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1 Revista ATUAÇÃO | Dezembro 2012 | EDIÇÃO 05 | DEZEMBRO 2012 UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL REVISTA Sete Quedas Carreira unificada é realidade no interior, desde 1999. Trabalhadores da rede municipal de Sete Quedas foram beneficiados pela Lei Com- plementar Nº 011/99. Pág. 11 Entrevista Maria da Glória Sá Rosa relembra episódios que marcaram seus passos nos caminhos da educação e da formação de Mato Grosso do Sul. Pág. 18 UM MUNDO SEM LIMITES EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA Pág 20

Revista Atuação - Edição 5 - Novembro de 2012

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Revista Atuação, uma publicação da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS). Redação e Produção:Íris Comunicação Integrada; Diretora de Criação: Nanci Silva; Diretor de arte: Ivan Cardeal Nunes; Jornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242); Revisão: Fabiana Silvestre (DRT-MS 087), Mário Márcio Cabreira (DRT-MS 109);Colaboraram nesta edição: Maria Lúcia Fernandes; Eder Rubens da Silva, Sheila Rosseto; Fotos:Wilson Jr.; Elis Regina, Maria Lúcia Fernandes, Eder Rubens da Silva, Sheila Rosseto; Rua Chafica Fatuche Abussafi, 200; Vila Nascente - CEP 79036-112; Campo Grande; Mato Grosso do Sul; Brasil

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1Revista ATUAÇÃO | Dezembro 2012 |

EDIÇÃO 05 | DEZEMBRO 2012UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORESEM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL

R E V I S T A

Sete QuedasCarreira unificada é realidade no interior, desde 1999. Trabalhadores da rede municipal de Sete Quedas foram beneficiados pela Lei Com-plementar Nº 011/99. Pág. 11

EntrevistaMaria da Glória Sá Rosa relembra episódios que marcaram seus passos nos caminhos da educação e da formação de Mato Grosso do Sul. Pág. 18

UMMUNDOSEMLIMITES

EDUCAÇÃO ESPECIAL NAPERSPECTIVA INCLUSIVA Pág 20

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EXPEDIENTE DESTAQUES

Redação e Produção Íris Comunicação IntegradaRua Chafica Fatuche Abusafi, 200Parque dos Poderes - 79036-112Campo Grande/MS+ 55 67 3025.6466

Diretora de criação: Nanci SilvaDiretor de arte: Ivan Cardeal NunesJornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242)Revisão: Fabiana Silvestre (DRT-MS 087), Mário Márcio Cabreira (DRT-MS 109)

Colaboraram nesta ediçãoMaria Lúcia FernandesEder Rubens da SilvaSheila Rossetto

FotosWilson Jr.Maria Lúcia FernandesEder Rubens da SilvaSheila RossettoElis Regina

Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da revista.

Aparecida do Taboado ................................................................................................................07

A história do Frei e da escola que transformaram a educação no interior do Estado

Consciência Negra .......................................................................................................................36

População negra brasileira ainda sofre com as heranças do período escravocrata do Brasil Colônia

Capa .....................................................................................................................................................20

Os desafios e as conquistas da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva dentro das salas de aula da Rede Pública de Ensino

Entrevista ...........................................................................................................................................18

Maria da Glória Sá Rosa, a história da professora que ajudou a formar a identidade educacional e cultural de Mato Grosso do Sul

Ponta Porã ..........................................................................................................................................14

A fazenda que já foi a maior produtora de soja do país, atualmente consolida a reforma agrária, por meio da educação

WWW.FETEMS.ORG.BRRua 26 de Agosto, 2.296, Bairro Amambaí. Campo Grande - MS

CEP 79005-030. Fone: (67) 3382.0036. E-mail: [email protected]

DiretoriaPresidente: Roberto Magno Botareli Cesar Vice-Presidente: Elaine Aparecida Sá CostaSecretaria-Geral: Deumeires Batista de Souza Secretaria-Adjunta: Maria Ildonei de Lima Pedra Secretaria de Finanças: Jaime Teixeira Sec. Adjunta de Finanças: José Remijo Perecin Sec. de Assuntos Jurídicos: Amarildo do Prado Sec. de Formação Sindical: Joaquim Donizete de Matos Sec. de Assuntos Educacionais: Edevagno P. da Silva Sec. dos Funcionários Administrativos: Idalina da Silva Sec. de Comunicação Social: Ademir Cerri Sec. de Administração e Patrimônio: Wilds Ovando Pereira Sec. de Políticas Municipais: Ademar Plácido da Rosa Sec. dos Aposentados e Assuntos Previdenciários: José Felix Filho Sec. de Políticas Sociais: Iara G. Cuellar Sec. dos Especialistas em Educação e Coord. Pedagógica: Sueli Veiga Melo Dep. dos Trabalhadores em Educação em Assent. Rurais: Rodney C. da Silva Ferreira Dep. dos Trabalhadores em Educação Antirracismo: Edson Granato Dep. da Mulher Trabalhadora: Leuslania C. de Matos

Vice-presidentes regionais: Amambai: Humberto Vilhalva; Aquidauana: Francisco Tavares da Câmara; Campo Grande: Paulo César Lima; Corumbá: Raul Nunes Delgado; Coxim: Thereza Cristina Ferreira Pedro; Dourados: Admir Candido da Silva; Fátima do Sul: Manoel Messias Viveiros; Jardim: André Luiz M. de Mattos; Naviraí: Nelfitali Ferreira de Assis; Nova Andradina: Maurício dos Santos; Paranaíba: Sebastião Serafim Garcia; Ponta Porã: Vitória Elfrida Antunes; Três Lagoas: Maria Aparecida Diogo

Delegados de base à CNTE: Jardim: Sandra Luiza da Silva; São Gabriel do Oeste: Marcos Antonio Paz da Silveira; Costa Rica: Rosely Cruz Machado

Conselho Fiscal da FETEMS: Fátima do Sul: Adair Luis Antoniete; Naviraí: José Luis dos Santos; Dourados: Nilson Francisco da Silva; Miranda: Robelsi Pereira

Assessoria de Imprensa da FETEMS: Karina Vilas Boas e Azael Júnior

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EDITORIAL APARECIDADO TABOADO

Educação que transforma

Crianças e jovens que enfrentam diariamente barreiras individuais para chegarem até a escola, motivados pelo simples desejo de aprender e viver; educadores incansáveis, que buscam novos métodos e novas ferramentas para ensinar alunos com deficiências, e um poder público tentando se ajustar às novas legislações que regem a Educação no país. A reportagem de capa da última edição de 2012 da revista Atuação aborda os desafios da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva nas salas de aula da rede pública de ensino.

A Educação Especial é um trabalho de “formiguinha”, como disse uma das entrevistadas da nossa reportagem. Contudo, é um trabalho enobrecedor, capaz de socializar, integrar e promover indivíduos que há pouco viviam excluídos da sociedade.

Alunos como o pequeno Víctor e os jovens Cláudio e Ana Patrícia são exemplos de que o mundo não precisa ter limites para quem nasce com limitações. Esses alunos são personagens da vida real, que precisam ter suas histórias contadas e divulgadas para que o caminho da inclusão no Brasil seja ampliado e fortalecido, por meio de políticas públicas capazes de garantir uma Educação Especial de qualidade – com ampliação do atendimento especializado, infraestrutura escolar adequada e equipada e, acima de tudo, com valorização e reconhecimento dos profissionais que fazem a educação acontecer em todas as suas esferas.

“Um mundo sem limites” - esse é o mundo que a Educação é capaz de criar. Educação que transforma sonhos em realidade, que muda realidades e conceitos. Educação que combate a violência sem guerra. Que enfrenta a discriminação, o preconceito e convive em harmônia com a diversidade. Educação de todos e para todos. É por essa Educação transformadora, que a FETEMS segue na luta por seus ideais.

Em 2013, continuaremos escrevendo nossa história nesse mundo sem limites!

Boa leitura!

Roberto Magno Botareli CesarPresidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul

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No ano de 1956, Apare-cida do Taboado era uma cidade promissora

do então Estado de Mato Gros-so, tendo apenas uma escola na cidade, com ensino até o quarto ano primário, atual ensino funda-mental.

A ordem dos “Capuchinhos” comandava a Igreja Católica no município, cuja Missão principal era pregar o Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo na região. A vinda de José Aresi, em 1956, que depois de ordenado, passou a ser conhecido como Frei Vital de Garibaldi, por ser daquela urbe, localizada no Rio Grande do Sul, trouxe novo alento para os filhos desta terra, com novas perspec-tivas no setor educacional.

Além da questão religiosa, Frei Vital trouxe consigo um grande espírito de trabalho, en-contrando em Aparecida do Taboado um povo laborioso e portador de um sentimento co-munitário, ingredientes necessá-rios para a concretização de um sonho: a implantação do ginásio, na cidade.

A Escola“Mãos à obra” - foi a tônica.

E, com a aquisição de um amplo terreno e a solicitação de ma-teriais, foi dado início à vultosa obra, magnífica por sua arquite-tura arrojada, moderna e funcio-nal. Em 1962, funcionou a primei-ra sala de aula, com um total de 34 alunos, tendo à frente de sua direção o seu idealizador e fun-dador, Frei Vital de Garibaldi, que deu o nome ao estabelecimento de Ginásio do Educandário Frei Mariano, homenagem ao Frei que ajudou a colonizar o Estado de Mato Grosso. Hoje, a escola conta com mais de mil alunos.

A princípio, a escola era par-ticular, mas, como nem todos ti-nham condições de pagar pelos estudos de seus filhos, Frei Vital teve a ideia de buscar parcerias e transformar o Ginásio em uma Escola Estadual, que em 1966, passou a ser denominada Ginásio Estadual de Aparecida do Taboa-do. Por volta de 1975, o prédio foi cedido para o Estado, transferin-do-lhe, assim, toda a responsabi-lidade.

No dia 20 de abril de 1977, a Câmara Municipal de Aparecida do Taboado atribuiu à Escola o nome do seu fundador: “Frei Vital de Garibaldi”.

Ao completar 75 anos, em 1991, já de volta a sua terra natal, Frei Vital Aresi declarou, em seu boletim de Bodas de Ouro Sacer-dotal, que “não há vida mais feliz do que dar a vida pelos irmãos. A Educação foi o principal desta-que dos meus 50 anos de sacer-dote. Dediquei-lhe uns 33 anos. Salienta-se a construção do Giná-sio em Aparecida do Taboado”. Quem conheceu o Frei Vital sabe que, nestas palavras, vão não só emoção e razão, mas, também, a disciplina que ajudou a formar muitos homens de bem, que ao longo do tempo, ajudaram a tor-nar Aparecida do Taboado uma cidade melhor para se viver.

