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Agenor Monaco Aos 86 anos, ex-vereador revela histórias curiosas da política de SP Plano Diretor Projeto chega à Câmara e debates com a sociedade continuam Revista da Câmara Municipal de São Paulo Distribuição gratuita NúMERO 2 - OUTUBRO/2013 Tarifa: Em discussão Vereadores e população buscam valor ideal para a passagem de ônibus

Revista Apartes - Número 2 - Outubro 2013

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Publicação jornalística da Câmara Municipal de São Paulo.

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Agenor MonacoAos 86 anos, ex-vereador revela histórias curiosas da política de SP

Plano DiretorProjeto chega à Câmara e debates com a sociedade continuam

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Número 2 - outubro/2013

Tarifa: Em discussãoVereadores e população buscam valor ideal para a passagem de ônibus

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Vereadores da 16ª Legislatura (2013-2016)Abou Anni (PV) - suplente em exercício, Adilson Amadeu (PTB), Alessandro Guedes (PT) - suplente em exercício, Alfredinho (PT), Andrea Matarazzo (PSDB), Antonio Carlos Rodrigues (PR) - licenciado, Ari Friedenbach (PPS), Arselino Tatto (PT), Atílio Francisco (PRB), Aurelio Miguel (PR), Aurélio Nomura (PSDB), Rubens Calvo (PMDB), Celso Jatene (PTB) - licenciado, Claudinho de Souza (PSDB), Conte Lopes (PTB), Coronel Camilo (PSD) - suplente em exercício, Coronel Telhada (PSDB), Dalton Silvano (PV), David Soares (PSD), Donato (PT) - licenciado, Edemilson Chaves (PP), Edir Sales (PSD), Eduardo Tuma (PSDB), Eliseu Gabriel (PSB) - licenciado, Floriano Pesaro (PSDB), George Hato (PMDB), Gilson Barreto (PSDB), Goulart (PSD), Jair Tatto (PT), Jean Madeira (PRB), José Américo (PT), José Police Neto (PSD), Juliana Cardoso (PT), Laércio Benko (PHS), Marco Aurélio Cunha (PSD), Mario Covas Neto (PSDB), Marquito (PTB) - suplente em exercício, Marta Costa (PSD), Milton Leite (Democratas), Nabil Bonduki (PT), Natalini (PV), Nelo Rodolfo (PMDB), Netinho de Paula (PC do B) - licenciado, Noemi Nonato (PSB), Orlando Silva (PC do B) - suplente em exercício, Ota (PSB), Patrícia Bezerra (PSDB), Paulo Fiorilo (PT), Paulo Frange (PTB), Reis (PT), Ricardo Nunes (PMDB), Ricardo Teixeira (PV) - licenciado, Ricardo Young (PPS), Roberto Tripoli (PV), Sandra Tadeu (Democratas), Senival Moura (PT), Souza Santos (PSD), Toninho Paiva (PR), Toninho Vespoli (PSOL), Vavá (PT), Wadih Mutran (PP) - suplente em exercício

Mesa DiretoraPresidente: José Américo (PT)1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Cunha (PSD)2º Vice-Presidente: Aurelio Miguel (PR)1º Secretário: Claudinho de Souza (PSDB)2º Secretário: Adilson Amadeu (PTB)1º Suplente: Gilson Barreto (PSDB)2º Suplente: Dalton Silvano (PV)Corregedor: Rubens Calvo (PMDB)

ExpedienteEditor executivo: José Carlos Teixeira de Camargo FilhoElaboração: CCI.3 - Equipe de Comunicação da CMSPSupervisora: Maria Isabel Lopes CorrêaEditor: Sândor VasconcelosEditor assistente: Rodrigo GarciaRepórteres: Gisele Machado, Fausto Salvadori FilhoApoio jornalístico: Assessoria de Imprensa da Presidência

e Diretoria de Comunicação ExternaFotografia: Ângelo Dantas, Fábio Jr. Lazzari, Gute Garbelotto, Mozart Gomes,

Reinaldo Stávale, Ricardo Rocha, Marcelo Ximenez.Diagramação: Elton PereiraEditor de infografia: Rogério AlvesEstagiários de arte: Cinthia Botto, Gustavo Milan, Hugo Ramallo, Jhonny Oliveira,

Karen Zonzini, Raphaela de OliveiraEquipe executiva: Leandro Uliam, Lívia TamashiroUnidade de apoio: Secretaria de Documentação - SGP.3CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São PauloCapa: Fotos de Gute Garbelotto/CMSP (imagem maior) e Fernando Stankuns

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Vereador José AméricoPresidente da CMSPPalavra do Presidente

outubro/2013 • Apartes | 3

Uma boa notícia para você, caro leitor. A revista Apartes passa agora a ser mensal, mantendo o conteúdo essencialmente jornalístico.

Essa mudança ocorre pouco tempo depois de a equipe responsável por sua execução – jornalistas, fotógrafos, designers e outros profissionais envolvidos na tarefa – ter aceito o desafio de elaborar uma publicação semestral.

O resultado dessa transformação você confere nesta edição. A nova fase prestigia ainda mais os debates e a produção da Câmara Municipal de São Paulo, que são a base essencial para as reportagens da revista.

A matéria de capa aborda uma das principais reivindicações das manifestações de rua que vêm ocorrendo em São Paulo e no restante do País: a diminuição do valor da tarifa dos ônibus municipais e a melhoria do serviço prestado.

Vale lembrar que antes da mobilização popular chegar à frente do Palácio Anchieta, a Câmara Municipal já havia criado a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transpor-te Coletivo. O tema vem sendo discutido desde o final de junho e soluções serão apontadas. Os resultados parciais podem ser conferidos na reportagem.

Outras duas matérias tocam em pontos que podem mudar definitivamente os rumos urbanísticos da capital: a Operação Urbana Água Branca e o Plano Diretor Estratégico. A primeira foi aprovada em segunda votação pelos vereadores e o segundo acabou de chegar ao Parlamento, após ser discutido pelo Executivo. Agora, passa a tramitar e a ser debatido pelo Legislativo, juntamente com a sociedade.

Ainda em relação aos projetos voltados à cidade, novamente a Apartes aborda a ques-tão dos animais: um projeto de lei quer a permissão para que bichos de estimação sejam enterrados nos jazigos que pertencem a seus donos. Outra iniciativa pretende proibir a comercialização de foie gras (patê feito com fígado de ganso ou pato) e peles de animais.

A edição traz, também, um perfil do ex-vereador de São Paulo Agenor Palmorino Monaco, que atuou no Parlamento de 1956 a janeiro de 1969 e é uma fonte inesgotável de excelentes histórias sobre a política paulistana.

Tenho a plena certeza de que, com mais essa mudança, caminhamos para tornar esta publicação um típico exemplo de veículo de comunicação pública. Com isso, a Apartes só vem fortalecer o processo de transparência e de participação popular que buscamos à frente da Câmara Municipal de São Paulo. Agora, ainda mais, já que a revista passa a entrar, mensalmente, na casa de nossos leitores.

Um abraço e uma ótima leitura!

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3 Palavra do Presidente

6 Notas

8 Honrarias Rota é homenageada

13 Propostas Condições dignas aos animais

16 Transporte Coletivo A tarifa ideal

24 Cidade Um novo Plano para São Paulo

27 Urbanismo Mudanças na Água Branca

31 Comunicação Web Rádio Câmara ao vivo

32 Perfil Agenor Monaco - Memórias da arena

39 Educação Prêmio Paulo Freire 2013

41 Evento Debate sobre rumos da Comunicação

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sumário

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notas

Alunos assistem a palestra sobre a história da CMSP

A CMSP possui um Programa Permanente de Visitação para es-colas, universidades, sindicatos, organizações não-governamentais e outros grupos organizados. Desde setembro, as visitas foram am-pliadas e ocorrem de segunda a sexta-feira, das 14h às 16h.

O programa conta com palestras e, de terça a quinta-feira, visitas à Galeria, para acompanhamento de parte da sessão plenária. O objeti-vo é transmitir aos grupos conhecimentos sobre a história e os traba-lhos desenvolvidos na Casa. Às segundas e sextas-feiras, há palestras para grupos com interesses específicos sobre a Câmara Municipal.

Para dúvidas sobre o programa, entre em contato pelo fone 3396-4311 ou e-mail [email protected]. Para agen-dar uma visita, 3396-4557 ou [email protected].

Reportagem da Apartes é premiadaA matéria de capa da primeira edição da Apartes, Em Busca da

Verdade, do jornalista Fausto Salvadori Filho, recebeu menção honrosa na categoria revista do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos deste ano.

O texto aborda a primeira fase da atuação da Comissão Muni-cipal da Verdade Vladimir Herzog da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), que funcionará até 2014. A reportagem pode ser lida em www.camara.sp.gov.br, seção Apartes.

A entrega do Prêmio será no dia 22 de outubro, às 19h30, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

A Câmara Municipal de São Paulo vai realizar, no dia 9 de dezembro, uma sessão pública de desagravo e restituição simbólica dos mandatos de 42 vereado-res paulistanos cassados em períodos históricos distintos da política brasileira.

Uma comissão vem reunindo infor-mações sobre esses políticos, mas ainda existem 14 parlamentares cujo paradei-ro é desconhecido. São eles: Alcides Chagas da Costa, Antônio José de Frei-tas, José Ferreira da Rocha Filho e Syné-sio Rocha (cassados em 1937); Antonio Donoso Vidal, Benedicto Jofre de Oli-veira, Benone Simões, Luiz João, Mário de Souza Sanches, Meir Benaim, Orlan-do Luís Pioto e Raimundo Diamantino de Souza (1947); Abílio Martins da Cos-ta (1951) e José Tinoco Barreto (1969).

Qualquer informação sobre esses políticos, ou sobre seus familiares, será bem-vinda. Pedimos que entrem em contato com a Assessoria de Comu-nicação e Imprensa da Presidência da CMSP, pelo fone 3396-4900 ou pelo e-mail [email protected].

Informações sobre vereadores cassados

Visitação ao Palácio Anchieta é ampliadaEq

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A CMSP participou da IV Jor-nada de Pesquisa e Extensão da Câ-mara dos Deputados, promovida pelo Programa de Pós-Graduação daquela casa legislativa nos dias 9 e 10 de setembro, em Brasília.

O consultor em Administra-ção Edinei Arakaki Guskuma apresentou o trabalho Aspectos Teóricos da Estrutura Organizacio-nal da Câmara Municipal de São Paulo. A consultora em Serviço Social Simone Fantucci expôs sua

pesquisa intitulada Consultoria Técnico-Legislativa em Políticas So-ciais no Âmbito das Câmaras Muni-cipais. Os profissionais, da Equipe de Assessoria e Consultoria de Área Social, fizeram parte de uma mesa-redonda.

A jornada reuniu estudiosos sobre o Poder Legislativo, com a finalidade de compartilhar e expor seus trabalhos na área. Foram rea-lizadas 11 mesas-redondas, além de duas conferências.

A Câmara Municipal conta, des-de agosto, com o informativo ele-trônico Câmara Expressa. O veículo é semanal e cobre os acontecimen-tos do Plenário, das comissões, das audiências, entre outras atividades desenvolvidas pelos vereadores.

