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Província São Francisco de Assis - OFM/RS - Ano I Nº 4 - Março - Abril 2015 Cyber Franciscanos Revista Digital TEMA da Revista: Louvado Seja Encíclica do Papa Francisco

Revista Cyber Franciscano julho 2015

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Todos os que de uma ou outra forma tomaram a sério a leitura da Bíblia, e se debruçaram para descobrir uma fundamentação , ou até informação sobre os mais variados assuntos de suas preocupações, será que estes encontraram uma referência sobre o tema da Ecologia?

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Page 1: Revista Cyber Franciscano julho 2015

Província São Francisco de Assis - OFM/RS - Ano I Nº 4 - Março - Abril 2015

Cyber FranciscanosRevista Digital

TEMA da Revista:

Louvado SejaEncíclica do

Papa Francisco

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ÍNDICE

EXPLICAÇÃO LEITURA DIGITAL

03 - ÍNDICE

04

19

11

Bíblia e Ecologia

08O cultivo da Saúde na Sabedoria Camponesa

TeologiaMoralem Kant

Ecologia –É precisomais do quepalavras deocasião. É preciso atitudepara preservá-la!

17

Recebemos um grandepresente de nosso Papa Francisco

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BÍBLIA Todos os que de uma ou outra forma tomaram a sério a leitura da Bíblia, e se debruçaram para descobrir uma fundamentação , ou até informação sobre os mais variados assuntos de suas preocupações, será que estes encontraram uma referência sobre o tema da Ecologia? – É pergunta inicial que qualquer cidadão, ainda mais se for estudioso do tema, se terá feito, pois atualmente as inquietações em torno do clima, preservação da natureza, entre outras, tomaram um rumo quase que incontrolável. Não existe certeza do que vai acontecer... Fala-se em ameaças sérias que não estão apenas na cabeça de algum visionário. Há renomados cientistas que, com dados catalogados em experiências, apontam para uma catástrofe. Podemos armar com os cientistas sociais do século 19, na Europa, “que um espectro ronda a Europa.” A agravante de agora é que ela atinge todo o mundo, com incidência mais pesada sobre os pobres. Para responder ao questionamento em relação à Bíblia, podemos conrmar que ela não se pronuncia nesta direção. A não ser que se force o texto, e se faça uma leitura fundamentalista, o que distorceria a mensagem no seu conteúdo.

Se essas palavras iniciais tiverem despertado nossa vontade de ver alguma luz nesta direção, estamos convidados a nos deixar guiar onde pudermos honestamente encontrar resposta. Sempre acompanhados com uma visão crítica, seja literária ou de interpretação da palavra na Bíblia, procurando não desviar o foco entre a Ecologia como ciência e entre o enfoque da fé que, em primeiro lugar, vise o Homem e a Mulher como principais interessados a terem sua integridade preservada. Anal, são os pontas-de-lança do processo que teve um começo. O futuro dirá como será seu m.

Essa é a intenção desta pesquisa. Textos bíblicosEscolhemos alguns textos em torno aos

quais faremos nossas análises:1) Gn 1,1-31; 2,1-252) 1Rs 17,1-24; 18,1-463) Ecl 3,9-224) Ez 47,1-125) Is 65,17-256) Ap 21,1; 22,1-27) Intervenções de Jesus em

episódios descritos nos quatro Evangelhos, ligados a imagens do campo e da Natureza.

I A Bíblia falaGn 1,1-31; 2,1-25

Quando uma pessoa, não importa sua qualicação intelectual ou prossional, decide ler e meditar os textos apontados acima, não poderá deixar de admirar a forma com que apareceram essas narrativas, mesmo não recebendo nenhuma interpretação. A reação é que estejam envoltas numa linguagem de sabedoria e mistério ao mesmo tempo. Alguns param por aí. Outros procuram entender. Um terceiro grupo chega a dizer que lidaram com algo superior. Mexeu com a mente e com a emoção à medida que se envolveram na leitura, armam. Esse fenômeno se restringe por vezes somente ao contato com os versículos acima apontados. Diante disso, vamos ater-nos a alguns pontos que nos poderão orientar.

1) O desdobramento dos 6 dias da criação segue uma ordenação didática de como a criação foi ordenada(segundo o desígnio de Deus). Inicia com o nada, apenas os abismos penas os abismos, as trevas e o “vento de Deus”(é o Espíirito?) soprando sobre as águas. Deus cria a luz e decide que haja divisão entre luz e trevas como elemento necessário para que a criação continue a existir(Gn 1,3-5). É noite e dia. Trabalho e descanso. Também isso vale para as águas nos dois rmamentos, o de cima e o de baixo(Gn 1,6-8).

Em seguida a criação vai desenvolver-se em torno aos mares e a terra(Gn 1,9-10). Então continua com o aparecimento de árvores frutíferas, que deem sementes. Que haja verduras...(Gn 1,11-13).

2) A criação da raça humana dá o tom central da narrativa que acontece no 6º dia(Gn 1,27). Tem algo especíco.

Agora os detalhes aparecem com uma tonalidade teológica ainda mais contundente neste episódio aos olhos do leitor. O que poderia não ocorrer anteriormente, a interpelação aqui tem a ver com a fé no Deus Criador. O questionamento é: teria razão de haver um ordenamento da criação, se não

Bíblia e Ecologia

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BÍBLIAexistisse quem lhe desse sentido e continuidade? Ou, em termos bíblicos, “submetesse a terra”? Esse ponto é decisivo para entender a observação do narrador, ao contemplar a criação :“Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom”(Gn 1,31a.).3) Em vista do ser criado, conclui: Deus descansou no 7º dia. Esse dia também foi abençoado e santicado, como os outros 6 dias. Aí está um ponto que merece nossa atenção. Ouvimos notícias, análises, que insistem em que devamos olhar sinais catastrócos de clima. Sem dúvida, nunca é demais observar o que a natureza nos vem apontando. E não se deve fugir. Seria uma atitude irresponsável. Porém, estar alertas.

4) A força da profecia na Bíblia aparece com o posicionamento do profeta Elias. Assim nos detalha o 1º Livro dos Reis.A profecia pode soar estranha a nós hoje, pois contem um forte simbolismo, como lemos em 1Rs 17,1-18,46. Vale a pena conferir.

O que está por trás? Será o abandono da crença em Javé tão decisivo que o povo deverá ser provado por uma seca que castiga a natureza toda(como reparação), e que anal só termina com a degola de sacerdotes dos deuses de uma Religião importada do estrangeiro? – Lição dura que devemos tirar do texto e da análise para nosso tema.

