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A CACHAÇA EM REVISTA Especialistas em cachaça se reúnem para debater o passado, o presente e o futuro deste liquido precioso RELATÓRIO DAS ATIVIDADES

Revista Cupula Da Cachaca

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Revista anual de grupo de cachaciers de São Paulo.

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  • A C A C H A A E M R E V I S T A

    Especialistas em cachaa se renem para

    debater o passado, o presente e

    o futuro deste liquido precioso

    R E L A T R I O D A S A T I V I D A D E S

  • C A R T A

    O pessoal do alambique..... 5

    Cana & Solo...................................

    Temas7

    Tecnologia.................... 10

    Blendagem.................................... 13

    EX

    PE

    DI

    EN

    TE

    EDIO Milton Lima e Luiz Arkhan

    REDAO Dirley Fernandes

    DESIGN & DIREO DE ARTE Luiz Arkhan

    EDITORAO VWZ Design Estratgico

    JORNALISTA RESPONSVEL Dirley Fernandes MTB 70057-BA

    FOTOS Marcos Zaniboni | Marlon Oliveira

    AGRADECIMENTOS: Antnio Rosin, Carlos Andriani,

    rsula (Claudionor), Duzinho Fernades, Mnika Meirelles,

    Fabiana Prado, Fernando e Gabriel Guimares (Engenho

    Pequeno),Thalita e Marcelo (Cuzco Turismo),

    Cambraia, Ansio Santiago, Santa Terezinha,

    Tabua, Distribuidora Salivana e

    principalmente a todos os cpulos

    Envelhecimento. 17

    Exportao.............

    Devotos.......... 26

    Degustao (no mineiras)..................

    23

    28

    Por Peter Armstrong

    Por Peter Armstrong

    Por Dirley Fernandes

    Por Milton lima

    Por Nelson Duarte

    Por Glauco Mello

    Por Leandro Marelli

  • ed

    itoria

    l

    1 O uso do termo "envelhecida" nos rtulos

    deveria ser reservado exclusivamente para a

    cachaa armazenada em tonis com capacidade

    mxima de 250 litros, por prazo mnimo de um

    ano. A cachaa armazenada por tempo inferior a

    esse poderia merecer outros termos, como

    descansada, mas jamais envelhecida.

    2 O envelhecimento da Cachaa deve se dar

    preferencialmente em tonis ou barris de madeira

    de at 250 litros. Tonis de maior capacidade no

    tm a capacidade de interagir com a cachaa e

    transferir a plenitude de suas propriedades no

    perodo de 12 meses. Sua utilizao, respeitando-

    se o limite mximo de 700 litros,contudo, pode ser

    permitida, desde que, obrigatoriamente, no rtulo

    da bebida, constem a madeira, o volume do tonel e

    o tempo de armazenamento, respeitadas as

    disposies legais sobre rotulagem.

    3 Para o uso do termo envelhecida, no se

    deve permitir o uso de nenhuma proporo de

    cachaa mais nova. O balanceamento do teor

    alcolico deve ser feito exclusivamente mediante a

    adio de gua, devidamente tratada.

    4- O uso de termos como armazenada em

    madeiras nobres, em madeiras de lei etc..

    deveria ser abandonado por todos os produtores,

    ainda que levando-se em conta os eventuais

    problemas de interpretao da legislao. As

    madeiras de envelhecimento, sendo elementos

    absolutamente decisivos para as propriedades

    sensoriais da cachaa, devem vir discriminadas

    com destaque no rtulo de todas as cachaas.

    5- O uso de lascas (chips) de carvalho destinados a

    acelerar o processo de envelhecimento deve ser

    repudiado por todos os amantes da cachaa,

    interessados na preservao do complexo cultural,

    histrico e social ligado bebida. Experincias outras

    devem ser incentivadas e experimentadas, mas sua

    adoo pelos produtores deve ser precedida de amplos

    estudos sobre seu impacto, levando em conta todo o

    ciclo envolvido na cachaa, da ponta em que est o

    plantador de cana quela em que est o consumidor,

    sobretudo o menos esclarecido e, portanto, mais

    vulnervel.

    6- Somos contrrios, pelo princpio da manuteno da

    diversidade que uma das bases do carter nico da

    cachaa em relao a outros destilados, a qualquer tipo

    de listagem de madeiras prprias para o envelhecimento

    da cachaa. Os parmetros que devem ser seguidos so

    aqueles do gosto do consumidor e, claro, os ambientais.

    Em vista disso, instamos o Ministrio da Agricultura a

    uma maior fiscalizao em relao ao uso de espcies

    cujo corte est vedado (caso da castanheira e do

    amendoim) e o incentivo manuteno e reintroduo

    dessas e de outras espcies com restries regionais,

    atividades nas quais os produtores (e consumidores) de

    cachaa deveriam, igualmente, se engajar.

    7- Sem imaginarmos qualquer tipo de excluso de

    madeiras no nativas sobretudo o carvalho, j de

    alguma forma consagrado como madeira de

    envelhecimento de cachaa , incentivamos os

    produtores da cachaa, bebida genuinamente brasileira,

    a buscar entre as madeiras igualmente brasileiras a

    matria prima para sua tanoaria.

    8- Somos favorveis ao aprimoramento da fiscalizao,

    mas no custa do excesso de burocratizao e da

    maximizao de exigncias processuais que tenham

    como efeito colateral o afastamento de produtores

    tradicionais e de menor porte do mercado.

    De resto, fica a nossa homenagem aos produtores

    brasileiros e um brinde bebida nacional brasileira. Boa

    leitura e sade!

    T R A N S P A R N C I A E D I V E R S I D A D E

    A Cpula nasceu como um frum de discusso sobre a bebida nacional brasileira. E a

    nossa prosa se estende por muito mais do que os trs dias em que todos nos sentamos

    em torno da mesa e dos grandes temas do universo da cachaa em Analndia, em

    janeiro deste ano uma celebrao que, oxal, h de se repetir por muitos anos, com

    vrios outros amigos. De forma permanente, via internet e nos encontros pessoais

    que ocorrem entre os cupuleiros, sobretudo nos eventos ligados ao universo

    cachacstico, sempre retomamos e aprofundamos a discusso dos assuntos

    relacionados ao futuro do nosso destilado preferido e consolidao de uma Cultura

    da Cachaa. Esse o sentido da nossa existncia enquanto grupo.

    No primeiro semestre, o tema que concentrou nossas discusses foi o envelhecimento

    da cachaa. O mote para isso foi dado pela Portaria nmero 30, do Mapa, que

    atualiza as normas para o controle do envelhecimento da cachaa, agora prestes a

    ser publicada. Os membros da Cpula querem externar alguns princpios consensuais

    que acreditamos deveriam ser defendidos por todos os aficionados pela cachaa,

    para que o envelhecimento do nosso destilado seja melhor e mais transparente e

    tenhamos produtos cada vez melhores. So princpios permanentes, que,

    acreditamos, devem ser considerados por todos os envolvidos com a cachaa, desde

    produtores a consumidores, passando por legisladores e fiscalizadores. So eles:

    Envelhecimento: Nossa Posio

  • A B E R T U R A

    a

    1 Cpula da Cachaa foi uma reunio de especialistas ligados ao

    universo da cachaa para debater temas pertinentes ao passado,

    presente e futuro da bebida nacional brasileira.

    De formaes e atuaes diversas, cada um dos membros desse

    grupo trouxe uma viso oriunda de um determinado ponto de

    vista e dividiu-a com os demais componentes.

    Os trs dias de generosa e profcua troca de ideias resultaram

    em aprofundamento do conhecimento de cada membro e do grupo

    dos muitos aspectos envolvidos na histria, produo,

    comercializao, marketing, exportao e valorizao da

    cachaa como elemento da cultura nacional.

    Agora, oferecemos aqui um resumo das discusses e propostas

    dessas jornadas como colaborao para que todos os atores

    envolvidos no universo da cachaa participem dos debates e da

    produo de conhecimento em busca sempre do aprimoramento,

    da manuteno da variedade e da valorizao da bebida

    nacional brasileira.

    cachacier Agostinho Lima Novo

    comearam a planejar uma visita a seus

    congneres paulistas, que incluiria um

    almoo no restaurante Mocot e teria

    seu ponto alto numa visita Cachaaria

    Macava, em Analndia.

