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Revista da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social Ano II - agosto/setembro de 2008 Número 07 em foco PERITO, PROFISSÃO PERIGO Um raio-x da perícia médica previdenciária DEPARTAMENTOS Entrevista com os diretores dos novos departamentos da ANMP ACO RDO Perícia mobilizada em defesa da carreira GOVERNO RASGA ASMA Conheça os aspectos médicos e periciais dessa doença

Revista ANMP 07

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Revista da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência SocialAno II - agosto/setembro de 2008 Número 07

em foco

PERITO, PROFISSÃO PERIGOUm raio-x da perícia médica previdenciária

DEPARTAMENTOSEntrevista com os diretores dos novos departamentos da ANMP

ACO RDO

Perícia mobilizada em defesa da carreira

GOVERNO RASGA

ASMAConheça os aspectos médicos e periciais dessa doença

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JALECO PERSONALIZADO

ASSUMA A IDENTIDADE DE PERITO MÉDICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

ADQUIRA JÁ O [email protected] 3321 1200

Page 3: Revista ANMP 07

DELEGADOS DA AMNP22

AÇÕES JUDICIAIS

APOSENTADORIAESPECIAL

DIA-A-DIA DA PERÍCIA

INDÍCE

ASMA

RETRATOS

42PROGRAMA DEREABILITAÇÃO

05ABERTURA

CAPA 06

10

Conhecimento Compartilhado 17Aposentados: Vamos à Luta 18Ética &Segurança 20

PING

PERITO, PROFISSÃOPERIGO

28

40

45 INSALUBRIDADE

APOSENTADORIA ESPECIAL versus

48 COMUNICADOS

50

55 PERÍCIA:avaliação ocular

em motoristas

60

2662 AGRESSÃO PUNIDA &

TRABALHO RECONHECIDO

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Revista da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social

Ano II - Agosto/Setembro - Número 07

Presidente:

Luiz Carlos de Teive e Argolo

Vice-presidente:

Eduardo Henrique R. de Almeida

Diretoria: Antônio Carlos Di Benedetto

Maria Lúcia Campos Mello TavaresRegina Célia Rodrigues Alves;

Conselho Fiscal: Alejandro Luquetti

Edilson PagiolaSamuel Abranques;

Suplentes do Conselho Fiscal:Marco Aurélio Moreira

Maurício Gonçalves Zanon Alaor Ernest Schein

Sede: SAUS (Setor de Autarquias Sul), Quadra 3,

Bloco C, nº 22, sala 711/712 Edifício Business Point

CEP: 70070-030.Brasília, Distrito Federal

Tiragem: 8.000 exemplares

Telefone: (61) 3321 1200 Fax: (61) 3321 1206

Site: www.perito.med.br www.anmp.org.br

E-mails: [email protected] [email protected]

Assessoria de Imprensa: [email protected]

Editora responsável: Rose Ane Silveira (DRT 1965/DF)

Capa, projeto gráfico e diagramação: Marcos Sousa

[email protected]

Revisão:Cristina Castilho

Imagens:Diretoria ANMP

Publicidade: Secretaria ANMP

Tel: (61) 3321 1200

A reprodução de artigos desta revista poderá ser feita mediante autorização do editor.

ANMP em foco não se responsabiliza por opiniões emitidas em artigos assinados, sendo

estes de responsabilidade de seus autores.

18 de outubro é o dia do médico. Para comemorar a ANMP sorteará entre seus associados 10 notebooks. Serão distribuídos dois lap tops para cada região do país. O sorteio será feito com base nos números da extração da loteria federal, no próprio dia 18.

Todos os associados vão participar. O número que cada associado terá no sorteio corresponde ao seu número de cadastro na ANMP e este será divul-gado na semana antes do sorteio, na área interna do site.

Não poderão ser contemplados os ganhadores no último sorteio, os dire-tores da ANMP , seus funcionários e os peritos associados após o dia oito de outubro. Venha, associe-se. Ainda dá tempo de você , perito que não é filiado à ANMP, participar deste sorteio e usufruir de todos benefícios de ser associado.

ANMP COMEMORA 18 DE OUTUBRO

Associe-se! Concorra!

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ara a surpresa geral de mais de sete mil peritos médicos da Previdência, entre ativos e inativos, a Medida Provisória 441, que reestrutura 54 carreiras do serviço público federal desonrou o acordo firmado com a maioria dos 350 mil servidores contemplados em seu texto. No caso da perícia, a situação é a mais grave. (Em uma arbitrariedade) arbitrariamente, o governo mudou o nome da carreira e tentou retirar nossa identidade. Este é o principal tema desta edição da ANMP em foco.

Com a edição da MP, nossa luta contra o governo se acirrou. Dependemos agora de um intenso trabalho que a categoria tem que desenvolver como um todo, unida. Mais uma vez chamamos a todos para que pressionem os parlamentares nas suas bases e convença-os a não deixar passar a MP como foi editada.

Nossa vontade é a reedição. Se isto não for possível, vamos lutar pelas emendas apresentadas pela perícia médica da Previdência. Vale lembrar que este é um momento de eleições municipais e os parlamentares estão em suas bases, mais perto de vocês do que nunca.

Além do desgaste imediato provocado por esta medida do governo, outro dano foi ocasionado: devido aos quatro meses de espera por esta malfadada MP, nossa revista deixou de circular no bimestre junho/julho.

A revista, em seu sétimo número, aborda a questão da MP441 e está repleta de matérias do interesse da perícia. Neste número queremos fazer não somente o convite à leitura, mas uma convocação para o engajamento da categoria. Somente a nossa união pode garantir a melhoria nas condições de trabalho e remuneração da perícia.

Foi com o esforço dos peritos que conseguimos algumas conquistas neste período. Foi com o trabalho isolado, mas dentro do espírito de grupo, que obtivemos algumas vitórias importantes, como a primeira condenação judicial de um segurado que agrediu verbalmente uma perita, como relata a matéria sobre violência.

Aproveitamos o espírito de engajamento para chamar todos os associados a parti-ciparem mais da construção da nossa Revista. O espaço é aberto a todos. Lembro que qualquer um pode enviar artigos e resumos científicos. Neste número, importantes temas são tratados: aposentadoria especial, asma, parâmetros de avaliação pericial ocular em motoristas e insalubridade. Assuntos de interesse da categoria não faltam. É sempre importante que todos dêem suas sugestões de pauta e suas contribuições. Sejam bem vindos a participar e boa leitura!

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QUEBRA DE ACORDODr. Luiz Carlos de Teive Argolo

Presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos

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CAPA

epois de um ano de negociações e quatro meses de espera, o governo finalmente publicou a Medida Provisória (441/2008) que reestrutura a carreira de perito médico da Previdência e outras 53 carreiras do serviço público. Para a surpresa não só da perícia médica, mas de praticamente todos os servidores contemplados nesta MP, o governo modificou os textos acordados e, no caso específico da perícia, desonrou o acordo, com a proposta de criação de uma nova carreira, colocando um peso ainda maior nas filas de atendimento aos segurados para o cálculo da gratificação de desempenho do perito.

Mais uma vez o governo tentou, por meio desta MP, reti-rar os direitos adquiridos pelos peritos prestes a se aposentar. “Este são apenas três dos pontos mais aviltantes desta MP, que praticamente não cumpriu nada do que foi acordado entre

D

APÓS MESES DE NEGOCIAÇÃO, GOVERNO DESONRA ACORDO COM PERÍCIA

ANMP, Ministério do Planejamento, Ministério da Previ-dência e INSS. Nosso acordo foi literalmente rasgado”, avalia o presidente da Associação, Luiz Carlos de Teive e Argolo.

Apesar de ter sido assinada em uma sexta-feira (29) e publicada em uma edição especial do Diário Oficial da União no sábado, 30 de agosto, a MP provocou uma reação imediata por parte da ANMP, que enviou ao governo uma avaliação da medida provisória e sobre o descumprimento do acordo.

No documento, a diretoria da ANMP questiona “por que o acordo foi desrespeitado e houve a criação unilateral da carreira de Médico Perito Previdenciário ? Formou-se grupo de trabalho para a reestruturação da remuneração, assim como com as demais carreiras, bastando para confirmação disso, a leitura da MP441. Em nenhum momento das 17

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APÓS MESES DE NEGOCIAÇÃO, GOVERNO DESONRA ACORDO COM PERÍCIA

reuniões houve discussão com a perícia sobre a possibilidade de estruturar uma NOVA CARREIRA. Esta discussão, bem mais ampla, não se fazia necessária.”

Ainda de acordo com o Dr. Argollo “os servidores Peritos Médicos da Previdência Social não têm qualquer impasse em relação a natureza e atribuições da carreira à qual pertencem e na qual ingressaram, por concurso. Ou seja: não há e não havia qualquer interesse em extinção da Carreira de Perito Médico da Previdência Social desde 2004. A adesão dos médicos do quadro à mesma e o interesse nos concursos falam por si. A INSATISFAÇÃO DIZIA RESPEITO À REMUNERAÇÃO DA CARREIRA. FOI ISTO QUE SE DISCUTIU COM A CLASSE. APENAS ISTO !!”

Novo nome

A mudança na denominação da carreira foi um duro golpe para os peritos. “Na Lei 10876/04 somos Peritos Médicos da Previdência Social, isto para nossa categoria é muito importante, foi uma conquista de luta, trocar o subs-tantivo PERITO em adjetivo nos desqualifica. Não vemos nenhum sentido em criar e muito menos com a transposição de uma carreira “viva” e atuante como a carreira de peritos médicos (matando-a) e não transpor uma carreira “morta e em extinção” a dos supervisores médicos. São apenas 99 supervisores médicos periciais e 22 médicos do PCCS que não optaram anteriormente. Nosso acordo foi o de abrir a opção para a carreira da 10876/04 a estes e não de criar uma nova carreira”, afirma o documento.

Em uma nota técnica, nosso departamento jurídico avalia que “em primeiro lugar, verifica-se que a nomenclatura utili-zada pela MP para a ‘nova’ Carreira – cuja criação revela-se injustificada, porquanto não se diferencia em nada da Carrei-ra de Perito Médico da Previdência Social – é confusa, pois se refere, no artigo 30, a “Médico Perito Previdenciário” e, no §3º do mesmo artigo, a “Médico Perito Previdenciário ou de Perito Médico Previdenciário”. Ainda de acordo com a nota técnica “é salutar que uma Carreira tenha nomen-clatura única, sendo muito oportuna a utilização do termo “Perito Médico Previdenciário”, que contempla a atividade central da Categoria: a realização de perícias que analisam a pertinência ou não de direitos previdenciários, diferente-mente da terminologia “Médico Perito”,que descaracteriza a especificidade da Carreira”.

GDAMP

A mudança na proporção da GDAMP individual X GDAMP institucional de 40/60 pontos, para 20/80 foi proposta e aceita na condição de desatrelar a gratificação a fila, para que peritos não tivessem sua remuneração com-prometida por fatores que não são seus. A diminuição do peso da Avaliação Individual vinha ao encontro do anseio da classe de diminuir o caráter pessoal de certas avaliações (notas ruins por perseguições ou desacertos particulares com as chefias, uma vez que tais avaliações tem itens bastante subjetivos). “Esta MP no Art. 38 § 4º I, II e III, mostra clara-

mente que nada acordado foi cumprido ao colocar, no texto da Lei e não em norma infra-legal, que a forma de avaliação da Gratificação, o governo voltou a engessar a GDAMP, dando novamente peso à FILA com a GDAPMP”, avalia a diretoria da ANMP

De acordo com o nosso departamento jurídico “De acordo com esse texto, a norma condiciona, sem margem alguma à discricionaridade da Administração, a percepção da GDAPMP, parcela substancial dos vencimentos, a um fator absolutamente alheio aos peritos médicos, mesmo com a denominação de Gratificação de Desempenho”.

“Ora, se o modelo de avaliação atual, que vincula a per-cepção integral da parcela institucional ao atendimento em cinco dias é eficaz, pode deixar de sê-lo brevemente, seja por demais complacente, seja por demais rigoroso. Fato é que engessar em texto normativo os requisitos para a percepção da GDAPMP, mormente quando são alheios ao desempenho do médico e vinculados a fatores externos, torna a sua redação inconstitucional, por afronta direta ao artigo 39, §1º, III da Constituição Federal, que assinala que a fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remu-neratório observará as peculiaridades dos cargos”.

AGE e emendas

Para tentar reverter os efeitos da MP 441, duas medidas foram tomadas imediatamente pela diretoria da ANMP. A primeira a convocação de uma AGE, no dia nove de setem-bro, na qual os delegados, após reunião com os associados no âmbito de cada gerência executiva, analisaram quais as melhores formas de mostrar ao governo que a perícia não aceita a quebra do acordo. Esta edição da ANMP em foco foi fechada antes do resultado final da AGE, que já está publicado no site da ANMP.

A segunda medida foi o envio ao Congresso Nacional, para vários parlamentares, de seis emendas de autoria da ANMP, para modificar praticamente de forma total a MP 441, no que se refere à perícia. O texto das emendas é suge-rido pela Associação aos parlamentares que, ao acolherem a sugestão, transformam-na em emendas de sua autoria, porque somente a eles cabe modificar tais proposituras. As emendas versam sobre todos os problemas já expostos nesta matéria.

Na verdade, a ANMP queria que a MP fosse reeditada pelo governo, tamanho o número de questões não acorda-das que se encontram em seu teor. A expectativa é de que o governo, pressionado não só pela perícia, mas pelas demais carreiras, ainda retire o atual texto do Congresso e reedite uma nova medida provisória, desta vez cumprindo os acordos fechados.

Apesar de trabalhar neste sentido, a ANMP não po-deria deixar de enviar ao Congresso as emendas ao texto atual, que foram acolhidas por parlamentares sempre dispostos a ajudar a categoria, como os deputados Nel-son Pellegrino (PT-BA), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Mauro Nazif (PSB-RO), Darcísio Perondi (PMDB-RS), Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) e o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE).

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Este foi o acordo assinado com o governo

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Este foi o acordo assinado com o governo

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AR

TIG

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Aposentadoria Especial é vista por alguns como um privilégio. De fato, interromper as atividades laborativas e entrar em gozo de um benefício previdenciário com apenas 15, 20 ou 25 anos de contribuição para a Previdência Social, quando o restante dos trabalhadores precisa cumprir 30 ou 35 anos, conforme o sexo, aparenta ser uma benesse. Entretanto, a antecipação da aposentadoria restringe-se a atividades com extremo risco de adoecimento, de forma que não se pode exigir dos indivíduos a elas expostos que laborem pelo mesmo período dos demais, sob pena de não sobreviverem (ao menos não com saúde) para chegar ao benefício. O assunto é tão relevante que está previsto na Constituição Federal. O pará-grafo 1º do artigo 201 veda a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria, no espírito igualitário que caracteriza a chamada Constituição Cidadã, mas exclui do alcance do dispositivo os “casos de atividades especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física”. Fica claro, portanto, que a Aposentadoria Especial é um res-gate do trabalhador, removido precocemente da exposição a situações sabidamente danosas à saúde, às quais, a rigor, seres humanos não deveriam ser submetidos. Deve ser objetivo da nação encontrar meios de substituir os homens por máquinas no exercício de tais trabalhos, situação em que o benefício especial perderia sua destinação e poderia ser extinto.

As normas que disciplinam a concessão da Apo-sentadoria Especial têm mudado tanto que não é possível compreender o benefício sem algum esforço de compilação histórica. A primeira lei a prever a Especial foi a 3.807, de26/08/1960. Dispunha o seguinte:

Art. 31. A aposentadoria especial será concedida ao segurado que, contando no mínimo 50 (cinqüenta ) anos de idade e 15 (quinze) anos de con-tribuições tenha trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços, que, para êsse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo.

Do princípio já se percebia a disposição de delegar

ao Poder Executivo a prerrogativa de estabelecer quais as atividades que dariam direito ao benefício, reconhecendo o dinamismo da atividade econômica, o que dificultaria a atualização constante do rol pelo necessariamente vagaroso rito legislativo. Quatro anos depois, o decreto 53.831, de 25/03/1964, inseriu a exigibilidade de permanência e habi-tualidade para o direito ao benefício:

A perícia médica e a proteção à saúde e segurança do trabalhador

APOSENTADORIA ESPECIAL

A

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Dr. Bruno Gil de Carvalho Lima

Perito Médico Perito do INSS

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Art 3º A concessão do benefício de que trata êste decreto dependerá de comprovação pelo segurado efetuado na forma prescrita pelo art. 60, do Regulamento Geral da Previdência Social, perante o Instituto de Aposentadoria e Pensões a que estiver filiado do tempo de trabalho permanente e habitualmente prestado no serviço ou serviços, considerados insalubres, perigosos ou penosos, durante o prazo mínimo fixado.

Vê-se, pois, que o critério da permanência sempre caracterizou a Aposentadoria Especial. À época, ainda estava prevista a aposentadoria pelo simples exercício de certas profissões, sem que fosse necessário comprovar a exposição a agentes nocivos específicos. Conclui-se que, também para o enquadramento de períodos como especiais por atividade, deve-se comprovar o exercício permanente do labor consi-derado danoso à saúde. Por isso, quando um médico requer B46 ou cômputo de período especial para integralizar um B42, com base no item 2.1.3 do anexo do decreto 53.831, ele precisa comprovar que de fato exerceu a Medicina, seja através de notas de sala (procedimentos cirúrgicos) ou comprovantes de atendimento ambulatorial, não bastando a apresentação de diploma e o registro junto ao Conselho Regional de Medicina, já que tais documentos não garantem que de fato o profissional realizou atos médicos.

A lei 6.439, de 01/09/1977, instituiu o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social. Embora o decreto 83.080, de 24/01/1979, faça referência a ela, a lei nada dispõe sobre benefícios, limitando-se a regular a

organização do SINPAS. Também como o decreto 53.831, revogado pelo decreto 63.230, de 10/09/1968, permaneceu em vigor por força da lei 5.527 (08/11/1968), do decreto 611 (21/07/1992) e do decreto 3.048 (06/05/1999), para a Perícia Médica pouco contribui o conteúdo do decreto de 1979.

Estabelecida a nova ordem constitucional em 1988, em 24/07/1991 a lei 8.213 vem dispor sobre os planos de benefícios da Previdência Social. No tocante à Aposentadoria Especial, originalmente ela previa que a relação de atividades profissionais prejudiciais à saúde ou à integridade física seria objeto de outra lei, específica (art. 58). Em 10/12/1997, a lei 9.528 restabeleceu a competência do Poder Executivo para arrolar os agentes considerados nocivos. Uma vez que essa lei foi conversão da Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996, a Presidência fez uso desse poder já em 05/03/1997, por inter-médio do anexo IV do decreto 2.172. É interessante enfatizar que o artigo 201 § 1º da CF já dispunha, desde 1988, que o benefício seria matéria de uma lei complementar, mas ainda assim a lei ordinária 8.213 foi decretada pelo Congresso e sancionada pelo presidente. A Emenda Constitucional 20, de 16/12/1998, que tantas mudanças inseriu nos regimes de Previdência, manteve o comando de elaboração da lei complementar, mas manteve em vigor os artigos 57 e 58 da lei 8.213, com a redação que tinham à época, evitando ques-tionamentos sobre a legitimidade dos atos fundamentados naqueles dispositivos. Finalmente, foi constituído grupo de trabalho pela Portaria Interministerial MPS/MF/MTE/MS 295, de 03/08/2007 para avaliar os requisitos e critérios de concessão de aposentadoria especial, proceder ao exame

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comparativo da legislação brasileira com o tratamento dado ao tema por outros países e elaborar a proposta de anteprojeto de lei complementar nos termos do disposto no §1º do art. 201 da Constituição.

Em 06/05/1999, o decreto 3.048 torna a Aposen-tadoria Especial um assunto de interesse da Perícia Médica previdenciária, ao determinar, no § 5º do artigo 68, que caberia aos peritos analisar os formulários e laudos técnicos, com a prerrogativa de inspecionar os locais de trabalho para comprovação das informações neles veiculadas. Os antigos formulários SB-40, DISES-BE 5235, DSS-8030 e DIRBEN 8030 foram substituídos pelo Perfil Profissiográ-fico Previdenciário em 26/11/2001, por força do decreto 4.032, valendo a exigência exclusivamente do PPP a partir de 01/01/2004.

A participação da Perícia Médica na análise de requerimentos de Aposentadoria Especial imprimiu maior qualidade técnica ao processo, sem dúvida, representando um divisor de águas na história do benefício. Em tempos (há pouco) passados, um acordo tácito perverso caracterizava a concessão do benefício.

1 – Por um lado, corporações com lobby eficiente conseguiam que suas atividades figurassem como fontes do direito a aposentadoria precoce, ainda que não se possa de-fender razoavelmente que de fato imponham ao trabalhador a exposição permanente a condições de trabalho nocivas. A lei 9.032, de 28/04/1995, corrigiu essa distorção ao inserir a comprovação de efetiva exposição a agentes nocivos quí-micos, físicos ou biológicos, ou associação de agentes, como requisito para a Especial. A medida foi acertada porque difi-cilmente se pode imputar a uma atividade laboral o status de danosa à saúde logo de início, fazendo-se necessária a análise das condições objetivas em que cada trabalhador atua para uma decisão no caso concreto. Ocorre que servidores sem formação médica não detêm os conhecimentos e habilidades necessários para detectar incongruências nos documentos apresentados para pleitear o benefício, o que tornou indis-pensável o envolvimento da Perícia.

2 – De parte de muitos empregadores sem qual-quer compromisso com a saúde e segurança no trabalho, era comum a emissão de formulários e laudos de forma a favorecer e facilitar a concessão do benefício pelo INSS, posto que a aposentadoria do trabalhador representava uma oportunidade de abrir vaga para outro, normalmente mais jovem, provavelmente menos dispendioso e possivelmente mais produtivo, sem que para a empresa coubesse qualquer ônus pela precocidade da interrupção da vida produtiva do indivíduo desligado. Não havia estímulo a investimentos na adequação do ambiente de trabalho nem do processo produtivo para a salvaguarda da saúde do operário, já que o único reflexo de um ambiente de trabalho adoecedor seria a transferência adiantada do mesmo da folha de pagamento da empresa para a lista de beneficiários da Previdência. Essa situação começou a mudar com a lei 9.732, de 11/12/1998, que inseriu financiamento específico para o benefício, onerando os empregadores em 6, 9 ou 12% conforme a atividade levasse à aposentadoria com 25, 20 ou 15 anos de

serviço. É notória a transformação miraculosa de ambientes de trabalho flagrantemente insalubres, quase que automa-ticamente vinculantes a uma Aposentadoria Especial, em locais completamente adequados do ponto de vista da saúde e segurança no trabalho, sobretudo na mudança de formulários que tornou mais transparente a informação sobre os dados relacionados ao benefício. Não raro, os peritos se defrontam com SB-40 ou DSS-8030 datados de 31/12/2003 acompa-nhados por LTCAT que “pedem” para conceder o benefício, seguidos de PPP pós-01/01/2004 que retratam situações diametralmente opostas para os mesmos trabalhadores nas mesmas instalações das mesmas companhias. Dificultada a transferência do ônus pela aposentadoria precoce ao Erário, deixou de ser atraente a facilitação do enquadramento de períodos como especiais pelos empregadores.

3 – Setores pouco esclarecidos dos trabalhadores e do movimento sindical viam com bons olhos a facilidade de Aposentadoria Especial dos seus integrantes, lutando pelo reconhecimento da insalubridade, periculosidade ou penosidade das atividades a que se dedicavam, quando o preferível seria reivindicar a correção das condições dani-nhas para proteger a saúde do empregado. Configurava-se uma verdadeira venda da saúde do trabalhador, que aceitava expor-se a condições subumanas, desde que pudesse parar de trabalhar antes do normal.

