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AH F 05 t . Vol. 3 Tomo 11 Dezembro, 1957 REVISTA BRASILEIRA DE FILOLOGIA ANTONIO HOUAISS Recensões Críticas LIVRARIA RIO DE JANEIRO

REVISTA BRASILEIRA · 2016. 9. 27. · MARTINS, Wilson. A palavra escrita. ... O capítulo n - as bibliotecas na Antiguidade e na Idade Média - considera essas unidades de depósito,

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AH F 05

t .

Vol. 3 Tomo 11 Dezembro, 1957

REVISTA BRASILEIRA DE

FILOLOGIA

ANTONIO HOUAISS

Recensões Críticas

LIVRARIA ACAD~MICA

RIO DE JANEIRO

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REVISTA BRASILEIRA DE FILOLOGIA

Diretor: Dr. SERAFIM DA SILVA NETO

Prof. Catedrático de Filologia Românica da Universidade do Brasil e da Pontüícia Universidade Católica

A revista é publicada em dois tomos anuais, que formarão um volume com cêrca de 300 páginas.

Preço de cada tomo:

Brasil .............................. .

Portugal, Espanha e Américas ....... .

Outros países ....................... .

Cr$ 100,00

Cr$ 110,00

Cr$ 120,00

Tôda a correspondência relativa à Redação

deve ser dirigida ao diretor da Revista:

Rua Miguel Couto, 49 - Rio de Janeiro

LIVRARIA ACADtMICA 49, Rua Miguel Couto, 49,

RIO DE JANEIRO

Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos - CEBELA MEMORIAL ANTÓNIO HOUAISS - Bibl ioteca Reg: t5 '&O$] em: J.).fJ./s:fl/~ Acervo: Coleção Antônio Houaiss MFN: 3l.J 9 'R

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• • •

Um rico, extenso e preciso Vocabulário das palavras que ocorrem no texto do Vtdal Mayor ocupa o terceiro volume. Cumpre ressaltar que o Prof. Tilander não se contentou de registrar apen.as as pala­vras raras ou arcaicas que se lhe depararam no manuscrito, como fazem quase sempre os editores de textos antigos. O seu Vocabulário consigna tôdas as palavras do Vidal Mayor. Naturalmente, para os vocábulos que ofereciam pouco interêsse filológico, êle indicou apenas alguns exemplos de sua ocorrência no manuscrito.

Apraz-nos reproduzir aqui, reportando-nos uma vez mais ao plano da edição, as observações do ilustre romancista a propósito do seu Vocabulário : - "El Vocabulario abarca todas las palabras del texto en sus varias significaciones. De palabras raras, descono­cidas y arcaicas, de términos jurídicos y de palabras que revisten forma dialectal cito todos los ejemplos que se encuentran en el texto. Para que los historiadores del derecho puedan hallar fácil­mente todos los pasajes donde se encuentra una palabra doy todas Ias referencias en otros numerosísimos casos que presumo de especial interés para ellos. Sólo de palabras usadísimas, que no pertenecen a las categorías mencionadas, me contento con citar ejemplos esco­gidos (a las referencias sigue entonces etc.). Todas las palabras y expresiones se traducen al castellano salvo las que tienen la misma significación y forma en la lengua moderna. Indico el género de los substantivos sólo cuando no sigue Ias regias o presenta un interés especial. Como se han conservado algunas pequenas partes dei original latino In excelsis Dei thesauris, cito entre paréntesis la CõiTespondencia latina de algunas palabras o frases de los mismos pasajes de Vidal Mayor".

• • •

Segue-se ao Vocabulário uma Tabla de nombres propios, uma relação de provérbios e, finalmente, uma Bibliografia selecionada das obras consultadas pelo Autor para o preparo da sua edição crítica. No fim da bibliografia, o Prof Tilander sugere que se consultem, também, as bibliografias incluídas em duas outras edições críticas de sua autoria: a dos Fueros de Aragón e a dos Fueros de la No­venera.

• * •

Ao concluirmos esta pequena nota sôbre a edição crítica do Vidal Mayor, queremos consignar aqui a grande satisfação que a sua leitura nos proporcionou.

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Se não aludimos, nem sequer de passagem, aos comentários do Prof. Tllander acêrca dos problemas de caráter filológico que se lhe apresentaram no decorrer da obra, nem às soluções por êle pro­postas, é porque nos faltava competência. Cabe aos bispanlstas e aos especialistas no dialeto aragonês expenderem a sua opinião a respeito.

