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Mulheres nota 10 O crescimento da ação feminina em todas as áreas da vida social ENTREVISTA Em entrevista exclusiva à +Cristão, Marina Silva, que é conhecida pela defesa que faz da ética, dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, fala sobre fé, política, meio ambiente e o papel da mulher na sociedade. CRISTÃOS SEM IGREJA Um rebanho sem pastor. A cada dia, cresce o número de cristãos que optam por servir a Deus longe dos templos Tempo de Concursos o sonho é ter o Estado como patrão Ninguém está a salvo Os alarmantes números da violência Cristão + Ano 01 Nº 01 | Fevereiro / Março 2013 | www.facebook.com/revistamaiscristao | Editora Millibros

Revista +Cristão Edição01

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Edição nº 01 da Revista +Cristão /Anuncie ou solicite exemplares da revista [email protected] CRISTÃOS SEM IGREJA! Um rebanho sem pastor. A cada dia, cresce o cristãos que optam por servir a Deus longe dos templos. ENTREVISTA Em entrevista exclusiva à +Cristão, Marina Silva, que é conhecida pela defesa que faz da ética, dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, fala sobre fé, política, meio ambiente e o papel da mulher na sociedade.

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Mulheres nota 10O crescimento da ação feminina em todas as áreas da vida social

ENTREVISTAEm entrevista exclusiva à +Cristão, Marina Silva, que é conhecida pela defesa que faz da ética, dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, fala sobre fé, política, meio ambiente e o papel da mulher na sociedade.

CRISTÃOS SEM IGREJAUm rebanho sem pastor. A cada dia, cresce o número de cristãos que optam por servir a Deus longe dos templos

Tempo de Concursos o sonho é ter o Estado como patrão

Ninguém está a salvoOs alarmantes números da violência

ENTREVISTAENTREVISTAEm entrevista exclusiva à +Cristão, Marina Silva, que é conhecida pela defesa Em entrevista exclusiva à +Cristão, Marina Silva, que é conhecida pela defesa que faz da ética, dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, que faz da ética, dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, fala sobre fé, política, meio ambiente e o papel da mulher na sociedade.fala sobre fé, política, meio ambiente e o papel da mulher na sociedade.

Cristão+Ano 01 – Nº 01 | Fevereiro / Março 2013 | www.facebook.com/revistamaiscristao | Editora Millibros

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Diretor-EditorJairo Cesar

Diretor ExecutivoJerry Gaspar

Diretor Comercial

David Malafaia

Diretor de Arte / Projeto Gráfi coThimóteo Soares

JornalistaMércia Maciel

ColaboradoresHosana Sei� ert e Eleazar Araújo (Zazo)

RevisorEleazar Araújo (Zazo)

ArticulistasAntonio Costa, Antonio Siqueira, Daniel Castro, Elioenai

Dornelles, Hosana Sei� ert, Junior Sipaúba e Zazo, o nego.

Fotografi aCristiano Carvalho e Thimóteo Soares

ImpressãoE-gra� Soluções Gráfi cas

Distribuição / PeriodicidadeA Revista Mais Cristão é bimensal e é

distribuida gratuitamente em diversas igrejas do Distrito Federal e livrarias evangélicas.

Tiragem10.000 exemplares

PublicidadeJireh Publicidade & Marketing

Contato: David Malafaia

61 9188-6948 / 61 9652-2321

e-mail: [email protected]

Os artigos publicados nas seções “Pastoral”,

“Política”, “Direito e Cidadania”, “Dicas de

Saúde”, “Esporte” e “Contos e Crônicas” são de

inteira responsabilidade dos seus autores.

A Revista +Cristão é uma publicação da Millibros Editora

Após a edição experimental, chegamos ao primeiro nú-mero da Revista Mais Cris-tão. Depois de considerar

os inúmeros comentários recebidos, é hora de olhar para a frente, corri-gir o rumo, traçar planos e agir para levar ao leitor um conteúdo de qua-lidade. Olhamos para o futuro com fé e esperança, mesmo que haja incertezas e nem sem-pre as manchetes sejam de notícias boas. A equipe da revista deseja sinceramente que as linhas e imagens aqui impressas proporcionem ao leitor uma viagem repleta de informações que ajudem a pensar e a viver seu cristianismo com mais fé e esperança.

Esperança de que a valorização feminina seja uma realidade no nosso meio. A ONU adotou em 1977 a data de 8 de março como o Dia Internacional da Mu-lher. Apesar de ter-se tornado mais um apelo consu-mista, subsiste o fato de que é necessário discutir o papel da mulher na sociedade. Mesmo com todos os avanços, elas ainda sofrem, em muitos locais, com sa-lários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens na carreira profissional. A reportagem Mulheres Nota 10 e a entrevista com Marina Silva destacam importantes (e não necessariamente famosas) personagens que fazem diferença por sua integridade, coragem, luta e determinação.

Fé em uma vida comunitária mais saudável, discutida na reportagem Cristãos Sem Igreja, que apresenta os ques-tionamentos de ovelhas que abandonaram o aprisco, por decepção com as instituições. Congregar é funda-mental? É possível ser salvo sem filiar-se a alguma igre-ja? Existe algo a ser corrigido na estrutura eclesiástica?

Nas seções e artigos oferecemos dicas de saúde, boas opções para os seus ouvidos (mais música), um pouco de política, esporte e reflexão.

Boa leitura.

EDITORIAL por Jairo Cesar Editor

Contatos61 9309-899861 9345-0550

[email protected]@revistamaiscristao.com

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4 +CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

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AGENDAFESTA DO MILHOData: 16 de marçoLocal: Acampamento GileadeRealização: Igreja Presbiteriana de BrasíliaInformações: 61 3245-5719

CHÁ DAS AMIGASData: 16 de marçoLocal: Igreja Batista Asa SulRealização: Igreja Batista Asa SulInformações: 61 8442-8925

METAMORFOSE 2013Participações: Lucinho Barreto, Juda Bertelli, Kleber Lucas, Fabricio Miguel e JB CarvalhoData: de 28 a 31 de MarçoLocal: W3 sul, quadra 513 Bloco ARealização: Igreja Comunidade das NaçõesInformações: 61 3346-1212

CHAVES PARA A LIBERDADE FINANCEIRAParticiação: Pr. Ivonildo TeixeiraData: 09 e 10 de marçoLocal: SGAN 603, Mod. D, Conj. C, Asa Norte - DFRealização: Igreja do Nazareno Central de BrasíliaInformações: 61 3323-5099

IMPACTO SUDESTE ASIÁTICOParticipação: Líderes cristãos AsiáticosData: 08 a 10 de marçoRealização: AmideInformações: 61 3298-6700 / www.amide.org.br

DESPERTA BRASÍLIAParticipações: Thalles Roberto, Fireflight (E.U.A)Data: 12 de abrilLocal: Estacionamento do Ginágio Nilson NelsonRealização: Willy EventosInformações: facebook.com/despertabrasilia

PREPARE-SE

Divulgue o seu evento na +Cristão: [email protected]

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SUMÁRIO

Bp. Antônio CostaPalavra Pastoral

Hosana SeiffertPolítica

Antonio SiqueiraFamília e Casamento

Daniel CastroDireito e Cidadania

EntrevistaMarina Silva - uma referência de fé e superação

Mulheres nota 10O crescimento da ação feminina em todas as áreas da vida social

Tempo de ConcursosO sonho é ter o Estado como patrão

CulturaNovos ares no mercado editorial evangélico

Ninguém está a salvoOs alarmantes números da vio-lência

Elioenai DornellesDicas de Saúde

Junior SipaubaEsporte

Zazo, o negoDicas de músicas

ZazoContos e Crônicas

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| ARTIGOS

| EDITORIAL

| CAPA

por Mércia Maciel

Cristãos Sem Igreja.As controvérsias da vida cristã longe da igreja. pág. 24

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PASTORAL

8 +CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

Antônio CostaBispo da Igreja de

Nova Vida de Brasília.

por Antônio Costa

Quando nascemos somos criados, educados e inseridos por nossos pais na sociedade em que vivemos. Porém chega um momento em que alcançamos a maturidade e temos

de traçar nosso próprio destino. É assim na vida pro-fissional e nas escolhas que fazemos: profissão, em-prego, casamento e demais oportunidades que a vida oferece. Cada qual escolhe o que melhor lhe parecer.

A Bíblia narra uma história bastante interessan-te do ponto de vista racional e da lógica humana. O povo de Israel, quando saiu do cativeiro no Egito, te-ria que fazer uma escolha: o caminho a seguir. Por certo, todos nós – que não sabemos nada do futuro – teríamos dificuldades na opção feita por Moisés. O profeta optou por ouvir a voz de Deus e obedecer a ela, numa viagem sem volta, por um lugar que nem era caminho. Eles teriam de ir pelo contorno do monte Sinai, área de desertos e sem recursos para mais de dois milhões de pessoas. Não havia lógica nessa viagem.

É claro que eles prefeririam seguir por um cami-nho bem mais próximo e conhecido, mas que passa-va por terras de valentes guerreiros. Os filisteus pos-suíam fábrica de lanças e espadas. Eram treinados para batalhas. E Deus orientara a Moisés para que não fosse por aquele rumo. Os israelitas achavam que, por aquela rota, eles chegariam à terra prometi-da em menos tempo (Êxodo 13. 12-18).

Já pelo deserto eles levariam um período bem maior e não teriam a menor condição de sobreviver sem a presença do Senhor. Tinham só duas opções: primeira, obedecer a Deus e ter a sua presença; se-gunda, desobedecer e correr o risco de não chegar. Pois certamente, sem Deus, eles não chegariam à ter-ra prometida, por mais curto que fosse o caminho.

A presença de Deus traz provisão, luz, água e vitó-ria nas lutas. O povo conviveu com isso. Deus tinha o

controle de todas as coisas, pois o profeta obedeceu à sua voz, e o povo ouviu o profeta. Israel demorou cerca de quarenta anos desde a partida do Egito até a posse da terra prometida, mas pôde testemunhar que Deus cumpre a sua palavra, embora isso pareça impossí-vel aos homens. Israel é uma realidade e um milagre! Precisamos retirar algumas lições desse fato histórico.

O discípulo tem como princípio fazer a coisa certa, muito embora isso seja mais difícil e demorado. Na estrada da vida, atalhos não ajudam e não levam a realizações seguras. No caminho que Deus não apro-va, há muitos atrativos, ofertas e distrações. É o lugar das facilidades. Mas quem escolhe essa trilha pode não chegar. Porém o trajeto escolhido por Deus é o melhor. Pode ser longo e cansativo, mas tem sabe-doria, ensino e disciplina – deixa experiência. Foi no caminho mais longo que Israel conheceu Jeovah. Assim como o povo no Antigo Testamento precisava passar pelo deserto para conhecer a Deus e aprender com ele, também precisamos passar por essa senda. É por ela que o nosso ser é moldado e toda falha de caráter é corrigida. É o lugar da reconciliação com Deus, do amor, do perdão e da misericórdia.

No Novo Testamento, Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai, senão por mim”. Essa não é a forma mais fácil de viver num mundo de porfias e competições. Mas é a única que leva ao Pai e que garante a salvação, a vida eterna.

No deserto aprendemos o que não se aprende cor-tando caminho: a humildade. É ela que nos faz ap-tos para orar, para interceder. Na humildade é que aprendemos a depender uns dos outros e valorizar-mo-nos mutuamente.

Curta seu deserto e glorifique a Deus pela sabedoria que ele lhe proporciona. Fuja das facilidades e dos ata-lhos. Afaste-se do perigo. Creia em Deus e ouça o pro-feta que ele colocou diante de você – para o seu bem! +

Qual o Caminho a seguir?

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ENTREVISTA

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“A boa política tem um fundamento profundamente assemelhado a tudo o que Jesus fez no mundo: servir”

Marina Silva, uma referência de fé e superação

por Mércia Maciel e Jairo Ribeiro

Foi uma agradável surpresa quando o mundo a viu em destaque, na abertura dos jogos olímpicos de Londres

de 2012. Senadora por dezesseis anos, ministra do governo Lula, 20 milhões de votos na última eleição presidencial, defensora da ética, dos recursos naturais e do desen-volvimento sustentável, Marina Silva é um referencial de supera-ção, determinação e coragem.

Com um sorriso franco, olhar sincero e aparente fragilidade, quando usa da palavra, Marina Silva, 55 anos, natural do estado do Acre, descortina uma compre-

ensão ímpar da política nacional, alinhada ao anseio de boa parte da sociedade. Professando uma fé simples e vibrante, cobra coerên-cia ética dos eleitores e, ao valori-zar o sexo feminino, afirma que as mulheres desenvolveram um “saber silencioso” que as torna conciliadoras.

Reconhecida como uma das mais influentes personalidades de nosso tempo, Marina falou, com exclusividade, à revista + Cristão, exatamente na semana anterior ao lançamento da Rede, que deve se transformar em partido políti-co, com vistas às eleições de 2014.

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ENTREVISTA

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+Cristão: A senhora é exemplo de supe-ração. Sua biografia é um resumo de cora-gem, determinação e fé. Como sua conver-são influenciou sua vida pessoal e pública? Marina Silva: O que experimen-tei foi uma conversão dentro da conversão, pois a fé, em várias di-mensões, já era essencial na minha vida. Só que passei a vivê-la de for-ma mais intensa e detalhada, em cada momento do dia a dia. Passei a ter outra consciência da minha saúde, por exemplo; uma noção nítida de que cada célula do meu corpo estava nas mãos de Deus, que me cabia confiar e me entregar in-teiramente. Quando a gente vai às portas da morte, é possível enten-der que a fragilidade da vida só se sustenta pela força da fé. Minha ação pública foi potenciali-zada por essa nova vida. Meu pensa-mento ganhou uma nova fonte com a leitura intensa e constante do texto bíblico – um texto pleno de riqueza espiritual, sabedoria, inteligência, informações de toda natureza. Esse mergulho me deu uma nova visão de tudo: da vida pessoal às questões planetárias. Os princípios bíblicos para a existência, tanto individu-al como coletiva, são muito densos, retos e sábios. É impossível ir de Gê-nesis ao Apocalipse sem passar por mudanças profundas. +Cristão: Há preconceito por ser evangélica?

