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Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável ISSN 2286-9724 (ONLINE) ISSN 2178-5317 (CD-ROM) REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS) BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA) Volume 2 - Número 01 Julho - 2012 Volume 2 - Number 01 July - 2012

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Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável

ISSN 2286-9724 (ONLINE)ISSN 2178-5317 (CD-ROM)

REVISTA BRASILEIRA DEAGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL

(RBAS)

BRAZILIAN JOURNAL OFSUSTAINABLE AGRICULTURE

(BJSA)

Volume 2 - Número 01 Julho - 2012Volume 2 - Number 01 July - 2012

Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável

REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL(RBAS)

BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE(BJSA)

Editorial

A REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL - RBAS (BRAZILIANJOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE) tem publicação semestral (Julho e Dezembro)de trabalhos inéditos, dentro das normas de formatação exigidas e áreas relacionadas à sustentabilidadeda agropecuária.

Os trabalhos podem ser submetidos para publicação nas áreas de Agricultura Familiar,Agroecologia, Educação do Campo, Ciência, Tecnologia e Inovação, Cooperativismo e Associativismo,Economia, Economia Solidária, Entomologia, Extensão Rural, Fitopatologia, Forragicultura, MeioAmbiente, Mudanças Climáticas, Políticas Públicas, Produção Animal, Produção Vegetal, Ruralidade,Solos e Urbanização, com ênfase na sustentabilidade atual e futura.

Os trabalhos podem ser submetidos em língua portuguesa, inglesa e espanhola. Este periódiconão faz qualquer restrição à titulação acadêmica mínima para submissão de trabalhos, cujaavaliação é feita por dois ou três revisores ad hoc e pelo Corpo Editorial. O conteúdo dosartigos publicados é de exclusiva responsabilidade de seus autores e os direitos de publicaçãosão da RBAS, sendo o conteúdo disponibilizado com acesso livre na Internet (www.rbas.com.br).

Os Artigos devem conter de 10 a 25 páginas, os Relatos de Experiência de 5 a 10 páginas,as Resenhas de 5 a 10 páginas e as Revisões de 10 a 25 páginas.

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação daBiblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa

Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS) = Brazilian Journal of SustainableAgriculture (BJSA)

vol.2, n.1 (jul. 2012) - 162p. - Viçosa, MG : Os Editores, 2012.CD-ROM

SemestralPublicação em Português e InglêsISSN: 2178-5317 (CD-ROM)ISSN 2286-9724 (ONLINE)1. Agropecuária – Periódicos. I. Brazilian Journal of Sustainable Agriculture (BJSA).

II. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável.

CDD 22. ed. 630

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BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA)

Editor Chefe:Rogério de Paula Lana – Ph.D. em Animal Science pela Cornell University, Ithaca, NY, USA. Professore Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.

Corpo Editorial:Rogério Martins Maurício – Ph.D. em Ciência Animal pela The University of Reading, Inglaterra. Professore Pesquisador da Universidade Federal de São João Del Rei.Harold Ospina Patino – Pós-doutorado pela Universidade de Guelph, Canadá. Professor e Pesquisadorda Unversidade Federal do Rio Grande do Sul.Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho – Pós-doutorado em Bem-estar animal pela University of BritishColumbia. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria.Anderson Moura Zanine – Pós-Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professore Pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso.Gumercindo Souza Lima – Doutorado em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Professore Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.Cristina Mattos Veloso – Pós-doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professorae Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.Rosane Cláudia Rodrigues – Doutorado em Qualidade e Produtividade Animal pela Faculdade de Zootecniae Engenharia de Alimentos, USP. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Maranhão.Luis Humberto Castillo Estrada – Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professore Pesquisador da Universidade Estadual do Norte do Fluminense Darcy Ribeiro.Vanderley Porfírio da Silva – Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná.Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Revisão Linguística:Nilson Adauto Guimarães da Silva – Doutorado em Letras Neolatinas pela Universidade Federal doRio de Janeiro. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.

Secretária:Geicimara Guimarães – Graduanda em Gestão de Cooperativas da Universidade Federal de Viçosa.

Conselho científico:Ana Ermelinda Marques – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa.André Soares de Oliveira – Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisadorda Universidade Federal do Mato Grosso.Antônio Bento Mancio – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador daUniversidade Federal de Viçosa.Augusto Hauber Gameiro – Doutorado em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luizde Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Professor e Pesquisador da Faculdade de MedicinaVeterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto – Doutorado em Microbiologia Agrícola pela Universidade Federalde Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.

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Cleide Maria Ferreira Pinto – Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadorada Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Dilermando Miranda da Fonseca – Pós-doutorado pela University of Florida. Professor e Pesquisadorda Universidade Federal de Viçosa.Domício do Nascimento Júnior – Ph.D. pela University of Arizona. Professor e Pesquisador da UniversidadeFederal de Viçosa.Domingos Sávio Paciullo – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisador da EmbrapaGado de Leite.Domingos Sávio Queiroz – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisador da Empresade Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Henrique Nunes Parente – Doutorado em Zootecnia (Forragicultura) pela Universidade Federal da Paraíba.Professor e Pesquisador do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão.Irene Maria Cardoso – Doutorado em Ciências Ambientais pela Wageningen University ResearcherCenter. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.Jacson Zuchi – Doutorado Sanduíche em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa e Universityof California, Davis. Pesquisador da FEPAGRO NORDESTE.João Carlos de Carvalho Almeida – Doutorado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de MesquitaFilho. Professor e Pesquisador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.José Carlos Fialho de Resende – Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidadede São Paulo. Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Junia Marise Matos de Sousa – Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadorada Universidade Federal de Viçosa.Marcelo José Braga – Pós-Doutorado pela University of California at Davis, UCD, Estados Unidos.Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.Marcelo Miná Dias – Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade FederalRural do Rio de Janeiro. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.Maria Aparecida Nogueira Sediyama – Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa.Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Maria Cristina Baracat Pereira – Doutorado em Bioquímica pela Universidade Federal de Minas Gerais.Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.Maria Elizabete de Oliveira – Doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília. Professora e Pesquisadorapela Universidade Federal do Piauí.Maria de Fátima Ávila Pires – Doutorado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais.Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.Milton Ferreira de Moraes – Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidadede São Paulo. Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Paraná.Nora Beatriz Presno Amodeo – Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela UniversidadeFederal Rural do Rio de Janeiro. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.Paulo Roberto Gomes Pereira – Doutorado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela UniversidadeFederal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.Sérgio Yoshimitsu Motoike – Doutorado em Natural Resources And Environmental Sciences pela UniversityOf Illinois At Urbana Champaign. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.Théa Mirian Medeiros Machado – Pós-Doutorado Visiting Scholar pela University of Western Austrália(UWA). Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.Viviane Silva Lirio – Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.

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PARECERISTAS AD HOC DO VOLUME 2, NÚMERO 1, ANO 2012, DA REVISTA BRASILEIRA DEAGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS)/ BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA):

Anderson Moura Zanine - Pós-Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professore Pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso.Augusto Hauber Gameiro - Doutorado em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luizde Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Professor e Pesquisador da Faculdade de MedicinaVeterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto - Doutorado em Microbiologia Agrícola pela Universidade Federal deViçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Cleide Maria Ferreira Pinto - Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadorada Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Cristina Mattos Veloso - Pós-doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professorae Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.Cristina Soares de Souza - Doutorado em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa.Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Cristiano Gonzaga Jayme - Doutorado pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de MinasGerais. Professor e Pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sudeste deMinas Gerais - Campus Rio Pomba.Daniel Arruda Coronel - Doutorado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa. Professore Pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria.Ernane Ronie Martins - Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense.Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais.Fabíola Villa - Pós Doutrado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Professora ePesquisadora pela Universidade Estadual do Oeste do ParanáHenrique Nunes Parente - Doutorado em Zootecnia (Forragicultura) pela Universidade Federal da Paraíba.Professor e Pesquisador do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão.Jacson Zuchi - Doutorado Sanduíche em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa e Universityof California, Davis. Pesquisador da FEPAGRO NORDESTE.José Carlos Peixoto Modesto da Silva - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa.Junia Marise Matos de Sousa - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadorda Universidade Federal de Viçosa.Luis Humberto Castillo Estrada - Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professore Pesquisador da Universidade Estadual do Norte do Fluminense Darcy Ribeiro.Maira Christina Marques Fonseca - Pós-Doutorado em Microbiologia no CPQBA-UNICAMP. Pesquisadorada Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Maria Aparecida Nogueira Sediyama - Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa.Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.Maria Elizabete de Oliveira - Doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília. Professora e Pesquisadorada Universidade Federal do Piauí.Rafael Monteiro Araújo Teixeira - Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisadordo Instituto Federal do Triângulo Mineiro - IFTM.Rogério de Paula Lana - Ph.D. em Animal Science pela Cornell University, Ithaca, NY, USA. Professore Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.Rogério Martins Maurício - Ph.D. em Ciência Animal pela The University of Reading, Inglaterra. Professore Pesquisador da Universidade Federal de São João Del Rei.

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Solidete de Fátima Paziani - Doutorado em Ciência Animal e Pastagens pela USP/ESALQ, Piracicaba.Pesquisadora da APTA/SAA.Tatiana Cristina da Rocha - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadorada Universidade Federal de Minas Gerais.Thiago de Oliveira Vargas - Doutorado em Fitotecnia (Produção Vegetal) pela Universidade Federalde Viçosa/Department of Environmental Studies, University of California at Santa Cruz.Vanderley Porfírio da Silva - Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná.Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.Weber Vilas Bôas Soares - Doutorado pela Universidade de São Paulo. Pesquisador científico da AgênciaPaulista de Tecnologia dos Agronegócios.

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Volume 02 Número 01 July 2012Volume 02 Number 01 Julho 2012

SumárioSummary

Economia (Economy)

Michelle Lucas Cardoso Balbino. Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia dobem-estar social (Ecological economics and contemporary: economic components for environmentalprotection and the warranty of social welfare). ...................................................................................... 1

Paulo Alexandre Nunes, Carmem Ozana de Melo, Diego Teixeira. A participação do setor madeireirona economia das microrregiões geográficas do Paraná – 2009 (Sector participation in the economyof timber micro geographic Paraná – 2009). .......................................................................................... 8

Extensão rural (Rural extension)

Diego Neves de Sousa, Cleiton Silva Ferreira Milagres, Marcelo Miná Dias, Dayane Rouse NevesSousa, Cléverson Silva Ferreira Milagres. Formalização e geração de renda: o caso da assessoriaà padaria artesanal comunitária “mãos de fibra” (Formalisation and income generation: the caseof advice in padaria artesanal comunitária “mãos de fibra”) ......................................................... 21

Fitotecnia, fitopatologia e solos (Phytotechny, phytopatology and soils)

Telma Miranda dos Santos, Patrícia Silva Flores, Sílvia Paula de Oliveira, Danielle Fabíola Pereirada Silva, Cláudio Horst Bruckner. Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência emsementes do maracujá-de-restinga (Effects of storage periods and methods of overcoming dormancyin seeds of passiflora) .................................................................................................................................. 26

João Paulo Lemos, João Carlos Cardoso Galvão, Antônio Alberto da Silva, Anastácia Fontanetti, LorenaMoreira Carvalho Lemos. Efeito da roçada das espécies Bidens pilosa e Commelina benghalensisnas características morfológicas do milho (Effect of clearings of Bidens pilosa and Commelina benghalensisspecies on morphological characteristics of corn) ................................................................................ 32

Ciro de Miranda Pinto, Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto, João Bosco Pitombeira. Mamona e girassolno sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica (Castor bean and sunflowerintercropping systems in row arrangement: biological efficiency). .................................................... 41

Edmilson Igor Bernardo Almeida, Wellington Souto Ribeiro, Lucas Cavalcante da Costa, Hélder Horáciode Lucena, José Alves Barbosa. Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Areia(PB) (Fresh vegetable lost sketching on trade in the municipal district of Areia (PB) .................... 53

Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável

Leila Cristina Rosa de Lins, Rosana Gonçalves Pires Matias, Danielle Fabíola Pereira da Silva, RobsonRibeiro Alves, Luiz Carlos Chamhum Salomão. Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpoem lichia (Chitosan on delaying of the darkening of the pericarp in lychee) .............................. 61

Rosana Gonçalves Pires Matias, Danielle Fabíola Pereira da Silva, Leila Cristina Rosa de Lins, RobsonRibeiro Alves, Luiz Carlos Chamhum Salomão. Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimentodo pericarpo de lichia (Hydrothermal treatment in prevention browning of lychee pericarp) ..... 68

Marília Cristina dos Santos, Ana Maria Resende Junqueira, Veríssimo Gibran Mendes de Sá, JoséCola Zanúncio, Marcos Alexandre Bauch, José Eduardo Serrão. Efeito do silício em aspectos comportamentaise na história de vida de Tuta absoluta (meyrick) (lepidoptera: gelechiidae) (Effect of silicon on behavioralaspects and life history of Tuta absoluta (meyrick) (lepidoptera: gelechiidae)) ........................... 76

Bruno Grossi Costa Homem, Onofre Barroca de Almeida Neto, Alberto Magno Ferreira Santiago, GustavoHenrique de Souza. Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatóriosde animais (Dispersion of clay caused by fertirrigation with animal wastewater) ........................... 89

Marisa Senra Condé, Bruno Grossi Costa Homem, Onofre Barroca de Almeida Neto, Alberto Magno FerreiraSantiago. Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos químicose físicos (Effect of application of animal wastewater in soil: chemical and physical attributes) ..... 99

Forragicultura e produção animal (Forage science and animal production)

Renata de Souza Reis, Sérgio Luiz de Toledo Barreto, Heder José D’avila Lima, Eriane de Paula,Jorge Cunha Lima Muniz, Raquel Mencalha, Gabriel da Silva Viana, Lívia Maria dos Reis Barbosa.Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no períodode 40 a 52 semanas de idade (Replacement of limestone flour for egg shell in the diet of japanesequail in the period from 40 to 52 weeks of age) ............................................................................... 107

Hugo Freitas Sobreira, Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Dilermando Miranda da Fonseca,Sérgio Yoshimitsu Motoike, José Carlos Peixoto Modesto da Silva, Geicimara Guimarães. Casca ecoco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas à base de silagemde milho (Bark and coconut of macaw palm added to concentrate for crossbred lactating cows oncorn silage based diet) ............................................................................................................................... 113

Renata de Souza Reis, Sérgio Luiz de Toledo Barreto, Eriane de Paula, Raquel Mencalha, Gabrielda Silva Viana, Lívia Maria dos Reis Barbosa, Jorge Cunha Lima Muniz. Níveis de suplementaçãode colina na dieta de codornas japonesas em postura (Levels of choline supplementation in the dietof laying japanese quails) ......................................................................................................................... 118

Rosane Cláudia Rodrigues, Daniel de Oliveira Souza Lima, Luciano da Silva Cabral, Luiz Pedro deMelo Plese, Walcylene Lacerda Matos Pereira Scaramuzza, Tereza Cristina Alves Utsonomya, JeffersonCosta de Siqueira, Ana Paula Ribeiro de Jesus. Produção e morfofisiologia do capim Brachiaria brizanthacv. Xaraés sob doses de nitrogênio e fósforo (Production and morphophysiology of PalisadegrassBrachiaria brizantha cv. Xaraés under nitrogen and phosphorus fertilization) ........................... 124

Meio ambiente (Environment)

Carlos Fernando Lemos, Flávio Barbosa Justino, Luiz Cláudio Costa, John Edmund Lewis Maddock.Distribuição espacial do índice de Haines para Minas Gerais por análise da média atmosfera (Spatialdistribution of the Haines index for Minas Gerais by analysis of average atmosphere) ............. 132

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Kelly de Oliveira Barros, José Marinaldo Gleriani, Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro, EliasSilva. O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamentoremoto (Desertification studies using remote sensing techniques: a framework and state-of-the-art survey) ..................................................................................................................................................... 144

Haroldo Wilson da Silva, Kléber Pelícia. Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo debiodigestão anaeróbica (Layers solid waste management by anaerobic digestion process) ........ 151

Sâmara de Oliveira Fófano, Rolf Puschmann, Thais Covre Delboni, Alana de Oliveira Pereira Vilete.Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos (Strategies for a participatorymanagement of solid waste collection) ................................................................................................... 156

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Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social

ECONOMIA ECOLÓGICA: ENTRE A PROTEÇÃO AMBIENTAL E AGARANTIA DO BEM-ESTAR SOCIAL

Michelle Lucas Cardoso Balbino1

RESUMO – As externalidades negativas para a sociedade têm origem no fato de as empresas não pagarempela utilização dos recursos naturais nem dos serviços ambientais no processo de produção de bens e serviços.Espontaneamente, as empresas não internalizarão os custos sociais associados às externalidades, uma vez quetodas buscam reduzir custos num cenário de concorrência cada vez mais intensa. Somente por meio da açãoconcertada dos movimentos sociais organizados, dos governos, do ministério público e do poder judiciário,os custos das externalidades negativas serão contabilizados nos custos de produção das empresas. Neste sentido,a Teoria de Pigou de internalização das externalidades negativas contém instrumentos econômicos eficazespara promover a proteção dos recursos naturais e dos serviços ambientais. Contudo, a aceitabilidade socialde uma nova gestão de recursos da natureza, na qual se considera a proteção dos recursos naturais e dos serviçosambientais como fator a ser priorizado para a manutenção do bem-estar social, é um grande problema porafetar as vantagens competitivas das empresas. Entretanto, ela se justifica quando se considera que a utilizaçãodos recursos da natureza e a degradação do meio ambiente na produção de bens finais são locais, enquantoo seu consumo é realizado em toda a parte.

Palavras-chave: Bem-estar social, custos sociais, internalização das externalidades, proteção ambiental.

ECOLOGICAL ECONOMICS AND CONTEMPORARY: ECONOMICCOMPONENTS FOR ENVIRONMENTAL PROTECTION AND THE WARRANTY

OF SOCIAL WELFARE

ABSTRACT - The negative externalities for society have their origin in fact that companies do not payfor the use of natural resources or environmental services in the production of goods and services.Spontaneously, companies do not internalize the social costs associated with externalities, since theyall seek to reduce costs in a scenario of increasingly intense competition. Only through the concertedeffort of organized social movements, governments, public prosecutors and the judiciary, the costs ofnegative externalities are accounted for in production costs of enterprises. In this direction, the theoryof the Pigovian internalization of negative externalities contains effective economic instruments to promotethe protection of natural resources and environmental services. However, the social acceptability ofa new resource management nature, which considers the protection of natural resources and environmentalservices as a factor to be prioritized for the maintenance of social welfare, is a great problem to affectthe competitive advantages of companies. Meanwhile, it is justified when one considers the use of natureresources and environmental degradation in the production of final goods are local, while their consumptionis done everywhere.

Keywords: Agribusiness, family agriculture, sustainability.

1 Aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental da Universidade Federalde Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected]

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BALBINO, M.L.C.

1. INTRODUÇÃO

A economia do bem-estar, por ser vista como umcampo marginal da teoria econômica, com grandedificuldade na definição do que vem a ser bem-estar2,é um campo propício para a formação de conflitos, quecausam sérios problemas a toda a sociedade, pois anecessidade de realização social de forma individualizadasempre é ponderada acima dos interesses coletivos,não se observando os critérios da justiça, que giramem torno do conceito de utilidade.

A utilidade sempre foi taxada no campo ético, ouseja, no ponto de vista depreciativo, pois não é possívelfazer comparações interpessoais. Contudo, orelacionamento entre a economia moderna e a éticaé visto de forma depreciativa, contrariando o ideal clássicoda economia, para o qual a ética era o padrão a serseguido. Assim, tem-se que o bem-estar social dependedo nível de satisfação de todas as pessoas.

Apesar destas dificuldades, no contextocontemporâneo da economia do bem-estar, a ética deveser observada também nas questões ambientais, pormeio de mecanismos de proteção aos ecossistemas.

Surge então a ideia da internalização dasexternalidades, segundo a qual o custo marginalexistente em uma empresa deve necessariamenteincorporar os custos associados à utilização e àdegradação dos recursos naturais públicos, tornando-se necessário estabelecer custos adicionais pelo usodos bens naturais comuns, em virtude de sua escassez,e fazendo com que o preço praticado pela empresaseja maior do que o preço praticado no mercado deeconomia perfeita.

Nasce, então, o problema relevante abordado nestetrabalho, que é a aceitabilidade social de uma novagestão dos recursos naturais, considerando-se a suaproteção como um fator a ser priorizado para a manutençãoda qualidade de vida, ou seja, o bem-estar social passaa ser fundamental na gestão dos recursos naturais edos serviços ambientais, utilizando-se os custos sociaise a internalização das externalidades para alcançar asua proteção.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia utilizada para a construção do temateve como base a realização de o um estudo exploratórioatravés de revisão bibliográfica, analisando-se livros,revistas, artigos, teses, monografias e dissertaçõesreferentes ao tema.

Os livros utilizados abordam questões inerentesao Direito Econômico e o Desenvolvimento Sustentável,todos adquiridos por meio de recursos próprios.

O período de coleta de materiais se deu entre osmeses de dezembro de 2011 e janeiro de 2012, sendoque os critérios utilizados para a busca e seleção dosmateriais incluíram, preferencialmente, publicaçõesposteriores ao ano de 2006.

Através dos dados coletados, foi possível trazerao estudo questões que puderam auxiliar na construçãodo texto, chegando-se, assim, às considerações finais,fato que agregou qualidade às discussões empreendidas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Custos sociais e internalização das externalidades:componentes econômicos para a proteção ambiental

A cada geração, as demandas por consumoaumentam de forma alarmante. Este fato, iniciado coma Revolução Industrial no século XVIII e intensificadono pós-Segunda Guerra Mundial, tornou-se o propulsordo crescimento econômico sustentado. Porém, ocrescimento econômico acaba gerando custos ebenefícios à sociedade e, na grande maioria das vezes,esses custos não são ressarcidos e os benefícios nãosão recebidos, nascendo então as externalidades ouefeitos externos.

Motta (2006, p.182) aponta que “as externalidadesestão presentes sempre que terceiros ganham sem pagarpor seus benefícios marginais ou perdem sem seremcompensados por suportarem o malefício adicional”.Já Nusdeo (2009, p.152) descreve que “o nomeexternalidade ou efeito externo não quer significar fatosocorridos fora das unidades econômicas, mas sim fatosou efeitos ocorridos fora do mercado, externos ou

2 A história do conceito de Bem-estar é recente, o primeiro a estudar o termo na concepção em que é vista atualmente foi W. Wilson,em 1960, o autor relacionou os conceitos de Satisfação e de Felicidade numa perspectiva Base-Topo, conhecida como Bottom Up, e Topo-Base, ou Top Down, sendo que a Satisfação imediata das necessidades traz a Felicidade, enquanto a persistência de necessidades por satisfazercausa Infelicidade (Galinha & Ribeiro, 2005).

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Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social

paralelos a ele, podendo ser vistos como efeitosparasitas”.

Assim, pelo fato de as atividades produtivas afetaremdiretamente o meio ambiente, gerando externalidadesque não serão ressarcidas à sociedade nem lhe trarãobenefícios, os cálculos privados em relação a essescustos e benefícios diferem dos cálculos públicos.

Quando não há o ressarcimento dos custos, aexternalidade é considerada como negativa, enquantoque quando existe transferência não compensada dosbenefícios, a externalidade é vista como positiva oubenefício social (Nusdeo, 2009).

[...] deseconomias externas [são] os efeitos sociaisdanosos da produção privada, e de economias externas[são] os efeitos de aumento de bem-estar socialda produção privada. Em ambos os casos, tantopositivo como negativo, o mercado não transportatodas as informações necessárias para que seusagentes (empresas e consumidores) realizem aalocação ótima de fatores (Derani, 2009, p. 91).

De modo geral, a sociedade é atingida porexternalidades negativas, danos decorrentes da produçãoprivada, sem que haja a devida recompensa. Nestascondições, o custo marginal de produção não agregatodos os custos envolvidos. Assim, o custo socialé maior do que o custo privado, pois os custos inerentesaos danos causados ao meio ambiente não estão sendocontabilizados, uma vez que os serviços ambientaisnão estão sendo considerados como mercadorias, ouseja, a empresa não paga pelo seu uso.

O contexto de externalidades negativas leva àcrença de que os recursos naturais e os serviçosambientais, já escassos, possam continuar sendooferecidos como se fossem bens livres (Nusdeo, 2009).Além disso, “a busca de uma poupança dos recursosnaturais mediante um aumento dos custos deapropriação, garantindo a existência desses recursospara a apropriação de gerações futuras, revela-seinsuficiente” (Derani, 2009).

Portanto, o fato é que para a solução deste problemafaz-se necessária a internalização das externalidades,buscando-se por meio de diversas ações de eficiênciaeconômica internalizar as externalidade negativas aoscustos da empresa, como forma de atribuir o preçocorreto, contabilizando-se os recursos naturais e osserviços ambientais utilizados.

Dessa forma, a eficiência econômica exige quese assinale o “preço correto” aos recursosambientais. Internalizando os custos (benefícios)ambientais via preços das externalidades nasatividades de produção ou consumo, é possívelobter uma melhoria de eficiência com maior nívelde bem-estar. (Motta, 206, p.183)

Deve-se considerar que os agentes produtivossó internalizam as externalidades por meio de açõesgovernamentais ou por intervenção dos movimentossociais, que fazem com que as empresas internalizemos custos sociais, por meio da cobrança dos recursoscomuns no processo de produção, o que leva ao aumentodos preços dos bens que elas produzem.

Logo, a internalização das externalidades negativasleva a um preço maior de mercado, ou seja, osconsumidores pagarão um preço maior pelos bens finaisem cuja produção se utilizam recursos naturais ou bensambientais públicos.

Entretanto, localmente este não é um jogo de somazero, no qual a comunidade recebe pela utilização dosrecursos naturais e dos serviços ambientais comunse paga um preço maior pelos bens finais.

Com efeito, de modo geral, enquanto os recursosnaturais e a degradação ambiental estão localizadosespacialmente, o consumo dos bens finais produzidoslocalmente tornou-se universal, por causa da grandeabertura comercial, do desenvolvimento dos transportese da expansão do comércio internacional.

Duas teorias procuram oferecer caminhos parase resolver o problema das externalidades: a de Pigou,descrita no The Economics of Welfare em 1920, e ade Coase, definida no The Problem of Social Cost em1960. A primeira com tendência à correção do mercadoe a segunda com vistas à extensão do mercado. A Teoriade Pigou visa à internalização das externalidades pormeio da indenização das pessoas ou da fixação de impostossobre o uso do recurso ambiental (taxa pigouviana) oumesmo pelo fechamento do empreendimento. Já a Teoriade Coase considera que a solução do problema dasexternalidades passa pela clara definição de direitosde propriedade, de tal modo que todos os bens, inclusiveos recursos naturais e os bens ambientais, deixariamde ser bens comuns (Motta, 2006).

Especificamente, o Teorema de Coase coloca areciprocidade como ponto principal, estabelecendo

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BALBINO, M.L.C.

a negociação entre a parte afetada e a parte geradorada externalidade, como rota para resolução do problema.

Os adeptos da liberalização do mercado, numoutro extremo, preferem soluções extraídas detransações entre causador e suportador dos efeitosexternos, eliminando o Estado redistribuidor(subvencionador) e o Estado elevador de impostos.Aqui, encontramos Coase. Pressuposto para estasolução é um sistema global de direitos depropriedade dos sujeitos privados, que negociamseus interesses, buscando um acordo, para, assim,conseguirem um internalização eficiente dos efeitosexternos (Derani, 2009, p.92).

Esta corrente estuda o papel das instituições nadefinição dos direito de propriedade e suas repercussõesna alocação eficiente dos recursos. Nestes casos, taxaspigouvianas não seriam necessárias, pois o própriomercado atingiria soluções ótimas sem uso deinstrumentos fiscais.

Considerada a viabilidade de aplicação, o Teoremade Coase esbarra nos custos de transação, que podemser absurdamente elevados e, portanto, impeditivos, quandomuitos atores estão envolvidos no processo negociação.

Diante da necessidade de internalização dasexternalidades, Fabio Nusdeo (2009, p.153) aponta que“pelo próprio espírito hedonista, pressupostopsicológico-comportamental do sistema de mercado,a tendência natural dos agentes econômicos será ade lançar para fora os seus custos (externalizá-los)”.

Assim, existe uma tendência à manutenção dasexternalidades como estão, ou seja, externas, com osseus custos sendo suportados pela sociedade, salvose houver decisão judicial ou intervenção administrativano sentido da sua internalização.

Logo, é preciso mudar a maneira de abordar o problemae buscar soluções que passam pela internalização dasexternalidades, pois se trata de instrumento econômicoeficaz para a proteção dos recursos naturais e para evitara degradação dos serviços ambientais, o que deve serfeito considerando-se avaliações de ordem econômica,social, ambiental, cultural e de capacidade técnica.

A proteção do meio ambiente como garantidor do bem-estar social

A Constituição Federal, no caput do artigo 225aponta que “todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum dopovo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente e futuras gerações”,consagrando o direito a um meio ambiente saudávelcomo direito fundamental.

A consagração, na ordem jurídica brasileira, dodireito a um meio ambiente saudável como direitofundamental de todo ser humano refletecompreensão de natureza universal, que, por suavez, decorre de um processo histórico no qualos direitos humanos, em seu conjunto, foram sendoprogressivamente conformados e reconhecidoscomo marco de referência essencial da civilização(Dallari, 2009, p. 194).

Valer registrar que o acesso de todos, de formaisonômica, inter e intrageracional, aos recursos naturaisno gozo da qualidade de vida (bem-estar individuale coletivo) se concretiza na democracia ambiental (D’Isep,2009b).

A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972,é considerada a primeira manifestação de caráter mundialpara uma tentativa de relacionar o homem ao meio ambienteem que vive, resultando em marcos históricos diversos,dos quais se destacam a criação do Programa das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Declaraçãodas Nações Unidas sobre o Ambiente Humano ouDeclaração de Estocolmo.

Nesta Declaração, o direito fundamental àpreservação do meio ambiente foi reconhecidomundialmente; em seu Princípio 1 enuncia-se, pelaprimeira vez, de maneira explícita, o direito humanoao ambiente adequado:

Princípio 1: O homem tem o direito fundamentalà liberdade, à igualdade e ao desfrute de condiçõesde vida adequadas, em um meio ambiente dequalidade tal que lhe permita levar uma vidadigna, gozar de bem-estar e é portador solenede obrigação de proteger e melhorar o meioambiente, para as gerações presentes e futuras.A esse respeito, as políticas que promovem ouperpetuam o “apartheid”, a segregação racial,a discriminação, a opressão colonial e outrasformas de opressão e de dominação estrangeirapermanecem condenadas e devem ser eliminadas.(Conferência, 1972)

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Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social

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Em meados da década de 1980, a Organização dasNações Unidas constituiu a “Comissão Mundial doDesenvolvimento e Meio Ambiente” (CMMAD),conhecida como Comissão Brundtland, para realizarum estudo global visando à conciliação entre crescimentoeconômico e preservação do meio ambiente, o chamadoRelatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum,apresentado ao mundo em 1987, que aponta aincompatibilidade entre o modelo de desenvolvimentoadotado pelos países industrializados, que utilizamos recursos naturais desordenadamente e sem considerara capacidade de suporte dos ecossistemas, e odesenvolvimento sustentável.

Nessa linha histórica, as incorporações do direitoa um meio ambiente saudável e do direito aodesenvolvimento (percepção de desenvolvimentosustentável) ao rol de direitos fundamentais do serhumano, deixando de lado o posicionamento apenasnos aspectos econômicos e ecológicos, tenderam avalorizar-se “como critérios de aferição e controle socialrelativamente à validade das políticas públicas adotadaspelos governos nacionais e locais e mesmointernacionalmente com vistas à melhoria e à preservaçãodas condições de vida da população” (Dallari, 2009,p.214).

É importante compreender que o direito aodesenvolvimento corresponde a uma visãoantropocêntrica introduzida pelo Direito ConstitucionalAmbiental, integrando humanidade e meio ambiente,assim, “o antropocentrismo, além de necessário aoequilíbrio das complexas necessidades da vida humana,neutraliza o caráter desumano das demais posiçõesque, de forma antagônica, trabalham contra o bem-estar do homem” (D’Isep, 2009a, p.102).

Com fins a complementar o sentido dado pelasteorias econômicas preocupadas com o bem-estar social,surgem os preceitos normativos do direito ambiental,os quais visam garantir a qualidade de vida, encontram-se sustentados por normas de ordem econômica, e têmpor fim assegurar a todos existência digna (Derani,2009), conforme ditames da justiça social apresentadosno artigo 170 da Constituição Federal3.

A qualidade de vida, muitas vezes referida porsua expressão sinônima “bem-estar”, concebida tantono direito econômico quanto no direito ambiental, nãodeve ser entendida apenas como o conjunto de bense de comodidades materiais, nem apenas no ideal doecologismo dos pobres, em que há uma reação eindiscriminado desprezo a toda elaboração técnica eindustrial. Ao contrário, a qualidade de vida deveapresentar dois aspectos concomitantes: o nível devida material e o nível de bem-estar físico e espiritual,pois uma sadia qualidade vida abrange esta totalidade(Derani, 2009).

Tal fato é retratado por Metzen et al. (1980) quandoafirmam que a qualidade de vida envolve não apenasos aspectos objetivos inerentes aos bens materiais,devendo ser incluídos diversos outros indicadoresinteiramente relacionados com a percepção, prioridadee nível de satisfação da mesma.

Contudo, diante das deficiências encontradas nasatisfação e garantia do bem-estar social, tendo emvista as inúmeras intervenções destrutivas realizadaspelo homem no meio ambiente, faz-se necessário atuarde forma rápida na proteção do meio ambiente, poiseste é visto como bem garantidor do bem-estar social.

Neste sentido, vale transcrever os pensamentosde Azevedo (2008), que em seu livro “Ecocivilização:ambiente e direito no limiar da vida” escreveu comalto potencial crítico e filosófico sobre a destruiçãodo meio ambiente e, por consequência, da vida humana.

Neste contexto, em que se constata a anemia dapolítica, dominam o constrangimento econômicoe o pensamento unidimensional e servil ao statusquo, tudo desaguando, de modo dramático, no meioambiente. É, então, que o pensamento parcela, cindido,revela sua impotência e suas funestas consequências.É a natureza, em suas múltiplas formas e ecossistemas,que desvela o point de non retour de uma civilizaçãotão sofisticada tecnologicamente quanto suicida.(Azevedo, 2008, p.14)

Esse também é o entendimento da AvaliaçãoEcossistêmica do Milênio elaborada pela Junta

3 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existênciadigna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

[...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviçose de seus processos de elaboração e prestação; [...]

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Coordenadora da Avaliação Ecossistêmica do Milênio,que avaliou as consequências que as mudanças nosecossistemas trazem para o bem-estar humano, ao afirmarque “proteger e melhorar nosso bem-estar futuro requerum uso mais sábio e menos destrutivo de nosso capitalnatural. Isto, por sua vez, envolve drásticas mudançasno modo em que tomamos e implantamos decisões”(ONU, 2011).

No Brasil, desde meados dos anos 1980, essa mesmalinha de pensamento está presente nosocioambientalismo, que é fruto de articulações políticasentre os movimentos sociais e o movimento ambientalista,como resultado da “consolidação democrática no país,que passou a dar à sociedade civil um amplo espaçode mobilização e articulação, que resultou em aliançaspolíticas estratégicas entre os movimentos social eambientalista” (Santilli & Santilli, 2009, p.217-218).

Frente a todas as questões e argumentaçõesdesenvolvidas, torna-se um imperativo considerar ahumanidade integrada de modo indissociável ao meioambiente, não sendo mais possível continuardesconsiderando a proteção ambiental como garantidorado bem-estar social.

Neste sentido, a utilização judiciosa dosinstrumentos econômicos propostos pela Teoria dePigou para se internalizar as externalidades apresenta-se como um modo eficaz na proteção ambiental,possibilitando a manutenção de um ambienteecologicamente equilibrado, favorecendo uma melhorqualidade de vida para todos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A visão contemporânea antropocêntrica consideraa humanidade como parte que integra de modoindissociável o meio ambiente, logo o desafio colocadopara a geração atual é conciliar a melhoria do bem-estar material e espiritual das pessoas com a preservaçãodo meio ambiente. Políticas públicas capazes de conciliardesenvolvimento econômico, social, político e culturalcom um ambiente ecologicamente equilibrado passarama ser imprescindíveis.

Assim, o progresso tecnológico voltado para odesenvolvimento e o emprego de novas tecnologiaslimpas, que empregam menores quantidades de materiaise de energia e causam menores danos ao meio ambientepor unidade de bem ou serviço final, e mudanças nos

hábitos de consumo, que priorizem a demanda por bensproduzidos por processos ecologicamente corretos,constituem ações efetivas para a conservação do meioambiente e a melhoria da qualidade de vida.

Tais fatores estão integrados ao atual modelo deindustrialização que busca definir, em longo prazo,um novo padrão de qualidade que seja capaz de mantera prosperidade do planeta e a manutenção da vida humananeste. Contudo, melhores condições de vida quegarantam o bem-estar de todos somente serão alcançadasatravés de ações concertadas de movimentos sociaisorganizados, dos governos em todos os níveis, doMinistério Público e do Poder Judiciário.

A adoção de tais pontos torna-se fator essencialpara a conservação dos recursos naturais e para seimpedir a degradação dos serviços ambientais comvistas a promover uma melhoria contínua na qualidadede vida da geração atual e a garantir as condiçõesmateriais para a vida das futuras gerações.

Num ambiente de concorrência exacerbada, asempresas buscam minimizar os custos para auferirsuperlucros. Neste contexto, elas jamais internalizarãoespontaneamente os custos associados às externalidadesnegativas. Ao contrário, elas pressionarão para queos custos relativos ao emprego que elas fazem dosrecursos naturais e dos serviços ambientais públicossejam pagos pela sociedade que vive nos locais emque suas plantas estão instaladas.

Somente por meio de instituições e de políticaspúblicas voltadas para a internalização das externalidadesnegativas é que as empresas pagarão pela degradaçãodos recursos naturais e pelos danos aos serviçosambientais que elas promovem no processo produtivo.Em vista dos elevados custos de transação, a resoluçãopor meio de negociação dos impasses entre o causadordo dano ao meio ambiente e aqueles que sofrem comele não se aplica a situações reais.

Assim, a ação efetiva do poder público para resolveros conflitos entre as empresas e a população do localdas plantas industriais é imprescindível, sendo quea taxa pigouviana constitui-se num instrumentoeconômico eficaz, por internalizar as externalidadesnegativas.

Vale considerar que, além da atuação política eeconômica do Estado (taxa pigouviana), a internalizaçãodas externalidades negativas também pode ser

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Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social

estabelecida no campo social, por meio de acordosrealizados entre as empresas degradadora erepresentantes da comunidade local, com fins a integraros danos ambientais, ou melhor, a prevenção/mitigaçãodesses danos, nas despesas gerais das empresas. Outraquestão social que pode resultar em ótimos benefíciosao ambiente é a utilização da força coletiva no embargoou “boicote” às compras dos produtos originários daempresa degradadora, sendo este um instrumentopoderoso da população.

Portanto, a economia ecológica, que determinanovas estruturas econômicas, não pode estar entrea proteção ambiental e a garantia do bem-estar social,ambos os fatores deve integrar a abordagem econômicaatual, afinal de contas o ambiente deve ser preservado,sendo crucial a definição de políticas e as legislaçõesambientais que impulsionem as mudanças nas políticasem nível nacional e internacional, contudo, sem prejudicara garantia do bem-estar da sociedade.

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NUNES, P.N. et al.

A PARTICIPAÇÃO DO SETOR MADEIREIRO NA ECONOMIA DASMICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS DO PARANÁ - 2009

Paulo Alexandre Nunes1, Carmem Ozana de Melo2, Diego Teixeira3

RESUMO – Este trabalho apresenta uma visão panorâmica da indústria madeireira no estado do Paraná, analisando-se as microrregiões do estado nas quais o setor madeireiro possui relevância econômica, no ano de 2009. Atravésde medidas regionais, a estrutura setorial-produtiva é organizada em uma matriz, da qual são extraídas informaçõese realizados os cálculos das medidas de localização e especialização. Os resultados permitiram identificar asmicrorregiões mais importantes do segmento fabricação de produtos de madeira, sendo apontadas as microrregiõesde Jaguariaíva, Rio Negro e Guarapuava como pólos madeireiros e a formação de arranjos produtivos locaisnessas regiões.

Palavras-chave: Arranjo produtivo local, construção civil, exportações, fomento florestal, indústria madeireira,medidas regionais.

SECTOR PARTICIPATION IN THE ECONOMY OF TIMBER MICROGEOGRAPHIC PARANÁ - 2009

ABSTRACT - This paper presents an overview of the timber industry in the state of Paraná, analyzingthe micro-state in which the timber sector has economic importance, in 2009. Through regional measures,industry structure, production is organized in a matrix, from which information is extracted and madecalculations of the measures of location and specialization. The results allowed to identify the mostimportant segment micro manufacturing of wood products, and pointed out the micro-regions of Jaguariaiva,Rio Negro and Guarapuava as wood poles and the formation of local clusters in these regions.

Keywords:Construction, exports, forest development, local productive arrangement, regional measures, timberindustry.

1 Professor do Departamento de Ciências Econômicas - UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected] Professora do Departamento de Ciências Econômicas - UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected] Bacharel em Ciências Econômicas pela UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

Segundo Bittencourt & Oliveira (2009), a atividadeflorestal e madeireira sempre contribuiu para odesenvolvimento sócio econômico do país e do Paraná,além de participar em um ciclo econômico de grandeimportância para o Estado. A indústria madeireira sedestaca por ser um segmento de granderepresentatividade na economia brasileira, influenciandoa geração de renda, tributos, divisas, empregos, eatualmente a preservação ambiental. Os complexosprodutivos chamados arranjos produtivos locais estãopresentes nesse segmento, pois neles as participações

de empresas da mesma atividade e em municípiospróximos ficam concentradas em determinada regiãoe interagem entre si. Dessa forma a região se desenvolvee fortalece o ramo da atividade, absorvendo trabalhadores,ganhando novos mercados e implantando melhoriasnos processos produtivos e na gestão.

Com a abertura comercial brasileira, o segmentomadeireiro passou por um processo de modernização,pois a atual disponibilidade de recursos florestais torna-se cada vez mais competitiva, tanto no mercado internocomo no mercado externo. Foi pensando nessa situaçãoque, em 2000, foi criado o Programa Nacional de Floresta,

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A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009

que visa expandir a base florestal através de políticasadequadas, para abastecer a indústria madeireira e manterseu mercado em ascensão (Bittencourt & Oliveira, 2009).

De acordo com a ABIMCI (2008), mesmo com osinúmeros fatores que afetaram a competitividade dosetor madeireiro, como a variação cambial, a reduçãona demanda de madeira nos EUA, o aumento dos custosde produção, entre outros, os dados de 2007 apontaramum bom desempenho da indústria madeireira processadamecanicamente, tendo em vista que o setor apresentouum crescimento de 2,3% em 2007, ano em que o PIBdesse setor chegou a US$ 13,1 bilhões. O setor tembuscado novas soluções e isso refletiu no bomdesempenho do PIB setorial em 2007. Dentre essassoluções destacam-se os ganhos de escala e controlesobre o suprimento de matéria-prima, a diferenciaçãodos produtos, o aumento nos níveis de produtividade,melhoria da eficiência (floresta – indústria – mercado)e programas de certificação de qualidade.

A proposta de análise desta pesquisa consisteem identificar a importância da indústria madeireirano Paraná, bem como a participação do setor madeireirona economia de cada microrregião do estado. Para isso,serão contextualizados, em um histórico sobre a indústriamadeireira no Paraná, seu panorama atual, a classificaçãoem que se enquadra a fabricação de produtos de madeirade acordo com a classificação nacional de atividadeseconômicas (CNAE), e a relação do setor madeireirocom a construção civil. Assim, este artigo tem comoobjetivo principal analisar a localização e a distribuiçãodo setor industrial madeireiro, ponderar o grau relativode concentração da atividade industrial madeireira,e identificar o grau de especialização das microrregiõesdo Paraná.

Considerando a importância da economiaparanaense em relação ao Brasil, é de grande relevânciao estudo da indústria madeireira no Paraná, visto queesta responde por cerca de 17% do total do ValorAdicionado Fiscal da indústria e o maior empregadorindustrial do Paraná, com aproximadamente 21% dototal da mão-de-obra industrial do estado (IPARDES-SEBRAE, 2006, p.19).

Neste contexto, justifica-se a relevância do temaestudado, como forma para compreender a importânciada indústria madeireira para a economia paranaense,bem como a identificação das principais microrregiõesdo estado onde este setor exerce maior influência.

2. A INDÚSTRIA MADEIREIRA NO ESTADO DOPARANÁ

Segundo Lavalle (1981), existia no Paraná umaextensa floresta araucária angustifólia que permitiu,a partir do século XIX, que a exploração da madeirafosse uma das atividades mais importantes da região.No início, a madeira era retirada nas áreas litorâneasdevido à dificuldade de ligação entre o litoral (Portosde Paranaguá, Antonina e o Porto fluvial de Foz doIguaçu) e o planalto onde se localizavam as matas dearaucária. Com o surgimento da ligação ferroviária entreo planalto e o litoral abriram-se novas perspectivaspara a madeira paranaense, principalmente para o pinho.Com o advento da Primeira Guerra Mundial, esse produtoganhou uma importância significativa na indústriaparanaense. Após a Segunda Guerra Mundial, com aabertura e a dinamização dos mercados europeus queimportavam madeira, aliadas à necessidade dereconstrução de edifícios, ferrovias e indústriasdestruídos pela guerra, gerou-se uma oportunidadeextraordinária para fornecedores menores entrarem nomercado de exportações.

Mesmo com toda a legislação que os governostentaram implantar desde 1904 visando à preservaçãodas matas do estado, o esgotamento florestal foicrescente, principalmente com a abertura do mercadoeuropeu para o pinho brasileiro e com a expansão dosmercados platinos que geraram uma devastação maiornas regiões centro-sul e oeste do Paraná.

Durante a década de 1990, o estado apresentouexpansão industrial que lhe garantiu competitividadee modernização de seu parque industrial. Além dosdiversos investimentos, a estratégia do governo estadual,iniciada em 1995 com o intuito de atrair novas indústrias,teve como base a melhoria na infraestrutura do estado,fazendo melhorias em suas rodovias, portos, aeroportos,ferrovias, energia, saneamento, o aumento da qualidadede vida e a qualificação profissional.

Destacam-se, entre os principais investimentosindustriais, as montadoras de veículos e a implantaçãode empresas produtoras de painéis de madeira, alémdo fortalecimento dos setores madeireiros e moveleirosdo estado.

Na visão de Duda et al. (2010), na década de 1990,o Paraná se destaca por possuir um privilegiado estoquede matéria-prima e tecnologia para a indústria madeireira.A taxa de câmbio, por um lado, prejudicava a indústria

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exportadora de pinheiros nativos e, por outro, permitiaa importação de maquinário para o aproveitamento dopinus, disponível em grandes áreas para desbaste(primeiro corte da árvore) e com um custo baixo paraa nova indústria. Ainda nesse contexto se destacavaa política de atração de investimentos estrangeirosem projetos industriais e a preocupação com oaprimoramento da infraestrutura.

Para Bittencourt & Oliveira (2009), os últimos 15anos representaram uma reestruturação da indústriamadeireira que foi fundamental para manter e ampliaros mercados interno e externo, promovendo assimdesenvolvimento para o país, isso tudo devido à aberturacomercial. Na década de 1990 o Brasil não participavamuito nas exportações mundiais de origem florestal,com a abertura comercial e a desvalorização cambial,o país ganhou mais espaço no mercado externo e, em2005, já correspondia com cerca de 4,6% das exportaçõesmundiais e se firmava como o maior exportador decompensados de pinus, celulose de fibra de eucaliptoe também como o terceiro exportador de madeira serradatropical.

De acordo com Duda et al. (2010), no período de1999 a 2003, o estado organiza-se com novas empresasou conversão de antigos exploradores de pinheiro doParaná e o começo de uma nova indústria local decompensados de pinus, com destaque para a cidadede Palmas. Nos polos de Telêmaco Borba, Jaguariaíva,Ponta Grossa, Vale do Ribeira, Guarapuava e Curitiba,ocorreu o mesmo, porém no segmento de madeira serrada.Em 2004 ocorreu o ápice das exportações de produtosde madeira no Paraná, e a partir desse ano essasexportações sofrem uma sensível diminuição, deixandoentender que a crise mundial de 2008 teve grande influêncianesse quadro, isso devido à queda na demanda externa.Nesse período ocorre uma diminuição da importânciarelativa da indústria paranaense de controle local,passando a predominar empresas de controle estrangeiro,voltadas ao mercado interno.

Nesse contexto, cabe destacar a atuação da empresalocal Bernek Aglomerados, produzindo placas de MDP(painéis produzidas com partículas de madeira, coma incorporação de um adesivo sintético (Weber, 2011))e que também inaugurou uma planta de MDF (painelde madeira reconstituída de média densidade (Weber,2011)) em Araucária. Outra empresa de destaque é aPlacas do Paraná, que está sob controle da chilena

Arauco e possui uma planta de MDP em Curitiba euma de MDF em Jaguariaíva. Em 2009 essa empresaadquiriu a maior indústria de MDF do Paraná, a Tafira.

Segundo a FIEP (2011), a fabricação de produtosde madeira do Paraná é a segunda maior do Brasil emnúmero de trabalhadores, perdendo somente para SantaCatarina. Em 2006 a indústria madeireira tinha vínculocom 44.233 trabalhadores. Na subclassificação “fabricaçãode madeira laminada e chapas de madeira compensada”,o Paraná possui a melhor posição, com 18.658trabalhadores. O gênero industrial madeira possui 2.320estabelecimentos industriais e responde por 3,8% dasvendas industriais do Paraná. Os indicadores conjunturaismais recentes não deixam dúvidas sobre a desaceleraçãoda atividade industrial madeireira no Brasil e no Paraná,o fraco desempenho da indústria madeireira paranaensese deve aos fatores de restrição do crescimento daeconomia, como a alta carga tributária e a rigidez dapolítica monetária.

Os altos patamares de juros e a tributação impõemcondições desfavoráveis à contratação de financiamentose também aumentam o custo de oportunidade dosinvestimentos na produção, comprometendo assim aformação de poupança empresarial por conta da fortetransferência de recursos para os setores públicos efinanceiros.

Também são nítidos os efeitos da apreciação cambial,principalmente sobre segmentos manufatureiros comelevado coeficiente de exportações. A forte contraçãoda atividade na indústria madeireira do Paraná produzefeitos negativos sobre a produção e o emprego (FIEP,2011).

De acordo com Duda et al. (2010), o grupo de madeirase manufaturas de madeiras é o 4º item da pauta deexportações paranaenses, perdendo apenas para ocomplexo soja, carnes e materiais de transporte. Pode-se notar que os três primeiros itens da pauta deexportações do Paraná têm sua produção em regiõesconsolidadas como polos de elevado grau dedesenvolvimento humano (região norte, oeste emetropolitana de Curitiba). Já a indústria madeireiratrouxe benefícios às regiões que estavam mais estagnadasou sequer experimentaram ciclos de desenvolvimento.

A recuperação da indústria madeireira exportadorateve como principal cenário os polos de Ponta Grossa,Guarapuava, Palmas, Telêmaco Borba, Jaguariaíva, União

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A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009

da Vitória, Lapa e Irati. Além de beneficiar as regiõesmenos desenvolvidas do estado, o setor madeireiroutiliza mão-de-obra intensiva e de baixa qualificação,além de aproveitar áreas acidentadas, inviáveis àmecanização de um modo geral, que são deixadas delado pela agricultura e utilizadas nos longos ciclosda silvicultura.

Além da importância para as exportações do estado,a indústria madeireira também se relaciona com outrossetores. Dentre os principais setores consumidoresda madeira destacam-se o setor moveleiro e o setorde construção civil, sendo este último o maior consumidorda madeira tropical produzida no Brasil (Zenid, 2009).

Conforme destaca ABIMCI (2008), no início de2007 o governo federal lançou o Programa de Aceleraçãodo Crescimento (PAC), cujo objetivo é expandir ocrescimento econômico social do Brasil, e a construçãocivil foi um dos principais segmentos beneficiadospelo Programa. Além disso, outros fatores contribuemcom o crescente aquecimento desse setor, como osinúmeros lançamentos de empreendimentos imobiliários,atrelados à facilidade de compra da casa própria e decrédito para reformas e construções de forma consignada.Segundo o IBGE (2008), a construção civil cresceu 9,9%no segundo trimestre do ano de 2008 em relação aomesmo período do ano anterior.

Nesse contexto de crescimento da construção civil,o segmento madeireiro também está sendo beneficiado,pois a indústria de madeira processada mecanicamentepassou em 2008 por momentos de crise em função davalorização do real frente ao dólar, além da queda dademanda imobiliária nos Estados Unidos da América(EUA). Com o crescente investimento da construçãocivil no país, a indústria madeireira teve a oportunidadede diminuir suas perdas através das vendas no mercadointerno. Pode-se inferir então que o bom momento vividopela construção civil no Brasil representa umaoportunidade, principalmente para a indústria da madeiraprocessada mecanicamente, de recuperação econômico-social e de geração de emprego e renda.

A proximidade geográfica parece ser o ponto departida para a análise das novas formas de organizaçãodas firmas. Essa proximidade entre as firmas e a

especialização setorial completa-se formando umaeconomia de aglomeração e isso vem sendo identificadocomo característica de algumas indústrias. A proximidadegeográfica possibilita o surgimento de outras atividadessubsidiárias em relação à firma. Os fornecedores debens e serviços representam uma importante fonte deeconomias externas. Porém, o conceito de externalidadepossui um alcance limitado, envolvendo apenas afacilidade de acesso aos insumos especializados, mão-de-obra e outros fatores de produção. No entanto, foiMarshall quem institui a ideia de economias externase, portanto, pode-se dizer que a ideia de arranjosprodutivos é um desdobramento dos trabalhos deMarshall4 no século XIX (Stainsck et al., 2005).

Arranjo Produtivo Local é definido como aaglomeração de um número significativo de empresasque atuam em torno de uma atividade produtivaprincipal, e de empresas correlatas e complementares- como fornecedoras de insumos e equipamentos,prestadoras de consultoria e serviços,comercializadoras, clientes, entre outras -, em ummesmo espaço geográfico (município, conjunto demunicípios ou região), com identidade cultural locale com vínculos, mesmo que incipientes, de articulação,interação, cooperação e aprendizagem entre si ecom outros atores locais, tais como: instituiçõespúblicas ou privadas de treinamento, promoçãoe consultoria; escolas técnicas e universidades;instituições de pesquisa, desenvolvimento e engenharia;entidades de classe; e instituições de apoio empresariale de financiamento (Albagli & Brito apud IPARDES/SEBRAE-PR, 2006).

Segundo o SEBRAE (2011), no estado do Paranáestão localizados os seguintes APLs: Rio Negro (móveise madeira), na região atuam 80 empresas com mais de2.000 funcionários. Até as mudanças cambiais esseAPL apresentou grande vocação para exportação. Porém,nos últimos anos muitas empresas foram obrigadasa mudar o seu foco para o mercado interno; União daVitória (esquadria e madeira) é uma região com maisde 100 anos de tradição, que além de abranger setemunicípios paranaenses conta com três municípiosde Santa Catarina, esse APL conta com a participaçãode todos os ramos da madeira (serraria, laminadoras,

4 De acordo com Marshall (1920), a presença concentrada de firmas em uma mesma região pode prover ao conjunto dosprodutores vantagens competitivas, que não seriam verificadas se eles estivessem atuando isoladamente.

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fábricas de compensados, móveis e casas), porém, amaior especialização é nas esquadrias que sãoresponsáveis por 20% da produção nacional; Arapongas(móveis), esse APL emprega cerca de 15.000 pessoase conta com aproximadamente 576 indústrias; Sudoestedo Paraná (móveis), concentrado nos municípios deFrancisco Beltrão e Ampére, esse APL conta comaproximadamente 158 empresas, a atividade moveleiracomeçou na região há aproximadamente 50 anos atrásquando a fabricação de móveis se tornou complementarà extração de madeira.

2.1. O fomento florestal

De acordo com Siqueira et al. (2004) apud Centrode Inteligência em Florestas (2011), fomento florestalé um instrumento que promove a integração dosprodutores rurais à cadeia produtiva e lhes proporcionavantagens econômicas, sociais e ambientais. O FomentoFlorestal serve também como atividade complementarna propriedade rural, viabilizando o uso de áreasimprodutivas, degradadas, subutilizadas e inadequadasà agropecuária, possibilitando ao produtor rural umarenda adicional.

Segundo a ABIMCI (2008), o Fomento Florestalé capaz de criar novas oportunidades para produtoresrurais e atualmente tem se destacado nas empresas privadaspara que determinados objetivos sejam alcançados, sãoeles: geração de emprego e renda; alternativa econômicade produção com mercado garantido, boa rentabilidadee baixo risco; aumento da arrecadação de impostos nasregiões de abrangência; inserção social; melhoria naqualidade de vida da população através da preservaçãoambiental; fixação do homem no campo; contribuiçãopara regularização ambiental das propriedades rurais;atendimento ao abastecimento de fábricas que utilizammadeira como matéria-prima; redução de ativos florestais;recuperação florestal e conservação do solo; diminuiçãoda pressão sobre a madeira nativa; responsabilidadesocioambiental de empresas; diversificação de usos eculturas agrícolas; e outros.

O Fomento Florestal tem se tornado comumprincipalmente para as grandes empresas que utilizama madeira em tora como matéria prima. Isso acontecepela possibilidade de ampliação da base florestal empropriedades de terceiros, através de parcerias compequenos, médios e grandes produtores rurais. Diantedessa situação, nota-se que programas de Fomento

Florestais bem estruturados podem ser o diferencialde competitividade e renda para empresas e produtoresenvolvidos. Dessa forma, essa prática é consideradauma excelente alternativa sustentada nos aspectos social,econômico e ambiental para suprir a necessidade demadeira.

De acordo com Ribeiro & Miranda (2009), a empresaKlabin de papel e celulose S.A. destaca-se no Paranápelo seu programa de Fomento Florestal. Através delea empresa disponibiliza tecnologia florestal aos pequenosprodutores rurais e promove o desenvolvimento regional.O programa tem por objetivo permitir que os produtorestirem proveito do programa de reflorestamento quetem como finalidade atender aos aspectos sociais, mantero agricultor fixo na área rural, incrementar a renda,disseminar práticas de conservação ambiental e aumentara disponibilidade de madeiras de florestas plantadas.O Fomento Florestal da Klabin atinge 3.800 produtores,totalizando uma área de 22.000 ha. A empresa praticatrês tipos de fomento: a doação de mudas em cooperaçãocom a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural(EMATER); a venda de mudas em um raio de 100quilômetros e na forma de empreendimento, em queo proprietário rural fica com o primeiro desbaste.

Segundo Fisher (2009), o setor de base florestalcompreende como atividades primárias a extração vegetale a silvicultura. Como atividades secundáriascompreendem atividades de beneficiamento eprocessamento que estão divididas nos segmentosderivados de madeira, por exemplo, a madeira sólida,painéis reconstituídos, celulose e papel, móveis, lenha,carvão vegetal, entre outros.

3. METODOLOGIA

No presente trabalho são utilizadas as medidasde localização e especialização, geralmente utilizadasem estudos de análise regional. Essas medidas podemser encontradas em Haddad (1989) e utilizadas em outraspesquisas como Lima et al. (2006), Colla et al. (2007)e Piacenti et al. (2011). Porém, antes disso, são necessáriasalgumas etapas importantes para definir a localizaçãoda atividade produtiva e suas tendências espaciais:delimitar a área espacial da análise; determinar a variávela ser analisada; definir as medidas a serem utilizadas;organizar a estrutura setorial-produtiva em uma matriz.Também é interessante destacar as atividades econômicase industriais, e sua classificação segundo a CNAE,conforme descrito abaixo.

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3.1. A fabricação de produtos de madeira e a CNAE

De acordo com o IBGE (2011), a CNAE é aclassificação de atividades econômicas oficialmenteadotadas pelo sistema estatístico nacional e pelos órgãosgestores de cadastros e registros da administraçãopública do país. A seção C (Tabela 1) compreende asatividades da indústria de transformação física, químicae biológica de materiais, substâncias e componentes,com a intenção de se obter produtos novos.

