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Revista Agro&Negocios 26ª Edição

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editorial

Por Tássia Fernandes e Luana Loose Pereira

Seis meses já se passaram e parece que foi on-tem. A frase é clichê, mas, quem nunca lamentou a rápida passagem do tempo? Como questionaria Kerry Johnson: “Precisamos de mais tempo ou precisamos ser mais disci-plinados com o tempo que temos?”...

Talvez a impressão da passagem acelerada da primeira etapa do ano seja por conta da quantidade de eventos registrados no calendário. Carnaval, Páscoa con-jugada com o feriado de Tiradentes e Corpus Christi. Pela frente ainda temos Copa do Mundo e Eleições.

Como afirmaria um velho conhecido: “Com tantas pausas, 2014 parece ser um ano facultativo”. Felizmente, apenas modo de falar. Na prática, segue bem movimenta-do. Aliás, um ano que começou embalado pelas manifes-tações de 2013, não poderia fugir do compasso e, nesta edição, nós mostramos que os questionamentos, as dúvi-das e as reivindicações continuam.

O grito que ecoou nas ruas, agora vem do campo. “Queremos um agronegócio padrão Fifa”. Entre os gar-galos que são recorrentes todos os anos, a qualidade da distribuição de energia elétrica é o destaque desta vez e você confere nas próximas páginas uma matéria comple-ta sobre o assunto.

A chegada do meio do ano é para os agricultores a reta final de mais uma etapa de cultivo. Enfim, o ano agrícola vira e o planejamento começa a ser direcionado para a safra 2014/15. De um lado, o alívio para a classe, que nos primeiros meses do ano enfrentou alguns percal-ços, desde a estiagem prolongada até o excesso de chuvas em períodos que prejudicaram a safra de verão. Do outro, mais um motivo para questionar: a divulgação do Plano Safra, que agradou poucos e desagradou muitos e está entre os assuntos abordados nesta edição.

Você também confere uma análise do mercado de grãos, no artigo de Liones Severo; da pecuária de corte, por Lygia Pimentel; novidades sobre o combate à ferru-gem da soja, no artigo do professor Luis Henrique Carre-gal; sobre o mofo branco do feijão, pela equipe do Labora-tório Farroupilha e a visão da dra. Lorena Ragagnin, sobre o Marco Civil da internet. No Café com o Empresário, um bate-papo com o presidente da Comigo, Antônio Chavaglia e, para completar o recheio, uma matéria especial sobre a criação de rãs.

Boa Leitura a todos! E que venha o próximo semes-tre!

índice

direTor adminisTraTivo: Francis Barros

direção de arTe: allan Paixão

rePorTagem e edição:Tássia Fernandes | 2703/goLuana Loose Pereira | 15679/rs

arTe e design: dayner Costa

ComerCiaL:Juliana FoersterWilliam garcia

edição 26ª | ano 2014 | a&F ediTora

64 3636-4113rua napoleão Laureano, nº 622st. samuel graham - Jataí - goiásCnPJ: 13.462.780/0001.33

arTigos:Jose Luis TejonLygia PimentelLiones severoFesurv - rio verde.

ConTaTo: [email protected]@[email protected]@agroenegocios.com.brallanpaixao@[email protected]

impressão: PoligráficaTiragem: 5.000

distribuição dirigida: Jataí, rio verde, mineiros, Chapadão do Céu, montividiu, goiânia, acreúna e Quirinópolis.

a revista agro&negócios não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões presentes nos encartes publicitários, anúncios, artigos e colunas assinadas.

siTe e rede soCiaL:www.agroenegocios.com.brfacebook.com/agroenegocios

64 3636 4113Anuncie!

[email protected]

giro de noTíCias | 12CaFé Com emPresário: anTônio ChavagLia | 16FeiJão: ação ConTra o moFo BranCo | 32CaPa: agronegóCio Padrão FiFa? | 38Criação de rãs: negóCio LuCraTivo | 50energia eLéTriCa: FaLTa de invesTimenTos | 60

ARTIGOS

soJa: anáLise ConTexTuaLizada da CommodiTy | 20

Ferrugem: ProBLema de segurança naCionaL | 56

merCado do Boi: em 2014, merCado não Tem Freio, será? | 66

agronegóCio: Crise na euroPa CoLoCa o seTor em evidênCia | 70

PaineL JurídiCo: marCo CiviL enTra em vigor | 72

Leve essa ideia com você:

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aGenda

AGROemPreender é a saída

Escrito por José Mário Schreiner, ex-presidente da Federa-ção da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o livro trata da importância da força de vontade e da determinação para superar as dificuldades a partir da inteligência. Com lingua-gem simples, o livro é dividido em 50 histórias que podem ser lidas de forma individual. As dicas são para quem preten-de se arriscar a empreender, independente da idade ou da situação financeira. A distribuição da edição é gratuita.

Onde encontrar: http://www.sistemafaeg.com.br

NeGócIOSa menina do vaLe

O Livro escrito por Bel Pesce, fenômeno da internet, com mais de 500 mil downloads da versão on-line em um mês, agora está disponível na versão impressa. No livro, Bel con-ta o que tem aprendido em sua jornada empreendedora e cita diversos casos de sucesso. São histórias cativantes, que mostram que tudo é possível quando há uma boa ideia e muita dedicação.

Onde encontrar: http://www.ameninadovale.com

conectado

42ª exPaJa

Quando: 16 a 22 de junho de 2014Onde: Parque de Exposições de Jataí/GOMais informações: http://www.expaja.com.br

35ª exPomineirosQuando: 28 de junho a 06 de julho de 2014Onde: Parque de Exposições de Mineiros/GOMais informações: http://www.srmineiros.com.br

56ª exPo rio verde

Quando: 10 a 20 de Julho de 2014Onde: Parque de Exposições de Rio Verde/GOMais informações: http://www.exporioverde.com.br

mega LeiTe 2014

Quando: 13 a 20 de julhoOnde: Parque Fernando Costa, em Uberaba (MG)Mais informações: http://www.girolando.com.br

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Meio aMbienteComigo de JaTaí é Premiada

Durante a Tecnoshow, realizada em Rio Verde/GO, a Co-migo promoveu mais uma edição do Prêmio Gestão Am-biental Rural. Dez produtores rurais foram premiados por terem desempenhado as atividades agropecuárias de ma-neira sustentável e em equilíbrio com a natureza. Jataí/GO foi destaque durante a ocasião, por ter a maior quan-tidade de propriedades inscritas. Como reconhecimento pela participação dos produtores, a unidade da Comigo foi premiada, em nome do gerente Reginaldo Martins Pires.

Foto: Divulgação Comigo

Foto: Fredox Carvalho

Pib Goianodez Primeiros CoLoCados reCeBem Premiação

Os dez municípios com o maior PIB de Goiás foram pre-miados em evento realizado pelo Jornal O Popular, em parceria com a Faeg. Os municípios classificados foram, respectivamente, Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiâ-nia, Rio Verde, Catalão, Senador Canedo, Itumbiara, Jataí, Luziânia e São Simão. Os mais representativos do agro-negócio também foram premiados: Rio Verde, Jataí, Cris-talina, Chapadão do Céu, Mineiros, Ipameri, Quirinópolis, Morrinhos, Montividiu e Catalão. Durante o evento, o ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, proferiu pa-lestra com o tema: “O Agronegócio e seu impacto no PIB municipal e estadual”.

Giro de notíciasPor Tássia Fernandes

Vazio SanitárioPeríodo Já Começou em aLguns esTados

O Vazio Sanitário da Soja é uma medida adotada para ga-rantir o controle sanitário das lavouras durante a entres-safra da cultura e prevenir o ataque precoce da ferrugem asiática. Durante o período, o produtor fica proibido de cultivar soja e todas as plantas da oleaginosa devem ser eliminadas, até as sojas tigueras, plantas involuntárias que surgem, principalmente, às margens das rodovias. O produtor que descumprir a norma poderá pagar multas. Em Mato Grosso, o vazio começou dia 15 de junho e vai até 15 de setembro. Em Goiás, deve começar 1º de julho, seguindo até 30 de setembro.

Cana de açúCarProCessadas 37,98 miLhões de ToneLadas na segunda Quinzena de maio

O volume de cana-de-açúcar processado na região Centro-Sul do Brasil totalizou 37,98 milhões de toneladas na se-gunda quinzena de maio, segundo levantamento da União da Indústria de Cana-De-Açúcar (Unica). Este volume é 6,85% superior ao registrado na mesma quinzena da safra 2013/2014 (35,54 milhões de toneladas).De acordo com a Unica, no acumulado desde o início da atual safra até 1º de junho, a moagem alcançou 117,50 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, praticamente o mesmo valor observado em igual período de 2013. Segun-do o diretor técnico da entidade, Antônio de Pádua Rodri-gues, o recuo do processamento de cana decorre do me-nor número de usinas em operação quando comparado à safra anterior, aliado às chuvas ocorridas ao final de maio.

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Agro&Negócios: Em sua opinião, o que o cooperativismo representa hoje para o Brasil?

Antônio Chavaglia: O cooperativismo no Brasil ele é muito importante, porém não é ainda tão grande como em outros países. Nós ainda temos algumas regiões do país muito carentes de esclarecimento cooperativista. O centro-oeste é muito carente de informação sobre o papel do cooperativismo, mas pode evoluir, vai evoluir cada vez mais, porém precisa de muito trabalho para vislumbrar essa evolução.

Agro&Negócios: Fomentar o desenvolvimento das pe-quenas propriedades rurais, principalmente voltadas à atividade leiteira é um dos objetivos da cooperativa. Para o senhor, que momento estes pequenos produtores de lei-te vivem hoje?

