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Revista de Empresários e Negócios Trimestral • Edição Outubro / Novembro / Dezembro 2015 • N.º 106 • 3,5€ CIP - Plano de Atividades 2016 País - Perspetivas Económicas para 2016 Energia - Estratégia Nacional para a Energia ECONOMIA DO MAR Vital para o crescimento do País

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Revista de Empresários e NegóciosTrimestral • Edição Outubro / Novembro / Dezembro 2015 • N.º 106 • 3,5€

CIP - Plano de Atividades 2016

País - Perspetivas Económicas para 2016

Energia - Estratégia Nacional para a Energia

ECONOMIA DO MAR

Vital para o crescimento do País

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António Saraiva PRESIDENTE DA CIP

APRESENTAMOS nesta edição da nossa revista o Plano de Atividades para 2016, que a Assembleia Geral da CIP aprovou no passado dia 10 de dezembro.Olhamos para o ano de 2016, conscientes de que os desafios decorrentes do novo contexto político e económico em que vive-mos exigem que a CIP seja firme na defesa da estabilidade do quadro fiscal, laboral e económico.Neste quadro, deixaremos claro e sem am-biguidades quais as matérias que conside-ramos fundamentais e inegociáveis.Mantendo-nos fieis ao nosso compromisso de colocar a CIP ao serviço do desenvolvi-mento económico e social do nosso País, afirmamos que o principal critério objetivo de avaliação da política económica e das políti-cas públicas terá como base os efeitos posi-tivos ou negativos que tais políticas venham a provocar na competitividade das empresas.Ao longo de 2016, a nossa intervenção será desenvolvida em estreita articulação com todos os nossos associados e a nos-sa abordagem aos fatores essenciais para o crescimento económico e o desenvol-vimento das empresas será feita, sempre que possível, com as demais Confedera-ções Empresariais.Visando a consolidação do movimento associativo empresarial de cúpula, será ponderada a constituição de um Conse-lho das Confederações Empresariais, que represente a expressão articulada e con-sensual dos interesses da economia e das empresas.O Plano de Atividades de que aqui damos conta, estrutura-se em cinco áreas de in-tervenção prioritárias:• Reindustrialização e a nova política indus-trial para o século XXI;• Promoção da competitividade e do cres-cimento económico;• Reforço do papel e da influência do asso-ciativismo empresarial;• Relações laborais: Concertação Social e Diálogo Social;• Reforço da intervenção no âmbito da UE e da lusofonia económica.

Quanto à primeira área, no II Congresso das Empresas e das Atividades Econó-micas, realizado em julho de 2015, a CIP apresentou a proposta de um Compro-misso Nacional para a Reindustrialização e Competitividade de Portugal, como instru-mento de uma nova política industrial para o século XXI. Em 2016, a CIP desenvolverá um conjunto de iniciativas para aprofundar e divulgar as suas ideias e propostas no âmbito desta temática.Relativamente à promoção da competitivi-dade e do crescimento económico, a CIP defenderá a prossecução de uma trajetória orçamental compatível com os seus com-promissos europeus. No quadro de uma rápida reversão das medidas temporárias de consolidação orçamental, a CIP pugna-rá para que o controlo do défice não ponha em causa a redução da carga fiscal sobre as empresas.Será dada prioridade a uma forte e funda-mentada intervenção na defesa de melho-res condições de financiamento do setor produtivo.A resolução do problema das dívidas das entidades públicas às empresas e a pro-moção da redução dos respetivos prazos de pagamento estarão igualmente entre as nossas prioridades.A CIP contribuirá para uma verdadeira po-lítica de simplificação administrativa que concorra para eliminar custos desnecessá-rios para as empresas e para os cidadãos.A CIP continuará a acompanhar atenta-mente a implementação dos programas operacionais decorrentes do Programa Portugal 2020. Em particular, a CIP bater--se-á pela adequada participação das as-sociações empresariais na implementação deste programa, no respeito por um qua-

dro de colaboração e contratualização de ações de promoção da competitividade e internacionalização, da qualificação do te-cido empresarial e do desenvolvimento do capital humano.A estratégia do Governo em matéria de po-lítica energética será objeto de um acom-panhamento rigoroso, intervindo a CIP no sentido de alcançar preços da energia mais competitivos.Outra área prioritária de intervenção será o reforço do papel e influência do associati-vismo empresarial. Neste contexto, será organizado um evento de reflexão de cariz internacional tendo em vista a partilha de experiências e a procura conjunta de cená-rios de viabilidade futura.A CIP bater-se-á pela valorização do diálo-go em sede da Comissão Permanente de Concertação Social. A Concertação Social deve ganhar um novo dinamismo e acres-cidas responsabilidades, visando a salva-guarda das condições de competitividade das empresas e a estabilidade social.O respeito pelos consensos obtidos na Concertação Social impõe que qualquer in-tervenção nos equilíbrios acordados entre parceiros sociais tenha de ser reequacio-nada no mesmo âmbito.Finalmente, a CIP irá continuar o caminho percorrido em 2015, de reforço da defesa dos interesses da economia nacional em Bruxelas, assegurando que a voz das em-presas portuguesas é tida em considera-ção nos processos de decisão.O caminho que temos pela frente é exigen-te. Mas sabemos hoje, com clareza, o que queremos e a forma de, em diálogo e tendo em conta todos os interesses legítimos, de-fender as nossas causas e o crescimento económico.

EDITORIAL

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Valorizar o diálogo

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DiretorAntónio Saraiva

Diretor AdjuntoDaniel Soares de Oliveira

Conselho EditorialGregório Rocha NovoCarla SequeiraPedro CapuchoInês Vaz PintoJaime BragaManuela GameiroNuno BiscayaPatrícia Gonçalves

SecretariadoFilomena Mendes

Administração e PropriedadeCIP – Confederação Empresarial de PortugalPraça das Indústrias1300-307 LisboaTel.: 213 164 700 Fax: 213 579 986E-mail: [email protected]: 500 835 934

N.º de registo na ERCS - 108372Depósito Legal 0870 - 9602

Produção e Edição

Bleed - Sociedade Editorial e Organização de EventosAv. da República 41, 3.º Andar – 3051050-187 LisboaTel.: 217 957 045 / [email protected]

Diretor EditorialMiguel [email protected]

Diretor ComercialMário [email protected]

Gestor de MeiosDiogo Camacho

Editor FotográficoSérgio Saavedra

Design e PaginaçãoJosé Santos

ImpressãoGrafisolNúcleo Empresarial da AbrunheiraZona Poente - Pav.11 - Abrunheira2710-089 Sintra

PeriodicidadeTrimestral

Tiragem10.000 exemplares

* Foto de capa: Porto de Leixões

Editorial

Conjuntura Económica

CIP- Plano de Atividades e Orçamento para 2016

Economia do Mar- Observatório da Cooperação na Economia do Mar, por António Saraiva,- Três razões para construir uma base produtiva nacional, por Tiago Pitta e Cunha- Expressão do Associativismo na Economia do Mar, por António Nogueira Leite- Resiliente mas Cercada por Barreiras de Papel, por Miguel Marques

Economia- Perspetivas económicas para 2016

Clima- Balanço da COP21, por Margarida Bolzer

Energia- A Estratégia Nacional para a Energia, por Jaime Braga

União Europeia- Comissão Europeia divulga programa de trabalho para 2016- Seminário Promover e Reforçar o Diálogo Social Europeu

Internacionalização- Mercado Único Europeu: Barreiras que as empresas portuguesas enfrentam

Regeneração Urbana- A estratégia “Cidades Sustentáveis 2020”: Os desafios, os princípios, os eixos

e as medidas, por João Barreta

Formação Profissional- Os ajustes necessários às qualificações, por Gonçalo Xufre Silva

Indústria Farmacêutica- Inovação farmacêutica e a oportunidade de saber gerir, por João Almeida Lopes

Inovação- Marcas – Que valor? por Cristina Costa

Notícias

Investimento- BPI contrata empréstimo de 50 milhões de euros com o BEI

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ÍNDICE

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www.cip.org.pt

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CONJUNTURA

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Conjuntura Económica ENVOLVENTE INTERNACIONALO World Economic Oulook de outubro, do FMI, voltou a rever em baixa as previsões de crescimento económico mundial para 2015, que se situam agora em 3.1%, um pouco menos do que em 2014 e 0.2 pontos per-centuais (p.p.) abaixo das anteriores proje-ções, divulgadas em julho.O FMI prevê que o crescimento nas econo-mias avançadas recupere ligeiramente, mas as economias emergentes e em desenvolvi-mento registarão um novo abrandamento da atividade económica, pelo quinto ano conse-cutivo, refletindo perspetivas mais desfavo-ráveis em algumas grandes economias de mercado emergentes e nos países exporta-dores de petróleo.Para 2016, espera-se que a economia global ganhe algum dinamismo. As perspetivas de-verão melhorar, em particular em países que estão a passar por maiores dificuldades, como o Brasil, a Rússia e alguns outros, na América Latina e no Médio Oriente. Esta evolução de-verá mais que compensar a desaceleração gradual que é esperada na China, possibilitan-do uma aceleração do crescimento. Nas eco-nomias avançadas, a modesta recuperação iniciada em 2014 deverá reforçar-se.As estimativas do Eurostat para o terceiro trimestre de 2015 dão conta de um ligeiro abrandamento da evolução em cadeia do PIB na zona do euro (crescimento de 0.3%, após 0.4% no segundo trimestre). No con-junto da União Europeia, a evolução foi idên-tica à do trimestre anterior (0.4%).Entre as economias europeias de maior di-mensão, a França foi a única em que se re-gistou uma aceleração do crescimento em cadeia (de 0.0% para 0.3%). Espanha, Ale-manha e Itália tiveram resultados mais fracos relativamente ao trimestre anterior (em 0.1 ou 0.2 p.p.) mas melhoraram ligeiramente em termos homólogos, com destaque para o crescimento de 3.4% registado pela Espa-nha. O crescimento da economia britânica enfraqueceu 0.2 p.p. em cadeia (para 0.5%) e 0.1 p.p. em termos homólogos para (2.3%) em termos homólogos.

SETEMBRO A NOVEMBRO DE 2015

Em termos homólogos, a zona do euro me-lhorou o seu desempenho para 1.6% e o conjunto da União Europeia manteve o cres-cimento de 1.9%.As previsões de outono da Comissão Euro-peia apontam para um crescimento de 1.6% em 2015, na zona do euro, aumentando para 1.8% em 2016 e 1.9% em 2017. O cresci-mento na União Europeia como um todo de-verá acelerar de 1.9% para 2.0% em 2016 e 2.1% em 2017.Nos EUA, o PIB aumentou 0.4% em cadeia, arrefecendo face ao bom resultado registado no primeiro trimestre (1.0%). O crescimento homólogo foi de 2.0%, desacelerando face ao primeiro trimestre (2.7%).Na sua análise, a Comissão assinala diversos fatores favoráveis à recuperação económica na Europa: os baixos preços do petróleo, um euro relativamente fraco, as medidas mone-tárias não convencionais levadas a cabo pelo Banco Central Europeu e uma orientação or-çamental globalmente neutra. Estes fatores foram até agora suficientemente fortes para compensar o impacto negativo do enfraque-cimento da envolvente externa e do comércio mundial, bem como de um clima de incerteza mais acentuada.

O consumo interno deverá permanecer o principal motor da recuperação económica, estimulado pelo aumento do rendimento dis-ponível e por alguma melhoria nos mercados do trabalho. É esperado um fortalecimento gradual do investimento, suportado em me-lhores condições de financiamento e na reto-ma da procura interna. A deterioração da procura externa tem sido compensada pela depreciação do euro. Para 2016 e 2017 espera-se que a atividade eco-nómica global e o comércio mundial recupe-rem gradualmente, resultando num aumento das exportações europeias.No plano político, destaca-se a apresentação pela Comissão Europeia de um primeiro con-junto de medidas com vista à conclusão da União Económica e Monetária, dando segui-mento às orientações do Relatório dos cinco Presidentes.O pacote de medidas apresentadas inclui uma abordagem revista para o Semestre Europeu; a criação de Conselhos da Com-petitividade nacionais e de um Conselho Or-çamental Europeu, com funções consultivas; uma representação mais unificada da área do euro nas organizações internacionais, desig-nadamente no FMI; e diversos passos rumo a

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uma União Financeira, nomeadamente atra-vés de um Sistema Europeu de Garantia de Depósitos.A Comissão Europeia adotou ainda um pla-no de ação para a União dos Mercados de Capitais.Em finais de setembro, a União Europeia apro-

vou por larga maioria um plano para a distri-buição de 120 mil refugiados durante dois anos, mas o número de migrantes efetiva-mente deslocado para novos países de des-tino é ainda diminuto. Em outubro, a Frontex indicou que o número de entradas ilegais na Europa este ano atingiu já os 800 mil.

COTAÇÕES INTERNACIONAISA cotação do euro face ao dólar registou al-guma volatilidade até meados de outubro, altura em que atingiu um pico em 1.147 dó-lares, registando depois uma clara tendência de depreciação, que se prolongou por todo o mês de novembro, encerrando o mês abaixo dos 1.058 dólares.Em termos da média mensal, a depreciação do euro face ao dólar nestes últimos três me-ses foi de 3.6% (de 1.114 em agosto para 1.074 em novembro).A cotação média do brent aumentou ligeira-mente de 47.0 dólares por barril, em agosto, para 48.1, em outubro, mês em que chegou a estar cotado acima dos 52 dólares. Depois da primeira semana de outubro, a tendência foi novamente de queda dos preços, até um mínimo abaixo de 41 dólares em meados de novembro, corrigindo depois para valores já acima dos 43 dólares (a cotação em 23 de outubro estava em 43.7).

PORTUGALNo terceiro trimestre de 2015, a economia portuguesa registou uma taxa de crescimen-to nula em cadeia e de 1.4% em termos ho-mólogos.Neste trimestre, houve um recuo no contri-buto da procura interna para o crescimento homólogo do PIB, passando de 3.5 p.p. no segundo trimestre para 1.9 p.p.Esta diferença reflete, principalmente, a de-saceleração do investimento, que passou de uma taxa de variação homóloga de 8.5% no segundo trimestre para 1.7%. Este abranda-mento deve-se em parte ao comportamento da variação de existências, mas foi também determinada pela quebra no crescimento da FBCF, que passou de um crescimento de 5.3% para 1.9%, em termos homólogos.O consumo privado também desacelerou, tendo a sua variação homóloga passado de 3.2% para 2.3%, refletindo principalmente a diminuição de despesas com a aquisição de veículos automóveis.A procura externa líquida apresentou um contributo negativo de -0,5 p.p. para a va-riação do PIB em termos homólogos, mas quando comparado com o contributo no trimestre passado (-2,0 p.p.), verifica-se uma melhoria, com o abrandamento das importa-ções a processar-se a um ritmo superior ao das exportações.A estagnação do PIB face ao trimestre ante-rior deveu-se sobretudo à queda em cadeia da FBCF (-4.1%) que foi determinante para o contributo negativo da procura interna (-0.5 p.p.), compensado pelo contributo positivo das exportações líquidas. Em cadeia, as im-portações diminuíram de forma mais intensa

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CONJUNTURA

INDÚS TR IA • Dezembro 2015

que as exportações (-3.0% contra -2.1%, respetivamente).No terceiro trimestre de 2015 é de salientar o ganho de 3.8% nos termos de troca, a varia-ção homóloga mais elevada desde o terceiro trimestre de 2009. O deflator das importações registou uma variação homóloga de -4.7% e o deflator das exportações apresentou uma taxa de -1.1%. A diminuição significativa do defla-tor das importações refletiu, principalmente, a diminuição dos preços dos bens energéticos.Em termos nominais, o saldo externo de bens e serviços aumentou no terceiro trimes-tre, passando de 0.1% do PIB no segundo trimestre para 1.3%, refletindo a melhoria dos temos de troca.O crescimento em termos homólogos do VAB a preços base foi de 1%, tal como no tri-mestre anterior. O contributo para este cres-cimento por ramo de atividade manteve-se praticamente inalterado. Destaca-se o VAB do ramo de Comércio e Reparação de Veí-culos e Alojamento e Restauração, com um crescimento homólogo de 3.0% (mas menos 0.5 p.p. do que no trimestre anterior). O VAB da Indústria acelerou ligeiramente (0.1 p.p.), passando para um crescimento homólogo de 2.2%. O VAB do ramo da Construção apresentou, pelo terceiro trimestre consecu-tivo, um crescimento positivo (2.2%).Em outubro, o indicador coincidente para a atividade económica (do Banco de Portugal) estabilizou em 0.9%, num contexto de uma relativa estabilização no período mais recente.O indicador de clima económico do INE agra-vou-se em outubro e novembro, após ter es-tabilizado nos dois meses anteriores: passou de 1.4% para 1.2% em outubro e 0.9% em novembro.O indicador de confiança dos consumidores diminuiu expressivamente em novembro, após ter estabilizado no valor mais elevado desde abril de 2001, invertendo a tendên-cia ascendente observada desde o início de 2013.No seu Boletim Económico de outubro, o Banco de Portugal afirma que, para o con-junto de 2015, não são alteradas as perspe-tivas fundamentais da economia portuguesa identificadas em junho. Assim, as projeções apontam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,7% em 2015, valor li-geiramente superior ao projetado para a área do euro (1.5%).Apesar das revisões favoráveis em todas as componentes da procura (exceto o investimen-to), a taxa de crescimento do PIB manteve-se inalterada, devido à maior penetração das im-portações face ao anteriormente previsto.O maior crescimento esperado para o PIB em 2015 deve-se à aceleração quer da pro-

cura interna (em todas as suas componentes) quer das exportações (que deverão continuar a registar um crescimento robusto e bastante acima do crescimento da procura interna).Em contrapartida, a aceleração da procura, em particular de componentes com elevado conteúdo importado, deverá traduzir-se num aumento significativo das importações (aci-ma do registado em 2014 e também acima do registado pelas exportações).A conclusão que retiramos aponta para a im-portância de se manter, ou mesmo reforçar, o bom desempenho das exportações (sobre-tudo de bens e serviços com elevado valor acrescentado nacional) para que a recupera-ção da procura interna não ponha em causa o reequilíbrio externo alcançado.No que respeita à procura interna, o Banco de Portugal destaca o dinamismo do consu-mo de bens duradouros e o investimento em máquinas e material de transporte.Quanto às exportações, espera-se um cres-cimento médio anual de 6.1%, superior aos 3.9% registados em 2014, mas com as ex-

portações de bens não energéticos a apre-sentar, no conjunto do ano, um crescimento semelhante ao observado no ano anterior. Relativamente às exportações de serviços, projeta-se a continuação de um crescimento significativo em 2015, com destaque para o elevado dinamismo dos serviços de turismo.Apesar do elevado aumento das importa-ções (acima das exportações), projeta-se uma melhoria do saldo da balança de bens e serviços, devido a um efeito de preço favorá-vel associado à forte queda dos preços dos produtos petrolíferos.O Banco de Portugal dá conta de um au-mento significativo do emprego do setor pri-vado, uma diminuição do emprego no setor público – mais mitigada do que em anos an-teriores – e uma forte queda do desemprego.As mais recentes projeções para a economia portuguesa divulgadas pela Comissão Euro-peia e pela OCDE são coincidentes com as que foram divulgadas em outubro pelo Ban-co de Portugal no que respeita ao crescimen-to do PIB em 2015.

