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Dezembro 08 Capa GRÁTIS COMIDA&BEBIDA www.businessetc.com.br e as marcas, presidente? Levantamento inédito com 50 CEOS no Brasil aponta uma revelação preocupante: a maioria deles não se envolve nas decisões do mais valioso ativo da empresa Gênio? Fanfarrão? Ambos? O empresário Eike Batista é um dos nomes mais controvertidos da cena brasileira dos negócios. Business & etc foi investigar o que há de real e o que há de autopromoção nisso Metrópoles em transe Como as grandes cidades, onde já vive a maioria da população mundial, estão mudando a gestão pública e os negócios: A Ford se reinventa para investir em sistemas de transporte urbano O lado B da China: o crescimento desenfreado produz cidades inóspitas R$8,90 Dez 2008 Ano 1 n¼12

Revista Business

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Revista de Negócios. Projeto Academico.

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Business & etc 1

Dezembro 08 • CapaGRÁTIS

Comida&BeBida

www.businessetc.com.br

e as marcas, presidente?

Levantamento inédito com 50 CEOS no Brasil aponta uma revelação preocupante:

a maioria deles não se envolve nas decisões do mais valioso ativo da empresa

Gênio? Fanfarrão? Ambos?O empresário Eike Batista é um dos nomes mais controvertidos da cena brasileira dos negócios. Business & etc foi investigar o que há de real e o que há de autopromoção nisso

Metrópoles em transeComo as grandes cidades, onde já vive a maioria da população mundial, estão mudando a gestão pública e os negócios:

A Ford se reinventa para investir em sistemas de

transporte urbano

O lado B da China:o crescimento

desenfreado produz cidades inóspitas

R$8,90Dez 2008Ano 1 n¼12

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3Business & etc

Dezembro 08 • Sumário

SUSTENTABILIDADE

GESTãO

TRABALHO

REMUNERAÇãO

INTERNET

10 PERGUNTAS

CAPA

EMERGENTES

ESTRATÉGIA

PESQUISA

TECNOLOGIA

EMPREENDEDORISMO

22

26

28

30

32

34

54

74

124

125

140

150

Empresas do Setor 2,5 derrubam fronteiras entre lucro e ação social

Conheça o laboratório que trata a administração como ciência

O programa de intercâmbio global de melhores prática da AmBev

Na Amex, o pagamento do CEO depende de metas de longo prazo

Entenda o comportamento de seu cliente na web com a “netnografia”

Constantino Jr., presidente da Gol, responde às perguntas dos leitores

Presidentes de empresas cuidam cuidam pouco da gestão de suas marcas

Por que Craig Barret, o presidente da Intel, elegeu a cidade amazonense de Parintins como cenário de sua nova estratégia de negócios

Empresas que diversificam sua atuação crescem mais

Passo a passo, o que fazer para vencer no mundo virtual

Comandada por Marcelo Soares, a GE Celma tornou-se a maior exportadora nacional de serviços com a manutenção de turbinas

Alice Gismonti, do Rede Jovem, fez do celular um aliado para divulgar oportunidade de emprego, esporte e lazer para jovens de baixa renda

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As marcas, presidente, as marcas!

Um estudo inédito da Troiano Consultoria com

50 presidentes de empresas no Brasil revela que,

apesar de considerar as marcas o ativo intangível

mais valioso, a maioria deles não se envolve

diretamente com a gestão no dia-a-diapor Camila Hessel

Ilustração Marcus “Japs” Penna

Que as marcas se tornaram um dos ativos mais valiosos das empresas ninguém mais ques-tiona. Uma seqüência de levantamentos condu-zidos nas duas últimas décadas comprova a in-fluência dos logotipos das companhias sobre os resultados financeiros, o potencial de crescimen-to e seu valor de mercado. Um deles, realizado pela consultoria Brand Finance para Business & Etc, no ano passado, estimou o peso da marca sobre as vendas anuais de 100 empresas no Bra-sil. No caso da Coca-Cola, por exemplo, o valor da marca respondia por 64% da receita da com-panhia. Essa proporção atingiu 56% na Nestlé, 52% no McDonald’s e na Natura, e 49% na Uni-lever. Ao comparar o preço total das ações ne-gociadas nas 100 maiores bolsas de valores do mundo no ano passado com os números dos ba-lanços das respectivas empresas, a Intangible Assets Finance Society (organização sem fins lu-crativos, sediada nos Estados Unidos e formada por executivos de grandes corporações) concluiu que 80% do valor de mercado correspondia aos intangíveis, como marcas e capacidade de ino-vação (medida, por exemplo, pela quantidade de patentes registradas).