    Quando Agostinho lanou essa ideia,

    Milton Lima, proprietrio da Pousada e

    Cachaaria Macava, colecionador e

    especialista do lquido precioso,

    abraou-a e passou a liderar a

    mobilizao para reunir os

    correligionrios na sua casa, que, no

    perodo imaginado para o encontro

    (25 de janeiro de 2013), estaria

    completando um ano.

    Entre confirmaes e cancelamentos,

    em complicada operao de

    agendamento e logstica, fechou-se o

    rol dos participantes do encontro com

    oito nomes.

    Conhea um pouco da trajetria

    profissional dos componentes da

    1 Cpula da Cachaa na pgina ao lado.

    ps uma visita sede da

    Ypica, em Fortaleza, no final

    de 2011, o grande colecionador

    Messias S. Cavalcanti autor de A

    Verdadeira Histria da Cachaa

    props ao grupo de especialistas em

    cachaa ali reunidos uma reunio em

    que se debatessem os diversos temas

    pertinentes bebida. No so poucos

    os aspectos envolvidos com a histria,

    produo e comercializao da

    cachaa que suscitam controvrsias e

    equvocos. Messias deu a esse

    encontro o nome provisrio de

    Simpsio da Cachaa.

    poca, essa proposta no pde ser

    levada adiante, em vista das grandes

    dificuldades logsticas. Mas a ideia de

    aprofundar os debates e ampliar a

    troca de conhecimentos entre os

    especialistas stava lanada.

    J no segundo semestre desse ano, de

    volta do Festival da Cachaa, em

    Salinas, o jornalista e documentarista

    Dirley Fernandes e o escritor e

    A Cpula e os cpulos

  • Nelson Duarte

    Tecnlogo em Bebidas, Mestre Alambiqueiro, Master Blender premiado e Bartender com

    certificao internacional pela International Bartenders Association, autor do livro

    "Cachaa de Alambique: uma dose de marketing" (2013) e palestrante, especialista em

    Anlise Sensorial certificado pelo Centro Studi Assaggiatori de Brescia, Itlia.

    Dirley Fernandes

    Jornalista, crtico de msica e de cinema e documentarista. Com passagens por veculos

    como Manchete, Selees, Extra, JB e Jornal do Commrcio, editor da revista

    Histria Viva e autor do documentrio em mdia metragem Devotos da Cachaa | 2010,

    que aborda a profunda insero da cachaa na cultura, histria e identidade brasileiras.

    Sidney Maschio

    Jornalista especializado em agronomia, foi da equipe do Estado e do Globo Rural.

    hoje apresentador do jornal dirio de agronegcios do canal Terra Viva (Band), alm

    de poeta, degustador e colecionador de cachaas.

    Glauco Mello Jr

    Engenheiro qumico especializado na cadeia produtiva canavieira, trabalhou para

    Copersucar, Razen e Zilor, entre outras. Desde 1996, consultor em produtividade e

    fermentao alcolica da multinacional Elanco, atuando no Brasil, Amrica Latina e sia.

    Leandro Marelli de Souza

    Ps-doutor pela ESALQ/USP e Doutor pela Universidade Estadual do Norte

    Fluminense, com estudos relacionados Tecnologia de Bebidas e ao Controle de

    Qualidade em Bebidas Alcolicas. Autor principal de diversos artigos sobre qualidade

    qumica e sensorial publicados em peridicos e congressos cientficos nacionais e

    internacionais e da Cartilha Produo da Cachaa de Qualidade - ESALQ |2013.

    Atualmente trabalha como consultor, d palestras, cursos e professor em

    disciplinas relacionadas com tecnologia de bebidas.

    Manoel Agostinho Lima Novo

    Autor do livro Viagem ao mundo da Cachaa, criador do site www.mundodacachaca.com e

    do aplicativo para Iphone Cachaa Brasil. Atua como consultor e palestrantes e

    formado em Anlise Sensorial pelo Centro Studi Assaggiatori de Brescia, Itlia.

    Milton Lima

    Nascido, fermentado e destilado em Pirassununga, escreveu o tcc Cachaa do Brasil

    da Senzala para a Casa Grande, que originou o cachaas.com site que h seis anos

    importante fonte de referncia sobre o universo da cachaa. colecionador de

    cachaa e proprietrio da Cachaaria Macava. Foi jurado do Ranking Playboy de

    Cachaas 2011. Atualmente ministra palestras e consultorias sobre cachaa.

    Peter Carl Armstrong

    Bacharel em Cincias Polticas pela Universidade de Victoria, Canad, foi

    correspondente da The Canadian Press antes de se especializar em comrcio

    exterior e desenvolver e implementar os primeiros projetos de exportao da

    Cervejaria Brahma e da Aguardente 51. Tambm estruturou operaes para a

    Caninha da Roa e a Caninha 21. consultor para o Brasil da International

    Wine & Spirits Record, de Londres.

    5

  • O S T E M A S

    a

    Milton explicou, em breve pronunciamento, o mote da cerimnia. "Ns estamos

    aqui para plantar uma semente, a do debate e da troca de experincias que vai

    ajudar a cachaa a crescer cada vez mais forte e saudvel. Nada mais

    simblico, ento do que comearmos do incio, da terra, da cana e do plantio

    feito pela mo do homem", disse.

    Cpula da Cachaa pretende ser

    aberta, democrtica e

    multidisciplinar. Os participantes e

    seu principal organizadore anfitrio,

    Milton Lima, tm como meta que o grupo

    desse ano se amplie nas prximas edies,

    agregando novos e variados conhecimentos,

    especialistas das mais diversas regies e

    temtica ainda mais abrangente.

    Os sulcos j estavam preparados para o

    plantio, assim como os toletes. Cada um dos

    participantes da Cpula distribuiu os toletes

    pelos sulcos e usou o podo para fazer os

    cortes. Leandro Marelli, nascido no campo,

    no sul do Esprito Santo, demonstrou mais

    desenvoltura com o instrumento, claro.

    Milton explicou, em breve pronunciamento,

    o mote da cerimnia. "Ns estamos aqui para

    plantar uma semente, a do debate e da

    troca de experincias que vai ajudar a

    cachaa a crescer cada vez mais forte e

    saudvel. Nada mais simblico, ento do que

    comearmos do incio, da terra, da cana e

    do plantio feito pela mo do homem", disse.

    A seguir, os participantes da Cpula se

    reuniram em torno da mesa de debates, os

    convidados deixaram o recinto, um brinde

    foi erguido e as discusses tiveram incio.

    Veja tudo a seguir.

    Por isso, a cerimnia de abertura

    da 1 Cpula da Cachaa teve

    como ponto alto um gesto

    simblico. Os participantes da

    Cpula, aos quais se juntou o

    vice-prefeito de Analandia, Jairo

    Masci, representando o

    municpio, plantaram toletes de

    cana em uma rea prxima da

    horta orgnica da Pousada

    Macava.

    Plantando uma semente

    Leandro

    toma

    frente

    Milton e

    Nelson

    avanam!

    Milton em

    manobra

    radical...

    6

  • SOLO"A queima da cana facilita demais

    o corte, mas prejudica a

    qualidade qumica da cachaa,

    aumentando as concentraes de compostos

    indesejados, como furfural.Tambm libera

    poluio qumica fuligem e Co2 elimina

    pssaros, degrada o solo, prejudica a

    respirao da populao..."

    CANA&

  • eC A N A & S O L O

    Garoto do interior do interior (distrito de So Pedro do Itabapoana, municpio

    de Mimoso do Sul | ES) criado no meio de um cafezal - que tornou-se ps-doutor e

    estuda h dez anos as propriedades mais elementares da cachaa, comeou sua

    fala na Cpula da Cachaa com uma pergunta retrica dirigida a todos os demais

    participantes do encontro: "Qual a melhor cana para se fazer cachaa?"

    Leandro Marelli

    8

    disse o qumico, considerando que as

    variedades lanadas nos ltimos tempos

    no representam mudanas significativas.

    Dirley Fernandes lembrou que a caiana,

    que foi introduzida no Brasil no incio do

    sculo 19, foi a nica variedade de cana

    que se tornou sinnimo de cachaa, o que

    denota a importncia histrica dela.

    Peter ressaltou que, numa viagem a

    Pernambuco, teve a sua ateno chamada

    para a pouca altura dos canaviais, o que, a

    princpio, lhe pareceu um fator de pouca

    produtividade. Leandro esclareceu que a

    possvel proximidade do mar, com a

    presena de ventos fortes, recomenda que

    se opte naquela regio por variedades com

    crescimento menor. "Ou o vento faria o

    canavial virar um colcho".

