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Vita Scientia Revista de Ciências Biológicas do CCBS Volume I - Número 1 - 2018

Revista de Ciências Biológicas do CCBS · Introdução Em relação ao estudo dos fósseis, foi necessário muito tempo para o surgimento de programas de pesquisa apropriados

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Vita ScientiaRevista de Ciências Biológicas do CCBS

Volume I - Número 1 - 2018

© 2018 Universidade Presbiteriana Mackenzie

Os direitos de publicação desta revista são da Universidade Presbiteriana Mackenzie.Os textos publicados na revista são de inteira responsabilidade de seus autores.Permite-se a reprodução desde que citada a fonte.

A revista Vita Scientia está disponível em:http://vitascientiaweb.wordpress.com

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Vita Scientia: Revista Mackenzista de Ciências Biológi-cas/Universidade Presbiteriana Mackenzie.Semestral

ISSN:2595-7325

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIEReitor: Benedito Guimarães Aguiar NetoVice-Reitor: Marco Túllio de Castro VasconcelosChanceler: Davi Charles Gomes

Pro-Reitoria de Graduação e Assuntos Acadêmicos: Marili Moreira da Silva VieiraPró-Reitoria de Extensão e Educação Continuada: Jorge Alexandre Onoda PessanhaPró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação: Paulo Batista LopesDiretora do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde: Berenice CarpigianiCoordenador do Curso de Ciências Biológicas: Adriano Monteiro de Castro

Endereço para correspondênciaRevista Vita ScientiaCentro de Ciências Biológicas e da SaúdeUniversidade Presbiteriana MackenzieRua da Consolação 930, São Paulo (SP) CEP 01302907E-mail: [email protected]

Revista Vita Scientia

CONSELHO EDITORIALAdriano Monteiro de CastroCamila Sachelli RamosFabiano Fonseca da SilvaLeandro Tavares Azevedo VieiraPatrícia FiorinoRenato Sebastião SaladinoRoberta Monterazzo CysneirosVera de Moura Azevedo Farah

EDITORESMagno Botelho Castelo BrancoWaldir Stefano

CAPAKarl Stephan MokrossThiago Philipe de Camargo e Timo

ESTAGIÁRIOSAlexia Dionizo TomaGuilherme Tomazini Tonette

PERIDIOCIDADEPublicação semestral

IDIOMASArtigos publicados em português ou inglês

Universidade Presbiteriana Mackenzie, Revista Vita ScientiaRua da Consolação 930, Prédio 50, Sala 3Higienópolis, São Paulo (SP)CEP 01302-907(11)2766-7364

Apresentação

A revista Vita Scientia publica semestralmente textos das diferentes áreas da Biologia, escritos em por-tuguês ou inglês:

Artigo resultados científicos originais.Tradução Tradução de algum texto clássico relacionado às Ciências Biológicas.Ensaio discussões teóricas sobre um determinado tema.Revisão resumo do estado da arte sobre o conhecimento de algum determinado assunto.Opinião ensaio com perspectivas pessoais.Método descreve os detalhes de um procedimento estatístico ou alguma técnica de laboratório.

Acesse as instruções aos autores e os procedimentos de submissão no site da revista em vitascientia.wordpress.com.

Os editores.

Conteúdo

Artigos 5

Concepções evolutivas de Henry Fairfield Osborn nos estudos dos fósseis: uma contribuiçãoHenry Fairfield Osborn evolutionary conceptions’ in the study of fossils: a contributionStefano, W., Almeida, S. & Inglez, M . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

Chave preliminar de identificação de espécies vegetais do campo cerrado do Parque Estadual doJuquery, Franco da Rocha (SP).A preliminary key to identification of plant species of campo cerrado of Juquery State Park, Francoda Rocha (SP)Teixeira Filho, R.G.B. & Vieira, L.T.A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Efeito das queimadas nos parâmetros abióticos do solo em áreas de Cerrado no Parque Estadualde Juquery, Franco da Rocha, SPEffects of fire on soil abiotic parameters in areas of cerrado in Juquery State Park, Franco da Rocha,SPTakahashi, R.A., Camargos, A.C.P., Batista, S.P., Santos, P.B., Limache, D.E.S., Castelo, L.R. & Vieira,L.T.A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Avaliação morfométrica cardíaca em ratos obesos induzidos por dieta hiperlipídicaFarah, V.M.A., Hukuda, D.Y. & Fiorino, P. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Métodos 25

Desenvolvimento de um sistema automatizado para pré-análise dos interferentes do soro ou plasma,com identificação inteligente dos tubosSaladino, R.S. & Martins, R.A.B.L. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

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BioMack (2017) 1(1):1–6DOI: 10.7594/VitaScientia.14.01.01 Artigo

Concepções evolutivas de Henry Fairfield Osborn nosestudos dos fósseis: uma contribuição

Henry Fairfield Osborn evolutionary conceptions’ in the study of fossils: acontribution

Stefano, W., Almeida, S. & Inglez, M

Resumo

Henry Fairfield Osborn (1857–1935) fez diversas contribuições para a biologia e para outras diferentesáreas do conhecimento como educação, ciência, religião e antropologia. Como estudante de geologia jáhavia feito o reconhecimento geológico de montanhas, participado de expedição científica coletando fós-seis de vertebrados e plantas, assim como dedicou-se aos estudos de paleontologia desde esse período.Após formar-se, trabalhou durante vinte anos na universidade de Princeton, onde publicou artigos cien-tíficos sobre paleontologia de mamíferos, anfíbios e répteis. Sob a influência principalmente de ThomasHenry Huxley (1825–1895), Osborn interessou-se pela temática evolução, utilizando-se de vários mode-los evolutivos, desde os princípios defendidos por Lamarck até as propostas de Darwin, inúmeras vezescontemplando os dois naturalistas como subsídios para suas explicações para a origem das característicasencontradas nos fósseis que estudava. Este trabalho visou apresentar como Osborn utilizou diferentesprincípios evolutivos para explicar as variações encontradas nos fósseis descobertos e descritos, assimcomo entender quais os pesquisadores que deram base às suas ideias e que o inspiravam.

Palavras-chave: História da evolução; história da paleontologia; Osborn; fósseis.

Abstract

Henry Fairfield Osborn (1857 - 1935) made several contributions to biology and other different areas,as education, science, religion and anthropology. As a geology student, Osborn had done the geologi-cal reconnaissance of some mountains, participated in scientific expeditions to collect vertebrate fossilsand plants, and was dedicated to paleontology studies, since this period. After graduating, he workedfor twenty years at Princeton University, where he published scientific articles about paleontology ofmammals, amphibians and reptiles. Under the influence mainly of Thomas Henry Huxley (1825–1895),Osborn became interested in evolution, using various evolutionary models, from the principles defendedby Lamarck to Darwin’s proposals, repeatedly contemplating the two naturalists as subsidies to his expla-nations for the origin of the features found in the fossils studied. This article aimed to present how Osbornapplied different evolutionary principles to explain variations found in fossils discovered and described,and understand which researchers had inspired Osborn’s ideas.

Keywords: Evolution history, Paleonthology history, Osborn, fossils.

Introdução

Em relação ao estudo dos fósseis, foi necessário muito tempopara o surgimento de programas de pesquisa apropriados. Os fós-seis despertavam a curiosidade das pessoas em geral e especial-mente dos naturalistas, provavelmente devido à sua raridade e se-melhança com organismos vivos.

Mesmo aceitando os fósseis como provenientes dos organis-mos vivos, as suas origens apresentavam diferentes explicações.Vários personagens estão ligados às primeiras descobertas de fós-seis e a popularização da paleontologia, principalmente na Eu-ropa, tais como: Georges Cuvier (1769–1832), William Buckland(1784–1856), William Daniel Conybeare (1787–1837), Gideon Al-

gernon Mantell (1790–1852), Mary Anning (1799–1847), RichardOwen (1804–1892) e muitos outros.

Os fósseis têm sido descritos desde há muito tempo, entretanto,principalmente na segunda metade do século XVIII foram corre-tamente interpretados como remanescentes de habitantes da Terra,iniciando-se nesse período, as discussões sobre questões evolutivase paleontologia. Um exemplo clássico a ser citados é a discussãosobre a extinção das espécies com Georges Cuvier (1769–1832) emseu programa para a Paleontologia em 1796 na sua obra: Mémoiresur les espèces d´élephants vivants et fossiles. Na obra de Cuviernão houve simplesmente a descrição dos fósseis, ele os compa-rou com os seres vivos atuais além de relacioná-los aos estratosgeológicos conferindo-lhes uma idade (Faria 2012, pp.297–298;Rudwick 1985, p.2).

CONTEÚDO 7

Embora a paleontologia começasse a se estabelecer como umcorpo de conhecimento científico para uma comunidade de pes-quisadores, foi necessária a aceitação das ideias sobre evolução deDarwin para que se fosse compreendida a relação evolutiva exis-tente entre os fósseis e os seres viventes (Rudwick 1985, pp.4–5)

Principalmente no final do século XIX e início do século XX,passa-se a um maior entendimento sobre o registro fóssil. Pode-sedizer que foi um período de grandes discussões científicas sobre te-orias evolutivas e as ideias de seus propositores e defensores (comoLamarck, Wallace, Darwin e outros), influenciram diferentes áreasda biologia, e a paleontologia foi uma delas. A biologia nesse pe-ríodo se apropria de métodos experimentais e dessa maneira se uti-liza das evidências fósseis para tentar elaborar seus pensamentosa respeito da evolução dos seres vivos. Contribuem nessa área opaleontólogo do estadunidense Joseph Leidy (1823-1891) descre-vendo diversos espécimes fósseis e organizando-os de maneira fi-logenética (Faria 2012, p.310). São nesse período e contexto quese inserem os trabalhos de Henry Fairfield Osborn, que serão aquitratados.

Osborn: vida e obraHenry Fairfield Osborn (Figura 1) nasceu em 8 de agosto de

1857, na cidade de Fairfield em Connecticut. Filho de WilliamHenry Osborn, presidente da Illinois Central Railroad, e Virgi-nia Reed Osborn, fundadora chefe do Virginia Day Nursery, am-bos descendentes de famílias vindas da Nova Inglaterra (Gregory,1937, p.53; Sterling 1997, p.592).

Figura 1 Henry Fairfield Osbon (1857-1935).

Estudou no Collegiate Institute em Nova Iorque e anos depoisformou-se em Geologia no College of New Jersey (atual Prince-ton). Em 1878 realizou sua pós-graduação no E. M. Museum ofGeology and Archaeology. No inverno de 1879–80, em Londres,

Osborn estudou anatomia comparada na Royal College of Sciencecom Francis Maitland Balfoure e com o Professor Thomas HenryHuxley, quem o apresentou a Charles Darwin. Nesse período, fize-ram parte de seu ciclo de amigos o próprio Huxley, Francis Galton,Edward B. Poulton, Leonard Darwin e vários outros. É ainda nestemomento que iniciam seus estudos e interesse por questões relaci-onadas à evolução das espécies (Gregory 1937, pp. 55–60; Colbert1974).

Depois de voltar da Inglaterra, continuou com os seus trabalhossobre a paleontologia, principalmente de mamíferos, publicandodiversos artigos entre os anos de 1882 e 1887 sobre os unguladosdo Eoceno, inclusive descrevendo novas espécies de ungulados gi-gantes. A partir desse momento, Osborn tem despertado seu inte-resse sobre os problemas taxonômicos dessa família (Titanotheri-dae), dedicando anos de pesquisa sobre esse tema (Gregory 1937,pp. 61-63).

Osborn casou-se em 1881 com Lucretia Thatcher Perry, filhado general dos Estados Unidos Alexander J. Perry, com quem tevecinco filhos.

Em 1891, foi convidado pela Universidade de Columbia paraassumir o novo departamento de Biologia e pelo American Mu-seum of Natural History para cuidar do Departamento de Paleonto-logia de Mamíferos; e em 1908 tornou-se o presidente do Museu.Permaneceu na Universidade de Columbia até 1910 e no Ameri-can Museum até sua morte em 1935 (Gregory 1937, p.68; Colbert1974).

Henry Fairfield Osborn fez várias contribuições, não só para aBiologia, mas para outras áreas da Ciência. Na Tabela 1 e Figura 2evidencia-se o total de páginas publicadas por ele (Gregory 1937,p.84). Alguns de seus trabalhos não diretamente relacionados àsCiências Naturais trataram de questões sobre Eugenia, Imigraçãoe Educação (Baker 2012a).

Tabela 1 Tabela modificada do artigo Biographical Memoir of HenryFairfiel Osborn (1857-1935) – páginas publicadas para cada temática.

