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RESILIÊNCIA URBANA O engenheiro Luiz Priori Jr. aborda resiliência urbana frente ao risco de desastres naturais na capital do Peru BOAS PRÁTICAS Através da construção de moradias de emergência, a organização TETO atua em comunidades do Brasil ano IV | nº 25 | fevereiro 2015 ENTREVISTA Gisela Santana fala sobre Marketing da Sustentabilidade habitacional e sua presença no setor imobiliário MUITO ALÉM DO JARDIM O projeto de paisagismo planejado com um olhar sustentável ultrapassa o valor estético e ganha importância energética e econômica

Revista Construir Vida Sustentável

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Fevereiro de 2015 www.beneditoabbud.com.br

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Page 1: Revista Construir Vida Sustentável

RESILIÊNCIA URBANAO engenheiro Luiz Priori Jr. aborda resiliência urbana frente ao risco de desastres naturais na capital do Peru

BOAS PRÁTICASAtravés da construção de moradias de emergência, a organização TETO atua em comunidades do Brasil

ano IV | nº 25 | fevereiro 2015

ENTREvISTAGisela Santana fala sobre Marketing da Sustentabilidade

habitacional e sua presença no setor imobiliário

MUITO ALÉM DO JARDIMO projeto de paisagismo planejado com um

olhar sustentável ultrapassa o valor estético e ganha importância energética e econômica

Page 2: Revista Construir Vida Sustentável
Page 3: Revista Construir Vida Sustentável

05 ENTREvISTA | Gisela Santana 09 EU DIGO | Renato Leal

11 CONSUMO CONSCIENTE 12 SOCIAL

13 BOAS PRÁTICAS

14 CAPA | Do quintal para a rua

21 Cidade de Lima: resiliência urbana frente ao risco de desastres naturais

O Movimento Vida Sustentável (MvS) vem colocando o tema Sustentabilidade na Construção Civil na ordem do dia, entre em-presários, profissionais, professores, estudantes e sociedade. Busca contribuir com a modernização do setor, divulgando os princípios da construção sustentável, com foco nas pesquisas; na divulgação de produtos e iniciativas eficientes; na multipli-cação de conhecimento com a promoção de debates e capaci-tação, com ênfase na geração de energia, no reúso da água, nas drenagens e na gestão dos resíduos.

MOVIMENTO VIDA SUSTENTÁVEL 2015

ABRILSSA 2 (SETORES DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL)Ø Lei 18 111/2015 - define Limites e mecanismos de compensação para os ssa - outorga onerosa

MAIOREGULAMENTAçãO DA LEI DO TELhADO vERDE

JUNHOLEGISLAçãO AMBIENTALØ AMPLIAçãO DO ALCANCE DOS PRAvS (PROjETO DE AMPLIAçãO DE ÁREA vERDE)

JULHOcertificação de construções

AGOSTOÁGUA E SANEAMENTO

SETEMBROENERGIA ALTERNATIvAS

14

11

21

13

sumário

OUTUBROIMPACTO NO CANTEIRO DE OBRAS

NOVEMBRORESíDUOS

DEZEMBRO MOBILIDADE

Page 4: Revista Construir Vida Sustentável
Page 5: Revista Construir Vida Sustentável

por Pablo Braz

GRADUADA EM ARQUITETURA E URBANISMO E MESTRE EM DESENvOLvIMENTO URBANO E regionaL peLa uniVersidade federaL de pernamBuco (ufpe), giseLa santana tem SE DEDICADO DESDE A DÉCADA DE 1990 Às reLações entre pessoas, paisagem e ESPAçO NATURAL E CONSTRUíDO, ATRAvÉS DO ENSINO E DA PESQUISA DO URBANISMO E SUA interação amBientaL, sociaL e ecoLÓgica. A PERNAMBUCANA jÁ DESENvOLvEU TRABALhOS NA ÁREA DE ECOLOGIA URBANA em instituições como cÂmara municipaL do recife e secretaria do estado do AMBIENTE DO RIO DE jANEIRO, E hOjE É COLABORADORA DO INSTITUTO DE PESQUISAS em infraestrutura Verde e ecoLogia urBana (inVerde) e compõe o comitÊ LocaL da societY for urBan ecoLogY (sure) – BrasiL. em 2013, a arQuiteta Lançou O LIvRO MARKETING DA SUSTENTABILIDADE HABITACIONAL – LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS E ECOLOGIA URBANA EM BUSCA DO EQUILÍBRIO, ONDE ELA DESCORTINA AS ESTRATÉGIAS DE vENDA DE IMÓvEIS, ABORDANDO O discurso da sustentaBiLidade. em CONvERSA COM A CONSTRUIR NORDESTE, giseLa faLou soBre Que É marKeting sustentÁVeL, as estratÉgias e desafios DO SETOR IMOBILIÁRIO NO SEGMENTO DA SUSTENTABILIDADE E A CRISE híDRICA QUE afeta são pauLo.

Gisele Santana

MARKETINGVERDE

Page 6: Revista Construir Vida Sustentável

O que a vem ser de fato o Marketing da

Sustentabilidade Habitacional e como ele

pode ser observado e vivenciado no dia a dia?

No título do meu livro, “Marketing da “Sus-

tentabilidade” Habitacional: Lançamentos

Imobiliários e Ecologia Urbana em Busca

do Equilíbrio” (2013), a sustentabilidade

vem entre aspas para sinalizar que ape-

sar do discurso ecológico presente nas

propagandas de alguns empreendimen-

tos, ainda é necessário avançar muito na

visão sistêmica da produção imobiliária

e dos seus impactos em diferentes níveis

da escala urbana e regional. No livro, o

foco principal é o setor habitacional no

que se refere ao mix de ferramentas e tá-

ticas utilizadas para promover e vender

as unidades habitacionais seduzindo os

consumidores por meio do que denomi-

nei de Marketing Habitacional. Entretan-

to, outros setores do mercado imobiliário

também são observados de modo a am-

pliar a noção de que é urgente buscarmos

um equilíbrio entre as perdas ambientais

promovidas pela expansão do setor e a

necessidade da nossa sobrevivência nas

cidades. O Marketing, no que se refere às

propagandas e as estratégias de adapta-

ção desempenham um papel muito im-

portante, já que têm o poder de aguçar a

percepção dos consumidores para novos

fatos. Um caminho para isso seria ampliar

a noção de sustentabilidade ambiental

das nossas habitações e da forma como

estas são inseridas nas cidades, de modo

a reduzirmos os impactos que as cidades

produzem sobre o clima do nosso plane-

ta, ou seja, a nossa “Casa Planetária”.

De que maneira o mercado imobiliário

seduz os seus clientes?

Ao longo do período estudado, observei que

as formas de abordagem iam se adaptando

tanto ao contexto local, quanto ao contexto

cultural, ambiental, político e econômico da

cidade e do país. Aliás, a adaptação é um dos

pilares do Marketing. No livro, há relato que

foram identificados 21 tipos de discursos pre-

sentes direta e indiretamente não só em pro-

pagandas e meios publicitários. O nome do

empreendimento ou o tipo de serviço e am-

bientes existentes nas áreas comuns já eram

É fácil para o consumidor reconhecer

se um produto imobiliário é realmente

sustentável ou se ele é disfarçado?

Para o consumidor desavisado, nem sempre

é fácil perceber, principalmente se o consu-

midor estiver olhando só aquele momento

do mis-em-scène. A produção ecológica e

verdadeiramente sustentável tem que pensar

o produto do “berço ao berço”, ou seja, obser-

var toda a sua cadeia produtiva, do início até

o final, em todo o seu ciclo de vida. Verificar a

origem e a produção dos materiais utilizados,

o destino dos resíduos que foram e serão ge-

rados, a fonte energética, etc. Esse processo é

pouco realizado tanto pelas empresas, quan-

to pelos consumidores. Mesmo para aqueles

que desejam acompanhar o processo produ-

tivo e sua real responsabilidade e compromis-

so com o meio ambiente não é algo simples,

mas é necessário para que o cliente não caia

nas ciladas de um marketing enganoso.

A aplicabilidade dos conceitos sustentáveis

no setor imobiliário pode ser vista hoje em

grande escala de forma palpável e real?

