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A revelação mais alta que é possível receber de Deus, isto é, a respeito de Cristo e da igreja, traz consigo não só uma visão mais elevada e profunda de Cristo, mas também uma valoração de cada membro do Seu corpo. São muitos os membros, mas um só o corpo; muitos os dons que este tem recebido, e muitas as funções que realiza, mas o corpo segue sendo um só. A unidade do corpo não deixa nenhum membro fora, e nenhum é dispen- sável. Até mais, os membros menores são os mais honrosos, os que são trata- dos com mais decoro. A visão plana dos membros de um todo –como os números de votos em uma democracia– deve substituir-se por uma visão enriquecida da multiface expressão, beleza e função dos membros do corpo de Cristo – cada um dife- rente do outro, e mostrando um vislumbre peculiar da beleza de Cristo. Reconhecer isto requer, sem dúvida, uma mudança de paradigma mental, uma renovação do entendimento. Isto significa transladar a óptica do ministerialismo centrado em uns poucos para a operação de todos os mem- bros do corpo de Cristo. Esperamos que os artigos incluídos neste volume ajudem a esclarecer a compreensão deste assunto. Também nos lançamos aqui na tarefa de biografar a Watchman Nee, tarefa difícil pela riqueza que há em sua personalidade, e pela diversidade de seu ministério. Rogamos ao Senhor que sua graça sustente aos que entregam e aos que receberem estas mensagens. Para a Sua glória. O SERVIÇO DOS MEMBROS

Revista Águas Vivas

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Um manancial para a sual Alma

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Page 1: Revista Águas Vivas

A revelação mais alta que é possível receber de Deus, isto é, a respeito deCristo e da igreja, traz consigo não só uma visão mais elevada e profunda deCristo, mas também uma valoração de cada membro do Seu corpo.

São muitos os membros, mas um só o corpo; muitos os dons que este temrecebido, e muitas as funções que realiza, mas o corpo segue sendo um só.

A unidade do corpo não deixa nenhum membro fora, e nenhum é dispen-sável. Até mais, os membros menores são os mais honrosos, os que são trata-dos com mais decoro.

A visão plana dos membros de um todo –como os números de votos emuma democracia– deve substituir-se por uma visão enriquecida da multifaceexpressão, beleza e função dos membros do corpo de Cristo – cada um dife-rente do outro, e mostrando um vislumbre peculiar da beleza de Cristo.

Reconhecer isto requer, sem dúvida, uma mudança de paradigma mental,uma renovação do entendimento. Isto significa transladar a óptica doministerialismo centrado em uns poucos para a operação de todos os mem-bros do corpo de Cristo.

Esperamos que os artigos incluídos neste volume ajudem a esclarecer acompreensão deste assunto.

Também nos lançamos aqui na tarefa de biografar a Watchman Nee, tarefadifícil pela riqueza que há em sua personalidade, e pela diversidade de seuministério.

Rogamos ao Senhor que sua graça sustente aos que entregam e aos quereceberem estas mensagens. Para a Sua glória.

O SERVIÇO DOS MEMBROS

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2 ÁGUAS VIVAS

Foto da capa: «O castelo do Morro» (Cuba).As imagens desta edição não têm necessariamente relação com pessoas ou luga-

res mencionados nos textos, salvo que se mostre o contrário.

UMA REVISTA PARA TODO CRISTÃO / ANO 7 · Nº 41 · SETEMBRO - OUTUBRO 2006águas vivas

TEMA DA CAPAPara a vida do corpoUm olhar para a epístola aos Romanos como o percurso de fé que vaido individual ao corporativo. Gonzalo Sepúlveda ....................................................... 3Aperfeiçoando aos santosNo que consiste a edificação do corpo de Cristo? Rodrigo Abarca ........................... 12Servos da IgrejaOs ministros da Palavra não são 'estrelas' cintilantes, mas sim servosda igreja. Eliseo Apablaza ....................................................................................... 22

LEGADOSacerdócio e vidaO sacerdócio dos crentes é uma reação da vida divina contraa morte espiritual. T. Austin-Sparks ......................................................................... 29Todos devem servirUm ensino prático sobre o serviço dos membros do corpode Cristo. Watchman Nee ....................................................................................... 33

ESPIGANDO NA HISTÓRIA DA IGREJAO vigia que veio da ChinaA exemplar e controvertida história de Nee To Sheng,mais conhecido como Watchman Nee ..................................................................... 39Os PaulicianosA parte da história da Igreja que não foidevidamente contada. Rodrigo Abarca .................................................................... 51

APOLOGETICALimites da vida humanaUma visão científico-bíblica da longevidade humana. Ricardo Bravo ....................... 57

SEÇÕES FIXASCartas dos nossos leitores ................................................................................... 64

INDICE

Page 3: Revista Águas Vivas

3ÁGUAS VIVAS TEMA DA CAPA

Gonzalo Sepúlveda

Partindo desta palavra, espera-mos, mediante a graça do Se-nhor, fazer um breve recorri-

do pela mensagem do livro de Roma-nos, o qual, considerado em forma ge-ral, podemos tomar como se toda anossa história espiritual fosse nele con-tada.

Por causa da transgressão deAdão, a morte reinou, com muita efi-cácia, sobre todos os homens. À me-dida que nosso corpo envelhece eenfraquece, sentimos muito de per-to a presença da morte. Além disso,tudo aquilo que nos esmaga, depri-me, desalenta e que nos separa doSenhor, não é outra coisa que a mor-

te, a herança da queda de Adão quenos persegue com seus efeitos devas-tadores.

Se nós provamos a eficácia damorte em todo o transcurso de nossavida, o que agora vem, quer dizer, oreinar com Cristo em vida, tem queser muitíssimo mais eficaz do que amorte foi.

Quem reinarão em vida? «...os querecebem...». Se um cristão está sendoderrotado, é porque de alguma formanão entrou nesta abundância do Se-nhor. Por isto, vemos muitos sucum-bir diante da menor prova ou que vi-vem em uma permanente e vergonho-sa fraqueza.

Um olhar para a epístola aos Romanos como o percurso de féque vai do individual ao corporativo.

Para a vida do

«Pois se pela transgressão de um só reinou a morte, muito mais reinarão em vida por um só,Jesus Cristo, os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça» (Rom. 5:17).

corpo

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4 ÁGUAS VIVASTEMA DA CAPA

Apeles e uma igreja normalVejamos agora Romanos 16:10

«Saúdem a Apeles, aprovado em Cris-to». Que formosura, irmãos! Todosdesejamos ser homens e mulheresaprovados em Cristo. Apeles não estáno céu, ainda não compareceu diantedo tribunal de Cristo. Ele está na ter-ra, é um membro da igreja na cidadede Roma, e chegou a ser um irmãoaprovado em Cristo.

Será possível, encontrar homensaprovados? Será possível, além disso,achar nas Escrituras uma igreja funci-onando normalmente? Parece-nos queé em Romanos capítulo 16 onde po-demos ver sua melhor descrição.

Note você que neste capítuloninguém é nominado por seu cargo.Há irmãs que trabalham e outras quetrabalham muito no Senhor. Cada umparece ter uma função e ser aprova-do nessa função. Há quem se carac-teriza só por estar cheios do amor doSenhor, e outros que ajudaram osapóstolos a ponto de expor sua vidapor eles. A maioria dos irmãos abremo seu lar: «Saúdem os da casa deAristóbulo ... Saúdem os que estãocom eles ... à igreja que está em suacasa». As famílias estão convertidase a casa veio a ser um ambiente ondea igreja se reune; os santos chegamali com toda confiança para ter co-munhão uns com os outros. Que pre-ciosa ver a igreja, cheia da vida doSenhor!

A versão Reina-Valera 1960 sub-titulou este capítulo como «Saudaçõespessoais». Pasrece-nos que é muitoinadequado, pois se apenas fossemsimples saudações pessoais do após-tolo, não o leríamos com muito inte-

resse. Mas irmãos, aqui temos uma ri-queza imensa: vemos como a doutri-na dos capítulos anteriores do livro deRomanos se tornou em vida. É preci-oso ver todos os irmãos cumprindouma valiosa função no corpo. Cada umparece ter encontrado seu lugar e to-dos trabalham em harmonia e coorde-nação com o resto dos irmãos. Estecapítulo está cheio da vida de Cristo,da vida prática que a igreja em Romaalcançou ao experimentar naqueletempo histórico.

Quão precioso é ver esta igrejaonde cada membro parece estar con-tente em sua função. Dirigentes nãose destacam, pastores, apóstolos, ouanciões; não são mencionados porseus cargos. Parece melhor uma igre-ja amadurecida, onde todos os mem-bros cumprem alegremente a sua fun-ção. Ninguém está ocioso, observa-seuma igreja vigorosa em espírito; osirmãos se ajudam, visitam-se; há ora-ções por aqui e por ali; uns cantam,outros adoram, todos se amam, etc.

Eles alcançaram tal grau de matu-ridade que até podem identificar rapi-damente quem causa divisão e tal mal-vada intenção pode ser facilmentejulgada. Uma das coisas que maisnos encoraja é que a esta igreja éfeita a promessa de que prontamenteSatanás será esmagado sob seus pés.Notemos que esta promessa está noplural: «...sob seus pés» (16:20). Nãonos atrevamos a atacar sozinhos o ini-migo, pois como indivíduos somosmuito vulneráveis; a promessa é parao corpo em sua totalidade. Somentevivendo a vida corporativa, todos osmembros, em harmonia com o Espíri-to do Senhor, poderemos avassalar as

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5ÁGUAS VIVAS TEMA DA CAPA

trevas e prevalecer contra elas. Sata-nás não pode contra uma igreja queestá bem edificada e fortalecida noSenhor. Como deseja Deus ver estaclasse de igreja, e como nós deseja-mos ver o corpo funcionando destamaneira!

Amados irmãos, o Senhor está tra-balhando na edificação de sua casa. Eledisse: «Sobre esta rocha edificarei aminha igreja». Também sabemos queele «apresentará a si mesmo uma igre-ja gloriosa». Nós sonhamos com essaigreja gloriosa. Em algum momento denossas vidas, essa igreja entrou no fun-do do coração. No Antigo Testamento,nos dias de Ageu, nos diz que Deusdespertou o espírito de seus servos,então eles deixaram de ocupar-se so-mente com as suas próprias casas ador-nadas e vieram edificar a casa de Deus.

Que o Senhor ilumine os nossoscorações, pois a fé que hoje temos nãosó é para a salvação eterna individual,mas também viemos para ser pedrasvivas para a edificação da casa de Deus.Porque o Senhor quer chegar a ter umaigreja gloriosa, e nós temos que traba-lhar na mesma direção em que o Se-nhor está trabalhando. Temos que lutarcomo dizia Paulo: «…trabalho, lutan-do segundo a eficácia dele, a qual atuapoderosamente em mim» (Col. 1:29).Ele clamava, e muitas vezes chorava,até que Cristo fosse formado nos cren-tes (Gál. 4:19), pois desejava que oSenhor obtivesse aquela «virgem pura»como diz em 2 Corintios 11:2.

A epístola aos Romanos é um doslivros mais ordenados da Bíblia. Co-meça do mais básico e vai se desen-volvendo até o mais sublime. Cadacapítulo é semelhante a um degrau de

uma escada. Nós, como crentes, po-deríamos estar no terceiro degrau, ouno quinto, o Senhor nos permita quelogo cheguemos a estar no degrau (ca-pítulo) dezesseis de nossa experiênciacristã.

Vamos contrastar dois versículos:Romanos 16:10 e Romanos 1:29. En-quanto em Romanos 16:10 apareceApeles «aprovado em Cristo», emRomanos 1:29 aparece o contrastemais absoluto: «estando cheios de todainjustiça…». Aqui estão os dois extre-mos da escada. Em algum momento,Apeles esteve cheio de pecados e mal-dade. Foi um pecador como qualquerum de nós. O que ocorreu com Ape-les? O que descobriu este irmão?Como chegou a ser aprovado no Se-nhor?

Irmãos, Apeles nem sempre este-ve aprovado. Aprovado é alguém queprimeiro conseguiu superar muitasprovas. Quantas dificuldades e confli-tos terá enfrentado nosso irmão atéaparecer finalmente aprovado?

Se olharmos o livro de Romanossob a perspectiva de que é necessá-rio ir galgando etapa após etapa atéchegar à maturidade do capítulo 16,é muito provável que possamos iden-tificar em que degrau desta escadanos encontramos hoje em nossa ex-periência cristã. Estaremos só emRomanos 3, ou já avançamos atéRomanos 5? Já são partes de nossaexperiência as verdades de Romanos6 e 7? Estaremos talvez em Roma-nos 8? Entretanto, não importa queestejamos até no 3. O importante éque estejamos! Mas, queira o Senhorque prontamente estejamos ao me-nos no capítulo 5!

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6 ÁGUAS VIVASTEMA DA CAPA

As verdades de RomanosPensando que a maioria dos leito-

res conhece este livro, desejamos daralgumas chaves que sirvam de ajudapara avançar no ascendente caminhodo Senhor.

No capítulo 1 aparece uma ampladescrição do homem cansado, culpa-do – o homem sem Deus e sem Cris-to. Assim estivemos todos em algumtempo, até que um dia a graça de Deusse manifestou a nós e viemos a conhe-cer o Senhor, seu evangelho, seu amore sua salvação. Quando nos apropria-mos da graça, já nos localizamos nocapítulo 3 de Romanos, «justificadosgratuitamente por sua graça, median-te a redenção que há em Cristo Jesus»(V. 24). O bendito sangue de JesusCristo nos lavou de uma vez e parasempre. Bendito seja seu santo nome!

É precioso estar consolidados emRomanos 3. A posição é muito vanta-josa: podemos levantar todo louvor eadoração a Deus nosso Pai e procla-mar a viva voz que fomos lavados denossos pecados com o sangue do Cor-deiro de Deus.

Sigamos avançando. Em Romanos4 nos encontramos desfrutando dabem-aventurança de que nossas iniqüi-dades foram perdoadas e que o Senhorjá não nos culpa de pecado (4:7-8). Emseguida chegamos a Romanos 5, «ten-do paz para com Deus» e com o amorde Cristo derramado em nossos cora-ções pelo Espírito Santo que nos foidado, e nos gloriamos na esperançaque não envergonha.

Na segunda metade do capítulo 5,já começamos a conhecer algo de nos-sa herança adámica, mortal e pecami-nosa. Agora começamos a conhecer a

nós mesmos: que estamos associadoscom o transgressor Adão, e que é ne-cessário que sejamos transladados deAdão para Cristo. E isto ocorreu des-de o momento que cremos no Senhor.É um grande descobrimento poder verque já não estamos em Adão mas sim«em Cristo». Obrigado Senhor! Pode-mos seguir avançando.

Infelizmente, muitos irmãos pas-sam anos repetindo as mesmas verda-des básicas. Eles somente ficaram emRomanos 3; seu problema segue sen-do «os pecados», e devem recorrercontinuamente ao sangue para quevolte a limpar-lhes; seus feitos peca-minosos ainda os apanham e sua vidacristã está estancada.

Em Romanos 5 descobrimos quehá algo mais importante que os peca-dos (plural). Agora começa a falar dopecado (singular). Romanos 5:19 dizque fomos «constituídos pecadores»,e isto necessita uma solução radical,que vai além do sangue. Sendo preci-

Se olharmos o livro de Ro-manos sob a perspectivade que é necessário irgalgando etapa após eta-pa até chegar à maturida-de do capítulo 16, é muitoprovável que possamosidentificar em que degraudesta escada nos encon-tramos hoje em nossaexperiência cristã.

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7ÁGUAS VIVAS TEMA DA CAPA

oso e valioso o sangue de Cristo, ne-cessitamos algo mais profundo, quenão só nos limpe dos fatos externos,mas também nos livre desta «máqui-na produtora» de pecados que somosnós mesmos.

Os pecados são como as maçãs damacieira, e nos damos conta que amacieira está poluída. Necessita-se,em realidade, cortar a macieira e plan-tar ali outra vida, que produza verda-deiros frutos. Isso exatamente é o queensina Romanos 6. Ali lemos: «Por-que os que morremos para o peca-do…». Irmão, você terá dado um gran-de passo se compreender a diferençaentre «o pecado» e «os pecados». Ospecados foram (e sempre serão) lava-dos pelo sangue de Cristo. Não acei-temos acusação alguma, pois «...o san-gue de Jesus Cristo seu Filho, nos lim-pa de todo pecado» (1 João 1:7). Ago-ra bem, Romanos 6 nos diz que mor-remos «para o pecado». Notemos queo pecado não morre – sou eu quemmorro.

Mortos para o pecado e para a leiMe permitam uma pausa. Muitas

vezes entrei em conflito com a Pala-vra de Deus, pois encontro que as ver-dades da Bíblia não são realidade emminha vida; são verdades no texto,mas não em minha experiência. En-tão surge o clamor: «Senhor, me so-corra para que isto seja verdade emminha vida prática!». Muitas vezesesta experiência se vive com angús-tia, com gemidos profundos, com ora-ção e até com jejuns, com consultas aoutros irmãos ou a escritos de servosde Deus que possam nos esclarecerverdades fundamentais.

Quando descobrimos nas Escritu-ras uma riqueza que não podemosdesprezar, devemos nos apropriardelas com diligência. Do contrário,seríamos uns néscios. Se nos é ofere-cido tudo para sermos vitoriosos emCristo, por que vamos seguir em tor-no somente de Romanos 3, se pode-mos chegar a ser mais que vencedo-res como em Romanos 8? Mas, parachegar a Romanos 8 necessitamosprimeiro experimentar as verdades deRomanos 6 e 7.

Olhemos em forma paralela Ro-manos 6 e 7. Em Romanos 7:4 diz:«Assim também vós, meus irmãos,morrestes para a lei…» Alto!, em Ro-manos 6:2 diz que morremos para opecado, e aqui diz que morremos paraa lei! Sigamos lendo: «…mediante ocorpo de Cristo, para que sejamos deoutro, daquele que ressuscitou dosmortos, a fim de que demos fruto paraDeus». Como nós gostamos desteversículo! Pois todos desejamos serfrutíferos, ninguém deseja ser estéril;portanto, ponhamos atenção a estaspalavras: o pecado e a lei não morre-rão, nós morremos para o pecado epara a lei!

O que é o pecado? Basicamente, étudo aquilo que não devemos fazer. Domesmo modo, a lei representa tudoaquilo que deveríamos fazer para agra-dar a Deus (pois a lei é justa, santa eboa, 7:12). Deus não nos requer coi-sas injustas. Entretanto, nos damosconta que nossa natureza é absoluta-mente impotente para ambas as coi-sas (você tem descoberto isto?). Nãopodemos evitar o mal e tampouco po-demos fazer o bem que desejamos. Àmedida que avançamos em nossa ex-

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8 ÁGUAS VIVASTEMA DA CAPA

periência cristã, maior será nossa cons-ciência da incapacidade «da carne»,quer dizer, de nossas próprias forçaspara agradar a Deus. Tornam-se inú-teis os esforços piedosos do homemreligioso em sua tentativa por agradara um Deus santo.

Entretanto, irmãos, a Escritura dizque já morremos para o pecado e paraa lei! (Imagino Apeles passando poresta estreiteza que representa Roma-nos 6 e 7. Ele não passou de Romanos3 ao 16 de uma vez. Me imagino ro-gando: «Senhor, me revele esta pala-vra! Porque se for possível morrer parao pecado e para a lei, eu quero queisso se cumpra cabalmente em minhavida»). Quando não temos suficienteluz espiritual, imaginamos que isto éum longo e doloroso processo. Entre-tanto, aquilo já ocorreu! De tal maneiraque se um irmão está tratando de mor-rer para o pecado ou para a lei, estáerrado. Ainda não entendeu a obra deDeus em Cristo Jesus para conosco, eestá ainda fora do poder do evange-lho, ou só o entendeu parcialmente,«porque no evangelho a justiça deDeus se revela por fé e para fé», e osque reinam em vida são os que rece-bem a abundância da graça.

Irmão, deixe-me dizer-lo destamaneira: Você e eu necessitávamos dosangue de Cristo (com Romanos 3estamos já muito claros); mas, alémdisso, precisávamos morrer e precisá-vamos ressuscitar. Necessitávamos umsangue que nos limpasse de nossosfeitos pecaminosos e necessitávamosde uma morte que terminasse com nósmesmos, e além disso necessitávamosde uma ressurreição que nos levantas-se dentre os mortos. Isto parece uma

loucura, mas a palavra nos diz quefomos «sepultados junto com Cristo... a fim de que como Cristo ressusci-tou dentre os mortos pela glória do Pai,assim também nós andemos em novavida.

Pergunto: Cristo Morreu? CristoRessuscitou? Nossa resposta é um ter-minante: Sim! Agora, cremos no queestá escrito? É obvio que sim, cremos!Então, nós também morremos e res-suscitou com Cristo! Convido-o, ir-mão amado, que da mesma maneiracomo você creu que o sangue de Cris-to lavou todos os seus pecados, creiatambém que a morte de Cristo é in-clusiva: incluiu a você também, e deigual forma sua ressurreição tambémnos inclui.

Concluímos, então, que nós cren-tes morremos com Cristo e ressusci-tamos com ele! Irmãos, isto não é algopara saltar de alegria? Não é esta aampla provisão de Deus para todosnós? Você e eu precisávamos morrere ressuscitar, e a menos que tenhamosvisto estas coisas – porque isto terá quevê-lo espiritualmente – nosso enten-dimento deve ser iluminado, e para istoveio o Espírito Santo, enviado do céu,para nos dar a conhecer esta lingua-gem e esta experiência celestial.

Para os homens, esta linguagem éloucura; mas para nós, Cristo é poderde Deus e sabedoria de Deus. De talmaneira, irmão, que em Cristo vocêacabou, você já não vive! Você escu-tou alguém falar disto alguma vez?Sim, pois era a experiência do apósto-lo Paulo: «Com Cristo estou juntamen-te crucificado, e já não vivo eu, masCristo vive em mim» (Gál. 2:20). Pau-lo não estava louco (embora alguns

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9ÁGUAS VIVAS TEMA DA CAPA

incrédulos quiseram apelidá-lo de tal).Ele entendeu as coisas de tal maneiraque soube que sem esforço algum, suavida terminou com Cristo e de umavez recomeçou com Cristo.

Irmão, isto não se pode compre-ender tudo de uma só vez em uma sómensagem. Nossa capacidade de com-preensão das coisas mais profundas deDeus deve ir num aumento constante.Isto está enunciado para que você seaprofunde. Agora o assunto fica emsuas mãos. Se você se conformar coma experiência de salvação de Roma-nos 3, você é igualmente um filho deDeus e não irá para a condenação; mastemo que sua recompensa não será amesma se você subir ao próximo de-grau e procurar que se faça vida emvocê a verdade de que morremos eressuscitamos com Cristo.

