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Hélio Jesuíno

REVISTA BRASILEIRA 71 - I - Book - academia.org.br Brasileira 71 - MEMORIA... · O naturalista que perscruta os segredos da criação, estudando as formas mis-teriosas e sabiamente

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M e m ó r i a F u t u r a

Frei camilo de monserrate: estudo biográfico

segundo ocupante da cadeira 32 na Academia Brasileira de letras.

*

* Anais da Biblioteca Nacional, volume 12, 1884-1885, pp. 107-110.

Ramiz Galvão

O que se pode comparar na terra ao suave comércio com os livros, – estes mestres que nos instruem sem castigo, vene-

ráveis anciãos que nos abrem a cada hora o tesouro da sua experiên-cia, ou virgens graciosas que nos oferecem todo o encanto de suas galas, – amigos de todos os dias que, se os chamamos, acodem, se os interrogamos, se não calam, se caímos em erro, ajudam-nos, se os importunamos, não murmuram nem se negam?

sempre junto de quem os ama, sempre fontes de consolação ou de alegria, os livros tanto deleitam ao homem feliz como suavizam as mágoas do que padece os embates da fortuna: àquele dirigem e desviam da torrente vertiginosa dos prazeres mundanos; a este de-sanuviam o espírito e confortam o coração, ou seja atraindo-o a co-gitações de outra ordem, ou seja, robustecendo-o na resignação e na própria dor pelas lições da moral e pelos ensinamentos da história.

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Ramiz Galvão

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O naturalista que perscruta os segredos da criação, estudando as formas mis-teriosas e sabiamente concatenadas do mundo orgânico, ou devassando as origens e as aplicações utilitárias do reino mineral; o astrônomo que arranca dos céus as leis que regem o movimento dos mundos siderais; o artista que se extasia ante os quadros da natureza, e os imobiliza e perpetua na tela ou no mármore; o mecânico que segue pertinaz uma ideia, e projeta um invento; o matemático que consome noites de vigília no descobrimento de um princípio generalizador; o filósofo que estuda os arcanos do invisível; – todos eles têm no trabalho assíduo e nos gozos de sua obra um grande consolo e uma ocupação feliz. mas o bibliotecário digno des-te nome, o devotado amador dos livros possui mais do que todos, porque tem a seus pés o Universo inteiro, o passado e o presente, o visível e o invisível: as formas da natureza tangível e os inúmeros sóis da imensidade, as belezas da criação e to-dos os inventos humanos, os cálculos e as fórmulas, os sistemas de todas as escolas e as grandes verdades de toda a Filosofia, – em uma palavra, o escrínio de todas as joias, amontoadas pelos séculos à custa do labor de um milhar de sábios.

Que prazer se pode equiparar no mundo à contemplação desta infinita riqueza, ao uso cotidiano deste manancial imenso que concretiza os esforços hercúleos da inteligência humana, ao cavar noite e dia nesta mina insondável, que produz à saciedade a gema preciosíssima e inapreciável do saber?

e o bibliotecário tem ali também a sua obra. ele examina, ordena e classifica como o naturalista; ele compara os textos, e decide a primazia como o crítico; restaura os monumentos injustamente esquecidos e exuma as relíquias do pas-sado como o arqueólogo; lê no palimpsesto e no papiros como o geólogo inter-preta nas camadas da terra os anais pré-históricos do globo; analisa as criações do belo como o artista; arquiva, comenta e ilumina de notas as obras hodiernas para auxiliar as investigações do futuro, dá o fio de Ariadne a de toda a sorte de pesquisas, anima com seu conselho e ajuda com suas luzes tanto o inexperto caminheiro como o explorador provecto; ao literato fornece e aponta os mode-los e as fontes, ao sábio, faculta os anais das Academias, ao artista, os materiais da composição, ao político, os documentos da administração dos estados; em suma, não há trabalhador no imenso campo da ciência profana e sagrada ou no domínio das artes, a quem ele não preste o seu braço, não há monumento literá-rio de vulto, para cuja construção ele não concorra com pedras angulares.

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Frei Camilo de Monser rate : Estudo b iog ráf ico

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e o que dizer dos encantos da pesquisa bibliográfica, em que o corpo não sente cansaço, porque a tensão do espírito o sustenta; do afã com que se corre atrás de uma informação preciosa ou de um documento ignorado, – labor em que se não sente o passar das horas; dos veios preciosos que se descobrem em caminho a cada passo, indenizando a pequena mágoa de um insucesso; o que dizer, afinal, do achado feliz dos tesouros que se buscavam, ou da decifração de um enigma que até então se julgara insolúvel? Que momentos de prazer indizível não proporciona, que vitórias sem sombra, que alegrias serenas, que doce consolação do tempo consumido!

Os livros são, pois, não só os grandes esteios da vida humana, senão tam-bém a fonte das nossas mais puras delícias; é tão justo aplicar-se a uma nação o que dizia Geoffroy acerca do seu convento: “claustrum sine armario, quasi cas-trum sine armentario”, como é profundamente exata e filosofia a inscrição egípcia “ ” que ensina este capítulo.

mas também, se a biblioteca é um grande luzeiro e uma mansão de remé-dios, não é menos certo que o homem chamado a dirigir semelhante insti-tuição deve possuir um conjunto de predicados raros. em todo o tempo se pensou assim, e hoje mais do que nunca se reclamam dotes extraordinários.

