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1 abril 2012 dezembro 2011 E f e t u a n d o L O G O F F ... p . 6 O q u e e u f a l o q u a n d o r e z o ? p . 2 4 A t é q u e a m o r t e n o s u n a a i n d a m a i s . p . 3 1 A m é r i c a d o S u l : u m a v i a g e m a l t e r n a t i v a . p . 1 0 N ã o t á f á c i l p r a n i n g u é m . p . 1 4 Revista Laboratório | Comunicação Social - Jornalismo | UFOP | Ano 1 | Abril de 2012 nº 02

Revista Curinga

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revista laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto - Ufop. Neste edicação fui repórter, diagramador e diretor de arte

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Page 1: Revista Curinga

1abril 2012dezembro 2011

EfetuandoLOGOFF... p.6

O que eu falo quando rezo? p.24

Até

que a

morte nos

una a

inda mais. p.31

América do Sul: uma viagem

alternativa. p.10

Não tá fácil prani

nguém. p.14

Revi

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Labo

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2nº

02

Page 2: Revista Curinga

2 abril 2012

Para comentar as matérias desta edição ou sugerir pauta para a nossa próxima Curinga, envie e-mail para [email protected]

“As fotos da seção Retina trazem

toda a gostosura de uma xícara

de café em uma manhã fria e

bucólica do interior de Minas.

Dá para sentir o aroma, o sabor...

...e até ouvir as conversas das

visitas que apreciam a iguaria. Um

trabalho artístico singelo que

cumpre com felicidade o proposto:

mostrar a simplicidade de uma be-

bida bastante apreciada no país.”

(Flavimar Diniz)

Gostei muito da reportagem

sobre as atividades extra classe

dos professores. Primeiro

porque foi muito bem redigida e

prende a nossa atenção até o fim.

Segundo porque a maioria das

pessoas pensa que as atividades

do docente tem o limite das salas

de aula. É bom saber que esses

professores se envolvem em...

...outras afazeres que tenham

ou não a ver com a sua forma-

ção. Afinal, os estudos e o co-

nhecimento nos capacitam para

o mercado, mas nossos hobbys

e diversões são fundamentais

para suavizar os encargos que

esse mercado nos impõe.

(Érica Vieira)

Veja alguns dos comentários dos leitores sobre a nossa última edição.

Page 3: Revista Curinga

Antes você fazia um sinal escondendo os dedos das mãos e deixando somente o polegar à mostra, era o famigerado “beleza”. Hoje pode ser que você faça o mesmo e as pessoas contabilizem o seu sinal como mais um “curti” em algo que postaram no Facebook. A gente juntava figurinha de chiclete e mandava carta para receber o álbum de figurinhas de algum novo filme da Disney que chegava aos cinemas – uma prazerosa espera de meses até os Correios entregarem o brinde. Hoje não damos conta de esperar nem o filme estrear nos cinemas, já baixamos o arquivo via Internet e postamos alguma crítica em alguns de nossos perfis pela rede. Como a Internet mudou nossas vidas? É o tema da nossa Matéria de Capa. Nesta edição da Curinga, em Outro Campus, você verá ainda a dificuldade que os deficientes têm de ir, vir e até permanecer; Trocando cartas com discute os problemas emocionais dos jovens; religião não se discute? A Transborda te prova que sim; Mochilão te dá motivos para ser louco por ela, a América do Sul; em Retina fotos revelam o nosso ontem e o nosso hoje; o luto quando um ídolo do universo cultural morre é o tema especial de Prólogo, Poltrona e Refrão.

Sob produção de uma nova turma de alunos do Curso de Jornalismo da Ufop, Curinga te convida a abrir-se ao debate e fechar-se ao preconceito.

Encha sua manga de ideias conosco!

Boa leitura!

Curinga é uma publicação da disciplina Laboratório Impresso II - Revista produzida pelos alunos do curso de

Jornalismo da UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto.

Editor Geral e Jornalista Responsável

Ruleandson do Carmo - 12440/MG

Editora de Planejamento Visual

Priscila Borges

Editor de Fotografia

Anderson Medeiros

Endereço:

Rua do Catete 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana - MG

Tiragem: 1.500 exemplares

Abril 2012

Impressão: MJR Editora Gráfica

Ruleandson do CarmoEditor-geral daRevista Curinga

Projeto Gráfico:Allãn PassusLucas LameiraLuiza LourençoSimião CaStro

EDITORIAL

CaPa, SumáRIo E ExPEdIEnTE - Edição/arte: Lucas Aellos, Tábata Romero, Eduardo Guimarães, Lucas Lima.

TRoCando CaRTaS - Texto: Deiva Beatriz, Lincon Zarbietti, Leandro Sena, Eduardo Guimarães Edição/

arte: Gracy Laport, Allan Almeida, Erica Pimenta. moChIlão - Texto: Beatriz de Melo, Tábata Romero, Lucas

Aellos Edição/arte: Deiva Beatriz, Alyson Soares de Oliveira, Elisabeth Camilo. ouTRoS CamPuS - Texto:

Gracy Laport, Lucas Lima, Suellen Amorin, Bárbara Andrade Edição/arte: Leandro Sena, Lincon Zarbietti,

Marcelo Sena. maTERIa dE CaPa - Texto: Allan Almeida, Erica Pimenta, Eloiza Leal, Josie Oliveira, Alyson

Soares de Oliveira Edição/arte: Izabella Magalhães, Camila Dias, André Mapa. TRanSboRda - Texto: Natália

Goulart, Camila Dias, Ana Carolina, Izabella Magalhães Edição/arte: Maria Aparecida, Eugene Francklin,

Beatriz Melo. RETIna - Texto: André Mapa, Marcelo Sena. Edição/arte: Eloiza Leal, Bárbara Andrade, Natália

Goulart. REFRão, PolTRona E PRóloGo - Texto: Elisabeth Camillo, Eugene Francklin, Maria Aparecida Edi-

ção/arte: Eloiza Leal, Suellen Amorin, Josie Oliveira

EXPEDIENTE

Page 4: Revista Curinga

4 abril 2012

América do Sul: uma viagem alternativa p. 10

Somos todos ciborguesp. 18

Até que a morte nos una ainda mais p. 31

Page 5: Revista Curinga

5abril 2012

Efetuando Logoff...

p. 6

Não tá fácil pra

ninguémp. 14

O que eu falo quando

rezo? p. 24

Moderni-dade: o que faz mesmo

a diferença? p. 28

Page 6: Revista Curinga

6 abril 2012

As emoções, sejam elas eufóricas, tristes ou insanas, influenciam diretamente o seu dia a dia e na sua forma de se relacionar com as pessoas. No final da adolescência e no início da vida adulta, quando sofremos mudanças físicas, psíquicas e sociais, elas costumam se exaltar e acabam alterando a sua vida radicalmente. Em todo o planeta, mais de 400 milhões de pessoas são afetadas por distúrbios mentais ou comportamentais. Só no Brasil, 23 milhões de pessoas (12% da população) necessitam de algum atendimento médico ou psicológico, de acordo com a ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria.

Você pode até achar que isso é coisa de louco, mas preste bem atenção para não cair numa verdadeira arapuca: a sua inquietação de momento pode afetar o seu comportamento social e a forma como as pessoas lhe interpretam.

Quem fala sobre o assunto é o médico e professor Hugo Alejandro Cano Prais, que administra seu tempo entre atendimento particular e aulas de Psicologia Médica, Terapêuticas Psiquiátricas e Psicopatologia no curso de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto.

TExTO: leandro Sena

EDIçãO GRáFICA: allan almeida

Efetuando LOGOFF...

6 abril 2012

Page 7: Revista Curinga

7abril 2012

CURINGA: Transtornos de humor, transtornos compul-sivos, depressão... são várias as variações de compor-tamento que atingem os jovens. Quais são os mais comuns?

ALEJANDRO: Os transtornos de nature-za psíquica, sem dúvida, são mais comuns nos jovens. Estes transtornos são condições clínicas que levam a um sofrimento do indivíduo e o mais comum deles é a ansiedade. Damos o nome de “ansiedade generalizada” quando a pessoa tem uma preocupação excessiva com o que vai aconte-cer e está sempre tensa antes de realizar alguma atividade. Por exemplo, a pessoa vai viajar e fica sempre preocupada com o que vai acontecer na viagem, não conseguindo relaxar por causa disso.