Antônio Chavaglia: O produtor de leite, no ano passado e este ano, está tendo certo equilíbrio na questão de pre-ços, mas todos os produtores, seja agricultor ou produtor de leite, tem que saber trabalhar e aplicar as tecnologias que estão disponíveis, sem isso ele vai ficar fora da ativi-dade. O pequeno produtor tem condições de sobreviver

bem, porém tem que estar com a área bem conduzi-da. Como ele tem muitos animais por hectare, en-

tão precisa fazer piquetes, fazer os tratos para a seca, como a silagem. O produtor deve estar

preparado para exercer a atividade, parti-cipar das discussões através de cursos

e palestra sobre novas tecnolo-

gias que estão à disposição

no mercado. É possível se

manter na atividade é possível, porém os produtores têm que ter na ponta do lápis os custos da atividade, fazen-do isso bem feito todos tem possibilidade de crescer e ter uma boa renda.

Agro&Negócios: A pecuária de corte também é o foco da cooperativa. Como o senhor analisa o contexto atual vivido por este setor e quais são as perspectivas para o decorrer deste ano de 2014?

Antônio Chavaglia: A Pecuária de corte passou por algu-mas grandes dificuldades no decorrer dos últimos anos. Os preços ficaram deprimidos e o custo foi se elevando e cresceu muito. Além disso, área agrícola avançou em área de pastagens degradadas, não só em Goiás, mas em todo o país o que deu oportunidade dos preços das commodities se elevarem e os produtores mesmo distantes dos portos acabaram entrando na agricultura. Porém agora os preços evoluíram um pouco, dando uma condição melhor tanto para quem cria o bezerro como também para quem está engordando o animal. Toda a atividade se ela não tiver renda a tendência é ir acabando, então a cadeia tem que funcionar, o pecuarista tem que ter renda e independen-te do ramo toda a atividade voltada ao agronegócio tem muito risco.

Agro&Negócios: Na agricultura, as deficiências em logís-tica ainda são alguns dos principais gargalos enfrentados pelos produtores rurais. Em sua opinião, qual seria a so-lução mais viável para amenizar, a curto, médio e longo prazo, os impactos da falta de investimentos e recursos para a manutenção da alta produtividade goiana, princi-palmente advinda do sudoeste do estado?

Antônio Chavaglia: Eu não acredito que em curto prazo, o problema da logística seja resolvido no país. Infelizmente,

o foco das autoridades não é este. Nós temos visto aí que os investimentos são focados e pressionados, às vezes por acordos, como é o caso da copa do mundo, onde o governo já investiu bilhões, trilhões de reais nas estruturas em todo país e nós produtores continuamos com deficiências por-tuárias, nas hidrovias e ferrovias e nas próprias rodovias que são de pista simples causando inúmeros acidentes. No Mato Grosso fretes que poderiam custar R$ 200,00, paga-mos R$ 300,00 e em Goiás, o que poderia ser R$ 120,00 é cobrado R$ 180,00, tudo isso está tirando renda do pro-dutor e da sociedade, pois estamos deixando de gerar ren-da aqui na região. Por todos esses gargalos, o Brasil pode perder condições de competir, ainda mais agora que o go-verno inventou mais uma medida provisória querendo ta-xar as exportações de soja em 9,35 isso é o maior absurdo que eu já ouvi falar dentro do país, o que representa mais um entrave a ser enfrentado pelo setor que hoje é um dos maiores responsáveis por sustentar a economia do país.

Agro&Negócios: A falta de energia elétrica tem afetado diretamente o desenvolvimento de algumas regiões agrí-colas. Como o senhor, como gestor, encara esta situação?

Antônio Chavaglia: Lamentavelmente esta irresponsabi-lidade está muito grande em todo o setor e o elétrico é um deles, que traz custo para o produtor que se não tiver um motor perde o leite, perde aves e suínos. A questão ener-gética deveria ser prioridade há muito anos no Brasil, às vezes, nós até temos energia, mas não temos rede de dis-tribuição e nem subestação. É uma vergonha para o país e eu não acredito que teremos soluções em curto prazo.

Agro&Negócios: Em relação a sobrecarga de taxas e en-cargos sobre o setor agrícola, qual é o posicionamento da cooperativa?

Antônio Chavaglia: A Cooperativa sempre foi contra to-das as cobranças que oneram o produtor e não trazem be-nefícios para a sociedade. Eu sou radicalmente contra es-sas taxas. Essa taxa por área de soja é o maior absurdo, o governo não possui equilíbrio e faz gastos descontrolados e aí tem que arrecadar mais e vem em cima do setor que

vem se destacando, com o superávit de 90 bilhões de dóla-res, que geramos em 2013, para poder dar o equilíbrio na balança comercial. Infelizmente o governo fecha os olhos para isso e vive criando essas taxas inadequadas que são completamente abusivas.

Agro&Negócios: O clima nas últimas temporadas vem se mostrando variável. Em sua opinião, o que os produtores devem esperar para as próximas safras e como a coope-rativa tem se preparado para enfrentar as adversidades climáticas?

Antônio Chavaglia: Em relação à questão climática, nós temos que investir muito ainda em cultivares resistentes à seca com enraizamento maior. Essas questões são ainda muito complexas no Brasil, nós vamos demorar um pou-co mais para ter essas cultivares que tenha uma condição de enraizamento melhor. No caso do milho é muito sério, porque a raiz da planta é muito superficial e perde nutrien-tes muito mais rápido do que a soja, que hoje já possui tecnologia para permitir o enraizamento mais profundo. É muito importante nós termos investimentos em tecnolo-gia para dar uma segurança maior para o produtor.

Agro&Negócios: Este ano é um ano político, onde serão escolhidos os governantes em nível estadual e nacional. Qual o posicionamento que o senhor, como representan-te da classe produtora, espera dos políticos a partir deste novo mandato que irá iniciar no próximo ano?

Antônio Chavaglia: A classe produtora sempre espera que tenha condições de trabalhar e ter renda e, muitas vezes, os dirigentes entram com a fome de arrecadar e deixam em dificuldades os setores que movimentam a economia. Nós esperamos responsabilidade de gestão com foco na sociedade, não com foco político, se isso acontecesse no Brasil nos teríamos uma sociedade muito bem organizada tanto na área de educação, saúde e também de logística. Se nós tivéssemos pelo menos um pouco disso, acredito que a sociedade, seja ela agrícola ou urbana, teria uma condição de vida melhor e é isso que esperamos.

CaFé Com emPresárioantônio

chavaGlia

Produtor rural desde 1960, Antônio Chavaglia, veio para o estado de Goiás com o objetivo de cultivar algodão, logo depois optou por investir também em outras culturas, como soja e milho. Com vocação para o agronegócio e espírito coo-perativista, se destacou na administração da cooperativa COMIGO, a qual ajudou a fundar. Seis anos depois, indicado para se tornar presidente, aceitou o posto, mantendo o compromisso de continuar gerando desenvolvimento e renda para todos os produtores associados. Hoje considerado um ícone no setor agropecuário, Antônio Chavaglia, fala sobre os desafios e as perspectivas da atividade no sudoeste do estado de Goiás.

Uma voz de liderança na gestão cooperativa

Por Luana Loose Pereira

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uma resenha praGmáticado mercado

soJa

LIONeS SeveRO

operador de mercado de commodities agrícolas, consultor de mercado, administrador de risco e palestrante.

São muitas as perguntas que afligem os produtores rurais, de como se posicionar na atividade com relação às safras futuras e como decidir sobre os altos investimentos ne-cessários para cada safra que plantam e colhem, além das preocupações inerentes da atividade que expõe os dois maiores riscos: preço e clima. A história contemporânea das commodities agrí-colas se desenha a partir de 1996, com a imposição de uma forte política norte-americana de subsídios à agri-cultura. Foi uma grande e persistente derrocada dos pre-ços para as commodities agrícolas na Bolsa de Chicago, principalmente para a soja, até o ano de 2002, quando terminou aquela política de subsídios. Foi um grande e te-nebroso período para agricultura brasileira, vencida pela força e a raça de nossos produtores. Aqueles seis anos de preços deprimidos reduziu o plantio de produtos agrícolas em muitos países do mun-do. Formou-se, então, o consenso que os preços elevados para as commodities agrícolas não mais aconteceriam, era uma condição que pertenceu ao passado. Essa má-xima se fortaleceu com advento do mundo global, onde haveria um domínio mais efetivo dos países desenvolvidos sobre os países em desenvolvimento. O resultado contra-riou a concepção do mundo global, com mais informações, os países emergentes se fortaleceram e na esteira dos preços deprimidos provocados pela política americana, que disponibilizou a soja e sua valiosa proteína a preços insignificantes para a produção de alimentos à base de proteína. Favoreceu as populações que estavam emergin-do, principalmente no eixo do pacífico, onde já havia uma forte recuperação dos tigres asiáticos, depois da grande crise econômica de 1997. O ano de 2000 ficou marcado como a primeira vez na história que o crescimento dos países emergentes superou o crescimento dos países de-senvolvidos, fato que permanece até os dias atuais. Nessa esteira, a partir de 1996 no período de preços deprimidos, surge a China como importador de soja, que até aquele ano era um modesto exportador. Naquele ano de 1996/7 a China iniciou importando 900.000 t de soja do oci-dente e, atualmente, suas importações deve-

rão alcançar cerca de 70 milhões de toneladas, numa cur-va de crescimento que deverá se prolongar por algumas décadas. Em 2002, com a reação dos preços a partir do término da política de subsídios americana, os chineses me con-trataram. Estavam surpreendidos com o desempenho dos preços da soja, que já não eram tão baratos de quando iniciaram a importação de soja em 1996/7. Tornando uma longa história curta, foram mais de 10 anos de convívio, tendo negociado um volume acima de 20 milhões de tone-ladas de soja, executando com eficácia o complexo proces-so negocial e a administração desses negócios internacio-nais. A china possui cerca de 120 milhões de hectares de terras agricultáveis, totalmente utilizadas. Se optassem em produzir soja, ocupariam 1/3 de sua área agrícola para produzir 70 milhões de toneladas, porém, em optar por importar a soja, ocupam aquelas áreas na cultura do mi-lho, trigo e arroz, cujo volume somado atinge 160 milhões de toneladas de grãos. A década de 70 já havia provado o gosto amar-go da escassez, que impactou os preços das commodi-ties agrícolas que permaneceram com forte volatilidade durante muitos anos, por absoluta falta de estoques de segurança alimentar. No entendimento tácito do mercado global, já não haveria outra possibilidade de preços ele-vados para as commodities agrícolas. Surge, então, uma grande escassez de soja no ano de 2004, talvez semelhan-te a que instala neste ano com o esgotamento prematuro dos excedentes exportáveis de soja norte americano. Não foi difícil superar aquela escassez porque seria uma situa-ção pontual. Os governos disponibilizaram suas reservas dos estoques de garantia que não foram suficientes, por-que, mesmo assim, os preços alcançaram US$ 10,66 por bushel, no final de março de 2004.