Temática 1878–1898 1899–1918 1919–1938 Total

Paleontologia 946 2125 3099 6170Psicologia 34 – – 34Neurologia 79 – – 79Embriologia 45 4 – 49Herança 105 – 38 143Biografia 79 239 914 1232Educação 85 132 439 656Administração 51 504 786 1341Evolução (teoria) 338 245 213 796Antropologia 26 585 523 1134Conservação – 49 44 93Ciência e Religião – – 373 373

1788 3883 6429 12100

Figura 2 Gráfico elaborado a partir da Tabela 1, representando como sedistribuiram as contribuições de Osborn dentro de cada temática de

paleontologia e evolução.

CONTEÚDO 8

Como membro do ruling class, Osborn desempenhou um papelde influência na luta contra imigração e promoção da Eugenia. Se-gundo Baker (2012b), sua visão de raça era uma complexa misturaentre seus estudos científicos e sua religião e acabou por utilizar di-versas pesquisas, principalmente em paleontologia e evolução dohomem, para promover ideias eugênicas.

Ele acreditava que os mamíferos teriam perdido sua capaci-dade de lutar para o avanço, ou seja, não teriam a necessidadede evoluir devido suas adaptações a ambientes específicos. Apartir dessa teoria, estudou a evolução humana pressupondo quenossa espécie não seria única, mas deveria ser separada em vá-rias espécies diferentes. O que Osborn considerava como humanosnórdicos, seriam mais generalizados do que aqueles que chamavade humanos africanos e asiáticos. Sendo assim, nórdicos teriammaior potencial evolutivo em relação às outras duas espécies (Ba-ker 2012b).

Henry Fairfield Osborn morreu em 6 de novembro de 1935(Gregory 1937, p.88).

Osborn e a Paleontologia

Os primeiros trabalhos e interesse de Osborn sobre paleontolo-gia começaram na sua graduação, quando realizou uma expediçãojunto com os colegas de classe, W. E. Scott e Francis Spier Jr. APrinceton Scientific Expedition of 1877, com a supervisão do pro-fessor Kargé, permitiu a realização de coletas de peixes e plantasdo Colorado e de mamíferos do Eoceno, perto de Fort Bridger.No ano seguinte, Osborn e Scott estudaram os fósseis encontra-dos, pesquisando materiais já publicados por Leidy, Cope e Marsh,copilando um catálogo sistemático dos vertebrados do Eoceno deWyoming, fazendo os desenhos necessários e descrevendo os no-vos materiais, realizando, assim, um trabalho sistemático de orga-nização desses dados (Gregory 1937, p.57; Baker 2012).

Em 1878, Osborn liderou uma segunda expedição de Princetonpara Wyoming com as companhias de McMaster, Scott, Speir, Mc-Cosh e Annin, explorando formações do Eoceno Superior. Nestaexpedição, descobriram valiosos remanescentes de Loxolophodon,espécie estudada pelo professor Cope. Outras escobertas importan-tes foram descritas mais tarde por Osborn e Scott (Gregory 1937,p.58). Os trabalhos com os fósseis achados nessas expedições pro-porcionaram o início da parceria profissional entre Cope e Osborn.

Durante os seus estudos e trabalho em Princeton, Osborndedicou-se mais à temática da paleontologia de mamíferos, espe-cialmente ungulados do Eoceno e dentes de mamíferos (Gregory1937, p 60). Em 1886 fez uma visita à Inglaterra para estudar osmamíferos do Mesozoico, a maioria pertencente à coleção do Bri-tish Museum. Os fósseis com que trabalhou eram, em sua maioria,vestígios de dentes e mandíbulas, todos de mamíferos de pequenoporte. Seu estudo foi importante, pois deu ao trabalho uma abor-dagem evolutiva que ia de acordo com a visão de Cope sobre a ori-gem dos molares trituberculados. Surge aí a teoria Cope-Osbornpara explicar a evolução dos dentes trituberculados de mamíferos(Osborn 1897a, p.1014; Gregory 1937, p.64).

Com o seu crescente interesse por evolução, Osborn utilizou-se de seus estudos em paleontologia para exemplificar e explicarquestões evolutivas. No seu trabalho de 1890 The Paleontologi-cal Evidence for the Transmission of Acquired Characters, utili-zou molares de Hyracotherium e de Dromotherium e todos os seusestágios de desenvolvimento para abordar sua opinião sobre carac-teres adquiridos. Neste artigo, Osborn discute que o lamarckismoseria a teoria mais adequada para explicar o surgimento e trans-

missão de novos caracteres, sobretudo em relação às cúspides dosmamíferos estudados.

Osborn, utilizando evidencias paleontológicas, discutiu os me-canismos evolutivos capazes de explicá-las, propondo algumas te-orias. Uma das teorias mais importantes propostas foi a dos Qua-tros Fatores Inseparáveis da Evolução, na qual Osborn diz que nãose deve separar os principais fatores para evolução, que seriam: ahereditariedade, o ambiente, a ontogenia e a seleção. Baseando-se em milhares de medidas de crânios e dentes de titanotérios, oautor aplica sua teoria evolutiva para essa espécie (Osborn 1908,pp.148–149).

No estudo da evolução e da hereditariedade, para Osborn, ospaleontólogos teriam uma vantagem em relação aos zoólogos, poisconseguiriam acompanhar certo caractere através de milhões deanos, com uma visão mais precisa de quais caracteres são impor-tantes e quais não são. Em relação a uma desvantagem, para ele, háum problema em relação ao consenso quanto à velocidade do sur-gimento de novos caracteres (Osborn 1907a, p.745). Como resul-tado de suas pesquisas sobre a evolução e os dentes de mamíferos,Osborn publicou um livro denominado "Evolution of MammalianMolar Teeth"(Osborn 1907b).

Osborn (1913) ficou conhecido ainda por seu trabalho sobreevolução dos cavalos, no qual explorou, principalmente, perisso-dáctilas e os titanotérios. Como curador e presidente do AmericamMuseum of Natural History, Osborn ajudou a construir e estudoua coleção completa de fósseis de cavalos e a partir de seus estudosescreveu o livro The Horses: Past and Present.

Além de utilizar a paleontologia como evidência para as ques-tões sobre a evolução, Osborn resolveu problemas taxonômicos,descreveu novas espécies de animais extintos, trabalhou com con-servação e restauração de fósseis, etc. Apesar de ter realizadoseus diversos e principais trabalhos com mamíferos, Osborn tra-balhou com peixes, anfíbios, répteis e dinossauros, como em seuartigo de 1905: Tyrannosaurus and other Cretaceous carnivorousdinosaurs: American Museum of Natural History, Bulletin, v.21,pp. 259–265 (Ripley 1916, pp. 5–25). Seus manuscritos paleonto-lógicos exibiram um vasto panorama sobre a evolução e a disper-são de animais deste a Era dos Répteis até a Era dos Mamíferos(Sterling 1997, p. 594).

Osborn e suas concepções evolutivas: influência das teoriasevolutivas em suas obras

A análise de diversas publicações de Osborn nos permite iden-tificar que a construção de suas ideias teve como base teorias etrabalhos de diversos pesquisadores que o inspiraram.

Identificou-se que suas maiores influências foram os pesqui-sadores naturalistas Jean Baptiste Lamarck (1744–1829) e Char-les Darwin (1809–1882), além de Hugo Marie de Vries (1848–1935), Wilhelm Heinrich Waagen (1841–1900), Thomas HenryHuxley (1825–1895), William Bateson (1861–1926) e EdwardCope (1840–1897).

Osborn estudou profundamente os trabalhos desses pesquisa-dores para tentar entender os processos que levariam a evoluçãodas espécies.

Desde o início de sua carreira, Osborn teve contato com os tra-balhos do professor Edward Cope, por quem sempre expressou suagratidão, em especial por sua ajuda em conselhos e no material de-positado em sua confiança para a realização de seus estudos, con-forme evidenciado no tópico anterior (Gregory 1937, p.57).

De acordo com Gregory (1937, p.58), as primeiras abordagense interesses de Osborn referem-se às questões de taxonomia, em

CONTEÚDO 9

especial de vertebrados do Eoceno e de mamíferos do Mesozóico.Para tais questões, muitas vezes Osborn recorreu aos trabalhos deCope, utilizando ainda materiais que estavam sob sua guarda, comoos espécimes de Loxodophodon, Symborodon.

No período em que tais estudos foram realizados, Osborn sus-tentou a visão de Cope sobre a forma do tipo tritubercular de mo-lar, encontrada em muitos mamíferos do Eoceno, que teria surgidoa partir de molares de ponta única do Dromatherium do TriássicoSuperior. Estudando os dentes desses antigos mamíferos contem-porâneos dos dinossauros jurássicos, Osborn desenvolveu e apli-cou a teoria de Cope (Osborn 1888, 1897a,b). Com Cope fundoua teoria Cope-Osborn de tritubecular, de valor incalculável parapaleontólogos como chave para a complexidade dos padrões alta-mente diversificados dos molares em mamíferos (Gregory 1937,p.64).

Observando-se a publicação de Ripley (1916), são identifica-das muitas publicações em parceria com Cope dentro dos camposde paleontologia e taxonomia de vertebrados. Além disso, em inú-meros trabalhos, Cope aparece como referência, em especial rela-cionadas à concessão de materiais (Osborn 1910, pp. 202-208).

Outra interessante citação de Cope por Osborn, está em seu tra-balho "Men of the old stone age"(Osborn 1915a, p.218), de acordocom o qual o nome Homo neandertalensis teria sido proposto porCope em 1893, quem também comparou e estudou crânio e esque-leto de La Chapelle.

Percebe-se que a afinidade e a frequente colaboração mútua en-tre Osborn e Cope durou anos de pesquisa conjunta, até a morte deCope, aos 57 anos em 1897.

Além das colaborações nos estudos taxonômicos de diferen-tes achados fósseis, algumas das concepções evolutivas que funda-mentam os trabalhos de Osborn em diferentes momentos, tambémpartem de pressupostos e discussões já apresentados por Cope.

Uma das discussões que permeiam os trabalhos de Osborn ederiva-se de premissas apresentadas previamente por Cope refere-se a ideias sobre a origem de novas adaptações. Osborn consideratal origem, num primeiro momento, a partir da teoria chamada porCope de Archaesthetism. De acordo com tal teoria, ocorreria ocrescimento estimulado por irritabilidade e sensibilidade, ou emoutras palavras, a produção de um novo órgão ou parte resultariade uma nova necessidade ou vontade que continua a ser sentida, epara o novo movimento o qual iniciou essa necessidade e causa decontinuar (Osborn 1896).

Ainda de acordo com Osborn (1896), o fator físico na teoria deLamarck foi denominado de Archaesthetism por Cope, ou seja, oconceito apresentado por Lamarck e Herbert Spencer (1829–1903)segundo o qual a adaptação a novas condições decorrentes da von-tade e necessidade dos animais, é primeiro expresso por Aristótelese depois por Cope em sua teoria do Archaesthetismo.

As influências de Lamarck nos trabalhos de Osborn, talvez pelocontato com Cope que também o seguia, ficam expressas ou ficamevidentes, por exemplo, no caso da explicação para a evolução dosdentes de mamíferos. Osborn diz que assim como o previsto porLamarck, o desgaste dentário sofrido durante o desenvolvimento étransmitido para os descendentes (Osborn 1890, pp.110–111).

Em trabalho posterior, contudo, Osborn (1915b, pp.217–218)acredita que a hipótese de reação mecânica de Lamarck e Copese demonstra falha e a problemática das cúspides é utilizada paraexplicar tais falhas.

Osborn (1925, p.749) diz ter abandonado a interpretação La-marckista referente a este conceito de que a continuidade na ori-gem e evolução de adaptações mecânicas deve-se à continuidade

de modificações adaptativas em somatória. Isso porque, para ele,embora possa parecer a interpretação correta para poucas adapta-ções, se contradiz para a maioria. Nos caracteres biomecânicos, aorigem das espécies seria um processo absolutamente contínuo.

No artigo de 1892, Osborn abandona da mesma maneira o con-ceito de uso e desuso, também apresentado nos trabalhos de La-marck, acreditando que a seleção natural poderia explicar todosos fatos da evolução (Let us examine the evidence for and againstthe Lamarckian theory, and inquire how far natural selection canexplain all the facts of evolution, p.540).

Os trabalhos de Darwin aos poucos, vão influenciando as con-cepções evolutivas de Osborn, que como apresentado acima, co-meça a abandonar alguns conceitos lamarckistas. Em 1912, porexemplo, Osborn discute algumas interpretações feitas a partir dosestudos realizados por Darwin. De acordo com Osborn (1912,pp. 77–78), Darwin defendeu que, de maneira geral, não ocorre-riam saltos evolutivos, valorizando as sutis e pequenas diferençasindividuais dos tipos mais diversificados.

Sobre isso, Osborn (1912, pp. 78-79) compara essas peque-nas variações com as "Minor Saltations"ou Mutações de De Vries.Tais mutações são definidas como alterações de estruturas e fun-ções, sendo sua ocorrência maior em plantas, pois seria dependentede alterações moleculares. Podem ser definidos como saltos des-contínuos ou repentinos a partir dos quais novos caracteres surgem(Osborn 1911, p. 328). Osborn (1916) ainda tenta diferenciar asmutações de De Vries das mutações de Waagen: The essential fe-ature of de Vries’s observations, in contrast to Waagen’s, is that ofdiscontinuous saltations either in indefinite or non-adaptive direc-tions (p.332).