C: E a síndrome do pânico? A: Os transtornos depressivos são mais co-muns nas mulheres, mas talvez seja uma questão cultural, já que as mulheres são mais abertas a procurar mais ajuda do que os homens. Os trans-tornos relacionados ao uso de substâncias ilícitas são mais comuns nos homens, pois o seu consu-mo entre as mulheres é mais controlado. Estilos de vida estressantes influenciam muito no nível de transtornos.

C: Como eu consigo distin-guir a diferença entre Trans-tornos Obsessivos Compul-sivos (TOC) e uma simples mania?

A: O TOC é caracterizado por pensamentos obsessivos e repetitivos geralmente associados a rituais. Se transforma em doença a partir do momento que os rituais chegam a incomodar o indivíduo. A importância de diferenciar o TOC de uma mania é o momento em que a atitude repeti-tiva causa sofrimento à pessoa.

C: Existe algum método preventivo para se evitar a ocorrência de transtornos?

A: Hábitos saudáveis tendem a melhorar o processo de saúde de qualquer pessoa. Nos pro-cessos depressivos ansiosos, eles têm uma influ-ência coadjuvante. A prática de exercícios físicos e uma alimentação balanceada contribuem para se evitar esse tipo de problema, mas nem sem-pre é uma garantia. Uma parte dessas condições é genética e a outra é decorrente das questões interpessoais e individuais, como conflitos no trabalho, na família, etc.

Efetuando LOGOFF...

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Page 8: Revista Curinga

8 abril 2012

C: Clinicamente falando, qual a relação entre esses exercícios e os transtornos emocionais?

A: A atividade física libera endorfina, um hormônio que tem ação euforizante, deixando a pessoa mais disposta. Uma alimenta-ção rica em gordura gera uma dificuldade na digestão, deixando os processos metabólicos mais lentos e isso predispõe o aparecimento de quadros depressivos.

C: De que forma o envol-vimento do indivíduo com a sociedade fortalece essa disposição?

A: Quanto mais atividades lúdicas e possibilidades de interação social, melhor. O cultivo da saúde mental não precisa ser total, mas precisa envolver áreas importantes da nossa vida cotidiana, atuan-do como uma diretriz a ser seguida.

C: E o uso de drogas, como está relacionado aos proble-mas emocionais dos jovens?

A: Os problemas associados ao uso de drogas entre os jovens repercutem diretamente na qualidade de vida dos usuários, quando se tornam problemáticos. Esses problemas acontecem principal-mente quando se faz uso de drogas lícitas, como álcool e tabaco. São os efeitos que definem o nível de dependência e, consequente-mente, na interferência médica.

C: Sabemos que existem muitos casos de suicídios decorrentes desses casos. A tentativa, por si só, configu-ra-se em um problema de cunho mental?

A: O “transtorno do pânico”, mais comum no adulto com idade entre 28 e 35 anos, acontece quando você tem um pico de ansie-dade com sintomas que levam à taquicardia. Estes disparos de ansiedade são aleatórios, independentes de o indivíduo estar ou não nervoso.

C: Quais os transtornos de-pressivos existentes?

A: Existem quadros de depressão mais leves, quando não há muita repercussão nas vidas acadêmica, social e familiar. Depres-sões mais graves ocorrem quando a pessoa fica incapacitada de comer ou de se socializar. É importante ressaltar que os quadros psicológicos podem não obrigatoriamente evoluir para um transtor-no possessivo.

C: Existe hoje uma banali-zação dos problemas rela-cionados às variações de hu-mor? A ansiedade pode ser considerada uma doença?

A: Ansiedade, tristeza e depressão são patológicas, portanto não podem ser associadas a uma doença específica. Ansiedade é um sentimento próprio do ser humano, pois serve para preparar o indi-víduo para alguma coisa. Um processo de luto, por exemplo, leva ao estado de tristeza, mas não se configura como depressão do ponto de vista clínico. Muitos dos quadros diagnosticados hoje em dia como depressão são, na verdade, tristezas comuns do ser humano a que nós costumamos chamar de depressão.

C: Quais os sintomas para este diagnóstico depressivo?

A: Quadro depressivo já é caracterizado geralmente pela predo-minância de um humor mais entristecido, com irritabilidade e que provoca alterações no sono, e, principalmente, à insônia terminal, quando você acorda antes do horário previsto e fica acordado ator-mentado por pensamentos angustiantes.

C: Quando houver sintomas depressivos, qual a melhor atitude a ser tomada?

A: É importante identificar os casos depressivos, conduzir o pa-ciente para o tratamento psicológico, e, quando houver necessidade de medicação, procurar tratamento conveniente.

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9abril 2012

C: Como é a venda de medi-camentos antidepressivos?

A: A medicação é acompanhada de uma recei-ta branca, e só pode ser administrado e retirado com a orientação de um profissional. Em geral, esses medicamentos não provocam dependência. A automedicação é sempre condenável.

C: Quais são os tipos de me-dicamentos?

A: Existem opções mais acessíveis, que inclu-sive são disponibilizadas pelo SUS, e opções mais modernas que tem menos efeitos colaterais. Para um tratamento padrão, esses medicamentos mais tradicionais costumam ser suficientes.

C: Homens e mulheres possuem vulnerabilidades diferentes para ocorrência desses casos depressivos?

A: Qualquer tentativa de suicídio deve ser levada a sério. Alguns dados são interessantes. Os homens suicidam mais que as mulheres, mas as mulheres tentam mais suicídio que os homens.

C: Qual o papel da vida uni-versitária no aparecimento desses transtornos?

A: Os quadros psiquiátricos mais graves, como esquizofrenias e transtornos bipolares, geralmen-te têm inicio no final da adolescência, durante a vida universitária. Hoje em dia, as universidades possuem programas de orientação vocacional e assistência da saúde mental, que contribuem para o processo de adaptação e preparo para as respon-sabilidades que estão por vir.

C: Pensando pelos avanços da medicina na área, você acredita que houve uma re-volução nos últimos anos?

Sem dúvida. Vivenciamos um grande avanço tecnológico nessa área, o que possibilitou melhor entendimento de como os transtornos acontecem. A psiquiatria foi uma das áreas que teve desco-bertas muito importantes em um curto espaço de tempo. Uma foi a psicanálise, com o a descoberta do inconsciente por Freud, e outra foi Psicofarma-cologia, que permitiu que as pessoas tivessem um tratamento fora de hospitais e que permitiu a al-teração no diagnostico de problemas mais graves.

Foto

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Page 10: Revista Curinga

10 abril 2012

América do Sul: uma viagem alternativa

Desde clássicos, como Telma & Louise, até o meia boca Crossroads, quem nunca se imaginou percorrendo o mundo ao z road em filmes?

O medo do desconhecido, a descoberta do novo e todas as experiências que uma viagem pode trazer, geram aquele friozinho gostoso, aquela ansiedade de quem não consegue dormir na noite anterior, à vontade de correr para e pelo o mundo. E depois do tempo de preparação, seja na escolha das roupas, na organização dos documentos e até naquela dieta intensificada na semana que antecede, se frustrar durante esse momento por pequenos detalhes esquecidos é o que não pode acontecer na sua trip. Por isso, a Curinga traz a você um relato de histórias de viajantes e dicas SOS.

TExTO: Beatriz de Melo, Lucas Aellos

e Tábata Romero

EDIçãO GRáFICA: Alyson Soares

árvore de Pedra salar - Uyumi (Bolívia)

Foto: natáLia GouLart

10 abril 2012

Page 11: Revista Curinga

11abril 2012

América do Sul: uma viagem alternativa

Turismo na américa do Sul Localizada na região meridional do continente americano, a América do repre-

senta 12% da superfície terrestre e 6% da população mundial. São falados 5 idiomas distintos – o espanhol com maior representatividade, seguido do português.

O turismo representa um montante significativo da economia individual dos paí-ses e principalmente do continente. Este fator deve-se as diversificadas regiões e cul-turas que compõem os países do Cone Sul. Desde a maior floresta tropical do mundo (Amazônia), seguido da cadeia de montanhas (Andes), desertos (Atacama) e paisa-gens glaciais (Patagônia), são alguns exemplos naturais dentre os muitos existentes.

