52
ENTREVISTA Domenico de Masi afirma que bancos podem liderar o crescimento do home office no Brasil CONGRESSO DE TECNOLOGIA Ciab 2016 terá como tema central “Cultura Digital Transformando a Sociedade” MERCADO DE BIOMETRIA CRESCERÁ 650% EM UMA DÉCADA IMPULSIONADO PELO USO DE CELULARES E OUTROS APARELHOS MÓVEIS A SENHA É VOCÊ REVISTA Setembro/Outubro • Nº 59

Revista ciab 59 out15

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista Ciab FEBRABAN

Citation preview

Page 1: Revista ciab 59 out15

ENTREVISTA

Domenico de Masi afirma que bancos podem liderar o crescimento do home office no Brasil

CONGRESSO DE TECNOLOGIA

Ciab 2016 terá como tema central “Cultura Digital Transformando a Sociedade”

MERCADO DE BIOMETRIA CRESCERÁ 650% EM UMA DÉCADA IMPULSIONADO PELO USO DE CELULARES E OUTROS APARELHOS MÓVEIS

A SENHAÉ VOCÊ

REVISTA Setembro/Outubro • Nº 59

Page 2: Revista ciab 59 out15

2 revista Ciab FEBRABAN

Page 3: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 3

Page 4: Revista ciab 59 out15

4 revista Ciab FEBRABAN

sumário

www.ciab.org.brwww.facebook.com/CiabFEBRABANTwitter: @ciabfebraban

[email protected]: @febraban

5Editorial

6CapaBancos e instituições financeiras serão os principais responsáveis pela alta de 650% que deverá ser registrada pelo segmento de biometria nos próximos dez anos

14Ciab 2016Com o tema central “Cultura Digital Transformando a Sociedade”, Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras ocorrerá entre 21 e 23 de junho do próximo ano

20Internet das coisasAvanço tecnológico pode serutilizado para diminuir os riscosna venda de seguros, ampliar aoferta de crédito e gerar novos negócios para o setor financeiro

28Home OfficeBusca por maior satisfação dos funcionários, aumento de produtividade e redução decustos operacionais levam bancosa apostar no trabalho remoto

34EntrevistaDomenico de Masi, renomado sociólogo italiano, afirma quebancos podem impulsionar o segmento de teletrabalho

40MobileSmartphones transformam-se na porta de entrada para a inclusão financeira de milhões de brasileiros

46IPv6Bancos investem na migraçãopara novo padrão

CONSELHO CIAB FEBRABAN

Mauricio Minas-Bradesco (presidente), GustavoFosse – Banco do Brasil (diretor setorial de Tecnologia e Automação Bancária da FEBRABAN), Geraldo Dezena – Banco do Brasil, GilsonGirardi – HSBC, Gustavo Roxo – BTG Pactual, Jorge Ramalho – Itaú-Unibanco, José Paiva – Santander,Keiji Sakai – BM&FBOVESPA, Roberto Zambon – Caixa

COMISSÃO DE CONTEÚDO:Keiji Sakai – BM&FBOVESPA (coordenador),Nilton Cesar Gratão – FEBRABAN, Adauto DelFavero – HSBC, Antonio Lombardi Neto – Rede,Carlos Augusto de Oliveira – Original, Eliane Grotti Borges – Caixa, Mário Lopes – Societè Generali, Marco Aurélio Crestoni – CITI, Paulo Cherberle – Bradesco, Ricardo Shigueaki Nozuma – Santander, Ronei Maranssati – Banco do Brasil, Jorge Krug – Banrisul, Lusmary Ribeiro – BTG Pactual, Wallace Jagiello – Banco Votorantim

DIRETORIA DE EVENTOS FEBRABAN:Nair Macedo (diretora), Marcelo Assumpção,Élita Cristina Borges Simionato, Érika Kumbrevicius de Oliveira, Fernanda Paradizo Castillo, Hilda Solera, Ludmila Prado, Marília de Meo Borges, RenataMoreira Carvalho

REVISTA DO CIAB FEBRABAN

DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO:Sergio Leo (diretor), Adriana Mompean, Cleide Sanchez Rodriguez, Keti Granzotto Casarri

MARKETING:Roseli Rapouso, Silvia Mazzola

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO:Ideia Visual

Esta é uma publicação da Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN, Av. Brigadeiro Faria Lima, 1485 – 15º andar – Torre Norte – 01452-921 – São Paulo – SP

Copyright 2015 - setembro/outubro. Todos os direitos reservados.

Page 5: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 5

As inovações e as facilidades trazidas pela tecnolo-gia da informação estão transformando as empresas, que ficam cada vez mais digitais. Essas mudanças

tornam imprescindível entender quem é o novo cliente. Trata-se de um usuário que exige personalização, relaciona--se com a marca pela experiência pessoal, não compreende a necessidade dos processos burocráticos, exige mais con-veniência e experiência intuitiva e quer ter um banco para acessar em qualquer lugar onde estiver.

As empresas digitais também precisam de processos ágeis e otimizados, regras de negócios flexíveis, devem apro-veitar as competências digitais dos colaboradores, ter menos aversão ao risco e ao erro e investir na contratação de cola-boradores mais criativos, flexíveis e conectados.

Os bancos brasileiros sempre estiveram na vanguarda deste processo por meio de vultosos investimentos realizados em tecnologia da informação, o que tornou a tecnologia bancária brasileira reconhecida mundialmente por seus padrões de qualidade e segurança. Só no ano passado, os investimentos e despesas dos bancos brasileiros com tecno-logia da informação totalizaram um montante expressivo de R$ 21,5 bilhões, o que faz do setor financeiro o maior investidor de TI no País.

Com a revolução digital, as instituições financeiras reveem constantemente seus processos de atendimento aos clientes. O objetivo é ser onipresente e atender um usuário cada vez mais hiperconectado e ávido por experiências mais intuitivas. Os bancos investem no aprimoramento do con-ceito de omni-channel, que permite que o cliente transite entre diferentes canais de atendimento. As instituições tam-

bém criam e aperfeiçoam processos de negócios buscando agilidade e eficiência para proporcionar uma experiência diferenciada ao usuário.

Os bancos procuram, ainda, diversificar e personali-zar seus produtos e investem no atendimento a nichos de clientes cada vez mais especializados, sempre se adaptando a diferentes expectativas e necessidades dos usuários. Para isso, é fundamental descobrir o que o cliente deseja para produzir ofertas congruentes e ainda adaptar o canal, a linguagem e a abordagem de acordo com o perfil do usuário.

Na edição 59 da revista Ciab FEBRABAN, as ino-vações trazidas pela TI estarão em destaque em nossa reportagem de capa, com novidades sobre o crescimen-to do mercado de biometria, que promete substituir as atuais senhas digitais e, de acordo com estudo da con-sultoria Tractica, deve movimentar US$ 2 bilhões em 2015 e registrar US$ 15 bilhões em 2024. Outro tema extremamente relevante para as instituições financeiras e também presente nesta edição é a internet das coisas, que possui grande potencial para ofertar experiências diferenciadas aos clientes.

O home office, uma aposta dos bancos por proporcionar uma busca por maior satisfação dos colaboradores, aumento de produtividade e redução de custos operacionais, também é tema de reportagem. E como complemento ao assunto, o italiano Domenico de Masi, um dos mais famosos soció-logos da contemporaneidade, falou em entrevista à revista Ciab FEBRABAN sobre as vantagens do trabalho remoto e sua relação com o sistema financeiro.

Uma boa leitura! n

Desafio digital

Gustavo FosseDiretor Setorial de Tecnologia eAutomação Bancária da FEBRABAN

editorial

Page 6: Revista ciab 59 out15

6 revista Ciab FEBRABAN

identificação

Meu corpo, minha senha

Por Charles Nisz

Impulsionada por setor bancário, biometria vai crescer 650% em 10 anos

Page 7: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 7

identificação

No começo eram as senhas e o código escolhido em sigilo pelo usuário. Daí, alguns sistemas de autenticação passa-

ram aos tokens, aparelhos exclusivos, conecta-dos remotamente, para certificar transações. O avanço seguinte já está à mão; ou melhor, na palma da mão, nas impressões digitais, ou em outras características físicas que variam de in-divíduo para indivíduo. É o admirável mundo da biometria, a fronteira agora explorada pela segurança digital.

É mais que uma tecnologia de uso cres-cente, envolvendo desde a segurança em aero-portos ao controle de crianças em parques de diversão, passando por verificação de creden-ciais em embaixadas: a biometria é um mer-cado vigoroso, que, de acordo com estudo da consultoria Tractica, vai movimentar US$ 2 bilhões em 2015 e crescerá para US$ 15 bilhões em 2024.

Com crescimento de 650% em uma década, o segmento terá uma movimentação acumulada de US$ 67 bilhões nos próximos 10 anos. E é possível apontar, sem erro, o principal setor responsável pelo crescimento vertiginoso do mercado de biometria: bancos e outras em-presas ligadas ao setor financeiro. Transações bancárias em caixas eletrônicos, movimentação de contas a partir das residências, uso do celular nas finanças, tudo isso já começa a passar por transformações radicais com a nova tecnologia.

Isso porque os serviços bancários ainda encontram espaço para crescer, especialmente no mundo em desenvolvimento. O uso cres-cente de celulares e outros aparelhos móveis é um catalisador importante do mercado de biometria. O mundo tem mais de um celular por habitante e a junção de serviços bancários

e tecnologia é um casamento feliz. O Brasil, um dos maiores exemplos desse matrimônio, já tem 90 mil caixas eletrônicos equipados com algum sensor biométrico no país.

O Banco do Brasil pesquisa a utilização de biometria desde 2004. Jeovanio Bitencour-te, gerente da área de TI do banco estatal, conta que a primeira tentativa do BB nessa área foi a certificação por voz. A experiência foi frustrada porque a validação do timbre de voz é muito difícil: pode ser afetada por fatores diversos, como o excesso de ruído no local de atendimento.

Banco do Brasil prepara lançamento de ATM biométrico para 2016

Page 8: Revista ciab 59 out15

8 revista Ciab FEBRABAN

“Nossa ideia é usar a biometria não apenas para certificação, mas também para aumentar a interação com o BB em todos os canais”, afirma o executivo.

Uma década depois, o BB testa um protóti-po de caixa eletrônico biométrico, usando tecno-logia de reconhecimento de impressão digital, de íris e de escaneamento facial. O ATM high-tech levou dois anos para ficar pronto: 18 meses em prospecção e estudo e mais seis meses para ser desenvolvido. O aparelho entrará em operação até o fim do primeiro semestre de 2016.

De acordo com Bitencourte, o custo desse protótipo de ATM biométrico ficou em R$ 500 mil – excluídos os gastos com mão de obra. O valor ficou relativamente baixo, porque o banco usou a própria área de TI e buscou parcerias com empresas como a Akiyama, espe-cializada em impressão digital, e a Cognitech, focada em reconhecimento facial.