5) Um livro sapiencial, que faz parte de literatura adotada em tempos em que o povo de Deus não estava entendendo a guinada do curso da história que os Gregos impuseram com autoridade. Era necessário saber discernir que direção os acontecimentos estavam apontando. Decidimos olhar de frente o capítulo 3 do livro de Eclesiastes. Mais especicamente Ecl 3,9-22.O trabalhador procura compreender seu labor, sua fadiga, e se apresenta diante de Deus para que lhe explique e clareie sua missão. Em meio ao seu problema arma negar que haja felicidade para quem não se empenha em conquistá-la. Confuso, e como se voltasse atrás, confessa que é necessário aceitar que tudo é dom de Deus. E saber que a tarefa é imensa. Consiste em restabelecer o direito e a justiça. Há tempo para tudo.

Acrescenta depois que a condição do

homem é a de animal. “pois a sorte do homem e do animal é idêntica: como morre um, assim morre o outro...”Ecl 3, 19. Conclui armando “que não há felicidade para o homem a não ser alegrar-se com suas obras”Ecl 3,22a.Parece contradição com o livro do Gênesis, onde o ser humano é convidado a dominar o universo, as criaturas, os animais. A linguagem e a realidade não são mais a do Paraíso. Há escravidão.- A situação humana deve ser essa?6) Ez. 47-1-12, abre a imaginação para os que pretendem voltar do Exílio, mas se perguntam como vai estar o Templo em Jerusalém e o que vai mudar quando houver abundância de água saindo dele. Caracteriza uma utopia, uma esperança. Pois isso nunca ocorreu. Quer animar os que voltam, fazendo-lhes ver que em sua pátria também vai ter vida, assim como existe às margens dos rios da Babilônia. A terra prometida novamente está no seu horizonte.Na descrição chama-nos a atenção o surgimento de árvores que ladeiam o curso das águas. Águas que no mar Morto(ou da Arabá), se tornam salubres. Além de outros animais que povoam as águas, haverá abundância de peixes. E o mais espetacular é que haverá vida. Pescadores povoarão as margens. E sal terá somente nos brejos e pântanos, lugares destinados para as salinas.E, por m, crescerá toda sorte de árvores frutíferas, que não perdem as folhas nem os frutos se acabam, e todo mês darão novos frutos, pois ”sua água provem do santuário, motivo porque seus frutos servirão de alimento e suas folhas de remédio(Ez 47,12c). Pode? – O desao é organizar corretamente a releitura de Gn 2,4b-15. É que estamos frente à frente de uma correção do que a Bíblia pretende da vida e como deve ser desenvolvida para que seres humanos e animais, com a natureza, possam viver.7) Enquanto nos anima a profecia de Ezequiel, e anal se cumpra, vamos acompanhar as diculdades que o 3º Isaías(assim se conhece o livro das profecias de Isaías, capítulos 56 a 66)enfrenta quando orienta o povo na volta do Exílio. Ele o faz comparando os tempos cheios de vigor, sempre na esperança renovada, para desta forma sentirem que Javé, seu Deus ,cumpria a promessa.

Bíblia e Ecologia

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BÍBLIA Seguimos o texto do cap. 65,17-25.A Bíblia de Jerusalém intitula o capl 65 de “O julgamento futuro”. Julgamento aqui não tem logo a ver com júri, acusação e defesa, réus. Trata-se da visão de Javé como Pai, que teve e tem misericórdia de seu povo. Olha para os que permaneceram éis e voltaram. Conaram e se instalaram na terra.Entendemos assim concretamente a expressão:”Vou criar novos céus e nova terra”(Is 65,17). Ora, seguindo esse raciocínio, a armação tem a ver com paraíso, felicidade messiânica.Segue ainda mais o texto descrevendo em que consiste essa renovação: criancinhas vão poder viver; velhos vão morrer em idade avançada; construção de casas habitadas pelos que as edicaram; frutos consumidos pelos que plantaram. Como acima vimos, encerra com as guras do lobo e cordeiro, leão e boi, se alimentando juntos. Serpente terá o pó como sustento. Isto é, nada de mal ou violência atingirá aos seres. Assim como foi uma vez, poderá ser novamente, dependendo dos que ouviram e seguiram a voz do Pastor Javé.8)Apocalipse, livro que levanta a esperança

das Comunidades perseguidas pelo poder imperial. Depois de mostrar através de uma rica e fantástica simbologia, de que o medo deve ser substituído pela fé e esperança naquele que é o Julgador por excelência – Deus – nada pode tirar a conança daquele que é el. Aliás, aqui se repete o profeta do 3º Isaías.“Vi então um céu novo e uma nova terra,

pois o primeiro céu e a primeira terra se foram, e o mar já não existe” Ap. 21,1. É a aspiração mais forte que o povo sofrido e perseguido sente quando uma luz ilumina e encoraja. Essa luz é ponte que une desânimo de um lado, e vida do outro lado. No cap. 22, 2, também se lê:” No meio da praça, de um e de outro lado do rio, há árvores da vida que fruticam doze vezes, dando fruto cada mês; e suas folhas servem para curar as nações”. Se quisermos conferir, mas é texto paralelo com Ez 47,12.Juntam-se fé e coragem para encaminhar o que essa palavra tão preciosamente nos traz.

O QUE CONCLUÍMOS:Dizíamos ao iniciar interessava organizar a

ligação BíbliaXEcologia, contanto que percebêssemos que jamais pode ausentar-se o ser humano, como primeiro interessado em que pesquisas ou estudos como este,

centrassem primeiramente as atenções no ser humano, homem e mulher.E mais, que somos os primeiros interessados em equacionar os problemas que cada vez mais começam a assustar, pois, segundo alguns, há catástrofes iminente, caso não haja mudanças na forma de resolver os problemas.

Dito isso, através da Bíblia, mesmo com suas posições de análise serem de outros tempos, sobram iniciativas, convicções, e toda uma mística em torno à terra, que nos despertam e motivam.

Nem tocamos naquilo que Jesus de Nazaré tem como prática na valorização de tudo que a natureza pudesse auxiliar no anúncio do Reino. Basta apenas lembrar que em suas pregações se serve frequentemente de guras com as quais tinha familiaridade, assim como seus ouvintes. O carinho que trata todo ser vivo, com lugar especial para a gura humana, destacando aí o pobre.

Somos homens e mulheres responsáveis pelo universo criado. Entreguemo-lo aos que virão depois de nós para levarem vida sadia, abençoada pelo Criador.

