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REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO VALE DO IGUAÇU EDIÇÃO ESPECIAL CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE PORTO UNIÃO (SC) 2017

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REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO

VALE DO IGUAÇU

EDIÇÃO ESPECIAL CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE PORTO UNIÃO (SC)

2017

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REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO

VALE DO IGUAÇU

EDIÇÃO ESPECIAL CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE PORTO UNIÃO (SC)

Figura 1 – Vista de Porto União início do século XX Fonte - Acervo do Colégio Santos Anjos (Porto União – SC)

2017

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REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO

VALE DO IGUAÇU

EDIÇÃO ESPECIAL CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE PORTO UNIÃO (SC)

Nº10 2017

ISSN 2176-5235

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2000 - 2004 Joaquim Osório Ribas

2004 - 2006Raulino Bortolini

2006 - 2010 Therezinha Leony Wolff

Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI)

PRESIDENTES

1ª TesoureiraMarilucia Flenik

2ª TesoureiraMaria Rosa Gaiovicz

Mestres de CerimôniaIvo Dolinski

Aluizio WitiukBibliotecária

Roseli Bilobran Klein

2011 - 2013Raulino Bortolini

2013 - 2014Leni Trentim Gaspari

PresidenteLeni Trentim Gaspari

Vice-PresidenteMárcia Marlene Stentzler

1ª SecretáriaSoeli Regina Lima

2º SecretárioDago Wohel

REVISTAOrganização

Roseli Bilobran KleinComissão Editorial

Leni Trentim GaspariMárcia Marlene Stentzler

Roseli B. KleinSoeli Regina Lima

RevisãoFahena Porto Horbatiuk

DiagramaçãoLuciane Mormello Gohl

ImpressãoGráfi ca e Editora Kaygangue Ltda.

Tiragem500 exemplares

Praça Visconde de Nácar, s/n – Centro – União da Vitória (PR) – CEP 84600-000 Email: [email protected] – (42) 3523-4771 – Site: alvi.org.br

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. As informações contidas nos textos são de responsabilidade dos autores.

R454 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI). - N. 1 (2000/2008) -União da Vitória, PR: Academia de Letras do Vale do Iguaçu, 2008 -

AnualISSN 2176-5235 a partir do n.2, 2009.

1. Literatura - Periódicos. I. Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI)

CDU 82 (05)

Ficha catalográfi ca elaborada por Fernando Leipnitz CRB-10/1958

DIRETORIA

2015 - 2016Margareth Rose Ribas

2017 - 2018Leni Trentim Gaspari

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DEDICATÓRIA

Dedicamos esta obra a todos aqueles que fi zeram parte da história do município de Porto União

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EDITORIAL

A Revista da Alvi, em Edição Especial, confi gura-se como uma ho-menagem ao Centenário de Porto União, recuperando histórias e memó-rias sobre os homens e mulheres que construíram, por meio de suas ações, tudo o que a cidade representa hoje. O lançamento de um Livro ou de uma Revista representa para nós Acadêmicos a realização de mais uma etapa vencida, pois, entre os objetivos desta Instituição está, em primeiro lugar, o compromisso com a arte de escrever. Por meio das publicações temos procurado cumprir nossa missão em defesa da Língua Pátria, nosso maior Patrimônio Cultural, e estimular a produção cientifi ca e literária.

Nesta publicação, os trabalhos dos Acadêmicos diversifi cam-se de acordo com as notabilidades de cada um: os poetas encantam com suas lindas poesias, os cronistas mexem com a nossa imaginação, os pedago-gos propõem refl exões sobre os caminhos percorridos pelas educadoras. Enquanto os jornalistas atualizam os leitores, com a divulgação de acon-tecimentos sociais, culturais e políticos, historiadores e memorialistas vol-tam no tempo, quando narram feitos do passado, (re) signifi cando o vivido, recompondo traços de experiências. Enfi m, de uma forma ou outra, todos fazem uma leitura da vida, desvelando a história da linda e amada Porto União.

Citando Fenelon (1992, p. 10) “o propósito da História não é o de desencavar o passado, para apenas descobrir as raízes de nossa identida-de, mas o compromisso de construir a transformação do presente”. Assim, construir este trabalho foi a forma que encontramos de recuperar (ainda que parcialmente, por meio de pesquisas e da escrita de artigos) e preservar acontecimentos do passado, os quais, no entanto, se movem e se transfor-mam, assumindo novos signifi cados.

Agradecemos a todos os Acadêmicos que atenderam ao nosso chamado para pesquisar e escrever e especialmente ao acadêmico Roberto Domit de Oliveira, para que esse trabalho se concretizasse. Esperamos que os leitores compartilhem a experiência prazerosa que tivemos ao organizar esta Edição, convidando-os a conhecer mais de perto alguns fatos da histó-ria da cidade de Porto União.

Leni Trentim GaspariPresidente da Alvi

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APRESENTAÇÃO

Fazer aniversário é comemorar anos de vida. Quando os anos são acrescidos à vida, supõe-se amadurecimento, crescimento, aquisição de ex-periências e a alegria de ter vivido. Quando um município comemora o seu aniversário, o mesmo acontece: percebe-se o amadurecimento das pessoas que o compõem, porque lhes foram oferecidas condições de escolaridade, moradia, acesso à saúde, bem-estar social, trabalho... Devido a esses bene-fícios, o crescimento torna-se inevitável, não somente sob o aspecto econô-mico, mas também individual e social.

Muitas foram as experiências vividas no Município de Porto União: os primeiros bandeirantes desbravadores, os tropeiros que fi zeram dessa cidade sua rota, os imigrantes que encontraram um local para acolhê-los... Quantas marcas esses povos deixaram e quantas adversidades foram cora-josamente superadas.

A alegria de ter vivido e experimentado tantas sensações auxilia-ram Porto União a chegar ao seu centenário - um município que pertencia ao Estado do Paraná e depois passou a fazer parte do Estado de Santa Cata-rina: um novo recomeçar. Um confl ito armado: uma situação a ser supera-da. Muitas comunidades rurais: distâncias que deveriam ser vencidas. Um ciclo econômico madeireiro em declíneo: uma oportunidade para reinven-tar-se. A grande enchente: necessidade de fortalecer-se e seguir em frente - todos esses enfrentamentos não trouxeram motivos para o abatimento.

Essa terra centenária dotou-se de uma cultura extraordinária: gru-pos folclóricos, bandas e fanfarras, artistas, músicos, escolas, universidade, academia de letras, poetas, escritores, e outros, sustentam a herança cultu-ral.

A Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi) foi criada no ano 2000, e como o próprio nome revela, tem como área de abrangência toda a região do Vale do Iguaçu. Portanto, representa a produção intelectual de União da Vitória (PR), de Porto União (SC) e região.

Esta edição especial da Revista da Alvi, comemorativa ao Centená-rio do Município de Porto União, traz uma coletânea de artigos, resultado de pesquisas dos membros que a integram. Fahena Porto Horbatiuk e Paulo Horbatiuk registram sua pesquisa sobre a imigração alemã nos primórdios do município, por meio de entrevistas aos descendentes que ainda residem nesta localidade. Fernando Tokarski propõe, em seu artigo, assuntos re-lacionados à vida social, econômica e política de Porto União da Vitória,

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mediante pesquisas em fontes ofi ciais do governo paranaense, mais espe-cifi camente, da Secretaria de Negócios de Obras Públicas e Colonização do Paraná. Joaquim Osório Ribas destaca o tropeirismo na região e a per-manência de tradições advindas da cultura do tropeiro nas cidades irmãs: União da Vitória (PR) e Porto União (SC). Leni Trentim Gaspari resgata a história da Praça Hercílio Luz, apresentando-a como palco e local de vida, portanto espaço de história, memória e identidade. Márcia Marlene Stent-zler descreve as Escolas Complementares e a formação de professores pri-mários em Porto União (SC) e União da Vitória (PR), entre os anos de 1928 e 1938. Maria Gaiovicz recupera histórias sobre a Festa do Pinhão, em Jan-gadinha, Porto União, destacando as manifestações populares, costumes e tradições culturais. Roseli B. Klein expõe parte da pesquisa sobre o Colégio Santos Anjos, das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo, em Por-to União, fundado no mesmo ano de criação do município. Essa pesquisa revela as ações educativas e missionárias de um colégio interno feminino, e os impactos dessa atuação na sociedade local. Soeli Regina Lima e Eloy Tonon realizam uma incursão histórica no processo que gerou o Acordo de Limites do Contestado (1916), gerando, nesse contexto, o surgimento do município de Porto União (SC). O estudo refl ete alguns aspectos de pro-dução da identidade territorial. Por fi m, a Revista da Alvi apresenta, ainda, crônicas e poemas que ressaltam situações e fatos sobre a cidade.

Chegar ao centenário, registrar a história e guardar a memória, esse é o grande patrimônio cultural do município. Parabéns, Porto União!

Roseli B. Klein(Organizadora da Revista da Alvi – Edição Comemorativa)

Membro da Alvi - Cadeira nº 38

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REVISTA DA ALVI Nº10 2017

SUMÁRIOArtigos ...................................................................................................................................................... 15COLONIZAÇÃO ALEMÃ EM PORTO UNIÃO DA VITÓRIA E REGIÃOFahena Porto Horbatiuk, Paulo Horbatiuk .................................................................................................... 17ABRIDORES DE ESTRADAS, SOLDADOS E ESCOLAS PROMÍSCUAS: O UNIVERSO DOS PRIMEIROS TEMPOS DO PORTO DA UNIÃO DA VITÓRIAFernando Tokarski ............................................................................................................................................ 79O TROPEIRISMO: CONTRIBUIÇÕES PARA PORTO UNIÃO (SC)Joaquim Osório Ribas ......................................................................................................................................117A PRAÇA HERCÍLIO LUZ COMO ESPAÇO PÚBLICO: LUGAR DE VER E SER VISTOLeni Trentim Gaspari .......................................................................................................................................127ESCOLAS COMPLEMENTARES E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRIMÁRIOS EM PORTO UNIÃO (SC) E UNIÃO DA VITÓRIA (PR) - (1928-1938)Márcia Marlene Stentzler ................................................................................................................................155MEMÓRIAS DA FESTA DO PINHÃO: COMUNIDADE DE JANGADINHA, PORTO UNIÃO (SC)Maria Rosa Gaiovicz........................................................................................................................................175UMA ESCOLA CENTENÁRIA NO PLANALTO NORTE CATARINENSE: O COLÉGIO SANTOS ANJOS DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS MISSIONÁRIAS SERVAS DO ESPÍRITO SANTORoseli B. Klein ...................................................................................................................................................187PORTO UNIÃO (SC): PARA ALÉM DO ACORDO DE LIMITES (1916), UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE TERRITORIALSoeli Regina Lima, Eloy Tonon .......................................................................................................................211

Crônicas ...................................................................................................................................................239HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DA BEIRA DO IGUAÇU DA SÉRIE PEQUENAS CRÔNICASOdilon Muncinelli ............................................................................................................................................241PORTO UNIÃO CIDADE AMIGA JAMAIS SERÁ ESQUECIDAPedro Alberto Skiba..........................................................................................................................................249MINHA RUA, MINHA CASA, MINHA CIDADETh erezinha Leony Wolff ...................................................................................................................................255HOMENAGENS DOS PREFEITOS AO CENTENÁRIO DE PORTO UNIÃOAluízio Witiuk ..................................................................................................................................................261

Poemas .....................................................................................................................................................271100 ANOS DE PORTO UNIÃOArlete Th erezinha Bordin ................................................................................................................................273ACRÓSTICOHelena Klotz .....................................................................................................................................................277SAUDAÇÕES A PORTO UNIÃOYeda Cordeiro Ramires ....................................................................................................................................279

Acadêmicos ...........................................................................................................................................281

Prefeitos de Porto União ...............................................................................................................288

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ArtigosArtigosArtigos

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Figura 2 – Vinda dos imigrantes alemães para a localidade de São Pedro do Timbó, Município de Porto União, Estado de Santa Catarina, 1917.Fonte – Acervo da Igreja São Pedro do Timbó (Porto União – SC).

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19Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

COLONIZAÇÃO ALEMÃ EM PORTO UNIÃO DA VITÓRIA E REGIÃO

Fahena Porto Horbatiuk1

Paulo Horbatiuk2

RESUMO: O sul do Brasil no fi nal do século XIX e início do século XX foi povoado por imigrantes europeus de várias etnias. Essa população aqui se estabe-leceu em busca de condições favoráveis para criar uma família, ascender econo-micamente e, muitas vezes, permanecer distante dos confl itos que se estabeleciam em seus países de origem devido às duas grandes Guerras mundiais pelas quais a humanidade passou. Foram exímios desbravadores, guerreiros, e perseverantes diante às difi culdades. E, em Porto União não foi diferente, por essas terras apor-taram imigrantes de muitas etnias. Esse artigo é uma homenagem a todos que aju-daram a desenvolver essa cidade, especialmente os alemães, não desmerecendo os demais que bravamente contribuíram. Justifi ca-se essa pesquisa tendo em vista que um município que comemora cem anos tem muito a agradecer a esses alemães que criaram escolas, desenvolveram o comércio e a indústria, fundaram instituições di-versas e professaram a sua Fé. A investigação tem por objetivo apresentar os traços da cultura alemã contribuindo com o desenvolvimento econômico, social e cultu-ral de Porto União nesses cem anos de história do município. A pesquisa apresen-ta-se descritiva, bibliográfi ca e exploratória e contém uma pesquisa de campo, por meio de entrevistas e análises documentais.

PALAVRAS-CHAVE: Imigração alemã. Centenário de Porto União. Organização da sociedade local.

INTRODUÇÃO

Para homenagear o centenário do município de Porto União (1917 – 2017), registra-se a presença da colonização alemã nessa localidade, entre outras, que também se estabeleceram. Os alemães e seus descendentes se instalaram, fazendo parte do cadinho cultural que envolve todos os habi-tantes, que amigavelmente interagem, respeitando, valorizando, e, mesmo,

1 Membro fundador da Alvi (Academia de Letras do Vale do Iguaçu), ocupante da cadeira nº 8. Mestre em Linguística. Professora universitária. Membro da Aca-demia de Cultura Precursora da Expressão – ACUPRE. Escritora e Pesquisadora.2 Membro fundador da Alvi (Academia de Letras do Vale do Iguaçu), ocupante da cadeira nº 6. Mestre em História. Professor universitário. Escritor e Pesquisador.

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20 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

adotando as tradições de cada grupo étnico, como os ucranianos, polone-ses, italianos, entre outros.

O artigo concentra-se nas realizações dos imigrantes alemães, con-tribuindo para o desenvolvimento do município e, especialmente, resgata as histórias de vida das famílias alemãs que nessa região se estabeleceram, deixando transparecer as lutas, os empreendimentos e as iniciativas perante tantas adversidades encontradas.

A saga das famílias de alemães e seus descendentes engrandeceu Por-to União da Vitória e região. Ressaltar as particularidades de cada uma dessas famílias apresenta-se como uma amostra das condições da vinda e da vida aplicada nesse meio. Naturalmente, muitos outros grandes nomes se fazem lembrar, o que a pesquisa, por limitações diversas, não conseguiu alcançar.

PRESENÇA DA ETNIA ALEMÃ NA ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE PORTO UNIÃO DA VITÓRIA

Movida a dor e a esperança, segue a embarcação...

À medida que a comunidade de Porto União da Vitória foi-se es-truturando, com igrejas, escolas, clubes, casas comerciais, farmácias, indús-trias, entre outras formas de serviços, como o de fotos, fl oricultura, livra-rias, moinhos, escolas de música, sem se falar da agricultura, que esteve presente no começo da vida de quase toda a população das diferentes et-nias, incluindo a alemã, os imigrantes alemães deram seu tom, com suas bandas e corais, grupos de dança, professores de instrumentos musicais e de pintura... É desse emaranhado de vida e trabalho que se destacam al-gumas famílias, histórias resgatadas por meio de entrevistas e pesquisas realizadas com seus descendentes.

Por ordem de instalação de instituições pela comunidade seguem--se: a Escola Alemã (1887); o Clube União (1887); a Igreja Luterana de Porto União (1913); o Colégio Santos Anjos (1917); o Colégio São José (1932, como Escola Paroquial); Clube 25 de Julho (1952).

O Clube União, sociedade recreativa e literária, a primeira em União da Vitória3.

3 Situava-se na rua Prudente de Moraes, fundada pelos sócios: Francisco Frederico Neumann, natural da Áustria e João Clausen, nascido na Alemanha (Holstein). Es-ses, em 1933, promoviam encantadoras festas aos seus numerosos sócios (SILVA, 2006, p. 53).

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21Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

O primeiro pastor luterano vindo da Alemanha, em 1897, para a região chamava-se Otto Kuhr, e vinha com frequência de Joinville, desde 1900. Em 11 de maio de 1913, foi fundada a Comunidade Evangélica Lu-therana de Porto União. Em 30 de setembro de 1922, chegou o Pastor Hein-rich Weiss, nascido na Bavária, tendo vindo de navio, de São Paulo para São Francisco do Sul. Em seguida foi para Joinville4, após, estabeleceu-se em Porto União da Vitória.

O Pastor passou a residir na Casa Paroquial, que, de início, possuía, anexo, um Oratório. Nesse local, mais tarde, com a construção da atual Igreja, passou a ser a Secretaria e o Salão de Eventos5. Pastor Weiss fundou e dirigiu o Coral da Igreja, por muito tempo, com as três fi lhas cantando e o fi lho ao piano. Sua esposa Cristina, enquanto solteira, fora professora de Jardim de Infância, em Joinville. Era professora de piano e participava dos cultos com a música, em Porto União6.

Em 1928, a Comunidade Lutherana já possuía um coro da Igreja, adquiriu um terreno e tinha planta para uma Igreja, podendo, em 1929, ter recinto próprio para as celebrações. Até a segunda Guerra, podia celebrar em alemão seus cultos, depois disso teve que aprender a língua portuguesa, a duras penas, com dicionário, palavra por palavra e troca de informações com as crianças. E para visitar comunidades como Porto Vitória, precisava, cada vez, de autorização do delegado de Polícia.

Ihlenfeld (2011) aponta que a Escola Alemã resultou de trabalho voluntário de imigrantes alemães, de confi ssão luterana, em Porto União, que fundaram a escola, em madeira, em 1887. O prédio de alvenaria fi cou pronto em 1930, com apoio fi nanceiro do Cônsul Alemão de Joinville, em terreno doado em 1901, pela prefeitura municipal.

No início funcionava em casa de madeira, em terreno de proprie-dade da comunidade luterana de Porto União da Vitória. Em 1901, a As-sociação Escolar recebeu um terreno da Câmara Municipal, situado na

4 Onde se casou com a joinvilense Cristina Bühler (1925).5 São seus fi lhos: Anneliese Magdalena, Doroteia Maria Katharina, Yohanna Julia-na Elizabeth e Heinrich Leonhard Friedrich (este fi lho foi apelidado, pelos amigos, de “Branco”).6 Conta esse Pastor que um professor da Escola Alemã abandonara o cargo, sem aviso, em novembro de 1925, que foi provisoriamente assumido por ele. Weiss lu-tou fi rmemente para incrementá-la. Como Representante do Consulado Alemão, certifi cava os pedidos de alemães residentes na região, para que recebessem o valor como aposentadoria a que faziam jus.

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22 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

Rua Sete de Setembro, esquina com a Rua Frei Rogério, para a construção do novo prédio. A Sociedade Escolar Alemã, fundada em 1887, tinha, em 1930, a diretoria composta por: Emilio Rieke, Alfredo Scultetus, Bertholdo Hey e Werner Malicha. A escola oferecia o Jardim de Infância às crianças.

Em 1935, Porto União recebeu professores que decidiram estabe-lecer-se na própria Escola Teuto-Brasileira. A iniciativa foi de Friedhold Altmann e Ricarda Saetler. Ele, nascido no Rio Grande de Sul, em 1911, neto de Alemães de leedentecklenhirg, Vestfália, das famílias Osterkamp e Altmann. Ela, Ricarda, nascida em Dresden, Alemanhã, em 1915, cujos pais haviam emigrado para Blumenau, em 1924. Casam-se em 1938. A es-cola Teuto-Brasileira mantinha também internato. Vinham alunos de Cruz Machado, Nova Santa Cruz, Maratá e de outros locais.

Com a nacionalização a escola passou a chamar-se Colégio Iguaçu. Os professores alemães deveriam afastar-se da escola e a Língua Alemã sair do currículo. Ficou proibido falar em alemão e manter livros nessa língua, na Biblioteca. Processos infundados e o ambiente hostil fi zeram com que o casal voltasse para o Rio Grande do Sul. Escolheram transferir-se para Marcelino Ramos, em 2 de maio de 1939. (ALTMANN, 1991).

Após o encerramento das atividades da escola alemã, o espaço ser-viu de abrigo ao Corpo de Bombeiros. Atualmente, nela funciona a Secre-taria Municipal de Educação de Porto União.

O Colégio Santos Anjos, outra escola tradicional de Porto União, foi fundado em Porto União, em 1917, e conduzido pelas Irmãs Servas do Espírito Santo, religiosas vindas da Alemanha, que se integraram muito bem à comunidade, difundindo religiosidade, conhecimentos e valores. Conforme Klein (2016, p. 291) “as alunas envolviam-se em outras ativida-des extraclasses, de interesse da escola e da comunidade: canto orfeônico, bailados, campanhas benefi centes, enfeites de procissões religiosas, ensaios de cantos litúrgicos, barracas de doces na praça, manifestações cívicas e patrióticas”. Esse Colégio funcionou como internato feminino.

Os meninos tiveram uma escola para eles, a partir de 1932, a Esco-la Paroquial São José. Esse colégio recebeu prédio próprio, em área doada pela Mitra de Lages, cujo bispo era Dom Daniel Hostin. Sua construção foi liderada por Frei Clemente Tombosi. Em 1940, o Colégio introduziu o Ginásio (FAGUNDES; RIBAS, 1976). A Congregação dos Irmãos Pobres de São Francisco Seráfi co mantinha a instituição, e seus primeiros professores e gestores eram, na maioria, Irmãos Alemães, salientando que, por bom tempo, tanto o colégio Santos Anjos quanto o colégio São José adotaram o

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23Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

regime de internato e externato. Um destaque no Colégio São José, foi frei Wilhelm Heinrich7.

Com a fi nalidade de preservar a cultura alemã na cidade de Porto União, foi criado o Instituto Cultural Grünenwald8. Segundo Weber (2016):

O terreno adquirido para construir as instalações do Instituto Cultural Grünenwald fi ca às margens do terreno que perten-ceu anteriormente à Rede Ferroviária PR/SC, hoje, ao DNIT. Nossa inspiração maior foi a Escola Alemã que existia em Por-to União e fora fechada de forma arbitrária (WEBER, 2016).

A planta arquitetônica do espaço cultural que preservará as tradi-ções alemãs está assim constituída (WEBER, 2016):

A sede está sendo construída em estilo enxaimel, e possuirá: Auditório para 120 pessoas, salas de ensaio e camarins; Res-taurante para 200 pessoas; Marcenaria/ofi cina; Cozinha-es-cola, com o intuito de ensinar a culinária típica das diversas etnias europeias; Museu e museu do relógio; Salas para aulas de música, dança, canto, artesanato e idiomas. O Biergarten compreende: Depósito na parte térrea, para futuras insta-lações de fábrica de cerveja, bebida muito ligada à tradição

7 Nascido a 1º de maio de 1931, na aldeia de Kueckhoven, município de Erecklenz, Renânia, na Alemanha. Em 1956 veio a Porto União, ajudar no Juvenato. Em 1958 foi a São Paulo e fez seus votos perpétuos. Foi à Alemanha, em 1962, diploman-do-se em Missão Canônica e sendo autorizado a dedicar-se aos marginalizados da sociedade moderna. Em 1965 recebeu convite para retornar ao Brasil, e veio com alegria, para Porto União, dedicar-se ao Colégio São José. Além de Professor, Diretor Geral do Colégio, Frei João, como era chamado, conduziu o Colégio e seus estudantes ao sucesso. Em 1984 recebeu o título de Cidadão Honorário de Porto União/SC. Fez questão de dedicar toda sua vida pelas Gêmeas do Iguaçu (União da Vitória-PR e Porto União-SC), aprimorando nos estudantes os valores do civismo, da fé, da retidão de caráter... (MELO JÚNIOR, 1993). 8 O instituto foi criado com o objetivo de reunir as tradições germânicas em um local turístico aprazível e especializado. O grupo interessado em resgatar a cultura alemã permaneceu na informalidade de 2001 a 14 de maio de 2009, quando foi ofi cialmente fundado o Instituto Cultural Grünenwald, cujos integrantes partici-pam voluntariamente em festas regionais, como a do “Xixo” e do “Steinhäeger”, e com mensalidades. Com isso já adquiriram um terreno amplo, em local adequado, onde está sendo construída a sede própria. Nela hão de funcionar a escola de dan-ça, de música, língua alemã, cantos e gastronomia. Haverá também um museu para recuperação da história das etnias locais.

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germânica; Chopperia, atendendo, pelo menos, a 120 pes-soas, no segundo pavimento; Salão livre para ensaios de canto e aulas de dança, no terceiro pavimento. O Biergarten também demonstra a infl uência da cultura alemã, pelo estilo arquitetônico enxaimel, adotado (WEBER, 2016).

Todo esse aparato visa não só manter e difundir a cultura, como

dar sustentabilidade ao Instituto9. A construção desse espaço físico (fi gura 1) solidifi ca a intenção em manter essas tradições germânicas.

Figura 1 – Futuras instalações físicas do Instituto Cultural Grünenwald (2017).Fonte – Acervo de Paulo Horbatiuk.

Em União da Vitória (PR), um magnífi co trabalho cultural que re-trata a cultura alemã e outras culturas, vem sendo desenvolvido, trata-se do Parque Histórico Iguassu10. Esse espaço apresenta-se como um local

9 Élio e Irene Weber, sua esposa, são lideranças de origem alemã, atualmente resi-dindo em Porto União. A Diretoria do Instituto Cultural Grünenwald, atualmente está assim constituída: Presidente – Olívio Vier; Vice-Presidente – Eutêmio Orth; 1a Secretária – Ismela Gehlen Weber; 1a Tesoureira – Doris Osga; Vice-Tesoureiro – Mário Sheid; Diretor do Conselho Fiscal – Erni Rolwagen e Iraci Wulf Ribeiro; Diretor de Recursos Humanos – Élio Weber; Diretor Musical – Sidney Werlang.10 De propriedade de Dago Alfredo Woehl, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, também descendente de alemães. Woehl está criando, um pro-grama em constante melhoria no Parque Histórico Iguassu, na Colônia Porto Al-meida, União da Vitória (PR). O Parque apresenta as seguintes atividades: Trilha guiada do Cenário Histórico, em que se vivencia a ocupação do município e aspec-tos da colonização; Turismo Pedagógico, com um cenário histórico de construções

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25Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

interativo que possibilita um resgate de culturas, e entre elas, a cultura ale-mã. Woehl (2017) assim se manifesta:

Como madeireiro, vi na localidade Pátio Velho, local plano e alto, na comunidade de Santana (Cruz Machado), uma gran-de Cruz, que me fez estremecer ante a percepção arrebata-dora e mística do sofrimento dos primeiros colonizadores, independentemente de etnia, que me despertou a vontade de resgatar essa longa jornada de luta pela vida na região. Fazen-do amizade com Hélio Sydol, representante do Ibama, que conhecendo minha esposa Joana, companheira de sonhos e de realizações, ambos de origem polonesa, não tive dúvidas, em um terreno que havia adquirido em Porto Almeida, ob-tive da prefeitura apoio com terraplenagem e infraestrutura para o futuro atrativo. Em 2001, realizei completo planeja-mento, comprei algumas casas típicas para recolocar no es-paço que seria cenário de aprendizagem e vivência. Também ganhei algumas residências, construí casas para hospedagem de visitantes e consegui dois vagões de Trem - um pagador, outro de passageiros, que, uma vez consertados, tornaram-se adequados para hospedagem. Pedi ao artista Itacir Bortoloso que talhasse em tronco de imbuia antigo, um busto do Mon-ge João Maria, para o Caminho do Contestado, que inclui duas casas de caboclos, encenações e cantos. No local é pos-sível visualizar ainda o Ciclo da Madeira e o avião do Capitão Kirk, destruído na Guerra do Contestado. O local foi ideali-zado para estudantes, professores e turistas (WOEHL, 2017).

Embora esse espaço de preservação cultural (fi gura 2) esteja si-tuado em União da Vitória (PR), trata-se de uma homenagem a ambos os municípios, tendo em vista que, anterior a 1917, as duas cidades formavam uma11 e nesse período muitos imigrantes alemães nessa região se instala-ram.

recolocadas e equipamentos. Essa proposta visa explanar a história da ocupação e do desenvolvimento, desde o ano de 1500. O espaço possui uma trilha interativa, chamada “Caminho do Tempo”; Almoço típico – busca resgatar parte da gastro-nomia e costumes dos povos que formaram e formam a região; Passeio de barco; Hospedagem em casas típicas, aos interessados em cultura polonesa, ucraniana e alemã; Camping; Pesca. 11 Anteriormente a 1917 as cidades de Porto União (SC) e União da Vitória (PR) pertenciam ambas ao Estado do Paraná, após o Confl ito do Contestado foram se-paradas de acordo com o contrato de limites estabelecidos por esses dois Estados.

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26 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

Figura 2 – Parque Histórico Iguassu (União da Vitória – PR), 2017. Casa Polonesa no Parque Histórico Iguassu. Tem 107 anos. É uma construção de madeira, típica da imigração na região. Antes localizada em Santa Maria, Porto União, a casa “viveu” o tempo da ocupação e “acompanhou” da beira da antiga

estrada de Palmas a passagem dos tropeiros, conduzindo gado, porcos e muares. A casa antes de recuperada e depois, já no Parque Iguassu.

Fonte - Dago Alfredo Woehl. Quanto aos clubes recreativos12, havia entre outros, na cidade de

Porto União o Clube União, fundado por alemães e o Clube 25 de Julho, o qual contava com a participação de alemães13. Foram presidentes do Clu-be 25 de Julho: Egon Bieberbach (1952-1958); Rodolfo Willumsen (1958 – 1962); Rodolfo Woeltje (1962 – 1963); João Nunes Veran (1964 – 1971); Adolfo Siebeneicher (1971 – 1979); Luís Barth (1979 – 1983); Fritz Poll-mann (1984 – 2002); e Luiz Alberto Pasqualim (2003 – 2017). (CLUBE 25 DE JULHO).

Segundo as Atas do Clube 25 de Julho, chamadas Crônicas, na épo-ca, verifi ca-se que:

[...] No fi nal de junho de 1952, reuniu-se um grupo de ale-mães, na casa de Hans Ruhnow, dirigente de um coro mis-to e de uma orquestra, para preparar os festejos do Dia do Colono, 25 de Julho. Houve outros encontros e fi zeram o

12 Segundo Erna Ibsch (Entrevista cedida a Paulo e Fahena Horbatiuk, dia 10/02/2017), havia os seguintes clubes: o Vitória; União; Sete de Setembro, em frente ao Clube União; Boiteux, na Rua XV de Novembro.13 O local onde está o Clube 25 de Julho foi criado em 1952. O nome é homenagem ao Dia do Colono. No início faziam bailes no sótão. Aos poucos, fi zeram pistas e começaram as melhorias.

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27Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

programa da festa: Dois coros mistos; Pequena Orquestra de Salão; Armando Lara – Orador; Pastor Weiss – historiador; Ruhnow – declamador; Grêmio esportivo – moças “na para-lela”. (CLUBE 25 DE JULHO).

A apresentação realizou-se na Sociedade Benefi cente Aliança Ope-rária14. O salão estava lotado, na comemoração, e os presentes foram con-vidados a fundar o “Centro Cultural 25 de Julho”. Assinaram 85 pessoas, quase todas de origem alemã.

Em março de 1991, o Clube 25 de Julho criou o Grupo Folclórico Germânico. Com apresentações na Octoberfest, na Fenachopp, no Baile da Liga Joinvilense, na Festa das Flores, e em outros eventos da região. O ob-jetivo do Grupo, além do cultivo do folclore na sua raiz, é também a alegria de suas polkas e valsas.

Não se pode esquecer que as raízes alemãs, muito antes das escolas e clubes, esteve presente por meio da presença dos frades alemães, que, em Porto União, iniciaram o processo de evangelização. Em Porto União, em 1890, no Alto da Glória, foi construída uma capela de madeira. Em 1909, passou a ter o primeiro Vigário efetivo, Padre José Lechner, mais tarde con-tou com a presença do Frei Rogério Neuhaus, frade franciscano alemão, um grande missionário que evangelizou muitas comunidades no interior do município15.

Os alemães tiveram destaque nas artes e, principalmente na área da música, grupos musicais, orquestras, bandas, conjuntos diversos. Ribas (2006) registra a presença destes:

14 Em 1984, o Clube realizou os seguintes eventos: Baile de Páscoa; Baile Junino, Baile de Aniversário do Clube 25 de Julho; Baile do Chopp; Baile de Natal; Baile de Ano Novo. Aos domingos, havia bailes (ex-tardes-dançantes). Aconteciam campe-onatos de bocha, em várias canchas de clubes locais. O Clube 25 de Julho possui o espetacular Grupo de Dança Germânico – 25 de Julho. Além desses eventos são cedidos os salões para festas de casamentos e de aniversários. 15 Frei Rogério era alemão, de Borken. Ordenado sacerdote franciscano veio logo como missionário para o Brasil, chegando em 2/12/1891. Em 1892 foi para Des-terro/SC e indicado à Paróquia de Lages, em que falecera o único sacerdote. Em 1913, 9 de maio, desembarca de trem, em Porto União, para onde fora transferido e passou a administrar, por seis anos, a Paróquia Nossa Senhora das Vitórias, da qual fora o segundo Vigário. Foi o primeiro religioso da Ordem dos Frades Francisca-nos Menores, na cidade de Porto União, e prestou relevantes serviços na questão de limites com o Paraná (STENTZLER, 2011, p.135 - 139).

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28 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

[...] destacam-se pessoas de origem alemã, como: Bieber-bach, Kürten, Schmidt, Sigwalt, Madeville, Lisinger, Matte, Röhner, Püper, Schmauch, Amann, Hossfeld, Altmann, Behr, Von Kersting Maisonete, Klein, Schmitt, Scholze, Geyer, Riesemberg, Kirschner, Ulrich, Schwartz, Will, Weiss, Vier, Scheidt, Schaefer, Orth, Margareth Rose Ribas (mãe de ori-gem alemã), Moecke, Clausen Filho, Senff , Neubauer, Neu-mann, Rieck, Lampe, Bahr, Schumann, entre muitos outros músicos de diferentes origens étnicas. [...] Entre as escolas de música e professores particulares: a primeira professora de piano de Porto União fora Margarida Wackers, que tivera formação musical na Alemanha. Frau Wackers ensinava can-to, piano e violino. Maria Tereza Bieberbach estudara com Frau Wackers (RIBAS, 2006).

Muitas famílias tiveram piano em casa, e os colégios Santos Anjos e São José, por meio das aulas de música, estimularam seus alunos e depois professores particulares de música, a lecionarem em casa e fundarem os institutos musicais. Carlos Geyer ensinava violino; Alfredo Sigwalt, tam-bém. Em 1954, Ernesto Breyer e sua esposa Érica Brigite Bryer lecionavam, no Instituto de Harmônica por eles criado em Porto União. Em 1967, a pro-fessora Elly Hilgert Schaefer instalou a escola União Acadêmica de Acor-deonistas. Em 1970, o Instituto de Música Kürten Ihlenfeld, dirigido por Terezinha Kürten Ihlenfeld, ensinava piano. A 4/12/1954, consta a criação do Instituto de Música Brasílio Itiberê, por Odete Pockrandt Martins e Na-tália Todeschini. Nesse Instituto, muitos aprenderam a tocar instrumentos musicais, destacando-se ex-alunas que fundaram escolas. Ernesto e Brigitte Breyer, em seu Instituto de Harmônica lecionavam teoria musical e acor-deon. No início da década de 1960, toda a família Breyer formava um con-junto musical, a “Sanfona Mirim”, que fazia apresentações. Ernesto Ulrich Breyer estudara música na Alemanha, em Conservatório Especializado em Harmônica (RIBAS, 2006, p. 88 - 89).

Maria Tereza Bieberbach16, em 1979, criou a Escola de Música Ma-ria Tereza que esteve em funcionamento até 2004. O Colégio Musical Vi-bratto17, e Talento Conservatório de Música18, e o Instituto de Música Tia 16 Filha de Maria Kröetz e Th eodoro Kröetz casou-se com Ernesto Bieberbach, que tocava violino, violoncelo, cítara e outros instrumentos.17 De Clotide Kürten dos Passos (fi lha de Walfrido Della Barba Kürten).18 De Margareth Rose Ribas, descendente de alemães, por parte de mãe, em União da Vitória (PR).

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29Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

Dirce19. Como se vê, a música tornou-se uma constante na vida do povo das Gêmeas do Iguaçu, e a etnia alemã muito contribuiu para tal, naturalmente, integrada aos artistas das demais etnias.

COMÉRCIO E INDÚSTRIA ENTRE OS PRIMEIROS COLONIZADO-RES ALEMÃES

Na caderneta ou não, sempre um olhar de irmão, pois quem saiu de sua terra e sofreu a guerra, não vê com os olhos, apenas com o coração...

Além das instituições culturais, religiosas e recreativas, os alemães e seus descendentes dedicaram-se também ao comércio e à indústria, haja vista a presença germânica em revendedoras de carro, como Ford (Famí-lia Th eodoro Kröetz); Chevrolet (Família Alfredo Metzler); Wolkswagen (Família Unterstell e Wengerkiewicz). Criaram lojas de materiais de cons-trução, ferramentas, tintas, máquinas, armas, motores, luminárias, objetos de alumínio, como: Casa ferro – Família Kröetz; Casa Bronze – Família Hoff mann; Casa Esmalte – Família Höerig e Família Berthold Hey; Casa Bandeirante – utensílios domésticos, ferro, areia, pedra britada, telha... – Horst Waldraff ; Herbert Materiais para Construção Ltda – Herbert Wohel; Floricultura Midori – Friedrich Bormann e Maud Wunderlich; Fotografi a – Egon e Alice Ihlenfeld; Farmácia – Willy Carlos Frederico Jung; Hotel – Família Neumann e Hotel Iguaçu de Amândio Kraemer; Bar, Restaurante e Sorveteria, de Amândio Kraemer, Confeitaria Sete de Setembro, de Kurt Kranke; Relojoaria e Ourivesaria Casa Omega, de Afonso Luiz Friedrich, Ótica Real, de Willy Neumann, Ótica Iguaçu, de Hans Seifert; Materiais Elétricos – Élio Weber; Pneus e motocicletas – Família de Alfredo Scholze; Móveis e utensílios domésticos – Casa Willy Reiche.

Existiram ainda Casas de Comércio de Secos e Molhados, como di-ziam na época, por exemplo, as de Germano Kürten; de Gustav Gaebler; de José Schreiner, Friedrich Hermann Alfred Scholze, Casa Becker, de Adolfo Becker; entre muitas outras. Comércio Atacadista – de Eduardo Schwar-zer; Salsicheria – Emílio Ibsch; Açougue Iguaçu – Família de Aloísio Ell; Padaria – Família de Lauro Negendak , Família de Hanz Hirzinger, Família Buggenhagen; Livraria – Família Bindemann , Família Siebeneicher, e Fa-mília Behr; Instrumentos Musicais – Família Bieberbach; Família Breyer.19 De Graciela Boz Colita de Castro, em Porto União (SC).

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Na indústria destacaram-se: Serrarias (nas cidades e vilas do pas-sado): Família Lenz, Rockenbach, Strait, Kürten, Moecke, Werle, Winter, Stamm, Ruthenberg. Esquadrias de madeira – Irmãos Schwegler; Esqua-drias de ferro – Família Unger; Tecelagem – Família Steingräber, Família Niederheitmann; Moinho – Familia de Carlos Guth; Família Werle; muitos colonos tinham seus moinhos na região. Produção e Comércio de Bebidas – Família Gaebler e Família de Wenzel Rulf; Leiteiros, produção e comer-cialização – Família Blattmann e Família Hobi; Pasta Mecânica – Winter, Eduardo Schwarzer; Curtume – Irmãos Bach; Produtos de mel – Família Breyer; Carpintaria – Gustav August Gaebler; Alfaiataria – Alfredo Stahls-chmidt; Renato Ruschel; Construção – Faerber, Moecke, Schwarzer; Trans-porte em carroças – Germano Bayer , Buggenhagen (Irineópolis); Jacó Lerner, Raimundo Lerner (Maratá); Transporte de ônibus – Felipe Weber (São Miguel). Segundo Matulle (2016, p. 6), Porto União teve um Prefeito Municipal fi lho de imigrantes alemães – o blumenauense Hellmuth Müller. Constata a pesquisadora que, além de casas comerciais diversas, havia as prestadoras de serviços, como a representante Rádio Telefunken, de Eugê-nio Winter; uma concessionária de serviços de iluminação elétrica pública e particular das cidades, a Alexandre Schlemm S.A.20.

Como em toda comunidade, havia e há, em Porto União da Vitória, os profi ssionais liberais e prestadores dos mais diferentes serviços, entre os quais: Massagista – Scheid, Anneliese Schwarzer; Agente de correio – Maria Groth; Contador e bancário- Leopoldo Ruschel e Th eodoro Kröetz; Médico – Alvir Riesemberg; Professores – Mário e Alvir Riesemberg, Werno Kröetz, Abílio e Maria Heiss; Adão Seger (São Miguel); Germano Wagenführ; Ernesto Ulrich Breyer; Elly Schaeff er; Margid Schwarzer; Ri-carda Saetler; Altmann, Anna Maria Bühner, Th aísa Riesemberg, Renate Ihlenfeld; Solange Schwartz, Oswaldo Schwartz; Religiosos – Frei Rogério Neuhaus, Freis do Colégio São José e Irmãs do Colégio Santos Anjos; Pas-tores Otto Kuhr, Heinrich Weiss.

Horst Waldraff é o proprietário da Comercial Bandeirante Ltda, desde 1958. É uma das empresas mais antigas em funcionamento em União da Vitória. Seu pai, Albert Waldraff , participara da Primeira Guerra Mundial, tendo sofrido um tiro no pulmão. Depois dessa Guerra, emigrou

20 Na diretoria estavam: Rodolfo Alexandre Schlemm como Diretor Presiden-te, Alfredo Lange como Diretor Gerente, e Harry Schmalz, Max Metzler, Paulo Zumkerhr, Antônio Bauer, Antônio Spieker como conselheiros fi scais. Havia ain-da, um corpo de funcionários alemães e descendentes (MATULLE, 2016, p. 6).

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para o Brasil, instalando-se em Blumenau, mas, devido ao clima, mudou-se para Porto União da Vitória, onde o clima era mais frio. Chega às Gêmeas do Iguaçu na década de 1930, com sua esposa Marie Luíza, e aqui tiveram os fi lhos Horst Adelberto e Ralf Siefried, bem como seus netos e bisnetos. Horst é casado com Úrsula Waldraff .

A Família Waldraff tem origem na cidade de Rulfi nger, situada no atual Estado de Baden-Wüttemberg, no sudoeste da Alemanha. Entre os nomes de antepassados encontrados, o mais antigo é Th omas Waldraff , nascido por volta de 1750. E o nome da família é provavelmente da região de Colônia, remontando aproximadamente ao ano 1000 d.C.

A Comercial Bandeirante iniciou na Rua Dr. Carlos Cavalcanti, 446, em frente ao Cine Luz, com o ramo de representações em geral, con-signações, seguros e comércio em geral. Sua sede atual fi ca na mesma rua, número 231, dedicando-se ao comércio de materiais para construção, ele-trodomésticos, eletroeletrônicos, além de atuar no mercado imobiliário. É uma empresa bem conceituada, tanto pela qualidade dos produtos, quanto pelo excelente atendimento. Seu Diretor principal é o Sr. Horst Waldraff , e seus Diretores Gerentes, César Linus Waldraff e Eliézer da Costa Teixeira.

Em frente à Casa Comercial Bandeirante há uma obra de arte, da lavra do grande escultor local, Itacir Bortoloso, representando um Bandei-rante, forma de unir o belo ao utilitário de cada dia.

Uma indústria surgiu mais tarde, em Porto União e angariou reno-me internacional: trata-se da Destilaria Doble W, fundada em 1960, pelo alemão Wenzel Rulf e seu fi lho Gunther Wolfran Rulf. Começou a produzir Steinhaeger, dois anos depois, e Vodka, em 1977. Graças a esse produto, o município destaca-se com o título de “Capital Nacional do Steinhaeger”21.

O comércio de livros destacou-se por meio da Livraria Iguaçu22, teve uma importância apreciável entre os anos de 1954 a 1993, foi uma

21 O ex-prefeito de Porto União, Anízio de Souza, trabalhou nessa empresa du-rante 39 anos, e, para homenagear o fundador da Destilaria Doble W, Wenzel Rulf, in memoriam, solicitou ao artista Roque Correa que criasse em frente à empresa do outro lado da rua, um monumento em homenagem ao empresário, seu único e admirado patrão. Essa estátua foi inaugurada dia 29 de setembro de 2015, quando Anísio de Souza ainda estava no cargo de Prefeito Municipal, e com o prestigia-mento do fi lho de Wenzel, Gunther Rulf, e a nora, Vera Wagenführ. Existe na ci-dade um evento conhecido como Festa Nacional do Steinhaeger e do Xixo, muito prestigiado pelos cidadãos locais, visitantes e turistas.22 Onde atualmente funciona o comércio “O Rei do Real”, esquina da Rua Pruden-te de Moraes com a Matos Costa, em Porto União (SC).

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central cultural, cheia de atrativos e de magia. A Livraria Iguaçu, de Heinz e Lieselotte Bindemann, ajudava a sociedade a cultivar seus conhecimentos e criatividade23. Na livraria vendiam-se materiais escolares, livros didáti-cos, revistas e jornais, tintas para pintura de telas... É impossível falar dessa livraria, sem lembrar a presença marcante, nesse local, de Adolfo Siebe-neicher24, proprietário também de uma papelaria e livraria, a Casa Adolfo; eram amigos e parceiros da família Bindemann25. 23 Esse casal se conheceu na Alemanha, em 1948. Ela era natural de Stettin, per-tencente à Polônia, após a Segunda Guerra Mundial; e Heinz era de Waltershausen. Casaram-se em Schnepfenthal, Distrito de Waltershausen. Lieselotte era fi lha de Werner e Gertrud Ziller; e Heinz Curt Bindemann era fi lho de Otto e Lídia Binde-mann. Vieram morar no Brasil, primeiramente em Porto Vitória,PR, e logo depois em Porto União, SC (1949). Tiveram 13 fi lhos: Dieter, Ingo e Heinz (falecidos); Hubert, Cláudio, Elke, Cornélia (Residentes em Joinville); Fábio (Reside em Itara-ré, SP); Cláudia, Olaf, Frank e Ronald (Residem em Porto União, SC ou em União da Vitória). No início a livraria funcionou em frente à Casa Ferro, onde hoje está a lanchonete Fafá, em Porto União. Começou com a sociedade Ziller (Werner) e Bindemann (Heinz), e, depois, apenas Bindemann. Heinz Bindemann foi professor de Língua Alemã no Colégio Estadual Coronel Cid Gonzaga.24 Casado com Herta Behr.25 Adolfo, no início de sua vida profi ssional, trabalhava com Bruno Behr, tio de sua esposa. Bruno era casado com Elly Behr e instalou a primeira Livraria e Tipografi a Iguaçu, antes de 1939, segundo sua fi lha, Waltraud Behr Lenartowicz. Bruno Behr fora representante do Consulado alemão na região, atividade continuada depois por Adolfo Siebeneicher. Hoje, Karim Siebeneicher, neta de Adolfo, faz traduções e correspondências com a Alemanha. Foi representante do consulado, ofi cialmente, até 2001. Essa livraria e tipografi a fi cava onde está instalada hoje a Loja Emmy, na esquina da Prudente de Moraes com a Sete de Setembro. Depois Bruno Behr cons-truiu um prédio, para onde transferiu sua tipografi a e livraria, além da representa-ção das escovas Condor, da Klimek, de São Bento do Sul (Rua Prudente de Moraes, esquina com a Rua Júlia Amazonas). Ronald, fi lho de Heinz e Lieselotte, trabalhou com o pai, desde menino, entregando jornais aos assinantes. Depois passou a fazer o atendimento dos clientes, e por fi m, assumiu como proprietário. Encerrou o negó-cio em 1993, período de crise econômica na região, quando conceituadas empresas fecharam também suas portas. Cristiane Aparecida Cutchma, aos 15 anos de idade, começou a trabalhar na Livraria Iguaçu, onde conheceu Ronald, vindo a se casarem. Trabalhou ali por 10 anos (1979 – 1989). Conta que a família era muito amiga da família de Érica e Ernesto Breyer. Relata que Lillo (apelido de Lieselotte) tinha trau-ma da guerra. “Bastava ver uma borboleta voando, para afl igir-se, rememorando os aviões que bombardeavam a Alemanha, e o povo tinha que proteger-se nos porões construídos no subsolo, por baixo das casas e edifícios”, conta. Heinz Bindemann faleceu a 11 de outubro de 1996, aos 75 anos de idade; e Lieselotte, aos 69 anos, no

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33Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

FAMÍLIAS ALEMÃS EM PORTO UNIÃO, NAS COLÔNIAS DE SÃO MIGUEL, MARATÁ, NOVA GALÍCIA, SÃO DOMINGOS E SANTA CRUZ DO TIMBÓ

Trabalha seu engenho e arte, até quando dorme, para que seu invento mova a roda da sorte...

Localizado a 25 quilômetros do Município de Porto União, São Mi-guel faz divisa com Nova Galícia, Maratá e São Domingos. Max Metzler foi o primeiro colonizador, em 1919, trazendo imigrantes alemães do Rio Grande do Sul. O primeiro professor em São Miguel foi Adão Seger26, e a primeira es-cola foi construída por Franz Faerber, Fritz Pohlmann e Eduardo Schwegler.

Th eobaldo Werle e sua família construíram uma serraria com roda d´água e um moinho para fabricar óleo de amendoim. Th eobaldo teve também a primeira casa de comércio e açougue, até 1940. Felipe Weber teve a primeira linha de ônibus Porto União-São Miguel. A Companhia de ônibus, ainda feitos de madeira, chamava-se Empresa Montanha.

A primeira banda musical foi organizada e ensinada pelo professor Siebt e regida pelo maestro Mathias Mibach. Os demais componentes da banda eram todos das famílias Weber e Vier. O Museu do Moinho que há em São Miguel, era o moinho de Adolpho Werle, atendido pelo fi lho de José Dalmas, Leogevildo Dalmas (WEBER, 2005).

A 13 de novembro de 1920 foi fundada uma igreja, também usa-da como escola27. Em 1939 foi benta a pedra fundamental de uma Igreja

dia 28 de maio de 2000. Eles dois passaram, mas o lastro cultural por eles propor-cionado, não. (Entrevista com Ronald Bindemann, Anna Maria Bühner, Madalena Siebeneicher, Waltraud Lenartowicz, Herta Schmidt, Karim Siebeneicher, Cristiane Aparecida Cutchma Bindemann, Waltraud Bieberbach (Pope), Annemarie Kers-chner (Mimi), Érika Briggite Breyer , jun. de 2012). Esse pessoal cultivava música, teatro, fotos, dança, canto, leitura, mantendo a tradição alemã. Praticamente toda a sociedade local frequentava a livraria, que abria seus horizontes para o mundo. 26 Casado com a irmã de Th eobaldo Werle. Oito irmãos da família Weber vieram ao Brasil: uns fi caram em Recife, outros em Santos e outros em Porto Alegre. O pai de Leopoldo Werle, bisavô de Lídia Werle Weber, e Jacó Weber, bisavô de Ivo Weber também foram para o Rio Grande do Sul. Mais tarde, para São Miguel. Lídia nasceu em Nova Galícia e Ivo nasceu e cresceu em São Miguel. Casaram-se em 1954 e foram morar no interior de Francisco Beltrão. Ivo trabalhou por 20 anos como funcionário da empresa de transporte “Reunidas”. 27 Segundo os entrevistados e também conforme documento redigido por Margid

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construída somente com pedras naturais. Iniciou-se de fato, em 1948, com a chegada do Padre Engelbert, que convocou o povo para decidir como ela seria, pois uns queriam-na de pedra; outros, de tijolos; outros, de madei-ra. Decidiram que fosse de pedras naturais28. Com o apoio dos colonos no transporte das pedras e festas para arrecadar fundos para o pagamento dos pedreiros, a obra foi concluída e inaugurada em 1949. Essa Igreja é motivo de orgulho para quem a frequenta, e considerada atrativo turístico, por ser toda de pedra e pela história de luta de seus construtores. Os Párocos da Matriz Nossa Senhora das Vitórias, de Porto União (SC), segundo docu-mento de setembro de 2001, assinado por Frei Alfredo, durante a constru-ção da Igreja de São Miguel, foram: Frei Deodato Benharth; Frei Engelbert Wanners; e Frei Otaviano Wiessmann.

Th eobaldo Raymundo Lerner29 foi um pioneiro em Maratá30. A co-lônia de Maratá, no Rio Grande do Sul, foi fundada pelas primeiras levas de emigrantes alemães, entre 1824 e 1830, que se instalaram em São Leo-poldo, às margens do Arroio Maratá. Em 1921, alguns descendentes desses alemães se mudaram para Santa Catarina. “Jacó Lerner Sobrinho veio do Rio Grande do Sul, trazendo 53 colonos. Cinquenta de origem ale-mã e três brasileiros – mas todos nascidos aqui no Brasil. Jacó comprou 240 alqueires de terras neste sertão e colocou sua família para o progres-so” (LERNER, 1996, p. 26). Th eobaldo Raymundo Lerner foi um dos fundadores de Maratá, mas quando escreveu sua história, vivia havia 37 anos em São Miguel31.

Schwarzer, neta de Eduardo Schwarzer e Herta Werle (set. 2001), o primeiro padre a rezar Missa lá foi Frei Rogério, em 29 de setembro de 1919, Dia de São Miguel, Padroeiro da Colônia. A Missa foi celebrada em um barracão que servia de aloja-mento aos colonos, até que fi zessem suas casas.28 A comissão de construção constou de: presidente – Eduardo Schwarzer; vice--presidente – José Weber; e secretário – Padre Engelbert Wanners. Contrataram o pedreiro João Bodnar como técnico; Ivo Weber como construtor; e Edgar Weber como ajudante. 29 Raymundinho, casado, em 1938, com Cecília Ana Orth, fi lha de José e Ana Orth.30 Denominação de origem indígena, que signifi ca “onde a terra e água se entre-chocam”.31 Escreveu sua história de vida em alemão, em 1978. Em 1980, foi traduzida para o português, e revisada e digitada para publicação, em 1996. Conta Raymundinho que a saída de São Pedro do Maratá, Montenegro (RS), deu-se em 1921, chegan-do a Nova Galícia, Porto União, um distrito próspero, com movimentada estação

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35Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

Nas proximidades do Maratá, entre São Martinho e Bom Princípio chegou a família Olbertz. Segundo Olbertz (2001) a vinda dos membros assim procedeu:

Guilherme Olbertz (Wilhelm Olbertz), nascido em Leichlin-ger, a uns 300 km de Berlim, na zona industrial do município de Solinger, a 8/12/1915, vem para o Brasil com seus pais em 1926. Na época seu pai Carlos (39 anos) e sua mãe Elizabeth (39 anos) tinham Guilherme, com nove anos de idade; Hein-rich, com três anos; e Mariana, com dois anos. Embarcaram em Hamburgo (AL) às 16h30min rumo ao Brasil, visto já haverem adquirido propriedade, por mapa, ainda na AL, de Pedro Rüten, alemão que viera em 1921 para o Brasil, e vol-tara em 1924. Até o Rio de Janeiro (13/9/1926) vieram por conta própria, depois por um programa de imigração. Fi-caram de quarentena três semanas, na Ilha das Flores; de-pois seguiram, em um navio costeiro, “Monte Capello”, até Paranaguá; e de Paranaguá a Porto União, vieram de trem, em seis dias. Veio junto seu padrinho, irmão de sua mãe, só-cio de seu pai no comércio de leite, na AL, Wilhelm Frensh (Expedicionário na Primeira Guerra Mundial, na África). Trouxeram enxada, arado, foice, três serras de dois cabos. Essa bagagem chegou três semanas depois. Em Maratá, o mato estava fechado; havia muito cedro. O lote começava em Bom Princípio e ia até São Martinho. Pinheiro e imbuia só

ferroviária. De Nova Galícia a São Miguel foram à propriedade de Hans Match, em Tamanduá, pouco antes de São Miguel. O pai, Jacó Lerner Sobrinho, estivera em São Miguel, pela primeira vez, em 1919. Apenas na segunda viagem chegara ao local que passou a se chamar Nova Maratá, em homenagem às terras de ori-gem da maioria dos moradores. O pai trouxera sua carroça do Rio Grande do Sul, puxada por junta de bois e uma parelha de cavalos, a primeira do tipo, na região. Na época, o prefeito de Porto União era Helmuth Müller, blumenauense, fi lho de alemães. Raymundo relata fatos diversos, envolvendo pessoas, no entanto, por sín-tese, vamos citar apenas alguns moradores de Maratá, segundo esse autor: Miguel Vogel (comerciante), Jacó Schneider, Rosin (agrimensor), Pedro Schuch, Pedro Einsweiler, Reinoldo Schmidt, Albino Müller, Matias Delfuss (professor), Ingel-mann, José Koerber, Francisca Foerber, Antônio Rehmer, Hilária Freysleben, José Rohmer, Maria Knapik Rohmer; João, José , Augusto, Francolin Orth; Ambrósio Rücker; Henrique Dobler, Adolfo Jungermann e Beni Jungermann, Jacó e Francis-co Lerner, Carlos Eckel que fez bodas de ouro em 12 de setembro de 1971 (Libreto publicado pela UNIPORTO – Gráfi ca e Editora Ltda, Porto União (SC), em 1996, com apoio da comunidade porto-unionense).

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havia nos fundos do terreno. No Brasil nasceram mais três fi lhos: Carlos Estêvão, Clara e Johanes, dos quais Clara já era falecida na ocasião da entrevista e os outros dois residiam em São Martinho (Distrito de Maratá). O pai de Guilherme Ol-bertz, na AL, era ferroviário. Seu padrinho, Wilhelm Frensh vivera 12 anos na África, onde, devido à Primeira Guer-ra Mundial, perdera 200 búfalos. Foi levado para Bremem, como prisioneiro, pelos ingleses, e já havia estado dois anos preso, perto do rio Nilo, impossível de ser atravessado por ter muitos crocodilos. Quis voltar para a África, depois, mas lhe foi negada a permissão; a Austrália o aceitaria, se tivesse muito dinheiro para pagar o que era exigido. Como o Brasil liberou sua vinda, ele convidou Carlos, pai de Guilherme, ca-sado com Elisabeth Frensh. Frensh era escultor, a família tem uma caixa de ébano, tendo esculpidos na tampa, em alto re-levo, elefantes entre coqueirais, de sua autoria. Em Maratá já havia algumas famílias, colônia que ainda era pequena; havia uns ranchos para receber os imigrantes, feitos de tábuas de pinheiro, rachadas. No local existiam porcos-do-mato. Uma vez estavam em uma barraca que trouxeram da Alemanha e os porcos os tocaram; tiveram que subir em árvores, para se safarem. Lembra Guilherme quanto sua irmã chorou, pois estava grávida e não podia subir em árvores. Rüten pegou uma gaita e começou a cantar um hino católico... Rüten, passados uns 15 anos, volta para a AL. Além dos porcos-do--mato, havia na região antas, macacos, coatis, entre outros animais selvagens. Em 1932, os porcos devastavam as roças. Juntaram-se quatro famílias: o pai de Carlos, Estêvão Fuss-bach, Rüten, e Rockemback e fi zeram uma mangueira, onde trancaram 32 porcos-do-mato. Mataram e não tinham sal su-fi ciente para temperar toda a carne. Daí em diante deu para colher milho. Esses porcos vinham de Bituruna, em manada, havendo, até agora, segundo Guilherme, os trilhos: Curva do Leão, rio Liso, rio dos Pardos. No início, a pobreza era gran-de, as pessoas comiam, quase sempre, quirera de milho. Por isso Rockembach, um vizinho, ajudava a família, duas vezes por semana, dando carne de porco, pois além de colono era açougueiro. Matava porcos para produzir banha, apenas. A situação econômica da família melhorou em 1929, quando a Argentina começou a comprar erva-mate. O governo não ajudava com sementes ou alimentos. Como trouxeram algum dinheiro, iam comprando o essencial. Lembra que um lindo

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relógio de mesa, banhado a ouro, fora trocado por 15 quilos de milho, para fazer polenta. Igual destino teve um fuzil de matar elefantes (4 balas), que foi vendido a um capitão, em 1932. O meio de transporte, no começo, era o carro-de-bois, de Raimundo Lerner; mais tarde, cavalo e carroça. Quando os fi lhos de Guilherme estavam na idade de ir para estudar de 5.ª série em diante, a família se transferiu para Porto União. São seus fi lhos: Bernardo, Agnes, Marlene, Eduardo, Walde-mar, Geraldo, Fernando, Arlete, Marlise e Willy.

Max Metzler, colonizador, descobriu, mais tarde, que o terreno em que a família Olbertz se instalara era o mesmo vendido, cinco anos depois, à família Lavall. Foi um agrimensor de Porto União, Emílio Wunderlich, resolver a questão, e a família Lavall teve que ir para o terreno ao lado, que era o dela (1931). Nesse terreno havia um rio, onde Lavall construiu, em 1932, um moinho, todo em madeira, serrada à mão. No fi nal desse ano, fi zeram fubá em seu próprio moinho. Wunderlich fazia também as pedras para moinho. Para Porto União a família vinha a pé, em quatro horas, ou a cavalo.

Realizavam-se, na região, duas festas por ano, em que era celebrada Missa, faziam churrasco e baile, de que participavam as famílias. No come-ço, o lazer era jogar baralho e bailes nas casas de família. O primeiro clube foi construído em 1936. Funcionava um grupo de teatro, coordenado pelo professor Miguel Lux. Jornais vinham de Joinville (Kompass – Bússola) e de Blumenau (Urvaldsbote – Mensageiro do Mato).

ALGUMAS FAMÍLIAS ALEMÃS E DESCENDENTES EM PORTO UNIÃO DA VITÓRIA E REGIÃO

Espírito forte – vence as fl orestas, os javalis, as doenças, a morte...

Família Schwarzer (2016): Os avós de Anneliese Schwarzer vieram da Alemanha em 1917. São seus avós paternos, Mathias Hamacher, casado com Catharina Eisenberg Hamacher. Fundaram uma casa de comércio em Santa Cruz, Porto União. Martim Eisemberg, pai de Anneliese estava com 17 para 18 anos de idade, quan-do a família chegou, e sua mãe, Guilhermina Köpper, nascera

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38 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

em 1920, e veio com seis anos de idade. Estudou em Porto União, tendo sido aluna na Escola Alemã. Uma vez casada, foi morar em Santa Cruz. Anneliese tem como irmãos: Gui-lherme e Werner (falecidos), Heinz (em Santa Cruz). Perten-ce à primeira geração de descendentes de alemães no Brasil. Seu pai nascera em Köln (Colônia) e sua mãe em Gladbeck. Seus parentes residem em Santa Cruz, onde há uma praça com o nome de seu pai. A casa em que nascera foi construí-da em 1939, comprada da Companhia Hacker. Seu esposo chama-se Rodolfo Ricardo Schwarzer, e seus fi lhos: Marcos e Margid. Rodolfo é fi lho de Eduardo Schwarzer, pioneiro da Colônia de Santa Cruz, e Herta Werle Schwarzer (avós pa-ternos de Margid). Seu avô materno, Guilherme Köpper, lu-tara na Primeira Guerra Mundial. A avó, Anna Guilhermina Köpper, nascera em Gladbeck (AL). Pai, avô, tios, foram pre-sos, no Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial. Seu avô construíra, em Porto União, o “Castelinho”, a Escola Alemã, o Barracão da Antártica, o prédio da Família Pinto Cordeiro (onde funcionou por muito tempo o Museu do Prof. Aniz Domingues). Ajudou na construção da primeira e da segun-da Igreja Luterana em Porto União. Anneliese destaca que seu avô costumava recomendar que nunca cortassem madei-ra nos meses que têm “r”, para não ser destruída com o tempo pelos insetos. Só usava pregos de madeira. Relata, ainda, que a Companhia Hacker localizava as famílias, mas nem sem-pre entregava os documentos, de forma que muitos alemães tiveram que fazer usucapião, entre eles as de Wagenführ e Winter, entre outros.