Alguns se complicam com Roma-nos 7, mas o que está ocorrendo deverdade ali, é que o homem espiritu-al, o homem que deseja viver a vidado Espírito, está-se descobrindo a simesmo. Seu problema não é só umassunto de certos «feitos» que o com-plicam em sua carreira cristã. Ele estádescobrindo que possui tão somenteas «boas intenções»: «O querer o bemestá em mim, mas não o fazê-lo ... nãofaço o bem que quero, mas sim o malque não quero, isso faço (7: 18-19). Ecomeça a luta do bem e do mal, e estascoisas do «bem e do mal», leva-nosde volta a Gênesis (a famosa árvoreda qual Adão comeu).

Então, nosso problema vem demuito atrás, de Adão, mas nossa reali-dade atual não é de Adão, pois estamosem Cristo, e em Cristo morremos. Demaneira que agora necessitamos que

outra pessoa viva em nós: «Cristo emnós, a esperança de glória» (Col.1:27).

A glória de Romanos 8Como vamos cumprir as deman-

das de Deus? A vida poderosa de Cris-to está agora dentro de mim; é a vidade ressurreição..., e com isto chega-mos a Romanos 8:2: «Porque a lei doespírito de vida em Cristo Jesus, li-vrou-me da lei do pecado e da morte».

Bem-aventurado o crente que che-ga a este ponto. Tem descoberto queexistem duas leis, e que ambas estãopresentes em sua vida. Tal como emPaulo ou em Pedro, em todos nós es-tão operando ambas as leis. Até naspessoas que possamos considerar maisrefinadas está operando a lei do peca-do e da morte. Entretanto, aquela leifoi vencida pela outra lei, a lei do Espí-rito de vida em Cristo Jesus. (É difícilmuitas vezes que pessoas boas, morais,de sãs costumes, compreendam o evan-gelho. Freqüentemente, eles parecemnão ter do que arrepender-se).

Peço-te, irmão meu, ou jovemcrente, que não descanse até que estaletra se translade do livro para o seucoração e se faça vida em ti, em suaexperiência diária. Porque o mundointeiro jáz no maligno, o pecado nosassedia, e as tentações estão aumen-tando à medida que o mundo avança.Hoje temos o pecado a um «click» dedistância (linguagem computacional).Portanto, é necessário que nós os cren-tes desta geração sejamos achados detal maneira estabelecidos em Cristo,sendo aprovados e avançando em cadaum desses degraus até sermos apro-vados em Cristo.

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10 ÁGUAS VIVASTEMA DA CAPA

Porque estou unido a Cristo, por-que morri com Cristo, porque o Espí-rito de Cristo está dentro de mim, en-tão, crendo isto, posso viver na abun-dância dessa graça. Não me derrubaráqualquer tentação, não me arrastaráqualquer murmuração, porque há umalei dentro de mim; não porque seja-mos melhores que os outros, mas simporque recebemos a abundância dagraça e nos apropriamos dela.

Avançando em Romanos 8 nosencontramos com o Espírito Santodando testemunho ao nosso espírito deque somos filhos de Deus (8:16), e,ocupados nas coisas do Espírito já nãomilitamos com os pobres recursos dacarne. Esta é uma vida maravilhosa,pois já não estamos sozinhos, tratan-do de agradar a Deus com as nossaspróprias forças.

Agora, o Espírito do Deus vivoderramado no dia de Pentecostes pelaobra consumada de Cristo, habita nocoração do crente e dá testemunho aonosso espírito de que não somos fo-rasteiros, mas sim concidadãos dossantos e membros da família de Deus;que não somos das trevas, mas sim daluz; que não somos mais meros indi-víduos, mas sim membros do corpode Cristo, e mantemos uma comunhãoviva com o Deus vivo!

Finalmente Romanos 8 nos ensi-nará que somos mais que vencedorespor meio daquele que nos amou. Po-demos imaginar Apeles avançando emCristo, superando etapa atrás de eta-pa? Depois de ter sido um homemcheio de pecados, encheu-se da pala-vra, valorou o sangue de Cristo,valorou a justificação, valorou seutrasporte de Adão para Cristo, viu-se

morto em Cristo, viu-se ressuscitadoem Cristo, começou a viver pela leido Espírito de vida, e chegou a ser umhomem mais do que vencedor frenteàs tribulações da vida...

Membros de um corpoMas isto não termina em Roma-

nos 8. Embora seja mais que vence-dor, ainda é um indivíduo. Mas emRomanos 12 se introduz um novo con-ceito. E ao dizer um novo conceito,digo-o a propósito, para que você enu-mere em seu coração todos os concei-tos já introduzidos.

Em Romanos 12 aparece outro con-ceito: Somos membros de um corpo.Você nunca será aprovado sozinho,como indivíduo, nunca. Você necessi-ta do corpo, necessitamos de outrosmembros do corpo. Para viver a reali-dade do corpo de Cristo, é imprescin-dível uma profunda renovação em nos-so entendimento, todo alto conceito denós mesmos, nosso individualismo,deve ser demolido. Quão conscientesestamos de que somos membros unsdos outros? (Rom.12: 3-5) O que vocêfaz, seja bom ou seja mau afetará (parabem ou para mal) a toda a igreja.

Em Romanos 12:11 diz: «No querequer diligência, não sejais pregui-çosos; sede fervorosos no espírito, ser-vindo ao Senhor». Como nós gosta-mos disto! Mas, em troca, é motivode muita tristeza encontrar-se comcristãos apagados, com uma oraçãorotineira. Mas, que distinto é quandoalguém está fervoroso no espírito, ese derrama em amor!: «...alegrai-vosna esperança; pacientes na tribulação;constantes na oração...».

Assim chegamos a Romanos 14:1:

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11ÁGUAS VIVAS TEMA DA CAPA

«Recebam ao fraco na fé, mas nãopara contender sobre opiniões». Ah,Apeles já está mais maduro! Em Ro-manos capítulo 3 ou 4, certamente, elediria: «Eu penso isto, eu penso outracoisa». Agora não. Apeles já morreu.Já não discute sobre pontos doutriná-rios. Se um irmão pensar diferente,ama-o, recebe-o; não contende sobreopiniões, em troca dirá: «Simplesmen-te, irmão, se você guardar o dia, parao Senhor o guarda; se não comer car-ne, para o Senhor não come. Mas,amemos ao Senhor; isso não é essen-cial; bendigamos ao Rei». Se, medi-ante a graça de nosso Deus, alcança-mos este degrau em nossa experiên-cia em Cristo, o Senhor terá ganhomuito conosco.

Até há mais. Romanos 15:1: «As-sim, os que somos fortes devemos su-portar as fraquezas dos fracos, e nãoagradar a nós mesmos». Eu quero es-tar em uma igreja assim irmãos, ondehá fortes e há fracos, que convivem;se suportam, se amam! Versículo 5:«Mas o Deus de paciência e de con-solação lhes dê entre vós um mesmosentir segundo Cristo Jesus, para queunânimes, a uma voz, glorifiquem aDeus e Pai de nosso Senhor JesusCristo». Reparou que Deus tudo dá,que Deus não vende a vida?

Já estamos concluindo. Romanos15:13: «E o Deus de esperança os en-cha de todo gozo e paz em crença, para

que abundem em esperança pelo po-der do Espírito Santo». Enchamos-nosde esperança; é possível amadurecerem Cristo. Enchamos-nos de gozo ede paz em crença. Creiamos que épossível que experimentemos isto demorrer e ressuscitar em Cristo; creia-mos que é possível chegar a ser apro-vados em Cristo, e que a gloriosa rea-lidade do capítulo 16 do livro de Ro-manos a possamos viver também nós,em nossos dias.

Irmão, se você não passou pelamorte e a ressurreição, como vai vivera vida do corpo? Se a vida de ressur-reição não é uma realidade em você,como vai se entender com os irmãos?Por ser tão distintos uns dos outros, to-dos precisamos morrer e ressuscitar.Quando todos ressuscitamos, congre-gamo-nos em um e chegamos a ter ummesmo sentir, a mente de Cristo, amesma vida, a vida de Cristo.

Deus está trabalhando persistente-mente, ele obterá o que quer: um cor-po, não somente indivíduos espetacu-lares, um corpo onde todos os mem-bros funcionam harmonicamente, semhierarquias asfixiantes, um corpo ondena verdade, Jesus Cristo, Sua Cabeça,preside mediante o glorioso EspíritoSanto que enche poderosamente acada um de seus membros.

Que assim seja.(Síntese de uma mensagem ministrada na

Colômbia, em julho de 2006)

* * *Santidade

A santidade em nós é a cópia ou a transcrição da santidade que está emCristo. Assim como o carimbo imprime a linha e a linha os caracteres, e ofilho adquire cada traço do seu pai, assim é a santidade de Deus em nós.

Philip Henry

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12 ÁGUAS VIVASTEMA DA CAPA

No que consiste a edificação do corpo de Cristo? Quem sãochamados a fazer esta obra? Como?

O propósito divino

Como vocês sabem a carta aosEfésios tem como assuntoprincipal o propósito eterno de

Deus, no que consiste esse propósito,quais são os meios que Deus dispôspara levá-lo a cabo, e de que maneirafinalmente seu propósito vai se cum-prir plenamente.

Deus quer que este seja tambémnosso propósito, e por isso quis revelá-lo. E isto é algo que não devemos darpor garantido; quer dizer, não porquefalemos do propósito eterno de Deus,quer dizer que esse propósito estácompreendido e gravado em nossoscorações. Tem que ser revelado pelo

Espírito, e converter-se no assunto quegoverna a totalidade de nossas vidas.

Qual é esse propósito, esse misté-rio, como o chama Paulo? Em Efésios1:9-10 diz, «reunir todas as coisas emCristo». Agora, a palavra «reunir» nãosó significa juntar ao redor de Cristotodas as coisas. A palavra grega signi-fica basicamente elevar Cristo por ca-beça, para que, sob sua autoridade, sereúnam todas as coisas. E também sig-nifica fazê-lo, o centro de todas as coi-sas; que todas elas convirjam para ele,e encontrem sua razão, seu destino, suafinalidade, nele. Em suma, que Cristoseja o tudo e em todos.

Como Deus vai realizar esse pro-

Aperfeiçoando

Rodrigo Abarca

aos Santos

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pósito? Seu plano tem duas etapas. Aprimeira delas, que é fundamento dasegunda, já se cumpriu, e compreen-dem a encarnação, a morte, a ressur-reição, a exaltação e a coroação de seuFilho como Rei e Senhor. (Ef. 1:20-22).

A segunda é que seu Filho tinhaque revelar-se e manifestar-se atravésde uma criação especial. E essa cria-ção não era a raça dos anjos, mas simo homem. Por isso O Verbo foi feitocarne.

Cristo é a CabeçaO Senhor Jesus Cristo é Rei e Se-

nhor de todas as coisas; o Pai subme-teu todas as coisas sob seus pés. Mas,sobre todas as coisas, ele o deu porcabeça da igreja (Ef.1:22). Então, arelação que há entre Cristo e todas ascoisas é distinta da relação que há en-tre Cristo e a igreja. Sobre todas ascoisas, ele é Rei e Senhor, e ele gover-na e domina sobre tudo. Mas com re-lação à igreja, ele não somente é Rei eSenhor, mas também é sua Cabeça.

Assim como uma cabeça está vin-culada a seu corpo, e é inseparável deseu corpo, assim Cristo se uniu à igre-ja, para sustentar, para alimentar, e paraexpressar-se a si mesmo através dela.Há entre Cristo e a igreja uma intimi-dade e uma relação que não existeentre Cristo e nada mais neste univer-so criado.

A cabeça necessita do corpo paraexpressar-se. Quando o Pai o faz ca-beça da igreja, ao mesmo tempo põeuma ‘limitação’ para o Senhor: Queele tem que se expressar, revelar emanifestar, e levar adiante seus pro-

pósitos através de seu corpo que é aigreja.

Imagine você, sua cabeça atua se-parada de seu corpo alguma vez? Seem sua cabeça você tem planos quelevar adiante, por exemplo, construiruma casa, planejada desenhada e pen-sada por completo em sua mente. Nahora de executar seus planos, o quenecessita? Não necessita suas mãos,ou seus pés?

Agora, suponhamos que sua cabe-ça tenha sentimentos profundos. Vocêé jovem, está apaixonado por alguém,e quer lhe dizer que a ama. Não ne-cessita um corpo? Se você não tivesserosto, olhos, expressões faciais e cor-porais, como poderia expressar o quesente?

Quando Cristo se converte em ca-beça da igreja, se auto-limita dessamaneira a si mesmo e fica indisso-luvelmente atado à igreja, de maneiraque ele agora necessita da igreja paracumprir seus planos, para levar adi-ante os propósitos eternos de Deus. Eessa é a segunda parte do plano deDeus. Que Cristo possa encher tudode si mesmo por meio da igreja.

Cristo é o modeloAgora, vamos a Efésios 4. «Aque-

le que desceu, é o mesmo que tam-bém subiu acima de todos os céus paraenchê-lo todo» (v.10). Aí está o pro-pósito – que Cristo encha tudo. Issoquer dizer, irmãos, que ainda nem tudoestá cheio de Cristo. No céu, tudo estácheio dele; mas, na terra, nem tudo estácheio dele. Ainda o mundo está sob opríncipe da potestade do ar, e Satanásestá movendo-se e manifestando suas

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intenções e intuitos malignos nestaterra.

Mas, como Cristo vai encher tudo?Edificando sua igreja, e enchendo asua igreja dele mesmo. E, uma vez quea igreja estiver cheia dele, então a igre-ja vai encher tudo dele e já não haverámais lugar para Satanás na terra. Esseé o plano. Por isso diz o versículo 3:21,falando de Deus o Pai: «...a ele seja aglória na igreja em Cristo Jesus portodas as gerações». Pois a Igreja é ocumprimento eterno de seu propósitoem Cristo.

Que meios ele vai empregar paraedificar a sua igreja? Leiamos Hebreus3:5: «E Moisés na verdade foi fiel emtoda a casa de Deus, como servo, paratestemunho do que haviam de dizer».Quando Moisés tirou os israelitas doEgito, que cruzaram o mar Vermelhoe chegaram ao monte Sinai, Deus ochamou para que estivesse com elequarenta dias e quarenta noites. Ali,Deus lhe mostrou detalhadamente odesenho de um tabernáculo ou casa.Deus foi revelando a Moisés essa casae todos os móveis, utensílios e elemen-tos que deviam estar na casa. E não sóisto, mas também o serviço sacerdo-tal, tudo o que tinha a ver com o fun-cionamento dessa casa.

Enquanto Deus falava com Moi-sés, dizia-lhe: «Farão um taber-náculo... Farão uma arca ... um altar... uma mesa ...». Cada vez que ele fa-lava com Moisés e terminava de des-crever um aspecto dessa casa, adver-tia-lhe: «Presta atenção, Moisés: Quefaça todas as coisas –não oitenta porcento, não noventa por cento, não no-venta e nove por cento, mas sim to-

das, cem por cento– conforme o mo-delo que te foi mostrado no monte».

Por que Deus fez essa advertênciaa Moisés? Diz Estevão que Moisés eraum homem preparado em toda a sa-bedoria dos egípcios, poderoso emsuas palavras e em suas obras. Poisbem, os egípcios foram os maioresconstrutores da antigüidade. Até o diade hoje, as coisas que eles construí-ram são consideradas maravilhas domundo antigo: as pirâmides, os tem-plos que edificaram. Inclusive osisraelitas construíram cidades inteiraspara os egípcios.

Assim, se alguém sabia de cons-truções e edificações, esse era Moisés.E se alguém sabia de edificação, eramos israelitas. Mas Deus disse a Moisés:«Eu vou usar o conhecimento quevocê tem, de construção, de edifi-cação», (porque se ele não soubessenada de construção, Moisés não teriaentendido nada), mas com uma adver-tência: «Não pode pôr nada de ti mes-mo no desenho, nem na obra da mi-nha casa».

Era uma grande tentação paraMoisés adicionar algo de si mesmo aodesenho. Mas diz que Moisés foi fielcomo servo. Sabe o que é um servo?É um escravo. Quando um amo man-da a um escravo fazer algo, o escravotem que simplesmente ir e fazer ascoisas como lhe disse. Não tem quereceber explicações.

Moisés não pediu explicações. Feztudo como Deus lhe mandou, e por-que ele foi fiel, diz a Escritura, tudo oque ele fez pode dar testemunho ago-ra, pode representar tipologicamentea Cristo e à igreja. Por exemplo, a arca

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tinha que ter um côvado e meio de al-tura, para representar a união do ho-mem com Deus, porque um e meiomais um e meio são três, e três é onúmero da Divindade. A arca repre-senta a união de Deus e do homem,em Cristo – um e meio para Deus, ume meio para o homem. Se Moisés ti-vesse posto meio côvado a mais, a arcateria ficado bonita, mas sem nenhumsignificado em relação com Cristo.

Agora, quando Moisés ergueu otabernáculo, Deus foi severo com res-peito a algo que era uma sombra e umafigura, destinada a passar e a desapa-recer. Mas agora estamos falando dacasa eterna e definitiva de Deus que éa igreja. Então, se Deus foi tão severoe rigoroso com o que era sombra e fi-gura, não tem que ser rigoroso e seve-ro com o original? Será que Deusmudou e agora nos permite improvi-sar ou pôr nossas próprias idéias naigreja, ou introduzir nossos conceitos,nossas opiniões e as coisas que cre-mos saber na edificação do corpo deCristo? Terá mudado Deus?

Não; tudo tem que ser feito «con-forme o modelo que te foi mostradono monte» (Ex. 25:40). Você pergun-tará: «Temos um modelo para aedificação da casa? Sim, e é um mo-delo muito claro, muito específico,concreto e real. Esse modelo é o Se-nhor Jesus Cristo!

Por isso dissemos que a primeiraparte é a revelação do Senhor JesusCristo. «Deus foi manifestado em car-ne» (1 Tim. 3:16). E a Escritura dizliteralmente «pôs seu tabernáculo»,sua morada, no meio de nós. (João1:14). Assim, ao vê-lo, nós vemos a

morada de Deus com os homens. Eesse modelo agora tem que ser mos-trado e comunicado em nós. A pleni-tude dele tem que vir a nós e, peloEspírito, o que é dele tem que ser for-mado em nós. Não só um aspecto dele,não só uma parte dele. Assim como aplenitude de Deus habitou nele e ha-bita nele, assim a plenitude de Cristotem que habitar na igreja.

Os dons aperfeiçoamEntretanto, como Cristo vai encher

tudo em todos? O primeiro, diz a Es-critura, é que ele deu dons aos homens.E aqui começa a edificação da casa.Agora, aqui os dons, como já outrosirmãos explicaram muito bem, não sãodons que ele deu às pessoas. Ele tam-bém dá dons individuais aos membrosde seu corpo. Mas estes dons que dáaqui não são dons dados a membrosdo corpo, individualmente, mas simsão pessoas que ele dá como dons atodo o corpo.

Ele prepara a um homem, conver-te-o em um apóstolo, e o dá à igreja.Ele prepara a outros homens, conver-te-os em profetas, e os dá como pre-sentes a sua igreja. Ele toma ainda aoutros, converte-os em evangelistas,e os dá em seguida à igreja; e ele pre-para a outros como mestres, e os dá àigreja.

Jovens, prestem atenção a isto. OSenhor toma homens e os prepara; tra-ta com eles, trabalha com eles, e nãoem um período curto de tempo. Vairevelando-se a eles, e uma medidadele, dos planos que estão nele, for-ma-se neles. Assim os prepara, e emseguida os dá a seu corpo. Essa é a

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forma em que ele edifica a casa. Elenão começa organizando nada; nemcom esquemas, ou metodologias oucom planos em um papel. Ele começasempre sua obra com homens forma-dos por ele e enviados por ele. Esse éo método de Deus.

Há algum método na Escritura paralevantar uma igreja? Será que o Se-nhor chamou um dia aos apóstolos elhes disse: «Venham para cá, agora euvou lhes explicar o que é a igreja, seuorganograma e suas funções?» Assimfez o Senhor à igreja? Um método, umplano?

Não, irmãos amados, o plano é ele,o método é ele. Homens que o conhe-çam, que tenham estado tempo comele, que tenham estado na intimidadecom ele, que tenham ouvido a vozdele. (1 João 1:1-2).

Ele formou apóstolos, e esses ho-mens foram dados como dons à igre-

ja. Os apóstolos, para colocar funda-mentos. Paulo diz: «...eu como peritoarquiteto pus o fundamento» (1 CO.3:10). Qual é o fundamento? JesusCristo é o fundamento. «E persevera-vam na doutrina dos apóstolos» (At.2:42). O que é a doutrina dos apósto-los? Tudo o que eles ouviram, contem-plaram e apalparam enquanto estavamcom Jesus Cristo, isso se converteudepois na doutrina dos apóstolos. «Etodos os dias, no templo e pelas casas,não cessavam de ensinar e pregar aJesus Cristo» (At. 5:42).

A Escritura diz: «...o fundamentodos apóstolos e profetas» (Ef. 2:20).Então, os apóstolos e profetas vão deantemão; os apóstolos, para pôr o fun-damento, e os profetas, para regar so-bre o fundamento, para ampliá-lo.Ambos, profetas e apóstolos, estãorelacionados com a revelação de Je-sus Cristo dada à igreja através deles.Mas os primeiros colocam o funda-mento de Cristo, e os segundosaprofundam o fundamento, ampliama visão e o entendimento de Cristo paraa igreja.

O terceiro que ele deu à igreja sãoos evangelistas. Também é um aspec-to de Cristo que se dá à igreja; porque,recordem, a igreja tem que ser a ple-nitude de Cristo. A que veio o Filhodo Homem? «...o Filho do Homemveio buscar e a salvar o que se haviaperdido» (Lc. 19:10). Bendito seja oSenhor Jesus Cristo! Ele foi o primei-ro dos evangelistas; ele veio com umcoração cheio de amor pelos perdidos.

Cristo se dá a nós através dosevangelistas. O que seria de nós semo amor daqueles que, representando

Você pode vir a milhares dereuniões e receber e serexposto ao ministério dapalavra por anos e anos, evocê não vai crescer umcentímetro na edificação deDeus. Porque a edificaçãode Deus não tem a ver comreceber a palavra somente,mas sim com tomar essapalavra e começar a edifi-cação do corpo de Cristo.