A divisão 16 (fabricação de produtos de madeira)compreende a fabricação de madeira serrada, laminada,compensada, prensada e aglomerada e de produtos demadeira para construção, para embalagem, para uso industrial,comercial e doméstico. Ela compreende também a imunizaçãoda madeira e a fabricação de produtos de cortiça, bambu,vime, junco, palha e outros materiais trançados. A fabricaçãode móveis não se enquadra nessa classificação, porémessa atividade consta na divisão 31 (IBGE, 2011).

Conforme observado em trabalhos sobre a estruturaprodutiva paranaense fazendo-se uso de Matriz Insumo-Produto como método de análise (Nunes, 2010),constatou-se que há relações de insumo-produto como setor madeireiro e com os demais setores produtivos:Agropecuária; Fabricação de Celulose e Papel e Produtosde Papel; Fabricação de Móveis, e Construção Civil.Por este motivo, as análises feitas nesta pesquisaconsideram estes mesmos setores, devido à forteintegração entre os mesmos.

3.2. Área de análise

A pesquisa foi realizada com base nas microrregiõesdo Paraná (Figura 1 e Tabela 2), compreendendo o anode 2009. A variável utilizada foi o Valor AdicionadoFiscal5. As atividades econômicas consideradas nestapesquisa estão relacionadas na Tabela 3, e os índicesestimados são os coeficientes de localização eespecialização.

5 Segundo a FIESP (2011), Valor Adicionado Fiscal é obtido, para cada município, através da diferença entre o valor das saídasde mercadorias e dos serviços de transporte e de comunicação prestados no seu território e o valor das entradas de mercadoriase dos serviços de transporte e de comunicação adquiridos em cada ano civil e ele é calculado pela Secretaria da Fazenda.

Seção: C Indústria de transformaçãoEsta seção contém as seguintes divisões:Fabricação de produtos alimentíciosFabricação de bebidasFabricação de produtos de fumoFabricação de produtos têxteisConfecção de artigos do vestuário e acessóriosPreparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçadosFabricação de produtos de madeiraFabricação de celulose, papel e produtos de papelImpressão e reprodução de gravaçõesFabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveisFabricação de produtos químicosFabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticosFabricação de produtos de borracha e de material plásticoFabricação de produtos de minerais não metálicosMetalurgiaFabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentosFabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticosFabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricosFabricação de máquinas e equipamentosFabricação de veículos automotores, reboques e carroceriasFabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotoresFabricação de móveisFabricação de produtos diversosManutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos

Fonte: IBGE (2011).

Tabela 1 - Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE Versão 2.0 Subclasses para uso da administração pública

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Microrregião Cidades Microrregião Cidades Microrregião Cidades1 Paranavaí 1 4 Assai 2 7 Pato Branco2 Umuarama 1 5 Cornélio Procópio 2 8 Pitanga3 Cianorte 1 6 Jacarezinho 2 9 Guarapuava4 Goioerê 1 7 Ibaiti 3 0 Palmas5 Campo Mourão 1 8 Wenceslau Braz 3 1 Prudentópolis6 Astorga 1 9 Telêmaco Borba 3 2 Irati7 Porecatu 2 0 Jaguariaíva 3 3 União da Vitória8 Floraí 2 1 Ponta Grossa 3 4 São Mateus do Sul9 Maringá 2 2 Toledo 3 5 Cerro Azul

1 0 Apucarana 2 3 Cascavel 3 6 Lapa1 1 Londrina 2 4 Foz do Iguaçu 3 7 Curitiba1 2 Faxinal 2 5 Capanema 3 8 Paranaguá1 3 Ivaiporã 2 6 Francisco Beltrão 3 9 Rio Negro

Tabela 2 - As microrregiões do estado do Paraná – 2011

Fonte: IPARDES, 2011.

Nº Atividades Econômicas Nº Atividades Econômicas1 Agropecuária 2 2 Fab. de Veíc. Autom., Reboques e Carrocerias2 Ind. Extrativas 2 3 Fab. de Out. Equip. de Transp., exc. Veíc. Autom.3 Fab. de Prod. Alim. 2 4 Fab. de Móveis4 Fab. de Prod. do Fumo 2 5 Fab. de Prod. Diversos5 Fab. de Prod. Têxteis 2 6 Manut., Rep. e Inst. de Máq. e Equip.6 Confecção de Artigos do Vestuário 2 7 Eletricidade e Gás7 Prep. de Couros e Fab. de Art. de Couro 2 8 S.I.U.P.8 Fab. de Prod. de Madeira 2 9 Construção9 Fab. de Celulose, Papel e Prod. de Papel 3 0 Comércio; Rep. de Veíc. Autom. e Motocicletas

1 0 Impressão e Reprodução de Gravações 3 1 Transp., Armaz.e Correio1 1 Fab. de Coque, de Pro. Deriv. do Pet. e de Bicomb. 3 2 Alojamento e Alimentação1 2 Fab. de Prod. Químicos 3 3 Informação e Comunicação1 3 Fab. de Prod. Farmoquímicos e Farmacêuticos 3 4 Ativ. Finan., de Seg. e Serv. Relacionados1 4 Fab. de Prod. De Borracha e de Material Plástico 3 5 Atividades Imobiliárias1 5 Fab. de Prod. De Minerais Não-Metálicos 3 6 Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas1 6 Metalurgia 3 7 Atividades Administrativas e Serviços Complementares1 7 Fab. de Prod. de Metal, exceto Máq. e Equip. 3 8 Educação1 8 Fab. de Equip. de Inform., Prod. Elet. e Ópticos 3 9 Saúde Humana e Serviços Sociais2 0 Fab. de Máq., Apar. e Materiais Elétricos 4 0 Artes, Cultura, Esporte e Recreação2 1 Fab. de Máquinas e Equip. 4 1 Outras Atividades de Serviços

Tabela 3 - As atividades econômicas relacionadas na pesquisa

Fonte: IPARDES, 2011.

Figura 1 - Microrregiões do estado do Paraná.Fonte: IPARDES (2011)

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A partir da variável Valor Adicionado Fiscal foramcalculados índices de localização e especialização. OQuadro 1 demonstra como os valores dessa variávelpodem ser representados por atividade produtiva entreas microrregiões do estado do Paraná.

Quadro 1 – Matriz de relação entre microrregiões do estadodo Paraná com a variável Valor Adicionado Fiscal

Definem-se as seguintes variáveis:

Distribuição percentual do Valor Adicionado Fiscalna região.

(1)

Distribuição percentual do Valor Adicionado Fiscalsetorial entre regiões.

(2)

(3)

Onde:

= valor adicionado fiscal no setor i da microrregião j;

= valor adicionado fiscal no setor i do estado;

= valor adicionado fiscal em todos os setoresda microrregião j;

Fonte: HADDAD, 1989.

= valor fiscal adicionado total do estado.

3.3. Medidas de localização

As medidas de localização se preocupam com alocalização das atividades entre as microrregiões e sãode natureza setorial. Elas procuram identificar padrõesde concentração ou de dispersão do PIB setorial emdeterminado período de tempo.

3.3.1. Quociente locacional (QL)

É utilizado para comparar a participação percentualdo Valor Adicionado Fiscal em dada microrregião coma participação percentual do estado. Quando os setoresapresentarem QL acima de um, significa que existepossibilidade de exportação, ou seja, a microrregiãoproduz um excedente exportável. Caso o QL seja inferiora um, irá se supor que a microrregião é deficiente nosetor, porém, as atividades poderão ser desenvolvidasdesde que haja demanda para elas.

(4)

3.3.2. Coeficiente de localização (CL)

Tem por objetivo relacionar a distribuição percentualdo Valor Adicionado Fiscal num dado setor entre asmicrorregiões com a distribuição percentual do ValorAdicionado Fiscal do estado. Se o CL for igual a zero,quer dizer que o setor i estará distribuído regionalmenteda mesma forma que o conjunto de todos os setores,ou seja, estará mais disperso entre as microrregiões.Se o valor for igual ou próximo a um, demonstrará queo setor i apresenta um padrão de concentração regionalmais intenso do que o conjunto de todos os setores.

(5)

3.4. Medidas regionais ou de especialização (CESP)3.4.1. Coeficiente de especialização

O coeficiente de especialização da região j comparaa estrutura produtiva da região j com a estrutura produtiva

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nacional. Através desse coeficiente pode-se comparara economia de uma microrregião com a economia doestado. Uma região com coeficiente de especializaçãoigual a zero significa que a estrutura setorial da regiãoanalisada é integralmente equivalente à estruturaapresentada pela região padrão; inversamente, quantomais próximo de um for o coeficiente de especialização,mais especializada é a estrutura produtiva da regiãorelativamente à do espaço de referência.

(6)

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste item são apresentados os resultados doscálculos obtidos através do método de análise regional(medidas de localização e especialização), descritosna seção referente à Metodologia.

4.1. Quociente locacional

Na Tabela 4 encontram-se os valores obtidos emrelação ao Quociente Locacional das microrregiõesdo estado do Paraná referente aos segmentos destacadosna Metodologia, referentes ao ano de 2009.

De acordo com esses valores, pode-se observarque as microrregiões que apresentaram participaçãopercentual do Valor Adicionado Fiscal mais relevanteem relação ao estado do Paraná foram respectivamenteJaguariaíva, Telêmaco Borba, Guarapuava, Ponta Grossae Palmas. Na microrregião de Jaguariaíva, percebe-seque a fabricação de celulose, papel e produtos de papelé bem significativa, com um QL de 6,72 e uma grandecapacidade de exportação para as outras microrregiões,porém, essa grande capacidade não se compara coma de exportação de produtos de madeira, que possuium QL de 11,39. A microrregião de Telêmaco Borbadestaca-se por possuir a melhor capacidade deexportação no segmento fabricação de celulose, papele produtos de papel, com um QL de 13,49, muito superiorao QL do segmento fabricação de produtos de madeiraque também possui alto valor (QL = 4,51). A microrregiãode Ponta Grossa, além de possuir uma boa capacidadede exportar no segmento fabricação de produtos demadeira (QL = 2,52), possui o segundo maior QL doestado no segmento fabricação de celulose, papel e

produtos de papel (QL = 8,52). Um caso interessanteé o de Apucarana, que apresentou um QL de 0,56 (QLbaixo) no segmento fabricação de produtos de madeira,porém, possui um QL de 18,19 (QL alto) no segmentofabricação de móveis. Como o segmento fabricaçãode produtos de madeira serve de insumo para o setormoveleiro, a microrregião de Apucarana importa oexcedente da fabricação de produtos de madeira dasoutras microrregiões para suprir sua demanda por madeira.

Como se pode observar, o Quociente Locacionalpode fornecer informações importantes, dentre elaspode-se destacar a forte relação entre os setores defabricação de produtos de madeira; fabricação de celulose,papel, produtos de papel e também o de fabricaçãode móveis. Ainda nesse contexto de informaçõesinterpretadas no Quociente Locacional, cabe destacarque entre as cinco microrregiões que se destacam nafabricação de produtos de madeira, todas possuemum QL superior a um no segmento agropecuário. Issorepresenta que em locais onde existem reflorestamentos,as áreas reflorestadas não competem com as de produçãode alimentos, afirmação esta citada por Duda, Veloso& Melo (2010).

4.2. Coeficiente de localização

Na Tabela 5 está exposto o Coeficiente de Localizaçãopara os segmentos agropecuário, fabricação de celulosee papel e produtos de papel, fabricação de móveis,construção civil e fabricação de produtos de madeirapara cada uma das microrregiões analisadas.

É notável a presença de índices próximos de zero,isso significa que os setores estão distribuídosregionalmente de forma semelhante ao conjunto detodos os setores. Porém, algumas regiões apresentamcoeficientes mais altos, como é o caso de Rio Negro,Jaguariaíva e Curitiba, com coeficientes de localizaçãode 0,13; 0,12 e 0,10 respectivamente. Na agropecuáriae na construção, Curitiba destaca-se por possuir opadrão de concentração mais intenso, 0,40 e 0,21,respectivamente. No segmento fabricação de celulose,papel e produtos de papel, destaca-se a microrregiãode Ponta Grossa com CL de 0,35. No segmento fabricaçãode móveis, a microrregião de Apucarana detém o melhoríndice de concentração regional com um CL de 0,38.

De acordo com esses resultados, percebe-se queas microrregiões que possuem um padrão deconcentração regional mais intenso, no setor de fabricação

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Microrregiões Agropecuária Fabricação Fabricação Construção Fabricação dede celulose, papel de móveis produtos de madeira

e produtos de papelApucarana 1,02 0,20 18,19 0,11 0,56Assai 3,05 0,00 0,49 0,00 0,99Astorga 2,41 0,03 0,10 0,55 0,08Campo Mourão 2,64 0,74 3,82 0,17 0,07Capanema 2,67 0,01 3,62 0,13 0,03Cascavel 1,85 0,12 0,75 1,73 0,31Cerro Azul 2,91 0,00 0,03 0,10 1,22Cianorte 2,13 0,07 0,13 0,47 0,12Cornélio Procópio 2,11 0,09 2,12 0,13 0,24Curitiba 0,06 0,31 0,32 1,50 0,77Faxinal 3,56 0,00 0,02 0,00 0,06Floraí 4 ,11 0,00 0,16 0,00 0,00Foz do Iguaçu 0,76 0,00 0,46 0,12 0,03Francisco Beltrão 2,09 0,01 0,84 1,15 0,42Goioerê 3,60 0,00 0,17 0,08 0,07Guarapuava 1,98 2,78 0,27 0,11 2,56Ibaiti 2 ,73 0,00 0,61 0,12 1,40Irati 1 ,71 4,41 0,86 0,33 2,26Ivaiporã 2,57 0,22 0,00 0,04 0,07Jacarezinho 1,36 0,00 0,07 0,78 0,39Jaguariaíva 2,40 6,72 0,10 0,05 11,39Lapa 2,04 0,17 0,01 0,00 0,37Londrina 0,52 0,27 1,04 0,59 0,08Maringá 0,36 0,05 1,81 0,49 0,11Palmas 1,90 1,17 0,01 0,37 2,38Paranaguá 0,11 0,07 0,01 1,15 0,01Paranavaí 2,29 0,01 0,51 0,13 0,12Pato Branco 1,68 0,23 0,51 5,91 0,08Pitanga 3,56 0,62 0,01 0,08 0,07Ponta Grossa 1,13 8,52 1,74 0,71 2,52Porecatu 2,55 0,00 0,73 0,01 0,02Prudentópolis 3,67 0,38 0,03 0,06 2,13Rio Negro 1,73 0,84 2,19 0,48 21,43São Mateus do Sul 2,00 0,00 0,02 0,14 0,36Telêmaco Borba 2,09 13,49 0,01 0,02 4,51Toledo 2,85 0,10 0,16 0,33 0,05Umuarama 2,20 0,03 1,44 0,20 0,15União da Vitória 0,84 3,56 0,07 0,01 5,16Wenceslau Braz 2,25 0,01 0,04 2,07 0,14TOTAL 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Tabela 4 - Quociente Locacional (QL) das Microrregiões do estado do Paraná nos segmentos Agropecuária; Fabricação de Celulose,Papel e Produtos de Papel; Fabricação de Móveis; Construção e Fabricação de Produtos de Madeira – 2009

Fonte: Resultados da Pesquisa.

de produtos de madeira, também são as que possuemum padrão de concentração mais elevado nas atividadesrelacionadas com esse setor. No caso de Apucarana issonão acontece, embora o CL na fabricação de móveis sejaelevado, o CL da fabricação de produtos de madeira ébaixo (0,01), este fato justifica-se pela proximidade geográficaentre a microrregião de Apucarana e a de Telêmaco Borbaque possui um padrão de concentração regional mais

intenso no segmento fabricação de produtos de madeira(CL de 0,05). Os resultados obtidos remetem à idéia dearranjos produtivos locais (APLs), em que a proximidadeentre as firmas de um mesmo setor e empresascomplementares de setores relacionados à determinadaatividade, como fornecedores de insumos, tal proximidadecompleta-se com a especialização setorial, formando umaeconomia de aglomeração (Stainsck et al., 2005).

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NUNES, P.N. et al.

Microrregiões Agropecuária Fabricação Fabricação Construção Fabricação dede celulose, papel de móveis produtos de madeira

e produtos de papelAstorga 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01Campo Mourão 0,03 0,00 0,05 0,01 0,02Capanema 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01Cascavel 0,03 0,03 0,01 0,03 0,03Cerro Azul 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00Cianorte 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01Cornélio Procópio 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01Curitiba 0,40 0,29 0,29 0,21 0,10Faxinal 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00Floraí 0 ,01 0,00 0,00 0,00 0,00Foz do Iguaçu 0,01 0,05 0,03 0,04 0,04Francisco Beltrão 0,02 0,02 0,00 0,00 0,01Goioerê 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01Guarapuava 0,03 0,05 0,02 0,02 0,04Ibaiti 0 ,00 0,00 0,00 0,00 0,00Irati 0 ,00 0,02 0,00 0,00 0,01Ivaiporã 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01Jacarezinho 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00Jaguariaíva 0,02 0,06 0,01 0,01 0,12Lapa 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00Londrina 0,03 0,04 0,00 0,02 0,05Maringá 0,02 0,03 0,03 0,02 0,03Palmas 0,01 0,00 0,01 0,01 0,01Paranaguá 0,01 0,01 0,01 0,00 0,01Paranavaí 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01Pato Branco 0,01 0,01 0,01 0,08 0,02Pitanga 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00Ponta Grossa 0,01 0,35 0,03 0,01 0,07Porecatu 0,01 0,01 0,00 0,01 0,01Prudentópolis 0,02 0,00 0,01 0,01 0,01Rio Negro 0,00 0,00 0,01 0,00 0,13São Mateus do Sul 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00Telêmaco Borba 0,02 0,19 0,01 0,01 0,05Toledo 0,08 0,04 0,04 0,03 0,04Umuarama 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01União da Vitória 0,00 0,02 0,01 0,01 0,03Wenceslau Braz 0,01 0,00 0,00 0,01 0,00TOTAL 0,94 1,37 1,06 0,67 0,94

Tabela 5 - Coeficiente de localização (CL) das microrregiões do estado do Paraná nos segmentos agropecuária; fabricação decelulose, papel e produtos de papel; fabricação de móveis; construção e fabricação de produtos de madeira - 2009

Fonte: Resultados da Pesquisa.

4.3. Coeficiente de especialização

A especialização das microrregiões do estado doParaná nos segmentos considerados nesta pesquisaem relação ao ano 2009 é observada através docoeficiente de Especialização (Tabela 6). Este coeficientecompara a estrutura de cada uma das microrregiõescom a estrutura produtiva estadual.

No geral, os índices mostraram-se muito próximos,com CEspj entre zero e 0,2, indicando certo grau de

homogeneidade entre as 39 microrregiões. Porém, caberessaltar que algumas regiões possuem especializaçãorelevante em determinados segmentos, são elas: PontaGrossa e Telêmaco Borba, especializadas na fabricaçãode celulose, papel e produtos de papel; Jaguariaíva,especializada na fabricação de celulose, papel, produtosde papel e também no segmento fabricação de produtosde madeira; Rio Negro, especializada na fabricaçãode produtos de madeira; e Apucarana, especializadaem móveis.

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A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo demonstrou, na sua revisãode literatura, que a indústria madeireira faz parte dahistória do Paraná e fez parte de um ciclo econômicomuito importante para o estado. As florestas nativasforam se esgotando rapidamente e, para suprir anecessidade de matéria-prima, o estado usou comoalternativa os reflorestamentos de pinus e eucalipto.

Os reflorestamentos têm papel fundamental naeconomia paranaense, visto que estes, através de políticasde fomento florestal, geram renda para os pequenosproprietários de terras e garantem o fornecimento dematéria prima para o setor madeireiro.

A indústria madeireira no estado do Paraná éinfluenciada por uma alta carga tributária e pelasvariações cambiais. Com a valorização do real frenteao dólar, a exportação de produtos de madeira tendea diminuir. Porém, o crescimento da construção civilgera uma oportunidade para esses produtos no mercadointerno.

O Paraná possui importantes Arranjos ProdutivosLocais relacionados aos setores de móveis e madeira.Percebe-se, então, a forte relação entre os dois setores,visto que o segmento fabricação de produtos de madeirafornece insumos para a fabricação de móveis.

Os objetivos do trabalho foram alcançados, jáque as medidas regionais foram eficientes edemonstraram que algumas microrregiões possuemValor Adicionado Fiscal mais relevante em nível estaduale outras que apresentaram um padrão de concentraçãoregional mais intenso, além daquelas com maior graude especialização.

Como o tema estudado é muito amplo, sugere-se ainda a análise conjunta com outros setoresrelacionados indiretamente com a indústria madeireira,bem como análises de séries temporais para observarvariações nas medidas regionais e aprofundar maisos conhecimentos a respeito da indústria madeireirano Paraná.

6. REFERÊNCIAS

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Formalização e geração de renda: o caso da assessoria à padaria artesanal comunitária...

FORMALIZAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA: O CASO DA ASSESSORIA ÀPADARIA ARTESANAL COMUNITÁRIA "MÃOS DE FIBRA"1

Diego Neves de Sousa2, Cleiton Silva Ferreira Milagres3, Marcelo Miná Dias4, Dayane Rouse NevesSousa5, Cléverson Silva Ferreira Milagres6

RESUMO – Este relato de experiência é originado de um trabalho de extensão com o objetivo de oferecerassessoria técnica e especializada ao empreendimento econômico solidário Padaria Artesanal Comunitária“Mãos de Fibra”, localizado na zona rural de Viçosa-MG. A Padaria tem a característica de ser predominantementeformada por mulheres rurais. Estas vêm desenvolvendo a produção e comercialização dos pães caseiros.Boa parte da produção resgata a tradição de receitas de seus antepassados. Nessa perspectiva, esta diversidadede produção de alimentos resultou na criação de um novo serviço, denominado “lanchão”, servidos emeventos. Entre os objetivos específicos, as ações estão orientadas para a formalização do empreendimentoem uma associação e para a agregação de valores aos produtos artesanais e agroindustriais já comercializadoscom a finalidade de qualificar a inserção do grupo em mercados especializados. Entre os resultados, percebe-se que houve melhorias na comunidade desde a formalização do empreendimento “Associação dos AgricultoresFamiliares Mãos de Fibra”, pois permitiu a concretização de uma estrutura organizacional formal e autossustentável,possibilitando oferecer condições dignas de trabalho, aumentar a produção e otimizar os resultados econômicose sociais. Assim, ao capacitar os membros do empreendimento, qualificou-se a possibilidade dessas famíliasse tornarem agentes ativos e com papel destacado no processo de desenvolvimento comunitário, contribuindopara a sustentabilidade socioeconômica e criando condições que propiciem melhor renda e qualidade devida.

Palavras-chave: Associativismo, formalização, geração de renda.

FORMALISATION AND INCOME GENERATION: THE CASE OF ADVICE INPADARIA ARTESANAL COMUNITÁRIA "MÃOS DE FIBRA"

ABSTRACT – This experience report is derived from a work of extension with the goal of providing technicaladvice and skilled to solidarity economic enterprise “Padaria Artesanal Comunitária Mãos de Fibra”located in rural area of Viçosa-MG. The Bakery has the characteristic of being predominantly made upby rural women. These have been developing the production and sale of homemade breads. Much ofthe production revenue recovers the tradition of their ancestors. From this perspective, this diversity offood production resulted in the creation of a new service, called “lanchão”, equivalent to “coffee breaks”served at events. Among the specific objectives, actions are directed towards the formalization of theenterprise in an association and aggregation of value to the handcraft and agribusiness products alreadymarketed in order to qualify for inclusion of the group in specialized markets. Among the results, it isperceived that there were improvements in the community since the formalization of the enterprise “Associaçãodos Agricultores Familiares Mãos de Fibra”, because it allowed the realization of a formal organizational

1 Projeto de extensão universitária financiado pelo Pibex/UFV.2 Gestor de Cooperativas, Mestre em Extensão Rural (UFV). Analista em Transferência de Tecnologia da Embrapa Pesca

e Aquicultura.3 Gestor de Cooperativas, Mestre em Extensão Rural (UFV). Analista de capacitação do SESCOOP - Tocantins.4 Agrônomo, Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA). Professor Adjunto da UFV.5 Graduanda em Cooperativismo (UFV), bolsista do Pibex.6 Graduando em Gestão do Agronegócio (UFV).

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SOUSA, de D.N. et al.

structure and self-sustaining, enabling provide decent working conditions, increase production and optimizethe economic and social outcomes. Thus, by providing capacitation to the members of the association,the extension project qualified the possibilities of the families to become active agents of the local developmentprocess, also contributing to socioeconomic sustainability and creating conditions for the participantsto provide better income and quality of life.

Key Words: Association, formalisation, income generation

1. INTRODUÇÃO

Este relato objetiva apresentar a experiência deassessoria técnica e especializada ao grupo informaldenominado Padaria Artesanal Comunitária “Mãos deFibra”, composto por agricultoras familiares do municípiode Viçosa-MG. A meta do trabalho de assessoria eraa formalização do empreendimento – de modo que fosseconstituída uma associação –, a agregação de valoraos produtos artesanais e agroindustriais jácomercializados e o apoio ao empreendimento de novasatividades geradoras de renda.

A proposta de ação extensionista se iniciou pormeio de um trabalho de assessoria – financiado peloProext Cultura/2009-2010 – tendo surgido do envolvimentode um grupo de discentes do Curso de Cooperativismoe docentes da Universidade Federal de Viçosa (UFV)com as famílias rurais pertencentes às comunidades deZig-Zag, Violeira, Estação Velha e Buieié, todas localizadasna zona rural de Viçosa-MG.

O grupo já contava com o apoio de outrasorganizações e entidades, que desenvolviam projetosdiversos e pouco articulados. Além da UFV, por meiodo projeto de extensão aqui apresentado, estavam,junto ao grupo, a Empresa de Assistência Técnica eExtensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), o Centro de Tecnologias Alternativas Zona daMata (CTA-ZM), o Programa de Extensão TEIA, tambémda UFV, e a organização não governamental NAVI (Núcleode Arte Viva).

A Padaria Artesanal surgiu da atividade coletivade um grupo de 16 componentes, mulheres de origemrural que buscaram diversificar suas fontes de renda.Para tanto, reuniram-se, uma vez por semana, paraproduzir pães caseiros. O ofício foi ensinado ao grupopor uma de suas componentes. A comercialização ocorriapor meio de uma rede de conhecidos, dentre elesprofessores universitários, que passaram a formar umaclientela fiel. A matéria-prima para a produção era

basicamente originária da localidade, assim como asreceitas, derivadas de modos tradicionais de fabricarpães na comunidade. Assim, foi surgindo uma variedadede produtos: pães caseiros de moranga, mandioca, batata,pão integral, além de broas, bolos e biscoitos. Dadiversidade de produtos e sua aceitação surgiu a ideiada oferta de um serviço: o “lanchão”, oferecido emintervalos de eventos acadêmicos e profissionais,aproveitando a demanda existente na UFV.

Com o incremento da demanda, o grupo percebeuque necessitava agir de modo mais organizado. Seusprodutos, embora reconhecidos pela qualidade, poucose diferenciavam em relação a produtos assemelhadosdisponíveis no mercado local. Ou seja, faltava aos produtosuma identidade. Diante desse diagnóstico propôs-seao grupo agregar valor aos produtos, acentuando aidentidade “tipicamente rural” dos produtos e sua feituraartesanal. A proposta conduziu à decisão de criar umalogomarca que identificasse o grupo e seus produtos.

No processo de assessoria verificou-se que o desejode qualificação do empreendimento esbarra na percepçãodo grupo e da equipe que os assessorava, na faltade formalização do grupo, que dificulta a certificaçãoda produção e o processo de comercialização. Nessesentido, a ação extensionista na Padaria ArtesanalComunitária “Mãos de Fibra” buscou articular o resgatede valores culturais presentes na comunidade ruralde origem do empreendimento, criando uma identidadevisual para a marca de seus produtos (contribuindo,assim, para as habilidades profissionais de suascomponentes); apoiar a formalização do empreendimentocoletivo; e criar condições básicas que propiciassemmelhor renda e, de forma indireta, como possível resultadodo incremento de renda, melhorar as condições de vidadas famílias.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A atividade de assessoria é compreendida comouma ação de mediação e aprendizado coletivo. Para

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possibilitar aprendizagem nos trabalhos que envolvemgrupos e assessores, entende-se que a participação torna-se instrumento essencial à expressão de percepções,leituras de processos, demandas e projetos (Baas, 1998).Assim, as técnicas, dinâmicas e instrumentos sãomobilizados pelos assessores para possibilitar e estimulara participação de todos os envolvidos, de modo a facilitara construção de percepções compartilhadas e ocomprometimento por meio dos acordos elaboradoscoletivamente (Tatagiba & Filártiga, 2002).

Neste intento, como forma de ação conjunta capazde abranger uma maior participação dos membros, visandoà formação e ao crescimento coletivo e trazendo osindivíduos para o campo de tomada de decisões, foide suma relevância o contato com a UFV, principalmentepor meio dos estudantes do curso de cooperativismo,que possuem formação profissional que os capacitaa trabalhar na gestão de empreendimentosautogestionários e solidários.

A sistemática adotada na execução desta açãofoi baseada na dinâmica de reuniões e oficinas, utilizando-se do apoio da metodologia participativa. Desta forma,a construção das práticas metodológicas neste trabalhoobjetivou estimular a participação dos membros daPadaria Artesanal Comunitária “Mãos de Fibra”, dentrode suas possibilidades, visando a uma melhorsensibilização, formação e crescimento coletivo,capacitando-os para tomar decisões no processo deinteração.

A Figura 1 demonstra o enfoque dado à metodologiaadotada neste trabalho de extensão desenvolvido naPadaria Artesanal Comunitária "Mãos de Fibra".

Como o projeto aqui descrito foi uma continuidadedo que havia sido desenvolvido pela equipe de umprojeto de extensão financiado pelo Proext Cultura um

ano antes, as etapas de mobilização dos membros ea do diagnóstico participativo já haviam sido executadas,e a partir dos resultados obtidos surgiu a necessidadede elaborar esta nova etapa do projeto. Desta forma,as ações executadas responderam às necessidadesapontadas pelos membros da Padaria durante a realizaçãoda etapa de diagnóstico. Assim, um novo planejamentofoi elaborado e as ações desencadeadas a partir dasnovas demandas do grupo, sendo a principal delasa formalização do empreendimento.

De início foram realizadas algumas oficinas eatividades de capacitação. Num segundo momento, como apoio da técnica de entrevista semiestruturada e dedinâmicas de grupo, foi construído o estatuto socialda associação. Para elaborá-lo foram realizadas reuniõesperiódicas com o auxílio de um advogado, também membrointegrante do projeto, para que todas as dúvidas quantoao processo de formalização fossem sanadas.

A participação foi essencial para que houvesseenvolvimento e comprometimento das componentesda padaria com o projeto de formalização. As dinâmicasparticipativas – facilitadas pelas técnicas e instrumentosmetodológicos utilizados – possibilitaram trabalharos conteúdos teóricos de modo a relacioná-los comconhecimentos e experiências presentes no grupo. Nesseprocesso buscaram-se o resgate e a valorização culturaldas experiências e do conhecimento proveniente daprópria comunidade, construindo um tipo de diálogoentre o saber cotidiano e o saber acadêmico, gerandoassim um ambiente de aprendizado para todos osenvolvidos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As associações que se constituem a partir daeconomia solidária têm buscado, a duras penas, inserção

Figura 1 - Metodologia geral adotada para as ações da Padaria Comunitária.Fonte: Adaptado de Olival (2006).

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qualitativa e sustentável em mercados que possibilitemincrementar sua renda e, ao mesmo tempo, manter osprincípios da economia solidária. Estes mercados, longede serem solidários e abertos às necessidades de inclusãosocial desses grupos, são geralmente seletivos,competitivos e excludentes. Este caráter da economiacapitalista gera a necessidade de qualificação e capacitaçãopara capacitar empreendimentos econômicos solidáriose de produção em pequena escala, para os quais aproximidade das relações econômicas e a afirmaçãodo pertencimento a uma forma culturalmente enraizadade produzir são elementos essenciais (Altvater, 2010).

Considerando esse cenário, um passo importantepara a Padaria Comunitária “Mãos de Fibra” seria asua formalização como uma associação, de modo a terlegitimidade para representar, judicialmente, seusfiliados, como também acessar os benefícios dosprogramas de políticas públicas que exigem aformalização dos grupos. O grupo historicamentevinculado à Padaria formalizou-se, em 2010, comoAssociação dos Agricultores Familiares “Mãos de Fibra”.A formalização do empreendimento foi uma etapafundamental do esforço para qualificar o processoprodutivo, agregar valor aos produtos e incrementara renda. A qualificação do processo produtivo viriacom o acesso a recursos de políticas públicas; a agregaçãode valor com a criação de uma marca para os produtose sua vinculação à associação e à cultura local; e oincremento de renda seria esperado como resultadodas melhorias técnicas e formais introduzidas.

Ademais, a formalização do empreendimento coletivo,como organização comunitária, seria uma instituiçãoimportante na promoção da participação social dosenvolvidos na comunidade e na condução de suasações e decisões, a fim de promover o desenvolvimentolocal. Além disso, concorre positivamente para promovera ação empreendedora comunitária, entendendo quea mesma depende da existência de objetivos, regrase metas compartilhados.

A formalização possibilitou que o grupo fossebeneficiado com recursos do Projeto de Agroindústriado Programa “Minas Sem Fome”, implementado pelogoverno do estado de Minas Gerais. Os recursosadquiridos e a colaboração de parceiros possibilitaramao grupo comprar um terreno para a construção dasede da Padaria. Em vistas à construção, houve doaçõesde materiais para a estrutura física, e vários parceiros

e pessoas da comunidade participaram de um mutirãopara erguer o prédio, que obedeceu às normas dalegislação vigente para empreendimentos de panificação.Quando os recursos para pagar a mão-de-obra ficaramescassos, a contratação de pedreiros foi possível graçasà arrecadação de fundos viabilizada pela promoçãode eventos beneficentes.

Assim, ao elencar os resultados da açãodesencadeada pelo projeto, é importante compreenderque a Padaria – sua trajetória e seu significado local– mobilizou uma rede de parceiros que potencializouas ações do projeto, determinando resultados que nãopodem ser imputados somente à ação de um dos atoresenvolvidos.

Ao longo do processo de formalização percebeu-se a necessidade de construir coletivamente aidentidade do grupo, criando um nome representativopara a associação e também uma logomarca. Foi entãorealizada uma pesquisa entre cooperativas,associações e ONGs brasileiras de produtoresartesanais, a qual constatou que as marcas mais fortesdo mercado são compostas por nomes próprios querepresentem o seguimento de caráter da organização.Um bom exemplo é a CRIOULA, organização nãogovernamental que trabalha com mulheres,adolescentes e meninas negras, basicamente emcomunidades carentes do Rio de Janeiro, produzindoe comercializando artesanalmente produtos afro-brasileiros com grande aceitação mercantil.

As experiências pesquisadas e apresentadas aogrupo “Mãos de Fibra” resultaram na definição de umadenominação que, ao ser relacionada ao grupo, tambémcomunicasse a identidade individual e a identidadedo mineiro do interior, bastante apegado ao rural eaos seus valores. Ao longo das discussões em grupotambém ficou patente que a logomarca deveria caracterizartambém a identidade das mulheres como “trabalhadorasrurais”. Assim, a denominação “Mãos de Fibra”, mantidacomo identificação histórica do grupo, tornou-se marcapara o grupo e para seus produtos.

A etapa final de elaboração da marca foi acontratação, pelo grupo e com apoio do projeto, deuma assessoria técnica especializada na elaboraçãode logomarcas. Esta assessoria foi integrada ao trabalhoparticipativo de construção coletiva da identidade visual.Estas ações também tiveram como resultado o fatode o grupo envolvido desenvolver capacidades para

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planejar ações, definir objetivos, articular-se com parceirose tomar decisões coletivas sobre as necessidades dogrupo.

4. CONCLUSÕES

Analisando os resultados diretos e indiretos daação extensionista desenvolvida, percebe-se que houvemelhorias no grupo e na comunidade após a formalizaçãodo empreendimento Associação dos AgricultoresFamiliares “Mãos de Fibra”. A formalização permitiua concretização de uma estrutura organizacional formalque busca ser solidária e autossustentável, possibilitandooferecer condições dignas de trabalho, aumentar aprodução e otimizar os resultados econômicos e sociais.

Nesse sentido, ao capacitar os membros doempreendimento para que participassem de maneiramais qualificada nos processos decisórios, promoveu-se a formação de cidadãos capazes de atuar na gestãodos processos locais voltados para o desenvolvimentohumano e para a inclusão social, ou seja, a organizaçãodas famílias rurais em um empreendimento cooperativo.Além do mais, qualificou-se a possibilidade dessasfamílias se tornarem agentes ativos e com papel destacadono processo de desenvolvimento comunitário,

contribuindo para a sustentabilidade socioeconômicae criando condições que propiciem melhor renda equalidade de vida.

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TEMPO DE ARMAZENAMENTO E MÉTODOS DE QUEBRA DE DORMÊNCIAEM SEMENTES DO MARACUJÁ-DE-RESTINGA

Telma Miranda dos Santos1, Patrícia Silva Flores2, Sílvia Paula de Oliveira3, Danielle Fabíola Pereira daSilva2*, Cláudio Horst Bruckner4

RESUMO – O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos do período de armazenamento e tratamento embanho-maria à 50 oC ou escarificação com lixa na quebra da dormência de sementes de Passiflora mucronata.Os períodos de armazenamento foram: zero, um, quatro e doze meses. As sementes foram semeadas em rolode papel Germitest e incubadas em câmara de germinação com temperatura alternada entre 20ºC por 8 horase 30ºC por 16 horas, com fotoperíodo de 16 h (32 mol m-2 s -1). A percentagem de germinação foi avaliada,sendo as sementes colocadas em rolos de papel Germitest umedecidos em água destilada na proporção de duasvezes e meia do peso do papel. As sementes foram transferidas para câmara de germinação com alternânciade temperatura de 20-30 ºC, e fotoperíodo de 16 h até o final do experimento, aos 31 dias. O delineamentoexperimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições, considerando como unidade experimentalcada lote de 50 sementes. O período de armazenamento teve um efeito significativo na variável estudada,sendo a maior porcentagem de germinação obtida nas sementes recém-colhidas. Ao primeiro mês de avaliaçãofoi observado o decréscimo da germinação. Após quatro e doze meses de armazenamento, não foi observadagerminação. Os tratamentos com banho-maria ou escarificação com lixa favoreceram a germinação das sementesde P. mucronata, armazenadas por um e quatro meses, porém mesmo com o estímulo dos tratamentos, osvalores de germinação final foram baixos. Nas sementes armazenadas por 12 meses os tratamentos utilizadosnão foram eficientes para estimular a germinação.

Palavras-chave: Dormência, germinação de sementes, propagação, Passiflora mucronata.

EFFECTS OF STORAGE PERIODS AND METHODS OF OVERCOMINGDORMANCY IN SEEDS OF PASSIFLORA

ABSTRACT – The aim of this work was to evaluate the effects of storage period and treatement with hot waterat 50ºC or scarification on dormancy break down on Passiflora mucronata seeds. The storage periods were0, 1, 4 and 12 months. The seeds were sown onto Germitest paper roll and incubated in a germination chamberunder 20ºC/8h-30ºC/16h alternate temperature, at 16-h photoperiod (fluorescent light at 32 mol m-2 s-1 irradiance).The percent germination was evaluated, and the seeds germinated on moistened Germitest paper rolls indistilled water at a ratio of two and a half times the paper weight. The seeds were transferred to a germinationchamber with alternating temperatures of 20-30º C and photoperiod of 16 h until the end of the experimentat 31 days. The experiment was analyzed as completely randomized designed with four replications, in whicheach plot was constituted by 50 seeds. The storage periods had significant effect on the variable studied,

1 Engenheira-Agrônoma, Mestre, Doutoranda do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H.Rolfs, s/n - Campus Universitário - Viçosa-MG - [email protected]

2 Engenheira Agrônoma - Doutora - Pesquisadora A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Acre (Embrapa Acre),BR-364, km 14, CP 321, 69908-970, Rio Branco, Acre, Brasil. E-mail: [email protected].

3 Estudante de Agronomia - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H. Rolfs, s/n - CampusUniversitário - Viçosa-MG - [email protected]

4 Engenheiro-Agrônomo, Doutor, Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H. Rolfs, s/n, 36.570-000, Viçosa-MG - [email protected]

Fontes financiadoras: CAPES, CNPq e FAPEMIG

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where the higher germination was obtained at freshly harvested seeds. At the first month of evaluation thegermination decreased. After 4 and 12 months of storage, no germination was detected. The treatment withhot water at 50º or scarification favored the germination of the Passiflora seeds stored by one and four months,however even with the stimulus of the treatments, the values of final germination were low. The treatmentswere not efficient to stimulate the seed germination stored by 12 months.

Key Words: Dormancy, propagation, Passiflora mucronata, seed germination.

1. INTRODUÇÃO

No mundo, existem mais de 580 espécies demaracujazeiros, grande parte nativa da América Tropicale Subtropical, principalmente do Brasil (Lopes et al.,2010). Dentre as passifloráceas silvestres poucoconhecidas, destaca-se o maracujá-de-restinga ou sururu(Passiflora mucronata L.) (Lorenzi et al., 2006). Estaespécie é citada como fonte de resistência a Fusariumsolani (Fischer et al., 2005), à bacteriose nas folhase à antracnose nos frutos e ramos (Junqueira et al.,2005), representando uma importante alternativa parauso potencial como porta-enxerto.

Apesar de esta espécie ser propagada por sementes(Lorenzi et al., 2006), não foram encontradas na literaturainformações sobre a sua biologia reprodutiva, tampoucosobre as necessidades para germinação das sementese tempo de armazenamento. Muitas espécies depassifloras silvestres apresentam dificuldades nagerminação de suas sementes. Segundo Morley-Bunker(1974), sementes de muitas passifloras apresentamdormência relacionada a mecanismos de controle deágua para o interior da semente. O tegumento espessodas sementes é citado como o fator limitante àpermeabilidade. Tratamentos como a escarificaçãoquímica do tegumento de sementes de P. nitida (Silvaet al., 2008) e a escarificação mecânica em sementesde P. alata (Rossetto et al., 2000) têm sido utilizadospara aumentar a germinação das sementes destasespécies.

Em canafístula (Peltophorum dubium), umaleguminosa lenhosa com tegumento com alta dureza,a exposição das sementes ao calor úmido proporcionouo amolecimento do tegumento e o aumento naporcentagem e na velocidade da germinação das sementes(Perez et al., 1999). Tsuboi & Nakagawa (1992) verificaramque, além da escarificação das sementes de maracujá-amarelo com lixa, a imersão em água quente foi eficientepara facilitar a entrada de água na semente e promovera germinação rápida e uniforme. Também em maracujazeiro

amarelo, Wagner Junior et al. (2007) verificaram melhorgerminação de sementes não trincadas em relação àstrincadas e Alexandre et al. (2004) verificaram que aporcentagem de germinação das sementes e o índicede velocidade de emergência não foram influenciadospelos tempos de embebição estudados, mas pelo genótipodas plantas. O armazenamento das sementes tambémé citado como método para auxiliar no aumento daporcentagem de germinação em passifloras. Em P. nitida,é necessário que as sementes sejam armazenadas porquatro a seis meses para a superação de dormência(Melo, 1996). Em maracujazeiro amarelo, Negreiros etal. (2006) verificaram que a extração de sementes deveser realizada de frutos em estádio de maturação 2 e3 e que o desenvolvimento das mudas foi melhormantendo-se os frutos durante 3 a 6 dias emarmazenamento antes da extração de suas sementes.

O conhecimento sobre os aspectos da germinaçãode sementes das diversas espécies de passifloras éfundamental para a propagação e para a manutençãode bancos de germoplasma, visando evitar a erosãogenética. Estudos efetuados nesse gênero são aindaincipientes (Passos et al., 2004).

Dessa forma, os objetivos do trabalho foram avaliara germinação de sementes recém-colhidas de Passifloramucronata e a germinação após diferentes tempos dearmazenamento. Adicionalmente, foram avaliados osefeitos dos tratamentos com escarificação do tegumentocom lixa e imersão das sementes em banho-maria, a 50ºC, sobre a germinação das sementes armazenadas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos no Laboratóriode Sementes do Departamento de Fitotecnia daUniversidade Federal de Viçosa (UFV) em Viçosa-MG.Foram utilizadas sementes obtidas de frutos madurosde P. mucronata, provenientes de polinização naturalde plantas mantidas na área experimental do Setor deFruticultura da UFV.

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SANTOS, de T.M. et al.

Após a coleta dos frutos e extração da polpa,o arilo mucilaginoso foi retirado friccionando as sementescom cal hidratada, em peneira de arame (3 mm). Assementes foram armazenadas em geladeira a 15 oC, atéo momento das avaliações.

No primeiro experimento, foi avaliada a germinaçãode sementes recém-colhidas. Após a assepsia em soluçãode álcool 70% (v/v) durante 1 minuto, e em hipocloritode sódio (2,5 % de cloro ativo) por 10 minutos, as sementesforam colocadas para germinar em rolos de papelGermitest umedecidos em água destilada na proporçãode duas vezes e meia do peso do papel (Brasil, 2009).As sementes foram transferidas para câmara degerminação com alternância de temperatura de 20-30ºC,e fotoperíodo de 16 h até o final do experimento, aos31 dias. O delineamento empregado foi inteiramentecasualizado, com quatro repetições, sendo cada parcelacomposta de 50 sementes. Foram consideradasgerminadas as sementes que emitiram radícula e plúmulaperfeitas, avaliadas aos 10, 15, 21, 26 e 31 dias. Osdados foram analisados por meio de análise de regressão,com o auxílio do programa SAEG 9.1 (2007). O modelofoi escolhido com base na significância dos coeficientesde regressão no nível de 5% de probabilidade peloteste “t”, de Student, no coeficiente de determinaçãoe no potencial para explicar o fenômeno biológico.

No segundo experimento, foi avaliada a porcentagemde germinação de sementes de P. mucronata armazenadasdurante os períodos de um, quatro e doze meses.Paralelamente, foi testado o efeito de pré-tratamentossobre a germinação das sementes. Os pré-tratamentosforam: imersão das sementes em banho-maria a 50 ºCpor cinco minutos ou escarificação do tegumento emlixa nº 60. Este experimento foi realizado nas mesmascondições que o experimento citado anteriormente,sendo a germinação avaliada após 28 dias.

Empregou-se o delineamento inteiramentecasualizado, com quatro repetições e 50 sementes porparcela. A análise estatística utilizada para esseexperimento foi descritiva.

Ao final do período de avaliações, foram coletadascinco amostras compostas por 10 sementes nãogerminadas do lote armazenado por 12 meses provenientesdos tratamentos em banho-maria e escarificação comlixa. Foi contabilizado o número de sementes vaziasou chochas e sementes viáveis. Para a análise daviabilidade, foi feita a retirada completa do tegumento

das sementes e imersão das mesmas em água por 24horas em temperatura ambiente (Brasil, 2009). Em seguida,as sementes foram imersas em solução de tetrazólio(0,075%) por quatro horas a 30oC em ausência de luz(Malavasi et al., 2001). O padrão de coloração destassementes foi comparado com a coloração de sementesviáveis, recém-colhidas e submetidas à solução detetrazólio, sob as mesmas condições descritasanteriormente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A germinação final das sementes recém-colhidasfoi de 79,54% (Figura 1). Melo (1999) obteve germinaçãomáxima de 60% em sementes de P. nitida. NogueiraFilho et al. (2005), trabalhando com sementes de P.giberti e P. setacea embebidas por 12 horas em águadestilada e semeadas em bandejas plásticas contendosubstrato comercial plantmax, observaram que a máximagerminação ocorreu 58 dias após a semeadura (32%e 28%, respectivamente). Assim, a porcentagem degerminação de sementes recém-colhidas de P.mucronata observadas no presente trabalho foiconsiderada elevada quando comparada a valores deporcentagem de germinação de outras espéciessilvestres de Passiflora.

A curva de germinação foi ajustada ao modelopolinomial, na qual é possível observar uma desaceleraçãoa partir dos 26 dias (Figura 1). Diante dos resultados,sugere-se 31 dias como período necessário e suficienteà germinação de P. mucronata. De acordo com MarcosFilho (2005), em períodos prolongados as sementesficam mais tempo expostas a condições favoráveis àproliferação de fungos, o que pode ocasionar o aumento

Figura 1 - Germinação de sementes de Passiflora mucronataobtidas de frutos recém-colhidos.

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Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência em sementes do maracujá-de-restinga

da porcentagem de sementes mortas, o que pode serobservado durante este experimento.

Apesar do alto potencial germinativo observadono experimento um, a porcentagem de germinação reduziu-se bruscamente com o tempo de armazenamento. Apósum mês de armazenamento, apenas 4% das sementes(não tratadas) germinaram (Tabela 1). Resultadossemelhantes foram observados por Nogueira Filho etal. (2005), que trabalhando com P. caerulea, observaramgerminação de 55% das sementes recém colhidas e,após 37 dias de armazenamento, as sementes do mesmolote que o anterior não germinaram.

Nas sementes com um mês de armazenamento,submetidas aos tratamentos em banho-maria a 50oC ou escarificação com lixa, observou-se a germinaçãode 6,67% e 7,33% das sementes, respectivamente(Tabela 1). Estes valores representaram um pequenoaumento na germinação quando comparados ao valorobservado no tra tamento controle (4,0% degerminação) após o mesmo período de armazenamento(Tabela 1).

Nas sementes com quatro meses de armazenamento,ocorreu germinação apenas quando as sementes forampreviamente submetidas a 50o C em banho-maria ouescarificadas com lixa, resultando em 1,33% de germinaçãoem ambos os tratamentos (Tabela 1).

As sementes de Passiflora mucronata armazenadaspor 12 meses não germinaram, mesmo quando submetidas

aos tratamentos em banho-maria a 50o C ou escarificaçãocom lixa (Tabela 1).

Através do teste de tetrazólio, observou-se que20% das sementes armazenadas por 12 meses estavamvazias ou chochas e, dentre as sementes cheias, 71,19%se mantinham viáveis (Tabela 2).

As sementes submetidas ao teste com tetrazólioapresentaram coloração interna homogênea, típica detecidos sadios, conforme Malavasi et al. (2001). Istosugere que um mecanismo de dormência secundáriapode estar envolvido no impedimento da germinaçãodas sementes desta espécie. De acordo com Bewley& Black (1994), a dormência secundária ocorre atravésdo efeito inibidor dos cotilédones e de substânciasinibidoras da germinação sobre o eixo embrionário.Segundo estes autores, o contato dos cotilédones como substrato úmido promove a distribuição do inibidorquímico para o meio, inibindo a germinação e mantendoa semente dormente.

4. CONCLUSÕES

As sementes de Passiflora mucronata recém-colhidas possuem alto potencial germinativo, mas como passar do tempo a germinação diminui, sendo zeroaos quatro e 12 meses de armazenamento. Pré-tratamentosem banho-maria e escarificação com lixa promoveramum pequeno aumento na germinação das sementes dePassiflora mucronata, mas não o suficiente para aquelasarmazenadas por 12 meses.

Tempo de armazenamentoPré-t ra tamento 1 mês 4 meses 12 mesesTestemunha 4,00±2,00 0,00 0,00Banho-maria 6,67±3,33 1,33±0,67 0,00Escarificação com lixa 7,33±3,67 1,33±0,67 0,00Total 18,00 2,66 0,00

Tabela 1 - Germinação (%) de sementes de Passiflora mucronata submetidas a tempos de armazenamento e pré-tratamentosgerminativos

Banho-maria Escarificação com lixa MédiaSementes chochas/vazias (%) 18,00±4,47 22,00±8,37 20,00Sementes viáveis pelo teste de tetrazólio (%) 73,33±9,59 69,04±11,58 71,19

Tabela 2 - Viabilidade de sementes de Passiflora mucronata com 12 meses de armazenamento, submetidas a pré-tratamentosem banho-maria ou escarificação com lixa

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SANTOS, de T.M. et al.

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Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência em sementes do maracujá-de-restinga

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LEMOS, J.P. et al.

EFEITO DA ROÇADA DAS ESPÉCIES BIDENS PILOSA E COMMELINABENGHALENSIS NAS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DO MILHO1

João Paulo Lemos2, João Carlos Cardoso Galvão3, Antônio Alberto da Silva4, Anastácia Fontanetti5,Lorena Moreira Carvalho Lemos6

RESUMO – Devido ao estudo da interação e competição entre a cultura explorada e as plantas daninhas serde suma importância para diagnosticar a eficiência do manejo das mesmas, principalmente o controle mecânico,realizou-se este trabalho com o objetivo de avaliar os efeitos da interferência de Bidens pilosa e Commelinabenghalensis, roçadas em diferentes épocas, sobre as características morfológicas de plantas de milho conduzidasem casa de vegetação. O delineamento experimental foi em blocos inteiramente casualizados, com três repetições,em esquema fatorial 2 x 3 + 1, em que o primeiro fator consistiu de duas plantas daninhas e o segundo detrês épocas de manejos dessas plantas (roçada no estádio de três folhas do milho, roçada no estádio de trêse seis folhas do milho e milho sem controle das plantas daninhas). O tratamento adicional (testemunha)consistiu de cultivo do milho livre da interferência das plantas daninhas. Foram avaliados o acúmulo de matériaseca nas plantas em todas as partes da planta de milho (folha, caule, raiz e órgãos florais), o intervalo entreo florescimento masculino e feminino, o número de folhas (verdes, senescentes e totais), a área foliar específica,a razão de massa foliar, a razão de massa caulinar, a razão de massa radicular e a razão parte aérea/sistemaradicular das plantas de milho em casa de vegetação. Independentemente da espécie de planta daninha estudada,duas roçadas proporcionaram maior acúmulo de matéria seca nas plantas de milho. Plantas de milho em competiçãocom B. pilosa ou C. benghalensis, sem uso de controle, apresentaram reduções (MSF, ALT, NFV e RMF) eincrementos (NFS, IAE e AFE) indesejáveis para o seu potencial produtivo.

Palavras-chave: Competição, cultivo orgânico, plantio direto.

EFFECT OF CLEARINGS OF BIDENS PILOSA AND COMMELINABENGHALENSIS SPECIES ON MORPHOLOGICAL CHARACTERISTICS OF CORN

ABSTRACT – Due to the study of the interaction and competition between the crop harvested, and the weedis critical to diagnose the efficiency of the administration of them, especially the mechanical control. Wecarried out this work in order to evaluate the effects of interference of Bidens pilosa and Commelina benghalensis,mowed in different seasons on the morphological characteristics of corn plants conducted in a greenhouse.The experimental design was in entirely casualized blocks, with three repetitions, in a factorial scheme 2 x 3 + 1,on which the first factor consisted of two weeds and the second of three times of handling of these plants(clearing of the stage of three corn leaves, clearing of the stage of three and six corn leaves, and corn without

1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da UniversidadeFederal de Viçosa, UFV.

2 Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Estudante de Doutorado do Departamento de Fitotecnia, Bolsista CNPq - Universidade Federalde Viçosa, DFT/UFV, 36570-000 Viçosa-MG, [email protected];

3 Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Dep. de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa - DFT/UFV, Bolsista doCNPq. Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, Viçosa-MG, Brasil, 36.570-000, [email protected];

4 Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Dep. de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa - DFT/UFV, Bolsista doCNPq. Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, Viçosa-MG, Brasil, 36.570-000, Enga.Agra., D.Sc., [email protected];

5 Professora do Departamento de Agronomia - Centro de Ciências Agrárias/UFSCAR, Rod. Anhanguera, Km 174, Caixa Postal330, Araras-SP, Brasil, 13.600-970, [email protected]

6 Engenheira Agrônoma, M.Sc., Estudante de Doutorado do Departamento de Fitotecnia, Bolsista CNPq - Universidade Federalde Viçosa, DFT/UFV, 36570-000 Viçosa-MG, [email protected]

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Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características

weed control). The additional treatment (witness) consisted in the cultivation of corn free from the interferenceof weeds. The accumulation of dry matter on plants in all parts of the corn plant (leaf, stalk, root, and floralorgans), the interval between male and female florescence, the number of leaves (green, senescent and total),specific foliar area, foliar mass rate, stalk mass rate, root mass rate and aerial part/radicular system rateof corn plants in greenhouses were evaluated. Independently from the weed species studies, two clearingsprovided a bigger accumulation of dry matter on corn plants. Plant corn in competition with B. pilosa orC. benghalensis without the use of control presented decreases (MSF, ALT, and NFV RMF) and increments(NFS, IAE and AEF) undesirable for its productive potential.

Key Words: Competition, direct planting, organic cultivation.

1. INTRODUÇÃO

Em busca de um sistema de produção que maisse aproxime do ideal da agricultura conservacionistae sustentável, a melhor opção seria a prática do plantiodireto seguindo os princípios da agroecologia. Contudo,uma das principais dificuldades dessa integração éo controle das plantas daninhas sem o uso de herbicidas(Fontanetti et al., 2006). O cultivo orgânico em sistemade plantio direto possibilita a manutenção dos restosculturais, proporcionando, além de outros benefícios,o incremento de matéria orgânica. Entretanto, a infestaçãode plantas indesejáveis no sistema orgânico atinge,em três ou quatro anos, níveis que inviabilizam aprodução de milho (Corrêa et al., 2011).

O uso constante de roçadas no sistema de plantiodireto orgânico tem levado ao estabelecimento de espéciesde plantas daninhas que apresentam rebrota e/oupropagação vegetativa, dificultando o seu manejo nacultura do milho (Vaz de Melo et al., 2007). A importânciado controle dessas plantas daninhas é citada em váriostrabalhos (Vaz de Melo et al., 2007; Chiovato et al.,2007; Pereira et al., 2009; Queiroz et al., 2010; Corrêaet al., 2011).

Darolt & Skora Neto (2003), ao avaliar os diferentesmétodos de controle de plantas daninhas no plantiode milho, observaram que é possível alcançarprodutividade acima de 6.500 kg de grãos de milho porhectare utilizando-se como método de controle duasroçagens. Também foi verificado que esse métodoapresenta nível intermediário de mão-de-obra, ou seja,é mais viável economicamente que o uso de uma capinae um pouco mais oneroso que o uso de herbicida.

Com referência à roçagem das plantas daninhas,na literatura nacional e internacional existem poucostrabalhos que definem o comportamento das plantasde milho em competição com as plantas daninhas roçadas,

principalmente no sistema de produção orgânica.Sabendo da limitação da maioria dos pequenosagricultores ao acesso às tecnologias e, aliado a isso,da disponibilidade e de custo da mão-de-obra, o manejodas plantas daninhas é apontado como um dosimportantes fatores na produção de milho em sistemaorgânico (Queiroz et al., 2010).

Mudanças morfológicas das plantas em ambientesdistintos de competição podem maximizar os resultados,com o controle mais eficiente de plantas daninhas.Diante do exposto, este trabalho teve como objetivoavaliar os efeitos da interferência de Bidens pilosae Commelina benghalensis quando submetidas a roçadassobre as características morfológicas de plantas demilho.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em casa de vegetação daUniversidade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG, noano agrícola 2009/2010. O delineamento utilizado noexperimento foi o de blocos casualizados, com trêsrepetições, em esquema fatorial 2 x 3 + 1. O primeirofator foi constituído por duas espécies de plantasdaninhas utilizadas no experimento (Bidens pilosa eCommelina benghalensis), e o segundo, por trêsmanejos dessas plantas (roçada no estádio de três folhasdo milho, roçada no estádio de três e seis folhas domilho e milho sem controle das plantas daninhas). Otratamento adicional (testemunha) consistiu no cultivodo milho livre da interferência das plantas daninhas.

O milho da variedade de polinização aberta UFVM100 Nativo foi semeado seis dias após C. benghalensise dois dias após B. pilosa, visando à emergênciasimultânea do milho e das plantas daninhas. Esse períodofoi definido em experimento preliminar, utilizando-seo mesmo solo. A parcela experimental foi composta

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por um vaso com as seguintes dimensões: 35 cm diâmetrosuperior, 22 cm de diâmetro inferior, 34 cm de alturae com capacidade de 22 litros. O substrato paraenchimento dos vasos foi composto por amostras deLatossolo Vermelho-Amarelo (LVA) de texturaargiloarenosa (52% de areia, 10% de silte e 38% deargila), coletado em barranco, para que fosse minimizadaa presença de sementes advindas do banco de sementesdo solo. Na Tabela 1 são apresentadas as característicasquímicas do solo.