A família Barth (2016):

Neide Barth Rosenscheg é fi lha de Arnoldo Arthur Barth (nascido em Santa Cruz do Timbó, SC, lavrador de profi s-são) e de Ilse Jung Barth (também nascida em Santa Cruz do Timbó). Seu avô e bisavô paternos são de Santa Cruz do Sul (RS), e também eram lavradores. Seu trisavô paterno é que veio da Alemanha. Wilhelm Barth, nascido a 29 de agosto de 1847, em Lötzbeuren, Landkreis Zell, Regierungsbezirk Kobleng, reimprovinz PreuBen, Deutschland. E a trisavó pa-terna, nasceu em 1847, em Komsow, Landkreis Lauenburg, Regierungsberzik Köslin, Pommern, PreuBen, Deutschland, falecendo em Santa Cruz do Sul (RS), aos 57 anos de ida-

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39Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

de. Wilhelm casa-se em segundas núpcias com Ludovina Schirmer e têm os fi lhos: Eugen Barth (avô de Neide), Anna, Adam, Barth, Lindolf Friedrich, Elybio Heinz Egon, Jullita (no RS); e mais dois em Porto União. O bisavô materno de Neide chamava-se Jacó Jung, era lavrador; e viera de Santa Rosa (RS) para Santa Cruz do Timbó (Porto União- SC), onde viveu também seu avô materno, Osvaldo Jung (agricul-tor). Neide Barth é Rosenscheg por parte de seu esposo, Mar-ciel Rosenscheg, nascido em Porto União, em 1974, fi lho de Érico Rosenscheg (natural de Corupá) e de Rosa Reisdoerfer Rosenscheg (natural de São Pedro do Timbó). A avó paterna também é de Corupá, Elvira Winefurter Rosenscheg, e veio para São Pedro do Timbó. Era comerciante, e Érico é comer-ciante e agricultor. O bisavô paterno de Marcial, Wolfgang Winefurter, nascera em Corupá, em 1903, e viera para São Pedro do Timbó, em 1950. Rosa Reisdoerfer Rosenscheg, mãe de Marciel, nasceu em 4 de janeiro de 1949, em São Pe-dro do Timbó, fi lha de Aluísio Reisdoerfer, vindo de Lajeado (RS), em 1917, para São Pedro do Timbó, como lavrador.

Família Gunther (2004):

Marie Auguste Schmidt Günther, fi lha de lavradores, nascida em Letten bei Lauf na der Pechniz (1919). Seus pais resolvem vir para o Brasil em 1926. Motivo: desemprego e enorme in-fl ação no país. ”Foi um irmão da minha mãe, August Heger-sdörf, que já morava no Brasil, em Cruz Machado, Estado do Paraná, que muito fez para que viéssemos.” (GÜNTHER, 2004, p. 10-13). Embarcaram em Hamburgo, em junho de 1927, pelo Vapor Vigo. No Brasil o trajeto foi: Rio de Janeiro, Santos (SP), e São Francisco do Sul (SC). Marie casou-se com Geraldo Günther, nascido na Alemanha em 1895, na cidade de Jessnitz e vindo para o Brasil em 1925, já casado com Lui-ze, professora, que deu aula na Escola Alemã de Porto União. Luize veio a falecer. Geraldo trabalha como dentista, come-çando em São João, hoje Matos Costa, depois em Porto Vitó-ria e em Cruz Machado. Trabalhou com olaria, plantação de verduras e fl ores, leiteria, paralelamente, com o apoio irres-trito, em todas as atividades, de Marie, mulher forte de espí-rito, que não se deixou abater pelas peripécias que advieram. Sobre as plantações, diz Marie: “Até parece que os alemães fi -cam embriagados com a terra, inclusive meu marido” (2004,

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p.110). Isso mostra como tinham vontade de produzir com fartura. Criaram os fi lhos dele e mais os dela, deram-lhes oportunidade de estudos superiores, com o mesmo carinho e atenção, além dos cuidados que Marie teve com Geraldo, que, por algumas vezes, estivera muito doente.

Família Groth (WERLANG, 2017):

Maria Groth foi nomeada, em 10 de fevereiro de 1900, a Pri-meira Agente de Correio de União da Vitória, exercendo essa função até 24 de julho de 1904, segundo Cleto da Silva (2006, p.49). Viera com 3 para 4 anos de idade, da Boêmia, com seus pais, João Diener e Bárbara Diener. Nascida em 21 de junho de 1864 e falecida em 24 de agosto de 1956, tendo vivido 92 anos. Casou-se com Carlos Groth Filho, vindo com 22 anos, de Holstein, marceneiro, chegado ao Brasil em 1869, para a Colônia Dona Francisca. Ela e seu esposo foram os donos do primeiro hotel, na Rua Coronel Amazonas, em Porto União. Em frente ao hotel estava a fábrica de cerveja do seu pai, Car-los Groth.

Família Schreiner (SCHREINER, 2002):

José Schreiner deixou a história de sua vida escrita em ale-mão, depois traduzida e publicada pelos fi lhos: Memórias de um Velho Imigrante: Escritos de José Schreiner (2002). Es-creveu a história em dois momentos: na Alemanha e no Bra-sil, uma verdadeira saga digna de muito apreço. Nasceu em Bensheim, a 2 de setembro de 1902. Relata as várias mudan-ças de residência, ainda na Alemanha; seu tempo de escola; o início da Primeira Guerra Mundial; as necessidades em sua casa; mantimentos escassos. O irmão e ele faziam pequenos trabalhos. Em 1921, os pais fi zeram Bodas de Prata. Fez um curso de Agricultura e um segundo curso de inverno, na Es-cola de Agronomia, em Rastadt. Seu pai decidiu-se a emigrar para Porto União, por infl uência do Padre Jakob Höfer, Vigá-rio de Porto União, que estivera de férias na Alemanha e con-tara da colonização em andamento. Tratava-se das colônias de São Pedro e Santa Cruz, colonizadas pela fi rma Hacker &Cia, bem como das colônias de Maratá e São Miguel, colo-nizadas pela Sociedade São Rafael. Padre Höfer “publicou em diversos jornais alemães artigos dando informações sobre

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41Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

essa colonização e estimulando a emigração para o Brasil”. (2002, p. 27). Diante da situação político-econômica vivida na Alemanha, seus pais resolveram vir. José é fi lho de Fran-cisco José Schreiner e de Rosa Kuhn Schreiner/AL . O pai de José era sapateiro e José foi agricultor e comerciante. Para chegar a São Pedro, saindo de São Ludgero/RS, viajara em veículos a vapor, de trem, em carroça e até a pé. José casa-se com Irene, fi lha de Leopoldo Werle e de Maria Horn Werle, nascida em Estrela/RS. Assim, a 15 de agosto de “o clã Schrei-ner” 1927, instala-se em São Pedro do Timbó, e logo funda um coral. São seus fi lhos: Jorge, casado com Zilda Kretzer; Ermelinde, casada com Riciere Marangoni; Helma, casada com Percival Henckel; Erich, casado com Maria Angélica Marangoni; Arno, casado com Araci Licodiedoff ; e Marcos, casado com Olga Pereima; Hermine Maria Schreiner, teóloga e missionária. E cada casal tem seus fi lhos e netos.

Família Gaebler (2017):

Lore Gaebler Neumann, fi lha de Martha Amélia Gaebler e Reynaldo Frederico Gaebler, casada com Rodolfo Neumann Filho, relata, em sua obra “Sonhar é ir além de sonhar: cons-truindo Porto Vitória” (2009), que seu pai era um sonhador – realizador. Em 1890, Porto Vitória tinha duas casas peque-nas e recebeu visita que veio descendo o Iguaçu, em canoa, do Pastor Otto Kuhr e Hans Clausen. Pastor Kuhr nascera na Alemanha, em 1864. Os imigrantes vindos de regiões da Alemanha e da Áustria, no ano de 1871, foram Francisco Neumann e Hans Clausen (2009, p. 19). Em 1886, chegou um novo grupo de imigrantes, e outro em 1903. Mais tarde, Clausen solicita de Joinville a vinda de um pastor defi nitivo, pois Otto Kuhr era itinerante. Pastor Otto falece em 1938, em Joinville. Gustav August Gaebler, pai de Reynaldo Frederico Gaebler, nascera na Alemanha, em Jenkendorf Preussen, a 23 de dezembro de 1836. De profi ssão carpinteiro, sua viagem para o Brasil deu-se no navio inglês Herschel. Partiu de Ham-burgo, passando por Bremen, Münster, Wann, Düsseldorf, Gladbach, Antverben. De Antverben partiu, a 8 de dezembro de 1884, chegando ao Rio de Janeiro a 29 de dezembro do mesmo ano. Passou por Ilha das Flores, Porto Alegre, Ca-choeira. Viaja para Buenos Aires, volta a Pelotas, em 1906. Após alguns anos Gustav resolveu aventurar-se para outras

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terras, conhecer o rio Iguaçu, famoso rio navegável. Viajou de trem e, ao chegar a União da Vitória, foi conhecer o rio Iguaçu. “Encantou-se pelo rio, voltou para o Rio Grande do Sul, vendeu a propriedade e mudou residência para Porto Vi-tória, em 1916.” (2009, p.27). Vieram seis famílias em trem de carga, ocupando um vagão inteiro. De lancha foram até Porto Vitória, sendo acolhidos em Porto Almeida, pela famí-lia de Alfeo Balardini. Esse empreendedor fi xou-se ali e lutou pelo conforto e desenvolvimento do lugar. Gustav convidou a família de Pedro Scheid e seu irmão Pedro José Scheid, que aceitaram mudar-se do Rio Grande do Sul para Porto Vitó-ria, em 1920. Também famílias de Santa Catarina foram para Porto Vitória. Gustav foi comerciante, abastecendo seu negó-cio em diversas cidades, como Blumenau, Joinville, Curitiba e União da Vitória. Falece em maio de 1922.

Família Bayer (2008):

Germano Bayer, em “Uma Criança Feliz: memórias e he-ranças de meus ancestrais” (2008), no capítulo 1, Meus An-cestrais, conta que a ascendência paterna é alemã. Seus avós paternos, Germano Bayer e Martha Weigerth, e por parte de mãe, a origem é italiana: Pietro Paolo Zuccatti e Josephine Bacco. Os bisavós paternos eram alemães: Conrad Bayer, na-tural de Nürmberg – Bayern e Dorothea Sophia, da família Shreiber, natural de Linde – Pommern. Emigraram para o Brasil, ele com 29 anos e ela com 24 anos. Trouxeram o fi lho Wilhem de dois anos de idade. Seu avô Germano casou-se com Martha Weigerth e começara sua vida em Porto União/SC, ele como carroceiro. Fazia transportes de Porto União a Palmas, com carretões de oito animais, tecnologia trazida da Prússia Oriental. Não havia caminhões nesse tempo. O neto Germano, autor da obra, nasce no Distrito de Rio D´Areia, União da Vitória, a 17 de julho de 1923 (BAYER, 2008, p. 30).

Família Graupmann (2001):

Ingrid Ingborg Moecke Graupmann, nascida em Hamburg, na Alemanha, chega ao Brasil aos oito anos de idade, em 5 de janeiro de 1950. Seus pais vieram, pela primeira vez, em 1920, retornando em 1936 para a Alemanha, e novamente ao Brasil em 1950. Seu pai chamava-se Eduardo Hugo Moecke,

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43Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

e a mãe, Herta Emma Anna Moecke. Em 1920 vieram soltei-ros, casando-se em Cruz Machado, e voltaram com três fi lhos para a Alemanha. Na Alemanha, nasceram mais cinco fi lhos. Ingrid cursou Enfermagem em Porto Alegre e trabalhou 15 anos como enfermeira em Curitiba. Toca fl auta, violão e harmônio. Ingrid fez curso de Letras em União da Vitória e especialização em Curitiba. Leciona Língua Alemã. Conta Ingrid que seus pais abriram um armazém, com um saco de sal, um de açúcar e um de trigo, uma caixa de bananas, um pacote de caixas de fósforos. E que após 5 anos, tinham de tudo para vender: desde camiseta até enxada; desde agulha até açúcar ou tamancos. Os fi lhos faziam os pacotes de papel para pôr os produtos, que vinham a granel.

Família Wunderlich (WUNDERLICH, 2013):

Bem perto da praça central, Hercílio Luz, há quarenta anos, uma família serve fl ores à comunidade porto-unionense, desde que abriram a Midori, nome cheio de doçura, em ho-menagem à primeira neta, cuja mãe é de origem japonesa. Dessa nora, Maud recebeu muito incentivo para a abertura da fl oricultura, pois a irmã dela possuía uma, em Florianó-polis, no Mercado Municipal, e os negócios iam muito bem. Foi a primeira fl oricultura da cidade. Friedrich Bormann (Fritz) e Maud Wunderlich, casados há 67 anos, na Igreja Luterana, ele fi lho de alemães (Alfred Bormann – de Bre-menn , e Hedwig Bormann- de Dusseldorf); e ela, fi lha de Otto e Eugênia Wunderlich, naturais de Joinville, vindos para Porto União, em 1941. Após namoro e noivado, casam--se e constroem sua bela família: eles, mais os fi lhos Otto Roberto, Greta Rose, Rose Mary, e Ragnit Maud. E, após algum tempo: oito netos. A partir de 1966, Fritz adquiriu uma chácara em Paula Freitas, e, com seu jeep, para lá se dirigiam com frequência. O passatempo dele era alimentar os pássaros (livres) e construir casas para as abelhas. Maud, por sua vez, era voltada às fl ores. Maud Bormann, aprecian-do tanto as fl ores, resolve dedicar-se à fl oricultura, contando com o apoio de seu marido, e, depois, da fi lha. Fritz buscava fl ores, primeiramente, em São Paulo, depois, em Curitiba. Atualmente, elas são trazidas por caminhões climatizados, de distribuidores. Maud e Greta são mulheres empreende-doras. Greta relata que sua mãe já plantava e vendia fl ores

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em casa, para vizinhos e amigos, antes mesmo da Midori. E que a primeira empresa fi cava onde hoje é a Ótica Brasil. Seis anos depois (1979), foi adquirida a atual. Muitas pessoas têm em suas casas plantas fl oridas, trazidas como mudas, ainda de Curitiba, de Joinville, em ônibus, pelas mãos da família Bormann. Greta transborda alegria ao falar das fl ores, sem-pre procuradas como especial presente, para pessoas espe-ciais, nas mais diversas circunstâncias. Ela é casada com Ariel Rocha e são seus fi lhos – Gustavo e Guilherme. Graças à bênção colorida e perfumada de gestos fl oridos, a partir da Midori, a cidade tem-se tornado mais acolhedora e cati-vante. Até canteiros de amor-perfeito ornam a praça e tantos locais por onde passamos. Nossos olhos já não imaginam casas, igrejas, clubes, festas e solenidades, sem a presença de fl ores, tão ao gosto de Maud e Greta. Assim, hoje, as Gêmeas do Iguaçu comportam diversas fl oriculturas.

Família Guth (2017):

Roland Guth, fi lho de Carlos Guth, neto de Cristian Guth, relata que seu avô desembarcara em 1925, em São Francis-co do Sul, com sua esposa Margarethe e os fi lhos Elfried, Carlos e Luzia. Emigraram de Reinheim, estado de Bahden Wertenberg, AL, por conta própria, sem apoio de progra-mas imigratórios. Radicaram-se perto do fi nal da Rua Cruz Machado, na margem do rio Iguaçu. A família era luterana, participava dos clubes Apolo, Concórdia e União. A mãe de Roland e Willi gostava de bordar; ela e as avós, cultivavam fl ores, principalmente, orquídeas. Elfried e Luzia não tive-ram fi lhos. Carlos casou-se com Elza Lange Guth e teve dois fi lhos: Roland (nosso entrevistado) e Willi. Roland tem três fi lhos e quatro netos, e Willi tem duas fi lhas e quatro netos. Naturalizado brasileiro nos meados dos anos 50, Cristian viveu feliz e muito realizado no Brasil. Voltaram, algumas vezes, ele e sua família, à Alemanha, para rever o local onde nasceram. Diz Roland: “Nosso tataravô era professor. Mora-va, com os seus, no prédio da escola que hoje é tombada, é de 1600, e abriga um museu”. Há, na região de Porto União da Vitória, outros membros da família Guth, descendentes dos primos de Carlos Guth, Wilhelm e Ludovico (já falecidos), fi lhos de um irmão de Cristian, que chegara antes dele, e se radicara em Cruz Machado. Na Alemanha, Cristian era Téc-

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nico de Construção de Moinhos de Trigo. E havia construído alguns para terceiros; o que fez também na região de União da Vitória, levando junto seu fi lho Carlos. Em 1935 constrói seu primeiro pequeno moinho. No fi nal dos anos 40, Carlos Guth, com o que aprendera com o pai, monta um moinho de trigo em Joinville, para a empresa Germano Stein S.A. No fi nal dos anos 50, monta seu primeiro moinho, no centro de União da Vitória, para, no início dos anos 60, transferi-lo, ampliado e muito moderno, para a Estrada de Palmas (Av. Marechal Deodoro). Desse local, foi transferido para Curi-tiba, por motivos de logística, no começo da década de 70. Conta Roland que o moinho foi vendido em 2013, para um grupo paulista, que se associou a um grupo multinacional, chamando-se Belarina. Continua funcionando em Curitiba. Esse moinho foi um marco na vida da região, contribuindo para o dinamismo do comércio local e para o bem-estar da região. No início, o avô de Cristian e Willi comprava trigo da região. Mais tarde, principalmente seu pai, Carlos, trazia o produto do Paraná, e importava da Argentina e Estados Unidos. Diz Roland: “Meu pai fez uma importação pioneira nos anos 50.” Comenta, ainda, a criatividade do pai Carlos: “O pai inventou um sistema inovador na moagem do trigo, que usou em nossos moinhos e o vendeu para muitos outros moinhos, inclusive, para um na Alemanha; e para outro, na França.” Era na época um moinho grande, chegando a ser o terceiro maior do Paraná, tanto em União da Vitória quanto em Curitiba. Roland foi atuante na política do trigo no Para-ná e no Brasil, tendo sido defensor da triticultura brasileira, presidente da Associação dos Moinhos de Trigo do Paraná, fundador e Presidente da Associação Brasileira da Indústria do trigo ABITRIGO.

Família Rockenbach (2017):

Pedro Paulo Rockenbach, neto de Johann Daniel, segundo documento dos 170 anos da família, no Rio Grande do Sul (1829-1999), datado de 11 de abril de 1999, redigido por Ju-lieta Moecke (neta de Pedro Paulo Rockenbach) e Família. Pedro Paulo nasceu no Rio Grande do Sul, a 18 de outubro de 1872. Casara-se com Maria Karolina Schardong Rockenba-ch, nascida a 31 de maio de 1873. Moravam perto de Lajeado RS, tendo uma casa comercial e moinho. Em 1918 foram para

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São Miguel -SC, com um sócio, e não deu certo. Foram para Rio das Antas, Cruz Machado, PR, a uns 6 km da vila. Cons-truíram uma serraria, e trabalhavam com carretões e juntas de bois. Maria Karolina levou para o Paraná, do Rio Grande do Sul, mudas de videiras, fl ores, folhagens e tradições. É res-saltado o papel do casal pioneiro, Johann Daniel Rockenba-ch e Ana Margareth Burg, que chegam a São José Hortêncio (RS), vindo de Hunsrück (AL), em 1829, passando por Bre-men ou Hamburgo até o Rio de Janeiro e dali a São Leopoldo via Rio Grande e Porto Alegre. A casa ainda bem conservada, construída em 1853, na Rua 17, foi adquirida por um trineto, para preservação. É uma família muito cristã, que conta com grande número de sacerdotes e de religiosas. Em União da Vitória, atualmente, vive a família de Alcides João Rochem-bach. A empresa madeireira foi fundada em 26 de dezembro de 1958, em Bituruna, transferindo-se, em 1975, para União da Vitória, onde trabalha com esquadrias e benefi ciamento de madeiras. Verifi ca-se a alteração na grafi a do sobrenome, o que muitas vezes ocorreu com os imigrantes. Alice Ignes Sebben é fi lha de Rodolfo José Rockenbach e de Ana Miguela (Anita) Kober, fi lha de Érico Kober e Ana Ignes Rokenba-ch. É a oitava dos dez fi lhos do casal natural de Lajeado, RS. Rodolfo José é o quarto fi lho, entre os nove, de Pedro Paulo Rockenbach, com sua esposa, Maria Karolina Schardong. Pe-dro Paulo nascera em Hortêncio, RS (18/10/1872) e faleceu a 7 de setembro de 1955, em União da Vitória. Maria Karolina nascera em Lajeado, RS (31/5/1873) e faleceu a 23 de dezem-bro de 1924, em União da Vitória. São seus fi lhos: Ottília Su-zana, Martins Arthur, Th eolinda Maria, Rodolfo José (avô de Alice Ignes Rockenbach Sebben), João Beno, Luiz Eugênio, Lídia, Augusto Ronaldo e Carlos Herminio. João Rockenba-ch, também fi lho do ancestral pioneiro Johann Rockenbach e de Anna Margareth Burg, nasceu em 1838, em São José do Hortêncio, RS, e faleceu e 30 de agosto de 1920, em Lajeado, RS. Casou-se com Margarida Schneider, em 11 de junho de 1861, em São José do Hortêncio. Margarida falece a 28 de setembro de 1896, em Porto Alegre. Tiveram 11 fi lhos: José, Ana Gertrudes, Mathias Martin, João Evangelista Tomé, Pe-dro Paulo, Maria Margarida, Catharina Filomena, João Con-rado, Ana Ignes (avó de Alice Rockenbach Sebben), Adão Luiz Blásio e Francisco Vicente. João depois se casou com Elizabetha Müller Esswein, nascida na Alemanha, viúva de

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Frederico Esswein. Elizabetha faleceu em Lajeado, RS. Ali-ce Ignes Rockenbach nasceu em 16 de novembro de 1937, em Bituruna, PR, casou-se com Jandir Luiz Sebben em 19 de dezembro de 1964, e tiveram cinco fi lhos: Joãozinho, Jane Raquel, Jairo José, Janete e Joel.

Família Kretschek (2012):

Catarina e Josef Kretschek, com as fi lhas Gabriela, Luiza e Catarina, embarcam como imigrantes em 1912, no navio que saiu da Baviera (sul da AL), com destino ao Brasil e desem-barcaram em Florianópolis. Ali nasceram dois fi lhos: José e Natália. Catarina era costureira e Josef, marceneiro. Fazia móveis artesanais sob encomenda, e, quase exclusivamente, para a família Hercílio Luz. Somente a partir de 1922, passa a residir em Porto União. José Krestchek nasceu a 19 de maio de 1914, e estava com oito anos quando seus pais vieram re-sidir em Porto União. Casou-se, em 31 de dezembro de 1941, com Gerda Alice Winter, e tiveram 3 fi lhos. José Kretschek foi primeiro violino de grandes orquestras de SC e do PR. Fi-lho de imigrantes alemães, era entusiasmado pela vida, pelas fl ores, pessoas e por Porto União. Era apaixonado pela músi-ca e amante da arte, segundo Sulamita Costa (Jornal Caiçara, 20/01/2012, p. 5). Sua casa está agora no Parque Histórico Iguassu, para visitação pública, com um grande acervo, estilo museu. Esse Parque, criação de Dago Alfredo Woehl, fi ca em Porto Almeida, União da Vitória.

Família Breyer (2001):

Erika Brigitte Herbsleb Breyer nasceu na Alemanha, a 24/4/1925, em Halle-Saale. Estudou música: violão, violino, piano, coral e praticava esportes. Casou-se com Ernesto Ul-rich Breyer, em 1947, na Alemanha. Ele tinha vindo para o Rio de Janeiro, onde estavam seus pais, desde 1929. Na volta, caiu prisioneiro dos ingleses, só se libertando em 1946. No ano seguinte, o casal se conheceu em Frankfurt. Ela morava na parte russa e passou à parte alemã, onde se conheceram e logo se casaram. Em 1949, saíram da AL, e, em janeiro de 1950 chegaram ao Brasil, primeiro a Caçador/SC; depois a Porto União e União da Vitória. A primeira fi lha, Érica, é nascida na AL. No Brasil, nasceram Rose, Henrique, Ernesto

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e Cristina. Fundaram uma escola de música, em que o ca-sal ensinava a tocar acordeon. Depois Ernesto adquire a Vila Zulmira (1958), para criar abelhas. Com o tempo, fi zeram lá uma casa, e, em 1965, começaram a morar lá. Prof. Ernes-to Breyer passou a lecionar as línguas alemã e a inglesa, nos colégios Cid Gonzaga/Porto União/SC, e no Túlio de Fran-ça/União da Vitória/PR. O casal, morando na Vila Zulmira, dava aulas de apicultura aos interessados da região. Brigitte tem um irmão morando na AL, Dr. Hartmut Herbsleb e uma irmã na África, Elizabeth H. Kuenhenbecker (Entrevista a Paulo e Fahena Horbatiuk, em maio de 2001). Prof. Breyer e Família desenvolveram uma empresa conhecida interna-cionalmente, pois Ernesto Breyer criou o primeiro produto brasileiro à base de própolis, chamado “Propolina L3”. Atual-mente, na Vila Zulmira, há um laboratório de Produção de Medicamentos, Cosméticos Naturais e Apiterápicos. Entre-posto de Mel e Cera de Abelhas, faz produtos como: sham-poo, condicionador de cabelos, sabonete, protetor solar, além de produtos medicinais.

Família Kottmann (2016):

Liselotte e Heinz Kottmann - Liselotte é natural de Wemel-skirchen, perto de Colônia, na AL, e Heinz é de Remscheid, cidade rica em indústrias de facas, tesouras, etc. Ela veio para o Brasil em 17 de novembro de 1948 e Heinz, ainda jovem emigrara para a Argentina, onde trabalhara em uma fi rma de tecelagem. Com a falência dessa empresa, viera para o Brasil, trabalhando como funcionário das Casas Pernambucanas. Com o pai doente, na AL, volta para lá em 1939, e conhe-ce Liselotte, casando-se em 1940. Com o início da Guerra Mundial, foi convocado para o Exército, em 1944, passando a prisioneiro na Rússia. Após um ano sem notícias do marido, a 31 de agosto de 1945, ela soube que ele estava vivo e, nesse mesmo dia, ele chega a casa, magro e abatido. Moravam em Berlim e perderam o apartamento, com bombardeios. Como Heinz estava sem emprego, escreveu para a direção das Casas Pernambucanas, em Recife, que era formada pela família sue-ca dos Lundgreen, e que abriu novamente os caminhos para ele voltar ao Brasil. Para poderem vir para cá, foram clan-destinamente, à Bélgica; lá não podiam trabalhar e deviam aguardar meio ano, para sair do país. Ela recebeu de uma

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família amiga roupas para consertar e tricô para fazer, isso num quarto de hotel. As Casas Pernambucanas mandaram uma ajuda de custo, para pagarem a pensão e aguardarem a vinda do navio, até terem o visto da emigração. Durante a Guerra, conta Liselotte, mulheres e moças eram convoca-das a trabalhar na fábrica de artefatos de guerra. Como ela podia ir à casa dos pais, em Hagen, ou fi car no apartamento em Berlim, desviava-se desse trabalho. Uma vez ela teve que ir trabalhar, junto trabalhavam moças russas, que para lá ti-nham ido com os soldados alemães. A mãe de Liselotte fazia alta costura e as moças, junto com ela, faziam roupas, des-manchando roupas velhas, para vesti-las. Havia muita amiza-de entre elas. Lembra Liselotte que havia crise de alimentos, e que só andavam de bicicleta. Quando o marido chegou, em sua casa não havia nem pão. Tiveram que trocar instrumen-tos musicais e relógios por mantimentos. Vindo ao Brasil, foram para São Paulo, e como Heinz era inspetor da fi rma e viajava muito, Liselotte resolve ir ao Rio de Janeiro, de trem, onde Herta, sua prima, arranjara-lhe emprego de enfermeira, que durou por um ano. Depois foi ser dama de companhia de uma Baronesa Alemã, esposa do Conde Huyn. Liselotte fazia a correspondência para eles. Depois o marido foi de São Pau-lo para Recife, e ela foi junto. Lá fi caram um ano e meio. Não se adaptando ao clima, voltaram a São Paulo, e, por motivo de saúde de seu esposo, foram para Mallet, PR, em 1960. Em Mallet Heinz tinha um primo-irmão. A fi rma deu-lhe inde-nização e colocou advogados a seu favor, junto ao INPS. Dois anos depois, foram para União da Vitória, porque ouviram na rádio um programa alemão, em homenagem aos faleci-dos, em que falava Adolfo Siebeneicher. Em Mallet, com a indenização, fi zeram um estoque, comprando tecidos de lã e fi os. Com isso abriram a casa Para Todos. Precisando cuidar da saúde do marido, Liselotte vendeu a loja a Amadeu Bona, o destacado pintor de União da Vitória, que a denominou Casa das Rendas. A fi lha, formada enfermeira em Curitiba, na escola Catarina Labouré, foi para a Alemanha, onde resi-dia, na ocasião da entrevista, havia uns 20 anos, trabalhando em um hospital do Coração e de Ortopedia. Esse casal é um exemplo do espírito empreendedor dos imigrantes alemães, que participaram e cujos descendentes participam de nossa identidade cultural regional.

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Família Pollmann (2016):

Fritz Pollmann é fi lho de alemães: Wilhelm Fritz Pollmann e Bertha Ferber Pollmann. Seus pais vieram da Alemanha com 10 anos de idade, em 1922, com os avós, Otto Pollmann e Frida Pollmann, após a Primeira Guerra. Em Leipzig seu avô trabalhava com tecelagem de rendas e a avó era fi lha de lavra-dores. Foram para Cruz Machado e lá faleceu sua avó. Fritz trabalhou como construtor e piscicultor; foi presidente do Clube 25 de Julho por muitos anos. O Clube fora criado em 1952. Entre os dirigentes, citam-se: Egon Bieberbach (1952 a 1958); Rodolfo Willumsen (1958 a 1962 e 1962 a 1967); Ro-dolfo Woeltje (1962 a 1963); João Nunes Veran (1964 a 1971); Adolfo Siebeneicher (1971 a 1979); Luiz Barth (1979 a 1983); Fritz Pollmann (1984 a 2002) e Luís Alberto Pasqualim (2003 a 2017). Note-se que os sobrenomes dos presidentes, quase todos são de origem alemã. Esse clube tradicionalmente cul-tivou a cultura alemã, pela música, dança, atletismo.

Família Kröetz (2001):

Th eodoro Kröetz Sobrinho nasceu em Santa Maria do Her-val, RS, dia 24 de maio de 1884. Seu avô paterno era natural da Alemanha. No Rio Grande do Sul, Th eodoro Kröetz So-brinho era comerciante no ramo de secos e molhados, louças e armarinhos. Em 1919 saiu do Rio Grande do Sul com desti-no a Porto União, SC, onde se estabeleceu no ramo de comér-cio, com a primeira Casa do Ferro, situada na Rua Prudente de Moraes, 105, vendendo materiais de construção, louças, vidros, armas e munições. Em 1934 inaugurou as novas ins-talações da “Casa do Ferro”, na esquina da Rua Prudente de Moraes com a rua Matos Costa, a qual passou a ser dirigida por seus familiares, até 1985. São seus fi lhos: Lino, Frieda, Alfredo, Maria Teresia (religiosa), Lúcia (casada com Nilton Peixoto de Oliveira); Maria Tereza e Izabela. Essas famílias tiveram muitos artistas, tanto na música como na pintura, posto que três jovens da família Bieberbach casaram-se com membros da família Kröetz, somando talentos. Foi dirigen-te da Agência Ford, de 1923, concessão que se estendeu até 1985, com a mesma família. Th eodoro foi correspondente de diversos bancos, de 1934 a 1942. Trabalhou com serraria, em Timbozinho, distrito de Porto União, tendo construído

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aí uma Capela para seus operários devotos poderem orar. A Casa do Ferro foi vendida a terceiros em 1985. Foi vereador em Porto União, por duas vezes, muito colaborou na cons-trução da Igreja Matriz de Porto União e do Hospital São Braz. Contribuiu também para a construção dos Colégios Santos Anjos e São José. Faleceu em 1949. Foi uma vida de dinamismo, solidariedade e fé.

Família Hoff mann (2016):

A Casa do Bronze pertence à família Hoff mann, proveniente da Alemanha, da região de Dermingen (próxima de Saar-land), no sudeste, divisa da França e Luxemburgo. As pri-meiras famílias Hoff mann vieram para o Brasil e foram para o Rio Grande do Sul, estabelecendo-se em Joaneta (como Jakob Hoff mann), Vale do Caí e São Leopoldo, na chamada Rota Romântica, de imigração alemã. Jakob Hoff mann casa--se com Anna Fries. O fi lho desse casal, Johan Hoff mann, e sua esposa, Bárbara Schirra, são os pais de José, Pedro, Leo-poldo e Martin Hoff mann. Emília Ludwig, fi lha de Catharina Schmidt, conheceu José Hoff mann, quando este participava de uma equipe médica itinerante. Ele viaja, voltando algum tempo depois, para casar-se com ela. Foram seus fi lhos: Pau-lino, Jose Lino, Vergínia, Filomena, Leo (1920-1992), Maria, Leonardo (1925-1976) e Suzana. Leo, Leonardo e José Lino abrem a Casa do Bronze, em 24 de abril de 1950, vendendo ferragens, armas, munições, fogões, pregos, parafusos, etc. Com o tempo, a Casa do Bronze passou a pertencer apenas a Leo Hoff mann, e, após seu falecimento, fi ca sob o cuida-do dos fi lhos: José Francisco (Zeca), Ana Maria, Leo Hof-fmann Júnior e sua esposa Elisa, vendendo apenas materiais de pesca, caça e camping. São onze os fi lhos, quatro com a primeira esposa, Edwig Eich: Inês (falecida), Maria Tereza, Margarida e Verônica. Viúvo, casa-se com Elizabeth, e teve mais sete fi lhos: Edwiges, José Francisco (Zeca), Ana Maria, Roberto Antônio(Bob, falecido), Elis Fabiane, Lea Giovana e Leo Hoff mann Júnior. A Casa do Bronze fi ca na Rua Matos Costa, em Porto União, estando, atualmente, no seu 67.º ano de funcionamento.

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Família Müller (2017):

Helmuth Müller foi prefeito municipal de Porto União de 30 de dezembro de 1933 a 29 de fevereiro de 1943. Nasceu em Blumenau, dia seis de maio de 1889, fi lho de Frederico Mül-ler Júnior e Adélia Müller, alemães os dois. Fez o começo de seus estudos em Blumenau e continuou em Joinville, onde se alista no Exército, para servir à Pátria. Casou-se com Mar-garida Staemm Müller e tiveram os fi lhos: Marion (1915) e Kurt (1917). Em Porto União foi prefeito por 10 anos. Era comerciante muito dedicado ao trabalho, à família e ao bem comum. Falece a 27 de abril de 1953, em Porto União.

Família Ibsh (2017):

Erna Ibsh é fi lha de Emílio Ibsch, nascido na Alemanha, em Breslau. Emílio era especialista em embutidos, “salsicheiro”. Sua mãe, Elizabeth Mayer Ibisch, é alemã da região do Reno, Mainz. Erna nasceu, estudou e casou-se em Porto União, SC. Fez o curso primário no Colégio Santos Anjos, e, depois dos 10 anos, frequentou a Escola Alemã, sendo aluna do profes-sor Altmann e do Professor Fesser. Lembra-se do nome de alguns adolescentes, seus colegas: Jaime Matzembacher, João Bieberbach, Carmem Rieche, Julieta Carvalho, Waltraud e Elvira Mittelbach. Poderia ter feito o Magistério no Colégio Santos Anjos, pois fora muito elogiada quando substituiu uma professora em licença maternidade, na Escola Alemã. Entretanto o pai preferiu que fi casse em casa, aprendendo as prendas domésticas. As Irmãs do Colégio Santos Anjos que eram freguesas assíduas no comércio de seu pai, convidaram--na várias vezes a continuar os estudos, mas não foi possível. A família morava em uma casa antiga de madeira, que o pai substituiu pela atual, de concreto e em dois andares, em que reside, na Rua Prudente de Moraes, com seu esposo, Carme-lo Monte, Contador. Esse casal tem os fi lhos: Márcio César, médico em Curitiba, e Ricardo, engenheiro e empresário, em Porto União.

Família Schwegler (2017):

Os pais de Erich Augusto Schwegler vieram casados, do sul da Alemanha, em 1928, e tinham uma fi lha, Edwig, atual-

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mente com 90 anos de idade. Erich nasceu em 1929, no Bra-sil, Rio das Antas, RS. Seus pais foram de São Francisco para Rio das Antas a convite do cunhado, Alberto Bühner. O pai, carpinteiro fez a casa do Sr. Álvaro Malchitsky e começou a Indústria Irmãos Schwegler, em 1932, ele e Eugênio. Per-de o pai aos 23 anos, quando a atual Igreja Luterana estava em construção. Ele e o irmão tocaram a empresa, Esquadrias Schwegler. O pai fora voluntário na Primeira Grande Guerra Mundial. Diz Erich que ele contava que estava na trincheira quando se prontifi cou a levar um recado do comandante a al-guém. Nesse ínterim, bombardearam o pelotão e ele estava a salvo, mas fi cara 36 meses preso na França. A família chegou a receber as condecorações devidas aos falecidos em guerra. Depois ele reaparece. O pai de Erich, já em Porto União, es-teve preso por 17 meses, em Joinville, acusado de falar em alemão, no período em que estava proibido. O grande res-sentimento de Erich é do dia em que a polícia invadiu sua casa e levou todo o material escrito em alemão, até seus mate-riais de estudo na Escola Alemã. Na Deutsch Schuler estudou desde o Jardim de Infância, tendo entre seus colegas, Carlos Knipschild (fábrica de fechadura); Rodolfo Woeltje, Alberto Weingerter (artefatos de cimento); e Wolfgang Barth. Estu-dara no prédio novo e a casa anterior tornara-se refeitório, pois na escola havia internato com alunos até de Joinville. Dessa Escola tem boas lembranças, pois faziam excursões e praticavam o escotismo. Sua mãe chamava-se Guilhermi-na, e o casal era luterano. O pai era carpinteiro e servia às Irmãs, aos Padres e aos Pastores, com as suas construções. Erich aprecia músicas clássicas e canções populares alemãs tradicionais. Sua primeira esposa (falecida) chamava-se Olga Höerig, irmã do professor Lauro Höerig. A família Höerig tinha quatro rapazes e quatro moças. São descendentes de alemães e foram fundadores da Casa Esmalte, em União da Vitória. Erich e Olga tiveram quatro fi lhos: Ernesto, Guido, Ricardo e Vera. Schwegler é sócio remido dos Clubes Alian-ça e 25 de Julho. Sua atual esposa, Irene Loffl er, nascera em Canoinhas, em 1930. Filha de Guilherme Loeffl er e Augusta Loeffl er, emigrados da Alemanha em 1928, e casados em Ca-noinhas. Guilherme nascera em Corupá, SC, e Augusta, em Band (Hamburgo), na Alemanha, em 1914. Esse casal teve apenas os fi lhos: Irene (Porto União) e Alfredo (Dionísio Cerqueira). Os avós paternos de Irene foram Otto Loeffl er,

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cervejeiro, nascido perto de Munique, e Emma Witt Loeffl er, nascida próximo à divisa da Alemanha com a Polônia. Foram para o Rio Grande do Sul, e de lá, para Santa Catarina. Seus avós maternos foram Emil Fritz Reimer (Contador da Em-presa de pneus Continental), na Alemanha, e a avó materna, Margareth Reimer, veio de Hamburgo, com o último navio para a América do Sul, o navio holandês, Gelria. Estavam em alto mar quando começou a Guerra de 1914. E ela com seis fi lhos: Kurt, Paula, Hans, Augusta, Ernst e Fritz Reimer (to-dos falecidos). Otto Loeffl er, seu avô paterno, veio solteiro e conheceu Emma, em São Bento, depois foram morar em Canoinhas, em 1923. Seu avô Otto, teve seis fi lhos brasilei-ros, entre eles, o pai de Irene, Guilherme com os outros ir-mãos: Rodolfo, Carlos, Rupprecht, Henrique e Érica. E ela, Irene, casara-se, em primeiras núpcias, com Horst Winter (23/4/50), em Canoinhas, com quem teve cinco fi lhos: Wal-ter, Udo, Aldo, Cláudio e Wilson. Horst Winter era Contador e Advogado. Falecera com 79 anos de idade, dia 29/12/2002. Irene pratica esportes desde muito jovem, especialmente, na-tação. Começou a Escola Evangélica aos seis anos, em Canoi-nhas e depois cursou no Grupo Escolar Almirante Barroso, o Curso Complementar. Morou um tempo no Rio Grande do Sul, com os avós, aprendendo a fazer fl ores artifi ciais. Toca piano, sanfona, participou do Coral Bento Mossurunga, por 35 anos. Hoje, toca gaita de boca. É uma senhora de bem com a vida, aprecia viagens turísticas, fl ores, música, danças, exposições culturais.

Família Jung (2016):

Leo Jung e Frederica Jung, os avós de Willy Carlos Jung (Willynho) vieram da Alemanha em 1913. Seu avô, na Guer-ra, comandava um pelotão de saúde e afi rmava ter estuda-do “para salvar pessoas, não para matá-las.” Leo e Frederica vieram com quatro fi lhos: Willy Carlos Frederico Jung (pai de Willynho), nascido em 1905, em Kausrue, AL, Lina Jung, Leo Fernando Filho e Carlos Jung. Seu avô Leo esteve em Apucarana, Curitiba, Itaiópolis, até que montou sua farmá-cia em Mafra, SC, onde vem a falecer. Willy Carlos Frederico Jung, após trabalhar com farmácia em Curitiba e Paranaguá, adquire a farmácia União, de Antiocho Pereira, que fi cava na Rua XV de Novembro. Willinho nasce em 1934. Seu pai

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transfere a farmácia para a Rua Prudente de Moraes, onde é hoje a loja do Dombroski, ao lado da Casa Chumbita, de João Guilherme Russo, treinador de futebol, que possuía uma loja que vendia de tudo. A casa da farmácia era alugada de André Dombroski, dono de uma selaria, e que ia com frequência à farmácia. No meio-fi o havia argolas para prender os cava-los de quem ia à selaria. Willy Carlos Frederico Jung, casado com Yolanda Igná Ponetsky, tiveram os fi lhos: Willy, Yolan-da Jung Moro, Luís Fernando Jung (veterinário), José Lúcio Jung (piloto de avião de pulverização, falecido em acidente de avião). Ela também atendia à farmácia. O pai Willy Carlos Frederico Jung era extrovertido. Em casa tocava gaita de fole; e participava da sociedade, sendo vereador por três anos. Foi ele que agenciou a vinda do Dr. Lauro Müller Soares, de Minas Gerais para Porto União. Era luterano, pai presente e educador, tinha espírito científi co, buscando sempre novida-des na sua área de trabalho, modelo adotado por Willinho. Era simples, e, no começo, ia de bicicleta aplicar injeções nas pessoas doentes. Mais tarde comprou um Chevrolet 1934que chamava de Iracema. Depois, outras conduções. Uma boa parte dessa família, de geração a geração, tem-se dedicado a ser farmacêuticos. E todos com o carisma da simpatia, da gentileza, do interesse em fazer o melhor, com autêntico hu-manismo e solidariedade, fazendo amizades.

Família Ruschel (2010):

Uma das pessoas ilustres dos primeiros tempos das Gêmeas do Iguaçu, sem dúvida, foi Leopoldo Ruschel, chegando de Porto Alegre a Porto União em 1917, como Gerente do Banco Pelotense, fundado na esquina da rua Sete de Setembro com a rua Frei Rogério, na esquina oposta à do Banco do Bra-sil, hoje. De Porto União o Banco foi transferido para União da Vitória, em 1920. Seus avós foram imigrantes alemães e seus pais, Nicolao Ruschel e Apollonia Schossler, brasileiros. Leopoldo era de Santo Antônio da Estrela (hoje cidade de Estrela, RS), nascido a 31 de maio de 1883. Tinha um caráter fi rme, tinha muitos amigos e seu lazer predileto eram as ca-çadas. Casou-se, em 1929, com Olinda Maria Schneider, e ti-veram cinco fi lhos: Nereu (falecido), Hélio, Renato (pintor e alfaiate, entrevistado por Paulo e Fahena Horbatiuk, em abril de 2010), Osmar e Marilda. A partir de 1929, passa a traba-

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lhar como Guarda-Livros (Contador), tendo sido Contador da Casa Ferro, que também funcionava como Casa Bancá-ria. Em 1932, Ruschel recebe o Diploma de Guarda-Livros, conforme a Legislação em vigor, registrado sob o n.º 0482, no Conselho Regional de Contabilidade, em Florianópolis. Nesse ano, sempre dando o melhor de si, assume a escrita da Farmácia União, da Casa Comercial Gruba, da fábrica de óleos vegetais, da Casa Comercial Schreiner e de tantas ou-tras. Foi ele que fez , em 1936, a abertura da fi rma individual Willi Reiche, hoje Casa Willi Reiche. É interessante notar que na declaração por ele preparada, e assinada por Willi Reiche, situada na rua Professor Cleto, n.º 6, funcionaria como ofi -cina de vulcanização de pneumáticos, conserto de bicicletas e venda de artefatos de borracha. Willi Reiche declara ainda ser natural da Alemanha, e que sua empresa não tinha fi liais. Em pleno exercício de suas atividades profi ssionais, falece a 4 de junho de 1949. Como reconhecimento, em 1968, por indicação do vereador Lando Rogério Kröetz, seu nome foi aprovado para uma das ruas da cidade. Com razão, Renato Ruschel, o artista plástico, orgulha-se tanto de seu pai e en-ternece-se às lágrimas, ao falar dos netos... Pois a vida é como um rio...

Família Schwartz (2005):

Germano e Carolina Schwartz chegaram a União da Vitória dia 13 de junho de 1886, vindos de Hamburgo, na Alemanha, com os fi lhos: Max, Germano e Ida; o último fi lho, Osvaldo, nasceu em Curitiba. Foram membros da Comunidade Lute-rana. A família tem, após cem anos, 598 descendentes, em 1986, ocasião do 1.º Encontro da Família Schwartz, realiza-do dia 29 de março (conforme documento assinado por Léa Luísa Schwartz e cedido a Paulo e Fahena Horbatiuk, contri-buindo para o corpus desta pesquisa). Muitos membros da comunidade porto-unionense levam o sobrenome Schwartz, conscientes do que viveram seus antepassados para que agora possam usufruir das regalias da modernidade e do conforto. Demonstram, com orgulho, o altaneiro espírito de desbrava-dores, vencedores, lutadores. No tempo, com os casamentos, as etnias vão-se integrando, mas sempre fi ca algo marcante da identidade familiar. Daí o lema com que Léa Luísa encerra a ata desse encontro: “Schwartz – ontem, hoje, sempre”.

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Família Ihlenfeld (2012):

Frederich Johann Ihlenfeld e Catarina Bauer, ele alemão, nascido a 6 de setembro de 1863, em Grellenberg em Grim-men-Grossbisdorf, fi lho de August e Caroline Ilhlenfeld. E ela austríaca, vieram para o Brasil pelo Atlântico, no navio Argentina, em 1886, viagem que perdurou por três meses. Johann chega aos 23 anos de idade, no Rio de Janeiro. Dali seguem, ele e seus três irmãos: August, Wilhelm (Guilher-me), o jovem Eduard e sua irmã Bertha, para São Francisco, onde desembarcam a 7 de dezembro de 1886. Estabelecen-do-se em Blumenau, SC, receberam 75 alqueires de terra e suprimento para três meses. João, nome que Johann passou a usar no Brasil, resolveu, ele e seus irmãos, mudarem-se para Curitiba, PR, porque João era especializado em construção de maquinários, e o trabalho no interior não lhe agradava. Finalmente, foram para União da Vitória, PR, cidade eco-nomicamente promissora, na época. Conforme documento intitulado Escorço Biográfi co de Carlos Ihlenfeld, de autoria de seu fi lho Waldemar (Cedido pela família a Paulo e Fahena Horbatiuk, para estudo), a cidade era um pequeno povoado, contando com uma estação ferroviária e pouquíssimas casas. Nesse povoado Johan, pai de Carlos, fez-se um empreende-dor pioneiro. Montou uma serraria, para fornecer madeira para a construção de casas; uma metalúrgica, para fabricar a maquinaria para os colonos: ferramentas, arados, carroças, plantadeiras manuais, inclusive boticões para extração den-tária. Construiu também um barco, o Tupi, que ia até Por-to Amazonas, pelo Iguaçu, transportando madeira e gente, e trazendo mantimentos para este povoado, que se tornou, logo, centro de abastecimento regional. Montou, ainda, uma fábrica de cerveja e de refrigerantes. Nesse contexto, nasceu Carlos Ihlenfeld, que, aos 11 anos, perdeu o pai, e assistiu à falência dos negócios paternos, nas mãos de terceiros, pouco zelosos dos bens alheios. Assim, com apenas 13 anos, preci-sava aprender uma profi ssão. Aproveitando-se do que sabia seu padrasto, aprendeu, com enorme esforço, a competência de fotógrafo, e venceu. Estudou tecnologia alemã e investin-do recursos para aprender a química da fotografi a. Naquele tempo, no “atelier” ou em casa, a foto era tirada à explosão de magnésia. Não havia eletricidade ou “fl ash”, a iluminação era a lampião ou vela-de-sebo. A clientela também era fraca. Mas

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a foto era necessária, para atender à Polícia, ao Juizado, aos raros casamentos, em acontecimentos ofi ciais notáveis, talvez até à política periódica. Seu Carlos aumentava seu salário tra-balhando com um projetor manual de cinema local, passan-do fi lmes mudos, a quinhentos réis por noite. Aos 18 anos, Carlos prestou serviço militar, em Curitiba, com brilhantis-mo. A profi ssão de fotógrafo não o enriqueceu de vez, foi aos pouquinhos, economizando, até construir a casa própria e o atelier, conhecido como Foto Íris. Teve cinco fi lhos; três rapa-zes e duas moças. O mais velho veio a falecer por insufi ciên-cia cardíaca. Naquele tempo não havia as atuais cirurgias do coração. Em 1939, com a Segunda Guerra Mundial, Carlos, descendente de alemães, não sofreu perseguições, mas teve que deixar de importar material fotográfi co que vinha da Alemanha. Passou a produzir chapas sensibilizadas para tirar retratos. Estudou muito e conseguiu, tanto que as fotos feitas não se descoraram até hoje. Visitado por fi scais que imagina-vam que as chapas fossem contrabandeadas, ele demonstrou a confecção, com muito orgulho. Fato semelhante deu-se com as fotos coloridas, muito anunciadas na Alemanha, mas que Carlos já as lançara comercialmente. Sua “marca”, segundo o biógrafo, era “uma vontade férrea, negociava sempre dentro do seu orçamento e, por isso merecia todo o respeito da so-ciedade. Já idoso, sofreu um acidente de trânsito, colhido em sua motocicleta por uma Kombi, que o arremessou a mais de oito quilômetros, quebrando-lhe a omoplata e a perna direi-ta, do joelho para baixo, escasseando-lhe o pé. Colocou tíbia de platina, mas sentia-se prejudicado. Faleceu a 29 de junho de 1989, com 93 anos e meio de idade. Estavam casados há 69 anos. Carlos e Ida viveram integrados à sociedade local e possuíam convivência exemplar com seus fi lhos, netos e demais parentes. São seus fi lhos: João Ihlenfeld, nascido em 1922 e falecido em 1943; Regina, nascida em 1923; Carlos Egon, em 1931; e Waldemar, em 1934. Carlos Egon casou-se em 1953, com Alice, a nora que assumiu plenamente a pro-fi ssão do sogro Carlos Ihlenfeld. Assim, o casal dedicara-se como fotógrafos e a Empresa Foto Íris alcançou seu apogeu. Alice é fi lha de Carlos Rothembücher e de Lídia Rockem-bach. Alice aprendeu com o sogro, pioneiro no ramo, que aprendera com seu padrasto, Belmiro Sampaio, a partir dos 12 anos, com muito empenho. A casa de fotos “Foto Íris” já passou de cem anos. Carlos Egon e Alice tem três fi lhos: Luiz

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Carlos (falecido em 1972), Renate (professora), e Alberto Egon (que continua com o Foto Íris, com sua esposa Danie-la). Alice é uma fotógrafa especial, amada pelo povo porto--união-vitoriense, delicada, pontual e competente. Com seu olhar meigo, sorriso frequente, importando-se sempre com as posições e detalhes. Pode ser considerada a fada das mais belas fotos presentes nos álbuns das tradicionais famílias da região. E seus fi lhos, igualmente respeitados por sua atuação na sociedade, especialmente Renate, como professora, sem-pre pronta a esclarecer assuntos históricos, que lhe advieram da convivência familiar e com os estudos universitários.

Família Moecke (2010):

Metha Luíze Moecke nasceu na Alemanha, em 1903, perto da fronteira com a Polônia em Gross Poolehs, fi lha de Emília Hilscher e Eduard Will. É irmã do famoso pintor Erich Will. Passou a mocidade em Kiel, e, em 1919, veio com a família para o Brasil, sua segunda pátria, onde conheceu seu queri-do Fernando e tiveram dois fi lhos: Horst (falecido) e Franck Moecke. A mulher de chapéu de palha era vista pelos fi lhos, no seu enorme jardim, entre palmeira, eucaliptos, árvores frutíferas, onde fl oresciam suas amadas roseiras, cravos, vio-letas, glicínias,... Era uma jardineira ativa, com enxada, pá, rastelo. Com seu carrinho de mão transportava terra, adubo, mudas. Cuidar de seu jardim era seu lazer predileto, transfor-mando aquele terreno entre a Av. Iguaçu e a Rua Cel. Ama-zonas, em um paraíso de formas, cores, perfumes, borboletas e pássaros. As pessoas passavam para contemplar. Não era comum plantar fl ores assim, nas cidades (conforme entrevis-ta com Frank Moecke, cedida a Paulo e Fahena Horbatiuk, em junho de 2010). A família mora em uma casa grande, na Av. Iguaçu, 172. Fernando, o esposo de Metha, formado Engenheiro mecânico, em Hamburgo (AL), construíra a re-sidência, ao lado de sua indústria madeireira e ofi cina mecâ-nica. Sua profi ssão era rara naquele tempo, daí ser procurado com frequência pelas grandes empresas. Dona Metha tinha o auxílio de Miraci Dipp Moecke, esposa de Frank. Elas con-seguiram convencer o Prefeito Alcides Fernandes Luiz, para que mandasse prender os animais que fossem pegos na rua, que destruiriam aquele jardim construído em canteiros cer-cados de pedras, que elas preencheram de terra e de fl ores.

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Iniciativas desse porte mostram a grandeza de um sonho, a beleza de um coração, a alegria de partilhar o amor ao uni-verso, com suas mensagens naturais de acolhimento. Tudo muito próprio da cultura alemã – a sutileza das fl ores.

Família Will (2001):

Erich Will (segundo documento da Fundação Municipal de União da Vitória, de março de 2001) nascido na Alemanha em 1905, em Lippschau, leste da Prússia, fi lho de Emília Will e Eduard Will, veio com a família para o Brasil, instalando--se em Anitápolis, perto de Florianópolis. Não se adaptaram e voltaram à Alemanha. Em 1921, retornaram ao Brasil, es-tabelecendo-se em Cruz Machado. Em 1924, transferiram--se para União da Vitória, onde Erich aprendeu a profi ssão de marceneiro e entalhador. Em 1930 casou-se com Kaete Johanna Müller, com quem teve três fi lhas: Gerda Renate (1932), Sonya Elme (1936) e Helga Beate (1939). Trabalhou, de 1934 a 1951, na fi rma de seu cunhado, Fernando Moecke, em União da Vitória, na confecção de portas e janelas, má-quinas para fábrica de papel, escadas, etc. A partir de 1951, estabeleceu uma microempresa em que produziu móveis de estilo, com entalhes em alto relevo. Após o falecimento de sua esposa (1976), dedicou-se exclusivamente à pintura e à con-fecção de armações para telas e suas molduras. Participava com frequência de exposições de telas, no Brasil e no exterior (Alemanha e Suíça). Sua passagem para a eternidade deu-se a 25 de outubro de 1986, mas sua herança cultural é indelével e seguida de perto pelas fi lhas, mestras nas artes da pintura e da música. Gerda Renate foi professora e depois de aposen-tada, voltou a pintar; produzindo retratos, fl ores e paisagens, com perfeição. Sonnya Elme dedicou-se profi ssionalmente à pintura, sendo reconhecida internacionalmente. E a entrevis-tada, Helga Beate Will Clementino da Silva, é pintora desde criança, e toca diversos instrumentos musicais, encantando solenidades com seu violino, especialmente, e seu esposo Éri-co Clementino, cantando. Os fi lhos do casal: Omar e Ericson. Jorge Will, irmão de Erich Will, nasceu em Lippschau, Prús-sia Ocidental, antiga Alemanha Imperial, em 30 de dezem-bro de 1906. Foi agricultor, marceneiro e, como autodidata, escritor. Era apaixonado pela fl ora e pela fauna que sempre defendeu, escreveu Crônicas do Vale da Solidão e Crônicas

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do Sertão Paranaense. Outros escritos foram publicados em jornais de Curitiba. Recebeu do Governador do Estado do Paraná o Diploma de Conservador da Natureza e, em 1989, o título de Cidadão Honorário de União da Vitória. Ivahy Detlev Will é fi lho de Jorge Will e de Elza Gumz. Nascido em União da Vitória, a 5 de setembro de 1944. Escritor, artista plástico, desenhista gráfi co e xilográfi co. Autor de inúmeros textos e legendas relacionados com ilustrações. Seus traba-lhos foram publicados em revistas e jornais da capital para-naense, e, alguns, no México. Foi o criador do Monumento ao Centenário de União da Vitória e do Monumento à Força de Combate ao Fogo, em Porto União.

Família Blattmann (2017):

No quilômetro 7 da antiga Estrada de Palmas, entre a estra-da-de-ferro “linha velha” e a linha nova (Estação Engenheiro Melo), encontram-se os leiteiros. Segundo Úrsula Blattmann (Entrevista concedida a Fahena Porto Horbatiiuk, dia 16 de março de 2017), Augusto Leopoldo Blattmann e Maria Emí-lia Kruger Blattmann chegam de São Francisco do Sul, com os fi lhos: Elfride, Bruno, e Norberto (Beto), para morar perto do primo Karl Wisser e Th ereza Wisser, pais de Carlos, Otí-lia, Waldemiro e Ana. Com uma pequena carroça passou a comercializar leite, sempre introduzindo novas tecnologias na ordenha, e a inseminação artifi cial. Nascera em Glottertal, Floresta Negra, sul da Alemanha, a 31 de maio de 1905. Re-unia-se aos fi nais de semana para o jogo de baralho com os vizinhos Wermoff , Kunze e Bach. Na cidade, a 8 km dali, era conhecido de muitos, pois entregava cerca de 500 litros de leite por dia, na casa dos fregueses (de 1947 a 1976). Depois a Cooperativa de Laticínios de Curitiba Ltda – CLAC era o ponto de encontro das novas gerações de leiteiros. A 16 de janeiro de 1960, casam-se Norberto (nascido a 15/06/1939) e Gertrud Emma Moecke Blattmann (nascida em Hamburgo, em 14 de outubro de 1938). E tiveram sete fi lhos: Roberto (1960), Rolando (1961), Úrsula (1963), Rudolfo (1965), Ute (1968), Norberto Júnior (1974) e Rainhold (1978). Nesse mesmo tempo, a irmã de Gertrud Emma, Elfriede (tia Frida) casou-se com Kurt Hobi (os suíços), e tiveram os fi lhos: Erla Hobi Maltauro, Carlos, Arno e Adelheidt Zimermannn. Ti-veram um açougue perto do matadouro do Rio D´Areia e de-

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pois voltaram para a casa dos Hobi (vizinhos). Bruno (tio de Úrsula) casou-se com Mercedes Southier (família francesa) e tiveram os fi lhos: Leopoldo Augusto, Ana Maria, Rosemarie, Leopoldina, Tânia. Esse tio, diz Úrsula, voltou a ser vizinho quando o Beto cortou a mão direita com a serra circular, em 1969. Depois vendeu suas terras e mudou-se para o Bairro de São Pedro, em frente à Igreja Matriz. A família dos avós ma-ternos, “Oma e Opa Moecke”, moravam na Estrada Velha de Curitiba, a 16 km da família Blattmann. De lá Úrsula lembra bem do lampião de gás e da maria-fumaça, com suas luzes. A 16 de abril de 1976, faleceu o avô e padrinho de Úrsula, Augusto Blattmann, e, assim, a leiteria passou para seus pais. E, a 5 de fevereiro de 1982, faleceu Maria Emília. E a famí-lia Blatmann continuou se expandindo... Roberto e Cristina tiveram a fi lha Luíze; Rudi e Mirna, o fi lho Edson; Úrsula, o fi lho Otto; Júnior e Neide tem três: Rodrigo, Aline e Ana Júlia; e Rainhold e Adriana são pais de Patrícia Ágata e Maria Eduarda. Da nova geração, a Luíza concebeu a Giovanna, e mora em Florianópolis. Enquanto os irmãos Rudi e Júnior, cada qual tem sua casa ao lado da casa de Gertrud e Beto.

Família Kurten (2005):

Walfrido Della Barba Kürten é fi lho de Germano e neto de August Kürten. August é o imigrante alemão, nascido a 23 de julho de 1908, que fora para o Rio Grande do Sul, dirigindo-se depois a Porto União da Vitória, antes do Contestado. Viveu no Bairro de Tocos (Porto União), até 1918. Quando “Tocos” passou a ser Santa Catarina, mudou-se para o lado do Paraná, mas continuou com o Armazém de Secos e Molhados, em To-cos, até 1934. Resolveu, então, liquidar o comércio e abrir ser-raria em São João dos Pobres (SC), em que operou até 1938. Depois disso, adquiriu serraria em Palmital (PR), começando a trabalhar lá, em 1939. E assim foi até 1972. Vendida a indús-tria e o saldo de madeira, a família começou a plantar. Walfri-do era Contador e fazia a contabilidade de sua fi rma. Come-çou a namorar Edelira Cima, sua esposa, em 1929, casando-se com 35 anos de idade. Edelira Cima Kürten é de 27 de janeiro de 1908. Referindo-se à esposa falecida (25/9/2003), assim se expressa aos 97 anos: “Amor eterno, do outro lado da vida, vamos nos encontrar”. E completa, dirigindo-se aos parentes e convidados de sua festa de aniversário: “A gente cumpre o

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destino do ser humano. E que Deus abençoe vocês. E cultivem o direito, a verdade, a justiça”. Era uma liderança espírita, tan-to que a Biblioteca do Centro Espírita Amor e Caridade, em Porto União, leva seu nome. Afi rma a família que “Walfrido era um guru, dava amparo moral e espiritual em Porto União da Vitória, olhando por todo o povo.” (Gravação em DVD, durante o aniversário de 97 anos, por Fabiana Kürten dos Pas-sos, neta). Seu irmão, Esmaldo Della Barba Kürten, foi Prefei-to Municipal de União da Vitória. Com a palavra, perante o genro, Ari Passos, casado com Clotilde Kürten, afi rma: “Fico feliz por ter todos unidos, convivendo em harmonia, e espero que continuem irmanados”. O conselho aos netos, nessa oca-sião, foi: “sejam corretos na linha do amor ao próximo e ao bem”. Walfrido faleceu aos 101 anos de idade, uma vida longa e abençoada, para si, para a família e para a comunidade. Essa festa foi fi lmada e apresentada na TV Millenium, de União da Vitória, no Programa de Marcelo Storck. A família Kür-ten, no decorrer do tempo, tem apresentado muitos destaques na música, mais um dos bens culturais fortes da etnia alemã. Segundo Ribas (2006), Walfrido, nos anos de 1930 a 1935, formara um conjunto musical com a família, o qual tocava nos clubes Apolo e Cruzeiro do Sul, durante os bailes, ou em festas familiares, se solicitados. “Os integrantes desse conjun-to eram: Arthur Santos (violino), Carlos Della Barba (banjo), Joanino Bevilacqua (bateria), Walfrido Della Barba (clarine-te) e Esmaldo Kürten (saxofone)”. (RIBAS, 2006, p. 33). Ha-via, em 1911, segundo Ribas (2006), grupos que animavam o cinema mudo. De um dos grupos consta Olindo Della Barba, com seu clarinete. Também tocaram na Banda Lira da Flo-resta, em 1915: José Della Barba, Carlos Della Barba e Olindo Della Barba, entre outros, citados por Margareth Rose Ribas (2006, p. 61). Clotilde Kürten dos Passos, fi lha de Walfrido e Edelira Cima Kürten durante muito tempo coordenou o Co-légio Musical Vibratto, desde 1987, em que desenvolveu o ensino de órgão eletrônico, teclado, piano e complementos teóricos. Pela musicalização cativa a sensibilidade musical de seus alunos. Lecionara música, anteriormente, no Institu-to Musical Raul Menssing e no Instituto de Música Kürten Ihlenfeld. O neto de Walfrido Kürten, professor Lúcio Kür-ten dos Passos, possui uma banda de rock, e o bisneto, apesar de pequenino ainda, já demonstra grande interesse e talento musical.

