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1 T R O P I C A L Revista editada pela Embrapa Agroindústria Tropical Fortaleza, CE | Abril - Junho 2013 | Nº 146 AGROINDÚSTRIA INOVAÇÃO Empresas graduadas no Proeta ganham espaço no mercado com produtos inovadores

Revista Agroindústria Tropical nº 146

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"Desafios e conquistas vividos por dois jovens empreendedores". Nesta edição, a revista Agroindústria Tropical apresenta a situação das empresas participantes do Programa de Incubação de Agronegócios da Embrapa (Proeta) um ano depois da graduação.

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T R O P I C A LRevista editada pela Embrapa Agroindústria Tropical

Fortaleza, CE | Abril - Junho 2013 | Nº 146

AGROINDÚSTRIA

INOVAÇÃOEmpresas graduadas no Proeta ganhamespaço no mercado com produtos inovadores

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Apresentação

Em dezembro de 2009, a edição 142 da Revista Agroindústria Tropical apresentava dois jovens empreendedores, Fernando Furlani (Sabor Tropical) e Roberto Caracas (BioClone), que galgavam os primeiros passos para se inserirem no mercado. Na época, as empresas contavam com o apoio do Programa de Incubação de Agronegócios da Embrapa (Proeta), que possibilitou apoio técnico e acesso às tecnologias da Embrapa Agroindústria Tropical. Em abril de 2012, os dois empreendimentos se graduaram, ou seja, deixaram o programa em busca de alçar voos solos.

Esta edição retrata a situação atual dos dois empresários. O esforço para consolidar seu próprio negócio e atingir as metas estabelecidas nos planejamentos das empresas, bem como compreender a complexa realidade do mercado são alguns dos desafios enfrentados após a fase de incubação. Empresas que apostam na inovação como a Sabor Tropical e a BioClone não são exceções. Elas fazem parte de um movimento maior de articulação entre incubadoras e pequenos empreendimentos (as start-ups), mas com grandes pretensões. O cenário é de efervescência. E que venham novos bons exemplos.

Agroindústria Tropical É uma revista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Elaborada pela Embrapa Agroindústria Tropical, situada na Rua Dra. Sara Mesquita 2270 - Pici, CEP 60511-110 - Fortaleza, CE. Contato Telefone: (85) 3391.7100 E-mail: [email protected]: www.cnpat.embrapa.brtwitter: @embrapacnpat

Jornalistas ResponsáveisRicardo Moura (DRTCE1681jp) Verônica Freire (MTB 01225jp)

Projeto GráficoRicardo Moura

DiagramaçãoAna Elisa Sidrim e Raissa Alves (capa)

Revisão Marcos Antonio Nakayama Daniel Ferreira da SIlva

Impressão | TiragemGráfica Cearense | 4.000 exemplares

FotoCláudio Norões

Chefe-GeralLucas Antonio de Sousa Leite

Chefe-Adjunta de P&DAndréia Hansen Oster

Chefe-Adjunto de Administração Cláudio Rogério Bezerra Torres

Chefe-Adjunto de Transferência de TecnologiaJoão Pratagil Pereira de Araújo

Supervisor do Núcleo de Comunica-ção OrganizacionalNicodemos Moreira

3 FRASES E NÚMEROS

Sumário

Expediente

5 REPORTAGEM DE CAPA

ACONTECE1214 RADAR

Inovação: mercado aquecido para novas empresas

O legado de Pimentel

Ferramentas de Rastreamento

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Frases & Números

“[A Anater] é um órgão de difusão de tecnologia, concentrado, sobretudo, nos pequenos e nos médios [produtores], porque nós mudamos o patamar. Com tecnologia, se produz, na mesma área, mais e melhor, diminuem-se os custos da produção, se adapta e respeita o meio ambiente onde você está.”

Presidenta Dilma Rousseff, em discurso proferido sobre a criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), órgão que deve contar com 130 funcionários e orçamento estimado em R$ 1,3 bilhão para 2014.