A ineficiência da Previdência Social para analisar de forma escorreita os processos de Aposentadoria Especial e as distorções advindas de posicionamentos enviesados de em-pregadores e trabalhadores conspirava a favor da concessão do benefício, portanto. É nesse cenário que a Perícia Médica inicia sua participação moralizadora. Sucessivas Instruções Normativas foram moldando os processos, nem sempre claros, de análise médica dos requerimentos de Especial. Avanços e retrocessos caracterizaram a evolução, como seria de esperar. Mas alguns pontos merecem relevo:

a) colocar em dúvida as informações veiculadas num formulário ou num laudo apresentado pelo trabalhador se-gurado é, às vezes, tarefa fácil, diante de contradições claras entre itens numa mesma folha de papel. Entretanto, deixar de enquadrar o período, por mais correto que esteja, tecni-camente, pode não ser o fim do processo, mas sim o início de uma longa jornada que envolve recursos ao Conselho de Recursos da Previdência Social, com idas e vindas entre JR, SGBENIN, SORD e CaJ, pareceres contraditórios e demandas judiciais, nem sempre confirmando a conclusão pericial, ainda que por vezes sua adequação seja evidente. É pouco freqüente o uso da prerrogativa de vistoriar locais de trabalho, que poderia agregar informações preciosas ao processo, capazes de dirimir as dúvidas dos leigos do CRPS e da Justiça Federal que podem vir a analisar a questão. Além disso, em se tratando de grandes empresas, uma única vistoria geraria um relatório passível de instruir dezenas de processos, com relação custo-benefício muito satisfatória. Infelizmente, a priorização obsessiva pelo INSS das perícias ambulatoriais e as dificuldades logísticas de muitas Gerências-Executivas, que não podem disponibilizar viaturas para o deslocamento dos peritos a plantas industriais por vezes longínquas, inserem

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faculdade que detém a Autarquia por força do § 3º do artigo 194 da IN 20, de 10/10/2007, desde que comunicada a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB);

d) a questão do uso de tecnologia de proteção indivi-dual (EPI) tornou-se, recentemente, o pomo da discórdia da Aposentadoria Especial. Até o fim da vigência da Instrução Normativa 11, de 20/09/2006, sabia-se que a informação sobre o uso de EPI não era exigível até a publicação da lei 9.732 em dezembro de 1998, mas, caso o dado viesse regis-trado no PPP, era utilizado pela Perícia para deixar de enqua-drar o período, não importando quando tivesse ocorrido a exposição. A Orientação Interna 165, de 26/03/2007, era taxativa a esse respeito, no item VIII do Capítulo I. De fato, em termos médicos, não é racional enquadrar um período como especial se o segurado trabalhou num ambiente com ruído de 87 dB mas usando um protetor auricular tipo con-cha que atenuava o agente para abaixo de 85 dB. Por óbvio, se chegavam menos de 85 dB aos tímpanos do trabalhador, sua saúde não estava em risco, e não subsiste qualquer moti-vo lógico para aposentá-lo antes do tempo de contribuição exigido para todos os outros. Para esse fim, pouco importa se o ruído que atingia o segurado estava dentro dos limites de tolerância porque de fato o ambiente era silencioso ou se porque o ruído ambiental excessivo era impedido de chegar ao órgão-alvo por um EPI. Mas Perícia Médica não é pura e simplesmente o exercício da Medicina, como se faz na assistência à saúde. É uma atividade médico-legal, ou seja, a utilização do conhecimento médico para responder a uma quesitação proposta por uma autoridade legalmente com-petente para fazê-lo, e que precisa das respostas para uma tomada de decisão que será, necessariamente, fundamentada no ordenamento jurídico. É certo que as empresas estavam obrigadas a fornecer EPI aos seus empregados? Sim, desde que assim dispôs o item 6.3 da Norma Regulamentadora 06, aprovada pela Portaria 3.214/1978 do Ministro do Tra-balho. É certo que, atendidas certas condições (adequação e suficiência do EPI para atenuar ou eliminar a nocividade do agente, troca na validade, treinamento do empregado para utilizá-lo e respeito à hierarquia de ajustes do ambiente e do processo de trabalho, seguida da instalação de tecnologia de proteção coletiva e, somente quando tais medidas forem insuficientes ou impossíveis, optar pelo EPI), o EPI descarac-teriza a especialidade do período trabalhado? Naturalmente que sim, tanto é que o Ministério do Trabalho e Emprego confere um Certificado de Aprovação ao equipamento testado. Mas tudo isso com base em normas de Direito do Trabalho, estranhas à Aposentadoria Especial. Ainda que o PPP registre que o segurado usou EPI eficaz, demonstra-ções ambientais emitidas até 02/12/1998 não tinham que informar tal fato, logo não se pode usá-lo para negar direitos. Em 02/12/1998, a Medida Provisória 1.729, publicada em 03/12/1998, inseriu na lei 8.213 a obrigatoriedade de o laudo apresentado para provar as condições que dão direito à Aposentadoria Especial prover informação sobre o uso de EPI. Por isso, é a partir dessa data que se pode aproveitar o dado para descaracterizar o período como especial, pois marcou-se a entrada do EPI na legislação previdenciária, o

obstáculos a essa prática tão necessária;b) diferentemente dos benefícios por incapacidade, em

que o papel da Perícia é evidente e, muitas vezes, o indefe-rimento devido a questões administrativas, vínculos e datas acaba sendo injustamente imputado aos servidores médicos, na Aposentadoria Especial o enquadramento pericial fica oculto no processo. Embora os segurados que requerem um auxílio-doença não usem com freqüência a prerrogativa de solicitar à APS cópia do seu laudo, eles sabem que a não constatação de incapacidade pela Perícia é o motivo principal de negativa do INSS em conceder ou manter o benefício. Nos requerimentos de B46 e B42 com despacho 10, as comunicações de resultado são padronizadas no modelo dos benefícios que não são por incapacidade. O trabalhador recebe uma carta em que se comunica a não totalização do tempo de contribuição necessário para o gozo da aposenta-doria, mas não fica claro para ele se o não reconhecimento do seu direito se deu por uma questão matemática de contagem de tempo, pela não aceitação de algum documento ou por não enquadramento médico de períodos trabalhados como especiais. Além disso, a excessiva tecnicalidade dos assuntos envolvidos dificulta o entendimento do segurado sobre o motivo do indeferimento, ainda que ele tenha acesso ao processo físico. Por conseqüência, trabalhadores que até poderiam ser convencidos de que não têm direito ao bene-fício insistem em recorrer sem apresentar qualquer fato ou argumento novo, conduta encorajada pela freqüência das reformas e contra-reformas das decisões da Autarquia nos recursos administrativos e judiciais;

c) as incorreções e lacunas dos documentos apresen-tados para requerer a Aposentadoria Especial costumam motivar o não enquadramento, confiando-se que o segurado sanará as irregularidades processuais ao recorrer à JR. Con-forme comentado no item anterior, dificilmente isso ocorre, o que leva a recursos “porque sim”. Mais proveitoso seria parar a análise e fazer exigências específicas para dispor de todos os elementos de convicção ao exarar a conclusão pericial. Infe-lizmente, é comum o perito ser pressionado pela APS a não fazer exigências e concluir com as informações disponíveis (o que só pode conduzir ao não enquadramento), para que se dê o processo por analisado e não haja reflexo sobre o Tempo Médio de Concessão, o Tempo Médio de Espera e outros índices de avaliação das unidades da Previdência que focam o quantitativo produzido e desconsideram solenemente a qualidade técnica das análises feitas pelos Peritos Médicos da Previdência Social, Técnicos do Seguro Social e Analistas do Seguro Social. Os indicadores frios até podem melhorar, mas sem dúvida o recurso aumentará o volume de demandas da APS e, no cômputo geral, a morosidade do Serviço Público acaba aumentando. Outra distorção comum é, quando se faz a exigência, fazê-la ao segurado, que não raro tem dificuldades para conseguir da empresa o documento correto, ainda mais quando a inadequação do laudo originalmente apresentado não foi acidental, mas deliberadamente inserida para ocultar a inobservância de alguma norma previdenciária ou trabalhis-ta. O indicado seria oficiar diretamente a empresa e dar prazo para resposta, com punição em caso de inércia ou embaraço,

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que ocorrera vinte nas normas trabalhistas vinte anos antes. A IN 20, de 10/10/2007, corrigiu o problema mediante o parágrafo único do artigo 180, mas com três improprie-dades: estabeleceu como data de corte a da conversão da MP em lei (11/12/1998), inseriu o dispositivo num artigo específico para o agente nocivo ruído, quando há EPI para outros agentes, e vinculou a análise pericial ao período trabalhado, quando a lei 9.732 se refere à emissão do laudo. Essas questões foram alvo de saneamento pela recente IN 27, de 19/03/2008. Ainda sobre o EPI, registre-se que ele é exatamente o ponto em que a maioria dos empregadores de ma-fé se apóia para tentar impedir o acesso do trabalhador ao benefício e fugir do recolhimento da alíquota que o financia. Quando a Perícia constata que todas as informações do PPP apontam para a concessão da Especial e somente o “S” no campo 15.7 removerá o direito do segurado, o que se coaduna com a informação “0” no campo 13.7 (GFIP), cabe perguntar se não há maquiagem deliberada do empresário para fim de elisão tributária. Muitas vezes, a fraude é mal feita, e uma simples consulta ao CA informado permite perceber que ele não é adequado ao agente que pretende neutralizar. Ou-tras vezes, apenas a análise da demonstração ambiental que embasou o preenchimento do PPP pode dirimir a dúvida. O novo padrão gráfico do PPP, com o check-list do campo 15.9, trouxe mais transparência à informação, permitindo que o próprio trabalhador acesse os dados antes sintetizados nua única letra e que o perito possa, se for o caso de não en-quadrar o período pelo uso de EPI, fundamentar de forma

consistente sua conclusão. O Enunciado nº 21 do CRPS e a Súmula nº 09 da Turma de Uniformização dos Juizados Especiais Federais não deixam dúvidas: deixar de reconhecer direitos do trabalhador pela simples informação de uso de EPI não é aceitável, logo é preciso robustecer os pareceres periciais no formulário DIRBEN 8248 para preencher as exigências dos órgãos jurisdicionais. Condutas ensimesmadas de desconsiderar tais balizas do Conselho de Recursos e da Justiça sob o raciocínio de que o servidor só deve cumprir Instruções Normativas autárquicas são pouco inteligentes, senão porque eles podem reformar as decisões periciais, so-bretudo porque os próprios atos normativos previdenciários têm se conformado aos vetores por eles estabelecidos;

e) outro ponto recentemente melhorado na IN 20 foi a questão da forma de apresentação do nível de ruído no ambiente de trabalho. Originalmente, o artigo 180 da IN 20 estabelecia, nos seus incisos I a III, faixas segundo os níveis de pressão sonora limítrofes para a tolerância, conforme a evolução dos decretos, mas com a exigibilidade de histograma ou memória de cálculos desde sempre. Exigência difícil de ser cumprida, pois histograma é um gráfico específico gerado pelo dosímetro, que mede o ruído continuamente por um período, tecnologia nem sempre disponível no Brasil. Já a memória de cálculo pressupõe um exercício matemático de média logarítmica de medições ao longo da jornada para chegar à dose (conforme normas atuais, uma jornada de oito horas com ruído contínuo de 85 dB equivale a uma dose unitária. Qualquer aumento da pressão sonora deve

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levar a uma redução do tempo de exposição – jornada – para manter a dose = 1, valor que, se ultrapassado, dá direito ao enquadramento), coisa que tampouco se fazia na década de 70, por exemplo. Na verdade, a primeira regra previdenciária a prever exigência de memória de cálculo foi a IN 57, de 10/10/2001. Por isso, a IN 27 deixou em aberto a forma de apresentação das medições até tal data, cabendo ao pe-rito médico ponderar se o valor registrado no formulário é fidedigno e quando é necessário analisar mais detidamente o documento originário.

O último aspecto relevante da atuação médico-pericial na análise de requerimentos de Aposentadoria Especial é a função fiscalizadora da Perícia Médica. Muito se fala sobre a tensão entre a vocação cuidadora da Medicina e a atribuição à Perícia do dever de, ao reconhecer ou deixar de reconhecer direitos, colocar em dúvida as informações que lhe são prestadas. Há quem veja como um desvio o mé-dico, profissional iniciado na nobre atividade de prevenir e curar enfermidades, usar seu conhecimento especializado para barrar pretensões de pessoas que, afinal de contas, con-tribuíram para o sistema, a um benefício. Ninguém sai da Faculdade de Medicina capacitado para auditar documentos e detectar incongruências a fim de definir quem entrará ou não em gozo de benefícios pecuniários, e nem todo médico é talhado para essa tarefa. Por isso, mesmo entre peritos do INSS, há a necessidade de identificar aqueles com perfil para tal encargo, aos quais os chefes de SGBENIN delegam a competência específica para análise de requerimentos de Aposentadoria Especial por portaria, conforme Resolução 161 da então Diretoria Colegiada do Instituto.

Mas engana-se quem pensa que faz algo menor ou menos nobre do que a melhor Medicina ao dedicar-se a essa tarefa espinhosa. São tantas e tão detalhadas as informações que as empresas devem prestar à Previdência hoje que dificilmente se consegue ludibriar a Perícia por muito tempo. O perito atento detecta freqüentemente indícios de irregularidade ao analisar formulários e demonstrações ambientais que lhe chegam às mãos. Um simples PPP cruza dados de organização do processo produtivo, características do ambiente de trabalho, medidas de segurança e saúde instaladas e enquadramento tributário, sendo comum que eles sejam incompatíveis uns com os outros. Encaminhar tais indícios à RFB, ao Ministério Público Federal, ao Ministério Público do Trabalho, ao Conselho Regional de Medicina, ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia ou à Procuradoria Federal Especializada junto ao INSS, na dependência da natureza da irregularidade constatada, além de ser um dever do perito, conforme a IN 20, é instru-mento à disposição da Perícia Médica para intervir, no atacado, sobre a salubridade dos ambientes de trabalho brasileiros, promovendo a Saúde de milhões de segurados da Previdência Social. É preciso que os peritos previdenciários assumam com denodo essa incumbência, educando o empresariado, pela taxação, sobre a importância de fazer do emprego uma fonte de realização pessoal e de renda para o trabalhador, e não de adoecimento. Essa função fiscalizadora da Perícia a aproxima das chamadas carreiras de Estado, fortalece a importância da categoria na Autarquia Previdenciária e permite reconhecer com maior correção o direito daqueles que o têm ao mesmo tempo em que se assegura a saúde da força de trabalho brasileira, fonte primária das riquezas do país.

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CRESCIMENTO IMPULSIONA ANMP

om o crescimento constante da ANMP a sua dire-toria viu a necessidade de descentralizar suas ações e, para isto, criou três novos departamentos, os quais já estão em processo de implantação dentro da estrutura da Associação. Para falar sobre a importância de cada um dos novos depar-tamentos, a ANMP em Foco fez uma entrevista ping-pong com os diretores da Associação que assumiram esta nova incumbência.

Sobre o novo departamento técnico científico, foi ou-vida a Dra. Maria Lúcia Campos Mello Tavares. Médica formada pela Faculdade de Medicina da UnB; Ex-Chefe de Divisão de Perícias Ocupacionais da DIRBEN; Ex-Conselheira Fiscal da ANMP nos biênios 2003-2004 e 2005-2006; Chefe de GBENIM gerência do Distrito Federal; Assistente técnica do Conselho de Recursos da Previdência Social.

Para tratar das questões relacionadas com os aposenta-dos e pensionistas entrevistamos o Dr. Antônio Carlos di

Benedetto, diretor da ANMP. Benedetto é médico perito do INSS desde 1975. Formado na Faculdade de Medicina de Taubaté, em 1973, ele é especialista em ginecologia, filiado à Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) da AMB. Benedetto foi delegado da ANMP em São Paulo de 2003 a 2007.

Com relação a um dos temais que mais preocupa a perícia desde a criação da carreira, a questão da segurança e da ética, ouvimos a diretora da ANMP, Regina Célia Rodrigues Alves. Médica formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em 1977, Regina Célia é médica perita do INSS desde 1983, tendo sido coordenadora técnica do CRP-Rio de Janeiro de 1984 a 1990; Diretora do CRP-Rio de Janeiro de 1990 a 1993. Ela foi ainda membro efetivo da Comissão Estadual de LER/DORT do Rio de Janeiro, representando o INSS junto ao Ministério da Saúde e coordenadora do Departamento de Perícia Médica do Sindicato dos médicos do Rio de Janeiro.

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CONHECIMENTOCOMPARTILHADO

Departamento recebe trabalhos técnico-científicos, artigos e publicações dos peritos

Drª. Maria Lúcia

Médica Perita do INSS

Em foco : Qual o objetivo do seu departamento?ML: Ser um catalisador técnico da atividade médico pericial. Ser um canal de divulgação da produção técnico-científica dos médicos peritos, além de difundir ou divul-gar informações técnicas-científicas pertinentes à área. Incentivar a produção intelectual dos peritos, a troca de experiências e informações.

Em foco: Como ele funcionará?ML: Funcionará por meio do recebimento de trabalhos científicos elaborados pelos peritos e divulgação dos mesmos no site, revista e demais canais de comunicação à disposição da ANMP. Vamos ter a publicação de obras não somente de artigos, mas de livros, o que inclui mono-grafias e teses. Também faremos, de acordo com análise do Departamento, o patrocínio para publicação de obras de conteúdo específico de interesse da perícia.

Em foco: Quais as suas principais propostas para este departamento?ML: Valorizar o trabalho técnico científico dos peritos médicos do INSS. Divulgar os trabalhos já produzidos e incentivar a produção constante de novos materiais de inte-resse da perícia. Dentro do quadro de cinco mil associados há inúmeros talentos a serem incentivados, não só em prol do desenvolvimento intelectual dos nossos associados, mas principalmente para aumentar o cabedal de informações técnicas à disposição da categoria.

Em foco: Quais são as maiores carências da perícia no setor técnico-científico?ML: A maior e crucial carência é a falta de consolidação do conhecimento técnico. Existe um monte de gente que sabe um monte de coisas sobre a perícia. Este conhecimento, no entanto, não está consolidado. É necessário compilar estes dados, formatar e deixá-los acessíveis aos peritos.

Em Foco: A comunicação social ficará ligada ao seu departamento? Será dada prioridade para publicações de algum tipo?ML: Toda a parte da comunicação social, como a revista, site, publicações estão diretamente ligadas ao meu depar-tamento. A prioridade vai ser dada ao conjunto todo, não apenas a algum tipo de publicação. Temos que melhorar o site ainda mais, acabar sua reestruturação, que é um processo difícil, demanda tempo. A estimativa é de que fique pronto somente em outubro, isto se tudo der certo. A revista vem melhorando a cada edição. Nosso objetivo é torná-la sempre melhor. Vamos buscar a indexação jun-to ao CNPq, e também junto ao IVC. Sobre as demais publicações nós já falamos.

Em foco: Como motivar os peritos a participarem deste departamento?ML: Esperamos que os colegas vejam na ANMP o prin-cipal veículo de difusão de seus trabalhos e de difusão científica. Queremos ser um passo inicial para a formação de um curriculum profissional em área médica única dentro da sociedade.

Em foco: Seu departamento já começa com alguma novi-dade para a perícia?ML : Uma grande novidade. A ANMP está em processo final de estruturação da Perito WebTV. Este será um canal aberto entre a associação e seus filiados para a troca de experiência, divulgação de notícias por meio do veículo mais ágil e de maior acesso hoje por todas as categorias, que é a TV via internet. O programa piloto já foi gra-vado e trata de dois assuntos importantes: o combate à violência e a importância do correto preenchimento de um laudo pericial. Assim que o programa for ao ar, espero a participação de todos com críticas e sugestões para o aprimoramento do nosso trabalho.

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APOSENTADOS:VAMOS À LUTA

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Em foco: Por que criar um departa-mento específico para aposentados e pensionistas?ACB: Com a criação da carreira de perito médico no INSS e conseqüente entrada de novos colegas pelos concur-sos recentes, além do crescimento da ANMP, que hoje congrega e representa mais de 85% de nossa categoria, cons-tatamos a necessidade de atender não somente, aos interesses daqueles que se iniciam na carreira, mas também, aos daqueles ou os dependentes daqueles que entregaram grande parte de suas vidas tanto pessoal como profissional para a causa social,trabalhando dire-tamente com a massa trabalhadora desse país.

Em foco: Quantos peritos aposentados existem hoje? Quantos são associados? O senhor sabe quantos peritos estão na iminência de se aposentar?ACB: O universo de peritos aposen-tados é de aproximadamente dois mil médicos. Destes, cerca de 1.250 são nossos associados. Dos cinco mil médi-cos peritos da ativa, mais de mil estão já no último nível da carreira e próximos da aposentadoria.

Em foco: Quais são os principais desa-fios deste novo departamento?ACB: Temos grandes desafios para tornar nosso departamento atuante. Como o Brasil é muito extenso, vamos localizar as áreas de maior concentração

Departamento especial para peritos aposentados e pensionistas

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Em foco: De que forma os peritos aposentados e pensio-nistas podem ajudar a fortalecer este departamento?ACB: A força deste departamento vai depender do empe-nho de cada aposentado ou pensionista. Espero que, a partir de agora, cada um procure acessar o nosso site diariamente, pois criando esse hábito, estaremos mais unidos. Também espera-se que o aposentado localize e procure colegas com os quais perdeu o contato para que se juntem a nós, e se precisar de números de telefone, peça a nossa secretaria, que tentaremos ajudar embora o mais fácil seja pelo RH. Mostre àqueles que resistem à internet e têm dificuldade em entrar em nosso site que a coisa não é tão difícil assim.

Finalizando, devo dizer que estou no INSS desde 1975, não falo somente, mas conheço o dia a dia do colega tanto o novo com o qual estou tendo a oportunidade de conviver como com o mais antigo, como eu. Sei das aspirações de cada um. Não acredito que por nos aposentarmos não temos mais sonhos, eu sonho em fazer com que o aposen-tado e o pensionista vibre, acompanhando e fazendo parte de nossas lutas, se motivando com a ANMP. Batalhas não faltam para todos nós. Há interesses comuns tanto para aposentados e pensionista, como para o perito recém in-gressado na carreira e meu maior desafio será não dividir, mas nos unirmos nas expectativas comuns, e aí lembro o nosso associado de número 5000, Dr.Carlos Hugo.

dos nossos colegas e pensionistas que constituem o público alvo, além das capitais já conhecidas. Vamos detectar as necessidades e as aspirações que tem esse grupo por meio de questionários via correio e via internet, em nosso site.

Em foco: Quais as principais demandas dos aposentados e pensionistas?ACB: Vamos detectar estas demandas, tanto pelas ações acima como, na medida do possível, pela organização de reuniões em pontos estratégicos e de acesso fácil por todo o país. Uma demanda que é importantíssima é a represen-tatividade dos aposentados. Atualmente, nossos delegados todos são peritos ativos. Queremos abrir espaço para a representatividade dos aposentados também, fazer com que eles interajam mais junto aos outros associados e à própria ANMP. Vamos buscar uma mudança em nosso regimento para permitir uma participação mais efetiva

Em foco: O senhor pode elencar as ações que a ANMP já adotou em prol dos aposentados? Quais o senhor des-taca?ACB: Sem dúvidas as lutas destas últimas negociações com o governo mostraram o respeito que ANMP tem pelos seus aposentados. Quando o governo insistia em dizer e dava a entender que aposentados e pensionistas deveriam ter seus vencimentos reajustados de maneira que sobrasse mais dinheiro para o reajuste de quem está na ativa, a diretoria da ANMP não só repudiou como não aceitou ofertas desse gênero, fechando questão sobre isso. Prova é que os apo-sentados e pensionistas saíram da negociação com o maior índice de correção em relação a todos os outros colegas.

Drº. Benedetto

Médico Perito do INSS

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ÉTICA & SEGURANÇA

Em foco: Como vai funcionar seu departamento?RCRA: Vai funcionar de forma descentralizada, isto é, pretendo incentivar a criação de Comissões de Ética Médica em cada gerência regional com a legitimidade dos Conselhos Regionais. Há regras a serem cumpridas, já estabelecidas em normas do CFM (processo eleitoral, números de integrantes, forma de atuação, etc). É importante também estabelecer uma Comissão de Ética para o nosso fórum. Pretendo convidar alguns colegas de regiões diferentes. Quanto à segurança, já existem em algu-mas regionais “brigadas”, e se não estou enganada, a pioneira foi a de Porto Alegre. Pretendo conhecer melhor o funcionamento das mesmas, estimulando a sua implantação.

É importante a comunicação imediata a ANMP de todos os casos. Temos que ter um manual de proce-dimentos. Em todas estas ações, necessito do apoio e do trabalho dos nossos delegados, assim como o da assessoria de imprensa. Concomitante, a ANMP fará sua parte no que diz respeito à interface com a

Instituição e com os órgãos afins, com PF, MPF etc.Pretendo estabelecer um canal direto com as Comissões, num primeiro momento vai ser por meio de e-mail. A construção deste departamento também vai passar pelas sugestões das bases que serão bem-vindas.

Em foco: Quais as principais propostas?RCRA: Descentralizar as ações da ANMP. Manter os sócios informados dos seus direitos e deveres como médicos peritos e funcionários públicos. Lutar sempre pela melhoria das con-dições de trabalho da categoria, principalmente no que se refere ao item segurança. Acompanhar de perto as ações que estão sendo feitas pela Instituição, pelo Ministério Público e cobrar o que ainda falta ser implantado, o que, na minha opinião, ainda é muito. Ouvir os associados, fazer com que o departamento seja mais um canal para suas aspirações dentro da ANMP no que se refere à ética e segurança.

Departamento tentará ajudar na busca do difícil equilíbrio entre a medicina e a perícia

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Drª. Regina Célia Rodrigres Alves

Médica Perita do INSS

Em foco: Por que da necessidade de criar um departamento de ética e segurança?RCRA: São dois temas muito amplos e comple-xos. Dentro de uma estrutura como a diretoria da ANMP, sem uma coordenação específica para os dois temas, corríamos o risco de relegar a segundo plano questões fundamentais como estas. Passa-mos por um período muito intenso de negociações com o governo para a reestruturação da categoria. Neste momento, não podíamos nos dedicar a fun-do, mas também não podíamos relegar a segundo plano o acompanhamento das ações de segurança. O departamento se faz fundamental para garantir que os dois temas sejam sempre uma prioridade para a perícia médica.

Em foco:Quais as principais questões éticas em debate hoje dentro da perícia médica?RCRA: Passa pelo respeito ao segurado, com um bom atendimento (examinando), com registro de-talhado da história, do exame clínico e conclusão coerente. Aprimoramento técnico continuado. Respeito ao colega médico assistente (não passar ao segurado juízo de valor).

O sigilo profissional. O respeito ao colega de trabalho. Passa pela ação enquanto chefe médico (GBENIN). Há um assunto também polêmico que é o respeito ao seu posto de trabalho, seu dever enquanto servidor público.