Em grande escala não. Algumas construto-

ras adotam alguns itens que as diferencia

das demais, como coleta seletiva de óleo

e resíduos, coleta e reuso de água da chu-

va, pisos permeáveis, uso de energia solar,

descargas com acionamento diferenciado

para mais ou menos água, uso de torneiras

e chuveiros que economizam água com

arejadores e sensores de presença, assim

como no caso das luzes de halls e escadas. A

partir da existência dos selos e certificações

como Procel Edifica, Green Building/LEED,

Aqua, Casa Azul, Breeam, DGNB (Deutsche

Gesellschaft fur Nachhaltiges Bauen), Quali-

verde e outros, houve uma maior adesão do

setor para implantarem itens de sustentabi-

lidade ambiental em seus empreendimen-

tos. Porém, a adesão ainda é muito pequena

proporcionalmente ao volume de novas

construções e às construções existentes.

Por outro lado, algumas cidades aprovaram

legislações que obrigam as novas edifica-

ções a contemplarem esses itens como, por

exemplo, o hidrômetro individual, a coleta

de água da chuva com bacias de retenção,

ou a preservação de um percentual de árvo-

res existentes no terreno ou ainda a

elementos de sedução, sem contar com os

incentivos da ampliação dos prazos de finan-

ciamentos que foram sendo alargados e que

se somava às imagens dos folders e ao mise-

-en-scène presentes nos estandes de vendas

que, além do luxo e da distinção social, sem-

pre apresentam o produto como imperdível,

feito para uma pessoa especial como você e,

que sua decisão precisa ser rápida, urgente,

para que o outro não compre antes de você.

Esse discurso instiga o provável comprador

a se apressar em sua decisão. Hoje é possível

verificar que muitos dos compradores não

podiam arcar com aquela despesa, mas que

foram seduzidos a tomar a decisão pelo dese-

jo e pelo sonho da casa própria. Poderia aqui

citar vários casos: um empreendimento ofe-

recia um carro aos primeiros 50 comprado-

res de um apartamento, outro, oferecia uma

TV de Plasma de 42 ,̈ uma viagem à Paris ou

sobrevoo de balão, e assim os “mimos” iam se

espalhando e aguçando o desejo de consu-

mo. Essas técnicas e táticas permeiam os di-

versos recursos disponíveis. Por exemplo: no

discurso ecológico presente nas propagan-

das de um edifício cujo próprio nome falava

de vida ecológica, apresentava elementos

ecológicos no estande como coleta seletiva

e os ambientes que compunham o mix do

empreendimento incluíam horta, coleta de

óleo segregada, churrasqueira elétrica e reu-

so da água da chuva. Já outro, que utilizava o

discurso da família, mostrava uma família feliz,

o estande tinha espaço para as crianças brin-

carem com animador, enquanto os pais eram

atendidos pelos corretores que mostravam

os vários espaços Kids. E assim, cada nicho de

mercado vai sendo abraçado e seduzido com

um arsenal de ferramentas e táticas que saem

do papel, do rádio e da televisão, passam

pelo estande de vendas e pelo discurso dos

corretores e se expressam no programa e

itens de projeto do novo empreendimento

que está prestes a surgir e satisfazer o sonho

de consumo. Os corretores desenvolvem

um procedimento sequencial para ir con-

quistando o cliente antes de apresentar a

parte “dolorosa” do pagamento. O desejo do

“Ter” algo novo e cheio de atrativos é agu-

çado, extrapolando as necessidades básicas

do cidadão e, por vezes, a própria capacida-

de financeira da família que, em alguns ca-

sos pode até perder o apartamento, já que

ele é a garantia para o financiamento.

FEVEREIRO 201506

entrevista

Page 7: Revista Construir Vida Sustentável

existência de tetos-jardins. Além disso, há

cidades como o Rio de Janeiro que oferece

incentivos fiscais crescentes em função da

quantidade de itens contemplados pelo

projeto de construções sustentáveis.

O que podemos fazer então no nosso

dia a dia, com recursos simples, medi-

das práticas e a curto prazo, para viver

de forma sustentável dentro e fora de

nossas casas?

A coisa mais importante é mudar a nossa

maneira de lidar com a natureza e com os

recursos que ela nos oferece para garantir a

nossa própria vida. A partir do momento que

entendermos que nós somos constituídos

pelos elementos da natureza, passaremos a

modificar nossos hábitos e comportamentos

diante desses recursos preciosos. Claro que

gestos simples como: reduzir o tempo de

banho, fechar a torneira enquanto escova os

dentes, se ensaboa, ou lava os pratos, desligar

as luzes e equipamentos da tomada enquan-

to não estiver usando, trocar as lâmpadas

por outras mais eficientes, tomar banho frio,

ajudam. Só que tudo passa pela consciên-

cia ecológica do cidadão e isso é um ato de

vontade! Esse para mim é o mais importante,

tanto para o usuário, quanto para o produtor.

Se houver o entendimento de que fazemos

parte de uma teia planetária onde tudo está

interligado e que a sobrevivência humana

depende do gesto e da atitude de cada um,

isso tornará nossas vidas mais sustentáveis.

Afinal, ser sustentável passa pela noção de

se sustentar, de sobreviver e para que o ser

humano sobreviva precisamos de todo os

recursos da Natureza em seu melhor estado.

Como você avalia a atual crise hídrica

em São Paulo relacionando-a meios

sustentáveis de se viver? O que pode

ser destacado disso?

A crise hídrica de São Paulo é a parte da crise

que tem despertado maior interesse da mídia.

Entretanto, a crise hídrica é bem mais abrangen-

te. Lembro-me que há décadas, vários especia-

listas alertavam para isso, mas as autoridades e

a população não percebiam o que estava por

vir. Como disse anteriormente, tudo está ligado.

Para se ter uma ideia, o Estado do Rio de Janeiro

depende da água do Estado de São Paulo, tanto

para geração elétrica como para abastecimento

da população. O rio Paraíba tem suas águas ele-

vadas e depois bombeadas e tratadas na Região

Metropolitana do Rio de Janeiro, para daí ser dis-

tribuída. Hoje, o Rio de Janeiro vive praticamente

o mesmo drama de São Paulo. Observe que são

as duas maiores metrópoles do País e os maiores

distritos industriais e isso implica em um impac-

to em todos os setores, inclusive o de alimentos.

Veja como as coisas se conectam. Quando um

agricultor resolve cortar as árvores da margem

do rio, quando se desmata para dar origem a um

novo bairro, quando se muda os cursos dos rios,

tudo isso interfere não só na qualidade da água,

como no seu volume e na formação das nuvens.

Sabemos da importância da floresta Amazônica

para a produção de chuvas no Sudeste e cente-

nas de quilômetros os separam, mas são inter-

dependentes. A visão sistêmica é fundamental

para entender o fenômeno das mudanças cli-

máticas que estão alterando os regimes de chu-

vas, secas e porque não dizer as estações do ano!

As ações humanas podem agravar ou minimizar

os impactos das mudanças climáticas, depende

de como vamos agir.

Se cada um de nós pudesse revegetar as cida-

des, pois as árvores são grandes acumuladoras

de água, criar sistemas de retenção e reapro-

veitamento das águas das chuvas e das águas

cinzas de nossas casas, já estaremos dando uma

grande contribuição para mitigar os impactos

da crise hídrica. Novas iniciativas técnicas e indi-

viduais estão surgindo como forma de preser-

var esse bem tão valioso, mas é preciso mudar

urgentemente antigos hábitos. Por exemplo,

quando uma edificação tem o subsolo e o len-

çol freático que precisa ser “rebaixado”, milhares

de litros d’água são extraídos e jogados nas ga-

lerias pluviais. Ao construir um túnel, os ciclos e

percursos hidrológicos subterrâneos são altera-

dos. Será que temos noção do real impacto dis-

so? Será que isso é estudado? Precisamos rever a

forma como lidamos com nossas águas.

Qual o grande desafio hoje para tornar

a sustentabilidade amplamente viável e

concreta no mercado da construção ci-

vil, arquitetura e infraestrutura urbana?

