Revista Chico Mendes

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  • 7/30/2019 Revista Chico Mendes

    1/391Chico Mendes

    O Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Chico Mendes

    anos de Saudade e Conquistas

    O Homem da Floresta

    uma publicao da Biblioteca da Floresta - Rio Branco - Acre - Maio de 2010

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    2Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 3

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    anosde saudadee conquistas

    Arevista Chico Mendes O Homem da Floresta (20Anos de Saudade e Conquistas) tem o contedo daexposio elaborada pela Biblioteca da Floresta,inaugurada em dezembro de 2008. A exposiocelebra a histria de luta do lder seringueiro

    assassinado em 22 de dezembro de 1988 pelo peo DarcyAlves, a mando do pai fazendeiro Darli Alves. Chico tomboupor defender a oresta e as famlias de seringueiros e indgenasque vivem nela.

    A exposio aborda aspectos histricos, ambientais epolticos que marcaram a formao do Acre, destacando atrajetria de Chico Mendes como protagonista e smbolo daluta dos povos da oresta. Descreve a sociedade da borrachaem painis, fotograas, vdeos, msicas, textos e depoimentos.Chico Mendes, assim como Wilson Pinheiro - assassinado oitoanos antes pelo mesmo motivo e em condies semelhantes liderou o movimento de seringueiros, ribeirinhos, colonos eindgenas contra o desmatamento e a pecuarizao da regio.

    Atravs deste contedo, a Biblioteca leva a histriada saga acreana a professores, estudantes e estudiosos daAmaznia, alimentando discusses sobre a trajetria social,poltica, cultural e ambiental dos povos da oresta.

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    5Chico Mendes

    O Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Painis Logo na entradada Biblioteca foraminstalados trs grandespainis, que contam ahistria da sociedadeda borracha, aposterior chegada dapecuria e os conitosdela decorrentes, bemcomo o assassinato e olegado do seringueiroe lder Chico Mendes.

    A Sociedade da Borracha 06

    O Acre como pasto de boi 10

    Chico Mendes: 20 Anos de Saudade e Conquistas 14

    No Somos Povos do Gelo 18

    Parceiros de Luta 21

    Varadouros de Chico Mendes 35

    Chico Mendes e os Povos da Floresta 41

    Mensagem para 2120 45Reza e Empate na Amaznia Dom Moacyr Grechi 50

    Displicente com a Morte Raimunda Bezerra 54

    Aliana dos Povos da Floresta Ailton Krenak 57

    O tiro que foi ouvido no mundo todo Zuenir Ventura 58

    Uma Questo de Liderana 61

    Recados da Floresta 62

    A Testemunha Zuenir Ventura 64

    Meu encontro com o Chico 67

    Publicaes sobre Chico Mendes 68

    Vdeos Sobre Chico Mendes 69

    Msicas em Homenagem a Chico Mendes 71

    Saiba mais sobre Chico Mendes 71

    Crditos da Exposio 72

    Ficha Tcnica 73

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    6Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 7

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    A XIX,

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    b Az. E 1736, -

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    N 1870, 130 - g v Az. g b.N , g, vv v

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    A B M -z , . M . O g, g -, fz , - M g z b b .

    P v 1910, Az , j - .

    A Sociedadeda BorrachaMovidos pelo sonho do enriquecimento rpido, companhias

    de navegao, empresas exportadoras, seringalistas e migrantes

    nordestinos ultrapassaram os limites mal denidos da fronteira

    do Brasil com o Peru e a Bolvia. Ocuparam assim um Acre

    alheio, de 116 milhes de hectares, onde passaram a produzir

    50% da borracha da Amaznia.

    P

    Acervo Museu de Arte da Universidade do Cear

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    8Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 9

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Um seringal formado v. Lg b

    v. A g 150 v g .

    Em 1876, sementes de seringueira b M Hy

    Wk, g I B.N g XX j v z v.E , g g .

    As famlias seringalistas b g, gb g b v , v vg z g b. A M b .

    No perodo 1939-1945, os pases

    aliados contra o nazismo f b M.O gv E U

    A Wg, v gv b v v v v g Az z B

    V, z g f.

    Cerca de 36.000 homens foram transferidos

    para o Acre 1942 1944. A vg . E g v b, b b. E g v .

    C g g, fv b, g, gg z v; , fv g .

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    A margeme o centro

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    10Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 11

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    O Acre comopasto de boiNo m dos anos 1960 e durante a dcada de 70 os seringalistas,

    endividados com os Bancos e sem esperana de voltar a lucrar com a

    borracha, cam vulnerveis nova poltica do governo militar (1964-

    1985). Usando o slogan Integrar para no Entregar, os militares

    planejaram a ocupao da Amaznia. Foram criados vrios programas

    para incentivar os fazendeiros a expandir projetos agropecurios na

    regio. Eram oferecidos incentivos scais e emprstimos com juros

    baratos e carncia para o pagamento. Como resultado da campanha, um

    tero das terras acreanas foi vendido ou transformado em latifndios.

    C b, 1961,

    Cb - P V (B-364), E-

    , -

    , 150 1

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    A. L S

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    A 1975, Cg (CN b Ag) g-z g (7 A 1

    Az) z g v Cg Cv E- . A CEB (C E B) Pz A P - gz .

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    13Chico Mendes

    O Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    O apoio da imprensa g jv V 1977.C j g gv A b g g. G , ,v b, g .

    Aps o assassinato de Wilson Pinheiro,C M v g b X. C g- v v j. A BASA!z .

    Chico faz palestras nas Universidades g Az. Aj C N Sg A Pv F (1985).E b, , v Ev v z. E 22

    zb 1988 , .

    Migrao Forada:E g, Bv, , vv bg b - b. A IBGE g .

    Uma sociedadeameaada

    H , g -g bvv - , . E v bvz, v v z.

    N 1970, , g z-: b g v . O v -g v v vv.

    A resistnciaA , F N

    A v g, g v C P-I

    A (CPI-AC), - Ig.

    A Igj C C- E B (CEB), C I-g M (CIMI), C P (CP) CDDH (C D D H).

    V Og (gz gv-) , g b. O CA (C- b Az) -

    v v. A SOS Az, vz, v-z .

    E 1979, v gv f -

    v z - . O B,b W P, . E b , 300 - v jg B-317. A , W P g E.C , -

    21 j 1980.

    WilsonPinheiroe os Empates

    v b vz g v-v gv . C v b g .

    Foto: Elson Martins

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    14Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 15

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Chico Mendes:20 anos de saudadee conquistasNunca um tiro dado no Brasil ecoou to longe! - escreveu Zuenir

    Ventura no livro Crime e Castigo, sobre Chico Mendes. De fato, o

    disparo do peo Darci Alves que matou o lder seringueiro saiu na

    primeira pgina do New York Times na manh seguinte, e passou

    a ser noticiado no mundo intei ro. Foi tambm o estopim para o

    surgimento de um novo modelo de uso dos recursos naturais no

    Pas: as reservas extrativistas.

    S , C

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    A g j 68 v E-v 16 v Dvv S-v. E - g.

    Manejandoa maiorbiodiversidadedo planeta

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    18Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 19

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    O z b C M g . E - . N gg

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    Elson Martins

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    M, -z g v- Az, v z b , v -.

    No somos povos do gelo

    Acervo Biblioteca da Floresta

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    20Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 21

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Parceirosde luta

    Pessoas e entidadesque apoiaram omovimento liderado porChico Mendes foramhomenageadas atravsde uma exposio defotograas na entradada Biblioteca. Dispostasem cubos iluminados,as imagens lembramimportantes momentosdessa histria.

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    22Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 23

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    g M PP C.

    Acervo: SESCAcervo Digital: DPHC/FEM

    N 1970 1980 g A j - INCR g gv - b Az. M

    v g g.

    Foto de Argemiro Lima

    L v b:J E ( ) F Ag V- N, B, z, g Nv .

    J E b . P v, B .

    Acervo: CDDHEPAcervo Digital: DPHC/FEM

    C M b g - v g. Ab-, , Az

    j . E : 1 - A Sk, C M ,Lz V, 2- F Gb, 3 - S Swz-, 4 - L S, 5- Og Bk, 6- M A-, 7- O Vv, 8 - My Agt.

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    Construo da Escola do Projeto Seringueiro emmaro de 1986, na Colnia Fazendinha, situada no Se-ringal Cachoeira em Xapuri, com a presena de ChicoMendes. Acima, o monitor do P rojeto Seringueiro Rai-mundo de Barros, o Raimundo, com alunos no Serin-gal Nazar, em incio da dcada de 1980.

    Acervo Digital: DPHC/FEM

    , C M, II E Pv F B, 1989. B v - g A , , v.

    Acervo Digital: DPHC/FEM

    C M , Gv F, Sg C v. A bg z Dy Av, 1988. Ab, C M S X , j B v g.

    Acervo: Fundao Chico Mendes

    S. Vz S b - B, 21 zb 1975.

    Foto: Elson MartinsAcervo Digital: DPHC/FEM

    12

    4 5

    6 7

    8

    3

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    O j V 1977 1981, g . E j , b g.E 1997 (v ) b - j. N : A Av, S Cv, EM, Sv M Lz Cv; f : Ab F, Ab F A C M.

    Foto: Edison Caetano

    W P, S B, b Gv A 1980, z Cg (g) B. P gv J M, v J F g -gv G M. O Gv g.

    Foto: Elson Martins

    M Sv gv g gz CU 12 zb 1986.

    Acervo: CDDHEP

    C M, L Sv , S b , . N , C X, 1985.

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    P b J X jg C M, 12 15 zb 1990. N g , L, AvGz, Jg V, .

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    S Iv Hg, 1988, C M. A ,C M M- Ag J Bb, vv IvHg , B.

    Acervo Digital: DPHC/FEM

    Q H M - v - g g b.

    Acervo Digital: DPHC/FEM

    H M, v , g g g. A, -

    j S Sv E Pv F, 1989.

    Acervo: UNI

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    26Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 27

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    A g K Dz, - Uv F A, g b- . A g kw, z - . A g C M.

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    P I C E b

    P F Ev, C - D B, v C N Sg (CNS), F- b Ag A (F-) S E F Ev- (S).

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    E B A, b 1979, f M jg. Fgf -g J M Bb, .

    Acervo: CPT / DPHC/FEM

    D My G, B Pz A P, v C- E B (CEB), gz S b. O g Lb, g 1970.

    Acervo Digital: DPHC/FEM

    C M C- N Sg (CNS) v g Pj A D D, z - b v Az 1980. N , C v J Sv Aj, .

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    D jv, C M v z

    . E j b v g. E z g : Z Gb ( ), J Bb, O- A G g (), - Bz M A, F M-, .

    Acervo Digital: DPHC/FEM

    E Wg, 1998, M Sv, - A Cw Jg V g - B I Dvv (BID), H Ig, b j vv -v A.

    Foto: Revista Marina Silva/2003

    E b 2008, g C b Az (CA) -- X 25 Pj Sg, v v v gz v g.

    Foto: Governo do Acre / SECOM

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    A C N Sg (CNS) 1985, C M - b v A-z . A A Pv F. N , 1987, - B (CNS), J Aj (CNS), O

    A (CNS), g S Kw(UNI) C M (S X) - B A Az.