Em foco:Seu departamento vai discutir a ética da perícia no trabalho apenas, ou também o compor-tamento dos associados perante à Associação?RCRA: A ANMP é uma associação de médicos, portanto, deve se ter como preceito o respeito. É por isto que será criada uma comissão específica para este assunto, inclusive com regras básicas (não censura) para o bom funcionamento do fórum.

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IS BALANÇO DAS AÇÕES JUDICIAISA ANMP, no exercício de sua finalidade precípua de defesa dos interesses de seus filiados, já conta com mais de 20 ações em trâmite na Justiça Federal. Abaixo estão relacionados os principais processos, bem como suas respectivas situações processuais, atualizadas no dia cinco de agosto.

1.EMENTA: Indenização por danos materiais decorrentes da ausência de reajuste dos servidores públicos federais nos anos de 1999, 2000 e 2001NÚMERO: 2004.34.00.018116-5LOCAL: 20ª Vara Federal – Justiça FederalBENEFICIÁRIOS: Todos os peritos-médicos e supervisores-médicos.

Proposta em junho de 2004, a ação visa condenar a União a indenizar os filiados à ANMP pela ausência de reajuste salarial com base nos índices INPC/IBGE a partir de 1998.Foi apresentada contestação e a ANMP, em aten-dimento a despacho judicial, apresentou réplica, refutando a argumentação sustentada pela União Federal em sua peça contestatória. Atualmente, aguarda-se sentença.

2.EMENTA: Extensão integral da GDAMP aos aposentados e pensionistas.NÚMERO: 2004.34.00.018315-5LOCAL: 20ª Vara Federal – Justiça FederalBENEFICIÁRIOS: Aposentados e pensionistas.

Ação proposta em junho de 2004 tem a finalidade de garantir aos aposentados e pensionistas o direito à percepção da Gratificação de Desempenho de Atividade Médico-Pericial – GDAMP – no patamar máximo. Em junho de 2006, o juiz responsável pelo processo proferiu sentença favorável à ANMP, mas limitou seus efeitos aos filiados residentes no DF. Por esse motivo, ainda em junho, a ANMP interpôs recurso de Apelação, tendo o INSS se manifestado a respeito em novembro.O INSS, por sua vez, também interpôs recurso de Apelação e, atualmente, aguarda-se o julgamento dos recursos no TRF da 1ª Região.

3.EMENTA: Correto pagamento do Adicional

por Tempo de Serviço e cobrança dos valores atrasados.NÚMERO: 2004.34.00.024682-4LOCAL: 1ª Vara Federal – Justiça FederalBENEFICIÁRIOS: Todos os peritos-médicos.

Esta ação foi proposta em agosto de 2004 com a finalidade de condenar o INSS e a União a pagarem o valor integral dos adicionais por tempo de serviço dos filiados à ANMP, calculados sobre a totalidade dos vencimentos básicos. Após a apresentação de contestação e réplica, aguarda-se o proferimento de sentença.Em 21 de agosto de 2008, a ANMP formulou, ainda, pedido caltelar para impedir a devolução dos valores já recebidos por diversos associados, o que também aguarda pronunciamento pelo juiz.

4.EMENTA: Retroação dos efeitos financeiros do exercício da opção pela nova Carreira de Perícia Médica ao dia 1º de fevereiro.NÚMERO: 2004.34.00.025516-9LOCAL: 13ª Vara Federal – Justiça FederalBENEFICIÁRIOS: Todos os peritos-médicos.

Essa ação foi proposta em agosto de 2004 para que o INSS fosse condenado ao pagamento dos valores atrasados decorrentes da adoção do termo equi-vocado de início da vigência dos vencimentos da Carreira de Perícia-Médica, o qual foi contabilizado a partir do dia 18 de fevereiro de 2004 e não do dia 1º do referido mês. Primeiramente, o INSS apresentou contestação, em relação à qual a ANMP se manifestou em fevereiro de 2005.Atualmente, aguarda-se sentença.

5. EMENTA: Adicional de insalubridade. Percep-ção no seu percentual máximo.NÚMERO: 2004.34.00.028464-6

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LOCAL: 3ª Vara Federal – Justiça FederalBENEFICIÁRIOS: Todos os médicos-peritos.

A presente ação foi proposta em setembro de 2004, visando à condenação do INSS e da União ao paga-mento do adicional de insalubridade no percentual de 20% sobre o vencimento do cargo efetivo a todos os filiados à ANMP, além da diferença entre o valor pago e o valor devido desde setembro de 1999. Após a apresentação de contestação e de réplica, a União requereu a produção de prova pericial em todos os locais de trabalho dos filiados à ANMP, o que foi deferido pelo juiz. Entretanto, tal determi-nação revela-se impossível de ser cumprida, razão pela qual a ANMP apresentou recurso de embargos de declaração. Em novembro de 2007, o juiz acolheu os embargos da ANMP e revogou a decisão que determinou a realização de prova pericial.Atualmente, aguarda-se sentença.

6. EMENTA: Percepção do auxílio-alimentação nos termos do numerário auferido pelos servidores do Supremo Tribunal Federal.NÚMERO: 2004.34.00.030944-1LOCAL: 2ª Vara Federal – Justiça FederalBENEFICIÁRIOS: Todos os médicos-peritos e supervisores-médicos.

A presente ação foi proposta em outubro de 2004. O seu objetivo precípuo é garantir a equiparação do valor do auxílio-alimentação dos filiados ao dos funcionários do STF para os residentes em Brasília e dos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais para os residentes de outras unidades federativas.Após a apresentação de contestação e réplica, o juiz proferiu sentença, considerando improcedente o pedido formulado pela ANMP. A Associação apresentou recurso de Apelação, vi-sando à reforma da sentença desfavorável em janei-ro de 2006. Entretanto, o Juiz decidiu pelo seu não recebimento, fazendo com que a ANMP recoresse através de um agravo, que aguarda julgamento pelo TRF/ 1ª Região.

7.EMENTA: Averbação de tempo de serviço cele-tista em condições insalubres.NÚMERO: 2004.34.00.043582-0LOCAL: 15ª Vara Federal – Justiça Federal BENEFICIÁRIOS: Todos os médicos-peritos

A presente ação foi ajuizada, buscando a condenação do INSS e da União a averbar o tempo de serviço em atividade especial, devido a condições insalubres ou perigosas, exercido antes da publicação da Lei nº 8.112/90. A averbação deve ser feita na proporção especificada no Decreto 3.048/99, sendo que um ano de serviço em atividade especial corresponde a 1,4 ano de serviço em atividade comum para os homens e a 1,2 ano de serviço em atividade comum para as mulheres. O juiz proferiu despacho, determinando que a ANMP regularizasse detalhes de ordem proces-sual. Na retirada dos autos para análise, a ANMP apresentou recurso, tentando reformá-lo nos pontos desfavoráveis e requereu a exclusão da União da relação processual.Posteriormente, em outro despacho, o juiz ordenou à ANMP que cumprisse novas exigências processu-ais, o que foi devidamente providenciado.Em 15 de maio de 2007, a ANMP apresentou peti-ção, informando o reconhecimento administrativo do pedido, com fundamento no Memorando-Cir-cular nº 15 do INSS. Por esse motivo, requereu a extinção do processo com julgamento de mérito, o que implica o reconhecimento definitivo do direito e de seus reflexos patrimoniais como: abono de permanência e ATS.Em junho de 2007 foi proferida sentença, na qual o juiz extinguiu o processo sem julgamento de mérito, diversamente do pedido da ANMP. Por esse motivo, a associação apresentou embargos de declaração objetivando a reforma da sentença.O INSS se manifestou e, atualmente, aguarda-se decisão do juiz acerca dos embargos da ANMP.

8.EMENTA: Lei nº 10.876/04. Isonomia entre médicos peritos e médicos credenciados.NÚMERO: 2005.34.00.012267-2LOCAL: 17ª Vara FederalBENEFICIÁRIOS: Todos os médicos-peritos.

Esta ação foi ajuizada em maio de 2005 para que os médicos peritos concursados fossem indenizados pela diferença mensal entre a remuneração percebi-da por eles e a dos médicos credenciados.O INSS apresentou contestação e o juiz proferiu sentença decidindo pela improcedência do pedido inicial. Em vista disso, a ANMP interpôs recurso de Apelação, sobre o qual aguarda-se manifestação do TRF da 1ª Região.

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9.EMENTA: Enquadramento dos Supervisores Médicos-Periciais em classe incompatível com as atribuições do cargo. Necessidade de reposiciona-mento na carreira.NÚMERO: 2005.34.00.017531-2LOCAL: 17ª Vara FederalBENEFICIÁRIOS: Supervisores Médicos-Periciais.

A ação foi ajuizada em junho de 2005 com vistas a que fossem reposicionados na Classe Especial “S” os Supervisores Médicos Periciais que optaram por integrar a Carreira de Perícia Médica. O INSS apresentou contestação e, recentemente, foi proferida sentença de improcedência da demanda, o que ensejou a interposição de Recurso de Apelação pela ANMP. Atualmente, aguarda-se julgamento pelo TRF 1ª Região.

10.EMENTA: Contribuição Previdenciária de aposentados e pensionistas. Lesão aos princípios da legalidade e da noventena.NÚMERO: 2006.34.00.011147-8LOCAL: 21ª Vara BENEFICIÁRIOS: Aposentados e pensionistas.

A ação foi proposta em 2006 para que fosse sus-pensa a cobrança da contribuição previdenciária dos aposentados e pensionistas filiados até que sobrevenha Lei ordinária constitucional que defina a base de cálculo desse tributo.Atualmente, aguarda-se a sentença.

11.EMENTA: Contagem de tempo de serviço realizado em período anterior à Lei nº 8.112/90. Averbação. Tempo Concomitante.NÚMERO: 2006.34.00.033471-0LOCAL: 15ª Vara

O mandado de segurança foi impetrado em novem-bro de 2006 contra ato do Diretor de Benefícios do INSS, objetivando a averbação ao Regime Geral de Previdência Social do tempo de serviço prestado pelos beneficiários na qualidade de autônomos no período anterior à publicação da Lei 8.112/90. Em janeiro de 2007, a liminar requerida pela ANMP foi deferida e, posteriormente, foi proferida sentença que julgou improcedente o pedido da ANMP, revo-gando a liminar anteriormente concedida. Tendo em vista essa situação, a ANMP opôs em-bargos de declaração, os quais foram rejeitados e

ensejaram a interposição de Recurso de Apelação. Atualmente, aguarda-se o julgamento deste recurso no TRF da 1ª Região.

12. EMENTA: Incidência de contribuição previ-denciária sobre o terço de férias.NÚMERO: 2006.34.00.036645-2LOCAL: 16ª Vara

A ação foi proposta em dezembro de 2006 com os objetivos de impedir o INSS de cobrar contribuição social sobre a parcela do terço constitucional de férias e de condená-lo a devolver os valores des-contados das remunerações dos filiados à ANMP nos últimos 5 anos, acrescidos de juros e correção monetária. Em novembro de 2007, foi publicada sentença, tendo sido julgado improcedente o pedido. Por esse motivo, a ANMP interpôs Apelação, que aguarda julgamento no TRF da 1ª Região.

13. EMENTA: Reparação por danos morais e ma-teriais. Operação “Com Dor”.NÚMERO: 001/1.07.0022873-3LOCAL: 15ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de porto Alegre/RS.

A ação em epígrafe foi ajuizada em 2007 pelo médico Boris Nadvorny contra a ANMP. Por meio dela, o médico pleiteia danos morais e materiais em virtude da publicação no site da associação das ações da Polícia Federal no Rio Grande do Sul.Houve sentença julgando improcedente o pedido e o Autor apresentou recurso de apelação que aguarda julgamento.

14.EMENTA: GDAMP. Falha no sistema opera-cional do INSS. Irregular avaliação do desempenho institucional.NÚMERO: 2007.34.00.043308-7LOCAL: 4ª Vara Federal.

A ação foi ajuizada em dezembro de 2007 com o objetivo de condenar o INSS a pagar aos filiados da ANMP a parcela institucional da Gratificação de Desempenho de Atividade Médico-Pericial – GDAMP – de modo integral.

A percepção do pagamento integral dessa gratifi-cação deve ocorrer até que o INSS corrija a falha no sistema operacional que impossibilita a aferição

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do real tempo médio entre a data de marcação da perícia inicial e a data de realização do exame, parâmetro que serve de base para a avaliação de desempenho institucional. Busca-se também nesta ação que o INSS publique as causas que fundamentam os resultados obtidos nas avaliações de desempenho institucional, que orientam o cálculo do valor da gratificação a ser recebida pelos médicos peritos. Em fevereiro de 2008, foi proferida decisão que deferiu parcialmente a tutela antecipada requerida pela ANMP, apenas para determinar ao INSS que, no prazo de dez dias, publicasse as causas que fun-damentaram os resultados obtidos nas avaliações de desempenho institucional, divulgadas através da Portaria nº 22 INSS/DIRBEN, de 24/10/2007, de forma motivada e individualizada em relação à cada Unidade de Avaliação.Atualmente aguarda-se sentença.

15. EMENTA: Memorando Circular 81 INSS/DIRBEN. Tempo de serviço realizado em período anterior a Lei nº 8112/90. NÚMERO: 2007.34.00.044383-1LOCAL: 16ª Vara Federal.

Esta ação foi ajuizada com pedido de tutela anteci-pada, em dezembro de 2007, para que fosse garan-tida a emissão de Certidões por Tempo de Serviço dos associados para efeitos da contagem especial do tempo de serviço, tendo em vista que o diretor de benefício do INSS editou o MEMO CIRCULAR nº 81 que sobrestou a referida emissão. Atualmente, aguarda-se sentença.

16.EMENTA: Adicional de Insalubridade para cedidos ao Conselho de Recursos da Previdência SocialNÚMERO: 2008.34.00.007241-1LOCAL: 20ª Vara Federal.

Este mandado de segurança foi impetrado em março de 2008 contra ato do Diretor de Recursos Humanos do INSS, objetivando a garantia do pa-gamento do adicional por exercício de atividade insalubre aos médicos peritos cedidos ao Conse-lho de Recursos da Previdência Social. Em momento posterior, verificou-se que a auto-ridade impetrada procedeu o corte do adicional de insalubridade para os membros do Conselho de Recursos da Previdência Social e que ela pre-

tendia a devolução dos valores da gratificação já percebidos pelos beneficiários. Por isso, a ANMP requereu, em março de 2008, provimento de natureza cautelar no processo. Pretendia-se impedir por meio dele que os beneficiários fossem compelidos a devolver valores já pagos a título de adicional de insalubridade, o que foi garantido em abril de 2008.O Ministério Público manifestou-se nos autos em julho de 2008 e, atualmente, aguarda-se sentença.

17.EMENTA: Segurança. Responsabilidade ob-jetiva do INSS. Entrega da CRER aos segurados via correios.NÚMERO: 2008.34.00.007242-5LOCAL: 1ª Vara Federal.

Este mandado de segurança foi impetrado em março de 2008 para garantir a entrega da Comu-nicação de Resultado de Requerimento – CRER – a todos os segurados do INSS via correio, além de determinar ao Presidente do INSS a expedição de ato que assegure essa forma de entrega.O julgamento da ação foi atribuído ao juízo da 1ª vara federal, porém o juiz decidiu extinguir o processo sem análise de mérito, alegando ser o mandado de segurança meio impróprio para pleitear o direito. Assim, a ANMP pretende ajui-zar ação ordinária para que a entrega da CRER a todos os segurados seja feita pelos correios.

18.EMENTA: Aposentadoria. Proporcionalização de gratificações não vinculadas ao vencimento básico.NÚMERO: 2008.34.00.008011-0LOCAL: 2ª Vara Federal

Em março de 2008, foi impetrado esse mandado de segurança com o objetivo de conseguir deter-minação judicial que impeça qualquer alteração no pagamento da Gratificação de Desempenho de Atividade Médico -Pericial – GDAMP – e da Gratificação Específica a Perícia Médica – GEPM – dos aposentados e pensionistas associados que percebem proventos proporcionais. Foi proferida decisão que deferiu a liminar plei-teada e, inconformados, o INSS e a União inter-puseram Agravos de Instrumento. Atualmente, aguarda-se a apreciação dos recursos.

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PERITO,PROFISSÃOPERIGO

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“...e por que os recentes assassinatos e as inúmeras e covardes agressões sofridas por nossos e nossas colegas nas mais variadas regiões do território brasileiro? A dignidade que não cede a ameaças, a agressões morais e físicas, a representações junto ao INSS, aos CRM e mesmo a processos judiciais é inerente ao perfil profissional que combina o conhecimento, a habilidade e o amor à Arte Médica com a postura e os encadeamentos lógicos situados na interface dos procedimentos de fiscalização e judicatura ... registros policiais e processos judiciais, recentes e remotos, não deixam dúvidas quanto às inúmeras e diversificadas circunstâncias que expõem o(a) Perito(a) Médico(a) ao perigo.” (excerto de TÉCNICA, ÉTICA E SEGURANÇA DO PERITO MÉDICO).

“Quantos mares a pomba branca precisará atravessar voando para, afinal, poder repousar longe do perigo de ser abati-da?

Quantas vezes o homem poderá virar as costas, fingindo constrangido que nada vê de errado? E quantas selvas de pedra alguém terá que humanizar para, só então, fazer jus ao “H” dos HOMENS DE VERDADE?”

(livremente inspirado na letra de “Blowin’ in the wind”, canção que Bob Dylan escreveu em 1962, aos 21 anos de idade).

endo colega perito ou não e nem tampouco pro-fissional da área de saúde, tendo ou não opinião formada, mas simplesmente alimentando curiosidade a respeito dessa ilustre, porém ainda algo desconhecida especialidade médica, convidamo-lo a imaginar como seria o “trailer” de filme revelador baseado em fatos da vida real e cujo argumento começa a ser desenvolvido logo adiante. Como toda obra impactante, as tomadas mais fortes serão obtidas por microcâmeras ocultas no interior dos consultórios pe-riciais. Embora permeada por eventuais cenas de suspense, de terror e – por que não dizer? – de comédia pastelão, o roteirista precisará ater-se ao enredo original e, por motivos óbvios, não receberá de bom grado o que não for “cult” na sua essência. Daí a razão de alguns desfechos dos casos periciais não serem do agrado de todos, em vista de prota-gonistas, coadjuvantes, público-alvo e platéia em geral nem sempre compartilharem os mesmos ideais, nem sempre serem movidos pelas mesmas intenções, interesses e con-cepção do que verdadeiramente garante o pleno gozo dos direitos individuais e sociais. As prerrogativas em questão, assentadas na liberdade, segurança, igualdade e justiça, inte-gram o cartel de valores supremos das sociedades fraternas, pluralistas, desprovidas de preconceitos e comprometidas com a solução pacífica das controvérsias.

Por ordem de entrada, eis as questões deste tra-balho em que o dia-a-dia pericial é passado em revista com a precípua finalidade de estimular a discussão a res-peito principalmente do que todos sabemos existir, mas evitamos admitir em público por conta do receio de ferir suscetibilidades: 1) relação perito-segurado e seus tão inde-

sejáveis quanto algumas vezes inevitáveis desdobramentos; 2) comunicação, psicologia e biologia da simulação; 3) relação do Perito Médico com seus colegas da Medicina Assistencial, desde os que redigem laudos esclarecedores circunstanciando o quadro clínico de seus pacientes até uns poucos, embora muito atuantes – permitam-me assim chamá-los – “pseudo-especialistas”, por isso mesmo com seus nomes tão desacreditados que chegam a colocar sob suspeição todo e qualquer portador de papel timbrado ou carimbado com sua identificação. Tais senhores(as) não hesitam em fornecer declarações, laudos e atestados que, ao invés de primarem pela veracidade, precisão e coerência, primam pela desfaçatez e prodigalidade dos exageros e delírios no que concerne às limitações físicas e/ou mentais imaginárias das pessoas de suas relações de amizade e – por que não suspeitar? – de “suas relações comerciais”.

Ninguém duvida que o Perito Médico do INSS precisa ser um realista em permanente sintonia com a lógica pericial, baseada em critérios refinados de competência técnica e correção ética, afora terminantemente proibido de construir castelos de areia com vista eterna para o otimismo dos crédulos ou casas mal-assombradas, onde o pessimismo paranóico arrasta correntes no sótão. E assim sendo, estar atualizado com a vida cultural, em termos loco-regionais e até mais abrangentes, só pode contribuir para que a impar-cialidade, a lhaneza de trato, a facilidade de comunicação e a dedicação profissional, potencializadas por generosas doses de perspicácia e equilíbrio psíquico, permitam-lhe desempenhar esse intrincado, antipático e inseguro papel de delegado tripartite dos trabalhadores, do empresariado

PERIGOS

Drº. Manoel Carneiro

Médico Perito do INSSGEX Rio De Janeiro - Centro

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e da Instituição Previdenciária. Por estar prioritariamente voltada para o exercício profissional do Perito Médico do INSS, a nossa Revista ANMP também é cultura na mais ampla e diversificada acepção da palavra, qual seja, a de: a) proporcionar, pelo esforço individual e coletivo, o aprimoramento do saber e dos valores humanos; b) moni-torar os padrões de comportamento e de religiosidade via estímulo à atividade intelectual; c) preservar a memória, as instituições democráticas e demais balizadores antenados contra a miséria, a ignorância, a corrupção e a injustiça. Em “Notas e Referências Bibliográficas”, o autor concede espaço (letra tamanho “nota de rodapé”) a duas digressões como profilaxia às deturpações a que estão expostos até mesmo os enunciados axiomáticos e os silogismos apo-dícticos ante argumentação que, embora não passe de fogo-fátuo, é defendida com a veemência, o palavrório e a falta de escrúpulos inerentes aos interessados em refutá-los, seja por obtusidade, seja por razões inconfessáveis: 1) transtornos da conduta humana, comportamento animal e teoria evolucionista; 2) fundamentalismo religioso versus materialismo radical – “a mais disputada das causas e o mais antigo dos processos”.

Para você, prezado(a) colega que trabalha ou já trabalhou na ponta da Perícia Médica Previdenciária, será difícil, impossível mesmo, dizer quantas vezes já ouviu “perguntinhas inocentes” com segundas intenções do tipo: a) qual é a sua especialidade? b) o senhor é ortopedista? c) o senhor é psiquiatra? Ou então assertivas e plangências assim: d) mesmo com o meu médico, que é especialista, es-crevendo que eu não tenho condições e o senhor vai me dar alta? Outras vezes, apimentadas provocações: e) o senhor está me dando alta, tudo bem, e se eu voltar e tiver algum problema, quem vai ser o responsável? f ) quando é que o INSS vai resolver me aposentar já que todos os médicos que eu consulto garantem que o meu caso não tem mais o que fazer? Tentativas de intimidação disparadas à queima-roupa: g) é doutor... qualquer coisa me deixa nervoso, irritado... vontade de quebrar tudo! Se me contrariar, eu perco a cabeça, vou logo enfiando a mão, sabe como é?!... Em outras oportunidades, invectivas e imprecações: h) “vocês todos são mesmo uma cambada... só tem um jeito de acabar com essa palhaçada! vou botar na justiça, meter um processo em você, no outro perito, no INSS e aí vamos ver quem está com a razão... se sou eu, que estou doente, ou se são vocês que ganham até mais para dar alta em quem não pode trabalhar, seus p...!” Por fim e sempre por conta da absoluta certeza de que a reação do perito, caso ocorra, jamais será diretamente proporcional ao aflorar da fúria sub-reptícia que não se acanha até de rogar pragas por atacado e dizer barbaridades: i) “ainda quero chegar aqui e saber que você está morrendo de câncer, levou um tiro na cabeça, uma bala perdida te aleijou!”

Quando, em face da impertinência ou da inso-lência do examinando, a relação perito-segurado começa a azedar e a conversa ameaça descer a ladeira sem que se possa dá-la por encerrada, é hora de prestar atenção na luz amarela que não vai parar de piscar enquanto o consultório pericial não for desocupado e o Perito Médico puder cha-mar o próximo a ser examinado. Visando a continuidade do trabalho pericial, convém ao perito fazer de conta que tanto as perguntas quanto o tom de voz com que são proferidas e o rompante dos gestos que as acompanham não configuram ostensiva intenção de desestabilizar quem está trabalhando. Se o atrevido conseguir atingir o objetivo de tumultuar o ambiente como um todo, ele vê chegada a hora de capita-lizar em cima da autoproclamada valentia, ou então, do incontinenti retraimento em face da desaconselhável mas compreensível, reação esboçada pelo médico, pretexto a calhar para o “ex-valente” optar de súbito por “ecdise de ocasião”, e trocar a “pele de lobo” pela de “cordeirinho” com a finalidade óbvia de comover os presentes que, por “piedosa solidariedade” e revolva coletiva, não permitirão que “aquela vítima indefesa seja injustiçada pelo carrasco desalmado que habita as entranhas do Perito Médico”. Perito Médico este que se viu obrigado, seja por dever de ofício e respeito às normas técnicas em vigor, seja por uma questão de dignidade pessoal, a negar-lhe o que é impossí-vel de conceder a A, B ou C, ainda que A seja um Fulano agressivo e mal-educado, B um Sicrano inconformado e choroso, C um Beltrano que acate polidamente a decisão pericial contrária. Negar licença aos Beltranos e concedê-la aos Fulanos e Sicranos não encontra respaldo em código de ética algum. Muito menos é próprio de quem possui um mínimo de bom senso e não revela tibieza como forma de escapar das dificuldades, sejam elas verdadeiras ou nada mais do que “uma cara feia”.