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Diante disso, causa estranheza que um fa-tor tão decisivo para o desempenho da empresa ainda não conte com um engajamento mais in-tenso de seu executivo número 1. Foi o que cons-tatou um estudo inédito conduzido recentemen-te pela Troiano Consultoria de Marca, com apoio da SPGA Consultoria. Foram entrevistados, no le-vantamento, 50 presidentes de empresas bra-sileiras. O objetivo era identificar a importância que conferem aos diferentes aspectos relaciona-dos à administração das marcas de suas compa-nhias. Localizadas nas regiões Sul e Sudeste, as participantes da amostra respondem por uma fa-tia de 6% do PIB brasileiro e representam 19 se-tores. Eis alguns resultados:

A gestão de marcas, ou

branding, foi o segundo

item citado na pauta de

preocupações dos CEOs,

precedido apenas por inovação;

85% afirmam que marca é o ativo

intangível mais valioso

de uma empresa;

Apenas 23% citam a presidência

e a área de relações corporativas

entre as principais envolvidas

no gerenciamento diário de

assuntos ligados às marcas;

Na grande maioria dos casos,

a gestão de marcas está confinada

ao departamento de marketing.

“Esses resultados confirmam que ainda predomina nas empresas a tradição clássica, em que as marcas são tratadas como instru-mento de negócio e não de gestão”, afirma Jai-me Troiano, coordenador do estudo. A princi-pal conseqüência disso é o que ele chama de “feudalização” das marcas na área de marke-ting. Ou seja, todas as atividades relaciona-das ao tema ficam concentradas nesse depar-tamento. Ainda que a feudalização ocorra na maior parte das empresas, os CEOs gostariam que fosse diferente. Quase dois terços dos entrevistados (71%) afirmam discordar que o marketing deveria ser o principal responsável pela administração das marcas. Veja o que diz, a propósito disso, o americano Philip Kotler, apontado como o papa do marketing moderno: “Uma abordagem sólida e abrangente de mar-ca exige, para ser bem-sucedida, um alto ní-vel de atenção e comprometimento pessoal do CEO e do diretor de marketing, bem como dos demais executivos principais”.

Se por aqui as marcas ainda precisam conquistar um espaço maior na agenda dos CEOs, há destacados exemplos internacionais em que o envolvimento do principal executivo é tão forte que a imagem dele e a da empresa se tornaram indissociáveis. É o caso da Virgin, de Richard Branson, da Apple, de Steve Jobs, e do eBay, comandado por Meg Whitman até março deste ano. Os elementos comuns a es-ses três exemplos são adotar o ponto de vista do consumidor na hora de desenhar produtos e serviços e tratá-los sempre como uma expe-riência guiada por um conceito, por uma idéia que a empresa quer projetar.

Os cabelos claros, compridos e desgre-nhados de Richard Branson, fundador do gru-po Virgin, e o fato de jamais vestir terno e gra-vata lembram que suas marcas procuram desafiar conceitos longamente estabelecidos sobre como um determinado setor deve atu-ar. Ele diz que a idéia dos bares nas aerona-

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ves veio de uma frustração pessoal. Em vários vôos nos quais foi passageiro, teve vontade de conhecer uma garota bonita sentada do outro lado do corredor e não pôde, porque estava pre-so ao seu assento. A premissa também foi ado-tada em sua rede de academias na Europa, a Virgin Active, onde os alunos só pagam quando freqüentam as aulas.

Inovações como essas não foram desen-volvidas com base em informações obtidas em pesquisas de opinião, mas sim da intuição de Branson a respeito das experiências que seus clientes anseiam. O caso das telas individuais nas poltronas do avião é simbólico. Convenci-do de que os passageiros adorariam a liberda-de de poder escolher os filmes que queriam ver no lugar de ficar à mercê de um único progra-ma escolhido pela companhia aérea, ele bus-cou financiamento no banco. Precisava de cer-ca de US$ 8 milhões e seu pedido foi negado. Ele então decidiu procurar a fabricante de avi-ões Boeing e perguntou se ela construiria aero-naves com telas individuais para cada poltro-na. A companhia concordou e o banco deu a Branson um empréstimo de US$ 2 bilhões para a compra dos novos aviões. Desde então, boa parte das linhas aéreas copiou a sua idéia.