Marina Silva: Por incrível que pa-reça, nunca fui discriminada por ser pobre, ou negra, ou mulher, mesmo atuando em um espaço conservador e predominantemente masculino como o Senado. Mas já sofri preconceito por ser evangélica, em diversos ambientes. Algumas pessoas imaginam que os evangélicos são todos conservadores, machistas e preconceituosos, o que não tem respaldo bíblico. As Escritu-ras, aliás, mostram que toda a huma-nidade é amada por Deus e tem essa filiação, essa dignidade.

Quanto aos que se apegam aos ran-ços do passado, distorcendo o texto bíblico para perpetuar injustiças, gosto de lembrar, por exemplo, da recomendação do apóstolo Paulo aos Romanos segundo a qual não deve-mos nos conformar com este século, mas nos transformar pela renovação da nossa mente.

+Cristão: Sua trajetória pública é pautada pela defesa da ética. É possível conciliar po-lítica e valores cristãos?

Marina Silva: A boa política tem um fundamento profundamente as-semelhado a tudo o que Jesus fez no mundo: servir. Essa política é a arte de servir ao coletivo, cuidar do bem público, atender aos necessitados, proteger e promover os que são so-cialmente fragilizados. É o que Je-sus nos recomendou como modelo de vida. Os valores cristãos podem ser compreendidos como princípios éticos, e a política como uma prática orientada por esses princípios. Um desvirtuamento ocorre quando a vi-gilância da sociedade diminui ou é impedida. Tenho insistido na ideia de que as pessoas virtuosas devem criar instituições virtuosas para que estas possam corrigi-las quando aquelas falharem em suas virtudes. Assim, entre a participação democrática do povo e a correção das leis, pode-se ter uma política orientada por valo-res cristãos, sem qualquer sombra de fundamentalismo. Tão somente o exercício do respeito, da compreen-são, da solidariedade, ou seja, em es-sência, o mandamento do amor, a de-fesa do bem comum. A política assim exercida é semelhante ao que o após-tolo Paulo chamou de “bom combate”.

+Cristão: A senhora ganhou reconheci-mento, dentro e fora do país, pela defesa pela defesa do meio ambiente e pelo trabalho como titular do Ministério do Meio Ambien-te, na gestão Lula, quando deixou o cargo, por conta das dificuldades que enfrentava dentro do próprio governo, para dar pros-seguimento à agenda ambiental. Como a

senhora avalia a postura do Brasil quando se trata de desenvolvimento sustentável?

Marina Silva: Nosso país tem reali-zações admiráveis. Saímos de um re-gime militar e iniciamos a reconstru-ção de uma democracia que se afirma e amadurece cada vez mais. Supera-mos a instabilidade financeira e a inflação, num período de quase vinte anos de estabilidade que aumentou nossas chances de suportar a atual crise econômica mundial. Destina-mos ao menos uma pequena parte do PIB para transferir renda aos que viviam abaixo da linha de pobreza, o que tirou mais de 20 milhões de pes-soas da miséria. Mas não temos sido capazes de vencer a corrupção e de promover um desenvolvimento que tenha sustentabilidade ambiental, ou seja, que conserve as riquezas am-bientais para as próximas gerações. Em resumo, temos avanços econômi-cos e sociais que convivem com um grande atraso na política e na ética. Nos últimos dois anos isso se agra-vou, pois os interesses econômicos imediatos predominaram no Con-gresso e no Governo, forçando um retrocesso em conquistas de quase duas décadas na legislação ambien-tal e nas políticas socioambientais. O resultado é um perigoso comprome-timento de nosso futuro, ameaçado pelas catástrofes do aquecimento global, para o qual caminhamos sem cuidados nem proteção. +Cristão: Em que é preciso ainda avançar?

Marina Silva: Primeiro, na proteção de nosso patrimônio natural. O Brasil tem um território em que a biodiver-sidade é a maior do planeta. Tem água abundante e terra fértil. Esses recur-sos não podem nem precisam ser des-truídos para plantar soja e criar gado. Com investimento em tecnologia, é possível dobrar o rebanho e a produ-tividade agrícola sem derrubar sequer uma árvore.Basta reaproveitar as áre-as degradadas e abandonadas.

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Segundo, no reconhecimento de nos-so patrimônio cultural. Temos um país com 305 povos indígenas falan-do 180 línguas, além do Português.Temos quilombolas, ribeirinhos, cai-çaras. Temos uma juventude criativa e ávida por educação de qualidade. Nas grandes cidades, temos comu-nidades em que a população é maior que a de muitos países. Mas os terri-tórios das comunidades tradicionais não estão totalmente demarcados, e a diversidade cultural de nosso povo não é valorizada. A economia ainda se sustenta na produção de commodities e no consu-mo de importados, com intenso uso de carbono. O planejamento urbano não previne catástrofes porque se dobra aos interesses da especulação imobiliária. Em resumo, nosso atra-so é na transição para uma socieda-de sustentável e uma economia de baixo carbono. Precisamos ter cons-ciência da importância do Brasil, com seus recursos e seu potencial, na mudança necessária à sobrevi-vência da civilização. +Cristão: Qual é a sua avaliação da agenda ambiental de 2013 no Congresso? Ainda há muita resistência dos parlamentares com a pauta ambiental?

Marina Silva: Tem saído na mídia que o grupo de parlamentares ru-ralistas tem uma agenda de retro-cessos em seus planos para 2013. Desfazer alguns direitos trabalhis-tas, rever a demarcação de terras de índios e quilombolas, desfigurar ainda mais o Código Florestal são alguns itens dessa agenda muito negativa para o modelo de produ-ção sustentável. Há também uma enorme pressão em reduzir a pre-paração das cidades brasileiras para as Olimpíadas e a Copa do Mundo a um conjunto de grandes obras, dei-xando de lado a chance de refazer o planejamento urbano e melhorar a qualidade de vida nessas cidades. A questão energética também acumu-la polêmicas, pois tanto a destinação

dos recursos do petróleo quanto o incentivo às fontes de energia lim-pa e renovável são debates travados sem transparência, dominados pe-los grandes grupos econômicos. O governo limita-se a garantir bons resultados nas políticas de promoção social. Fica refém desses interesses, conivente com o retrocesso social e ambiental. Não tem tido uma política previdente em relação aos desastres ambientais, que trazem tanto sofri-mento: enchentes e desabamentos no sul, seca cruel no nordeste. Há muito trabalho de vigilância e cobrança da sociedade que deve ser feito em 2013.

+Cristão: Depois de brilhar como terceira via na eleição presidencial de 2010, a se-nhora volta ao cenário político com vigor e já debate a criação de um novo partido. Em encontro com lideranças partidárias, a senhora já avisou que não fará concessões para receber na nova sigla nomes que não se alinhem com o ideário do movimento que a apoia. O Brasil precisa de lideranças comprometidas com a ética?

Marina Silva: O Brasil precisa de to-dos os seus cidadãos e cidadãs com-prometidos com a ética: governantes

e governados, representantes e re-presentados. Nossa Constituição diz, em seu primeiro artigo, que o poder emana do povo. É a população que referencia eticamente o Estado. São os cidadãos que delegam o poder aos dirigentes. A fonte do código de ética para o setor público vem da socieda-de. Se isso for rigoroso, não haverá tolerância com os que quiserem se servir do que é público ao invés de servir o que é público. Tenho falado, em várias ocasiões, o que penso do carisma político. Fala--se muito das lideranças carismáti-cas. Penso que esse carisma é como o petróleo do pré-sal. Ainda não dá para dispensar o petróleo, não te-mos fontes de energia suficientes. Mas o petróleo não é eterno, é um recurso finito. Então deve ser cor-retamente aproveitado, seu valor deve se transformar em melhorias na educação, em tecnologia para obter energia limpa de outras fon-tes, em programas de saneamento, saúde, conservação ambiental. A mesma coisa é com o carisma políti-co. Hoje ele ainda é necessário para mobilizar as pessoas, mas o ideal é que todo o mundo tenha autonomia, liberdade, consciência e responsabi-lidade; que ninguém precise esperar pelo comando de um líder. Então os que hoje têm algum poder de lide-rança devem usá-lo para ampliar a autonomia das pessoas e comunida-des, para dar a todos mais qualidade de vida, formação, liberdade; jamais para dominar ou tentar perpetuar- se no poder. +Cristão: Nas últimas eleições, a se-nhora recebeu expressivos 20 milhões de votos. Há planos para Marina Presidente 2014?

Marina Silva: Fiz várias reuniões para escutar os que estiveram na linha de frente da campanha de 2010 comi-go. Recebi também manifestações pela internet e vi as pesquisas que traziam um índice de esperança na plataforma que defendi naquele ano.

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ENTREVISTA

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Decidimos que o primeiro passo é criar uma representação política, um partido, para defender esse legado e expressar esse movimento. Quere-mos um partido diferente, que não seja um meio de ascensão e poder, mas a expressão de sonhos e ideais, especialmente da juventude, e das ações para que o Brasil tenha um de-senvolvimento sustentável em todas aquelas dimensões que já mencionei. Quanto a uma possível candidatura... bem, é melhor dar um passo de cada vez. Assim como o partido não é um fim em si mesmo, uma candidatu-ra também não é. Tem que ser uma construção coletiva, estar a serviço de uma causa. Isso é o essencial. +Cristão: No ano passado, o brasileiro acompanhou o julgamento do mensalão e ganhou leis importantes, como a Lei de Acesso a Informação, que garante trans-parência da gestão pública. O Brasil está mudando?

Marina Silva: Sim. Mesmo com al-guns atrasos e até retrocessos, o Brasil está mudando para melhor. As experi-ências da sociedade têm sido oportuni-dades de aprendizagem e de evolução. Há vinte anos, vivemos um momento institucional de grande significado: re-tiramos do Palácio do Planalto o primei-ro presidente democraticamente eleito depois de longos anos de autoritarismo, porque ele não teve um comportamento de governante dentro dos padrões que a sociedade queria. Alguns combateram de terno e gravata, nos microfones dos

parlamentos. Outros usaram suas tri-bunas jornalísticas, os espaços de rádio, de TV. Outros ainda, bem mais jovens, combateram de camiseta e jeans, com a cara pintada, elevando a voz nas ruas. E foi uma grande lição que agora pode-mos atualizar, buscando, novamente com os mais jovens, uma nova forma de ação política, democrática, dinâmi-ca, viva, ética, sinceramente idealista. Quanto ao mensalão, a justiça resol-veu, e vamos confiar que cumpriu bem o seu papel. Eu dizia que espera-va que o julgamento do mensalão pro-duzisse justiça. Quem fosse culpado que fosse condenado e depois punido; quem fosse inocente que tivesse sua inocência provada com os recursos que a democracia disponibiliza no processo judicial. Com certeza foi um momento com potencial para produ-zir mais do que a justiça: o aprendiza-do dela. O debate e as reflexões fazem os indivíduos tomarem posições, e muitos despertam para o exercício de uma cidadania mais ativa. +Cristão: Sua trajetória de vida é prova da força da mulher. Que recado a senhora deixa à brasileira que ainda luta por lugar no mer-cado de trabalho, direitos e tantas outras conquistas?

Marina Silva: Sempre faço três afirmações sobre a minha trajetória pessoal. Uma é que sou movida a fé e determinação. Elas são minha ener-gia, minha motivação mais profun-da. A segunda é que sou um produto da educação, que a oportunidade de

estudar me deu perspectivas, ideais, sonhos, projeto de futuro. Infeliz-mente milhões de pessoas continu-am ainda sem acesso a uma educação de qualidade que lhes ajude a superar as dificuldades. A terceira afirmação é de que tive ajuda de muita gente, pessoas que me ajudaram a recupe-rar a saúde, que me ensinaram os va-lores da cidadania e da política como defesa do bem comum, que me apre-sentaram a fé em Jesus e me apoia-ram na caminhada para amadurecer nela, que me subsidiaram no cotidia-no do exercício do mandato de Sena-dora e depois de Ministra de Estado. Enfim, Deus tem cuidado de mim por meio desses meus semelhantes. Sou, além de uma pessoa de fé e determi-nação, uma mulher cheia de gratidão e convicta de que minha vida é um mila-gre de Deus. Mas a condição feminina ainda me dá outros valores que nessa trajetória aprendi a reconhecer e apre-ciar. Talvez pelos séculos de opressão quando desenvolvemos um saber si-lencioso, nós mulheres estamos aptas a buscar o entendimento em vez do conflito. A maternidade nos possibilita escolher a inclusão de todos em vez da disputa. Somos mais predispostas ao amor pelos desamparados em vez do prazer nas mesas dos poderosos. Acho que não é uma coisa automática; são dons que a gente tem que cultivar, princípios dos quais a gente tem que se lembrar. Não basta ser mulher, é preci-so ter coragem, buscar a parceria com outras mulheres e também com ho-mens, trabalhar pelo bem comum. +

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Guerreiras, elas cuidam dos filhos e companhei-ros, trabalham, estu-dam e abraçam causas

sociais. Ainda há aquelas que de-dicam suas vidas ao próximo. A agenda da mulher moderna dei-xaria nossas bisavós cansadas só de pensar. Mas elas provam que o cor-po aparentemente franzino escon-de uma fortaleza, uma capacidade de se reinventar e de ser, ao mesmo tempo, mulher frágil e de guerra.