Para Osborn (1916), as mutações de Waagen seriam estágios detransição entre linhagens de espécies em linha direta de ascensão fi-lética, sendo sua principal característica o acúmulo gradual de mo-dificações que são observadas após algum tempo com uma direçãodefinida (adaptativa) e que surgem continuamente, tornando-se de-finitivas. Essas considerações seriam importantes, pois mostrariamas diferenças entre De Vries e Waagen, apesar de ambas estaremligadas às mudanças na cromatina.

Na tentativa de entender a evolução das espécies, percebe-seuma mescla de concepções e enfoques evolutivos, já que Osbornvai construindo suas hipóteses a partir de diferentes pesquisado-res. Ainda em seu trabalho de 1912 (p.78), Osborn afirma que asdiferenças individuais seriam hereditárias, de acordo com Darwin,descontínuas de acordo com Bateson ou representariam mutações,de acordo com De Vries.

Em seu trabalho de (1907a), Osborn diz ainda que "Teorica-mente não há conflito entre as hipóteses da continuidade e a dadescontinuidade, se a uma predisposição hereditária para a evo-lução em uma direção definida, esta se manifesta ou subitamente(saltation ou mutação de De Vries) ou muito gradualmente (Recti-gradation ou mutação de Waagen)"(p.748), reforçando sua visão deque diferentes conceitos poderiam não ser excludentes, mas com-plementares, o que se percebe na construção de suas próprias hipó-teses.

Exemplificando, para Osborn (1912, pp. 81–82), os diferentestipos de variação cairiam em uma das quatro classes: 1) varia-ção individual (minor mutants defendidas por De Vries); 2) MajorSaltations, que não ocorreriam na natureza, exemplificando comhíbridos; 3) Flutuações das proporções equivalentes às variaçõesquantitativas de Bateson, citando ainda que Darwin as utiliza paraexplicar o pescoço da girafa e 4) variabilidade flutuante que paraDarwin, não estaria relacionada à evolução.

CONTEÚDO 10

Outro exemplo aparece em um de seus estudos que explicae compara princípios de Darwin, Lamarck e Weisman1 (Osborn1891, p.27). Para Osborn (1891, p.216) pelo princípio de Weis-man explica-se a herança mas não a evolução, enquanto com osprincípios de Darwin e Lamarck, explica-se evolução, mas não he-rança, percebendo-se a dificuldade de uma explicação significar aexclusão de outra.

Osborn (1908, pp. 148-149), a partir de Darwin, DeVries e Bat-son, formula resumidamente que hereditariedade, ontogenia, am-biente e seleção seriam fatores interoperantes e que em conjuntolevariam a evolução das espécies.

Esses mesmos quatro fatores são importantes e bastante explo-rados por Osborn. Para o autor, diferentes pesquisadores já os te-riam descrito, dando diferentes enfoques para os mesmos, o quepara ele era errôneo, já que estes seriam interoperantes e jamaisatuariam de forma isolada na natureza (Osborn 1908, p.149). Buf-fon teria dado maior enfoque para o ambiente, Lamarck para a on-togenia, Darwin para a seleção e a escola moderna por sua vez,focava na hereditariedade (Osborn 1908, p.148).

Osborn (1908, p.148) apresenta ainda o significado desses qua-tro fatores. Para ele hereditariedade incluiria somente modifica-ções nas células embrionárias, ontogenia incluiria a expressão dahereditariedade, as modificações e adaptações, e a influência doambiente nas células embrionárias (germe do plasma), ambienteincluiria toda a natureza externa do organismo e seleção represen-taria toda a competição, a sobrevivência e/ou a eliminação das re-presentações individuais combinadas com a ontogenia, hereditari-edade e fator ambiental.

Os quatro fatores seriam inseparáveis e interagiriam entre elesdesde o começo. Uma alteração em um alteraria todos os outros.Somente o fator seleção poderia ser removido pelo homem, os ou-tros poderiam apenas ser modificados, mas não removidos. Todasas mudanças na ontogenia, meio ambiente e seleção, mais cedo oumais tarde são refletidas na hereditariedade e todas as mudançasna hereditariedade se originariam ou de dentro ou de fora atravésde ontogenia, ou do ambiente ou da seleção. A origem de novoscaracteres, não a origem das espécies, seria o problema central naevolução (Figura 3) (Osborn 1908, pp.148–150).

Figura 3 Os quatro fatores inseparaveis: Hereditariedade, Ontogenia,Ambiente e Seleção.

Sintetizando sua ideia de interoperância dos quatro fatoresacima descritos, a vida e a evolução poderiam ser representadaspela formula: H×O×E×S, representando as letras iniciais dosfatores evolutivos (Osborn 1908, p. 148).

Considerações finais

Osborn baseou-se em vários princípios evolutivos para explicarsuas observações dos fósseis, como a transmissão de caracteres ad-quiridos, conceito aceito por muitos zoólogos nesse período. ParaHenry F. Osborn havia evidências paleontológicas e morfológicassuficientes mostrando que esses caracteres são transmitidos.

Osborn utilizou vários modelos evolutivos como processos res-ponsáveis pelas origens de várias características encontradas nosfósseis que estudou, desde princípios defendidos por Lamarck atéas ideias apresentadas por Darwin, inúmeras vezes contemplandoos dois naturalistas como subsídios das suas explicações evoluti-vas. Este trabalho mostra de que maneira Osborn utilizou princí-pios evolutivos como forma de explicar as variações encontradasnos fósseis descobertos e descritos no período e quais foram ospesquisadores que orientaram o suporte de suas ideias.

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1Osborn (1897a) publica um artigo em sua memória, relatando suas linhas de trabalho ao longo da vida e posteriormente uma biografia (Osborn 1929)

CONTEÚDO 11

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BioMack (2017) 1(1):1–6DOI: 10.7594/VitaScientia.14.01.01 Artigo

Chave preliminar de identificação de espécies vegetais do campo cerradodo Parque Estadual do Juquery, Franco da Rocha (SP).

A preliminary key to identification of plant species of campo cerrado of Juquery State Park,

Franco da Rocha (SP)

Teixeira Filho, R.G.B. & Vieira, L.T.A.

Resumo

O trabalho apresenta a chave dicotômica preliminar de identificação de plantas de campo cerrado doParque Estadual do Juquery que foram identificadas com ajuda de especialistas e incorporadas no HerbárioMACK. A chave é composta por 28 espécies pertencentes a 16 famílias que foram divididas em três chavespela filotaxia em Chave I (folhas simples e alternas), Chave II (folhas simples opostas) e Chave III (folhasopostas).

Palavras-chave: taxonomia vegetal; caracteres vegetativos; chave dicotômica.

Abstract

This paper presents a preliminary dichotomous identification key of campo cerrado plants of Juquery StatePark that were identified with expert help and incorporated in the Herbarium MACK. The key is composedby 28 species of 16 families and were divided into three keys by phyllotaxy: Key I (simple and alternateleaves), Key II (simple opposite leaves) and Key III (opposite leaves).

Keywords: plant taxonomy; vegetative characters; dichotomous key

Introdução

O Cerrado é um domínio fitogeográfico pertencente ao biomaSavana (Batalha 2011, Sano et al. 2008). O Cerrado ocupa 23%do território brasileiro, estando presente nos estados de Goiás, To-cantins e no Distrito Federal, onde alcança sua máxima continui-dade espacial, apresentando diversificada formação fitofisionômicae florística (Ratter et al. 1997). Existem diversas formações noCerrado devido a influência do solo e condição climática e, se-gundo Coutinho (2013), as principais fisionomias do Cerrado sãoas formações florestais, savânicas e campestres. No Estado de SãoPaulo, o Cerrado apresenta peculiaridades como a sujeição às ge-adas, duração do período seco menor do que em comparação como Cerrado do Planalto Central e a grande mescla com formaçõesflorestais, formando mosaicos não bem definidos entre Cerrado efloresta ombrófila (Bitencourt & Mendonça 2004). Originalmente,o estado tinha 14% do seu território ocupado pelo Cerrado, po-rém o continuo desmatamento fez com que essa área decaísse paramenos de 1%, sendo que apenas metade se encontra protegida emunidades de conservação (Kronka et al. 2005). Uma dessas unida-des de conservação é o Parque Estadual do Juquery, que segundoBaitello et al. (2013), possui 4 fitofisionomias de Cerrado, que sãocampo limpo, campo sujo, campo cerrado e cerrado sensu strictoalterado, além de possuir a formação florestal de fundo de vale,pertencente a floresta ombrófila.

Dentre as fitofisionomias de Cerrado encontradas no ParqueEstadual do Juquery, a que possui maior diversidade de espéciesé o campo cerrado, contando com 265 espécies dentre as 420 en-

contradas no parque (Baitello et al. 2013). O campo cerrado écaracterizado pela escassez de árvores, cobrindo cerca de 5 a 20%do terreno e não passando dos 3 metros de altura. Além disso, sãoencontrados arbusto e árvores subterrâneas, com solo muito pobree ácido. (Bitencourt, Mendonça 2004).

Segundo Braz et al. (2004) a elaboração de chaves de iden-tificação com base em caracteres vegetativos tem sido o foco dediversos autores por conta da dificuldade em se encontrar indiví-duos em estado fértil, ou seja, flores e frutos.

O presente trabalho teve como objetivo principal elaborar umachave de identificação com base em caracteres vegetativos de algu-mas das espécies encontradas na área de campo cerrado do ParqueEstadual do Juquery (PEJY), Franco da Rocha, SP, facilitando as-sim a identificação das plantas coletadas no local e ajudando nosprogramas de educação ambiental do parque junto à população.

Material e métodos

O PEJY teve o início de suas atividades no ano de 1993, no ter-reno onde anteriormente funcionava o Departamento de PsiquiatriaII do Hospital de Franco da Rocha e é definido como uma unidadede conservação de proteção integral. O parque está situado entreos municípios de Caieiras e Franco da Rocha e conta com umaárea de 2.058,09 ha (Figura 1), entre as coordenadas geográficasde 23º19’S e 23º25’S e 46º45’ e 46º35’W (Baitello et al. 2013).

CONTEÚDO 13

Figura 1 Localização e limites do Parque Estadual do Juquery, Franco daRocha, SP. (Crédito: Leandro T. Azevedo Vieira)

Para a criação da chave dicotômica, foram utilizadas as exsica-tas pertencentes ao trabalho de Antonucci (2015) que realizou umlevantamento fitossociológico na área de campo cerrado do PEJY,onde foram feitas 2 parcelas de 20 m× 20 m e coletados todos osindivíduos lenhosos com diâmetro ao nível do solo (DNS) igual ousuperior a 1 cm. Esses indivíduos foram levados ao Herbário Muni-cipal de São Paulo (PMSP) e ao Herbário Dom Bento José Pickeldo Instituto Florestal de São Paulo (SPSF) para serem identifica-dos com ajuda de especialistas. Depois de devidamente identifica-dos, foram feitas exsicatas que foram enviadas e armazenadas noHerbário da Universidade Presbiteriana Mackenzie (MACK) queforam tombadas e incorporadas à coleção.

As espécies presentes na chave de identificação são aquelas quepossuem indivíduos tombados no Herbário MACK e que conti-nham todas as informações de identificação. A terminologia dascaracterísticas seguiu o padrão empregado nos trabalhos de Gon-çalvez & Lorenzi (2011) e Durigan et al. (2004) e os nomes cientí-ficos seguiram APG III (2009) e conferidos no aplicativo Plantmi-ner (Carvalho et al. 2010).

As exsicatas foram analisadas e algumas características foramregistradas em fichas. As fichas continham campos para filotaxia,tipo e tamanho do pecíolo, comprimento e largura da folha, for-mato do limbo, ápice e base, tipo de venação, indumentação deambas as faces da folha, padrão de nervura principal em ambas asfaces e curvatura da margem do limbo. Assim, com base nessascaracterísticas, as espécies analisadas foram descritas.

Resultados e discussão

Das 37 espécies, coletadas por Antonucci (2015), 28 espéciespuderam ser utilizadas para o presente trabalho, sendo pertencen-tes a 16 família diferentes, tendo a família Asteraceae como maiorrepresentante com 6 espécies. As plantas foram divididas em trêschaves diferentes com base na filotaxia: folhas simples e alternas(Chave I), folhas simples e opostas (Chave II) e folhas compostas(Chave III).