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ao Senhor Jesus Cristo, pregaram oevangelho! Aqueles que deixaram seuslares em terras longínquas, aquelesmissionários de antigamente, que cru-zaram meio mundo para trazer o evan-gelho. O que seria de nós sem eles!

Em seguida, pastores e mestres.Eles tomam tudo o que está na doutri-na dos apóstolos, a revelação dos pro-fetas, a visão de longo alcance dosevangelistas, e começam a aplicar emtodos os aspectos da vida da igreja,até nos mínimos detalhes.

Aqui temos a igreja completa?Não, não temos a igreja ainda; aí sótemos o princípio da igreja. Então,prestem atenção, por favor. A quemdeve vocês apegar-se? Apeguem-se aaqueles homens que Deus deu à igre-ja, sentem-se aos pés deles, aprendamde Cristo através deles. Busquem-nos,porque vão conhecer Cristo atravésdeles, porque são um presente de Cris-to para vocês, e para toda a igreja.

Uma coisa mais a respeito. Paulodiz aos Coríntios: «...tudo é vosso: sejaPaulo, seja Apolo, seja Cefas ... tudo évosso, e vós de Cristo, e Cristo deDeus» (1 Co. 3:21:23). Isto significaque Deus deu dons à igreja. Mas, oque é mais importante? Os dons ou aigreja? Se você tiver uma noiva e vaise casar com ela, e lhe dá muitos pre-sentes, o que é mais importante: suanoiva ou os presentes? A noiva! O queé mais importante, os dons –apósto-los e profetas, evangelistas, pastores emestres– ou a noiva de Cristo? A noi-va! Eles são presentes, mas ela é suanoiva.

A noiva é mais importante que ospresentes. Então, a noiva não deve

estar dependendo dos presentes, massim dependendo do Noivo. Graças aDeus pelos dons; mas nossa vista temque estar no Senhor dos dons.

Aqui não há uma hierarquia. OSenhor não está falando de uma es-trutura hierárquica de governo sobrea igreja; ele está falando de dons, depresentes que ele livremente dá à igre-ja. Vêm dele, são dele. Tampouco quea igreja se juntou e disse: «Vamos no-mear apóstolos, profetas, evangelistas,etc...». Os homens não podem ‘fabri-car’ apóstolos, profetas, evangelistas,pastores ou mestres. Só Cristo pode, eele os dá à igreja. Não cometamos umengano; isto não é um método. É a vidade Cristo que vai se desenvolvendo,pelo Espírito, na igreja.

«...Tudo é vosso...». Apropriem-sede tudo. Tomem os apóstolos, sãoseus; os profetas, são seus; os evan-gelistas, são seus. Irmãos e irmãs to-dos os dons são de vocês; mas vocêssão de Cristo, e Cristo é de Deus. Nãodesperdice os dons, não os menospre-ze, não os desprezem. Dêem graçasao Senhor que nos deu dons; receba-os todos, acolha-os a todos. Mas vocêé de Cristo, a igreja é de Cristo, e Cristoé de Deus.

Então, qual é a finalidade dessesirmãos? Aqui vamos ter que redefiniralgumas palavras, de acordo com aEscritura. A finalidade desses irmãos,é edificar a igreja? Não. Leiamos denovo Efesios 4:12: «...a fim de aper-feiçoar...». Agora, se você segue len-do, um pouco mais adiante, aparece apalavra edificar. Mas, aqui não diz queeles são dados para edificar a igreja,mas sim para aperfeiçoá-la. A palavra

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aperfeiçoar não é fazer perfeitas àspessoas. A palavra grega se traduzmelhor por preparar, equipar, e repa-rar, quando é necessário. Tudo isto éaperfeiçoar. É mais ou menos a idéiaque temos quando em uma empresadizem: «Vai a um curso de aperfeiço-amento». Não é que você vai a essecurso para sair dali perfeito; mas simpara sair mais preparado para fazer seutrabalho. Essa é a idéia aqui: aper-feiçoá-los, prepará-los para fazer seutrabalho, para cumprir sua função nocorpo de Cristo.

Todo o corpo edificaOs apóstolos, os profetas, os

evangelistas, os pastores e mestres es-tão no corpo para preparar os santos,para que os santos cumpram sua fun-ção no corpo de Cristo. Eles não estãopara edificar os santos. Preste atençãoa isto; é muito importante a distinçãoque faz a Escritura. Por quê? Porque oministério da palavra, por si mesmo,não edifica.

Você pode vir a milhares de reuni-ões e receber e ser exposto ao minis-tério da palavra por anos e anos, e vocênão vai crescer um centímetro naedificação de Deus. Você pode termilhares de horas acumuladas de mi-nistério da palavra, e nem por isso foiedificado. Porque a edificação de Deusnão tem a ver com receber a palavrasomente, mas sim com tomar essa pa-lavra e começar a edificação do corpode Cristo.

E isto não o fazem os ministros dapalavra, mas quem? Veja comigo. «...afim de preparar os santos para a obrado ministério». Ah, agora sim, todos

nós, os santos, fazemos a obra do mi-nistério! E, qual é o propósito da obrado ministério? A edificação do corpode Cristo! Aqui, sim, está a palavraedificação. Quando os santos come-çam a trabalhar e a fazer sua parte,então logo começa a edificação docorpo de Cristo.

Quando você vem a uma reuniãoe diz: «O irmão pregou uma palavratão bonita, tão do Senhor! Saí tãoedificado!». Saiu edificado? Não! Saiupreparado, saiu animado, saiu treina-do. Mas agora tem que ir edificar; ago-ra, pouco depois, tem que ir edificar.

Tivemos recentemente o Mundialde Futebol. Ali os treinadores prepa-ram os seus jogadores, ensinam-lhesestratégias, e fazem esquemas, querdizer, os treinam (-os). Mas, imagine-mos que esses jogadores nunca joga-ram uma partida? Que frustrante seriapara eles! Às vezes nós somos comouma equipe de futebol destreinada, quenunca joga uma partida de verdade.

Por quantos anos você foi treina-do? Quantas pregações, quantasministrações da palavra você recebeuem sua vida? Eu diria que você estádestreinado, irmão amado. O que vocêacha? Está utilizando tudo o que rece-beu para edificar o corpo de Cristo,ou não está fazendo nada e segue pre-parando-se?

É a capacitação, o treinamento des-ses irmãos que permite que logo essesirmãos, tendo as ferramentas, os ele-mentos necessários, levem a cabo aobra do ministério. E qual é a obra doministério? A edificação do corpo deCristo.

Assim, o que Deus tem em mente,

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não é a edificação pessoal somente.Deus quer que o corpo cresça, que aigreja se edifique. Ele quer que todo ocorpo comece a tomar forma; a formade Cristo.

Isto significa que o corpo tem quecomeçar a ajustar-se, a relacionar-se.As juntas têm que começar a ligar-seentre si; os membros têm que come-çar a unir uns com os outros e a traba-lhar uns com os outros. E então, o cor-po começa a funcionar, quando todosos membros estão ligados, entrelaça-dos e amalgamados uns com os ou-tros. Nisto consiste a edificação. Aspedras se juntam umas com as outraspara elevarem-se juntas como casa deDeus. Então, todos os membros, pormeio da palavra que tem recebido dosapóstolos, profetas, evangelistas, pas-tores e mestres, alimentam uns aosoutros, e (se) nutrem-se uns com osoutros da cabeça que é Cristo.

Vou dar um exemplo: A igreja emJerusalém. Ela começou com dozeapóstolos e mais ou menos uns quin-ze mil irmãos, contando as mulherese as crianças. «E todos os dias, no tem-plo e pelas casas, não cessavam deensinar e pregar a Jesus Cristo» (At.5:42). E assim, (pelos) 50 anos conse-cutivos, esses irmãos estiveram escu-tando os apóstolos e deleitando-se como que os irmãos ensinavam? Não, nãofoi assim, irmãos. Porque o que Deustinha em mente não era que essa igre-ja estivesse toda a vida recebendo eescutando palavra após palavra. Elequeria que o corpo começasse a fun-cionar, a encher toda a terra do conhe-cimento de seu Filho Jesus Cristo.

Então, aquilo foi uma escola. Je-

rusalém foi a primeira escola de Deus,de treinamento e de capacitação naterra. E não durou muito tempo, nãomais que sete a dez anos. Quando oPai considerou que estavam prepara-dos, ele deteve tudo isso e disse: «Mui-to bem, agora estão preparados, vão!».Quem foi... os apóstolos? Não. Quan-do começou a perseguição por moti-vo de Estevão, diz a Escritura que, emuma noite, toda Jerusalém ficou vaziade irmãos, pois todos foram dispersos,exceto... os apóstolos!

Os apóstolos ficaram em Jerusa-lém, para voltar a formar outra gera-ção. Já seu trabalho tinha sido feito.Agora, aqueles irmãos que tinham ofundamento dos apóstolos com eles, ea revelação dos profetas, a visão dosevangelistas ardendo em seu coração,o ensino dos pastores e mestres, esta-vam preparados para ir. E Deus osenviou a todos eles.

E por onde eles foram? O que ocor-reu? Por toda a região da Judéia, e portoda Samaria, e até bem distante comoAntioquia, a igreja de Jesus Cristo semultiplicou. Não foram os apóstolosque fundaram as Igrejas na Judéia.Não foram os apóstolos que fundarama igreja em Antioquia. Foram os ir-mãos e irmãs.

Dirás: «Mas eu pensava que osobreiros são os que levantam as igre-jas». Pois, observe que não. Sim e não.Eles levantam algumas. Mas se vocêtiver o fundamento, então, você podeir e pôr esse fundamento em outros,você pode ser um obreiro do Senhorem qualquer lugar que (vá).

Quantos de vocês têm a revelaçãode Cristo recebida dos profetas?

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20 ÁGUAS VIVASTEMA DA CAPA

Quantos viram ao Senhor? Você podeir falar com outros a respeito de Cristo,de sua glória, de sua grandeza, de suaprofundidade, de sua autoridade. Vocêpode! Para isso foi preparado por Deus.

Agora, quantos ouviram a Cristodos evangelistas? Então, você pode le-var essa palavra a qualquer parte domundo. Você também é um evangelista,porque tem o evangelho de Jesus Cris-to ardendo em seu coração.

E quantos foram pastoreados poranos? Quantos ensinos para edificar asua família, seu matrimônio, sua situ-ação de trabalho, toda a sua vida in-teira? Quanto tem recebido de Cristopor meio dos pastores e mestres? Mui-to, verdade? Agora você pode ir eaconselhar a outros, pode ir e ensinara outros. Você também é um mestre eé um pastor para outros. Esse é o pro-pósito do Senhor! Ele quer que todosnós vamos fazer a sua obra, a edificara sua casa, a levantar a sua igreja emtoda parte.

Uma história mais, para que vocêveja que isto não só ocorreu em Jeru-salém. Também quando Paulo e Bar-nabé realizaram sua obra apostólica.Você recorda que Paulo, na metade desua carreira, escreve uma carta à igrejaem Roma – a carta aos Romanos? Vocêsabe que Paulo nunca havia estado emRoma? Não conhecia a igreja em Romade vista, pois nunca tinha pisado nasruas de Roma. Entretanto, quando es-creve sua carta aos Romanos, no capí-tulo 16 da mesma, começa a saudar ir-mãos e irmãs como se os conhecessempor toda a vida.

Agora, como podia Paulo, quenunca havia estado em Roma, conhe-

cer aqueles irmãos? É que em Romatinha ocorrido o mesmo que na Judéia,em Samaria e em Antioquia. Os irmãosdas igrejas na Ásia Menor e da Acaia(Grécia) tinham ido a Roma. Eles ti-nham ido, não Paulo.

Esses irmãos começaram a igrejaem Roma. Irmãos que se formaramcom Paulo, mas que logo foram e fun-daram outras igrejas. E muitos anosdepois, Paulo chegou a Roma também,preso e em cadeias.

Talvez você, irmã, se considerasem importância. Leia os nomes quemenciona Paulo. Quantas irmãs hánessa lista? A metade pelo menos. Ir-mãs que trabalharam muito no Senhor,diz Paulo, que foram colaboradorasem Cristo Jesus, que ajudaram a le-vantar a igreja de Jesus Cristo emRoma e em muitas outras cidades.

«Priscila e Áquila, meus colabo-radores». E menciona a Priscila antesde Áquila, seu marido. Irmã, vocêacredita que pode? Está disposta? Ouqueremos seguir anos e anos, todossentados, escutando mensagens e maismensagens, e treinando-nos e treinan-do-nos, sem nunca fazer o trabalho queo Senhor espera de nós?

Vocês crêem que os obreiros de-vem fazer todo o trabalho? Não, ir-mãos, não é trabalho deles; eles pre-param os santos para que vão e façama obra do ministério. Não diz isto aEscritura? E sua tarefa continua «...atéque todos cheguemos à unidade da fée do conhecimento do Filho de Deus,a um varão perfeito, à medida da esta-tura da plenitude de Cristo» (Ef. 4:13).

Jovens, para que vocês estão sen-do preparados? Não é para tomar seu

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21ÁGUAS VIVAS TEMA DA CAPA

lugar nesta grande obra do ministé-rio que é a edificação do corpo deCristo? Não tenham uma visão estrei-ta. Não digam: «Eu sou pouca coisa,eu nasci em sei lá que esquecido po-voado». Isto não importa. Não impor-ta de onde é ou de que família proce-de. Se tiver a Cristo, se o fundamen-to está em seu coração, se tiver vistoo Senhor, se o evangelho arder emseu coração, você pode ir também. OSenhor necessita que vá, que ampliea sua visão e que alargues o seu cora-ção.

Alguém diz: «Eu sou muito velho,já passou meu tempo». Não, nuncapassa seu tempo, irmão; se você for

velho, o Espírito de Deus vai te reno-var e sustentar até o final. Mas vocêanda e faz o que o Senhor quer quefaça. Na mesma igreja local tem quefazer tudo o que o Senhor quer quefaça. Você tem que ser um obreiro aí,um profeta, um mestre, um evan-gelista, na medida em que o Senhortem te dado ser essas coisas onde vocêestá.

Desta maneira, todos podemos edevemos colaborar na obra de edifi-cação que o Senhor encomendou a seucorpo que é a Igreja. Até que tudo sejacheio do conhecimento da glória doSenhor. Amém. Bendito seja o nomede Senhor!

* * *Quando Davi foi rei

Quando os filisteus souberam que Davi tinha sido feito rei de Israel,então foram "em busca de Davi". Agora era um personagem de suficienteimportância para ser alvo de seu ataque; e é quando nos rendemos aDeus, nos consagrando aos propósitos da salvação, quando todos os pode-res da maldade se reúnem para causar a nossa queda e nos desonrar comderrota e fracasso. A. B. Simpson, Mateus

Os salmos de Lutero

Diz-se que um dia perguntaram a Lutero qual dos Salmos era o melhor, erespondeu: «Psalmi paulini»; e quando seus amigos insistiram em saberquais eram, acrescentou: «O 32, o 51, o 130 e o 143, porque todos elesensinam que o perdão de nossos pecados vem sem a lei e sem as obras dohomem que crê, e portanto os chamo de Salmos Paulinos».

Lutero, Conversações de sobremesa

Como trapo

Enrique Suso (1300-1365), o místico alemão, conta em uma de suascartas que um dia quando teve que sofrer muito por penas interiores e pordesprezos e humilhações, viu da janela de sua cela um cão que brincavano pátio com um trapo. Ele o mordia, babava nele, arrastava-o, rasgava-o."Assim deve você fazer", disse-se. "Arrasto-te para o alto ou te atiro parabaixo. Ainda que te cuspa, você deve aceitá-lo tudo alegremente, semprotestar, como o trapo, se ele tivesse consciência".

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22 ÁGUAS VIVASTEMA DA CAPA

Os ministros da Palavra não são 'estrelas' cintilantes, mas simservos da igreja .

Nesta passagem de Efésios 4encontramos três temas prin-cipais: Os dons, os ministéri-

os e as operações. Os dons aparecemno começo e são outorgados pelo Se-nhor à Igreja para constituir ministéri-os. Sem os dons não existem ministé-rios. Os ministérios são detalhados noversículo 11 – são cinco, embora al-guns dizem que são somente quatro,porque os pastores e mestres formari-am um só ministério. Finalmente, nosversículos 15 e 16 aparecem as opera-ções, isto é, o funcionamento de cadamembro do corpo.

Nos últimos tempos, no cristianis-mo, os dons e os ministérios têm sido

fortemente enfatizados. Pouco é tra-tado sobre as operações. Mas cremosque a ênfase final de Deus antes davinda de Cristo não estará nos donsnem nos ministérios, mas nas opera-ções.

No começo do século XX em todoo mundo foi dada uma grande ênfaseaos dons. Os dons do Espírito Santoforam manifestados em todo o mun-do. Foi um grande avivamento pen-tecostal. Mas essa não era a meta deDeus. Nas últimas décadas tem ocor-rido uma ênfase nos ministérios. Noentanto, por muitos anos parece quehavia somente um desses ministérios,os evangelistas e os pastores.

Texto: Efésios 4:7-16.

Eliseo Apablaza

da IgrejaServos

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23ÁGUAS VIVAS TEMA DA CAPA

Um problema semânticoNo versículo 12 trata da função

destes quatro ministérios, que são se-gundo algumas versões bíblicas, «oaperfeiçoamento dos santos». Pormuitos anos não tivemos uma corretacompreensão da palavra «aperfeiço-ar». Pensávamos que o objetivo dosministérios era levar a perfeição, naculminação da vida cristã, aos santos.Mas neste último tempo temos tidomelhor compreensão. A palavra gre-ga que é traduzida como «aperfeiço-ar» aqui, tem uma variada forma designificados. E, aparentemente, o maisimportante deles, não é precisamente«aperfeiçoar», mas, «equipar» ou «ca-pacitar».

William Barclay diz que a palavragrega «katartismós» (que traduzido é:aperfeiçoamento») tem dois grandessignificados: o primeiro é «ajustar epor em ordem», o segundo: «equiparou habilitar algo para um propósitodeterminado». E coloca o seguinteexemplo: «é usado em relação a habi-litação de um navio ou de um exerci-to, quando são totalmente equipados,armados e formados em posição debatalha». Assim, podemos ver que oministério dos apóstolos, profetas,evangelistas, pastores e mestres éposicionar o exército, o qual é a igre-ja, em posição de batalha.

Assim, se entendemos «equipar»em vez de «aperfeiçoar» aqui emEfésios 4:12, o assunto muda radical-mente. Portanto a função dos ministé-rios não é final, mas sim, medial e tran-sitória. A tarefa dos ministros não che-ga até a edificação da igreja.

Anteriormente dávamos grande

ênfase à função dos ministérios, quepensávamos que era «aperfeiçoar ossantos». Mas a ênfase do Espírito San-to esta mais abaixo no texto aqui cita-do. O raciocínio do Espírito não ter-mina no versículo 12, onde se encon-tra o serviço dos ministros, mas noversículo 16, onde está o serviço detodos os membros do corpo.

No versículo 13 diz: «até que to-dos cheguemos à unidade da fé e dopleno conhecimento do Filho de Deus,ao estado de homem feito, à medidada estatura da plenitude de Cristo».

Aqui está o objetivo de Deus. Ago-ra, como alcançaremos este objetivo?Isso esta nos versículos 15 e 16: «an-tes, seguindo a verdade em amor, cres-çamos em tudo naquele que é a cabe-ça, isto é, Cristo, do qual o corpo bemajustado, e ligado entre si por todasas conjunturas, que se ajudam mutua-mente, segundo a atividade (a pala-vra atividade aqui também pode sertraduzida por «operação») própria decada membro, efetua o seu crescimen-to para edificação de si mesmo emamor.» Os ministros foram dados paracapacitar os santos, não para que rea-lizem o trabalho dos santos.

Vejamos atentamente o versículo12: «tendo em vista o aperfeiçoamen-to dos santos para a obra do ministé-rio, para edificação do corpo de Cris-to». Existe uma vírgula após a palavra«santos» neste versículo? Se houves-se em alguma outra versão, essa vír-gula não estaria correta. Por que? Secolocarmos a vírgula depois de «san-tos», então entendemos que os minis-tros aperfeiçoam os santos e realizama obra do ministério. Mas, se esta vír-

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gula não está ali, então devemos en-tender que os santos são aperfeiçoa-dos para que estes façam a obra doministério.

O que vocês crêem que acontece-ria numa igreja se ao invés de dois outrês exista cem ou duzentos que fazema obra de Deus? Sem dúvida, haveriauma mudança muito grande. Para al-guns isto pode parecer estranho, por-que temos uma grande distorção dis-to.

Mas devemos ir um pouco maisadiante. Se estes ministérios foramdados para capacitar os santos, signi-fica então, que de alguma forma, osapóstolos têm que reproduzir após-tolos na igreja, e os profetas têm quereproduzir profetas. Dito de outra for-

ma, os apóstolos capacitam os san-tos, para que destes surjam novosapóstolos; os profetas capacitam ossantos para surgirem novos profetas;e os evangelistas capacitam os san-tos para que surjam muitos evan-gelistas. Qual é, então, a função dosevangelistas? Evangelizar os perdi-dos? Não só isso, mas capacitar ossantos para que todos sejam evan-gelistas. A ênfase muda dos ministrospara os santos.

Como dizer que os evangelistassão dados para capacitar a igreja e nãopara evangelizar os incrédulos? Quan-do necessitamos evangelizar convida-mos um evangelista. Mas, a vontadede Deus é que toda a igreja evangelize,e que o evangelista capacite a igrejapara isto.

Segundo entendemos, a primeiravez que isto começou a ser pregado,foi pelo irmão Watchman Nee, naChina, numa conferência no final dosanos 40¹. Se você ler essas mensagensperceberá uma carga de Deus muitogrande sobre este homem, uma cargamuito grande. Ele volta uma e outravez a reiterar o mesmo, porque perce-be que pode ser que diga pela últimavez. Ele já sabia que lhe restava pou-co tempo. Então dizia: «Temos quepassar a carga a todos os santos. Te-mos que capacitar os santos e que ossantos se levantem para servir». Eledizia «Como vamos alcançar toda aChina com o evangelho? Somos tãopoucos, e este pais é tão grande. Sópode ser feito se todos os santos se le-vantarem para servir».

Mas, qual é a vontade deDeus? Que a igreja sejasemelhante a Cristo e nãoa um homem. Se existe umsó homem acima, todosolham para ele e terminapor assemelhar-se a ele.Mas, se estão os apóstolos,estão os profetas, os evan-gelistas, os pastores e osmestres, todos mostrandoum aspecto diferente deCristo, não se assemelharãoa nenhum, mas a Cristo quese expressa através deles.