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Família Hirzinger (2017):

Hans Hirzinger veio de Brixen, Áustria, aos dez anos de idade, em 1933. Mathias Klein, padrasto, falece em 1965, e a mãe, Anna Hirzinger Klein, em 1972. Da Áustria vieram a Santos (SP) e daí, a Treze Tílias (SC), por orientação do Ministro da Agricultura austríaco, Taller, por motivação geo-gráfi ca. Trabalhou com o Sr. Glass, em Joaçaba, SC. Com de-zesseis para dezessete anos aprendeu o ofício de padeiro, com o tio, Emílio Bokenhagen (Irmão de Ida). Em Joaçaba, casou--se com Ida, em 1942, que pertence à quinta geração alemã. Recebeu convite da avó para ajudar na colônia, em Treze Tí-lias, porque o padrasto estava doente. Aí nasceu a primeira fi lha, Irene; em Porto União trabalhou como padeiro para o Sr. Lauro Negendank. Nessa época nasceu a fi lha Renate. Em 1947, novamente em Treze Tílias, nasceu Roseli. Em 1950, estabeleceu-se defi nitivamente em Porto União, adquirindo a padaria do Sr. Binder, que já se chamava Padaria Glória. Hoje a padaria pertence a Ingo Frost, fi lho de Irene. O outro fi lho, Gerson Frost, tem a padaria D’ Glória, na Av. Manoel Ribas, em União da Vitória. E a fi lha, Sandra Frost Caesar, tem a Padaria e Confeitaria D’ Glória, na Rua Dom Pedro II, em União da Vitória. Roseli, conhecida apenas como Rose, casa-da com Adilson Wengerkiewicz, é proprietária do Mercado Glória, anexo à Padaria Glória, em Porto União.

Família Ribas/ Schröter (2017):

Margareth Rose Ribas, fi lha de Joaquim Osório Ribas e de Ro-semarie Ribas, professora de música, especialista em Letras, vice-presidente da Academia de Letras do Vale do Iguaçu – Alvi, tem por parte de mãe, origem alemã, sendo bisneta de Paul Schröter e neta de Herbert Erich, fi lho de Paul Schröter e Martha Koch. Herbert nasceu em Soft en, próximo a Bres-lau, na região da Silésia, em 12 de março de 1913. A avó de Margareth, Rosa Elizabeth, segundo Rosemarie Ribas, em documento intitulado “Memórias da Vó Rose” (Cedido por Margareth, para consulta, a Paulo e Fahena Horbatiuk, em 22 de março de 2017) era fi lha de Joseph Welz e Elizabeth Foghel. Rosa era natural de Breslau, nascida a 15 de junho de 1908. Rosa Elizabeth e Herbert Erich Schröter se casaram, no Brasil, em 1935, na Colônia de Porto Novo, distrito de Chapecó, SC,

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depois Itapiranga, na fronteira com a Argentina e o Rio Gran-de do Sul. Herbert veio um ano antes, e a noiva viera após Herbert haver desbravado a mata e criado condições econô-micas, além de construir a casa. Durante a viagem, Herbert fez amizade com um senhor que lhe ensinou como fazer em-butidos e defumados, transformando a carne de porco para revenda, profi ssão que lhe valeu por um bom tempo, tanto em Porto Novo, quanto posteriormente, em Palmas. Quando a noiva, Rosa, chegou, fi cou hospedada na casa dos Scholz e, a 6 de agosto de 1935, eles se casaram. Rosa era culta, toca-va piano, tinha enxoval de linho branco bordado e um baú com porcelanas, cristais e pratarias. Mas, era de constituição física frágil, e com o clima quente demais, por muitas vezes adoecera, o que fez com que Herbert resolvesse aceitar a su-gestão do Bispo que visitara a região, Dom Carlos Eduardo Saboia Bandeira de Melo, e mudar-se para Palmas, deixan-do para trás sua casa e terreno, que não conseguira vender. Em Palmas Dom Carlos, conseguiu para ele casa e trabalho no Seminário, como chacareiro. E por fi m, incentivado pelo próprio Bispo, instalou um açougue para fabricação de lin-guiça, salsicha, carnes defumadas, construído nos fundos de seu terreno. Era tempo da Segunda Guerra Mundial, mas em Palmas havia paz. O casal, bem no início de sua trajetória no Brasil, recebeu da Alemanha um livro que ensinava os míni-mos detalhes da gravidez, do parto e do cuidado dos bebês. Estudaram bem esse livro, de forma que os cinco partos foram realizados por Herbert, pois as parteiras convidadas sempre chegavam depois do nascimento. Tiveram os fi lhos: Johannes Michael (1936), Rosemarie (1938), Ana Maria (1939), Cristi-na (1942) e Verônica (1944). Esta última nascida em Palmas. Tudo ia bem, até que um incêndio deu fi m ao abatedouro, açougue e a casa da família. Conseguiram salvar um violino de Herbert, e algumas peças do enxoval de Rosa. Ficaram por alguns dias na casa dos Deininger (Chico da Luz), até que o incansável chefe de família reconstruísse moradia e instala-ções de seu trabalho com as carnes. Viveram em Palmas por um tempo, depois foram para Bituruna, e por fi m, a Porto União, SC, em 1954. Diz Margareth que seu ‘opapa’ (vovô) montou uma fábrica de caixas, Sibema, empresa da qual sua mãe, Rosemarie, fazia a contabilidade. Eles moravam na Rua Prudente de Moraes, ao lado da Farmácia União; e a empresa fi cava na beira do Iguaçu, do lado de União da Vitória, perto

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da ponte da estrada-de-ferro. Relata, ainda, que Rosemarie estudara, como aluna interna, no Colégio Santos Anjos; e na Escola Técnica de Comércio, onde conheceu Joaquim Osório Ribas; enamoraram-se e casaram-se. Conta Margareth Rose que seu primeiro contato com o piano foi por meio de sua ‘omama’ (avó), quando passava as férias de julho em Curitiba, com ela. Também gostava de ouvir, ver as gravuras e ler os livros de historinhas que ela lhe dava. Olhando os livros Mar-gareth se inspirava para tirar os sons ao piano. Era o começo do encantamento de sua vida musical.

Família Lenz (1994):

Em 1934, também veio da Alemanha para o Brasil a família Lenz, que se dirigiu a Porto Novo (Itapiranga), SC, e depois, tornaram-se grandes amigos da família de Herbert e Rosa Schröter. Heinrich Engelbert Lenz, nascido em 17 de novem-bro de 1901, em Wuppertal – Enlberfeld (AL), fi lho de Adam Lenz e Cristine Lenz; e Hermine Augusta Lenz (Waigel), nas-cida em 18 de agosto de 1904, em München (Munique – AL), fi lha de Joseph Waigel e Augusta Waigel, casaram-se em 17 de julho de 1928, em Tegel, Berlim (AL). Emigraram para o Brasil em agosto de 1934, e são os pais de Pe. Bernhard Josef, Ir. Ros-vita (Johanna), Martim Th omas, Herberto, Pe. Matias Marti-nho, Alfredo Gebhard, e Gertrud Cristine. Martim Th omas, nascido em 15 de dezembro de 1933, em Rostock, na Alema-nha, com apenas sete meses emigra com a família para o Bra-sil. Ingressou no Seminário Santo Inácio, em Salvador do Sul (1948-1951). Após 4 anos dessa experiência, vai para Bituru-na, a convite de um colega, João Schoeter, para trabalhar na indústria do pai deste (1953). Mais quatro anos e ingressa na Bernech e Cia., gerenciando-a por 16 anos. Casa-se em janeiro de 1963 com Lúcia Bett, fi lha de José e Amábile Bett. Em de-zembro de 1993, fundou, com João Vicente Conte, a Madeirei-ra Bituruna Ltda, MADEBIL. Além disso, cultivava e extração de erva-mate, de madeira e a criação de gado. Em 15 de janeiro de 1979, muda-se com a família para Porto União, que oferecia melhores condições de estudo às quatro fi lhas (Vera Lúcia, Ca-cilda Rosvita, Valéria, e Fernanda), nascidas em Bituruna e ao fi lho Leonardo, nascido em Porto União (Doc. 1934 – 1994 Fa-mília Lenz – Heinrich e Hermine - 60 anos após a imigração, cedido a Paulo e Fahena Porto Horbatiuk , em 1994).

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Família Werlang (2017):

Sidney Luiz Werlang, relojoeiro e professor, é o Coordenador Musical do Instituto Cultural Grünenwald, em Porto União (SC). É regente da Banda e do Coral do Instituto, que resgatam músicas típicas do folclore alemão, com ensaios semanais. É tetraneto de João Pedro Werlang e Anna Catarina Wolf Heck, vindos de Wibelschein, Renânia. Seus tetravôs eram católicos e vieram para São Leopoldo (RS), em 1925, com o veleiro Heinrich Friedrich, e dedicavam-se à agricultura. João Pe-dro, com 20 anos de idade, veio com o pai, Jost Werlang, e sua mãe, Christine Becker. Sidney é fi lho de Lurdes Rambo e tetraneto de Mathias Rambo e Suzana Hochscheid. Seu pai chamava-se Romeu Inácio Werlang. É casado com Ivete de Fátima Kohler, fi lha de Afonso Artner e Carmen Kohler. Os trisavós maternos de Ivete, Frederico Johannes Kohler e Ca-tharina Abrecht, vieram da Alemanha – Boêmia, para a Co-lônia D. Francisca, em São Bento do Sul, em 1878. Logo, Ivete é trineta de imigrante boêmio. Franz Artner e Anna Treml são seus trisavós paternos. Ivete é professora e participa da música em coral, no Instituto. Sidney e Ivete tem duas fi lhas: Êmeli de Fátima e Edna Luíza. Sidney tem pesquisado a co-lonização alemã em Porto União e já possui um livro em fase de preparo para a publicação. Tem promovido nos últimos cinco anos, em Porto União, em praça pública, exposições de fotos referentes à colonização alemã. Com isso, difunde a cultura alemã, realiza troca de informações e adquire novos dados para suas pesquisas.

Família Woehl (2017):

Dago Woehl é fi lho de Herbert Woehl e de Alida Scultetus. Os pais de Herbert, avós paternos de Dago chamavam-se Leopold Woehl e Jenny Krüger. E os avós maternos, Friedri-ch Schulze (Scultetus) e Annemarie Wedemann (Schmidt). A troca de sobrenome era autorizada, pela alta corte alemã, por meio de decreto ofi cial. O bisavô de Dago, Reymond Wöhl, depois escrito Woehl, nascido a três de maio de 1864, em Maff ersdorf, Distrito de Reichenberg, Tchecoslováquia, fazia parte dos alemães esparsos no Império austro-húngaro, na região da Boêmia. Como relata Dago em documento so-bre a família, Reymond era fi lho de August Wöhl e Th eresia

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Hübel, e deixara Reichenberg, de trem, em 25 de março de 1882. Casou-se em primeiras núpcias com uma viúva, Anne Langhammer, que tinha quatro fi lhos e com ele teve mais dois. Com o falecimento de Anne Langhammer, contraiu matrimônio com outra Anna, fi lha de Anna Randing Krauss e Joseph Krauss, com quem teve uma menina, em 1896, e um menino, Leopold Wöhl, o “opapa” da geração de Dago, como ele se refere ao avô. Reymond chegou de navio ao Rio de Janeiro, embarcado, dirigiu-se de Florianópolis, a São Francisco do Sul, e Joinville. Depois seguiu de carroça pela estrada Dona Francisca, até Campo Alegre, onde encontrou seu irmão, chegando, a 26 de maio de 1882 a seu destino: estrada do Banhado, São Bento do Sul (SC). Como a agricul-tura era de subsistência, para ter algum dinheiro, buscou ser-viço público, na construção de estradas: participou nas obras em trechos da Rodovia Dona Francisca, depois, da estrada Rio Negro – Lapa; depois novamente, na Dona Francisca. Foi madeireiro, serrando tábuas, e de novo, agora como carro-ceiro – na Estrada Dona Francisca. O governo pagava 1$400 réis/dia, sem ajuda de alimentação, para carroças puxadas por quatro mulas. Outra oportunidade apareceu para Reymond, quando o governo lançou o projeto da estrada-de-ferro São Paulo – Rio Grande do Sul, com início em abril de 1989, a partir de Ponta Grossa, mas após três meses de situação con-fl ituosa entre os contratados para o trecho, decidiu voltar à Estrada do Banhado, e aplicar suas economias na compra de duas vacas e dez galinhas. O fi lho de Reymond, Leopold, avô de Dago, tornou-se um excelente marceneiro, trabalhou onze anos em Corupá, terra natal de sua esposa, Jenny Krü-ger, com quem se casou em 24 de dezembro de 1897. Era músico, culto, um artista. Em 1924, mudaram sua residência para Marcílio Dias (SC). Leopold fazia móveis, caixões de defunto, e marchetaria: enfeitava molduras de quadros e de fotos, com pequenos pedaços de madeiras coloridas. Como moravam em uma casa que fi cava nos fundos do Clube Met-sger, a esposa cuidava da limpeza e alimentação, e ele ajudava no atendimento do pessoal. Jenny faleceu em 1940, por mo-tivos ligados a um parto de gêmeos, e Leopold, em março de 1992. Herbert nasceu em Canoinhas; com a perda da mãe, foi a irmã mais velha, Melanie, casada com Antônio Dias, fu-nileiro, fabricante de vinho artesanal de boa qualidade, que continuou a atendê-los, como se fossem seus fi lhos. Sofreram

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muito a solidão sem a mãe, e Herbert saiu em busca de dias melhores, chegando a Porto União, naquela época, com a economia ascendente. Casou-se em 4 de junho de 1949 com Alida Scultetus, com quem teve cinco fi lhos: Dago, Vitor, Rui, Jane e Roberto. Na década de 1950 exerceu a contabilidade, fez sociedade com o engenheiro Horst Moecke em uma loja de materiais de construção, criou uma fábrica de ladrilhos. Muito integrado à comunidade, participava de bailes, bolão, grupos de amigos. Algumas participações breves na política e na comunidade luterana, além do apoio dado à criação da Faculdade de Administração e Ciências Econômicas, hoje, Uniuv, juntamente com outros empresários locais. “Como comerciante Herbert trabalha muito, caminha à noite, para resolver o dia. Atende bem, compreende necessidades. Ga-nha respeito”. Assim, Dago sintetiza o modo de ser de seu pai (Conforme documento enviado por email a Paulo e Fah-ena Horbatiuk , dia 12 de fevereiro de 2017). E completa o fi lho: ”Em 55 anos em torno da empresa Herbert Materiais de Construção Ltda criou credibilidade amparada nos prin-cípios e na natureza da própria vida: generoso e honesto. Fra-terno com as pessoas. Paciente”. Faleceu em Curitiba, dia oito de julho de 2005, com enfi sema pulmonar, com 80 anos de idade. Para completar as origens de Dago Wohel, o fundador do Parque Histórico Iguassu, apresentamos os pais de Ali-da, seus avós maternos: Friedrich Hermann Alfred Schulze e Anne Marie Schmidt. Ela natural de Hannover (AL), nascida a 17 de maio de 1902. Foi professora de Jardim de Infância em Hamburgo, adquirindo a cidadania hamburguesa, a 15 de outubro de 1910, e a 11 de maio de 1911, foi autorizada a trocar o sobrenome, de Wedemann por Schmidt. Casou-se com Alfred Scultetus, em 23 de dezembro de 1924. Alfred foi o nome mais usado pelo avô, que também solicitou a substi-tuição de Schulze por Scultetus, com permissão da autoridade responsável. Era diplomado Comerciante. Assim formou-se o casal Scultetus. Friedrich Hermann Alfred Schulze nasceu em Ober Teutschenthal (AL), a 30 de dezembro de 1877, fi -lho de um proprietário de uma fábrica, que tinha três irmãos e uma irmã: Friedrich (Fritz) – médico; Alfred – comercian-te; Oskar – militar; e Ria – irmã. Passou a Primeira Guerra Mundial preso na Ilha de Córsega, onde conheceu Francisco Gasparoski. De volta à Alemanha, a 23 de outubro de 1918, começou a trabalhar por conta própria e perdeu quase tudo

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o que tinha, devido à infl ação. Chamado por Gasparoski, que já havia vindo para Canoinhas, resolveu também emi-grar, embarcando, dia 23 de junho de 1925, no navio Espa-nha, rumo a São Francisco, Brasil, com uma bagagem gran-de. Deu-se o desembarque em São Francisco a 17 de julho de 1925, e seguiram para Canoinhas. De Canoinhas a Porto União, com breve estada em Santa Cruz do Timbó. Estabele-ceram-se com Comércio de Secos e Molhados, dando um lar adequado a seus cinco fi lhos: Annelore, Alfredo, Alida (mãe de Dago) Annemarie Renate, e Friedrich Albrecht (Nuqui). Annemarie Scultetus faleceu, com 87 anos, a 31 de março de 1989; e Alfred, aos 89 anos, em 31 de maio de 1967. Alida é a mãe de Dago, e a vida foi fl uindo como o Iguaçu... deixando suas belas marcas. Dago tenta resgatá-las com o Parque His-tórico Iguassu, desde o começo... Trabalho hercúleo.

Família Weber (2016):

O Instituto Cultural Grünenwald é liderado por Élio We-ber. Apresentaremos sua história de vida, bem como de sua esposa, justifi cando a realização desse sonho do casal, o Instituto Cultural Grünenwald, apoiado por um grupo de descendentes de alemães e por membros da comunida-de de Porto União e de União da Vitória, não descendentes da etnia alemã, mas que acreditam no empreendimento sob o aspecto da cultura, do turismo, da economia e do lazer advindos. Élio Miguel Weber e Irene Fraisleben Weber são os pais de Lígia Mariane, Regiane Claire Weber e Gabriel Henrique Weber. Élio Miguel é fi lho de Werno Weber e Ita Lituína Meinerz Weber. É o quinto entre os oito fi lhos. Seu avô chamava-se Aloísio Weber, nascido em São Leopoldo (RS), e casado com Verônica Vier. Viveu de 1900 a 1977. Coincidentemente, o pai de Élio foi também o quinto fi lho entre oito irmãos. O bisavô de Élio, Jacob Weber, veio da Alemanaha com seus pais, Franz Weber e Sophia Kohlbe-cher e duas irmãs: Apolônia e Sofi a. Este casal ainda teve, no Brasil, mais quatro fl ilhos (Franz Weber Filho, Nicolau Weber, Catharina Weber Immig, casada com Pedro Immig, e Apsolan Weber). Élio Miguel nasceu dia 26 de dezembro de 1962, na Vila de São Miguel, hoje, São Miguel da Serra, Distrito do Município de Porto União (SC). Élio relata que quando seus avós vieram do Rio Grande do Sul, ao chega-

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rem, dedicaram-se à agricultura, mas sempre tentando algo mais. Primeiro, tentaram uma queijaria, que não deu certo devido à escassez de produção de leite na região. Tentaram, então, abrir um salão de baile em sua propriedade, porém a distância do centro da vila era um empecilho ao desenvol-vimento do empreendimento. Por sugestão da comunidade cederam um terreno para fundar a Sociedade Recreativa e Cultural de Atiradores de São Miguel. A Comunidade ad-quiriu o Clube Velho de seu avô e instalou-o bem no centro da vila, onde funciona, ainda, com qualidade. Então par-tiu, como sócio, para outra atividade, no ramo madeireiro, bem sucedido na época, encerrado, posteriormente, devido a questões de confl itos gerados pela proximidade excessiva das casas dos familiares da empresa. Mas, a família do avô Aloísio não abandonara a agricultura. Nessa altura dos fa-tos o avô e o Pai de Élio continuaram a dedicar-se à agri-cultura apenas. Após trabalhar na roça dos nove aos quinze anos de idade, Élio concluiu o Ensino Fundamental e pre-cisou continuar seus estudos na cidade, isto é, em Porto União, residindo em uma pensão e trabalhando para cobrir suas próprias despesas. Terminado o Ensino Médio, serviu o Exército Brasileiro por um ano, dirigindo-se a Curitiba, pensando em cursar Medicina. Mas, as difíceis condições de estudo e trabalho o fi zeram, muito a contragosto, desis-tir desse sonho. Volta para casa, sem perspectiva de futuro, quando seu irmão comprou um bar e o convidou a ajudá-lo. Élio passou a trabalhar no bar durante o dia, e à noite cursou Administração, na Faculdade de Administração e Ciências Econômicas, atualmente, Centro Universitário de União da Vitória - Uniuv, em União da Vitória. Após dois anos e meio nesse ritmo, o irmão de Élio não quis mais o bar, e Élio adquire-o, tendo que parar de estudar. Manteve esse bar em Santa Rosa, Bairro de Porto União, por seis anos (1985-1990). Nesse meio tempo casou-se e teve a primeira fi lha. Ousando um pouco mais, comprou um restaurante no cen-tro da cidade (O antigo hotel Porto União). Lá se contavam muitas histórias da vida dos antigos agricultores, pois era um ponto de encontro da comunidade rural do Município. Por oito anos atendeu o restaurante e começou a apreciar a história de seu povo. Inovando, resolve aceitar o cargo de Secretário Municipal da Agricultura. Nessa época, deu es-trutura própria à Secretaria, oferecendo diversas melhorias,

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e aproximando os serviços necessários ao agricultor: Secre-taria Municipal de Agricultura, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, INCRA, CIDASC e EPAGRI, todos no mesmo pré-dio. Mas, continuava com o restaurante, e já possuía os três fi lhos. Considerou oportuno comprar uma loja de materiais elétricos (início de 1999), e, para entender do assunto, con-seguiu que trouxessem uma extensão do Curso Técnico em Eletrotécnica do CEFET, hoje, Instituto Federal de Floria-nópolis. Dessa forma, administra até hoje, sua empresa com o apoio irrestrito e o companheirismo de sua esposa Irene. Irene Fraisleben Weber, esposa de Élio Weber, é fi lha de Ur-bano Bertolino Fraisleben e Luíza Ziegler Fraisleben (O car-torário registrou Fraisleben em vez de Freisleben que era o nome dos pais). São seus avós paternos: Coleta Marcolina e José Francisco Freisleben; e seus avós maternos: Carolina e Yosef Ziegler. O avô Freisleben veio solteiro do Rio Grande do Sul, da cidade de Montenegro, no início do século, e a avó Coleta veio de Farroupilha. Casaram-se em Porto União e foram residir em Maratá. Tiveram 12 fi lhos: Emílio, Mer-cilda, Urbano, Otto, Edmundo, Fridolino, Irma, Valdomiro, Alfredo, Elvira, Leonídio, e José. Sempre participativos, aju-daram na construção da Igreja local. Irene, fi lha de Urbano, tem cinco irmãos: Hilda F. Hess, Rainilda Fraisleben, Valdo-miro Alfredo, Rufi na F. Dresch, Eliane Amélia F. Fazan. Os avós maternos de Irene Freisleben Weber são José e Carolina Ziegler, alemães; Josef nascido em 3/4/1889 e Carolina, em 29 de abril de 1898. Casaram-se em 18/8/1922. Moravam na cidade de Oberkirch, no vilarejo de Zusenhofen, na região de Schwarzwald, próximo à fronteira com a França. Yosef esteve nos campos de batalha na primeira guerra, viu mui-tos companheiros morrerem. Seu irmão mais novo, Ludwig, morreu na guerra. Vieram no mesmo navio as famílias Hell, Winkler e Bürgek. Foram para Curitiba, e de lá, para Porto União, depois para São Miguel da Serra, e por fi m, chega-ram a São José do Maratá, onde viveram até a morte. Yosef e Carolina tiveram nove fi lhos: Hilda, Marta, Luíza (mãe de Irene), Carolina, Antônio, Elizabeth, Ludwig, Alberto e Ana. No fi nal da vida, Yosef entrou em depressão profunda e aca-bou pondo fi m na própria vida; resultado dos traumas da guerra e reveses diversos, na própria região em que viveram (Depoimento de Élio Miguel Weber, dia 17 de maio de 2016, a Paulo e Fahena Porto Horbatiuk).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cem anos depois, reconhecemos emocionados, em (entre) nós, sinais de sua amorosa presença. Obrigado, caros imigrantes!

Clubes, igrejas, escolas, música, ciência, arte, protagonismo e ener-gia inquebrantáveis,

solidariedade familiar e étnica, gosto pelo cultivo de plantas e fl ores foram minimizando os sofrimentos, dores, desafi os, e injustiças ocorridos no início da colonização. Superaram com galhardia as condições precárias de sobrevivência recebidas, e ergueram sólidos pilares, sobre os quais a so-ciedade porto-unionense se constrói e reconstrói.

O conhecimento dessa história reforça, em cada leitor, uma iden-tidade mais vigorosa, bem lastreada, seja ela de origem germânica ou não, pois os imigrantes estiveram unidos entre si, e passaram por percalços se-melhantes, independente de etnia e cultura, no solo porto-unionense, o que vale um Centenário bem vivido e promissor.

Com este trabalho procurou-se captar um pouco da alma da re-gião, que emana das entrelinhas dos relatos de vida de seus antepassados, neste caso, os alemães imigrantes e seus descendentes. Há um sentimento forte que se expande e envolve, fazendo pensar que algo novo vem surgin-do: a criação de paisagens culturais. Esse é um conceito que, na prática, signifi ca mais que atmosfera cultural, nostalgia em relação ao passado; é também ânimo, vontade, coração, alma, engajamento. Essa paisagem cul-tural é entendida como harmoniosa, tranquila, colorida, variada e bela. É um fenômeno, principalmente estético, agrada mais aos olhos que à razão. É um dos subconjuntos vistos como Patrimônio Mundial da Humanidade. São interações entre as pessoas e a natureza.

Cada pessoa conhece um pouco o seu habitat, mas o conhecimento coletivo, carregado por um grupo cultural é muito maior e mais profundo que qualquer conhecimento individual. O campo cultural é uma tenda que abriga a todos que estiverem dispostos a doar-se pela causa comum, para que Porto União e União da Vitória seja sentida como uma região diferente, mais bela e acolhedora, cheia de estética, emoção e conhecimento, em que a vida e a ciência imprimiram marcas e atribuíram valores.

Assim, a comunidade de Porto União (SC) que celebra seu cente-nário, pode abeberar-se de conhecimento e experimentar situações cultu-rais artísticas diversas, como teatro, música, a dança, gastronomia, entre outras deixadas pelos que por estas terras passaram.

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Dessa forma, torna-se possível usufruir de áreas urbanas e áreas rurais com a chancela de paisagem cultural. O trabalho de pessoas que pre-servam a cultura, como o Parque Histórico Iguassu, o Grupo Folclórico Kalena, as pêssankas e o perohê, o Instituto Cultural Grünenwald, as uni-versidades, as academias de Letras e de Cultura, hão de estimular que se crie permanente ebulição cultural, para que a população passe a vibrar e a orgulhar-se de sua língua, das artes, dos costumes de seus antepassados, de sua história.

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Figura 3 - Ponte da Estrada de Ferro em Porto União (SC).Fonte: Claro Jansson (1912).

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ABRIDORES DE ESTRADAS, SOLDADOS E ESCOLAS PROMÍSCUAS: O UNIVERSO DOS PRIMEIROS TEMPOS

DO PORTO DA UNIÃO DA VITÓRIA

Fernando Tokarski1

RESUMO: A proposta deste artigo é a de contribuir para a historiografi a regional por meio de assuntos relacionados à vida social, econômica e política de Porto União da Vitória, mediante fontes ofi ciais do governo paranaense. Algumas infor-mações complementares foram inseridas como meio de ampliar o conhecimento dos fatos. Se União da Vitória e Porto União são municípios divididos por questões políticas, passados cem anos dessa divisão, a unidade permanece sólida nos gene-ralizados aspectos culturais. Sob esse prisma é que esta pesquisa resgata notícias alusivas a Porto União da Vitória, desde a criação da província do Paraná.

PALAVRAS-CHAVE: Porto União da Vitória. Relatórios ofi ciais. História.

INTRODUÇÃO

A advertência aos leitores fi ca por conta do caráter positivista deste artigo, apenas desejoso de acrescentar novos subsídios e confi rmar infor-mações históricas relacionadas a União da Vitória (PR). As diferentes no-tícias aqui contidas foram prospectadas em demoradas e extenuantes pes-quisas nos relatórios de governo do Paraná, perlustrados desde o de 1854, do presidente Zacarias de Góes e Vasconcellos, até o de 1925, de Caetano Munhoz da Rocha. Não há como dissociar a existência de Porto União (SC) da existência de União da Vitória. Nas comemorações do centenário desse município catarinense, o que se pretende é lançar novos lumes acerca de al-gumas personalidades ofuscadas na memória ou ocultas no esquecimento, mas que, ao seu modo e na sua vida laboriosa ou social, contribuíram para a construção da sociedade regional. As duas cidades são frutos de uma úni-ca semente, das mesmas raízes; a formação antropológica e socioeconômi-ca é a mesma. Apenas foi a espada cega e insensível da política que apartou o chão então único e coeso.

Ademais, optamos por considerar União da Vitória como um ter-ritório macrorregional que hoje compreende diversas células municipais 1 Membro fundador da Academia de Letras Vale do Iguaçu (Alvi), ocupando a cadeira 31, tendo como patrono Cyro Ehlke. Historiador, professor e escritor.

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do Paraná e de Santa Catarina, e não apenas seu atual território, bem mais restrito àquele do passado. A nossa intenção é contribuir para o enrique-cimento da historiografi a de ambos os municípios e da História Regional. É importante confrontar as informações contidas neste estudo com os de consagrados autores, tais como Riesemberg (1973), Melo Junior (1990), Sebben (1992) e Silva (2006). Pela vastidão do assunto, entendemos fron-talmente não incursionar pelas notícias referentes à Questão e à Guerra do Contestado atribuídas a Porto União da Vitória, o que por si só dá possibi-lidades para outra longa e complexa pesquisa.

Sem a necessidade de repisar os episódios da descoberta do vau do Iguaçu e a consequente fundação do povoado de União Vitória, ocorridas aos 12 de abril de 1842, mesmo em documentos governamentais percebe-mos que o nome dado ao lugar recebia diferentes tratamentos, fi rmando-se como tal só a partir de 1881. Reiteramos e grifamos os muitos topônimos para demonstrar as diferentes denominações que o antigo vau, povoado, vila e cidade tiveram ao longo dos tempos. Nos primeiros registros, o nome usual é porto da União [grifo nosso; assim escrito], passando a Porto da União [grifo nosso] e no relatório de 1880, mas publicado aos 16 de feve-reiro de 1881 pelo presidente provincial João José Pedrosa, usa-se a mesma designação e, ao mesmo tempo, pela primeira vez aparece a denominação União da Victoria [grifo nosso].

Em seu relatório de 1882, publicado em 1º de outubro, em dife-rentes lugares do documento o presidente Carlos Augusto de Carvalho usa três formas distintas para nominar o mesmo lugar: porto da União, Porto da União ou Porto da Victoria [grifos nossos, assim grafados] (PARANÁ, 1882). No ano seguinte, Luiz Alves Leite de Oliveira Bello insiste no termo Porto da União (PARANÁ, 1883). No relatório de Vasconcellos, apresenta-do aos 15 de julho de 1854, não há qualquer referência expressa a União da Vitória ou ao Porto da União. No do vice-presidente em exercício, Th eofi lo Ribeiro de Rezende, de 06 de setembro de 1854, a menção ao embrionário povoado das barrancas do Iguaçu é dada como “porto da União”, assim escrita, o que se repete em sucessivos relatórios e que nós exaustivamente reiteramos e grifamos por puro didatismo. É o que menciona o documento:

Communicou Antonio Caetano de Oliveira Nhosinho, em of-fi cio de 4 de junho, que contractára pela quantia de 520U000 com Albino Leme as duas leguas de caminho, que estavão por fazer do porto da União [grifo nosso; assim grafado] a sahir

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aos campos de Palmas, obrigando-se o dito Leme a fazer essa porção de caminho com sessenta Palmos de largura, roçada, derrubada, aterrados, estivas e cavas, e a dal-as promptas por todo o corrente mez (PARANÁ, 1854, p. 46).

UMA DESCRIÇÃO DA PAISAGEM

Na crônica apensa ao relatório do presidente Alfredo D`Escragnol-le Taunay, posto à luz aos 03 de maio de 1886, o autor retrata a paisagem do rudimentar povoado, talvez a primeira descrição que dela se fez:

A nascente povoação do porto União da Victoria [assim gra-fado; grifo nosso] está sendo edifi cada à margem esquerda do Iguassú, em duas colinas um tanto irregulares, ligadas por uma baixada, que infelizmente é inundada por occasião das grandes cheias do rio, bem como todas as circunvizinhanças. A vista que se desfructa do alto d`esses outeiros, extensa e bastante interessante, domina varias curvas do elegante rio, e do outro lado bella perspectiva de pinheiral e mattaria. O seu nome provem do encontro, ou combinado ou occasional e fortuito, de duas commisões de engenheiros e sertanistas que explorarão, ha uns 30 e tantos annos, aquella região, em procura de communicação e caminho para a povoação e os campos de Palmas (PARANÁ, 1886).

Em seguida, o cronista explica que o local exato do ponto de con-vergência das comissões ocorreu à jusante, em Porto Vitória. Entretanto pondera que não via problemas na denominação de União da Vitória à no-vel povoação, quando ela tivesse condições de ser elevada à vila. Conforme o relato, Taunay passou o restante do dia 05 de março [de 1886] a visitar o povoado, indo inclusive ao acampamento do batalhão de engenheiros encarregado da abertura da estrada de rodagem a Palmas.

O presidente considerou imprópria e ruim a localização do acam-pamento, instalado numa área pantanosa e úmida e a seu ver isso denotava haver pouco cuidado na conservação da limpeza geral, com prejuízo da ordem e da disciplina. Por fi m, Taunay percorreu a pé as poucas centenas de metros da estrada que circundava a povoação, conferindo a largura do leito projetado (PARANÁ, 1886).

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ESTRADAS, CONSTRUTORES, FEITORES E CONSERVEIROS

Naqueles primórdios, o governo paranaense se preocupava com a construção de estradas carroçáveis, posto que a maioria dos caminhos não passasse de próprias às tropas cavalares e de gado vacum. Além disso, a in-tegração provincial era claudicante. Como sempre, os governantes lidavam com parcos recursos. Engenheiros eram raros e assim práticos assumiam a construção dos caminhos2.

Desde breve, no relatório de 23 de setembro de 1856, assinado pelo presidente José Pires da Motta, há ligeira alusão ao caminho entre a vila de Palmeira e Palmas, dizendo nela estar concluído um lanço de 12 léguas e duas pontes, “...tudo feito sob arrematação...”, mas não ainda exa-minadas por um engenheiro (1856). No relatório pertinente a 1857, do se-gundo vice-presidente José Antonio Vaz de Carvalhaes, informa-se que na estrada entre Palmeira e Palmas, o primeiro trecho, desde Palmeira ao por-to da União [grifo nosso] além de 15 léguas construídas por José Caetano de Oliveira, o barão de Tibagy, e Pedro Zanardino, foram edifi cados três pontilhões recomendados pelo engenheiro civil Emilio Gengembre e mais cinco léguas arrematadas por Antonio Moreira de Castilho. O engenheiro Henrique Hégréville inspecionou esse trecho, achou-o de acordo com o que se estabelecera em contrato, incluindo largura de 70 a 80 palmos e 23 aterros.

ENTRE O PORTO DA UNIÃO E PALMAS

Embora dada em relatórios mais recentes, a primeira alusão ao caminho entre o Porto-União [assim grafado; grifo nosso] e Palmas é de 1855, quando aos 04 de julho tal Albino Lemos contratou a construção de duas léguas, deixando-o com 60 palmos de largura [cerca de 13 metros], fazendo derrubadas, aterrados, cavas e estivas ao custo de 520 mil réis (PA-RANÁ, 1897). A reconstrução da segunda parte da mesma estrada, entre Porto União e a freguesia de Palmas, num percurso de pouco mais de 19

2 Em seu relatório de 1856 o vice-presidente do Paraná, Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire Rohan, textualmente disse que “Não ha, por ora, na província, uma só via de communicação que mereça integralmente o nome de estrada; porque, ainda mesmo aquellas em que se tem executado algumas obras d’ arte, não passão de trilhos, mais ou menos transitaveis, que longe ainda estão de satisfazer a todas as condições da sciencia (PARANÁ, 1856, p. 116).

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léguas [cerca de 95 km], estava sob a incumbência do major Antonio Cae-tano de Oliveira Nhozinho, irmão de Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá, fi guras proeminentes de Palmeira. Hégréville, que inspecionou o percurso, considerou péssimo o traçado, “[...] não só pela grande curva que descreve sem necessidade, como por atravessar terrenos muito accidentados e palu-dosos” (PARANÁ, 1858).

Depois de citar outros inconvenientes da estrada, Carvalhaes des-creve que:

[...] tem o caminho actual os grandes obstaculos que lhe off e-recem o rio Vermelho que se atravessa tres vezes, e que, com qualquer chuva, deixa de var váo, obrigando os tropeiros á descarregar suas tropas para eff ectuar a passagem em canoas; o rio Jangada, cujo passo temivel ameaça a vida dos que nelle se arriscam; uma serra de penosa ascensão e perigosa des-cida, por causa da ingremidade e terreno escorregadio, e fi -nalmente os rios Espingarda, Pinguela e Areya que, embora insignifi cantes, enchem-se de tal modo, em occasiões de chu-va, que a sua passagem se torna impossivel por alguns dias (PARANÁ, 1858).

O sucessor de Carvalhaes, Francisco Liberato de Mattos, discorre sobre o mesmo trecho viário:

[...] Fazendo ver o engenheiro Hégréville, no relatorio que recebi a 24 de Outubro, a necessidade de melhorar-se a es-trada do porto da União [assim grafado; grifo nosso] a Palmeira, diminuindo a curva que se prolonga 4490 braças [9.968 metros] do dito porto em direcção a Palmeira, e evi-tando-se, alem de outros inconvenientes, o perigo que cor-rem os viajantes por terem que passar tres vezes, como lhes é indispensavel, e em algumas occasiões a nado, o rio Ver-melho, e de atravessar tambem a grande lagôa formada pela confl uencia daquelle com o rio Yguassú; accrescentando o mesmo engenheiro que os melhoramentos da estrada actual, especifi cados no mesmo relatorio, se não farão com menos de 11:000U000, entretanto que a despeza dos que projetou, não chega a 2:000U000, resolvi mandar pôr a obra em hasta publica para leval-a a eff eito por este meio, [...] (PARANÁ, 1858).

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86 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

No início de 1860 o presidente José Francisco Cardoso se referiu ao Porto da União apenas quando tratou da questão das estradas do Paraná, ao anotar que o trecho entre esse embrionário povoado e Palmas continuava sob a inspeção de Antonio Caetano de Oliveira Nhozinho. Acrescentou que o percurso oferecia fácil trânsito aos viajantes, precisando, porém, de uma roçada numa extensão de cinco léguas. Nhozinho também fez ver ao presi-dente que para a travessia do rio Jangada havia necessidade de um passador contratado pelo Estado (PARANÁ, 1860).

Após dois anos, isto é, em 1862, Nhozinho persistia na direção das obras da estrada, obtendo do governo provincial a verba de um conto e 500 mil réis para promover consertos ao longo do trajeto. Ao mesmo tempo, o presidente Antonio Barbosa Gomes Nogueira autorizou-o a contratar um passador para o Jangada, assim como mandar construir duas canoas para propiciar tal passagem, o que efetivamente ocorreu naquele mesmo perío-do (PARANÁ, 1862; 1863). No ano seguinte, ao prestar contas do exercício de 1862, Nogueira informou que o tenente Nhozinho prosseguia no co-mando das obras da estrada entre o Porto da União e Palmas e que os tra-balhos eram “[...] em grande parte executados pelos índios, commandados pelo cacique Victorino Condá”. Nesse tempo o presidente determinou que ao custo de 601 mil réis se fi zessem roçadas numa extensão de três léguas (PARANÁ, 1863).

Já no relatório de 15 de fevereiro de 1866, do governo de André Augusto de Padua Fleury, Nhozinho perseverava na direção das obras da es-trada entre o Porto da União e Palmas, mas terceirizou os serviços ao padre José Antonio de Camargo e Araujo (PARANÁ, 1866). No relatório de 1869, do presidente Antonio Augusto da Fonseca, Nhozinho é listado como ins-petor da estrada da Palmeira ao Porto da União, nomeado desde 07 de ou-tubro de 1864 (PARANÁ, 1869). Bem mais tarde, aos 19 de agosto de 1879, o presidente Manoel Pinto de Souza Dantas Filho destinou dois contos de réis para a manutenção da estrada que deixando o vau descoberto por Pedro de Siqueira Cortes ia bater em Palmas. O presidente informou estarem in-conclusos os serviços dessa estrada, pois que apenas algumas indispensáveis roçadas nela foram promovidas para melhorar o trânsito (PARANÁ, 1880). O novo dirigente provincial, João José Pedrosa, ao confeccionar o relatório alusivo a 1880, disse que de Palmas e o Porto da União:

[...] a estrada está sob a inspecção do prestimoso cidadão Pe-dro Tybiriça Carneiro, e é por esta estrada que a população de Palmas importa sal e outros generos de primeira necessi-

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dade, por ella tambem exportando grande porção de gado (PARANÁ, 1881).

Posteriormente, aos 15 de setembro de 1884, ao publicar seu balan-ço administrativo, o presidente Brazilio Augusto Machado d´Oliveira fez amplos comentários atinentes à estrada entre o Porto da União e Palmas e neles, pela primeira vez, há observações referentes à atração de colonos eu-ropeus instalados no país. A disputa territorial entre o Brasil e a Argentina, na célebre “Questão de Palmas”, estava em evidência:

Está na capital e brevemente seguirá seu destino a commis-são militar que por ordem do governo vai abrir uma estrada de rodagem, que ligue o Porto da União a villa de Palmas. Dirige-a o distincto engenheiro capitão Belarmino Augusto de Mondonça Lobo, tendo como ajudante o Sr. tenente de 1. Classe, bacharel Tito Augusto Porto Carrero. A estrada de rodagem, cuja construcção foi em boa hora decretada e con-fi ada a tão zelosa commissão, era de ha muito reclamada por interesses de ordem militar, politica e industrial. Importante secção [...] urgia que não continuasse a ser um simples ca-minho de cargueiros, de transito muito diffi cil e moroso em consequencia das rapidas e variadas ondulações do terreno e nenhum preparo dos passos. Dando a estrada de rodagem facil acesso ao municipio de Palmas, que está encravada em território litigioso, ao mesmo tempo que facilitará a sua de-feza, contribuirá com o augmento da população, aproveita-mento e desenvolvimento das riquezas naturaes que possue. [...] Os immigrantes que já superabundão nos nucleos de S. Bento e Joinville, da visinha provincia de S. Catharina, para lá se transportarão naturalmente, desde que lhe sejão faculta-dos os meios de localisação, [...] porque descendo pelos rios Negro e Iguassú até Porto União da Victoria [assim grafa-do; grifo nosso], não serão mais detidos pelas diffi culdades do actual caminho. As mercadorias terão mais faceis e me-nos dispendioso curso, em seu fl uxo e refl uxo, com vanta-gens reaes tanto para o consumidor como para o productor. O commercio, sahindo da velha rotina, se verá transportado a um horisonte desnublado e amplo (PARANÁ, 1884).

Entre 1885 e o ano subsequente, quase dez contos de réis foram empregados na estrada de Palmas, compreendendo a exploração do trajeto

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pelos campos de São João. Quando o presidente Taunay esteve em União da Vitória entre 5 e 6 de março de 1886, além da inspeção que fez ao acam-pamento do batalhão de engenheiros e às primeiras centenas de metros da nova estrada, no último dia, bem cedo, ele partiu em comitiva a examinar as picadas feitas na procura do traçado defi nitivo. Depois de experimenta-das três direções, Taunay determinou que mais ou menos se seguisse a es-trada existente, melhorando declives, contornando banhados, e divergindo só nos morros e ásperas subidas, como na serra da Areia. A comitiva per-correu mais de duas léguas, atravessando o bairro de Tócos, o riacho Passo Fundo e o Rio da Areia. Perto do meio - dia, Taunay e sua gente voltaram ao povoado, preparando-se para o regresso a Curitiba (PARANÁ, 1886).

Aos 30 de outubro 1886, dirigindo-se à Assembleia Provincial, o sucessor de Taunay, Joaquim de Almeida Faria Sobrinho, mencionou re-latório do capitão Bellarmino Augusto de Mendonça Lobo, que no posto de dirigente da construção da estrada do Porto da União a Palmas, em 29 de julho, foi sucedido pelo major Carlos Eugenio de Andrade Guimarães. Confi rmando as alusões de Taunay, o relatório de Lobo informou que, des-de o início dos trabalhos a partir do porto fl uvial, efetivamente, só foram construídos 1.400 metros de estrada. Mais 140 km de picadas variando de quatro a seis metros de largura foram abertas seguindo os rumos da estrada velha e também foi explorada uma variante pelos campos de São João, en-contrando o traçado inicial no km 58. O relatório avança em detalhes técni-cos, lamentando a desqualifi cação e o diminuto número dos militares des-tinados aos serviços de construção da estrada (PARANÁ, 1887). Adiante, aos 04 de fevereiro de 1895, o secretário de Obras Públicas e Colonização, João Baptista da Costa Carvalho Filho, nomeou Francisco Borges de Mace-do como administrador de conservação do trecho entre o Porto da União e o rio Jangada, percebendo gratifi cação mensal de 150 mil réis. Iniciados em março do mesmo ano, até setembro haviam sido gastos três contos, 401 mil e 750 réis nos trabalhos conserveiros (PARANÁ, 1895).

ENTRE PALMEIRA E O PORTO DA UNIÃO

Ainda no limiar de 1860, o presidente Cardoso menciona que uma ponte precisa ser construída no rio Potinga, de acordo com sugestão de José Caetano de Oliveira. Para tal, prometeu enviar um engenheiro para levantar a planta e orçar os custos da obra (PARANÁ, 1860). Já no início de 1862 o pre-sidente Antonio Barbosa Gomes Nogueira informou à Assembleia Provincial

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que os serviços da estrada de Palmeira ao Porto da União [assim grafado; grifo nosso] continuavam sob as ordens do barão de Tibagy e que nela pouco se fez, necessitando de reparos nos passos e nos aterros, bem como ao longo do percurso carecia a remoção de pinheiros e de outras madeiras.

Nogueira acrescentou que nas seis léguas faltantes para a conclusão da estrada muitos consertos se faziam necessários, sendo de suma impor-tância a construção de uma ponte de 200 palmos no rio Claro. Nesse caudal o presidente mandou postar duas canoas, ao preço de 120 mil réis, bem como por 30 mil réis a manutenção de dois aterros além do rio, além de autorizar despesas de um conto e meio para serviços de urgência (PARA-NÁ, 1862).

Na prestação de contas do exercício de 1862, o mesmo Nogueira manifestou que o barão de Tibagy continuava dirigindo os trabalhos na estrada que desde Palmeira conduzia ao Porto da União. Nesse ano con-cluíram-se três léguas e meia do trajeto, construiu-se uma grande estiva de madeira de lei na várzea do Potinga e outra de pinho, na campina além da margem direita do rio. Também foram instaladas cinco estivas em banha-dos e, destas, quatro com madeira de cerne. Ainda na várzea do Potinga erigiu-se um aterrado e reparos ocorreram no passo desse rio. Igualmente foram realizados consertos nas pontes dos rios da Vargem, dos Macacos e Rondinha, acrescentando-se dois pontilhões de cerne nas imediações do rio da Vargem, ao mesmo tempo em que foram executadas obras de lim-peza de grande parte do trecho, retirando-se as árvores caídas no leito da estrada (PARANÁ, 1863).

Depois, já no início de 1869, o presidente Antonio Augusto da Fon-seca fez estas ponderações sobre a estrada de Palmeira ao Porto da União e daí a Palmas:

Muitos consideram esta estrada inutil: foi entre outros o parecer da thesouraria provincial. Não partilho tal opinião. São tão remotos da capital os campos de Palmas, e tão pro-ximos á fronteira, que convem procurar abreviar o caminho que conduz a elles o quanto possivel: ora a estrada pela Pal-meira abrevia indubitavelmente muito sobre a que passa em Guarapuava. Os campos de Palmas não estão só perto da fronteira; são tambem reclamados pela provincia de Santa Catharina. Cumpre pois attender a elles da maneira possi-vel, e a primeira attenção é indubitavelmente dar-lhes a via mais curta para a capital, e para a marinha. Para utilizar mais

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a estrada, e dar-lhe desde já uma utilidade pratica, convem crear uma freguezia no Porto da União [assim grafado, grifo nosso], aonde me consta haver já um nucleo de povoação.Tal freguezia fi caria pertencendo á da Palmeira, que está em circunstancias de ser elevada a villa. Os limites da nova fre-guezia, que abrangerá parte do territorio ao sul do Iguassú, serão marcados pela presidencia com audiencia das camaras e vigarios interessados, e sujeitos á approvação da assembleia provincial. Não conviria porem installar a nova freguezia sem que os povos fi zessem á sua custa a competente matriz. Penso que desta maneira fi cariam attendidos todos os inte-resses públicos (PARANÁ, 1869).

No segundo relatório anual, quando fi ndou seu cargo, em 1º de setembro de 1869, o presidente Antonio Augusto da Fonseca voltou a men-cionar a estrada desde a Palmeira ao Porto da União, dizendo “Continuo a pensar que é indispensavel a conservação dessa estrada.” Por isso, atenden-do à petição do inspetor Antonio Caetano de Oliveira Nhozinho, datada de 22 de junho, liberou mais um conto e quinhentos mil réis para consertos urgentes do percurso, ordenando ao administrador que apresentasse orça-mento para as obras restantes a executar (PARANÁ, 1869).

Apesar de algum interesse governamental, estava longe a trans-formação da estrada de Palmas em um caminho carroçável. As constantes mudanças no comando da administração da província parece que também contribuíam para esse descaso. Aos 13 de junho de 1873, ao encerrar seu período governamental, o presidente Manoel Antonio Guimarães fez cons-tar que a estrada de Palmas, passando pelo Porto da União [assim grafado; grifo nosso] “Continúa esquecida [...] Acha-se em tal estado que só depois de um estudo e orçamento regulares é que se poderá emprehender a repa-ração que tanto reclama”. (PARANÁ, 1873).

Mais de seis anos depois, aos 19 de agosto de 1879, o presidente Manoel Pinto de Souza Dantas Filho destinou dois contos de réis para a manutenção da mesma estrada. O presidente frisou que foram medidos os últimos trabalhos executados conforme contrato estabelecido com o major Manoel Marcondes de Sá, carecendo apenas a remoção das madeiras do leito dela e a abertura de alguns passos. Ao mesmo tempo, Dantas Filho sugere que, para o complemento dessa estrada e o desenvolvimento do co-mércio, seria conveniente a abertura de uma variante, desde o Porto da União até os campos de São João (PARANÁ, 1880).

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João José Pedrosa, o novo presidente da província, detalhou que aos 06 de agosto de 1880, autorizou o fazendeiro Absalão Antonio Carnei-ro a abrir uma picada entre esses prados e Porto da União, despendendo a quantia de 800 mil réis (PARANÁ, 1881). Anos depois, aos 25 de janeiro de 1896, o governador José Pereira Santos Andrade liberou 15 contos de réis para a construção de uma estrada carroçável entre São João do Triunfo e União da Vitória. Quatro dias mais, aos 29 do mesmo mês, foi autorizada a edifi cação de uma balsa no rio Potinga, na mesma estrada (Paraná, 1896).

DE LAPA A PALMAS, PELAS TERRAS CONTESTADAS

São muito repisados os estudos referentes ao Caminho das Tropas ou Estrada da Mata, que rumo ao sul, a partir de Lapa e Rio Negro, irrom-pia o Sertão de Curitiba. Porém pouco se sabe de seus ramais, sobretudo o que de Rio Negro enveredava no sentido oeste, através do Planalto de Canoinhas, batendo no Porto da União e, por extensão, em Palmas. Outros estudos dão esse percurso como um prolongamento da Estrada Dona Fran-cisca, igualmente iniciado em Rio Negro. De qualquer forma, esse acesso penetrou em uma região rica e densamente povoada por ervais nativos, representando uma fácil e valiosa fonte de exploração da erva-mate, a prin-cipal riqueza regional daquele período.

Ao tempo do governo provincial de André Augusto de Padua Fleury, no primeiro semestre de 1865, há uma ligeira nota alusiva ao ca-minho que desde a freguesia da Lapa demandava a Palmas, passando pelos campos de São João. Nela Fleury informou que o coronel David dos Santos Pacheco não se satisfez com a exploração do novo percurso, determinando outros exames (PARANÁ, 1865). Fica claro que as primeiras explorações dirigidas por Pacheco foram protagonizadas em 1864. De leste a oeste, pelo médio vale do Iguaçu abria-se então uma nova estrada, desta vez pela mar-gem esquerda dos seus principais afl uentes regionais.

Aos 19 de agosto do mesmo ano, quando o vice-presidente em exercício Manoel Alves de Araujo passou a administração provincial ao mesmo Fleury, escreveu que durante seu mandato uma terceira escolta saiu da Lapa rumo aos campos de São João. Na incursão pelos matos adjacentes aos rios Negro, Paciência, Preto e Timbó temeu-se por ataques indígenas, que afi nal não se consumaram. O coronel Pacheco informou a Araujo que a expedição havia sido bem sucedida, retornando a Lapa sem maiores con-tratempos, exceto a ocorrência de alguns dias de fome. Araujo jubilou-se

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pelo sucesso da exploração, considerando-a salutar para o comércio e espe-rançosa para os rarefeitos moradores dessas paragens (PARANÁ, 1865).

Por via terrestre essa expedição principiou nas barrancas do rio Negro, uma légua [cerca de cinco km] abaixo da barra do rio Canoinhas e meia légua antes da foz do Negro no Iguaçu, possivelmente nas imediações do atual bairro rural de Taunay, em Canoinhas (SC), naquele tempo uma grande posse habitada pela família Mattos e outras dela consorciadas, todas agregadas ao pioneirismo ocupacional e demográfi co de Canoinhas. Dali os homens vadearam os sertões, passando pelos rios Paciência e Preto, até encontrar o rio Timbó, que encontraram cheio, retrocedendo em medição desde essa via fl uvial até a morada de Salvador de Lima, a primeira nas cer-canias da vila da Lapa no rumo do poente.

Os expedicionários calcularam em cinco braças [onze metros] a largura do rio Paciência e em oito braças [17,6 metros] a do rio Preto (PA-RANÁ, 1865). Esses indicadores parecem um equívoco do relatório, posto que o primeiro caudal é bem mais forte em águas que o segundo. O mesmo documento aponta que entre o Paciência e o Preto a escolta encontrou dois ribeirões de duas a três braças [entre 4,4 e 6,6 metros], sendo um deles la-jeado. É bem provável que tais ribeirões sejam os hoje conhecidos por rio do Bugre e rio Lajeado, nos arredores da vila de Felipe Schmidt, também em Canoinhas.

Ainda citando o coronel Pacheco, Araujo ponderou ser desneces-sária uma nova excursão além do Timbó, considerando-se que além dele aos campos do São João os prados e sertões eram conhecidos e haviam sido picados pela segunda escolta dirigida por Antonio Pinto. Entretanto, consi-derou importante proceder roçadas e derrubar algumas árvores entre o Rio Negro e o Timbó, possibilitando a franca passagem de cargueiros, além de recomendar a compra de canoas para o translado nesses dois rios, além do Paciência e do Preto (PARANÁ, 1865).

Nesse tempo já se falava da estrada entre o Porto da União e Gua-rapuava, sob a responsabilidade de Daniel Cleve. No relatório pertinente a 1880, o presidente João José Pedrosa esclarece que logo o caminho deve ser aberto em toda a sua extensão e que os últimos temporais estorvaram a execução das obras.

Em seu relatório de 1º de outubro de 1882, o presidente Carlos Augusto de Carvalho demonstrou descontentamento quanto ao estado das estradas do interior da província do Paraná. Ele escreveu: “Para os munici-pios de Guarapuava e Palmas são diffi ceis as communicações. Esta verdade

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affl ige-me e preoccupa-me” (PARANÁ, 1882). Carvalho opinou que era indispensável tratar desse assunto, ligando o litoral às fronteiras, buscan-do garantir a integridade estratégica de Palmas através da navegação pelo Iguaçu até o porto da União [grifo nosso] e a efetiva construção de linhas terrestres. Sugeriu, então, entre outras providências, a abertura de estradas entre Palmeira e Porto da União ou da Victoria [grifo nosso], passando por São João do Triunfo; da Lapa à margem do Iguaçu, abaixo da foz do rio da Várzea e daí aos campos de São João; do porto da União [grifo nosso] a Palmas (PARANÁ, 1882). Como se entende, a denominação do lugar ainda não estava formalizada, nem mesmo nas crônicas governamentais.

Carvalho ainda esclarece que a estrada entre “[...] o porto de União da Victoria a Palmas [...]” teve atenção do governo e sobre ela o chefe da co-lônia militar do Chopim, capitão Francisco Clementino de Santiago Dan-tas, aos 22 de junho de 1882 passou ao presidente estas informações:

Entre o porto da União da Victoria [grifo nosso] e a villa de Palmas ha pelo caminho existente proximadamente uma distancia de 133 kilometros, sendo destes 73 de sertão por terreno excessivamente accidentado e 60 por campo, em que para o livre transito de vehiculos de rodas é indispensavel apenas um ou outro pontilhão e o melhoramento de alguns passos em insignifi cantes cursos de agua. Pelos pontos por onde passa no sertão esse caminho é impossivel levar-se uma estrada regular, pois que as rapidas elevações dos cimos di-visores de aguas e os abaixamentos subsequentes aos talwegs por onde correm os confl uentes do Iguassú tornão o terreno improprio para outra via que não seja o pessimo caminho de cargueiro actual. Parece-me, por isso, que partindo uma estrada do Porto da União [grifo nosso] para Palmas deve dirigir-se logo ao planalto geral que divide as aguas do Iguas-sú das do Uruguay. Até ahi, seguindo proximadamente na direcção S. pelos valles do rio da Areia e do Pintado, antes de chegar aos fachinaes e campos de S. João, encontrará a estrada máo terreno, por exigir aterros e desaterros mais ou menos consideraveis na extensão de 30 kilometros. Dahi em diante, tomando a direcção geral de O. em terreno quase pla-no seguirá Ella pelo sertão até os campos de Palmas, desem-bocando entre as nascentes do Chapecó e do Chopim. É uma extensão de 55 kilometros no maximo. Depois seguirá por campo até a villa, nenhum obstaculo de vulto encontrando para transpor (PARANÁ, 1882).

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O caminho entre o Porto da União e Palmas continuava a ser um estorvo para o desenvolvimento regional; tanto que aos 15 de setembro de 1884 o presidente Brazilio Augusto Machado de Oliveira, logo no início do seu relatório, também se preocupou com essa estrada. Em longas conside-rações, fez referências à construção de uma estrada de rodagem “[...] que não continuasse a ser um simples caminho de cargueiros, de transito muito diffi cil e moroso em consequência das rapidas e variadas ondulações do terreno e nenhum preparo dos passos.” (PARANÁ, 1884).

Versando sobre o mesmo assunto, o presidente Joaquim d’Almeida Faria Sobrinho foi ainda mais demorado em suas observações a respeito da estrada de Palmas. Quando ele visitou as obras, dos 140 km previstos, apenas 1.400 m estavam construídos por militares designados para tal fi m. Mas Faria Sobrinho deu explicações para tamanha morosidade:

O pessoal do contingente compõem-se nominalmente de 48 praças, porem 8 achão-se ahi n’essa capital [Curitiba] em diff erentes destinos, 10 são aqui empregadas em misteres que não lhes permittem occupar-se dos trabalhos, 6 geral-mente permanecem na enfermaria doentes e só 24 achão-se promptas, porem raro comparecerem por dia 20 praças para o serviço. [...] Já pedi ao Exm. Sr. ministro da guerra para que se digne mandar reforçar o contingente com um numero de praças não inferior a 100, ou aliás autorisar-me a admittir operarios civis, para augmentar o pessoal gastador, eviden-temente insuffi ciente. [...] A não ser assim os trabalhos mar-charão lentos e morosos; e a ser conservado o actual numero de praças, [...] só em obras de terras gastar-se-ha, pelo me-nos, 13 annos (PARANÁ, 1887).

No ano seguinte, Faria Sobrinho descreveu alguns avanços obtidos na construção da estrada, acusando que nela operavam 37 e depois, a partir de 15 de agosto, 57 praças comandadas pelo engenheiro major Carlos Eu-genio de Andrade Guimarães, tendo para ajudante o capitão Arthur Pereira de Oliveira Durão e para auxiliares o alferes Antonio Manoel de Aguiar e Silva e o tenente João Soares de Neiva Lima (PARANÁ, 1888).

Aos 21 de janeiro de 1894, no governo provincial de Francisco Xa-vier da Silva, Francisco Borges de Macedo foi nomeado feitor dos serviços de conservação da estrada entre União da Vitória e o rio Jangada. Por ato do secretário de Obras Públicas e Colonização, João Baptista da Costa Car-

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valho Filho, aos 14 de fevereiro de 1895, Macedo passou à condição de ad-ministrador dos serviços de conservação dessa estrada, iniciados em mar-ço, percebendo gratifi cação mensal de 150 mil réis mensais. Por meio da lei 168, de 14 de janeiro de 1896, o governador José Pereira Santos Andrade autorizou a despesa de até 15 contos de réis destinada à construção de uma estrada carroçável entre a vila de São João do Triunfo e União da Vitória. Aos 29 do mesmo mês e ano, Santos Andrade sancionou lei determinando a construção de uma balsa destinada à transposição do rio Potinga (PARA-NÁ, 1896).

Na mensagem governamental de 1º de fevereiro de 1917, o gover-nador Aff onso Alves de Camargo comentou que, no ano anterior, entre tantas obras públicas, fora construída uma estrada de 38 km, desde Vila Nova do Timbó a Pinheiros [naquele tempo denominado Reichardt, hoje no município catarinense de Canoinhas], passando pela vila de Vallões [atual Irineópolis, também em Santa Catarina]. (PARANÁ, 1917).

NAS ÁGUAS DO IGUAÇU

Ao se referir à navegabilidade dos principais rios paranaenses, em 1º de março de 1856, a respeito do Iguaçu o vice-presidente em exercício, Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire Rohan, escreveu que:

Entretanto, do lugar chamado Cahy-Acanga, ou Portão [Por-to Amazonas], a 2 ou 3 leguas da freguezia da Palmeira, até o porto da União [grifo nosso], no districto de Palmas, off e-rece navegação facil para canôas, e neste sentido já tem pres-tado serviços. Esta viagem, que se eff ectua aguas abaixo em 5 a 6 dias, e aguas acima em 10 a 12, é um grande recurso para mercadorias pesadas que vão para Palmas. Devo estas infor-mações ao prestante coronel José Joaquim Pinto Bandeira, o qual, alem dos seus conhecimentos topographicos sobre a provincia, ainda tem a vantagem de haver navegado neste rio, desde o Cahy-Acanga até o porto da União [grifo nosso]. (PARANÁ, 1856, p. 168).

Versando sobre a navegabilidade dos rios paranaenses, no início de 1862 o presidente Antonio Barbosa Gomes Nogueira defendeu o uso do transporte fl uvial como sucessão às tropas de muares. No que tange ao rio Iguaçu, fez este comentário:

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O sal, esse genero de tão grande consumo, poderia ser op-timamente levado desta capital [Curitiba] ou da villa de S. José [dos Pinhais] aos sertões de Palmas em canôas pelo rio Iguassú, removidos alguns obstaculos; mas quando não fosse isso possivel já, por causa do salto do registro velho, [Por-to Amazonas?] podia bem ahi chegar a ser conduzido em carretas até o Portão, donde actualmente já partem canôas carregadas com destino ao porto da União [grifo nosso]. (PARANÁ, 1862).

Adiante, Nogueira forneceu outras relevantes observações acerca do mesmo rio e das explorações que nele se fazia:

O rio Iguassú por sua importancia futura merece seria atten-ção e estudos. Atravessando em seo curso grande parte do centro populoso da provincia é um dos mais interessantes; e que póde ligar em relações de commercio diff erentes muni-cípios. Assim constando-me que o cidadão Pedro de Siqueira Cortes pretendia explorar uma parte desde o primeiro salto que se encontra abaixo do porto da União [grifo nosso] até o passo que de Guarapuava vai a Palmas, prestei-lhe em data de 3 de Julho do anno passado [1861], um auxilio de 200$000. Não tive porem até o presente noticia do resultado deste tra-balho (PARANÁ, 1862).