Saudosismo? Talvez sim! Mas, são professores, médicos, advo-gados, engenheiros, jornalistas, enfim, pessoas de todas as pro-fissões que, em seus currículos, têm a passagem pelo Ginásio do Frei Vital, como foi chamado por longas décadas.

Aniversário de 50 anosEntre os dias 14 e 22 de ou-

tubro de 2012, a Escola Estadual Frei Vital de Garibaldi comemo-rou seu Jubileu de Ouro. Foram dias de homenagens, apresenta-

ções culturais e artísticas, missa, desfiles e um culto ecumênico.

“Nós realizamos homenagens aos ex-diretores, funcionários e professores que passaram pela escola. Também homenageamos o nosso fundador Frei Vital”, ex-plicaram os atuais diretores da escola, Maria Margarida de Ma-tos e Lourisval Gomes Roque de Queiroz.

Após comemorações, FreiVital morre em Caxias do Sul

Coincidência ou obra do desti-no, no dia 22 de outubro de 2012, às 16h, dia em que terminaram as comemorações dos 50 anos da Escola, faleceu, aos 97 anos, Frei Vital de Garibaldi, em Caxias do Sul (RS), na Casa de Repouso dos Capuchinhos, no Convento Imaculada Conceição.

José Aresi nasceu em 2 de

“Tenho boas lembranças de ouvir os meus pais dizerem, com orgulho, que certo dia, vindos da fazenda para a cidade, transportados por uma carroça de tração animal, passaram em frente a uma grande obra que estava sendo construída por um Frei capuchinho, chamado “Vital”. Ao saberem que se tratava da construção de um grande colégio, minha mãe, ainda jovem, disse ao meu pai: “nossos filhos ainda irão estudar neste colégio”. Os anos passaram, e o sonho foi além do esperado. Em busca de estudo aos filhos, meus pais mudaram-se para a cidade. Seus filhos não apenas estudaram, como também foram professores no colégio Frei Vital de Garibaldi”.

Joaquim Donizete de Matos,presidente do SIMTED de Aparecida do Taboado.

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“Você apanha muito no princípio; mas, ao mesmo tempo, aprende muito também. E foi isso que ocorreu comigo durante estes 30 anos de minha vida, nos quais convivi com as crianças que por lá passaram e continuam passando. Na Escola Frei Vital, se trabalha para a formação de bons cidadãos para a sociedade aparecidense, o Estado e o Brasil”.

Maria Iaponira da Silva Pereira,merendeira mais antiga da escola.

“A história de Aparecida do Taboado seria incompleta sem o ginásio do Frei Vital. Ele era um educador rígido, severo, mas um homem à frente do seu tempo, que preservava a disciplina, a qualidade do ensino e a formação de homens para amar a Deus, a Pátria, o Estado e o seu Município. Todos que fizeram a história dessa instituição de ensino, ao longo dos últimos 50 anos, estão de parabéns”.

Auci Corrêa Fernandes,jornalista e ex-aluno da escola.

abril de 1915, no distrito de Cape-la Anunciata, cidade de Garibaldi (RS). Tornou-se Frei, após orde-nação na ordem dos Capuchinhos ao lado dos Freis: Miguel de Alfre-do Chaves e Teófilo Antoniazzi de Flores da Cunha, tendo como Bis-po celebrante Dom José Barea e o Pároco Caetano de Monte Belo, no dia 5 de janeiro de 1941.

Frei Vital teve uma vida profí-cua e longa, destacando-se como vigário e professor em vários es-tados do Brasil e em Portugal. Um de seus maiores feitos, nos 33 anos que passou em Mato Gros-so do Sul, foi a fundação do Gi-násio do Educandário Frei Maria-no, hoje Escola Estadual de 1º e 2º Graus Frei Vital de Garibaldi.

O Frei Vital foi um missionário, dedicou sua vida ao trabalho, à caridade e à prática de amar ao próximo.

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•Mais de 175 mil vidas •Mais de 2000 profissionais de saúde•73 Unidades de Atendimento •08 Centros Médicos•17 Centros Odontológicos •02 Centros de Prevenção•07 Hospitais •06 Programas de Prevenção•03 Convênios de Reciprocidade

BOAS FESTASCOM MAIS SAÚDE!

Classificada pela ANS como uma das melhores operadoras do paísReconhecimento entre as Maiores e Melhores Empresas da Revista ExameDestaque Empresarial Brasileiro em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - Biosfera Certificação Social Selo Prata e Ouro por inclusão de deficientes físicos em seu quadroObtenção do Selo Verde ANS, que atesta a qualidade dos nossos serviços.

AN

S -

41

35

34

I N S T I T U T O A M B I E N T A L

Destaque Empresarial em Meio Ambientee Desenvolvimento Sustentável

Melhores e Maiores2009 | 2010 | 2011 | 2012

Selo de Certificação Social2011 | 2012

SELO DE CERTIFICAÇÃO SOCIAL

OURO 2012

mando os sindicalizados em uma só causa, em um só movimento, em uma só aspiração”.

As classes constituem a linha de ascensão funcional do pro-fessor, coordenador pedagógico e do pessoal técnico administra-tivo, sendo designadas pelas le-tras A, B, C, D, E, F, G e H, sen-do que cada letra alcançada está diretamente vinculada ao tempo de serviço. O servidor consegue melhoria salarial automática, e os níveis de I ao VI dizem respeito à escolarização do trabalhador, que começa a fazer jus ao novo vencimento 30 dias após a apre-sentação de seu diploma. Os ad-ministrativos começam receben-do R$ 622,00, no nível I, letra A; podendo chegar até o nível VI, le-tra H, recebendo R$ 2.631,06, por 40 horas semanais; dependendo apenas de sua capacitação e do tempo de serviço. Além disso, cada trabalhador recebe um adi-cional a cada cinco anos trabalha-dos. No primeiro quinquênio, 10% sobre o salário base, e 5% nos demais, sucessivamente. É impor-tante valorizar o trabalhador em Educação, para que a carreira se torne cada vez mais atrativa, con-tando, assim, com profissionais capacitados e compromissados.

SETE QUEDAS

Enquanto a Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Gros-

so do Sul (FETEMS) e mesmo a Confederação Nacional dos Tra-balhadores em Educação (CNTE) vêm, há anos, lutando pela cons-trução de uma carreira unificada para todos os trabalhadores em Educação, sem distinção de car-gos ou função, ou seja, incluin-do numa só carreira professores e administrativos, Sete Quedas está à frente dos demais municí-pios.

Desde 1999, os trabalhadores da rede municipal de Educação recebem benefícios por meio da “Lei Complementar Nº.011/99 – Plano de Cargos, Carreira e Remu-neração do grupo Trabalhadores da Educação Básica do Municí-pio de Sete Quedas”. O estatuto foi elaborado por uma comissão constituída por representantes do Poder Executivo, Legislativo e filiados do SIMTED de Sete Que-das. Pelo sindicato, participaram os educadores Ademir Cerri, Jan-

dir Carlos Dallabrida, Vilma Maria de Oliveira Jales, Lindomar Alves Pereira (in memorian) e Maria Eglaé Pereira de Freitas, (in me-morian), com o objetivo de buscar uma política salarial compatível à classe e, também, para garantir a valorização profissional.

Este trabalho foi facilitado e agilizado devido a uma postura política da FETEMS, que possuía um projeto de estatuto conside-rado ideal para ter uma carreira, cujos princípios fossem voltados para a valorização dos trabalha-dores em Educação e propicias-sem um ambiente favorável a uma gestão democrática.

Segundo o presidente do Sin-dicato Municipal dos Trabalha-dores em Educação (SIMTED), Ademir Cerri, a criação do esta-tuto trouxe melhorias para toda a categoria, colocando professores e administrativos em um mesmo projeto, com os mesmos prin-cípios de evolução profissional, seja vertical ou horizontal. “Antes da criação do estatuto, não havia uma política salarial definida, e os trabalhadores administrativos tinham sua data-base e seus ín-dices de reajuste diferentes dos professores. Com a unificação, a luta tornou-se uma só, aproxi-

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Quanto à Lei do Piso, o muni-cípio já estava bem próximo do que prevê a Carta-Compromisso enviada pela FETEMS aos futu-ros prefeitos. Dentre eles: gestão democrática nas redes de ensino, para escolha de diretores escola-res; equiparação até o sexto ano de vigência do Plano Nacional de Educação (PNE) da remune-ração média do magistério a de outras categorias profissionais com mesmo nível de escolarida-de, por meio do pagamento do piso salarial nacional da categoria na base do plano de carreira, bem como a destinação de, no mínimo, um terço da jornada do professor para a hora-atividade (extrassala) e implantação de plano de carrei-ra para todos os profissionais de Educação. “Aqui em Sete Que-das, a lei será de fácil aplicação, pois faltam apenas 40 minutos de hora-aula para se adequar ao que exige a Lei Federal 11.738”, expli-cou Ademir.

A Secretária para Assuntos Municipais do SIMTED, Rosimeire Ribeiro Rosa, conta que está no magistério, desde 1996. Formada em pedagogia, ela ressalta que a Unificação da Carreira é muito in-teressante, pois estimula os pro-

fissionais a estudar e desenvolver suas funções com mais qualidade e, também, a prestar concursos para outros cargos. Ocupando a função de secretária do SIMTED, Rosimeire acompanha de perto todas as reivindicações da classe, além das conquistas, que só fo-ram possíveis após a criação da Lei Complementar Nº.011/99.

EvoluçãoUm bom exemplo de que a uni-

ficação vem dando certo é o da psicopedagoga Maglene Apareci-da Santos Teixeira, que já foi be-neficiada. Ela deu início, em 2002, a sua carreira na Rede Municipal de Ensino, como auxiliar de ser-viços diversos (zeladora), função que exigia apenas o ensino fun-damental, ganhando o piso pre-visto na carreira. Hoje, após con-cluir o ensino médio e o superior, pode saltar do nível I para o nível IV com uma diferença salarial de 95%, além de outras vantagens. Maglene diz que é um incentivo a mais para que os profissionais em Educação continuem os estu-dos, principalmente, porque eles podem melhorar a remuneração, sem mudar de função.

