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Ano 22 - Edição 143 Junho/Julho 2012 Revista Brasileira do Aço A indústria está sem fôlego. É como se estivesse afun- dando no mar, apenas com o braço para fora e com as mãos abertas suplicando por socorro! O vilão? A importação... E na siderurgia, esta situação é ainda mais alarmante, pois o setor sofre com as importações diretas e indiretas do aço. As importações diretas começaram a ganhar maior espaço a partir de 2006, tendo o ápice em 2010, devido à apreciação cambial, excesso de capacidade excedente na si- derurgia mundial e, ainda, por incentivos fiscais concedidos por alguns Estados – conhecidos como “Guerra dos Portos”, e que foram revogados recentemente pelo Senado Federal). Passaram de 1,6 milhão de toneladas em 2007 para 2,5 milhões no ano se- guinte, chegando a 5,9 milhões de toneladas em 2010, e revertendo parcialmente para 3,8 milhões de toneladas em 2011. No primeiro quadrimestre de 2012, as importações foram 16,5% superiores ao mesmo período anterior. Já as importações indiretas aumentaram de 2,3 milhões de toneladas em 2007 para 5 mi- lhões de toneladas em 2011. Aliás, desde 2009, o Brasil contabiliza déficit no comércio indireto de aço, o que pode ser compreendido como uma pressão competitiva adicional sobre a ca- deia metal-mecânica, de uma forma geral, e, sobre as siderúr- gicas e distribuidoras, de uma maneira particular. Cabe mencionar também que, durante o período 2000-2011 (exceto 2006 e 2010), as importações indiretas foram superiores às importações diretas de produtos siderúrgicos. Ao importar um automóvel, por exemplo, aproximadamente uma tonelada de diversos tipos de aços deixa de ser comercializadas no País. Isso afeta negativamente o mercado interno nacional. Segundo o economista e Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Germano Mendes de Paula, o impacto mais importante, talvez, está nos efeitos de encadeamento, pois quando a produção nacional é substituída por mercadorias importadas, em um primeiro mo- mento há a diminuição do produto nacional (supondo que há capacidade ociosa e custos competitivos). “A redução da produção nacional implica na perda de ne- gócios para os fornecedores, que ao reduzirem o volume de atividades, também induzem a retração de outros negócios. A mesma tendência ocorre em termos dos empregos gerados e salários recebidos. Assim, aumentos abruptos de importação acarretam o risco de desestruturação dos setores produtivos”, explicou Germano, dizendo que por outro lado, as impor- tações possuem aspectos positivos em termos de comple- mentariedade em relação à oferta nacional e a pressão baixista sobre preços. “Então, é preciso comparar os impactos positivos e negativos das importações”, completou. O professor afirmou que a siderurgia é uma atividade com alto encadeamento econômico. Um recente estudo da Fundação Getúlio Vargas – FGV –, encomendado pelo Instituto Aço Brasil – IABr –, mostrou que o faturamento direto da siderurgia corresponde cerca de 0,7% do valor da produção nacional, mas ao incluir os efeitos indiretos (negócios gerados no setor produti- vo) e induzidos (negócios decorrentes da maior renda do trabalho), o valor da produção corres- ponde a 4,8% do total da economia. “Portanto, os impactos do setor siderúrgico se disseminam não apenas nas cadeias produtivas nas quais se insere, mas também para setores que são pouco relacionados com a própria siderurgia”, contou. Assim como muitas pessoas, Germano acredita que as recentes medidas tomadas pelo Governo estão na direção certa, mas parecem ainda insuficientes para reverter o qua- dro de desindustrialização precoce da economia brasileira, o que, evidentemente, afeta o segmento metal-mecânico (incluindo a siderurgia). “Precisamos aumentar consideravel- mente o volume de investimentos produtivos no País, o que é uma tarefa árdua, ainda mais quando se observa um cená- rio internacional de alta incerteza”, encerrou. Uma transformação que começou em 2006... A importação interferiu drasticamente na indústria e, consequentemente, no mercado interno Germano Mendes de Paula, Economista e Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia – UFU

