do lançamen­to oficial para o mercado”, afirma Pedro Parente, presidente e CEO da Bunge Brasil.

A aplicação dos investidores dos CRAs Sênior remunera 109% do CDI (Certi­ficado de Depósito Interbancário), é isenta de Imposto de Renda (Lei Federal 11.311, de 2006), e sua classificação de risco (ra­ting) pela Fitch Ratings é AAA (bra). O regis­tro da oferta, nos termos da Instrução CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nº 400, foi concedido no dia 27 de julho. A opera­ção, em resumo, consiste na emissão de CDCAs (Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio) por quatro distribuidores da Syngenta (Fiagril, Sinagro, Agrocat e Agrícola Panorama) lastreados por 120% de recebíveis de operações de barter . A securitizadora, então, emite os CRAs com lastro nestes CDCAs, devidamente cober­tos por seguro de crédito.

A Syngenta atua como agente admi­nistrativo, responsabilizando­se pela for­malização dos lastros de barter(CPRs e Contratos de Venda Futura), pelo monito­ramento das lavouras e como auxiliar de cobrança. “Estamos confiantes no sucesso dessa iniciativa, que certamente irá incen­tivar outros fornecedores, distribuidores e produtores a utilizarem o recurso de emissão de CRAs para financiarem seus insumos“ afirma Laércio Giampani, Diretor Geral da Syngenta no Brasil.

Agronegócio ganha modalidade inédita para

alavancar financiamentosOctante, Syngenta e Bunge Brasil oferecem a investidores pessoas

físicas Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) que permitem financiar o custeio de insumos.

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Agronegócio

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A Octante Securitizadora é a Emis­sora dos CRAs aos investidores. A Bunge Brasil participou da emissão como fornece­dora de fertilizantes, compradora de grãos e investidora dos CRAs Subordinados, o que garante a viabilização da operação no campo. A distribuição dos papéis aos inves­tidores foi feita pela XP Investimentos, e a apólice de seguro de crédito foi emitida pela Chartis Europe Limited, que garante a liquidação financeira dos CDCAs e, conse­quentemente, dos CRAs.

Sobre a Octante

A Octante é especializada em opera­ções estruturadas do agronegócio. Foi fun­dada para atender a crescente demanda por fontes alternativas de financiamento do setor agrícola, grande motor da econo­mia brasileira. Atua na originação, estrutu­ração e emissão de títulos para o mercado de capitais, com foco nos títulos com isen­ção fiscal para investidores pessoas físicas, outra demanda crescente e não atendida. A Octante Securitizadora foi a Emissora da primeira Oferta Pública de CRA no Brasil. Para mais informações sobre nós, acesse www.octante.com.br.

Sobre a Bunge

Presente no Brasil desde 1905, a Bunge é uma das principais empresas de agronegócio e alimentos do país e uma

das maiores exportadoras. Atua de forma integrada, do campo à mesa do consumi­dor. Desde a produção e a comercialização de fertilizantes, compra e processamento de grãos (soja, trigo e milho), produção de alimentos (óleos, margarinas, maioneses, azeite, arroz, farinhas), serviços portuários até a produção de açúcar e bioenergia. Hoje, conta com mais de 20 mil colabora­dores apenas no Brasil, atuando em cerca de 150 instalações, entre fábricas, usinas, moinhos, portos, centros de distribuição e silos, em 19 estados e no Distrito Fede­ ral. Marcas como Serrana, Manah, Salada, Soya, Cyclus, Delícia, Primor Etti, Salsaretti e Bunge Pro estão profundamente ligadas não apenas à história econômica brasilei­ra, mas também aos costumes, à pesqui­sa científica, ao pioneirismo tecnológico e à formação de gerações de profissionais. Para mais informações sobre a Bunge, acesse: www.bunge.com.br .

Sobre a Syngenta

A Syngenta é uma das maiores em­presas do mundo, com mais de 26.000 fun­cionários em mais de 90 países dedicados ao nosso propósito: trazer o potencial das plantas para a vida. Por meio de ciência de ponta, alcance global e compromisso com nossos clientes, ajudamos a aumentar a produtividade das plantações, proteger o meio ambiente e melhorar a saúde e a qualidade de vida. Para mais informações sobre nós, acesse www.syngenta.com.Fonte: Portos e Navios

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E S A L Q Matéria de Capa

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Referência no Brasil, a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq) chegou

aos 110 anos de existência em plena for­ma. Recebe diariamente cerca de dois mil alunos em seus seis cursos de graduação e outros 986 frequentam os 17 programas de pós­graduação. Formou mais de 12,7 mil profi ssionais nos cursos de graduação e 9 mil titulados, entre mestres e doutores, pelos programas de pós­graduação.

Além do campus de Piracicaba, a es­cola tem ainda as estações experimentais de Anhembi, Anhumas e Itatinga, mais de 50% da área total da USP. Atualmente, a escola disponibiliza 12 departamentos e 148 laboratórios nas áreas de engenharia agronômica, engenharia fl orestal, ciências econômicas, ciências dos alimentos, ciên­cias biológicas, e gestão ambiental. Se é um nome de respeito para o agronegócio em geral, para a cadeia produtiva da cana­de­açúcar no Brasil a Esalq é uma referên­cia. O setor sucroalcooleiro é um carro­che­fe das pesquisas da escola.

A Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq) nasceu do idealismo e iniciativa de Luiz Vicente de Souza Quei­roz, que doou em 1892 ao governo de São

E S A L QEnsino, pesquisa e extensão

na agricultura nacionalPaulo a fazenda onde se situa hoje a par­te principal do campus de Piracicaba. Na época de sua fundação, Piracicaba estava acompanhando a história brasileira, saindo da era escravagista e entrando na era agrí­cola, recebendo imigrantes europeus, no início majoritariamente italianos, para cul­tivo de algodão, cana­de­açúcar e café, as culturas predominantes naqueles anos.

A Esalq foi uma das faculdades fun­dadoras da Universidade de São Paulo (USP) em 1934, mas antes mesmo de ser anexada à universidade estatal ela já es­tava na ativa. Suas primeiras aulas foram dadas em abril de 1901.

Em 1937, Fernando de Souza Cos­ta foi nomeado ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ­ o primeiro de uma série de autoridades formadas pela escola nas décadas a seguir.

Nomes de destaque no campo e den­tro do governo foram formados pela escola, ministros e secretários incluídos. Entre os "esalquianos" de destaque estão os ex­ministros da Agricultura Roberto Rodrigues e Luiz Carlos Guedes Pinto, além do secre­tário paulista Xico Graziano

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Em um estudo realizado pela Professora Marly Teresinha Pereira do Departamento de

Economia, Administração e Sociologia da ESALQ­USP, reconhece a importância da contribuição que as Faculdades de Ciên­cias Agrárias têm dado à modernização da agricultura brasileira, não podemos deixar de mencionar a sua ausência no que diz respeito ao processo de desenvolvimento rural. Por permanecerem praticamente à margem da realidade rural, principalmente das populações mais marginalizadas, suas participações nas ações voltadas para a aplicação dos resultados de suas pesqui­sas sobre essa realidade e sobre o poten­cial produtivo dos recursos existentes não são expressivas. Tal situação resulta em deficiências na formação de seus profis­sionais, os quais, muitas vezes, não têm condições de contribuir na análise e na for­mulação de políticas, na execução de ativi­dades destinadas aos agricultores familia­res e suas comunidades, ou na melhoria do

desempenho dos organismos de apoio ao agronegócio.

O desenvolvimento rural ­ e com ele o consequente aumento na produção de alimentos, produtos de exportação, nível de emprego e renda ­ não será conseguido por um simples sistema de transferência de tecnologia, por maiores que sejam sua eficiência e eficácia. Serão necessários pro­fissionais de ciências agrárias altamente capacitados para atuarem nas áreas de pesquisa, assistência técnica, ensino e ex­tensão rural, que possuam sólida formação técnico­científica nos diversos campos das ciências agrárias, aliada a larga experiên­cia vivencial do meio rural e de seus pro­ blemas.

Dentro dessa perspectiva, torna­se evidente a necessidade de integração con­creta das três funções básicas da Univer­sidade ­ ensino, pesquisa e extensão. Sem essa integração, dificilmente se poderá pensar que ela terá condições de preparar profissionais com a qualificação que o país

O caso dos agricultores de São Pedro-SPes

tudo

Matéria de Capa

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exige. Não basta, entretanto, que ensino, pesquisa e extensão universitária se inte­grem "intramuros", torna­se necessário que seja estabelecido também um contato estreito com a comunidade, uma relação dinâmica com o sistema produtivo

Já foi dito que "a vitalidade da Uni­versidade depende de sua abertura para as influências, demandas e necessidades da sociedade, as quais irão determinar a relevância do conhecimento produzido ou transmitido por ela, através da ação recíproca que se traduz em benefício para o ensino e a pesquisa, o que nos leva obri­ gatoriamente a uma releitura do conceito de extensão universitária"

Muito mais do que simples prestação de serviços, unidirecionada, sem qualquer feed­back como ação retro­alimentadora dos seus objetivos, a extensão deve ser um conjunto integrado de atividades de­senvolvidas. Um de seus requisitos impres­cindíveis é sua focalização desde uma perspectiva multidisciplinar, incluindo, ao mesmo tempo, um enfoque político. Os problemas vivenciados por alunos e profes­

sores são problemas concernentes a várias ciências ­ tanto naturais quanto sociais ­ mas são também problemas da sociedade. A integração Universidade­Sociedade­Es­tado propiciará a criação de condições de ensino­aprendizagem adequadas à nossa realidade, estimulando pesquisas básicas e aplicadas e promovendo a coparticipa­ção responsável no processo de desenvolvi­mento.