Creio que o maior desafio seja modificar a

mentalidade e o comportamento das pes-

soas e dos tomadores de decisão. Ajudaria

bastante desonerar a cadeia produtiva de

materiais sustentáveis e incentivos fiscais

de modo a tornar os materiais sustentá-

veis mais acessíveis a todos. Outras me-

didas contribuiriam também como: criar

mecanismos fiscais para que as compras

públicas e construções se tornem cada

vez mais sustentáveis; requalificar os rios

e lagoas, modificando a forma como des-

cartamos nossos resíduos sólidos e líqui-

dos; sanear por meio de biorremediação;

modificar os paradigmas de deslocamen-

tos e fluxos das cidades, utilizando mais os

transportes ativos como bicicleta, redu-

zindo os deslocamentos e fazendo mais

percursos a pé. Enfim, tornar nossas cida-

des mais humanas e habitáveis. Para isso,

usar a criatividade é fundamental!

É importante trazermos um olhar sistêmi-

co para as ações pontuais, lembrando que

a sustentabilidade vai além do tripé: eco-

nômico, ambiental e social. A nova noção

de sustentabilidade inclui os aspectos cul-

turais e da governança. Portanto, ver além

do terreno onde o empreendimento será

construído para pensar no sistema sócio-

-ambiental-cultural-econômico como um

todo e nos seus reais impactos não só na

infraestrutura e no trânsito, como tam-

bém no modo de vida e na saúde física e

mental das pessoas, no aumento da im-

permeabilização do solo, na alteração dos

lençóis freáticos, na carga térmica, na bar-

reira dos ventos, mudanças dos microcli-

mas. O que vem em primeiro lugar são as

pessoas, não apenas aquelas que moram

nas edificações, mas as pessoas que vivem

nas cidades. Nesta direção, seria susten-

tável um empreendimento que pensasse

sistemicamente, ou seja, em todos os níveis

e sistemas que se relacionem aos citadinos

e as suas condições de vida. A maioria das

certificações prioriza a eficiência energética

e hídrica, mas nem sempre a qualidade de

vida das pessoas, em seus diversos aspectos,

direta e indiretamente relacionados é consi-

derada; por exemplo, a questão paisagística,

microclimática, circulação de ar e insolação

na edificação e urbana. Os edifícios estão

inseridos em um contexto mais amplo que

precisa ser contemplado.

*A entrevista completa está disponível

no portal da revista Construir Nordeste.

FEVEREIRO 2015 07

Page 8: Revista Construir Vida Sustentável

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Page 9: Revista Construir Vida Sustentável

FEVEREIRO 2015 09

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* Renato Leal estrutura negócios, atuando no Brasil e em Portugal

Renato Leal *

Já vai longe a Edição 56, na qual, pela primei-

ra vez, tive o prazer e a honra de escrever esta

minha coluna, na época chamada Visto de Fora,

pois residia em Portugal. E nunca esquecemos da

primeira vez. Destinos à parte, chego à Edição 76,

quando estou de volta ao mesmo Portugal que

me acolheu tão bem no passado, e às voltas com

a redação desta minha coluna que não é mais do

Caderno, mas sim da Revista Vida Sustentável. Um

prazer enorme participar dessa evolução.

Esses anos todos não foram só de escritos. Foi

um período intenso de trabalho na área de sus-

tentabilidade como responsável do mercado bra-

sileiro da Ecochoice e como um dos coordenado-

res do Movimento Vida Sustentável, que nasceu,

engatinhou, se levantou e cresceu durante todo

esse período.

Que liçõeS tirAr DeSSe teMPO?

1. Os empresários e quadros técnicos das empre-

sas brasileiras não estão preparados e sensibiliza-

dos para pensar que sustentabilidade não é moda

nem um apelo festivo de um minoria ingênua.

2. O legislativo ainda não compreendeu que ne-

cessita repensar o seu arcabouço legal e tomar uma

atitude propositiva, rápida e pensando num perío-

do mais alargado de pelo menos 20 ou 30 anos.

3. O governo não age de forma pensada e estra-

tégica (vide a crise da água e enérgética que nos

assola atualmente) e que vai gerar uma série de

espasmos e tão somente isso, desligados de uma

estratégia maior de escassez e crise ambiental.

4. O nosso sistema de ensino, público e privado,

não exerce o papel modernanizador do pensa-

mento das pessoas, fazendo com que os tempos

de escola sejam apenas para aprender a escrever

mal e fazer contas com dificuldade e passar algu-

mas informações, normalmente equivocadas ou

contamindas de política e ideologia.

5. Por fim, a sociedade brasileira ainda não

acordou nem percebeu a dimensão da crise de

esgotamento geral que virá e o seu papel para

evitá-la. Anda na contramão da História, privile-

giando o consumo irresponsável como motor

da economia e grande aspiração da sociedade.

Por isso, nos próximos tempos, vamos focar na

nossa coluna bimestral, naquilo que entendemos

que deverá ser o suporte prioritário para este perío-

do de transição entre um passado despreocupado

com as questões de sustentabilidade e eficiência

energética – época de abundância que está che-

gando ao fim – para um futuro mais responsável.

Assim, abandono por uns tempos as ques-

tões ligadas a produtos, métodos construtivos e

equipamentos – que serão tratados circunstan-

cialmente –, passando a abordar os aspectos da

cultura empresarial e a evolução da sociedade de

uma formal global.

Em meus escritos e minhas palestras, sem-

pre mencionei que a inovação e mudança eram

função de 4 vetores: tecnologia; legislação; evo-

lução sócio-educacional e cultural – cidadania

no conceito mais amplo –; e, por fim, escassez.

Daqui para frente, será nos dois últimos que vou

me concentrar, pois sem esses vetores em curso,

os dois primeiros serão uma quimera ou anda-

rão a reboque do tempo.

A SOcIEDADE BRASILEIRA AINDA

NãO AcORDOU NEM PERcEBEU A

DIMENSãO DA cRISE DE ESGOTAMENTO GERAL

qUE VIRÁ E O SEU PAPEL

para evitá-la...PRIVILEGIANDO

O cONSUMO IRRESPONSÁVEL.

eu DiGo

UMA NoVA pRoposTA

Page 10: Revista Construir Vida Sustentável

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Page 11: Revista Construir Vida Sustentável

FEVEREIRO 2015 11

01 ECoLoGIA CoM ELEGÂNCIA para cultivar flores e plantas sem gastar muito, uma bela opção é o porcellanato ecológico da série Walk garden, da incepa. com 20 mm de espessura, o produto tem aplicação versátil e pode ser assentado direto na grama ou no cascalho sem a necessidade de usar argamassa. produzido com tecnologia aBs, é indicado para a área externa por ser altamente resistente à quebra e ao desgaste pelo uso. além dos jardins, o porcellanato também pode ser aplicado em áreas de recreação, piscina, pátios externos, varandas e garagens. incepa.com.br | 41 2105.250002 pApEL LAMINADopensando na economia de água, a roca apresenta a W+W, bacia sanitária com caixa acoplada suspensa e lavatório integrado, que reutiliza a água do lavatório na descarga. assinada pelos designers italianos gabriele e oscar Buratti, a peça pode economizar até 75% no consumo de água por meio de um dispositivo localizado na válvula de escoamento acionado pelo usuário. a tecnologia filtra a água utilizada no lavatório e envia para a caixa da descarga, que pode funcionar com 3 ou 6 litros. br.roca.com | 0800 7011510

04 IsoLAMENToo designer rené Barba explora um novo material para Ligne roset com sua Luminária paper Lamp: um tecido-papel antichamas que é feito em uma espécie de envelope de dupla face, com uma impressão em riscas de um lado e um lado liso de outro. com curvas atraentes, a delicada natureza do seu estilo de desenho irregular à mão irregular é a fonte de seu charme. material: estrutura de aço lacado preto com acabamento cetim e capa em tecido-papel, com 70% poliéster e 30% poliamida. medidas: Luminária pequena: 26x5x47 cm | Luminária grande: 26x8x57 cm | ligneroset.com.br | 11 3064.2529