Revista Brasileira do Aço - inda.org.br · comparar os impactos positivos e negativos das ... vestiram na informatização das empresas para facilitar o ... a queda nas importações

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Ano 22 - Edição 143Junho/Julho 2012

Revista Brasileira do Aço

A indústria está sem fôlego. É como se estivesse afun-dando no mar, apenas com o braço para fora e com as mãos abertas suplicando por socorro! O vilão? A importação... E na siderurgia, esta situação é ainda mais alarmante, pois o setor sofre com as importações diretas e indiretas do aço. As importações diretas começaram a ganhar maior espaço a partir de 2006, tendo o ápice em 2010, devido à apreciação cambial, excesso de capacidade excedente na si-derurgia mundial e, ainda, por incentivos fiscais concedidos por alguns Estados – conhecidos como “Guerra dos Portos”, e que foram revogados recentemente pelo Senado Federal). Passaram de 1,6 milhão de toneladas em 2007 para 2,5 milhões no ano se-guinte, chegando a 5,9 milhões de toneladas em 2010, e revertendo parcialmente para 3,8 milhões de toneladas em 2011. No primeiro quadrimestre de 2012, as importações foram 16,5% superiores ao mesmo período anterior. Já as importações indiretas aumentaram de 2,3 milhões de toneladas em 2007 para 5 mi-lhões de toneladas em 2011. Aliás, desde 2009, o Brasil contabiliza déficit no comércio indireto de aço, o que pode ser compreendido como uma pressão competitiva adicional sobre a ca-deia metal-mecânica, de uma forma geral, e, sobre as siderúr-gicas e distribuidoras, de uma maneira particular. Cabe mencionar também que, durante o período 2000-2011 (exceto 2006 e 2010), as importações indiretas foram superiores às importações diretas de produtos siderúrgicos. Ao importar um automóvel, por exemplo, aproximadamente uma tonelada de diversos tipos de aços deixa de ser comercializadas no País. Isso afeta negativamente o mercado interno nacional. Segundo o economista e Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Germano Mendes de Paula, o impacto mais importante, talvez, está nos efeitos de encadeamento, pois quando a produção nacional é substituída por mercadorias importadas, em um primeiro mo-

mento há a diminuição do produto nacional (supondo que há capacidade ociosa e custos competitivos). “A redução da produção nacional implica na perda de ne-gócios para os fornecedores, que ao reduzirem o volume de atividades, também induzem a retração de outros negócios. A mesma tendência ocorre em termos dos empregos gerados e salários recebidos. Assim, aumentos abruptos de importação acarretam o risco de desestruturação dos setores produtivos”, explicou Germano, dizendo que por outro lado, as impor-tações possuem aspectos positivos em termos de comple-

mentariedade em relação à oferta nacional e a pressão baixista sobre preços. “Então, é preciso comparar os impactos positivos e negativos das importações”, completou. O professor afirmou que a siderurgia é uma atividade com alto encadeamento econômico. Um recente estudo da Fundação Getúlio Vargas – FGV –, encomendado pelo Instituto Aço Brasil – IABr –, mostrou que o faturamento direto da siderurgia corresponde cerca de 0,7% do valor da produção nacional, mas ao incluir os efeitos indiretos (negócios gerados no setor produti-vo) e induzidos (negócios decorrentes da maior renda do trabalho), o valor da produção corres-

ponde a 4,8% do total da economia. “Portanto, os impactos do setor siderúrgico se disseminam não apenas nas cadeias produtivas nas quais se insere, mas também para setores que são pouco relacionados com a própria siderurgia”, contou. Assim como muitas pessoas, Germano acredita que as recentes medidas tomadas pelo Governo estão na direção certa, mas parecem ainda insuficientes para reverter o qua-dro de desindustrialização precoce da economia brasileira, o que, evidentemente, afeta o segmento metal-mecânico (incluindo a siderurgia). “Precisamos aumentar consideravel-mente o volume de investimentos produtivos no País, o que é uma tarefa árdua, ainda mais quando se observa um cená-rio internacional de alta incerteza”, encerrou.