Além dos exemplos de turismo natural, existem os construídos pela sociedade: das ruínas de civilizações antigas de Machu Pichu, à metrópole São Paulo além do diverso campo cultural, espalhado de forma distinta na América do Sul.

Catedral de la Plaza Moreno - La Plata (Argentina)

Foto: tábata romero

Foto: natáLia GouLart

Feira de flores no Peru

11abril 2012

Page 12: Revista Curinga

12 abril 2012

Bruna Rodrigues saiu do Brasil no dia 14 de julho de 2011. Ela e mais dois amigos viajaram 23 dias por Bolívia e Peru. Inicialmente, a intenção do grupo era ir direto ao Peru, para conhecer Machu Picchu. “A Bolívia entrou por acaso na história. Eu não sabia nada sobre o país”, conta a estudante de Economia.

Pesquisando as formas de chegar à ruína inca e as rotas que outros mochileiros faziam, viu que muita gente falava bem da Bolívia. Bruna ficou quase três meses pesquisando e montou um roteiro completo, que definia dia a dia onde esta-riam, quanto tempo e dinheiro gastariam de ônibus ou trem e quanto precisariam pagar em hospedagem, passeios e ingres-sos. (veja o roteiro no site da revista)

A viagem completa custou R$2.100. “É muito barato. A gente pegou o dólar muito bara-to na época,” afirma Bruna.

Alguns deles tiveram proble-mas com um cartão pré-pago internacional. Antes de viajar, é bom procurar saber qual a melhor opção para levar dinhei-ro. Segundo Bruna, a taxa de câmbio da rua é melhor que a do cartão que usaram. O pro-blema é a segurança. Levar todo o dinheiro em espécie pode ser um risco. Se você for assaltado, por exemplo, já era!

Roteiro de viagem: evitando antes os possíveis problemas

Machu Picchu (PER)

Foto: tábata romero

O tango mostra sua sensualidade na Feria de Santelmo; Buenos Aires (ARG)

Foto: PâmeLLa marteLLi

Cartagenas de las Índias (COL)

Foto: tábata romero

Acima: Isla del Sol/ Titicaca (BOL); à esquerda: Cuzco (PER); e à direita: Machu Picchu

Foto: tábata romero

Foto: tábata romero

Foto: natáLia GouLart

12 abril 2012

Page 13: Revista Curinga

13abril 2012

Pamella Martelli tem 23 anos, é atriz e mineira. Decidiu ir com mais duas amigas fazer um mochilão pela América do Sul. Os países que queria conhecer, já sabia - o que não sabia é como ia chegar em cada um desses lugares.

Saiu do Brasil no dia 5 de janeiro de 2012. Tinha data para voltar: 26 de janeiro. Conhe-ceu Colômbia, Peru, Bolívia e Argentina.

Ela e suas amigas não fize-ram roteiro algum, foram de cidade em cidade confiando no que lhe falavam estrada afora.

Mais informações acesse: www.revistacuringa.com.br

Para onde o vento me levar

Em quase dois meses de expedi-ção, conheceu gente de diversos países (não apenas latinos) e praticou seu espanhol há muito tempo esquecido.

“Lidei com um espanhol de gírias e sotaques. Consegui ver a diferença entre um país e outro. Voltei para o Brasil com muito mais facilidade na con-versação”.

Sem planos antecipados nessa viagem, Pamella confessa que teve um pouco de medo de não saber onde pisava, mas garante que não teve problemas quanto a isso. “As pessoas estão sempre muito dispostas a aju-dar. Os funcionários dos hostels são aptos para responder nossas dúvidas e em todos os quase 20 alojamentos que ficamos fomos super bem atendidas, sem pro-blema algum.”

Montando a mochila:

- Tudo em um mochilão tem

que ser prático: desde a roupa

que você leva até o material

de higiene.

- Edite. Depois de fazer a lista

e escolher tudo, corte. Para

que levar 10 camisetas? Leve

apenas 5 e lave-as.

- Miniaturize tudo. Produtos

de higiene existem em versão

miniatura.

- Sabonete liquido é fun-

damental. Pode ser usado

para lavar roupas íntimas. O

sabonete em barra molha a

mochila.

- Invista na toalha super-

absorvente, pois é compacta e

não molha sua mochila.

- Tenha uma mochila menor,

ou “mochila de ataque”. As-

sim, você pode deixar a maior

no albergue e levar coisas

indispensáveis.

- Distribua o peso corre-

tamente. As coisas mais

pesadas devem ficar em

baixo. Antes de sair, teste a

mochila. Você pode sentir

algo pendendo para um lado

ou lhe espetando. Arrume

na hora. Esse desconforto, a

longo prazo, pode acabar com

a viagem.

Onde se hospedar:Sempre se hospede um hostel

que seja confiável. Para isso,

procure antes as referencias

na internet.

Indicamos os sites:

- www.hostelworld.com,

- www.hihostels.com e

-www.hostelbookers.com.

Fetos mumificados de lhamas, amuletos tradicionais vendidos no Mercado de las Brujas em La Paz (BOL)

Foto: tábata romero

13abril 2012

Page 14: Revista Curinga

14 abril 2012

Acessibilidade: a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a define como “possibilidade de condição e alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”. Já os portais virtuais que versam sobre a questão a definem como a extensão do uso de espaços e bens públicos por todos aqueles que se interessarem por esse uso. Esse conceito inclui a adaptação de prédios públicos, sites, espaços urbanos e tecnologias como um todo, a normas de acessibilidade que incluam, em seu uso pleno, cadeirantes, cegos e pessoas com baixa visão, surdos, pessoas de alta e baixa estatura.

Acessibilidade não é altruísmo, é direito e elegância

TExTO Gracy laport, lucas lima e Suellen amorim

EDIçãO GRáFICA leandro Sena e lincon Zarbietti

14 abril 2012

Page 15: Revista Curinga

15abril 2012

O Brasil figura nas estatísticas como um dos países mais acessíveis do mundo. Mas, olhe em volta. O que você vê lhe revela essa realidade? A verdade é que o Brasil assim é considerado no ranking mundial de acessibilidade graças à sua legislação, que elaborou o Estatuto do Portador de Deficiência, consistente em quase 70 páginas, para prever todas as situações que devam assistir o deficiente. Ainda há a Norma Brasileira para Acessibilidade, desenvolvida pela ABNT, que tem 97 páginas de indicações a respeito de como devem ser os espaços físicos para que atendam a todas as necessidades de qualquer usuário. Acontece que, na prática, a questão se configura em um festival de desrespeito e desinteresse por parte da sociedade.

As iniciativas na área continuam sendo mais teóricas do que práticas. Portais como o ”Aces-sibilidade” <www.inmetro.gov.br>, o DaSilva <www.dasilva.org.br> e o Acessibilidade Bra-sil <www.acessobrasil.org.br> oferecem boas informações para quem queira tornar o seu meio ambiente mais acessível, mas ainda são uma ação muito restrita. Falta a participação governa-mental, adaptando espaços físicos e garantindo a cidadania de todos os seus contribuintes.

De acordo com o censo demográfico de 2010, conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geogra-

fia e Estatística, o Brasil tem quase 14% de sua população com algum tipo de deficiência física ou intelectual: de seus 191 milhões de habitantes, aproximadamente 26 milhões são deficientes. O número é elevado, se comparado com os dados mundiais, que apontam para uma média de 10 a 12% da população portadora de alguma neces-sidade especial. Mas o Banco Mundial considera que há uma dificuldade em estimar um número exato, já que os critérios de avaliação da deficiên-cia variam de país para país.