Antes do enchimento dos vasos, o solo foi secoao ar, destorroado, passado em peneira com mesh de20 mm e adubado com dose equivalente a 40 m³ ha-

1 de composto orgânico (Tabela 2) e 0,035 kg por vasode P2O5 na forma de termofosfato magnesiano, conformerecomendação (Chiovato et al., 2007).

Inicialmente, foram semeadas 10 sementes de plantadaninha e duas sementes de milho por vaso. Ao completarcinco dias da emergência das plantas de milho foi realizadoo desbaste, deixando-se seis plantas daninhas e umaplanta de milho por vaso, ou seja, em cada vaso foicultivada uma planta de milho em competição ou nãocom seis plantas de B. pilosa ou de C. benghalensis.Durante a condução do experimento os vasos foramirrigados diariamente por gotejamento, a fim de mantera umidade do solo próximo de 80% da capacidade decampo. O período de interferência no mesmo vaso entrea planta de milho e as espécies daninhas foi da emergênciadestas plantas até o florescimento das plantas de milho,que ocorreu aos 58 dias após a emergência (DAE).

As roçadas das plantas daninhas foram feitas com auxíliode uma tesoura de aço, sendo a primeira realizada quandoas plantas de milho se encontravam no estádio fenológicode três folhas completamente expandidas (aos 15 DAE),e a segunda no momento em que as plantas de milhoapresentavam seis folhas completamente expandidas(aos 25 DAE). Essas roçadas foram realizadas a umaaltura de corte semelhante à utilizada no campo comroçadeiras: 4 a 5 cm do solo.

Ao final do experimento (58 DAE), retirou-se aparte aérea das plantas de milho, separando-as em folhas,órgãos reprodutivos (primórdio de espiga e pendão)e colmo. Foi retirado o solo juntamente com as raízes,e assim iniciado o processo de lavagem por meio deágua; lavou-se repetidamente em baldes até a totalretirada do solo aderido às raízes. Foram avaliadas asseguintes características morfológicas nas plantas demilho no estádio de florescimento: Número de folhas(verdes, senescentes e totais) – as folhas foram retiradasdas plantas separadas e contadas, iniciando-se a avaliaçãoa partir da primeira folha da base até a folha-bandeiratotalmente expandida, realizada no término do experimento(58 DAE); diâmetro do caule e altura de planta, queforam avaliados na fase de liberação do pendão e doestilo-estigma – pleno florescimento das plantas demilho (58 DAE). Avaliou-se a altura das plantas, dosolo até a inserção da folha-bandeira, e o diâmetrode colmo, utilizando-se um paquímetro, na parte maislarga do colmo, a 10 cm do solo; e diferença em diasdo intervalo entre a antese e o embonecamento (IAE)das plantas de milho. Após a liberação do pendão,

p H P K Ca Mg Al H+AL SB CTC (t) CTC (T) V

(mg dm-3) (cmolc dm-3) (%)5,4 1,7 7 3 3,3 1,1 0 3,63 4,59 4,59 8,22 5 6

Tabela 1 - Resultados das análises químicas do Latossolo Vermelho-Amarelo utilizado no experimento. Viçosa-MG, 2010

As determinações químicas foram efetuadas conforme Embrapa (1997); pH em água na proporção de 1: 2,5 para solo: água; Ca, Mg e Al= extrator KCl 1N; P e K = extrator Mehlich-1; e acidez extraível H+Al = extrator SMP.

N P K Ca Mg S B Cu Fe M n Z n

(g kg-1) (mg kg-1)

16,3 4,25 2,53 9,25 3,75 2,06 10,12 34,54 364,5 265,52 74,1

Tabela 2 - Características químicas do composto orgânico com base na matéria seca utilizado no experimento. Viçosa-MG,2010

As determinações foram efetuadas de acordo com o método descrito por Kiehl (1985) e umidade de 13%.

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Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características

cada planta foi conferida três vezes ao dia; anotou-se a data de liberação do pólen da parte masculina(pendão) e a exposição dos cabelos das espigas (estilo-estigmas) da parte feminina.

Foram colocados separadamente as folhas, órgãosreprodutivos, colmo e raízes das plantas em sacos depapel e levados à estufa de circulação forçada de ar,a 70 °C, até atingirem peso constante, para determinaçãoda matéria seca. Foi avaliada a matéria seca de folhas(MSF), do caule (MSC), dos órgãos reprodutivos –espiga e pendão (MSFL) e do sistema radicular (MSR),determinadas por ocasião da colheita, do experimentoaos 58 DAE. Por meio dos parâmetros para a análisede crescimento descrita por Benincasa (1988), foramavaliadas as seguintes características: Área foliarespecífica (AFE) em cm2 g-1, obtida pelo quociente entrea área da folha mais jovem totalmente expandida –analisada no equipamento de mesa LI-COR (LI- 3000)– e a matéria seca de folha; Razão de massa foliar (RMF)em g g-1, fornecida pelo quociente entre a matéria secade folhas e a matéria seca total da planta; Razão demassa caulinar (RMC), obtida pelo quociente entrea matéria seca do caule e a matéria seca total da planta;Razão de massa radicular (RMR), obtida pelo quocienteentre a matéria seca radicular e a matéria seca totalda planta; Razão parte aérea/sistema radicular (PA/SR) em g g-1, obtida a partir da soma da matéria secada parte aérea da planta (folha + caule + primórdiosflorais) dividida pela matéria seca do sistema radicular(raiz).

Os resultados das avaliações foram submetidosà análise de variância, e as médias comparadas pelostestes de Tukey e Dunnett a 5% de significância.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após análise dos dados, constatou-se interaçãosignificativa entre os fatores espécies de plantasdaninhas e época de corte para razão de matéria secafoliar (RMF) e razão de massa radicular (RMR) parao milho. Dessa forma, a interação foi desdobrada,estudando-se as épocas de corte para cada espéciede planta daninha. Quanto às características massada matéria seca de folha (MSF), altura de plantas (ALT),número de folhas verdes (NFV), intervalo entre a antesee o embonecamento (IAE), área foliar específica (AFE)e razão parte aérea e sistema radicular (PA/SR), verificou-se efeito significativo somente para época de corte.

Verificou-se que o tratamento com duas roçadasapresentou a MSF superior àquelas das demais épocas.Contudo, uma única roçada não foi suficiente paradiminuir os danos da interferência das espécies B. pilosae C. benghalensis no acúmulo de MSF (Tabela 3).

Quando se compara o tratamento testemunha (milhono limpo) com os tratamentos com duas roçadas, verifica-se que ambas as plantas daninhas não interferiram noacúmulo de matéria seca das folhas, não diferindo datestemunha (Tabela 4). Entretanto, Chiovato et al. (2007)observaram que duas roçadas não foram suficientespara evitar a interferência de B. pilosa nodesenvolvimento das plantas de milho. Essa diferençapode estar relacionada ao fato de esses autores teremrealizado o manejo da roçada nos estádios de quatroe oito folhas do milho, sendo diferente da época deroçada do presente estudo. Esses resultados indicamque o controle no início do ciclo de desenvolvimentoé fundamental e necessário para se alcançar o máximopotencial de produção da cultura (Kozlowski et al.,2009).

Para o diâmetro de caule das plantas de milho(DIAM), não houve diferenças na interação entre plantadaninha e manejo da roçada. No entanto, houvediferenças quando se compararam as médias dostratamentos com manejo e a média da testemunha. Ostratamentos com uma roçada diferiram da testemunha,apresentando menores valores de diâmetro de plantas(Tabela 4).

Contudo, os manejos para ambas as plantasdaninhas, em que se utilizaram duas roçadas (M e B/2r e M e C/2r), não diferiram do milho cultivado sema presença de planta daninha. É provável que o hábitode crescimento das plantas daninhas e as necessidadesnutricionais intrínsecas de cada espécie possamproporcionar formas diferenciadas de competição (Rocha,2007); as plantas de milho quando em competição comB. pilosa não apresentaram redução do diâmetro decolmo, porém a altura de plantas foi consideravelmenteafetada.

A altura das plantas de milho (ALT) no manejode uma roçada e duas roçadas (1R e 2R) foram iguaisentre si e superiores à do tratamento sem roçada SR(Tabela 3). Para essa característica, quando se comparamas médias da testemunha e o tratamento que recebeuuma única roçada das plantas de B. pilosa (Tabela 4),verifica-se que apenas um corte foi suficiente para diminuir

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a interferência causada pela competição. Esse fatonão foi observado para C. benghalensis, que interferiude forma significativa na altura das plantas de milho,mesmo quando essas plantas receberam apenas umaroçada. Entretanto, quando se utilizam duas roçadas(M e B/2r e M e C/2r), são obtidos resultados satisfatóriosna redução da interferência das plantas daninhas nocrescimento das plantas de milho.

A interferência das plantas daninhas na altura dasplantas de milho é influenciada pelos genótipos utilizadose pela intensidade da infestação por plantas daninhas.Esta característica, juntamente com a área foliar edistribuição das folhas no perfil do dossel da planta(Strieder et al., 2008), pode proporcionar redução daradiação que chega à superfície do solo, levando amaior aproveitamento da luz solar por meio doalongamento da bainha, pecíolo e entrenós do colmo(Lemaire, 2001).

Para as características número de folhas verdes(NFV) e número de folhas secas do milho (NFS),observou-se comportamento inverso, ou seja, quandosão contabilizados elevados índices de folhas verdes,a planta apresenta tendência de baixo índice de folhassenescentes. Verificou-se que a realização de duasroçadas foi superior aos demais manejos para a variávelnúmero de folhas verdes (Tabela 3). Inversamente, paranúmero de folhas secas, a realização de uma roçada(1R) e sem roçadas (SR) foram iguais entre si e superioresa duas roçadas (2R) (Tabela 3). Verificou-se que otratamento testemunha MLPD com os tratamentos (Me B/2r) e (M e C/2r), não diferiram entre si, para asduas variáveis analisadas (NFV e NFS) (Tabela 4).Quanto menor o número de folhas senescentes na épocado florescimento do milho, maior será a quantidadede folhas participando efetivamente no ganho deaçúcares pela planta. É provável que nos tratamentos

Manejo MSF ALT NFV NFS IAE AFE

(g) (cm) (dias) (cm2 g-1)1R 29,01 ab 171,16 a 9,50 b 6,83 a 6,00 ab 119,47 ab2R 36,43 a 185,16 a 13,70 a 3,67 b 3,83 b 109,68 bSR 21,12 b 132,00 b 8,66 b 8,00 a 8,50 a 139,44 a

CV(%) 20,43 14,39 11,15 17,52 35,05 10,27

Tabela 3 - Médias de matéria seca de folha (MSF), altura de plantas (ALT), número de folhas verdes (NFV), intervalo entrea antese e o embonecamento (IAE), área foliar específica (AFE) das plantas de milho, nos diferentes manejosda roçada das plantas daninhas no sistema de cultivo do milho. Viçosa-MG, 2010

Médias seguidas de mesma letra nas colunas, para cada variável, não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. 1R –uma roçada no estádio de três folhas do milho; 2R – uma roçada no estádio de três e uma roçada no estádio de seis folhas do milho;e SR – sem roçadas.

T RAT MSF DIAM ALT NFV NFS IAE AFE PA/SR RMR RMF

(g) (cm) (dias) (cm2 g-1) (g g-1)MLPD 45,26 2,54 211,33 15,00 2,66 3,33 96,65 2,42 0,15 0,17M-B/1r 32,83* 1,86* 192,67 9,00* 7,33* 5,33 117,89 1,59 0,29 0,17M-B/2r 38,92 2,19 176,33 13,00 4,33 3,67 109,07 1,67 0,28 0,16M-B/sr 22,96* 2,11 140,33* 9,00* 8,00* 8,00* 125,36* 1,16* 0,44* 0,11*M-C/1r 25,19* 1,77* 149,67* 10,00* 6,33* 6,67 121,05* 1,67 0,26 0,17M-C/2r 33,93 2,00 194,00 13,00 3,00 4,00 110,29 1,65 0,31 0,15M-C/sr 19,31* 1,56* 123,67* 8,33* 8,00* 9,00* 153,52* 2,40 0,16 0,27*

Tabela 4 - Valores médios de matéria seca de folha (MSF), diâmetro do caule (DIAM), altura de planta (ALT), número defolhas verdes (NFV), número de folhas senescentes (NFS), intervalo entre antese e embonecamento (IAE), áreafoliar específica das folhas (AFE), razão parte aérea/sistema radicular (PA/SR), razão de massa foliar (RMF) erazão de massa radicular (RMR) das plantas de milho. Viçosa-MG, 2010

* Médias que diferem da testemunha a 5% de probabilidade pelo teste de Dunnett. MLPD – milho livre de planta daninha; M-B/1r – milhoe B. pilosa/uma roçada; M-B/2r – milho e B. pilosa/duas roçadas; M-B/sr – milho e B. pilosa/sem roçadas; M-C/1r – milho e C. benghalensis/uma roçada; M-C/2r – milho e C. benghalensis /duas roçadas; M-C/sr – milho; e C. benghalensis /sem roçadas.

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Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características

com uma roçada (1R) e sem roçada (SR) a competiçãoentre as plantas daninhas e a planta de milho por água,luz e por nutrientes tenha sido em maior intensidadeem relação ao tratamento de duas roçadas (2R), o quepropiciou o aumento na velocidade da senescênciafoliar (Valentinuz & Tollenaar, 2004; Strieder et al., 2008).Entretanto, este não é um processo de degeneraçãopassivo e desregulado, pois há alterações ordenadasna estrutura celular, no metabolismo e na expressãogênica da planta (Lim et al., 2007).

Para o intervalo entre a antese e o embonecamento(IAE), verificaram-se diferenças correspondentes aomanejo, em que 2R e SR apresentaram médias diferentesentre si, porém estas não diferiram do tratamento deuma roçada (1R). Esses resultados predizem que duasroçadas nas plantas daninhas influenciaram de formapositiva as plantas de milho, apresentando reduçãodo IAE (Tabela 3).

Quando se comparam as médias entre os tratamentose a testemunha, observa-se que o tratamento que continhaplantas de milho e B. pilosa sem corte (M e B/sr) eplantas de milho e C. benghalensis sem corte (M eC/sr) diferiram da testemunha (Tabela 4). A partir dessaanálise, pode-se inferir que tanto a competição coma espécie B. pilosa quanto a competição com as plantasdaninhas C. benghalensis causam efetivamente aprolongação do intervalo de florescimento das plantasde milho.

A menor interferência intra e interespecífica podepermitir desenvolvimento mais sincronizado dasinflorescências masculinas e femininas, ou seja, menorIAE. Nesse sentido, Sangoi et al. (2001) verificaramque o intervalo entre antese e espigamento foi maiorquando houve incremento na população de plantas,em decorrência, possivelmente, do aumento dacompetição entre as plantas de milho pelos recursosnaturais. Assim, o IAE, potencialmente, deveria serigual a zero, uma vez que o seu aumento pode reduzira probabilidade de ocorrer uma fecundação adequada,já que a disponibilidade de grãos de pólen viáveis éreduzida com a elevação do IAE. Segundo Otegui etal. (1995), valores do IAE acima de 10 dias resultamem espiguetas estéreis. Dessa forma, também se podeafirmar que espigas iniciadas tardiamente recebem menorquantidade de assimilados, tendo menor possibilidadede se tornarem funcionais e produzirem grãos, emdecorrência da menor capacidade competitiva por

fotoassimilados da espiga com as demais estruturasda planta (Sangoi, 2001).

Verificaram-se diferenças significativas na áreafoliar específica das plantas de milho (AFE). Ostratamentos 1R e SR foram semelhantes entre si e omanejo de duas roçadas não diferiu do tratamento comuma única roçada. Contudo, o tratamento em que sefez uso de duas roçadas apresentou menor valor deAFE comparado ao tratamento sem a roçada (Tabela3). Plantas com elevadas taxas de saturação fotossintéticaapresentam vantagens competitivas sobre as demaisespécies, com valores inferiores para essa variável (Feng,2008). Segundo Feng et al. (2004), a AFE está inversamentecorrelacionada com os custos de formação de matériaseca nas folhas.

Para os resultados comparativos entre ostratamentos, observa-se que, no geral, quando acompetição é imposta sem a utilização de roçadas, atendência é de que a área foliar específica aumenteconsideravelmente (Tabela 4). Esse fato pode estarrelacionado ao mecanismo da planta em interceptare/ou aproveitar de forma mais eficiente a radiação solarque chega à superfície (Procópio et al., 2003),desfavorecendo a interceptação de luz pelas plantasdaninhas em competição, principalmente com as plantasde B. pilosa. Resultados semelhantes foram observadospor Lima et al. (2008), os quais relatam que a expansãoda folha sob baixa luminosidade é uma respostafrequentemente observada e indica uma compensaçãoda planta, no intuito de proporcionar melhoraproveitamento à baixa luminosidade.

Quando se realizaram duas roçadas (M e B/2r eM e C/2r), não foram observadas diferenças dessestratamentos em relação à testemunha, ou seja, estacaracterística da folha (AFE) não é afetada pelacompetição com plantas daninhas testadas, desde quesejam realizadas duas roçadas (Tabela 3).

Pelos valores obtidos da razão parte aérea/sistemaradicular (PA/SR), pode-se constatar que o milho comB. pilosa sem controle foi o mais afetado, em comparaçãocom as plantas de milho livre de competição. Verifica-se que houve diminuição dessa razão, muitoprovavelmente devido à alta competição radicular, oque favoreceu um alto desenvolvimento radicular domilho para diminuir as deficiências nutricionais geradaspela competição (Tabela 4). O comportamento verificadopara a raiz do milho em competição com raízes de B. pilosa

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não foi observado para a raiz de milho sob interferênciadas raízes de C. benghalensis no tratamento sem roçada.A relação PA/SR foi mantida neste tratamento em relaçãoà testemunha, mesmo com a magnitude da competiçãoproporcionada por plantas de C. benghalensis (Tabela 4).Esse fato pode ser explicado em função da reduçãodo acúmulo de matéria seca das folhas, porém não houveincremento na razão de massa radicular em proporçõesconsideráveis.

Houve interação entre manejo e plantas daninhaspara as características de razão de massa foliar (RMF)e razão de massa radicular (RMR) das plantas de milho(Tabela 5). Na RMF, avaliando-se somente o tratamentomilho e B. pilosa, os manejos de uma roçada (1R) eduas roçadas (2R) foram semelhantes e superiores aotratamento (SR). Contudo, não foram observadasdiferenças para a razão de massa radicular (RMR) dentrodos tratamentos de milho e B. pilosa. Bianchi et al.(2006), em trabalho com a cultura da soja, observaramresultados semelhantes, sendo que durante o períodode crescimento vegetativo da soja a competição porrecursos do solo predominou sobre a competição porradiação solar, ocasionando, dentre outros, a reduçãoda razão de massa foliar.

O comportamento das plantas de milho emcompetição com C. benghalensis é o inverso doobservado para B. pilosa, pois o tratamento decompetição sem roçadas (SR) apresentou maior razãode massa foliar, diferindo dos demais manejos de corte;contudo, não houve diferenças entre uma roçada (1R)e duas roçadas (2R) (Tabela 5).

Verificou-se que para os tratamentos 1R e 2R, quandose compara o milho sob interferência das duas plantasdaninhas, o comportamento das variáveis RMF e RMRnão diferiu. Entretanto, as médias da razão de massa

foliar das plantas de milho que competiram tanto comB. pilosa quanto com C. benghalensis foram diferentesnos tratamentos sem o uso de roçadas, ou seja, quandoem livre competição entre as plantas daninhas e asplantas de milho, observam-se respostas diferenciadasno que tange ao acúmulo de matéria seca para a formaçãode folhas, em relação à massa da matéria seca totalda planta nesses tratamentos.

De acordo com Bianchi et al. (2006), as modificaçõesem atributos morfofisiológicos entre plantasconcorrentes, ocorridas em seu trabalho, demonstraramque as plantas respondem rápido e diferentemente àcompetição pelos recursos do ambiente. O milho emcompetição com B. pilosa teve média de RMF menorem relação à das plantas de milho em competição comas plantas daninhas de C. benghalensis, dentro domanejo sem roçadas. Quando se avalia a RMR, ocomportamento é o contrário do observado com a RMF,ou seja, as plantas de milho em competição com B. pilosativeram média de RMR maior em relação às plantasde milho em competição com as plantas daninhas deC. benghalensis. De acordo com Liu & Stützel (2004),maior proporção de carboidratos é direcionada paraas raízes, principalmente em ambientes com baixadisponibilidade de água e nutrientes.

Nas comparações entre os tratamentos e atestemunha (Tabela 4), observou-se que o tratamentoque continha milho e B. pilosa sem a utilização de roçadas(M e B/sr), entre os avaliados, foi o que apresentoumédia de razão de massa radicular das plantas de milho(RMR) superior à do cultivo de milho sem a presençada competição (TEST). No entanto, com maior partiçãode assimilados para o sistema radicular (M e B/sr),tem-se diminuição considerável desses produtosfotossintéticos para a formação e manutenção da massafoliar em relação ao restante da planta (RMF), perfazendo

Manejo RMF (g g-1) RMR (g g-1)

B. pilosa C. benghalensis B. pilosa C. benghalensis

1R 0,17 Aa 0,17 Ba 0,30 Aa 0,26 Aa2R 0,16 Aa 0,15 Ba 0,28 Aa 0,31 AaSR 0,11 Bb 0,27 Aa 0,44 Aa 0,16 Ab

Tabela 5 - Médias de razão de matéria seca foliar (RMF) e razão de matéria seca radicular (RMR) das plantas de milho emcompetição com plantas daninhas (B. pilosa e C. benghalensis), nos diferentes manejos da roçada nas plantasdaninhas no sistema de cultivo de milho. Viçosa-MG, 2010

Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, para cada variável, não diferem entre si a 5% de probabilidade,pelo teste de Tukey. 1R - roçada da planta daninha no estádio de três folhas do milho; 2R - roçada da planta daninha no estádio de trêse seis folhas do milho; SR – milho; e sem controle das plantas daninhas.

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Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características

um dos tratamentos que diferiram da testemunha paraa característica em questão.

4. CONCLUSÕES

Duas roçadas (estádio de três e seis folhascompletamente expandidas do milho) proporcionarammaior acúmulo de matéria seca pelas plantas de milho,independentemente da espécie de planta daninha.

Plantas de milho em competição com B. pilosaou C. benghalensis sem uso de controle apresentaramreduções (MSF, ALT, NFV e RMF) e incrementos(NFS, IAE e AFE) indesejáveis para o seu potencialprodutivo.

5. AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pelo auxílio financeiro ao projeto epela concessão de bolsas de pós-graduação e deprodutividade em pesquisa.

6. LITERATURA CITADA

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Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica

MAMONA E GIRASSOL NO SISTEMA DE CONSORCIAÇÃO EM ARRANJODE FILEIRAS: EFICIÊNCIA BIOLÓGICA1*

Ciro de Miranda Pinto2*, Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto3, João Bosco Pitombeira4*

RESUMO – Um ensaio de campo foi conduzido nos anos agrícolas de 2008, 2009 e 2010, com o objetivode avaliar os efeitos dos arranjos de plantio da mamona (Ricinus communis L.) e girassol (Helianthus annusL.) nos sistemas consorciados na eficiência biológica entre as plantas. O delineamento utilizado no experimentofoi blocos ao acaso com sete tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos analisados foram representadospor fileiras de mamona (Ma) e de girassol (Gi) citados a seguir: 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi; 2Ma:3Gie monocultivo de mamona e girassol. A eficiência do sistema de consorciação foi avaliada através do usoeficiente de terra (UET), razão equivalente de área no tempo (REAT), coeficiente equivalente de terra(CET), média entre UET e REAT, índice de produtividade do sistema (IPS) e razão de compensação (RCo).O arranjo de fileira 1Ma: 2Gi indicou a menor redução média de produtividade da mamona e do girassolno período de avaliação do experimento. A mamona foi dominante em relação ao girassol na utilizaçãodos recursos do ambiente.

Palavras-chave: CET, IPS, REAT, Ricinus communis L., UET.

CASTOR BEAN AND SUNFLOWER INTERCROPPING SYSTEMS IN ROWARRANGEMENT: BIOLOGICAL EFFICIENCY

ABSTRACT – An experiment field was carried in the agricultural seasons 2008, 2009 and 2010, with aimof studying the response of castorbean (Ricinus communis L.) intercropping with sunflower (Helianthusannus L.) in row arrangement in the dryland farming conditions. In addition, it was evaluated the biologicalefficiency of plants in intercropping systems.The design used in the experiment was randomized block withseven treatement and four replications. The treatments were represented by rows of castor oil (Ma) andsunflower (Gi) listed below: 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi; 2Ma:3Gi; castor and sunflower inthe monoculture. The efficiency of intercropping was measured by LER, ATER, LEC, average between LERand ATER, SPI and CoR. The grain yield of castor bean and sunflower were reduced in intercropped rowarrangements. The row arrangement 1Ma:2Gi showed the smallest reduction of average productivity ofcastor beans and sunflower in the evaluation period of the experiment. The castor bean was the dominantcrop in relation to sunflower.

Keywords: ATER, LEC, LER, Ricinus communis L., SPI.

1 Retirado dos dados da Tese de Doutorado do primeiro autor. Projeto Financiado pela CAPES.2 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia/Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará, [email protected] (endereço

de correspondência), CCA/UFC, Caixa Postal 12.168, Campus do Pici, CEP: 60455-970, Fortaleza-Ceará.

3 Engenheira Agrônoma, Doutoranda em Agronomia/Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará.4 Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Prof. do Dep. de Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará.

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PINTO, de C.M. et al.

1. INTRODUÇÃO

A mamoneira é originária da África e, muitoprovavelmente, da Abissínia. Essa planta apresentaampla distribuição geográfica, sendo encontrada emestado subespontâneo, ou cultivo, em quase todasas zonas tropicais e subtropicais do mundo (Krug &Mendes, 1942). Brasil, Paraguai, China e Índia são osmaiores produtores de mamona do mundo em escalacrescente. A produção de grãos de mamona mundiale no Brasil na safra 2009 foi respectivamente de 1.499.111e 90.384 t. A produtividade da mamoneira no mundoe no Brasil em 2009 foi da ordem de 1.172 e 567,7 kgha-1 (Faostat, 2009).

A consorciação de culturas consiste no cultivosimultâneo de duas ou mais espécies numa área agrícola,tendo a dimensão espacial e temporal de convivênciaentre as plantas cultivadas. A escolha da configuraçãode fileiras e população de plantas adequadas no sistemade consorciação entre espécies cultivadas proporcionaincrementos no rendimento de grãos pelo efeito dacomplementação da exploração dos recursos do ambienteabaixo e acima do solo. A configuração de fileiras,conhecida por arranjo espacial no sistema deconsorciação, consiste em delinear a melhor distribuiçãodas plantas no campo de produção de culturas associadasde modo que ocorra menor competição intra einterespecífica pelos recursos do ambiente, dentre eles,água, nutrientes e luz.

No Brasil, as pesquisas envolvendo mamona egirassol, em sistemas consorciados em arranjo de fileira,são raras. Os sistemas consorciados em diferentesarranjos de fileiras foram estudados nos agroecossistemasde mamona + milho (Azevedo et al., 2007a), mamona+ amendoim, mamona + grão de bico, mamona + “guarou clusterbean” (Cyamopsis tetragonoloba) e mamona+ capim-pé-de-galinha (Kumar et al., 2010), milho +caupi (Yilmaz et al., 2008), milheto + guandu (Arokiaraj& Kannappan, 1995), amendoim + milho doce (Bhagatet al., 2006), algodão herbáceo + caupi + sorgo (BezerraNeto et al., 2001), milho + guandu (Lingaraju et al.,2008) e sorgo + feijão caupi (Mohammed et al., 2009).

O cultivo da mamona consorciada com outrasespécies cultivadas tem-se mostrado vantajoso em relaçãoao monocultivo. Os resultados comprovando tal afirmaçãoforam reportados em sistemas mamona + gergelim (Beltrãoet al., 2010a), mamona + amendoim (Beltrão et al., 2010b),mamona consorciada com feijão mungo, feijão mungo-

verde, caupi, soja e gergelim (Thanunathan et al., 2008),mamona + milho (Azevedo et al., 2007a), mamona +sorgo e mamona + caupi (Corrêa et al., 2006) e mamona+ sorgo, mamona + gergelim e mamona + feijão caupi(Távora et al., 1988).

Diante da importância capital de se avaliar a eficiênciabiológica das plantas nos sistemas de cultivoconsorciado, diversos índices foram desenvolvidos,sendo amplamente estudados. A análise da eficiênciabiológica do sistema consorciado em relação aomonocultivo é mensurada pelo uso eficiente de terra,UET (Willey & Osiru, 1972; Mead & Willey, 1980), razãoequivalente de área no tempo, REAT (Hiebsch, 1978),média aritmética do UET e REAT (Mason et al., 1986),índice de produtividade do sistema, IPS (Odo, 1991),razão de compensação, RCo (Ntare & Williams, 1992)e coeficiente equivalente de terra, CET (Adetiloye etal., 1983).

Em função do exposto, objetivou-se com estetrabalho avaliar o manejo cultural da mamona consorciadacom girassol, em arranjo de fileira, e seus reflexos naprodutividade da cultura principal e consorte, peloemprego de índices de mensuração da eficiência biológicadas plantas associadas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi conduzida nos anos agrícolas de2008, 2009 e 2010, na Fazenda Lavoura Seca, localizadano município de Quixadá-Ce, 4º59’S latitude, 39º01’Wlongitude Greenwich e altitude de 190 m acima do níveldo mar. O clima do município de Quixadá conforme Köppené semiárido do tipo BsH, quente e seco. A precipitaçãopluvial média é 873,3 mm, temperatura média anual de26,7oC e umidade relativa do ar de 70% (Brasil, 1973).

As características do solo da área experimentalcolhido numa profundidade de 0-20 cm são descritosna Tabela 1.

A adubação foi procedida conforme asrecomendações da análise de fertilidade do solo tendocomo base a cultura principal que foi a mamona. Osfertilizantes empregados foram ureia, superfosfato simplese cloreto de potássio (Tabela 1). Na adubação de fundaçãousou-se 1/3 da dose recomendada para o nitrogênio,sendo realizada de forma integral para os nutrientespotássio e fósforo. A adubação de cobertura foi realizadaaos 30 dias, usando-se 2/3 da dose recomendada paranitrogênio com adição de 2 kg boro ha-1.

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Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica

A precipitação pluvial ocorrida durante a execuçãodo experimento foi da ordem de 594,30; 1.034,80 e 287,80mm, respectivamente, nos anos de 2008, 2009 e 2010.

Na pesquisa utilizaram-se as cultivares de mamonaBRS ENERGIA e de girassol EMBRAPA 122. Os tratamentosavaliados foram: T1- uma fileira de mamona + uma fileirade girassol (1Ma:1Gi), T2- uma fileira de mamona +duas fileiras de girassol (1Ma:2Gi), T3- uma fileira demamona + três fileiras de girassol (1Ma:3Gi), T4- duasfileiras de mamona + duas fileiras de girassol (2Ma:2Gi),T5- duas fileiras de mamona + três fileiras de girassol(2Ma:3Gi), T6- mamona monocultivo e T7- girassolmonocultivo. As parcelas consorciadas em configuraçãode fileira serão descritas a seguir: no tratamento T1-arranjo de 1:1 onde a mamoneira foi espaçada de 1mdo girassol; no tratamento T2- arranjo de 1:2 onde amamona foi espaçada de 0,7 m do girassol e as entrelinhas desse de 0,6 m; no tratamento T3- arranjo de1:3 onde a mamona foi espaçada de 0,6 m do girassole as entre linhas desse de 0,4 m; no tratamento T4-arranjo de 2:2 onde a mamona foi espaçada de 1 m nafileira dupla e entre fileira dupla 2 m, e entre as fileirasduplas foram intercaladas duas fileiras de girassolespaçadas 0,6 entre girassol e 0,7 m para mamona eno tratamento T5- arranjo de 2:3 onde a mamona foiespaçada de 1 m na fileira dupla e entre fileira dupla2 m, entre as fileiras duplas foram intercaladas duasfileiras de girassol espaçadas 0,4 m para girassol e0,6 m para mamona.

O espaçamento da mamona nas configurações defileiras 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi foi de 2 m x 0,5 m.Nas fileiras duplas 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi foi de 2 m x 1

m x 1 m. Para girassol nas configurações 1Ma:1Gi oespaçamento foi 2 m x 0,24 m; 1Ma:2Gi espaçado de0,6 x 0,4 x 2 m; 2 Ma:2iG espaçado de 0,6 x 0,4 x 2 m;1Ma:3Gi espaçado de 0,4 x 0,6 x 2 m e 2 Ma:3Gi espaçadode 0,4 x 0,6 x 2 m. O monocultivo teve suas parcelasconstituídas por 6 fileiras de 8 m no espaçamento:mamona 1m x 1 m, enquanto o girassol teve 6 fileirasde 8 m no espaçamento de 0,8 m x 0,3 m. Os sistemasde consórcio em arranjo de fileira e monocultivo tiveramcomprimento de linha de plantio de 8 m. A coleta domaterial para o estudo da produção vegetal foirepresentada pelas duas fileiras centrais de cada parcela,em cada cultura, eliminando-se 1 m de cada extremidadedas fileiras. O solo foi preparado dois dias antes doplantio, com duas arações. A mamona e o girassol foramplantados em covas com 3 a 5 cm de profundidade,e 5 sementes cova-1.

As datas do plantio, adubação inicial, desbastede plantas, adubação de cobertura e colheita constamna Tabela 2. A adubação de cobertura não foi realizadano ano de 2010 em virtude da baixa umidade do solona área experimental (Tabela 2).

O manejo das plantas daninhas ocorrentes na áreaexperimental foi realizado por meio de três capinas manuais.Não foi necessário realizar aplicação de agroquímicopara controle de “pragas”.

O sistema de consorciação foi avaliado mediantea eficiência biológica entre as plantas associadas. Aeficiência biológica no sistema de consorciação foiavaliada mediante o o Uso Eficiente de Terra (UET),Razão Equivalente de Área no Tempo (REAT), MédiaAritmética entre UET e REAT, Coeficiente Equivalente

Ano Agrícola Características QuímicaspH em água (1: 2,5) P+ K+ Na+ Al+3 Ca+2 Mg+2

(mg kg-1)

20 08 6,30 5,00 0,20 0,03 0,00 1,70 2,3020 09 5,70 14,00 0,23 0,03 0,10 1,30 0,7020 10 5,70 7,00 0,14 0,05 0,05 1,00 0,80

Ano Agrícola Adubação Química N:P:K

20 08 60:80:6020 09 60:60:6020 10 60:80:60

Tabela 1 - Características químicas do solo da área experimental e fórmula de adubação para mamona. Quixadá - CE, 2008,2009 e 2010

Análise realizada no Laboratório de Química do Solo, do Departamento de Ciências do Solo do CCA/UFC.

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PINTO, de C.M. et al.

de Terra (CET), Índice de Produtividade do Sistema(IPS) e a Razão de Compensação (RCo).

O Uso Eficiente de Terra (UET) foi obtido conformea fórmula expressa na equação 1 (Willey & Osiru, 1972;Mead & Willey, 1980).

(1)

Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas‘a’ e ‘b’ em consórcio, Yaa e Ybb equivalem à produtividadedo monocultivo. O UETa e o UETb representam o usoeficiente de terra parcial da espécie ‘a’ e da espécie‘b’. Se UET>1, então ocorre vantagem produtiva, seUET=1 não ocorre vantagem produtiva, se UET<1, entãoocorre desvantagem produtiva.

A Razão Equivalente de Área no Tempo (REAT)foi obtida conforme metodologia proposta por Hiebsch(1978), expressa na equação 2.

(2)

Onde ta representa o número de dias do plantio atéa colheita da espécie ‘a’ e tb representa o número dedias do plantio até a colheita da espécie ‘b’. REAT ae REAT b representam o uso eficiente de terra parcialda espécie ‘a’ e da espécie ‘b’. Tab representa o tempototal do sistema de consorciação entre a espécie ‘a’

e ‘b’. Se REAT>1, então ocorre vantagem produtiva,se REAT=1 não ocorre vantagem produtiva, e se REAT<1,então ocorre desvantagem produtiva.

A média aritmética entre UET e REAT foi propostapor Mason et al. (1986). Esses autores afirmaram queo UET sobrestima e o REAT subestima os recursosdo terreno, sugerindo-se o cálculo da média aritméticados dois índices para a obtenção de uma valor maiscriterioso. Esse índice foi expresso na equação 3.

(3)

O Coeficiente Equivalente de Terra (CET) propostopor Adetiloye et al. (1983), expresso na equação 4.

CET = UETa * UETb (4)

Onde, UETa e UETb representam o uso eficiente de terraparcial da espécie ‘a’ e da espécie ‘b’. O CET>0,25indica vantagem produtiva ou complementariedadecompetitiva na produtividade do sistema de consorciação.O CET<0,25 sugere que a mistura não tevecomplementariedade competitiva. O CET é usado paradistinguir a produtividade de misturas com contribuiçõesdistintas do consórcio, mas com mesmo valor de UETna mistura. Esse índice avalia a interação interespecífica.

O índice de produtividade do sistema (IPS) foiobtido conforme metodologia proposta por Odo (1991),sendo expresso pela equação 5.

Culturas Anos agrícolas20 08 20 09 20 10

Plantio e adubação inicialMamona 28/03 05/03 15/04Girassol 28/03 05/03 15/04

Desbaste de plântulasMamona 09/04 17/03 28/04Girassol 09/04 17/03 28/04

Adubação de coberturaMamona 30/04 07/04 -Girassol 30/04 07/04 -

ColheitaMamona 06/08 14/07 26/08Girassol 16/07 23/06 28/07

Tabela 2 - Datas de plantio, adubação inicial, desbaste de plantas, adubação de cobertura e colheita das culturas da mamonae girassol. Quixadá - CE, 2008, 2009 e 2010

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Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica

(5)

Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas‘a’ e ‘b’ em consórcio, Yaa e Ybb equivalem à produtividadedo monocultivo. A principal vantagem do IPS é queesse índice uniformiza a produtividade da culturasecundária ou consorte em termos da cultura principalou base. Esse índice também identifica a combinaçãoque utiliza os recursos de crescimento de forma maisefetiva e caracteriza a performance de estabilidadeprodutiva.

O efeito competitivo da espécie ‘a’ na espécie ‘b’foi calculado como razão de compensação (RCo),conforme metodologia proposta por Ntare & Williams(1992), sendo expresso pela equação 6.

(6)

Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas‘a’ e ‘b’ em consórcio, Ybb é produtividade do monocultivoda cultura ‘b’. Assim um resultado superior da unidadeindica que o efeito competitivo da espécie ‘a’ na espécie‘b’ foi balanceado pelo ganho substancial na espécie‘a’. Enquanto o valor unitário sugere substituição daespécie ‘a’ para ‘b’.

O delineamento estatístico adotado foi blocos aoacaso com 7 tratamentos e 4 repetições, perfazendo28 unidades experimentais. Os dados foram submetidosà análise de variância, e, quando detectada ou nãoa significância pelo teste F a 1 % ou 5 % de probabilidade,as médias dos tratamentos foram comparadas pelo testede Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para tanto,usou-se o ASSISTAT 7,5 beta, Sistema de AnáliseEstatística da UFCG (Silva & Azevedo, 2009).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Produtividade da mamona e girassol

As médias de produtividade de grãos da mamonamostraram diferenças pelo teste de Tukey (P<0,05) nosanos de 2008 e 2010 (Tabela 3). A competiçãointerespecífica com o girassol (consorte) reduziu aprodutividade de grãos da mamona (cultura principal)

em 2008, 2009 e 2010 nos tratamentos consorciados(1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi) emrelação ao monocultivo, tendo variação percentual naseguinte ordem: 47,01%, 31,58% e 58,34%,respectivamente (Tabela 3). A competição interespecificaé inevitável quando são cultivadas duas culturas juntas(Vandermeer, 1992).

Reduções na produtividade de grãos da mamoneiraforam constatadas nos tratamentos consorciados emarranjo de fileira, quando comparados com seusmonocultivos nos anos de 2008 e 2010 (Tabela 3).Resultados que suportam os dados do sistema deconsorciação da mamona com girassol, no que concernea redução da produtividade da cultura principal emrelação à consorte foram relatadas por pesquisadores,dentre eles, Távora et al. (1988), Corrêa et al. (2006),Azevedo et al. (2007a,b), Thanunathan et al. (2008),Beltrão et al. (2010 a, b) e Kumar et al. (2010).

Com relação ao teste de segregação de médiaspelo teste de Tukey para os anos agrícolas de 2008,2009 e 2010 (Tabela 3) foram constatadas diferenças(P<0,05) entre os tratamentos consorciados em relaçãoao monocultivo do girassol (P<0,05), caracterizandoum possível efeito da competição entre plantas pelosfatores de produção, água, nutrientes e luz.

Ocorreram reduções na produtividade de grãosdo girassol cultivado em arranjo de fileira consorciadocom a mamona (Tabela 3) de 37,87% em 2008, de 47,13%em 2009 e 56,04% em 2010. Respostas de mesma naturezapara rendimento do girassol em sistemas consorciadoscom outras culturas foram constatadas por Lopez etal. (2001), Saleem et al. (2003), Bayu et al. (2007), Rosaleset al. (2008), Rosales & Mora (2009) e Shanthy et al.(2009).

Eficiência biológica no sistema de consorciação

Uso eficiente de terra (UET)

Na Tabela 4, encontram-se os valores parciais (UETae UETb) e totais de UET para os anos de 2008, 2009e 2010. A avaliação biológica do sistema de consorciaçãofoi estudada através do UET, que teve vantagem produtivaem todos os arranjos de fileira nos anos agrícolas de2008 e 2009, comparados com seus monocultivos (Tabela4). No ano de 2010, apenas o tratamento 1Ma:2Gi tevevantagem em relação a seus monocultivos (Tabela 4).

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Os valores totais de UET nos anos agrícolas de 2008a 2010 apresentaram variação de 0,80 a 1,49, tendo ganhosde 2 a 49% no consórcio quando confrontados ao sistemade plantio em monocultivo.

Tratamentos Produtividade da Mamona (kg ha -1) **Percentual de redução (%)20 08 20 09 20 10 20 08 20 09 20 10

1Ma:1Gi*** 1.001,56 ab* 678,12 a 105,72 bc 31,85 41,69 56,621Ma: 2Gi 694,27 b 978,12 a 142,18 b 46,23 15,89 41,661Ma:3Gi 707,81 b 685,41 a 77,08 c 47,15 41,06 68,372Ma:2 Gi 748,26 b 896,52 a 96,87 c 49,90 22,92 60,252Ma:3 Gi 603,12 b 739,93 a 85,76 c 58,96 36,37 64,81Monocultivo 1.469,79 a 1163,02 a 243,75 a 100 100 100Média geral 870,80 856,85 125,23 - - -DMS 492,75 537,08 37,69 - - -CV(%) 24,65 27,31 13,11 - - -Tratamentos Produtividade do Girassol (kg ha -1) **Percentual de redução (%)

20 08 20 09 20 10 20 08 20 09 20 101Ma:1Gi 760,93 d 177,60 bc 273,95 bc 48,72 55,05 57,281Ma:2Gi 1.054,68 b 233,85 bc 328,12 bc 29,01 40,82 48,831Ma:3Gi 1.043,22 b 323,95 ab 364,58 b 29,79 18,02 56,852Ma:2Gi 680,20 d 174,65 bc 246,52 c 54,22 55,80 61,552Ma:3Gi 956,59 bc 134,37 c 284,02 bc 35,62 65,99 55,70Monocultivo 1.485,67 a 395,18 a 641,27 a 100 100 100Média geral 996,88 239,93 356,41 - - -DMS 208,85 159,79 92,82 - - -CV(%) 9,12 29,01 11,34 - - -

Tabela 3 - Médias da produtividade de grãos da mamona e girassol consorciados e nos cultivos isolados em arranjo de fileirasno regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010

*Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.** Percentual de redução em relação ao sistema de monocultivo para produtividade de semente da mamona ou do girassol.*** 1Ma:1Gi significa uma fileira de mamona para uma fileira de girassol.

Tratamentos 20 08 20 09

UETa* UETb** UET UET a UETb UET1Ma:1Gi 0,69 0,52 1,20 0,58 0,44 1,021Ma:2Gi 0,48 0,71 1,19 0,83 0,59 1,421Ma:3Gi 0,50 0,71 1,21 0,59 0,84 1,432Ma:2Gi 0,52 0,52 1,04 0,81 0,68 1,492Ma:3Gi 0,42 0,65 1,08 0,61 0,46 1,06Tratamentos 20 10 Combinado

UET a UETb UET UET a UETb UET1Ma:1Gi 0,43 0,43 0,86 0,57 0,46 1,031Ma:2Gi 0,58 0,52 1,10 0,63 0,61 1,241Ma:3Gi 0,32 0,57 0,89 0,47 0,71 1,182Ma:2Gi 0,40 0,44 0,83 0,57 0,55 1,122Ma:3Gi 0,36 0,44 0,80 0,46 0,52 0,98

Tabela 4 - Uso eficiente de terra (UET) do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira noregime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010

UETa* para a mamona e UETb** para o girassol.

Com relação ao valor combinado de 2008 a 2010,apenas o arranjo de 2Ma:3Gi (2 fileiras de mamona:3 fileiras de girassol) não mostrou vantagem biológicaem relação ao monocultivo (Tabela 4). A mamona mostrou-

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Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica

se como cultura dominada em relação ao girassol, poiso valor parcial de UET da primeira cultura foi inferiorao da segunda cultura no arranjo de fileira 1Ma:3Gi(Tabela 4). Os valores combinados de UET variaramde 0,98 a 1,24, mostrando uma eficiência de 3 a 24%do sistema consorciado em comparação com omonocultivo (Tabela 4).

O uso eficiente de terra foi amplamente estudadopor alguns autores que trabalharam com mamonaconsorciada e constataram ganhos produtivos. Dentreas combinações de sucesso cita-se a mamona + gergelim(Beltrão et al., 2010a), mamona + amendoim (Beltrãoet al., 2010b), mamona + amendoim, mamona + grãode bico, mamona + “guar ou clusterbean” (Cyamopsistetragonoloba) e mamona + capim-pé-de-galinha (Kumaret al., 2010), mamona consorciada com feijão mungo,feijão mungo-verde, caupi, soja e gergelim (Thanunathanet al., 2008), mamona + milho (Azevedo et al., 2007a),mamona + sorgo e mamona + caupi (Corrêa et al., 2006)e mamona + culturas anuais de ciclo curto (Távoraet al., 1988).

Razão equivalente de área no tempo (REAT)

A razão equivalente de área no tempo (REAT)compara a vantagem produtiva do consórcio em relaçãoà cultura solteira de uma forma mais apropriada queUET, o qual não leva em consideração o tempo necessárioque plantas empregadas no sistema de consorciaçãopassam no campo até a colheita. A REAT apresentou

valores superiores à unidade nos arranjos de fileira1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi em 2008, 2009 e no valor combinado(Tabela 5), expressando que ocorreu vantagem biológicana utilização da terra e tempo do consórcio da mamonacom girassol em arranjos de fileira em relação aosmonocultivos da cultura principal (mamona) a seuconsorte (girassol). No ano de 2010 não foi constatadavantagem biológica na utilização da terra e tempo emtodas as configurações de plantio (Tabela 5).

Valores inferiores à unidade para o REAT foramencontrados por Ebgeet al. (2010) em sistemasconsorciados, ao passo que autores como Kumaretal. (2010), Egbe & Kalu (2009), Rahmanet al. (2009) eJohn & Mini (2005) constataram valores superioresà unidade, revelando que ocorreu eficiência agrícolada terra e tempo para o sistema de consorciação emcomparação com seus monocultivos.

Média aritmética entre UET+REAT

A média aritmética entre UET+REAT encontra-se na Tabela 6, onde são colocados os valores parciaise totais desse índice nos anos de 2008, 2009 e 2010.De acordo com Mason et al. (1986) o UET sobrestimae o REAT subestima os recursos a eficiência de usoda terra sendo, portanto, mais adequado usar a médiaentre esses índices. A média entre UET e REAT apresentouvalores superiores à unidade em 2008 em todos ostratamentos consorciados, com vantagens em relaçãoao monocultivo de 3 a 16% (Tabela 6).

Tratamentos 20 08 20 09REATa* REATb** REAT REATa* REATb** REAT

1Ma:1Gi 0,69 0,43 1,12 0,58 0,37 0,951Ma:2Gi 0,48 0,60 1,08 0,83 0,50 1,331Ma:3Gi 0,50 0,60 1,09 0,59 0,71 1,302Ma:2Gi 0,52 0,44 0,96 0,81 0,57 1,382Ma:3Gi 0,42 0,55 0,97 0,61 0,38 0,99

Tratamentos 20 10 CombinadoREATa* REATb** REAT REATa* REATb** REAT

1Ma:1Gi 0,43 0,34 0,77 0,57 0,41 0,951Ma:2Gi 0,58 0,41 0,99 0,63 0,56 1,131Ma:3Gi 0,32 0,46 0,77 0,47 0,54 1,052Ma:2Gi 0,40 0,34 0,74 0,58 0,47 1,032Ma:3Gi 0,36 0,35 0,71 0,46 0,43 0,89

Tabela 5 - Razão equivalente de área no tempo (REAT) do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjode fileira no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010

*REATa para a mamona e **REATb para o girassol.

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PINTO, de C.M. et al.

No ano de 2009 as configurações de fileiras1Ma:2Gi;1Ma:3Gi 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi apresentaram valoressuperiores à unidade, tendo variação de 3 e 43% devantagem dos cultivos consorciados em comparaçãocom seus monocultivos. Mason et al. (1986), trabalhandocom consórcio mandioca + feijão caupi e mandioca+ amendoim, observaram valores acima da unidade,com eficiência produtiva no uso da terra de 15 a 35%para a média entre UET e REAT. Jana et al. (2000)constataram vantagem produtiva de 4 a 19% dos cultivosconsorciados em relação a seus monocultivos parao milho doce + feijão comum.

Em 2010, ocorreram restrições hídricas duranteas fenofases de crescimento e desenvolvimento dasplantas de mamona e girassol, proporcionando reduçõesna média aritmética entre UET+REAT na maioria dostratamentos, sendo constatada vantagem para sistemade consorciação, apenas na configuração de fileira1Ma:2Gi (Tabela 6). O valor combinado teve ostratamentos 1Ma:2Gi;1Ma:3Gi 2Ma:2Gi como vantajososnos sistemas consorciados (Tabela 6).

Coeficiente equivalente de terra (CET)

Os valores de coeficiente equivalente de terra (CET),nos anos de 2008, 2009 e 2010, como também o combinado,encontram-se na Tabela 7. No ano de 2008, segundoo critério de avaliação do CET, todos os arranjosapresentaram vantagem para o sistema de consorciação

(Tabela 7), sugerindo que ocorreu complementariedadecompetitiva, que é caracterizada pelo CET>0,25.

Em 2009 (Tabela 7) observou-se apenas naconfiguração de plantio1Ma:1Gi o valor de CET<0,25,indicando não complementaridade competitiva entrea cultura principal e seu consorte. Os arranjos de fileira1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi apresentaram vantagensprodutivas no sistema de consorciação em 2009, CET>0,25(Tabela 7).

No ano de 2010 a única configuração de fileiraque apresentou vantagens do sistema de consorciaçãoem comparação aos monocultivos foi 1Ma:2Gi (Tabela7). Os valores combinados para os arranjos de fileira1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi apresentaramcomplementariedade competitiva no uso dos fatoresde produção, ou seja, CET > 0,25 (Tabela 7).

Tratamentos 20 08 20 09UETa+REATa UETb+REATb UET+REAT UETa+REATa UETb+REATb UET + REAT

2 2 2 2 2 2

1Ma:1Gi 0,69 0,47 1,16 0,58 0,40 0,991Ma:2Gi 0,48 0,66 1,14 0,83 0,54 1,371Ma:3Gi 0,50 0,65 1,15 0,59 0,78 1,372Ma:2Gi 0,52 0,48 1,00 0,81 0,62 1,432Ma:3Gi 0,42 0,60 1,03 0,61 0,42 1,03Tratamentos 20 10 Combinado

UETa+REATa UETb+REATb UET+REAT UETa+REATa UETb+REATb UET + REAT2 2 2 2 2 2

1Ma:1Gi 0,43 0,38 0,82 0,57 0,42 0,991Ma:2Gi 0,58 0,46 1,05 0,63 0,55 1,191Ma:3Gi 0,32 0,52 0,83 0,47 0,65 1,122Ma:2Gi 0,40 0,38 0,78 0,58 0,49 1,072Ma:3Gi 0,36 0,40 0,76 0,46 0,47 0,94

Tabela 6 - Média aritmética entre UET e REAT do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo defileira no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010

UETa+REATa/2 para a mamona e UETb+REATb/2 para o girassol.

Tratamentos 20 08 20 09 20 10 Combinado1Ma:1Gi 0,36 0,24 0,19 0,261Ma:2Gi 0,34 0,48 0,30 0,371Ma:3Gi 0,34 0,51 0,18 0,342Ma:2Gi 0,27 0,51 0,17 0,312Ma:3Gi 0,26 0,25 0,16 0,22

Tabela 7 - Coeficiente equivalente de terra (CET) do sistemade consorciação entre a mamona e o girassol emarranjo de fileira no regime de sequeiro. Quixadá-CE. 2008, 2009 e 2010

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Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica

Segundo Adetiloye et al. (1983), a compatibilidadedo sistema de consorciação é caracterizada por valoressuperiores a 0,25. Alguns autores usaram o CET comoíndice de avaliação do sistema de consorciação; dentreeles, John & Mini (2005), Olowe et al. (2006), Okonjiet al. (2007), Egbe (2010) e Egbe et al. (2010).

Razão de compensação (RCo)

O emprego da razão de compensação (RCo) em2008 permitiu identificar todas as configurações deplantio (Tabela 8) como sendo vantajosas para o sistemade consorciação. Tal fato é suportado pelo UET (Tabela4), CET (Tabela 7) e IPS (Tabela 9), sugerindo uma relaçãodireta entre esses índices.

Em 2009 apenas o tratamento 1Ma:3Gi não tevecaracterização de vantagem para o sistema deconsorciação. As demais configurações de plantio damamona e do girassol apresentaram vantagens paraos sistemas consorciados (Tabela 8).

No ano de 2010, nenhuma das configurações defileira de mamona e girassol apresentou vantagensnos sistemas consorciados (Tabela 8). Esse tipo deresposta é suportado pelos índices REAT (Tabela 7),

indicando a ocorrência de uma relação direta entreesses índices.

Com relação ao valor combinado, os tratamentos1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi mostraramvantagem para o sistema de consorciação, exceto oarranjo 2Ma:3Gi (Tabela 8). Oseni & Aliyu (2010) usarama Razão de Compensação e constataram efeito competitivodo sorgo sobre o feijão caupi, sendo o arranjo 1 fileirade sorgo + 1 fileira de feijão caupi o tratamento queproporcionou vantagem na produtividade de grãospara o sistema de consorciação. Ntare & Williams (1990),estudando a resposta de cultivares de feijão caupiconsorciados com milheto, constataram variação de0,33 a 3,83 no índice razão de compensação.

Índice de produtividade do sistema (IPS)

O Índice de produtividade do sistema (IPS), quepadroniza a produtividade da cultura consorte (girassol)tomando como base a cultura principal (mamona),possibilita identificar todas as configurações de fileirasno sistema de consorciação da mamona + girassolem 2008 e 2009, como também o combinado comprodutividade estável (Tabela 9). A estabilidade naprodutividade do girassol foi constatada, pois o valordo IPS foi superior ao monocultivo da cultura consorte(girassol) para 2008, 2009 e combinado (Tabela 9).

No ano agrícola de 2010 para o IPS, apenas paraos tratamentos 1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi foi possível acaracterização da estabilidade produtiva em comparaçãocom o monocultivo do girassol (Tabela 9). Alguns autores,dentre eles Oseni & Aliyu (2010), Oseni (2010) eAgegnehuet al. (2006a,b), constataram estabilidadena produtividade dos sistemas consorciados estudados,o que é indicado pelo valor do IPS superior ao monocultivode seus consortes.

4. CONCLUSÕES

A produtividade de grãos de mamona e girassolfoi reduzida nos arranjos de fileira em consorciaçãoem relação aos monocultivos.

O arranjo de fileira na configuração de 1Ma:2Gimostrou-se mais vantajoso em relações aos demaistratamentos consorciados da mamona e do girassolno período de avaliação do experimento.

A mamona foi dominante em relação ao girassolna utilização dos recursos do ambiente.

Tratamentos 20 08 20 09 20 10 Combinado1Ma:1Gi 1,52 3,30 0,30 1,711Ma:2Gi 1,69 6,32 0,51 2,841Ma:3Gi 1,67 0,24 0,30 0,742Ma:2Gi 1,01 7,28 0,25 2,852Ma:3Gi 1,23 3,53 0,24 1,67

Tabela 8 - Razão de compensação (RCo) do sistema de consorciaçãoentre a mamona e o girassol em arranjo de fileirano regime de sequeiro. Quixadá- CE. 2008, 2009e 2010

Tratamentos 20 08 20 09 20 10 Combinadokg ha -1 kg ha -1 kg ha -1 kg ha -1

1Ma:1Gi 2.294,87 1.635,54 348,82 1.426,411Ma:2Gi 2.491,42 1.818,75 371,68 1.560,621Ma:3Gi 2.458,97 2.136,39 385,32 1.660,232Ma:2Gi 2.213,77 1.825,18 338,04 1.458,992Ma:3Gi 2.550,12 1.733,26 352,56 1.545,21

MonocultivoGi 996,88 239,93 356,41 531,07

Tabela 9 - Índice de produtividade do sistema (IPS) de consorciaçãoentre a mamona e o girassol em arranjo de fileirano regime de sequeiro. Quixadá-CE. 2008, 2009 e2010

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Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de areia (PB)

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LEVANTAMENTO DE PERDAS EM HORTALIÇAS FRESCAS NA REDEVAREJISTA DE AREIA (PB)

Edmilson Igor Bernardo Almeida1, Wellington Souto Ribeiro2, Lucas Cavalcante da Costa3, Hélder Horáciode Lucena4, José Alves Barbosa5

RESUMO – Realizou-se um levantamento das perdas no mercado varejista de olerícolas in natura na cidademunicípio de Areia (PB) a fim de fornecer informações que possam auxiliar em ações específicas ao setorpara se diminuir as perdas de hortaliças frescas no varejo local. Utilizou-se um questionário constituído de40 perguntas, o qual abrangeu aspectos: socioeconômicos; de produção; de escoamento; de comercializaçãoe de armazenamento. Os entrevistados foram subdivididos em três grupos: o GI foi constituído pelos feirantesque produziam as hortaliças em suas propriedades rurais e as comercializavam diretamente na feira-livre dacidade de Areia (PB); o GII foi constituído por feirantes que não produziam as hortaliças em suas propriedadesrurais, adquirindo-as através de compras semanais na EMPASA-CG (Empresa Paraibana de Serviços e AbastecimentosAgrícolas), ou de outros pequenos produtores rurais; e o grupo GIII foi constituído por comerciantes proprietáriosde redes varejistas. Constatou-se que as injúrias fitopatológicas e os danos mecânicos foram os agentes causaisde maior expressão nas perdas das hortaliças: pimentão, tomate, cenoura e batata. Medidas simples e de baixoscustos, tais como: higienização de transportes, caixas monobloco e bancadas de comercialização; uniformidadena organização das hortaliças nas caixas; seleção de melhores horários para o escoamento; e ofertas de produtosde acordo com a demanda devem ser adotadas pela maioria dos envolvidos na pesquisa, tendo em vista a diminuiçãodos expressivos resultados estimados e a melhoria da organização e aparência dos ambientes de comercializaçãoanalisados.

Palavras-chave: Comercialização, desperdício, fome, prejuízo.