Esbanjar conhecimento técnico ou revelar coragem pessoal, isto é, “bancar o sabido ou o valente”, objetivando provar por a+b e até mesmo desmascarar uma inconsis-tente ou falsa alegação de incapacidade laborativa, nunca é a solução indicada por várias e várias razões: 1º) explicar tintim por tintim o raciocínio que embasa a decisão pericial alertará o segurado para não repetir seus erros e senões numa próxima oportunidade; 2º) em determinadas circunstâncias, grande habilidade é saber ocultar a própria, razão pela qual não é aconselhável, por ferir os mais elementares princípios da lógica pericial, dizer ao inconformado o que ele tem ou não tem, fez ou deixou de fazer, disse ou não disse e que evidenciou estar exagerando ou, pior, tentando produzir deliberadamente esse ou aquele achaque (F 68.1 do CID X, diga-se de passagem, rubrica alfanumérica que ainda não consta do Resumo CID/INSS e, por via de conseqüência, do software pericial); 3º) ao invés de nascer a luz de uma discus-são perito versus segurado, tal abertura costuma equivaler a

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...o perito acaba sendo obrigado a dizer, digitar e assinar eletronicamente: NÃO EXISTE INCAPACIDADE LABORATIVA.

“morder a isca” do inconformado que premedita “armar um barraco”, contando com a possibilidade de “ganhar no grito” o que lhe está sendo negado por indevido; 4º) o trabalho pericial é meio de vida e não catapulta rumo ao imprevisível, motivo pelo qual evitar a todo custo resvalar por baixarias e, mais ainda, chegar às vias de fato é sempre PRIORIDADE 1(UM); 5º) discutir, indispor-se ou brigar com quem nada tem a perder e pode até ganhar, caso as circunstâncias lhe favoreçam, não integra o diversificado elenco de obrigações profissionais do Perito Médico. Por uma questão de inteireza de caráter, em hipótese alguma isso significa curvar-se a pres-sões, ameaças, agressões, injúrias de toda ordem ou quaisquer outros movimentos sobre o tabuleiro de xadrez que só reco-nhece como peças válidas as doenças, as lesões por acidente e as seqüelas físicas ou mentais que: a) impeçam ou causem prejuízo significativo à execução das tarefas laborativas; b) ocasionem risco de agravamento ou de vida para o segurado; c) acarretem riscos de infecção, infestação, contaminação (v.g. por radionuclídeos) ou de vida para terceiros.

Na hipótese sempre presente de ter que negar ou suspender um auxílio-doença, dependendo do nível de escolaridade e do presumível nicho social ocupado pelo exa-minando, convém ao Perito Médico “escolher” as palavras,

objetivando economizar tempo e a estéril troca de pontos de vista discordantes com alguém cujo bolso clama por R$. Visando atenuar os inevitáveis momentos de impasse e o cortejo de imprevisíveis desdobramentos, a comunicação do examinador com o examinando e eventualmente com acompanhante(s), dentro do consultório pericial ou, mesmo depois de concluída a pericia, nas partes comuns da APS, merece cautela. Cautela análoga à do Ministro Sepúlveda Pertence que, na qualidade de Presidente da Comissão de Ética Pública, por ocasião de uma daquelas “entrevistas de corredor” aos jornalistas que o bombardeavam com as “per-guntas indigestas”, atraídas pelas sutilezas e pelo amplo espec-tro de suas atribuições, confidenciou: “para falar com vocês, todo cuidado é pouco...” Antes de tudo, cumpre sintetizar que “o caso em exame dá tratamento, porém, no momento pericial, não dá licença ou, então, não permite prorrogá-la”. Se isso não for o bastante para convencer o segurado, ao passar as duas vias da comunicação do resultado e receber uma delas devidamente “recibada”, o Perito Médico poderá explicar que, com a sua via, antes de entregá-la ao empregador, o interessado poderá requerer um novo exame, o Pedido de Reconsideração (PR) ou aquele outro exame em grau de re-curso, o chamado “processo”. Por que não aconselho colega

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algum a dizer palavras que “fechem a porta” às pretensões do segurado? Frases do tipo “você não tem nada que o impeça de trabalhar: assina aqui e leva a sua via para o patrão” devem ser riscadas do mapa.

Quando as circunstâncias obrigam o perito a dar a má notícia que o T1 ou a DCB na DRE encerra, por que pintar um quadro tão sombrio e dissipar de vez a esperança que poderá ser canalizada para um novo exame? É Cícero quem nos diz: “todas as pessoas, no íntimo, preferem a men-tira a uma recusa”. No caso presente, nem chega a ser uma mentira: não nos cabe predizer o provável resultado também contrário do PR ou do “processo” que o segurado tem direito de requerer. Tudo a ver com o que acontece quando pedimos algo a um mexicano do povo e recebemos como resposta a palavra “mañana”. É provável que ele não esteja prometendo para amanhã, mas desconversando: “hoje não...” Na mesma linha de raciocínio, desobrigar o Perito Médico de imprimir a comunicação do resultado para a parcela de segurados mais propensa a revoltar-se com o T1 ou a DCB na DRE – autô-nomos e desempregados – significa medida de alcance e de utilidade inestimáveis que não pode ser atribuída integral e simploriamente a axioma do comportamento animal : “o impacto da ausência de opções para superar obstáculo e escapar de perigo iminente, real ou imaginário, é a fonte do desespero que catalisa reações imprevisíveis.” Que fique bem claro não ser aqui o lugar e nem o momento apropriado para esquadrinhar as reações mais indignas do bicho-homem que, por desprezarem a lógica dos princípios morais e desrespei-tarem o que alicerça uma sadia convivência, causam repulsa ao gênero humano.

A propósito do exposto até aqui, um parêntese sobre simulação. O que leva o homem a produzir deliberadamente sintomas e, ao certificar-se do malogro da teatralização, executar, em geral abruptamente, uma inflexão de 180° em termos de conduta, deixando de lado os queixumes e apelar para as agressões, moral e/ou física, epílogo que não deveria nem poderia constar do script original e que, de maneira tão inquestionável quanto lamentável, autentica a farsa? O conjunto de sintomas físicos ou psicológicos, falsos ou am-plamente exagerados, corre por conta de motivação externa cujo desiderato tem por fim evitar, receber ou vingar-se de alguém ou de alguma coisa. Evitar: a) situações difíceis ou perigosas, v. g. iminência de demissão por ou mesmo sem justa causa; b) responsabilidades; c) punições. Receber algum tipo de compensação: a) rendimento do “plus” oriundo do auxílio-doença a acrescer os ganhos com uma atividade informal; b) eximir-se de prestar contas à família, aos amigos ou à sociedade, nela pontificando a Polícia e a Justiça; c) mudança de função com gesto profissional, horá-rio ou local de desempenho que lhe sejam convenientes por motivos outros que não propriamente a capacidade física ou mental; d) internação hospitalar ou frenocomial desne-cessária, mas almejada por motivo inconfessável. Vingar-se provocando: a) sentimento de culpa e constrangimento dos contrários à(s) causa(s) do simulador, antipatizando-os e/ou incompatibilizando-os junto à opinião pública; b) sanção administrativa, judicial e/ou demissão dos que, em algum

momento, barraram-lhe as descabidas mas aparentemente justas pretensões. No mais das vezes, simulação acaba sendo uma comunicação imperfeita: quando “bem-sucedida”, o falso passa por verdadeiro e a manobra surte um ou mais de um dos indesejáveis efeitos acima arrolados. Considerando o exame pericial, médico e examinando alternam-se como elementos transmissor e receptor de uma comunicação em que as mensagens e o meio em que elas transitam deverão estar direcionados para avaliar aptidão/inaptidão laboral.

O repertório de queixas do simulador costuma va-gar em meio à subjetividade de alegações mal definidas que incluem preferencialmente: a) cefaléias, tonturas e vertigens; b) ansiedade, síndrome do pânico e depressão; c) lentificação psicomotora e amnésia; d) fibromialgia, cervicalgias e lom-balgias; e) algias padrão LER/DORT; f ) dores abdominais; g) sintomas sem base orgânica, porém difíceis de serem contestados, tais como crises epilépticas, estados confuso-demenciais, delirantes paranóicos, hipomania e melancolia. Ainda que considerada como hipótese remota, a simulação não pode ser descartada a priori em todo e qualquer exame pericial, devendo ser fortemente suspeitada ante a presença de um ou mais de um dos seguintes fatores que levantam dúvidas quanto à autenticidade das queixas: a) acentuada discrepância entre as alegações e os achados objetivos; b) mau humor ou cooperação precária durante o processo de avaliação da doença, lesão ou seqüela alegada; c) ausência de tratamento, adesão parcial ou irregular às prescrições terapêuticas; d) acompanhante que, afora insistir em fazer-se presente, interfere ou antecipa-se às respostas que deveriam ser dadas pelo examinando, além de eventualmente pretextar algum tipo de autoridade, relação de amizade com alguém “importante” e/ou quaisquer outros subterfúgios objetivan-do inserir-se como coadjuvante da premeditada teatralização; e) personalidade dissocial (F 60.2) e/ou “inside information” a respeito de comprovados ilícitos no âmbito da empresa empregadora ou alhures, considerada a hipótese de prejuízo à celeridade dos processos administrativos e/ou judiciais por força de uma possível avaliação pericial favorável.

Depois de um vôo rasante sobre a comunicação e a psicologia da simulação, que tal uma visão panorâmica de sua biologia, no afã de procurar respostas para o que, a um só tempo, intriga e seduz pelo surrealismo que transuda de cada gesto, do falar como um todo e mesmo de um eventual silêncio? Quando inexistem condições físicas para o animal ameaçado lutar ou fugir, a imobilidade, simulando a morte, pode constituir-se em meio eficaz de defesa. Arremessado ao solo pelo feroz miúra, o toureiro prende a respiração e finge estar morto para salvar-se. Passando das touradas em Madrid para as chacinas na Baixada Fluminense, quantos já se salvaram ou pelo menos tentaram, apelando para semelhante artifício, recurso extremo ditado pelo instinto de conserva-ção? Predadores por excelência, os felinos, alguns portando pelagem camuflada, procuram ocultar-se e dissimular a intenção agressiva até o instante crítico em que a caça esteja à mercê do ataque de surpresa. É a “struggle for life”, onde a sobrevivência implica na necessidade de capturar a presa ou escapar da captura e competir com indivíduos da mesma

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espécie. Ameaçado, via de regra o animal tenta fugir, mas ine-xistindo rota de fuga, ele terá que defender-se. Temor e cólera são reações instintivas de proteção às ameaças do ambiente que podem ser produzidas por estimulação do hipotálamo. Algumas vezes, a referida estimulação produz um misto de temor e cólera, fato que sugere a natureza imprevisível da reação a um ataque na selva, a um assalto a mão armada na urbe. E você, prezado leitor, admite haver analogia entre o ataque do predador à caça, valendo-se de dissimular a aproxi-mação e a intenção, com a agressão perpetrada pelo simulador ao Perito Médico, depois que a farsa presumidamente bem representada malogrou?

Sempre com dificuldades e perigos tanto para o simulador quanto para quem o examina, uma simulação “per-feita” depõe contra a higidez mental do simulador, ao passo que uma simulação prenhe de falhas ou caricatural é fator denotante de equilíbrio psíquico. A complacência de um examinador inexperiente ou desatento em muito contribui para que o “brilho da teatralização” do simulador ofusque a realidade médico-pericial. Por outro lado, falsas alegações de incapacidade física e/ou mental costumam ir por água abaixo em razão dos múltiplos e quase inevitáveis percalços que um acontecimento imprevisto reserva aos que fantasiam poder iludir o perito com sua “lábia de segunda”, recheada dos lugares-comuns que os “papeleiros” juram ser o mapa da mina: a) reações de evitação dolorosa incompatíveis com os dados semióticos disponíveis; b) impotências funcionais em descompasso com trofismo e tônus musculares, afora o que exames de imagem e eletrofisiológicos revelam; c) nihilismo; d) relatos inconvincentes de “ouço vozes, vejo vultos, estão me seguindo, querem me matar, pânico, medo de sair sozinho de casa”, algumas vezes desmentidos por mãos laborativas ou por ter comparecido desacompanhado alegando que quem o trouxe “ficou lá em baixo”, “foi trabalhar, mas vem me buscar”. Em certas ocasiões, a mentira acabando ficando à mostra de forma tão gritante que chega a lembrar a estória do gato escondido com o rabo de fora. O simulador é, ao mesmo tempo, ator e autor, sem ponto a ajudá-lo e com a necessidade de improvisar em vista do que fizer ou disser o examinador. Partindo da premissa que as fontes de inspira-ção de uma ficção se resumem à imaginação, observação e experiência, convenhamos que o leigo transitará por terreno movediço à medida que a perspicácia de um perito atento e experiente fizer e disser algo de inesperado e “de encomenda” para confundi-lo e fazê-lo cair em contradição.

Passemos à parte mais delicada de nossa prolonga-da, porém, quero crer, descontraída e proveitosa conversa. Ademais, o tempo destinado a uma apresentação depende

da sintonia entre quem expõe e os que o ouvem, entre quem escreve e os leitores: embora nem sempre deva, o chefe “pode” prolongá-lo, mas, dirigindo a palavra aos que o subordinam, convém respeitar os 5 ou 10 minutos concedidos... Entre nós, Peritos Médicos do INSS, uma liberdade absoluta já garantia rejeitar a leitura a partir da identificação do autor... À expe-riência e à observação no correr de três décadas na ponta da atividade pericial, fiz questão de acrescentar a mais generosa dose de franqueza possível. A relação do Perito Médico com seus colegas da Medicina Assistencial implica no que o dia-a-dia nas APS requer e deve ser enfatizado: máxima atenção e máximo respeito tanto às regras de convivência pessoal quanto aos preceitos constantes do Código de Ética Médica. Ainda que pareça antipático ou seja mal interpreta-do, é forçoso reconhecer que o exame pericial menos sujeito a desdobramentos indesejáveis ocorre quando o examinando é nosso colega e os mais explosivos, algumas vezes “nitroglice-rina pura”, são os que o segurado traz o médico que o assiste, um parente médico ou até algum amigo médico a tiracolo... Por quê? Começando pelo mais simples e de evidência cristalina: discutir decisão pericial com alguém iniciado em termos técnicos e éticos facilita o encontro de caminhos ló-gicos que, para o leigo, equivaleria a galgar as escarpas de um penhasco inacessível. “Advogar em causa própria” por conta de incapacidade inexistente exige do médico, na condição de examinando, algo como fazer crer ao perito o que ambos não podem ver, palpar, auscultar, percutir, sequer ficar em dúvida se realmente existe e, por isso, o perito acaba sendo obrigado a dizer, digitar e assinar eletronicamente: NÃO EXISTE INCAPACIDADE LABORATIVA.

Considerando o senso prático do médico, os inúme-ros e sempre diversificados compromissos sobrecarregando sua vida corrida, torna-se quase impossível deixar de pingar um ponto de interrogação nas verdadeiras intenções do presumível esforço hercúleo empreendido pelo colega para conciliar horários e ser o acompanhante (ou assistente) em perícia cujo resultado só poderia ser um: SIM, o seu cônjuge, o seu parente, o seu amigo ou o seu cliente está incapaz; quan-to ao tempo despendido na viagem de ida e volta mais o gasto na APS para efeito do atendimento pericial, talvez Proust fosse capaz de interpretar “tamanha dedicação” de maneira ainda menos lisonjeira, espécie de esforço e tempo perdidos... Agora, quanto à intenção de recuperá-los, no caso de uma decisão contrária, seria bom lembrar que, como dizem os ingleses, “time is money” e, da maior conveniência, esquecer de uma vez por todas o que escreveu um poeta francês (Pierre Reverdy, 1889-1960): “preciso de tanto tempo para não fazer nada que não me sobra o bastante para trabalhar”.

Toda decisão que afasta o homem de seu posto de trabalho configura uma intervenção sobre a delicada relação capital-trabalho.

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Conquanto seja impossível apagar por completo um quê de autocontraditório nessa “consorciação momentânea”, é claro não ser impossível e muito menos proibido ao colega médico “arranjar tempo” para vir ao consultório pericial na qualidade de acompanhante ( ou assistente) do cônjuge, do parente, do amigo ou cliente. Todavia, na prática, a maioria absoluta das referidas “simbioses” está longe de significar um “inocente mutualismo”, ou seja, associação íntima entre dois cidadãos, benéfica a ambos e incapaz de acarretar transtornos ou prejuízos ao exame pericial em curso.

Desafiada pelo paradoxo do “downsizing” – encolher me-diante tecnologia, desempenho e terceirização para enfrentar a concorrência – a atividade produtiva recorre a múltiplas alavancas operacionais, v. g. a informática, a comunicação e monitoração por satélite, a automação, a miniaturização da nanotecnologia e a robótica. Aconteça o que acontecer num mundo “high-tech”, o divisor de águas entre o talento de bem aplicar o conhecimento disponível e o desastre de ignorá-lo estará reservado ao trabalho humano de crescente especialização (THCE). Hoje, o segredo de polichinelo é “filtrar informações” e empregá-las nos campos da pesquisa, do ensino e da prestação de serviços ou, se preferirmos, “sis-tematizar os sistemas”, isto é, saber e poder articular o THCE com os recursos materiais e com as ferramentas virtuais que avançam em progressão geométrica rumo ao inimaginável num passado cada vez menos distante. É nesse contexto que a Medicina incursiona pelo estratosférico território onde se ocultam os mistérios da longevidade e do rejuvenescimento, bem como inflete e explora os subterrâneos da mente humana com fins os mais diversos, inclusive o de avaliar a capacidade laborativa do trabalhador. Assim, quando o afastamento, o retorno ou a permanência em serviço suscitar opiniões em desacordo, compete ao THCE dirimir a dúvida.

Toda decisão que afasta o homem de seu posto de tra-balho configura uma intervenção sobre a delicada relação capital-trabalho. No correr de um ano, duas dispensas mé-dicas por 15 dias equivalem a férias dobradas. Se a dispensa é indevida, mesmo com aparência de “inocente” em função do prazo curto ou curtíssimo estipulado, consubstancia injustificável intromissão. Se graciosa e ultrapassa 5 dias, interfere em dispositivo legal (art. 130 da CLT) que impõe redução proporcional das férias anuais conforme o número de faltas não justificadas no período. Em meio à tendência de

especializações cada vez mais “terebrantes” e menos “fagedê-nicas”, o Perito Médico trafega na contramão da necessidade de amealhar um mínimo de conhecimento capaz de abran-ger a diversificada casuística médico-pericial. Repercussões físicas e mentais, incapacitantes para algumas e compatíveis com o gesto profissional de outras atividades, fincam suas raízes em todo o amplo espectro das especialidades médico-assistenciais. Solicitar e homologar pareceres para tamanha pluralidade a convergir para os nossos consultórios deixaria o Perito Médico em situação parecida à do motorista que “sabe manobrar com perfeição”, desde que seu carro seja o primeiro a estacionar e o último a deixar o meio-fio da calçada.

Outro complicador, tanto no plano consciente quanto no inconsciente, é a exclusão de tratar. Remontando às socieda-des primitivas, tratar era a honrosa e exclusiva atribuição dos sacerdotes da divindade encarregada de combater os maus espíritos responsáveis pelas dores e aflições humanas. Hah-nemann (1755-1843), o médico alemão que criou a Escola Homeopática, vai direto ao assunto no primeiro parágrafo do Organon da Arte de Curar: “a primeira, a única vocação do médico é restabelecer a saúde nas pessoas enfermas; é ao que se chama curar. Sua missão não é, como pensaram tantos médicos que perderam seu tempo e suas forças correndo atrás da celebridade, forjar sistemas combinando idéias ocas e hipóteses sobre a essência íntima da vida e a produção das do-enças no interior invisível do corpo, envolvendo tudo numa farragem de abstrações ininteligíveis, cuja pompa dogmática engana os ignorantes, enquanto os doentes suspiram em vão por socorro ... É tempo de que todos aqueles que se dizem médicos cessem afinal de enganar os pobres humanos com palavras vazias de sentido e que comecem a agir, isto é, a aliviar e a curar realmente os enfermos.” Mais recentemente, por seus editores em 1968, o Harrison, compêndio de Medicina Interna que dispensa apresentações, opina abalizadamente a respeito: “as maiores oportunidades, responsabilidades ou obrigações que podem recair sobre um ser humano consistem em ser médico. Para tratar de um doente, ele necessita de habilidade técnica, conhecimento científico e compreensão humana. Empregando esses atributos, reunidos à coragem, humanidade e prudência, ele proporcionará um serviço único aos seus semelhantes e contribuirá para a formação sólida de seu próprio caráter. O médico não deve pedir mais do que isso ao seu destino e não se deve contentar com menos”.

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É tempo de que todos aqueles que se dizem médicos cessem afinal de enganar os pobres humanos com palavras vazias de sentido e que comecem a agir, isto é, a aliviar e a curar realmente os enfermos.

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Hoje em dia, o paciente costuma aproximar-se de nós tentando ocultar uma contraditória sensação de dúvida ou desconfiança mesclada à esperança e ao angustiante desejo de obter pronto alívio, nem que para isso esse ser sublime ou abjeto opere um feito extraordinário. Qual o médico que ainda não viveu o seu dia de anjo? Quem não ouviu: “abaixo de Deus , foi o senhor quem salvou a minha vida”? E entre nós, a obrigatoriedade dessa restrição influencia o comportamento do Perito Médico, dos colegas médicos e do leigo? Como cada um a encara? Iniciada durante a formação acadêmica, sedimentada como bagagem pessoal e intransferível no correr do desempenho profissional, a consciência médica do perito conflita com a exclusão de tratar? A prescrição terapêutica é dever ou direito? Dever e direito? Afinal, quem não nasceu para servir e fazer o bem, afora sonhos menores, não deveria sequer fazer o vestibular e, muito menos, freqüentar o Anatômico, aprender a semear microrganismos em tubos de caldo simples e placas de ágar-sangue ou, mais ainda, desfilar de estetoscópio pendurado no pescoço com o diafragma tocando-lhe o precórdio, na vã tentativa de comunicar-lhe o filantropismo que, se existe, permanece em lugar incerto e não sabido. Dentre outros sonhos e planos que embalam as vocações médicas, vale a pena lembrar: a) monitorar a resposta da mais com-plexa estrutura viva à estratégia terapêutica planejada e em execução, podendo oportunamente corrigi-la ou voltar-se contra intercorrência surgida; b) merecer um comovente

“obrigado, doutor”, ao fazer com relativo êxito pequenos reparos na obra-prima do Criador.

Recebido o doente com diagnóstico e prognóstico fir-mados, tratamento instituído, parecer de incapacidade ou aptidão devidamente consignado, assinado e carimbado em papel timbrado, se o Perito Médico concorda com o colega que assiste o paciente, tudo se resume, para quem passa ao largo da especialidade, na subalterna tarefa de digitar o laudo e emitir a Comunicação do Resultado. E se discordar da convicção, da opinião, da posição médico-assistencial? Trata-se, no mínimo, de gesto antipático passível de ser debitado ao “evidente” mau humor, insensibilidade ou incompetência do perito, submetido ao rito sumário de julgamento presidido pelos resquícios de onipotência médica de uns tantos que sequer foram apresen-tados ao que pensam saber de cor e salteado.

Quantas vezes, “sentadinhos” no interior do consultó-rio pericial, ousamos corrigir, alterar, trocar ou, que seja, propor mínima(s) alteração(ões) na estratégia terapêutica em curso, tarefa que incumbe ao(s) colega(s) da Medicina Assistencial? Se a resposta fosse diferente de NUNCA, JAMAIS, EM TEMPO ALGUM, estaríamos entrando em rota de colisão com o art. 81 do Código de Ética Médica. É que o referido artigo proíbe ao médico “alterar prescrição ou tratamento de paciente, determinado por outro médico”. Em contrapartida, prezado(a) colega, quantas vezes você já recebeu laudos, declarações e atestados oriundos da Medici-na Assistencial garantindo a incapacidade laborativa por

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tempo indeterminado, estipulando prazo de afastamento do trabalho ou até “aposentando antecipadamente” o segurado que será examinado naquele momento pericial? Claro que todos nós já perdemos a conta de algo que se repete dia após dia... Pois é, em cada uma de tais ocasiões, o signatário dos laudos, declarações e atestados em questão “atropelou” o art. 120 do Código de Ética Médica que veda ao médico “ser perito de paciente seu, de pessoa de sua família ou de qualquer pessoa com a qual tenha relações capazes de influir em seu trabalho”.