A Universidade Federal de Ouro Preto man-tém o projeto Acessibilidade, vinculado ao seu Núcleo de Educação Inclusiva. Este projeto consiste em um levantamento das condições de acesso dos campi Ouro Preto, Mariana e João Monlevade. Thiago Silva, aluno do 6º. período do curso de Educação Física é bolsista do Núcleo do projeto. Questionado sobre quais providências os cidadãos comuns podem tomar para tornarem os espaços físicos mais acessíveis, Thiago diz que: “é importante respeitar as leis sobre o tema, procu-rar pessoas esclarecidas no assunto e se informar sobre como ajudar as pessoas que têm necessida-des especiais”.SuperAção

SuperaçãoQuando o filho tinha dezesseis anos, a mãe de

Felipe Riguni Lopes, mais conhecido na Univer-sidade como Furado, o levou ao oftalmologista. Ela observou que seu filho via TV muito de perto, dentre outros hábitos peculiares, que o atrapa-lhavam em atividades cotidianas. Descobriu que ele portava uma séria infecção nos olhos, que lhe rendeu dezessetes cirurgias nos olhos e a perda gradativa da visão. Em 2006, quando a sua doen-ça estabilizou, já tinha perdido quase toda a visão. Furado, que morava em Linhares, no Espírito Santo, e ainda não tinha esse apelido, cursava o ensino médio; já sem poder escrever ou ler, contou com a ajuda da família e dos amigos para terminar os estudos básicos.

15abril 2012

Page 16: Revista Curinga

16 abril 2012

Prestou vestibular em São Mateus, cidade próxima à sua, e na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Obteve aprovação em ambas e, mesmo com as suas limitações, curiosamente preferiu morar em Ouro Preto, longe da casa dos pais, para ingressar no curso de física, posterior-mente substituído pelo curso de Engenharia de Produção. Escolheu a República Copo Sujo, onde encontrou apoio nos moradores que o ajudaram na adaptação.

A princípio, houve a necessidade de sempre explicar sua deficiência aos novos conhecidos. Mas isso não foi impedimento para aproveitar essa nova fase. “Eu nunca tinha sentido isso, sabe?”, afirma, se referindo aos grandes amigos que fez nesta nova etapa de sua vida. Desde a pri-meira semana, frequenta festas com os amigos da República, e não deixa de as apreciar como todos. Segundo Furado, a deficiência visual nunca foi empecilho para nenhuma das atividades cotidia-nas dos colegas de República.

Diz que precisa prestar muita atenção nas aulas, já que não pode contar com informações anotadas no quadro. Ainda recebe ajuda do Núcleo de Educação Inclusiva (NEI), projeto de apoio e inclusão aos alunos com deficiência na UFOP, e dos companheiros da república, que o ajudam a ler. Furado destaca-se como o quinto melhor coeficiente do seu curso. Mas suas con-quistas não se restringem às notas. Em 2010, foi para os Estados Unidos para aprimorar o inglês, e lá, quebrou, além da barreira da língua, também as barreiras da sua deficiência.

Na sua extensa lista de hobbies estão inclusos o Jiu-jitsu, um esporte que, por ser de contato, facilita a prática para deficientes visuais, a acade-

mia, com a ajuda de um treinador pessoal, ouvir áudio book e tocar violão. Salienta que há poucos videobooks em português, e que tem acesso a uma biblioteca vasta apenas devido a sua fluência em inglês.

Sonha em fazer MBA nos Estados Unidos e fazer consultoria na área de produção. Diz como mensagem a quem interessar que o que mais o ajudou a superar todos os obstáculos foram os amigos e a família, confirmando a importância desses laços. E agora, José?

E agora, José?6 de abril de 2012. É numa quinta-feira,

presságio de fé e paixão na cidade de Ouro Preto, que entro no que nomeio e porto como experien-ciação, minha experimentação de sentidos com recusa de olhar. Liberdade caça jeito, já avisa Manoel de Barros.

Uma da tarde. Hora marcada para vendar os olhos e caçar. Saio às ruas da cidade como criança que tateia qualquer coisa inesperada ou nova, mas tenho os sustos de me surpreender com aquilo que já conheço. A rotina, caros leitores, prega peças nos olhos. Aquele tal Manoel já havia também advertido: a maior riqueza do ho-mem é sua incompletude. De olhos vendados, me veio de imediato a sensibilidade para entender que, “incompleta”, sou infinita.

Quando decidimos fechar os olhos, enxerga-mos com a pele e nos vemos do avesso. É como se isto que chamamos tecido epitelial se estendesse para além da epiderme e se tornasse mais atento, mais versátil. Em frente a minha casa, conheço o que a rotina me roubou. Noto cada som, cada cheiro, ironicamente ordenados no caos da cida-de, como guias do meu corpo.

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Page 17: Revista Curinga

17abril 2012

Mas é preciso ser justa. Ao seguir por Ouro Preto, suas ladeiras de glória e tradição portam-se como obstáculos por vezes intransponíveis no breu da caça. Mas em minha experiência não estou só, tenho como acompanhante a repórter Bárbara Andrade, que me relata as impressões dos que passam pelo meu caminho. Busquei fazer aquilo que faço quando estou resguardada pelos cinco sentidos. Pago uma conta, compro o que preciso na farmácia, vou à lanchonete e, como conclusão da primeira etapa de meu percurso, pego uma condução que, veloz, me leva ao Morro do Cruzeiro. Um caminho que constrói uma miscelânea de cheiros, vozes e calor para minha percepção. O carro para. Havia gentileza, pesar e constrangimento nas pessoas com as quais cruzei.

A segunda parte de minha experiência foi encontrar a estudante Thais Cossetti, que cursa o 3º período de Direito na Universidade Federal de Ouro Preto. Thais tem uma rara doença nos olhos conhecida por acromatopsia (ACHM). Não reco-nhece luz ou cores. Devido à ausência das células-cones do olho, sua pupila mantém-se sempre aberta. Thais enxerga o mundo em contornos de cinza e preto, é como se assistisse um filme em preto e branco.

Cheguei à casa de Thais tateando, agora de olhos abertos, o avesso das crenças. Estranha curiosidade: como ela mora sozinha? Sua casa é clara e cuidadosamente arrumada. Thais acabara de sair do banho. Bárbara e eu a esperamos na sala enquanto se troca. Ela volta, bem vestida, gentil e humorada, para falar de seus caminhos. Apresse-se, Drummond! E tire já suas pedras.

Thaís, desde pequena, nunca hesitou em ter uma vida normal, sem renúncias que violassem sua independência. Aos 17 anos resolve sair de Monte Alto, para, a 100 km de distância, fazer cursinho pré-vestibular em Ribeirão Preto. Apren-deu na marra, é a resposta que dá. Aprendeu a cozinhar pelo cheiro e pelo som dos alimentos, construía seus percursos decorando passos e degraus, atravessava as ruas ouvindo o som dos automóveis, saía para baladas com os amigos- mais atrapalhados que ela, garante!

O tempo em que esteve em Ribeirão foi logo após sua visão apresentar sinais de piora. Violan-do a decisão tomada aos 12 anos de não procurar mais médicos, Thais encontra o doutor André Messias, segundo ela, profissional e humano. Foi ele que identificou sua doença e a ajudou a en-contrar os óculos que possuem uma pigmentação especial, dando contraste e amenizando cores que incomodam sua visão. Isso a possibilitou a fazer as coisas sozinha. Thais voltou-se também para a medicina alternativa, com exercícios oculares fisioterapêuticos para incentivar a visão.

Antes que esteja ao nosso lado, a deficiência ou a sociedade que não está preparada para a in-clusão não nos causa nenhum incômodo. Hoje, o pai de Thais, sua família e amigos se colocam em seu lugar e sentem suas necessidades. Para ela, intensas discussões dispensadas a terminologias dadas a pessoas com deficiência (qual é o modo correto para se referir a elas?) só fazem fugir à questão principal: uma sociedade e uma gente que possibilitem acessibilidade e inclusão, de fato. À cidade tombada como Patrimônio Históri-co da Humanidade resta o questionamento: que Humanidade é esta, onde se é reservado o direito de ir e vir a um grupo seleto de pessoas? No meio do caminho, persiste a pedra de Drummond.

17abril 2012

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18 abril 2012

Há milhares de anos, o homem criou a linguagem escrita, verdadeiro avanço para a comunicação. Foram várias descobertas e, de lá para cá, a tecnologia se difunde vertiginosamente. Em poucos minutos, estamos em vários países através da Internet. Incrível, não?