Na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ), essa perspectiva foi criada pela vontade de alunos e profes­sores que, saindo das críticas estanques, implantaram uma extensão que atinge es­ses objetivos. Sua ação é reconhecida ao longo de sua história na área de extensão universitária, oferecendo grande número de cursos extracurriculares, de extensão etc. Atualmente, entretanto, há um impor­tante diferencial em sua ação: mediante a atuação conjunta de alunos e professores, vem buscando executar a extensão como prática acadêmica que efetivamente in­terligue o saber acadêmico nas suas ativi­dades de ensino e de pesquisa com as de­mandas da maioria da população.

O GESP e a rotina da extensão

A LBA, preocupada com a execução do projeto, convidou o Departamento de Economia, Administração e Sociologia Rural da ESALQ­USP para realizar o acom­panhamento técnico e organizacional dos agricultores. O Projeto Assessoria Técnica, Organizacional e Financeira à associação de pequenos produtores e suas microuni­dades produtivas (MUPs) foi implemen­tado mediante convênio firmado com a

Fundação Legião Brasileira de Assistência (FLBA) e Fundação Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ).

O Grupo de Extensão de São Pedro (GESP), composto por alunos, dois profes­sores, um técnico especializado em exten­são e um assistente social. Entre seus obje­tivos destacavam­se:

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• Contribuir para que os produtores e suas famílias conseguissem se desenvolver técnica, econômica e socialmente, tornando­se cada vez mais capazes de assumir seus papéis na sociedade;

• Propiciar condições para que alunos e professores fossem capacita­dos na ação e desenvolvessem trabalhos junto à organização de produ­tores familiares;

• Realizar pesquisas de acompanhamento e avaliação junto aos produtores e sua organização;

• Assessorar os produtores na condução de suas atividades visando otimizar o rendimento dentro de suas realidades;

• Promover uma interação maior entre o conhecimento dos produ­tores e aquele gerado na Universidade e nos Centros de Pesquisa.

Desde então, repete­se a rotina: duas vezes por semana, todos os meses, o ano inteiro, alunos estagiários partem da ES­ALQ e sobem a serra de São Pedro, onde percorrem as propriedades, trocam idéias com os agricultores, aprendem. A inter­valos regulares, novos alunos incorporam­se ao grupo, passando por um processo de transição no qual são guiados pelos cole­gas mais experientes.

Utilizando metodologia participa­tiva, os estagiários assessoram os produ­tores em suas atividades de organização e produção de leite, grãos e olerícolas e, ac­ima de tudo, na construção de uma socie­dade mais justa. Sempre que necessário, contatam outros departamentos da ESALQ, envolvem professores nas demandas iden­tificadas, promovem palestras, cursos etc.

O GESP incorpora o que preconiza aos agricultores: os alunos planejam participa­tivamente; decidem por consenso; respei­

tam conhecimentos, experiências e valores pessoais; criam condições de liberdade de opções e idéias; socializam as informações produzidas; consideram que a motivação está nas pessoas, não nas atividades; valo­rizam a interação entre os participantes do grupo.

Além de visitar semanalmente os produtores e a Associação, quando "batem muito papo, bebem, comem e prestam informações técnicas aos produtores", os estagiários realizam excursões, palestras, dias de campo, cursos, experimentos, inter­câmbio estudantil, entre outras atividades, e publicam um jornal mensal da APAMSP,.

Como atividade interna, reúnem­se no Departamento de Economia, Adminis­tração e Sociologia semanalmente, para planejar novas ações, distribuir tarefas, tro­car informações, avaliar o projeto e promo­ ver a capacitação dos membros dos grupos.

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O difícil caminhar

A única saída para os agricultores, quase falidos, era a estrada que descia a serra e levava para a vida urbana, onde de­veria estar o tal "progresso" e a qualidade de vida que não existia no campo. Propri­etários de pequenas áreas ­ entre três e dez alqueires ­, eles viviam exclusivamente da produção de leite, mas, com baixa tec­nologia, a produção era insuficiente para garantir a sua subsistência e a de de suas famílias.

A união APAMSP e GESP conseguiu mudar radicalmente o destino desses agri­cultores. Por intermédio da extensão, a or­ganização e a tecnologia chegaram ao alto da serra. Mas a tecnologia assustava!

Soares ­ No dia em que o técnico da ESALQ falou da necessidade de colocar mil quilos de adubo em cada alqueire de terra, quase caímos duros. Só que valeu a pena.

E como valeu! Soares, que antes do projeto associativo enchia 60 carretas de 1300 quilos cada, no primeiro ano mudou

para 80, no segundo para 100 e no terceiro já enchia 120 carretas.

As propriedades foram remanejadas, buscando o seu melhor aproveitamento. Pastagens divididas em piquetes, onde o gado pastava em rotação; área reservada para o plantio de capim napier e milho em rotação com aveia, que garantiam alimen­tação no cocho durante o dia e se trans­formam em silagem para consumo no in­verno. A inseminação artificial melhorou a qualidade do gado e a orientação dada pela ESALQ­USP resultou no uso correto de vaci­nas e medicamentos. Nas épocas de co­lheita e formação dos silos, os agricultores reúniam­se em mutirões, abriam valetas, colhiam, transportavam, armazenavam em valas, cobrem com lonas e deixam estoca­dos até o inverno.

A produção de leite também espanta ­ positivamente ­ os agricultores, antes da organização do grupo, Soares tinha 12 va­cas que produziam juntas 50 litros de leite por dia. Seis anos depois, com 15 vacas,

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produz 200 litros ao dia e atualmente 300 litros. E Soares sabe:

- Vaca bem alimentada produz mais e melhor.

A LBA voltou a destinar recursos ao grupo, o qual decidiu montar um laticínio. Como os recursos eram suficientes apenas para a aquisição de parte dos equipamen­tos necessários, o restante e a contrução do prédio foram assumidos por 17 compo­nentes do grupo e, posteriormente, por dois grandes produtores da região. Este grupo constitui o de sócio­proprietários.

Nove anos depois da formação da APAMSP ­ o laticínio foi inaugurado, alcan­çando, em seis meses, a capacidade insta­lada de 5 mil litros diários. Um ano depois, com investimentos de fundos gerados pela própria usina, esta foi ampliada para a ca­pacidade de 15 mil litros/dia. Segundo da­dos de novembro de 2000, o laticínio capta leite de 53 produtores.

Ademir ­ Antes da construção do la­ticínio, os produtores vendiam o leite para as indústrias que pagavam o preço que elas queriam, já que eles não tinham ne­nhum controle sobre o processo de venda deste leite.

Toninho ­ E outra coisa que favore­ceu bastante a gente é a parte do carreto,

porque quando a gente entregava nos outro laticínio, eles desconta dez, doze por cento e aqui nóis pagamos três, dois por cento.

Ademir ­ Durante esses três últimos anos de funcionamento do laticínio, nós conseguimos pagar para os produtores 3 centavos acima do preço que eles rece­biam se entregassem para qualquer outro fornecedor de mercado.

Toninho ­ Uma outra coisa que o la­ ticínio fez o ano passado é que pagou um preço base o ano inteiro, coisa que os ou­ tros laticínios pagam bastante no inverno e no verão cai o preço.

Hoje o Leite do Campo, de excelente qualidade, ganha consumidores tanto em São Pedro quanto em municípios da região.

Ademir ­ Atualmente o laticínio recebe cerca de 13 mil litros de leite por dia, sendo 6000 litros de leite tipo B e 7 mil litros de leite tipo C, que é distribuído na região de Piracicaba, Santa Bárbara, Limeira, Águas de São Pedro e São Pedro.

Toninho ­ A Associação tá pensando em montar um postinho de óleo diesel prá fornecer pros associados e a gente tá en­trando, comprando cesta básica, tem mais coisa aí: o laticínio tá pensando em fazer iogurte, em fazer queijo e leite B. Leite B já deve tá entrando agora no mês de julho. Então aí eu acho que tem tendência em melhorar.

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E os problemas da comunidade?A Associação, além de promover

maior rentabilidade aos agricultores asso­ciados, desenvolveu também outras de in­teresse da comunidade.

Carlão ­ [Então, aquela] escola ali também, a gente conseguiu junto, nós se organizamos, pedimos pra prefeita, que na época era a Antonieta, e a gente pediu, a gente viu quanto aluno tinha pra aqui ­ a gente tinha 137 alunos. Daí a gente pediu pra prefeita começar esta escola onde ela construiu. É uma escola boa, mil metros quadrados, hoje está com 270 alunos ...