Aos 23 de janeiro de 1862, o Ministério dos Negócios da Agricul-tura escreveu um aviso solicitando aos governos provinciais estudos refe-rentes à navegabilidade fl uvial. O mesmo Nogueira se apressou em juntar documentos alusivos aos rios do Paraná, encontrando-os poucos. Porém, coletou informações recentes dizendo que, às expensas de sua administra-ção, entre 1º de maio e 18 de julho daquele ano, possivelmente desde as mais altas cabeceiras, em exploração, Manoel Mendes Machado desceu o rio Negro, chegando à foz desse no Iguaçu e daí ao Porto da União. O pre-sidente Nogueira transcreveu o relatório feito por Machado:

Relatório de uma viagem pelos rios Negro e Iguassú desde a ponte que passa para os terrenos dos herdeiros do fi nado Joaquim Antonio Alves até o bairro denominado – Porto da União – [grifo nosso], na margem esquerda do rio Iguas-sú, na estrada que atravessa para a freguesia de Palmas, cuja exploração foi feita pelo abaixo assignado, sendo a derrota

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diaria pela maneira seguinte: No dia 1º de Maio do corrente anno [1862] dei principio á exploração, embarcando-me jun-to á ponte acima indicada e descendo pelo Rio Negro no cor-rer do dia, fazendo pouso no logar denominado – Barra dos Botiás – ... [...] Dia 11. Naveguei dia e noite sem encontrar embaraço algum, passando as barras dos rios S. João e Canoi-nhas, que julguei navagaveis. Cheguei junto onde juntam-se os rios Negro e Iguassú, o qual tem 400 palmos de largura. Calculei a viagem desse dia em 9 legoas. Dia 12. Naveguei sem embaraços, observando as barras dos rios Potinga, Claro e Paciência que não me parecem navegaveis até pouca distan-cia. Avaliei a viagem deste dia e noite em 7 a 8 legoas. [...] Dia 14. Continuei a exploração, navegando sem encontrar nem uma diffi culdade, e cheguei ao meio dia ao Porto da União [grifo nosso], até o qual me tinha proposto explorar. Neste ultimo dia de viagem observei que o rio alargava-se até 600 palmos (PARANÁ, 1863).

Nesse relatório governamental Nogueira volta a mencionar a im-portância da navegação fl uvial pelo interior, referindo-se especialmente ao Iguaçu, lembrando que a conclusão da Estrada Dona Francisca ia auxiliar no transporte do sal já então largamente consumido nas fazendas de criar do interior paranaense. Para Nogueira, o transporte de mercadorias pela Dona Francisca e a conexão através da navegação pelo Iguaçu seriam am-plamente favoráveis ao desenvolvimento econômico do interior do Paraná, o que efetivamente se traduz mais tarde por intermédio das ações do coro-nel Amazonas de Araujo Marcondes e de outros empreendedores da nave-gação fl uvial. Nos mesmos comentários sobre a navegabilidade dos rios do Paraná, o presidente provincial disse que “[...] o Iguassú, que presta-se com grande proveito dos habitantes do interior á navegação de canôas em certa extensão desde Cahiacanga [Porto Amazonas] até o porto da Victoria [gri-fo nosso], é mal conhecido d`ahi em diante” (PARANÁ, 1863).

É fartamente comentado na historiografi a regional o relatório dos engenheiros alemães Franz e Josef Keller, contratados para explorar e es-tudar os rios paranaenses. No tocante ao Iguaçu, aos 30 de agosto e 02 de novembro de 1866, ambos escreveram ao presidente provincial, Polidoro Cezar Burlamaque, dando conta [...] das diffi culdades e embaraços insupe-raveis, que se off erecem a navegação deste rio”. (PARANÁ, 1867). Os Keller apontaram vários óbices à navegabilidade do Iguaçu, explorado que foi in-clusive 30 léguas abaixo do Porto da União, até o passo da Reserva.

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Diante disso, Burlamaque considerou que o Iguaçu não se prestava à navegação, salvo diante de consideráveis despesas destinadas à canaliza-ção do curso. Por isso, aos 20 de novembro de 1866, ele determinou que os engenheiros Keller encerrassem os serviços que já haviam custado quase 15 contos de réis. Porém, adiante, falando sobre o plano de estradas do Paraná, Burlamaque disse que os caminhos terrestres podiam ser conciliados, apro-veitando-se as “[...] mais de 50 leguas de boa navegação dos rios Iguassú e Negro, com os quaes pode o Ivahy ser ligado”. (PARANÁ, 1867).

Nessa época vivia-se sob grandes embates alusivos à construção da Estrada Dona Francisca. Opiniões divergiam com referência ao ponto fi nal do percurso que, partindo de Joinville, teria o ponto fi nal em São José dos Pinhais, nas vizinhanças de Curitiba, ou em Rio Negro (PR), em território ervateiro. Por fi m, um aviso imperial, de 30 de setembro de 1867, dirimiu a questão, optando-se por Rio Negro. Sobre tal escolha o vice-presidente Carlos Augusto Ferraz de Abreu disse que:

A estrada D. Francisca, terminando na freguezia do Rio Ne-gro, abrirá ao commercio do sul da provincia vasto escoa-douro no porto de S. Francisco. Prendendo ao oceano a na-vegação do Rio Negro e do Iguassú até o porto da Victoria [assim grafado; grifo nosso], poderá, em concurrencia com a da Graciosa, prestar importantes serviços ao Imperio em suas relações com os Estados visinhos (PARANÁ, 1867).

Na mesma gestão administrativa, o diretor interino da Estrada da Graciosa, o célebre engenheiro Francisco Antonio Monteiro Tourinho, de farta contribuição ao nascente sistema rodoviário paranaense, também dis-correu sobre a Estrada Dona Francisca:

Ahi chegando [na cidade de Rio Negro] encontrará essa es-trada diante de si o Rio Negro, cuja navegabilidade se estende por espaço de 50 leguas até o porto da Victoria no Iguassú. Por outro lado, tambem a estrada da Graciosa, prolongando--se a rumo de oeste, que não pode deixar de seguir, deparará, na longitude pouco mais ou menos da freguezia da Palmeira, com as aguas plácidas do Iguassú, que conforme os estudos dos engenheiros Keller off erece livre navegação dahi até o porto da Victoria. Assim, a estrada da Graciosa e de D. Fran-cisca, pelas diretrizes marcadas, vão naturalmente concorrer em o mesmo ponto – o porto da Victoria, tornando-se allia-

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das e harmonisando-se para o mesmo fi m, fi cando o porto da Victoria como o ponto necessario de convergencia das vias de communicação para Matto Grosso, Paraguay e Corrientes. Desta combinação resulta que, em vez de só a provincia do Paraná participar do benifi cio das estradas, tocará elle tam-bém á de Santa Catharina. Alem disso ás ferteis regiões sulca-das por este systema serão franqueados dous portos no litoral (PARANÁ, 1867).

Fazendo semelhantes considerações, o diretor da Estrada Dona Francisca, engenheiro José Arthur de Murinelly, também escrever que:

Prendem-se a Ella [a estrada] as linhas fl uviaes dos rios Negro e Iguassú até o porto da União [assim escrito; grifo nosso], de onde devem derivar-se as ramifi cações [...] dependentes todas de estudos prévios e do indispensavel conhecimento local, sem o qual nada se póde rasoavelmente affi rmar, sendo como são infi eis as diversas cartas corographicas da provin-cia (PARANÁ, 1868).

Ao publicar seu relatório em 03 de maio de 1886, o presidente Alfredo D`Escragnolle Taunay fez alusões à navegação nos rios Iguaçu e Negro: “Não ha duvida que aquella empreza, dirigida por um homem de iniciativa, e força de vontade [Amazonas de Araujo Marcondes], prestou relevante serviço a uma grande região, entregue até então ao isolamento e à barbaria, abrindo-a á civilisação e ao commercio; [...] (PARANÁ, 1886). Aos 15 de abril de 1899, o governador José Pereira Santos Andrade nomeou os engenheiros Samuel Gomes Pereira e Aristides d`Oliveira para, em co-missão, examinarem as embarcações em tráfego pelos rios Iguaçu, Negro e Potinga. Na mesma data, o maquinista Moyses Rodrigues da Costa foi de-signado para examinar os vapores circulantes nesses rios (PARANÁ, 1899).

Bem mais tarde, em 1918, o presidente paranaense Aff onso Alves de Camargo mencionava, em sua mensagem governamental aos deputa-dos, que a navegação nos rios Iguaçu, Negro e Potinga reunia dez vapores, doze lanchas para reboque e uma a gasolina (PARANÁ, 1918).

PASSADORES DE BALSAS

A primeira menção ofi cial aos passadores de balsas é encontra-da no relatório que o presidente Antonio Barbosa Gomes Nogueira deu à

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Assembleia Provincial, aos 15 de fevereiro de 1862. O documento informa que após dirigirem representações a Nogueira, os passadores tiveram signi-fi cativo acréscimo nas rendas: “[...] augmentei os mingoados vencimentos que percebiam, e com que não podiam subsistir”. Entre os passadores esta-va Benedicto José da Motta, do passo da Vitória, que de 140 mil réis passou a receber 240 mil réis mensais (PARANÁ, 1862). Todavia, o relatório de 1897 informa que a balsa no Jangada havia desde 1860.

Desde 29 de dezembro de 1885 José Teixeira da Cruz exercia as funções de passador de balsa do Jangada, nas cercanias de União da Vi-tória (PARANÁ, 1886). Não foi possível identifi car quando Cruz deixou essas atividades, pois já aos 26 de janeiro de 1887, outro balseiro, Adolpho José de Oliveira, foi sucedido por Florentino José da Rocha, mediante ato do presidente Francisco d’Almeida Faria Sobrinho (PARANÁ, 1887). Aos 08 de novembro de 1886, por designação do mesmo Faria Sobrinho, João Pereira Lima foi nomeado “[...] passador no passo do Iguassú, no porto de União da Victoria” [grifo nosso] (PARANÁ, 1887).

Aos 03 de março de 1888, ainda no governo do presidente Faria Sobrinho, José Ferraz de Lima foi nomeado como passador de balsa no rio Potinga, substituindo João Ferreira de Lima (PARANÁ, 1888). Aos 09 de abril de 1894, Laurindo Bandeira foi nomeado passador de balsa no mesmo curso fl uvial. Já aos 18 de abril do ano seguinte Amancio Domingues Fer-reira foi nomeado para idênticas funções, sucedendo Bandeira, que pediu exoneração. Bandeira retornou às funções em 09 de abril de 1896, por ato do secretário de Obras Públicas e Colonização, João Baptista da Costa Car-valho Filho. Porém Ferreira logo voltou ao posto, mas aos 22 de outubro de 1896 pediu demissão, assumindo em seu lugar Joaquim Franklin de Olivei-ra (PARANÁ, 1896; 1897).

Nesse mesmo ano e no posterior, Florentino João da Roza apare-ce como passador da balsa no Jangada. Porém não se sabe quando Roza deixou suas atribuições, substituído que foi por José Alves Homem, que em 1898 foi sucedido por José Rodrigues de Oliveira. Homem assumiu seu labor na balsa do rio Tibagi, na cidade do mesmo nome. Nesse mesmo ano, Joaquim Franklin de Oliveira foi exonerado como passador na balsa do Potinga e, em seu luga, reassumiu Amancio Domingues Ferreira, que ainda atuava ao fi nal de 1899. Para a balsa de Porto da União da Victoria [assim grafado; grifo nosso], com o ordenado de 500 mil réis anuais, aos 07 de abril de 1898, foi nomeado Manoel Th eodoro Gonçalves, não se dando conta de quem ele substituiu (PARANÁ, 1899). Ato do governador José

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Pereira Santos Andrade, de 04 de março de 1899, nomeou Salvador Ribeiro de Miranda como passador da balsa do rio Claro. O mesmo Gonçalves, que aos 28 de março de 1900, também foi nomeado como suplente de juiz mu-nicipal, ainda em 1906 exercia as funções de balseiro, pois aos 04 de abril desse ano conseguiu 12 meses de licença (PARANÁ, 1907).

ESCOLAS PROMÍSCUAS E PROFESSORES

No relatório do vice-presidente em exercício, Henrique de Beaure-paire Rohan, de 1º de março de 1856, o quadro das cadeiras de instrução pública da província do Paraná não menciona a existência de alguma escola em União da Vitória. O primeiro registro sobre o assunto é de 03 de maio de 1886, quando o presidente Alfredo D`Escragnolle Taunay prestou o seu relatório governamental, passando a administração da província paranaen-se a Joaquim d’ Almeida Faria Sobrinho. No documento, Taunay informa que aos 26 de abril daquele ano nomeou o normalista Francisco de Paula Guimarães para as funções de professor da escola para o sexo masculino de União da Victoria [grifo nosso] (PARANÁ, 1886).

Aos 27 de novembro de 1886, por meio da lei 851, o sucessor de Taunay, Faria Sobrinho, criou uma escola para o sexo feminino, na mes-ma povoação (PARANÁ, 1887). Aos 13 de agosto de 1888, para suceder o capitão José Mathias Müller, Faria Sobrinho nomeou o major Carlos Eu-genio de Andrade Guimarães como inspetor escolar de União da Vitória. Ao mesmo tempo, Guimarães dirigia os trabalhos da comissão destinada à construção da estrada de Palmas (PARANÁ, 1888).

Bem depois, no relatório do secretário de Negócios do Interior, Justiça e Instrução Pública, Antonio Augusto de Carvalho Chaves, ao go-vernador José Pereira Santos Andrade, apresentado em 1º de setembro de 1897, consta que Maria Leocadia Alves Corrêa lecionava em União da Vi-tória, desde 30 de julho de 1886, na condição de 31ª mais antiga professora efetiva do Paraná. Ela atuou como mestra interina até 16 de agosto de 1891, quando passou à condição de efetiva. A lista era precedida por Maria Julia da Costa Gomes, de Antonina, que ministrava as primeiras letras desde 26 de agosto de 1872. A escola de União da Vitória era a única do lugar, desti-nada a varões e meninas e por isso chamada de “promiscua”.

Maria Leocadia recebia vencimentos anuais de um conto e nove-centos mil réis e o aluguel do edifício escolar custava 120 mil réis ao ano. Ela ainda estava em seu exercício profi ssional em 1902, quando então era a

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28ª professora veterana paranaense; porém seus vencimentos não haviam recebido majoração (PARANÁ, 1903). Desde 28 de maio de 1897, o inspe-tor escolar de União da Vitória foi o major Horacio Lima, em substituição a Francisco de Azevedo Müller, que também fora subcomissário de polícia. Antes, em dias de novembro de 1896, por ato do secretário dos Negócios do Interior, Justiça e Instrução Pública, Antonio Augusto de Carvalho Chaves, Etelvina Stanki foi nomeada professora da escola do bairro rural de Jangada (PARANÁ, 1897).

Quase dois anos depois, a mesma professora aparece com o nome de Etelvina Maria Stanchi, ofi ciando suas atividades laborais na colônia de General Carneiro, quando aos 04 de junho de 1898 obteve licença para tratamento de saúde. Porém, aos 16 de fevereiro do ano seguinte, mediante pedido, ela foi exonerada das suas funções (PARANÁ, 1899). Ainda em 1903 a escola do bairro rural de Jangada estava vaga. No ano seguinte, um decreto de 14 de maio nomeou a normalista Capitolina de Carvalho, para reger a cadeira promíscua dessa escola. Outro decreto de 10 de outubro de 1904 nomeou a normalista Amazilia da Costa Pinto, depois Amazilia Pinto de Araujo, para efetivamente ensinar as primeiras letras na cadeira pro-míscua de União da Victoria (PARANÁ, 1904). Já em 1906 o educandário regido pela professora Amazilia contava com 61 matrículas. Porém apenas 47 estudantes frequentavam as aulas. Ao fi nal do ano, o delegado do ensino, Ismael Alves Pereira Martins, perlustrou o interior paranaense, quando fez anotações sobre o que viu em União da Vitória, referindo-se à escola diri-gida pela professora Amazilia:

A mobilia compõe-se de 7 bancos regulares, meza, estrado, quadro negro, uma cadeira, dois cabides, uma toalha, tudo obtido por subscripção popular. Excellente methodo de en-sino produzindo brilhantes resultados. A professora é intel-ligente, preparada e muito dedicada á sua profi ssão. A sala é quase insuffi ciente, reinando em tudo ordem e aceio. Os livros bem escripturados. A professora apresentou-me bem bons trabalhos de agulha executados pelas alumnas (PARA-NÁ, 1907).

No tocante à escola masculina, cujas aulas eram oferecidas pelo professor Julio Francisco Cidreira, as matrículas somavam 40, mas somente 33 alunos compareciam à escola:

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Não possui mobilia alguma, os bancos de que se serve, bem como mesa, quadro negro e cadeiras, pertencem a particu-lares; a sala é estreita, porem ha diffi culdade para obter me-lhor. O professor é competente e relativamente ao tempo em que ensina, ha bastante adiantamento. Perfeita ordem; aceio o quanto é possivel numa casa velha e em pessimo estado de conservação. Lavrei o termo de visita em um livro sem rubrica e que tambem serve de matricula (PARANÁ, 1907).

Outra escola pública não havia senão a de Vila Nova do Timbó, cujo mestre era José da Costa e Silva Braga. Porém Martins não chegou a inspecioná-la:

Não fui ao Timbó porque soube em União da Victoria que o professor alli passara com destino á esta capital. Soube mais que não existe nenhum alumno matriculado; penso comtudo que a escola deve ser conservada; acha-se em territorio con-testado por Santa Catharina, cuja população apezar de estar foragida, póde de um instante para outro, voltar ás suas casas. Nesse momento então que o carinho do Estado a receba com um templo de luz aberto ao Saber (PARANÁ, 1907).

Tratando do abandono populacional no quarteirão de Vila Nova do Timbó, Martins se referiu às escaramuças, invasões e assassinatos co-metidos por Demétrio Ramos, em dezembro de 1905, o que fez suscitar a presença de tropas federais e consequentes novas tropelias que ainda se refl etiam um ano depois. Esses episódios são amplamente conhecidos da historiografi a regional, e estão entre os primeiros das animosidades que serviram para a defl agração da Guerra do Contestado.

Martins fez anotar que a escola regida por Cidreira necessitava de 15 carteiras, uma mesa com estrado, quadro-negro com cavalete, duas ca-deiras, talha e banco, além de relógio, mapas e livros. O estabelecimento de Vila Nova do Timbó tinha apenas duas carteiras e um banco pertencentes ao mobiliário do Estado, carecendo de todos os outros acessórios próprios de uma escola. A professora Amazilia tinha vencimentos de dois contos e oitocentos mil réis anuais, enquanto, no mesmo período, Cidreira e Braga recebiam um conto e quinhentos (PARANÁ, 1907).

No relatório de 1908, mas pertinente ao ano anterior, o mesmo de-legado Martins registrou que em 1907 o número de estudantes matricula-dos por Amazilia somava 68, mas só 51 apareciam nas aulas. A cátedra do

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professor Cidreira diminuiu para 32 matriculados. Todavia, apenas 26 as-sistiam às aulas. “Alumnos bem adiantados; á esta escola falta tudo, menos o mestre”, foi o comentário de Martins (PARANÁ, 1908). Já em 1913, no governo de Carlos Cavalcanti de Albuquerque, aos 04 de abril foi criada em União da Vitória uma escola para o sexo masculino. Nesse período, embora não haja data defi nida, a professora Corina Costa foi removida do mesmo lugar, assumindo atividades em Palmeira. Ainda em 1913, a escola promís-cua de Jangada foi convertida em uma escola exclusiva para meninos, ao passo que, aos 11 de julho, José Maximiano de Faria Junior foi designado subinspetor escolar do mesmo educandário.

Posteriormente, no mesmo povoado, José Tessaroli foi nomeado para idênticas funções. Na cidade de União da Vitória atuavam três profes-sores: Modesto Bittencourt Sobrinho, Amazília Pinto de Araújo e Ondina Polydoro Cordeiro, nomeada aos 08 de maio daquele ano. Enquanto isso, nos distritos de Poço Preto, São João dos Pobres e Vila Nova do Timbó, respecti-vamente, eram mestres provisórios João Pedro de Oliveira Lemos, nomeado aos 21 de outubro; João Pereira Gomes, Virgolina Castilho de Paula e Manoel Rufi no de Oliveira, nomeados aos 06 de dezembro. Pouco antes, no mesmo 21 de outubro, José Nunes do Rosario foi exonerado das funções de professor de Vila Nova do Timbó. Mais duas escolas para alunos do sexo masculino foram criadas pelo governo estadual, aos 27 de março de 1914: uma em Es-tácios, no atual município paranaense de Paula Freitas, e outra em Palmital.

No período, 366 estudantes estavam matriculados nas escolas públicas, subvencionadas e particulares de União da Vitória (PARANÁ, 1914). Aos 29 de fevereiro de 1916, criou-se uma escola mista no povoado de Vallões, hoje cidade de Irineópolis. A professora Maria Júlia Gonçalves de Sá foi a primeira a exercer a cátedra nessa escola, nomeada pelo ato go-vernamental de 25 de abril do mesmo ano (PARANÁ, 1916).

Há uma diferença substancial entre os dados estatísticos de 1914 e 1916 em relação ao ensino em União da Vitória. De acordo com os quadros estatísticos do governo paranaense, em 1916, em União da Vitória estuda-vam nas escolas públicas da cidade apenas oito meninos e 88 meninas, tota-lizando 96 matriculados. Em Tocos, atual bairro São Pedro, eram 42 alunos, divididos entre 21 do sexo masculino e 21 do feminino. Portanto, apenas 188 crianças frequentavam as escolas públicas do município. Não há infor-mações sobre as eventuais escolas subvencionadas e particulares. Porém o mesmo documento informa que o número de crianças fora das escolas era de 481, contando-se 292 meninos e 189 meninas (PARANÁ, 1916).

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Fugindo ao que nos propomos no início deste artigo, isto é, limi-tar os estudos entre 1853 e 1917, acrescentamos que anos adiante, já em 1923, um documento emitido pelo governo paranista registra que o ins-petor escolar de União da Vitória era o professor normalista de primeira classe, Francisco Ogg, também diretor do grupo escolar “Professor Se-rapião”. Divididos em seis turmas, os 292 matriculados desse estabeleci-mento recebiam ensinamentos dos igualmente normalistas, Francisco de Brito, Amazilia Pinto de Araujo, Vicentina de Freitas Britto e Julia Catta Preta, auxiliados pela adjunta Hemengarda Cordeiro. Nesse ano, outros 467 estudantes frequentavam as escolas espalhadas pelo município, tota-lizando 759, quando somados aos do “Professor Serapião”. Concomitan-temente, Sergio Sawatzki lecionava na escola de Colônia Antonio Can-dido; Augusta Plautz Drehner na Colônia Vitória; Bernardina de Araujo ou Bernardina Xavier Pinto de Souza Schleder e Zulmira Schleder em Tocos; Maria Elisa D. Riesemberg, em Jararaca; Dalva de Andrade, em Rondinha, e o mencionado Francisco Ogg, na Escola Noturna. Conforme nossos cálculos, os 759 estudantes de União da Vitória representavam apenas 1,9% entre as 39.743 matrículas feitas no Paraná naquele ano. (PA-RANÁ, 1924).

MEDIÇÃO DE TERRAS E LEGITIMAÇÃO DE POSSES

Sucessor de Taunay, o presidente Joaquim d’ Almeida Faria Sobri-nho, aos 11 de agosto de 1886, a pedido, exonerou o capitão Bellarmino Augusto de Mendonça Lobo do cargo de juiz comissário ad-hoc para medir e demarcar os terrenos existentes entre as margens do Iguaçu e a área da es-trada de União da Victoria [grifo nosso] a Palmas. Na mesma data, o chefe da comissão da estrada de Palmas, o major engenheiro Carlos Eugenio de Andrade Guimarães foi nomeado para idêntico cargo (PARANÁ, 1887).

Em União da Vitória, aos 03 de novembro de 1894, José Irias de Almeida obteve medição e legitimação de uma posse 4.014,7 hectares; Francisco de Paula Castilho, aos 04 de janeiro de 1895, legitimou a posse de 46.538 ha, conforme despachos emitidos por Evaristo Martins Franco, chefe da Secretaria de Negócios de Obras Públicas e Colonização do Paraná (PARANÁ, 1896). No relatório de 1898, o secretário de Negócios de Obras Públicas e Colonização, Candido Ferreira de Abreu, listou autos de medi-ção e legitimação de posses de terras aprovados. Entre os tantos do Paraná, em União da Vitória, aos 16 de maio de 1898, foram contemplados Manoel

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Lourenço Araujo e Absalão Antonio Carneiro, respectivamente, recebendo 4.496 alqueires e 5.468 alqueires (PARANÁ, 1898).

TRANQUILIDADE PÚBLICA

Ao que hoje se diz segurança, em meados do século XIX, as auto-ridades públicas chamavam tranquilidade pública. Foi assim que com refe-rência a 1857, no ano seguinte o segundo vice-presidente José Antonio Vaz de Carvalhaes desenvolveu interessantes considerações:

No começo de minha administração reuni toda a força de primeira linha na capital, cujo serviço de guarnição era bastante para absorvel-a, e occupei a companhia de força policial no serviço de destacamento nas barreiras e povoa-ções do interior e do littoral. Dei-me bem com este syste-ma, mas a necessidade de fardar as praças da companhia, e dar-lhes algum ensino militar, que nunca tinham recebido, obrigou-me a ordenar a sua substituição temporaria por destacamento de linha, que já mandei regressar por factos que comprovam, que esta força, dessiminada em pequenos grupos sob o commando de inferiores, esquece logo a disci-plina, e torna-se, em vez de uma garantia de segurança, um perigo de mais para os pacifi cos moradores das pequenas localidades. Dos destacamentos que estacionavam em Gua-rapuava e no porto da União [grifo nosso], commandados por offi ciais, nunca tive a menor queixa, mas ordenei tam-bem o seu regresso a capital [...]. Não providenciei logo a sua substituição por praças da força policial, [...] persuado--me porem de que a presença da força publica é indispen-savel n`aquellas duas localidades para prevenir ou repelir possiveis insultos do gentio à gente civilisada. [...] O chefe de policia propoz, e insiste em seu relatorio, que se confi e este serviço á destacamentos volantes, que, percorrendo as povoações, recrutem para o exercito os vadios que nellas abundam (PARANÁ, 1858, p. 18-19).

Adiante, o mesmo Carvalhaes faz alusão às chamadas “correrias dos selvagens” ou “correrias de índios”, lamentando que a algumas léguas do porto da União [grifo nosso] uma família de agricultores foi chacinada por “bugres”. Disso resultaram as mortes do chefe familiar e de duas crian-

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ças e no rapto da mulher. Infelizmente Carvalhaes não fornece o lugar onde se sucedeu o fato, nem os nomes das vítimas.

Uma força policial foi enviada para guarnecer o local, prevenindo novas incursões dos indígenas. Pensou-se ainda na possibilidade de condu-zir ao Porto da União o frei missionário Mathias de Genova, para chefi ar uma comitiva destinada a resgatar a mulher posta em cativeiro, e para a escolha de um lugar para a fundação de um aldeamento para promover a catequese dos indígenas. Porém o fi m do governo Carvalhaes aquietou a questão e um aldeamento sob iniciativa particular, para “amansar” os Xokleng do vale do Timbó, só ocorreu nos anos 1920, sob iniciativa de João Gomes Pereira, o “João Serrano”.

Ainda aos 07 de janeiro de 1858, o novo presidente, Francisco Li-berato de Mattos, também rememorou as mortes creditadas aos indígenas e ao desaparecimento da mulher, ocorridos no entorno de Porto União. Porém nada acrescenta às notícias anteriores, dizendo apenas ser ignorado o destino que se deu à mulher raptada. Nesse tempo, um alferes e oito sol-dados constituíam a força policial de Porto União (PARANÁ, 1858).

Da nossa parte, acreditamos que a fazenda atacada pelos Xokleng pode ter sido a de Joaquim Antonio Fernandes, um dos pioneiros da con-quista ocupacional de Porto União e, por extensão, de Irineópolis. Consi-derando os registros paroquiais de Palmas, era Fernandes quem, a partir de 1845 (entre 1856 e 1859), detinha uma posse pela margem esquerda do Iguaçu, desde o Timbó até o rio Batatal, englobando boa parte das áreas distritais de Poço Preto e de Vila Nova do Timbó, incluindo os campos da Escada e a colônia do mesmo nome. Fazia-se acompanhar de índios aman-sados e negros escravos. Foi entre outubro de 1856 e antes de novembro de 1857, que se perpetrou o ataque Xokleng (TOKARSKI, 2014).

Pelo menos cinco anos depois, indígenas na mesma tribo aparece-ram no Porto da União, causando pânico à diminuta população. Era 1862. Em seu relatório o presidente Antonio Barbosa Gomes Nogueira contou que os Xokleng atacaram viajantes que se dirigiam ao povoado, fazendo--os reféns. Sabedor do confl ito, o cacique dos Kaigang, Victorino Condá, acompanhado dos seus, apressou-se a aparecer no povoado de Porto da União, travando combate com o grupo Xokleng, matando uns e fazendo outros prisioneiros. Nesse tempo Condá e os seus atuavam nos serviços de construção da estrada de Palmas, promovendo roçadas e reparos em três léguas. Sem que se lograsse êxito, os índios aprisionados foram ofere-cidos em troca dos reféns. Ao fi nal de 1863, para conter novos assaltos dos

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indígenas, cinco praças foram destacadas para o Porto da União (PARA-NÁ, 1863).

Nos relatórios posteriores do governo paranaense sumiram infor-mações a respeito da presença de policiais estacionados no Porto da União, mesmo no ano de 1879, publicado no início do ano seguinte, pelo presi-dente Manuel Pinto de Souza Dantas Filho. Nesse ano, dos 94 policiais da província, no entorno de Porto da União, um total de 21 havia apenas na Palmeira, Lapa, Rio Negro e em Boa Vista, hoje Clevelândia, no distrito de Palmas.

Contudo, no relatório de 1881, do presidente Sancho de Barros Pimentel, informa-se que quatro policiais, dos quais um segundo-sargento e três soldados, integravam a guarnição da freguezia da União [sic; grifo nosso] (PARANÁ, 1882). Logo mais, em 1º de outubro de 1883, o presiden-te Luiz Alves Leite de Oliveira Bello informa que no Porto da União a força policial se restringia a três soldados (PARANÁ, 1883), caindo para apenas dois, em 1886, quando aos 30 de outubro o presidente Joaquim d’Almeida Faria Sobrinho fez publicar seu relatório (PARANÁ, 1887).

Meses antes, no início de março de 1886, quando o presidente Tau-nay visitou União da Vitória, na viagem de retorno, pelas 19 horas, o vapor “Cruzeiro” parou para o suprimento de lenha no bairro rural de Escada. Durante meia hora, enquanto os “marinheiros” tratavam do carregamento, os viajantes desceram da embarcação.

De repente, ecôou bem distinctamente prolongado, embora longinquo som de buzina dentro da matta virgem, respon-dido logo a maior distancia por outro. Erão avisos e signaes dos bugres botucudos; e descuidados que estavamos, torna-mo-nos de prompto attentos, não que houvesse perigo real, mas pela novidade das impressões que recebíamos alli, perto, em contacto quasi com a selvageria, e indomavel pertinacia do gentio, cujo rancor e ferocidade tinhão tristonho attestado nas cruzes erguidas á beira do rio (PARANÁ, 1886).

Muito tempo depois, já em 1904, as páginas ofi ciais do governo paranaense registraram outras correrias de índios:

No mez de Outubro ultimo os índios botocudos fi zerram correrias no territorio do termo da União da Victoria, e fe-riram um moço fi lho de Absalão Carneiro, que pela estrada

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do Timbó, viajava com um camarada conduzindo uma tropa de animaes carregados. O camarada vendo o moço cahir fa-rido por uma fl exa condusiu-o para a fazenda mais proxima depois de ter disparado diversos tiros. No dia seguinte vol-tou com fi versas pessôas ao local onde o facto tinha occori-do e encontrou mais seis animaes mortos e completamente destruído o carregamento. Quatro dias depois os selvagens atacaram uma propriedade do Sr. Manoel Araujo, ferindo um seo empregado. Alem destas commetteram outras cor-rerias, matando gado, incendiado casas e praticando outras depredações, trasendo em sobresalto os habitantes daquela zona. (PARANÁ, 1904). repente, ecôou bem distinctamen-te prolongado, embora longinquo som de buzina dentro da matta virgem, respondido logo a maior distancia por outro. Erão avisos e signaes dos bugres botucudos; e descuidados que estavamos, tornamo-nos de prompto attentos, não que houvesse perigo real, mas pela novidade das impressões que recebíamos alli, perto, em contacto quasi com a selvageria, e indomavel pertinacia do gentio, cujo rancor e ferocidade tinhão tristonho attestado nas cruzes erguidas á beira do rio (PARANÁ, 1886).

Por ato do secretário dos Negócios do Interior, Justiça e Instru-ção Pública, Antonio Augusto de Carvalho Chaves, sob pedido Francis-co de Azevedo Müller foi exonerado do cargo de subcomissário de polícia de União da Vitória, aos 23 de setembro de 1896. Já, aos 19 de julho de 1897, Germano Groth e Pedro de Sá Ribas foram respectivamente exone-rados dos cargos de primeiro e segundo suplentes de subcomissários de polícia, substituídos na mesma data por Honorato José Fabrício e Carlos Groth (PARANÁ, 1897). Não encontramos quem sucedeu Müller, mas aos 16 de julho de 1900, Cyro Peregrino de Almeida, alferes do Regimento de Segurança, foi nomeado para o cargo de subcomissário (PARANÁ, 1901). Nomeado desde 24 de agosto de 1901, Venceslau Vasco Taborda era subco-missário de polícia em Vila Nova do Timbó, enquanto seu primeiro suplen-te era Rufi no do Nascimento Teixeira. As outras duas suplências estavam vagas, em 1904 (PARANÁ, 1904).

Anotamos que, entre 15 de julho de 1899 e 02 de setembro de 1901, Antonio Cancio de Medeiros Cruz foi juiz municipal em União da Vitó-ria, depois removido para Serro Azul. José Gonçalves Padilha, Germano Schwarz, João Clausen e Manoel Th eodoro Gonçalves, aos 28 de março de

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1900, foram nomeados. Nesse tempo, nomeado que fora aos 04 de setem-bro de 1901, desde 08 de outubro do mesmo ano, Alfredo Nogueira fun-cionava como adjunto de promotor em União da Vitória, ao mesmo tempo em que, desde 29 de setembro de 1900, era inspetor escolar, nomeado por ato assinado aos 05 daquele mês. Nogueira persistiu como inspetor escolar até pelo menos 1904. A data de 04 de setembro de 1901 também assinalou as nomeações de José Antonio Carneiro e de Antonio Correia de Oliveira como suplentes de juízes municipais. Pouco antes, aos 13 de agosto, em General Carneiro, Rodolpho Pohl teve sua nomeação como subcomissário de polícia, enquanto aos 05 de setembro João Clausen foi nomeado para o mesmo cargo, em União da Vitória (PARANÁ, 1903).

Ainda em 1900, aos 28 de agosto, o subcomissariado de polícia de União da Vitória recebeu queixa de José Bueno de Camargo, dando conta que diversos criminosos foragidos do Rio Grande do Sul e de Santa Catari-na invadiram sua fazenda no bairro rural de Poço Preto, hoje no município de Irineópolis, furtando animais e erva-mate. Uma força policial de ape-nas oito homens dirigiu-se a Poço Preto, na área sob litígio entre Paraná e Santa Catarina, encontrando um grupo de vinte criminosos e desordeiros. Asilados numa casa, os facínoras receberam à bala o contingente policial paranaense, restando gravemente feridos um sargento e o cabo Galdino Alves de Paula. O comandante do grupamento policial mandou fazer fogo contra os resistentes, que se evadiram sem sofrer danos.

No entanto alguns protetores dos desordeiros espalharam boatos de que o alferes e sua força policial haviam invadido o território catari-nense, provocando uma mortandade. O capitão Júlio Ribeiro de Campos foi até Poço Preto para apurar os fatos, abrindo um inquérito. O docu-mento concluiu que o alferes procedeu com zelo durante a operação de combate aos facínoras, constatando-se ainda que nos arredores da vila de Poço Preto achavam-se insulados muitos criminosos. O efetivo policial de Porto União da Victoria era de apenas um sargento e 14 soldados (PA-RANÁ, 1900). Aos 25 de julho de 1904, o bacharel José Maria Pinheiro Machado por decreto foi nomeado juiz municipal de União da Victoria, assumindo o exercício, aos 29 do mesmo mês (PARANÁ, 1904). Nesse tempo, conforme o relatório, 13 processos criminais tramitavam na pro-motoria local e todos os réus foram absolvidos, depois de submetidos a julgamento (PARANÁ, 1904).

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NOMEAÇÕES E EXONERAÇÕES

Afora as nomeações e exonerações comentadas, registramos que aos 04 de janeiro de 1880 o presidente João José Pedrosa criou uma linha postal entre Palmeira e Palmas, passando pelas freguesias de São João do Triunfo e União da Victoria [grifo nosso], distando essa agência 23 léguas da capital. É a vez inicial que esse primeiro topônimo consta de um rela-tório governamental. Na mesma página, listou-se que, em idêntica data, Argemiro Ferreira de Loyola foi nomeado para as funções de agente dos correios de União da Vitória (PARANÁ, 1881). Porém, na página seguin-te, no quadro das agências postais paranaenses, Vidal de Oliveira Rocha é mencionado como o agente dos correios de União da Vitória.

Já aos 03 de maio de 1886 o presidente Alfredo D`Escragnolle Tau-nay, em seu relatório, disse que aos 08 de janeiro do mesmo ano concedeu a Rodolpho Boese a exoneração da agência postal do mesmo lugar, no-meando em seu lugar Cypriano Mendes de Almeida Sampaio. Boese foi ser professor na vila de Palmas, demitindo-se no início de março de 1888 (PARANÁ, 1886, 1888). Em 24 de novembro de 1886, alegando prejuízos aos cofres públicos, o presidente Francisco d’Almeida Faria Sobrinho deci-diu não sancionar uma lei que determinava a extinção da agência do Porto da União da Victoria [grifo nosso], destinada à arrecadação de impostos sobre animais. A agência foi transferida para o passo dos Barbosas, no rio Itararé, na divisa com São Paulo (PARANÁ, 1887).

No relatório publicado aos 21 de setembro de 1897 pelo secretário de Negócios de Finanças, Commercio e Industrias do Paraná, Luiz Anto-nio Xavier, José Pereira Linhares aparece como agente fi scal de União da Vitória (PARANÁ, 1897). Em 1903 o governo estadual declarou vago o ofí-cio de tabelião de Porto União da Vitória, porque o serventuário Guilher-me Gaertner abandonou o cargo, fi ndas as licenças legais (PARANÁ, 1903).

Em 1912, desde 18 de janeiro, Pedro Gonçalves de Abreu exercia o cargo de comissário de polícia de União da Vitória. Ele substituiu o fa-migerado tenente Angelo de Mello Palhares, exonerado aos 13 do mesmo mês. Nesse mesmo tempo, Salvador Lear Cardoso, capturado em União da Vitória, e Ursulino Martins, recolhidos à cadeia da cidade, entre janeiro e fevereiro do mesmo ano foram acusados da prática de homicídios (PA-RANÁ, 1912). Agricultor nascido em 1860, Cardoso foi proprietário de uma posse de 6.000 alqueires de terras, localizada entre os bairros rurais de Mato Preto, Valinhos e Manduri, no atual município de Canoinhas, nos

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arredores do Rio Iguaçu. Revoltoso na Guerra do Contestado, foi indiciado por supostos crimes praticados durante o confl ito. Porém descobriu-se que Cardoso morrera durante a guerra, extinguindo-se as ações judiciais em dezembro de 1917 (TOKARSKI, 2005).

O mesmo documento informa que, no segundo trimestre de 1912, ocorreram em União da Vitória dois homicídios, uma tentativa de homicí-dio e uma lesão corporal leve. Adiante, aos 08 de julho, João König assumiu o comissariado de polícia, sucedendo Abreu. König não demorou no cargo, pois logo aos 02 de setembro Palhares retornou ao cargo, enquanto Gencia-no Amancio dos Santos foi nomeado seu primeiro suplente. A dança das nomeações era contínua, pois aos 25 de setembro Pedro Franklin de Araújo assumiu o posto de Santos, ao passo que, na mesma data, Amazonas Mar-condes Filho foi designado segundo suplente.

Há alguma contradição nos relatórios, pois na relação nominal dos que foram exonerados há a informação de que aos 02 de setembro Genezio de Carvalho deixou de ser o comissário de polícia de União da Vitória Por sua vez, aos 09 de dezembro, Antonio Luiz Bittencourt assumiu idêntico cargo e, no mesmo dia, Palhares foi afastado das funções (PARANÁ, 1912). Palhares foi o primeiro chefe do Corpo de Segurança da madeireira trans-nacional Southern Brazil Lumber & Colonization Company.

No campo político, em 1913, o prefeito era Amazonas de Araújo Marcondes, enquanto Innocencio de Oliveira, Rodolpho Casemiro da Ro-cha, Hermenegildo Alves Marcondes, Leopoldo de Paula Castilhos, Sansão Antonio Carneiro, Romano Kulmann e Francisco Pilurski eram vereado-res. Seus suplentes eram Gabriel Rosemberg, Oswaldo Schwartz, Miguel Panckewski, Padre José Leckence, Roberto Sebastião e Adelino de Andrade (PARANÁ, 1914). A partir de 21 de setembro de 1916, o coronel Marcon-des voltou a ocupar o cargo de prefeito, enquanto os camaristas eram Her-menegildo Alves Marcondes, Romano Kullmann, Duarte Catta Preta, A. Venancio de Oliveira, José Canessado, João Szindrowski, Sylvio da Cunha Carneiro e João Clausen. Os suplentes eram Alexandre Charavasa, Manoel de Araújo Junior, Luiz Fabrício Vieira, Napoleão Castilho, Ricardo Pah-al, Th eodoro Neumann, Aff onso de Araujo e Angelo Contin (PARANÁ, 1916).

Aos 28 de março de 1914, pela lei 1.409, o governador Carlos Ca-valcanti de Albuquerque criou o distrito de Nova Galícia. Em seguida, aos 02 de abril, em pleno desenvolvimento da Guerra do Contestado, o distrito de Vila Nova do Timbó foi elevado à categoria de município e João Augusto

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Gomy teve seu nome designado como adjunto de promotor de justiça. O novo município foi solenemente instalado aos 10 de junho do mesmo ano.

O que se sabe é que, aos 21 de setembro de 1916, tomou posse como prefeito de Vila Nova do Timbó o major José Gaspar dos Santos Lima, conhe-cido por “Gaspar Pinto” e “Nhozinho”, célebre por algum envolvimento da Guerra do Contestado. Lima era bodegueiro no bairro rural de Campina dos Pintos, nas imediações de Vila Nova do Timbó. Não há registros governamen-tais anteriores sobre quem governou o recém-instalado município, nem ano-tações acerca dos nomes dos camaristas (PARANÁ, 1916). Mais tarde encon-tramos o mesmo Lima na condição de juiz de paz de Poço Preto, fi cando nessa atividade até 1931, quando foi residir em Curitiba (PR) (TOKARSKI, 2005).

Concomitantemente, um dos distritos de União da Vitória era o atual bairro rural de Santa Leocádia, sede da fazenda de Arthur de Paula e Sousa, em plena região contestada, hoje no município catarinense de Ca-noinhas, às margens do rio Iguaçu (PARANÁ, 1915). Paranista convicto, Sousa governou União da Vitória em dois períodos e na Guerra do Contes-tado morreu em outubro de 1914, na sua fazenda Santa Leocádia.

ASSUNTOS PAROQUIAIS

Naqueles tempos a Igreja estava sob a tutela do Estado e por isso os relatórios governamentais também trazem notas sobre as paróquias, igrejas e cemitérios provinciais. No registro que publicou, aos 06 de abril de 1969, o presidente Antonio Augusto da Fonseca fez a primeira referência aludin-do à possibilidade de se criar uma paróquia no Porto da União, desmem-brando-a da de Palmeira. Raras eram as paróquias e mesmo algumas, como a de Palmas, estavam desprovidas de seus titulares. Foi assim que Fonseca se manifestou sobre o assunto:

Para attender aos interesses não só civis como espirituaes de uma porção de habitantes da província, convem que eleveis á categoria de freguezias diversos nucleos de povoação existem na provincia, muito remotos das parochias a que pertencem, e que contém bastante população para tornar indispensavel a presença de um parocho. Estou convencido que o ordinario, ouvido, como é de justiça, dará o seu placet a taes creações. [...] Convem porem que taes creações tragam annexa a con-dição de fazerem os povos matrizes a sua custa, não se reali-zando sem isso a installação da freguezia (PARANÁ, 1869).

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NASCIMENTOS

Curioso é o mapa de nascimentos registrados em União da Vitória, o primeiro registrado em junho de 1901 e, no mesmo mês, de 1902. Nesse período nasceram 40 crianças entre a população de 2.713 almas, conforme o censo concluído em 31 de dezembro de 1900. Eram 20 meninos e 20 meninas, dois dos quais considerados ilegítimos. Das 40 crianças nascidas, 20 eram fi lhas de pais estrangeiros. Trinta e sete dos ingênuos nasceram durante o dia e apenas três vieram ao mundo no período noturno.

Entre julho de 1901 e junho de 1902 foram registrados apenas cin-co óbitos em União da Vitória, quando faleceram três mulheres e dois ho-mens. Duas pessoas tinham entre 20 e 30 anos; uma morte foi de indivíduo de 30 a 40 anos e outras duas entre cidadãos com idade entre 50 a 60 anos. Ao mesmo tempo ocorreram em União da Vitória 38 casamentos civis, dos quais dez envolvendo somente cônjuges nacionais e quatro com apenas es-trangeiros (PARANÁ, 1902).

O PÓS-CONTESTADO EM PORTO UNIÃO

Após 1917, quando se fi rmou o Acordo de Limites entre Paraná e Santa Catarina, são relativamente escassos e irrelevantes os apontamentos governamentais paranaenses a respeito da Questão do Contestado, União da Vitória e o fracionamento dessa cidade em duas partes, quando no lado catarinense, impositivamente, criou-se o município de Porto União. Em sua mensagem ao Congresso Legislativo do Estado, o presidente Aff onso Alves de Camargo disse que a execução do acordo não teve maiores emba-raços, a não ser a sublevação comandada pelo ex-deputado Cleto da Silva. No documento, Camargo ressalta que:

Felizmente esta sublevação não teve outras consequencias a não ser a de onerar os cofres da Nação e do Estado, pois rechaçados os rebeldes em Nova Gallicia e São João [atual Matos Costa] pelas forças federaes e repellidos em Palmas pelas forças estadoaes, dissolveram-se dias depois na Villa de Clevelandia, [...]. (PARANÁ, 1918).

Adiante, Camargo revela que às custas do poder público estadual, em União da Vitória, estavam em construção prédios destinados à Câmara

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de Vereadores, ao Fórum, ao grupo escolar e ao hotel “Paraná”, que se lo-calizou na praça Amazonas, “[...] necessários para a instalação da nova ci-dade.” O governador também escreveu que no período 1916-1917 foi cons-truída a estrada que uniu a nova área urbana de União da Vitória à estrada geral para Palmas. Ao mesmo tempo, foi realizada a demarcação das terras do extinto município de Vila Nova do Timbó, cujo território passou ao domínio catarinense, em função do Acordo de Divisas (PARANÁ, 1918).

REFERÊNCIAS

MELO JÚNIOR, Cordovan Frederico de. União da Vitória: Nossa escola, nossa história. Porto União: Uniporto, 1990.

PARANÁ. Arquivo Público do Paraná. Mensagens e Relatórios de Gover-no <Disponível em: <http://www.arquivopublico.pr.gov.br> Acessos em: 02 fev. 2015, 12 fev. 2015, 16 abr. 2015, 20 abr. 2015, 29 abr. 2015, 15 maio 2015, 09 jun. 2015, 30 jul. 2015, 14 set. 2015, 10 jan. 2016, 17 mar. 2016, 29 abr. 2016, 07 set. 2016, 11 dez. 2016, 08 fev. 2017, 12 abr. 2017.

RIESEMBERG, A. A Instalação Humana no Vale do Iguaçu. União da Vitória: Fafi , 1973.

SEBBEN, Ulysses Antônio. Um Estudo da História de União da Vitória. Porto União: Uniporto, 1992.

SILVA, Cleto da. Apontamentos Históricos de União da Vitória: 1768-1933. Curitiba: Imprensa Ofi cial, 2006.

TOKARSKI, Fernando. Tempo, espaço e sujeitos: subsídios à história e à genealogia dos povoadores de Santa Cruz de Canoinhas. Pesquisa em ela-boração, 2005.

_______. Referências de Taunay a Vallões. Pesquisa em elaboração, 2014.

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Figura 4 - Tropa de gado de corte.Fonte: Acervo de Joaquim Osório Ribas.

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O TROPEIRISMO: CONTRIBUIÇÕES PARA PORTO UNIÃO (SC)1

Joaquim Osório Ribas2

RESUMO: Quando se trata da história de Porto União (SC), não é possível esque-cer que por esse território muitos tropeiros passaram. Ao descobrirem a passagem do vau, esse se tornou o trajeto de menor distância até o destino das tropas. O permanente fl uxo de pessoas infl uenciou culturalmente a região por meio da dan-ça, alimentação, vestuário, língua, música e outros. Este estudo tem por objetivo destacar a importância histórica da presença do tropeiro nas diversas localidades por onde passou e infl uenciou culturalmente. Justifi ca-se esta investigação devido a um expressivo número de tradições advindas da cultura do tropeiro ainda per-manecerem nas cidades irmãs: União da Vitória (PR) e Porto União (SC).

PALAVRAS-CHAVE: Tropeirismo. Tradições. Caminhos e vilas.

INTRODUÇÃO

O transporte das riquezas da Região Sul, durante dois séculos, isto é, do início do Século XVIII até a terceira década do Século XX, foi realiza-do por tropeiros. Tropeiros que levavam mercadorias em cargueiros ou que conduziam animais para comercializá-los. Primeiro, o ciclo da mineração e, depois, o ciclo do café provocaram grande fl uxo comercial do Sul com o Sudeste. O Sul supriu as regiões de mineração e cafeicultura em suas impe-riosas necessidades de alimentos e de animais para o transporte e tração.

Porto União (SC) também fez parte desse trajeto dos tropeiros. Muitos desses valentes homens fi xaram-se na região. Trouxeram seus cos-tumes, suas tradições, passaram a residir nessas terras, formaram famílias, contribuíram com a história do município. Ainda, observa-se a sua cultura por meio dos Centros de Tradições Gaúchas, em apresentações artísticas,

1- Esse texto apresenta uma compilação de fatos históricos, já desenvolvidos por outros pesquisadores e intercalados com a pesquisa e vivência do autor.2- Membro fundador da Academia de Letras do Vale do Iguaçu e seu primeiro presidente. Ocupante da Cadeira nº 03 e tem como patrono Antonio de Lara Ribas. Membro do Instituto Histórico e Geográfi co Paranaense. Membro do Centro de Letras do Paraná e da Academia de Letras de Palmas. Pesquisador e escritor sobre temas da História Local e Regional.

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as trovas, as danças, o vestuário, o gosto por cavalgadas, a culinária e outros fatores característicos dessa cultura tropeira.

O TROPEIRISMO, ORIGEM DE POVOAMENTOS, PASSAGEM DE VIAJANTES

O gado de corte das vacarias do Sul fornecia o charque para ali-mentação e o couro como matéria-prima para confecção de inúmeros ar-tigos de uso indispensável na época. Os muares substituíam o dorso do escravo no transporte do ouro e do café e também foram largamente uti-lizados para tração nas lavouras. Os porcos, criados debaixo dos pinhais, abasteciam de banha a cozinha brasileira. Essa riqueza imensa era conduzi-da pelos tropeiros, que, em suas cavalgaduras, percorriam distâncias enor-mes, de Sul a Norte do país.

A mula teve uma importância decisiva na história econômica do Brasil, servindo durante dois séculos como matriz do sistema de transpor-tes. Os caminhos das tropas foram verdadeiros corredores culturais que es-tabeleceram os primeiros contatos com o sertão que viria integrar o territó-rio brasileiro. As fronteiras do país foram marcadas pelos estabelecimentos implantados pelos tropeiros nos mais remotos rincões. A língua e a religião, usos e costumes, chegaram aos confi ns da pátria por meio das tropas, que foram verdadeiras universidades em movimento.

O mais importante desses caminhos foi aberto em 1731, por Cris-tóvão Pereira de Abreu, numa extensão de 1400 km, ligando Viamão a So-rocaba, ao longo do qual nasceram dezenas de cidades, como Santo Anto-nio da Patrulha, Caxias do Sul, Bom Jesus, São Joaquim, Lages, Rio Negro, Lapa, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Itararé, Capão Bonito, Itapetininga e outras.

Porto da União, núcleo primitivo entre as cidades de União da Vitória (PR) e Porto União (SC), atualmente, nasceu do ponto de encontro do caminho dos tropeiros com o caminho fl uvial do então Rio do Registro. O Rio Iguaçu era conhecido pelos tropeiros como Rio do Registro, em vir-tude de um posto de cobrança de impostos instalado em sua travessia no Caminho do Viamão, nos Campos Gerais.

A história do Caminho das Tropas, que deu origem ao Porto da União, está ligada ao comércio de mulas, que se valeu do Caminho das Missões. Durante o Século XVII os espanhóis desenvolveram uma grande criação de muares na região missioneira do Rio da Prata. Essas mulas subs-

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tituíram as lhamas no transporte da prata de Potosi, dos Andes até o porto de embarque para a Espanha. A feira de Salta para comercialização de mulas transformou-se no grande centro de comércio do Cone Sul. Na metade do Século XVIII a prata havia-se esgotado e as mulas fi caram ociosas nas mis-sões castelhanas. Os tropeiros paulistas descobriram essa fonte de mercado e trouxeram grandes tropas, com milhares de mulas, para venderem no Su-deste. A cidade de Sorocaba transformou-se no grande empório comercial, com uma feira que polarizou o comércio do Sudeste e do Centro do país.

Figura 1 - Vau descoberto por Siqueira Cortes, em 1842.Fonte: Acervo particular.

O Caminho das Missões, por onde eram conduzidas as tropas de mulas, fazia o percurso de São Borja, Nonoai, Palmas, Guarapuava até en-contrar o Caminho do Viamão em Palmeira. Um novo traçado mais curto, atravessando o Rio Iguaçu, no vau descoberto por Pedro Siqueira Cortes, em 1842, encurtou a distância em mais de vinte léguas (fi gura 1). Esse vau provocou a convergência das tropas dando origem ao povoado que se cha-mou de Porto da União.

No ano de 1731 foi aberto o caminho do Viamão, marcando o iní-cio do ciclo do tropeirismo (Figura 2). Cristóvão Pereira de Abreu abriu um caminho da Colônia do Sacramento até Sorocaba, pelo qual conduziu a primeira grande tropa. Foram dois mil bois, quatrocentas mulas e mais qui-nhentas vacas para abastecimento durante a viagem. Essa tropa foi vendida em Sorocaba e em Vila Rica, proporcionando enorme lucro ao tropeiro. A perspectiva de enriquecimento atraiu os paulistas para o lucrativo negócio,

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dando início a epopeia do tropeirismo. Homens destemidos, com determi-nação, abriram milhares de quilômetros de trilhas através do sertão des-conhecido. Os caminhos das tropas se tornaram defi nitivos e a sua intensa movimentação deu origem a fazendas, vilas e cidades.

Figura 2 – Caminho das tropas Séculos XVIII e XIX.Fonte: Mapa autoria: Abras OFFA-Paixão Cortes: as rotas dos tropeiros (2000). 

Os tropeiros fi zeram grandes fortunas e passaram a ocupar lugar de destaque na sociedade brasileira. Muitos tropeiros curitibanos foram contemplados com títulos de nobreza, entre os quais, o Barão de Antoni-na, João da Silva Machado; o Barão dos Campos Gerais, Davi dos Santos Pacheco; o Barão do Monte Carmelo, Bonifácio José Baptista; o Barão do Tibagi, José Caetano de Oliveira; o Visconde de Guarapuava, Antônio de Sá Camargo; o Barão de Guaraúna, Domingos Ferreira Pinto; além de Co-ronéis, como Luciano Carneiro Lobo, Francisco de Paula e Silva Gomes, Rafael Tobias de Aguiar, Amazonas de Araújo Marcondes e outros. Esses homens lideraram a sociedade da Quinta Comarca de Curitiba e promove-ram a emancipação política do Paraná. Também foram tropeiros paulistas os fundadores das cidades de Curitibanos, Lagoa Vermelha, Cruz Alta, Ca-razinho e Frederico Westphalen.

As tropas de cargueiros que transportavam cargas no lombo de mulas perfaziam, muitas vezes, centenas de quilômetros, levando merca-

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dorias da cidade para o sertão ou produtos agrícolas do interior para os centros consumidores e para os portos de embarque para o exterior. As tropas de semoventes, gado, mulas e porcos, normalmente se deslocavam das regiões produtoras do Sul para o centro do país (fi gura 3).

Figura 3 - Tropa de gado de corte.Fonte: Acervo particular.

Os tropeiros tiveram participação em todos os acontecimentos po-líticos e militares, do Século XVIII ao Século XX. A Revolução Farroupi-lha chegou ao Planalto Catarinense sob o comando de Athanagildo Pinto Martins, tropeiro dos Campos Gerais. Na Guerra do Paraguai, o 6° Esqua-drão de Cavalaria de Voluntários da Pátria foi constituído por tropeiros de Palmas e Guarapuava, entre os quais estava o Coronel Amazonas Araújo Marcondes. A Revolução Federalista, a mais cruel guerra civil da história, tinha no comando dos dois lados, aguerridos tropeiros, Pinheiro Machado e Gumercindo Saraiva. A Guerra do Contestado tinha em antigos tropeiros seus principais chefes que foram Francisco Alonso, Elias de Moraes, Ma-noel Fabrício Vieira, Paulino Pereira, Adeodato Ramos e Bonifácio Papu-do. A Coluna Prestes, formada por cavaleiros, percorreu cerca de dez mil quilômetros, pregando o ideal da renovação do sistema político brasileiro, contava com homens calejados nas grandes tropeadas. Até a Revolução de 1930, que derrubou a República dos Coronéis, foi comandada por um tro-peiro de mulas, o Presidente Getúlio Vargas.

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O TROPEIRISMO, IDENTIDADE HISTÓRICA E CULTURAL

O tropeirismo infl uenciou grandemente a cultura. A língua portu-guesa foi enriquecida com centenas de palavras e expressões, que hoje com-põem o dicionário sociolinguístico do tropeirismo3. As danças e a música tropeiras ainda são cultuadas no país inteiro por meio dos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas).

Figura 4 - A Dança tropeira e a indumentária.Fonte: Acervo particular.

A indumentária muito rica conserva algumas reminiscências, como o lenço de pescoço, o chapéu de abas largas com barbicacho, a bombacha, a bota de cano alto, as esporas, a guaiaca, o poncho e o tirador. As montarias ainda estão presentes em muitas fazendas de criação de gado (fi gura 4).

A natureza do serviço das tropas com prolongada ausência, meses longe de casa, percorrendo regiões desconhecidas, habitadas por feras e índios hostis, onde o tropeiro era o responsável pela segurança e abaste-cimento do grupo, desenvolveu um comportamento solidário, pelo qual negros, índios mansos e brancos comiam na mesma mesa e obedeciam a escala de serviço comum a todos. Existia um forte sentimento de fraterni-dade e defesa entre peões e patrões. Esse costume predominou nas fazendas que povoaram o Sul do país. Os subalternos convidavam o chefe para com-padre e se orgulhavam da fi delidade. A escravidão em vigor no Brasil foi mitigada pelo tropeirismo. As três raças formadoras do homem brasileiro

3 Verifi car dicionário de autoria do Professor Francisco Filipak.

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encontraram nos campos do Sul, o ambiente propício para o caldeamento.Os caminhos das tropas deram origem às vias de acesso no interior

brasileiro, sobre as quais foram construídas as grandes rodovias nacionais. A BR 153, por exemplo, serviu-se do caminho aberto por Pedro Siquei-ra Cortes, que deu origem a Porto da União. Antes passavam por essa via grandes contingentes de mulas ou bois; atualmente são os caminhões com destino ao sul do país, alimentando o intenso comércio do Mercosul.

As estradas traçadas por aqueles povos itinerantes são hoje os prin-cipais sulcos de sua história, e, por isso, constituem relíquias que precisam ser preservadas. Sem elas não teria acontecido o ciclo do ouro, nem o do café, e o Brasil não alcançaria a unidade nacional.

O tropeirismo não foi um episódio restrito à história regional. Ca-minhos de tropas foram abertos em todos os quadrantes da nação. Nas ci-dades antigas deveria ser erguido um monumento, para perpetuar o papel da mula na história. No Sul do Brasil, a ação do tropeiro foi um feito de bravura dos destemidos paulistas, que alongaram as fronteiras nacionais. Eles foram os agentes da civilização luso-brasileira, tornando-se merecedo-res de um monumento imortal na consciência da população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tropeiro, além de conduzir a tropa, atuou como comerciante. Comprava e vendia animais e outras mercadorias. Foi responsável por transmitir notícias, divulgar costumes, foi um agente cultural. Fez a inte-gração entre cidades, criou estradas, foi responsável por formar povoados e, responsável pelo crescimento econômico e populacional. Em Porto União (SC), ocupou a região dos Tócos4, um povoado nos arredores do município, onde descansava o gado, e aí favoreceu o desenvolvimento do comércio, oportunizou o surgimento de moradores e de uma pequena capela.

Da mesma forma a travessia do vau favoreceu o povoamento de Porto União da Vitória, inicialmente pertencente ao Estado do Paraná. Nesse local, muitos tropeiros acampavam, esperando as boas condições de travessia. A vila prosperou, o comércio surgiu e o tráfego de pessoas au-mentou, e as possibilidades de acesso à cidade de Palmas foram facilitadas por esse fato. Aí estão algumas das contribuições dos tropeiros para a for-mação da cidade de Porto União (SC) e União da Vitória (PR).

4 A região dos Tócos corresponde, atualmente, ao Bairro São Pedro em Porto União (SC).

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Figura 5 - Praça Hercílio Luz, (s/d).Fonte - Acervo de Leni Trentim Gaspari.

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A PRAÇA HERCÍLIO LUZ COMO ESPAÇO PÚBLICO: LUGAR DE VER E SER VISTO1

Leni Trentim Gaspari2

RESUMO: Esta pesquisa procura mostrar que as praças tem um signifi cado social e um papel fundamental para a História, por constituir-se num espaço de registro vivo a perpetuar os costumes, modismos e estilos de uma sociedade num deter-minado tempo. Como espaço público tem sido cenário e testemunha das mais di-versas manifestações: do romantismo a encontros políticos, festas, reuniões para fi ns comerciais, culturais ou religiosos. Neste sentido ela é palco e local de vida, portanto espaço de história, memória e identidade. Numa breve análise sobre a história e função da Praça Hercílio Luz em Porto União constata-se que ela impri-me relevantes signifi cados na cultura e no cotidiano dos moradores, desde o inicio do século XX até os dias atuais, embora com manifestações diferentes. Com base em fontes bibliográfi cas e fontes primárias foi possível reconstruir parcialmente o cotidiano da Praça Hercílio Luz, anos 1940.

PALAVRAS-CHAVE: Praça Hercílio Luz. Memória. Cotidiano.

AS PRAÇAS NO CONTEXTO DA HISTÓRIA DAS CIDADES ANTIGAS

A praça é um espaço que se confunde com a própria origem do conceito ocidental urbano, desde os tempos da Antiga Grécia, quando já tinha infl uência no comportamento da sociedade. A mais famosa praça pública na época era a “Ágora”, recinto decorado com pórticos, altares e estátuas que impressionava pela beleza, local onde os gregos realizavam suas assembleias e onde também se administrava o comércio e aconteciam manifestações culturais e religiosas. Na Ágora de Atenas, inúmeras vezes,

1 Este artigo foi publicado na obra: MARTINS, Ilton Cesar; Gohl, Jeff erson William; GASPARI, Leni Trentim (Orgs.). Fragmentos de Memória, Trechos do Iguaçu: olhares e perspectivas de história local. União da Vitória; Paraná: Fafi uv, 2008. O artigo sofreu complementações que destacam a história do Município de Porto União por ocasião de seu Centenário.2 Mestre pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Historiadora e pesquisadora seguindo a linha de História e Memória. Pesquisas e publicações com ênfase em História Regional e Local. Membro fundador da Alvi, ocupante da Cadeira nº 19, patronesse Edy Santos da Costa.

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Heródoto descreveu ao seu povo as viagens que realizara e os costumes dos povos que conhecera.

Munford (1982 apud DE ANGELIS, 2000) mostra que a Ágora é antecessora das praças. Em sua origem, era o local de reuniões dos cida-dãos, espaço aberto de propriedade pública, onde se fazia uso da palavra, falava-se de política e se formavam as correntes de opinião.