Michele Alves, moradora da Ceilândia, é uma dessas mulhe-res-coragem. O dia mal amanhe-ce e a jovem gari de 28 anos já está nas ruas, praças e vias públicas, pronta para apanhar papel, latas, copos plásticos e toda sorte de lixo que encontra pela frente. O ritmo é frenético. É preciso dar conta do recado e assegurar o salário, que vai ajudar nas despesas de casa. A morena de cabelos longos engros-sa as estatísticas: dez milhões de brasileiras sustentam suas casas sozinhas. Michele sabe que sua profissão nem sempre é valoriza-da, mas garante que tem orgulho do que faz. “Tenho que driblar a

10Mulheres

falta de dinheiro e também o pre-conceito. Eu limpo a sujeira dos outros, mas isso não me incomo-da, pois sei que estou fazendo al-guma coisa boa”, afirma.

Vaidosa, ela não abre mão de cuidar do visual. Faz questão de combinar o uniforme com a cor do esmalte e de usar anéis e pul-seiras que enfeitam uma mulher batalhadora. “Gosto de me arru-mar e de me sentir bem. Assim fica mais fácil encarar o trabalho e levar a vida”, conclui confiante.

notaAté o fi nal da leitura desta matéria, milhares de mulheres em todas as partes do mundo farão diferença com seus exemplos e ações

por Mércia Maciel

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Michele Alves, 28 anos, (profi ssional de limpeza e higiene - gari)

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COMPORTAMENTO

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Para a mulher, a Ciência não tem fronteiras e está longe de ser uma área exclusiva dos homens. E a israelense Mayana Zatz, paulista desde os sete anos, é prova disso. Aos 26, já era doutora e tinha um casal de filhos. Uma das maiores geneticistas do país, pós-doutora em Genética pela Universidade da Califórnia e diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (o maior da América Latina), Maya-ne coleciona títulos. Entre eles, o de Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e o prêmio Mulheres Cientistas, este confe-rido pela Unesco e pela empresa L’Oréal, no ano de 2001, em Paris. A dama do laboratório é incansá-vel. Em 1995, tornou-se pioneira ao localizar um dos genes ligados a um tipo de distrofia dos membros. Mas as doze horas que passa em seu laboratório não a impedem de ser uma mãe presente e uma cien-tista sintonizada com os anseios da sociedade. Em 2004, ela pendurou o jaleco e, durante várias semanas, esteve em Brasília, onde foi uma das principais vozes no debate que levou à aprovação pela Câmara dos Deputados da pesquisa com célu-las-tronco embrionárias, a Lei de Biossegurança. Hoje, com os filhos adultos, relembra sua tripla jorna-da. “Quando cheguei ao Departa-mento de Biologia da USP, nunca tinha havido uma livre-docente do sexo feminino. Foi um grande desafio. Mas ser cientista e exercer meu papel de mulher e de mãe foi um desafio maior ainda”, constata.

Para a autora de quase trezentos trabalhos científicos reconhecidos mundialmente, a força da mulher é incontestável e, em geral, as mu-lheres são mais dotadas de intui-ção e paciência, atributos impres-cindíveis na pesquisa científica. “Há muito tempo, defendo a tese de que, nas Ciências, não há dis-criminação no Brasil contra mu-lheres. Os últimos levantamentos

têm mostrado que, nessa difícil seara, somos em maior número. Trabalhar em ciência é fascinante. O que nos diferencia dos não cien-tistas é que temos uma curiosidade ‘mórbida’. Não nos contentamos em observar e queremos saber mais. A cada pergunta respon-dida, abre-se um leque de novas perguntas, e é isso que nos move”, afirma animada.

Se o combustível de Mayana Zatz é o fascínio pelas descobertas, a missionária Angelita Alves mer-gulha na fé para viver. São três ho-ras da manhã. Na silenciosa ma-drugada, o telefone toca em sua casa, na Asa Norte. Do outro lado

da linha, uma jovem de Juiz de Fora (MG), com um copo de vene-no nas mãos, ameaça tirar a vida. Desesperada, chora implorando por ajuda. A missionária fala do amor de Deus, dos planos que ele tem para a vida do ser humano, da salvação. Uma hora depois, a jovem se rende aos pés de Jesus e começa uma nova vida. Essa é apenas uma das muitas histórias que Angelita lembra, em mais de

trinta anos de ministério. Movida pela compaixão pelas almas, ela obedece ao chamado de missões e dedica seus dias ao serviço do Rei. Os celulares – três, sempre ligados – estão à disposição de quem pre-cisa, a qualquer hora. Sua casa, aberta para aqueles que querem ouvir a Palavra de salvação, rece-ber aconselhamento e/ou oração. Ela sabe que, muitas vezes, se es-quece um pouco de si, mas sente--se realizada. “Deus quer vidas comprometidas com sua ordem para evangelizar, e o meu maior prazer é obedecer a esse chama-do”, enfatiza.

A vida missionária de Angelita é um exemplo do que foi a his-tória de Débora, profetisa e juíza de Israel, heroína bíblica que, em parceria com Baraque, alertou o povo a guerrear contra um pode-roso inimigo. Naquela época, ela exercia um papel privativo de ho-mens, mas não se intimidou. Ba-raque, porém, somente se dispôs a pelejar por Israel se Débora es-tivesse ao seu lado. E o resultado dessa vitória foi a paz que reinou sobre a nação israelita por qua-renta anos. A Bíblia relata ainda que a profetisa ficava embaixo de uma árvore, recebendo pessoas com todos os tipos de problemas e os ajudava a resolvê-los, assim como Angelita. “A mulher atual tem dificuldades em encontrar espaço em sua agenda, mas é possível servir a Deus e ao pró-ximo, em casa, no trabalho, onde quer que se esteja”, garante.

“Guerreiras, elas cuidam dos filhos e companheiros, trabalham, estudam e abraçam causas sociais”

Mayana Zats, uma das maiores geneticistas do país

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19FEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

Uma história de superação deu lugar a uma dor dilacerante. Há quase duas décadas, Ilda Peliz perdia sua pequena Rebeca, de apenas dois anos, para um agres-sivo câncer. Não foi fácil. Viveu o luto, enxugou as lágrimas e olhou para o seu próximo. Há dez anos, Ilda está à frente da Abrace (Asso-ciação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias), uma re-nomada instituição fundada em 1986 por um grupo de pais cujos filhos faziam tratamento de cân-cer no Hospital de Base do Dis-trito Federal (HBDF). Esses pais queriam ajudar as famílias que passavam pelo mesmo drama, potencializado pelas dificuldades financeiras que lhes tirava a espe-rança de combater a doença.

Nessas duas décadas, a institui-ção contribuiu para que o índice de cura aumentasse de 50% para 70% e chegasse a zero o de abando-no do tratamento da doença, com a criação de sua Casa de Apoio, a qual hospeda pacientes e acom-panhantes vindos de todo o país. Tanto esforço e amor pelas vidas resultaram em outro fruto: o Hos-pital da Criança de Brasília José Alencar, construído com doações enviadas à Abrace e mantido com recursos dos governos federal e distrital. O empenho de Ilda Peliz foi decisivo para tirar o projeto do papel. O hospital retrata a esperan-ça em dias melhores e o novo jeito de Ilda ver a vida, à semelhança de Ester, a órfã judia que, movida por fé e amor, salvou o seu povo. Nem de longe o lugar parece um centro de saúde. Suas paredes são coloridas. Cata-ventos e brinque-dos trazem alegria e amenizam o sofrimento dos pequenos pacien-tes e seus familiares. “Acredito que os principais combustíveis – não só para ações sociais, mas para a vida – são a fé e a esperança. Elas nos fa-zem prosseguir, mesmo quando as circunstâncias nos apontam a de-

sistência como caminho mais ób-vio. É justamente essa jornada de fé e esperança na concretização de objetivos e no enfrentamento das adversidades da vida que nos torna pessoas melhores, de mais virtude, coragem e solidariedade”, afirma.

A jovem enfermeira, Fernanda Andrade, da igreja Sara Nossa Terra, trabalha no Hospital da Criança. Ela é uma mulher forte e acostumou-se a lidar com o so-frimento. Mas como a meiga per-sonagem bíblica Rute, que não se abateu quando a tragédia chegou à sua casa, com a morte de seu esposo e a viuvez de sua sogra, a cada dia Fernanda encontra na fé, a força para ajudar os peque-nos e seus familiares a supera-

“A mulher é um ser múltiplo e único; é preciso conciliar as várias missões que ela tem no lar, trabalho, casamento, criação de filhos e também como provedora”

Ilda Peliz, presidente da Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace)

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rem o drama da doença. Com-padecendo-se pela dor do outro, ela distribui sorrisos, palavras de conforto e de carinho. Apesar do tratamento humanizado do hos-pital, a enfermeira assegura que sua fé ajuda nesse desafio de le-var esperança a quem luta pela vida. “É importante estar forte espiritualmente para não deses-tabilizar as emoções, principal-mente, em situações extremas. Mas tento me manter firme para conseguir encorajá-los a seguir. O amor e o cuidado que Deus tem por mim transfiro para eles”, ex-

plica. Mas a mão amiga da enfer-meira também recebe bênçãos. “Quando vejo aquelas mães com seus filhinhos doentes e, mesmo assim, não reclamam, mas cui-dam com força redobrada, são elas quem me ensinam a viver”, diz emocionada.

Maria, irmã de Lázaro, aquela que queria estar sempre aos pés de Jesus, ouvindo seus ensina-mentos, talvez seja a personagem bíblica que mais se pareça com a pastora Laudjane Guerra Veloso, da Igreja Batista Filadélfia de Ta-guatinga. Em vinte anos de mi-

nistério, na igreja pastoreada por seu esposo, ela se preocupa com o desenvolvimento espiritual e emocional da mulher. Mãe de três filhos, há uma década a pastora Laudjane dirige o Ministério Só Elas e se sente desafiada a ajudar a mulher do século 21 a fazer di-ferença em seu meio e a ser in-fluenciadora da sociedade, dando a ela o suporte necessário para o seu desenvolvimento espiritual, emocional e familiar. “A mulher é um ser múltiplo e único; é preciso conciliar as várias missões que ela tem no lar, trabalho, casamento, criação de filhos e também como provedora. Na luta pela conquis-ta de seu espaço, numa sociedade que impõe o fardo da beleza e do corpo, a mulher precisa resgatar sua verdadeira identidade, segun-do a Palavra de Deus”, constata. Muitas chegam dilaceradas, com a família e relações conjugais des-truídas ou mesmo vítimas de todo tipo de violência, sem referência de vida. “Assim, procuramos res-taurar essas vidas para o Senhor”, complementa.

Fruto dessa incansável luta, o evento Miss Batom, que acontece anualmente, no mês de setem-bro, é a prova de que a mulher quer outra história. Com o objeti-vo de resgatar a imagem e a auto-estima, a cada encontro, cerca de 3 mil mulheres, de várias classes sociais e faixas etárias, compar-tilham experiências e são edifi-cadas espiritualmente. “A cura espiritual e emocional dessas mu-lheres possibilita que lutem por suas conquistas e vivam uma vida cristã verdadeira”, resume a pas-tora Laudjane Guerra.

Ok, já sabemos. A mulher não é mais a mesma. Mas sempre terá o desafio de equilibrar suas con-quistas, reconhecer seus limites e encarar suas obrigações com tran-quilidade, sem perder seu lado fe-minino. E tudo isso a mulher-cora-gem tira de letra. +Laudjane Guerra Veloso, pastora da Igreja Batista Filadélfia de Taguatinga-DF

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POLÍTICA

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por Hosana Seiffert

Um dia, as árvores do campo decidiram ter um rei e disseram à oliveira: “Reina sobre nós”. Porém a oliveira disse: “Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em

mim prezam, e iria pairar sobre as árvores?” En-tão, elas recorreram à figueira: “Vem tu e reina so-bre nós”. Mas a figueira foi taxativa: “Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, para reinar sobre vós?” As árvores ainda recorreram à videira, que também recusou o convite. Por fim, disseram ao espinheiro: “Vem tu e reina sobre nós”. A resposta foi rápida: “Se, na verdade, me ungis por rei sobre vós, vinde e refugiai-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro que consuma os cedros do Líbano”.

Essa história, narrada em Juízes 9.7-15, é a primei-ra parábola encontrada na Bíblia e uma das poucas do Velho Testamento. Tão antiga e tão atual! Que se-gurança poderia um espinheiro oferecer às árvores do campo? Ou um político cheio de espinhos ao povo brasileiro? Quem afinal tem sido escolhido para rei-nar sobre as várias esferas de poder no Brasil? A elei-ção do novo presidente do Senado faz estremecer se comparada à parábola do espinheiro.

No primeiro discurso após ser eleito, Renan Ca-lheiros (PMDB-AL) disse que o parlamento não será “subalterno” e que “a ética é obrigação de todos”. Entretanto ignorou as denúncias de desvio de di-nheiro público, falsidade ideológica e uso de notas fiscais falsas apresentadas pelo Procurador-Geral

Quemreinasobre oBrasil?

da República, Roberto Gurgel, uma semana antes. Também não citou a renúncia ao cargo de presidente do Senado, em 2007. Na época, Renan fora acusado de ter gastos pessoais bancados por lobistas de uma empreiteira. Preferiu a renúncia à cassação e, cinco anos depois, reina novamente impune, com o voto de 56, dos 81 senadores da República.

Casos como esse fazem refletir: dados do IBGE mostram um aumento significativo da Igreja Evan-gélicano Brasil, que hoje congrega cerca de 22% da população. Mas, se o número de evangélicos cresceu, por que o país continua do mesmo jeito – ou até pior? A Noiva de Cristo não é também o sal da terra e a luz do mundo? Não deveria influenciar a comunidadea ponto de promover mudanças sociais, econômicas e até políticas?