Previsões económicas mais recentes para Portugal

OCDE(09-11-2015)

Comissão Europeia(05-11-2015)

Banco de Portugal(07-10-2015)

2015 2016 2015 2016 2014 2015 2016

PIB 1,7 1,6 1,7 1,7 0,9 1,7 1,9

Consumo privado 2,5 1,6 2,6 1,7 2,2 2,6 1,7

Consumo público 0,5 0,5 0,5 0,3 -0,5 0,1 0,2

FBCF 6,0 3,0 5,6 3,9 2,8 6,2 4,4

Exportações 6,8 5,9 5,3 4,8 3,9 6,1 6,0

Importações 9,2 6,0 6,7 5,3 7,2 7,9 5,5

Inflação (IHPC; IPC no caso do Governo) 0,5 0,7 0,5 1,1 -0,2 0,5 1,2

Taxa de desemprego (% pop, ativa) 12,3 11,3 12,6 11,7

Emprego 1,3 0,9 1,1 0,8

Balança corrente e de capital (% do PIB) 1,9 1,9 2,0 2,3 3,2Nota: Taxas de variação anuais (tva), salvo outra indicação

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em terreno negativo, mas já com sinais de alguma recuperação, sobretudo no mercado interno.Note-se ainda o diferencial negativo entre a variação do IPI e do volume de negócios na indústria, que se deve à queda do Índice de Preços na Produção Industrial (-4.1% em se-tembro).De acordo com os dados trimestrais do INE, divulgados em 4 de novembro, a taxa de de-semprego no terceiro trimestre de 2015 man-teve-se em 11.9%. Este valor é inferior em 1.2 p.p. ao do trimestre homólogo de 2014.– ver gráfico 6.Estes dados apontam para um menor dina-mismo do mercado do trabalho, sobretudo quando comparados com o bom desempe-nho verificado no segundo trimestre. A criação líquida de emprego enfraqueceu, tanto no se-tor secundário como nos serviços, e a perda de emprego na agricultura acentuou-se.A população desempregada, estimada em 620.4 mil pessoas, registou uma diminuição homóloga de 10.2% (menos 70.1 mil pes-soas) e de 0.3% relativamente ao trimestre anterior (menos 1.6 mil pessoas).A população empregada foi estimada em 4575.3 mil pessoas, o que corresponde a um acréscimo homólogo de 0.2% (mais 10.2 mil pessoas). Relativamente ao trimestre an-terior, o emprego diminuiu 0.1% (menos 5.5 mil pessoas).Nos últimos 12 meses, foram criados 29.1 mil empregos, em termos líquidos, no setor secundário e 45.7 mil no terciário. O setor pri-mário perdeu 64.6 mil empregos.Nos últimos 12 meses, o número de traba-lhadores por conta de outrem aumentou 66.6 mil (o número de trabalhadores por con-ta própria desceu 53.7 mil). Destes 66,6 mil, 46,3 mil correspondem a contratos sem ter-mo e 20.1 mil a contratos com termo.O INE refere ainda que, no terceiro trimestre, o número de pessoas que transitaram do de-semprego para o emprego foi superior, em 27 mil, ao de pessoas que transitaram do em-prego para o desemprego. A diminuição do emprego deveu-se assim ao fluxo líquido do emprego para a inatividade (32.5 mil pessoas).Houve ainda um fluxo líquido de 25.4 mil de inativos para desempregados.A taxa de inflação aferida pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC) aumentou em setembro para 0.9%, diminuindo no mês se-guinte para 0.6% – ver gráfico 7.A variação média dos últimos doze meses manteve-se em valores positivos, aumentando para 0.3% em setembro e 0.4% em outubro.

CIP - Direção de Assuntos Económicos (elaborado com informação até 02-12-2015)

A principal diferença entre as mais recentes projeções para 2015 prende-se com a evo-lução do crescimento quer das exportações, quer das importações, com a OCDE a apon-tar para aumentos mais fortes de ambas as variáveis relativamente às previsões do Banco de Portugal, em contraste com as expectati-vas mais moderadas da Comissão Europeia.É de notar que estas previsões forma elabo-radas antes de serem conhecidos os resul-tados do terceiro trimestre, que se revelaram mais desfavoráveis do que era esperado. A Comissão Europeia previa para este trimestre um crescimento em cadeia de 0.4% e o Ban-co de Portugal esperava para a segunda me-tade do ano uma ligeira aceleração do PIB, em resultado de maiores contributos tanto da procura interna como das exportações, líqui-das do seu conteúdo importado.Partindo dos resultados já conhecidos, po-demos concluir que, para atingir um cresci-mento anual de 1.7% no cômputo do ano de 2015, seria necessário que o crescimento em cadeia no quarto trimestre fosse, pelo me-

nos, de 1.1%, o que parece claramente im-provável, dada a recente degradação dos in-dicadores coincidentes e avançados de que atrás demos conta. Para um crescimento em cadeia no último trimestre do ano entre 0.3% e 0.6%, o crescimento anual seria de 1.5%.Para 2016, tanto a OCDE como a Comissão Europeia se mostram menos otimistas que o Banco de Portugal, com previsões de, respe-tivamente, 1.6% e 1.7% para o crescimento do PIB, em comparação com a taxa de 1.9% avançada, em junho, pelo banco central.O menor crescimento ficaria a dever-se a uma desaceleração mais acentuada do investi-mento e das exportações no próximo ano.Quanto à atividade industrial, destaca-se a recuperação do índice de produção indus-trial (IPI) em setembro e outubro, após o fraco resultado de agosto, retomando assim a tendência positiva iniciada em maio. O vo-lume de negócios na indústria também teve um mau desempenho em agosto, tanto no que se refere ao mercado externo como ao mercado interno, continuando em setembro

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CIP

INDÚS TR IA • Dezembro 201510

Plano de Atividades para 2016O Plano de Atividades para 2016, que a Assembleia Geral da CIP aprovou no passado dia 10 de dezembro de 2015, assenta no Plano para o triénio 2014-2016 e assume a visão essencial e determinante da CIP: “ser a confederação empresarial mais representativa a nível nacional, uma estrutura associativa patronal forte, homogénea e abrangente que possa defender mais eficazmente os interesses das empresas portuguesas.” Através da sua rede associativa, a CIP representa 114.566 empresas, que empregam 1.541.539 trabalhadores e têm um volume de negócios de €105.208 milhões

ESTE PLANO de Atividades dá sequência aos Planos para 2014 e para 2015, cujos compromissos e orientações estratégicas se mantêm válidos.

1. OS COMPROMISSOS E ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS

No quadro do novo contexto político resul-tante das eleições de 4 de outubro, a CIP será firme na defesa da estabilidade do qua-dro fiscal, laboral e económico. É importante

que a Confederação defina um conjunto de medidas e posições que não devem ser al-teradas ou revogadas, deixando claro e sem ambiguidades quais as matérias que consi-dera fundamentais e inegociáveis.O principal critério objetivo de avaliação da política económica e das políticas públicas basear-se-á nos efeitos positivos ou negati-vos que tais políticas venham a provocar na competitividade das empresas.A CIP bater-se-á pela valorização do diálogo em sede da Comissão Permanente de Con-certação Social, recusando eventuais retro-cessos no importante papel que este órgão tem vindo a desempenhar nos últimos anos. Pelo contrário, a Concertação Social deve ganhar um novo dinamismo e acrescidas responsabilidades, visando a salvaguarda das condições de competitividade das em-presas e a estabilidade social.A CIP manter-se-á fiel ao seu compromisso de se colocar ao serviço do desenvolvimen-to económico e social do nosso País, de modo a contribuir para a ultrapassagem das dificuldades e dos bloqueamentos que têm vindo a condicionar a evolução da economia portuguesa.No cumprimento destes compromissos, a CIP manter-se-á fiel às suas causas matriciais:• o primado da iniciativa privada e da econo-mia de mercado,• a aposta na produção de bens e serviços transacionáveis,• a defesa das empresas, nomeadamente das PME,

• a promoção do empreendedorismo e a defesa dos empresários.A CIP tem identificado os problemas e apresentado propostas de solução. No 2º Congresso das Empresas e das Atividades Económicas, realizado em julho de 2015, fo-ram aprovadas as propostas da CIP para o programa do Governo.Em 2016, manteremos o objetivo de pros-seguir estes debates, organizando, sempre que oportuno, encontros que reúnam diri-gentes associativos e empresários, sobre temas importantes e do interesse de todos e dinamizará iniciativas com vista ao apro-fundamento e divulgação das suas ideias e propostas.A CIP intervirá sobre as principais ques-tões estratégicas que enfrentamos, identificadas no programa para o triénio 2014/2016.A sua intervenção será desenvolvida em es-treita articulação com todos os seus asso-ciados. Para tal, a CIP recorrerá a consultas à estrutura associativa sobre as principais matérias a que será chamada a pronunciar--se e valorizará o papel dos seus Conselhos Consultivos.A abordagem da CIP aos fatores essenciais para o crescimento económico e o desen-volvimento das empresas será feita, sempre que possível, com as demais Confedera-ções Empresariais. Há, na verdade, que prosseguir as iniciativas visando a consolidação do movimento as-sociativo empresarial de cúpula.

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Esse objetivo pode ser prosseguido através da intensificação do diálogo entre as Con-federações Empresariais – quer as que têm assento no Conselho Económico e Social e na Comissão Permanente de Concertação Social quer as que foram, entretanto, cons-tituídas – mas deve também ponderar-se a constituição de um Conselho das Con-federações Empresariais, que represente a expressão articulada e consensual dos interesses da economia e das empresas. A CIP deverá manter esse objetivo durante o exercício de 2016. A CIP continuará a trabalhar, proativamente, com as Confederações Empresariais procu-rando encontrar as formas mais adequadas para a expressão e defesa dos nossos in-teresses comuns, com especial enfoque quanto às matérias transversais à economia e às empresas no seu conjunto.

2. ÁREAS DE INTERVENÇÃO PRIORITÁRIAS

Dando cumprimento ao Programa para o Triénio 2014-2016, a CIP intervirá, ao longo do ano de 2016, nas seguintes áreas prio-ritárias:• Reindustrialização e a nova política indus-trial para o século XXI;• Promoção da competitividade e do cresci-mento económico;• Reforço do papel e da influência do asso-ciativismo empresarial;• Relações laborais: Concertação Social e Diálogo Social;• Reforço da intervenção no âmbito da UE e da lusofonia económica.

2.1REINDUSTRIALIZAÇÃO E A NOVA POLÍTICA INDUSTRIAL PARA O SÉCULO XXI

No 2º Congresso das Empresas e das Ati-vidades Económicas, realizado em julho de 2015, a CIP defendeu um conceito de reindustrialização alargado à produção de todos os bens e serviços transacionáveis, passíveis de exportação ou de contribuir para a redução das importações, em mer-cado aberto e concorrencial.Tal conceito não pode confundir-se com o retorno a modelos dum passado assentes em mão-de-obra barata, mas sim recor-rendo a um modelo de economia do co-nhecimento com mão-de-obra qualificada, injetando conhecimento nas empresas em articulação com as Universidades, os Poli-técnicos e o Sistema de Ciência e Tecno-logia.Tal implica a realocação dos recursos para a produção de bens e serviços transacioná-veis, com muito maior valor acrescentado, avançando para “clusters” mais desenvol-vidos e promovendo a inovação radical e incremental dos nossos produtos e proces-sos produtivos.Com este objetivo, a CIP apresentou a pro-posta de um Compromisso Nacional para a Reindustrialização e Competitividade de Portugal, como instrumento de um nova Política Industrial para o nosso País, concre-tizado num Programa de Desenvolvimento da Indústria e dos Bens Transacionáveis assente numa diversidade de eixos, que vão das políticas de ciência, tecnologia e inovação à internacionalização, incluindo a

atração de investimento direto estrangeiro, passando pela qualificação da mão de obra, pelo sistema logístico e de infraestruturas, pelo financiamento às empresas, pela fis-calidade, pela redução dos custos energé-ticos.Em 2016, a CIP desenvolverá um conjun-to de iniciativas para aprofundar e divulgar as suas ideias e propostas sobre esta nova política industrial para o século XXI que pre-tende para Portugal.

2.2PROMOÇÃO DA COMPETITIVIDADE E DO CRESCIMENTO ECONÓMICO

Na sua intervenção junto das instâncias económicas, políticas e sociais, a CIP as-sumirá a defesa da competitividade e do crescimento económico, tendo por base as conclusões do 2º Congresso das Empresas e das Atividades Económicas e, em particu-lar, as recomendações para o novo Governo que resultaram deste Congresso.Esta intervenção será concretizada por oca-sião da discussão dos principais documen-tos que suportam a política económica, mas também de forma contínua, no acompanha-mento regular da produção legislativa, e de forma pró-ativa, através da apresentação de propostas.A CIP atuará através de uma participação ativa nos diversos organismos de decisão e de consulta nacionais e internacionais nos quais tem assento, bem como da promoção de um diálogo crítico, mas construtivo com o poder político.A CIP defenderá a prossecução de uma tra-

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CIP

jetória orçamental compatível com os seus compromissos europeus. No quadro de uma rápida reversão das medidas temporá-rias de consolidação orçamental, será prio-ridade da CIP pugnar para que o controlo do défice não ponha em causa a redução da carga fiscal sobre as empresas. Nesta li-nha, e convicta de que a estabilidade fiscal é crucial para o relançamento do investimento empresarial, a CIP considera fundamental o cumprimento do calendário previsto para a redução das respetivas taxas e rejeitará qualquer retrocesso da reforma do IRC, no-meadamente no que respeita ao prazo de reporte de prejuízos fiscais. De igual forma, será frontalmente contra quaisquer aumen-tos de tributação das empresas, seja por via da redução de benefícios fiscais ou dos in-centivos fiscais ao investimento seja por via do agravamento de outras formas de tribu-tação, seja por via da criação de qualquer novo imposto.A CIP continuará a defender que a conci-liação entre a sustentabilidade orçamental e o estímulo ao crescimento passa pela redu-ção estrutural da despesa pública corrente, alicerçada numa verdadeira Reforma do Es-tado.Na linha da atuação desenvolvida nos anos anteriores e das orientações definidas no Congresso da CIP, será dada prioridade a uma forte e fundamentada intervenção na defesa de melhores condições de financia-mento do setor produtivo. Nesta linha, a CIP procurará que a intervenção da Instituição Financeira de Desenvolvimento vise efetiva-mente colmatar as insuficiências de merca-do no financiamento e na capitalização de PME.A resolução do problema das dívidas das entidades públicas às entidades privadas e promoção da redução dos respetivos pra-zos de pagamento estarão igualmente entre as nossas prioridades.A CIP contribuirá para uma verdadeira políti-ca de simplificação administrativa que con-corra para eliminar custos desnecessários para as empresas e para os cidadãos. Será dada particular atenção ao impacto nas empresas de eventuais custos de contexto decorrentes de nova legislação que venha a ser proposta ou publicada.A CIP continuará a acompanhará atenta-mente a implementação dos programas operacionais decorrentes do Programa Portugal 2020 e dos Programas da União Europeia, nomeadamente Horizon 2020 (Investigação, Desenvolvimento e Inova-ção) e COSME (PME). Em particular, a CIP bater-se-á pela adequada participação das associações empresariais na implementa-

ção do Portugal 2020, no respeito por um quadro de colaboração e contratualização de ações de promoção de competitividade e internacionalização, de qualificação do te-cido empresarial e de desenvolvimento do capital humano. Em todas estas vertentes, a CIP estará atenta a eventuais derivas in-compatíveis quer com o que foi decidido neste domínio em sede de concertação so-cial quer com o importante papel que deve ser atribuído às associações empresarias no desenvolvimento económico e social do país e das suas regiões.A estratégia do Governo em matéria de po-lítica energética será objeto de um acompa-nhamento rigoroso, intervindo a CIP no sen-tido de pugnar por preços da energia mais competitivos.

