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Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

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Confira nesta edição: A soja é a estrela maior da agricultura brasileira, mas quem garante as projeções de supersafra de grãos este ano é o milho.

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Sumário

18 MáquinasUma das maiores feiras do mundo, a Agrishow apresenta tecnologias de ponta, novidades em equipamentos agrícolase discute as tendências do setor.

34 EntrevistaO presidente da Aprosoja/MT, Cárlos Fávaro, explica porque em Mato Grosso o associativismo funciona bem e mostra fôlego para crescer.

38 FitossanidadeSeminário reúne agricultores, técnicos, cientistas e entidades de classe de todoo país para debater o ataque de lagartasa lavouras de milho trangênico.

44 TecnologiaPesquisadores ressaltam a importância das áreas de refúgio no controle de pragas e mostram, com apoio de gráficos, como devem ser conduzidas.

50 OriziculturaGaúchos vão usar imagens de satélite fornecidas pelo Inpe para monitorar a lavoura de arroz e apurar dados sobreárea, produção e produtividade.

26Matéria de capaA safra 2012/13 de

grãos caminha rumo ao recorde de produção no país, graças à expansão

da lavoura, maior profissionalização dos

agricultores, investimentos em tecnologia e

condições climáticas favoráveis, especialmente

na região sul do país.

SeçõesDo leitor ............................................................ 4Ponto de vista ................................................. 9Notícias da terra ...........................................10Política ..............................................................47Marketing da terra .......................................52

Deu na imprensa .........................................56Análise de mercado ....................................58Novidade no campo ...................................60Biblioteca da terra ........................................62Agenda.............................................................64

Artigos 9 - Daniel Glat antevê a lavoura do futuro com mapeamento dos genomas33 - Rogério Arioli recomenda cautela ao analisar perspectivas para 201437 - Décio Gazzoni prega medidas de combate ao desperdício de alimentos54 - Xico Graziano analisa o caos fundiário e a inoperância do Incra66 - Fábio Lamonica explica a legislação em caso de ineficácia de produtos

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Do Leitor

AMAZONASFaço assessoria para cinco empresas

do agronegócio mato-grossense. Gostei da revista e gostaria de recebê-la.

Karoline Mônica MartiniManaus

DISTRITO FEDERALMuito bom o texto intitulado “Es-

queceram-se do aquecimento?”. Re-presenta, de fato, a preocupação com a apuração da notícia, da informação. Os veículos de comunicação em geral absorveram a ideia de que temos aque-cimento global e a população compra esta manchete sem questionar. Que continuemos na busca de pesquisas e estudos sobre o tema. Parabéns pelo trabalho!

Valdir Colatto Deputado federal (PMDB/SC)

Brasília

NR: O texto em questão, publicado na seção Política, da edição de abril (página 44), trata de reportagem da conceituada revista alemã Der Spiegel, na qual o jor-nalista Axel Bojanowski, editor da seção de ciências da publicação, questiona a veracidade das informações sobre aque-cimento global, baseado em entrevistas com vários cientistas. Bojanowski cita, in-clusive, relatório recente da Nasa, em que a agência norte-americana a�rma que a temperatura no planeta está estagnada há pelo menos 15 anos.

ESPÍRITO SANTOAchei a revista muito interessante,

com ótimas informações sobre o meio rural.

Zacarias José TrésRio Novo do Sul

GOIÁSA revista traz conteúdos que real-

mente nos interessam. É uma troca de informação muito importante para o desenvolvimento do agronegócio brasi-leiro. Parabéns à Agro DBO.

Juliano de AbreuJataí

MATO GROSSOUma revista de bastante importân-

cia para o pro�ssional que trabalha no segmento agrícola. É muito boa.

Marcos José de CarvalhoCampo Novo do Parecis

MATO GROSSO DO SULConheci a revista através de um

agrônomo e me interessei pelo conteú-do, que certamente ajudará no desenvol-vimento do agronegócio na propriedade de nossa família.

Daniel Rodrigues dos SantosCampo Grande

MINAS GERAISLi algumas reportagens de Agro

DBO e as achei interessantes. Sou agrô-noma e presto assistência técnica em diversas propriedades rurais da região. Ler uma revista que seja tão boa e escla-recedora me permite manter informada sobre o que está acontecendo na área agrária em todo o Brasil. Fiquei surpre-sa ao saber que nós, do segmento rural, temos o privilégio de receber esta revista gratuitamente. Parabéns pela iniciativa. Isto ajuda e impulsiona a agricultura.

Heliselle Cristina R. RochaTaiobeiras

Recebo a Agro DBO e sou leitor as-síduo das belas reportagens desta revista, pois sou produtor rural e as informações que esta publicação traz são de muita importância para o agronegócio.

Gostaria de mudar o meu endereço de correspondência, para não perder ne-nhuma edição desta brilhante revista.

João Luiz de AndradeTupaciguara

NR: Técnico agrícola, o leitor é o per-sonagem central da matéria intitulada “Agricultor e sem terra, mas campeão de produtividade”, publicada na edição de agosto de 2008 na revista DBO Agrotec-nologia, antecessora da Agro DBO. A expressão “sem terra”, no caso, não tem qualquer relação com o MST ou com o tema re�rma agrária, mas, sim, à prática de arrendar terras de terceiros para im-plantação de lavouras.

Excelentes as matérias, dado o seu caráter técnico e cientí�co.

Hamilton Hermínio AfonsoPompéu

PARÁCom certeza, esta revista contribui

muito para difundir informações de mercado na área do agronegócio.

Roberto Tadao KatoMarabá

Uma ótima fonte de informação.Geraldo Gonçalves

BelémPARAÍBA

Muito legal essa revista.Walkleber dos Santos Pereira

Guarabira

PARANÁA Agro DBO é um excelente veículo

para nos manter atualizados a respeito do agronegócio.

Silvana Carraro AguiarCidade Gaúcha

Matérias bem elaboradas, com as-suntos atuais e relacionados com a pes-quisa. Parabéns!

Edivan Abel Moraes/Coamo Agroindustrial Cooperativa

Campo Mourão

Achei legal. Fala a língua do produ-tor rural.

Ademar Antônio BettegaTurvo

Interessante, completa, muito bem editada, com conteúdo para o produtor que lida todo dia no campo.

Dione Francisco RabuskeSanta Cruz do Sul

Já recebo a Agro DBO e estou fa-zendo o recadastramento, pois as in-formações constantes da revista são de extrema importância para o desenvol-vimento do meu trabalho.

Régines GassnerAntônio Olinto

Bastante interessante, a revista. Te-nho interesse na área agrícola, sem dei-xar de lado a pecuária, onde também atuo. Conheci a Agro DBO pelo curso de vendas agro que frequentei e espero obter maiores conhecimentos na área.

Daniel Braz de OliveiraUnião da Vitória

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RIO GRANDE DO NORTEDe suma importância para nos

mantermos atualizados com as inova-ções tecnológicos na agropecuária.

Ana Alessandra da CostaParnamirim

RIO GRANDE DO SULÉ uma revista que traz assuntos

muito interessantes, no que diz respeito à agricultura. O material vai me ajudar muito no curso de que estou fazendo, de técnico em pós-colheita de grãos.

Adilson Antônio Andrade Panambi

Excelente publicação. Assuntos mui-tos pertinentes e atuais. A revista tem grande potencial para uso em salas de aula.

Adilar ChavesPasso Fundo

Indispensável para o desenvolvi-mento técnico da agricultura.

Gilmar Luiz MumbachCerro Largo

Artigos de alta relevância para técni-cos e produtores.

Marcelo Pilon.Bagé

SANTA CATARINAEsta revista é muito inteligente. Fala

dos problemas que afetam o campo nos dias de hoje em várias culturas, desde convencionais até as transgênicas.

André Carlos ZanellaXanxerê

Uma revista que traz muitas infor-mações técnicas, o que para nós, agrô-nomos, é de muita utilidade.

Leandro CataneoBom Jardim da Serra

Atualizada, transmite assuntos in-teressantes para pro�ssionais da área e estudantes.

Saulo Baggio Dall´asenAbelardo Luz

SÃO PAULOParabéns pelos 10 anos da Agro

DBO. Não é fácil encontrar e publicar material de qualidade todos os meses. Parabéns!

Odo PrimavesiSão Paulo

NR: A revista entrou em seu 10º ano de circulação ininterrupta, sem fazer alar-

AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens

recebidas devido à falta de espaço.

de. Até agosto do ano passado tinha pe-riodicidade bimestral e era denominada DBO Agrotecnologia. Então dobrou de tamanho, ganhou novo design e passou a circular mensalmente, rebatizada como Agro DBO.

Parabéns pela matéria de seguros (publicada na edição de abril). Ficou com bastante informação, bem embasa-da e esclarecedora.

Sara PizzaSão Paulo

Sou analista econômico-�nanceiro, com especialização em agronegócio. Achei a revista muito interessante.

Gilson da Costa RodriguesSão Paulo

Revista de suma importância para atualização dos pro�ssionais da área. Material bem colocado e em termos técnicos.

Fernando Cornélio VerschoorPirapozinho

Acompanho as edições online sem-pre que posso. É uma revista com re-portagens interessantes, que me atualiza sobre os acontecimentos mais recentes.

João Leonardo Miranda BellotteIlha Solteira

Gostaria de parabenizar toda a equipe da Mídia DBO pelos 10 anos das revistas Mundo do Leite e Agro DBO. Publicações como essas contribuem para o crescimento e pro�ssionalização do agronegócio nacional. Parabéns pelo tra-balho e por oferecer produtos completos, consistentes e totalmente focados, um no setor lácteo, o outro, na agricultura.

Milton F. RegoSão Paulo

SERGIPEExcelente, direta e informativa, com

linguagem apropriada para o homem do campo.

Ronald SchoenherrAracaju

TOCANTINSExcelente. A revista está sendo útil

para embasar minhas decisões para o futuro.

Reginaldo Abdalla RosaPalmas

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Carta ao leitor

A leitura das reportagens “Safra cheia”, do jornalista José Maria Tomazela, e “Perdas e polêmicas”,

do jornalista Ariosto Mesquita, nesta edição da Agro DBO, parecem conduzir a dois opostos, ou melhor, a dois países diferentes, com agriculturas distintas, com problemas de outra natureza. Em “Safra cheia”, se faz o registro apoteóti-co e vigoroso dos recordes de produção e produtividade obtidos, respectivamente, pelo Brasil e pelos estados do Sul do país, nas lavouras de milho e soja na safra 2012/13. Na matéria “Perdas e polêmicas”, é possível constatar e até mesmo sentir o pavor e o pânico gerados entre produtores rurais do Sudeste e Centro-Oeste, avalizados por pesquisadores e cientistas, sobre a invasão das lagartas Helicoverpa.

De um lado, os sulistas comemoram e sorriem de orelha a orelha. De outro, o prejuízo em si, com a perda da rentabilidade e o aumento dos custos, mesmo com os preços de mercado altamente remunera-dores. A perspectiva negativa exacerbada de, quem sabe, não se poder mais empregar a tecnologia Bt, pela sua precoce obsolescência, traz uma gigantesca decepção em virtude dos eternos benefícios que as sementeiras prometiam aos produtores.

Um paradoxo, diríamos, pois se a nova e caríssima tecnologia veio para solucionar problemas, acabou causando novos e aterrado-res problemas, eis que, açodadamente, os produtores a ela aderiram em massa, porém não levaram em conta cuidados fundamentais no manejo, como as áreas de refúgio: a natureza não se engana, nem pode ser enganada.

Há plena certeza de que o problema da lagarta veio para ficar. O tempo dará respostas a isso. Resta ao produtor, portanto, a pru-dência e o bom senso de seguir as recomendações dos especialis-tas. Para conhecer como devem ser feitas essas práticas, Agro DBO publica nesta edição artigo encomendado a diversos especialistas da Embrapa, mostrando em texto e ilustrações, como funciona o preconizado e salvador refúgio.

Na presente edição, além dos tradicionais e palpitantes artigos dos nossos colunistas, registramos uma avant première da Agrishow 2013, e ainda muitos assuntos para o leitor acompanhar o que acon-tece em nossa agricultura de Norte a Sul.

Aos que desejarem manifestar suas opiniões sugerimos enviar e--mail para [email protected]

Richard Jakubaszko

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda.

DIRETOR RESPONSÁVELDemétrio Costa

EDITOR EXECUTIVO Richard Jakubaszko

EDITOR José Augusto Bezerra

CONSELHO EDITORIALDécio Gazzoni, Demétrio Costa,

Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale,

José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko

REDAÇÃO/COLABORADORESAdeney de Freitas Bueno, Ariosto Mesquita,

Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamônica, Glauco Menegheti, José Maria Tomazela,

José M. Waquil, Sandra Maria Moraes Rodrigues, Simone M. Mendes e Rogério Arioli Silva.

ArteEDITOR

Edgar Pera

EDITORAÇÃO Edson Alves e Célia Rosa

COORDENAÇÃO GRÁFICAWalter Simões

Marketing Gerente: Rosana Minante

DEPARTAMENTO COMERCIALNaira Barelli, Andrea Canal,

Marlene Orlovas e Vanda Motta

CIRCULAÇÃOGerente: Edna Aguiar

IMPRESSÃOLog&Print Gráfica e Logística S.A.

Capa: Foto José Medeiros

DBO Editores Associados LtdaDiretores: Daniel Bilk Costa,

Odemar Costa e Demétrio Costa

Rua Dona Germaine Burchard, 229Perdizes, São Paulo, SP

05002-900 - Tel. (11) [email protected]

www.agrodbo.com.br

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espaços em branco com todas as informações solicitadas. Se necessário, solicite o e-mail de algum conhecido ou faça isso na cooperativa ou revenda de sua cidade.

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como o Brasil. Por isso, as próxi-mas gerações de transgênicos que veremos no mercado brasileiro serão “mais do mesmo”; ou seja, quase que upgrades do que já te-mos hoje e, não, novidades: A soja tolerante a glifosato, devido ao crescente numero de espécies resistentes, passará a ser acompa-nhada de resistência à Dicamba ou 2-4D; o milho e algodão Bts precisarão ter um número cada vez maior de genes de resistência a lepidópteros “empilhados” ou “estaqueados” para conseguirem o mesmo efeito que o YG, HX, ou Bolgard conseguiram nos seus

primeiros anos de lançamento. Os próximos lançamentos no merca-do de milho serão diversas com-binações de YG, HX, VTPRO, e Viptera com o objetivo de fazer o mesmo que esses genes sozinhos �zeram até agora.

Quanto aos tão falados trans-gênicos da seca, da produtivi-dade ou da melhor utilização de nitrogênio, esses ainda terão que ser demonstrados. Em mi-nha opinião, chegaremos lá não através da transgenia, mas, sim, através de uma área muito mais poderosa e abrangente que é a do conhecimento e mapeamento dos genoma das culturas. Hoje, com os avanços da biologia mo-lecular e celular, da nanotecno-logia, da bioinformática, do uso de marcadores moleculares, esta-mos aprendendo a ler o DNA das

Poucas tecnologias agríco-las foram mais polemiza-das e geraram mais argu-mentos equivocados que a

transgenia.  Os “contras”, guiados por razões políticas e ideológicas, mas sem nenhum embasamen-to cienti�co, tentaram por anos transformar os produtos transgê-nicos em algo nocivo à saúde e ao meio ambiente; mais de 15 anos depois de seu lançamento, jamais se provou ou se observou algum malefício desses produtos.

Por outro lado, os donos da tecnologia também exageraram na importância e possibilidades

dos transgênicos, como se fossem soluções de�nitivas para todos os males da agricultura. E, claramen-te, isso também está longe de ser verdade. A transgenia é apenas mais uma das inúmeras ferra-mentas disponíveis para o agri-cultor moderno, com alcances e limitações, como qualquer outra tecnologia. Uma dessas limitações é o fato de a transgenia, sem aju-da do resto do genoma, só poder atuar em características de�nidas por apenas um ou poucos genes. É por isso que, até hoje, o que se conseguiu com essa tecnologia foi  resistência a alguns tipos de herbicidas, a alguns lepidópteros e à larva da diabrotica (Diabroti-ca speciosa); resistências essas que ervas e insetos estão habilmente quebrando com rapidez, princi-palmente em regiões subtropicais

De dentro para foraA produtividade na lavoura dependerá mais do conhecimentoe mapeamento dos genomas das culturas do que da transgenia.Daniel Glat *

* O autor é engenheiro

agrônomo, consultor e produtor rural

em Tocantins.

Pode-se “ler” o DNA de amostras de sementes e semear apenas aquelas com os genes desejados

culturas e identi�car e mapear genes de interesses; através de ex-tensivos trabalhos de campo com so�sticados desenhos experimen-tais estamos aprendendo a rela-cionar sequências de DNA com aspectos fenotípicos das plantas. Ou seja, aos poucos os cientis-tas vão identi�cando os genes nativos da cultura que conferem maiores produtividades, estabili-dade, tolerância à seca, tolerância a doenças etc... Isso é uma verda-deira revolução na forma de se fa-zer melhoramento genético!

Até pouco tempo atrás o me-lhoramento genético era feito de “fora para dentro”, ou seja, pes-quisadores selecionavam plan-tas, linhas ou populações com características desejadas e, ao fazer isso, selecionavam automa-ticamente as sequências de DNA que elas continham. Só podíamos avaliar essas plantas, linhas ou po-pulações plantando-as no campo e esperando todo ciclo da cultura para avaliar suas performances. Hoje, o melhoramento genético é feito de “dentro para fora” tam-bém, ou seja, podemos selecionar ou descartar linhas simplesmente lendo o DNA de amostras de se-mentes ou plântulas, e levando a campo somente aquelas que sa-bemos conter boa proporção de genes desejados.

Acredito que a transgenia con-tinuará a ter seu papel na agricul-tura, mas o diferencial dos híbridos e variedades do futuro virá princi-palmente, em minha opinião, do mapeamento do genoma das cultu-ras e da melhor utilização da varia-bilidade genética nativa.

Ponto de vista

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Notícias da Terra

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Safra INovamente em alta

A Conab aumentou novamen-te suas projeções para a safra

2012/13 de grãos. Segundo o séti-mo levantamento da entidade, di-vulgado no mês passado, o Bra-sil vai colher 184,05 milhões de to-neladas (no quinto levantamento, previu 185, e no sexto, 183,6 mi-lhões de toneladas). A gangorra deve-se, obviamente, às diferentes

condições de colheita em cada pe-ríodo da safra. Grosso modo, po-rém, o regime favorável de chuvas e o incremento na área do milho 2ª safra justi�caram o acréscimo nas estimativas. De qualquer forma, a produção nacional de grãos vai ser muito maior do que a do ano pas-sado, quando o país colheu 166,17 milhões de toneladas.

Safra IILavouras maiores

A soja segue como o grande des-taque desta safra, segundo a

Conab, com crescimento de 23,4% sobre as 66,38 milhões de toneladas colhidas em 2012 e produção esti-mada de 81,94 milhões de tonela-das. O milho 2ª safra tem bom de-sempenho, com aumento de 9,1% sobre as 39,11 milhões de tonela-das do último ano e deve chegar a 42,69 milhões de toneladas, supe-rando a produção na 1ª safra, esti-mada em 34,77 milhões. A área to-tal de plantio de grãos cresceu 4,2% em relação à safra passada (50,89 milhões/ha) e chegou a 53,04 mi-lhões de hectares. As culturas de soja e milho obtiveram também os melhores desempenhos em área plantada. O aumento na soja foi de 10,7% (passou de 25 milhões para 27,71 milhões/ha) e no milho 2ª sa-fra, de 3,4% (de 7,62 milhões para 8,64 milhões/ha).

Safra IIIPrevisão conservadora

A terceira estimativa do IBGE da safra nacional de cereais, legu-

minosas e oleaginosas (caroço de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, cen-teio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) indica produção de 181,3 milhões de toneladas, 12% acima do obtido em 2012 (161,9 milhões) e 1,2% abaixo do previsto em feve-reiro (183,5 milhões).

A área a ser colhida em 2013 deve chegar a 52,7 milhões de hec-tares, 7,9% maior do que a do ano passado (48,8 milhões de hecta-res). As três principais culturas (ar-roz, milho e soja), responsáveis por 92,5% da produção de cereais, le-guminosas e oleaginosas, ocupam 86,0% da área a ser colhida.

Safra IVSul lidera por pouco

Considerando a divisão territo-rial do país, o volume da pro-

dução de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição, conforme o último le-vantamento de safra do IBGE: Sul, 72,1 milhões de toneladas; Centro--Oeste, 71,6; Sudeste, 19,3; Nordes-te, 13,7; e Norte, 4,6. Comparativa-mente à safra passada, o institu-to registrou aumento de produção

de 30,5% no Sul, 14,9% no Nordes-te, 1,1% no Centro-Oeste e 0,6% no Sudeste Na região Norte, ao con-trário, a produção caiu 2,4%.

Mato Grosso segue como o maior produtor nacional de grãos, com participação de 23,7% do to-tal, à frente do Paraná (20,6%) e do Rio Grande do Sul (15,7%). Os três estados respondem por 60% da produção nacional.

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Notícias da Terra

maio 2013 – Agro DBO | 11

VBPTomate na ponta

O VBP – Valor Bruto da Pro-dução das principais la-

vouras brasileiras deve atingir R$ 270,36 bilhões este ano, se-gundo estudo da AGE/Mapa – Assessoria de Gestão Estratégi-ca do Ministério da Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento (o levantamento é feito mês a mês, com dados baseados nos levan-tamentos de safra da Conab e do IBGE).

A maior parte dos produtos analisados deve apresentar ele-vação de valores, destacando-se entre eles o tomate, com alta de 42,7%, a batata-inglesa (28,5%), a laranja (24,4%), a soja (21,8%), o feijão (17%), o fumo (14,4%), o milho (12,8%), a cana-de-açú-car (9,5%), o trigo (8,6%), o ar-roz (7,5%), a banana (6,5%), e a mandioca (1,3%). O VBP na re-gião sul do país deve crescer 27,2%; no Nordeste, 16%; no Su-deste, 13%; no Centro Oeste, 4%; e no Norte, 1,7%.

Exportações IIIPerspectiva de queda

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA,

da sigla em inglês) reduziu suas projeções para as exportações bra-sileiras e argentinas de soja, com base em expectativas de queda nas importações chinesas na tempora-da, mas elevou a dos Estados Uni-dos. O Brasil deverá exportar 36,75

milhões de toneladas neste ano (a estimativa anterior indicava 38,4 milhões) e a Argentina, 10,35 mi-lhões (em março, a previsão era de 10,90 milhões).

Os embarques norte-america-nos alcançarão 36,74 milhões de toneladas nesta temporada, con-forme o relatório de abril (em

março, o USDA previa 36,61). Se-gundo a instituição norte-ame-ricana, a China deve comprar dois milhões de toneladas a me-nos neste ano comercial em curso. Em relação à produção, o USDA manteve as estimativas para a sa-fra brasileira de soja em 83,5 mi-lhões de toneladas.

Exportações IBalança comercial positiva

O agronegócio brasileiro faturou US$ 7,69 bilhões com exportações em março, 0,3% a menos em relação a março de 2012. As importações do setor alcançaram US$ 1,53 bilhão, 0,1% a

mais do que no mesmo perído do ano passado. Com isso, o saldo da balança comercial do agro-negócio foi superavitário em US$ 6,18 bilhões. Os principais setores exportadores foram: com-plexo soja (US$ 2,38 bilhões), carnes (US$ 1,37 bilhão), complexo sucroalcooleiro (US$ 953 mi-lhões), produtos �orestais (US$ 762 milhões) e cereais, farinhas e preparações (US$ 594 mi-lhões). As exportações agregadas destes cinco principais setores alcançaram US$ 6,05 bilhões, o equivalente a 78,7% do valor total exportado no mês de março.

Exportações IIDe novo, os chineses

A China foi o principal destino das exportações do agronegó-

cio nacional no primeiro trimestre deste ano. Pagou US$ 2,76 bilhões aos brasileiros. O segundo maior comprador foram os Estados Uni-dos, com gastos 29,9% maiores (de US$ 1,33 bilhão para US$ 1,73 bi-lhão). A Coreia do Sul, no entanto, foi o país que mais contribuiu pa-

ra o incremento nas exportações brasileiras, em termos percentuais, com aumento de US$ 505 milhões nas compras. Esse crescimento foi determinado, sobretudo, pela ex-pansão nas vendas de milho, que passaram de US$ 2,62 milhões no primeiro trimestre de 2012 para US$ 3,97 milhões no mesmo perí-odo em 2013.

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Notícias da Terra

Cana IA ”marvada” tira passaporte

A cachaça ganhou, enfim, re-conhecimento oficial nos Es-

tados Unidos, após uma década de negociações entre os gover-nos brasileiro e norte-americano. Desde o dia 11 de abril, passou a ser comercializada naquele país como produto tipicamente brasi-leiro. Ou seja, se não for produ-zida no Brasil, não pode ser cha-mada de cachaça. Antes do reco-nhecimento legal, os americanos a vendiam com o rótulo de “rum brasileiro” e confundiam outros destilados com a nossa legítima “pinga”.

Na opinião de Vicente Bas-tos, do Ibrac – Instituto Brasi-leiro da Cachaça, a medida evita que a “marvada” vire um destila-do genérico, como a vodka, que

era produzida só na Rússia e ho-je é feita em vários países. Os Es-tados Unidos são o maior merca-do de destilados do mundo e es-tão entre os principais compra-dores de cachaça.

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Biocombustíveis IQuase R$ 1 bilhão

O 30º leilão de biodiesel da ANP – Agência Nacional do

Petróleo, Gás Natural e Biocom-bustíveis, realizado em abril, ren-deu R$ 992 milhões, dos quais R$ 968 milhões �caram com as usi-nas fornecedoras. Os R$ 24 mi-lhões restantes foram parar no caixa da Petrobras, intermediária das operações – nessa condição, a estatal recebe R$ 0,05 por litro de biodiesel vendido.

A comercialização de biodie-sel no Brasil é realizada a cada dois meses. A região Sul apresentou o menor preço médio no 30º leilão, vendendo o biodiesel a R$ 1,92 o litro. As usinas do Centro-Oeste venderam a R$ 1,99; as do Sudeste, R$ 2,11; as do Norte, R$ 2,16/litro; e as do Nordeste, R$ 2,20. O próxi-mo leilão está programado para a última semana deste mês de maio. A ANP divulga o cronograma em seu site: www.anp.gov.br.