Ativemo-nos, apenas, ao exame das principais características da edição crítica publicada pelo ilustre filólogo sueco, características essas que, em nosso entendimento, devem ser imitadas por todos aquêles que tencionem preparar edições críticas de textos antigos.

Rio de Janeiro, agôsto de 1957.

A. G. CUNHA

MARTINS, Wilson. A palavra escrita. São Paulo. Editôra Anhembi Li­mitada. 1957. 549 pp.

Como é subtitulado, trata-se - ver fôlha de rosto - de uma "história do livro, da imprensa e da biblioteca, com um capítulo referente à propriedade literária e, em apêndice, as Convenções de Berna, de Washington e Universal, sôbre os direitos autorais". Está subdividido em duas partes, a primeira, "o livro manuscrito", a segunda, "o livro impresso"; a primeira conta com cinco capítulos e a segunda, nove, ao todo, catorze, e, a seguir, o apêndice, relação das obras consulta~as, índice das ilustrações (em número de 73), índice de assuntos e índice de nomes.

O Sr. Wilson Martins é já senhor de uma extensa produção escrita, voltada preferentemente para a história e a crítica literárias, mas com suas vistas também para o direito e, de um modo geral, para a cultura em suas diversas manifestações.

Escusa ressaltar a oportunidade do livro entre nós, pois a biblio­grafia a respeito em língua portuguêsa, embora já apresente etsudos particulares sôbre a história da imprensa, sôbre certos aspectos técnicos e bibliológicos, sôbre problemas biblioteconômicos e "biblio­sóficos" em geral, ainda não dispunha de uma síntese compreensiva das principais questões relacionadas com a história do livro - êsse importante veículo e instrumento do progresso material, moral e cultural dos homens.

A analogia do que fazem os lingüistas para enfrentar a siste­mática histórica das línguas, dividindo-a em externa e interna, é possível aplicar o critério para o tratamento do livro, como objeto do conhecimento. O Sr. Wilson Martins tratou de quase todos os

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aspectos relevantes da história exterria do livro, omitindo, de :plano, aspectos de sua história interna; entretanto, indo além ou vindo aquém, introdutoriamente remonta à pré-história do livro, mais ainda, conceitua a linguagem de base oral, passa pela escrita, por seus diversos tipos, pelo alfabeto, pelos tipos de letras, pelos instru­ment'os primitivos empregados na ·escrita - objeto, tudo, do . capi­tulo I de sua obra. Os capítulos seguintes da primeira parte referem-se às bibliotecas na Antiguidade a na Idade Média · (II), aos manuscritos medievais, seu aspecto material, sua ilustração e encardenação (III) , ao papel, fabrico e difusão (IV) e à imprensa ~tes de Gutenberg (V). Na segunda parte, refere-se à invenção da tipografia (VI) , aos incunábulos (VII), a grandes tipógrafos (VIII), às técnicas tipográficas modernas (IX) , à introdução e difusão da imprensa no continente americano (X) e no Brasil (IX), às biblio­tecas modernas (XII), à Biblioteca Nacional e outras brasileiras <XITI), encerrando suas considerações com o livro contemporâneo, os direitos autoriais e outros problemas (XIV e apêndice)

A quem tenha procurado orientar-se no ·mundo dos livros sôbre o livro e a biblioteca, encarados pelo ângulo do plano adotado pelo Sr. Wilson Martins, não escapa a observação de que a maior di­ficuldade para um trabalho como o que cumpriu o autor é a de levantar seletivamente a bibliografia sôbre que proceder à síntese desejável. Um repasse das obras consultadas pelo autor, a pági­nas· 527-535. revela que o Sr. Wilson Martins recorreu ao que havia de melhor no particular, com eventuais omissões que não comprometem de mÇ>do nenhum o conjunto.