Uma transformação que começou em 2006...A importação interferiu drasticamente na indústria e, consequentemente, no mercado interno

Germano Mendes de Paula,Economista e Professor do Instituto de

Economia da UniversidadeFederal de Uberlândia – UFU

2 | Artigo

Artigo - Dr. Antônio César Ribeiro

Como é sabido, o Código Tributário Nacional representado pela Lei Federal nº 5.172, é datado de 1966, ou seja, detém mais de 40 anos de vi-gência. É muito antigo levando em conta a reali-dade atual do Poder Público e dos Contribuintes. Aliás, nos idos de 1966, não se poderia imagi-nar que, atualmente, a informática chegasse aon-de chegou, pois ali, naquela época, a guarda de documentos e os processos de fiscalização eram absolutamente “artesanais”. Atualmente não, muito ao contrário, pois a nor-ma tributária vigente, dentre outras mais recentes, impuseram aos contribuintes brasileiros diversas modificações, considerando sempre o “interesse público”; ou seja, sobre o enfoque do “interesse público”, os contribuintes passaram em muitos casos a recolher o imposto “antes de vender a mercadoria da prateleira”, como no caso da Substituição Tributária, circunstância em que o Estado já recebe o tributo sem ter o contribuinte vendido a mercadoria. Outros elementos facilitadores considerando este nor-teador do “interesse público”, advém também da imposição feita aos contribuintes de adquirirem instrumento a possi-bilitar uma escrita absolutamente informatizada, onde, de fato, o fisco está ferramentado em diagnosticar o contribuin-te de forma eletrônica e imediata, isto é “on line”. Nada obstante e como dito aqui, a legislação que visa o in-teresse público evoluiu criando estas regras de tributação que são extremamente onerosas aos contribuintes e que determi-nam além de pagamento antecipado de tributos a aquisição de máquinas e equipamentos que outorgam ao fisco o Poder de Fiscalizar “imediatamente” as operações de seus fiscalizados.

E a contrapartida, como é que fica? Ora, se o Poder Público possui ferramentas para conhe-cer a fundo as operações dos fiscalizados, porque os contri-buintes continuam em dias atuais, tendo que guardar docu-mentos e sendo onerados também por isso, no período de cinco ou seis anos? Com o devido respeito, o interesse público nos idos de 1966 comportava mesmo prazos decadências extensos para que a máquina do Estado pudesse chegar ao contribuinte, porém hoje, como dito aqui, isso não é mais razoável já que de forma imediata e “on line” o Poder Público conhece a fun-do as operações de seus fiscalizados. Aliás, o que se defende aqui é também o interesse pú-blico, pois hoje mais que nunca é de interesse coletivo que o Poder Público fiscalize o cumprimento de obrigações princi-pal e acessórias de forma célere e eficaz, pois já possui instru-mentos a tal mister. Nada justifica mais estes prazos decadenciais de cinco e seis anos.

Como adiantado, o interesse público hoje é o de que o Estado seja célere e, para isso, já está ferramentado a esta celeridade. Até porque, é também de interesse público que os contribuintes que tiveram que suportar estes custos para aquisição de máquinas e equipamentos à possibilitar esta visibilidade eletrônica ao fisco, sejam também desonerados, como contrapartida, de outros custos de guarda de docu-mentos por tantos anos, tal qual ocorria em 1966. Estamos em 2012 e a realidade ferramental é bem outra. Dentro deste espírito é que o Sindisider apresentou apoio ao Projeto de Lei que defende a redução do marco decadencial que deixará de ser de cinco ou seis anos, pas-sando para dois anos.