FRESH VEGETABLE LOST SKETCHING ON TRADE IN THE MUNICIPALDISTRICT OF AREIA (PB)

ABSTRACT – A survey of the losses in the retail market of oil seeds was become fulfilled in natura in themunicipal district of Areia (PB) in order to supply information that can assist in specific actions to the sectorto diminish the losses of fresh vegetable in the local retail. A consisting questionnaire of 40 questions wasused, which enclosed aspects: partner-economic; of production; of draining; of commercialization and storage.The interviewed ones had been subdivided in three groups: the GI was constituted by stallholder that producedvegetables in its country properties they directly commercialized and them in the fair-free one in Areia (PB);the GII was constituted by stallholders that did not produce the vegetables in its country properties, acquiringthem through weekly purchases in the EMPASA-CG (Company Paraiban de Agricultural Service and Supply),of other small agricultural producers; and group III was constituted by trading proprietors of retail nets. Oneevidenced that the phitopatologycal injuries and the mechanical damages had been the causal agents of biggerexpression in the occasion of losses of the studied vegetables: chili, tomatoes, carrot and potato. Simple measures

1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Agronomia: Fitotecnia, Campus do Pici/Universidade Federal do Ceará (UFC):[email protected]

2 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, da Universidade Federal de Viçosa: (UFV): [email protected] Graduando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB): lccostaymail.com4 Mestrando no Programa de Pós-Gradução em Agronomia: Fitotecnia, da Universidade Federal do Semi-árido (UFERSA)5 Professor Associado do Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais, CCA/UFPB: [email protected]

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and of practically null costs, such as: single grain hygienic cleaning of transports, boxes and group of benchesof commercialization; uniformity in the organization of vegetables in the boxes; election of the best schedulesfor the draining; and offers of products in accordance with the demand must be adopted by the majority ofthe involved ones in the research, in view of the reduction of the expressive estimated results and improvingthe appearance of organization and marketing places analyzed.

Key Words: Commercialization, damage, hunger, waste.

1. INTRODUÇÃO

O desperdício de alimentos é um dos gravesproblemas que a agricultura mundial enfrenta. No Brasile nos países vizinhos, a situação não é diferente. Maisda metade da produção de frutas e verduras foidesperdiçada na América Latina. Cerca de 20% daprodução, ou seja, 1,4 bilhões de toneladas de alimentosproduzidos são jogadas no lixo antes de sair dapropriedade rural (FAO, 2011; Santos & Vieira, 2011).

Existem dois tipos de descarte de alimentos: perdae desperdício. A perda se caracteriza pelo nãodirecionamento do alimento ao consumo, em virtudede injúrias que lhe alteram as propriedades físicas,químicas, microbiológicas ou organolépticas, comoamassamento, cortes, senescência, podridão, dentreoutros fatores. Já o desperdício ocorre quando o alimentoé descartado quando ainda tem condições adequadaspara o consumo. Nos supermercados e Ceasas, váriosalimentos são descartados apenas considerando-sea aparência do produto. Além de jogar fora toneladasde alimentos que poderiam servir para acabar com afome em várias partes do mundo, o não aproveitamentodos alimentos também é um desperdício de recursosnaturais como a água, solo, mão-de-obra e recursosfinanceiros do agricultor (SEBRAE, 2011; Santos &Vieira,2011).

Dentre os fatores que provocam perdas de produtosagrícolas in natura destacam-se: a) as condiçõesambientais (altas precipitações, altas temperaturas eelevadas taxas de umidade do ar) que são favoráveisao desenvolvimento de fungos e bactérias, depreciandoa qualidade das hortaliças no campo; b) embalagensinadequadas, manejo, manuseio e acondicionamentoincorreto durante o fluxo de comercialização; c) estruturae instalações dos equipamentos de comercializaçãoinsuficientes; d) agrotecnologia insuficiente no campo,com classificação e padronização insatisfatórias; e e)distância dos fornecedores (Lana et al., 2000; Lourenzani& Silva, 2004; Vilela et al., 2003; Tofanelli et al., 2009).

As perdas são indicadores sócio-econômicosextremamente representativos em uma sociedade, masque ainda são despercebidos por muitos, sendo seuestudo de difícil metodologia e pouco explorado emrelação a outras vertentes de pesquisa. Infelizmenteos significativos prejuízos proporcionados pelasdiferentes causas de perdas, tais como as injúrias:mecânicas; fisiológicas; fitopatológicas e biológicas,têm sido observados por grande maioria de produtorese comerciantes como hábito comum na cadeia produtivadas hortaliças da cidade de Areia (PB).

Diante do exposto, realizou-se um levantamentosobre perdas de olerícolas in natura no mercado varejistada cidade de Areia (PB) a fim de fornecer informaçõessobre causas e soluções, que possam auxiliar em açõesespecíficas ao setor, para se diminuir as perdas dehortaliças frescas no varejo local.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida por meio de entrevistassemanais realizadas com 72 feirantes e 15 varejistasque comercializam hortaliças na cidade de Areia (PB),no período de setembro de 2009 a setembro de 2010.Esse universo amostral entrevistado exprimesignificativamente os pontos de produção ecomercialização de hortaliças mais expressivos na referidacidade.

Utilizou-se um questionário constituído de 40perguntas, que abrangeu aspectos socioeconômicos;de produção; de escoamento; de comercialização ede armazenamento. O referido questionário foi aplicadoatravés de entrevistas diretas, sendo constituído deperguntas objetivas, de modo a facilitar o entendimentodos envolvidos na pesquisa com os temas abordados,maior precisão nas respostas e, consequentemente,melhor exposição dos resultados Essas informaçõespossibilitaram traçar um diagnóstico prévio das perdaspré e pós-colheita existentes, assim como dascaracterísticas individuais dos constituintes da cadeia

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produtiva das hortaliças: pimentão, tomate, cenourae batata.

Os entrevistados foram subdivididos em trêsgrupos: o grupo I (GI) foi constituído pelos feirantesque produziam as hortaliças em suas propriedades ruraise as comercializavam diretamente na feira-livre domunicípio de Areia (PB); o grupo II (GII) foi constituídopor feirantes que não produziam as hortaliças em suaspropriedades rurais, adquirindo-as através de comprassemanais na EMPASA-CG (Empresa Paraibana de Serviçose Abastecimentos Agrícolas), ou de outros pequenosprodutores rurais; e, o grupo III (GIII) foi constituídopor comerciantes proprietários de redes varejistas(mercados, supermercados e quitandas).

As perdas das hortaliças estudadas foramtipificadas, de acordo com Chitarra & Chitarra (2005),em: perdas mecânicas por atrito (amassamento, furose riscos); perdas fisiológicas (amadurecimento, perdade massa fresca, perda de cor e textura e brotamento);perdas fitopatológicas e perdas biológicas (insetos,pássaros e animais).

Conhecendo-se a natureza das perdas, associando-as aos referidos grupos, pôde-se estimar-se a quantidadede perda pela seguinte fórmula:

Perda (%) = C – V x 100 C

Sendo C igual à quantidade média (kg) de cenouracomprada/ano e V igual à quantidade média (kg) decenoura vendida/ano. Os resultados foram expressosem % de perdas e registrados em Tabelas, associando-se as perdas ao padrão qualitativo relacionado napesquisa e ao grupo estudado.

De acordo com a Tabela 1, os percentuais de perdasestiveram associados às seguintes quantidades médias(kg) de pimentão, tomate, cenoura e batata ofertadospor ano, respectivamente:

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Pimentão

As perdas obtidas com a cultura do pimentão (Tabela2) derivaram-se de danos mecânicos por amassamento;desordens fisiológicas (amadurecimento, perda de massae perda de cor e textura), injúrias fitopatológicas e injúriasbiológicas. A percentagem média de perdas estimadana cadeia produtiva de hortaliças do município de Areia– PB para a cultura do pimentão, 60,85% (somatóriodas perdas estimadas para GI, GII e GII) foi bastanteelevada. Esse resultado foi 18,85% superior aos 42%estimados por Rezende (1992) e Vilela et al. (2003) noestudo da cadeia produtiva do pimentão, comercializadono mercado varejista de Minas Gerais.

As perdas mecânicas observadas na Figura 1Atotalizaram 26,92% (Tabela 2). Os dados mais expressivosobtidos na avaliação dessa causa de perdas foramrelacionados aos pimentões comercializados por GI(13,65%) e GII (10,65%), os quais deveram-se teoricamenteao rudimentar manuseio pós-colheita empregado comos frutos. A situação observada foi corroborada porLana et al. (2006) ao afirmar que as possíveis causasda elevada incidência de danos mecânicos e as perdasdecorrentes dessa etapa estão: no manuseio excessivoe descuidado durante a colheita, classificação etransporte; uso de contentores com superfícies ásperas,sujos e com áreas cortantes; empilhamento dificultadopela falta de padronização de tamanho das embalagense descarregamento manual descuidado, causando injúriasde impacto.

As perdas fisiológicas equivaleram a 11,16% dos60,85% de perdas totais estimadas para os frutos depimentão. A diminuição de cor e textura (5,00%) esteveintrinsecamente associada ao processo fisiológico deperda de massa e ao amadurecimento precoce (0,94%)dos frutos, estando ambos os processos associadosao aumento da taxa respiratória dos frutos nos locaisindevidos de comercialização (Figura 1B)

As perdas fitopatológicas responderam por 23,04%dos 60,85% de perdas médias estimadas. Os danosmecânicos além de ser um dos grandes possíveisresponsáveis pela maioria das desordens fisiológicasobservadas possibilitaram maior susceptibilidade dosfrutos aos diferentes tipos de patógenos pós-colheita(Figura 1C). Segundo Lana et al. (2006), os fitopatógenosforam responsáveis por 8,2% das perdas ocasionadas

Hortaliças Grupo I Grupo II Grupo IIIPimentão 984 2.120 5.162Tomate 274 4.656 22.848Cenoura 816 2.352 8.352Batata 528 3.840 21.984

Tabela 1 - Dados de produção e oferta (kg/ano) de pimentão,tomate, cenoura e batata pelos grupos I, II e III,respectivamente. Areia, 2010

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em pimentões comercializados em redes varejistas doestado de Minas Gerais. Esses resultados foramsemelhantes aos estimados nos locais de comercializaçãopertencentes aos constituintes de GI e GII e inferioresaos obtidos com GIII.

Verificou-se que as maiores intensidades deperdas fitopatológicas ocorreram nas épocas maischuvosas do ano. Segundo Lana et al. (2006), os principaispatógenos comumente identificados como causadoresde doenças em frutos pimentão na etapa de pós-colheitasão pertencentes às bactérias pertencentes aos gêneros:

Tipologia das perdas Grupo I (%) Grupo II (%) Grupo III

Frutos de PimentãoMecânica Por amassamento 13,15 10,65 2,62Fisiológica Por amadurecimento 4,75 0,78 — Por perda de massa 0,50 0,16 — Por perda de cor e textura 5,00 — —Fitopatológica 10,90 9,30 3,04TOTAL 34,30 20,89 5,66

Frutos de TomateMecânica Por amassamento 3,33 2,32 0,67 Por furos — 0,63 —Fisiológica Por amadurecimento 1,67 5,13 2,82Fitopatológica 10,90 14,64 2,16Biológica Por insetos 0-70 — —

TOTAL 15,90-85,90 22,72 4,98

Tubérculos de BatataMecânica Por atr ito — 2,40 — Por furos — 0,21 —Fisiológica Por brotamento — 0,08 0,83Fitopatológica 15,33 8,56 1,67TOTAL 15,33 11,25 2,50

Raízes de CenouraMecânica Por atr ito 8,17 0,39 2,36Fisiológica Por perda de cor e textura 0,83 0,31 1,00 Por brotamento — 0,31 —Fitopatológica 3,67 6,50 —

TOTAL 12,67 7,20 3,36

Tabela 2 - Perdas registradas durante a comercialização de hortaliças no varejo na cidade de Areia (PB), 2010

Figura 1 - Tipos de perdas registradas em pimentões comercializadospelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B)amadurecimento acelerado; (C) injúrias fitopatológicas;Areia, PB, 2010.

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Phytophtora sp., Erwinia sp. Colletotrichum sp., osquais nesses períodos de maior umidade relativa doar têm ambiente propício ao desenvolvimento edisseminação.

3.2. Tomate

Observa-se que os níveis médios de perdasquantificadas para a cultura do tomate foram bastanteexpressivos, variando de 43,60% a 100% nas épocasmais chuvosas do ano (Tabela 2). Neste estudo constatou-se que as perdas obtidas pelos produtores e comerciantesde tomate devem-se, em síntese, às seguintes causas:danos mecânicos por amassamento (etapas deescoamento e comercialização); amadurecimentoacelerado dos frutos (etapa de comercialização), injúriasocasionadas por agentes fitopatológicos e biológicos(etapas de produção, escoamento e comercialização).

No varejo, os níveis percentuais médios de perdaspós-colheita oscilaram entre 0,63 e 43,64% (G1+G2+G3).Esses resultados se enquadram no intervalo de 8-30%estimado por Henz & Moretti (2005) para a cultura dotomate.

As perdas por amassamento ocorreramprincipalmente nas etapas de manuseio, transporte ecomercialização dos frutos (Figura 2). Para Silva &Giordano (2000), os danos mecânicos, além da perdaquantitativa, reduzem a qualidade dos tomates, poisos frutos amassados são facilmente contaminados porfungos e bactérias. Os danos mecânicos por amassamentoproporcionaram 3,33; 2,32 e 0,67% de perdas referentesaos tomates comercializados pelos grupos I, II e III,respectivamente.

Se as condições de manuseio e exposição dos frutos

forem inadequadas ocorre uma sucessão de desordensfisiológicas e os mesmos entram rapidamente em estadode senescência, tornando-se impróprios ao consumo,principalmente quando o intervalo de comercializaçãoé elevado (Chitarra & Chitarra, 2005). Diante do exposto,as perdas decorrentes de amadurecimento aceleradoe posterior senescência oscilaram entre 1,67 e 5,13%(Figura 2B).

As injúrias fitopatológicas ocasionaram os níveismédios de perdas mais expressivos nos diferentesambientes de comercialização de tomate estudados,10,90% (GI), 14,64% (GII) e 2,16% (GIII). O grupo Ienfrentou problemas com patógenos desde a etapade produção até a etapa de comercialização de tomates,havendo nos períodos mais chuvosos do ano, perdasde até 100% em detrimento desses agentes biológicos(Figura 2C e Tabela 2).

Os níveis médios de perdas ocasionadas por pragasagrícolas apresentaram maior expressividade na etapade produção realizada por GI, em que, associados ounão a atividade de fitopatógenos, os insetos, emdeterminados períodos do ano, ocasionaram perda demais da metade da produção (70%). É importante ressaltarque, além da época do ano, a cultivar utilizada e o manejoempregado na produção estiveram plenamente inter-relacionados a essas perdas ocasionadas por pragasagrícolas (Figura 2D).

Em detrimento dos níveis elevados de perdas nocampo de produção e os consequentes prejuízosfinanceiros, GI havia diminuído o plantio de tomateem suas propriedades rurais. Observou-se que nesseplantio realizado em pequena escala havia-se preferido,até então, a inserção de métodos de resistência de

Figura 2 - Tipos de perdas registradas em tomates comercializados pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B) amadurecimentoacelerado; (C) injúrias fitopatológicas; (D) injúrias biológicas. Areia, PB, 2010.

A B C D

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plantas; métodos culturais e a utilização de defensivosnaturais como: extratos biológicos e soluções com fumo,óleo mineral e/ou detergente neutro.

3.3. Batata

Observou-se, na Tabela 2, que os níveis percentuaismédios de perdas obtidas por GI, GII e GIII com a culturada batata alcançaram, respectivamente, 15,33%; 11,25%;e 2,50%, totalizando valor igual a 29,08% de perdas.Constatou-se que os agentes fitopatológicos foramnovamente os responsáveis pelas maiores perdas. Asdoenças ocasionaram diversas interferências tanto nosambientes de produção (grupo I) quanto naquelesdestinados ao escoamento e à comercialização de batatas(grupos I, II e III).

Nas propriedades rurais pertencentes à GI, ospatógenos comprometeram significativamente aprodução dos tubérculos denotando a baixa qualidadee quantidade das batatinhas encontradas na “Feirados Produtores” (Figura 3A).

Além dos obstáculos técnicos e financeirosexistentes dentro do ambiente de produção, as limitaçõesem investimentos na etapa de escoamento aumentaramainda mais os prejuízos, visto que os danos aos produtosnessa fase, em virtude, principalmente do atrito e fricçãodos mesmos no interior das ineficazes embalagensutilizadas, foram os agentes potencializadores deexposição do tecido interno da hortaliça às intempériesambientes (fonte inerente de micro-organismos),causando-lhe distúrbios fisiológicos e escurecimentosoxidativos, declinando ainda mais seus parâmetros dequalidade.

A associação entre os danos mecânicos causadospor atrito e as doenças sucedidas por patógenos

(principalmente podridões pós-colheita ocasionadaspor bactérias) acarretaram 28,17% de perdas na cadeiaprodutiva da batata (Figuras 3A e 3B).

É importante ressaltar que, apesar de serem elevadas,as perdas obtidas pelos constituintes do grupo III foraminexpressivas se comparadas às obtidas peloscomponentes de GI e GII. Os resultados devem-seteoricamente à maior experiência e nível de qualificaçãodos constituintes do referido grupo, ao melhortreinamento dos funcionários integrantes dos seusambientes de comercialização e ao maior investimentona etapa de pós-colheita desses produtos, havendoa utilização de transportes específicos e o empregode técnicas e tecnologias eficazes, tais como: câmarafria, caixas monobloco em bom estado de conservaçãoe higiene, prateleiras de comercialização modernas ehigienizadas, descarte dos tubérculos contaminados,substituição de caixas monobloco quebradas, dentreoutros.

Quanto às desordens fisiológicas, estimou-se queentre 0,08 e 0,83% das batatinhas são perdidas porGII e GIII, respectivamente, em virtude do brotamento.Segundo Chitarra & Chitarra (2005), o brotamento conduzo tubérculo a uma rápida transferência de matéria secae água do órgão comestível para o broto e, comoconsequência, ocorre perda de massa e o mesmodesenvolve características de aroma e sabor que o tornaimprestável ao consumo. Esse fenômeno fisiológicotem grande inter-relação com a temperatura dearmazenamento, visto que a mesma conduz o órgãovegetal à quebra de dormência (Figura 3C).

3.4. Cenoura

Observou-se, na Tabela 2, que os índices médiospercentuais de perdas obtidas com a produção,escoamento e comercialização de cenouras totalizaram23,23%. Os principais potencializadores das baixasregistradas foram: os danos mecânicos nas etapasde escoamento e comercialização; as desordensfisiológicas e as injúrias ocasionadas porfitopatógenos.

Os fatores causais de perdas registrados no estudoassemelharam-se àqueles citados por Rezende et al.(1992) para a mesma cultura. Segundo os autores, apodridão por Erwinia sp.; os nematoides; os distúrbiosfisiológicos; as falhas na fase de produção; a colheita;a embalagem; o manuseio e o transporte inadequados;

Figura 3 - Tipos de perdas registradas em batatas comercializadaspelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B)injúrias fitopatológicas; (C) brotamento. Areia, PB,2010.

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os danos mecânicos; o tempo de exposição prolongadono varejo; os preços desfavoráveis pagos ao produtore a falta de orientação de mercado são agentespotencializadores de perdas pré e pós-colheita de valorexpressivo.

Verificou-se, conforme a Tabela 2, que 10,92% dasperdas estimadas para a batata ocorreram em virtudede injúrias mecânicas por atrito. Como citado anteriormentepara as demais hortaliças estudadas, esses tipos dedanos devem-se principalmente aos inadequadosmecanismos empregados nas etapas de manuseio eescoamento da cenoura (Figura 4A e 4C).

O grupo I foi aquele que obteve a maior quantidadede perdas pós-colheita com a cenoura, 12,67%, o quepossivelmente está associado à menor taxa de investimentoneste setor da cadeia produtiva (Tabela 2).

As perdas ocasionadas por desordens fisiológicasaconteceram principalmente pelo decréscimo da coloraçãoe textura originais e por brotamento, tornando os produtosimprestáveis para o comércio e consumo. Supostamenteos decréscimos da coloração e da textura originais dacenoura foram proporcionados pelo longo intervalode tempo de exposição das raízes no varejo (Figura4A). Durante esse acentuado intervalo, os mecanismosrespiratórios aceleram a fase de senescência e,consequentemente, induzem as túberas à diminuiçãodos parâmetros intrínsecos de qualidade física e físico-química, principalmente cor (degradação de á e â-caroteno) e textura (solubilização dos sólidoshidrossolúveis) tornando-se impróprias à comercialização(Cinar, 2004; Lima et al., 2004). Os índices percentuaismédios de perdas ocorridas em virtude de brotamentosomaram 0,31%.

As perdas ocasionadas por injúrias fitopatológicasocuparam o segundo lugar em grau de expressividadedentre os fatores causais de perdas estudados paraa cultura da cenoura. Foram estimados 10,17% de perdasocasionadas por patógenos (Tabela 2). Esse tipo deperda é geralmente provocado pela ação de patógenonuma porção de tecido ferido e/ou em virtude da desordemdos mecanismos fisiológicos da cenoura, quedesencadeia na sua rápida senescência, aumentandoa susceptibilidade do tecido das túberas às injúriasproporcionadas por micro-organismos (Eckert &Ratnayake, 1983) (Figura 4B).

4. CONCLUSÕES

As injúrias fitopatológicas e mecânicas foramidentificadas na pesquisa como os mais importantesagentes causadores de perdas em hortaliças frescas.Os elevados índices estimados no estudo podem serminimizados, em síntese, pela conscientização dosprodutores e comerciantes, atentando-se para boaspráticas que devem ser empregadas no manuseio dashortaliças frescas entre as etapas de escoamento ecomercialização. A higienização dos meios de transporte,caixas monobloco, bancadas de comercialização,uniformidade na organização das hortaliças nas caixas,seleção do melhores horários para o escoamento e ofertade produtos de acordo com a demanda são técnicasbásicas e de custo financeiro praticamente nulo, quepodem e devem ser adotadas pela maioria dos envolvidosna pesquisa.

5. LITERATURA CITADA

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Figura 4 - Tipos de perdas registradas em cenouras comercializadaspelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas eperda de cor e textura; (B) injúrias fitopatológicas;(C) injúrias mecânicas. Areia, PB, 2010.

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Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS), v.2, n.1 ., p.53-60, Julho, 2012

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Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia

QUITOSANA NO RETARDAMENTO DO ESCURECIMENTO DO PERICARPOEM LICHIA

Leila Cristina Rosa de Lins1, Rosana Gonçalves Pires Matias1, Danielle Fabíola Pereira da Silva1, RobsonRibeiro Alves1, Luiz Carlos Chamhum Salomão2

RESUMO – Após a colheita da lichia (Litchi chinensis Sonn.) ocorre rápido escurecimento do pericarpo,o que faz com que o fruto apresente vida pós-colheita curta. Neste trabalho foi avaliado o efeito de diferentesconcentrações de quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo e na manutenção da qualidadepós-colheita de lichia. Frutos de lichieira ‘Bengal’ com pericarpo uniformemente vermelho foram imersospor um minuto em solução com diferentes concentrações de quitosana (0 g.L -1; 5 g.L-1; 10 g.L-1; 15 g.L-1

e 20 g.L-1). Após a secagem ao ambiente, os frutos foram acondicionados em bandejas de poliestireno, recobertoscom filme PVC de 12 µm de espessura e armazenados a 19,0±2,4°C e 75 ± 5% de UR. A cada dois dias,durante oito dias, os frutos foram avaliados quanto à perda de massa fresca, cor do pericarpo, teor de sólidossolúveis e acidez titulável da polpa e vitamina C do pericarpo e da polpa. A perda de massa aumentou linearmentedurante o período de armazenamento, independentemente da concentração de quitosana. As concentraçõesde 5 e 10 g.L-1 foram as mais efetivas em manter a coloração do pericarpo por período de até quatro dias,sem comprometer as demais características avaliadas.

Palavras-chave: Biopolímero, Litchi chinensis Sonn., vitamina C.

CHITOSAN ON DELAYING OF THE DARKENING OF THE PERICARP INLYCHEE

ABSTRACT – After harvest of lychee (Litchi chinensis Sonn.) pericarp browning occurs rapidly, this causesthe fruit to submit short postharvest life. This study evaluated the effect of different concentrations of chitosanin delaying the browning of the pericarp and in maintaining the postharvest quality of lychees. Fruits oflitchi ‘Bengal’ uniformly red pericarp were immersed for one minute in solution with different concentrationsof chitosan (0 g.L -1, 5 g.L -1, 10 g.L-1, 15 g.L -1 and 20 g.L -1). After drying the environment, the fruits werepacked in polystyrene trays, covered with plastic wrap for 12 mm thick and stored at 19.0 ± 2.4°C and 75± 5% RH. Every two days, during eight days, the fruits were evaluated for weight loss, color of the pericarp,soluble solids and titratable acidity and vitamin C from the pulp of the pericarp and pulp. The weight lossincreased linearly during the period of storage, independent of the concentration predominantly of chitosan.The concentrations of 5 and 10 g.L-1 were the most effective in keeping the color of the pericarp for up tofour days, without compromising other characteristics.

Key Words: Biopolymer, Litchi chinensis Sonn., vitamin C.

1 Pós-Graduandos - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570-000 - Autor para correspondência: [email protected]

2 Professor do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - CEP 36570-000- [email protected]

Apoio financeiro: CAPES, FAPEMIG e CNPq.

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LINS, de L.R. et al.

1. INTRODUÇÃO

A lichia (Litchi chinensis Sonn.) é uma fruta dafamília Sapindaceae, de alto valor comercial devidoa sua cor vermelha atraente e ao arilo branco e translúcido,sendo muito apreciada por seu sabor doce (Smarsi etal., 2011). Entretanto, depois de colhido e mantido sobcondições ambientais, o fruto perde estas qualidades,ocorrendo escurecimento do pericarpo em apenas doisdias (Silva et al., 2010).

A perda de água e a consequentedescompartimentalização dos solutos celulares duranteo armazenamento provocam o contato das enzimas eseus substratos, causando reações indesejáveis queprejudicam a aparência do fruto (Lima et al., 2010).Portanto, o escurecimento está relacionado com adessecação do pericarpo, além do ataque de patógenos,estresses por altas temperaturas, danos por frio,senescência, dentre outros fatores que levam àdegradação da antocianina por enzimas oxidativas, taiscomo a polifenoloxidase (PPO), a peroxidase (POD)e o ácido ascórbico oxidase (Mizobutsi et al., 2010).

A fumigação com dióxido de enxofre é um tratamentoeficiente usado para prevenir o escurecimento dopericarpo da lichia (Ducamp-Collin et al., 2008). Porém,segundo Hojo et al. (2011), o uso deste produto deixaresíduos indesejáveis, altera o sabor do fruto, resultandoem riscos à saúde dos consumidores que apresentamalergia ao enxofre e aos trabalhadores das casas deembalagens.

De acordo com a Organização Internacional paraa Luta Biológica (OILB), a produção econômica de frutasde alta qualidade deve priorizar o uso de métodosecologicamente mais seguros, minimizando o uso deagroquímicos e seus efeitos colaterais indesejáveis,pondo ênfase na proteção do ambiente e na saúdehumana.

Portanto, é necessário o desenvolvimento demetodologias sustentáveis de manejo pós-colheita queretardem o escurecimento do pericarpo da lichia,aumentando sua vida útil pós-colheita, sem deixarresíduos nos frutos e sem resultar em riscos à saúdehumana.

A quitosana é um biopolímero obtido da desacetilaçãoda quitina, que é o principal constituinte deexoesqueletos de crustáceos e outros animais marinhos.É insolúvel em água, mas dissolve-se em soluções

aquosas de ácidos orgânicos, como acético, fórmico,cítrico, além de ácidos inorgânicos, como ácido clorídricodiluído, resultando em soluções viscosas (Santos etal., 2003).

Tratamentos pós-colheita com quitosana produzemuma fina camada protetora na superfície dos frutos,e visam retardar a perda de água, atuam como barreiraao O2 e atrasam o aumento da atividade PPO duranteo armazenamento (Apail et al., 2009). Em lichias,tratamentos com soluções de quitosana retardam oescurecimento do pericarpo, limitando a perda deantocianina, flavonoides e compostos fenólicos, alémdisso, retardam a atividade da PPO e da POD (Ducamp-Collin et al., 2008).

Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi avaliaro efeito de diferentes concentrações de quitosana naprevenção do escurecimento do pericarpo e namanutenção da qualidade pós-colheita de lichiasarmazenadas à temperatura ambiente.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Frutos de lichieira ‘Bengal’ com pericarpocompletamente vermelho foram colhidos, no períododa manhã, em janeiro de 2012, de plantas do PomarExperimental da Universidade Federal de Viçosa, emViçosa, Minas Gerais (21º07’S, 42º57’W, 651m de altitude).

Após a colheita, foram selecionados os frutos compericarpo uniformemente vermelho e sem injúrias. Nasequência, os frutos foram imersos por um minuto emsolução com diferentes concentrações de quitosana (0g L-1; 5 g L-1; 10 g L-1; 15 g L-1 e 20 g L-1). A quitosana foidiluída em solução de ácido clorídrico a 0,05 mol L-1. Osfrutos foram secos superficialmente à temperaturaambiente e acondicionados em bandejas de poliestirenoexpandido (150 mm x 150 mm x 25 mm), recobertas comfilme de policloreto de vinila (PVC) de 12 µm de espessura.A fim de simular o a exposição em gôndolas desupermercados, os frutos foram armazenados em bancadade laboratório a 19±2,4°C e 75 ± 5% de UR e avaliadosa cada dois dias, durante oito dias.

Foram avaliados perda de massa fresca, atributosde cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis e acideztitulável da polpa e teores de ácido ascórbico do pericarpoe da polpa. A perda de massa fresca foi determinadapor gravimetria, sendo os resultados expressos emporcentagem de perda de massa.

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Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia

A coloração do pericarpo foi determinada porreflectometria, utilizando-se reflectômetro Minolta (ColorReader CR-10). Foram feitas duas leituras por frutoem posições diametralmente opostas, utilizando-se ascoordenadas L* e h (h assume valor zero para a corvermelha, 90° para a amarela, 180° para a verde e 270°para a azul) (McGuirre, 1992). Para a análise dos dadosutilizou-se os parâmetros L*, a*, b* para cálculo doDE (diferença de cor), que define a saturação e intensidadeda cor definida por L*, a* e b* (Minolta Corp, 1994)e foi determinado pela diferença de cor entre os valoresregistrados nos frutos em cada dia de avaliação e osobtidos nos frutos no início das avaliações.

O teor de sólidos solúveis da polpa foi determinadocom o auxílio de um refratômetro digital em amostrasde polpa trituradas em liquidificador (AOAC, 1997).A acidez titulável da polpa foi determinada por titulaçãocom NaOH 0,1N e expressa em porcentagem de ácidomálico (AOAC, 1997). Os teores de ácido ascórbicodo pericarpo e da polpa foram determinados por titulaçãocom reagente de Tillman [2,6 diclorofenolindofenol(sal sódico) a 0,1%] (AOAC, 1997). Os resultados foramexpressos em mg.100 g-1 de polpa.

O experimento foi conduzido em parcelassubdivididas, tendo-se nas parcelas as cinco concentraçõesde quitosana e, nas subparcelas, os cinco períodos deamostragens, sendo a unidade experimental constituídapor cinco frutos. O delineamento experimental foi ointeiramente casualizado, com três repetições. Os dadosforam analisados por meio das análises de variânciae regressão, usando-se o programa SAEG 9.1 – Sistemapara Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG, 2007).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A perda de massa aumentou linearmente duranteo período de armazenamento, independentementeda concentração de quitosana (Figura 1). Asconcentrações de 0 (controle), 15 e 20g.L-1 resultaramem maiores perdas de massa fresca durante todo operíodo experimental, chegando no 8º dia com perdaacumulada de 10,5, 12,59 e 11,1%, respectivamente.As menores perdas de massa ocorreram no tratamentocom 5 g.L-1 de quitosana, com uma perda de 9,19%,seguido pelo tratamento quitosana 10 g.L-1 (9,40%).Observou-se que, nas maiores concentrações dequitosana (15 e 20 g.L-1), houve descamação da películaformada sobre os frutos, o que pode ter reduzido

Figura 1 - Perda de massa fresca de frutos de lichia ‘Bengal’durante o armazenamento, submetidos a tratamentoscom quitosana e armazenados a 19±2,4°C.

a eficiência do produto no controle da perda de massafresca. Chen et al. (2001) relatam que a perda de massasuperior a 18,21% é suficiente para causarescurecimento total do pericarpo de lichias, enquantoMahajan & Goswami (2004) consideram que uma perdade 3-5% pode causar este efeito. Para Chitarra &Chitarra (2005), perdas da ordem de 3 a 6% sãosuficientes para causar declínio na qualidade,entretanto alguns produtos são ainda comercializáveiscom 10% de perda de umidade.

A luminosidade (L*) do pericarpo, nos cincotratamentos avaliados, apresentou diferençassignificativas ao longo do armazenamento, mostrandotendência de queda (Figura 2). As reduções no 8° diade armazenamento, em relação ao dia do armazenamento,foram menores para o controle (7,21%) e para a dose20 g.L-1 (9,59%). As menores doses não foram eficientesem manter a coloração do pericarpo da lichia, observando-se perdas de 15,38, 16,81 e 19,4% para as doses 5, 15e 10, respectivamente.

Os frutos tratados com 10 e 15 g.L-1 de quitosanaapresentaram menor perda de coloração vermelha dopericarpo, passando o ângulo hue (ºh) de 33,35 para 37,96e de 33,56 para 40,71 do dia zero ao 8° dia de armazenamento,respectivamente. No tratamento 20 g.L-1 a variação foimaior que no controle (Figura 3).

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Figura 3 - Ângulo hue (0) do pericarpo dos frutos de lichias‘Bengal’ durante o armazenamento e submetidosa tratamentos com quitosana e armazenados a19±2,4°C.

Figura 2 - Luminosidade (L*) do pericarpo dos frutos de lichia‘Bengal’ durante o armazenamento, e submetidosa tratamentos com quitosana e armazenados a19±2,4°C.

A quitosana na concentração de 10 g.L-1 impediuo escurecimento do pericarpo até o quarto dia dearmazenamento. Nos demais tratamentos os frutos

escureceram, como se nota pela rápida mudança de corem relação ao dia zero (Figura 4). A mudança indesejávelda coloração do pericarpo da lichia, com um rápidodecréscimo da luminosidade (L*) unido a uma elevaçãode ºh, dá como resultado principal escurecimento e perdada coloração vermelha intensa do pericarpo, cujaconsequência imediata é a perda de seu valor comercialou uma forte redução do preço de comercialização destesfrutos no varejo (Silva et al., 2011). A rápida alteraçãoda coloração vermelha para uma tonalidade marrom tambémocorre em frutos ainda ligados à planta. Em frutos colhidos,este escurecimento pode ocorrer em poucas horas ou,no máximo, três dias após a colheita, em temperaturavariando de 20° a 25°C (Lima et al., 2010).

Em todos os tratamentos o teor de sólidos solúveise a acidez titulável diminuíram ao longo do períodode armazenamento (Figura 5A e 5B), indicando queos ácidos orgânicos foram utilizados como substratosrespiratórios e como esqueletos de carbono para a síntesede novos compostos (Chitarra & Chitarra, 2005). Noentanto, o tratamento 5 g.L-1 foi o que melhor reteveo teor de sólidos solúveis, reduzindo de 18,57 para17,76 ºBrix (4,36%). Os ácidos, além dos açúcares,constituem substratos para a respiração, sendo queo ácido ascórbico participa de reações antioxidantes

Figura 4 - Diferença de cor (“E) do pericarpo dos frutos delichias ‘Bengal’ durante o armazenamento esubmetidos a tratamentos com quitosana earmazenados a 19±2,4°C.

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Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia

que se processam durante a maturação e após a colheitado fruto (Neves et al., 2011). Possivelmente, devidoao estresse da colheita, ocorra no fruto maior atividademetabólica, principalmente maior taxa respiratória,havendo maior consumo de ácidos e açúcares nesseprocesso (Watanabe et al., 2011).

Figura 5 - Teor de sólidos solúveis da polpa (A), acidez titulávelda polpa (B) dos frutos de lichias ‘Bengal’ duranteo armazenamento e submetidos a tratamentos comquitosana e armazenados a 19±2,4°C.

O teor de ácido ascórbico, tanto do pericarpo comoda polpa, apresentou redução ao longo do períodode armazenamento, sendo que a redução foi maisexpressiva nos frutos que não foram tratados com aquitosana (Figuras 6A e 6B). Dessa forma, a quitosana,independentemente da concentração, foi efetiva empromover uma menor redução do teor de vitamina Cdo pericarpo e da polpa dos frutos.

Figura 6 - Teor de ácido ascórbico do pericarpo (A) e teor deácido ascórbico da polpa (B) dos frutos de lichias‘Bengal’ durante o armazenamento e submetidos atratamentos com quitosana e armazenados a 19±2,4°C.

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O efeito benéfico da manutenção dos teores deácido ascórbico no pericarpo é atribuído a vários aspectos,sendo um destes o efeito de captação do oxigênio eproteção, formando uma barreira criada pela quitosanaque impede a difusão do oxigênio para o interior doproduto, reduzindo as quinonas geradas e inibindo aação das PPO’s (Reuck et al., 2011), contribuindo paraa manutenção da coloração vermelha. De acordo comApail et al. (2009), a quitosana utilizada como tratamentopós-colheita produz uma fina camada protetora nasuperfície dos frutos, retardando a perda de água e atuandocomo barreira ao O2, o que consequentemente atrasao aumento da atividade PPO durante o armazenamento.

4. CONCLUSÕES

As concentrações de 5 e 10 g.L-1 foram as maisefetivas em manter a coloração do pericarpo da lichia‘Bengal’, sem comprometer as características de qualidadeavaliadas, pelo período de até quatro dias.

5. AGRADECIMENTOS

A CAPES, FAPEMIG e CNPq pelo apoio financeiro.

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TRATAMENTO HIDROTÉRMICO PARA PREVENÇÃO DO ESCURECIMENTODO PERICARPO DE LICHIA

Rosana Gonçalves Pires Matias1, Danielle Fabíola Pereira da Silva1, Leila Cristina Rosa de Lins1, RobsonRibeiro Alves1 e Luiz Carlos Chamhum Salomão2

RESUMO – Após a colheita da lichia (Litchi chinensis Sonn.) ocorre rápido escurecimento do pericarpo, limitandoo período de comercialização do fruto. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da hidrotermia na prevençãodo escurecimento do pericarpo e manutenção da qualidade pós-colheita de frutos de lichia. Frutos de lichieiracv. Bengal com pericarpo uniformemente vermelho foram submetidos à imersão em água em três temperaturas(45, 50 e 55°C) x cinco tempos de imersão (0, 4, 8, 12 e 16 minutos), em delineamento inteiramente aoacaso, com três repetições e cinco frutos por repetição. Após a secagem, os frutos foram acondicionados embandejas de poliestireno, recobertos com filme PVC de 12 µm de espessura e armazenados em bancadas delaboratório em temperatura ambiente (19,0 ± 2,4°C e 75 ± 5% de UR) a fim de simular as condições de exposiçãoem bancadas de supermercados. A cada dois dias, durante oito dias, os frutos foram avaliados quanto à perdade massa fresca, cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis e acidez titulável da polpa e teor de ácido ascórbicodo pericarpo e da polpa. Observou-se que a perda de massa fresca foi maior nos frutos não submetidos aotratamento hidrotérmico. Frutos submetidos a 50°C por 16 minutos e a 55°C em todos os tempos de imersãoforam avaliados somente até o 4º dia; a partir daí apresentaram-se impróprios para a comercialização. A imersãoa 45ºC por 4 minutos foi a mais eficiente em manter a coloração vermelha do pericarpo, bem como nãoalterou as características de qualidade avaliadas durante o período experimental.

Palavras-chave: Litchi chinensis Sonn., qualidade, vitamina C.

HYDROTHERMAL TREATMENT IN PREVENTION BROWNING OF LYCHEEPERICARP

ABSTRACT – The browning of litchi pericarp (Litchi chinensis Sonn.) occurs rapidly after harvest, limitingthe marketing period of the fruits. The objective of this study was to evaluate the effect of hot water treatmentsin preventing browning of the pericarp and the maintenance of postharvest quality of litchi fruit. Fruits oflitchi cv. Bengal uniformly red pericarp were submitted to immersion in water at tree temperature (45, 50and 55°C) x five soaking times (0, 4, 8, 12 and 16 minutes) in a completely randomized design with treereplications and five fruit per replicate. After drying, the fruits were packed in polystyrene trays, coveredwith plastic wrap with 12 mm thick and stored in the lab benches at room temperature (19.0 ± 2.4°C and75 ± 5% RH) to simulate the exposure conditions at supermarket counters. Every two days, during eightdays, were evaluated the weight loss, color of the pericarp, soluble solids, titratable acidity of the pulp andascorbic acid content of the pericarp and pulp. It was observed that the weight loss was higher in fruits thatwere not subjected to hydrothermal treatment. Fruits subjected to 50°C during 16 minutes and 55°C in allimmersion times were evaluated only until the 4th day, thereafter, these fruits are not suitable for commercialization.Immersion at 45°C during four minutes was the most effective in maintaining the red color of the pericarpand did not affect the quality measured during the experimental period.

Key Words: Litchi chinensis Sonn., quality, vitamin C.

1 Pós-Graduandos - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570-000 - Autor para correspondência: [email protected]

2Professor do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570-000- [email protected]

Apoio financeiro: CAPES, FAPEMIG e CNPq.

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Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia

1. INTRODUÇÃO

A lichieira (Litchi chinensis Sonn.) é uma plantada família Sapindaceae, a mesma do guaraná, pitombae rambutã. É uma fruteira tipicamente de clima subtropical.No Brasil, sua introdução se deu no ano de 1810 noRio de Janeiro, a partir daí seu cultivo se expandiupara a região Sudeste (Smarsi et al., 2011).

Após a colheita dos frutos, ocorre rápidoescurecimento do pericarpo, o que faz com que o frutoapresente vida pós-colheita curta. O fenômeno podeocorrer em menos de 72 horas após a colheita, reduzindoo valor comercial da fruta, limitando assim suacomercialização (Del Aguila et al., 2009).

Este escurecimento pode estar relacionado coma dessecação do pericarpo, ataque de patógenos,estresses por altas temperaturas, danos por frio,senescência, dentre outros fatores que levam àdegradação da antocianina, por enzimas oxidativas,tais como a polifenoloxidase (PPO), peroxidase (POD)e ácido ascórbico oxidase (Mizobutsi et al., 2010). Coma perda de água durante o armazenamento dos frutos,há descompartimentalização dos solutos celulares,provocando o contato das enzimas e seus substratos,causando por fim as reações indesejáveis que prejudicama aparência do fruto e, consequentemente, suacomercialização (Lima et al., 2010).

Em vista disso, retardar ou reduzir a oxidaçãoenzimática, por meio de métodos que evitem o contatodo fruto com o oxigênio e diminuam a perda de massados frutos, é importante para aumentar o período dearmazenamento e preservar a qualidade comercial defrutos de lichieira.

Um método eficiente de tratamento usado paraprevenir o escurecimento do pericarpo dos frutos delichieira é a fumigação com dióxido de enxofre (Ducamp-Collin et al., 2008). Porém, segundo Hojo et al. (2011),esse produto deixa resíduos indesejáveis e altera osabor do fruto, resultando em riscos à saúde dosconsumidores que apresentam alergia ao enxofre e dostrabalhadores das casas de embalagens.

Um tratamento alternativo à fumigação com enxofreé a aplicação de calor por tratamento hidrotérmico(Lichter et al., 2000). O tratamento hidrotérmico naconservação de alimentos apresenta uma série devantagens que incluem a relativa facilidade de utilização,tratamento em curto espaço de tempo, bem como a

isenção de resíduos químicos sobre o produto. Porém,o manejo inadequado da temperatura no tratamentohidrotérmico pode causar injúria hipertérmica, comocolapso da polpa, frutos sem sabor, escurecimentoda casca e, em casos severos, produção de etanole acetaldeído (Souza, 2009).

Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi avaliaro efeito do tratamento hidrotérmico na prevenção doescurecimento do pericarpo e na manutenção da qualidadepós-colheita de frutos de lichieira.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Frutos de lichieira (Litchi chinensis Sonn.) cv.Bengal com pericarpo completamente avermelhadoforam colhidos no período da manhã, em janeiro de2012, de plantas com nove anos de idade originadasde alporquia em pomar irrigado localizado na ÁreaExperimental da Universidade Federal de Viçosa, emViçosa, Minas Gerais (21º07’S, 42º57’W, 651m dealtitude).

Após colheita manual, foram selecionados osfrutos sadios com pericarpo uniformemente avermelhadoe sem injúrias. Imediatamente após, foram lavadosem água corrente e sanificados por imersão emhipoclorito de sódio a 200 mg.L-1, por 5 minutos. Aseguir, foram submetidos aos tratamentos de imersãoem água aquecida (45, 50 e 55°C) e tempo de imersão(0, 4, 8, 12 e 16 minutes), e secos à temperatura ambiente.O tratamento controle foi constituído de frutos lavadose sanificados. Em seguida os frutos foramacondicionados em bandejas de poliestireno (150 mmx 150 mm x 25 mm) e recobertos com filme de policloretode vinila (PVC) de 12 µm de espessura. A fim de simularas condições de exposição em bancadas desupermercados, os frutos foram mantidos em bancadade laboratório em temperatura ambiente (19,0 ± 2,4°Ce 75 ± 5% de UR) e avaliados a cada dois dias, duranteoito dias.

Foram avaliados perda de massa fresca, atributosde cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis (SST),acidez titulável da polpa (AT), e teores de ácido ascórbicodo pericarpo e polpa. A perda de massa fresca foicalculada pela diferença entre a massa inicial dos frutose a obtida em cada tempo da amostragem, utilizando-se balança digital com 0,1 gramas de precisão, sendoos resultados expressos em porcentagem de perda demassa.

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A coloração do pericarpo foi determinada porreflectometria, utilizando reflectômetro Minolta (ColorReader CR-10). Foram feitas duas leituras por frutoem posições diametralmente opostas, utilizando acoordenadas L* e h (ângulo hue, h assume valor zeropara a cor vermelha, 90° para a amarela, 180° para averde e 270° para a azul) (McGuirre, 1992).

O teor de sólidos solúveis da polpa foi determinadocom o auxílio de um refratômetro digital em amostrasde polpa trituradas em homogeneizador de tecidos(AOAC, 1997). A acidez titulável da polpa foi determinadapor titulação com NaOH 0,1N e expressa em porcentagemde ácido málico (AOAC, 1997). O teor de ácido ascórbicodo pericarpo e da polpa foi determinado por titulaçãocom reagente de Tillman [2,6 diclorofenolindofenol(sal sódico) a 0,1%] (AOAC, 1997). Os resultadosforam expressos em mg.100 g-1 de polpa.

O experimento foi conduzido em parcelassubdivididas, tendo-se nas parcelas os doze tratamentoshidrotérmicos e, nas subparcelas, os cinco períodosde amostragens, sendo a unidade experimental constituídapor cinco frutos. O delineamento experimental foiinteiramente casualizado, contendo três repetições ecinco frutos por repetição. Os dados foram analisadospor meio das análises de variância e regressão, utilizando-se o programa Sistema para Análises Estatísticas eGenéticas (SAEG, 2007).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A perda de massa aumentou linearmente duranteo período de armazenamento, independentemente dostratamentos (Figura 1A, B e C). Isso evidencia que osfrutos continuaram respirando e perdendo água e,consequentemente, perdendo massa com o passar dotempo. Os frutos do tratamento controle apresentarammaior perda de massa do que os frutos submetidos aotratamento hidrotérmico, independente da temperaturae do tempo de imersão. A perda de massa fresca dos frutosvariou entre 3,68 e 4,93%, para os tratamentos 55ºC por8 minutos e 45º no mesmo tempo de exposição,respectivamente, com exceção dos frutos do tratamentocontrole nos quais a perda de massa fresca foi superiora 5% no quarto dia de armazenamento. De acordo comLima et al. (2010) perda de massa fresca de 3 a 5% é suficientepara causar o escurecimento total do pericarpo de lichias.

A imersão em água quente reduziu os valores deluminosidade (L*) do pericarpo ao longo do período

Figura 1 - Perda de massa fresca (%) de lichias cv. Bengalsubmetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A),50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancadasde laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.

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de armazenamento, observando-se as maiores reduçõesno tempo de imersão por 16 minutos, para todas astemperaturas (Figura 2A, 2B e 2C). A imersão em águaquente por longos períodos levou a um escurecimentonão enzimático do pericarpo (Souza et al., 2010),culminando na redução dos valores de luminosidade.Resultados semelhantes foram encontrados por Souzaet al. (2010), que observaram que frutos de lichiasubmetidos a tratamento hidrotérmico a 45°C por 15;20 e 25 minutos, armazenadas à 5°C apresentaramdiminuição significativa nos valores deste parâmetro.

Observou-se aumento dos valores do ângulo hue(hº) do pericarpo dos frutos de todos os tratamentosao longo do período experimental (Figura 3A, B e C),o que indica a perda da coloração vermelha do pericarpo.No entanto, na imersão a 45ºC por 4 e 8 minutos oaumento dos valores de hº foi menos significativo.Os frutos submetidos a 50°C por 16 minutos e 55°Cem todos os tempos de imersão foram os que maisrapidamente perderam a coloração vermelha e foramavaliados somente até o 4º dia. A partir daí os frutosse apresentaram impróprios para a comercialização.Isso pode ser explicado pela alta temperatura de imersão,que pode ter ocasionado a caramelização dos açúcarespresentes no pericarpo; além disso, a alta temperaturapode ter ocasionado maiores perdas de antocianinas,devido à alta sensibilidade deste pigmento a temperaturasmuito elevadas (Souza et al., 2009; Tonon et al., 2009).

Observou-se, em todos os tratamentos, que o teorde sólidos solúveis (°Brix) diminuiu ao longo do períodode armazenamento (Figura 4A, B e C), bem como a acideztitulável (AT) (Figura 5A, B e C). Esta redução indicaque os açúcares e os ácidos orgânicos podem ter sidoutilizados como substratos respiratórios e comoesqueletos de carbono para a síntese de novos compostos(Chitarra & Chitarra, 2005).

Os teores de ácido ascórbico do pericarpo diminuíramsignificativamente em todos os tratamentos (Figura6A, B e C). A temperatura de 45°C, nos tempos de imersãode 8, 12 e 16 minutos, foi mais eficiente na manutençãodo teor de ácido ascórbico do pericarpo. Inversamente,a 55°C houve maior redução no teor de ácido ascórbicodo pericarpo dos frutos quando comparados aotratamento controle, em todos os tempos de imersão.

Os tratamentos não influenciaram no teor de ácidoascórbico da polpa dos frutos (Figura 7A, B e C),apresentando uma redução ao longo do período de

Figura 2 - Coordenada L* do pericarpo de lichias cv. Bengalsubmetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A),50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancadade laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.

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Figura 3 - Ângulo hue do pericarpo (h°) de lichias vc. Bengalsubmetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A),50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancadade laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.

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Figura 4 - Teor de sólidos solúveis (°Brix) de frutos de lichia cv.Bengal submetida ao tratamento hidrotérmico a 45°C(A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancadade laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.

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Figura 5 - Acidez titulável (% de ácido málico) de frutos de lichiacv. Bengal submetida ao tratamento hidrotérmico a45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancadade laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.

Figura 6 - Teor de ácido ascórbico (mg.100g-1) do pericarpode frutos de lichia cv. Bengal submetidos ao tratamentohidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) earmazenados em bancada de laboratório a 19 ± 2,4°C.Viçosa-MG, 2012.

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armazenamento, não diferindo do controle. No entanto,observou-se que essa redução ocorreu mais rápidonos frutos tratados a 50ºC por 16 minutos, e a 55ºCem todos os tempos de imersão.

4. CONCLUSÕES

O tratamento por imersão em água a 45º por 4minutos foi o mais eficiente em manter a coloraçãovermelha do pericarpo bem como não alterou ascaracterísticas de qualidade consideradas durante todoo período de avaliação.

5. LITERATURA CITADA

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LIMA, R.A.Z.; PATTO, D.E.; ABREU, C.M. et al.Embalagens e recobrimento em lichias (Litchichinensis Sonn.) armazenadas sob condições nãocontroladas. Ciência & Agrotecnologia,v.34, n.4, p.914-921, 2010.

A

Figura 7 - Teor de ácido ascórbico (mg.100g-1) da polpa defrutos de lichia cv. Bengal submetidos ao tratamentohidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C)e armazenados em bancada de laboratório a 19± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.

B

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SMARSI, R.C.; OLIVEIRA, G.F.; REIS, L.L. et al.Efeito da adubação nitrogenada na produção demudas de lichieira. Revista Ceres, v.58, n.1,p.129-131, 2011.

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SANTOS, dos M.C. et al.

EFEITO DO SILÍCIO EM ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E NA HISTÓRIADE VIDA DE Tuta Absoluta (MEYRICK) (LEPIDOPTERA: GELECHIIDAE)¹

Marília Cristina dos Santos2*, Ana Maria Resende Junqueira², Veríssimo Gibran Mendes de Sá3, José ColaZanúncio4, Marcos Alexandre Bauch5, José Eduardo Serrão6

RESUMO – A tecnologia baseada no uso do silício diminui o uso de agrotóxicos, mantendo a qualidade defrutos e protegendo o ambiente. Este trabalho teve como objetivo avaliar a utilização de diferentes fontese doses de silício em plantas de tomate sobre aspectos biológicos e preferência de oviposição da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta). O delineamento experimental foi em blocos casualisados contendo vinte e umtratamentos incluindo a testemunha, em cinco repetições [(Agrosilício® solo (t ha -1 de SiO2) - 0,45; 0,90;1,35 e 1,80); (Agrosilício® foliar (t ha -1 de SiO2) - 2,0; 4,0; 6,0 e 8,0); (Sili-K® (l ha-1 de SiO2) - 0,5;1,0; 2,0 e 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO2) - 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00); (Ácido silícico solo (% deSiO2) - 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00) e controle]. Os parâmetros biológicos avaliados foram: duração das faseslarval e pupal, sobrevivência de larvas e pupas e peso de pupas machos e fêmeas. A não preferência para oviposiçãode T. absoluta em plantas de tomateiro tratadas com silício foi avaliada através de testes com e sem chancede escolha. Não foram observadas diferenças na duração das fases larval e pupal, sobrevivência de lagartase pupas, peso de pupas machos e fêmeas de T. absoluta e preferência de oviposição em indivíduos provenientesdos tratamentos com silício aplicado no solo e daquelas do grupo controle. Insetos obtidos dos tratamentosà base de silício aplicado via foliar apresentaram aumento na duração das fases larval e pupal, diminuiçãona sobrevivência de lagartas e pupas, diminuição do peso de pupas machos e fêmeas e diminuição na preferênciade oviposição.

Palavras-chave: Biologia, comportamento, manejo integrado de pragas, silício, Solanum lycopersicum, traça-do-tomateiro

EFFECT OF SILICON ON BEHAVIORAL ASPECTS AND LIFE HISTORY OFTUTA ABSOLUTA (MEYRICK) (LEPIDOPTERA: GELECHIIDAE)

ABSTRACT – The technology based on the use of silicon reduces pesticide use, keeping fruit quality andprotecting the environment. This study evaluated the effects of different sources and levels of silicon appliedon tomato plants, on biological and behavior characteristics of the tomato pinworm Tuta absoluta. The experimentaloutline was a randomized block with twenty one treatments, including control, in five replicates[(Agrosilício®

soil (t ha -1 of SiO2) – 0.45, 0.90, 1.35 and 1.80); (Agrosilício® leaves (t ha -1 of SiO2) – 2.0, 4.0, 6.0 and8.0); (Sili-K® (l ha -1 of product) – 0.5, 1.0, 2.0 and 3.0); (Silicic Acid Leaves (% of SiO2) – 0.25, 0.50,0.75 and 1.00); (Silicic acid soil (% of SiO2) – 0.25, 0.50, 0.75 and 1.00) and control]. The biological

1 Parte da tese do primeiro autor; Projeto financiado pela CAPES.2 Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 70910-970, Brasília, Distrito Federal, Brasil.3 Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado de Minas Gerais, 35930-314, João Monlevade, Minas Gerais, Brasil.4 Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Bolsista de

Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A.5 IBAMA-Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Floresta Núcleo de Geoprocessamento,70818-900, Brasilia, DF,

Brasil.6 Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Bolsista de

Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1B.*Autor correspondente. E-mail: [email protected]

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Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)...

characteristics evaluated, were: duration of larval and pupal stages, survival of larvae and pupae and pupalweight of males and females individuals. The non-preference for oviposition of T. absoluta in tomato plantstreated with silicon was evaluated through tests with choice and without choice trials. There were no differencesobserved in the length of larval and pupal stages, survival of larvae and pupae, pupal weight of males andfemales of T.absoluta and oviposition in individuals from the treatments with silicon applied to the soil andthose in the control group. However, insects collected from treatments based on leaf application silicon showedan increase in the duration the larval and pupal stages, decreased survival of larvae and pupae, decreasedpupae weight of males and females and a decrease in oviposition preference.

Key Words: Biology, feeding behavior, integrated pest management, pinworm, silicon, Solanum lycopersicum.

1. INTRODUÇÃOA traça-do-tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick)

(Lepidoptera: Gelechiidae), nativa da América do Sul(Gomide et al., 2001), é uma das principais pragas dotomateiro no Brasil (Medeiros et al., 2009).

Tuta absoluta é um inseto holometábolo cujo ciclocompleto dura de 26 a 30 dias (Medeiros et al., 2009).O estágio de ovo dura de três a seis dias (Coelho &França, 1987), o de lagarta, que é o causador dos danos,dura 14 dias. As lagartas de T. absoluta se alimentamdo mesofilo das folhas causando minas, broqueiamo caule, perfuram o broto terminal e atacam os frutos(Michereff Filho & Vilela, 2001; Medeiros et al., 2009).A fase de pupa, que pode durar cerca de oito dias,desenvolve-se dentro da própria lesão foliar ou nosolo. Cada fêmea pode depositar de 55 a 130 ovos durantetrês a sete dias (Coelho & França 1987; Haji et al., 1988)e a maioria dos ovos é depositada nas folhas (Torreset al. 2001; Pratissoli et al., 2003).

A traça-do-tomateiro representa sérios danos paraa tomaticultura, ocorrendo durante todo o ciclo dotomateiro, independente do período em que seja cultivado(Giustolin et al., 2002), porém com maior intensidadeno período mais seco do ano (Medeiros et al., 2011).Esta praga tem sido controlada normalmente atravésde aplicações múltiplas de inseticidas (Benvenga etal., 2007; Collavino & Gimenez, 2008; Medeiros et al.,2009), o que é indesejável tanto por motivos econômicosquanto ambientais. As aplicações sucessivas dessesprodutos químicos afetam os inimigos naturais eaumentam a possibilidade de desenvolvimento depopulações da praga resistentes aos inseticidas, alémda produção de alimentos com altos níveis de resíduostóxicos (Almeida et al., 2009; Vianna et al., 2009; Silvaet al., 2011).

Os métodos de controle utilizados em programasde Manejo Integrado de Pragas visam reduzir o usode inseticidas ou utilizar aqueles compatíveis comos inimigos naturais (Zanuncio et al., 2003). A fisiologia,a ecologia e a etiologia dos insetos herbívoros, dentrode outros aspectos de sua biologia, estão inseridasem um contexto nutricional. A qualidade e a quantidadedo alimento ingerido e a ingestão de compostos dometabolismo secundário das plantas podem causarefeitos deletérios, interfer indo inclusive nodesenvolvimento desses indivíduos (Hagen et al.,1984).

O silício é um dos elementos mais abundantesna crosta terrestre. Produtos originados de agregadossiderúrgicos são resíduos da metalurgia do ferro-gusa e aço que, devido à sua basicidade, podem serutilizados como corretivos de solo, sendo excelentesfontes de silício, cálcio e magnésio (Nolla et al., 2004).Embora o silício não seja essencial para a maioriadas plantas (Epstein, 2009), a aplicação de silicatostem aumentado a resistência das plantas às pragas,principalmente pela sua capacidade de acumulaçãona parte externa da parede celular (Costa & Moraes,2006; Dalastra et al., 2011), aumentando assim a síntesede compostos fenólicos e lignina (Ghanmi et al., 2004;Currie & Perry, 2007), além de ativar as defesas químicasendógenas das plantas atacadas (Epstein, 2009).Entretanto, não foram feitos trabalhos evidenciandoestes benefícios no tomateiro. Neste contexto, o usodo silício representa uma tecnologia com grandepotencial para diminuir a frequência e o uso deinseticidas (Silva et al., 2010).