Biocombustíveis IIModelo de estoque

Portaria do MME – Ministério de Minas, publicada no mês

passado, institui novo modelo pa-ra os estoques estratégicos de bio-diesel no país. Uma das novidades é a modalidade de aquisição por “opção de compra”, usada em ou-tros setores da economia, através da qual os compradores de biodie-sel (basicamente a Petrobras) con-tratam o direito de retirar o produ-to a qualquer tempo, e as usinas �-cam obrigadas a concluir o negócio ao preço acordado.

Segundo nota do MME, o no-vo modelo tem como objetivos re-duzir custos e melhorar a e�ciência logística. “Evita a degradação do produto quando armazenado por longos períodos e elimina o trans-porte físico da usina até a Petro-bras. Na eventual necessidade de consumir os estoques de seguran-ça, o biodiesel sairá diretamente do produtor para a distribuidora”.

Cana IICanaviais robustos

A safra 2013/14 de cana-de--açúcar deve chegar a 653,81

milhões de toneladas, 11% acima do produzido na temporada pas-sada (588,92 milhões), segundo projeções da Conab. A área de corte passará de 8.485 mil para 8.893 mil hectares, com produ-tividade média 5,9% maior nas lavouras, graças à renovação de 968,38 mil hectares de canaviais e à normalização das condições climáticas, sobretudo da região centro-sul do país.

A produção de açúcar deve crescer 13,61% (de 38,34 milhões para 43,56 milhões de toneladas); a do etanol, 8,99% (de 23,64 bi-lhões para 25,77 bilhões de litros); a de anidro – destinada à mistu-ra com a gasolina –, 15,35% (de 9,85 bilhões para 11,36 bilhões de litros) e a de hidratado – utilizado nos veículos “�exfuel” –, 4,45% (de 13,79 bilhões para 14,40 bi-lhões de litros).

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Notícias da Terra

maio 2013 – Agro DBO | 13

Logística IIReforma de estradas

Usinas de cana-de-açúcar das regiões norte e noroeste do Pa-

raná decidiram investir R$ 64 mi-lhões para ajudar o governo a re-cuperar 1,5 mil quilômetros de es-tradas em 73 municípios. A maior parte do custeio será bancada, po-rém, pelo estado, que vai aplicar R$ 104 milhões no projeto. A parceria, consubstanciada no programa Ca-minhos do Desenvolvimento, foi anunciada no mês passado em São Pedro do Ivaí (PR), durante o lan-çamento o�cial da safra 2013/14 de cana-de-açúcar na região centro--sul do país.

“Com esta parceria, poderemos fazer a readequação de pontes e er-guer trincheiras, bene�ciando pro-dutores de cana e de outras ativi-dades. O Paraná dá um salto pa-ra reduzir o custo e ajudar o setor a ser mais competitivo, gerando mais empregos“, a�rmou o presi-dente da Alcopar – Associação dos Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná, Miguel Tranin. O governo estadual informou que, em breve, serão formalizados con-vênios similares com outros seto-res agrícolas.

Logística IDesoneração no transporte

Sete setores de transporte (rodovi-ário de carga, táxi aéreo, metro-

ferroviário de passageiros, ferroviá-rio de carga, navegação de travessia, agenciamento marítimo de navios e gestão de cargas e descargas de con-têineres) foram bene�ciados pela de-soneração nas respectivas folhas de pagamento, por decisão do gover-no federal. A medida, publicada no Diário O�cial da União em 5/4/13,

passa a vigorar a partir de 1/1/14. O Secretário de Política Econômi-ca do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, disse que a desoneração faz parte da agenda de reforma tributá-ria e traz vantagens como competiti-vidade, simpli�cação tributária e ga-nho de �uxo de caixa, além de ajudar na retenção da mão de obra. Ao to-do, 42 setores da economia brasilei-ra foram bene�ciados.

LegislaçãoEmplacamento de máquinas agrícolas

A partir de primeiro de junho próximo, as máquinas e imple-

mentos agrícolas fabricados nes-te ano deverão ser registradas com emplacamento e CRV – Certi�ca-do de Registro de Veículos. Segun-do o Contran – Conselho Nacional do Trânsito, também será preciso emplacar tratores destinados a pu-xar ou arrastar máquinas de qual-quer natureza.

O Contran alega que a medi-da levará segurança às estradas. Os

produtores rurais perguntam, no entanto, por onde os tratores vão trafegar, se nem há estradas em condições? Para transitar nas ro-dovias, os veículos terão de por-tar CRV. A identi�cação do veículo será feita por meio de gravação do número especí�co no chassi. O não cumprimento destas normas pode resultar em multas, apreensão do veículo e remoção, entre outras pe-nalidades previstas no Código de Trânsito Brasileiro.

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Café IICafé em baixa

O café representou 6,9% de to-das as exportações do agrone-

gócio nacional no primeiro trimes-tre do ano, conforme dados da Se-cretaria de Produção e Agroenergia do Mapa. O título de principal com-prador de café verde brasileiro con-tinuou com a Alemanha, embora as exportações para aquele país tenham caído 27,3% no período. O segundo maior importador foram os Estados Unidos, país que reduziu suas com-pras em 17,02%. Em compensação, o

volume embarcado aumentou para o Japão (75,97) e para a Turquia (16%).

A receita cambial do café ver-de representou 6,1% no volume de recursos do total das exportações brasileiras. Segundo o diretor do Departamento do Café do Mapa, Edilson Alcântara, houve uma di-minuição no valor de receitas em 21,7%, em função da queda de pre-ços. “No entanto, o produto apre-sentou aumento na quantidade ex-portada em 10%”.

Café ITolerância à seca

Pesquisadores da Embrapa e da UFRJ – Universidade Fe-

deral do Rio de Janeiro desco-briram que o gene CAHB12 do café é tolerante à seca. Ao estu-dar cerca de 30 mil genes – parte do projeto para traçar o genoma do café –, eles perceberam que alguns deles expressavam tole-rância ao estresse hídrico, espe-cialmente o CAHB 12. “Nós o retiramos do café e o introduzi-mos em outra espécie, a Arabi-dopsis thaliana, uma planta mo-delo de testes (NR: a A. thaliana é uma planta herbácea da famí-lia das Brassicaceae, a que tam-bém pertence a mostarda. É um dos organismos modelo para es-tudo de genética, em botânica). As plantas que receberam o ge-ne �caram muito mais resisten-te à seca. As que não o recebe-ram resistiram 15 dias sem água, antes de morrer. As que o rece-beram sobreviveram até 40 dias. Além disso, suas sementes �ca-ram resistentes à seca até a ter-ceira geração”, disse o doutor em biologia molecular Eduardo Ro-mano, pesquisador da Embrapa.

O gene CAHB12 pode ser introduzido em outras culturas. O próximo passo será aplicá-lo à cana, ao arroz, ao trigo, à soja e ao algodão e observar seu com-portamento. Se tudo sair como esperado, a tecnologia pode es-tar no mercado em um período de cinco a seis anos. Os pesqui-sadores pediram registro no In-pi – Instituto Nacional de Pro-priedade Industrial e patente in-ternacional, por meio do Trata-do de Cooperação em Matéria de Patentes, gerido pela Orga-nização Mundial de Proprieda-de Intelectual, com sede em Ge-nebra, na Suíça.

Café IIIDestino: Cuba

Agricultores familiares do esta-do do Espírito Santo, ligados

à Coopeavi – Cooperativa Agro-pecuária Centro Serrana, vão ex-portar 1,2 mil toneladas de café conilon para Cuba. Desde 2005, o governo brasileiro oferece ao pa-ís, via Camex - Câmara Brasilei-ra de Comercio Exterior, crédito para compra de gêneros alimen-

tícios, viabilizando, em contra-partida, a exportação de produ-tos brasileiros para lá. Cuba com-pra de oito a nove mil toneladas de café brasileiro ao ano, normal-mente com ágio. No caso, foram 20,5 mil sacas, vendidas a R$ 275 cada (sete reais acima do preço de mercado de produtos simila-res na data da negociação).

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maio 2013 – Agro DBO | 15

AgrisusFesta no campo

A Agrisus, entidade sem �ns lu-crativos, completou 12 anos

de atividades em 24 de abril. É a única Fundação no Brasil que tra-balha exclusivamente com recur-sos privados no apoio a projetos voltados à melhoria e conservação do solo, à sustentabilidade das ati-

vidades rurais. Iniciativa da famí-lia do engenheiro agrônomo Fer-nando Penteado Cardoso, funda-dor do Grupo Manah (fertilizan-tes e gado de corte) e seu diretor e presidente de 1947 a 2000, a Agri-sus é presidida, desde outubro de 2011 por Antonio Roque De-

chen, professor da Esalq e vice--reitor Executivo de Administra-ção da Universidade de São Paulo. Seu Conselho de Curadores é in-tegrado por engenheiros agrôno-mos, tendo como presidente ho-norário Fernando Penteado Car-doso Filho.

Estiagem IIRecursos contra a seca

Pecuaristas e agricultores familia-res do semiárido brasileiro afe-

tados pela estiagem têm até 31 de maio para solicitar recursos da li-nha emergencial de crédito do go-verno federal para recuperação das safras. De acordo com o diretor do Departamento de Prospecção, Nor-mas e Análise de Fundos do Minis-

tério da Integração Nacional, Jo-sé Wanderley Uchoa Barreto, a me-dida visa reduzir o impacto da es-cassez de chuvas sobre a população e proteger a produção agropecuá-ria da região. O limite de emprés-timo varia de R$ 12 mil a R$ 100 mil, com juros de até 3,5% ao ano. A maioria dos créditos contem-

pla pequenos produtores rurais en-quadrados no Pronaf - Programa de Fortalecimento da Agricultura Fa-miliar. Levantamento o�cial apon-tou, em meados de abril, 1.367 mu-nicípios em situação de emergência na região, o que, segundo estimati-va do ministério, afeta 10,4 milhões de pessoas

Estiagem IContra a seca, água

A Embrapa e o governo de Minas Gerais assinaram convênio pa-

ra a construção de 17.360 barragi-nhas e 1.736 lagos de múltiplo uso em 24 municípios do norte minei-ro. Segundo levantamento da secre-taria estadual de agricultura, a re-gião enfrenta uma das piores secas dos últimos 50 anos. As barraginhas são miniaçudes abertos em áreas de pastagens, lavouras e beiras de es-tradas para captar as águas das chu-vas e enxurradas, evitando erosões e amenizando enchentes. Idealizadas pelo pesquisador Luciano Cordoval de Barros, da Embrapa Milho e Sor-go, favorecem a in�ltração das águas no solo, já que o volume captado �-ca represado, recarregando o lençol freático, fonte de abastecimento dos mananciais. Em decorrência, aju-dam, em cascata (sem trocadilho), a revitalizar córregos, elevar o nível de cisternas e umedecer o solo, in-

duzindo, eventualmente, o apareci-mento de novos minadouros.

Os lagos de múltiplo uso, imper-meabilizados com lona plástica, tem custo baixo e podem ser utilizados como reservatório para abastecimen-

to de comunidades, irrigação de hor-tas e criatório de peixes. Hoje, há cer-ca de 500 mil barraginhas em todo o país, a maioria em Minas Gerais, em regiões do Cerrado e nos vales do São Francisco e do Jequitinhonha.

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16 | Agro DBO – maio 2013

Contribuição sindicalAtenção ao prazo

Os agricultores têm até o dia 22 deste mês de maio para recolher

a contribuição sindical rural 2013, pessoa física. O pagamento é obriga-tório, independentemente de o con-tribuinte ser ou não ser �liado a um sindicato. O cálculo é efetuado com base nas informações prestadas pelo proprietário rural ao Ca�r – Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais, administra-do pela Secretaria da Receita Federal.

A CNA exerce a função de arreca-dadora da contribuição. O montan-te arrecadado, conforme o artigo 589 da CLT, é partilhado entre as entida-des sindicais – confederação, federa-ção e sindicatos – além do Ministério do Trabalho. A CNA enviou aos pro-dutores rurais pelo correio guias ban-cárias já preenchidas com o valor da contribuição de cada um, que pode-rá ser paga até a data de vencimento

em qualquer agência bancária. Quem ainda não recebeu a guia deve procu-rar o sindicato rural do seu municí-pio, com uma cópia do Diat – Docu-mento de Informação e Apuração do Imposto Territorial Rural. Também é possível imprimir a 2ª via pela inter-net, acessando o site da CNA (www.canaldoprodutor.com.br). O prazo de pagamento para as pessoas jurídi-cas terminou em 31 de janeiro.

ArrozPolítica de cotas

Arrozeiros do Rio Grande do Sul querem discutir com representantes dos países do Mercosul uma política de cotas para o comér-cio do grão no bloco. A proposta, anunciada em meados de abril, será encaminhada aos ministros da agricultura da Argentina,

Uruguai e Paraguai. O objetivo é buscar soluções para a atividade orizícola no estado e, a partir dos encontros, de�nir volumes e épo-cas para ingresso do arroz produzido nos demais países no mercado brasileiro. Uma vez estabelecido o acordo, que será proposto pe-los representantes da lavoura rio-grandense, será possível estabelecer o ordenamento da comercialização, sem competição predatória.

PesquisaA percepção do agronegócio

Levantamento feito no início do ano nas 12 maiores capitais do país (São

Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizon-te, Salvador, Recife, Fortaleza, Brasí-lia, Manaus, Belém, Goiânia, Curiti-ba e Porto Alegre) mostra que 81,3% da população consideram o agrone-gócio uma atividade muito importan-te para a economia nacional. No Cen-tro-Oeste, o percentual bateu prati-camente nos 100%. No Sul, chegou a 90,1%, caindo para 81,8% no Norte, 75% no Nordeste e 73,3 no Sudeste.

O ranking das pro�ssões com me-lhor avaliação apresenta o agricultor em 5o lugar: 89,3% dos entrevistados os consideram muito importantes. O alto do pódio é ocupado pelos médi-cos (97,15), seguidos pelos professo-res ( 95,8%), bombeiros ( 94,3%) e po-liciais (83,9%). Em termos regionais, o Nordeste é o local que mais valoriza a pro�ssão de agricultor, considerada como muito importante para 98,2% dos entrevistados. Já em relação a divi-

são por classes, a avaliação do agricul-tor é boa, com destaque para as classes A e B, que atingiram a marca de 87% de respostas para muito importante. O mesmo não acontece entre os jovens – com idade de 16 e 24 anos. Para 25% deles, a pro�ssão de agricultor é pou-co ou nada importante. Entre as pro-�ssões relacionadas ao agronegócio, a de engenheiro agrônomo, com 75,5% de citação, foi a mais lembrada. Em se-guida, apareceram: engenheiro am-biental (51,5%), peão (45,5%), médi-co veterinário (37,5%), administrador (27,4%), nutricionista (25,2%), quími-co (22,6%) e economista (21,9%).

Elaborada pelo Instituto Ipe-so, a pesquisa foi encomendado pe-la Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, e pelo Núcleo de Estu-dos do Agronegócio da ESPM – Es-cola Superior de Propaganda e Ma-rketing, e divulgada no mês passado, como parte das comemorações dos 20 anos da Abag.

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Plano agrícolaSeguro rural em pauta

A CNA pediu ao governo federal a destinação de R$ 860 milhões

para seguro rural no ano agríco-la 2013/14. A solicitação integra o rol de propostas encaminhado pe-la entidade para o Plano Agrícola e Pecuário 2013/14, que, segundo o cronograma o�cial, deverá ser di-vulgado no início do mês que vem. O valor é o dobro do oferecido em 2012, o que elevaria a cobertura de área plantada em mais 10 milhões

de hectares, contemplando 20% da área plantada no Brasil, segundo cálculos da CNA. “Hoje, temos 5% da safra segurada. Somos uma in-dústria a céu aberto, correndo ris-cos com problemas climáticos e doenças. Por isso, o seguro agríco-la é fundamental para os produto-res rurais trabalharem em paz”, ar-gumenta a senador Katia Abreu, presidente da confederação. Além da ampliação, a CNA defende que

o produtor receba a subvenção di-retamente, com o objetivo de bai-xar os custos de contratação, esti-mular a concorrência entre as se-guradoras e expandir o número de empresas que atuam no segmento do seguro rural. Hoje, as segura-doras recebem a subvenção e re-passam os custos ao produtor ru-ral. O documento reúne uma série de reivindicações da agropecuária brasileira.

PoluiçãoBanana descontaminante

Pesquisadores do Cena – Centro de Energia Nuclear na Agricul-

tura, da Universidade de São Pau-lo, a�rmam que a casca de banana pode ser utilizada no tratamento de água contaminada pelos pestici-das atrazina e ametrina. Eles �ze-ram testes com amostras coletadas nos rios Piracicaba e Capivari, na região de Campinas (SP), compro-vando absorção de 70% dos quími-cos pela casca.

Para que seja utilizada como agente de descontaminação, a cas-

ca da banana é ressecada ao sol por uma semana ou em estufa a 60 graus Celsius (°C), o que diminui o tempo do processo para um dia. Após a secagem, o material é tritu-rado e peneirado para formar um pó para ser despejado na água.. A casca da banana corresponde de 30% a 40% do peso total da fruta. A presença de grupos de hidroxila e carboxila da pectina na composi-ção na casca é que garantem a ca-pacidade de absorção de metais pe-sados e compostos orgânicos.

ConcursoSoja convencional no pódio

A BRS 284, cultivar de soja não--transgênica da Embrapa, desen-

volvida em parceria com a Fundação Meridional, ganhou o primeiro, o ter-ceiro e o quarto lugares do 4º Ranking de Produtividade da Soja Safra 2012/13, de Laguna Carapã (MS), dis-putado no �nal do mês passado. Em 2012, a BRS 284 também foi campeã durante a 3ª edição do evento. Os três produtores rurais premiados com a BRS 284 são do município do concurso.

O primeiro colocado do ranking é o Grupo BS, com produtividade de 82,26 sacas/hectare. Os outros dois

premiados com alta produtivida-de são Vanderlei Spessato, na tercei-ra colocação, com 77,26 sacas/hecta-re; e na quarta colocação, Irineu Cel-so Hermes, com produtividade de 75,68 sacas/hectare.

No tradicional concurso “Pé de soja solteiro”, disputado em Laguna Carapã, o vencedor foi Nelson Roque Kappes, de Santa Carmen (MT), com 12.648 vagens. Kappes �cou em se-gundo no ano passado e em primeiro em 2011. Na ocasião, apresentou um pé de soja com 17.892 vagens, recor-de até hoje no Brasil.

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Máquinas

Agrishow, Em ritmo de festa pela boa safra de grãos os agricultores devem ir às compras na maior feira do agro, em Ribeirão Preto.

Richard Jakubaszko

AAgrishow de Ribeirão Preto (SP) completa 20 anos em 2013, sendo a mostra de referência do

agro brasileiro e da América La-tina. Conforme Maurílio Biagi Filho, atual presidente da Feira, “a Agrishow tem o papel funda-mental de difundir as tecnologias existentes para o agronegócio, contribuindo de forma decisiva para tornar a atividade cada vez mais produtiva, rentável e sus-tentável”.

Instalada em uma área de 440 mil m2, repleta de estandes, além de outros 100 hectares destina-dos à parte dinâmica, a Agrishow 2013, realizada entre 29 de abril e 3 de maio ao mesmo tempo em que começava a circular esta edição de Agro DBO, atraiu nada menos que 800 expositores, com predomínio de fabricantes de máquinas, equi-pamentos e veículos.

A novidade entre os exposito-res foi a adesão dos fabricantes de agroquímicos, até então inexpli-cavelmente ausentes da mostra. “Com a presença de empresas que investem pesado em ciência para aumentar a produtividade no cam-po, ganha a Feira, que passa a re-

a feira da tecnologia.

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presentar toda a cadeia que gera a tecnologia do agronegócio – e ga-nha o produtor que vem em bus-ca das inovações para modernizar sua lavoura”, a�rmou Eduardo Daher, diretor executivo da Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal, às vésperas da inaugura-ção da Agrishow. As empresas do setor �caram no Núcleo de Tecno-logia, espaço criado no ano passa-do, que também reúne empresas de sementes e fertilizantes.

MáquinasOs principais avanços em tec-

nologias inovadoras para a meca-nização com apresentação prevista para a Agrishow 2013 con�rmam a tendência destacada por Agro DBO em agosto de 2012: equipamen-tos mais potentes, mais robustos e con�áveis, com maior economia de combustível, melhorias nos níveis de segurança e conforto na opera-ção e evolução dos controles auto-máticos, especialmente a incorpo-ração de ferramentas de agricultura de precisão, também conhecidas como tecnologia embarcada.

Antes da abertura da mostra, poucas empresas adiantavam no-vidades, embora fosse certo que algumas guardavam seus trun-fos para apresentação no próprio evento. Na maioria dos casos, a indicação era de melhorias nos novos equipamentos nacionais ou importados já apresentados na Agrishow 2012.

Como tendência, é visível que os equipamentos, tratores e imple-mentos, cada vez mais, são utiliza-dos mais intensamente e em inter-valos de tempo menores, tanto no plantio como na colheita. E tempo signi�ca uma questão fundamen-tal: disponibilidade da máquina, com con�abilidade de uso.

Em relação às máquinas im-portadas, o desempenho e a con-�abilidade delas dependem muito das condições de operação. Como no Brasil fazemos duas colheitas por ano, ao contrário do que ocor-

são muitos, como: rotores de de-bulha rotativa em vez dos sistemas convencionais; pulverizadores au-topropelidos em vez do tradicio-nal, tracionado por trator; plan-tadeiras cada vez maiores, com aumento do número de linhas.

Na Agrishow 2013, o visitante pode conferir essas características nos estandes e nas demonstrações diárias programadas para a área das dinâmicas, espaço de 100 hec-tares com culturas de arroz, café, cana, cana forrageira, coast-cross, feijão, laranja, milho, milho forra-geiro, mombaça, soja, sorgo (gra-nífero e sacarino).

A seguir, os destaques que al-gumas das principais empresas de máquinas antecipavam para a participação na mostra deste ano. Outras empresas consultadas por Agro DBO não responderam à consulta.

CNHFabricado no Brasil, o trator

modelo T7 destaca-se, oferecen-do para o produtor transmissão eletrônica e piloto automático. A linha T7 tem o menor custo opera-cional e consumo de combustível com sistemas inteligentes que per-mitem o aumento de potência. O trator proporciona conforto para o operador, assim como robustez, con�ança e versatilidade na pro-dução. O trator tem diversos itens de tecnologia embarcada e muitas

re na Europa e EUA, a utilização das máquinas importadas em ho-ras trabalhadas é muito mais in-tensa, com evidentes re�exos sobre a durabilidade dos equipamentos.

Nos países do Norte, o clima é temperado e frio, com as estações do ano bem de�nidas, tanto no frio como no calor. Isto impacta, natu-ralmente, o rendimento da safra, e o clima (por exemplo, a umidade tropical, regime de chuvas) obriga ou facilita, conforme cada caso, a adoção de práticas agrícolas dife-renciadas, como a janela de tempo disponível para a colheita ou plantio, muito diferente de região para região dentro do próprio país, pois a colhei-ta começa cedo, em janeiro, mais ao Norte e Centro-Oeste do Brasil e ter-mina já no outono no Sul.

É na tecnologia embarcada para processamento e controle que as empresas focam a evolução nas máquinas agrícolas nacionais e importadas. Essa tendência já era observada nos últimos anos, e acentuou-se a partir de 2011 e 2012. Exemplos disso são os sistemas de “comunicação” entre tratores e im-plementos acoplados, e a sincronia de máquinas para trabalho conjun-to (colheitadeira e transbordo), e a gestão à distância de frotas.

Cada nova máquina substitui duas ou mais máquinas antigas com a mesma e�ciência. Mas não é apenas o aumento de potência que traz ganho de e�ciência. Exemplos

Pulverizador Defensor SP 2500, equilíbrio de peso para menor compactação do solo.

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MáquinasTendência é consolidar tecnologia embarcada, com menor consumo de combustível e maior eficiência das máquinas e tratores.

facilidades para o operador. Além de uma cabine espaçosa e de gran-de visibilidade, o T7 é feito para pegar pesado no campo e enfren-tar qualquer tipo de serviço, sem comprometer o desempenho e a produtividade. O T7 completa a linha de tratores entre 200 e 220 cv de potência da CNH.

O trator modelo TL vem esse ano com novo capô e novo design. É o modelo mais vendido da linha de tratores da marca CNH. Toda a li-nha de tratores TL, da New Holland, terá design novo, opcionais e itens de série, que antes não existiam, to-dos eles na tecnologia embarcada.

PulverizadorNew Holland exibe o Pulveri-

zador Defensor SP2500. As prin-cipais vantagens do produto são a predisposição da máquina para a agricultura de precisão, como pilo-to automático, recursos de corte de seção e, principalmente, o sistema de injeção direta. Além dessas ino-vações, o SP2500 tem distribuição de peso 50x50, ou seja, o tanque localiza-se no centro da máquina, e proporciona menor compacta-ção do solo. A CNH informa que é a máquina com melhor distribui-ção de peso da categoria.

ColheitadeirasProduzida na Europa, a CR9090

da New Holland é a maior colheita-deira de grãos em uso no país. Ela é equipada com motor de 13 litros, que possui um novo sistema de controle de emissões e utiliza ureia no processo, garantindo mais força e menos consumo. Sua potência de 530 cv tem capacidade su�ciente para plataformas de até 45 pés: a CR9090 é capaz de suportar cargas de 12.500 litros de grãos e um siste-ma opti spread (controle na cabine de direção e amplitude da distribui-ção de resíduos nos 45 pés).

Vislumbrando um mercado crescente de produtores que pro-curam mais tecnologia, a New Holland destaca a CR5080 – me-nor máquina com sistema de du-plo rotor do mercado, que deve atender bem os produtores de grãos. A colheitadeira possui tan-que graneleiro de 7,050 litros e, nas condições ideais, a máquina opera com plataformas de 20 e 25 pés. É um equipamento que serve de porta de entrada para os produto-res que possuem áreas menores e querem deixar de utilizar o sistema convencional de debulha e aderir ao duplo rotor.

Massey FergusonA agricultura de precisão evo-

luiu no Brasil quase na mesma proporção que sua produção agrí-cola. Explorar ao máximo o poten-cial das lavouras tornou-se priori-dade do produtor rural nas últimas três décadas. A Massey Ferguson, que se apresenta como pioneira no país neste segmento, exibe na Agrishow 2013 uma linha comple-ta de soluções com equipamentos que evoluem o conceito de preci-são no cultivo.