“O Brasil tem um grande acervo de conhecimentos prontos para serem levados ao campo: automação, agricultura de precisão, agregar valor à sua produção para que os produtores alcancem mercados cada vez mais rentáveis.”

Maurício Lopes, diretor-presidente da Embrapa, sobre a contribuição da empresa para a Anater.

“Não temos a menor dúvida da importância da agricultura familiar para o desenvolvimento econômico e social do nosso país. Nesse Plano Safra, queremos que os agricultores tenham mais capacidade de investimento, inovação e tecnologia.”

Pepe Vargas, ministro do Desenvolvimento Agrário.

“Os preços elevados dos alimentos são um incentivo para incrementar a produção, e temos de fazer o possível para assegurar que os agricultores pobres se beneficiem com eles. Não devemos esquecer que 70% das pessoas sofrem com a insegurança alimentar e vivem, em geral, em áreas rurais de países em desenvolvimento e que muitas são agricultores em pequena escala.”

José Graziano da Silva,diretor-geral da FAO.

R$ 21 bilhões valor anunciado para o Plano Safra da Agricultura Familiar 2013/2014.

1,5%Estimativa de crescimento da produção agrícola mundial na próxima década, segundo a Organiza-ção para Cooperação e Desenvolvimento Econômi-co (OCDE) e Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

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Texto: Ricardo MouraFotos: Ana Elisa Sidrim

INOVAÇÃOREPORTAGEM DE CAPA

mercado aquecido para novas empresas

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Ceará vive um bom momento em relação à incubação de empresas inovadoras. A efervescência local foi até

tema de reportagem do jornal inglês Financial Times. Há uma conjuntura favorável que reúne fundos e instituições dispostos a financiar novos negócios e pessoas interessadas em montar seu próprio empreendimento a partir de uma start-up.Para Genésio Vasconcelos, que atuou como coordenador regional do Programa de Incubação de Agronegócios da Embrapa (Proeta), a onda de estímulo à inovação é formada por três fatores: ampliação da formação e qualificação de estudantes de graduação e pós-graduação; infraestrutura analítica e de processamentos disponível nas Universidades e Centros de Pesquisa e Desenvolvimento; e incentivo à transformação do conhecimento em produtos, processos e serviços inovadores. “Busca-se a diferenciação no mercado mundial com a oferta de tecnologias e propostas de soluções, dois artigos demandados pelos mercados”, afirma. Quando se fala em inovação, logo vem à mente a produção de softwares, aplicativos ou negócios virtuais. Os exemplos de jovens milionários por causa da internet inspiram toda uma geração de empreendedores. A agroindústria tropical, no entanto, oferece um amplo espaço para ideias inovadoras. Um bom exemplo disso é o Programa de Incubação de Agronegócios da Embrapa (Proeta), que apostou nesse filão e disponibilizou tecnologias da Empresa para empresários que queriam apostar em inovação na área agrícola. Duas empresas cearenses foram graduadas e agora disputam espaço em um mercado em constante expansão: Bioclone e Sabor Tropical. Metodologias semelhantes estão sendo adotadas em todo o Brasil com bastante sucesso.