1 Ver um resumo desse ensino nas págs. 33-38.

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O que acontece hoje na China?Acontece exatamente isto, o cumpri-mento do desejo de Nee. Sua palavrafoi profética. Provavelmente seja naChina onde hoje existem as igrejasmais neotestementárias de toda a ter-ra. O que acontece ali? Os pregado-res itinerantes visitam as igrejas, ca-pacitam os santos, e logo os santosfazem a obra do ministério. Por cau-sa das perseguições, ali não há um mi-nistério pastoral visível como no Oci-dente. São todos os santos, sem dis-tinção, os que realizam a obra doministério.

Como pode sobreviver a igrejadebaixo da perseguição? Só desta for-ma. Hoje as igrejas na China estãomais vivas do que nunca. A porcenta-gem de cristãos na China tem cresci-do de forma geométrica. Isto tem sidomaravilhoso.

Agora, por que está vindo esta pa-lavra a nós neste tempo? Embora te-nha sido pregada nos anos 40 na Chi-na, hoje sentimos que o Senhor a temenviado até nós para que a realizemosnas nossas igrejas, porque dias de per-seguição estão aproximando-se emtodo o mundo. Como a igreja sobre-viverá nessas condições? Só se a igre-ja recuperar a visão do corpo. E nãosomente a visão, mas também a expe-riência de viver a vida do corpo comtudo o que isto significa.

Uma distorção históricaHistoricamente, todo o peso da

obra de Deus tem recaído sobre osministérios. Na atualidade, há pasto-res estressados pelo peso da obra.Como um só homem pode fazer tudo?

Isto não é a perfeita vontade de Deus.Isto faz parte de uma distorção histó-rica. Mas o Senhor tem nos mostradoo que verdadeiramente é a igreja, ocorpo de Cristo.

Esta distorção levou pouco a pou-co a uma exaltação dos ministros. Vis-to que os ministros têm a palavra, en-tão os irmãos reconhecem que eles sãouma classe especial de pessoas, e de-pendem deles para quase tudo.

Isto trouxe muitos problemas. Oprincipal destes é a desvalorização docorpo.

Nestes dias tem-se falado aqui decomo uma congregação pode chegara se parecer com o pastor. Tal como éo pastor, assim é a congregação. Porque isto acontece? Porque ele está só.Ele é a única referência que os irmãostêm. Assim a igreja se assemelha como homem que está na frente. Mas, qualé a vontade de Deus? Que a igreja sejasemelhante a Cristo e não a um ho-mem. Se existe um só homem acima,todos olham para ele e termina porassemelhar-se a ele. Mas, se estão osapóstolos, estão os profetas, osevangelistas, os pastores e os mestres,todos mostrando um aspecto diferen-te de Cristo, não se assemelharão anenhum, mas a Cristo que se expressaatravés deles. Eles, num conjunto,mostrarão a multiformidade de Cris-to, toda a riqueza de Cristo!

Um duplo testemunhoAqui em Efésios 4 a ordem é dons,

ministérios e operações. Em algumaoutra parte da Bíblia são menciona-das estas três coisas juntas? Os estu-diosos da Bíblia dizem que se só en-

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contramos num só lugar da Bíblia umacerta verdade, isto não é muitoconfiável. Temos que ter ao menosdois, porque é dois o número do teste-munho.

Vejamos, então, 1ª Corinthios12:4-6 «Ora, há diversidade de dons,mas o Espírito é o mesmo. E há diver-sidade de ministérios, mas o Senhor éo mesmo. E há diversidade de opera-ções, mas é o mesmo Deus que operatudo em todos.» Aqui temos de novo,na mesma ordem, os dons, os minis-térios e as operações.

Existe uma coisa muito interessan-te aqui. Os dons são associados com oEspírito; os ministérios com o Senhor,e as operações com Deus Pai. Portan-to, vemos uma graduação. Segundo aordem da deidade, o Pai é maior, logoo Filho e depois o Espírito. Aqui a or-dem é inversa. O que significa isto?Que vamos do menos importante aomais importante.

Destas três coisas, o menos impor-tante são os dons; logo vêm os minis-térios; mas o mais importante de tudosão as operações, porque são associa-das ao Pai, o qual «opera todas as coi-sas em todos». Vocês sabem, os donsda Palavra não vem sobre todos. Nes-te texto diz que uns recebem uma clas-se de dons, outros, outra, mas nem to-dos têm o dom da palavra. Por isto osministérios tampouco pertencem a to-dos o santos. Mas quando fala dasoperações, diz «que opera todas ascoisas em todos». Isto quer dizer, asoperações são de todos. De todo o cor-po.

O Senhor tem nos mostrado queos dons não são um fim em si mesmo;

e que os ministérios também não são.O fim, o objetivo é a igreja em suamultiface variedade de operações.

No Novo Testamento aparecemdezenas de vezes a expressão: «uns aosoutros», e isto nos fala da mutualidade.Quando recebemos a revelação paraver o que é o corpo de Cristo, nossavisão do Novo Testamento muda com-pletamente. Onde antes víamos o in-divíduo, agora vemos a igreja. Só naigreja pode ser vivida toda a vida deCristo. Tão somente na igreja pode serexperimentada toda a revelação doNovo Testamento.

Como crente não estou sendo cha-mado para fazer tudo. Não sou cha-mado a ter todas as respostas. Não te-nho necessidade de projetar toda a luz.Para isso existe a igreja. Existe umproblema na igreja? Vejamos a quemDeus capacitou para resolver esse pro-blema. Quem vai atuar num determi-nado assunto? Ali está o irmão ade-quado. Deus o capacitou para isso.Não existe ninguém que tenha todosos dons em si mesmo, porque Deusrepartiu seus dons entre todos os mem-bros do corpo.

Reconhecendo nosso tempoAmados servos de Deus, este é o

dia das operações de todos os mem-bros do corpo de Cristo. E nós, os mi-nistros somos servos da igreja.

Lógicamente que primeiro de Cris-to, logo depois da igreja. Por isto osanciãos, os obreiros, os ministros dapalavra têm que descer e a igreja têmque subir.

Por que existem tantos filhos deDeus frustrados, insatisfeitos, amargu-

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rados? Porque não estão servindo aoSenhor. Parece que eles não têm nadapara fazer. Toda ênfase tem sido colo-cada nos ministros, nos pastores. Elesfazem tudo. E os pequenos são meroscoadjuvantes? Não; são mais do queisso, muito mais do que isso! É a igre-ja, a amada do Senhor.

Quando o amado diz para a Sula-mita: «faze-me ouvir a tua voz; por-que a tua voz é doce» (Cânt. 2:14), é oSenhor falando para a igreja. À igreja,não aos pregadores. É doce a voz daigreja. O Senhor deu-se por ela, deusua vida por ela. Não por grandes pre-gadores somente, mas por ela. Ali seincluem todos, inclusive os maispequeninos. Oh, que o Senhor abranossos olhos para enxergar o que aigreja representa para Ele!

A responsabilidade dos ministrosA maior responsabilidade recai

sobre nós. Por que? Porque nós, osministros, temos que descer para quea igreja cresça. João Batista foi envi-ado para baixar os montes e subir osvales. O ministério de João Batista nãosomente foi para preparar a primeiravinda do Senhor, mas também a se-gunda. Hoje também Deus está levan-tando profetas com o espírito de João,que diz: «É necessário que ele cresçae que eu diminua». Se não fazemosparte dessa equipe, não estaremos pre-parando devidamente a vinda do Se-nhor.

O João Batista da primeira vindado Senhor foi um homem; hoje o«João Batista» da segunda vinda doSenhor são muitos homens, muitosprofetas com a mesma atitude de João

que dizem: «Olhem para Ele, eis oCordeiro de Deus; Ele é o esposo, nóssomos amigos do esposo, a noiva ovê, a igreja olha para Ele».

Um dos grandes objetivos de Pau-lo no seu ministério foi apresentar aigreja como uma virgem pura a Cristo(2ª Cor. 11:2). Quem faz esse trabalhode preparar uma noiva para o noivo?Um casamenteiro. Os ministros deJesus Cristo são casamenteiros. Pauloera. De certo modo, nos somos parteda igreja. Sim, somos, mas em cer-tos aspectos não somos. Somos os quepreparamos a noiva para ela receber oNoivo.

Amados irmãos, os principais emaiores problemas no meio da igrejanão são criados pelos irmãos, mas pe-los ministros, os apóstolos, profetas,evangelistas, pastores e mestres. Elessão os mais capacitados, tem dons. Apalavra deles tem forte influência. Émuito difícil dessa forma que um ho-mem diminua.

Deus deseja nos ensinar algo: Osministros da Palavra não são líderesno restrito sentido da palavra. A pala-vra líder é uma palavra de origem in-glesa que se refere a uma pessoa des-tacada, proeminente. Um líder é umchefe. O Senhor nunca usou uma pa-lavra que significasse isso para se re-ferir a seus seguidores. Ele usou a pa-lavra «servo». No grego «doulos» sig-nifica escravo.

Derek Prince disse certa vez: «Porque nas Bíblias não se traduz «escra-vo» se no grego diz «escravo»? Por-que existe uma cultura obscura, tene-brosa sobre escravidão. Mas em ter-mos bíblicos a escravidão não tem essa

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conotação». E acrescenta: «O Espíri-to Santo é um escravo de Cristo». Emque sentido? É que ele veio para ser-vir, para exaltar a Outro. O EspíritoSanto veio para exaltar a Cristo. OEspírito Santo tem uma atitude de es-cravo. Assim, nós também somos es-cravos de Cristo e da igreja.

Que o Senhor nos socorra. Porqueum dos grandes perigos que existe paraum ministro de Jesus Cristo, é a vaida-de. Por este motivo o Senhor tem quenos tocar fortemente. Tem que nos que-brantar totalmente, para que vejamosque não somos nada, absolutamentenada sem Ele. Se recebermos o amordos irmãos é tão somente porque so-mos como um jumentinho que leva oSenhor sobre seus ombros. Só por isso.

O que os irmãos têm visto em nós?Por que nos amam? Porque eles têmvisto algo de Cristo. Seu amor paraconosco não é para nós, é para Cristo,que pela sua graça nos utiliza. Fora deCristo somos desprezíveis, somos tor-pes, somos imundos. Somos comunscomo qualquer outra pessoa.

Amados irmãos, que o Senhor nosajude a ver o que o Senhor está nosmostrando, para nos dar força e cora-gem para minguar, isto é o mais difí-cil. Que o Senhor nos dê a força paracalar e para que outros falem; paradeixar de fazer tantas coisas e deixarque outros também sirvam. Amém.

Sínteses de uma mensagem compartilhadaa obreiros e colaboradores em Curitiba,

Brasil, em abril de 2006.

* * *Algo errado em sua vida

Quando Robert Chapman começou a servir ao Senhor, sua audiênciaaumentava progressivamente. Logo levantou um grande templo. D. L.Moody ouviu falar de sua fama e um dia tomou um trem para ouvi-lopregar. Sentou-se em silêncio e ouviu. Quando terminou a reunião,Chapman reconheceu a Moody e foi até ele para pedir-lhe que, se tivessealgo para dizer-lhe, que o dissesse francamente. "Irmão", disse-lheMoody, "o que você fez foi um fracasso e não um êxito, porque há algoerrado em sua vida".

Ao ouvir isto, Chapman se entristeceu bastante e sentiu que Moodynão deveria tê-lo criticado como o fez, pois com que autoridade podiafalar dessa maneira? Entretanto, Moody se sentiu obrigado a dizer-lhe,e o próprio Chapman sabia que existia, na verdade, uma imperfeiçãoem seu ser: ele sabia que não conseguia desistir de amar mais a suaesposa e filhos (que ao Senhor) e, com esse assunto, lutoudolorosamente durante as várias semanas que se seguiram.

Ao fim, ele disse ao Senhor: "Deus, não posso deixar de amar aminha esposa e meus filhos, mas te peço que opere em mim até quepossa desprendê-los". A partir desse dia, ele descobriu como realmen-te amar a sua esposa e filhos no Senhor, e então Robert Chapman setornou poderoso na obra de Deus.

Watchman Nee, Vida cristã equilibrada

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29ÁGUAS VIVAS LEGADO

e

O que é um sacerdote? Ele nãoé um oficial ou um membrode uma casta religiosa, mas

um homem que resiste à morte e mi-nistra vida. O objetivo único e maisabrangente de todos os tempos –ogrande propósito de Deus de eterni-dade a eternidade– pode ser descritona linguagem do Novo Testamentocomo vida eterna. Assim que o peca-do entrou no mundo surgiu a morte e,então, os homens precisaram de umaltar e do derramar de sangue a fim deque o pecado pudesse ser coberto pelajustiça e a morte ser vencida pela vidadivina.

Juntamente com o altar surgiu alia atividade pessoal de um homem cha-

mado de sacerdote, e assim, com opassar do tempo, tal serviço cresceu ecresceu até se transformar em um ela-borado ministério sacerdotal. Comoum poder ativo, a morte somente po-dia ser detida, anulada e removida aoter devidamente confrontada sua baseno pecado. Daí a necessidade do mi-nistério sacerdotal de justiça, a justiçaperfeita da vida incorruptível expres-sa pelo sangue da oferta. Israel deviaser uma nação de sacerdotes, um povobaseado e fundamentado na própriajustiça de Deus e, por isso, capaz deencarar a morte e derrotá-la.

A Igreja foi chamada para exercereste ministério. O próprio Senhor Je-sus previu isto ao dizer: «Portanto, vos

T. Austin-Sparks

O sacerdócio dos crentes é uma reação da vida divina contra amorte espiritual.

Sacerdóciovida

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digo que o reino de Deus vos será ti-rado e será entregue a um povo quelhe produza os respectivos frutos» (Mt21:43). Mais tarde Pedro explicou queos pecadores redimidos se tornaramparticipantes da vocação espiritual,sendo a «nação escolhida», o «sacer-dócio real», devendo assumir a gran-de vocação de serem, da parte de Deus,ministros da vida na terra.

Assim nós descobrimos que, comomembros do Corpo de Cristo, nós te-mos um relacionamento com Ele, ogrande Sumo Sacerdote, que é análo-go àquele entre Arão e seus filhos, queparticipavam de seu trabalho sacerdo-tal. Na carta aos hebreus, a qual tratadeste assunto, nós temos uma espéciede Levítico neotestamentário. Nestaepístola, os crentes são denominadostanto de filhos como de «santos ir-mãos», como se Cristo nos conside-rasse Seus filhos – «Eis aqui estou eue os filhos que Deus me deu» (Hb.2:13).

Por meio de nós, portanto, comomembros de Cristo, o grande trabalhosumo sacerdotal no céu deve encon-trar expressão aqui na terra. Se nósperguntarmos qual é o significado docontínuo trabalho do Senhor comoSumo Sacerdote, a resposta é: trazervida sobre a morte, anular a operaçãoe reinado da morte espiritual.

O maior conflito da Igreja é com amorte espiritual. Quanto mais espiri-tual um homem se torna, mais consci-ente ele está da horrível realidade destabatalha contra o maligno poder damorte. Nenhum sacerdote ou levita doAntigo Testamento jamais tentou setornar lírico sobre este assunto ou fa-

lar em linguagem poética como se amorte fosse algum tipo de amigo. Ahnão, eles sabiam ser a morte a grandeinimiga de Deus e de todos os Seusinteresses.

Quando as Escrituras falam damorte como o último inimigo, isto nãosomente significa que é a última nalista, mas que é o inimigo derradeiro,a expressão completa de toda inimi-zade. O efeito do sacerdócio é ilustra-do repetidas vezes na Palavra de Deus.Nós observamos a morte adentrandopor causa do pecado e, então, Deusintervindo com Sua resposta de vidapor meio do sacrifício de sangue. Osangue fala de uma justiça aceita e, pormeio disto, o sacerdote estava habili-tado a enfrentar a morte, vencê-la eministrar vida.

Que ministério nós quere-mos? Correr de um ladopara o outro assistindoconferências, dando pales-tras, apoiando o trabalhocristão? Tudo isso podefazer parte, mas é depequeno valor se não seencaixar no contexto dabatalha sacerdotal contraa morte: trazer o impactopoderoso da vida vitoriosade Cristo para enfrentar odesafio da morte.

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Finalmente ouvimos falar do Se-nhor Jesus, que encontrou a morte naconcentração de toda sua inimizade,derrotou-a por meio do perfeito sacri-fício de sangue da Sua própria vida e,então, deu início à Sua obra sacerdo-tal de ministrar vida aos crentes.

O sacerdote é um homem que temautoridade, embora esta seja espiritu-al e não eclesiástica. Ele tem podercom Deus. O apóstolo João fala docaso de alguém que cometeu um pe-cado que não leva à morte, e ele diz:«pedirá, e Deus lhe dará vida...» (1Jo.5:16). Esta referência revela que umcrente que permanece na base da jus-tiça pela fé por meio do sangue de Je-sus pode exercer o poder do sacerdó-cio em benefício de um irmão que er-rou e, assim, ministrar vida a ele.

Certamente não há ministério maisnecessário na terra hoje do que esteministério tão vitalizante. Se nós mi-nistrarmos verdades que não emanamvida, estamos desperdiçando nossotempo. Deus não nos comissionoupara sermos meros transmissores deinformação sobre coisas divinas ouprofessores de moralidade. Ele nos li-bertou de nossos pecados para quepudéssemos ministrar vida a outros emvirtude da autoridade sacerdotal.

Vivemos em um mundo onde amorte reina. Diariamente multidõessão arrastadas por uma maré de morteespiritual. Por quê? Por causa da in-justiça. Precisa-se da atividade daque-les que aceitarão suas responsabilida-des sacerdotais, tanto pedindo vidapara outros quanto oferecendo vida aeles por meio do evangelho. Nós de-vemos ministrar Cristo. Não meras

doutrinas sobre Ele; não meras pala-vras ou manda-mentos, mas o impac-to vital de Cristo em termos de vida.Assim, todo crente é chamado para seposicionar entre os mortos e os vivosdando a resposta de Cristo para as ati-vidades de Satanás.

Não é de se admirar que o reino deSatanás esteve em guerra com Israel,pois a presença desta nação em umrelacionamento correto com Deus pro-clamava efetivamente que o pecado ea morte não reinam universalmente nomundo de Deus, mas foram enfrenta-dos e superados pelo poder de umavida justa e incorruptível. No fim, Is-rael perdeu este testemunho e, por con-seqüência, o ministério sacerdotal.

Então surgiu a Igreja, para dar con-tinuidade a este ministério, sendo nãomais um povo localizado em uma ter-ra, mas uma comunidade espiritualespalhada por toda a terra, um povocuja vocação suprema é manter a vi-tória de Deus sobre a morte, confor-me o testemunho de Jesus. E qual é otestemunho de Jesus? É o testemunhodo triunfo da vida sobre a morte. Elemesmo assim o descreveu a João: «[Eusou] aquele que vive; estive morto,mas eis que estou vivo pelos séculosdos séculos e tenho as chaves da mor-te e do inferno» (Ap. 1:18). Este teste-munho foi depositado na Igreja e ime-diatamente os discípulos o apresenta-ram poderosamente entre as nações.

Infelizmente, sob vários aspectos,a Igreja agora está falhando em suavocação sacerdotal. Esse elemento vi-tal da vida vitoriosa parece estar fal-tando. As cartas no início do livro deApocalipse mostram que Cristo não

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estava satisfeito com as muitas boasatividades, trabalhos zelosos, ensina-mentos corretos e persistência na orto-doxia das igrejas. Ele tentou chamá-lasde volta à sua verdadeira tarefa de de-monstrar o poder de Sua vida vitoriosaem face de qualquer desafio.

Que ministério nós queremos? Cor-rer de um lado para o outro assistindoconferências, dando palestras, apoian-do o trabalho cristão? Tudo isso podefazer parte, mas é de pequeno valor senão se encaixar no contexto da batalhasacerdotal contra a morte: trazer o im-pacto poderoso da vida vitoriosa de Cris-to para enfrentar o desafio da morte.

O livro de Apocalipse deixa claroque tal testemunho provoca a animo-sidade de Satanás, mas tal inimizadedeveria ser um elogio para nós, poissignifica que nossa vida está realmen-te fazendo diferença para Deus. O diaem que você ou eu não mais estiver-

mos envolvidos na batalha espiritualserá um dia ruim, pois significará queperdemos nossa verdadeira vocação enão estamos mais provendo um desa-fio real para a morte espiritual, masestamos fracassando no que tange aoministério sacerdotal. Por outro lado,o antagonismo doloroso das forças domal pode ser uma prova clara de quenós estamos verdadeiramente servin-do como sacerdotes.

Examinemos todas as coisas pelavida, a vida que é vitoriosa sobre opecado, a vida que liberta das cadei-as, especialmente da cadeia do medo,a vida que se expressa por meio doamor por pecadores necessitados. Joãonão apenas nos encoraja a orar porvida, mas nos assegura que Deus adará em resposta a tal oração: «e Deuslhe dará vida, aos que não pecam paramorte». Nós não devemos fracassarem nosso ministério sacerdotal!

* * *Veneno com etiqueta

Certa vez um oficial da igreja foi para o ministro para lhe dizer: "Pastor,a nós, os que são da congregação gostaríamos que não falasse tanto, nemcom palavras tão precisas, sobre o pecado. Pensamos que se as nossascrianças ao ouvirem pregar com tanta freqüência sobre o assunto, maisrapidamente chegarão a ser pecadores. Por que não chamá-lo um "erro"?Ou dizer, simplesmente, que muitas vezes os jovens são culpados de maujuízo? Mas, por favor, não fale tão abertamente do pecado."

O ministro atravessou o quarto, e de uma alta prateleira tomou umagarrafa de veneno e a mostrou ao visitante. A garrafa tinha uma etiquetacom estas palavras em grandes letras vermelhas: "Veneno, não toque!"."O que você quer que eu faça?", perguntou o ministro. "Pensa que seriamelhor que tirasse esta etiqueta clara, e pusesse outra que dissesse:"Essência de hortelã"? Você não vê que quanto mais se suaviza o nome daetiqueta, mais perigoso se torna o veneno?"

"O pecado, o mesmo pecado de sempre, que causou a queda de Adão, éo que padecemos hoje em dia, e nos fará mais dano que bem se tratarmosde disfarçá-lo com uma etiqueta atrativa e elegante".

Billy Graham, em Paz com Deus.

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33ÁGUAS VIVAS LEGADO

devem

Vocês têm que trabalhar até quechegue o dia em que todos osirmãos e irmãs se apresentem

para servir, o dia em que todos os san-tos participem, todos sirvam a Deus, ecada um seja um sacerdote. Então ver-dadeiramente vocês verão o que é aigreja.