As dificuldades no desenvolvimento de tecnologia e o alto investimento financeiro não são os únicos fatores a impedir a disse-minação mais veloz desse tipo de autentica-ção. Bitencourte explica que até o biótipo dos clientes faz diferença: “Uma das nossas maiores dificuldades foi lidar com o biótipo brasileiro, mais baixo. Esse perfil físico muda o posicionamento de câmeras e sensores e isso causou demora na criação do protótipo do ATM biométrico do BB”.

Outro problema é a criação e gerencia-mento da base de dados. “Como fazer a coleta de informações biométricas de uma base com 60 milhões de clientes? Mais do que isso, como otimizar os dados de modo a agilizar as buscas para identificar com precisão esses clientes?”, questiona o executivo do BB.

Nem sempre o ganho obtido com no-vas tecnologias é perceptível financeiramente.

“Para nós, o maior ganho é em imagem. Asso-ciar o setor público a uma imagem atualizada e inovadora”, diz Bitencourte. O gerente de TI do BB adianta que o próximo passo será elimi-nar o uso de cartão magnético nos terminais, trocando-o pela biometria e dispositivos como celulares, numa abordagem que o BB chama de “Basta eu”, ou seja, o corpo (ou suas extensões habituais, como o onipresente aparelho celular) será seu próprio mecanismo de autenticação. O intuito é facilitar as formas de interação entre o cliente e o banco.

A morte da senhaEssa abordagem vai ao encontro da visão dos bancos estrangeiros sobre o assunto. Phil Scar-fo, vice-presidente de Marketing da Lumidigm, desenvolvedora de sensores biométricos, acre-dita que a autenticação por senha logo irá desa-parecer. “Não sei precisar quando a dupla usu-ário/senha deixará de ser utilizada, mas 2014 foi um ponto de inflexão quanto a isso”, diz.

“No futuro de médio prazo, devemos ter a combinação de biometria e telefonia móvel, com o uso de Bluetooth, NFC e outras tecno-logias de comunicação de curto alcance.” NFC é uma tecnologia que permite a aparelhos como celulares e terminais eletrônicos trocar dados ao se aproximarem um do outro. Para Scarfo, o Brasil tem tudo para virar referência em novas tecnologias bancárias.

Fabiano Lobo, diretor da Mobile Mar-keting Association, usa o exemplo do JP Morgan Chase, quinto maior banco do mun-do, para mostrar a ligação entre tecnologia bancária de autenticação e mobilidade: “No Brasil, temos várias etapas – cadastro, token, código enviado por SMS, senhas. A visão dos bancos norte-americanos é mais simples, é mais fácil usar banco fora do Brasil”, com-

identificação

Page 9: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 9

para. “O JP Morgan Chase redesenhou toda a jornada do cliente dentro dos sistemas do banco e utiliza um só aplicativo para todas as funcionalidades.”

Lobo faz uma analogia: “O sistema do JP Morgan Chase faz o ATM do banco parecer um grande iPad. As funcionalidades foram pensadas de forma a levar o banco para o ce-lular”, descreve o diretor. “E, com o uso da biometria, muitos processos de autenticação foram eliminados sem a perda de segurança.” Para ele, isso faz sentido dentro do contexto norte-americano, uma sociedade mais acostu-mada com tecnologia e mais preparada para lidar com o dinheiro.

Visão centrada no clientePensar soluções bancárias voltadas especial-mente ao cliente também é a ideia por trás da estratégia do HSBC. Marcelo Veronese, diretor de Canais Digitais da instituição, con-ta que o banco usa a biometria por impressão digital (fingerprint) desde 2012. O sistema

Marcelo Veronese, diretor de Canais Digitais do HSBC, afirma que para transações mais complexas e verificação de identidade, o banco utiliza a biometria e tecnologias como NFC, Bluetooth e QR Code

HSBC foca sua estratégia de negócios no uso de dispositivos móveis para auxiliar na identificação de usuários

identificação

Page 10: Revista ciab 59 out15

10 revista Ciab FEBRABAN

adotado pela filial brasileira serviu de referên-cia para a implantação desse tipo de verifica-ção de identidade no restante das agências do grupo HSBC, e é usado principalmente em transações do dia a dia.

O banco britânico acelera a adoção de tec-nologia: até o fim de 2015, agências dos EUA e na França vão abolir o uso de senhas. Para o Brasil, até 2016, todos os caixas eletrônicos do HSBC terão autenticação por impressão digital. O banco investiu de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões para realizar essas mudanças.

O HSBC é o banco com a visão mais parecida com a previsão descrita por Scarfo e Lobo, segundo Veronese: a ideia da empresa é atrelar cada vez mais o uso dos serviços ban-cários aos dispositivos móveis. Para transações mais complexas e verificação de identidade, o HSBC utiliza a biometria e tecnologias como NFC, Bluetooth e QR Code.

A biometria é usada para cadastrar o cliente – e essa primeira autenticação é feita sempre com o acompanhamento de um pro-fissional do HSBC. “Essa identidade é atrelada a um dispositivo móvel, como, por exemplo, um smartphone ou tablet, e a biometria serve como autenticação para os aplicativos do ban-co – reunidos sob o nome de HSBC Digital Life”, diz o diretor. A biometria a ser usada é escolha do cliente: pode ser impressão digital, reconhecimento facial com uso da câmera do celular ou por meio da voz.

O HSBC pensa, ainda, em usar o celular como uma preparação para as operações nos caixas eletrônicos. Enquanto espera na fila, o cliente se comunica com o ATM via celular usando uma tecnologia como NFC ou Blue-tooth e, quando chega a sua vez, o caixa apenas finaliza a operação – seja um saque, transferên-cia, pagamento ou saldo, sem o uso da senha.

De acordo com Veronese, isso pode ser feito em qualquer canal ou localidade. Para o banco, é mais importante saber quem você é e o que precisa fazer.

A estratégia de atrelar movimentação bancária e dispositivos móveis faz sentido no Brasil, onde a base de 280 milhões de celula-res (1,37 por habitante), faz do país o quarto mercado de celulares no planeta. No caso do HSBC, em 2010, 90% das transações eram em ATM e computador, com uma média de 8-10 transações/mês. O volume de transações mobile cresceu 300% em 2014 e crescerá ou-tros 300% em 2015. A diferença agora é que o número de interações do cliente com o banco subiu para 80-100 por mês.

Aquilo que só você éMarcelo Câmara, gerente do Departamento de Pesquisa e Inovação do Bradesco, explica a evolução do banco rumo à autenticação bio-métrica: antes o banco tinha “aquilo que só você sabe” (senha) com “aquilo que só você tem” (token). Agora, a identificação sobe um nível, e usa “aquilo que só você é” (biometria).

Ainda em 2006, o Bradesco começou a fazer testes para uso da biometria em tran-sações financeiras e, após usar todos os tipos disponíveis de identificação (impressão digital, geometria 2D e 3D da face, veias da palma da mão e dos dedos, da íris e da voz), o banco percebeu que apenas as biometrias da íris e da palma da mão ganhavam a aprovação nos testes de segurança. No entanto, a verificação pela íris apresentou rejeição nos testes de usabilidade, o conforto no uso pelo cliente.

Hoje, o sistema de verificação com base nas veias da palma da mão é usado por 12,8 milhões dos clientes do Bradesco e em mais de 1 bilhão de transações realizadas por mês sem

identificação

Page 11: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 11

Reconhecimento da Iris

16%

Reconhecimento Facial

15%

Impressão Digital

31%

Reconhecimento de Voz

13%

Padrão das Veias

10%

Outros

4%

Reconhecimento da Mão

1%

Padrão da Assinatura

10%

Fonte: MarketsAndMarkets.com

Divisão do mercado global de biometria em 2015

identificação

Page 12: Revista ciab 59 out15

12 revista Ciab FEBRABAN

fraudes. O recurso também passou a ser usado como “prova de vida” para o pagamento de be-nefícios do INSS. Com o uso da tecnologia, os clientes hoje podem sacar dinheiro sem precisar de cartão magnético, diz Câmara.

Quem também usa a impressão digital como comprovante de identidade para bene-ficiários é a Caixa Econômica Federal. Desde 2013, o banco estatal, responsável pelo paga-mento de benefícios como o Bolsa Família, usa tecnologias biométricas para evitar fraudes no programa e no INSS. Assim como o Bra-desco, a CEF quer usar o reconhecimento de voz para agilizar o atendimento em serviços de call center e por telefone. Iniciados em 2010, os estudos para adoção de biometria pela CEF irão consumir R$ 46 milhões em 2016.

No CIAB 2015, a Fujitsu apresentou a tecnologia que habilita o reconhecimento das veias da palma da mão. O Palm Secure ID Match combina o reconhecimento das mãos com o uso de celulares, garantindo a autenticação em dois níveis. O sistema é usa-

do pelo Itaú Unibanco, maior banco privado da América Latina.

Para confirmar uma transação, o sistema de uma loja, por exemplo, solicita que o com-prador coloque a mão sobre o sensor. O apa-relho comunica-se com o celular desse cliente, confirma a identidade e autoriza o pagamento. Todo esse sistema pode ser associado à conta bancária e cartões de crédito do usuário. No caso de um cartão de crédito próprio de lo-jas, por exemplo, o cliente pode cadastrar sua biometria com os outros dados para adquirir o cartão e/ou atualizar o cadastro.

Desde 2011, ano em que começou um projeto-piloto, o Itaú Unibanco adota soluções biométricas para autenticação em operações em suas agências. A estruturação foi realizada em 2012 e a implementação começou em 2013. O uso da digital e pelo padrão de circulação sanguínea foi o tipo de autenticação escolhido pelo banco.

Segundo Ricardo Guerra, diretor-executi-vo da instituição, “a escolha por esse modelo se deu pelo nível de maturidade dessa tecnologia e pela aceitação e facilidade de utilização pelos clientes”. A tecnologia está presente em 100% dos caixas eletrônicos do Itaú, nos guichês de caixa e nas mesas dos gerentes; 16 milhões de clientes já estão cadastrados e aptos para uso (64% do potencial para uso da biometria entre os usuários do banco).

Com o uso da impressão digital, o ban-co pode automatizar processos e serviços e até dispensar os cartões de plástico, com mais pro-dutividade e ganhos de escala. “Mas as prin-cipais vantagens, de fato, giram em torno da conveniência e da segurança”, diz Guerra. “É bom para o cliente e para o banco.” Maior ban-co privado brasileiro, o Itaú tem um volume grande de transações: a cada segundo há um

Solução biométrica de veias da palma da mão é usada pelo Bradesco em transações bancárias

identificação

Page 13: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 13

saque sem cartão, só com uso de biometria, o que somou 5,2 milhões de saques somente no último trimestre de 2014.

FuturoCom tantos investimentos previstos nesse seg-mento nos próximos 10 anos, o que podemos esperar em termos de novidade em biometria? Uma das possibilidades é adoção da chamada biometria comportamental. Essa nova forma de verificação ajuda a evitar fraudes em siste-mas como o de impressão digital.