Magalhães (2005, p. 44) aponta que, nos textos do período clás-sico, a Ágora ateniense era referenciada com maior ênfase como praça de mercado e não mais priorizada como espaço de ação política. Como praça de mercado, tornava-se local de concentração de comerciantes, artesãos, trabalhadores assalariados, de tabernas, ofi cinas e de butiques de barbeiros. Esses personagens estavam presentes nos períodos históricos anteriores, no entanto, a partir do século V, houve um deslocamento do enfoque do papel das praças no cotidiano dos grupos sociais.

Segawa (1996, p. 32) comenta que, no período medieval, o recanto aberto era uma regalia, considerando o tímido espaço intramuros desse período. “As cidades quase não possuíam áreas abertas não religiosas no limite do espaço construído”. Ainda assim, ela serviu para diferentes fi nali-dades, dividida em várias categorias: praças de mercado, entrada da cidade, centro da cidade, adro da Igreja.

Para conhecer um pouco sobre o cotidiano da Praça Medieval nos apropriamos de algumas ideias do trabalho de Bakhtin (1999, p.133), no qual mostra que a praça pública foi o local onde a cultura popular não ofi -cial promovia as manifestações nos dias de festa e de feira. Na fala do autor: “[...] era o ponto de convergência de tudo que não era ofi cial, de certa forma gozava de um direito de ‘exterritorialidade’ [...]”. O povo aí sempre tinha a última palavra, sendo então espaço de deliberações coletivas. A linguagem era familiar e a ida à praça era permeada pelo universo do riso e da festa, na qual as pessoas tinham algo em comum e a extensão espacial correspondia a uma expansão social.

Bakhtin (1999) escreve também a respeito das suas refl exões sobre os escritos de Rabelais, o qual, segundo ele, mantinha um interesse vivo a respeito das praças públicas, mantendo uma estreita ligação com elas, fami-liarizando-se com os espetáculos de rua, elemento importante da sociedade medieval na praça pública. Nas palavras de Bakhtin (1999):

Foi lá que muito possivelmente ele adquiriu conhecimentos especiais sobre os tablados sobre os quais se representavam as comédias: eles eram erguidos em pleno centro da praça e

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o povo se apinhava à sua volta. No meio da multidão, Rabe-lais assistia interpretação dos mistérios, moralidades e farsas (BAKHTIN, 1999, p. 134).

Bakhtin (1999) aborda, também, o estudo de certos gêneros ver-bais na praça pública, como os “pregões”, os quais constituem o gênero po-pular mais simples, no entanto considerados essenciais para Rabelais. Os “pregões” tinham um papel fundamental na praça pública, porque eram o reclame em que os mercadores gritavam em voz alta, de forma rimada e ritmada, anunciando uma mercadoria e louvando- lhe as qualidades.

Os apelos diferenciavam-se de mercadoria para mercadoria (ali-mento, bebida ou vestimentas), possuíam seu próprio vocabulário, a sua melodia, entonação, ou seja, sua fi gura verbal e musical.

Conforme Bakhtin (1999), além dos “pregões” em voz alta, tam-bém os anúncios, decretos ordenações e leis eram levados ao conhecimento do povo por via oral, e com isso, a palavra sonora, na vida cultural e cotidia-na, tinha papel de destaque e relevância.

A partir do Renascimento, a praça emergia como fator de embe-lezamento das cidades, praça estética, pelos seus elementos urbanísticos, passou a constituir-se em um lugar atrativo, organicamente articulado, com a criação de jardins públicos, os quais, como se refere Segawa (1996), passa-ram a ser locais de reunir-se:

[...] fazer-se público de sua presença, exibir pompa, ver ho-mens e mulheres bem vestidos e bonitos, contar e ouvir as novidades, assistir à apresentações musicais, mostrar fi lhas na busca de maridos, homens fazendo a corte à cortesãs. Os jogos sociais e sexuais – com a tácita concordância entre seus praticantes – o plasir de la promenade, tinha um palco mag-nífi co nos jardins públicos (SEGAWA, 1996, p. 46).

Verifi ca-se, então, que o adentrar nos jardins públicos proporcio-nava o prazer do encontro, do reencontro do passeio e do estar juntos num espaço, aonde as pessoas iam para ver e serem vistas, falar e ouvir, enfi m, um espaço de visibilidade e sociabilidade. Mais do que funcionalidade, a praça passou a ter valor político e social, sem função específi ca, porém um lugar atrativo para reuniões e encontros.

A respeito da sociabilidade, Segawa (1996) esclarece também que havia certas imposições à conduta daqueles que se faziam presentes no es-

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paço reservado ao passeio. Uma das características marcantes no am-biente dos Jardins era a ‘germinação da ideia do silêncio em público’, as pessoas poderiam passear, usufruir do agradável ambiente ou fi car sentadas, mas respeitando o silêncio. Percebe-se aqui a nítida diferença desse ambiente para o das praças da antiguidade ou medievais e o espa-ço popular de espontaneidade e de festa vai cedendo lugar à disciplina e ordenação social.

O passeio ajardinado passou a ser a instância radical do estabeleci-mento da ordem pública, frequentado por segmentos sociais privilegiados, com a expansão das classes mercantil e burguesa. Nas palavras de Bakhtin (1999, p.30): “os antigos privilégios da praça pública em festa restringem-se cada vez mais”. Com efeito, buscou-se nesse momento a concentração or-ganizada e elegante do jardim.

PRAÇAS E JARDINS NO BRASIL

Os jardins públicos no Brasil surgem pela infl uência das ideias pai-sagísticas, do discurso higienista e do amor pela natureza. Segawa (1996) salienta que a emergência da questão do salubrismo a conduzir a urbaniza-ção fortaleceu a valorização desse espaço como local de refazimento, pois, nesse contexto, a natureza não era vista pela beleza, mas também por ser benéfi ca, assim o termo praça estava associado a espaços ajardinados.

Reis Filho (1918 apud DE ANGELIS, 2000) esclarece que no Brasil a existência de praças e largos fez-se presente desde o período colonial e que esses espaços constituíram-se focos de atenção para as questões ur-banísticas, considerando que eram pontos de concentração da população.

O Passeio Público do Rio de Janeiro, um dos primeiros do Brasil, segundo alguns estudiosos, foi executado entre 1779 e 1783, por iniciativa do vice-rei D. Luis de Vasconcelos. Segawa (1996) registra inúmeras des-crições dos viajantes que para ali se dirigiam para apreciar o recinto. Entre outros comentários fazem alusão à beleza do lugar e à vista encantadora sobre a baía, segundo Seidles (apud SEGAWA, 1996):

A vista de cima desse parapeito é indescritivelmente bela [...]. É como se recebêssemos de longe uma saudação de espíritos e temos a sensação de que um coração humano esperanço-so não pode ser simples átomo no grande todo do universo (SEIDLES, apud SEGAWA, 1996, p.91).

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Outro testemunho que Segawa (1996, p. 100) cita é o de Walsch (1828/1829), reverendo americano: “todas as noites esse jardim fi ca repleto de famílias que sobem ao topo do outeiro para apreciar a brisa marinha [...]”. Depreende-se por essas palavras as emoções que são despertadas nas pessoas, desafi ando os seus anseios de refl etir sobre as raízes da existência e a interdependência com a natureza.

O Passeio Público, portanto, assim como as praças, também foi lo-cal de sociabilidades e “de ver e ser visto”, seja num simples caminhar, ou em reuniões festivas, conforme características específi cas de cada socieda-de. É oportuno citar aqui a visão do pesquisador De Angelis (2000), sobre as praças no Brasil:

Se nos pautarmos por um enfoque antropológico, não estare-mos incorrendo em erro se afi rmarmos que a praça no Brasil tem sua origem anterior à implantação do Passeio Público do Rio de Janeiro. Se considerarmos que os índios construíam suas ocas alinhadas formando um círculo, cujo centro, va-zio, era o local das reuniões, festas e ritos, então teremos aí o primeiro registro desses espaços e nosso país. Embora tais espaços não fossem nominados como praças, sua função, po-rém, as evoca. Sem dizer da centralidade, outra característica muito comum às praças e tão presente nas aldeias indígenas (tabas) (DE ANGELIS, 2000, p.2 4).

Nesse contexto é conveniente lembrar que a diversidade cultural de cada grupo aparece de forma nítida sem, no entanto, estar totalmente desvinculada das outras culturas. O que diferencia, na verdade, são as ter-minologias dadas a espaços que tem as mesmas funções.

Na América Espanhola, a construção da cidade partia sempre de um centro, como nos mostra o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1995):

A construção da cidade começaria sempre pela chamada praça maior. Quando em costa de mar, essa praça fi caria no lugar de desembarque do porto; quando em zona mediter-rânea, ao centro da povoação. A forma da praça seria a de um quadrilátero, cuja largura correspondesse pelo menos a dois terços do comprimento, de modo que, em dias de festa, nelas pudessem correr cavalos. Em tamanho, seria propor-cional ao número de vizinhos e, tendo-se em conta que as povoações podem aumentar, não mediria menos de duzentos

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pés de largura por trezentos de comprimento, nem mais de oitocentos pés de comprimento por 532 de largo; a mediana e boa proporção seria a de seiscentos pés de comprimento por quatrocentos de largo. A praça servia de base para o tra-çado das ruas; as quatro principais sairiam do centro de cada face da praça. De cada ângulo sairiam mais duas, havendo o cuidado de que os quatro ângulos olhassem para os quatro ventos (HOLANDA, 1995, p. 97).

No Brasil são inúmeras as praças com características próprias, de acordo com as atividades culturais, sociais e religiosas de cada cidade. Al-gumas delas destacam- se pelos espaços arborizados e ajardinados, com esculturas, monumentos e outros elementos que estão de alguma forma projetando a memória e a importância da história da cidade. Lugar de ma-nifestações sociais, espaço de encontro e de visibilidade e palco também de comemorações cívicas, como mostra Boschilia (1995):

Seguindo o ritual característico do período do Estado Novo, as datas cívicas eram comemoradas com grande pompa e re-cebiam ampla cobertura de imprensa. Eventos como o Dia da Indepen- dência, da Bandeira, da Raça ou do Soldado reu-niam milhares de pessoas nas grandes praças da cidade, onde autoridades civis e mi- litares faziam discursos infl amados sobre a defesa da Pátria e do civismo e enalteciam o chefe da Nação. Nessas datas, era comum que a Liga recomendasse à população o hasteamento da Bandeira e o comparecimento em massa às solenidades. Por ocasião do pri- meiro aniver-sário da entrada do Brasil na Guerra, a comemoração mere-ceu o fechamento do comércio, com concentração na Praça Osório e o habitual desfi le até Santos Andrade (BOSCHILIA, 1995, p. 23).

Prosseguindo o estudo sobre as praças, encontram-se outras refe-rências interessantes, escritas por Boschilia (1995): a autora aponta para a utilização da Praça Osório, em Curitiba, no dia 19 de março de 1942, por dez mil pessoas para “Verberarem os Golpes do Nazismo contra a Integri-dade Nacional”. Relata também o encontro de grande número de pessoas em outras praças da cidade para ouvirem discursos ardentes sobre a defesa da Pátria. Percebe-se que, em cada momento histórico, a praça teve, nas sociedades, papel relevante, como palco de muitas histórias populares.

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Constata-se, assim, a diversidade das funções da praça pelo povo indo para além de local atrativo de encontros e espaços de lazer, de uma cidade, a qual é, antes de tudo, um resultado social. Munford (1961), ao refl etir sobre as cidades, escreve que elas “são um produto do tempo” e que nascem das necessidades sociais do homem, multiplicando os seus cos-tumes dentro de uma complexidade social de propósitos e a construção de praças encontra-se dentro desse contexto, principalmente, nas cidades interioranas, onde há menor número de opções de lazer, é que a praça in-sere-se na simbologia da “centralidade e do espírito comunitário”, como se vê na sequência deste texto.

PRAÇA HERCÍLIO LUZ: UM ESPAÇO DE SOCIABILIDADE NAS “GÊMEAS DO IGUAÇU”

Em todas as sociedades, as praças tiveram papel signifi cativo para a população. Tem sido palco de inúmeras festividades, encontros sociais e políticos, aos quais o povo teve e tem acesso, possibilitando sentir-se como membros de uma sociedade, na qual muitas vezes tem sido excluídos. Toda praça desempenha um papel importante em relação ao meio onde está ins-talada e com isso adquire um valor especial nos diferentes grupos sociais, ocasionando signifi cativas transformações nas paisagens e costumes das cidades.

Na história de Porto União da Vitória, as praças também tiveram, ao longo do tempo, papel signifi cativo nos costumes da sociedade local. Aqui destaca-se a situação histórica e social da Praça Hercílio Luz, localiza-da na cidade de Porto União. Sabe-se que no ano 1909 esse espaço recebia a denominação de Praça da Estação, pela proximidade com a velha estação ferroviária e, em 1916, já era denominada Praça Mattos Costa, conforme informa Cleto da Silva. Observa-se que a esse tempo a cidade ainda era uma só: Porto União da Vitória (PR), até 1917.

A denominada Praça Hercílio Luz surgiu com o Projeto de Lei nº. 38, de 11 de outubro de 1920, do Conselho Municipal de Porto União, que decretou a permuta dos nomes da Rua Dr. Hercílio Luz e Praça Mattos Costa, passando a primeira a denominar-se Rua Mattos Costa e a segunda Praça Hercílio Luz3.

3 Hercílio Luz foi um ilustre catarinense, engenheiro formado na Universidade da Bélgica e líder político autêntico. Foi governador de Santa Catarina por duas vezes e sua atuação dinâmica e valorosa ainda permanece viva na memória de seu povo.

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A praça foi local de encontros políticos e religiosos. Durante o pe-ríodo de confl ito do Contestado, quando ainda se chamava Praça Mattos Costa, foi o centro de comunicações da região e também local de encontro da população para comemorações, como relata Silva (1933, p.138):

A 28 de setembro de 1916, o Dr. João Túlio de França, Inspe-tor do Município de União da Vitória, convida a população para assistir aos festejos da Primavera plantando na Praça Matos Costa (atual Ercílio Luz) um pé de erveira.

É interessante observar que já havia o costume de a população di-rigir-se a um espaço público, que nesse caso era ainda rudimentar, pois a estruturação real da praça se deu a partir da década de 1920. Ressalta-se também a preocupação em dotar o espaço da praça com o plantio de uma árvore ervateira, que era uma das principais produções na região.

Analisando documentos da época, percebe-se a preocupação dos cidadãos que representavam o Conselho Municipal de Porto União em tor-nar a Praça e suas proximidades um lugar bonito e agradável ao povo.

Figura1 - Espaço destinado à Praça Hercílio Luz, Município de Porto União (SC).(Data provável, década de 1920)4.

Fonte: Acervo de Leni Trentim Gaspari.

O Conselho reunido em 31 de outubro de 1921, criou o Projeto de Lei nº. 47 que deu plenos poderes ao Superintendente Municipal, Sr. Her-menegildo A. Marcondes, para contrair um empréstimo de até 30.000$000

4 Acredita-se que seja anterior a 1920/21, considerando que o Decreto que determina o embelezamento dela é de outubro de 1921.

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(trinta contos de réis), com a fi nalidade de embelezamento da praça. O referido Projeto de Lei, no seu artigo 4º diz o seguinte: “O presente emprés-timo se destinará ao calçamento e ajardinamento da Praça Hercílio Luz, sendo o restante aplicado em melhoramentos das ruas que afl uem à Praça Hercílio Luz, a partir das partes de afl uência”. (PORTO UNIÃO, 1921, p. 3). A fi gura 1 apresenta a referida praça.

O mesmo Projeto, no seu artigo 5º, ainda determina que: “as nego-ciações para o presente empréstimo deverão ser iniciadas o mais depressa possível, fazendo o Executivo Municipal todas as diligências que se torna-rem necessárias para efetivação do empréstimo para o fi m que se destina”. (PORTO UNIÃO, 1921, p. 03).

Figura 2 - Praça Hercílio Luz (Data provável, década de 1920)5.Fonte: Acervo de Leni Trentim Gaspari.

Entende-se que o projeto de embelezamento da praça surge da ne-cessidade de melhorar o aspecto urbano, causando “boa impressão”, con-siderando que a Praça Hercílio Luz era local de circulação de pessoas, in-clusive de outras cidades, por estar situada próxima à Estação Ferroviária, aos hotéis e bares da cidade, mas também era espaço de lazer e descanso numa área aprazível pelo ajardinamento. Assim, sendo a praça o ponto cen-tral de referência para a cidade, os transeuntes deveriam perceber a sua

5 Observe-se o ajardinamento inicial da praça, a lanchonete “O Taco de Ouro”, o Hotel Internacional e outras belas obras arquitetônicas. Nota-se, ainda, que o espaço da Praça era maior que o atual. Data provável da foto: década de 1920. Sobre o “Taco de Ouro”, encontra-se a seguinte propaganda: “desejando V. Sa. tomar excelente café, fi nas bebidas e saborear óptimos beefs, procure afreguezear-se n’ “O TACO DE OURO”. (A Voz do Oeste, n. 12, 1° de maio, 1930, p. 4).

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exuberância pelas fl ores perfumadas e cultivadas no jardim da praça que recebeu o nome de Jardim Benjamin Constant (fi gura2).

Essa mentalidade de embelezamento dos jardins e praças esteve presente no início do século XX, em todo o Brasil, porque o conhecimento sobre os benefícios das plantas na área urbana estava divulgado nas mais diversas instâncias sociais e plenamente aceito do ponto de vista científi co. Foi também um elemento forte que caracterizou a transformação das pai-sagens das cidades, pois os jardins, que no passado, situaram-se longe do núcleo habitado, incorporam-se às cidades como preciosas áreas livres. As-sim posiciona-se Segawa (1996, p. 219): “a paisagem é a consciência huma-na diante de um ambiente, produto do seu potencial imaginativo e criador, uma contemplação visual formulando signifi cados e novas imagens”.

Para melhor compreender o signifi cado que a Praça incorporava na coletividade, resgata-se dos jornais algumas signifi cativas informações, como a que segue: na grafi a original (O COMÉRCIO, 1948):

Aí por volta do ano 1929, quem chegasse a Pôrto União, pela primeira vez, servindo-se da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande (hoje, Rede Viação Paraná – Santa Catarina), teria, forçosamente, de ver-se surpreendido com um de dois fatos, apresentados pelo nosso desamor ao Progresso, e bem singu-lares entre si. Assim, se o tempo fosse bom, isto é sem chuva, o viajante, depois de uma estopada de trem, desde Curitiba ou de Marcelino Ramos, de São Francisco do Sul ou de Join-ville, até aqui, toparia, logo ao entrar na Praça Hercílio Luz, com um leão de cimento magestade, que, após haver reinado no recinto da primeira (e única) Exposição Agro-Pecuária do Município, realizada em 1928, fôra de lá transferida para aquela Praça (a principal da cidade), e de lá fi cára a fazer de estátua, numa grandiosa homenagem nossa ao soberano das selvas. Mas, a esse leão, transladado de sítio em que se realizou o referido certame, e posto a dois passos da velha Estação-Férrea com a cauda voltada para essa. A esse leão, dizia eu, estava confi ada grande e importante tarefa: mostrar, gentilmente, aos viajantes o melhor hotel da época – o “Inter-nacional” – dirigido, então, pelo seu proprietário, o estimado Sr. Rafael Benghi. Daí, a obrigação, em que se viam as pessoas recém-chegadas a Pôrto União, de corteja-lo, admira-lo, e agradecer-lhe não só a espontânea indicação do hotel que lhe fi cava de fronte, como também o original “palpite” para o “bi-

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cho” do dia seguinte, uma vez que, naquele tempo “risonho e franco” era entre nós, o jôgo, em tôdas as suas modalidades (O COMÉRCIO, 1948, p. 1).

Torna-se importante recorrer aos jornais de época, que são veí-culos de informações signifi cativas e que, em muitos casos, e em alguns períodos, são a única fonte de reconstituição histórica que oferecem ao historiador conhecimento sobre a vida cotidiana de um determinado gru-po social.

Assim, destaca-se outro texto jornalístico que fala do cotidiano de Porto União (SC) nas proximidades da Praça Hercílio Luz, escrito em 1949, mas faz referência a um período anterior, provavelmente década de 1930, pelo que revela o texto (O COMÉRCIO, 1949):

Numa das portas do antigo “Cine República” cujo prédio creio ainda pertença ao meu velho amigo Salomão Yared, existiu uma engraxataria, onde se vendiam jornais, revistas, bilhetes de loteria, pinhão cosido, amendoim torrado, doces e frutas. Dada a popularidade de que gozava o seu proprie-tário, era enorme a clientela daquela casa da Praça Hercilio Luz, ao tempo da velha Estação Ferroviária (coberta de folhas de zinco) do bem criado jornal “A Nota”, e do coreto muni-cipal (tipo “quiosqui”) onde uma fi larmônica se fazia ouvir antes das sessões cinematográfi cas do “Teatro Palácio” (hoje “Cine Odeon”) onde discursavam muitas vezes (sic) vocife-rando, os promotores de comícios políticos (O COMÉRCIO, 1949, p. 4).

Ainda, recorrendo aos textos jornalísticos, o jornal “A Voz do Oes-te” 6 referencia a necessidade de as autoridades olharem com maior aten-ção para Praça Hercílio Luz, pois à noite um grupo de garotos subiam nos postes de iluminação elétrica,7 danifi cando-os.

6 O jornal “A Voz do Oeste” era um “Semanário político, litterário e noticioso” do fi nal dos anos 1920 e início dos anos 1930, era dirigido pelos Senhores Hermínio Millis, Luiz Corrêa e Estêvão Juk. Intelectuais que muito contribuíram para registros literários, políticos e históricos das Gêmeas do Iguaçu. 7 Segundo Souza (1966), a energia elétrica foi inaugurada em 12 de outubro de 1910. Até então a iluminação da cidade era feita com lampiões a querosene e apagadas a meia noite.

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As reivindicações continuam nos próximos números, mostrando a preocupação da direção do jornal com os cuidados com a iluminação da referida praça. A nota do jornal assim se refere (A VOZ DO OESTE, 1930):

Continuam ás escuras as esquinas da Praça Hercílio Luz com as ruas 7 de Setembro e 15 de Novembro, parecendo que a nossa reclamação, inserta no número anterior, não foi lida pelos senhores da Empreza. E já que foi preciso repeti--la solicitamos também um olhar de compaixão, da referida Empreza eléctrica, para toda a iluminação da Praça Hercílio Luz que, apagadas as lâmpadas da frente dos hoteis e do Ci-nema Palácio e Taco de Ouro, fi ca a aparecer uma espécie de recanto de aldeia mal iluminada a querosene. “De mão na massa”, como estamos, e por acreditarmos que os senhores eletricistas não se zangarão comnosco, pedimos-lhes que á noite experimentem passar pela Rua Coronel Amazonas, na parte além do Grupo Escolar, a ver se não sentem calafrios (A VOZ DO OESTE, 1930, p. 3).

Ao que tudo indica providências nesse sentido não foram tomadas, pois na edição da semana seguinte, surge outra nota (A VOZ DO OESTE, 1930):

Não sei é verdadeira ou não a notícia de que a empresa de ele-tricidade pretende mudar o nome de nossa Praça que fi ca de-fronte á Estação férrea. Segundo contam, chamar-se-á Praça Hercílio Sem Luz, que na opinião geral, fi ca muito bem empre-gado, devido a grande quantidade de luz que nela se nota. Dos quinze postes que nela fi guram, só onze continuam apagados há um mês. É o cúmulo! (A VOZ DO OESTE, 1930, p. 4).

Além da provocação sobre a iluminação, na mesma edição, aparece outra nota (A VOZ DO OESTE, 1930):

Conta-se por ahí que a Praça Hercílio Sem Luz, será ou já é, transformada em campo de futebol. Dizem até que o Origi-nal Leão sem rabo (bancando cutia) será o centerfoward da “coisa”. Isso é de dia. De noite, a mesma serve de curral para cabritos, vaccas e cavallos que andam a desafi ar os fi scaes, para um match que será realizado no dia do... escandalo. (Gazolina). (A VOZ DO OESTE, 1930, p. 4).

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A imprensa e a comunidade tem papel relevante junto às autorida-des no que se refere ao espaço público e acredita-se que essas questões foram solucionadas, pois registros documentais mostram que no ano de 1931, pela portaria nº. 93, o Senhor Antiocho Pereira, Prefeito Municipal Provisório, resolveu dotar o jardim de Praça Hercílio Luz de bancos com letreiros de propagandas de casas comerciais. A referida portaria menciona que era ne-cessário: “[...] chamar a atenção dos interessados no sentido das suas doa-ções encarregando-se a comissão de melhoramentos urbanos de adquiri-los de tipo uniforme [...]”. (PORTO UNIÃO, 1931, p. 159). Os bancos colocados eram de madeira e mais tarde foram substituídos pelos de cimento.

Os bancos tem uma simbologia que estava presente no imaginário da população: sentar, ver e ser visto, conversar e trocar impressões. Atos presentes no cotidiano da população de Porto União e União da Vitória nos momentos de lazer, quando iam à Praça (fi gura 3) esperar pelo horário do trem, famílias que levavam as crianças para brincar, os adultos conver-savam e os jovens “fl ertavam”.

Figura 3 - Praça Hercílio Luz, Município de Porto União (SC). Passeio de domingo na Praça (Footing). À direita, Hotel Avenida (atualmente Hotel Ópera)

e, à frente, a velha Estação Ferroviária de Porto União. (Data provável, década de 1920).

Fonte: Acervo de Leni Trentim Gaspari

A presença de jovens na praça permitiu que relacionamentos de amizade acontecessem com jovens que por ali passavam com seus familia-res, considerando que o embarque e desembarque aconteciam na Estação Ferroviária, próxima à Praça Hercílio Luz e que a localização dos hotéis

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também estava nas proximidades, sendo o Hotel Rinco o mais próximo e o mais frequentado.

Em 1930, período revolucionário do país, alí se encontravam mora-dores de Porto União e União da Vitória para obter e trocar informações so-bre os acontecimentos. Assim nos relata o eminente historiador Silva (1933, p.189): “à Praça Ercílio Luz (antiga Matos Costa) afl uem os moradores de Porto União e União da Vitória, a cata de informes mais positivos sobre o movimento revolucionário, que constava haver estalado em todo o paíz”.

Como em outras cidades do Brasil, a Praça Hercílio Luz também foi palco de homenagens a autoridades ilustres que visitavam Porto União. Ainda em 1930 (dezesseis de outubro) compareceu à Praça uma grande multidão de moradores das duas cidades, para prestar homenagens, e co-nhecer o Dr. Getúlio Vargas, que, da sacada do Hotel Internacional, saudou a população presente. Straube (2001) narra que, nessa ocasião, na Praça, foram “penduradas centenas de bandeirinhas vermelhas, além de muitas alegorias verdes e fl ores” e a Banda de Antônio Biviláqua alegrava com en-tusiasmo o ambiente (Figura 4).

Figura 4 - Homenagem a Getúlio Vargas (1930). Momento em que o Presidente

é saudado pela população na Praça e recebe fl ores de jovens da cidade, nas proximidades da Praça Hercílio Luz, em 1930.

Fonte: Acervo de Leni Trentim Gaspari.

Registra-se também que, em 1934, a população de Porto União ho-menageiou o Interventor Catarinense, Sr. Coronel Aristiliano Ramos, con-forme mostra a nota abaixo (O COMÉRCIO, 1934):

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Constituiu verdadeira consagração a recepção feita ao Sr. Cel. Aristiliano Ramos, ilustre Interventor Federal, neste Estado, por ocasião da sua Honrosa visita a esta cidade. Assim é que, ao anoitecer do dia 24 do mês fi ndo, cerca de 5.000 pessoas se viam comprimidas na Praça Hercílio Luz, aguardando a chegada do trem especial, que conduzia o preclaro Chefe do Governo Estadual e sua brilhante co- mitiva. E sob forte salva de rojões e ao som de uma vibrante marcha magistralmente executada pela fi nada banda “Santa Cecília”, era as 19 horas, aproximadamente, de segunda feira ultima, S. Excia. rece-bido, na garagem da Estação Ferroviária desta cidade, pelas autoridades de ambas as cidades vizinhas, membros do Di-rectorio Municipal da P.L.C e crecido numero de amigos e admiradores que lhe foram levar os cumprimentos de boas vindas. Conduzido ao Hotel Internacional, o Sr. Coronel Aristiliano Ramos passou por entre alas da enorme massa popular, que estacionava defronte á Estação, e que prorrom-peu demorada salva de palmas e vivas à S. Excia. e ao Estado (O COMÉRCIO, 1934, p. 1).

Constata-se também que a praça era ponto de concentração das pessoas que para ali se dirigiam para assistir a desfi les, como mostra a fi gu-ra 5, retratando a comemoração do Dia do Colono, em 25 de julho de 1935.

Figura 5 - Praça Hercílio Luz (1935). Observa-se o jardim da praça já arborizado, a sua frente a antiga estação ferroviária de Porto União e ao fundo alguns vagões

de trem. Fonte: Acervo de Leni Trentim Gaspari.

Durante a construção da nova Estação Ferroviária, inaugurada em 15 de agosto de 1942, a Praça Hercílio Luz foi novamente alvo de atenções,

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por parte dos dirigentes municipais da época, conforme segue (O COMÉR-CIO, 1941):

Motivado pela criação da Estação-férrea da Rede Viação Pa-raná – Santa Catarina, a qual tomou a denominação União, está passando por grande reforma a Praça Hercílio Luz, desta cidade, tendo já sido dali removida a maior parte das árvo-res, que formavam o Jardim Benjamim Constant, bem como demolido o coreto municipal. Segundo o traçado pelo com-petente profi ssional Dr. Algacir Guimarães, o Jardim Benja-min Constant, se bem que fi que menor, terá, todavia, aspecto moderno, com o que lucrará a cidade, no seu principal centro (O COMÉRCIO, 1941, p. 1).

Necessitava-se inserir a praça à cidade, tornando o espaço reserva-do a esta um ponto de destaque no contexto da modernidade. Com a Nova Estação Férrea, a movimentação seria maior, e circulariam mais pessoas da comunidade, bem como os viajantes. Assim, a imagem da praça ganharia um novo aspecto, tornando-se motivo de orgulho aos moradores das cida-des de União da Vitória e Porto União (fi gura 6).

Figura 6 - Praça Hercílio Luz e Estação Ferroviária União. Década de 1940. Observa-se a transformação ocorrida no ajardinamento, na redução do espaço e a

ausência do coreto municipal.Fonte: Acervo de Leni Trentim Gaspari.

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Borges (2003) evidencia que a imagem fotográfi ca não oferece ape-nas informações sobre datas, nomes de pessoas envolvidas em acontecimen-tos, mas também cria verdades a partir de fantasias do imaginário e, por não ser um documento neutro, ela cria novas formas de documentar a vida em sociedade. Assim, segundo Borges(2003):

As imagens fotográfi cas devem ser vistas como documentos que informam sobre a cultura material de um determinado período histórico e de uma determinada cultura, e também como uma forma simbólica que atribui signifi cados às repre-sentações e ao imaginário social (BORGES, 2003, p.73).

Signifi cados e representações simbólicas permeiam o imaginário social das frequentadoras da Praça Hercílio Luz, conforme revelam os jor-nais dos anos de 1930 e 1940, mas principalmente, nos depoimentos de algumas mulheres, que frequentaram esse local.

Esse texto além de apresentar as alterações paisagísticas que sofreu a Praça Hercílio Luz, quer registrar os sentidos atribuídos pelas mulheres àquele local.

Segundo Th ompson (1992, p. 44) a história oral é construída em torno de pessoas. O autor esclarece ainda que ela “[...] traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade”. Além disso, o rememorar que envolve o entrevistado pode propiciar ao pesquisa-dor o sentimento de pertencer a determinado lugar e determinada época, permitindo-lhe uma ideia mais imediata do passado.

A utilização da história oral na construção deste texto foi responsá-vel por apontar vários elementos que invadiram o “silêncio” das fontes es-critas. As histórias deram sentido ao passado, recompostas pela memória, resgataram o cotidiano da população que transitava na Praça Hercílio Luz, nos anos 1940. Assim, registros de entrevistas foram utilizados8.

As narrativas das entrevistadas permitiram dar suporte ao signifi -cado histórico da pesquisa, pelo fato de terem feito parte do contexto his-tórico específi co da época em estudo, tornando assim a análise mais signi-fi cativa.

A praça era frequentada por pessoas das famílias com destaque social na cidade, as quais ali se dirigiam as terças e quintas-feiras e aos

8 Esses registros fazem parte da obra: GASPARI, Leni Trentim. Imagens Femininas nas “Gêmeas do Iguaçu”, nos anos 40 e 50. União da Vitória; Paraná: Kaygangue, 2005.

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sábados e domingos, nos horários que antecediam o início das sessões de cinema. Enquanto aguardavam o horário do cinema, fi cavam caminhando, conversando, namorando... fl ertando...

À medida que os relatos das entrevistadas vão sendo tecidos, tor-na-se possível perceber o signifi cado das lembranças que compõe o imagi-nário e a vontade dos sujeitos “recuperarem” algo que já não existe mais, e, que marcaram profundamente suas vidas, como o footing9 na praça, aos domingos, que ainda permanece muito vivo em suas lembranças. Gaspari (2005, p. 142-143) apresenta os seguintes relatos:

[...] Os passeios na Praça Hercílio Luz, desde a esquina do Cine República (em frente ao Bradesco) até a esquina da Rua 15 de novembro, era um vai-e-vem, quando encontrávamos amigas e conhecidos, muitos pares de namorados, tudo ao som da Banda do Sr. Emílio Taboada, que tocava no coreto da Praça Hercílio Luz [...]. (Lucia). [...] à noite, nos domingos, nossas mães nos levavam à Praça Hercílio Luz e fazíamos a retreta na rua em frente ao cinema. Era a oportunidade da “paquera” com muita alegria e fofocas, ao som da bandinha no coreto e observadas pelas mães pos-tadas na calçada [...]. (Helena).[...] Antes da sessão do cinema fazíamos um footing na praça. Sempre em turmas, dávamos voltas e voltas, fl ertando com os rapazes que formavam alas para a passagem das donzelas [...]. (Th erezinha).[...] Aos domingos à noite, as moças passeavam na Praça Hercílio Luz, passeando com seus melhores vestidos enquan-to a banda tocava; os moços fi cavam parados em fi la, “tiran-do uma linhada”, algumas vezes, aproximavam-se das moças conhecidas para con- versar [...]. (Waltraud).[...] Na Praça Hercílio Luz, onde fi cava o único cinema das duas cidades: o “Odeon”, os rapazes faziam uma parede hu-mana e então as garotas desfi lavam sua brejeirice com seus trajes de domingo [...]. (Teresinha Noelly).[...] A praça era a vida da cidade. Antes do cinema fazíamos footing – passeio. As moças vestiam-se muito chiques com seus melhores trajes e os moços fi cavam olhando e a banda tocando. O namoro na época era muito respeitoso. Havia o

9 Footing: termo inglês utilizado para designar o hábito e desfi lar em espaços públicos.

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fl erte. Os jovens não se davam as mãos e não havia intimida-de excessiva como hoje. (Astrogilda).[...] Aos domingos o passeio era o footing na praça, as moças fi cavam andando e olhando os moços “tirando uma linhada”. A banda tocava lindas músicas. Quando havia interesse por um rapaz, a moça fi cava na ponta e o rapaz se aproximava para conversar. A praça fi cava cheia de pessoas olhando. Era na Praça Hercílio Luz (era até perto da esquina). Depois da Praça iam até o cinema (se um dos irmãos estava junto), se não, voltávamos para casa. Os rapazes fi cavam “controlando” as meninas (querendo na- morar) [...]. (Ermínia).

O grupo de jovens na praça era permeado pelo universo do riso, da festa, da curiosidade e da emoção, portanto um ponto de encontro social, para o qual as pessoas colocavam suas melhores roupas, preocupadas com a aparência, pois esses momentos representavam um poder de sedução, considerando que muitos romances tiveram início nesse espaço de encon-tros do masculino e do feminino.

Essas histórias levam a refl etir sobre um tempo longínquo, intera-gindo com as lembranças e as representações sociais da população da épo-ca. Embaladas pela saudade, as entrevistadas teceram o cotidiano de suas vidas no universo da praça e, por meio de suas lembranças, possibilitaram a perpetuação das experiências vividas, deixando traços de sua existência nesse lugar de memória

Os jovens iam à Praça, no horário que antecedia à chegada dos trens, principalmente o “Bananeiro”, que vinha de São Francisco do Sul, como esclarece Milis (1976):

Porto União que sempre teve uma vida assaz intensa, cedia a antiga Praça Hercílio Luz para ser usada como uma ver-dadeira passarela, pois o footing era sistematicamente feito naquele aprazível local (à época, artisticamente arborizado pelo bom gosto do então Prefeito Antíocho Pereira) de vez que os namorados, constituindo enorme legião, ali se plan-tavam em despreocupado vaivém até que o chamado trem “Bananeira”, procedente de São Francisco do Sul, marcasse 21:00 horas e 20 minutos, e então o movimento começava a arrefecer-se, decrescendo a tal ponto, que era muito simples saber se o famigerado “Bananeira” já havia chegado ou não [...]. (MILIS, 1976, p. 34).

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Observa-se que o autor usa o termo “bananeira”, mas sem dúvida trata-se do mesmo trem, conforme os registros das entrevistas. O universo de lembranças sobre o cotidiano da Praça Hercílio Luz encontra-se muito vivo na memória dos antigos moradores da cidade.

A praça simboliza hoje, para essas pessoas entrevistadas, um local de recordações felizes, junto aos seus amigos e seus amores, que fi caram retidos em seu coração, por um sentimento chamado saudade.

Sobre a saudade escreve Franklin (1975)10:

Quanta poesia eu encontrava outrora, Na minha infância já distanciaMas cuja saudade, ainda hoje chora, Ao recordar-me da terra tão amada.Vejo tudo como se fosse agora: Banhos no Iguaçu com a gurizada, Caçar pássaros pelo campo afora, Juntar pinhões, fazer uma queimada...Olhar o trem que passa sobre a ponteApitando triste e saudosamenteE, ao longe se perde no horizonte.À noitinha, uma volta pela praçaOnde se agita toda essa genteRumo ao circo que hoje é de graça... (FRANKLIN, 1975).

No processo de transformação pelos quais passaram as cidades é natural que as praças também sofram modifi cações. A dinamicidade da História conduz o homem a promover mudanças no espaço físico e tam-bém nas formas de sentir, agir e viver. A Praça Hercílio Luz também sofreu essas alterações. No cinquentenário do Município de Porto União, mais uma vez a transformação ocorreu (fi gura 7).

10 Poeta Victório E. C. Franklin.

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Figura 7 - Praça Hercílio Luz, Município de Porto União (1967).

Fonte: Acervo de Leni Trentim Gaspari.

Monumentos estão presentes na praça com sua função memorial, marcando o Cinquentenário da Emancipação Política de Porto União e homenageiam Olavo Bilac. Há um monumento da Loja Maçônica e outro para Hasteamento de Bandeiras, assim continua sendo um referencial im-portante para os cidadãos atuantes nas atividades cívicas, políticas e sociais.

A história avançou e o cotidiano da praça se modifi cou. Onde es-tava o coreto, no qual tantas vezes o maestro Emílio Taboada emocionou a população, encontra-se a fonte luminosa, construída por ocasião do cin-quentenário de Porto União, idealizada por Marcos Gruba e construída por Horst Moeck, a qual também emociona pela beleza, principalmente, às vés-peras do Natal, quando a praça fi ca totalmente iluminada e ornamentada.

REVITALIZAÇÃO DA PRAÇA HERCÍLIO LUZ NO ANO 2012

Capeleti11 descreve as transformações ocorridas na Praça, no ano 2012:

O arco não foi de minha autoria e o objetivo era ter uma placa nele, repare que existe um “rasgo” no arco. Ali iria uma placa em acrílico, contando essa história que vocês tem curiosida-

11 Eliziane Capeleti cursou arquitetura na PUC, em 2006, e realizou seu mestrado em Gestão Urbana na mesma Instituição, em 2009. Autora do Projeto de Revitalização da Praça, em 2012.

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des. Ou seja, está inacabado. O partido dele foram as linhas ‘art decó’, as mesmas do estilo das edifi cações do entorno... fazendo alusão também ao rio e ao relevo local.” (CAPELETI, 2017).

Continua sua descrição sobre as modifi cações na praça: “O dese-nho da praça, em planta, partiu da ideia da brincadeira de uma criança com a bola, pois justamente queríamos ver novamente as famílias usando esse espaço”. Preocupação importante, tendo em vista que a praça é o espaço popular: “junto do arco estavam previstas palmeiras, para dar importância e fazer o acesso à praça. No entanto, notamos que iria atrapalhar os eventos que ali aconteceriam, optamos por deixar sem...” Finalizando, ela realiza uma refl exão:

Toda mudança nos traz questionamentos... as pessoas que-riam manter as árvores, mas, além de velhas apresentavam riscos, o local estava fechado. Os canteiros eram altos, lem-bra? Depois de terminada a reforma, notei que realmente o uso previsto está acontecendo... vejo crianças com seus ska-tes, bichos de estimação, enfi m...vida na praça...para isso que ela existe! (CAPELETTI, 2017).

No passado, as pessoas, à noite iam à praça para esperar o horário dos trens, o horário do cinema, para participar ou apreciar o footing, para encontrar os amigos, conversar, rir, namorar. Hoje nas noites de verão essa presença se faz por motivos parecidos. Não existem mais os cinemas, nem chegam os trens, mas os amigos encontram-se no calçadão para uma “cer-vejinha e um bate-papo”, enquanto as crianças correm e brincam despreo-cupadas pelo espaço acolhedor da praça.

Assim, é oportuno concordar com De Angelis (2000), quando afi r-ma que a população não tem como prescindir do espaço público que é a praça. Se nos grandes centros existem outras opções de lazer, é nas cidades interioranas que ela, a praça, revela toda a simbologia da centralidade do espírito comunitário sendo, portanto, lugar de ver e ser vista.

REFERÊNCIAS

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CAPELLETTI, Elizáne Capeleti. Depoimento escrito. União da Vitória, 11 de março de 2017.

KLOTZ, Helena. Entrevista concedida a Leni Trentim Gaspari. União da Vitória, 31 de ago. 2002. (Entrevista).

MATTOS, Astrogilda de. Entrevista concedida a Leni Trentim Gaspari. Porto União, 6 de nov. 2002. (Entrevista).

NIELSEN, Teresinha Noelly Feijó. Entrevista concedida a Leni Trentim Gaspari. Curitiba, 6 de set. 2002. (Entrevista).

OLIVEIRA, Lúcia Kroetz de. Entrevista concedida a Leni Trentim Gaspari. Porto União, 18 de out. 2002. (Entrevista).

TRENTIN, Ermínia Silva. Entrevista concedida a Leni Trentim Gaspari. União da Vitória, 22 de jan. 2003. (Entrevista).

WOLFF, Th erezinha Leony. Entrevista concedida a Leni Trentim Gaspari. União da Vitória, 18 de nov. 2002. (Entrevista).

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153Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

DOCUMENTOS

PORTO UNIÃO. Conselho Municipal. Projeto de Lei n. 38, de 11 de ou-tubro de 1920. Porto União, 1920.

PORTO UNIÃO. Conselho Municipal. Projeto de Lei n. 47, de 31 de ou-tubro de 1921. Porto União, 1921.

PORTO UNIÃO. Prefeitura Municipal. Portaria n. 93 do ano 1931. Porto União, 1931.

JORNAIS

O Comércio. Aconteceu em Porto União. Porto União, n. 56, 10 de jan. 1949. p. 4.

A Voz do Oeste. Ainda sobre a Praça... . Porto União. n.15, 18 de maio 1930. p. 4.

A Voz do Oeste. Luz. Porto União. n. 14, 11 de maio 1930. p. 3.

O Comércio. Porto União, n. 30, 1° de jun. 1948. p. 1.

A Voz do Oeste. Porto União. O Taco de Ouro. n.12, 1° de maio, 1930. p. 4.

O Comércio. Homenagem ao Ilustre Honrado Interventor Catarinense. Porto União. n. 63, 30 de set. 1934. p. 1.

O Comércio. Remodelação da Praça Hercílio Luz. Porto União.

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Figura 6 – Alunos do Grupo Escolar Professor Balduíno Cardoso (Data provável – década de 1920).

Fonte: Acervo do Museu Pedagógico do NUCATHE (Núcleo de Catalogação, Estudos e Pesquisas em História da Educação), Universidade Estadual do Paraná

(UNESPAR), campus de União da Vitória.

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ESCOLAS COMPLEMENTARES E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRIMÁRIOS EM PORTO UNIÃO (SC) E

UNIÃO DA VITÓRIA (PR) - (1928-1938)1

Márcia Marlene Stentzler2

RESUMO: Em Santa Catarina, a Escola Complementar foi criada em 1911, ad re-ferendum do Congresso Legislativo, (SANTA CATARINA, 1911), tendo por base a modelar escola paulista, a qual também inspirou a organização da instrução pú-blica no Estado do Paraná. Os Códigos de Ensino publicados em 1915 e em 1917 explicitavam o papel da Escola Intermediária (cf. PARANÁ, 1915, p.39-40; 1917, p. 30-31). Em 1925 cria-se a Escola Complementar no Estado do Paraná, onde os estudantes seriam preparados para iniciar com êxito na vida prática o exercício das profi ssões elementares, em cursos de um ou dois anos e, entre eles, o Normal (PA-RANA, 1925, p.1). Neste trabalho, trataremos sobre as Escolas Complementares nas cidades fronteiriças de Porto União (SC) e União da Vitória (PR), formando professores primários para Escolas Isoladas (salas-classes multisseriadas), espe-cialmente as rurais, entre 1928 e 1938. O movimento sócio-histórico oportunizou desdobramentos como a (re)organização escolar da região, que foi dividida entre o Paraná e Santa Catarina. A pesquisa revelou o grande interesse da sociedade local em formar professores primários, com criação de duas Escolas Complementares em um mesmo conjunto urbano. A imprensa atuou como disseminadora dos re-sultados da escolarização. Devido à legislação específi ca, entre 1935 e 1938, a Esco-la Complementar Primária de Porto União (SC) funcionou como Escola Normal Primária. Jovens complementaristas paranaenses atravessavam os trilhos e diplo-mavam-se também, normalistas primários, em Santa Catarina.

PALAVRAS-CHAVE: Complementaristas. Escolas primárias. Fronteira.

1 Artigo publicado nos Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação. João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agos-to de 2017, com o Título: “Escolas Complementares na formação de professores primários nas cidades fronteiriças de Porto União (SC) e União da Vitória (PR) - (1928-1938)”.2 Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, Cadeira nº 40, Patrono Frei Rogério Neuhaus. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora Adjunta no Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus União da Vitória (PR). E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

O fi nal do século XIX e início do século XX marcou a história dos Estados do Paraná e de Santa Catarina, pela disputa territorial no âmbito judicial e com a Guerra do Contestado travada entre sertanejos, militares e milicianos. A guerra aconteceu de 1912 até 1916, ano este em que foi as-sinado o Acordo de Limites3 pelos presidentes de ambos os Estados. Esse Acordo foi aprovado pelas assembleias legislativas estaduais. Posterior-mente, em 3 de agosto de 1917, foi publicado o Decreto Federal nº 3304, estabelecendo a delimitação territorial dos dois Estados (BRASIL, 1917). O Estado do Paraná perdeu uma extensa área que considerava sua, inclusive parte da cidade de Porto União da Vitória4 (PR), que deu origem à cidade de Porto União (SC). As duas cidades formavam um único conjunto urba-no, mas com distintas realidades político-administrativas, cuja fronteira se materializava nos trilhos da ferrovia que interligava as cidades aos Estados de São Paulo, ao Porto de São Francisco e Rio Grande do Sul.

Com o Acordo de Limites, o prédio da Casa Escolar5 Professor Serapião, onde funcionavam três escolas isoladas (duas femininas e uma masculina) mantidas pelo Estado do Paraná, passou a pertencer ao terri-tório catarinense, cidade de Porto União (SC). Esse edifício foi construído pelo governo paranaense e entregue à população da antiga cidade Porto União da Vitória (PR), no primeiro semestre de 1913, conforme registros localizados no periódico: Missões, Porto União da Vitória (1910-1917). De acordo com o memorialista Silva (2006, p.164), após o Acordo de Li-mites, o governo paranaense “manda iniciar em 1917, a construção de prédios para o grupo escolar, câmara, fórum e hotel, na cidade de União da Vitória [Paraná], ao lado que fi cou pertencendo ao Estado pelo acordo de Limites”.

3 O Acordo de Limites, entre Paraná e Santa Catarina, foi promovido pelo Presi-dente, Wenceslau Braz e assinado no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, em 20 de outubro de 1916. No entanto, a assinatura desse Acordo não resultou no fi m da Guerra do Contestado, que ocorria desde o ano de 1912 e se estendeu, ofi cialmen-te, até agosto de 1917. (MILIS, 2002, p. 41). 4 Neste trabalho utilizaremos a denominação Porto União da Vitória (PR), até a divisão da cidade. 5 Nas casas escolares funcionavam escolas primárias. Cada escola era regida por um professor (para meninos) ou, professora (para meninas). O que as unia era o fato de funcionarem no mesmo local, com normas comuns.

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Enquanto o novo prédio para o Grupo Escolar não era concluído, professores primários paranaenses mantiveram suas escolas funcionando em outros locais, alugados, na cidade paranaense. Essa era uma prática co-mum e prevista pela legislação educacional, uma vez que não havia imóveis próprios do Estado em número sufi ciente para o funcionamento das esco-las. Conforme o Código de Ensino de 1917, do Estado do Paraná, Art. 157, § Único, “onde não houver casas escolares ou onde estas forem insufi cientes para todas as escolas, funcionarão elas ou algumas delas em casas particu-lares, nas condições possíveis de higiene, sendo para o respectivo aluguel os professores auxiliados pelo Estado [...].” (PARANÁ, 1917, p.27). Esse foi um artifício que garantiu o funcionamento de muitas escolas primárias na cidade e em localidades do interior. Embora a cidade de Porto União (SC) tenha sido fundada em setembro de 1917, somente em dezembro do mes-mo ano é que o governador de Santa Catarina manda criar cinco escolas isoladas no município. Quatro na área rural: Colônia Antônio Cândido, Nova Galícia, São João dos Pobres e Valloes. E, uma na área urbana: Tocos (SANTA CATARINA, 1918, p. 69-70).

O processo de escolarização nas cidades foi idealizado por su-jeitos sociais, portadores de conhecimentos e crenças nos resultados da educação republicana. O processo de organização escolar, nas cidades, permite fazer uma analogia aos escritos de Febvre (2004, p.35), quando escreve sobre a Europa. Consideradas as especifi cidades da pesquisa, na região fronteiriça do ex-Contestado, a sociedade e a escolarização se nu-triram da “[...] diversidade, de pedaços, de entulhos arrancados de unida-des históricas anteriores, elas mesmas feitas de pedaços, de entulhos, de fragmentos de unidades anteriores”. Costumes e cultura das populações de sertanejos, imigrantes, colonos, comerciantes, ferroviários, militares e fazendeiros, entre outros, infl uenciaram o processo de escolarização, nas cidades e nas áreas rurais dos municípios.

A existência de uma escola primária estava condicionada ao nú-mero de alunos e à disponibilidade de professor. Em muitos casos, pro-fessores de escolas rurais multisseriadas possuíam apenas o 3º. ano do primário. E, em 1917, apenas três dos sete professores que atuavam na cidade de União da Vitória (PR) eram normalistas, o que revela a carência de professores formados atuando na cidade. Normalistas relutavam acei-tar aulas em escolas distantes das maiores cidades de ambos os Estados. Em grande parte das escolas rurais da região do ex-Contestado os regen-tes eram leigos.

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No ano de 1927, como parte de uma ação governamental do Esta-do de Santa Catarina, onze Escolas Reunidas catarinenses (inclusive a de Porto União) foram convertidas em Grupos Escolares. Essa ação unifi ca-va o serviço de inspeção e de estatística nesses estabelecimentos escolares, bem como a ampliação da escolarização ofertada. No ano de 1928 foi criada uma Escola Complementar anexa ao Grupo Escolar Balduíno Cardoso, em Porto União (SC), com a fi nalidade de formar professores para as áreas rurais. Na vizinha cidade de União da Vitória (PR) também existiu uma Escola Complementar Primária, criada em 1929, anexa ao Grupo Escolar Professor Serapião.

Essas escolas formaram professores complementaristas que atuaram em escolas rurais dos municípios fronteiriços, na região do ex-Contestado, substituindo os professores provisórios. Sobre as Escolas Complementa-res e o trabalho dos complementaristas, foram construídas representações. Respeitadas as especifi cidades de pesquisa, conforme Chartier (1990, p. 17), as representações existem num campo de concorrências, em que um determinado grupo busca impor suas percepções sociais, “a sua concepção do mundo social, os valores que são seus e o seu domínio”. Nesse sentido, a imprensa atuou como disseminadora de resultados das Escolas Comple-mentares e Grupos Escolares, nas cidades.

Neste trabalho, objetiva-se promover um diálogo com as fontes, no sentido de compreender a inter-relação socioeducacional promovida pelas Escolas Complementares, entre 1928 e 1938, na região de fronteira criada entre os Estados do Paraná e de Santa Catarina, no pós-Guerra do Contes-tado. Aproxima-se de representações construídas sobre a formação e ação dos complementaristas, por meio de notícias que circularam em periódicos locais, diários e correspondências ofi ciais, bem como registros escolares do período, como, por exemplo, atas de visitas de inspetores.

GRUPOS ESCOLARES E ESCOLAS COMPLEMENTARES NAS CIDA-DES FRONTEIRIÇAS

Nas cidades fronteiriças, ações socioeducativas foram organizadas visando à formação do cidadão para a pátria brasileira. Em Santa Catarina, o marco foi a Reforma da Instrução Pública, orquestrada por Orestes Gui-marães, em 1910. No ano seguinte, as Escolas Complementares catarinen-ses tiveram regulamento aprovado ad referendum do congresso. Em 1915 o governo catarinense criava as Escolas Reunidas, as quais foram instaladas

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161Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

em Porto União (SC), no ano de 1918, caracterizando-se por agrupar em um só prédio escolas multisseriadas, em número compatível com as salas de aula (SANTA CATARINA, 1911; 1916a, 1919a, 1919b).

Em 1927, com a justifi cativa de facilitar o serviço de inspeção e estatística, várias dessas escolas foram convertidas em grupos escolares. Em Porto União formou-se o Grupo Escolar Balduíno Cardoso, com o Decreto nº 2017, de 19 de janeiro de 1927 (SANTA CATARINA, 1928b). A existência de Grupo Escolar era condição para a criação de uma Esco-la Complementar numa cidade e isso aconteceu por meio do Decreto nº 2135, de 12 de março de 1928. Houve o compromisso da municipalidade para a formação de professores primários na cidade, comprometendo-se a “custear as despesas da Escola Complementar, com a importância anual de três contos e seiscentos mil réis (3:600$000)” (SANTA CATARINA, 1929, p.180). Os professores eram os mesmos que lecionavam no Grupo Escolar. A Escola Complementar existiu como tal até 5 de janeiro de 1935, quando foi transformada em Escola Normal Primária, por meio do Decreto nº 713. Contudo, o Decreto nº 244 de 8 de dezembro de 1938 as extinguiu (SANTA CATARINA, 1936; 1939).

No Estado do Paraná existiram as Escolas Intermediárias. Estavam previstas nos Códigos de Ensino de 1915 e 1917, com o fi m de preparar alunos para o ingresso na Escola Normal de Curitiba. Mas o Código de En-sino de 1917 facultava a nomeação de egressos das Escolas Intermediárias, como professores efetivos, em escolas primárias (PARANÁ, 1915; 1917). Em 1925, com o Decreto nº 887, de 8 de agosto, foram criadas as Escolas Complementares no Estado do Paraná, ofertando ensino profi ssionalizante em 4 distintas modalidades. O Decreto nº. 33, publicado em 4 de janeiro de 1929, criou uma Escola Complementar Primária na cidade de União da Vitória, Paraná, para funcionar em anexo ao Grupo Escolar Professor Serapião (PARANÁ, 1925; 1929).

No fi nal da década de 1920, as cidades vizinhas contavam com duas Escolas Complementares, anexas aos respectivos Grupos Escolares. Era o maior nível de escolarização ofertado por escolas públicas na região. Jovens paranaenses e catarinenses poderiam escolher onde estudar: no Paraná ou em Santa Catarina. A ferrovia, marco divisório dos Estados e das cidades, possibilitou a mobilidade na fronteira, tanto para os jovens formados no primário, que frequentariam a Escola Complementar, quanto para os pro-fessores complementaristas, que poderiam atuar em ambos os municípios nas escolas primárias multisseriadas ou, ainda, nos Grupos Escolares. As

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Escolas Complementares integraram populações de ambos os lados dos trilhos, por meio de atividades desenvolvidas ao longo do ano (como por exemplo, o Dia da Escola6, instituído em janeiro de 1927, na mesma data da criação do Grupo Escolar Balduíno Cardoso, na cidade de Porto União), ou por meio de outras comemorações organizadas pela escola, as quais faziam parte do ofício de professor, visando modelar o futuro cidadão.

Em interação com a comunidade, os alunos da Escola Comple-mentar praticavam o que aprendiam em suas escolas. Várias solenidades foram noticiadas pela imprensa local, como por exemplo: exames, exposi-ções escolares, formaturas, festas de encerramento, desfi les, comemorações cívicas, inaugurações e a Semana Educacional, realizada em maio de 1938, em Porto União (SC). Atividades de integração entre escola e comunidade eram previstas no calendário escolar ao longo do ano letivo. O calendário, conforme Le Goff (1990, p.13), é “produto da expressão histórica, está li-gado às origens míticas e religiosas da humanidade (festas), aos progressos tecnológico e científi co (medida do tempo), à evolução econômica, social e cultural (tempo do trabalho e tempo do lazer)”. E o calendário escolar era harmonizado ao civil e religioso, estabelecendo o tempo escolar, num ciclo anual de atividades em que professores, estudantes e sociedade interagem.

O ambiente comemorativo também oportuniza a construção de re-ferenciais de identidade social, tanto local, quanto nacional, perpassando a prática dos futuros professores. Familiares e amigos dos alunos da Escola Complementar de Porto União (SC) participavam de solenidades como a realizada em 3 de maio7, alusiva ao Descobrimento do Brasil. A comemo-ração iniciou às 15h30min, no pátio do Grupo Escolar Balduíno Cardoso, com as “exmas. famílias e cavalheiros” para uma,

[...] imponente festa escolar, organizada pela diretoria do Grupo Escolar Professor Balduíno Cardoso, desta cidade [...] às dezesseis horas, formavam garbosamente, em frente ao prédio escolar, os alunos do Grupo e da Escola Comple-mentar anexa, que, acompanhadas pelo Sr. Professor Anto-nio Gasparello, director, e demais docentes, entoavam o Hino do Grupo (O COMÉRCIO, Porto União, 08/05/1932, p. 1).

6 Comemoração instituída pelo Decreto nº 2016, de 19 de janeiro de 1927. (SANTA CATARINA, 1928a). 7 Esta data foi fi xada pelo o Governo Provisório da República, em 14 de janeiro de 1890.

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A imprensa, com notícias como essa, disseminava representações, tanto sobre a nação (suas datas magnas) quanto sobre a organização do Grupo Escolar e Escola Complementar, com seus resultados. Como es-creveu Hobsbawn (1990), ao tecer considerações sobre os mecanismos de identifi cação nacional e os meios utilizados para esse fi m, na Europa do fi m dos anos 1910, os veículos de comunicação, inclusive a imprensa, têm o po-tencial de transformar “o que, de fato, eram símbolos nacionais em parte da vida de qualquer indivíduo e, a partir daí, romper as divisões entre a esfera privada e local, nas quais a maioria dos cidadãos normalmente vivia, para as esferas pública e nacional” (HOBSBAWN, 1990, p. 170). Ao divulgar e enaltecer as festividades escolares, a imprensa de Porto União (SC) refor-çava o trabalho realizado pela escola, visando à conformação do espírito nacional. As escolas e a imprensa também cultivavam o sentimento de ser paranaense, ou de ser catarinense.

As Escolas Complementares foram uma resposta possível à ne-cessidade de formação de professores, fi zeram parte do cotidiano das ci-dades, num determinado tempo histórico, obedecendo a “limites do que é politicamente possível [...] do que é intelectual e culturalmente possível”, para utilizar as palavras de Th ompson (1998, p.77), e respeitando-se as especifi cidades da pesquisa. Interesses políticos, econômicos e os proces-sos de formação, entre outros, marcaram a escolarização primária e ação dos professores complementaristas, acentuadamente, após o golpe militar de 1937.

As Escolas Complementares foram fundamentais para a conforma-ção socioeducacional em uma região que havia sido devastada pela Guerra entre sertanejos, forças governamentais e forças civis, ligadas a madeireiros e coronéis. As escolas existiram num contexto socioeducacional único: as cidades fronteiriças de Porto União (SC) e União da Vitória (PR). Essas cidades formaram um dos laboratórios da humanidade e, como afi rma Th ompson (1981, p. 58), “nunca poderemos retornar a esses laboratórios, impor nossas próprias condições, e repetir novamente o experimento”. Na atualidade, em nossas pesquisas, trabalhamos com vestígios do que foi a formação e ação dos professores complementaristas naquele período. Nas cidades fronteiriças forjou-se a formação de laços que não excluíam o senti-mento de ser paranaense ou catarinense, que pouco a pouco cresceu como parte de um sentimento maior: o de ser brasileiro.

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ESCOLARIZAÇÃO NA REGIÃO DO EX-CONTESTADO

A Guerra do Contestado (1912-1916) trouxe à tona a força de uma população sertaneja socialmente excluída. Uma população sem acesso à escolarização, mas que produzia e comercializava para sua sobrevivência. Conforme o periódico Missões (Porto União, 27/11/1915), para as autori-dades a falta de escolarização da população sertaneja os levava a agir se-guindo “a seus maos conselheiros”; as pessoas deixavam transparecer “os longos soff rimentos que vinham suportando, devido a sua ignorância.” A pobreza, doenças, fome e ignorância estariam associadas ao quadro de-solador que se apresentava aos olhos do jornalista, no fi nal da Guerra do Contestado. Exageradas ou não, as palavras do diretor do periódico Mis-sões apontam para representações construídas sobre essas populações de sertanejos e sua condição devido ao analfabetismo. A ignorância e os maus conselheiros seriam a razão para o sofrimento.

Contudo, naquele momento, o destino dos sertanejos seria tra-balhar junto aos fazendeiros com ervais, nas fl orestas, distante de escolas. Sob as ordens de um grande proprietário e sob a regulamentação da lei que, em muitos aspectos, desconsiderava ou condenava seus costumes, seu modo de vida e suas crenças. A Guerra que, em grande medida diferencia-va sertão e cidade, sertanejos e citadinos, antigos moradores e imigrantes (chegados há muitos ou poucos anos) indica mais. Torna possível que seja vislumbrada a força de tradições, de valores presentes no cotidiano dos ha-bitantes de toda a região, que combinavam diversas práticas, com algumas permanecendo até os dias atuais junto à população.

A população de imigrantes também era numerosa na região do ex--Contestado. Contudo os colonos vindos da Europa eram portadores de uma tradição cultural que tinha na escolarização um de seus pilares. A es-cola fazia parte do seu cotidiano. Era construída pelos próprios colonos. No artigo do jornal O Comércio, publicado nos primeiros anos da década de 1930, evidenciamos as difi culdades de um professor vindo de Florianópolis (SC), nomeado para atuar em uma comunidade rural de Porto União (SC). Desconhecendo a realidade local, apresentou-se equivocadamente como professor, numa localidade diferente daquela a que foi nomeado. Após, di-rigiu-se para a comunidade onde atuaria, no distrito de Valloes, situado junto à ferrovia que ligava Porto União a São Francisco do Sul. Contudo “[...] ao chegar ali, o professor viu-se logo a braços com todas as difi cul-dades, pois os colonos lhe declararam que só aceitariam, na escola pública

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estadual, um professor que falasse a língua polaca!” (O COMÉRCIO, Porto União, 29/05/1932, p. 2) 8.

Relatos como esse reforçavam e justifi cavam o investimento do Es-tado e dos municípios fronteiriços para a criação e manutenção das Esco-las Complementares anexas aos Grupos Escolares, tanto em Porto União (SC), quanto em União da Vitória (PR), pois ambas formavam egressos que atuariam em escolas primárias. A imprensa foi disseminadora de re-presentações sobre o papel das Escolas Complementares, a nacionalização e a educação nas cidades. O “engrandecimento do ensino pátrio” era a meta principal do conjunto de escolas situado na região de fronteira interesta-dual. Alcançar esse resultado era responsabilidade de “alunos e professo-res”. (A IMPRENSA, Porto União - SC, 02/06/1929, p. 1).

