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32 | ÁREA CONCURSO Desta forma a equipe de arquitetos paulistas define o anteprojeto de readequação do edifício da Biblioteca Pública de Santa Catarina, pri- meiro lugar no concurso público nacional de arquitetura promovido pelo Governo do Estado, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), e organizado pela regional catarinense do Instituto dos Arqui- tetos do Brasil (IAB-SC). A proposta é impactar a rua Tenente Silvei- ra e Álvaro de Carvalho, no Centro de Florianópolis, em relação aos prédios comerciais já existentes, criando um signo urbano forte que atraia as pessoas e seja usufruído em sua plenitude pela população. O partido para a readequação do prédio levou em conta aspectos antagônicos, como explicam os arquitetos: “criar um edifício que tenha uma relação ‘aberta’ com o espaço público e ao mesmo tempo corres- ponda às características de uma biblioteca como espaço que privilegia a introspecção”. A partir disso, a fachada revela-se intrigante para quem olha da rua e, internamente, o edifício trabalha com espaços vazios e amplos, que dão unidade visual e integram a estrutura verticalmente, e iluminação natural, por meio de aberturas zenitais. Cria-se uma diver- sidade de ambientes generosos, com espaços abertos e pé-direito mo- numental, e mais aconchegantes. O anteprojeto atende a diversidade de atividades técnicas e funcionais como a correta distribuição dos fluxos e controles de acesso, condições de temperatura e umidade adequa- das ao acervo e iluminação e ventilação adequadas às áreas de leitura. Arquitetura e poesia Por Simone Bobsin “Uma visão poética, que ultrapassa, na sua dimensão humana, a estrita necessidade. Arquitetura não deseja ser funcional, mas oportuna.” Equipe do anteprojeto: Arquitetos Bruno Conde, Filipe Gebrim Doria, Filipe Lima Romeiro e Lucas Bittar

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O partido para a readequação do prédio levou em conta aspectos pelo Governo do Estado, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), e organizado pela regional catarinense do Instituto dos Arqui- tetos do Brasil (IAB-SC). A proposta é impactar a rua Tenente Silvei- atraia as pessoas e seja usufruído em sua plenitude pela população. olha da rua e, internamente, o edifício trabalha com espaços vazios e amplos, que dão unidade visual e integram a estrutura verticalmente, e

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Desta forma a equipe de arquitetos paulistas define o anteprojeto de

readequação do edifício da Biblioteca Pública de Santa Catarina, pri-

meiro lugar no concurso público nacional de arquitetura promovido

pelo Governo do Estado, por meio da Fundação Catarinense de Cultura

(FCC), e organizado pela regional catarinense do Instituto dos Arqui-

tetos do Brasil (IAB-SC). A proposta é impactar a rua Tenente Silvei-

ra e Álvaro de Carvalho, no Centro de Florianópolis, em relação aos

prédios comerciais já existentes, criando um signo urbano forte que

atraia as pessoas e seja usufruído em sua plenitude pela população.

O partido para a readequação do prédio levou em conta aspectos

antagônicos, como explicam os arquitetos: “criar um edifício que tenha

uma relação ‘aberta’ com o espaço público e ao mesmo tempo corres-

ponda às características de uma biblioteca como espaço que privilegia a

introspecção”. A partir disso, a fachada revela-se intrigante para quem

olha da rua e, internamente, o edifício trabalha com espaços vazios e

amplos, que dão unidade visual e integram a estrutura verticalmente, e

iluminação natural, por meio de aberturas zenitais. Cria-se uma diver-

sidade de ambientes generosos, com espaços abertos e pé-direito mo-

numental, e mais aconchegantes. O anteprojeto atende a diversidade de

atividades técnicas e funcionais como a correta distribuição dos fluxos

e controles de acesso, condições de temperatura e umidade adequa-

das ao acervo e iluminação e ventilação adequadas às áreas de leitura.

Arquitetura e poesiaPor Simone Bobsin

“Uma visão poética, que ultrapassa, na sua dimensão humana, a estrita necessidade. Arquitetura não deseja ser funcional, mas oportuna.”

Equipe do anteprojeto: Arquitetos Bruno Conde, Filipe Gebrim Doria, Filipe Lima Romeiro e Lucas Bittar

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O programa contempla quatro partes distintas:

1 – Acesso / Café / Periódicos Diários / Espaço de Eventos / Auditório – O térreo do edifício funciona como uma transição entre a rua e os demais ambientes do edifício. Os fechamentos são feitos em vidro, de modo a não quebrar a permeabilidade visual. Um “túnel” marca o acesso - este leva o pedestre da rua até o interior do edifício, passando por um painel de exposições e com o café ao fundo. Por uma escada pode-se descer para o espaço de eventos e para o auditório; os mesmos também podem ser acessados de forma independente pela Rua Álvaro de Carvalho. Uma passarela leva à área fechada da Biblioteca e logo na entrada está a área dos periódicos. A circulação para os demais andares pode ser feito por meio de elevador ou de escada. A escada, em estrutura metálica, dispõe-se de forma solta no espaço, de modo a ficar explícito por onde é feita a circulação entre os pavimentos.

2 – Divisão de Pesquisa e Memória – Situa-se no pavimento inferior do edifício e é acessada pelo usuário através da circulação interna da biblioteca. O acervo está em local reservado, com controle severo de temperatura e umidade do ar – o mesmo está diretamente ligado ao acesso secundário. As áreas de leitura e os laboratórios estão em local privilegiado e voltam-se para a parede jardim, recebendo iluminação natural.