O Bradesco já pensa em adotar esse tipo de solução, que inclui o reconhecimento de escrita e da dinâmica da digitação. Pesquisadores con-seguem determinar a identidade de um usuário pelo ritmo e força com a qual ele escreve usando um teclado de computador. O comportamento do usuário é ainda menos sujeito a fraudes do que as características corporais.

Também podemos imaginar a adoção crescente da biometria em sistemas de paga-

mento. O selfie, tão demonizado em tempos de redes sociais, é uma das apostas da MasterCard para evitar fraude nesse tipo de transação. O sistema já é testado por cerca de 500 pessoas e o aplicativo da operadora de cartões já tem parcerias firmadas com gigantes da telefonia como Apple e Samsung, da tecnologia, como Google e Microsoft, e vários bancos dos EUA.

Com três bilhões de transações realizadas em 2014, a MasterCard vai abrir mão do siste-ma SecureCode e partir com tudo para o novo modelo, baseado em reconhecimento facial. O banco norte-americano Wells Fargo vai usar a Siri, assistente de voz dos sistemas da Apple, para auxiliar os clientes em suas transações. Já o JP Morgan Chase vai utilizar outra funcio-nalidade da empresa de Steve Jobs: o Touch ID Authentication – que usa o botão home do iPhone.

Jonathan Leblanc, Global Head of De-veloper Advocacy do PayPal, sistema de pa-gamentos online, diz, porém, que os sistemas de autenticação baseados em impressão digital e mesmo os de reconhecimento pela íris não estão livres de falhas: o sistema Touch ID, da Apple, foi invadido por um hacker alemão ape-nas dois dias após o lançamento.

Leblanc defende uma ideia radical sobre autenticação. A melhor maneira de lidar com se-nhas é comendo-as. Isso mesmo: no início deste ano, o executivo do PayPal, em uma apresen-tação chamada “Kill all passwords”, imaginou um futuro onde teremos dispositivos injetáveis e ingeríveis – ou seja, os processos autenticado-res estarão dentro do organismo. Para abastecer esses aparelhos, ele pensa em baterias capazes de ser recarregadas com fluidos como o ácido gás-trico. Uma sugestão revolucionária. Mas, pelo menos por enquanto, longe do cardápio dos bancos, e bem difícil de digerir. n

Ricardo Guerra, diretor-executivo do Itaú Unibanco, diz que as soluções biométricas estão presentes em 100% dos caixas eletrônicos da instituição, nos guichês de caixa e nas mesas dos gerentes; 16 milhões de clientes já estão cadastrados e aptos para uso

identificação

Page 14: Revista ciab 59 out15

14 revista Ciab FEBRABAN

congresso de tecnologia

Maior congresso de tecnologia da informação para o setor financeiro ocorrerá de 21 a 23 de junho do próximo ano no Transamerica Expo Center, em São Paulo. Oitenta por cento da área de exposição do fórum já foi reservada desde o lançamento da 26ª edição, ocorrido em agosto

Ciab 2016 discutirá cultura digital e a transformação da sociedade

Por Adriana Mompean

Page 15: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 15

congresso de tecnologia

Incorporado às agendas dos bancos brasileiros por ser a principal vitrine das novidades tecnológicas para o segmento bancário, o Ciab FEBRABAN - Congresso e Exposição de Tec-

nologia da Informação das Instituições Financeiras já tem data marcada para 2016: de 21 a 23 de junho do próximo ano, o evento chegará à sua 26ª edição com o tema central “Cultura Digital Trans-formando a Sociedade”, que abordará como as novas tendências digitais influenciam a mudança de comportamento dos clientes e como as demandas por tecnologias provocam transformações nos negócios das empresas.

Page 16: Revista ciab 59 out15

16 revista Ciab FEBRABAN

O congresso foi lançado oficialmente no último dia 25 de agosto. Até o momento, 80% da área de exposição do fórum já foi vendida e 80 expositores já estão confirmados para o evento. Vinte e quatro patrocinadores também já garantiram presença no fórum, entre eles, empresas como Accenture, Atos, CA, Capgemini, Cetip, CIP, Cisco, Dell, Deloitte, Embratel, EMC, HP, IBM, New Space, Oki e Scopus. Em 2016, o Ciab FE-BRABAN também contará com novos patro-cinadores como EY, Symantec, Perto e SAP. De acordo com os organizadores, o Espaço Empreendedor já está com mais de 90% da área vendida e o Espaço Internacional comer-cializou 50% de sua área.

“O Ciab FEBRABAN nasceu devido à intensa e efetiva sinergia entre os bancos brasileiros que realizam anualmente vultosos investimentos em soluções tecnológicas para

“O CONGRESSO É UM MARCO PREPONDERANTE NA HISTÓRIA DA AUTOMAÇÃO BANCÁRIA DO BRASIL E HOJE ESTÁ CONSOLIDADO COMO O PRINCIPAL EVENTO DE TI PARA O SETOR FINANCEIRO NAS AGENDAS DOS BANCOS BRASILEIROS”Alvir Hoffmann, vice-presidente da FEBRABAN

congresso de tecnologia

Page 17: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 17

aperfeiçoar e facilitar as transações cotidianas de milhares de brasileiros”, afirma Gustavo Fosse, diretor setorial de Tecnologia e Auto-mação Bancária da FEBRABAN. “Em 2016, o congresso continuará como protagonista das discussões sobre as transformações digitais, os avanços tecnológicos e os mais relevantes e atuais temas sobre TI para o setor financeiro.”

De acordo com Keiji Sakai, coordenador da comissão de conteúdo do Ciab FEBRA-BAN, a edição 2016 do congresso também discutirá o quanto tecnologias disruptivas po-dem ser uma ameaça ou se transformar em nova oportunidade de negócios para as insti-tuições financeiras. “O 26º Ciab FEBRABAN também trará o debate sobre a convivência entre o novo comportamento digital de parte da população, os clientes que preferem o mo-delo tradicional de atendimento e os usuários que não têm acesso à tecnologia e à internet”,

“EM 2016, O CIAB CONTINUARÁ COMO PROTAGONISTA DAS DISCUSSÕES SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DIGITAIS, OS AVANÇOS TECNOLÓGICOSE OS MAIS RELEVANTES E ATUAIS TEMAS SOBRE TI PARAO SETOR FINANCEIRO”Gustavo Fosse, diretor setorial de Tecnologia e Automação Bancária da FEBRABAN

congresso de tecnologia

Page 18: Revista ciab 59 out15

18 revista Ciab FEBRABAN

congresso de tecnologia

adiantou Sakai. “Pretendemos discutir todas estas tendências, o impacto do digital nos negócios e como tecnologias como big data, cloud computing, social network e mobili-dade nos ajudam nesta jornada.”

LançamentoDurante o discurso de abertura no lançamento da 26ª edição do congresso, Alvir Hoffman, vice-presidente da FEBRABAN, ressaltou que o Ciab assumiu, desde a sua primeira edição, a vanguarda das discussões mais relevantes sobre as transformações tecnológicas impulsionadas pelo sistema bancário brasileiro.

“A Comissão Organizadora do Ciab já trabalha a todo vapor para preparar o fórum de 2016. Queremos mais uma vez que o evento se torne memorável, digno da magnitude al-cançada pelo Ciab nos últimos 25 anos”, afir-mou. “Sem dúvida nenhuma, o congresso é um marco preponderante na história da automa-ção bancária do Brasil e hoje está consolidado como o principal evento de TI para o setor financeiro nas agendas dos bancos brasileiros.”

Durante o lançamento, Gustavo Fosse destacou dados da Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2014, que mostrou a con-solidação do uso dos canais digitais no País, resultado de investimentos significativos dos bancos para garantir um ambiente seguro e oferecer interfaces cada vez mais amigáveis, melhorando assim a experiência dos clientes.

Os investimentos e despesas dos ban-cos com tecnologia da informação em 2014 totalizaram R$ 21,5 bilhões, o que faz do setor financeiro o maior investidor de TI no País. “Nossos clientes estão aumentando cada vez mais as transações eletrônicas. No ano passado, 50% das operações bancárias foram feitas por internet e mobile banking”, afirmou Fosse.Ciab 2015 recebeu público recorde de 20 mil visitantes

Page 19: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 19

O diretor ainda destacou que o volumoso aporte de investimentos confere ao Brasil o protagonismo no setor de tecnologia para ban-cos, quando comparado a países emergentes como Índia e México, e nos torna próximos de economias desenvolvidas como França e Alemanha.

Ciab 2015Alvir Hoffmann também destacou os resul-tados obtidos no Ciab FEBRABAN 2015, realizado de 16 a 18 de junho. Na edição de 25 anos do evento foram incorporados os temas de meios de pagamento e de seguros ao fórum, transformando o Ciab em um es-paço para debates com conteúdos ainda mais diversificados.

As parcerias com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços, a Abecs, e com a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Priva-da e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização, a CNSeg, serão repetidas para o Ciab 2016.

“Em 2015 batemos vários recordes. Re-cebemos um público de 20 mil visitantes, um número 35% acima do registrado na última edição”, disse, lembrando ainda a partici-pação de 210 painelistas, quantidade 70% superior ao de 2014, além de 136 expositores, 16% a mais que no último fórum. “O evento teve o apoio de 38 patrocinadores, o que representou um aumento de 100% em rela-ção a 2014”, acrescentou o vice-presidente da FEBRABAN. n

De 21 a 23 de junho de 2016Transamerica Expo Center, em São Paulo

Cultura Digital Transformando a Sociedade

congresso de tecnologia

Page 20: Revista ciab 59 out15

20 revista Ciab FEBRABAN

Depois de ligar pessoas e inserir seus dados na nuvem, a internet, em sua terceira onda de evolução, promete conectar todos nossos objetos online. Entenda como este fenômeno deve diminuir os riscos na venda de seguros, ampliar a oferta de crédito e gerar novos negócios para o setor financeiro

internet das coisas

Menos riscos, mais oportunidades

Por Felipe Falleti

Page 21: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 21

internet das coisas

A casa vazia durante as férias é vigia-da por uma dezena de gadgets. Lâm-padas, cafeteira, TV e até o chuveiro

elétrico monitoram qualquer movimento sus-peito no lar. O carro, deixado com o mano-brista, pode registrar tudo o que acontece em seu interior e enviar alertas, por mensagens de texto e imagens, para o celular de seu proprie-tário, reportando o que se passa com o veículo em tempo real. O relógio de pulso registra a atividade cardíaca do usuário, conta quantos passos ele deu por dia e armazena a qualidade das horas diárias de sono.

Todas estas informações geram alertas que diminuem os riscos de sinistro com o carro e a casa, bem como informam médicos e planos de saúde sobre como melhor ajudar pacientes a viver melhor e de modo mais saudável. Longe

de uma história de ficção, todas as tecnologias acima descritas já existem, embora ainda não tenham se popularizado pelo mundo.