Uma perguntinha de algibeira: qual a especialidade com mais tendência a fornecer laudos, declarações e atestados que infringem frontalmente o art. 120 do Código de Ética Médica? Embora não possa ser reconhecida, e talvez até permaneça insuspeitada pelo Sistema CFM/CRM, há uma quantidade razoável de “especialistas” em distribuir a torto e a direito atestados “prêt-a-porter” para o segurado sentir-se injustiçado, discutir e brigar com o Perito Médico, se este não lhe conceder o afastamento laboral. A maior parte desses pseudo-especialistas disfarça-se como “ortopedista” (queixas álgicas, axiais e periféricas, de preferência configurando LER/DORT), “psiquiatra” (depressão e pânico) ou “clínico geral” (de tudo, um muito...). Diagnósticos em profusão (4, 5 e até mais!), relato de sintomas e mais sintomas, exageros e delírios quanto às limitações físicas ou mentais. Descrições ao estilo “você sabia?”, como se o Perito Médico fosse leigo e não ti-vesse a obrigação de examinar o segurado, são “amontoados” num pedaço de papel timbrado que custa R$ ao incauto que o adquire na ilusão de que “aquilo” lhe servirá de passaporte para o “dolce far niente”, de álibi para a doença, lesão ou se-qüela imaginária. Algumas vezes, a distância do exame físico para o teor dos atestados e das queixas é tamanha que chega

a parecer estarmos diante da estória do elefante trancado num estábulo desprovido de iluminação: os que entram pela frente e pelos fundos garantem, palpando tromba e cauda, tratar-se de algo móvel, flexível e relativamente fino, enquanto quem entra pelo portão lateral, ao tocar o costado do paquiderme, jura que aquilo é uma estrutura compacta e imóvel. Talvez alguém faça objeção à maneira incisiva como aqui se critica os autores de laudos médicos benevolentes, absurdos, engraçados, outros até ridículos. Não obstante, o autor destas reflexões julga poder concluir que é seu direito e quase obrigação propalar aos quatro ventos não ser feio nem antiético criticá-los com veemência; covardia intelec-tual e moral, feio e antiético seria fingir que eles não existem e sofrer, na própria carne, as suas conseqüências: agressões, representações ao CRM e Ouvidoria do INSS. Se há um problema que pertence ao tempo e ao lugar onde vivemos e trabalhamos, por que não querer solucioná-lo, começando por admitir sua existência e, a partir daí, tentar equacioná-lo, sobretudo se não há a menor dúvida de que estamos cobertos de razão? Por fim, é bom não perder de vista que, em toda profissão, há os que fazem por engrandecê-la, ao passo que outros parecem fazer questão de enodoá-la.

No pólo diametralmente oposto ao dos pseudo-especialistas estão os colegas que realmente trabalham em Medicina Assistencial e redigem laudos esclarecedores circunstanciando o quadro clínico de seus pacientes. Sem-pre bem-vinda, a iniciativa facilita em muito a sintonia das mensagens orais a serem trocadas entre o Perito Médico e o segurado. Mais importante ainda, contribui correta e muitas vezes decisivamente para que a conclusão pericial seja a mais justa possível, tanto nas prorrogações, R/2 e LI quanto nos T1 e DCB na DRE. Por que entre os Peritos Médicos e os colegas que exercem a Medicina Assistencial com dignidade ainda há espaço para os indesejáveis pseudo-especialistas proliferarem? Por que o Perito Médico “acaba sendo obrigado” a ter a “ingrata insatisfação” de conviver com essas repugnantes figuras? Eis uma pergunta que só deveria aventurar-se a respondê-la quem tivesse como penetrar na intimidade do nanismo pessoal e profissional que leva alguém a andar distribuindo por aí arremedos de atestados. Esclare-cedor, correto e confiável não são conceitos que vêm à mente do Perito Médico quando este sofre o constrangimento de ser obrigado a “digerir as barbaridades” de um texto que deveria primar pela veracidade, precisão e coerência para ser tido como declaração, laudo ou atestado médico. Seja como for, arrisquemo-nos a tentar decifrar o enigma que, conquanto não ameace devorar os médicos, já não passa em brancas nuvens perante a opinião pública. Em meados do século passado, a benevolência embutida em licença médica para satisfazer a conveniência política do Vice-Presidente, no exercício da Presidência da República, foi o estopim de grave crise institucional que culminou com sua deposição. Nos dias de hoje, uma ex-autoridade do Poder Judiciário, popularizada pela alcunha que o humorístico Casseta & Planeta sapecou-lhe em momento de rara inspiração, vem se valendo do beneplácito de atestados médicos para cumprir em prisão domiciliar a pena a que foi condenada por peculato,

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estelionato, corrupção “y otras cositas más”. Melhor dizendo, continua a desfrutar de sua majestosa mansão, “recesso sacros-santo” adquirido sabe-se lá se com R$ limpo ou “lavado” com sutileza tão óbvia que “quase” acabou levando o seu dono para o “xilindró”.

Autoridade, em hipótese alguma, significa privilé-gio; vai daí que a autoridade técnica do médico representa, em qualquer parte do mundo e em qualquer momento da história, única e exclusivamente grave e intransferível res-ponsabilidade balizada pela competência técnica e correção ética, pressupostos incompatíveis com desvios de conduta modelo tratar com imparcialidade apenas os indiferentes, cumular de gentilezas e benesses os apadrinhados e fazer os inimigos “arderem no mármore do inferno”. Em outras pa-lavras, quando incumbido de executar atividades situadas na interface dos procedimentos de fiscalização e/ou judicatura, o modelo mental do médico combinará tirocínio à isenção em detrimento de variáveis emocionais plugadas em simpa-tias, antipatias, interesses transversais e sentimentos outros que a maturidade profissional sequer cogita de levá-los em consideração. Se esses dois casos escabrosos tivessem que ser submetidos ao crivo da Perícia Médica Previdenciária, como você, prezado colega, os encararia? Certamente seriam outros dois desafios, rotina do dia-a-dia de quem trabalha na ponta da atividade pericial. A cada desafio, o Perito Médico fará valer sua atitude para conduzir o exame e prolatar sua decisão: em sendo positiva, o desafio significará renovada oportunidade para demonstrar sua qualidade técnica e rigor ético. Ao contrário, uma atitude negativa, pessimista, derrotista ou acovardada operará o milagre às avessas de fazer do desafio um problema insolúvel, um perigo iminente e impossível de ser superado. Antes de uma pausa na leitura, ensejando ao leitor refletir e concordar, discordar ou com-plementar a resposta à pergunta formulada linhas acima, nunca seria demais lembrar que o primeiro dos dois casos em foco é o “leitmotiv” de capítulo pouco lisonjeiro de nossa história. Já o segundo deles nada veio acrescentar ao prestígio internacional crescente que o nosso país persegue, haja vista o que a mídia veicula através do noticiário dos jornais, das revistas, das emissoras de rádio e TV, ora mediante o pingar de gotas homeopáticas, ora mediante a liberação de autênticas overdoses de erros escandalosos no bojo dos quais a grave e intransferível responsabilidade médica não deve e não pode sucumbir travestida de benevolência, algo que a sabedoria popular deplora e explica de forma contundente: “é que os ricos não vão para a cadeia!...”

A sociedade não precisa apenas de trabalhadores: pensadores, pessoas que realizem o penoso esforço intelectual de enfrentar teórica e, mais adiante, concretamente o que a prática clama por correção ou solução também são imprescin-díveis. Com certeza, a inexistência de “notícia” a respeito das Normas Técnicas e Éticas de Perícia Médica Previdenciária na formação acadêmica do médico constitui uma lacuna a ser preenchida. Na mesma linha de raciocínio, convém lembrar que ninguém sai da faculdade intitulando-se Médico Legista em razão de que, ao cursar a Cadeira de Medicina Legal, torna-se cônscio das dificuldades que a “expertise” reserva

até para os especialistas. Em antagonismo à visão anacrônica de formar profissionais para atuar autonomamente na socie-dade, isto é, sem entrar em contato direto com a realidade do momento psicossocial, da condução e administração da coisa pública, do crescimento e distribuição da riqueza nacional, da salvaguarda dos interesses e dos valores culturais da nação, a letra das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Medicina preconiza que as escolas médicas devem formar profissionais com postura ética, visão humanística, senso de responsabili-dade social e compromisso com a cidadania. Rego sublinha que “aqueles familiarizados com a disputa de poder no interior de estruturas acadêmicas sabem que a conformação dos currículos expressa não apenas a compreensão docente dos problemas e da estratégia de ensino mais relevante para a formação do estudante, mas também a distribuição de poder dos diferentes departamentos das faculdades.” Afora a substantiva argumentação capaz de influir na lógica da discussão sobre o ensino das Normas Técnicas e Éticas de Perícia Médica Previdenciária, a disputa de poder pressupõe um viés político-administrativo que poderá acelerar ou retar-dar a tomada de decisão a respeito. O currículo deve integrar articuladamente todas as atividades escolares voltadas para os objetivos educacionais. Contudo, a tendência de elaborá-lo baseado tão somente nas disciplinas da área cognitiva é inerente à tradição do planejamento de ensino. Vai daí que aspectos fundamentais do binômio ensino-aprendizagem acabam sendo subestimados, postergados e até relegados.

Na qualidade de instrumento definidor e regulador dos objetivos educacionais, através da detida análise da ativi-dade laboral, das rotinas operacionais e dos preceitos legais que lhe são afetos, o currículo precisa garantir a dinâmica do ensino. Isso explica e justifica por que a grade curricular terá que ser submetida a tantas correções quantas se fizerem necessárias, priorizando sempre o aluno porquanto nele repercute imediata, direta e prolongadamente a engrenagem ensino-aprendizado. Como todo sistema auto-regulado, o currículo requer avaliação e validação periódicas: a) do conteúdo programático; b) dos procedimentos didáticos empregados; c) do desempenho docente; d) da carga horária; e) do sistema de avaliação da aprendizagem; f ) da adequação da atividade educacional às exigências de conhecimentos, habilidades e atitudes inerentes ao gesto profissional, isto é, o que, a quem, quanto, quando e como ensinar são as incógnitas da equação do saber, poder e querer fazer um trabalho bem feito. Por oportuno, convém ter em mente que a metodologia de avaliação e validação periódicas de um sistema, quando adequada e produtiva, costuma render frutos e inovações que os objetivos originais sequer cogitavam, particularidade que leva os anglo-saxões a dizerem: “coming events cast their shadows before” (acontecimentos futuros projetam suas sombras antes). Ao contrário do que se poderia imaginar, certas descobertas e conclusões imediatas não requerem lampejos de genialidade e tampouco que se recorra às palavras cabalísticas das historietas infantis. São, no mais das vezes, o coroamento de um longo e penoso processo de reflexão em que as idéias anteriormente internalizadas foram sendo rear-ranjadas no “turnover” da consciência com o inconsciente

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de tal forma que, em dado momento, elas afloram levando muitos a se penitenciarem por não haverem “pensado nisso antes”. A propósito do quanto a inteligência versátil e a curio-sidade científica podem, convém não esquecer da “prima por afinidade” das descobertas acima: a serendipidade , ou seja, a descoberta casual de resultados válidos que não eram pro-curados e que se dão à margem de pesquisa ou investigação com outros objetivos.

Querer fazer é pertinente à área afetiva que trata de valo-res, atitudes e interesses. As dificuldades de definir e delimitar os objetivos da área afetiva envolvem o entendimento que os diversificados grupos sociais atribuem às generalidades e às peculiaridades existenciais. Daí a necessidade de pro-fundas alterações pedagógicas para alcançar os objetivos educacionais da área afetiva, a começar pela compreensão do seu real significado que não deve ser confundido com afeto: numa perspectiva mais ampla, diz respeito a todos os comportamentos com uma variável emocional bem nítida. Das mais fortes razões que levam o Acadêmico de Medicina a receber um “verniz médico-legal” no correr de sua formação universitária é o fato de que a especialidade constitui valioso ponto de apoio para a investigação policial e para as decisões judiciais. Da exação e lisura de ambas provém a prestação de serviço imprescindível à paz e à harmonia social. Por que não fornecer o minimum minimorum das Normas Técnicas e Éticas da Perícia Médica Previdenciária ao Acadêmico de Medicina, fonte de conhecimento a que a Polícia e a Justiça recorrem quando são convocadas para dirimir discordâncias entre empregado, empregador e Instituição Previdenciária a respeito da capacidade/incapacidade física ou mental, do nexo laboral e/ou das alegações/postulações de invalidez, isenção do IRPF et alii? Por que ocultar esse conhecimento numa espécie de caixa-preta dos Peritos Médicos, se isso não é bom para quem quer que seja? Não é bom para o examinan-do, para trabalhadores e empregadores em geral, para a Insti-tuição Previdenciária e para as seguradoras particulares.

Por via de elementar raciocínio seqüencial, não convém à sociedade que os médicos saiam da faculdade de “olhos vendados” em relação à técnica e à ética que devem presidir as decisões médico-periciais centradas no tema capacidade física e mental. Além do mais, emitir parecer de capacidade ou incapacidade, em face de doença, lesão, seqüela física e mental, passa obrigatoriamente pelo fio da navalha laboral, porém também é imprescindível à sociedade, à Justiça e à Polícia quando elas precisam, em numerosas e diversificadas ocasiões, valer-se de aconselhamento médico para decidir o que fazer, adiar ou não fazer com o cidadão, com o réu e o encarcerado, respectivamente.

Se até mesmo quem já consegue esvoaçar em torno da especialidade, ao ser obrigado a fazer um pouso forçado na terra firme da Perícia Médica Previdenciária, acaba co-metendo erros primários, por que não alertar o Acadêmico de Medicina? Por que não preveni-lo a propósito do efeito deletério de idéias que, apesar de não passarem de meras falácias ou sofismas pouco criativos , continuam seduzindo almas ingênuas e, pior, correndo o risco de serem propagadas, conforme abordagem circunstanciada em número anterior

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desta publicação periódica dos Peritos Médicos do INSS, a Revista ANMP ? Naquela oportunidade, focalizamos óbvios e nem tão óbvios desrespeitos à doutrina médico-pericial sob o rótulo “semeadores de ervas daninhas”. Se não fosse um fardo pesado demais para a sociedade suportar, chegaria a ser engraçado o “nonsense” de alguns fantasiando poderem decidir e até doutrinar sobre matéria que não faz parte da grade curricular de graduação, demanda aprendizado e treinamento ulterior. Por que não ensinar o futuro médico em sala de aula e em visitas às APS do INSS objetivando apresentá-lo a uma problemática multifacetada que o aguarda na vida profissional? Que logo será trazida por alguém de fala macia a pedir “só isso”: uma declaração graciosa ou então um atestado para amigo, cônjuge ou parente que não pôde ir ao médico, por “motivo de força maior”, mas precisa tanto... Sem dar tempo ao médico, “a fala macia” costuma arrematar com alguma coisa do naipe: “é verdade mesmo o que eu estou dizendo, doutor, pode acreditar...”

Antes de alinhavar as palavras que darão por encerrado este trabalho que pretendeu fazer um RX de corpo inteiro da relação profissional e pessoal do Perito Médico com seus colegas da Medicina Assistencial e com os segurados do INSS, não poderia faltar o que talvez merecesse até preceder o primeiro parágrafo. Por ter plena convicção de que estender-se a respeito dos assuntos aqui tratados, abor-dando-os da forma franca e direta como o fez, pode atrair a incompreensão ou a sumária condenação pelos adeptos do “deixa como está para ver como é que fica”, o autor deseja que fique bem claro não alimentar a veleidade de ser o “pai da matéria”. Problemática de tamanha magnitude não poderia ser deslindada através de simples exposição acompanhada de observações e sugestões que passam ao largo da pretensão de se transformarem na pedra filosofal da Perícia Médica Previdenciária. Se conseguir estimular a discussão a respeito do todo aqui ventilado, a iniciativa que me roubou horas de descanso, de sono e de lazer terá alcançado o objetivo a que me propus. E por que discutir abertamente temas tão relevantes quanto delicados e sensíveis? Primeiro, porque julgo ser da maior e mais premente necessidade fazê-lo. Segundo, porque, nas conversas em “off ”, não há quem os desconheça, afora os que exemplificam com acontecimen-tos reais mais cabeludos ou ridículos e tão verídicos quanto os casos emblemáticos que trouxemos para cá. Terceiro e principalmente, por que não nos acostumarmos à verdade nua e crua?

Finalizando, voltemos o olhar e a atenção para as três palavras que encimam este trabalho servindo-lhe de título: PERITO, PROFISSÃO PERIGO. Por ironia do vernáculo ou por uma dessas coincidências que nos levam a desconfiar dos acasos com hora marcada, a diferença de grafia entre PERITO e PERIGO resume-se a uma única e solitária letra em meio a outras cinco solidariamente iguais e na mesma ordem. “A fonética da Língua Portuguesa informa: substituição na equipe das consoantes orais oclusivas – sai a linguodental surda “T” e entra a velar sonora “G”, mas o perito permanece junto do perigo...” É que o PERIGO não pára de rondar a PROFISSÃO e a pessoa do PERITO.

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Referências Bibliográficas1 -Cícero, Marco Tullio (106-43 a.C.) – o mais eloqüente dos oradores romanos que, como escritor, é considerado a suprema expressão do gênio latino, haja vista nenhum outro prosador tê-lo suplantado em termos de pureza, riqueza e elegância de estilo.

2 - Comportamento animal – em foco a frustração do(a) segurado(a) a uma negativa ao fim do exame pericial, levando-o(a) a manifestá-la por gestos e palavras agressivas, por vezes de maneira incontrolável, na desesperada tentativa de alterar a realidade. Ao menor pretexto, portadores de fragilidades orgânicas, v. g. epilepsia, dependência química e determinadas disfunções endócrinas, explodem em furor incontido. Esses estados coléricos costumam acompanhar-se de obscurecimento da consciência. Sob a influência da educação, o homem aprende a dominar-se e a controlar as expressões motoras e verbais da cólera, fato que permite aquilatar o grau de educação pela conduta rude e primitiva ou, ao contrário, refinada e ajustada a contemporizar as manifestações instintivas. Em Torre de Babel, Silvio de Abreu diz pela boca de Bina, personagem de Cláudia Jimenez: “é fácil tirar uma pessoa do cortiço; difícil é tirar o cortiço de dentro da pessoa.” Os instintos não podem ser anulados sem pôr em risco a integridade da organização psíquica. Compensar e adequar nossos impulsos aos padrões morais e emocionais da sociedade é o desafio que cada um enfrenta em busca do bem-estar físico e mental. O sentir, o pensar, o querer e o agir são fenômenos psíquicos da criança que chora quando é repreendida, do homem que tenta contra a própria vida porque duvidam de sua honestidade, do intelectual que esquece a hora de fazer as refeições e de dormir debruçado numa revisão bibliográfica, do cão que abana o rabo ao pressentir a chegada do dono e, latindo, avança no menino indefeso que pulou o muro da casa para buscar a bola. Os fenômenos psíquicos percorrem dois níveis, o consciente (conhecimento e vontade) e o inconsciente (automatismos), e são agrupados por categorias: a) afetividade – sensações, emoções, sentimentos e paixões; b) atividade – reflexos, instintos, hábitos e atos voluntários; c) inteligência – atenção, percepção, memória, idealização, generalização, abstração, raciocínio, análise, síntese e juízo. Enquanto a Fisiologia estuda as manifes-tações físicas dos estados emocionais, a Psicologia dedica-se às emoções em si. A gênese das emoções, e sua tradução em termos físicos e mentais, tem por origem o hipotálamo e o sistema límbico. O córtex límbico variou muito pouco com a evolução dos mamíferos, ao passo que o considerável crescimento do neocórtex atinge seu desenvolvimento máximo no homem. Uma característica do sistema límbico é a escassez de conexões com o neocórtex, razão pela qual houve quem recorresse a uma metáfora para explicar sua anátomo-fisiologia: “o neocórtex cavalga o sistema límbico tal e qual um cavaleiro deixa frouxas as rédeas de seu cavalo”. Ainda assim, fibras do lobo frontal interligam-se a estruturas límbicas adjacentes e há, provavelmente, algumas conexões indiretas via tálamo. Destarte, a atividade neocortical modifica a conduta emocional e vice-versa, porém uma das características da emoção é que ela não pode ser iniciada ou interrompida à vontade. Outra particularidade dos circuitos límbicos é sua pós-descarga prolongada após estimulação. Isso explica em parte o fato de as respostas emocionais serem geralmente prolongadas e perdurarem além dos estímulos que as provocaram. Dados de Psicologia Comparada compilados por ornitologistas, entomologistas e biologistas em geral sempre atraíram os estudiosos em instintos. Comportamento espontâneo, inato e invariável, comum a todos os exemplares da mesma espécie e que parece adaptado a um objetivo que escapa à consciência do indivíduo, o instinto leva o pássaro, ao atingir a maturidade sexual, a nidificar segundo concepção arquitetural peculiar a sua espécie. O instinto, que parece vir gravado na estrutura nervosa dos indivíduos, tem como exemplos ilustrativos: a) o ninho que o joão-de-barro (Furnarius sp) constrói; b) o patinho que nada, sem depender de aprendizagem; c) o nenê que balbucia, tocado pelo instinto de vocalização, prólogo da comunicação social via palavra falada; d) a criança curiosa que mexe e remexe nas “coisas” dos pais, movida por necessidade interna representada pelas próprias tendências e não pelas conveniências aprendidas; e) a estereotipia de atos e movimentos da mesma ou de espécies próximas, tais como as brincadeiras infantis que se repetem geração após geração e os felinos que caçam de modo muito semelhante. A educabilidade permite direcionar a exteriorização dos instintos objetivando treinar o cão-de-guarda, o farejador de drogas ilícitas e de vítimas soterradas, assim como o cavalo-de-salto, o competidor das provas turfísticas, de adestramento, de enduro eqüestre e do concurso completo de equitação. Quanto mais se avança na escala zoológica, mais plásticas são as condutas, sob a batuta do treinamento e aprendizagem. As reações instintivas, fator de motivação das necessidades e interesses humanos, podem ser abrandadas ou mesmo modificadas mediante processos adaptativos, educativos e psicoterápicos.

3 - Surrealismo – escola de arte e literatura idealizada em 1924 pelo escritor francês André Breton (1896 – 1966), caracterizada pelo desprezo das construções refletidas ou dos encadeamentos ló-gicos e pela ativação sistemática do inconsciente e do irracional, do sonho e dos estados mórbidos, valendo-se freqüentemente da psicanálise.

4 -Marcel Proust (1871-1922) – romancista nascido em Paris, autor de “À la recherche du temps perdu”, extensa e inacabada, mas portentosa obra autobiográfica que mergulha no íntimo das coisas, dos lugares e das pessoas com tamanha sutileza de análise que os processos psicológicos determinantes de cada ação parecem aflorar aos olhos do leitor. 5 - PETRY, André – Como a fé resiste à descrença. In Veja 51 (2040): pg.70/85, 26 dez 07.