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    O A v v- v C b S P 1983. Dv- S B C (SP), v . N g v :E, S M-; Sb, S

    N XX, z g S C- O z A b- b g g.O g, , g . A g , b. N 15 g

    O g gz 1982, gv, -, P b. M Sv C M j j L ( ), -. N , L f X ( ), C,M P.

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    Lv X; C M, S b X Sb, P , L -g M Sb; O, S- Lv B; G, S L v- B; Nv, S B.

    Acervo: CPT

    Az v. O gSy z g gg A Av Db M, . O g v - v - , G S, z D S`A, Sv Mg gv B- M ().

    Acervo: Biblioteca da Floresta

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    30Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 31

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    A g F C - gv A - 1930. E 1981 v B C, v . I E M, P V Mg Oz, - M G W Hk( ).

    O -

    O C M z-b 1988 . Lv v, v f, , ,g -z vz , v Az. C M- 50 g b , B, S F A,C Dw, K M M G.

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    A C E B g-z Pz (j D) A P b g - b A Az, b C M. O b P b CU (C - b) v

    E g , g A gz 1970. E F, CIMI C- P- A, g, g g j

    v. Hj, A 16 v-v 34 Ig, 2,3 , 14,5% .

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    vg vg: bv v, , bb, b -

    v . O C v , b M.

    E 2007, gv B M - b C v v . A N Gv.

    Acervo Digital: DPHC/FEM

    Igj. A - b g.

    N , S b- X gj, b 1983. N , Cg E CU.

    Acervo: CTA

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    32Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 33

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    A CM g A

    Az V Gb, f Az - D Gvz CM, g.

    A , G Pz, 2007 z

    M g g vv v. D , b, , - . Eb , v , v, . M -g v g b vv.

    Acervo: Biblioteca da Floresta e DPHC/FEM

    C P MCy, - CM. E : G M (C L

    Ag L); b Wy (C M- T B F T W); B S(Ab); V F (Sg Az); LzGzg (X Eg); Z G (O S-g); B Dg (J Dv); Ub- Sz (Fv C N). Db : Nz (C Sg); K Dz (D H); B L Pg (Zb C - L).

    Acervo: Biblioteca da Floresta

    Na segunda metade dos anos setenta, os oito sin-dicatos de trabalhadores rurais do Acre chamaramateno do pas e de parte do mundo por sua organi-zao e fora em defesa da oresta amaznica. Sua

    participao no 3 Congresso Nacional dos Traba-lhadores Rurais em Braslia, de 21 a 25 de Maio de1979, um marco histrico.

    A foto mostra companheiros de Chico Mendesque levaram as propostas do Acre ao Congresso:Em p (da esquerda para a direita) Jos Saraiva de

    b v . B f-g A, gf fg . A f gf- Gb (POJAC), J.

    Fotos: Elson Martins

    Freitas, presidente do STR de Cruzeiro do Sul; Pe-dro Marques da Cunha Neto, advogado da Contag;os presidentes dos sindicatos de trabalhadores ru-rais Wilson Pinheiro, de Brasilia; Raimundo Lino(Trovoada), de Tarauac; Loureno, de Feij. Aga-chados: Jos Abdon, de Rio Branco; Joo Maia, de-legado regional da Contag no Acre; e o presidentedo STR de Xapuri.

    Acervo: FETACREAcervo Digital: DPHC/FEM

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    VaradourosElementos da oresta,da vida do seringueiroe aspectos pessoais deChico Mendes forammostrados nos espaosda escada que liga otrreo ao segundo pisoda Biblioteca. Esta parteda exposio retratouChico Mendes comoesposo, pai, amigo eativista poltico.

    deChico Mendes

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    JamaxiEspcie de mochila que oseringueiro carrega nas costascom seus objetos.

    LamparinaObjeto para iluminao, mais

    utilizado na casa.LanternaUtilizada para iluminar ocaminho

    PorongaObjeto que o seringueiro usana cabea para iluminar aestrada de seringa, desta formadeixa as mos livres para ocorte da seringueira.BaldeUtilizado para coletar o ltex daseringueira.

    N , 1 , v bj z g z b .

    A exposio disposta nas escadasbusca criar uma atmosfera deoresta, remetendo o visitanteao ambiente pelo qual o lderseringueiro lutou e morreu.

    As borboletas signicam apresena da biodiversidade e a

    renovao de esperanas.

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    38Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Chico Mendes

    ChicoMendesdemonstrandocomosefazocortenaseringueiraparaacoletadoltex

    Chicoainda

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    Chico Mendes e seu flho Sandino

    Ilzamar,Sandino,EleniraeanetadeChico-MariaLuiza

    FilhadeChico,ngelaMendes,

    comoflhoJooGabriel

    N gf v C M, g .

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    40Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 41

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Chico Mendes

    Esta parte da exposio, emestrutura de paxiba, palhase tecidos, cria cenriosinterativos com elementosda oresta e da histria.Eles apresentam aspectoshistricos, ambientais e

    e osPovos da Floresta

    polticos que marcaram aformao do Acre atravsda extrao da seringa;e principalmente a partemais recente dessa histria,destacando a trajetriade Chico Mendes comoprotagonista e smbolo daluta dos povos da oresta.

    AnglicaMendesMamede,netadeChicoMendeselhadengela

    ChicoMend

    essolidrio

    comaviva

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    seringueiroJ

    osRibeiro,

    assassinado

    emXapuri,

    emsetembr

    ode1988

    Chico Mendes recebendo o Prmio Global 500,

    Londres Inglaterra, 1987

    ChicoMend

    esrecebend

    ooPrmiod

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    SociedadePa

    raUmMund

    oMelhor,

    EstadosUnid

    os,1987

    ChicoMendescomseuflhoSandino

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    42Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 43

    Chico Mendes43

    Exposio Chico Mendes

    Casa dos Povosda Floresta

    Sala de udioe vdeo N

    - b v- A, g bC M

    b .

    AC Pv F gz g. P, , g,, , g, fg-

    g bj g gz , b .

    b g g- g A Pv F Az.

    A g b, z g. A, v b - g.

  • 7/30/2019 Revista Chico Mendes

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    45Chico Mendes

    O Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    N A g , g , vv!.E g v- C M:

    O H F 20 A S C, b b Bb F zb 2008. A v v . A g g C M jv 2120, z:

    A jv : 6 b 2120, v 1 v , f - v , f g v . Af b , .

    D, v v v, z .

    A g b j g , Bb- F b 2120.

    Mensagempara 1

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    47Chico Mendes

    O Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Natlia Jung

    M -

    v -g . E gz g z ,

    j b vz. H b z, , g z, , - . U v, , g b, v f-

    :

    Caro voc,Ns aqui do passado gostaramos de enviar nossa

    mensagem para galera do uturo :-)H muito tempo as coisas no vo muito bem para

    a natureza. A poluio, o desmatamento, as queimadas, aescassez de gua e a extino dos animais nos preocupamdesde j. Poucos de ns esto de ato preocupados com essasituao. No entanto, sabemos que se cada um de ns zera sua parte na luta pela deesa do meio ambiente, o uturoreservar coisas melhores. A natureza tem muito o que oe-recer (...)

    E C M,

    :PS.: Desculpem se a linguagem estiver ultrapassa-

    da. assim que escrevamos cem anos atrs.

    H b v:Ame, respire, aceite, preserve (...)

    H g:Tudo bem que no se pode negar o valor

    dos ideais do Chico, agora querer deusic-lo umabsurdo. E tudo isso visando dinheiro e manuten-o do Poder. E a sandice tanta que l-se em al-

    guns panetos comemorativos dos 20 anos de suamorte que o Chico deu a vida para que pudssemosviver. Ele no deu a vida, a tiraram (...).

    De algum indignado com o que esto azendo

    H :CHUVA

    Cheiro de terra molhadaTerra preparadaFolhas que danam ao vento

    ndios, homens, brancos, ne-gros

    Ag :Eu quero para o uturo ter uma boa esposa e

    um lho que goste de mim e que eu minha amilha viveelises para sempre.

    Eu quero que esta biblioteca nunca pare de existir.Quero que no uturo nasa outro heri, pra to-

    mar o lugar de Chico e ajudar os seringueiros.Eu quero para o meu uturo que tudo seja moderno

    e que cuide mais da Amaznia e cuide dos seringueiros.

    O v:No uturo a biblioteca vai estar muito movi-

    mentada e muito melhor.O tempo pode at passar, muitas marcas vo

    car. Mas o amor pela Amaznia que nos une. Istojamais o tempo apagar.

    O ff:O que o uturo?O uturo simples na orma de lidar e complexo

    no modo de desvend-lo.O uturo reexo da essncia de nossos atos

    passados e da ao de plena atitude (presente).

    Mg G:Seja a mudana que voc quer ver no mundo.

    ... :O uturo de todas as espcies vivas depende da

    nossa atitude humana. Cada gesto de cuidado muitoimportante para a garantia desse uturo, ou no have-r uturo. A responsabilidade minha, sua, NOSSA!

    E b CM, Ag:

    Querido v... muito triste pra mim oi como avida te tirou da minha me que ainda no sabia, masestava grvida de mim. Gostaria de ter aproveitadoteu colo...

    P v g v , www.bb-..gv.b, k E, g E C M g.

    Ol, Jovens do futuro!Vivendo sem rancor...

    rvores que crescemPovos que se conhecem...Semente que j brotou.Viva o verde!

    H j g-:

    Eu gosto da Froresta e dos bichos...e queiro quecem protegidos . Protegem a foresta.

    Tenho 6 anos

    I f:Julio Incio, amor da minha vida, ensine os seus

    lhos a respeitarem as pessoas, a vida, os bichos, asplantinhas, o picolezeiro, a tia da cantina da escola, ocachorro do meio da rua, enm, seja uma boa pessoa enunca tenha medo de nada.

    Av vg:(...) Ento espero que para 2120 o assassina-

    to sistemtico de milhares de animais a cada segundoacabe e que a gente adote um estilo de vida livre deexplorao animal, isto , se aa vegetariano ( 100%vegetariano).

    O :Que em 2120 no teja poluio guerras no

    exista pessoas ms que queiram acabar com a vidadas pessoas como acabaram com a de Chico Mendes.

    Desejo um eliz 2120!Preserve a natureza pois ela onde voc mora.Tchau!

    ... :No uturo, eu espero poder ler eu mesmo esta

    mensagem ( brincadeira, mas tenho ).

    ... :O mundo grita e pede socorro! Mas o homem

    no escuta ou compreende. Talvez quando este vier aentender, ser muito tarde. Como dizia o poeta o ca-chorro para livrar-se das pulgas, se sacode!

    ... quando o mundo comear a sacudir-se, espe-ro no estar mais aqui...!

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    DepoimentosDom Moacyr GrechiRaimunda BezerraAilton Krenak

    Zuenir VenturaRaimundo BarrosGomercindo RodriguesJlia FeitozaBinho Marques

    Alm de aliados e parceiros diretosna luta encabeada por ChicoMendes, foram tambm amigos

    e condentes do lder, com oqual tiveram um convvio muitoprximo. Estes depoimentos forampublicados nos ltimos anos emlivros e revistas temticas do Acre.