Para receber o Câmara Expressa, acesse o portal www.camara.sp.gov.br e faça o cadastro. O informativo é produzido pela Assessoria de Co-municação e Imprensa da Câmara.

No dia 25 de setembro, a secretária dos Transportes da cidade de Nova York, Janette Sadik-Khan (foto), participou do seminário A Bicicleta em São Paulo: Políticas Públicas para Transformar a Cidade, realizado pela Frente Parlamentar da Mobilidade Humana da Câmara, presidida pelo vereador Floria-no Pesaro (PSDB).

Janette, conhecida como “secretária das bicicletas”, explicou que Nova York tem 600 km de ciclovias, construídas em seis anos. Outro investimento importante apontado foi a conexão das ciclovias já existentes. Segundo ela, as mudanças no trânsito permitiram me-lhoria na economia. Sobre São Paulo, Janet-te acha que a cidade “não pode esperar para tomar providências enquanto se desenvolve”.

Informativo Câmara Expressa

Consultores apresentam trabalhos em Brasília

CMSP recebe secretária nova-iorquina

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Na tarde de 3 de setembro, as galerias do Plenário 1º de Maio da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) ficaram cheias de manifestantes contra e a favor de

um projeto de decreto legislativo (PDL) que homenagea-va as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), da Polí-cia Militar. De um lado, manifestantes gritavam “racistas, fascistas, não passarão”, com faixas que traziam, entre outros dizeres, “Rota é violência”. Do outro lado das gale-rias, os gritos eram “Só não gosta da Rota quem é bandi-do” e, nas faixas, lia-se “O povo de bem está com a Rota”.

Na tribuna, os vereadores travaram debates infla-mados. Manifestantes que interromperam a fala dos parlamentares foram retirados das galerias pelos PMs do Palácio Anchieta. Nem parecia que o projeto em debate era uma Salva de Prata, um tipo de honraria que os legisladores costumam aprovar por unanimida-de (veja mais na pág. 10).

A Salva de Prata havia sido proposta pelo PDL 6/2013, assinado pelo vereador Coronel Telhada (PSDB), que comandou a Rota entre 2009 e 2012. Cria-

Rota é homenageadaVereadores aprovam Salva de Prata a batalhão da PM

Fausto salvadori Filho | [email protected]

Honrarias

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OuvidoriaCâmara Municipal de São Paulo

PESSOALMENTE

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Escreva para aOuvidoria do Parlamento:

Viaduto Jacareí, 100, Bela VistaSão Paulo-SP – CEP 01319-900

Um canal direto da Câmaracom o cidadão

Faça suas sugestões, críticas ou reclamações sobre assuntos

relacionados à cidade de São Paulo:

da em 1970, a Rota é um batalhão da PM responsável por executar “ações de controle de distúrbios civis e de contraguerrilha urbana”, bem como “ações de policiamento motorizado”. Segundo o projeto de Telhada, o batalhão merecia ser homenageado por ser “uma reco-nhecida entidade militar, zelosa pela segurança da população e das instituições republicanas”. Para ou-tros, que batizaram a homenagem de “Salva de Chumbo”, a Rota é um símbolo da truculência policial.

Quando o projeto foi apresenta-do, em março, o texto recebeu críti-cas de parlamentares da Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog e da Comissão de Educa-ção, Cultura e Esportes por conta de um trecho, copiado do site da Rota, que elogiava a repressão fei-ta pelo batalhão, nos anos 70, aos opositores do regime militar, des-critos como “a guerrilha urbana que atormentava o povo paulista”. A pedido dos colegas, Telhada aceitou tirar o trecho da justificati-va do projeto. Mesmo assim, a Sal-va de Prata continuou a gerar po-lêmica. O foco não era mais a ação da Rota no passado ditatorial, mas no presente democrático.

Ao longo de anos, pesquisadores de segurança pública, jornalistas, ouvidores e militantes dos direitos humanos vêm reunindo indícios de supostos abusos cometidos por po-liciais da Rota. Uma das denúncias mais recentes partiu da organização não governamental (ONG) Human Rights Watch. Em carta enviada em 29 de julho ao governo paulista, a ONG internacional afirma que os supostos confrontos da Rota deixa-ram 247 mortos e 12 feridos entre 2010 e 2012, número que “levanta sérias questões sobre o uso de força

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telhAdAVereador e ex-integrante da Rota é autor da homenagem

Vereadores podem dar até 8 honrarias

Os vereadores da Câmara Mu-nicipal de São Paulo dispõem de quatro instrumentos para home-nagear pessoas ou instituições: Salva de Prata, Título de Cidadão Paulistano, Medalha Anchieta e Di-ploma de Gratidão da Cidade de São Paulo. O Regimento Interno

da Casa prevê que cada parla-mentar tem direito a conceder oito honrarias por legislatura.

Enquanto a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão são ex-clusivos para homenageados na-turais da cidade de São Paulo, o Título de Cidadão Paulistano é concedido para nascidos em ou-tros municípios. A Salva de Prata é oferecida, preferencialmente, para pessoas jurídicas.

Cada homenagem é represen-tada por um objeto, com caracte-rísticas definidas no ato 730/2001, da Mesa Diretora. De acordo com

o ato, a Salva de Prata tem a forma de um prato de bronze banhado em prata, a Medalha é feita do mesmo material e o Diploma, as-sim como o Título, deve ser feito de pergaminho vegetal.

Todas as honrarias são for-malizadas por decreto legislativo. Para serem aprovadas, precisam receber votos favoráveis de dois terços dos membros da Casa. Os decretos legislativos não precisam de aprovação do prefeito. As hon-rarias são entregues, preferencial-mente, em sessões solenes, den-tro ou fora do Palácio Anchieta.

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letal”. A carta menciona dois episódios ocorridos em 2011 – a morte de seis homens, em um supermercado em Taipas, e do vendedor Caio Bruno Paiva, no Itaim Paulista – em que depoimentos de testemunhas e gra-vações em vídeo apontariam que pessoas desarmadas teriam sido executadas pelos policiais.

“Quando caminho na periferia de São Paulo, o que ouço da juventude pobre e negra é que eles têm medo da Rota. O que eu sei, e está no livro Rota 66, de Caco Barcellos, é que 65% daqueles que entram em conflito com a Rota são inocentes”, afirmou na tribuna o vere-ador Orlando Silva (PCdoB), que votou contra a hon-raria. Publicado em 1992, o livro de Barcellos analisou os registros de 3.846 mortes cometidas pela PM entre

1970 e 1992, concluindo que “a maior parte dos civis mortos pela PM de São Paulo é constituída pelo cida-dão comum que nunca praticou um crime”.

O vereador Conte Lopes (PTB), que também foi co-ronel da Rota, diz que as denúncias contra a corporação são falsas e lembra que nenhum dos policiais menciona-dos em Rota 66 foi preso. “Escrevi um livro em resposta ao Caco Barcellos, que é Matar ou Morrer, porque ele me deu o título de ‘deputado matador’. Respondi a todos os meus processos defendendo o povo de São Paulo, defen-dendo reféns que estavam nas mãos de bandidos, salvan-do crianças das mãos de assassinos”, afirmou. Segundo o coronel, a Rota “é uma das únicas polícias honestas do Brasil, que prende o bandido e apreende o dinheiro”.

homenAGeAdARota, batalhão da Polícia Militar criado em 1970

“A Rota é um batalhão que sempre lutou pela ordem, pela liberdade e, principalmente, pelo cumprimento da lei”Vereador Coronel Telhada

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“A Rota é um batalhão que sem-pre lutou pela ordem, pela liber-dade e, principalmente, pelo cum-primento da lei”, disse Telhada ao defender seu projeto. Para ele, as críticas ao batalhão vinham de pes-soas que apoiam a criminalidade. “É uma hora de definição: quem está do lado da lei e quem está do lado do crime”, afirmou.

O vereador Toninho Vespoli (PSOL) leu em Plenário uma moção de repúdio, assinada por movimen-tos negros e de juventude, na qual afirmava que o batalhão “está a servi-ço do Estado de São Paulo no projeto de genocídio da juventude preta e po-bre, a face mais cruel do racismo bra-sileiro”. “Se a Câmara conceder essa homenagem, terá que substituir seu nome, de Salva de Prata para ‘Salva de Chumbo’”, concluía o texto.

Das galerias, o fotógrafo Sérgio Silva assistiu ao debate entre os ve-readores com seu olho direito – o esquerdo foi destruído por uma

bala de borracha disparada pela Po-lícia Militar durante a repressão aos protestos de 13 de junho. “Essa ho-menagem é uma violência moral ao cidadão que acompanha e sabe que a Polícia Militar do Estado de São Paulo é violenta e mata”, afirmou.

“A homenagem é muito bem-vin-da, haja vista o que a Rota faz diutur-namente a favor do cidadão e contra a violência”, disse Ana Ângela Paler-mo, presidente da Pauliservsp, enti-dade em defesa dos PMs paulistas. Filha de um policial, Ângela defen-de que a corporação não é violenta. “Não existe violência, o que existe é um trabalho da polícia que tem que ser feito em situações de conflito.”

Ângela e outros aplaudiram quando a Salva de Prata foi apro-vada, com 37 votos a favor, 15 contrários e uma abstenção. O projeto transformou-se no decreto legislativo 42/2013. Mas o debate sobre a polícia que São Paulo quer ainda prossegue.

VítimAFotógrafo Sérgio Silva, que teve

o olho esquerdo destruído por bala de borracha disparada pela PM, segura cartaz contra a violência

ContRAToninho Vespoli leu em Plenário moção de repúdio à iniciativa

ViolÊnCiAOrlando Silva: “Os que nunca praticaram crime são maioria dos mortos pela PM paulista”

APoioPara Conte Lopes, “a Rota é uma das únicas polícias honestas do Brasil”

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Vereadores querem proibir foie gras e roupas de pele e permitir que pets sejam enterrados com humanos

JuntosSe projeto for aprovado, animais de estimação

poderão ser enterrados com seus donos

ProPostas

Gisele machado | [email protected]

Tramitam na Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) dois projetos de lei que ganharam os noticiários nos últi-mos meses e pretendem reduzir o sofrimento animal

ou dar uma destinação mais digna aos bichinhos. O mais recente, apresentado em agosto pelo vereador Laércio Benko (PHS) e aprovado em primeira discussão, proíbe a produção e comercialização de fígado hipertrofiado de ganso ou de pato, geralmente servido em forma de patê (o foie gras). A inspiração da iniciativa foi o Estado da Ca-lifórnia (Estados Unidos), onde a lei foi aprovada com o apoio dos protetores de animais. Pouco popular no Brasil, o foie gras é consumido por 80% das pessoas na França.

Laércio Benko concorda com muitos consumidores ao dizer que o prato é “absolutamente saboroso”. Ele conta que, durante férias na Hungria, em 2009, jantou

Condições dignas aos animais

e almoçou foie gras seguidamente. Até que sua anfitriã explicou como o alimento é produzido. “Os patos ou os gansos passam a vida toda sendo torturados: desde filhote injetam comida à força em seu estômago. Acho muito grave o custo comparado ao benefício”, disse o parlamentar. “Mas o que me sensibiliza não é tanto a forma absurda e cruel como o animal é alimentado, com o cano enfiado na garganta. Para o fígado aumen-tar dez vezes o tamanho, imagina a dor absurda que o bicho sente”, acrescentou.