Ademir ­ Outra conquista foi a con­strução do posto de saúde no Bairro Santo Antonio que era uma necessidade da popu­lação, requerida há muito tempo e través desta organização da Associação junto com a comunidade é que se conseguiu a criação deste posto de saúde que funciona todos os dias pelo menos durante um período.

Toninho ­ A Associação hoje até tem planos de saúde ...

Agricultores na ESALQ

Uma vez por ano, os agricultores da APAMSP e os componentes do GESP partic­ipam de uma aula na ESALQ, na disciplina de Sociologia e Extensão Rural, quando rela­tam a história da APAMSP e discutem com os alunos o processo pelo qual passaram. São francos e, em alguns momentos, du­ros: fazem os alunos refletirem sobre o que significa a oportunidade ­ "sorte" ­ de esta­rem sentados em bancos da Universidade enquanto eles ­ agricultores ­ não tiveram a oportunidade de terminar o primeiro grau. De forma objetiva, levam os alunos a pen­

sar/repensar o papel e a responsabilidade que eles têm perante a sociedade que lhes dá essa oportunidade e, em especial, com pequenos agricultores, como eles.

Este é mais um produto da atividade da extensão, que permite aos alunos que não participam do projeto conhecer o trab­alho e, se interessados, participar dele.

À guisa de conclusão

Não se deve imaginar que tudo deu certo e que todos viveram felizes para sem­pre. O projeto de extensão em São Pedro, com mais de 10 anos, continua e é um pro­cesso dinâmico: a cada problema resolvi­do, outros aparecem.

Não pretendemos, neste texto, justi­ficar "à luz da teoria" os resultados alcan­ çados, mas deixamos aos associados da APAMSP a tarefa de concluí­lo:

Carlão ­ Não temos dinheiro hoje. Falar que tem bastante, não tem. Porque a asso­ciação não é lugar de fazer um montão de dinheiro e sim ajudar o pequeno produtor e entender que a turma tem que tá junto.

Margarida ­ Se nós não desistimos até agora é porque a gente acredita e tem que continuar acreditando. E procura a gente se educar cada vez mais pra conviver melhor com os outro.

Carlão ­ ... era mais um talvez vivendo na favela, indo prá lá, indo embora.

Margarida ­ O que diria é isso: vale a pena a gente lutar. Se houver chance pra melhorar a associação, fazer crescer o la­ ticínio, a própria associação continuar esse trabalho. Eu acho que vale a pena porque realmente nós não nascemos pra viver so­ zinho. Não, é em grupo que a gente se tor­na mais forte, né?

Carlão ­ Valeria a pena começar tudo de novo hoje. Tudo que a gente começou lá atrás, fosse pra começar hoje, poderia começar de novo. Vale a pena..

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A&E - Quais são seus principais projetos no momento?

Luiz Antonio - Estou trabalhando em pro­jetos de sustentabilidade para a agricul­tura e também nas negociações de bio­diversidade e mudanças climáticas que afetam o nosso agronegócio. Continuo na carreira de especialista em políticas públicas, mas ocupo um cargo de

Luiz Antonio Gonçalves Rodrigues de Souza

Durante a graduação, estagiou no setor de seguros agrícolas na MAP-FRE e no setor sucro-alcooleiro de uma usina de açúcar no Mato Grosso do Sul. Depois de formado, trabalhou com horticultura de alta tecnologia na Holanda, durante um ano. Em 2007, voltou ao Brasil e passou no concurso de Fiscal Federal Agropecuário, na área de logística do agronegócio. Em 2009, também por concurso, tornou-se especialista em políticas públicas na área de Agricultura. De 2009 a 2011 trabalhou com negociações para abertura de mercados internacionais para produtos do agronegócio. Hoje, integra a equipe da Assessoria de Gestão Estratégica, do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)

assistente técnico, bem como sou coorde­nador­geral substituto de sustentabilidade. Posso afirmar que a sustentabilidade é que dará o tom dos próximos passos em nosso setor agropecuário, isso sem perder de vista o desempenho e a alta produtivi­dade.

A&E - Quais os principais desafios desse setor?

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Luiz Antonio - Atuar em políticas públi­cas é saber ouvir os diversos interesses legítimos, que podem ser divergentes. A partir daí, trabalhar em projetos que conciliem objetivos necessários à socie­dade. O Brasil quer continuar avançando na agricultura, quer abrir mercados inter­nacionais e receber divisas em moeda forte. Mas nossa sociedade também quer respeito ao meio­ambiente e às comuni­dades locais. Saber interpretar tudo isso, administrar projetos e entregar serviços de valor à sociedade é um desafio para quem trabalha com políticas públicas. Eu diria que a carreira de especialista em políticas públicas e gestão governamental é excelente para profissionais com visão ampla e recomendaria aos profissionais de Economia, Engenharia Agronômica e

Gestão Ambiental da ESALQ que querem trabalhar no governo, pois oferece múltip­los desafios e tem remuneração atrativa.

A&E - Que tipo de profissional esse mer­cado espera?

Luiz Antonio - Um profissional com for­mação sólida, no que a ESALQ, sem dúvi­da, se destaca. Precisa ter boa apresenta­ção e facilidade no trato com as pessoas, capacidade de fazer uma boa análise téc­nica de temas, com flexibilidade e rapidez para buscar informações, e ainda ter a tarefa de elaborar informações concisas e sintéticas. Também é necessário estar sempre disposto para aprender a lidar com situações inesperadas. Ter flexibili­dade é a ordem do dia.

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Energia elétrica, combustível, açúcares, aguardente, garapa e rapadura são derivados da

cana­de­açúcar conhecidos por todos. Porém, um grupo de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (USP/ESALQ), trabalha em nova alternativa em relação a gramínea da famí­lia das Poaceae, referente ao seu conteúdo de compostos potencialmente bioativos, especialmente polifenóis, os quais são am­plamente distribuídos na natureza e asso­ciados às diversas propriedades biológicas.

No projeto de pesquisa "Potencial de uso das folhas da cana­de­açúcar como fonte renovável e compostos químicos de interesse das indústrias de alimentos e fár­maco­cosméticos" é relatado que a recente área plantada de cana­de­açúcar no Brasil é de 595,9 milhões ton, com estimativa de que são gerados 140 kg de palha/ton de cana, indicando um grande potencial de uso dessa matéria­prima, que é uma vali­osa fonte de polifenóis com potencial de aplicação nas referidas indústrias.

Claudio de Lima Aguiar, docente do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN) e coordenador do projeto, revela que o objetivo é obter um processo

otimizado de extração dos compostos ati­vos da cana­de­açúcar e avaliações pre­liminares das atividades biológicas. Nos laboratórios do Grupo de Pesquisa Hugot­Bioenergia/ESALQ/USP, credenciado junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a equipe de trabalho avalia a capacidade antioxidante in vitro de extratos orgânicos do ponteiro da cana­de­açúcar em seus diferentes es­tágios de desenvolvimento e sob diferentes condições operacionais. O grupo utiliza téc­nicas analíticas e estatísticas para otimizar o processo de extração de polifenóis com maior atividade antioxidante in vitro.

O trabalho está sendo realizado em dois momentos ­ avaliação de atividade biológica de compostos ativos de origem vegetal, associado ao fato da grande quan­tidade de resíduos agrícolas provenientes da produção sucroenergética, seguida de uma tentativa de aproveitamento desses resíduos como fonte de biomoléculas para as indústrias alimentícia ou farmacêutica. "Até o momento, o projeto já apresenta bem definido o processo de extração. Te­mos análises de composição química de alguns materiais e análises da atividade antioxidante, em colaboração com os pro­fessores Antonio Sampaio Baptista e Se­

Folhas de cana-de-açúcar, fonte renovável de

compostos químicosResultados obtidos por grupo de pesquisa aponta que a

cana-de-açúcar é uma fonte de compostos bioativos renováveis para o uso como agente antioxidante

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verino Matias de Alencar, ambos do LAN e, brevemente, teremos análises antimi­crobianas, que estão sendo realizadas em colaboração com Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícola (CPQBA) e antivirais, realizadas em coope­ ração com a UniRio/UFRJ", sinaliza o coor­denador.

Aguiar adianta, ainda, que pretende estender o estudo desses resíduos como fonte de biomoléculas para demais tecno­logias de extração mais limpas, segundo a Green Chemistry. O coordenador afirma que para tal desenvolvimento é necessário investimento no projeto. "Tem sido difícil galgar financiamento robusto para alavan­car nosso trabalho, seja da iniciativa públi­ca ou privada", lamenta o docente.

Vale destacar que o projeto abrange todas as instâncias de ensino na ESALQ, pois, além de ter seus resultados discutidos em salas de aula de graduação, também

é discutido em nível de pesquisa, tanto do ponto de vista experimental, quanto de pós­graduação, com envolvimento de pós­docs, doutorandos, mestrandos e iniciação científica.