O Auto Guide 3000, sistema de direcionamento automático, chega como um avanço das ferramentas já conhecidas no mercado. O pilo-to automático oferece até 3 níveis de precisão: submétrico, até 30 cm de precisão entre as passadas; decimétrico, 10 cm de precisão na passada; e por �m o centimétrico que por meio de sinal RTK conse-gue uma precisão de até 2,5 cm na passagem dos equipamentos. Os comandos são executados em uma tela touchscreen de 12,1 polegadas.

“O Auto Guide 3000 eleva os ganhos do produtor de duas ma-neiras: melhora a qualidade das operações realizadas na lavoura e a e�ciência das máquinas agrícolas”,

CR9090, europeia importada é a maior colheitadeira de grãos no Brasil.

Auto Guide 3000, piloto automático com 3 níveis de precisão.

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explica Niumar Dutra Aurélio, co-ordenador de marketing de produ-to ATS Massey Ferguson.

Outra novidade da Massey que chega ao mercado é a rede RTK, que consiste em bases que corri-gem o sinal dos satélites utilizados nos sistemas de direcionamento das máquinas.

“O sinal dos satélites contém erros que são normais, e para o utilizarmos em máquinas agríco-las precisamos usar de métodos para a correção destes erros, com o objetivo de melhorar a precisão dos equipamentos embarcados nas máquinas. O sinal de correção RTK é o mais preciso dos métodos, con-ferindo uma precisão de até 2,5 cm. Estas redes vêm oferecer ao cliente a possibilidade de utilizar essa tec-nologia sem a necessidade de ad-quirir uma base RTK apenas para sua propriedade”, informa Niumar.

“A partir de maio alguns equi-pamentos da Massey sairão da fábrica prontos para operar com o Sistema de Tráfego Controlado”, a�rmou o coordenador de marke-ting de produto. O conceito, apre-sentado há mais de um ano pela Massey Ferguson, se resume na implantação de programas que permitem o planejamento das ope-rações no campo para concentrar a passagem de máquinas e imple-mentos em determinada área, utili-zando o mesmo rastro, integrando todas as operações na lavoura, eli-minando assim a compactação nas demais áreas. Por meio da uni�ca-ção de ferramentas como piloto au-tomático, o trabalho das máquinas torna-se mais efetivo no campo.

De acordo com pesquisas, em sistemas de cultivo que utilizam o tráfego aleatório de máquinas a compactação do solo pode che-gar a 86%. Já com a implantação do conceito de Tráfego Controla-do este percentual pode cair para até 14%. O aumento da densidade do solo acarreta em perdas como crescimento lento e distorcido de raízes, redução de porosidade, ae-

ração e in�ltração de água no solo.“A introdução de tecnologias

para o Tráfego Controlado otimiza o uso de insumos agrícolas, reduz os impactos ambientais da produ-ção, aumenta a lucratividade do produtor e melhora a gestão das propriedades” conclui Niumar.

Destaque também na Agris-how para o novo aplicativo do sis-tema de telemetria Agcommand, disponível para download gratui-to. O sistema permite a facilitação do gerenciamento das máquinas por meio da transferência de da-dos automaticamente da máquina para o escritório ou dispositivos móveis como smartphones e ta-blets. Com o sistema é possível ter um monitoramento detalhado para estabelecer exatamente onde uma máquina está em um deter-minado momento, sua utilização e desempenho.

Inovação no portfólio de imple-mentos. As aplicações de produtos, por meio do sistema de taxa vari-ável, chegam às plantadeiras das séries MF 500 e MF 700. O sistema permite o controle da dosagem de sementes e fertilizantes durante o plantio explorando ao máximo a potencialidade do solo, oferecendo redução de custos ao produtor.

Segmento sucroenergéticoA expectativa de 11% de cres-

cimento na produção de cana-de--açúcar, anunciada pela CONAB em abril, contribuiu com a aposta da Massey Ferguson no segmento sucroenergético em 2013. A marca, que já comercializa as carregadoras e toda linha de transbordos Santal e tem também uma participação importante neste mercado com tratores de alta potência, amplia as possibilidades aos produtores e usineiros com a plantadora Santal PDM2, que realiza si-multaneamente em duas linhas o ciclo completo de operações do plantio e está preparada para ope-rar com diferentes espaçamentos encontrados hoje no Brasil.

Linha de pulverizadores Uniport, da Jacto, ganha design novo e avanços tecnológicos.

As plantadeiras séries MF 500 e MF 700 da Massey agora entram no sistema de adubação a taxas variáveisda Massey Ferguson no segmento

sucroenergético em 2013. A marca, que já comercializa as carregadoras e toda linha de transbordos Santal e tem também uma participação importante neste mercado com

o ciclo completo de operações do plantio e está preparada para ope-rar com diferentes espaçamentos

variáveis

ValtraO principal lançamento da

Valtra na Agrishow 2013 é a nova Linha BH GIII, que foi totalmente reformada, com nova cabine, novo sistema hidráulico, novo design que além de moderno e arrojado, melhora muito o raio de giro. No-vos modelos farão parte da nova linha que chega para ampliar as opções de potência, um deles é o novo modelo do trator BH 135i (137cv), com motor 4 cilindros turbo-intercooler, opção para o agricultor que necessita ter em sua propriedade máquinas para desempenhar as mais variadas funções e atividades. Além dele, completam a Geração III, os novos tratores BH200 (200cv) e o BH210i (210 cv). Os modelos seguem os padrões globais dos tratores Val-tra. As novas máquinas estarão disponíveis no mercado a partir do segundo semestre deste ano.

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Máquinas

Os 3 novos modelos são equipados com motor AGCO Sisu Power 420 e 620 que trabalham com diesel ou biodíesel B100, ou seja, até 100% de biodíesel. Possuem ainda inter-cooler que baixa a temperatura de admissão melhorando a e�ciência na combustão, que proporciona economia no consumo e menor emissão de poluentes.

JactoA empresa mostra a colhedora

de café KTR 3500. O modelo tem evoluções que atendem às necessida-des do produtor, aliando melhor per-

formance e otimização de recursos.A nova KTR 3500 foi desenvol-

vida com reservatório de café com capacidade efetiva de 1.800 litros. Com o novo reservatório, associa-do ao sistema de descarga ‘on the go’, a nova KTR 3500 não precisa parar a operação de colheita quan-do seu reservatório está cheio. Dessa forma, é possível realizar a operação de descarga do café co-lhido, simultaneamente à opera-ção de colheita.

“Isso signi�ca otimização dos recursos produtivos da fazenda ca-feeira, com redução de custos em ativos imobilizados com trator ou carreta, ou seja, um único conjun-to trator cafeeiro e carreta podem acompanhar até três colhedoras KTR 3500 sem interrupção na sua operação de colheita. Podemos di-zer que é possível economizar, no mínimo, um conjunto trator/car-reta por colhedora KTR 3500. Esta solução contribui para um maior rendimento operacional”, explica Walmi Gomes Martins, gerente de produto da Jacto.

Entre outras novidades, a KTR 3500 apresenta cambão com ajus-te hidráulico de altura, com altura máxima de colheita de 3,50 metros, comandos de operação acoplados ao trator, sistema de automação da direção, maior recurso de nive-lamento, sistema de câmeras para melhor visualização das operações e pneus de baixa compactação.

As novidades da KTR 3500Recurso de nivelamento: as co-

lhedoras KTR 3500 estão dotadas com maior recurso de nivelamen-to e menor centro de gravidade pela redução da altura máxima de colheita, possibilitando trabalhar em terrenos mais inclinados com maior segurança ao operador e precisão nestas condições.

Comandos de operações aco-

Máquinas importadas e nacionais de todos os tipos que o produtor pode visitar na Agrishow 2013 mostraram inúmeras inovações.

plados ao trator cafeeiro: os co-mandos de operações da nova KTR 3500 são acoplados ao trator cafeeiro e em conjunto com o siste-ma de automação da direção, o que possibilita que o tratorista realize a colheita com segurança e baixos índices de perdas de café ao solo.

Redução de perdas de café: um dos objetivos no desenvolvimento da nova KTR 3500 foi a redução de perdas de café derriçados. O mode-lo é dotado de um sistema recolhe-dor mais baixo, único no mercado.

Novo design para Uniport Os modelos Uniport 2000 Plus

e Uniport 2500 Star ganharam uma nova carenagem na cabine e faróis com design mais modernos e em sintonia com a aparência do Uniport 3030, o pulverizador au-tomotriz lançado no ano passado.

“As mudanças, sobretudo de ordem estética, visam oferecer aos equipamentos da linha uma nova roupagem externa”, explica Rob-son Zófoli, Diretor Comercial da Jacto. “Os dois modelos passam a oferecer ainda a escada hidráulica, mais uma melhoria durante a ope-ração”, completa Zófoli.

“Já em relação ao Uniport 3030, a versão 2013 ganhou câmeras de ré, que proporcionam melhor lo-comoção, sobretudo nas manobras executadas para estacionar”, avalia Wanderson Tosta, Gerente de Pro-duto da Linha de Pulverizadores.

Automotrizes e adubaçãoNa versão para a cultura cana-

vieira, a adubadora Uniport 3000 NPK ganha mais tecnologia e capa-cidade operacional, possibilitando a aplicação de fertilizantes em 10 linhas simultaneamente. Agora, a precisão e qualidade de aplicação, reconhecida pelo mercado cana-vieiro, poderão ser aplicadas nas culturas de algodão e grãos com a

A Valtra mostra inovações na sua linha de tratores, que estará à venda a partir do 2º semestre 2013.

A colhedora de café da Jacto aumentou reservatório e cresce a autonomia de trabalho da máquina

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nova versão do Uniport 3000 NPK com 15 linhas, alcançando produ-tividades de 220 ha/dia. Com um vão livre de 1,25 metros, permite aplicações mais tardias e facilidade de calibração e ajuste da dosagem.

A Jacto mostra ainda outras ino-vações na Agrishow, na área de con-ceitos e prestação de serviços, todas ligadas às tecnologias embarcadas.

Plantadeira da JumilA Jumil, uma das líderes no

segmento de implementos para plantio, apresenta na Agrishow as novidades da sua plantadeira Ter-ra Exacta, inovador equipamento para plantios de alta performance em grande escala.

SSM 27 da SemeatoRelançada em 2013, a Semea-

to mostra na Agrishow a planta-deira de grãos múltiplos SSM 27, que passou por um processo de reengenharia e inovação. A já con-

sagrada máquina está com novo visual, e passa a contar com maior capacidade nos reservatórios de sementes e fertilizantes, diminuin-do o número de paradas para re-abastecimento, o que resulta em maior rendimento operacional. A SSM 27 possui 27 linhas pantográ-�cas para trigo e 11 linhas panto-grá�cas para soja.

AgraleA Agrale comemorou em abril

a marca de 80 mil tratores produ-zidos. Com mais de 50 anos, a fa-bricante iniciou suas atividades em 1962, na fabricação de microtrato-res de duas rodas.

De acordo com Hugo Zatte-ra, diretor-presidente da Agrale, o volume de tratores fabricados ao longo de sua história demonstra a presença e força da empresa no mercado brasileiro e internacio-nal. “Superar 80 mil tratores é uma importante conquista, cuja história

Plantadeira da Semeato terá 27 linhas para trigo e 11 para soja, com aumento do reservatório de sementes.

Agrale comemora com equipe o trator 80.000, com o modelo BX 6180.

está ligada à evolução da agricultu-ra brasileira, sobretudo com foco nos pequenos e médios agriculto-res”, destaca o executivo.

A Agrale foi pioneira no de-senvolvimento de tratores de baixa potência, de duas e quatro rodas, e sempre investiu muito em novos produtos e tecnologias sustentá-veis que atenderam as necessida-des das aplicações de seus clientes.

Hoje, a empresa conta com três diferentes linhas – 4000, 5000 e 6000 – que vão de 15 a 168 cv de potência para atender desde o seg-mento de agricultura familiar até os grandes produtores rurais.

A unidade de número 80 mil é um trator Agrale BX 6180, o de maior potência da fabricante, com 168 cv. “O sucesso das famílias 4000 e 5000, para o pequeno e médio pro-dutor, e 6000, indicado para grandes áreas de cultivo, tem colaborado muito para o crescimento de vendas da empresa que, em 2012, subiram 14,8%” ante os 7,6% do mercado ge-ral”, ressalta o executivo.

A Anauger exibe sua solução criada ao segmento de agricultura e pecuária. Trata-se de uma bomba submersa vibratória capaz de reti-rar água do lençol freático, para inúmeros �ns, movida unicamente pela energia do sol.

Para a Anauger, o evento é uma oportunidade de apresentar a solução da captação de água nas fazendas e em locais distantes de estrutura e energia elétrica. “Com o nosso produto, é possível levar água à irrigação, aos bebedouros de animais e outros �ns apenas utilizando a energia solar”, ressal-ta o diretor comercial da empresa, Marco Aurélio Gimenez.

A tecnologia funciona através de módulos solares fotovoltaicos, que transformam a energia solar em potência para acionar a bomba, que retira água de lençóis freáticos e levam a caixas d´água, reservató-rios e cisternas. Em um dia, o siste-ma é capaz de bombear mais de 8 mil litros de água.

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Máquinas

EmbrapaNo estande institucional da

Embrapa o visitante pode conhe-cer, entre outras tecnologias, um pouco mais sobre a criação de abe-lhas sem ferrão.

“As abelhas sem ferrão (ASF) são abelhas sociais nativas do Brasil assim conhecidas por apresenta-rem um ferrão atro�ado não utili-zado para defesa. Das mais de 250 espécies existentes em nosso país, diversas podem ser criadas racio-nalmente tanto para a produção e comercialização de mel, pólen e própolis quanto para a produção e comercialização de colônias, sendo uma fonte alternativa importante de geração de renda complementar

A diversidade de tecnologias expostas na Agrishow atende a todo tipo de agricultura

para o agricultor familiar”, explica o pesquisador Ricardo de Camargo da Embrapa Meio Ambiente (Ja-guariúna, SP).

Uma das novidades da Embra-pa nesse ano é a apresentação de uma área de 16 ha destinada ao sis-tema de ILPS, Integração Lavoura--Pecuária-Silvicultura, pela Em-brapa Cerrados (Planaltina, DF). Nesse espaço estão demonstrados alguns dos arranjos possíveis des-se sistema. Dentre eles, o visitan-te pode identi�car desde o mais simples, como o Sistema Santa Fé, considerado o símbolo da ILPS no Brasil, até arranjos mais complexos envolvendo diversas gramíneas e leguminosas.

2013

2013 A Grande FeiraA Grande Feira

do Cerrado Brasileiro

Entrada Franca

CO FO D -P A

Empresa de Assistência Técnicae Extensão Rural do Distrito Federal

Secretaria de Agriculturae Desenvolvimento Rural

BANCO DE BRASÍLIA

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério de Agricultura,Pecuário e Abastecimento

Ministério daIntegração Nacional

Todos os caminhos do Agronegócio levam à AGROBRASÍLIA 2013. Novidades em tecnologias, representantes de instituições nacionais e internacionais, pro�ssionais do meio e agricultores que fazem nosso agronegócio ser reconhecido no mundo, reunidos nesse grande evento.

www.agrobrasilia.com.br

Instituições nacionais e internacionais

Novidades tecnológicas

Seminários e eventos técnicos

Área internacional

Espaço de Valorização da Agricultura Familiar

Empresas de insumos agrícolas e pecuários,máquinas e implementos agrícolas

Abelha sem ferrão da Embrapa, sociais e produtivas.

Trator T7 da New Holland, o mais vendido da empresa, agora tem novo design e mais tecnologia embarcada.

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Capa

Safra cheiaAo contrário do que ocorreu no Centro-Oeste do país, a colheita transcorre sem grandes problemas no Sul, especialmente no Paraná, maior produtor de milho do Brasil e campeão em produtividade na atual temporada.

Capa

José Maria Tomazela

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O milho de segunda safra (ex-safrinha) é a apos-ta de Antonio Pedrini, produtor há mais de trinta anos em Floresta, no centro-norte do Paraná, para fechar um ano agrícola de ouro.

A lavoura, semeada entre o início e o �m de fevereiro, melhor época para o plantio, vai se avolumando sobre mais de mil hectares (ha) da Fazenda Maringaense, prin-cipal propriedade do agricultor.  A colheita deve começar em julho e terminar em agosto. No ano passado, Pedrini fez média de 90 sacas (5.400 kg) /ha. Pelo andar da carru-agem, o milharal desta safra será ainda mais produtivo, acredita o agricultor. Embora a lavoura não seja irriga-da, ele adquiriu sementes transgênicas de alto potencial e adotou um programa de adubação muito semelhante ao aplicado nos Estados Unidos.

O que torna esta safra especial para o agricultor para-naense é que ele já obteve alta produtividade com a soja. Pedrini semeou o milho sobre a palha da soja que tinha acabado de colher e cujo resultado deixou o agricultor com um sorriso aberto no rosto. Nas áreas de cultivo tradicional de sua propriedade, ele conseguiu média de 72,1 sacas (4.329 kg)/ha da oleaginosa, em lavoura sem irrigação. No caso da soja, a produtividade, que valeu ao

agricultor a terceira colocação em concurso da Cocamar, uma das maiores cooperativas agrícolas do país, ainda �-cou abaixo do que obtiveram outros produtores. O agri-cultor Vinícius Surek, de Arapongas, no extremo norte do estado, por exemplo, colheu 84,5 sacas (5.060 kg)/ha na área inscrita no concurso. O diferencial é que Pedrini manteve média alta, de 67 sacas (4.020 kg)/ha de soja, em toda a extensão da lavoura de 1.200 hectares.

A fartura de milho e soja nas lavouras do país é a principal responsável pelo bom momento vivido pela agricultura brasileira. Conforme levantamento da Conab, divulgado em abril, o Brasil deve bater novo recorde na produção de grãos, atingindo 184,04 milhões de tonela-das. Desse total, a dupla soja-milho responde por 159,45 milhões de toneladas. A supersafra, 10,8% superior à co-lhida em 2011/12, será garantida pelo bom desempenho esperado para o milho segunda safra. Em todo o país, as lavouras cobrem 8,64 milhões/ha, 13,4% a mais que na safra passada. A produção deve chegar a 42,8 milhões de toneladas, 9,15% maior que a anterior. A segunda safra já supera em produção a safra tradicional de verão, que produziu 34,7 milhões de toneladas de milho. É no cul-tivo desse grão que o Paraná mostra toda a sua força.

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Capa

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também chamada safra de inverno. O período de tempe-raturas amenas e de chuvas menos frequentes envolve ris-co de perdas pela estiagem ou geada. Ele conta que, na sa-fra 2010/11, esse fenômeno atingiu os milharais da região, causando perdas de 20%. Pedrini observa que, no campo, as lavouras atuais vão bem, apesar de exigirem mais cui-dados. “Fazer duas safras de milho no ano é um privilégio nosso”, disse. Em agosto do ano passado, ele viajou com um grupo de agricultores paranaenses para a região do Corn Belt, o cinturão do milho dos Estados Unidos, e vol-tou impressionado. “Eles têm realmente uma tecnologia ainda superior à nossa, conseguem grande produtivida-de, mas com muito investimento. Apesar disso, os ameri-canos plantam só uma safra por ano.”

Os produtores de milho reclamam que o custo de produção da segunda safra subiu muito. Os principais aumentos ocorreram nos preços da semente e do adubo. Ao mesmo tempo, a cotação do grão não se manteve no patamar em que estava quando os insumos foram com-prados. “Estamos lidando com uma equação meio com-plicada, pois o preço do milho está caindo e o custo de produção da safrinha subiu uns 30%.” Segundo ele, a in-cidência de pragas, como o ataque de percevejos na fase inicial da lavoura, obrigou a aumentar o número de apli-cações de uma para quatro. A cotação do milho oscilou, mas os preços ainda são atraentes. Em fevereiro, a média foi de R$ 25 a saca, em meados de março baixou para R$ 19, mas no �nal de abril a saca voltou a valer R$ 25.

O secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, acredita que os produtores paranaenses nunca viveram um momento tão favorá-vel, com colheita de safra cheia, seguida de bons pre-ços na hora da comercialização. No estado, além do crescimento na área plantada, as lavouras não foram afetadas pelo clima como em outras regiões. Ele desta-cou a renovação do convênio Arenito Caiuá, �rmado entre o governo federal e o estadual, que vai garantir aporte de R$ 2,5 bilhões – R$ 500 milhões por ano até 2015 -, destinado a produtores rurais, cooperativas e associações para custeio de atividades agropecuárias. Entre os focos estão projetos de irrigação para reduzir a dependência do clima.

Atraso no plantio As chuvas que caíram na fase da colheita da soja,

principalmente nas regiões sul e centro-oeste do Paraná, além de prejudicar a qualidade da oleaginosa, afetaram o plantio do milho safrinha. Mesmo as variedades mais precoces da soja foram colhidas mais tarde do que o pre-visto por conta das condições do tempo. Como no cam-po o cereal ocupa o lugar do grão, isso acarretou um atra-so também na semeadura do milho. De acordo com ava-liação de técnicos da Conab, o plantio fora da época ideal torna a lavoura mais suscetível ao risco de geadas no Sul, por exemplo. Muitos agricultores só não recuaram do

Antônio Pedrinicomemora bons

resultados na soja e no milho

O estado se mantém como o maior produtor de milho do país. A segunda safra ocupa 2,12 milhões/ha e deve produzir 11,4 milhões de toneladas, 15% a mais do que ma safra anterior. A produtividade também deve au-mentar 11%, de 4.865 kg para 5.405 kg/ha. A safra de verão, já colhida, ocupou 845 mil/ha e rendeu 6,9 mi-lhões de toneladas, com produtividade de 8.158 sacas/ha – 19% mais que a do período anterior. Na soma das duas colheitas, o Paraná deve fechar o ano agrícola com 18,3 milhões de toneladas de milho produzido, um vo-lume maior que a produção de soja. No estado do Mato Grosso, segundo colocado, a produção total de milho vai atingir 17,3 milhões de toneladas, segundo a Conab.

A qualidade das lavouras paranaenses entusiasma os técnicos do Deral – Departamento de Economia Rural, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. “Tivemos um recorde na produção de milho na safra 2010/11, e esperamos quebrar esse recorde agora. Os levantamentos indicam uma produção 15% maior”, disse a engenheira agrônoma Juliana Yagushi, especialis-ta em milho do Deral. Segundo ela, apesar do encolhi-mento da safra de verão, o estado mantém a posição de principal produtor de milho do país. “A entrada da soja fez com que o cultivo do milho migrasse para próximo do inverno. Temos materiais bastante adaptados para as condições climáticas desse período.”

A produção do cereal se concentra nas regiões norte e noroeste do estado, onde o risco de geada é menor. Outro fator que favorece o plantio do milho de segunda safra é a logística. A colheita da safrinha não coincide com a da soja, ao contrário do que ocorre na safra de verão. “Como as colheitas são quase simultâneas, o escoamento da soja obriga o produtor a armazenar o milho mas falta espaço nos silos e armazéns”, explica Juliana. Na ssegunda safra, essa concorrência não existe. Como a maioria dos agri-cultores do Paraná, de 15 anos para cá, Antonio Pedrini deixou de plantar milho no verão para se concentrar na

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plantio porque já tinham comprado o pacote do milho safrinha.  O atraso na colheita da soja em decorrência das chuvas foi mais sentido em Mato Grosso, estado líder na produção de milho da segunda safra. Nada que abale a previsão de um recorde histórico de milho este ano. Dos 42,68 milhões de toneladas que devem ser colhidos na segunda safra em todo o país – foram 39,11 milhões na temporada 2011/12 – mais de um terço, 16,78 milhões, sairão das terras matogrossenses que, na safra passada produziram 15 milhões/t. A área plantada aumentou de 2,65 milhões para 3,30 milhões de hectares.

Técnicos da Conab chegaram a imaginar que em al-gumas regiões iria ocorrer uma redução na intenção de plantio em decorrência do encurtamento do prazo tecni-camente recomendado para o milho ssegunda safra. Os institutos agronômicos recomendam encerrar a semea-dura do milho de segunda safra no mês de fevereiro, res-peitando a “janela” – época ideal para um plantio seguro.  O que se veri�cou foi uma intensi�cação do plantio até a segunda quinzena de março, fora do período ideal.  Para os técnicos da Conab, essa decisão está ligada ao fato de que os preços de milho por ocasião do plantio ainda se mostravam atrativos, comparativamente aos dos demais produtos. O cereal também se apresentava como uma alternativa para o cultivo do feijão, que sofreu reduções signi�cativas em sua área em função da forte incidência da mosca-branca, praga severa dessa cultura.

Dados do Imea – Instituto Matogrossense de Eco-nomia Agropecuária con�rmaram que a área estimada para a segunda safra estava totalmente semeada na ter-ceira semana de abril. Este foi o terceiro ano consecutivo em que o plantio da safrinha de milho atrasa no estado.

O risco dos produtores que semearam “fora da janela” é colher menos caso não chova regularmente no período de desenvolvimento das plantas. Na avaliação da Conab, as excelentes condições climáticas em todos os Estados produtores criam a expectativa de bons rendimentos no decorrer do desenvolvimento das lavouras.

Em outros estados, a segunda safra também mostra bom desempenho. Em Mato Grosso do Sul, a área culti-vada teve aumento de 1,19 milhão para 1,32 milhão/ha e a produção prevista deve ir de 6,11 milhões para 6,23 mi-lhões de toneladas. O Rio Grande do Sul, por conta das peculiaridades climáticas, não planta a safra de inverno. Na safra de verão, o milho recuou em área plantada, de 1,11 milhão para 1,03 milhão/ha, mas deu um salto em produtividade – saiu de 3,34 milhões para 5,33 milhões de toneladas, aumento de 59,5%.

O feijão, terceiro principal grão em área cultivada no país, perdeu áreas para outras culturas e, no conjunto das três safras, caiu de 3,26 milhões para 3,06 milhões/ha plantados. A primeira safra, apesar dos preços atraentes, sofreu forte competição da soja e teve 9,7% de redução na área. A segunda safra, pressionada pelo milho, tam-bém teve queda em área, de 1,39 para 1,30 milhão/ha, mas cresceu 18% na produção, de 1,06 milhão para 1,25 milhão de toneladas. No total, o produto apreciado pelo consumidor brasileiro fechou o ciclo atual com 3,2% de aumento na produção em relação ao anterior, de 2,91 milhões para 2,98 milhões de toneladas. Além da boa contribuição do milho, o grande impulso para a alta pro-dução brasileira de grãos nesta safra foi dado pela soja, com um crescimento de 23,4% na produção, passando de 66,38 milhões para 81,94 milhões de toneladas – um

Técnicos esperavam redução na intenção de plantio de milho por causa do encurtamento da janela, mas o que se viu foi o contrário.