6 - Não obstante o título do alentado trabalho jornalístico, o artigo da referência bibliográfica nº 5 acima pretende legitimar uma opinião pessoal: DEUS NÃO EXISTE, conclusão que o teor do texto parece fazer questão de difundir como algo tão certo quanto dois e dois são quatro. Em uma das inúmeras reflexões a propósito do tema, seu autor garante que “são cada mais vez mais abun-dantes as descobertas científicas sobre a origem do universo e das espécies. Se a credulidade não se abala diante disso, é lícito questionar que talvez nenhuma prova científica, por mais sólida e con-tundente, seja capaz de reduzir a pó o teísmo, a crença no divino.” Logo depois, Petry convida o leitor a inteirar-se do “conjunto probatório” exposto resumidamente nas pg.78/80: “O CONFLI-TO ENTRE FÉ E CIÊNCIA”. Mais adiante, a mesma edição desse hebdomadário transcreve en-trevista do filósofo americano Sam Harris (pg. 84/85) que não faz por menos: “a diferença entre ciência e religião é a diferença entre ter bons e maus motivos para acreditar nas hipóteses sobre o mundo”. Convenhamos, há um abismo entre a retórica logicamente correta e o que certas pessoas argumentam em prol de “uma verdade acima de qualquer suspeita” que nenhuma beca, nenhuma toga, nenhum título de doutor e, muito menos, esse dispensável ar “rempli de soi-même” serve para avalizá-lo. Gravada num dos Manuscritos do Mar Morto, depois de permanecer enterrada no de-serto judaico por 2000 anos, convém atentar para a atualíssima e, até prova em contrário, eterna questão filosófica que relega o homem à condição de órfão cósmico de origem incerta, cuja única certeza a rondá-lo é o final imprevisível: “NÃO EXISTE NENHUM HOMEM CAPAZ DE CONTAR A HISTÓRIA INTEIRA”. Incerteza que levou um renomado antropó-logo, Loren Eiseley (1907-1977), a escrever: “viver é partir a qualquer momento e, por isto, somos todos órfãos”. Indiferente e distante ou atormentado pela dúvida magna que o adiamento sine die do desenlace provoca, o carioca da gema cantou em ritmo de samba enredo: “como será o amanhã? responda quem puder! o que irá me acontecer, o meu destino será como Deus quiser ... eu sempre perguntei: o que será o amanhã, como vai ser o meu destino?” (União da Ilha, Carnaval de 1978). Seguindo as pegadas que os filósofos gregos deixaram, Francis Bacon (1561-1626) dizia: “não nos cabe imaginar ou supor, mas descobrir o que a natureza faz ou pode ser levada a fazer”. Polêmico e controverso até à raiz dos cabelos, o tema foi objeto de enfoques diametralmente opostos por inte-ligência que se ombreia à de gênios da estatura de Newton, Descartes e Galileu: a) em 1953, ao resumir de forma acessível a Teoria da Relatividade e voltar os olhos para os problemas sociais,

políticos, econômicos e culturais em seu Mein Weltbild, Albert Einstein garantiu que “a opinião comum de que sou ateu repousa sobre grave erro ... um poder racionalmente superior, que se reve-la no incompreensível universo, é a idéia que faço de Deus”; b) em 030154, numa carta ao filósofo Eric Gutkind, o gênio preferiu desdizer-se: “a palavra Deus nada mais é que a expressão e produto das fraquezas humanas”. Mas, intrigante mesmo é o fato de tanta “gente boa” achar-se em condições de adivinhar o que há de natural, sem um pingo de sobrenaturalidade, por trás desse mistério que se afigura insondável para muitas outras mentes brilhantes: 1º) a imensidão cósmica; 2º) as dimen-sões ínfimas do átomo com seis tipos de quarks e três cores, fulcro da natureza intercambiável entre matéria e energia expressa elegante e matematicamente pela equação de Einstein (E = mc2); 3º) a infinita complexidade da vida e a interdependência animal x vegetal x meio ambiente; 4º) o cerrar de pálpebras para o teatro da vida antes que o pano de boca da morte se abra. Mistério que levou um jornalista francês, também chamado André, a escrever na abertura de livro publicado em 1969 que a discussão acerca da existência de Deus é “a mais disputada das causas e o mais antigo dos processos”. A propósito de sua conversão instantânea e que não chegou precedida por qualquer inquietude, André Frossard, em “Dieu existe, je l’ai rencontré”, diz-se convencido de que “uma testemunha, mesmo indigna, ao conhecer a verdade sobre um processo, tem o dever de relatá-la, na esperança de que a verdade obtenha por seus méritos a audiência que, pelos seus, a testemunha não pode esperar”. Quando os agnósticos, reducionistas, ateus materialistas e outros descrentes insistem em atribuir ao acaso o hoje, o aqui e o agora, que tal lembrá-los do ontem e do amanhã? As Cruza-das, a Inquisição, a implosão soviética, a resistência contra a pesquisa com células-tronco oriundas de embriões humanos inviáveis e o 11 de setembro são exemplos redivivos dessa verdade eterna: tanto o fundamentalismo religioso quanto o materialismo radical, solos férteis para a desinforma-ção, hipocrisia e violência prosperarem, não passam de bumerangues que terminam por alvejar fí-sica ou moralmente quem os arremessou. Em 1925, no Estado do Tennessee, um professor de Biologia, John Thomas Scopes, foi processado por ensinar a teoria da evolução numa escola públi-ca, caso rumoroso conhecido como o “Processo do Macaco de Scopes” que inspirou uma peça da Broadway e um filme dirigido por Stanley Kramer (O vento será tua herança). Claro que a meto-dologia científica é o único e legítimo caminho para investigar a verdade dos fenômenos naturais, mas como e onde procurar respostas para o que não é da alçada da ciência? QUAL O SENTIDO DA VIDA E O QUE NOS ACONTECE DEPOIS DA MORTE? Sem qualquer intenção de persuadir, catequizar ou converter, por que não examinarmos os poucos e esparsos fragmentos do quebra-cabeça que poderá ou não harmonizar o conhecimento científico com o sobrenatural? Depois que a concepção de um universo sem começo nem fim cedeu lugar à teoria do Big Bang, a grande explosão ocorrida há cerca de 14 bilhões de anos, sobreveio uma questão que suscita respos-ta dupla: o que havia antes e quem ou o que foi o responsável. A Terra, surgida 10 bilhões de anos após o Big Bang, teria permanecido árida até há 400 milhões de anos, ocasião em que, derivadas de formas aquáticas, surgem as plantas em terra firme. Mais 30 milhões de anos e os animais se deslo-cam para a terra. Os primeiros espécimes do moderno Homo sapiens datam de 195.000 anos atrás. Hoje, ninguém iniciado em Biologia duvida que a teoria da evolução explique a diversidade das espécies vivas e que o DNA funciona como um software instalado no núcleo celular, programa que precede em muito o surgimento do gênero humano. Hoje também, não há quem sendo iniciado nas verdades que emanam da razão, da ciência e da filosofia duvide que: a) se Deus existe, é sobre-natural, ou seja, não é limitado pelas leis da natureza; b) se não é limitado pelas leis naturais, Deus não é limitado pelo tempo; c) por não ser limitado pelo tempo, o sobrenatural permeia o presente, o passado, o futuro e já existia antes do Big Bang; d) por n+k meios, incluindo o mecanismo de evolução pela seleção natural, a sobrenaturalidade teria como ensejar o aprimoramento de criaturas com a consciência do “eu”, do certo/errado, capazes de desenvolver a linguagem e de imaginar o futuro. Se Deus criou o mundo, suas leis e criaturas com tal discernimento, por que não recorrer a nós mesmos para ficar sabendo quem somos, de onde viemos e para aonde vamos? Afinal, são centenas de milhares de anos em busca da razão, na luta contra a ignorância, a miséria, a dor, a morte e começamos apenas a compreender porque somos, a um só tempo, tão parecidos e tão di-ferentes dos chimpanzés. É que o segundo mais inteligente habitante da Terra, com seu focinho alongado, nariz chato, caninos salientes, coluna vertebral curvada para a frente, pés quase sem calcanhar e braços muito longos capazes de garantir-lhe a excelência de performance nas árvores em detrimento da precária andadura bípede que chega a esboçar, é 96% idêntico a nós, em termos de DNA. Enquanto o homem tem 23 pares de cromossomos, o chimpanzé tem 24, diferença, ao que tudo indica, decorrente da fusão de dois cromossomos ancestrais que originaram o cromosso-mo humano 2. Outro argumento a favor da ancestralidade comum entre chimpanzés e homens é o gene para a proteína dos músculos maxilares que parece ter sofrido mutação para pseudogene nos humanos, conquanto permaneça garantindo o desenvolvimento e a força da musculatura mastiga-dora de outros primatas. É possível inferir que o desenvolvimento do maxilar mais fraco permita que nosso crânio cresça para cima acomodando um SNC maior. Aprendemos a voar, constatamos a relação entre matéria, energia e velocidade da luz. Continuamos tentando decifrar os enigmas da natureza. Alavanca da Revolução Biotecnológica, a manipulação genética já não engendrará apenas histórias de ficção: estará presente no dia-a-dia do trabalho e do lazer de um amanhã onde o silício dos computadores será coisa do passado e o biólogo do futuro poderá interferir no comportamen-to do DNA a partir dos átomos que integram a complexidade molecular dos seres vivos. A ciência não ameaça Deus e a recíproca é verdadeira. Quanto mais a ciência avança, mais beneficia a huma-nidade que passa a sofrer menos. Se Deus existe, Ele não ameaça a ciência por motivos mais do que óbvios: afinal, a ciência existe e progride a passos largos. Teilhard de Chardin – jesuíta e filósofo iniciado em Geologia, Botânica, Zoologia e tido como o profeta da conciliação entre ciência e re-ligião que “chocava os tímidos e entusiasmava os audazes” – escreveu: “um dia, depois de dominar os ventos, as marés, as ondas e a força da gravidade, concentraremos em Deus as energias do amor; aí então, pela segunda vez na História da Humanidade, o homem descobrirá o fogo”. E então, o que fazer? Perseverar em busca de fundamentos sólidos que compatibilizem intelectualidade e espiritualidade ou abraçar uma fé que nos obrigue a dar as costas, de vez em quando, para a ciência? Assumir o agnosticismo pernóstico dos indiferentes que dão de ombros para a possibilidade da existência do Criador? Ou, quem sabe, assumir um ateísmo prenhe de intolerância e agressividade? Você decide, prezado leitor...

7 - REGO, Sérgio – Sobre a formação moral dos estudantes de medicina. In Revista da SOMERJ nº 25: pg.28/29, nov/dez 2006.

8 - Serendipidade – neologismo oriundo do saber e da criatividade de Horace Walpole, por analogia com o país de “mentirinha” onde o conto de fadas “Serendipity and Three Princes” tem lugar. Lá, seus heróis vão achando, por pura sorte, os objetos de valor que precisam. O reflexo condicionado, por Pavlov, a penicilina, por Fleming, e mais recentemente a TNP-470 ou lodamina, por Judah Folkman (autor da teoria da antiangiogênese) em parceria com Donald Ingber, são exemplos ilustrativos de serendipidade.

9 - Determinadas ametropias da técnica e da ética médico-pericial, v. g. “o perito não pode con-trariar a opinião do médico que assiste o paciente e a ele fornece declaração por escrito atestando sua incapacidade ou capacidade laborativa” e “quando o perito for pressionado ou ameaçado, ele pode conceder ou prorrogar o auxílio-doença do agressor em potencial”, fazem por merecer reação modelo Rei de Espanha: “- Por que non te callas?”

10 - CARNEIRO, Manoel – Técnica, ética e segurança do Perito Médico. In Revista da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social nº 2: pg.14/21, jul 2007.

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no dia-a-dia da PERÍCIAPREVIDENCIÁRIA

Jóia

Um segurado chega ao consultório do INSS encurvado, com face de dor e sofrimento, com as mãos sobre os arcos costais à direita. Ao perguntar o que se passava ele responde com a respiração entrecortada e voz baixa: “ Ah, doutor... que dificuldade. Estou com uma dor tremenda nesse pulmão e não consigo respirar e nem falar direito”. Daí eu pergunto: “ E o outro pulmão, está doendo assim também?”No que ele rapidamente se levanta, respira fundo, abre um largo sorriso e dando uns tapas sobre o hemitórax esquerdo responde: “Não, esse outro pulmão está jóia”. Henrique Chvaicer

Investigação

Costureira de 48 anos, vários benefícios anteriores por Osteoartrose de Coluna,

entra no Consultório num estado de dar dó: chorando, mal se arrastando, pra-

ticamente desabada no ombro da filha. Pensei: LI, na certa. Examinei, fiquei em

dúvida, parecia estar, realmente, sofrendo muito, embora a auto-estima estivesse

em dia para tamanho sofrimento (penteado, roupas de grife, esmalte, adornos...).

Apesar de não trazer documentação médica recente, concedi o benefício por

curto período e sugeri que, em eventual PP ou PR, trouxesse subsídios que pos-

sibilitassem melhor julgamento. Voltei à sala de espera a tempo de vê-la saindo,

ainda meio entrevada, porém muito menos sofrida e sorrindo. Perito esforçado,

não sou milagreiro. “Tem coisa”, pensei. Enquanto a senhora, cada vez mais de-

senvolta, caminhava por um lado da rua, saí da APS, peguei o carro, saí por outra

rua e voltei, devagar, em sentido contrário. As duas, mãe e filha, já a uns 200

metros da APS, riam muito. A senhora entrevada andava livremente, só faltava

dar cambalhotas e em nada lembrava aquela personificação do sofrimento de 20

minutos atrás. Parei o carro, baixei o vidro do carona, dei uma buzinadazinha, e

acenei para a atônita dupla. A senhora imediatamente se agarrou à filha, fez cara

de sofrimento e passou a se arrastar, como tinha feito no consultório.

Adriano Pereira da Silva

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Longe

Segurada afastada por lombal-gia e questionada por não estar fazendo fisioterapia, responde: “Não faço fisioterapia, porque a clínica fica muito longe do meu serviço.”

Ricardo Skroch de Andrade

Sem culpa

Motorista profissional renovou a CNH letra D recentemente (durante o BI) com obs. na carteira “ exerce ativida-de remunerada”. Quando questionei o fato, ele me respondeu : “Não tenho culpa se eu não posso dirigir e eles renovaram minha CNH!”Respondi: “Eu também não !!!!”

Rafael Gonçalves Veras Gomes

Pau da barraca

Para uns que pensam em chutar o “pau da barraca”, aí vai outra utilidade para ele:Na última semana AX1 de “ costu-reira otonoma” com “ astrose ,bico de papagaio que belisca de verdade i isporão” assim descritos, chega com o último lançamento das orga-nizações TABAJARA em ortese: um pau de barraca de praia!!!!!e olha que era 0Km, pois estava ainda novinho. Isso foi real tá gente!!

Leandro Nogueira de Azevedo

SETEMBRO/2008 REVISTA ANMP em foco . 41

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Reintegração Ocupacional Progressiva: uma alternativa para a Saúde Ocupacional

PROGRAMA DE REABILITAÇÃO

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Dr. Flávio César Frade

Terapeuta Ocupacional Especialista em Saúde do Trabalho UFMG

Relato de uma experiência

reabilitação profissional, tradicionalmente, vem sendo considerada como um nível desvinculado da saúde do trabalhador devido a sua complexidade no campo da responsabilidade e do contexto social, da política, da economia e, principalmente, em classificar o ser humano como sendo funcional ou disfuncional para atividade laboral.

Esta abordagem desvinculada ou, muitas vezes, a ausência de uma política de reabilitação profissional nas empresas inviabiliza importantes intervenções que deveriam ter o seu início no momento em que o trabalhador se acidenta ou adoece. Isso porque o traba-lhador acidentado ou adoecido, no processo ou não do trabalho, sofre dupla exclusão. A primeira no campo econômico, onde o empregado perde a sua condição de trabalhador produtivo e a segunda no campo social, onde o trabalhador perde a sua identidade e é estig-matizado como inválido, incapacitado, dependente, preguiçoso etc.

O que propomos é um outro olhar para a reabilita-ção profissional, principalmente em tempos de grandes mudanças nas legislações previdenciárias, no que se refere a novos desafios e estratégicas para os profis-sionais da medicina do trabalho, terapia ocupacional, assistência social, psicologia ocupacional, enfermagem do trabalho, fisioterapia e da perícia médica.

Neste novo cenário previdenciário, reintegrar/rea-bilitar o trabalhador incapacitado por doença ou acidente de trabalho é um grande negócio para todos, por ser im-portante para o indivíduo, para a família, para a empresa, para o seguro social (previdência) e para o país.

Este novo olhar ampliado, e muitas vezes não com-preendido, justamente por ser novo, prevê, entre outros aspectos, uma intervenção multidisciplinar (diversos olhares) dentro das empresas no campo da saúde do trabalhador em parceria (convênios) com a Unidade de Reabilitação Profissional do INSS (URP/INSS). Como sabemos, o surgimento de qualquer ação nova não pode ser prevista, caso contrário não seria nova. Portanto, a parceria entre o público e o privado é fundamental para enfrentar as incertezas que são tantas no campo da rea-bilitação profissional. Segundo MORIN (2000), há dois meios para enfrentar as incertezas da ação. O primeiro é totalmente consciente da aposta contida na decisão, o segundo recorre à estratégia. A estratégia elabora um cenário de ação que examina as certezas e as incertezas da situação, as probabilidades, as improbabilidades. Dentro deste pensamento a nossa premissa básica (privado e público) é, de uma forma cada vez mais precoce, agilizar a realização dos programas de reabilitação / reintegração ocupacional e, conseqüentemente, o retorno do emprega-do (segurado) ao trabalho.

A construção de um novo olhar / Objetivos

A ampliação deste olhar só foi possível pela po-lítica da empresa, cujo código de ética preconiza a in-tegridade humana, o respeito às legislações referente à habilitação e à reabilitação profissional e a SA8000.

Esta construção diz da nossa experiência prática em uma empresa do setor siderúrgico a partir de 2006, quando deparamos com um número significativo de nossos empregados encaminhados pela URP/INSS

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PROGRAMA DE REABILITAÇÃOpara o treinamento de reabilitação profissional na em-presa, além do aumento de altas comuns do INSS de empregados aptos para o trabalho, porém sem condi-ções de assumirem imediatamente toda a sua atividade profissional.

Os dois motivos apresentados levaram o setor de Terapia Ocupacional e Recursos Humanos da empresa a ampliar as suas consciências e a desenvolverem uma nova alternativa para reintegrar estes trabalhadores. Neste momento, desconstruimos (desorganização) nossas ações passadas e criamos (organização) um novo programa.

Em julho de 2006, foi criado o Programa de Rein-tegração Ocupacional Progressiva (PRO) como estraté-gia, cujo fundamento é requalificar, progressivamente, os empregados que estão parcialmente ou totalmente incapacitados para a sua atividade laboral, com a fina-lidade de promover os meios para sua reinserção no trabalho em uma nova ou na mesma atividade laboral e na sociedade, ou até adaptação do posto de trabalho à nova realidade de limitação.

O programa abrange os empregados da empresa encaminhados pela URP/INSS para o treinamento de reabilitação profissional e os empregados com alta do INSS sem condições de assumirem imediatamente todo o seu processo de trabalho, e cujos pedidos de prorro-gação / reconsideração e recurso foram negados.

Metodologia

Os trabalhadores encaminhados para o programa são avaliados por uma equipe multidisciplinar com-posta por médico do trabalho, terapeuta ocupacional, assistente social, enfermagem do trabalho, técnico de engenharia de segurança do trabalho, psicólogo ocu-pacional e profissional de recursos humanos. Além das avaliações específicas de cada profissional, a equipe utiliza algumas avaliações padronizadas e reconheci-das cientificamente como o Índicie Capacidade para o Trabalho (CIT), Nottingaham Health Profile (NHP), Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), Health Assessment Questionare (HAQ) e outras.

O programa é desenvolvido durante um período de 60 dias, divididos em oito semanas. As atividades do treinamento de reintegração/reabilitação são reali-zadas nos primeiros 30 dias em grupo e, nos demais dias, individualmente, de segunda a sexta-feira, das 08:00 às 16:00 horas. A Tabela I apresenta a logística do treinamento.

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Resultados:

Desde a sua implantação em 2006, o Programa de Reintegração / Reabilitação Profissional atendeu 59 em-pregados, os quais em sua maioria exerceram um papel ativo no desenvolvimento da sua performance, dos valores e dos hábitos enquanto membros de uma sociedade. Nas avaliações qualitativas realizadas com os participantes, ao longo do treinamento, demonstraram crescente evolução na aceitação das suas disfuncionalidades, no aprimoramento das suas competências e habilidades, maior capacidade de enfrentamento das suas limitações, maior confiança no seu potencial laboral, aumento da socialização, incremento na percepção da qualidade de vida e do medo de ser desligado da empresa.

O Gráfico I mostra a situação atual dos 59 empregados que participaram do treinamento de reabilitação/reintegra-ção ocupacional.

Conclusão:

A nossa experiência demonstra que quando uma empresa socialmente responsável, com uma equipe de reabilitação profissional interna, estabelece uma parceria ética com a URP/INSS é possível obter resultados positivos na inclusão de pessoas, com alguma disfunção física, auditiva, visual, mental e social, nas atividades do trabalho, da vida diária e de lazer.

Referência Bibliográfica:MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.

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Page 45: Revista ANMP 07

INSALUBRIDADE

APOSENTADORIA ESPECIALversus

ART

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Dr. Eduardo Henrique Rodrigues

Vice- presidente da ANMP

trabalho não deve causar doença, a utopia orienta a boa prática da medicina do trabalho, quan-do a doença acontece, seja ela aguda ou insidiosa, o médico do trabalho precisa interpretá-la, a priori, como uma possível doença do sistema produtivo que se manifesta através do trabalhador. A observação cui-dadosa e sistemática sob esse prisma poderá produzir uma base de dados extremamente útil para a gestão de riscos da empresa.

Por outro lado, já existe bastante conhecimento acumulado para que os agentes nocivos sejam previa-mente identificados e as doenças prevenidas, o que se dá através de medidas de engenharia de segurança e de

gestão de RH, tudo sob orientação médica de quem conhece os riscos e suas conseqüências potenciais. Se a doença é inevitável com todas as medidas implan-tadas e controladas, sendo apenas questão de tempo, torna-se necessário atuar nesta dimensão (o tempo) e não deixar que a doença ocorra ou que, ao menos, não atinja o horizonte clínico. É aí que entra o conceito de Aposentadoria Especial (AE), retirando o trabalhador exposto continuamente a um agente patogênico físico, químico ou biológico. Pode ser necessário aposentar um trabalhador apenas com 15 anos de trabalho, ha-vendo previsão legal para 20 ou 25 anos, dependendo do agente e do risco a ele associado.

Remunerar a exposição através de Adicional de Insalubridade (AI) significaria comprar a saúde do trabalhador, conduta moralmente inaceitável. O sobre-pagamento de remuneração se justifica diante da situação de risco, não de efetiva exposição, embora também seja cabível nesta circunstância (aí necessa-riamente junto a outras medidas administrativas). Profissões potencialmente perigosas para a saúde e integridade costumam ser melhor remuneradas do que as equivalentes que não trazem esse risco intrínseco.

Freqüentemente o Adicional de Insalubridade (AI) é confundido com Condições Especiais para Aposentadoria Especial (AE). O primeiro reconhece o risco hipotético associado ao trabalho o outro assume a impossibilidade técnica de controlar a exposição in-desejável e abrevia o tempo de trabalho como medida

O

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administrativa de evitar doença. Assim, AI é pecuniá-rio; AE é previdenciário.

Para a aposentadoria especial a exposição precisa ser permanente, não há vinculação com adoecimento e depende de laudo técnico que ateste a exposição. Até 1995 esse laudo era dispensável para algumas profissões, dentre as quais a de médico. Como peritos do INSS diariamente avaliamos pedidos de AE reque-ridos por segurados do RGPS. Nossas análises jamais levam em consideração se houve ou não percepção de Adicional de Insalubridade, que é matéria trabalhista estranha ao benefício previdenciário.

Atrelar aposentadoria especial a comprovação de percepção continuada de adicional de insalubridade é misturar alhos com bugalhos, portanto nós peritos precisamos ter a clareza do que significa cada um dos institutos, um previne doenças; outro apenas reco-nhece que determinados trabalhos merecem maior remuneração.

Para quem tem interesse em uma breve revisão da legislação pertinente, destaco que os adicionais de insalubridade – de 10, 20, ou 40% incidentes sobre o salário mínimo – a depender do grau de insalubridade ser mínimo, médio ou máximo, respectivamente, fo-ram instituídos em 01 de maio de 1940, por meio do

decreto-lei nº. 2.162. Três anos depois, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), instituída em 01 de maio de 1943, pelo decreto-lei nº. 5.452, grande marco para a classe trabalhadora, acolheu os adicionais de insalubridade e instituiu o adicional de periculosida-de, que corresponde a 30% do salário do empregado, sem os adicionais. Além disso, agrupou a legislação do trabalho, que até aquele momento se encontrava dispersa e redundante, e incluiu um capítulo sobre Higiene e Segurança do Trabalho. Em 1944, a legis-lação sobre acidentes do trabalho foi reformulada, por meio do decreto-lei nº. 7.036 (FERRARI, M.A., As Aposentadoria Especiais e sua Influência na Proteção dos Trabalhadores Expostos a Riscos Ocupacionais, UFBA, 2007).

A aposentadoria especial , por sua vez, foi muito posterior, instituída em 05 de setembro de 1960 pela lei nº. 3.807. Passaram a fazer jus ao benefício os segurados que tivessem cinqüenta anos de idade e contassem com quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme a atividade profissional, em serviços que foram definidos como sendo penosos, insalubres ou perigosos. O Poder Executivo, por meio do decreto nº. 48.959-A, de 19 de setembro de 1960, relacionou esses serviços insalubres, perigosos ou penosos e in-dicou o tempo de trabalho exigido para obtenção da aposentadoria especial.

Assim, havia presunção de exposição a agentes noci-vos em algumas atividades profissionais, arroladas pelo Poder Executivo, com exceção do agente físico ruído, que deveria ser comprovado por um Laudo Técnico.

Em 24 de março de 1964, outro ato legal, o Decre-to nº. 53.831 entra em vigor para tratar dessa mesma matéria de modo mais específico. Esse decreto esta-beleceu relação das atividades, das ocupações e dos agentes classificados como sendo insalubres, penosos ou perigosos, e o tempo de trabalho mínimo exigido para o trabalhador fazer jus à aposentadoria especial. O anexo desse decreto contém o Código 1.0.0 com os agentes nocivos, subdivididos em físicos, quími-cos e biológicos, e o Código 2.0.0 com a relação das ocupações.

Duas regras ensejavam direito à aposentadoria especial:

• quando o trabalhador estava exposto aosagentes relacionados no código 1.0.0 e

• quandootrabalhadorestavavinculadoaumadas ocupações relacionadas no código 2.0.0; neste caso, a exposição a algum agente nocivo era presumida.

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Page 47: Revista ANMP 07

Desde então, a legislação vem sendo aprimorada com a criação de outras leis, não apenas para atender às diversas situações que constituem a vida do traba-lhador segurado, mas também para acompanhar as mudanças que ocorreram na política da previdência social.

A lei n°. 8.213, de 24 de julho de 1991, instituiu o Plano de Benefícios da Previdência Social e manteve ainda critérios de enquadramento para aposentadoria especial em função da atividade profissional exercida pelo trabalhador, sem necessidade de comprovação da efetiva exposição a agentes nocivos. O decreto nº. 611, de 21 de julho de 1992, aprovou o Regulamento de Benefícios da Previdência Social e dispôs que, até que fosse promulgada lei que dispusesse sobre atividades prejudiciais à integridade física e à saúde, fossem con-siderados os anexos I e II do decreto nº. 83.080/79 e o anexo do decreto nº. 53.831/64 .

Algumas leis podem ser consideradas marcos im-portantes na legislação concernente à aposentadoria especial. Este é o caso da lei n°. 9.032, de 28 de abril de 1995. Essa lei alterou alguns conceitos fundamentais relacionados a critérios para a concessão da aposenta-

doria especial. Não só vedou, a partir daquela data, o direito à obtenção da aposentadoria especial para os casos de trabalho em condições perigosas ou penosas e para os casos de enquadramento por categoria pro-fissional, mas também proibiu o segurado beneficiário da aposentadoria especial de retornar à atividade que ensejou o benefício e de continuar a exercer outra atividade que o expusesse a agentes nocivos.