Diante do exposto, objetivou-se com o trabalhoavaliar diferentes fontes e doses de silício sobre osaspectos biológicos e a não preferência para oviposiçãode T. absoluta.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

Plantio, delineamento experimental e tratamentos

O plantio das mudas de tomateiro, variedadeTospodoro, oriundas da EMBRAPA Hortaliças, Brasília,DF, foi feito em casa de vegetação (25 ± 1,0º C) comárea de aproximadamente 119 m2, em agosto de 2011,na Universidade Federal de Viçosa, Departamento deBiologia Geral (DBG), Viçosa, MG, Brasil.

As parcelas experimentais foram plantas detomateiro cultivadas em vasos de polietileno comvolume de 3L, utilizando-se solo como substrato,

Tratamentos Produto QuantidadeAgrosilício® Solo t ha -1 de SiO2 g de Agrosilício®/vaso de 3L

T 1 0,45 13,5T 2 0,9 27,0T 3 1,35 40,5T 4 1,8 54,0

t ha - de SiO2 1/aplicação g de Agrosilício® /

planta/ aplicação em 250mLde água destilada

T 5 Agrosilício® foliar 0,5 71,25T 6 1,0 142,5T 7 1,5 213,75T 8 2,0 285,0

L ha -1 produto/aplicação mL de Sili - K®/planta/aplicação em 250mL

de água destiladaT 9 Sili-K® foliar 0,5 0,015

T 1 0 1,0 0,030T 1 1 2,0 0,060T 1 2 3,0 0,090

% de ácido silícico/aplicação g de ácido silícico/vaso/aplicação em 250mL

de água destiladaT 1 3 Acido silícico foliar 0,5 1,25T 1 4 1,0 2,5T 1 5 2,0 5,0T 1 6 3,0 7,5

% de ácido silícico /aplicação g de ácido silícico/vaso/aplicação em 250mL

de água destiladaT 1 7 Ácido silícico solo (%) 0,25 1,25T 1 8 0,50 2,5T 1 9 0,75 5,0T 2 0 1,0 7,5T 2 1 CONTROLE 0 0

Tabela1 - Fontes e doses de silício utilizadas na avaliação sobre a biologia e não preferência para oviposição de Tuta absoluta(Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae)

contendo uma planta em cada vaso, com adubaçãode plantio contendo nitrogênio (600 kg ha-1 de sulfatode amônio), fósforo (3300 kg ha-1 de superfosfatosimples) e potássio (330 kg ha-1 de cloreto de potássio),cujas quantidades foram calculadas em função daanálise do solo e recomendação de Ribeiro & Guimarães(1999). Os vasos foram dispostos em bancadas de3,66 x 1,00 m, equidistantes 0,10m.

O delineamento experimental utilizado foi em blocoscasualisados com cinco repetições, sendo vintetratamentos e o controle (sem adição de qualquercomposto contendo silício) (Tabela 1).

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Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)...

Foram testados três compostos como fontes desilício [Agrosilício® (22,4% de SiO2), Sili-k® (12,2% Si)e ácido silícico (100% SiO2)] em quatro doses cada um.

O Agrosilício® foi adicionado ao solo juntamentecom a adubação de plantio, visando à elevação dasaturação por bases para 70%, na dosagem de 100%de SiO2 (Ribeiro & Guimarães, 1999), visto que esteproduto possui efeito corretivo (Sommer et al., 2006).A partir deste valor foram calculadas as demais dosagensde 50%, 150% e 200% de SiO2.

O Agrosilício® foi aplicado semanalmente viapulverização foliar nos tratamentos T5 ao T8 (250 mlde solução) nas dosagens de 50%, 100%, 150% e 200%de SiO2, tendo como base a dosagem de 100%,correspondente a 1 tonelada de SiO2 por hectare (Costaet al., 2009).

O produto Sili-K® foi aplicado (250 ml da solução),por pulverização, apenas via foliar, de acordo com arecomendação do fabricante, nas dosagens de 0,5; 1,0;2,0 e 3,0 l ha-1 do produto, semanalmente, nos tratamentosT9 ao T12, uma vez que não se encontra disponívelpara aplicação no solo.

A aplicação de 250 mL de solução de ácido silícicoa 0,5; 1,0; 2,0 e 3,0% de SiO2 (Camargo et al., 2008;Costa et al., 2009) foi realizada, semanalmente, tantovia foliar (T13 ao T16) como no solo em torno das hastesdas plantas (T17 ao T20) na dosagem correspondentea 1 tonelada de SiO2 por hectare (Costa et al., 2009).

A primeira aplicação foliar destes produtos foifeita trinta dias após o plantio dos tomateiros, totalizandotrês aplicações em intervalos semanais. A testemunha(T21) recebeu apenas água destilada.

As plantas tratadas com Agrosilício® (foliar), Sili-k® e ácido silícico (solo e foliar) tiveram o solo corrigidocom calcário dolomítico (0,8 t ha-1) com o objetivo deelevar a saturação por bases para 70%.

Efeito de silício na Biologia de T. absoluta

Folhas de tomateiro com posturas de T. absolutade mesma idade, provenientes da criação do Laboratóriode Entomologia Agrícola da Universidade Federal deViçosa, foram seccionadas para que contivessem 10ovos. Cada uma dessas áreas seccionadas foi fixadacom auxílio de alfinete em um dos ramos da planta detomateiro e acondicionada em sacos de organza de15 x 20 cm envolvendo uma folha de tomate, sete dias

após a última aplicação foliar dos produtos contendosilício.

Para avaliar o efeito do silício na biologia de T.absoluta, os ramos contendo os ovos foram observadosdiariamente anotando-se a eclosão e a ocorrência depupas, as quais, 24 h após a formação, foram sexadas,pesadas, individualizadas em placas de Petri®, colocadasem câmara climatizada tipo BOD a 25 ± 0,5 ºC e fotofasede 12 horas, onde permaneceram até a emergência dosadultos.

As características biológicas avaliadas foram:duração e sobrevivência das fases larval e pupal epeso de pupas (machos e fêmeas).

Não preferência para oviposição de T. absoluta emplantas de tomateiro tratadas com silício

Os testes foram realizados com folhas de tomateiroobtidas dos 20 tratamentos citados anteriormente eo controle, sem qualquer composto contendo silício(Tabela 1).

Teste com chance de escolha

Os testes com chance de escolha foram realizadosem gaiolas de 30 x 36 cm, recobertas com tecido tipoorganza para facilitar a ventilação. Na base de cadagaiola foram dispostas, ao acaso, folhas de cada tratamentomantidas em vidros contendo água. Em cada gaiola,foram liberados 40 adultos (20 fêmeas e 20 machos)alimentados com solução de mel a 10%. Após 48 horas,foi contado, sob microscópio estereoscópico, o númerode ovos em cada tratamento (Thomazini et al., 2001).O delineamento experimental foi em blocos ao acaso,com 10 repetições (gaiolas) contendo os 21 tratamentos.

Teste sem chance de escolha

Os testes sem chance de escolha foram realizadosem gaiolas de 13 x 15, recobertas com tecido tipo organzapara facilitar a ventilação. Cada tratamento foi testadoseparadamente dos demais. Na base de cada gaiolafoi colocada uma folha, mantida em recipiente contendoágua. Em cada gaiola, foram liberados 20 adultos (10fêmeas e 10 machos) alimentados com solução de mela 10%. Após 48 horas, foi contado, sob microscópioestereoscópico, o número de ovos em cada tratamento(Thomazini et al., 2001). O delineamento experimentalfoi em blocos ao acaso, com 10 repetições (gaiolas)por tratamento, 20 tratamentos e a testemunha.

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Análise estatística

Os dados foram submetidos à análise de variância(ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Scott-Knott (1974) a 5% de probabilidade com o Sistema deAnálises Estatísticas SAEG® 9.0 (2005).

3. RESULTADOS

Efeito do silício na biologia de Tuta Absoluta

Lagartas de Tuta absoluta pertencentes ao grupocontrole (T21) e aos tratamentos em que o silício foiaplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) não apresentaramdiferenças quanto à duração das fases larval (Figura1) e pupal (Figura 2) e sobrevivência de lagartas (Figura3) e pupas (Figura 4). Entretanto, lagartas de T. absolutaobtidas dos tratamentos à base de silício aplicadosvia foliar (T5 ao T16) apresentaram aumento da duraçãoda fase larval (P < 0,01) (Figura 1) e diminuição dasobrevivência de larvas (P<0,01) (Figura 3) e pupas(P<0,01) (Figura 4) quando comparados aos demais

tratamentos. Nos tratamentos em que o Agrosilício®

foi aplicado nas folhas (T5 ao T8) também ocorreuaumento na duração da fase pupal, seguidos pelostratamentos com Sili-K® (T9 ao T12) e ácido silícicoaplicado via foliar (T13 ao T16) quando comparadosaos demais tratamentos (P<0,01) (Figura 2).

O peso de pupas fêmeas (mg) não diferiu do grupocontrole (T21) e dos tratamentos em que o silício foiaplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) (Tabela 2)(Figura 3). Houve diminuição no peso de pupas fêmeasprovenientes dos tratamentos em que o silício foi aplicadonas folhas (T5 ao T16) quando comparados aos demaistratamentos (P<0,01) (Figura 5).

O peso de pupas machos (mg) não diferiu do grupocontrole (T21) e dos tratamentos em que o silício foiaplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) (Figura 5).Houve diminuição nos pesos de pupas machosprovenientes dos tratamentos em que o silício foi aplicadonas folhas (T5 ao T16) quando comparados aos demaistratamentos (P<0,01) (Figura 5).

Figura 1 - Duração da fase larval (dias) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), emfunção dos tratamentos [(Agrosilício® solo (t ha-1 de SiO2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício®

foliar (t ha -1 de SiO2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T112,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo(% de SiO2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferempelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

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Figura 2 - Duração da fase pupal (dias) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), emfunção dos tratamentos [(Agrosilício® solo (t ha-1 de SiO2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício®

foliar (t ha -1 de SiO2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T112,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo(% de SiO2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferempelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

Figura 3 - Sobrevivência da fase larval (%) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae),em função dos tratamentos [(Agrosilício® solo (t ha-1 de SiO2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício®

foliar (t ha -1 de SiO2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T112,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo(% de SiO2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferempelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

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Figura 4 - Sobrevivência da fase pupal (%) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae),em função dos tratamentos [(Agrosilício® solo (t ha-1 de SiO2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício®

foliar (t ha -1 de SiO2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T112,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo(% de SiO2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferempelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

Figura 5 - Peso de pupas fêmea e macho (mg) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae),em função dos tratamentos [(Agrosilício® solo (t ha-1 de SiO2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício®

foliar (t ha-1 de SiO2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T112,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo(% de SiO2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferempelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

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Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)...

Não preferência para oviposição de Tuta Absoluta emplantas de tomateiro tratadas com silício

Com chance de escolha

O número de ovos de T. absoluta obtido em folhasde tomateiro pertencentes ao grupo controle (T21) eaqueles em que o silício foi aplicado no solo (T1 aoT4 e T17 ao T20) foram semelhantes (Figura 6).

Nos tratamentos em que o Agrosilício® foi aplicadonas folhas (T5 ao T8), naqueles que receberam Sili-K® (T9 ao T12) ou ácido silícico nas folhas (T13 aoT16) foram os menos preferidos para oviposição (P<0,01)(Figura 6).

Sem chance de escolha

Nos testes em confinamento, o número de ovosobservados no grupo controle (T21) e nos tratamentosem que o silício foi aplicado no solo (T1 ao T4 e T17ao T20) não diferiram entre si (Figura 7).

Os tratamentos em que o Agrosilício® foi aplicadonas folhas (T5 ao T8) apresentaram maior número deovos em relação àqueles que receberam Sili-K® (T9ao T11) e o ácido silícico nas folhas (T13, T15 e T16).Entretanto, T12 e T14 apresentaram menor númerode ovos em relação aos demais tratamentos (P<0,01)(Figura 7).

4. DISCUSSÃO

No presente estudo observou-se que em plantasde tomate que receberam o silício aplicado no solo(T1 ao T4 e T17 ao T20), bem como na testemunha(T21), não houve alterações nos aspectos biológicos(duração das fases larval e pupal, sobrevivência delarvas e pupas e peso de pupas fêmeas e machos) epreferência de oviposição de T. absoluta. Entretanto,em trabalhos com diversas culturas como batata (Gomeset al., 2009), trigo (Costa et al., 2009), arroz (Santoset al., 2009), sorgo (Costa et al., 2011) e cana-de-açúcar(Korndorfer et al., 2011), em que os silicatos foramaplicados no solo, foram observadas alterações nocomportamento dos respectivos insetos-praga.

As plantas absorvem silício diretamente da soluçãodo solo, de forma rápida ou lenta, na forma de ácidomonossilícico (Korndörfer, 2006), sendo transportadoaté as raízes via fluxo de massa (Postek, 1981; Dayanadamet al., 1983), translocado pelo xilema e depositado na

parede celular na forma de sílica amorfa ou opala biogênica(Balastra et al., 1989). O transporte do ácido monossilícicono interior da planta acontece no mesmo sentido dofluxo de água (transpiração) (Korndörfer, 2006), assimos maiores depósitos de silício ocorrem com maiorfrequencia nas regiões onde a água é perdida em grandequantidade, ou seja, na epiderme foliar (Dayanadamet al., 1983). Uma vez depositado, o silício torna-seimóvel e não mais se redistribui na planta (Korndörfer,2006).

O efeito da proteção mecânica do silício nas plantascontra os insetos é atribuído ao seu depósito na formade sílica amorfa na parte externa da parede celular (Costa& Moraes, 2006; Dalastra et al., 2011). O silício atuacomo agente indutor de resistência contra insetos-praga (Gomes et al., 2008; Costa et al., 2009; Massey& Hartley, 2009; Moraes et al., 2009; Reynolds et al.,2009; Pereira et al., 2010; Dalastra et al., 2011) e a silificaçãoda epiderme pode impedir a penetração e a mastigaçãopelos insetos devido ao endurecimento da parede dascélulas vegetais (Ghanmi et al., 2004; Currie & Perry,2007; Gomes et al., 2008). Porém, a capacidade de absorçãoe acumulação de silício é variável entre as espécies.O tomateiro é uma planta não acumuladora de silício(Ma et al., 2001), pois absorve pouco silício pelas raízes(Lana et al., 2003; Ma & Yamaji, 2006) e o aumentodo nível deste elemento em folhas de tomate não éproporcional à sua disponibilidade no substrato (Pereiraet al., 2003). Myake & Takahashi (1983) observaramque o modo de translocação do silício foi diferenteentre espécies. Em tomateiro o silício foi retido nasraízes e não se translocou facilmente para a parte aérea,sendo a concentração nessa parte da planta de 0,5a 2,4 g kg-1 de Si, enquanto nas raízes foi de 16,7 a28,6 g kg-1. Ainda, plantas de arroz possuem mecanismosespecíficos de absorção de silício, em que proteínasde membranas são produzidas por expressão de geneespecífico (Ma & Takahashi, 2002), que facilitam aabsorção e o transporte deste elemento através doxilema desta gramínea. Possivelmente, após absorvidovia fluxo de massa, o silício fique retido no apoplastodas raízes do tomateiro, não sendo transportado peloxilema até as partes aéreas da planta. Provavelmente,em função de o tomateiro ser uma planta não acumuladorade silício, não houve alteração na biologia e oviposiçãode T. absoluta nestes tratamentos.

Nos tratamentos em que o silício foi aplicado nasfolhas do tomateiro (T5 ao T16), houve aumento do

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Figura 6 - Número de ovos (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) em testes comchance de escolha para oviposição, em função dos tratamentos [(Agrosilício® solo (t ha -1 de SiO2) - T1 0,45;T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício® foliar (t ha -1 de SiO2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K®

(l ha-1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO2) - T13 0,5; T141,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle(T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

Figura 7 - Número de ovos (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) em testes semchance de escolha para oviposição, em função dos tratamentos [(Agrosilício® solo (t ha -1 de SiO2) - T1 0,45;T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício® foliar (t ha -1 de SiO2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K®

(l ha-1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO2) - T13 0,5; T141,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle(T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

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período larval e pupal, diminuição da sobrevivênciade lagartas e pupas, diminuição do peso de pupas fêmease machos e menor preferência de oviposição de T.absoluta. Tais alterações podem ter ocorrido em razãodo acúmulo e polimerização dos compostos silicatadosna parede celular, aumentando a rigidez dos tecidosfoliares e dificultando a alimentação (Goussain et al.,2002) e/ou indução de liberação de moléculas de defesa(Goussain et al., 2005; Gomes et al., 2009; Kvedaraset al., 2009; Moraes et al., 2009). Diversos trabalhos,nos quais o silício foi aplicado diretamente nas folhasdas plantas, demonstraram diminuição na incidênciade insetos devido às alterações na sua biologia (Camargoet al., 2008; Almeida et al., 2009; Kvedaras et al., 2009;Dalastra et al., 2011; Freitas et al., 2012) e preferênciade oviposição (Camargo et al., 2008; Ferreira et al.,2011; Freitas et al., 2012), corroborando os resultadosdeste estudo.

A eficiência de produtos contendo silício aplicadovia foliar no controle de T. absoluta, provavelmente,ocorre devido aos seus efeitos antialimentares paraa fase larval dessa praga, agindo como ativador deresistência das plantas de tomate (Rodrigues et al.,2004; Côté-Beaulieu et al., 2009). Ainda, característicasfísicas, morfológicas e químicas das plantas tratadascom silício podem alterar o comportamento dos insetose interferir na sua biologia, levando a uma reduçãono fitness e oferencendo proteção para as plantas(Goussain et al., 2005).

O Agrosilício® (insolúvel em água) e o ácido silícico,aplicados via foliar, formam uma camada de sílica sobrea epiderme das folhas (Fernandes et al., 2009), o quepode ter dificultado a penetração das lagartas nas folhase, consequentemente, a sua alimentação, afetandodiretamente nos aspectos biológicos (aumento doperíodo larval e pupal, diminuição da sobrevivênciade larvas e pupas e diminuição do peso de pupas machose fêmeas) e menor preferência de oviposição de T.absoluta.

Soluções são facilmente absorvidas pela cutículadas folhas, que apresenta microcanais e rupturas,inclusive a camada subestomática, altamente permeávelà difusão de cátions e ânions, que permitem a passagemdessas soluções (Faquin, 2005). Possivelmente, o Sili-K® aplicado em solução na superfície foliar atravessaa cutícula e ocupa os espaços intercelulares e a superfícieexterna do plasmalema, ocupando inicialmente oapoplasto e, posteriormente, os simplastos foliares,

para então acumular-se na forma de sílica amorfa nasparedes celulares pelo processo de transpiração. OSili-K® (silício líquido solúvel) forma esta camada desílica evidenciada pela polimerização do produto comcompostos da cutícula (Fernandes et al., 2009).

5. CONCLUSÕES

Doses menores de produtos contendo silício sãoeficazes no controle de T. absoluta.

6. AGRADECIMENTOS

À Universidade de Brasília (UnB), Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior(CAPES), Universidade Federal de Viçosa (UFV),Laboratório de Controle Biológico (UFV), ProfessorDr. Marcelo Coutinho Picanço (UFV), Laboratório deEntomologia Agrícola (UFV), Professor Dr. TuneoSedyama (UFV), Embrapa Hortaliças e EmpresasUnaprosil e Agronelli Insumos Agrícolas.

7. LITERATURA CITADA

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Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais

DISPERSÃO DA ARGILA PROVOCADA PELA FERTIRRIGAÇÃO COM ÁGUASRESIDUÁRIAS DE CRIATÓRIOS DE ANIMAIS1

Bruno Grossi Costa Homem2, Onofre Barroca de Almeida Neto3, Alberto Magno Ferreira Santiago4,Gustavo Henrique de Souza5

RESUMO – Objetivou-se com o experimento avaliar a ocorrência de dispersão de argila em solo predominantena região de Rio Pomba, pela aplicação indiscriminada das águas residuárias de criatórios de bovinos, suínose coelhos. As amostras de solo foram coletadas no horizonte B de um Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA).O trabalho consistiu na realização de dois experimentos, o primeiro com a incubação do solo em vasos, por20 dias, com doses de 72 mm das águas residuárias, no segundo foi realizada a aplicação das mesmas águasresiduárias no LVA acondicionado em permeâmetros de coluna vertical e carga constante. Neste caso, as águasresiduárias foram aplicadas até que a condutividade elétrica (CE) no efluente das colunas se aproximou daCE do afluente. Todos os tratamentos foram conduzidos com três repetições, dispostos em delineamento inteiramentecasualizado. No primeiro experimento, os valores de Argila Dispersa em Água (ADA) não diferiram estatisticamenteentre si, encontrando-se valores variando de 37 a 40%. Resultado semelhante foi encontrado no segundo experimento,em que os valores de ADA com a aplicação das diferentes águas residuárias, não diferiram estatisticamenteentre si, porém com valores menores, em torno de 29 a 32%. O índice de dispersão e floculação entre aságuas residuárias foi semelhante, contudo ocorrendo diferença entre os experimentos, sendo 61% e 39% parao primeiro experimento e 48% e 52% para o segundo experimento. Essas águas não apresentaram nenhumarestrição quanto ao seu uso na irrigação, contudo quando se pratica sucessivas irrigações ao longo do tempo,sem acompanhamento agronômico especializado, podem propiciar o acúmulo de compostos dispersantes nasolução do solo, afetando sua estrutura.

Palavras-chave: Dejetos de animais, efluentes, estrutura do solo, física do solo.

DISPERSION OF CLAY CAUSED BY FERTIRRIGATION WITH ANIMALWASTEWATER

ABSTRACT – The objective of the experiment was to evaluate the dispersion of clay in soil prevalent in thearea of Rio Pomba/MG, by indiscriminate application of wastewater of breeding of cattle, pigs and rabbits.Soil samples were collected in the B horizon of an Oxisol. The work consisted of two experiments, one withsoil incubation in pots for 20 days at doses of 72 mm of wastewater, and the second was realized by theapplication of the same wastewater in the soil placed in a permeameter of vertical column with constantload. In this case, the wastewater was applied until the electrical conductivity (EC) in the effluent of the columnsapproached the EC of the effluent. All treatments were conducted with three repetitions in a completely randomizeddesign. In the first experiment the values of water dispersible clay (WDC)did not differ significantly, rangingfrom 37 to 40%. In the second experiment the values of WDC did not differ statistically, and were smaller,

1 Parte do Trabalho de Iniciação Científica do primeiro autor, financiado pelo CNPq.2 Estudante de Zootecnia, IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected] Professor Doutor do Departamento de Agricultura e Ambiente do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected] Professor Mestre do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected] Professor Doutor do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected]

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HOMEM, B.G.C. et al.

around 29-32%. The index of dispersion and flocculation of the wastewater was similar, differences occurringbetween the experiments, 61% and 39% for the first experiment and 48%and 52% for the second experiment.However, these waters do not present any restriction on its use in irrigation, but when practicing successiveirrigations over time without specialized monitoring agronomic, can promote the accumulation of dispersantcompounds in soil solution, affecting its structure.

Key Words: : Animal wastes, effluents, soil physics, soil structure.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, as águas residuárias passarama receber bastante atenção por parte dos governose da comunidade científica, devido às possibilidadesde seu aproveitamento em áreas agrícolas, minimizando-se, com isso, a poluição de corpos hídricos. O interessedecorre do alto custo dos fertilizantes químicos, quelimita seu uso pelos agricultores familiares, e a pressãosocial por uma agricultura sustentável, na qual areciclagem de nutrientes dentro da propriedade contribuanão somente para a redução dos custos, mas tambémpara a redução da poluição ambiental (Gomes Filhoet al., 2001).

A criação de animais em regime extensivo permiteque seus dejetos sejam distribuídos de forma dispersano solo, não causando maiores problemas de poluição.Contudo, quando os animais são criados intensivamente(confinados), mesmo durante curto período de tempo,os dejetos são produzidos de forma concentrada,necessitando de tratamento e disposição final adequada,para que a contaminação e a poluição sejam minimizadas(Moraes, 2000).

Quando as águas residuárias de criatórios de animaissão, no entanto, aplicadas de forma indiscriminadana agricultura, sem critérios agronômicos para definiçãodas doses de aplicação, as principais alterações previstassão salinização do solo, risco de contaminação de águassuperficiais e subterrâneas e possíveis alterações nadinâmica da água no meio. Essa tendência de dispersãodos agregados do solo, provocando a suadesestruturação, é um fenômeno que pode ocorrernaturalmente ou por ação antrópica (Almeida Neto etal., 2007).

Segundo Freire (2001), a prática da irrigação podealterar as relações entre os diversos cátions presentesno solo. Para Veloso (1991), a alta concentração deNa+ no solo e o tipo de água de irrigação podem trazereventuais deteriorações da estrutura do solo, afetando

o sistema de poros e contribuindo para alterações nainfiltração e condutividade hidráulica.

Dentre os fatores diretamente associados àdispersão da argila do solo estão a Relação de Adsorçãode Sódio (RAS) e a Condutividade Elétrica (CE) daágua de irrigação. Para Sposito & Mattigod (1977),a RAS é a primeira característica a ser consideradapara se avaliar o possível risco de sodicidade do solo,proporcionada pela água de irrigação. A RAS da águaé uma indicadora dos possíveis problemas de infiltraçãoque um solo poderá apresentar como resultado do excessode sódio em relação ao cálcio e o magnésio.

Por conseguinte, a quantificação da RAS é de extremaimportância para a avaliação da maioria das águasutilizadas na agricultura irrigada (Ayers & Westcot,1991). Já a CE é a medida da capacidade de transportarcorrente elétrica que uma solução aquosa apresenta.Esta capacidade depende da presença de íons, de suaconcentração total, da mobilidade e da temperatura(Greenberg et al., 1992). A água contendo poucos íons,ou seja, com baixa CE, pode agravar o problema deinfiltração, pela expansão e dispersão dos mineraise da matéria orgânica do solo e, ainda, pela capacidadede dissolver e remover o Ca2+ (Maia et al., 1998).

Devido a esses aspectos, é de extrema importânciaa caracterização das águas residuárias, tanto para severificar sua composição química quanto para que sepossa definir que quantidade aplicar sem acarretar nenhumproblema ao sistema solo-planta. As doses de aplicaçãode águas residuárias na agricultura devem ser definidasquando se toma o elemento químico contido em maiorconcentração relativa, o que define a doseagronomicamente recomendável (Matos, 2008).

Diante do exposto, objetivou-se avaliar o riscode dispersão de argila de amostras de um LatossoloVermelho-Amarelo, em decorrência da aplicação de altasdoses de águas residuárias provenientes de criatóriosde bovinos, suínos e coelhos.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

As amostras do solo foram coletadas no horizonteB de um Latossolo Vemelho-Amarelo, do municípiode Rio Pomba, MG, em área do Instituto Federal Sudeste- MG, Campus Rio Pomba. Estas amostras foram secasao ar, destorroadas e passadas em peneira de 2 mmde malha para caracterização física (Tabela 1) e químicado solo (Tabela 2).

As análises físicas compreenderam a determinaçãode textura (Ruiz, 2005), massa específica de partículasdo solo (Embrapa, 1997) e Argila Dispersa em Água(Donagemma, 2003). As análises químicas compreenderama determinação de pH em água, cátions trocáveis (Ca2+,Mg2+, K+ e Na+), acidez trocável (Al3+), acidez total (H+ Al), teor de matéria orgânica e fósforo disponívele remanescente. O cálcio trocável e parte do não trocávelforam obtidos com a utilização dos extratores Mehlich1 e HCl 1 molL-1, a quente. As determinações dos teoresde potássio e sódio foram feitas por fotometria de chama(Matos, 1995), as de cálcio e magnésio por titulação(Macêdo, 2003) e as de acidez trocável e potencial portitulometria (Matos, 1995). Os valores de Soma de Bases(SB), Capacidade de Troca Catiônica (T), Saturaçãopor Bases (V) e Saturação por Alumínio (m) foram obtidospor meio de cálculos que envolveram os cátions trocáveis

Solo Fração ADA Densidade de Densidade UmidadePartículas do solo residual

Areia Grossa Areia Fina Silte Argila

LVA dag kg-1 % gcm-3 gcm-3 g1 4 1 2 1 0 6 4 0 0,7407 1,0 0,0272

Tabela 1 - Caracterização física da amostra de Latossolo Vermelho-Amarelo

Sendo: ADA: argila dispersa em água.

pHH2O P K+ Na+ Ca2+ Mg2+ Al3+ H+Al

mg dm-3 cmolc dm-3

5,5 1,1 1 0 0,0 1,50 0,50 0,3 6,3SB (t ) (T) V m ISNa MO P-rem

cmolc dm-3 % dag kg-1 mg L-1

2,03 2,33 8,33 24,4 12,9 0,00 1,21 5,4

Tabela 2 - Caracterização química da amostra de Latossolo Vermelho-Amarelo

Sendo: pH em água, P: Na: K: Extrator Mehlich 1; Ca2+, Mg2+, Al3+: Extrator KCl 1 molL -1; H+Al: extrator acetato de cálcio 0,5 molL -

1 pH 7,0; SB: soma de bases trocáveis; CTC (t): capacidade de troca catiônica efetiva; CTC (T): capacidade de troca catiônica; V: índicede saturação por bases; m: índice de saturação por alumínio; ISNa: índice de saturação por sódio; matéria orgânica (MO): pH 7,0, C. Org.x 1,724: Walkley-Black; P-rem: fósforo remanescente.

determinados.

As águas residuárias utilizadas no experimentoforam provenientes dos setores da Bovinocultura(instalação de alimentação do rebanho), Suinocultura(instalação de terminação dos animais) e Cunicultura(instalação das matrizes). O aspecto que se diferenciouna coleta foi que a água residuária da cunicultura precisoude uma lona em formato de funil, para que seus dejetosdesembocassem em um tambor, pelo fato desses animaisserem criados em gaiolas. Essa lona ficou fixada nasgaiolas por uma semana, sendo lavada duas vezes aodia com água destilada, utilizando-se 5 litros de águapor lavagem, até completar o volume desejado de águaresiduária para o experimento. Após a coleta, essaságuas residuárias foram passadas em peneiras de malhade 2 mm, simulando-se um pré-tratamento para retiradade sólidos grosseiros e foram armazenadas em tamboresde 80 litros, por 60 dias.

Depois de coletadas, foram retiradas amostras destaságuas residuárias para se proceder às seguintes análises:pH, nitrogênio total, dureza, Demanda Química deOxigênio, concentração de cálcio, magnésio, potássioe sólidos (totais, sedimentáveis, fixos, voláteis, emsuspensão e dissolvidos) nas águas, de acordo comMacêdo (2003). A condutividade elétrica na água foi

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determinada usando-se condutivímetro. Já a RAS foideterminada com base em cálculos dosando-se o cálcioe o magnésio por titulação (Macêdo, 2003) e o sódiopor fotometria de chama (APHA, 1995). Na Tabela 3está apresentada a caracterização física e química daságuas residuárias.

Para avaliação de possíveis alterações físicas nosmateriais de solo, consequentes às aplicações das águasresiduárias, foram realizados dois experimentos. Noprimeiro, foi efetuada a incubação, durante 20 dias,dos materiais de solo em vasos com capacidade deseis litros, utilizando-se quatro quilos de solo em cadavaso.

O solo foi acondicionado cuidadosamente,homogeneizando-se sua distribuição para evitar aformação de camadas de compactação diferenciada,tentando-se restabelecer a densidade do solo semelhanteà medida em amostras indeformadas. Esse experimentofoi montado em delineamento inteiramente casualizado,utilizando-se as diferentes águas residuárias, com trêsrepetições para cada, e água destilada como testemunha,sendo que a lâmina de aplicação foi idêntica para todasas águas e igual a 72 mm. Esta lâmina foi estabelecidalevando-se em consideração a área do vaso de 39.000mm2 (o vaso tem a forma de tronco de uma pirâmide),e de forma que o volume de efluente colocado promovessea saturação do solo e permanecesse 10 mm acima dasuperfície do mesmo durante os dias de incubação,para a avaliação posterior do grau de dispersão queas águas residuárias provocariam. Calculou-se aquantidade de nutrientes por hectare fornecido ao solo,

ÁguaResiduária p H N-Total Dureza Total Ca2+ Mg2+ DQO CE RASmgL-1 mgL-1 de CaCO3 mg L-1 dSm-1 (mmolcL-1)1/2

ARS 7,86 652 548 187 19,6 6.000 5,89 2,60ARB 8,49 421 477 105,5 61,4 13.000 2,52 0,95ARC 8,21 1.092 396 93,4 39,3 31.000 4,72 3,82

ÁguaResiduária Na+ K+ SS ST SF SV SST SDTmg L-1 mL L-1 mg L-1

ARS 140 419,5 1,2 3.430 1.350 2.080 266 3.164ARB 5 0 404,5 4 5 4.975 352 4.623 1 2 4.963ARC 175 524 2 5 8.910 3.070 5.840 3.022 5.888

Tabela 3 - Características das águas residuárias da bovinocultura (ARB), suinocultura (ARS) e cunicultura (ARC)

Sendo: N-Total: nitrogênio total; Ca2+: cálcio; Mg2+: magnésio; DQO: demanda química de oxigênio; CE: condutividade elétrica; RAS:relação de adsorção de sódio; Na+: sódio; K+: potássio; SS: sólidos sedimentáveis; ST: sólidos totais; SF: sólidos fixos; SV: sólidosvoláteis; SST: sólidos suspensos totais; SDT: sólidos dissolvidos totais.

tendo-se como base a caracterização das diferenteságuas residuárias e a lâmina de aplicação de 72 mmque corresponde a 72 litros por cada metro quadrado,o que proporcionou a aplicação de 469 kg ha-1 de Ntotal,135 kg ha-1 de Ca; 14 kg ha -1 de Mg, 101 kg ha -1 deNa e 302 kg ha-1 de K de água residuária de suinocultura;303 kg ha-1 de Ntotal, 76 kg ha-1 de Ca, 44 kg ha-1 deMg, 36 kg h-1 de Na e 291 kg ha-1 de K de água residuáriade bovinocultura e 786 kg ha-1 de Ntotal, 67 kg ha-1

de Ca, 28 kg ha-1 de Mg, 126 kg ha-1 de Na e 377 kgha-1 de K de água residuária da cunicultura. Duranteo período de incubação, os vasos foram cobertos comsacos plásticos, para evitar perdas de água porevaporação, assim o solo se manteve úmido. Depoisde decorrido o tempo de incubação, foram coletadasde cada recipiente amostras de solo na camada de 0- 10 cm, colocadas para secar ao ar, destorroadas epassadas em peneira de 2 mm, analisando-se o teorde argila dispersa em água (ADA), conforme Donagemma(2003), o índice de dispersão (ID) e o índice de floculação(IF) conforme Ruiz (2004). As médias obtidas da ADAforam submetidas ao teste Tukey em nível de 1% deprobabilidade, por intermédio do programa SISVAR.

No segundo experimento, as águas residuáriasforam aplicadas em colunas de solo de 15 cm decomprimento, condicionados em segmentos de tubode PVC de 5 cm de diâmetro (diâmetro interno do tuboigual a 4,8 cm) e 20 cm de comprimento, fechados naparte inferior com tela plástica de alta permeabilidade(sombrite), forrada com pedaços de algodão. As colunasde PVC tiveram, previamente, sua superfície interna

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Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais

carregada com aplicação de cola de PVC que foiimpregnada com areia lavada.

O solo foi acondicionado cuidadosamente,homogeneizando-se sua distribuição para se evitar aformação de camadas de compactação diferenciada,tentando-se restabelecer semelhante densidade do solomedida em amostras indeformadas. Na parte superiorda coluna, foi colocado outro pedaço de algodão, paraevitar a ocorrência de distúrbios na superfície do soloquando da aplicação das diferentes águas residuárias(Tabela 4).

Esse experimento foi montado em delineamentointeiramente casualizado, utilizando-se as diferenteságuas residuárias de criatórios de animais, com trêsrepetições para cada e utilizando-se água destiladacomo testemunha. Triplicatas das colunas de solo foramcolocadas para saturar dentro de bandejas plásticas,contendo a solução saturante, conforme o tratamento(águas residuárias e água destilada) até uma alturacorrespondente a dois terços da altura da amostra desolo (10 cm) e, assim, permaneceram por 72 horas (Ferreira,1999), de forma a possibilitar o enchimento dos porosdo solo por capilaridade. Posteriormente, foram montadosos permeâmetros de coluna vertical e carga constante(Ferreira, 1999).

As águas residuárias foram aplicadas nas colunasutilizando-se o sistema “frasco de Mariotte” paramanutenção de carga hidráulica constante (Ferreira, 1999)e manutenção do escoamento sob condições de saturação.A carga hidrostática foi constituída por uma lâmina de1 cm sobre a superfície do solo. A aplicação do afluentefoi mantida até o momento em que a CE da suspensãoefluente (percolado) tornou-se próxima à da suspensãoafluente (aplicada). Posteriormente, as colunas foramsaturadas novamente com as águas residuárias respectivasa cada tratamento por, no mínimo, mais 24 horas, paragarantir o equilíbrio entre a solução da coluna de soloe a de saturação (adaptado de Freire et al., 2003). Nosensaios realizados em permeâmetros, dados de volumede percolado e tempo foram coletados para quantificara condutividade hidráulica em solo saturado.

Solo Densidade Volume Massado solo da coluna de sologcm-3 cm3 g

LVA 1,0 271,43 271,43

Tabela 4 - Características gerais da coluna de solo

Por fim, as amostras foram retiradas das colunasdos permeâmetros, colocadas para secar ao ar,destorroadas e passadas em peneira de 2 mm, analisando-se a ADA (XADA) em kg kg-1, conforme Donagemma (2003).O índice de dispersão (ID) e o índice de floculação(IF) foram obtidos conforme Ruiz, (2004). As médiasobtidas da ADA foram submetidas ao teste Tukey emnível de 1% de probabilidade, por intermédio do programaSISVAR.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos noprimeiro experimento. Os valores de ADA no LVA nãovariaram com o tipo de água residuária aplicada, masdiferiram do que foi obtido no solo testemunha. Osvalores de RAS e da CE das águas residuárias diferiramestatisticamente entre si, demonstrando que as águasde criatórios de animais apresentam diferentesconcentrações dos cátions referentes ao cálculo daRAS (Ca2+, Mg2+ e Na+) e diferentes teores de salinidade.

É oportuno o controle criterioso da água utilizada,principalmente quando apresenta baixa (CE) e elevada(RAS), o que favorece a dispersão dos coloides. Aágua com salinidade inferior a 0,5 dS m-1 e, particularmenteabaixo de 0,2 dS m-1, tende a lixiviar os sais e mineraissolúveis, incluindo os de cálcio, reduzindo sua influênciapositiva sobre a estabilidade dos agregados e a estruturado solo. As partículas finas de um solo assim dispersadoobstruem o seu espaço poroso, reduzindoacentuadamente a infiltração da água nesse meio e,com isso, a quantidade de água disponível para asculturas, além de poder formar crostas superficiais,proporcionando problemas na germinação de sementese emergência de plântulas (Almeida Neto et al., 2010).

Um incremento nos valores da RAS e da CE, nesseexperimento, não alterou significativamente os valores

Tratamentos ADA RAS CE

TEST. 0 b 0,00 d 0,32 dARS 40 a 2,60 b 5,69 aARB 37 a 0,96 c 2,30 cARC 39 a 3,82 a 3,65 b

CV (%) 8,24 1,95 7,58

Tabela 5 - Médias dos valores de ADA, RAS e CE, das diferenteságuas residuárias

Médias seguidas de mesma letra não diferem (P>0,01) pelo testeTukey.CV = coeficiente de variação.

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da ADA. Ayers & Westcot (1991) afirmaram que tantoa RAS quanto a CE da água aplicada têm forte influênciana dispersão de argila do solo e, por isso, devem seranalisadas conjuntamente para que se possam tirarconclusões sobre o risco de diminuição da permeabilidadedo solo. Freire (2001), trabalhando com nove solosdo estado de Pernambuco, verificou que, de forma geral,a ADA aumentou com o incremento da RAS da soluçãode trabalho, sem apresentar diferenças marcantes comrelação à CE.

Como a RAS das águas residuárias utilizadas ébaixa e a condutividade elétrica é alta, o risco de essaságuas residuárias provocarem dispersão de argila, porrazões físico-químicas, pode ser considerado baixo(Ayers & Westcot, 1991). O aumento da ADA podeter sido, então, ocasionado pelo longo tempo (20 dias)em que o material de solo ficou submetido a condiçõesde saturação com as águas residuárias. Sabe-se que,em ambiente redutor, um importante agente de cimentaçãodas partículas, que são os oxihidróxidos de ferro, deixade existir, aumentando a dispersão do material do soloe, consequentemente, a ADA. Dessa forma, os resultadosforam influenciados pela forma como foi conduzidoo experimento.

As águas residuárias de criatórios de animaisapresentam concentrações elevadas de sódio. Coma saturação do solo neste experimento com as respectivaságuas residuárias, uma das hipóteses é que tenha ocorridoo acúmulo de sódio na solução do solo. Dessa forma,a solução do solo quando excessivamente sódicapromove a desagregação e dispersão dos minerais deargila em partículas muito pequenas, que obstruemos poros do solo (Matos, 2001).

Assim, Mancino & Pepper (1992) e Speir et al.(1999) afirmam que a magnitude dos impactos,principalmente do sódio sobre as propriedades do solo,é dependente das quantidades e frequências dasprecipitações ou aplicações, de forma a promover alixiviação deste cátion, para que não se acumule nasolução do solo e posteriormente possa causar ofenômeno de dispersão de argila.

Os índices de dispersão do LVA com aplicaçãodas águas residuárias foram semelhantes, estando porvolta de 61%, mostrando-se um valor bem elevado,ou seja, mais da metade da argila do solo foi dispersa.Os índices de floculação do solo, com a aplicação daságuas residuárias, também foram semelhantes, obtendo-

se um valor médio de 39%. Dessa forma, verificamosque a aplicação excessiva destes efluentes ao solopoderá promover o fenômeno de dispersão de argila.Caso estivesse plantada alguma cultura neste solo,seu desenvolvimento provavelmente seria comprometido,pelo fato de que a dispersão dos minerais de argilaem partículas muito pequenas obstrui os poros do solo(Ayers & Westcot, 1991; Lal & Stewart, 1994). Aconsequência direta é a redução da infiltração, comisso a água de irrigação não consegue atravessar asuperfície do solo em taxa suficiente para permitir arenovação da água consumida pelas culturas, originandoum déficit hídrico que resultará em perda de produtividadeda cultura.

No segundo experimento, utilizando-se as colunasde solo, observou-se que os valores de ADA, entreas diferentes águas residuárias, não diferiramestatisticamente entre si, e sim com a testemunha (Tabela6), confirmando a mesma afirmação levantada no primeiroexperimento, de que as águas residuárias de criatóriosde animais se assemelham nesse distúrbio causadoao solo. Nota-se que os valores de ADA foram um poucomenores do que os encontrados no primeiro experimento,devido ao fato de que no primeiro experimento o soloficou por muito mais tempo em contato com as águasresiduárias, por ter sido incubado por vinte dias. Contudo,Almeida Neto et al. (2009), estudando a ADA em funçãoda aplicação de soluções de percolação, com seis valoresde CE e cinco valores de RAS, não verificaram nenhumadispersividade de um LVA, relatando que isto podeestar relacionado ao tipo de cátion presente em grandeconcentração no complexo de troca deste solo.

Apesar de os resultados destes dois experimentosapresentarem ADA por volta de 30 à 40%, de acordocom as diretrizes referentes aos problemas de infiltraçãoque resultam diretamente de mudanças desfavoráveis

Tratamentos ADA RAS CE

TEST 0,0 b 0,00 d 0,32 dARS 32 a 2,60 b 5,69 aARB 31 a 0,96 c 2,30 cARC 29 a 3,82 a 3,65 b

CV (%) 11,76 1,95 7,58

Tabela 6 - Médias dos valores de ADA, RAS e CE, das diferenteságuas residuárias

Médias seguidas de mesma letra não diferem (P>0,01) pelo testeTukey.CV = coeficiente de variação.

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Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais

nas características químicas do solo, provocadas pelaqualidade da água das irrigações, incluindo tanto asalinidade como sua proporção relativa de sódio,propostas por Ayers & Westcot (1991), os efluentesde criatórios de animais utilizados neste experimentonão apresentam nenhum grau de restrição quanto aoseu uso na irrigação. De acordo com esses mesmosautores, demonstrando em um diagrama os riscos deredução na infiltração da água no solo por efeito dasalinidade (CEa), como da relação de adsorção de sódio(RAS) da água, esses efluentes não apresentaramnenhum grau de redução da infiltração da água no solo;esses dois resultados foram obtidos pelo fato destesefluentes de criatórios de animais apresentarem CEalta e RAS baixa, mostrando que a dispersão de argilacausado a este Latossolo Vermelho-Amarelo foiprovocada pelo tratamento que foi imposto ao solo,coisa que seria pouco provável no campo, como asaturação de um solo pela aplicação de um efluente.Entretanto Erthal et al. (2010), avaliando alteraçõesquímicas e físicas de um Argissolo em duas camadas(0 - 10 cm e 10 - 25 cm), através da aplicação de águaresiduária de bovinos, sendo que esse efluenteapresentava-se com CE alta e RAS baixa, semelhantesàs encontradas neste experimento, verificaram aocorrência de dispersão de argila do solo, por voltade 40%, sendo os valores de ADA na camada superficial(0 - 10 cm) maiores e com tendência de aumento como tempo; este fato pode ser devido sobretudo ao efeitoacumulativo de sódio e potássio nesta camada, poisesses elementos são considerados dispersantes e sãoencontrados em concentrações maiores do que oselementos floculantes, favorecendo assim a dispersão,e também a impacto das gotas de água sobre a superfície,causando desagregação das partículas do solo. Deacordo com Cromer et al. (1984), em geral, asconcentrações de sódio e o índice de saturação porsódio (ISNa) são elevadas após a aplicação de águasresiduárias, principalmente nas camadas superficiais,proporcionando assim um forte risco de ocorrer dispersãode argila no solo.

As doses aplicadas de águas residuárias nesteexperimento estariam coerentes com o que se recomendapara culturas perenes, porém estariam muito elevadaspara culturas anuais e estariam inadequadas se aplicadasem doses únicas, tendo em vista as perdas de nutrientesque iriam proporcionar. No caso da aplicação de águasresiduárias, doses únicas poderiam trazer problemas

de selamento superficial, causado pelo entupimentode macroporos superficiais do solo, além de problemasde salinização, ainda que temporária, se o índicepluviométrico for alto na região, e contaminação deáguas subterrâneas.

Cardoso et al. (1992), avaliando o uso intensivode um Latossolo com lavouras anuais, verificaram reduçãona espessura do horizonte superficial e nos teores dematéria orgânica e, por conseguinte, aumento no graude dispersão de argila. Já Machado et al. (2008) afirmamque a redução dos teores de argila da camada aráveldo solo com as sucessivas lavouras anuais estárelacionada à dispersão das partículas de argila e àremoção pela erosão, com permanência seletiva daspartículas de areia. Já Montes et al. (2004), trabalhandocom a aplicação de água residuária de origem domésticaem um argissolo, verificaram que a dispersão das argilasaumentou com o tempo até 80 cm de profundidade eque este aumento foi mais pronunciado na camada de0 a 10 cm.

A condutividade hidráulica do solo no segundoexperimento, para todas as águas residuárias aplicadas,começou tendo uma pequena elevação, mas, com opassar do tempo da aplicação, a condutividade hidráulicacomeçou a diminuir (Figura 1), diferentemente da

Figura 1 - Valores da condutividade hidráulica do solo em (mL/min), no decorrer das aplicações. Sendo: ARS: águaresiduária da suinocultura; ARB: água residuária dabovinocultura; ARC: água residuária da cunicultura.

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testemunha que teve uma pequena diminuição no início,mas manteve-se constante no decorrer da aplicação.Dentro do observado, nota-se que uma das hipótesesda ocorrência da diminuição da condutividade hidráulicado solo seja a dispersão de argila do solo, pelo fatode que as partículas de um solo assim disperso podemobstruir os espaços porosos, reduzindo acentuadamentea condutividade hidráulica do meio.

De acordo com Erthal et al. (2010), altas concentraçõesde Na+ na solução do solo em comparação com o Ca2+

e o Mg2+ podem causar deterioração da estrutura dosolo, pela dispersão dos coloides e subsequentesentupimentos dos macroporos, causando decréscimona permeabilidade à água e aos gases. Nesse contexto,os acréscimos na concentração de Na+ e ISNa têm sidoapontados como causa, Bond (1998) ou Balks et al.(1998), de alterações na condutividade hidráulica dosolo, dependendo da concentração total de sais na solução.Fato também relatado por Gonçalves et al., (2005),descrevendo que o maior efeito do efluente naspropriedades físicas e hidráulicas do solo está relacionadocom suas salinidade e sodicidade e pode causar adiminuição da infiltração de água no solo, onde a expansãoe a dispersão das argilas mudam a geometria do poroe, portanto, afetam a condutividade hidráulica.

Os índices de dispersão para o LVA com aplicaçãodas águas residuárias neste segundo experimento tambémse assemelharam, mas estando um pouco abaixo doencontrado no primeiro experimento, por volta de 48%.Os índices de floculação do solo com a aplicação daságuas residuárias também foram semelhantes, obtendo-se um valor médio de 52%. Nesse sentido, Fassbender(1984) relatou que a floculação depende do complexode troca, das características da dupla camada difusae dos cátions adsorvidos. Assim, de acordo com essemesmo autor, além da interferência da valência doscátions na floculação do coloide do solo, a dupla camadadifusa tem grande influência sobre os fenômenos defloculação e dispersão.

Um fato que deve ser destacado é que pouco sesabe da utilização da água residuária da cuniculturana agricultura, fato comprovado pela escassez de trabalhosa respeito desta área, diferentemente do que se vê comáguas residuárias de suínos, bovinos e cama de frangos,que já possuem muitos trabalhos publicados. Neste trabalhopodemos verificar que esse efluente de criatório animalpode ser uma excelente alternativa para a fertilizaçãode lavouras, pelo alto teor de nutrientes encontrados

em suas análises, principalmente o nitrogênio. Mas deve-se levar em conta que, como possui altos teores denitrogênio e matéria orgânica, também possui um poderpoluente muito grande. Se disposto em ribeirões semse proceder a algum tratamento, esse efluente pode estarcontaminando as águas, ocorrendo até um consumoexcessivo de oxigênio para a degradação de sua matériaorgânica. O ponto de destaque é que, de acordo comAyers & Westcot (1991), esse efluente não possui nenhumarestrição quanto ao seu uso na irrigação, entretantoverificou-se que através de sucessivas irrigações e semum acompanhamento agronômico poderá causar ao soloo fenômeno de dispersão de argila, o que foi verificadoneste experimento, mostrando ser semelhante com osoutros efluentes de criatórios de animais estudadosneste trabalho.

4. CONCLUSÕES

O LVA apresentou características dispersantesrelacionadas com todos os tipos de tratamentos impostos,podendo-se afirmar que, quando aplicadas de formaindiscriminada, estas águas residuárias podem afetara estrutura do solo.

Foi verificado que os efluentes de criatórios deanimais utilizados neste experimento não apresentamnenhuma restrição quanto ao seu uso na irrigação,contudo quando se praticam sucessivas irrigações aolongo do tempo, sem acompanhamento agronômicoespecializado, podem propiciar o acúmulo de compostosdispersantes na solução do solo, promovendo assima dispersão de argila.

Houve redução na condutividade hidráulicaprovocada pela dispersão da argila, mostrando que,caso ocorra este problema no campo, ele poderá causarum estresse hídrico às plantas, pela menor taxa deinfiltração de água no solo.

5. AGRADECIMENTOS

Ao setor de Zootecnia e de Agroindústria do IFSudeste de MG, Campus Rio Pomba. Ao CNPq pelaconcessão da bolsa.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INFLUÊNCIA DA APLICAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DE CRIATÓRIOSDE ANIMAIS NO SOLO: ATRIBUTOS QUÍMICOS E FÍSICOS

Marisa Senra Condé1, Bruno Grossi Costa Homem1, Onofre Barroca de Almeida Neto2, Alberto MagnoFerreira Santiago3

RESUMO – Objetivou-se avaliar o panorama geral da utilização de águas residuárias dos criatórios de animaisaplicadas ao solo, focalizando as vantagens e limitações quanto a seu uso. A criação intensiva de animais gerauma grande quantidade de resíduos ricos em nutrientes que, por estarem disponíveis nas propriedades ruraisa um baixo custo, podem ser viabilizados pelos produtores na adubação das culturas comerciais. Porém, quandousados de forma indiscriminada e sem critérios agronômicos, podem constituir-se em fator negativo e levarà degradação da estrutura do solo e causar sérios riscos ambientais. O estado de baixa fertilidade do solo temsido motivo de preocupação, devido ao manejo inadequado que gera degradação da matéria orgânica e consequentementeperda de algumas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, acelerando o processo de erosão e diminuindoa produtividade. Com a aplicação do resíduo as plantas tendem a se mostrar mais vigorosas, com maior porcentagemde cobertura, maior produtividade e melhor desenvolvimento do sistema radicular, além do benefício agrícolagerado pela melhoria nas condições químicas, físicas e biológicas do solo.

Palavras-chave: Adubação orgânica, águas residuárias, dejetos de animais, disposição.

EFFECT OF APPLICATION OF ANIMAL WASTEWATER IN SOIL: CHEMICALAND PHYSICAL ATTRIBUTES

ABSTRACT – The objective of this work was to review the application of livestock wastewater in soil, focusingon the advantages and limitations on its use. The intensive animal production systems generate a huge amountof waste, which are rich in nutrients and available for rural properties at low cost, which can be used byproducers in the fertilization of crops. However, when used indiscriminately and without agronomic criteria,it may constitute a negative factor triggering degradation of soil structure and causing serious environmentalhazards. Low fertility of soil has been a concern, because inadequate soil management causes organic matterdegradation and affects physical, chemical and biological properties, accelerating the process of erosionand decreasing productivity. Application of wastewater in soil makes plants to be more vigorous, increasingsoil coverage, plant productivity, and root development. Also, agricultural benefits of this practice includeimprovement of chemical, physical and biological soil characteristics.

Key Words: Animal waste, disposal, organic fertilizer, wastewater.

1 Estudantes de Zootecnia, IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected]; [email protected] Professor Doutor do Departamento de Agricultura e Ambiente do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected] Professor Mestre do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected]

1. INTRODUÇÃO

O uso de águas residuárias para fertirrigação nãoé uma novidade. Erthal (2008) afirma que existem relatosda utilização de efluentes de animais na agricultura

na Grécia Antiga e na civilização de Minan (3.000 ACa 1.000 DC). A aplicação de águas residuárias ao solocomo meio de disposição final dessas águas teve notávelavanço nas décadas de 50 e 60, quando o interessepela qualidade dos efluentes tratados mereceu grande

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atenção por parte dos órgãos responsáveis pelapreservação ambiental (Erthal, 2008).

Já durante a década de 70, iniciaram-se osdebates sobre a relação entre o desenvolvimentoeconômico e industrial com o meio ambiente. O modeloeconômico desenvolveu-se considerando o meioambiente simplesmente como fonte de recursos ereceptor dos dejetos e subprodutos sem valorcomercial. Essa visão acabou por gerar diversosproblemas ambientais, fazendo-se necessário odesenvolvimento de estudos e de técnicas queavaliassem os impactos ambientais causados pelasatividades produtivas (Oliveira, 2006).

Com a adoção do sistema de confinamento naprodução de animais, surgiu o grande problema daprodução excessiva de dejetos, o qual, aliado aosinadequados sistemas de manejo e de armazenamento,levou ao lançamento em rios e cursos d’águas naturais.Esse lançamento inadequado dos dejetos pode levara sérios desequilíbrios ecológicos, poluindo-se os riose mananciais, em função da redução do teor de oxigêniodissolvido na água, devido à demanda bioquímica deoxigênio (DBO) (Oliveira, 1993).

Dessa maneira, a disposição no solo tornou-se alternativa efetiva em relação à prática de descarregaros efluentes diretamente em corpos de águasuperficial (Asano, 1998). A utilização de águasresiduárias tratadas ou parcialmente tratadas nafertirrigação de culturas agrícolas e florestais, aoinvés de descarregá-las em cursos de água, tem-setornado alternativa promissora, além da rápida e recenteexpansão (Balks et al., 1998). Dentre as razões paraesta expansão, destacam-se: (i) em regiões áridase semiáridas, as águas residuárias têm sido fontesuplementar de água para a sustentabilidade daagricultura irrigada (Al-Jaloud et al., 1995); (ii) aságuas residuárias não somente ajudam a economizaráguas superficiais, como também sua disposição nosolo implica em reciclagem, e poluentes tornam-senutrientes para as plantas (Vazquez-Montiel et al.,1996); e (iii) a irrigação é relativamente flexível quantoao requerimento de qualidade da água.

O objetivo desta revisão é avaliar o panorama geralda utilização de águas residuárias dos criatórios deanimais aplicadas ao solo, focalizando as vantagense limitações quanto ao seu uso.

2. MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO NOCONTEXTO ATUAL

O solo é o meio principal para o crescimento dasplantas, sendo uma camada de material biologicamenteativo, resultante de transformações complexas queenvolvem o intemperismo de rochas e minerais, a ciclagemde nutrientes e a produção e decomposição de biomassa.Uma condição ideal de fertilidade do solo é fundamentalpara garantir a capacidade produtiva dosagroecossistemas, e a qualidade do solo é importantetambém para a preservação de outros serviços ambientaisessenciais, incluindo o fluxo e a qualidade da água,a biodiversidade e o equilíbrio de gases atmosféricos(Novais et al., 2007).

A presença de nutrientes é um dos aspectosfundamentais que garantem a boa qualidade dos solose o seu bom uso e manejo, principalmente no casode agroecossistemas. Em ecossistemas nativos, aciclagem natural de nutrientes é a grande responsávelpela manutenção do bom funcionamento do solo e doecossistema como um todo. Essa ciclagem é fundamentalpara manter o estoque de nutrientes nos ecossistemasnaturais, evitando-se a perda da fertilidade natural dosolo (WRI, 2000).

Assim, a baixa fertilidade dos solos pode ter tantocausas naturais quanto antrópicas. Como causas naturais,destacam-se a gênese do solo e o intemperismo comoprincipais fatores causadores da baixa fertilidade,particularmente em grande parte das regiões tropicaise subtropicais, onde a remoção de nutrientes do soloé mais acelerada, em razão das condições de altastemperaturas e precipitações pluviais. O fato de o Brasilpossuir grandes extensões de terra com problemas defertilidade relacionados com a alta acidez e toxidez poralumínio, além de alta capacidade de fixação de fósforo,é, em grande parte, consequência de sua localizaçãona região tropical (Novais et al., 2007).

Já as causas antrópicas, provocadas pelo manejoinadequado, também podem ser causadoras da baixafertilidade dos solos. Uma dessas causas é a exaustãode nutrientes provocadas pela retirada das culturas,maiores que pelas adições via adubação. Estimativasdiversas neste sentido revelam que o déficit anual médiode nutrientes no Brasil encontra-se entre 25 e 35 kgha-1 de N + P2O5 + K2O, ou seja, o estoque de nutrientesdo solo está se esgotando ano após ano. Isso podelevar até mesmo solos anteriormente considerados férteis

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a se tornarem não férteis, tendo, assim, sua capacidadeprodutiva prejudicada. Um levantamento do InternationalSoil Reference and Information Centre (ISRIC), atualmenteWorld Soil Information, estima que cerca de 240 milhõesde hectares de solos no mundo (área equivalente àregião dos Cerrados brasileiros) estão comprometidos,no que diz respeito à sua integridade química que estáligada, dentre outros fatores, à deficiência de nutrientes,a qual representa a maior causa de degradação químicados solos no mundo, atingindo cerca de 136 milhõesde hectares (dos quais 68 milhões de hectares localizam-se na América do Sul) (Oldeman et al., 1991).