03 TEXTURA E BRILHograndes formatos e acabamento metálico são as características da série steeltech, mais novo lançamento da italiana casal grandepana. a série se diferencia por seu efeito metálico na camada de acabamento. textura, brilho e as cores reproduzem com perfeição uma placa metálica. disponível nas cores cinza, bege e cobre, com um acabamento polido ou natural, em tamanho 90x90 cm. É resistente ao desgaste e às manchas, é eco compatível, produzida com soluções de alta tecnologia e desempenho e materiais de baixo impacto ambiental. casalgrandepadana.com i +39 0522 9901

04

Consumo ConsCiente

03

01

02

Page 12: Revista Construir Vida Sustentável

soCiaL

CAsA DA CRIANçA CRIA NoVA Ação NA áREA DE EDUCAção: Ação soCIAL sUApEUm dos polos industriais mais dinâmicos do Brasil recebe apoio de empresas preocupadas com o desenvolvimento da região

A Ação Social Suape (pe) irá atender crianças e jovens, prioritariamente, na área educacional, melhorando através de reformas, humani-zação e capacitação do ambiente escolar. o objetivo é aplicar programas do Casa da Criança de forma continuada na região, abrangendo diversas ações e impacto social.

a primeira iniciativa acontece na escola José clarindo gomes, localizada no município do cabo de santo agostinho. atualmente, os espa-ços estão insalubres, sem estrutura adequada: faltam banheiros, bibliotecas, refeitório mobiliado, área administrativa eficiente, estrutura para deficientes físicos, além de equipamentos de convivência e lazer. o projeto prevê a reformada de toda unidade escolar, ampliando a sua capacidade de atendimento, atingindo mais de mil crianças e adolescentes da pré-escola até o ensino fundamental. a obra será finalizada em abril deste ano.

a reforma tem o apoio da 2 alianças, empresa do ramo de logística e da concessionária rota dos coqueiros (crc), que conhecem a experi-ência do Projeto Casa da Criança em desenvolvimento de projetos sociais, somada a experiência em gestão de obras e mobilização.

AçõES DO PROJETO cASA DA cRIANçA

obras físicas: reformas e construções de unidades para atendi-mento a crianças e jovens de baixa renda.Cia dos Anjos: Programa que atua mobilizando parcerias para aten-der áreas deficientes de atendimento a essas crianças e jovens, por exemplo: saúde, esportes, educação, lazer, arte, cultura e ca-pacitação profissional.Tecnologia Q’ALEGRIA: Uma metodologia inovadora, que leva en-tretenimento durante as sessões de quimioterapia, proporcionan-do uma melhor qualidade ao tratamento do câncer infantojuvenil.

NOSSOS NúMEROS

- presente em 16 estados brasileiros- mais de 50 instituições beneficiadas- mais de 200 mil crianças e jovens atendidos- mais de 1.500 construtoras, 30 mil empresas- mais 3 mil arquitetos, decoradores e artistas plásticos participando desse processo multiplicador

SERVIçOprojeto casa da criança81 3467.9968facebook/projetocasadacrianca

Com a intervenção imediata, serão desativados dois anexos. O atendimento do Centro de Educação Infantil também ficará destinado à primeira infância (3 a 5 anos), com mobiliário e equipamentos de lazer adequados à faixa etária, com playground e jardim

FEVEREIRO 201512

Page 13: Revista Construir Vida Sustentável

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DIGNIDADE E TETo pARA qUEM pRECIsA

em 1997, um grupo de jovens começou a trabalhar pelo sonho de superar a situação de pobreza em que viviam milhões de pessoas. o sentido de urgência dos assentamentos inspirou-os a desenvolver planos de desenvolvimento que, em conjunto com as famílias que viviam em condições inaceitáveis, resultassem em soluções concretas frente à multidimensionalidade da pobreza no continen-te. essa iniciativa, nascida no chile, deu origem a organização teto, presente hoje em 19 países em todo o continente, entre os quais o Brasil, onde atua nos estados de são paulo, do rio de Janeiro, do paraná e da Bahia. através da construção de moradias de emer-gência, programas de Habilitação social e trabalho em rede, a intervenção do teto é focada nos assentamentos precários mais ex-cluídos, sendo seu principal motor a ação conjunta de seus moradores e jovens voluntários, os quais trabalham para gerar soluções concretas para o problema da pobreza. o processo começa com a entrada nos assentamentos precários e no desenvolvimento de um diagnóstico, no qual são identificadas e caracterizadas as condições de vulnerabilidade desses espaços. os jovens voluntários têm um primeiro contato com a realidade que se vive nos assentamentos, trabalhando em campo para o desenvolvimento do diagnóstico e para incentivar a liderança de moradores que promovam a organização, participação e corresponsabilidade da comunidade em todo o processo. em uma segunda fase, como resposta às necessidades identificadas anteriormente, são implementadas soluções nas áreas de moradia, educação e trabalho, desenvolvidas em conjunto entre o voluntariado e os moradores, potencializando assim capacidades individuais e coletivas de autogestão na comunidade. dentro dessa fase, destaca-se a construção de casas de emergên-cia, que é um módulo pré-fabricado de 18 m², construído em dois dias, com a participação massiva dos voluntários e das famílias da localidade. aprofundando o fortalecimento da comunidade, são organizadas também as mesas de trabalho, uma instância de reunião, diálogo e discussão entre líderes comunitários e jovens voluntários, na qual se identificam possíveis soluções para as prio-ridades. o teto se concentra na implementação de planos de educação; planos relacionados ao trabalho e ao fomento produtivo, tais como capacitação em ofícios básicos e fornecimento de microcréditos para o desenvolvimento de empreendimentos; e busca a vinculação a redes para desenvolver outros programas que contribuam para a geração de soluções integrais. como terceira fase, são adotadas medidas definitivas nos assentamentos precários, como a regularização da propriedade, a instalação ou regularização de serviços básicos, moradia definitiva, infraestrutura comunitária e desenvolvimento local. na região nordeste, o trabalho da institui-ção se iniciou em 2014. na Bahia, a primeira comunidade escolhida para atuação da organização foi a cidade de plástico, localizada no bairro de periperi. nessa comunidade, foram construídas 11 moradias de emergência e mobilizados cerca de 150 voluntários. no mês de novembro de 2014, a sede conseguiu um espaço físico para possibilitar a continuidade e o crescimento do trabalho. o teto na Bahia conta hoje com 25 voluntários fixos trabalhando no escritório e já mobilizou mais de 350 jovens, e se preparam para iniciar as atividades na segunda comunidade de salvador, Vila esperança, em pau da Lima. “sabemos que a pobreza e a desigualdade social são dois dos grandes males do nosso tempo. a nossa geração é a primeira que tem as capacidades e a tecnologia para fazer esses dois males desaparecerem. nós acreditamos que, com o apoio e envolvimento ativo de toda a sociedade, podemos declarar a superação definitiva da pobreza”, ressalta amory gonzalez, diretor-executivo do teto Brasil.

SERvIçO [email protected] | teto.org.br

FEVEREIRO 2015

Boas PrátiCas

Page 14: Revista Construir Vida Sustentável

Do qUINTAL pARA A RUANa elaboração de um projeto de paisagismo sustentável, é preciso estar atento não só ao aspecto estético da obra, mas principalmente à sua relação com meio ambiente e sua conexão com o espaço urbano

por Pablo Braz

14|4

Page 15: Revista Construir Vida Sustentável

Para se fazer completo, um projeto

arquitetônico precisa promover uma

interface entre o ambiente interior e o

exterior através de instrumentos que

dinamizem e enriqueçam essa conexão.

Elaborar a paisagem circundante de

um empreendimento, considerando-a

como uma extensão essencial da obra,

é um desses elementos necessários

não só para valorizar o projeto em si,

mas também para complementar fun-

ções da própria construção. E quando

planejado sob uma ótica sustentável, o

projeto de paisagismo ganha mais im-

portância, pois proporciona não só o

destaque estético da edificação como

também o aumento da eficiência ener-

gética e hídrica e a criação de um siste-

ma de melhorias ambientais.

Segundo Paulo Trigo, arquiteto e urba-

nista graduado pela Universidade de São

Paulo (USP) com especialização em Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

pela Universidade Estadual de Campinas

(Unicamp), o espaço que está sendo criado

faz parte e interfere em todo o meio am-

biente, e as decisões tomadas em projeto

devem impactar o menos possível o meio

no qual se insere e contribuir para a manu-

tenção dos processos naturais do entorno.