:

Porto Alegre, 26 de junho de 2015Frei Plínio Ricardo Maldaner

Bíblia e Ecologia

Page 7: Revista Cyber Franciscano julho 2015

Uma entidade mantida pelo ICSFA – Instituto Cultural São Francisco de Assis, entidade de caráter público, sem ns lucrativos, de assistência social, dos Freis Franciscanos do Rio Grande do Sul. Desenvolvendo inúmeras atividades que possam garantir o desenvolvimento e assistência de muitos jovens em situação de vulnerabilidade social.

Conheça nossa Instituição

acessando nosso site:

Cyber Franciscanos Out 2014

Page 8: Revista Cyber Franciscano julho 2015

NAS ENTRANHASDA MÃE NATUREZA

Quando me ponho a recordar de meus tempos de guri, lá na Posse São Miguel, município de Não Me Toque, RS, vem sempre à memória o uso dos chás. Colher “macela” no amanhecer da Sexta Feira Santa ou da Páscoa era um rito sagrado. Folhas fervendo na água, raízes e folhas na cachaça, xaropes....só doença “braba” nos levava até um médico. Lembro até onde estava o pé de “cancorosa”, atrás da casa, perto do Rio Colorado, pouco acima de um “pesqueiro” bom para pescar jundiás em dias de chuva com as águas embarreadas.

Mas o que quero trazer à mente nestas reminiscências é outra lembrança intrigante, a de um andarilho que de tempos em tempos passava lá por nossa casa. Chamava-se João Maria Damasceno (“Damascena”, no dizer do povo). Cabelos longos, barba branca, madrugador, não aceitava dormir nem comer dentro das casas. Pousava no galpão e comia na área da casa o prato de comida que minha mãe, Dona Jurema, lhe dava. Onde o tratavam bem, permanecia alguns dias; onde tratassem mal, seguia estrada. Benzia, quando pediam. Dava conselhos e seguia pelos caminhos com uma pequena trouxa nas costas. Falo da década de 1960, não sei precisar os anos. Lembro-me de um conselho que ele repetia: “Mel, alho e limão não podem faltar numa casa de família”. Mais tarde aprendi que “Quem tem mel, alho e limão tem uma farmácia em casa”. Com o tempo conheci a história dos santos monges, os barbudos que peregrinaram pelas estradas do Rio Grande, Santa Catarina e Paraná, animando os caboclos, ensinando bênçãos, orações e o batismo em casa. Benziam fontes de água onde muitos bebiam, banhavam-se e saiam curados. Fizeram fama de milagreiros e devolveram saúde a muita gente. Ensinavam o uso dos chás e o poder curativo da natureza, como dádiva divina. Marcaram gerações e a tradição que zeram passou de boca em boca chegando até nós, mesmo com o desprezo das academias e das estruturas ociais das religiões. O primeiro destes monges chegou a Sorocaba, São Paulo, vindo da Itália, em 1844. Registrou-se na imigração como Frei João Maria D'Agostini, mas é lembrado pelo povo e historiadores como Monge São João Maria. Há

registros de que foi candidato à vida religiosa franciscana no Piemonte, Itália, mas desistiu para ser missionário solitário pelo mundo. Conviveu com índios e camponeses e aprendeu com eles. Foi preso acusado de curandeirismo pelo Governo do Rio Grande do Sul da época e deixou marcas e ensinamentos por onde passou. Os municípios de Candelária e São Martinho da Serra, no Rio Grande do Sul, ainda guardam marcas vivas de sua passagem entre nós. João Maria peregrinava pobre e sem posses, ensinava fé e conança em Deus, propagava a terapia da água e os poderes curativos da natureza e das bênçãos. Fez história, construiu cultura e deixou seguidores. Veio o segundo João Maria, que andarilhou por Soledade, Lagoão, Tunas e arredores. Depois foi o terceiro João Maria que percorreu as terras de Erechim, Lagoa Vermelha e adentrou Santa Catarina andejando por Lages, Curitibanos e seus arredores. Um dos que se inspiraram neles, o José Maria, foi assassinado num conito armado que fez explodir a guerra do Contestado e os massacres lá perpetrados. Em Lapa, no Paraná, há até hoje uma gruta dedicada aos Santos Monges. Mas sua saga não morreu e de boca em boca, de ouvido em ouvido, o povo os preservou. Talvez eu tenha conhecido o último deles, o Damasceno, em minha infância, recebendo comida na área da casa das mãos de minha mãe. É muito provável que tenha sido ele a viver, talvez com idade próxima de cem anos, seus últimos dias, no Município de Novo Barreiro, RS. Padre Paulo Cerioli o acolhia no Salão Paroquial daquela comunidade na década de 1980. Também no m do século XIX, em 1898, chegava ao sul do Chile o missionário capuchinho alemão, frei Tadeo Wiesent. Além da paixão missionária e do ardor pelo Evangelho, este frade capuchinho era profundo conhecedor de Medicina Natural. E ass im este discípulo de São Francisco evangelizava e curava vivendo com a população pobre e abandonada do sul do Chile. Com este povo e suas tradições indígenas, especialmente o povo Mapuche, t a m b é m m u i t o a p r e n d e u F r e i T a d e o construindo uma síntese de remédios, técnicas e meios de prevenção e cura unindo o que aprendera na Europa com o que aprendia

O cultivo da Saúde na Sabedoria Camponesa

Page 9: Revista Cyber Franciscano julho 2015

aqui com os camponeses e indígenas da América. A água, as plantas e o contato com a natureza eram elementos essenciais de sua medicina. Um dia Frei Tadeo sofre desprezo em seus conhecimentos médicos da parte de um jovem estudante de medicina da capital, Santiago, Manuel Lezaeta Acharan. Anos mais tarde este estudante cai doente, é desenganado pelos médicos da medicina convencional, mandado a casa para morrer. O jovem médico procura Frei Tadeu e resulta curado. Lezaeta torna-se discípulo do frei capuchinho, sistematiza seus conhecimentos e constrói, com estudo e prática, o arcabouço cientíco da Medicina Natural na América Latina. Em seu livro “Medicina Natural ao Alcance de Todos”, publicado no Brasil pela editora “Momento Atual”, vemos uma densa gama de conhecimentos sistematizados e organizados capazes de traçar outra rota de prevenção, terapia e cura que não seja a dependência da indústria química e farmacêutica e de uma medicina nanceirizada que mais serve à doença que à saúde. Frei Tadeo encerra seus dias, num último gesto de doação evangélica e missionária, junto aos hansenianos na Colômbia, a seu pedido. Vive de 1922 a 1926 num leprosário até seu falecimento. Enquanto isto, as ideias e os conceitos de Medicina Natural de Manuel Lezaeta, o seu mais importante discípulo, ganham o mundo com seguidores e inimigos.