A segunda safrade milho mostra

bom desempenho em várias regiões

do país.

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Capa

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novo recorde. A produção total do milho, primeira e se-gunda safras, estimada em 77,45 milhões de toneladas, também é recorde, segundo a Conab. A área plantada em grãos na safra 2012/13 totalizou 53,04 milhões de hec-tares e é 4,2% superior aos 50,89 milhões cultivados no período anterior. Entre as grandes culturas, a soja apre-sentou o maior crescimento de área plantada, 2,67 mi-lhões de hectares, seguida do milho segunda safra, com crescimento de 1,02 milhão/ha. O arroz, o feijão e o trigo aparecem entre as culturas que perderam área em rela-ção à safra passada, mas os dois primeiros grãos tiveram aumento de produção graças à melhor produtividade.

Somatória positivaNuma safra em que as condições climáticas causa-

ram perdas ou prejudicaram a qualidade dos grãos em estados como o Rio Grande do Sul, Mato Grosso e da região nordeste do país, o Paraná fez a diferença. À tra-dicional qualidade dos produtores de grãos, afeitos às melhores tecnologias de produção, somaram-se fatores climáticos mais estáveis e o estímulo dos bons preços. Embora o estado também cultive outros grãos, como trigo e feijão, a soja e o milho são grandes destaques no portfólio de produtos agrícolas. A área plantada com a oleaginosa aumentou de 4,4 milhões para além de 4,6 milhões/ha entre a safra passada e esta, mas o grande salto foi na produtividade, que subiu 35%, passando de 2.464 kg para 3.329 kg/ha. “Na soja, recuperamos a pro-dutividade perdida na safra passada em razão de proble-mas climáticos, principalmente uma estiagem severa no �nal de 2011 e início de 2012”, avalia o coordenador da Divisão de Conjuntura do Deral, Marcelo Garrido.

Com as áreas de produção mais próximas do Porto de Paranaguá, o Paraná não sofreu o impacto da falta de

caminhões e do aumento no custo do frete, como ocor-reu com o centro-oeste. O clima ajudou: os problemas pontuais, como a estiagem de julho a setembro e as chu-vas na colheita, afetaram menos as lavouras paranaenses que as de Mato Grosso, por exemplo. Os preços também contribuíram, mantendo-se em patamar elevado duran-te todo o ciclo. No ano passado, a saca teve preço médio de R$ 59,41, com picos de R$ 74, os mais altos do país. Em março último, o valor da saca havia recuado para R$ 55,96, mas o agricultor paranaense, como lembrou Gar-rido, contrariou sua própria tradição e antecipou a venda de 25% a 30% da produção. “Em anos anteriores, a venda no mercado futuro não passou de 5%”, disse.

O técnico aposta que a próxima safra de soja tam-bém será boa. “O plantio só começa em setembro, mas como o produtor se capitalizou nesta safra, já tem agri-cultor adquirindo insumos e não há nada que indique redução de área.” O otimismo do órgão do governo contagia o agricultor Antonio Pedrini. A produção de soja foi cerca de 10% melhor que no ano passado, quando o clima irregular e o ataque de pragas in�uíram no resultado da lavoura. Este ano, o tempo foi genero-so com a cultura e com o produtor. As chuvas caíram nos momentos certos, logo após o plantio e, mais tarde, quando as plantas já emitiam �ores, encerrando uma sequência de dias quentes e secos.

A terra roxa e fértil respondeu com a liberação de nu-trientes para a plantação, formada com sementes de três variedades – as melhores para a região, segundo Pedrini. “A lavoura veio muito parelha e os pés de soja carregaram até vergar.” Ele conta que choveu um pouco mais do que devia só na hora de colher, mas não chegou a atrapalhar a colheita, nem a qualidade do grão. O produtor havia an-tecipado a venda de apenas 20% da produção a R$ 58,50

Produtores e técnicos

apostam que a próxima

safra também será rentável.

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O plantio da próxima safra começa em setembro no Paraná, mas como o produtor se capitalizou, já tem gente comprando insumos.a saca. Como, no pico da safra, o preço da soja recuou, ele decidiu estocar o restante à espera de uma reação. No dia 16 de abril, a soja estava cotada a R$ 50,08 na região.

O agricultor Marco Bruschi Neto, de Maringá, que tem áreas de produção na zona do arenito, também �cou na dependência das chuvas para conseguir boa produ-ção. Entre novembro e dezembro do ano passado, ele viu a plantação de 300 ha de soja murchar sob o sol incle-mente na estiagem que atingiu a região. “Achei que tinha perdido boa parte da lavoura, estimando a queda de pro-dução entre 20% e 30%”, disse. Quando as chuvas volta-ram, ele percebeu que as plantas reagiram. Na colheita, o agricultor constatou que havia conseguido média de 52 sacas/ha. Nos talhões plantados sobre o solo de arenito, a média chegou a 54 sacas por hectare.

As lavouras de Bruschi são de sequeiro – sem irriga-ção. Nos dois anos anteriores, ele fez contrato futuro da produção de soja e conta que perdeu dinheiro. “A produ-ção foi menor do que eu previa e o preço, na colheita, es-tava mais alto.” Este ano, ele não fez contrato e vai esperar até 120 dias para vender a produção. O agricultor plantou milho de segunda safra na área em que a soja foi colhida. Bruschi chegou a �car indeciso no momento da semea-dura, pois com o atraso na colheita da soja, ele plantaria parte do milho fora da época ideal. Ele preferia ter plan-tado trigo, mas naquela altura já estava com a semente do milho, o adubo, tudo comprado. “Sempre fui plantador de trigo, mas o governo não tem uma política de incenti-vo, prefere importar a garantir o preço para o produtor.”

Bruschi acredita que o trigo é uma cultura mais apro-priada do que o milho para a rotação com a soja. “A soja semeada sobre a palha do trigo forma uma lavoura mais limpa e parelha do que quando sucede o milho”, disse.

Desa�o em produtividade A escassez de terras para lavoura e a di�culdade para

abertura de novas áreas em razão do rigor das leis ambien-tais têm levado os produtores de Estados como São Pau-lo, Paraná e Rio Grande do Sul a buscar maior produção através do aumento na produtividade. Para o presidente da paranaense Cocamar, Luiz Lourenço, essa é a forma de os produtores se manterem competitivos. “Os custos sobem sempre e a margem de lucro vai �cando apertada”, pontuou. Segundo ele, o potencial para ampliar as médias ainda é grande mesmo nas regiões bastante exploradas do Paraná. “Há alguns anos, poucos acreditavam que seria possível ir além de 62 sacas de soja/ha. Hoje, 62 sacas é uma marca que já não impressiona tanto”, disse.

O concurso de produtividade da Cocamar tem esse objetivo. Na segunda edição que envolveu a safra de soja de 2012/13, os produtores �nalistas colheram acima de 68 sacas/ha. Os vencedores tiveram produtividade de 82 sacas/ha – os melhores em cada uma das três regiões atendidas pela cooperativa ganharam uma viagem téc-nica aos EUA, com direito a visitar regiões de alta pro-dução agrícola. Apesar de terem enfrentado problemas climáticos, que �zeram a produtividade oscilar bastante de um município para outro, os cooperados fecharam a

Milho ganha da soja nos EUAA área de produção de milho nos Estados Unidos cresceu

7,1 milhões de hectares nos últimos dez anos. Na safra do ano passado, o país produziu 274 milhões de toneladas – 3,5 vezes a produção brasileira. A área da soja cresce em rit-mo mais lento, com aumento de 1,1 milhão de hectares nos últimos 12 anos. Para o vice-presidente da Associação de Soja de Illinois, Bill Raben, a produção de milho cresceu ex-ponencialmente para atender a demanda por etanol no país. Segundo ele, em território americano, 35% da área agrícola são ocupados pelo milho, 29% pela soja e 21% pelo trigo.

O americano participou do 8º Circuito Aprosoja, em me-ados de abril, na região oeste de Mato Grosso. Segundo ele, como o foco do produtor americano está no milho, os pes-quisadores relegaram a soja a um segundo plano. Ele con-tou que a pesquisa, ponto forte dos agricultores americanos, acabou afetada pela crise econômica. Por isso, as associa-ções de produtores vêm buscando parcerias com universi-

dades. Rabben apresentou como vantagens competitivas do mercado norte-americano a boa infraestrutura de transpor-tes que usam, inclusive, um quase centenário sistema de balsas no rio Mississipi.

Há ainda parcerias entre os produtores e outros setores da cadeia, como a indústria de processamento de grãos e criadores de gado e aves. As legislações trabalhista e am-biental são rigorosas, o que leva muitas propriedades a terem mão de obra familiar. A legislação quer barrar esse costume. “O governo não quer que as crianças, nossos filhos e netos, nos ajudem na lida da fazenda”, contou. Há impli-cação dos ambientalistas até com a poeira que sai das co-lhedoras. As terras agricultáveis no país estão cada vez mais escassas. “Não temos área para expansão, por isso as terras estão cada vez mais caras”, observou. Segundo ele, a deman-da por biocombustíveis na Europa desperta novo interesse pela soja nos Estados Unidos.

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Capa

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safra com média de 56 sacas de soja por hectare. Em São Paulo, o governo paulista criou um projeto de recupera-ção de áreas degradadas através da Integração Lavoura Pecuária, o Integra SP. A exemplo do que ocorre no Pa-raná e no Mato Grosso do Sul, o território paulista pos-sui extensas faixas de solo de consistência arenosa onde predominam pastagens de baixo retorno econômico. Trabalhadas, essas áreas podem ser transformadas em terrenos férteis para o cultivo de milho e soja, além de outras culturas. Lançado em março, o projeto será exe-cutado pela Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, órgão da Secretaria de Agricultura. Conforme levantamento, São Paulo possui área agricultável de 21,5 milhões/ha, dos quais 40% são pastagens, grande parte das quais degradadas.

A agricultura de precisão é outra fórmula que vem sendo usada para aumentar a produtividade e o rendi-mento da lavoura. De acordo com o engenheiro agrôno-mo Leonardo Atsushi Kami, da Cocamar, os bons resul-tados obtidos pelos produtores que aderiram à tecnologia estimulam outros agricultores. “O alto custo dos insumos também faz com que mais produtores invistam em equi-pamentos que plantem com precisão, adubem sem des-perdício ou erro e monitorem a produtividade de cada talhão”, disse. O produtor Luiz Henrique Pedrone, de Cia-norte, que investe em agricultura de precisão desde 2008, vem obtendo ganhos de 5% a 10% de produtividade ao ano em sua área de cultivo de 410 ha. Inicialmente ele fez o georreferenciamento da propriedade, em seguida a aná-lise e a correção do solo. “Minha área era muito mancha-da e esse trabalho deixou o solo mais parelho em termos de fertilidade”, contou. No ano passado, o produtor inves-tiu na compra de uma colhedora equipada com sensores e monitor de colheita com GPS. O equipamento registra a produtividade a cada três segundos. Com o mapa gerado em colheitas de soja e milho, Pedrone tem condições de avaliar a produtividade de cada talhão e fazer correções em caso de problemas como de�ciência nutricional, com-pactação ou pragas.

Percevejo é novo inimigo

Ataques de percevejos a lavouras de milho segunda safra no Paraná foram reportados à Se-cretaria de Agricultura por agricultores das regiões norte e, principalmente, oeste do estado. De acor-do com a técnica Juliana Yagushi, do Deral, são ocorrências pontuais e não devem acarretar que-bra na produção. “O agricultor reclama porque, ao invés de fazer uma aplicação de defensivo, ele pode ter que fazer duas ou três. Aumenta o custo, claro, mas controla a praga e garante a produção”, disse. Ela explica que o aumento na utilização da tecnologia Bt possibilitou o controle da lagarta-do--cartucho, principal praga do milho, mas fez com que outras pragas, como o percevejo, ganhassem mais expressão. Foram identificados ataques do percevejo barriga-verde e do percevejo-marrom. “Não é geral, são ataques pontuais que podem ser controlados com o manejo correto da lavou-ra.” Segundo ela, o percevejo-marrom é comum na soja, principalmente a mais tardia.

Na safra paranaense da oleaginosa foram registrados ataques dessa praga, embora não tenham acarretado perdas significativas. O per-cevejo acaba ficando na palha da soja, reapare-cendo quando o milho é plantado. “A rotação so-ja-milho tem esse inconveniente”, disse. Quando os agricultores plantavam só o milho convencio-nal, a aplicação feita para controle da lagarta-do--cartucho, continha substâncias para controle também do percevejo. De acordo com Juliana, no final de abril não havia incidência de outras pragas nas lavouras paranaenses e as condições eram favoráveis a uma boa produção. Levanta-mento do Deral indicava 55% das lavouras em desenvolvimento vegetativo, 31% em floração e 14% já frutificavam.

O Paranásofreu mais com percevejos nesta safra do que com lagartas, como vem ocorrendo em áreas do Nordeste, Sudeste e Centro-Oesteo

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Notícia divulgada pelo Ins-tituto Mato-grossense de Economia Agropecuária alerta que haverá um sig-

ni�cativo aumento no custo de pro-dução da soja (em torno de 15%) na próxima safra. Não se trata de ante-ver crises e di�culdades semeando pessimismo onde o otimismo cos-tuma imperar, mas, sobretudo, da percepção real na crença de núme-ros que, às vezes, incomodam.

É indiscutível que alguns setores da agricultura brasileira surfaram na robusta onda que o aumento da

demanda e as quebras pontuais de safras (principalmente a americana) ofereceram nos últimos dois anos. Contas feitas, em muitos casos so-braram recursos para “botar a casa em ordem” e liberar investimentos represados pelos anos de chumbo da descapitalização, esta oriunda da defasagem cambial e dos juros ele-vados do passado recente. Importa destacar que as linhas de crédito para aquisições de máquinas e equi-pamentos, apesar de permitir aos produtores acesso às novas tecno-logias, são mais bem aproveitadas pela indústria, principalmente na ampliação das margens de lucro.

Esta disputa de margens, carac-terística das economias modernas, na maioria das vezes é absorvida (ou seria apropriada?) pelos setores mais organizados da cadeia pro-dutiva, principalmente pelo fato de serem cada vez em menor número.

Fusões e aquisições de fornecedores de insumos e compradores de grãos varreram do mapa as pequenas e mé-dias empresas, capazes de emprestar maior concorrência ao mercado. Re-sulta disto que grande parte da renda produzida no campo é transferida imediatamente para outros setores da economia, num processo histórico facilmente detectável. Dois exemplos recentes demonstram como receitas que deveriam �car com o produtor são perdidas no meio do caminho: o aumento médio de 40% nos fretes e as despesas portuárias ampliadas

pelo congestionamento de navios nos portos brasileiros. Este débito já está pendurado na conta do produtor e aquele que ainda não o pagou, cer-tamente o fará logo mais, quando da viabilização do próximo cultivo.

Do ponto de vista de preços futu-ros, os analistas são unânimes em de-monstrar, com grá�cos e tabelas, que os anos de vacas gordas podem ter acabado e que é possível uma cota-ção de soja abaixo dos U$ 12/bushel e de milho abaixo de U$ 6/bushel, a partir da provável recomposição dos estoques mundiais. Com um cenário destes, potencializado pelo aumento dos custos de produção já citados, na safra 2013/14 poderá acontecer no-vamente a inviabilização econômica das fronteiras agrícolas, justamente o onde a agricultura teima em crescer. “Mas a infraestrutura está mudando, com novas opções de logística”, bra-dariam os mais otimistas. “Sim, mas

Luz amarelaDo ponto de vista dos preços futuros, os analistas são unânimes em demonstrar que os anos de vacas gordas podem ter acabado. Rogério Arioli Silva *

* O autor é engenheiro agrônomo e

produtor rural em Mato Grosso

a passos de tartaruga”, lembrariam os “nem tanto”. “Mas a agricultura tro-pical brasileira se supera a cada ano produzindo grandes safras,” pontua-riam alguns. Mas serão elas capazes de competir no mercado quando se sabe que o produtor de Sorriso (MT) gasta U$ 135/ton. para levar seu pro-duto aos portos, enquanto o america-no gasta apenas U$ 18/ton.?

A di�culdade de fechar os nú-meros da próxima safra provoca apreensão no campo. Sementes en-carecendo de maneira assustadora, fertilizantes mantendo-se em pata-mares elevados de preços, óleo diesel e mão de obra em curva ascendente e demanda crescente de defensivos necessários na busca de altas produti-vidades são alguns fatores da intran-quilidade reinante. O herbicida mais utilizado pelos produtores de soja teve seu preço acrescido em 80% nos últimos três anos, fato que demonstra mais uma vez a voracidade dos seto-res oligopolizados presentes do lado de fora da porteira.

Surge a pergunta inevitável ao produtor rural: Guardou recursos para os anos difíceis?  Certamente muitos responderão que não, pois quem para de investir em tecnologia rapidamente perde competitivida-de, sendo alijado do processo. Ciclos de alta e baixa de preços são comuns quando se trata de produtos agríco-las, mas a referência dos custos nor-malmente tem apenas uma direção, a qual já é conhecida pelo produtor, recuando apenas em raríssimas situ-ações. É salutar, portanto, que se te-nha muita cautela neste momento de de�nições, pois ao se negligenciar a luz amarela é provável o risco de aci-dentes de graves proporções.

Artigo

Surge a pergunta inevitável ao produtor rural: “Guardou recursos para os anos difíceis?”

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Entrevista

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O associativismo rural no MT vai muito bemO desafio é a próxima crise, pois são cíclicas. A questão não é se vai ter crise, mas quando virá; precisamos nos preparar.

O presidente da Aprosoja, Associação dos Produtores de Soja e Miho do MT, Carlos Henrique Baqueta Fávaro, concedeu entrevista para a Agro DBO especi�camente sobre o associativismo. Fávaro tem 43

anos, é natural de Bela Vista do Paraíso (PR); é um migrante que chegou em Lucas do Rio Verde (MT) em 1986. É casado, tem duas �lhas, cursou o ensino médio completo, e é produtor rural de soja e milho em área de 600 hectares em Lucas do Rio Verde (MT).

Presidente da Aprosoja desde 2012, com mandato em vigor até 2013, par-ticipou de diversas viagens, especialmente em compromissos pela Aprosoja. Conhece a China, EUA e alguns países da Europa.

Agro DBO - Como anda o asso-ciativismo rural no MT?Carlos Fávaro - O associativismo rural em Mato Grosso vai muito bem, é um dos pontos fortes do nosso setor agropecuário. Além da Aprosoja, temos entidades for-tes como a Associação Mato-gros-sense dos Produtores de Algodão (Ampa), a Associação dos Produ-tores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), essas duas pioneiras, e ainda a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Asso-ciação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat).

Um dos grandes destaques de Mato Grosso é que as entidades trabalham em conjunto, as asso-ciativas e as ligadas às Federações. Isso tudo é demonstrado em pro-gramas como o Movimento Pró--Logística, no Soja Plus e também em ações judiciais em benefício dos produtores rurais.

Um dos papéis importantes das associações é a formação de lideranças. Dois dos recentes go-vernadores de Mato Grosso foram presidentes de associações: Blairo Maggi, da Ampa, e Rogério Salles, da Aprosoja.

Agro DBO – Há espaço para a Aprosoja crescer, como associação?Carlos Fávaro – Há muito espa-ço para a Aprosoja crescer. Esta-mos trabalhando em benefício dos produtores rurais de Mato Grosso há oito anos e, como a produção não para de crescer no estado, ain-da temos muito trabalho a fazer.

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as lideranças conseguiram orga-nizar os produtores e ganhar visi-bilidade e melhorias.

Agro DBO – Em termos de atu-ação institucional na defesa dos produtores rurais, quais são as diferenças entre o associativismo e o cooperativismo?Carlos Fávaro – O associativis-mo é a luta pelos direitos de clas-se, é a representação de um setor para solucionar politicamente os gargalos da atividade. Ele trabalha para todos, independentemente de ser associado ou não. Já no coo-perativismo, os produtores rurais constituem um negócio que tem o objetivo de dar retorno �nan-ceiro aos seus cooperados, é uma associação também, mas com �ns econômicos. Os cooperados se unem em cooperativas para buscar oportunidades para o grupo, como comprar com melhores preços e armazenar grãos e agregar valor, por exemplo.

Agro DBO – Nos EUA e na Eu-ropa cooperativismo e associa-tivismo andam de braços dados. Como se poderia adaptar esse modelo positivo para o Brasil?Carlos Fávaro – Em Mato Gros-so, estamos tentando realizar essa união. A Aprosoja está em contato constante com as cooperativas do estado e com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). O Fórum de Cooperativismo, organi-zado pela Aprosoja, Associação dos Produtores de Algodão (Ampa) e a OCB é um exemplo disso, onde juntamos as principais cooperativas para discutir os melhores rumos.

Se os produtores estiverem mais organizados, em cooperativas, por exemplo, terão menos problemas de sustentabilidade no agronegócio e, por consequência, vão facilitar o trabalho das associações.

Uma das grandes forças da Apro-soja é o resultado que ela entrega aos produtores. Em recente levantamen-to, em apenas três pontos, o retorno é de R$ 60,00 para cada real investi-do pelo produtor na associação.

Ainda existem localidades que não conseguimos chegar porque Mato Grosso é um estado enorme. O município de Gaúcha do Nor-te, por exemplo, é um núcleo da Aprosoja e há apenas um ano foi instalada uma torre de celular por lá. Ou seja, a comunicação ainda é precária em algumas partes do es-tado e temos este desa�o de chegar a todos os produtores rurais levan-do informações importantes para seu negócio.

Agro DBO – Por que o associa-tivismo entre produtores rurais tem sucesso no MT e quase nada no restante do Brasil?Carlos Fávaro – Alguns pilares são essenciais para o associativis-mo ter sucesso. É preciso gover-nança, uma gestão pro�ssional da associação. Além disso, é necessá-ria transparência, valorização do corpo técnico, normas claras e me-tas arrojadas. Os recursos �nancei-ros também são essenciais, pois é com dinheiro que se pode investir em todos estes pontos citados aci-ma e trabalhar com tranquilidade para o benefício dos associados.

Aqui em Mato Grosso, os pro-dutores conseguiram se unir for-temente em torno de lideranças, que são essenciais para que a classe lute por seus direitos. Esses líderes são diferenciados porque não só fundaram associações, mas atuam comprometidos, diariamente, para as melhorias. São elas que levam a um trabalho conjunto que con-quista grandes vitórias.

Outra particularidade de Mato Grosso é que somos um es-tado longínquo e com uma logís-tica de�ciente. As crises agrícolas, quando surgem no país, impac-tam mais fortemente nosso estado que os outros. E todas estas vezes

Agro DBO – A Aprosoja Brasil nasceu dentro da Aprosoja MT? Como vai a versão nacional?Carlos Fávaro – A Aprosoja Brasil foi fundada antes da Apro-soja Mato Grosso, porém estava inativa. O que a Aprosoja Mato Grosso fez foi resgatar esta en-tidade e fomentar a fundação de outras Aprosojas estaduais. Já te-mos Aprosojas estaduais no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Bahia, Pará, Piauí, além de Mato Grosso.

O grande desa�o da Aprosoja Brasil é fortalecer as atuais Apro-sojas estaduais, além de criar novas entidades em estados importantes, como no Paraná e em Goiás, por exemplo. Uma das iniciativas des-te ano foi o projeto Soja Brasil, que rodou estados produtores e apresentou o trabalho da Aprosoja para estes estados. O grande desa-�o de todos os estados tem sido a questão dos recursos �nanceiros, mas temos lideranças que estão

se esforçando para trabalhar nes-te ponto e dar continuidade à im-plantação das associações.

Agro DBO – Como o produtor rural não tem representativida-de política, através de uma enti-dade nacional, pelo menos essa é a opinião de muitos líderes do agro, o que deveria ser feito para se estabelecer e concretizar essa entidade?Carlos Fávaro – A soja é a prin-cipal commodity do país e a Apro-soja Brasil tem o potencial de se tornar uma das principais entida-des nacionais representativas do agronegócio. O grande desa�o é garantir que ela seja legítima repre-sentante dos produtores do Brasil. Para isso, é fundamental a criação e fortalecimento das entidades es-taduais, com essas características

O associativismo é a luta pelos direitos de classe, para solucionar os gargalos.

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Entrevista

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que temos em Mato Grosso: fortes lideranças, recursos �nanceiros e governança.

Agro DBO – Quais são as maio-res conquistas do associativismo representado pela Aprosoja?Carlos Fávaro – Resgatando as origens da Aprosoja, a grande con-quista foi ter liderado os produtores em meio à maior crise do setor nos anos de 2005 e 2006, quando a fer-rugem, os preços internacionais e a desvalorização do real praticamen-te inviabilizaram a nossa agricul-tura. A Aprosoja foi fundamental no restabelecimento da autoestima e da competitividade do produtor por meio de várias ações políticas e também técnicas, como vazio sani-tário, que representaram a volta ao curso da nossa agricultura.

Mais recentemente, conquista-mos diversos benefícios para os pro-dutores rurais de Mato Grosso. Por exemplo, somente os mato-grossen-ses têm a opção de não pagar a Con-

tribuição Social Rural (Funrural), depois de uma ação em que questio-namos a legalidade desta taxa.

Também conseguimos uma grande vitória sobre a multinacio-nal Monsanto, que estava cobrando royalties sobre a soja RR1 com a patente vencida. Agora, os produ-tores do Brasil não precisam pagar e os mato-grossenses estão pedindo na Justiça o retorno do que foi pago ilegalmente nos últimos dois anos.

O novo Código Florestal é mais uma conquista que contabilizamos como associação, pois nos organi-zamos politicamente para que as discussões fossem técnicas e para que �casse possível de se produzir sem prejudicar o meio ambiente. E a melhoria da logística é algo que estamos conquistando ano após ano. Ainda falta muito, mas a associação trabalha para que as condições das rodovias sejam me-lhoradas e para que novos modais, como hidrovias e ferrovias, sejam implementados para facilitar o es-coamento da produção.

Agro DBO – O que precisa ser feito para o associativismo cres-cer no Brasil?Carlos Fávaro – Tudo começa com as lideranças, que já existem, e que precisam se mobilizar para questionar o seu atual modelo de re-presentação de classe. As entidades rurais brasileiras também precisam se modernizar e se pro�ssionalizar. Temos um dos setores agrícolas mais modernos e e�cientes do mundo e precisamos levar para dentro das entidades estas mesmas qualidades que nos fazem referência em todo o mundo: inovação, empreendedoris-mo e pro�ssionalismo.