Uma parceria entre a Intel e Ford, por exemplo, já fabrica o Mobii, um modelo de automóvel capaz de identificar, por câmeras com reconhecimento facial, quem é o moto-rista, por quanto tempo ele está conduzindo o veículo e seu nível de cansaço. Caso pisque muitas vezes, indicando sonolência, o som do veículo é ligado e o volante vibra, para desper-tar o condutor. Nestas condições, a velocidade também é reduzida. Se o motorista não for o proprietário, um alerta é enviado ao dono do carro. Um estudo conduzido pela Ford estima que este tipo de recurso poderá evitar até 60% dos acidentes envolvendo motoristas alcooli-zados ou cansados demais. A mesma análise

Page 22: Revista ciab 59 out15

22 revista Ciab FEBRABAN

aponta redução no furto de carros, uma vez que o proprietário será alertado, em tempo real, se um desconhecido forçar a entrada em seu veículo.

Em caso de sequestro-relâmpago, a vítima terá a alteração de seus batimentos cardíacos monitorados por seu relógio de pulso. Por meio de movimentos com o braço, é possível enviar um alerta de emergência ao banco, aos fami-liares ou à polícia sem que os sequestradores percebam. Informados da situação suspeita, os bancos podem reduzir ao mínimo o valor autorizado em saques em caixas automáticos. Do mesmo modo, sensores aplicados nos ele-trodomésticos e lâmpadas podem registrar movimentos suspeitos no lar e avisar seus proprietários.

Tudo isso só é possível graças ao desen-volvimento de uma nova tecnologia batizada de internet das coisas, que consiste, basica-mente, em prover às coisas (como carros, lâmpadas e relógios de pulso) microproces-sadores (como nos smartphones), baterias, memória interna e, claro, chips de conexão com a internet.

De acordo com Mory Gharib, vice-rei-tor do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), a chamada internet das coisas pode ser considerada a terceira e mais recente etapa de desenvolvimento da internet e também o recurso mais capaz de impactar a vida das pes-soas, permitindo que elas monitorem seus bens e sua saúde como nunca fizeram antes. “Depois de conectarmos todas as pessoas, por meio de PCs e smartphones, conseguimos deixar todos seus dados disponíveis em nuvem. Agora, é a vez de os objetos tornarem-se dispositivos online”, afirma Gharib.

Segundo o pesquisador, estas tecnologias servirão não apenas para tornar nossa vida mais previsível e segura, mas também para

internet das coisas

Maurício Minas, Vice-Presidente do Bradesco, diz que o fenômeno da internet das coisas permitirá a ascensão de muitas novas startups baseadas na exploração da tecnologia

Page 23: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 23

nos dar mais conforto e eficiência. “Você poderá ter casas e roupas que adequam sua temperatura ao ambiente externo e pulseiras que indicarão quando você está exagerando no trabalho ou deixando os exercícios físicos de lado”, afirma.

Para o fundador da empresa de tecno-logia uTouch Labs, Leonardo Copello, a co-municação entre objetos pessoais e os dados bancários dos usuários permitirá a redução do custo com seguros de saúde, carro e de casa, graças à redução de sinistros, mas também o uso mais inteligente de ofertas de crédito. “Se você vai a uma loja de varejo comprar uma máquina de lavar nova à prestação, seus óculos inteligentes ou mesmo seu relógio de pulso poderão calcular o juro embutido na compra e sugerir o uso do crédito pessoal do banco como forma mais inteligente de fazer a compra”, diz Copello.

O mesmo valerá para itens de supermer-cado. Despensas inteligentes informarão ao

usuário quando o café, a carne ou o iogurte da geladeira estão acabando, e cruzarão ofertas de serviços de e-commerce com a data de ven-cimento de seu cartão de crédito, para ajudar o consumidor a tomar a decisão mais sábia e cômoda de compras.

Embora o fenômeno de internet das coisas seja recente, já existem algumas expe-riências em vigor no mundo. No Canadá, o Bank of Scotland, oferece uma aplicação que sincroniza dados da conta corrente e gastos com cartão de crédito em relógios inteligentes Android (smartwatch). Em toda compra, o app do relógio armazena os gastos e os compa-ra com outras despesas feitas anteriormente. Assim, o usuário recebe alertas quando gasta mais que o normal, em uma semana, com restaurantes. Ou quando paga, por exemplo, US$ 20 para estacionar seu carro, sendo que seu custo médio com estacionamento é de US$ 10.

Nos Estados Unidos, a Amazon criou um

“NOSSO APP PARA IWATCH PERMITE CONSULTAR SALDOS, DADOS

DA CONTA CORRENTE E, AINDA,ENVIA NOTIFICAÇÕES PARA OCLIENTE EM CASO DE SAQUES

OU GASTOS COM CARTÕES"Paulo Bissacot, do Banco do Brasil

internet das coisas

Page 24: Revista ciab 59 out15

24 revista Ciab FEBRABAN

serviço chamado Amazon Dashboard que pode ser plugado a diversos tipos de eletrodomésti-cos, como máquinas de lavar roupa ou cafe-teiras. Nestes dois casos, o botão Dashboard permite a compra de cápsulas de café ou refil de sabão em pó e amaciante com um único clique. Sempre que a cafeteira, ou a lavadora, estiver com pouco refil, uma luz acende. Se o consumidor pressionar o botão, uma nova re-carga será enviada para seu endereço e o valor da compra debitado de sua conta na Amazon.

No mercado interno, o Banco do Bra-sil explora algumas possibilidades em torno do uso desta nova tecnologia. Segundo Paulo Bissacot, diretor de novas tecnologias do BB, o banco público já desenvolveu um app para o relógio inteligente da Apple e trabalha em aplicações semelhantes para dispositivos An-droid Wear e carros conectados.

“Nosso app para iWatch permite consul-tar saldos, dados da conta corrente e, ainda,

envia notificações para o cliente em caso de saques ou gastos com cartões. Em um primeiro momento, vemos uma forma de diminuir os riscos de fraude com a conta do correntista e, ainda, oferecer um jeito mais simples do nosso cliente se relacionar com o banco. O potencial desta tecnologia, no entanto, é muito maior”, afirma Bissacot.

De acordo com o diretor do BB, desde que haja concordância por parte do cliente em ceder seus dados para os bancos, o uso da internet das coisas permitirá a criação de pro-dutos mais customizados, especialmente em áreas como seguros e crédito. “Se eu cruzar as informações dos dispositivos mobile como pulseiras e relógios com nosso CRM, posso entender melhor que tipo de auxílio meu cliente precisa e fazer ofertas mais assertivas de crédito. No segmento de seguros, então, será possível entender melhor o perfil de risco de cada consumidor e premiar os clientes que

internet das coisas

Page 25: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 25

apresentam comportamento mais previsível”, diz o executivo do BB.

OportunidadesEntre as diferentes oportunidades abertas para o segmento financeiro, está a chance de ofere-cer um serviço mais qualificado de educação financeira a seus clientes, propondo ferramen-tas que usam dados de internet das coisas para lhes mostrar como gastar menos, poupar mais e fazer uso mais eficiente de produtos de crédito, o que pode ser um grande diferencial em um mercado ultracompetitivo.

Outra possibilidade é a abertura de no-vos mercados para oferta de seguros. Como as novas tecnologias devem reduzir os sinistros, os seguros ficarão mais previsíveis e, conse-quentemente, mais baratos. “Por um lado, será possível reduzir os custos de seguros com sinistros e, por outro, passar a oferecer pacotes mais econômicos para classes populares, que não contratam seguros por considerá-los ca-ros demais”, afirma Roy Martelanc, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo.

Segundo Martelanc, o uso de informa-ções coletadas por objetos pessoais permiti-rá, no futuro, a criação de ofertas financeiras específicas para cada tipo de consumidor ao mesmo tempo em que a concessão de crédito será mais eficiente, diminuindo os riscos de inadimplência.

O pesquisador afirma, por exemplo, que um consumidor já muito endividado poderá ser desencorajado a fazer novos gastos por meio de alertas entregues em seus objetos pessoais. Ao mesmo tempo que, se o geolocalizador de um relógio de pulso indicar que um determi-nado correntista visitou três concessionárias de automóveis no final de semana anterior, isto pode gerar um alerta, em seus dispositivos,

sobre uma linha de crédito disponível para a compra de um carro novo. “Os bancos vão conhecer ainda melhor seus clientes e entender como oferecer serviços mais customizados e assumir menores riscos.”

StartupsPara Maurício Minas, Vice-Presidente do Bradesco, o fenômeno internet das coisas permitirá a ascensão de muitas novas star-tups baseadas na exploração desta tecnologia, o que também é uma oportunidade para o setor financeiro e fundos de investimentos. “Muitos bons projetos explorando estes re-cursos devem aparecer nos próximos anos e precisarão de apoio de grupos financeiros. Este também é um caminho a ser observado”, afirma Minas.

De acordo com o executivo do Brades-co, a ascensão das internet das coisas exigirá que os bancos sejam mais criativos, ousados e inovadores para não perder a competição com instituições não bancárias que vão ex-plorar esses recursos para oferecer serviços ao mercado. “Nosso setor é extremamente regulado e concorremos com empresas de diversos segmentos, de áreas que não pos-suem as mesmas amarras e regulações que nós, o que nos impõe um desafio adicional para criar serviços e produtos adequados às expectativas dos clientes”, afirma Minas.

Mesmo otimistas com o potencial da in-ternet das coisas, é consenso entre especialistas que a popularização de itens conectados à web e o consequente desenvolvimento de aplicações que tirem proveito destes dados ainda devem levar alguns anos. Quem acompanha o ritmo acelerado de inovação na web, no entanto, sabe que a evolução destes recursos pode levar me-nos tempo que o prazo que precisamos para trocar de celular por um modelo mais novo. n

internet das coisas

Page 26: Revista ciab 59 out15

26 revista Ciab FEBRABAN

Page 27: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 27

Page 28: Revista ciab 59 out15

28 revista Ciab FEBRABAN

Banco remotoPor Felipe Datt

home office

Busca por maior satisfação dos funcionários, aumento de produtividade e redução de custos operacionais levam bancos a apostarem home office

Page 29: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 29

Há três anos e meio, a rotina de trabalho de Alyne Shiohama foi transformada. As tarefas e respon-

sabilidades exigidas para a posição de ana-lista de Governança do Citi mantiveram-se inalteradas, mas um plug-in instalado em seu notebook e um token físico que gera senhas de acesso à rede do banco permitiram à paulistana de 30 anos trocar, duas vezes por semana, as idas e vindas entre sua casa no Ipiranga e a sede do banco, na Avenida Paulista, na zona sul de São Paulo, pela pos-sibilidade de trabalhar em casa.

O acesso remoto ao sistema reproduz ele-mentos do ambiente no escritório: há registros automáticos de início e término do expediente - e de eventuais horas extras -, acesso a e-mails e outras ferramentas de comunicação como o Lync, da Microsoft, utilizada para videoconfe-rências com o gestor e membros da equipe. O computador cumpre o papel de ponto de ramal telefônico. “Acesso tudo como se eu estivesse no banco. Optei por dois dias em casa pelas características do meu trabalho. Concentro as reuniões no escritório e, remotamente, faço análises de relatórios e conference calls, diz Ali-ne, há seis anos funcionária do banco. “O bom desempenho remoto está ligado à administra-ção da agenda. Com o modelo, faço melhor uso do meu tempo.”