2.3REFORÇO DO PAPEL E DA INFLUÊNCIA DO ASSOCIATIVISMO EMPRESARIAL

O Programa para o triénio 2014-2016 define como área prioritária de intervenção priori-dade a implementação de ações que visem o reforço do papel e influência do associati-vismo empresarial. Neste contexto, será organizado um evento de reflexão de cariz internacional que per-mita debater os desafios do Associativismo empresarial na Europa tendo em vista a par-tilha de experiências e procura conjunta de cenários de viabilidade futura.Consciente de que o futuro do associativis-mo empresarial passa pelo reforço do papel das associações empresariais, a CIP velará

ainda pelo fortalecimento das associações que a integram, fomentando a partilha de conhecimento e a cooperação entre os as-sociados, promovendo o desenvolvimento do trabalho em rede e reforçando a conci-liação de posições tendo em vista a defesa dos interesses da economia nacional e das empresas.A CIP procurará, ainda, estimular o pro-cesso de convergência do associativismo empresarial, contrariando a tendência de aumento do número de organizações as-sociativas empresariais e incentivando uma melhor organização dos interesses a nível nacional, regional e setorial.Por outro lado, será dada particular atenção à comunicação dentro da rede de associa-dos melhorando os atuais instrumentos de comunicação e criando novas ferramentas de partilha de conhecimento e de dissemi-nação de informação que facilitem a parti-cipação dos associados no processo de decisão e, ao mesmo tempo, permitam exponenciar a divulgação das nossas posi-ções.

2.4RELAÇÕES LABORAIS: CONCERTAÇÃO SOCIAL E DIÁLOGO SOCIAL

A CIP reitera a convicção de que a Concer-tação Social é – tem sido e dispõe de po-tencialidades para ser ainda mais – um polo de entendimento onde grandes vetores de temas bem gerais podem obter equação e definição pelos seus principais destinatários: os trabalhadores e as empresas, num im-prescindível clima de paz social.Alicerçada nesta convicção, a participação

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e intervenção na Concertação Social têm constituído uma das atividades centrais da CIP, cujo desenvolvimento tem contado com forte empenho e envolvimento de Es-trutura Associativa.O próximo ano não será exceção. Antevê-se, aliás, uma forte solicitação da CIP no sentido de preservar os avanços al-cançados que muito contribuíram para con-ferir competitividade aos setores e empre-sas, permitindo-lhes reestruturar-se, investir e captar investimento, inovar, gerar riqueza e criar empregos.Os últimos 12 anos foram decisivos. Em-presas mais empenhadas e competitivas alavancaram a saída da crise e constituem hoje o motor económico do País.A CIP, como paladino do primado da econo-mia de mercado e da iniciativa privada, será firme na defesa deste empenho e competi-tividade, contribuindo para potenciar, ainda mais, o seu desenvolvimento, com o obje-tivo de colocar o tecido empresarial portu-guês ao nível que outros países conhecem e proporcionam às suas empresas nossas concorrentes.A defesa destas causas tem ganho particu-lar ressonância, precisamente, na Comissão Permanente da Concertação Social (CPCS), onde os compromissos assumidos entre os governos e parceiros sociais, com decisivo empenho da CIP, têm ido muito para além da complexa regulação de institutos jurídi-co-laborais.Tais compromissos passaram a versar, tam-bém, matérias como as finanças públicas, o sistema fiscal, o funcionamento do mercado interno, os custos de contexto, a concorrên-cia, a reforma da administração pública, o combate à fraude e à evasão fiscal e con-tributiva, a economia informal, a reabilitação urbana, a internacionalização, a captação de investimento, o empreendedorismo, a inovação, o funcionamento da justiça, a competitividade, a segurança social e o em-prego.O resultado de muitos dos compromissos assumidos na Concertação Social vai tendo concretização e desenvolvimento ao nível da Contratação Coletiva, com resultados concretos na economia do País.A Contratação Coletiva – expressão do diá-logo social ao nível setorial – não só permite ajustamentos do quadro legal às especifici-dades setoriais e a melhoria das condições de trabalho, como, sobretudo, se revela indispensável, também ela, à manutenção da paz social, decisiva na produtividade e, assim, na competitividade das nossas em-presas.Perante este cenário, a CIP, enquanto

parceiro social, opor-se-á frontalmente ao esvaziamento do âmbito e alcance da in-tervenção da CPCS. Tentativas de tal es-vaziamento, com apelo e justificação à remissão de matérias integradas nesse do-mínio para análise e discussão em quais-quer outras instâncias políticas onde não se encontrem devidamente representados, como tais, as empresas e os trabalhado-res, merecerão linear e inequívoca rejeição por parte da CIP.Matérias essas, como o salário mínimo na-cional, que, pela sua própria natureza, deve ser discutida e decidida em diálogo social, na CPCS, com a participação ativa e res-ponsável de todas as partes nela represen-tadas.O “Acordo relativo à atualização da Retribui-ção Mínima Mensal Garantida, Competitivi-dade e Promoção do Emprego”, subscrito entre o Governo e a maioria dos Parceiros Sociais com assento na CPCS, em 23 de setembro de 2014, não só atualizou, de 485 para 505 euros, o valor da retribuição míni-ma mensal garantida (RMMG) para vigorar a partir de 1 de outubro de 2014 e durante o ano de 2015, como, também, permitiu es-tabelecer condições essenciais para aquilo que a CIP há muito vinha solicitando como inerente à fixação de quaisquer retribuições no setor privado, ou seja, a definição de cri-térios para a determinação das atualizações futuras da RMMG, com especial incidência na conciliação da produtividade, competiti-vidade e política de rendimentos e preços.No Acordo ficou bem expresso e vincado que tal definição seria obtida no âmbito de uma “comissão tripartida, em sede de Co-missão Permanente de Concertação Social, composta por representantes dos parceiros sociais e Governo”.Esta Comissão terá, assim, que se pronun-ciar de acordo com o mandato que lhe foi fixado.O respeito pelos consensos obtidos na Concertação Social impõe que, qualquer intervenção nos equilíbrios acordados entre parceiros sociais, tenha de ser reequaciona-da no mesmo âmbito.A este, agregam-se múltiplos outros domí-nios e institutos e respetivos regimes jurídi-cos, em que não se pode regredir, sendo exemplos:• Quadro de relação entre a Lei e a Contra-ção Coletiva preservando e favorecendo a liberdade negocial;• Os institutos da sobrevigência e caduci-dade das convenções coletivas de trabalho• Organização do tempo de trabalho, incluí-do os institutos do banco de horas (nas mo-dalidades previstas em contratação coletiva

e por acordo individual), da adaptabilidade e dos horários concentrados;• O montante dos acréscimos por realiza-ção de trabalho suplementar;• A duração das férias;• Possibilidade de ajustamento no regime de mobilidade profissional e geográfica;• O regime da contratação a termo, incluin-do a contratação de trabalhador à procura de primeiro emprego, em situação de de-semprego de longa duração, para lança-mento de nova atividade de duração incerta, bem como início de laboração de empresa ou de estabelecimento pertencente a em-presa com menos de 750 trabalhadores, e, ainda, qualquer outra prevista em legislação especial de política de emprego, bem como a possibilidade de este instituto poder ser regulado por convenção coletiva;• O número de feriados obrigatórios e o re-gime de feriados facultativos;• O regime da cessação do contrato de tra-balho e respetivas compensações;Os exemplos enunciados, a que outros se adicionam, constituem matérias essenciais, instrumentos bem decisivos à competiti-vidade das empresas e setores, que deles não se podem ver privados, sob pena de operar um retrocesso económico e social, dificilmente ultrapassável e com pesados custos para o País.

2.5REFORÇO DA INTERVENÇÃO NO ÂMBITO DA UE E DA LUSOFONIA ECONÓMICA

Em 2016, a CIP irá continuar o caminho per-

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CIP

corrido em 2015, de reforço da defesa dos interesses da economia nacional em Bruxe-las, assegurando que a voz das empresas portuguesas é tida em consideração nos processos de decisão.A CIP atuará de forma cada vez mais par-ticipativa na preparação das posições da BUSINESSEUROPE – Confederação Euro-peia de Empregadores, bem como direta-mente junto dos representantes nacionais no Parlamento Europeu e na Comissão Europeia, de forma a assegurar que estes conhecem as nossas posições nos vários dossiers em negociação, dando particular atenção aos seguintes temas: • Revisão da Estratégia Europa 2020; • Plano para reforçar a União Económica e Monetária europeia;• Plano da Comissão Europeia para o in-vestimento; • Construção da União de Mercados de Capital;• Política comunitária para as PME e para a Industria;• Reforço e aprofundamento do Mercado Interno (em particular no que respeita à livre circulação de serviços e a implementação do mercado único digital);• Politica de comércio externo e em particular as relações com a China e o Acordo Tran-satlântico de Comercio e Investimento (TTIP);• Pós-Acordo de Cotonou com os países de Africa, Caraíbas e Pacifico;• Política europeia em matéria de energia-clima. Para além da regular participação em reu-niões de comités e grupos de trabalho, destaca-se a participação nas duas reu-niões anuais do Conselho de Presidentes da BUSINESSEUROPE e uma visita de trabalho da Direção da CIP a Bruxelas, a realizar no primeiro semestre 2016, duran-te a qual serão realizadas reuniões com as várias Instituições Europeias.A CIP é, desde 2014, Presidente do Conse-lho Geral da ELO, através da qual manterá a sua intervenção nas atividades do Proje-to Lusofonia Económica e na atividade da SOFID-Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento, no âmbito da política de financiamento aos investimentos das em-presas nos países em desenvolvimento e emergentes, incluindo os países da CPLP. Será ainda reforçada, em cooperação com a ELO, a atuação junto das Instituições europeias no âmbito do desenvolvimento económico e cooperação, em particular no que diz respeito à Nova Facilidade de Inves-timento para África.Para conhecer o Plano de Atividades da CIP para 2016, na sua versão integral, visi-te www.cip.org.pt

O Plano de Atividades da CIP para 2016 contempla ainda uma área de anexos em que são descritas todas as atividades a realizar em 2016, de-partamento a departamento, disponível na íntegra no portal da CIP.Nesta versão elaborada especialmente para a revista Indústria, destaca-mos as principais áreas de atuação de cada departamento.

SECRETARIA-GERAL• Apoio ao Presidente na coordenação geral dos serviços.• Dinamização da relação com os associados e promoção de novas filiações.• Gestão dos processos administrativos, financeiros e de pessoal

DEPARTAMENTO DE ASSUNTOS JURÍDICOS E SÓCIO-LABORAIS• Apoio à Direção• Relação com os Associados• Concertação Social• Código do Trabalho e respetiva Regulamentação • Emprego• Formação Profissional e Educação • Segurança Social • Contratação Coletiva• Justiça• Igualdade de género• Imigração• União Europeia• BUSINESSEUROPE • OIT e OIE

DEPARTAMENTO DE ASSUNTOS ECONÓMICOS• Informação económica• Apoio à intervenção institucional• Energia• Ambiente• Licenciamento• BUSINESSEUROPE

DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS• Apoio à intervenção institucional• Comércio Internacional• Assuntos Internacionais• Relações Bilaterais• Delegação em Bruxelas• Comissão Europeia• BUSINESSEUROPE

CONSELHOS CONSULTIVOS DA CIP• Conselho da Indústria Portuguesa• Conselho do Comércio Português• Conselho do Turismo Português• Conselho Estratégico Nacional da Energia• Conselho Estratégico Nacional do Ambiente• Conselho Estratégico Nacional da Saúde

COMUNICAÇÃO• Rede de Comunicação BUSINESSEUROPE• Rede de Comunicação CIP• Relação e Comunicação com os Associados• Valorização da informação CIP• Gestão da Comunicação CIP

Atividades por departamento

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ECONOMIA DO MAR

Observatório da Cooperação na Economia do Mar

O país necessita de um novo ciclo de crescimento que, para ser duradouro, terá de ser sustentado em equilíbrios macroeconómicos sólidos. Esses novos equilíbrios económicos terão que passar pela (i) reorientação da nossa economia para a produção de bens e serviços transacionáveis, sobretudo em atividades de elevado valor acrescentado nacional e dirigidos a mercados com maiores perspetivas de crescimento e (ii) potenciar a valorização e a utilização de recursos naturais endógenos para satisfazer a procura nacional e a procura externa. Nesta perspetiva, investir no mar e nas suas indústrias será vital para o sucesso de uma estratégia de crescimento e desenvolvimento

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MAIS INVESTIMENTO NO MAR, implica mobilizar as empresas, fazendo-as partici-par de uma estratégia nacional agregadora e integrada. No fundo, é necessário aumen-tar os níveis de cooperação entre todas as entidades relacionadas com o mar, desde a administração pública, às empresas e à academia.Após ter tomado conhecimento dos impor-tantes resultados do inquérito realizado a 50 gestores de topo e personalidades relacio-nadas com a economia do mar, efetuado no âmbito da 5ª edição do projeto de respon-sabilidade social LEME – Barómetro PwC da Economia do Mar (Dezembro 2014), dedicada ao tema da cooperação nas ativi-dades do mar, decidi aceitar o convite para presidir ao Observatório da Cooperação na Economia do Mar. No inquérito efetuado, os 50 gestores de topo e personalidades inqui-ridos revelaram que é unânime a importân-cia da cooperação no desenvolvimento das atividades do mar, no entanto, uma larga maioria dos inquiridos, considera que o grau de cooperação é baixo. Em particular, a cooperação entre empresas e a academia, assim como a cooperação entre diferentes departamentos do estado, a cooperação entre diferentes indústrias do mar e a coo-peração entre o sistema financeiro e as em-presas da economia do mar, apresentaram resultados não satisfatórios, com mais de 65% dos inquiridos a considerar baixos os níveis cooperação.O Observatório da Cooperação na Econo-mia do Mar tem como único objetivo a emis-são semestral de uma mensagem constru-tiva no sentido do fomento da cooperação nas atividades do mar. A mensagem a emitir é construída com base nos contributos de 22 personalidades com bastante experiên-cia em várias atividades e indústrias do mar que fazem parte do Observatório da Coo-peração na Economia do Mar e por outros contributos que sejam entregues ao Obser-vatório.Neste momento, cumprindo com o seu pro-grama de atividades o Observatório emitiu duas mensagens. A primeira mensagem centrou-se na im-portância de maximizar a eficácia da CIAM (Comissão Interministerial dos Assuntos do Mar) no que respeita ao alcançar o seu pro-pósito, na medida em que o Observatório considera que existe uma margem de pro-gressão elevada no que respeita ao reforço da eficácia da CIAM, sugerindo que as enti-dades competentes, entre outros assuntos, considerem aspetos como: - o número ótimo de reuniões por ano; - o nível de participação e adesão dos diver-

António Saraiva PRESIDENTE DA CIP E PRESIDENTE DO OBSERVATÓRIO DA COOPERAÇÃO NA ECONOMIA DO MAR

sos ministérios e restantes entidades com assento nas reuniões; - o nível de envolvimento e de escuta ativa de personalidades independentes, entida-des públicas e privadas, bem como organi-zações não governamentais; - a forma de divulgação pública da informa-ção analisada e decisões tomadas; - o nível de recursos necessários à operacio-nalização da CIAM; - a quantidade e qualidade de informação disponível para serem tomadas as melhores decisões; - o acompanhamento a efetuar de questões chave relacionadas com a capacitação de Portugal para a valorização dos recursos do mar, nomeadamente, nos aspetos relacio-nados com o conhecimento, a formação, os equipamentos disponíveis, o financiamento, a regulação e o nível de burocracia.A segunda mensagem sugere que seja pon-derada a existência de um Ministro Adjunto do Primeiro Ministro com a responsabilidade e os meios necessários para coordenar os

assuntos do mar para que se reduzam as barreiras existentes, se criem todos os ali-nhamentos necessários a uma boa coorde-nação e se projete a economia do mar para um nível adequado à enorme dimensão do mar português.Por último, na qualidade de presidente, devo referir que o Observatório estará parti-cularmente atento, durante a próxima legis-latura, à evolução da cooperação nas ativi-dades do mar, pois consideramos que uma visão integrada para o mar só poderá ser implementada na prática se todos os inte-ressados remarem para o mesmo lado! Sem dúvida, que uma boa métrica para avaliar o sucesso da próxima legislatura em termos do mar, seria ver em que mediada existiu re-forço da cooperação, ou seja, em que me-dida surgiram mais projetos em parceria, em que medida mais departamentos do estado cooperaram reduzindo a burocracia, em que medida a coordenação entre diferentes tutelas de indústrias do mar levou à concre-tização de novas iniciativas e projetos…