O projeto de lei (PL) 537/2013 proíbe que o foie gras in natura ou enlatado seja produzido ou vendido em qual-quer estabelecimento comercial da cidade. Na justificativa, Benko diz que quem consome a iguaria ingere uma enor-me quantidade de gordura, capaz de elevar o nível de co-

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lesterol humano e contribuir para ou-tros problemas de saúde. Para Benko, o patê “nem sequer é um alimento de primeira necessidade, trata-se apenas de um aperitivo”. “Acredito que esta-mos dando um passo importante na questão da evolução humana, por-que não precisamos disso.”

Organizações não governamen-tais como a Peta chamam o foie gras de “iguaria do desespero”, pois mui-tas das aves engordadas para esse fim morreriam por ruptura dos órgãos devido à superalimentação. Entretan-to, uma pesquisa da Universidade de Toulouse, na França, mostra que fí-gados doentes geram foie gras menos saboroso. Seria, então, de interesse dos produtores manter esses animais sadios. Além disso, alguns produto-

foie GRAsO fígado hipertrofiado de patos e gansos dá origem a um refinado ingrediente da culinária francesa

PRoJetoO vereador Laércio Benko quer proibir roupas de pele e o foie gras

res brasileiros dizem produzir o fíga-do gordo sem a alimentação forçada, chamada de gavage. “Se comprovar que há possibilidade de produzir sem gavage, podemos proibir esse método e criar uma certificação (para o foie gras feito sem crueldade)”, admitiu Benko em debate na TV Estadão.

Se o projeto virar lei, quem infrin-gir as regras poderá ter o produto apreendido e pagar multa de R$ 5 mil, aplicada em dobro no caso de reincidência. A penalidade também valerá para quem produzir ou co-mercializar artigos de vestuário feitos com pele de animais. Benko evoca a necessidade de proteger o ecossis-tema e diz que existe tecnologia su-ficiente para substituir as vantagens oferecidas pela roupa de pele animal.

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O estilista Pedro Lourenço já deu declarações à im-prensa chamando de “babaquice” as manifestações con-tra o uso de pele em suas coleções. Para ele, a discussão só tem sentido se as pessoas deixarem de usar sapato de couro. Benko acha que o argumento é muito frágil: “Eu como boi, um animal que já é sacrificado para servir de alimento e é 100% aproveitado”. O vereador, no en-tanto, sensibilizou-se com outros argumentos vindos do mundo da moda, favoráveis ao uso da pele de animais como o coelho, cuja carne é utilizada para consumo. Até o fechamento desta edição, o PL 537/13 aguardava segunda votação. Se aprovado, vai a sanção do prefeito.

AnimAis no CemitéRioOutro projeto de lei que tem gerado polêmica autori-za o sepultamento de animais de estimação nos cemi-térios públicos de São Paulo, nos túmulos ou jazigos pertencentes a seus donos. Os cemitérios particulares poderão estabelecer suas próprias regras sobre o as-sunto. O PL 305/2013, dos vereadores Goulart (PSD) e Roberto Tripoli (PV), tramita desde março e já foi aprovado em primeira votação (falta a segunda e, se for aprovado, a sanção do prefeito). Em agosto, o ar-cebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, procurou a Prefeitura para dizer que sepultar homens e animais juntos pode ferir a dignidade humana.

Os autores do PL explicam que, particularmente, cães e gatos são considerados membros de muitas fa-mílias, com as quais mantêm estreitos vínculos afetivos. Quando um animal doméstico morre, “além do extre-mo sofrimento da perda, as pessoas em geral se deses-

ImolaçãoO vereador Laércio Benko está envolvido

também em um debate fora da Câmara Munici-pal. Ele tem criticado o projeto de lei 992/2011, do deputado estadual Feliciano Filho (PEN), que proíbe o uso e o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Estado. Um dos objetivos é vedar práticas cruéis.

Benko, que é assistente de pai de santo na umbanda, defende o sacrifício, em rituais religiosos, de animais que serão consumidos. O vereador conta que 99,99% das imolações na umbanda utilizam galinhas, que morrem rapidamente após um corte no pescoço. Ani-mais maiores são submetidos a um procedi-mento que os deixa grogues antes de serem mortos. “Deve haver quem maltrata animal em um ritual, assim como há padres pedófi-los, pastores bandidos. Mas são exceções à regra e toda religião e todos os fundamentos merecem respeito”, afirmou Benko.

Damaris Moura Kuo, presidente da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo, teme que a intolerância religiosa motive a proposição de projetos de lei como esse. “Não parece in-coerente o abate cruel que acontece nos aba-tedouros comparado ao de natureza religiosa? Um amplamente aceito e o outro contestado? Temos de refletir”, disse.

JAziGoProjeto dos vereadores Goulart (foto) e Roberto Tripoli autoriza sepultar animais de estimação com seus donos

peram, sem saber para onde destinar o cadáver”, diz a justificativa do projeto. Os parlamentares também consideraram que os cemitérios e crematórios parti-culares destinados a animais na cidade cobram taxas muito altas, que inviabilizam sua utilização pela maio-ria dos cidadãos. “Em setembro, o Estado de Nova York transformou em lei a aceitação de humanos e animais no mesmo cemitério. Imaginei que São Paulo sairia na frente”, disse Goulart.

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A tarifa idealCPI do Transporte e especialistas apostam em solução progressiva para se chegar ao melhor valor para a passagem de ônibus

transPorte Coletivo

Gisele machado | [email protected]

Um ano depois de chegar a São Paulo, em setembro de 2012, o manobrista Lucas Carvalho de Andrade, de 25 anos, já fez

as malas e voltou para Praia Grande com a mulher e a filha de 10 meses. Na capital, ele morou no Itaim Paulista, 40 km longe de seu último trabalho, na Bela Vista. Na prática, essa distância significava gastar de cinco a seis horas em cinco conduções diferentes, todos os dias. Lucas ficava apenas 15 minutos sen-tado, de preferência na cadeira do corredor, para esticar as pernas e evitar as cãibras, que o perseguiam nas viagens longas, em bancos frequentemente estragados e num espaço apertado.“Se aumentassem o preço das pas-sagens e a gente visse melhorias... Mas aumen-tar do jeito que está, meu Deus. Nem falo de colocarem ar-condicionado, a porta abre tan-

to que nem daria conta”, diz, com sua leveza praiana. Seu chefe só pagava os R$ 6 por dia para ir e voltar de ônibus. Por isso ele não usa-va a integração com o metrô, que deixaria o trajeto menos demorado. No fim de semana, Lucas e a esposa pensavam duas vezes antes de passar uma tarde no shopping. Os R$ 12 de transporte por passeio poderiam fazer fal-ta nas economias para a casa própria.

Lucas, e a maioria dos paulistanos, acha que o preço do transporte público na cidade não condiz com a qualidade. O engenheiro Lúcio Gregori acredita que, “se lotado o ôni-bus já é caro”, com boa qualidade seria “ina-cessível”: teria que custar uns R$ 6 ou R$ 7. Gregori foi secretário municipal de Transpor-tes na gestão da ex-prefeita Luiza Erundina (1989 a 1992) e idealizou, em 1989, o projeto

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de lei que levaria à gratuidade nos coletivos. “A tarifa zero não nos traz ganho material. É um compro-misso com a vida, sem rabo preso com interesses impublicáveis”, disse ele em uma aula pública em Santo André, dada em conjunto com uma integrante do Movimento Passe Li-vre (MPL) São Paulo.

Gregori diz que aumentar os in-vestimentos no transporte de mas-sa diminuiria problemas colaterais do trânsito intenso, como os aci-dentes. Ele também acredita que a gratuidade daria vazão a uma demanda reprimida, que passaria a circular mais pela cidade e a aces-sar mais locais de bens e serviços, melhorando a economia.

Isso já ocorre desde 2003 em Agudos, município de 40 mil habi-tantes no interior de São Paulo. “As pessoas usam os ônibus para fazer compras, visitar a família, para co-mércio, prestação de serviços; a cos-tureira que vai entregar roupas, o

transPorte Coletivo

pedreiro que usa para chegar ao tra-balho. Houve um alcance social im-portante e também moveu a cadeia econômica”, diz o prefeito, Everton Octaviani (PMDB). Ele conta que o comércio era “inexistente” há dez anos e que indústrias se instalaram em Agudos inclusive por não terem de pagar vale-transporte.

No período, dobrou para 9 mil a quantidade de usuários de trans-porte público, enquanto a popula-ção cresceu de 34 mil para 40 mil habitantes. Para manter os 14 ôni-bus, a Prefeitura gasta R$ 2 milhões por ano. O valor veio da redução em 70% do número de cargos co-missionados e corte de despesas com telefonia, combustíveis e ou-tros serviços. Não foi preciso criar um fundo para o setor.

Octaviani pensa ser possível aplicar sua experiência em cidades maiores: “Claro que seria preciso um planejamento estratégico e fi-nanceiro mais amplo, com auxílio do governo federal e dos Estados, com barateamento de combustível”.

APoioGersoni Gomes, de calça amarela, é a favor das manifestações por uma tarifa menor e não gratuita

ABeRtuRAO vereador Paulo Fiorilo diz que a

Casa estaria pronta para aprovar um projeto de tarifa zero

Em entrevista veiculada em ju-lho pelo programa É Notícia, da RedeTV!, Luiza Erundina disse que há condições de se aprovar o passe livre atualmente, “se houver vontade política do governante”. Para ela, o projeto apresentado quando era pre-feita não foi aceito pois seu próprio partido (PT) era contrário. Além disso, ela tinha minoria na Câmara. “Para ter maioria eu teria que ter feito concessões éticas e, para fazer essas concessões, os que estão no poder há 500 anos fazem melhor do que nós”, afirmou a deputada fede-ral, atualmente filiada ao PSB.

O vereador Paulo Fiorilo (PT), que preside a Comissão Parlamen-tar de Inquérito (CPI) do Trans-porte Coletivo na Câmara Munici-pal de São Paulo (veja na pág. 22), acredita que a Casa seria capaz de apoiar um projeto de tarifa zero tranquilamente. “Acho que se o atual Executivo apresentar uma proposta de tarifa zero, com os elementos, com as fontes que se-riam utilizadas para bancar a pro-

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Exemplo europeuTalin, capital da Estônia

• 425 mil habitantes• Transporte público gratuito para os residentes

e tarifa de 1,6 euro para outros usuários• Desde 2013

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• 40 mil habitantes• Gratuidade irrestrita• Desde 2003

Porto Real• 17 mil habitantes• Gratuidade irrestrita, com vale-transporte da Prefeitura

para quem estuda ou trabalha nas cidades da região• Desde 2011

Ivaiporã• 32 mil habitantes• Gratuidade irrestrita• Desde 2001

Potirendaba• 15,5 mil habitantes• Gratuidade irrestrita• Desde 1998

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posta, a Câmara não teria dificul-dade (para votar favoravelmente)”, disse Fiorilo. Para o parlamentar, houve rejeição ao projeto de 1989 porque o texto chegou à Casa sem ser discutido apropriadamente até mesmo com a bancada do PT. “Faltou não vontade, mas conven-cimento e debate político necessá-rios a um assunto dessa enverga-dura”, disse o vereador.