As exposições dos trabalhos manuais, produzidos pelos alunos, era um dos mais importantes momentos festivos da escola, integrando a co-munidade. Os pais e população em geral eram convidados para a abertura da exposição de trabalhos manuais dos alunos da Escola Normal Primária e do Grupo Escolar Balduíno Cardoso. As exposições marcavam o encer-ramento do ano letivo e disseminavam, entre a população, o que Souza (1998, p. 245), denomina de “hierarquia da excelência [quando] o saber do aluno evidenciava não somente a apropriação de um capital cultural social-mente valorizado [...] como manifestava a qualidade do ensino ministra-do pela escola.” Essas exposições eram realizadas em cada instituição. Os trabalhos manuais eram apreciados e julgados. Famílias eram convidadas, livros de honra assinados, diplomas e premiações entregues aos alunos que se formavam. Além do Diretor e professoras, havia a presença de familia-res, distintos cavalheiros e autoridades, como por exemplo, Prefeito, Juiz de Direito, Promotor, Delegado, denotando o lugar que a escola pública e o conhecimento escolarizado ocupavam junto a essas famílias.

A exposição era realizada após o encerramento dos exames esco-lares (O COMÉRCIO, Porto União, 28/11/1935, p. 4). O evento anunciado pela imprensa aconteceu entre os dias 7 (domingo) e 13 de dezembro (sexta feira), em 1935. A matéria detalha o evento: “[o] acto [de abertura da ex-posição], que será solene, terá a comparência [sic] das autoridades locais”

8 Existiam professores estrangeiros, denunciados pela imprensa que suprimiam do programa escolar o estudo do português e a fala dos alunos em língua portu-guesa, o que caracterizaria uma anomalia da instrução pública, pervertendo crian-ças, “afastando-lhes a ideia de patriotismo.” (A VOZ DO OESTE, Porto União, 23/7/1930, p. 4).

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e será presidido pelo Promotor Público João Cleto Mourão. No intervalo, haveria a “[...] distribuição de prêmios, assinatura do livro de honra, distri-buição dos Boletins de promoção e Diplomas, discursos do paraninfo [Ins-petor Escolar Germano Wagenführ] das normalistas diplomadas e do alu-no Cícero França, após o que será vocalizado o Hino à Escola Normal”. (O COMÉRCIO, Porto União, 12/12/1935, p. 3). Cícero de França era egresso da Escola Complementar da vizinha cidade e também se formou normalis-ta primário, em Porto União (SC).

As Escolas Complementares assumem um papel formativo até en-tão inexistente no panorama socioeducacional da região. Pela primeira vez na história das cidades (e antes delas, de Porto União da Vitória), jovens concluintes do Primário poderiam continuar estudos em uma escola pú-blica da localidade. Essa formação os habilitava a lecionar. Foi o que acon-teceu, por exemplo, com a complementarista Alice de Paula Dias, egressa da primeira turma da Escola Complementar, anexa ao Grupo Escolar Bal-duíno Cardoso.

Em 1932, a complementarista Alice de Paula Dias foi nomeada para a Escola de Pinheiros, no distrito de Valloes (atual cidade de Irineópo-lis (SC), naquele período pertencente ao município de Porto União. Valloes era servida pela ferrovia que ligava a cidade de Porto União ao porto de São Francisco (SC). A jovem professora primária era fi lha do escrivão do Registro Civil local, o Sr. Francisco de Paula Dias. O jornalista fez questão de referenciar as origens familiares da professora, felicitanto seu pai, bem como o diretor do estabelecimento, o “estimado educacionista professor Antonio Gasparelo pôr ver já nomeada uma das componentes da primeira turma, que a Escola Complementar, a seu Cargo, diplomou no ano p. fi ndo” (O COMÉRCIO, Porto União, 1/5/1932, p. 1).

A posse da professora Alice de Paula Dias representava o êxito da Escola Complementar catarinense na formação de professores primá-rios. Seu pai era escrivão e ex-professor e foi parabenizado pelo jornalista. Exemplo que poderia ser seguido por outros pais. Escolas isoladas como, por exemplo, essa localizada em Pinheiros, receberam professores e pro-fessoras complementaristas. Filhos da terra, conhecedores dos costumes e necessidades regionais do ex-Contestado. Essas notícias difundiam entre a população os resultados das Escolas Complementares, cumprindo a missão de formar jovens professores para atuar em escolas rurais.

Uma das mais signifi cativas mudanças na primeira metade da dé-cada de 1930, no Estado de Santa Catarina foi devido ao Decreto nº 713,

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de 5 de janeiro de 1935. As Escolas Complementares de Santa Catarina foram transformadas em Escolas Normais Primárias. Os egressos recebiam diplomas de Normalistas Primários. Conforme Stentzler (2015, p.115), essa mudança foi informada aos moradores de Porto União (SC) e também de União da Vitória (PR), pelo jornal O Comércio, na edição de 17 de janeiro de 1935.

O currículo da Escola Normal Primária apresentava as disciplinas de Agricultura e também Noções de Pedagogia e Psicologia, específi cas de cursos normais. No ano de 1935, havia 26 Escolas Normais Primárias no Estado de Santa Catarina (cf. RAMOS, 1936, p.18). No mesmo ano, no Es-tado do Paraná, eram 22 Escolas Complementares Primárias públicas e 19 privadas (RIBAS, 1936, p. 47). O redimensionamento formativo que ocor-reu em Santa Catarina estimulou jovens já formados na Escola Comple-mentar Primária paranaense a ampliar sua formação no lado catarinense da fronteira.

Naquele ano a Escola Normal Primária registrou a matrícula de alunos formados na Escola Complementar Primária de União da Vitória, em busca de continuidade de estudos e diploma de normalista primário. Conforme Stentzler (2015):

[...] esses são alguns indícios de uma inserção profi ssional na região e valorização do estudo [...] No caso de Porto União (SC) e União da Vitória (PR), havia dois estabelecimentos de ensino que, com nuanças curriculares estaduais, motivaram o intercâmbio de alunos, futuros professores e que, notada-mente, a partir de 1935, buscaram ampliar suas possibilida-des de atuação profi ssional, este fato parece ter ocorrido com Cícero Otomar de França, fi lho de pai militar e com Guilher-mina Liegel, ambos diplomados em 1934, na Escola Comple-mentar paranaense e formados, em 1935, na Escola Normal Primária catarinense (STENTZLER, 2015, p. 118).

Mas mudanças signifi cativas aconteceram devido às políticas do Estado Novo e à ditadura de Vargas, instaurada em 1937, concorrendo para a nacionalização do ensino, com o fechamento de escolas étnicas, particu-larmente na região do ex-Contestado. Essas mudanças afetaram as Escolas Normais Primárias de Santa Catarina, criadas em 1935. Experiências como a vivida pelo aluno Cícero de França, citado anteriormente, deixariam de acontecer a partir de 1939, pois o Decreto nº 244, de 8 de dezembro

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de 1938 (SANTA CATARINA, 1939, p. 417-420) extinguiu essas Escolas, substituindo-as pelo Curso Complementar, que seguia um currículo pa-dronizado, com base no Colégio Pedro II. Extinguiam-se as especifi cidades das Escolas formadoras de professores que marcaram a história da educa-ção nas cidades fronteiriças de Porto União (SC) e União da Vitória (PR). Conforme Stentzler (2015, p. 118), foram “extintas as disciplinas pedagó-gicas do currículo e o diferencial formativo que marcava essa modalidade de escolarização nas cidades fronteiriças”. A proposta educacional não mais priorizava a formação de professores para o meio rural. A partir de 1939, uma nova etapa se iniciou na formação de profi ssionais que atuariam nas escolas isoladas e/ou rurais e da região do ex-Contestado.

Hoje, fragmentos do passado possibilitam compreender aspectos da vida dessas escolas. Registros como quadros de formatura, feitos de ma-deira de lei, entalhados e com escritas, sinalizam um período da escolari-zação, constituem-se instrumento de suporte da memória (fi gura 1). Para Le Goff (1990, p. 465), o uso das fotografi as como recurso para a memória coletiva “[...] multiplica-a e democratiza-a, dá-lhe uma precisão e uma ver-dade visuais nunca antes atingidas”, como é o caso do quadro abaixo, da turma de normalistas primários formados em 1937.

Figura 1- Quadro de Formatura da Escola Normal Primária (1937)Fonte: Acervo da Escola de Educação Básica Balduino Cardoso,

Porto União (SC).

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Em 1938 os formandos da Escola Complementar de União da Vitó-ria (PR) também fi zeram um quadro de formatura (Figura 2), eternizando o momento em que jovens alunos tornaram-se complementaristas, numa homenagem também à escola onde se formaram.

Figura 2 - Quadro de formatura da Escola Complementar (1938)Fonte: Acervo da Escola Municipal Professor Serapião, União da Vitória (PR).

Tornar-se um professor complementarista representava seguir uma carreira profi ssional respeitada e valorizada, tanto para moças, quan-to para rapazes. Por meio dessas Escolas muitos jovens atingiam o maior nível de escolarização possível em cidades do interior. Diferentemente de Escolas Normais, essa era uma escola que formava jovens de ambos os se-xos. Como escreveu o Inspetor Escolar Germano Wagenführ (1939, p. 49): “espero, pois, que todos, animados do mesmo ideal prossigam com todo o

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entusiasmo e até sacrifício, a cooperar nesta grande obra patriótica da alfa-betização dos jovens brasileiros”. A Escola Complementar era o local onde se replicavam possibilidades de construção de uma atmosfera de saber, onde mulheres e homens eram formados para o mundo do trabalho, para utilizar conhecimentos e também produzi-los.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As fontes pesquisadas sugerem que, como em outros municípios dos dois Estados, entre os professores normalistas nomeados para trabalhar nas cidades fronteiriças (e que vinham de fora) havia quem permanecesse por poucos meses na regência de uma escola, tanto no meio urbano quanto no rural (como foi, por exemplo, o primeiro diretor das Escolas Reunidas, Antenor Cidade, que atuou na cidade de Porto União (SC), entre agosto de 1918 e maio de 1919). (SANTA CATARINA, 1919, p. 255; O Pharol, Porto União, 25/5/1919, p. 2), situação que se agravava especialmente no interior dos Municípios fronteiriços.

Normalistas que eram nomeados para escolas do interior conside-ravam esse período como um tempo do desterro, de solidão e isolamento: “[normalistas] recusam-se a servir em escolas isoladas rurais”, afi rmava Konder (1928, p. 69), durante discurso proferido em 1928, expressando também o pensamento de autoridades paranaenses. As Escolas Comple-mentares atuaram num campo necessário e carente, formando professores para escolas rurais e em alguns casos, também Grupos Escolares. A frontei-ra interestadual foi um espaço de mobilidade para os jovens que buscavam essa formação.

Desempenharam um importante papel de socialização, reunin-do familiares de estudantes e autoridades de ambos os lados da fronteira em atos pedagógicos e cívicos, em datas nacionais e solenidades locais. Os complementaristas de ambas as cidades participavam de eventos conjun-tos, como por exemplo, desfi les patrióticos realizados conjuntamente a par-tir de 1935. Integravam comemorações cívicas realizadas em Porto União (SC) ou em União da Vitória (PR), como a inauguração do prédio para o Grupo Escolar Balduíno Cardoso, no ano de 1938, nas exposições escolares ou em festas de formatura, em ambos os lados da fronteira. Essas experiên-cias vividas pelos estudantes eram base para sua ação nas escolas rurais.

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REFERÊNCIAS

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MILIS, Hermínio. Antecedentes históricos de Porto União. In: FAGUN-DES, José; RIBAS, Joaquim Osório (orgs). Monografi a de Porto União: Hermínio Milis. União da Vitória, Kaygangue, 2002.

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SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de Civilização: implantação da escola primária graduada no Estado de São Paulo (1890-1910). São Paulo: UNESP, 1998.

THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. Revisão técnica: Antonio Negro, Cristina Me-neguello, Paulo Fontes. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

THOMPSON, Edward Palmer. A Miséria da Teoria ou um Planetário de Erros: uma crítica ao pensamento de Althusser. Tradução de Waltensir Du-tra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. (Biblioteca de Ciências Sociais).

RELATÓRIOS E MENSAGENS

KONDER, Adolpho. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, a 29 de julho de 1928. Florianópolis; Santa Ca-tarina: 1928.

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RAMOS, Nereu Oliveira. Mensagem apresentada a Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, em 26 de julho de 1936. Florianópolis; Santa Catarina: S.E, 1936.

RIBAS, Manoel. Mensagem apresentada pelo Governador Manoel Ribas à Assembléia Legislativa do Estado, em 1.º de setembro de 1936. Curitiba; Paraná: Empresa Gráfi ca Paranaense, 1936.

WAGENFÜHR, Germano. Livro de registro de visitas de inspetores. Porto União; Santa Catarina: 1934-1939. (Manuscrito disponível no arquivo da Escola de Educação Básica Prof. Balduíno Cardoso, Porto União - SC).

LEIS E DECRETOS

BRASIL. Decreto nº 3304 de 03 de agosto de 1917. Publica a resolução do Congresso Nacional que approva o accôrdo de 20 de outubro de 1916, fi r-mando entre os Estados do Paraná e Santa Catharina, estabelecendo os seus limites. Disponível em http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:federal:de-creto:1917-08-03;3304. Acesso em 19 de jul. 2013.

PARANÁ. Decreto nº 710, de 18 de outubro de 1915. Código do Ensino. Curitiba; Paraná: Typ. da República, 1915. (Coleção de Decretos e Regula-mentos).

_____. Decreto nº 17 de 9 de janeiro de 1917. Código do Ensino. Curitiba; Paraná: Typ. da Republica.

_____. Decreto nº 887 de 8 de agosto de 1925. Diário ofi cial Estado. Cria Escolas Complementares. Curitiba: [s.n.], 14 ago.

_____. Decreto nº 33 de 4 de janeiro de 1929. Diário ofi cial Estado. Cria uma Escola Complementar Primária e um jardim infantil anexos ao Grupo Escolar Professor Serapião de União da Vitória. Curitiba: [s.n.], 21 jan.

SANTA CATARINA. Decreto nº 604 de 11 de julho de 1911. Regulamento das escolas complementares approvado “ad referendum” do Congresso Re-presentativo do Estado. Florianópolis: Gab. Typ. O Dia.

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_____ . Lei nº 1044, de 14 de setembro de 1915. Estabelece diversas dis-posições sobre a instrução pública. Coleção de Leis e Decretos de 1915. Florianópolis: Offi cinas a ellect. da empresa D’O Dia, 1916a

_____. Decreto nº1069 de 4 de dezembro de 1917. Cria escolas nos Mu-nicípios de Mafra, Canoinhas e Porto União. Colecção de leis, decretos, resoluções e portarias de 1917. Florianópolis: Offi cinas a ellect. da empresa D’O Dia, 1918.

_____. Resolução nº1196 de 20 de junho de 1918. Designa o Diretor do Grupo Escolar Conselheiro Mafra, professor Julio Machado da Luz, para auxiliar o serviço de instalação das escolas reunidas em Porto União. Col-lecção de Leis e Decretos e resoluções de 1918. Florianópolis: Offi cinas à ellect. da Imprensa Offi cial, 1919a.

_____. Resolução nº 1276 de 26 de agosto de 1918. Nomeação do Professor Antenor Cidade como Diretor das Escolas Reunidas de Porto União. Col-lecção de Leis e Decretos e resoluções de 1918. Florianópolis: Offi cinas à ellect. da Imprensa Offi cial, 1919b.

_____. Decreto nº2016 de 19 de janeiro de 1927. Institui o Dia da Escola nos institutos de ensino primário do Estado, em qualquer grau, públicos ou particulares. Colleção de Leis, Decretos e Resoluções de 1927. Florianópo-lis: Typ. Livraria Moderna, 1928a.

_____. Decreto nº2017 de 19 de janeiro de 1927. Cria o Grupo Escolar Balduíno Cardoso. Colleção de Leis, Decretos e Resoluções de 1927. Flo-rianópolis: Typ. Livraria Moderna, 1928b.

_____. Decreto nº 2135 de 12 de março de 1928. Cria uma escola com-plementar anexa ao Grupo Escolar Balduíno Cardoso. Collecção de Leis e Decretos e resoluções de 1928. Florianópolis: Off . Graphicas da Escola de A. Artífi ce, 1929.

_____ . Decreto nº 713 em 05 de janeiro de 1935. Novas normas para re-ger institutos destinados a formação do professorado. Coleção de Decretos, Resoluções e Portarias de 1935. Florianópolis: Livraria Central de Alberto Entres, 1936.

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_____. Decreto nº 244 de 8 de dezembro de 1938. Dá nova regulamentação aos Grupos Escolares e Escolas Complementares. Coleção de Decretos-Leis de 1938. Florianópolis: Imprensa ofi cial do Estado, 1939.

PERIÓDICOS

MISSÕES (1910-1917), Porto União da Vitória, PR.

A IMPRENSA (1929), Porto União, SC.

O COMÉRCIO (1930-1938), Porto União, SC.

O PHAROL (1919), Porto União, SC.

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Figura 7 - Antiga Igreja da comunidade da Jangadinha, Município de Porto União (1988).Fonte: Acervo da família Paulek.

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177Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

MEMÓRIAS DA FESTA DO PINHÃO: COMUNIDADE DE JANGADINHA, PORTO UNIÃO (SC)1

Maria Rosa Gaiovicz2

RESUMO: O presente texto trata da recuperação de histórias sobre a Festa do Pi-nhão, em Jangadinha, Porto União. As festas populares, também conhecidas como manifestações populares ou festas típicas, que abrangem uma determinada região ou país, são baseadas em costumes e na tradição cultural de um povo. Voltar os olhares ao passado e aos costumes e tradições de antigamente envolve sentimentos nostálgicos que oferecem a impressão de que nesse tempo que passou as formas de viver e de lazer eram mais prazerosas que atualmente. Esse sentimento certamente está ligado às lembranças que se guardam. O texto procura mostrar a importância da festa para a comunidade e os resultados dessas festividades na localidade.

PALAVRAS-CHAVE: Festas regionais. Igreja. Memórias.

INTRODUÇÃO

Ao recuperar lembranças, tradições, pessoas envolvidas numa festa regional, na localidade de Jangadinha (Comunidade de Porto União – SC), deseja-se homenagear a população que reside na área rural do Município de Porto União (SC) e que, corajosamente, idealizou uma festa a qual foi tomando grandes proporções. A Festa do Pinhão surgiu do envolvimento de pessoas da comunidade, a princípio como uma brincadeira e, depois, pela sua amplitude, provocou a participação de muitas pessoas e entidades e reverteu em benfeitorias na comunidade, proporcionando melhores con-dições de vida para os seus moradores.

ORIGEM E OBJETIVOS DA FESTA

A Festa do Pinhão, mais conhecida como A festa do Jangada e Corrida do Pinhão, trata-se de uma festa popular que a comunidade do Jangadinha (Porto União - SC) ainda realiza, embora não com o mesmo

1 Agradecimentos à Família Paulek, pela disponibilidade em fornecer as informa-ções que enriqueceram essas memórias, e tornou possível este artigo.2 Professora, poeta e cronista. Membro da Alvi, ocupante da cadeira nº 34, tem por patrono Pedro Margarido Maciel de Araújo.

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destaque de anos anteriores. A localidade Jangadinha fi ca próxima ao mu-nicípio de General Carneiro (PR).

Segundo Paulek3 (2017a) e Paulek4 (2017c) a organização dessa festa, no decorrer de vinte e cinco anos, sempre ocorreu com dedicação e trabalho das famílias da comunidade5. Trata-se de um trabalho realizado com amor, determinação e união de um grupo de pessoas que pensaram, em primeiro lugar, no bem da comunidade e dos seus moradores. A ideali-zação da festa surgiu, em 1987, quando os membros da localidade percebe-ram que a igreja construída em madeira deveria ser substituída por outra em alvenaria. Paulek (2017a) teve a iniciativa de fazer uma festa junina para ajudar a comunidade, com a fi nalidade de arrecadar recursos para cons-truir a nova igreja. Segundo Paulek (2017a):

Foi no mês de março do ano de 1989, na Praça Hercílio Luz em Porto União (SC), no lançamento da Festa do Milho, que conversando com o então Prefeito do Município o Dr. Ari Carneiro Junior pedi apoio para a Festa junina. O senhor Ari apoiou a ideia, e então, surgiu ali a Festa do Pinhão que iria passar a existir na comunidade Jangada, todos os anos, no primeiro fi nal de semana do mês de junho. E, assim foi feito durante 25 anos até o ano de 2014. Ocorreu uma mudança do nome da festa por volta do ano de 1995, porque ela foi incluída no calendário turístico do Estado de Santa Catarina e por causa da Festa do Pinhão de Lages, a Festa passou a se chamar Festa do Jangada e Corrida do Pinhão (PAULEK, 2017a).

3 O Senhor Hilário Paulek nasceu na comunidade de Jangada. Aos 17 anos, depois de já ter perdido seus pais, foi morar na cidade de União da Vitória, na casa de sua tia. Logo se alistou e foi servir o exército, entre os anos de 1969 e 1996, no 5º Batalhão de Engenharia e Combate, em Porto União. Foi designado para trabalhar no setor de materiais de pontes. No dia 23 de junho de 1969, foi chamado para a sessão dos serviços gerais, carpintaria, e recebeu a primeira missão de construir uma fogueira suspensa no Rio Iguaçu, e, um tablado, no então Círculo Militar, para a primeira apresentação de dança de tradições Gaúchas. Ali seria o lançamento do que é hoje o CTG Fronteira da Amizade de União da Vitória – PR. A partir daí, sempre recebeu missões de construção de barracas e fogueiras para festas juninas, seja de igrejas seja de colégios, e tomou gosto por essas festas.4 Tatiana é professora em General Carneiro e, juntamente com seus pais e demais familiares, foi uma das grandes colaboradoras da Festa de que trata este texto.5 Entrevista concedida em abril de 2017.

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Com esse relato constata-se que boas ideias podem transformar realidades. Muitas mãos e muita colaboração foram necessárias para a efe-tivação de tal empreendimento. Para a realização das primeiras festas, a comunidade contou com o apoio do 5º Batalhão de Engenharia e Comba-te, na construção de uma estrutura para atender os participantes da festa, pois a comunidade contava apenas com um salão de madeira de 150 me-tros quadrados. O objetivo inicial da Festa, além de angariar fundos para a construção da nova igreja, propunha incentivar a comunidade para a venda de produtos coloniais. A primeira festa atraiu muitas pessoas, foi sucesso e permitiu outras inovações6 pelo bem da comunidade.

Figura 1- Antiga Igreja da comunidade da Jangadinha, Município de Porto União (SC), construída em data provável de 1938. (foto de 1988).

Fonte: Acervo da Família Paulek.

6 O senhor Hilário Paulek, em 1990, solicitou ao prefeito Ari Carneiro energia elétrica para a comunidade. Este, entrando em contato com as autoridades responsáveis, que estavam implantando um projeto de energia elétrica rural no município de General Carneiro, solicitou a ampliação do projeto que passou a atender a comunidade do Jangada, Xaxim Jangada, Maquinista Molina, Jangadinha e Arroio do Meio e mais tarde Nova Galícia. O programa de energia elétrica rural passou pela Comunidade de Jangada, já que ela não dispunha desse serviço. A partir dessas festa, as estradas da localidade passaram a receber manutenção, e, com a chegada da energia elétrica, melhorar a qualidade de vida das pessoas na comunidade (PAULEK, 2017a).

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Ao entorno da igrejinha (fi gura 1) ainda construída em madeira, houve um intenso movimento de pessoas que vinham participar da festa, com o intuito de colaborar para que o projeto da nova Igreja fosse concreti-zado. A pequena igrejinha estava cravada em uma colina, num plano incli-nado, num caminho em ziguezague, por entre as árvores, arbustos e fl ores. Mostrava-se acolhedora e simples, e grande inspiradora de fé e esperança a todos que a visitavam. O padre vinha uma vez por ano, reunindo todos os moradores, que não eram muitos, e quase todos de origem ucraniana. A partir de1985, aproximadamente, o Padre Pedro Blachechen começou a fazer atendimento mensal, o que persiste até os dias atuais.

Aos poucos, mais e mais pessoas se uniram, para que a “Festa do Pinhão” se tornasse ponto de encontro e lazer da comunidade e de outras localidades. Nas palavras de Paulek (2017a) e Paulek (2017c), fi ca eviden-te essa união e força para tal realização: “algumas famílias inteiras se pro-punham a trabalhar nessas festas, e fi cavam, nas semanas que antecediam à festa, acampadas no local, para realizar as melhorais necessárias para a realização dela”. Além disso, também montavam barracas para a venda de produtos coloniais durante os dois dias de festa, o que revertia em benefício próprio, ampliando dessa forma, a renda familiar.

A FESTA, MEMÓRIAS... Nora (1993, p. 14) aponta que “tudo o que é chamado hoje de me-

mória, já é história, e a necessidade da memória é uma necessidade da his-tória”. A riqueza de detalhes, oriundos das lembranças dos entrevistados, desvenda a história da festa e as atividades de lazer que lá ocorriam, bem como as transformações que esse evento provocou na comunidade. Segun-do Paulek (2017a):

[...] a Corrida do Pinhão que consistia em uma corrida de 5 km, em estilo cross cowntry, partia pelas estradas de terra, por uma trilha por dentro da mata. O que atraiu, ao longo do tempo, vários atletas de várias partes do Brasil, e revelou atle-tas importantes que participaram, depois, de maratonas de renome nacional e internacional, os quais tiveram sua inicia-ção nessa corrida, em Jangada, como o senhor Ernani Cha-batura, do Município de General Carneiro, e senhor Moa-cir Capistrano, de Porto União. A premiação, inicialmente, contava com o patrocínio de empresas e particulares, depois

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os troféus e medalhas eram feitos de forma artesanal, e pas-saram a ser doados pela Secretaria Municipal de Esportes, de Porto União. Havia várias categorias que contemplavam a participação de crianças, jovens, adultos e idosos (PAULEK, 2017a).

Outras brincadeiras e apresentações faziam-se presentes nesses

encontros, trazendo alegria, união e romances que ali se iniciaram entre jo-vens da comunidade, mas também de outras cidades que ali vinham parti-cipar da dança da quadrilha (fi gura 2). Conforme os depoentes, a dança da quadrilha reuniu jovens dos municípios de Porto União (SC), Matos Costa (SC), General Carneiro (PR), Porto Vitória (PR). Os ensaios começavam um mês e meio antes da festa e realizava-se sempre aos domingos à tarde. Paulek (2017c) foi inicialmente organizadora dessas danças e, mais tarde, Paulek (2017b), ambas, fi lhas do senhor Hilário Paulek e senhora Janka. Depois da apresentação, na Festa do Pinhão, os participantes recebiam de-zenas de convites para se apresentarem em outras festas da região, bem como nos concursos de dança de quadrilha que existiam na época. Sobres-saíram campeões de vários concursos, e essas participações propiciavam uma propaganda positiva para a comunidade, que, ano após ano, recebia mais e mais público para a festa. Houve, também, a formação de grupos de dança de quadrilha por crianças da comunidade, integrado por sobrinhos e fi lhos dos integrantes ou ex-integrantes do grupo de jovens e adultos.

Figura 2 – Grupo de quadrilhas da comunidade Jangadinha, Município de Porto União (SC).Fonte: Acervo da Família Paulek.

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Paulek (2017a), ainda se recorda:

A dança da quadrilha acabou auxiliando para que estes jovens seguissem o caminho do bem. Muitos destes integrantes se tornaram professores de diversas disciplinas, advogada, verea-dores, prefeita, empresários, militares do Corpo de Bombeiros entre tantas outras atividades profi ssionais (PAULEK, 2017a).

Uma festa que teve por objetivo inicial angariar fundos para cons-truir uma Igreja, tornou-se um acontecimento que integrou cultural e so-cialmente as famílias do local, por meio de trabalho voluntário, lazer sadio e melhorias no setor econômico. Além de tantos benefícios materiais, trou-xe uma riqueza maior, que foi a união e integração, não só entre as pessoas da comunidade, mas também com outras localidades, conforme destaca Paulek (2017a):

A festa proporcionou, por várias vezes, os desfi les do 5º B.E, também realizou as Mostras de tradições da comunidade que é formada basicamente, por descendentes de imigrantes ucra-nianos ortodoxos. Realizou apresentações artísticas de outros grupos folclóricos como: Kalena, Grupo Germânico do Clube 25 de Julho, CTG Fronteira da Amizade de União da Vitória, grupos de dança de quadrilha do Município de General Car-neiro. Além desses, havia ainda, os bailes no sábado e tardes dançantes, no domingo, animadas por conjuntos musicais tanto da região como dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Vinham pessoas de vários municípios vi-zinhos, os quais movimentavam o comércio e serviços. Ocor-ria a participação de Grupos da Terceira Idade dos Municí-pios de General Carneiro (PR), Porto União (SC), União da Vitória (PR), Porto Vitória (PR) com atividades direcionadas, sempre aos sábados à tarde (PAULEK, 2017a).

Aos sábados, a festa servia alimentação típica e saborosa, como o pinhão cozido, assado na sapecada, xixo7, quentão, pastel, bolos, pipoca, amendoim, cocadas, pé-de-moleque, cachorro-quente e, no domingo, al-moço com churrasco A alegria estava presente no semblante dos trabalha-

7 Comida típica da região de União da Vitória (PR) e Porto União (SC). Consta de espetinhos assados de carne, apreciados pela população da região, e, oferecidos em festas regionais, festas de igrejas e confraternizações familiares.

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dores e nos convidados que chegavam. O som da música alegre contagiava a todos na festa, que durava, dois dias (PAULEK, 2017a).

Outra forma de movimentar a festa foi por meio do concurso da Rainha da Festa, que existiu por mais ou menos dez anos, e, além de ser mais uma atração, com a coroação da vencedora, sempre à meia noite de sábado, durante o baile, movimentava também a sociedade dos municípios vizinhos, que colaboravam com a compra de votos e a torcida por suas candidatas.

As lembranças vão tecendo imagens que levam a relembrar a deco-ração dos espaços onde ocorria a festa, com temas juninos e bandeirinhas coloridas, bonecos com trajes típicos, inovados de ano a ano, causando muita admiração aos visitantes. Como a festa realizava-se no mês de ju-nho, incluiu-se a fogueira, elemento tradicional nas festas juninas do país. Acendia-se a fogueira no sábado à noite, após a apresentação da dança da quadrilha. Segundo Paulek (2017a) e Paulek (2017c):

A festa do Pinhão Jangada, não foi apenas uma festa, um evento, foi além disso, a oportunidade de melhorar uma comunidade, de torná-la conhecida pelos poderes públicos como parte integrante de um município, que por décadas es-tava esquecido. A melhoria das condições de vida dos mora-dores, as conquistas dos jovens tanto como estudantes, pro-fi ssionais ou desportistas, torna-se prova da união que pode transformar histórias (PAULEK, 2017a; PAULEK, 2017c).

Essa festa deixou belas lembranças, teve 25 edições8 organizada pela Família Paulek, sendo a última, sob essa organização, realizada em

8 Tudo isso só foi possível graças à iniciativa do senhor Hilário Paulek e família, e algumas famílias da comunidade como: Seroiska, Blachechen, Jasko, Nakalski, Kokan, Horodeski, Bulyk, Nicolak, Walek, Sandak, Kucek, Koguta, Holub, Chabatura, Jakimiu, Jakubiu, Dutra, Ilkiu, Guerelus, Lopes, Gaiovicz, Sloboda, Olinquevicz, Repukna, Paulek, Volhanik, Kquachiniski. A participação e colaboração de várias empresas que ao longo desses 25 anos de festas contribuíram como: Herbert, Planiex, Schwegler, Cerâmica Passos, bem como o público de toda a região e de outros lugares do Brasil que ali compareceram. Colaboração do 5º BECmb, Coronel Wilson Santana, Prefeitos Municipais,como Ari Carneiro Junior, Ilário Sander, Alexandre Passos Puzzina, Eliseu Miback, Renato Stasiak, Anizio de Sousa; ex-prefeito do Município de Porto Vitoria, senhor Vicente Scheidt; ex-prefeitos de General Carneiro (PR), senhor Antonio Costa, Joelci Marcos Lammel, Sinval Gaiovicz, Sergio Stepchuk (PAULEK, 2017a).

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2014. Ano após ano foi diminuindo o número de colaboradores, pois, mui-tos foram embora em busca de emprego, outros já idosos passaram a ter difi culdade em auxiliar, devido à proporção que ela alcançou. Com a dimi-nuição considerável de pessoas voluntárias para auxiliar, tornou-se impos-sível organizá-la com tantas atrações. A festa ainda existe, mas devido às difi culdades, acontece de forma mais simples.

IGREJA UCRANIANA ORTODOXA “DIVINO ESPÍRITO SANTO”, DA JANGADA (PORTO UNIÃO – SC), EXEMPLO DE PERSEVERAN-ÇA E FÉ

Segundo Jakubiu (apud PAULEK, 2017a)9 a “igreja ucraniana or-todoxa, Divino Espírito Santo, de Jangadinha, Porto União (SC), foi inau-gurada no ano de 1938. A construção inicial era toda em madeira. O Padre Jombra foi o primeiro padre da localidade”. Antigamente, o padre vinha de Curitiba, fi cava quinze ou vinte dias na comunidade, promovendo a cate-quese, rezando missas, oferecendo a doutrina para a primeira eucaristia, realizando casamentos e batizados e, após um ano, retornava à comunidade. Durante a sua ausência, as celebrações eram realizadas todos os domingos, pelos diáconos Miguel Jukonski, depois, por  Pedro Nikolak, permitindo assim, que o sentimento de religiosidade não se apagasse nos fi éis devotos.

Paulek (2017a) relembra que, nos anos de 1950 a 1960, no domin-go de Páscoa, também na segunda-feira, na terça-feira  e nos sete domin-gos seguintes, um grupo de pessoas, em sua maioria jovens, se reuniam ao redor da Igreja, para brincar a Raiúka, com cantigas de roda, cantadas em ucraniano e que reunia centenas de pessoas vindas tanto do Jangadi-nha, pelo lado de Porto União (SC), quanto do lado do Jangada do Sul, do município de General Carneiro (PR). Chegavam pessoas e familiares dos arredores e de vários outros lugares. Era comum também a participação dos alunos internos do Colégio de Jangada do Sul (General Carneiro – PR), para compartilhar desse momento de alegria e lazer, fortalecendo a amiza-de no espaço junto à pequena, mas acolhedora igreja.

Essa igreja, por estar em condições precárias, foi demolida e, em seu lugar, outra foi construída. Essa construção, em alvenaria, apresentou nova arquitetura, mas houve a preocupação em manter, da Igreja antiga, os

9 Meroslava Jakubiu, moradora de jangadinha, nasceu em 1933, e participou da inauguração da primeira Igreja, quando tinha cinco anos. Sempre residiu na comunidade.

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ícones e a porta do altar, os quais foram restaurados para serem colocados nessa nova Igreja. A cruz que está em frente à atual Igreja, pertenceu à pri-meira, da mesma forma, as bandeiras e outros aparatos da missa. Houve um cuidado e atenção em manter preservados os elementos importantes da cultura material. O novo prédio reservado à Igreja foi inaugurado em novembro de 1991, fruto do trabalho, de união e força de tantas pessoas (fi gura 3).

Figura 3- Foto aérea do local onde está construída a Igreja atual.Fonte: Acervo da Família Paulek.

E as festas continuaram a atrair muita gente que chegava de todos os cantos. Ao som de muita música, a comunidade no pequeno templo en-toou hinos louvando ao Senhor. Igreja pronta, festas religiosas e o público continuava comparecendo em massa, nesse pequeno recanto íngreme, com frondosas árvores, cantos dos pássaros e o murmúrio do Rio Jangada, onde se localiza a bela Igrejinha branca. Um sonho realizado.

A comunidade continuou trabalhando para construir um novo salão de festas, pois o existente já não comportava mais o público que o frequentava. Nesse novo projeto, esse espaço passou a ocupar uma área de aproximadamente 1000 metros quadrados, cuja primeira inauguração aconteceu em junho de 2003.

A beleza do lugar onde está construída a Igreja e onde se realizam as Festas do Jangada e a corrida do Pinhão chama a atenção, por ser um recanto bucólico, com uma magnifi ca área verde margeando o soberano Rio Jangada. Ar puro, belas árvores, despencando seus galhos suntuosos morro abaixo, moldando um elaborado cenário com gravetos e seixos, num

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declive espetacular. Ouve-se o canto dos pássaros encenando um maravi-lhoso acorde de sons, misturando-se ao barulho do vento sussurrando, nes-se local mágico. Um lugar especial, inserido numa natureza privilegiada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma festa que teve por objetivo inicial angariar fundos para cons-truir uma Igreja, tornou-se um acontecimento que integrou cultural e so-cialmente as famílias do local, por meio de trabalho voluntário, lazer sadio e melhorias no setor econômico. Além de tantos benefícios materiais, trou-xe uma riqueza maior, que foi a união e integração não só entre as pessoas da comunidade, mas também com outras localidades. Esse foi o resultado do esforço conjunto, a união de homens e mulheres em prol de um obje-tivo: melhorar as condições de vida local e manter essa unidade entre os moradores.

REFERÊNCIAS

NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. In: Projeto História, n.10. Sao Paulo: PUC, dez. 1993.

PAULEK, Hilário. Entrevista concedida a Maria Rosa Gaiovicz. Jangada, Porto União (SC), 17 de abril de 2017. Entrevista escrita (Entrevista).

PAULEK, Mayra Hilária. Entrevista concedida a Maria Rosa Gaiovicz. Jan-gada, Porto União (SC), 17 de abril de 2017. Entrevista escrita (Entrevista).

PAULEK, Tatiana. Entrevista concedida a Maria Rosa Gaiovicz. Jangada, Porto União (SC), 17 de abril de 2017. Entrevista escrita (Entrevista).

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Figura 8 – Colégio Santos Anjos (s/d) .Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

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UMA ESCOLA CENTENÁRIA NO PLANALTO NORTE CATARINENSE: O COLÉGIO SANTOS ANJOS DA

CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS MISSIONÁRIAS SERVAS DO ESPÍRITO SANTO1

Roseli B. Klein2

RESUMO: Esse artigo faz parte de uma pesquisa realizada sobre Instituições Es-colares, mais especifi camente, o Colégio Santos Anjos pertencente à Congregação das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo (MSSpS), em Porto União (SC). A instituição iniciou suas atividades no ano de 1917, exclusivamente por religiosas de origem alemã. O tema central desse trabalho se propõe a refl etir sobre as ações edu-cativas e missionárias de um colégio interno feminino, e os impactos dessa atuação na sociedade local. Busca-se analisar os fazeres dessa escola inserida num contexto histórico mais abrangente que sua própria história, conduzidos por professoras lei-gas e religiosas de congregação católica, sob a supervisão de um inspetor estadual, responsável também pelas escolas públicas existentes nessa região. O que instigou este estudo foi a aparente relevância e solidez atingida pelo colégio como local de ensino, criado por uma congregação que se transferiu do mundo europeu, e se fi xou no Brasil com função missionária voltada para a educação. Discute-se a história da instituição com base em fontes primárias, pertencentes a seu acervo histórico, e por intermédio de fontes orais, mediante entrevistas com as ex-alunas, atrelada a uma pesquisa bibliográfi ca com base em Julia (2001) e Buff a e Nosella (2009).

PALAVRAS-CHAVE: História da Educação. Colégio Santos Anjos. Práticas Peda-gógicas Educativas e Missionárias.

COMO TUDO COMEÇOU

O Colégio Santos Anjos foi fundado por religiosas da Congregação das Irmãs Servas Missionárias do Espírito Santo (MSSpS), teve origem na

1 Esse artigo constitui-se da compilação de fragmentos de um amplo trabalho de investigação da história do Colégio Santos Anjos que consta na obra: Colégio Santos Anjos, o cotidiano educativo e missionário: refl exos de uma escola alemã no planalto norte catarinense (KLEIN, 2016).2 Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI), cadeira no 38, patrono Estêvão Juk. Professora Doutora e Pesquisadora em História e Historiografi a da Educação. Membro do Colegiado de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná, campus de União da Vitória (UNESPAR). Integrante do Núcleo de Catalogação, Estudos e Pesquisas em História da Educação da UNESPAR - (NUCATHE).

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Holanda, entretanto todas as religiosas eram alemãs, e, na época, foram impedidas de fundarem a congregação na Alemanha. A partir do trabalho missionário na Europa, dirigiram-se a outros continentes e chegaram ao Brasil em 1902, em Minas Gerais. Depois disso, espalharam-se pelo país. Ao chegarem a Porto União (SC), em 1917, depararam-se com uma comu-nidade de imigrantes e com um Regime Político Republicano, que incenti-vava o Estado Laico, e um forte movimento de Nacionalização.

O primeiro espaço físico do Colégio Santos Anjos (fi gura 1) cons-tituía-se de uma pequena casa de madeira, de dois pavimentos, que serviu, em 1917, de escola, internato das meninas e moradia para as três primei-ras religiosas e fundadoras. “É uma casa simples de dois andares, cercada de um bonito pomar, de móveis muito pobres, havia simplesmente o mais necessário” (IRMÃ AMBROSIANA apud CHRONIK, 1917 – 1951, p. 2). Era um espaço cuidadosamente arrumado pelas senhoras da comunidade, local idealizado por Frei Rogério Neuhaus, franciscano perseverante e com ampla visão missionária.

Figura 1 – Primeiro espaço utilizado como Escola Primária pelo Colégio Santos Anjos (1917).

Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

No ano de fundação do colégio, em 1917, a diocese ainda pertencia a Curitiba, capital do Estado do Paraná, a qual apoiou plenamente a chega-da das religiosas alemãs. Somente mais tarde, em 1927, é que foi fundada

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a Diocese na cidade de Lages, pertencente à arquidiocese de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, à qual Porto União passou a se sub-meter.

A fi gura 2 registra a primeira turma do Curso Primário. Na foto, percebe-se a presença de Frei Rogério Neuhaus, pároco de Porto União, o bispo Dom João Braga, ainda da Diocese de Curitiba, um padre que o acompanhava, as três irmãs fundadoras (Viatriz, Ambrosiana, Arnalda) e os alunos, meninos e meninas.

Figura 2 – Alunos do Curso Primário do Colégio Santos Anjos (1917).Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

Um dos objetivos da chegada das irmãs alemãs foi criar esta escola primária que oferecesse, além do ensino, a catequização católica aos edu-candos.

O processo educativo e evangelizador implantado pelas Irmãs MSSpS, de início, oferecido às oitenta alunas matriculadas, seria expandido a toda a região sul do Paraná e norte de Santa Catarina, ampliando ainda mais a abrangência, devido ao número de alunas internas de todo o sul do Brasil. Um colégio que viria a torna-se imponente por sua arquitetura e por seu fazer pedagógico e religioso.

Esse pequeno colégio, que se tornaria grande, teve sua complexa malha de relações intra e extramuros, cuja evolução se apresentou marcada pela sua inscrição nas conjunturas históricas locais, e trouxe muitos refl e-

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xos para a cidade de Porto União. Essa instituição seria responsável pela educação, evangelização, passaria a transmitir uma cultura escolar capaz de remodelar o comportamento, “formar o caráter e as almas que passam por uma disciplina do corpo e por uma direção das consciências”. (JULIA, 2001, p. 22).

O colégio teve sua instalação com a implantação do Curso Primá-rio3. O Curso Complementar, criado em 1929, passou a Curso Normal Pri-mário no ano de 1935. Esse curso complementar, a princípio denominado de Intermediário, foi criado juntamente com a Escola Normal. O Decreto no 2.332, de 8 de outubro de 1929, do Estado de Santa Catarina, equiparou esse Curso Intermediário de 3 anos às Escolas Complementares do Estado. O Curso Normal, criado em 22 de fevereiro de 1929, por meio do Decreto no 2.257, funcionou com quatro anos de duração4.

O Livro de Matrículas da Escola Normal Primária (1929) registra a matrícula da primeira turma e a procedência das alunas desse grau de ensino. As “allunas” vinham de outras localidades. Constam cidades como: Capinzal (SC), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Rio Negro (PR), La-ges (SC), Paranaguá (PR), Curitiba (PR), São Mateus (PR), Blumenau (SC), Obernfh ausen (Alemanha), Ascholding (Baviera). Estas duas últimas eram cidades natais das alunas já vocacionadas, duas religiosas, que estavam trabalhando no colégio e que viriam a fazer o Curso Normal (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1929 – 1948).

3 Este grau de escolaridade esteve presente entre os anos de 1917 a 1970. Com a apro-vação da Lei 5692/71 deixou de existir com essa nomenclatura, passando a denomi-nar-se séries iniciais do 1º grau e continua a existir até a atualidade, porém com outra nomenclatura. No ano de 1929 constam 270 matrículas no Curso Primário. Havia alunas de descendência: alemã, italiana, suíça e síria, entre outras. Algumas alunas matriculadas na escola normal primária, no ano de 1930: Laíde Amaral (nascida em 1913), Nadir Costa (nascida em 1914), Anália de Almeida (nascida em 1913), Suely Selbach (nascida em 1913), Maria Mercedes Barmack (nascida em 1911), Diva Eu-gênia de Oliveira (nascida em 1913), Dorothi de Oliveira (nascida em 1914), Araceli Rodrigues (nascida em 1913), Honória Souza (nascida em 1912), Alba Assis (nascida em 1913), Edith Mello (nascida em 1913), Jandyra Capriglione (nascida em 1913), Aurora da Silva (nascida em 1012), Th ereza Kroetz (nascida em 1913), Josefi na Bül (nascida em 1900), Bárbara Melf (nascida em 1900), Herondina Riesemberg (nasci-da em 1913) (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1929- 1937, p. 02).4 No ano de 1939, sofreu fusão com o Curso Normal Primário, passando a deno-minar-se Curso Fundamental, com duração de cinco anos (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1935-1967).

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Em 1922, foi construído o primeiro espaço escolar do Colégio San-tos Anjos em alvenaria, tendo à frente uma capela (fi gura 3).

Figura 3 – Prédio em alvenaria construído em 1922.Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

Na década de 1940, o prédio do colégio recebeu mais ampliações, de-vido à abertura do Curso Ginasial (1943). O prédio era imponente, num lugar de destaque da cidade, na mais alta colina, próximo à Igreja Matriz e ao Hos-pital. Porto União possuía um ponto de referência: o Colégio Santos Anjos, no “Alto da Glória”, assim defi nido pelos habitantes do Município (fi gura 4).

Figura 4 – Construção de uma nova ala do colégio, destinada ao Curso Ginasial, na década de 1940.

Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

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OS IMPACTOS EDUCATIVOS E MISSIONÁRIOS DAS AÇÕES DO COLÉGIO SANTOS ANJOS NA REGIÃO

Entre os saberes aprendidos na escola estava o estudo dos sacra-mentos. A fi gura 5 registra um grupo de crianças devidamente trajadas para a celebração da Primeira Comunhão, na maioria meninas, alunas in-ternas, e alguns meninos, alunos externos. Essa formação era realizada nas dependências da escola. A preparação para a catequese acontecia na insti-tuição e, no dia solene, saíam em procissão para a igreja (HENKEL, 2011). Observa-se a presença da catequista, do frei, dos coroinhas e anjos à frente. As crianças seguram velas, que lembram a renovação das promessas do batismo, e constata-se que, ainda intactas, aguardam o momento religioso para serem acesas.

Figura 5 – Primeira Eucaristia, 1924.Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

No período republicano houve a independência entre a sociedade religiosa e a sociedade civil. “O Decreto no 119-A, de 7 de janeiro de 1890, determinou a separação da Igreja do Estado, confi rmada pela Constituição de 1891” (NAGLE, 1974, p. 57). Essa separação, segundo o próprio Nagle (1974), não foi, de início, para a Igreja, motivo de grandes preocupações, pois uma vez independente do Estado, não possuiria as regalias do período imperial; entretanto, tornar-se-ia livre para exercer a sua missão. A Consti-tuição de 1891 garantiu o Ensino Religioso facultativo nas escolas públicas. Em 1916, a criação da “A Ordem”, material de divulgação da Igreja Católica

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foi amplamente difundida e rendeu a adesão de muitos intelectuais a ado-tarem aos preceitos católicos. Nagle (1974) chama esse momento de reca-tolização da intelectualidade. Essa e outras ações “sacudiram o catolicismo dorminhoco” (NAGLE, 1974, p. 58) e adentraram ainda com mais vigor as escolas. Em 1930, o Ministro da Educação, Francisco Campos, foi respon-sável pelo decreto que restabeleceu o ensino religioso nas escolas públicas.

Julia (2001, p.21) ressalta que as instituições escolares deixaram de ser apenas um lugar de incorporação de comportamentos e hábitos exigi-dos para ser uma “ciência de governo”, transcendendo e dirigindo a forma-ção cristã e as aprendizagens disciplinares. O sistema escolar tem, portanto, dupla função: formar os indivíduos e transmitir fragmentos de cultura, que penetra, molda, modifi ca a cultura da sociedade, como um todo. Chervel (1988) discute tarefas, em determinadas épocas da história, que a socieda-de, a família, a religião delegaram à escola, evidenciando, então, as fi nalida-des religiosas, de ordem psicológica, culturais que implicavam a aprendiza-gem da leitura, da escrita e formação humanista. Esses saberes não estavam somente implícitos nas aulas de catecismo, mas também nos momentos de oração, na escola, antes de iniciar a aula, nas festividades católicas, nas missas celebradas, nas confi ssões, na preparação dos cantos e das procis-sões para as celebrações importantes. Isso revela desenvolvimento de ca-pacidades ou modifi cações dos comportamentos nos alunos, designando, portanto, saberes, competências, representações, papéis, valores adquiridos pelo aluno na escola (FORQUIN, 1993, p. 23).

Na ata datada de 1929, registrada de próprio punho pelo Deputado da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina e Chefe Escolar do Município, Cid Gonzaga, retrata a preocupação, na época, de incutir nas crianças, via educação primária, o amor à Pátria, o civismo e, principal-mente, a língua nacional por meio de ensinamentos de um colégio religioso (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1919 – 1943):

Na qualidade de Deputado da Assembleia Legislativa do Estado e Chefe Escolar do Município, não posso deixar de congratular-me com a população desta cidade, pelo resulta-do que acabo de verifi car no Collégio dos Santos Anjos, das Irmãs Servas do Divino Espírito Santo. Examinando as aulas, fi quei agradavelmente impressionado com o aproveitamento dos alumnos, pois desde o primeiro ao quinto ano escolar, todas as crianças sahiram-se bem, do ligeiro exame a que fo-ram submettidas, respondendo com acerto as perguntas das

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diversas matérias do respectivo curso. A disciplina mantida no estabelecimento é digna de nota e o material escolar satis-faz perfeitamente as exigências da pedagogia moderna. Des-pertou-me também vivo interesse o gabinete de história na-tural physica, chimica e os trabalhos manuais dos alumnos. Na visita ao dormitório das internas encontrei ali o maior conforto e asseio, gemifl ectindo-se, porém, a minh’alma ao penetrar na capella onde lindas imagens presidem aquelle santuário de virtudes christãs, ao serviço da alphabetização do Brasil. E como esquecer? Exultou de júbilo a minh’alma de patriota ao ouvir as sonoras melodias do Hymno Nacional que, de pé, com respeito, cantaram aquellas boccas e cora-ções pequeninos. São brasileira todas estas crianças? – Sim! As que não nasceram no Brasil, amam já esta Pátria como a sua. – A Fé Christã pelas mãos piedosas das Servas do Espí-rito Santo, está moldando-lhes uma alma brasileira. – É uma grande missão: servir a Deus e a Pátria! Aqui deixo, pois, os meus applausos e louvores as Servas do Espírito Santo, es-pecialmente à Irmã Superiora a quem se deve a orientação segura do estabelecimento e com muita simphatia e respeito fi rmo-me, Cid Gonzaga. 1929 (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1919 – 1943. p. 01 anverso).

Com esse registro, verifi ca-se o forte movimento nacionalista di-fundido no Brasil, principalmente, na segunda década do século XX. Ten-do a escola como mediadora, desejava-se incutir na criança um conteúdo moral e cívico, com acentuado fervor patriótico, por via afetiva. Ao mesmo tempo em que esse fato vai ao encontro do momento histórico, ressalta a trajetória da escola cumprindo a função cívico-moralizadora. A metáfora da “caixa preta” desvenda um fazer pedagógico mesclado de um currículo ofi cial: “História Natural, Physica e Chimica”, “Alfabetização”, a uma pro-posta aqui revelada: “servir a Deus e à Pátria!” (JULIA, 2001).

O deputado e chefe escolar adentra a capela, com emoção, ressalta as imagens, e, ao mesmo tempo, refere-se ao trabalho que as irmãs se dis-põem a realizar, a serviço da alfabetização do Brasil. Quanto ao trabalho educativo, assim se refere: “a fé christã, pelas mãos piedosas das Servas do Espírito Santo estão moldando-lhes a alma brasileira”. Aqui são reveladas, em parte, as práticas adotadas, no interior da escola, ou seja, mesmo sob uma constituição que separa o Estado da Igreja, a congregação das MSSpS se coloca a serviço do Estado, formando o cidadão brasileiro por meio do civis-

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mo, tão desejado, e por outro lado, possui liberdade para educar na Fé seus alunos. E, ao moldar-lhes a alma, transmite uma cultura escolar própria.

Julia (2001, p. 10) conceitua a cultura escolar como “um conjunto de normas que defi nem conhecimentos a ensinar, e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimen-tos e a incorporação desses comportamentos”. Essas práticas adquiridas no interior da escola se expandem para a vida em sociedade, defi nindo-se no modo de pensar e agir dos educandos que passaram pela instituição; das professoras normalistas que adquiriram conhecimentos e habilidades for-mais por meio do processo de escolarização e que refl etiram na sua atuação profi ssional; bem como das atividades desenvolvidas pela congregação, na comunidade, que modifi caram estilos de vida.

A ORGANIZAÇÃO DO INTERNATO

O espaço interno do Colégio Santos Anjos estava dividido em am-plas salas, cada uma delas com uma função específi ca. A seguir a descrição de um dos espaços físicos:

[...] a) Salas de Trabalhos Manuais no 1.º andar, com mesas e cadeiras para as alunas, um grande armário para os trabalhos, quatro máquinas de costura, e os demais apetrechos para a boa execução dos trabalhos. b) Biblioteca, sala contigua, com armário e estantes de livros a disposição das professoras e alu-nas, mesas e cadeiras para as horas da consulta e frequência da biblioteca. c) Sala de Desenho, no 2.º andar, sala espaçosa e clara [...]. d) Sala de Geografi a e História, igualmente insta-lada no 2.º andar, possui todo o aparelhamento necessário ao ensino desta matéria [...]. e) Sala de Física e História Natural em forma de anfi teatro. Possui grande número de aparelha-mento e instalações necessárias para o ensino de ciências fí-sicas e naturais [...]. f) Laboratório de Química separado da sala anterior possui boa coleção de drogas para as experiên-cias, aparelhos para reação química, mesa de laboratório com tampa de vidro, instalação de água, força elétrica e quadro ne-gro. g) Gabinete Dentário, instalado recentemente, com todo aparelhamento necessário, é destinado ao uso das alunas in-ternas. h) Gabinete Biométrico de acordo com as prescrições legais e das fi nalidades previstas. i) Pequena Farmácia com drogas, remédios e materiais necessários aos primeiros socor-ros (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1947, p. 3).

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Essa primeira parte da descrição ressalta as salas especiais, com seus aparelhamentos, destacando a dinâmica da Escola Nova exigida pelas políticas do Estado:

[...] As Salas de Administração compreendem: o gabinete da diretoria, o gabinete do inspetor, a secretaria e a sala dos pro-fessores. Existem ainda, 5 saletas para o ensino particular de piano, violino e datilografi a. Instalações do Internato: a) Dor-mitório- as alunas internas tem a sua disposição dois dormi-tórios espaçosos, sendo um para as alunas grandes e médias, e outro para as menores. Há 125 camas patentes, mesinhas de cabeceira, armários individuais, e 47 pias de lavatório com água corrente. b) Salas de Estudo – existem 2 na parte antiga, com carteiras e estantes para os livros. c) Os Vestiários - em número de três no andar térreo, destinado para as sacolas de ginástica das alunas internas, outro para as alunas externas, e o terceiro, o maior, para casacos e aventais do uso das alunas internas. d) A Sala de Jantar – no andar térreo, comporta 130 alunas internas. As mesas, em número de 16, são esmaltadas e as cadeiras são individuais. e) A Cozinha, as duas Copas e a Dispensa – acham-se vizinhas à sala de jantar. Suas paredes são revestidas de azulejos. Há um grande fogão econômico; instalação de água quente e fria; armários a prova de insetos e moscas, etc. (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1947, p. 3-4).

Na segunda parte, a descrição aponta a organização do internato, caracterizando a arrumação do dormitório e armários para objetos pes-soais, e há, ainda, uma preocupação com as condições de higiene, retratan-do paredes azulejadas, pias de lavatório e a farmácia.

[...] f) O Banheiro - encontra-se ainda no andar térreo. Há 11 banheiros e 8 chuveiros instalados em cabines isoladas, reves-tidas de azulejos, são servidos de água quente e fria. Ao lado do banheiro acha-se a rouparia com suas estantes para guar-dar as roupas das alunas. As Instalações Sanitárias acham-se em dois pontos opostos da construção. As paredes dos aparta-mentos são revestidas de azulejos, e os pisos são ladrilhados. Há 30 W.C. com descarga automática, sistema “hidra”. Cada apartamento possui 4 lavatórios de água corrente, há 2 bidês. As Caixas de Água recebem a água de três poços situados no local do estabelecimento. Há 4 caixas de água [...]. A Área

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Livre compreende o páteo de recreio 367,5 m2, 670 m2 de campo de educação Física, e 900 m2 de campo de tennis, vol-ley e outros esportes, estando estes últimos em construção. A Área Livre e Coberta para o curso primário abrange outro páteo espaçoso junto ao pavilhão de aulas deste curso. Ao lado dos campos de Ginástica e Jogos se estende um vasto quintal, que fornece parte das hortaliças consumidas pela co-zinha. Mobiliário e Material Escolar – Existem 24 carteiras duplas com 48 cadeiras, que foram acrescentadas ao mobi-liário existente em 1946. A sala de desenho foi enriquecida com uma coleção de vasos de diferentes modelos. Para uso das internas foi instalado o Gabinete Dentário que funciona duas vezes por semana. Todo material está em bom estado de conservação (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1947, p. 4).

Ainda persistia a preocupação com a higiene, destacando-se as instalações sanitárias, que se pressupunham modernas, as caixas d’água, e áreas reservadas para recreação, bem como atividades físicas, o gabinete dentário com atendimento semanal. Ações voltadas para a área da saúde foram muito valorizadas na escola. O exame médico e biométrico era exigi-do, no início e no fi nal do ano letivo, sendo supervisionado pela professora de educação física. O educandário precisava estar equipado com aparelhos sanitários, água corrente, fossas sépticas, chuveiros, etc. Manter um cor-po saudável fez parte dos princípios higienistas adotados pelo sistema edu-cacional brasileiro, uma prática instaurada no início do século XX, que se prolongou pela década de 1940. “A criança passou a ser objeto de interven-ção educacional sistematizada pela escola quando a família passou a ser alvo de intervenção das ações médico-higienistas com o advento da mo-dernidade” (WANDERBROOK JUNIOR; BOARINI, 2007). Era necessário estabelecer normas e hábitos para conservar a saúde coletiva e individual.

A sociedade brasileira, no início do século, aspirava à moderniza-ção. O atraso econômico e social pelo qual passava o país foi creditado ao pensamento de que o Brasil estava constituído por raças inferiores, com baixa capacidade produtiva. Essas raças inferiores poderiam ser recupe-radas, oferecendo-lhes melhores condições sociais e de saúde. O papel da educação era, portanto, corrigir os defeitos e/ou promover o ajustamento dos desadaptados, como forma de alcançar o progresso desejado (WAN-DERBROOK JUNIOR; BOARINI, 2007).

A fi gura 6 apresenta a impecável arrumação do dormitório, com as camas alinhadas, amplas janelas tornando o ambiente iluminado pela

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luz natural e arejado. É possível verifi car as pias dos lavabos anexas, corro-borando com a concepção higienista presente no interior das escolas, nas primeiras décadas do século XX, e ainda sobre cada um dos bidês uma toa-lhinha de crochê, ornamentando o espaço. Verifi ca-se a presença de uma cultura germânica, destacada pelo capricho nos detalhes ornamentais, a toalha de crochê, que vai além de noções de higiene, a qual supõe um tra-balho artesanal também ensinado na escola e assimilado pelas educandas.

Figura 6 – Dormitório das alunas pequenas (1943).Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

A fi gura 7 expõe o gabinete dentário instalado no educandário, com a fi nalidade de atender às educandas internas.

Figura 7 – Gabinete dentário (1943).Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

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A sala de visitas, o piano (fi gura 8), a sala de costura (fi gura 9), o uso de uma estante para livros; essa infraestrutura do prédio escolar cons-tituía uma extensão da casa, entretanto, nesse imponente colégio, assumia um refi namento, exigindo certa adequação de comportamentos sociais dos que neles transitavam.

Figura 8 – Sala de estudos de piano (1943).Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos.

Figura 9 – Sala de Costura (1943).Fonte: Acervo do Colégio Santos Anjos

As ex-alunas, ao abrirem a porta de sua casa para as entrevistas, dei-xaram transparecer esses elementos materiais, cultivados durante sua per-manência no colégio interno. Em suas salas de visitas, o piano, a estante para livros com móveis rústicos, todos de saudosas lembranças expressas por elas.

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Os bordados aprendidos na escola adentraram as casas, encontran-do-se em toalhinhas de bandejas, exibidos, ainda, com muito orgulho, ou surgem como resquícios de lembranças “do tempo em que se bordava o emblema do nome” nas peças de enxoval (HENKEL, 2011).

O quadro-negro, parcela do conjunto de artefatos materiais que fez parte da escola num determinado tempo e espaço, adentrou as casas como objeto lúdico, constituindo-se num imaginário infantil, onde as crianças assumiam a postura de “professor” diante de outras.

Minha mãe comprou um quadro negro, vinham as colegas da minha irmã mais velha e toda a vizinhança também vi-nha aqui (na casa). Nós fazíamos a escola: um dia uma era a professora, outro dia era outra colega. Nós dávamos aula. Era gostoso! Papai comprava giz para nós. Ele nos incentivava. Minha irmã mais nova era louca para ir à aula, ela era peque-nininha [...] (DOMINGOS, 2011).

As salas especiais revelam processos de mudança, representando um processo de transformação, deixando transparecer uma prática peda-gógica nova, experimental e científi ca, que fez parte da pedagogia moderna e, mais tarde, da Escola Nova, que se queria implantar. Esses fazeres aden-traram os grupos escolares e, por conseguinte, as escolas confessionais que desejavam atender à demanda. As fi guras 10 e 11 mostram o interior da sala de ciências físicas e naturais e os objetos nela contidos. Verifi ca-se a existência de carteiras duplas, com tampa para guardar o material escolar, armários com objetos variados, aves empalhadas, a mesa do professor em destaque e quadros de santos expostos pela sala.

Figura 10 – Sala de Ciências Naturais (1943).Fonte: Colégio Santos Anjos. Processo de Criação do Ginásio Santos Anjos,

Pasta no1. Porto União; Santa Catarina: 1942 – 1944.

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Figura 11 – Objetos da Sala de Ciências Naturais (1943).Fonte: Colégio Santos Anjos. Processo de Criação do Ginásio Santos Anjos,

Pasta no 1. Porto União; Santa Catarina: 1942 – 1944.

AS ASSOCIAÇÕES INTRAESCOLARES

As associações intraescolares, no Colégio Santos Anjos, iniciaram suas atividades na década de 1930 e estenderam-se até a década de 1970.

O objetivo dessas associações foi fomentar nos alunos o interesse pela defesa e difusão dos valores nacionais. A circular no 29, de 18 de mar-ço de 1943, encaminhada pelo Departamento de Educação aos inspetores escolares e diretores de grupos escolares determinava:

O serviço das associações auxiliadoras tem por fi m a reorga-nização da escola em bases de comunidade social de trabalho e cooperação, e sua articulação com o meio social por todas as medidas que tendem a estender seu raio de ação educativa, e a tornar estreita a colaboração entre a escola, a família, e as outras instituições sociais. [...] O serviço desenvolverá es-pecialmente obras pré-escolares, como clubes infantis e ins-tituições periescolares, como caixas escolares e cooperativas de consumo, e outras que, correspondendo às diversas exi-gências da vida econômica e social, de que deverão participar diretamente (SANTA CATARINA, 1943, p.16-17).

Ainda em vigor no ano de 1947, as associações foram incentiva-das pelos inspetores de ensino. Orientavam e aplicavam punições à esco-la que descumprisse a referida normativa. A Liga Pró-Língua Nacional, por exemplo, tinha uma especial relevância, haja vista a própria partici-pação do Estado no processo de abrasileiramento do Brasil (NIEHUES;

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RABELO, 2012). Dessa forma, o projeto se materializava, e se prolonga-va pelas décadas seguintes, envolvendo outras temáticas referentes ao pa-triotismo, à moral cristã, às boas ações, e no caso das escolas religiosas, à legitimidade católica, em que o aprendizado incluía os símbolos católicos, treinamento e refl exões de devoção ao catolicismo, com o intuito de pro-pagar e difundir as suas práticas e a moral cristã. As associações escolares, nas escolas particulares, tiveram dupla função cultural: por parte da escola, formar o bom cidadão católico; por parte do Estado, defender e difundir valores nacionais. Portanto, Igreja e Estado continuavam unidos.