• * *

O capítulo I (pág. 7) inicia-se com considerações sôbre a capa­cidade de abstração, "fonte de todo o seu [do homem] desenvolvi­mento espiritual". E nas linhas a seguir, invocando Henri Berr, rio conhecido prefácio ao já clássico livro de J. Vendryes, Le langage (d;\ Synthese collecÚve), coteja a · "invenção" da mão pelo Homo faber e da língua· pelo Homo loquens, para insistir que é Homo aapiens sobretudo porque é loquens - trazendo em apoio o pensa­mento de Henri Focillon. Parece, já nesta altura, melhor que se ponl;l.a tôda a praxis social em interdependência com a capacidade de abstração, para então deixar de manifesto que também o pro­gresso e desenvolvimento material e técnico do homem foi condicio­nado pela nossa capacidade de abstração, por sua vez condicionada pelo progresso e desenvolvimento material e técnico. A unidade total biológica e social da espécie, no "fazer" e "conhecer" que se condi­cionam reciprocamente e reciprocamente se apóiam, tendo uma base psicofisiológica de raiz bio-sociológica ou sociológica, torna-se, nesta altura do nosso conhecimento, menos enigmática à luz do "segundo sistema de sinalização" de Pávlov, teoria e doutrina que

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já hoje não p(lde fcar de lado nesses estudos e nessas geJ\e:rali­zações, pofs de alcance maior do que mera reflexologia limitada. como querem ainda alguns.

Caracterizada a abstração como faculdade que possibilita a linguagem (quando o reverso também parece ter igual fôrça de verdade) , o Sr. Wilson Martins faz a seguir uma tentativa de con­ceituação da linguagem (de base oral) , passando a examinar as formas concretas da mesma linguagem, as línguas, e sua classifi­cação estrutural - no primeiro sentido - e genética, sob as vistas de Sapir e ainda de Vendryes. Entra, então, nas origens da escrita, passando pelo pictografia (29) , pela escrita mnemônica (33) , pela fonética (34), refazendo o circuito pela ideografia (35) , os cunei­formes (37) , os hieróglifos (40) e chegando ao alfabeto (44) , deten­do-se na escrita latina e nas posteriores formas nacionais e regionais de sua "ortografia". No conjunto a exposição é didática e sintetiza bem as intricações que há na questão, sendo tão-somente de lamentar que o Sr. Wilson Martins não tenha podido ou não tenha querido lançar mão dos estudos de Mareei Cohen no respeito, que parecem ser o qeu há de melhor como visão compreensiva, histórica, genética, sistemática e sintética da escrita. Por diante, expõe sôbre os materiais e instrumentos empregados na escrita (55) - exposição de caráter enciclopédico, no que apresenta de recapitulação e síntese histórica, sendo ligeiramente de lamentar que nesse ponto não tenha relacio­nado essas técnicas e êsses meios ao problema geral do desenvolvi­mento histórico e ao particular do progresso tecnológico e das disponibilidades mesológicas - como o faz admiràvelmente também o citado Mareei Cohen.

O capítulo n - as bibliotecas na Antiguidade e na Idade Média - considera essas unidades de depósito, conserva e estudo do ponto de vista "religioso" (ponto de vista que retorna mais de uma vez na obra), no mesmo sentido em que a enciclopédia da Pléiade ora em vias de publicação considera "religiosa" a literatura primitiva oriental. Trata-se de um aspecto que deve ser levado em linha de conta não como característica necessária, teleológica, essencial, da literatura até a Idade Média, antes como expressão de uma con­tinuidade social em que o saber e o conhecer dependem fundam~n­talmente das seções dirigentes em estruturas sociais de class~s

diferenciadas em que ao clero, aos sacerdotes, à teocracia - osten ­siva ou encoberta - cabe pràticamente o monopólio do cpnttecímento teórico, que é o que encerra a palavra escrita até então. Visto sob êsse ângulo, compreender-se-á melhor, parece, a revolução cultural representada pelo Renascimento, com o advento do papel, da t ipo­grafia, inovações tecnológicas, instrumentais, necessárias e em per ­feita consonância com o fim da Idade Média, que já a preparava, e a nova estruturação do poder temporal em unidades nacionais df progressiva tendência profana, como condição de subsistência do

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caráter nacional mesmo. São de todo ponto oportunos os lembretes do Sr. Wilson Martins com relação à inexistência de 'leitor', essa entidade que, a partir do Renascimento, vai condicionar a difusão do livro e a natureza dêste e ser condicionada cada vez mais pelo livro. Passa (76) o Sr. Wilson Martins em revista as grandes biblio­tecas da Antiguidade, ainda com critério de síntese enciclopédica, discutindo certos pormenores importantes relacionados com o fun­cionamento das mesmas, inclusive o caráter de 'pública' aberta aos leigos e profanos, coisa tardia, como bem ressalta; e assim as biblio­tecas medievais (83) e as bizantinas (88), bem como as universi­tárias (91).