3 – Divisão Infanto-Juvenil / Serviço de Multimídia e Internet / Divisão de Atendimen-to ao Usuário – Configura-se como um espaço para receber a maior concentração de frequentadores da Biblioteca, ocupando os três primeiros pavimentos. No 1º, com fechamentos em vidro e maior luminosidade, dispõe-se a divisão infanto-juvenil e o serviço multimídia e internet. O layout é definido pelo desenho livre das estantes, com 1,20m de altura, criando um ambiente lúdico e dinâmico. No 2º e 3º pavimen-tos, ocupados pela divisão de atendimento ao usuário, o fechamento das fachadas é opaco, protegendo o acervo da radiação solar direta. As estantes foram dispostas de forma linear ao longo das paredes periféricas, formando um grande “salão de livros” ao redor do vazio central, que integra os três pavimentos e permite a entrada de luz zenital.

4 – Divisão Geral Administrativa / Serviços Gerais – Localizada no 4º e último pavi-mento do edifício, não interfere no fluxo de usuários das demais áreas da Biblioteca, sendo dividido entre um núcleo que compreende as áreas molhadas e uma área de planta livre, com layout definido por divisórias leves.

Premiação1º - Filipe Dória – São Paulo (prêmio de R$ 30 mil)

2º - Matheus Rodrigues Alves (prêmio de R$ 15 mil)

3º - Akeni Hahara

4º - Marcos Jobim

Menção Honrosa - Ivan de Sá Rezende

Projeto prevê visão ampla e integral do interior da biblioteca

Espaços vazios e amplos conferem unidade visual ao edifício, cuja esca-da de acesso leva ao ambiente de eventos e ao auditório no piso inferior

As estantes ao longo das paredes periféricas formam um grande “salão de livros” ao redor do vazio central, que integra os três pavimentos e permite a entrada de luz zenital

O 1º, 2º e 3º pavimentos configuram-se como um espaço para receber a maior concentração de freqüentadores

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Valorização da culturaDepois de um longo jejum, Florianópolis assiste à re-alização de um Concurso Nacional de Arquitetura para a Readequação da Biblioteca Pública do Estado, uma parceria entre o Governo do Estado de Santa Catarina e o IAB-SC. Antes disso, aconteceram concursos para o Mercado Público de Blumenau e do Marco da Entrada de Brusque.

A realização de concursos públicos de arquitetura era uma antiga reivindicação dos arquitetos, que acre-ditam neste instrumento como forma de qualificar o pa-trimônio arquitetônico das cidades, principalmente em relação aos prédios públicos. “O concurso público é um processo democrático que tem o julgamento transpa-rente e com objetivo qualitativo”, diz a vice-presidente do IAB-SC, Danielle Gioppo, que compara o número de concursos realizados no Brasil em 2009 com a França: “apenas 13 concursos públicos de projetos de arquite-tura foram realizados no País, contra, aproximadamente, 1,2 mil realizados na França, onde os concursos são obrigatórios por lei”.

Entidades estaduais como IAB-SC, AsBEA-SC e Sindicato dos Arquitetos reivindicavam ao Governo do Estado, com total apoio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), para elaboração do Decreto Estadual 2307/2009, que deter-mina a realização de concurso público de arquitetura para obras em instituições públicas de caráter cultural. “A lei já é um grande passo, porque o concurso nada mais é do que uma modalidade de licitação”, explica Sérgio Oliva, Coor-denador Estadual de Concursos de Arquitetura do IAB-SC. “Na lei de licitação vale o menor preço, e nem sempre o menor preço tem qualidade. Essa terra é maravilhosa e os prédios são feios, o poder público tem que batalhar por isso”, dispara a então presidente da FCC, Anita Pires, apoiadora da proposta desde o início.

O concurso para a readequação da biblioteca foi promovido pela FCC com organização do IAB-SC, entidade com legitimidade e credenciada para isso. “O IAB nacional é a única instituição do Brasil que tem o notório saber para orga-nização de concursos de arquitetura, levando o nome do Estado, da região e do País para o exterior, a credibilidade está vinculada ao nome do IAB”, argumenta Oliva. A instituição convidou profissionais locais e de outros Estados para par-ticiparem da comissão julgadora: arquitetos João Edmundo Bohn Neto e Simone Harger (Florianópolis), Oscar Mueller (Curitiba), Esterzilda Berenstein de Azeve-do (Brasília); e biblioteconomista Delsi Davok (Florianópolis).

Foram 94 inscritos de todo o Brasil e 37 participantes de fato a partir da entrega dos projetos. Entre o lançamento do edital e a divulgação do resultado, foram quase quatro meses. De acordo com o cronograma, o governo tem 180 dias para assinar o contrato com a equipe vencedora e o prazo limite para a entrega dos projetos executivos também é de 180 dias. Segundo o edital, o custa para a obra não poderá ultrapassar R$ 5 milhões.

Licitação em 2011A então presidente da FCC, Anita Pires, esteve presente na noite da abertura da exposição dos anteprojetos premiados. Em seu discurso, dis-se que a licitação só poderá ser feita em 2011 em função deste ser um ano eleitoral. Reforçou, no entanto, a necessidade de encaminhar toda a documentação para que o próximo governo fique apenas com a responsabilidade de lici-tar a obra. Cabe aos arquitetos, ao IAB-SC e à sociedade ficarem atentos e cobrar para que o projeto seja executado e não vá para a gaveta.

Fachada do anteprojeto da Biblioteca Pública quer impactar as ruas Tenente Silveira e Álvaro de Carvalho em relação aos prédios comerciais já existentes

Os quatro pavimentos interligam-se por meio do vão central com pé-direito monumental

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