Além da qualificação, ela conta

que o avanço profissional trouxe outros benefícios. “Eu era tímida, não sabia nem me relacionar com as pessoas. Hoje, melhorei mui-to minha autoestima e já consigo até falar em público. Não foi fácil conciliar o emprego e os afazeres domésticos e, ainda, tirar tempo para estudar. Mas, valeu a pena, pois, com o meu trabalho, obtive conquistas, como a compra de um carro e a reforma de minha casa. Depende de cada um. Ainda tenho planos de fazer mestrado e dou-torado, e tentar outros concursos. Não pretendo parar de estudar”.

Atualmente, o município de Sete Quedas possui duas escolas: Escola Municipal Inácio de Castro (zona urbana), e a Escola Muni-cipal Osvaldo Cruz (zona rural), além de dois Centros de Educação Infantil: CEI Meus Filhos e Profes-sora Solíria. Emprega 79 professo-res, 40 administrativos, 10 monito-res, 12 motoristas e dois vigias, que são responsáveis pela educação de 1.062 crianças. O quadro admi-nistrativo conta, também, com o acompanhamento de uma nutri-cionista e uma psicóloga.

“Antes da criação do estatuto, não havia uma política salarial definida e os trabalhadores administrativos tinham sua data-base e seus índices de reajuste diferentes dos professores. Com a unificação, a luta tornou-se uma só, aproximando os sindicalizados em uma só causa, em um só movimento,em uma só aspiração”.

“Eu era tímida, não sabia nem me relacionar com as pessoas.Hoje, melhorei muito minha autoestima e já consigo até falar em público. Não foi fácil conciliar o emprego e os afazeres domésticos e, ainda, tirar tempo para estudar. Mas, valeu a pena, pois, com o meu trabalho, obtive conquistas, como a compra de um carro e a reforma de minha casa. Depende de cada um. Ainda tenho planos de fazer mestrado e doutorado, e tentar outros concursos. Não pretendo parar de estudar”.

Maglene Aparecida Santos Teixeira,funcionária administrativa que, atualmente, é psicopedagoga

Ademir Cerri,presidente do SIMTED de Sete Quedas

Terminada a mobilização elei-toral e a participação cidadã no último mês de outubro, inaugu-ram-se os processos de transi-ção nas administrações munici-pais, a organização prévia para os primeiros atos administrativos orientados a honrar as expectati-vas populares que despertaram. Sem dúvida, a educação pública básica frequentou os palanques e as reuniões, nutriu disputas de projetos e expressão de diversi-dades e entrou em sintonia com as aspirações da maioria confor-mada pelo voto popular.

Alguns contornos institucio-nais diferentes devem ter apor-tado uma substantiva alteração nos discursos correntes mais comuns frente ao pleito ante-rior, em 2008. Neste intervalo, a Emenda Constitucional 59/2009 trouxe ampliação de direitos e obrigações que atingem direta-mente uma expressiva parcela da população, ampliando direitos e as responsabilidades públicas nas três esferas da administração.

Notadamente, no caso das atribuições prioritárias dos mu-nicípios, ganham relevância mais aguda: a obrigatoriedade de oferta de vagas na pré-escola, para a população entre 4 e 5 anos de idade, até 2016; atendimento em creche a pelo menos 50% das crianças com até 3 anos de idade; a alfabetização e escolarização de jovens e adultos que não tive-ram acesso na idade adequada à conclusão do ensino fundamental e o aumento dos investimentos.

Há estágios distintos a serem considerados para honrar essas grandes metas: tempo de eman-cipação, características sociais e culturais específicas de sua po-pulação, estrutura produtiva lo-cal, tecido político e orientação do governo com maior ou menor disposição com a participação popular e transparência, sensibi-lidade social e compreensão do papel do Estado, capacidade fi-nanceira, intensidade prática da gestão democrática, entre ou-tros.

Nenhum direito se constituiu sem antes ter sido razão de rei-vindicação, mobilização social, capacidade propositiva do mo-vimento organizado, agitação política, formulação legal, acom-panhamento crítico e controle democrático das forças vivas da sociedade. Os próximos respon-sáveis pela política pública de Educação receberão legados dis-tintos dessa trajetória. Terão, en-tretanto, desafios comuns, cujos eixos de superação envolverão outro patamar de compromisso público e da prática democrática.

Supõe uma nova relação inter-federativa nas responsabilidades e capacidades de oferta de cada esfera da administração, com o estabelecimento transparente e justo, função supletiva e distribu-tiva da União e do Estado. Exige uma aliança sólida com a socie-dade civil organizada, de modo a assegurar a qualidade social, a participação na definição dos planos municipais de Educação e da alocação dos recursos do Pla-no Plurianual e de cada Lei do Or-çamento Anual correspondentes à superação do atraso educacio-nal e à valorização dos profissio-nais da Educação.

A avaliação criteriosa dos Pla-nos de Ação Articulada (PAR), junto ao Ministério da Educação e a conformação sistemática de

mesas tripartites de negociação com matriz de responsabilidade clara, são elementos indispen-sáveis para o próximo passo. A lei federal já prevê o PAR como peça indispensável para acesso aos recursos federais e seu víncu-lo obrigatório com os Planos Mu-nicipais de Educação atualizados.

Pode parecer só mais burocra-cia. Ao movimento sindical, será mais uma ferramenta de trabalho e razão de ação organizada, ten-do como centro os fins da edu-cação para além dos resultados de desempenho nas avaliações periódicas. Ao voto alcançado, corresponderá o compromisso cumprido.

ARTIgO

Carlos AbicalilMestre em Educação pela Universidade de BrasíliaProfessor da Rede Pública de Educação BásicaAssessor da Liderança do Governo no Congresso Nacional

Foi eleito: e daí?

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Um pouco de história

PONTA PORã

A Fazenda Itamarati, lo-calizada no município de Ponta Porã (MS),

sempre foi marcada por contras-tes que ajudaram a compor a sua história. Na década de 1980, foi uma das maiores propriedades produtoras de grãos do país e pertencia ao empresário Olacyr Francisco de Moraes, conhecido como o “Rei da Soja”.

Suas fazendas, em parceria com a Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária (Embrapa), desenvolveram um novo tipo de grão de soja, mais adaptado ao cerrado, e uma nova espécie de algodão, que fez com que o Brasil mudasse seu status de importa-dor para exportador dos produ-tos.

Após o fracasso da constru-ção da Ferronorte, por meio de uma de suas construtoras, ferro-via que interliga as regiões Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país, o patrimônio de Olacyr de Moraes decaiu, e sua situação fi-nanceira foi ainda mais agravada

com a implantação do Plano Real.Para saldar suas dívidas,

Olacyr começou a desfazer-se de seu patrimônio milionário. Meta-de das terras que lhe renderam o título de “Rei da Soja” foram entregues ao Banco Itaú e, após dois anos, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) adquiriu 25 mil hectares da propriedade.

A Itamarati tornou-se assenta-mento e foi apontada, em 2002, como modelo para consolidação da reforma agrária, com 1.143 fa-mílias assentadas, provinientes de quatro movimentos sociais: Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalha-dores Sem Terra (MST), Associa-ção dos Moradores e Funcionários da Fazenda Itamarati (AMFFI) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI). Atualmen-te, este número supera a casa de 2.835 famílias, que ocupam cerca de 50 mil hectares da proprieda-de.

Construindo uma novaItamarati por meio da Educação

A fazenda onde o “Império da

Soja” se constituiu abriga hoje agricultores familiares benefi-ciados com a reforma agrária. É neste cenário histórico que a educação pública vem traçan-do metas, enfrentando desafios, proporcionando reflexões e aju-dando a construir a proposta de uma reforma agrária consistente.

Contando com três institui-ções da Rede Estadual de Ensino, Escola Estadual Nova Itamarati, Escola Estadual Professor José Edson Domingos dos Santos e Escola Estadual Professor Car-los Pereira da Silva, os alunos do Assentamento Itamarati buscam aprimorar seus conhecimentos por meio de projetos educa-cionais que os colocam frente a frente com a realidade local.

“Hoje, as disputas dos movimentos sociais não são tão visíveis. Várias atividades de interesse comum são desenvolvidas pelos grupos. Exemplos disso são o Movimento de Mulheres Camponesas e o Núcleo de Agroecologia, coordenados pela Irmã Olga Manosso. Já nas escolas, com a oferta da educação, os integrantes dos movimentos passaram a frequentar as reuniões escolares como pais interessados no aprendizado dos filhos”.

Rosemeire da Silva,coordenadora pedagógicada Escola Nova Itamarati.

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Escola EstadualNovaItamarati

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17Revista ATUAÇÃO | Dezembro 2012 | 16 | Revista ATUAÇÃO | Dezembro 2012

Jovens moradoresdo Assentamento Itamarati querem estudare permanecer na comunidade

Lixo vira adubo, utilizado nocultivo dehortaliças

O diretor da Escola Nova Ita-marati, José Carlos de Brito, que coordena a instituição de ensino, com 82 professores e 1.747 alu-nos distribuídos em três perío-dos, da pré-escola ao 3º ano do ensino médio, lembra que uma das maiores dificuldades encon-tradas no início foi a integração das crianças e dos jovens dos di-ferentes movimentos sociais.

“Transformar as experiências e os ideais desses alunos em uma mesma linguagem foi um desafio. Conquistamos a integração com a implantação de diversos proje-tos socioculturais”, contou José Carlos.

Segundo o diretor, além das diferenças de ideais, os movi-mentos sociais estavam separa-dos pela distância física dentro do assentamento. Sendo assim, os projetos esportivos e culturais foram fundamentais para aproxi-mar os estudantes, que aos pou-cos, passaram a compartilhar dos mesmos anseios, dificuldades e conquistas.

Desafios atuais“Hoje, as disputas dos movi-

mentos sociais não são tão visí-veis. Várias atividades de inte-resse comum são desenvolvidas pelos grupos. Exemplos disso são o Movimento de Mulheres

Camponesas e o Núcleo de Agro-ecologia, coordenados pela Irmã Olga Manosso. Já nas escolas, com a oferta da educação, os in-tegrantes dos movimentos pas-saram a frequentar as reuniões escolares como pais interessa-dos no aprendizado dos filhos”, explicou a coordenadora peda-gógica da Escola Nova Itamarati, Rosemeire da Silva, que está no assentamento desde 2006.

Para Rosemeire, o desafio atual é aumentar o quadro de trabalhadores efetivos nas esco-las rurais, para garantir atendi-mento educacional de qualida-de. Segundo ela, a maioria dos funcionários são convocados, o que gera instabilidade para as escolas.