    48Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Expositor deprodutos sobreChico Mendese os povos dafloresta

    E b -

    b g C-

    M. Ag v

    v, vg,

    z C-

    C M.

    EdmundoCaetano

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    50Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 51

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Cheguei ao Acre em 1971, para cuidar Pre-lazia do Acre e Purus, hoje Diocese de RioBranco, justo no momento em que come-

    ava a reao dos seringueiros e posseiros para carnas suas terras. Sou natural de Santa Catarina, masnessa poca eu era o superior da ordem religiosados Servos de Maria, com sede em So Paulo, e eratambm o provincial responsvel pelo Acre. Com amorte do bispo, o Papa me indicou para ser o novo

    bispo da Prelazia. Sorte minha, porque foi o povodo Acre que me ensinou a ser cristo, a ser bispo, ame comprometer com o lado justo. Esse povo queeu hoje considero como a minha prpria famlia.

    O Acre me quer muito e me honra com muitashomenagens. Tem um instituto do governo com omeu nome, tem tambm um povoado, uma vila, umlugar do povo chamado Vila Dom Moacyr, ondeacontece uma histria engraada, porque na placado nibus que vai para essa vila est escrito s Dom

    Moacyr. Ento o povo ca falando: cad o DomMoacyr? o Dom Moacyr j vem? o Dom Moacyr jpassou? E hoje deve estar diferente, mas no comeomuita gente cava em dvida se era o bispo ou onibus que estava demorando, que estava vindo, ouque estava voltando. Essa apenas uma das muitashistrias da minha amizade e da minha aprendiza-gem com o povo do Acre.

    Lembro-me da vez em que um grupo de mesfoi me pedir para visitar um Seringal perto de RioBranco, o Ipiranga, onde o dono estava sendo de-nunciado por cometer atos de violncia contra osseus lhos e os seus maridos. As mes, os parentes,

    Dom Moacyr Grechi

    Reza e empatena Amaznia

    vieram trs vezes minha casa pedir socorro, e eununca ia. At que, na terceira visita deles, um doshomens mais velhos, um senhor de mais de 80 anos,olhou bem pra mim e disse: Dom Moacyr, o senhor o bispo, o senhor a autoridade, senhor quemsabe, mas eu sou mais velho, e se eu fosse o senhoreu j tinha ido l conferir se o que estamos falando verdade ou no. Eu pra no car de frouxo fui, eessa visita mudou muito a minha vida.

    Em Rio Branco, tomei como misso organizar asComunidades Eclesiais de Base por toda a P relazia.As CEBs eram clulas de evangelizao, de oraoe de fraternidade, mas eram tambm onde s e forma-va a conscincia para a organizao sindical e, um

    pouco mais tarde, para a formao do Partido dosTrabalhadores. Foram as CEBs que prepararam as

    bases do movimento social para a construo dossindicatos e do Partido. Com o tempo, em todo lu-gar da Prelazia havia uma CEB. Em Assis Brasil,as CEBs eram to fortes que esse acabou sendo onico lugar onde o Lula nunca perdeu uma eleio.

    Nos tempos difceis ele perdia no Brasil todo, masem Assis Brasil o Lula sempre ganhou.

    Com tudo isso a Igreja Catlica acabou sendouma espcie de tero materno para a gestao deum sindicalismo independente e lutador, cujos lde-res depois formaram o PT. Alguns me diziam, masDom Moacyr, no pode, o senhor tem que ser um

    bispo de todos, o senhor no pode ser um bispo doPT. Em resposta, eu sempre dizia e digo que apenas

    prestava meu apoio s pessoas generosas que exer-ciam sua f crist lutando por paz e por justia so-

    cial. Eu entendia aquele povo pobre que fazia o PTpara conquistar mais direitos, porque eles j tinhampercebido que o sindicato s vai at certo ponto. Edeu certo, porque at hoje o Acre tem um dos PTsmais bonitos do Brasil, um PT que conseguiu mudaro rosto do Acre, que foi capaz de chegar ao podersem se afastar do povo e das lutas populares.

    Assim que, quando chegou o Joo Maia para fun-dar os Sindicatos, o pessoal j estava preparado. Nes-se tempo as reunies do sindicato eram feitas sem-

    pre em ambiente de igreja, a polcia era corrupta ato osso, os polticos uns incapazes, e o Exrcito um

    bando de gente com medo do comunismo e da sub-verso, a maioria deles sem saber o que era isso, mascom medo. Era um tempo em que a violncia conta -va com a total conivncia das autoridades, em que a

    polcia era corrupta e vendida, e em que o Exrcitovivia apavorado. O Joo Maia uma pessoa que no

    pode nunca ser esquecida, porque ele foi um homemcorajoso que teve o valor de organizar os seringuei-ros dentro dessa conjuntura totalmente desfavorvel.

    O Joo Maia era um Delegado da CONTAG queveio ao Acre para fundar os sindicatos. Ele era umex-seminarista alegre e brincalho que gostava defalar em Latim comigo. Ele tinha uma marca, queera o dilogo com todos, e ele sempre me dizia:Dom Moacyr, aprende isso o dilogo a chaveda sobrevivncia nessa terra. Ele lutava por um sin-dicalismo independente, mas nem por isso deixava

    de conversar com o governador, com a polcia, como Exrcito. Ele formou excelentes lideranas, fun-dou muitos sindicatos, era destemido e ousado. Foidele a idia criativa de prender os jagunos duranteo Mutiro que os sindicatos zeram em Boca doAcre. Junto com o Joo Maia estava sempre o Pe-dro Marques, advogado muito bom de luta, muitodidtico, que tinha um jeito muito especial de en-sinar o Estatuto da Terra e o Cdigo Civil para osseringueiros.

    Eu me lembro do dia em que o Joo Maia mepediu para emprestar um salo da Igreja para fazera assemblia de fundao do Sindicato dos Traba-

    AcervoBibliotecadaFloresta

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    52Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 53

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    lhadores Rurais de Rio Branco. Como eu sabia quevinham muitos, como de fato chegaram mais de1000 seringueiros e posseiros, eu acabei cedendoa prpria Catedral. Do lado de dentro estavam ostrabalhadores, e do lado de fora estava o Exrcitoarmado com escudos e metralhadoras, cercando ostrabalhadores como se estivessem cercando bandi-dos. Como se os seringueiros no estivessem ape-nas lutando com compromisso e com f para mudarum pouco o rumo das coisas que afetavam suas vi-das. Era um tempo muito duro, com o Exrcito emcima, sempre tentando intimidar.

    Teve uma reunio na minha casa, da CPT como CIMI, que o Exrcito tentou gravar. Uma freiramuito esperta viu um gravador pequeninho na ja-nela, e esse gravador era do Exrcito. Como eu eraPresidente Nacional da CPT passei oito anos da

    ditadura militar como presidente da CPT - o MinoCarta deu uma nota no jornal A Repblica regis-trando o incidente. Anos depois as denncias de queeu vivia marcado para morrer se conrmaram. Mui-to doente, o Tuk Assmar, dono da Rede Globo noAcre, por uma necessidade de conscincia mandoume chamar e disse Dom Moacyr, o senhor meuamigo, e eu no posso morrer sem que o senhor sai-

    ba que teve um momento em que um militar mevisitou para informar que estavam se preparando

    para matar o senhor, e eu disse a ele que no, quenem pensar, que se matassem o senhor eu botava a

    boca no mundo, eu contava para o Brasil inteiro. Eimagina que a Globo comeou l na minha casa,uma emissora muito pobre. Vinha Copa com todomundo querendo ver os jogos e o Assmar, que eraum grande propriedade proprietrio de terras, masque estava comeando no campo da comunicao,me pediu para instalar os seus equipamentos de

    baixa qualidade no quarto da minha casa, que era oponto mais alto da cidade.Esse foi um tempo em que cristos e no cristos

    no Centro de Defesa dos Direitos Humanos tinhaat um ateu confesso, e tinha o Abrahim Farhat, onosso Lh, de origem libanesa, e em Xapuri tinhao Bacurau, um hanseniano que no tinha mo nem

    p, totalmente dedicado, enm, pessoas que se jun-taram aos seringueiros e posseiros para lutar pelamanuteno da terra. Foi o povo da igreja, o NilsonMouro, um menino que depois se tornou muitoimportante porque fazia a ligao da f com o as-

    pecto poltico, o Padre Paulino e o Padre Pacco,

    junto com os comunistas e com um advogado doINCRA chamado Juraci que zeram o Catecismoda Terra, um folheto barato e simples, com apenascinco perguntas e cinco respostas, mas que foi o pri-meiro instrumento de resistncia dentro da ores-ta. Quem no sabia ler pregava na parede da casa equando chegava um capataz dizendo o senhor temque sair, porque essa terra agora tem outro dono,a resposta sempre era: no senhor, eu no saio, osenhor veja a o que meu direito est escrito no Ca-tecismo da Terra.

    Ovelha desgarradaQuando conheci o Chico Mendes, ele era um

    participante das CEBS, mas sem grande fervor reli-gioso. Algumas vezes ele acompanhava a mim e s

    irms nas visitas pastorais, outras vezes ele at reza-va o tero conosco nas comunidades, mas o que elequeria mesmo era falar de poltica e de organizao.Desde a primeira vez que o vi j estava claro queele tinha uma certa formao. Depois ele mesmo mecontou como foi alfabetizado e iniciado na polti-ca por uma certa pessoa que viveu na regio. Mascomo sindicalista era praticamente um desconheci-do at ser eleito s ecretrio do Sindicato dos Traba-lhadores Rurais de Brasilia, durante a assembliade fundao, em 1973, e ele s se tornou a principalliderana do movimento depois do assassinato doWilson Pinheiro em 1980.

    O Chico Mendes comeou na luta como todoseringueiro, brigando pela posse, para permanecerna terra. Foram um pouco as circunstncias que -zeram dele essa liderana to excepcional. Alm do

    preparo ideolgico, ele tinha aquele jeito natural defalar e de se entender com todo mundo. Em Xapu-

    ri nessa poca tinham trs padres, o padre Jos, opadre Otvio e o padre Cludio. O padre Jos sem-pre foi contra ele, mas os padres Otvio e Cludioeram seus amigos, sempre o favoreceram. Mesmoassim, ele falava igual com os trs, ele fazia questode dialogar tambm com o padre Jos que no seengraava com ele. Mas o Chico Mendes foi frutotambm de um momento de sensibilidade ambiental

    pela qual o mundo estava passando.No comeo nem o Chico Mendes, nem ningum

    falava de defesa da oresta como um todo. Nessaevoluo para o aspecto ecolgico, para levar o pen-samento dos seringueiros para as pessoas de fora

    da oresta, o Chico Mendes contou com um apoiomuito importante da Mary Allegretti. Eu nem sem-

    pre concordei com ela, mas para ser justo eu tenhoque reconhecer que a Mary contribuiu muito paraque o Chico Mendes se transformasse nesse smbo-lo de luta pacca em defesa da Amaznia conheci-do no mundo todo. Imediatamente depois da morte

    dele eu fui convidado para a Europa e na Itlia euquase no dava conta de tanta gente querendo sabermais sobre a luta dele. Em Paris, participei de umagrande conferncia pela paz, onde o Chico Mendesfoi colocado junto com Desmond Tutu, Gandhi eMartin Luther King como um dos quatro grandesdefensores da paz no mundo.