Recentemente, os resultados deste projeto foram enviados para publicação em duas revistas, sendo uma nacional e outra internacional. Integram o estudo no Grupo de Pesquisa Hugot­Bioenergia, Luciana M. Liboni­Passos, pós­doutoranda, Juliana Aparecida de Souza, mestranda do Pro­grama de Pós­Graduação (PPG) em Ciência e Tecnologia de Alimentos da ESALQ; Ro­berta Bergamin Lima, mestranda do PPG em Tecnologia de Radiações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/USP); e Talita Nicola Zocca, graduanda em Engenharia Agronômica da ESALQ, bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Cientí­fica (PIBIC/CNPq). Texto: Alicia N. Aguiar ­ Assessora de comunicação ­ USP/ESALQ

Extratos em fase organo-aquosa de partes aéreas da cana-de-açúcar com atividade antioxidante in vitro

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Até bem pouco tempo, a eficiência do processo de irrigação agrícola dependia muito do ser humano

na operação de máquinas e e­ quipamentos. "Nos últimos anos, o incremento tecnológi­co avançou no sentido de reduzir a ação do homem, alcançando índices de maior precisão na aplicação de água na área de cultivo, opor­tunizando economia de água", afirma José An­tonio Frizzone, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas (LEB)

Com intuito oferecer à comunidade acadêmica o contato com ferramentas atuais nessa área, o LEB desenvolveu uma parceria com a Irrigabras, empresa nacional que desen­volve equipamentos para irrigação. Segundo o professor Frizzone, a partir de carta de doação a empresa cedeu para a ESALQ um equipamento de pivô central com valor estimado acima dos R$ 100 mil.

"Essa ação ocorre no âmbito do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Engen­haria da Irrigação (INCT­EI), para realização de trabalhos de pesquisa e desenvolvimento em

conjunto. O equipamento será empregado em pesquisas e desenvolvimento de materiais para domínio público e também faremos avaliação do próprio equipamento, visando à melhoria e aprimoramento técnico", explica Frizzone.

O equipamento será instalado para pes­quisas em irrigação em campo na Fazenda Areão, substituindo um pivô central em uso desde 1988. "Já ultrapassamos a vida útil do atual pivô e hoje é uma dificuldade colocá­lo em funcionamento, sua manutenção é inviável econômica e tecnologicamente, ou seja, é mui­to caro mantê­lo, além de não termos peças de reposição", lembra o professor do LEB.

De acordo com Fizzone, a previsão é de que o novo pivô central comece a ser operado ainda no segundo semestre, estando disponível para cerca de 200 alunos de graduação, mais de cinquenta pós­graduandos de vários pro­gramas, além de doze professores do LEB que trabalham com disciplinas ligadas à área. "Este é um equipamento que grandes empresas uti­lizam e uma das vantagens é que permite func­ionamento remoto, ou seja, pode ser acionado via celular ou tablet", conclui.

Novo pivô central na Fazenda Areão

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Produtos agrícolas como matéria-prima para

biocombustíveis e alimentos

O interesse pela produção e uso de biocombustíveis vem crescendo nas ultimas déca­

das por conta das previsões de escas­sez do petróleo. Segundo levantamentos da Comissão Europeia de Energia, todo o petróleo do mundo acabará em 2047, se não houver mudanças significativas no consumo e nas reservas. Para que isso não ocorra, os governos das principais na­ções do mundo estão buscando fontes al­ternativas de energia limpas e renováveis. Consequentemente, este maior interesse por biocombustíveis gerou mudanças na produção agrícolas e a criação de políticas de incentivo ao seu uso.

A fim de entender esse novo cenário, o economista Leandro Menegon Corder, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/ESALQ) analisou, no Brasil e em países selecionados, os efeitos dessas políticas.

No caso do Brasil, avaliou os sete anos transcorridos desde o início do Pro­grama Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, mostrando em quais pontos o programa evoluiu e em quais pontos ele não trouxe o resultado esperado.

Segundo o pesquisador, o Brasil de­tém larga experiência em produção e com­ercialização de biocombustíveis, principal­mente o etanol. O País teve em sua história um dos maiores programas de produção e utilização de álcool do mundo, o Proál­cool. Além disso, esse novo mercado traz vantagens ambientais, sociais e econômi­cas, embora ainda seja pequeno dentro

das possibilidades da introdução de um combustível complementar e substituto da gasolina e do diesel, explica Corder.

Conclusões

A pesquisa concluiu que, na década de 2000, houve crescimento no valor to­tal da produção dos produtos mais utiliza­dos para a geração de energia, como soja, cana­de­açúcar e canola. Porém, em mui­tos casos, percebe­se que os efeitos posi­tivos sobre essas variáveis já vem de anos anteriores, não podendo ser, assim, esse crescimento creditado totalmente às políti­cas adotadas.

De acordo com o estudo, a maioria dos países europeus cumpriu, pelo menos parcialmente, os objetivos das políticas. Corder explica o resultado positivo devido às metas não serem tão difíceis de atingir e também por serem implementadas aos poucos, com metas crescentes, mas discre­tas. Pode­se citar Itália e Reino Unido como aqueles que não cumpriram essa diretiva da União Europeia, e Espanha e Alemanha como exemplos que, além de cumprirem o acordo, apresentam metas internas supe­riores aos indicados pelo parlamento euro­peu. O estudo destaca também as políticas alemãs e suecas como casos que afeta­ram clara e positivamente o mercado. Per­cebe­se, nesses dois casos, a inversão da tendência de queda para um crescimento elevado, diferentemente do que se vê em outros países, quando a mudança ocorre um pouco depois desse período, explica.

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Apesar de as políticas terem sido eficientes em vários pontos, ao analisar o cenário atual, Corder concluiu que o setor de biocombustíveis tornou­se um mercado insustentável em vários países. Os princi­pais programas de incentivo às fontes alter­nativas de energia tiveram início com a alta cotação do petróleo. Agora, com a queda desses preços, o setor passará a depender da muleta governamental para manter­se competitivo, explica o pesquisador.

Brasil

Voltando­se para o País, veem­se bons resultados em alguns pontos do Programa Nacional e Produção e Uso de Biodiesel, mas em outros, como meio­ambiente, os resultados ficaram aquém do esperado. Se o Brasil deseja prosseguir com o Pro­grama do modo como ele foi idealizado, terá de fazer vários pequenos ajustes para adequá­lo à realidade na qual se inseriu. O ponto mais urgente é manter as usinas em funcionamento, pois a maioria não é eco­nomicamente viável, ao lado dos ajustes nas questões ambientais e da matéria­pri­ma utilizada. Deve­se também incentivar a pesquisa de biocombustíveis de outras ge­rações, que trazem maior aproveitamento de resíduos e novas tecnologias para mi­ nimizar o efeito sobre cultivos tradicionais conclui o economista.

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A valorização da lima ácida ‘Ta­hiti’ no mercado interno e a expansão do mercado interna­

cional da fruta, observado nos últimos 15 anos, promoveu condições favoráveis para o desenvolvimento de uma cadeia produ­tiva composta por pequenos e médios cit­ricultores e indústrias de beneficiamento nas regiões Sudeste e Nordeste do Estado de São Paulo. Porém, a cultura apresenta desafios relacionados à renta­ bilidade, fato que tem levado produtores a abandonar a atividade, provocando impactos sociais e econômicos importantes para as regiões produtoras.

Pesquisa realizada por Horst Bremer

Neto, aluno de doutorado do Programa de Pós­graduação (PPG) em Fitotecnia, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de

Desempenho Horticultural de Clones de Lima Ácida

Pesquisa verificou influência significativa do clone (copa) na tolerância da planta à deficiência hídrica, resultado inédito na

citricultura mundial

Queiroz” (USP/ESALQ), intitulada “Desem­penho horticultural de clones de lima ácida ‘Tahiti’ enxertados em citrumelo ‘Swingle’ cultivados com e sem irrigação”, aponta que, entre as variáveis horticulturais que in­fluenciam a viabilidade econômica da cul­tura, destacam­se a produtividade, a preco­cidade de início de produção e a qualidade dos frutos. “A maximização desses fatores pode ser alcançada pela seleção criteriosa da combinação copa/porta­enxerto e com a aplicação de tecnologias de produção, como a irrigação, que tem gerado resul­tados favoráveis quanto ao aumento da produção de frutos na safra e na entressa­fra”, explica o pesquisador.