As tentativas de reconstruir os estoques pouco acrescen-tou nos anos que se seguiram. Em 2008 surge uma nova crise de escassez e com estoques governamentais já re-duzidos pela escassez de 2004, não evitou que o merca-do registrasse um novo preço recorde na ordem de US$ 16,66 por bushel, no mês de julho de 2008. Estavam, as-sim, praticamente esgotados os estoques de segurança dos governos ou países em nível mundial. Os anos subsequentes a 2008, pouco ou nada acrescentaram em estoques de segurança alimentar dos países. Uma nova escassez de produtos agrícolas surge em 2012 e já não havia os estoques de segurança ca-paz de impedir uma escalada de preços para a soja no objetivo de racionar a demanda global. O resultado foi um novo recorde de preço para a soja, na ordem de US$ 17,9475 por bushel, no mês de setembro de 2012. Esta-ria assim comprovado que os mercados e governos esta-vam descapitalizados de estoques de produtos agrícolas, principalmente de soja. Inclusive o Brasil, que somente agora retoma a construção de estoques de alguns produ-tos agrícolas. Nos anos de 2012 e 2013, crises de escassez de soja pontuais se instalaram em alguns mercados produ-tivos e consumidores, como no Brasil, nos Estados Uni-dos e na China. Os preços para soja escalaram preços elevados para racionar o consumo. No Brasil se insta-laram duas crises nos meses de setembro e outubro de 2012 e 2013, com preços recordes praticados em nível de mercado doméstico, completamente descolados dos preços da Bolsa de Chicago e dos mercados físicos inter-nacionais. Nos Estados Unidos, uma crise de escassez de suprimento interno durante os meses de agosto a agosto de 2013 elevou os preços da Bolsa de Chicago para ní-

veis de US$ 15.00 e US$ 16.00 por bushel, agregando um prêmio de US$ 3.20 por bushel, acima dos preços dos futuros da Bolsa de Chicago, para adequar uma oferta escassa a uma demanda robusta, que permanece até os dias atuais. Neste ano de 2014 ainda persiste o desiquilíbrio entre a capacidade de produzir e a elasticidade do consu-mo. A evidência realista desse fenômeno tem sido o forte assédio pela soja norte-americana, cujos excedentes ex-portáveis foram vencidos em apenas três meses do ano safra 2013/14, uma situação inédita de difícil solução no curto prazo. Os mercados não atuam essencialmente por fundamentos, porque fundos de investimentos são im-portantes participantes dos mercados de derivativos agrícolas. Portanto, não existe uma formação compacta de entendimento da incapacidade de não ter soluções no curto prazo. Esta situação sugere uma alta volatilidade nos preços e o mercado tem demonstrado que as que-das de preços para a soja tem tido rápida reversão, pelo menos, até a definição do tamanho e da disponibilidade colheita da soja safra sul-americana.

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um projeto técnico /econômico/financeiro nada mais é do que um plano de negócios de viabilidade eco-nômica financeira, ou seja, é um material que visa

auxiliar o empresário no planejamento e execução de um determinado investimento, pois contém informações tais como o fluxo de caixa, projeções financeiras e planejamento de negócios.

O projeto financeiro também ajuda o empresário a dimensionar a sua necessidade de recursos ao longo do tempo, estimando seu crescimento, suas despesas e recei-tas, mensurando seus retornos e por fim demonstrando a viabilidade do banco para aprovação de propostas de finan-ciamento.

Dentro do projeto bancário há várias linhas de cré-dito, vou citar algumas onde o empresário, o agricultor, o pecuarista se encaixam.

• CUSTEIO AGRÍCOLA/ PECUÁRIO• PRÉ - CUSTEIO• INVESTIMENTO • PRONAF

CUSTEIO AGRÍCOLA: São para produtores rurais e empresas que precisam obter recursos para pagamento de despesas correntes comuns aos setores de atividades agrícolas. Atende as despesas com preparo de solo, plantio, tratos cul-turais e colheita e se necessário ainda o beneficiamento primário e armazenagem. A operação é sujeita a análise e a aprovação do crédito.

PRÉ CUSTEIO: Se financia somente insumos, tendo a opção de se financiar posteriormente os ser-viços após o mês de julho, desde que o projeto fique claro a intenção do produtor financiar.

INVESTIMENTO: É a aplica-ção de algum tipo de recurso ( di-nheiro ou títulos) com a expectativa de receber algum retorno futuro su-

meio amBienTe

RIcARDO cARvALHO v. MAcHADOengenheiro agrônomoCrea: 12.146 / d - Go

perior ao aplicado compensando inclusive a perda de uso desse recurso durante o período de aplicação ( juros ou lucros, em geral, a longo do prazo). Num sentido amplo, o termo aplica-se tanto a compra de máquinas, equipamen-tos e insumos.

PRONAF: Financia projetos individuais ou cole-tivos, que gerem renda aos agricultores familiares e as-sentados da reforma agrária. O programa possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos rurais.

> Geralmente o pleito para financiamento ao qual o projeto será justificado é para aquisição de matéria-prima, insumos, bens, produtos e/ou serviços. Cabe ao projetista ( Engenheiro Agrônomo) dar méritos ao projeto que tange.

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financeiras, de forma unilateral, sem qualquer oportuni-

dade para os agropecuaristas discutirem o que ali lhes era

cobrado. E, ainda por cima, as demandas foram propos-

tas com base na Lei de Execução Fiscal, o que gerou ainda

mais prejuízos aos produtores, que tiveram bens e terras

penhoradas.

Ao invés de fazer valer os mecanismos de proteção e es-

tímulo à atividade rural, as instituições financeiras agem

visando unicamente o lucro, deixando muitas vezes de

resguardar os direitos dos produtores e até inviabilizan-

do suas atividades, ao negarem, por exemplo, o acesso ao

crédito, que é direito do produtor e não mera faculdade da

instituição.

Dessa forma, é preciso que as instituições se conscien-

tizem e passem a analisar a situação sob um prisma social,

deixando de lado apenas a busca desenfreada pelos lucros,

entendendo que a atividade desenvolvida pelos produtores

além de alavancar a economia, tem sim um caráter social,

que é imprescindível para o desenvolvimento de uma so-

ciedade mais forte, justa e democrática.

inForme JurídiCo

dívidas dos produtores rurais: aBuso do sistema Financeiro

64 36321067 - 64 36321084www.carvalhoenaves.jur.adv.br

Rua Castro Alves , 931 , Centro.Jataí - GO | CEP: 75800-021

Eduardo Jailton Prado Naves OAB: 25.184

Luiz Renato Garcia de Carvalho OAB: 23507

Ricardo de Assis Morais OAB: 35.426

Estagiário: Brasil de Carvalho Neto OAB: 23.533-E

agronegócio representa praticamente um terço

do PIB brasileiro, razão pela qual deveria ser

considerado o setor mais importante da economia

nacional. Contudo, o que se observa é uma realidade bem

diferente, com a maioria dos setores ligados ao agroneg-

ócio não contando com o apoio devido por parte do gov-

erno.

Apesar de amparados por lei, inclusive pela Constituição

Federal, os mecanismos de apoio e incentivo ao desen-

volvimento rural nunca foram verdadeiramente imple-

mentados. Muito pelo contrário, na realidade o que se vê,

na maioria das vezes, são os mecanismos que foram cri-

ados para proteger os produtores e as reais necessidades

da classe produtiva serem utilizados de forma dissociada

de sua finalidade, para atender exclusivamente às neces-

sidades de lucro do sistema financeiro.

Exemplo claro disso, é a medida provisória apresentada

como o Programa de Fortalecimento das Instituições

Financeiras Federais, pelo qual a União recebeu das in-

stituições financeiras a cessão de crédito proveniente de

operações de crédito rural que haviam sido renegociadas

ou alongadas pela Lei de Securitização.

A União, então, ajuizou milhares de ações contra os pro-

dutores, amparada em títulos cedidos pelas instituições

o

Texto de: Dr. Luiz Renato Garcia de Carvalho

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cuidados extras

Como qualquer ser vivo, o Trichoderma sofre com os efeitos da radiação ultravioleta. “Existem formulações no mercado que oferecem o produto com proteção UV, mas, aqueles que não contam com essa opção, devem ser aplica-dos após as 15 horas, quando a incidência dos raios solares é menor, não inibindo a germinação dos esporos”, relata Alan Pomella.

custo-BeneFício

Caro, para Alan Pomella, é tudo aquilo que não dá re-torno, o que não é o caso do Trichoderma. O custo do trata-mento por hectare varia entre R$ 25,00 a R$ 80,00 depen-dendo do fabricante e formulação. “Nas lavouras de feijão que utilizam Trichoderma notei uma redução drástica do mofo branco, reduzindo consequentemente a utlização de fungi-cidas, sendo que dependendo das condições ambientais, o controle químico nem é necessário. Por isso garanto que a utilização do Trichoderma vale, realmente, a pena”, relata o agrônomo.