Eu não sei se vocês viram este ca-minho ou não. Vocês têm que entendê-lo. Tudo depende de vocês. Vocêsmesmos devem dar-se a um certo nú-mero de pessoas, e eles por sua vezdevem dar-se a todos os irmãos e ir-mãs. Se vocês não podem fazer quetodos os irmãos e irmãs se levantempara servir a Deus e para tomar a res-

ponsabilidade nos assuntos da igreja,vocês terão fracassado totalmente, emvirtude disso não seria a igreja.

Vocês precisam mostrar aos anci-ões que não importa quanto se esfor-cem, eles são muito poucos para po-der dirigir os assuntos da igreja ade-quadamente. Eles somente são cuida-dores e não devem tratar de fazer tudosozinhos. Eles não devem substituir àigreja fazendo tudo; pois bem, devemfiscalizar à igreja para que tudo sejafeito. Não é uma questão de que elesmesmo façam, mas sim de fiscalizar,observar, encorajar, e lhes ensinar afazê-lo, e fazer que todos na igrejaparticipem. A partir desse momento

Watchman Nee

Um ensino prático sobre o serviço dos membros, dirigida aosirmãos que têm responsabilidade na obra e nas Igrejas.

servirTodos

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34 ÁGUAS VIVASLEGADO

vocês terão a realidade da igreja.Permitam-me dizer algo que tenho

dito por muitos anos. Hoje em dia te-nho um sentimento particularmenteprofundo a respeito. O número de pes-soas que servem determina o númerode pessoas na igreja. Daí que não devehaver mil ou cinco mil irmãos em umalocalidade e somente uns tantos ser-vindo. Em um lugar, a quantidade depessoas que prestam serviço é a quan-tidade de pessoas na igreja. O númerode sacerdotes determina o povo deDeus. Não devemos tolerar que ne-nhum membro careça de função. Porfavor, recorde que você, como mem-bro do corpo de Cristo, tem uma fun-ção. Se não entender este princípiobásico, não fará um bom trabalho.

Irmãos e irmãs, falando com fran-queza, vocês como obreiros e colabo-radores, não podem fazer a obra. Issonão é o Novo Testamento, mas sim umsistema de sacerdotes. Nós não temosum sistema de sacerdotes, e sim, umcorpo de sacerdotes. Cada um é umsacerdote.

Os de um talento devem servirVocês têm o hábito natural de usar

somente os que têm dois talentos. Ahistória da igreja sempre foi assim. Osque têm cinco talentos podem avan-çar por si só; não há necessidade decuidá-los. Mas os de um só talento émuito difícil lhes ajudar. Uma palavraou duas, e eles enterram seu talentode novo. Os de dois talentos, são osmais disponíveis. Têm certa habilida-de, eles podem fazer bem as coisas, enão enterram seus talentos. Mas sevocês somente podem usar os de dois

talentos, e não podem usar os de umtalento, fracassaram totalmente.

Tenho dito isto no Foochow, te-nho-o dito também em Shangai, e odirei de novo hoje. O que é a igreja?A igreja é todos os de um talento quedevem participar no serviço da igre-ja, na parte prática e na parte espiri-tual. Você não pode menear a cabeçae dizer: «Este é inútil», e «Aquele éinútil». Se você disser que este é inú-til e que aquele é inútil, a igreja estáacabada e você fracassou totalmen-te. Se você pensar que ele é inútil, eleverdadeiramente será inútil. Vocêpode dizer-lhe que de acordo a simesmo, ele presupõe ser inútil, masque o Senhor lhe deu um talento edeseja que todos os de um talento sai-am e negociem. O Senhor pode usá-los. Se você não pode usar os de umtalento, isso prova que diante do Se-nhor você não pode ser um irmão comresponsabilidade. Você tem que usara todos os irmãos e irmãs que são«inúteis». Este é o trabalho dos ir-mãos que estão na obra. Não devemusar somente os irmãos e irmãs úteis,mas sim também devem fazer quetodos os irmãos e irmãs inúteis sejamúteis.

O princípio básico é que o Senhornão deu a ninguém menos de um ta-lento. Na casa do Senhor, não há nemum só servo que não tenha um dom;cada um tem ao menos um talento enão pode ter menos de um talento.Ninguém pode desculpar-se dizendoque o Senhor não lhe deu um talento.Queria que vocês se dessem conta deque todos os filhos de Deus são ser-vos diante dele. Se são filhos, são ser-

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vos. Em outras palavras, se são mem-bros, têm um dom; se são membros,são ministros. Se pensarmos que háalguém a quem o Senhor não podeusar, não conhecemos nada da graçade Deus absolutamente. Devemos co-nhecer a graça de Deus tão profunda-mente que quando Deus chama a al-guém seu servo, nunca nos levante-mos para dizer que não o é. Hoje, sevocê pudesse escolher, talvez selecio-naria três ou quatro de toda a igreja.Mas Deus diz que todos são servos.Já que Deus diz isto, devemos deixá-los que sirvam.

Irmãos e irmãs, de agora em dian-te, se prosseguimos em nossa obra ounão, e se esta obra tem êxito ou não,depende do que podemos dizer hojede nossa obra diante do Senhor. Hásomente alguns trabalhando? Há sóalguns especialmente dotados fazen-do a obra? Ou todos os servos do Se-nhor participam do serviço e toda a

igreja está servindo? Este é todo o pro-blema. Se este problema não pode serresolvido, não temos nada.

O corpo de Cristo não é uma dou-trina, mas sim algo vivo. Todos deve-mos aprender isto: somente quandotodos os membros funcionam, temoso corpo de Cristo. Só quando todos osmembros funcionam, tem-se a igreja.

Pregar somente sobre o corpo deCristo é inútil; devemos deixar que ocorpo trabalhe e expresse suas fun-ções. Já que é o corpo de Cristo, nãodevemos temer que lhe faltem fun-ções. O Senhor deseja que cada mem-bro em cada localidade se levante esirva.

Se tenho razão, de acordo com omeu discernimento, é possível que ahora tenha chegado. As cartas que re-cebi de diferentes lugares e as notíci-as que ouvi de toda parte indicam quehoje em toda parte todos os santos es-tão preparados para apresentar-se paraservir. Deus tem ido adiante de nós;nós devemos seguí-lo.

É meu desejo que nenhum irmãoentre nós saia e em vez de guiar osirmãos e irmãs a servir, substitua-os,sendo assim um fracasso. Espero quequando você for a um lugar, no come-ço guie a oito ou dez para que sirvam,e depois de certo tempo eles guiarão asessenta, a oitenta, ou a cem para quesirvam ali. Então na próxima visita quevocê fizer, talvez veja mil ou duas milpessoas servindo. Isto é o correto. Sevocê tiver que usar os de cinco talen-tos reprimindo aos de um talento, vocênão é servo do Senhor. Você deve fa-zer que todos os de cinco talentos selevantem e sirvam, e que todos os de

Não admiro aqueles que sesobressaem. Eu gosto dosde um talento. O Senhorpoderia nos dar, em suagraça, mais Paulos e maisPedros, mas não o temfeito. O mundo inteiro estácheio de irmãos e irmãs deum talento. O que faremoscom esta gente? Onde va-mos pô-los?

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dois talentos se levantem e sirvam, etambém devem fazer que todos os deum talento se levantem e sirvam. Devefazer que se levantem e sirvam tam-bém aqueles que você pensa que nãosão úteis. Assim aparecerá a igreja glo-riosa.

Em Foochow preferiria ver todosos camponeses simples servindo, doque três ou cinco irmãos destacáveispregando. Não admiro aqueles que sesobressaem. Eu gosto dos de um ta-lento. O Senhor poderia nos dar, emsua graça, mais Paulos e mais Pedros,mas não o tem feito. O mundo inteiroestá cheio de irmãos e irmãs de umtalento. O que faremos com esta gen-te? Onde vamos pô-los?

Neste treinamento aqui na monta-nha, se Deus tratar verdadeiramentecom nosso eu e com nosso trabalho atal ponto que saiamos a prover umamaneira para que todos os de um ta-lento sirvam, pela primeira vez a igre-ja começará a ver o que é o amor fra-ternal, e Filadélfia aparecerá.

O serviço sacerdotalPrimeiro, devemos estabelecer o

princípio de que todos os filhos deDeus são sacerdotes que devem ser-vir a Deus. Tendo em conta este prin-cípio, vejamos como podemos guiara todos os irmãos e irmãs a ser sacer-dotes em uma igreja local.

Em outras palavras, vejamos queclasse de reparos devemos fazer notrabalho espiritual a fim de que todosos crentes possam participar das coi-sas espirituais, tanto os novos crentescomo os que conheceram ao Senhorpor muitos anos. Precisamos ver quais

coisas espirituais em uma igreja localpodem ser atendidas pelos irmãos eirmãs.

O primeiro, é a pregação do evan-gelho. O segundo, visitar os novoscrentes trazendo-os pelo caminho retoe lhes mostrando como ser cristãos. Oterceiro, na igreja há muitas outrasnecessidades. Alguns crentes têm di-ficuldades em suas famílias; algunstêm enfermidades; outros sofrem po-breza; outros têm mortes ou outrosacontecimentos em suas famílias. Estagente também necessita do serviço eda ajuda da igreja. Podemos qualifi-car tais serviços como visitas aos queestão em situações especiais. Esta éoutra coisa que podem fazer todos osirmãos e irmãs. O quarto assunto é ocuidado dos irmãos que se mudarampara longe, e dos que chegaram deoutro lugar.

Na Bíblia, a igreja é uma igreja queprega o evangelho, uma igreja que vi-sita às pessoas, e uma igreja que cuidade outros. É o corpo de Cristo em umalocalidade. No corpo de Cristo não hámembros inativos. Se algum dia pu-desse haver um grupo de irmãos ouinclusive uma igreja inteira, em quetodos servem, todos cuidam das coi-sas espirituais adequadamente, todostomam responsabilidade, e todos es-tão ocupados, então isso seria o ver-dadeiro corpo de Cristo.

Se houver uma igreja local comdois mil irmãos e irmãs, e somentequinhentos servem, enquanto mil equinhentos não o fazem, deveria nosparecer algo estranho. Se houver qui-nhentos irmãos e irmãs, devem ser,então, quinhentos os que servem; de

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outra maneira, os irmãos mais respon-sáveis não poderão agüentar a carga.

O serviço levíticoHá também outra área de serviço,

o serviço levítico, que se refere ao ser-viço dos assuntos práticos. No AntigoTestamento, os levitas lavavam os be-zerros, derramavam o sangue, levavampara fora o esterco, ajudavam a esfolaras ofertas e também transportavam oequipamento do tabernáculo. Todasestas coisas são o serviço levítico.

Sem importar que classe de assun-to seja, todos devem pôr as mãos nis-so. Há muitas coisas que podemosconsiderar diante do Senhor: o traba-lho da limpeza; o acerto do salão e otrabalho de acomodar; a necessidadede encarregar-se do partir do pão e dosbatismos; dar aos pobres entre os in-crédulos; cuidar dos pobres que há naigreja; a recepção e envio de irmãos;a contabilidade; o serviço da cozinha;a oficina de serviço; o serviço de trans-porte; o trabalho do escritório; a ajudaaos irmãos pobres em seus afazeresdomésticos.

Eu sempre espero que cada irmãoe irmã tome encargo pelos assuntospráticos. Nunca permita que existauma situação onde alguns tenham oque fazer enquanto que outros não es-tejam fazendo nada. O serviço da igre-ja sempre é para todos.

Terá que tratar com a carne dos deum talento sem prescindir deles

Se o Senhor puder realmente abrirpassagem em nosso meio, o caminhoque tomamos nos últimos dez, vinteou trinta anos será completamente

mudado. O ponto de vista de vocês nãopode ser o mesmo de antes; tem queser quebrantado e esmagado.

Primeiramente, vocês não devemusar a um irmão somente porque é útilnem deixá-lo fora se não o for. Na igre-ja nenhum membro deveria ser deixa-do fora. Esta não é a maneira que pro-cede o Senhor. Hoje em dia, se o Se-nhor tiver que recuperar seu testemu-nho, ele deve fazer que todos os mem-bros de um talento se levantem. To-dos os que pertencem ao Senhor sãoos membros do corpo. Cada um develevantar-se e deve estar em sua fun-ção. Se isto ocorrer, vocês verão a igre-ja. Hoje em dia, enquanto vocês estãoaqui na montanha, considerem cadalugar. Vocês quase têm que dizer:Onde está a igreja? Onde está Cristo?Parece que nem a igreja nem o Senhorestão por aí. Quando saírem para tra-balhar, nunca desprezem os membrosde um talento, nunca os substituam,nunca os reprimam. Têm que confiarneles de todo coração. Vocês devemfazer que eles trabalhem. Se Deus tema segurança de chamá-los a ser ser-vos, vocês também devem ter a segu-rança de chamá-los a ser servos.

Em segundo lugar, na igreja nãotememos às atividades carnais. Duaslinhas têm que ser estabelecidas na igre-ja: alguém é a autoridade e a outra é odom. Todos os de um talento tem quevir e servir, trabalhar e dar fruto. Vocêstalvez perguntem: «Se todos os de umtalento aparecem com a sua carne etudo, o que faremos?». Deixem-me di-zer-lhes que a carne deve ser tratada, ea maneira de tratá-la é usar a autorida-de que representa a Deus.

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O dom e a autoridade são duascoisas completamente distintas; o domé o dom e a autoridade é a autoridade.Os de um talento devem usar seu dom.E com os que são carnais, vocês de-vem fazer uso da autoridade. Se umirmão permitir que sua carne interfiraenquanto está trabalhando, deve dizer-lhe: «Irmão, isso não está bem. Vocênão deve deixar que sua carne interfi-ra». Digam-lhe: «essa atitude é incor-reta. Não permitimos que tenha essaatitude». Quando lhe falarem dessamaneira, no dia seguinte provavelmen-te ele irá para a sua casa e desde entãonão fará mais nada. Então vocês têmque buscá-lo e dizer-lhe: «Não, vocêainda tem que fazer o trabalho». Épossível que a carne surja de novo,mas mesmo assim vocês devem dei-xar que faça o trabalho. Devem lhedizer de novo: «Você deve fazer isto,mas não lhe permitimos que faça aqui-lo». Sempre faça uso da autoridadepara tratar com ele.

Esta é a maior prova. Uma vez queo Senhor use aos de um talento, a car-ne deles imediatamente se misturará.A carne e «um talento» estão unidos.Devemos resistir a carne, mas temosque usar aos de um talento. A situaçãode hoje em dia é que nós enterramos a

carne, eles enterram o talento, e a igre-ja fica sem nada. Isto não pode acon-tecer! Temos que fazer uso da autori-dade para tratar com a carne, mas tam-bém temos que pedir-lhes que mani-festem seu talento. Talvez digam: «Setrabalho, não está bem, e se não o faço,tampouco está bem. Então o que fa-rei?». Vocês devem lhes dizer: «Éobvio, que se trabalhar e introduzir acarne prejudica; mas se não trabalhar,também prejudica porque enterra o ta-lento. O talento deve entrar, mas nãoa carne».

Na igreja, pode manter-se a auto-ridade e pode incluir-se funções detodos os membros, você verá umaigreja gloriosa na terra e o caminhoda restauração será fácil. Não seiquantos dias mais o Senhor pôs dian-te de nós. Creio que nosso caminhoserá mais e mais claro. Temos que usartodo nosso entendimento e todas asnossas forças para que todos os irmãose irmãs se levantem para servir. Quan-do esse tempo chegar, a igreja serámanifestada, e o Senhor retornará. Queo Senhor seja misericordioso e tenhagraça para conosco, para que façamoso melhor.

Extraido de uma mensagem que o autor deua obreiros e colaboradores na China, em 1948.

* * *Morrer e viver

Santificação, que é um dos temas dominantes da Bíblia, é explicada devárias formas pelos que a ensinam. A definição mais correta, entretanto, éaquela que Paulo gostava tanto de usar, que é a santificação como umprocesso de morrer e viver, ou da mortificação e vivificação. A verdadeiravida vitoriosa é aquela em que Cristo cresce, e o eu decresce.

Herbert Lockyer, no À Maturidade, Nº 28, 1996.

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A exemplar e controvertida história de Nee To Sheng, maisconhecido como Watchman Nee.

Watchman Nee, cujo nomeem chinês é Nee To-sheng,nasceu na cidade do Fu-

chou, em 4 de novembro de 1903. Erafilho do Nee Weng-hsiu, um homemde caráter aprazível e Lin Huo-ping,uma mulher de vontade firme 1. Pormotivo de anteriormente não teremtido um homem, sua mãe prometeu aDeus que, se fosse homem, o oferece-ria.

No princípio, segundo as tradiçõesfamiliares, foi chamado Nee Shu-tsu,que significa: «Aquele que proclamaos méritos de seus antepassados».

Mais tarde, consciente de sua novamissão na vida, decidiu chamar-se NeeChing-fu («Aquele que adverte ouexorta»), mas lhe pareceu muito con-tundente. Finalmente, sua mãe lhe pro-pôs To-Sheng, que significa «nota degongo (ou matraca) que escutada delonge», que era usada pelos sentine-las. Ele se sentia chamado pelo Senhorcomo um sentinela, para fazer soar seugongo às pessoas na noite escura. En-tre os crentes de fala inglesa o chama-ram Watchman Nee, que significa ‘vi-gia’.

Nee To-Sheng pertencia a uma fa-mília de uma rica história cristã, poisseu avô, Nee Ou-cheng foi o primeiro

que veio da

1 Em chinês o sobrenome se coloca em primeirolugar e depois os nomes de batismo.

vigiaO

China

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pastor chinês nessa grande região, eum grande expositor da Bíblia. Seupai, Nee Weng-hsiu foi o quarto denove filhos homens. Por ser um estu-dante avantajado, obteve o posto deoficial menor de alfândegas.

Primeiros anosA infância de To-Sheng transcor-

reu em um lar de severos princípios.Huo-ping levava as rédeas da casacom mão firme. Inculcava em seus fi-lhos a ordem, a limpeza, e sobre tudo,instruía-lhes na fé. A música era umgrande passatempo para os meninos,onde aprenderam muitos hinos ecânticos cristãos.

Na idade de treze anos, To-Shengingressou no Ensino médio, na Esco-la Trindade de Fuchou, de orientaçãoocidental. Este Colégio era a porta paraobter emprego na Missão ou do Esta-do, e dali os jovens subiam para posi-ções de influência.

Nee era muito bom aluno, e bas-tante vaidoso. Inclusive sua estaturaultrapassava a da maioria. Por essetempo, o ‘mandarim’ começou a mu-dar para o chinês literário clássico nostextos escolares, o que tornou maisfácil o acesso à literatura. Nee se con-verteu em um ávido leitor. Começoua escrever artigos para os periódicos,e com o dinheiro obtido compra-va bilhetes de loteria. Também gosta-va muito de cinema.

Quando os ventos da revoluçãoenvolveram o país, o lar dos Nee seviu envolvido. Huo-ping participouativamente da política e dos eventossociais, afastando-se pouco a pouco doSenhor. Sua casa passou a ser um cen-

tro político-social, onde se reuniam asmulheres para jogar cartas.

Chega o dia da féPor este tempo ocorreu um fato

muito significativo na casa dos Nee.Um dia de janeiro de 1920, Huo-pingencontrou quebrado um caro adornoda casa. Depois de investigar rapida-mente, achou que To-Sheng era o cul-pado. Como este não o admitiu, foicastigado severamente. Mais tarde elasoube que ele era inocente, mas não ofez saber. To-Sheng se encheu de dore ressentimento para com sua mãe. Asrelações ficaram quebradas por algumtempo.

Esse mesmo mês chegou à cidadeYu Tsi-tu (Dora Yu), uma missionáriamuito conhecida, para dirigir duas se-manas de reuniões evangelisticas emuma congregação metodista. Nessasreuniões Hou-Ping se reencontrou como Senhor, e seu lar recebeu imediata-mente o impacto desta experiência.

Um dia, enquanto ela tocava e can-tava hinos em uma reunião familiar,foi impulsionada pelo Senhor a pedirperdão a seu filho pela injustiça co-metida. Este fato, insólito em uma cul-tura como a China que ensina que ospais nunca se equivocam, tocou o co-ração de To-Sheng, e o sensibilizoupara a fé. Antes que finalizassem asreuniões, este também se entregou aoSenhor. Tinha 17 anos de idade.

Preparação para o ministérioReceber ao Senhor e consagrar-se

por completo, foram para ele uma sócoisa. Anteriormente tinha considera-do algo indigno ser um pregador –

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devido ao triste exemplo dos prega-dores chineses contratados pelos es-trangeiros. Mas agora não concebiadedicar sua vida a outra coisa que nãoseja servir a Deus. De modo que co-meçou imediatamente a fazer os acer-tos necessários.

De todas as disciplinas do colégio,a mais descuidada tinha sido a da Bí-blia, tanto que estava acostumado a usar«colas» nos exames. Agora abandonouessa prática e confessou sua falta aodiretor do colégio –com risco de serexpulso e perder o direito a uma bolsade estudo–. A falta foi-lhe perdoada.

Nos meses seguintes, aproveitan-do os distúrbios sociais que tornavamuito irregular o ano escolar, foi, coma permissão de seus pais, a Shangaipara estudar na Escola Bíblica da se-nhorita Yu. Por um ano se dedicou aosseus estudos, onde aprendeu a rece-ber em seu coração a mensagem dapalavra de Deus (e não só no intelec-to), e o segredo de confiar somente emDeus para as suas necessidades mate-riais. Entretanto, ele mesmo, reconhe-ce que aquilo foi um fracasso: «Nãopassou muito tempo para que ela (DoraYu), cortesmente, desvinculasse-me doInstituto, com a desculpa de que era-me inconveniente permanecer ali maistempo. Por causa do meu «bom apeti-te», de minhas roupas inadequadas edo meu costume de me levantar tarde,a irmã Yu pensou que seria melhor memandar para casa. Meu desejo de ser-vir ao Senhor sofreu um forte reverso.Embora pensasse que minha vida ti-nha sido transformada, na verdadeainda restavam muitas outras coisasque deviam ser mudadas».

De retorno a Fuchou, retomou seusestudos regulares, mas com uma novavisão. Por sugestão de uma missio-nária, elaborou uma lista com os no-mes de 70 moços do Colégio e come-çou a orar sistematicamente por cadaum deles, testemunhando-lhes emcada oportunidade que se apresenta-va. No princípio riam dele, pois sem-pre levava a Bíblia consigo, e a lia emtodo momento. Mas pouco a poucocomeçaram a converter aqueles com-panheiros, com exceção de um só.Formou-se assim um grupo de entusi-astas evangelistas que testemunhavamna escola e pelas ruas, repartindo tra-tados, levando cartazes e acompanha-dos de um sonoro gongo.