Os Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) possuem papel destacado nesse processo. Eles atuam como parceiros estratégicos na articulação entre instituições de pesquisas, universidades e empreendedores. Fornecem capacitação, tecnologia e conhecimentos bastante relevantes sobre o negócio em que a empresa nascente irá atuar. As incubadoras, por sua vez, são responsáveis por acolher os empreendimentos e oferecer apoio técnico e gerencial para as incubadas. Segundo a Rede de Incubadoras de Empresas do Ceará (RIC), existem oito incubadoras no estado, o maior número da região Nordeste.A presidente da RIC, Técia Vieira, afirma que o Ceará possui 75 empresas incubadas ligadas à rede. As perspectivas são de expansão contínua. “A meta, para os próximos anos, é incentivar a criação de novas incubadoras no estado, principalmente no interior, além de darmos apoio à implantação do modelo Cerne nas incubadoras já existentes”, afirma.Técia diz que o Ceará já conseguiu registrar 48 patentes e colocar mais de 500 produtos novos no mercado, tendo graduado (desincubado), até agora, 105 empresas. Com o intuito de fortalecer essa interação, a RIC foi criada, em 2008. De acordo com Técia Carvalho, os empreendedores contam com vários benefícios ao se integrarem nessa articulação. “Damos suporte para a elaboração dos projetos, apoio para participação em feiras e rodadas de negócios e promovemos o intercâmbio entre incubadoras e respectivos incubados”, enumera.Embora estejam mais concentradas na capital, Fortaleza, há planos de interiorização de empresas inovadoras. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) estuda a abertura de incubadoras em alguns de seus 21campi espalhados por todo o estado. Já a Universidade Federal do Ceará

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REPORTAGEM DE CAPA

(UFC) também mantém uma Incubadora Tecnológica de Cooperativa de Autogestão, que já registrou mais de 20 cooperativas no Ceará.Conforme Sueli Vasconcelos, coordenadora da Intece, incubadora do Instituto Centec, a instituição tem unidades de incubadoras de empresas somente no interior do estado, situadas nos municípios de Juazeiro do Norte,

Quixeramobim, Limoeiro do Norte e Crateús. Por causa da demanda, contudo, uma unidade deve ser criada ainda este ano em Fortaleza. “Com 30 empresas, a Intece é a incubadora de empresas do Ceará com maior número de empresas incubadas, tanto do setor tradicional como de base tecnológica. A nossa meta é ampliar para 40 empresas até o final deste ano”, garante.

APOIO NA MEDIDA CERTA

O Fundo Criatec tem se mostrado um grande parceiro para o surgimento e consolidação de empresas inovadoras no Ceará. A BioClone e a Sabor Tropical são dois empreendimentos que se beneficiaram com os recursos do Criatec. O fundo começou a operar em 2007, a partir de uma iniciativa do BNDES. No ano seguinte, o Banco do Nordeste tornou-se cotista. De acordo com Roberta Motta, gestora regional do Fundo Criatec no Ceará, 1,8 mil oportunidades foram analisadas em todos o País. Desse total, 36 empresas receberam investimentos, nas mais diversas áreas. Até 2017, a pretensão é atuar na maturação e aceleração dos empreendimentos até seu desinvestimento, ou seja, o momento em que eles saem do Criatec.O diferencial do fundo, segundo Robertta Mota, é investir em áreas até então ignoradas, mas com altíssimo potencial como TI, nanotecnologia e biotecnologia. O aporte de recursos na empresa acontece em troca de participação acionária, visando à obtenção de lucros com a venda futura das participações para um investidor estratégico ou financeiro.Sobre a parceria com o Proeta, a gestora afirma: “Além da credibilidade da Embrapa e de suas tecnologias inovadoras, que fortalecem a proposta de valor das nossas investidas, a empresa acabou se tornando também

uma importante fonte para a disseminação do conhecimento sobre a categoria de investimentos”.E acrescenta: “Seu apoio às start-ups é fundamental, desenvolvendo e disponibilizando tecnologias diferenciadas e orientadas à solução de problemas claros de mercado, alinhadas com suas necessidades reais, e que sejam técnica e economicamente viáveis, ou seja, alguns dos requisitos mais importantes analisados por potenciais investidores”. Sobre o mercado para empresas na área de processamento agroindustrial, Robertta Mota afirma que o Brasil possui um grande potencial, mas também grandes desafios. “Precisamos desenvolver e ofertar produtos de alto valor agregado, inovadores e alinhados às principais tendências de consumo e sustentabilidade. Para que tais negócios sejam atrativos a um investidor, o maior desafio é ‘modelar’ o negócio de forma que a proposta de valor esteja bem fundamentada, estruturada e que seja inquestionável. Para tal, a aplicação de soluções tecnológicas ao processamento agroindustrial é imprescindível, possibilitando a geração de barreiras de entrada e de patentes e novos modelos de utilidade, por exemplo.”