“O quintal de uma casa pode parecer pe-

queno e possuir pouca influência no am-

biente urbano quando comparado com o

tamanho da cidade. Mas, se nele é previsto

um jardim onde são plantadas espécies

vegetais, atraindo pássaros que se alimen-

tarão dos frutos ou insetos que virão visitar

as flores, disseminando assim sementes

em terras distantes”, exemplifica Paulo. Ele

ressalta ainda que os múltiplos benefícios

têm mais força quando fazem parte de um

sistema: “Quando quintais como esse são

multiplicados em boa parte de um bairro

ou mesmo de uma cidade e se somam a

outras áreas urbanas igualmente qualifi-

cadas, como praças, corredores verdes e

parques, temos então um sistema de áreas

livres, onde os espaços verdes se conectam

direta ou indiretamente”.

Para cumprir então esse papel ambien-

tal e infraestrutural, o arquiteto pontua

que o projeto de paisagismo sempre co-

meça com uma leitura minuciosa do local,

atentando para o clima, o solo, o bioma, a

insolação, os ventos, a interferência com a

área construída, quando há, e com o entor-

no imediato, assim como as aberturas visu-

ais para campos mais longínquos. “Avaliar

as condições do ambiente e utilizar essa

leitura no projeto são essenciais para se

criar espaços que respeitem a lógica local,

sem ter que copiá-lo, mas reinventá-lo se-

gundo outra concepção estética”, explica.

Nesse contexto, a vegetação se torna

um dos grandes destaques do cenário

paisagístico, sendo peça fundamental

para o projeto ser guiado sobre os parâ-

metros sustentáveis. Mas para isso são

necessárias regras. De acordo com Trigo,

é preciso utilizar o maior número possí-

vel de espécies nativas da região (árvo-

res, palmeiras, arbustos e forrações), que

irão cumprir um papel biológico muito

importante resgatando a biodiversidade

do local, sem contar que o gasto de água

para rega é mínimo ou nulo, já que são

espécies adaptadas ao clima e solo locais.

“Usar também uma vegetação que pro-

mova uma eficácia econômica ao deman-

dar menor manutenção, reduzindo custos

com defensivos e adubação química e

uma menor ou nula produção de resíduos

provenientes de podas, por exemplo.

FOTO: PAULO TRIGO

No projeto de sua residência, o arquiteto Paulo Trigo usa como elementos paisagísticos sustentáveis uma rica arborização e uma piscina natural, que dão uma maior integração com a natureza.

O arquiteto e urbanista Paulo Trigo.

FEVEREIRO 2015 15

FOTO

: DIV

ULG

AçãO

Page 16: Revista Construir Vida Sustentável

A vegetação arbórea, os tetos-jardins

e as ‘cortinas’ vegetais podem melhorar

o conforto térmico, o bloqueio solar e a

umidade do ar dentro do ambiente cons-

truído, evitando o uso de equipamentos

de condicionamento de ar e outros apara-

tos remediadores”, complementa.

Paulo aponta que ainda hoje o uso

de plantas exóticas e a repetição das es-

pécies nativas mais conhecidas predo-

minam na maioria dos projetos, pois há

uma dificuldade de se encontrar viveiris-

tas que cultivem espécies locais, pouco

incentivo político de valorização e pre-

servação de alguns biomas, como o cerra-

do e a caatinga, e a necessidade imposta

pelo mercado por plantas que sejam de

crescimento rápido. Isso reduz a paleta de

cores na composição da paisagem. “Mes-

mo diante desse quadro, plantas antes

vistas como inferiores ou daninhas hoje

são amplamente utilizadas nos jardins do

país e fora da fronteira, graças em parte

ao renomado paisagista Roberto Burle

Marx, que foi a grande mudança de para-

digma, nos fazendo perceber que nossa

flora é riquíssima”, retruca.

Além do aparato verde, outros com-

ponentes também podem fazer parte do

conjunto paisagístico que, quando bem

associados ao empreendimento, comple-

tam um ciclo em si, trazendo um paisagis-

mo mais funcional. Como opções, existem

os jardins filtrantes, que com seu sistema

de evapotranspiração tratam as águas ne-

gras; a criação de cisternas para água de

chuvas e o tratamento das águas residu-

ais por sistemas de raízes para reutilização

na rega de jardins e no uso na casa; e o

plantio de espécies nativas que fornecem

alimento às pessoas a aos animais locais.

”O jardim local pode ser entendido como

uma célula dentro de um grande organis-

mo, que possui sua lógica própria de fun-

cionamento ao mesmo tempo que man-

tém uma relação harmônica com o todo”,

resume o arquiteto.

Contribuindo também para enri-

quecer um paisagismo mais sustentá-

vel, o campo tecnológico tem trazido

alguns instrumentos do setor, como

sistemas diversos de paredes verdes,

jardins sobre laje, irrigação inteligente,

pisos drenantes, iluminação externa de

baixo consumo, sistemas de tratamento

de água através de plantas aquáticas

em lagos artificiais e mobiliários feitos

de madeira plástica proveniente de re-

ciclagem. Segundo o urbanista, novas

tecnologias e produtos certificados ge-

ralmente possuem um valor elevado em

comparação a convencionais, porém a

longo prazo, esse investimento é absor-

vido. Mas Paulo faz um alerta: “É redutor

achar que apenas a parte tecnológica

seria suficiente para dizer que tal proje-

to atende aos parâmetros da sustentabi-

lidade. É preciso ter a consciência de in-

terconexão das coisas e das ações, pois

muitas vezes não enxergamos que esses

próprios materiais ditos ecológicos tam-

bém causam impactos ambientais”.

Trigo afirma ainda que é possível

projetar um paisagismo por um viés

dito mais sustentável através do uso

de elementos tradicionais, usando

para isso conceitos que respeitem o lo-

cal e minimizem seu impacto no meio

em que se insere e numa escala mais

ampla. “Por exemplo, o uso de piso de

tijolos, algo bastante antigo, pode ser

mais ecológico do que pisos drenan-

tes de concreto, e também mais bara-

tos ou no mesmo valor. Dependendo

das condições do local, pode-se con-

seguir resultados estéticos e ambien-

tais próximos aos sistemas de paredes

verdes inovadores e caros, com plan-

tas trepadeiras ou vasos de barro con-

vencionais agrupados”, esclarece.

Mesmo com esse cenário amplo de

possibilidades, Paulo adverte que há

alguns desafios que precisam ser ven-

cidos para tornar essas práticas mais

acessíveis e presentes no dia a dia dos

projetos arquitetônicos: “As dificulda-

des podem ser encontradas em diver-

sos aspectos durante a execução da

obra, como: a pouca mão de obra es-

pecializada disponível, e por isso ain-

da com maior custo que a convencio-

nal; burocracias dos sistemas públicos

ainda baseados em moldes mais anti-

gos; plantas nativas que nem sempre

são fáceis de serem comercializadas;

e produtos que tenham certificação

garantindo menor impacto ecológico

ainda são mais caros”.

DA CASA PArA A CiDADe

Pensado para além das fronteiras de

um empreendimento, saindo das casas

para o mundo, o paisagismo urbano

busca melhorar a qualidade de vida da

população, trazendo lazer, segurança,

acessibilidade e áreas de encontro para

os moradores e transeuntes ao remo-

delar a paisagem das cidades e de suas

áreas livres, como os sistemas viários, as

calçadas, as praças e os parques. De acor-

do com o arquiteto paisagista Benedito

Abbud, um dos escopos desse paisagis-

mo é criar espaços através da vegetação,

que deixou de ser um elemento apenas

estético para ser uma solução além dos

jardins residenciais.

AVALIAR AS cONDIçõES DO AMBIENTE E UTILIzAR

ESSA LEITURA NO PROJETO SãO ESSENcIAIS PARA SE cRIAR ESPAçOS

qUE RESPEITEM A LóGIcA LOcAL,

reinventando-os SEGUNDO OUTRA

cONcEPçãO ESTÉTIcA. PAULO TRIGO.

O arquiteto paisagista Benedito Abbud.