Lúcio Gregori, assim como Erundina e os integrantes do Mo-vimento Passe Livre, defende que parte do subsídio à tarifa zero poderia vir de impostos diretos e progressivos sobre a propriedade,

como o Imposto Predial e Terri-torial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre Transmissão de Bens Imó-veis (ITBI). “A proposta é desqua-lificada pela grande mídia porque tira dinheiro de quem tem mais. Dizem que vão cobrar mais no fei-jão. Não é! É no uísque”, afirmou o ex-secretário. Em 1989, o plano era bancar a gratuidade do transporte principalmente com o aumento do IPTU de imóveis com mais de 140 m², ou seja, 22% das constru-ções da cidade naquele período.

Fiorilo vê restrições na propos-ta. Ele acredita que o IPTU progres-sivo seria insuficiente para atingir

os R$ 6 bilhões anuais necessários à gratuidade do transporte coleti-vo. Dos tributos municipais (IPTU, ITBI e Imposto sobre Serviços – ISS), 62,7% estão vinculados. Além disso, ele teme que seria necessário cobrar tanto a mais dos “caras do uísque”, que isso os levaria a migrar para cidades vizinhas com IPTU mais barato, como Barueri, Osasco ou Vinhedo, conhecidas por seus bairros de luxo. “É o cara que toma uísque (que vai pagar mais IPTU)? É. Mas tem que fazer o debate, por-que esse cara também é parte da sociedade, apesar de em menor nú-mero”, disse o vereador.

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Projetos de lei sobre gratuidade de tarifa*Projeto Autores O que propõe

420/2013 Jair Tatto (PT) Institui o Bilhete Único Infantil, para disciplinar o transporte gratuito de crianças

392/2013 Laércio Benko (PHS) Isenta o acompanhante de portador de deficiência física e mental

376/2013 Gilson Barreto (PSDB) Altera o Programa de Transporte Escolar Municipal Gratuito

362/2013Calvo (PMDB), George Hato (PMDB), Nelo Rodolfo (PMDB) e Ricardo Nunes (PMDB)

Isenta atletas de categorias de base de esportes olímpicos federados na respectiva entidade regional de administração de desporto

63/2013 Eduardo Tuma (PSDB) Isenta policiais civis

61/2013 Coronel Telhada (PSDB) e Edir Sales (PSD)

Gratuidade de tarifa intermunicipal de ônibus aos integrantes da Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Civil Metropolitana mediante a apresentação de carteira funcional

52/2013 Eduardo Tuma (PSDB) Isenta integrantes da Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana, ativos e inativos, em trajes civis

44/2013 Goulart (PSD) Isenta homens a partir de 60 anos

22/2013 Reis (PT) Institui bilhete único de transporte gratuito para policiais civis e militares

427/2012 Atílio Francisco (PRB) Prevê tarifa zero para estudantes com a verba de anúncios em ônibus

334/2012 Abou Anni (PV) Isenta policiais militares reformados

295/2011 David Soares (PSD) Amplia os casos atendidos pela Lei 11.250/1992, que dá transporte gratuito a portadores de deficiência

256/2011 Netinho de Paula (PCdoB) - licenciado

Isenta bolsistas do Prouni no trajeto entre a residência e a universidade

215/2011 Abou Anni (PV)

Isenta funcionários que se aposentaram na função de motorista, cobrador ou funcionário da manutenção, fiscalização e administração do sistema de transporte coletivo urbano de passageiros

401/2010 Aurélio Miguel (PR) Oferece transporte especial de convalescentes e de doentes internados com dificuldade de locomoção

287/2010 Abou Anni (PV) Altera o Programa de Transporte Escolar Municipal Gratuito

9/2009Floriano Pesaro (PSDB), Marta Costa (PSD) e Mara Gabrilli (ex-vereadora)

Isenta cuidadores voluntários, desde que na companhia da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida que é cuidada

7/2009 Alfredinho (PT) Isenta crianças de até cinco anos

* Gratuidade no sistema de transporte coletivo público municipal. Projetos em tramitação apresentados na atual legislatura e na anterior.

deBAteVereadores e população durante audiência pública sobre o transporte coletivo realizada na Câmara

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Para o prefeito de Agudos, au-mentar o IPTU é transferir para a população a responsabilidade pela gratuidade da tarifa. Octaviani torce pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 90/2011, de Erundina, que adicio-na o transporte à lista de 11 direitos sociais previstos na Constituição e destinados a todas as pessoas. Para ele, a mudança constitucional obri-garia os governos a investirem mais em transporte coletivo do que no

individual. O texto já foi admitido pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados.

soluçõesUma pesquisa divulgada em setem-bro, pelo Ibope e Rede Nossa São Paulo, mostrou que 46% dos pau-listanos acham possível haver trans-porte gratuito irrestrito na cidade e 29% acreditam na gratuidade para estudantes e desempregados. Mes-

mo acreditando que é viável não cobrar, 56% preferem ver as tari-fas reduzidas à metade, com maior aporte do governo.

A servidora pública Gersoni Aparecida Piva Gomes, de 49 anos, é uma das pessoas que não acham ideal a tarifa zero. Ela tem que an-dar 15 minutos no fim do dia para chegar ao ponto em que passa seu ônibus. Raramente consegue se sentar no caminho de volta para casa. Mas acredita que sua situa-

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A Comissão Parlamentar de Inqué-rito (CPI) do Transporte Coletivo foi ins-talada no dia 28 de junho de 2013, em resposta às manifestações populares deflagradas pelo aumento de R$ 0,20 da tarifa de ônibus na cidade. O grupo foi criado para averiguar as planilhas de custo do transporte coletivo no Mu-nicípio. A discussão passa, também, pela qualidade do serviço. “Há um problema grave: temos uma tarifa que não é barata, você não está andando de graça, e tem uma qualidade que é questionável”, disse o presidente da CPI, Paulo Fiorilo (PT).

Os trabalhos devem ser concluídos em 25 de outubro, mas pode haver uma prorrogação por mais 120 dias. Ao final, será elaborado relatório sobre a matéria.

Como toda CPI, esta tem poderes de investigação próprios das autori-dades judiciais. As conclusões podem

ser encaminhadas ao Ministério Público para promoção da responsabilidade ci-vil ou criminal dos possíveis infratores.

Além de Fiorilo, também integram a Comissão os vereadores Eduardo Tuma (PSDB), vice-presidente; Edir Sales (PSD), relatora; Adilson Ama-deu (PTB); Milton Leite (Democratas); Nelo Rodolfo (PMDB) e Roberto Tri-poli (PV). Os parlamentares têm feito encontros semanais, nos quais inter-rogam principalmente presidentes e diretores de empresas prestadoras de serviço de transporte coletivo. A transcrição de todos os encontros está disponível no site da Câmara, bem como os requerimentos envia-dos e os ofícios recebidos.

Durante uma aula pública dada em 12 de julho, em Santo André, a integrante do Movimento Passe Livre Monique Félix disse que a CPI “é uma

resposta do Poder Público à pressão das ruas, apesar de ter o partido do governo na presidência”.

No dia 22 de agosto, a Câmara sediou uma audiência pública convo-cada pelo presidente da Casa, José Américo (PT) , sobre o transporte co-letivo em São Paulo. A iniciativa veio depois de o vereador ouvir as deman-das de manifestantes que se reuniam em frente ao Palácio Anchieta. Para Américo, os protestos mostram que a qualidade dos serviços públicos não tem acompanhado o crescimento do padrão de vida da população.

A Casa tem convocado audiências públicas sobre transporte público co-letivo desde antes das manifestações de junho. No dia 25 de maio, por exemplo, a população foi consultada sobre o transporte escolar gratuito, em uma sessão bastante movimentada.

CPI do Transporte ColetivoComissão • Vereadores da CPI dos Transportes estudam as planilhas de custo do transporte no Município

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ção ainda é confortável, porque leva pouco mais de uma hora para chegar e, pela manhã, a eficiên-cia na ida para o trabalho “vale os R$ 3”. Gersoni não se informou sobre as propostas que poderiam levar à gratuidade, mas se preocu-pa com o custo de manutenção dos ônibus. “Acho que a população tem o direito de reivindicar e a passa-gem tem que baixar mais. Mas a tarifa zero não é a forma”, opinou.

O relatório final da CPI deve apontar meios de o Executivo redu-zir ou manter o custo do transporte, levando a tarifa a um patamar razo-ável. “Talvez seja uma saída pensar progressivamente. Vamos congelar e em cinco anos tentar chegar numa tarifa mínima ou zero”, cogita Fiori-lo. O parlamentar menciona exem-plos de contribuição da sociedade, como a defesa pelo Movimento Nos-sa São Paulo da municipalização da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Hoje, parte dessa arrecadação é entregue pela União aos Estados e ao Distrito Federal para ser aplicada, obrigato-riamente, em programas de infraes-trutura de transportes.

Ao comparar São Paulo a ou-tras cidades do mundo com trans-

saiba mais

livroCidades Rebeldes. Vários autores. Boitempo Editorial. 2013.

sitewww.camara.sp.gov.br - Seção CPI.

porte parcial ou integralmente gratuito, Lúcio Gregori admite que cada cidade tem sua particula-ridade e um modelo externo não se adequaria, necessariamente, às carências paulistanas. Como cami-nho para a sonhada tarifa zero na capital paulista, Gregori considera medidas intermediárias, como in-

ReiVindiCAçãoPresidente da Câmara, José Américo, dialoga com manifestantes

tensificar o uso dos corredores de ônibus que a Prefeitura tem cria-do. Ou zerar a cobrança nesses locais, o que tornaria o transporte público “fantasticamente compe-titivo” com o carro. Ele imagina também o cenário em que a tarifa cairia drasticamente: “Se baixar muito, a partir de um momento o custo do sistema de arrecadação não compensa: tem de bancar o controle eletrônico, as catracas, a separação de quem pagou de quem não pagou, o tempo perdi-do pelo usuário na fila para com-prar bilhete e na catraca”.

exemPloAgudos, no interior de São Paulo, tem transporte gratuito desde 2003

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Nos próximos meses, os vereadores de São Paulo promo-verão uma série de debates e audiências públicas para, juntos com a população, planejar a São Paulo

que seus moradores querem para os próximos anos. Para alcançar esse objetivo, são necessários os instrumentos de um novo Plano Diretor Estratégico (PDE).

A nova versão do PDE procura avançar na busca dos mesmos objetivos que já constavam do Plano Di-retor original, criado em 2002, mas que ainda não se tornaram realidade, como diminuir as desigualdades nas ofertas de emprego e moradia entre as regiões da cidade, melhorar a qualidade do transporte público e garantir habitação para as populações de baixa renda.

A proposta do PDE foi entregue pelo prefeito Fer-nando Haddad (PT) aos vereadores no dia 26 de se-tembro, após receber contribuições de organizações não governamentais (ONGs), movimentos populares, universidades, conselhos, entidades de categoria, em-presários e munícipes. As sugestões foram enviadas durante oficinas presenciais e audiências públicas re-

um novo Plano para são PauloPopulação e vereadores debatem nova proposta do Plano Diretor Estratégico, criado em 2002

Fausto salvadori Filho | [email protected]

alizadas nas 31 Subprefeituras, e também pelo site Gestão Urbana, criado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.