Sindisider atento a esta questão Para buscar essa solução, no dia 04 de julho, o Sindisider participou de uma reunião com parlamentares em Brasília, DF, juntamente com a Fenacon – Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis. O Sindisider levou aos Deputados Federais, Pedro Eu-gênio (PT-PE), e Guilherme Campos (DEM-SP), o parecer das empresas distribuidoras e revendedoras de produtos side-rúrgicos em relação ao tema. “Nossos empresários já fizeram sua parte quando in-vestiram na informatização das empresas para facilitar o trabalho da receita federal. Agora cabe ao Governo dar sua parcela de contribuição para a diminuição da burocracia no País, um mal que assola a competitividade de todo setor empresarial brasileiro”, destacou Gilson Santos Bertozzo, Superintendente do Sindisider. No próximo mês de agosto haverá uma audiência pú-blica na capital Federal, com a participação dos técnicos do Ministério da Fazenda. Oportunamente todos os empresá-rios associados ao Sindisider serão convidados a participa-rem desse encontro. “Precisamos exercer nosso papel de setor organizado para reivindicar melhorias na legislação com vistas a garantir a sobrevivência das nossas empresas”, concluiu Bertozzo.

Vamos diminuir despesasAtravés de equipamentos eletrônicos, o Poder Público monitora todas as operações realizadas pelas empresas, mas ainda assim, impõe um prazo decadencial de cinco anos... Isso faz sentido?

Da esquerda para direita - Gilson Santos Bertozzo (Superintendente Sindisider) Geraldo Queirós (Fenacon/PE) Valdir Pietroni (Presidente da Fenacon) Guilherme Campos (Deputado Federal PSD/SP) Pedro Eugênio (Deputado Federal PT/

PE) Dr. Antônio César (Advogado Tributarista do Sindisider) e Sauro Henrique de Almeida (Fenacon/MG).

As compras de aços planos em junho registraram forte retração: 18% quando comparadas ao mês anterior, atingindo o volume de 321,2 mil toneladas. Frente ao mesmo período do ano passado, as compras subiram 11,4% (288,2 mil toneladas). Em relação às vendas, no mês de junho também obtiveram recuo, 14,6% frente a maio, com volume total de 348,7 mil toneladas. Porém, quando comparadas a junho do ano anterior, as vendas da rede associada apresentaram alta de 5%. Assim, os estoques de junho tiveram retração de 2,7 em seus volumes, atingindo o montante de 974,3 mil toneladas. Quando comparado ao mesmo período do ano anterior (1213,4 mil toneladas), o armazenamento recuou 19,7%. Com isso, o giro dos estoques subiu para 2,8 meses. As importações de aços planos³ de junho registraram acréscimo de 52% em relação ao mês anterior, com volume total de 166,9 mil toneladas.

PRODUÇÃO MUNDIALMAIO

2012 2011 Var.%

130.656 129.629 0,8%

PRODUÇÃO AMÉRICA LATINAMAIO

2012 2011 Var.%

5.850 6.098 -4,1%

PRODUÇÃO BRASILJUNHO

2012 2011 Var.%

2.749 3.004 -8,5%

3 Prod

utos:

LCG,

BQ,

BF,

CZ, C

PP, C

AZ e

EGV.

1 Incluem importações informadas pelos associados2 Incluem os embarques das usinas para outros setores via distribuição

Estatisticas | 3

Estatísticas

Compra e venda de aços planos recuam novamente

Por Oberdan Neves Oliveira

Unid:1000 ton.