A analista não está sozinha nessa emprei-tada. Na realidade, ela é apenas um dos 600 colaboradores do banco que, desde 2008, tro-caram até três dias da semana de deslocamento para o escritório pela possibilidade de trabalhar à distância. “As pesquisas com os participantes do programa mostram que, para 38%, a satis-fação com banco aumentou e, para 56%, au-mentou substancialmente. Ninguém disse que a satisfação diminuiu”, diz a superintendente de Recursos Humanos do Citi, Andrea Aikawa.

Aumento de satisfação dos funcionários, redução de custos operacionais (água, energia elétrica e até mesmo aluguel de escritórios), elevação da produtividade, menor tempo gas-to em deslocamentos, um trunfo adicional na atração e retenção de talentos. A lista de benefícios é longa e ajuda a explicar a forte popularização do home office entre empresas brasileiras de diversos segmentos nos últimos anos. Uma tendência que, aos poucos, e a exemplo do Citi, ganha destaque na agenda das diretorias de Recursos Humanos das ins-tituições bancárias.

A abrangência do home office no Brasil é incerta. Dados da Business School São Paulo (BSP) dão conta que 12 milhões de pessoas trabalham remotamente de suas residên-cias. Os números incluem de autônomos a funcionários de empresas que, apoiados no uso da tecnologia, substituíram parcial ou

“A SATISFAÇÃO DOS COLABORADORES AUMENTOU SUBSTANCIALMENTE”Andrea Aikawa, do Citi

home office

Page 30: Revista ciab 59 out15

30 revista Ciab FEBRABAN

totalmente a ida ao escritório pelo trabalho à distância.

“A proliferação de notebooks, smartpho-nes e softwares para conectar quem está den-tro e fora do escritório, aliada à preocupação das empresas com o tempo de deslocamento dos funcionários, são estímulos à prática”, diz Alvaro Mello, docente da BSP. “O número deve ser maior, pois em muitos casos a mo-dalidade é permitida, mas não é formalizada em contrato.”

Pesquisas recentes corroboram que o home office é uma prática relativamente nova no Brasil, em trajetória crescente de uso e pouco formalizada. Levantamento de 2015 da consultoria SAP com 200 empresas mos-trou que 36% já adotavam o modelo - em 38% dos casos, o programa havia sido criado há menos de quatro anos. Do total, apenas 42% possuem uma política formal para o trabalho à distância.

Outro estudo, da consultoria Robert Half, com 1.675 gestores globais de Recursos Humanos, mostra que, enquanto na média mundial 29% das empresas ampliaram o home office nos últimos três anos, no Brasil o percen-tual atingiu 44%. O índice maior se explica porque o modelo de teletrabalho ainda é novo no Brasil, o que resulta em um maior espaço para crescimento.

A formalização da prática é importante, por meio de uma autorização formal ou de um aditivo contratual com direitos e deveres do funcionário, bem como a escolha correta dos departamentos que podem trabalhar remota-mente e o perfil adequado dos funcionários. “É preciso ficar atento às legislações trabalhistas locais, avaliar as responsabilidades daquela po-sição de trabalho e adaptá-lo para que ocorra remotamente. É indicado medir de forma pal-pável o desempenho do profissional, verifican-

do entregas, carga horária e disciplina”, diz Ana Guimarães, gerente de divisão da consultoria Robert Half.

A Lei 12.551/2011 diz que não há dis-tinção entre “o trabalho realizado no esta-belecimento do empregador e o realizado à distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego”. Os bancos brasileiros seguem à risca as regras. No Citi, a flexibilização do trabalho é uma estratégia global, iniciada em 2005. No Bra-sil, o programa saiu do papel em 2008. Os três anos de intervalo foram utilizados para desenhar o projeto, estudar as áreas do banco que teriam potencial de adesão e analisar a legislação brasileira no intuito de mitigar problemas jurídicos ou trabalhistas que a prática poderia acarretar. Hoje, 1.200 fun-cionários, ou 22% do quadro total, aderiram ao programa – além dos 600 colaboradores

home office

“MODELO PERMITE AADOÇÃO E DESENVOLVIMENTODE TECNOLOGIAS”Carlos Netto, do Banco do Brasil

Page 31: Revista ciab 59 out15

O HOME OFFICE NO BRASIL

revista Ciab FEBRABAN 31

home office

Fonte: Pesquisa Home Office (Teletrabalho) 2014, com 200 empresas, da SAP Consultores Associados

Modelo de home office segundo as empresas que adotam a prática

Política informalPolítica formal

Em implantação

49%42%

9%

Tempo de existência do programa

1 a 4 anos5 a 10 anos

Menos de um ano11 a 15 anos

38%38%20%

4%

Quantas empresas adotam a prática

Não64%Sim

36%

Porque adotam? (Empresas que possuem o modelo)

Desejo de promover flexibilidade no ambiente de trabalhoMelhoria de qualidade de vida da equipe

Mitigar problemas de locomoção ao escritório Redução de custos

69%67%45%31%

74%42%37%36%

Resultados colhidos com o teletrabalho

Aumento de satisfação dos colaboradoresGanhos em produtividade

Prática serviu como política de retençãoDiferencial para contratação

83%14%

3%

Empresas que não adotam o home office

Nunca teveEm estudo

Já teve

42%35%28%

Porque não adotam?

Conservadorismo da direção da companhiaTipo de atividade

Aspectos legais

Page 32: Revista ciab 59 out15

1Mapeie as áreas e departamentos do banco que se encaixam com a

prática. O trabalho remoto pode não ser ideal para profissionais que lidam presencialmente com clientes

2Comece com um grupo pequeno de pessoas durante seis meses e

estabeleça – ou reforce - indicadores e métricas para avaliação de desempenho. A partir daí, expanda o modelo para outras áreas da empresa

3Ofereça treinamentos para os colaboradores que voluntariamente

se interessarem pela prática

4Formalize o programa, por meio de aditivo ao contrato estabelecendo

regras, direitos e deveres das partes

5Auxilie o colaborador na montagem de um ambiente de trabalho

reservado, verificando as condições de mobiliário, ergonomia, iluminação e ventilação para que ele possa desenvolver o trabalho como no escritório

6Forneça a tecnologia necessária para o trabalho - telefonia, banda larga,

notebook, softwares ou aplicativos de acesso à rede do banco

7Adote o modelo parcial do home office. A presença do colaborador na empresa,

mesmo que um ou dois dias da semana, é importante para manter contatos com outros funcionários e os gestores

8Prepare e sensibilize os líderes de equipe para avaliar os funcionários remotos por

resultados (qualidade do trabalho, entrega dentro do prazo) e não por esforço (a simples presença diária no escritório)

32 revista Ciab FEBRABAN

home office

Font

e: e

ntre

vist

ados

DICAS PARA ELABORAR UM PROGRAMADE HOME OFFICE EFICIENTE

Page 33: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 33

home office

no sistema home office existe igual número que optou pela jornada flexível.

A adesão ao home office é voluntária. São 13 departamentos homologados, a maioria ligada à área de tecnologia, que permitem a funcionários com ao menos seis meses de banco trabalhar um dia da semana em casa. Com o tempo, o período pode chegar a três dias. Os candidatos passam por um workshop de preparação para a modalidade e por uma autoavaliação para detectar se es-tão preparados para a modalidade. “Existem aspectos que muitas pessoas desconhecem. Abordamos princípios básicos como não trabalhar de pijama, assistindo televisão ou sentado no sofá. Outras questões levam em conta aspectos ergonômicos e de iluminação do local de trabalho à preparação da família”, diz Andrea Aikawa.

Uma vez aprovados, assinam um termo aditivo de contrato, com cláusulas básicas sobre direitos e deveres e o registro do novo endereço remoto. Os salários e benefícios continuam os mesmos e o banco auxilia no pagamento da banda larga. O levantamento da Robert Half aponta que, para 75% dos diretores de RH brasileiros, a maior flexibilidade de horários e a possibilidade de trabalhar remotamente para a empresa se reflete no aumento de produtivi-dade dos trabalhadores.

Programa de trabalho remotoOs ganhos de produtividade foram detectados no programa de home office do Banco do Bra-sil, cujo piloto começou em maio de 2015 com apenas nove funcionários (programadores de software e a equipe de monitoramento de rede). Até o final de setembro, a expectativa é que 100 funcionários de São Paulo e do Distrito Federal ingressem no modelo, que permite o trabalho remoto durante quatro dias da semana. Até

meados de 2016, os funcionários das diretorias de recursos humanos, logística e mercado de capitais deverão ser elegíveis ao programa.

Com regras similares ao programa do Citi – incluindo processo de seleção e aditivo con-tratual, por exemplo -, os resultados já são pal-páveis. Pesquisas internas detectaram aumento na satisfação dos colaboradores e, sobretudo, um ganho médio de 19% na produtividade – notadamente, no tempo gasto para desenvolver códigos de programação de softwares. Desde o início, as regras são claras.

“É preciso que haja ganho de produtivi-dade. Mas o ponto fundamental e pouco co-mentado é que o home office auxilia na adoção e no desenvolvimento de novas tecnologias para a realização do trabalho. Para adotar o mode-lo é fundamental a aplicação de tecnologias para o acesso remoto na estação do trabalho do funcionário. Hoje, um gestor a quilômetros de distância interage com o colaborador em seu monitor, corrigindo um código de progra-mação, comentando e analisando dúvidas via chat”, diz Carlos Alberto Araújo Netto, diretor de Gestão de Pessoas.

Os provedores de tecnologia estão aten-tos ao crescimento da prática. A Oi lançou, em novembro de 2014, o Oi Smart Office, uma solução integrada de TI e Telecom que oferece conexão entre a residência e a empre-sa, comunicação unificada (chat, voz, vídeo), controle de jornada para o colaborador remoto e autenticação por biometria. A expectativa é que, até meados de 2016, o serviço atenda 18 mil usuários corporativos. “Pela ferramenta, o gestor consegue monitorar remotamente o trabalho e nenhuma informação fica gravada no computador do colaborador. O trabalho remoto veio para ficar e já existem bancos testando nossa solução”, diz Roni Wajnberg, diretor de Soluções B2B da Oi. n

Page 34: Revista ciab 59 out15

34 revista Ciab FEBRABAN

entrevista

Bancos podemliderar teletrabalho

Por Adriana Mompean

As empresas modernizaram-se, mas, por razões culturais, ainda estão pre-sas em um antigo modelo de organização

do trabalho, que as impede de aproveitar as van-tagens das novas tecnologias de comunicação à distância. A afirmação é de Domenico de Masi, sociólogo italiano famoso pelo seu conceito de “ócio criativo”, que propõe um novo modelo ba-seado na simultaneidade entre trabalho, estudo e lazer para estimular a criatividade pessoal.