Lezaeta também arma a importância da água e das plantas na prevenção, na terapia e na cura. Aprende com o povo a importância do alho, do limão e da erva cavalinha. E do contato com a mãe natureza. E segue a trilha de Frei Tadeo vendo como elemento essencial da terapia e da cura, a valorização da pessoa humana e da relação humanizada entre o médico e os que o procuram (mal chamados de “pacientes”). As sagas do Monge São João Maria D'Agostini e do Frei Tadeo Wiesent se tocam e se completam sem nunca terem se conhecido. Ambos têm em suas origens as marcas de Francisco de Assis. Ambos colocam-se ao serviço dos pobres. Ambos abandonam suas terras para serem missionários. Ambos trazem uma vasta bagagem cultural da Europa, mas consol idam seus conhecimentos com a troca de saberes com os povos indígenas, seus conhecimentos e práticas ancestrais. Ambos fazem escola e deixam rastros em suas passagens. Ambos são aos poucos redescobertos em nossos atribulados dias de início do século XXI, em plena crise da medicina química e dinheirista e dos alimentos envenenados. Milhares de pessoas simples do meio do povo pelo Brasil afora preservam em seus usos e costumes os chás e suas receitas e o uso das

plantas medicinais na saúde: na prevenção, na terapia e na cura. Da mesma forma, na culinária, na agricultura, na criação de animais e nos usos domésticos. Anônimos para o mundo da linguagem escrita, esquecidos pelas academias, ignorados pelos meios de comunicação, mas reconhecidos e respeitados em suas comunidades. Há alguns e algumas, porém, que vem se preocupando em juntar e sistematizar estes conhecimentos populares e preservá-los de forma escrita. O trabalho paciencioso de Frei Wilson Zanatta, discípulo de Francisco de Assis na bela tradição capuchinha, em seu l ivro “Ervas Medicinais”, publicado pelo Instituto Cultural Padre Josimo, inscreve-se neste esforço de coletar, sistematizar, registrar, escrever e publicar este enorme acervo de sabedoria popular. É antes um trabalho paciente de aprender com o povo sobre “Ervas Medicinais”, “Remédios Caseiros”, “Dicas de Saúde” e outros conhecimentos da Sabedoria Camponesa. Vejo esforços como este como continuação criativa de algumas tradições espirituais e terapêuticas, entre as quais, destaco: a do Mestre Nazareno Jesus, a de Francisco de Assis, a de João Maria e a do Frei Tadeo. Jesus pregou e curou e enviou a pregar e curar. Creio que hoje o milagre de curar está nas entranhas da mãe natureza. Francisco de Assis seguiu o Nazareno não com discursos, mas limpando feridas e devolvendo a dignidade a hansenianos jogados nas grutas como se lixos humanos fossem. Do João Maria e do Frei Tadeo já contei o suciente. Por tudo isto, quando falamos da “Saúde que brota e cresce das Entranhas da Mãe Natureza” dizemos muito mais que “receitas”, muito mais que “chás”, muito mais que “remédios”. É sabedoria, é história, é cultura, é mística, é fé, é conhecimento popular, é crença nas potencialidades do povo, é densidade humana, é amor à vida.

Frei Sérgio Antônio Görgen ofmHulha Negra, abril de 2015

O cultivo da Saúde na Sabedoria Camponesa

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FILOSOFIA

Resumo

O artigo tem o objetivo demonstrar, que

o papel da razão pura no âmbito moral é a

razão pura prática, na ligação do mundo

inteligível com o mundo sensível, tento em vista

a p o s s i b i l i d a d e d o c o n h e c i m e n t o

transcendental e o papel de Deus para esta

relação. Immanuel Kant é sem dúvida um

lósofo deísta, que atribui a representação de

Deus aos homens por meio exclusivamente da

razão, faculdade natural do ser humano. A

concepção teleológica da natureza e ́

fundamental para concebermos uma teologia

moral em Kant. Deus se representa então na

completude dos fatos da razão pura prover sua

possibilidade e da razão pura prática provar

sua existência no mundo sensível, logo, na

moralidade. A moral e a religião devem ser

compreendidas de forma unicada.

Palavras-chave: Razão pura, Teologia moral,

Deus, Transcendental.

Abstract

INTRODUÇÃO

O célebre lósofo alemão Immanuel

Kant tem sua losoa difundida por aspectos

formais, e suas Críticas têm uma grande

contribuição na história da losoa. Kant é

muito estudado no direito, nas relações

internacionais, e na sua ética deontológica. Na

medida que sua importante losoa prática é

estuda no mundo todo, é necessár io

demonstrar sua visão quanto a Deus. Pode-se

desmiticar, que o racionalismo kantiano não

exclui sua concepção deísta. A religião é a

moralidade como um m do ordenamento da

razão, que ao estabelecer seu dever, torna-se

o ordenamento de Deus, isto é, primeiramente

há uma construção do que deve ser, e após,

uma atribuição deísta. O presente trabalho

tem o objetivo demonstrar como a moral

kantiana é vista sob o viés de uma moral

teológica.

Deus é concebido como uma força de

propulsão moral que se justica através do

conceito e do princípio prático do dever. Deus

seria a lei que se determina na moral. Esta

encontra-se fundamentada em Deus,

especialmente através da vontade, por meio

da Teologia. No âmbito ontológico, Kant diz

que existe "algo" que subsiste por si mesmo sem

outra causa como fundamento. A relação

entre Deus e moral, é a possibilidade de

explicar por meio da razão a existência de

Deus.

2 PRIMAZIA DA RAZÃO

É possível explicitar a existência de Deus ao que

cerceia a razão pura. Kant é conhecido por sua

formalidade e o seu caráter extremamente

racional nas suas obras e teorias. O lósofo

alemão, buscou delimitar a razão e seus usos,

dividindo assim, a razão teórica e a razão

prática, ao que concerne a primeira reger as

condições do conhecimento, a segunda ao

que diz à vontade. A armação kantiana “todo

conhecimento inicia pelas experiências”, é a

atribuição do conhecimento aos fenômenos,

objetos observáveis, aqueles que propiciam as

impressões. É possível conhecer o que lhe

parece, então, no conhecimento empírico o

sujeito recebe a aparência dos objetos.