“Além disso, os moradores do Itamarati precisam de melhorias em outros setores, como saúde e infraestrutura. A manutenção das estradas é um jogo de em-purra entre Prefeitura, Incra e Es-tado”, disse.

A educação que mantêm o homem no campo

Com o desenvolvimento des-ses projetos em favor da integra-ção dos movimentos, já é pos-sível verificar uma mudança na visão da nova geração de assen-tados, em relação aos mais anti-

gos. É comum os jovens falarem da vontade de permanecer no campo, mesmo após a conclusão do ensino superior.

É o caso do jovem Carlos Au-gusto, de 20 anos, que conside-ra fundamental a educação para melhorar a qualidade de vida de todos os moradores do Itamarati. Carlos cursa o 3º ano do ensino médio, na Escola Nova Itamara-ti, e é aluno do Curso Técnico de Operador de Máquinas Agrícolas. Sonha em ser técnico agrícola ou cursar faculdade de Geografia. Áreas que, segundo ele, poderão atender às necessidades existen-tes no assentamento.

“Falta muita coisa aqui, mas já melhoramos bastante, especial-mente no que diz respeito a bus-ca pelo conhecimento. Os cursos oferecidos e os projetos desen-volvidos na escola contribuem para o nosso aprendizado”, disse.

Carolayne Vieira, de 15 anos, também está se capacitando para permanecer nas atividades da agricultura familiar. Ela está no 1º ano do ensino médio e é moradora do Assentamento Re-novação, localizado à 30 km da Escola Nova Itamarati. Para ela, a distância percorrida diariamente compensa. “Na Escola, podemos perceber que todos temos as mesmas necessidades”, comen-

tou. Além do ensino médio, Ca-rolayne também é aluna do Curso Técnico de Operador de Máqui-nas e Implementos Agrícolas, ofe-recido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e pelo Programa Nacional de Aces-so ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

Projeto Agroflorestal recupera áreas degradadas

A Escola Estadual Carlos Pe-reira da Silva, que fica à 30 km da sede do Assentamento Itama-rati, tem uma proposta pedagó-gica voltada para impulsionar o desenvolvimento sustentável na prática da agricultura familiar.

Desde 2006, a comunidade escolar, em parceria com técni-cos da Embrapa, Curso Saberes da Terra e Comissão Pastoral e Federação da Agricultura Fami-liar de Mato Grosso do Sul, de-senvolve, em uma área de 1/4 de hectares, doados pelo Incra, o projeto Sistema Agroflorestal (SAF). Em sua primeira etapa, o SAF recuperou uma área degra-dada em função da braquiária (capim que sufoca o crescimento dos campos nativos), usando o modelo sustentável de explora-ção do solo.

O professor de Biologia, Willian Bitencourt, que acompanha o projeto desde sua implantação, contou que, com o acompanha-mento técnico da Embrapa, toda a comunidade escolar se dedicou à iniciativa de recuperar a área. “Após revirar e preparar a terra, foram cultivadas leguminosas, que contribuem na recuperação do solo. Este sistema é natural e dispensa a utilização de fertilizan-tes, agrotóxicos e, por isso, é um modelo sustentável”, explicou.

O Sistema Agroflorestal ob-teve resultados satisfatórios ao longo dos anos. Hoje, a área que estava degradada tem outra pai-sagem, existe cultivo de abaca-xi, banana, abóbora, mandioca, mudas de ipê e jurubeba. “Esse

sistema de cultivo permite uma diversificação na produção, sem comprometer o solo”, frisou o professor de História Helton Al-ves Costa.

A prática sustentável envolve todas as disciplinas escolares. “O cultivo é uma realidade no dia a dia da comunidade escolar, já que alunos e pais utilizam o sis-tema como vitrine, uma experiên-cia para ser aplicada nas lavouras das famílias assentadas”, ressal-tou o professor de Matemática Gildo de Lima.

Projeto fica entre oscinco vencedores no concursoAprender e Ensinar Tecnologias Sociais

Em 2010, o projeto Sistema Agroflorestal do Itamarati: um instrumento pedagógico para a construção de conhecimentos em agroecologia, ficou entre os cinco vencedores do país no 2º Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais promovido pela Revista Fórum e a Fundação Banco do Brasil.

Com a premiação, professores da Escola Estadual Carlos Pereira da Silva representaram a região Centro-Oeste brasileira no Fórum Mundial Social, que aconteceu em Dacar, no Senegal, em 2011. Durante o encontro internacional, a Escola recebeu um troféu de re-conhecimento e ganhou a assina-tura anual da revista Fórum.

Lixo vira adubo, utilizado no cultivo de hortaliças

A Composteira é outro proje-to de desenvolvimento sustentá-vel que é executado pela Escola Estadual José Edson Domingos dos Santos, também instalada no Assentamento Itamarati.

O projeto visa o aproveita-mento do lixo orgânico gerado pela comunidade local. O que an-tes era lixo, vira adubo e é utili-zado no cultivo de hortaliças que enriquecem a merenda escolar.

“A iniciativa permite que os

alunos cuidem melhor do meio ambiente, o adubo orgânico é uma solução viável e proporcio-na benefícios à saúde”, comen-tou uma das coordenadoras do projeto, professora Elisandra Tomasheiki.

A professora Florisa Nantes, que mora há 20 anos no Itamara-ti, lembra que a Composteira im-pulsionou outros projetos como Horta na Escola e Maracujá, que são desenvolvidos em parceria com a Embrapa. “Essas ações permitem a integração dos alu-nos e o aprendizado sobre agro-ecologia”, lembrou.

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ENTREVISTA

Maria da Glória Sá Rosa é sinônimo de cultu-ra e educação. Nasceu

em Mombaça (CE), no dia 4 de novembro de 1927. O nome foi uma homenagem à santa, Nossa Senhora da Glória, uma promes-sa feita por sua mãe na hora do parto.

Sua primeira infância, em Mom-baça, foi marcada por passeios na Praça Central, visitas à casa dos avós, banhos no rio Banabuiú e missas na matriz Nossa Senhora da Glória.

Em 1934, a família de Glorinha migrou pela primeira vez para Campo Grande. A cidade tinha ruas tranquilas, casas distantes umas das outras e muitas carroças.

A família ficou pouco tempo no então estado de Mato Gros-so e retornou à terra de origem, onde Maria da Glória foi matricu-lada no Colégio Interno Juvenal de Carvalho, em Fortaleza.

No ano de 1939, o destino de Glorinha foi novamente Campo Grande. Na futura Capital, a pe-quena cearense terminou o ensi-no ginásio e, de coração partido, mudou-se para São Paulo, onde ingressou no curso clássico.

Da capital paulista para o Rio

de Janeiro, a jovem Maria da Gló-ria graduou-se em Línguas Neo-latinas, em janeiro de 1949, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Voltou definitivamente para Campo Grande em 1950 e, um ano depois, casou-se com José Ferreira Rosa, com quem teve quatro filhos.

Marido, filhos e salas de aula, todos recebiam a dedicação e o amor de Glorinha. Por meio de projetos, incentivou a cultura e as artes nas escolas. Organizou e promoveu vários festivais de mú-sica, artes plásticas, teatro e cine-ma em Mato Grosso do Sul, reve-lou talentos como Paulo Simões, Geraldo Espíndola, Grupo Acaba, Geraldo Roca, Celito Espíndola, Almir Sater e outros.

A mulher que ajudou a consti-tuir a educação, a cultura e a his-tória sul-mato-grossenses tam-bém é responsável pelo registro de todos esses eixos. Maria da Glória é autora de diversos livros que contam os primeiros passos do Estado rumo a sua formação política, econômica, social e cul-tural.

Recebeu o Título Doutora Ho-noris Causa da Universidade Ca-

Revista Atuação – Em que momento decidiu que seria pro-fessora?

Maria da Glória – Quando co-mecei a estudar no Colégio Inter-no Juvenal de Carvalho, em For-taleza. Era um colégio salesiano. Minha professora, Irmã Alzira, me colocava para ajudar os demais alunos. Depois disso, não parei mais.

Revista Atuação – O que mu-dou no cenário educacional do

Do sertão nordestino para a formação de Mato Grosso do Sul

“Quem não leva a sério a sua profissão não tem como ser respeitado. os professores que têm disciplina, conheci-mento e ética serão respeita-dos sempre”.

“mato grosso do sul é minha pátria, meu país. Onde respi-ro livre e feliz. Aqui me casei, tive filhos e netos. Eu adoro ser cidadã campo-grandense e sul-mato-grossense. é uma dádiva ter vindo para cá”.

“A literatura não deixa nada morrer. O Pantanal, por exem-plo, está descrito nas poesias de Manoel de Barros. A vida se renova, nada morre quando há memória”.

Num tom de voz baixo e suave, transmitindo sabedoria, a professora Maria da Glória Sá Rosa, a Glorinha, narrou momentos dos seus 85 anos seguindo nos caminhos da vida e da docência

tólica Dom Bosco (UCDB), em junho deste ano. Atualmente, ocupa a cadeira nº. 19 da Acade-mia Sul-Mato-Grossense de Le-tras.

período em que começou a lecio-nar até os dias de hoje?

Maria da Glória – Olha, a edu-cação está mais independente. Na minha época, os professores e as escolas estavam sujeitos ao sistema político que regia o Esta-do. A professora Maria Constança de Barros Machado, por exemplo, foi diretoria do Colégio Estadual, que hoje recebe seu nome, nos períodos em que o doutor Fer-nando Corrêa da Costa foi eleito governador. E quando a oposição se elegia, ela era sumariamente demitida.

O cenário educacional era muito limitado. Não havia recur-sos. Tudo dependia da criativi-dade do professor, as aulas eram muito expositivas. O livro de por-tuguês só tinha texto.

As escolas não tinham confor-to, as salas dos professores eram deploráveis. Não me lembro de receber ajuda do Estado.

Hoje, nós temos material di-dático ilustrado e vários recursos tecnológicos. Se o aluno não tem gosto de estudar com os livros de hoje, é porque ele realmente não está motivado a aprender.

Revista Atuação – Como ava-lia a nossa educação? É de boa qualidade?

Maria da Glória – Quem faz o ensino é o professor. O professor tem que ser dinâmico, tem que ter paixão. Além disso, precisa considerar o aluno como sujeito da aprendizagem.

Eu sempre incentivei os alunos a estudarem e a participarem de atividades culturais, como festi-vais de músicas, teatro, ir a mu-seus, etc.