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INOVAÇÃO EM NÚMEROS

Cerne - Modelo de gestão criado pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Sebrae, que visa promover a melhoria dos resultados das incubadoras em termos quantitativos e qualitativos. A metodologia foi criada com inspiração em programas de apoio a micro e pequenas empresas americanas e europeias.

Start-ups - empresa nascente que trabalha com novos modelos de negócios e tecnologias, atuando em um mercado ainda em desenvolvimento.

SAIBA MAIS

EMPRESAS GRADUADAS105

+500

NOVOS PRODUTOS NO MERCADO

48REGISTRO DE PATENTES

RIC – A Rede de Incubadoras Cearenses possui oito incubadoras em seus quadros: Incubadoras de Empresas do IFCE (IE), Espaço de Desenvolvimento de Empresas de Tecnologia (Edetec/Unifor), Incubadora de Empresas da Universidade Estadual do Ceará (Incubauce/Uece), Incubadora Tecnológica do Instituto Centec, Parque Desenvolvimento Tecnológico (Padetec), Parque Tecnológico do Nutec (Partec), Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas da Base Tecnológica (Proeta/Embrapa), Incubadora de Tecnologia da Comunicação e Informação (Incubatic) e Incubadoras de Cooperativas Populares da UFC.

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REPORTAGEM DE CAPA

o Município de Eusébio, região metropolitana de Fortaleza, o empresário Roberto Caracas instalou a biofábrica

da BioClone, especializada em clonagem de mudas. A estrutura do prédio da biofábrica é de 900 m² com capacidade produtiva para chegar até 5 milhões mudas/ano. Este ano, a BioClone já teve mudas exportadas para Cabo Verde, em uma quantidade modesta, mas significativa do potencial que o negócio representa.Em 2008, a BioClone iniciou suas atividades nas instalações da Embrapa Agroindústria Tropical, para absorver de forma mais rápida os protocolos de propagação de mudas. O espaço ocupado ficava no corredor de acesso ao Laboratório de Cultura de Tecidos. No início

da operação, apenas 3 empregados constavam na folha de pagamento do empreendimento então nascente. Com o passar dos meses, Roberto Caracas foi obtendo resultados expressivos na área, sempre contando com o suporte de pesquisadores e as tecnologias da Embrapa. “A clonagem é um negócio ligado a um conhecimento muito específico. O crescimento da BioClone certamente se deve muito a essa transferência de tecnologia. Ter recebido essas informações diretamente dos pesquisadores foi o grande diferencial”, explica.Nas dependências da Embrapa, onde permaneceu de 2008 a 2012, a BioClone possuía capacidade de produzir 500 mil mudas por ano. Com a proximidade da graduação no

NRoberto Caracas no jardim clonal de sua fábrica

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REPORTAGEM DE CAPA

RUMO AO PRIMEIRO

M I L H Ã OUm ano depois da graduação, empresas que participaram do programa de incubação de agronegócios da Embrapa (Proeta) encaram o desafio de se consolidar no mercado.