    E pensar que o Chico Mendes tantas vezes foime ver, foi na minha casa dizer que estava paramorrer, que se sentia muito ameaado, que tinhacerteza que no ia viver... E eu brincava com ele,dizia morre nada, Chico, esses cabras no tem co-ragem de te pegar. Mas ele comeou a fuar fundo,e acabou encontrando provas contra as pessoas queameaavam ele. Um dia o Chico Mendes chegoul em casa com uma carta precatria de priso pre-ventiva contra o Darli Alves, o mesmo que depois

    assumiu como mandante do assassinato dele. DomMoacyr, pra quem que a gente entrega isso? Eufui com ele entregar a tal carta precatria para aPolcia Federal que, em vez de agir rpido, acaboudemorando at que a coisa transpirou, chegou nosouvidos do Darli, e pouco tempo depois o Chico foiassassinado.

    Hoje sou o Arcebispo da Diocese de Porto Velho,que tem 84.000 km2. Aqui tambm os povos das lu-tas tm muito carinho por mim, mas a organizao

    popular ainda no cresceu tanto quanto cresceu noAcre. Aqui houve uma colonizao heterognea es agora, dez anos depois da minha chegada, vejoas primeiras lideranas nascidas no Estado. Aqui te-mos pela frente uma dura caminhada, porque agoravm as usinas hidreltricas, e a Amaznia continuasendo tratada como colnia pelo resto do Brasil,que menor do que a Amaznia. O resto do Brasilest acostumado a tirar tudo da Amaznia, e a no

    deixar nada.Com as usinas do Madeira, est acontecendo omesmo de sempre. Vo ser feitos 4.000 km de rede

    para levar toda a energia das usinas direto para o suldo Brasil, enquanto que ns aqui vamos continuarusando energia a leo diesel para levar a luz at oAcre. Essa nova gerao que vai ter que lutar muito

    para que a energia vinda da Amaznia ilumine pelomenos um pequeno pedao da oresta. S assim aenergia tirada da gua dos nossos grandes rios po-der evitar o triste destino da madeira, do boi e dasoja, cuja explorao sempre destri e sempre mal-trata a Amaznia.

    Dom Moacyr Grechi foi bispo da prelazia do

    Acre e Purus nas dcadas de 70 e 80. As Co-

    munidades Eclesiais de Base que ele organizou

    a partir de 1971 com acessoria dos irmos Boff

    (Leonardo e Clodovis) serviram de base para

    os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais cria-

    dos pela CONTAG a partir de 1975, e tambm

    para a fundao do Partido dos Trabalhadores

    no Acre. A prelazia do Acre e Purus assumiu a

    luta dos seringueiros e ndios da regio contra

    o desmatamento e as queimadas. Atualmente

    arcebispo da Diocese de Porto Velho.

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    to pequenos, e a convivncia com eles foi tiradadele com uma grande brutalidade.

    O Chico era muito generoso, todo mundo faladele politicamente, por isso eu gosto de falar delecomo pessoa. Quando o Chico morreu, meu lhocaula um pouco mais novo que o Sandino e elestinham a liberdade de montar cavalinho no Chico.Aquela cena dele sentado no cho dando comida

    para o Sandino muito real, um homem que nomeio da turbulncia da luta poltica, no meio de umenfrentamento no qual no podia dizer onde esta-va, encontrava tempo para alimentar o lho e para

    brincar com os lhos dos amigos da mesma formaque fazia com os seus prprios lhos. Matar algumassim, por causa de interesses econmicos foi de

    uma violncia que no tem justicativa. Passados20 anos eu ainda no consigo esquecer.

    Nos ltimos dias dele, eu estava doente, inclusi-ve no o vi morto. Ele chegou l em casa, creio quefoi dia 19 ou 20, o Paulo no estava e ele precisavair embora, mas no queria me deixar s. Ento pedique fosse buscar meu pai, ele foi. Ele quase nuncase despedia antes de sair. Naquele dia ele se despe-diu, desejou Feliz Natal pra todo mundo e s depois

    pegou a estrada. Essa foi a ltima vez que eu o vi.Uns 20 dias antes do assassinato, ele e o Rai -

    mundo Barros estavam l em casa, quando ele foichamado para ir a Sena Madureira e Raimundo via-

    jou para S o Paulo. Contrariando o previsto, nemele e nem Raimundo dormiram l naquela noite.

    que a mulher deve tomar conta dos lhos, da casae ele estar no movimento. Algumas vezes ele vinha

    para Rio Branco e trazia a Elenira, que cava co-migo enquanto ele participava de reunies. Nessasocasies at ajudava no servio da casa. Ele estavavivendo essas mudanas, o que era muito interes-sante para o homem do seringal, lho de nordesti -nos, que era homem de trabalho fora, mas no detrabalho domstico.

    Infelizmente no foi permitido ao Chico viverpor mais tempo as experincias de um homem quecompreendia a luta dos trabalhadores, mas tambm

    buscava ser um ser humano mais completo, maiscomprometido com as outras dimenses da vida,como a de ser pai. A Elenira e o Sandino eram mui-

    displicente

    com a morte

    "O

    Chico quando morreu tinha uma bolsa daASHOKA. Coisa que conseguiu poucoantes de morrer. Assim ele passou a ter

    apoio nanceiro para se manter, porque ele no ti-nha nem renda. Eram os amigos que tinham o com-

    promisso de colaborar, desde o leite para as crianasat o cigarro. Dentre os colaboradores tinha desde

    professores universitrios a militantes. Somente as-sim o Chico tinha condies de continuar o trabalho

    junto aos movimentos sindicais e sociais.Como para qualquer outro militante, isso trazia

    diculdades pessoais e familiares tambm para oChico. Como toda mulher, a esposa dele tinha as-

    piraes de ter uma casa, uma televiso. Isso eradifcil para ele. Ento, o apoio dos amigos ajudavaum pouco ele a resolver essas questes. O Chicono era um ser fora da vida. Era um homem que ti-nha sua famlia, seus lhos, no deixava de ter vida

    pessoal porque tinha uma militncia forte.Tudo muito cruel na morte do Chico. Eu perce-

    bia nele mudanas importantes, aquelas mudanasdo homem meio machista que estava percebendooutras dimenses da vida, deixando o conceito de

    Raimunda Bezerra

    O Sindicato eratambm o lar de

    Chico Mendes

    AcervoComitChicoMendes

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    56Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 57

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Na manh seguinte percebemos que tinham sumi-do duas toalhas da rea de servio. Olhando, vimosque as toalhas estavam prximas da cerca e que ti-nha rastros de calado masculino e um mao vaziode cigarros.

    O irmo do Chico morava em frente a nossacasa, a cunhada dele mora l at hoje. Quando oChico dormia l em casa levantava cedo, abria a

    porta, atravessava a rua para ir tomar caf com oirmo. Provavelmente os pistoleiros sabiam dessarotina. Se ele tivesse dormido l aquela noite, ele

    poderia ter morrido l em casa. A gente no perce-beu que aquilo era uma tocaia, pensamos que eraladro comum, s nos demos conta disso depois.

    Nos ltimos tempos o Chico andava acompa-nhado pela polcia, e quando dormia l em casa, oteimoso sempre dormia numa rede perto da janela,

    de forma que se algum atirasse acertava bem nacabea dele. Toda vez eu ou o Paulo pedamos paraele mudar a cabea para o outro lado, assim, se ati-rassem, pegaria no p. O Paulo sempre pegava alanterna, olhava pelo quintal, olhava tudo.

    Uma vez ele deixou um bilhete para a Amineno CTA, dizendo que estava sendo seguido, que es-tava num txi e que ia tentar ir para a nossa casa

    porque l era um lugar seguro. Quando ele chegou,entrou, deixou o porto aberto, a porta aberta e foiao banheiro, quando saiu, tomou caf, acendeu umcigarro, a falou que aquele havia sido um dia di-fcil. Perguntei por que e ele disse que havia sidoseguido at a esquina, quando conseguiu desviar osque o seguiam. Fiquei nervosa, quei braba porqueele no falou quando entrou, estava tudo aberto, fa-lei que poderiam t-lo matado no meu banheiro. Eleera assim, calmo demais para quem era to perse-guido. Eu no sei se ele tinha conscincia disso, elevivia tenso, mas o comportamento dele era de quemsabia, mas no acreditava.

    Quando ele fez a carta que dizia quem eram aspessoas que participaram da reunio onde decidi-ram mat-lo, ele deu-me para ler. At hoje me ar-rependo de no ter feito um esforo maior para queaquela carta no fosse publicada. Eu li a carta e fa-lei: voc acha que deve publicar? Ele disse: eu vou

    para o tudo ou nada, vou dizer o que sei e vou ver oque acontece. Falei que achava que ele no devia

    publicar, se estava querendo a minha opinio. Eledisse que no, que era s para conferir os erros de

    portugus. Falei que os erros de portugus, naquela

    carta, era o de menos, o problema era o contedodela.

    Nesse mesmo dia sugeri que ele fosse para Goi-s ou qualquer outro lugar. Ele falou que Gois eMato Grosso era a terra da UDR, se fosse para l,tambm no estaria protegido. Conversamos vriasvezes sobre isso e ele sempre dizia: vo dizer queeu fugi, que estou abandonando a luta do povo, oscompanheiros. Ele tinha esse tipo de preocupa-o. Nesse tempo j existia o Conselho Nacionalde Seringueiros e o apoio do Professor CristovamBuarque ao movimento. A UNB apoiou o I Encon-tro Nacional dos Seringueiros, falei que ele deveria

    procurar o Cristovam. Mas ele achava muito esqui-sito, que seria uma fuga, no concordava. Ele eramuito convencido do papel dele na luta social.

    "Raimunda Bezerra saiu das Comunidades

    Eclesiais de Base para o Centro de Defesa

    dos Direitos Humanos criado com o apoio da

    igreja de Dom Moacyr. Ainda hoje permanece

    trabalhando neste setor, no CDDHEP Centro

    de Defesa dos Direitos Humanos e Educao

    Popular.

    A melhor maneira de se entenderum pouco o signicado da luta de ChicoMendes prestar ateno num pequeno

    episdio da nossa, ndios e seringueiros,histria recente. O Acre uma regioda Amaznia onde at a dcada de 70no havia qualquer reconhecimento daexistncia das populaes indgenas. Asantigas reas indgenas das doze tribosdaquela regio tinham se transformadoem seringais sob controle dos coronisda borracha e os ndios em escravos des-tes seringais. Os seringueiros, historica-mente, tinham se constitudo numa es-

    pcie de guarda dos patres no processode domesticao dos ndios e chegarama ser aliciados para fazerem guerras pu-nitivas contra grupos indgenas que seopunham aos patres.