    Para conseguir boa produtividade, segundo

    Leandro, o solo deve, necessariamente,

    ser preparado, de acordo com a legislao

    e as especificidades de cada regio. "

    preciso preparar o solo. No tem frmula

    mgica. levar para um bom laboratrio e

    descobrir como suplementar o que estiver

    faltando".

    Leandro, secundado por Glauco,

    comentou a seguir alguns fatores

    que podem influenciar a escolha

    da variedade a ser utilizada para

    a produo de cachaa. "Para

    comear, preciso desmistificar

    uma coisa: a mesma cana que

    serve para o lcool e o acar

    serve para a cachaa. E no

    existem mais hoje as chamadas

    canas nativas, como a caiana, ou

    a java... Todas as variedades

    plantadas so hbridas, verses

    melhoradas dessas canas"

    sta pergunta suscitou uma srie

    quase infindvel de

    consideraes e levou a

    discusses por diversos caminhos,

    at que Leandro retomou a palavra para

    dizer que "a melhor cana aquela que

    mais se adequa sua regio". "Quando

    um produtor iniciante liga para a Esalq

    e me faz essa pergunta, eu digo a ele

    para olhar, primeiro, a variedade que os

    outros esto plantando em volta dele".

    "A partir da", prossegue Leandro, "eu

    lembro que ele vai usar colheita

    manual, no mecanizada, vai ter de ser

    no faco. Ento, ele tem que preferir a

    cana que desfolha menos, para facilitar

    essa operao e no partir para

    queimada".

    Leandro lembrou tambm a questo

    ambiental. "A queima da cana facilita

    demais o corte, mas prejudica a

    qualidade qumica da cachaa,

    aumentando as concentraes de

    compostos indesejados, como furfural.

    E libera poluio qumica fuligem e

    CO2. Elimina pssaros, degrada o solo,

    prejudica a respirao da populao...

    Tem que ser evitada."

    "A, as variedades j comeam a se

    afunilar. E, ento, eu recomendo que

    ele escolha trs, de acordo com o

    perodo de corte de cada uma delas:

    uma de maturao precoce, uma mdia

    e uma tardia", explicou. "O produtor

    logo vai me perguntar quanto planta de

    cada uma delas. E eu recomendo,

    normalmente, 60% da mdia e 20% de

    cada uma das outras".

    Glauco Mello lembrou que o Brasil tem

    ficado defasado em relao a novas

    variedades de cana-de-acar: "H 15

    anos, o Brasil no lana uma variedade

    realmente nova de cana-de-acar",

  • Por fim, Leandro lembrou que as melhores

    mudas sero conseguidas em viveiros

    certificados ou em institutos de pesquisa.

    Glauco salientou que isso ainda mais

    verdadeiro diante do fato de que as variedades

    esto sendo substitudas por verses mais

    resistentes a pragas.

    Sobre a utilizao de mais equipamentos nos

    alambiques, para, por exemplo, fazer com que

    o bagao passe por uma segunda moagem a fim

    de aumentar a produtividade, Leandro reiterou

    que "o perigo aumentar os possveis pontos de

    infeco": "Ser que no melhor focar em

    aumento da produtividade no campo? preciso

    analisar cada etapa para tomar as melhores

    decises, aliando maior produtividade e menor

    risco."

    Glauco chamou a ateno para dois problemas:

    a baixa produtividade dos canaviais brasileiros

    em relao a concorrentes internacionais.

    "Vamos demorar oito anos para chegarmos ao

    ponto me que estvamos em 1980", disse. O

    segundo diz respeito tendncia cada vez

    maior das grandes usinas optarem por espcies

    de cana com mais fibras, que favorecem a

    comercializao da energia produzida a partir

    do bagao. "Com isso, o desenvolvimento das

    espcies est privilegiando a fibrosidade em

    detrimento da quantidade de acar, o que no

    positivo para a fabricao da cachaa".

    Leandro se posicionou contrrio defesa de

    Glauco do uso de antibacterianos na produo

    da cachaa. "Cana sadia no d doena. Prefiro

    sempre o controle biolgico. No recomendo o

    uso de defensivos", disse ele. Glauco replicou

    que necessrio levar em conta a

    produtividade e se props, mais uma vez, a

    fazer experincias com produtores locais e

    levar o resultado, com anlises qumicas e

    sensoriais, prxima Cpula.

    Leandro:

    uma idia na

    cabea e

    uma enxada

    na mo

    Para conseguir boa

    produtividade, segundo

    Leandro, o solo deve,

    necessariamente, ser

    preparado, de acordo com a

    legislao e as especificidades

    de cada regio. " preciso

    preparar o solo. No tem

    frmula mgica. levar para

    um bom laboratrio e

    descobrir como suplementar o

    que estiver faltando."

  • "Se unirmos molculas naturais a

    boas prticas contra

    contaminao que devem

    ser requisitos para quem

    quer produzir cachaa e

    agentes (qumicos) auxiliares para

    evitar perdas de produtividade,

    vamos fortalecer muito a cadeia

    produtiva da cachaa."

  • T E C N O L O G I A

    Em recente palestra, Glauco contou que ao apresentar as propostas para aumentar

    a produtividade com o uso de mais tecnologia no plantio da cana e na produo da

    cachaa foi recebido com desconfiana. "Havia centenas de produtores, com mdia

    de idade elevada, mas apenas um deles se levantou e disse: 'se eu sentir que posso

    aplicar (tecnologias) para aumentar minha produo, eu vou aplicar'".

    Glauco Mello

    a Glauco lembrou que as resistncias ao uso de tecnologia para elevar a produtividade chegaram a ser institucionalizadas por

    algumas associaes. "Est no estatuto da

    Ampaq a proibio da correo do solo. Se

    voc tem um solo com algum problema, no

    pode usar nenhum elemento para melhor-

    lo. Existem produtos clssicos, utilizados em

    todo o mundo contra microrganismos, que

    sofrem restries de uso no Brasil".

    Cabe lembrar que "o mosto da cana um

    ambiente favorvel ao crescimento de

    microrganismos, especialmente bactrias,

    devido ao elevado contedo de nutrientes

    orgnicos e inorgnicos, presena de gua,

    pH favorvel e temperatura tima para o

    desenvolvimento de microrganismos

    (CHERUBIN, 2003)".

    Glauco tambm comentou a dificuldade para

    controlar os muitos focos de contaminao

    no caminho da produo da cachaa. "No

    uma produo assptica". Nelson Duarte

    lembrou que ao comear um trabalho com

    um novo cliente sempre repete uma frase:

    "Uma boa cachaa comea com gua, sabo

    e vassoura".

    Leandro Marelli aproveitou a deixa para

    reforar que "se colocamos muita coisa

    (equipamentos, tubulaes...) no local de

    produo da cachaa, seja na fermentao,

    na destilao, em qualquer ponto, sempre

    vamos aumentar as possibilidades de

    contaminao".

    Com isso, explica Glauco, muitos

    produtores lanam mo, de modo

    clandestino, do uso de

    antibiticos, o que vedado em

    diversos pases Brasil, inclusive

    j que essas substncias podem

    representar um risco para a sade

    pblica.

    ps o almoo na fazenda So

    Francisco, com visita ao

    alambique, e o passeio pelas

    belas cercanias de Analndia, a

    Cpula voltou mesa de debates para

    discutir questes voltadas ao uso da

    tecnologia na produo de cachaa.

    Engenheiro qumico h 30 anos, Glauco

    Mello apaixonou-se por cachaa ainda

    nos anos 90, enquanto ganhava cada vez

    mais conhecimento e experincia na

    agroindstria sucroalcoleira.

    Especializando-se em processos de

    excelncia de produo e certificaes

    internacionais, ele percebia como a

    produo da bebida estava longe de

    seguir prticas minimamente aceitveis

    em seus processos produtivos.

    Para exemplificar, Glauco contou aos

    participantes da Cpula da Cachaa

    sobre um encontro com produtores no

    qual foi um dos palestrantes, em Nova

    Vencia (ES), no qual foi apresentado o

    projeto "Melhoria da Qualidade da

    Cachaa Capixaba".