O projeto é resultado de parceria ES­

ALQ e Estação Experimental de Citricul­tura de Bebedouro. Foi realizado sob ori­

ESALQ - pesquisa desempenho horticultural de lima ácida fruto do clone CNPMF EECB

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entação do professor Francisco de Assis Alves Mourão Filho, do Departamento de Produção Vegetal (LPV) da ESALQ e contou com a participação de Eduardo Sanches Stuchi, da EMBRAPA Mandioca e Fruticul­tura. Stuchi foi responsável pelo planeja­mento inicial e instalação do experimento. Assim, o estudo relata que as pesquisas re­alizadas nos últimos anos tem se dirigido à avalição de porta­enxertos e irrigação para lima ácida ‘Tahiti’. “São poucas aquelas que envolvem a avaliação de clones de lima ácida ‘Tahiti’ devido à constituição genética triplóide da espécie que impõe limitações à aplicação de técnicas de melhoramento con­vencional. A diversidade genética da espé­cie é pequena e os cultivos comerciais são baseados, predominantemente, nos clones “IAC 5” e “Quebra­galho”. No entanto, es­ ses clones apresentam limitações relacio­nadas ao porte elevado e à contaminação com viróides dos citros”, explica Horst.

O pesquisador lembra, ainda, que

além da baixa diversificação de copas, grande parte dos pomares utilizam o limão “Cravo” (Citrus limonia Osbeck) como por­ta­enxerto, por induzir maior produtividade e tolerância à deficiência hídrica. Por outro lado, a combinação dos clones “IAC 5” e “Quebra­galho” com o limoeiro ‘Cravo’ tem levado à produção de plantas de porte ele­xvado e baixa longevidade devido às ele­vadas taxas de mortalidade causadas por gomose Phytophthora (Phytophthora spp.) e a presença de estirpes severas do vírus da tristeza dos citros e do viróide da exo­corte.

O trabalho, conduzido em Bebedouro

(SP), avaliou o desempenho horticultural de clones de limeira ácida ‘Tahiti’ enxerta­dos em citrumelo ‘Swingle”. Levando­se em conta as restrições do uso comercial do citrumelo ‘Swingle’ em ambientes que apresentam deficiência hídrica prolongada, os clones foram avaliados em duas áreas

distintas, diferenciadas pelo uso da irri­gação. Foram avaliados os clones “IAC5”, “IAC 5­1”, CNPMF/EECB”, “CNPMF 2000” e “CNPMF 2001”.

Bremer Neto assegura que, por meio

desse estudo, foi possível fixar um clone al­tamente produtivo sob condição irrigada e não irrigada (“CNPMF/EECB”), previamente selecionado por Sanches (EMBRAPA Mandi­oca e Fruticultura), o qual apresenta poten­cial para futura disponibilização aos citricul­tores. “Além disso, a irrigação mostrou­se técnica adequada para o cultivo da lima ácida ‘Tahiti’ por induzir aumento significa­tivo de produção, inclusive na entressafra, quando os preços praticados no mercado interno são elevados. E, ainda, os clones es­tudados apresentam desempenho distinto sob deficiência hídrica, resultado inédito na citricultura mundial, que concentra relatos envolvendo a influência do porta­enxerto sobre a tolerância da planta à deficiência hídrica”, complementa.

Finalmente, o pesquisador destaca

que estudos envolvendo tolerância de ci­ tros à deficiência hídrica são fundamentais e que, por essa razão, a obtenção de plan­tas tolerantes sempre esteve no escopo das pesquisas envolvendo melhoramento gené­tico e fitotecnia. “Esse resultado poderá ser incorporado no planejamento de sistemas produtivos e viabilizar a produção de lima ácida sem irrigação em regiões que apre­sentam déficit acentuado. Por outro lado, por meio da combinação de clones e porta­enxertos que apresentam menor tolerância à deficiência hídrica, possivelmente a ob­tenção de frutos na entressafra será favo­recida em pomares irrigados”, conclui.

Texto: Alicia N. Aguiar ­ Assessora de comu­nicação ­ USP/ESALQ

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A&E - Quais as atribuições do seu cargo na Bunge?

Luciana - Trabalho na área de inteligên­cia de mercado em açúcar e etanol. Basi­camente a área faz projeções de mercado para serem usadas na tomada de decisão das áreas comerciais de açúcar e etanol da empresa. As projeções englobam cenários de oferta, demanda, preços, variáveis ma­ croeconômicas e políticas.

A&E - Quais os principais desafios desse setor?

Luciana - Referente ao açúcar, o mercado mundial é ainda bastante protegido por barreiras comerciais, tarifas e quotas, e a produção nos grandes produtores e con­sumidores é muito controlada por políticas governamentais protecionistas, exceto no Brasil. Sobre o etanol, o mercado mundial também é bastante protegido por barreiras

comerciais, porém alguns poucos países possuem programas de estímulo ao con­sumo de etanol combustível. No Brasil, o mercado passou a ser tratado como estra­tégico por parte do governo, sob controle do Ministério das Minas e Energia e não mais da Agricultura. Além disso, a política de preços pouco flexíveis para a gasolina e a falta de uniformização de impostos entre os estados prejudica o crescimento do con­sumo doméstico.

A&E - Que tipo de profissional esse mercado espera? Luciana - Um profissional com perfil analíti­co, com conhecimento em estatística e teoria econômica. Além disso é importante conhecer aspectos específicos do setor de açúcar e etanol, como produção agrícola, custos de produção, flexibilidade industrial e consumo de combustíveis.

Após formar-se e doutorar-se em Economia Aplicada, trabalhou como analista econômico-financeirono Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), coordenadora de pesquisa econômica na FCStone, especialista em inteligência de mercado na Copersucar e gerente de inteligência de mercado na Bunge.

Luciana Torrezan Silveira, economista

“O mercado internacional sucroalcooleiro ainda é bastante protegido por barreiras comerciais”

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John Deere No ano em que comemora seus

175 anos de história, desde a produção pelo ferreiro John

Deere de um arado de aço autolimpante que permitiu que muitos agricultores nos Estados Unidos aumentassem suas colhei­tas, a John Deere apresenta uma série de novos produtos, desenvolvidos, como no passado, com o objetivo de elevar a produ­tividade, solucionar problemas e facilitar a vida dos agricultores. Mantida desde o início da história da empresa, a ligação da John Deere com os agricultores fez a empresa in­vestir constantemente em tecnologia para procurar e oferecer soluções para elevar a produtividade em todo o mundo, mantendo sempre o respeito ao meio­ambiente.

A preocupação com a procura das melhores soluções tecnológicas para os ag­ricultores leva a John Deere a manter uma política de grandes investimentos em pes­quisa em todo o mundo, inclusive com cen­tros de pesquisa próprios. O Brasil vai rece­ber agora o Centro Latino­Americano de Inovação Tecnológica (LATIC), que será in­stalado em Indaiatuba (SP), onde também está começando a funcionar o Escritório Regional para a América Latina da empre­sa. A John Deere tem como objetivo levar em frente um trabalho conjunto de pes­quisa com várias universidades da América Latina, através de seu Projeto “Parceiros da Tecnologia”. Neste projeto, entre outras ações, a John Deere tem feito doações de equipamentos fora de uso para que os es­tudantes tenham mais oportunidades de contato direto com as máquinas agrícolas.

Liderança

A qualidade de uma empresa tem expressão na qualidade da sua liderança. Durante seus 175 anos, a John Deere se benefi ciou por ter ao leme líderes fortes e decididos, dedicados aos valores funda­mentais da integridade, qualidade, com­prometimento e inovação.

Estas qualidades perduram até hoje. Os homens e mulheres que lideram atual­mente a Deere & Company possuem a ex­periência, a perícia, os valores e a vontade de fazer com que a John Deere continue a ser o que sempre foi: uma grande empresa. Uma empresa confi ável para os seus cli­entes. Uma empresa estável para os seus investidores. E uma empresa que apoia os seus funcionários.

Estes oito líderes orientaram a empre­sa em períodos fáceis e difíceis, ajudando sempre os clientes, funcionários, conces­sionários, investidores, parceiros, comuni­dades e nações a desenvolver, melhorar e benefi ciar através das suas relações com a John Deere. Talvez seja por isso que a John Deere é hoje a empresa na qual tantos de­positam a sua confi ança.

líderes do passado

• John Deere• Charles Deere• William Butterworth• Charles Deere Wiman• William Hewitt• Robert Hanson• Hans Becherer• Robert W. Lane

celebra o seu 175.º aniversário

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Campinas Centro de distribuição de peças

O Centro de Distribuição de Peças para a América do Sul, inaugurado em dezem­bro de 2008, localiza­se no município de Campinas, no estado de São Paulo. Com área construída de 40 mil metros quadra­dos, ele signifi cou um investimento de 18 milhões e vai atender à rede de concession­ários de todo o continente. A proximidade do aeroporto de Viracopos e a disponibili­dade de diferentes meios de transporte na região foram as principais razões para a instalação do centro no local.

O Centro conta com 56 docas de rece­bimento e despacho de produtos e uma infra­estrutura valorizada pela tecnologia moderna.

Catalão colhedoras de cana e pulverizadores

A unidade Catalão da John Deere atualmente produz as colhedoras de cana 3520 e 3522, e os pulverizadores 4730. O modelo anterior de colhedora de cana, a 3510, lançada em 2006, foi a primeira no mundo a utilizar a cor verde e a marca John Deere na linha de equipamentos para a cana.