Neste sentido, vale lembrar que a exaustão denutrientes dos solos também é causa de erosão, vistoque reduz a cobertura vegetal e, com isso, a resistênciado solo a esse fenômeno. A erosão atinge cerca de13% da superfície do planeta, segundo estudos doWorld Soil Infomation, afetando cerca de 1,65 bilhãode hectares de terra que se encontram degradados emtodo o mundo (Oldeman, 2000). O pior aspecto da quedade fertilidade do solo causada pela erosão é que, aocontrário da exaustão causada por extração de nutrientesem taxa maior que a reposição, ou da baixa fertilidadepor causas naturais, naquele caso as áreas não podemser recuperadas de maneira simples. Com a erosão,a recuperação se torna difícil ou até mesmo um danoirreparável à capacidade produtiva do solo (Oldeman,2000).

Neste contexto, é fundamental a avaliação dafertilidade, que tem por objetivo quantificar a capacidadedos solos suprirem nutrientes para o ótimo crescimentoe desenvolvimento das plantas. Apesar de, em termosobjetivos, buscar-se quantificar a disponibilidade dosnutrientes, a avaliação da fertilidade tem um enfoquemais amplo (Sims, 1999).

Em uma visão atual, a avaliação da fertilidade dosolo ultrapassa os limites da produção agrícola, sendofundamental para o futuro da produção global, querna identificação de novas áreas com potencial paraserem incorporadas aos sistemas produtivos, quer noaumento da produtividade das áreas já em uso. Nessascondições, a produtividade máxima nem sempre é ofoco, mas sim a estabilidade da cobertura vegetal, oaumento da atividade microbiana para a degradaçãode contaminantes orgânicos e a fitorremediação paramitigação de contaminantes inorgânicos e metais pesados(Novais et al., 2007).

3. REFLEXOS DA APLICAÇÃO DAS ÁGUASRESIDUÁRIAS NO SOLO

Com a baixa fertilidade dos solos brasileiros, oincremento da produtividade da cultura se torna cadavez mais dependente do uso de fertilizantes (orgânicose minerais). A principal vantagem do adubo mineralé a rápida resposta das plantas, visto que apresentamdesenvolvimento acelerado em razão de suasnecessidades imediatas serem atendidas. O aduboorgânico, termo utilizado para os adubos não minerais,é o fertilizante mais tradicional na história da agricultura(D’Andréa, 2001). A utilização do adubo orgânico emrelação à aplicação de fertilizantes minerais é significativa,principalmente pela liberação gradual. Se os nutrientesforem imediatamente disponibilizados no solo, comoocorre com os fertilizantes minerais, podem ser perdidospor volatilização (em especial o N), fixação (P) ou lixiviação(principalmente o K) (Severino et al., 2004).

Souto et al. (2005) afirmam que com o aumentodos custos com adubação mineral, os produtorespassaram a ter uma nova visão sobre a adubaçãoorgânica, dando importância à utilização deste materialcomo agente modificador das condições físicas,químicas e biológicas do solo, tornando o sistemamais sustentável.

A disposição final de resíduos orgânicos e águasresiduárias no solo vem sendo considerada práticade manejo com vistas à proteção ambiental. O soloapresenta grande capacidade de decompor ou inativarmateriais potencialmente prejudiciais ao ambiente, pormeio de reações químicas e da multiplicidade deprocessos microbiológicos. Os íons e compostos podemser inativados por reações de adsorção, complexaçãoe precipitação; já os microrganismos presentes no solopodem decompor os mais diversos materiais orgânicos,desdobrando-os em compostos menos tóxicos ouatóxicos (Costa et al., 2004).

Os efeitos da aplicação de águas residuárias naspropriedades físicas e químicas do solo só se manifestamapós longo período de aplicação e dependem dascaracterísticas do solo e do clima. A severidade dealgum problema acometido ao solo pela aplicação deáguas residuárias pode variar de acordo com o tempode aplicação, composição e quantidade aplicada. Otipo de solo e a capacidade de extração das plantastambém são fatores que influenciam nas consequênciasda aplicação da água.

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As principais alterações descritas para os solosfertirrigados com águas residuárias se resumem aosefeitos sobre carbono e nitrogênio totais, atividademicrobiana e N-mineral, cálcio e magnésio trocáveis,salinidade, sodicidade e dispersão de argilas (Fonsecaet al., 2007).

3.1. Vantagens da utilização das águas residuárias decriatórios de animais

A matéria orgânica do solo consiste em resíduosde plantas e animais em diferentes fases de decomposição.Em solos tropicais altamente intemperizados, a matériaorgânica tem um importante papel na produtividade,pois domina a reserva de nutrientes como N, P, S, Ca2+,Mg2+, K+ e Na+ (Zech et al., 1997). A manutenção ouo aumento dos teores de matéria orgânica é fundamentalna retenção dos nutrientes e na diminuição da sualixiviação (Bayer & Mielniczuk, 1999).

Como as águas residuárias de animais apresentamelevado teor de matéria orgânica, destacam-se asseguintes vantagens: melhoria na estrutura do solo,facilitando a penetração das raízes; redução à plasticidadee coesão; aumento da capacidade de retenção de água;minimização da variação da temperatura do solo; aumentoda CTC (capacidade de troca catiônica) fornecendonutrientes para a planta; aumento do poder tampãodo solo; diminuição da densidade aparente e aumentoda porosidade (Tamanini, 2004).

Assim, os resíduos orgânicos apresentam grandeimportância no fornecimento de nutrientes às culturas.Matos (2008) cita uma série de vantagens para adisposição de águas residuárias no solo, destacando-se: o benefício agrícola gerado pela melhoria nascondições químicas, físicas e biológicas do solo; osbaixos custos fixos e operacionais das unidades detratamento; o baixo consumo de energia, além de seevitar o lançamento de efluentes em corpos d’água.

Queiroz et al. (2004) utilizando águas residuáriasde suínos (ARS), criados em regime de confinamentototal, sendo a água composta pela mistura de fezese urina dos animais e de outros materiais provenientesdo processo criatório (água desperdiçada nosbebedouros, água de higienização, restos de alimentos,pelos e poeira) obtiveram aumento na soma de bases(SB) e na CTC do solo. Já Erthal et al. (2010), utilizandoágua residuária de bovinos leiteiros, criados emconfinamento (free-stall), verificaram aumento tanto

na CTC quanto na saturação por bases (V). De acordocom esses mesmos autores, os aumentos na CTC eV com a aplicação de águas residuárias são atribuídosà alta concentração de íons e aos coloides orgânicospresentes nos efluentes.

Em relação ao Ca2+ e Mg2+, Erthal et al. (2010)mostraram que, com a utilização de águas residuárias,os mesmos aumentaram com o tempo de aplicação;tal fato pode ser devido à intensa liberação destesíons com a mineralização da matéria orgânica no solo.

Os resultados de pesquisas envolvendo o K+ emáguas residuárias são, às vezes, contraditórios. Johns& McConchie (1994) não notaram alteração no teordeste íon no solo ao aplicarem efluente secundáriode esgoto doméstico na fertirrigação de bananeiras,embora se deva ressaltar que o esgoto doméstico éfonte insuficiente de K para a cultura da bananeira;por outro lado, incrementos na concentração de K+

foram observados em solos com exploração florestal(Cromer et al., 1984; Falkiner & Smith, 1997), cultivadoscom berinjela (Al-Nakshabandi et al., 1997), gramíneas(Queiroz et al., 2004) e cafeeiro (Medeiros et al., 2005),quando da aplicação de águas residuárias de suínose esgoto doméstico.

Prior (2008) e Berwanger (2006) verificaram aumentona concentração de fósforo no solo em função doaumento da aplicação de taxas de ARS. O comportamentotambém foi observado por Queiroz et al. (2004), aonotarem aumento no teor de P disponível em relaçãoà condição inicial, com a aplicação dos dejetos, indicandoum acúmulo desse macronutriente no solo. Ceretta etal. (2003) também verificaram que o teor de fósforodisponível no solo aumentou consideravelmente coma aplicação de ARS, ao longo do tempo.

O fósforo contido nas águas residuárias é lentamentedisponibilizado com a degradação do material orgânico,tornando-se menos sujeito às reações de adsorçãoe fixação pelos óxidos de ferro e alumínio presentesno solo (Scherer & Baldisera, 1994). Esse é um aspectoaltamente positivo da aplicação de águas residuáriasno solo, pois, na maioria das regiões de clima topical,o fósforo aplicado na forma mineral solúvel pode serfortemente fixado pelos referidos óxidos e hidróxidospresentes, não permanecendo disponível para as plantas.Resultados de Eghball et al. (1996) e Mozzaffari & Sims(1994) permitiram observar maior movimentação do Pno perfil do solo que recebeu dejetos em comparação

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com o adubo mineral, atribuindo esse fato à movimentaçãodo P na forma orgânica.

Se bem planejada, a disposição de águas residuáriasno sistema solo-planta poderá trazer benefícios, taiscomo fonte de nutrientes e água para as plantas, reduçãodo uso de fertilizantes e de seu potencial poluidor,além da vantagem do solo apresentar grande capacidadede decompor ou inativar materiais potencialmenteprejudiciais ao ambiente, através de reações químicase por processos microbiológicos. Com isso, os efluentesde animais, apesar de apresentarem elevado potencialpoluidor, podem se tornar alternativa econômica paraa propriedade rural, se manejados adequadamente semcomprometer a qualidade ambiental.

3.2. Limitações quanto ao uso

O uso continuado e, ou, excessivo dos efluentespode causar danos ambientais, destacando-se a poluiçãodo solo, da água e do ar, além de perdas de produtividadee qualidade de produção.

De acordo com Léon et al. (1999), mesmo quandoas vantagens justificam amplamente o uso dessas águas,existem várias restrições ou riscos potenciais que devemser considerados, dentre os quais se destacam: acontaminação microbiológica dos produtos, abioacumulação de elementos tóxicos, a salinização eimpermeabilização do solo e o desequilíbrio de nutrientesdo solo.

A presença de alguns constituintes nos efluentes,como o sódio (Na+) em grande concentração e metaispesados, é indesejável. O teor de sódio em solos agrícolaspode aumentar com a adição de efluente, alterandocertas características físicas do solo, devido à dispersãode argilas e características químicas, influenciandodireta ou indiretamente o desenvolvimento das plantas(Feigin et al., 1991).

Em geral, as concentrações de Na+ e o índice desaturação por sódio (ISNa) são elevadas após a aplicaçãode águas residuárias, principalmente nas camadassuperficiais (Cromer et al., 1984). Tem-se observadoesses acréscimos em solos cultivados tanto com culturasflorestais (Feigin et al., 1991; Bond, 1998) quanto emestudos de curta e longa duração (Quin & Woods,1978; Balks et al., 1998; Fonseca et al., 2005).

A solução do solo, quando excessivamente sódica,promove a desagregação e dispersão dos minerais

de argila em partículas muito pequenas, que obstruemos poros do solo. Mediante as sucessivas irrigações,forma-se uma camada superficial selada, o que reduza infiltração no solo e aumenta os riscos de erodibilidadedo solo (Lal & Stewart, 1994). A consequência diretada redução da infiltração sobre as culturas torna-se evidente quando a água de irrigação não consegueatravessar a superfície do solo em taxa suficientepara permitir a renovação da água consumida pelasculturas, entre duas irrigações, originando um déficithídrico que resultará em perda de produtividade dacultura.

Segundo Pizarro (1990), os sais solúveis contidosnas águas de irrigação podem, em certas condiçõesclimáticas, salinizar o solo e modificar a composiçãoiônica no complexo sortivo, alterando as característicasfísicas e químicas do solo, como regime de água, aeração,nutrientes e, consequentemente, o desenvolvimentovegetativo e a produtividade.

Aumentos na condutividade elétrica da soluçãodo solo após a aplicação de águas residuárias de animaistêm sido relatados em áreas cultivadas com culturasanuais (Al-Nakshabandi et al., 1997), em pastagens(Bond, 1998) e em sistemas florestais (Speir et al., 1999);todavia, as concentrações salinas mais elevadas têmsido verificadas na camada mais superficial do solo(Speir et al., 1999).

A limitação principal do uso de águas residuáriasna agricultura é a sua composição química (totais desais dissolvidos, presença de íons tóxicos econcentração relativa de sódio) e a tolerância das culturasa este tipo de efluente (Ayers & Westcot 1999). Outrofator importante para se observar é a presença de metaispesados na água residuária. Os metais pesados nãoapenas exercem efeitos negativos sobre o crescimentodas plantas, mas também afetam os processos bioquímicosque ocorrem no solo.

Devido a esses aspectos, é de extrema importânciaa caracterização das águas residuárias, tanto parase verificar sua composição química, quanto parase definir que quantidade deve ser aplicada semacarretar nenhum problema ao sistema solo-planta.As doses de aplicação de águas residuárias naagricultura devem ser definidas quando se toma oelemento químico contido em maior concentraçãorelativa, o que define a dose agronomicamenterecomendável (Matos, 2008).

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4. CONCLUSÕES

A utilização dos resíduos orgânicos assume grandeimportância nos dias atuais, devido a sua potencialidadede reduzir custos de produção e minimizar impactosambientais.

No resíduo animal são encontrados diversos nutrientesnecessários às plantas (nitrogênio, fósforo, potássio emicronutrientes) e, no caso de ser utilizado como fertilizanteorgânico, uma série de nutrientes estarão prontamentedisponíveis, ou após o processo de mineralização poderãoser absorvidos pelas plantas da mesma forma que aquelesindustrializados, de origem mineral.

Os resíduos orgânicos podem ser vistos comoum complemento da adubação, proporcionando melhordesenvolvimento da planta e consequentemente aumentoda produtividade das culturas.

Se os resíduos orgânicos forem usados de formaindiscriminada e sem critérios agronômicos, podemconstituir-se em fator negativo, podendo levar a umadegradação da estrutura do solo e a sérios riscos ambientais.

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Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no período...

SUBSTITUIÇÃO DO CALCÁRIO POR FARINHA DE CASCA DE OVO NADIETA DE CODORNAS JAPONESAS NO PERÍODO DE 40 A 52 SEMANAS DE

IDADE

Renata de Souza Reis¹, Sérgio Luiz de Toledo Barreto¹, Heder José D'avila Lima¹, Eriane de Paula¹,Jorge Cunha Lima Muniz¹, Raquel Mencalha¹, Gabriel da Silva Viana¹, Lívia Maria dos Reis

Barbosa¹

RESUMO – Verificou-se a possibilidade de substituição do calcário calcítico por casca de ovo na dieta de codornasjaponesas no período de 40 a 52 semanas de idade. Foram utilizadas 126 codornas japonesas (Coturnix coturnixjaponica), distribuídas em delineamento inteiramente casualisado, composto por três tratamentos (substituiçãodo calcário calcítico por casca de ovo de codorna), seis repetições e sete aves por unidade experimental. Ostratamentos foram constituídos por: T1-100% de calcário, T2-50% calcário + 50% de farinha de casca deovo e T3-100% de farinha de casca de ovo. Os parâmetros estudados foram: consumo de ração, produçãode ovos por ave-dia, produção de ovos comercializáveis, peso do ovo, massa de ovos, conversão alimentarpor massa de ovos, conversão alimentar por dúzia de ovos, peso dos componentes dos ovos (gema, albúmene casca), porcentagem dos componentes dos ovos, gravidade específica e teor de cálcio e fósforo na tíbia.Foi verificado efeito significativo da substituição de calcário por casca de ovo na dieta apenas para a produçãode ovo e produção de ovos comercializáveis. A substituição de até 50% do calcário calcítico por farinha decasca de ovo na dieta mantém o desempenho e qualidade dos ovos de codornas japonesas de 40 a 52 semanasde idade.

Palavras-chave: Coturnix coturnix japonica, desempenho, qualidade de ovo, resíduo.

REPLACEMENT OF LIMESTONE FLOUR FOR EGG SHELL IN THE DIET OFJAPANESE QUAIL IN THE PERIOD FROM 40 TO 52 WEEKS OF AGE

ABSTRACT – It was verified the substitution of limestone for egg shell in the diet of Japanese quailsin the final third stage of laying. Were used 126 Japanese quail (Coturnix coturnix japonica) with 283days of age, distributed in completely randomized design, consisting of three treatments (replacementof limestone for Japanese quail egg shell), six replicates and seven hen per experimental unit. The treatmentsconsisted of: T1-100% of limestone used as the main source of calcium, T2-50% of limestone + 50%eggshell and T3-100% of egg shell. The parameters studied were: feed intake, egg production per henday, commercial egg production, egg weight, egg mass, feed conversion by egg mass, feed conversionper dozen eggs, weight of the eggs (yolk, albumen and shell), percentage of components of eggs, calciumand phosphorus in the tibia and specific gravity. It was found significant effect of the substitution oflimestone for egg shell in the diet only for the production of egg and egg production of tradables. Replacing50% of limestone flour for egg shell keeps the performance and egg quality of Japanese quails from40 to 52 weeks of age.

Key Words: Coturnix coturnix japonica, egg quality, performance, residue

1 Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Zootecnia s/n, Campus Universitário, Viçosa - MG. E-mail: [email protected]

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REIS, de R.S. et al.

1. INTRODUÇÃO

A criação de codornas para a produção de ovostem se desenvolvido de forma expressiva no Brasil,sendo que o aumento de produtividade pode ser atribuídoao uso de tecnologias na atividade, ao melhoramentogenético a que as aves estão sendo submetidas e amelhorias na nutrição, manejo e sanidade (Oliveira,2007). Além disso, podem ser observadas mudançasnas características dos mercados atacadistas e varejistas,pois os ovos, antes comercializados apenas in natura,passaram também a ser processados em indústriasbeneficiadoras e comercializados como ovosdescascados ou em conservas, atendendo principalmentea restaurantes, bares e lanchonetes.

Com esse aumento de mercado, houve entradade grandes empresas que perceberam a rentabilidadedo negócio, e diminuição no número de pequenosprodutores. O processamento de ovos gera acúmulodiário de grande quantidade de casca que deve sereliminada de forma adequada para não poluir o ambiente.Uma maneira de reutilização da casca seria sua inclusãocomo substituto do calcário nas rações para animais.De acordo com Vanderpopuliere et al. (1975), a farinhade casca de ovo é rica em cálcio e contém proteínasprovenientes dos resíduos de albúmen, membrana dacasca e matriz da casca que podem ser metabolizadaspelas aves.

Por outro lado, as características da casca do ovosão imprescindíveis para manutenção da qualidadeinterna do produto, sendo a casca a embalagem doovo e tendo por função proteger a gema e o albúmencontra perdas e agressões do meio. Ela deve ser forteo suficiente para resistir aos processos de postura,coleta, classificação e transporte, devendo chegar aoconsumidor final na forma in natura, sem perdas dequalidade. Sendo assim, as rações devem conter nutrientesem quantidade e qualidade necessária para a adequadaformação da casca do ovo.

Diante do exposto, verificou-se a possibilidadede substituição do calcário por casca de ovo em dietasde codornas japonesas no período de 40 a 52 semanasde idade.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no setor de Aviculturado Departamento de Zootecnia da Universidade Federalde Viçosa-MG.

Foram utilizadas 126 codornas da subespéciejaponesa (Coturnix coturnix japonica) com idade inicialde 40 semanas e final de 52 semanas, tendo o períodoexperimental 84 dias de duração subdivididos em 4 períodosde 21. As aves foram distribuídas em delineamentointeiramente casualizado composto por três tratamentos(substituição do calcário calcítico por casca de ovo decodorna), seis repetições e sete aves por unidadeexperimental. Os tratamentos foram: T1-100% de calcário,T2-50% calcário + 50% de farinha de casca de ovo eT3-100% de farinha de casca de ovo.

As cascas de ovo utilizadas neste experimentoforam fornecidas por empresas que além de produziremos ovos de codorna “in natura”, também o processam,entregando no mercado ovos descascados em conserva.Para a elaboração da farinha, as cascas dos ovos foramsecas ao ar e posteriormente trituradas.

As dietas foram formuladas à base de milho e farelode soja (Tabela 1) contendo 19,3% de proteína brutae 2.800 kcal de energia metabolizável/kg de dieta. Foramutilizados 3,0% de cálcio e 0,30% de fósforo disponível,conforme determinado por Moura et al. (2008). Paraatender às exigências em aminoácido digestível foramutilizadas como base as relações aminoácido digestívelcom lisina digestível preconizadas por Umigi et al. (2008),Pinheiro et al. (2008) e Reis et al. (2011) para treonina,triptofano e metionina mais cistina, respectivamente,devido à escassez de tabelas de exigências nutricionais,realizadas em condições brasileiras, para esta espécieaté o momento de realização deste experimento.

A composição e os valores nutricionais dosingredientes utilizados para a formulação da dieta foramcalculados valendo-se de Rostagno et al. (2005). Ascascas de ovo de codorna utilizadas foram analisadasno laboratório de nutrição animal do Departamentode Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, quantoao teor de cálcio e fósforo, obtendo os valores de 32,9%de cálcio e 0,386% de fósforo.

As aves foram alojadas em gaiolas de aramegalvanizado, equipadas com comedouro tipo calha ebebedouro do tipo nipple, sendo que cada gaiolaforneceu área de 121 cm2/ave. A ração e a água foramfornecidas à vontade.

O manejo diário consistiu em recolher e contabilizartodos os ovos, anotar as temperaturas e a umidaderelativa do ar no galpão experimental uma vez ao dia,às 16 h.

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O programa de iluminação consistiu dofornecimento de 17 horas de luz por dia, sendo o mesmocontrolado por um relógio automático (timer).

Ao final do período experimental (84 dias),determinou-se a quantidade de ração consumida (g/ave/dia) em cada unidade experimental. Para isso, assobras e os desperdícios foram pesados e descontadosda quantidade de ração fornecida durante o períodoexperimental. O número de aves mortas foi descontadodo número total de aves de cada unidade experimental,o que possibilitou obter o correto consumo por ave.

A produção de ovos foi expressa em porcentagemsobre a média de aves do período (ovo/ave/dia) e deaves alojadas no início do experimento (ovo/ave alojada).Esses dados foram obtidos computando-se diariamenteo número de ovos produzidos, incluindo os quebrados,os trincados e os anormais (ovos com casca mole e

sem casca). Também foi calculado o número médio deovos comercializáveis durante o período experimental,retirando-se, neste caso, do total de ovos produzidosos quebrados, os trincados e os anormais.

Para a obtenção do peso específico dos ovos,no 16º, 17º e 18º dias a cada período de 21 dias, todosos ovos íntegros coletados foram imersos e avaliadosem soluções de NaCl com densidade de 1,055 a 1,100g/cm3, com intervalos de 0,005 g/cm3 entre elas. Adensidade da solução salina foi medida por meio deum densímetro.

Todos os ovos íntegros produzidos em cada repetiçãoforam pesados, em balança de precisão, durante o 19º,20º e 21º dias de cada um dos quatro períodosexperimentais para se obter o peso médio dos ovos.Após a pesagem, foram selecionados aleatoriamentequatro ovos de cada repetição para quantificação dos

Ingredientes T 1 T 2 T 3

Milho moído 54,27 54,27 54,27Farelo de soja (45%) 31,89 31,89 31,89Óleo de soja 2,53 2,53 2,53Calcário 6,88 4,24 0,0Farinha de casca de ovo 0,0 3,44 9,00Fosfato bicálcico 1,05 1,0 0,90Sal 0,32 0,32 0,32DL- Metionina (99%) 0,33 0,33 0,33L- Lisina HCL (79%) 0,20 0,20 0,20Cloreto de colina (60%) 0,100 0,100 0,100Suplemento vitamínico1 0,100 0,100 0,100Suplemento mineral2Antioxidante3 0,0500,010 0,0500,010 0,0500,010Inerte4 2,27 1,52 0,30Total 100,00 100,00 100,00

Composição calculadaEnergia metabolizável (kcal/kg) 2.800 2.800 2.800Proteína bruta (%) 19,3 19,3 19,3Lisina digestível (%) 1,080 1,080 1,080Metionina+cistina digestível (%) 0,910 0,910 0,910Treonina digestível (%) 0,647 0,647 0,647Triptofano digestível (%) 0,212 0,212 0,212Cálcio (%) 3,00 3,00 3,00Fósforo disponível (%) 0,300 0,300 0,300Sódio (%)Fibra bruta (%) 0,1452,66 0,1452,66 0,1452,66

Tabela 1 - Composições percentuais e calculadas das dietas experimentais, na matéria natural

1 Composição/kg de produto: Vit. A: 12.000.000 U.I., Vit D3: 3.600.000 U.I., Vit. E: 3.500 U.I., Vit B1: 2.500 mg, Vit B2: 8.000 mg,Vit B6: 5.000 mg, Ácido pantotênico: 12.000 mg, Biotina: 200 mg, Vit. K: 3.000 mg, Ácido fólico: 1.500mg, Ácido nicotínico: 40.000mg, Vit. B12: 20.000 mg, Selênio: 150 mg, Veículo q.s.p.: 1.000 g; 2 Composição/kg de produto: Mn: 160 g, Fe: 100 g, Zn: 100 g,Cu: 20 g, Co: 2 g, I: 2 g, Veículo q.s.p.: 1000 g; 3 Butil-hidróxi-tolueno, BHT (99%). 4 areia.T1-100% de calcário, utilizado como a principal fonte de cálcio.T2-50% de calcário + 50% de casca de ovo.T3-100% de casca de ovo, utilizada como a principal fonte de cálcio.

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componentes dos ovos. Os ovos selecionados de cadarepetição e de cada dia foram pesados individualmenteem balança com precisão de 0,001 g. Após as pesagens,os mesmos foram identificados e, posteriormente,quebrados. A gema de cada ovo foi pesada e a respectivacasca lavada e seca ao ar, para posterior obtençãode seu peso. O peso do albúmen foi obtido pela diferençaentre o peso do ovo e o peso da gema mais o pesoda casca.

O peso médio dos ovos foi multiplicado pelo númerototal de ovos produzidos no período, obtendo-se amassa total de ovos por período. Esta massa total deovos foi dividida pelo número total de aves do períodoe também pelo número de dias do período, sendo finalmenteexpressa em gramas de ovo/ave/dia. Foram avaliadasa conversão por dúzia de ovos, expressa pelo consumototal de ração em quilogramas dividido pela dúzia deovos produzidos (kg/dz), e a conversão por massa deovos, que foi obtida pelo consumo de ração emquilogramas dividido pela massa de ovos produzidaem quilogramas (kg/kg).

Ao final do experimento, 36 aves (duas por unidadeexperimental) foram abatidas por deslocamento cervicalpara retirada da tíbia para determinação do conteúdode fósforo e cálcio. Os ossos foram identificados portratamento e repetição e, depois, foram pré-desengordurados, mantidos em estufa de ventilaçãoforçada por 72 horas e triturados em moinho de bola.A solução mineral foi preparada conforme metodologiadescrita por Silva (1998), utilizando-se os procedimentosda via úmida. Da solução mineral determinaram-se osteores de fósforo, pelo método colorimétrico, e de cálcio,pelo método de absorção atômica.

Os parâmetros foram submetidos a análisesestatísticas utilizando-se o programa SAEG (2007) e,no caso de efeito significativo, as médias dos tratamentosforam comparadas pelo teste Student Newman Keuls(SNK) ao nível de 5% de probabilidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As temperaturas máxima, mínima e de bulbo secoe a umidade relativa do ar, verificadas diariamente duranteo período experimental são apresentadas na Tabela 2.

Na fase adulta a faixa de conforto térmico dascodornas está compreendida entre 18 e 22ºC e a umidaderelativa do entre 65 e 70% (Oliveira, 2007). Dessa forma,conforme os valores registrados para o termômetro

de bulbo seco é possível observar que, em parte doperíodo experimental, as codornas ficaram em ligeirascondições de estresse por calor.

Os resultados referentes ao desempenho e à qualidadedos ovos das codornas japonesas alimentadas com dietascontendo diferentes níveis de substituição do calcáriopor casca de ovo encontram-se na Tabela 3.

Verificou-se efeito significativo (P<0,05) dasubstituição de calcário por farinha de casca de ovona dieta para a produção de ovos e produção de ovoscomercializáveis, podendo ser observado que a inclusãode até 50% de farinha de casca de ovo na ração decodornas japonesas em postura não prejudica odesempenho produtivo dessas aves. Esses resultadosdiscordam dos encontrados por Reis et al. (2008), que,ao trabalharem com codornas no início da fase produtiva,não verificaram efeito da substituição do calcário porfarinha de casca de ovo sobre esses parâmetros. Osautores recomendam a inclusão de até 100% de farinhade casca de ovo na ração de codornas no início dafase de produção.

Em contrapartida, trabalhando com galinhaspoedeiras, Arvat & Hinners (1973) testaram o uso decascas de ovos secas, calcário e farinha de ostras comofonte de cálcio, e não observaram diferenças significativasentre as fontes de cálcio para qualidade dos ovos epercentual de postura, mas houve diferença entre asfontes de cálcio para período de produção das aves.Sim et al. (1983) incorporaram farinha de casca de ovosnos níveis de 0; 1,75; 3,5 e 7,0% em substituição aocalcário na dieta de galinhas poedeiras de diferentesidades, 27 a 51 semanas e 67 a 91 semanas. Os autoresavaliaram a produção de ovos, consumo alimentar,conversão alimentar e qualidade do ovo, e nãoobservaram diferença (P>0,05) em nenhum dosparâmetros analisados entre os animais dos tratamentose o grupo controle, para poedeiras de 27 a 51 semanasde idade. Em contraste, os tratamentos com poedeirasde 67 a 91 semanas tiveram aumento na produção deovos e melhora na utilização alimentar. Estes parâmetrosforam significativamente melhores quando o calcáriofoi completamente substituído por farinha de cascade ovo. Também foi observado um aumento progressivona produção de ovos com o aumento gradual de resíduosna dieta. Os resultados encontrados por esses autoresindicam que resíduos de casca de ovos para poedeirasno período de 27 a 51 semanas têm efeitos iguais ao

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calcário. Em contrapartida, para poedeiras de 67 a 91semanas há uma melhora na eficiência alimentar e naprodução de ovos quando comparada com a dietacontrole; de acordo com os autores, este fato podeser atribuído possivelmente por serem os resíduos decasca de ovo mais facilmente digeridos e absorvidosdo que o calcário.

Não houve efeito significativo (P>0,05) dasubstituição de calcário por farinha de casca de ovosobre a porcentagem de cálcio e de fósforo nos ossosdas aves, o que permite inferir que o nível e a fontede cálcio utilizados foram eficientes em manter aintegridade óssea das codornas.

Apesar de não ter sido detectada diferençasignificativa para a qualidade externa dos ovos, avaliadapela gravidade específica e porcentagem de casca, apartir dos resultados de produção de ovos e produção

de ovos comercializáveis, pode-se inferir que a inclusãode 100% de farinha de casca de ovo na dieta podelevar à pequena redução no desempenho das codornasjaponesas no terço final da fase de produção.

4. CONCLUSÃO

A substituição de até 50% do calcário calcíticopor farinha de casca de ovo na dieta mantém o desempenhoe qualidade dos ovos de codornas japonesas de 40a 52 semanas de idade.

5. AGRADECIMENTOS

À FAPEMIG e ao CNPq, pelo apoio e incentivoà pesquisa.

À Granja Loureiro (Perdões - MG), pela doaçãodas cascas de ovo de codorna.

Horário Temperatura do ar (ºC) UR (%)

Máxima Mínima Bulbo seco08:00 - - 27,6± 1,7 79,3 ± 5,216:00 27,1± 2,5 18,3± 3,6 26,2± 1,9 66,2 ± 8,7

Tabela 2 - Valores de temperatura e umidade relativa do ar (UR), registradas no galpão experimental

Parâmetros Níveis de substituição do calcário por farinha CV (%)¹de casca de ovo na dieta

T 1 T 2 T 3Consumo de ração (g) ns 26,30 26,20 25,67 3,27Ovos /dia (%) * 89,36a 87,30ab 82,32b 4,97Ovos comercializáveis (%)* 84,26a 79,81ab 74,69b 7,16Peso dos ovos (g) ns 11,84 11,71 11,70 3,29Massa de ovos (g/ave/dia) ns 9,71 9,52 9,35 10,39Conversão alimentar (kg/kg) ns 2,49 2,57 2,67 5,38Conversão alimentar (kg/dúzia) ns 0,35 0,36 0,37 6,35Gravidade específica (g/cm3)ns 1,073 1,072 1,071 0,12Peso da gema (g) ns 3,47 3,43 3,50 2,44Gema (%)ns 29,26 29,26 30,02 2,43Peso do albúmen (g) ns 7,47 7,38 7,27 3,20Albúmen (%)ns 62,90 62,87 62,16 1,30Peso da casca (g) ns 0,93 0,92 0,91 3,53Casca (%)ns 7,84 7,87 7,81 3,13Cálcio no osso (%)ns 17,00 16,93 17,25 13,06Fósforo no osso (%)ns 11,07 10,84 10,90 19,24

Tabela 3 - Desempenho e qualidade dos ovos das codornas japonesas

1 CV= coeficiente de variação, 2 ns = Efeito não significativo, P>0,05.T1-100% de calcário, utilizado como a principal fonte de cálcio.T2-50% de calcário + 50% de casca de ovo.T3-100% de casca de ovo, utilizado como a principal fonte de cálcio.

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Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas...

CASCA E COCO DE MACAÚBA ADICIONADOS AO CONCENTRADO PARAVACAS MESTIÇAS LACTANTES EM DIETAS À BASE DE SILAGEM DE

MILHO1

Hugo Freitas Sobreira2, Rogério de Paula Lana2*, Antônio Bento Mancio2, Dilermando Miranda daFonseca2, Sérgio Yoshimitsu Motoike3, José Carlos Peixoto Modesto da Silva2, Geicimara Guimarães4

RESUMO – A possibilidade de uso dos resíduos gerados na produção de biodiesel pode ser uma ajuda valiosana alimentação dos ruminantes, já que a quantidade de resíduos é grande; deste modo, a destinação final deveocorrer de forma apropriada. Foi testada a viabilidade do uso da casca do coco e do coco triturado na alimentaçãoanimal, substituindo a ração constituída de milho e farelo de soja em 0, 0,4; 0,8 e 1,2 kg de um total de 2,5kg/vaca/dia. O concentrado foi fornecido às vacas leiteiras no momento da ordenha, realizada duas vezes aodia, e a silagem, uma vez, pela manhã. Oito vacas mestiças Holandês-Gir foram utilizadas, sendo distribuídasem dois quadrados latinos 4 x 4, com média de 11 kg de leite/dia. As análises químicas do leite foram feitasna Embrapa Gado de Leite em Juiz de Fora - MG. Foram realizadas pesagens da produção de leite e dos animaisa cada término de período de 10 dias. Foi feita análise das variáveis em delineamento quadrado latino. O modeloestatístico incluiu efeitos de tratamento (níveis de substituição), quadrado latino (QL), animal/QL e período/QL à 5% de probabilidade. Não foram verificadas diferenças na produção de leite. Os teores de lactose, extratoseco e extrato seco desengordurado apresentaram-se significativamente diferentes, porém a produção diáriaem kg/dia não. Assim a casca do coco e o coco de macaúba triturados podem ser utilizados em até 1,2 kg,de um total de 2,5 kg de concentrado/vaca/dia, sem afetar o desempenho de vacas mestiças produzindo aproximadamente11 kg de leite/dia e recebendo silagem de milho como volumoso.

Palavras-chave: Avaliação de alimentos, biodiesel, leite, subprodutos.

BARK AND COCONUT OF MACAW PALM ADDED TO CONCENTRATE FORCROSSBRED LACTATING COWS ON CORN SILAGE BASED DIET

ABSTRACT – The possibility of use of waste generated in the production of biodiesel can be valuable in feedingruminants, as the quantity of waste is great; Thus, the final disposal must be appropriately. It was tested thefeasibility of using coco and coco bark residue replacing corn and soybean meal in the concentrate in 0, 0.4;0.8 and 1.2 kg in a total of 2.5 kg/cow/day. The concentrate was given to dairy cows at milking time, twicea day, and the silage in the morning. Eight Hosltein-Gyr crossbred cows were used, being distributed in two4 x 4 Latin squares, with an average of 11 kg of milk/day. The chemical analyses of milk were made in EmbrapaGado de Leite in Juiz de Fora-MG. Milk production and body weight were measured at the end of experimentalperiod of 10 days. Analysis of variables was made in Latin square design. The statistical model included effectsof treatment (replacement levels), Latin square (QL), animal/QL and period/QL at 5% probability. There wasno difference in milk production. The levels of lactose, dry extract and degreased dried extract were significantlydifferent, however the daily production in kg/day were not different. The bark and coconut of Macaw Palmcan be used until 1.2 kg, out of a total of 2.5 kg of the concentrate/cow/day without affecting the performanceof crossbred cows producing approximately 11 kg of milk per day in corn silage based diet.

Key Words: Biodiesel, by-products, evaluation of food, milk .

1 Projeto parcialmente financiado pela FAPEMIG/CNPq.2 Departamento de Zootecnia - UFV/Viçosa-MG. *Bolsista 1B do CNPq; [email protected] Departamento de Fitotecnia - UFV/Viçosa-MG.4 Graduanda de Gestão de Cooperativas - DER/UFV - Viçosa-MG. Bolsista ITI/CNPq.

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SOBREIRA, H.F. et al.

1. INTRODUÇÃO

A pastagem é o principal componente de uma pecuáriacompetitiva, ambiental, econômica e socialmentesustentável. No entanto, animais mantidos exclusivamenteem pastagens não expressam todo o seu potencial.

Atualmente têm surgido, em todo o mundo,movimentos sociais de proteção aos animais com ointuito de pressionar os produtores a respeitar ocomportamento natural dos animais, incentivando ummanejo menos intensivo. Neste contexto, os sistemasagrossilvipastoris proporcionam maior conforto aosanimais, nestes sistemas a introdução de outra fonteprodutiva, como uma espécie arbórea, permite maiorconservação do solo e torna a propriedade maiscompetitiva, porém exige maior capacidade administrativada propriedade. Trabalhos recentes de avaliação dedesempenho animal e pastagem em sistemas silvipastoriscom eucalipto evidenciam grande potencial destessistemas, com melhoria da qualidade do pasto devidoao sombreamento não excessivo (Carvalho, 1998; Ribaskiet al., 2003) e ganhos de peso dos animais com reduçãona temperatura (Varella, 1997; Silva & Saibro, 1998).

Porém, insucessos com sistemas silvipastoris podemocorrer em razão da pouca experiência da maioria dospecuaristas na atividade florestal. Para estes existea necessidade de se introduzir o conceito de produtorflorestal, desenvolvendo e viabilizando tecnologiaspara se obter produtos de qualidade, diversificadose competitivos. É importante seguir um cronogramaoperacional, que constitui da escolha, limpeza edemarcação da área a ser plantada, combate a formigascortadeiras, adubação etc.

A Lei nº 19.485, de 13 de janeiro de 2011, aportauma política de incentivo ao cultivo da macaúba emMinas Gerais e promete diminuir dificuldades como afalta de linhas de crédito para culturas que exigem altoinvestimento inicial e retorno em longo prazo. Miniusinasimplantadas em bases associativistas e cooperacionais,formadas pelos próprios produtores de coco macaúbae possivelmente de leite da região, poderiam extrair oóleo e devolver os resíduos aos seus cooperados paraque estes alimentem seus animais, em um sistema quecicla os nutrientes de forma mais sustentável.

Os resíduos gerados com a cultura do coco de macaúbasão de aproximadamente 14,5 t/ha/ano e tem grande potencialpara aproveitamento. Na alimentação de ruminantes, seu

elevado teor de lipídeos, mesmo após extração e/ouprensagem, deve ser avaliado quando incluído na raçãode forma que promova a correta nutrição dos animais.

A suplementação proporciona melhoria nodesempenho animal, mas nem sempre a resposta ésatisfatória, o que pode ser explicado pelo efeitoassociativo do suplemento ao consumo de forrageme energia disponível da dieta. Efeito associativo é a interaçãoentre os componentes da dieta (Moore et al., 1999). Asuplementação em ambientes tropicais é importante devidoprincipalmente à seca que torna as forrageiras tropicaismais fibrosas, reduzindo sua qualidade mais rapidamenteque as de regiões de clima temperado. Mesmo com grandedisponibilidade de forragem pode haver limitação noconsumo, pela maior dificuldade do animal em selecionaro alimento de melhor qualidade podendo resultar emqueda na produção (Stobbs, 1973a,b).

Na alimentação de ruminantes, o elevado teor delipídeos da macaúba, mesmo após extração e/ouprensagem, deve ser avaliado, mas utilizando-se debaixas quantidades como foi o caso do presente estudopouco altera a dieta dos animais.

Avaliou-se a utilização da casca do coco e do coco(sem endocarpo) triturados em substituição simples (peso/peso) do concentrado inicial como alternativa para aalimentação de vacas mestiças Holandês-Gir lactantes.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada na fazenda Boa Vista,no distrito de Cachoeirinha, pertencente à UniversidadeFederal de Viçosa (UFV), Viçosa-MG, em sistema deconfinamento na estação seca, no período de maioa julho de 2010.

A cidade de Viçosa, localizada na região da Zonada Mata, estado de Minas Gerais, tem como coordenadasgeográficas a posição 20o45’20" de latitude sul e 45o52’40"de longitude oeste de Greenwich e altitude de 651 metros.O clima é do tipo Cwa (mesotérmico), segundo aclassificação de Köeppen, apresentando duas estaçõesbem definidas, com verões quentes e úmidos e invernosfrios e secos. A precipitação pluvial média é de 1.341,2mm anuais. As médias de temperaturas máximas e mínimassão 26,1 e 14,0 oC, respectivamente (UFV, 1997).

Foram utilizadas oito vacas mestiças Holandês-Gir com produção média de 11 kg/dia de leite, dispostasem dois quadrados latinos 4x4 com quatro períodos.

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Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas...

Os animais receberam silagem de milho à vontade e2,5 kg de concentrado ao dia. Os tratamentos consistiramde quatro níveis de casca (quadrado latino - QL1) ede polpa (QL2) de macaúba moídos (0; 0,4; 0,8; e 1,2kg), completados para 2,5 kg/vaca/dia com raçãoconcentrada à base de milho e farelo de soja, sendofornecida em duas porções diárias, durante as ordenhas.

As baixas suplementações têm sido usadasamplamente para adequar as dietas dos animais, emrelação a nutrientes críticos escassos no sistema, combaixo investimento. Buscou-se não ultrapassar 40%de substituição, devido aos altos teores de fibra emdetergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido(FDA) e baixo teor de proteína bruta (PB), indicativosde limitação do uso.

Os animais passaram por um período de adaptaçãocom suplementação diferente da que seria usada no iníciodos testes 15 dias antes do experimento. A cada dia foramfeitas pesagens das quantidades das dietas fornecidase das sobras para cálculo do consumo de massa secade suplemento em cada tratamento. Durante o períodoexperimental, foram feitas amostragens das dietas e dassobras que foram acondicionadas em sacos plásticose congeladas para posteriores análises. A cada 10 dias,era feita amostragem da silagem, da ração concentradae das fezes em sacos plásticos para análises, seguindo-se a metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002).

Os animais receberam os suplementos (rações)duas vezes ao dia, durante as ordenhas da 7:00 e 16:00horas. Foi fornecida diariamente uma mistura mineral nococho. Os animais estiveram confinados em baias individuais.

O peso de cada animal foi obtido pela média dospesos ao início e final de cada período experimental.A produção de leite foi avaliada no 8º, 9º e 10º diasde cada período experimental que se constituía de 10dias. Amostras de leite foram coletadas durante o últimodia de cada período, compostas por animal eacondicionadas em frascos plásticos com conservante.Posteriormente, foram determinados os teores deproteína, gordura, lactose e extrato seco total do leite,segundo a metodologia descrita pelo International DairyFederation (1996).

Foi feita a análise das variáveis em delineamentoquadrado latino. O modelo estatístico incluiu efeitosde resíduo (tipo de ração), quadrado latino (QL), animal/QL e período/(QL) a 5% de probabilidade. As análisesforam realizadas utilizando o procedimento GLM do

MINITAB (Ryan & Joiner, 1994), a 5% de probabilidade,conforme modelo:

Yijklm = m + Fi + Nj + Qk + Al/Qk + Pm /Qk + Eijklm

em que Yijklm é a observação referente à i-ésima fonte,j-ésimo nível, k-ésimo quadrado latino, l-ésimo animaldentro de quadrado latino e m-ésimo período dentro dequadrado latino; m, média geral; Fi, efeito da fonte i =1 e 2; Nj, efeito do nível j = 1, 2, 3 e 4; Qk, efeito doquadrado latino k = 1 e 2; Al/Qk, efeito do animal l dentrode quadrado latino k, l = 1, 2, 3, e 4; Pm /Qk, efeito doperíodo m dentro de quadrado latino k, m = 1, 2, 3, e 4;e Eijklm, erro aleatório associado a cada observação.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As determinações de composição química, massaseca (MS), fibra em detergente neutro (FDN), fibra emdetergente ácido (FDA), proteína bruta (PB) e extratoetéreo (EE) da silagem e da ração concentrada foramfeitas segundo métodos encontrados em Silva e Queiroz(2002), e estão apresentados na Tabela 1.

Observa-se que valores de FDN de 66,3% e 44,8%para a casca e a polpa, respectivamente, são indicativosde limitação de seu uso em grandes quantidades,principalmente da casca (Tabela 1). No entanto, a grandequantidade produzida destes componentes por áreapropicia maior oferta de MS ao rebanho, possibilitandoaumentar o número de cabeças. Por outro lado, o cocotriturado apresentou características desejáveis,destacando-se o alto teor de extrato etéreo (21,5%)e razoável de proteína (9,79%).

Não houve interação entre fonte de coprodutode macaúba e nível de inclusão e composição do leitepara nenhuma das variáveis avaliadas (P>0,05). Os teoresde gordura, proteína, lactose e extrato seco do leitenão foram influenciados pelos níveis de substituiçãodo concentrado (Tabela 2).

Porém, entre as fontes de subprodutos da macaúba,tanto o teor de gordura quanto o de lactose, extratoseco total e extrato seco desengordurado foram maioresno tratamento com a utilização da casca, possivelmentedevido ao efeito da concentração destes constituintescom ligeira redução na produção de leite, embora nãosignificativa (P>0,05). Este resultado é confirmado aose analisar a produção diária em kg/dia destesconstituintes do leite.

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SOBREIRA, H.F. et al.

Componentes1(%) Silagem de milho Casca de coco macaúba Polpa de coco macaúba Concentrado

MS 33,4 8 8 81,0 89,0P B 7,4 3,02 9,79 22,0FDN 4 7 66,3 44,8 12,4FDA 27,9 42,3 21,4 4,0E E - 2,7 21,5 -Lignina 3,8 33,5 11,0 -

Tabela 1 - Composição dos ingredientes com base na massa seca, utilizados na alimentação das vacas

1 MS = massa seca, PB = proteína bruta, FDN = fibra em detergente neutro, FDA = fibra em detergente ácido e EE = extrato etéreo.

Fonte de macaúba Níveis de inclusão (kg/dia) Valor de PIt em Casca Polpa 0 0,4 0,8 1,2 E P F L QLeite, kg/d 10,4 11,3 11,0 10,4 10,6 11,4 0,623 0,24 0,74 0,67Gordura, % 4,20 3,74 4,14 4,00 3,94 3,79 0,177 0,04 0,53 0,84Proteína, % 3,19 3,08 3,16 3,18 3,15 3,07 0,068 0,46 0,84 0,68Lactose, % 4,67 4,37 4,49 4,44 4,56 4,57 0,112 0,04* 0,63 0,74ES, % 13,1 12,2 12,8 12,6 12,6 12,4 0,221 0,01* 0,38 0,61ESD, % 8,88 8,41 8,64 8,61 8,70 8,63 1,223 0,01* 0,49 0,53Gordura, kg/d 0,44 0,42 0,46 0,42 0,42 0,43 0,037 0,68 0,54 0,66Proteína, kg/d 0,33 0,35 0,34 0,33 0,33 0,35 0,021 0,42 0,70 0,58Lactose, kg/d 0,49 0,50 0,51 0,46 0,49 0,52 0,036 0,87 0,71 0,69ES, kg/d 1,37 1,38 1,44 1,32 1,34 1,42 0,094 0,93 0,62 0,63ESD, kg/d 0,93 0,95 0,97 0,90 0,92 0,99 0,062 0,70 0,69 0,64

Tabela 2 - Análise da produção e composição do leite e de seus constituintes em função dos tratamentos

EP = erro padrão da média; F = fonte de macaúba, casca ou polpa do coco; L = efeito linear; Q = efeito quadrático; ES = extrato secototal; ESD = extrato seco desengordurado; *Estatisticamente significativo (P<0,05).

Szpiz et al. (1989) afirmam que vários fatoresrelacionados com a colheita e armazenamento podemcontribuir para que a composição dos frutos da macaúbaseja variável. O fruto ao amadurecer se solta do cachoe cai no chão, a polpa pode ser atacada pormicrorganismos e sofrer deterioração, o que altera asrelações de massa entre as partes do fruto. Outro fatoré o tempo que decorre da colheita até sua chegadaao laboratório para análise, além das diferenças entrevariedades e grau de maturação dos frutos. Na Tabelade Composição Química de Alimentos (Franco, 1992),estão registrados valores para a farinha da torta depolpa com 4,4% de proteína.

A macaúba pode devolver ao solo grande quantidadede resíduos na forma de alimentos para os animais, queos consomem tornando o sistema mais sustentável pelamenor retirada de nutrientes do sistema. Ainda há vantagensda macaúba, como o fato de não ser atacada por saúvas,ter pouca sensibilidade ao fogo e boa tolerância à seca,citadas por Cargnin (2008), e até mesmo pouca exposiçãodo solo já que as palmeiras têm uma enorme vida produtiva,

aproximadamente 100 anos de idade, e consequentementebaixa taxa de replantio e revolvimento do solo.

4. CONCLUSÃO

A casca do coco e o coco de macaúba trituradospodem ser utilizados para substituir até 40% doconcentrado em um total de 2,5 kg/vaca/dia, uma vezque não houve efeito sobre o desempenho de vacasmestiças lactantes produzindo em média 11 kg de leite/dia e recebendo silagem de milho como volumoso.

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REIS, de R.S. et al.

NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO DE COLINA NA DIETA DE CODORNASJAPONESAS EM POSTURA

Renata de Souza Reis¹, Sérgio Luiz de Toledo Barreto¹, Eriane de Paula¹, Jorge Cunha Lima Muniz¹,Gabriel da Silva Viana¹, Raquel Mencalha¹,Lívia Maria dos Reis Barbosa¹

RESUMO – Objetivou-se avaliar diferentes níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesasem postura. Foram utilizadas 224 codornas da subespécie japonesa (Coturnix coturnix japonica) com 155dias de idade. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualisado com quatro tratamentos, seterepetições e oito aves por unidade experimental. Os tratamentos consistiram de níveis de inclusão de colinapor kg de ração (0; 500; 1000 e 1500 mg/kg). Os parâmetros estudados foram: consumo de ração, produçãode ovos, peso do ovo, massa de ovos, conversão alimentar por massa de ovos, conversão alimentar por dúziade ovos, produção de ovos comercializáveis, porcentagem e peso dos componentes dos ovos (gema, albúmene casca) e gravidade específica. Não foi observada diferença significativa para nenhum parâmetro estudado.Não há necessidade de inclusão de colina na dieta de codornas japonesas em postura quando essas forem alimentadascom dietas contendo a relação de metionina mais cistina com lisina de 84%.

Palavras-chave: Coturnix coturnix japonica, desempenho, metionina, qualidade de ovo, vitamina

LEVELS OF CHOLINE SUPPLEMENTATION IN THE DIET OF LAYINGJAPANESE QUAILS

ABSTRACT – The objective was to evaluate different levels of supplementation of choline in the diet of layingJapanese quails in lay. It was used 224 female subspecies Japanese quail (Coturnix coturnix japonica) with155 days of age, in the randomized experimental design with four treatments and seven replicates and eightbirds per experimental unit. The treatments consisted of inclusion levels of choline per kg diet (0; 500; 1,000and 1,500mg/kg). The parameters studied were: feed intake, egg production, egg weight, egg mass, feedconversion by egg mass, feed conversion per dozen eggs, egg production marketable, percentage and weightof the eggs (yolk, albumen and shell) and specific gravity. There was no significant difference for any parameterstudied. It was concluded that there is no need for the inclusion of choline in the diet of laying Japanesequails when they are fed diets containing a ratio of 84% methionine plus cystine to lysine.

Key Words: Coturnix coturnix japonica, egg quality, methionine, performance, vitamin.

1 Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Zootecnia, s/n- Campus Universitário, Viçosa - MG. [email protected]

1. INTRODUÇÃO

Na criação comercial de codornas, a otimizaçãoda produção de ovos depende de muitos fatores, entreos quais se destacam a nutrição e o manejo alimentardas aves. Na área nutricional, maior número de trabalhosfoi realizado para estimar as exigências de proteína,aminoácidos, energia, cálcio e fósforo, mas poucostrabalhos enfatizam as exigências de vitaminas. As

recomendações de uso de vitaminas nas rações sãobaseadas em estudos de outros países, que nem semprecondizem com a realidade de criação no Brasil. Assim,torna-se relevante o estudo das exigências de vitaminaspara codornas.

A colina é classificada como uma vitamina docomplexo B, no entanto existem controvérsias entreos nutricionistas quanto à classificação da colina como

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Níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura

uma vitamina (Andriguetto, 1990). Diferentemente dasoutras vitaminas do complexo B, a colina pode sersintetizada no organismo dos animais, em nível hepático,é exigida em grandes quantidades pelos animais e nãoparticipa da formação de coenzimas.

Encontrada tanto em células animais quantovegetais, a colina pode se apresentar de três formas:colina livre; acetilcolina; ou lecitina em fosfolipídios.As funções básicas da colina no metabolismo animalsão: componente essencial da acetilcolina, umneurotransmissor do qual a colina é precursora,fosfatidilcolina, que é um elemento estrutural da membranacelular, na transmissão do impulso nervoso e tambémna utilização de lipídeos; é precursora da betaína, umdoador de grupos metil para as reações de metilaçãoe formação de metionina (Bertechini, 2006).

Diversos fatores dietéticos, como a metionina,podem fornecer grupos metílicos para a formação dacolina. A betaína, a folacina e a vitamina B12 ou acombinação de diferentes níveis e composição de gordura,carboidrato e proteína na dieta, como também a idade,sexo, consumo calórico e a taxa de crescimento do animal,podem influenciar a ação lipotrópica da colina econsequentemente, a exigência desta vitamina(McDowell, 2000).

Estudos realizados por Welch e Couch em 1955,citados por McDowell (2000), demonstram que asuplementação de vitamina B12 e/ou folacina reduz aexigência de colina em ratos e pintos. Da mesma forma,dietas com excesso de metionina atendem às exigênciasde colina. Ao contrário, um aumento na exigência emcolina tem sido observado nas condições de deficiênciade folacina e/ou vitamina B12.

Objetivou-se avaliar diferentes níveis desuplementação de colina na dieta de codornas japonesasem postura.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no setor de Aviculturado Departamento de Zootecnia da Universidade Federalde Viçosa, MG, com duração de 63 dias, no períodode janeiro a março de 2009.

Foram utilizadas 224 codornas japonesas com 155dias de idade, distribuídas em delineamento inteiramentecasualizado, constituído por quatro tratamentos, seterepetições e oito aves por unidade experimental.

Os tratamentos consistiram de níveis desuplementação de colina, na forma de cloreto de colina(60,0%) por kg de ração (0; 500; 1000 e 1500 mg/kg), sendoa ração (Tabela 1) formulada à base de milho e farelode soja, contendo 19,3% de PB e 2.800 kcal de EM/kg.Para atender às exigências em aminoácido digestível foramutilizadas como base as relações aminoácido digestívelcom lisina digestível preconizadas por Pinto et al. (2003),Umigi et al. (2008), Pinheiro et al. (2008) e Reis et al. (2011)para lisina (1,12%), treonina (55%), triptofano (21%) emetionina mais cistina (84%), respectivamente, devidoà escassez de tabelas de exigências nutricionais, realizadasem condições brasileiras, para esta espécie até o momentoda realização deste experimento. As demais relações deaminoácidos, como ainda não estão determinadas na basedigestível, foram atendidas mantendo-se a relaçãoaminoácido total com lisina total, conforme preconizadono NRC (1994). Os níveis de lisina, cálcio e fósforo foramcorrigidos pela densidade energética da ração, de acordocom Moura et al. (2008). As demais exigências foramatendidas de acordo com aquelas descritas no NRC (1994).

A composição e os valores nutricionais dosingredientes utilizados para a formulação da dieta foramcalculados valendo-se de Rostagno et al. (2005).

As aves foram alojadas em gaiolas de aramegalvanizado, equipada com comedouro tipo calha ebebedouro do tipo nipple com copinho, sendo quecada gaiola forneceu área de 106 cm2/ave.

A ração e a água foram fornecidas à vontade durantetodo o período experimental.

O programa de iluminação adotado consistiu numfotoperíodo natural aliado a iluminação artificialperfazendo 16 horas.

Durante a realização do experimento, foramobservados e avaliados os seguintes parâmetros:consumo de ração (g/ave/dia), produção de ovos porave dia (%), produção de ovos por ave alojada (%),peso do ovo (g), massa de ovos (g/ave/dia), conversãoalimentar por massa de ovos (kg de ração/kg de ovos),conversão alimentar por dúzia de ovos (kg de ração/dz de ovos), produção de ovos comercializáveis (%),gravidade específica (g/cm3), porcentagem doscomponentes dos ovos (gema, albúmen e casca), variaçãodo peso corporal e viabilidade das aves.

A cada 21 dias foi avaliada a quantidade de raçãoconsumida em função do número de aves, sendo

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Níveis de suplementação de colinaIngredientes 0 500 10 00 15 00

Milho moído 57,209 57,209 57,209 57,209Farelo de soja (45%) 32,159 32,159 32,159 32,159Óleo de soja 1,596 1,596 1,596 1,596Calcário 6,629 6,629 6,629 6,629Fosfato bicálcico 1,061 1,061 1,061 1,061Sal 0,320 0,320 0,320 0,320DL- Metionina (99%) 0,368 0,368 0,368 0,368L- Lisina HCL (79%) 0,177 0,177 0,177 0,177Cloreto de colina (60%) 0,000 0,096 0,192 0,290Suplemento vitamínico1 0,100 0,100 0,100 0,100Suplemento mineral2 0,050 0,050 0,050 0,050Antioxidante ³ 0,010 0,010 0,010 0,010Inerte 4 0,320 0,224 0,128 0,030Total 100,00 100,00 100,00 100,00Composição calculada

Energia metabolizável (kcal/kg) 2.800 2.800 2.800 2.800Proteína bruta (%) 19,93 19,93 19,93 19,93Lisina digestível (%) 1,08 1,08 1,08 1,08Metionina+cistina dig. (%) 0,910 0,910 0,910 0,910Cálcio (%) 2,900 2,900 2,900 2,900Fósforo disponível (%) 0,300 0,300 0,300 0,300Sódio (%) 0,145 0,145 0,145 0,145Colina (mg/kg) 0,000 500 10 00 15 00

Tabela 1 - Composições percentuais e calculadas das dietas experimentais, na matéria natural

1 Composição/kg de produto: Vit. A: 12.000.000 U.I., Vit D3: 3.600.000 U.I., Vit. E: 3.500 U.I., Vit B1: 2.500 mg, Vit B2: 8.000 mg,Vit B6: 5.000 mg, Ácido pantotênico: 12.000 mg, Biotina: 200 mg, Vit. K: 3.000 mg, Ácido fólico: 1.500mg, Ácido nicotínico: 40.000mg, Vit. B12: 20.000 mg, Selênio: 150 mg, Veículo q.s.p.: 1.000g; 2 Composição/kg de produto: Mn: 160g, Fe: 100g, Zn: 100g, Cu:20g, Co: 2g, I: 2g, Veículo q.s.p.: 1000 g; 3 Butil-hidróxi-tolueno, BHT (99%). 4 Areia lavada.

expresso em gramas de ração consumida por ave/dia.No caso de morte de aves durante o períodoexperimental, procedeu-se à correção do consumo deração (CR), obtendo-se o consumo médio verdadeiropara a unidade experimental em questão. Para o CR,as sobras foram pesadas e descontadas da quantidadede ração pesada para todo o período.