Até que ponto toda esta mudança tecnológica tem facilitado a vida? A geração fast food que quer tudo rápido e facilmente, se tornou preguiçosa? Escreve palavras faltando letras, usa suas próprias linguagens e abreviaturas. Sem comentar os sites de redes em que internautas adicionam-se uns aos outros e postam fotos a todo momento. E o relacionamento pessoal? Não se tem tempo mais para tanto. Recordar, trocar ideias, isto é passado, um e-mail resolve tudo bem rápido... Vivenciar momentos de agradável descontração fica muito distante e as máquinas ocupam grande parte do nosso tempo. Estamos nos transformando em verdadeiros ciborgues... até quando?

somostodos

ciborgues

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19abril 2012ciborgues TExTO allan almeida, alyson Soares, Eloiza leal,

Érica Pimenta e Josie oliveira

EDIçãO GRáFICA Izabella magalhães e Camila dias

FotoGraFia: camiLa DiaS

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20 abril 2012

Vida SocialEu curto, você curte e nós curtimos. Tudo isso

acontece em uma fração de tempo, em poucos segundos a informação compartilhada se disse-minará para milhares. Culturalmente, os laços sociais surgem da necessidade de nos conhecer-mos. Para que isto ocorra, se tornou convencional marcamos encontros e festas. As correntes que nos unem, no entanto, se mostram frágeis com a rotina. O trabalho, o stress, o passo apressado e as paredes que nos cercam nos afastam do contato face a face.

Os estudos da antropóloga ciborgue Amber Case revelam que os inúmeros perfis nas redes sociais são uma forma de estabelecermos contato uns com os outros, ainda que por meio das novas tecnologias que são nada mais que a extensão de nosso corpo.

A estudante de administração, Walleska Coim-bra, 24 anos, assume que dedica cerca de cinco horas diárias ao Facebook, ao Orkut e ao Twitter. As páginas que mantém nessas redes são uma forma de divulgar sua identidade e o modo como ela se relaciona com o mundo. Atualmente mora na Austrália e possui contato diário com seus amigos no Brasil por meio dessas mídias. Em janeiro de 2012, ela passou as férias no Brasil e pôde reencontrar boa parte de seus colegas devido a um evento marcado no Facebook. “Foi um susto muito grande ver que muitas pessoas estavam ali, fiquei três anos longe deles e achei que, por causa da distância, ia ficar meio perdida nas conversas, mas, depois, não me senti estranha, sabia muita coisa da vida deles através de suas publicações e conversas em chats”.

A psicóloga Aline Alves ressalta que é preciso ter cuidados com as horas dedicadas à rede. “Os indivíduos não devem viver no mundo parale-lo vivenciado pelo ambiente virtual”. Uma vida saudável também precisa encontrar satisfação em outras atividades que não sejam aquelas pratica-das na rede.

Internet também é trabalhoVocê é daqueles que usualmente acessa seu

Facebook para marcar aquela balada de final de semana, posta aquela piada ácida no Twitter e monta uma roda de bar no MSN? Mas esses meios não servem só para descontrair! Hoje, eles também usam uniforme, crachá e batem ponto.

Esses são os perfis das empresas em redes sociais, mais um canal de comunicação entre instituição, clientes e funcionários.

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Segundo a Coordenadora de Comunicação do Hipermercado Cooperouro, Mariana Petra-glia, através do perfil da empresa em sites de relacionamento “o contato torna-se mais rápi-do e eficiente, na medida em que é feito com o direcionamento adequado. A rápida circulação da informação facilita a divulgação de serviços e produtos. Além disso, conseguimos chegar até o cliente com mais intimidade, já que ali somos colocados como ‘amigos’ do usuário”. O hiper-mercado adotou o uso de Facebook, de Twitter e de Youtube recentemente.

meu perfil, meu currículo Hoje, algumas empresas monitoram os perfis

de candidatos a empregos antes mesmo de entrevistá-los. Pesquisa feita em 2010 com 825 profissionais da área de Recursos Humanos reve-lou que 92% deles pretendem utilizar as redes so-ciais como etapa na seleção de seus funcionários. Metade deles utilizaria como fonte de pesquisa os perfis do Facebook.

O Vagas.com, site especializado em cadastro de currículos online, disponibiliza um campo exclusivo para cadastro do link do perfil social. Grandes empresas brasileiras, como a Brasil Foods, o Grupo Votorantin e a Natura fazem esse monitoramento. Segundo a chefe de Recursos Humanos da Fundação Ouro Branco, Andrea Silva, “O perfil do candidato é a imagem dele. É uma extensão do currículo. Ele pode ser expe-riente, ter a melhor formação, mas se posta coisas na Internet que comprometem sua função, ou mesmo seu empregador, esse candidato pode se tornar uma ameaça.”

Após a contratação, o ingressante continua em constante avaliação pela empresa através das redes sociais. Por isso, especialistas pedem muito cuidado nas atividades que serão postadas nas páginas online. É preciso evitar publicações que podem infringir a honra, a moral do emprega-dor e até a dos colegas do próprio empregado. Em entrevista ao blog do Ministério do Traba-lho, a advogada trabalhista Alessandra Cunha diz “o empregado não tem o direito de ofender, humilhar ou dirigir-se de modo inadequado a quem quer que seja. Quando o trabalhador fala mal da empresa ou de outros funcionários, está denegrindo a imagem da companhia e pode ser punido por esta atitude. Falar mal de seu superior hierárquico pode configurar insubordinação”.

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Cibersegurança e democraciaO que são propriedade, privacidade e segu-

rança? Para o advogado Flávio Almeida, “por padrão, quando se entra em redes sociais ou na net, é para compartilhar informações, o que já é uma antítese da privacidade.” Segundo ele, as informações só são de acesso privado “quando se necessita de senha e/ou cadastro para entrar em determinado site.” No entanto, ele pondera ao dizer que “mesmo assim, pela sua popularidade, alguns sites que exigem cadastro, podem ser con-siderados ‘públicos’, porque têm como princípio o compartilhamento, como as redes sociais”. No que se refere à divulgação e uso de conteúdo disponível na rede, o advogado é categórico ao dizer que esses “podem ser objetos de uma ação (judicial) por pertencerem a um autor/produtor, ou uma informação confidencial empresarial ou pessoal”.

Há um dono para quase tudo na Internet? A resposta é “sim e não”. De acordo com a profes-sora e jornalista Joana Ziller, pesquisadora dos fluxos de apropriação, publicação e republicação de conteúdo na web, “há uma significativa quan-tidade de informação construída colaborativa-mente e disponibilizada sob licenças flexíveis que permitem que as pessoas se apropriem do conte-údo. De uma forma geral, a informação já nasce apta ou disponível para ser apropriada, codifica-da, reutilizada e republicada”.

Devemos ter cuidado ao utilizar a Internet. Segundo levantamento divulgado pela Norton em setembro de 2011, cerca de 80 mil brasileiros sofrem golpes online por dia. Para o advogado Flávio Almeida, “crimes cibernéticos, mesmo, são poucos. O que ocorre, na maioria dos casos, são crimes já tipificados no Código Penal e que se utilizam dos meios digitais ou cibernéticos para serem cometidos”.

O advogado aconselha cuidar das senhas e dos círculos aos quais concedemos acesso a cada tipo de informação; evitar programas, sites ou serviços desconhecidos e lembrar que qualquer arquivo digital pode ser publicado e republicado para o mundo inteiro ver.

Cultura digitalQuem nunca ficou encabulado ao ser ques-

tionado sobre algo que não sabia? Rapidamente corremos para o Google e digitamos a palavra ou assunto discutido. Uma mensagem surge na tela, “você quis dizer isso”, damos um clique e naquele

instante temos as informações que desejamos. Esse ato corriqueiro nos aponta que a Internet se tornou uma das principais fontes de conheci-mento. Segundo a ONU, mais de dois bilhões de usuários acessam a rede para essa finalidade.

Mas o que torna a rede tão atrativa para essas pessoas? Fácil acesso aos conteúdos, baixo custo e os aprofundamentos que podemos obter sobre eles, são um grande poder de sedução. Dentre as suas facetas estão publicações avulsas que se complementam em sites e blogs, e uma infinida-de de coletivos inteligentes como os wikis, dispos-tos a aperfeiçoar o assunto e até mesmo apresen-tar uma nova concepção sobre eles.