    Glauco contou que ao apresentar as

    propostas para aumentar a

    produtividade com o uso de mais

    tecnologia no plantio da cana e na

    produo da cachaa foi recebido com

    desconfiana. "Havia centenas de

    produtores, com mdia de idade

    elevada, mas apenas um deles se

    levantou e disse: 'se eu sentir que posso

    aplicar (tecnologias) para aumentar

    minha produo, eu vou aplicar'".

    De l para c, a adeso dos produtores

    cresceu e, hoje, a indstria da cachaa

    no Esprito Santo considerada uma das

    mais organizada do pas, contando com

    cerca de 400 produtores, sendo que

    desse total 30% so agroindstrias

    formais.

    11

  • Glauco defendeu o uso de molculas

    naturais aprovadas pela comunidade

    cientfica internacional para

    aperfeioar geneticamente a cana-de-

    acar utilizada na produo de

    cachaa com o fim de aumentar a

    produtividade por hectare e aumentar

    a lucratividade e reduzir os custos de

    produo.

    Para ele, no haver qualquer mudana

    de propriedades sensoriais na cachaa

    com cana-de-acar submetida a esse

    processo. Ele se props a realizar essa

    experincia em carter no-comercial

    com produtores selecionados da

    regio de Pirassununga e convocar os

    participantes da Cpula para avaliar a

    cachaa obtida com os dois mtodos.

    "Se unirmos molculas naturais a boas

    prticas contra contaminao que

    devem ser requisitos para quem quer

    produzir cachaa e agentes (qumicos)

    auxiliares para evitar perdas de

    produtividade, ns vamos fortalecer

    muito a cadeia produtiva da cachaa."

    Em defesa dos agentes auxiliares,

    Glauco lembrou que a cadeia produtiva

    de cachaa tem perdas que atingem

    algumas dezenas de milhes de dlares

    por ano apenas com a contaminao de

    matria-prima por bactrias lcticas

    principal contaminante no processo de

    produo da bebida.

    Para Glauco, o uso do chamado

    fermento caipira, hoje, s pode ser

    justificado por uma viso romntica

    da produo de cachaa. "O sentido

    que caminhamos para o uso, em

    alambiques de todos os portes, das

    leveduras selecionadas".

    Leandro acrescentou que o momento,

    agora, de pesquisar modificaes

    genticas na estrutura da levedura de

    modo a garantir mais produtividade,

    como est sendo feito, com bons

    resultados, na Universidade de So

    Paulo (USP). Para ele, o uso do

    fermento caipira " um atraso de

    vida". No entanto, ressalta ele,

    muitos produtores se aferram s

    tcnicas antigas de produo.

    Glauco lembrou que a Esalq

    (onde Leandro pesquisa) j tem

    uma cartilha de produo, mas

    que o mercado ainda precisa de

    um manual tcnico que abranja

    todas as etapas. E props que a

    Cpula apoiasse uma iniciativa de

    criao desse manual, com gestes

    junto s instituies de pesquisa e

    associaes do setor.

    Leveduras selecionadas

    Glauco

    alambicando

    na Macava

  • blendagemOs participantes da

    Cpula concordaram

    em apoiar a

    profissionalizao

    da produo, incentivando mudanas na

    legislao, a fim de tornar

    obrigatria, a princpio para os

    fabricantes de maior porte, a

    contratao de master blenders.

  • eB L E N D A G E M

    Para Nelson, o grande desafio da blendagem e sempre ser conseguir repetir a

    receita em todos os lotes que so produzidos. "Cada alambicagem produz uma cachaa

    diferente. Depois, cada diferena no tamanho do barril, na idade das cachaas a

    serem usadas no blend... tudo vai produzir um efeito nico e preciso fazer as

    devidas correes, contando com a capacidade sensorial do master blender", disse.

    Nelson Duarte

    14

  • Nelson

    e sua

    alquimia

    15

  • 21

    B L E N D A G E M P R T I C A

    Nelson desfez a ideia de que existam madeiras neutras qualidade que se

    atribui, muitas vezes, por exemplo, ao amendoim. "Toda madeira deixa alguma

    coisa na cachaa. O jequitib no passa cor, mas ajuda a arredondar a cachaa

    de uma forma diferente do que acontece com o armazenamento em inox."

    Nelson Duarte

    n Em seguida, Nelson tomou dos bqueres (os pequenos copos comumente utilizados em laboratrios) e deu incio alquimia. "De incio,

    comeamos com uma cachaa branca, mas

    poderia ser uma jequitib ou amendoim, disse

    ele, entornando funil adentro duas medidas de

    cachaa "pura". Em seguida, por escolha dos

    componentes da Cpula, Nelson separou das oito

    variaes de madeira que ele trouxe para a

    Cpula a cachaa envelhecida em castanheira.

    Dessa, ele acrescentou trs medidas.

    Finalmente, para aliviar um pouco a madeira e a

    cor da mistura, o blender acrescentou uma parte

    de amendoim. "Se precisssemos aliviar o teor de

    lcool com gua, no poderamos colocar nesse

    momento. preciso de um descanso de algumas

    horas para o blend se estabilizar", ressaltou.

    O blend ficou timo, mas Nelson partiu para um

    segundo. Dessa vez, o blend compreendeu

    castanheira, amendoim e umburana. "A

    umburana deve ser colocada em pequenas

    pores para evitar um excesso de madeira",

    disse ele, colocando meia medida e depois um

    dcimo e, ainda, mais um dcimo no blend at

    chegar ao ponto certo.

    O terceiro blend uniu blsamo e castanheira, por

    sugesto de Milton. As madeiras, no entanto,

    pareceram "brigar" e eliminar o sabor

    caracterstico de cada uma delas. Uma dose de

    pura adicionada ao blend liberou mais os aromas.

    A mistura estava quase l, mas ainda faltava um

    toque que pudesse avelud-la e Leandro props o

    carvalho. Dirley pediu: "Pouco". Nelson colocou

    um quinto de medida e a cachaa ficou melhor

    ao paladar de todos os participantes. "No se

    pode desprezar o carvalho", disse Leandro,

    apreciador dessa madeira, que utilizou para a

    "Cachaa do Doutor", por ele produzida em

    pequena quantidade e levada degustao e

    aprovao dos companheiros de Cpula.

    Por fim, o segundo blend foi eleito o melhor do

    dia e batizado de Blend I Cpula da Cachaa. Ele

    ser engarrafado em edio nica e limitada.

    elson Duarte, mestre

    alambiqueiro, master blender e

    bartender, retomou o tema da

    blendagem, utilizando a Canabella,

    cachaa cujo blend est sob sua

    responsabilidade para mostrar aos

    participantes da Cpula um pouco da sua

    arte.

    Nelson desfez a ideia de que existam

    madeiras neutras qualidade que se

    atribui, muitas vezes, por exemplo, ao

    amendoim. "Toda madeira deixa alguma

    coisa na cachaa. O jequitib no passa

    cor, mas ajuda a arredondar a cachaa

    de uma forma diferente do que acontece

    com o armazenamento em inox".

    Nelson distribuiu aos participantes da

    Cpula uma Ficha de Elaborao de

    Blend. "Essa a nossa memria. Se no

    usamos isso, depois no conseguimos

    repetir a receita". A ficha indica, na

    parte superior, o teor alcolico e a

    colorao desejados e as misturas de

    cachaas de diferentes madeiras

    propostas para atingir o resultado

    esperado. Na parte inferior, esto os

    campos para as anlises visual, olfativa e

    gustativa.

    De sada, ele explicou que no

    h uma legislao no Brasil

    regulamentando as atividades

    de blendagem. Mas o formato

    que ele considera mais correto

    utilizar a mesma matriz

    (cachaa branca), armazenada

    em madeiras diversas. "S

    dessa maneira eu considero,

    realmente, um blend. De outra

    forma, melhor chamar de

    mistura", disse o especialista.

    16

  • EN

    VELH

    EC

    IMEN

    TO

    "Os processos de produo

    iro se alterar muito nos

    prximos anos. O processo

    puramente artesanal, como

    conhecemos hoje, tende a

    sumir", disse Glauco.

    "Temos que considerar a

    diferena entre o custo do

    chip e do barril".

    Peter lembrou que

    "um barril de

    carvalho usado na

    Esccia custava

    US$ 45 h dez anos

    e, agora, no sai por

    menos US$ 200".