O especialista destaca, entretanto, que o tratamento deve ser preventivo, para evitar maiores prejuízos.

ação do Trichoderma

Alan Pomella salienta que o trichoderma não tem ação sobre o mofo branco, que é a doença propriamente dita. “A doença ocorre na parte aérea da planta. O efeito do Tricho-derma é no manejo do mofo branco, ou seja, ele atua sobre os escleródios no solo”, diz.

Se o Trichoderma barra ou reduz o inóculo inicial, consequentemente haverá menor incidência de doenças na parte aérea. “Tudo isso acontece porque o Trichoderma, um fungo originalmente de solo, utiliza os escleródios como fonte de nutrientes”, pontua o agrônomo.

o Trichoderma no mane-jo do moFo Branco

Alan Pomella garante que o Trichoderma é uma exce-lente ferramenta no manejo do mofo branco, especialmen-te quando aplicado de forma preventiva no início da cultura. “No entanto é preciso salientar que os resultados positivos advindos da aplicação de Trichoderma nem sempre são vi-sualizados no primeiro ano, haja visto que o Trichoderma pode reduzir em média 50% dos escleródios da superfície do solo por aplicação, no entanto, se imaginarmos uma área com 100 escleródios por metro quadrado, mesmo com 50% de redu-ção, os que restaram viáveis, ainda causarão danos muito se-veros, por isto a eficiência desta estratégia deve ser avaliada ao longo dos anos. Neste sentido a utilização de fungicidas químicos não é descartada, porém com o uso do Trichoder-ma o fungicida terá uma maior eficiência, pois haverá menos doença a ser controlada”, informa.

Assim, a ideia de se trabalhar com o Trichoderma vem do restabelecimento do equilíbrio do solo, que foi degradado pelo cultivo sucessivo.

manejo

A aplicação de Trichoderma via tratamento de se-mentes tem pouco ou quase nenhum efeito no manejo do mofo branco, No tratamento de sementes o produto funciona como um ‘protetor’, ou seja, um fungicida contra Fusarium spp. e Rhizoctonia, que são patógenos causadores de tomba-ment em diversas culturas. É recomendada a aplicação do Trichoderma por pulverização, para que ocorra uma ‘lavagem biológica’ nesse solo, já que não se sabe exatamente onde estão os escleródios”, ensina o agrônomo especialista no as-sunto.

Ainda segundo ele, o solo deve ser sempre o alvo. A indicação é de que a aplicação do Trichoderma aconteça no momento do plantio, e que outra aplicação seja realizada an-tes do florescimento e do fechamento da cultura.

O mofo branco apresenta estruturas de resistência no solo, chamados escleródios, que permanecem ali por mais de 15 anos. Em condições climáticas favoráveis, que seriam temperaturas amenas, por volta de 20ºC, e elevada umidade relativa formam-se cogumelos denominados de apotécios, que produzirão esporos e infectarão as plantas no momento da floração.

Depois que o fungo coloniza a planta ele forma um mi-célio branco, semelhante a um algodão, o qual vai matando, aos poucos, a estrutura da planta. Isso é feito pelo estrangu-lamento do caule, também causando abortamento de flores, o que vai prejudicar a produção, com redução de até 70%, dependendo da severidade da doença

eFiciência de Trichodermano manejo do moFo Branco do Feijoeiro

como detectar a doença na lavoura

Detectado o micélio branco, que pode ser considerado o corpo do fungo, nas vagens e/ou haste, o produtor já pode ter a certeza da presença da doença no campo. “O aspecto cotonoso nas vagens e no caule da planta confirmam o mofo branco na planta de feijão. Já o solo apresentará os escleró-dios, que são estruturas enegrecidas, que garantem a sobre-vivência do fungo no solo na ausência do seu hospedeiro, no caso o feijoeiro”, explica Alan Pomella, Ph.D. em Fitopatologia, pesquisador e professor da UNIPAM-Universidade de Patos de Minas.

Mofo branco tem causado prejuízos de até 70% na produção de feijão. A solução ecologicamente correta tem sido o uso de Trichoderma

mofo Branco no feijoeiro

escleródeos no solo

evolução para micelio cotonoso

Fonte: Assessoria de Imprensa Lab. Farroupilha.

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tos:

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ação

FeiJão

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aGroneGÓcio padrão FiFa?

Não dá para negar que a maioria dos brasileiros

gosta de um bom futebol. Aliás, esta é uma das ca-

racterísticas do país fronteiras a fora. Não dá

para negar que desde 1950, quando foi rea-

lizada a última copa no Brasil, a expec-

tativa para que o mundial retornasse

ao solo verde e amarelo era grande.

Não dá para negar a importância do

esporte na vida do cidadão. Afinal,

inúmeros brasileiros devem o suces-

so à atividade, responsável por tirar

crianças da rua e afastar jovens do

envolvimento com o crime e com as

drogas. Mas diante de tantos pontos

positivos, o que faz o brasileiro questio-

nar a Copa do Mundo de 2014?

Fazendo uma retrospectiva, em 2013,

durante a Copa das Confederações, as manifestações

tomaram conta do país em, praticamente, todos os es-

tados. De acordo com o levantamento da Secretaria Ex-

traordinária de Segurança de Grandes Eventos (Sesge),

em torno de 864 mil pessoas participaram da série de

movimentos nas cidades-sede do campeonato: Brasí-

lia, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e

Salvador.

A frase que virou símbolo das manifestações

fazia referência direta ao mundial: “Queremos melho-

rias padrão FIFA”. A cobrança por mais investimentos

na saúde, na educação e no transporte público estava

entre as principais reivindicações. O combustível que

movia os manifestantes estava na cifra dos valores dis-

ponibilizados para as adequações que precisavam ser

realizadas no Brasil para viabilizar a Copa. Voltando

à lista dos pontos positivos... não dá para negar que

os benefícios permanecerão no país, mesmo depois

da competição, como, por exemplo, as obras nos por-

tos e aeroportos e os investimentos em mobilidade e

transporte urbano. Entretanto, a pedra no sapato dos

brasileiros tem sido a verba destinada para a reforma

e construção dos estádios. As edificações também vão

permanecer por aqui, mas, questiona-se a necessidade

de tanto dinheiro empregado nas obras.

O custo atual já é quase quatro vezes maior que

o valor informado pela CBF à Fifa, quando foi apresen-

tado o projeto para sediar o Mundial no país. O primei-

ro levantamento, divulgado em 2007, informava que as

arenas custariam US$ 1,1 bilhão, ou seja, em torno de

R$ 2,6 bilhões. Entretanto, a última estimativa oficial

aponta que o valor chegará a R$ 8,9 bilhões. A espe-

culação é de que a verba destinada supere os R$ 10

bilhões até a conclusão de todos os estádios.

CaPa

Quando o assunto são os números e os valores

destinados para investimentos, no meio rural a pauta

do dia é o Plano Safra 2014/2015. Anunciado no mês

de maio, o documento não correspondeu às expectati-

vas do setor e a classe produtora tomou para si a rei-

vindicação: “Queremos agronegócio padrão Fifa”.

Comparada aos valores destinados para a refor-

ma e construção dos estádios, a verba pode ser conside-

rada alta. Serão disponibilizados R$ 156,1 bilhões para

o setor, o que corresponde a um aumento de 14,7% em

relação a 2013. Entretanto, diante dos problemas que

ressurgem a cada safra, referentes à infraestrutura,

distribuição de energia elétrica, estradas, seguro rural,

taxas cobradas e outros, a verba torna-se insuficiente,

como reforça Reginaldo Martins Pires, gerente regio-

nal da Comigo em Jataí/GO. “O plano apresentado não

contempla as necessidades do produtor e foi recebido

com críticas, pois os principais pontos questionados

não foram atendidos. Em relação ao valor anunciado,

por exemplo, a sugestão das entidades de classe era de

que deveria ser de, no mínimo, R$ 180 bilhões”.

Entre o que era esperado pelos produtores ru-

rais está a questão do seguro rural. De acordo com as

informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura,

o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural,

que trabalha com a redução de custos no momento da

contratação da apólice, se manteve em R$ 700 milhões.

Para o Ministério, volume adequado para alcançar em

torno de 10 milhões de hectares e mais de 80 mil pro-

dutores. Para Reginaldo, volume insatisfatório. “80 mil

produtores são responsáveis por, aproximadamente,

12% das áreas cultivadas no Brasil, o que significa que

88% das lavouras estarão por conta e risco do produ-

tor, sem o apoio do seguro”.

Reginaldo também destaca o preço mínimo e a

insegurança no campo, no que se refere às invasões de

terra que têm acontecido com frequência, temas que

não foram abordados pelo documento, além da buro-

cracia para obtenção do benefício. “Nem todo recur-

so anunciado chega aonde deveria. Muitas vezes, fica

parado no banco, exatamente por conta do excesso de

burocracia”.

Mas, apesar das falhas, Reginaldo reconhece que

o Plano Safra tem seu lado positivo, como a Política Na-

cional de Florestas Plantadas. Segundo o documento,

a pretensão é de estimular o setor, com investimentos

em pesquisas, assistência técnica e extensão rural e

crédito específico para fomentar a prática.