Por este tempo, Nee conheceu a M.S. Barber, uma ex-missionária angli-cana que agora trabalhava de formaindependente, e que vivia nos subúrbi-os de Fuchou. A srta. Barber, acompa-nhada de seu compatriota, M. L. S.Ballord, compartilhavam o evangelhoentre as mulheres da localidade, e ora-vam intensamente por um mover deDeus na China. M. S. Barber estavaacostumada a ajudar os jovens que pro-curavam ser guiados pelo Senhor; poralgum tempo houve até sessenta jovensrecebendo ajuda dela. Ela chegou a serum verdadeiro conselheiro na vida deTo-Sheng, a influência viva maior paraele, comparável só a de T. Austin-Sparks, alguns anos mais tarde.

Um progresso dessa influência severificou pouco tempo depois, no diaque To-Sheng e sua mãe desceram àságuas do batismo para ser batizadospor ela. Nee estava acostumado a di-zer que foi por meio de uma irmã que

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ele foi salvo e também foi por meiode uma irmã que ele foi edificado.Mais ainda, ele recebeu muita ajudade outras duas irmãs mais velhas: RuthLee e Peace Wang.

Avivamento entre os jovensNo princípio de 1921 chegou a

Fuchou um jovem de nome Wang Tsai(conhecido também como LelandWang), que aos 23 anos de idade ti-nha renunciado a seu posto na Mari-nha para servir ao Senhor total-mente. Brevemente entrou em conta-to com To-Sheng e seus amigos. Comoera um pouco mais velho que eles, ede maior experiência, converteu-se emseu líder. A amizade entre Wang Tsaie To Sheng chegou a ser muito estrei-ta, pois compartilhavam o mesmo zeloevangelistico.

No ano 1922, no lar de Wang Tsaicelebraram pela primeira vez A Ceiado Senhor, sem sacerdote nem pastor,com a assistência só de três pessoas:Wang Tsai, sua esposa e To-Sheng.Sentiram tal gozo e liberdade, que co-meçaram a fazê-lo com freqüência.Semanas depois uniram-se a eles amãe de Nee e outros irmãos.

No final desse mesmo ano come-çou um verdadeiro avivamento entreos jovens, logo depois da visita à ci-dade da evangelista Li Yuen-ju. Quan-do ela se foi, os jovens ministros seencarregaram das pregações. Uns saí-am para convidar pelas ruas, e o Espí-rito Santo atraía a um número cada vezmaior de pessoas. A cidade de Fuchou,de 100.000 habitantes, foi grande-mente comovida por este movimentoespiritual.

Por causa da necessidade, tiveramque alugar uma casa maior. To-Shenge outro irmão passaram a viver ali, paraestar disponíveis para os jovens a todahora. Em seguida começaram a sair60 a 80 jovens para outros povos, parapregar, aproveitando os feriados e fé-rias. Sua mensagem era ouvida e res-peitada pelos rústicos camponeses,pois eles eram jovens cultos.

As primeiras lições espirituaisNos dias de sábado, Nee ia ver a

Srta. Barber para estudar a Bíblia e serrepreendido. Quando não havia nadanele que merecesse uma repreensão,ela fazia pergunta até encontrar algu-ma falha, e então o repreendia. Assim,ele recebeu suas mais importantes li-ções espirituais.

Nee era muito zeloso a respeito defazer sempre o correto e o justo. Elefazia parte de um grupo de sete obrei-ros, que se reuniam tadas as sextas-feiras. Muitas dessas reuniões se tor-naram envolvidas por discussões en-tre Nee e Wang Tsai, quem, segundoNee, insistia em impor a sua vontadesó por ser o mais velho. Outros obrei-ros, geralmente tomavam partido porWang Tsai. Nee se sentiu muitas ve-zes ofendido e procurou luz na irmãBarber. Ela, contrariamente ao que eleesperava, disse-lhe que devia sujeitar-se aos mais velhos, sem lhe dar maio-res explicações. Esta dolorosa experi-ência se repetiu durante 18 meses, econcluiu quando ele se rendeu e acei-tou ocupar o segundo lugar.

Nee o explica assim: «Eu era sem-pre o primeiro aluno tanto em minhaclasse como da escola. Também que-

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ria ser o primeiro no serviço ao Se-nhor. Por essa razão, quando me tor-nei o segundo, eu desobedeci. Disserepetidamente a Deus que aquilo eramuito para mim. Eu estava recebendomuito pouca honra e autoridade, e to-dos se alinhavam com meu cooperadorde mais idade. Mas eu adoro a Deus elhe agradeço do profundo do meu co-ração por tudo isso. Foi o melhor trei-namento. Deus desejava que eu apren-desse a obediência, por isso ele dis-pôs que eu encontrasse muitas dificul-dades. Assim, com o tempo, fui enchidode alegria e paz em meu caminho es-piritual».

Outra importante lição espiritualque Nee recebeu da srta. Barber foienfatizar a vida antes que a obra, poisa Deus importa mais o que somos doque o que fazemos para ele. Tambémlhe advertiu sobre o perigo da popula-

ridade, que se constitui em um instru-mento de sedução para os jovens pre-gadores.

Um episódio familiar ocorrido nes-te tempo deixou um profundo ensinoem Nee. Deus lhe mostrou que duran-te as férias deveria ir pregar numa ilhainfestada de piratas. Aceitou o chama-do, e fez os preparativos. Quando tudoestava preparado, e muitos irmãos secomprometeram, seus pais lhe opuse-ram. O que fazer? Consultou a Deus esentiu que devia obedecer a seus pais.Embora era o desejo de Deus que fos-se pregar na ilha, esse propósito fica-va em Suas mãos para seu cumprimen-to. Como To-Sheng não se sentiu coma liberdade de dar a conhecer as ra-zões de sua deserção, ganhou umageneralizada repulsa por parte dos ir-mãos.

Mais tarde, pôde interpretar essaexperiência objetivamente à luz dacrucificação. A revelação da vontadede Deus pode ser clara, mas o cum-primento dessa vontade para nós podeser em forma indireta. «Nossa estimade nós mesmos se alimenta e nutreporque dizemos: Eu estou fazendo avontade de Deus! e nos leva a pensarque nada deve interferir em nosso ca-minho. Mas certo dia Deus permiteque algo cruze em nosso caminho pararebater essa atitude. Do mesmo modoa cruz de Cristo, atravessa, não na nos-sa vontade egoísta, mas sim, emborapareça estranho, no nosso zelo e amorpelo Senhor! Isto é muito difícil deaceitar».

De fato, naquele momento, não foicapaz de fazê-lo.

Quando Nee concluiu seus estudos

Receber ao Senhor e con-sagrar-se por completo,foram para ele uma sócoisa. Anteriormente tinhaconsiderado algo indignoser um pregador – devidoao triste exemplo dospregadores chineses con-tratados pelos estran-geiros. Mas agora nãoconcebia dedicar sua vidaa outra coisa que não sejaservir a Deus.

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no Colégio Trindade, aos 21 anos deidade, teve a satisfação de ser um dosdois melhores alunos –junto a WangTse–, e sobre tudo, de ter ganho umgrande número de convertidos, tantono colégio, como na cidade e seus ar-redores. A criação de uma pequenarevista mimeografada, O Presente Tes-temunho, cuja primeira tiragem foi de1400 exemplares, tinha contribuídopara o crescimento espiritual dos con-vertidos e dos obreiros jovens.

Uma desilusão amorosaNa mesma cidade de Fuchou vi-

via uma família de sobrenome Chang.O pai, Chang Chuenkuan era um que-rido amigo cristão, que chegou a serpastor da Aliança Cristã e Missionária,e parente longínquo do pai de To-Sheng. Seus filhos eram da mesmaidade e as duas famílias caminhavammuito bem. A pequena Pin-huei (co-nhecida também como Charity) anda-va sempre correndo atrás de To-Sheng.Em suas travessuras e entretenimen-tos todos os consideravam como o «ir-mão mais velho».

Quando os jovens cresceram, To-Sheng começou a interessar-se por Pin-huei, sua ex-companheira, que era bo-nita e inteligente. Entretanto, seus inte-resses diferiam muito. Enquanto Neefazia a firme decisão de dedicar-se ple-namente a pregação do evangelho, Pin-huei se converteu em uma jovem mun-dana. Quando Nee lhe compartilhavao evangelho, ela zombava de Deus edele.

Um dia que To-Sheng lia o Salmo73:25: «Fora de ti nada desejo na ter-ra», o Espírito de Deus o compungiu

porque ele não podia dizer o mesmo.«Sei que tem um desejo consumidorna terra. Deve renunciar ao que sentepela senhorita Chang. Que qualidadestem ela para ser a esposa de um pre-gador?». Sua resposta foi uma tentati-va de fazer um pacto com o Senhor.«Senhor, farei algo por ti. Se quiser queleve suas boas novas às tribos que ain-da não foram alcançadas, inclusive noTibete, estou disposto a ir; mas nãoposso fazer isto que me pede».

Com este sentimento atado ao seucoração, lançou-se a pregar o evange-lho com maior afinco. Por outro lado,Pin-huei se entregou a uma vida deestudo e compromissos sociais.

Pouco tempo depois, ao compro-var que ela não se interessava pelascoisas do Senhor, mas sim persistia emseguir o mundo, decidiu esquecê-la.Foi a sua casa, ajoelhou-se e confiouo assunto de forma firme e definitiva-mente a Deus, e escreveu sua poesia«Amor sem limites». Era 13 de feve-reiro de 1922.

Seu amor, amplo, alto, profundo, eterno,É na verdade imensurável,Pois só assim pôde abençoar tantoA um pecador como eu.Meu Senhor pagou um preço cruelPara me comprar e fazer-me dele.Não posso senão levar a sua cruz com gozoE lhe seguir firmemente até o fim.A tudo eu renuncioPois Cristo é agora a minha meta.Vida, morte, o que podem me importar?Por que tenho que lamentar o passado?Satanás, o mundo, a carneProcuram me apartar.Oh, Senhor, fortalece a sua frágil criatura,Não aconteça que traga desonra ao seu

nome!(tradução livre)

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45ÁGUAS VIVAS ESPIGANDO NA HISTÓRIA DA IGREJA

Entretanto, Deus não havia dito aúltima palavra. Passariam ainda dez anosantes que este capítulo se fechasse.

Outras lições espirituaisMuitas lições espirituais foram

aprendidas por Nee neste tempo. Porexemplo, recebeu um golpe no seu egoao comprovar que muitas mulherescristãs analfabetas, conheciam mais aoSenhor do que ele, apesar de todo oseu conhecimento bíblico. «Eu conhe-cia o livro que elas quase não podiamler, enquanto que elas conheciamAquele de quem fala o Livro».

Quanto ao seu sustento, tambémrecebeu um ensino definitivo. Comojá tinha deixado o Colégio, deveriapensar em como confiar em Deus parasuprir suas necessidades materiais. Asmissionárias lhe tinham emprestadolivros sobre as vidas de fé de JorgeMüller e Hudson Taylor, quem tinhacrido inteiramente em Deus. A mes-ma Margaret Barber era um vivoexemplo disso. Assim, To-Sheng de-cidiu tomar o mesmo caminho.

Por este tempo teve também umaexperiência especialmente dolorosa:por razões que não estão claras, foiexcluído da comunhão com os irmãos.A decisão foi comunicada por cartaquando ele estava longe. Como é na-tural, sua primeira reação foi deirritação, mas o Senhor falou em seucoração. Ao chegar à cidade, muitosirmãos lhe esperavam para solidarizarcom ele, mas ele lhes disse que o Se-nhor não lhe permitia defender-se, queabandonaria a cidade para não provo-car uma divisão, e que eles deveriamficar quietos. Nesta situação ele apren-

deu a quedar-se de maneira prática atomar a cruz e seguir ao Senhor.

De um testemunho dado por Neeem outubro de 1936, pode-se deduzirque o motivo pôde ser a diferente ên-fase em fazer a obra de Deus, o deles,era evangelístico, e o de Nee era aedificação das igrejas que iam nascen-do. Um autor diz que a causa foi queNee se opunha à ordenação de umdeles por um missionário deno-minacional.

Seja como for, o certo é que, empouco tempo, muitos deles se arrepen-deram de tê-lo excluído. Um deles dis-se: «Agimos muito nesciamente, maspossivelmente estávamos muito influ-enciados por ciúmes, pois o irmão Neeera muito mais dotado que nós».

Quando Nee era ofendido por al-guém, não guardava rancor. Ao con-trário, estava acostumado a dizer: «Osirmãos que pecam são como meninosque caem em um atoleiro com barro.Seus vestidos e cabelos se sujam. Masdêem um banho neles e estarão nova-mente limpos. No futuro, todos os ir-mãos e irmãs serão pedras preciosastransparentes na Nova Jerusalém».

Outro forte golpe recebeu Nee emjaneiro de 1925, quando foi sugeridopor seu amigo Wang Tsai que não as-sistisse à convenção de Fuchou, por-que as críticas à obra se centravamnele. Este pedido abalou sua paz emCristo e o abateu numa profunda de-silusão. Entretanto, recebeu do Senhoras seguintes palavras: «Deixa seus pro-blemas comigo. Vai e prega as boasnovas!».

Em uma dessas saídas para pregar,teve uma maravilhosa experiência

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com o povo de Mei-fuja, que Nee re-lata em seu livro «Sentem-se, Andem,Estejam firmes». Foi a esse povo comum pequeno grupo de seis jovens. Osvizinhos ali tinham anualmente umacelebração em honra ao seu deus Lha-wang. Eles confiavam tanto em seudeus, desta maneira não precisavamcrer em Cristo. Um dos jovens cris-tãos desafiou ao deus Lha-wang, eDeus lhes deu uma maravilhosa vitó-ria, humilhando ao ídolo e abrindo ocaminho para a fé.

Um ministro preparadoWatchman Nee nunca freqüentou

uma escola teológica ou Instituto bí-blico. Mas estava consciente de queDeus queria servos preparados, porisso se dedicou a estudar e meditar naPalavra de Deus, e a ler extensamentetanto comentários bíblicos como bio-grafias de destacados servos de Deus.Sua capacidade era tal, que podia com-preender, e memorizar muito materialde leitura em muito pouco tempo. Elefacilmente podia detectar os temas deum livro com uma rápida olhada.

Nee encontrou muita ajuda pesso-al nos escritos de Andrew Murray e F.B. Meyer, sobre a vida prática de san-tidade e libertação do pecado. Tam-bém leu sobre Charles Finney, EvanRoberts e o avivamiento de Gales;pesquisou nos livros de Otto Stock-mayer e Jessie Penn-Lewis sobre aalma e o espírito, e a vitória sobre opoder satânico. Seguindo o exemplode Govett, Panton e Darby, Nee viu anecessidade de procurar uma formamais primitiva de adoração que a ofe-recida pelas denominações, as que

nesse tempo ofereciam já um tristeespetáculo de frouxidão e religiosida-de morta.

Por meio de M. Barber, Nee se fa-miliarizou com os livros de MadameGuyon, D. M. Panton, Robert Govett,G. H. Pember, William Kelly, C. H.Mackintosh, entre outros.

No começo de seu ministério, eleinvestia um terço de seus ganhos emsuas necessidades pessoais, um terçopara ajudar a outros, e o terço restantepara comprar livros. Ele fez um acor-do com algumas livrarias de livrosusados de Londres de que sempre queeles recebessem algum livro dos au-tores que lhe interessavam, que os re-metessem imediatamente.

Ele chegou a ter uma coleção demais de 3.000 volumes dos melhoreslivros cristãos. Quando ainda era umjovem, o quarto de Nee estava quasecheio de livros. Havia livro no chão, euma pilha em cada lado da cama, dei-xando apenas espaço para deitar-se.Muitos comentavam que ele estavaenterrado em livros. Entretanto, suaprincipal leitura sempre foi a Bíblia,que lia sistematicamente cada dia, atécompletar ao menos uma leitura doNovo Testamento ao mês.

Apesar de sua saúde ser precária,repartia seu tempo entre seus estudos,a obra, e a edição de sua pequena Re-vista cristã. A revista era publicada emforma irregular à medida que Deus lheenviava dinheiro por meio de peque-nas ofertas, e era distribuída sem peso.Seu nome começou a ser conhecido,e já recebia convites para dar seu tes-temunho e pregar.

Sua mensagem era muito nova

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para a sua época, pois expunha de for-ma singela e clara que o único cami-nho para Deus é por meio da obra con-sumada de Cristo. Muitos cristãos seesforçavam por obter a salvação combase nas suas próprias obras, o que, aprincípio, não se diferenciava muitodo budismo. Pregava também que paraos crentes não era suficiente receber operdão dos pecados e a segurança dasalvação, pois só representava o pon-to de partida. Era um evangelho paraos crentes.

Nos próximos anos, o peregrinarespiritual de Nee o levou a ministrar aestudantes de Colégios e Seminários,a colaborar com a revista Luz Espiri-tual, dirigida por Li Yuen-ju, a trocaro nome de sua própria revista Aviva-mento, por o de O Cristão, e a estabe-lecer em Shangai a sua base de opera-ções.

Enfrentando uma grande provaEntretanto, o que abalou profun-

damente sua vida neste tempo foi umproblema de saúde. Os problemas ti-nham começado em 1924 com ape-nas uma leve dor no peito. O médicoque o examinou lhe disse que era umatuberculose, por isso seria necessárioum prolongado descanso. Passadosalguns meses de cuidados especiais, aenfermidade não cedia. Um novo exa-me indicou que a enfermidade tinhaavançado. O prognóstico do médicofoi muito desalentador: «Tem tuber-culose avançada em seus pulmões.Volte para sua casa, descanse e comamantimentos nutritivos. É tudo o quepode fazer. Pode ser que melhore.»Todas as tardes tinha febre e pelas

noites transpirava e não conseguiadormir. Para pregar tinha que realizarum imenso esforço, que o deixavaexausto.

Tinha tido tantos planos, tantasesperanças de grandes coisas. AgoraDeus lhe dizia que não. Começou aexaminar-se. Surgiu nele um desejo deser puro diante de Deus, confessandopecados, procurando assim uma ex-plicação do que ele pensava ser o abor-recimento de Deus.

Quando retornou a Fuchou porcausa de assuntos familiares, Nee teveuma experiência inesquecível. Por es-ses dias andava muito debilitado edoente; seu aspecto era bastante de-plorável para um jovem como ele.Encontrou-se na rua com um antigoprofessor do Colégio Trindade. Portradição, os estudantes chineses têmem alta estima os seus professores,voltando para eles para lhes agrade-cer cada vez que obtinham algum êxi-to. O professor o convidou para tomarchá, e censurou o seu fracasso: «Tí-nhamos um alto conceito de você naescola e tínhamos esperanças de queconseguiria algo importante. Não an-dou nem um centímetro para frente?Não progrediste? Não tem carreira,nada? Nee, por um momento, sentiu-se muito envergonhado. Mas de repen-te, segundo conta, «soube o que erater o Espírito de glória sobre mim.Podia levantar os olhos e dizer: Se-nhor, te louvo porque tenho escolhidoo melhor caminho. Para meu profes-sor era um desperdício total servir aoSenhor Jesus; mas essa é a finalidadedo evangelho: entregar tudo a Deus».

Mas sua enfermidade não cedia, e

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sua mãe, Fujo-ping teve a impressão,ao lhe ver, que lhe faltava muito pou-co tempo. Nesses dias recebeu novaluz em 2 Corintios, a carta autobio-gráfica de Paulo, sobre o vaso de bar-ro, que lhe animou e consolou em suaprópria fraqueza.

Dentro das forças que escassamen-te possuía, se dedicou a tarefa de ter-minar um livro que tinha começadopouco tempo antes, sobre o homemde Deus, que descrevia em formaconscienciosa o espírito, alma e cor-po. Logo depois de escrever algunscapítulos, o abandonou por considerá-lo muito teórico; mas, em vista do pou-co tempo que restava, decidiu tentarterminá-lo. Parecia-lhe que seria umaperda não compartilhar a respeito dassuas experiências espirituais antes demorrer.

Graças à oração persistente e oapoio de numerosos irmãos e irmãs,conseguiu concluir em quatro meseso primeiro volume do Homem Espiri-tual. Para escrever, sentava-se em umacadeira de encosto alto e apertava seupeito contra a escrivaninha para alivi-ar a dor. Da irmã Ruth Lee recebeuajuda para a revisão literária do livro,e o publicou em Shangai. Alguns anosdepois, em junho de 1928, Nee con-seguiu terminar o restante.

Foi o primeiro livro que escreveue o último, pois todos os seus outroslivros são recopilações de mensagensorais. Mais tarde, Nee não aceitou fa-zer novas reimpressões do HomemEspiritual, porque lhe parecia muitoperfeito e sistemático. Pensava que osleitores corriam o perigo de um en-tendimento intelectual das verdades,

sem sentir a necessidade do EspíritoSanto. Além disso, a parte sobre a lutaespiritual enfatizava só o aspecto in-dividual, mas mais tarde teve mais luzpara ver que era um assunto do Corpode Cristo e não do indivíduo.

Depois de concluído o livro, Neeorou a Deus: «Agora permite a seuservo partir em paz». Nesses dias, suaenfermidade piorou a tal ponto quepelas noites suava copiosamente, e nãoconseguia dormir. Era apenas pele eossos. Sua voz estava rouca. Algumasirmãs se alternavam para atendê-lo.Uma enfermeira que o visitou disse:«Nunca vi um doente com uma con-dição tão lamentável». Um irmão te-legrafou às igrejas de diferentes luga-res, avisando que já não havia espe-rança, que não precisavam orar maispor ele.

Enquanto orava ao Senhor em seuleito de enfermidade, Nee recebeu trêspalavras do Senhor: «O justo viverápela fé» (Rom. 1:17); «Porque pela féestão firmes» (2 Co. 1:24); e «Porquepor fé andamos» (2 Co. 5:17). Neecreu que essas palavras significavamsua saúde. Assim, lutando contra suaincredulidade, e contra os sussurros deSatanás, levantou-se com grande difi-culdade, pôs sua roupa que fazia qua-se seis meses que não usava, e se pôsem pé, repetindo as palavras recebi-das.

