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Nuno Ramos: entre a matéria e a linguagem A arte h íbr ida e o pensamento sem fr onteiras de Nuno Ramos

TAGS: artes plásticas, Cujo, Nuno Ramo, Ó

O artista plástico Nuno Ramos

Ivan Marques

Nuno Ramos é um dos mais inquietos artistas em atividade hoje no Brasil. Reconhecido desdeos anos 1980 como um dos nossos principais criadores no campo das artes plásticas, eletambém realizou o feito de incluir seu nome no panteão da literatura contemporânea. Nascidoem São Paulo, em 1960, Nuno Ramos formou-se em filosofia na USP. Em 2009, seu livro Ó,uma inspirada reunião de “falsos ensaios”, como ele próprio define, foi o vencedor do PrêmioPortugal Telecom de Literatura. Antes, ele já havia publicado Cujo (1993), O Pão do Corvo(2001) e Ensaio Geral (2007), este último reunindo artigos sobre literatura, artes plásticas,música popular e futebol.

Em 2010, Nuno publicará um novo livro, O Mau Vidraceiro, além de fazer uma exposição noRio de Janeiro e de integrar a delegação brasileira da Bienal Internacional de São Paulo. Nestaentrevista à CULT, o artista fala sobre suas múltiplas atividades, defendendo, para além dohibridismo, a própria ideia da não especialização. E, com a agudeza habitual, discorre sobrecriadores e temas importantes da arte e da literatura feitas no Brasil.

CULT – Você foi um leitor compulsivo na adolescência e, antes de se tornarartista plástico, desejou ser escritor. Que entraves dificultaram na época arealização desse projeto?

Nuno Ramos – Eu queria ser artista, e artista para mim era alguma coisa ligada à palavra. Ao mesmo tempo, me meti numa faculdade de filosofia, que tinha uma carga de leituragrande, rigorosa. Eu me sentia muito ansioso pelo peso do que devia ler, do que era ser umautor. Lia mais do que aguentava, lia muita coisa que não entendia direito. Às vezes não saíade férias para ficar lendo alguma coisa. Escrevia quase todos os dias, tentava conto, poema. Ia

batendo a cabeça como uma ave presa, mas de fato não gostava de na da que fa zia.

CULT – Cujo, seu primeiro livro, saiu em 1993, quando seu nome já erareconhecido nas artes plásticas. Como fez para remover os antigos obstáculos?

Nuno – Cujo é um livro de fragmentos que começou um pouco associado ao ateliê, aomomento em que adquiri uma identidade mais forte como artista plástico, na coisa dosmateriais, da mudança entre eles, numa coisa muito íntima com a matéria. Por isso, tem um

pouco de alquimia no Cujo. A estrutura de fragmento vem da tentativa de mimetizar acorporeidade que eu vivia todo dia, de ver a vaselina derreter, de passar o breu, fazer umacoisa virar outra. Essa alquimia que eu ia criando nos materiais é o que tentei captar no Cujo.E desse lugar já mais corpóreo, já mais assentado, a coisa com a literatura voltou. Na verdade,nunca parei de escrever. Para mim, escrever não é difícil. Esse é o grilo, aliás, porque não seimuitas vezes do que estou falando, pa ra que estou escrevendo. Parece que o impulso retóricoàs vezes é maior do que aquilo que quero dizer. O que eu não contava é que a coisa dos ensaiosaparecesse. Isso não estava muito no meu horizonte.

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CULT – Na infância, você ficou fascinado pela leitura de uma versão ilustrada de Robinson Crusoé, exatamente como ocorreu com Drummond.