PARtiCiPAçãoA Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) pretende

ampliar o espaço de participação popular aberto pelo Executivo na discussão do Plano Diretor. O presidente da Casa, vereador José Américo (PT), informa que além de um hotsite para receber as sugestões da população, haverá uma cartilha, audiências públicas e divulgação do projeto nos meios de comunicação. O presidente da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente, vereador Andrea Matarazzo (PSDB), con-firmou a abertura de novos canais de diálogo para de-bater o PDE com a população. “A nossa comissão vai fazer mais audiências públicas para se construir um projeto adequado, que não se preocupe apenas com o centro expandido e que sejam discutas, também, as regiões distantes”, disse.

Cidade

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Desde o início de outubro, está no ar o hotsite http://planodiretor.camara.sp.gov.br, onde está dispo-nível o calendário das audiências públicas. No site também serão recebidas contribuições da popu-lação para o PDE. Segundo o di-retor de Comunicação Externa da Casa, Antonio Lucio Rodrigues de Assiz, “as pessoas podem manifes-tar apoio a cada item do Plano e também enviar propostas de mo-dificação”. De acordo com Assiz, também serão distribuídas nas audiências públicas cartilhas com informações sobre a cidade de São Paulo, como material de apoio.

A ampla participação popular é um dos ingredientes obrigatórios da receita de como fazer Planos

Diretores Estratégicos, presente no Estatuto da Cidade, aprovado pelo Congresso em 2001. O Estatuto afirma que o Plano Diretor é “o ins-trumento básico da política de de-senvolvimento e expansão urbana” e serve para garantir “o atendimen-to das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justi-ça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas”. Segundo o Estatuto, a criação de um PDE é obrigatória a municípios com mais de 20 mil habitantes.

Na elaboração do PDE de 2002, aprovado pela prefeita Marta Suplicy (PT), pela primeira vez disseminou-se o uso das audiências públicas na discussão. Cinco anos depois, o pre-feito Gilberto Kassab (na época, no

Democratas) buscou fazer uma revi-são de alguns pontos, por meio do projeto de lei 671/2007. Mais de 200 entidades da sociedade civil se pu-seram contra o projeto, afirmando que a Prefeitura não havia discutido com a população. Em resposta, a Co-missão de Política Urbana da CMSP criou um substitutivo para o proje-to e realizou 40 audiências públicas para debatê-lo, mas as contestações continuaram, inclusive por parte do Judiciário. Neste ano, o PL foi retira-do e a Prefeitura passou a debater a elaboração de um novo PDE.

moRAR PeRtoUm dos principais objetivos do Pla-no Diretor é aproximar os locais de trabalho e de moradia dos paulista-nos. Hoje, cerca de 65% das ofertas de emprego estão concentradas nas áreas de seis Subprefeituras (Lapa, Sé, Pinheiros, Vila Mariana, Santo Amaro e Mooca), que têm apenas 14% da população. “Esse desequi-líbrio reduz as oportunidades e provoca grandes movimentos co-tidianos muito penosos”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Fernando de Mello Franco, durante audiência pública que debateu o PDE.

Para modificar essa realidade, a proposta atual sugere permitir a construção de mais moradias em volta dos principais eixos de trans-porte público da cidade. A inter-venção vai ocorrer em uma região estratégica, batizada pelo Plano de “macroárea de estruturação metro-politana”, que engloba os princi-

PlAnoProposta do novo PDE foi entregue pelo prefeito Haddad ao presidente José Américo no dia 26 de setembro

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pais corredores de ônibus, as linhas de trem e metrô e as áreas entre os Rios Pinheiros e Tietê. “Queremos associar as ofertas de emprego e as de moradia dentro de uma lógica de distribuição das oportunidades”, diz Franco. A cidade passaria a ser desenhada para o trans-porte público, e não para o automóvel.

Na macroárea de estruturação metropolitana, o PDE prevê desestimular o uso de automóveis, limitando a construção de estacionamentos e criando um número máximo de garagens por apartamentos. Também está prevista, nessas regiões, uma cota máxima de terreno por unidade habitacional, para permitir que mais gente more nesses locais e evitar que as construtoras invistam apenas em apartamentos de alto padrão.

De acordo com o vereador Andrea Matarazzo, a proposta atual do PDE tem alguns pontos importantes que precisam ser melhorados. “O centro expandido, por exemplo, não precisa ser mais adensado do que já é. Ao utilizar como critério para adensamento locais próximos a corredores de mobilidade, o Plano só faz atrapalhar”, critica.

Além de se tornarem os locais preferenciais para novas moradias, as redes de mobilidade serão conside-radas prioritárias para as políticas de desenvolvimento econômico. Áreas em torno das Avenidas Jacu-Pêssego e Cupecê receberão incentivos fiscais para estimular a instalação de empresas e a geração de empregos. Para favorecer a criação de moradias aos mais pobres, o pro-jeto prevê a cobrança de uma cota solidária dos grandes empreendimentos imobiliários.

Matarazzo acrescenta que o PDE deve criar centros de atividades nas periferias, para melhorar a mobili-dade e a qualidade de vida dos cidadãos. O vereador destaca, também, a questão fundiária: “A maioria das áreas das zonas leste e sul é irregular. Deveríamos pen-sar em regularizar essas regiões que, por não terem do-cumentação legal, afugentam bons empreendimentos e suas ofertas de trabalho”.

Por melhor que seja o PDE no papel, o plano só será útil para a cidade se virar realidade nas ruas. Para que isso ocorra, lembra o vereador e relator do Plano Diretor, Nabil Bonduki (PT), “é fundamental que a so-ciedade entenda a relevância do PDE e lute para que ele seja implementado”.

Músicos debatem

São Paulo em revistaA CMSP lançou no

dia 18 de setembro a revista Arte & Política– A São Paulo do Futuro, que traz entre-vistas com músicos e depoimentos de vereado-res sobre “os desafios para uma cidade melhor”. A publicação será um dos materiais de apoio para a discussão sobre o Plano Diretor Estraté-gico entre a Câmara e a população.

“Convidamos os partidos políticos que têm representação na Câmara e músicos que vi-vem em São Paulo a se expressarem, mostran-do como melhor contribuir para a construção desse futuro que almejamos”, afirmou o presi-dente José Américo.

Cidade

mAtARAzzoPara o vereador, “a apresentação do PDE feita pelo Executivo mostra São Paulo como uma metrópole de problemas simples. Não é”

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mudanças na Água BrancaOperação pretende repovoar a última região vazia do centro expandido sem expulsar os mais pobres

Reunião • Comissão de Política Urbana debate Operação Água Branca

urbanismo

Ao fazer a revisão da Operação Urbana Consorciada Água Branca, a Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) busca não só mudar a cara da última re-

gião pouco povoada do centro expandido, mas também criar um jeito de realizar essas mudanças, com incentivo ao uso do transporte público e prioridade à convivência de diferentes classes sociais no mesmo espaço.

Nas operações urbanas, o poder público municipal se alia a empresas para realizar melhorias em determi-nadas áreas que, mesmo possuindo boa infraestrutura, são pouco aproveitadas pela população (saiba mais na pág. 30). É o caso da região abrangida pela Operação Água Branca, que reúne partes dos bairros da Água

Branca, Perdizes e Barra Funda. Lá há metrô, linhas de ônibus, trem e alto índice de oferta de empregos, mas falta gente. Com grandes terrenos ociosos ou subutili-zados, a região é praticamente um deserto quando com-parada ao resto do centro expandido. São 25 habitantes por hectare, enquanto a média na região central é de, aproximadamente, 400.

Na Água Branca, os vereadores buscam criar uma operação urbana diferente das anteriores, evitando ar-madilhas como o encarecimento dos imóveis, que acaba expulsando os moradores mais pobres, e o predomínio do automóvel sobre o transporte público. “O desafio da revisão da Operação Urbana Consorciada Água Branca

Fausto salvadori Filho | [email protected]

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de olho • Audiência pública no Memorial da América Latina debate projeto

PRoPostAPaulo Frange: “Transformar um espaço vazio numa área valiosa”

é romper com a tradição desse ins-trumento em São Paulo”, afirma o vereador Nabil Bonduki (PT), membro da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Am-biente. “Marcadas por ausência de planos urbanísticos, adensamento imobiliário sem ordenação, estímu-lo ao automóvel e excessiva valori-zação imobiliária, que gera exclu-são socioterritorial, as operações não raro são vistas como método que não traz benefícios para a cida-de”, explica Bonduki.

A Operação Água Branca foi criada pela Prefeitura em 1995, por meio da Lei 11.774. O Executivo

municipal decidiu revisar a opera-ção para ajustá-la às legislações fe-deral (Estatuto da Cidade, de 2001) e municipal (Plano Diretor Estraté-gico, de 2002), que foram criadas depois. No ano passado, o então prefeito Gilberto Kassab (PSD) en-viou para a Câmara o projeto de lei 505, que revoga a lei anterior e cria a nova Operação Água Branca. Após ser debatida com a população e com os vereadores, em audiências públicas realizadas pela Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente, a nova versão da Operação Água Branca foi aprova-da pela CMSP em 8 de outubro.

urbanismo

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Criada pela Lei nº 11.774,de 18 de maio de 1995, queestá sendo revisada pela Câmara

Água BrancaÁgua BrancaÁgua BrancaOperação Urbana ConsorciadaOperação Urbana ConsorciadaOperação Urbana Consorciada

Água BrancaOperação Urbana Consorciada

Água BrancaÁgua BrancaOperação Urbana Consorciada

Água BrancaÁgua BrancaOperação Urbana Consorciada

Água Branca

Área: 5,6 km²População: 12.977 habitantes

Como funcionaNuma operação urbana, o prefeitura flexibiliza os limitesde construção para a iniciativa privada. Em troca, osempresários pagam uma contrapartida, que o poderpúblico investe em melhorias urbanas na própria região.

A revisão da Operação Água Branca deve permitir a constru-ção de 15 mil unidades habitacio-nais, com metragem média de 120 m², por meio da venda de Certi-ficados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs). Segundo Bonduki, com tamanhos varian-do entre 60 m² e 180 m², os novos apartamentos “devem permitir um mix razoável de residências voltadas para as classes média bai-xa, média e alta”. Também com o objetivo de permitir que a região seja ocupada por moradores de diferentes faixas de renda, o texto aprovado prevê destinar 22% dos recursos arrecadados com a ope-

ração na produção de Habitações de Interesse Social.

Outra inovação é a criação de um perímetro expandido, além dos limites originais da operação, onde a Prefeitura poderá investir em melho-rias financiadas com os recursos dos Cepacs. Assim, será possível fazer, por exemplo, a drenagem desde as nascentes dos Córregos Água Preta e Sumaré, para evitar as enchentes que atingem os bairros próximos, e realizar a urbanização de favelas na região norte. Também estão previs-tas a construção de equipamentos sociais, como escolas e postos de saúde, bem como a criação de áreas verdes ao longo dos cursos de água.