Sentiu que o Senhor lhe dizia quefosse à casa da irmã Ruth Lee. Ali, avários dias, havia um grupo de irmãose irmãs orando e jejuando por sua saú-de. Quando abriu a porta e viu a esca-da lhe pareceu a mais alta que tinhavisto em sua vida (pois estava em um

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segundo piso). «Disse a Deus: – con-ta Nee – «Ainda que me disse que ande,farei-o, ainda que a conseqüência sejaa morte. Senhor, não posso andar; porfavor, sustente-me com a sua mão».Apoiando-me no corrimão desci de-grau por degrau, novamente suandofrio. À medida que descia seguia cla-mando «andar por fé», e a cada de-grau orava: «OH Senhor, você é quemme faz caminhar». À medida que des-cia os 25 degraus, era como se esti-vesse, pela fé, com minhas mãos nasmãos do Senhor. Ao chegar ao final,senti-me fortalecido e caminhei comrapidez para a porta do fundo. Ao che-gar à casa da irmã Lee, golpeei a por-ta como fez Pedro (At. 12:12-17), e aoentrar, sete dos oito irmãos e irmãspuseram seus olhos em mim, sem fa-zer nem dizer nada, e a seguir, todosse sentaram ali quietos por quase umahora, como se Deus tivesse aparecidoentre os homens. Ao mesmo tempo, eume senti cheio de ações de graças e delouvores ao Senhor. Então lhes relateitudo o aconteceu no transcurso de mi-nha cura. Cheios de alegria até o jú-bilo no espírito, louvamos em alta voza maravilhosa obra de Deus... No do-mingo seguinte, falei três horas de umaplataforma».

Mais tarde confessaria que duran-te aqueles longos dias de prostração,ele recebeu luz para ver as diretrizesque deveria ter a obra que Deus lhetinha chamado para realizar: obra deliteratura, reuniões para «vencedores»,edificação das igrejas e treinamento dejovens.

Entretanto, mesmo quando foi cu-rado milagrosamente da tuberculose,

padeceu de uma angina de peito porquarenta e cinco anos, da qual não foicurado. Freqüentemente, ele sofria defortes dores, até no meio das prega-ções, que lhe obrigavam a apoiar-seno púlpito. Deus permitiu dessa ma-neira que ele vivesse em contínua de-pendência de Deus para desenvolvero seu ministério.

Crescimento e influênciasNo princípio de 1928 Nee arren-

dou uma casa na rua Wen Teh Li, emShangai, que foi a sede da obra a par-tir de então. Ali teve lugar nesse mes-mo ano a primeira Conferência deShangai, em um pequeno salão para100 pessoas.

Em maio de 1930 teve a tristezade saber que Margaret Barber tinhapartido com o Senhor. Muitas vezesdepois, Nee teria que reconhecer quedela aprendeu as mais valiosas liçõesespirituais em sua vida. Na Bíblia quelhe legou estava a seguinte inscrição:«OH Deus, me dê uma completa re-velação de ti mesmo», e em outro lu-gar: «Não quero nada para mim mes-ma, quero tudo para o meu Senhor».Ela morreu tal como sempre viveu:sem um centavo em sua bolsa, mas ricaem Deus. «Como pobre, mas enrique-cendo a muitos ...»

Outros homens de Deus, estrangei-ros, iriam ser um grato alento eedificação para Nee. Pimeiramente foiC. H. Judd, e depois Thornton Stearns.Mais tarde também o seria ElizabetFischbacher.

T. Stearns era catedrático da Uni-versidade de Chefú, que tinha um gru-po de oração e estudo bíblico compos-

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to por professores e alunos dessa uni-versidade. Nee foi convidado em 1931a dirigir uma série de reuniões paraeles, com grande êxito. Muitos jovensse agregaram à fé.

Comunhão com os irmãosEm novembro de 1930, Nee e os

irmãos conheceram Carlos R. Barlow,e através dele, os principais expoen-tes do grupo dos Irmãos de Londres(da facção «exclusivista»). Entre elessurgiu uma entusiasta comunhão, queoriginou em uma viagem de Nee aLondres e aos Estados Unidos.

Na Inglaterra foi muito bem rece-bido, e com estranheza, por tratar-sede um jovem chinês que mostravagrande maturidade espiritual. Nee tevegrande admiração por sua erudiçãobíblica, mas se impacientou ao ver suaarrogância e sua inclinação pelos lon-gos debates teológicos.

A comunhão ficou impedida rapi-damente pelo excessivo zelo dos Ir-mãos, que se incomodaram porqueNee participou em Londres da Mesado Senhor com outros irmãos. Istotrouxe consigo uma longa e triste sé-

rie de conversações, que derivaram,posteriormente, na ruptura dos Irmãos.

O dia do gozoEm 1934 concluiu a longa espera

de Nee por uma esposa. Para sua sur-presa, Chan Pin-huei voltou-se para oSenhor em Wen Teh Li, depois de aca-bar seus estudos de inglês na Univer-sidade de Yenching. Era uma jovemmuito culta, formosa, e agora, muitohumilde e temente a Deus. Depois delongas considerações e muita oração,decidiu pedi-la em matrimônio. A opo-sição não foi pequena, tanto de algunsfamiliares dela –por casar-se com um«pregador desprezado»–; como dosirmãos, que quase o idolatravam, aojulgar que um homem de oração comoele não deveria preocupar-se com coi-sas tais como sexo e a procriação.

Em 19 de outubro desse ano, de-pois de concluir a quarta Conferênciade Vencedores em Hangchou, casa-ram-se, no mesmo dia do aniversáriomatrimonial dos pais de Nee. Deramgraças a Deus rodeados de irmãos, ecantando o hino que escreveu a suaamada dez anos antes.

(Continua...)

Chesed

A palavra misericórdia na língua hebréia é “Chesed”. Não há uma sópalavra em espanhol para traduzi-la. Ainda que não tenhamos uma pala-vra para ela, nossa cultura gentílica não tem idéia do que ela representa.

Há muitas palavras diferentes que são usadas quando tentamos traduzi-la: misericórdia, amor, bondade, fidelidade, lealdade, e a lista segue.“Chesed” é o amor e a fidelidade de Deus para ser, ou prover, o que sejanecessário para nos fazer entrar na terra de suas promessas.

Charles Simpson, em Conquista cristã.

* * *

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Fiéis à fé original

A história das igrejas que se se-pararam da corrente principaldo cristianismo organizado,

tem na Armênia e na Ásia Menor osseus mais valentes representantes nosassim chamados «Paulicianos». Per-seguidos durante séculos até seu qua-se completo extermínio, o pouco quesabemos deles nos chegou através dotestemunho prejulgado e inclusive malintencionado de seus perseguidores, eum livro descrito por eles, recentemen-te encontrado.

Como vimos anteriormente, a so-litária existência de alguma classe decristianismo verdadeiro resultou sem-pre intolerável para a cristandade or-ganizada, pois o contraste entre esta

e a pureza espiritual daqueles gruposde crentes perseguidos, manifestavaa sua ruína espiritual e moral. E tam-bém colocava em interdição suas pre-tensões de ser a «única igreja verda-deira». Por isso, não só se dedicou aperseguir e matar todos os crentes quediscordavam de suas práticas e nãose submetiam ao seu domínio, mastambém a deturpar, envilecer e des-truir sua memória com perversas eabsurdas acusações de heresia e mal-dade.

Por certo, detrás de tanta hostili-dade não descobrimos outra coi-sa senão o mesmo dragão de Apo-calipse 12, cuja ira contra os santosque retêm o testemunho de Jesus Cris-

Rodrigo Abarca

A parte da história da Igreja que não foi devidamente contada.

paulicianosOs

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to manifesta as mais cruéis persegui-ções contra eles.

Este é o contexto em que se de-senvolve a história dos assim chama-dos «Paulicianos», que floresceu commaior intensidade entre os séculos VIIe IX D.C., nas regiões orientais daArmênia, no monte Ararat e aindamais à frente do rio Eufrates, emboraa sua origem, de acordo com algunshistoriadores, pode ser esboçado in-clusive até o período apostólico. Elesmesmos afirmavam ser parte da «san-ta igreja apostólica e universal de Je-sus Cristo», e só se chamavam a simesmos «cristãos» ou «irmãos» e di-ziam descender das antigas igrejasapostólicas.

Se isto é ou não verdade em umsentido temporário, tem menos impor-tância que sua veracidade espiritual.Pois estes irmãos procuraram manter-se fielmente dentro do ensino apostó-lico do Novo Testamento. De fato,devido a seu grande amor e respeitopelas Escrituras, e em especial pelosescritos do apóstolo Paulo, foram pro-vavelmente chamados «Paulicianos»por seus perseguidores. E por esta cau-sa, encontraram-se em conflito com amaior parte da cristandade oficial deseu tempo.

A partir da Escritura, resistiam fir-memente a união da igreja e o estado,e viam nela a fonte de muitos dosmales da cristandade. Igualmente,opunham-se também à adoração deimagens, o culto a Maria, o batismode crianças, e a autoridade eclesiásti-ca centralizada e hierarquizada do sis-tema episcopal. Suas igrejas eramdirigidas por anciões de provado ca-

ráter espiritual, e não possuíam nenhu-ma hierarquia de controle centraliza-do. Existiam também mestres itine-rantes que viajavam extensamenteentre as igrejas para instruí-las efortalecê-las. Homens de caráter apos-tólico cujos nomes ainda é lembradodevido à grande influência que exer-ceram nos seus dias.

A comunhão destas igrejas era decaráter eminentemente espiritual e nãoestava apoiada em um credo doutrinalbem definido e admitido por todas.Não estavam tão interessadas no rigordoutrinal, mas sim no amor, na comu-nhão e na experiência cristã genuína eprática. Bem se poderia dizer que eramcristãos «predogmáticos», no sentidode que se desenvolveram alheios a to-das as controvérsias doutrinais queagitaram amargamente as águas dacristandade organizada. Por isso, nãocabe esperar deles definições dog-máticas precisas e acabadas1, a não ser1 As controvérsias doutrinarias levaram a cristandadea desenvolver uma linguagem precisa para definir osdogmas centrais da fé. Esta linguagem, freqüentementetécnica, especializada e erudita, é o fruto de séculos dediscussões e controvérsias teológicas. Embora nãopodemos negar o seu valor e alcance ao esclarecerquestões de difícil exposição, não se pode esquecerque a fé bíblica não tem essa linguagem e é muitomais singela e espiritual. De fato, podemos nosperguntar se na realidade alguma vez foi possível paratodos os crentes, de qualquer época, idade e condição,entender e expor sem falhas todas as formulas dogmá-ticas contidas nos credos da cristandade (com a possívelexceção do «símbolo dos apóstolos»). Por isso, emborapossamos subscrever os credos mais antigos, não po-demos fazer deles o fundamento da vida e da fé dasIgrejas. Este fundamento deve ser sempre vivo e espi-ritual, embora careça às vezes de um preciso rigor ex-terior e dogmático quando se expressa ou escreve, pois,contudo, retém e comunica os fatos essenciais darevelação de Deus em Cristo segundo as Escrituras,iluminadas pelo Espírito Santo nos santos. Tal é, onosso entendendimento, no caso dos Paulicianos.

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um inconfundível sabor evangélico ebíblico nos poucos escritos que sobre-viveram deles.

Entretanto, isto se encontra a anosluz das acusações de heresia que re-ceberam de seus perseguidores. Defato, debaixo dessa óptica dogmáticae intransigente, também os grandespais da igreja antiga, que tanto traba-lharam pelo «desenvolvimento dodogma», podem ser suspeitos de he-resia ao ser confrontados extem-poraneamente com os credos de umacristandade posterior a seu tempo. Seos credos tiverem algum valor, deri-vam de sua fidelidade à Escritura, eigualmente, não têm a autoridade fi-nal desta última. São como sinais nocaminho que nos indicam os caminhosque não devemos tomar. Algo muitodistinto é fazer deles lanças e espadasafiadas para perseguir, acusar e con-denar a outros crentes, tal como tragi-camente ocorreu na história da cris-tandade.

Por certo, como já se viu em ou-tros casos, a acusação principal con-tra eles foi a de maniqueísmo, pois estaacusação, uma vez provada, sofria apena de morte na lei romana dessetempo. Não obstante, conforme cons-ta nos mesmos testemunhos de seusexecutores, eles sempre resistiram essaacusação como uma calúnia, e se de-clararam fiéis discípulos de Cristo.Além disso, isto é muito mais coeren-te com o grande amor e fidelidade queprofessavam fazer da Escritura a úni-ca fonte de autoridade, o qual resultatotalmente incompatível com sua su-posta adesão ao maniqueísmo. Final-mente, um de seus poucos escritos que

sobreviveram à destruição, chamado«A Chave da Verdade» não mostranenhum vestígio de maniqueísmo emseu conteúdo, mas sim uma fé essen-cialmente bíblica.

Embora não conhecemos o nomedo autor do referido livro, sabemos simque houve entre eles alguns proemi-nentes ministros da Palavra, como jámencionamos, que derramaram suasvidas por causa do Senhor Jesus Cris-to, cuja vida e testemunho merecemser recordados.

Constantino SilvanoComo temos dito, a história deste

grupo de irmãos começa a ser conhe-cida a partir do século VII. Nesse tem-po, perto do ano 653 D.C., um homemchamado Constantino recebeu em suacasa um viajante armênio, que por gra-tidão lhe deixou um valioso presente:os manuscritos dos quatro evangelhose as epístolas paulinas. De fato, mui-tos quiseram ver em Constantino ofundador dos Paulicianos, mas elessempre alegaram uma origem muitomais antiga. Enquanto lia aqueles es-critos, a luz entrou em seu coração ese converteu em uma valente testemu-nha de Cristo. Muito em breve, umgrupo de crentes se reunia com ele paraestudar as Escrituras fora da tutela daigreja organizada. Constantino foi logorecebido entre os irmãos como umdotado mestre e viajou extensamentepregando o evangelho e ensinando nasigrejas. Trocou seu nome pelo deSilvano, devido a sua admiração peloapóstolo Paulo; estabeleceu seu lar naKibossa e dali viajou para o leste se-guindo o curso do rio Eufrates e para

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o oeste, através da Ásia Menor. Seuministério se estendeu por mais de 30anos.

Finalmente, devido a seu extensotrabalho e influência, o imperador ro-mano do oriente (Bizancio) emitiu umdecreto contra ele. No ano 684 foi cap-turado por um oficial do império cha-mado Simeón, e foi apedrejado atémorrer. Entretanto, Simeón ficou tãoimpressionado com o que viu e escu-tou durante a detenção e a execuçãode Constantino Silvano, que, depoisde sua volta a corte de Bizancio, nãopôde encontrar paz nem tranqüilida-de para a sua alma. Finalmente, de-pois de dois anos de luta interior, de-cidiu abandonar tudo e retornar ao lu-gar onde tinha morrido Constantino.Ali se entregou ao Senhor, foi batiza-do, e continuou a obra que Constantinotinha realizado. Rapidamente se uniuao exército dos mártires, pois tambémfoi capturado e queimado publicamen-te junto a muitos outros irmãos. Nãoobstante, isto não deteve o resto doscrentes, e sua obra continuou expan-dindo-se.

SergioDepois de Constantino Silvano,

outro homem de considerável influ-encia entre os irmãos foi Sergio, quemexerceu seu ministério entre os anos800 aos 834. Também se converteu aoSenhor após ler atentamente a Escri-tura, particularmente os evangelhos. Apartir dali, começou um extenso mi-nistério por cartas, além de suasviagens. Ricas cartas circularam comgrande autoridade entre as igrejas eajudaram a curar as divisões que esta-

vam surgindo entre elas. Viajou exten-samente do leste ao oeste, até que,conforme nos diz: «meus joelhos esti-veram fatigados». Embora sempre tra-balhou como carpinteiro, serviu a inu-meráveis irmãos no ministério da pa-lavra por 34 anos, visitando pratica-mente todas as regiões das terras altasda Ásia Central. Sua vida acabou sobo machado do verdugo imperial no ano834 D.C.

A luta contra a idolatriaUma das maiores batalha entre os

irmãos e a igreja organizada foi trava-da em torno do assunto das imagens.Diferentes imperadores bizantinos sedeclararam sucessivamente a favor oucontrários ao uso de imagens. Comoos irmãos resistiam abertamente o usoe a veneração destas, sua situação tam-bém flutuava de acordo com a posi-ção que tomava o imperador da vez.Sob o reinado de Leão III (660-740D.C.), quem publicou um decreto im-perial contra as imagens, foram pro-tegidos pelo imperador, e lhes permi-tiu exercer sua fé sem perseguições.Inclusive, alguns deles foram deslo-cados pelo mesmo filho do imperadoraté os Bálcãs, onde iniciaram uma ex-tensa e frutífera obra.

Não obstante, esta política foi va-riando com os seguintes imperadores.A morte de Teófilo (842 d. do C.), quese opunha às imagens, subiu ao tronoa imperatriz Teodora, ardente defen-sora destas, e quem iniciou a mais ter-rível e sangrenta de todas as persegui-ções contra os paulicianos. Sob suasordens foram decapitados, afogados equeimados milhares de homens, mu-

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lheres e meninos. Calcula-se que du-rante esse tempo (842-867 d. do C.)perto de 100.000 irmãos perderam avida.

As terríveis perseguições e tortu-ras que tiveram que suportar inclina-ram, infelizmente, alguns irmãos a to-mar as armas e unir-se aos muçulma-nos para lutar contra o império quecruelmente os perseguia. Este fatomarcou o começo da decadência es-piritual entre eles. Pois toda vez que,na história, os crentes tomaram a es-pada para defender-se, colheram ruí-na e destruição. A advertência do Se-nhor a Pedro é determinante: «Tornasua espada em seu lugar; porque to-dos os que tomam a espada, pela es-pada também perecerão».

Apesar de tudo, devemos reco-mendar a fidelidade desses irmãos,conhecidos como paulicianos, quemperto de 300 anos mantiveram no altoo estandarte da fé e a pureza evangéli-ca, no meio das mais cruéis difama-ções e perseguições. Resistiram valen-temente e pacificamente todos os es-forços que, ao longo desses anos, foifeito para destruí-los.

Embora nos séculos posteriores,quando sua condição espiritual tinhadeclinado, alguns tomaram o caminhoda luta armada contra o império, mui-tos deles continuaram fiéis e se espa-lharam para o oeste, levando consigosua mensagem de simplicidade e pu-reza evangélica, como fiéis seguido-res de Cristo. Ali, no ocidente,retornamos a encontrar com o nomede Bogomiles, ou amigos de Deus,dispostos a escrever um novo capítu-lo de heroísmo e fé.

A chave da verdadeUma última palavra deve ser dita

sobre o único livro importante quesobreviveu dos paulicianos, chamado«A Chave da Verdade». Foi descober-to no final do século 19. Trata-se deuma série de conselhos, escritos paraas igrejas por um autor desconhecido.Embora seus ensinos não devem sertomadas como um credo dogmático,são, em geral, uma clara exposição desua fé e prática. Nelas há um incon-fundível sabor evangélico. Resistemao batismo de crianças e declara queestes devem ser criados por seus paisna fé e na piedade segundo o conse-lho dos anciões da igreja. Isto deve seracompanhado por orações e a leiturada Escritura.

Também, ao falar sobre a ordena-ção de anciões, declara que estes de-vem ser de perfeita sabedoria, amor,prudência, gentileza, humildade, co-ragem e eloqüência. Devia perguntar-lhes se estavam dispostos a beber docálice do Senhor e ser batizados como seu batismo, e sua resposta devia seruma clara demonstração dos perigosque estes homens deviam enfrentar porcausa do Senhor e do seu rebanho:«Tomo sobre mim os açoites, prisões,torturas, opróbrios, cruzes, aflições etribulações, e toda tentação do mun-do, que nosso Senhor e Intercessor daigreja apostólica e universal tomousobre si mesmo, aceitando-os comamor. Também eu, um indigno servodo Jesus Cristo, com grande amor eimediata vontade, tomo sobre mimtudo isto, até a hora de minha morte».

Estas palavras demonstram o valen-te espírito de fé com que estes homens

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56 ÁGUAS VIVASESPIGANDO NA HISTÓRIA DA IGREJA

e mulheres se entregavam ao SenhorJesus Cristo, conscientes de que podi-am selar seu testemunho com a coroado martírio, tal como na verdade ocor-reu com centenas de milhares deles.

Este livro retira também qualquerdúvida sobre seu suposto gnosticismoou maniqueísmo. Nenhum sinal des-sas heresias aparece nele. Possivelmen-te a única passagem controvertida é oque descreve o batismo do Senhor,onde diz que nesse ato, aos 30 anos deidade, «Nosso Senhor recebeu o senho-rio, o sumo sacerdócio, e o reino... efoi cheio da divindade». Estas afirma-ções não parecem negar a divindade doSenhor antes de seu batismo2, mas simmelhor enfatizar que a partir de então,começou a manifestar esses atributosdivinos, que até então permaneceramescondidos. No restante, a passagemnão afirma nada mais a respeito, já quesua intenção não é teológica mas simprática. Seu propósito parece ser a fun-damentação do batismo em pessoas

conscientes de seus atos, em oposiçãoao batismo de crianças.

Os assim chamados paulicianosrepresentavam uma fé mais prática queespeculativa, mais bíblica que dog-mática, que se desenvolveu fora dasdefinições e controvérsias dogmáticasda cristandade organizada de seu tem-po. Por isso, seu testemunho nos falaao contrário de um cristianismo maisantigo e original que procurou man-ter-se ardentemente fiel aos ensinosapostólicos sobre Cristo e sua igreja,contra tudo e apesar de tudo, até tin-gir-se por completo com o sangue desuas mártires.2 Alguns pensam que os Paulicianos sustentavamuma posição adocionista, vale dizer, que Jesus foium mero homem até que foi invadido pela divindadeem seu batismo. Entretanto, isto pertence sim aoâmbito da especulação teológica da escola deAntioquia, inclinada a negar a divindade do Senhora favor de sua humanidade, muito afastada do evi-dente espírito singelo e evangélico dos irmãos. Naverdade, estes parecem não haver sustentadonenhum credo dogmático em particular além daautoridade da Bíblia.

Uma obra de arte

Na ventosa costa britânica da França, o abade Adolph Juelienne Fourepassou quase dez horas todos os dias durante 25 anos, esculpindo mais de300 figuras em um enorme segmento de rochas sobre o mar. As estátuascontam a história fantástica da família Rotheneuf, uma numerosa famíliade contrabandistas, piratas e pescadores fora da lei do século XVI. Por queo sacerdote francês dedicou o último terço de sua vida à escultura dessascriações no penhasco, ninguém sabe.

Entretanto, sabemos algo melhor que acontece diariamente em nossasvidas, motivado pelo Espírito Santo que habita em nós. Devemos sermoldados por ele mediante a obra da cruz e esculpidos como pedras notemplo vivo de Deus, a Igreja. Essa tarefa exige todo nosso tempo e energia,não como operários, mas sim como servos dispostos a nos submeter nasmãos amorosas de nosso bendito Mestre.