Nuno – Era uma versão infantil, talvez do Monteiro Lobato, não sei. O fato é que eu sidereicom o livro e esquentava termômetro para ficar em casa e ler de novo. A lembrança que tenhoé de ler dezenas de vezes. No Ensaio Geral , tem um texto sobre Robinson Crusoé. Eu reli e foiuma decepção completa. A ilha é uma espécie de réplica da vida dele em York, umaminiaturização, um projeto um pouco colonial de transplantar para o trópico a experiênciaoriginal. Numa leitura mais psicanalítica, a parte inicial do livro é o sujeito violando aautoridade do pai. Essa primeira metade é uma soma voltairiana de desastres. E ele semprefala: realmente o meu pai tinha me avisado da minha falta de bom-senso. E afinal, quando vaipara a ilha e está sozinho, ele reconstrói minuciosamente o que perdeu. Essa leitura foi a que

eu fiz hoje. Mas era o que me atraía quando eu era menino; talvez a sensação de conforto, asegurança de imaginar que eu podia crescer, sair de casa, que ia ter a casa de novo, podiareconstruí-la, alguma coisa assim. Eu, criança, gostava disso, mas como adulto foi justamenteo que me irritou.

CULT – Para Drummond, a razão do encantamento era mais romântica: asolidão do personagem.

Nuno – Mas ele diz no poema que “minha história era mais bonita que a de RobinsonCrusoé”. A dele era mais bonita.

CULT – Você realizou uma instalação inspirada no poema “Morte das Casas deOuro Preto”, do livro Claro Enigma. De onde vem a sua admiração porDrummond?

Nuno – Acho Drummond o maior artista brasileiro do século XX. O topo do mundo, mas semdiminuir… Dos anos 1920 aos 70, o Brasil tem uma literatura admirável, com dez, 15 nomes deprimeiro time. E tem, é lógico, Niemeyer, que é uma coisa do outro planeta também. MasDrummond… Acho que nunca ninguém escreveu assim em língua portuguesa. Muitas vezes,acho melhor que Fernando Pessoa. Outro dia reli o poema “Escada”. Aquilo você tem de ler em

voz alta, vai para todo lado. Drummond é a verdadeira abstração. No Brasil, em geral, épreciso ser concreto, para não perder o veio, a mão, o acesso. Quando fica abstrato, tipoMurilo Mendes, parece um pouco religioso e a voltagem cai muito. Nele não, o concreto e oabstrato se misturam.

CULT – Por que você considera Drummond um representante da “ambivalênciacultural brasileira”?

Nuno – O Brasil tem uma cisão, muito constitutiva de tudo que a gente faz, entre umafacilidade de modernização e uma incapacidade de modernização. A modernização parecesempre muito acessível, uma coisa que deverá ser feita de modo rápido, basta botar mãos àobra. Ao mesmo tempo, o Brasil até hoje não se constituiu como um país moderno no sentido

weberiano, das instituições serem mais autônomas, da ideia de cidadania que afinal supõecerta igualdade entre as pessoas. O Brasil é moderno e não é. Sempre quis se modernizar e, aomesmo tempo, tem sempre uma força de contenção muito g rande, então esse projeto acabameio em lugar nenhum. Drummond é a consciência mais aguda disso. Ele é o poeta público,mas é o poeta da família. Vai atrás do tempo dele, mas esse tempo é feito de fantasmas; opassado está sempre no lugar onde deveria estar o futuro.

CULT – O hibridismo, palavra-chave no seu trabalho, é algo recorrente na artemoderna e, no Brasil, foi muito importante na época dos modernistas. Qual é asua relação com o modernismo, esse movimento que entrou para a históriatanto da literatura quanto das artes plásticas?

Nuno – Entre nós, tem aí uma distinção inegável entre literatura e as outras artes. A literaturafoi muito mais forte do que as outras neste começo de século. É uma espécie de lugar-comumsobre as artes plásticas: o momento mais forte é o segundo modernismo, nos anos 1950, com osneoconcretos, e não o modernismo de 1922. A nossa independência plástica, digamos assim,

vem com o pessoal que morava no Rio: Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Amílcar deCastro, Sérgio Camargo… Vindo para São Paulo, tem o Volpi, o Barsotti, o Willys, em Porto

Alegre o Iberê Camargo, em Minas o Guignard… Tudo anos 1950. Claro que havia o Guignarde o Goeldi antes, mas é disperso demais ainda.

CULT – E a produção dos anos 1920?