O que o levantamento detectou, segundo Troiano, foi uma onda em formação, que mos-tra o potencial de mudança em relação à ges-tão de ativos intangíveis a que se assistirá em um futuro próximo. “Ainda é muito grande, po-rém, a distância entre as crenças, a retórica a favor das marcas, e as ações e investimentos concretos em sua administração”, diz. O execu-

tivo paulista Ricardo Gonçalves, presiden-te da Cia. Müller de Bebidas (fabricante da cachaça 51), é um dos 50 entrevistados na vanguarda da onda a que Troiano se refe-re. É ele quem supervisiona o marketing da empresa, e a equipe de quatro pessoas de-dicada às atividades ligadas às marcas res-ponde diretamente ao CEO. Assim, todas as campanhas publicitárias e decisões, como a apresentação das embalagens, passam por seu crivo. “Na indústria de bebidas, é a no-toriedade de uma marca que faz com que o consumidor continue a ser fiel a ela”, diz. É por isso que afirma ter optado por cuidar di-retamente de todas as atividades relaciona-das ao elemento que considera mais valioso para a manutenção da posição de mercado da empresa.

Para o especialista britânico Peter Fisk, autor de O Gênio do Marketing, as marcas desempenham hoje um papel mais amplo, por representar a cultura da companhia. Por isso, é fundamental quebrar o feudo e am-pliar a gama das atividades relacionadas a elas. Só assim a organização reforçará sua capacidade de gerenciar os intangíveis e ex-plorar ao máximo o seu potencial para ge-rar valor. Fisk aponta o episódio da compra da Gillette pela Procter & Gamble, ocorrida em janeiro de 2005, como um caso mode-lar do que uma gestão de marcas bem estru-turada pode trazer. De acordo com o laudo de avaliação apresentado aos acionistas na fase de negociação, US$ 51 bilhões repre-sentavam ativos intangíveis da companhia,

SÓ NO DISCURSO Os CEOs declaram se preocupar com as marcas, mas isso ainda

não se traduz em ações concretas.Fonte: Troiano Consultoria De Marca

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dos quais US$ 35 bilhões (ou 61,4% do preço total de aquisição, que foi de US$ 57 bilhões) correspondiam exclusivamente às atividades de marketing e de gerenciamento de marcas. “Faz mais do que sentido, portanto, que o prin-cipal executivo da empresa esteja diretamente envolvido com as marcas e com sua gestão”, disse Fisk a Business & Etc.

Colocar executivos para conviver com os clientes em situações de compra, de modo que entendam os anseios do consumidor, é uma das práticas que o consultor Fisk gosta de ado-tar quando desenvolve um projeto. Recente-mente, levou os principais diretores e geren-tes da inglesa Diageo (proprietária de marcas como a vodca Smirnoff e a cerveja Guinness) para clubes noturnos na Inglaterra. Lá, eles perceberam que os freqüentadores dos clubes não buscavam características específicas de uma determinada bebida. O que eles queriam era celebrar, ficar mais próximos dos amigos e viver episódios memoráveis. Quando passa-ram a olhar para o mercado com os olhos do consumidor, eles perceberam que vinham tra-balhando os atributos de marca errados e ne-gligenciando aspectos emocionais e de hábitos de consumo relevantes. O foco das campanhas publicitárias foi ajustado e uma série de ações promocionais foi desenvolvida para proporcio-nar experiências diferenciadas.

Outros executivos fazem da prática de in-teragir com os consumidores uma maneira de descobrir como a empresa está trabalhando. É o caso de Roland de Bonadona, diretor-geral de hotelaria da Accor na América Latina. “Jamais deleguei a alguém cuidar da reclamação de um cliente”, diz Bonadona. “Isso é um sinal que, vindo de cima, muda a cultura de uma empre-sa”. Segundo Fisk, as marcas são muito mais do que ferramentas de marketing: elas captu-ram a essência de todo o negócio. “Para o con-sumidor, a marca é a cola que une todos os aspectos de uma empresa e, para os seus fun-cionários, ela define o que cada um deve entre-gar a seus clientes.”