DO CAMPO URBANO AO CAMPO RURAL

Por Tássia Fernandes

Em um ano excepcional, com Copa do Mundo e Eleições no Brasil, os agricultores se deparam com mais do mesmo, diante da apresentação do Plano Safra 2014/2015

Gasto previsto: R$ 2,6 bilhões

Gasto atual: R$ 8,9 bilhões

2013/2014

R$ 180 bilhões

R$ 136 bilhões

R$ 156,1 bilhões

Verba disponibilizada pelo Plano Agrícola e Pecuário

2014/2015

Expectativa dos produtores rurais e das entidades declasse que representam o setor

PROGRESSÃO DO PLANO SAFRA

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Há aproximadamente três meses ocupando o

cargo de Ministro da Agricultura, Pecuária e Abasteci-

mento, Neri Geller, até então responsável pela Secre-

taria de Política Agrícola, afirma reconhecer a necessi-

dade de ampliação dos recursos do Plano Safra, tendo

em vista o aumento das áreas de plantio e dos custos

de produção. “Fizemos um grande esforço para tornar a

Secretaria de Política Agrícola bastante ativa na forma-

ção do Plano e, como ministro, pretendo tornar nossas

ações ainda mais efetivas e entre elas está o fortaleci-

mento do Plano Agrícola e Pecuário, especialmente na

quantidade de recursos, já prevendo um aumento na

produção”.

A entrevista foi concedida à Revista Agro&Negó-

cios dias antes do anúncio oficial do documento e Neri

Geller comentou a respeito das expectativas em rela-

ção às mudanças e melhorias do Plano. “O Ministério

da Agricultura trabalha no sentido de viabilizar uma

boa disponibilidade de recursos e condições de finan-

ciamentos adequados para o custeio da safra e a sus-

tentação do ritmo dos investimentos em infraestrutura

produtiva das propriedades. Avanços também deverão

ser registrados no mecanismo do seguro rural. O supor-

te à comercialização e à defesa agropecuária completa

as prioridades estabelecidas pelo Ministério da Agricul-

tura”.

Neri Geller também fez questão de citar aspec-

tos como os incentivos direcionados à agricultura de

baixa emissão de carbono, à construção e ampliação de

armazéns, à agricultura irrigada, inovação tecnológica

na agropecuária e a cultivos protegidos. “São avanços

que foram alcançados no Plano Agrícola e Pecuário

(PAP) em curso – 2013/14 e que serão consolidados no

PAP 2014/15”.

Diante do lançamento do Plano, realizado pela

presidente Dilma Rousseff no dia 19 de maio, em Bra-

sília, é possível perceber que nem todas as expectati-

vas do ministro, assim como as dos produtores rurais,

foram atendidas. Para o gerente regional da Comigo,

Reginaldo Martins, isso acontece devido à falta de au-

tonomia do Ministério. “O Neri Geller é produtor rural e

conhece os gargalos enfrentados pela classe. Esta não

é a primeira vez que percebemos a falta de autonomia.

Na história recente tivemos um dos maiores conhe-

cedores do setor agropecuário no Brasil e no mundo,

o Roberto Rodrigues, que foi ministro da agricultura

e também não conseguiu fazer nada pelo setor agro-

pecuário. É preciso que os governantes vejam a pasta

como estratégica e tomem decisões que possam im-

pulsionar o setor e atender as necessidades da classe”.

Da lavoura à Esplanada dos Ministérios

Como ministro, pretendo tornar nossas ações ainda mais efetivas e entre elas está o fortalecimento do Plano agrícola e Pecuário, especialmente na quantidade de recursos, já prevendo um aumento na produção.

o neri geller é produtor rural e conhece os gargalos enfrentados pela classe. esta não é a primeira vez que percebemos a falta de autonomia.

“ Reginaldo MartinsGerente regional da Comigo

Neri GellerMInistro da Agricultura e Pecuária

Reginaldo lembra, ainda, que a melhoria do se-

tor não depende, apenas, de ações do Ministério da

Agricultura, mas está diretamente relacionada a ou-

tras instâncias, como o Ministério de Minas e Energia,

Ministério dos Transportes, Ministério da Fazenda, do

Planejamento e do Meio Ambiente. “É preciso ter uma

ação conjunta, pois também dependemos de logística,

de um fornecimento de energia elétrica adequado, de

estabelecer um diálogo sobre as questões ambientais

que ainda travam o desenvolvimento do agronegócio e,

por fim, da liberação efetiva das verbas”.

Para Reginaldo, a disponibilização do recurso é

outro entrave e a comparação com a Copa do Mundo

é inevitável. “Para liberar verbas que vão financiar a

construção de estádios, a ação é imediata e procedi-

mentos como licitações e orçamentos são agilizados.

Quando é para atender as necessidades do campo, o

produtor fica na mão”. Mas, segundo ele, mesmo dian-

te das dificuldades e insatisfações, é preciso manter a

união. “O produtor precisa continuar cobrando e estar

cada vez mais ligado às entidades de classe, porque so-

zinho é ainda mais difícil de conseguir mudanças”.

Por falar em união, às vésperas da Copa do Mun-

do e em ano eleitoral, vídeos institucionais divulgados

na televisão aberta tentam despertar o torcedor no ci-

dadão brasileiro. Mas, o receio, principalmente dos go-

vernantes, é de que o gigante, aquele que acordou em

2013, é que seja despertado novamente e volte às ruas

para questionar. Se acontecer, que o mundo possa ver

e vivenciar manifestações legítimas, em prol de melho-

rias, pacíficas e com respeito ao próximo.

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de olho na criação

A rã é considerada um animal rústico, mas, segundo os empresários, isso não significa ausência de cuidados e de investimentos. Apesar de terem outras atividades profis-sionais na cidade, os sócios garantem que é possível con-ciliar as duas rotinas. “Dividimos as tarefas e quando um não pode ir até a fazenda o outro comparece”, enfatiza Reginaldo. Durante a semana eles cuidam dos empreen-dimentos urbanos e os finais de semana estão reservados para o campo. “Se você não estiver presente, o negócio não prospera”, afirma Nides. Na propriedade, eles contam com os funcioná-rios, responsáveis por monitorar as rãs. Para reforçar o time, as esposas e os filhos marcam presença e participam ativamente de todos os procedimentos. “As mulheres são muito cuidadosas e o negócio está indo bem nas mãos de-las”, garante Reginaldo.

No que se refere aos gastos, Nides destaca que “qualquer empreendimento requer cuidados e investimen-tos, do contrário não terá sucesso”. Entre os fatores que elevam o custo de produção está a logística. O produto final é vendido para um frigorífico de São Paulo e a ração utilizada vem de Minas Gerais, portanto, os gastos com transporte correspondem à grande parte das despesas. Além disso, apenas um dos ranários é mantido com água proveniente de queda natural. “No outro a água é bombea-da e a despesa é ainda mais alta”, pontua Reginaldo.

Fugindo do tradicional, os empresários Nides Bar-ros Cordeiro e Reginaldo Martins de Assis optaram por uma atividade que tem poucos adeptos na região. Nada de cultivar lavouras ou partir para a criação de gado. A opção dos sócios foi a criação de rãs. A carne exótica ainda não está entre as preferências dos brasileiros, mas vem ga-nhando espaço no mercado, devido ao sabor e à qualidade. O aumento da demanda é favorável e contribui para que a atividade se torne um bom negócio.

A decisão de trabalhar com os anfíbios surgiu a par-tir da análise de diversos fatores, como o custo dos inves-timentos a serem realizados, a rusticidade do animal, a possibilidade de utilizar mão de obra familiar e, principal-mente, a área necessária para a instalação dos ranários. “Devido ao tamanho, nossa propriedade é imprópria para o cultivo de grãos, por exemplo. Nas visitas iniciais que realizamos, percebemos que o ranário podia ser construí-do em um local pequeno e foi isso que nos motivou ainda mais. Queríamos agregar valor à nossa área, otimizando o espaço disponível”, explica Nides.

passo a passo

Na Fazenda Água Limpa, localizada em Jataí/GO, a área total dos dois ranários é de um hectare. As instala-ções compreendem os setores de reprodução, desenvolvi-mento embrionário, girinagem, metamorfose e engorda. “Nós trabalhamos com todas as etapas, desde a manuten-ção das matrizes e obtenção dos ovos, até o abate”, desta-ca Reginaldo. A espécie comercial utilizada para a produ-ção em cativeiro é a rã-touro (Rana catesbeiana). Segundo

salto lucrativoEmpresários decidem diversificar e investem na criação de rãs

Nides, entre as diferenças em relação à rã nativa está a ausência de substâncias venenosas.

Para começar a atividade, algumas matrizes foram adquiridas. Agora, há dois anos no ramo, os empresários selecionam as melhores rãs para o posto de reproduto-ras. A escolha é feita a olho nu, a partir da observação de características específicas, como o porte do animal. As rãs também vão sendo separadas conforme o desenvol-vimento. Nas baias do ranário a divisão é por tamanho, para evitar o canibalismo.

Segundo Nides, a agressão é uma prática comum entre as rãs. Por serem carnívoras e instintivamente ca-çadoras, elas têm preferência por alimentos vivos. O ca-nibalismo acontece, principalmente, no período de tran-sição da alimentação natural para a administração da ração. Uma dica de profissionais especialistas na criação de rãs é acrescentar junto à ração larvas de moscas ou colocar o alimento sobre cochos vibratórios.

A alimentação dos animais é regrada, podendo chegar a até quatro vezes por dia. A ração utilizada é a mesma destinada aos peixes. “A maioria dos raniculto-res utiliza uma composição com 44% de proteína, desen-volvida para as trutas”, explica Reginaldo. O manejo foi sendo aprimorado com a prática e com o conhecimento adquirido durante as visitas realizadas a criadores expe-rientes, em diversas regiões do país. “Aprendemos, por exemplo, que a ração deve ser disponibilizada na medi-da certa, pois a sobra não é consumida depois, podendo acumular fungos e bactérias e causar prejuízos à saúde do animal”.