    Nos ltimos dez anos, com a luta domovimento indgena pelo resgate de suacondio e retomada do domnio de seus

    territrios, o movimento dos seringuei-ros, liderado por Chico Mendes, tevea sensibilidade de superar esta histri-ca inimizade manipulada pelos patrese lanar as bases da atual aliana dos

    povos da oresta, que o Chico resumiaassim: Nosso povo o mesmo povo,ns no somos mais brancos. Temosuma cultura diferente da dos brancos

    e pensamos diferente dos civilizados.Aprendemos com os ndios e com a o-resta uma maneira de criarmos os nos-

    sos lhos. Atendemos a todas as nossasnecessidades bsicas e j criamos umacultura prpria, que nos aproxima muitomais da tradio indgena do que da tra-dio dos civilizados. Ns j sabemosdisto, agora o Brasil precisa saber dis-to. Nunca mais um companheiro nossovai derramar o sangue do outro, juntosns podemos proteger a natureza que o lugar onde nossa gente aprendeu aviver, a criar os lhos e a desenvolversuas capacidades, dentro de um pensa-mento harmonioso com a natureza, como meio ambiente e com os seres que ha-

    bitam aqui.

    Ailton Krenak

    Coordenador da Unio das Naes

    Indgenas em 1989 e fundador da

    Aliana dos Povos da Floresta.

    Povos da Floresta

    Aliana dos

    AcervoCDDHEP

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    30/39

    58Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 59

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    No dia em que Chico Mendes ia morrer, 22de dezembro de 1988, Ilzamar Mendesqueria assistir morte de Odete Roitman.Durante aqueles ltimos oito meses, o Brasil paravas 8h30 da noite 6h30 no Acre para se revol -tar com as maldades da megera sem escrpulos esem carter que se transformara no smbolo de um

    pas que terminava o ano com 900% de inao,o naufrgio do Bateau Mouche e uma sensao deimpunidade generalizada um pas do Vale Tudo,como sugeria o ttulo da novela da TV Globo de queOdete era a vil.

    Se soubesse que a morte anunciada para aquelanoite s iria ocorrer na verdade dois dias depois,quase na hora da ceia de Natal, Ilzamar no seapressaria tanto em interromper o jogo de dominentre o marido Chico Mendes e os seus seguranas,o cabo Roldo e o Soldado Lucas. Os trs senta -dos no banquinho da mesa retangular da cozinha,coberta de frmica, jogavam desde a s cinco datarde, assistidos por d. Maria Rocha, amiga do casalMendes.

    Ilzamar aproximou-se da mesa e disse: Vocsme desculpem, mas vou servir o jantar agora, j so

    seis e meia, t na hora da novela e hoje ningum mefaz perder esse captulo. Eles sabiam que aquelecaptulo, o 191, ela e outros 60 milhes de brasi-leiros no queriam perder. Chico ainda pediu umminutinho que foi o tempo para o cabo Roldoganhar aquela rodada. Em seguida, desfez o jogo,mandou que os companheiros fossem comendo feijo, arroz e peixe e chamou a Ilzamar ao quar-to: Vou tomar banho e quero a toalha nova, a quetinha ganhado no dia 15. Justo ele que no ligava

    para estas coisas! Eu, hein, pensou Ilzamar, masa pressa na hora era maior que a curiosidade. Queele estreasse o presente, contanto que el e a deixasselivre para a novela.

    Com a toalha sobre o ombro direito, como tinhamania de fazer, Chico partiu em direo ao banhei-ro, do lado de fora da casa, a uns trs metros da

    porta da cozinha que se desce quase aos saltos, atra-vs de trs degraus desiguais, toscos, numa alturade oitenta centmetros. No resistindo aos apelosde Sandino, de dois anos, que correndo atrs pedia

    para ir tambm, Chico pegou o menino no colo, foiat a porta, que se abria de dentro para fora, da es-querda para a direita, puxou o ferrolho, entreabriu-arapidamente, assustou-se com a escurido e voltou

    para pegar a lanterna.Do lado de fora, atrs do coqueiro, a uma distn-

    cia de 8,2 metros da entrada da cozinha, DarciAlves Pereira no chegou a perceber o rpidoabrir e fechar da porta. No estava ali h muitotempo, uns quinze, vinte minutos. Sem relgio,ele s pde calcular o tempo quando fez a re-constituio do crime porque se lembrou de que,ao entrar para a tocaia, ouviu o sino da igrejatocar. Haveria uma missa de formatura de oitavasrie s 19h30 e, nesses casos, como informou oseminarista Miguel da Rocha Ro-drigues no seu depoimento no dia1 de janeiro de 1989, era costumeo sino dar uma primeira chamadas 18h30. A segunda era s 19h ea ltima s 19h15. Com essas in-formaes, os peritos calcularam ahora do crime: 18h45.

    Enquanto Darci espreitava natocaia, Chico voltava, com Sandi-no no colo, para apanhar a lanter-na, dizendo: Amanh boto umaluz neste quintal. Foi quando Il-zamar se lembrou da gripe do lho.

    - Num pode levar, no, o meni-no t gripado, Chico!

    - Ah, deixa ir, o bichinho tquerendo.

    Mas Ilzamar no abriu mo:Alm do mais, ele tem que jan-tar. Arrancou o menino do braodireito do pai o brao que dali a

    pouco seria perfurado por dezoitogros de chumbo e foi dar-lhe decomer na sala em frente televi -so. J estava sentada, quando ou-viu a exploso.

    Foi um estouro, um tiro toviolento que estremeceu a casa,no se esquecer nunca Ilzamar.Ouviu a zoada, mas no sabia deonde vinha. Chegou a car zonza.Correu ento janela, mas no viuningum: a rua vazia, a delegaciaquase em frente, a sessenta passos,incompreensivelmente quieta. Os dois policiaissentados em cadeiras na calada, impassveis,davam a suspeita impresso de que s eles notinham ouvido o tiro.

    Nesse momento Ilzamar teve um pressenti-

    mento: O Chico ta no banheiro e atiraram nele.Uma frao de segundo foi suciente para que

    de pressentimento ela passasse certeza de queaquele estouro, fosse o que fosse, tinha como alvo omarido. Saiu correndo, com Sandino no colo, pelocorredor que leva cozinha, e nessa corrida aindasofreu o esbarro do soldado Lucas, que gritava:Atiraram no Chico!.

    Estranhamente ele corria na direo contrria,

    O tiro quefoi ouvido nomundo todo

    Zuenir Ventura

    As manchas atingiramdesde a cozinha at aentrada do quarto de Chico

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    rumo rua no em direo ao homem cuja vidatinha por taref a proteger nem em direo ao quin-tal de onde o pistoleiro tinha atirado. Por ordem docabo Roldo, o soldado ia ao quartel da PM pegaruma metralhadora. Os dois estavam armados de re-vlver, mas, soube-se depois, com pouca munio.

    Ao chegar porta do quarto, Ilzamar viu o ma-rido cambaleando, tentando se agarrar em algumacoisa, caindo. O sangue que cobria seu peito nodeixava dvida quanto extenso do ferimento.Alm das dezoito perfuraes no brao, ele foraatingido no peito direito por 42 gros de chumbo.Me acertaram, gemeu.

    Ele vinha com as mos na cabea, todo verme-lho de sangue, relembra Ilzamar. Quando eu quis

    pegar no seu brao, ele caiu e cou se debatendo. Avi que estava morrendo. A lha, ento com quatro

    anos, quis segur-lo, mas s conseguia gritar: Ma-me, socorre papai, ele t sujo de sangue!.

    Ilzamar abraou-se com o marido, puxou-o paradentro do quarto e saiu gritando por socorro. Elatemia que, em vez de correr pelo mato, como ze-ram, o pistoleiro ou pistoleiros subissem a escadada cozinha para acabar de liquidar com o marido etoda a famlia, ela e os dois lhos.

    Ele queria dizer alguma coisa, mas no conse-guia, recorda quase dois anos depois Elenira, quecou agarrada ao pai, esperando em vo que eledissesse o que queria. Ele olhava para mim, mexiacom a boca, mas no saa nada.

    tarde, depois de passear com as crianas nocaminho que, por doao, conseguira para o seusindicato, Chico encenou uma espcie de premoni-o desta cena. No cho, rolando e brincando comElenira, ele perguntara sem mais nem menos: Seseu pai morrer, voc vai chorar?. A lha disse quesim, claro, e ele tentou convenc-la a no fazer isso.Se seu pai morrer, voc tem que ser forte, tem queestudar pra continuara a luta dele. Ao ouvir aquilo,Ilzamar se irritou: Mas que conversa, Chico. Pracom isso!.

    Agora ali, j na porta da rua, ela estava deses-perada e impotente. Era incrvel. Eu olhava para adelegacia e os dois policiais continuavam sentados.Eu gritava mataram Chico Mendes, mataram Chi-co Mendes e eles nem olhavam. Eu gritava tantoe to alto que o meu irmo, que estava distante, nacasa da sogra dele, ouviu meus gritos.

    Se os dois policiais tivessem se movimentado,

    poderiam prender Darci, que nesse momento esta-va fugindo a p em direo Fazenda Paran, deseu pai, onde umas duas horas depois chegou anun-ciando: O servio t feito e feito rapidamente.Quando ele [Chico] abriu a porta, contou Darcina sua consso, o foco da lmpada da casa dele

    bateu no rosto dele. Sentado sobre uma pilha detijolos, Darci s teve o trabalho de levantar a es-

    pingarda CBC de cano longo e disparar o cartuchoGauge, calibre.20. No precisou mirar. Acostumadoa caar, principalmente ona, ele confessaria depoisque atirou como quem atira numa caa, porqueno d tempo de mirar.

    Se a porta da cozinha no abrisse da esquerdapara a direita, mas ao contrrio, o pistoleiro teria oseu trabalho dicultado. O alvo no se apresenta-ria to visvel nem to iluminado de trs por aquele

    corredor de luz. Com o trabalho facilitado por esseacaso que desconhecia, Darci no precisou conferiro servio. Disparei a arma e sa correndo. Sessen-ta gros de chumbo haviam se alojado no corpo deChico dois atingiram a porta e outros poucos sedispensaram.

    Ao receber a carga, Chico disse ai, amparou-se no cabo Roldo e ainda caminhou quatro metros

    a distncia que separava a porta da cozinha daporta do quarto. A caiu.

    O primeiro vizinho a chegar foi o vereador doPT Jlio Nicasso, que morava trs casas adiante,no mesmo lado da rua. Ele estivera com o amigoat pouco antes e fora jantar correndo para ir darsua aula no segundo grau e em seguida voltar paracontinuarem o jogo. Chico ainda estava s e debaten-do quando Nicasso o colocou sobre sua perna. Elecou ali at que morreu, contou ao delegado Melo

    Neto no dia 1 de janeiro de 1989.Na vspera do crime, Chico dissera a Nicasso que

    tinha chegado concluso de que dicilmente che -garia at o dia 30. Ele foi categrico em dizer isso;ele disse isso pra mim e pra irm dele, contou.