Á Maturidade

* * *

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57ÁGUAS VIVAS APOLOGETICA

Uma visão científico-bíblica da longevidade humana.

A longevidade dos seres humanostem variado grandemente nosúltimos 400 anos. Se olharmos

para a Europa nos arredores de 1600, amédia de vida não superava os 30 anos,enquanto que no século vinte, o ciclo devida do homem aumentou para mais dodobro, segundo dados da OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS). Por exemplono EE.UU., passou-se de uma expectati-va média de vida de 50 anos nos iníciosdo século XX, a uma média de 77 anosno começo do século XXI, esperando-seque esta média aumente até os 85 anosem 2125 (Roberts & Rosenberg. 2006).

A OMS predice que se agora houverno mundo 380.000 pessoas que ultrapas-saram a fronteira dos 100 anos, dentrode cinqüenta anos serão mais de 3 mi-lhões os que alcançarão uma longevidadeigual. Este tema da longevidade tem atu-

almente uma relevância crucial na ciên-cia, sendo abordado com múltiplas linhasde investigação.

Teorias sobre a longevidadeOs cientistas levam anos debatendo

sobre a longevidade humana e o proces-so do envelhecimento. Enormes cifras dedinheiro são gastos em investigação emlaboratórios de países desenvolvidos so-bre este tema. Os fatores que envolvemsão variados, destacando os genéticos,ambientais e a qualidade de vida (alimen-tação e exercício físico).

Desde a metade do século passado sur-giram teorias a respeito de como chega-mos a envelhecer. Uma das primeiras foia teoria nervosa, a qual assinala que esteprocesso ocorre no nascimento, devido àmorte de células nervosas que em suamaioria não se reproduzem. Uma segun-

Ricardo Bravo

da vida humanaLímites

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da teoria é a das mutações; esta se apóianas alterações que experimenta o DNA denossas células ao longo da vida, e que de-pendendo do ambiente mais ou menospoluído em que nos vemos obrigados aviver, ou do tempo que temos sido expos-tos a algum tipo de radiação ionizante,haverá mais ou menos mutações em nos-sas moléculas de DNA. O DNA é o quetem a informação chave do ser vivo, sejapara regenerar células e tecidos que se vãodanificando, ou para produzir moléculasimportantes para a célula.

Recentemente surgiram teorias umpouco mais complexas, como a dos radi-cais livres; moléculas que se geram con-tinuamente em nosso organismo comoresultado do metabolismo celular. Estasmoléculas tendem a reagir com outrasmoléculas e as danificar. Entre as víti-mas destes radicais livres estão o DNA,as proteínas e os lipídios, quer dizer, asestruturas vitais das células. Como resul-tado, produzem enfermidades associadascom a idade como o Alzheimer, a arteri-osclerose, ou com desordens no funcio-namento celular como o câncer. Algunsestudos indicam que uma dieta rica emsubstâncias antioxidantes (vitaminas E,C), presentes em frutas e verduras, pode-riam retardar o envelhecimento e de al-gumas enfermidades que lhe associam.Comprovou-se além que as dietas pobresem calorias diminuem a geração de radi-cais livres com os conseguintes benefí-cios sobre a longevidade.

Os anos e os telômerosMas sem dúvida, a teoria que tem

despertado a maior atenção dos biólogosmoleculares, com uma profusa investi-gação de excelente qualidade, é aquelareferida a umas importantes estruturaslocalizadas bem no interior das células,as que se denominam telômeros (Zakian

1995, Chong et ao. 1995, Do Lange 1998,Vogel 2000, Sinclair & Guarente 2006).Os telômeros protegem as extremidadesdos 46 cromossomos que estão no nú-cleo de nossas células, onde se encon-tram os genes com seu valioso DNA.

Para entender melhor a forma e fun-ção desta tão pequena estrutura, foi feitouma analogia muito prática entre umcromossomo com seus telômeros nasextremidades e um cordão de sapato comas suas partes plásticas nas pontas. Emambos os casos as proteções das pontasevitam que se desintegre o cromossomoou que se desfie o cordão. Os telômerosao manter íntegro o cromossomo, permi-tem que este possibilite uma divisão ce-lular adequada. Se não houver divisãocelular, não será reposto os milhões decélulas que se perdem constantemente emnosso tubo digestivo ou em nosso siste-ma sangüíneo, por exemplo.

A alguns anos foi descoberto que acada nova divisão celular, perdia-se umapequena fração destas seqüências prote-toras ou telômeros. Assim os telômerosse vão encurtando a cada divisão das cé-lulas até que chega um momento em quejá não podem manter a estabilidade doscromossomos e a célula morre. Por issoas células de uma pessoa adulta têm me-nor capacidade para dividir-se do que ascélulas de uma pessoa jovem.

Deste modo os telômeros controlamo envelhecimento, funcionando como umrelógio da divisão celular, lançando umrol fisiológico fundamental na manuten-ção de diferentes processos malignos. Porisso, alguns cientistas acreditam que du-rante a velhice, aumenta a vulnerabilidadeàs enfermidades e à morte, devido àsmesmas células se encontrarem já no li-mite de suas possibilidades, com seustelômeros muito reduzidos. Mas curio-samente, este mecanismo não funciona

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assim em algumas células como as em-brionárias ou as cancerosas, as quais sedividem sem limites, convertendo-se emcélulas virtualmente «imortais» (King etao. 1994, Shay 1998, Pérez et ao. 2002).Isso nos faz pensar que as outras célulasdo corpo puderam ter ou ter tido uma ca-pacidade similar de reprodução e comisso, permitir uma longevidade ao ser hu-mano muito maior.

O envelhecimento humano atual énotado muito claramente na pele, na de-bilitação da musculatura corporal e naatrofia de cartilagens e ossos, mas osnumerosos estudos realizados apontamque os últimos responsáveis por estesprocessos de deterioração são os telô-meros cromossômicos. Este último temaberto uma importante linha de investi-gação científica por meio da qual se es-pera dentro de poucos anos utilizar me-dicamentos que controlem a duração eintegridade dos telômeros e com isso, tra-tar distintas enfermidades. Por exemplo,a artrose poderia ser controlada por meiode substâncias potenciadoras da enzimatelomerasa, restituindo a atividadereprodutora das células, como tambémpara frear o câncer, cujas células se re-produzem incontrolávelmente, utilizari-am-se inibidores da telomerasa para quedeixassem de reproduzir-se e deste modo,já não formem tumores.

Caso chegassem a controlar de for-ma adequada algumas das variáveis queatuam na longevidade (fatores genéticos,radicais livres, telômeros), a esperançamáxima de vida a que poderia aspirar umser humano, aumentaria grandemente. Deacordo com o registro Guinness, a pes-soa mais idosa que viveu até esta data, eda qual se tem seu registro oficial de nas-cimento, foi a francesa Jeanne-LouiseCalment, que chegou a viver 122 anos e164 dias (1875-1997).

Curiosamente, esta idade coincidecom o registro bíblico, o qual assinala quesão 120 anos a idade máxima a que po-deria chegar uma pessoa (Gênesis 6:3),embora em média, o Salmo 90 declaraque a vida do homem é de 70 anos. Porcerto que a idade máxima de Gênesis,Deus a estabelece depois de concluir queo aumento da população humana traziaconsigo um aumento também da malda-de. Antes desta época, nos primordios dahumanidade, as pessoas podiam viver até8 vezes mais do que viveu a francesaJeanne-Louise Calment, a que tem o re-corde de longevidade. Soa irracional vi-ver 900 anos?

Idade literal ou simbólica?Com certa freqüência a Bíblia é afron-

tada porque certas passagens se referema temas que parecem inverossímeis ouque não se ajustam ao conhecimento ci-entífico vigente, embora muitas vezes nãose faz o esforço por relacionar certosachados da ciência com relatos bíblicosque foram estigmatizados em outro tem-po, e portanto, ficaram marcados comuma etiqueta de absurdos. Em Gênesisassinala que antes do dilúvio, as idadescom que podiam chegar as pessoas eramvárias vezes maiores das que podemosalcançar na atualidade. Ali se registra queAdão morreu aos 930 anos (Gênesis 5:5),que Sete viveu até os 912 anos (5:8) eMatusalém (o mais idoso dessa época)alcançou até os 969 anos de idade(Gênesis 5:27).

É certo que a primeira vista, e comnossa experiência do ciclo de vida atual,fica difícil de aceitar estas enormes ida-des para o ser humano: é como viver emmédia 8 vidas em relação ao que vive-mos hoje. Tem sido escrito bastante a res-peito, entretanto todos os esforços que setem feito para explicar esta grande

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longevidade de maneira distinta a formaliteral em que se assinala na Bíblia, fra-cassaram. Têm-se dito, por exemplo, queum ano equivaleria a um mês ou a trêsmeses (Siculus 1985), porque teriam usa-do o ciclo lunar para estabelecer as ida-des. Este argumento é desmontado porvárias razões, mas só duas delas bastampara descartá-lo. Em primeiro lugar, aorebaixar a idade deste modo, várias pes-soas dessa época terminam sendo paiscom idades infantis; por exemplo se di-vidirmos por 12 (1 ano = 1mês), Enoque,teria gerado a Matusalém entre os 5 e 6anos de idade (Gênesis 5:21), Sete, teriasido pai de Enos com cerca de 9 anos deidade (Gênesis 5:6). Em segundo lugar,o termo «ano» nunca é usado em funçãodo ciclo lunar no Antigo Testamento.

Outro argumento contra uma inter-pretação literal dos anos em Gênesis 5,foi que o registro bíblico não representa-ria idades pessoais, mas sim dinastias oulinhas familiares (Borland 1990). Masesta teoria é derrubada quando descobri-mos relatos bíblicos de encontros e rela-

tos pessoais entre pais e filhos como é ocaso de Gênesis 5:32; «e sendo Noé daidade de 500 anos, gerou a Sem, a Cão, ea Jafé», e posteriormente aparecem coe-xistindo dentro do arca em Gênesis 7:13;«neste mesmo dia entraram Noé, e Sem,Cão e Jafé, filhos de Noé.....». Tampoucoconcorda esta postura com outras passa-gens tais como Hebreus 11:5,7, aonde sefaz referência às pessoas (Enoque e Noéneste caso) e não a seus clãs ou famílias.

Têm-se dito também que a visão detempo hebréia no período que foram ge-rados os fatos assinalados em Gênesis(mais de 2000 anos A.C.), apoiava-se nosistema de numeração sexagesimalsumério ou babilônico (de onde provêmas unidades do tempo, por exemplo), enão no sistema com base decimal, queteriam adotado depois, quando Abraão,logo depois de abandonar a Meso-potâmia, habitou na Palestina, onde ele eseus descendentes entraram em contatocom os egípcios, que usava o sistemadecimal (Hill 2003).

O resultado da larga idade dos patri-arcas, segundo esta proposta, seria sim-bólica e não literal, onde se tem que fa-zer uma rebuscada multiplicação e somada idade cronológica da pessoa com nú-meros considerados preferidos (o 3 e 7por exemplo). Esta labiríntica e subjeti-va proposta foi questionada ao ser feitocálculos com algumas idades. Por exem-plo, a idade de Lameque (Gênesis 5:31),sobe de 777 anos de acordo com o regis-tro bíblico, a 3333 anos, ao convertê-lopara a notação numérica com base 6(Godfrey 2005). Além disso, têm-se queter em conta que o escritor de Gênesisfoi Moisés, formado com os mais altospadrões da cultura egípcia, tendo portan-to o sistema decimal como base numéri-ca.

Outras críticas apontam geralmente

Se os biólogos molecularesdentro em pouco poderãoregular a longevidade hu-mana através do controleda reprodução celular, terápodido o Autor da vida naterra, condicionar umalonga vida no início a suascriaturas e em seguidadeixá-la limitada por meiodestes fatores que vimos?

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porque não existem evidências científi-cas para corroborá-lo. Entretanto, a enor-me quantidade de estudos realizados so-bre genética e reprodução celular, algunsdos quais foram citados a propósito nes-te artigo, contribuem com evidênciasmais que suficientes para reafirmar a ve-racidade literal do relato bíblico. Porexemplo, o rol que cumprem os telô-meros na divisão celular, o qual está es-treitamente ligado com a longevidade doser humano, e corroborado pelas célulasembrionárias e cancerosas que se divi-dem quase sem limitações. Esta capaci-dade enorme de reprodução celular bempôde ter ocorrido não só a algumas, mastambém às demais células do organismono início.

Sobra-nos DNAOutros interessantes trabalhos reali-

zados na Universidade de Glasgow, noReino Unido (Monaghan and Metcalfe,2000, 2001), têm descoberto uma rela-ção significativa entre a longevidade deum organismo e o tamanho do genoma(conjunto de DNA que guarda a infor-mação para «construir» o organismo in-teiro). São estudos complexos que têmque esclarecer ainda várias dúvidas, masque já alcançaram importantes resultados.Esses trabalhos analisaram a variaçãoentre o tamanho do genoma e a longe-vidade em 67 espécies de aves e encon-traram que as aves com genomas maislongos vivem mais tempo que aquelasaves em que seu genoma é mais curto.Que relação tem isto com o nossogenoma? Tem uma importante relação àluz dos resultados de um enorme e ex-tenso estudo conhecido como «ProjetoGenoma Humano». Este estudo mostrouque os humanos têm um genoma muitoextenso, entretanto o DNA ativo ou útilde nossas células é só de 3% (Glad 2006).

Quer dizer, existem uns 97 % de nossoDNA que esta inativo ou que não codifi-ca (falando em linguagem genética), oqual engloba diversos tipos de seqüênci-as, tanto únicas como repetidas.

Para que serve esta grande quantida-de de genoma inativo? A ciência não odeixa claro. O certo é que o relatório ci-entífico sobre a decifração do genomahumano, em particular sobre este DNAinativo, está repleto de termos como«misterioso», «função desconhecida»,«enigma não resolvido» (Murphy et ao.,2001). Este DNA de função desconheci-da foi chamado a principio DNA selfish(egoísta) e em seguida, com o avanço dasinvestigações, e talvez o aumento da frus-tração por não chegar a compreender suafunção, foi chamado DNA «junk» (des-perdício ou sucata).

Tem sentido biológico que a maiorparte de nosso DNA seja desperdício?Talvez terei que formular a pergunta deoutra forma. Este enorme DNA que estáhoje inativo em nossas células, pôde al-guma vez ser funcional, em certa etapada história humana em que as célulaspudessem tê-lo ocupado, por exemplopara codificar proteínas e prolongar a vidado homem por muito mais tempo do quevive agora? Alguns biólogos evolutivospoderão expor diversas hipóteses a res-peito, mas creio que também é perfeita-mente válido expor a hipótese que essagrande quantidade de DNA pôde utilizar-se em uma percentagem muito maior al-guma vez na história biológica humana,para possibilitar uma longevidade váriasvezes superior a atual; atendo-se estrita-mente à evidência científica.

Se os biólogos moleculares dentro empouco poderão regular a longevidadehumana através do controle da reprodu-ção celular, terá podido o Autor da vidana terra, condicionar uma longa vida no

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62 ÁGUAS VIVASAPOLOGETICA

início a suas criaturas e em seguida deixá-la limitada por meio destes fatores quevimos? (telômeros e longitude dogenoma), porque estas não responderama seu plano originário de habitar com ohomem em uma longa comunhão. O Se-nhor nos recorda em Isaías qual é o pro-pósito pelo qual Ele criou aos que devi-am ser seu povo, «....Para minha glóriaos criei, formei-os e os fiz» (43:7). Con-trariamente, suas criaturas só desejavamseparar-se de seu Criador e praticar o mal,por isso Deus antes do dilúvio mostra seudesencanto por elas, e pensou eliminarda terra o gênero humano (Gênesis 6:7),mas Noé acha graça diante dos olhos doSenhor, que decide dar ao homem umanova oportunidade (Gênesis 6:8).

O Senhor deu mostras, na Bíblia, deregular a quantidade de anos de seus fi-lhos em função de se estes são ou nãoobedientes a seus mandatos. Uma impor-tante proposição de prolongação da vidahumana na terra, está estabelecida comomandamento do início da relação entreDeus e aquele que será seu povo. Trata-se de uma poderosa promessa nos mo-mentos em que se estabelece o pacto deDeus com o povo hebreu, logo depois desua libertação do Egito. Lemos em Êxodo20: 12: «Honra a seu pai e a sua mãe paraque seus dias se prolonguem na terra queo Senhor, seu Deus, te deu». Com isto oSenhor nos assinala de forma categórica,que a longitude da vida humana está sobseu controle, acima de fatores tais comoa genética ou outros, que ficam relega-dos a segundo plano.

O freio da vidaO Senhor anuncia em Gênesis 6:3, 5

que o ser humano continuamente mostra-va inclinação para o mal, por conseguinteperdia sentido que vivesse tanto tempo, epor isto modifica o seu plano original, di-

minuindo a idade do homem até no máxi-mo de 120 anos. Além das prováveis mo-dificações biológicas a nível celular emolecular (DNA) que teriam encurtado avida, algumas mudanças ambientais im-portantes ocorridas depois do dilúvio pu-deram ter afetado também a longevidadehumana. As condições atmosféricas pré-diluvianas teriam sido muito diferentes dasatuais, devido a atmosfera ter uma grandequantidade incorporada de água, certa-mente em forma de vapor (Gên. 1:6-8), aqual atuava como um filtro natural antecertas radiações cósmicas e solares dani-nhas que limitam fortemente a vida. Estacapa de água atmosférica teria precipita-do durante o dilúvio (Gên. 7:11-12), dei-xando os organismos vivos sobre a super-fície terrestre mais expostos a mutações eao dano celular por radiação.

O fato de que esteja tão marca-damente exposta a data de morte em vá-rias partes do capítulo 5 de Gênesis, su-gere que Moisés ao escrevê-lo, foi es-pecialmente dirigido assim por Deus,para que pudéssemos fazer a diferençaentre as duas etapas da história humanana terra. Uma no princípio, com o pri-meiro plano de Deus, em que o homemviveria por muitos anos, inclusive de-pois da queda de Adão e Eva em deso-bediência; e outra, em uma segunda eta-pa, a que foi produto da enorme multi-plicação da maldade humana, onde oSenhor decide diminuir os anos de vidado homem a cerca de 10% da idade con-siderada originalmente, trocando inclu-sive seus hábitos alimentares de vegeta-riano, para incluir na dieta alimento ani-mal (Gên. 9:3).

Este último também trouxe uma sé-rie de conseqüências nefastas para a suasaúde, como o aumento de radicais livresdaninhos, diminuindo com isto sua vidae conduzindo outras importantes altera-

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63ÁGUAS VIVAS APOLOGETICA

ções na natureza criada inicialmente per-feita por Deus, mas desvirtuada pelo ho-mem, as quais se expressam claramentena ecologia e zoologia atuais (Bravo2005).

Idade milenar restauradaAs importantes evidências proveni-

entes da biologia molecular, no sentidode que pode existir uma biologia distintacom respeito ao funcionamento celular ea longevidade humana, apontam para lheoutorgar credibilidade literal às largasidades vividas por pessoas antes do dilú-vio, relatadas na Bíblia. Entretanto, tão

ou mais importante ainda, é o fato que aoenfatizar-se vez após vez em Gênesis 5os longos anos de vida do homem no prin-cípio, permite relacionar o propósito ini-cial do Senhor de viver em harmonia naterra com sua criatura especial por longotempo, com sua promessa apocalíptica deretomar este propósito originário de rei-nar com o homem, agora restaurado pelosacrifício de Cristo, na era milenar des-crita em Apocalipse 20. Se recordarmosque Matusalém viveu perto de um milê-nio, tem muito sentido o paralelo destesparágrafos bíblicos do início e final daEscritura.

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64 ÁGUAS VIVASPAGINA DO LEITOR

CARTAS

Alimento sólidoDou graças a Deus por sua página, é

de enorme bênção para a minha vida.Quando tenho oportunidade, recomen-do-a a outros irmãos. Dou graças a meuPai Celestial por essa nova revelação quenos dá de sua Palavra, fazendo que go-zemos de um alimento sólido, como elemesmo o menciona em sua Palavra.

Cesar Solís Ruiz, Monterrey, México.

RefrigérioPara mim, Água Vivas representa um

refrigério, crescimento e ajuda em meuministério pastoral. Sou chileno, faz 23anos que vivo no Brasil, e trabalho comopastor em um lugar longínquo de todocentrourbano. A revista e outros mate-riais são de ajuda para mim e para aque-les a quem compartilho oque tenho re-cebido.

José Davinson,Apiai, São Paulo, Brasil.

ManáSomos um grupo pequeno de irmãos,

que há 20 anos estamos nos reunindocomo igreja. Já vai para mais de um anoque estamos nos nutrindo da página

Por razões de espaço, as cartas são resumidas.Toda bênção procede de Deus; portanto, toda a glória é para Deus.

Equipe Redatora: Eliseo Apablaza, RobertoSáez, Gonzalo Sepúlveda.Nesta edição também: Ricardo Bravo, RodrigoAbarca.Desenho gráfico: Mario Contreras.Traduções: Edward Burke Junior.E-Mail: [email protected]

Contato Brasil:Edward Burke Junior.Rua Escócia N. 620, Apto. 304.Jardim Adriana II, 86046-230 Londrina, PR.(0XX43) 30272539.E-Mail: [email protected]

UMA REVISTA PARA TODO CRISTÃO / ANO 7 · Nº 41 · SETEMBRO - OUTUBRO 2006águas vivas

Web. Estamos muito agradecidos aoSenhor por nos haver aberto esta portapara receber o precioso Maná que nosbrinda «Águas Vivas», sobretudo em ummomento em que fomos muito ataca-dos pelo inimigo e ficávamos à deriva.A Ele seja a Glória!

Alberto Oliva MancillaLa Línea de la Concepción, Cádiz, Espanha.

De CubaEstive lendo a sua revista, testemu-

nho que me familiarizei com o enfoqueque dão. Alegra-me a sólida condiçãode fé de vocês e quão proveitoso é paraa obra de Deus homens dispostos e pos-tos em função de dar um alimento espi-ritual sólido e vitalizante.

Angel, Cuba.

Temas de ensinoEstou muito agradecida pelas revis-

tas dedicadas ao tema do corpo, alma eespírito. Estão me ajudando a compre-ender e a sair de dúvidas. Estou-as com-partilhando com meus irmãos da igre-ja, porque dali estou tirando temas paraensino. Yolanda Trujillo Baltazar

Ambo, Huanuco, Perú.