As chaves por caracteres vegetativos possibilitam a identifica-ção das plantas, porém carecem de material herborizado para me-lhor observação das características, além disso para que o objetivode auxiliar outros pesquisadores a identificar com facilidade as co-letas realizadas no PEJY é necessário que mais trabalhos como essesejam realizados para contemplar a totalidade das espécies encon-tradas no parque. Dessa forma, busca-se aumentar as espécies co-letadas e identificadas, e consequentemente apresentar uma chavede identificação completa para a vegetação de campo cerrado doParque Estadual do Juquery.

Descrição das espécies• Araliaceae

Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl.) FrodinFolhas compostas alternas palmadas, folíolos medianos de 5-11,5 cm de compr., 2-5,5 cm de larg., ápice retuso a emargi-nado, base cordada a truncada, obelíptica, margem sinuada,involuta, face superior glabra, nervura sulcada, face infe-rior pilosa, nervura sulcada, pecíolo de 13-21 cm de compr.,Material examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Anto-nucci, M.C 75 (Herbário Mack, 2557)

• AsteraceaeBaccharis dacrunculifolia DC.Folhas simples alternas, 0,9 cm de compr., 0,3 cm de larg.,ápice agudo, base atenuada, formato linear, margem inteira,involuta, venação hifódroma, face superior serícea, nervuraimpressa, face inferior serícea, nervura plana, pecíolo sés-sil. Material examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY,Antonucci, M.C 28 (Herbário Mack, 2569)

Chrysolaena cognata (Less.) Dematt.Folhas simples alternas, 4-8,5 cm de compr., 1-2 cm delarg., ápice agudo, base atenuado, formato elíptica, mar-gem inteira, revoluta, venação cladódroma, face superior ás-pera, nervura impressa, face inferior estrigosa, nervura sul-cada, pecíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO: SãoPaulo, PEJY, Antonucci, M.C 91 (Herbário Mack, 2571)

Grazielia intermedia (DC.) R.M.King & H.Rob.Folhas simples opostas, 2-7 cm de compr., 0,5-1,5 cm delarg., ápice acuminado, base atenuada, formato lanceolado,margem lobada a crenada, venação camptódroma, revoluta,face superior áspera, nervura impressa, face inferior pubes-cente, nervura sulcada, pecíolo séssil. Material examinado:SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 144 (Her-bário Mack, 2572)

Moquiniastrum paniculatum (Less.) G. SanchoFolhas simples alternas, 7,5-9 cm de compr., 2,2-4 cm delarg., ápice agudo a arredondado, base cuneada a arredon-dada, formato elíptico, margem levemente ondulada no ápicee inteira no restante, revoluta, venação broquidódroma, facesuperior sericea, nervura plana, face inferior pilosa, nervurasucada, pecíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO:São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 105 (Herbário Mack,2573)

Moquiniastrum polymorphum (Less.) G. SanchoFolha simples alterna, 6,5-9 cm de compr., 5 cm de larg.,ápice acuminado, base arredondada, elíptica, margem in-teira, involuta, venação comptódroma, face superior glabra,nervura sulcada, face inferior pubescente, nervura sulcada,pecíolo de 1-2 cm de compr., Material examinado: SÃO

CONTEÚDO 14

PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 76 (HerbárioMack, 2558)

Stomatanthes dictyophyllus (DC.) R.M.King & H.Rob.Folhas simples alternas, 6 cm de compr., 4 cm de larg.,ápice arredondado, base atenuada, formato romboide, mar-gem crenulada, involuta, venação cladódroma, face superiorhirsuta, nervura plana, face inferior estrigosa, nervura sul-cada, pecíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO: SãoPaulo, PEJY, Antonucci, M.C 49 (Herbário Mack, 2588)

• BignoniaceaeJacaranda oxyphylla Cham.Folhas compostas opostas bipinadas, foliololos de até 3 cmcompr., 1,3 cm larg., ápice acuminado a agudo, base cune-ada, elíptica a romboide, margem levemente sinulada, revo-luta, venação broquidódroma, face superior glabra, nervuraimpressa, face inferior glabra, nervura sulcada, pecíolo com1,5-3 cm compr., Material examinado: SÃO PAULO: SãoPaulo, PEJY, Antonucci, M.C 90 (Herbário Mack, 2559)

• CaryocaraceaeCaryocar brasiliense Cambess. Folhas compostas alternastrifolioladas, pecíolo com 3-6 cm de compr., folíolo medianocom 5-6,5 cm de compr., 5-6,5 cm de larg., ápice arredon-dado, base arredondada, formato orbicular, margem crenada,revoluta, venação broquidódroma, face superior pilosa, ner-vura primaria plana, face inferior pilosa, nervura primariasulcada, cartácea. Material examinado: SÃO PAULO: SãoPaulo, PEJY, Antonucci, M.C 86 (Herbário Mack, 2574)

• ErythroxylaceaeErythroxylum campestre A.St.-Hil.Folhas simpes alternas, 3-6,5 cm de compr., 2-5 cm de larg.,ápice retuso a arredondado, base arredondada, formato oval,margem inteira, revoluta, venação reticulódroma, face su-perior glabra, nervura sulcada, face inferior glabra, nervurasulcada, pecíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO:São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 43 (Herbário Mack, 2576)

Erythroxylum suberosum A.St.-Hil.Folhas simples alternas, 3,2-5 cm de compr., 1,2-3 cm delarg., ápice retuso, base atenuada, formato obovado, margeminteira, menos frequente ondulada, revoluta, venação reticu-lódroma, face superior glabra, nervura impressa, face infe-rior glabra, nervura sulcada, pecíolo de até 0,4 cm. Mate-rial examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci,M.C 33 (Herbário Mack, 2575)

• LamiaceaeAegiphila verticillata Vell.Folha simples opostas, 6,5-8 cm de compr., 3-3,6 cm delarg., ápice acuminado, base atenuada, oboelíptica, margeminteira, revoluta, venação camptódroma, face superior gla-bra, nervura sulcada, face inferior canescente, nervura sul-cada, pecíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO: SãoPaulo, PEJY, Antonucci, M.C 04 (Herbário Mack, 2589)

• MalpighiaceaeByrsonima intermedia A.Juss.Folhas simples opostas, 2,4-6,5 cm de compr., 1,5-3,3 cm delarg., ápice retuso, arredondado ou agudo, base arredondadaa cuneada, formato oval a orbicular, margem inteira, revo-luta, venação broquidódroma, face superior glabra, nervura

sulcada, face inferior glabra, nervura sulcada, pecíolo sés-sil. Material examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY,Antonucci, M.C 64 (Herbário Mack, 2585)

Byrsonima guilleminiana A.Juss.Folhas simples opostas, 6,5-15 cm de compr., 1,5-6 cm delarg., ápice agudo, base atenuada, formato espatulado, mar-gem inteira, revoluta, face superior glabra, nervura sulcada,face inferior glabra, nervura sulcada, pecíolo séssil. Mate-rial examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci,M.C 150 (Herbário Mack, 2586)

Byrsonima subterranea Brade & Markgr.Folhas simples opostas, 13,5-25 cm de compr., 3-8,5 cm delarg., ápice acuminado a apiculado, base atenuada, formatoelíptica, margem inteira, revoluta, face superior glabra, ner-vura plana, face inferior tomentosa, nervura sulcada, pecíoloséssil, Material examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY,Antonucci, M.C 94 (Herbário Mack, 2584)

• MelastomataceaeMiconia albicans (Sw.) TrianaFolhas simples opostas, 4,5-7 cm de compr., 2-4 cm de larg.,ápice arredondado a agudo, base cordada, oval a elíptica,margem inteira, involuta, venação curvinérvea, face superiorglabra, nervura impressa, face inferior canescente, nervurasulcada, pecíolo de 0,5-1 cm de compr.. Material exami-nado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 110(Herbário Mack, 2560)

Miconia ligustroides(DC.) Naudin Folhas simples opostas, 2,5-4 cm de compr.,1-1,5 cm de larg., ápice agudo, base acuneada, lanceolada,margem inteira, revoluta, venação curvinérvea, face supe-rior glabra, nervura impressa, face inferior glabra nervuraimpressa, pecíolo de 0,5-1 cm de compr., Material exami-nado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 140(Herbário Mack, 2561)

• MyrtaceaeEugenia bimarginata DC.Folhas simples opostas, 6,5 cm de compr., 3 cm de larg.,ápice arredondo, menos frequente agudo, base cuneada aatenuada, formato obovado, margem inteira, involuta, vena-ção broquidódroma, face superior glabra, nervura sulcada,face inferior glabra, nervura sulcada, pecíolo séssil. Mate-rial examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci,M.C 20 (Herbário Mack, 2565)

Eugenia punicifolia (Kunth) DC.Folhas simples oposta, 2,5-3,5 cm de compr., 1-1,5 cm delarg., ápice agudo a arredondado, base cuneada, formatoelíptico a ovalado, margem lisa, revoluta, venação broqui-dódroma, face superior glabra, nervura plana, face inferiorglabra, nervura sulcada, pecíolo séssil. Material examinado:SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 02 (Herbá-rio Mack, 2564)

Pimenta pseudocaryophyllus (Gomes) LandrumFolhas simples opostas, 8,5-11 cm de compr., 4,5-5 cm delarg., ápice mucronado, base cuneada, formato oval, mar-gem crenada, revoluta, venação broquidódroma, face supe-rior glabra, nervura impressa, face inferior glabra, nervurasulcada, pecíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO:São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 80 (Herbário Mack, 2567)

CONTEÚDO 15

Psidium grandifolium Mart. ex DC.Folhas simples opostas, 3,5-9 cm de compr., 2,2-7 cm delarg., ápice cuspidado a acuminado, base cuneada, margeminteira, revoluta, venação broquidódroma, face superior gla-bra, nervura impressa, face inferior canescente, nervura sul-cada, pecíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO: SãoPaulo, PEJY, Antonucci, M.C 61 (Herbário Mack, 2577)

• PrimulaceaeMyrsine umbellata Mart.Folhas simples alternas, 3-9,5 cm de compr., 2-5 cm delarg., ápice acuminado, agudo ou arredondado, base cune-ada, formato elíptico a obovado, margem inteira, revoluta,venação broquidódroma, face superior glabra, nervura plana,face inferior glabra, nervura sulcada, pecíolo de 0,5-1 cmde compr., Material examinado: SÃO PAULO: São Paulo,PEJY, Antonucci, M.C 143 (Herbário Mack, 2578)

• RubiaceaeSabicea brasiliensis WernhamFolha simples oposta, 3-8cm de compr., 1,5-4,4 cm de larg.,ápice acuminado, base arredondada, oval, margem inteira,revoluta, venação camptódroma, face superior canescente,nervura plana, face inferior canescente, nervura sulcada, pe-cíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO: São Paulo,PEJY, Antonucci, M.C 141 (Herbário Mack, 2579)

• SapotaceaeChrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk.Folhas simples alternas, 1-2,1 cm de compr., 0,5-1 cm delarg., ápice retuso, base atenuada, formato oblanceolada aobovada, margem lisa, revoluta, face superior estrigosa, ner-vura impressa, face inferior glabra, nervura impressa, pe-cíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO: São Paulo,PEJY, Antonucci, M.C 149 (Herbário Mack, 2581)

• SapindaceaeDodonaea viscosa Jacq.Folhas simples alternas, 5,5-11 cm de compr., 1,5-2 cm delarg., ápice agudo a acuminado, base atenuada, formato lan-ceolado, menos frequente romboide, margem inteira, revo-luta, face superior glabra, nervura sulcada, face inferior gla-bra, nervura plana, pecíolo de 0,5-1 cm de compr.. Mate-rial examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci,M.C 59 (Herbário Mack, 2580)

• SymplocaceaeSymplocos oblongifolia Casar.Folhas simples alternas, 3-6 cm de compr., 1,5-2,5 cm delarg., ápice agudo a arredondado, base atenuada a cuneada,formato elíptico, menos frequente obovada, margem serre-ada, menos frequente inteira, revoluta, venação broquidó-droma, face superior glabra, nervura sulcada, face inferiorglabra, nervura plana, pecíolo de até 0,5 cm de compr., Mate-rial examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY, Antonucci,M.C 81 (Herbário Mack, 2582)

• VerbenaceaeLippia origanoides KunthFolhas simples opostas, 1,5-4 cm de compr., 0,5-1 cm delarg., ápice arredondado, retuso ou agudo, base arredondadaa cuneada, formato oval a ovalada, margem crenada, revo-luta, venação camptódroma, face superior áspera, nervuraimpressa, face inferior canescente, nervura sulcada, pecíolo

séssil. Material examinado: SÃO PAULO: São Paulo, PEJY,Antonucci, M.C 15 (Herbário Mack, 2583)

• OchnaceaeOuratea floribunda (A.St.-Hil.) Engl.Folhas simples alternas, 3-6 cm de compr., 1,3-2,5 cm delarg., ápice agudo a arredondado, base cuneada, formatoelíptico a oblongado, margem serreada no ápice e inteirano restante, revoluta, venação eucamptódroma, face supe-rior glabra, nervura sulcada, face inferior glabra, nervuraplana, pecíolo séssil. Material examinado: SÃO PAULO:São Paulo, PEJY, Antonucci, M.C 44 (Herbário Mack, 2568)

Chaves de identificaçãoAs chaves de identificação se encontram após as referências

bibliográficas desse artigo.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Marina Castellari Antonucci pela dis-ponibilização do material analisado; ao Dr. João Batista Baitelloe ao Instituto Florestal pela ajuda nas identificações botânicas; àBárbara Mellado pelo apoio e revisão da chave de identificação;ao Francisco de Assis Honda e toda equipe do Parque Estadual doJuquery pelo apoio incondicional à pesquisa científica dentro doparque. Autorização COTEC/IF 001.823/2015 e SISBio 49710-2.