A fábrica de Catalão tem 22 mil met­ros quadrados de área construída e nela trabalham cerca de 600 pessoas. O mu­nicípio goiano tem uma localização estra­tégica para o atendimento dos produtores de cana­de­açúcar, por sua proximidade de São Paulo e da área de cerrados do Brasil Central

Horizontina colheitadeiras de grãos e plantadeiras.

Na fábrica de Horizontina, município situado no noroeste gaúcho, são produzi­

dos colheitadeiras de grãos e plantadeiras. A fábrica tem área coberta de 122.700 metros quadrados e é uma das platafor­mas mundiais de exportação e de desen­volvimento tecnológico da John Deere. Nela trabalham 2.000 empregados.

A fábrica de Montenegro, município a 50 quilômetros de distância de Porto Alegre, inaugurada em maio de 2008, é destinada à produção de tratores.

Montnegro Tratores

Ela ocupa 68 mil metros quadrados de área construída em um terreno de 96 hectares. Os investimentos na expansão da produção representada pela nova unidade são calculados em 250 milhões de dólares. A nova fábrica tem 715 funcionários.

Indaiatuba Banco John Deere e Escritório Regional

No escritório regional de Indaiatuba estão localizadas a presidência e áreas re­sponsáveis pela gestão regional do negó­cio, como Finanças, Vendas, Marketing, Sistemas de Informação e Recursos Huma­nos.

A expectativa da John Deere para a América Latina é aumentar sua presença no mercado e o objetivo do escritório é dar apoio às iniciativas de crescimento e pro­porcionar maior integração e alinhamento a suas atividades na região.

O escritório está localizado na mes­ma sede onde está instalado o Banco John Deere. As unidades da Divisão Agrícola da John Deere na América do Sul são as fá­bricas de Horizontina e Montenegro, no Rio Grande do Sul, e Catalão (GO), no Brasil; Rosário na Argentina e as fábricas de Mon­terrey, Saltillo e Torreón.

John Deere no Brasil

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A bioeletricidade é uma energia lim­pa e renovável, feita a partir da bio­massa: resíduos da cana­de­açúcar

(bagaço e palha), restos de madeira, carvão veg­etal, casca de arroz, capim­elefante e outras. No Brasil, 80% da bioeletricidade vêm dos resíduos da cana­de­açúcar. Cada tonelada de cana­de­açúcar moída na fabricação de açúcar e etanol gera, em média, 250 kg de bagaço e 200 kg de palha e pontas.

Com alto teor de fibras, o bagaço de cana, desde a revolução industrial, tem sido emprega­do na produção de vapor e energia elétrica para a fabricação de açúcar e etanol, garantindo a autossuficiência energética das usinas durante o período da safra. Mas, além de atender as necessidades de energia das usinas, desde a década de 1980 o bagaço tem permitido a ge­ração de excedentes de energia elétrica que são fornecidos para o sistema elétrico brasileiro. Especificamente neste ano, o setor sucroenegé­tico celebrou 25 anos da atividade de venda de bioeletricidade para a rede elétrica nacional.

Em 2011, a produção de bioeletricidade para o sistema elétrico brasileiro foi equivalente à energia necessária para atender 20 milhões de pessoas. O Brasil pode gerar mais de 15.000 megawatts médios de energia da cana­de­açú­car ­ o equivalente a mais de três usinas de Belo

Monte. Esta é a eletricidade feita com o bagaço e a palha da cana­de­açúcar: a bioeletricidade, tema que será tratado nos tópicos a seguir.

A situação atual da bioeletricidade

A energia elétrica gerada a partir do baga­ço e da palha da cana de açúcar e excedente às necessidades de consumo próprio das mais de 400 usinas no setor sucroenergético cresceu 13% entre 2010 e 2011, mostrando a potencial­idade dessa fonte renovável e sustentável. Em 2011, o total de bioeletricidade da cana comer­cializado para o setor elétrico foi de 9.925 GWh, de acordo com dados preliminares do Ministério de Minas e Energia.

Quando se avalia apenas a bioeletricidade fornecida para a rede elétrica, a importância dessa fonte também se mostra estratégica. O to­tal de 9.925 GWh comercializado junto ao Siste­ma Interligado Nacional em 2011 representou 2,3% do consumo brasileiro total de energia elé­trica, equivalente ao abastecimento de energia elétrica de 5,3 milhões de residências durante o ano inteiro. Além do mais, a bioeletricidade for­necida para a rede elétrica, por ser complemen­tar à fonte hídrica, proporcionou uma economia de 5% da água dos reservatórios das Regiões Sudeste e Centro­Oeste no período seco no ano.

Bioeletricidade:

o que falta para esta alternativa energética deslanchar

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ão Opinião

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A geração da bioeletricidade sucroenergé­tica em 2011 foi equivalente a 14% da geração total no Estado de São Paulo em 2011 ou a 29% do consumo residencial do Estado de São Pau­lo no ano passado. Em 2011, o Estado de São Paulo importou do Sistema Interligado Nacional 46% do total de energia elétrica necessária para atendimento ao consumo do Estado (SEESP, 2012).

Outro aspecto importante também é a sus­tentabilidade ambiental dessa fonte. A bioeletri­cidade consegue evitar emissões de Gases de Efeito Estufa, substituindo fontes fósseis, e evi­tou o equivalente a 2,2 milhões de toneladas de CO2, em 2011. Para atingir a mesma economia de CO2, seria preciso plantar 16 milhões de ár­vores nativas ao longo de 20 anos. E sem essa geração da bioeletricidade em 2011, a matriz de emissões do setor elétrico teria um acréscimo de 8%.

Apesar de todos esses benefícios da bioeletricidade, o ano de 2011 não foi muito diferente de 2010 ou 2009, em termos de um avanço mais vigoroso dessa fonte em nossa ma­triz energética. Em virtude da presente política para o setor, toda a cadeia produtiva da bioele­tricidade opera em ociosidade, principalmente devido ao atual formato dos leilões “genéricos” que misturam fontes em um único certame. Fon­tes que são incomparáveis até pelas próprias qualidades intrínsecas de cada uma delas.

Respondendo à sinalização dada em 2008, a cadeia produtiva da bioeletricidade se preparou para atender algo como 500 a 600 MW médios anualmente. No entanto, de 2009 até 2011, o total comercializado anualmente pela fonte tem sido uma média de poucos mais de 90 MW médios nos leilões promovidos pelo Governo Federal, que ainda são a “porta de en­trada” da bioeletricidade no setor elétrico.

A descontinuidade na contratação da bioeletricidade põe em risco a estrutura tec­nológica e operacional criada para a cadeia produtiva da bioeletricidade, genuinamente tu­piniquim. A bioeletricidade é uma fonte de res­posta rápida,às vezes em até um ano e meio se consegue colocar de pé um novo projeto – ou me­nos! A bioeletricidade apresenta externalidades positivas ambientais, energéticas, econômicas e sociais ainda não adequadamente reconhecidas no atual formato dos leilões genéricos ­ quali­

dades que não têm sido corretamente valoriza­das ou incentivadas no míope modelo de pre­cificação praticado no Ambiente de Contratação Regulada.

O potencial da bioeletricidade da cana

O valor estratégico da bioeletricidade fica mais evidente quando verificamos seu potencial, ainda bem distante da geração efetiva de 2011. A energia elétrica da cana capaz de ser “exporta­da” para a rede elétrica tem potencial estimado de 134 mil GWh/ano até 2020. Utilizar plena­mente esse potencial significaria proporcionar o atendimento anual de cinco (5) cidades do ta­manho de São Paulo, quase 87 cidades do porte de Ribeirão Preto ou 450 cidades do tamanho de Sertãozinho, considerando dados de consu­mo atual dessas cidades. Representaria quase o dobro da energia elétrica produzida no Estado de São Paulo em 2011.

Equivalente a mais de três vezes o que a Usina Belo Monte será capaz de produzir ou duas usinas Itaipu em termos de capacidade insta­lada, atingir esse potencial de geração no setor sucroenergético significaria um investimento adicional de R$ 100 bilhões na bioele­ tricidade. Lembrando que a bioeletricidade cria 15 vezes mais empregos diretos que a geração a carvão mineral, 22 vezes mais que a fonte gás natural e 72 vezes mais empregos diretos que a energia nuclear (BNDES, 2005).

Se hoje a bioeletricidade representa ap­enas 2,3% do consumo brasileiro, essa fonte renovável e sustentável poderá representar 18% do consumo nacional de energia elétrica em 2020, caso seu potencial seja efetivamente con­cretizado.

Importante também é o aspecto da sus­tentabilidade dessa fonte. Aproveitar todo esse potencial de geração de bioeletricidade em 2020 significaria evitar quase 40 milhões de toneladas em emissões de CO2/ano, equiva­lente a mais de duas vezes e meia o total de Gases de Efeito Estufa (GEEs) emitidos no mu­nicípio de São Paulo.