FEVEREIRO 201516

Page 17: Revista Construir Vida Sustentável

“As árvores, em especial, harmonizam a

paisagem edificada, em geral descontí-

nua e desarmônica; trazem conforto e

adequam a escala humana à volumetria

edificada; criam surpresas no percurso

trazendo encantamento; e trazem beleza

que gera dignidade, e dignidade provoca

o sentimento de cidadania e pertenci-

mento àquela cidade”, detalha Abbud.

Benedito afirma também que é funda-

mental a rearborização da cidade para fa-

zer com que as chuvas possam novamen-

te penetrar no seu solo, mas é um desafio

vencer isso em um tecido urbano já conso-

lidado. Para ele, é preciso garimpar espaços

buscando incentivar o plantio de novas

árvores, projetando novos ambientes,

como pracinhas de esquina e miniparques,

ou revegetar locais particulares, como os

quintais e recuos frontais dos lotes e espa-

ços públicos, como as praças, os canteiros

centrais de vias e as rotatórias existentes.

Outra ideia é fazer com que as águas da

chuva deixem de correr rapidamente so-

bre os pavimentos impermeabilizados e

as bocas de lobos que, através de tubos, as

conduzem para as áreas baixas da cidade e

os rios que as levam para longe.

Uma solução apontada pelo arquiteto

é criar as chamadas infraestruturas verdes,

que são sistemas de infiltração das águas

no solo, como as biovaletas e os jardins

de chuva, alimentando assim os lençóis

freáticos, hidratando a vegetação, melho-

rando a umidade do ar e minimizando

as enchentes. Nesse contexto de novas

possibilidades, há também o Piso Permeá-

vel e o Tec Garden, produtos desenvolvidos

pelo escritório de Abbud. O Piso Permeá-

vel, por exemplo, é um material feito à base

de brita e concreto, sem uso de areia, que

permite pavimentar sem impermeabilizar,

assentado sobre areia de forma que a água

da chuva possa penetrar no solo.

Já o Tec Garden é um elemento cons-

trutivo ecoeficiente que reserva a água

da chuva para irrigação do jardim, sem

utilização de energia elétrica, bombas,

bicas irrigantes ou qualquer mecanismo

automático ou manual. Concebido com

aplicação de alta tecnologia na produção

de pisos elevados Remaster, o sistema

contribui para minimizar os efeitos noci-

vos das enchentes nas grandes cidades,

além de economizar água e prolongar a

durabilidade da impermeabilização da

laje que suporta o jardim. “A engenharia

técnica dessa medida caracteriza-se em

pedestais que suportam as placas de

piso elevado e “pavios” revestidos em

parte por uma porção de manta de dre-

nagem como elemento de capilaridade,

que criam, assim, um vão para o reserva-

tório de água. Sobre esses “pavios”, é colo-

cado um produto antirraiz para impedir

que o solo preparado a ser depositado

por cima e as raízes das plantas entupam

o funcionamento do elemento de capila-

ridade”, esclarece Abbud.

Dentro desse cenário urbano, Benedi-

to destaca também que as calçadas são

importantes elementos no processo de

paisagismo, contribuindo para compor o

quadro estético e funcional das cidades,

além de servir para a proteção dos pedes-

tres e o apoio para estruturas diversas. Le-

vando em consideração a relevância dessas

“peças urbanas”, surge o conceito de Calça-

da Viva, desenvolvido por Abbud em 2006.

Segundo o paisagista, a ideia é promover

a revitalização de áreas, principalmente

aquelas que ladeiam grandes extensões

de muros e, desse modo, convidar a popu-

lação ao convívio em ambientes ao ar livre.

“O conceito foi criado para que o cidadão

pudesse resgatar o hábito de andar na cal-

çada com conforto, praticidade e segurança,

devolvendo o caráter humano e social des-

sas calçadas à população”, explica. A Calçada

Viva surge, assim, com base na integração

de sete itens: calçadas verdes, ecológicas,

acessíveis, inteligentes, culturais, mobiliadas

e saudáveis. (Veja detalhes da Calçada Viva

nas páginas 19 e 20).

CiDADe JArDiM: uM PAiSAGiSMO APliCADO

Na região da Barra da Tijuca, no Rio de

Janeiro, a arquitetura paisagística do bair-

ro Cidade Jardim se destaca em vasta área

de parques públicos abertos à população.

No espaço, foi aplicado o conceito da paisa-

gem estruturada como elemento urbano, em

sintonia com o Plano Diretor do arquiteto e

urbanista Lúcio Costa. Esse bairro planejado

com uma área de 512 mil m² reservou cerca

de 150 mil m² ou 30% de todo o terreno para

teCGArDeN

LADRãO LAjE IMPERMEABILIZADA

infiLtração da ÁguaNO SUBSTRATO

infiLtração da ÁguaE ABASTECIMENTO DORESERvATÓRIO SOB AS PLACAS

OBS:1. Ladrões Laterais garantemQUE O ExCESSO DE ChUvA NãOaLague o sistema.

2. EM PERíODOS DE ESTIAGEM(SECA), SISTEMA DE BÓIAELETRôNICA ABRE vÁLvULASOLENÓIDE ABASTECENDO OSISTEMA COM ÁGUA DA RUA,ÁGUA DE RESERvATÓRIO OU ATÉÁgua cinza.

a cHuVa infiLtra no suBstrato. Quando a

ChUvA TERMINA, A ÁGUA COMEçA A EvAPORAR DO

SOLO E A ÁGUA RESERvADA SOBE POR CAPILARIDADE, e fica reserVada nesse

irrigando o Jardim.

ASCENSãO CAPILAR DA ÁGUARESERvADA ATRAvÉS DOSUBSTRATO IRRIGANDO ENUTRINDO O jARDIM

SATURAçãO DO SUBSTRATOChUvA

PEDESTAIS PLACA DE PLÁSTICO RECICLADO vEGETAçãO

SUBSTRATO

PAvIO (TUBO DE DRENAGEM E IRRIGAçãO) + pastiLHa antirraiz

Page 18: Revista Construir Vida Sustentável

comportar áreas verdes de acesso público,

entre parques lineares, cinturões verdes e

alamedas. A construção do Cidade Jardim

iniciou em 2000, e até um período de 20

anos, o bairro terá vários condomínios inte-

grados à estrutura de serviços e comércio.

Responsável pela arquitetura paisagísti-

ca de todo o empreendimento, o escritório

Benedito Abbud ressalta que os conceitos

aplicados nas áreas verde, junto com o zo-

neamento das atividades residenciais, co-

merciais e institucionais ajudou a definir as

várias escalas do tratamento urbano e uma

estratégia de desenvolvimento do bairro.

As medidas possibilitaram o planejamento

das circulações como elemento de conexão

entre as diversas atividades do bairro e a

distribuição das áreas de convivência de ma-

neira apropriada, sendo possível o início da

implantação dos parques e jardins com ca-

minhos, equipamentos e arborização antes

mesmo da finalização dos edifícios.

Os parques e jardins do bairro, além de

conectarem as atividades, também funcio-

nam como importantes pontos de encon-

tros proporcionados pelos equipamentos

existentes. As quadras poliesportivas, os

playgrounds, as áreas com equipamentos de

ginástica e as áreas de descanso permitem

a integração social entre os moradores,

pois atraem interesses em comum e estão

localizadas em pontos estratégicos junto

às circulações. O projeto contempla espa-

ços especiais com lagos, orquidário, espaço

para piquenique e área para atividade física

destinada aos cães (agility). Para a garantia

A disposição da vegetação estimula o percurso nos caminhos e nos usos das áreas recreativas e de estar pelo sombreamento proporcionado pelas árvores e palmeiras. A ciclovia é em asfalto para suavizar o atrito.

Os jardins do bairro também funcionam como pontos de encontros proporcionados pelos equipamentos existentes.

de uma ocupação mais equilibrada com

preservação estética e ambiental, as redes

de telefonia, eletricidade, água, esgoto e

iluminação pública são subterrâneas.