A partir da promulgação dessa lei, a concessão da aposentadoria especial passou a depender de compro-vação, pelo segurado, perante o INSS, do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou integridade física, durante o período mínimo fixado para a concessão do benefício, nos termos do disposto no art. 57, § 3° e 4°, da lei n°. 8.213/91. Ou seja, só a partir daquela data passou a existir a obrigatoriedade do trabalhador estar exposto a agente nocivo para ter direito à aposentadoria especial. Perderam eficácia o Código 2.0.0 do decreto n°. 53.831/64 e o anexo II do decreto n°. 83.080/79 (FERRARI, M.A., As Aposentadoria Especiais e sua Influência na Proteção dos Trabalhadores Expostos a Riscos Ocupacionais, UFBA, 2007).

Remunerar a exposição através de Adicional de Insalubridade (AI) significaria comprar a saúde do trabalhador, conduta moralmente inaceitável

““

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Page 48: Revista ANMP 07

CAUTELAR

A ANMP ingressou em agosto com um pedido cau-

telar para impedir que o INSS cobre os valores já

recebidos dos associados que estavam recebendo o

Adicional por Tempo de Serviço sem o desconto de

50% que a Administração efetua para aqueles que

têm jornada estendida. Esse pedido feito no processo

nº 2004.34.00.024682-4, que tramita na 1ª Vara Federal

da Justiça do Distrito Federal, e que busca, justamente,

garantir o pagamento integral do Adicional por Tem-

po de Serviço dos associados em jornada estendida.

Em outras palavras, a ANMP buscará, agora, impedir

qualquer cobrança retroativa do INSS e, ao final do pro-

cesso, caso seja procedente, garantirá o pagamento

integral a todos os filiados, bem como o pagamento

dos atrasados para aqueles que, atualmente, não

recebem o ATS cheio.

RETRATAÇÃOO departamento jurídico da ANMP ingressou, em agosto

com uma ação contra a pessoa de Paulo Marcello Fon-

seca Marques, que responde pela ouvidoria do Ministério

da Previdência. A decisão de interpelar judicialmente o

senhor Paulo Marcello foi tomada após análise dos nossos

advogados, sobre a resposta dada pelo mesmo, com base

no pedido de retratação feito pela ANMP, em relação às

suas declarações durante o encontro gerencial da Região

I ocorrido em SP de 3 a 5 de julho. Em afirmou que : “Entre janeiro de 2003 e março de 2008

foram registradas 1.132 denúncias referente a Médicos Pe-

ritos. Os principais assuntos das denúncias são: Cobrança

de propina e Envolvimento de Médico Perito com agencia-

dores”. Apesar de contar com seis páginas, a retratação

de Paulo Marcello foi considerada inconsistente e pouco

convincente por parte de nossos advogados. Não houve

o efetivo pedido de desculpas e retratação à categoria

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Page 49: Revista ANMP 07

Comercialização de mídia

A ANMP contratou a empresa Carvalhal

Marketing para cuidar da comercialização dos

espaços de mídia da Associação. A Carvalhal

é uma das maiores empresas de Marketing do

Brasil tendo como clientes empresas como a

Editora Abril e a Readers Digest. Caberá à Car-

valhal Marketing comercializar espaços nesta

revista, bem como no site da ANMP e também

buscar parceiros para patrocinar o Segundo

Congresso Brasileiro de Perícia Médica Previden-

ciária. Caso os associados tenham empresas ou

entidades interessadas em anunciar em nossa

revista ou site, deve entrar em contato com a

Caravalhal Marketing pelo endereço eletrônico:

[email protected] ou anamariassouza@yahoo.

Reformulação do siteEstá programada para outubro a mudança

definitiva da estrutura interna do nosso site.

Também haverá a mudança nos web mails

com domínio perito.med. Os endereços serão

mantidos, mas recomendamos a todos os as-

sociados que limpem suas caixas, excluindo o

que não for mais necessário e salvando o que

for importante em seu PC, já que, com o novo

sistema, as caixas de e-mail serão zeradas. A

reformulação trará ainda uma nova pagina-

ção interna, espaço para agenda virtual e

uma nova “cara” para o fórum, que será mais

dinâmico e de fácil compreensão.

Cobrança

Desde novembro de 2007, o Ministério do Planejamento

está realizando o recadastramento das consignatárias.

Por este motivo, desde esta época os novos associados

à ANMP não estão sendo incluídos para débito de

mensalidade direto em sua folha de pagamento. Os

débitos são feitos nas contas do Banco do Brasil dos

novos associados. No caso dos peritos que não têm

conta no BB, há a necessidade de uma cobrança

direta por parte do Departamento Financeiro da As-

sociação, que tem buscado contato telefônico com

estes associados para resolver um possível problema

de inadimplência. Caso o débito não seja feito auto-

maticamente na sua folha de pagamento ou conta

corrente, entre em contato com o Financeiro da ANMP

pelo endereço eletrônico: [email protected] ou

pelo telefone (61) 3321 1200.

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Page 50: Revista ANMP 07

Asma e Trabalho: aspectos médico-periciais

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asma brônquica é uma doença com a qual o médico lida diariamente. As principais características são: hiper-reatividade das vias aéreas da mais variada etiologia, edema da mucosa, hipersecreção, broncoespasmo generalizado, reversível, a se traduzir por crises de dispnéia paroxística, resultando em insuficiência respiratória aguda. Apresenta períodos assintomáticos, ditos de pausa, também denominados de intercrises. Semelhante à asma clássica, a asma ocupacional (AO) evolui com limitação variável do fluxo aéreo e ou hiperresponsividade das vias aéreas diante de condições atribuídas ao ambiente do trabalho e não a estímulos externos a ele. Ocorre a cronificação dos sintomas mesmo com o afastamento do trabalhador do ambiente nocivo. É a doença respiratória ocupacional mais comum com conseqüências médico-sociais significativas.

Mais de 250 agentes desencadeantes estão envolvidos na asma ocupacional. Em países desenvolvidos, a AO é estimada em 2 a 8% dos casos de asma do adulto, e em 15% da população geral. No Brasil, a asma clássica do adulto é uma doença muito freqüente, com 10% da população, e os dados sobre a AO são desconhecidos, decorrentes do sub-registro das doenças ocupacionais.

A asma ocupacional pode ser induzida por dois mecanismos básicos: o imunológico decorre da exposição a exoenzimas derivadas de extratos orgânicos animais, fungos, bactérias e vegetais; e o não-imunológico, ocorre quando as substâncias irritantes inaladas de forma aguda, como os anidridos ftálicos, trimetílicos, hexahidroftálicos e elevadas concentrações de sais de platina, induzem a broncoconstrição reflexa. A asma do isocianato é um modelo representativo tanto do mecanismo imunológico quanto do não imunológico, induzindo asma por vários dias apesar do afastamento da exposição. Outros dois mecanismos estão envolvidos na broncoconstrição da asma: o inflamatório, resultante da exposição a substâncias gasosas ou partículas irritantes em altas concentrações, com reação inflamatória que evolui cronicamente, advindo a hiperresponsividade brônquica, e denominada síndrome de disfunção reativa das vias aéreas; e o farmacológico relacionado a atuação de agonistas farmacológicos, a relação dose-efeito, como organofosforados que inibem a acetilcolínesterase, podendo causar crises asmáticas. O ácido plicático (poeiras do cedro vermelho), pós de algodão (bissinose) e tolueno diisocianato (TDI), provavelmente possam desencadear mais de um mecanismo envolvido na reação brônquica.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito através da história clínica e profissional, com descrição cronológica dos tipos de ocupação, a identificação da fonte de exposição aos agentes de risco e a presença das crises após início das atividades no ambiente de trabalho. A história pregressa deve excluir a exposição a sensibilizadores no ambiente doméstico, alergia medicamentosa (penicilina, sulfa, aspirina, etc.) e asma familiar. A monitoração da função pulmonar é realizada com a medição do fluxo aéreo pela espirometria (VEF1, CVF e CVF/VEF1%). Na prática utiliza-se o fluxômetro de Wright para tomadas do pico do fluxo expiratório (PFE) na elaboração de curvas (gráficos) com medidas seriadas, de curta e longa durações, durante o horário do trabalho ou afastado. Os testes cutâneos (prick test) e sorológicos (IgE total e RAST para IgE específica) são exames que auxiliam o rastreamento dos agentes sensibilizantes no ambiente de trabalho e avaliação da atopia, respectivamente. Os padrões medidos de pico de fluxo expiratório podem ser diários (casos de colofônio) ou semanais (isocianato). Os testes broncoprovocativos positivos, com uti lização da metacolina (menos de 8 mg/mL) e ou histamina, ou através do uso de substâncias específicas encontra das no ambiente de trabalho, servem para demonstrar a hipereatividade brônquica em trabalhadores com formas atípicas e assintomáticas ou com poucos sintomas (asma do diisocianato).

O controle terapêutico da asma ocupacional é obtido com o uso contínuo de broncodilatadores inalatórios e antiinflamatórios inalatórios como: 1) beta-2-adrenérgicos/agonista; 2) beta-2-adrenérgicos/agonista com a inclusão dos corticóides inalados; 3) beta-2-adrenérgicos/agonista inalados (de curta e longa duração), + teofilina ou + brometo de ipratrópio; 4) adição dos corticóides sistêmicos (VO/parenteral); 5) e na asma irreversível possibilidade do uso dos antiinflamatórios alternativos (ciclosporina, metrotexate) e imunomoduladores.

Conduta Médico Pericial: avaliação da incapacidade laborativa

Para aplicar a lei com segurança e ressalvar os direitos do trabalhador, cabe ao perito avaliar cada caso particular. Os parâmetros que orientam o juízo do perito são variáveis conforme as situações, exigindo dele um perfeito conhecimento da doença em seu relacionamento com as normas técnicas estabelecidas.

Dr. Emmanuel Andrade

Perito Médico do INSS Membro da Câmara Técnica

de Pericia Medica do CREMERJ e Ex-docente da UFF

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A capacidade de exercício é avaliada pelo consumo de O2 (VO2) em mL/kg/min. O cálculo do VO2 durante o exercício pode ser aceita em indivíduos que apresentam disfunção leve ou moderada (classes 2 e 3). Os indivíduos com VO2)de 25mL/kg/min podem executar exercícios normais. Com o VO2 entre 15 e 24 mL/kg/min, podem executar tarefas manuais mais leves e sedentárias. Os que têm VO2 menor que 15mL/kg/min executam as tarefas com menor eficiência. Geralmente uma pessoa pode sustentar um trabalho/esforço com nível de 40% de VO2 Max por um período de 8 h/dia.

O trabalhador mantém uma hipersensibilidade ao alergeno mesmo afastado do trabalho, e o retorno às atividades poderá desencadear reação às quantidades ínfimas dos sensibilizadores devido a re-exposição.

Na prática, os casos de asma ocupacional são de difícil readaptação, mas deve ser tentada principalmente nos trabalhadores jovens. Deve ser iniciado o programa de reabilitação profissional assim que o diagnóstico seja confirmado e se obtenha a resposta terapêutica. A capacidade laborativa será avaliada em períodos sucessivos até quando os objetivos do tratamento tenham sido alcançados, ou após cumprimento do programa de readaptação em outra atividade. Na impossibilidade de recuperação funcional, expressa em invalidez respiratória, a aposentadoria se apresenta como proposição inevitável.

A caracterização da situação de incapacidade laborativa depende da constatação em dados da história clínica, estudo e análise do posto de trabalho e dos elementos do estudo da função respiratória. A melhoria dos parâmetros clínicos e funcionais, com o afastamento do local de trabalho é valorizado para efeitos de reabilitação seletiva.

A quantificação da limitação do fluxo pulmonar é medida pela diminuição do VEF1 após exposição aos agentes nocivos do ambiente de trabalho, e a resposta

A AO apresenta evolução crônica, com surtos de agudização, devendo ser valorizada na história clínica a presença da dispnéia aos esforços e a freqüência das crises asmáticas. Os períodos entre as crises são assintomáticos, com os testes de função pulmonar e a radiografia de tórax dentro dos parâmetros de normalidade.

Após o diagnóstico, a conduta adequada é o afastamento imediato do trabalhador do local de trabalho. A incapacidade laborativa, portanto, deve ser analisada desde o início, em função da impossibilidade do trabalhador continuar a exposição aos agentes sensibilizadores.

A caracterização das substâncias presentes no ambiente de trabalho como fatores desencadeantes, o reconhecimento de incapacidade laborativa e o estabelecimento do nexo técnico constitui grande responsabilidade do médico perito, pois culmina com a concessão do auxílio doença acidentário e o encaminhamento para cumprir programa de reabilitação profissional. A recuperação profissional deve ser tentada nos elegíveis, de idade inferior a 40 anos.

A avaliação da incapacidade laborativa na AO tem como parâmetro a correlação entre as quantificações do distúrbio funcional pulmonar (VEF1, CVF e VEF1/CVF) e da dispnéia (Tabela 1).

A presença da dispnéia é fundamental para a correlação com os volumes e capacidades pulmonares medidos pela espirometria e a realização de exercícios (esforços físicos).

O VEF1 é a medida espirométrica que serve como indicador para correlação com a capacidade de exercício dos portadores de AO ou com doença pulmonar obstrutiva crônica. Os indivíduos com asma crônica e um VEF1 maior que 60% do predito (LN) são considerados capazes, e os com percentuais menores que 40-45% podem ser considerados portadores de incapacidade laborativa severa.

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pode ser imediata ou tardia. O valor do volume do fluxo de pico com registro dos volumes durante a atividade laboral, nos fins-de-semana e nos períodos de férias, confirma o diagnóstico da asma ocupacional. Os testes de provocação inalatórios inespecíficos são valorizáveis quando, sendo previamente negativas, se tornam positivas após o início da atividade laboral.

O grau de incapacidade pode determinar o afastamento do local de trabalho e a otimização terapêutica será corrigida de um mínimo ao máximo na dependência da persistência de alterações da função respiratória, que inclui a presença ou não da dispnéia e a necessidade de afastar o trabalhador do posto de trabalho, necessitando ou não de reabilitação profissional. Nos trabalhadores fumantes deve ser investigada a importância do uso do tabaco e excluída, de forma razoável, a possibilidade de ser o único fator responsável pelas alterações clínicas e funcionais.

A avaliação para a determinação do grau permanente de disfunção pulmonar deve ser de até 2 anos do afastamento do local de trabalho com exposição contínua aos agentes desencadeantes.

• T1 ou T2 na DRE: inexistência da incapacidade laborativa para os casos leves, e c/ RxT e testes funcionais normais;

• DCB estimado (COPES): os prazos são fixados na dependência do estágio da doença e da resposta ao esquema com broncodilatadores e antiinflamatórios (corticóides);

• DCI (6m) c/ RP: asma resistente c/ resposta terapêutica inadequada, afastar o segurado de postos de trabalho que o expõe ao risco (contaminantes ou alergenos industriais) e encaminhar para RP;

• REVISÃO EM DOIS ANOS (R2): evolução crônica com episódio freqüente de agudização e baixa resposta ao tratamento clínico com broncodilatadores e corticóide-dependente;

• LIMITE INDEFINIDO (LI): caso grave com complicações (DPOC, fibrose e enfisema pulmonar/“cor-pulmonale” /outras comorbidades). Não havendo possibilidade de RP (inelegibilidade), expressa em invalidez e a aposentadoria surge como proposição inevitável.

• BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC‐LOAS): nos casos graves, irreversíveis, de DPOC/enfisema pulmonar, comprometimento bilateral

e “cor-pulmonale” com evidente incapacidade para a vida diária.

• ISENÇÃO DE CARÊNCIA: excepcionalmente quando ocorre o cor pulmonale, que será o estágio final, e é considerada como uma cardiopatia grave

Conclusão

A asma ocupacional não é facilmente diagnosticada e implica na adoção de programas de saúde e segurança para reduzir ou eliminar a potencialidade dos sensibilizadores específicos. As medidas de prevenção são consideradas um problema de governos, emprega dores e empregados. É fundamental a participação do segurado/paciente em programas de educação para melhor conhecimento da doença, aquisição de auto-eficácia e auto-manejo e intervenção farmacológica e ambiental preventiva. A readaptação, geralmente, é feita pelo próprio trabalhador, que reconhece que o trabalho está causando problemas para sua saúde e procura outro emprego.

O prognóstico da AO depende da identificação dos casos logo após o aparecimento dos sintomas, da quantificação inicial do distúrbio funcional, da intensidade da hiperreativade brônquica, da dependência contínua dos corticóides e do afastamento imediato do trabalho. A reexposição ao agente nocivo causa o reaparecimento, a manutenção, a piora e a persistência dos sintomas respiratórios.

O governo tem responsabilidade de informar aos empregadores e empregados sobre os riscos da exposição de substâncias nocivas no ambiente de trabalho, efetuando o processo educacional com informações e publicações oficiais, de acordo com o que dispõe a legislação específica emitida pelo Ministério do Trabalho. O controle adequado das substâncias sensibilizadoras de asma ocupacional e o suporte do controle preventivo pode auxiliar a reduzir os problemas reativos das vias aéreas.

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Resumo

O autor focaliza diversos aspectos da asma provocada por agentes nocivos inalados no ambiente de trabalho. O diagnóstico ocorre através da história profissional associada aos sintomas de dispnéia, tosse e sibilos. A crise de asma pode surgir em minutos ou horas após a primeira exposição (período de latência), ou se apresenta semanas ou meses após as primeiras exposições aos agentes de riscos. Existem mais de 250 substâncias ligadas à asma ocupacional, número que cresce com a introdução de novas tecnologias. A asma ocupacional, ou síndrome de disfunção reativa das vias aéreas, aumenta em prevalência e em severidade. 15% da população geral, e 2 a 4% dos trabalhadores apresentam asma ocupacional. O rastreamento de casos e a constatação dos principais sensibilizadores são importantes no tratamento, no prognóstico e na prevenção. As questões relacionadas ao reconhecimento da incapacidade laborativa, à readaptação e ao retorno ao trabalho são consideradas

Referências1. ANDRADE E, PAULA A - Aspectos médicos periciais nas pneumopatias. JBM, 53:24-8, 1987. 2. ANDRADE E - Asma e Trabalho. Arq bras Med, vol.71 (6): 223-227, 1997;3. BERNSTEIN I L, CHAN-YEUNG M, MALO J L, and BERNSTEIN D I: Asthma in the Workplace. (Eds) Marcel Dekker, Inc., New York, 1999;4. CRUZ DE OLIVEIRA, MV: Asma Ocupacional, cap. 49, 471- 476. In ZAMBONI, M; CASTRO PEREIRA, CA; Pneumologia – Diagnostico e Tratamento. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLO-GIA (SBPT). Ed.Atheneu, S. Paulo. 2006. 767p.5. FERNANDES, ALG; STELMACH, R; ALGRANTI, E. Asma ocupacional , J Bras Pneumol. 2006;32 (Supl 2):S45-S52 S 45;6. HARBER P, SCHENKER M, BALMES JR. (Eds). Occupational asthma, chap. 26, PG 420-432. In Occupational and Environmental Respiratory Disease. 1st Ed. Mosby, St. Louis, 1995. 1038p. 7. MORGAN WK, SETON A. Occupatioanl asthma. Chap. 17, pg 457-483. In Occupational Lung Diseases, third edition, W.B Sauders Company Philadelphia, 1995. 657p;8. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. I Consenso Brasileiro sobre Espirometria. J Bras Pneumol 22(3): 105-64. 1996; 9. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma. J Bras Pneumol. 28, Suppl. 1 1-28. 2002 10. ANEXO II, DECRETO 3.048 de 06/05/1999. Quadro de Doenças Profissionais (atualização da relação de doença profissional ou do trabalho, referida no art.20 da lei 8.213/1991);11. DECRETO Nº 3048/1999 (atualizado em outubro de 2007); 12. LEI Nº 8.080/90: inciso VII, parágrafo 3º do artigo 6º - disposta segundo a taxonomia, nomenclatura e codificação da CID-10). ANEXO. LISTA DE DOENÇAS RELACIONADAS COM O TRABALHO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE;13. LEI 8213/91 (RGPS); 14. LEI Nº 11.430 - DE 26 DE DEZEMBRO DE 2006 - DOU DE 27/12/2006. Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP) 15. PORTARIA Nº.1339/GM de 18 de novembro de 1999. DOENÇAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO RELACIONADAS COM O TRABALHO (CID-10: J45, J49 + Z57.2, Z57.4 e Z57.5);

A importância da correta fixação da data do início da incapacidade

Os autores do artigo “A importância da correta fixação da data do início da incapacidade” do número 06 da revista ANMP em foco fazem menção na página 45 que: “Se ainda assim não houver dados que fundamentem a DII, considerando-se que o segurado procurou pelo INSS no momento em que se percebeu incapaz, a DII poderá ser equivalente à data de Entrada do Requerimento (DER); poderá ainda ser fixada na Data de Realização do Exame (DRE), quando se constata a incapacidade laborativa , ou mesmo na declaração ou atestado do médico assistente (INSS,2007)”.

Temos a esclarecer que o material instrucional colocado na página da DIRBEN é para ser usado em capacitações presenciais para chamar a atenção de que é tecnicamente incorreta a fixação da DII na DER, DRE (esta em especial, pois no mínimo é igual ou posterior à DER) ou atestado do médico assistente, uma vez que é prática corrente pela perícia médica. Colocamos textualmente o que está no slide: “Especial atenção na fixação da DII para o segu-rado contribuinte individual, evitando-se fixar na data da entrada do requerimento (DER), na data da realização do exame (DRE) ou na data da emissão da declaração ou atestado médico.”

Filomena Maria Bastos Gomes, Coordenadora Geral de Benefícios por Incapacidade

ERRATA:

O artigo “A IMPORTÂNCIA DA CORRETA FIXAÇÃO DA DATA DO INÍCIO DA INCAPACIDADE”, publicado no nú-mero 06 da Revista ANMP em Foco acabou gerando discussões no fórum que evidenciaram um entendimento equivocado da frase “Se ainda assim não há dados que fundamentem a DII, (...ela) poderá ser equivalente à Data de Entrada do Requerimento (DER); poderá ainda ser fixada na Data de Realização do Exame (DRE), (...); ou mesmo na data da declaração ou atestado do médico assistente”. Quando os autores fizeram referência ao ma-terial instrucional disponível na página da DIRBEN, não houve a intenção de afirmar que existe uma orientação explícita para que a DII seja fixada nestas datas, mas sim ressaltar o fato de que, apesar da orientação para que se evite tal conduta, é uma possibilidade existente e freqüetemente utilizada por muitos Peritos Médicos (PM). Isto fica evidente com o parágrafo seguinte que se inicia com a frase “Apesar de apresentada como uma exceção e não como uma simples opção, fixar a DII na DER tem se mostrado uma prática rotineira entre os PM”. Ficamos satisfeitos que nosso pequeno artigo tenha despertado discussões tão enriquecedoras acerca de um dos temas mais polêmicos e importantes no execício das atividades da Perícia Médica Previdenciária. Que seus frutos sejam colhidos na melhoria da qualidade de nossas avaliações periciais. (Adriana Kelmer Siano et al).

COMPLEMENTO:

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PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO PERICIAL OCULAR EM MOTORISTAS Drª. Tânia Mariza Silva OftamologistaMédica Perita do INSSCGBENIN de Salvador (BA)

N a avaliação pericial ocular em motoristas é necessário ser definida a CAPACIDADE VISUAL RESIDUAL do examinado pelos resultados dos exames médicos do especia-lista Oftalmologista e do Medico Perito examinador.

Os parâmetros legais e técnicos devem ser observados para fundamentação da conclusão médico pericial no reco-nhecimento do direito aos benefícios previdenciários,para confirmação ou não da incapacidade laborativa e do possível enquadramento em acidentário.

I-PARAMETROS LEGAIS

Selecionamos, a seguir, os parâmetros legais,considerando o previsto na legislação federal vigente, os quais devem ser aplicados pelos profissionais médicos em suas avaliações pe-riciais oculares de motoristas ,para enquadramento referente a benefícios previdenciários/acidentários :

A- Decreto 3048/99 e alterações quanto a verificação da

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Drª. Tânia Mariza Silva

incapacidade laborativa total ( temporária ou permanente), concessão pelo anexo 1 (acréscimo de 25% ao indicado para aposentadoria por invalidez com cegueira ), Anexo 2 –lista as doenças oculares relacionadas ao trabalho e anexo 3 –lista as situações de perda a alterações visuais que dão direito ao auxilio acidente; e,

B- Exigências visuais da LEGISLAÇÃO DE TRAN-SITO em vigor, previstas no anexo II ( AVALIAÇÃO OF-TALMOLÓGICA ) da Resolução nº 267, de 15.02.2008, do Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN onde há registro de :

- Teste de Acuidade Visual e Campo Visual (ver Quadro 1 ); - Motilidade Ocular ,Tropia (ver Quadro 2 ) ;-Teste de Visão Cromática (canditados à direção de

veículos devem ser capazes de identificar as cores verde, amarela e vermelha);

-Teste de Limiar de visão noturna e reação de ofuscamen-to ( o canditado deverá possuir visão em baixa luminosidade e recuperação pós ofuscamento;

Os valores da acuidade visual exigidos poderão ser ob-tidos sem ou com correção óptica, devendo neste último caso,constar na CNH a observação obrigatório uso de lentes corretoras. “As lentes intraoculares não estão em quadradas nesta obrigatoriedade”;

C - Encaminhamento de ofício aos respectivos Serviços Médicos dos DETRANs (departamentos de trânsitos ) es-taduais sobre a situação do periciando afastado do trabalho por auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez (pre-videnciário ou acidentaria), para que o Órgão de Trânsito avalie a necessidade de suspensão temporária ou definitiva da carteira nacional de habilitação(CNH) .