Ou será que, de tão ensimesmada, a Igreja tem esquecido o chamado que recebeu para impactar a cultura, promover a paz, implantar a justiça e con-tribuir para a transformação do mundo? A reeleição de Calheiros para a presidência do Senado gerou re-ações em diversos setores da sociedade. Vi protestos veementes em várias redes sociais. Nada por parte da Igreja. A população sai às ruas em protesto contra a corrupção, contra a violência, contra os altos pre-ços, mas a Igreja continua calada.

Alheia às mazelas do país, sem sal e sem luz, a maioria o crescente número de evangélicos no Brasil não se posiciona. Pior: ignora o risco de estar abriga-da e confiante debaixo da sombra de espinheiros. +

Hosana Seiffert é Jornalista, editora

executiva do Jornal do SBT Brasília, professora

de Telejornalismo, es-pecialista em Educação a Distância, mestranda

em Missiologia pelo CEAM – Centro de

Estudos Avançados de Missões.

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CASAMENTO&FAMÍLIA

23 +CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

por Antonio Siqueira

A nossa pequena Hadassah, com um pouco mais de um ano, já pronuncia várias pala-vras de forma correta, indica decididamen-te um objeto que solicita e contesta as ordens

da irmã, Sarah. Aponta para o iPad e diz: “Apeeertar!” Aí liga o equipamento, desbloqueia a tela com uma rapidez incrível e acessa o que deseja. Pelo barulho do motor do carro, sabe que é o papai que vem che-gando. Logo pronuncia com vigor: “Papai, papai...?” Quando a fome chega, olha para mim e diz: “Papai, neném comer!”

Uma criança dessa idade discerne muito da rea-lidade ao seu redor: imagens, movimentos, objetos, sons, músicas e muitas outras coisas. Começou a imitar os passarinhos que cantam no bosque perto de casa. Os cem bilhões de neurônios estão, a todo o vapor, fazendo as sinapses, as conexões que vão constituir a memória, o conhecimento, as habilida-des, as apreensões e tudo que é necessário para a estruturação de sua mente e personalidade.

E nesse mundo de descobertas e experiências, há uma figura de alta relevância: a mãe e seu pa-pel na formação da realidade em torno da criança. Pois a fala da mãe é o adestramento desse ser em formação, é o que vai construindo tudo: verdades, regras, interditos, visão da realidade, humor, afeto, entendimento e a construção da figura paterna. Na

minha ausência, quando ela sente a falta e diz: “Papai?”, minha esposa diz: “Papai logo vem. O papai ama você. O papai vai tra-zer frutas, o pãozinho para você”. E assim vai dando forma a essa figura paterna que precisa ser por ela assimilada para se tor-nar uma criança confiante, com uma sólida identidade interna e se entender amada.

O tipo de relacionamento que o pai es-tabelece com os filhos depende muito do discurso materno. Isso vale também para pais separados. A mãe, que geralmente tem a guarda dos filhos, pode apresentar, por meio do seu discurso e de suas afirmações, um pai bom ou uma figura malévola. Essa caricatura do pai vai sendo desenhada por aquilo que a mãe verbaliza.

Se nos cinco primeiros anos de vida de uma criança a mãe pode lustrar ou sujar a ima-gem do pai, nos anos seguintes ela continua com esse enorme poder. Nem é necessário lembrar que devem prevalecer o bom senso e a sabedoria. Pois, mesmo que não haja entre os cônjuges (ou ex-cônjuges) boa convivên-cia, ainda assim, deverão cultivar o respeito, a dignidade e o hábito de um discurso saudá-vel para o bem dos seus filhos. +

O discurso da mãe constrói a imagem do pai

Antonio Siqueira

é psicólogo clínico,

autor e conferecista.

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24 +CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

CRISTÃOSSEM IGREJAUm rebanho sem pastor. A cada dia, cresce o número de cristãos que optam por servir a Deus longe dos templospor Mércia Maciel

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Boa parte dos sem-igreja já teve experiência comu-nitária, mas, desiludidos com lideranças e rituais

eclesiásticos ou feridos em relacio-namentos fraternais, deixaram o aprisco. Muitos chamariam esses irmãos de rebeldes, desviados, desobedientes à exortação contida no Livro de Hebreus para congre-gar. Mas o rótulo não impede que sigam sua caminhada solitária ou em pequenos grupos. Longe de se sentirem afastados de Deus, eles leem a Bíblia, oram, louvam, professam a fé cristã e muitos se orgulham em declarar "Jesus, sim; Igreja, não”. Mas há também aqueles que, decepcionados com suas denominações, desistiram da caminhada cristã e torcem o nariz quando ouvem falar em igreja.

Às vésperas do aniversário de

quinhentos anos da reforma pro-testante empreendida por Marti-nho Lutero, estará a igreja evan-gélica diante de uma crise? Outra reforma se avizinha? As ovelhas sem pastor enumeram várias ra-zões para justificar o pé fora da organização eclesiástica.

No Brasil, o fenômeno – que não é novo – foi constatado em núme-ros. Segundo dados do IBGE, de 2003 a 2009, o número de evangé-licos que disseram não ter víncu-lo institucional saltou de 4% para 14%, cerca de 4 milhões de pesso-as. E a cada dia, os desigrejados se multiplicam por todo o país. Boa parte desses fiéis se declara desilu-dida com as instituições religiosas, enquanto outros defendem uma vida cristã vivenciada na intimi-dade, ou desinstitucionalizada. É o caso do empresário e morador de

Águas Claras Pablo Laine Rodri-gues da Costa, que, apesar da for-mação teológica, prefere não ser chamado de pastor, por considerar o título carregado de religiosidade. Desapontado com a organização congregacional, Pablo assegura que mergulhou na Bíblia para en-contrar seu caminho. "A constru-ção de templos só está no Antigo Testamento, mas hoje o tempo é da graça, da comunhão. Meu minis-tério não tem placa; é independen-te, itinerante", afirma. Ele garan-te que sua vida cristã não deixa a desejar e que exerce seu chamado vocacional com zelo. "Evangelizo, faço aconselhamento, reuniões em meu escritório e até celebro casa-mentos. Passei dezoito anos de mi-nha vida dentro de igreja e agora sei que não preciso de denomina-ção para servir a Deus", defende.

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As decepções causadas por lí-deres despreparados também empurram fiéis para fora da igreja. O fotógrafo Magdiel Teo-doro, de Taguatinga, 36 anos, é um desses. Decepcionado com o que chama de "visão mercadoló-gica da fé" e com a falta de aten-ção às necessidades dos fiéis, ele deixou a igreja que frequentara por quinze anos. Nascido em lar evangélico, Magdiel adotou o estilo de vida believing without belonging (crer sem pertencer), expressão usada pela sociólo-ga britânica Grace Davie sobre o esvaziamento das igrejas na Europa Ocidental. Vítima do que ele denomina “abuso es-piritual”, o fotógrafo costuma dizer que virou um turista de igrejas. E, sem qualquer vín-culo denominacional, ainda tenta curar as feridas da alma. "Nasci em lar evangélico e du-rante 36 anos fui ovelha de rebanhos. Dentro da igreja, servi a Deus de todo o coração, mas fui usado por pastores, verdadeiros lobos em pele de ovelhas. Não abandonei a fé; apenas não quero mais víncu-los", enfatiza.

Há também aqueles que con-sideram as rotinas litúrgicas um fardo. Questionador, o em-presário e músico Hugo Souza, 28 anos, “assentou em seu coração", como diria Daniel, que não deixa-ria a Igreja; entretanto, não queria um envolvimento mais intenso com a rotina dos trabalhos con-gregacionais. Para ele, a cobrança dos líderes e membros é exces-siva e perversa. "Eu sentia culpa até em estudar. Se não estivesse na igreja todos os dias, a culpa e a neurose me consumiam. Igreja não é trabalho para se bater pon-to", resume. Hoje, com o apoio de seu pastor, Hugo ajuda o ministé-rio de louvor da Igreja Apostólica Amor e Graça, em Sobradinho, e assegura que está em paz. "Sirvo

a Deus sem cobranças, e isso revo-lucionou minha vida", finaliza.

Há dois anos, os domingos de Clotilde Silva não são mais os mes-mos. A agente administrativa de quarenta anos e moradora da Asa Sul trocou os cultos e uma intensa agenda de trabalhos evangelís-ticos por passeios com amigos e outros compromissos – bem longe da igreja que frequentou por uma

década. O motivo para deixar a co-munhão com os irmãos está numa frase: decepção com lideranças e com os relacionamentos dentro da igreja. "Desilusão com os homens, não com Deus", apressa-se em esclarecer. Clotilde diz que sen-te falta da escola dominical, das mensagens que preparava para os jovens e do convívio fraternal, mas supre a necessidade com os cultos via rádio e televisão. “Não deixo de me alimentar da Palavra; mas, por enquanto, não penso em voltar para dentro de uma igreja”, afirma categoricamente.

Já Tadeu Souza foi protagonista de uma história sofrida que mis-tura intrigas, calúnias e fofocas

vivida dentro do ambiente ecle-siástico que frequentou desde a adolescência. Mas hoje não quer nem ouvir falar em igreja. Per-deu a vontade de ler a Bíblia e de orar. Caiu no mundo, como costu-ma dizer. “Não tenho um coração endurecido, mas machucado. Não perdi o amor e o temor a Deus. Mas nem penso em voltar a con-gregar”, resume, como se quisesse

apagar da mente e do coração a dolorosa experiência que teve.

O pastor, músico e conferen-cista Nelson Bomilcar acom-panha atentamente o esva-ziamento de algumas igrejas. Preocupado com os crentes que vivem a fé solitária e com o fu-turo da instituição, ele mergu-lhou nesse universo. Autor do livro "Os Sem-Igreja – Buscando o caminho de esperança na ex-periência comunitária", Bomil-car lançou um novo olhar para o protestantismo contemporâneo. Aos fiéis solitários, alertou que a convivência entre pessoas sem-pre envolve riscos e decepções, mas vale a pena. Aos “igrejados”, ele propõe uma autocrítica para que a experiência comunitária não seja refém de líderes perso-nalistas que cultivam projetos Magdiel Teodoro, fotógrafo

”Não devemos deixar de congregar. A pergunta é onde e com quem. Muitos se reúnem em escolas, casas e outros locais e vivem o verdadeiro cristianismo. Outros, em templos”

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pessoais e de uma estrutura en-gessada, muitas vezes conduzida de forma arrogante e que não encara os desafios modernos sob a luz do Evangelho. "Não trato os sem-igreja de maneira pejorativa, pois há pes-soas com perguntas muito sérias que as denominações históricas, pentecostais e neopentecostais pre-cisam responder. Há muita gente que não quer mais seguir essa car-tilha imposta por líderes que per-seguem os que são capazes de pen-sar de modo diferente e questionar aqueles que envergonham o evan-gelho com seus maus testemunhos e cobranças descabidas”, ressalta.

Apesar da exortação à igreja atu-al, Nelson Bomilcar – convertido há 38 anos, não encoraja o fiel a abrir mão da experiência comunitá-ria. "Não devemos deixar de con-gregar. A pergunta é onde e com quem. Muitos se reúnem em esco-las, casas e outros locais e vivem o verdadeiro cristianismo. Outros, em templos. Essa nova geração de Nelson Bomilcar

cristãos deve buscar e insistir em um caminho de esperança para que as pessoas não abram mão dessa experiência maravilhosa comunitária, orgânica, que é ser igreja e levar o Evangelho a sério, em sua integralidade”, aconselha.

O pastor da Igreja de Cristo em Brasília, Edson Gouveia, vê com preocupação a opção de crentes pela vida fora da comunidade cristã. Para ele, a igreja é insti-tuição divino-humana, retratada como o Corpo de Cristo e formada por pessoas chamadas para viver uma vida em santificação. "Para funcionar bem, o corpo precisa estar inteiro", afirma. Na sua ava-liação, vivenciar o cristianismo sem congregar é uma alternati-va complicada, pois a igreja não pode ser uma simples coadjuvan-te na vida cristã, além do fato de que os mandamentos recíprocos e imperativos do Novo Testamento somente podem ser praticados no Edvaldo Alves, pastor da Assembleia de Deus

de Águas Claras

Corpo. "Uma vida cristã isolada não permitirá que cumpramos as ordens de amar, levar as cargas, acolher, suportar e orar uns pelos outros, por exemplo. A obediên-cia a esses princípios, fundamen-tais para a vida cristã, trará cres-cimento e maturidade espiritual no relacionamento do Corpo de Cristo", observa.

Já o pastor da Assembleia de Deus de Águas Claras, Edvaldo Al-ves, é enfático: "Deixar de congre-gar é ato de rebeldia. Aqueles que não se submetem a autoridades e preferem um caminho individual, fechando os olhos à exortação para que os cristãos 'não abandonem a congregação, como é costume de alguns', influenciam outros a co-meterem o mesmo erro", assevera. Segundo o pastor assembleiano, a vida cristã fora da comunidade é resultado do individualismo, uma prática que vai na contramão dos ensinamentos bíblicos.

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A OVELHA PERDIDAO abandono definitivo do evan-

gelho é uma decisão tomada por um número incalculável de pes-soas, o que preocupa os líderes das igrejas. Basta perguntar a qualquer crente se conhece al-guém “desviado”, que a resposta vem rápida como um relâmpago. E vem, inclusive, com alta dose de autocrítica ao afirmar que a igreja é o único exército do mundo cujos soldados não voltam para buscar seus feridos, caídos no campo de batalha. Mas o trabalho de muitas igrejas tem mostrado que é possí-vel resgatar a ovelha perdida.