Proeta – etapa final do processo de incubação, no qual o empresário deve se inserir no mercado com seus próprios recursos e o conhecimento adquirido durante a incubação – a empresa deveria se mudar, tanto para marcar sua autonomia quanto para expandir sua capacidade produtiva.Nesse meio termo, o empreendimento recebeu um investimento societário na ordem de R$ 1,2 milhão do Fundo Criatec, mantido pelo BNDES em conjunto com o Banco do Nordeste. Com esse investimento, a nova sede pôde ser construída. Cerca de 70% do investimento foi consumido nas novas instalações. A obra, no entanto, atrasou, e a mudança ocorreu quase ao mesmo tempo que a graduação. “Por mais

que se planeje, sempre há imprevistos. Nos mudamos em cima da hora. Tive de contratar gerador de energia e fazer alguns ajustes não previstos, mas não podia mais voltar para a Embrapa. Já havia me graduado e não podia mais voltar atrás”, lembra Caracas.A estrutura física da nova biofábrica multiplicou o volume de produção da empresa por 10: de 500 mil para 5 milhões de mudas produzidas ao ano. O número de empregados também aumentou, passando de 3 para 22. Além dos trabalhadores da linha de produção, é preciso contar com o pessoal do setor administrativo e de uma equipe de vendas e transporte. A perspectiva é de que o efetivo se amplie em cerca de 30% em curto prazo.

Roberto Caracas no jardim clonal de sua fábrica

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REPORTAGEM DE CAPA

O desafio do mercado

As mudas de bananeira permanecem sendo o carro-chefe da BioClone, representando entre 70% e 80% de tudo que é produzido. A cana-de-açúcar, contudo, desponta como uma opção promissora, haja vista os fortes investimentos governamentais no setor. Por causa de sua sazonalidade, o mercado sucroalcooleiro oferece riscos consideráveis.Entender o comportamento do consumidor vem sendo uma prova de fogo para a empresa. Na época da incubação, o empresário atendia apenas sob demanda. O cotidiano ensinou que era preciso ser flexível: “O mercado não se programa. Ele vem atrás da gente como se trabalhássemos com um produto de prateleira, que pudesse ser estocado, como as sementes. O nosso ciclo de produção leva de 8 a 9 meses para ser concluído, o que exige muito planejamento. Por causa disso, já começamos a produzir sem contrato firmado. Sabemos mais ou menos em que época do ano vão surgir os pedidos”, afirma Roberto Caracas. Além da produção de mudas, a BioClone atua no desenvolvimento de protocolos para clonagem de plantas específicas. Espécies resistentes às doenças ou variedades raras são alguns dos exemplos dessa atividade denominada de “seleção positiva de mudas”. Essa diversificação permitiu a Roberto Caracas entrar no mercado de orquídeas, replicando flores sob demanda. De acordo com o empresário, a produção de mudas clonadas em escala comercial no Brasil tem um passado recente, de 15 anos. Com poucas empresas atuando no setor, a demanda ainda é bem maior que a oferta. São Paulo e Minas Gerais são os dois grandes mercados de clientes da BioClone. Para este ano, Roberto Caracas estabeleceu uma meta de dobrar o faturamento obtido em 2012. “Pretendemos faturar R$ 1 milhão”, afirma. Um dos trunfos para chegar a esse resultado é o lançamento de um produto ainda inédito no mercado nacional. Como todo bom empreendedor, Roberto Caracas mantém segredo sobre a novidade. Levando-se em consideração o histórico de sua empresa, as chances desse novo passo da BioClone ser bem-sucedido são bem altas.