Claramente, o conhecimento de Deus não se

atribui ao conhecimento empírico.

O conhecimento empírico chama-se de

fenomênico, dentro deste há os juízos

sintéticos, os quais ampliam o predicado do

sujeito, com base nos dados sensíveis.

Para tal conhecimento é necessário as

condições de tempo e espaço, pois, estes sãos

a s c o n d i ç õ e s d e p o s s i b i l i d a d e d o

conhecimento fenomênico, um fenômeno só é

Teologia Moral em Kant

Page 12: Revista Cyber Franciscano julho 2015

observável dentro destas condições. Estas condições são a priori, chamam-se intuições puras. Logo, os fenômenos são passíveis de conhecimentos porque estão no espaço e tempo, as leis só podem ser enunciadas na ciência, por exemplo, quando são aplicadas nas mesmas condições espaço tempo. Por intuição, entende-se, como o ato do espírito que toma conhecimento diretamente de uma individualidade, efetivando o conhecimento de um objeto, neste se enquadra o espaço e tempo.Diferente do conhecimento observável, tem-se o conhecimento puro, como aquele independente dos dados sensíveis, sua fonte é absolutamente na razão mesma (razão pura). O grande passo kantiano é o produto de sua crítica da razão pura. Ao postular a possibilidade do conhecimento transcendental, soluciona o problema da possibilidade do conhecimento metafísico, pois, aquilo que não pode ser observável deve ser ao menos pensado. Anal, o que é o conhecimento metafísico? É preciso compreender o objeto do conhecimento metafísico, como a coisa-em-si, a priori, aquilo que não é possível experienciar, a exemplo, a liberdade e, principalmente, a representação de Deus.

Devido a faculdade inteligível, a razão pura

é capaz “de pensar o incondicionada para

todo o condicionado”. Assim tendo como

condição de possibilidade do conhecimento

puro, os conceitos puros(1), reformulados por

Kant, para atenuar o realismo aristotélico, são a

possiblidade, do sujeito enunciar juízos sobre o

objeto no espaço e tempo, por uma relação

causal. Produzindo a universal idade e

necessidade do conhecimento puro a priori.

� Sua losoa moral presente na obra

Fundamentação da Metafísica dos Costumes,

é talvez a obra que melhor demarca princípios

universais, por meio da razão pura. Na ligação

entre Deus e moral é possível observar no ponto

da obra A Religião nos Limites da Simples

Razão. Princípios como, liberdade, autonomia,

e n t r e o u t r o s p r i n c í p i o s p r e s e n t e s n a

moralidade, determinados pela razão pura.

Após esta demarcação racional há uma

condição de possibilidade de Deus.

3 RAZÃO PURA UMA CONCEPÇÃO DEÍSTA

A razão pura é a faculdade inteligível do ser, a

primazia desta faculdade revela ao homem a

apresentação de Deus, por meio da razão e

não como uma representação imposta. O

lósofo alemão pode ser considerado deísta e

na poção que uma religião natural é fundada

na razão pura. Na medida, que sua

moralidade é alicerçada à razão na sua

teologia é similar, assim, marca o caráter

moral de sua teologia. Segundo Allen Wood,

Kant é um monoteísta que acredita na

benevolência e providencia de Deus, porém

não aceita religiões impostas ou uma fé

baseada, por exemplo, em tradições da

bíblia, datas religiosas, ritos religiosos.

A premissa presente na obra kantiana A

Religião nos Limites da Simples Razão, “Mas

então vale igualmente o princípio: não é

essencial e, portanto, não é necessário a cada

qual saber o que é que Deus faz ou fez em

ordem à sua beatitude; mas sim saber o que ele

próprio deve fazer para e tornar digno desta

assistência” (KANT, 2008, p. 63). Esta denota,

que o lósofo referido acredita na existência de

Deus, porém quanto a religião deixa claro que

a autonomia deve ser móbil para ela. Utiliza-se

da liberdade, da razão autodeterminada para

impor sua crença. Não admite o comando

divino para com a sociedade, como um poder

superior a todos, que enuncie ordens divinas

aos crédulos. Kant sustenta uma sociedade

1 - Kant propõem uma revolução, que modica toda a concepção tradicional do conhecimento. As “coisas” nos enviam apenas impressões, logo, são elas que se ajustam aos nossos conceitos puros. Portanto a relação objetos para o sujeito não é mais dada, e sim, sujeito para o objeto. O sujeito que determina o conhecimento, por meio da razão, devido que há algo anterior aquela impressão imposta pelos objetos, o a priori só é possível no sujeito. Os conceitos puros, reformulados por Kant para reformulação das categorias, e elucidação do realismo aristotélico, eles são impostos ao objeto por meio do sujeito cognoscente, ajustando-se ao sujeito e não o oposto, como era tradicionalmente visto.

FILOSOFIATeologia Moral em Kant

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que age por meio a razão primeira, a qual é

seu dever, autodeterminando com base no

princípio de autonomia. Após determinar seu

dever o homem considera o como comando

divino, constituindo assim a teologia racional. É

uma relação necessária, mas, primeiramente,

o sujeito deve saber seu dever e após esta

demarcação aceita-lo como um comando de

Deus.

Religião é (subjetivamente considerada)

o reconhecimento de todos os deveres

como comandos divinos. A religião

consoante a qual eu devo, primeiro, saber

que algo é um comando divino para,

então, considera-lo um dever, é a religião

revelada (ou aquela à espera de uma

revelação); pelo contrário, a religião

consoante a qual eu devo primeiro saber

que algo é meu dever, antes que eu o

possa acatar como um comando divino,

e a religião natural. (KANT, 2008, p. 142-43)

Por um lado, a vontade autônoma, por outro

lado a existência de Deus como uma

entidade independente e propulsora, que por

meio da razão pura, está presente na losoa

prática kantiana.

3 CONHECIMENTO TRANSCENTAL

Surge então o seguinte questionamento, o

que é transcendental? A crítica da razão pura,

resulta na explicação da possibilidade do

conhecimento a priori. Todavia, somente são

conhecíveis os fenômenos e não as coisas-em-

si-mesmas. Assim como, a solução para a

possibilidade da metafísica o que não pode ser

conhecido deve ao menos ser pensado. O

exemplo pode ser o conhecimento de livro,

deve ser precedido pelo conceito puro que

possibilita esse conhecimento.Conforme Kant é

“transcendental todo conhecimento que em

geral se ocupa, não tanto com objetos, mas

com o modo de conhecer os objetos”, assim

resultante da crítica da razão pura, em que é

restringido o uso da razão, àquele que precede

as experiências, mas essa restrição mesmo que

negativa, ela torna possível outro nível do

c o n h e c i m e n t o , o c o n h e c i m e n t o

transcendental. Já que não se pode conhecer

os objetos como coisas-em-si, deve ao menos

poder pensá-los, diz Kant. De outro modo, para

toda a completude da série de causalidade,

deve ser pensado o incondicionado.