Para o pastor Sinfronio Jardim Neto, presidente do Ministério Jesus Não Desistiu de Você, da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, ainda existe uma equivocada percepção dos cren-tes, principalmente dos líderes, de que “saiu um, Deus manda dez para o seu lugar”. Segundo o pas-tor, que há catorze anos atua na recuperação de afastados, 90% das igrejas não estão preocupadas em recuperar a ovelha perdida, como ensinou Jesus. “As denominações estão míopes e não têm a mesma visão e o coração cheio de compai-xão pelos desgarrados. A maioria

delas não tem projeto que vise a alcançar os desviados. Não é uma missão fácil, pois muitos estão fe-ridos e doentes espiritualmente, mas querem voltar à casa de Deus. O mais difícil mesmo é convencer as igrejas de que precisam buscar esses irmãos”, lamenta.

Com livros publicados, como “Onde Está o Seu Irmão?”, e semi-nários e palestras ministrados no Brasil e no exterior, Jardim Neto é convidado para implantar, em igrejas de várias denominações espalhadas pelo país, o ministério A Centésima Ovelha. “Não é uma campanha que acaba em poucos dias, mas um ministério que des-perta na igreja a visão que está no coração de Deus, que é a de buscar o filho perdido”, explica animado. Ele lembra que em Belo Horizon-te, em doze anos de ministério, a Igreja Batista da Lagoinha conse-guiu trazer de volta ao convívio da comunidade da fé cerca de quinze mil desviados.

Os pastores e líderes admitem o problema, principalmente por-que muitas ovelhas deixam o aprisco por falta de atenção. “O cuidado pastoral é indispensá-vel para que as pessoas se sintam amadas. Às vezes as igrejas são legalistas e exigentes, e é preci-so reconhecer as falhas e buscar a ovelha desgarrada”, afirma o pastor da Igreja de Cristo, Edson Gouveia. O pastor assembleiano Edvaldo Alves critica os líderes que não querem envolvimento com seu rebanho além do horário do “expediente” da igreja e pouco se importam com suas necessi-dades espirituais e mesmo ma-teriais. “Fomos chamados para servir e cuidar do rebanho. Essa é uma responsabilidade que não pode ser negligenciada, uma vez que as necessidades das ovelhas devem ser supridas. Não desligo meu celular. Sou pastor por 24 ho-ras, para exercer um chamado de Deus”, enfatiza.

A IGREJA DE DUAS ASAS Os pequenos grupos têm sido

fortes aliados na luta pela perma-nência dos fiéis. O escritor cristão norte-americano Carl Hurton ouviu líderes evangélicos para seu doutorado em crescimento de igrejas, nos Estados Unidos. A pesquisa, retratada em uma de suas obras, demonstrou que os grupos eclesiásticos que ain-da utilizam o sistema "tradicio-nal" têm crescimento tímido em relação àqueles que se utilizam de células ou grupos nos lares. O pesquisador fundamenta suas conclusões nos livros de Atos e Romanos, que narram a experi-ência dos cristãos primitivos de congregarem em grandes reuni-ões e também nos lares (At 2.46 e Rm 16.5). Segundo Carl Hurton, por quase toda a existência do cristianismo, a igreja caseira foi sufocada, mas, desde a década de 1980, vem ganhando vida.

A parábola da “igreja de duas asas” reforça a importância da reunião em pequenos grupos, em casa, dentro da estrutura da igre-ja convencional: era uma vez uma igreja de duas asas – uma, para a celebração em grupos grandes; ou-tra, voltada à comunidade dos pe-quenos grupos, das asas comuni-tárias. Com as duas, a igreja voava alto, aproximava-se da presença de Deus e ainda sobrevoava por toda a terra, em harmonia. Certo dia, com ciúmes por não ter asas, a ser-pente desafiou a igreja de duas asas a voar apenas com uma. Enganada e capenga, a igreja conseguiu le-vantar voo, mas enfraqueceu-se e apenas plainava, sem alcançar as alturas. O criador da Igreja se en-tristeceu, pois seu projeto das duas asas era perfeito.

Segundo Edson Gouveia, ne-nhuma asa é mais importante do que a outra. Com as duas, a igreja alcança grandes voos, com ama-durecimento, comunhão e com-partilhamento. Sem elas, a igreja

“O cuidado pastoral é indispensável para que as pessoas se sintam amadas. Às vezes as igrejas são legalistas e exigentes, e é preciso reconhecer as falhas e buscar a ovelha desgarrada”

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se atrofia. "Esse era o modelo da igreja primitiva, que se reunia de casa em casa e em grandes con-centrações. Com o passar do tem-po, a igreja perdeu essa visão. Ti-vemos alguns momentos radicais, mas estamos resgatando a igreja do ‘atacado’, que são as reuniões nos templos, e a do ‘varejo’, dos pe-quenos grupos”, conclui animado.

A Igreja Batista Nova Canaã, no Gama, adota o modelo de duas asas. Suas atividades não se res-tringem aos horários dos cultos dominicais, mas os fiéis se reú-nem em grupos, chamados de “cé-lulas”, onde compartilham, oram, estudam a Bíblia e discipulam os novos convertidos. Atualmente, a comunidade conta com setecentas células, que se encontram sema-nalmente nos lares, escolas, facul-dades, estacionamentos, nos ho-rários os mais diversos. Segundo o apóstolo Paulo César, a visão dos pequenos grupos não suprimiu as grandes celebrações no templo e são eficientes aliados no desafio diário de crescer espiritualmen-

te e de fazer discípulos. “Hoje, os meios de comunicação mostram uma igreja doente e difamada. Assim, quando você convida um amigo, um vizinho, eles não que-rem ir ao templo, mas aceitam ir a uma reunião em casa ou em ou-tro lugar. Lá, ouvem a Palavra e, quando chegam à igreja, já estão convertidos”, comemora.

"A igreja de Jesus Cristo é como a arca de Noé: o mau cheiro de den-tro seria insuportável se não hou-vesse uma tempestade do lado de fora" (Charles Colson).

A frase do escritor norte-ameri-cano, que ficou conhecido mun-dialmente como o ex-assessor especial do presidente Richard Nixon, envolvido no escândalo Watergate, e que o levou a cum-prir sete meses de prisão, onde se converteu, é lembrada por aqueles que defendem a reunião nos tem-plos. Para o pastor Edvaldo Alves, a equivocada ideia de que igreja é lugar de santos e imaculados aju-da a afastar os fiéis dos templos. "A igreja não é uma reunião de pes-

Charles Colson, escritor norte-americano

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“A igreja de Jesus Cristo é como a arca de Noé: o mau cheiro de dentro seria insuportável se não houvesse uma tempestade do lado de fora”(Charles Colson)

soas que não erram, mas de peca-dores que buscam a santidade. Ela é imperfeita e continuará sendo até a volta de Cristo. Mas ainda é o melhor lugar para se permanecer", defende. Ainda no seu entendi-mento, quem busca a igreja per-feita é movido pela ingenuidade do idealista ou pela conveniência de quem não quer envolvimento com o Corpo de Cristo. "A igreja é lugar de compromisso com Deus e seus eleitos, o que faz dela uma estru-tura imprescindível para o cresci-mento cristão", observa.

A mesma percepção tem o pas-tor Nelson Bomilcar. Em sua obra, no capítulo "Conflitos podem ser sinal de sanidade", ele argumen-ta que mesmo nas reuniões nas casas, em pequenos grupos, ha-verá desentendimentos, uma vez que elas são ajuntamento de seres humanos. "A igreja é uma comu-nidade de doentes, infiéis, espe-lha o que somos – uma sociedade de pecadores. Na igreja primitiva também havia conflitos. A grande diferença é que a graça supera-bundava no meio do povo, onde as pessoas se quebrantavam, confes-savam seus pecados. Hoje, tenho uma esperança moderada de que é possível viver esses valores, pois o amor de muitos vai se esfriar e a fé quase desaparecer, como dizem as Escrituras, mas precisamos perseguir esse ideal", conclui.

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DIREITO&CIDADANIA

30 +CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

Daniel Castro é advogado

criminalista e eleitoral,

pedagogo e chefe da

assessoria de atendimento

do ganinete do Governador

do Distrito Federal.

por Daniel Castro

Ao findar o ano de 2012, o Poder Executivo Federal aprovou a Lei nº 12.760, de 20 de de-zembro de 2012, que altera a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito

Brasileiro), posteriormente modificada pela Lei nº 11.705/08, à qual se deu o apelido de “Lei Seca”.

As mudanças são de extrema importância, uma vez que, até antes das alterações à citada lei, sua a eficácia estava condicionada à eventual comprovação de teor álcoolico no sangue (no caso de um condu-tor abordado pelas autoridades de trânsito) igual ou superior a 0,6 gramas por litro; daí a necessidade de teste por meio do uso de bafômetro ou exame san-guíneo, os quais somente poderiam ser realizados por aceitação espontânea do condutor em questão.

O entendimento quanto à necessidade de com-provação da quantidade de álcool no sangue foi fir-mado por reiteradas ações julgadas em nossa Corte Cidadã (STJ), visto que uma lacuna da própria Lei impedia sua aplicação. Ou seja, a “Lei Seca” Lei 11.705/08) não apresentava outras possibilidades de se extrair a condição imposta para se considerar que o condutor de um veículo estivesse com a capa-cidade psicomotora alterada.

Tal alteração da capacidade psicomotora passou a ser aferida por outros meios de verificação, como teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova teste-munhal e outras provas de direito admissíveis, desde que observado o direito à contraprova, conforme co-mando esculpido no artigo 306, § 2º da Lei 12.760/12.

Outra mudança significativa – e por que não dizer inibidora? – para os motoristas que insistem em di-rigir alcoolizados foi a majoração do valor da multa aplicada, que passou de R$ 957,70 para R$ 1.915,40, o que equivale a dez vezes o valor da penalidade sobre a infração considerada gravíssima. De outra sorte, a reincidência no período de doze meses passou a ser punida com multa prevista para R$ 3.830,76.

O endurecimento das sanções impostas pela “Lei Seca” apenas demonstra que os motoristas não es-tavam dando o valor devido à gravidade de dirigir sob os efeitos do álcool e de suas consequências para a sociedade. Protegido por falhas na norma jurídica, o condutor inconsequente recorria a inú-meros subterfúgios jurídicos, dificultando aplica-bilidade da Lei.

A existência de inúmeras regras proibitivas e a aplicação de multas exorbitantes por si só não bas-tam para reduzir o número de acidentes envolvendo motoristas alcoolizados. É necessário que os moto-ristas entendam os riscos de dirigir sob efeito de ál-cool, risco esse que não ameaça somente suas vidas, mas também as de seus semelhantes. A consciência continua sendo a melhor Lei.

Podemos extirpar essa chaga social que tanto en-vergonha nosso país, pois vivemos uma verdadeira guerra sobre rodas. O cristão tem um papel fun-damental nessa luta, difundindo as concepções do reino de Deus para aqueles que insistem em viver à margem das normas instituídas. +

As alterações da Lei Seca e a consciência

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VIOLÊNCIA

32 +CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

por Mércia Maciel

Os dados são alarmantes: nos últimos trinta anos, as vítimas de violência no Brasil chegam a mais de

um milhão de pessoas. O levanta-mento é do Instituto Sangari, feito em todo o país, com informações de órgãos públicos como Ministé-rio da Saúde, secretarias de segu-rança pública, cartórios e depar-tamentos de polícia. Segundo o mapa da criminalidade desenhado pela Unesco e pelo IBGE, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial, superado apenas por Colômbia, El Salvador e Rússia. A cada ano, mais de 40 mil brasilei-ros perdem a vida por conta da vio-lência, principalmente nas gran-des cidades. Ou seja, os brasileiros

Ninguém está a salvo “Eis que clamo: violência! Mas não sou ouvido; grito: socorro! Mas não há justiça”. Jó 19.7

correm quatro vezes mais riscos de morrer pelas mãos de bandidos.

No Distrito Federal, levanta-mento da Secretaria de Seguran-ça Pública aponta que a violência cresceu 22% de janeiro a setembro de 2012, em relação ao mesmo período de 2011. A insustentável situação levou o governo local a pedir a atuação da Força Nacio-nal de Segurança no entorno da capital. Para explicar as causas desse fenômeno, especialistas em segurança pública, sociólogos e governantes têm-se desdobrado em argumentos como desestrutu-ração familiar, desemprego, falta de políticas públicas e de perspec-tivas para os jovens, que acabam seduzidos pelo mundo do crime.

Engana-se quem pensa que a violência bate apenas à porta do vizinho não cristão. A Bíblia traz inúmeros exemplos de fiéis que passaram por grandes sofrimen-tos, como Jó, José e Paulo. Segun-do o pastor da Igreja Batista do Lago Sul, João Pedro Gonçalves, a fidelidade de Deus não é garan-tia de que o crente não passará por aflições, dores e sofrimen-tos. “Não estamos imunes ao mal nem temos um escudo invisível. A violência é um o retrato des-te mundo, e ela é ‘democrática’, atinge justos e injustos. Quando Deus dá ordem para que seus an-jos nos protejam, isso é prova de que nem o cristão está imune”, considera o pastor batista.

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33FEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

Em junho de 2012, em Magé, na Baixada Fluminense, ao sair de um culto, o pastor da Igreja Ba-tista do Imperador, Vítor José Tei-xeira, 43 anos, foi abordado por criminosos que pediram um do-cumento de identificação. Porém, antes que pudesse apresentá-lo, o pastor foi brutalmente assassi-nado. O crime ocorreu diante de sua esposa e de seus dois filhos adolescentes. Em luto, a família encontra forças na fé para superar o trauma. Não é tarefa fácil.