Nuno – É muito dominada pela literatura. Acho Anita Malfatti uma pintora de grande força,mas menos original. Tarsila tem duas fases, dois conjuntos de obras muito originais. Vocêconsegue ver relação, por exemplo, da Negra com o trabalho do Tunga ou do Nelson Felix, oumesmo com A Bruxa , do Cildo Meirelles, uma certa anamorfose do corpo, um corpo goma,espalhado em tudo. Isso mostra que aquilo tem força, mas mesmo assim não acho a Tarsilauma pintora de mão-cheia. Ela teve uma intuição, num momento cultural muito forte,convivendo de perto com o núcleo disso, que eram Mário e Oswald, e criou uma espécie deimagem gráfica daquilo. Mas não acho que seja grande pintura. Grande pintura é a doGuignard, que vem um pouco depois, não está ligado a esse impulso do primeiro modernismo,em que a modernização estaria ali à mão, você quase a toca com o dedo. No fundo, em todo omodernismo ligado à semana de 22 há a tendência a certa infantilização (Bandeira é aexceção). Macunaíma, o poema-piada… Tem alguma coisa regressiva, essa necessidade de ofuturo e o passado se tocarem, de o Brasil dormir no polo do atraso semiescravocrata e acordarno dia seguinte no polo da vanguarda ocidental. Mário era mais angustiado com isso, Oswaldnão. Fora Macunaíma, de que eu realmente gosto muito, e de todo o Manuel Bandeira, nãoleio nada modernista com tanto prazer.

“O sumiço”, de Georges Perec, ganha 1ª edição

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CULT – O que você mais admira em Macunaíma? Ali o hibridismo salta aosolhos…

Nuno – Acho Macunaíma uma espécie de vingança do Mário contra si mesmo. Ali, asdiversas faces do Mário – o arquivista, o pesquisador, o intelectual paciente que catalogou ecolecionou pedaços de tudo e de todos para formar uma “cultura brasileira original” – estão

bêbadas, fundidas, a tirando arquivos umas nas outras. A consequência disso é um livroadorável, bagunçado e estruturado a um só tempo, feito talvez com a ruína precoce do projetode “autonomia cultural”, que era o do Mário, mas por isso mesmo fazendo-o alcançar umpatamar inédito. Macunaíma trabalha com a cultura nacional como um dado oferecido a nós,mas suspenso na própria brincadeira do livro, e esse é seu grande lugar. Nesse sentido, achoque ele conquista uma coisa única mesmo. Nunca mais foi feito nada assim.

CULT – Mas fecundou muita coisa, não é? Guimarães Rosa…

Nuno – Sabe que eu também acho? Quando reli Macunaíma, achei que a dicção doGuimarães Rosa tem a ver com aquilo. É uma coisa que eu nunca tinha pensado, nunca vininguém falar, ou talvez seja eu que não conheça. Mas existe um nhe-nhe-nhem no Rosa que

já tem em Macunaíma. Tudo meio declina, tudo está declinando, não sei. Mas Macunaíma eugosto na leitura da Gilda de Mello e Souza ( O Tupi e o Alaúde), que é uma leitura melancólica.

Acho aquele ensaio um negócio brilhante. Na raiz do que seria um projeto de autonomia dopaís pela alegria, pelo Carnaval, ela coloca uma nuvem negra, ali no núcleo de tudo: ele perdea muiraquitã, depois de tê-la reencontrado. Acho que ela tem razão contra Haroldo deCampos, ela leu com originalidade maior. Eu gosto de uma visão mais pesada. GracilianoRamos, adoro. Revi agora São Bernardo , do Leon Hirszman. Um filme maravilhoso,impressionante.

CULT – Ao receber o Prêmio Portugal Telecom, você disse que Ó é uma obra

inclassificável e reafirmou sua incapacidade de ficar em um gênero só. Mas vocêtambém diz que gosta de “manter o gênero” em tudo que faz. É mais importantemanter os gêneros ou quebrá-los? Ou eles são dissolvidos justamente para serconservados?

Nuno – O moderno, por excelência, é estar dentro de um gênero e arrombar esse gênero:Ulisses em relação ao romance, Duchamp com a pintura, o cubismo com a representação… Éclaro que esse percurso de agressão linguística, que é próprio do mundo moderno, já estácumprido. Obviamente não vou ficar reinventando isso. Ao contrário, sinto que eu rendo maisquando algumas características do gênero estão claramente presentes. Não consigo imaginaros meus quadros, por exemplo, sem o contorno do chassi. Aquilo é uma pintura. Tem trêsmetros de campo para a frente, mas é ainda uma pintura. Nesse sentido é que os gêneros meservem.