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Chave de Identificacao

Chave I: plantas com folhas alternas

1. Venação Eucamptódroma, Cladódroma ou Reticulódroma2. ’ Venação Eucamptódroma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ouratea floribunda2. Venação Cladódroma ou Reticulódroma

3. Margem crenada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Stomatanthes dictyophyllus3. Margem inteira a levemente ondulada

4. Sem estipula intrapeciolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Chrysolaena cognata4. Com estipula intrapeciolar

5. 2-5cm de comprimento; 2-5cm de largura; ambas as faces com nervura sulcada . . . . . . . . . . . . . . . . . . Erythroxilum campestre5. 3,2-5,5cm de comprimento; 1,2-3cm de largura; face superior com nervura impressa e superior com nervura sulcada

Erythroxylum suberosum1. Venação Camptódroma, Hifodódroma ou Broquidódroma

6. Venação Camptódroma ou Hifódroma7. Pecíolo de 1-2cm, 6,5-9cm de comprimento, 5cm de largura, face inferior pubescente . . . . . . . . . . . . . . Moquiniastrum polymorphum7. Subsessil, 0,9cm de comprimento, 0,3cm de largura, face inferior serícea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Baccharis dracunculifolia

6. Venação Broquidódroma8. Face inferior com nervura central plana ou impressa

9. 1-2,1cm de comprimento, 0,5-1cm de largura, margem inteira, oblanceolada a obovada . . . . . . . . . . . . . Chrysophylum marginatum9. -6cm de comprimento, 1,5-2,5cm de largura, margem serreada, elíptica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Symplocos oblongifolia

8. Face inferior com nervura central sulcada10. Margem levemente ondulada no ápice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Moquiniastrum painculatum10. Margem inteira

11. 3-9,5cm de comprimento, 2,5cm de largura, elíptica a obovada, pecíolo de 0,5-1cm de comprimento . . . . . . . . . Myrsine umbellata11. 5,5-11cm de comprimento, 1,5-2cm de largura, lanceolada a romboide, pecíolo de 0,5-1cm de comprimento . . . . Dodonaea viscosa

Chave II: Plantas com folhas opostas1. Venação acródoma ou camptódroma

2. Venação acródoma3. 4,5-7cm de comprimento, 2-4cm de largura, oval a elíptica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Miconia albicans3. 2,5-4cm de comprimento, 1-1,5cm de largura, lanceolada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Miconia ligustroides

2. Venação camptódroma4. Margem inteira

5. Disposição dística das folhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sabicea brasiliensis5. Disposição decussada das folhas

6. 6,5-8cm de comprimento, 3-3,6cm de largura, oboeliptica, ambas as faces sulcadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . Aegiphila verticillata6. 13-25cm de comprimento, 3-9,5cm de largura, elíptica, face superior plana, face inferior impressa . . . . . . Byrsonima subterranea

4. Margem crenada/lobada7. 1,5-4cm de comprimento, 0,5-1cm de largura, oval a ovalada, ápice arredondado, retuso ou agudo, base arredonda a cuneada

Lippia origanoides7. 2-7cm de comprimento, 0,5-1cm de largura, lanceolada, ápice acuminado, base atenuada . . . . . . . . . . . . . . . . . Grazielia intermedia

1. Venação broquidódroma8. Margem crenulada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pimenta pseudocaryophyllus8. Margem inteira

9. Face superior com nervura impressa ou plana10. 3,5-9cm de comprimento, 2,2-7cm de largura, obovada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Psidium grandifolium10. 2,5-3,5cm de comprimento, 1-1,5cm de largura, elíptica a ovada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Eugenia punicifolia

9. Face superior com nervura sulcada11. Limbo foliar involuto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Eugenia bimarginata11. Limbo foliar revoluto

12. 2,4-6,5cm de comprimento, 1,5-3,3cm de largura, oval a orbicular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Byrsonima intermedia12. 6,5-15cm de comprimento, 1,5-6cm de comprimento, espatulada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Byrsonima guilleminiana

Chave III: plantas com folhas compostas1. Folhas palmadas ou trifoliadas; face inferior pilosa

2. Foliolos mediano de 5-6,5 cm comprimento e 5-6,5 cm largura; face superior pilosa; margem crenada . . . . . . . . . . . . . Caryocar brasilense2. oliolo mediano de 5-11,5 cm de comprimento e 2-5,5 cm de largura; face superior glabra; margem inteira . . . . . . . . . . chefflera macrocarpa

1.3. Folha Bipinada; glabras em ambas as faces; venação broquidódroma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Jacaranda oxyphylla

rrrr

BioMack (2017) 1(1):1–6DOI: 10.7594/VitaScientia.14.01.01 Artigo

Efeito das queimadas nos parâmetros abióticos do solo emáreas de Cerrado no Parque Estadual de Juquery, Franco da

Rocha, SPEffects of fire on soil abiotic parameters in areas of cerrado in Juquery State

Park, Franco da Rocha, SP.

Takahashi, R.A., Camargos, A.C.P., Batista, S.P.,Santos, P.B., Limache, D.E.S., Castelo, L.R. & Vieira, L.T.A.

Resumo

Atualmente o Cerrado brasileiro encontra-se entre domínios fitogeográficos mais afetados pela ação dohomem, chegando a ter 80% de sua extensão modificada. Um fator característico dos cerrados é a incidên-cia de incêndios naturais. O fogo interfere na estrutura de populações vegetais, direta ou indiretamente,afetando a composição do solo e sua disponibilidade de nutrientes. Sendo assim, o seguinte trabalho tevecomo objetivo analisar os efeitos da queimada no solo, em diferentes profundidades, em relação ao pH,matéria orgânica e umidade relativa em áreas de cerrado do Parque Estadual do Juquery. O teor de matériaorgânica foi maior próximo à superfície do solo e maior em áreas queimadas em relação às áreas intactascom vegetação natural. Isso se deve pelo acelerado processo de mineralização provocados pelas queima-das, que pode diminuir a concentração de alumínio da camada superficial do solo, aumentando o valor dopH encontrado superficialmente na área recentemente queimada. Já a umidade relativa do solo a 20 cm deprofundidade foi menor no solo onde a vegetação estava intacta, provavelmente por estar em locais maiselevado em comparação com as áreas queimadas. Assim, o presente trabalho evidencia alguns efeitos dofogo sobre parâmetros abióticos do solo.

Palavras-chave: Fogo, matéria orgânica, pH, umidade relativa

Abstract

Currently, the Brazilian Cerrado is among of phytogeographic domains more affected by action of man,reaching 80% of its extent modified. A characteristic factor of cerrados is the incidence of natural fires.Fire interferes on structure of plant populations, either directly and indirectly, affecting the composition ofthe soil and its availability of nutrients. Therefore, the objective of this work was to analyze the effects offire on soil, at different depths, in relation to pH, organic matter and relative humidity in cerrado areas ofJuquery State Park. The organic matter content was higher near the soil surface and higher in burned areasthan intact areas with natural vegetation. This occurs due to accelerated process of mineralization causedby fires, which may decrease the aluminum content on the soil surface layer, thus, increasing the pH valuefound superficially in the area recently burned. However, the relative humidity of the soil at 20 cm depthwas lower in the soils where the vegetation was intact, probably because it is in higher places comparedto the burned areas. Thus, the present work evidences the effect of fire on abiotic soil parameters.

Keywords: Fire, organic matter, pH, relative humidity.

Introdução

Atualmente o Cerrado brasileiro encontra-se entre os domíniosfitogeográficos mais afetados pelo homem devido ao alto grau deação econômica como a pecuária e monocultura de grãos como asoja.(Machado et al. 2004) chegando a ter cerca de 80% de suaextensão total modificada (Myers et al. 2000).

O Cerrado é constituído por um complexo de formações queabrangem diversos tipos de vegetação, desde campos limpos comsuas formações campestres até os cerradões com composições flo-

restais (Coutinho 1978). Possui um clima predominantemente tro-pical sazonal com invernos secos, onde as temperaturas podemchegar a extremos de 40ºC nos meses de dezembro e janeiro e pró-ximos ou até mesmo abaixo de zero nos meses de junho e julho(Coutinho 2000). Além disso, o Cerrado é considerado como umdoshotspots mundiais para a conservação da biodiversidade devidoseu elevado número de espécies endêmicas e alto grau de degra-dação ambiental (Myers et al. 2000, Mittermeier et al. 2011).Levando em conta a diversidade biológica, o cerrado brasileiro éconsiderado como a savana mais rica do mundo (Klink & Machado

CONTEÚDO 18

2005), dispondo de 12.669 espécies de plantas nativas já cataloga-das (Forzza et al. 2012).

Um fator característico dos cerrados é a incidência de incêndiosnaturais, que segundo estudos feitos por Ledru (2002), já se encon-travam presentes muito antes da chegada do Homem, há cerca de32 mil anos. De fato, a flora do Cerrado evoluiu em resposta aoregime natural do fogo (Simon, Pennington 2012). Entretanto, asqueimadas atualmente nos cerrados são em sua maioria de origemantrópica e sua alta frequência pode afetar negativamente as popu-lações de plantas (Hoffmann, Moreira, 2002). Os incêndios antró-picos ocorrem devido à expansão da pecuária que usa o fogo paralimpar a terra e incentivar o crescimento de novas pastagens, emespecial de gramíneas africanas (Klink, Machado, 2005) Pode-seconsiderar que o fogo interfere na estrutura de populações vegetais(Hoffmann, Moreira 2002), seja diretamente, afetando a compo-sição do solo e sua disponibilidade de nutrientes (Zanine, Diniz2006) ou indiretamente, removendo competidores como arbustos egramíneas nativas (Klink, Machado 2005)

Assim, o fogo e o solo possuem uma relação íntima, pois am-bos interagem criando condições características que possibilitamo estabelecimento de espécies com diferentes necessidades de nu-trientes e resistência ao fogo. Por exemplo, Da Silva e Batalha(2008), apontaram diferenças nos solos com queimada, sendo estesmais ricos em matéria orgânica, nitrogênio e argila, enquanto queos solos intactos se mostraram mais ácidos e com maior presençade alumínio. Além disso, com a remoção da cobertura vegetal e daserrapilheira pelo fogo, os níveis de nutrientes do solo aumentamlocalmente e o habitat se encontra mais propício para a ocorrênciade espécies exóticas (Milberg et al. 1999).

É importante o estudo de solos para compreender o desenvolvi-mento e sucessão ecológica de uma vegetação, todavia, ainda exis-tem poucos estudos sobre os efeitos de queimadas sobre os solosdo cerrado (Pivello et al. 2010). Dentre os escassos trabalhos, Mi-randa et al. (1993) estudaram a temperatura de solo em diferentesprofundidades durante a queimada, Kato & Haridasan (2002) ava-liaram o impacto do fogo na dinâmica de água do solo, e Nardoto eBustamante (2003) estudaram as consequências da queimada sobrea microbiota do solo e mineralização do nitrogênio.

Tendo em vista a necessidade de compreender sobre a intera-ção entre o fogo e o solo do cerrado, o seguinte trabalho teve comoobjetivo analisar os efeitos da queimada sobre o solo, em diferentesprofundidades, em relação ao pH, matéria orgânica e umidade re-lativa em áreas de cerrado do Parque Estadual do Juquery, Francoda Rocha, SP.

Materiais e métodosO Parque Estadual do Juquery (PEJY) é uma Unidade de Con-

servação que engloba o último remanescente de Cerrado preser-vado na região Metropolitana de São Paulo (Raimundo 2006, Bai-tello et al. 2013). O Parque se encontra no município de Francoda Rocha e foi criado em 1993, sendo composto pelos terrenos atéentão da Fazenda Juquery. É constituído em sua maior parte porcampo limpo (Baitello et al. 2013), o que pode ser aferido a altafrequência de queimadas no local (Figueiredo et al. 2000).