    Detalhe do maior

    tonel do planeta (234

    mil litros), registrado

    no Guinness Book e

    localizado no Museu

    da Cachaa da Ypioca

    no Cear

  • E N V E L H E C I M E N T O

    P

    "O envelhecimento uma das etapas que tm recebido a maior

    ateno, o que se traduz, principalmente, por investimento",

    disse Peter, traduzindo literalmente um dos requisitos para o

    apuro da qualidade das bebidas.

    Estruturou a operao externa da marca,

    que hoje atua em cerca de 45 pases, e

    auxiliou outras empresas do ramo a tomar

    o mesmo rumo.

    Peter cunhou o termo "premiunizao"

    para explicar o processo pelo qual o setor

    de cachaas est passando nos ltimos dez

    a quinze anos. O conceito explicaria o

    cuidado cada vez maior que os fabricantes

    esto dispensando aos processos de

    fabricao de seus produtos.

    eter Armstrong, um

    canadense/brasileiro de voz

    calma e olhar atento, foi o

    primeiro expositor da Cpula. A

    longa experincia de quem foi um dos

    maiores responsveis por apresentar a

    cachaa e a caipirinha para os

    europeus, entre outras realizaes, lhe

    garantiu a precedncia.

    Peter se apresentou, contando que veio

    para o Brasil com trs anos e aqui ficou

    at terminar o 2 grau. Voltou ao

    Canad e formou-se em Cincias

    Polticas. Atuou como correspondente e

    redator da Canadian Press por quatro

    anos. Como, em determinado momento,

    teria que mudar-se do pas por razes

    profissionais, preferiu tomar outro rumo

    e se dedicou ao Comrcio Exterior.

    Acabou contratado pela Brahma,

    ajudando a empresa a dar incio s suas

    atividades no exterior.

    Depois de 18 anos na empresa, foi

    contratado pela 51 com a tarefa de

    levar a aguardente ao exterior.

    Peter Armstrong

    Peter lembrou que a

    regulamentao do processo de

    envelhecimento das cachaas

    comeou em 1997.

    "Ser denominada aguardente de

    cana envelhecida, caninha

    envelhecida ou cachaa

    envelhecida a bebida que

    contiver no mnimo cinquenta por

    cento de aguardente de cana

    envelhecida, por um perodo no

    inferior a um ano, podendo ser

    adicionada de caramelo para a

    correo da cor."

  • "O Ibrac e a Abrabe coordenaram o processo

    no mbito do Programa Brasileiro de

    Desenvolvimento da Cachaa", lembrou

    Peter, que tomou parte das discusses.

    O PBDAC foi criado pelos produtores de

    cachaa com a participao do Governo

    Federal, atravs dos Ministrios da

    Agricultura e Abastecimento, do

    Desenvolvimento, Indstria e Comrcio

    Exterior e da Cincia e Tecnologia.

    Em 2001 e 2005, novas iniciativas de

    regulamentao do envelhecimento

    surgiriam. Hoje, a regra bsica estabelecida,

    em nvel federal, que:

    Cachaa Envelhecida a cachaa que

    contm, no mnimo, 50% de Cachaa ou

    Aguardente de Cana envelhecidas em

    recipiente de madeira apropriado, com

    capacidade mxima de 700 (setecentos)

    litros, por um perodo no inferior a 1

    (um)ano.

    O propsito era organizar o setor

    em torno de trs objetivos

    bsicos:

    Valorizar a imagem da Cachaa

    como produto genuinamente

    nacional, com caractersticas

    histricas, culturais e econmicas

    significativas para o povo

    brasileiro;

    Organizar o setor de Cachaa

    com o intuito de capacit-lo para

    a disputa do mercado

    internacional de bebidas, visando

    a competitividade, eficincia e

    qualidade e o aumento das

    exportaes brasileiras, gerando

    assim, divisas e empregos para o

    pas;

    Dar suporte tcnico-comercial

    aos produtores para proporcionar

    sua insero tanto no mercado

    nacional, quanto no internacional.

    Cachaa Premium a cachaa que contm

    100% de Cachaa ou Aguardente de Cana

    envelhecidas em recipiente de madeira

    apropriado, com capacidade mxima de 700

    (setecentos) litros, por um perodo no

    inferior a 1 (um) ano.

    Cachaa Extra Premium a cachaa

    envelhecida por um perodo no inferior a 3

    (trs) anos.

    A novidade trazida por Peter para a Cpula

    que uma nova mudana na legislao est a

    caminho. "At o ms de junho, dever entrar

    em consulta pblica uma proposta de

    atualizao das regras", disse ele.

    "A ideia partir para regras mais rgidas em

    relao, por exemplo, ao tamanho dos barris

    utilizados para o envelhecimento. Os single

    malts s podem ser envelhecidos em barris de

    no mximo 240 litros, enquanto a cachaa pode

    lanar mo de barris de at 700 litros".

    Os participantes da Cpula concordaram que

    existem algumas marcas de cachaas no

    mercado que declaram um certo tempo de

    envelhecimento, o qual, por ser realizado em

    grandes barris, no se traduz no resultado

    qumico e sensorial esperado. E que, isso, de

    alguma forma, uma forma de induzir o

    consumidor do produto a enganos.

    Blends

    Discutindo as vrias formas possveis de

    envelhecimento, Peter lembrou que whiskies

    como o Ballantines no tm tempo de

    envelhecimento declarado. Mas que essa

    marca, em particular, faz um blend em que, por

    exemplo, entra pequenas doses do single malt

    Lephroaig (envelhecido, pelo menos, dez anos).

    "A disseminao do blend levou a que a Esccia

    reduzisse de centenas para 80 o nmero de suas

    destilarias".

    Ainda falando sobre a Esccia, Peter contou que

    os produtores vm utilizando, inclusive, barris

    "casados" um francs, j usado em conhaques

    e outro escocs em busca de resultados

    sensoriais diferenciados.

    Para Peter, o exemplo pode ser seguido por

    produtores brasileiros. "Diferentes fabricantes

    podem produzir suas cachaas e um nico local

    se responsabilizaria pela blendagem. Essa seria

    uma forma de garantir uma produo numa

    escala maior".

    19

  • O bilogo

    Leandro Marelli

    e o master

    blender Nelson

    Duarte se

    declararam

    contrrios

    mistura de

    cachaas de

    diferentes

    produtores.

    "Se voc no

    acompanha a

    produo a cada

    passo, no vai

    conseguir um

    padro de

    qualidade

    nico", disse

    Leandro. "Uma cachaa produzida com essa

    tcnica no pode ser considerada da mesma

    categoria que uma produzida por um

    determinado produtor, dominando todo o

    ciclo, cuidando permanentemente da

    qualidade dos processos".

    Para Nelson, no caso da cachaa, o termo

    "blended" s deveria ser utilizado para

    misturas de cachaas envelhecidas que

    partem da mesma matria-prima (cachaa

    branca). "Eu evito, sempre que possvel, na

    minha atuao a mistura de cachaas

    diferentes".

    Chips de carvalho

    O engenheiro qumico Glauco Mello disse

    acreditar que o setor de cachaa no pode

    dispensar novas tcnicas que possam trazer

    uma maior produtividade. Ele lembrou da

    tcnica do chip de carvalho, que pode ser um

    substituto do envelhecimento.

    Os chips so aparas de madeira especiais que,

    introduzidas na cachaa, podem leg-la em

    poucos dias propriedades at agora obtidas

    apenas aps anos de armazenamento em

    tonis uma tcnica utilizada desde os anos

    80 pelos produtores de vinho, mas, no Brasil,

    experimentada apenas em laboratrio. "No

    h mudana nas propriedades organolpticas

    entre uma cachaa com um chip por sete dias

    e uma envelhecida por sete anos", afirmou

    Glauco.

    Glauco tambm citou

    o borbulhamento como

    outro processo que

    produz resultados em

    curto prazo. "No h

    diferena perceptvel

    em termos de

    propriedades entre os

    produtos obtidos por

    processo tradicional e

    esses processos

    tecnolgicos".

    Os participantes da

    Cpula concordaram

    que, caso os

    fabricantes de cachaa

    de maior porte passem

    a utilizar essas

    tecnologias, a

    artesanal tender a segui-los.

    "Os processos de produo iro se alterar

    muito nos prximos anos. O processo

    puramente artesanal, como conhecemos

    hoje, tende a sumir", disse Glauco. "Temos q

    considerar a diferena entre o custo do chip e

    do barril".

    Peter lembrou que "um barril de carvalho

    usado na Esccia custava US$ 45 h dez anos

    e, agora, no sai por menos US$ 200".