Mudança de rumoApós ter sua empresa graduada no Proeta, o empresário Fernando Furlani se deparou com algumas situações que o obrigaram a rever o planejamento inicial. A safra do caju foi prejudicada pela estiagem histórica por que passa a região Nordeste. Com escassez de matéria-prima para a produção de suco clarificado (popularmente conhecido como cajuína), o faturamento de 2012 ficou abaixo da expectativa.No período, a sede da empresa passou por mudanças, deixando o Município de São Gonçalo do Amarante (CE) com destino à cidade de Eusébio, localizada na região metropolitana de Fortaleza e rota de um dos maiores polos de cajucultura do estado. O novo espaço permitirá ao empresário ampliar sua produção em 16 vezes: de 250 litros de suco clarificado por hora para 4 mil litros. Assim como ocorreu com a Bioclone, os recursos para a construção da fábrica vieram do Fundo Criatec, que destinou um aporte de R$ 1,5 milhão ao empreendimento. Além da nova localização, o nome da empresa também mudou: a Sabor Tropical, como era conhecida desde sua criação, em 2001, agora passou a ser Natvita. De acordo com Furlani, a mudança evita que a empresa tenha o mesmo nome que seu principal produto, além de fortalecer a ligação dos produtos a um consumo mais natural e saudável.O resultado de toda essa transformação chega às gôndolas dos supermercados neste segundo semestre. Para marcar a nova fase, a cajuína Sabor Tropical foi remodelada: a garrafa agora virá toda coberta e com uma embalagem diferente. “A intenção é proteger o suco clarificado da luminosidade. A exposição direta à luz do sol afeta a coloração do líquido”, explica o empresário.Furlani promete mudar não apenas o exterior de sua cajuína, mas seu interior também. Com a implantação de câmaras frias com maior capacidade, o empresário pretende reduzir o número de filtragens, tornando assim o suco mais claro e com um gosto mais próximo ao da fruta in natura. “Cada vez que você filtra a cajuína, ela fica mais escura, como se tivesse sido queimada. Com o resfriamento adequado, isso deixa de ser necessário”, explica.

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InovaçõesAlém da reformulação da cajuína, Fernando Furlani conta com o lançamento de novos produtos. O primeiro deles é o suco clarificado de banana, feito a partir de um processo bastante semelhante ao de caju. Em médio prazo, o empresário espera colocar no mercado sucos produzidos a partir de acerola e melão.A maior inovação, no entanto, só deverá chegar ao mercado em 2014: o corante natural de caju. A tecnologia foi disponibilizada pela Embrapa Agroindústria Tropical, por meio do Programa de Incubação de Agronegócios, e contou com a Partec, da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec), como incubadora.O corante é um concentrado de carotenoides – pigmentos presentes em alimentos amarelos, alaranjados e vermelhos – obtido a partir do resíduo fibroso gerado na produção industrial de suco de caju. De acordo com Fernando Abreu, analista da Embrapa Agroindústria Tropical e responsável pela pesquisa, a coloração amarelo brilhante do corante permite a obtenção de uma tonalidade próxima dos corantes sintéticos, como a tartrazina, que são proibidos em países da Comunidade Europeia e nos Estados Unidos. O pigmento natural apresenta-se como alternativa mais saudável, além de ser uma tecnologia de baixo impacto ambiental.Conforme Fernando Furlani, testes estão sendo realizados para adequar o produto às necessidades das empresas. A expectativa, contudo, é que a fase de comercialização seja iniciada no ano que vem.

Fernando Furlani e as duas versões de sua cajuína. A nova (embalagem amarela) deve chegar ao mercado até o fim do ano

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Acontece!

pesquisador Flávio Pimentel faleceu no dia 2 de junho. Emprega-do da Embrapa desde 1991, o cientista coordenava o Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais (LMQPN), inau-

gurado em 2012, na Embrapa Agroindústria Tropical. Ele se dedicava a temas como extração e caracterização química de óleos essenciais e ex-tratos de plantas, corantes naturais e desenvolvimento de produtos com propriedades medicinais, aromáticas e biodefensivas. Tão importante quanto suas realizações profissionais é o exemplo dado de dedicação à empresa e ao fazer científico. Nessas páginas, encontra-se uma pequena amostra do legado que Flávio Pimentel deixa à Embrapa Agroindústria Tropical.

O legado de Pimentel

“A sua obstinação, competência e dedicação deixaram referências. A concretização do seu grande sonho, o LMQPN, será potencializada pelos colegas que levarão adiante o seu grande legado.”

Lucas LeitePesquisador

“Ele conseguiu realizar o sonho da maneira como idealizou. O laboratório e as pesquisas eram o que ele mais amava.”