Apesar desse entusiasmo com a democrati-zação da informação, temos que ter um cuidado com o conteúdo postado na rede, ele pode estar equivocado e alguns usuários podem utilizar a rede para destorcer dados por interesse próprio.

Exclusão x InclusãoA expansão da internet faz com que alguns

termos da sociologia acabem sendo populariza-dos. Embora isso aconteça, nem sempre quer di-zer que as pessoas sabem o real significado deles. Algo bastante comum em discussões é a questão da exclusão digital. Afinal, o que isto significa?

O estudante de Comunicação Digital Magno Martins explica em seu blog (magnno.wordpress.com) que “a exclusão digital diz respeito às con-

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sequências sociais, econômicas e culturais da distribuição desigual do acesso a computadores e Internet”. O avanço das tecnologias, principalmente dos computadores, tornou-se um parâmetro de nivelamento para o grau de instrução das pessoas. Aqueles que não tiveram acesso a uma mínima educação de qualidade ficam cada vez mais à margem desse processo.

Os estudos apontam que o contato com novos produtos sempre começa pelos mais ricos, o que mantém e agrava a desigualdade. No caso do computador, pode se pensar que, há vinte anos, apenas as classes mais altas podiam ter este aparelho, que hoje está pre-sente em grande parte dos lares. Isto pode ser explicado pela dimi-nuição dos valores dos equipamentos e pelas facilidades de crédito.

Para “incluir” alguém digitalmente não basta colocar uma pessoa de frente a um computador, e sim, capacitá-la para que ela possa utilizar a tecnologia. O equívoco pode ser visto em comu-nidades e/ou escolas que recebem computadores do governo sem que os profissionais sejam capacitados, o que limita a utilidade dos aparelhos.

CaminhoNo futuro os ciborgues continuarão com os olhos estupefatos

diante da rede, ela se tornará cada vez mais inteligente. A resposta que procuramos, com o maior grau de precisão, será dada de forma correta. O acesso a internet ocorrerá ao alcance dos nossos olhos, usaremos os óculos ou visores para nos comunicarmos, ficando boa parte do tempo online. Os cabos de conexão serão aplicados aos objetos, tais como carros e monitores cardíacos que ficarão gerando crescentemente fluxo de dados.

Em passos acelerados os usuários ficarão mais dependentes do meio, os celulares possuem importância vital nesse processo. Se hoje os carregamos para todos os lados, em poucos anos essa relação será ainda mais intensa. Ao acordamos, automaticamente estaremos na web, o conteúdo postado conduzirá nossas ações.

Os números de adeptos das redes sociais crescerão exponencial-mente, já que ainda há uma luta pela inclusão digital, e o recurso da geolocalização é pouco explorado. Assim, mais do que saber o que nossos amigos tem a dizer, vamos perguntar onde estão e o que fazem. A estratégia criada pelas novas mídias sugere um competiti-vo jogo virtual no qual seremos convidados a exercer atividades do dia-dia. Visitas diárias no perfil do seu bar favorito pode te render um café grátis no mundo real.

Com todas essas inovações o maior desafio da rede é passar por essas mudanças de forma sustentável. Ainda não criamos a fórmu-la ideal que a permite ser mais penetrante, inteligente e móvel. As pesquisas realizadas por Rory Cellan-Jones, jornalista especializado em tecnologia, revelam que os estudiosos estão bastante otimistas, desenvolvendo novas tecnologias de computação que admitem controlar ou reduzir suas pegadas de carbono.

O sucesso desse trabalho, no entanto está ancorado na capa-cidade das organizações estabelecerem coletivos e resolverem os problemas que podem fazer a web entrar em colapso. Contudo, se somos todos ciborgues, criaremos novos artifícios para que a rede se mantenha e continue a fazer parte de nossas vidas.

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''Eu tenho Zumbi, Besouro, o chefe dos Tupis, sou Tupinambá.Tenho os Erês, caboclo boiadeiro, mãos de cura.Morubixaba, cocares, arco iris, zarabatanas, curare, flechas e altares.A velocidade da luz, o escuro da mata escura, o breu, silêncio…a espera.Eu tenho Jesus, Maria e José, todos os pajés em minha companhia.O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos, o poeta me contou.Não mexe comigo, que eu não ando só..." Maria Bethânia

TExTO ana Carolina meireles, Camila dias,

Izabella magalhães e natália Goulart

EDIçãO GRáFICA Eugene Francklin

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Futebol, sexo, política e religião. Dizem que algumas coisas não se discutem. Mentira, leitor. Há que se debater! Nas próximas pá-ginas, a Curinga põe as cartas na mesa e fala sobre religião, crença, a fé em Deus, a falta dela e a fé na vida. Então, puxe uma cadeira, traga seu copo e sente aí.

Mesmo após 27 anos do fim da ditadura militar, é possível dizer que o Brasil está distante de oferecer à sua população uma de-mocracia plena, que abrace todas as estruturas sociais. No que se refere à religião, a indagação parece fazer ainda mais sentido.

Quando se coloca a religiosidade em um lugar de discussão, não há como fugir do fato de que, normalmente, não há diálogo entre as diversas possibilidades de crença existentes no país. A religião se discute, sim, a partir do momento em que cada um tem o direito de escolher e de exercer a sua fé. O que se discute não é a opção, mas a relação entre as opções. Ao mesmo tempo em que você acredita em Buda ou na reencarnação, o seu vizinho pode ser devoto aos orixás.

As religiões com mais adeptos no Brasil acreditam na impor-tância do respeito ao próximo. No entanto, o cenário brasileiro nos apresenta uma realidade diferente. É possível perceber nos momen-tos de divergência, que algumas manifestações religiosas acabam por se distanciarem de seus principais fundamentos, dando origem a situações de desrespeito e, por vezes, até de violência física e agressões verbais.

a crença no (in)visívelO que chamamos de religião? Só é religioso quem tem um

“Deus” ou uma igreja? A resposta é não. Vamos esclarecer: religião é um conjunto de coisas misturadas que organizam e direcionam a vida de um indivíduo em relação aos mistérios da humanidade. Pode ser tudo aquilo que conecta o homem com a discussão meta-física, com o invisível. Pode ser o modo de ver o mundo diante das perguntas “de onde viemos?”, “para onde vamos?”.

Religião = religare. O termo vem do latim e sugere o “religar-se” ao divino. No dicionário, temos a definição seguinte: “Culto presta-do à divindade; 2. [Por extensão] Doutrina ou crença religiosa; 3. [Figurado] O que é considerado como um dever sagrado”.

Religião é coisa velha. A primeira religião que se tem notícia Foto:iZabeLLa maGaLhãeS

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O contexto desfavorável para a livre manifestação de crenças fez com que pessoas de diferentes religiões se reunissem,

no intuito de trabalharem para subverterem esta situação. A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, CCIR, no Rio de

Janeiro, nasceu dentro deste ambiente de divergência e desrespeito. Formada por  umbandistas, candomblecistas, espíritas,

judeus, católicos, muçulmanos, malês, bahá’ís, evangélicos, hare krishnas, budistas, ciganos, wiccanos, seguidores do Santo

Daime, evangélicos, ateus e agnósticos, a comissão também possui membros do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, do Mi-

nistério Público e da Polícia Civil. As atividades são amparadas pela Lei Caó 7716/89. De acordo com a lei: “Intolerância reli-

giosa é um termo que descreve a atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar

as diferenças ou crenças religiosas de terceiros. Poderá ter origem nas próprias crenças religiosas de alguém ou ser motivada

pela intolerância contra as crenças e práticas religiosas de outrem”.

Vinte anos após a criação da Lei, a CCIR ainda luta contra a intolerância. Em 2009, uma mãe perdeu provisoriamente a guar-

da de seu filho, pois a juíza entendeu que ela não tinha condições morais de criar a criança por ser candomblecista. No mesmo

ano, traficantes de drogas invadiram barracões, quebraram imagens e ameaçaram de morte religiosos de matrizes africanas

que não quiseram se converter ao Evangelho. A CCIR atua na luta pela liberdade religiosa e pela garantia de um Estado laico,

desvinculado de preceitos religiosos, onde cada cidadão tenha o direito garantido de praticar a sua fé, seja ela qual for.

data de 2,5 milhões de anos antes de Cristo. A natureza, os ciclos da terra e a fertilidade eram os focos de reverência. Mas na atualidade, novas religi-ões surgem a todo o momento, templos são erguidos em cada esquina, livros, pessoas e coisas são eleitos deuses. Talvez isso se explique pelo caráter de inse-gurança e de individualismo presentes nas sociedades con-temporâneas. Hoje, é impossí-vel contar quantos milhares de religiões existem no planeta.