A coleta de solo foi realizada no dia 17 de setembro de 2017,durante o VI Curso de Ecologia de Campo no Parque Estadual doJuquery realizado pelo curso de Ciências Biológicas da Universi-dade Presbiteriana Mackenzie (UPM). A coleta de solo foi reali-zada em quatro diferentes condições, sendo elas: região que sofreuqueimada a uma semana (Queimada Recente), que sofreu quei-mada a um ano (Queimada Antiga), intacta e uma região próxima

à queimada recente (Próxima) mas com vegetação presente. Essaregião próxima à queimada localizava-se atravessando o acero, ouseja, o acero impediu a passagem do fogo ao outro lado.

Em cada local, foram retiradas quatro amostras do solo deacordo com sua profundidade, sendo: superfície do solo, 10 cm,20 cm e 30 cm abaixo da superfície, que foram medidas com o au-xílio de uma fita métrica. O solo foi perfurado com o Trado Holan-dês, e coletado com uma pá e armazenado em sacos Ziplock identi-ficados previamente. Somente para a região de queimada recente,foi coletado também uma amostra da serapilheira.

O teste de matéria orgânica foi realizado a partir do dia 16 deoutubro de 2017 no laboratório de Ciências Biológicas da UPM,devido a necessidade recursos para tal teste. As amostras fica-ram armazenadas em geladeira nos respectivos sacos plásticos fe-chados, para minimizar efeitos de volatilidade de componentes dosolo, até a realização do teste.

Para o teste de matéria orgânica, foram selecionadas as amos-tras que foram retiradas a 10 e 20 cm de profundidade. O procedi-mento para avaliação do teor de matéria orgânica seguiu a normaNBR 13600 (ABNT 1996). Assim, foi transferida 30 gramas paraos cadinhos que foram colocados na estufa à temperatura de apro-ximadamente 105°C a 110°C, onde permaneceram por 24 h. Dadoo tempo, as amostras foram vedadas com papel alumínio e colo-cadas no dessecador até atingir a temperatura ambiente para quepudesse ser registrado o peso dos cadinhos pós-estufa, ou seja, semumidade presente no solo.

Depois de registrar o peso, os cadinhos foram para a mufla (sempapel alumínio) por 12 h, que teve sua temperatura aumentada gra-dualmente até atingir 440°C aproximadamente. Os cadinhos foramretirados da mufla e vedados com papel alumínio, deixando-os des-cansar para atingir a temperatura ambiente no dessecador. Apósisso, foi registrado o peso novamente e os cadinhos foram lavadose secos na estufa para registrar seu peso.

A expressão utilizada para calcular o teor de matéria orgânicano solo foi:

MOS =

(1 −

ba

)× 100

Onde, a é o peso da amostra pós-estufa e b é o peso pós-mufla.Esses pesos foram adquiridos a partir da diferença do peso do ca-dinho e o peso do conjunto cadinho mais amostra.

Para o teste de pH, foi retirada duas colheres de sopa (apro-ximadamente 30 g por colher) de cada solo e colocadas em co-pos plásticos (200 ml), onde foi acrescentado de água. A medidade água foi igual para todas as amostras, sendo aproximadamente250 ml. Depois de misturadas, foram utilizadas fitas de pH paratodas as amostras, incluindo o pH da água pura.

O teste de pH foi realizado nos laboratórios da UPM no dia 16de outubro de 2017, com o auxílio de um pHmetro, para as mes-mas amostras armazenadas em geladeira. Primeiro foi transferida10 g de solo para um copo plástico de 200 ml, e deixado secando atemperatura ambiente por pelo menos 24 h, com exceção da serra-pilheira que já havia sido misturada com o solo de 10 cm no sacode armazenamento.

Após as 24 h, foi transferido 25 ml de água destilada para todosos copos que foram agitados ao longo de 30 minutos, com o auxíliode bastão de vidro. Depois de 30 minutos, o eletrodo do pHmetro,devidamente calibrado, foi imerso na suspensão do solo e feita aleitura do pH somente após 60 segundos, já que havia partículasem suspensão que poderia desestabilizar a leitura.

CONTEÚDO 19

Para o teste de umidade, foi pesado 50 g das amostras de 20 cmde profundidade de cada região com o auxílio de placas de Petrie uma balança analítica. Essas 50 g de solo foram colocadas emjornal no Sol por duas horas, depois foram retiradas e colocadas naplaca de Petri novamente para pesá-las. A diferença entre o pesoinicial da amostra úmida e da amostra seca determina a umidadepresente naquela amostra. Este teste foi realizada no próprio PEJYno dia 17 de setembro de 2017 para representar de forma maisprecisa a umidade relativa do solo nas áreas amostradas, principal-mente com a interferência do fogo.

Resultados e discussãoAo comparar o teor de matéria orgânica no solo (MOS) en-

tre área de cerrado recentemente queimada à área natural (intacta),percebe-se que houve um maior teor de matéria orgânica presentena parcela da queimada recente (9,04) do que na parcela intacta(6,59) para amostras em profundidades de 10 cm (Figura 1). Adiferença foi ainda maior quando comparado o teor de matériaorgânica à profundidade de 20 cm, sendo a maior concentraçãoem solos recentemente queimado (8,06) do que para área intacta(3,15). Da Silva & Batalha (2008) mostraram que há diferença en-tre a quantidade de matéria orgânica presente no solo de regiões docerrado que sofrem queimadas anualmente e de regiões que sofrempouca queimada. Solos que sofrem queimada anuais tendem a pos-suir um índice maior de matéria orgânica, bem como de outros ele-mentos essenciais para a planta, como o magnésio e o nitrogênio,e diminuiu a quantidade de alumínio no solo (Da Silva & Batalha2008).

Figura 1 Teor de matéria orgânica presente no solo de acordo com aprofundidade e área amostrada de cerrado no PEJY.

Segundo Soares (1995), a queima faz com que os compostosorgânicos sejam mais rapidamente mineralizados, ou seja, dispo-níveis para serem absorvidas pelas plantas novamente, sendo esteprocesso mais lento pelo processo de decomposição natural da ma-téria orgânica. Assim, nossos dados confirmar um maior teor deMO em solos recentemente queimados. Também é maior o teor deMO em solos com queimadas de um ano do que áreas sem registrosde queimadas.

Com o aceleramento da mineralização desses compostos orgâ-nicos, que na sua maioria são cátions, ocorre o aumento do pHna superfície do solo, devido a isso, a superfície da camada de soloque sofreu queimada recente foi a única a apresentar um valor maisalto (6,07) (Figura 2). Contudo, esse valor pode ter sido tambéminfluenciado pelas cinzas que foram armazenadas junto com essesolo, visto que o pH das cinzas isoladas estava por volta de oito.

Segundo Coutinho (2000), o pH do solo do Cerrado é ácido,devido à alta quantidade de Al+3 presente no solo, o que justificao pH baixo encontrado nos resultados. Segundo Rheinheimer etal. (2003), a queimada diminui a quantidade de Al+3 da camadasuperficial do solo, sendo assim, além de aumentar o pH, a quei-mada possibilita uma abundância de nitrogênio disponível no solofazendo com que a planta cresça mais rápido durante esse período.Logo após, aproximadamente 90 dias sem queimada, os todos va-lores, de pH, N e Al+3 voltam aos parâmetros originais.

Figura 2 pH do solo de acordo com a profundidade e área amostrada decerrado no PEJY.

Outro aspecto que houve mudança com a queimada foi a umi-dade presente no solo. Na parcela de queimada antiga (um anoapós a queimada) apresentou o maior índice de umidade do que aparcela intacta (Figura 3). Segundo Meirelles (1990) e Hernani etal. (1987), um mês após a queimada há um aumento da infiltraçãode água no solo de cerrado.

Figura 3 Umidade relativa (%) do solo à 20 cm de profundidade deacordo com a área amostrada de cerrado no PEJY.

Embora ocorra o aumento na infiltração no solo, a região daparcela da queimada antiga estava próxima a vales, ou seja, é umaregião provavelmente mais úmida do que as outras parcelas do cer-rado. Em relação a queimada recente também ter tido valor altode umidade, pode considerar que o fogo foi apagado recentementecom água e, portanto, com maior processo de infiltração da água nosolo, o que pode ter aumentando o índice alto de umidade relativa.

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Conclusão

O teor de matéria orgânica foi maior próximo à superfície dosolo e maior em áreas queimadas em relação às áreas intactas comvegetação natural. Isso se deve pelo acelerado processo de mine-ralização provocados pelas queimadas. Além disso, esse processopode diminuir a concentração de Al+3 da camada superficial dosolo, aumentando o valor do pH, deixando assim o solo menosácido. Já a umidade relativa do solo a 20 cm de profundidade foimenor nos solos onde a vegetação, provavelmente por estar emlocais mais elevados em comparação com as áreas queimadas. As-sim, o presente trabalho indica alguns dos efeitos do fogo sobreparâmetros abióticos do solo e que estão de acordo com o repor-tado pela literatura em condições semelhantes.

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rrrr

BioMack (2017) 1(1):1–6DOI: 10.7594/VitaScientia.14.01.01 Artigo

Avaliação morfométrica cardíaca em ratos obesos induzidos por dietahiperlipídica

Farah, V.M.A., Hukuda, D.Y. & Fiorino, P.1

Resumo

Objetivo Avaliar a suscetibilidade ao desenvolvimento de hipertrofia ventricular esquerda em ratossubmetidos à dieta hiperlipídica logo após o desmame. Metodologia Ratos Wistar machos recém-desmamados (50–60g) foram divididos em dois grupos experimentais: GC (n=8), ração normolipí-dica (3% lipídeos, 257 kcal/100 g), e GHL (n=8), dieta hiperlipídica (30% lipídeos, 381 kcal/100 g). Ao fi-nal do protocolo de 8 semanas, os animais foram eutanasiados (solução Xilazina (10 mg/Kg) e Quetamina(90 mg/Kg), i.p.) para coleta do coração e dissecção do ventrículo esquerdo (VE), que foi encaminhadoàs análises histológicas. Cortes transversais do VE foram corados com picrossirius, para quantificaçãoda fração intersticial de colágeno, e hematoxilina/eosina, para medição da área da cavidade, espessura daparede do VE, e diâmetro das células musculares cardíacas.Resultados A análise da fração intersticial de colágeno não demonstrou diferenças entre os grupos GC:(3,5±0,8%) e GHL (4,3±0,4%). Também não foram observadas diferenças quanto à área da cavidadedo VE (GC: 9,3±0,7 vs. GHL: 8,6± 0,8 mm2) ou quanto à espessura parede do VE (GC: 29,2±0,7 vs.GHL: 28,6±1,2 mm2). A medida do diâmetro das células cardíacas também não foi modificada pela dietahiperlipídica (GC: 8,4±0,3 vs. GHL: 8,0±0,2 µm). Conclusão O consumo de uma dieta hiperlipídica, apósperíodo de 8 semanas, não modificou os parâmetros morfométricos cardíacos estudados. Desta forma, adieta hiperlipídica não aumentou a susceptibilidade dos animais em desenvolver hipertrofia ventricularesquerda.

Palavras-chave: obesidade; dieta hiperlipídica; hipertrofia ventricular esquerda; morfometria cardíaca

Introdução

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2016quase 2 bilhões de adultos estavam acima do peso, destes, 160 mi-lhões foram considerados obesos (OMS 2016). Sabe-se que a gê-nese da obesidade está relacionada tanto a fatores genéticos quantoambientais (Loos 2012, Cetateanu & Jones 2014). No entanto, di-versos estudos têm focado nas alterações no estilo de vida da po-pulação que tem sido observada nas últimas décadas em decorrên-cia do aumento da urbanização (Claudino & Zanella 2005). Estastransformações envolvem mudanças no padrão alimentar, ou seja,o aumento do consumo de alimentos de alto poder calórico, baixovalor nutritivo e elevado teor de gordura (lipídios) quanto com a re-dução do gasto calórico diário, associado com redução de atividadefísica (OMS 2016 ,Cetateanu & Jones 2014, ABESO 2012). Estequadro tem contribuído para o aumento da prevalência do sobre-peso e obesidade tanto em países desenvolvidos quanto nos paísesem desenvolvimento (OMS 2016, IBGE 2010, BRASIL 2014) e,consequentemente, com aumento na incidência de doenças crônicodegenerativas como hipertensão, diabetes e insuficiência renal. NoBrasil, o sobrepeso e a obesidade já atingem 30% ou mais das cri-anças e adolescentes (IBGE 2010, BRASIL 2014), este aumentopode ser observado em todas as regiões do país, em indivíduosde ambos os sexos e em todas as faixas etárias (BRASIL 2014,ABESO 2012) o que representa aumento dos fatores de riscos car-diovasculares associados a obesidade (OMS 2016, ABESO 2012,Srinivasan et al. 1996, Freedman et al. 1999), como a hipertrofia

ventricular esquerda (HVE) (Freedman et al. 1999, Kotsis et al.2010, Frohlich et al. 1983).