Uma política setorial de longo prazo para a bioeletricidade deslanchar

Para atingirmos o pleno potencial da bioeletricidade – ou diminuirmos o hiato produ­

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tivo, há necessidade de uma política setorial de longo prazo para essa fonte renovável e susten­tável. É fato que a opção exclusiva por leilões nacionais no Ambiente Regulado, sem discrimi­nação da localização dos empreendimentos ou tipo de fonte, tem limitado a possibilidade de o Governo Federal compor a matriz de energia elétrica, conforme as necessidades e potenciais de cada região, promovendo a expansão concen­trada em regiões e a baixa diversificação entre as fontes.

Os resultados do último Leilão A­5, ocorri­do em dezembro de 2011, mostram isso: dos 42 projetos que comercializaram energia elétrica no certame, 39 são empreendimentos eólicos (93% do total). Em termos espaciais, 80% foram empreendimentos localizados no Supermercado Nordeste e apenas 5% no Sudeste/Centro­Oeste, submercado responsável por 62% da demanda por energia no sistema Interligado em 2011. Es­ses 5% de empreendimentos no Submercado SE/CO foram justamente de dois empreendi­mentos que operarão com biomassa da cana.

Promover a contratação das fontes de ge­ração em leilões genéricos que estão em “dese­quilíbrio institucional” (quer seja por concessão de benefícios fiscais, de financiamento ou con­juntura de sua própria indústria) apresenta uma oportunidade para aprimorarmos esse modelo. Isso, sem mencionar os efeitos da não­diversifi­cação da matriz elétrica e concentração da gera­ção em regiões longe do centro de carga.

A realização de leilões regionais represen­ta um refinamento necessário do atual modelo de contratação no Ambiente Regulado capaz de permitir um planejamento mais adequado do potencial das diversas fontes renováveis que o Brasil possui. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (2012), a demanda no país por energia elétrica deverá saltar de 472 mil GWh em 2011 para 736 mil GWh em 2021, um crescimento de aproximadamente 60% no período, equivalente a quase sete vezes a ener­gia a ser produzida pela UHE Belo Monte a plena motorização. Há espaço para as diversas fontes renováveis que sejam de fato complementares à fonte hídrica, como é a bioeletricidade.

O formato de leilões regionais para o aproveitamento local das fontes pode ser uma opção de real política setorial para as fontes renováveis, especialmente para a biomassa da cana, cujo potencial está inserido nos principais

centros consumidores do país, além de ser ple­namente complementar à fonte hídrica e ambi­entalmente sustentável.

Entende­se que os leilões no ambiente regulado deveriam ser específicos por fonte ou regionais, levando­se em consideração o poten­cial de cada fonte ou região. No caso da biomas­sa de cana, o potencial está principalmente na Região Centro­Sul, que é o maior centro consum­idor de energia elétrica do País, res­ pondendo por 77% do consumo nacional. Isto permite aos agentes públicos do setor elétrico o pleno res­gate do planejamento efetivamente “ex­ante” e não “ex­post” como estamos observando com os resultados dos leilões genéricos, que não conseguem direcionar para o aprovei­ tamento locacional das diversas fontes de ge­ração que o Brasil possui.

Um ponto importante também a ser con­siderado é o papel da bioeletricidade na expan­são da oferta de etanol. Até 2020, de acordo com estimativas da Unica, a produção de cana no País teria que praticamente dobrar, atingindo cerca de 1,2 bilhão de toneladas por ano apenas para atender o aumento da demanda por etanol e manter a posição brasileira no mercado mun­dial de açúcar. Para que isso aconteça, serão necessários investimentos de mais de R$ 150 bilhões e a construção de 120 novas usinas de processamento de cana – as chamadas green­fields.

Nesta linha, energia elétrica e etanol são produtos sinérgicos no setor sucroenergético. Se restringirmos a expansão da bioeletricidade, de­sestimula­se a tão necessária expansão do eta­nol no País. Uma política setorial de longo prazo adequada para a bioeletricidade certamente co­laborará também para a expansão da produção do etanol e do açúcar. Isto ajudaria não so­mente a bioeletricidade, mas também o etanol a deslancharem na matriz energética brasileira.

Trata­se de uma oportunidade literalmente única para promover o diálogo entre os diversos agentes públicos e privados da cadeia produtiva do setor sucroenegético para a expansão desses dois produtos sinérgicos na matriz energética na­cional: o etanol e a bioeletricidade

Zilmar José de Souzaé gerente de Bioeletricidade da União da Indús-tria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e professor da Faculdade Getúlio Vargas (FGV/SP).

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Em cerimônia realizada no estande do Governo do Estado no Pavil­hão Internacional, teve início a 35ª edição da Expointer. Estiveram presentes o governador Tarso Genro, o ministro da Agricultura,

Mendes Ribeiro Filho, o secretário de Agricultura, Pecuária, e Agronegócio, Luiz Fernando Mainardi, e o secretário do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Ivar Pavan.

O objetivo da Expointer deste ano é melhorar o desempenho dos anos anteriores. "Para o Governo do Estado, (a Expointer) tem um grande signifi­cado. Primeiro, queremos superar o ano interior, que já foi muito boa. Se­gundo, queremos fortalecer as políticas públicas voltadas para agricultura familiar, ovinocultura, e outros setores", declarou Tarso.

O governador também destacou que a seca que o Rio Grande do Sul en­frentou em 2012 não foi uma "catástrofe", e que a Feira é mais uma forma de ajudar os produtores a recuperarem os prejuízos. "É uma Expointer de um quadro de grande reversão", disse Tarso. Já o ministro Mendes Ribeiro lem­brou das respostas do Governo Federal aos produtores após a estiagem, em parceria com o Estado, e ressaltou o debate de soluções no evento. "Essa é uma Expointer que aponta para o amanhã", concluiu.

Em 2012, o Estado do Rio Grande do Sul teve uma quebra de 43,8% na soja e 40% no milho, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento. Para reverter o quadro, a Expointer aposta na tecnologia como aliada para driblar os efeitos do clima.

quer fortalecer políticas voltadas à agricultura familiar

35ª Ex

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Eventos

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Irrigação

O uso de técnicas e equipamentos adequados para a irrigação permite maior controle da produção. Exemplos disso são instrumentos como o tráfego controlado, o uso de GPS com correção em tempo real e o piloto automático. O uso dessas novas tecnologias possibilitou reduzir de 30% a 50% as perdas na soja após a estiagem no Rio Grande do Sul. Abordando o tema da irrigação, o governador Tarso destacou que as tecnologias são importantes para o setor, mas não são solução à estiagem.

"Irrigação não é um instrumento a ser usado em seca. Irrigação é para aumentar a produtividade em qualquer tempo. Os Estados Unidos têm alto uso de irrigação, mas isso não evitou as perdas com a seca. O importante é produzir mais com o mes­mo espaço", afirmou.

Diversidade

A 35ª Expointer com mais de quatro mil animais representando cerca de 150 raças, envolvendo três mil expositores. A previsão de vendas é superior a R$ 850 milhões. Além disso, foram 390 eventos

entre palestras e seminários. Os números da última edição mostram que o evento es­pelha a diversidade e a pujança da econo­mia gaúcha.

A maior feira agropecuária da Améri­ca Latina apresentou vários desafios e re­flexões. A produção mundial de alimentos precisa aumentar em 70% até 2050 para atender a demanda de nove bilhões de pessoas. Para especialistas, esse desa­fio ocorre num mercado que se abre para a produção brasileira, e há um potencial de mais 81% de de carne bovina, 56% de carne suína, 122% de carne de frango, 15% de arroz, 10% de milho e 140% de soja.

No caso do Rio Grande do Sul, os de­safios também incluem a sustentabilidade para o desenvolvimento econômico, o au­mento da produtividade, da assistência téc­nica e os cuidados com a terra, agregando valor, diminuindo as desigualdades region­ais, diversificando a produção, rompendo as monoculturas e incentivando o associa­tivismo. "Trabalhamos para que o campo gaúcho esteja devidamente representado no evento", resumiu o governador Tarso.

Números da ExpointerVisitantes 2012: 463.000

Comercialização:

• Animais: R$ 11.719.240,00

• Artesanato: R$ 1.250.513,00

• Agricultura Familiar: R$ 1.050.000,00

• Máquinas e Implementos agrícolas: R$ 834.700.000,00

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Todos os seres vivos, indistintamente, dependem da água para viver. No entanto, por maior que seja sua importância, as pessoas continuam poluindo os rios e suas nascentes, esquecendo o quanto ela é es­sencial para a permanência da vida no Pla­neta.

Trata­se de um recurso natural es­sencial, seja como componente bioquími­co de seres vivos, como meio de vida de várias espécies vegetais e animais, como elemento representativo de valores sociais e cul­turais e até como fator de produção de vários bens de consumo fi nal e inter­mediário.

Os dados citados pela ONU, a seguir, mostram a necessidade urgentíssima de se utilizar a água de forma prudente e ra­cional, evitando o desperdício e a poluição, pois:

­ Um sexto da população mundial, mais de um bilhão de pessoas, não têm acesso à água potável;

­ 40% dos habitantes do planeta (2.600 milhões) não têm acesso a serviços de saneamento básico;

­ Cerca de 8 mil crianças morrem dia­riamente devido a doenças ligadas à água insalubre e a um saneamento e higiene de­fi cientes;

­ Segundo a ONU, até 2025, se os atuais padrões de consumo se mantiverem, duas em cada três pessoas no mundo vão sofrer escassez moderada ou grave de água.