    Impressionado por essa condncia, Nicassovoou de sua casa j sabendo: Quando ouvi o tiro,

    pra mim no tinha mais dvida nenhuma.Chico Mendes acertou quando anunciou que ia

    ser morto, mas errou ao achar que sua morte pode-ria ser intil. Aquele estouro que Ilzamar ouviu, nocomeo da noite de 22 de dezembro de 1988, che-gou ao mundo todo. Nunca um tiro dado no Brasilecoou to longe at hoje.

    Se hoje estou relatando o que ouvi para

    demonstrar que estou falando do meu amigo, um

    ser humano normal, comum, com erros, mas com

    uma enorme dedicao a uma causa, a uma luta

    e, principalmente, com uma viso muito frente

    de seu tempo...

    Andei muitas vezes com Chico Mendes

    pelos seringais, onde o vi coordenar reunies,

    discursar em comcios, falando sempre de

    forma clara e objetiva,

    num linguajar que era

    prprio dos seringueiros.

    Quando ele falava todos

    entendiam. Era umaliderana, na acepo da

    palavra.

    Gomercindo Rodrigues, advogado militante

    e amigo de Chico, atualmente membro do

    Comit Chico Mendes, atuando em prol dos

    trabalhadores extrativistas.

    No podemos deixar que os que roubaram

    sua vida, nos roubem tambm sua memria. (...)

    Me vem uma saudade, do companheiro, das suas

    andanas por vrios seringais. E so nesses

    momentos que vejo que no podemos abandonar

    um ideal, pelo qual muitos j caram pelo meio

    do caminho. Ento, seguimos em frente, para que

    a luta dos companheiros no tenha sido em vo.

    O sonho ainda o mesmo,

    conseguimos construir

    algumas coisas, mas ainda

    estamos distantes do sonho

    de Chico e para realiz-lo,

    precisamos manter viva

    sua memria.

    Jlia Feitoza, historiadora, militante do PT e

    assessora especial do atual governo do Acre.

    Eu acho que uma liderana tem um monte

    de qualidade e requisitos pra poder ser realmente

    uma liderana. Um dos maiores requisitos

    ter conscincia de que no t naquilo por

    sobrevivncia, mas com objetivo de vencer, de

    construir algo que no individual e sim coletivo.

    Tem que demonstrar clareza para os seus

    seguidores; essa segurana, essa preocupao

    em ajudar a defender. A liderana no pode

    mentir, no pode ser algum que se envolve em

    atos ilcitos, fazer dvida, ser alcolatra, procurar

    briga. Tem que ser uma pessoa na qual sua

    categoria e os demais acreditem e admirem. A

    liderana tem que ter conscincia de enfrentardiculdade, seja qual for.

    O Chico um dia me chamou aqui na casa

    dele e disse: Raimundo, ns vamos montar um

    esquema porque os cabra j to atrs de ns e

    corre o risco deles pegarem ns dois. Eu j t

    mais conhecido, j t dominando mais essas

    discusses na cidade e tu domina mais essa coisa

    do mato, das reunies, de mobilizar o pessoal

    pros empates, as reunies da delegacia sindical.

    Vamos fazer isso: tu cuida dessa parte, eu vou

    cuidar dessa daqui, ns vamos sentar e car se

    encontrando de quinze em quinze dias que pra

    estar avaliando as coisas como que vo, porque

    seno esses cabra vo ndar pegando ns dois e

    a, se pegam ns dois, como que as coisas vo

    car? E a a gente teve que fazer justamente isso.

    Eles pegaram o Chico aqui e a informao que

    eu tive na vspera foi que iam me pegar l na

    minha colocao. Mas graas aos cuidados que

    eu tive, hoje eu t aqui, revelando essas coisas,

    conversando com vocs. Mas uma liderana

    tem que ter essas precaues, essas qualidades.

    Tem que ser acima de tudo um grande sonhador

    tambm, daquilo que no ele

    como indivduo precisa, mas

    que a sua categoria precisa,

    principalmente uma categoria

    injustiada como era a

    nossa.

    Raimundo Mendes de Barro,o Raimundo,

    primo e companheiro de Chico Mendes nas lutas

    socioambientais do Acre

    Uma questo de liderana

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas 63

    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Ohectare que o Incra utiliza para medir lo-tes de terra ou latifndios orestais inser-vvel para os seringueiros do Acre. Estescalculam o tamanho e o valor da oresta pelo n-mero colocaes de seringa, ou pela quantidade deigaraps, animais ou espcies vegetais existentes.

    Nos anos setenta, os acordos propostos por algunsfazendeiros que queriam livrar-se dos posseirosacomodando famlias numa rea retalhada em lotesde at 50 hectares, foram recusados. As colocaesde seringa so mais vastas e ricas, e no possuemcercas.

    Chico Mendes argumentava, em 1984, que areforma agrria deveria respeitar os contextos so-ciais e culturais especcos da Amaznia. Durante acriao do Conselho Nacional dos Seringueiros, emBraslia (1985), ele desenvolveu com seus compa-nheiros a proposta de Reserva Extrativista, unidadede conservao ambiental que no separa o homemda natureza. Considerada reforma agrria da Ama-znia, a Resex conceituada no Acre se espalhou

    pelo pas beneciando pescadores, coletores de ba-bau e outras categorias.

    Em julho de 1988 Chico Mendes declarou: Meusonho ver toda essa oresta preservada, conserva-da, porque ela a garantia do futuro dos povos daoresta. E no s isso: ns estamos conscientes deque a Amaznia no pode ser um santurio intoc-vel, basta que o governo leve a srio a proposta dosseringueiros e dos ndios; eu acredito que em pou-cos anos a Amaznia poder se transformar numa

    regio economicamente vivel, no s para ns,mas para o pas e para toda a humanidade.

    Esse sonho considerado um legado que o l-der seringueiro deixou para a Amaznia. No Acre,o Partido dos Trabalhadores (PT), que se mantmh 12 anos no governo, procura torn-lo realidade,com resultados visveis. As reservas extrativistas,

    por exemplo, somadas a outras unidades de conser-vao (reas indgenas, APAs, parques orestais eassentamentos agro-extrativistas), deixaram serin-gueiros e ndios em paz em suas tradicionais mora-das. Com mais de 50% do territrio (16,3 milhesde hectares) protegido por legislao ambiental, o

    Acre mantm 90% de sua oresta em p e expe-rimenta mudanas estruturais que no excluem asorganizaes comunitrias extrativistas.

    A fbrica de camisinha construda no municpiode Xapuri um projeto do governo da oresta queanima os velhos e novos seringueiros, porque in-troduziu no seringal tecnologia que agrega valor aoltex. Mais de 500 famlias j esto envolvidas coma produo dos preservativos, e outras experincias

    parecidas esto a caminho como polticas pblicas.O governo empreendeu, a partir de 1999, ao

    fulminante contra a violncia policial e o crime or-ganizado. Depois passou a retirar o estado da men-dicncia histrica que vivia em relao ao governofederal. Lideranas polticas como Jorge Viana, Ma-rina Silva, Tio Viana e Nilson Mouro, entre ou-tros, chamaram ateno do governo federal para oEstado. E agora o governador Binho Marques (his-toriador, ex-assessor e companheiro de Chico Men-des na rea de educao) assumiu o compromissode priorizar a questo social.

    Tem um pouco de sorte nisso: desde 1980, o Pre-

    sidente Lula cultiva intimidades com as organiza-es populares e com a classe poltica do Estado.Chegou a ser condenado pelo regime militar, depoisque fez discursos contundentes nos velrios de Wil-son Pinheiro (1980) e de Chico Mendes (1988).

    Antes de morrer, Chico pde celebrar a Alianados Povos da Floresta, que ps m a uma divergn-cia histrica entre ndios e seringueiros, instigadadesde meados do sculo XIX pelos seringalistas.

    Por conta disso, hoje se v coisa nova acontecendono retorno dos ndios s antigas aldeias; e discussesanimadoras entre as novas geraes de seringueiros,embora elas no estejam, ainda, inteiramente fami-liarizadas com a aplicao de novos conceitos.

    Acima de tudo, a gura de Chico Mendes cres -ce como smbolo no meio de idias, tendncias enovidades acerca do desenvolvimento sustentvel.Cresce como homem simples que deu a vida parano abandonar os companheiros e o ambiente quesempre amou. E por ter percebido, como um visio-nrio, a universalidade da luta que liderou com co-ragem comovente.

    Mac Margolis, da revista Newsweek: Overdadeiro legado de Chico Mendes a lei e aordem, um meio rural pacco e uma classe polticaem ascenso. A sustentabilidade ainda uma pedrano caminho.

    Regina Vasquez: O modelo acreano lembra acuisine du terroir (expresso francesa que designaa culinria que privilegia ingredientes locais).Utiliza-se recursos disponveis na regio matria-

    prima, mo-de-obra e crebro , acrescenta-seinovao tecnolgica e criatividade, resgata-se acultura e a histria. O objetivo buscar excelnciasem perder autenticidade. Chega-se assim a umasntese do ambientalismo moderno, que leva emconta os fatores ecolgicos, sociais e econmicosna busca da melhor qualidade de vida para todos,com perspectiva duradoura. A receita acreana dedesenvolvimento pode ser um modelo para todaa Amaznia e uma inspirao para o Brasil. Porisso faz sentido o que o acreano costuma dizer: oAcre no onde o Brasil acaba, e sim onde o Brasilcomea.

    Mary Allegretti: surpreendente ver como onome Chico Mendes tem o poder de gerar reaesradicais 20 anos depois que ele foi assassinado. mais comum do que se pensa, no Acre, ver

    pessoas reagirem com raiva meno do nomedele. Na maior parte dos casos, porm, evidente

    porque isso acontece.Geralmente so pessoas quetiveram de abrir mo de extensas reas griladas

    para ver no lugar uma reserva extrativista; ouaqueles que, vindo de fora, acham que podemdesrespeitar a lei e seguir impunes. Essas reaes,

    por estarem associadas s idias propostas porChico Mendes, reforam o empenho em concretizarseu legado. Anal, isso que fazamos antes deleser assassinado, e continuamos a fazer at hoje.A associao entre proteo do meio ambiente,

    justia social e valorizao da oresta, idias queesto no centro do seu pensamento, so, ainda hoje,inovadoras, revolucionrias, radicais. Pode-se noconcordar com elas mas no se pode ignorar o

    poder que elas tm de mudar a realidade.

    Recados dafloresta

    Opinies

    Lula visita fbrica debeneciamento de castanha emXapuri (1993), acompanhado doento prefeito Jorge Viana e dadeputada estadual Marina Silva

    AcervodoPT

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    Gensio, catorze anos, dos quais sete vivendo nafazenda do maior inimigo de Chico Mendes, opistoleiro Darly Alves da Silva, depois do pr-prio Chico, o personagem mais interessante desse pro-cesso.

    Dez minutos depois de depositar Rambo no quartele jogar as malas no hotel, estvamos de volta para entre-vistar o garoto Gensio num banco na praa em frente

    PM. O advogado, seu xar, contara como, na acareaocom os pistoleiros, aquele quase menino enfrentara osdois com acusaes contundentes e uma coragem forado comum.