Ferrenho defensor do que intitula como “teletrabalho”, Masi acredita que o futuro per-tence a quem souber libertar-se da ideia tradi-cional do trabalho como obrigação.

Para o sociólogo, considerado um dos mais importantes da contemporaneidade, os parâme-tros de referência da sociedade pós-industrial são constituídos pela tecnologia, pelo predomínio do trabalho intelectual, sobretudo do tipo cria-tivo. Professor de Sociologia das Profissões no Departamento de Ciências Sociais da Universi-dade La Sapienza, em Roma, Masi defende que o trabalho remoto é uma excelente ferramenta que motiva o trabalhador à produtividade, com-bate a burocratização nas empresas, reduz os deslocamentos urbanos, diminui custos para os empregadores e empregados, e, principalmente, resulta em ganhos imediatos para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores.

Segundo o intelectual, a modalidade pode ser adotada em tarefas que melhor se prestem à

Para o renomado sociólogo Domenico deMasi, o setor financeiro é um segmento de trabalho remoto por natureza. Autor italiano, conhecido por seu conceito de ócio criativo, afirma que o teletrabalhogera produtividade ecombate a burocratizaçãonas empresas

Page 35: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 35

entrevista

descentralização, podendo limitar-se a alguns dias da semana ou a algumas semanas do mês. “O segmento financeiro é um setor de tele-trabalho por natureza e o setor bancário pode ser um dos líderes do teletrabalho” afirmou o sociólogo italiano.

Durante passagem recente em Curitiba, onde proferiu a palestra “O Futuro do Traba-lho”, Masi recebeu a revista Ciab FEBRABAN e abordou as vantagens do home office e os de-safios de sua real implantação nas empresas em entrevista concedida a seguir:

Em seu livro, “O Futuro do Trabalho: Fa-diga e ócio na sociedade pós-industrial”, o senhor defende uma reestruturação na organização do trabalho capaz de reduzir drasticamente os deslocamentos das pes-soas, que passariam a prestar serviços a partir da própria casa. O senhor diz que isso é possível e fácil. A quais fatores atribui, então, a esta lentidão das empresas para aderir em massa ao teletrabalho? Domenico De Masi - O teletrabalho se espalhou para as massas. Todos teletrabalham. Nas ruas, praças, restaurantes, aeroportos, todo mundo está falando sobre o trabalho, conectado com o escritório, com os clientes, com os fornecedores através da internet ou do celular. Ou seja, tudo é teletrabalho. O que não se espalhou rapidamente como deveria é o teletrabalho oficialmente reco-nhecido e organizado pelas empresas.

O senhor diz que um fator que certamente pesa na recusa do teletrabalho é inteira-mente cultural e envolve muitos dirigen-tes de empresas ligados à organização geral, ou à gestão dos recursos humanos. Como mudar isso?Domenico de Masi - O atraso é exclusivamen-te cultural. Não há problemas econômicos,

porque com o teletrabalho todos economizam dinheiro. A empresa economiza. O funcionário economiza. A cidade economiza. Não é uma questão de eficiência, porque com o teletraba-lho ela aumenta muitíssimo. Não é um proble-ma ético, porque, ao contrário, a ética é muito melhor quando o trabalhador permanece em casa com a sua família. Não é um problema legal, jurídico, porque existem todas as nor-mas para o trabalho remoto. Ou seja, é só um problema cultural. O problema é das empresas, que não inventaram nenhuma inovação orga-nizativa. Continuam organizando as empresas como fazia Taylor. Não querem inovar. É neces-sário um pouco de coragem. É uma inovação simples, com a qual todos conseguem se tornar mais felizes, sobretudo nas cidades.

Page 36: Revista ciab 59 out15

36 revista Ciab FEBRABAN

Como podemos mudar este cenário? Em curto, médio ou longo prazo?Domenico de Masi - Depende da inteligência da empresa. Se forem inteligentes, é de curto prazo. Se forem de média inteligência, será médio prazo. Se for de pouca inteligência, será de longo prazo. É uma questão de inteligência e de honestidade intelectual. Enquanto nas empresas as partes tec-nológica e estética mudaram muito, a parte de gestão de pessoal permaneceu idêntica. É o único setor onde não houve quase nenhuma transfor-mação. Como o teletrabalho depende deste setor, há uma demora na aceitação.

No livro “O ócio criativo”, o senhor diz que o futuro pertence a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como obrigação. O teletrabalho é um meio para estimular a produtividade e combater a burocratização nas empresas?

Domenico de Masi - Eu defino como ócio criativo o tipo de atividade que une trabalho, lazer e aprendizagem. O teletrabalho é uma forma de aumentar a produtividade e combater a burocracia nos negócios. Mas, acima de tudo, é uma maneira para se viver mais feliz.

O trabalho remoto pode ser uma ferra-menta para estimular a criação de empre-gos? Ou, ao contrário, vai gerar demissões?Domenico de Masi - O teletrabalho não ser-ve nem para criar trabalho nem para acabar com postos de trabalho. Serve para transfor-mar o trabalho. No final cria desocupação porque, se o trabalhador não se move para ir ao trabalho, não usa o carro e não usa gasolina, então se ocupam menos postos. O teletrabalho não é um remédio contra a desocupação, e sim um remédio contra a infelicidade urbana.

entrevista

PARA AS EMPRESAS

n Maior flexibilidade

n Funcionários ficam mais produtivos e mais criativos

n Redução de custos

OS BENEFÍCIOS DO TRABALHO REMOTO

PARA OS TRABALHADORES

n Maior autonomia e independência

n Melhora nas relações familiares

n Melhora na qualidade de vida

Page 37: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 37

entrevista

Font

e: “

O F

utur

o do

Tra

balh

o: F

adig

a e

ócio

na

soci

edad

e pó

s-in

dust

rial”

, de

Dom

enic

o de

Mas

i

Em seu livro, o senhor diz que o teletraba-lho pode ser adotado apenas para algumas tarefas que melhor se prestem à descen-tralização. Quais são os setores mais ade-quados para este sistema?Domenico de Masi - Não é um problema de segmento. Em todos os setores há trabalhos que podem ser teletrabalhados e trabalhos que não podem. Por exemplo, em um hospital não se pode teletrabalhar a cirurgia, mas se pode te-letrabalhar todas as relações com os clientes, as transferências de diagnósticos, e assim por dian-te. Em todos os setores há trabalhos que podem ser muito teletrabalhados, medianamente ou nada teletrabalhados. Cada vez que se introduz o trabalho remoto em uma empresa é necessário fazer a análise de cada posto e encontrar aqueles que podem ser teletrabalhados imediatamente, os que podem ser teletrabalhados após algumas transformações e os que não podem.

Os bancos brasileiros têm experiências com o home office, especialmente com profissionais de tecnologia da informação, com resultados positivos e satisfatórios até o momento. Como o senhor analisa este tipo de iniciativa? O setor financeiro brasileiro pode liderar a difusão do tele-trabalho no país?Domenico de Masi - As organizações finan-ceiras, as bolsas, trabalham todos os seus trâ-mites via internet. Todos. O setor financeiro é um setor de teletrabalho por natureza. Qua-se todos os bancos fazem a maior parte do trabalho com o próprio cliente via internet. Você não vai ao banco, praticamente você mantém contato com a instituição financeira via internet. Então, o setor bancário pode ser um dos líderes de teletrabalho. Porém, em todos os setores existem ocupações que podem ser teletrabalhadas. E em qualquer

PARA A COLETIVIDADE

n Redistribuição geográfica e social do trabalho

n Redução do volume de trânsito

n Estímulo à criação de novos trabalhos

n Diminuição da poluição

n Redução de despesas com manutenção viária

n Eliminação das horas de pico

n Redução do preço das áreas urbanas devido à utilização mais racional dos edifícios

Page 38: Revista ciab 59 out15

38 revista Ciab FEBRABAN

lugar onde se experimente a modalidade, a experiência é sempre positiva.

O senhor afirma que teletrabalho não é anarquia e nem isolamento. O que as em-presas podem fazer para evitar eventuais queixas de isolamento do trabalhador, que poderiam atingir a produtividade?Domenico de Masi - O isolamento do trabalho é um mito. Porque o trabalhador que vai ao escri-tório se isola do bairro em que vive. O funcioná-rio que faz o teletrabalho se isola da empresa em que atua. Nos dois casos há um isolamento. O isolamento do teletrabalho é natural, porque o trabalhador vive no próprio bairro, com a própria família, de um modo mais natural. E o teletraba-lho reduz o isolamento. As empresas que usam o recurso organizam encontros entre os funcioná-rios, fazem reuniões periódicas e convenções. Ou seja, é necessário organizar o trabalho de modo a se compensar o eventual isolamento.

Quais são os benefícios imediatos que o home office traz para trabalhador? E para as empresas?Domenico de Masi - O benefício imediato para o funcionário é a economia de tempo para ir ao local de trabalho. A economia é enorme em uma cidade como São Paulo, onde o deslocamento pode demorar horas. Outras vantagens são a economia de dinhei-ro, a melhoria das relações familiares, uma maior autonomia com o próprio trabalho, maior crescimento intelectual e maior inser-ção na vida social e política da cidade. As empresas economizam espaço, que é custoso nas grandes metrópoles. Também há econo-mia de energia. Para a cidade há a solução do problema de tráfego, menor necessidade de manutenção das vias, maior limpeza. São todos elementos positivos.

Como é possível que o chefe controle à distância os resultados de seu funcionário de uma maneira eficiente em vez de mo-nitorar de perto os processos?Domenico de Masi - O que importa não é o processo, mas sim o resultado, que deve ir de uma organização com base em controle para uma organização com base nos obje-tivos, especialmente quando o trabalho é intelectual. O progresso tecnológico é um fator que impulsiona o trabalho remoto. Como o se-nhor vê o mercado deste segmento em um futuro próximo?Domenico de Masi - É claro que o merca-do é positivo para todas as organizações que vendem informações em rede. Com o tele-trabalho, todas as empresas de telecomuni-cações ganham. E é um absurdo que existam companhias deste segmento que não usem o trabalho remoto. É um paradoxo, porque essas empresas ganhariam muito mais se fi-zessem o teletrabalho. Países em desenvolvimento, como o Bra-sil, têm maior facilidade ou dificuldade em aderir a essa nova forma de organização do trabalho?Domenico de Masi - Tem muito mais faci-lidade. O Brasil é o terceiro país do mundo com percentual de assinaturas de internet. Ainda proporciona uma vida de convívio. Não é como Los Angeles ou Miami. O país tem uma forte vida em convívio e o teletra-balho incrementa a convivência. Quando o teletrabalho começar a ser implementado no Brasil, o processo se difundirá imediatamente, porque os brasileiros gostam do convívio, não possuem relações apenas nas horas de traba-lho, mas também no tempo livre.

entrevista

Page 39: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 39

entrevista

No Brasil, como em outras sociedades, tam-bém temos uma fragmentação da família, com muitas pessoas que optam em viver sozinhas. Neste caso, o teletrabalho não pode agravar a solidão dos profissionais?Domenico de Masi - Os brasileiros são mais sociáveis do que americanos, alemães, japone-ses, italianos. O medo de que o teletrabalho vai gerar solidão é completamente estúpido.