O capítulo III enceta-se com rápida conceituação do 'manuscrito'. conceituação que pode merecer pequeno reparo, consistente em que, mais do que a discussão pseudonominalista (alternativa com 'dacti­loscrito') , conviria fixar as noções de 'autógrafo' e 'apógrafo', con­ceituação duplamente capital, já como, no segundo caso, expressão do "livro manuscrito", já como critério informador de fidelidade e fidedignidade da tradição, transmissão do acervo verbal fixado "lite­ràriamente". O Sr. Wilson Martins examina, sob a rubrica de "Idade Média" (96), o processo da tradição-transmissão escrita, ressaltando o quanto de atividade fecunda, propiciatória do próprio Renasci­mento, teria havido nesse "interregno de sombras", cuja luminosi­dade procura evidenciar. E assim como se detivera na descrição das características materiais do "livro" e das técnicas que o produziam na Antiguidade no capitulo anterior, neste faz outro tanto (103) com o aspecto material do "livro medieval", o 'códex', os locais de produção, os tipos de ilustração (105), a encadernação (114) .

O capítulo IV, dedicado ao papel, inicia-se com uma resenha de suas origens, sua introdução na Europa (123), os processos de fabricação manual e mecânica (124), os aspectos principais da fabricação, fontes de celulose (127), pasta de papel (128), o papel , (129), seus formatos (129), sendo aí discutido o aspecto que nunca se resolverá unitàriamente entre "formato" do ponto de vista do fabricante do papel e "formato" do ponto de vista bibliológico e biblioteconômico, e bibliográfico, sua medição em função do in plano e em função da mancha, da fôlha com margens (na rústica) ; o capitulo termina com as grandes fábricas brasileiras (137), infeliz­mente (embora com justificação) desequilibrado, pois o livro Brasil - 1955, do Ministério das Relações Exteriores, poderia ter sido fonte para uma súmula muito mais conspectiva, sem as aparências de unilateralidade - embora involuntária - da exposição nesse par­ticular. A primeira parte do livro, coroada pelo capitulo V, tratando da imprensa antes de Gutenberg, considera o livro xilográfico (145), as impressões tabelares (148), os caracteres móveis e a i111pr~nsa

(512) e os mesmos antes de Gutenberg (154) .

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A segunda parte do trabalho do Sr. Wilson Martins faz, com o capítulo VI, a revisão ainda não de todo elucidada da questão da invenção da tipografia no seu eficaz conceito moderno, detendo-se em considerações biográficas sôbre Coster, Gutenberg, Fust e Schoeffer (159); é um capítulo em que, além de uma parte intro­dutória, se detém na história da Coster (162), na de João Brito (164), em Gutenberg (164) , nos seus processos (169) , nos seus últimos anos (172), nas suas atividades impressoras (173) , para terminar o capítulo expressivamente com o subcapítulo "começa a história da tipografia" (176).

O capítulo VII conceitua de início "incunábulo" (179 ), dá indi­cações de "como reconhecer um incunábulo", segundo o veterano Albert Cim e segundo a crítica de autenticidade, externa e interna, aspecto utilitário imediato que nem sempre apresenta a obra do Sr. Wilson Martins e que a teria, mais ainda, valorizado (181) , fala das editiones príncipes (187), do ponto de vista estritamente biblio­teconômico, quando o deveria fazer, com uma menção que fôsse, do ponto de vista, também, da crítica textual, da ecdótica, para a qual de modo nenhum é satisfatória a restrição de Gabriel Peignot, de Rouveyre e de outros, pois a editio princeps pode haver dêste ponto de vista ainda hoje, amanhã, no futuro: é, pura e simples e necessà­r iamente, a primeira versão tipogràficamente impressa de uma obra escrit a (187) ; fala da divulgação do livro em "o milagre se torna cotidiano" (189) , mostra a vinculação do incunábulo com o códex em "o impresso imita o manuscrito" (190), dá llmitadíssimas indica­ções, segundo o já referido Rouveyre, sôbre as "abreviaturas" (192) , examinando ainda aí a história das partes extratextuais do livro impresso, fala da "difusão da imprensa" (200) , na Itália (202 ), na Franç~~< (204) , anota aspectos estatísticos em "um novo mun do começa" (211) e discute, em "uma encruzilhada decisiva", o alcance do Renascimento como vocação universalistas cujas raízes embebe, lógica e hitsoriogràficamente, na Idade Média (213) , insistindo nesses dois períodos culturais e históricos e seu alcance para o livro, em "um pouco de história" (218) , com que fecha o capítulo.