    Gensio no tem nada a ver com o que se conven-cionou classicar de adolescente no Sul do pas, embora

    para os padres locais possa ser considerado normal. Fi-sicamente, ele parece ter menos idade. magro, enxuto,nunca jogou bola e conhece brinquedo apenas de nome.De namoro, amor e sexo, por enquanto o que guarda soduas cicatrizes mal curadas na barriga, resultado de umcoice que lhe atingiu o apndice e a bexiga.

    Psicologicamente, Gensio um adulto. Seu olhar duro e seu riso to raro quanto raras so as palavras queele gasta com usura, s para responder. So respostas se-cas e seguras. E intil tentar pegar contradies, mes -mo quando se tem que repetir a gravao por defeito dogravador ou quando se testam as perguntas em momentosdistintos.

    Por aquisio precoce do sentimento machista quevaloriza a coragem fsica, Gensio mentiu uma vez, aodizer que no tem medo de represlias.

    Mas nem do Darly, que j matou ou mandou matartanta gente?

    No.No dia seguinte, ao lev-lo para comprar uma cala

    e uma camisa que substituiriam o short e a camiseta sur-rados, achamos estranho que ele no quisesse descer docarro para experimentar a roupa. No dizia por qu, masse negava a sair para escolher o que certamente queria.

    De dentro da loja, um homem insistia com o olhar emdescobrir quem estava na caminhonete.

    Depois, j longe dali, o experimentado motorista in-formou que a loja era de um parente de Darly. S entoo garoto admitiu a razo da recusa. Sem usar a palavramedo, ele concordou que no tinha descido por causa dos

    parentes do seu inimigo.Trabalho maior teramos para descobrir por que aque-

    la alma aparentemente sem ego, onde a vaidade parecianunca ter entrado, resolvera oxigenar os cabelos. No era

    para car bonito nem para imitar algum sursta da tele-viso irritou-se com a hiptese. Por que ento? Eraum ardil do ingnuo e apavorado Gensio. Ele achavaque assim caria irreconhecvel. Na semana seguinte,alm da gua oxigenada, a cabea tinha sido quase ras -

    pada. Mas a no foi preciso perguntar por qu.Dos sete anos at a morte de Chico Mendes, Gensioviveu na Fazenda Paran, de Darly Alves da Silva, queest preso com o lho Darci. Acordava s seis horas,ia pastorear o gado, dar sal, roar e colocar veneno noscarrapichos. Sua me eram as quatro mulheres de Darly

    se odiando (Elpdia, Francisca, Margarete e Natalina), eseus companheiros de todo dia, Darlyzinho, de dezoitoanos, Oloci, de 22, Darci, o Aparecido, de 21, e os mi-neirinhos (Amadeus, Francisco e Jardeir, ou Antnio) todos com fama de pistoleiros.

    Quem visitava a fazenda? Visitava o Joo Branco, o Benedito Rosa, o GastonMota, o delegado Enock, o Jonas Daguabi e o Arago.

    O Joo Branco ia l muitas vezes? Ia. Voc ouviu alguma conversa sobre o Chico Mendes? Ouvi do Joo Branco com o vio Darly. O vio Dar-ly perguntou que que Joo Branco achava dele matar oChico Mendes. A o Joo Branco falou que se for iguals outras mortes que o senhor faz e num d nada, podematar que se der rolo e eu puder ajudar, eu ajudo.

    Isso foi quando? Foi no ms de novembro. Como que voc ouviu essa conversa? Eu ouvi eles falando. Tem a rea assim, tem uma casi-nha assim, eu cava de trs da casinha escutando.

    E esse Joo Branco foi l muitas vezes? Foi umas cinco vezantes da morte de Chico Mendes. Ele cava l? Num tempo ele foi e cou uma semana. Dormindo l? Dormindo, bebendo usque. Ele levava usque ou tinha usque l? Ele levava. Voc j conhecia ele? Eu conheci ele em Brasilia. Eu fui l mais o vioDarly com o carro, e a o vio Darly conversando comele falou que era amigo dele, que chamava Joo Branco.

    Como que eles te tratavam l? Eles me bateram muitas vezpra eu no contar os se-gredos deles.

    Que segredos voc sabia deles? Eu sabia da morte do Raimundo Ferreira, que pediu amo da lha dele em casamento, a ele no deu. Raimun-do Ferreira tambm brigou com Oloci, a mataram ele.

    Quem matou? O Oloci, o Aparecido e um primo do Oloci, o Rildo. Como que voc sabe que eles mataram? Porque eu ia passando de cavalo, correndo, eu nemtava vendo eles, mas eles pensaram que eu tava vendo,eles me chamaram. Eu fui l, vi o homem com a orelhacortada, o nariz e um beio.

    E o que eles zeram? Eles chegaram em casa e empurraram uma faca naminha barriga pra mim no contar pra ningum. Eu faleique no ia contar no.

    Quem era o mais violento? Era o Darci e os trs mineirinhos. Uma vez eu acheiuma caveira l, a bicaram revlver em cima de mim,meteram faca na minha barriga pra eu no contar. Eles

    falou que se eu contasse eles ia me matar. Era caveira de gente? Foi. Tava queimada. E a histria dos bolivianos? Os bolivianos passaram na casa dos mineirinhos, pe-diram gua, falaram obrigado e saram. A os mineiri-nhos pegaram a bicicleta, passaram por eles, foram nafazenda e falaram com os meninos que ia dois bolivianosestranhos, queriam ver o que eles ia levando. A os me-

    ninos foram esperar l na frente, meteram os revlverneles, reviraram as coisas deles e pegaram maconha.

    De que cor era essa maconha? Branca. Como que estava embrulhada? Dentro de um saco plstico. Quem eram os meninos? O Oloci e o Darci. Eles que mataram? Foram os dois mineirinhos. S escutei dois tiros. O que eles falavam do Chico Mendes?

    Quando eles comearam a briga deles, o vio Darlyfalou que ia matar Chico Mendes, porque o Chico Men-des cava falando dele por trs. Disse que ele no ia ternem mais um ano de vida. Antes de matar, ele falou queia pedir a mo de Chico Mendes a cumpadre s pra ma-tar.

    Como que ? Ele ia chamar o Chico Mendes l pra ser cumpadre,e a ia matar ele.

    No dia que Chico Mendes morreu, o que eles zeram? Mataram uma vaca. Ele falou que o dia que matas-sem o Chico Mendes, eles matavam uma vaca. E matoumesmo.

    es emun aA testemunha

    Zuenir reencontraGensio aos 30 anos,

    em 2004, em algumlugar da oresta

    acreana

    ElsonMartins

    Zuenir Ventura

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    te

    stemunh

    Voc tem medo de car aqui? No, num tenho medo no. Mas que elesjudeiamde mim.

    Quem? O Z Elias j veio aqui duas vez, me bateu dizendoque era brincadeira, mas batendo com fora. O Toninhoe o Iran, na delegacia, tambm fazem me bater, me pren-der.

    O delegado no faz nada? Faz nada. Voc j falou com ele? Falei no. Eu queria falar com o juiz. O juiz vem aqui te ver? Nunca veio me ver no. Como que voc foi parar na fazenda do Darly? Minha me deu eu pra ele. Ele adulou ela, pediu, aela deu.

    Voc est feliz? T no. O que precisa pra voc car feliz? Se eu for pra Rio Branco, eu co. s eu sair daqui.

    Voc quer fazer o que l? Eu queria estudar.

    Gensio Ferreira da Silva um cidado precoce que odestino tentou pela convivncia e pelo exemplo trans -formar em pistoleiro. S o mistrio da ndole, na falta deoutra palavra, pode ter impedido esse menino de seguira carreira de seus irmos de criao e do pai adotivo.Mas nem isso nem a condio de testemunha-chave do

    processo Chico Mendes evitaram o desamparo e a soli-do de uma criana que resolveu escolher o atravancadocaminho da legalidade numa terra onde ela ainda no pe-gou. Gensio resiste resta saber at quando.Quase um ms depois dessa entrevista, no dia exato emque fazia quatro meses do enterro de Chico Mendes, Ge-nsio foi entregue guarda do comandante da PM de RioBranco, coronel Roberto Ferreira da Silva, um estudan-

    te de Letras e admirador de Gandhi por quem a cidadetem o maior respeito. Ali, Gensio ingressou na GuardaMirim e vai estudar. No ofcio em que autorizou a trans-ferncia, o juiz de Xapuri, Adair Longuini, escreveu: Amedida se faz necessria em razo de encontrar-se o me-nor em ambiente no muito recomendado [...], alm doque gura dentre as testemunhas do caso Chico Mendes,tendo declarado em seu prprio depoimento que temiauma ao malca contra a sua pessoa.Inexplicavelmente, de todas as entidades e instituiesnacionais ou estrangeiras, religiosas ou laicas, interessa-das no caso Chico Mendes, a nica a se sensibilizar pelodrama de Gensio Ferreira da Silva foi a Polcia Militarde Rio Branco.

    Gensio, aos 14 anos, foirme na acusao contraDarly Alves

    Darci e Darly nojulgamento emXapuri: 19 anosde priso

    Olavo Rufino

    Trecho do captulo Como se criam pistoleiros do livro Chico Mendes Crime e Castigo de Zuenir Ventura

    Eu entrei pela primeira vez na mata para falar comseringueiros, acompanhado de gente do curso deHistria; e o Chico nos contava com ar muito s-rio a histria de uma caada. Ele armou a rede na espera.Quando apareceu um veado, preparou-se para atirar. Maso veado foi crescendo, crescendo, at car do tamanho

    da rvore e ele largou a espingarda e saiu correndo apa-vorado. Disse isso sem nenhuma inteno de nos impres-sionar. Se quisesse aparecer teria tentado nos enrolar comalguma conversa poltica. Ele acreditava mesmo naqui-lo e eu nem acreditava que uma pessoa adulta e normal

    pudesse acreditar em coisas assim. Hoje j nem sei sealgum dia na vida fui mesmo materialista. O Chico eu seique no foi (...).

    No pisava em Xapuri desde as ltimas tentativas deconciliar quem estava a m de brigar. Tomado por umasaudade imensa, parei em frente ao Sindicato. Tinha pou-ca gente por ali. Acho que estvamos em 83 ou 84. Eranoite. O Chico estava trancado numa salinha. Tinha unstrs companheiros com ele. Eu tambm estava l. Resolvichegar perto e me escorar num canto, espiando. Brinc-vamos de clandestinidade. Era muito engraado, o Chicome chamava de Ricardo e eu a ele de Santos. s vezes agente trocava os nomes em pblico. Lembrei da vez emque o Chico, numa assemblia, no entendeu porque as

    pessoas caram confusas quando ele se dirigiu ao Rai-mundo chamando-o de Palmeira. Percebi, naquele mo-mento, que tudo no passava de brincadeira.