    O jornalista Dirley Fernandes lembrou que,

    ainda que a mudana de mtodos possa levar

    a ganhos do ponto de vista da produo, os

    impactos em reas como marketing

    (diferenciao entre produto artesanal,

    orgnico x tecnolgico, modificado) e os

    custos sociais implcitos recomendam muita

    cautela. "Essas mudanas vo demandar,

    inclusive, adaptaes na legislao, sob o

    ponto de vista da rotulao, e tero impacto

    em toda a cadeia produtiva e no valor

    simblico da cachaa. Para a adoo deles,

    preciso bastante cuidado".

    Sobre a possvel dificuldade de separar as

    cachaas por mtodos de produo, caso

    outros processos sejam implantados (existem

    estudos para envelhecimento por radiao e

    destilao por centrifugao, entre outros),

    Peter lembrou que, na Esccia, existe a

    presena permanente de fiscais nas

    destilarias.

    20

  • Pau a pau!Milton Lima disse que

    aprecia certas marcas que

    lanam mo do carvalho,

    mas considera que a

    valorizao das madeiras

    brasileiras deve estar na

    ordem do dia para manter e

    ampliar a caracterizao da

    cachaa como bebida

    brasileira e manter suas

    caractersticas tradicionais.

  • ARIRIBA, ARARIB, GOROROBA,

    PUTUMUJU, PETIMUJU, POTOMUJU

    JEQUITIBA ROSA, BRINGUEIRO,

    COATINGA, ESTOPEIRO

    JEQUITIBA BRANCO, JEQUITIB, PAU

    CAIXAO, CAIXAO

    CABRIUVA, CABREUVA, BALSAMO,

    PAU DE INCENSO, CABORIBA, PAU

    VERMELHO,QUINA-QUINA

    AMENDOIM, VIRAR, PAU

    AMENDOIM, SUCUPIRA, VILO

    IPE, TABEBUIA, IPE BRANCO,

    CAXETA, PAU PARAIBA,

    TAMANQUEIRA, MALACAXETA

    FREIJO, CRDIA PRETA, FREI JORGE,

    FREI JOO

    AMBURANA, IMBURANA, UMBURANA,

    CUMARU, CUMAR

    JATOB, JATA, JITA, IMBIVA,

    FARINHEIRA, BURAND

    CEDRO, CEDRO ROSA, CEDRO CETIM

    GRAPIA, GARAPA, MUIRAJUBA,

    GRAPIPUNHA, CUMARURANA,

    GRAPI, MURATU

    SASSAFRAS, CANELA-SASSAFRAS,

    CASCA-CHEIROSA

    VINHATICO, PAU DE CANDEIA

    ANGELIM, ARAROBA, AMARGOSO,

    MOINA, ANDIRA

    CEREJEIRA, CEREJA, ARACAIZEIRO,

    ARACAZEIRO

    PEREIRA, PAU PEREIRA, PEREIRINHA,

    QUIN, QUINARANA, UB-AU,

    CAMAR DO MATO

    PEROBA ROSA, PEROBA AMARGOSA,

    SOBRO

    PEROBA DO CAMPO, PEROBA

    AMARELA, PEROBINHA, PEROBA DE

    TELHADO, PEROBA BARATA

    CANELA, LOURO, LOURO-CANELA

    ITAUBA, ITAUBA AMARELA, ABACATE

    DO MATO

    Centrolobium

    Microchete

    Cariniana Strellensis

    Cariniana Legalis

    Myroxylum Peruiferum

    Pterogyne Nitens

    Tabebuia Insignis ou

    Cassinoides

    Cordia Goeldiana

    Amburana Cearensis

    Hymenae Carbouril

    Cedrela Fissilis

    Apuleia Leiocarpa

    Ocotea Odorifera

    Plathymenia Foliosa

    Vataireopis Araroba

    Eugenia Involucrata

    Geissospermum Laeve

    Aspidosperma

    Polyneurom

    Aspidosperma

    Paratecoma

    Ocotea Spixiana

    Mezilaurus Itauba

    Uma disputa pau a pau!

    P

    "O carvalho a melhor madeira para

    envelhecer a cachaa", disse Peter

    Armstrong, para discordncia de toda a

    Cpula, com exceo de Leandro Marelli.

    carvalho

    Madeiras Nacionais X Carvalho

    Ao lado, a lista

    de madeiras

    brasileiras

    utilizadas na

    produo de

    cachaa que o

    cachacier

    Agostinho Lima

    Novo forneceu

    aos

    participantes

    ara Nelson Duarte, "temos um boom de

    madeiras hoje em dia". O master blender

    reconhece que alguns exageros esto sendo

    cometidos, com mais efeito de marketing do

    que propriamente de qualidade do produto final.

    "Sensorialmente falando, eu prefiro as madeiras

    brasileiras. Considero o carvalho um mal

    necessrio. uma madeira que funciona como

    uma transio para levar o bebedor de usque ou

    de conhaque a passar para a cachaa, mas ainda

    com reminiscncia daquelas bebidas".

    Milton Lima disse que aprecia

    certas marcas que lanam mo

    do carvalho, mas considera

    que a valorizao das

    madeiras brasileiras deve

    estar na ordem do dia para

    manter e ampliar a

    caracterizao da cachaa

    como bebida brasileira e

    manter suas caractersticas

    tradicionais. "Eu no compro

    carvalho para meu consumo",

    disse.

    Dirley lembrou que a Ypica

    chegou a usar como slogan o

    termo "usque brasileiro" ainda

    na dcada de 50, "O uso do

    carvalho na cachaa foi uma

    tentativa de valorizar a

    cachaa aproximando-a de

    bebidas consideradas mais

    nobres. Mas o exagero no uso

    dessa madeira afasta a bebida

    de seu sabor caracterstico e da sua

    caracterizao como bebida brasileira".

    Todos os participantes da Cpula foram

    unnimes em considerar que deve ser objetivo

    de toda a comunidade envolvida com a

    cachaa apoiar a adoo de madeiras

    brasileiras nos processos de envelhecimento.

  • Guarea Kunthiana

    Platymenia Reticulata

    Prunus Dulcis ou

    Sellowii

    Araucaria Angustifolia

    Bertholletia Excelsa

    Anadenanthera

    Macrocarpa

    Eucalyptus Abdita

    Dalbergia Nigra

    Ziziphus Joazeiro

    Senna Macrathera

    Gallesia Integrifolia

    Tamarindus

    Vitex Montevidensis

    Mactura Tinctoria

    Peltogyne

    Cofertitiflora

    Olea Europaea

    Caesalpinia Echinata

    Carapa Guianensis

    PAU D'ARCO, PELOTEIRA, FIGO DO

    MATO, CANJAMBO, MANCORE,

    JATABA

    AMARELO CETIM, PAU AMARELO,

    AMARELINHO, CANDEIA, OITEIRA,

    AMARELO

    AMENDOEIRA, MARMELO DO MATO,

    PESSEGUEIRO, VAROVA, CORAO

    DE NEGRO

    ARAUCARIA, PINUS, PINHO, PINHO

    DO PARANA,

    CASTANHEIRA, CASTANHA DO PARA,

    CASTENHEIRO

    ANGICO, ANGICO VERMELHO,

    ARAPIRACA, CURUPAI

    EUCALIPTO

    JACARANDA, CAVIUNA, CABIUNA,

    GRAUNA, PAU PRETO

    JO, JU, JUAZEIRO, JOAZEIRO,

    LARANJA DE VAQUEIRO

    MANDUIRANA, PAU FAVA, ALELUIA,

    CABO VERDE, FEDEGOSO, IBIXUNA,

    IBAXUNA, MAMANG

    PAU D'ALHO, GUARAREMA,

    IBIRAREMA, CRATEAVA

    TAMARINDO, TAMARINDEIRO, FRUTA

    DE GAMB

    TAPINU, TAPINUAM, TAPINHO,

    TARUM, AZEITONA DO MATO,

    TAROM, SOMBRA DE TOURO

    TATAJUBA, TAIVA, TAJUVA,

    TATAJIBA, TATAN, TAUBA,

    AMOREIRA, JATAIBA

    MARACATIARA, AROEIRA, GONALO

    ALVES, PAU ROXO, GUARABU,

    QUEBRA MACHADO, ROXINHO,

    BARABU

    L. OLIVEIRA, OLEOSA, OLAVIEIRA,

    SABO DO MATO

    PAU BRASIL, IBIRAPITANGA,

    ORABUT, MUIRAPIRANGA

    MAPURANA, CANJARANA,

    CANHARANA, CAIERANA, PAU DE

    SANTO

    jequitib-rosa

    22

    cabreuva

    freijo

    cumaru

    jatob

    amandoim

    grapia

    cedro

    jequitib-branco

    ararib

    ssassafraz

    vinhtico

    angelim

    cerejeira

    pereira

    peroba-rosa

    peroba-do campo

    louro

    itauba

    ip

    pau darco

    angico

    eucalipto

    jacarand

    jo

    amarelo cetim

    amendoeira

    araucria

    castanheira

    mandurana

    tapinu

    tatajuba

    maracatiara

    oleosa

    pau brasil

    mapurana

    tamarindo

    pau dalho

  • EX

    PO

    RT

    AC

    O

    A brasileira Lili Arp

    preparando uma

    caipirinha na praa em

    frente sua casa, em

    Amsterdan, Holanda

  • EX

    PO

    RT

    A

    O

    24

    E X P O R T A O

    A palavra volta a Peter Armstrong, para falar de um tema em que poucas

    pessoas possuem experincia comparvel dele: exportao de cachaa.