Revista Atuação – Na sua épo-ca, os professores eram mais res-peitados?

Maria da Glória – Respeito so-mos nós que impomos. Muitos professores não preparam nem aulas, chegam na sala brincando com os alunos. E os alunos sabem disso. Quem não leva a sério a sua profissão não tem como ser res-peitado. Os professores que têm disciplina, conhecimento e ética serão respeitados sempre.

Revista Atuação – Mesmo com pouco mais de 30 anos, Mato Grosso do Sul tem uma identida-de cultural?

Maria da Glória – A identidade cultural é a soma de elementos que contribuem para a formação de um perfil. Mato Grosso do Sul é um estado produto de muitas migrações, de japoneses, libane-ses, portugueses, gaúchos, pau-listas, etc. Tudo isso, formou um grande mosaico, essa substância rica que é a nossa cultura. Mato Grosso do Sul é um produto de diversas identidades, uma fisio-nomia multifacetada.

Revista Atuação – O que é li-teratura para a senhora?

Maria da Glória – É tudo! É a reinvenção do mundo, o único elemento que ajuda na sobre-vivência. A literatura não deixa nada morrer. O Pantanal, por exemplo, está descrito nas poe-sias de Manoel de Barros. A vida se renova, nada morre quando há memória.

Revista Atuação – Com o fim da ditadura, o que mudou na lite-ratura brasileira?

Maria da Glória – Bom, houve liberdade. As pessoas podiam es-crever o que quisessem sem pedir licença. O engraçado é que, quan-do acabou a censura, achava-se que as gavetas estavam cheias de ideias e pensamentos reprimidos, mas não, não aconteceu nada dis-so. Foi até uma decepção.

Revista Atuação – A senhora dedicou parte da sua vida para o avanço educacional e cultural de Mato Grosso do Sul. Como define esse sentimento por nosso Estado?

Maria da Glória – Mato Grosso do Sul é a minha pátria, meu país. Onde respiro feliz e livre. Aqui me casei, tive filhos e netos. Eu ado-ro ser cidadã campo-grandense e sul-mato-grossense. É uma dádi-va ter vindo para cá.

Revista Atuação – Qual mo-mento marcou mais em todo esse processo de formação edu-cacional do Estado?

Maria da Glória – Olha, são vários. Entre eles, a fundação da Faculdade Dom Aquino de Filoso-fia, Ciências e Letras, que depois virou Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (Fucmat) e hoje é a Universidade Católica Dom Bos-co (UCDB). Meus ex-alunos se tornaram meus melhores amigos. Também tenho carinho em lem-brar dos festivais de música, como o Festival Sul-Mato-Grossense de Música (Fessul), Projeto Prata da Casa e muitos outros momentos.

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CAPA

A ESCOLA QUE VENCE BARREIRASMesmo com vários desafios a serem enfrentados, a Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, vem avançando na Rede Pública de Ensino. Crianças e jovens que antes eram considerados incapazes, hoje, aprendem e se socializam nas salas de aula

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Quando chegou à Es-cola Municipal Nazira Anache, o pequeno

Víctor Gabriel Nunes de Je-sus era um menino agitado e agressivo. Poucos entendiam sua realidade e sabiam das di-ficuldades que tinha para se comunicar com o mundo ao seu redor. Nem mesmo Víc-tor, que nasceu surdo, sabia o que se passava com ele. Por não ser compreendido, Víctor se irritava facilmente. No am-biente familiar, também exis-tiam limitações na comunica-ção, já que ninguém conhecia a linguagem de sinais (libras), o que dificultava sua socializa-ção.

Integrar alunos como Víctor no cenário escolar é um desa-fio que aos poucos vem sendo vencido graças ao empenho e à dedicação das escolas, dos educadores e do poder público.

“Ele se recusava a apren-der os sinais, olhava os alunos conversando e tentava emi-tir sons”, contou a professora Elaine Antunes. “Não aceitava a presença da professora au-xiliar, intérprete de libras, e se-gurava as mãos dela durante a aula”.

Formada em pedagogia e libras, Elaine percebeu que o método de ensino aplicado a Víctor não estava dando cer-to. Decidiu, então, mudar a es-tratégia e passou a ensinar a linguagem de sinais para toda a turma do 1º ano do ensino fundamental. O resultado foi fantástico. Todos os alunos passaram a interagir com Víc-tor. “Quando ele percebeu que a linguagem de sinais o aproximava dos colegas, pas-sou a se interessar em apren-der”, contou a professora.

Aos poucos, o mundo silen-cioso de Víctor ganhou novo sentido. A agressividade foi sendo substituída pela docili-dade e pela vontade de apren-

der. Hoje, com sete anos, Víctor está no 2º ano do ensi-no fundamental, comunica--se com os coleguinhas e re-aliza todas as lições em sala de aula. A professora Elaine, por uma decisão da direção da escola, passou a lecionar para o 2º ano, dando conti-nuidade ao trabalho que ha-via iniciado em prol do aluno.

Além de frenquentar o ensi-no regular pela manhã, Víctor e mais 35 alunos com defici-ência, matriculados na Esco-la Nazira Anache frequentam duas vezes na semana, no con-tra-turno, a Sala de Recursos Multifuncionais (SRMs), onde professores prestam o Atendi-mento Educacional Especiali-zado (AEE), caracterizado por um conjunto de atividades e materiais pedagógicos espe-cíficos, que complementam a formação do aluno no ensino regular.

A Escola Nazira Anache também funciona como pólo do AEE, onde alunos de outras

escolas da região frequentam a SRMs. São atendidos cerca de 60 alunos na SRMs da es-cola.

CapacitaçãoA professora Elaine é uma

exceção entre os professores regentes. Sua formação em li-bras favoreceu o aprendizado de Víctor. “O professor regen-te é aquele que fica em sala de aula nos períodos regulares, é o líder da sala. Esses professo-res nem sempre têm formação para trabalhar com alunos de-ficientes, transtorno global do desenvolvido, alta habilidade ou superdotação. Mesmo com o empenho do poder público, ainda é preciso mais investi-mento na capacitação desses profissionais. Assim, os alunos com deficiência serão melhor atendidos”, explicou a diretora da escola, Fabiana Parron Ber-gamo.

A diretora reconhece que a Educação Especial na Pers-pectiva Inclusiva, embora es-

Por não ser compreendido, Víctor se irritava facilmente. No ambiente familiar, também existiam limitações na comunicação, já que ninguém conhecia a linguagem de sinais (libras), o que dificultava a interação.

teja em evidência, ainda é muito recente nas escolas pú-blicas brasileiras. “Fazemos um trabalho de formiguinha. Porém, com resultados grati-ficantes. É emocionante en-tregar um filho para uma mãe no final do ano letivo com ati-vidades que comprovam seu avanço”, disse.

Uma das propostas peda-gógicas da Escola Nazira Ana-che é a capacitação interna dos professores regentes. Por meio de reuniões pedagógi-cas, educadores do AEE e os professores do ensino regu-lar trocam experiências. “No começo sentimos resistência. Os professores do ensino re-gular tinham medo de traba-lhar com os alunos. Agora, es-ses profissionais já estão mais conscientes e seguros”, com-pletou Fabiana Parron.

A Professora Elaine Antunes ensina libras para todos os alunos do 2º ano do ensino fundamental na Escola Municipal Nazira Anache, localizada na periferia de Campo Grande. A partir dessa iniciativa, o aluno Víctor Gabriel, surdo desde o nascimento, começou a se interessar pela linguagem de sinais.

A Política Nacional de Edu-cação Especial na Perspec-tiva da Educação Inclusiva, documento elaborado pelo grupo de trabalho nomeado pela Portaria nº 555/2007, prorrogada pela Portaria nº 948/2007 e entregue ao Mi-nistério da Educação em ja-neiro de 2008, tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com defici-ência, transtornos globais do desenvolvimento e altas ha-bilidades ou superdotação, orientando os sistemas de en-sino para garantir: acesso ao ensino regular, com participa-ção, aprendizagem e continui-

dade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de Educação Especial, desde a educação infantil até a educação supe-rior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profis-sionais da educação para a in-clusão; participação da família e da comunidade; acessibili-dade arquitetônica, nos trans-portes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Fonte: MEC

Política Pública

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“É emocionante entregar um filho para uma mãe, no final do ano letivo, com atividades que comprovam seu avanço”.

Fabiana Parron Bergamo,diretora da Escola EstadualNazira Anache

Estrutura da REME em Campo Grande

Estudam nas escolas pú-blicas municipais de Campo Grande cerca de 1.700 alunos diagnosticados com algum tipo de deficiência, transtor-no global do desenvolvimen-to, alta habilidade ou super-dotação. Em 2005, eram 439 alunos e somente uma Sala de Recurso Multifuncional (SRM). Atualmente, a Rede Municipal de Ensino (REME) dispõe de 58 SRMs; seis nú-cleos específicos de apoio e acompanhamentos às esco-las: Núcleo de Apoio Peda-gógico ao Aluno com Surdez, Núcleo de Deficiência Física e Paralisia Cerebral, Núcleo de Produção Braile e Tipos Am-pliados, Núcleo Municipal de Apoio Psicopedagógico, Nú-cleo de Apoio aos Centros de Educação Infantil e Núcleo de

A Política de Educação Es-pecial na Perspectiva da Edu-cação Inclusiva (MEC, 2008) cumpre o dispositivo legal que assegura às pessoas com de-ficiência o direito de acesso a um sistema educacional inclu-sivo em todos os níveis. Esse

Educação Profissional Inclu-siva; 50 intérpretes de libras; 147 professores auxiliares; 38 assistentes de inclusão esco-lar e 92 estagiários de peda-gogia.

As SRMs são montadas com recursos do Ministério da Educação (MEC) e as pre-feituras ficam com a contra-partida do espaço físico e da mão de obra especializada.

A coordenadora da Divi-são de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Adriana Buytemdorp, garantiu que a Semed oferece constante-mente cursos para os profes-sores regentes e para os que estão nas SRMs. “Há mais de 10 anos, os cursos de licencia-tura plena oferecem na grade curricular disciplinas relacio-nadas à Educação Especial. Então, os docentes já estão

se graduando com algum co-nhecimento da área. Os pro-fessores regentes são cha-mados constantemente para capacitações relacionadas à área da Educação Especial”, explicou.