CarneS CaLoriaS ProteinaS (g)Boi - carne magra 146 21,5Galinha - carne magra 124 22Peixe - Água doce 75 16,6 Rã 88 19,9

Fonte: estudo nacional da despesa Familiar - iBGe.

Por Tássia Fernandes

TABeLA De vALOReS NUTRIcIONAIS

parcerias à vista

A prática da ranicultura na região desperta o interesse de diversos segmentos, inclusive da educação. Uma parceria com professores e acadêmicos da Universi-dade Federal de Goiás/Campus Jataí está sendo planeja-da. Os animais servirão de matéria prima para trabalhos realizados em laboratório. “A Universidade vai nos auxiliar com a classificação das rãs, realização de melhoramento genético, entre outras ações, e em contrapartida vamos contribuir com as pesquisas que poderão ser realizadas, utilizando os animais vivos e também os subprodutos, como a pele e as vísceras”, complementa Nides. As parcerias vão além da instituição de ensino. Os empresários entraram em contato com o SEBRAE, que garantiu apoio em relação aos tramites burocráticos, como orientação em relação aos documentos necessários e à legislação vigente, além de auxiliar na identificação do mercado consumidor e na elaboração de planilhas de custos. “Para desempenhar a atividade legalmente, preci-samos cumprir diversos requisitos, como obter a outorga da água, que permite a utilização do recurso natural; ade-quar às determinações do novo código florestal; retirar autorização para realizar o transporte dos animais; obter selos de comercialização e de abate, entre diversos outros documentos. Por conta de toda essa burocracia, a parce-ria vai ser fundamental”, ressalta Reginaldo.

Agora, o contato está sendo com proprietários de bares e restaurantes da região. O propósito é incentivar o consumo da carne de rã nos estabelecimentos. Para isso, estão buscando a parceria com um frigorífico goiano, que deverá abater e embalar os animais. “A vantagem é que a

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comercialização do animal pronto para consumo é mais rentável e reduz os gastos com logística. O preço do quilo da rã viva, por exemplo, gira em torno de R$ 12, en-quanto a carne pronta é comercializada, em média, a R$ 30 no atacado e R$ 35 no varejo”, explica Nides.

Segundo ele, o principal trabalho a ser feito é o de desmistificação do consumo da carne de rã, que ainda é rejeitada por parte da população. “As mulheres, principal-mente, têm receio em experimentar o prato e acreditam que a rã é um sapo. Precisamos divulgar mais o produto e estimular o consumo, para que percebam que o alimento é mais saudável e até mais saboroso do que a carne bovi-na ou de frango”, afirma.

planos para o Futuro

Visando à comercialização da carne pronta para consumo, o sonho dos empresários é a instalação de um frigorífico em Jataí/GO. Entretanto, a quantidade de carne produzida atualmente não justifica o projeto. A previsão inicial é produzir, em média, cinco mil quilos de carne por mês e, posteriormente, chegar a dez mil quilos. O plane-jamento para o futuro também inclui o estabelecimento de um sistema de integração, envolvendo diversos produ-tores que forneceriam o animal para o frigorífico, suprin-

do a demanda e viabilizando o processo. “Para que isso aconteça, a primeira etapa é estruturar o nosso ranário e, então, incentivar mais produtores a investirem na criação de rãs”, esclarece Nides.

Apesar do interesse em ampliar a atividade na região, os empresários garantem que não levam falsas expectativas aos futuros criadores. “É um trabalho que requer tempo, atenção e investimento. Em um primeiro momento não é possível viver só do empreendimento, o criador deve ter consciência de que é uma renda comple-mentar. Acredito que para ter uma estrutura consolidada, como em qualquer outro negócio, leva em torno de cinco anos”, avalia Reginaldo.

Mas o sonho é sem fronteiras e vai além da re-gião. “Já conversamos muito sobre as possibilidades de exportação, e por que não sonhar? Estamos novos e ainda dá para correr atrás”, afirma Nides. Para Reginaldo, o desejo não é impossível de ser realizado. Ele reforça que a car-ne de rã tem mais aceitação fora do país, o que já é um estímulo para continuar fazendo planos e apostando na atividade.

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proBlema de seGurança nacional

PROf. LUíS HeNRIqUe cARReGAL

Faculdade de agronomiauniversidade de rio Verde

O agronegócio é o principal setor responsável pelo crescimento da economia brasileira, sendo que a soja destaca-se como a commodity mais importante. Es-tima-se um aumento de área com soja totalizando mais de 42 milhões de hectares nos próximos 10 anos. Mas, é possível imaginar o Brasil sem uma produção estável de soja? Esse é o risco que vivemos atualmente em vir-tude dos problemas fitossanitários e das estratégias de controle recomendadas de forma equivocada, principal-mente em relação à Ferrugem Asiática. A doença, causada pelo fungo Phakopsora pa-chyrhizi, destaca-se como a maior ameaça aos altos ren-dimentos da cultura, pela agressividade do fungo, alta

capacidade de produção de propágulos e variabilidade genética. Normalmente, as mutações ocorridas são de-letérias ao patógeno, mas, por outro lado, podem favore-cê-lo em relação à resistência (ou menor sensibilidade) a produtos químicos, tornando-os mais virulentos ou pos-

sibilitando-o de quebrar a resistência genética de uma determinada variedade. As estratégias mais efetivas para o controle da doença são: vazio sanitário, plantio no início da época recomendada, uso de variedades de ciclo mais curto e aplicação de fungicidas. No entanto, um problema tem surgido nos últimos anos: o cultivo de soja safrinha. Para a maioria dos agricultores, a soja safrinha é uma alternativa viável, principalmente para produção de sementes e por ser mais lucrativa que o milho ou sorgo em algumas situações. Mas, entre os problemas, está a menor estruturação química, física e biológica do solo. O aumento na incidência de pragas, plantas daninhas e doenças é notório. Com a soja cultivada na safrinha sob

os restos culturais da soja verão, o dese-quilíbrio causado no sistema produtivo é total e existe maior dependência de uso dos produtos químicos. Ao longo dos anos, o contro-le químico tem sido utilizado como es-tratégia principal de controle da doença, mas, desde a safra 2006/07, os trabalhos conduzidos na Universidade de Rio Verde demonstraram a menor sensibilidade do fungo aos triazois, o que foi comprovado pelos Ensaios Cooperativos coordenados pela EMBRAPA SOJA em 2009. Até a sa-fra 2012/13, apenas dois grupos quími-cos de sítio bioquímico específico (triazóis e estrobilurinas) foram adotados a campo. A partir da safra 2013/14 houve a libe-ração de mais um grupo, também sítio específico, que são as carboxamidas. Vale salientar que as novas moléculas carboxa-

midas estão sendo registradas em misturas com estro-bilurinas e ou triazóis, grupos químicos que já exerceram a pressão de seleção no fungo. Pelo que é sabido até o momento, não há possibilidade do desenvolvimento de novos grupos químicos, os quais apresentem modo de

ação bioquímico diferente dos conhecidos atualmente, até 2020. E, com o cultivo da soja em condições de safrinha, onde serão requeridas pelo menos oito aplicações, a expo-sição dos produtos será ainda maior. Considerando-se os cultivos de safra e safrinha de soja, o agricultor realizará, em média, de 10 a 12 aplicações com produtos de sítio de ação específico e com resistência comprovada, a cada sete ou oito meses em cultivos sucessivos. Já imaginaram o Brasil sem produção estável de soja? O mesmo pode ocorrer em relação ao uso de inseti-cidas para controle de mosca branca e lagartas, principal-mente referente à Helicoverpa spp. E quais seriam as solu-ções para garantir a continuidade da soja como principal commodity brasileira? As soluções dependem de atitudes drásticas e de adoção imediata, como proibição da soja safrinha através de medida legislativa de âmbito estadual ou nacional; fis-calização mais rígida do vazio sanitário, principalmente em áreas licenciadas para produção de sementes; proibi-ção do uso de fungicidas isolados (estrobilurinas ou tria-zóis) e a introdução de fungicidas protetores (multissítios)

nos sistemas de aplicação de defensivos. Fungicidas multissitios inibem o desenvolvimen-to dos fungos em diferentes sítios bioquímicos, tornando praticamente impossível que o mesmo desenvolva resis-tência ao fungicida. Alguns, amplamente utilizados em hortaliças desde a década de 60, continuam efetivos, não havendo nenhum relato de resistência ou menor sensibi-lidade. Nas últimas safras, os resultados de pesquisa da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas, em par-ceria com a Universidade de Rio Verde, comprovam que a adição de um fungicida protetor melhora o controle da doença, aumentando em até 60% a eficácia dos fungicidas tradicionais. Além disso, os fungicidas protetores serão fundamentais para preservar a vida útil dos novos produ-tos. Para que esta técnica seja adotada pelos produtores, torna-se necessário que tais produtos sejam, primeira-mente, registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento. No caso específico da soja safrinha, o primeiro passo é a conscientização dos agricultores brasileiros, que não devem, em hipótese alguma, realizar o cultivo.

Ferrugem

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esperamos que a eletrobrás promova investimentos tanto na geração, bem como na distribuição de energia, visto que a capacidade instalada está no limite. em curto prazo precisamos de novas redes de distribuição, ampliação de subestações e também investimentos em produção de energia para abastecer o sistema

energia

Buscando solucionar os problemas e captar recursos para investimentos na infraestrutura do sistema enérgico goia-no, recentemente o governo estadual assinou um acordo onde repassa 51% das ações da CELG para a Eletrobrás. Rafael Lousa, secretário de indústria e comércio do estado de Goiás, destaca que os reflexos deste primeiro acordo são positivos. “Uma opera-ção deste porte não seria formalizada pelo Governo de Goiás se o governador e sua equipe não tivessem se cercado de todos os cuidados e garantias que não haveria nenhum desdobramento negativo aos goianos”.