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ECONOMIA DO MAR

Tiago Pitta e Cunha CONSULTOR DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

DESDE 2004, data da apresentação do Re-latório da Comissão Estratégica dos Ocea-nos, que Portugal tem o mar na mira do seu desenvolvimento económico e social. Com uma estratégia nacional para o Mar desde 2006, e com sucessivos governantes dedicados ao mar desde 2005, era tempo hoje de começarmos a ver resultados con-cretos e abrangentes, decorrentes de tanta atenção posta na questão do desenvolvi-mento da economia do mar. De certo modo pode-se dizer que nalguns sectores esses resultados são uma realidade. No sector da transformação de pescado, em que Portu-gal passou de exportações de apenas 240 milhões de euros em 2004, para exporta-ções de quase novecentos milhões previs-tas para 2015 (equivalentes a cerca de 18% do valor das exportações agro-alimentares nacionais), houve um crescimento assina-lável. Do mesmo modo, o desenvolvimento do sector portuário nos últimos anos, que tem permitido margens de lucro de dois di-gitos aos operadores portuários e grandes ganhos em todo o sector, também é um facto a registar.A grande questão é saber se o crescimento desses sectores se deve à atenção política posta na economia do mar, ou se se deve antes a outras razões, sendo que a resposta está mais em factores difusos não ligados a uma estratégia nacional planeada com vista a atingir esse objectivo.Perante isto, a conclusão a retirar é que para Portugal o mar, mais do que uma base produtiva forte e transversal à economia nacional, permanece um activo de enorme potencial que não sabemos explorar. Esta conclusão deixa-nos uma sensação de des-conforto e suscita uma reflexão profunda. Neste contexto, e como disse um reputado economista da nossa praça, o mar apenas será um activo quando tivermos os meios organizacionais (os factores produtivos, incluindo capital, organização e recursos humanos) para o explorar. Não sendo esse o caso o mar permanece, ainda e sempre, simplesmente, um inerte. Este raciocínio tem, aliás, levado a maioria dos economistas e dos empresários portu-gueses a olharem a economia do mar, que

afinal corresponde apenas a cerca de 3% do PIB gerado pela economia nacional, como um copo meio vazio, perante o qual enco-lhemos os ombros e nos viramos para outros sectores tido por mais promissores. Este é infelizmente o espírito reinante. Mas é um es-pírito de resignação e falho de uma visão de longo prazo que deve ser combatido.Por um lado, porque Portugal apresenta na questão do mar argumentos e mais valias comparativas que podem fazer a diferença. Por outro lado, porque o intervalo que me-deia entre o que exploramos e o que é o potencial da economia do mar (e que leva a que estejamos abaixo da média europeia, onde o mar significa cerca de 5% das eco-nomias dos Estados membros da União) constitui um espaço de crescimento que está à espera de ser preenchido.

A dimensão colossal do mar sob jurisdição nacional, que convida à exploração, princi-palmente, de recursos geológicos do leito marinho (combustíveis fósseis e minerais); a localização estratégica do país, no centro das rotas marítimas do comércio mundial do hemisfério ocidental, que convida ao desenvolvimento da marinha de comércio e da logístisca portuária; e a variedade da riquissíma biodiversidade marinha do mar português, sem paralelo em outro país eu-ropeu, que convida à sua exploração pela indústria emergente da biotecnologia azul, são as três grandes razões que nos devem levar a, no contexto da economia nacional, decidir transformar o mar no activo formi-dável que pode vir a ser e que já é para os outros países costeiros da Europa oci-dental.

Três razões para construir uma base produtiva nacional

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António Nogueira Leite PRESIDENTE FÓRUM OCEANO – ASSOCIAÇÃO DA ECONOMIA DO MAR

O ASSOCIATIVISMO tem tradição na eco-nomia do Mar através da ação das associa-ções empresariais setoriais que intervêm em diversas áreas de atividade – as indústrias navais, as conservas, os portos, …- à se-melhança do que acontece com outros se-tores económicos. O que é novo no Mar é o facto de, ao longo dos últimos 6 anos, terem despontado outras iniciativas de natureza diferente e com sentido inovador, agregan-do empresas que intervêm em diferentes setores de atividade que partilham a mesma cadeia de valor e também a participação, nessas dinâmicas associativas, de outro tipo de organizações – instituições de ensino su-perior, centros de IDT, autarquias locais e outras associações de interesse. Destaca-se, neste âmbito, a criação do Fórum Empresarial da Economia do Mar (FEEM), associação constituída em 2010 a partir do estudo o Hypercluster do Mar, a criação da Oceano XXI, associação que foi responsável pela dinamização do Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar, Estratégia de Eficiência Coletiva reconhe-cida pelo programa COMPETE em 2009, além de outras iniciativas mais recentes e circunscritas como são as dinâmicas as-sociativas da Fileira do Pescado e da rede BlueBio Alliance, no domínio dos bio-recur-sos e das biotecnologias marinhas.Esta dinâmica de cooperação e de agre-

gação conheceu recentemente novos de-senvolvimentos em resultado da fusão das associações FEEM e Oceano XXI, dando origem à Fórum Oceano. A Fórum Ocea-no dá continuidade aos objetivos ante-riormente prosseguidos de forma isolada pelas duas associações, designadamente a valorização dos recursos marinhos e a promoção da competitividade e da interna-cionalização da economia do Mar. A Fórum Oceano agrega um conjunto diversificado de 130 associados que representam os diferentes atividades da economia do mar, desde os setores tradicionais como são as indústrias navais, os portos e ainda alguns sectores emergentes como são as biotec-nologias marinhas, as energias renováveis marinhas, as tecnologias para operar no offshore. O alargamento da base associativa da Fó-rum Oceano e o seu enriquecimento em termos qualitativos com a presença, nas diferentes cadeias de valor, de utilizadores finais, de empresas de desenvolvimento

de tecnologia, de centros de I&D cria con-dições particularmente favoráveis ao de-senvolvimento da inovação, à geração de efeitos de sinergias e de escala necessários para operar nos mercados globais. Entre 2010 e 2015, ambas as associações prosseguiram um caminho em que de-senvolveram novas atividades e múltiplas iniciativas, atraíram novos sócios (alguns comuns) e, por via da interação que na-turalmente surgiu e se intensificou, foram paulatinamente reconhecendo a impor-tância de atuação conjunta e a relevância prática do velho adágio de que da união resulta a força. Foi assim que caminharam para uma fusão, executada sem dramas e impulsionada pelos presidentes das as-sociações originais que, caso raro na nos-sa terra, souberam sair em tempo e com o gosto do dever cumprido. Cabe-nos agora, a partir do seu exemplo e do seu trabalho, unidos, contribuir para que o mar português se materialize como fonte de prosperidade para todos.

Expressão do Associativismo na Economia do Mar

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INDÚS TR IA • Dezembro 20152020

ECONOMIA DO MAR

Resiliente mas cercada por barreiras de papel DESDE TEMPOS imemoriais o ser huma-no tira proveito dos mares e dos oceanos. Se, numa primeira fase, assuntos como a alimentação através de produtos do mar (pesca, aquicultura e conservação), cons-trução naval, transportes marítimos e defesa eram os assuntos prioritários de qualquer civilização marítima, em fases posteriores do desenvolvimento humano, temas como a energia offshore (petróleo e gás), o turismo costeiro, os desportos náuticos e os cuida-dos de saúde através do mar, ganharam importância. Atualmente, para além dos te-mas tradicionais do mar os temas da mine-ração do leito marinho, da energia renovável offshore, da biotecnologia azul, da robótica submarina e da indústria aeroespacial (ope-rações aéreas em ambiente marítimo e uso de satélites) juntaram-se ao vasto número de indústrias que utilizam o recurso mar.De facto, existe hoje, uma melhor perceção sobre a enorme dimensão dos oceanos, mas acima de tudo, sobre a sua tridimensionali-

dade, que abrange não só a superfície do mar e a sua coluna de água, mas também o leito marinho (plataforma continental), bem como os ventos que sobrevoam os oceanos e a possibilidade de a partir do espaço se monitorar zonas do planeta terra de grande dimensão onde os sistemas de comunicação terrestres (convencionais) não funcionam.Nos últimos anos, muito pelo empenho de diversas personalidades e entidades que pensam o mar há muito tempo, surgiu, em Portugal e na fachada atlântica da Euro-pa, o conceito de Economia do Mar ou de Crescimento Azul, que traz, como novida-de, uma visão integrada, uma visão holística deste importante recurso natural. A visão de cada indústria que opera no mar é impor-tante, mas também é importante uma visão integrada das diferentes indústrias, uma articulação entre indústrias que promova o crescimento sustentável, nas suas vertentes económica, social e ambiental. Na prática, o novo conceito da economia do mar, entre

muitos outros aspetos, se existisse há mais décadas, teria certamente alertado veemen-temente, para o facto de que deixar cair a indústria dos transportes marítimos de con-trolo nacional ou reduzir a frota pesqueira significativamente não tem apenas impacto nos transportes marítimos de controlo na-

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21INDÚS TR IA • Dezembro 2015

Miguel Marques PARTNER DA PWC

cional ou na pesca portuguesa. Tem igual-mente impacto, na construção naval, na manutenção naval, no emprego, na forma-ção e treino de marítimos, na autonomia de abastecimento do país, na coesão territorial de uma nação insular e peninsular… Por ou-tro lado, a economia do mar traz uma visão de futuro, de sustentabilidade, de inovação em setores modernos, mas também de ino-vação nos setores tradicionais.Pelos dados disponíveis neste momento, podemos afirmar que a economia do mar, em Portugal, muito pelo dinamismo de em-presários das indústrias do mar, tem tido um comportamento bastante resiliente. No con-texto de instabilidade económica em que o país tem vivido, ter conseguido aumentar significativamente o volume da carga movi-mentada nos portos nacionais, aumentar o número de pessoas que nos visitam através de cruzeiros marítimos e ter crescido nas exportações de produtos da fileira do pes-cado é um resultado bastante positivo.

Crescimento azulEm 2008, o total da carga movimentada, nos portos comerciais do continente e ilhas, foi de 69,5 milhões de toneladas. Tendo crescido anualmente a um ritmo de cerca de 3,5%, foi possível atingir, em 2014, 85,8 mi-lhões de toneladas de carga movimentada em porto. No plano do contributo dos por-tos para o desenvolvimento do turismo, 900 mil turistas chegaram a Portugal, em 2008, através de cruzeiros marítimos e, em 2014, alcançou-se a marca dos 1.150 mil turistas, representando uma taxa média anual de crescimento na ordem dos 4,2%. Existindo certamente pontos a melhorar em cada por-to comercial português, pode-se concluir que, em geral, a dinâmica de modernização e sofisticação da rede portuária nacional, iniciada há vários anos atrás, tem sido um sucesso, com as administrações portuárias a terem uma visão de médio e longo prazo e integrada nas regiões e comunidades onde operam. São exemplos de excelência a evo-lução da carga em portos como Sines e Lei-xões, assim como o desenvolvimento dos cruzeiros em Lisboa e na Madeira. Também a importância das exportações que partem via Setúbal e Aveiro deve ser registada, bem como a importância fundamental dos Portos dos Açores, de Viana, da Figueira e do Algarve, para o desenvolvimento das re-giões onde estão situados. Tendo, os portos portugueses, percebido a importância do uso de novas tecnologias de informação, os projetos Janela Única Portuária e a Janela Única Logística, dinamizados pelos portos, são uma referência internacional nesta ma-

téria. Não pode ser deixado de referir, que a evolução positiva da carga movimentada nos portos portugueses se deve, em mui-to, à iniciativa e arrojo do tecido empresarial português que respondeu às dificuldades económicas vividas em Portugal com o re-forço das exportações.Na área da fileira do pescado a aposta na cooperação entre agentes económicos e investimentos na promoção nacional e inter-nacional dos produtos do mar de empresas nacionais fez com que as exportações tives-sem aumentado significativamente.Desde a rápida evolução do registo interna-cional da Madeira, da excelente qualidade da manutenção e reparação naval efetuada no país, passando pela organização de eventos desportivos de escala global, até aos testes de equipamentos de energia eólica offshore e à investigação científica relacionada com o mar, muitos são os aspetos positivos que a economia do mar tem oferecido ao país nos últimos tempos. No entanto, em áreas como o shipping de controlo nacional, a construção

naval, a formação e treino de marítimos, o fi-nanciamento das pequenas e médias empre-sas, o reduzido investimento na marinha, são áreas de preocupação, onde há muito para fazer, mas, ao mesmo tempo, são áreas de oportunidade e de esperança, para o reforço do crescimento azul.É curioso que, embora as indústrias ma-rítimas estejam habituadas a operar num ambiente hostil e violento, com ondas e cor-rentes, uma das maiores adversidades que enfrentam são obstáculos aparentemente frágeis, são barreiras de papel, relacionadas com necessidades de licenciamentos, ne-cessidades de aprovações por um enorme número de departamentos do estado, mui-tas vezes desarticulados entre si… Olhando pelo lado positivo da vida, esta situação faz com que seja possível, em pouco tempo, avançar para patamares elevados de cresci-mento azul, em cenário de constrangimento económico, bastando, para isso, libertar a economia do mar do excesso de burocra-cia!

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ECONOMIA

INDÚS TR IA • Dezembro 201522

Perspetivas económicas para 2016

ESTA EVOLUÇÃO reflete algumas altera-ções no que respeita ao padrão de cresci-mento do PIB e das suas componentes.Relativamente ao consumo privado, es-pera-se uma desaceleração (de 2.7% para 1.8%), decorrente da perda de dinamismo do consumo de bens duradouros, que, nos dois últimos anos, se deveu em grande parte ao crescimento das vendas de veículos au-tomóveis. O consumo privado deverá evoluir “em linha com o rendimento disponível real das famílias, num quadro de recuperação moderada do emprego, de moderação sa-larial no setor privado e de aceleração dos preços no consumidor”. Deverá ainda bene-ficiar de “alguma redução do serviço da dívi-da das famílias, num contexto de manuten-ção das taxas de juro de mercado em níveis reduzidos, conjugada com a continuação da diminuição dos níveis de endividamento e de progressiva melhoria nas condições de financiamento”.No que respeita ao investimento, projeta--se um crescimento robusto, embora com uma ligeira desaceleração de 4.8% em 2015 para 4.1% em 2016. Esta evolução reflete a recuperação do investimento empresa-rial, sob melhores perspetivas de procura e de condições de financiamento mais favo-ráveis. O investimento público continuará condicionado pela necessidade de consoli-dação orçamental e o investimento residen-cial por fatores demográficos e pelo ainda elevado nível de endividamento das famílias. Espera-se, portanto, que a recuperação destas duas componentes do investimen-to seja mais modesta, permanecendo em níveis claramente inferiores aos registados antes de crise.Em 2016, a evolução das exportações de-verá refletir a trajetória da procura externa. Os potenciais ganhos adicionais de quota de mercado provenientes de efeitos desfa-sados da depreciação cambial são parcial-mente compensados por efeitos temporá-

rios nas exportações de bens energéticos e pelo efeito da queda das exportações para Angola.Desaparecidos alguns dos fatores temporá-rios que determinaram o aumento da pene-tração das importações (nomeadamente o forte dinamismo dos bens de consumo du-radouros), as importações deverão evoluir em linha com a elasticidade histórica des-ta componente face à evolução da procura global. Desta forma, espera-se uma forte desaceleração das importações.Conjugando-se todos estes efeitos, espera--se que o crescimento do PIB em 1.7% re-sulte do contributo da procura interna líqui-da da sua componente importada em 0.9 pontos percentuais (p.p.) e do contributo das exportações, igualmente líquidas da sua componente importada em 0.8 p.p.As últimas previsões da OCDE e a Comis-são Europeia, divulgadas em novembro, apontam, respetivamente, para um cresci-mento do PIB de 1.6% e 1.7%, não se afas-tando, assim, do valor avançado pelo Banco de Portugal.As principais diferenças estão no maior otimismo destas instituições quanto ao desempenho das exportações. Em contra-partida, preveem um abrandamento menos pronunciado das importações.