O desa�o é nos unirmos antes que a próxima crise venha, pois elas são cíclicas. A pergunta não é se vai ter crise, mas quando ela virá, e pre-cisamos estar preparados.

Agro DBO – Há uma tendência histórica de os líderes associati-vistas, quando fazem algum su-

cesso, saírem candidatos a car-gos no legislativo ou executivo federal. Isso é bom ou ruim?Carlos Fávaro – As lideranças se tornarem políticos com cargos exe-cutivos ou legislativos pode ser um bom negócio, pois a atividade rural terá maior representatividade.

Porém, temos que lembrar que são mais de 80 senadores e 500 de-putados federais no Congresso Na-cional que precisam ser pautados. Não podemos terceirizar para eles uma função da entidade de classe, que é levantar as demandas emba-sadas e pontuais para o governo.

Agro DBO – Como a Aprosoja se mantém e qual sua estrutura básica?Carlos Fávaro – A Aprosoja é mantida pelo Fundo de Apoio à Cultura da Soja (Facs), um fun-do estadual que é alimentado por uma taxa cobrada dos produtores rurais na hora da venda de soja. O Facs foi criado por lei estadual e trata-se de uma contribuição es-pecí�ca. Não é compulsório, pois é condicionado a um diferimen-to. O valor pago tem como base um percentual da UPF (Unidade Padrão Fiscal) que é cobrado em todas as notas �scais de venda de soja. Assim, a UPF/MT custa R$ 99,23, percentual para Facs é de 1,26%, logo, o valor é de R$ 1,25 por tonelada ou R$ 0,075 por saca.Somente MT e agora MS possuem este fundo. A sede da Aprosoja está localizada em Cuiabá, e conta com 35 colaboradores. Tem ainda 22 núcleos nos principais municípios do estado. Sua diretoria e seus de-legados não são remunerados.Para ser associado é necessário fazer a contribuição para o Facs e atender requisitos como possuir Inscrição Estadual, por exemplo. Em Mato Grosso temos 5 mil as-sociados, quase a totalidade de produtores de soja do estado. Para se associar, o produtor pode en-trar no site da Aprosoja e solicitar o vínculo.

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Artigo

Desperdício de alimentosCerca de 50% do que é produzido no mundo é perdido no caminho entre a lavoura e a mesa do consumidor, conforme estudo recente.

Neste mesmo espaço, já dis-cuti o desa�o de alimen-tar 9,5 bilhões de pesso-as, daqui a 40 anos. Que-

ro abordar outro ângulo da questão, não tão discutido quanto o anterior: o desperdício de alimentos. Afora as perdas que acontecem antes da colheita, até 50% dos alimentos do mundo são perdidos no caminho entre a lavoura e a mesa do consu-midor, segundo um estudo recente do Instituto de Engenheiros Mecâ-nicos da Inglaterra. Como a estima-tiva é de que necessitaríamos pro-duzir mais 60% de alimentos até a década de 2050, grande parte do ca-minho poderia ser trilhada com a redução de desperdícios, com o bô-nus de pressionar menos os recur-sos naturais como terra, água, ener-gia e fertilizantes.

Em países ricos, os sistemas de logística e práticas de marketing dos supermercados são delineados de maneira a que os produtos perecí-veis permaneçam o menor tempo possível em exposição na loja, para reduzir o desperdício. Entretanto, devido às rígidas especi�cações cos-méticas, de cor, forma ou tamanho, até 30% das colheitas são condena-das ainda no campo, gerando enor-me desperdício.

Nas sociedades menos desenvol-vidas, onde as barracas são o princi-pal mercado para produtos alimen-tares, as taxas de desperdício no vare-jo são consideravelmente maiores, e os padrões de desperdício doméstico

variam drasticamente entre famílias rurais e urbanas.As famílias rurais são obrigadas a armazenar alimentos básicos ao longo do ano, logo seria de vital importância que as perdas fos-sem mínimas. Mas as instalações de armazenamento são primitivas, mui-tas vezes permanecendo inalteradas por gerações, e sujeitas a ataques de

roedores, insetos e fungos. Em áreas urbanas, entre a população pobre, não é incomum as famílias compra-rem comida duas ou até três vezes ao dia. Logo o desperdício é reduzido a um mínimo quando ocorre compra de comida su�ciente apenas para o dia, ou até mesmo para a refeição.

A maior incongruência ocorre nas sociedades mais “avançadas”, onde as maiores quantidades de alimentos são desperdiçadas dire-tamente na relação de varejo com o consumidor, no consumo domés-tico ou em restaurantes. As razões variam desde a embalagem ligeira-mente amassada, uma fruta ruim em um saco, porque a fruta amadu-

“Nas sociedades menos desenvolvidas, as taxas de desperdício no varejo são maiores”.

receu muito cedo, ou devido a que uma única folha de alface está dani-�cada, em toda a peça.

De acordo com o estudo referido anteriormente, da quantidade que chega às prateleiras dos supermer-cados, de 30 a 50% são jogados fora pelo comprador �nal, em sua casa, normalmente por estar próximo ou haver passado a data de vencimen-to. A rotulagem de muitos alimentos pode realmente incentivar o desper-dício, pois os consumidores confun-dem as expressões “melhor consu-mir antes” e “usar até”. Além do que, essas datas em geral são muito con-servadoras, buscando livrar o vare-jista de qualquer cominação legal.

É comum nos restaurantes que os pratos sejam mais que generosos, ou que os bufês de “self service” pro-voquem desperdício de alimentos que não podem ser reaproveitados. Finalmente, outra razão muito im-portante é o fato de o consumidor ser seduzido por ofertas do tipo “pague 2 e leve 3”, comprando mais alimentos do que pode consumir. Ou seja, temos muito que fazer para evitar desperdícios, antes de pen-sar em simplesmente produzir 60% mais alimentos.

* O autor é engenheiro agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja.

Décio Luiz Gazzoni *

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Fitossanidade

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“Já sabia que o problema era grave, mas agora es-tou apavorado. Estamos perdendo a tecnologia!”.

A exclamação não é de nenhum produtor desolado ao ver sua la-voura infestada por lagartas e, sim, de Renato Roscoe, diretor-executi-vo da Fundação MS, uma das ins-tituições de pesquisa agropecuá-ria mais atuantes do Centro-Oeste. Seu desabafo re�ete o desarran-jo que se instalou em diversas re-giões agrícolas brasileiras a partir do �nal de 2012 quando uma alta infestação de lagartas – sobretudo Spodoptera (lagarta-do-cartucho) e Helicoverpa (lagarta-da-espiga) –, hospedeiras naturais do milho, co-meçou a devastar cultivos comer-ciais desta cultura e acabaram mi-grando para outros cultivos (soja, algodão, feijão, etc.). Roscoe se re-

fere à primeira geração de sementes geneticamente modi�cadas (GM) – conhecidas como milho Bt – li-beradas para cultivo comercial em 2008, e que já não estão surtindo os efeitos desejados no campo, em vá-rias regiões do país. Dentre eles, o controle das lagartas sem a neces-sidade de aplicação de produtos químicos na lavoura. Inicialmen-te funcionais, estas sementes estão claramente perdendo a disputa pa-ra os insetos. Em diversas fazendas, a infestação supera 50% das plan-tas, mesmo com cinco, seis ou sete aplicações. Ele não é o único assus-tado com o problema. Um clima de apreensão e, em alguns momentos, de angústia, tomou conta de pes-quisadores, técnicos e produtores rurais durante o seminário nacio-nal “Biotecnologia para a Susten-tabilidade da Agricultura Brasilei-

ra”, realizado no dia 17 de abril em Campo Grande (MS), no auditório da Famasul – Federação da Agri-cultura e Pecuária do Mato Gros-so do Sul.

Os estudos, análises e debates realizados, apontaram para um quadro mais do que preocupan-te. Boa parte dos agricultores que migraram do milho convencional para o Bt para ganhar em economia e produtividade, estão hoje com o custo de produção igual ou até su-perior à situação anterior. E o que é pior, se a forma de cultivo não for modi�cada, não só a primeira ge-ração do milho Bt está ameaçada, mas também as de segunda geração – já no mercado – e todas as que vierem na sequência.

Uma teoria do professor Celso Omoto, da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de

Perdas e polêmicasAparentemente, a primeira geração de sementes com tecnologia Bt está perdendo a eficácia esperada pelos agricultores, para alegria das lagartas.Ariosto Mesquita

Milharalatacado por lagartas no

município de Buritis, em Goiás

Ario

sto

Mes

quita

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maio 2013 - Agro DBO | 39

Pracicaba (SP), chamou a atenção e ganhou corpo durante o seminá-rio. A adoção rápida e em alta es-cala no Brasil da primeira geração de milho Bt, aliada a um manejo incorreto no cultivo, teria, de uma forma indireta, possibilitado a mul-tiplicação da população da lagarta Helicoverpa nas lavouras. Para en-tender melhor sobre isso, Omoto faz questão de lembrar o quadro anterior à chegada do milho Bt. Até 2007, segundo ele, a Spodoptera era agente fundamental no controle biológico da Helicoverpa. “Quando há pressão, esta lagarta, que se ali-menta das folhas, passa também a atacar as espigas, competindo com a Helicoverpa e até predando-as.

Portanto, nesta época não tínha-mos tanto o problema da lagarta--da-espiga pelo próprio controle natural. Quando a Spodoptera foi tirada do sistema pelo milho Bt, a Helicoverpa �cou livre para habitar seu hospedeiro preferido que é o milho. Daí, com a multiplicação do inseto no sistema ele foi alterando hábitos e passou a atacar outras culturas, como soja e algodão”, ex-plica. Coincidentemente, o ataque mais intenso da lagarta-da-espiga em outras culturas começou após a adoção em larga escala do mi-lho Bt. “Quando o grão é colhido a praga pula para outras culturas e essa é a hipótese que estou tentan-do validar”, ressalta Omoto.

Sua teoria explicaria o fato de a Helicoverpa ainda não ter sido problema grave em regiões onde não se planta milho verão, como no caso do Mato Grosso. Enquanto isso, tanto no oeste da Bahia quan-to em parte de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, o ataque da la-garta foi devastador (mostrado na Agro DBO, edição 43, de março de 2013), pois são regiões que adotam o cultivo de milho safra. “No Mato Grosso o efeito deve ser retardado”, prevê o pesquisador.

Refúgio maiorA não adoção ou cultivo in-

su�ciente de área de refúgio por parte dos produtores é unanimi-dade entre os pesquisadores como elemento agravante e alimentador dos altos níveis de infestação. No entanto, mesmo os percentuais indicados pelas empresas semen-teiras para o Brasil – de 5% ou 10%, dependendo da tecnologia da semente – são questionados pelo professor Celso Omoto. “Em boa parte das áreas agrícolas do país temos plantas hospedeiras o ano todo e a pressão seletiva é muito grande. Nessa situação, refúgios de 10% ou 5% não fazem nem cócegas”, diz, se referindo à fun-cionalidade do manejo. Segundo ele, técnicas adotadas em outros países agrícolas preveem a revisão destes índices quando a adoção da tecnologia ultrapassar os 50% de toda área plantada com a cultura.

Renato Roscoe,da Fundação MS: “O quadro nas lavouras (com a infestação maciça de lagartas) é apavorante”.

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Dois exemplosdo estrago

provocado por lagartas: elas

atacam soja, milho, feijão, algodão e

outras culturas

Ele cita os Estados Unidos, onde as áreas de refugio na cultura do milho chegam a 20%, e a Austrália, que atingem até 50%. “A questão é que nestes países há certa regu-lamentação feita pelos governos; mas no Brasil estas orientações sobre áreas de refúgio são de res-ponsabilidade das próprias empre-sas multinacionais detentoras da tecnologia”, diz Omoto, lembrando também que a adoção por parte do agricultor é voluntária. Áre-as de controle maiores no Brasil também se justi�cam, segundo ele, pelas características das lagartas: “Tanto a Spodoptera quanto a He-licoverpa são bem mais tolerantes do que as pragas alvo dos Estados Unidos”.

O professor da Esalq adverte para um “fato novo”, que deve ser levado em conta a partir de agora. “Com a descoberta de outra Heli-coverpa, a armigera – uma praga quarentenária, não alvo da tecno-logia Bt – precisamos mapear todo o sistema; temos de saber qual é o percentual e localização de infesta-ção de cada espécie antes de tomar qualquer ação”, salienta. A lagarta foi identi�cada por pesquisadores da Fundação MT, UFG – Univer-sidade Federal de Goiás e Embrapa Agropecuária Oeste. A comunica-ção o�cial da Embrapa aconteceu no �nal de março deste ano.

A inexistência de um �uxo adequado de informações en-tre as empresas de sementes e os

agricultores brasileiros é admitida pela diretora-executiva do CIB – Conselho de Informações sobre Biotecnologia, Adriana Brondani. “Temos de gerar e compartilhar informações com os produtores e existem programas neste sentido nas empresas. É preciso, sim, me-lhorar a e�cácia para que a dis-cussão com os agricultores ocorra de forma mais próxima”, avalia. O CIB tem como associados empre-sas multinacionais, fundações, co-operativas, institutos e associações de alguma forma ligadas á produ-ção de sementes e à agricultura.

Na tentativa de salvar alguma coisa das sementes de primeira geração (com uma proteína inseti-cida) da tecnologia Bt e preservar a funcionalidade da segunda gera-ção (com duas ou mais proteínas), agricultores do Cerrado baiano vão adotar na safra 2013/14 um míni-

mo de 20% do total de cultivo de milho como área de refúgio. Quem garante é o professor Omoto, que é uma espécie de consultor do pro-grama �tossanitário que se tenta implantar na região, considerada por ele como “um caos” em infesta-ção de lagartas. “Nosso grupo reco-mendou este procedimento, que foi acatado por associações de produ-tores da região”, conta.

Pacote de controleO refúgio maior faz parte, na

verdade, de um pacote de controle estratégico das pragas. Além disso, está prevista a redução da janela de plantio para milho, soja e algodão. “Após as chuvas, haverá mais 45 dias para a semeadura, nada mais; caso contrário, teremos infestação e aplicações de inseticidas o ano todo”, explica. Também está pre-vista a adoção do vazio sanitário para outras culturas, aproveitando a medida para o controle de ferru-gem asiática para a soja. “Não exis-tindo culturas no campo a pressão de seleção é reduzida”, diz o pes-quisador da Esalq. Para regula-mentar e estabelecer o�cialmente estas e outras medidas o Governo da Bahia deverá publicar decretos e portarias. Os prejuízos estimados nesta safra apenas para a região de Luiz Eduardo Magalhães, no oes-te do estado, em função da praga, são de R$ 1,5 bilhão. De acordo com números Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da

Fotos: Sidney Fujivara

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maio 2013 - Agro DBO | 41

Infestação em milho no sudoeste paulista: na região, o estrago maior ocorreu no feijão

Em muitos casos, o custo da tecnologia GM é mais alto do quea opção pelo plantio convencional, com aplicação de inseticidas.Bahia (AIBA) a produtividade do milho caiu 22% – 125 sacas diante de uma expectativa de quase 160 sacas por hectare.

O pesquisador Germison Vital Tomquelski, da Fundação Chapa-dão, sediada em Chapadão do Sul (MS), a�rma que, quando é chama-do a campo para veri�car infesta-ções de lagartas não é raro encon-trar áreas com 100% das plantas atacadas, sendo 50% destas plantas com cartuchos destruídos. “Recen-temente vi um quadro como este em cultivo de milho Bt Herculex”, conta. Outro fato que o impressio-nou ocorreu quando instalou cole-tores de insetos na região próxima da divisa dos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. “Em uma só noite, das 600 mariposas coletadas em uma só armadilha, 200 eram Helicoverpa”, revela.

A infestação era tão intensa que Tomquelski questiona a viabilidade da utilização do material transgê-nico: “O custo da tecnologia pode �car mais alto do que a opção pelo plantio do milho não geneticamente modi�cado, com aplicações de inse-ticidas”. Entretanto, tanto a adoção do cultivo de milho não GM quan-to à instalação de áreas de refúgio exigem sementes convencionais de boa qualidade. E nesse ponto, pro-dutores e pesquisadores alegam que não está havendo disponibilidade no mercado em condições e em quan-tidades su�cientes. “Será que o País terá de ter alguma lei estabelecendo e exigindo a oferta regular destas se-mentes por parte das empresas res-ponsáveis?”, indaga.

O produtor Luis Alberto Mo-raes Novaes sente este problema de forma direta. Dono da fazen-da Santo Antonio, em Maracaju (MS), onde trabalha com integra-ção lavoura-pecuária, ele fez opção pelo cultivo de milho através de sementes exclusivamente conven-

cionais e tem tido di�culdades em encontrar material de alta qualida-de. “As empresas estão tirando do mercado”, a�rma. Segundo ele, é fácil entender o motivo: “Quando o produtor não encontra materiais de alto potencial produtivo de mi-lho convencional acaba sendo in-duzido a comprar sementes gene-ticamente modi�cadas, bem mais caras”. Além de bons resultados, Novaes garante que sua opção lhe traz economia. Em abril deste ano ele dimensionou isso em números. “No mercado, a diferença de preço de sementes de híbridos Bt para convencional é de R$ 140,00/ha, comparando materiais de seme-lhante potencial produtivo”, revela.

Por outro lado, teoricamente o milho Bt está no mercado como capaz de reduzir o custo de pro-dução para o agricultor em fun-ção da supressão ou redução do número de aplicações de insetici-das. “Quando o milho transgênico mostra e�ciência, o que não tem acontecido muitas das vezes, esta redução de custo seria de aproxi-madamente R$ 60,00/ha. Portanto, considerando que em algum mo-mento a tecnologia Bt funcione bem, ainda assim teríamos uma diminuição de custos da ordem de R$ 80,00/ha com a utilização do

milho convencional”, garante. O desfalque �nanceiro provocado por lagartas na propriedade do agricul-tor Sidney Fujivara, em Capão Bo-nito, no sul do estado de São Paulo, re�ete bem o potencial de geração de perdas das pragas, sejam elas di-retas ou indiretas. Segundo ele, na safra 2012/13 o ataque das lagartas Helicoverpa, Heliotis e Pseudoplusia nas culturas do feijão e da soja “fo-ram muito intensos”. Mesmo admi-tindo que estava preparado para a infestação em função das notícias de ocorrências em outras regiões brasileiras, Fujivara não escapou de baixas. “As pragas foram con-troladas com um número maior de aplicações, maior diversidade de produtos e com doses muito maio-res que os padrões normais. Com isso o meu custo com inseticidas aumentou em 120% em relação à safra 2011/12”, revela.

No milho segunda safra, ele vem percebendo alta infestação de lagartas do gênero Helicoverpa (as-sim como a maioria de produtores, técnicos, agrônomos e pesquisado-res, ele ainda não distingue a H. zea da H. armigera). “Esta concentra-ção acontece, sobretudo em rela-ção ao material Herculex (semente Bt). No entanto, não é tão severa no milho, a ponto de gerar prejuí-

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zos econômicos”, garante. De uma forma geral, a salvação da lavoura com produtos químicos deixou seu registro no balanço �nanceiro da fazenda. “Consegui um bom con-trole das lagartas e não tive redução de produtividade, mas meu custo de produção aumentou em 14% em relação ao último ciclo pelo maior volume de aquisição e aplicação de inseticidas”, conta.

Centro-OesteO estado de Mato Grosso –

maior produtor de grãos do Brasil – está em alerta em função da dis-seminação de lagartas nas lavouras brasileiras. Até abril, o estado havia escapado de infestações mais seve-ras, como as ocorridas na Bahia, Piauí, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, provavelmente pelo

ciclo produtivo diferenciado e por condições climáticas (longos perío-dos de chuva dos primeiros meses do ano) não favoráveis à prolifera-ção da praga. No entanto, técnicos e autoridades sabem que estas con-dições mudam com a chegada dos meses secos e já determinaram uma espécie de monitoramento da inci-dência dos insetos.

No �nal de março, uma co-missão formada por representan-tes da Aprosoja/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, do Imea – Institu-to Mato-Grossense de Economia Agropecuária e Comissão de Defe-sa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento, foi conhecer o problema de perto nos estados do Piauí e na Bahia. “Nós �camos apavorados”,

conta Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja-MT, impressionado com a voracidade do inseto. “Eu vi lagarta devorando grão duro de soja!”, exclama. A viagem técni-ca ainda constatou a versatilidade da praga. “Nenhuma lavoura está a salvo; as lagartas atacam milho, milheto, soja, sorgo, algodão e até crotalária”, relata.

Não só a Helicoverpa está tiran-do o sono de agricultores. Estudo feito este ano pelos pesquisadores José Fernando Juca Grigolli e An-dré Luis Faleiros Lourenção, da Fundação MS, comprovou alta in-festação da Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho) em lavouras comerciais de milho transgênico na região de São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul. Em uma das quatro propriedades onde fo-

Medidas sugeridasAs conclusões finais do semi-

nário nacional “Biotecnologia para a Sustentabilidade da Agricultura Brasileira” não haviam sido forma-tadas até o fechamento desta edi-ção. A seguir, relacionamos suges-tões apontadas pelos participantes do encontro ao longo dos debates:1) Criação e implantação do Fó-

rum Nacional de Monitora-mento dos Cultivos (FNMC), a ser responsável pelo levan-tamento de dados de cultivos, de quantificação da adoção de tecnologias, de eventuais quebras de resistência e ma-peamento dos fatos;

2) Criar mecanismo para distri-buir os encargos de manejo das sementes geneticamente modificadas entre produtores e empresas;

3) Redimensionar, junto às em-presas de sementes GM, os percentuais das áreas de re-fúgio a serem adotados para as diversas tecnologias de pri-meira e segunda geração;

4) Interceder para que as em-presas de sementes ofertem no mercado, em quantidade e qualidade ideais, sementes convencionais das principais culturas brasileiras;

5) Notificar a Abrasem – Asso-ciação Brasileira de Sementes e Mudas e associações esta-duais do setor sobre o não fornecimento de sementes convencionais em quantida-de e qualidade ideais, aler-tando para o atendimento e cumprimento do programa Plante Refúgio;

6) Encaminhar pedido ao Gover-no Federal para a liberação de recursos adicionais visando pesquisas sobre resistência de pragas a organismos genetica-mente modificados;

7) Interceder junto às empresas de sementes para que criem canais funcionais de comuni-cação e de acompanhamento junto ao produtor rural para que as informações sobre a utilização das tecnologias disponíveis cheguem claras e garantam a correta utilização a campo.

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Pesquisadores encontraram vários equívocos de manejo nas lavouras, que acabaram potencializando o ataque das lagartasram feitos os levantamentos, um dos talhões apresentou índice de 50% de plantas atacadas pelo inse-to, mesmo após três aplicações de inseticidas. Em outra fazenda, o percentual chegou a 58,3% mas os pesquisadores não tiveram acesso à informações (sobre refúgio, apli-cações, etc.).

Primeira geraçãoAs infestações mais signi�ca-

tivas aconteceram em cultivos de sementes Bt de primeira geração (uma proteína). As tecnologias con-sideradas de segunda geração (cul-tivares com duas ou mais proteínas) apresentaram níveis populacionais de lagartas sem prejuízos econômi-cas às lavouras. Os agrônomos tam-bém registraram que a maior área de refúgio encontrada foi de 3,8%, bem abaixo dos 10% ou 5% – vari-ável conforme a tecnologia adotada – recomendados pelas empresas sementeiras no Brasil. Em uma das propriedades esta área de controle simplesmente não existia.

Além do pequeno percentual cultivado com milho convencional (área de refúgio) foram constatados outros equívocos de manejo que, segundo os pesquisadores, poten-cializaram o ataque. Dentre eles o uso contínuo de uma mesma tec-nologia Bt em safras e safrinhas de milho e a coexistência muito próxi-ma de áreas de safras diferentes. Ao que tudo indica, o nível de infesta-ção poderia ter sido inferior caso os agricultores tivessem acesso a todos os materiais necessários a um ma-nejo adequado. Os produtores rela-taram aos agrônomos a di�culdade em encontrar no mercado sementes convencionais com boas caracterís-ticas agronômicas.

Neste aspecto, documento da Fundação MS – que detalha o es-tudo – menciona a “necessidade  visceral de um esforço conjunto”

entre os produtores e as corpora-ções disseminadoras de sementes no Brasil para garantir “maior du-rabilidade das tecnologias Bt dis-poníveis no mercado”. Mas não só a oferta regular de sementes con-vencionais é vista pela Fundação MS como garantia da adoção de refúgio. O texto do estudo é claro com relação às responsabilidades das multinacionais que dominam o mercado de transgênicos no Brasil: “Empresas devem fornecer híbridos convencionais no merca-do, dando opções para os produ-tores no momento da compra das sementes, bem como orientá-los

e auxiliá-los no plantio correto da área de refúgio e da rotação da tec-nologia Bt utilizada.”

As quatro fazendas visitadas continham  talhões com diferentes tecnologias Bt. Em cada um deles (talhão e híbridos) foram feitas amostragens para determinar o índice de infestação. Os pesqui-sadores documentaram todos os quadros com fotos. Em todas as propriedades foram veri�cados ataques pela lagarta-do-cartucho. Os agrônomos alertam que a situ-ação encontrada não deve servir de parâmetro para toda a região, pois “foram visitadas poucas pro-

priedades. Quatro campos experi-mentais da Fundação MS, em São Gabriel do Oeste, também foram inspecionados. Neles o índice de infestação foi “zero” sem aplicação de inseticidas. Há de se ressaltar que se tratava de áreas de abertura com o primeiro cultivo de milho com diversos materiais (semen-tes). Independente de situações especí�cas, a Fundação MS faz algumas recomendações básicas, que destacamos a seguir: 1 – Ado-ção de áreas de refúgio e de táticas de coexistência (NR: a propósito, leia Contenção de lagartas, na pági-na seguinte); 2 – Empresas devem

fornecer sementes convencionais de boa qualidade e similares aos híbridos Bt. Uma das sugestões é a comercialização casada: em 100 sacos de milho adquiridos pelo produtor, 10 deles devem ser con-vencionais; 3 – Evitar o plantio sucessivo na safra e na safrinha ou de várias safrinhas seguidas com sementes com a mesma tecnologia Bt, fazendo uma rotação de genes plantando, em cada ano, uma tec-nologia; 4 – Monitorar as áreas, pois algumas pragas, como  a la-garta-do-cartucho, não são elimi-nadas por completo por algumas tecnologias Bt.