“A região ganha requalificação, gerando maior proximidade do trabalhador com o trabalho, além da oportunidade de transformar um espaço que é um grande vazio numa área extremamente valoro-sa”, afirma o vereador Paulo Frange (PTB), vice-presidente da Comissão de Política Urbana.

diVididAUm artigo da nova lei que põe os ve-readores numa dividida é o que prevê a construção de parques no lugar dos terrenos atualmente emprestados pela Prefeitura aos Centros de Treina-mento de futebol do Palmeiras e do São Paulo. Pelos acordos feitos com

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O que são operações urbanas

As operações urbanas são intervenções feitas pelas prefei-turas em determinadas regiões da cidade, por meio de parce-rias com a iniciativa privada.

Na região delimitada pela operação, o Poder Público fle-xibiliza as regras, permitindo que os empresários possam fazer construções acima dos limites previstos no Plano Di-retor e na Lei de Zoneamento. Para isso, é preciso comprar

Certificados de Potencial Adicio-nal de Construção (Cepacs), que são títulos emitidos pela Prefei-tura e negociados em leilões na Bolsa de Valores de São Paulo. O dinheiro arrecadado na venda de Cepacs deve ser investido pela administração municipal na produção de melhorias dentro dos limites da própria operação.

Toda operação urbana preci-sa ser criada por meio de uma lei específica, que estabele-ce tanto os objetivos da ação como os mecanismos que se-rão adotados. Além da Água Branca, a Prefeitura implantou as Operações Urbanas Faria Lima (1995), Centro (1997) e Água Espraiada (2001).

exPlAnAção • Nabil Bonduki explica substitutivo da Comissão de Política Urbana

o poder municipal, o clube alviverde tem direito a permanecer no local até 2078, e o São Paulo, até 2022, mas os autores da proposta defendem uma negociação com os clubes para ante-cipar a desocupação da região e per-mitir a implantação do parque.

O vereador Marco Aurélio Cunha (PSD), conselheiro do São Paulo, afirma que os times não pretendem deixar a área tão cedo. “Acredito que em nenhum momen-to algum futuro prefeito terá a cora-gem de desalojar o São Paulo e man-ter o Palmeiras até 2078 no terreno vizinho”, afirma Cunha. Segundo ele, os CTs foram importantes para o bairro ao evitar que os terrenos fossem invadidos. “Por que não manter esses centros de treinamen-to, que já são áreas importantes da cidade de São Paulo, no próprio par-que, sem que as entidades precisem desocupá-los?”, questiona.

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As rádios de todo o mundo estão passando por uma revolução: uma aliança com a internet

que possibilita que a programação seja ouvida em qualquer lugar, a qualquer hora.

A Web Rádio Câmara São Paulo não ficou atrás. Desde 25 de setem-bro, Dia Nacional do Rádio, a Câma-ra Municipal de São Paulo (CMSP) estreou a programação ao vivo de sua rádio. Desde então, ela opera de segunda a sexta-feira, das 9h às 20h, com reprise aos finais de semana.

Em sua grade, constam notícias do Legislativo paulistano, trans-missões de sessões plenárias ao vivo, serviços e entretenimento. “Trata-se de uma nova filosofia”,

resume o editor-chefe da Web Rá-dio Câmara, Carlos Maglio. “Nos-so objetivo é politizar os ouvintes, vamos trocar em miúdos os gran-des temas políticos que são discuti-dos no Parlamento.”

Diariamente, a Web Rádio Câma-ra São Paulo conta com as duas edi-ções do telejornal exibido pela TV Câmara, previsão do tempo, agenda legislativa, informes do rodízio mu-nicipal de veículos, espaço para no-vos talentos da música e entrevistas.

Também são produzidos bole-tins sobre as atividades parlamen-tares, sessões plenárias, audiências públicas, reuniões das comissões técnicas, seminários, comemora-ções cívicas, homenagens, reuniões

de entidades e demais eventos reali-zados no Palácio Anchieta.

Maglio faz questão de ressaltar que os boletins informativos e as entrevistas podem ser baixados e reproduzidos livremente por qual-quer cidadão.

esPAço PARA músiCosA Web Rádio Câmara São Paulo pôs sua grade à disposição de artis-tas iniciantes que queiram apresen-tar seus trabalhos. Mais de 50 mú-sicos já disponibilizaram suas obras para serem reproduzidas. Quem estiver interessado em divulgar sua produção deve entrar em conta-to pelo e-mail [email protected].

ComuniCaÇÃo

Web Rádio Câmara estreia grade ao vivoCidadão pode acompanhar na internet o que ocorre no Parlamento paulistano

rodrigo Garcia | [email protected] AR

Objetivo é politizar os ouvintes, informa o editor-chefe Carlos Maglio

Ouça a Web Rádio Câmara em http://webradio.camara.sp.gov.br

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memórias da arenaVereador paulistano de 1956 a 1969, agenor monaco conserva intactas as lembranças das batalhas vividas na política

sândor vasconcelos | [email protected]

PerFil 〉 agenor monaco

“Se o saldo bancário e a ambição pessoal acompanha-rem o homem público, infelicitam o País”. Essa pre-missa básica, algumas vezes esquecida por alguns

políticos, embasou os mandatos de Agenor Palmorino Monaco em seus 13 anos como vereador de São Paulo. Ouvir as histórias do ex-parlamentar, que aos 86 anos preserva uma memória privilegiada, é uma aula sobre a política na capital nas décadas de 50 e 60. Entre as mui-tas reveladas, há a do dia em que Monaco foi, por en-gano, alvo de uma tentativa de suborno e a de quando negou um pedido feito pessoalmente por Jânio Quadros.

Eleito vereador pela primeira vez em 1955, aos 28 anos, pelo Partido Social Trabalhista (PST) com 2.801 votos, Agenor Monaco reelegeu-se por mais duas ve-zes, em 1959 (4.380 votos) e em 1963 (3.843 votos). As duas reeleições disputou pelo PST, mas em 1966 filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), ano em que disputou o cargo de deputado estadual e fi-cou na suplência. Em 1968 perdeu a eleição para ve-reador, fato que só seria lamentado “caso não fosse substituído por um homem de sua têmpera”. “Ficaria

chorando de tristeza que meu lugar fosse ocupado por um malandro”, disse Monaco. Em 1986, tentou pela última vez eleger-se deputado estadual, pelo Partido Liberal (PL), mas não conseguiu.

O ingresso na vida pública foi graças ao irmão Bernini Monaco, que tinha formação integralista e chegou a ser preso pela polícia especial de Getúlio Vargas. “Ele me ino-culou o germe da política”, revela Monaco, que confessa: “Mas eu senti que ele se arrependeu. Vinha à Câmara e ouvia os mais desbaratados impropérios contra mim”.

Os xingamentos, segundo o ex-vereador, deviam-se à postura combativa adotada em relação aos colegas. A pouca quantidade (de acordo com ele mesmo) de pro-jetos de lei apresentados durante sua trajetória, 103 no total, deveu-se à preocupação de sempre se posicionar sobre iniciativas dos colegas. “Nada passava em branco, sem minha manifestação”, explica.

Uma das brigas compradas foi com relação às ses-sões extraordinárias aos sábados: “Tratávamos de meia dúzia de nomes de ruas, por não mais que uma hora, sem interesse público nenhum, só para aumentar a re-

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PeRsonAlidAdeMonaco posicionava-se sobre todos os assuntos: “Não fui um delator, fui um constatador”

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fAmíliADa esquerda para direita, os irmãos Gerindo, Maria José, Walter (no colo), Egeu, Bernini e Adriano, com os pais Angelica e Palmorino, em foto de 1924. Ao lado, Agenor

CAsAlAgenor e Maria Antonia

passaram a lua-de-mel em Foz do Iguaçu, no ano de 1958

muneração dos vereadores”, relem-bra Monaco. Tais sessões rendiam subsídio extra aos parlamentares. Os chamados jetons eram, na épo-ca, alvo de matérias jornalísticas. Em 13 de março de 1963, o Estado de S.Paulo publicou texto afirman-do que a prática fora considerada ilegal pela Justiça.

Outro episódio marcante foi quando Jânio Quadros, político já influente na época (havia sido prefeito e vereador em São Paulo), procurou Agenor para convencê-lo a votar no seu candidato à presidên-cia da Câmara. Quadros apresentou suas razões e a resposta foi muito simples: “O candidato para o qual o senhor está pedindo meu voto, o céu não aceita. O adversário dele, o inferno rejeita. Por isso votarei em branco”. Resignado, Jânio encerrou o assunto: “É muito difícil conver-sar com um homem de bem”.

O posicionamento combativo de Agenor rendeu-lhe notícias em jornal. O Estadão de 22 de outubro de 1961 trouxe a reportagem Ape-nas um Vereador Condenou Ontem as Propinas à Imprensa, afirmando que somente Monaco havia criticado projeto de lei proposto pelas Comis-sões para que a Câmara pagasse aos jornalistas de impresso, rádio e TV que cobriam os trabalhos do Legis-lativo. O vereador definia o projeto como “ilegal, lesivo e nascido de interesses escusos”. Com a pressão de Monaco, do Sindicato dos Jorna-listas, de outras entidades da área e de alguns veículos de imprensa, a proposta não foi aprovada.

fidel dA mooCAAgenor Palmorino Monaco nas-ceu em 23 de fevereiro de 1927, na pequena Rua Dr. Freire, no bair-ro paulistano da Mooca. Filho de

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mentoRAgenor (à direita) e o irmão Bernini: “Ele me inoculou o

germe da política”

foRmAtuRAEm 1951, Agenor discursa no Theatro Municipal de São Paulo na formatura de técnico contábil

Palmorino Monaco e Angelica Na-poleoni, é o caçula dos sete filhos da família, de origem italiana.

Os primeiros anos escolares fo-ram completados no bairro vizinho do Brás. Depois, fez o curso técnico de Contabilidade na Escola 30 de Outubro. O diploma de bacharel em Direito foi conquistado na Faculda-de de Direito do Largo de São Fran-cisco, na Universidade de São Paulo (USP). Formou-se na turma 123, em 1954, ano do 4º centenário da ci-dade de São Paulo. Nos tempos da faculdade, a espessa barba rendeu a Monaco o apelido de Fidel, alusão ao líder cubano Fidel Castro.

Na USP, Agenor foi aluno do jurista Miguel Reale, para quem o ex-aluno era “uma vocação inata para a filosofia”. Um dos maiores orgulhos na vida foi ter justamente fechado com média dez a matéria dada por Reale, Filosofia do Direi-to, façanha que “teve mais impor-tância do que o diploma”, segundo Monaco. A admiração pelo antigo professor era tanta que Agenor fez questão de discursar na missa de sé-timo dia de Reale, em 2006.

Após um namoro de 12 anos, Monaco casou-se em São Paulo, no dia 17 de julho de 1958, com Ma-ria Antonia Zaza Daulizio Monaco, na Igreja Imaculada Conceição, na Bela Vista. Um dos convidados pre-senteou o casal com uma saraivada de bombas em frente à igreja, o que, segundo Agenor, fez com que os santos pulassem: “O vereador que fazia barulho no Plenário não poderia ter um casamento calmo”, brinca. A união gerou os filhos Age-nor Jr., Maria Inez e José Eduardo. Em 2002, Maria Antonia faleceu.