A HVE está associada tanto a hipertensão quanto a obesidade,como fatores independentes, pois apresentam estímulos hemodi-nâmicos distintos. Indivíduos não-obesos hipertensos apresentamHVE, devido ao aumento da pós-carga, sobrecarga pressórica, en-quanto que indivíduos obesos normotensos desenvolvem HVE,pela elevação da pré-carga, sobrecarga de volume. Dessa forma,a obesidade por si só pode contribuir para o desenvolvimento daHVE mesmo na ausência de hipertensão, entretanto, a associaçãodestes dois fatores de risco aumenta a susceptibilidade do indi-víduo ao desenvolvimento da HVE, determinando sua instalaçãomais precoce (Frohlich et al 1983, Filho et al 2000) e, consequen-temente, no aumento da morbimortalidade por HVE.

Em nosso laboratório, estudos com ratos alimentados com dietahiperlipídica durante 8 semanas mostraram aumento dos depósitosde gordura epididimal e retroperitoneal, aumento dos triglicerídeosséricos (Fiorino et al 2016) e. aumento da pressão arterial média eda frequência cardiaca, em relação aos animais do grupo normoli-pídico (Fiorino et al 2011, Americo et al 2013.).

Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi avaliar se háaumento na suscetibilidade ao desenvolvimento de hipertrofia ven-tricular esquerda em ratos submetidos à dieta hiperlipídica iniciadaapós o desmame.

1Laboratório de Fisiofarmacologia Metabólica Cardiovascular e RenalUniversidade Presbiteriana Mackenzie.e-mail: [email protected]

CONTEÚDO 22

Material e métodos

Amostra e Modelo Experimental

Ratos Wistar machos recém desmamados, com peso entre50–60 g foram divididos aleatoriamente em 2 grupos experimen-tais de acordo com a dieta administrada. Os animais do grupocontrole (GC, n=8) foram alimentados com ração normolipídica(NUVILAB) contendo 3% de lipídios, enquanto os animais dogrupo dieta hiperlipídica (GHL, n=8) foram alimentados com ra-ção comercial modificada contendo 30% de lipídios. A dieta hi-perlipídica contém 30% de Kilocalorias provenientes de lipídios,23% de carboidratos e 19% de proteínas, compondo um total de381 Kcal/100 g, enquanto a dieta de ração comercial para ratosapresenta 257 Kcal/100 g. Esta dieta foi administrada ao longo de8 semanas.

Os animais foram mantidos no Biotério Central da Univer-sidade Presbiteriana Mackenzie, campus São Paulo, em gaiolasde manutenção com 3 animais por gaiola em um ambiente comtemperatura constante de 23°C e ciclo controlado claro/escurode 12 horas. Todos os procedimentos realizados foram aprova-dos pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da UPM (Proto-colo: 063/02/2010).

O peso corporal foi avaliado semanalmente, desde o início doprotocolo até a última semana, com o uso de uma balança comer-cial para pequenos animais (TOLEDO, modelo 9094c/4).

Na 7ª semana, foi realizado o consumo individual de ração.Para isso os animais foram colocados individualmente em gaiolaspróprias (41×34×16 cm) durante 24 horas. A ração foi pesada noinício e ao final do período de 24 horas, sendo a diferença a quan-tidade de ração ingerida pelos animais.

Análises Histológicas

Ao final do protocolo experimental (oitava semana) foi reali-zada a eutanásia dos animais, livre de dor ou sofrimento, atra-vés da injeção intraperitoneal de solução anestésica de Xilazina(10 mg/Kg) e Quetamina (90 mg/Kg). Durante este procedimento,os depósitos de tecido adiposo epididimal e retroperitoneal foramcoletados e pesados em uma balança analítica (Bioprecisa, modeloFA2104N). Da mesma forma, após a pesagem do coração, o ven-trículo esquerdo foi isolado, pesado e cortado transversalmente noplano médio entre o ápice e a base. As duas porções resultantesforam então fixadas em formaldeído 4% durante 24 horas. Ao fi-nal deste período, o material foi transferido para uma solução deálcool 70% e encaminhado ao processamento histológico (Proces-sador Histotécnico OMA DM-40), no qual foi desidratado, diafa-nizado e parafinizado. Os tecidos foram então emblocados em pa-raplast (Sigma) e cortados em um micrótomo (Microm HM34OE)em fatias de 4 µm de espessura. Por fim, os cortes foram aderidosem uma lâmina e submetidos à coloração em hematoxilina-eosina(Dinâmica e Synth, respectivamente) e Picrossirius Red (Bayer)contracorado com hematoxilina.

As lâminas coradas foram fotografadas em um microscópio óp-tico (Nikon Optiphot-2) com câmera acoplada (Nikon Digital SightDS-UI), para que as análises morfométricas fossem então realiza-das no computador com o auxílio do programa Image Pró-Plus ver-são 4.1.0.0.

Foram avaliados os seguintes aspectos morfológicos do VE:área da cavidade, espessura da parede, diâmetro dos cardiomióci-tos e volume de colágeno intersticial (%).

A medição da área da cavidade e da espessura da parede do VEforam realizadas em um aumento de 2.5×. O valor da espessura daparede foi obtido subtraindo-se a área da cavidade do VE da áreaventricular total.

A medição do diâmetro dos cardiomiócitos e da porcenta-gem de colágeno tecidual foi realizada em um aumento de 40×,percorrendo-se toda a extensão tecido com exceção do septo inter-ventricular.

A análise do diâmetro dos cardiomiócitos (35 células por VE),foi realizada em células cortadas longitudinalmente, sendo a me-dida realizada na altura do núcleo quando o mesmo se mostravavisível e centralizado.

A porcentagem de colágeno intersticial foi calculada dividindo-se o colágeno total pela área total do tecido cardíaco (15 campospor VE), cujos componentes foram diferenciados pela coloraçãodo seguinte modo: roxo para núcleo, vermelho para colágeno, liláspara os cardiomiócitos, e branco para o espaço intersticial. Tantoo colágeno perivascular quanto o espaço não preenchido por te-cido foram excluídos ao se calcular a porcentagem de colágeno notecido cardíaco.

Análise Estatística

A análise estatística foi realizada por meio do software Graph-Pad Prism 5, utilizando-se o teste-t para amostras não-pareadas. Osresultados estão apresentados como média ± erro padrão da mé-dia (EPM), sendo considerados significativamente diferentes ape-nas quando p≤0,05.

Resultados

Peso corporal e consumo alimentar

Não foram observadas diferenças significativas no peso cor-poral dos animais entre os grupos experimentais estudados, tantono início quanto no final do protocolo de 8 semanas (Tabela 1).No entanto, deve-se notar que os animais do GHL apresentaramum aumento dos depósitos de gordura corporal, definindo-os comoobesos.

A análise do consumo alimentar (Tabela 1) mostrou que osanimais do GHL apresentam menor consumo de ração individualquando comparados aos animais do GC. No entanto, nota-se que oconsumo calórico não variou entre os grupos.

Tabela 1 Peso corporal e consumo de ração individual de ratosalimentados com ração normolipídica e ração hiperlipídica.

GC GHL

Peso corporal inicial (g) 47±0,9 49±0,8Peso corporal final (g) 312±7,4 295±6,3Consumo de ração (g) 26±0,3 21±0,7*Consumo de ração (Kcal) 79±1,0 79±2,7Gordura epididimal (g) 7±0,5 12±1,0*Gordura retroperitoneal (g) 8±1,0 26±0,8*

GC: grupo normolipídico. GHL: grupo hiperlipídico. Pesos das gordu-ras epididimal e retroperitoneal normalizados pelo peso corporal final.*p≤0.05 versus GC.

Análises morfológicas do ventrículo esquerdo

O peso do coração e do ventrículo permitem verificar a ocorrên-cia de possíveis alterações na morfologia cardíaca. Os resultadosobtidos neste estudo, no entanto não evidenciaram alterações signi-ficativas no peso do coração antes ou depois da correção deste pelo

CONTEÚDO 23

peso corporal. O mesmo também foi observado para o ventrículoesquerdo (Tabela 2).

Tais resultados estão de acordo com o obtido pelas aná-lises histológicas, que não evidenciaram alterações na áreacavidade do VE do GHL (8,6±0,8 mm2) quando comparadoao GC (9,3±0,7 mm2), ou naespessura da parede do VE(GC: 29,2±0,7 mm2 vs. GHL: 28,6±1,2 mm2) (Figura 1). Damesma forma, não foram observadas alterações no diâmetro doscardiomiócitos (GC: 8,4±0,3 µm vs GHL: 8,1±0,2 µm) ou na fra-ção intersticial de colágeno (GC: 3,5± 0,8 % vs GHL: 4,3± 0,4%)(Figura 2)

Figura 1 Análise da cavidade e espessura da parede ventricular esquerda.a e b: cortes transversais do VE corados com hematoxilina-eosina. Aespessura da parede do VE foi obtida subtraindo-se a área da cavidadeventricular (a) da área total do VE (b). Aumento de 2,5×.

Discussão

Embora não tenham sido evidenciadas diferenças significativasno peso corporal dos animais entre os grupos experimentais estu-dados, os animais alimentados com dieta hiperlipídica apresentamaumento significante da adiposidade corporal, tanto dos estoquesde gordura epididimal quanto retroperitoneal (Tabela 1), definindoo modelo de obesidade no GHL. Além disso, os animais GHL apre-sentam aumento dos triglicérides circulantes o que contribui para oacúmulo de massa adiposa (Fiorino et al 2016). Embora os animaisde ambos os grupos tenham consumido a mesma quantidade de ca-lorias, os animais do GHL ingeriram uma quantidade menor deração quando comparados aos animais do GC. Estudos com mode-los animais mostraram que ratos alimentados com dietas ricas emlipídios tendem a consumir uma quantidade menor de alimento,permitindo a manutenção de seu peso corporal (Angelis 2006, Le-opoldo et al 2010).

Resultados obtidos em estudos que avaliam os efeitos da obe-sidade e hipertensão sobre o tecido cardíaco são variados. Emborapesquisas com humanos tenham demonstrado a ocorrência de HVEem indivíduos com obesidade crônica, estes estudos nem sempreevidenciam os processos patológicos a níveis microscópicos quepoderiam explicar tais modificações, ou quando o fazem, dispõemde uma amostra restrita (Amad et al 1965, Filho et al 2000). Di-ferentes modelos animais têm sido utilizados para avaliar o desen-volvimento de HVE em resposta à obesidade e hipertensão. Noentanto, os resultados obtidos são de difícil interpretação, e podemdivergir quanto à intensidade deste processo, bem como ao tipo de

resposta envolvida (Carrol & Tyagi 2005, Carrol et al 2006, Leo-poldo et al 2010).

Tabela 2 Comparação do peso do coração e do ventrículo esquerdo

GC (n=8) GHL (n=8)

Peso do coração (g) 1,0±0,05 1,2±0,11

Peso do coracao (g)Peso corporal (g)

3,0±0,11 3,5±0,43

Peso do VE (g) 0,7±0,03 0,8±0,03

Peso do VE (g)Peso corporal (g)

2,1±0,06 2,1±0,10

GC: grupo normolipídico. GHL: grupo hiperlipídico.

Em nosso modelo experimental, o ventrículo esquerdo estásubmetido à dois fatores que poderiam contribuir para o desen-volvimento da HVE: a dieta, com o consequente desenvolvimentode obesidade, e o aumento da pressão arterial. Sabe-se que a obe-sidade por si só pode contribuir para a hipertrofia do ventrículo es-querdo mesmo na ausência de hipertensão, embora esta alteraçãose mostre mais grave quando as duas condições estão associadas(Amad et al 1965, Filho et al 2000). A obesidade está associadaà sobrecarga de volume, contribuindo para o desenvolvimento deHVE excêntrica caracterizada pelo aumento no diâmetro da câmaraventricular. A HVE na hipertensão, por outro lado, é caracterizadapelo padrão concêntrico, com aumento da espessura da parede esepto do ventrículo esquerdo (VE), bem como a redução da cavi-dade ventricular.

Figura 2 Análises microscópicas do ventrículo esquerdo. a: cortetransversal do VE (40×) corado com hematoxilina-eosina representando amedição do diâmetro dos cardiomiócitos. Medidas realizadas em célulascortadas longitudinalmente, na altura do núcleo. b: corte transversal doVE (40×) corado com picrossirius-hematoxilina para quantificação docolágeno intersticial. Setas indicam colágeno corado em vermelho.

A hipertrofia ventricular concêntrica também é marcada peloaumento da espessura – mas não do comprimento – dos cardiomió-citos (Schoen 2005). Esta alteração resulta no aumento da distânciade difusão entre o interstício e o centro das células, podendo even-tualmente comprometer a oferta de oxigênio para as mesmas emcondições mais graves (Saffitz 2012). No presente estudo, não fo-ram observadas alterações no diâmetro das células cardíacas, indi-cando que não houve alterações na espessura das mesmas, mesmofrente ao aumento da pressão arterial evidenciado neste modelo

CONTEÚDO 24

experimental (Fiorino et al 2016). Isso sugere que o estímulo pres-sórico não foi suficiente para desencadear uma resposta adaptativahipertrófica por parte dos cardiomiócitos.