Benedito Abbud trouxe também o

conceito de Calçada Viva ao bairro. O

calçamento para os pedestres é em piso

intertravado, de fácil manutenção e que

auxilia na drenagem da água da chuva,

além de acessível em termos de largura

e inclinação. A ciclovia é em asfalto para

suavizar o atrito. Há também rampas para

vencer desníveis entre a calçada e a rua

de modo confortável para pedestres e

bicicletas, além de iluminação dirigida

que privilegia a utilização de calçadas

com usos integrados. “A vegetação esco-

lhida tem procedência nativa da Restin-

ga e Mata Atlântica, bem como exóticas

adaptadas. A forma de distribuição se dá

através de grandes manchas da mesma

espécie, intensificando suas característi-

cas, como cores, flores e texturas, criando

contrastes e sensações. Sua disposição

estimula o percurso nos caminhos e nos

usos das áreas recreativas e de estar pelo

sombreamento proporcionado pelas ár-

vores e palmeiras”, complementa.

FOTOS: BENEDITO ABBUD

Page 19: Revista Construir Vida Sustentável

cALçADAS VERDES

Esse item se caracteriza pela plantação de árvores, arbustos, forração vertical e grama de forma organizada. “a copa das grandes árvores reduz a massa construída descontínua das cidades, gerando sombra. o equipa-mento melhora a qualidade ambiental, retendo o calor durante o dia e amortecendo o calor durante a noite, além de permitir uma variação de temperatura menor”, explica o arquiteto.

cALçADAS EcOLóGIcAS

abbud indica também que sejam plantadas espécies frutíferas para atrair pássaros e a utilização de um piso elaborado com material drenante, possi-bilitando a drenagem das águas pluviais e alimentando o lençol freático. com a adoção do piso drenante, o problema recorrente de enchentes nas cidades pode ser minimizado.

cALçADAS INTELIGENTES

Benedito fala que, talvez por não haver um planejamento em conjunto, as concessionárias quebram constantemente o piso das calçadas, gerando transtornos estéticos e empecilhos na hora do passeio. as calçadas inteligen-tes, ou técnicas, atuariam como uma galeria no subsolo, possibilitando que as fiações da rede elétrica, telefônica, de tV, fibras óticas, rede de água e esgoto sejam todas embutidas, contribuindo para reduzir a poluição visual urbana. “esse tipo de calçada dá fácil acesso para manutenção das redes sem quebrar ou “remendar” o piso, pois as peças drenantes podem ser retiradas uma a uma e recolocadas facilmente, dispensando mão de obra especializada”.

cALçADAS cULTURAIS

esse item traz suportes projetados para acolher exposições itinerantes com reproduções de obras de arte bidimensionais e tridimensionais (quadros e esculturas), além de soluções como: fixar reproduções de obras de arte em ta-pumes de obra e imprimir sobre telas de proteção de prédios em construção. o objetivo é idealizar espaços de convívio cultural e apreciação de obras de arte, e reduzir a poluição visual de peças publicitárias e de marketing.

cALçADAS AcESSíVEIS

O piso tátil de alerta e direcional e a rampa de acesso são alguns dos e-quipamentos propostos nas calçadas acessíveis. essas soluções facilitarão a mobilidade das pessoas com deficiência ou com dificuldades de locomoção, tais como idosos e gestantes, permitindo entrada, permanência e saída com segurança e autonomia.

Calçadas vivas - benedito abbud

Page 20: Revista Construir Vida Sustentável

Aspectos da cidade de Lima.

cALçADAS MOBILIADAS

a ideia é inserir totens, com design moderno e funcional, equipados com informações sobre museus, teatros, cinemas, atrações turísticas e mapas com referências para localização dos elementos naturais na cidade.

cALçADAS SAUDÁVEIS

Pensando na prática de esportes e na saúde do corpo, a calçada saudável abriga pista de caminhada com marcação de distância e aparelhos para ginástica e alon-gamento. o detalhe é que os equipamentos são elaborados com madeira de pinus originária de reflorestamento e autoclavada (tratamento que garante a qualidade durante 30 anos). abbud destaca também que a largura da calçada é um fator fun-damental, pois, de acordo com o seu tamanho, a mesma pode ser, ou não, convida-tiva e agradável ao seu uso. “Quanto maior for a largura, melhor será para proteger os pedestres e para o desenvolvimento de vegetação. calçadas com largura inferior a 2 m não possibilitam vegetação e forçam o adensamento de postes de ilumi-nação e de comunicação visual, se tornando um empecilho para os transeuntes. o ideal é ter 2,5 m como a largura mínima ideal de calçada”, explica.

SERVIçO

Paulo TrigoTETO Arquitetura Sustentávelteto2r.com19 3702.8400 Benedito AbbudBenedito Abbud - Arquitetura Paisagísticabeneditoabbud.com.br11 5056.9977 alexandre LeitãoGabinete Urbanogabineteurbano.com.br19 3325.2941

alexandre Leitão santos é graduado e mestre em arquitetura e urbanismo pela universidade de são paulo (usp). professor no centro universitário adventista de são paulo e sócio-diretor do escritório gabi-nete Urbano, localizado em Campinas (SP) e voltado ao desenvolvimento sustentável da construção e das cidades, o arquiteto conversou com a Construir Nordeste sobre o cenário do paisagismo urbano no país. confira o bate-papo:

qUAIs são HojE As GRANDEs TENDêNCIAs No CENáRIo Do pAIsAGIsMo URBANísTICo No BRAsIL?

para mim, a tendência mais importante é a que põe o paisagismo como uma potente ferramenta para tor-narmos as cidades mais sustentáveis. uma grande novidade, nesse sentido, é a associação do paisagismo à recuperação de áreas degradadas. em Belém do pará, o mangal das garças, com projeto paisagístico de rosa Kliass, é um belo exemplo de como se criar um gradiente equilibrado entre o uso urbano do parque e o trata-mento ecológico das margens do rio guamá, numa área outrora bastante degradada. em são paulo, o projeto da praça victor Civita, do Benedito Abbud, recuperou uma antiga área contaminada e a transformou em um espaço de lazer e educação para a população. os parques lineares em áreas de proteção permanente dos cór-regos urbanos também têm se mostrado uma tendência no paisagismo urbano regenerativo, garantindo lazer à população e ajudando a preservar os córregos.

CoMo poDE sER fEITA A RELAção Do pAIsAGIsMo URBANo CoM o pAIsAGIsMo DENTRo Dos LoTEs REsI-DENCIAIs E CoMERCIAIs?

se entendermos a cidade como cenário de um ecossistema urbano, fica mais fácil de aceitar o fato de que está tudo interligado e que necessitamos de equilíbrio. uma casa com telhado verde, por exemplo, possui um microclima muito agradável em seu interior, mas pouco influi na temperatura do seu bairro. se passarmos a pensar numa cidade em que 10% ou 20% de seus imóveis possuam telhados verdes, é bastante plausível a hipótese de que o clima local como um todo pode melhorar. arborização é a mesma coisa, deve ser feita dentro e fora do lote. É por isso que as ações devem estar sempre associadas a políticas públicas de incentivo a práticas sustentáveis.

o qUE pRECIsA sER “CoNsERTADo” pARA TERMos UM ADEqUADo pAIsAGIsMo URBANo?

precisamos começar a “consertar” o nosso senso comum. todo mundo reclama do calor no verão, mas pou-cos mantêm um quintal permeável e arborizado. menos ainda são os que têm uma árvore plantada em sua calçada. reclama-se das folhas, das raízes, do espaço que o tronco ocupa. um bom projeto de arborização urbana é capaz de definir os exemplares corretos para cada situação. a cidade também precisa de alguns es-paços intocados que propiciem a recuperação da fauna local. a diversidade de espécies, vegetais ou animais, já auxiliaria em reduzir certos desequilíbrios.

*A entrevista completa com Alexandre Leitão Santos está disponível no portal da Revista Construir Nordeste.

*O arquiteto Paulo Trigo contou com a colaboração das arquitetas Lisandra Casagrande e Letícia Fortuna em sua participação na reportagem.

FEVEREIRO 201520

Page 21: Revista Construir Vida Sustentável

Este artigo relata uma pesquisa desen-

volvida na cidade de Lima, capital do

Peru, e teve como objetivo observar a re-

siliência urbana através de ações para re-

dução da vulnerabilidade infraestrutural e

aumento da capacidade de adaptação da

população ao risco constante de desastres

naturais relacionados com a sismologia.