Embora tenha sido eleito apenas em 1955, Agenor ingressou antes na Câmara Municipal de São Paulo

(CMSP), como oficial de gabinete do então vereador Anselmo Fara-bulini Júnior. Certa vez, foi com o chefe a uma indústria do Brás fazer campanha política e ambos foram levados ao Departamento de Or-dem Política e Social (Dops). Age-nor apresentou os documentos, que foram retidos pelo delegado. Um grupo de vereadores foi apoiar Fara-bulini, mas nem se importou com o funcionário. “Eu já estava separado para ir preso”, conta Agenor, “mas o Farabulini disse que só sairia dali comigo junto”, lembra, aliviado.

À modA AntiGAAgenor conta que as campanhas eleitorais eram feitas à base de dis-tribuição de cédulas com o nome do candidato já preenchido. Pre-cisavam apenas ser completadas com as informações do eleitor e depositadas na urna. Além disso, o convencimento pessoal, no corpo a corpo, era importante. A primeira candidatura contou com o apoio de Farabulini Júnior, segundo Monaco um mestre da política.

No dia da apuração, Agenor re-cebeu uma ligação às 3 horas da ma-nhã, do amigo Álvaro Cardoso de Moura Júnior: “Agenor, parabéns!”. Sonolento e assustado, Monaco per-guntou o motivo do cumprimento e escutou: “Você foi eleito! Não me diga que estava dormindo”. A con-trapartida do novo vereador foi fe-rina: “É claro que estava, agora não durmo mais! Meu Deus, fui eleito ve-reador. Que foi que eu fiz?”. O fato é lembrado às gargalhadas.

Na época, a sede do Legislativo paulistano ficava no edifício conhe-cido como Palacete Prates, na Rua Líbero Badaró, no Centro, uma joia arquitetônica que, se dependesse da vontade de Agenor, teria sido tomba-

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Apartes: Qual político admirava na época de vereador?Agenor monaco: Prestes Maia (Francisco Prestes Maia, ex-prefeito de São Paulo). Ele é o precursor da moralidade democrá-tica. Ninguém governa o Executivo com indepen-dência total, como fez Prestes Maia. Ele era, antes de tudo, um técnico; não arrasava politicamente ninguém e construía uma cidade. Conseguiu reforço de verbas federais para São Paulo, aproveitadas pelos seus sucessores.

O que mais o marcou na época como parlamentar?Está distribuído em todos os dias. Fui um bom aluno do povo, mas o povo reprovou o bom aluno. Fui substituído.

E do que mais se orgulha?A memória daqueles que me conheceram. Nos meus últimos dias de Câmara, um conhecido veio até mim e, chorando, disse: “Essa Casa não o merece. Em sua homenagem, essa é a última vez que entro aqui”. E me fez chorar.Uma vez o Caio Pompeu

de Toledo também me procurou para dizer de sua tristeza de não poder ter-me como colega, ele que havia acabado de se eleger vereador. Servir o povo, sem se servir do povo, é uma riqueza que a gente leva pelos poucos dias de uma existência tão curta.

Se fosse vereador hoje, qual projeto proporia?Sempre pensei que a cida-de deveria ter um orde-namento de crescimento, previsto e organizado. O colosso sem limites de altura e de apartamentos de cada prédio construído desgraçou a cidade. Não precisa ser urbanista para notar. O índice de aprovei-tamento está estourado. Hoje é preciso um farol na saída de cada prédio. Meu projeto seria nessa área.

Além de tantas situações pesadas, houve algum fato curioso ou engraçado?O Rubens do Amaral (ex-vereador Estanislau Rubens do Amaral) não dava um aparte, porque os discur-sos dele eram lidos com rapidez. Quando alguém pedia, ele dizia “agora não, que estou embalado”.Uma vez fui chamado

por uma funcionária, a Joaninha, porque tinha acontecido um fato grave na sala do PST. Subi e ela havia sido furtada, o salário todo. Revistaram todo mundo dentro do gabinete. Mas o autor (de acordo com a desconfian-ça da vítima) havia saído, era um vereador clepto-maníaco. Outro vereador já havia falado para ele: “Você já levou a caneta, fique com a tampa”. Olha a podridão do Plenário...

Apanhava muito da imprensa?Uma vez o jornal A Gazeta publicou uma notícia que para mim era uma punhalada pelas costas, por ser mentira, e pela frente, porque era uma prova de que alguém não aceitava minha linha séria. Eu defendia a seleção por concurso público, e não o nepotismo. O jornal publicou que eu criticava as nomeações sem con-curso, mas recomendava (para cargos) os meus protegidos. Não falaram quem eram os protegidos. Fui ao diretor da Gazeta e disse: “Esse jornal jamais vai emporcalhar a mesa da minha casa”. E saiu o desmentido.

“fui um bom aluno do povo”

indePendenteMonaco define-se como “líder de si mesmo”

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da. Não havia gabinetes para os vere-adores, apenas as salas de partidos. O PST de Monaco tinha uma sala embaixo da escada e somente um funcionário. Carro oficial apenas para membros da Mesa. “A Câmara tinha cadeiras especiais reservadas aos que portavam gravata”, lembra. “Eu sempre olhei para os desgravata-dos”, brinca o ex-vereador.

Como parlamentar, Agenor Monaco foi um dos responsáveis por tornar possível a finalização da obra do Palácio Anchieta, atu-al sede da Câmara paulistana. De 1966 a 1969, ano de inauguração do Palácio, o vereador lutou, como membro ou presidente da Comis-são de Urbanismo, Obras e Servi-ços Públicos da Câmara, pela apro-vação das verbas destinadas aos ajustes finais da nova sede.

desPedidAPlenário do Palacete Prates em 1969, último ano de Agenor como parlamentar

PuBliCitÁRioIdealizado pelo próprio Monaco, o santinho de campanha de 1986 presenteava os eleitores com botões de verdade

Durante os mandatos, participou da Mesa Diretora como segundo-secretário e de comissões relaciona-das a servidor público, indústria e comércio, urbanismo, obras e servi-ços públicos. Um de seus projetos de 1960, inimaginável para a concreta-da São Paulo atual, pretendia isentar de tributos os imóveis com mais de dois hectares localizados além de 10 km da Praça da Sé e utilizados na exploração agropecuária.

Além de ter participado da his-tória política paulistana, o ex-parla-mentar foi testemunha da retirada dos bondes e um dos primeiros passageiros da grande novidade em termos de transporte, o metrô. “Nas primeiras viagens, fui passageiro com somente mais uma pessoa no trem”, conta. “Acho que a turma ain-da estava com medo de morrer que nem tatu embaixo da toca”, diverte-se. “Hoje não cabe mais ninguém!”.

Das muitas histórias narradas com fala impecável e olhar vivo, uma das mais divertidas e ao mes-mo tempo trágicas foi a do homem que tentou suborná-lo, por engano. Após ouvir a “proposta”, avisou ao cidadão que ali com eles estava um guarda-civil, testemunha do crime. Após um verdadeiro drama do “cri-minoso”, Agenor concluiu que ele era só o “carregador da mala”, mas não perdeu a oportunidade de pas-sar um sermão: “Em nome da sua família e da sua própria dignidade, não se preze a isso. Lamento seu en-gano e sua provável demissão, por erro de endereço e de pessoa”.

Adeus À VidA PúBliCAA frustrada tentativa de permane-cer vereador, em 1968, impediu Agenor de atuar na sede que aju-dou a tornar realidade, pois o Palá-cio Anchieta foi inaugurado apenas

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em setembro de 1969. “O bom-boca-do não é para quem faz, é para quem come”, brinca ele. Fez, também, com que o bacharel em Direito voltasse a atuar como advogado, ocupação que mantém até hoje: é ele quem acom-panha pessoalmente os processos e visita os fóruns. Porém, não aceita novos clientes.

Ao se despedir da política para nunca mais voltar, Agenor Monaco guardou as feridas de um período combativo. “Se não tivesse um coração de ferro, não teria sobrevivido”, diz, ao se referir às disputas políticas na época de vereador. Ficaram, também, as recordações da parte triste da atu-ação parlamentar: “Conheço alguns nomes que estão nas placas de rua que, se estas tivessem alma, ficariam ruborizadas de vergonha”, lamenta. “Conhecer por dentro a podridão dos plenários, dos gabinetes fechados, das negociatas e das escolhas nos jantares é muita infelicidade”.

A conduta rendeu-lhe, ainda, des-confiança. Em certa oportunidade,

Agenor foi chamado ao Serviço Na-cional de Informação (SNI), na Av. D. Pedro I, para prestar esclarecimento sobre seu patrimônio à Operação de Fiscalização das Declarações de Renda. “Poxa vida, não tenho nem o direito de ser pobre?”, indagou a um funcionário do órgão. A resposta veio direta: “Em oito anos como vereador e você só tem isso?”.

O saldo final, no entanto, foi o moral, que é o que valia de verda-de para Monaco. E esse resultado rendeu admiração ao aposentado político. Em um dos lançamentos de livro do ex-repórter do jornal Última Hora e escritor premiado Ig-nácio de Loyola Brandão, Monaco recebeu uma dedicatória que guar-da como troféu: “Agenor Monaco, adorei te rever. Te admirava tanto. Sério. Íntegro. Viva!”.

* A apartes agradece ao Centro de Memória Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo por ceder vídeo com material sobre o ex-vereador Agenor Monaco.

BioGRAfiAO ex-vereador recebeu de presente um livro em branco, para escrever sua própria trajetória

finAlizAdoAo fundo, o Plenário do Palácio Anchieta, que o ex-vereador ajudou a tornar realidade

oRGulhoA dedicatória feita por Loyola Brandão, um dos troféus de Agenor

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Prêmio Paulo freire valoriza e emociona educadoresProjeto vencedor estimula alunos a conhecer a história da Cohab Raposo Tavares

VenCedoRes • Aluno e professores do Centro de Memória Cohab Raposo Tavares

eduCaÇÃo

rodrigo Garcia | [email protected]

Para um educador, obter o reconhecimento de seu trabalho é sempre bom, principalmente quando vem em forma de uma premiação com o nome

de alguém que se admira, como é o caso do Prêmio Paulo Freire de Qualidade do Ensino Municipal. Afinal, o mestre tem livros publicados no mundo todo e é o patrono da educação brasileira.

Essa emoção foi sentida pelos professores que fo-ram ao Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) no dia 19 de setembro, aniversário de nasci-mento de Paulo Freire, para participar da premiação. Entre os mais emocionados estavam Douglas Scaramus-

sa Pereira, professor de Geografia, e Andréia Rodrigues Leão, professora de História. Eles receberam a Salva de Prata de 1º lugar do Prêmio, com o projeto Centro de Memória Cohab Raposo Tavares, desenvolvido com alu-nos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Alice Borges Ghion. “Esse prêmio não tem valor finan-ceiro, mas o simbólico é muito maior, pois une nosso projeto ao nome de Paulo Freire”, afirmou Douglas. “Estamos felizes em compartilhar as ideias do mestre.”