PANORÂMICADO AÇO

DESEMPENHODOS ASSOCIADOS

ESTOQUE1

JUNHO

2012 2011 Var.%

974,3 1.213,4 -19,7%

COMPRAS2

JUNHO

2012 2011 Var.%

321,2 288,2 11,5%

VENDAS1

JUNHO

2012 2011 Var.%

348,7 332,2 5,0%

Mercado

O presidente do Inda – Instituto Nacional dos Distribui-dores de Aço – Dr. Carlos Loureiro, comentou dados do setor no primeiro semestre de 2012 e destacou o momento positi-vo vivido pelo segmento, puxado pelas medidas de estímulo à indústria adotadas pelo Governo Federal. O setor de distribuição de aços planos no Brasil vis-lumbra um cenário positivo nos próximos meses. As me-didas de estímulo à economia implementadas pelo Go-verno Federal e o câmbio favorável devem contribuir para a queda nas importações e consequente aumento nas vendas do produto. Porém, as expectativas mais otimistas são apenas para o ano que vem. O crescimento do setor projetado para 2012 é de cerca de 5%, mas Loureiro acredita que, em 2013, haverá ampla recuperação e avanço significativo, da ordem de 9% a 10%. O empresário apontou os fatores que podem influen-ciar o mercado, entre eles a redução na entrada de aço no País, motivada pela equalização da cobrança de ICMS nos portos nacionais e o aumento na competitividade do preço do produto brasileiro, que deve ficar competitivo em relação ao importado.

Confira abaixo, a entrevista na íntegra: 1) Diante do câmbio atual, quais são as suas expec-tativas frente às importações de aço até dezembro de 2012? O quanto o mercado interno se beneficia com isso? Carlos Loureiro: Em função da posição do Governo Fe-deral de trabalhar o câmbio, alcançamos o atual patamar (favorável) que diminui a competitividade dos importados. Esse fator, somado à equalização do ICMS, que põe fim à Guerra dos Portos, faz com que as entradas de aço estran-geiro percam força. Não esperamos muitas surpresas e de-vemos ter uma normalização do mercado externo. Se a economia nacional avançar 4% em 2013, confor-me se espera, o nosso segmento deve crescer de 9 a 10% no período.

2) Aproveitando o tema da equalização da taxa de ICMS interestadual, que entrará em vigor em janeiro de 2013, como o mercado deverá reagir? Carlos Loureiro: Importa-ções que são fruto de fatores geográficos, como ocorrem nos portos da Zona Franca de Manaus e do Nordeste, por exemplo, devem se manter. Nessas regiões, o custo do frete é muito elevado e menos vantajoso financeiramente frente ao frete internacional – mesmo com a equalização. Deve haver ainda a continuidade na importação de al-gumas chapas especiais, que não são produzidas no Brasil. Porém, de forma geral, a tendência é que com essa medida as importações caiam no ano que vem – no 2º semestre des-te ano os efeitos ainda serão muito irrisórios, se considerar-mos que a resolução só entra em vigor, de fato, em janeiro. Com a equalização, o preço do produto nacional fica competitivo em relação ao importado, mesmo consideran-do os reajustes anunciados recentemente pelas usinas. 3) Qual sua expectativa sobre o futuro das importa-ções indiretas de aço? Carlos Loureiro: As importações indiretas ainda são o principal desafio enfrentado pelo mercado. Levantamentos mostram uma estabilidade nos números de 2012 ante 2011 – algo como 5 milhões de toneladas de aço indireto entra-ram esse ano no País. Ou seja, não conseguimos alcançar uma redução nesses índices. Precisamos que esse número caia para que o mercado possa crescer efetivamente. A previsão de crescimento men-cionada anteriormente, de 9 a 10% para 2013, já está ligada à estimativa de que no ano que vem haja uma queda nessas importações, considerando as medidas de estímulo à indús-tria nacional adotadas pelo Governo. 4) Quais fatores atualmente podem ser considera-dos limitadores da competitividade do setor siderúr-gico nacional? Carlos Loureiro: Hoje em dia, o principal fator limitador

Cenário favorávelAlém do câmbio, os gastos com logística também são problemáticos. Atualmente, o frete nacional para o Nordeste é 60% mais caro do que o envio do produto diretamente da China. Precisamos desenvolver estruturas que permitam fretes mais competitivos