A OCDE prevê uma desaceleração mais for-te do investimento, justificando com o enfra-quecimento do efeito de reconstituição do stock de capital das empresas.O elevado endividamento privado é aponta-do como um forte constrangimento para a evolução da atividade económica.Quanto ao mercado do trabalho, ambas as instituições preveem a continuação da recu-peração do emprego (embora a ritmo mais moderado) o que, num contexto de diminui-ção da população ativa, permitirá a conti-nuação da redução do desemprego.Relativamente às finanças públicas, tanto a OCDE como a Comissão Europeia preveem um défice orçamental de 3% em 2015, me-lhorando ligeiramente em 2016, num cenário de políticas inalteradas. A Comissão Europeia salienta a deterioração do défice estrutural (em 2015 e 2016), ficando a melhoria do saldo or-çamental a dever-se a fatores cíclicos e não a medidas estruturais adicionais.A OCDE acrescenta que o insucesso no cumprimento das metas orçamentais pode prejudicar a confiança e aumentar os custos de financiamento.A OCDE considera ainda que o crescimen-to potencial precisa de ser mais estimulado para que seja possível colocar as dívidas pública e externa numa firme trajetória des-cendente. Assim, seriam necessários es-forços adicionais para reduzir a dívida das empresas, bem como para fortalecer a con-corrência no setor da energia e nos serviços profissionais.De acordo com a OCDE, “sustentar o cres-cimento das exportações e garantir a contí-nua redução da dívida externa requer mais reformas estruturais para estimular a com-petitividade e o crescimento potencial”.Aos fatores de risco associados a qualquer uma destas projeções, acresce, no presente contexto, a incerteza associada à alteração da política económica que previsivelmente será implementada pelo novo Governo.

As projeções para a evolução da economia divulgadas pelo Banco de Portugal em 9 de dezembro apontam para um crescimento do PIB de 1.7% em 2016, após 1.6% em 2015, no quadro da continuação de um ritmo de recuperação gradual relativamente moderado

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Entre os primeiros fatores, o Banco de Por-tugal destaca, no plano externo, a possi-bilidade de uma recuperação mais lenta da atividade económica, em particular nas economias de mercado emergentes, bem como uma evolução mais moderada dos fluxos de comércio internacional.No plano interno, como fatores que poderão conduzir a um maior crescimento, o Banco de Portugal refere o eventual impacto posi-tivo das reformas estruturais, quer no con-sumo quer no investimento, bem como as medidas de incentivo ao investimento deci-didas a nível europeu.Relativamente ao impacto da alteração da política económica, que não é tido em conta nas projeções até agora conhecidas, des-tacamos os seguintes principais fatores de incerteza:• Impacto sobre o consumo (privado e pú-blico) das medidas tendentes a aumentar o rendimento disponível das famílias.• Impacto sobre o investimento das alte-rações previstas ao nível da fiscalidade, nomeadamente da reversão de elementos relevantes da reforma do IRC, mas também de medidas de estímulo, designadamente as que visam “resolver o problema do finan-ciamento das empresas”.• Impacto sobre a competitividade e o em-prego do aumento previsto do salário míni-mo nacional.• Impacto global sobre as finanças públicas e a balança externa de uma política mais fo-cada no estímulo ao rendimento e ao con-sumo.A recente perda de dinamismo da recupe-ração da atividade económica, evidencia-da pelos resultados macroeconómicos do terceiro trimestre de 2015, bem como pela deterioração do indicador de clima eco-nómico e do indicador de confiança dos consumidores veio aumentar ainda mais a incerteza sobre a evolução da economia em 2016. Não é claro se se trata de um fenómeno meramente temporário, ou, pelo contrário, se resulta de uma inversão mais duradoura das perspetivas dos agentes económicos.O Banco de Portugal afirma que a evolução do PIB no terceiro trimestre de 2015 deverá assumir, em parte, “uma natureza temporá-ria, pelo que se projeta um crescimento em cadeia da atividade nos próximos trimestres próximo do observado no primeiro semestre do ano”. No entanto, o cumprimento da pre-visão de 1.6% para o crescimento do PIB em 2015 (avançada pelo Banco de Portu-gal), só seria possível com a aceleração do crescimento em cadeia no quarto trimestre de 2015 para, pelo menos, 0.7%.

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Margarida Bolzer BUSINESSEUROPE

Este artigo vincula apenas a opinião da autora.1- O Artigo 21 prevê que o Acordo entrará em vigor no trigésimo dia após a data em que pelo menos 55 partes que

representam pelo menos 55% do total das emissões globais de GEE tenham depositado os seus instrumentos de ratificação. O Artigo 20 prevê que o Acordo ficará aberto para assinatura na sede da ONU em Nova Iorque a partir de 22 de abril de 2016.

2- Antígua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Equador, Granada, Nicarágua, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Venezuela.

3- Os EUA representam 11% das emissões globais enquanto a China representa perto de um quarto do total.

NOTAS

INDÚS TR IA • Dezembro 20152424

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Balanço da COP21

CURIOSIDADE

DEPOIS DE DUAS semanas de negocia-ções, marcadas por longas noites sem dor-mir na reta final da cimeira do clima, o acor-do de Paris foi finalmente aprovado na noite de 12 de dezembro de 2015. Este acordo é o culminar de 5 anos de negociações com origem em Durban, altura em que as partes da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (CQNUAC) decidiram desenvolver um novo instrumen-to para substituir o Protocolo de Quioto a partir de 2020. Dado o número de questões que ficaram em aberto até o final das dis-cussões, o resultado é, na realidade, mais substancial do que o que poderia ter sido tendo em conta os numerosos interesses em jogo. No entanto, o bloqueio do Senado dos EUA à ratificação de Quioto demonstra que um resultado positivo não garante uma implementação bem sucedida.1Das negociações da COP21 sairam dois documentos importantes: o Acordo que estabelece os princípios gerais para a ação global sobre as alterações climáticas e a De-cisão da COP (Conferência das Partes) que define os procedimentos a desenvolver para implementar o Acordo. É portanto o Acordo que define o novo paradigma na luta contra as alterações climáticas.

5 pontos principais do Acordo de Paris

1. Diferenciação versus universalidadeO Mundo é hoje muito diferente de 1992, ano em que foi assinada a CQNUAC e o de-safio dos negociadores era refletir essa rea-lidade no Acordo. A questão da diferencia-ção esteve sempre presente ao longo das negociações e permaneceu sem solução até às últimas 48 horas antes do acordo ser aprovado. No contexto da CQNUAC, a dife-renciação refere-se à divisão de responsabi-lidades entre os países que estão obrigados a reduzir emissões por razões de responsa-bilidade histórica (os países desenvolvidos) e os países que estão excluídos da obrigação de agir (países em desenvolvimento). Do Acordo de Paris emerge uma nova noção de universalidade onde já não se faz refe-rência a este sistema binário da CQNUAC. A este respeito, o princípio das responsabili-dades comuns, mas diferenciadas (RCMD), foi complementado com a referência “à luz das diferentes circunstâncias nacionais”. Na prática isto significa que países como a

China já não se podem amparar no princípio das RCMD porque, de acordo com as suas “circunstâncias nacionais", não será plausí-vel sustentar que não tenham capacidade para tomar ações climáticas significativas.Apesar de se manter o ónus nos países de-senvolvidos que devem assumir a liderança, as obrigações decorrentes da Convenção aplicam-se agora a todas as partes. Desa-parece a exclusão de ação por parte dos países em desenvolvimento. No entanto, ao longo de todo o texto de Acordo encon-tram-se ainda inúmeras referências a diver-sas formas de diferenciação. No que toca

ao financiamento por exemplo, os países em desenvolvimento condicionam o âmbi-to das suas acções climáticas ao nível de financiamento recebido (Artigo 4§5).

2. Objetivos a longo prazoO Acordo estabelece, como meta a longo--prazo, um limite da subida da temperatura “bem abaixo dos 2 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais. As partes devem ainda prosseguir esforços para limitar o au-mento da temperatura a 1.5 graus Celsius”. Esta meta de 1.5 graus foi constantemente invocada por dois grupos dentro das nego-

Quem esperava na sala de Plenário para ver o Acordo ser selado, teve de esperar mais de uma hora e meia. A razão para o atraso teve a ver com uma misteriosa obrigação legal de levar a cabo objectivos de redução de emissões que surgiu na última versão do texto à qual os EUA se opu-seram veementemente. Depois de várias discussões nos corredores, a obrigação foi removida e apresentada oralmente antes da adopção como uma "mudança técnica".

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25INDÚS TR IA • Dezembro 2015

CURIOSIDADE

CURIOSIDADE

ciações: por um lado os países menos de-senvolvidos, e por outro, os pequenos Es-tados insulares em desenvolvimento. O que estes grupos pretendem, no fundo, é que, através de um objectivo mais ambicioso, os países desenvolvidos apresentem objecti-vos de redução de emissões mais elevados. No entanto, como este objetivo não possui qualquer vínculo com metas concretas, po-derá eventualmente ser um fator que pode vir a prejudicar a credibilidade do acordo.

3. Elementos juridicamente vinculativos versus declarações de intençãoO texto de Paris é um acordo híbrido de disposições jurídicas vinculativas e compro-missos voluntários. O Acordo foi estruturado desta forma para impedir que o executivo dos EUA tivesse de submeter o acordo à ratificação pelo Senado. Isto significa que é necessário examinar cada parágrafo indi-vidualmente e verificar se este tem ou não consequências jurídicas. Sob este prisma, o que é particularmente relevante para as em-presas são as “contribuições nacionais deter-minadas” (CND). Estas CND revelam como cada um tenciona sujeitar os sectores da sua economia a determinadas políticas ambien-tais. Se cada país implementa ou não as suas CNDs é uma matéria do foro interno. A única obrigação legal à luz do Acordo prende-se com o procedimento de preparar e comuni-car as CNDs (artigo 4§2) e o facto que estas têm de ser apresentadas a cada cinco anos: Artigo 4§9. Este novo período de cinco anos tem consequências no processo de tomada de decisões da União Europeia que, tradicio-nalmente, legisla para períodos de dez anos. Como terá de apresentar um novo objetivo em 2020, a UE terá de optar entre voltar a enviar o objectivo que já apresentou para a década de 2020 a 2030 ou actualizá-lo de forma mais ambiciosa.Cada obrigação legal decorrente do Acor-do foi escrutinada à lupa pelos juristas da equipa de negociadores norte-americana, precisamente porque qualquer instrumento internacional que gere novas obrigações le-gais para os EUA, geralmente implica o con-sentimento do Senado. Daí que só tenham

sido aceites obrigações de meios ou proce-dimento sem quaisquer requisitos para atin-gir determinados resultados de um ponto de vista jurídico. Não há portanto nenhuma obrigação legal de implementar ou re-avaliar as CNDs de uma forma progressivamente ambiciosa, embora os países sejam encora-jados a fazê-lo nos termos do Acordo.

4. O reconhecimento dos mercados de carbonoDepois de muitos compromissos e do blo-queio constante por parte dos países do grupo ALBA 2, o papel dos mercados de carbono foi finalmente reconhecido no tex-to final do Acordo. O artigo 6º prevê que "os países possam prosseguir a coopera-ção voluntária na implementação das suas contribuições nacionais determinadas para permitir uma maior ambição das suas ações de mitigação e adaptação". O mesmo artigo prevê ainda a possibilidade de interligação internacional entre os diferentes mercados de carbono para comércio de créditos. É ainda estabelecido um novo mecanismo que se assemelha ao Mecanismo de De-senvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto. A diferença em relação ao MDL de Quioto é que, agora, todos os países têm acesso ao mecanismo como anfitriões ou investidores. Estes princípios gerais pre-cisam agora de ser preenchidos. Para isso, as regras, modalidades e procedimentos de desenvolvimento do mecanismo deverão ser adoptadas antes da primeira reunião das partes do Acordo de Paris.

Segundo o Comissário Europeu Miguel Arias Cañete, durante o ano de 2015, a UE liderou discretamente um conjunto de países, à margem das negociações oficiais, conhecido pelo “grupo da ambição de alto nível” e que pretendia derrubar o muro da diferenciação procurando convencer outros países a aceitar a universalidade das responsabilidades de com-bate às alterações climáticas.

Depois de perguntar se havia consenso na sala, o presidente da COP, o Ministro francês Laurent Fabius, esperou apenas um segundo antes selar rapidamente o acordo com o martelo. Este gesto foi seguido por uma longa ovação de pé pelos delegados no Plenário. A rapidez do gesto prentendeu evitar uma intervenção do Ministro da Nicarágua que tinha ameaçado bloquear o consenso antes da adoção. Entretanto, o Secretário de Estado dos EUA John Kerry e o Presidente cubano Raul Castro tinham ligado para o Presidente em Manágua para garantirem que o Ministro só falava depois de o acordo ser selado.

5. O envolvimento das empresas O reconhecimento do papel das empresas na implementação do Acordo e nos pro-cessos negociais do seio da CQNUAC es-teve intermitentemente presente nas várias versões do mesmo que circularam durante as negociações. Apesar dos esforços da comunidade empresarial internacional, no texto final não é feita nenhuma menção ex-plícita ao setor privado no Acordo de Paris, a que se alude vagamente sob a expressão 'vários atores' no Preâmbulo. A Decisão da COP estabelece no entanto algumas orien-tações para a futura cooperação com o sector privado no âmbito da secção 'Acção reforçada Antes de 2020» onde as partes são encorajadas a trabalhar em cooperação com peritos do sector privado (consideran-dos 110 (a) e (b) da Decisão). Os represen-tantes do sector privado são por seu turno incentivados a aumentar o seu envolvimento a nível técnico, nomeadamente no que toca a questões de mitigação e adaptação atra-vés da partilha de experiências e sugestões (considerandos 110 (a), 120 e 125 da De-cisão).

Notas finaisImediatamente após a adoção do Acordo, alguém dizia numa rádio francesa que as ações das empresas de combustíveis fósseis iriam cair em flecha. Mas a verdade é que as circunstâncias de investimento para as em-presas não mudaram desde que o Acordo foi adoptado e tão pouco terão impacto a curto-prazo. O que é expectável é que haja uma pressão crescente sobretudo nos paí-ses desenvolvidos para apresentar objectivos de redução de emissões cada vez mais am-biciosos. A UE está à frente de todos os ou-tros países do Mundo com um objectivo de redução de 40% das emissões no horizonte de 2030. Mas tendo em conta que a UE re-presenta apenas 9% das emissões globais, cabe agora aos outros grandes emissores mundiais de GEE 3 concretizar as intenções expressas no Acordo de Paris.

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INDÚS TR IA • Dezembro 20152626

ENERGIA

Quadro Político e Regulamentar da União Europeia

A Estratégia Nacional para a EnergiaA avaliação da estratégia nacional para a energia implica uma análise sobre as múltiplas faces desta questão, que é complexa, implica uma análise ao Quadro Político e Regulamentar da União Europeia e de Portugal, bem como a realização de um balanço energético nacional

Analisemos, em primeiro lugar, o Quadro político e regulamentar europeu.

O QUADRO POLÍTICO E REGULAMENTAR EUROPEU

O enquadramento da política energética da UE é constituído por documentos estratégi-cos que vinculam os Estados-Membros nos seus resultados.São as estratégias energéticas que preten-dem estabelecer as bases para uma situa-ção europeia em matéria de energia segura, competitiva e sustentável.

Estratégia Energética 2020• Redução das emissões de gases de estu-fa em, pelo menos, 20%.• Aumento da quota de energias renováveis no balanço energético europeu pelo menos para 20% do consumo.• Aumento da eficiência energética em, pelo menos, 20%.

Estratégia Energética 2030• Redução das emissões de gases de es-tufa em, pelo menos, 40% face a 1990 (vin-culativo).• Aumento da quota de energias renováveis para 27% do consumo energético (vincula-tivo).• Aumento da eficiência energética em, pelo menos, 27%, podendo ser revisto para 30% em 2020.• Estabelecimento de um mínimo de 15% na capacidade de interligação de redes elé-tricas entre Estados-Membros.

Estratégia Energética 2050É um documento orientador que propõe vias para uma descarbonização da socie-dade, com o objetivo de uma redução en-tre 80% e 95% das emissões de gases de

estufa face às que se verificaram em 1990.A UE criou ainda um conjunto de estratégias e de programas complementares, nomea-damente:• A criação de uma União Energética Euro-peia (interligação de redes, regras comuns de mercado).• O estabelecimento de uma Estratégia Europeia de Segurança do Abastecimento Energético.A União Energética Europeia estrutura-se à volta de 5 pilares:• Solidariedade, confiança e segurança do abastecimento;• Funcionamento integral do mercado inter-no da energia;• Moderação da procura de energia na Europa;• Descarbonização do “mix” energético eu-ropeu;• Investigação, ciência e inovação.

Solidariedade, confiança e seguran-ça do abastecimentoRumos possíveis:• Compra comum de gás natural;• Diversificação de fornecedores de gás na-tural (hub do Mar Negro, hub de Mediterrâ-neo, LNG dos EUA);• Produção na Europa.

Funcionamento integral do mercado interno da energiaSituação atual:• O mercado interno da energia (gás e ele-tricidade) está longe de ser uma realidade;• Preços não estão a permitir investimentos baseados no mercado;• O mercado interno do gás natural está confrontado com choques de preço e de quantidades tanto de leste como de oeste.Ao nível europeu, a eficiência energética, que trata da moderação dos consumos, é regulamentada por duas Diretivas:

• Diretiva 2012/27/UE sobre eficiência ener-gética e cogeração;• Diretiva 2010/31/UE sobre eficiência ener-gética nos edifícios.