O senhor diz que devemos gerenciar a onda tecnológica para evitar resultados nega-tivos. Como podemos fazer isso de uma maneira positiva?Domenico de Masi - Não há dúvida de que a onda tecnológica tem mais resultados positivos do que negativos. Eu não vejo resultados ne-gativos. A tecnologia permite maiores ligações entre pessoas da mesma família, com os ami-gos, em tempo real e com custo zero. Quando minha filha estudava na América não havia internet. Eu escrevia para ela da Itália e a carta demorava 20 dias para chegar e mais 20 dias para eu receber uma resposta. Nosso diálogo demorava 40 dias. Uma loucura. Hoje é em tempo real, é uma maravilha. E não é só uma

comunicação escrita. Podemos enviar músicas, vídeos, fotografias. É uma comunicação global, real e imediata. Em sua palestra sobre o futuro do trabalho, o senhor afirma que precisamos nos pre-parar para termos tempo livre. Podemos dizer que o teletrabalho proporciona o ócio criativo de maneira imediata?Domenico de Masi - Imediata. Porque o teletrabalho permite a recuperação imediata do tempo, permite imediatamente as relações diretas com os próprios chefes e com os com-panheiros de trabalho via internet. Proporcio-na melhores relações com a família e com os vizinhos. O teletrabalho constitui uma boa alterna-tiva para uma época de crise econômica e Produto Interno Bruto em retração?Domenico de Masi - Sim. Eu acredito que um trabalhador feliz rende mais. Faz as coisas com mais perfeição. Faz um trabalho de me-lhor qualidade. Mas o teletrabalho não nasce por isso. Não nasce pelo PIB. Não nasce pela ocupação. Nasce pela felicidade. n

Page 40: Revista ciab 59 out15

40 revista Ciab FEBRABAN

bancarização e mobile

Na ponta dos dedosPor Maurício Moraes

Cada vez mais populares, os smartphones transformam-se na porta de entrada paraa inclusão financeira demilhões de brasileiros

Page 41: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 41

bancarização e mobile

Nos próximos 15 anos, o acesso aos bancos por meios digitais vai melho-rar a vida de milhões de pessoas de

baixa renda em todo o planeta. A previsão foi feita por ninguém menos do que Bill Gates, fundador da Microsoft, em uma carta divul-gada em seu blog no início do ano.

“A chave para isso são os celulares”, escre-veu o empresário. “Até 2030, 2 bilhões de pes-soas que não têm uma conta bancária hoje vão conseguir poupar dinheiro e fazer pagamentos usando seus telefones.” Esse processo já começou em países como o Brasil, que chegou a registrar em julho 281 milhões de celulares habilitados.

Boa parte dos aparelhos usados no país atualmente são smartphones, capazes de usar aplicativos que permitem colocar muitas das transações bancárias na ponta dos dedos. Em 2014, 104 celulares desse tipo foram vendidos por minuto no país, de acordo com levanta-mento da empresa de consultoria IDC Brasil.

Isso representou, em um ano, 54,5 milhões de dispositivos – uma oportunidade e tanto para ampliar o uso de serviços financeiros por pessoas que nunca tiveram essa experiência. Os bancos brasileiros já começaram a enfrentar esse desafio.

Uma das soluções adotadas pelo Bradesco foi a compra de pacotes de dados das operado-ras de celular, com o objetivo de tornar gratuito o acesso aos serviços do banco nesses aparelhos. Com isso, a pessoa que não está conectada a uma rede wi-fi pode usar o app sem consumir a franquia de dados do seu plano 3G ou 4G. Mesmo que ela não tenha plano de dados, con-segue realizar operações. “Pensamos em uma forma de democratizar o acesso ao Bradesco Celular, em que o cliente não tivesse que ser impactado com troca de chip ou planos e não tivesse que realizar cadastros ou outros proce-dimentos”, afirma Luca Cavalcanti, diretor de Canais Digitais do Bradesco.

“O OBJETIVO COM O ACESSOGRÁTIS É PROPORCIONAR

UM SERVIÇO RELEVANTE PARAO CLIENTE, COM BENEFÍCIOS

QUE IMPACTAM DIRETAMENTEO SEU DIA A DIA”

Luca Cavalcanti, do Bradesco

Page 42: Revista ciab 59 out15

42 revista Ciab FEBRABAN

A iniciativa teve início no ano passado e está disponível para todos os clientes da insti-tuição financeira que usam o app no celular. Os resultados têm sido bastante positivos. De acordo com Cavalcanti, o número de clientes ativos do Bradesco Celular cresceu 79% entre março de 2014, quando o serviço começou, e março deste ano. Um dos objetivos alcança-dos foi levar os clientes ainda não habituados a ter uma experiência de uso mais prática e segura para consultas e transações financei-ras, sem custos. A funcionalidade também serviu para chamar a atenção de quem não era correntista.

Os custos do serviço foram negociados diretamente com cada uma das operadoras de telefonia. “O objetivo com o acesso grátis é proporcionar um serviço relevante para o clien-te, com benefícios que impactam diretamente o seu dia a dia”, diz Cavalcanti.

Mas as iniciativas de bancarização do Bradesco não se resumem aos smartphones. Celulares mais simples – os chamados fea-ture phones, mais limitados nas suas funções – também não foram esquecidos. É possível usar mensagens SMS, os torpedos, para pagar faturas, consultar o saldo, fazer recarga do te-

lefone ou receber alertas importantes sobre o que acontece na conta corrente.

No Itaú, o uso de SMS também tem sido uma das estratégias adotadas. O envio de tor-pedos dá acesso a serviços como consulta de lançamentos na conta corrente e no cartão de crédito e recarga de celular, entre outros. O banco aposta ainda nos apps para smartpho-nes, que permitem desde pagar contas até fa-zer transferências usando apenas o número de telefone do beneficiado. “Disponibilizar um banco digital e simples na palma das mãos das pessoas é um fator importante para o processo de bancarização”, diz Ricardo Guerra, diretor--executivo de Tecnologia do Itaú Unibanco.

Em 2014, 49% de todas as transações dos clientes do Itaú foram realizadas pela internet, enquanto 16% usaram o mobile. A expectativa é que em 2016 este número deva ficar entre 70% e 75%, somando os dois canais digitais. Agilida-de e comodidade são os principais motivos que levam os clientes a escolher esse tipo de atendi-mento. “A massificação da banda larga, a popu-larização dos computadores e, principalmente, dos celulares contribuíram bastante para esta mudança de comportamento dos brasileiros, que estão cada vez mais online”, afirma Guerra.

“O BANCO BUSCA EXPANDIR O PORTFÓLIO DE PRODUTOS E SERVIÇOS DISTRIBUÍDOS NOS CANAIS DIGITAIS COM O INTUITO DE OFERECER MAIOR COMODIDADE AOS CLIENTES” Cleverson Tadeu Santos, da Caixa

bancarização e mobile

Page 43: Revista ciab 59 out15

12345

revista Ciab FEBRABAN 43

COMPRA DE PACOTES DE DADOSOs bancos assumem os custos paraque os clientes usem o aplicativo financeiro mesmo se não tiveremplano de dados 3G ou 4G

CARTÕES VIRTUAISCartões pré-pagos podem ser enviados para pessoas que não têm contas.Elas podem movimentar o dinheiropelo celular ou fazer saques

APPS INTUITIVOSHá um esforço em tornar os apps para smartphones cada vez mais simples de usar, eliminando assim a barreira de acesso aos serviços financeiros

COMUNICAÇÃO DIRIGIDANovos clientes são estimuladosa baixar os aplicativos assimque abrem uma conta correnteno banco

PROMOÇÕESSorteios também estimulama adesão aos serviços digitais, distribuindo números paraconcorrer a cada acesso

bancarização e mobile

Conheça algumasdas iniciativas dosbancos para levar

serviços à população de baixa renda

INCLUSÃODIGITAL

Page 44: Revista ciab 59 out15

44 revista Ciab FEBRABAN

Cartões virtuaisNo Banco do Brasil, a inclusão financeira tem sido trabalhada em duas frentes. A primeira consiste em estimular o uso do aplicativo para smartphones pelo segmento de menor renda. Hoje, a instituição financeira tem 6 milhões de usuários do app, sendo que 25% deles ganham até R$ 1.500. “Estamos trabalhando fortemente em comunicação dirigida para os nossos clien-tes”, explica Raul Moreira, vice-presidente de Negócios de Varejo do Banco do Brasil. Quem abre uma conta e se encaixa nessa faixa de renda, por exemplo, já recebe um convite para ver uma demonstração das funcionalidades do aplicativo.

Além desse estímulo, a instituição tam-bém tenta chegar às pessoas que não possuem conta corrente no banco. Um estudo interno revelou que mais de 1 milhão de clientes do Banco do Brasil sacavam muito dinheiro. O papel-moeda era usado para pagar pessoas que não estavam incluídas no sistema financeiro,

como empregadas domésticas ou jardineiros. “Dentro do nosso próprio app, começamos a desenvolver a plataforma de cartões pré-pagos”, diz Moreira. Batizado como Ourocard-E, o ser-viço permite criar cartões virtuais para tercei-ros, carregados com o valor desejado. Mais de 200 mil clientes usam a ferramenta.

Basta digitar o CPF e o número do celular da pessoa para enviar o dinheiro. Ela é então avisada de que tem o recurso disponível para operações em uma conta pré-paga, chamada conta de pagamentos. O saque pode ser feito normalmente em uma máquina de autoaten-dimento, sem a necessidade de um cartão de plástico, ou pode ser transferido para outro lugar. Se o celular for um smartphone com a tecnologia NFC, dá até para fazer compras en-costando o aparelho em terminais compatíveis.

A ideia é estimular essas pessoas a abrir uma conta corrente no futuro, depois de se acostu-marem com a realização das transações financei-

bancarização e mobile

“NO PROCESSO DE ABERTURA DE CONTA DO BANCO, INCENTIVAMOS O CLIENTE A BAIXAR O APLICATIVO PARA MOBILE NO INÍCIO DO RELACIONAMENTO”Massimo Campodonico, do Santander

Page 45: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 45

ras. “A conta corrente, para alguns segmentos de menor renda, talvez seja um produto sofisticado demais, complexo demais. Acreditamos que a conta de pagamentos seja o instrumento ideal. Vai ser a porta de entrada para o processo de in-clusão financeira no país”, afirma Moreira. Com isso, o Banco do Brasil também espera reduzir as despesas operacionais com saques em papel--moeda. A previsão é que as iniciativas digitais resultem em uma economia de R$ 250 milhões no ano que vem apenas com a rede de ATMs.