A dor insiste em castigar o cora-ção e os pensamentos de quem so-freu violência ou teve um parente assassinado. Superar a tragédia é um desafio. Segundo pesquisa feita pela Universidade Cândido

Mendes com 690 moradores do Rio de Janeiro, 40% dos que reco-nheceram o corpo de um familiar ou amigo, no Instituto Médico Legal, têm pesadelos noturnos e o dobro de chances de apresen-tar reações físicas, como dores de cabeça, diarreias e enjoos, em relação àqueles que não viram o corpo. Especialistas alertam que o estresse das perdas traumáticas pode levar à depressão e até mes-mo ao suicídio. Segundo o psi-quiatra Antônio Geraldo da Silva, da Associação de Psiquiatria de Brasília, os parentes próximos das vítimas assassinadas, princi-palmente pais, irmãos e amigos, desenvolvem um quadro clínico denominado “desordem de es-

tresse pós-traumático”, que vem acompanhado de ansiedade, tris-teza profunda, insônia e depres-são. As reações são fortes porque as pessoas são apanhadas de sur-presa e têm suas vidas mudadas bruscamente. Segundo Silva, o sentimento de perda é natural, mas o luto não pode se transfor-mar numa doença da alma que afete a vida social, profissional e emocional. “Todos esses sintomas devem passar depois de algumas semanas ou mesmo de um ou dois meses, porque temos perdas e re-agimos a elas. Mas se o fato co-meçar a perturbar a vida da pes-soa, diminuindo sua capacidade produtiva e de relacionamento, é preciso intervenção de um psi-

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VIOLÊNCIA

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quiatra. Não adianta esperar o tempo passar, porque, nesse caso, o tempo pode não curar as feridas que ficaram”, alerta.

Segundo o pastor da Igreja Ten-da da Libertação, na região rural de Brazlândia, Jorge Cândido, os que são atingidos pela violência devem buscar em Deus o consolo para suas vidas. “Jesus prometeu que não nos deixaria órfãos e nos enviou o Espírito Santo, nosso Consolador, que nos trará o óleo da cura. Ele é quem vai ocupar o espaço que ficou vazio pela perda de um ente querido. Esse conforto espiritual nos permi-te superar tribulações e aflições”, assegura. Ain-da segundo o pastor, se o crente recebe esse conso-lo dos céus, também de-verá ser consolador para quem vive momentos de aflição. O pastor batista João Pedro também vê aí a diferença. “O povo de Deus tem a vantagem de contar com o bálsamo que vem do alto”, afirma.

A violência não está ape-nas nas ruas. O perigo tam-bém pode estar dentro de casa. Segundo a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, do governo federal, o Disque 180 atende, diariamente, 1,8 mil pedidos de socorro, de todo o Brasil. Cerca de 80% das vítimas são agredidas todos os dias ou pelo menos uma vez por semana. Além disso, 40% delas convivem há mais de dez anos com o agressor.

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

A mulher evangélica não está a salvo dessa barbárie domiciliar. Não há dados estatísticos sobre a violência num lar cristão. Mas, afi-

nal, que orientação deve ser dada à esposa cristã, vítima de violência doméstica? Qual é o melhor cami-nho: a igreja ou a delegacia? Para um dos mais respeitados pregado-res do país e especialista nas áreas de família e formação de líderes, Pr. Silmar Coelho, o silêncio não

é a melhor saída. “Não basta ensi-ná-la a orar para que o marido se converta. Espancamento é caso de polícia, e não de oração”, adverte. Ainda segundo Silmar Coelho, os líderes das igrejas devem orien-tar os casais e ajudá-los a superar suas crises. A preocupação do pas-tor metodista pode ser facilmente entendida pelas informações da-das por autoridades policiais – as mulheres que resolvem deixar as orientações religiosas para denun-ciar seus companheiros agressores afirmam que os líderes de suas igrejas são omissos.

O pastor e delegado da Polícia Civil de Goiás, Aristóteles Sakai de Freitas, também defende que a esposa cristã vítima de violência deve denunciar a situação. Em seu artigo “Até que a violência os se-pare”, ele afirma que a Lei Maria da Penha, a qual aumenta o rigor

das punições para casos de agressões contra a mulher, não é uma sentença pelo fim do casamento, mas um instrumento legal que garante dignidade às mu-lheres e dá a elas o direito de uma vida a dois alicer-çada em respeito, amor e cuidado. “A mulher não pode tolerar violência, seja física ou moral. Ela tem direito a uma existência digna”, afirma. Ainda se-gundo Aristóteles Sakai, as estatísticas mostram que, no Brasil, 70% dos ca-samentos em conflito são reatados graças à capaci-dade que a mulher tem de perdoar. “Ela tem uma natureza fantástica, que se assemelha à de Deus, pois tem grande capaci-dade de liberar perdão. Não tenho uma posição extremada e acredito que um relacionamento en-volvido em violência pode ser restaurado, dentro dos

princípios bíblicos. Esse pode ser um fato positivo, mas também de risco, pois a esposa pode acabar assassinada nas mãos do marido agressor. Assim, a mulher precisa de um acompanhamento de líde-res espirituais, pastores e de psi-cólogos que lhe deem segurança, no momento de tomar decisão e de restaurar seu lar, pelo poder da oração”, analisa.

Mas em briga de marido e mu-lher, deve-se meter a colher, sim, senhor! Essa percepção, no meio cristão, vem tomando o lugar do velho ditado de que não se deve

Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria

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intrometer nas relações matri-moniais. Como líderes espiritu-ais, os pastores devem orientar o casal, mesmo quando há jugo desigual. Mas o que dizer à irmã agredida? Ela deve esperar no Senhor para que seu marido se converta? Deve aceitar a situ-ação porque é submissa a ele? Deve entender que está sofrendo agressões porque Deus assim o permitiu? Na avaliação do pastor da área de família da Igreja Batis-ta Central de Brasília, Édio Valen-ça, os líderes das igrejas têm sido omissos ou, na hora de estender a mão para ajudar, equivocada-mente abraçam a mulher agre-dida sem tratar do agressor, que está doente espiritualmente. “In-felizmente, nossas igrejas se per-deram na questão do casamento. Quando há violência doméstica, apenas proteger a irmã agredi-da não vai resolver o problema; é preciso tratar o casal. Tenho que tentar resolver a situação e trabalhar com o emocional da

Pastor Silmar Coelho é conferencista nas áreas de família e formação de líderes

mulher agredida e de seu marido agressor, e não apenas consolá--la”, afirma Édio Valença. Ainda segundo o pastor batista, no meio evangélico o aconselhamento ao divórcio tem sido um caminho mais fácil. “É comum alguns pas-tores dizerem: ‘Não deu certo, separe-se e viva sua vida’. Eles apenas estão transferindo o pro-blema para outra casa, outro re-lacionamento”, alerta.

Enquanto as ruas estão cheias de homens sanguinários, um grupo de servos segue o manda-mento de ser luz e sal do mundo. Há vinte anos, policiais militares evangélicos de São Paulo coloca-ram a farda a serviço do Reino de Deus. Nessas duas décadas, a associação PMs de Cristo presta assistência espiritual, psicológi-ca e social aos policiais e a suas famílias. Em serviço, dão teste-munho do amor de Deus. No mês de outubro passado, a associação promoveu a campanha “Ore pela sua polícia”, encerrada no último

dia 15 de dezembro, data da co-memoração dos 181 anos da Polí-cia Militar de São Paulo. Durante 52 dias, igrejas de todo o país fo-ram envolvidas nessa missão de clamar pela paz social.

A duração da campanha foi ins-pirada no livro de Neemias, herói bíblico que liderou as famílias de Jerusalém na reconstrução dos muros de proteção da cidade. A ideia foi trazer essa experiência bíblica para os dias atuais. “Nossa profissão é como os muros da ci-dade, protegendo as pessoas, tra-balhando para combater o crime e promovendo a paz social. Nosso objetivo é fortalecer a corporação e suas famílias, pois se a força poli-cial estiver fragilizada e corrompi-da, a população estará vulnerável à violência, corrupção e injustiça”, afirmou o Suboficial e pastor cape-lão, Arlindo Pereira da Costa. +

Aristóteles Sakai de Freitas, pastor e delegado da Polícia Civil de Goiás

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CONCURSOS

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por Mércia Maciel

Ter o Estado como patrão é o sonho de muitos bra-sileiros. Em tempos de desemprego, o serviço

público passou a ser visto como uma espécie de tábua de salvação. E motivos não faltam. Enquanto empresas privadas fecham va-gas, o funcionalismo público abre concursos e oferece salários atra-entes, estabilidade e outras van-tagens que não se encontram na iniciativa privada.

O termômetro para medir a mo-tivação dos candidatos pode ser o número de inscrições em cer-tames realizados por todo o país. Segundo o IBGE, anualmente, mais de 5 milhões de pessoas ten-tam uma vaga no serviço público.

Desde 1988, com a Constituição Cidadã, é obrigatória a realização de concursos para o funcionalis-mo. O objetivo do legislador foi o de acabar com o apadrinhamento político e democratizar o acesso aos cargos públicos.

Salas de cursinhos lotadas, olhos grudados no quadro negro e ouvidos atentos ao que o profes-sor tem a dizer. Milhares de con-curseiros de várias idades e de todas as partes do país se prepa-ram para uma verdadeira bata-lha. Em Brasília, capital dos con-cursos, o técnico em informática Cláudio Bacelar, de 45 anos, é um deles. O drama do desemprego levou o brasilense a encarar os livros, em busca de um futuro

menos imprevisível para sua car-reira. Ele tem razão. Enquanto na iniciativa privada a demissão pode se dar ao gosto do patrão, no serviço público a proteção ao trabalhador é maior – para perda do cargo, é necessária a abertura de um processo administrativo disciplinar, com garantia de am-pla defesa ao servidor porventura acusado de algum ilícito. Mesmo com a reforma previdenciária, que acabou com a integralidade dos vencimentos, Bacelar sonha em servir ao funcionalismo pú-blico. “A gente vive aos sobressal-tos. Prefiro a segurança do ser-viço público e as vantagens que ele proporciona”, afirma, sem se desgrudar dos livros.

Tempos de concursos

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37FEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

É essa persistência a palavra de ordem de Isabele Bachtold, forma-da em relações internacionais. Para entrar no prestigiado Instituto Rio Branco, ela estuda de oito a dez ho-ras diárias, graças ao apoio finan-ceiro dado pelos pais. “Estou em busca de estabilidade e de realizar meu sonho de ter uma carreira no exterior. Só vou parar quando con-seguir”, afirma determinada.

No outro lado da moeda, a fe-bre dos concursos é criticada por alguns especialistas da área de mercado. Economistas e adminis-tradores veem na corrida por uma vaga o enfraquecimento do setor privado, responsável pelo cresci-mento econômico do país. Segun-do o professor do Departamento de Administração da Universidade de Brasília, Jorge Pinho, nenhum país essencialmente capitalista, como o Brasil, desenvolve-se na estrutura do Estado, mas na iniciativa privada, gerado-ra de riquezas. Ele se preocu-pa com a falta de motivação dos jovens para seguir a pro-fissão escolhida, uma vez que muitos preferem pular dos bancos universitários para o serviço público e encarar uma acirrada seleção, sem dar uma chance à iniciativa privada. “O governo acena para os jovens com carreiras promissoras e estabilida-de. Assim, deixamos de ter engenheiros, empresários, cientistas, biólogos, gente com potencial para contri-buir no desenvolvimento do país, para termos burocratas ruins”, alerta. Ainda segun-do o professor Jorge Pinho, a mão pesada do governo, com alta carga tributária, penaliza o setor empresarial, que não consegue segurar aqueles com potencial empreende-dor, os quais acabam optando pela estabilidade do funcio-nalismo público.

Jorge Pinho, professor do Departamento de Administração da Universidade de Brasília

Mas para quem fez a escolha de desenvolver a vida profis-sional no funcionalismo a ta-refa é árdua. É preciso dedica-ção e muitas horas de estudo – uma luta que a fiscal de ren-da do Rio de Janeiro Lia Salga-do conhece muito bem. Aos 38 anos, quatro filhos, separada e com dificuldades financei-ras, ela mergulhou nos livros e apostilas e, depois de três anos de estudo, logrou êxi-to num dos mais disputados concursos do país. Foi preciso superar o desânimo, o estres-se e o fracasso em tentativas frustradas anteriormente. De-pois de tantas idas e vindas, Lia resolveu escrever um livro sobre sua experiência para ajudar quem enfrenta essa maratona. “Para não engros-sar a lista dos desaprovados, é preciso que o candidato tenha foco e seja perseverante. Com uma rotina de estudos e exer-cícios, além de maturidade para fazer provas, ele conse-guirá a sonhada vaga”, ensina.

Isabele Bachtold, estuda até 10 horas por dia para entrar no Instituto Rio Branco

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CONCURSOS

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O concurso público é democráti-co. Não escolhe raça, classe social e não se importa com aparência física, condições muitas vezes exi-gidas pela iniciativa privada (em alguns casos, até de forma vela-da). Segundo o diretor-presidente do Gran Cursos, professor Wilson Granjeiro, a aprovação depende apenas do candidato. “O concurso é um processo isonômico, que de-pende exclusivamente do candida-to, de disciplina. Podem concorrer o pobre e o rico, o jovem e o ma-duro. O caminho do sucesso passa pelo estudo”, resume Granjeiro.

Passar em concurso é como fi-car numa fila. Pode demorar, mas chega a sua vez. Essa é uma das lições do juiz federal William Douglas, considerado o papa dos concursos. Os conselhos, dicas e incentivos de Douglas estão reu-nidos em seu livro, o best seller “Como Passar em Provas e Con-cursos”. Leitura obrigatória para quem quer vencer a acirrada concorrência, a obra é pioneira em técnicas de estudo e apren-dizado e chega à sua 27ª edição com mais de 180 mil exemplares vendidos. “O livro traz tudo o que alguém precisa saber para passar em exames e nunca teve a quem perguntar”, brinca William Dou-

glas, que ensina o candidato a se organizar, a aprender a estudar e a fazer provas. “Faça resumos, esquemas, gráficos, correlações, muitos exercícios e provas das principais bancas examinadoras. E lembre-se de que você preci-sa responder apenas ao que foi perguntado. Seja objetivo e não vá além da questão”, ensina.