Técnico examina uma

planta no oeste da

Bahia: “Eu vi uma lagarta devorar grão

duro de soja”

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Tecnologia

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Contenção de lagartasA área de refúgio é parte fundamental nas estratégias de manejo de resistência de insetos-praga em lavouras que utilizam a tecnologia Bt. Simone M. Mendes (1), José M. Waquil (2), Sandra Maria Moraes Rodrigues (3) e Adeney de Freitas Bueno (4)

Algumas perguntas conti-nuam sem respostas, no que diz respeito à infes-tação maciça de lagartas

em lavouras de milho Bt. Entre elas, uma é recorrente: o plantio da área de refúgio foi realizado de forma a atender os princípios bá-sicos do MRI – Manejo de Resis-tência de Insetos? Dados prelimi-nares de pesquisa realizada pela Embrapa Milho e Sorgo, na safra 2011/12, mostraram que mais da metade dos produtores entrevis-tados a�rmaram que faziam uso da área de refúgio em milho. No entanto, quando averiguadas as formas de manejo, �cou eviden-te que muitos deles não o faziam adequadamente para evitar a se-leção de insetos resistentes a essa tecnologia. Além disso, observou--se que ainda existe muita confu-são entre os conceitos de área de refúgio e os conceitos da lei de co-existência que regulamenta a dis-tância de plantio entre áreas de milho Bt e convencional.

Área de refúgio é a semeadura de um menor percentual da lavoura realizado adjacente à área cultivada com transgênicos, expressando Bt, mas com cultivares da mesma es-pécie, não-Bt ou “convencional”, de igual porte e ciclo, de preferência as cultivares isogênicas. Atualmente, no Brasil, estão aprovados pela CTNBio cultivares transgênicas que expres-sam proteínas inseticidas oriundas do Bt para algodão, milho e soja, em-bora, por questões comerciais (falta de liberação na China), a soja Bt ain-da não esteja disponível ao sojicultor. Assim, a área de refúgio consiste em semear uma cultivar de milho ou al-godão convencional, e futuramente também soja, intercalada (adjacente) com as cultivares transgênicas, utili-zando o mesmo manejo relacionado à irrigação, à adubação e aos demais tratos culturais.

O plantio da área de refúgio é parte fundamental das estratégias de manejo de resistência de insetos--praga (MRI) em lavouras que uti-lizam a tecnologia Bt. Além disso, a

expressão de alta dose da proteína Bt na cultivar transgênica auxilia a re-tardar a evolução da resistência por reduzir a frequência inicial de indi-víduos resistentes na população. Na ausência de pressão de seleção, ou seja, antes da adoção das lavouras Bt, é possível que genes de resistência já estejam presentes na população do inseto, entretanto em baixa frequên-cia. Com a utilização da tecnologia Bt por várias gerações, a pressão de seleção é exercida gradativamente sobre as populações selvagens. Isso irá reduzir a frequência dos indiví-duos suscetíveis e selecionar os indi-víduos resistentes à proteína Bt.

Esse processo pode ser acelerado ou retardado, dependendo da maior ou menor frequência de acasalamen-to de fêmeas resistentes com machos também resistentes. A utilização da alta dose é importante para contro-lar os indivíduos híbridos (heterozi-gotos), resultantes do acasalamento entre insetos resistentes e suscetíveis. Mesmo assim, a utilização da área de refúgio é crucial para produzir um número su�ciente de indivíduos sus-cetíveis para evitar a chance de dois resistentes se acasalarem, gerando insetos resistentes homozigotos. As-sim, torna-se imperativa a utilização da área de refúgio com cultivares não Bt, reduzindo a velocidade de sele-ção de insetos resistentes. Como a função da área de refúgio é produzir indivíduos suscetíveis à tecnologia Bt, não se deve utilizar bioinseticida à base de Bt nesta área e deve-se es-tabelecer um programa de manejo integrado de pragas (MIP) para re-duzir a pulverização com inseticidas convencionais. O percentual da área

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da lavoura que deve ser semeado com cultivar não Bt varia com o tipo de cultura e o evento transgênico uti-lizado (veja exemplos de estrutura ao lado). Quando a planta contém um único evento transgênico para uma determinada praga-alvo, o ris-co de seleção de insetos resistentes é maior e, portanto, a área de refúgio necessária também é maior. Ao con-trário, se o evento expressa mais de uma proteína inseticida para o mes-mo inseto-alvo (genes piramidados), esse refúgio pode ser reduzido. No entanto, é importante estar atento às recomendações feitas pelas empresas detentoras dos eventos transgênicos, pois, mesmo que o evento tenha duas proteínas inseticidas ativas, elas precisam atuar com mecanismos de ação diferentes e sobre o mesmo gru-po de pragas-alvo. Caso contrário, não se aplicam os preceitos aqui des-tacados da piramidação.

Refúgio estruturadoA e�ciência da área de refúgio

depende muito de sua localização em relação à lavoura transgênica (Bt). Assim, a maior distância en-tre uma planta Bt e uma não Bt da área de refúgio não deve ser superior a 800 m. Essa distância máxima foi determinada com base em resulta-dos de pesquisas realizadas com as principais espécies de pragas-alvo da cultura do milho, especialmente a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), e extrapolada para as demais pragas-alvo das proteínas Bt de todos os três cultivos em discus-são (soja, milho e algodão), visto que a maioria dessas pragas são, assim como a S. frugiperda, representantes da família Noctuidae. Sendo assim, considera-se que essa é a distância média de voo das principais pragas--alvo da tecnologia Bt hoje disponí-veis ao produtor. Portanto, a e�ci-ência da área de refúgio cai, propor-cionalmente, à medida que aumenta a distância entre a área de refúgio e a área com cultura transgênica (Bt), pois distâncias superiores a 800 m di�cultarão o encontro para o acasa-

lamento entre os insetos sobreviven-tes na área convencional com aqueles sobreviventes na cultura Bt.

O refúgio estruturado deve ser desenhado de acordo com a área cul-tivada com a lavoura Bt de maneira a facilitar a operacionalidade da con-dução da lavoura sem prejudicar os preceitos essenciais da maior distân-cia de 800 m entre plantas Bt e não Bt, além do percentual de plantio re-comendado. Para glebas com dimen-sões acima de 800 m cultivadas com milho Bt, serão necessárias faixas de refúgio internas nas respectivas glebas. Ainda é importante lembrar

que, na área de refúgio, é permitida a utilização de outros métodos de con-trole, desde que não sejam utilizados bioinseticidas à base de Bt.

Mesmo sabendo que as princi-pais pragas-alvo dos cultivos Bt são polífagas, podendo se alimentar e completar seu ciclo biológico em várias plantas hospedeiras não Bt, como sorgo, milheto, aveia, trigo e um grande número de plantas da-ninhas, o plantio da área de refúgio com a mesma espécie e a mesma cultivar é fundamental para garan-tir o sincronismo do ciclo biológi-co das plantas e reduzir a possível

Estruturas da Área de Refúgio

1 – As plantas de cultivares não Bt da área de refúgio devem estar no máximo a 800 m de distância das plantas de lavouras Bt

2 – Para obedecer a essa regra, o plantio da área não Bt pode ser feito no perímetro da lavoura ou em faixas, dentro da área de cultivo

3 – Em área de pivô central, o refúgio pode ser feito em faixas ou em parte da área

Cultivares BtCultivares não Bt 800 m

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46 | Agro DBO – maio 2013

TecnologiaSementeiras estão estudando a adoção de mistura de sementes (Bt e não Bt) “no saco”, como forma de garantir a área de refúgio.

Recomendações de refúgio para diferentes cultivos Bt aprovados no Brasil

Cultura Número de eventos liberados com resistência a insetos 1 (Lepidoptera)

Proteínas Bt expressas pelos

eventos 1,2

Recomendaçãodo tamanho da área

de refúgio3

Milho 7Cry2Ab,Cry1Ab, Cry1A.105(Cry1Ab, Ac e 1F) Cry1F e Vip3A

5 a 10% daárea semeada com milho Bt

Algodão 4 Cry2Ab,Cry1Ab, Cry1Ac, Cry2Ae Cry1F

5 a 20% da área semeada com algodão Bt

Soja 1 Cry1Ac 20% da área semeada com soja Bt

1 – Consulta em 12 de abril de 2013 - http://www.ctnbio.gov.br/upd_blob/0001/1736.pdf2 – Disponível em http://www.portaldbo.com.br/Portal/Hotsite/AgroDBO/3 – Recomendações das empresas detentoras dos eventos Bt

preferência hospedeira, tanto para oviposição, como para alimenta-ção e abrigo, facilitando, assim, o acasalamento. Além disso, trata-se de uma tecnologia que pode atingir vários lepidópteros-praga. No caso do milho, pragas como a lagarta--da-espiga do milho (Helicoverpa zea), e a broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), possuem uma gama diferente e relativamente reduzida de hospedeiros. Portanto, a utilização da área de refúgio é es-sencial para garantir a manutenção da funcionalidade e da durabilida-de da tecnologia Bt para todas as pragas-alvo das toxinas Bt.

O principal risco do não uso da área de refúgio está na rápida seleção de biótipos ou raças das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt. O pro-dutor que está disposto a pagar mais pela tecnologia Bt sabe dos benefí-cios que ela promove no seu sistema de produção. Portanto, é necessário estar motivado a usar essa tecnologia de maneira responsável (utilizando a área de refúgio), visando a apropriar--se desse benefício por muito mais tempo. Assim, com a não utilização dessa prática, o próprio produtor será o primeiro a documentar a que-

bra da resistência, sendo surpreen-dido pela sua lavoura Bt dani�cada pela praga-alvo.

Refúgio no sacoOutro aspecto importante é que

o produtor de milho não confunda a área de refúgio com a área de coe-xistência. Esta existe para preservar o direito do vizinho em cultivar mi-lho convencional, sem risco de con-taminação da sua lavoura por pólen de planta transgênica, garantindo a pureza de milho livre de OGM. A norma de coexistência do milho Bt com cultivares não Bt, estabele-cida pela CTNBio (Comissão Téc-nica Nacional de Biossegurança) e regulamentada no Brasil, exige o isolamento de 100 m entre lavou-ras comerciais de milho Bt e não Bt ou 20 m de bordadura, desde que, nesta, sejam plantadas 10 �leiras de milho não Bt com híbrido de iguais porte e ciclo. Dessa forma, a área de refúgio pode ser feita com o apro-veitamento da área de isolamento para coexistência e é o que na prá-tica tem ocorrido. Mas o produtor não deve se esquecer de que a área de isolamento é exigida somente para separar a divisa das lavouras

(Bt e não Bt) e a área de refúgio é necessária em todos os pontos, obe-decendo à distância máxima de 800 m. O importante é que o produtor esteja ciente de que essas duas re-gras devem ser obedecidas e da importância delas, tanto para a pre-servação da tecnologia do milho Bt, como para o cumprimento da lei.

Atualmente, frente até aos pro-blemas enfrentados pela não ado-ção do refúgio do milho Bt e os con-sequentes relatos de não e�ciência da tecnologia, as empresas produ-toras de sementes estão estudando a estratégia de adotar a mistura de se-mentes (Bt e não Bt) no saco, o que é denominado de “refúgio no saco”, o que, forçosamente, obrigaria o produtor a plantar a área de refúgio. Entretanto, é importante salientar que essa estratégia, ainda não dis-ponível no Brasil, mesmo que ve-nha a ser adotada no futuro, apenas funcionará para a cultura do milho. Na soja, que provavelmente estará sendo disponibilizada no merca-do nesta próxima safra, as lagartas se movimentam bastante de planta para planta e não há, portanto, a possibilidade de adotar o refúgio no saco. Sendo assim, se a área de refú-gio de 20% para a soja não for ado-tada pela maioria dos sojicultores, a tecnologia da soja Bt terá uma vida útil extremamente curta.

Além disso, o produtor deve manter a prática de monitoramento constante nas lavouras para adoção de medidas relacionadas ao Mane-jo Integrado de Pragas na lavoura quanto às pragas–alvo e às não-alvo da tecnologia Bt sempre que a popu-lação da praga estiver acima dos ní-veis de ação recomendados, seja para algodão, milho ou soja.

Os au tores deste artigo são pesquisadores da: (1)Embrapa Milho e Sorgo, (2)Rede

Inovação Tecnológica/Defesa Agropecuária, (3)Embrapa Algodão e (4) Embrapa Soja.

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Política

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Ampliação de terra indígena

A Funai , Fundação Nacional do Índio, conclui estudo para re-

visão dos limites da Terra Indíge-na (TI) Enawenê-Nawê, que abran-ge os municípios de Juína, Sapezal e Comodoro, no MT. Atualmente, essa TI possui 742 mil ha e a pro-posta da Funai é ampliá-la para 1,3 milhão ha.

Aproximadamente 400 produ-tores rurais que possuem proprie-dades em Juína, próximas aos rios Preto, Juína Mirim, Juína, Juinão e Juruena, correm o risco de perder suas terras caso a TI Enawenê-Na-wê seja ampliada.

“As recentes demarcações de TI geram enorme insegurança aos pro-dutores rurais de MT, em função da falta de embasamento técnico, jurí-dico e cientí�co dos estudos apre-sentados pela Funai. Hoje, a Funai atua sozinha como se fosse os três poderes. Ela emite as instruções normativas como poder Legislati-vo, demarca como poder Executi-vo e cuida dos recursos administra-tivos como o Judiciário. Falta trans-parência nas informações”, destacou o presidente da Famato, Rui Prado.

A TI Enawenê-Nawê foi homo-logada em outubro de 1996. Possui

742 mil ha entre os municípios de Juína, Sapezal e Comodoro. A área tem cerca de 300 habitantes indíge-nas. Em Juína, 62% do município é formado por áreas protegidas. Se-gundo o ex-presidente da Associa-ção dos Proprietários Rurais Pes-quisa Rio Preto, Aderval Bento, to-da a área onde os produtores estão instalados na região possui títulos e escrituras de�nitivas. Desde 2005, a associação entrou com defesa dos produtores por meio de um estudo étnico histórico que comprovou a não presença dos povos Enawenê--Nawê na região.

Custo de produção na Argentina é metade do Brasil

O consultor da As-sociação Argen-

tina de Consórcios Regionais de Experi-mentos Agrícolas, Se-bastián Gavaldá, via-ja pela região Oeste de Mato Grosso durante o Circuito Aprosoja apresentando informações sobre a produção de grãos em seu país. Em Diamanti-no, ele explicou aos produtores ru-rais como a agricultura funciona, nos diversos aspectos.

“Temos muitos aspectos pareci-dos com o Brasil, mas uma vanta-gem sobre vocês é que a produção não precisa ‘viajar’ mais de 400 qui-lômetros para chegar a um porto”, disse Gavaldá. Mesmo assim, 84% do escoamento da safra são feitos por caminhões, 15% por ferrovias seculares e 1% por hidrovias.

Na última safra, foram 56 mi-lhões de toneladas. Muito se deve à entrada da tecnologia transgênica no país, que atualmente é de 100% em área de soja e algodão, e o mi-lho chega a quase este total. “Atu-almente, os melhores solos, que �-cam na região central do país, estão produzindo 3,6 milhões de tonela-

das”, disse Sebastián Gavaldá.Segundo o consultor, na Argen-

tina 12% das terras são utilizadas pa-ra cultivos anuais, como soja e mi-lho. Gavaldá explicou que seu pa-ís tem um solo fértil e baixa incidên-cia de doenças e pragas nas lavouras. “O clima e a disponibilidade de terras, que eram favoráveis se comparados ao Brasil, agora já não estão tão bons quanto em anos anteriores”, explicou.

50% das fazendas na Argenti-na são arrendadas e a maioria dos contratos se renova anualmente. “Na melhor área do país o arren-damento está na faixa de 30 sacas por ha”, explicou Gavaldá. Ele tam-bém disse que as operações no pa-ís são terceirizadas, ou seja, os pro-dutores terceirizam as colheitadei-ras, as plantadeiras e até a mão de obra por safra.

Na Argentina, algumas vanta-gens competitivas são a alta tec-

nologia, a grande de-manda interna, com o uso de biodíesel, e também uma Câmara de Arbitragem, que é um órgão com função de mediar acordos en-tre produtores rurais

e tradings. Como desvantagens, o consultor explicou que há altos im-postos, a infraestrutura não é boa, especialmente em rodovias, e há uma in�ação de 25%. Além dis-so, o produtor de soja recebe 35% a menos na venda da sua produção a título de impostos de exportação.

Os argentinos produzem soja a um custo bem menor que os bra-sileiros. No total, o custo de pro-dução deles é de R$ 478,00 por ha, enquanto aqui custa, em média, R$ 1.000,00 por ha.

Para o diretor administrativo da Aprosoja, Roger Augusto Ro-drigues, é interessante saber o que acontece em outros países. “Apesar de ser nossa vizinha, a Argentina tem aspectos bem diferenciados. Olharmos para nossos ‘concorren-tes’ é essencial para sabermos se es-tamos bem ou se estamos acomo-dados”, a�rmou.

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maio 2013 – Agro DBO | 49

MP dos portos: empresários apoiam

As entidades representativas do setor empresarial rea�rmam

seu total apoio à Medida Provisória dos Portos (MP 595) e ressaltam a importância de sua aprovação pelo Congresso Nacional, para acelerar o desenvolvimento do setor produ-tivo, melhorar sua competitividade internacional e promover a inadiá-vel organização do sistema portuá-rio brasileiro.

A MP 595 responde aos desa-�os da produção agrícola, indus-trial e mineral. Os portos são um elo fundamental da cadeia logísti-ca do país. A retomada dos investi-mentos no setor deve ser feita com urgência e sua modernização, com vistas à superação dos gargalos ho-je existentes, é imprescindível.

Ao criar os instrumentos para a integração do planejamento logísti-co, promover a abertura do setor a novos investimentos privados e es-timular a concorrência, reduzindo custos, a Medida Provisória cumpre

os objetivos. Por essa razão, o setor empresarial considera indispensá-vel sua aprovação, com os aprimo-ramentos de texto pactuados com suas entidades representativas.

Mudanças acertadas com o go-verno aperfeiçoarão o marco regu-latório criado pela MP 595, assegu-rando mais e�ciência, redução de custos e, sobretudo, mais seguran-ça jurídica. Os empresários consi-deram que o governo cumpriu seu dever com rigor, responsabilidade e sentido de Estado, ao entregar ao Parlamento e ao país um marco re-gulatório que cuida dos interesses do Brasil e busca construir o novo.

Apoiam a MP 595, Robson Bra-ga de Andrade, Presidente da Con-federação Nacional da Indústria – CNI; Antonio Oliveira Santos – Presidente da Confederação Na-cional do Comércio – CNC; Se-nador Clésio Andrade – Presiden-te da Confederação Nacional do Transporte – CNT; Senadora Ká-

tia Abreu – Presidente da Confe-deração da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA; Paulo Roberto de Godoy Pereira – Presidente da As-sociação Brasileira da Infraestrutu-ra e Indústrias de Base – ABDIB; e Fernando Figueiredo – Presidente da Associação Brasileira da Indús-tria Química – ABIQUIM.

PEC 215 - Na audiência foi des-tacada a urgência da aprovação da Proposta de Emenda à Constitui-ção (PEC) 215/2000 pelo Congres-so Nacional. Se aprovada, a PEC atribuirá ao Congresso a compe-tência para a demarcação de Terras Indígenas. “Precisamos da aprova-ção da PEC 215 para que a forma com que essas áreas vêm sendo am-pliadas seja discutida democrati-camente. Os produtores rurais que são envolvidos nesses processos têm poucas possibilidades de defe-sa”, ressaltou Prado.

O presidente do Sindicato Rural de Juína, George Diogo Basílio, diz que “se a área for ampliada, nós, de Juína, teremos que fazer as malas, pois �cará inviável economicamen-te morar aqui”.

Há 30 anos, o pecuarista Geral-do Queiroz vive na região do Rio Preto. “Não tenho o que fazer se minha propriedade for transfor-

mada em terra indígena. Não te-nho para onde ir. Estou muito pre-ocupado e já até adoeci por causa disso. Sacri�quei minha vida, ju-ventude e saúde nessa terra”, desa-bafou Queiroz.

Segundo a Funai, Mato Grosso possui aproximadamente 12.586.568 ha de TI´s divididas entre regulari-zadas, declaradas e delimitadas, o que corresponde a 14,05% do ter-ritório estadual. Conforme a Fun-dação, atualmente existem 25 áreas indígenas em estudo que não pos-suem um perímetro de�nido, mas apenas uma região determinada. Dessas 25 áreas, 12 são propostas de ampliação e 13 para criação. “Se as Terras Indígenas que estão em estudo fossem regularizadas pe-la Funai, o MT deixaria de gerar renda e emprego para a socieda-de, pois as áreas de produção agrí-cola e pecuária já estão consolida-das há muitos anos. Além disso, os

produtores que vivem nessas áre-as possuem as escrituras concedi-das pelo governo da época”, a�r-mou Rui Prado.

Com a regularização de to-das as 25 TI´s em estudo pela Fu-nai, o total de áreas indígenas sal-taria dos atuais 12.586.568 ha para 16.336.568 ha, representando um incremento de aproximadamente 3.750.000 ha, ou seja, 19% da área total do Estado. Isso signi�ca di-zer que as áreas destinadas aos ín-dios em Mato Grosso estariam pró-ximas às extensões territoriais dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Ala-goas, que juntos somam 17.046.875 ha, segundo dados do IBGE, Insti-tuto Brasileiro de Geogra�a e Esta-tística. Enquanto a população indí-gena em Mato Grosso é de 27.572, conforme dados da Funai, a dos quatro estados juntos somam 25,7 milhões de habitantes.

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Orizicultura

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Pente fino na safra gaúchaO Irga e a Conab celebram acordo para aumentar a acurácia no levantamento de dados de produção, área e produtividade do arroz.Glauco Menegheti

Ésabido que o Brasil é pródi-go na falta de estatísticas ou, se as têm, muitas vezes apre-sentam margem de erro que

prejudica tanto os produtores quan-to o governo e o mercado. No cená-rio da produção nacional do arroz, é estratégico aumentar a acuidade das estatísticas nessa cultura, pois o Rio Grande do Sul é o maior produtor, sendo responsável por 66,7% do to-tal do país na safra 2011/12. O acor-do entre o Irga – Instituto Rio Gran-dense do Arroz e a Conab – Com-

panhia Nacional de Alimentos passa a valer a partir da data de assinatu-ra, tem validade de cinco anos e pa-ra a próxima safra já serão gerados os dados.

Conforme o superintendente da Conab no Rio Grande do Sul, Glauto Melo, a companhia vem sendo demandada por organismos internacionais, como a FAO (órgão das Nações Unidas para agricultu-ra e alimentação), para construção de políticas públicas de segurança alimentar e, para isso, as informa-

ções precisam ser o mais precisas possíveis. “Para o mercado também é importante, pois o acompanha-mento etapa por etapa da lavoura permite fazer previsões de produção muito mais certeiras”, reconhece. Para Glauto, a expectativa é que em pouco tempo existirá uma informa-ção inédita no país com relação a mapeamentos e validação das ima-gens dos satélites. “Isto é de grande importância para a quali�cação do conhecimento dos órgãos e da so-ciedade, este acordo é mais que co-operação, ele é convergência, ele é inclusivo, ele é evolutivo e permite um �uxo continuo de troca de infor-mação”, �naliza. No Brasil, apenas duas culturas têm esse tipo de acom-panhamento na atualidade: o café e a cana-de-açúcar.

Mão duplaDe acordo com o gerente da Área

de Geotecnologias da Conab, Társis Pi�er, tudo começou com uma dis-crepância de informações entre o Irga e a Conab, numa reunião rea-lizada em meados do ano passado. “Estava sobrando produto quando fechávamos o quadro de suprimen-tos. Não sabíamos se era uma dife-rença em área ou produtividade”, diz eler. Como a área é um parâmetro mais objetivo, o erro só poderia estar no rendimento da cultura plantada sob o regime de irrigação por inun-dação. “A estimativa de produtivida-de é subjetiva.” A partir desse ruído entre as metodologias, pensou-se numa forma de aprimorar os levan-tamentos. As negociações entre as duas instituições iniciaram na me-tade do ano passado, tiveram uma

Evolução da área colhida em períodos equivalentes20/4/11, 20/4/2012 e 19/4/2013

Regionais% Colhida Produtividade kg.ha-1

2010/11 2011/12 2012/13 2010/11 2011/12 2012/13

Fronteira Oeste 95,2 95,5 83,3 8.296 8.049 7.656

Campanha 92,2 85,9 82,5 8.011 7.647 7.528

Depressão Central 91,5 84,8 74,6 7.609 7.444 7.642

Planície Costeira Interna 80,1 91,1 91,2 7.017 7.101 7.316

Planície Costeira Externa 97,8 96,4 95,5 6.621 7.027 7.105

Zona Sul 85,4 82,1 93,6 7.955 7.487 7.731

RS 91,0 90,0 86,2 7.740 7.558 7.520

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conclusão em dezembro e a assina-tura no �nal do primeiro trimestre de 2013. “As negociações �uíram rapidamente”, constata Pi�er.

Por um lado, a Conab dispõe de informação e expertise no gerencia-mento de imagens de sensoriamento remoto, com gerência especí�ca des-de 2005. Por outro, o Irga, que teve um plano-piloto de uso de imagens de satélite entre 2000 e 2003, tem uma alta capilaridade no interior do Rio Grande do Sul, com 40 escritó-rios nas seis regiões de produção do estado e mais de 80 técnicos. Em cada um dessas regiões, o pessoal do Irga conhece a fundo a situação de relevo, solo, produtores e carac-terísticas. Ambos, nesse caso, se complementam por dois fatores: o sensoriamento remoto em si é falho e necessita de calibração – ou seja, o apoio de gente no campo que con�r-me o que �ca acessível nas imagens; e a metodologia utilizada pelo Irga, a de informação declaratória, que consiste na realização de entrevistas com os produtores e observação a campo, também tem as suas limita-ções. Conforme o presidente do Irga, Claudio Pereira, com a parceria será possível determinar o tamanho real da safra de arroz, estabelecer políti-cas públicas com uma maior rapidez e saber a intensidade do uso do solo, se ele está em rotação ou em pousio.

MecânicaAs imagens utilizadas pela Co-

nab são disponibilizadas pelo Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais gratuitamente, com reso-lução espacial de 23 metros, o que se chama de imagem de média re-solução. A base cartográ�ca do Rio Grande do Sul é de um para 50 mil, o que é considerada muito boa para os especialistas. Segundo o coor-denador de Georreferenciamento do Irga, André Oliveira, a falta de resolução precisa ser calibrada com o trabalho de campo. “A calibração nada mais é do que veri�car in loco as discrepâncias entre as imagens de satélite e a realidade no campo.