No projeto Centro de Memória Cohab Raposo Ta-vares, 20 alunos-pesquisadores, entre 10 e 14 anos, pro-curam contar e preservar a história do conjunto habi-

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tacional onde está a escola. Eles fazem entrevistas em vídeo com moradores e recolhem fotos, documentos e reportagens da imprensa sobre o bairro. “Espero que o Prêmio Paulo Freire abra portas para a gente conseguir uma sede para o Centro de Memória”, diz Douglas.

O 2º lugar foi para o projeto Cinema Surdo, no qual alunos da Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Vera Lúcia Aparecida Ribeiro analisam filmes e produzem vídeos. Já a 3ª colocação ficou com o projeto Click, da Escola Municipal de Educação In-fantil Princesa Isabel, em que os alunos fotografam o uso consciente de energia.

Na Sessão Solene, alunos da Escola Municipal de Edu-cação Infantil do Centro Educacional Unificado Dom José Gaspar – Aricanduva usaram claves de rumba e tambores para executar músicas inspiradas no grupo Olodum.

ensino APRimoRAdoO Prêmio Paulo Freire é entregue às unidades escolares que se destacam em iniciativas e projetos para aprimo-rar a qualidade do ensino na rede pública municipal de São Paulo. Foi criado em 1998, por iniciativa do então vereador Vicente Cândido da Silva. Sua primeira edi-ção foi em 2006, com 68 projetos inscritos. Desde en-tão, 461 projetos já participaram. Na edição deste ano, a oitava, foram inscritos 95 projetos.

A premiação é decidida por uma comissão de membros indicados por entidades ligadas à educação e ao meio estudantil. O representante da Câmara na comissão, vereador Toninho Vespoli (PSOL), presidiu a Sessão Solene e ressaltou que a premiação “é impor-tante não só pela figura do Paulo Freire, por sua ação libertadora, mas também pelo próprio prêmio, que valoriza os projetos pedagógicos e reconhece o valor dos professores”.

O prêmio é uma homenagem a um dos mais impor-tantes educadores do século 20, Paulo Reglus Neves Frei-re, nascido em 1921, no Recife (PE). Ele desenvolveu um método que leva o seu nome e notabilizou-se pela alfabe-tização de adultos em curto espaço de tempo.

Entre os livros publicados, destaca-se a Pedagogia do Oprimido, de 1968. O professor, que também foi secre-tário de Educação da cidade de São Paulo (1989-1991), morreu em 1997, aos 75 anos.

Projetos Premiados

1º lugarCentro de memória Cohab raposo tavaresInstituição: Emef Maria Alice Borges Ghion

2º lugarCinema surdoInstituição: Emebs Vera Lúcia Aparecida Ribeiro

3º lugar ClickInstituição: Emei Princesa Isabel

menÇões Honrosas• alimentar-se bem, uma construção de hábitos

saudáveisInstituição: Emei Professora Irene Manke Marques

• você é o autor Instituição: Emei Tide Setubal

• Ética, cidadania e solidariedade numa escola sustentável Instituição: Emef José Bonifácio

• Café terapêutico solidário Instituição: Cieja Campo Limpo

• Grajaú, onde minha história começa: a urbanização de são Paulo Instituição: Emef Padre José Pegoraro

• Chá das minas Instituição: Emef Presidente Prudente de Morais

• Canto e encanto por todos os cantos do Cei Instituição: CEI Vereador Joaquim Thomé Filho

• tear Instituição: Emef Joaquim Bento Alves de Lima Neto

• Princesinhas Instituição: CEU Parque São Carlos

• Cooperativas: uma experiência das práticas políticas e econômicas sustentáveis na educação de jovens e adultos Instituição: Cieja Parelheiros

músiCAAlunos do CEU Dom José Gaspar se apresentam na Sessão Solene

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Profissionais discutem rumos da comunicaçãoDebate ocorreu na cerimônia de comemoração dos 18 anos do informativo Jornalistas&Cia

futuRo • Evento no Plenário 1º de Maio apontou tendências da área

evento

sândor vasconcelos | [email protected]

No dia 23 de setembro, o Plenário 1º de Maio da Câma-ra Municipal de São Paulo (CMSP) recebeu gran-des profissionais da comunicação brasileira para

celebrar os 18 anos do informativo Jornalistas&Cia. Além da comemoração, ocorreu o debate A Comunica-ção em Tempos de Mobilidade e Redes Sociais.

A sessão solene foi comandada pelo presidente da Câmara, o vereador e jornalista José Américo (PT). Se-gundo ele, além de se preocupar com o futuro do jorna-lismo, o Brasil precisa democratizar os meios de comu-nicação, que hoje estão “nas mãos de apenas algumas famílias e empresas”. Américo ressaltou também que,

mesmo com o crescimento das redes sociais e maior fa-cilidade para se encontrar mais fontes de informação, o público ainda procura as notícias nos veículos tradicio-nais. “Segundo pesquisas, nas últimas manifestações o Twitter e o Facebook mais acessados foram os da Folha, do Estadão e da Globo”, disse o presidente.

O diretor do Jornalistas&Cia, Eduardo Ribeiro, enfatizou a notoriedade que o “jornalismo de irrele-vância” vem ganhando. Já o jornalista Audálio Dantas, primeiro assinante do informativo, em 1995, acredita que as empresas de comunicação vêm cometendo um grande erro ao dispensar profissionais experientes,

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com maior capacidade de apura-ção da informação. Para Dantas, independentemente da plataforma utilizada, o importante é a forma como se faz a notícia. “A informa-ção prestada no calor dos aconte-cimentos não fica livre das paixões do momento”, opinou Audálio, sobre o jornalismo feito, principal-mente, nos meios digitais.

Em contrapartida à opinião de Audálio Dantas, o professor da Es-cola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Manoel Carlos Chaparro analisa positivamente a dissemina-ção instantânea das notícias, “es-palhadas ao mundo por qualquer cidadão”. Para ele, desapareceu o intervalo entre o acontecimento e a notícia. “Quando (o presidente

norte-americano) Lincoln morreu, em 1865, a informação demorou 13 dias para chegar à Europa. A derrubada das torres gêmeas (em 2001, na cidade de Nova York) foi vista no momento e produziu mu-danças imediatas”, exemplificou o professor. Chaparro acredita que esse avanço da comunicação valo-riza ainda mais a função dos jorna-listas, que precisam estar presentes na origem dos acontecimentos.

Décio Paes Manso, sócio do grupo de comunicação Maxpress, e o articulista Carlos Alberto di Franco, dos jornais O Estado de S.Paulo e O Globo, acreditam que, com a “onda avassaladora” da tec-nologia, a questão de ordem do jornalismo é como atrair as pesso-as. “Temos de pensar na comunica-

ção para uma geração que escuta, digita e posta ao mesmo tempo”, enfatizou Manso. Já Franco aposta na antecipação e na elaboração de um jornalismo de tendências. “No fundo, é contar boas histórias. O bom repórter ilumina a cena, o mau constrói a história. Qualidade atrai, vende, é para sempre”, finali-zou o articulista.

Ainda compuseram a mesa do evento o vereador licenciado e atual secretário de Desenvolvi-mento Econômico e do Trabalho do Município de São Paulo, Eliseu Gabriel (PSB), Carlos Henrique Carvalho, presidente da Associa-ção Brasileira das Agências de Co-municação (Abracom), e Marco Antônio Rossi, diretor da Mega Brasil Comunicação.

mesA • Da esquerda para direita, Marco Antônio Rossi, Décio Manso, Manoel Chaparro, Eduardo Ribeiro, José Américo, Eliseu Gabriel, Audálio Dantas, Carlos Henrique Carvalho e Carlos Alberto di Franco

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Vereadores da 16ª Legislatura (2013-2016)Abou Anni (PV) - suplente em exercício, Adilson Amadeu (PTB), Alessandro Guedes (PT) - suplente em exercício, Alfredinho (PT), Andrea Matarazzo (PSDB), Antonio Carlos Rodrigues (PR) - licenciado, Ari Friedenbach (PPS), Arselino Tatto (PT), Atílio Francisco (PRB), Aurelio Miguel (PR), Aurélio Nomura (PSDB), Rubens Calvo (PMDB), Celso Jatene (PTB) - licenciado, Claudinho de Souza (PSDB), Conte Lopes (PTB), Coronel Camilo (PSD) - suplente em exercício, Coronel Telhada (PSDB), Dalton Silvano (PV), David Soares (PSD), Donato (PT) - licenciado, Edemilson Chaves (PP), Edir Sales (PSD), Eduardo Tuma (PSDB), Eliseu Gabriel (PSB) - licenciado, Floriano Pesaro (PSDB), George Hato (PMDB), Gilson Barreto (PSDB), Goulart (PSD), Jair Tatto (PT), Jean Madeira (PRB), José Américo (PT), José Police Neto (PSD), Juliana Cardoso (PT), Laércio Benko (PHS), Marco Aurélio Cunha (PSD), Mario Covas Neto (PSDB), Marquito (PTB) - suplente em exercício, Marta Costa (PSD), Milton Leite (Democratas), Nabil Bonduki (PT), Natalini (PV), Nelo Rodolfo (PMDB), Netinho de Paula (PC do B) - licenciado, Noemi Nonato (PSB), Orlando Silva (PC do B) - suplente em exercício, Ota (PSB), Patrícia Bezerra (PSDB), Paulo Fiorilo (PT), Paulo Frange (PTB), Reis (PT), Ricardo Nunes (PMDB), Ricardo Teixeira (PV) - licenciado, Ricardo Young (PPS), Roberto Tripoli (PV), Sandra Tadeu (Democratas), Senival Moura (PT), Souza Santos (PSD), Toninho Paiva (PR), Toninho Vespoli (PSOL), Vavá (PT), Wadih Mutran (PP) - suplente em exercício

Mesa DiretoraPresidente: José Américo (PT)1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Cunha (PSD)2º Vice-Presidente: Aurelio Miguel (PR)1º Secretário: Claudinho de Souza (PSDB)2º Secretário: Adilson Amadeu (PTB)1º Suplente: Gilson Barreto (PSDB)2º Suplente: Dalton Silvano (PV)Corregedor: Rubens Calvo (PMDB)

ExpedienteEditor executivo: José Carlos Teixeira de Camargo FilhoElaboração: CCI.3 - Equipe de Comunicação da CMSPSupervisora: Maria Isabel Lopes CorrêaEditor: Sândor VasconcelosEditor assistente: Rodrigo GarciaRepórteres: Gisele Machado, Fausto Salvadori FilhoApoio jornalístico: Assessoria de Imprensa da Presidência

e Diretoria de Comunicação ExternaFotografia: Ângelo Dantas, Fábio Jr. Lazzari, Gute Garbelotto, Mozart Gomes,

Reinaldo Stávale, Ricardo Rocha, Marcelo Ximenez.Diagramação: Elton PereiraEditor de infografia: Rogério AlvesEstagiários de arte: Cinthia Botto, Gustavo Milan, Hugo Ramallo, Jhonny Oliveira,

Karen Zonzini, Raphaela de OliveiraEquipe executiva: Leandro Uliam, Lívia TamashiroUnidade de apoio: Secretaria de Documentação - SGP.3CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São PauloCapa: Fotos de Gute Garbelotto/CMSP (imagem maior) e Fernando Stankuns

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