4 | Mercado

Dr. Carlos Loureiro,presidente do Inda / Sindisider

Evolução de Estoque

ITENS

Janeiro / Junho

2012 2011 %

PLACAS 10,6 2,0 430,0 %

LCG 273,1 222,3 22,9 %

LTQ/BQ 1.170,9 1.194,0 -1,9 %

BF/CFF 401,0 393,8 1,8 %

FM 9,2 6,9 33,3 %

CZ 276,6 245,1 12,9 %

EGV 11,8 6,4 84,4 %

PP 6,7 8,9 -24,7 %

CAZ 21,4 42,3 -49,4 %

TOTAL 2.181,3 2.121,7 2,8 %

Evolução de Vendas

Evolução de Estoque

é a taxa cambial. Apesar das usinas terem componentes em seu custo ligados ao câmbio (por exemplo, carvão e minério) outros gastos, como mão de obra e energia, são nominados em Reais. Além do câmbio, gastos com logística também são problemáticos. Atualmente, o frete para o Nordeste, tendo como origem o Sudeste, por exemplo, é 60% mais caro do que o envio do produto feito diretamente da China. Preci-samos desenvolver estruturas que permitam deslocamen-tos mais competitivos. E não podemos esquecer o Custo Brasil, que é elevado. O câmbio mais ajustado permite também que a indús-tria exporte excedentes. Há alguns anos nossas usinas tra-balhavam com 90 a 95% de sua capacidade, hoje esse nível é ao redor de 75%, ou seja, tivemos um grande avanço na ociosidade industrial. Com a taxa favorável, podemos dimi-nuir esse número permitindo melhor rateio dos custos fixos. 5) Que balanço podemos fazer diante dos números da distribuição de aços planos do primeiro semestre e quais suas expectativas para o segundo semestre? Carlos Loureiro: As vendas do primeiro semestre de 2012, ante 2011, tiveram pequeno avanço, de 2,8%. Para o ano, a previsão é de crescimento de 4% a 5%. As compras fecharam o período com crescimento de 1,1%. A diferença entre a venda e a compra é resultado de adequação dos estoques, que apresentaram ligeira re-dução (de 1,2 milhões de toneladas, em 2011, para 974 mil toneladas, em 2012). Já a entrega das usinas no mercado interno fechou o

período praticamente estável, com queda de 1%. 6) Quais setores devem puxar o consumo de aços pla-nos nos próximos meses? Carlos Loureiro: Os principais setores impulsionado-res do consumo devem ser o automotivo e de máquinas e equipamentos, reflexo das medidas de incentivo à indústria nacional, e o de construção civil, em resposta às obras proje-tadas para a Copa de 2014. 7) Que ações a distribuição de aços deve perseguir para melhorar seus resultados no segundo semestre desse ano? Carlos Loureiro: É importante que trabalhemos com es-toques ajustados, evitando assim a pressão de caixa que leva os distribuidores a concretizar negócios desfavoráveis, com baixa remuneração. Outro fator relevante é investir para agregar valor ao produto, permitindo ao distribuidor oferecer vantagens adicionais ao cliente. 8) Durante o último congresso do setor, falou-se que a China consumirá muito aço (e matéria-prima) para a continuidade de sua urbanização, com expectativa de crescimento de 80% até 2030. Na visão do senhor, como o Brasil também pode aumentar de forma significativa o consumo de aço no País nos próximos anos? Carlos Loureiro: Em termos de consumo per capita o Brasil não tem como ser comparado com a China. É infinita-mente menor. Ou seja, existe muito espaço para crescermos. Acredito que o principal fator de entrave é o baixo inves-timento em construção civil, como em obras ligadas a aero-portos, portos e ferrovias.