O QUADRO POLÍTICO E REGULAMENTAR EM PORTUGAL

A estratégia nacional para a energia está estabelecida na Resolução do Conselho de Ministros n.º 20/2013, que publica o Plano Nacional de Ação para a Eficiência Energé-tica (PNAEE) e o Plano Nacional de Ação para as Energias Renováveis (PNAER).O PNAER fixa os objetivos nacionais no que respeita a energias renováveis, estabelecen-do um quadro de previsibilidade para os in-vestimentos nesta área.O PNAEE é um documento complexo onde são estabelecidas medidas e programas que visam a alteração de comportamentos e a promoção de tecnologias mais eficientes.Para este tema é também relevante a Reso-lução do Conselho de Ministros n.º 56/2015, de 30/07, que aprova o QEPiC Quadro Es-tratégico para a Política Climática, o PNAC 2020/2030 Programa Nacional para as Alterações Climáticas e a ENAAC 2020 - Estratégia Nacional de Adaptação às Alte-rações Climáticas.No que respeita aos resultados das emissões de gases de estufa em Portugal, esta Reso-lução apresenta o histórico e os objetivos de emissões entre 1990 e 2020, expresso em milhões de toneladas de CO2 equivalente:• 1990 – 61 Mton eq CO2• 2000 – 84 Mton eq CO2• 2005 – 88 Mton eq CO2• 2010 – 71 Mton eq CO2• 2012 – 69 Mton eq CO2• 2020 – 59/60 (previsão) Mton eq CO2O Governo apresentou nas instâncias euro-peias os compromissos nacionais em matéria

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27INDÚS TR IA • Dezembro 2015

de alterações climáticas, no horizonte de 2030:• Meta 1 – 40% redução de gases com efei-to de estufa• Meta 2 – 40% renováveis• Meta 3 – 30% eficiência energética• Meta 4 – 25% interconexões elétricas (pressupõe atingir a meta de 12% até 2020 e, no curtíssimo prazo, 10% para todos os Estados-Membros)

O BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL

O Balanço Energético Nacional é publicado anualmente pela Direção-Geral de Energia e Geologia, estando hoje disponível o que respeita ao ano de 2013.Este Balanço descreve as formas de energia produzidas no País ou importadas, as ex-portações, as transformações entre essas formas de energia, os autoconsumos do setor energético e os consumos dos vários setores da atividade nacional.Este Balanço, que assume a forma de uma matriz, é constituído verticalmente por 4 blo-cos, e dentro de cada bloco são indicadas na horizontal as quantidades de cada forma de energia.Pode ser acedido em www.dgeg.pt (consul-tar “Estatísticas e Preços” e, seguidamente, “Balanços e Indicadores Energéticos”).Os 4 blocos são:

Linhas 1 a 5: Balanço da energia primária (produção doméstica, importações e ex-portações).Linhas 6: Transformações entre formas de energia (para produção de eletricidade ou de calor).Linhas 7: Autoconsumos do setor energé-tico (consumos e perdas na extração ou no transporte).Linhas 10: Estrutura setorial do consumo final.

São consideradas formas de energia:• Carvões (colunas 1 a 4)• Petróleo e seus derivados (colunas 5 a 22)• Gás natural (coluna 22)• Outros gases (colunas 24 a 30)• Eletricidade (colunas 31 a 36)• Calor produzido em cogeração (coluna 37)• Resíduos e outras renováveis (colunas 38 a 46)

COMO SE PODERÃO ATINGIR OS OBJETIVOS E DESAFIOS

Existem claramente dois objetivos, dentro do objetivo maior da redução dos consu-mos energéticos:• A promoção das energias renováveis, que deverão substituir recursos fósseis não re-nováveis;

FIGURA I

Formas de energia primária Quantidade (tep) %

Carvão (4) 2.652.893 12,2Petróleo (15) 9.622.084 44,4Gás Natural (23) 3.768.971 17,4Eletricidade (36) 2.608.231 12,0Resíduos e outras renováveis (38+46) 3.026.837 14,0TOTAL 21.679.016 100,0

Nota: 1 tep = 107 Kcal - Dependência energética: ≈75%

FIGURA IIFormas de energia no consumo final

(Linha 10) Quantidade (tep) %

Carvão 18.620 0,1Petróleo 7.033.945 47,2Gás Natural 1.523.766 10,2Eletricidade 3.888.554 26,1Calor 1.370.310 9,2Resíduos e outras renováveis 1.079.615 7,2TOTAL 14.914.810 100,0

FIGURA III

Consumos por setor de atividade Quantidade (tep) %

Agricultura e Pescas 448.036 3,0Indústrias Extrativas 119.266 0,8Indústria Transformadora 4.298.565 28,8Construção e Obras Públicas 139.173 0,9Transportes 5.410.329 36,3Setor Doméstico 2.619.450 17,6Serviços 1.879.991 12,6TOTAL 14.914.810 100,0

O Balanço Energético Nacional – análise

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INDÚS TR IA • Dezembro 20152828

ENERGIA

• A redução das emissões de gases de estufa.Hoje existe grande pressão para que se pri-vilegie o objetivo da redução das emissões de gases de estufa, relegando para segundo plano a promoção das energias renováveis. Portugal, com as suas potencialidades em energias renováveis, sempre defendeu a existência de objetivos vinculativos euro-peus e nacionais nesta matéria.

O caso da eletricidadePortugal já atingiu 60% de renováveis na produção de eletricidade, só ultrapassado pela Áustria, Suécia e Letónia.A evolução deste indicador é possível, mas desde que Portugal possa exportar exce-dentes de eletricidade renovável.As energias renováveis são intermitentes, a ele-tricidade não é armazenável, e um excesso de capacidade renovável torna inviável a gestão técnica da rede elétrica nas condições atuais, a menos que esta possa ser exportada.

O caso dos transportesO consumo de energia nos transportes ocu-pa o primeiro lugar no balanço energético nacional:• Não existe, na prática, veículo elétrico;• A organização económica e social leva ao uso de transportes:‒ Por questões logísticas;‒ Por necessidades dos cidadãos.Hoje, os combustíveis são a única solução.Há programas para a promoção do gás na-tural como combustível rodoviário (20% de redução nas emissões de gases de estufa), mas tal obriga a investimentos significativos.Por Lei, está fixado um teor de 7,5% de in-corporação de biocombustíveis no gasóleo e na gasolina.A eletricidade está, de momento, confinada à rede ferroviária.

O caso do setor residencial e dos serviçosExiste aqui um potencial muito significativo pois o parque habitacional e os edifícios de serviços são, na sua maioria, ineficientes em termos energéticos.Recentemente, foi publicado o Decreto-Lei n.º 118/2013 sobre a eficiência energética nos edifícios.Os investimentos em causa são muito ele-vados e os programas tardam em arrancar.

O caso da atividade industrialEm dez anos, mas com alguma quebra da atividade, a indústria transformadora reduziu os seus consumos em 20% e a emissão de gases de estufa em mais de 25%.A evolução é permanente e as soluções en-contradas têm sido competitivas.

FIGURA V

As origens da produção de eletricidade

Carvão + Deriv. do Petróleo + GN 1.380.090Cogeração (40,4% renovável) 695.076Hidroeletricidade 1.278.683Eólica 1.032.816Fotovoltaica 41.090Geotérmica 16.906Saldo importador 238.736Eletricidade de origem renovável – 60%

FIGURA VI

Cálculo da parcela renovável

Quantidade (tep)

Eletricidade (60% renovável) 2.333.132Calor (40% renovável) 548.124Biocombustíveis 278.402Resíduos e outras renováveis 1.079.615Subtotal 4.239.273Consumo total 14.914.810Renováveis no consumo final 28,4%Objetivo 2020 31%

FIGURA IVAvaliação dos consumos dos 4 setores com consumos energéticos mais significativos

Setores consumidores

Petról. e seus deriv.

Gás Natural Eletric. Calor

Resíd. e outros renov.

Transportes* 5.361.214 12.423 32.781 - 3.911Indústria Transform. 539.451 1.019.258 1.222.492 1.303.946 194.798Setor doméstico 513.160 245.732 1.059.014 - 801.677Serviços 144.849 217.129 1.411.447 30.357 76.209

*Inclui 274.291 tep de biocombustíveis renováveis e sustentáveis misturados nos combustíveis rodoviários.

O Balanço Energético Nacional – análise

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INDÚS TR IA • Dezembro 20153030

UNIÃO EUROPEIA

Comissão Europeia divulga programa de trabalho para 2016

A CIP ACOMPANHARÁ com atenção al-gumas das propostas apresentadas, das quais destacamos:

• Pacote União da Energia, no âmbito do qual a Comissão propõe a existência de uma partilha de esforços em setores não abrangidos pelo regime de comércio de li-cenças de emissão (RCLE), a utilização de sistemas de portagens rodoviárias não dis-criminatórios, com base nos princípios de poluidor-pagador e do utilizador-pagador, a criação de um espaço único europeu dos transportes, que permita uma utilização mais eficaz da infraestrutura rodoviária exis-tente e uma utilização mais flexível da ca-pacidade de frota. Além disso, a Comissão compromete-se a promover a investiga-

No dia 27 de outubro de 2015, a Comissão Europeia divulgou, através da publicação da COM(2015)610, o seu programa de trabalho para 2016, sob a epígrafe “No time for business as usual”. Neste documento, a Comissão apresenta uma lista centrada em 23 iniciativas fundamentais, que pretendem dar continuidade às apresentadas no plano de trabalho para 2015, e prevê pela primeira vez a retirada ou alteração de 20 propostas pendentes e a implementação de 40 ações REFIT para avaliar a qualidade da legislação da U.E. em vigor

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31INDÚS TR IA • Dezembro 2015

ção, a inovação e a competitividade neste setor, para, entre outros objetivos, conduzir à “descarbonização” da economia;

• Seguimento da estratégia para o mercado único, onde se destaca a prio-ridade dada às PME e empresas em fase de arranque, sendo que a Comissão se compromete a remover obstáculos regu-lamentares e facilitar o acesso ao finan-ciamento (através de programas como o FEIE – Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos), para que estas empresas possam crescer e competir à escala mun-dial. Além disso, a Comissão quer apro-fundar cada vez mais as ligações entre as economias dos Estados-membros, pre-tendendo por isso apresentar um Pacote relativo à Economia Circular, de modo a criar um mercado único para a reutiliza-ção de materiais e recursos, apoiando o abandono de uma economia linear. Futu-ramente, a Comissão espera ainda lançar trabalhos preparatórios e reforçar a con-sulta sobre a avaliação das tecnologias da saúde, com vista a melhorar o mercado único dos produtos de saúde;

• Seguimento da estratégia de comér-cio externo e de investimento, com a proposta de atualização dos instrumentos de política comercial, adaptá-los melhor aos serviços, ao comércio digital, à mobi-lidade, ao acesso aos recursos naturais, à inovação e aos outros motores de cresci-mento e do emprego. A Comissão com-promete-se também a trabalhar no sentido de aumentar a transparência das negocia-ções de acordos comerciais para as partes interessadas e os cidadãos da União Euro-peia. Neste campo de ação, a Comissão

destaca também como prioridade a con-cretização das negociações do Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e In-vestimento (TTIP), com os Estados Unidos da América;

• Implementação da estratégia para o Mercado Único Digital, onde a Comis-são identifica como objetivo principal o fim das barreiras nacionais em matéria de regulamentação de telecomunicações, de legislação relativa aos direitos de autor e à proteção de dados, bem como a aplicação do direito da concorrência. No âmbito des-ta matéria, a Comissão irá rever a Diretiva “Serviços de Comunicação Social e Audio-visual” e o Regulamento relativo à coopera-ção no domínio da defesa do consumidor, a fim de garantir que o sistema beneficia efetivamente os cidadãos da U.E.;

• Pacote sobre a mobilidade dos traba-lhadores, onde as propostas da Comissão se centram no combate aos abusos atra-vés de uma melhor aplicação da legisla-ção e da coordenação dos sistemas de segurança social e uma revisão específica da Diretiva relativa ao “Destacamento de Trabalhadores”, para combater as práticas desleais que conduzem ao dumping social e à fuga de cérebros, assegurando que o mesmo trabalho no mesmo lugar é recom-pensado por uma mesma remuneração;

• Plano de ação em matéria de IVA, so-bre o qual a Comissão espera poder definir passos que o tornem num regime definitivo eficiente e mais resistente a fraudes, e tam-bém implementar iniciativas em matéria de taxas de IVA e comércio eletrónico envolvi-dos no conceito do mercado único digital;

• Estratégia espacial para a Europa, sobre a qual a Comissão prevê que, até 2020, se apliquem cerca de 12 milhões de euros, nos três programas espaciais em vigor na U.E., nomeadamente relaciona-dos com a navegação por satélite, com a observação da Terra e com a investigação espacial;

• Definição de um quadro pós-Coto-nou, que a Comissão espera estabelecer após um período de consulta pública (que se encontra em curso), com a finalidade de reger as relações com os países e regiões de África, Caraíbas e Pacífico. Além disso, a política de desenvolvimento da Comis-são e a sua nova estratégia comercial e de investimento também serão aplicadas no sentido de promover questões como o de-senvolvimento económico, o apoio social, a proteção do ambiente, a defesa dos direi-tos humanos, entre outras.O programa de trabalho da Comissão Europeia prevê ainda as seguintes inicia-tivas: Agenda para Novas Competências na Europa; Plano de ação europeu no domínio da defesa; Pacote sobre a tribu-tação das sociedades; Pilar de direitos sociais; Sistema europeu de seguro dos depósitos bancários/Realização da União Bancária. Outras iniciativas-chave para 2016 irão im-plementar a Agenda Europeia para a Se-gurança, darão seguimento ao “Relatório dos Cinco Presidentes” sobre o reforço da União Económica e Monetária e contribui-rão para a estratégia global no domínio da política externa e de segurança. A Comis-são apresentará também a revisão inter-calar do quadro financeiro plurianual, bem como uma estratégia para orientar melhor o orçamento para os resultados. Este programa de trabalho é também composto por seis anexos, que aprofun-dam a comunicação política nele feita, e que incluem aspetos como as iniciativas fundamentais, as novas iniciativas REFIT para 2016, os dossiês legislativos priori-tários, a lista de propostas pendentes, a lista de revogações e uma lista dos atos legislativos que se tornam aplicáveis no próximo ano.Ao longo de 2016, a Comissão publicará roteiros que explicarão cada uma das 23 iniciativas propostas, e fornecerão maior detalhe sobre o calendário da sua aplica-ção. Ainda assim, durante o próximo ano, a Comissão poderá adotar iniciativas não previstas, como resposta a ocorrências que exijam medidas urgentes a nível euro-peu.