A imagem de satélite tem que ter o olhar local”, explica Oliveira. Se-gundo ele, o interesse é o de deter-minar as áreas de arroz e, principal-mente, as de soja em rotação com o cereal. Neste ano, como previsto na edição de setembro de 2012 da revista AgroDBO (Grãos anfíbios, pag. 34), as terras baixas registra-ram crescimento exponencial de área plantada com a oleaginosa.

Quando começar o trabalho de fato, o laboratório de geomática da Conab enviará as imagens bru-tas, as cartas-imagem impressas ao Irga, que distribuirá aos seus 40 escritórios. Com elas em mãos, os técnicos do Irga vão a campo para o trabalho de quali�cação das ima-gens, no qual é feita a classi�cação, que é dizer o que cada mancha re-presenta. Um açude, por exemplo, pode passar por uma área de arroz. Também um terreno em pousio pode ser confundido com áreas em produção.

Após fazer a rati�cação ou re-ti�cação das imagens, por meio de trabalho de pente-�no no terreno, as cartas retornam ao laboratório da Conab. “As anotações são feitas na própria carta, por quadrantes”, expli-ca Pi�er. Os técnicos fazem os ajustes e novamente enviam à Conab, onde, na última etapa, são feitos os cálculos de acurácia, que é medir a precisão do mapeamento por amostragem. “A

gente sorteia um número de pontos na região onde houve o mapeamento e vai a campo veri�car se foram iden-ti�cados corretamente na imagem. Daí, con�rma o número de acertos e erros.” O objetivo é atingir uma acu-rácia acima de 90%, segundo Pi�er. No café e cana-de-açúcar o cálculo é de 95%. Com isso, os objetivos são, primeiro, obter estimativa de área precisa. Em segundo lugar, realizar o monitoramento agrometeorológico e espectral, que é baseado em índi-ces calculados a partir de imagem de satélite que re�etem a condição de vegetação. “Consegue-se ter um in-dicativo da produtividade”, diz Pi�er.

O terceiro objetivo é a parte de modelagem, dando expectativa de produtividade. O problema é que é preciso de séries históricas de in-formação de uma década. “Quanto maior a série histórica, mais con-sistente é a calibração.” A calibração nada mais é do que a comparação de estimativas de produtividade com a variação dos parâmetros agrome-teorológicos e espectrais para cada ano safra. A Conab compila dados desde 2000, o que permite, então, atingir essa acurácia. A boa notícia é que o MMA – Ministério do Meio Ambiente comprou imagens de sa-télite do país com resolução de cinco metros. O Ministério da Agricultura vai ter acesso aos dados e, por tabela, também a Conab e o Irga.

Imagens de sensoriamento remoto das áreas de arroz irrigado (em rosa) em de Capivari do Sul, na planície costeira gaúcha

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alegam razões étnicas dos euro-peus, e a confusão está armada, o que vai gerar discussões diplomá-ticas a médio e longo prazo.

No Brasil, o Vale dos Vinhe-dos, a primeira IG: antes, não ha-via um produto bom, por isso não exportava, pois os clientes não se interessavam. Depois, iniciando um trabalho de base, instalaram as lavouras no sistema de espaldadei-ra, buscaram a qualidade, aí sim, pediu-se a IG, e com qualidade ho-

Por princípio, Indicação Geográ�ca (IG) é boa, mas pode gerar proble-mas de toda ordem se não

for conduzida pro�ssionalmente e com muitos cuidados.

Os vitivinicultores israelenses, por exemplo, há mais de 20 anos, implantaram videiras na Cisjor-dânia, que é território palestino ocupado por Israel desde a Guer-ra dos 6 dias, em 1967. Com cli-ma e solo adequado a produção mostrou ter qualidade e a região começou a produzir bons vinhos para exportação.

Não há informação se os pro-dutores israelenses reivindicaram a aprovação de uma IG, mas a Eu-ropa, alegando motivos políticos e humanitários, exige que se co-loque de forma explícita nos ró-tulos a frase “Produzido por pro-dutores israelenses na Cisjordâ-nia, em território palestino”. É uma IG às avessas, que, de forma implícita, se for implantada, “re-comenda” ao consumidor euro-peu para não comprar produtos produzidos por Israel na Cisjor-dânia. Evidentemente que há in-teresses econômicos e hipócritas dos europeus por trás das inten-ções de rotulação, mas a descul-pa é de que se trata de uma ação humanitária. Portanto, é uma res-trição política e ideológica, e não barreira alfandegária, esta previs-ta no regulamento da OIC – Or-ganização Internacional do Co-mércio. Os produtores israelenses

Marketing da terra

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Indicação Geográfica:é boa ou ruim?A Indicação Geográfica tem pontos positivos e negativos:é vital certos cuidados e ainda saber como funciona o marketing.Richard Jakubaszko

je se exporta. Conseguiu-se valor agregado, obteve-se uma evolu-ção qualitativa dos vinhos, tornou a região conhecida e estimulou o turismo, consolidando o associati-vismo, em que todos são �scais do próprio negócio, e o negócio é de todos. A IG na região do Vale dos Vinhedos gerou empregos e valo-rizou as propriedades. A opção pe-la qualidade foi reconhecida pelos importadores, pois se obteve isto através da produtividade necessá-ria. Até então, era tradição cultu-ral obter de 12 a 14 t/ha, a briga era pela quantidade, hoje é 9 a 10 t/ha, o produtor “derruba” a uva, se necessário, para garantir que a uva que �ca no pé seja de boa qualida-de, pois a planta se encarrega dis-so, com a sabedoria que lhe é ca-racterística.

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Antes, não se exportava, hoje, com produto bom e de qualidade, falta produto para exportar. Pediram a IG em 2002, a autorização saiu em 2005, e, em 2007 a Europa reconhe-ceu a denominação de origem.

A IG do Vale dos Vinhedos sig-ni�ca sustentabilidade econômica e social da região, e é representa-da por marcas individuais com ba-se na marca coletiva, com prazos de vigência inde�nidos. São hoje 31 vinícolas e cooperativas, com a Aprovale e o Ibravin orquestrando e administrando o Vale dos Vinhe-dos, que tem 81 km2.

Na mesma época, na região dos Cerrados, os cafeicultores pe-diram a IG para o Café dos Cerra-dos. Foi a IG de nº 2 no Brasil. Ca-fé Arábica, produzido em clima se-co e apropriado, começa a decolar e se �rmar baseado na qualidade de produtor de cafés �nos, e tem ti-do a preferência entre os importa-dores, especialmente os europeus. A IG, mais uma vez, agrega valor, e se mostra positiva.

Como é fácil e barato obter--se a IG, apesar de nossa centená-ria burocracia, já existe uma série de pedidos de IG no INPI, como a da cachaça brasileira, a cachaça de Paraty, o queijo Minas Artesa-nal, o couro gaúcho da campanha, em processos avançados de trami-tação, com apoio do Ministério da Agricultura e de outros órgãos do Governo Federal. Outros proces-sos foram iniciados, muitos estão em consultas iniciais, e há enorme interesse sobre o assunto.

Cabe, entretanto, aqui nes-tas páginas, renovar o alerta pa-ra certos riscos que podem fazer com que o tiro saia pela culatra, o que não seria desejável. Melhor explicando, se há pretensões de se agregar valor à produção, isto po-de não vir a acontecer se apenas um produtor associado descum-prir as regras da coletividade, se-ja em termos de qualidade, seja em ações “politicamente corretas”. Neste caso, o politicamente cor-

reto implica atender as normas e idiossincrasias dos importadores, tenham eles razão ou não. A�nal, como sempre expressou o portu-guês da padaria, o freguês sempre tem razão.

Assim, entendamos a IG co-mo uma marca coletiva, pois são vários produtores numa mesma região, com suas marcas indivi-duais, que estão sob o signo do guarda-chuva da IG, ou seja, ca-da marca representa a região co-mo um todo.

Portanto, cada marca indivi du-al precisa estar dentro dos padrões de qualidade superior prometidos, e exigidos pelos consumidores.

Como vimos no caso israelen-se, no início as tais barreiras alfan-degárias dos importadores e con-sumidores implicam não apenas qualidade, pois isso é condição sine qua non para se vender com valor agregado, mas embutem questões comerciais, políticas, ideológicas, ambientais e politicamente corre-tas, questão esta que é um mar de possibilidades abertas para restri-ções de toda ordem.

Nas questões comerciais, os paí-ses podem alegar práticas de preços inadequadas, como dumping, com preços abaixo do mercado, uma das maiores acusações que se faz hoje aos produtos da China e de toda a

Ásia. Ou da prática de subsídios, co-mo o Brasil acusa a Europa e EUA. Nas questões políticas e ideológicas cabem casos como o de Israel. Nas questões ambientais qualquer acu-sação de desmatamento na região de IG seria motivo para travar com-pras, e toda a região entra em colap-so quase imediato. Também qual-quer acusação de uso excessivo de agrotóxicos ou poluição de rios e do meio ambiente entraria na lista das impropriedades. E, no politica-mente correto, amplo e genérico co-

mo o tamanho da hipocrisia huma-na na área comercial, imagine-se a acusação de trabalho escravo numa região onde a IG esteja implantada. Seria o caos, vendas cairiam a zero na semana seguinte.

Portanto, aos que pensam im-plantar uma IG em sua região de produção, seja lá do que for e onde estiver, é bom combinar – e escre-ver – regras políticas e comerciais aos parceiros integrantes da em-preitada. IG é negócio sério, pre-cisa ser feito com pro�ssionalismo, com ética, sabendo que todos tra-balham pelo bem de todos daquela comunidade, e que os espertos e ir-responsáveis sejam mantidos à dis-tância, caso contrário pode azedar. Como podemos constatar, a IG po-de ser boa ou ruim, o que diferen-cia é quem faz.

Símboloda IG cachaçade Paraty

A IG na região do Vale dos Vinhedos gerou empregos e valorizou as propriedades.

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Opinião

Excelente a reportagem de Roldão Arruda, publicada no Estado tempos atrás, in-dica algo impossível no ca-

dastro de terras do País: o somató-rio de área dos imóveis rurais ul-trapassa em 600 mil quilômetros quadrados a própria superfície do território nacional. A falha é es-candalosa e o assunto, antigo.

Dele tratei ao apresentar, em 1989, minha tese, intitulada A Verdade da Terra, de doutorado em Administração na FGV-SP. Nela mostrei, modestamente, ha-

ver um resíduo sujo nas estatísti-cas agrárias do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrá-ria (Incra).

Em outubro de 1985, o gover-no liderado por José Sarney aca-bara de lançar o Plano Nacional de Reforma Agrária, estabelecen-do uma meta de bene�ciar, em 15 anos, um contingente de 7,1 mi-lhões de famílias, das quais 1,4

54 | Agro DBO – maio 2013

Caos fundiárioserem equivocadas as estatísticas cadastrais do Incra. Inexistia, na verdade, aquele fantástico volume de terras a serem desapropriadas. Tratavam-se, isso sim, de enor-mes áreas que, embora o�cial-mente declaradas ao órgão o�cial, raramente eram localizadas na re-alidade. Denominei tais imóveis de “latifúndios fantasmas”: ame-drontavam a sociedade, mas só valiam no papel.

Tudo indicava ser a grilagem de terras responsável pelos enga-nos. Áreas extensas eram registra-das com documentação precária, para depois facilitar a sua venda. Noutros casos, antigas possessões haviam sido regularizadas, dividi-das, capitalizadas, mas permane-ciam cadastradas como original-mente estavam. Não se limpava o cadastro original. Em meu tra-balho acadêmico destaquei vá-rias dessas áreas, com sua locali-zação e seu tamanho. Somente no Estado de São Paulo identi�quei 11 “latifúndios fantasmas”, jamais encontrados nas vistorias in loco. O caos fundiário era certamen-te mais grave nas demais regiões do País, menos estabelecidas bu-rocraticamente.

Essa é a razão por que ainda hoje, conforme descobriu o jor-nalista Roldão Arruda, em 1.354 municípios brasileiros as terras cadastradas no Incra superam sua área territorial. Ladário, em Mato Grosso do Sul, puxa a lista da in-congruência fundiária: a soma de seus imóveis rurais ultrapassa dez vezes a superfície municipal. Nem mágica explica.

Minha conclusão, formula-da há 25 anos, foi chocante: as es-tatísticas enganadoras do Incra permitiram fabricar uma ilusão - ainda persistente na sociedade -

milhão receberia seu pedaço de terra até 1989. A empreitada exi-gia ousadia total. Reconquistada a democracia, porém, tudo parecia ser possível.

O ponto de partida para o as-sentamexnto rural prometido re-sidia no fabuloso estoque de ter-ras dominado pelos latifúndios. Estimava-se no Incra que meta-de do território nacional, cerca de 410 milhões de hectares, estava ociosa. Terra de exploração que se transformaria em terra de tra-balho, assim dizia o mais famo-so slogan agrarista. Espetáculo da ilusão agrarista.

Deu, óbvio, tudo errado. Ao �nal do governo Sarney, desapro-priados mesmo haviam sido ape-nas cerca de 8 milhões de hecta-res, distribuídos entre pouco mais de 50 mil famílias. Centenas de processos dependiam de trâmi-tes burocráticos ou judiciais. Po-rém, ainda que todas as pendên-cias fossem de pronto resolvidas, menos de 1% da meta de assen-tamentos teria sido atingida. Fra-cassara redondamente a reforma agrária da Nova República.

O �asco foi creditado às for-ças conservadoras, comandadas

pelos latifundiários. Participante ativo desse processo, como mem-bro da equipe dirigente do Incra, em Brasília, não me convenci fa-cilmente de tal argumento. Jul-guei que as objeções políticas ha-viam sido superestimadas na ex-plicação do ocorrido. O buraco estava mais embaixo.

Minha tese, que virou livro (A Tragédia da Terra, 1991), mostrou

É a hora da verdade para o Incra. A instituição não pode se contentar com a inoperância.

Xico Graziano *

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de que seria fácil fazer a reforma agrária, bastando “vontade políti-ca” para executá-la.

Quando publiquei minha tese de doutorado, que repercutiu em entrevista nas páginas amarelas da revista Veja, a esquerda dogmáti-ca expulsou-me de sua turma. Tec-nicamente, os entendidos pouco discordavam de mim. Mas acha-vam que, inoportunamente, eu de-ra munição à famigerada “direita”. Alguns me acusaram de capitular ante o latifúndio. Bobagem.

Eu simplesmente defendia, co-mo até hoje o faço, a ideia de que a modernização capitalista da agri-cultura exigia uma reorientação nas ideias agrárias herdadas do passado colonialista, que cultiva-vam a utopia socialista. Nada de permanecer, como Dom Quixote, lutando contra quimeras. Cazuza cantava: “A tua piscina está cheia

de ratos/ tuas ideias não corres-pondem aos fatos” (em O Tempo não Para).

Muito se fez, desde então, pa-ra aprimorar o sistema cadas-tral do Incra. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, medidas saneadoras - legislati-vas, jurídicas e administrativas - conseguiram deletar cerca de 90 milhões de hectares, comprova-damente grilados, especialmente no Norte. Mas nunca, verdadei-ramente, o Incra enfrentou esse problema pra valer. Por motivos, lamentavelmente, ideológicos.

Trazer credibilidade ao cadas-tro fundiário do País pressupõe modernizar o Incra. Carcomido pela velha ideologia, aparelhado por grupelhos políticos, tornou--se palco de disputas entre grupe-lhos, afugentando o pro�ssiona-lismo que o projetou. Tornou-se

Publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 02/04/2013. * Xico Graziano é agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

burocratizado, lento. Os agricul-tores que o digam: um simples re-gistro dos limites geográ�cos da fazenda, referenciados por satéli-te, demora anos para ser conce-dido. Fora as notícias sobre pro-pinas, que todos conhecem, mas receiam denunciar, temendo ser retaliados pelas mãos dos invaso-res de terras.

Chegou a hora da verdade pa-ra o Incra. A histórica instituição não pode se contentar com essa inoperância, caindo em descré-dito por nem saber sequer quan-to de terra o Brasil possui. Ou re-descobre sua função, empurrando a modernidade no campo, ou fe-cha as portas.

maio 2013 – Agro DBO | 55

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Deu na imprensa

56 | Agro DBO – maio 2013

O pacote anunciado ontem pe lo governo federal que totaliza R$ 7 bilhões em

incentivos à produção sucroalco-oleira voltada ao etanol foi bem recebida pelo setor, ainda que com ressalvas. Com a desoneração e medidas de facilitação ao crédito, o governo pretende recuperar um segmento que sofreu com a queda tanto na produção como no consu-mo no ano passado e tem passado por um crescente endividamento. Um problema que, de acordo com a presidente da União da Indús-tria da Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, deverá di�cultar o acesso de muitos produtores ao novo crédito.

Durante a divulgação, o minis-tro da Fazenda, Guido Mantega, disse que “as medidas possibilita-rão que o setor tenha condições melhores de ampliar o investimen-to e expandir a produção”.

Do pacote, quase R$ 1 bilhão

é referente à desoneração do PIS e do Co�ns, que correspondem a R$ 0,12 por cada litro de etanol produzido. O governo dará um crédito correspondente ao valor, zerando a alíquota ao produtor. Elizabeth Farina defendeu, em nota, que a medida “melhora a competitividade do etanol hidra-tado frente à gasolina”.

Ela também elogiou as no-vas condições da linha de crédito anunciada para renovar os cana-viais. “[O �nanciamento] per mite melhor produtividade agrícola, mais próxima dos patamares his-tóricos do setor, observados antes da crise �nanceira de 2008/2009”, atestou.

Depois da produção de 27,513 bilhões de litros de etanol obser-vada naquela safra, o País não vol-tou a alcançar o mesmo volume. Mas, após o pacote, a expectativa do governo é que a produção de etanol na safra 2013/2014 chegue

a 28 bilhões de litros, aumento de 20% com relação à safra anterior. A Unica já estimava avanço de pelo menos 13% nesta safra.

O governo renovará a linha de crédito de R$ 4 bilhões do Proreno-va com uma taxa de juros mais ba-rata, de 5,5% ao ano, ante os juros entre 8,5% e 9,5% ao ano que eram cobrados na última safra.

Outra linha de crédito, de R$ 2 bilhões, com prazo de 12 meses e juros de 7,7% ao ano, será desti-nada para a estocagem da cana na entressafra. Segundo o economis-ta Francisco Pessoa, da consulto-ria LCA, as duas linhas de crédito são positivas. “É preciso de crédito para melhorar os canaviais, porque quando eles �cam velhos, cai a pro-dutividade. Além disso, para a eco-nomia em geral, é preciso de polí-tica de estocagem, porque quando vem a safra, o preço cai”. A equali-zação dos juros subsidiados custará aos cofres públicos R$ 334 bilhões.

Di�culdades A presidente da Unica ressal-

tou, no entanto, que o benefício não chegará a todos os produtores. “Cerca de 30% das empresas do se-tor terão di�culdades para acesso tanto ao credito à estocagem quan-to aos recursos do Prorenova, pois possuem níveis de endividamento elevados demais para superar as restrições impostas pelos bancos”. De acordo com levantamento do Itaú BBA divulgado em agosto do no ano passado, o endividamento do setor na safra 2011/2012 engor-dou em R$ 5 bilhões e alcançou a marca dos R$ 48 bilhões.

Além disso, na safra 2011/2012, a produção de etanol sofreu uma quebra de 7%, com 22,682 bilhões de litros, enquanto o consumo re-

Setor canavieiro aprova pacote do governo

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maio 2013 – Agro DBO | 57

cuou 8%, com 17,7 bilhões de li-tros. A redução da demanda por etanol ocorre mesmo em meio ao aumento da frota de veículos, que cresceu 7% no ano passado e consumiu 39,7 bilhões de litros de gasolina, 12% a mais que em 2011. A demanda interna por gasolina levou a um crescimento de 70% das importações do combustível, que chegaram a 3,7 bilhões de li-tros em 2012. Segundo Mantega, o pacote pretende reduzir essas im-portações.

Outro efeito esperado é a redu-ção do preço da gasolina na bomba e do próprio etanol hidratado, que compete com a gasolina. Porém, o economista Francisco Pessoa acre-dita que a redução inicial do preço do etanol será ajustada pelo mer-cado no médio prazo com um au-mento da demanda. “Essa política não deve ser vista como um com-

bate aos preços. O governo não está esperando isso”, a�rmou o analista.

Para Pessoa, as medidas são di-recionadas “mais para o produtor do que para o consumidor. Por isso deve ser vista como estratégica”. Pessoa não considera que o pacote deve ser visto como um movimen-to de curto prazo.

“O que o governo quer é que o setor saia de um momento de di�-culdade por excesso de investimen-to, de crença e que foi di�cultado, porque o preço dos insumos au-mentou, como a terra, e ao mesmo tempo o governo resolveu segurar o preço da gasolina. Como o etanol é 70% do preço da gasolina, não dá para subir muito o preço.”

Além dos incentivos �nancei-ros, Mantega também con�rmou o aumento da adição de etanol ani-dro na gasolina de 20% para 25% a partir de 1 de maio. A Unica con-

siderou a decisão positiva porque “gera demanda adicional e garan-tida pelo etanol anidro” e porque reduz as emissões de gases causa-dores do efeito estufa.

Camila Souza Ramos DCI - Diário do Comércio & Indústria/SP

A presidenteda Unica ressaltou que o benefício não chegará a todos os produtores.

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58 | Agro DBO – maio 2013

ARROZ – Em 18/4, o Indicador do Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias--BM&FBovespa fechou a R$ 31,04 a saca. Com a queda de preços de 12% no 1º trimestre, produ-tores continuaram priorizando a comercialização de outros grãos, como milho e soja, para fazer caixa. Mesmo que a nova safra maior que a an-terior, os estoques de passagens devem continu-ar apertados, não dando margens para quedas acentuadas de preços.

SOJA – Os preços do grão seguiram em que-da no início de abril, mas reagiram na terceira semana do mês, impulsionados por altas no mercado internacional e por maior demanda por farelo para exportação. Na ocasião, os contratos para o primeiro vencimento de maio chegaram a US$ 31,53 por saca, o maior preço desde 27/3/13. No curto prazo, a menor oferta, devido ao final da safra brasileira, pode ajudar a sustentar os preços, mas a tendência ainda é baixista.

O vai e vem do algodão A retração dos preços interna e externamente, o alto custo de produçãoe a valorização da soja e do milho induziram à redução da área plantada.

Análise de mercado

Font

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* Em 18/4, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 31,4, à vista, pela saca de 50 kg, tipo 1, posto Rio Grande do Sul.

* Em 18/4, o Indicador Cepea/EsalqBM&FBovespa registrou R$ 60,05 pela saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

TRIGO – A negociações no mercado interno voltaram a se aquecer em meados de abril. Segun-do o Cepea, representantes de moinhos chegaram a disputar lotes remanescentes, mesmo com lei-lões de venda do governo e com a possibilidade de importações de 2 milhões de toneladas sem a TEC –Tarifa Externa Comum. Tradicionalmente, as negociações esquentam somente no começo da safra nacional, a partir de agosto. Os preços, porém, não recuperaram o nível do final do mês passado.

* Em 18/4, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 709,04 pela tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto estado do Paraná.

A área de cultivo no Bra-sil recuou 36,4% na sa-fra 2012/13 (de 1,393 mi-lhão para 886,8 mil hecta-

res), comparativamente a 2011/12. A produção deve cair para 1,263 mi-lhão de toneladas, 9,7% abaixo das 1,399 milhão previstas em março e 32,7% abaixo das 1,877 milhão co-lhidas na safra passada, a segunda maior do país. As importações fo-ram estimadas em 216 mil tonela-das; as exportações, em 642 mil; e o consumo interno, em 887 mil, 2,5% acima do registrado no ciclo anterior, mas 14,6% abaixo do obtido na safra 2009/10. Os preços registram valori-zação de 35,8% no mercado brasilei-ro desde o começo de 2013 e o go-

verno entendeu que havia a necessi-dade de facilitar as importações, para desafogar a indústria nacional, mas o custo de importação, mesmo sem imposto, ainda é elevado. A Camex – Câmara de Comércio Exterior zerou a alíquota para importação de 80 mil toneladas entre 1º de maio e 31 de ju-lho. A decisão não deve pressionar os preços internos, pois o volume é pe-queno, su�ciente para abastecer ape-nas alguns cotonifícios antes da en-trada da nova safra. O preço �nal de-ve chegar a US$ 1,15 a US$ 1,20 por libra-peso ou o equivalente a R$ 2,30 a R$ 2,40 por libra-peso.

A cota de 80 mil toneladas ajuda-rá o setor a reabastecer os estoques e a aumentar a competitividade. As

importações servirão para suprir as necessidades imediatas de consumo no primeiro semestre (período de entressafra), haja vista a previsão de atraso na colheita em Goiás e na Bahia, uma vez que intempéries climáticas provocaram atrasos no plantio. Em condições normais, os cotonicultores dessas regiões come-çam a oferecer matéria-prima ao mercado no �nal de maio.

No mercado internacional, em-bora tenham se distanciado dos 90 centavos de dólar por libra-peso em abril, as cotações ainda acumulam ganho de 11,6% neste ano na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). Nos Estados Unidos, a área de algodão deve recuar 18,5%, de 4,980 milhões

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maio 2013 – Agro DBO | 59

A retração dos preços interna e externamente, o alto custo de produçãoe a valorização da soja e do milho induziram à redução da área plantada.

CAFÉ – O preço do arábica vem caindo desde o ano passado. Em meados de abril, chegou per-to dos R$ 290, bem abaixo, portanto, do custo operacional em várias regiões produtoras de Mi-nas Gerais (ao redor de R$ 350). A safra recorde colhida no Brasil em 2012, de 50,83 milhões de sacas, e a perspectiva de alta produção este ano contribuiram para derrubar os preços. A tendên-cia continua baixista. As cotações do conilon, no entanto, seguiram firmes em abril.

MILHO – As previsões de safra recorde no Brasil, o vencimento (em abril) de parte das dí-vidas de custeio, o que leva produtores a “fazer caixa”, e a ligeira queda nos preços internacionais do petróleo nos EUA (que reduzem a procura do grão para produção de etanol) pressionaram as cotações no mês passado. A demanda firme e as notícias de problemas climáticos nos EUA evitaram, porém, uma queda maior, com picos de oscilação em meados de abril. A tendência continua baixista.