O capítulo VIII, tratando dos grandes tipógrafos, conceitua introdutóriamente "impressor" nos primeiros séculos da tipografia (225) e passa, sucessivamente, em revista a obra de impressores ~e

dinastias de) como os Aldos (229), Plantio (236), os Elzevires (238) , Baskerville, Bodoni e !barra (240), os Estiennes (244) , os Didots (254), omitindo já o tratamento da evolução dos desenhos dos tipos. por condicioná-los a . êsses nomes principais, já um evento capital como foi a criação do roman du Roi, terminando o capítulo com as "q,ssinaturas dos impressores" (257) .

· · O capítulo IX examina aspectos técnicos contemporâneos, ini­ciando-se por um apanhado da "era industrial" (259), em que,

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inclusive, são oferecidos dados estatísticos sôbre a produção do livro (não tendo sido, pelos menos· diretamente, aproveitados os da Unesco), caracterizada a era, do ponto de vista do livro, 1) pelo volume da produção, 2) pela maquinização e 3) pela organização mercantil; destarte, o Sr. Wilson Martins mostra "como a tipografia se trans­formou em indústria" (272), com louvores a Morgenthaler, "os resul­tados" (282) dessa transformação, o caráter não apenas de merca­doria, apesar de tudo, do livro, com o "livro é também espírito" (23a> , em que o "também" é particularmente expressivo para o caráter alienado e venal do nosso tempo; detém-se, depois, na oposição entre industrialismo e artesania do livro com "o livro moderno" (286). Nesse capítulo, ainda, trata das "técnicas da impressão" (288), do "tipo e a caixa" (289), omitindo, quanto ao "tipo" infelizmente, para fins utilitários, uma tentativa qualquer de classificação de suas famílias, gêneros e espécies - matéria, aliás, de alta dificuldade e ainda não satisfatOriamente desbastada para fins didáticos, preva­lecendo, no seu conhecimento, um puro empirismo tão-soment-e possibilitado pelo manejo profissional cotidiano dos tipos; trata, a seguir, da "composição mecânica" (292), da "telecomposição" (294), da "lumitipo" (295), das "máquinas de imprimir" (296), da "estereo­tipia" (296), da "rotativa" (298), das "provas" (300) com as técnicas da "correção" e da "revisão"; considera a "gravura" (301), a "xilo­gravura" (303), a "gravura metálica" (304), a "litogravura" (307), as "provas" ou "estados" das gravuras (308), e, nas gravuras mecâ­nicas, a "similigravura" (310), a "heliogravura" (311). Sendo o capí­tulo em causa o último "em que o livro é estudado por seus aspectos técnicos" (313), vê o Sr. Wilson Martins a necessidade de levantar um vocabulário técnico para a terminologia do livro, invocando ape­nas o precedente de Olavo Cassiano de Medeiros, em rodapé, e omi­tindo o de Artur Arézio, com valor incontestável apesar do tempo de sua elaboração. Muito útil teria ·sido ao Sr. Wilson Martins que, para análise das reais dificuldades que há no particular, tivesse con­sultado, como feliz sugestão de problemas, o Vocabularium bib.Ziothe­carii, de Lemaitre e Thompson, publicado sob os auspícios da Unesco, em francês, inglês e alemão.

O capítulo X trata da imprensa na América, com uma parte introdutória que é uma como objetivação do moto' "o livro e a Amé­rica", passando, a seguir, a examinar a introdução d.a imprensa no México (326), no Peru (326), ressaltando em "um parêntese" (327) o caráter pio e catequético das primeiras impressões livrescas na Amé­rica, continuando, fechado o parêntese, no rio da Prata (330) e em outros países (333).

O capítulo XI é inteiramente dedicado ao Brasil, discutindo na parte introdutória a data do início da imprensa no Brasil, passando a examinar "a metrópole e a tipografia" (338) , a "Impressão Régia"

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(344), "a multiplicação das tipografias" (351), "o periodismo" (352), "a história de um acôrdo" (354) entre Hipólito José da Costa e o govêrno português sôbre o Correio Brasiliense, "os primeiros jornais" (358) e, por fim, a "situação do periodismo no Brasil" (362) , segundos os dadoa do I.B.G .E.