Em suma ca expresso, se por um lado existe

uma restrição para o conhecimento apenas de

fenômenos, então, há uma necessidade de

pensar as coisas enquanto númenos( Em síntese

distinção kantiana: nûmeno, conhecimento no plano

inteligível e fenômeno, conhecimento no plano sensível

do conhecimento). Ao restringir o uso da razão,

resulta em uma utilidade negativa e positiva. A

via negativa da crítica é, no entanto que todo

o conhecimento da razão especulativa,

delimita-se pelo objeto da experiência, a

l i m i t a ç ã o a o c o n h e c i m e n t o p a r a o

fenomênico é o lado negativo da restrição,

mas o que limita, também torna possível o

transcendental. No qual é a via positiva, devido

que tudo que ultrapassa a experiência está no

campo transcendental do conhecimento.

Assim a imposição do limite demonstra o uso

prático da razão, como a possibilidade de

o u t r o p r i s m a d o p e n s a m e n t o , o

transcendental.

5 DA RAZÃO PURA PRÁTICA À TEOLOGIA

MORAL

A razão prática, pois, a consciência moral, consegue conduzir o homem até verdades m e t a f í s i c a s d a s c o i s a s q u e e x i s t e m verdadeiramente, por um acesso inteligível do ser, saindo do âmbito apenas fenomênico. O uso prático da razão pura prática é explicitado na obra de

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Kant A Fundamentação da metafísica dos

costumes, em que demonstra exemplos de

atos morais, porém para Kant não há

possibilidade de fundamentar a moral por

constatação empírica. Surge então a seguinte

questão, qual a fonte para os princípios da

moralidade? Como resposta o lósofo alemão

delega a razão pura, essencialmente a priori,

posto que, as diretrizes da moralidade devem

se dar por meio desta, a qual necessita reger a

vontade do ser humano. O valor moral, é

então, aquele que independe das ações

empí r icas para sua fundamentação.

Conforme a seguinte citação:

Se, pois, não há nenhum autêntico princípio

supremo da moralidade que, independente

de toda a experiência, tão tenha de fundar-se

somente na razão pura, creio que não é

preciso sequer perguntar se é bom expor estes

conceitos de maneira geral (in abstracto), tais

como existem a priori juntamente com os

princípio que lhes parecem. (KANT, 2007, p.43)

A razão é autossuciente, tem no seu

caráter condições necessárias para si mesmo.

A primazia da razão que o leva a uma posição

essencialmente deísta. Deus se apresenta ao

homem por meio da razão, a mesma razão da

moralidade, é a razão deísta. Os princípios básicos da moralidade levam a sociedade a um reino de sujeitos morais baseados na vontade boa, evidentemente em um sumo bem kantiano. Um sujeito autônomo é um sujeito livre nos seus atos, essa implicação autonomia e liberdade é importante no momento em que o agir moral dispõe ao homem construir uma sociedade moral teológica. Aqui há uma analogia entre a moralidade e a teologia, em sua concomitância resulta a teologia moral. Somente é livre aquele que a razão determina e que não é coagido a agir segundo leis externas, não pode o homem aceitar, por exemplo, simbologias como a bíblia, terço, ou mesmo a catequese, o

homem deve delimitar seu dever naturalmente por meio de sua razão que dá acesso então a Deus. O agir autônomo é o agir segundo leis da liberdade, este é o fundamento da dignidade de estar sob a proteção divina, e a benevolência de Deus.

O mundo moral é concretizado no mundo

sensível, por meio da racionalidade que eleva

o condicionado para todo o incondicionado, a

razão prática possibilita a conduta moral, em

que o homem discerni para o bem por meio de

sua natural faculdade racional, e Deus se prova

no mundo fenomênico por meio da conduta

humana considerada boa para todos os seus

semelhantes, deve haver o caráter universal e

necessário para o bem. O sumo bem é provado

na religião que o homem consegue denir para

si, na sua autodeterminação, esta é a prova

fenomênica da existência divina a teologia

moral. O sumo bem kantiano é o objeto mais

elevado de que a sociedade é capaz de

desejar. É neste conceito que a moral kantiana

se expande para a religião. Não há então

como separar a religião natural da conduta

moral, para que se possa compreender a

relação da possiblidade de Deus da razão pura

e sua existência como reexo do agir moral.

Para Immanuel Kant Deus é um ente

metafísico em que a razão primeira dá acesso

num plano numênico. Assim, as condições de

p o s s i b i l i d a d e d o c o n h e c i m e n t o s ã o

completas. Deus existe na primazia da razão

como possibilidade e expressa-se na conduta

moral da sociedade, tornando assim uma

religião natural dos seres, sem que seja imposta

externamente. Posto que, o desenvolvimento

moral do ser humano é oriundo da liberdade

ocorrendo assim, um aperfeiçoamento das

faculdades humanas. Segundo Carlos Adriano

Ferraz “ O agir segundo a lei moral (leis da

liberdade) nos faz dignos de esperar pela

felicidade [...] nos leva a religião”. (FERRAZ,

2005 p. 124). Perfeitamente é pressuposto do ser

humano desejar a felicidade, mesmo que para

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o lósofo o móbil deve ser a razão, deve

exist i r respeito entre a humanidade, a

felicidade encontra-se no plano metafísico da

religião, entrado na moralidade demarcada

pela autonomia. É necessário a compreensão

que a série de implicações morais possibilitam o

Sumo Bem.

A existência de Deus é igualmente trazida

pela necessidade da estrutura moral do

homem. Porque nesta estrutura inteligível foi

permitido chegar ao mundo das coisas em si,

diferente do mundo fenomênico expresso nas

atitudes morais. Em suma as palavras de

Morente sintetizam este ser divino em Kant, “

Deus é, pois, aquele ente metafísico o qual a

mais plena realidade está unida a mais plena

idealidade” (MORENTE, 1964, p. 259).