    Sua narrativa comeou com a experincia da cerveja Brahma, para quem

    ele estruturou as primeiras exportaes, ainda na dcada de 70.

    Peter Armstrong

    percebi que a inteno deles era ficar com

    a marca aps esse prazo, o que est

    previsto na legislao alem. E h regras

    semelhantes em diversos pases. Preferi

    buscar outra sada".

    Peter lembrou que os europeus, que tem

    tradio protecionista na rea

    agroindustrial, preferem sempre

    engarrafar os produtos em seus pases.

    "Isso s est comeando a mudar agora,

    mas era uma prtica que tinha por

    princpio defender empregos locais".

    Quanto aos Estados Unidos, Peter contou

    que a comercializao de bebidas

    alcolicas obedece ao three-tier system

    (produtor/trader distribuidor

    varejista). "Eles eram milhares nos anos

    60, mas se tornaram centenas nos anos 80

    e agora so apenas uma meia dzia de

    gigantes".

    Para esse trabalho, no entanto, frisa Peter,

    "precisa cacau". "E um pequeno produtor

    de cachaa no tem".

    Peter explica que preciso investir em

    AMP (advertising, marketing and

    promotion). E exemplificou com o caso da

    Brahma, que chegou a vencer uma eleio

    como a melhor cerveja importada vendida

    nos Estados Unidos. "Criamos um fundo

    para auxiliar a promoo da marca. Ns e

    os importadores investamos um valor por

    caixa, que era operado pelo distribuidor.

    Peter ressalta que o sucesso de

    qualquer produto novo no

    exterior vai depender,

    sobretudo, do trabalho do

    distribuidor. "Ele que vai

    trabalhar sua marca nos pontos

    de venda, realizar todo o

    trabalho de penetrao nos

    mercados locais".

    Brahma era grande importadora

    (de lpulo, entre outros) e

    passou a sofrer grande presso da

    Cacex para exportar tambm, j

    que, poca, era interesse do governo

    aumentar a venda externa de

    manufaturados. Como no havia

    tcnicos de exportao no mercado,

    eles me procuraram, contou o mestre.

    Aps uma tentativa de internacionalizar

    o guaran, que no foi bem sucedida, a

    Brahma buscou o mercado argentino.

    "Esbarramos com resistncias culturais.

    O argentino bebe mais vinho... mas

    fizemos uma maltaria, para a qual eles

    tm vocao, e depois uma cervejaria

    e, aos poucos, nos estabelecemos."

    Registro da marca: preocupao

    Com a sequncia do trabalho, a Brahma

    se expandiu para cerca de 30 pases. E

    Peter frisou um aspecto importante

    nesse ponto do relato. "Eu me preocupei

    com o registro da marca. Contratamos

    um escritrio especializado e, medida

    que prospectvamos novos mercados,

    pedamos imediatamente o registro. A

    Sua foi um dos nicos pases que

    negaram o registro. Eles alegaram que o

    uso da marca por uma cerveja poderia

    ofender a religio brmane. Eu reverti o

    argumento deles obtendo o registro da

    marca... na ndia".

    Peter acredita que essa preocupao

    deve ser levada em conta pelas marcas

    de cachaa que desejam trabalhar com

    o mercado externo. Ele cita o exemplo

    da Pitu, que inicialmente exportou

    cachaa para a Europa a granel e depois

    viu a sua marca passar ao controle da

    alem Underberg. "Nessa mesma poca,

    eu j trabalhava para a 51. Eles me

    procuraram querendo fazer um contrato

    de dez anos de fornecimento. Eu

    a

  • Um investimento forte, que levava parte

    da lucratividade e que sofreu resistncias

    internas. Mas, se falarmos em cachaa,

    por exemplo, se voc no investir em

    atividades como degustao, no vai

    chegar a lugar nenhum".

    Feiras e distribuidores

    Peter lembrou uma feira da qual

    participou com a 51, na Alemanha

    (Anuga, em Colnia), quando a empresa

    j tinha um parceiro local e pretendia

    com o stand exclusivamente divulgar a

    marca. "Colocamos uma mulata para fazer

    um show enquanto distribuamos

    caipirinha. Quando ela comeava, a feira

    parava. No ano seguinte, no pudemos

    repetir da mesma forma, porque os

    expositores protestaram."

    "O sucesso da 51", contou Peter, "foi em

    cima da caipirinha. Ns conseguimos, com

    a ajuda do Derivan (Ferreira de Souza,

    bartender chamado pelos colegas de

    mestre), para quem bancamos uma

    viagem Itlia a fim de fazer o lobby,

    incluir o drink entre os cem clssicos da

    International Bartenders Association.

    Tambm criamos o caipirinha kit, voltado

    para o distribuidor".

    A chave para o sucesso dos produtores de

    cachaa no exterior, garantiu Peter, "

    encontrar o parceiro adequado". "Para

    isso, no adianta ficar no Brasil

    esperando. preciso ir at os mercados,

    visitar os distribuidores, conversar

    bastante. A escolha certa o verdadeiro

    pulo do gato".

    Peter cita um erro de lavra prpria nesse

    Peter afirmou que os produtores

    de cachaa de pequeno e mdio

    porte esto equivocados quando

    pensam em participar de feiras

    para escolher distribuidores:

    "Nas feiras, aparecem muitos

    curiosos. Conversa-se bastante.

    Mas no o local para se fechar

    negcios".

    setor. "Na Flrida, ns da Brahma

    escolhemos um iniciante, por indicao de

    um outro parceiro. Mas ele no se saa

    bem: agregava muitos custos,

    encarecendo o produto e prejudicando a

    marca. Acabei decidindo por pag-lo para

    destruir a mercadoria e fomos em busca

    de outro distribuidor".

    Peter afirmou que a Pitu e a Ypica no

    contrataram profissionais de comrcio

    exterior para estruturar suas operaes no

    exterior, o que acarretou equvocos e

    prejuzos do longo dos anos.

    Nelson Duarte lembrou que, com o jogo

    pesado, a necessidade de investimentos e

    as dificuldades da exportao, a nica

    sada para os pequenos produtores seria a

    organizao em pools e cooperativas, mas

    lamentou a desunio entre os produtores.

    Dirley Fernandes lembrou que o Brasil

    um pas com baixa cultura de exportao,

    com apenas 20 mil empresas lidando com

    comrcio exterior, at por conta do

    enorme mercado interno. E seria

    necessrio um grande percurso para que

    produtores de mdio porte conseguissem

    se estabelecer, de forma mais efetiva, no

    mercado externo. "O caminho inicial deve

    ser percorrido pelas grandes empresas

    industriais, inclusive em parcerias com

    megaempresas, como a Diageo."

    Milton Lima lamentou a dificuldade para

    que o consumidor estrangeiro possa

    apreciar as melhores cachaas de

    alambique, mas Peter lembrou que

    tambm foi difcil, levou dcadas, mas a

    tequila penetrou nos mercados. E a

    cachaa tambm poder chegar l.

  • DE

    VO

    TO

    SD

    A C

    AC

    HA

    A

    Dirley explicou

    que o Brasil s foi

    povoado, a partir

    de 1530 graas ao

    aumento do preo

    do acar no

    mercado

    internacional. Com

    esses povoadores

    vieram os alambiques,

    ao estilo dos que eram

    usados no Reino para

    produzir a bagaceira.