Tão importante quanto se relacionar com os consumidores é contar com o apoio de ins-trumentos técnicos. Avaliações de valor econô-mico, estudos de imagem, de força e de exten-são de negócios medem o pulso do mercado e indicam novas rotas que podem ser trilhadas para valorizar ainda mais o principal ativo intan-gível de uma companhia. Essas análises ajudam também a minimizar uma insatisfação generali-zada com o desempenho das marcas, tanto cor-porativas quanto de produtos, identificada pela pesquisa da Troiano. A sensação de que a mar-ca poderia entregar resultados melhores, decla-rada por 23% dos entrevistados, é agravada pela inexistência de dados que permitam um acom-panhamento objetivo da evolução das marcas - seja na percepção dos consumidores, seja nos números do balanço da própria empresa.

O estudo da Troiano comprovou, por exem-plo, que apenas 12% dos presidentes realizam com freqüência estudos para avaliar o poten-cial de extensão de negócios das marcas de suas companhias. Um deles é o grupo J. Mace-do, fabricante de alimentos. O primeiro estudo de potencial de criação de novos produtos foi realizado no final da década de 90. A propos-ta era avaliar os limites de extensão da marca Dona Benta.

Steve Jobs, da Apple, é um dos maiores exemplos de CEO que

se envolve profundamente com cada produto e marca,

de sua concepção ao lançamento no mercado.

Nada é feito sem ele.

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Segundo Marcos Póvoa, executivo encarre-gado da gestão de marcas na empresa, estudos como esse são necessários para que toda a em-presa possa entender que limites foram estabe-lecidos para a marca na mente do consumidor e até onde ela pode mudar sem correr o risco de se enfraquecer ou ter sua percepção diluída. “Dona Benta, por exemplo, é uma marca indul-gente, que remete à comida da vovó e que ja-mais poderia crescer para abarcar produtos com apelo diet”, afirma Póvoa.

Desde que o processo de extensão come-çou, a J. Macedo sofreu mudanças estruturais importantes. Entre 2004 e 2007, a companhia transformou seu portfólio de produtos. Com a intenção de trabalhar apenas com itens mais lucrativos, vendeu para a Bunge suas opera-ções de commodities, como produção de fa-rinha para padarias e pastifícios, e ficou com marcas voltadas para o varejo que pertenciam à empresa, como Sol e Petybon. Para garan-tir que as mudanças envolvessem funcioná-

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10 Business & etc

Meg Whitman, é

um dos raros CEOs a

fazer carreira na área

de marketing, empregou

sua experiência em

construção de marcas

para alçar o eBay à

liderança e revolucionar

o comércio eletrônico

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rios de todos os departamentos, a J. Macedo investiu numa exten-sa campanha de endomarketing. Além dos canais de comunicação interna tradicionais, a empresa implementou o “Encontro com as Marcas”, que reúne semes-tralmente todos os níveis geren-ciais da empresa, incluindo os gerentes das fábricas. A propos-ta do evento é treinar essas lide-ranças a respeito da importância das marcas e de maneiras de for-talecer o seu valor, estimulando-as a multiplicar os conhecimen-tos para seus subordinados.

A atenção crescente que os ativos intangíveis - e a sua con-tabilização - vêm recebendo deve intensificar a tendência de levar

o cuidado com as marcas para além das fronteiras do depar-tamento de marketing. As com-panhias brasileiras listadas em bolsa serão compelidas a publi-car balanços de ativos intangí-veis a partir de 2009. Fontes de financiamento importantes para as empresas de capital fe-chado, como o BNDES, passa-rão a exigir balanços de intangí-veis de empresas que buscam recursos já a partir do fim des-te ano. Para Troiano, esse refor-ço irá acelerar a desfeudaliza-ção das marcas. É possível que tudo isso tenha um efeito cola-teral benéfico, eliminando uma das principais queixas ouvidas

dos diretores de marketing: a recorrente falta de autonomia em relação às decisões de in-vestimento em seus projetos.

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