    O sindicato de Xapuri funciona movido por umalgica que no sofre abalo. Nestes anos todos, nenhum

    partido, ou frao de partido, conseguiu penetrar na ver-

    dadeira couraa de barraco que de fato o sustenta, assimcomo a todo o sindicalismo rural no Acre. Sa dali pu-lando no tempo e fui passear pelas ruas de Xapuri com oChico, mas era insuportvel andar com ele. O Chico eraum verdadeiro pau-de-balseiro, sempre enganchava poraonde ia. Todos o paravam para que ele desse soluo

    pra tudo. Orientava os doentes para procurar as Irms,resolvia briga de vizinhos, de marido com mulher e doscompanheiros do Partido. Muitas vezes eu no sabia quala diferena exata entre um presidente de sindicato e um

    patro. Patro no vem de pai?Voltei para 85. Naquele tempo camos muito juntos.

    Trabalhamos muito, rimos muito e conversamos muito.Todos os dias. Ficvamos pra cima e pra baixo num jipevelho, com os pneus carecas e a bateria amarrada com

    uma corda. Ns gostvamos muito daquele carro velho.Acho que os Chicos estereotipados destes tpicos-grin-gos-ecologistas-que-andaram-por-a no seriam capazesde car to felizes pelo fato de receber, de surpresa, um

    jipe velho para ajudar numa campanha eleitoral. Lem-brei bem do jipe naquele momento. Ele era realmenteum charme. Tinha um tom verde, to verde, que ns o

    chamvamos de Hulk. Era muito legal ver o Chico dor-mindo no Hulk enquanto o Valdecir Niccio pilotava na

    buraqueira. Morri de saudade daquela cena. No nal dacampanha, para honrar dvidas do PT, o Hulk foi entre -gue para o dono de uma grca. Ele nunca soube o valorque aquele carro tinha. Acho que um pedao da minhaalma foi junto (...).

    Ainda di, e muito, aquele dia sobre o qual eu nocomporei uma cano. O dia-noite, o claro, o susto dotelefone. Quando o Guma me ligou chorando, eu j sabiao que tinha acontecido. Eu s no sabia o que fazer.

    Acho que at hoje, ainda no sei.

    Meu encontrocom o Chico

    "

    "Binho Marques

    Arnbio Marques, o Binho, atual governador

    do Estado do Acre foi grande parceiro de ChicoMendes e coordenador do Projeto Seringuei-

    ro, do CTA. Quando Chico foi morto ele se en-

    contrava na Colmbia, foi informado da noite

    trgica por Gomercindo Rodrigues, por telefo-

    ne. Em 1995, publicou na revista Nativa n4,

    o artigo Quando os anjos choram (inspirado

    na msica do grupo mexicano Man), do qual

    reproduzimos o trecho ao lado. Ele fala de sua

    amizade com o l der seringueiro, lembrando a

    campanha eleitoral para prefeito de Xapuri, da

    qual Chico saiu derrotado.

    Secom

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    O Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

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    Chico MendesO Homem da Floresa - 20 Anos de Saudade e Conquisas

    1 Amaznia - Histrias da nossa Histria (48 min)Produo: Canal Futura, TV Aldeia e TV Globo - 2006. O documentrio retrata a luta do povoacreano pela sua independncia e integrao ao Brasil, at os dias de hoje, quando questessobre o destino da maior oresta do planeta esto sendo mundialmente discutidas.

    2 Chico Mendes Eu Quero Viver (40 min)Documentrio de Adrian Cowell e Vicente Rios Produo: Central Independent Television(Londres) e Universidade Catlica de Gois -1990. O documentrio traz o registro da vida, daluta e morte de um dos principais defensores da ecologia e dos povos que habitam a orestaamaznica brasileira.

    3 Verde Verdade (30 min)Documentrio da TV dos Trabalhadores lanado em fevereiro de 1991. Retrata a histria deChico Mendes, sua morte e o julgamento dos assassinos em 15 de dezembro de 1990, nacidade de Xapuri, Acre.

    4 Saber cuidar. Somos parte da Terra e ela faz parte de ns (15 min 54s)Direo de Sergio de Carvalho. Realizao: Governo do Estado do Acre - Secretaria deMeio Ambiente e Recursos Naturais, 2006. O vdeo uma reexo sobre gesto ambiental,enfatizando o modelo realizado no Estado do Acre como uma alternativa concreta aosproblemas ecolgicos que o mundo vive.

    5 De l pra c. TV Brasil (33 min 50s)O documentrio de 2008 apresenta entrevistas com companheiros, amigos e personalidadesque conviveram com Chico Mendes. Estes, por sua vez, fazem reexes sobre a vida, o legadoe a morte de Chico Mendes, contextualizando-o no perodo de conitos que surgiu com adecadncia da economia da borracha no Acre. Entre os entrevistados esto o escritor e jornali staZuenir Ventura, Elson Martins, Ilzamar Mendes, Sebastio Mendes, Marina Silva e outros.

    6 Chico Mendes para a Juventude (51 min 58s)Direo de Ivini Ferraz. Realizao da CIA de Theatro da Cooperativa Paulista de Theatro. Odocumentrio conta de forma dinmica a histria do Acre perpassando diferentes perodos.Atravs de fragmentos de uma das palestras de Chico Mendes, o vdeo fala sobre a vida nosseringais, a luta dos seringueiros para defender suas terras, a organizao dos povos da orestae resultados da luta como a criao dos empates e das reservas extrativistas, e a morte demuitos companheiros do movimento, como Wilson Pinheiro e o prprio Chico Mendes.

    7 Sonho de Chico Mendes (26 min 7s)Documentrio de Adrian Cowell e Vicente Rios que fala da importncia da oresta amaznicae da diculdade de mant-la de p diante da expanso da exportao de soja e madeira. Osinteresses econmicos de um suposto desenvolvimento resultam em queimadas e derrubadasilegais que devastam a Amaznia. O documentrio mostra a luta de Chico Mendes para apreservao e destaca o apoio dado pelo governo Lula aos companheiros de Chico, comoMarina Silva, nomeada Ministra do Meio Ambiente e Mary Alegretti, que assumiu a SecretariaEspecial para a Amaznia, dando continuidade ao trabalho.

    8- Especial Chico Mendes Globo Ecologia (21min 10s)Na reportagem de 2005, o apresentador Cludio Henrich visita a cidade de Xapuri erelata a importncia de Chico Mendes no movimento dos seringueiros daquela cidade,

    Vdeos sobre Chico MendesPublicaes sobre Chico Mendes

    Srie de Reportagens do jornalista e escritor Zuenir Ventura.Jornal do Brasil, 1989.

    Caderno Povos da Floresta. Publicao do Comit Chico Mendes, 2003.

    Revista N Ativa: revista de idias. Edio Quem Chico Mendes?, Fundao Garibald Brasil, 1995.

    Chico Mendes, andarilho do bem, da antroploga Lucia Helena de Oliveira Cunha, 2007.

    Filho Abenoado, do jornalista Elson Martins, 2007.

    Um heri trgico, do jornalista e escritor Zuenir Ventura, 2007.

    Sabia que chegaria a morte sem avisar, do advogado e escritor Gomercindo Rodrigues, 2003.

    A Construo Social de Polticas Ambientais: Chico Mendes e o Movimento dos Seringueiros, tese dedoutorado da antroploga Mary Helena Allegretti. UnB, 2002.

    Legado poltico e moral de Chico Mendes, do gegrafo Carlos Walter Porto Gonalves, 2005.

    O Testamento do Homem da Floresta. Artigo do Professor Pedro Vicente Costa Sobrinho sobre a entrevistarealizada com Chico Mendes, que deu origem ao livro de Cndido GrzybowskI com o mesmo titulo.

    Prmio Chico Mendes de Cultura. Redaes e Desenhos de estudantes de ensino mdio de escolaspblicas do estado do Acre. Publicao do Senado Federal, 2005.

    Revista Chico Mendes, conta a histria de Chico Mendes com nfase na sua participao como militantesindical, editada pelo CNS, STR de Xapuri e CU T, 1989.

    Dossi de notcias na imprensa IEA 1 988 a 1990. Parte dessa documentao est concentrada narepercusso do assassinato na mdia. Esto reproduzidos artigos de jornais locais, nacionais e internacionaisorganizados pelo Instituto de Estudos Amaznicos (IEA).

    Prmio Chico Mendes de Cultura. Comit Chico Mendes e Centro dos Trabalhadores da Amaznia.Braslia, edio do Senado Federal, 2005.

    Chico Mendes: um povo da oresta. Edlson Martins. Rio de Janeiro, editora Garamond, 1998.

    O Sonho de Chico Mendes. Filme de Ricardo Paranagu. Produo: Pau-Brasil Comunicao, 1995 (25 min).

    50 Grandes ambientalistas: de Buda a Chico Mendes. Joy A. Palmer (Organizador). Traduo Paulo CezarCastanheira. So Paul, editora Contexto, 2006.

    Tempo de queimada, tempo de morte: o assassino de Chico Mendes e a luta em prol da orestaamaznica. Andrew Revkin. Traduo de Wilma Freitas Ronald de Carvalho. Rio de Janeiro, editoraFrancisco Alves, 1990.

    Chico Mendes: crime e castigo: quinze anos depois, o autor volta ao Acre para concluir a mais premiadareportagem sobre o heri dos povos da oresta. Zuenir Ventura. So Paulo, editora Companhia das Letras, 2003.

    Caminhando na Floresta. Gomercindo Rodrigues, editora Floresta, Rio Branco, 2003.

    O Testamento do Homem da Floresta. Chico Mendes por ele mesmo. Cndido GrzybowskI. Rio de

    Janeiro, editado pela Fase, 1989.Deixem Chico Mendes em paz. Revista Veja, n. 50, dezembro de 1990.

    Terra e Liberdade: A Luta dos Posseiros na Amaznia Legal. Jos de Souza Martins. Rio de Janeiro,Boletim da ABRA n. 1, sobre Reforma Agrria, 1979.

    Chico Mendes por ele mesmo. Chico Mendes, Martin Claret Editores, 1992.

    A Saga de Chico Mendes. J. Moro, editora Pgina Aberta, 1993.

    Amaznia em Perigo. O Assassnio de Chico Mendes. Portugal, Crculo de Leitores, 1991.

    O Mundo em Chamas. A devastao da Amaznia e a tragdia de Chico Mendes. A. Shoumato,editora Best Seller. Braslia, MEC, 1990.

    O Empate contra Chico Mendes. Mrcio Souza, editora Marco Zero, 1990.

    Geografando nos Varadouros do Mundo. Carlos Walter Porto Gonalves. Edio IBAMA, 2003.

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    Msicas em homenagem a Chico Mendes

    Chico Rei SeringueiroTio Natureza (4:49)

    Festival Canta NordesteUbiratam Souza e Ubiraja (8:00)

    Saga da AmazniaVital Farias (7:53)

    Chico Mendes The Blues For The WoodsRamblim Wayn (4:12)

    O SeringueiroZ Geraldo (4:32)

    Doce HeriKeilah Diniz (4:23)

    Xote EcolgicoLuiz Gonzaga (3:22)

    AmbushBanda Sepultura (4:41)

    Justia DivinaBanda Discarga (1:02)

    How Many PeoplePaul Mccartney (2:18)

    Cuando Los Angeles LloramGrupo Man (5:06)

    Zumbi e Chico (Lh)Banda Los Porongas (5:29)

    Biblioteca da FlorestaVia Parque da Maternidade, s/n - Centro.CEP. 69.900-0