CULT – Você definiu os textos de Ó como falsos ensaios ou ensaios“amalucados”. O que os distingue dos ensaios verdadeiros? Qual a diferença

entre as ideias do intelectual e as ideias de um artista que pensa?

Nuno – Quando faço ensaio, procuro fazer ensaio e não um texto poético. É claro que nãoconsigo muito e às vezes acho que preencho as minhas enormes dificuldades como ensaísta,como intelectual, com o texto, com a coisa mais poética. Mas o meu esforço é achar uma vozensaística. Meu esforço, quando escrevo, é não fazer uma prosa de ateliê. Meu esforço, quandopinto, é pintar. Quando fiz filme, queria filmar, realmente tentei usar os recursos. Tenho muitoessa ilusão de que dá para chegar a uma linguagem, a um gênero que você não conhece, e atéfazer valer o fato de não conhecer, de não ter um preparo técnico e mesmo cultural em relaçãoàquilo que você está fazendo.

CULT – Clarice Lispector defendia o amadorismo, dizendo que, se fosse umaescritora profissional, perderia a liberdade. No seu caso, foi fácil retomar, naliteratura, a liberdade vivenciada nas artes plásticas?

Nuno – Entre nós, a literatura é mais pública, tem mais pa râmetros, oferece mais. Em artes

plásticas, ainda hoje não é claro para ninguém quais são os valores. Se você comparar Goeldicom o “Porquinho-da-índia”, de Manuel Bandeira, ninguém nunca ouviu falar no Goeldi.Então, a energia das artes plásticas é uma energia que não está formada, não circulou ainda.Eu me lembro de uma conversa com Waly Salomão. Ele e seus amigos não gostavam da MiraSchendel porque ela tinha meio que brigado com a Lygia Clark, então ela seria formalista, uma

bobagem. Eu disse a ele: mas Mira Schendel tem o tamanho de João Cabral. E Waly, comaquele jeitão dele, falou: nem com muita vaselina! Gosto muito do Waly, mas acho que nesseponto eu tinha razão. É lógico que Mira Schendel é do tamanho do Cabral. É lógico que Goeldie Bandeira são perfeitamente intercambiáveis. São artistas do mesmo quilate. Já em relação aDrummond, acho que a gente não fez nada igual… Seria o Hélio Oiticica, não é?

CULT – Nas artes plásticas, a liberdade é bem maior.

Nuno – Para mim foi muito desinibido fazer artes plásticas. É claro que a exigência que acultura faz sobre quem está chegando é benigna, não há como fazer arte boa sem isso. Masacho que a estrutura agônica que os Estados Unidos têm com o passado – o Pollock querendo

vencer o Picasso, a cultura norte-americana querendo produzir um poeta, o desejo doEmerson de encontrar um Whitman antes mesmo de o Whitman aparecer – não é muito anossa. Não acho que o agon brasileiro seja tão agudo. Em geral a gente vai meio de lado, meioenvolvendo essas questões. Acho até que a gente deve buscar esse confronto, em vez de fugirdele.

CULT – No seu trabalho como compositor, o diálogo com a tradição é bastanterespeitoso.

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claudia | 20/03/2010

Guilherme | 06/05/2010

COMENTÁRIOS (3)

excelente entrevista, adoro o Nuno.

Seria possível obter o contato (e-mail) do Sr. Nuno Ramos? A entrevista (excelente como disse o amigo acima)

Nuno – Como artista plástico, comecei fazendo coisas de qualidade péssima. Comocompositor, comecei fazendo coisas tradicionais demais. Num caso, existe uma cultura queoferece parâmetros. A canção entre nós tem uma exigência óbvia sobre quem faz – e nessesentido, um agon maior. Se você pensar, Chico Buarque, no planeta dele, é isso também, é umCaymmi com Noel que vai sofrendo ao longo da vida uma espécie de inflexão jobiniana, é um

virtuose pegando esses parâmetros que já estavam postos num lugar perfeito. Caymmi é acanção perfeita. É impossível a estrutura da canção ser mais plena e simples do que: “Você jáfoi à Bahia, nega? Não? Então vá”. “Coqueiro de Itapoã” é “a” canção. Não estou dizendo quenão exista, nas artes plásticas, esse corpo de obra nossa. Há grandes, extraordinários artistas.Só acho que ele é mais solto, menos conectado, menos denso culturalmente, não circuloudireito nem foi elaborado ainda.