Ainda, segundo Adriana, a Semed oferece cursos para atender a realidade local e as necessidades do professor. “Não adianta eu trazer o pro-fessor aqui para oferecer uma formação única, se ele preci-sa de uma capacitação espe-cífica. Além disso, nós temos uma equipe de apoio itineran-te. Os Núcleos Municipais de Apoio Psicopedagógico (Nu-maps) estão distribuídos em seis pólos regionais e contam com vários profissionais que visitam as escolas e prestam atendimento e acompanha-mento à Educação Especial de forma sistemática”.

direito foi incorporado à Cons-tituição Federal, por meio do Decreto nº 6949/2009, que promulgou a Convenção so-bre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU/2006). Nesse sentido, o MEC imple-menta ações para a oferta do atendimento educacional es-pecializado complementar ao ensino regular na rede pública,

Decreto nº 6949/2009 Educação Inclusiva

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PesquisaA coordenadora do projeto

de pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS): O Atendimento Edu-cacional Especializado no Esta-do de Mato Grosso do Sul: Li-mites e Possibilidades, doutora Alexandra Ayach Anache, veri-ficou que Campo Grande tem nos dias atuais uma situação diferenciada em relação a ou-tros municípios do Estado e do país, em virtude do alto número de professores especializados na área, com pós-graduação, acesso à capacitação e incenti-vos do poder público à forma-ção continuada. “No interior do Estado, é diferente, o professor tem mais dificuldade de acesso à formação. Há necessidade de maior investimento e incenti-vo”, comentou.

O projeto de pesquisa coor-denado por Alexandra analisa o Atendimento Educacional Especializado oferecido nas Salas de Recursos Multifuncio-nais (SRMs) de Campo Gran-de. A pesquisa acontece em parceria com mais 22 universi-dades brasileiras e, está ligada ao Observatório Nacional de

Educação Especial. Também é coordenada pela Universi-dade Federal de São Carlos (UFSCAR). No Estado, além de Campo Grande, existem ex-tensões do projeto em Doura-dos, Paranaíba e Maracaju, por meio da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). O proje-to deve ser concluído em 2014.

Para a doutora, o grande debate da Educação Especial é com relação à existência de uma política pública única. “Não dá para ter uma política unificada, pois as necessidades educacionais dos alunos são diversas. Por exemplo, alunos surdos que estão matriculados e frequentando os anos inciais do ensino fundamental têm ne-cessidades específicas diferen-tes dos alunos que estão nos anos finais desta fase de esco-laridade. Dentre as necessida-des educacionais, destacam-se aquelas relacionadas ao domí-nio de conteúdos e metodolo-gias das diversas disciplinas. Do mesmo modo, isso se aplicaria à outras deficiências”, ressaltou.

concretizando o compromisso assumido pelo Brasil de adotar medidas de apoio necessárias para a garantia da igualdade de condições de acesso e per-manência na escola.(Fonte: http://www.schwartzman.org.

br –Texto de Maria do Pilar Lacerda,

ex-Secretária de Educação Básica do

Ministério da Educação, publicado em

agosto de 2009)

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“Conforme registros da SEMED, 103 alunos com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento concluíram o ensino fundamental entre os anos de 2010 e 2011”.

“Antes, os próprios pais não acreditavam na capacidade dos filhos e achavam que eles não podiam aprender. A Escola está sendo fundamental para mudar essa visão”.

Regina Valiente de Paula,professora da Sala de Recursos.

“Não dá para ter uma política unificada, pois as necessidades

educacionais dos alunos são diversas. Por exemplo, alunos surdos que estão matriculados e frequentando os anos

inciais do ensino fundamental têm necessidades específicas diferentes dos alunos que estão nos anos finais

desta fase de escolaridade”.

Alexandra Ayach Anache,pesquisadora, doutora da UFMS.

Ana Patrícia Cabrocha da Silva é deficiente auditiva e retratou a história de Campo Grande em embalagens de pizza.

Talento ocultoEnquanto poder público e

pesquisadores debatem meios para avançar com a Educação Especial Inclusiva no país, o trabalho nas escolas continua. A dedicação e o empenho dos professores das SRMs, salas regulares e de toda a comu-nidade escolar, aliados à von-tade de vencer dos alunos são contagiantes e emocionam.

Somente aos 23 anos, Ana Patrícia Cabrocha da Silva co-meçou a ter contato com a li-bras. A jovem nasceu no mu-nicípio de Nioaque (MS) e não teve acesso à linguagem de si-nais. Passou parte de sua vida escolar como copista.

Ana Patrícia é uma pinto-ra nata. Suas telas, feitas em embalagens de pizza, ganham admiradores. “Ela não tem no-ção do valor do seu talento, nem, muito menos, sua família. Outro dia mostrei as pinturas de Patrícia para sua mãe. Sabe o que ela me disse: Ah, são bonitos os desenhos profes-sora. Patrícia é uma artista e não tem conhecimento disso”, contou a professora de libras, Rosimeire Queiroz da Silva.

Se Patrícia não tem noção do seu talento, o aluno Cláu-dio César Benites tão pouco imagina que é um exemplo de vida. Cláudio tem 16 anos, está no 6º ano, é cadeirante e tem paralisia cerebral. Mas nem isso e nem a cadeira de rodas impedem Cláudio de estudar, jogar pingue-pongue, ser feliz e aceito por todos.

“No pátio da escola, a rela-ção entre os alunos é normal. Não existe diferença. Não exis-te melindre, ninguém é coita-dinho. Todos têm esse olhar da inclusão, desde o guarda que faz a nossa segurança até às zeladoras”, afirmou a dire-tora Fabiana Parron.

Participação dos paisO trabalho nas SRMs se di-

vide em três momentos: aten-dimento aos alunos, aos pro-fessores regentes e aos pais. Ao longo dos anos, a Educa-ção Especial vem ganhando credibilidade junto às famílias. “Antes, os próprios pais não acreditavam na capacidade dos filhos e achavam que eles não podiam aprender. A Es-cola está sendo fundamental para mudar essa visão”, ana-lisou a professora, Regina Va-liente de Paula.

“Por outro lado, existem pais que chegam aqui com laudos médicos, e acham que seus filhos estão doentes e,

em algum momento vão sarar. Os filhos não estão doentes, têm apenas algum tipo de de-ficiência, que pode atrasar a aprendizagem, mas eles vão aprender”, explicou Regina.

De acordo com Regina, si-tuações como essas geram um sentimento de incapacida-de nos alunos. “É difícil resga-tar essa autoestima. Quando conseguimos isso, eles desa-brocham, é uma conquista”.

Conforme registros da Se-cretaria Municipal de Educa-ção, 103 alunos com deficiên-cia ou transtornos globais do desenvolvimento concluíram o ensino fundamental entre os anos de 2010 e 2011.

Cláudio César Benites supera a cada dia as limitações da paralisia cerebral. A convivência com outros colegas foi fundamental para seu desenvolvimento.

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CRéDITOS

Para os servidores públicos estaduais interessados em fazer empréstimos

no final de 2012 ou início 2013, o Banco do Brasil oferece o Crédi-to Direto ao Consumidor (CDC) Consignado, com taxa de juros a partir de 1,45% ao mês e prazo de até 96 meses. Segundo o superin-tendente da instituição financeira em Mato Grosso do Sul, Marco Túlio Moraes da Cunha, a taxa é uma das menores oferecidas hoje no mercado. “Além do CDC, o Banco do Brasil oferece linhas de crédito imobiliário. No mês de dezembro, estamos lançando em Dourados e Campo Grande um

total de 1,6 mil unidades habita-cionais, que poderão ser financia-das por meio do programa Minha Casa, Minha Vida”, disse.

Outra linha de crédito inte-ressante é o CDC veículo, que pode ser contratado em até 60 meses, com taxa de juros a partir de 0,77% ao mês. O CDC veículo é válido para carros novos e usa-dos, com até 10 anos de uso.

“O servidor que possuir dívi-das em outros bancos, com juros e prazos maiores, pode procurar o Banco do Brasil para trocar essa dívida, ou seja, fazer um emprés-timo com juros e prazos menores e quitar a dívida que esteja com-prometendo parte de seu salário”, explicou o superintendente.

Ainda, segundo o Marco Túlio, o Banco do Brasil é a primeira ins-tituição a reduzir as taxas de juros do cheque especial e do cartão de crédito para 2,8% ao mês.

Com juros baixos, Banco do Brasil oferece linha de crédito para servidores públicosA Língua Brasileira de Sinais

é o meio mais importante para a inclusão social das pessoas com surdez, principalmente, para ga-rantir o direito à educação a to-dos, tendo em vista as preocu-pações em atender a Declaração de Salamanca (1994), quando fi-cou firmado entre os países par-ticipantes, a defesa da inclusão como meta principal, e não dei-xando aluno fora do ensino regu-lar, desde o início da escolariza-ção, propondo que a escola é que deve adaptar-se ao aluno.

A partir dessa declaração, as autoridades brasileiras passaram a dar mais atenção a este setor da sociedade, reconhecendo os esforços de alguns setores da sociedade civil organizada, que há tempo já vinham trabalhando nessa área e, por meio da Lei Fe-deral nº 10.098/2000, Art. 18, a qual diz que o Poder Público im-plementará a formação de profis-sionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta com a pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. Por-tanto, regulamenta e determina a obrigatoriedade do uso da libras nas unidades de ensino, serviços públicos e empresas concessio-nárias de serviços públicos.

Ao tomar conhecimento des-sa modalidade de comunicação, no curso de pedagogia, procurei

me aprofundar, incentivada por educadores, que me mostraram entusiasticamente um mundo si-lencioso em completa interação social e comunicativa, usando as mãos e a expressão corporal, em que a felicidade de ser compre-endido, em seus anseios, desejos, suas angústias e alegrias trans-forma um encontro de surdos e intérpretes em uma verdadeira e autêntica confraternização e ce-lebração à vida social.

Completamente motivada e determinada, comecei a fazer o primeiro curso de libras e já con-segui participar de vários que são oferecidos à comunidade e aos educadores.

Para um conhecimento e do-mínio da língua de sinais se faz necessário muita prática e convi-vência com os surdos. Por esses motivos, tenho participado de vários encontros, seminários e simpósios.

Como ilustração desta minha vivencia e conhecimento vou nar-rar uma experiência que me mar-cou muito. Estava no aeroporto, quando percebi que um rapaz ti-nha dificuldades de se comunicar com a atendente da empresa aé-rea. Aproximei-me e percebi que era surdo. Apresentei-me e esta-belecemos uma comunicação em libras. O rapaz não se conteve, sorriu escancaradamente e, em alguns minutos, tudo estava re-solvido no balcão.