Evangélico, William Douglas alicerçou sua trajetória bem--sucedida na Bíblia, para ele, o melhor manual de sucesso já escrito até hoje. Sua nova obra, escrita em parceria com Rubens Teixeira, diretor da Transpetro e analista do Ban-co Central, “As 25 Leis Bíblicas para o Sucesso”, é uma valiosa lição de vida. Os autores, que fazem parte da Associação dos Homens de Negócios do Evan-gelho Pleno e dos Juristas de Cristo, citam os conselhos do sábio Salomão listados no Li-vro de Provérbios sobre êxito profissional, os erros das “te-ologias da prosperidade e do fracasso”, a importância do esforço e da dedicação ao tra-balho e mais de uma centena de passagens bíblicas sobre o alcance da excelência, da cre-dibilidade e do sucesso. O autor

de 35 livros, primeiro colocado em vários concursos públicos e palestrante requisitado garante que as orientações bíblicas foram responsáveis pelo seu êxito profis-sional. Segundo ele, seu maior su-cesso editorial foi uma forma que encontrou de compartilhar tudo o que aprendeu quando começou a passar em concursos . “Segui uma determinação bíblica de sempre ajudar alguém se você pode fazê--lo. Se eu tivesse essa influência da Bíblia, do Deus da Bíblia, e não ajudasse meu próximo, seria egoísta e preocupado apenas com meus interesses. Soaria falso em me apresentar como alguém bem--sucedido, sem dizer quem foi res-ponsável por isso”, afirma. Entre todos os conselhos que deixa para os candidatos, um ele considera seu xodó: “Concurso não se faz para passar, mas até passar. Por isso, não desista”. +

Wilson Granjeiro, um dos maiores especialistas em concursos públicos do país

Willian Douglas, autor do livro Como Passar em Provas e Concursos.

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CRÔNICAS&CONTOS

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É tarde da noite quando Ivo interfona para sua vizi-nha de cima, no 402. Ninguém atende. Ao contrá-rio, apagam-se as luzes, cessa o som de uma mú-sica eletrônica, de risadas altas e de vozes antes

animadas. Não se dando por vencido, ele sobe ao quarto andar, um acima do seu. Toca a campainha, insiste. Nada. E o que antes parecia uma animada festa transforma-se em som de velório, se é que isso existe.

A vizinha festeira era mais ou menos nova no prédio. Não tinha marido, mas se fazia acompanhar quase sem-pre por duas filhas: uma jovem; a outra adolescente. Vou chamá-la de... Valquíria, só para facilitar. A mulher ia lá pelos seus 44 anos, olhos castanhos, pele branca. Já o Ivo, sujeito da minha cor, na faixa dos “cinco ponto sete”, mo-rava no prédio havia uns quinze anos. Já fora síndico e era do tipo “defensor da coisa certa”, do silêncio, da proteção ao patrimônio; enfim, configurava essa espécie de gente que todo condomínio quer, mas lamenta quando tem.

Eis a questão: quando Valquíria foi morar no bloco, os bigodes de ambos não bateram. É que a “dona moça” e as filhas, no vira e mexe da vida, arranjavam de fazer umas bagunças, daquelas de dar nos nervos do condô-mino do piso inferior.

O Ivo, por sua vez, estava agora sem família na cidade. A esposa arranjara uma porta de emprego maravilhosa em Recife, daquelas imperdíveis. Ele, servidor público no TRF, vivia a expectativa de conseguir uma remoção para a mes-ma localidade, onde planejava se aposentar e morar para o resto da vida. A coisa vinha se materializando, envolvendo acordos, negociatas, arranjos... a família já havia se muda-do, e ele ficara em Brasília. Recife ia cair em seu colo, em algum momento, questão de fé. Foi nesse ínterim, de dias virando meses, que sua impaciência com a turma de cima começou a ficar mais e mais intensa. Ah, como desejava es-tar em Recife numa hora dessas, ouvindo só o barulho do Oceano Atlântico, e não a zoeira desse povo sem costume!

Convenhamos, não era fácil. As três “criaturas da noite”, como ele dizia, várias vezes conseguiam tirá-lo do sério, por conta da barulhada que faziam. “Será que nunca vive-ram em apartamento?”, resmungava o ex-síndico. Numa noite, por exemplo, quando já estava lá pelo terceiro sono, acordou espantado com um estrondo vindo do 402. A im-pressão que teve foi de que as “criaturas” pegaram uma

pesada mesa, contaram até três e a largaram no chão, só para irritá-lo. Outras vezes, quando começava a embarcar nos doces braços da inconsciência, lá vinha aquela mu-siquinha de MSN, a invadir-lhe impiedosamente o sosse-go. Como se não bastasse, havia as conversas, das quais conseguia ouvir tudo. “A vizinhança não precisa saber da vida de vocês”, reagia em pensamento. Quando não era isso, era o “talaco, talaco, taco” de saltos femininos pra lá e pra cá, às vezes cedinho, antes das seis da manhã. “Co-meçou o ensaio da escola de samba”, reclamava. “Por que não tiram o raio desse sapato alto??”.

Porém, o pior e mais incômodo mesmo eram as festinhas. “Por que essa gentalha não usa o salão de festas? Só pode ser pão-duragem de pagar os oitenta reais exigidos pela síndica”. Por aí se tira que as diferenças entre 402 e 302 não se resolveriam numa equação simples. Chego a crer que o Ivo queria mesmo matar “só um pouquinho” aquela mu-lher e suas “duas bruxinhas”, como ele se referia às filhas.

E naquele dia, o homem resolveu tocar o interfone. Já não seria a primeira vez, pois já acontecera de ele pedir silêncio, dizer que precisava trabalhar cedo na manhã seguinte, que já havia passado do horário de falar alto etc, etc. Talvez fosse por isso que a Valquíria fez calar todo o mundo. Apagou a luz, desligou o que estivesse funcionando e, como criança apanhada em flagrante pelo inspetor da escola, fingiu es-tar tudo em ordem. Talvez também por isso nem teria se arriscado a ver pelo olho mágico a imagem do “Seu Ivo” em grande angular, com a cabeça em grandeza desproporcio-nal ao resto do corpo. Quem sabe, com o improvisado silên-cio, passaria a ele uma impressão diferente...

Naquela noite, o Ivo não conseguiria falar com as vizi-nhas, por mais que tentasse. Vencido, retornou ao 302, vestiu seu pijama, deu um bocejo e foi dormir tranquilo. Comprara tampões de silicone para os ouvidos e já nem se importava tanto com o que acontecia lá em cima. De si para si, começava a entender que seria melhor ir para Re-cife em paz com aquela gente, que, pensando bem, talvez nem tivesse noção do incômodo que causava. Antes de se recolher, porém, guardou na geladeira um saco de limões e laranjas que havia colhido em sua chácara, com o qual planejava apenas surpreender as pessoas do 402 e, numa atitude inusitada de sua parte, mostrar-lhes algum gesto de carinho e consideração. +

O vizinho

por Zazo, o nego

Zazo é servidor público e professor de Gramática

e Oficina de Textos no Centro de Formação e

Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados.

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DICAS DE SAÚDE

40 +CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

por Elioenai Dornelles

Nas últimas décadas tem-se buscado escla-recer o que teoricamente chamamos de saúde e que na prática é vivenciado quando estamos doentes. E para isso, saber se esta-

mos doentes, sadios, normais ou patológicos torna-se cada vez mais necessário.

Em qualquer caminho que procuremos esses en-tendimentos, teremos de refletir a relação da saúde e da doença com os avanços políticos, econômicos, sociais e também ambientais que têm contribuído para melhorias significativas. Um olhar que contem-ple todos esses aspectos pode ser percebido como um olhar para promoção da saúde. Como exemplo, des-tacamos que a expectativa de vida cresceu; no entan-to, convivemos com profundas desigualdades no que tange à saúde e qualidade de vida dos brasileiros.

No Brasil ainda lidamos com problemas como a pés-sima distribuição de renda, o analfabetismo e o baixo nível de escolaridade, moradia e ambiente. Em outro aspecto nos deparamos com um quadro de avanços, como redução da mortalidade infantil, aumento da expectativa de vida, acesso a água e saneamento bá-sico, gasto em saúde, fecundidade global e aumento da alfabetização de adultos, consequência direta do Produto Nacional Bruto dos países latino-americanos. Quando tratamos o problema isoladamente, com um olhar unilateral, apenas estamos vendo a questão dentro do enfoque da prevenção da saúde.

Promover a saúde da população e proporcionar qualidade de vida não são os maiores desafios; é pre-ciso buscar, no entendimento real do que é ter saúde e qualidade de vida, a partir dos princípios orienta-dores de um sistema justo e igualitário, atender a al-guns aspectos:

1 Acesso universal, proporcionando a todos, indistintamente, condições de atendimen-to no sistema único de saúde brasileiro como real direito preconizado na Carta Constitucional;

2 Equidade, a fim de proporcionar a todos atendimento em boas condições, com di-reitos a exames e tecnologias de ponta, para um acompanhamento terapêutico de qualidade inquestionável;

3 Regionalização e hierarquização do sis-tema, de modo a que sejam superados os obstáculos de demanda reprimida, consi-derando-se uma demanda social que con-gestiona qualquer lugar onde hoje a aten-ção é prestada;

4 Exercício do controle social em saúde, isto é, resgate da cidadania do usuário, proven-do-se a este todos os canais de fiscalização caso ocorram situações de imperícia ou ne-gligência por parte de profissionais ou no próprio sistema, com garantia de justiça e punições em tais ocorrências.Tais aspectos são pontos iniciais para re-pensar nossa prática na busca de melho-res condições de vida e saúde, tendo como meta a vivência real de um sistema eficien-te e eficaz, oportunizando a todos os brasi-leiros saúde com dignidade. +

PROMOVENDO A SAÚDE OU PREVE-NINDO DOENÇAS?

Elioenai Dornelles é Doutor em Saúde

Pública, professor Titular da UnB, Coordenador do

Núcleo de Estudos em Educação, Promoção da Saúde e Projetos

Inclusivos - Nesprom/UnB e Pastor.

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41 +CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

Rap e evangelismoJá não é novidade que o rap é, por excelência, a linguagem de certas tribos ur-banas, especialmente das que habitam as periferias ou frequentam ambientes tidos como underground. O que talvez seja novo para a maioria é que a banda brasiliense Dz6QnZ (leia-se Dezesseis Quinze) achou essa veia, e a prova está em seu primeiro CD, intitulado Do Pó Renasci. O nome do grupo é uma alusão ao texto de Marcos 16.15. E a intenção é usar o ritmo para evangelizar gente não alcançada pelo modus operandi da igreja. Produzido por DJ Régis, o primeiro álbum da banda vem materializar com perfeição a proposta. O disco foi pro-duzido para distribuição gratuita, à semelhança dos folhetos evangelísticos. A coletânea apresenta dez faixas e inclui participações de gente já conhecida pelos amantes do rap cristão brasiliense. Do Pó Renasci é ferramenta para o evangelismo nestes tempos e já vem sendo distribuído aos que trabalham em

comunidades e ambientes onde o rap fala mais forte. Interessados podem acessar www.palcomp3/Dz6Qnz, baixar as músi-cas e produzir as próprias mídias a serem distribuídas, tudo isso sob a bênção e a permissão do Dz6Qnz. O grupo, que pre-fere apresentar-se em bairros de periferia, presídios, escolas, praças públicas e hospitais, pode ser contatado pelo facebook, na página www.dezesseisquinze.com.br ou ainda pelo twitter: www.twitter.com/Dz6Qnz.

Para “emepebista” nenhum botar defeitoLá Vem Ela é o segundo álbum de Carol Gualberto, um disco com onze faixas e mais uma de bônus, sendo que esta dá título ao CD. Trata-se de uma home-nagem a Marcela, a primeira filha do casal Carol e Juninho. Para felicidade geral, tanto a menina quanto o álbum já vieram. A coletânea celebra a amiza-de, a começar pela música tema, quando diz “nome que vem do avô”, (Marce-lo Gualberto, presidente da MPC no Brasil). Quem curtiu o primeiro trabalho da cantora, Das Coisas Boas da Vida, vai perceber que a peteca não caiu. Dona de um excelente contralto, Carol tem o dom de não deixar que seu trabalho fique enjoativo. A intérprete assina canções no álbum; ao mesmo tempo, não dispensa a contribuição de compositores de calibre, como Jorge Camargo, Gla-dir Cabral, Artur Mendes, Djalma Cyrino, Douglas Branco e Gerson Borges. Há uma deliciosa parceria entre Camargo e Cabral e duas entre Carol e Cyrino. De quebra, a participação de Lorena Chaves, na faixa 09 (Querer Te Amar), escrita por Gerson Borges. Como se não bastassem a poética e a musicalidade dos compositores, a turma do instrumental, que não abre mão de Juninho no contrabaixo, executa arranjos da mais fina sensibilidade – e o piano (Fernando Merlino) é um caso à parte. Aos interessados, a dica é acessar www.carolgualberto.com.br ou enviar e-mail para [email protected].