O capítulo XII, tratando das bibliotecas modernas, ressalta, na parte introdutória, os caracteres da evolução destas, do século XVI aos nossos dias, com sua progressiva laicização, democratização, espe­cialização e socialização, considera a "biblioteca pública" (367) , "o livre acesso" (369), "quem freqüenta a biblioteca" (373) , "o bibliote­cário" (373), "os defeitos das qualidades" de um bibliotecário (374), "a missão do bibliotecário" (377), "a função do bibliotecário" (379) , no Brasil (382), "as diversas espécies de bibliotecas" (386) , "natureza administrativa das bibliotecas" (387) , "as bibliotecas modernas" (387), passando, por fim, em revista, as grandes bibliotecas do mun­do, a Nacional de Paris (388), o British Museum (392) , a Biblioteca do Congresso (394 ), a Vaticana e outras da Itália (397), a de Berlim (398) , a de Moscou (400) , a de Buenos Aires (401), reservando-se o capitulo XIII para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (403), cujos dados estão provàvelmente aquém da quantidade (e da quali­dade) do seu acervo, a da Bahia (412 ), a de São Paulo (413), a de CUritiba (414) , com uma parte geral sôbre "a biblioteca n o Brasil" (416), terminando o capítulo com elementos relacionados com a leitura no Brasil sob o título "um índice da cultura brasileira" (420), que não podia deixar de ser doloroso.

O capítulo XIV é iniciado por uma nota melancólica sôbre "a crise do livro", do livro verbal, digamos assim, crise ligada à "crise da civilização" (425) contemporânea, à usurpação (real?) da pala­vra pela imagem (428), às "histórias em quadrinhos" (431) ; do pessimismo inicial, que sob mutos títulos pode ser contestado ou polemizável, ressalta algo "em favor da imagem" (435), entrando na "crise do livro" (435) , como dissemos, vinculada à da civilização contemporânea. Retorna ao "prestígio da imagem" (437 ), para ver nêle o perigo para o livro verbal, perigo agravado quando, abstrain­do mesmo do rádio, do cinema, da televisão, vê "a palavra escrita contra o livro" (439), dentre outros inimigos pondo de manifesto o ''resumo", o "digesto", as "seleções". Entra, assim, na "crise econômi­ca" do livro (441) _ para, dai por diante, estudar monogràficamente "os pireitos autorais", com sistemática feliz e bem ordenada e com - pelo menos para o recensor - seguro domínio da matéria.

Seria ocioso, ao cabo do que vai dito, realçar a importância de A palavra escrita, do Sr. Wilson Martins, em língua portuguêsa e no Brasil. É trabalho que deverá const ar da biblioteca de qualquer ho~em culto cuja atividade, direta ou indiretamente, supõe o manuseio qe livros. Se em mais de um ponto a sua consulta deixar

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a desejàr, em niais de outro sugerirá perspectivas felizes. Nesse respeito, algumas pequenas objeções seriam de fazer: 1) o indlce de assuntos é pobre - que o leitor não se fie dêle apenas; 2) a revisão é por vêzes descuidada (tanto mais de lastimar quanto se trata de um livro que de certo modo é sôbre livro); 3) a própria linguagem - não vai purismo nisso - às vêzes claudica, não por desconhecimento do autor, parece, mas por certa precipitação de formulação em certas passagens; 4) as ilustrações, sobretudo foto­gráficas, nem sempre saíram nítidas; 5) os realces materiais (jôgo de corpos, grifos, aspas) nem sempre foram usados com a sistemá­tica ou mera coerência desejável. Mas que é isso em face do mérito do livro e em face da monda que poderá ter sua segunda edição, desde já esperável? É que o livro do Sr. Wilson Martins deverá ser recomendado onde quer que se estude com certo cuidado êsse ins­trumento capital do conhecimento que é o "livro" - refiro-me, sobretudo, às faculdades de filosofia e letras já hoje disseminadas pelo Brasil, sem falar dos muitos profissionais do livro em todos os departamentos adjectos à sua criação. E quem quer que escreva ou pretenda escrever livros no Brasil não poderá deixar de beneficiar-se com a leitura e consultação da obra do Sr. Wilson Martins. Pormenor, por fim, que merece referência: a capa- de realização muito pouco feliz - foi, entretanto, a probabilíssima "fonte" de inspiração da belíssima que envolve hoje o digno volume de normas e diretrizes recém-publicado como plano da futura Enciclopédia Brasileira, do Instituto Nacional do Livro.