Temos conhecimento das mais populares e com mais adeptos: cristianismo, budismo, hinduísmo, islamismo, juda-ísmo, espiritismo. Mas, ainda dentro delas, circulam inúme-ras variações, de acordo coma geografia, a cultura e a história.

O maior exemplo pode ser o do cristianismo, dividido entre católicos, ortodoxos e protestantes. Dentro do protes-tantismo, podemos citar, pelo menos, algumas centenas de seguimentos, e, mesmo assim,

não citaríamos todos.Cada expressão religiosa

costuma eleger, além de divin-dades, sejam elas quais forem, símbolos, rituais, palavras ou livros sagrados. Mas isso não é regra, como o que ocorre com a Fé-Bahá’í, surgida no século XIX na região da antiga Pérsia. Para os fiéis não existem dog-mas ou rituais. Acreditam ser a única religião, creem em um só Deus, criador, e inalcançável. Pregam a paz entre os homens e abominam qualquer tipo de preconceito e discriminação.

Já em outro extremo, de origem Sueca, a “Assembleia de Deus” é regida por um conjun-to de normas, regras e rituais. Creem em Jesus Cristo e na sal-vação do homem que se afasta do pecado. Serão excluídos do reino dos céus: “os sodomitas, os idólatras, os impuros, os assassinos, os viciados e todo aquele que ama e pratica a mentira”. (Ap 21.27; 22.15)

Doutrinamentos, natureza, o homem e Deus. O que fica

evidente é o pertencimento de todas as religiões a um universo de fé. Todas expressam a quali-dade do ser humano diante do desconhecido, do mistério, do místico. Todas se aproximam em um sentido: são objetos e criações de uma mesma espécie, nós homo sapiens.

“Pé em deus e fé na tábua!”Nesse emaranhado de pos-

sibilidades - crenças, templos, divindades, sol, lua, Jesus com barba, da confluência entre as várias religiões ou extremismos - em que parte dessa história encontram-se os ateus e os ag-nósticos? E os que encontram, por exemplo, em Karl Marx, na observação dos astros ou em John Lennon, um modo distin-to de olhar a vida?

A religião também pode fugir a Deus, não O querer. E por não O querer, se apoio em outras filosofias, tenho outros vícios, outras linguagens. É como chutar Deus e acreditar

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que a verdade absoluta está no ser pragmático.

Mas por que não reinventar Deus? É assim que vivem os descrentes: numa labuta diária entre a aceitação da fé e a con-tradição dos dogmas.

Os ateus são considerados pessoas céticas em relação às afirmações sobrenaturais. Para eles, a falta de evidências empí-ricas os torna descrentes à exis-tência de um criador. Segundo Thomas Huxley, biólogo britâni-co conhecido como o “Buldogue de Darwin”, o agnosticismo é uma doutrina na qual os seres humanos não podem saber da existência de nada além dos fenômenos da sua experiência.

Julia Maria, estudante de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC RIO), é ateia. Ela diz: “concordo com Marx e Freud, a religião é uma for-ma de sair da realidade e se entorpecer de alguma forma. No entanto, acredito que toda forma de fé é válida desde que se respeite a fé dos outros”.

Para a espírita Maria José Goulart Ribeiro, 59 anos, o con-ceito de Deus está no interior da criatura humana.De acordo com a entrevistada, “devemos amor ao próximo como a nós mes-mos. Para isso, não é preciso seguir nenhuma religião”.

John Lennon, mais popular que Jesus Cristo, acreditava ser Deus um conceito, e, através da crença, seria possível mensurar a dor. Ele não acreditava em mágica, Hitler, bíblia, Guita, Elvis, reis, Beatles.

Na canção God, ele grita: “eu apenas acredito em mim”. Ele manda o recado para a geração Flower Power: “o sonho acabou”. John Lennon era mi-litante do amor, sobretudo. Ele também acreditava na Yoko. Se

é que você me entende...Antes, na fronteira entre

ciência e religião, arte e ciência, homem e natureza, a percepção da realidade se dividia entre aceitar ou não a transcendên-cia. Em tempos líquidos, onde muros caem e barreiras deixam de existir, não é mais possível separar filósofos de teólogos, cientistas de artistas.

Tudo ocupa o entremeio, se

esmiúça em várias vertentes, a fim de que, no final de tudo isso, seja possível atribuir senti-do à vida.

Até lá, todos passam a existência em infindos questio-namento que transportam os homens para perguntas imemo-riais da humanidade.

“Ah, se eu soubesse onde O poderia achar!”(Jó 23:3). Então, garçom, desce mais duas...

Religião: um conceito multifacetado

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Retina

TExTO: marcelo Sena

EDIçãO GRáFICA: bárbara andrade

Modernidade: o que faz mesmo a diferenca?

Dinamismo x Futilidade. Desejos e sonhos definidos socialmente. “Não podemos mais tolerar o que dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê fruto”, reflete Zygmunt Bauman, em seu livro “Modernidade Líquida”.

A tecnologia nos transforma em robôs ou nos aproxima de nossa essência? Existe beleza em ver o mundo através de uma tela de 14 polegadas? Pode ser mais humano tocar, sentir, beijar, ser...O que pode ser melhor?

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Modernidade: o que faz mesmo a diferenca?~

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Foto: marceLo Sena

O que ha algum tempo era novo, jovem....

Hoje e antigo,

e precisamos todos rejuvenescer.

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TOCA RAUUUUUUUL!!!

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De

Há quem afirme que o amor termina quando a morte chega, mas nesta edição da revista Curinga, vamos provar o contrá-rio: o desejo de nunca esquecer o outro – aquele outro que marcou a nossa história em algum momento da vida – permanece. A memória insiste em nos fazer lembrar e a velha disputa entre Eros e Tanatos jamais vai ter um fim. E, assim, os fãs nunca se esquecem do ídolo. Um corpo se vai, mas a voz permanece car-regando o seu legado. Assim, muitos canto-res dão alento aos seus ouvintes órfãos e eternizam a sua obra. Por meio de homena-gens póstumas revigoram a sua intensidade perante o público e se cravam na memória dos que ainda os admiram.

Filmes biográficos e documentários são alguns dos modos de homenagear ídolos postumamente. Nestes, a vida dos artistas é construída por trechos: depoimentos de amigos, imagens de arquivo e uma trilha musical que emoldura tudo. Os quebra-cabeças não se constituem em imagens facilmente, mas no processo o resultado final sempre revela algo.

Os livros sempre dizem muito, especial-mente sobre os mortos. Quem dialoga com os textos conversa com o íntimo dos auto-res. E se estes nos deixaram, a única forma é dialogar com os rastros de poesia e de vida. Assim, os escritores se vão, mas suas obras continuam a lhes prestar tributos. Trata-se de um legado quase autossuficien-te. Porque... Quem não gosta de conversar com as letras?

O texto constitui-se de letras, pequenas e amigáveis letras, que, em conjunto, tecem palavras. Assim, formam-se rios que per-correm um campo aberto, trasbordam em tecido e em sentido. Conjugando-se em fi-bras. Linhas de sílabas, músculos de história e sangue de autores. A literatura nutre-se deste processo em uma anatomia humana que se abre em narrativa. Assim, os sentidos dos autores esvaem-se, mas não para muito longe. Encontram-se nas obras. Porém, é preciso tornar acessível a compreensão dos dizeres daqueles que não se encontram. Ta-refa quase contrária à função dos escritores e, principalmente, dos poetas. O discurso imortaliza o personagem.

até que a moRTE nos una ainda mais

TExTO: Elisabeth Camilo, Eugene Francklin e

maria aparecida Pinto

EDIçãO GRáFICA: Eloiza leal E Gracy laport

TOCA RAUUUUUUUL!!!