Realmente, faz-se necessária uma divulgação das oportunida-des nessa área, principalmente aos educadores, pois, se quiser-mos ver a inclusão social e edu-cacional acontecer devemos participar dos cursos, que na maioria das vezes são gratuitos, em alguns dias da semana e ho-rários diversos.

Os cursos de libras são ofere-

cidos pelo poder público, e mais informações podem ser obtidas nas secretarias de educação, igrejas e ONGs.

Só em Campo Grande, são mais de 7.000 surdos. Se fizer-mos um levantamento nas esco-las públicas e privadas veremos que a presença dos deficientes é ínfima, causada pela falta de in-formação e pela dificuldade dos familiares em saber tratar o as-sunto, ou por vergonha, desinfor-mação, tempo e falta de recurso.

Defino libras como um mundo maravilhoso da comunicação so-cial, feita com as mãos e com a expressão corporal.

ARTIgO

Marlene Santos GueirosPedagoga

Libras - Um dos meiosimportantes para inclusão social

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RETROSPECTIVA

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Pautado pelos motes: protesto, reivindica-ção, luta e persistência,

o ano de 2012 entrou para a história da Federação do Tra-balhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS). Foi um exemplo para outras entidades representativas do país — de que é possível garan-tir direitos e efetivar conquis-tas com a união de esforços e determinação.

Ganhou destaque a última vitória da categoria, a retoma-da de negociações com o go-vernador André Puccinelli, que resultou na reformulação da Lei Complementar 0087/2000. A legislação unifica a carreira dos administrativos e professores, acrescentando oito mil profis-sionais ao Estatuto da Educa-ção Básica, acelera a promo-ção funcional e regulamenta a implantação de 1/3 da hora--atividade. A unificação da car-reira é uma reivindicação que vem sendo debatida há mais de 20 anos.

O Governo do Estado só aceitou negociar com os tra-balhadores quando soube do protesto nacional, organizado pela FETEMS, que acontece-ria no dia 18 de outubro, em Campo Grande. O Ato Público repudiaria a Ação Direta de In-constitucionalidade (ADIN) nº 4848, impetrada no Supremo Tribunal Federal (STF), pelos governadores de Mato Gros-so do Sul, Rio Grande do Sul,

RETR

OSPE

CTIVA

Santa Catarina, Goiás, Piauí e Roraima, com o propósito de tumultuarem o processo de im-plementação integral do Piso Salarial Profissional no país.

Com o alerta do possível acordo, com o governador An-dré Puccinelli, em assembleia geral, trabalhadores e delega-dos sindicais dos 71 Sindicatos Municipais dos Trabalhadores em Educação (SIMTEDs) deci-diram suspender o Ato Público e retomaram as negociações com o governador, que assi-nou um documento conten-do todos os pontos debatidos com a categoria.

A implantação de um 1/3 da hora-atividade passa a va-ler a partir de 2014 e, com isso, será preciso a contratação de até 1.500 professores. Outros pontos que passam a valer são a progressão funcional para os administrativos da educação, que já foi publicada em Diário Oficial, e a promoção funcional do magistério, que irá acarre-tar na ampliação do número de vagas promocionais. A promo-ção vai passar a valer em 2013 e significa variação de 5% a 6% de incentivo financeiro para cada classe.

Além disso, a FETEMS con-seguiu que o governo reali-zasse o concurso de remoção, que acontece agora no final de 2012, e os concursos públicos para o magistério e para os ad-ministrativos da Educação, no primeiro semestre de 2013.

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Paralisação Nacional Seguindo a paralisação

nacional organizada pela CNTE, no mês de março, a FETEMS mobilizou mais de 15 mil trabalhadores em educação de todo o Estado, que reivindicaram melho-res condições nas escolas públicas, valorização pro-fissional, cumprimento inte-gral da Lei do Piso, 10% do PIB para a educação e Pla-no de Cargos e Carreira. O ato aconteceu entre os dias 14, 15 e 16 de março e foi a maior paralisação da histó-ria da educação pública sul--mato-grossense.

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Acordo da Vitória

Após 20 anos reivindi-cando, trabalhadores em educação de Mato Gros-so do Sul conquistaram a unificação da carreira. No dia 16 de outubro, o gover-nador André Puccinelli fir-mou compromissos com a categoria.

Manifestantes naEsplanada

A VI Marcha Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública: Inde-pendência é educação de qualidade e trabalho de-cente reuniu mais de 10 mil manifestantes na Esplanda dos Ministérios, em Brasí-lia, no dia 5 de setembro.

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Sono do Protesto

Nos dias 9, 10, 14 e 15 de maio, os administrativos da educação estiveram mobi-lizados contra o reajuste salarial de 6% proposto pelo governo estadual. Em sinal de protesto, os traba-lhadores passaram a noite do dia 14 para o dia 15 de maio acampados no plená-rio da Assembleia Legisla-tiva de Mato Grosso do Sul.

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CONSCIÊNCIANEgRA

O dia 20 de novembro, Dia da Consciência Ne-gra, é uma data em que

a população negra brasileira e os movimentos sociais enaltecem os guerreiros que colocaram suas vidas à prova pelo fim da escra-vidão e lutaram pelo sonho de li-berdade.

Guerreiros que viraram márti-res, como é o caso do líder negro Zumbi dos Palmares, que foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colônia. Lutou pela liberdade, religião e pela prá-tica da cultura africana.

Aos 25 anos, Zumbi tornou-se líder do Quilombo dos Palmares, comunidade que estava localiza-da na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do mu-nicípio de União dos Palmares, no estado de Alagoas. Durante sua liderança, o Quilombo dos Palma-res chegou a ter 30 mil habitan-tes.

Em 1964, o bandeirante Do-mingos Jorge Velho organizou um ataque ao Quilombo dos Pal-mares e dizimou quase toda sua população. O líder Zumbi ficou ferido, mas conseguiu fugir. Con-tudo, foi traído por um antigo companheiro e entregue às tro-pas bandeirantes. Aos 40 anos de idade, Zumbi foi degolado, em 20 de novembro de 1695.

Se o líder estivesse vivo hoje, certamente travaria uma batalha, não mais pela liberdade e, sim,

contra o preconceito e a desi-gualdade, que continuam a ferir a integridade dos negros como as chibatadas do período escravo-crata.

RealidadeA Secretaria de Assuntos Es-

tratégicos (SAE) do governo federal, em parceria com a Fa-culdade Zumbi dos Palmares, a Secretaria de Políticas de Pro-moção da Igualdade Racial e a Fundação Getúlio Vargas estão produzindo o primeiro banco de dados nacional sobre a popula-ção negra no Brasil.

No dia 21 de março de 2012, foi lançado em São Paulo, o “Observatório da População Negra”, onde está o banco de dados com informações sobre o mercado de trabalho para a população negra, distribuição de renda, demografia, acesso à informação, habitação, estru-tura familiar e educação, entre outras.

Os negros representam 51% da população brasileira. Porém, as informações coletadas pelo banco de dados demonstram que, apesar dos avanços, ainda existe uma grande desigualdade no país. Exemplo disso é que os negros representam apenas 20% dos brasileiros que ganham mais de 10 salários mínimos. A popu-lação negra também representa apenas 20% dos brasileiros que chegam a fazer pós-graduação no país.

A pesquisa ainda mostra que 13% dos negros, com idades a partir de 15 anos, ainda são anal-fabetos. Somando todas as ra-ças, o total de pessoas que não sabem ler nem escrever no país chega a 10% da população. O maior percentual de analfabetis-mo entre a população negra está registrado no Nordeste, 21%. De-pois, vêm o Norte e o Sul, abaixo da média, cada um com 10%, se-guidos da região Centro-Oeste, 9%, e do Sudeste, com 8%.

ViolênciaOutros dados apresentados

pelo secretário-executivo da Se-cretaria Especial de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (Seppir), Mário Theodoro, duran-te audiência pública, no dia 20 de novembro, no Senado Federal, em Brasília, revelam que metade das vítimas de homicídios no Brasil tem entre 15 e 29 anos, e sete de cada 10 jovens assassinados são negros, sendo mais de 90% do sexo masculino. Os dados revelam o grau de desproteção da juventu-de negra, uma “tragédia nacional”, na avaliação de especialistas.

A morte de tantos jovens re-vela a inexistência de políticas para formação, profissionaliza-ção e inclusão social, na avalia-ção do professor Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasí-lia. “O país avançou no combate à mortalidade infantil, mas todo o investimento que foi feito para garantir a vida no nascedouro se perde no momento em que o jovem começaria a se tornar um cidadão produtor de riqueza e capaz de contribuir com a socie-dade”, disse.

Alguns avançosEmbora ainda faltem políticas

públicas que garantam direitos, proteção e inclusão à população negra, existem alguns avanços de iniciativa do poder público que, em um futuro próximo, de-vem contribuir para mudar esta-tísticas como as mencionadas.

Um exemplo, são os dados do Exame Nacional do Ensino Mé-dio (Enem) de 2012. Dos mais de 5,7 milhões de participantes, 2,4 milhões se declararam pardos; 694 mil, pretos e 35 mil, indíge-nas. Os números fazem parte do balanço divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-sas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC), responsável pelo exame.

A distribuição por raças é

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Ilustração: Ana Patrícia Cabrocha da Silva, deficiente auditiva e aluna da Escola Municipal Nazira

Anache.

Pesquisademonstra que13% dos negros brasileiros comidade a partir de15 anos aindasão analfabetos

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um dos recortes previstos na Lei de Cotas, publicada no dia 15 de outubro deste ano. Os novos critérios terão de ser incluídos nas regras de seleção para uni-versidades públicas por meio do Enem.

A nova lei obriga instituições federais de ensino superior a destinar progressivamente uma parte das vagas para estudantes que frequentaram todo o ensino médio em escolas públicas. O ob-jetivo do governo é atingir o ín-dice de 50% das vagas em qua-tro anos. Um dos fatores a serem considerados é a raça declarada pelo candidato.

(Com informações das Agências Senado, Brasil e SAE)

De autoria do ex-deputado BenHur Ferreira, de Mato Gros-so do Sul, a Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira em todas as escolas brasileiras, públicas e particulares do ensino fundamental até o ensino médio. Além disso, essa lei inclui o Dia da Consciência Negra no calendário escolar.