Segundo o secretário estadual, outras providências de ordem administrativa também estão sendo tomadas. “Na última ida à Eletrobrás, o governador do estado deu mais um passo rumo ao acordo que prevê investimentos da ordem de R$ 1,9 bilhão, nos próximos dois anos, no setor elétrico. O compromisso foi feito. E a atenção foi redobrada para que as demandas ineren-tes à distribuição de energia sejam definitivamente solucionadas. E assim serão beneficiadas não somente a região Sudoeste, mas todas as regiões do Estado. Os resultados aparecerão a curto, médio e longo prazo”, esclarece Rafael.

Representantes do setor empresarial nos municípios se dizem pessimistas em relação aos resultados práticos das dis-cussões realizadas até o momento. “Na prática não temos visto nada ainda e o que nos deixa mais desanimados é que o Governo Federal fala que a Eletrobrás não tem recursos. Nossa esperança é que passando para o Governo Federal, pelo menos teremos aquém cobrar, porque de imediato ainda não sabemos de quem devemos realmente exigir providências”, declara Amilton Martins Gonçalves, secretário de indústria e comércio de Jataí/GO.

Duas décadas de defasagem de investimentos, esta é a realidade histórica do sistema energético no estado de Goiás. Ao longo dos anos, com a modernização e o desenvolvi-mento tecnológico, tanto no campo como na cidade, o proble-ma se agravou ainda mais. Hoje os representantes de classe somam questionamentos, sem obter respostas efetivas dos órgãos competentes.

Em pesquisa recente realizada pela Agência Nacio-nal de Energia Elétrica (Aneel), a Celg foi classificada como a pior concessionária de energia entre as 35 maiores empresa que atuam no país. Para José Mário Schreiner, presidente da FAEG, a falta de energia e a má qualidade dos serviços prestados pela concessionária representam um fato gravíssi-mo para o desenvolvimento de Goiás. “O setor agropecuário, que tem sustentado o crescimento da economia brasileira e goiana, é um dos que mais sofre com a situação, já que o problema é mais grave na zona rural”.

No meio rural ocorrem incoerências. Segundo Re-ginaldo Pires, gerente da Loja da cooperativa COMIGO em Jataí, na prática as ações propostas pelo governo federal esbaram na realidade da distribuição de energia elétrica em todo o estado. “Hoje nós temos recursos disponibilizados por parte do governo federal, com taxas de juro compatíveis com a atividade, para construção de novas redes armazenadoras de grãos e recursos federais para investimentos em Irrigação agrícola, que possibilita a verticalização da produção, porém o produtor não tem energia elétrica para efetivar e sustentar estes novos investimentos”.

Cristalina, um dos municípios goianos que mais pos-sui investimentos em irrigação, hoje trabalha com a capaci-dade máxima instalada. Carlos Alberto Sponchiado, secretário de desenvolvimento econômico e agronegócio de Cristalina, afirma que novos investimentos em irrigação não estão sen-do concretizados, pois não há carga suficiente para atender novas demandas. “Os projetos de ampliação da capacidade

interroG[ação]Representantes do meio rural e urbano clamam por investi-mentos no setor energético goiano

Por Luana Loose Pereira

instalada das empresas no município também estão sendo postergados até que a demanda seja suprida”.

Uma saída encontra-da por muitos produtores rurais e empresários é investir em geradores de energia. Regi-naldo Pires, afirma, porém, que esta tecnologia, além de au-mentar o custo de produção, promove a queima de diesel, que é combustível fóssil. “A cooperativa COMIGO está em 13 municípios da região, em todos foi necessária a instalação de geradores de energia. Um investimento caro e que vai con-tra as ações de meio ambiente e sustentabilidade. Enquanto o produtor poderia estar investindo em outras tecnologias, está sendo onerado, porque se quiser continuar na atividade leiteira ou secando grãos na propriedade, tem que investir primeiro em geração de energia”, pontua Reginaldo.

No município de Mineiros/GO, a situação é delica-da e já vem causando grandes prejuízos também na zona urbana. “A má qualidade dos serviços e falta de estrutura na distribuição entrava o desenvolvimento das empresas e do comércio em geral, sendo que a questão energética é a primeira das análises feita em um plano de negócios por grandes corporações. Aqui mesmo em Mineiros/GO, temos alguns conjuntos habitacionais que estão prontos para serem entregues, faltando apenas a rede elétrica”, afirma Sergislei Carrijo Silva, secretário municipal de agropecuária, indústria e comércio.

Para Reginaldo Pires, esta é uma realidade lamen-tável e que afeta a agroindustrialização em todos os setores. “A agroindustrialização hoje está praticamente paralisada em Goiás, nós nos tornamos um estado exportador de matéria prima in natura, enquanto poderíamos estar transformando os produtos do campo na região, gerando mais renda, mais divisas, mais empregos. Toda a sociedade está perdendo com a falta de infraestrutura da rede elétrica”.

Carlos Alberto Sponchiado, Secretário de Desenvolvimento Econômico e Agronegócio de Cristalina

celG e eletroBrás

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Outros acreditam que ao invés da infraestrutura, os primeiros investimentos serão utilizados suprir carências in-ternas. “A distribuidora de energia elétrica de Goiás tem uma dívida que ultrapassa os R$ 6 bilhões, dos quais R$ 2,4 bilhões com a própria Eletrobrás. Vejo que a maior preocupação da CELG é em colocar o caixa em dia, e não necessariamente fazer novos investimentos”, salienta Sergislei Carrijo Silva, se-cretário de agropecuária, indústria e comércio de Mineiros/GO. No dia 28 de março, o conselho de administração da Celg Distribuição S/A aprovou o orçamento para o exercício de 2014, contemplando plano de investimentos na expansão e melhorias do sistema elétrico da empresa, que atende 237 municípios em sua área de concessão. Segundo o presidente Leonardo Lins de Albuquerque, a Celg D foi liberada a investir cerca de R$ 456,8 milhões este ano. “A CELG D conta com o ingresso de R$ 1,9 bilhão, no final deste mês de abril, que a CELGPAR está captando junto à Caixa Econômica Federal,

para aplicação pela CELG D serão tanto para investimentos de 2014 e 2015, como para liquidar e alongar dívidas da Celg D que estão gerando grande pressão no caixa da distribuido-ra goiana”.

Para José Mário Schreiner, as discussões em torno dos impasses entre a Celg e Eletrobrás tem se arrastado por muito tempo e a situação é bastante grave, a expectativa é que as melhorias aconteçam em médio prazo. “Os empasses entre a Celg e a Eletrobrás podem demorar até 2015 para serem resolvidos. Até lá, esperamos poucas melhorias. De certa forma, após este período, os investimentos devem ser retornados e é importante que os produtores e empresários rurais se unam à Federação na cobrança por estes investi-mentos, repassando as reais necessidades e problemas do setor. Infelizmente o cenário é um pouco negativo e a busca por um serviço de qualidade deve continuar entre as princi-pais pautas dos próximos anos”, conclui.

Descriminação Dos Programas De investimentos 2014 Da ceLg

* TAC – Termo de Ajuste e Condutada CELG

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merCado do Boi

“em 2014, mercado não tem Freio”. será?

LyGIA PIMeNTeLMédica veterinária, pecuarista e especialista em commodities pela inTL FCstone

Já são 15% de alta acumulada em 2014 para a ar-roba do boi gordo em São Paulo, em torno de 5% de alta ao mês. Qual investimento rende isso no Brasil hoje? Não muitos, certamente.

Mas aqui estamos falando de produção de carne, e não de um mercado especulativo. Portanto, temos que nos preparar para o que pode acontecer lá na frente.

Temos vivido uma safra muito atípica: pela primei-ra vez na história o boi subiu em março. Excelente! Fruto de seca forte e mercado consumidor (interno e externo) aquecido. Entretanto, isso não significa que essa realidade será eterna. Já diziam por aí que “prudência e canja de galinha não faz mal a ninguém”.

As escalas continuam curtas por enquanto, mas melhoraram em relação ao início do mês. A safra dá as

caras aos poucos, de maneira bem lenta.O mercado consumidor dá sinais de cansaço. O

atacado começa a mostrar dificuldades de repassar novas altas ao consumidor e a carne sobra nos estoques.

Hoje, 80% dos animais abatidos são inteiros, e não castrados, o que significa que a margem da indústria re-cuou de maneira considerável.

Outra questão importante é que a arroba brasileira já perdeu competitividade frente aos nossos concorrentes, o que pode piorar os embarques em alguns meses. Dólar em queda também favorece este cenário (US$ = 2,3180). Hoje ainda temos que cumprir o que o mercado mostrava há 2-3 meses, mas a partir de agora podemos começar a perder negócios, pois tornamo-nos mais caros.

Estamos atrás apenas de Argentina (carta fora do baralho – sem volume para oferecer), Irlanda e EUA (países que não compartilham os mesmos clientes que nós no curto-prazo). A concorrência real está mais barata hoje.

Juntamos a isso o adiantamento dos ani-mais nos confinamentos em decorrência da seca e imaginamos a liberação desses mesmos animais entre maio/junho, que deverá se unir com o re-sidual de animais nas pastagens, podendo casar também com uma demanda menos contundente devido à inflação em alta e competição forte da carne de frango.

Portanto, o que temos é um mercado bom, mas com vários pontos de atenção para o futuro próximo. Ainda temos condição de efetuar negó-cios em patamares muito interessantes. O jeito é aproveitar os preços para fazer bons negócios en-quanto o mercado permite, e não caso o cenário acima se concretize.