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A música põe na mesma linha de mira a cabeça e o coração. Apropriamo-nos dela como nossa voz. Para além do agora, a música representa sentimentos atempo-rais, contados por outrem. Abri-mos espaço na nossa vida para que esse outro se fixe, criando em nós a condição de fãs. Buscando no tempo algo que dê palavras à nossa voz, muitas vezes saímos do nosso presente e nos revestimos do passado, criando relações com ídolos que já morreram e nos unindo com outros fãs para cultuarmos o legado musical e a ausência deixados por quem amamos. No ano em que se relembra os 30 anos sem Elis Regina, temos fãs que rememoram as obras e a figura pública da cantora. Dona de interpretações marcantes e passionais, Elis Regina (1945-1982) impressiona até hoje com sua voz e postura, muitos anos após a morte prematura no auge da carreira. Elis, como muitos outros cantores póstumos, resistiu ao tempo e se faz atual, conquistan-do um novo público e eternizan-do a sua obra.

a música e a obraMorrer é injusto. Por mais que

a morte seja natural e cotidiana, não estamos habituados a com-preendê-la, é como se a morte fosse uma punição. A partida de uma figura pública toca o ima-ginário das pessoas, humaniza o ídolo. A dificuldade em lidar com a morte é que, frequentemente, não sabemos como enfrentá-la. Não se conhece a solução para a falta. E se não conhecemos a solução, é preciso inventar. Por isso, para colocar em cena algo que suprima esse vazio , muitas vezes, o fã exprime esse senti-mento por meio de comemora-ção de aniversários póstumos e homenagens midiatizadas, como o projeto “Viva Elis” , que realiza uma série de shows gratuitos em que a filha da cantora, Maria Rita, canta os grandes sucessos da carreira de sua mãe, em diversas capitais brasileiras para relembrar as suas obras

A voz resiste ao corpo e subs-titui a presença física. Apesar da morte de Elis e de tantos outros grandes ídolos musicais, a voz permanece, transcendendo-os, eternizando-os. Assim, a cada música tocada, a cada homena-gem realizada, a cada palavra que nos toque e que fale por nós, a memória resistirá ao tempo e às constantes novidades.

A obra deixada por Elis e por outros grandes ídolos sempre re-nova as suas forças e conquistam novos fãs. Para concretizar o que afirmamos, temos diante de nós a celebração à Elis Regina, um grande ídolo que se tornou sua própria contradição pois acredita-va que “o passado é uma roupa que não nos serve mais”.

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TExTO: Eugene Francklin

EDIçãO GRáFICA: Eloiza leal e Suellen amorim

Foto: euGene FrancKLin

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Carvalho e Evaldo Mocarzel. Eu e as pipocas, no escurinho do cinema.

Enquanto o filme não começava, pensei em to-das as estratégias que se usam para que nunca es-queçamos os ídolos. Há pouco, a vida da escanda-losa e debochada Dercy Gonçalves virou minissérie na TV e, durante a entrega do Oscar, os falecidos da música e da sétima arte foram relembrados com carinho. Vieram à minha mente Cazuza, Michael Ja-ckson, Whitney Houston, Dennis Hopper, Andrew Koenig, De repente, pensei na Janete Clair e todas as reprises de suas telenovelas, admitidas até hoje como primorosas.

Morte, morte, você de fato existe ou apenas é um evento que faz desaparecer fisicamente uma pessoa , mas a mantém eternamente em nossos co-rações? Ainda ouço as canções da Elis na trilha de alguma novela e agora aprecio ainda mais a “ Esco-linha do Professor Raimundo”, que preferi alcunhar como “ A Escolinha dos Fantasminhas Queridos”.

Acredito que em breve assistirei documentá-rios relatando a vida de Chico Anísio e de Millor Fernandes e de outros que viajarão para o eterno. Para nunca serem esquecidos, a arte os imortaliza, trazem-nos até mim e a todos. É um evento intencional, creio. E eu aqui, no escuri-nho do cinema, começo a reviver a filosofia do meu Raul.

“Se tenho pecados, não lembro. A vida é um segredo. num susto, se morre” Dercy Gonçalves

Eternos vínculos

TExTO: Elisabeth Camilo

EDIçãO GRáFICA: Eloiza leal e Gracy laport

Entrei na sala de cinema para assistir o docu-mentário do Raul Seixas – O princípio, o meio e o fim - com um pacotão de pipoca e disposta a relembrar as aventuras do “maluco beleza”, mas, como sempre, a sessão de degustação de trai-lers me trouxe Mazaroppi e Peter Graves, que me fizeram reviver o bom humor brasileiro e a comédia mesclada com tragédia em “ Apertem os Cintos – O Piloto Sumiu” e a série “ Missão Impossível”.

Enquanto devorava a pipoca, viajei no tempo e parei para pensar: como é que os ídolos sempre se materializam e nos mandam aviso: “ainda existimos na sua mente”. Ora, eu estava ali para assistir um documentário de um cantor da década de 1970! De vez em quando, as empresas de cinema lançam fil-mes que relatam/reprisam a vida de grandes atores enquanto que a de música lança CDs, DVDs e Blue Rays de cantores e atores falecidos que fizeram muito sucesso.

Assim, quem não os conheceu, passa a admirá-los e quem os conheceu sente saudade. Surpreendo-me filosofando sobre o papel da memória cultural para a manutenção de ícones. Eu mesma estava ali para reviver as aventuras do Raul Seixas, considerado maluco por uns e genial por outros, mas merecedor de um documentário com a assinatura de Walter

to

mar banho

e você quer

se eu quero de chapéu...

queres pois é

então vá!!!!!! faça o que tu tudo da lei...

FotoS: Gracy LaPort e SueLLen amorim

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Com certeza, você já ouviu falar de provas de amor. Muitos acreditam que são gestos de idola-tria. A famosa expressão, “plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro” apresenta ações que enovelam a temática do legado, a base das home-nagens. Escrever um livro é uma prova de amor à escrita, gesto de afeição valorizado na literatura. E, não é que, assim, nascem os ídolos e com eles as homenagens?

Os tributos podem resultar em eventos como o Bloomsday - comemoração anual que ocorre na Irlanda homenageando o escritor James Joyce a cada dia 16 de junho. Inspirados nesta perspectiva, foram criados, no Brasil, o Dia D (31 de outubro), que homenageia Carlos Drummond de Andrade, e o dia de Clarice Lispector (10 de dezembro).

Os eventos realizados foram prévias das come-morações deste ano em que se completam 25 anos de morte e 110 do nascimento de Drummond. Os livros do autor serão editados pela Companhia das Letras. A perspectiva é de 12 a 14 títulos publicados entre poesia e prosa anualmente.

A autora de “Perto do coração selvagem” com-pletaria 92 anos esse ano. Em oito de dezembro fará 35 anos de sua morte. As biografias e as obras que estudam as construções produzidas pelos escritores são outra forma de tributo. Exemplo é o livro “Clari-ce – Fotobiografia”, de autoria de Nádia Battella

Gotlib. Estas provas de amor tornam-se possíveis por meio do legado dos autores. Mesmo mortos, continuam “produzindo”.

Escritor bom é escritor mortoO autor Brás Cubas revela esta perspectiva.

Após morrer sem obter sucessos, escreve um livro relatando a vida. É a forma de compensação que en-contra para aliviar a dor de não ter reconhecimento público. Cubas dá o último suspiro de fracasso em 1869 aos sessenta e quatro anos. Em seu enterro, não houve grandes comoções.

A autobiografia realizada é a máxima celebração que um morto pode receber, por ser matizada pelas cores escolhidas pelo próprio finado. De acordo com Millôr Fernandes, o personagem descobriu a pólvora porque “o cadáver é que é o produto final. Nós so-mos apenas a matéria-prima”. O escritor realista, por meio do humor, critica a celebração que os ídolos recebem postumamente. Ironicamente, os persona-gens de Machado de Assis são os mais lembrados da ficção nacional.

A celebração de escritores falecidos relaciona-se à diversidade de publicações e ao acesso às obras inéditas. Aponta também para as perspectivas de lucro das editoras. Entretanto, as provas de amor aos ídolos da escrita, não deixam de ser um dos corações da literatura.

Foto: euGene FrancKLin e maria aPareciDa Pinto

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TExTO: maria aparecida Pinto

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TExTO: maria aparecida Pinto

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