Souza (2008) caracteriza as associações escolares em dois tipos: as instituições de ação educativa e as de ação social e assistência. A primeira corresponde às bibliotecas, jornais escolares, museu, rádio, cinema educa-tivo, clubes de leitura, cooperativas; na segunda estão inseridas as asso-ciações de pais e mestres, caixas escolares, assistência médica e dentária, merenda escolar, liga da bondade.

Algumas dessas associações receberam a denominação de “grê-mios”, como foi o caso do Grêmio Lítero-Musical Santa Catarina.

O Grêmio Lítero-Musical, em agosto de 1947, realizou uma home-nagem ao Inspetor Federal, por ocasião do término da inspeção no educan-dário. O roteiro da sessão constou de:

Na sala, lindamente ornada pela 4.ª série ginasial, desen-volveu-se o seguinte programa: Hino à MSSpS, leitura da ata (Nícia), canto da Bandeira, da Pátria (Eulália), poesia: “Lenda Antiga” (Maria Crema), Diálogo sobre o Grêmio (Aldair, Dalva, Marly), poesia; “O Gorro do Vovô” (Ivelise), Cançoneta: “Vovozinha” (Carmem Almeida), poesia; “Rosi-nha e o Mendigo” (Zaira), Hino da Escola Normal, diálogo: “Velhaquete” (Izabel e Nelson), poesia: “A Narração do Es-cravo” (Dulce), “Uma cartinha a mamãe” (Zilá), “Miss Tição, Rainha do Fogão” (Eni), “Duas Palavras” (Vitória), palavra livre, Hino Nacional. Ouviu-se, a seguir, a palavra criteriosa do Senhor Inspetor que agradeceu a homenagem de que fora alvo por ocasião do término de sua inspeção neste educandá-rio. Concitou-nos a prosseguirmos com o interesse que nós agremiadas, viemos mostrando em espalhar a língua pátria e cultivá-la sempre e sempre mais. Uma salva de palmas pelo D.D. Inspetor, e um Tudo pela Grandeza do Brasil, encer-raram a sessão da qual lavrei a presente ata que será assina-da por mim secretária, Nícia e pela presidente, Edi Barison (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1947, p. 54).

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205Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

As programações referentes à Semana da Pátria, de 1947, contaram com sessões organizadas pelo Grêmio Lítero-Musical. O planejamento das normalistas acompanhou o seguinte programa:

[...] A juventude brasileira viu o desenrolar de um progra-ma oferecido a sua memória, que o 3.º ano Normal elaborou. Continuou com zelo incansável as sessões comemorativas a Grande Semana. Feita ao ar livre, no pátio interno da Escola Normal, as terceiranistas apresentaram o programa com os seguintes números: 1 – Hino Nacional; 2 – Preleção sobre Pá-tria e Mocidade (Nïcia); 3 – Independência ou Morte (Maria das Dores); 4 – Oração à Pátria (Leonilda); 5 – Canto pelas normalistas – A Escola; 6 – O Dia da Pátria (Jussara); 7 – Poesia: O Patriota (Cleuza); 8 – Poema: Ave Pátria (Leonice); 9 – Canto pelo Côro Orfeônico: Mocidade Brasileira. O 2º ano Normal prosseguiu as sessões, elaborando um programa para o dia 6 de setembro, um programa desenrolado na sala “Alcindo Guanabara”. Os números apresentados foram os se-guintes: 1 – Hino Nacional; 2 – Preleção (Lucy); 3 – Poesia: Independência ou Morte (Eulália); 4 – Canto: Bandeira de Minha Terra!; 5 – Brasil (Zaíra); 6 – Sete de Setembro (Abi-gayl); 7 – Sagrado Emblema (Elvira); 8 – Hino da Indepen-dência. Os esforços das segundanistas fi zeram-se notar na sessão deixada ao seu cargo. Como encerramento brilhante à Semana da Pátria, o 1.º ano Normal organizou uma sessão no pátio interno do colégio. Às três horas da tarde, reuni-ram-se no pátio, todas as agremiadas, em o qual se desenro-lou seguinte programa: 1 – Minha Terra (Terezinha Briski); 2 – Preleção sobre a data (Maria das Neves); 3 – Canto Brasil Unido; 4 – Ao Dia 7 de Setembro (Ivete); 5 – Soldado Brasi-leiro (Loiva); 6 – Hino da Independência. Logo após houve desfi le dos escolares desta cidade, tomando parte nele as alu-nas da Escola Normal Santos Anjos. Nada mais havendo, eu Nícia Gastardi, lavrei a presente ata, que será assinada por mim, secretária, e pela presidente Edi Barison (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1947, p. 87 - 88).

Essas e outras práticas educativas e missionárias fi zeram parte do cotidiano da instituição. O regime de internato prosseguiu até o ano de 1967. O Curso Normal, com a Lei 5692/71, denominou-se Curso de Ma-gistério; em 1974 passou a existir o Curso Adicional de Especialização para professores do magistério pré-escolar. O Curso de Magistério teve suas

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206 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

atividades encerradas no ano de 1988. Entre os anos de 2003 e 2006 houve uma nova tentativa de resgatar a tradição do colégio referente à formação de professores, entretanto apenas uma turma foi formada e não teve conti-nuidade. Ainda, em 1973, pela Resolução no 02/73 e Parecer 151/74 foram aprovadas as habilitações profi ssionais: Magistério, Técnico Assistente de Administração, Técnico de Secretariado e Técnico de Economia Domés-tica. Pelo Decreto no 3666/74 foi autorizado o funcionamento do Curso Técnico de Enfermagem e, em 1988, pela Portaria 0147/86, o curso de 2.º Grau (sem habilitação profi ssionalizante) e, pelo Parecer 252/95, o Curso de Processamento de Dados (COLÉGIO SANTOS ANJOS, 1971-1988).

Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional número 9394, do ano de 1996, os graus de ensino foram novamente alterados, e na atualidade, o Colégio Santos Anjos oferece a Educação Básica, que contem-pla desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho das religiosas impactou na sociedade local, a princí-pio, por meio da aprendizagem da leitura, da escrita, e trouxe mudanças de comportamentos, com a aquisição desses saberes e competências adquiri-dos pelos alunos. Depois, pelas fi nalidades religiosas incutidas na apren-dizagem deles, tais como os momentos de orações na escola, festividades católicas, procissões, celebrações, confi ssões, cantos litúrgicos, etc. O colé-gio, além da aprendizagem da leitura e escrita, estabeleceu-se como local de vivências da espiritualidade cristã.

Essa escola sensibilizou, de forma favorável, a população local. Atendeu alunas, na maioria, descendentes de imigrantes de tradição cató-lica, o que favorecia a empatia das famílias com a ideologia propagada pela Congregação das Irmãs MSSpS dirigentes da escola.

Dessa forma, o movimento ultramontano se fez presente no mu-nicípio de Porto União, por meio dessa congregação. Paróquia e colégio tiveram o mesmo objetivo: catequização, ensino da religião, evangelização, ação missionária, preparação para os sacramentos e, além disso, reunir no-vas vocações religiosas, que viriam surgir no interior da instituição. Aliada aos objetivos religiosos estava a função de elevar o nível cultural e social da população que passava pela escola.

As MSSpS colaboraram com a formação católica e educação das crianças, e jovens. Essa escola teve dupla função: formar os indivíduos e

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207Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

transmitir fragmentos de uma cultura que auxiliava a moldar e modifi ca-va a cultura da sociedade como um todo. Essa cultura assimilada por in-termédio da aquisição de conhecimentos e habilidades conquistadas via processos formais de escolarização alterava os modos de pensar e de agir difundidos no interior da sociedade.

O fazer pedagógico no interior da instituição implementou um conjunto de práticas e de rituais simbólicos que regulou o comportamento de professores e alunos, disseminou valores, normas sociais e educacionais, produziu a cultura escolar. Quanto aos saberes proporcionados pela escola, não houve somente a preocupação com a transmissão desses, mas com a inculcação de hábitos. Em relação ao espaço ocupado pelos educandos, o traçado arquitetônico do prédio respondeu aos padrões culturais e peda-gógicos, que foram apreendidos pelos alunos gerando, também, a cultura escolar.

O colégio Infl uenciou no aspecto cultural, estabeleceu proibições e controles, causou mudança nos costumes e na formação da juventude. Indiretamente, por meio das professoras que se tornaram educadoras em escolas públicas, supervisoras, diretoras, ou desempenharam outras pro-fi ssões, exercendo a ação catequética em seu ambiente de trabalho, pro-longando a missão católica vivenciada pelas MSSpS. Essa foi a intenção de criar a Escola Complementar e a Escola Normal: formar professoras conti-nuadoras do espírito evangelizador e reforçar, nas vocacionadas, a missão de educadoras cristãs. O processo de urbanização se intensifi cava e requisi-tava-se a escola para ampliar o nível educacional e cultural dos indivíduos que compunham essa nova sociedade.

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208 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

CHRONIK DES HAUSES. Colégio Santos Anjos. 1917 – 1951. 1ª Parte. (Traduzido) (Documento não publicado).

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_____. Livro de Matrícula “A” Curso Primário. Porto União; Santa Cata-rina: 1929 – 1937. (Documento não publicado).

_____. Ata de Inspeção Escolar no 02 “B”. Porto União; Santa Catarina, 1935 – 1967. (Documento não publicado).

_____. Livro de Registro de Visitas no 04 “B”. Porto União; Santa Catari-na, 1919 – 1943. (Documento não publicado).

_____. Relatório Geral das Atividades da Escola Normal. Livro de Regis-tro “E”, no 01. Porto União; Santa Catarina: 1947. (Documento não publi-cado).

_____. Livro de Médias Finais e Diplomas do Curso Normal “C” no 13. Porto União; Santa Catarina: 1971 – 1988. (Documento não publicado).

FORQUIN, Jean - Claude. Escola e Currículo. As Bases Sociais e Epis-temológicas do Conhecimento Escolar. Porto Alegre; Rio Grande do Sul: Artmed. 1993.

HENKEL, Maria Schreiner. Entrevista concedida a Roseli B. Klein. Porto União, 22 de maio de 2011. Gravação em Áudio. (Entrevista).

KLEIN, Roseli B. Colégio Santos Anjos, o cotidiano educativo e missio-nário: refl exos de uma escola alemã no planalto norte catarinense. Palmas; Paraná: Kaygangue, 2016.

NAGLE, Jorge. Educação e Escola na Primeira República. São Paulo: EPU, 1974.

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209Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

NIEHUES, Mariane Rocha; RABELO, Giani. As Regras de Civilidade prescritas pelas Ligas da Bondade nas Escolas Públicas Estaduais do Sul de Santa Catarina (1953-1970). Criciúma; Santa Catarina: UNESC, 2012. Disponível em: http://periodicos.unesc.net/index. Acesso em 08 de set. 2013.

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SOUZA, Rosa Fátima de. Ressonâncias da Escola Nova no Ensino Pri-mário Paulista. Congresso Brasileiro de História da Educação. 5. Anais... Aracaju; Sergipe: UFS, 2008.

WANDERBROOK JUNIOR, Durval; BOARINI, Maria Lúcia. Educação Higienista, Contenção Social: a estratégia da Liga Brasileira de Hygiene Mental na criação de uma educação sob medida. 7. Anais... Jornada do HISTEDBR. 2007.

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Figura 9 – Marco Divisório (Porto União - SC/ União da Vitória - PR), localizado na Praça do Contestado. Mosaico de Luiz Fernando Tracz

Fonte: http://www.vvale.com.br/geral/marco-divisorio-e-o-novo-atrativo-da-praca-do-contestado/

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213Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

PORTO UNIÃO (SC): PARA ALÉM DO ACORDO DE LIMITES (1916), UMA QUESTÃO

DE IDENTIDADE TERRITORIAL

Soeli Regina Lima 1

Eloy Tonon2

RESUMO: O presente artigo aborda a importância dos limites como defi nidores não somente do espaço físico, mas também de identidades territoriais. Para tal, apresentam-se concepções de propriedade, território e desterritorialização. Rea-liza-se uma incursão histórica no processo que gerou o Acordo de Limites do Contestado (1916), gerando, nesse contexto, o surgimento do município de Porto União (SC). O estudo refl ete alguns aspectos de produção da identidade territorial.

PALAVRAS-CHAVE: Questão de Limites. Território. Porto União.

INTRODUÇÃO

O município de Porto União (SC) comemora o seu centenário de fundação no ano de 2017. Junto às festividades alusivas à data, cabe repen-sar o seu nascedouro enquanto jurisdição catarinense. As raízes históricas, de ocupação territorial, estão atreladas ao contexto paranaense a partir da segunda metade do século XIX, quando ainda era denominado de Porto União da Vitória. Quando da assinatura do Acordo de Limites, no ano de 1916, são defi nidos novos limites entre os estados do Paraná e Santa Ca-tarina. Inicia-se, nesta fase, o processo de desterritorialização das relações político-territoriais até então estabelecidas. Marcos, delimitadores do es-paço geográfi co, são eregidos. A população local, no passar dos anos, vai produzindo uma identidade peculiar, adaptando o seu cotidiano vivido aos novos moldes de administração intermunicipal e interestadual. A força da

1 Mestre em Geografi a (UFPR); Especialista em História (UNESPAR); Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI), cadeira nº 2, patrono Dirceu Marés de Souza. Membro da Academia de Letras do Brasil – Canoinhas (SC); Docente da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected] Doutor em Historia Social (UFF); Mestre em História (UNESP); Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI), cadeira nº 7, patrono Frederecindo Marés de Souza. Docente da UNESPAR, campus de União da Vitória. E-mail: [email protected].

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214 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

tradição acaba por reterritorializar o espaço nos aspectos socioculturais e político-econômicos. Neste processo surgem as “Gêmeas do Iguaçu”, Porto União (SC) e União da Vitória (PR).

ESTA TERRA É MINHA TERRA: DA PROPRIEDADE PRIVADA E SUAS RELAÇÕES CULTURAIS

A defi nição espacial é uma necessidade não apenas humana. Os animais também demarcaram sua área de atuação de forma instintiva. Critérios por eles adotados são respeitados como questão de segurança e sobrevivência. Quando há interferência humana nesse processo ocorre o desequilíbrio com aumento ou mesmo extinção de espécies.

No caso humano, com a sua sedentarização, nas sociedades agrí-colas do período neolítico, entre 8.000 a 4.000 anos atrás, esses passaram a defi nir seu espaço por diferentes concepções de acordo com a cultura vigente. Para alguns povos, na sua formação histórica, como os antigos ger-manos, uma parte da raça semítica e entre alguns povos eslavos, a terra não era propriedade de ninguém, cada ano, a tribo indicava a cada um dos seus membros um lote para cultivo, sendo trocado no ano seguinte. Os tártaros admitiam a propriedade privada quando se tratava dos rebanhos e não o concebiam ao tratar-se do solo (COULANGES, 1975).

No caso grego e italiano a apropriação do solo foi, desde os tempos mais remotos, concebida como propriedade privada. Para esses povos a re-ligião doméstica, a família e o direito de propriedade estavam imbricados entre si e direcionavam a vida em comunidade, “a ideia de propriedade privada fazia parte da própria religião” (COULANGES, 1975, p. 50).

Esta última citação é defi nidora da relação humana com o espaço em que estavam inseridos. Cada família edifi cava, na sua propriedade, al-tares de devoção aos deuses e espaços para o enterro dos mortos. Era o lar tomando posse do solo, sendo defi nidor da propriedade. A prática de cons-truir moradias era uma forma de expressar que as gerações futuras pode-riam suceder na propriedade. Percebe-se que a religião fi xava o homem ao solo e, este não mais pensava em abandoná-lo. Em relação aos túmulos dos mortos, ao fi xá-los na propriedade estabelecia-se um vinculo indissolúvel com a mesma. Dessa forma, a princípio não eram as leis, mas sim a religião, que defi nia os direitos.

Cabe ressaltar que uma vez estabelecido os limites, pelos ritos da religião doméstica, não cabia ao homem violá-lo. Era o apego ao solo como

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215Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

símbolo do sagrado, de pertencimento a linhagens. A herança foi instituí-da como garantia de perpetuação do direito à propriedade privada. Platão (s/d) deixou sobre a questão o seguinte registro:

Que haja, em primeiro lugar, um código de leis que chama-remos de código agrícola. A primeira das leis deste código, aquela consagrada a Zeus, o protetor das demarcações, será assim formulada: ninguém alterará demarcações de terra, sejam estas pertencentes a um vizinho que é cidadão local ou pertencente a um estrangeiro [em caso de posse de terra em território fronteiriço (entre dois Estados)], entendendo que fazê-lo é verdadeiramente inculpar-se de estar movendo um marco sacrossanto; é preferível que alguém tente mover a maior das rochas que não é a demarcação do que uma peque-na pedra que serve de demarcação por sansão divina entre território amistoso e hostil, pois de um lado Zeus é testemu-nha e protetor daqueles que pertencem à mesma tribo e de outro Zeus é testemunha e protetor dos estrangeiros; desper-tar um ou outro desses deuses signifi ca atrair guerras letais (PLATÃO, s/d. p. 344).

Na citação acima é possível perceber o caráter divino interligado as leis terrenas. Neste contexto, é interessante registrar que, em Esparta, se proibia a venda de terras3 com punições prescritas em leis.

Na fase em que se constitui o Direito Romano, com a Lei das Doze Tábuas4, já era permitida a venda de propriedades, dividindo-as, caso hou-vesse muitos irmãos, respeitando-se a princípio o caráter religioso do ato, através de uma cerimônia, que selava a mudança de proprietários. Assim como as leis passaram a ser prescrita pelos homens, separando-as do direi-

3 A mesma interdição estava escrita nas leis de Locres e de Leucádio. Fídon de Corinto, legislador do século IX, ordenou que o número de famílias e de propriedades se mantivesse imutável. Mas esta prescrição só podia ser observada interdizendo-se a todas as famílias a venda de suas terras ou mesmo a sua divisão. A lei de Sólon, posterior sete ou oito gerações à de Fídon de Corinto, já não proíbe ao homem vender a sua propriedade, mas aplica, ao seu vendedor, severa pena: a perda dos seus direitos de cidadão (COULANGES, 1975, p. 56).4 A Lei das Doze Tábuas (Lex Duodecim Tabularum ou simplesmente Duodecim Tabulae, em latim) constituía uma antiga legislação que está na origem do Direito romano. Formava o cerne da constituição da República Romana e do mos maiorum (antigas leis não escritas e regras de conduta).

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216 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

to divino, da mesma forma a concepção de propriedade foi sendo alterada. “[...] a lei, que anteriormente era parte da religião e, por conseguinte, pa-trimônio das famílias sagradas, tornou-se propriedade comum de todos os cidadãos” (COULANGES, 1975, p.,247).

Avançando no tempo encontra-se a fase do feudalismo,5 onde suse-ranos distribuíam suas terras aos vassalos. Por meio de uma cerimônia so-lene, jurava-se fi delidade a um senhor. Prática esta disseminada no passado pelos germânicos. Por esse juramente era selado um compromisso militar de proteção a ambas as partes: suseranos e vassalos. O descumprimento poderia gerar a perda do feudo (PERRY, 1999). A base do compromisso estava da propriedade, ou seja, no uso comum das terras. Numa determi-nada área convivia, entre obrigações a ser cumpridas, o espaço da moradia, do lazer, do trabalho e da religião. A situação poderia tornar-se complexa e confl ituosa.

Com a evolução do feudalismo, surgem os reis que passaram a con-centrar poderes, controlando reinos, avançando em conquistas militares6, disputando novas terras e poderes dinásticos. Fronteiras foram sendo defi -nidas e redefi nidas num constante campo de batalhas.

Outro fator que merece destaque, na mudança de concepção da propriedade privada em relação ao cidadão e ao Estado, diz respeito à po-lítica de cercamento, do século XVIII. Ela consistia na transformação das terras comuns, provenientes da antiga relação feudo-vassálica, em proprie-dade privada. Esse processo ocorreu em grande parte da Europa. Rosseau (2001) tratou da questão afi rmando que a instituição da propriedade pri-vada foi o divisor de águas marcando a formação da sociedade civil, cujas características básicas são a dominação, dando origem às desigualdades. Rousseau no Contrato Social apresenta uma proposta de administração le-gítima, capaz de restabelecer a ordem e assegurar a igualdade e a liberdade, por consequência restaurar no convívio social a dignidade humana. Assim, quando Rousseau trata de liberdade civil e igualdade de direitos, na vida

5 “Do ponto de vista social, o feudalismo se caracterizou pelas relações de vassalagem e servidão. Ou seja, independentemente de sua condição jurídica, o homem medieval, cavaleiro ou camponês, estava submetido à dependência pessoal, à subordinação de outro indivíduo” (SILVA, 2009, p. 152). 6 Como exemplo, podemos citar: “Guerra dos Cem Anos,” um evento que marcou o processo de formação das monarquias nacionais inglesas e francesas (1337 a 1453); “Guerra das Duas Rosas,” uma guerra civil ocorrida na Inglaterra entre os anos de 1455 e 1485.

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217Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

social, ele está opondo-se ao estado de dominação que surge com a institui-ção da propriedade como riqueza e poder.

Com a Revolução Francesa7 (1789), Americana (1786) e Industrial:

O Estado já não era apenas um território ou federação de províncias; não era apenas a posse privada de reis que se di-riam delegados de Deus na Terra. De acordo com a nova con-cepção, o Estado pertencia ao povo como um todo e o indi-viduo, antes súdito, era agora cidadão com direitos e deveres, governado por leis que não estabeleciam distinções baseadas na ascendência (PERRY, 1999, p. 348).

A revolução industrial8 colocou no cerne do poderio governamen-tal a necessidade de conquista de novos espaços territoriais. As grandes guerras (1ª e 2ª Guerra Mundial), os confl itos da colonização e descoloni-zação da África e da Ásia, são frutos desta disputa.

Não se pode deixar de registrar o nacionalismo como caráter sa-grado da nação, de pertencimento a determinado espaço geográfi co. “Tal como uma religião, o nacionalismo dá ao indivíduo um senso de comunidade e uma causa digna de auto-sacrifício. A identifi cação com as realizações coletivas da nação exalta os sentimentos de valor pessoal” (PERRY, 1991, p. 388).

Essa incursão histórica leva a compreensão das origens do apego à propriedade, dos vínculos com o local em que se reside, entendendo a defesa da ideia de nação como pátria mãe, protetora, e ao mesmo tempo digna de defesa dos ataques externos

Percebe-se que a questão de limites territoriais assume, na vida humana, muito mais do que uma demarcação espacial. Ela atua de forma direta no cotidiano, nos direitos fundamentais. Trocar de jurisdição muni-cipal, estadual e nacional é uma escolha que tende a transformar as relações sociais, econômicas, políticas e culturais dos seres humanos.

7 A Revolução Francesa (1789) deu às transformações político-sociais como o liberalismo, a democracia, os direitos de liberdade, igualdade propondo assim, novos valores e instituições. 8 A Revolução Industrial acontecida a partir do século XIX, com o pioneirismo inglês, ultrapassou a esfera da produção e da economia, mudando noções tradicionais de tempo, ritmo e velocidade, fornecendo algumas das bases do mundo contemporâneo.

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DOS LIMITES: TERRITORIALIZAÇÃO, DESTERRITORIALIZAÇAO

Os limites territoriais criam uma construção simbólica em torno da demarcação espacial. Toma-se como referência conceitual a defi nição de espaço na perspectiva da geografi a humanística e cultural, considerando os sentimentos espaciais e as ideias dos sujeitos sobre o espaço a partir da experiência, diríamos do espaço vivido (TUAM, 1979).

Segundo Rede (2007):

Trata-se de uma relação construída culturalmente. Deste ponto de vista, a natureza não existe como um conjunto de traços prévios à sociedade. É a sociedade que, apropriando--se da natureza, acaba por modelar uma natureza historica-mente delimitada no espaço e no tempo, segundo critérios específi cos, em processo que só pode ser entendido a partir dos componentes próprios à própria sociedade (REDE, 2007, p. 19).

O espaço vivido das sociedades primitivas é valorizado em razão das crenças que conferem especifi cidades a cada parte do espaço, ou seja, é marcado por uma afetividade maior que nas sociedades industriais (COR-REA, 1995). Cita-se o caso dos nativos americanos onde a terra está inti-mamente ligada aos seus povos, como direito natural concedido por deu-ses para mantê-los vivos e em continua perpetuação. Perder o território é perder a identidade. Nas palavras do índio Colar de Lobo (apud BROWN, 2010, p. 281): “não quero deixar nunca este território; todos os meus pa-rentes jazem aqui no solo e, quando eu me despedaçar; irei me despedaçar aqui”.

Segundo Souza (1995), esse território, idealizado pelo índio Colar de Lobo, constitui-se como:

[...] um espaço concreto em si (com seus atributos naturais e socialmente construídos) que é apropriado, ocupado por um grupo social. A ocupação do território é vista como algo gerador de raízes e identidades: um grupo não pode mais ser compreendido sem o seu território, no sentido de que a iden-tidade sócio-cultural das pessoas estaria inarredavelmente li-gada aos atributos do espaço concreto, natureza, patrimônio arquitetônico, “paisagem” (SOUZA, 1995, p. 84).

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Dessa forma, Souza (1995) acrescenta:

Os limites do território não seriam, é bem verdade, imutá-veis - pois as fronteiras podem ser alteradas, comumente pela força bruta-, mas cada espaço seria, enquanto território, ter-ritório durante todo o tempo, pois apenas a durabilidade po-deria, é claro, ser geradora de identidade sócio-espacial, iden-tidade na verdade não apenas com o espaço físico, concreto, mas com o território e, por tabela, com o poder controlador deste território (SOUZA, 1995, p. 84).

Voltando ao caso dos nativos americanos, a perda do território, para o europeu colonizador, era como estar fadado ao extermínio, era estar derrotado antes mesmo da batalha fi nal. De acordo com Cochise, dos Apa-ches Chiricahuas (apud Brown, 2010):

Quando eu era jovem, andava por esse território, pelo leste e oeste, e nunca vi outro povo além dos apaches. Depois de muitos verões, andei novamente por ele encontrei outra raça de pessoas, que viera para tomá-lo. Como é isso? É por isso que os apaches esperam morrer - e não dão mais importân-cia para suas vidas? Percorrem as montanhas e planícies e querem que o céu desabe sobre eles. Os apaches eram outro-ra uma grande nação; agora são poucos e por isso querem morrer e não se importam com suas vidas (BROWN, 2010, p. 203).

Trazendo a questão para os índios da região catarinense, observa--se na pesquisa de Anelise Nacke (2007) que a concepção do território não difere dos nativos da América do Norte. Quando da demarcação de suas terras eles procuravam suas raízes diante do fato que: “a concepção Kai-gang de território ultrapassa evidentemente as fronteiras das terras a elas destinadas pelo Estado brasileiro. Estão incluídos, neste território, os locais onde estão enterrados os seus antepassados e os seus ´umbigos,´ e onde pretendem enterrar suas “cabeças” (NACKE, 2007, p. 38).

Assim sendo, constata-se que a natureza era defi nidora dos limi-tes. Nos aspectos da relação do homem com a natureza, na passagem da construção cultural indígena de limites para a construção política: “ela per-mite não ver a natureza como um elemento passivo da equação, mas como suporte e condutor, matéria por meio do qual as relações sociais operam”

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(REDE, 2007, p. 19). Dito de outra forma, as relações socioculturais são defi nidoras do território, onde “o território é fundamentalmente um espaço defi nido e delimitado por e a partir de relações de poder” (SOUZA, 1995, p. 78).

A defi nição do território como apropriação espacial é composta de práticas e representações. “A noção de apropriação não somente é mais larga do que a da propriedade, no sentido jurídico, como também permite evitar algumas aporias resultantes da aplicação desta última às sociedades que se situam à margem da tradição do direito romano (REDE, 2007, p. 20).

Seguindo essa linha de pensamento, o espaço demarcado passa a ser percebido como “um elemento privilegiado, pois todo processo de apropriação desenrola-se a partir de uma referencia espacial (REDE, 2007, p. 21). Ela é materializada em torno dos marcos, que são erigidos, como forma de representação do poder atuante sobre os ocupantes deste espaço. Dito de outra forma “O limite territorial cristaliza na superfície terrestre um código que indica uma divisão, instrui aos que transitam naquela área uma dada forma de se interagir com aquele pedaço de terra” (EVANGELIS-TA, 1998).

Os limites podem ser defi nidos por linhas imaginárias na super-fície da terra concebida por um acidente no terreno, uma particularida-de da geografi a física ou uma convenção de recurso cartográfi co. Linha de superfície esta, que compreende diferentes signifi cados de acordo com a evolução de uma dada sociedade ou grupo humano, num determinado pe-ríodo histórico. Esses agentes que contribuem para a delimitação territorial atuam de acordo com suas relações de poder, visto que “o limite cristalizado se torna então ideológico, pois justifi ca territorialmente as relações de po-der” (RAFFESTIN, 1993, p. 165).

O marco passa a ser a representação, a simbologia do ato de perten-cimento daquele espaço. Esta simbologia está nas palavras nele gravadas, na sua forma ou simplesmente no local escolhido para sua colocação. O ato de colocar um marco é cercado de um cerimonial, com os devidos regis-tros, como forma de produção da memória, de pertencimento do território ali constituído.

Para além do marco ofi cial, as placas indicativas exercem a função do recordar, orientar os cidadãos de onde estão, ou seja, a partir destes limi-tes você está subordinado às regras de conduta desta jurisdição. Ou ainda, a partir deste ponto você faz parte de um novo território com característi-cas culturais, econômicas e sociais próprias. Outra forma de materialização

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dos limites territoriais está representada nos monumentos e portais. São sinais de pertencimento cultural, de espaço vivido. Tempo e espaço de um povo, revelados na simbologia monumental.

A existência de limites envolve o estabelecimento de regras a serem seguidas. “A função legal delimita uma área no interior da qual prevalece um conjunto de instituições jurídicas e normas que regulamentam a exis-tência e as atividades de uma sociedade política” (RAFFESTIN, 1993, p. 168). Os limites fazem parte do processo socioeconômico, político e cul-tural. Eles são vividos e consumidos e assim, formando territorialidades.

Ao passar pelas fronteiras vive-se a experiência do novo, daí o de-sejo do registro fotográfi co. É salvar na memória e mostrar para os demais que se está disposto a compartilhar da identidade de um povo, da capacida-de de num mesmo espaço estar dividido em duas realidades, ou mais, como é o caso de Porto União (SC) e União da Vitória (PR), ou ainda, da Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Uruguai, localizada na cidade de Foz do Iguaçu (PR).

DO ACORDO DE LIMITES (1916)

A questão de limites na região do Contestado vem de longa traje-tória. Para uma compreensão plausível, é indispensável revisitar parte do processo histórico do litígio judicial e político, entre os estados de Santa Catarina e Paraná9, os dois pretendentes ao domínio do vasto território, denominado assim - Contestado. A denominação deriva das demandas de contestações contínuas, entre as duas Províncias.

Além da disputa territorial da área do Contestado, entre os dois es-tados, a Argentina vinha pretendendo apossar-se de vasto território, com-preendia um espaço geográfi co abarcando o Oeste catarinense e o Sudoes-te paranaense. A defesa brasileira deu-se por intermédio do Barão do Rio Branco10. O governo brasileiro propôs ao país vizinho uma mediação dos Estados Unidos quanto à pretensão do referido território. Foi aceita, ten-

9 Sobre a questão ver: MAFRA, Manoel da Silva. Exposição Histórico-Jurídica por parte do Estado de Santa Catharina sobre a Questão de Limites com o Estado do Paraná. Florianópolis; Santa Catarina: IOESC, 2002. 10Nilson Th omé (1993) apresenta o confl ito diplomático internacional do seu início ao desfecho fi nal, revelando passo a passo a construção da defesa, com os argumentos documentais usados pelo Barão do Rio Branco para garantir a soberania brasileira.

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do uma comissão estadunidense visitado a região, consultado os acordos coloniais entre portugueses e espanhóis, ouvido a população, constituída basicamente de sertanejos, descendentes de portugueses, índios Xoklengs e Kaingangs e alguns imigrantes.

A comissão apresentou o veredito ao Presidente dos Estados Uni-dos, Grower Cleveland. Ele emitiu parecer favorável à nação brasileira, sobre o direito de vasta área lindeira do Oeste catarinense e Sudoeste pa-ranaense no ano de 1895. A Argentina acatou, mas não se conformou, ameaçando inclusive invadir a área pretendida. Tais ameaças despertaram muitos temores, nas oligarquias republicanas brasileiras. Vale frisar que a nação Argentina, era militarmente muito mais forte, comparativamen-te com o Exército brasileiro, enfraquecido com os embates da Revolução Federalista.

As oligarquias republicanas, diante de tal ameaça, cometem cons-troem uma ferrovia, atravessando o território do Contestado com o obje-tivo de deslocar tropas em caso de uma invasão argentina. Outro objetivo da ferrovia era de trazer o progresso à região, com o estabelecimento do capital transnacional e a chegada de imigrantes. É possível citar dois gran-des equívocos na construção da ferrovia: os trilhos com bitola 30 cm (os argentinos eram 40 cm) e o percurso ligava nada a lugar nenhum. A fer-rovia foi obsoleta desde a sua construção, a bitola estreita, a sinuosidade, a falta de carga. Verifi cando os dados existentes encontra-se, em 1915, a informação “superavitária”, quando do transporte de tropas do Exército para combater os sertanejos na guerra do Contestado. A ferrovia contribui na destruição da maior riqueza da região, as densas matas de araucárias e outras madeiras nobres. O fator positivo foi a ocupação do vale do Rio do Peixe, o surgimento de várias vilas de imigrantes colonizadores de origem européia.

A contenda, entre os estados de Santa Catarina e Paraná, iniciou no ano de 1767, quando o governo provincial paulista fundou a vila de Lages, área que os catarinenses consideravam lhes pertencer. Tropeiros paulistas fundaram a vila de Lages, situada no caminho de passagem de muares e bovinos de Viamão a Sorocaba. Os paulistas tropeiros fundam a vila de Palmas, denominada inicialmente, vila dos butiazeiros. Em 1820 a vila de Lages, transferida da Capitania de São Paulo, foi incorporada à Santa Ca-tarina. Uma incorporação não ofi cial, sacramentada somente no ano de 1838, com o desmembramento e criação da Província de Santa Catarina. De acordo com Paulo Pinheiro Machado (2004), o único caminho que liga-

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va Lages a capital catarinense era a estrada Lages - Laguna, uma picada de descida da serra, por onde transitavam cargueiros de mulas, em travessias, que quando em bom tempo, eram realizadas em dez dias.

O desmembramento e criação da Província de Santa Catarina, no ano de 1838, associado ao processo de demarcação geográfi ca de limites, suscitam o início das demandas paranaenses. No ano de 1853, desmembra-da de São Paulo, emerge a Província do Paraná, pela Lei Imperial nº. 704 de 29/08/1853. Esta Lei teve como base os limites estabelecidos no período em que o Paraná ainda era Comarca de São Paulo. No caso catarinense, ele já havia sido desmembrado de São Paulo em 11/08/1738, sendo que não teve, desde a sua criação, os limites bem delineados. Para os paranaenses, a nova província limitava-se ao Sul, com a Província de São Pedro do Rio Grande, até os rios Pelotas e Uruguai. Para os catarinenses, o Paraná fi ndava nos rios, Negro e Iguaçu.

O Paraná, após ser elevado a categoria de província, diante da in-defi nição nos limites do termo municipal de Lages, somado a ocupação dos campos de Palmas e do Iguaçu por paulistas, passou a reivindicar esta área. Usou como argumento o uti possidetis, ou seja, a ocupação e colonização de fato. O argumento baseou-se nesse princípio, pois através dele o Brasil havia garantido a soberania sobre muitos territórios, na questão de limites com outros países, desde o Tratado de Madri (1759).

A demanda política, entre as duas províncias se prolonga, do ano de 1853, até o fi nal do período imperial, sem uma decisão política consen-sual. No entremeio das demandas políticas, a região, ocupada por paulis-tas, gaúchos, partilhava com os indígenas botocudos, Xokleg e coroados, Kaingang, além de um crescente aporte de imigrantes, alemães, poloneses, ucranianos e italianos. No ano de 1889, advento do período republicano, renasce a esperança de uma solução jurídica para o litígio. A primeira Constituição republicana de 1891 preconizava, as disputas envolvendo de-mandas de limites devem ser equacionadas politicamente.

Hercílio Luz, governador de Santa Catarina em 1894, contratou o advogado Manoel da Silva Mafra (Conselheiro Mafra) para defendê-lo judicialmente. Outro nome a ser registrado foi o de José Arthur Boiteux. Ele foi até Portugal analisar documentos do período colonial no Arqui-vo Ultramarino que confi rmavam o direito de Santa Catarina sobre a área contestada. O Estado de Santa Catarina toma a iniciativa, move uma ação judicial junto ao Supremo Tribunal Federal. O referido estado usou como argumentos o documento de criação do governo militar de Santa Catarina

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(1738) e do alvará real de criação da Ouvidoria de Santa Catarina (1749), que demarcava sua jurisdição nos limites, ao norte-interioriano, dos rios Negro e Iguaçu.

Já o estado do Paraná foi representado por Rui Barbosa, que con-testava as decisões do Supremo. O Paraná, mesmo apresentando sua de-fesa, não impediu uma decisão favorável ao Estado vizinho. O Supremo Tribunal Federal (STF), no ano de 1904, determinou que toda a área ao sul do Rio Iguaçu era catarinense. O Paraná não se contentou, embargou a decisão. O embargo se prolongou, não foi aceito, o STF, no ano de 1909, dá ganho de causa à Santa Catarina. O Paraná interpôs novo embargo, con-tratando o renomado jurista Rui Barbosa para defender seus interesses. O Conselheiro Mafra morreu no decurso do processo, em 1907. Com a sua morte, Epitácio Pessoa, futuro presidente da República assume a defesa da causa. No ano de 1910 foi determinada a demarcação dos limites; tendo o Paraná apelado para uma Lei federal que deveria regulamentar a questão. O acórdão do STF fi cou sem execução.

Os estados disputaram um território ocupado por sertanejos que sobreviviam do extrativismo da erva-mate, da lavoura de subsistência e da criação de animais. Uma das problemáticas enfrentadas pelos moradores da região, em litígio, foi a guerra fi scal entre os estados, no que se refere à comercialização da erva-mate. O estado de Santa Catarina tributava menos que o estado do Paraná. Nos vales do Rio Negro e Iguaçu, se localizava a maior quantidade de ervais nativos. Em certos casos ocorreram confrontos graves que resultaram em incêndios de alguns postos de fi scalização para-naense, nas regiões de Rio Negro e Canoinhas.

Outro problema era a presença do poder oligárquico, onde de um lado, alguns aproveitaram da situação de indefi nição litigiosa, passando a fazer concessões e vendas de terras às empresas estrangeiras para explo-ração da madeira. De outro lado os pequenos produtores e processadores de erva-mate instalaram-se nessas áreas para evitarem o pagamento dos impostos estaduais. A guerra do Contestado (1912-1916), envolvendo ser-tanejos rebelados contra a ordem vigente, as quais estavam submetidas, somado as ações de vaqueanos e a presença de forças ofi ciais no território confl agrado geravam temor e insegurança aos moradores da região.

Paralelamente ao confl ito armado, o governo paranaense investiu em propagandas e organizou, nos municípios contestados, Comitês de li-mites, que atuaram sob tutela do Comitê Central de Limites, sediado em Curitiba, comandado por Romário Martins.

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225Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

Diante do processo de indefi nição de fronteiras, as lideranças mu-nicipais manifestam-se ora apoiando um estado, ora outro. Como exemplo, Dídio Augusto11, eleito prefeito do município paranaense de Três Barras no ano de 1914. Ele defendeu arduamente a causa paranaense enviando tele-gramas, aos municípios da região contestada, pedindo que se unissem em favor do Paraná, como se pode conferir numa publicação do Jornal Correio do Paraná, em 05/10/1916:

Trez Barras - 04 - Aos prefeitos de Rio Negro, Timbó, União da Vitória, Clevelândia, Itayópolis e Palmas, passei hoje o se-guinte telegrama: ‘O nefando crime está consumado. A alma paranaense se contorce em convulsões de acerba dor. A nos-sa dignidade de povo altivo está ofendida. O nosso direito, postergado. Fomos transacionados como rezes com a aquies-cência covarde de nossa representação federal. O nosso patri-mônio degenerou em fazenda do governo – E que governo? O mesmo que todos julgaram que seria o baluarte do nosso direito e o defensor das nossas tradições. O que deveria fa-zer? Reunir para reagir. É o apelo que faço em nome do Pa-raná querido e do vosso nunca desmentido patriotismo. Para a vida ou para a morte, aqui me encontrareis fi rme, como elemento de que possa dispor. Viva o Paraná íntegro. Abai-xo o acordo de limites indigno. Ass. Dídio Augusto, prefeito (JORNAL CORREIO DO PARANÁ, 1916).

O telegrama repercutiu na imprensa paranaense, sendo no Jornal Diário dos Campos, em 06/10/1916, assim registrada a sua ação:

Prefeito de Três Barras convida os colegas do Contestado a reagirem contra o acordo. Coritiba, 5 - (R) Tem sido muito admirada, nesta capital, o apello do Sr. Dídio Augusto, poeta e escriptor e prefeito de 3 Barras, convidando os seus colle-gas do contestado a reagirem contra o accordo na questão de limites Paraná – Santa Catharina (JORNAL DIÁRIO DOS CAMPOS, 1916).

11 Sobre Dídio Augusto na questão de limites ver: LIMA, Soeli Regina. Acordo de limites no Contestado: uma questão de memória histórica. In: Revista História Catarina, Lages; Santa Catarina: 7 de jul. 2010. p. 46 – 51.

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Didío Augusto passou, ainda, um telegrama com mais de 80 pala-vras ao senador Rui Barbosa, expondo a situação e pedindo auxílio. Esse foi publicado no Jornal Correio do Paraná sob o título de “Socorro”, em 26/06/1917. Em resposta, Rui Barbosa assim lhe escreveu, em telegrama:

Assinei acordo, quando feito, supondo concordas nele as partes interessadas. Depois verifi quei lhe falta consenso populações território transferido. Condição principal. Sou lhe pois contrário, mas minha opinião na política brasileira não vale mais nem no Senado conta meu voto. Ruy Barbosa, 24/06/1917 (JORNAL CORREIO DO PARANÁ, 1917).

Por fi m, através do Acordo de Limites de 20/11/1916, assinado12 entre os dois estados. Santa Catarina fi cou com 28.0000 km² e o Paraná com 20.000 km², ou seja, para Santa Catarina a faixa Norte do Contestado, tendo os rios Negro e Iguaçu (até União da Vitória) como divisa entre os es-tados; a faixa Oeste, de União da Vitória, a fronteira Argentina, foi dividida entre os estados. O município de Rio Negro (PR) foi desmembrado dando origem a Mafra (SC); Três Barras, Papanduva e Itaiópolis passaram para Santa Catarina, bem como os vales do Timbó e Paciência. O município de União da Vitória (PR) fi cou dividido pelo leito da estrada de ferro, dando origem a Porto União (SC). Os municípios de Palmas e Clevelândia foram divididos, surgindo ao Sul da região Oeste Chapecó (SC).

ESTADO DAS MISSÕES

Para a oligarquia regional paranaense, diante da questão de limites, a solução possível estava em construir novas relações de poder, constituin-do um estado novo.

O processo iniciou no dia 1° de janeiro 1910, quando um grupo composto por políticos, coronéis, militares, juristas paranaenses e catari-

12 “Assinaram o Acordo: Felippe Schmidt, Aff onso Alves de Camargo, Urbano Santos da Costa Araújo, Antonio Azeredo, Herminio Francisco do Espírito Santo, João Vespúcio de Abreu e Silva, Francisco de Paula Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, J. L. Coelho e Campos, J. X. Guimarães Natal, André Cavalcanti de Albuquerque, pelo presidente do Rio Grane do Sul, Victorino Monteiro, João Pandiá Callogeras, Alexandrino Faria de Alencar, José Caetano de Faria, Carlos Maximiliano, Tavares de Lyra, Lauro Muller. Seguem-se mais cento e sessenta e três assinaturas de homens notáveis dos dois estados” (ALBUQUERQUE, 1987, p. 37).

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nenses, sob a liderança do Coronel Amazonas Marcondes agrupam-se e decidem criar o estado das Missões.

Após a proclamação do novo estado, enviam telegramas às oli-garquias republicanas federais e estaduais. Fundamentam o ato político arguindo premissas basilares: equacionar os questionamentos e delongas jurídicas e políticas prolongadas, os litígios entre proprietários das áreas lindeiras, duplicidade de concessões de títulos de terras, a instabilidade de segurança na região, as diferentes tributações nas fronteiras, ainda, o des-contentamento com o governo da União no tangente à concessão de terras à Lumber. Tendo representantes de vários municípios, assim constitui-se uma Junta Governativa Junta Governativa composta por: Dr. Bernardo Viana e o Coronel Domingos Soares, pelo município de Palmas; José Jú-lio Cleto da Silva, pelo município de Clevelândia; Major Pedro Alexandre Franklin, pelo município de Rio Negro (SILVA, 2006).

Os limites apresentados correspondiam à totalidade do território do Contestado, área maior que, Bélgica, Holanda, ou dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Alagoas ou Sergipe.

O movimento constituinte do Estado das Missões se corporifi ca, obtém o apoio de fazendeiros, comerciantes e da população dos estados fronteiriços. A população da região vivia em constantes sobressaltos. Uma diversidade de confl itos agitava a região, contaminando os segmentos so-ciais, carentes e decididos a contribuir para alcançar defi nitivamente uma solução pacífi ca. Surgem iniciativas de apaziguamento, a primeira do Go-verno do Paraná.

A Junta Governativa do Estado das Missões considerou um avanço após as tentativas. Conclusos os debates fi rmou-se um pacto com os repre-sentantes do governo republicano, que consistia em compromisso com o se-guinte preâmbulo: “O Comitê de Limites, empresta todo o seu apoio à Junta Governativa (em sessão permanente em Porto União da Vitória), na hipótese de ter o Supremo Tribunal Federal contrário aos direitos que o Paraná julgava ter sobre toda a zona do chamado “CONTESTADO” (SILVA, 2006, p. 98).

A subscrição do pacto reacende e alimenta a esperança da criação do novo estado, tendo como capital a cidade de Porto União da Vitória. A futura capital das missões, emancipada no ano de 1890, principal centro econômico do Sul paranaense e Norte catarinense contava com aproxima-damente 2.500 habitantes.

A motivação das lideranças políticas e da elite intelectual da cidade se materializa, com o “Semanário Missões”. Fundado em 18 de junho de

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1910, teve como primeiro diretor Djalma Coelho, atuando até a edição de número 07, quando assumiu Cleto da Silva até o ano de 1917. O semanário defendia a causa da criação do Estado das Missões.

Além do hino, no ano de 1914, foi redigido em Porto Alegre, um esboço de constituição 13. A Junta Governativa, apoiada pela população da região aguardava o desfecho desfavorável entre os dois estados, única pos-sibilidade de efetivar a criação do Estado das Missões. Eles se deram por vencidos após a assinatura do Acordo de Limites de 20/11/2016. Manti-veram o a luta e empenho na criação do novo estado. O então deputado estadual José Júlio Cleto da Silva apresentou na Assembléia Legislativa do Paraná, um Projeto de Lei, na data de 5 de dezembro de 1916, no momento em que a demarcação estava sendo processada. O Projeto preconizava o desmembramento do antigo Contestado. Houve a intervenção do Governo da União objetivando acalmar os ânimos cívicos, e a movimentação esmo-receu em defi nitivo.

PORTO UNIÃO DA VITÓRIA: DO ACORDO DE LIMITES ÀS “GÊMEAS DO IGUAÇU”

Porto União tem suas origens vinculadas ao estado paranaense. Do ano de 1890 a 1917, Porto União e União da Vitória constituíam uma única unidade administrativa. No século XVIII expedições fl uviais já passavam pelo rio Iguaçu. Assim sua primeira ocupação esteve atrelada aos fatores ambientais. Os primeiros agrupamentos humanos estiveram ligados a ocu-pação dos Campos de Palmas, a criação de gado naquela região, somada a abertura de novos caminhos para escoamento da produção. Pousos e resi-dências, ligadas a esse comércio, foram dando forma a vila que atendia a passagem dos tropeiros. O pequeno vilarejo evoluiu do canoeiro à nave-gação a vapor, em 1882, pela ação do empreendedor Coronel Amazonas de Araújo Marcondes. O nome de Porto da União foi alterado para Porto União da Vitória em 1855, Freguesia de União da Vitória em 1877, vila de União da Vitória em 27 de março de 1890, permanecendo até o Acordo de Limites de 1916 que acabou por dividir o território dando origem as “Gê-meas” do Iguaçu, ou seja, os municípios de União da Vitória (PR) e Porto União (SC). (GASPARI, 2005).

13 Está transcrita a Constituição do Estado das Missões na obra: MIRANDA, Alcebíades. Contestado. Curitiba: Lítero-Técnica, 1987, p.179-196.

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229Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

Com o Acordo de Limites14 de 20 de novembro de 1916 foram cria-das suas linhas divisórias:15

A partir da ponte metálica da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande, sobre o Rio Iguassú, pelo eixo dessa ponte e da referida Estrada de Ferro, até um marco de primeira ordem, numa extensão de 6.164 metros, a encontrar a estrada de ro-dagem que, de União da Vitória, vai a Palmas, pelo eixo desta estrada até a ponte sobre o Rio D’areia, na mesma estrada, e pelo Rio D´areia abaixo até a sua foz no Rio Iguassú, por este acima até a ponte metálica da Estrada de Ferro, onde princi-piaram as ditas divisas (SILVA, 2006, p. 19).

Em relação aos marcos delimitadores, Melo Júnior (2001) assim explica:

À margem esquerda do rio Iguaçu, sob a ponte da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, foi edifi cado um Marco Divisó-rio entre Paraná e Santa Catarina, que consta de um pilar de seção quadrada, feito de alvenaria de pedra e argamassa de cimento, cal e areia, completamente emboçado, rebocado e caiado, composto de três partes: base, fuste e capitel. Têm de altura três metros e cinco centímetros no total (MELO JÚ-NIOR, 2001, p. 41).

No pilar do marco acha-se inserido, no lado de União da Vitória (PR), na parte superior, uma placa com o dizer “PARANÁ” e, na parte infe-rior, uma placa com a seguinte inscrição (MELO JUNIOR, 2001):

14 Em 03/08/1917 foi homologado o Acordo de Limites e, em setembro de 1917, foram instalados os municípios de Mafra, Cruzeiro e Porto União no estado de Santa Catarina.15 Em 1917, o governo central promoveu a demarcação da divisa, do litoral (ilha de Saí-Guaçu) até Dionísio Cerqueira, na fronteira com a Argentina. O Arquivo Público de Santa Catarina tem um rico material – incluindo mais de 50 mapas – mostrando detalhes topográfi cos, rios e estradas da época. Em 1986, uma equipe da Fundação Catarinense de Cultura fez o mesmo caminho e localizou uma parte dos marcos originais – os demais desapareceram, foram cobertos pelo mato ou depredados.

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Este Marco foi inaugurado no Governo do Dr. Delphin Mo-reira, sendo Ministro da Justiça Dr. Urbano Santos; Presiden-te do Paraná o Dr. Aff onso Camargo; Governador de Santa Catarina, o Dr. Hercílio Luz - 1919, no lado de Porto União (SC). Na parte superior do pilar, uma placa com o dizer “Sta Catharina” e, na parte inferior, outra placa com a seguinte inscrição: “20 de outubro de 1916 - data de assinatura de acordo entre os Estados de Sta. Catharina e Paraná para so-lução da questão de limites, proposta pelo Presidente da Re-pública Dr. Wenceslau Braz (MELO JÚNIOR, 2001, p. 42).

Defi nido os novos limites, entre as jurisdições estaduais, iniciou-

-se a questão de reconstrução da identidade territorial, correspondendo a fase de desterritorialização de Porto União da Vitória e reterritorialização de Porto União (SC) e União da Vitória (PR). A desterritorialização pode ser tratada na dimensão espacial, no sentido de uma destruição física de fronteiras, mas também nos aspectos de ordem de apropriação simbólico--cultural.

Questões de ordem institucional e de infraestrutura 16 precisaram ser defi nidas. Afi nal, as “Gêmeas do Iguaçu”, como fi caram conhecidas as duas cidades, teriam que, num mesmo espaço físico, dividir o que outrora era concebido como unidade e representatividade entre seus moradores era a nova produção espacial urbana17 que emergia após o Acordo de Limites. A produção do espaço envolve concomitantemente desterritorializaçao e reterritorialização (HAESBAERT, 1995).

No que concerne à questão política, em mensagem dirigida ao Congresso Legislativo do Estado do Paraná, o presidente Aff onso Alves de Camargo (01/02/1917) afi rmou que a Questão de Limites estava resolvida

16 Infraestrutura como “o conjunto de obras que constituem os suportes do funcionamento das cidades e que possibilitam o uso urbano do solo, isto é, o conjunto de redes básicas de condução e distribuição: rede viária, água potável, redes de esgotamento, energia elétrica, gás, telefone, entre outras, que viabilizam a mobilidade das pessoas, o abastecimento e a descarga, a dotação de combustíveis básicos, a condução das águas, a drenagem e a retirada dos despejos urbanos”. (DICIONÁRIO DE CONSTRUÇAO CIVIL, 2017). 17 Sobre produção espacial urbana ver: CASTELLS, M. A Questão Urbana. Tradução: Arlene Caetano. São Paulo: Paz e Terra, 1983. (Coleção Pensamento Crítico, v. 48); CARLOS, A F. Os Caminhos da Refl exão sobre a Cidade e o Urbano. São Paulo, Edusp, 1994; LEFEBVRE, H. O Direito à Cidade. (Tradução: T.C. Netto). São Paulo: Documentos, 1969.

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a partir do Acordo de 20/11/1916. Não era registrado perigo de qualquer confl agração, visto que tanto o governo federal, como o estadual estavam procurando atender as solicitações da população, demonstrando as vanta-gens do Acordo com o completo restabelecimento da paz naquela região.

Em outra mensagem ele registra, ainda, as vantagens para o estado do Paraná em aceitar o Acordo de 1916, destacando que o estado já tinha três sentenças em via de execução que lhe tiraram o território Contestado; que se encerrariam as rivalidades entre os dois estados; que o Paraná sal-varia quase a metade do território Contestado por Santa Catarina; que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário colocariam a decisão nas mãos do chefe da Nação, confi ando nos poderes a ele outorgados no cargo que exerce, e por fi m, que a decisão do Supremo Tribunal Federal foi contrária ao Paraná ou por carência dos direitos ou em virtude de um erro judiciário, e não cabia responsabilidade aos que colaboraram com a decisão de 20 de outubro (CAMARGO, 1918).

Para a oligarquia local o seu território fora destituído. A troca de jurisdição estadual colocava em jogo relações coronelísticas, de barganha política eleitoral, ou seja, o clientelismo construído ao longo dos anos que precisaria ser edifi cado. Lembrando que viviam em uma época em que os assuntos municipais, dos mais simples, desde a nomeação de cargos pú-blicos, como da decisão da construção de escolas, pontes, dependiam do contato direto com a capital. A troca da capital Curitiba para Florianópolis afetou as estruturas, não apenas pela distância de 243 Km para 460 Km, como das alianças de dependência na política dos governadores18, estrutu-rada pelo coronelismo vigente19.

Outra problemática, na questão de reterritorializaçao, esteve volta-da para a estrutura fundiária. Pode-se observar o caso da Comarca de Pal-mas, que englobava Clevelândia, e parte do atual Oeste catarinense, onde

18 A política dos governadores foi um sistema político não ofi cial, idealizado e colocado em prática pelo presidente Campos Sales (1898 – 1902), que consistia na troca de favores políticos entre o presidente da República e os governadores dos estados. De acordo com esta política, o presidente da República não interferia nas questões estaduais e, em troca, os governadores davam apoio político ao executivo federal.19 Sobre o coronelismo ver: QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O Coronelismo numa interpretação sociológica. In: FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. Tomo III O Brasil Republicano. LEAL, Victor Nunes. Coronelismo enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1997.

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de 1893 a 1917, em cumprimento as leis fundiárias estaduais, houve apenas um registro no ano de 1902, e no ano de 1917 ocorreu um número exces-sivo de titulações, atingindo 95 títulos expedidos. “As maiores partes das terras estavam situadas na área a ser transferida para Santa Catarina”. Os referidos registros foram realizados nas vésperas da troca de jurisdição es-tadual, nos dias 31 de agosto e 1º de setembro de 1917 (RENK, 2007, p. 28).

Somados a esses fatores surge a questão da perda da identidade territorial, construída aos longos dos anos, que passa a ser abalada. Mesmo residindo no mesmo país, na mesma propriedade, ocorre a perda do sen-timento, de pertencimento. Acontece nos pequenos gestos do assinar uma carta colocando Santa Catarina, ao invés de Paraná, ao substituir na sua defi nição de residência como paranaense, por catarinense, fatos esses que fazem com que a desterritorialização vai acontecendo.

A repetição de uma ideia forma o imaginário coletivo do verda-deiro ou do falso. É o que acontece com as propagandas na sociedade do consumo produzindo mitos da moda, da necessidade do ter. Seguindo essa lógica de racíocino a expressão: “Gêmeas do Iguaçu”, traz a ideia de per-tencimento, uma analogia com a vida familiar. Lembrando que a família pode trocar de residência, cidade, país levando consigo seus valores morais, costumes culturais, ou seja, as transformações de ordem externa ocorrem, mas a força da tradição permanece.

Dessa forma, a reterritorializaçao como “Gêmeas do Iguaçu” vai sendo formada. Com as novas delimitações territoriais, instituídas pelo po-der público, aspectos socioculturais vão sobrevivendo, sendo reelaborados, adequados. Agora, passam a ter no mesmo espaço constituído, dois santos padroeiros para se comemorar festivamente, dois feriados municipais de fundação dos municípios, entre outros. Novos bustos vão sendo erigidos, novos nomes de ruas vão sendo instituídos, construindo a memória cata-rinense para o até então território paranaense. Assim como na família, nos momentos de difi culdades, a união se faz presente, o mesmo ocorre com as “Gêmeas do Iguaçu”. Como exemplo, o caso das enchentes, dos atendi-mentos médicos, bombeiros, policiais, entre outros. A articulação político institucional entre os municípios torna-se a garantia do atendimento aos direitos básicos do cidadão.

O desenvolvimento econômico perpassa o mesmo cenário. Por mais que existam marcos delimitadores entre os municípios, somente numa vi-são integrada do território constituído poderá acontecer o desenvolvimen-to sustentável. Th ierry Linck (2010) ressalta que o desenvolvimento do ter-

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ritório e de seus moradores, parte da ideia que, tanto a aproximação física, como social e cultural, propiciam as apropriações coletivas e consequentes ações. Para ele, pensar o território como patrimônio é uma possibilidade pela sua aproximação conceitual. Seus componentes são interdependen-tes, formam um sistema estruturado por tramas cognitivas compartilhadas e, ainda tem atributos de bens coletivos. “La nocion de territorio despierta emociones y representaciones positivas: en el imaginario del território, dan vida, colores y relieve los valores ciudadanos y la esperanza que mana de la fuerza de la accion organizada” (LINCK, 2010, p. 72). A apropriação do território vinculada ao patrimônio cultural da comunidade está intrinseca-mente ligada às ações coletivas em prol do desenvolvimento local.

Extrapolando a esfera política e a questão cultural, afi rma-se que não há separação, mas uma fl exibilização, onde: o território será um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par de sua complexida-de interna, defi ne, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre “nós” (o grupo, os membros da coletividade ou “comunidade”, os in-siders) e os “outros” (os de fora, os estranhos, os outsiders) (SOUZA, 1995, p. 86). É o que se constata em Porto União, com o passar dos anos a reter-ritorializaçao aconteceu surgindo as “Gêmeas do Iguaçu” com suas marcas edifi cadas na paisagem local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ser humano tem tendência a dar mais atenção ao novo, ao estra-nho, ao diferente em suas vidas. O cotidiano repetitivo obscurece a visão sobre certas realidades naturais, político-econômicas e socioculturais ma-terializados no espaço. Desta forma, os indivíduos são conduzidos a não perceber detalhes, que para outros chamam a atenção, auxiliando ou mes-mo difi cultando a presença naquele local.

Assim, a infl uência da questão de limites territoriais entre Porto União (SC) e União da Vitória (PR), faz parte do cotidiano vivido da popu-lação local; está presente para além dos marcos e monumentos. Ela apre-senta-se como característica da identidade territorial. A infraestrutura está correlacionada com suas fronteiras: interestadual e municipal, criando um diferencial de referência.

Conclui-se que o Acordo de Limites de 1916, para além de defi nir as fronteiras entre os estados de Santa Catarina e Paraná, conduziu a reter-ritorialização do espaço, com as “Gêmeas do Iguaçu”.

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CrônicasCrônicasCrônicas

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HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DA BEIRA DO IGUAÇU DA SÉRIE PEQUENAS CRÔNICAS

Odilon Muncinelli1

SAUDADES 1 - Às vezes sinto saudades da minha Beira do Iguaçu2, mes-mo morando nela há quase setenta e sete anos. Sinto saudades das aulas no Externato Santa Terezinha. Sinto saudades das aulas de sanfona com o Pro-fessor Lozza… e das aulas de bombardino com o Maestro Emilio Taboada Diez. Sinto saudades da antiga Livraria Iguaçu… da Banca do “Guerrinha”, na Praça Hercílio Luz, onde a gente comprava e trocava gibis... da Vila dos Ricos... da Banca da Dona Ivone, entre a Livraria Cleto e a Farmácia Vitória, na Manoel Ribas, hoje Pedro de Siqueira Cortes... Sinto saudades do cam-pinho do Frei Bosco… do Campinho da Maternidade… e do Campinho do Cemitério. Sinto saudades da “Frau” Winckler e da sua loja de brinque-dos… do Chumbita e do Gabriel Nemes e da sua loja de variedades.  Sinto saudades da matiné no Cine Odeon… do frapê na Leiteria Sete… da pipoca boa de canhão do “seo” França, na Praça Hercílio Luz… e da sessão das cin-co no Cine Luz, hoje Cine Teatro Luz. Sinto saudades da lancha Santa Tere-zinha… e dos vapores do Rio Iguaçu. Sinto saudades do trem Bananeiro… do Internacional… do Misto… e das litorinas. Sinto saudades das carroças e dos carroções. Sinto saudades da empadinha do bar do Ferdinando… do bar do Arnoldo… do bar do Izaltino… do Bar Passarinho Seco”... Sinto sau-dades dos refrigerantes do Missau e do Manfroni. Sinto saudades do Café Coimbra… da Alfaiataria DIVA (Departamento de Informações da Vida Alheia)… e dos bons bate-papos... da Sapataria do Pedrão, no prédio do an-tigo Hotel Avenida, onde hoje está o Cine Ópera... e da Casinha do Juca do Tempo, na Praça Nereu Ramos. Sinto saudades do União Esporte Clube… e da Velha Maria. Sinto saudades de todas essas coisas boas e inesquecíveis, que, certamente, muita gente não conheceu.

1 Membro fundador da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. Ocupante da Cadeira nº 18,tendo por Patrono João Farani Mansur Guérios. Membro do Instituto Histórico e Gegráfi co do Paraná, Advogado. Escritor e poeta. Colunista do jornal “O Comércio” na secção “Milho no Monjolo” semanalmente.2 Publicado no Jornal O Comércio, em 19 de outubro de 2012.

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SAUDADES 2 - Mais uma vez estou aqui a relembrar os tempos idos e vivi-dos3. Pois, às vezes, sinto saudades… da lousa e do giz na sacola de pano… do caderno de caligrafi a… do caderno de quadrinhos… do caderno de car-tografi a… da caneta de pena e do tinteiro na carteira da sala de aula… do guarda-pó… do mata-borrão… de comer jabuticaba e guabiroba trepado nas árvores… de jogar bolinha de gude com a piazada na Praça Hercílio Luz… de um bom sorvete da Sorveteria Cunha… de atravessar o túnel da Estação União… de olhar a Maria-Fumaça 235, que “viveu” o Contesta-do… de jogar futebol no campinho do Balneário (Grêmio Esportivo Porto União) e depois nadar e descansar na sua prainha…  de explorar as grutas do Morro da Cruz… (Parabéns ao Dinarte Guedes pelas duas fotografi as, uma antiga, outra mais nova!)…  da Fazenda Bom Sucesso no Palmital do Meio, do Engenho Velho e da boa Rural para ir até lá… de um bom jogo do futebol amador no Estádio Municipal “Mário Fernandes Guedes” em Porto União ou no Estádio Antiocho Pereira, em União da Vitória… Pois é minha gente, às vezes, sinto saudades de todas essas coisas boas e inesque-cíveis, que, certamente, muita gente não conheceu.