A cidade de Lima, que tem uma população

de nove milhões de habitantes, está locali-

zada na costa do Pacífico, no deserto cos-

teiro, ao sopé da encosta ocidental dos An-

des Centrais Peruanos, sobre falésias com

alturas que variam de 36 m, no distrito de

Chorrillos, ao norte, a 70 m, no distrito de

Miraflores, ao sul (fotos 1, 2 e 3).

De acordo com o Codificação de De-

sastres, Ameaças e Riscos (CODAR), os de-

sastres naturais referentes à geodinâmica

terrestre interna podem ser relacionados

com a SISMOLOGIA (Terremotos, Sismos

e/ou Abalos Sísmicos; Maremotos e Tsu-

namis), com a VULCANOLOGIA (Erupções

Vulcânicas) ou com a GEOMORFOLOGIA,

o INTEMPERISMO, a EROSÃO e a ACO-

MODAÇÃO DO SOLO (Escorregamentos

ou Deslizamentos; Corridas de Massa;

Rastejos; Quedas, Tombamentos e/ou

Rolamentos de Matacões e/ou Rochas;

Erosão Laminar; Erosão Linear, Sulcos, Ra-

vinas e Voçorocas; Subsidência do Solo;

Erosão Fluvial: Desbarrancamentos de

Rios e Fenômenos de Terras Caídas; Ero-

são Marinha ou Soterramento por Dunas).

A crosta terrestre é formada por gran-

des placas tectônicas que flutuam sobre

uma massa fluida, de constituição basálti-

ca, denominada magma. O efeito de com-

pressão resultante do movimento lento e

gradual dessas placas, em suas áreas limí-

trofes, provoca terremotos e abalos sísmi-

cos, que resultam em alterações no relevo

do planeta. Das doze principais placas

tectônicas, uma das mais importantes é a

Placa Tectônica Sul-Americana, cuja bor-

da ocidental passa exatamente no litoral

do Peru, onde está localizada a cidade de

Lima. Por isso, a cidade está sujeita a aba-

los sísmicos que podem provocar desliza-

mentos de terra e tsunamis.

Os tsunamis são ondas marinhas gi-

gantes geradas por um movimento sú-

bito de grande escala no fundo do mar,

devido geralmente a terremotos ou erup-

ções vulcânicas submarinas. Eles ocorrem

quando abalos sísmicos de magnitude

expressiva desenvolvem-se sob a superfí-

cie dos oceanos ou na borda continental

litoral. Como não são possíveis ações mi-

tigadoras que reduzam a intensidade dos

abalos sísmicos e a força dos tsunamis, é

de primordial importância a implantação

de planos de contingência para o caso

de ocorrência desses desastres naturais,

compostos por ações que visam a alertar

a população, orientar a evacuação e pro-

mover rotas de fuga.

Para isso, foram instalados, no distrito

de Magdalena, alarmes, na área que cor-

responde à Costa Verde, compostos por

alto-falantes colocados em postes de

mais de 12 metros de altura e, em alguns

casos, atuando conjuntamente com câ-

meras de vigilância, também nessa parte

da cidade. Os alarmes são ligados à base,

que fica na praia, e ativados por contro-

le remoto quando há ameaça de ondas

gigantes. “Os alarmes sonoros e visuais

darão maior segurança às pessoas”, disse

o prefeito do distrito, Francis Allison. Eles

facilitam a evacuação de pessoas em caso

de um alerta de tsunami.

Além disso, as autoridades da Defesa

Civil (Codisec) dos 15 distritos costeiros

de Lima definiram um plano de ação para

a Região Metropolitana, visando unificar

critérios e definir orientações específicas,

Aspectos da cidade de Lima.

texto e fotos por Luiz Priori Jr.

01 0302

CIDADE DE LIMA: REsILIêNCIA URBANA fRENTE Ao RIsCo DE DEsAsTREs NATURAIs

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próxima ao em caso de ocorrência de tsu-

namis, que permite salvar vidas e reduzir

danos materiais (fotos 4, 5 e 6). Parte im-

portante desse processo é o envio de uma

mensagem de alerta, no caso de desastres

naturais, via telefone e e-mail, para todos

os membros e instituições que formam o

Codisec. Além disso, estão sendo instala-

dos 14 depósitos de emergência no sub-

solo, contendo alimentos, remédios, água

e ferramentas, entre outros materiais,

para atender a população depois de uma

emergência. Da mesma forma, locais para

armazenamento de víveres serão instala-

dos em escolas dos distritos de Miraflores,

Santa Cruz e La Aurora.

Os terremotos são abalos sísmicos de

origem tectônica que provocam oscila-

ções verticais e horizontais na superfície

terrestre, através de vibrações ocasiona-

das por rupturas e/ou movimentação de

rochas no interior da crosta terrestre. A ca-

mada mais superficial da Terra não é con-

tínua, mas formada por imensas placas

tectônicas que se movimentam de forma

lenta e permanente. O contato entre essas

placas provoca tensões que, quando exce-

dem os limites de elasticidade e resistên-

cia do solo, resultam em rupturas bruscas,

provocando os terremotos.

Na ocorrência de terremoto, tanto as

construções como a infraestrutura estão

expostas a danos ou colapso devido à mo-

vimentação do terreno, principalmente

aquelas localizadas próximas ao epicentro,

onde a intensidade do terremoto é maior.

Terrenos sedimentares, solos pouco con-

sistentes e áreas de aterro são mais vulne-

ráveis. Esse é o caso das falésias da Costa

Verde, em Lima, que são compostas em sua

camada superior por silte e argila, na sua

camada média por cascalhos não consoli-

dados e na sua camada inferior por areias

apertadas com cascalhos. Visando à prote-

ção das encostas contra a queda de pedras

e desmoronamentos, estão sendo coloca-

das geogrelhas sobre as falésias da Costa

Verde, de modo a evitar a queda de pedras

no circuito das praias, segundo o Gestor

Municipal de Lima, Javier Nadal Sota.

“A Costa Verde é uma das principais

artérias da cidade. Fomos advertidos do

perigo após a ocorrência de ondas anor-

mais que provocaram o fechamento de

Rotas de evacuação nos distritos de Barranco e Magdalena.

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algumas áreas do circuito de praias. É

por isso que temos um orçamento para

melhorar a segurança”, disse Nadal Sota.

Afirmou, ainda, que, antes do verão, o

Município de Lima concluirá a instalação

de 492 mil m² de geogrelhas, em pontos

críticos, nos distritos de San Miguel, Mag-

dalena, Miraflores, Barranco e Chorrillos.

As geogrelhas são geossintéticos

para reforço e contenção de solo com

uma estrutura plana feita a partir de

polímeros de alta resistência e durabi-

lidade. Atualmente, tem-se geogrelhas

de poliéster e fibra de vidro, que ofe-

recem resistência aos raios UV e abra-

sões para melhorar a aderência em su-

perfícies betuminosas (fotos 7, 8 e 9).

as GeoGreLhas têm Como CaraCterístiCas • Alta resistência.

• Muito pequena deformação.

• Alto módulo de elasticidade.

• Excelente comportamento em longo prazo.

• Resistência química, física e biológica.

• Boa interação com o material de enchimento.

• Facilidade de instalação.

• Resistências diferentes em uma ou

ambas as direções.

O Peru é um país que enfrenta grandes

adversidades e desafios naturais, princi-

palmente relativos a abalos sísmicos de

grandes proporções, que podem resultar

em maremotos e tsunamis, como pode ser

evidenciado através da história recente do

País. Entretanto, pude comprovar a grande

preocupação da administração nacional e

municipal em prover condições à popula-

ção para o enfrentamento de situações de

risco, principalmente em termos preven-

tivos. Exemplos disso são a instalação das

geogrelhas nas encostas íngremes das fa-

lésias sobre as quais a cidade de Lima está

situada, assim como o desenvolvimento de

mecanismos de prevenção, ação e respos-

ta para o caso de ocorrência de eventos

extremos, como tsunamis.

Colocação das geogrelhas nas falésias mais altas da Costa Verde.

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Luiz Priori Jr. é doutor em Engenharia Civil, na área de construção sustentável, com pós-doutorado em resiliência urbana e mudanças climáticas

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