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INDÚS TR IA • Dezembro 20153232

UNIÃO EUROPEIA

CIP PARTICIPA EM SEMINÁRIO EUROPEU

Promover e reforçar o Diálogo Social EuropeuUma delegação da CIP, a qual incluiu representantes da AIMMAP - Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal e da APICCAPS - Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos, participou e interveio no Seminário conjunto, promovido pelos Parceiros Sociais Europeus (Businesseurope, CEEP, UEAPME e CES), destinado a "Promover e reforçar o Diálogo Social Europeu", que teve terá lugar em Helsínquia, Finlândia, nos dias 17 e 18 de novembro de 2015

PARTINDO da análise da situação em qua-tro países identificados (Portugal, Estónia, Finlândia e Holanda) este Seminário teve os seguintes objetivos:- Fazer um balanço da situação da negociação coletiva ao nível nacional e tentar construir um entendimento comum sobre o papel e a contri-buição de empregadores e sindicatos em tem-pos de mudança, incluindo a forma como estes se podem adaptar a novas situações;- Monitorizar os países onde foram identifica-dos problemas de implementação ou uma implementação insuficiente de instrumentos de diálogo social da União Europeia, em particu-lar, os acordos autónomos sobre Teletrabalho (2002), Stress no Trabalho (2004), Assédio e Violência no Trabalho (2007) e Mercados de Trabalho Inclusivos (2010);- Divulgar os últimos resultados do diálogo so-cial europeu numa ampla gama de matérias como a governação económica, o emprego dos jovens e igualdade de género;- Promover intercâmbios e troca de experiên-cias entre os parceiros sociais nacionais.Os membros da delegação da CIP, nas suas várias intervenções, quer no âmbito dos ple-nários quer no âmbito dos workshops de empregadores, abordaram, entre outros as-suntos, o regime e o estado atual da negocia-ção coletiva, a implementação dos acordos dos Parceiros Sociais Europeus em Portugal e o futuro do diálogo social no contexto de uma sociedade e economia em permanente mudança e evolução.No que diz respeito à negociação coletiva, a delegação da CIP fez uma resenha histórica do seu regime jurídico e caracterizou o estado atual da mesma.Nas intervenções sobre esta temática, são de realçar as seguintes mensagens:• Nos últimos anos foram registados avanços positivos no que concerne ao regime jurídico da contratação coletiva, avanços que têm de ser preservados e desenvolvidos por forma a sal-

vaguardar e permitir a dinamização da contra-tação coletiva e a modernização dos setores;• A contratação coletiva teve alguns constran-gimentos resultantes, entre outros fatores, da crise e da fixação de critérios para a emissão de portarias de extensão;• Desmitificou-se a ideia de que a contratação coletiva em Portugal está paralisada;• Apresentou-se exemplos concretos, com base nos casos da AIMMAP e da APICCAPS, marcados por forte dinamismo setorial, quer ao nível do desenvolvimento dos setores quer ao nível da contratação coletiva, os quais fo-ram demonstrativos da vitalidade e adaptação à mudança, nomeadamente tecnológica;• Vincou-se, igualmente, que Concertação Social e o Diálogo Social têm vindo a regis-tar cada vez mais solicitações dos Governos, num conjunto cada vez mais vasto e com-plexo de matérias, respondendo àquilo que deles se espera num clima de paz social.Por outro lado, e no que concerne à imple-mentação dos acordos dos Parceiros Sociais Europeus, tentou-se conciliar a visão diver-gente entre empregadores e sindicatos por-tugueses sobre a efetiva implementação do acordo relativo ao Teletrabalho.Não obstante uma evolução de cariz positi-vo por parte dos sindicatos, não foi possível alcançar um pleno consenso quanto à imple-mentação do referido Acordo.Foi também abordado o futuro do diálogo social no contexto de uma sociedade e eco-nomia em permanente mudança e evolução.A delegação da CIP, perante os desafios que se colocam às sociedades e às economias, referiu que é essencial promover o diálogo social e os seus resultados, tornando-se necessário:• Criar um clima de compromisso mútuo e de confiança entre as partes;• Respeitar a autonomia dos Parceiros So-ciais;• Assegurar espaço alargado para a contra-tação coletiva;

• Centrar o diálogo na resolução dos princi-pais desafios dos cidadãos e empresas, com apresentação de resultados bem concretos e práticos;• Reforçar a capacitação institucional dos Parceiros Sociais, face aos cada vez mais complexos e transversais domínios em que são chamados a intervir;• Melhorar os aspetos relacionados com a co-municação dos resultados do diálogo social;• Reforçar e adequar os mecanismos de consulta, possibilitando aos Parceiros Sociais a necessária auscultação da estrutura neles integrada.Aos aspetos suprarreferidos, acresceu um outro que, na perspetiva dos empregadores, assume caráter estruturante e que diz respei-to à alteração do “mindset” de alguns Gover-nos e Parceiros Sociais.Alguns Governos e Parceiros Sociais neces-sitam de reconhecer e interiorizar que a so-ciedade e, designadamente, os mercados de trabalho, estão em constante e rápida muta-ção, diferindo, em muito, do que se verificava nas últimas décadas.Mais ainda, necessitam de reconhecer que o futuro depende, quer do ponto de vista social quer do ponto de vista económico, da imple-mentação de reformas onde as divergências ideológicas não se sobreponham ao interes-se coletivo. De facto, não podemos continuar a assistir e a encarar o desenvolvimento das sociedades modernas com posturas manifestamente ir-realistas e desadequadas.É que, sem as necessárias reformas, não po-deremos assegurar o padrão de vida por que todos os europeus anseiam. Impõe-se, assim, conceber e implementar me-didas enquadradas numa agenda de compro-missos globais que envolvam o Governo, as empresas e os trabalhadores na definição de estratégias e políticas concretas e exequíveis orientadas para o Imperativo do Crescimento.

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INDÚS TR IA • Dezembro 201534

INTERNACIONALIZAÇÃO

Mercado Único Europeu

Barreiras que as empresas portuguesas enfrentamNo final de outubro, a Comissão Europeia adotou a Estratégia do Mercado Único Europeu com o objetivo de o aprofundar e de o tornar mais justo visando a promoção de oportunidades para as empresas e os cidadãos

TENDO COMO prioridades o aumento do emprego, do crescimento e do investimen-to, a Comissão Europeia tem vindo a lan-çar várias iniciativas que têm aprofundado o Mercado Único, tais como, o Plano de Inves-timento para a Europa e o Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos, a União da Energia, a Estratégia para o Mercado Único Digital, a União dos Mercados de Capitais, o Pacote de medidas sobre a Mobilidade dos Trabalhadores e sobre a Economia Circular, entretanto adotado. Apesar de o Mercado Único ser, de facto, uma das conquistas mais importantes da Europa e apesar de todas estas iniciativas e medidas, este mercado de mais de 510 milhões de habitantes regista ainda a exis-tência de várias barreiras, pelo que a atual estratégia da Comissão Europeia concentra a sua atuação nos mercados de bens e ser-viços. As ações previstas estão sistematiza-das em três domínios fundamentais:• Criar oportunidades para consumido-res, profissionais e empresas, sendo re-ferido especificamente as oportunidades da economia colaborativa, a necessidade de reduzir as dificuldades sentidas pelas PME e pelas start-ups e as barreiras injustifica-das à prestação de serviços por empresas e profissionais, sendo especificado o caso, a nível setorial, do retalho, e a nível temático, a discriminação dos consumidores e em-presários em razão da sua nacionalidade ou local de residência (“geo-blocking”); • Incentivar a modernização e a inova-ção do enquadramento empresarial, desta-cando-se as atuações ao nível do sistema de normas europeu, dos mercados públi-cos, e da propriedade intelectual da Europa;• Garantir resultados práticos, atuando ao nível do cumprimento efetivo das regras do Mercado Único por parte dos Estados Membros e da resolução de problemas enfrentados neste mercado, por exemplo

através da rede SOLVIT; a atuação sobre o mercado dos serviços incide sobre a re-forma do procedimento de notificação das novas medidas regulamentares por parte dos Estados Membros; sobre o mercado dos bens, a atuação incidirá sobre o reforço da aplicação do princípio do reconhecimen-to mútuo e também, no reforço da confor-midade dos produtos visando eliminar os produtos ilegais e não conformes, fonte de distorção da concorrência e de risco para os consumidores.A Comunicação da Comissão Europeia que apresenta a Estratégia do Mercado único sistematiza as principais barreiras e difi-culdades que são identificadas pelas PME europeias quando operam neste merca-do, sobretudo quando efetuam operações transfronteiriças. São elas: • Complexidade da regulamentação do IVA• Incertezas em torno do direito das socie-dades• Conhecimento, compreensão e cumpri-

mento dos requisitos regulamentares• Falta de acesso a financiamento• Receio do carácter punitivo da legislação em matéria de falências• Barreiras à inovação

E as empresas portuguesas, quais os principais problemas que enfrentam neste grande mercado?A CIP tem acompanhado de perto a prepa-ração desta estratégia do Mercado Único, não só diretamente, mas também através da BUSINESSEUROPE. Para além de ter participado no evento em Portugal do Single Market Forum em outubro de 2014 e de ter instado os seus associados a responderem ao inquérito da Comissão Europeia sobre barreiras no mercado dos serviços, lançou no final de março deste ano o inquérito “Operar no Mercado Único Europeu”. Pretendemos conhecer as especificidades das dificuldades e/ou barreiras que as nos-sas empresas enfrentam neste mercado, de

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35INDÚS TR IA • Dezembro 2015

modo a podermos melhor contribuir para o seu aperfeiçoamento e também tendo em vista o aprofundamento das relações de tra-balho com as nossas congéneres dos Esta-dos Membros da União Europeia. De entre estas, destacamos a CEOE – Confederacão Espanhola das Organizações Empresariais - com a qual acordámos estabelecer um Ob-servatório do Mercado Ibérico, e também a BDI – Confederação da Indústria Alemã. O inquérito, em forma de “websurvey”, foi enviado através dos associados da CIP, a empresas que exportam produtos ou prestam serviços ou tentaram fazê-lo para países do Mercado Único Europeu, que compreende os membros do Espaço Eco-nómico Europeu (EEE), ou seja, 28 Estados Membros da União Europeia e, também, a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein. Para a divulgação deste inquérito contámos com a especial colaboração empenhada das nos-sas associadas parceiros da Rede Enterpri-se Europe Network.Não se pretendeu neste inquérito obter uma amostra representativa das empresas portu-guesas, mas tão somente colher informação de empresas que se revelaram especial-mente sensíveis à problemática do Mercado Único Europeu.

Os principais resultados do inquérito da CIPO número total de respostas válidas foi de 72 empresas que exportam ou tentaram exportar bens ou serviços para o Mercado Único Europeu. Destas, 52 afirmaram terem enfrentado problemas, o que corresponde a uma percentagem de 72.2% do total. O número total de problemas registados foi de 305, repartidos pelos vários Estados Mem-bros do EEE onde as empresas operam.

Empresas com problemas por país de destinoConsiderando a percentagem do número de empresas que registaram problemas em determinado país no total das empresas que exportaram para esse país identificamos os mercados onde as empresas registam maior intensidade relativa de problemas. São eles a França, Alemanha e Espanha.

(em % do total de empresas que

exportam para esse país)

França 58,1Alemanha 56,1Espanha 50,0Reino Unido 40,4Itália 41,2Bélgica 32,3Países Baixos 25,0Total 72,2

Problemas por tipoOs problemas registados pelas empresas concentram-se nos domínios das normas técnicas, dos procedimentos administrati-vos e fiscais, nas embalagens e nos contra-tos e operações comerciais, representando cerca de 62% do total dos problemas.

TIPO DE PROBLEMAS % do total

Normas Técnicas 21,3Procedimentos administrativos e fiscais 10,8

Acondicionamento e embalagem 11,1

Contratos e operações comerciais 18,7

Garantias de produtos 4,3Concorrência desleal 5,6Mercados públicos 3,3Movimentação de pessoas 2,0Transporte 6,2Ambiente 0,0Espaço jurídico europeu 4,9Comércio electrónico de produtos e serviços 0,0

Rede comercial e estabelecimento 6,9

Procedimentos administrativos para a prestação de serviços 1,3

Livre circulação de serviços 1,6

Liberdade de estabelecimento da atividade de prestação de serviços

2,0

Total 100

Empresas com problemaspor setor de atividadeA análise das empresas com problemas no Mercado Único Europeu segmentada por setor de atividade identifica alguma concen-tração (38%) nos sectores da metalurgia, máquinas, equipamento eléctrico e material de transporte. Esta concentração setorial será, em parte, explicada pelo peso elevado dos problemas relacionados com as Nor-mas Técnicas, as quais são relativamente mais importantes nestes setores.

Setor de atividade % do total das empresas

Agricultura e Pescas 3,8Indústria Alimentar e Bebidas 9,6

Têxteis, vestuário e calçado 11,5

Produtos Químicos e derivados 5,8

Minerais não metálicos 7,7Metalurgia e produtos metálicos 11,5

Equipamentos elétricos e informáticos 11,5

Máquinas e material de transporte 15,4

Outras indústrias transformadoras 9,6

Construção e resíduos 3,8Comércio 5,8

Serviços apoio a empresas 3,8

Total 100

Utilização de fontes de informação / de apoio para resolução de problemasAs empresas foram questionadas sobre a procura de apoios junto de instituições / plataformas / portais distinguindo qual o objectivo: para efeitos de obtenção de infor-mação sobre as regras do Mercado Único Europeu e/ou para efeitos de resolução de problemas enfrentados neste mercado. Dos resultados deste apuramento, realça-mos a elevada percentagem – 37% - das empresas que registam problemas mas que não recorrem a nenhum apoio.

(valores em %) Recorreram a instituições / plataformas / portais para obter:

Não recorreram a instituições / plataformas /

portais TotalEmpresas com

problemas no Mercado Único Europeu (MUE)

Informação s/ regras do MUE

(1)

Apoio a resolução de problemas (2)

(1) e (2)

SIM 33 10 20 37 100NÃO 40 0 0 60 100

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REGENERAÇÃO URBANA

INDÚS TR IA • Dezembro 2015

João Barreta ECONOMISTA E MESTRE EM GESTÃO DO TERRITÓRIO

A ESTRATÉGIA “CIDADES SUSTENTÁVEIS 2020”

Os desafios, os princípios, os eixos e as medidasA ilusória naturalidade com que se aborda o surgimento das cidades e as alegadas simplicidades da razão do seu nascimento parece contrastar, nos nossos dias, com a artificialidade e as complexidades que vão marcando as abordagens do seu presente e, principalmente, do(s) seu(s) futuro(s)

DECORRIDAS mais de duas décadas des-de a aprovação da Carta de Aalborg, na Conferência Europeia sobre Cidades Sus-tentáveis, realizada em Aalborg (Dinamarca), a 27 de Maio de 1994, importará chamar à colação o “início” da Declaração Comum en-tão gizada e aprovada, no âmbito da Carta da Sustentabilidade das Cidades Europeias, por forma a melhor se poder enquadrar a temática focada no presente artigo.“Nós, Cidades Europeias, signatárias da presente carta, declaramos que ao longo da história estivemos integradas em impérios, estados e regimes, aos quais sobrevivemos, como centros de vida social, suportes da economia, guardiãs da cultura, do patrimó-nio e da tradição. As cidades com as famí-lias e as comunidades vizinhas, têm sido os pilares das nossas sociedades e Estados, bem como os centros de indústria, artesa-nato, comércio, educação e administração. Compreendemos que o atual modo de vida urbano, particularmente as nossas estru-turas - repartição do trabalho e funções, ocupação dos solos, transportes, produção industrial, agricultura, consumo e atividades recreativas nos responsabiliza maioritaria-mente pelos numerosos problemas ambien-tais com os quais a humanidade se con-fronta. Este facto é extremamente relevante, pois 80% da população europeia vive nas zonas urbanas. Tomamos consciência que os atuais níveis de consumo dos países industrializados não podem ser alcançados por todos os povos que hoje vivem na Terra, e, muito menos, pelas gerações futuras, sem destruição do capital natural. Estamos convencidas que uma vida hu-mana sustentável na terra, não pode exis-tir sem comunidades locais também elas sustentáveis. A autoridade local está cons-ciente dos problemas ambientais dos cida-dãos, partilhando as responsabilidades a

todos os níveis com as autoridades com-petentes de modo a alcançar o bem-estar do homem e da natureza. Deste modo as cidades desempenham um papel essencial no processo evolutivo dos hábitos de vida, da produção, do consumo e das estruturas ambientais.”.Agora, passados mais de vinte anos, o tema – “Cidades Sustentáveis” parece voltar, de novo, de modo formal e oficial, à ribalta, mercê da “Estratégia Europa 2020” e, ine-vitavelmente, das prioridades traçadas em termos de financiamento no âmbito de um novo quadro europeu.

A ESTRATÉGIA “CIDADES SUSTENTÁVEIS 2020”A estratégia “Cidades Sustentáveis 2020”, objeto de Resolução do Conselho de Minis-tros (RCM), n.º 61/2015, publicada em Diá-rio da República (1.ª série, n.º155), de 11 de agosto, baseia-se na resposta a um conjun-to de desafios que decorrem dos múltiplos e vastos diagnósticos já efetuados, diria ao longo das últimas … décadas. Aliás, o corpo do texto da RCM citada também não “resis-te a tal tentação”, apresentando, por isso, um “diagnóstico territorial preliminar”.

OS DESAFIOSUltrapassada a fase do (s) diagnóstico (s), refira-se que os desafios, não sendo novos nem novidade, “exigem abordagens inte-gradas, adequadas às condições particula-res de cada território, devendo enraizar-se

nas políticas nacionais de desenvolvimento económico-social, e numa perspetiva con-sistente de médio e longo prazo”.Daí que tenham sido eleitos como desafios, grosso modo, os seguintes:

1. COMPETITIVIDADE E CRESCIMENTO;2. INCLUSÃO E COESÃO SOCIAL;3. TRANSFORMAÇÕES DEMOGRÁFICAS;4. GOVERNANÇA ESTRATÉGICA;5. DISCIPLINA DO USO DO SOLO;6. VIABILIDADE FINANCEIRA;7. REGENERAÇÃO URBANA;8. SUSTENTABILIDADE E RESILIÊNCIA;9. INTEGRAÇÃO URBANO-RURAL;10. INTEGRAÇÃO NO ESPAÇO INTERNA-CIONAL.

Em termos da indispensável visão e da im-prescindível ambição que uma tal estratégia deve prosseguir e contemplar, o documento suporta que a “criação de uma estratégia orientadora para as cidades e avaliação da sua implementação resulta do reconheci-mento que o desenvolvimento sustentável, integrado e harmonioso do território portu-guês depende, de forma crucial, da capaci-dade das suas cidades se afirmarem como seus agentes centrais, catalisadores do desenvolvimento ambiental, social e econó-mico, líderes na promoção da equidade, da coesão social e da salvaguarda e potencia-ção dos recursos territoriais e do património natural e cultural.”.Neste contexto, a estratégia “Cidades Sus-

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tentáveis 2020” ambiciona dar resposta às debilidades e necessidades de estruturação urbana do território e atuar no sentido de fortalecer e consolidar a visão de desenvolvi-mento territorial partilhada entre os agentes do território, contribuindo para a promoção das condições necessárias à competitivida-de, sustentabilidade e coesão nacional.Assim, as ambicionadas Cidades Sustentá-veis, deverão poder traduzir-se em Cidades Mais Prósperas, mais Resilientes, mais Sau-dáveis, mais Justas, mais Inclusivas e mais Conectadas.