Análise de mercadoFo

nte:

Cep

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* Em 18/4, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 302,87 pela saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

* Em 18/4, o Indicador de Preços do Algodão Cepea/Esalq registrou R$ 206,14de centavos de real por libra-peso.

AÇÚCAR – As usinas paulistas vem priorizan-do a produção de etanol e de açúcar VHP, este destinado, em sua maioria, ao mercado externo. Assim, a oferta do cristal continuou limitada em abril, ajudando a manter os preços em patamares elevados no mercado de pronta entrega, compa-rativamente aos valores do final do mês passado. Com demanda firme, a tendência é altista no curto prazo. Os elevados estoques mundiais podem, po-rém, pressionar as cotações para baixo.

* Em 18/4, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 45,29 pela saca de 50 kg, com ICMS (7%).

* Em 18/4, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 25,67 pela saca de 60 kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

ALGODÃO – Os preços da pluma continuaram em queda em abril, no mercado interno. Segundo levantamento do Cepea, boa parte das in-dústrias comprou mais do que o necessário quando o mercado estava em alta, receosas de que os preços atingissem patamares ainda maiores, e agora que o valor voltou a cair, estão na moita, fora das negociações. A liberação de importação de pluma isenta da TEC – Tarifa Externa Comum também pressionou os preços para baixo. No médio e longo prazos, a tendência, porém, é altista, dada a redução na área global de plantio e estoques mundiais elevados.

de hectares na safra 2012/13 para 4,060 milhões/ha na safra 2013/14. Esse é um fator de sustentação do preço futuro no mercado interna-cional, pois os EUA são os maiores exportadores mundiais. Em pratica-mente todos os grandes países pro-dutores haverá redução na área de cultivo na safra 2013/14, em relação à safra atual.

A produção mundial deve recu-ar 3,5% em 2012/13, para 26 milhões de toneladas, contra 27 milhões em 2011/12, mas a demanda deve cres-cer 4,3%, para 23,3 milhões de to-neladas, ainda �cando bem abaixo da produção. O comércio global de algodão provavelmente diminuirá 4,9% neste ano, por conta da redução da demanda da China. Os estoques mundiais cresceram e devem atin-gir o nível recorde de 17,9 milhões de toneladas na temporada 2012/13. Os estoques �nais mundiais acumu-lam uma forte alta de 68,3% nas úl-timas três safras globais. A produção mundial deve cair 13,4% no ciclo 2013/14, para 22,5 milhões de tone-

ladas (o ano-safra começa em 1º de agosto/2013), após um declínio de 3,5% em 2012/13. A produção deve cair fortemente nos Estados Unidos e na Turquia, onde a concorrência com outros grãos é forte. A tendên-cia de recuperação gradual dos pre-ços mundiais em 2013/14 será limi-tada pelos estoques globais elevados. Com um cenário de retração na área global, forte queda da área de plan-tio nos EUA na próxima safra, oferta e demanda interna ajustadas na sa-fra atual, além da forte queda da ren-tabilidade do milho na 2ª safra este ano, a tendência é de recuperação da área de plantio de algodão no Brasil. As projeções apontam lavoura 11% maior, com expansões concentradas nos estados de Mato Grosso e Bahia, onde a rentabilidade aponta maiores ganhos por hectare para o algodão do que para o milho da 2ª safra, tan-to agora quanto em 2013/14.

Carlos Cogo Carlos Cogo Consultoria Econômica

Page 60: Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

Novidades no campo

60 | Agro DBO – maio 2013

ARROZ COLORIDO

▶ A Epagri lançou três novas cultivares de arroz irrigado

– branco, vermelho e preto –, durante dia de campo

na Estação Experimental de Itajaí (SC). A SCS118 Marques é

destinada ao mercado consumidor tradicional, ou seja, a cor

do grão é branca, quando descascado e polido. A SCS119 Rubi

(vermelha) e a SCS120 Ônix (preta) são indicadas para receitas

mais elaboradas. Além da composição química diferenciada,

ambas se destacam pelo alto teor de compostos fenólicos, de

características antioxidantes.

Com estas novas tecnologias, a Epagri soma 20 variedades

lançadas no mercado catarinense desde 1976, quando iniciou

atividades de melhoramento genético de arroz irrigado. As

cultivares da instituição ocupam mais de 85% da área de arroz

irrigado de Santa Catarina. Também são plantadas em outros

estados brasileiros, como o Rio Grande do Sul, Paraná, Mato

Grosso do Sul, Goiás e Maranhão, além da Bolívia, Paraguai,

Argentina e outros países da América do Sul.

PINGO DE MEL

▶ A Isla Sementes apresenta mais uma novidade em fruticultura: o melão

híbrido Pingo de Mel, variedade superdoce, do tipo Cantaloupe, com formato

redondo, polpa de cor alaranjada e casca com rendilhado fechado. Desenvolvido

especialmente para o mercado brasileiro, é uma cultivar com resistência ao vírus

Powdery Mildew (PM).

A Isla comercializa as sementes de Pingo de Mel em pacotes Longa Vida, latas e

envelopes. A aquisição pode ser realizada através da loja virtual da empresa (www.

isla.com.br), do televendas 0800 709 5050, dos representantes e distribuidores Isla

ou em casas agropecuárias e supermercados em todo o país

NOVO FERTILIZANTE NA PRAÇA

▶ Após quatro anos de pesquisas e demonstrações

a campo, a Stoller lança o Mover, um complexo

de micronutrientes capaz de multiplicar a eficiência das

plantas durante a fase de granação, aumentando o peso

e melhorando a qualidade dos frutos. O fertilizante Mover

contribui para que os nutrientes absorvidos pelas folhas

sejam drenados de maneira mais eficaz para alimentação

dos frutos. OBS: Na edição passada, nós classificamos o

Mover, erradamente, como fungicida. Pedimos desculpas

pela falha. É um fertilizante.

APLICADOR COSTAL DE GRANULADOS

▶A Guarany, empresa brasileira especializada em

pulverização, aproveitou a 13ª edição da Expoagro

Afubra, realizada no final de março em Rio Pardo (RS),

para mostrar seu novo aplicador costal de granulados,

capaz de fazer aplicações precisas de forma contínua

(grama/minuto) ou dosificada (grama/acionamento),

com grande gama (‘range’) de dosagens. Pode ir,

por exemplo, de 10 a 250g para fertilizantes N-P-K, o

que proporciona opções para a correta adubação dos

cultivos, desde a fase de muda (em viveiros) até a

plena produção.

O equipamento pode ser

utilizado nas mais diversas culturas

agrícolas, tais como flores e

hortaliças, frutas e grãos, além

de cultivos florestais (eucalipto,

pinus etc). Todas as funções

estão ao alcance do operador

por meio de um comando

manual (joystick) unificado,

proporcionando rapidez nas

mudanças de dosagens.

Page 61: Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

Novidades no campo

maio 2013 – Agro DBO | 61

SOJA PARA O CENTRO-OESTE

▶A Embrapa lançou na TecnoShow Comigo, realizada no mês passado em

Rio Verde (GO), duas novas cultivares de soja para a região centro-oeste

do Brasil: a BRSMG 772, desenvolvida em parceria com a Epamig e a Fundação

Triângulo; e a BRSGO 6955 RR, com o CTPA – Centro Tecnológico para Pesquisa

Agropecuária e Emater de Goiás. A primeira é uma cultivar tradicional, indicada

para a macrorregião 303, que engloba o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba e,

na safra 2013/2014, para outras regiões do Brasil Central. Possui resistência ao

acamamento e grupo de maturidade relativa 7.7, com alta estabilidade de produção

em presença de ferrugem asiática.

A segunda é uma cultivar transgênica, indicada para as macrorregiões REC 303 – MG (Triângulo Mineiro, Alto do Paranaíba) e GO (sudeste); REC 302 – GO (sul);

REC 301 – MS (centro-norte) e GO (sudoeste); REC 304 – GO (leste). Resistente ao

acamamento e às doenças pústula bacteriana, mancha olho de rã e cancro da haste,

tem grupo de maturidade 6.9 e ciclo superprecoce, em torno de 104 dias.

FARDOS DE BIOMASSA PARA QUEIMA

▶A Krone, fabricante de equipamentos para silagem e acessórios para pecuária

e agricultura, lançou no mercado a enfardadeira Big Pack High Speed, capaz de

produzir 50 toneladas de material enfardado por hora. A empresa desenvolveu um

acessório denominado PreChop para produção de fardos de biomassa, para queima

em fornos e substituição da madeira.

Quatro máquinas equipadas com PreChop estão trabalhando numa usina

paulista para enfardar palha da cana. “É o único equipamento capaz de trazer a

palha picada do campo, pronta para queima, dispensando a utilização de picadores

estacionários, extremamente caros e ineficientes”, explica

Rafael Bouwman, do grupo Bouwman, de Castro

(PR), distribuidor da Krone no Brasil. Em sua opinião,

com o apelo pela preservação do meio

ambiente e utilização de palhadas

de culturas diversas para outros

fins, o mercado de equipamentos

para biomassa vai explodir nos

próximos anos.

HÍBRIDOS DE SORGO

▶A NexSteppe, empresa de origem norte-americana, está lançando dois híbridos

de sorgo no Brasil: o Malibu e o Palo Alto. O Malibu é um híbrido de sorgo

sacarino, que pode ser usado como complemento à cana de açúcar no fornecimento

de matéria prima adicional às usinas de transformação do açúcar em etanol.

O Palo Alto, capaz de atingir três metros de altura com apenas quatro meses de

crescimento, é um híbrido de alta biomassa, destinado à produção de biocombustíveis

avançados e celulósicos, bioenergia e produtos de base biológica. Concebido para

ter nível baixo de umidade na maturidade, o Palo Alto reduz significativamente a

quantidade de água colhida, ajudando a diminuir os custos de colheita e transporte.

Níveis mais baixos de umidade também proporcionam maior densidade de energia,

eficaz para a combustão.

FERTILIZANTE NITROGENADO

▶Para melhorar a absoção de

nitrogênio pelas plantas, a Timac

Agro está lançando na região sul do

Brasil a tecnologia Sulfammo MeTA, onde

uma dupla membrana é incorporada ao

fertilizante no processo de granulação.

Disponível desde 2010 no Centro-Oeste,

Norte e Nordeste do país, o fertilizante

nitrogenado se mostrou eficiente mesmo

em condições de altas temperaturas,

precipitações concentradas e solos

arenosos presentes nestas regiões. O

Sulfammo MeTA é indicado para todas

as culturas que demandam nitrogênio,

como milho, trigo, arroz, café, algodão,

pastagens, feijão, cana-de-açúcar,

reflorestamento, fruticultura e hortaliças..

Page 62: Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

62 | Agro DBO – maio 2013

Guiade grãose cereais

▶ Durante três anos, o

fotógrafo Cloves Vasconcelos

visitou cerca de 80 pontos-de-venda

da cidade de São Paulo, entre

distribuidores da zona cerealista,

lojas especializadas, armazéns,

supermercados, mercearias

e mercados municipais, para

montar o guia Grãos & Cereais.

Para tanto, pesquisou as origens,

nomes populares e denominações

científicas de mais de 200 produtos

nacionais e importados, compilando

os diversos usos na culinária.

Depois, fotografou-os em estúdio

– uma tijelinha cheia para cada

variedade. Ao lado das imagens,

devidamente identificadas, Cloves

dispôs informações nutricionais para

ampliar as opções dos leitores no

preparo de pratos e, no caso dos

neófitos em gastronomia, incentivá-

los a criar suas próprias receitas,

explorando novos sabores.

O guia traz, ainda, a relação dos

fornecedores, com os respectivos

nomes, telefones e sites atualizados.

Com 112 páginas, em formato 15

X 21, está disponível para venda no

site www.encontraemsp.com.br por

R$ 39,90.

Gestão no campo

▶ Em edição revista e atualizada, o Informe

Agropecuário da Epamig trata da adequação

socioeconômica e ambiental das propriedades rurais.

O objetivo é auxiliar os produtores na gestão do

empreendimento, priorizando aspectos econômicos, sociais

e ambientais. Os autores abordam diversos temas, entre

os quais gestão territorial, programas de pagamento por

serviços ambientais, técnicas para conservação do solo e

da água, restauração florestal e implantação de sistemas

agroflorestais, apresentando exemplos concretos de políticas

públicas e programas de sucesso em execução no país.

A publicação mostra, em resumo, que a produtividade

na agropecuária não depende apenas da correta utilização de tecnologias e do conhecimento

prático e teórico, mas também da boa gestão da atividade. Com 116 páginas, custa R$ 15,00.

Para compra-la, basta entrar em contato com a Divisão de Gestão e Comercialização da Epamig

pelo telefones (31) 3489-5002 e (31) 3489-5023 ou pelo e-mail publicaçã[email protected].

Terrorismo ambiental

▶Tataraneto de Dom Pedro II, descendente, portanto, da antiga

família real brasileira, Bertrand de Orleans e Bragança lançou

o livro “Psicose Ambientalista”, no qual afirma que “efeito estufa”,

“derretimento dos polos” e “aumento do nível do mar” são “falácias

ecoterroristas”. Segundo ele, não passam de invencionices. “Estão

dizendo que o mundo vai acabar. Mostramos justamente o contrário,

desmistificando o assunto”, afirma Bertrand, para quem o discurso

preservacionista, elogiável na aparência, embute um viés ideológico

evidente: “Os vermelhos viraram verdes. Ou seja, o comunismo

foi substituído pelo ambientalismo”, garante. Editado pelo Instituto

Plinio Correia de Oliveira (nome do homem que, em 1960, criou a

TFP - Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), o livro custa R$

23,90. Com 175 páginas, pode ser encontrado nas livarias ou encomendado através do

site www.livrariapetrus.com.br.

Biblioteca da Terra

Verde por fora...

▶ Obra do pesquisador Marcelo de A. Guimarães,

o livro trata de aspectos referentes às

tecnologias desenvolvidas para a produção de

melancias de alta qualidade e produtividade, tendo

como público-alvo os profissionais que trabalham

diretamente com esta olerícola, sejam eles produtores

ou pesquisadores. Rica em minerais e substâncias

protetoras do organismo humano, a melancia é um

fruto refrescante, com alta concentraççao de água

e açúcar, quando cultivada sob manejo correto e

condições edafoclimáticas adequadas. Com 144

páginas, o livro custa R$ 40,00 e pode ser adquirido

através do site www.editoraufv.com.br.

Page 63: Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

A essência da agroeconomia

▶ O livro ao lado combina duas visões analíticas

– distintas, mas complementares e abrangentes

–, sobre a agricultura brasileira A primeira resulta

de estudo do engenheiro agrônomo, doutor em

ecologia e pesquisador da Embrapa, Evaristo Eduardo

de Miranda. A outra, da seleção criteriosa de Delfim

Martins, feita sobre o portfólio da Pulsar Imagens

e de fotografias do satélite GeoEye. Para Evaristo,

compreender a agricultura brasileira vai além de

analisar números e recordes de produção. “Mais do que o quanto, é essencial entender

como se produz no país. É necessário, segundo ele, compreender a enorme evolução

da tecnologia agrícola nacional, empurrada pela inovação e pelo empreendedorismo dos

agricultores e das organizações às quais pertencem, e saber como tudo isso se insere em

processos históricos e em raízes culturais próprias do Brasil.

“É uma obra essencial para difundir a importância da agroeconomia brasileira e

a capacidade do país de garantir o abastecimento mundial de alimentos”, destaca

Marc Reichardt, presidente da Bayer CropScience, empresa patrocinadora do livro.

“É para ser lido e, como diz o autor (Evaristo Miranda), ‘visitado’ por todo cidadão

brasileiro, onde quer que viva ou trabalhe”, endossa o ex-ministro da Agricultura e atual

Embaixador Especial da FAO para o Cooperativismo, Roberto Rodrigues, autor do texto

de apresentação do livro: “ Com certeza, ao percorrer suas páginas, todos sentirão

o orgulho da brasilidade, a alegria de pertencer ao povo notável que construiu, com

pertinácia e determinação, a maior e melhor agropecuária tropical e sustentável do

planeta. Uma obra que orientará a opinião pública na direção de uma estratégia para

levar o Brasil a gerar muito mais bem-estar para seus cidadãos e os do resto do mundo,

com a produção competitiva deste fantástico campo brasileiro”.

Com 296 páginas, 200 fotografias e 38 imagens de satélite, a publicação está à venda

nas livrarias por R$ 128,00. Quem quiser, pode encomendá-lo pelo e-mail metalivros@

metalivros.com.br. A editora (Metalivros) negocia descontos para empresas e grupos.

Agricultura para jovens

▶ A Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal

está promovendo o livro “Pequenas histórias

de plantar e de colher”, destinado a estudantes do

5º ao 9º ano do ensino fundamental. Escrito pela

jornalista Ruth Bellinghini, trata da agricultura desde o

surgimento dos primeiros cultivos até os dias de hoje.

Como suplemento, a obra traz encartada um Guia do

Professor, para auxiliar os docentes a preparar as aulas.

A distribuição, gratuita, é feita pela própria Andef.

“Queremos que os livros cheguem para todas as escolas, porém não temos acesso a

todas elas. Se tivermos a colaboração de prefeituras ou órgãos estaduais, poderemos

alcançar muito mais alunos”, diz José Annes Marinho, gerente de educação da entidade. Os

interessados podem fazer encomendas através da assessoria de imprensa Alfapress, pelo

e-mail [email protected].

maio 2013 – Agro DBO | 63

Biblioteca da Terra

Page 64: Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

64 | Agro DBO – maio 2013

Agrishow 2013/20ª Feira Internacional de Tecnologia em Ação – De 29/4 a 3/5 – Polo de

Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios

do Centro-Leste – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 3060-5041 – Site: www.agrishow.com.br – E-mail: comunicação@

reedalcantara.com.br

Considerada a mais importante feira

agrícola da América Latina, a Agrishow comemora 20 anos

de história e se consolida como a principal vitrine do

agronegócio nacional, especialmente no

setor de máquinas e implementos agrícolas.

A expectativa dos organizadores é

bater os recordes de público, expositores

e movimentação financeira. Os números do ano passado foram expressivos: 152.836 mil visitantes de 18

países, 790 expositores e R$ 2,150 bilhões em volume de negócios. Com 440 mil m² de

área, a feira tem como um de seus atrativos as dinâmicas de campo, este ano com algumas novidades. Uma delas

é a implantação, em parceria com a Embrapa, de área

de 16 hectares com manejos variados

de ILPS – Integração Lavoura-Pecuária-

Silvicultura.

364, Distrito Industrial) – Cuiabá (MT) – Fone: (51) 3066-9355 – E-mail: [email protected]

27 Bio Brazil Fair 2013/9ª Feira Internacional

de Produtos Orgânicos e AgroecologiaDe 27 a 30 – Pavilhão da Bienal – São Paulo (SP) – Site: www.biobrazilfair.com.br – E-mail: [email protected]

JULHO

10 Expofruit/17ª Feira Internacional da

Fruticultura Tropical IrrigadaDe 10 a 12 – Expocenter Campus Ufersa – Mossoró (RN) – Site: www.expofruit.com.br – E-mail: [email protected]

10 Feira Agronegócio e ÁlcoolDe 10 a 14 – Praça de

Exposição – Presidente Prudente (SP) – Site: www.multifeirascongressos.com.br – E-mail: [email protected]

22XIII Enfrute/Encontro Nacional Sobre

Fruticultura de Clima TemperadoDe 22 a 25 – Parque da Maçã – Fraiburgo (SC) – E-mail: [email protected]

28XXXIV Congresso Brasileiro de Ciência

do SoloDe 28 a 2/8 – Costão do Santinho Resort – Florianópolis (SC) – Site: www.eventossolos.org.br/cbcs2013 – E-mail: [email protected]

31II Conbraf /Congresso Brasileiro de Fitossanidade

De 31 a 2/8 – Centro de Convenções da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp – Jaboticabal (SP) – Site: www.fcav.unesp.br/conbraf

Calendário de eventos

MAIO

7 Agrotins 2013/Feira de Tecnologia Agropecuária

de TocantinsDe 7 a 11 – Palmas (TO) – Fones: (63) 3218-2136 / (63) 3218-2112 - E-mail: [email protected]

9 41ª Expoingá/Exposição Feira Agropecuária, Industrial e

Comercial de MaringáDe 9 a 19 – Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro – Maringá (PR) – Fone: (44) 3261-1700 Site: http://www.srm.org.br – E-mail: [email protected]

12IV Simpósio Brasileiro de Pós-Colheita de Frutas,

Hortaliças e Flores/VI Encontro Nacional Sobre Processamento Mínimo de Frutas e HortaliçasDe 12 a 16 – Auditório da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto – Ribeirão Preto (SP) – Site: www.spcepm2013.com.br

14Agrobrasília 2013/Feira de Tecnologia e Negócios

Agropecuários De 14 a 18 – Parque Ivaldo Cenci (rodovia BR 251, Km 5, sentido Brasília-Unaí) – Brasília (DF) – Fone: (61) 3339-6516 – Site: www.agrobrasilia.com.br/ – E-mail: [email protected]

21AgroÉtica/Encontro Nacional de Ética no

AgronegócioDe 21 a 23 – Anhanguera Educacional (campus da Vila Mariana) – São Paulo (SP) – Site: www.agroetica.org.br

21Entecs/Encontro Nacional de Tecnologias de Safras

De 21 a 24 – Lucas do Rio Verde (MT) – Fone: (65) 3549-1161- E-mail: [email protected]

22Eucalipto 2013/Simpósio Sobre Tecnologias de

Produção Florestal De 22 a 24 – Minascentro – Belo Horizonte (MG) – Fone: (31) 3899-2476 – E-mail: [email protected]

28 Bahia Farm Show/ 9ª Feira de Tecnologia Agrícola e

Negócios De 28 a 1/6 – Luiz Eduardo Magalhães (BA) – Site: www.bahiafarmshow.com.br – E-mail: [email protected]

JUNHO

4 II Seminário Latino Americano sobre Arroz Vermelho

De 4 a 5 – Auditório da PUC/RS – Porto Alegre (RS) – E-mail: [email protected]

5 I Simpósio de Ciências Agrárias da Amazônia

De 5 a 7 – Campus Tapajós da Universidade Federal do Oeste do Pará – Santarém (PA) – Fone: (93) 2101-4946

19 Hortitec/20ª Exposição Técnica de Horticultura,

Cultivo Protegido e Culturas IntensivasDe 19 a 21 – Recinto da Expoflora – Holambra (SP) – Site: www.hortitec.com.br – E-mail: [email protected]

24XXVIII Congresso ISSCT/28ª Exposição e Congresso de

Tecnologia SucroenergéticaDe 24 a 27 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fones: (16) 2132-8936 e (11) 3060-5000 – Site: www.issct2013.com.br – E-mail: [email protected]

26 Congresso Sindag/ Congresso Nacional de

Aviação AgrícolaDe 26 a 28 – Estância Santa Rita (BR

Page 65: Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

maio 2013 – Agro DBO | 65

Um guia de anúncios para facilitar as compras e aprimorar a produtividade da fazenda.

ANUNCIE Ligue 11 3879-7099. Descontos especiais para programações.

Negócios

Page 66: Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

Legislação

Atualmente, os altos índi-ces de produtividade al-cançados nas lavouras brasileiras estão vincu-

lados à moderna tecnologia em-pregada em todo o processo pro-dutivo. São, pois, inúmeros os de-fensivos oferecidos no mercado e que prometem determinados re-sultados, desde que atendidos di-versos requisitos como época de plantio, solo apropriado, stand cor-reto, respeito ao zoneamento agrí-cola, manejo apropriado, aplicação em quantidade e épocas corretas, acompanhamento técnico, etc.

E se o produto promete elimi-nar determinada praga ou doença e não o faz, mesmo que seguidas todas as orientações do fabricante? E se, em função disto, o produtor que con�ou sua lavoura à aplica-ção de determinado produto sofre perda de safra? Qual é a solução?

A legislação civil e a do consumi-dor estabelecem a possibilidade de indenização em situações como es-sas. O produtor deve enquadrar-se como destinatário �nal dos produ-tos para que as leis que amparam o consumidor possam ser aplicadas. Contudo, o judiciário ainda não tem entendimento pací�co sobre o tema, o que traz certa insegurança. Inicialmente, é essencial demons-trar que as perdas foram causadas por falhas do produto e não por outros fatos como estiagem ou ex-cesso de chuvas.

O produtor também deve de-monstrar que obedeceu à risca to-das as recomendações preconiza-das pelo fabricante do produto uti-lizado. Quanto à prova, além dos

laudos produzidos pela assistência técnica do produtor em que cons-tem, dentre outras coisas, a pro-dutividade esperada e a obtida, é importante demonstrar documen-talmente o histórico de produtivi-dade da área atingida para �ns de comparação com a safra atingida.

Antes da propositura da ação, contudo, é altamente recomen-dada a instauração de um pro-cedimento judicial preparatório conhecido como “produção ante-cipada de provas”, o que permiti-rá registrar, tecnicamente, todo o

Perdas com defensivosA lei estabelece a possibilidade de indenização ao agricultor,caso o produto não tenha a eficácia apregoada pelo fabricante.Fábio Lamonica Pereira *

*O autor é advogado,

especialista em Direito do

Agronegócio

66 | Agro DBO – maio 2013

ocorrido e mensurar as perdas so-fridas na lavoura. De posse de tais documentos e realizado o procedi-mento inicial, é possível, então, a propositura da ação propriamente dita a �m de que o judiciário jul-gue a questão, determinando se há direito à indenização e qual o valor a ser pago pela empresa fa-bricante do produto.

A indenização deve abranger tanto os danos de ordem moral quanto material. O valor daque-le será �xado pelo juiz de acordo com as circunstâncias do caso, e o deste dependerá de demonstração da extensão dos prejuízos cau-sados pela ine�cácia do produto aplicado na lavoura. Em um caso julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, um grande fabricante foi condenado ao paga-mento de indenização por danos morais e materiais em decorrência da baixa e�cácia de seu produto no combate à “ferrugem asiática”. Ponto essencial a ser observado diz respeito ao prazo para exercer o direito à citada ação de indeniza-ção que, em regra, é de três anos. Caso seja reconhecido tratar-se de relação de consumo, o que como dito é controverso, o prazo passa a ser de cinco anos.

Conclui-se que o produtor pode exigir, judicialmente, reparação de danos em caso de perda de safra que tenha como causa a ine�cácia comprovada de produtos como defensivos agrícolas aplicados em suas lavouras, desde que observa-dos os preceitos legais, ciente de que se trata de questão complexa e que pode levar anos para a preten-dida solução.

A indenização ao agricultor deve abranger tantoos danos de ordem moral quanto material

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