A Água no Mundo

No dia 22 de março, é comemorado o dia mundial da água. Se hoje os países lutam por petróleo, não está longe o dia em que a água será devidamente reconhecida como o bem mais precioso da humanidade.

A Terra possui 1,4 milhões de quilô­metros cúbicos de água, mas apenas 2,5%,

Água:sem ela seremos o planeta Marte de amanhãsem ela seremos o planeta Marte de amanhãsem ela seremos o planeta Marte de amanhãsem ela seremos o planeta Marte de amanhãsem ela seremos o planeta Marte de amanhãsem ela seremos o planeta Marte de amanhã

Arti

go Meio Ambiente

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desse total, são de natureza doce. Os rios, lagos e reservatórios de onde a humani­dade retira o que consome só correspon­dem a 0,26% desse percentual. Daí a ne­cessidade de preservação dos recursos hídricos. Em todo mundo, cerca de 10% da água disponibilizada para consumo são destinados ao abastecimento público, 23% para a indústria e 67% para a agricultura.

Água no Brasil

O Brasil tem a maior reserva de água doce do Planeta, ou seja, 12% do total mundial. Sua distribuição, porém, não é uniforme em todo o território nacional. A Amazônia, por exemplo, é uma região que detém a maior bacia fl uvial do mundo. O volume d’água do rio Amazonas é o maior do globo, sendo considerado um rio es­sencial para o planeta. Ao mesmo tempo, é também uma das regiões menos habita­das do Brasil.

Em situação oposta, as maiores con­centrações populacionais do país encon­tram­se nas capitais e nos centros urbanos de maior porte, distantes dos grandes rios brasileiros, como o Amazonas, o São Fran­cisco e o Paraná. O maior problema de es­cassez ainda é no Nordeste, onde a falta d’água por longos períodos tem contribuído para o abandono das terras e para a migra­ção aos centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro, agravando ainda mais o problema da escassez de água nestas ci­dades.

Embora existam alguns cenários preo­cupantes, o Brasil ainda está em condições privilegiadas em relação ao resto do mundo, principalmente quanto à disponibilidade de recursos hídricos dentro dos padrões quali­tativos e quantitativos aceitáveis; porém, há de se pensar que os mesmos deverão servir as futuras gerações, o que aumenta muito nossa responsabilidade sobre esse legado.

Considerações Finais

O Século XXI será decisivo quanto à adoção de manejos sustentáveis dos re­cursos hídricos. Duas frentes básicas de­safi am este processo: o aumento crescente da população, com maior demanda por água, e a disponibilidade reduzida em fun­ção da sua má distribuição no Planeta, cuja origem está preconizada pelas mudanças climáticas globais nas próximas décadas.

Em síntese, o Planeta está em curso para uma condição ambiental de caráter catastrófi co, talvez semelhante à condição do Planeta Marte, guardadas as devidas proporções, considerando que lá o pro­cesso de extinção da água (pelo menos em superfície) levou milhares ou milhões de anos, aliado a uma mudança climática im­placável à permanência da vida, ou seja, o predomínio de temperaturas muito abaixo de zero. Será este também o destino do nosso Planeta? *Marco Antonio Ferreira Gomes - Geólogo; D.Sc. em Solos, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP)

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Aristóteles, logo no início dos seus estudos de metafísica, afirmava com ênfase: “Esta

vida pode ser comparada com as soleni­dades dos jogos públicos, onde se reúnem pessoas de categorias diversas – umas para disputar as glórias e as coroas, outras para fazer comércio, outras para somente assistir e gozar do espetáculo, finalmente, outras mais abrigadas que trabalham duro para que tudo corra bem”.

Do mesmo modo, na vida, uns tra­balham para a glória, outros pelo luxo, outros pelo dinheiro e, finalmente, há um contingente que trabalha pelo ideal, pela construção de um mundo melhor, pela ver­dade, pela sociedade e pelo próximo. Estes últimos são os imprescindíveis, tão bem lembrados por Bertolt Brecht.

Neste último grupo incluo o grande educador – Prof. Dr. Roberto Rodrigues – cujo trabalho nestas últimas quatro déca­das, caracterizou­se pela luta constante em prol dos direitos dos produtores rurais, pela defesa obstinada dos benefícios e possi­ bilidades do cooperativismo, pela vontade inabalável de espargir os seus conhecimen­tos às novas gerações, pela busca e retifi­cação às novas ideias e tecnologias, mas, sobretudo, há de perpetuar­se como uma grande e linda história de amor e profundo carinho pela agricultura do nosso país.

O Prof. Roberto Rodrigues não é ape­nas um profissional muito competente e com profundas características de ansie­dade e dinamismo. Trata­se de pessoa di­ ferenciada em termos de liderança. Trata­se de um pensador, de um semeador de ideias e projetos, de esperança e de amor, sobretudo aos menos favorecidos pela sorte e aos jovens. Ele tem os seus méritos reconhecidos por todos os líderes da aca­demia, da agricultura e do cooperativismo, na esfera nacional e internacional.

O Prof. Roberto Rodrigues é paulista, engenheiro agrônomo e produtor rural bem sucedido. Para nossa alegria e honra, foi professor da Unesp nas últimas décadas, lecionando a disciplina de Cooperativismo no Departamento de Economia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias e Vete­ rinárias do Câmpus de Jaboticabal, onde se aposentou recentemente compulsoria­mente com a chegada dos 70 anos.

Além dos muitos trabalhos acadêmi­cos importantes sobre a doutrina coope­rativista, o referido professor sempre se

Roberto Rodrigues um grande educador

Prof. Roberto Rodriguesex-aluno e orgulho da ESALQ/USP

Homenagem

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mostrou preocupado com as consequên­cias do processo de globalização, da ne­cessidade do desenvolvimento sustentado, da participação das mulheres e dos jovens nos movimentos sociais, do desemprego e da sua influência na iniquidade entre as pessoas, do profissionalismo e da moderni­zação indispensáveis, da necessidade das alianças estratégicas, da agilidade e da eficiência para selecionar­se as tendências e inserir a agricultura do país na melhor de­las.

Como professor sempre pregou que não basta apenas saber os princípios, definir a doutrina, conhecer a história, “é preciso comportar­se cooperativamente”. Segundo ele, “a vida só faz sentido se ajudarmos a melhorar o mundo para todos”.

Os profissionais da área de agrárias e, sobretudo, no cooperativismo agrícola, não têm dúvidas quanto ao profícuo trabal­ho desenvolvido por este ilustre professor. Ele é considerado um dos maiores líderes cooperativistas do mundo e um dos maio­res expoentes da agricultura do nosso país, nestes últimos 50 anos.

No ano de 1997 assumiu a Presidên­cia da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), em Genebra, por aclamação e como candidato único, pelos 180 delegados que representavam os 101 países integrantes desta Aliança Mundial. A ACI já contava com 102 anos de história e nunca havia tido um presidente que representasse o continente americano. É a maior ONG do planeta e na época já contava com cerca de 800 milhões de membros filiados e dis­punha de recursos da ordem de 6 bilhões de dólares. Desta forma, não é difícil inferir que nossa Universidade, já gozava de pre­ dicados incomuns de competência, coorde­nação e liderança.

O Prof. Roberto Rodrigues ocupou e teve atuação destacada também em vários cargos públicos relevantes para o Estado e para o país, desde representante do setor rural no Conselho Monetário Nacional, pas­sando pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e até o Ministério da Agricultura do Governo Federal. Foi homenageado, com comendas de reconhecimento por serviços prestados, pelos governos de vários países do mundo, pela FAO e pela UNICEF.

Apesar da grande experiência e de todo este reconhecimento e autoridade mundial, mercê de uma soma de quali­dades morais e intelectuais, “ele continua a ser o professor humilde, bem humorado e disciplinado, defensor intransigente do pequeno produtor rural e exemplo de obsti­nação e de amor à profissão para os jovens estudantes. Por isso já foi homenageado de formandos, como paraninfo, patrono ou nome de turma por dezenas de vezes, em diferentes Universidades do país e fora dele.

Face ao exposto de forma resumida, conclui­se que o Prof. Roberto é um grande professor, comunicador e líder mundial, que orgulhou muito a Unesp tê­lo em seu quadro de Doutores. O título de “Dr. Honoris Causa”, que lhe foi concedido por unanimi­dade do Conselho Universitário em 1998, foi reflexo natural do trabalho brilhante que ele desenvolveu dentro e fora dos meios acadêmicos e que sempre projetará o Bra­sil dentro do cenário da Agricultura e do Co­operativismo Mundiais.

Prof. Julio Cezar Durigan,

professor titular da Unesp, Câmpus de Ja­boticabal, e Vice­Reitor licenciado para dis­putar a eleição a Reitor da Unesp

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