De Bianchi para os pequeninosAos papais, mamães e departamentos infantis a boa notícia é que já se encontra disponível o CD Piquininin, de Josimar Bianchi. São treze faixas produzidas sob me-dida para quem ainda não chegou à pré-adolescência. Contando com a participa-ção do coro de crianças da Igreja Metodista Central de BH e de alguns baixinhos de sobrenome Bianchi, Josimar, além de tocar violão e guitarra em todas as músicas, não economiza nos efeitos de boca (confira) e responde pelos arranjos do álbum. O disco apresenta composições inéditas, como Cantar com Alegria, Jonas e É Bom De-mais. Ao mesmo tempo, traz uma bela releitura de clássicos infantis evangélicos que embalaram a infância de muitos marmanjos, como Meu Barco é pequeno, O Sa-bão (lava o meu rostinho...), Posso Ser Um Missionariozinho e Três Palavrinhas Só. Os ar-ranjos dessas canções - destaque para O Sabão e Três Palavrinhas - revelam sensibili-dade e brasilidade capazes de prender qualquer apreciador de boa música, criança ou não. Piquininin traz uma rara e necessária presença do tom de voz masculino em um trabalho musical dirigido especificamente à gurizada. Bianchi pode ser encontrado no www.facebook.com/josimarbianchi, no site www.josimarbianchi.com ou pelo e-mail [email protected].

por Zazo, o nego+Música

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LITERATURA

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43FEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

por Mércia Maciel fotos Divulgação

Você já leu um livro hoje? A resposta pode ser ne-gativa para boa parte da população brasileira,

mas quando se trata do segmen-to evangélico, uma boa notícia: segundo a terceira edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livros (IPL) e divulgada em março de 2012, os evangélicos leem duas vezes mais do que a população em geral. Não é difícil observar esse fenômeno – livros evangélicos estão em prateleiras

até de supermercados e em ban-cas de jornal, em espaços garan-tidos para títulos dedicados à vida cristã, crescimento espiritual e família, por exemplo.

O segmento evangélico aparece bem na foto. Enquanto o brasilei-ro, em geral, lê em média quatro livros por ano, e apenas metade da população pode ser conside-rada leitora, a cada dia aumenta o número daqueles que dedicam seu tempo aos livros evangélicos. De acordo com a pesquisa do IPL, a leitura é incentivada, principal-

Novos ares no mercado editorialO crescimento da literatura evangélica

mente, pela presença da Bíblia nos lares cristãos, também o livro mais lido pelos brasileiros. A 22ª Bienal Internacional do Livro, realizada em agosto passado, em São Paulo, também mostrou a força das edi-toras cristãs, com títulos que dis-putaram espaços com obras secu-lares. O crescimento da população evangélica, que hoje soma mais de 40 milhões de brasileiros, segun-do o IBGE, e o aumento do poder de compra da classe “C” ajudam a explicar o aquecimento do merca-do editorial cristão.

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LITERATURA

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Segundo o gerente editorial da Central Gospel, Pr. Gilmar Vieira Chaves, a pesquisa do Instituto Pró-Livros mostra que a imagem do povo evangélico mudou. “No passado, a igreja evangélica esta-va ligada a pouco conhecimento e ao desinteresse pelas questões intelectuais. Esse novo retrato tem tudo a ver com o trabalho feito pelas lideranças de nossas igrejas e pelas editoras, que estão procurando municiar o merca-do com literatura de qualidade”, afirma animado.

Segundo a Câmara Brasileira de Livros (CBL), o segmento de tí-tulos evangélicos respondeu por 14,7% no índice de faturamento do mercado, em 2011, o que repre-sentou um faturamento de R$ 479 milhões. As vendas em 2012 foram superiores a R$ 548 milhões, um crescimento de 14,4%. Entretanto, para o diretor executivo da Asso-ciação dos Editores Cristãos (Asec) e diretor da Flic – Feira Literária Internacional Cristã, Sinval Filho, esse número é ainda maior, uma vez que o levantamento do Insti-tuto Pró-Livros incluiu apenas dez editoras evangélicas, num uni-verso de mais de 120 existentes no Brasil. Segundo Sinval, o seg-mento evangélico vem se conso-

lidando, com crescimento de 25% ao ano. “Certamente, o mercado editorial evangélico é mais ro-busto. Esse ramo passa por trans-formações que incluem a entrada de novas editoras e parcerias com grupos internacionais”, observa. O diretor da Asec informou que a associação está em campo e deve divulgar, nos próximos meses, uma pesquisa (feita apenas com o segmento evangélico) que vai tra-çar um perfil fiel do leitor cristão no Brasil. “Temos um universo inexplorado e vamos tirar essa prova. Não tenho dúvida de que o mapa da leitura evangélica vai ser bem maior”, resume Sinval, confiante. E para atender a essa demanda em expansão, o merca-do editorial evangélico vem pas-sando por transformações, como a parceria com grupos interna-cionais. “Essa é uma tendência que vai se consolidar nos próxi-mos anos. Editoras dos Estados Unidos e países da Europa, por exemplo, estão interessadas no nosso mercado e temos demanda para elas”, complementa.

Há sete anos, quando se conver-teu, os livros evangélicos passa-ram a ser companheiros insepa-ráveis de Flávia Paiva, da Igreja Batista Nova Canaã, no Gama. “Eu queria conhecer mais de Deus, e essa sede me levou à leitura diária da Bíblia e de livros que fortale-cessem a minha fé”, relata. Já o pastor da Missão Por Fogo, Milton Emídio, é um devorador de li-vros evangélicos – pelo menos um exemplar por semana. Há quin-ze anos, a televisão foi abolida de sua casa, e a telinha deu lugar a uma verdadeira biblioteca cristã. Milton confessa que, no início, os livros não o atraíam. “Na escola e na família, não somos ensinados a ler. Mas é preciso romper essa barreira e começar a redescobrir a leitura”, explica. O que não apren-deu na escola o pastor ensina a seus filhos. “Desde pequenos, eles

já leem e aprendem a valorizar uma boa literatura. Na verdade, ao amar a Bíblia e a dedicar tempo à leitura de livros cristãos, esta-mos incutindo em suas mentes a Palavra de Deus, para que, quan-do crescerem, não se desviem dos caminhos do Senhor. Os pais e as igrejas precisam incentivar essa saudável prática”, aconselha.

Quem também não se desgruda dos livros é o radialista e locutor Evandro Brant, da Igreja Presbi-teriana Nacional. Dono de uma voz firme, ele costuma trocar o som das palavras pela companhia silenciosa da leitura. São pelo me-nos duas obras por mês de auto-res como Charles Spurgeon, A.W. Pink e Josh McDowell. Para obter um entendimento mais claro do conteúdo, costuma lê-las duas ve-zes. Para Brant, a leitura de livros,

Sinval Filho, Diretor Executivo da Associação dos Editores Cristãos (ASEC)

Flávia Paiva, da Igreja Batista Nova Canaã, no Gama.

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“A leitura de livros, paralela à Biblia, contribui para o crescimento espiritual do cristão”

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paralela à Bíblia, contribui para o crescimento espiritual do cristão, prática incentivada pela lideran-ça de sua igreja. “São obras de autores que seguem a linha de in-terpretação gramático-histórica da Bíblia. Isso faz toda a diferen-ça, porque, ao abordar um tema bíblico qualquer, o autor fará sua hermenêutica baseado no princí-pio de interpretação da Escritura pela Escritura, ou seja, sem o uso de alegorias e/ou pressupostos pessoais, pois esse método con-sidera que a Bíblia é autoridade final e máxima sobre todas as questões da vida”, analisa o ávido consumidor de livros.

Justamente para pessoas como Flávia, Milton e Evandro que o mercado editorial evangélico tem se preocupado em produzir obras cristãs de qualidade literária. Hoje, boa parte dos exemplares consu-midos no Brasil é de autores es-trangeiros. Entretanto as editoras já estão expandindo seus horizon-tes, com o incentivo à produção na-cional. O mercado é tão promissor que até mesmo as grandes editoras seculares já identificaram esse fi-

BíbliaLivros didáticosRomanceLivros religiososContosLiteratura infantilPoesiaHistórias em quadrinhosAuto-ajudaLiteratura juvenil

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Base: Leitor em 2011 - 88,2 milhões / Fonte: Retrato de leitu-ra no Brasil - nov/2011 - Ibope Inteligência/Instituto Pró-livroResultado baseado na pergunta: Quais destes tipos de livros você costuma ler? (P.35A)

Gêneros que costumam ler

lão e estão lançando títulos para alcançar o segmento. “Excelentes autores cristãos brasileiros estão aparecendo no cenário e conquis-tando espaço. O crescimento da literatura nacional não acontece da noite para o dia, mas já demos os primeiros passos”, destaca o di-retor editorial da Central Gospel, que a partir deste ano vai dedicar cerca de 30% de seus títulos para os autores brasileiros.

De acordo com a pesquisa rea-lizada pelo Pró-Livros, incentiva-dos pela leitura bíblica, os evangé-licos procuram títulos que tragam edificação em termos de vida espiritual. Pelo levantamento, a Bíblia Sagrada aparece em pri-meiro lugar entre os gêneros re-ligiosos. Dados das editoras cris-tãs apontam que os títulos mais procurados são os devocionais e os voltados ao crescimento cristão e às mulheres. Aliadas à leitura da Bíblia, essas obras contribuem para o amadurecimento espiri-tual. Segundo o Pr. Gilmar Vieira Chaves, os livros cristãos são fun-damentais para ajudar a compre-ensão do estudioso das Escrituras

Sagradas, aumentar seu conhe-cimento bíblico e fortalecer a fé cristã. “A medida do crescimen-to será sempre proporcional ao acesso à leitura, com a Bíblia em primeiro plano. Essa literatura também vai fornecer ferramentas para que ele [o estudioso] inter-prete corretamente as Escrituras e, assim, faça uma leitura que vai promover crescimento espiritu-al efetivo. Tal leitura vai situá-lo como evangélico e uma pessoa comprometida com Deus. E isso vai promover o crescimento da igreja evangélica brasileira”, con-clui. A boa literatura cristã, com o trabalho criterioso das editoras – na escolha dos títulos e autores – é investimento com retorno certo. E aí? Vamos ler um livro hoje? +

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Milton Emídio, pastor da igreja Missão Por Fogo

Evandro Brant, radialista e locutor

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ESPORTE

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Junior Sipauba é pastor presbiteriano, mestre em Aconselhamento,

matemático, Licenciado em Ciências e faixa-preta pela Conferedação Brasileira de

Taekwondo.

“Quando tenho liberdade interna para me limitar, não preciso ficar irritado porque aquela pessoa espera demais de mim. Ela pode esperar de mim o

que quiser. Mas até que ponto posso atendê-la e sa-tisfazê-la, é responsabilidade minha. Eu posso dizer ‘não’, sem ter nada contra aquela pessoa. Se ela tiver alguma coisa contra mim, preciso aguentar isso e espero que ela igualmente aprenda a lidar bem com os próprios limites. A experiência do limite que teve comigo talvez lhe seja benéfica. Quando eu, nessa li-berdade, tomo um tempo para mim e dedico tempo a alguém, não sinto a pressão do tempo” (Anselm Grün – Monge beneditino).

Aprender os limites internos é um grande de-safio para as nossas vidas, tão cheias de sons, de-mandas, compromissos, cores, pessoas, expectati-vas, sonhos etc. Para aqueles que ocupam funções que inspiram grandes expectativas e responsabi-lidades, o problema é bem mais grave, pois tais pessoas afirmam com regularidade não possuí-rem tempo para uma prática esportiva, uma dieta saudável e para tudo o que faz bem.

Algo que precisa ficar bem explicado é o fato de a pessoa ter o direito de zelar pelo seu tempo. Caso contrário, pertenceríamos a qualquer um que qui-sesse alguma coisa de nossa parte, não nos restando tempo algum. Os outros disporiam de nosso tempo, que estaria todo perdido. Há um mito com respeito aos “ocupados”: as pessoas acreditam que eles este-jam disponíveis a todo momento, prontos para qual-quer parada, “ligados” o tempo todo.

A vida somente é harmônica quando encontramos uma boa relação entre o dar e o receber. Quando tomo da minha disponibilidade temporal para os outros, dou-lhes algo da minha energia, da minha cronologia, da minha dedicação e da minha alma. A grande ques-tão é que para poder doar, eu preciso também ser capaz de tomar para mim aquilo de que também necessito.

Limitar-se internamente é ter a certeza de que o tempo existe. Nesse caso é necessário dedicar parte dele para praticar um esporte, fazer uma caminha-da, conversar com amigos, ouvir uma boa música, assistir a uma comédia e – por que não? – ficar à toa. É Deus quem nos presenteia com esse tempo, pois ele, o Senhor, é bondoso e entende as nossas limita-ções – “Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece...” (Salmos 103.14-15). A Bíblia nos exorta: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disso passar vem do malig-no” (Mateus 5.37).

No caso da prática de um esporte, é importante en-contrar uma atividade física que desperte seu inte-resse, e não encará-la como mais um sacrifício para emagrecer. Há que se sentir motivação em face da satisfação proporcionada pela atividade em si.

O filósofo Joseph Pieper, citado por Grün, tentou traduzir para o nosso tempo a sabedoria da Antigui-dade e da Idade Média: “O lazer, portanto, é mais do que um tempo que reservo para mim mesmo. Supõe uma atitude interna. É a atitude de dizer ‘sim’ ao ser. É a fé de que o ser é bom. Em última análise, o lazer supõe o amor, o amor a tudo o que existe”.

Blaise Pascal, o matemático e filósofo francês (esse pessoal da matemática é demais!), vê a capacidade da autodedicação de um tempo como a condição para alguém tornar-se feliz: “Falar a uma pessoa que deve descansar significa dizer-lhe que tem de viver feliz”. Ninguém pode viver feliz sem ser capaz de parar, de dedicar um tempo para a recreação da alma.

Vamos aprender a dizer o “sim” e o “não” com a mesma intensidade de coração e alma. E que cada um de nós possa zelar pelo seu tempo. Não entre num esquema que vá matar sua qualidade de vida e apagar sua capacidade de saborear os dias. Não seria essa a verdadeira definição de lazer? +

Tempo é saúde

por Júnior Sipauba

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