CONCLUSÃO

� O e s t u d o b u s c o u p r o p i c i a r o

conhecimento do sistema kantiano para

demonstrar a ligação da primazia da razão

pura com a existência de Deus. Posto que, a

moralidade é a condição de religião natural do

ser, que por autodeterminar-se é capaz de ser

livre, autônomo e digno da crença de Deus,

assim alicerçasse sobre uma teologia moral.

� Assim, pois, as vias que tem sua origem na

consciência moral e na sociedade moral

kantiana que age por meio da faculdade da

razão pura, apresentando o caráter necessário

e universal para todos os seus membros. Um

conceito liga-se ao outro, intrinsicamente a

moral do sujeito está nas leis auto legisladas e

postas sob um viés divino presente na razão

pura, que por sua vez é a possibilidade

inteligível da existência de Deus, representada

no mundo fenomênico pela moral teológica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERRAZ, A. Do Juízo teológico como Propedêutica à Teologia moral em Kant. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.

KANT, I. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

——. A religião nos limites da simples razão. Lisboa: Ed. 70, 2008.

——. Fundamentação da metasica dos costumes. Porto: Porto Editora, 1995.

MORENTE, M. Fundamentos de Fi losoa: l ições preliminares. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1964.

WEBER, T. Ética e losoa política: Hegel e o formalismo kantiano. Porto Alegre:Edipucrs, 1999.

Fernanda Felix de Oliveira

Graduanda em Filosoa pela Pontif ícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. E-mail: [email protected]

FILOSOFIATeologia Moral em Kant

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VocaçãoFRANCISCANA

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JOVENS

Se perguntarmos para qualquer representante de entidades, comércio, empresas, poder público, estudantes, ou qualquer pessoa que encontrarmos na rua, se acham importante cuidar do meio ambiente, da ecologia? Não encontraremos ninguém que se colocará contrário, ou seja, todos aí se dirão defensores da natureza. Então por que vivemos uma crise ecológica sem precedentes? Por isso digo, é preciso mais do que palavras de ocasião, é preciso atitude, exemplo. � No primeiro parágrafo já dei o tom da mensagem que quero transmitir aos leitores desta revista, em especial a juventude que neste tema terão papel fundamental no presente e sobre tudo no futuro. � Há um ditado popular muito sábio, que diz que “ninguém cuida daquilo que não conhece”, e eu acrescento que é preciso além de conhecer, amar, para só então cuidar. Mas para amar não é preciso conhecer tudo, mas é fundamental conhecer o básico, por isso gostaria de iniciar com a pergunta. Você sabe o que signica Ecologia?� Ecologia é uma ciência que estuda os organismos vivos e a sua interação no meio ambiente. Decifrando melhor a palavra de origem grega, ecologia signica: eco = Oikos = casa, toca do animal, e logia = Logos = estudo, poderíamos pensar assim: Ecologia é o estudo da “casa”, seus habitantes e as relações entre si. Um cientista alemão chamado, Ernest Haeckel, usou pela primeira vez o termo ecologia em 1869 justamente para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem.� Então juventude, se Ecologia é o estudo da “casa”, de que “casa” mesmo estamos falando? A casa, grande casa Planeta Terra, que não está isolada mas inter-relaciona-se com outros planetas, com o sol e a lua, enm faz parte da “via láctea”e do cosmos. Apesar de dizer tudo isso detalhado, é preciso dizer que a terra, nossa mãe, nossa casa, é única, ou seja, é aqui que nós podemos viver, e isso nos remete a pensar se temos uma única casa para habitar, então para não carmos sem casa devemos tomar cuidados redobrados. Isso mesmo! Outra pergunta é fundamental para nosso melhor conhecimento sobre ecologia. Quem mora? Quem habita esta grande casa? Que pergunta hein? Parece óbvio, mas as vezes precisamos relembrar aquilo que parece que a gente sabe, mas as vezes parece que não.

Então quem habita o Oikos? As crianças da escola que há poucos dias visitei me responderam simples e diretamente, nós, os bichinhos e as plantas. E responderam bem certinho, é nós humanos que moramos nesta casa, as plantas, animais, e todos os seres vivos que conhecemos, que imaginamos existir, e aqueles que não fazemos nem ideia que existem, mas estão aí habitando conosco a grande casa chamada planeta terra ou poderíamos também dizer planeta água. Para os inquilinos desta casa, pois estão de passagem por aqui, temos outro nome bem legal e é bom sabermos, é Biodiversidade. Há cerca de 30 anos esta palavra passou a fazer parte do vocabulário no mundo. E fácil de entender, Bio-signica vida e Diversidade- diversos. Toda esta biodiversidade está interligada, em harmonia, como uma teia de aranha, pois uns dependem dos outros para viverem. Resumindo- Nesta casa de nome Planeta Terra mora uma família chamada Biodiversidade!!!� Gostaria muito de dizer a vocês que quando falamos de ecologia, estamos falando de toda a vida do planeta, inclusive a nossa própria vida.� Agora vem a pergunta talvez mais importante da minha reexão com vocês. Atualmente como vivem os moradores na grande casa? Como se relacionam? Imaginem vocês morando em uma casa com sua família, pais, irmãos, o vovô e a vovó, por exemplo, não seria possível habitar se não houvesse respeito, cuidado, diálogo, alimentação para todos, etc.� Infelizmente a vida não está nada bem, a casa está com muitos problemas e tem um inquilino chamado homem que está criando muitos problemas e confusões para todos, inclusive para si próprio. Pois é, aquela harmonia original da Ecologia está ameaçada e hoje existem muitos problemas entre os quais vejamos alguns dos principais: muita poluição das águas, seja por esgoto, lixo, agrotóxicos, etc. Destruição das orestas e com isso extinção de inúmeras espécies nativas, entre elas as abelhas que além de produtoras de mel são polinizadoras, para termos ideia, 30%da produção agrícola depende dos insetos polinizadores para produzir. Outro dado alarmante é o fato de que o Brasil é campeão mundial de consumo de agrotóxicos desde 2008, se dividirmos o volume de agrotóxicos jogados no solo do Brasil pelo número de

Ecologia – É preciso mais do que palavras de ocasião. É preciso atitude para preservá-la!