ANTÔNIO HouAISS

RoCHA LIMA, Gramática Normativa da Língua Portuguêsa (Curso Médio). Prefácio de Serafim da Silva Neto. F. Briguiet & Cia., Editôres, Rio de Janeiro, 1957.

É sensível a falta, para a língua portuguêsa, de uma gramática que se possa comparar, p. ex., à de Grevisse, para o francês, ou para a língua espanhola, em nível elementar, à de Amado Alonso.

Três motivos, pelo menos, explicam essa carência, aqui como em Portugal:

1.0 , o desinterêsse e até - porque não dizer? - o desdém dos lingüistas e dos filólogos por êsses códigos de "boa linguagem", l'

que leva a essa difícil emprêsa, tornada então puramente comercial, amadores e aventureiros;

2.0, a necessidade, legal e, por isso mesmo, também comercial, de seguir os deficientes e mutáveis programas oficiais vigentes -limitação danosa, porque retalha arbitràriamente o que devera estar unido, desestimulando, assim, os que gostariam de elaborar um todo gramatical;

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3.0 , finalmente, o estarem esgotados, sem que ninguém pareça interessar-se na· sua reedição, os poucos trabalhos .bons de que dis­pomos, como, por . ex., as gramáticas secundárias de Said Ali e Sousa Lima (necessitando, aliás, a 1.8 delas, nalguns capítulos, de atualização que ~eria bem trabalhosa) .

Daí a ansiedade com que aguardamos, desde que foi anunciada, a: Gramática do Ptof. Rocha Lima, o mais recente dos catedráticos do Colégio Pedro 11, que já nos dera amostras da sua capacidade através de livros didáticos de boa feitura.

É a Gramática. Normativa prefaciada pelo Prof. Serafim da Silva Neto, . o qual ____,. apontando-nos, com uma citação de Jespersen, o alheamento dos especialistas aos problemas práticos da lingua, dei­xando a Gramática "à mercê dos amadores" - vê no Prof. Rocha Lima, "espírito ordenado e disciplinado", a pessoa em "condições privilegiadas para dotar a Língua Portuguêsa com uma gramática que, sem êrro ou fastio, lhe desse as normas cultas do bem escrever e do bem falar"; diz encontrar "pelas substanciosas páginas de Ro­cha Lima . . . (ainda que discretamente dosadas) as idéias da Lin­güistica moderna"; augura-lhe "papel relevantissimo no estudo da li.ngua", para concluir: "Aqui está a Gramática!"

Na ordenação da sua GN aproveitou o Prof. R. L. vários capítu­los que já publicara em livros didáticos, acrescentando os necessários a formar um corpo de doutrina para o curso médio, o que explica certa desarticulação que entre êles se nota.

Dividiu-a em 4 partes: Fonética, Morfologia, Sintaxe e Estilís­tica, nelas distribuindo, nem sempre, a nosso ver, da maneira mais feliz, os complexos assuntos da língua conforme segue: ·

I - Fonética: Os fonemas. -Acentuação. - Descrição da pro­núncia normal do Brasil. - Ortografia.

TI - Morfologia: Substantivo, Artigo, Adjetivo, Numeral, Pro­nome, Verbo, Advérbio, Preposição, Conjunção, Interjeição, Estrutura das Palavras, Formação de Palavras.

m - Sintaxe. - [Sintaxe Geral]: Teoria geral da frase e sua análise. -Valor funcional das palavras na frase: Emprêgo do Subs­tantivo, do Artigo, do Adjetivo, dos Numerais, dos Pronomes (pes­l'loals, possessivos, demonstrativos, relativos, indefinidos) ; o Verbo e seus complementos; emprêgo do Advérbio; emprêgo das Preposições; Concordância do verbo com o sujeito; Regência de alguns verbos; Colocação dos pronomes átonos.

IV - Estilística: Signiflcação as palavras. - Prosa e Poesia. - Qualidades da boa prosa. - Noçõ _ de versificação. - Da pon­tuação. - Elegâncias de linguagem: figuras literárias - de pala­vras, de construção, de pensamento, de sentimento.

Page 13: REVISTA BRASILEIRA · 2016. 9. 27. · MARTINS, Wilson. A palavra escrita. ... O capítulo n - as bibliotecas na Antiguidade e na Idade Média - considera essas unidades de depósito,