Os ovos foram coletados diariamente às 8 horas.A produção média de ovos no período foi obtidaregistrando-se diariamente o número de ovosproduzidos, inclusive os quebrados, os trincadose os anormais, e foi expressa em porcentagem sobrea média de aves do período (ovo/ave/dia) e sobrea média de aves alojadas no início do experimento(ovo/ave alojada). Também foi calculado o númeromédio de ovos comercializáveis (expresso emporcentagem) durante o período experimental,descontando-se os quebrados, os trincados e osanormais do total de ovos.

Todos os ovos íntegros produzidos durante o 19o,20o, 21o, 40o, 41o, 42o, 61o, 62 o e 63o dias experimentais,em cada repetição, foram pesados em balança de precisãode 0,001 g e o peso total obtido foi dividido pelo númerode ovos utilizados na pesagem, obtendo-se o pesomédio dos ovos.

O peso médio dos ovos foi multiplicado pelo númerototal de ovos produzidos no período experimental,obtendo-se assim a massa total de ovos. Esta massatotal foi dividida pelo número total de aves por diado período, sendo expressa em gramas de ovo por avepor dia (g ovo/ave/dia).

Para avaliação dos componentes dos ovos foramanalisados os pesos da gema, do albúmen e da cascaem relação ao peso do ovo, durante o 19o, 20o, 21o,40o, 41o, 42o, 61o, 62o e 63o dias experimentais. Para isso,em cada dia, foram utilizados aleatoriamente quatro ovosde cada unidade experimental. Os ovos foram pesados

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Níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura

individualmente em balança com precisão de 0,001 g.A gema de cada ovo foi pesada e registrada, e a respectivacasca foi lavada e seca ao ar, para obtenção do pesoda casca. O peso do albúmen foi obtido subtraindo-se, do peso do ovo, o peso da gema e o da casca.

Foram avaliadas as conversões alimentares pordúzia de ovos, expressas pelo consumo total de raçãoem quilogramas dividido pela dúzia de ovos produzidos(kg/dz), e por massa de ovos, que foi obtida pelo consumode ração em quilogramas dividido pela massa de ovosproduzida em quilogramas (kg/kg).

No 16o, 17o, 18o, 37o, 38o, 39o, 58o, 59o e 60o diasdo período experimental, foi avaliada a gravidadeespecífica de todos os ovos íntegros coletados. Osovos foram imersos em soluções salinas (água + NaCl)com densidade variando de 1,055 a 1,100 g/cm3, comintervalos de 0,005 g/cm3 entre elas. A densidade decada solução foi aferida com o auxílio de um densímetro.

Os parâmetros foram submetidos a análises devariância e regressão, de acordo com o programa Sistema

Horário Temperatura do ar (ºC) UR (%)

Máxima Mínima Bulbo seco08:00 - - 27,6± 1,7 79,3 ± 5,216:00 27,1± 2,5 18,3± 3,6 26,2± 1,9 66,2 ± 8,7

Tabela 2 - Valores de temperatura e umidade relativa do ar (UR), registradas no galpão experimental

Níveis de suplementação de colina (mg/kg de ração)

Parâmetros* 0 500 10 00 15 00 CV(%)¹Consumo de ração (g) 26,25 25,35 25,91 25,77 3,58Ovos/dia (%) 90,72 90,27 91,00 92,05 5,54Ovos/ave alojada (%) 86,29 88,43 85,60 90,31 9,26Ovos comercializáveis (%) 87,12 87,95 89,45 90,64 7,46Peso dos ovos (g) 11,68 11,58 11,50 11,79 2,35Massa de ovos (g/ave/dia) 10,60 10,45 10,47 10,85 5,71Conversão alimentar (kg/kg) 2,48 2,43 2,48 2,37 5,47Conversão alimentar (kg/dúzia) 0,348 0,339 0,342 0,336 5,86Gravidade específica (g/cm3) 1,074 11,073 1,074 1,073 0,15Peso da gema (g) 3,41 3,50 3,53 3,49 2,64Gema (%) 29,18 29,60 29,93 29,53 2,24Peso do albúmen (g) 7,33 7,36 7,29 7,52 3,29Albúmen (%) 62,71 62,34 61,90 62,41 1,16Peso da casca (g) 0,947 0,952 0,961 0,971 2,80Casca (%) 8,11 8,08 8,17 8,07 2,51

Tabela 3 - Desempenho e qualidade dos ovos das codornas japonesas

1 CV= coeficiente de variação, * = Efeito não significativo (P>0,05).

para Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (UFV,2007). As estimativas para a determinação do melhornível de suplementação de colina foi por meio de análisede regressão linear e quadrática, conforme o melhorajustamento obtido para cada parâmetro, considerando-se o comportamento biológico das aves.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores registrados para temperatura médiae umidade relativa do ar se encontram na Tabela 2.

Na fase adulta, a faixa de conforto térmico ou zonatermoneutra das codornas está compreendida entre18 e 22°C, e a umidade relativa do ar está entre 65 e70% (Oliveira, 2007). Observou-se que durante oexperimento as codornas ficaram submetidas a períodosde estresse moderado por calor.

Os resultados referentes ao desempenho e àqualidade dos ovos das codornas japonesas alimentadascom dietas contendo diferentes níveis de suplementaçãode colina na dieta encontram-se na Tabela 3.

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Foi verificado efeito não significativo (P>0,05)para todos os parâmetros estudados. O aumentonos níveis de suplementação de colina nãoinfluenciou o desempenho e a qualidade dos ovosde codornas japonesas, mostrando que na relaçãode metionina mais cistina com lisina utilizada nãoé necessária a suplementação de colina na dietadessas aves.

Resultado semelhante foi encontrado porTeixeira et al. (2008), que estudaram níveis de inclusãode colina (0; 200; 400 e 600 ppm) em fatorial comníveis de metionina (0,65 e 0,75%). Os autorescomprovaram que somente em níveis mais baixosde metionina (0,65%) na dieta se faz necessária asuplementação de colina para codornas japonesasem postura. Vasconcelos et al. (2010), estudandoos efeitos da suplementação de colina para galinhaspoedeiras de uma a 44 semanas de idade, verificaramque o nível de inclusão de colina na fase de recriainfluencia a produção de ovos e a porcentagem decasca sem influenciar nos demais parâmetros,entretanto não foi possível aos autores determinaro melhor nível de suplementação de colina devidoà resposta linear crescente encontrada.

Segundo McDowell (2000), para aves em postura,a colina pode ser sintetizada em quantidade suficientepara a normal produção de ovos. No caso de codornas,o NRC (1994) sugere que a colina seja suplementadapara a manutenção do tamanho dos ovos. Da mesmaforma, as exigências em colina para o crescimento dessesanimais são maiores do que aquelas para frangos decorte e aves de postura, sendo neste estudo avaliadosomente parte do período de produção das codornas,devendo ser realizado posterior estudo verificandoa suplementação de colina na fase de recria e seu reflexona fase de produção.

A exigência de colina para aves diminui com aidade e geralmente não se observa deficiência paraanimais com mais de oito semanas de idade. Issose deve à capacidade da ave, com o avançar da idade,de realizar a metilação do aminoetanol ametilaminoetanol para a biossíntese de colina. Nocaso de poedeiras, o fornecimento de dieta sem colinaapós oito semanas de idade permite que essas avesconsigam sintetizar toda colina requerida para a máximaprodução de ovos. Os sinais da deficiência de colinasão a redução da produção de ovos e o aumento

de gordura no fígado. Contudo, o teor de colina nosovos não é afetado pelo nível de colina na dieta(McDowell, 2000).

4. CONCLUSÕES

Não há necessidade de inclusão de colina nadieta de codornas japonesas em postura quando essasforem alimentadas com dietas contendo a relaçãode metionina mais cistina digestível com lisinadigestível de 84%.

5. LITERATURA CITADA

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Níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura

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RODRIGUES, R.C. et al.

PRODUÇÃO E MORFOFISIOLOGIA DO CAPIM BRACHIARIA BRIZANTHACV. XARAÉS SOB DOSES DE NITROGÊNIO E FÓSFORO

Rosane Cláudia Rodrigues1, Daniel de Oliveira Souza Lima2, Luciano da Silva Cabral3, Luiz Pedrode Melo Plese4, Walcylene Lacerda Matos Pereira Scaramuzza5, Tereza Cristina Alves Utsonomya6,

Jefferson Costa de Siqueira1, Ana Paula Ribeiro de Jesus¹

RESUMO – Objetivou-se com este trabalho avaliar a produção e as características morfofisiológicas, produtivase os teores de proteína bruta (PB) do Brachiaria brizantha cv. Xaraés, submetido a doses de nitrogênio efósforo. O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação. Foram utilizadas quatro doses de nitrogênio (0,75, 150 e 225 mg/dm3) e três doses de fósforo (0, 140 e 280 mg/dm³). As doses de N incrementaram a produçãode massa seca da parte aérea e raízes e a densidade de perfilhos (DP) em todos os crescimentos das plantas,enquanto as doses de fósforo incrementaram a produção de massa seca no primeiro crescimento e aumentarama densidade de perfilhos no primeiro e terceiro crescimentos. Já a interação entre doses de N e P só ocorreuno segundo corte na produção de massa seca da parte aérea. As doses combinadas de N e P influenciaram osteores de PB nas diversas categorias de folhas e nos colmos mais bainhas. Nenhum dos nutrientes empregadosnem a interação entre eles foi significativo sobre a taxa fotossintética, condutância, concentração intercelularde CO2 e transpiração e sobre a relação folha/colmo.

Palavras-chave: Fertilidade, fotossíntese, nutrição de planta, parte aérea, perfilhamento.

PRODUCTION AND MORPHOPHYSIOLOGY OF PALISADEGRASSBRACHIARIA BRIZANTHA CV. XARAÉS UNDER NITROGEN AND

PHOSPHORUS FERTILIZATION

ABSTRACT – The objective of this study was to evaluate the production and morphological and physiologicalcharacteristics, yield and crude protein (CP) concentration of Brachiaria brizantha cv. Xaraés submitted tonitrogen and phosphorus. The experiment was conducted in a greenhouse. Four levels of nitrogen (0, 75,150 and 225 mg/dm3) and three levels of phosphorus (0, 140 and 280 mg/dm³) were used. The N increasedthe dry weight of shoots and roots and the density tiller (DT) in all plant growth, while phosphorus levelsincreased the dry weight in the first growth and increased DT in the first and third harvests. The interactionof N and P occurred only in the second cut in production of shoot dry mass. The combined rates of N andP influenced the content of CP in the various categories of leaves and stem plus sheats. None of the nutrientsemployeed or their interaction was significant on the photosynthetic rate, conductance, intercellular CO2concentration and transpiration and the leaf/stem ratio.

Key Words: Aerial part, fertility, nutrition of plant, photosynthesis, tillering.

1 Professores Adjunto do Curso de Zootecnia do CCAA/UFMA. e-mail: [email protected], [email protected], [email protected] Engenheiro Agrônomo, Cuiabá. E-mail: [email protected] Professor Adjunto do Curso de Zootecnia do DZER/UFMT. e-mail: [email protected] Professor Adjunto UFAC. E-mail: [email protected] Professor Adjunto do Curso de Agronomia/UFMT. e-mail: [email protected] Professor Assistente UNEMAT. e-mail: [email protected]

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Produção e morfofisiologia do capim brachiaria brizantha cv. xaraés sob doses de nitrogênio...

1. INTRODUÇÃO

A região centro-oeste, pela extensão de sua áreaterritorial e pelas condições climáticas favoráveis,apresenta vasto potencial de produção de carne e leiteem pastagens. Todavia, a maioria das pastagens nessaregião encontra-se degradada ou em processo dedegradação, devido ao fato de os solos de cerradopossuir uma baixa fertilidade natural e os mesmos seremhistoricamente explorados de maneira extrativista.

Neste contexto, o conhecimento das característicasmorfofisiológicas das gramíneas forrageiras é essencialpara se estabelecerem procedimentos adequados demanejo que promovam a perenidade das pastagens.Vale ressaltar que existem diferenças entre espéciesque devem ser consideradas (Martuscello et al., 2009).Assim, os estudos referentes ao comportamentofisiológico e produtivo das plantas forrageiras sãoextremamente importantes para a definição de estratégiasde manejo, principalmente, quando se trata de novoscultivares, como o Xaraés.

Por outro lado, a manutenção e a produtividade dasplantas forrageiras podem ter sua eficiência maximizadapelo aumento do uso de fertilizantes. Nesse sentido, aadubação, especialmente a nitrogenada, é fundamentalpara o aumento da produção de biomassa. O aumentodo teor de nitrogênio no solo por meio de fertilizaçãoé uma das formas de incrementar a produtividade naspastagens, principalmente quando a forrageira respondeà aplicação desse nutriente (Martuscello et al., 2005).Todavia, a eficiência de utilização do nitrogênio pela plantadepende de vários fatores, dentre eles, fonte, forma eépoca de aplicação, dose e fracionamento do nitrogênio;condições edafoclimáticas; potencial de resposta da planta;presença e taxa de lotação animal; entre outros.

Considerando-se que o fósforo desempenhaimportante papel no desenvolvimento do sistema radiculare no perfilhamento das gramíneas, a sua deficiênciapode limitar a capacidade produtiva das plantasforrageiras e, consequentemente, das pastagens. Osníveis críticos de fósforo no solo variam entre espéciesde plantas, como também entre solos (Carvalho et al.,1993; Fonseca et al., 2000; Mesquita et al., 2004: Mesquitaet al., 2010). Nesse sentido, o conhecimento da respostadas plantas a doses de fósforo no solo torna-se dealta relevância, por permitir a recomendação dosnutrientes na dose adequada para o crescimento inicialdas plantas, de acordo com seus requerimentos.

Partindo-se da hipótese que o N e o P sãoindispensáveis no estabelecimento e manutenção daprodução de gramíneas forrageiras, objetivou-se nestetrabalho determinar a influência das combinações dessesnutrientes nas características fisiológicas, como: taxafotossintética, condutância estomática, concentraçãointercelular de CO2 e transpiração, durante a fase deestabelecimento e (massa seca total da parte aérea eraízes, densidade populacional de perfilhos e relaçãofolha/colmo e teores de PB) rebrotação de Brachiariabrizantha cv. Xaraés.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação,pertencente ao Departamento de Zootecnia da Faculdadede Agronomia e Medicina Veterinária da UniversidadeFederal de Mato Grosso - FAMEV. A espécie utilizadafoi a Brachiaria brizantha (Hochst ex A. Rich.) Stapf.cv. Xaraés que foi cultivada no período de agosto anovembro de 2006, com temperatura ambiente na casade vegetação variando de 29 a 42o C.

Foram estudadas quatro doses de nitrogênio (N),a saber: 0, 75, 150 e 225 mg/dm3 e três doses de fósforo(P): 0, 140 e 280 mg/dm³. A fonte de N utilizada foi aureia, e a de P o superfosfato simples. As doses deN foram parceladas em três vezes, sendo a primeiradose após o corte de uniformização, a segunda apóso primeiro corte e a terceira após o segundo corte.Utilizou-se o delineamento experimental inteiramentecasualizado, com arranjo fatorial 4x3, com quatrorepetições, perfazendo um total de 48 unidadesexperimentais.

O solo utilizado no experimento foi coletado emTangará da Serra, Médio Norte do estado de MatoGrosso. O solo da região onde foi coletada a terra édo tipo Latossolo Vermelho, distrófico, devido ao cultivoanterior de algodão, o mesmo apresentou elevadasaturação por bases V%=73,29. As demais característicasquímicas foram: pH (H2O)=6,3; pH (HCl)=5,9; H+Al=2,6cmol/dm³; Al=0,0 cmol/dm³; Ca+Mg=6,7 cmol/dm³; Ca=4,8cmol/dm³; Mg=1,9cmol/dm³; SB=7,12 cmol/dm³;TpH7,0=9,72 cmol/dm³; K=164,52 cmol/dm³ e P=2,01cmol/dm³. Como características físicas, o mesmoapresentou 434 g/kg de areia, 71 g/kg de silte e 495g/kg de argila.

O solo utilizado no experimento foi coletado a umaprofundidade de 0-20 cm, e depois seco, homogeneizado,

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peneirado, pesado, colocado em vasos de plásticoscom capacidade para 6 kg.

A semeadura foi realizada utilizando-se 30 sementespor vaso. Em seguida foi aplicado um terço da quantidadede fósforo preconizada para cada tratamento e o restanteno corte de uniformização. A emergência das plântulasocorreu cinco dias após o plantio em 21/08/2006.Posteriormente, foi realizado desbastes periódicos atépermanecerem seis plantas por vaso. O critério utilizadofoi a uniformidade de tamanho entre as mesmas. O controlehídrico foi realizado três vezes ao dia, através da pesagemdos vasos.

Foram realizados três cortes na parte aérea dasplantas, a intervalos regulares de 25 dias de crescimento.O critério adotado para o intervalo entre cortes foia senescência da primeira folha produzida durante arebrotação. Os cortes foram feitos a uma altura aproximadade dez centímetros do nível do solo para o primeiroe segundo cortes e rente ao solo para terceiro corte.Em cada corte coletou-se a parte aérea e procedeu-se à separação das lâminas de folhas emergentes (LFE),lâminas de folhas recém-expandidas (LFRE), lâminasde folhas maduras (LFM) e colmos mais bainhas (CB),sendo a massa seca total o somatório dessas frações.As frações da parte aérea foram acondicionadas emsacos de papel e secas em estufa a 65 oC até atingirmassa constante. Para determinação da relação folha:colmo, dividiu-se a massa seca das lâminas foliarespela massa seca dos colmos mais bainhas. Para adeterminação da massa de forragem, somaram-se todosos componentes da parte aérea (LFE, LFRE, LFM eCB), após a secagem.

Para as avaliações fisiológicas, foi utilizado umanalisador portátil de gás infravermelho Li 6400 (LiCor, Lincon, Nebraska EUA). Foram mensuradas a taxafotossintética (mmol/m2/s1), condutância (mmol/m2/s1),concentração intercelular de CO2 (mmol/mol1) etranspiração (mmol/m2/s1). As leituras foram realizadasem todas as plantas de cada unidade experimental. Foramescolhidas as folhas mais novas com a lígula visívele as leituras foram efetuadas na parte mediana da folhasempre entre 9 e 12 horas.

A avaliação do perfilhamento foi realizada nomomento do corte contando-se o número de perfilhospor vaso de cada tratamento.

A produção de massa seca de raízes foi avaliadano terceiro corte, ao término do experimento. As raízes

de cada unidade experimental foram colocadas sobreum jogo de peneiras com malhas decrescentes e lavadascom água corrente até se retirar todo o excesso deterra. Em seguida, as mesmas foram colocadas em estufacom circulação forçada de ar a 65 oC até atingir massaconstante.

Determinou-se o N-total por digestão sulfúrica,seguida de destilação pelo método volumétrico deKjeldahl, conforme Silva & Queiroz (2002).

Os valores médios da taxa fotossintética,condutância, concentração intercelular de CO2 etranspiração, produção de massa seca, material morto,massa seca de raiz, densidade populacional de perfilhos,proteína bruta (PB) e relação folha/colmo foramsubmetidos à análise de variância e, nos casos designificância (P<0,05), procedeu-se o estudo deregressão. A regressão foi estudada comparando-seas doses de N x P, em cada idade de crescimento.Para se estimar a resposta aos níveis de adubação,a escolha dos modelos baseou-se na significânciados coeficientes linear e quadrático, por meio do teste“t”, de Student, ao nível de 5% de probabilidade.Empregou-se o procedimento “GLM” do software SAS9.0 (Statistical Analyses System).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise de variância para a taxa fotossintética,condutância estomática, concentração intercelular deCO2 e transpiração não revelou efeito (P>0,05) dostratamentos estudados. Provavelmente, nessa fase deestabelecimento não houve tempo de haver diferenciaçãodos tratamentos em decorrência do N nativo do solo,repercutindo consequentemente na não diferenciaçãodos processos bioquímicos. Esses resultados diferiramdos encontrados por Pompeu et al. (2010), que avaliaramo capim-Aruana submetido a doses crescentes denitrogênio (0, 125, 250 e 375 mg/dm³), e encontram efeitoda adubação nitrogenada para a taxa fotossintética,condutância estomática, concentração intercelular deCO2 e transpiração, sendo que quanto maior a dosede N maior o valor, exceto para a concentração internade CO2.

Pela análise da variância, constatou-se efeito(P<0,05) das doses de N e P, interação N x P e apenasN, no primeiro, segundo e terceiro cortes,respectivamente, na produção de massa seca. No primeirocorte da gramínea, a resposta em termos de produção

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de massa seca ajustou-se ao modelo linear em funçãodas doses de N aplicadas, ao passo que para as dosesde P foi observado efeito quadrático, com máximaprodução de 10,93 g/vaso de massa seca observadaem 181 mg/dm³ de P (Figura 1).

O desdobramento da interação N x P ocorridano segundo corte revelou efeito do N dentro dasdoses de P, sendo o efeito linear para as doses 0e 140 mg/dm³ e quadrático para a dose 280 mg/dm³,cuja maior produção ocorreu mediante a aplicaçãode 181 mg/dm³ de N. Um fato interessante que podeser usado no manejo dessa cultivar é que, quandose utiliza doses entre 140 e 280 mg/dm³, a dose deN necessária para a máxima produção diminui (Figura2), indicando que ocorre aumento da eficiência deuso do N pela planta nestas doses de P, ratificandomais uma vez a importância não só do nitrogêniopara a manutenção e produtividade das gramíneas,mas também a adubação fosfatada, principalmenteno estabelecimento.

Figura 1 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de dosesde N e P (mg/dm³), no primeiro corte.

Figura 2 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de dosesde N dentro da dose 0, 140 e 280 mg/dm³ de P,no segundo corte.

No terceiro corte, apenas as doses de N influenciarama produção de MS, cujo efeito foi quadrático com máximaocorrendo em 200 mg/dm³ de N (Figura 3).

O N influenciou sobre a produtividade do capim-Xaraés, nos três cortes. Já a adubação fosfatadainfluenciou sobre essa característica, apenas no primeiroe segundo cortes, o que evidencia a importância daaplicação de P, nesse tipo de solo para o estabelecimentodesse cultivar. Mesquita et al. (2010), em trabalho comcultivares de Panicum (Mombaça e Tanzânia) e Brachiaria(Mulato) em um Latossolo Vermelho Eutroférrico,submetidas às doses de 0, 40, 80, 120 e 241 kg/ha deP2O5, observaram que as doses de P elevaram de formaquadrática a produção de MS e o número de perfilhosdas espécies forrageiras, ratificando mais uma vez, aimportância desse nutriente para as gramíneas.

Figura 3 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de dosesde N (mg/dm³), no terceiro corte.

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Rodrigues et al. (2006) trabalharam com o capim-Xaraés cultivado em vasos num Latossolo VermelhoAmarelo, fase arenosa e com doses de N e K, e observaramcomportamento quadrático das doses de nitrogênionos três períodos de crescimentos, sobre a produçãode massa seca do capim. Os autores atribuíram essecomportamento ao intervalo entre cortes adotadosuficiente (41 dias após o corte de uniformização, 20e 22 dias após o e segundo cortes, respectivamente)para que as plantas atingissem sua máxima produçãoe à uniformidade entre as plantas de cada tratamentonas unidades experimentais. Todavia, deve-se consideraras diferenças entre as condições em que foram cultivadascomo umidade e, principalmente, a temperatura e aqualidade de luz.

A produção de massa seca de raiz respondeu deforma linear crescente à adubação nitrogenada (Figura4), em que cada mg/dm3 de N promoveu aumento de0,0133g/vaso de raízes. Entretanto, não houve efeitodas doses de P sobre esse componente. Patês et al.(2008) avaliaram o capim-Tanzânia, cultivado em vasose submetido a quatro doses de N (0, 50, 100 e 150 mg/dm³) e duas doses de P (0 e 45 mg/dm³ de P2O5), econstataram que independentemente das doses de P,as doses de nitrogênio influenciaram a produção deMS de raízes do capim-Tanzânia. Na ausência de fósforo,a produção de raízes do capim-tanzânia foi inferior àobtida na presença de fósforo.

Assim como na produção de MS da parte aéreano primeiro corte, a densidade populacional de perfilhos(DPP) foi influenciada (P<0,05) pelas doses de N e Ptestadas, não havendo interação entre os fatores. Paraas doses de N a resposta foi linear para o primeiro,

Figura 4 - Massa seca de raiz do capim-Xaraés, em funçãode doses de N.

segundo e terceiro cortes, conforme as equações deregressão: Y10corte=17,8 + 0,0071X, R²=0,75; Y20corte=18 + 0,041 X, R²=0,99 e Y30corte=26 + 0,035X, R²=0,88),em que cada mg/dm3 de N aplicado promoveu aumentode 0,071; 0,041 e 0,0353 perfilhos/vaso, respectivamente.

Para o P a resposta foi quadrática, no primeirocorte, conforme equação de regressão (Y10corte=18+ 0,19X - 0,0054X², R²=0,99) e linear no terceiro corte(Y30corte=29 + 0,1X, R²=0,68), enquanto no segundocorte não houve efeito das doses de P sobre a produçãode MS. Esses resultados evidenciam a importância daadubação com fósforo para essa cultivar, principalmenteem situações de elevados níveis de adubaçãonitrogenada, como no caso de sistemas intensivos deprodução.

Analisando os resultados, verificou-se que a maiordensidade de perfilhos (DP) ocorreu no terceiro cortee a menor no primeiro, o que refletiu na produção demassa seca do capim. No trabalho de Mesquita et al.(2010), as doses de P elevaram o número de perfilhosdas gramíneas estudadas, sendo que a Brachiariahibrida Mulato apresentou maior densidade de perfilhos.O perfilhamento é importante para as gramíneas porqueassegura a perenidade das pastagens, além de contribuircom o incremento de forragem.

A relação lâmina foliar/colmo não foi influenciadasignificativamente (P>0,05) pelas doses de fertilizantestestadas em nenhum dos cortes. Possivelmente, ointervalo entre cortes tenha sido muito curto, não havendodessa forma tempo para a diferenciação entre ostratamentos. Resultados diferentes foram obtidos porPinto et al. (1994), Lavres Jr. et al. (2004), Bonfim-Silva& Monteiro (2006) e Rodrigues et al. (2006), queencontraram decréscimos na relação folha/colmo emgramíneas forrageiras tropicais, cultivadas em vasossob doses de nitrogênio.

Para os teores de PB nas frações da parte aérea,a análise de variância revelou interação significativa(P<0,05) entre as doses de N e P, nas LFE do capim-Xaraés, no primeiro corte. Através do desdobramentoda interação, observou-se efeito quadrático, conformeas referidas equações de regressão: 0 mg/dm³ de P:Y0 =3,5583 + 0,0264X - 8E-05X2, R²=0,99 e 140 mg/dm³de P: Y15=3,7508 + 0,0189X-5E-05X2, R2 = 0,99, dentrodas doses de N, cujo ponto de máximo teor de PB foialcançado mediante as doses 165 e 189 mg/dm³ de N,respectivamente. Na maior dose de P (280 mg/dm³),

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dentro das doses de N, a resposta foi linear (Y30=3,8733+ 0,0093X, R2 = 0,99), indicando que quanto maior adose de P dentro das maiores doses de N, maior seráo teor de PB, nesse componente.

Para as LFRE, a análise de variância revelou efeito(P<0,05) apenas das doses de N, no primeiro corte,com ajustes ao modelo quadrático de regressão (Y=4,3964+ 0,0215X -7E-05X2, R2 = 0,99). Através dodesdobramento da equação, verificou-se que o maiorteor de PB ocorreu com a dose 154 mg/dm³ de N.

As LFM apresentaram comportamento distintodas demais frações. Houve efeito (P<0,05) das dosesde N e P isoladamente. Para as doses de N a respostateve ajuste ao modelo quadrático (Y = 4,4281+ 0,0197X-6E-05X2, R2 = 0,95), cujo maior teor de PB foi obtidona dose de 164 mg/dm³ de N. Por outro lado, a repostaàs doses de P foi antagônica às doses de N. Atravésdo desdobramento, verificou-se ajuste ao modelo lineardecrescente (Y=5,9151-0,0243X, R2 = 0,99) sob os teoresde PB, nessa parte da planta.

Nos CB, os teores de PB foram afetados apenaspelas doses de N, no primeiro corte. O modelo queapresentou melhor ajuste foi o quadrático(Y=2,7368+0,0097X-2E-05X2, R2= 0,98), com máximo teorde PB obtido, possivelmente, mediante o suprimentode 243 mg/dm³, dose esta maior do que a utilizada nopresente estudo

No segundo corte, em função de o padrão deresposta para todos os componentes da parte aéreaser semelhante, os mesmos foram agrupados em umaúnica figura. Nesse corte todas as frações, excetoas LFM, foram influenciadas pelas doses de N quantoaos teores de PB (Figura 5). A fração LFM não foianalisada em função da quantidade de amostrainsuficiente para as análises químicas, nesses cortes.Para os componentes LFE e CB, a resposta às dosesde N foi linear, enquanto a fração LFRE tevecomportamento quadrático, e o máximo teor de PB,provavelmente, seria obtido em dose maior do quea utilizada no presente estudo.

No terceiro corte, o padrão de resposta foisemelhante ao segundo. Houve efeito (P<0,05) paraas doses de N, sob os teores de PB para a LFE, LFREe CB. Através do estudo de regressão verificaram-se ajustes ao modelo linear em todas as situações,exceto para a fração LFRE, cujo comportamento teveajuste ao modelo quadrático de regressão e o ponto

de máxima seria obtido com a utilização de 281 mg/dm³ (Figura 6).

Para as LFM, em virtude da pequena quantidade,não foi possível analisar nos demais cortes, porémno primeiro corte a variação foi de 4,49 a 5,98% dePB, portanto, superior aos teores obtidos para as LFEe LFRE. O que pode ser em parte atribuído ao momentodo corte, em que a planta está preparando para aremobilização do N presente nesse tecido.

Nota-se que em todos os cortes, as LFREapresentaram os maiores teores de PB, possivelmentedevido à grande mobilidade do N das partes mais velhaspara as partes mais novas das plantas.

Figura 5 - Teores de proteína bruta em LFE (lâminas ememergência), LFRE (lâminas de folhas recém-expandidas) e CB (colmos mais bainhas) do capim-Xaraés, em função das doses de N, no segundocorte.

Figura 6 - Teores de proteína bruta em LFE (lâminas ememergência), LFRE (lâminas de folhas recém-expandidas) e CB (colmos mais bainhas) do capim-Xaraés, em função das doses de N, no terceirocorte.

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Os CB foram as frações que apresentaram osmenores teores de PB, em todos os cortes, sendo amagnitude da resposta menor ainda no terceiro corte.Com isso pode-se inferir que a produção animal podeser otimizada com práticas de manejo para esse capimque resultem em alta densidade de lâminas foliaresverdes, notadamente no estrato mais pastejado pelosanimais, como foi sugerido por Cano et al. (2004) parao capim-Tanzânia. Com relação ao suprimento de PBaos animais, ressalta-se que nenhuma fração, em todasas doses de nutrientes avaliadas, seria capaz de atenderaos teores mínimos de N necessários aos microrganismosruminais de 7% (Milford & Minson, 1965). Esses resultadosdiscordam dos encontrados por Cecato et al. (2004),que, trabalhando com o capim-Marandu sob dosesde N e P, observaram teores de PB de 12%, mesmona dose 0 kg/ha de N. No trabalho de Patês et al. (2008),com o capim-Tanzânia, os maiores valores de PB foramobtidos sem a adição de P.

4. CONCLUSÕES

As características produtivas e os teores de PBdo capim-Xaraés são incrementados pelas adubaçõesnitrogenada e fosfatada, sendo a eficiência do nitrogêniomaximizada quando os teores de fósforo no solo sesituam entre 140 e 280 mg/dm³. No entanto, a relaçãofolha/colmo e as características fisiológicas não sãoafetadas por esses fatores.

5. LITERATUA CITADA

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LEMOS, C.F. et al.

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO ÍNDICE DE HAINES PARA MINAS GERAISPOR ANÁLISE DA MÉDIA ATMOSFERA

Carlos Fernando Lemos¹, Flávio Barbosa Justino², Luiz Cláudio Costa³, John Edmund Lewis Maddock4

RESUMO – As queimadas são responsáveis por custos financeiros e degradação ambiental. Este estudo avaliaas áreas de risco de incêndio, com base no índice de Haines (IH) em setembro de 2003, em comparação coma climatologia de 1968-1995. Setembro é o mês mais crítico para incêndios florestais. A avaliação se baseiano NCEP/NCAR Reanalysis (National Center for ambiental Previsão/National Center for Atmospheric Research).Os resultados demonstram que o Índice de Haines era capaz de reproduzir as áreas com maior incidência defogo. Este índice mostrou que a atmosfera era mais suscetível ao desenvolvimento de fogo em setembro de2003, em comparação com a climatologia. Esta pesquisa irá ajudar a gerenciar as áreas críticas e a tomadade decisões estratégicas para combate a incêndios no estado de Minas Gerais.

Palavras-chave: Climatologia, incêndios florestais, modelagem.

SPATIAL DISTRIBUTION OF THE HAINES INDEX FOR MINAS GERAIS BYANALYSIS OF AVERAGE ATMOSPHERE

ABSTRACT – Wildfire is responsible for financial costs and environmental degradation. This study evaluatesthe areas of fire risk based on Haines Index (IH) in September of 2003, as compared to the 1968-1995 climatology.September is the most critical month for wildfires. The evaluation is based on the NCEP/NCAR Reanalysis(National Center for Environmental Prediction/National Center for Atmospheric Research). The results demonstratethat the Haines index was able to reproduce the areas with highest incidence of fire. In this the index hasshowed that the atmosphere was more susceptible to fire development in September of 2003 as comparedto the climatology. This survey will help you manage the critical areas and strategic decision-making forfire control in the State of Minas Gerais.

Key Words: Climatology, forest fires, modeling.

1 1UFV - Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas - Tecnologia em Gestão ambiental - Campus Florestal - Florestal -MG. E-mail: [email protected]

2,3 UFV - Dept. de Engenharia Agrícola e Ambiental - Campus da UFV - Viçosa - MG. E-mail: [email protected], [email protected] UFF - Dept. de Química - Geoquímica Ambiental - Outeiro São João Batista, s/n - Niterói - RJ. E-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

O Índice de Haines (IH) (Haines, 1988) é umaferramenta para gerenciar e controlar queimadas eincêndios, muito utilizado nos Estado Unidos, na Europa,na Ásia e na Austrália. Este índice relaciona a estabilidadeatmosférica e a umidade relativa do ar, para a previsãode queimadas e incêndios florestais. O ar seco afetao comportamento do fogo, resultando em mais combustívelpara queimar e aumentar a probabilidade de espalhamentoda queimada.

As variações climatológicas indicam e ajudama gerenciar as áreas críticas e a tomar decisões estratégicaspara o controle de queimadas e incêndios florestais,assim como verificar o comportamento do Índice deHaines para cada meso-região de alto e moderado risco.

O desmatamento é responsável por 18% dasemissões globais de gases responsáveis pelo efeitoestufa, o que equivale, por ano, em todo o mundo aáreas de florestas equivalentes ao território de Portugal.Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, as

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Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera

queimadas são na maioria de origem antrópica, sendo,portanto, o IH uma medida das condições atmosféricassuscetíveis para o alastramento de fogo.

A agricultura pode sofrer abalos com a mudançado regime de chuvas e modificações nos solos, o quediminui a produtividade e a segurança alimentar, e podecausar migrações e conflitos na população. Segundoo IPCC (2001), apesar de o aumento da concentraçãode CO2 estimular o crescimento das plantas, as vantagensdesse crescimento não compensam os malefícios doaquecimento global (Kochtubajda, 2001). Podem ocorrermodificações nas culturas e na criação de animais, poisa adaptação às mudanças climáticas pode envolverajustes nas épocas de semeadura e de colheita,quantidades de fertilizante, frequência de irrigação,cuidados com os cultivares e seleção de novas espéciesde animais mais adaptadas (Confalonieri, 2001).

Em aproximadamente 85% das propriedades rurais,a presença de fogo acidental em áreas de abertura incidemprincipalmente sobre pastagem, danificando cercase reduzindo a capacidade de pastejo (Alencar et al.,1997; Nepstad et al., 1999).

O ar seco afeta diretamente o comportamento dofogo, aumentando a probabilidade de ocorrer umespalhamento maior da queimada. Além disso, a atmosferainstável devido à presença do fogo é dominada porcentros de baixa pressão, levando a uma intensificaçãodos ventos de superfície, o quer pode acarretar umalastramento do fogo. A investigação do teor do vapord’água na atmosfera, bem como a análise dos sistemasde meso e pequena escala associada com a instabilidadeatmosférica, como proposto por Haines (1988), éextremamente útil para a previsão e o monitoramentodo desenvolvimento das queimadas. Segundo Lemos(2006), existem evidências claras de uma forte relaçãoentre as condições de estabilidade atmosférica (AltaSubtropical do Atlântico Sul), umidade baixa e odesenvolvimento das queimadas.

Assim, o objetivo deste estudo foi usar o Índicede Haines como uma ferramenta no combate a queimadasno Brasil e em Minas Gerais.

2. MATERIAL E MÉTODOS

1) Inicialmente foram feitas análises dinâmicas esinóticas de grande escala sobre Minas Gerais do mêsde setembro, para obter-se uma visão geral doescoamento da atmosfera, direção dos ventos, índices

pluviométricos, sistemas sinóticos dominantes efenômenos atmosféricos que influenciam o clima e omicro clima de cada região. (Climanálise, 2003). Osresultados foram obtidos pela análise dos dados daCirculação Geral da Atmosfera (CGA), a reanálise dedados do Modelo de Previsão Numérica de Tempo (PNT)do National Center for Environmental Prediction (NCEP),do período de 1979 a 1995. Os ventos foram analisadosnuma grade de 2,5 graus e interpolados para uma gradede 5 graus em Projeção Mercator para visualização(Climanálise, 2003). Estes dados originais foram geradosno Supercomputador SX-6 da NEC do CPTEC/INPE(Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos– Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e foramobtidos através do Site oficial do NOAA (NationalOceanic Atmospheric Agency) na internet, um serviçogratuito, e foram coletados para a realização destareanálise e para o cálculo das linhas de corrente queatuaram sobre a América do Sul (www.cdc.noaa.gov/cdc/data.ncep.reanalysis. derived.html).

A reanálise foi feita para aumentar a confiabilidadedo modelo e da previsão de tempo, isto é, foramacrescentados os dados reais que não foram utilizadosna primeira análise do modelo (Lemos, 2000).

2) O estudo climatológico sobre o estado de MinasGerais foi realizado com precipitação total e os desviosde precipitações em relação à média climatológica (1961-1990).

3) A análise da média atmosfera (~1.500 m) do Índicede Haines (Haines, 1988) foi obtida pelo Software GRADSutilizando-se um Supercomputador SX-6 no CPTEC/INPE (Centro de Previsão e Estudos Climáticos/InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais) para a realização dasrodadas dos dados (Brian, 1995; Lemos, 2006).

Para os dados de queimadas, foram gerados 30mapas da análise da média atmosfera durante do mêsde setembro de 2003, que são as melhores referênciasdo Índice de Haines em estudo de curto prazo (Werth& Werth, 1998).

4) Foram obtidas as imagens totais de queimadasdo satélite NOAA-12 da passagem das 12 UTC (UniversalTime Coordinated), coletadas através do DAS (Divisãode Satélites Ambientais) do INPE.

Foi escolhida a passagem do satélite NOAA-12e 16 UTC entre 21:00Z e 22:45Z (horário de Brasíliaentre 18:00h e 19:45 h), que engloba os focos de calor

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detectados por passagens realizadas durante o finalda tarde e início da noite, que representam as queimadasainda ativas (Setzer, 1992). O número de focos obtidospor esta passagem representa a melhor estimativa dasqueimadas ocorridas no dia. Isto significa que estesfocos de calor continuarão durante o período damadrugada e manhã, caso não ocorram chuvas suficientespara a extinção nestas áreas de incidência.

5) Por fim, foram gerados gráficos comparativose estatísticos do número total diário de queimadas noestado de Minas Gerais associado à porcentagem (%)de áreas indicadas pelo modelo com moderado (5) ealto Índice de Haines (6), para se obter o índice deacertos comparativos e locais de cada ponto determinadopelo modelo Eta no estado de Minas Gerais.

2.1. Índice de Haines

2.1.1. Introdução

O Índice de Haines (IH) é um índice que indicao local em potencial para incêndios (queimadas) quejá começaram e no qual poderá ocorrer queimadas ouincêndios florestais de grandes proporções, chamadosde “blow-up”. Um foco de calor em “blow-up” conduza comportamentos extremos de queimadas, que se tornamincontroláveis para se combater (Haines, 1988, 1991,1997).

Durante anos, valores característicos de condiçõesde estabilidade atmosférica, com baixa umidade do ar,indicaram a propagação de queimadas em grandes áreasremotas nos Estados Unidos (Brotak & Reifsnyder,1977). Donald Haines verificou que a maioria dasocorrências aconteceu em dias em que a umidade do

ar estava muito baixa e a atmosfera estava bastanteestável (Haines, 1988).

O Meteorologista Donald Haines realizou uma análiseestatística de várias propriedades atmosféricas paradeterminar quais parâmetros variaram significativamentena climatologia em dias com crescimento de queimadas.

Assim, Haines concluiu que a temperatura da camadana atmosfera T(ºC), a temperatura do ponto de orvalhoda camada na atmosfera Td (ºC) e o baixo nível deumidade relativa na superfície (%) relacionaramsignificativamente com a climatologia, em dias em queocorreram desenvolvimento de queimadas em grandesáreas (Haines, 1991).

Este Índice também é combinado com parâmetrosmeteorológicos modelares tais como: temperatura máximado dia anterior, média anual de precipitação, últimos dadospluviométricos (mm) médios durante todo o período (24horas), velocidade do vento, umidade relativa do ar, índicespluviométricos (mensais e anuais), dentre outros. Estesparâmetros são necessários para acrescentar o fator deumidade (dependendo da climatologia de precipitação).

2.1.2. Cálculo do Índice de Haines (IH)

O cálculo do IH nas três camadas verticaisatmosféricas, a saber: na baixa (950-850hPa); média(850-700hPa) e alta (700-500hPa), está associado ànecessidade de se ter um mapeamento na superfíciedevido aos distintos níveis de topografia.Matematicamente o IH é definido pela soma docomponente da estabilidade (A) e do componente daumidade atmosférica (B) (A + B = IH). Como definidona Tabela 1, o termo A representa a mudança de

Elevação(altitude) Componente deEstabilidade (A) ComponentedeEstabilidade(B)

CÁLCULO CATEGORIA CÁLCULO CATEGORIABAIXA ATMOSFERA A=T950hPa–T850hPa A= 1 se < 4oC A=T950hPa –Td850hPa A= 1 se < 6oC<= 500 m A= 2 se 4 -7oC A= 2 se 6 -9oC

A= 3 se >=8oC A= 3 se >=10oCMÉDIA A=T850hPa – T700hPa A= 1 se < 6oC A=T850hPa – Td700hPa A= 1 se < 6oCATMOSFERA A= 2 se 6 -10oC A= 2 se 6 -12oC500 A 1.500 m A= 3 se >=11oC A= 3 se >=13oC

ALTA A=T700hPa – T500hPa A= 1 se < 6oC A=T700hPa – Td500hPa A= 1 se < 15oCATMOSFERA A= 2 se 6 -10oC A= 2 se 15 -20oC>= 1.500 m A= 3 se >=11oC A= 3 se >=21oC

Tabela 1 - Cálculo do IH (Índice de Haines)

Fonte: Modificado por Winkler et al. (2005) e Lemos (2006).

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Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera

temperatura com altura, e o termo B caracteriza a depressãodo ponto de orvalho para um determinado nível. OT representa a temperatura do ar e Td é a temperaturado ponto de orvalho. A partir da soma dos dois termos(A e B) tem-se o valor nominal do IH que varia de 2a 6, sendo 2 associado a uma pequena possibilidadede queimadas de grande porte e 6 a uma altaprobabilidade.

Assim, se A+B =IH os valores: 2 e 3: risco muitobaixo; 4: risco baixo; 5: risco moderado; 6: risco alto.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Análise da circulação geral da atmosfera sobre oBrasil e Minas Gerais

Na Figura 1, são mostrados padrões médios domês de setembro de 2003. O Anticiclone do AtlânticoSul (AAS) destaca-se pelo papel que desempenha sobreo clima do Brasil.

Em 850hPa (aproximadamente 1500 m) apresentoupadrão consistente com as anomalias de PNM (Pressãoao Nível do Mar). O anticiclone do Atlântico Sulbasicamente inibe a formação de nuvens sobre a regiãoem que está atuando, causando subsidência, deixandoa região em questão com céu claro e com poucas nuvens,os ventos sopram do seu centro para a sua extremidadee seu centro possui pressões atmosféricas superioresàs suas extremidades (Lemos, 2006).

Figura 1 - Linhas de Corrente médio em 850 hPa em Setembro/2003. Os ventos são analisados numa grade de 2,5graus e interpolados para uma grade de 5 graus emProjeção Mercator para visualização.

Fonte: NCEP/Climanálise (2003).

Analisando-se a imagem de satélite GOES-12, nafaixa visível, no dia 25/09/2006, por ser o dia mais críticodeste mês de 2003, verificou-se que um sistema frontalencontrava-se sobre o estado de Santa Catarina e Paraná.

Em todo o estado de Minas Gerais havia ausênciade nuvens, devido à atuação da alta subtropical doAtlântico que estava posicionado na retaguarda dosistema frontal (Figura 2).

O escoamento atmosférico médio à superfície sobrea América do Sul e Oceanos circunvizinhos mostroua presença dos Anticiclones Semiestacionários doAtlântico Sul e do Pacífico Sul, responsáveis, em grandeparte, pelas condições de tempo sobre o ContinenteSul Americano, pois exercem influência destacável napenetração das massas de ar tropicais úmidas e polares.Suas posições e intensidade modificam-se ligeiramenteentre os períodos de verão e inverno.

O Anticiclone do Atlântico Sul (AAS) destaca-se pelo papel que desempenha sobre o clima brasileiro,durante agosto, setembro e outubro. O AnticicloneSemiestacionário do Atlântico Sul inibe a formaçãode nuvens sobre a região em que atua causandosubsidência, deixando a região em questão com céuclaro e poucas nuvens (Lemos, 2000).

Durante este período, este sistema reinicia odeslocamento para leste, isto é, na direção do Atlântico,cuja periferia encontra-se sobre a região central doBrasil, favorecendo a ligeira intensificação dos ventossobre esta região e áreas; com isto, os Índices de Haines

Figura 2 - Imagem de satélite GOES-12, dia: 25/09/2003, canalvisível, às 1809Z.

Fonte: DAS/INPE (2003).

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durante este período indicam valores de Moderado(5) a alto (6) em toda a periferia deste sistema,principalmente na face oeste da Alta Subtropical doAtlântico (AAS) que está atuando sobre o centro-oestedo estado de Minas Gerais.

3.2. A climatologia mensal

Devido às passagens dos sistemas frontais queatuaram sobre a região, observamos que entre os dias03 e 06, 12 e 16, e 28 e 30 de setembro de 2003 ocorreuuma faixa linear do índice de Haines de Baixa (4) e muitobaixa (2 e 3) na região sudeste do Brasil e no estadode Minas Gerais. Este sistema frontal mais intenso atingiuo estado de São Paulo no dia 11de setembro de 2003(Climanálise, 2003).

Entre 12 e 16 de setembro, este sistema frontalatuou sobre a região sudeste e sobre o estado de MinasGerais. Entre os dias 28 e 30 o modelo indicou estemesmo perfil, devido à passagem de um novo sistemafrontal sobre a região sudeste do Brasil, inibindo odesenvolvimento de queimadas no estado.

Na região sudeste, o mês de setembro é de transiçãoentre as estações seca e a chuvosa e foi marcado porchuvas predominantemente abaixo da média histórica,principalmente no sul de Minas Gerais, leste do TriânguloMineiro e grande parte da região central do estado(Figura 3) (Climanálise, 2003).

Verificamos que a precipitação total em todo oestado ficou abaixo de 25 mm durante o mês, somentena região oeste do Triângulo Mineiro e na região oestede Minas. Os valores médios ficaram entre 50 e 100mm mês, devido a passagens dos sistemas frontais(Figura 3).

Outro detalhe importante é que no mês de setembroocorre o desfolhamento das plantas e por sua vez aprecipitação é também reduzida.

A maior parte das queimadas e incêndios florestaisé detectada nos períodos de estiagem, devido à baixaumidade relativa, pois setembro é o mês mais quentedo ano no Brasil, devido à baixa umidade relativa doar (Lemos, 2000). Porém, como sua ignição dependena maioria dos casos de intervenção humana, padrõeslocais de uso do solo, de transformação da vegetaçãoe de tecnologias agrícolas devem necessariamente serincorporados em modelos de potencial de ocorrênciade queimadas e incêndios intencionais, inclusive emperíodos chuvosos (Setzer, 2004).

Figura 3 - Precipitação total em mm para Setembro-2003.Fonte: Climanálise (2003).

Os desvios em relação aos valores médios históricosregistraram valores acima da média climatológica nooeste do Triângulo Mineiro, extremo leste da Zonada Mata e no norte de Minas Gerais (Climanálise, 2003).Nas demais áreas registraram valores com desvios variandoentre -20 e -25 mm.

Ressalta-se que nas regiões de valores inferioresa -25 mm, o modelo indicou áreas de moderado (5) ealtos índices (6) de Haines, isto é, valores com grandepotencial de risco de queimadas e de incêndios tornarem-se incontroláveis (Figura 4).

Figura 4 - Desvios de precipitação em mm em relação à médiaclimatológica (1961-1990) para Setembro-2003.

Fonte: Climanálise (2003).

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Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera

Apesar da entrada dos seis sistemas frontaisna região sudeste, as chuvas ocorreram abaixo damédia histórica. Os sistemas frontais ocorreram dentroda normalidade para o mês de setembro de 2003. Foramtrês frentes frias que atuaram com mais intensidadeno estado de Minas Gerais, entre os dias 03 e 06/09/2003, sendo este sistema mais intenso entre osdias 12 e 16/09/2003, e nos dias 26 a 30/09/2003.

As bacias hidrológicas continuaram apresentandobaixos valores de precipitação. Verificamos que as vazõesem m3/s e desvios em relação à MLT (valores Médiosde Longo Termo), expressos em porcentagem emsetembro/2003, observados em Três Marias com valoresde 141,0 m3/s e -35,3%, em Emborcação de 159,00 m3/s e -1,9%, em Itumbiara-MG de 433,0 m3/s e -16,6%e em São Simão-MG de 898,0 m3/s e desvio positivode 5,9% (Climanálise/2003).

3.3. As queimadas

As queimadas no Brasil totalizaram 57.262 focosdurante setembro de 2003 (Figuras 5A e 5B).

No estado de Minas Gerais foram registrados 4.546focos de queimadas, representando 7,94% do total dequeimadas no Brasil. Observa-se que na região de RioDoce, Mucuri, Jequitinhonha e no norte de Minas asmaiores concentrações ocorreram durante o períodoentre 24 e 29 deste mês.

Houve um decréscimo de 6% em relação aomesmo período do ano de 2002. Ao contrário de2002, as regiões nordeste, sul e sudeste registraramaumento significativo das queimadas em funçãoda estiagem e das altas temperaturas do ar(Climanálise, 2002).

3.4. A distribuição espacial do Índice de Haines sobre oestado de Minas Gerais em setembro de 2003 da médiaatmosfera

Analisando-se a distribuição do índice de Hainessobre o estado de Minas Gerais, (Figuras 6 e 7) verificou-se que a evolução espacial do Índice de Hainesacompanhou o desenvolvimento das queimadas emtodo o estado (Tabela 2).

Na primeira quinzena, o modelo indicou áreas de altorisco no extremo oeste do Triângulo Mineiro, região centraldo estado, centro-leste e norte do estado e somente nodia 09/09/2003 o modelo indicou na região do sul de Minas.

5A

5B

Durante este período ocorreu a presença de dois sistemasfrontais sobre o estado, entre os dias 12 e 16/09, que foiindicado pelo modelo registrando áreas de muito baixo(2 e 3) e baixo (4) Índice de Haines (Figura 6). O dia demenor ocorrência de queimadas foi 02/09/2003, com 13

Figura 5A e 5B - Distribuição espacial de densidades de queimadasem unidades de grade no Brasil e no estadode Minas Gerais em Setembro de 2003. Focosde calor detectados através do satélite NOAA12 às 21:00 TMG.

Fonte: DAS/INPE (2006)

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Dia N°Queimadas Dia N°Queimadas1 1 7 1 6 8 42 1 3 1 7 6 13 5 0 1 8 1304 7 5 1 9 7 75 7 6 2 0 1 26 3 2 2 1 6 37 7 6 2 2 4298 3 2 2 3 2249 3 0 2 4 867

1 0 127 2 5 9201 1 3 4 2 6 1551 2 4 6 2 7 3291 3 161 2 8 6 01 4 3 8 2 9 1 31 5 214 3 0 1 3

Tabela 2 - Distribuição de queimadas no estado de Minas Geraisem Setembro de 2003

Fonte DAS/INPE/NOAA-12 e 16.

Figura 6 - Evolução diária do Índice de Haines entre 01 a 15 de setembro de 2003, sobre o estado de Minas Gerais da análiseda média atmosfera.

Fonte: Lemos (2006).

focos em todo o estado, e em 13/09/2003 ocorreu a maiorincidência, 161 focos durante a primeira quinzena do mês,totalizando 1.021 queimadas em todo o estado.

Analisando-se a média espacial da distribuiçãodo Índice de Haines para o estado de Minas Geraisentre os dias 01 e 15, verificou-se que na região norteda mesorregião de Jequitinhonha e praticamente todaa mesorregião de Mucuri o modelo indicou o Índicede Haines com valores muito baixo e baixo (2 e 3). Nosul e leste do estado o modelo indicou valores de baixosriscos (4). Na faixa central do estado os valores ficaramem moderado risco (5) e na faixa norte do TriânguloMineiro, Central Mineira, Noroeste e centro-oeste damesorregião do norte de Minas Gerais o modelo indicouvalores de alto risco (6) (Figura 7).

A segunda quinzena foi o período mais crítico,pois o número de queimadas aumentouconsideravelmente, e o modelo acompanhou odesenvolvimento, sendo que os dias mais críticos ficaramentre os dias 22 e 28/09 (Figura 8, Tabela 1).

O modelo indicou áreas de alto risco na faixa centro-oeste do estado. No dia 25/09/2003, o modelo indicouo dia mais crítico, em praticamente todo o estado haviavalores de alto risco de desenvolvimento de queimadas,

IH (6), com valores registrados pelos satélites NOAA-12 e 16, totalizando 920 focos de calor neste dia.

Durante este período ocorreu a presença de doissistemas frontais sobre o estado, principalmente entreos dias 15 e 16/09, o que foi indicado pelo modelo,registrando áreas de muito baixo e baixo Índice de Haines

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Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera

no centro-leste do estado. Somente na região do Nortede Minas registraram-se valores de moderados riscos(5) de desenvolvimento de queimadas do IH (Figura8 e Tabela 2). Totalizaram-se 3.437 queimadas em todoo estado, com um aumento de 336% em relação à primeiraquinzena. A média de queimadas por dia no estadofoi de 149 focos.

Analisando-se a média espacial da distribuiçãodo Índice de Haines para o estado de Minas Geraisentre os dias 16 e 30, verificou-se que na região norteda mesorregião de Jequitinhonha e praticamente todaa mesorregião de Mucuri o modelo indicou o Índicede Haines com valores muito baixo e baixo IH (2 e 3)(Figura 9).

No centro-leste da mesorregião do Rio Doce,faixa central da mesorregião de Jequitinhonha e extremonordeste da mesorregião norte de Minas Gerais, osvalores ficaram em moderado risco (5) e no restantedo estado de Minas Gerais o modelo indicou valoresde alto risco (6) (Figura 9).

3.5. Reanálise do Mês de Setembro

Com a variação de espaço na magnitude dogradiente vertical entre 950 hPa e 850 hPa sobre o estadode Minas Gerais, o Índice de Haines na média atmosferaindicou as seguintes mesorregiões: As mesorregiõesindicadas pelo modelo em alto risco foram o Triângulo

Figura 7 - Média espacial da distribuição do Índice de Hainesentre 1º e 15 de setembro de 2003.

Fonte: Lemos (2006).

Mineiro, nordeste do sul de Minas, oeste dasmesorregiões do oeste de Minas e da região centrale oeste da região norte de Minas. As diferenças detemperaturas variaram entre a superfície e 850 hPa entre6ºC a 13ºC na média atmosfera, levando valores de altoIH (6).

Observou-se que na média atmosfera do mês desetembro o modelo indicou uma faixa na região centraldo estado com IH moderado (5). No centro-leste doestado o modelo indicou valores no patamar de baixo(4) IH.

A área mais crítica em que o modelo indicoualtos valores do IH do mês de setembro da reanálisede 30 anos entre 1968 a 1996 foi o centro-oeste deMinas Gerais, principalmente no Triângulo Mineiro(Figura 10).

Durante este trimestre, nos médios níveis ocorreum “Anel 6”, na região central do Brasil, com maiorintensidade durante o período de segunda quinzenade agosto a primeira quinzena de setembro. Estarepresentação de “Anel 6” é uma área circular que foiindicada pelo Modelo sobre toda a região central doPaís, no qual sua periferia está indicada no centro-oeste de Minas Gerais e principalmente no TriânguloMineiro - MG (Lemos, 2006).

Assim, as diferenças de temperaturas indicadaspelo modelo variaram entre a superfície e 850 hPa entre6ºC a valores superiores a 13ºC na média atmosfera.A frequência destes valores permanece durante todoeste período caracterizado pelo “Anel 6”. Durante todoo período na alta atmosfera os índices de Hainespermaneceram muito baixos em todo o país, com Índicede Haines de 2 e 3.

O escoamento atmosférico médio à superfície sobrea América do Sul e Oceanos circunvizinhos mostraa presença dos Anticiclones Semiestacionários doAtlântico Sul e do Pacífico Sul, responsáveis, em grandeparte, pelas condições de tempo sobre o ContinenteSul Americano, uma vez que exercem influênciadestacável na penetração das massas de ar tropicaisúmidas e polares. Suas posições e intensidademodificam-se ligeiramente entre os períodos de verãoe o inverno (Lemos, 2006). O Anticiclone do AtlânticoSul (AAS) destaca-se pelo papel que desempenhasobre o clima do Brasil. Durante estes meses (agosto,

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Figura 8 - Evolução diária do Índice de Haines entre 16 a 30 de setembro de 2003, sobre o estado de Minas Gerais da análiseda média atmosfera.

Fonte: Lemos (2006).

Figura 9 - Média espacial da distribuição do Índice de Hainesentre 16 e 30 de setembro de 2003.

Fonte: Lemos (2006).

setembro e outubro), o Anticiclone Semiestacionáriodo Atlântico Sul inibe a formação de nuvens sobrea região em que está atuando causando subsidência,deixando a região, em questão, com céu claro compoucas nuvens, os ventos sopram do seu centro paraa sua extremidade e seu centro possui pressõesatmosféricas superiores às suas extremidades (Lemos,2000).

Durante este período, este sistema reinicia odeslocamento para leste, isto é, na direção do Atlântico,cuja periferia encontra-se sobre a região central doBrasil favorecendo a ligeira pequena intensificaçãodos ventos sobre esta região e áreas; com isto, osÍndices de Haines durante este período indicam valoresde moderado (5) a alto (6) em toda a periferia destesistema, principalmente na face oeste da Alta Subtropicaldo Atlântico (AAS) que está atuando sobre o centro-oeste do estado de Minas Gerais.

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Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera

3.6. Análise gráfica comparativa do número dequeimadas ocorridas com áreas indicadas pelo Índicede Haines em porcentagem (%) sobre o estado deMinas Gerais em setembro de 2003

Verificamos que durante todo o mês de setembroo modelo indicou áreas de moderado risco no estado,para os dias 06 e 11/09, dias 14 e 15/09, e entre os dias21 e 29/09 o modelo indicou altos riscos dedesenvolvimento de queimadas.