Mercado | 5

Evolução do Consumo Aparente - Janeiro a Junho de 2012 Unid: ton. | * inclui: CZ, CPP, Galvalume e EGV

6 | Economia

Economia

O ano de 2012 começou com grandes expectativas em diversos setores da economia. Em janeiro, o Ministro da Fa-zenda, Guido Mantega, confirmou a expectativa de 3,5% para o PIB nacional – Produto Interno Bruto –, porém, no andar da carruagem, esta projeção mudou. Reflexos da crise europeia foram sentidos no Brasil e, em junho, o Banco Cen-tral reduziu a previsão para 2,5%. Observando o cenário atual, a ideia de um crescimen-to ainda menor começa a ser considerada. As novas apostas são de PIB inferior a 2%. Para o economista e pesquisador do IBRE / FGV– Fundação Getúlio Vargas – Gabriel Barros, a atual conjuntura macroeconômica é delicada em função do pano-rama internacional que não está resolvido. “A crise fiscal nos países europeus ainda não foi totalmente solucionada e a re-cuperação dos EUA aos desdobramentos da crise financeira de 2008/2009 têm se mostrado frágil e lento. Por conseguin-te, o cenário macroeconômico para a economia brasileira em 2012 sofreu tal contágio”, explicou Barros. Para ele, a menor expansão da economia mundial terá re-flexos no preço e na quantidade demandada de commodities, tanto agrícolas como metálicas, desvalorizando a taxa de câm-bio e deprimindo o crescimento das empresas que têm maior dependência externa. Por outro lado, o mercado interno deve-rá acomodar parte desse crescimento.

Segundo semestre com o pé direito Barros acredita que o segundo semestre terá gradativa

retomada para o crescimento, com as medidas fiscais e mone-tárias afetando a economia real e contribuindo para o desen-volvimento da atividade econômica. “Contudo, as medidas de estímulo ao crescimento econômico devem afetar em maior grau a expansão real do PIB em 2013, cuja taxa de crescimento esperada é de 3,8%”, declarou.

Incentivos e perspectivas para a indústria A despeito do crescimento de 1,9% divulgado pelo IBGE para o primeiro trimestre de 2012, a indústria de transformação tem registrado ritmo inferior, acúmulo de estoques e pouca perspectiva de contratações. Porém, de acordo com Barros, “para os próximos meses, dados antece-dentes mostram relativa melhora na margem. A Sondagem da Indústria, realizada pelo IBRE/FGV, revela esse retorno do otimismo no horizonte de seis meses à frente, em linha com a expectativa de retomada doméstica no segundo se-mestre. O setor de construção civil aponta para uma aco-modação de crescimento, principalmente àquelas relacio-nadas a obras de infraestrutura”. Para melhorar o cenário, além da redução da taxa básica de juros, o governo tem adotado uma série de medidas de ordem fiscal com o objetivo de estimular o consumo. Dentre elas, tem-se a redução de IPI – Imposto sobre Produtos Indus-trializados – para veículos novos, a queda de IOF para crédito à pessoa física e de juros para a concessão de empréstimos para consumo, desoneração da folha de pagamento de mais

Economia Real: o que esperar no curto prazoExpectativas a mil para o segundo semestre de 2012

A crise continua a assolar a Europae os reflexos podem ser sentidos no Brasil.Por outro lado, o País está pronto paraencarar os desafios de maneirapositiva e confiante

de 15 setores da indústria, ampliação do volume de recursos do BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento – e aumen-to de PIS/Cofins para produtos importados.

Mas, e o aço? Para o setor siderúrgico, há uma gama de fatores que afetam a demanda e, por consequência, os preços das commodities metálicas, em particular o aço. Sob a ótica internacional, o baixo crescimento econômico mundial in-fluenciado pela frágil recuperação da economia americana, somado a incerteza ainda presente na Zona do Euro e pela acomodação na expansão da economia chinesa, reduzem de forma importante a demanda do setor. Segundo o Instituto Aço Brasil, o consumo mundial em 2011 foi de 1,5 bilhões, apontando crescimento para os próximos anos, embora haja uma sobrecapacidade de 500 milhões de toneladas/ano. Esse excesso de oferta de aço, associado à retração econômica de importantes mercados consumidores, tem provocado competição predatória e prá-ticas desleais de comércio impulsionado por subsídios e me-canismos artificiais de câmbio existentes em alguns países. No Brasil, o mercado interno – que tem absorvido parte excedente das exportações – tem levado fôlego as siderurgias domésticas. Além disso, os investimentos públicos ainda não deslancharam e, quando enfim, começarem, darão uma im-portante injeção de gás ao setor. A situação tente a melhorar e não está longe. Para Edwin Basson, Diretor Geral da World Steel Association, o aumen-to da demanda por aço está atrelado ao mix do crescimento econômico e populacional dos países emergentes que man-terão relativamente estáveis o mercado, com procura para