Kirley MarquesPesquisador

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“Ele contribuiu em de-masia para meu amadu-recimento profissional. Tornei-me mais crite-riosa, exigente e firme na tomada de decisões, aspectos que foram percebidos pelas profes-soras orientadoras do meu projeto de douto-rado.”

Tigressa Rodrigues Assistente de laboratório

“Flávio Pimentel foi um exemplo para a nova geração de pesquisa-dores. Sempre estava preocupado com o foco da Embrapa, compro-metido com a missão da empresa.”

Andreia Hansen Chefe-adjunto de Pesquisa

“Profissional compe-tente, responsável e comprometido com o trabalho, estava sempre muito atento a tudo que acontecia ao seu redor.”

Noberto Bezerra Bolsista de Pesquisa

“Ele era um colega di-vertido, um contador de histórias. Além disso, ti-nha uma determinação ímpar e era muito volta-do para a instituição. Ele sempre procurava fazer o que era melhor para a empresa, era muito dedicado.”

Edy BritoPesquisador

“A empresa perde um pesquisador cujo perfil profissional cada vez mais se faz necessário aos quadros de nossos centros de pesquisa.”

Vitor Hugo de OliveiraChefe da Secretaria de Negócios

da Embrapa

“O Dr. Flávio abriu as portas para mim na pes-quisa na área de produ-tos naturais. A gratidão que senti evoluiu para uma admiração pela pessoa que ele sempre demonstrou ser, sempre alegre e espontâneo.”

Ana Carolina Duarte Estagiária de laboratório

“Flávio tinha uma visão clara da aplicabilidade de suas pesquisas e dei-xou, como principal legado para a Embrapa, sua obstinação em produzir tecnologias, produtos e processos de interesse do País.”

Marlos BezerraPesquisador

“Flávio Pimentel se destacava pela ansiedade, inquietude e obstinação para que as coisas dessem certo nos mínimos detalhes. Mais que construir um labora-tório juntos, construímos uma amizade.”

Cláudio Torres Chefe-adjunto de Administração.

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Radar

Modelos integrados a sistemas de informação permitem a inclusão de imagens das propriedades rurais, aumentando o contato e a sensibilização dos clientes para com o universo da produção agrícola. Essa fórmula tem valorizado o homem do campo e seus produtos por meio de um contato que, antes, não ultrapassava o espaço físico dos supermercados. Agora, ainda que em termos virtuais, uma rápida visita à origem das frutas pode ser feita com um toque no celular. Em geral, programas de rastreamento pres-supõem uma gestão compartilhada, ou seja, cada agente sendo responsável por alimentá--los com as informações referentes à localiza-ção (georeferenciamento), atividade principal dentro da cadeia produtiva e processos que se relacionem ao fluxo do produto rastreado. No tocante ao Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade, por exemplo, o rastreamento é peça-chave em programas como o de Produ-ção Integrada de Frutas (PIF).Merece destaque a recente adoção de etiquetas bidimensionais no rótulo dos produtos. O QR Code (Quick Response ou Código de Barras em 2D) é uma matriz ou

código de barras bidimensional de rápida interpretação, mesmo de imagens de baixa resolução, como as de câmeras de celular em formato VGA. A partir de um celular, o consumidor pode ter a informação da origem do produto e características da produção no momento da compra, ainda na gôndola do supermercado, podendo identificar características desejáveis ou não e fazendo sua escolha entre os produtos oferecidos. Essa etiqueta, além de levar informações de origem ao consumidor, ainda pode ser uma importante ferramenta de escolha, já que os aplicativos disponíveis para os celulares permitem que critérios de seleção sejam definidos pelo consumidor de acordo com seus valores e preferências, e que produtos que atendam a esses critérios sejam identificados rapidamente por meio da etiqueta 2D. Na direção oposta, as escolhas dos consumidores são armazenadas pelo sistema, que identifica quantos scanners foram feitos em diferentes produtos, sua aceitação ou não, e podem ser disponibilizadas aos produtores, servindo como entrada de dados para seu planejamento de produção.