Uso mais intuitivoCampanhas de estímulo ao uso do aplicativo têm sido a estratégia adotada pelo Santander para promover a bancarização da população de baixa renda. Isso vem aliado a uma preocupa-ção de tornar o app mais intuitivo. “No proces-so de abertura de conta do banco, incentivamos o cliente a baixar o aplicativo para mobile no início do relacionamento”, diz Massimo Cam-podonico, superintendente-executivo de Ca-nais do Santander. A opção pelo mobile em vez do internet banking tradicional vem de uma constatação. “Percebemos que, nas residências desse público de baixa renda, não existe acesso a computadores, mas a smartphones.”

Outra iniciativa são promoções regulares, como sorteios de viagens internacionais, para es-timular a adesão aos canais digitais do Santander. A cada utilização, o cliente recebe um número para concorrer. Entre julho de 2014 e julho deste ano, a quantidade de usuários mobile da institui-ção aumentou 60%. Além disso, a quantidade de operações nestas plataformas subiu 350%. “O importante é que o número de transações aumentou muito mais do que o de usuários”, afirma Campodonico. “O cliente de baixa renda tem uma barreira para ir a uma agência, receio de falar com o gerente. No mobile, ele não precisa conversar com ninguém”, afirma.

O mobile será fundamental nos próximos anos também para a Caixa Econômica Federal. Segundo Cleverson Tadeu Santos, superinten-dente nacional de Operações do Varejo da Cai-xa, as transações realizadas por celular cresceram 105,2% no primeiro semestre de 2015, se com-paradas ao mesmo período de 2014. Hoje o app da Caixa tem mais de 150 funcionalidades, oito vezes mais do que em 2012, quando foi lançado. “O banco busca expandir o portfólio de pro-dutos e serviços distribuídos nos canais digitais com o intuito de oferecer maior comodidade aos clientes”, diz Santos. n

“ESTAMOS TRABALHANDO FORTEMENTE EM

COMUNICAÇÃO DIRIGIDAPARA OS NOSSOS CLIENTES”

Raul Moreira, do Banco do Brasil

bancarização e mobile

Page 46: Revista ciab 59 out15

46 revista Ciab FEBRABAN

mudança tecnológica

Protocolo para a inovaçãoPor Moacir Drska

De olho na explosão digital, bancos investemna migração para o padrão IPv6

Os números impressionam: a fabri-cante de equipamentos de rede Cis-co prevê que o mundo terá 50 bilhões

de dispositivos conectados à internet em 2020; dos carros às casas inteligentes, dos compu-tadores vestíveis aos mais variados objetos, a chamada internet das coisas abre caminho para

uma série de inovações e deve movimentar US$ 352 bilhões no Brasil. No entanto, a jornada para chegar a essa nova era passa, literalmente, por muitos endereços.

Ou mais precisamente, por um estoque renovado de endereços IP, como são conhe-cidas as combinações numéricas únicas que identificam e conectam cada equipamento à internet, e que permitem a comunicação entre essas máquinas na web. Na prática, esse proces-so envolve a migração do atual padrão, o IPv4, para o IPv6. Enquanto o primeiro protocolo suporta 4,3 bilhões de sequências possíveis e já está praticamente esgotado, a nova versão permite 340 decilhões de combinações.

Sob esse cenário de explosão digital – a Cisco estima que o setor financeiro terá uma receita de US$ 58 bilhões em cinco anos com a internet das coisas no país -, os principais ban-cos no Brasil já têm projetos de migração para o novo protocolo. “Os bancos são empresas digitais. O grande risco na demora em migrar está na continuidade dos negócios”, diz Lucas Pinz, gerente-sênior de tecnologia da consultoria PromonLogicallis. “Você pode ter um colapso na rede e prejudicar a experiência do cliente, o que, no fim do dia, significa perder dinheiro.”

Imagine, por exemplo, um cliente que acessa um aplicativo de um banco com um ce-lular já compatível com o IPv6. Caso aquela

“VAMOS MULTIPLICAR EXPONENCIALMENTE NOSSA CAPACIDADE E TEREMOS O CONFORTO DE PODER EXPLORAR NOVOS CANAIS E SERVIÇOS COM A INTERNET DAS COISAS”Annibal Conforto, do Banco do Brasil

Page 47: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 47

mudança tecnológica

determinada aplicação não suporte o novo pro-tocolo, a conexão será feita via IPv4, mas por meio de um endereço compartilhado por ou-tros usuários, com um tempo de processamento mais longo e possíveis problemas de navegação.

Segundo Pinz, o roteiro mais adequado é dividir a migração em fases. O passo inicial é o levantamento de todo o parque da instituição para identificar quais ativos são compatíveis com o IPv6. O processo inclui desde com-putadores, sistemas operacionais e ATMs até os provedores de links de conexão à internet.

A próxima etapa é decidir como será reali-zada a migração. Em seguida, é preciso definir o orçamento e planejar as janelas do projeto, bem como o treinamento das equipes. A quar-ta fase é a implementação em si. “O modelo mais apropriado é o dual stack, no qual o IPv4 e o IPv6 funcionam paralelamente”, explica Pinz. Com a técnica, os equipamentos de rede suportam os dois padrões, elevando a capacida-de de estabelecer conexões nos dois protocolos.

“EM MARÇO, JÁ TEREMOS TODA A OPERAÇÃO COM A COEXISTÊNCIA DOS DOIS PROTOCOLOS”Waldemar Ruggiero Junior, do Bradesco

Page 48: Revista ciab 59 out15

48 revista Ciab FEBRABAN

mudança tecnológica

Quatro pilaresCom 6% de clientes que já acessam seus sites via IPv6, o Bradesco está seguindo justamente essa cartilha. Como parte de um projeto para aprimorar a disponibilidade de suas aplicações, o banco dividiu seus negócios na internet em quatro pilares: pessoa jurídica, pessoa física, funcionários e Bradesco Seguros.

Cada uma dessas áreas possui redes inde-pendentes. Inicialmente, o Bradesco reconfi-gurou ou substituiu mais de 160 equipamen-tos de rede. Na divisão de pessoa física, esse processo já está concluído. O banco espera finalizar essa etapa nas demais áreas em outu-bro. A próxima fase envolverá as adaptações das aplicações ao IPv6. “Em março, já teremos toda a operação com a coexistência dos dois protocolos”, diz Waldemar Ruggiero Junior, diretor de processamento e comunicação de dados do Bradesco.

Considerando apenas questões como o treinamento e a capacitação, o Bradesco já in-vestiu R$ 10 milhões no projeto, que tem 110 profissionais envolvidos. Ruggiero Junior cha-ma a atenção para o recorde de 15 milhões de acessos via smartphones aos sites do Bradesco, na primeira sexta-feira de setembro. “Hoje, o computador está na mão do usuário. Amanhã, vai estar no pulso, na roupa, no carro, na gela-deira”, afirma. “Essa é a virada do IPv6. Ele vai permitir que os bancos continuem inovando nessas próximas jornadas do cliente.”

Novos canais e serviçosEssa é também a motivação do Banco do Brasil. “Vamos multiplicar exponencialmente nossa capacidade e teremos a comodidade de poder explorar novos canais e serviços com a internet das coisas”, diz Annibal Conforto, gerente-exe-cutivo da diretoria de tecnologia da instituição.

ENTENDA

Criado em 1983,o IPv4 permite 4,3 bilhões

de combinações para os IPs.O estoque de endereços nessa

versão está praticamenteesgotado globalmente.

A única região com endereços disponíveis para distribuição

é o continenteafricano

Na América Latina,segundo o Lacnic,

entidade que controlao registro e a distribuição

de IPs na região, osendereços IPv4 estão

esgotados desdemaio

O padrão IPv6começou a ser desenhado

na década de 90 para substituir o IPv4. O novo protocolo permite cercade 79 trilhões de vezes o número de endereços oferecido pela versão

anterior

O Protocolo de Internet(IP, na sigla em inglês) permite

a comunicação entre equipamentosna internet. Cada dispositivo – um

PC, um smartphone, etc – ou domíniona web – www.febraban.org.br,

por exemplo -, possui uma sequência numérica única, que direciona

o tráfego online e funcionacomo uma espécie de

identidade na rede

Page 49: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 49

mudança tecnológica

A preparação do Banco do Brasil come-çou há cinco anos. Dentro de um processo de modernização tecnológica – não ligada apenas ao IPv6 –, a instituição já tem hoje toda in-fraestrutura de rede compatível com o novo padrão. A próxima etapa inclui a adaptação das aplicações transacionais e a previsão é de que o banco esteja 100% pronto para atender ao protocolo no segundo trimestre de 2016.

Segundo Conforto, o Banco do Brasil re-cebeu uma faixa de endereços IPv6 com capa-cidade de dar apoio a 4,2 bilhões de subredes. Em cada uma delas, será possível conectar 264 equipamentos (18,4 sextilhões). A estratégia do banco na migração inclui técnicas como o compartilhamento de endereços em IPv4. Hoje, a instituição recebe, diariamente, mil acessos em IPv6 em seus sites, em média. O diretor acrescenta que o grande desafio interno é reprojetar a rede do banco. “Temos todo um

aprendizado para entender esse endereçamen-to. É uma nova cultura”, diz.

Etapa de avaliaçãoO Santander também dividiu a migração em duas frentes. O banco já concluiu a adequação de componentes como roteadores, switches e firewalls ao IPv6, e está testando as funciona-lidades e a convivência dos dois protocolos. “Estamos agora em uma etapa de avaliação dos impactos e necessidades de alterações nas apli-cações”, diz Carlos Alberto dos Anjos, superin-tendente-executivo de tecnologia do Santander.

A Caixa Econômica Federal informou que adquiriu um bloco de endereços IPv6 em 2012 e, desde então, iniciou os testes com o novo protocolo. O banco acrescentou que o projeto de migração já está pronto para im-plementação, com previsão para ser finalizado até abril de 2016. n

Fonte: Nic.br, Lacnic, Cisco,IPv6.org, IPv6.br

A estimativa é queos dois protocolos

coexistam por cercade 20 anos

A migraçãopara o IPv6 passa pela

adaptação de diversos elos:fabricantes de equipamentos, desenvolvedores de sistemas,

operadoras de telecomunicações, provedores de internet ede conteúdo, empresas e

usuários em geral

Grandes provedoresno mundo e no Brasil,

como Facebook, Google,UOL e Terra, já estão adaptados à oferta de

conteúdo em IPv6

Desde o início dejulho, as operadoras

brasileiras já estão preparadas para oferecer endereços

no novo protocolo, em linha com uma determinação

da Agência Nacionalde Telecomunicações

(Anatel)

Segundo dados do6lab, da Cisco, o índice

de adoção do IPv6 entreos usuários brasileirosé de 4,52%. A média

mundial é de6,82%

Page 50: Revista ciab 59 out15

50 revista Ciab FEBRABAN

cyber security

Page 51: Revista ciab 59 out15

revista Ciab FEBRABAN 51

Page 52: Revista ciab 59 out15

52 revista Ciab FEBRABAN