os próximos 20 anos. E esta é a realidade que o Brasil vive! Para o professor de eco-nomia, Eduardo Gianetti, é importante agora ter foco na produtividade, com economia de escala, eficiência produtiva, valorização de pequenos ga-nhos obtidos de forma cumu-lativa, integração vertical,

inovação e fortalecimento do setor por meio de coalizões.

Mercado externo Para Barros, boa parte do crescimento chinês vem das ex-portações de seus produtos para as demais economias mundiais. Com o cenário de enfraqueci-mento da atividade econômica de diversos parceiros comerciais, como Estados Unidos e Europa, é natural que a aceleração do crescimento chinês se acomode em um novo patamar. Fabiana D’Atri, economista sênior do Bradesco, expli-cou que a desaceleração em curso da China acontece em decorrência da redução da demanda externa (que afeta as exportações), e pelo efeito das políticas mais restritivas im-plementadas até meados do ano passado para controlar a inflação. “O governo chinês optou por fazer ajustes no setor imobiliário (para conter os preços dos imóveis muito eleva-dos) e nas dívidas dos governos locais (que indicam proble-mas para os próximos anos). Com isso, os investimentos no setor imobiliário e em infraestrutura passaram por arrefeci-mentos expressivos. Para completar, devemos lembrar-nos do canal da confiança, afetado pela crise externa, que tem segurado os investimentos. E isso acontece em um novo di-recionamento do governo chinês de trazer o crescimento da China para um ritmo menor, alterando sua meta de 8% para 7,5% em um horizonte mais dilatado”, explicou. O pesquisador do IBRE/FGV, contou que, na medida em que as economias emergentes, – com destaque para os BRICS e, em especial a China –, ancoram o crescimento da economia mundial, o menor crescimento desses países afetam as demais economias através das relações comerciais existentes e da condição de equilíbrio macro entre oferta e demanda no mercado de bens e serviços. Já para Fabiana, tal ritmo atingirá a demanda global, es-pecialmente das commodities, favorecendo o recuo de pre-ços. Além disso, como a desaceleração está em curso e as in-certezas da sua intensidade são elevadas, o mercado segue com preocupações elevadas.

Economia | 7

Gabriel Leal de BarrosEconomista e pesquisador de

Finanças Públicas e Créditos do IBRE/FGV

Fabiana D’AtriEconomista Senior do Depec Bradesco

PresidenteCarlos Jorge LoureiroVice-presidenteJosé Eustáquio de LimaDiretor administrativo e financeiroMiguel Jorge LocatelliDiretor para assuntos extraordináriosHeuler de Almeida

Conselho DiretorAlberto Piñera Graña, Carlos Henrique,Stella Rotella, Philippe Jean Marie Ormancey,Ronei Kilzer Gomes, Newton Roberto LongoSuperintendenteGilson Santos BertozzoConselheiro EditorialOberdan Neves Oliveira

Expediente

11 2272-2121 [email protected] Isis Moretti (Mtb 36.471) [email protected]ária de Redação Danielle SchiavoProjeto gráfico, diagramação e editoração www.criatura.com.brImpressão PigmaDistribuição exclusiva para Associados ao Inda. Os artigos e opiniões publicados não refletem necessariamente a opinião da revista Brasileira do Aço e são de inteira responsabilidade de seus autores.

Diretoria Executiva Revista Brasileira do Aço

8 | Comportamento