Na análise da média atmosfera entre os níveis de850 hPa e 700 hPa sobre as áreas de moderado risco(5), a diferença de temperatura obteve valores acimade 4ºC para o índice de estabilidade e valores acimade 6ºC para a depressão psicrométrica (Porter, 2001).

No campo da análise destacou-se o dia 25/09/2003, pois verificamos que o modelo indicou que95% do estado estaria em condições de altos riscosde desenvolvimento de queimadas, IH (6), e foijustamente o dia em que ocorreu a maior incidênciade queimadas no estado, com 920 pontos de focosde calor (queimadas) detectados pelo satélite NOAA-12 e 16 (Figuras 8 e 11).

Figura 10 - Média da reanálise do mês de setembro do Índicede Haines.

Fonte: Lemos (2006).

Figura 11 - Número total diário de queimadas no Estado de Minas Gerais associado à porcentagem (%) de áreas indicadaspelo modelo com valores de moderado (5) e alto Índice de Haines (6).

Fonte: INPE/DAS/NOAA -12 e 16 (Lemos, 2006).

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4. CONCLUSÕES

Nas análises aqui apresentadas, as linhas decorrente e dos Índices de Haines (IH) representaramresultados satisfatórios e objetivos em indicar as áreasmais críticas e favoráveis ao desenvolvimento dequeimadas no estado de Minas Gerais associadas àclimatologia.

O mês de setembro é o mais crítico nodesenvolvimento de queimadas e de altas concentraçõesde valores dos Índices de Haines (IH), principalmenteem sua segunda quinzena. Os mapas indicaram altosvalores entre os dias 22 e 28/09, quando o número dequeimadas aumentou consideravelmente; o modeloacompanhou o desenvolvimento, principalmente sobrea mesorregião do Rio Doce, Mucuri e Jequitinhonha(Figura 11).

Verificou-se que sobre estas áreas de altos riscosas diferenças de temperaturas médias obtiveram valoresacima de 11ºC para os índices de estabilidades, e valoresacima de 13ºC para as depressões psicrométricas.

O dia 25/09/2003 foi considerado o dia maiscrítico deste mês. O modelo indicou 95% das áreasdo estado com índice de Haines (6) com altos riscosde desenvolvimento de queimadas. Paralelamenteocorreu o maior número de queimadas com 920 casos(Figura 11).

Analisando-se a evolução diária dos focos de calorentre os anos de 1995 e 2002, (dados disponíveis sobreo Brasil - INPE/DAS) confirmou-se que o período maiscrítico foi considerado o mês de setembro, confirmadopelo modelo e pelos Índices de Haines apresentadosneste estudo.

As análises revelaram variações significativas nascaracterísticas climatológicas do índice de Haines entreas camadas e dentro das três camadas variantes deelevação.

Adicionalmente, são vistas como variações intra-anuais importantes para um determinado local. Estasvariações oscilaram na média esperada, associada àclimatologia do Brasil, pois o modelo indicou que omês de setembro seria o mais crítico do ano em relaçãoà propagação de queimadas.

Os cálculos modelares acompanharam a evoluçãoe a oscilação comportamental geral das queimadas nodecorrer do mês, principalmente quando aumenta o

número de queimadas no estado na segunda quinzenado mês.

Finalmente, a análise diária da média atmosferado Índice de Haines indicou as áreas mais críticas aserem gerenciadas através do Índice de Haines, o centro-oeste e o nordeste do Estado, que auxiliará como linhabase de avaliações históricas e mudanças futuras nopotencial de distribuição das queimadas no estado,direcionando estas necessidades para o gerenciamentoe monitoramento, principalmente no controle dasqueimadas.

Os dados estatísticos demonstraram que o númerototal diário de queimadas no estado de Minas Geraisassociado à porcentagem (%) de áreas indicadas pelomodelo com valores de moderado (5) e alto Índice deHaines (6) acompanharam o desenvolvimento dasqueimadas, principalmente na segunda quinzena domês.

O modelo indicou localidades consideradasimportantes para o uso operacional do Índice de Haines.As análises demonstraram características substanciaisdas variações climatológicas do Índice de Haines namédia atmosfera.

Assim, este estudo teve como objetivo validaro modelo e indicar o mês de setembro de 2003, o diae as áreas mais críticas de alto e moderados riscosde queimadas. Em um histórico climatológico modelarassociadas às condições gerais da atmosfera com operíodo de maior freqüência de queimadas no Estadode Minas Gerais.

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BARROS, de K.O. et al.

O ESTADO DA ARTE DA DESERTIFICAÇÃO: ANÁLISE DOS PRINCIPAISPERIÓDICOS DA ÁREA DE SENSORIAMENTO REMOTO

Kelly de Oliveira Barros1,3, José Marinaldo Gleriani2,3, Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro2,3, EliasSilva2,3

RESUMO – Foi realizada uma pesquisa para identificaçãor as metodologias que vêm sendo aplicadasno estudo da desertificação assim como a frequência com que trabalhos sobre esta temática estão sendopublicados. O Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – SBSR e cinco revistas internacionais:Remote Sensing of Enviroment, Photogrammetric Engineering and Remote Sensing, International Journalof Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing e International Journal ofApplied Earth Observation and Geoinformation foram escolhidos para a triagem. Foram encontrados24 artigos que trataram da desertificação no SBSR. Neste evento destacou-se o ano de 2010, quandoforam identificados 10 trabalhos com a temática. Na análise das revistas foram registradas 31 publicações,e o maior número de trabalhos publicados também ocorreu em 2010, com cinco documentos. Destaquepara a International Journal of Remote Sensing , com o maior número de trabalhos sobre a desertificação,18. Percebeu-se uma carência ainda no âmbito de publicações internacionais em revistas sobre o processoda desertificação. Ressalta-se que a revista Photogrammetric Engineering and Remote Sensing não apresentounenhum trabalho sobre o processo. As metodologias adotadas foram variadas e inovadoras, especialmentenos trabalhos publicados nas revistas. Pode-se perceber que a utilização do índice de vegetação (NDVI),seja de maneira individual ou complementar ao trabalho, foi uma metodologia que se destacou em númerodentre as demais. No entanto, notou-se a falta de uma abordagem multidisciplinar para se estudar oprocesso. Porém, foi possível perceber que tanto o estudo da desertificação quanto o uso de geotecnologiaspara este fim, está em franco crescimento.

Palavras-chave: Degradação da terra, geotecnologias, revistas internacionais, Simpósio Brasileiro de SensoriamentoRemoto

DESERTIFICATION STUDIES USING REMOTE SENSING TECHNIQUES: AFRAMEWORK AND STATE-OF-THE-ART SURVEY

ABSTRACT – A research was carried out to identify the methodologies that have been applied in the studyof desertification as well as how often papers on this subject are being published. The Brazilian Symposiumof Remote Sensing - BSRS and five international journals: Remote Sensing of Environment, EngineeringPhotogrammetric and Remote Sensing, International Journal of Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscienceand Remote Sensing, and International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation were chosenfor the triage. Twenty four articles addressing desertification were found in BSRS. In the 2010 edition ofthis symposium, 10 papers in this theme were identified. Concerning to the analysis of magazines, 31 publicationswere recorded, and the largest number of publications also occurred in 2010, with five documents. The InternationalJournal of Remote Sensing stood out, with 18 papers on desertification. It was noticed still a lack of publicationsin international journals concerning to the process of desertification itself. It must be emphasized that nopublication on this matter was found on the Photogrammetric Engineering and Remote Sensing magazine.

1 Mestranda em Ciência Florestal - UFV. *Autor correspondente: [email protected] Professor do Departamento de Engenharia Florestal - UFV.3 Universidade Federal de Viçosa, Campus Universitário, s/n, Viçosa, Minas Gerais, CEP 36570-000.

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O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento...

A broad range of innovative methodologies were identified, especially in the works published in magazines.One can see that the vegetation index (NDVI), either individually or as an ancillary information, was largelyadopted. However, it was noted the lack of a multidisciplinary approach to study the process. Furthermore,it was revealed that both the study of desertification and the use of geo-technologies for this purpose is boomingpromising avenue.

Key Words: Brazilian Symposium of Remote Sensing, geotechnologies, international journals, land degradation.

1. INTRODUÇÃO

A Organização das Nações Unidas (ONU) conceituadesertificação como “a degradação da terra nas áreasáridas, semiáridas e sub-úmidas secas, resultante devários fatores, entre eles, as variações climáticas eas atividades humanas”. Por “degradação da terra”entende-se a deterioração do solo, dos recursoshídricos, da vegetação, da qualidade de vida dapopulação e perda da biodiversidade (Brasil, 1998).Dentre as várias causas deste processo apontam-sea exploração intensiva da terra pela agricultura e opastoreio (Lu et al., 2009).

Caracterizada como um impacto ambiental, adesertificação é considerada por pesquisadores,ambientalistas e pelo poder público como um dos maisgraves problemas ambientais da atualidade, com reflexoem várias áreas, como a ambiental, a econômica e asocial (Brasil, 1986; Barros et al., 2008).

No Brasil, apontam-se o nordeste e a região nortede Minas Gerais como as áreas de susceptibilidadeà desertificação no país, devido à ocorrência do climasemiárido e também do sub-úmido seco. Porém, adesertificação não é recorrente apenas no Brasil. Esteprocesso afeta direta ou indiretamente mais de 100países, de quase todos os continentes, exceto a Antártica(Brasil, 1998; Brasil, 2005; Pachêco et al., 2006).

Vários pesquisadores no país contribuíram no estudoda desertificação destacando-se os trabalhos de:Suertegaray (1987, 1996, 1998), Ab’Saber (1977),Vasconcelos Sobrinho (1974, 1978, 1978), Conti (1985,1986, 1993, 1994, 2008), Matallo (1992, 1996, 1999) eMatallo Júnior (2000, 2001, 2003). Ressalta-se atransdisciplinaridade deste processo, o que implicaa necessidade de integração de profissionais de diferentesáreas para seu estudo (Matallo Júnior, 2001; Barroset al., 2008; Soares, 2011).

Mesmo tomando grandes proporções, considera-se que, até hoje, apesar de uma gama de estudos sobre

tal temática, a desertificação ainda é alvo de controvérsiasmetodológicas e conceituais. Como consequência, estasituação vem a prejudicar o direcionamento de políticaspúblicas e demais projetos para as áreas afetadas ouque apresentam susceptibilidade à desertificação(Rodrigues, 2000; Saadi, 2000; Matallo Júnior, 2001;Barros et al., 2008).

De maneira geral, tem-se observado uma crescenteaplicação de geotecnologias nos estudos dos recursosnaturais, seja no âmbito dos impactos ambientais, sejapara conservação ou preservação do meio ou mesmopara realização de estimativas e monitoramentos deprocessos. No caso da desertificação, tal realidadenão é diferente, sendo possível avaliar e analisar, demaneira espacial e temporal, este processo com o usode tais técnicas (Carvalho e Almeida-Filho, 2007; Lopeset al., 2009; Lu et al., 2009; Wu, et al., 2010; Bezerra,2011; Alves Sobrinho, 2011; Ribeiro, 2011).

Os Sistemas de Informações Geográficas – SIG– que, juntamente com as ferramentas do SensoriamentoRemoto – SR – compõem o Geoprocessamento, possuemcaracterísticas ímpares para justificar tal fato, já queoferecem respostas rápidas, atualizadas, precisas eobjetivas sobre o que é estudado (Silva et al., 2004;Goldani e Cassol, 2008). No âmbito da desertificação,estas tecnologias podem ser combinadas com diversosoutros tipos de dados e desta forma podem não apenascombater o processo, mas também sensibilizar asautoridades responsáveis diante desta realidade (Geerkenet al., 2004).

Neste contexto, pretende-se, por intermédioda análise de trabalhos da área do sensoriamentoremoto, conhecer o atual cenário de estudo dadesertificação. Objetiva-se fazer um levantamentoa respeito das metodologias que vêm sendo aplicadaspara tal, assim como verificar a frequência com quetrabalhos relacionados com esta temática sãopublicados.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

Tomou-se como referência o Simpósio Brasileirode Sensoriamento Remoto – SBSR e as seguintes revistas:Remote Sensing of Environment, PhotogrammetricEngineering and Remote Sensing, International Journalof Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscienceand Remote Sensing e International Journal of AppliedEarth Observation and Geoinformation. Tais escolhasforam baseadas no caráter relevante deste evento noâmbito nacional, assim como das revistas no âmbitointernacional, todos na área do sensoriamento remoto.

Foram utilizados como critérios de seleção, na triagemdos trabalhos, os seguintes termos: desertificação,desertificadas, “desertification”, “desertified”.

No caso do SBSR, tais termos foram identificadosapenas nos títulos dos trabalhos, enquanto que nasrevistas foram observados não apenas os títulos, mastambém a presença dos termos “desertification” ou“desertified” no abstract, keywords plus e no authorkeywords. Pelo fato de a análise ter sido ampliada nasrevistas, observou-se também se a metodologia estava,de fato, atrelada à desertificação; caso contrário, otrabalho foi desconsiderado.

Todas as edições do SBSR participaram do processode seleção, o que perfaz um total de 14 edições, desde1978. Os anais de todas as edições do SBSR estãodisponíveis na biblioteca digital do simpósio. Para aanálise dos artigos das revistas foi definido um períodode 10 anos, entre 2000 e 2010, e a pesquisa foi feitaatravés do site da “Web Science”.

Após a triagem dos trabalhos, realizou-se umaprimeira identificação das metodologias utilizadas noestudo da desertificação, através da leitura de todosos abstracts.

Percebeu-se que, no caso do SBSR, existia apossibilidade de agrupar algumas metodologias, tantoporque se repetiam quanto para não deixá-las com umcaráter muito específico. Tal decisão simplificou aposterior classificação. Um código foi dado a cadagrupo das metodologias encontradas nos trabalhosdo SBSR e, em seguida, os trabalhos listados foramclassificados de acordo com seu código correspondente.Já no caso das revistas, devido à maior variedade demetodologias, optou-se por não efetuar tamanhasimplificação, tratando-se, na maioria das vezes, ametodologia de maneira individual.

No caso do SBSR, após tal classificação foramelaborados gráficos utilizando o programa Excel® parailustrar quais metodologias foram empregadas e suasrespectivas frequências, assim como um gráfico queindicasse a frequência de publicações dos trabalhosque abordavam a desertificação. As revistas foram tratadasem um único grupo na elaboração de dois gráficos:um para ilustrar o número de trabalhos apresentadospor cada revista e um segundo para apontar o númeroanual de trabalhos publicados sobre a desertificação.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No SBSR foram encontrados 24 trabalhos nasseis últimas edições. Como pode ser observado naFigura 1, apenas em seis das 14 edições foram detectadasabordagens sobre a desertificação - edição de 1998,com um único trabalho; em 2001, com três publicações;em 2003, com dois trabalhos; em 2005, com três trabalhos;em 2007, com cinco trabalhos e, em 2009, com dez. Pôde-se perceber que a abordagem sobre a desertificação,neste evento, foi bastante tardia, uma vez que sua primeiraedição ocorreu em 1978 e apenas a partir de 1998 o temadesertificação foi contemplado. De 1978 a 1996 aconteceramoito edições, enquanto de 1998 até 2009, seis.

No que se refere às metodologias empregadas noSBSR, pôde-se perceber que duas foram igualmenteempregadas, com oito trabalhos utilizando cada umadelas. Uma relaciona-se ao mapeamento e classificaçãoda área de estudo, com averiguação em campo, comuma única cena. A outra metodologia é a análisemultitemporal com o emprego do índice de vegetaçãoou não. Este valor representa 34% dos trabalhosanalisados para cada metodologia.

Figura 1 - Número de trabalhos identificados por edição noSBSR.

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Outra metodologia identificada e adotada emquatro trabalhos foi a modelagem e utilização deimagens para localização/interpretação das áreasdegradadas e posterior confirmação em campo. Estenúmero representa 16% dos trabalhos analisados.As outras duas metodologias, a que emprega o índicede aridez e aquela que utiliza a variação do albedodo solo para estudo da desertificação. foramdetectadas em dois trabalhos cada, o que perfaz ovalor de 8% para cada método. Estes valoresrelacionados às metodologias empregadas podemser observados na Figura 2.

Deve-se ressaltar que, na quarta edição do SBSR,de 1986, que correu na cidade de Gramado, foi encontradoum trabalho intitulado “Identificação e mapeamentode áreas de desertificação no Rio Grade do Sul – dadospreliminares”. Tal publicação não foi levada emconsideração na contagem e análise da metodologiautilizada para estudo do processo de desertificaçãoabordado. Justifica-se a não contabilização de tal trabalhoem razão de hoje, e desde o ano de 1987, o processode degradação da terra no sudoeste do Rio Grandedo Sul ser denominado de arenização e não maisdesertificação.

Na análise da revista Remote Sensing ofEnvironment foram encontrados seis trabalhos (Figura3). Com apenas uma publicação em cada ano - 2001,2004, 2005, 2008, 2009 e 2010 - as metodologiasidentificadas foram: modelagem envolvendo aevapotranspiração; produção de biomassa relacionadacom a quantidade de chuva; utilização da escala deprodução líquida (LNS); utilização de imagens de satélitepara detectar e mapear características relacionadas àbiologia do solo; análise temporal do índice de vegetação(NDVI) e correção atmosférica e cálculo da emissividadepara melhorar a estimativa da temperatura da superfícieterrestre (LST).

Dentre as publicações da revista IEEETransactions on Geoscience and Remote Sensing,encontraram-se três trabalhos (Figura 3) a respeitoda desertif icação; cada trabalho utilizou umprocedimento metodológico diferente. Duas publicaçõesocorreram em 2003 e as seguintes metodologias foramempregadas - análise de transformações espectrais:índice de vegetação, derivada espectral, albedo, modelolinear e mistura espectral e a comparação dos satélitesAVIRIRS e o EO-1 Hyperion para coberturas do solo.Já em 2007, a metodologia identificada no estudo dadesertificação foi a seleção dos melhores indicadoresecológicos para tal.

Na revista International Journal of Applied EarthObservation and Geoinformation foram encontradosquatro trabalhos (Figura 3). Três destes foram publicadosno ano de 2010 e apenas um em 2005. Mais uma vezas metodologias aplicadas não se repetiram em nenhumtrabalho. No ano de 2010 as três metodologiasidentificadas foram: integração de dados de solos,geologia e modelo digital de elevação; interpretaçãode imagens e classificação relacionada com as mudanças

Figura 2 - Metodologias identificadas no SBSR e a frequênciade trabalhos para cada uma delas.

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climáticas e mapeamento de áreas degradadas atravésde uma análise multitemporal de imagens. No trabalhode 2005 a metodologia utilizada foi a análise das alteraçõesnas respostas espectrais do solo.

A revista International Journal of Remote Sensingapresentou 18 trabalhos (Figura 3) com um dos termosutilizados como critério de seleção. No período definidode análise, de 2000 a 2010, apenas no ano de 2003 nãose identificou qualquer trabalho que abordasse a temáticaem questão. Foram identificados trabalhos por anona seguinte frequência: em 2000, 2001, 2002 e 2008 foramdois trabalhos; nos anos de 2005, 2007, 2009 e 2010um único trabalho foi identificado e 2004 e 2006apresentaram três trabalhos cada.

Nesta revista, mais uma vez, diferentes e inovadorasmetodologias foram aplicadas - transformações espectraisno desenvolvimento de um índice e posterior combinaçãodeste com um índice de vegetação; caracterização dadegradação do solo com base em duas abordagens:análise de mistura espectral e um conjunto de índicesque descrevem a forma do espectro. As tempestadesde areia/poeira também apareceram como metodologiade estudo da desertificação, mais precisamente em doistrabalhos nos anos de 2004 e 2008.

A análise do solo foi bastante abordada no estudoda desertificação nesta revista, seja a respeito da suaumidade, do tamanho dos grãos ou da mudança noseu uso/cobertura. Já a análise multitemporal foi adotadadiversas vezes para indicar mudanças na paisagem,características termais, transformações espectrais eprincipalmente para análise do NDVI. Este índice foiidentificado em inúmeras metodologias para estudo/identificação/monitoramento da desertificação, sejaabordando-o unicamente no trabalho ou como um dosíndices/indicadores analisados. No que se refere aosindicadores, estes também foram identificados e estãorelacionados não só com a cobertura vegetal, comotambém com a pluviosidade, com a LST, com o escoamentosuperficial e a erosão do solo.

Na revista Photogrammetric Engineering andRemote Sensing não foi identificado qualquer trabalhoque abordasse a desertificação (Figura 3).

Após a análise das revistas selecionadas, foiidentificado um total de 31 trabalhos que abordarama desertificação. A distribuição da ocorrência dostrabalhos ao longo da década analisada pode ser

Figura 3 - Número de trabalhos identificados por revista analisada.

observada na Figura 4. Como pode-se perceber, osanos de 2000, 2002, 2003, 2007 e 2009 apresentaramapenas dois trabalhos abordando a desertificação. Jáos anos de 2001, 2005, 2006 e 2008 apresentaram trêstrabalhos, enquanto que 2004, quatro publicações.Destaca-se o ano de 2010, que apresentou cincotrabalhos, apesar de não ser um número que destoesignificativamente dos demais anos que apresentarampublicações.

Figura 4 - Número de trabalhos das revistas analisadas porano.

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Percebe-se uma carência ainda no âmbito depublicações internacionais em revistas sobre o processoda desertificação, uma vez que apenas uma das revistasapresentou um número que pode ser consideradoexpressivo, 18. Vale lembrar ainda que uma das revistasanalisadas não apresentou nenhum trabalho queabordasse a temática em questão.

Apesar da variedade de metodologias utilizadasno estudo da desertificação, pôde-se observar queestas ainda aparecem de maneira setorial. Áreas dosaber têm sido analisadas de maneira particular, ou,quando analisada mais de uma área, a metodologiaainda não pode ser considerada multidisciplinar osuficiente para abordar tanto a parte relacionada aomeio ambiente quanto o lado socioeconômico afetadopela desertificação. Esta deficiência, no que se referea metodologia de estudo da desertificação, tem sidoapontada por inúmeros pesquisadores desde o iníciodo estudo do processo (Matallo Júnior, 2001), e, comomencionado, este fato ainda vem ocorrendo, conformepercebido na análise realizada.

Espera-se que não só em caráter nacional, no casocom o SBSR, como também a nível internacional, adiscussão da desertificação tenha um caráter crescente.Tal expectativa justifica-se não só pela necessidadeque esta temática ainda apresenta, relacionada tantoa questões metodológicas e conceituais quanto pelosgrandes impactos deste processo, mas também pelofato de ter sido lançado no ano de 2010 pela ONU a“Década dos Desertos e de Combate à Desertificação”,de 2010-2020 (UNCCD, 2010). Espera-se que estelançamento seja um estímulo às pesquisas deste processo.

4. CONCLUSÕES

Observou-se um número crescente de publicaçõesa respeito desta temática tanto nas revistas quantono SBSR, principalmente neste último. O maior númerode publicações sobre a desertificação nas revistasocorreu em 2010 e no SBSR em 2009, os últimos anostomados para análise.

Dentre as revistas, a International Journal of RemoteSensing foi aquela que apresentou um maior númerode publicações a respeito da desertificação, enquantoque a revista Photogrammetric Engineering and RemoteSensing não apresentou nenhum trabalho que abordasseeste processo.

No SBSR apontam-se duas metodologias que forammais e igualmente empregadas - mapeamento eclassificação da área de estudo para identificação dasáreas degradadas, em uma única data, e a análisemultitemporal, com a utilização do índice de vegetaçãoou não.

As metodologias dos trabalhos das revistasapresentaram caráter inovador e variado. Destaquepara a utilização do índice de vegetação (NDVI) que,analisado de maneira individual ou como um dosíndices abordados, foi uma metodologia bastanterecorrente.

Tanto na análise dos trabalhos publicados no SBSRquanto das revistas pode-se perceber que asmetodologias adotadas não têm caráter multidisciplinar.

Em razão do lançamento da ONU para a décadade 2010-2020: “Década dos Desertos e de Combateà Desertificação” espera-se um maior número de pesquisassobre a desertificação assim como também que novasmetodologias sejam desenvolvidas.

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Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo de biodigestão anaeróbica

MANEJO DE DEJETOS SÓLIDOS DE POEDEIRAS PELO PROCESSO DEBIODIGESTÃO ANAERÓBICA

Haroldo Wilson da Silva1, Kléber Pelícia2

RESUMO – As indústrias avícolas de poedeiras, além de ovos, geram anualmente um grande volume de resíduosna forma de esterco. O esterco de ave poedeira é o principal resíduo gerado na indústria de produção de ovose requer uma infraestrutura para o tratamento adequado. Sendo assim, o objetivo desta revisão visa abordaro manejo de resíduos sólidos de poedeira, em particular com o uso do biodigestor como forma de minimizaros impactos ambientais negativos causados pela atividade avícola. Nesse sentido, ressalta-se que a biodigestãoanaeróbica ajuda a minimizar os impactos negativos que são gerados ao meio ambiente, reduzindo assim osriscos ambientais e melhorando a qualidade de vida. Salienta-se, todavia, que, existem casos ainda em que estesresíduos têm sido utilizados como fertilizantes, mas sem prévio tratamento e controle sanitário antes da aplicaçãono solo. Os dejetos de aviários apresentam o potencial de ser tanto um recurso como um poluente. Em resumo,sob o aspecto das práticas adequadas de manejo dos resíduos, o biodigestor é uma alternativa para o tratamentodo esterco de ave poedeira. Conclui-se que o manejo e tratamento de resíduos sólidos de poedeiras pelo processode biodigestão anaeróbica representa uma forma ambientalmente recomendável.

Palavras-chave: : Aves, biodigestão, biodigestor, meio ambiente.

LAYERS SOLID WASTE MANAGEMENT BY ANAEROBIC DIGESTION PROCESS

ABSTRACT – The poultry industry of hens, and eggs, annually generate a large volume of waste in the formof manure. The hen bird dung is the main waste generated in the production of eggs and requires an infrastructurefor proper treatment. Therefore, the aim of this review is to address the management of solid waste of hen,in particular using the digester in order to minimize negative environmental impacts caused by the poultryactivity. In this sense, it is noteworthy that the anaerobic digestion helps to minimize the negative impactsthat are generated to the environment, reducing environmental risks and improving quality of life. It shouldbe noted, however, that there are cases in which these residues have been used as a fertilizer, but withoutprior treatment and management prior to application to the soil. The poultry manure has the potential tobe both a resource and a pollutant. In summary, under the aspect of good practice of waste management,the digester is an alternative for the treatment of the hen bird dung. It is concluded that the managementand treatment of solid waste in the process of laying anaerobic digestion is environmentally desirable.

Key Words: Birds, digestion, digester, environment.

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação da UNIFENAS - Alfenas/MG - E-mail: [email protected] Docente do Programa de Pós-Graduação da UNIFENAS - Alfenas/MG.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, o impacto ambiental das práticastradicionais de tratamento de resíduos sólidos temmotivado a busca de tecnologias e de infraestruturacompatíveis com o desenvolvimento sustentável e aqualidade de vida.

Indispensável é, portanto, a conscientização dosprodutores sobre os impactos causados pela geraçãode resíduos e sobre a importância da aplicação de técnicasde manejo de dejetos. Esse princípio, entretanto, nãoé absoluto, e a responsabilidade pela implementaçãode técnicas voltadas à minimização de impactos

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ambientais não deve ser atribuída exclusivamente aoprodutor rural.

Não podemos, todavia, deixar de reconhecer queo Brasil se destaca na área de combustíveis alternativos,seja com o biodiesel ou o biogás. O biogás contribuicomo uma fonte extremamente viável, já que a suafabricação provém de materiais orgânicos, podendoser de lixo urbano, esgoto, esterco bovino, suíno ouqualquer outro material biodegradável. Em razão disso,sob o aspecto das práticas adequadas de manejo dosresíduos, o biodigestor é uma alternativa para o tratamentodo esterco de ave poedeira.

Há, no entanto, que enfatizar que os dejetosproduzidos com a criação de aves poedeiras são maiscomumente reciclados pelo emprego da biodigestãoanaeróbia do que da compostagem.

É preciso, porém, acrescentar o tratamento deresíduos de origem animal por meio da digestão anaeróbia,configurando-se como uma atividade economicamenteapreciável para os produtores, levando em consideraçãoa produção de biogás, por ser uma fonte de energiarenovável possível de ser aproveitada na própria atividadeagrícola em substituição a outras fontes energéticas,reduzindo os custos de produção (Steil, 2001).

Diante do exposto, objetivou-se descreverinformações sob o manejo de resíduos sólidos dasindústrias avícolas de postura, em particular com ouso do biodigestor.

1.1. A importância do manejo dos resíduos sólidos depoedeiras

A preocupação com a preservação ambiental ecom as consequências dos impactos ambientais parao futuro, não é coisa recente em nossa história. Nasúltimas décadas, as questões ambientais têm sidodiscutidas, pesquisadas e submetidas aos mais diversossistemas legais em todo o mundo com o objetivo principalde resgatar a qualidade de vida no planeta.

Salienta-se, todavia, que a sociedade vem passandopor um processo de transformação quanto à forma depensar e agir com relação ao meio ambiente. Váriasempresas estão convertendo seus processos produtivosatravés de novas ferramentas com tecnologia avançada,econômica e ecologicamente correta, atuando de maneiraa preservar e reestruturar o meio ambiente, passandoa ser um diferencial no mercado (Zanin et al., 2010).

É preciso, porém, acrescentar que a responsabilidadepela execução de técnicas voltadas à redução de impactosambientais (emissão de gases e nutrientes) eracionalização de uso da energia (aproveitamento nãosó da biomassa gerada na forma de resíduo, como tambémde nutrientes impactantes que carregam energia primáriae poluem), não pode ser atribuída diretamente ao produtorrural, mas às ações governamentais fortalecendo ossetores de educação, ciência, extensão e crédito, voltadosà área (Lucas Jr. & Amorim, 2005).

Não podemos, todavia, deixar de reconhecer quea questão ambiental passa a ser vista sob a ótica daimpossibilidade de se associar o desenvolvimento deuma nação sem elevar significativamente o uso de águae energia e a produção de resíduos, agravando-se oaspecto relativo ao aumento de poluição. Devido aisto, os diversos setores da produção animal começama se mobilizar para atender a dois requisitos com ointuito de que seus produtos possam competir e paraque tenham boa aceitação no mercado: questões legaise a exigência de mercado interno e externo (Lucas Jr.& Amorim, 2005).

Em face do texto legal, a Constituição Federal prevêque todos têm direito a um meio ambiente ecologicamenteequilibrado, sendo imposto ao Poder Público e àcoletividade o dever da sua preservação para as geraçõesfuturas. O inciso IV do Art. 225 cita que para a instalaçãode qualquer obra ou atividade potencialmente causadorade expressiva degradação do meio ambiente, deve-se exigir um estudo prévio ambiental.

Esse princípio, entretanto, não é absoluto, o meioambiente em razão dos grandes impactos ambientaiscausados pelas diversas empresas vem sofrendoagressões constantes e, em decorrência disso, o serhumano acaba colocando em risco sua própria existência.

Em consequência, os resíduos gerados na produçãoanimal constituem-se em substratos complexos contendomatéria orgânica particulada e dissolvida, elevado númerode componentes inorgânicos, bem como altaconcentração de microrganismos patogênicos, todosde interesse na questão ambiental (Steil, 2003).

A indústria avícola contribui significantementepara os impactos ambientais. Os resíduos de aviáriosapresentam o potencial de ser tanto um recurso comoum poluente. Quando adequadamente usadosapresentam riscos ambientais mínimos. Por outro lado,

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impropriamente manipulados, irão degradar o ambientee causar dificuldades para a condução da atividadejunto à comunidade e para a imagem dos criadores(Seiffert, 200). Acrescenta-se a isto que todos os dejetostornam-se séria ameaça para o meio ambiente quandomal manejados, pois se trata de um material emdecomposição.

É possível, portanto, afirmar que o poder poluentedos dejetos animais é extremamente alto, em relaçãoa seu elevado número de contaminantes, cuja açãoindividual ou combinada configura-se uma fonte potencialde contaminação e degradação do ar, dos recursoshídricos e do solo. Esta evidência vem exigindo aexecução de parâmetros de emissão cada vez maisrigorosos pela legislação ambiental, visando àpreservação dos recursos naturais, do conforto e dasaúde humana (Steil, 2003). Segundo Augusto & Kunz(2009), por causa do alto potencial biogênico dos dejetos,não é aconselhado o uso no solo sem tratamento. Gasesemitidos e odores formados durante a degradação dosdejetos são importantes evidências do impacto ambientalcausado.

Do exposto se dá conta que práticas adequadasde manejo dos resíduos tornam-se essenciais para aotimização de toda atividade sob as condições derestrições legais atualmente existentes. Em face disto,um programa de manejo dos resíduos da aviculturapode ser considerado como necessário a um programade desenvolvimento econômico e ambiental. SegundoAugusto (2005), no cenário da avicultura de posturacomercial atual brasileira, em particular, inicia-se apreocupação com seus dejetos devido às novastecnologias de instalação que dão ao setor a oportunidadede aumento no número de aves alojadas e consequenteaumento na produção de dejetos.

Na avicultura de postura, atualmente, predominao sistema de produção de poedeiras em gaiolas, eos resíduos provenientes das aves em gaiolas suspensaspossibilitam melhor tratamento e utilização de dejetosem geral. Segundo Augusto (2005), o sistema deprodução de poedeiras em gaiolas surgiu em meadosde 1920, trazendo inúmeras vantagens, como menornúmero de ovos sujos e quebrados e eliminação douso de materiais para cama. É útil, nesse ponto, considerarque este sistema de exploração sobre o meio ambiente,se por um lado representa ganho em relação ao manejo,aumenta a concentração de resíduos sólidos, podendo

a falta de estrutura para reter e tratar os dejetostransformar um problema de gerenciamento particularem um grande problema ambiental, afetando a todosdiretamente.

Entretanto, a consequência inevitável àoportunidade do elevado alojamento de poedeiras émaior geração de dejetos nas propriedades, necessitandomanejos diários, pois altera as características do resíduo.Estes, dispostos sem prévio tratamento no meio ambiente,comprometem a qualidade do solo, do ar e da água,com contaminação dos mananciais pelos microrganismos,risco de toxidade aos animais e às plantas e depreciaçãodo produto, porém com percepção em médio e longoprazo (Augusto et al., 2009).

Todavia, segundo Augusto (2005), muitas são asformas indicadas de manejo, tratamento e utilizaçãode dejetos em geral, e a escolha deve levar em contaa espécie do animal gerador, o sistema de criação,localização da propriedade, assim como clima e relevoda região.

Há, no entanto, que considerar que os produtoresde aves precisam planejar e administrar suas operaçõesde forma segura. Dejetos de aves e aves mortas, semanejados de forma incorreta, causam problemasambientais e criam riscos para a saúde humana e animal.A criação de um plano de manejo de resíduos é umimportante passo inicial para uma operação avícolaambientalmente responsável (Seiffert, 2000).Indispensável é, portanto, que o manejo de dejetostenha destaque na atualidade como uma preocupaçãoa mais dos produtores do setor, envolvendo qualidadee comércio, bem como interferindo nos custos deinvestimento e retorno, pois estes são fatores relevantesna produção lucrativa de aves. Com isso, a produçãode dejetos deve ser gerenciada como parte importantedentro do processo produtivo e nunca deve sernegligenciada, pois poderá se tornar um grande passivodo empreendimento (Augusto & Kunz, 2009).

Em resumo, as questões ambientais provocam cadavez mais interesse e preocupação em todos que seenvolvem com a atividade avícola, uma vez que osdejetos de poedeiras comerciais têm potencial paragerar danos ambientais se não forem devidamentetratados. Acrescenta-se que uma forma de tratamentodos dejetos de aves poedeiras é o biodigestor, quepoderá ser projetado com o objetivo principal deatendimento à conservação ambiental.

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1.2. A utilização de biodigestores para redução dedejetos sólidos de poedeiras

A biodigestão anaeróbia é o processo biológicono qual a matéria orgânica é degradada, em condiçõesanaeróbias e na ausência de luz, até a forma de metano(CH4) e dióxido de carbono (CO2). Essa mistura de gasesé denominada de biogás e pode ser coletada e usadacomo energia em substituição aos combustíveis fósseis,diminuindo o impacto ambiental causado tanto pelautilização dos combustíveis fósseis quanto pela emissãodo CH4 e CO2 na atmosfera.

De relevância para a área de saneamento ambiental,verifica-se que através do processo de biodigestãoanaeróbia torna-se possível obter resultados quedemonstram a redução de impacto não somente pelaredução dos sólidos existentes nos biodigestores, mastambém pela redução de microrganismos de presençaindesejável nos efluentes por possuírem caráterpatogênico (Lucas Jr. & Santos, 2000).

Acrescenta-se que a biodigestão anaeróbia é umadas formas usadas no tratamento de resíduos sólidosou líquidos, promovendo a redução do poder poluentedos dejetos, tendo como subproduto, além do biogás,o biofertilizante. Na prática, a produção de biogás épossível com a utilização de um equipamento denominadobiodigestor. De acordo com Tarrento & Martinez (2006),o biodigestor constitui-se de uma câmara fechada ondeé colocado o material orgânico, em solução aquosa,para sofrer decomposição, gerando o biogás que iráse acumular na parte superior da referida câmara. Osbiodigestores utilizados no meio rural classificam-seem dois grupos: os que precisam ser abastecidos comsubstrato diariamente, chamados biodigestorescontínuos, e os que são abastecidos uma única vez,os biodigestores de batelada.

Para Zanin et al. (2005), o biodigestor, ao serimplantado em uma propriedade rural, ocasiona benefíciospara o produtor e para o meio ambiente, que atualmentedevido à degradação vem sofrendo impactos negativos,o que afeta a qualidade de vida dos seres humanos.É possível, portanto, afirmar que o biodigestor apresenta-se como uma alternativa interessante, levando emconsideração que os resíduos gerados na agriculturasão de responsabilidade do próprio gerador. O processode biodigestão contempla o conceito de reciclagemdestes resíduos, bem como a própria redução dosimpactos ambientais provocados por uma disposição

final inadequada destes dejetos (Tarrento & Martinez,2006).

A utilização dos biodigestores no meio rural merecedestaque devido aos aspectos de saneamento e energia,além de estimularem a reciclagem orgânica e de nutrientes.A questão do saneamento ocorre no momento em queisolam os resíduos do homem e dos animais,possibilitando diminuição de moscas e odores, permitindotambém a redução das demandas química e bioquímicade oxigênio e de sólidos, tornando mais disponíveisos nutrientes para as plantas (biofertilizante),encontrando-se em algumas referências a redução deparasitas e patógenos do homem e dos animais (LucasJr. & Santos, 2000).

A geração de dejetos é um fenômeno inevitávele que ocorre diariamente no âmbito da exploração animal,em particular na avicultura de postura, sendo que essesresíduos constituem, se não forem manejados e tratadoscorretamente, ameaça ao meio ambiente. Segundo Augusto(2005), as primeiras ações a serem tomadas são aquantificação e a caracterização dos dejetos. Aquantificação é de extrema importância, pois implicano direcionamento do manejo a ser adotado, enquantoque com a caracterização do dejeto podem-se tomardecisões mais racionais com relação a sua aplicação.De um modo geral, a reciclagem dos resíduos no meiorural é passiva de realização com a finalidade de reciclagemem energia ou reciclagem orgânica e de nutrientes.A reciclagem energética de resíduos pode ser feita como objetivo de geração de calor ou de gás combustível(Lucas Jr. & Santos, 2000).

Há, no entanto, que considerar que os dejetosproduzidos com a criação de aves poedeiras são maishabitualmente reciclados pelo emprego da biodigestãoanaeróbia do que da compostagem. Isto aconteceprincipalmente pelo elevado conteúdo de umidade dosdejetos, o que dificulta a condução da compostageme dos significativos potenciais de produção de biogásdos dejetos, quando empregados como substrato dabiodigestão anaeróbia (Lucas Jr. & Amorim, 2005).Segundo Lucas Jr. et al. (1998), uma poedeira consomecerca de 110 g de ração por dia, ou seja, 40.150 g deração por ano. Considerando-se que a ave excreta cercade 30% (MS) do que consome, tem-se uma produçãode 12 kg MS de dejeto/poedeira/ano.

Salienta-se que a forma como predomina a criaçãodas galinhas e codornas de postura, é imprescindível

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que os biodigestores que se integre ao sistema deprodução possibilitem a operação com cargas diárias.Uma indicação seria o emprego de biodigestores quetenham funcionamento similar aos modelos indianoou chinês, associando-se, com a eficiência de elevadosrendimentos e baixos custos, tecnologias que permitammaiores eficiência na degradação do material orgânico,como aquecimento e agitação do substrato emfermentação (Lucas Jr. & Amorim, 2005).

Em síntese, é possível afirmar que existe umaurgente necessidade de desenvolvimento demetodologias capazes de tratar adequadamente osdejetos, inovando seus processos de exploração animal,e levando em consideração o grave risco de impactosambientais.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A biodigestão anaeróbica dos resíduos daavicultura é de grande importância, uma vez que permitenão apenas minimizar os problemas de poluiçãoambiental, como também oferecer os subprodutos dabiodigestão, o biogás e o biofertilizante, de grandeimportância para o setor agrícola. Todavia, o primeiroe mais importante passo para atenuar o impacto ambientalda avicultura é o adequado planejamento do manejode seus resíduos.

3. LITERATURA CITADA

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FÓFANO, de S.O. et al.

ESTRATÉGIAS PARA UM GERENCIAMENTO PARTICIPATIVO DA COLETADE RESÍDUOS SÓLIDOS¹

Sâmara de Oliveira Fófano², Rolf Puschmann³, Thais Covre Delboni4, Alana de Oliveira PereiraVilete5

RESUMO – O Projeto Reciclar, visando à destinação adequada dos resíduos sólidos gerados na UniversidadeFederal de Viçosa (UFV), realiza atividades de educação, assistência técnica e divulgação da coleta seletiva.Todos os anos o Projeto indica projetos de extensão ao edital PIBEX. No último ano, atuou no projeto “AçõesIntegradas, Participativas e Administrativas na Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos na UFV em 2011”. Osprojetos de extensão voltados para a coleta seletiva são muito importantes para que ela se realize, pois promovemações estratégicas de cunho prático com ênfase na educação ambiental, nos diversos setores e departamentosda UFV. A coleta na Universidade é realizada de forma binária, onde os resíduos recicláveis são separados dosnão recicláveis. Os materiais recicláveis são depositados em sacos azuis e os não recicláveis em sacos pretos;em seguida, os resíduos são recolhidos pela Divisão de Parques e Jardins e levados à Associação de Trabalhadoresda Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa (ACAMARE). O processo se inicia com a criação dos núcleosem prédios e setores da UFV, onde são distribuídos os coletores seletivos. Essas atividades, e demais relacionadas,são realizadas por estudantes bolsistas e voluntários que, através de reuniões com chefias, grupos de trabalho,colegiados e voluntários, planejam a coleta seletiva em seus setores. Para que haja integração entre os membrose discussões sobre atividades desenvolvidas, são realizadas reuniões semanais internas para planejamento, atualizaçãoe troca de informações sobre as ações. A divulgação do Projeto é feita por meio de palestras, como as realizadaspara os alunos recém-ingressos na UFV, conversas com funcionários da limpeza e técnicos, pelo website daUniversidade e do Projeto (www.projetoreciclar.ufv.br), pelo Facebook e materiais gráficos diversos. A coletaseletiva tornou-se parte da rotina da UFV; entretanto, apenas cerca de 20% dos resíduos recicláveis estãosendo destinados de forma adequada, mostrando que ainda temos muito a crescer e reforçando a importânciade um gerenciamento participativo e não apenas operacional.

Palavras-chave: Coleta seletiva, educação ambiental, reciclagem, resíduos sólidos.

STRATEGIES FOR A PARTICIPATORY MANAGEMENT OF SOLID WASTECOLLECTION

ABSTRACT – The “Reciclar” Project, aiming the proper disposal of solid waste generated at the FederalUniversity of Viçosa (UFV), conducts educational activities, technical assistance and dissemination of theselective collection. Every year the “Reciclar” indicates others extension projects to PIBEX, a financial agencyof the University. Last year, it was indicated the project “Ações Integradas, Participativas e Administrativasna Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos na UFV em 2011”. The extension projects about selective collectionare very important for the performance of this practice, because they promote practical and strategic actionswith emphasis in the environmental education in many sectors and departments of the UFV. The collection

1 Este trabalho foi realizado no âmbito do PIBEX/2011 pela Pró Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federalde Viçosa (UFV).

² Estudante de Zootecnia; bolsista PIBEX/2011 no Projeto Reciclar/UFV, Viçosa-MG; [email protected]³ Engenheiro Agrônomo; Ph.D. em Fisiologia Vegetal; Prof. Titular do Departamento de Biologia Vegetal da UFV e Coord.

do Projeto Reciclar/UFV; [email protected] Estudante de Engenharia Ambiental; Bolsista BIBEX/2012; [email protected] Estudante de Engenharia Ambiental; Bolsista BIBEX/2012; [email protected]

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Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos

helded at the University is binary: where recyclables are separated from non-recyclable. The recyclable materialsare placed in blue bags and non-recyclables in black bags; then, the wasted material is collected by theDivision of Parks and Gardens and taken to the “Associação de Trabalhadores da Usina de Triagem e Reciclagemde Viçosa (ACAMARE)”. The process begins with the creation of selective collection cores in the buildingsof UFV, where selective collectors are distributed. These activities, and other related stuff, are held by studentsand volunteers who, through meetings with supervisors, work groups, and volunteers, plan the selective collectionin their own sectors. To integrate the “Reciclar”s members and promote discussions about activities, meetingsare held weekly for internal planning and exchange information about the actions. The Project’s promotionis done through presentations, like those held recently to the freshmen, conversations with cleaning staff andtechnicians, at the University and Project website (www.projetoreciclar.ufv.br), by Facebook and printed graphicmaterials. Selective collection has become a routine part of UFV; however, only about 20% of recyclablematerial is being conducted appropriately, showing that there still has a lot of growing to strength the importanceof the selective collection based in a participatory management, not just operational.

Key Words: Environmental education, recycling, selective collection, solid waste.

1. INTRODUÇÃO

O Projeto Reciclar surgiu em 1995 com o objetivode implementar e dar suporte técnico, operacional eeducacional à coleta seletiva, na época pouco difundidana Universidade Federal de Viçosa.

Dentre as muitas opções técnicas desenvolvidasnos últimos anos, a coleta seletiva tem se mostradocomo uma alternativa viável e econômica para ogerenciamento de resíduos sólidos, pois, através daconscientização dos indivíduos envolvidos, permitea seleção e o encaminhamento de diferentes materiaisao processo de reciclagem (Jardim & Wells, 1995).

O conceito de desenvolvimento sustentável vemde um processo longo, contínuo e complexo dereavaliação crítica da relação existente entre a sociedadecivil com seu meio natural, assumindo diversasabordagens e concepções. Apresentar progresso emdireção à sustentabilidade é uma escolha da sociedade,das organizações, das comunidades e dos indivíduos,devendo existir um grande envolvimento de todos ossegmentos (Bellen, 2005).

O tema sustentabilidade ganha a cada dia maiordestaque nos meios empresariais, acadêmicos e nasociedade de modo geral. A mídia focaliza esse temaem seus vários aspectos de forma cada vez mais intensa.Questões específicas, tais como impactos ambientaisnegativos da produção industrial, aquecimento global,relações de trabalho mais justas, investimentossocialmente responsáveis (responsabilidade socialempresarial), consumo sócio-ambientalmenteresponsável, além de outros, destacam-se como assuntos

de elevada importância, demandando soluções urgentes.Em especial, as crescentes pressões sociais e ambientaispor produtos e sistemas produtivos que não geremimpactos negativos à sociedade e ao meio ambientesão crescentes em todo o mundo (Amato Neto, 2011,p.2).

Apesar do grande esforço do Projeto Reciclar ede sua tradição, a quantidade de material recicladona UFV ainda é muito pequena se comparada à quantidadepotencialmente reciclável. Acredita-se que até 80%do lixo produzido no campus possa ser doado àsassociações de catadores; porém, apenas 20% estãorealmente seguindo esse caminho, mostrando que aindahá muito a ser feito.

Um dos principais problemas enfrentados peloprojeto está na fonte geradora, pois grande parte daspessoas que geram resíduos não realiza a separaçãoe destinação adequada. Isso acontece porque demandauma forte conscientização que gere mudanças de hábitonos indivíduos. Dessa forma, o Projeto busca desenvolverações educacionais junto à comunidade universitáriapara estimular a prática de separar os resíduos, buscandoa consolidação da coleta seletiva. Para isso sãodesenvolvidas ações de natureza técnica, administrativae ações voltadas para a divulgação do Projeto.

As ações de natureza técnica consistem nacapacitação da equipe de trabalho e de ações práticasde intervenção no processo de coleta seletiva, baseadasno estudo dos problemas e no conhecimento técnicoda equipe. As ações de natureza administrativa sãoaquelas fe itas em conjunto com os setores

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administrativos da Universidade (Pró-Reitoria deAdministração e Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários),e através delas são expostos os problemas e as propostasde solução. Essa prática tem se mostrado muito eficiente,porque esses órgãos administrativos estão mais abertospara os assuntos relacionados à coleta seletiva, oque resulta em mudanças concretas. Esse envolvimentocom a Administração nos mostra que a evolução dacoleta seletiva é mais efetiva com o empenho de todasas classes que compõem a Universidade, porquequando estudantes, servidores técnicos eadministrativos e professores não trabalham juntos,torna-se inviável a implementação da coleta seletivae da reciclagem. Da mesma forma, pode-se fazer umaanalogia com a sociedade e extrapolar a ideia aosmunicípios, porém este trabalho ainda não é estendidoà cidade de Viçosa por falta de recursos humanosno Projeto. Este trabalho tem como objetivo demonstrara importância de fazer a coleta seletiva e o papel decada pessoa nesse processo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Atividade de implantação e monitoramento dosnúcleos

São considerados núcleos do Projeto Reciclarprédios ou departamentos onde a coleta seletiva ocorreou está em processo de instalação. O projeto atuanesses locais junto à administração dos mesmos, paraconstruir de maneira personalizada um plano de açãoque inclui o planejamento, a implantação e omonitoramento da coleta seletiva no local, conformedetalhado a seguir.

l Planejamento: Reuniões com grupos de alunos,professores e funcionários do setor, aplicação dequestionários de pesquisa sobre o conhecimento dosmembros sobre o assunto, identificação dos problemase dos parceiros para implantação;

l Implantação: Adequações físicas de localização etipo de coletor ideal, divulgação por cartazes, palestrase e-mails para alcançar a participação do público;

l Monitoramento: Visitas frequentes ao núcleo paraacompanhar o andamento da coleta e solucionareventuais problemas ou dúvidas relacionadas, porexemplo, a pontos de coleta, quantidade e identificaçãodos coletores e utilização correta dos sacos plásticos.Cada núcleo é de responsabilidade de um grupo menor

de estudantes da equipe interdisciplinar, com númerode integrantes proporcional às necessidades requeridaspela quantidade de resíduos produzidos e pela grandezado publico alvo.

2.2. Atividade de educação ambiental

O grupo responsável por esta atividade tem comometa divulgar o projeto e conscientizar sobre suaimportância através das seguintes ações:

l Realizar, no início do ano, palestras aos calourossobre a existência do Projeto Reciclar e da coleta seletivana Universidade Federal de Viçosa, focandoprincipalmente a importância ambiental e social doprojeto e a necessidade da participação de todos nadestinação correta dos resíduos e na cobrança aosseus respectivos departamentos da implantação imediatada coleta seletiva;

l Atualização constante do site do projeto reciclar,divulgando notícias sobre eventos do mesmo e assuntosrelacionados que despertem o interesse dos estudantespara a causa;

l Divulgação do Projeto por meio de comunicaçãointerna por site, jornal e TV da universidade e pelaconfecção de material de mídia, como cartazes e faixaspara exposição nos locais de maior circulação depessoas ou onde a coleta seletiva ocorrereficientemente;

l Realizar palestras direcionadas a outras instituiçõesque se interessarem por conhecer a metodologia deimplantação da coleta seletiva utilizada pelo ProjetoReciclar;

l Planejar e montar o stand de divulgação do ProjetoReciclar na Semana de Graduação, de forma dinâmicae que desperte a atenção dos visitantes.

A divulgação do projeto é um ótimo veículodisseminador para boas práticas na educação ambiental;por isso, é necessário aprimorar ações que consigamatingir cada vez maior número de pessoas. Sendo assim,o Projeto Reciclar com apoio da Editora UFV e dasPró-Reitorias de Administração e de AssuntosComunitários promoveu um seminário voltado paraárea de resíduos sólidos (Figura 1), nos dias 26 a 28de setembro, com o objetivo de compartilhar açõesrelacionadas ao Meio Ambiente na UFV e na cidadede Viçosa, tendo como destaque as seguintesapresentações:

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Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos

1) Abertura: Lixo - um problema global e local - Palestrante:Profª Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares

2) Gerenciamento de resíduos na UFV: Ações presentese futuras - Palestrante: Ulisses Cominini

3) Para onde caminha o Projeto Reciclar? - Palestrante:Rolf Puschmann

4) FUNARBE: Experiências bem sucedidas de ColetaSeletiva - Palestrante: Mateus Mendonça

5) Editora UFV: Experiências bem sucedidas de ColetaSeletiva - Palestrante: Carla Coutinho

6) Ações e resultados do projeto “Carbono Zero” -Palestrante: Ricardo Martiniano

7) Experiências de coleta seletiva na cidade de Viçosa- Palestrante: Nádia Dutra de Souza

8) Riscos associados ao não tratamento dos resíduosna UFV - Palestrante: Mauro Cruz

9) Destinação dos resíduos sólidos na cidade de Viçosa- Palestrante: Marcos Magalhães

Figura 1 - Modelo usado para o cartaz de divulgação do evento.

2011 foi o ano da vinculação do Projeto Reciclarà Pró-Reitoria de Administração, visando aperfeiçoar acoleta seletiva dentro do campus, procurando criar umainteração entre a Divisão de Parque e Jardins, os funcionáriosdo prédio e a Gerência de Resíduos Perigosos da UFV,e procurando identificar os problemas de cada setor quedificultam ou impossibilitam a coleta adequada dos resíduos.O Projeto também conta com o apoio da Reitoria e daPró-Reitoria de Assuntos Comunitários (Figura 2).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apesar de todo o trabalho de conscientização, feitopelos integrantes do Projeto Reciclar, dentro dosdepartamentos, é possível observar que não está sendoreciclada grande parte do resíduo (Figura 3). Isto porqueo mesmo não está no devido saco para armazenamento,sendo azul para os recicláveis, e preto para os não recicláveis,ou é colocado no ponto de coleta depois que o caminhãoda coleta seletiva passou, ou até mesmo devido aodesinteresse do departamento na implantação da coleta.

Acredita-se que com o Projeto Reciclar fazendoparte da PAD – Pró-Reitoria de Administração, essequadro irá mudar, uma vez que é de grande interesseda universidade fazer cumprir o Decreto nº 5.940, de25 de outubro de 2006 - que institui a separação dosresíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidadesda administração pública federal direta e indireta, nafonte geradora, e a sua destinação às associações ecooperativas dos catadores de materiais recicláveis.

Figura 2 - Reunião da Equipe do Projeto com a Reitora, Profª.Nilda de Fátima F. Soares, com a Pró-Reitora deAdministração, Leiza Maria Granzinolli, com o Diretorda Divisão de Logística e Segurança, BelmiroZamperlini e com o Engenheiro Ambiental, UlissesComini, para discutir as ações de institucionalizaçãoe avanços do Projeto Reciclar.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apesar de todo o trabalho de conscientização,feito pelos integrantes do Projeto Reciclar, dentro dosdepartamentos, é possível observar que não está sendoreciclada grande parte do resíduo (Figura 3). Isto porqueo mesmo não está no devido saco para armazenamento,sendo azul para os recicláveis, e preto para os nãorecicláveis, ou é colocado no ponto de coleta depoisque o caminhão da coleta seletiva passou, ou até mesmodevido ao desinteresse do departamento na implantaçãoda coleta.

Acredita-se que com o Projeto Reciclar fazendoparte da PAD – Pró-Reitoria de Administração, essequadro irá mudar, uma vez que é de grande interesseda universidade fazer cumprir o Decreto nº 5.940, de25 de outubro de 2006 - que institui a separação dosresíduos recicláveis descartados pelos órgãos eentidades da administração pública federal direta eindireta, na fonte geradora, e a sua destinação àsassociações e cooperativas dos catadores de materiaisrecicláveis.

Para Cunha & Caixeta Filho (2002), muitas vezes,o lixo é tratado com a mesma indiferença da época dascavernas, quando não era verdadeiramente um problema,seja pela menor quantidade gerada, seja pela maiorfacilidade da natureza em reciclá-lo. Entretanto, emtempos mais recentes, a quantidade de lixo gerada no

Figura 3 - Resíduos sólidos recicláveis e não recicláveis recolhidospara os dias da semana na UFV em 2011.

Fonte: Divisão de Parques e Jardins.

mundo tem sido grande e seu mau gerenciamento, alémde provocar gastos financeiros significativos, podeprovocar graves danos ao meio ambiente e comprometera saúde e o bem-estar da população. Por esse motivo,o interesse em estudar resíduos sólidos tem se mostradocrescente. Devido às dificuldades encontradas coma coleta seletiva, foi criado mais um Projeto em conjuntocom o Reciclar, denominado “Plano de GerenciamentoIntegrado de Coleta Seletiva na UFV” (PIBEX/2012),coordenado pelo Diretor de Manutenção de InfraestruturaUrbana e Meio Ambiente, o Engenheiro MecânicoJefferson Machado Fontes, da Pró-Reitoria deAdministração. Este novo projeto está responsávelpela parte funcional e operacional da coleta no campus.Atualmente a quantidade de materiais recicláveisrecolhidos semanalmente na UFV é da ordem de 1500a 5000 kg, com uma média diária variando de 300 a 1000kg (Divisão de Parques e Jardins 2011/2012), conformepode ser observado na Figura 4. Esse material é deótima qualidade e possui grande valor agregado, umavez que os catadores do campus são criteriosos e atentosao recolhê-lo.

Com o passar dos anos foi possível perceber aimportância do trabalho do Projeto Reciclar, já quea quantidade de material recolhido aumentou de 2006até 2012, em consequência da conscientização dostrabalhadores dos prédios no que diz respeito àimportância da coleta seletiva.

Figura 4 - Médias mensais dos resíduos sólidos recicláveis recolhidosna UFV no período de agosto de 2011 a março de2012. (Fonte: Gerência de resíduos UFV).

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Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos

3.1. Estratégias adotadas no desenvolvimento do trabalho

1 - Definir os principais objetivos do Projeto edesenvolver um Plano de Gerenciamento de Resíduosque se adéque à realidade do local onde se desejadesenvolver a coleta seletiva.

2 - Estabelecer parcerias com projetos afins e demesma essência ideológica, a fim de montar e organizaruma equipe de trabalho, dividindo responsabilidadesespecíficas para cada membro de acordo com seu perfilprofissional.

3 - Desenvolver atividades que atinjam e envolvamo maior número de pessoas possível.

4. CONCLUSÃO

Quando estamos consumindo qualquer produtoou serviço, quase sempre geramos lixo, ou pela sobraou pelas embalagens que revestem as mercadorias,parte dos serviços que compramos. Mas ainda poucaspessoas se preocupam em saber para onde irá todoesse lixo ou quais as consequências provocadas nomeio ambiente, para tornar possível a geração dosprodutos e serviços que servem à humanidadediariamente. Tais reflexos da modernidade já estão seconfirmando quando temos mudanças radicais no meioambiente (Magera, 2008).

O Projeto Reciclar se fez presente dentro do campusatravés de divulgação, educação e conscientização,procurando atingir a todos que frequentam ou pertencemindireta e diretamente à UFV.

Tal trabalho se mostrou fundamental para a eficiênciae o bom funcionamento da coleta seletiva, uma vezque a mesma se mostrou dependente, em todas as suasetapas, do interesse e da aceitação da comunidade.Mostrou-se clara, então, a necessidade de atividadescontínuas e intensas relacionadas ao ensino de boaspráticas ambientais, além de apoio e interesse daadministração.

Dessa forma é possível estabelecer um mecanismode correta destinação do material reciclável, tornandoa universidade mais sustentável.

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