ARROBA EM DÓLARES NOS DIFERENTES PAÍSESSPREAD ENTRE A CARNE NO ATACADO E A ARROBA DO BOI GORDO: MARGEM BRUTA DOS FRIGORÍFICOS

Fonte: Cepea/INTL FCStone * Valores atualizados no dia 25/03/2014Fonte: INTL FCStone

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crise na europa muda a sociedade e coloca o aGroneGÓcio em evidência

JOSé LUIz TeJON MeGIDO

Publicitário e Jornalista, ex-diretor da agroceres, da Jacto s/a e do Grupo estadão; Top 100 do agronegócio 2013 - revista isTo É - dinheiro rural, Coordenador do núcleo de estudos de agronegócio da esPM de são Paulo.

Quem diria que encontraríamos jovens líderes morando em Trás-Os-Montes, norte de Portugal, saídos de escolas sofisticadas e deixando a carreira de executi-vos em multinacionais para se dedicarem aos produtos de origem, ao azeite, vinhos, frutas, sidra, ou a uma pe-cuária moderna com embutidos e derivados de sabores sensacionais, além de queijos tão espetaculares como dentre uma multiplicidade de apresentações, os asturia-nos de Espanha ou o queijo da Serra de Estrela de Portu-gal. A linguagem do marketing no agronegócio glo-balizou. Paulo Costa, um desses dinâmicos jovens, nasci-do em uma aldeia transmontana portuguesa, regressa à sua aldeia, e de lá comanda a criação da APMRA - Asso-ciação Portuguesa de Marketing Rural e Agronegócio. No final do mês de janeiro de 2014, nascia essa nova entida-de num evento reunindo mais de 200 autoridades, no sa-lão de conferências do Museu da Eletricidade, em Lisboa. A promoção do marketing dos hortifrutis den-tro de uma imensidão de nichos, desde a promoção dos aspectos culinários e da saúde do brócolis na vida dos consumidores, indo até os silvestres cultivados, como cogumelos embalados em lindas caixinhas de cartão, sensíveis, estéticos e gerenciados por nova categoria de cidadãos: jovens bem formados com nível secundário e universitário que, ao encararem a crise do desemprego europeu, retornam os olhos para um novo agronegócio, onde turismo, valor, percepção de valor, gastronomia e

saúde caminham de braços dados. Na linguagem da tecnologia, o que gestores de companhias internacionais falam no Brasil é o mesmo que está sendo comunicado em Portugal, Espanha ou qualquer parte do mundo. A globalização do agronegócio, que já vem antiga no antes e no pós-porteira das fazen-das, agora adentra, invade as propriedades rurais e apon-ta para uma nova sociedade agrícola, a Agrossociedade, onde urbano e rural vivem integrados e a capacitação não faz mais a diferença se servirá aos escritórios dos serviços dos grandes centros financeiros ou a uma quinta, na Aldeia de Faiões, Trás-Os-Montes. A jornalista Isabel Martins, portuguesa, com mais de 10 anos de experiência na cobertura do agro português, editora da revista Vida Rural, revela: “Começa a ser usual ouvir dizer que esta crise foi o melhor que nos podia ter acontecido. E não é masoquismo. Ao obrigar o país a olhar para o seu âmago, para os recursos natu-rais, para o que tem de melhor e, mais importante, para o que pode se fazer de melhor, sair da depressão, sabe que vivemos e estamos a criar as bases para um país mais centrado em atividades estruturantes e não em ‘bolhas’ da moda.” Na pecuária, as mudanças no manejo reprodu-tivo, a inseminação artificial, sincronização de partos, tudo segue na linha da modernidade para atender as exi-gências contemporâneas do mercado. As organizações fornecedoras de tecnologia não querem mais ser vistas

apenas como fornecedores de produto e sim como solu-cionadoras de problemas e como inspiração de caminhos que integrem qualidade com produtividade. A APMRA nasce com um braço aliado da AB-MR&A, a nossa entidade brasileira, nascida em 1979, com uma antevisão àquela altura do que iria vir a ser um novo agronegócio, anos depois, como podemos visualizar agora. O valor ao longo da cadeia produtiva, a convicção das tomadas de decisões pelos executivos do setor da proteína animal, por exemplo, de que custo não é preço e de que as decisões de risco estão hoje espalhadas mui-to além das plantas frigoríficas, significa ingressar nesse novo universo do Agro.

agronegóCio

Uma Agrossociedade cada vez mais global ao lon-go de todos os elos da cadeia, cada vez com mais jovens e também mulheres, que tanto na Europa como no Brasil despontam para a inovação e a gestão de uma das ativi-dades mais estruturantes da história da civilização huma-na: a agropecuária, agora na visão de cadeia produtiva, o agronegócio, e amanhã, na visão da Agrossociedade, onde cultura, arte, sociologia, educação, saúde e valores cami-nharão cada vez mais reunidos. Vida longa para a APMRA, e que Portugal e Bra-sil estabeleçam, ao lado dos movimentos lusófonos, dos países de língua portuguesa, elos justos e pelo mérito de nossas histórias. “Quem quer o comércio não faz a guerra”, escreveu Camões.

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porLOReNA RAGAGNIN3631-5296 / [email protected]

Fato inegea-vel: todos nós fazemos parte de um mundo pa-ralelo ao físico, que é o mundo eletrônico, no qual fronteiras não existem, é uma terra só. E por ser da história recente, não sa-bemos onde poderemos chegar. Mesmo assim, não se trata de território sem regras. Hoje estamos inter-

nacionalizados. Não existem barreiras físicas na internet. Ao acessarmos um endereço eletrônico, o fazemos de nossa casa, através de um provedor com sede nos Esta-dos Unidos, por exemplo, e toda a sua operação feita na China. É uma situação hipotética, mas que já é realidade na sociedade! Mas como são regulamentadas essas situa-

ções? E os crimes cometidos pela internet? E a minha, a nossa privacidade: como é preservada ante a tanta expo-sição, às vezes feita por nós mesmos?! Para isso que veio o Projeto de Lei 2621/2011, que foi convertido na Lei Ordinária 12.965/2014, o chamado MARCO CIVIL DA IN-TERNET, que entra em vigor no dia 23 de junho de 2014. Como próprio do Estado Democrático de Direito, o Marco Civil da Internet veio para atender a uma de-manda da sociedade, visto que até então havia apenas algumas leis no país referentes a fatos ocorridos no mun-do virtual, como a Lei de Proteção de Dados Pessoais, a Lei que regulamenta os processos judiciais eletrônicos e, mais recentemente, a chamada Lei Carolina Dieckmam, que traz várias tipificações de condutas ilícitas. Segun-do o jurista Prof. Luis Flávio Gomes, “são mais de cem tipos ilícitos”, mas com penas muito “tímidas”, aplicadas a crimes de menor potencial ofensivo e prescrição muito rápida, o que, por vezes, poderá desviá-la da sua função

pedagógica - punitiva. O Marco Civil trata e regulamenta princípios, garantias, direitos e deve-res para o uso da Internet no Brasil. Quer ver como você, leitor, pode já ter sido lesado sem saber? Que ati-re o primeiro mouse quem já leu todo o termo de con-dição de uso de um progra-ma ou aplicativo... Sim, eu também já cometi essa fa-lha. Aliás, na ânsia de libe-rar o acesso a qualquer ser-viço oferecido na internet, marcamos esses termos sem ao menos saber do que se tratam. Pois, a partir de agora, é vedado aos provedo-res e desenvolvedores elegerem local fora do Brasil para resolver quaisquer discordâncias que envolva os usuários. Por esse termo, também se costuma autorizar que o de-senvolvedor do programa ou aplicativo tenha acesso às nossas informações contidas no aparelho pelo qual roda o produto adquirido (programas, jogos, e-readers, etc). Quem pode garantir o sigilo dessas informações? De acor-do com o Marco Civil, é garantido o sigilo de informações que circulem na rede, desde que não seja uma autoridade administrativa que detenha competência para requisição de informações como qualificação (dados pessoais), ende-reço, filiação... Um ponto que gerou inúmeras polêmicas, mas que foi superado na aprovação, foi a questão dos data centers, que são centro de dados onde são armazenadas e processadas informações. Isso porque o texto anterior do projeto de lei previa que esses centros ficassem sediados no Brasil, o que gerou indignação entre os grandes execu-tivos do setor e que acabou derrubado na Câmara, antes mesmo de ir à votação no Senado, gerando maior tranqui-lidade às empresas internacionais que operam no Brasil. Uma previsão feita pelo Marco Civil da Internet é a promoção da inclusão digital como garantia do exercício de cidadania. Mas, será que preparamos nossas crianças, futuro do país, para a imersão nesse mundo digital? Te-

mos uma educação digital para que se tenha inclusão? Outro ponto muito polêmico é a necessidade de pedir judicialmente a retirada de material, potencialmente ofensivo, da rede. Ora, em se tratando do mundo virtual, qualquer ofensa feita pela internet, mesmo que fique no ar por pouco tempo, pode significar uma eternidade, pois uma vez lançado na rede, quanto mais passam as horas, mais difícil se torna o seu controle, pelo alcance que pode ter. Como disse no início do texto: a abrangência que a in-ternet pode ter em e sobre nossas vidas é inimaginável e, com certeza, um livro poderia ser escrito sobre cada artigo nele contido, como de fato já há no mercado. Quis, com esta explanação, levantar um debate sobre a tecnologia que é cada vez mais presente nas vi-das de todos nós. Levantei alguns pontos sensíveis, mas, o importante é possuir uma lei que trate desse ambiente on line. Estamos todos aprendendo juntos a lidar com esse novo mundo, que é encantador, mas tal qual o mundo real, também possui seus perigos e armadilhas.

internet: marco civil entra em viGor

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