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habitantes chega-se a 7,3kg por habitante, é muito veneno, com isso é mais venenos no ar, na água, no solo, nos animais e no nosso sangue também. São diversos problemas que afetam todos os moradores desta linda casa, não podemos esquecer de citar o problema do consumismo, da emissão de gases de efeito estufa que são os principais causadores das mudanças climáticas e de um outro que não posso deixar de falar, entre nós humanos há muita desigualdade social, ou seja, uns tem demais e outros não tem se quer o básico. Só para termos ideia, 1%dos brasileiros concentra a renda que somada equivale a renda da metade da população do Brasil, isso é também um problema que afeta a ecologia.O Papa Francisco lançou recentemente uma Encíclica em que condena o “uso irresponsável dos bens que Deus colocou na terra”e destruição da natureza que enriquece alguns em det r imento da misér ia de out ros . Precisamos ler e reetir o que o Papa fala nesta Encíclica.

Nós humanos assim como causamos muitos danos aos irmãos da mesma casa, mas também podemos e devemos ser a solução destes problemas, temos dois caminhos a seguir, o da ganância e destruição da nossa própria casa e de nós mesmos ou o da vida para todos e uma vida saudável. O que nós juventude podemos fazer para melhorar o convívio entre os moradores da casa planeta?

Algumas atitudes que podemos tomar começando por nós mesmos;

- Lutar ativamente por uma sociedade mais justa e igual para todos e todas.

- Ser consumidor consciente, que não é movido pelo modismo, mas pela ideia de utilizar racionalmente os recursos naturais sem desperdiça-los.

- Apostar na agro- , que é a ecologiaprodução ecológica, incent ivando a produção e o consumo de al imentos orgânicos.

- Apoiar as feiras de produtos ecológicos.- Fazer resgate e multiplicação de

sementes crioulas que são a base da produção de alimentos do planeta.

- Construir cisternas para coletar água de chuva e proteger fontes.

- Organizar uma horta ecológica para produção de hortaliças diversicadas, e isso é possível tanto no meio rural quanto no meio urbano.� Querida juventude eu quando jovem

participei de um grupo de jovens de Pastoral da Juventude e foi no grupo que eu aprendi muitas das coisas que faço atualmente com o projeto da Escola de Jovens Rurais que é um grupo de jovens que estuda tudo isso que escrevi no texto e procuram colocar em prática. Queria sugerir à vocês jovens que estão lendo meu texto, que organizem um grupo, seja de vizinhos, de colegas da escola, colegas da universidade, um grupo de amigos e amigas que se encontram para viver, para pensar na vida, etc. Vale apena.� Juventude, as palavras de ocasião não servem, é preciso atitude! Já ouvi dizer que, as palavras convencem e o exemplo arrasta. Que tal darmos nosso exemplo!!! Boa leitura.

� Por Maurício Queiroz

� Técnico em Agropecuária, trabalhando com

Agricultura Ecológica junto a Escola de Jovens Rurais na

Diocese de Santa Cruz do Sul e membro da CPT-RS.

JOVENSEcologia – É preciso mais do que palavras de ocasião. É preciso atitude para preservá-la!

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Laudato Si

Recebemos na quinta-feira dia 18 de junho, um

grande presente de nosso querido Papa Francisco:

a sua primeira encíclica Laudato Si – sobre o

cuidado da casa comum. Mais uma vez o Papa

demonstra sua devoção e conhecimento dos

ensinamentos de São Francisco de Assis. Também

surpreende a todos e renova o seu compromisso

de fazer da Igreja uma Igreja de saída, de diálogo

c o m a s o c i e d a d e s o b r e o s p r o b l e m a s

contemporâneos. Ele retoma a célebre frase do

Patriarca Ecumênico Bartolomeu: “ Um crime

contra a natureza é um crime contra nós mesmos e

um pecado contra Deus”.

Segundo o jornalista e jesuíta Thomas Reese, a

encíclica está recebendo grande atenção dos

jornalistas e repercussão mundial: Primeiro porque o

tema é candente na sociedade de hoje, cada vez

mais esta se criando a consciência da necessidade

de cuidar melhor do meio ambiente – “ Existe o

consenso cientíco de que as mudanças climáticas

estão acontecendo e que é a atividade humana

que está causando isso”. Segundo porque ela foi

escrita pelo Papa Francisco – “ Este Papa é

admirado, respeitado e, até mesmo, amado em

todo o mundo por católicos e não católicos”. Sua

forma de se comunicar não é acadêmico, e sim

numa linguagem coloquial, que qualquer pessoa

possa entender a mensagem por Ele dirigida. A encíclica se destaca por falar sobre a necessidade de estabelecer um diálogo entre política e economia, e entre religião e as ciências, com uma condição sine qua non para responder à crise ecológica, de forma efetiva. “A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma ecientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana” (189). O documento demonstra a todos que esses assuntos são centrais na fé cristã e que devem ser enfrentados como questão de justiça, paz e integridade da criação. Chamando tanto a Igreja quanto ao mundo a responder ao “ urgente desao de proteger a nossa casa comum” (13).

Para nós franciscanos a encíclica é inspiradora e

desaadora, pois o Papa resgata São Francisco de

Assis a partir do Cântico das Criaturas. A onde

apresenta uma teologia da criação, onde “ cada

criatura tem uma função e nenhuma é supéruo”

(84). Também quando deixa claro que cuidar do

meio ambiente é se preocupar com a pobreza, é

pensar no ser humano. E ter consciência que a Terra

é nossa casa comum.

O Papa Francisco ao mesmo tempo em que é

rme no apresentar a realidade de destruição e

descaso com a nossa casa comum. A encíclica é

também um convite ao diálogo. Um chamamento

a responsabilidade da comunidade internacional

que não pode car indiferente a destruição do

planeta.

Francisco está chamando o mundo para uma

conversão que terá impacto sobre o modo como

vivemos, sobre a forma como funciona a nossa

economia e na maneira em que os governos

operam. Exigir-se-á um sacrifício de todos,

especialmente dos ricos e poderoso, que estão

usufruindo dos frutos do status quo. “ Mas nem tudo

está perdido, porque os seres humanos, capazes de

tocar o fundo da degradação, podem superar-se,

voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além

de qualquer condicionalismo psicológico e social

que lhe seja imposto. São capazes de se olhar a si

mesmo com honestidade, externar o próprio pesar

e encetar caminhos novos rumos à verdadeira

liberdade” (205). Como Francisco de Assis o Papa

nos provoca a “ recomeçar de novo”.

A encíclica ao mesmo tempo que quer dialogar

com a comunidade internacional, com os

governantes. Ela também quer comprometer a

cada pessoa em particular a fazer a sua parte. Não

quemos nós indiferente a este grande desao que

o Papa Francisco nos provoca.

Frei Orestes A. Serra, ofm

Recebemos um grande presente de nosso Papa Francisco

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