Lei nº 10.639/03

Dicas para uma boa leitura

Educar para a diversidade e estimular o diálogo talvez sejam os maiores desafios de um professor em sala de aula. É sobre esta questão, que Educar para a Diversidade: entrelaçando redes, saberes e identi-dades, de Cláudia Regina de Paula, faz uma reflexão. A obra ressalta de maneira inteligente, que a solução para a intolerância à diferença presente em nossas escolas e, também, na sociedade deve ser encarada dentro e fora das salas de aula, principalmente, com decisões políticas educacionais eficientes. Para ampliar a visão dos docentes sobre o tema da diversidade, a autora aborda conceitos importantes da área, como desigualdade social, cultural, diferenças de gênero e cor. Assim, propõe discussões e ideias com o objetivo de enriquecer e familiarizar o leitor com o tema.

Educar para aDiversidade:entrelaçando redes,sabores e identidadesCláudia Regina de PaulaPáginas 138Editora IBPEX

Fonte: www.livrariascuritiba.com.br

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O Brasil foi a última nação da América a abolir a escravidão. Entre 1550 e 1850, data oficial do fim do tráfico de negros, cerca de 3,6 milhões de africanos che-garam ao Brasil. A força do tra-balho desses homens e dessas mulheres produziu a riqueza do país durante 300 anos.

No regime da escravidão, os negros não tinham direito à edu-cação. Foram alforriados e colo-cados para a vida em sociedade sem formação alguma e sem re-cursos financeiros ou indeniza-tórios para sobrevivência. Nada tinham além do conhecimen-to do trabalho braçal e da sua cultura. Assim, formaram-se as comunidades quilombolas e as comunidades paupérrimas, que viviam à margem da sociedade. Daí, resulta a grande diferença sócioeconômica entre os negros e brancos.

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Do-micílios de 2009, na Educação Brasileira, a desigualdade pode ser vista por números: de 530 mil crianças e adolescentes, de 7 a 14 anos, fora da escola, 330 mil são negras e 190 mil são brancas. O ponto mais agravante nas es-tatísticas é o racismo, que está presente nas relações entre alu-nos, professores, gestores, fun-cionários e nas propostas políti-co-pedagógicas.

Em muitas escolas, não se consideram as diferenças cul-turais e sociais entre os alunos.

Portanto, excluem das práticas diárias debates de temas como o racismo, pois trazem descon-forto para muitos educadores. A Lei 10.639/03, que obriga o en-sino da História e Cultura Afro--Brasileira na Educação do En-sino Fundamental e Médio nos currículos das escolas do país ainda não foi implementada e seria uma importante ferramenta para fomentar o assunto dentro das unidades escolares.

No Brasil, o racismo é de algu-ma forma camuflado, principal-mente, no interior das escolas, com falas que apresentam uma pseudo-democracia racial e cul-tural. São assuntos que devem ser colocados às claras e debati-dos pela comunidade escolar, no intuito de encontrar caminhos e soluções para o enfrentamento real do racismo existente.

A educação para a igualdade e respeito às diferenças étnico-ra-ciais deve ter início na Educação Infantil, nos primeiros contatos com as diferenças de fenótipos. Desde cedo, temos que romper nas crianças possíveis precon-ceitos concebidos em seu meio de convivência. Todo educador deve trazer consigo, como ta-refa, o combate e a luta contra o racismo, independente da sua etnia racial, religião ou posição política.

Ao combatermos o racismo e o preconceito conseguiremos tornar a educação brasileira igualitária e para todos, dando as mesmas chances de apren-dizado para todos os alunos, sem considerar a descendência dos mesmos. Quem sabe assim, construiremos um futuro sem desigualdades, em que não haja necessidades de cotas para cor-rigir ou reparar erros do passado e do presente.

ARTIgO

Deumeires Batista deSouza Rodrigues de MoraisSecretária Geral da FETEMS

A importância da escola e do educador na desconstrução do racismo

“Todo educador deve trazer consigo, como tarefa, o combate e a luta contra o racismo, independente da suaetnia, religião ouposição política”.

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Vânia Lúcia Baptista Du-arte nasceu na Comu-nidade Remanescente

de Quilombo Eva Maria de Jesus, em Campo Grande, lugar onde o destino escolheu para que escre-vesse a sua história. Vânia Lúcia tem 36 anos e é professora de História na Escola Estadual An-tônio Delfino Pereira, também localizada na comunidade, que fica na Vila São Benedito.

Na infância, Vânia Lúcia estu-dou no Instituto Imaculada Con-ceição, um colégio de freiras, também nas proximidades. Es-tudavam na escola seus irmãos, primos e as demais crianças da comunidade. “Nunca vivencia-mos nenhum tipo de preconcei-to, éramos todos iguais”.

Quando entrou na universida-de, a jovem percebeu a diferen-ça por ser negra. Além de Vânia, duas outras acadêmicas também eram negras. “Sou negra, sou fi-lha de negros e nasci no quilom-bo. Eu tinha isso bem resolvido comigo e tinha esse debate já formado. Tive que me impor e provar que não estava ali a pas-seio e, sim, porque tinha compe-tência”.

Na opinião da professora, a sociedade é preconceituosa. E o mercado de trabalho é onde o preconceito está mais evidencia-do. Vânia Lúcia já deixou de ser contratada por ser negra, foi ig-norada por vendedoras em uma loja de roupas e vivenciou outras situações em que foi discrimina-da.

Então, como acabar com isso? Eu vejo que a escola é o caminho para mudarmos essa situação. É preciso trabalhar que o negro é bonito e pode ocupar qualquer espaço que ele queira na socie-dade. A educação é o meio para mudar esse conceito. Como disse Nelson Mandela, ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ain-da por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se

PERSONALIDADE

Depoimentode Vânia Lúcia“Sou negra, sou filha de negros e nasci no quilombo”.

podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.

ReferênciaNa comunidade Tia Eva, pou-

cas pessoas têm curso superior. Vânia Lúcia é uma referência e sua história serve de estímulo para as futuras gerações. “Aqui, as mulheres são domésticas, e os homens, pedreiros. As meninas são levadas para as atividades do-mésticas pelas mães. Consequen-temente, qual será o futuro delas? Empregada doméstica! Falta um espelho, um referencial. Somos educados para irmos até determi-nado ponto e não avançar mais. Eu convivi com pessoas que me motivaram e mostraram que eu podia chegar onde quisesse”.

Cotas universitárias “Eu defendo as cotas nas uni-

versidades. O número de negros cursando ensino superior não passa de 3%. A nota de corte é a mesma para todo mundo. Uma pesquisa da professora Maria José Cordeiro, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) demonstra que os alunos cotistas têm um maior índice de desempenho ao longo do curso”.

Enquanto o preconceito per-siste na sociedade, Vânia é um exemplo na sua comunidade e vem mostrando aos seus alunos e para aqueles que estão ao seu redor que a educação é a arma mais poderosa para combater qualquer tipo de preconceito e pode transformar a sociedade.

História Vânia Lúcia é descendente

da escrava alforriada Eva Maria de Jesus, que chegou a Campo Grande em 1905. Tia Eva, como era conhecida, trabalhou como lavadeira, parteira, cozinheira, curandeira, benzedeira e profes-sora – este último ofício fez dela uma referência de respeito e su-peração.

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43Revista ATUAÇÃO | Dezembro 2012 |

ARTIgO

ACOMPANHE

A FETEMS NAS

MÍDIAS SOCIAIS facebook/fetems twitter/fetems youtube/fetems

A gestão democrática é um dos indicadores fundamentais para a qualidade social da edu-cação básica pública e precisa urgentemente ser colocada em prática nas redes de ensino.

As escolas devem ter uma gestão compartilhada com to-dos os segmentos que compõem a comunidade escolar. Com um conselho escolar deliberativo, que seja responsável pela coor-denação da elaboração do proje-to político-pedagógico da escola, que faça o diagnóstico e aponte as ações administrativas e peda-gógicas que devem ser desenvol-vidas para melhorar o ambiente escolar e garantir a qualidade so-cial da educação, além de definir o que fazer com recursos finan-ceiros recebidos, acompanhar sua aplicação e prestar contas dos recursos na assembleia geral da escola.

É preciso envolver toda a co-munidade escolar na gestão ad-ministrativa, financeira e peda-gógica. Este é um dos caminhos necessários para, por exemplo, reduzir a violência na escola. A ausência de política consistente de criação e fortalecimento do conselho escolar, com cada seg-mento da comunidade escolar elegendo seus representantes, definindo a presidência do con-selho e participando de reuniões periódicas para tratar dos proble-mas e desafios enfrentados pela escola.

A deliberação congressual da CNTE (janeiro/2011) indica a efetiva participação de todos os trabalhadores em educação na gestão da unidade escolar e nos

conselhos de educação, objeti-vando consolidar a gestão demo-crática das redes e dos sistemas de ensino como instrumento ca-talisador do enfrentamento dos desafios educacionais. Organi-zando-se nos locais de trabalho, através da comissão sindical de base; contribuindo com organi-zação da comunidade escolar, estimulando a criação e o fortale-cimento dos grêmios estudantis, das associações de pais e mães e dos conselhos escolares; parti-cipando dos diversos conselhos na educação; atuando de forma efetiva, a fim de envolver a co-munidade escolar na construção do projeto político-pedagógico. Estas ações, além de consolidar a gestão democrática, contribuem para a vivência da prática cida-dã no espaço escolar, que, certa-mente, será utilizada em outros espaços da sociedade.

O Projeto Político-Pedagógico da escola é o instrumento fun-damental na gestão escolar. Ser elaborado com a efetiva partici-pação dos docentes é insuficien-te para atender às demandas do conjunto da comunidade escolar. Neste sentido, precisamos avan-çar para incluir os funcionários da educação, os técnicos e espe-cialistas que atuam na escola, os estudantes, seus pais ou respon-sáveis, a representação da comu-nidade local no Conselho Escolar, como atores e atrizes desta cons-trução.

A organização por segmen-tos que compõem a comunida-de escolar, a construção coletiva do projeto político-pedagógico, a aplicação das ações definidas,

o acompanhamento sistemático pelo do Conselho Escolar, a ava-liação periódica do processo pela assembleia escolar, caracterizam a gestão democrática da escola que defendemos. Estamos traba-lhando para que assim seja.

Sigamos firmes na luta por uma educação escolar básica pú-blica, com qualidade social, que exige a valorização de seus pro-fissionais e o respeito aos estu-dantes e seus familiares.

Heleno AraújoProfessor da Educação BásicaPresidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco e Secretário de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)Membro do Fórum Nacional de Educaçã[email protected]

Gestão escolar com aparticipação da comunidade

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