Em condições hipertróficas, o aumento em tamanho dos cardio-miócitos é frequentemente acompanhado pela formação de fibrose(Schoen 2005), com aumento da deposição de colágeno. Este porsua vez compromete o relaxamento diastólico do coração e impedea difusão apropriada de oxigênio e nutrientes pelo tecido. A fibrosetambém pode comprometer a condutibilidade elétrica neste órgão,contribuindo para a fibrilação atrial e taquicardia ventricular (Saf-fitz 2012). Os resultados aqui obtidos não evidenciaram alteraçõesna deposição de colágeno intersticial, indicando que o estímulopressórico também não foi suficiente para estimular a síntese destecomponente pelas células cardíacas destes animais.

A relação existente entre a obesidade e o remodelamento ven-tricular é complexa, e os eventos que caracterizam o processo deremodelamento ventricular frente às alterações causadas pela obe-sidade ainda não são totalmente compreendidos. Nossos resultadosnão evidenciaram alterações no peso do coração e do ventrículoesquerdo coletados durante a eutanásia. Tais resultados foram cor-roborados pelas análises histológicas, que não evidenciaram dife-renças na espessura da parede ventricular, diâmetro das células, oufração intersticial de colágeno. No entanto, é possível que a ausên-cia de alterações na morfologia do VE se deva ao fato de que estesanimais estiveram submetidos a uma sobrecarga pressórica por umperíodo curto (4 semanas). Assim sendo, uma oferta prolongadade dieta hiperlipídica poderia vir a mostrar em nosso modelo umaresposta celular ao aumento da pressão no VE, de maneira similaraos resultados obtidos por estudos de maior duração.

ConclusãoO consumo de uma dieta hiperlipídica, ao longo de 8 sema-

nas, por ratos recém desmamados, aumentou a adiposidade corpo-ral, estabelecendo um quadro de obesidade, mas não aumentou asusceptibilidade destes animais ao desenvolvimento de hipertrofiaventricular esquerda neste período.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com o apoio do FundoMackenzie de Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie(MACKPESQUISA), bem como do Programa Institucional Volun-tário de Iniciação Científi ca (PIVIC).

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BioMack (2017) 1(1):1–6DOI: 10.7594/VitaScientia.14.01.01 Método

Desenvolvimento de um sistema automatizado parapré-análise dos interferentes do soro ou plasma, com

identificação inteligente dos tubos

Saladino, R.S. & Martins, R.A.B.L.

Resumo

Os laboratórios de análises clínicas estão expostos a falhas que ocorrem desde o pedido do exame até aemissão do laudo. Alguns exames são efetuados em amostras de soro ou plasma. Logo após a coletaé feita uma inspeção visual por um funcionário. Essa triagem é subjetiva e depende da experiência doprofissional, que determina se a amostra é utilizável ou não. Este trabalho tem o objetivo de demonstrarum equipamento de triagem destas amostras, garantindo a qualidade antes da análise. Este equipamentotambém se propõe a reduzir o erro de identificação das amostras, com a utilização de radiofrequência. Oequipamento que lê transversalmente o tubo de coleta de sangue. O método de leitura é espectrofotomé-trico. É composto por um diodo emissor de luz (LED), em um comprimento de onda fixo, e um foto sensorque capta o feixe de luz do outro lado do tubo. Partindo-se de soluções com concentrações conhecidas,obteve-se uma curva de calibração. Pode-se, assim, obter diretamente da amostra, sem abrir o tubo decoleta, a concentração da hemoglobina, proveniente de hemólise, que interfere nas análises. O resultadofornecerá ao laboratório elementos para a decisão de fazer uma nova coleta ou utilizar essa amostra nosexames requisitados. Os resultados do equipamento foram avaliados pela curva de calibração obtida e oR2 da regressão dessa curva e foram: y = 0, 1614ln(x)+0, 8552 e R2 = 0, 961. O aparelho apresentou bonsresultados na correlação da concentração da hemoglobina. Outros resultados, sensibilidade e linearidade,também foram adequados.

Palavras-chave: Laboratórios de Análises Clínicas, Redução de Erros pré-analíticos, Triagem, Garantiade qualidade, Identificação por rádio frequência

IntroduçãoPara que o laboratório clínico possa atender adequadamente o

propósito de apoio a diagnóstico, é indispensável que todas as fasesdo atendimento ao paciente sejam desenvolvidas seguindo os maiselevados princípios de correção técnica, considerando a existênciae a importância de diversas variáveis biológicas que influenciam,significativamente, a qualidade final do trabalho (Andriolo et al.2010) . Erros de diagnóstico são, infelizmente, muito frequente-mente despercebidos, e, portanto, subestimados na prática clínicadiária. No entanto, a fase extra-analítica do processo de teste delaboratório é agora reconhecida como a principal fonte de erros delaboratório. Erros na fase pré-analítica são os mais comuns e sãoresponsáveis por até dois terços do número total de erros, seguidopela fase pós-analítica, onde 19% a 47% do total de erros podemser encontrados (Simundic et al. 2011).

Atualmente, sabe-se que a fase pré-analítica é responsável porcerca de 70% do total de erros ocorridos nos laboratórios clínicosque possuem um sistema de controle da qualidade bem estabele-cido (Andriolo et al. 2010, Simundic et al. 2011, Guimarães et al.2012). Na fase pré-analítica os principais erros são identificação dopaciente, recipiente/contêiner inadequado e qualidade da amostra.A qualidade do plasma e do soro é importantíssima para que nãose tenham resultados errôneos das amostras (Abbot et al. 2014).

Os principais problemas são a hemólise, a turbidez ou a pre-sença de altas concentrações de bilirrubina. A hemólise é um fenô-meno onde as hemácias se rompem e liberam seu conteúdo na faselíquida do soro, tornando o soro ou o plasma, avermelhados, cor

típica da hemoglobina em solução. A hemoglobina o mais impor-tante interferente no resultado final de um exame (Andriolo et al.2010).

O controle da qualidade do material colhido é feito por funcio-nários treinados e são responsáveis pela decisão da viabilidade domaterial colhido. Para contornar esse problema foi desenvolvidoum equipamento que lê a concentração da hemoglobina, direta-mente no tubo de coleta, eliminando a subjetividade da triagemfeita por funcionários.

Materiais e métodos

O equipamento é composto de uma fonte luminosa, um diodoemissor de luz (LED), que emite luz em um comprimento de ondana faixa de 525 a 540 nm, o receptáculo para o tubo da amostrae um foto sensor que capta o feixe de luz do outro lado do tubo(figura 1).

Esse equipamento, diferente de um espectrofotômetro conven-cional, emitirá um único comprimento de onda. Relembrando,os fotômetros convencionais usam uma fonte de luz branca, com-posta. Todos eles possuem mecanismos como filtros, prismas ouredes de difração para decompor a luz branca e selecionar o com-primento de onda adequado.

Para obter uma curva de calibração, ou curva padrão, soluçõesde compostos com diferentes concentrações do mesmo, são pre-paradas, determinando para cada concentração, um valor de ab-sorbância. Estes valores de absorbância são representados grafi-

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camente no eixo das abscissas (eixo x) e a concentração no eixodas ordenadas (eixo y). No gráfico obtido observa-se que, a baixasconcentrações, o aumento na concentração corresponde a um au-mento linear na absorbância (área de aplicação de Lambert-Beer).Em concentrações elevadas a linearidade é perdida e assinala quea linha é achatada, de modo que as medições são pouco confiáveis(Diaz et al. 2005, Holler et al. 2009).

Figura 1 Esquema do equipamento desenvolvido: As letras representam:(a) fonte de luz monocromática, (b) fenda (c) compartimento de amostras

com tubo contendo solução, (d) célula fotoelétrica, (e) amplificador.

A curva-padrão corresponde à relação gráfica entre os valoresde absorbância (A) e os de concentração. Com base na análise grá-fica é possível verificar a linearidade da reação e calcular um fatorde conversão de valores de absorbância em concentração (Holler etal. 2009).

Foi feita, então, uma preparação de uma série planejada de so-luções de hemoglobina, utilizando solução padrão comercial. Es-sas soluções foram submetidas à leitura no fotômetro desenvol-vido, com o objetivo de se obter a curva padrão.

Resultados

Com o objetivo de testar, se o dispositivo se enquadra na Lei deBeer-Lambert, e se também as leituras apresentam característicastais como sensibilidade, linearidade e robustez, foi feita uma sériede diluições e leituras. As concentrações de hemoglobina variaramde 0, 00391 g/dL até 0, 50000 g/dL, e as diluições foram feitas emduplicata (d1 e d2).

Também foi feito o cálculo da transmitância, que é a razão en-tre a leitura da amostra e leitura do branco. Outro cálculo feito foio da Absorbância, que é o Log(10) da transmitância.

As leituras e cálculos desse experimento são apresentados naTabela 1.

Tabela 1 Leitura da concentração de hemoglobina em volts, em tubos d1,d2, sua média, a transmitância e absorbância.

Conc (g/dL) d1 d2 Média t/t0 ABS

0,00391 3,41 3,40 3,41 0,92 0,040,00781 3,20 3,20 3,20 0,86 0,060,01563 2,80 2,80 2,80 0,76 0,120,03125 2,21 2,21 2,21 0,60 0,220,06250 1,50 1,49 1,50 0,40 0,390,12500 0,96 0,96 0,96 0,26 0,590,25000 0,79 0,80 0,80 0,21 0,670,50000 0,70 0,70 0,70 0,19 0,72

Para melhor visualização, a relação entre a concentração da he-moglobina e a absorbância calculada está representada na Figura 1.

Figura 2 Absorbância das soluções de hemoglobina

Discussão

As leituras mostraram linearidade e o valor de R2 = 0, 961,bem próximo de 1. O valor de R2 indica a correlação e a dispersãodas leituras. Quanto mais próximo de R2 = 1, melhor a correlaçãoe menor a dispersão das leituras, em relação à reta média obtidapor regressão linear.

Analisando o gráfico percebe-se que a inflexão da curva ocorreentre as leituras de 0, 125g/dL e 0, 250g/dL. Essa mudançade comportamento significa o limite de linearidade do método.Abaixo desse valor, o método é linear, acima disso, as amostrasdevem ser diluídas.

A hemólise é um indicador de um ou mais erros durante a co-leta. A presença de hemoglobina caracteriza, uma amostra ondehouve o rompimento de hemácias e a liberação do seu conteúdo.Os fabricantes de reagentes analíticos avaliam essas interferênciase divulgam os valores máximos de hemoglobina permitidos

Em consulta a um fabricante de reagentes, dos limites máximosde hemoglobina nas amostras, verificou-se que dos 74 testes lista-dos, 38 necessitam de uma concentração de hemoglobina abaixode 0, 250 g/dL para serem executados. Ou seja, poderiam ser de-terminados, independente da capacidade/treinamento visual de umfuncionário que faz a triagem das amostras.

Conclusão

Foi demonstrado neste trabalho, que utilizando as tecnologiasdisponíveis atualmente, foi possível desenvolver um equipamentocom capacidade de leitura da concentração da hemoglobina, pro-veniente de hemólise, diretamente no tubo em que a amostra desangue foi colhida e centrifugada.

Durante os testes o aparelho desenvolvido apresentou bons re-sultados na correlação da concentração da hemoglobina e as leitu-ras. Outros resultados, como sensibilidade e linearidade, tambémforam adequados à proposta deste trabalho.

Para a outra tecnologia proposta a ser adotada pelos labora-tórios, a rádio frequência, que existem materiais e equipamentosdisponíveis para a implementação desse sistema nos laboratóriosclínicos.

Os resultados apresentados neste trabalho são iniciais e pre-liminares. São necessárias outras pesquisas antes da adoção dassoluções propostas.

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Agradecimentos

Agradecemos ao Centro de Ciências Biológicas da Saúde daUniversidade Presbiteriana Mackenzie por disponibilizar seu labo-ratório de análises clínicas do curso de farmácia para a execuçãodos experimentos.

Referências

Andriolo, A. et al. 2010. Recomendações da Sociedade Brasi-leira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial para coletade sangue venoso. 2.ed. Barueri: Manole.

Simundic, A. M. et al. 2011. The quality of the extra-analyticalphase of laboratory practice in some developing Europeancountries and Mexico - a multicentric study. Clinical Che-mistry and Laboratory Medicine. 49(2):215–228.

Guimarães, A.C. et al. 2012. Causes of rejection of blood sampleshandled in the clinical laboratory of a University Hospital inPorto Alegre. Clinical Biochemistry. 45(1–2):123–126.

Abbott, M. et al. 2014. Laboratory tests, interpretation, and useof resources A program to introduce the basics. CanadianFamily Physician. 60(3):167–172.

Holler, F.J. et al. 2009. Princípios de análise instrumental. PortoAlegre: Bookman.