II-PARÂMETROS TÉCNICOS

Estudos registram que, entre os parâmetros técnicos para avaliação pericial ocular de motoristas , o relatório do exame ocular do Oftalmologista, o qual deve subsidiar o médico perito na avaliação da capacidade visual residual, deve conter dados completos,devendo ser registrada a quantificação da acuidade visual e eficiência visual, para longe e perto, sem e com correção recente, cada olho separadamente e em ambos os olhos. Considera-se ainda que o exame externo, tensão ocular, fundoscopia, mobilidade ocular, testes cromático e referências ao campo visual devem ser relatadas , bem como registros na história médica de doenças ou acidentes oculares e/ou doenças sistêmicas com repercussão visual. As solicitações dos Exames Complementares ( Biomicroscopia, Ultra-sonografia, Angiofluoresceinografia, Curva Tensional Diária e outros ) dependem da história médica pregressa e da história natural da doença ocular no exame pericial. Nos casos de suspeitas de simulação de cegueira ( em um ou nos dois olhos), é necessário que o médico perito receba do Of-talmologista o registro dos testes realizados para descartá-la ou confirmá-la .

Recomenda-se a observância da aplicabilidadde, pelos médicos peritos, na avaliação pericial da capacidade visual de

motoristas a fim de definir sobre a existência da incapacidade laborativa visual e a necessidade de encaminhamento ou não para a reabilitação profissional das seguintes conceituações básicas :

1-VISÃO PROFISSIONAL capacidade visual mínima para cada grupo de profissões. Para motoristas é obrigatório o cumprimento das exigências de enquadramento da legis-lação de trânsito em vigor(resolução nº 267/2008)(VER QUADRO 1 e 2);

2-ACUIDADE VISUAL (AV) é a medida do grau de Visão Central ou Direta(visão Macular ou de Detalhes) realizada com examinando em posição frontal a uma distância padrão de 6 metros para que ele identifique caracteres(letras,números ou símbolos) de tabelas oftal-mológicas específicas(padrões). Na avaliação da acuidade visual para longe são freqüentemente utilizadas as Tabelas de Snellen (fracionaria ) ou Wecker(decimal) na qual estão expostos estes valores de medida da AV (ver Tabela 1).

A acuidade visual para perto é avaliada pela Tabela de Jaeger a uma distância de 35 cm do examinado e uma escala básica de J1 a J7 em ordem crescente de perda visual (ver Tabela 2), que podem ser fisiológicas e patológicas. Esta medida deve ser obrigatória aos examinados com idade próxima ou acima de 40anos, considerando a redução fisio-lógica desta visão(PRESBIOPIA) e a possível necessidade de correção com lentes corretoras. A correção óptica em MOTORISTAS auxilia na visualização dos painéis dos veículos automotores .

3-EFICIÊNCIA VISUAL (EV) é a avaliação em cada olho separadamente da medida de conjugação da Visão Cen-tral com a Periférica das três funções de : Acuidade Visual, Campo Visual e Motilidade Ocular (medida do campo de diplopia e binocular) . Mostra os percentuais úteis de visão, sendo esta necessária na avaliação correta da Capacidade de Visão Residual e fundamental para definição da incapaci-dade laborativa ocular e,quando necessário, a indicação para reabilitação profissional .(Ver Tabela 1 – Tabelas Snellen, de Wecker e SNELL-STERLING da Associação Médica Americana (AMA).

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Na aplicação da EV MONOCULAR conforme Tabela 1, podemos observar como exemplo, que os examinados com 0,8 de AV possuem 95% de Eficiência Visual e os que têm 0,5 de AV não possuem 50% de visão e, sim, 83,6% de Eficiência Visual (ver Tabela 1).

A EV BINOCULAR deve ser calculada conforme a seguinte fórmula: 3 X (% EV DO MELHOR OLHO) + (% EV DO PIOR OLHO) / 4. Aplicando-se a fórmula, por exemplo, para cálculo da EV BINOCULAR de em UM OLHO CEGO e OUTRO OLHO DE AV NORMAL : EV BINOCULAR = ( 3X 100%)+(O%)/4= 75%

4-CAMPO VISUAL (mapeamento periférico e central) é uma avaliação da acuidade visual global que mostra a porção do mundo externo visível, para cada olho, medida com aparelhos chamados Campímetros Computadorizados (utilizado com frequência atual-mente –perimetria estática ) ou Perímetros(perimetria cinética manual ). As alterações de campo visual na área da VISÃO BINOCULAR (quando as partes centrais do campo visual dos dois olhos coincidem - ver figura 2) comprometem a Percepção de Profundidade e de Proporção, sendo esta análise, então, fundamental para decisão da capacidade de visão residual em portadores de glaucoma, doenças neurológicas, e nos critérios de seleção da aptidão visual para atividades em profissões que exijam boa visão de profundidade como os mo-toristas, outros trabalhadores em alturas e atividades executadas em movimento. Os parâmetros de Campo Visual normal são: lado superior 60%, lado inferior 75%, lado nasal 60% e lado temporal 100%. Nos lados temporal e inferior encontram-se as estruturas anatô-micas mais sensíveis dos olhos para a acuidade visual de detalhes - Mácula ou Fóvea Na Figuras 1 – Campos Visual Monoculares na Figura 2- Campo Visual Bino-cular apresentamos um modelo gráfico de Perimetria Cinetica em olhos normais e mostramos a localização da isoptera( linha que une pontos de mesma sensibi-lidade retiniana) horizontal para fins de verificação das exigências da resolução 267/2008-CONTRAM quanto à visão periférica. Identificamos necessidade do médico perito também entender da apresentação da campimetria computadorizada, que atualmente esta tornando-se mais freqüente.

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5 -MOTILIDADE OCULAR (movimento dos olhos) é controlada por seis músculos extra-oculares em cada olho, sendo: quatro Retos (responsáveis pelas ações de abdução, adução, depressão e elevação do globo ocular) e dois Oblí-quos (que controlam as ações torcionais e em menor escala, os movimentos ascendentes e descendentes). A presença de estrabismos (desvio do alinhamento ocular perfeito) e de alterações sensoriais de diplopias (visão dupla de um objeto), Supressão (na visão binocular a imagem vista por um olho é predominante e aquela vista pelo outro não são notadas), ambliopia (acuidade visual reduzida sem proble-ma orgânico detectado), correspondência retinal anômala (adaptação sensorial em visão binocular com mudança da direção visual) e fixação excêntrica (ponto de fixação não posicionado em direção apropriada, esta associada a ambliopia grave e Fixação instável) afetam a qualidade da visão de profundidadde e estereoscópica. Na avaliação pe-ricial ocular de motoristas, devemos identificar a presença de estrabismo e se este é por tropia (estrabismo manifesto ou heterotropia) que apresenta-se em visão binocular,ou seja, desvio do movimento dos olhos que não podem ser controlado pela visão binocular, comprometendo, então, a visão de profundidade, que é fundamental para este tipo de atividade. Conforme a legislação de trânsito atual (Resolução nº 267,de 15.02.2008), os portadores de estra-

bismo por tropia somente podem ser aprovados quando canditados ACC(autorização para conduzir ciclomotor) e nas categorias A e B, com a as seguintes exigências: AV CENTRAL IGUAL OU SUPERIOR A 20/30( EQUI-VALENTE 0,66) no melhor olho ; visão periférica na isóptera horizontal igual ou superior a 120° em pelo menos um dos olhos.

6 -VISÃO CROMÁTICA (visão de cores) normal re-quer uma mácula (responsavel pela visão central) e nervo óptico sem alteração de função. As DISCROMATOPSIAS (DISTÚRBIOS DE VISÃO DE CORES) podem ser detectadas por diversos testes em estudo, porém a técnica mais utilizada é de uma série de quadros policromáticos chamada Ishihara . A discromatopsia mais comum é a para verde-vermelho em torno de 8%, conforme estudos. Na avaliação pericial ocular de motorista, devemos observar o previsto na legislação de trânsito atual (Resolução nº 267,de 15.02.2008) , onde os canditados a direção de veículos devem ser capazes de identificar as cores verde, amarela e vermelha.

7-TESTE DE LIMIAR DE VISÃO NOTURNA e reação de ofuscamento da legislação de trânsito atual (Resolução nº 267,de 15.02.2008) é exigido do canditado que este possua visão em baixa luminosidade e recuperação após ofuscamento.

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III- CONSIDERAÇOES FINAIS

A aplicação dos parâmetros legais e técnicos expostos acima na avaliação pericial ocular de motoristas são funda-mentais para correta interpretação do exame oftalmológico pelo médico perito, o qual deve considerar os elementos do exame ocular completo e não somente a Acuidade Visual a fim de obter uma melhor análise da capacidade visual residual do examinado. Nesta análise, o médico perito deve corre-

lacionar cinco itens do exame oftalmológico considerados básicos para profissão de motorista : ACUIDADE VISUAL; CAMPO VISUAL; VISÃO DE CORES, ATIVIDADE DA DOENÇA OCULAR e a VISÃO PROFISSIONAL prevista na atividade de motorista .

Na indicação de reabilitação profissional para um motorista com incapacidade visual para atividade, devem ser observado os seguintes critérios: idade compatível , grau de escolaridade, atividade da doença ocular, tempo de afastamento do trabalho,experiência anterior e capacidade visual residual . Nos casos de baixa visão, deve-se verificar as habilidades específicas em manuais e de comunicação, lidar com público, domínio de informática e outras que podem definir o prognóstico do programa de reabilitação.

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Unidade representada: AraçatubaDelegado: Alfredo Querino da Silva

Suplente: José Roberto Braga Arruda

Unidade representada: AraraquaraDelegado: Luis Henrique B. Falcão

Suplente: Sidney Antonio Mazzi

Unidade representada: BauruDelegado: VagoSuplente: Vago

Unidade representada: CampinasDelegado: Bruno Immediato Batista Suplente: Claudio Cavalcante Neto

Unidade representada: Guarulhos Delegado: Marcos Henrique de Carvalho

Suplente: Newton Pinto Araújo Neto

Unidade representada: JundiaíDelegado: Regina Treymann

Suplente: Flávio Roberto Escareli

Unidade representada: Marília Delegado: Leandro Presumido Jr. Suplente: Ricardo Gomes Beretta

Unidade representada: OsascoDelegado: VagoSuplente: Vago

Unidade representada: PiracicabaDelegado: Fabio Armando Souza Frias

Suplente: Vorney de Camargo P. Busato

Unidade representada: Presidente PrudenteDelegado: Carlos André Bissoli MonteiroSuplente: José Rafael Assad Cavalcante

Unidade representada: Ribeirão PretoDelegado: José Henrique Orsi

Suplente: Renato Pacheco Arena

Unidade representada: Santo AndréDelegado: Márcia Silva Santos

Suplente: Graciella Silva da Conceição

Unidade representada: SantosDelegado: Marcos Ferreira de Carvalho

Suplente: Sara Gil Pie

Unidade representada: São Bernardo do CampoDelegado: Francisco José de Oliveira

Suplente: Nelson Roitberg

Unidade representada: São João da Boa VistaDelegado: Arcelio Hermoso

Suplente: Sandra Fernandes Maciel

Unidade representada: São José do Rio Preto Delegado: Raquel Esperafico

Suplente: Claudio Kaoru

Unidade representada: São José dos CamposDelegada: Margaret Inácia G. QueirogaSuplente: Renato Egydio Carvalho Neto

Unidade representada: São Paulo - CentroDelegado: Ricardo Abdou

Suplente: Carlos Alberto Saleme

Unidade representada: São Paulo - OesteDelegado: Marisa Corrêa da SilvaSuplente: Daniele Cheke de Rosa

Unidade representada: São Paulo - LesteDelegado: Rafael Cavalheiro MarafonSuplente: Fernando de Barros Cordeiro

Unidade representada: São Paulo - SulDelegado: José Eduardo Milori Cosentino

Suplente: Helyzabeth B. Ribeiro

Unidade representada: SorocabaDelegado: Antônio Carlos Ribeiro

Suplente: Walter Antônio Rodrigues Garcia

Unidade representada: TaubatéDelegado: Augusto José Cavalcanti Filho

Suplente: Alexandre Coimbra

REGIÃO ISÃO PAULO

Unidade representada: BarbacenaDelegado: José Mario de Oliveira

Suplente: Anderson Pimentel Novaes

Unidade representada: Belo HorizonteDelegado: Marcelo Ferraz O. Souto

Suplente: Ilse S. Colho Vieira

Unidade representada: CamposDelegada: Sônia Ribeiro Rigueti

Suplente: Jorge Luiz Bessa Cabral

Unidade representada: ContagemDelegado: José Milton Cardoso Jr.

Suplente: Leandro Antônio Mendonça

Unidade representada: DiamantinaDelegado: vagoSuplente: vago

Unidade representada: DivinópolisDelegado: Antônio Carlos Vilela

Suplente: Paulo César Laje Guerra

Unidade representada: Duque de CaxiasDelegado: Salvador Bernardo Moreno Martin

Suplente: Eduardo de Souza

Unidade representada: Governador ValadaresDelegado: Alcides Melo Gomes

Suplente: Yasmin Maria Batista P. Gomes

REGIÃO IISUDESTE

Unidade representada: Juiz de ForaDelegado: Agenor Barbosa Lawall

Suplente: Carlos Roberto Gasparete

Unidade representada: Montes ClarosDelegado: José de Figueiredo Freitas

Suplente: João Luiz Araújo Gama

Unidade representada: NiteróiDelegado: Tereza Cristina de Souza Chedid

Suplente: Emmanuel Andrade

Unidade representada: Ouro PretoDelegado: Andre Luiz FazolatoSuplente: Carlos Alberto Silveira

Unidade representada: PetrópolisDelegado: Julio Luiz Pires KoelerSuplente: Mauro Muniz Peralta

Unidade representada: Poços de CaldasDelegado: Mario Dimas Carneiro Telles

Suplente: André Ricardo Araldi

Unidade representada: Rio de Janeiro Centro Delegado: Emanuel Alexandre MenezesSuplente: Francisco de Assis Guimarães

Unidade representada: Rio de Janeiro - NorteDelegado: Carlos Roberto da Silva Lopes

Suplente: Vera Antoun

SAIBA QUEM SÃO OS DELEGADOS DA ANMP EM TODO PAÍS

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GA

DOS

AN

MP

Unidade representada: Rio de Janeiro - SulDelegado: Ricardo Lacerda Baptista

Suplente: Silvia Regina Matheus

Unidade representada: Teófilo OtoniDelegado: Eustáquio Diniz FrançaSuplente: Arnaldo Pereira da Silva

Unidade representada: UberabaDelegado: Paulo Roberto Pinheiro Borges

Suplente: Milton Narita

Unidade representada: UberlândiaDelegado: Alessandro Elias Ferreira Martins

Suplente: Humberto Castro

Unidade representada: VarginhaDelegado: Luiz Humberto de Magalhães

Suplente: Maria Lúcia Á. de Azevedo Bahr

Unidade representada: VitóriaDelegado: Julius Caesa Ramalho

Suplente: Leice Mere Ortega Aguilar

Unidade representada: Volta RedondaDelegado: Carlos Daniel Moutinho

Suplente: Rosania Cunha Ávila

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Page 61: Revista ANMP 07

Unidade representada: AnápolisDelegado: Paulo Roberto Taveira

Suplente: Airton França Diniz Junior

Unidade representada: BelémDelegado: Wildeia das Graças PereiraSuplente: Alcides R. do Espírito Santo Jr.

Unidade representada: Campo GrandeDelegado: Eliane Araújo e Silva Felix

Suplente: Denise Aparecida A. Tamazato

Unidade representada: ManausDelegado: Evandro Carlos Miola

Suplente: Osvaldo Afonso Nogueira Neto

Unidade representada: PalmasDelegado: Jorge Manuel Mendes

Suplente: Orestes Sanches Jr.

Unidade representada: Porto VelhoDelegado: Willian Chagas Sérgio

Suplente: Vago

Unidade representada: Rio BrancoDelegado: Jacqueline F. Sydrião dos Santos

Suplente: Renato Moreira Fonseca

Unidade representada: São LuizDelegado: Olímpia Maria Figueiredo

Suplente: Marta Solange Castro Moraes

Unidade representada: TeresinaDelegado: Fernando de Oliveira Carvalho

Suplente: vago

Unidade representada: BlumenauDelegado: Conrado Balsini Neto

Suplente: Leonardo Guedes

Unidade representada: CanoasDelegado: Jorge Utaliz Guimarães Silveira

Suplente: Clarissa Coelho Bassin

Unidade representada: CascavelDelegado: Sylvio Roberto Gomes Soares

Suplente: Antônio Carlos Lugli

Unidade representada: Caxias do SulDelegado: Claudia Calegari de Mello

Suplente: Flávio Mugnoi Carneiro

Unidade representada: ChapecóDelegado: Denise Furquim de Paula

Suplente: vago

Unidade representada: CriciúmaDelegado: Luiz Carlos Amado Sette

Suplente: Rossana Collaco Haas

Unidade representada: CuritibaDelegado: Chil Korper ZunszternSuplente: Octávio Silveira Pareja

Unidade representada: FlorianópolisDelegado: Jany Rogério Vieira Wolff

Suplente: Priscilla Pires

Unidade representada: Ijuí Delegado: James Ricachenevsky

Suplente: Paulo Tadeu de Lima

Unidade representada: JoinvilleDelegado: Marcos Ernesto BactoldSuplente: Leonardo Costenaro Sato

Unidade representada: LondrinaDelegado: Luiz Fernando Ninho Gimenez

Suplente: Juarez Villar Pitz

Unidade representada: MaringáDelegado: Ângela Patrícia de Araújo

Suplente: Arnaldo Del Rosario I. do Carmo

Unidade representada: Novo HamburgoDelegado: Marcus Vinicius Netto

Suplente: Aldo Pricladnitzki

Unidade representada: Passo FundoDelegado: Helio Renan Dias

Suplente: Leonardo Salti

Unidade representada: PelotasDelegado: Cláudio Engelke

Suplente: Vicente Mariano da Silva Pias

Unidade representada: Ponta GrossaDelegado: vagoSuplente: vago

Unidade representada: Porto AlegreDelegada: Luciana Coiro

Suplente: Francisco Carlos Luciani

Unidade representada: Santa MariaDelegado: vago

Suplente: Jorge Nelson Rigue de Oliveira

Unidade representada: UruguaianaDelegado: Otávio Teixeira da RochaSuplente: Moacir Tassinari dos Santos

REGIÃO IIISUL

Unidade representada: AracajúDelegado: Ivana de Barros Lima

Suplente: Marcos Antônio Moura Oliveira

Unidade representada: BarreirasDelegado: Sebastião B. de Araújo

Suplente: Luiz Augusto C. de Andrade

Unidade representada: Campina GrandeDelegado: Eleumar Meneses Sarmento

Suplente: Flawber Antônio Cruz

Unidade representada: Caruaru Delegado: Karllus Andhre Leite SantosSuplente: Maria Helena Albuquerque

Unidade representada: Feira de SantanaDelegado: Luciana de Souza Q. Sarmento

Suplente: Jurandir Lopes Carneiro

Unidade representada: FortalezaDelegado: Judite Maria VasconcelosSuplente: Francisco Xavier de Araújo

Unidade representada: GaranhunsDelegado: Ricardo Ventura dos Santos

Suplente: Robson de Arruda Rito

Unidade representada: ItabunaDelegado: Norberto Ferreira Campos

Suplente: Osvaldo Nascimento Cavalheiro

Unidade representada: João PessoaDelegado: Almir Nobrega da Silva Filho

Suplente: Fracisco de Assis Alves Campos

Unidade representada: CuiabáDelegado: Salvino Teodoro Rbeiro

Suplente: Maxuel Alves Vasconcelos

Unidade representada: Distrito FederalDelegado: Raimundo Parente

Suplente: Marília Gava

Unidade representada: DouradosDelegado: Antônio Jajah Nogueira

Suplente: Ricardo Andrade Hespanhol

Unidade representada: GoiâniaDelegado: Celso da Silveira Barros

Suplente: Aristóteles de Castro Barros

Unidade representada: ImperatrizDelegado: vagoSuplente: vago

Unidade representada: MacapáDelegado: vagoSuplente: vago

REGIÃO VCENTRO-OESTE

NORTE

Unidade representada: Juazeiro Delegado: Andre Luiz Barbosa Rocha

Suplente: Marcos Antônio Jacobina Santos

Unidade representada: Juazeiro do NorteDelegado: Maria do Socorro PinheiroSuplente: Sionara Melo de Carvalho

Unidade representada: MaceióDelegado: Gilberto Barros Costa

Suplente: Verônica Maria de Holanda Padilha

Unidade representada: MossoróDelegado: Lana Lacerda de Lima

Suplente: Francisco Damaceno Rocha

Unidade representada: NatalDelegado: Patrícia Araújo Freire

Suplente: João Eduardo Almeida Melo

Unidade representada: RecifeDelegado: Ena Maria Albuquerque da Paz

Suplente: Ruth Eleuterio Serpa

Unidade representada: SalvadorDelegado: Luiz Fernando D. de Oliveira

Suplente: Celso Morais Macedo

Unidade representada: Santo Antônio de JesusDelegado: Joaldo dos Santos Ferreira

Suplente: vago

Unidade representada: SobralDelegado: Estevão Farias Vale

Suplente: Saulo Parente Sobreira

Unidade representada: Vitória da ConquistaDelegado: Joane Carla S. Mascarenhas

Suplente: Laerte Marques de Sena

REGIÃO IVNORDESTE

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O dia a dia dos médicos peritos do INSS não tem sido fácil. Muitas agressões e pouco reconhecimento. Apesar desta realidade conturbada algumas notícias positivas marcaram a perícia previdenciária nos últimos meses. A primeira foi a condenação judicial, no Rio Grande do Nor-te, de um segurado que agrediu verbalmente uma perita no exercício de sua função.

No caso de Natal, o segurado empregado, ALS, foi con-denado a cumprir pena de um ano de trabalhos voluntários na APAE durante 8 horas semanais, comparecer todo dia 30 de cada mês à Justiça e não mudar de endereço ou viajar sem prévia comunicação à Justiça Federal. A pena foi re-sultado da ação movida pela médica perita Anna Christina do Nascimento Granjeiro, que denunciou à Polícia Federal em fevereiro, as ameaças e agressões feitas a ela, por este segurado, após o indeferimento do seu perdido de recurso para prorrogação de benefício.

Este foi o primeiro registro junto à ANMP de uma pena aplicada a um segurado, que agrediu verbalmente a um perito. As agressões verbais são uma constante na vida dos peritos, além das agressões físicas, que só neste ano já somam mais de 50. “O segurado veio pessoalmente à minha APS, para pedir desculpas e mostrar a sentença. Durante a agressão, ele afirmou que me pegaria lá fora. Agora, após a condenação, voltou para se desculpar e garantir que não pretende fazer nada contra mim, que agiu em um momento por estar com a cabeça quente”, afirma Anna Christina.

Outro motivo de comemoração para a perícia médica

foi a prisão, em flagrante, pela Polícia Federal, de uma “gang” chefiada por uma advogada na gerência de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, que vivia de fraudar a Previ-dência e foi desmascarada graças ao diligente trabalho do médico perito Eduardo Branco de Souza. Segundo o perito, ele já vinha percebendo, há algum tempo, irregularidades nos atestados médicos apresentados por vários segurados em sua APS, em Mesquita, ligada à gerência de Duque de Caxias.

Ele encaminhou sua desconfiança ao CGBENIM, e em agosto, ao receber um atestado com a assinatura do médico que ocupa a chefia no hospital em que trabalha no Estado, reconheceu imediatamente a fraude, já que a letra não batia com a de seu chefe. Para não despertar suspeitas, Eduardo Branco pediu um minuto ao segurado, acionou a PF, que chegou, desmascarou a fraude e acabou fazendo o segurado entregar a agenciadora do atestado falso, que por uma coin-cidência se encontrava naquele momento na APS e também foi presa. A agenciadora entregou o nome da advogada para a qual trabalhava e denunciou todo o esquema. A advogada também foi presa.

Para a diretoria da ANMP, estes dois fatos ocorridos em julho e agosto merecem registro principalmente pela iniciati-va dos peritos envolvidos. No primeiro caso, a perita potiguar não se acomodou a encarar a agressão verbal como um gesto comum dos segurados e denunciou o caso à PF. No segundo, o perito perseverou em suas diligências e foi recompensado com o fim de mais um esquema contra a Previdência.

AGRESSÃO PUNIDA E TRABALHO RECONHECIDOVI

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62 . REVISTA ANMP em foco SETEMBRO/2008

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1.600 Médicos peritos estarão presentes no maior congresso da perícia médica do inss

fique atento.não perca esta oportunidade.

II CONGRESSO BRASILEIRO DE PERÍCIA

MÉDICA PREVIDENCIÁRIA

DE 28 DE ABRIL A 1º DE MAIO de 2009no centro de convenções ulysses

guimarãesem brasília