    "O termo cachaa, que

    vem do espanhol,

    encontrado em Portugal

    na virada do sculo XVI,

    mas nada indica que se

    refira cachaa de

    cana, apesar de j

    haver cana plantada,

    pelo menos na Ilha da

    Madeira. O termo veio

    pro Brasil pra designar a

    aguardente da cana,

    mas morreu por l".

  • 27

    e

    A PR ES EN A D A C A C H A A N A V I D A B R A S I L E I R A

    Dirley Fernandes, diretor do documentrio Devotos da Cachaa, produzido por

    Lenir Costa e exibido para os participantes da Cpula da Cachaa, apresentou

    seu filme dizendo que "o Brasil foi uma civilizao fundada pela cana-de-

    acar e, junto com a cana, desde a primeira hora, esteve a cachaa".

    Dirley Fernandes

    "Quando o Brasil se tornou livre, a cachaa viveu

    seu momento de glria. No podia mais ser

    proibida. Era consumida no Palcio e nas vilas no

    lugar do vinho, do porto, da bagaceira... como

    prova de amor ao Brasil. A produo cresceu por

    conta da abertura dos portos, do comrcio

    escravagista, do aumento da populao nas cidades

    e da rejeio aos produtos portugueses. Os preos

    subiram e mais gente produziu."

    O Baile da Aguardente, que mostrado no Devotos

    da Cachaa, foi escrito nesse perodo. Dirley

    justificou sua incluso no filme, com msica

    original, citando Cmara Cascudo, para quem a

    forma mais profunda de penetrao na alma de um

    povo se mesclar sua religiosidade. "A cachaa

    tinha chegado l".

    Mas a cachaa se manteve presente na

    vida do povo. Isso mostrado no filme atravs dos

    sambas, nas marchinhas, na msica nordestina...

    na literatura que descreve a vida nos engenhos do

    Nordeste."

    Segundo Dirley, isso s comeou a mudar com a

    produo de melhor qualidade a partir dos anos 50,

    60, especialmente em Minas. "A gente est no final

    desse processo de valorizao que mostrado no

    filme, e comeando a entrar no processo de

    internacionalizao da cachaa. preciso garantir

    a variedade contra a padronizao. E resistir

    elitizao que alguns produtores pretendem.

    Valorizar no significa elitizar."

    Mas, explicou Dirley, a cachaa logo

    comearia a perder espao. No

    conquistou a burguesia nascente e ficou

    muito ligada escravido, j que era

    oferecida como parte da rao dos

    escravos. "A cachaa ficou muito

    identificada como bebida de cabra, de

    crioulo, usada no candombl, na

    umbanda, nas lavouras para entorpecer

    os escravos. No pegava bem beber

    cachaa.

    le explicou que o seu filme se

    estruturava em trs eixos:

    histria, produo e celebrao.

    "Paraty recebeu o grande foco na

    parte inicial do doc por conta da

    proximidade com a regio onde, pelo

    senso comum, iniciou-se a produo de

    cachaa no Brasil. Mas h controvrsias.

    Existem registros de entrada de cana

    brasileira em Portugal em 1526, ou at

    antes, em 1518. O primeiro engenho

    conhecido do pas foi construdo na Ilha

    de Itamarac, em Pernambuco. Pode ser

    que a cachaa tenha comeado ali. Mas

    a produo de aguardente de forma

    mais organizada deve ter se iniciada, de

    fato, no engenho dos Erasmos,

    construdo em So Vicente, em 1534,

    por Martim Afonso de Souza.

    Dirley explicou que, com o incio do

    comrcio de escravos com a frica, a

    cachaa se tornou importante produto

    na pauta de exportaes brasileiras e

    que seu consumo despertou reaes da

    Coroa portuguesa, que queria proteger

    o consumo de vinho e bagaceira. "A

    primeira proibio da produo veio em

    1635. A pena podia ir at ao degredo

    para a frica. Houve uma srie de

    revoltas. A mais conhecida foi a de

    1661, que chegou a depor o governador

    do Rio e foi liderada por fabricantes de

    aguardente do recncavo da

    Guanabara".

    A cachaa nacional, chamada

    "aguardente da terra" foi se tornando

    um emblema de nacionalidade, contou

    Dirley. Em 1789, os inconfidentes

    tomavam cachaa como forma de

    protestar contra Portugal. O prprio

    Tiradentes, personagem mais famoso do

    movimento, teria dito antes de ser

    enforcado: "Molhem a minha goela com

    cachaa da terra".

  • D E G U S T A O D E N O M I N E I R A S

    "No tenho nada contra as mineiras, pelo contrrio. Mas temos

    cachaas em todas as latitudes e temos que valoriz-las", disse Milton,

    brindando com um clice da cachaa Weber Haus, do Rio Grande do

    Sul, trazida pelo cachacier Agostinho Lima Novo.

    Milton Lima

    n a tarde de sbado, os participantes da Cpula da Cachaa realizaram uma

    degustao de cachaas no-

    mineiras conduzida por Milton Lima.

    A opo pelas cachaas de

    outra procedncias foi,

    segundo o anfitrio da

    Cpula da Cachaa, para,

    mais uma vez demonstrar

    como a bebida nacional

    brasileira se espalhou pelas

    vrias regies do pas, com

    produtores que no deixam

    nada a dever para os

    mestres das Gerias. "No

    tenho nada contra as mineiras, pelo

    contrrio. Mas temos cachaas em

    todas as latitudes e temos que

    valoriz-las", disse ele,

    brindando com um clice da

    cachaa Weber Haus, do Rio

    Grande do Sul, trazida pelo

    cachacier Agostinho Lima Novo.

    Na degustao, que foi

    composta por 11 marcas, os

    grandes destaques foram, por

    ordem alfabtica, as cachaas

    Canabella Ouro (Salespolis-

    SP), Engenho Pequeno

    (Pirassununga-SP) e Magnfica

    Soleira (Miguel Pereira-RJ).

    Milton preparando as

    tbuas com os copinhos

    para degustao

    28

  • 29

    S A I D E I R A

    A Cpula da Cachaa se encerrou com uma visita Fazenda

    Guadalupe, onde produzida a cachaa Engenho Pequeno, no

    municpio de Pirassununga, vizinho a Analndia.

    l

    acompanhado, ainda, de cerveja de fabricao

    caseira, assinada por Gabriel. Antes do show, o

    jornalista e poeta Sidnei Maschio, um pop star na

    regio por conta de seu programa no Canal Terra Viva,

    dirigiu palavras de agradecimento aos anfitries e

    Milton Lima deu por encerradas as atividades,

    relembrando suas palavras iniciais. "Eu disse que

    estvamos plantando uma semente. Ela comeou a

    nascer. No ano que vem, teremos uma nova Cpula,

    com mais discusses, atividades e participao de

    mais segmentos do universo da cachaa e, com

    certeza, vamos colher uma boa safra".

    A 2 Cpula da Cachaa, programada para janeiro de

    2014, j est em discusso pelos que participaram

    desse primeiro e inesquecvel evento.

    , fomos recebidos pelo produtor

    Fernando Cabral Guimares e seu

    filho Gabriel Foltran Guimares.

    Ele nos contou que a famlia Foltran

    chegou na cidade em 1945 e ali

    manteve a tradio de produzir

    cachaas de qualidade que trazia de

    Piracicaba (SP). Mas, com a prevalncia

    do processo industrial no municpio, a

    produo artesanal foi interrompida em

    1987. Em 2007, com o apoio do filho,

    Fernando retomou a fabricao do

    lquido precioso com a construo de

    um engenho artesanal.

    Aps isso, os componentes da Cpula

    foram brindados com um show de

    encerramento da banda Z Caxang e

    um almoo (paella caipira),

    Os componentes da Cpula

    visitaram as instalaes do

    engenho, apreciando,

    sobretudo, a absoluta assepsia

    do local. Na conversa em que

    revelou os detalhes da

    produo para os

    componentes da Cpula,

    Fernando foi instado por

    Leandro a trocar as leveduras

    de cultivo prprio por

    leveduras selecionadas. O

    produtor respondeu: "Doutor,

    eu tenho que respeitar meu

    empirismo tambm. A cachaa

    no est boa?" Todos

    concordaram e passaram

    degustao, acompanhada de

    aipim frito e bolinhos de

    feijoada.