CLUBES E SALÕES - No centro das nossas cidades ainda existem o Clube Concórdia, o Clube Aliança e o Clube 25 de Julho, em Porto União. O Clu-be Apolo, o Clube Ucraniano, o Clube Ferroviário (anexo ao Estádio Enéas Muniz de Queiróz) e o Clube Operário na Rua D. Pedro II, que já foi “pras cucuias” (lamentavelmente!), em União da Vitória. Mas, quem ainda se lembra dos clubes e salões dos nossos bairros? Por exemplo: do Clube Santa Rosa, no Bairro Santa Rosa; do Salão Poeira, no Bairro São Pedro, em Porto União. Do Salão do Diogo, no Bairro Navegantes; do Clube Primavera, no Bairro São Bernardo; do Salão Farinha Seca, no Bairro do Rocio, do Boneca do Iguaçu, nas proximidades da Ponte de Ferro, em União da Vitória. Do Clube das Correntes, na Colônia Correntes; do Salão Cotovelo e do Salão Floresta, no Bairro São Cristóvão; do Salão Pau Roliço, nas proximidades da foz do Rio Vermelho; e do Salão Tijolo Quente, nas proximidades das olarias, todos em União da Vitória. Ah, quase esqueci do Estância Gaúcha, ali no antigo Cine Odeon, em Porto União. Pois é, minha gente, esses clubes e salões fi zeram história e ainda contam muitas outras histórias.

3 Publicado no Jornal O Comércio, em 26 de março de 2013.

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TIPOS INESQUECÍVEIS - Vale lembrar algumas ilustres fi guras4, alguns tipos inesquecíveis, como o “Caetano”, o Poeta Andarilho, que fazia pon-to no Bar e Café Coimbra, no Bar e Café Izaltino e na Toca da Onça (do inesquecível Lucas Rodrigues). Autor da frase “A carreira está corrida”, que dizia durante o dia das eleições. Vale lembrar a “Nhá Antônia”, a “guardiã” da antiga Livraria Cleto; o “Chico Cego”, o vendedor de Bilhetes de Loteria; o “Peito de Pomba”, o carregador de volumes na cabeça; o “Laçador” ou o “Nego do Laço”, um velho peão que curtia as suas lembranças; a “Nega Ban-ja”; a “Rosa Sombrinha”; o “Velho Major”, o vendedor de frutas; o “Pesse-gueiro”, o “ajudante” no Bar do Izaltino; o “Mário Deputado”, o bom oleiro que fazia discursos na época das eleições; o “Velho Bode”; o “Pão Seco”, a “Risadinha” que se dizia “mãe” de alguns fi lhos “tidos” com algumas perso-nalidades locais; a “Doroti” que se dizia contadora, o “Já Casô”, o “Nilson”, o bom de garfo; o “Sebo”; o “Treme-Treme”; o “Cabo Antônio” e tantos outros.

CONTA-SE QUE... - Depois do Acordo de Limites, assinado em 1916, en-tre o Paraná e Santa Catarina, a então cidade de Porto União da Vitória foi cortada ao meio pelos novos marcos divisórios5. Os nossos historiadores afi rmam que a divisão foi injusta. Porquanto, os problemas são notados on-tem e hoje. Na época houve até resistência armada à divisão. O historiador José Júlio Cleto da Silva6, um dos lideres dessa resistência, foi perseguido e teve de se exilar na Argentina. Voltou anos mais tarde e se elegeu Deputado Estadual no Paraná. Conta-se que ele cumpriu a promessa de nunca mais pisar no outro lado, que se tornara solo catarinense. O ressentimento não chega a tanto hoje em dia, mas ainda há certas diferenças entre União da Vitória e Porto União.

COLÔNIA LEGRU - Porto União faz Cem Anos. Conheça um pouco mais da sua vasta História. O banqueiro francês Hector Legru era o principal sócio de Percival Farquhar na Brazil Railway Company, uma empresa fer-

4 Publicado no Jornal O Comércio, em 15 de agosto de 2015.5 Publicado no Jornal O Comércio, em 19 de setembro de 2015.6 José Júlio Cleto da Silva é o autor do livro “O Contestado Diante das Carabinas”, escrito em 1917 e publicado em 1920, com 286 páginas e sob a chancela da Empresa Gráphica Paranaense, de Curitiba (PR), e, do livro “Apontamentos Históricos de União da Vitória: 1768 – 1833”, com 225 páginas e sob a chancela de Max Roesner & Filhos Ltda., de Curitiba (PR).

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roviária. Participou da construção do Trecho Sul da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do Sul, entre 1906 a 1918. Porém nunca esteve no Bra-sil e muito menos em Santa Catarina. No entanto, mesmo assim, a Brazil Railway Company nominou de Hector Legru, duas estações ferroviárias no Brasil. Uma delas, em Santa Catarina, no Município de Porto União (Mais tarde, mudou de nome para Engenheiro Mello. No entanto, a localidade continua com o nome de Colônia Legru). Daí, o nome da Colônia Legru. Anotação: A Colônia Legru foi formada por imigrantes poloneses. Situa--se a 8 km mais ou menos da cidade. Possui Escola Isolada, edifi cada em terreno doado pela Companhia Colonizadora Hacker, em 1918. De início, Matias Delay foi o primeiro professor. Depois, as Irmãs Catequistas. E, mais tarde, as professoras normalistas de Porto União. No começo, a Escola tam-bém servia de Igreja. Santo Antônio é o seu Padroeiro.

BAIRRO PINTADO - Porto União faz Cem Anos. Leia mais um pouco da sua História. O Bairro do Pintado começou em meados de 1930. Situa-se a, mais ou menos, 7 km da cidade. Segundo registros e apontamentos, a sua evolução foi notada com a chegada de alguns membros da Família Tarlom-bani, que, no ano de 1937, se fi xaram no local. Entre eles, Aldo Tarlomba-mi, José Tarlombani (que dá nome ao Portal Turístico) e outros. Já entre os anos de 1938 e 1939, o Bairro Pintado ganhou a sua primeira Capela edifi -cada em terreno doado por João Teixeira Soares (o dono da Fazenda Santa Rosa), tendo Santa Rosa de Lima, como sua Padroeira. E, mais tarde, em 1945, o Bairro Pintado ganhou a sua primeira Escola Isolada, que ofereceu aulas numa olaria. A senhora Miriam de Oliveira foi a sua primeira pro-fessora, que lecionou na Escola durante 25 anos. E, no dia 15 de setembro de 1950, ocorreu a inauguração da nova Escola, num prédio em alvenaria (atualmente desativada), em terreno doado pelo senhor Aldo Tarlombani, um dos primeiros moradores.

PARTICULARIDADES DO BAIRRO VICE KING - Uma minoria arris-ca dizer que o nome do Bairro Vice King signifi ca Vice Rei, em inglês. E a grande maioria nem sequer arrisca. Pois bem, o senhor Vicente Kingerski era proprietário de algumas áreas de terras em Porto União. Até que, em certa ocasião, resolveu pôr em prática o loteamento de uma daquelas áreas de terras. Para tanto, procurou o advogado João Farani Mansur Guérios (com ele comecei a prática da advocacia), a fi m de orientá-lo juridicamente quanto a elaboração dos documentos de praxe para a realização do lotea-

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mento. E, depois de concluída a elaboração dos documentos, fez-se neces-sário dar um nome ao loteamento. E o Doutor Mansur opinou por usar o nome do seu proprietário, abreviadamente. O que foi aceito. E assim, usou o VICE de Vicente e o KING de Kingerski. Daí a origem do nome de Lotea-mento Vice King e, mais tarde, de Bairro Vice King, delimitado ofi cialmen-te como Bairro pela Lei n.o 2394, de 22 de dezembro de 1998. O Decreto no 7.325, de 30 de março de 1979, regularmente publicado na imprensa ofi cial, criou a Escola de Educação Básica “Nilo Peçanha”, no Bairro Vice King. Segundo a voz popular, esse nome foi dado sem nenhuma escolha. Pois a Coordenadora da época cometeu um engano e forneceu o nome da rua, que passa ao lado, como se fosse o nome da Escola. Na verdade, a Escola deveria chamar-se “Professor Hilário André Dezordi”, nascido em Capinzal (SC), no dia 1º de dezembro de 1930 e falecido em Porto União (SC), no dia 1º de dezembro de 1969. Foi professor no então Ginásio São José, de Porto União, Santa Catarina. A Lei n.o 2.979, de 30 de junho de 2004, regular-mente publicada na imprensa, denominou de Vicente Kingerski, a Praça de Esportes, localizada no Bairro Vice King.

PORTO UNIÃO FAZ CEM ANOS - Caúna foi um dos nomes primitivos do atual Distrito de Santa Cruz do Timbó, o maior do Município de Porto União, Santa Catarina, instalado ofi cialmente no dia 26 de julho de 1926. Não é, Doutor Vitinho? Os primeiros moradores foram os índios xocleng. E as primeiras famílias de agricultores vieram de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, e, encontrando uma cruz rústica e tosca numa das margens do Rio Timbó, denominaram o lugar de Santa Cruz do Timbó. Observação: A caúna (da espécie ilex theezansda família  aquifoliacence) é uma planta de gosto amargo, abundante na localidade e seus  arredores. LEMBRANÇAS DA TIA ESTELA7 - Nesta feita, aproveito a oportuna su-gestão, bem como o título indicado pelo meu fi lho mais velho, o Gianfran-co, para escrever algumas “Lembranças da Tia Estela”, diga-se de passagem, minha tia por afi nidade. Descendente de italianos, a Tia Estela (nascida Tarlombani, uma das nove famílias que chegaram aqui no fi nal do ano de 1898), era uma antiga moradora do “Arrabalde” de Tócos, desde os anos de 1930. Ali morou juntamente com o marido Nicolau e com os fi lhos Mi-guel (Tereza), Celso (Mafalda), Estevam (Selma) e Darci (Iracema). Ape-nas o último está vivo. Acredito que muita gente ainda se lembra deles. 7 Publicado no Jornal O Comércio, em 5 de setembro de 2015.

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A propriedade da Tia Estela, aliás, uma boa área de terras, se localizava na Rua Nilo Peçanha, bem em frente à Chácara do Dr. Lauro Muller Soa-res, inesquecível Médico Humanitário e Prefeito Municipal de Porto União (SC). No lado esquerdo, era vizinha do atual Quartel da Polícia Militar de Porto União. Antigamente, os moradores do Centro achavam uma “via-gem” chegar até lá, pois, a estrada era de chão batido. Tudo era um matagal. Pouquíssimas casas. Não havia luz elétrica, nem água tratada. Vivia-se na base do lampião e da água de poço. A Tia Estela era uma mulher de boa cepa, de garra, uma guerreira, enfi m... Dedicava-se aos afazeres na casa, e também na lavoura. Cuidava com carinho da família, das suas plantações de milho, feijão, mandioca, batata doce; cuidava das diversas árvores fru-tíferas e das suas fl ores. Nunca se esquecia dos seus animais. E ainda era festeira, tanto na antiga Capela como na atual Igreja. Ao passo que o ma-rido Nicolau era de afazeres na lavoura e, além disso, durante anos e anos, também trabalhou na Charqueada, então existente nas proximidades das suas terras. Por outro lado, vale lembrar que o povo do “arrabalde’ começou a usar um pequeno pedaço das terras da Tia Estela, (evidentemente, com a permissão dela), para enterrar os seus mortos. Porém, com a passagem dos anos, os túmulos foram aumentando no então já conhecido Cemitério do “Arrabalde” de Tócos. Por isso, depois da morte da Tia Estela, os seus fi lhos e as suas noras doaram, para o Município de Porto União, mais um bom pedaço de terras, em sinal de reverência à memória da Tia Estela. E assim proporcionaram o aumento do antigo Cemitério do “Arrabalde” de Tócos e, via de consequência, deram o formato do atual Cemitério do Bairro São Pe-dro, nos termos da Lei no 331, de 8 de setembro de 1961, do Decreto no 110, de 27 de abril de 1990 e da Lei no 2149, de 11 de dezembro de 1995, inclu-sive para a Creche Municipal. Vale lembrar também que o marido Nicolau morreu antes dela. Enquanto a Tia Estela vivenciou e transpôs a mudança do nome do “Arrabalde” de Tócos para Bairro São Pedro, nos termos da Lei Municipal no 391, de 30 de agosto de 1963, assinada pelo inesquecível Pre-feito Salustiano Costa Junior. Ademais, a Tia Estela viveu por muitos anos no Bairro São Pedro. Pois é, minha gente, por tudo isso e mais um pou-co, bem que a Tia Estela merecia (aliás, merece em memória) uma Moção Honrosa, um Título de Reconhecimento ou a denominação de uma rua, de uma creche, et cetera, a título de reconhecimento e agradecimento pela sua notável e valiosa contribuição em favor do desenvolvimento e do progresso do “Arrabalde” de Tócos, atualmente, Bairro São Pedro e, extensivamente, do Município de Porto União, Estado de Santa Catarina.

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UMA REFLEXÃO HISTÓRICA E OUTRA POLÍTICA - Apesar de União da Vitória comemorar 127 anos no dia 27 de março de 2017 e de Porto União comemorar 100 anos no dia 05 de setembro de 2017, as duas cidades nasceram juntas, histórica e geografi camente, no Estado do Paraná, como um pequeno e promissor povoado na Beira do Iguaçu, no dia 12 de abril de 1842, com a descoberta do vau do Rio Iguaçu pelo tropeiro e ser-tanista Pedro Siqueira Cortes. Chamou-se “Porto da União da Vitória” ou, simplesmente, “Porto da União”, entre o Caminho das Águas e o Caminho das Tropas. Portanto, até o Acordo de Limites entre o Paraná e Santa Cata-rina, assinado no dia 20 de outubro de 1916, o pequeno povoado constituía uma única cidade localizada em território paranaense. Nesta razão, as duas cidades contam com a mesma idade, ou melhor, contam com175 anos, sem remontar à Expedição do desbravador e sertanista Antônio da Silveira Pei-xoto, no ano de 1769, que instalou aqui o Entreposto de Nossa Senhora das Vitórias (Acrescente-se ainda, que, por volta de 1726, começaram as primeiras expedições). Assim, depois da assinatura do Acordo de Limites, o primitivo povoado foi dividido em duas cidades, com limites fi xados pela Linha da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do Sul e pelo majestoso Rio Iguaçu, sendo o lado paranaense chamado de União da Vitória e o lado catarinense, de Porto União. Só para argumentar, é sabido e do conheci-mento popular que União da Vitória e Porto União são conhecidas como as “Cidades Gêmeas do Iguaçu”. E, sendo assim, este é mais um motivo para sustentar o argumento que as duas cidades nasceram juntas, no mesmo dia, no mesmo momento. Ademais, a suposta diferença de idade entre as duas cidades se sustenta apenas e unicamente num único motivo de ordem meramente política, decorrente da assinatura do Acordo de Limites entre Paraná e Santa Catarina. Sem mais delongas, ressalte-se que, politicamente, o Município de União da Vitória (Paraná) registra como data de “fundação” o dia 27 de março de 1890, antes do Acordo de Limites, e o Município de Porto União (Santa Catarina) registra como data de “fundação” o dia 05 de setembro de 1917, depois do Acordo de Limites. Daí a diferença de idade das nossas Cidades Irmãs.

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PORTO UNIÃO CIDADE AMIGA JAMAIS SERÁ ESQUECIDA

Pedro Alberto Skiba1

Sempre tive comigo que nascer é um acidente geográfi co. Não se escolhe o lugar nem a hora. Também, embora contrariando algumas cren-ças, fi lho não escolhe pai e mãe, pois se assim o fosse, embora todo o amor dedicado pelos pais, muitos prefeririam ter escolhido outros, e talvez Bil Gattes e vários milionários fossem os pais mais procurados. Também exis-tem os indesejados, os abandonados. Maria foi a única escolhida, mas não escolheu uma estrebaria para seu fi lho, o mais famoso do mundo nascer. Foi mais um acidente geográfi co, pois o parto se deu no meio de uma via-gem. Assim, eu não escolhi Porto União para nascer, Mas, banhado pelas águas do Iguaçu, ali pude crescer. Brincar, jogar bola no barro preto, nas proximidades da atual rodoviária, fazer caçada de passarinhos com cetra. Tomar banho pelado no Iguaçu. Das festas de aniversário de 15 anos das amigas da Zuleika, à época tão em moda, chiques, elegantes e valseadas. Lembrança dos amigos (fi gura 1).

Figura 1 - Os amigos Saint Clair Mansani, Fagundes, Fuzarca, Sérgio Lino, Arnaldo de Oliveira, Asdrubal (lambreta), Pedro Skiba, e no fundo, os saudosos

Beto Gaspari e Sérgio Ney Madureira.Fonte: Acervo particular.

1 Membro da Alvi, cadeira nº 32, patrono Frei Libório Lueg. Atua como jornalista em São Bento do Sul (SC). Foi morador de Porto União.

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Outros grandes amigos foram: Civiero, Nelcy, Willy, Balardine, Bu-ridan, João Pedro Gomes, Pereira, Luiz Carlos Passos (Negola), Roberto Schlemn (Vespa Vermelha) Odilon Correa, João Carlos Côas, meu irmão Luiz Carlos.

Das tardes de sábado e manhãs de domingo em plena adolescência, integrar o glorioso Tamandaré, fundado pelo saudoso empresário Nestor Patsch. Disputar o campeonato infanto-juvenil no campo do São José, sem gramado, tendo como principal articulador, meu patrono na ALVI, Frei Libório Lueg e o seu time de internos, os 11 Irmãos. Em 1960 e 1964 dispu-tamos o Campeonato Catarinense contra os grandes do Estado, no então, Estádio Municipal, hoje Campus da UnC (fi gura 2).

Figura 2 –Tamandaré, fundado pelo saudoso empresário Nestor Patsch. Em pé, o terceiro meu irmão, Luiz Carlos. Agachado o primeiro,

Pedro Alberto Skiba, ponteiro direito do time.Fonte: Acervo particular.

Dormir e acordar embalado pelo ranger dos rodados do trem nos trilhos de aço, no barulho das manobras para deslocar vagões e nos api-tos da Maria-Fumaça (fi gura 3). Porto União dos meus sonhos. Do meu namoro. Do meu casamento e do nascimento do meu primeiro fi lho. Do passar de lambreta na frente do Santos Anjos, para ver a Zuleika sair na ja-nela. Ficar deslumbrado com a imponente gare da estação ferroviária, onde sempre frequentei para ver a passagem do Direto (Porto Alegre/São Paulo), do Internacional (Buenos Aires/São Paulo) do Bananeiro (Porto União/São Francisco), do Misto (Porto União/Marcelino Ramos). Dos trens de gado

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dos quais, de vez em quando, fugia um boi e criava pânico entre os morado-res do centro, inclusive invadindo e quebrando vitrines de lojas. Dos circos que chegavam à cidade e os vagões com elefantes e outros animais desper-tavam a curiosidade dos moradores. Até Hitler foi descrito por um histo-riador como chegando a Porto União de trem. Meu saudoso pai, Miguel Skiba, no seu gabardine azul-marinho e boné vermelho, agente de estação. Quantas viagens, quantas lembranças, embarcando e chegando à estação de União. Lembro-me de uma, que marcou minha vida, e não foi uma che-gada, foi uma partida, uma nova jornada nunca esquecida. Interessante, no ano em que Porto União completa seus 100 anos, eu e Zuleika completa-mos 50 anos de casados (22/04), e, de quando embarcamos, com destino ao início de nossa vida a dois, a bordo do trem Direto, que nos levou para Herval D’Oeste. De lá voltei para ser ferroviário na Estação de Porto União.

Figura 3 – Maria-Fumaça junto à Estação Ferroviária de União da Vitória (PR) e Porto União (SC).

Fonte: Acervo particular.

Das lembranças algumas que não esqueço. Das transmissões de futebol pela ZYT-28 Rádio Colmeia, ao lado de Cadinho, Ivan Vidal Por-tela, Eliseu Tajes, dos irmãos Maltauro, Orley e Airton, do saudoso Luiz Jorge Côas. Se me esqueci de algum, me perdoem. Do início, nas letras, por meio de O Comércio, ao lado de Ivo Dolinski. Da cidade e seus folclóricos personagens: Rubens, vendedor de doces, os velhos Bode, Peito de Pomba, Sebo, Mário Deputado, Caetano, da Rosa do Pé Inchado, do Chico Cego e o

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Nilson (vai ter pastel). Do “Barriga” – Pedro Silva, vendedor de loterias que um dia ganhou o grande prêmio. Gastou tudo com as meninas alegres da zona, e dando de beber, em balde, refrigerante para o cavalo, que comprou só para vê-lo arrotar. Da pipoca do Canhão, na frente do armazém ferroviá-rio. Do Bar do Lucas, Tupy e seu pernil com molho. Do restaurante Caiçara, do Sandro. Das noites de bailes no Concórdia e no Aliança, passando os trilhos, nas tardes dançantes do Apolo. Nas matinés e sessão da noite do Ópera e Odeon. Do pegar na mão e do primeiro beijo, tudo com muita pureza de sentimentos. Das festas na Matriz, dos telegramas românticos e das dedicatórias de músicas. Do rosto ruborizado ao encontrar os pais da namorada ou seus compadres. Quantas idas e vindas. Dia 07/04/2017, para aguçar mais a memória e trazer gratas recordações, assisti ao espetáculo dos alunos do Colégio Santos Anjos (fi gura 4), em homenagem ao Cente-nário, e fi car registrado, uma vez mais, a chegada das primeiras três irmãs religiosas: Arnalda, Viatrix e Ambrosiana, que pelo trem puxado pela Ma-ria-Fumaça, em Porto União chegaram.

Figura 4 - A turma de 1964, grande destaque do Colégio, que formou a primeira e única mulher a presidir o Conselho Estadual

de Educação de Santa Catarina: Aldair Wengerkiewicz Muncinelli, e também forneceu a Miss do Cinquentenário do município,

Doroty Novacki.Fonte: Acervo particular.

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253Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

Lembrar-se da cidade é quase um sonho. Voltar, sempre que posso. Como aqui não nasci, talvez, um dia, minhas cinzas, por mais distantes que sejam derramadas, possam percorrer não estradas, mas caminhos mo-lhados, Rio São Bento, Rio Negro e quem sabe, desaguarem no Iguaçu, e algumas centelhas fi carem presas no aguapé, bem debaixo da ponte, fazen-do divisa com União da Vitória, longe dos atrevidos lambaris. Salve Porto União e seu povo.

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255Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

MINHA RUA, MINHA CASA, MINHA CIDADE

Th erezinha Leony Wolff 1

Atingidos os oitenta e um degraus na escada da vida, no limiar de mais um passo, impossível acreditar na ventura de, sem rigor, produzir um texto para o Centenário da Cidade onde nasci, cresci e formei uma nova família. Cidade de Porto União que festeja cem anos de sua Emancipação Politico-Administrativa.

Tendo já participado da programação de seu cinquentenário e do cinquentenário de instituições e sociedades que concorreram para o seu desenvolvimento educacional, cultural, religioso e econômico, Colégio Santos Anjos, Grupo escolar Professor Balduíno Cardoso, do encontro da primeira turma concluinte do Ginásio São José, da Igreja Matriz Nossa Se-nhora das Vitórias, Clube Concórdia e do Juventus Futebol Clube, muitas vezes os reverenciei registrando memórias.

Hoje tenho o privilégio de recordar e registrar os doces anos vivi-dos na infância, não por dever, mas pelo prazer, coisas que aprendi a admi-rar e que, se guardadas num baú, certamente serão carcomidas pelas traças.

A lembrança mais nítida é a da casa onde nasci. Desbotada na cor, situada no alto da rua Conselheiro Mafra, um nome cuja importância conheci mais tarde.

Manoel da Silva Mafra, advogado, político brasileiro notável, no-meado pelo governador Hercílio Luz para defender Santa Catarina na questão dos limites, elaborou o dossiê que solucionou a Guerra do Contes-tado. Uma vitória reconhecida pelo município de Mafra que leva seu nome.

É o patrono da Cadeira n° 33 da Academia de Letras Catarinense. Minha rua, a Conselheiro Mafra era curta, estreita e sem saída. Seu

trajeto? Da atual Avenida Getúlio Vargas até a Rua Quintino Bocaiuva.De minha casa via-se completamente o triângulo ferroviário onde

os vagões puxados pela locomotiva formavam os trens de carga (fi gura 1). Hoje reconheço quão importante foi para o transporte, para o crescimento do ramo comercial.

1 Membro fundador da Alvi. Ocupante da Cadeira nº 20, tendo por patrono Ivonich Furlani. Membro da Academia de Cultura de Curitiba. Membro da Academia de Cultura, Precursora da Expressão tendo por Patrono Orlando Milis. Escritora, poeta, e memorialista sobre temas locais.

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Figura 1 - Triangulo Ferroviário, em 1940. As casas ao alto localizavam-se à Rua Conselheiro Mafra. Abaixo, as duas casas de alvenaria, na Avenida dos

Ferroviários, hoje a perimetral de Porto UniãoFonte - Acervo particular.

A incontável quantidade de lenha empilhada para abastecer as ma-rias-fumaça, o grande depósito da indústria Pedro Pizatto que, num dos la-dos, recebia os caminhões para a descarga de madeira e do outro os vagões ferroviários a serem carregados para a exportação.

No fi nal dos trilhos, uma mangueira de tábuas grossas recolhia o gado vindo pela estrada de Palmas, hoje Marechal Deodoro, que ali perma-necia até ser recolhido aos vagões-gaiola.

Moleques geralmente à espreita de quando chegavam as tropas, num pé lá e outros cá se acomodavam nos lugares de onde melhor pudes-sem observar: pilhas de taboas, de lenha e os mais audaciosos no próprio cercado da mangueira.

A entrada de cada boi era exaltada com gritos e aplausos. Se o boi empacava, um peão sempre atento atingia-o na paleta com uma vara compri-da. Com o cutucão o animal, aos trancos, passava pelo acesso para o vagão.

De minha casa também avistava trens que chegavam e partiam para a linha sul e a linha São Francisco. Quantas vezes abanei para meu pai, quando viajava com a locomotiva n° 644.

Mas voltando à rua Conselheiro Mafra. No lado direito, sem cons-truções, cresciam vassouras lageanas que, cortadas aos feixes, serviam para varrer os pátios das casas. No esquerdo, meia dúzia de moradas, todas pre-sentes em minha memória.

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257Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

Na esquina com a Getúlio Vargas, uma construção de madeira ser-via como pensionato, na época em que, na Igreja Sagrado Coração de Jesus, de União da Vitória, foi assassinado Frei Policarpo. O criminoso assassino, sendo um dos pensionistas, pode ali esconder-se, até que, acusado, fugiu. Foi preso numas das grutas do Morro da Cruz.

A janela do quarto, no sótão onde morava, por algum tempo per-maneceu fechada e quando aberta causava arrepios. Ao lado da pensão, numa pequena casa, morava com a família o ferroviário Edmundo Macha-do. No mesmo terreno, ao lado, fi cava a casa de sua mãe Julia Machado, a vovó Júlia, como era chamada. Pessoa entendida em benzimentos, unguen-tos e infusões de ervas medicinais.

Mais ou menos vinte metros adiante, estava a minha casa.Depois a de dona Angelina, mestre de forno e fogão, descendente

de negros, sempre com a cabeça coberta por um turbante branco.O sobrado do Nicolau, alemão nato, era a única casa em dois pa-

vimentos, de alvenaria. Foi ele o pioneiro a oferecer uma sauna individual, muito usada para tratar doenças pulmonares.

A casa da família Mafra, a seguir, era pequena, mas com um jardim sempre fl orido. Já na esquina com a Rua Quintino Bocaíuva morava outra Angelina. Pessoa esperada, diariamente, quando com uma cesta cheia de pés de moleque saía para as ruas de Porto União.

Uma rua onde o silêncio era quebrado pelo tropel do cavalo de dona Miquelina, que em duas cangalhas trazia verduras e leite para ven-der de porta em porta. Pela manhã havia trânsito da charrete do senhor Lambenbacher e à tarde de um dolezeiro, vendedor que empurrava um carrinho com dolés.

Sem calçamento, quando ventava, uma poeira indesejável vinha alojar-se nos móveis e emporcalhava as janelas que minha mãe se esfalfava por manter limpas.

O assoalho de madeira em tábuas largas, embora velho, era sema-nalmente encerado com cera vermelha em lata, da marca Parketina, com-prada no armazém de João Becker, na rua Matos Costa esquina com a rua Frei Rogério.

Só a cozinha não era encerada, pois o cheiro forte prejudicava o sabor dos alimentos. Cozinha retangular, com grande mesa de tábuas largas, ariada com sapólio, um guarda-comidas com telinha para ven-tilar, deixando ver num cantinho a xícara com moedas de troco, bem guardado.

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258 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

O dinheiro não podia ser esbanjado, mas a quantia da qual se dis-punha não deixava faltar comida à mesa, nem um vestido novo pra mim e minha irmã, quando chegavam o Natal e a Páscoa.

Dava até para estocar o querosene do lampião, usado quando, em períodos de estiagem, a Empresa de Eletricidade Alexandre Schlem preci-sava racionar energia. Picos frequentes e apagões das 24 horas até o ama-nhecer. Noite escura como breu, salvo quando o luar derramava-se pela rua ou espiava por alguma fresta.

Na saída da cozinha, tijolos da Olaria Passos, numa calçada simé-trica, chegavam até o poço de manivela. Girada nem sei quantas vezes ao dia, provia, em dois baldes branquinhos, a água de beber e cozinhar.

Do forno de pedra sinto ainda o cheiro dos pães. Amassados de véspera e assados cedinho, uma vez na semana, cinco ou seis pães.

No café da manhã, se ainda não enformados, um deles dividido em pedacinhos ia para a frigideira. Massinhas de pão frito, tão ao gosto meu e de minha irmã.

Inesquecível o sabor daquela fritura!Inesquecível também a ardência da queimadura no dia em que me

atrevia a fritar. Curava-se com banha de galinha.No grande terreno dividido por um cercado havia lugar para um

quintal, onde abundavam laranjeiras, limoeiros, uvas-do-japão e abacatei-ros cujos frutos se espatifavam no chão.

Pequenos canteiros com ervas para temperos e chás, que, guarda-dos secos, curavam diferentes males.

Num cercado divisório fi cava o cavalo Zaino. Vez por outra corria na raia reta da Lagoa Preta. Carinhoso, passava a cabeça para ser alisada e recebia um pedaço de pão às escondidas.

Num poleiro improvisado na cerca, o papagaio Louro. Cada vez que meu pai chegava de viagem avisava, chamando minha mãe pelo nome.

Do terreno pouco sobrava para pular corda e jogar amarelinha.Apelava-se ao gramado defronte à cerca da casa. Ali aconteciam

brincadeiras de ciranda, lenço atrás e pega-ladrão. Em dois níveis, a parte mais alta, que seria o meio-fi o da rua, era o palco onde os “artistas” can-tavam, faziam teatro ou fi cavam de estátua. No nível abaixo, expectadores sentados na grama, obrigatoriamente, aplaudiam.

As brincadeiras estendiam-se até o anoitecer, só terminando quan-do a mãe chamava para tomar banho e jantar.

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259Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

No portão, uma fechadura da fábrica Knipschild garantia a segu-rança da casa até o dia seguinte. Embora uma chave, que era bem grande, fi casse dependurada na própria cerca, lugar que só os de casa conheciam.

Não era um portão eletrônico, mas, penso, um portão humano.Falar da rua e da casa das quais citei um pouco é remeter, em parte,

à cidade antiga de Porto União, sua gente e seus costumes.No seu Centenário, que deverá ser comemorado até setembro deste

ano, quantas coisas, quantos depoimentos e fatos sairão do anonimato! Pes-soas que na idade madura comprovarão serem as rugas marcas do tempo em experiências vividas.

Experiências a serem repassadas para os jovens, como estrutura a preservar, daquilo que é positivo à sua identidade e à sociedade que reco-nhece nos erros passados uma aprendizagem para o crescimento.

A Rua Conselheiro Mafra não é mais aquela que aqui descrevi. Cresceu em sua extensão, na beleza da arquitetura das casas, na qualidade de vida, enfi m.

No seu Centenário, minha cidade, praza Deus a abençoe na futura caminhada do crescimento. Pela vida que proporcionou a mim e a minha família, deixo-lhe comovida o meu muito, muito, muito obrigada!

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261Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

HOMENAGENS DOS PREFEITOS AO CENTENÁRIO DE PORTO UNIÃO

Aluízio Witiuk1

Como falar do Centenário da Cidade Amiga, Porto União, sem dar um mergulho no passado, voltando cinquenta anos atrás, durante o festivo Cinquentenário. Várias atividades envolveram todas as instituições que de-ram o devido sustentáculo para o município, que, desde 05 de setembro de 1917, acolheu dezesseis gestores que passaram pela galeria do Poder Exe-cutivo, até 05 de setembro de 1967. Todos contribuíram para o crescimento e desenvolvimento da atual querida Cidade Amiga.

Respeitando os quinze prefeitos que se fi zeram presentes à frente do Executivo do munícipio de Porto União, é importante destacar o pre-feito do Cinquentenário, Dr. Victor Buch Filho, carinhosamente, chamado de Dr. Vitinho, o qual construiu uma vida política e social regada nos mais altos valores de um honrado cidadão brasileiro.

Pela marcante administração no ano do Cinquentenário, inolvidá-vel gestão, o reconhecimento e a eterna gratidão, é justo que se conheça um pouco mais do distinto e incomparável prefeito Dr. Vitinho: Victor Buch Filho. Dr. Vitinho, nasceu aos 10 dias do mês de março de 1929, no muni-cípio de Mafra, Santa Catarina. Filho de Victor Buch e Lídia Silveira Buch, passou a residir em Porto União, desde 1936, e, em 1951, casou-se com Célia Maçaneiro. Juntos tiveram cinco fi lhos, oito netos e quatro bisnetos. Cursou o primário na Escola de Educação Básica Professor Balduíno Car-doso, em Porto União; fez o ginasial no Colégio Estadual Túlio de França, em União da Vitória, no Paraná; e o Científi co, no Colégio Parthenon, em Curitiba, no Paraná, onde também se formou Técnico em Contabilidade, na Escola Técnica Remington; e graduou-se em Direito, na Universidade Federal do Paraná, em 21 de dezembro de 1955.

Apaixonado por aviões, fez, em Curitiba, o curso de Aviação Civil e seu brevê possui o nº 2.984, autorizado pelo Ministério da Aeronáutica, em 1949. Apresenta quitação militar na 5ª Companhia de Comunicações da 5ª Região Militar, serviço prestado em 1948.

1Membro da Alvi (Academia de Letras do Vale do Iguaçu), professor, ocupante da cadeira nº 30, patrono Joaquim Serapião do Nascimento.

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262 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

No decorrer de sua vida, teve por profi ssões: advocacia, indústria e comércio, piloto de táxi aéreo, instrutor da escola de pilotagem do Aero-clube Porto União da Vitória e, no Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina, ocupou os cargos de diretor da consultoria jurídica e, tempora-riamente, secretário geral e assessor especial da Presidência, de 1983 até sua aposentadoria, em 1990.

Em relação à vida pública, entre os mandatos eletivos, apresentou duas legislaturas consecutivas como Vereador, entre 1959 e 1966 e três pos-ses como Prefeito Municipal de Porto União, sendo eleito por voto indireto em 1964, devido ao impedimento do prefeito titular, e por voto direto, em 1966, permanecendo por quatro anos e, em 1977, por seis anos.

Ocupou uma série de cargos honorífi cos nas sociedades de Porto União e União da Vitória: Presidente da Associação Rural de Porto União; Presidente da Orquestra Filarmônica União de Porto União da Vitória; Presidente do Hospital São Braz; Presidente do Lions Clube de Porto União da Vitória; Presidente, fundador e instrutor da Escola de Pilotagem do Ae-roclube de Porto União da Vitória.

Recebeu, em decorrência de sua participação nos cenários político e público, vários diplomas e menções honrosas, assim como mais de uma centena de troféus, placas e medalhas por reconhecimento das cidades ir-mãs, às quais foi eternamente agradecido e as guardou sempre como muito amor e carinho: Diploma de Prefeito do Cinquentenário do Munícipio de Porto União, em 05 de setembro de 1967; Diploma de Cidadão Honorário de Porto União, em 1970; Diploma de advogado jubilado da Ordem dos Advogados do Brasil, em primeiro de agosto de 2002; Medalha do mérito funcional pelo Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina, em 2005. Tantas outras homenagens lhe foram prestadas, e aqui se resume um pouco sobre o “Homem do Cinquentenário”.

Em fevereiro de 2017, Dr. Vitinho fez sua última visita a Porto União, junto de sua fi el companheira, a querida esposa Célia, para festejar o aniversário da sua amada bisneta Valentina.

Em abril de 2017, Dr. Vitinho sofreu um AVC e, infelizmente, não resistiu, faleceu no dia 10 de maio de 2017, na cidade de Florianópolis, Estado de Santa Catarina. Seu corpo repousa no cemitério Jardim da Paz, na capital catarinense. A partida do Dr. Vitinho entristeceu sua querida Cidade Amiga, no ano do Centenário.

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263Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

VICTOR BUCH FILHO (Prefeito Municipal no período compreendi-do de 17/08/1965 a 20/10/1965, também entre os anos de 31/01/1966 a 31/01/1970, entre 31/01/1966 a 31/01/1970, e, ainda, entre 01/02/1977 a 31/01/1983. Tornou-se conhecido, pela população de Porto União, como Dr. Vitinho. Escreveu, em 20 de março de 2017, uma homenagem dedicada ao Centenário de Porto União:

Em meu peito nutro inconti-das saudades desta terra amada. Nela cresci, casei, vi nascerem meus fi lhos e tive o privilégio de contribuir para o seu progresso. Por mais de uma vez o povo depositou confi ança em mim, primeiro como vereador e, depois, como prefeito. Representar este povo querido foi um grande desafi o de vida, episódios ale-gres e tristes marcaram esta trajetória. Em 05/09/1967 estava eu sendo agra-ciado como prefeito do cinquentenário, lembrança da qual eu sempre guardarei com muito carinho. Porto União che-ga aos 100 anos, espero que, cada vez mais, existam conquistas signifi cativas, no sentido de melhorar a vida da popu-

lação. Meu desejo nesta auspiciosa data de 05/09/2017 é que a luta pelos direitos dos cidadãos continue, que todos saibam amar e respeitar a sua terra amada. Meu querido município, por certo, um dia passarei para a eternidade, mas você permanecerá aqui às margens do Iguaçu, lembrando às futuras gerações, que nós muito lutamos pelo seu progresso, para vê-la sempre na vanguarda e muito feliz. Quero cumprimentar toda a população e líderes que fi zeram e fazem parte desta longa trajetória percorrida. Minha esposa Célia, companheira que sempre esteve ao meu lado, enfrentando os desafi os. Para fi nalizar, digo que as palavras não exprimem todos os mo-mentos que vivemos, mas fi carão em minha memória todos os anos em que juntos compartilhamos dessa terra. Fiquem com DEUS e sua GRAÇA, que nunca haverá de faltar. Parabéns, Porto União, pelos seus cem anos bem vividos. Victor Buch Filho – ex-prefeito.

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264 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

ARY CARNEIRO JÚNIOR (Prefeito Municipal no período de 1.º/01/1989 a 31/12/1992) deixou sua mensagem:

O município de Porto União, no dia 05 de setembro, completa mais um ano de emancipação política e social. Este ano será um aniversá-rio especial, pois, trata-se dos 100 anos de sua implantação. São 100 anos de bravas e árduas lutas em prol de seu desenvolvimento, que foram e são conquistados com trabalho, persistência e determinação. Sua história está marcada pela garra de seu povo. Porta de entrada do Estado de Santa Ca-tarina, soube conviver de forma altaneira e solidária, com o município ir-mão, União da Vitória-PR. Muitas conquistas foram alcançadas graças a essa união sempre harmônica dos municípios. Ao falar do município de Porto União, faço-o com orgulho, pois foi aqui neste solo que nasci, no en-tanto sua construção deve-se aos que aqui nasceram e aos que aqui chega-ram e permaneceram, mesmo que por motivos outros tenham ido embora. Os que aqui permanecem não medem esforços de trabalharem de forma solidária, para a busca de um município cada vez melhor. Temos orgulho de ser porto-unionenses, de pertencer a este município e podermos teste-munhar a formação de famílias e vermos nossos fi lhos crescerem em uma comunidade pacífi ca e ordeira. Com uma economia baseada na indústria, comércio, agricultura, setor educacional e prestador de serviços, demonstra uma miscigenação importantíssima para seu desenvolvimento. Tive o or-gulho de ter administrado nosso município durante 4 anos, de 1989 a 1992, e muitas foram nossas realizações em todas as áreas. Construções, eventos, avanços em todos os sentidos, que levaram nosso município a posição de destaque em Santa Catarina, mas tudo isso se deve ao trabalho incansável de todos os funcionários públicos do município, da equipe administrativa que me assessorou, de minha família que sempre me ajudou e apoiou, e, em especial, minha esposa e fi lhos, pilares fundamentais para o êxito de nossa jornada administrativa. Diz-se que fazer aniversário é olhar para trás com gratidão e para frente com fé! Desejo ao município de Porto União, aos seus fi lhos e moradores, às equipes administrativas dos poderes constituídos, executivo, legislativo e judiciário, os meus PARABÉNS! Que Porto União seja um município cada vez melhor para se viver e continue a nos encher de orgulho, quando dizemos que somos de Porto União! Que Deus, em sua infi nita bondade, continue a iluminar este rincão querido de nosso Brasil! Viva o centenário de Porto União! Ary Carneiro Júnior, Prefeito Municipal entre os anos de 1989 e 1992.

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265Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

RENATO STASIAK (Prefeito Municipal no período compreendido en-tre 1.º/01/2005 e 31/12/2008; e, ainda, entre o período de 1.º/01/2009 e 31/12/2012) homenageia Porto União pelo seu centenário:

Lembro perfeitamente do ano de 1967, quando tinha 9 anos de idade e estudava na Escola Balduino Cardoso, das comemorações do Cinquentenário de Porto União. Foi um ano de muita festa! A Fonte Luminosa na Praça Her-cílio Luz, a realização da 1ª Fricesp, as músicas do Cinquentenário, os con-cursos entre estudantes, as inaugura-ções, as Noites de Artes, as cerimônias religiosas, o envolvimento do comércio e da indústria. Tudo isso marcou mui-to em minha vida! No ano 2000, tive a oportunidade de ser escolhido, pela primeira vez, pela população, servin-do o Município de Porto União por 12 anos consecutivos, sendo um mandato de Vice-Prefeito e dois mandatos de

Prefeito, de 2001 a 2012. E, por vontade de Deus, estou tendo a oportu-nidade de presenciar, neste ano de 2017, o Centenário do nosso querido Município de Porto União, tendo a certeza de que as comemorações serão grandiosas, e que marcarão também a vida de muitas crianças e jovens que, como eu, lembrarão, futuramente, com muito carinho, impulsionando-os a novos sonhos. Porto União tem um excelente nível de qualidade de vida, mas o que nos diferencia é justamente o nosso povo. Somos constituídos por muitas etnias, que vieram de todos os cantos do mundo, para aqui en-contrar o seu lugar para viver, construir seus lares, abrigar suas famílias e ver crescerem os seus fi lhos. Todos que por aqui passaram, nesses últimos 100 anos, deixaram a sua contribuição para o progresso e desenvolvimento. Deixaram-nos também exemplos de trabalho, de fé, de religiosidade, de vida social, de amizade, de ética e de valores morais. Somos hoje uma soma de tudo isso. Todos contribuíram para termos a atual Porto União: a Porto União do seu Primeiro Centenário. Nesse sentido, é grande hoje a nossa responsabilidade, como população de Porto União. Temos que fazer nes-

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266 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

se momento o melhor possível. No nosso trabalho, nos nossos empreen-dimentos, na nossa igreja, no nosso clube, na nossa família, na educação dos nossos fi lhos, para que consigamos deixar um legado que dignifi que os nossos descendentes e possamos ser lembrados no próximo Centenário, como o povo que fez bem a sua parte, assim como hoje lembramos com honra, respeito e gratidão os nossos antepassados, que por aqui passaram. Nada se consegue sem luta, sem dedicação, sem suor e, às vezes, com lágri-mas. Mas sempre com muita fé em que amanhã será melhor! Foram, são e serão assim os dias em Porto União, os dias do povo de Porto União. Um povo ordeiro, trabalhador e solidário, que se abraça quando a vida assim nos exige; e que marcha unido rumo a dias cada vez melhores para nossos fi lhos e netos. Parabéns Porto União! Fico feliz de fazer parte deste chão amado! Renato Stasiak, 07/06/17.

ANÍZIO DE SOUZA (Prefeito Municipal no período compreendido entre 1.º/01/2013 e 31/12/2016) homenageia Porto União pelo seu centenário:

Em Porto União construí mi-nha vida e participei da vida pública, como vereador e também como pre-feito, funções que sinto muito orgulho de ter exercido em nome dos cidadãos desta cidade, que, como eu, chegaram aqui com suas famílias e adotaram Por-to União como sua casa. Hoje, quando Porto União completa seus 100 anos, as homenagens não devem ser feitas a grupos ou personalidades. Pois se não fossem os muitos homens e mulheres que aqui se estabeleceram, nossa ci-dade não seria o que é hoje. Mais que poder representá-la na Câmara de Ve-readores e à frente da Prefeitura Muni-cipal, tive a oportunidade de contribuir um pouco com seu desenvolvimento.

Orgulha-me fazer parte deste sonho comum de construir uma cidade e fa-zer dela o melhor lugar para se morar, viver e construir famílias. É impor-tante ressaltar que a cidade tem muitos motivos para comemorar, em razão

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267Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

de sua riqueza cultural. Essa diversidade cultural decorre de sua própria colonização, que se iniciou com os alemães, e, a seguir, vieram poloneses, ucranianos, libaneses, entre outras etnias. Delas são originários diversos artistas, possui pontos turísticos regionalmente conhecidos, e o seu povo é trabalhador e acolhedor, motivo de orgulho para o povo catarinense e para o povo brasileiro como um todo. Compartilho, neste momento, com aleg ria, do mesmo sentimento que une a população na celebração do seu centenário. É um momento que reúne renovação de esperanças e dispo-sição de luta para o enfrentamento dos novos desafi os que a cidade está a exigir e que tem, na sua história, um pouco da história de cada um dos mais de 33.000 moradores que nela depositaram seus sonhos. A querida população da cidade amiga Porto União, que sempre soube me respeitar como verdadeiro representante, em todas as ocasiões que estive à frente do Poder Executivo, de primeiro de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2016, a minha eterna gratidão. Sempre procurei honrar a confi ança e a esperança depositada na minha pessoa. Viva Porto União, cidade amiga, no seu cen-tenário! Anízio de Souza, ex-prefeito.

ELIZEU MIBACH (Prefeito Municipal no período compreendido entre 04/12/1998 e 31/12/2000; 1.º/01/2001 e 31/12/2004; e, novamente eleito, a partir 1.º /01/2017) homenageia Porto União pelo seu centenário:

Neste momento de júbilo, quando nosso Município festeja seus 100 (cem) anos de existência, a palavra que julguei ser ideal para servir de pivô nesta minha singela manifestação, por ocasião deste tão importante livro em homenagem a Porto União, foi “desti-no”. Não tenho dúvida de que há muito para se comemorar nesta ainda jovem história, mas de diversos e distintos capítulos. Foram muitas as conquistas, todas fruto do empenho e dedicação de cada um dos nossos munícipes, de hoje e de ontem. Por esse motivo quero aqui cumprimentar a todos que desta histó-ria tomaram e tomam parte, de modo

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muito carinhoso e despido de qualquer outro sentimento que não seja o de gratidão àqueles que me antecederam na honrosa cadeira de Prefeito Municipal, extensivo a todos os nossos Vice-Prefeitos. Quero destacar tam-bém a importância da Câmara de Vereadores ao longo dessas décadas de muito trabalho, estudos, discussões e buscas, sempre em prol do desenvol-vimento desta terra querida. A cada um dos trabalhadores deste Município, façam eles parte do quadro de funcionários da Prefeitura ou dos demais segmentos da sociedade civil, sejam do centro ou do interior, uma vez que foram todos de grande importância no caminhar rumo à comemoração do centenário. Meu muito obrigado aos profi ssionais de todos os setores que derramaram e aos que ainda derramam seu suor por esta linha do tempo, pois são essas valorosas pessoas que, com seu destino, escreveram e con-tinuam traçando o destino de todos nós. É natural e merecido que cada município festeje seus méritos, destacando seus valores quando uma marca centenária é alcançada. Bem por isso, sabemos nós, viver aqui oferece algo a mais. É muito especial. Porto União é um lugar extraordinário, diferen-ciado, repleto de possibilidades e de um povo reto, disposto e culturalmente defi nido. A este, o destino reservou uma trajetória repleta de emoções que, considerados alguns fatores, extrapola até mesmo a questão temporal: co-memoramos hoje a história que começou bem antes do próprio centenário, de modo ímpar e brioso, quando os desbravadores por aqui passaram, lar-gando as sementes das Gêmeas do Iguaçu. A eles também rendemos nossas homenagens. De fato, não há como exaltar este marco, sem lembrar a im-portante presença da nossa prezada irmã, União da Vitória, a quem muito devemos. Festejamos, juntos, uma condição geminada, que, se em alguns pontos impediu uma evolução mais rápida e organizada, por outros, nos condicionou exclusividades marcantes e de grande valor. Para meu orgu-lho, com humildade, estou à frente do comando do Município mais seten-trional de Santa Catarina, em momento tão marcante, estando ciente de tamanha responsabilidade, principalmente agora, quando o destino mais uma vez nos pede que esqueçamos as diferenças, para superarmos, juntos, os obstáculos. Assim sempre foi, a cada um dos momentos de afl ição por causa das cheias do Iguaçu, mas justamente quando mostramos nossos va-lores como povo e unimos forças, superamos difi culdades e conquistamos avanços para toda a sociedade. Hoje o destino nos impõe completarmos este centenário durante o momento em que o Brasil precisa muito de todos os municípios, inclusive e principalmente de Porto União. Afi nal, vivemos aqui, de onde cantamos à nossa terra amada. E é daqui que construiremos

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os próximos versos de nossas canções, os próximos capítulos de nossa his-tória, por uma cidade ainda mais amiga, um estado mais lindo e belo, e um Brasil defi nitivamente de ordem e progresso. Vivemos juntos, Porto União. Salve o centenário! Eliseu Mibach, Prefeito Municipal.

Somos gratos à população e aos cidadãos que dispuseram de seu tempo, de seu conhecimento e de suas habilidades para administrar este Município, garantindo o bem- estar da população porto-unionense.

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100 ANOS DE PORTO UNIÃO

Arlete Th erezinha Bordin1

Cheguei a Porto União em 1960,Vinda de São PauloEncontrei uma cidade tranquila,Bem diferente da agitadacapital paulista.

Gostei da acolhidaDos colegas da faculdade,dos passeios na praçaantes e depois da matinê,Das pessoas se cumprimentando nas ruas.

As conversas na calçada,ao cair da tarde.A Tv não havia chegado,Só mais tarde.

A oportunidade das peças de teatro,A colaboração da populaçãocom auxílio mensalnos possibilitando contratargrupos do Teatro Guaíra.

É com emoção que me lembrodo Dr. Farani Mansur Guérioscom a famosa peça “As faladeiras da rua Prudente”.Havia os artistas da cidadeque espontaneamente se apresentavam.Os familiares prestigiavam, comparecendo aos eventos.

1Ocupa a cadeira nº 5 da Alvi (Academia de Letras do Vale doIguaçu), tem como patrono Agnelo Banach.

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274 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

Que saudades do apito do trem,do movimento da estação:gente indo e vindonuma alegria só.Abraços e cumprimentos de boas-vindas...

Logo cedo os apitosdas madeireiras, hoje não ouvimos mais.

O movimento dos empregados,dos alunos para as escolas,dava à cidadeatmosfera de prosperidade.

As feirinhas dos produtos sem agrotóxicosnão podem passar despercebidas.

Que privilégiocomer verduras e legumessem veneno,a saúde agradecee nós agradecemosaos agricultores que,pensando no bem do povo,se dispuseram inovar,oferecendo à populaçãouma saudável alimentação.

Temos também o vinho,Que delícia!Antigamente eu tomava o licoroso,hoje tinto seco.

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275Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

A roda de amigosjogando conversa fora,bebericando uma caipirinha de Steinhäeger

É claro que aquele churrasco gostosonos é oferecido pelo dono da casa.

O que ainda me chama atenção:o carinho que as pessoas têmumas pelas outras.Bom dia!Boa tarde!Como vai?Precisa de ajuda?

Passando muitas vezes por problemasmas, nesta hora,o mais importanteé dar o cumprimento com sorriso,e que sorriso!

Desejo que esse sentimento de amor e afeiçãopossa ser a marca registrada de Porto União.

Amor dos políticos pela cidadee população.

Amor da população pela cidadee respeito aos políticos.

Amor dos professores pelos alunose dos alunos pelos professores.

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276 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

Amor dos empregadores pelos seus funcionáriose dos funcionários pelos patrões.

Que essa atmosfera de amore de respeito de uns pelos outros,faça parte da aura de Porto União.

Que todo visitante possa senti-laao visitar nossa cidade!

É um privilégio estar vivendo aqui hoje!

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277Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

ACRÓSTICO

Helena Klotz1

Paraíso da infância, Porto União em minha vida.O teor destas rimas são enriquecedoras lembranças.Romântica, as repasso, travessuras, íngremes subidas,Tesouros desvendáveis a incitar exaustivas andanças.Os meus sonhos povoa de alegres jornadas atrevidas.

Unidos pelos fi lhos gêmeos rincões pela lei separados,No mesmo vale, sob a Cruz e Cristo, duplamente aspergidos.Novo prazer das descobertas, em parceria liderados,A cata de recantos, a violar grutas virgens escondidosOra escalando morros, ora beirando rios encachoeirados.

Embalou meu berço e motiva minhas fantasias distantes.

Soberbo, o progresso brotou e desabrochou ora galopante.Único, em duplo habitat pelos rios e trilhos demarcados.Ardilosa, a Maria Fumaça em manobras lentas, irritantes,Sustava o tráfego, aglomerado transeuntes apressados.

Brumosos dias de fi nados, desafi ando tardes grisEquidistantes, cemitérios longínquos, jamais negligenciados.Leais devotos fervorosos, místicos, motivados, juvenisEntusiastas curiosos, o vigor prontamente reativado.Zumbidos de insetos, tombos, arranhões, picadas no narizAturávamos brejeiros, sem lamentos, mesmo estropiados.Sobram-me proezas hilárias, nos solilóquios oníricos e senis.

1 Publicação em homenagem à poetisa Helena Klotz que foi membro fundador da Alvi. Deixou inúmeros poemas referentes às cidades de Porto União e União da Vitória, cidades que muito amou. Faleceu no ano de 2005.

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279Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

SAUDAÇÕES A PORTO UNIÃO

Yeda Cordeiro Ramires1

Desta cidade, que eu não sou fi lha,mas, que há muito adotei por lar,onde vivo feliz, onde tenho família,é nela que almejo, um dia repousar.

De povo hospitaleiro, trabalhador, ordeirorefl etindo o progresso, a fartura, a paz,onde a luz do “Saber” brilha como luzeiro,iluminando ao redor, mostra do que é capaz.

Aqui, a natureza é pródiga, bela, feiticeira,os morros recortados emolduram o horizonte,no caudaloso rio Iguaçu, a água é a esteiraque fertiliza o solo e de riqueza é a fonte.

Porto União, formosa, quando o sol te aquece,Porto União, encantadora, em noite de luar,quem te conhece, jamais de ti esquece,pois tudo em ti conspira, convida a te amar.

Parabéns! Porto União queridaEu te saúdo, feliz e comovida.

1Membro fundador da Alvi, falecida no ano de 2007. Poetisa escreveu este poema por ocasião do 84º aniversário de Porto União, cidade que ela amou e adotou como sua.

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AcadêmicosAcadêmicosAcadêmicos

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283Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

ACADÊMICOS FUNDADORES E EFETIVOS

01 – Cadeira n.º 01 Acadêmico: Ulysses Antônio Sebben, FundadorPatrono: Mário José Mayer 02 - Cadeira nº 02Acadêmica: Soeli Regina da Silva Lima, 2ª ocupantePatrono: Dirceu Marés de SouzaAcadêmico fundador: Ghassoub Domit1º ocupante: Jayme Ayres da Silva

03 – Cadeira n.º 03Acadêmico: Joaquim Osório Ribas, FundadorPatrono: Antônio da Lara Ribas

04 – Cadeira n.º 04 Patrono: Didio AugustoAcadêmico Fundador: Michel Kobelinski (Atualmente vaga) 05 – Cadeira n.º 05Acadêmica: Arlete Terezinha Bordin, FundadoraPatrono: Agnelo Banach 06 – Cadeira n.º 06 Acadêmico: Paulo Horbatiuk, FundadorPatrono: João Hort

07 – Cadeira n.º 07 Acadêmico: Eloy Tonon, FundadorPatrono: Frederecindo Marés de Souza

08 – Cadeira n.º 08 Acadêmica: Fahena Porto Horbatiuk, FundadoraPatrono: Luiz Wolski

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284 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

09 – Cadeira n.º 09 Acadêmico: Dom Walter Michael Ebejer, FundadorPatrono: Padre Francisco Salache 10 – Cadeira n.º 10 Acadêmico: Raulino Bortolini, Efetivo Patrono: Abílio Heiss

11 – Cadeira n° 11 Acadêmico: Roberto Domit de Oliveira, 1º Ocupante. Patrono: Ermindo Francisco RovedaAcadêmica fundadora: Neli de Oliveira Melo Sicuro 12 – Cadeira n.º 12 Acadêmico: João Darcy Ruggeri, Efetivo Patrono: Lamartine Augusto

13 – Cadeira n.º 13 Acadêmica: Th erezinha Th iel Moreira, EfetivaPatrono: Germano Wagenführ

14 – Cadeira n.º 14 Acadêmica: Márcia Marlene Stentzler, Efetiva Patrono: Frei Rogério Neuhaus

15 – Cadeira n.º 15 Acadêmico: Willy Carlos Jung, 1.º OcupantePatrono: Ari MilisAcadêmica fundadora: Sueli de Souza Pinto(vaga)

16 – Cadeira n.º 16 Acadêmica: Irene Rucinski, FundadoraPatrono: Alvir Riesemberg(vaga)

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285Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

17- Cadeira nº 17Acadêmica: Marilucia Flenik, 1ª ocupantePatrono: Paulo LeminskiAcadêmico fundador: Armindo José Longhi

18 – Cadeira n.º 18 Acadêmico: Odilon Muncinelli, Fundador Patrono: João Farani Mansur Guérios

19 – Cadeira n.º 19 Acadêmica: Leni Trentin Gaspari, FundadoraPatrona: Profª. Edy Santos da Costa

20 – Cadeira n.º 20 Acadêmica: Th erezinha Leony Wolff , FundadoraPatrono: Yvonnich Furlani

21 – Cadeira n.º 21 Acadêmico: Ivahy Detlev Will, FundadorPatrono: Jorge Will 22 – Cadeira n.º 22 Acadêmico: Cordovan Frederico de Melo Junior, Fundador Patrono: Cordovan Frederico de Melo

23 – Cadeira n.º 23Acadêmica: Ladi Tamara Benda Loiacono, FundadoraPatrono: José Júlio Cleto da Silva

24 – Cadeira n.º 24Acadêmico: Ivan Vidal Portela, EfetivoPatrono: João Guilherme Russo

25 – Cadeira n.º 25 Acadêmico: Fídias Telles de Carvalho, FundadorPatrono: Wolfgang Ammon

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286 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 10 - 2017

26 – Cadeira n° 26 Acadêmica: Tânia Margaret Ruski, 2ª Ocupante (afastamento) Patrono: Tadeu KrulAcadêmico Fundador: Alexandre Drabik1.º Ocupante: Francisco Filipak

27 – Cadeira n.º 27 Acadêmica: Maria Genoveva Bordignon Esteves, 1ª OcupantePatrono: José Pacheco CletoAcadêmica fundadora: Helena Lima Klotz

28 – Cadeira n.º 28Acadêmico: José Fagundes, FundadorPatrono: Hermínio Milis 29 – Cadeira n.º 29 Acadêmico: Dago Alfredo Woehl, FundadorPatrono: Ernesto Ulrich Breyer

30 – Cadeira n.º 30 Acadêmico: Aluízio Witiuk, 1º OcupantePatrono: Joaquim Serapião do NascimentoAcadêmica fundadora: Yeda Cordeiro Ramires

31 – Cadeira n.º 31 Acadêmico: Fernando Luis Tokarski, FundadorPatrono: Cyro Ehlke.

32 – Cadeira n.º 32 Acadêmico: Pedro Alberto Skiba, EfetivoPatrono: Frei Libório Lueg

33 – Cadeira n.º 33 Acadêmica: Lili Matzenbacher, EfetivaPatrona: Amasília Pinto de Araújo(vaga)

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287Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

34 – Cadeira n.º 34 Acadêmica: Maria Rosa Gaiovicz.Patrono: Pedro Margarido Maciel de AraújoAlcides Rodrigues de Almeida – 1º ocupante. 35 – Cadeira n.º 35 Acadêmica: Leda Barcelos, FundadoraPatrono: Mário Riesemberg

36 – Cadeira n.º 36 Acadêmico: Célio Horst Waldraff , EfetivoPatrono: Cícero Marcondes de França

37 – Cadeira n.º 37Acadêmico: Acir Mário Karwoski, EfetivoPatrono: Ladislau Romanowski

38 – Cadeira n.º 38 Acadêmica: Roseli Bilobran Klein, EfetivaPatrono: Estevão Juk

39 – Cadeira n.º 39 Acadêmico: Ivo Dolinski, EfetivoPatrono: Raimundo Colaço

40- Cadeira nº 40Acadêmica: Margareth Rose Ribas, 1ª ocupantePatrono: João Tulio Marcondes de FrançaAcadêmico fundador: Nelson Antônio Sicuro

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Prefeitos de Porto UniãoPrefeitos de Porto UniãoPrefeitos de Porto União

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291Edição Especial: Centenário do Município de Porto União (SC)

PREFEITOS DE PORTO UNIÃO

José César de Almeida – 05/09/1917 – 01/03/1918.Euzébio Correia de Oliveira – 02/03/1918 – 10/01/1919.Hermenegildo Alves Marcondes – 10/01/1919 – 10/01/1925.Dr. Carlos Conti – 10/01/1925 – 10/03/1926.Hermenegildo Alves Marcondes – 10/04/1926 – 10/01/1927.Eurico Borges dos Reis – 10/01/1927 – 23/10/1930.Braz Limongi – 23/10/1930 – 25/11/1930.Antiocho Pereira – 25/11/1930 – 30/04/1933.Francisco Otaviano Pimpão – 01/05/1933 – 30/12/1933.Helmuth Muller – 30/12/1933 – 29/02/1943.Mário Fernandes Guedes – 01/03/1943 – 17/10/1945.Jaime Corrêa Pereira – 18/10/1945 – 20/11/1945.Ivo Guilhon Pereira de Mello – 20/11/1945 – 10/12/1945.Lauro Muller Soares – 10/12/1945 – 30/04/1947.Alfredo Metzler – 01/05/1947 – 30/11/1947.Lauro Muller Soares – 01/12/1947 – 31/01/1951.Alfredo Metzler – 31/01/1951 – 31/01/1956.Lauro Muller Soares – 31/01/1956 – 31/01/1961.Salustiano Costa Júnior – 31/01/1961 – 17/08/1965.Victor Buch Filho – 17/08/1965 – 20/10/1965.João Nito Gaspari – 21/10/1965 – 31/01/1965.Victor Buch Filho – 31/01/1966 – 31/01/1970.Serafi m Caus – 01/02/1970 – 30/01/1973.Alexandre Passos Puzyna – 01/02/1973 – 01/02/1977.Victor Buch Filho – 01/02/1977 – 31/01/1983.Alexandre Passos Puzyna – 01/02/1983 – 14/05/1986.Ilário Sander – 14/06/1986 – 31/12/1988.Ary Carneiro Júnior – 01/01/1989 – 31/12/1992.Ilário Sander – 01/01/1993 – 31/12/1996.Alexandre Passos Puzyna – 01/01/1997 – 04/12/1998.Eliseu Mibach – 04/12/1998 – 31/12/2000.Eliseu Mibach – 01/01/2001 – 31/12/2004.Renato Stasiak – 01/01/2005 – 31/12/2008.Renato Stasiak – 01/01/2009 – 31/12/2012.Anízio de Souza – 01/01/2013 – 31/12/2016.Eliseu Mibach – 01/01/2017.

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