Já no século XiV, o ilustre chanceler de inglaterra, que havemos aqui ci-tado, falava dos deveres árduos do bibliotecário. em 1780 dizia cotton des Houssayes – digno conservador dos tesouros da sorbonne: “Un bibliothécaire vraiment digne de ce nom doit exploré d’avance toutes les régions de l’empire des letrres, pour servir plus tard de guide et d’indicateur fidèle à tous ceux qui veulent le parcourir. Il ne sera étranger à aucune des parties de la science: lettres sacrées et profanes, beaux-arts, sciences exactes, tout lui sera familier. Travailleur assidu et infatigable, profondément dévoué aux lettres, son but unique et permanent sera d’en assurer l’avancement.”

Nos nossos dias, em que a vastidão dos conhecimentos humanos se dilata de um modo assombroso, em que a atividade dos escritores é cem vezes maior, em que todas as classes sociais vão com ansiedade procurar o pão do espírito outrora reservado a um número seleto e privilegiado de felizes, quanto mais difícil é a tarefa do bibliotecário!

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Petit trianon – doado pelo governo francês em 1923.sede da Academia Brasileira de letras,Av. Presidente Wilson, 203castelo – rio de Janeiro – rJ

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PAtrONOs, FUNdAdOres e memBrOs eFetiVOs dA AcAdemiA BrAsileirA de letrAs

(Fundada em 20 de julho de 1897)

As sessões preparatórias para a criação da Academia Brasileira de Letras realizaram-se na sala de redação da revista Brasileira, fase iii (1895-1899), sob a direção de José Veríssimo. Na primeira sessão, em 15 de dezembro de 1896, foi aclamado presidente Machado de Assis. Outras sessões realizaram-se na redação da Revista, na Travessa do Ouvidor, n.o 31, Rio de Janeiro. A primeira sessão plenária da Instituição realizou-se numa sala do Pedagogium, na Rua do Passeio, em 20 de julho de 1897.

Cadeira Patronos Fundadores Membros Efet ivos

01 Adelino Fontoura luís murat Ana maria machado 02 Álvares de Azevedo coelho Neto tarcísio Padilha 03 Artur de Oliveira Filinto de Almeida carlos Heitor cony 04 Basílio da Gama Aluísio Azevedo carlos Nejar 05 Bernardo Guimarães raimundo correia José murilo de carvalho 06 casimiro de Abreu teixeira de melo cícero sandroni 07 castro Alves Valentim magalhães Nelson Pereira dos santos 08 cláudio manuel da costa Alberto de Oliveira cleonice serôa da motta Berardinelli 09 domingos Gonçalves de magalhães magalhães de Azeredo Alberto da costa e silva 10 evaristo da Veiga rui Barbosa lêdo ivo 11 Fagundes Varela lúcio de mendonça Helio Jaguaribe 12 França Júnior Urbano duarte Alfredo Bosi 13 Francisco Otaviano Visconde de taunay sergio Paulo rouanet 14 Franklin távora clóvis Beviláqua celso lafer 15 Gonçalves dias Olavo Bilac marco lucchesi 16 Gregório de matos Araripe Júnior lygia Fagundes telles 17 Hipólito da costa sílvio romero Affonso Arinos de mello Franco 18 João Francisco lisboa José Veríssimo Arnaldo Niskier 19 Joaquim caetano Alcindo Guanabara Antonio carlos secchin 20 Joaquim manuel de macedo salvador de mendonça murilo melo Filho 21 Joaquim serra José do Patrocínio Paulo coelho 22 José Bonifácio, o moço medeiros e Albuquerque ivo Pitanguy 23 José de Alencar machado de Assis luiz Paulo Horta 24 Júlio ribeiro Garcia redondo sábato magaldi 25 Junqueira Freire Barão de loreto Alberto Venancio Filho 26 laurindo rabelo Guimarães Passos marcos Vinicios Vilaça 27 maciel monteiro Joaquim Nabuco eduardo Portella 28 manuel Antônio de Almeida inglês de sousa domício Proença Filho 29 martins Pena Artur Azevedo Geraldo Holanda cavalcanti 30 Pardal mallet Pedro rabelo Nélida Piñon 31 Pedro luís luís Guimarães Júnior merval Pereira 32 Araújo Porto-Alegre carlos de laet Ariano suassuna 33 raul Pompeia domício da Gama evanildo Bechara 34 sousa caldas J.m. Pereira da silva João Ubaldo ribeiro 35 tavares Bastos rodrigo Octavio candido mendes de Almeida 36 teófilo dias Afonso celso João de scantimburgo 37 tomás Antônio Gonzaga silva ramos ivan Junqueira 38 tobias Barreto Graça Aranha José sarney 39 F.A. de Varnhagen Oliveira lima marco maciel 40 Visconde do rio Branco eduardo Prado evaristo de moraes Filho

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Composto em Monotype Centaur 12/16 pt ; c itações , 10 . 5/16 pt

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