CULT – E nas letras? Quando escreve, você fica pensando no corpo constituídopela literatura brasileira?

Nuno – Em literatura, a impressão que tenho é a de que o Brasil vive hoje uma espécie derefluxo de uma idade de ouro, que vai até meados dos anos 1970, uns 50 anos em que apareciauma geração atrás da outra. Acho que a literatura brasileira está tentando organizar valoresnovamente e nem sabe bem para onde vai. Não sinto, em artes plásticas, esse peso da diferençaentre um momento anterior e agora. Em todas as outras áreas, eu sinto. Mas em artes plásticasa coisa é mais um embrulho só.

CULT – No primeiro texto de Ó, a voz narrativa mostra-se indecisa entre ospolos da matéria e da linguagem. Nas artes plásticas, tudo é matéria. Naliteratura, como retornar ao mundo pré-linguístico, representado pelo corpo?Essa dualidade parece estar presente em toda a sua obra.

Nuno – Noto, no que escrevo, dois caminhos, dois veios. Acho que Ó vem do Cujo. Tem umaenergia de pensamento e a forma é como um poema. O lastro é uma procura de conexão coma matéria, pelo tema ou até pelo som, alguma coisa que redunde de volta no mundo físico. Aítem outro veio, que é uma necessidade de veicular coisas, de fazer a linguagem executar suafunção elementar que é a de contar coisas, de narrar algo. O Pão do Corvo e este que vai sairagora, O Mau Vidraceiro, têm algo mais próximo talvez do conto. São duas vozes diferentes.No caso do narrar algo, por mais que eu tente não fazer uma coisa banal, sinto que estouusando a linguagem. No outro, parece que ela manda mesmo e, nesse sentido, acho maispróximo do poema.

CULT – Num artista híbrido, como se organizam as ideias? O que distingue umaintuição plástica de um insight literário? E o que faz as ideias caminharem de umgênero para outro – do ensaio para a poesia, por exemplo?

Nuno – É difícil responder, até porque, se há um momento de fato híbrido, é esse em quealguma coisa como uma ideia aparece. O conceito de heteronomia, que não é meu, porque as

minhas vozes não estão organizadas, no entanto me é muito atraente, como se fossem de fato personas diversas que fazem. Gostaria de ter vozes diferentes, que acessassem coisas diferentes. Admiro muito quem vai num veio só, porque cada um sabe de si, claro. Amílcar de Castro é umdos artistas que mais admiro. Fez dois conjuntos de obra: um com dobra, outro comdeslocamentos. E é um artista enorme. Mas, por outro lado, sinto que tem pouca goma teprendendo no Brasil. A vida não pede muito para você se especializar. E a força daespecialização, do não amadorismo, muitas vezes é redutora, falsa. Acho que a gente vive umacoisa meio ambivalente com isso. O nosso futebol deixou de ser tão amador, e o Brasil se deu

bem nesse sentido. A geração do Ronaldo, d o Rivaldo… os caras foram para lá, jogaram emdez clubes diferentes, passaram a ter outro comportamento tático, físico. É diferente de umageração mais amadora, como a do Zico, que ainda era uma geração de pouca especialização (àexceção de Oscar, Serginho e Valdir Peres, todos os jogadores da Copa de 1982 eram dealguma forma meio-campistas, a posição por excelência do não especialista). Mas esseamadorismo não especializado ainda rende. Não acho que seja o caminho salvador, mas rola.E me ambientei de certo modo nesse jeito de fazer.

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Siegfried | 15/05/2010

semeou algumas dúvidas e idéias quanto à criação.

Muito obrigado!

ESTA ENTREVISTA É MUITO I MPORTANTE PARA A ARTE. GOSTEI MUITO!

0 Comentários 1

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