Ferramentas de RastreamentoEsta é a segunda e última parte do texto sobre rastreamento, escrito pelo pesquisador Renato Manzini, supervisor do Setor de Gestão da Prospecção e Avaliação de Tecnologias, da Embrapa Agroindústria Tropical.

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Fluxo

A grande contribuição do uso de ferramentas de rastreamento diz respeito à captação e ao fluxo de informações. Como o sistema é colaborativo, cada agente é responsável por alimentá-lo com informações referentes à sua participação na cadeia produtiva. Assim, cabe ao produtor, por exemplo, fornecer as informações sobre as práticas agrícolas adotadas na propriedade rural. Já a equipe de garantia da qualidade da empresa compradora realiza a inspeção dos produtos no recebimento e entra com esses dados no módulo correspondente, alimentando sistemas de avaliação do desempenho. Finalmente, se há agentes de apoio envolvidos, como auditores e laboratórios de análises microbiológicas ou de resíduos, as informações geradas por suas atividades também podem ser incorporadas aos sistemas de gestão, sendo vinculadas ao produto e à origem por meio do rastreamento. Em diferentes níveis de acesso, todos os agentes podem gerar relatórios referentes às suas ativi-dades, o que, numa análise rápida, permite ao produtor obter análises e relatórios de seu de-sempenho em face dos indicadores adotados, permitindo que formule planos de ação correti-vos com auxílio da equipe técnica do supermer-cado. Para os compradores, permite que sejam gerados relatórios de desempenho compara-tivos com outros fornecedores da mesma linha de produtos. Já os consumidores finais podem, por meio de simples aplicativos disponíveis para celulares, realizar o scanner dos códigos 2D pre-sentes nas etiquetas e, rapidamente, obter in-formações como a origem dos produtos, modo pelo qual foram produzidos e imagens das pro-

O QR Code é um código de barras bidimensional, que pode ser interpretado rapidamente a partir do dispositivo de câmera de um celular, permitindo ao consumidor ter a informação da origem do produto e suas características de produção, ainda na gôndola do supermercado.

priedades rurais, aproximando-os do campo. Finalmente, dois pontos merecem destaque quando se pensa na implantação de ferramen-tas de rastreamento por parte dos produtores rurais. A adoção de sistemas com características de compartilhamento demanda controle sobre as atividades que envolvem a produção e o flu-xo de produtos. Muitos dos produtores fazem uso apenas de ferramentas simples de controle, como planilhas, e pouco abrangentes quanto às diversas atividades envolvidas na produção, o que pode minimizar os benefícios de programas de melhoria. Segundo, o uso do sistema de rastre-amento pode demandar investimentos por parte dos produtores ou mesmo custos adicionais com o pagamento pelos serviços de empresas especia-lizadas em sistemas de gestão da informação. De qualquer forma, essa já é uma realidade presente em cadeias produtivas mais bem coordenadas, e os benefícios do rastreamento têm justificado sua adoção, principalmente facilitando que consumi-dores finais conheçam melhor as características dos produtos e visualizem, de uma forma mais palpável, sua origem, variáveis que podem impac-tar fortemente sua decisão de compra.

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Foto e Texto: Socorro BarbosaAnalista da Embrapa Agroindústria Tropical

Da família Orchidaceae, a orquídea-lilás foi fotografada na estufa de cactácea da Embrapa Agroindústria Tropical. Encontrava-se só em meio de tantos cactos de diversas espécies, e logo veio a imagem da rosa de Saint-Exupéry. O desejo de eternizar a imagem acompanhou o pensamento de que no meio de tantos espinhos podemos manter a nossa essência, nos destacando e deixando o nosso ambiente mais bonito, como a orquídea cercada de cactos.

A orquídea rainha

Clique Tropical

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