OS PRINCÍPIOS ORIENTADORESA prossecução da visão descrita no ponto anterior, e em resposta aos desafios identi-ficados, sustenta-se em princípios orienta-dores, que deverão nortear a política e as decisões de investimento, com vista ao de-senvolvimento urbano sustentável.

1. ESTRUTURAÇÃO URBANA DO TERRI-TÓRIO;2. TERRITORIALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS;3. COORDENAÇÃO HORIZONTAL;4. COORDENAÇÃO VERTICAL;5. ENVOLVIMENTO ATIVO;6. CONHECIMENTO DO TERRITÓRIO;7. CAPACITAÇÃO COLETIVA.

OS EIXOS ESTRATÉGICOSA prossecução da visão já descrita e a resposta aos desafios identificados opera-cionaliza-se mediante quatro eixos estraté-gicos, alinhados com os grandes objetivos da “Estratégia Europa 2020” e com os ob-jetivos temáticos e prioridades de financia-mento no âmbito do novo quadro europeu relativo aos FEEI.Assim, enumera-se um vasto conjunto de medidas (organizadas por eixos estratégicos – “Inteligência e Competitividade”; “Susten-tabilidade e Eficiência”; “Inclusão e Capital Humano” e “Territorialização e Governança”, cuja aplicação integrada contribuirá para a transformação das nossas cidades em Ci-dades Mais (…) Sustentáveis.

Eixo 1: Inteligência e CompetitividadeA - Conetividade e internacionalização1. Investir no papel estruturante dos centros urbanos, mediante a oferta concentrada de equipamentos e serviços de interesse geral e em formas de complementaridade funcio-nal e produtiva entre centros urbanos que assegurem as condições de massa crítica institucional, convergência de recursos e di-mensão de mercado que melhor sustentem processos de inovação, crescimento, inter-nacionalização e atratividade económica;

2. Articular as estratégias de localização em-presarial e industrial com os investimentos realizados e previstos no âmbito da logística e conetividade internacional, potenciando as suas sinergias;3. Fortalecer a cooperação territorial en-tre cidades-transnacional, transfronteiriça e inter-regional — de modo a potenciar as sinergias funcionais, robustecer os perfis de especialização partilhados e participar em processos conjuntos de aprendizagem e disseminação de boas práticas;

B - Emprego e valorização empresarial e institucional4. Promover a redução dos custos de con-texto das empresas e outras instituições sediadas na cidade, quer ao nível da loca-lização, incluindo a otimização do uso das infraestruturas e dos recursos, e a redução dos custos de instalação, mobilidade e lo-gística, quer ao nível administrativo, asse-gurando maior celeridade e eficiência nos processos de licenciamento;5. Reforçar, a partir das estratégias de atra-ção e apoio à localização empresarial e ins-titucional, a diversidade e vitalidade econó-mica urbanas, fortalecendo a qualificação funcional, social e ambiental dos centros urbanos e a sua capacidade de fixação de população jovem e qualificada;

C - Inovação urbana6. Fomentar e apoiar a constituição de redes e nichos de empreendedorismo e inovação urbana ao nível local, dinamizando territó-rios-piloto de teste e demonstração, labora-tórios vivos urbanos, incubadoras de negó-cios e ninhos de empresas, e promovendo a integração urbana de parques empresariais e tecnológicos;7. Fortalecer a ligação entre as cidades e as suas frentes marítimas e ribeirinhas e nú-cleos piscatórios, contribuindo para a “eco-nomia azul” das áreas urbanas costeiras, em várias vertentes, de que se destacam a energia azul, a aquicultura, o desporto e o recreio azul e o turismo marítimo costeiro e de cruzeiros;8. Apostar na “economia verde” como forma de operacionalização do desenvolvimento sustentável e no papel que a contratação pública tem neste contexto, incentivando a adoção, pelas empresas e instituições se-diadas na cidade, de estratégias de baixo carbono, proteção do ambiente e eficiência no uso dos recursos, e potenciando a ino-vação, a investigação e o desenvolvimento de modelos de negócio, de processos de produção e produtos mais sustentáveis;9. Incentivar a adoção de soluções urbanas

inovadoras aplicadas ao espaço urbano, de carácter social e tecnológico, promovendo, em parceria com a sociedade civil, a provi-são de bens e serviços melhor ajustados à procura local;

D - Identidade e atratividade10. Promover ações de marketing territorial que assegurem a visibilidade das cidades, na Europa e no Mundo, destacando os fato-res diferenciadores de identidade e competi-tividade, incluindo a capacidade institucional e funcional, os valores urbanísticos, arquite-tónicos, paisagísticos, históricos e sociocul-turais e as amenidades climáticas, gastronó-micas, de segurança e de qualidade de vida;11. Apoiar o desenvolvimento turístico numa perspetiva de sustentabilidade e mitigação da sazonalidade, através da aposta nos segmentos urbanos, como o turismo cultu-ral, de negócios, de saúde ou associado ao mar, e através da estruturação dos serviços urbanos de apoio à atividade turística da re-gião urbana funcional, envolvendo as comu-nidades locais nestas estratégias;

E - Tecnologias de Informação e comu-nicação12. Conceber e implementar sistemas inteli-gentes de monitorização e gestão integrada dos subsistemas urbanos que potenciem ganhos de equidade, eficiência e fiabilidade;13. Desenvolver soluções eletrónicas orien-tadas para uma melhor governação e de-sempenho das funções urbanas, incluindo plataformas de informação e acesso aos serviços públicos, participação dos cida-dãos e colaboração entre agentes urbanos, e novos modelos de relação laboral e co-mercial, garantindo o seu alinhamento com as necessidades e capacidades específicas das diversas camadas da população;

Eixo 2: Sustentabilidade e EficiênciaA - Regeneração e reabilitação urbana14. Conter a expansão dos perímetros ur-banos, estruturando e requalificando as frentes urbanas e protegendo os terrenos rústicos envolventes da urbanização avulsa e descriminando positivamente a ocupação dos vazios urbanos existentes, sem prejuízo da possibilidade de eventuais e excecionais necessidades de crescimento, devidamente enquadradas e programadas;15. Promover ações de reabilitação urbana nos centros históricos e em áreas urbanas e periurbanas com carências multidimensio-nais, fomentando a recuperação, beneficia-ção e reconstrução do edificado, a requali-ficação e reconversão de zonas industriais abandonadas e a qualificação do espaço

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público e das infraestruturas, garantindo condições de conservação, segurança, sa-lubridade, estética, paisagem e ambiente;16. Fomentar a regeneração urbana na perspetiva da valorização integrada do ter-ritório, incluindo, não apenas a valorização física e a diversificação funcional, mas ações materiais e imateriais complementares de revitalização económica, social, cultural e ambiental, em especial em territórios urba-nos desfavorecidos;

B - Habitação17. Promover e dinamizar o mercado de ar-rendamento, privilegiando intervenções no parque habitacional já existente ou associa-das a operações de regeneração urbana;18. Reestruturar a oferta de habitação so-cial, ajustando o valor das rendas aos ren-dimentos do agregado familiar, erradicar as situações de alojamento precário e encon-trar soluções sustentáveis para resposta aos sem-abrigo;

C - Ambiente urbano19. Reforçar o equilíbrio e a sustentabilida-de ambiental, económico-financeira e social dos subsistemas de infraestruturação urba-na, com relevo para a água, saneamento, energia, resíduos e mobilidade, desenvol-vendo soluções conjuntas com os serviços e fornecedores e assegurando a adequação à matriz de uso e ocupação do solo;20. Fomentar a criação, qualificação, integra-ção, acessibilidade e legibilidade dos espaços exteriores urbanos, constituindo sistemas de espaços coletivos, nomeadamente praças, passeios arborizados, áreas pedonais, zonas de acalmia de tráfego, hortas, jardins, quintas e parques, valorizando as suas funções en-quanto áreas livres de recreio, lazer, sociabili-dade, cultura e desporto, potenciando o seu papel no equilíbrio microclimatológico, dos ecossistemas, dos ciclos biogeoquímicos, da biodiversidade e da paisagem, e contribuindo para a infraestrutura verde;21. Limitar a pressão urbana sobre os re-cursos hídricos, promovendo a melhoria do balanço hídrico urbano, a gestão do stress hídrico, a racionalização dos consumos pú-blicos, domésticos e industriais, a reutilização das águas cinzentas e pluviais e a requalifica-ção ambiental dos efluentes industriais;22. Incrementar a eficiência do metabolismo urbano, assumindo a prioridade de redução e valorização do resíduo como um recurso, ampliando o quadro de soluções de reutili-zação, reciclagem e valorização energética e orgânica dos resíduos e fomentando o consumo de produtos locais e o combate ao desperdício;

23. Assegurar a informação atualizada e fi-dedigna da qualidade do ar e do ruído nas cidades, identificando zonas críticas de in-tervenção e promovendo a conciliação das atividades poluidoras com o direito a um ambiente de qualidade para a saúde hu-mana, os modelos de mobilidade limpa e a melhoria do envelope acústico dos edifícios e espaços públicos;

D - Baixo carbono24. Reduzir a intensidade energética das ci-dades, assumindo respostas diferenciadas de gestão da procura, redução do consu-mo e promoção da eficiência energética dos distintos agentes urbanos e, em particular, dos setores público, empresarial e residen-cial, assim como dos subsistemas de ilu-minação, mobilidade, gestão da água e de resíduos, incluindo a integração e a utiliza-ção de fontes de energia renovável, assegu-rando a transição para um modelo de baixo carbono e a redução da pegada carbónica dos sistemas urbanos;25. Mitigar a vulnerabilidade energética das cidades por via da oferta endógena, fomen-tando a produção descentralizada para au-toconsumo tanto renovável como através de sistemas de elevada eficiência, a gestão inteligente do sistema electroprodutor e da rede de distribuição, e a ampliação do mix energético, através da adoção de tecnolo-gias custo-eficientes;26. Diminuir a intensidade carbónica da mobilidade urbana, incluindo mercadorias e passageiros, desincentivando o transporte individual motorizado, promovendo a inter-modalidade e reforçando a adequação, co-bertura, conetividade, serviço, informação e sustentabilidade do transporte coletivo, incrementando o peso e a diversidade das opções de mobilidade baixo carbono na repartição modal, incluindo a mobilidade suave e elétrica renovável, e promovendo a integração funcional e tarifária da rede inter-modal urbana, suburbana e interurbana;27. Estimular a mobilidade sustentável nos processos de regeneração urbana, promo-vendo a diversificação da oferta de proximi-dade, a atratividade das áreas urbanas com bons níveis de acessibilidade, as respostas de mobilidade segura dirigidas a crianças, jovens, famílias e idosos, a logística urbana residencial, comercial, empresarial e indus-trial e a reestruturação do espaço canal em favor do transporte coletivo e da mobilidade suave e condicionada;

E - Alterações climáticas e riscos28. Moderar a vulnerabilidade dos sistemas urbanos, aumentando a sua resiliência aos

riscos económicos, naturais, tecnológicos e mistos, incluindo aqueles que resultam das alterações climáticas e de fenómenos cli-matéricos extremos, e estimulando a emer-gência de uma cultura urbana de gestão da incerteza e prevenção e redução de riscos;29. Melhorar o conhecimento e sensibili-dade ao quadro de riscos relativamente à sua tendência, prospetiva, localização, im-pacto, monitorização e alerta, introduzindo mecanismos estruturados de prevenção, redução, adaptação e reação, introduzindo a componente risco na gestão urbana e articulando a cartografia de riscos com as opções de planeamento territorial;30. Implementar estratégias de adaptação das cidades às alterações climáticas em função das suas vulnerabilidades especí-ficas, perfil climatológico e características físicas e funcionais (composição atmosfé-rica, circulação do vento, balanço hídrico e ilha de calor), assegurando a resiliência dos seus subsistemas urbanos e potenciando as interações com as suas zonas costei-ras e ribeirinhas, com a envolvente rural e natural;

F - Integração urbano-rural31. Estimular a articulação entre as cida-des e a sua envolvente rústica, incluindo áreas agrícolas e florestais do hinterland e dos interfaces urbano-rurais, explorando as complementaridades económicas, sociais e culturais que resultam dessa relação de proximidade, melhorando as condições de transporte e logística e promovendo a oferta de produções regionais nomeadamente no setor hortofrutícola;32. Obviar à proliferação indiscriminada da edificação dispersa nos solos rústicos pe-riurbanos, especialmente para habitação, precavendo deseconomias urbanas, e pro-mover a afetação desses solos a atividades produtivas, nomeadamente agrícolas e flo-restais, desmotivando o seu abandono e ajudando a neutralizar procuras e interesses adventícios;33. Potenciar espaços silvestres periurba-nos e metropolitanos, criando ou requalifi-cando parques de recreio e lazer, parques florestais de uso múltiplo e redes de per-cursos nas áreas de influência das cidades, aumentando a sensibilização da população urbana para os valores naturais;34. Fomentar o investimento em infraes-truturas verdes urbanas e nos interfaces urbano-rural e urbano-ribeirinho, assentes no capital natural e nos serviços sociais, económicos e ambientais fornecidos pe-los ecossistemas, e favorecer a integração urbano-ribeirinha, valorizando os ecossiste-

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mas fluviais, lagunares e marinhos e as ativi-dades económicas conexas;35. Impulsionar a valorização económica e social do património natural, das áreas protegidas e classificadas para efeitos de conservação da natureza, promovendo em meio urbano os produtos e serviços asso-ciados a estas áreas e reforçando o seu pa-pel fundamental na defesa da biodiversida-de e na afirmação da cidade-região;

Eixo 3: Inclusão e Capital HumanoA - Inclusão social36. Promover a inclusão, a equidade e a coesão social, procurando reverter os pro-cessos associados à exclusão social, como a pobreza, as dificuldades no acesso à habi-tação, a equipamentos e a serviços, a infoe-xclusão e o afastamento para as periferias, garantindo o direito à cidade e incentivando trajetórias residenciais centrípetas;37. Assegurar a adequada extensão, inten-sidade e qualidade das redes de infraestru-turas urbanas e de equipamentos e serviços sociais, através de uma perspetiva funcional e não tão só administrativa, de forma a res-ponder às procuras e necessidades espe-cíficas e emergentes dos idosos, crianças, jovens, famílias e cidadãos com mobilidade reduzida;38. Garantir a segurança de pessoas e bens, prevenindo e combatendo a crimina-lidade urbana, com particular enfoque nas zonas urbanas críticas, na criminalidade vio-lenta que mais afeta o sentimento de segu-rança dos cidadãos e na violência domésti-ca, e fomentar a prevenção social e o apoio às vítimas, especialmente crianças, idosos e mulheres;

B - Capacitação e iniciativa39. Valorizar o capital humano das cidades, promovendo a capacitação de potenciais empreendedores, empresários e gestores empresariais, nomeadamente nas peque-nas e médias empresas (PME), e a adequa-ção da qualificação dos trabalhadores ao mercado de trabalho, visando a (re) integra-ção laboral dos jovens e desempregados;40. Promover e dinamizar o empreendedo-rismo e as oportunidades de emprego em meio urbano, de forma a valorizar os ativos desempregados e a criação de novas em-presas que permitam gerar emprego com sustentabilidade e continuidade;C - Cultura, cidadania e responsabilidade41. Estimular a transparência e a intervenção ativa dos cidadãos no modelo de desenvol-vimento urbano sustentável, valorizando as especificidades próprias dos vários grupos etários, inovando nos veículos e formatos

de comunicação da informação, desenvol-vendo programas de sensibilização e en-volvimento cívico na resposta aos desafios urbanos e criando plataformas permanentes de participação pública e inovação cidadã;42. Fomentar as diversas expressões da cultura urbana de vizinhança e proximidade, apoiando a dimensão comunitária e asso-ciativa locais, reforçando os laços de con-vívio, solidariedade, tolerância, proteção, responsabilidade e inclusão e aprofundando a identidade e autoestima coletivas, em par-ticular das comunidades em maior risco de exclusão social;43. Intervir junto dos cidadãos na dimen-são comportamental do desenvolvimento urbano sustentável, alertando e responsa-bilizando-os individual e coletivamente para os impactos das suas opções e estilos de vida, disponibilizando-lhes as oportunida-des e condições de ajustamento e mobili-zando-os em torno de compromissos par-tilhados;44. Salvaguardar e valorizar o património cultural e natural existente, material e imate-rial, como fator de diferenciação dos territó-rios, potenciar a utilização dos equipamen-tos culturais existentes através da criação de parcerias e de redes culturais e investir nas atividades culturais enquanto fator deci-sivo de valorização económica e social dos cidadãos e dos territórios, promovendo a expressão, o acesso e a pluralidade de cul-turas locais, tradicionais e contemporâneas;

D - Comunidades urbanas45. Valorizar a escala de proximidade para o desenvolvimento de processos inclusivos de cidadania e sensibilização, incentivando abordagens inclusivas, inteligentes e sus-tentáveis de base comunitária, que tirem partido e reforcem a capacidade instalada do tecido associativo e da rede de interven-ção pública locais;46. Apoiar a estruturação de economias de base comunitária, promovendo o comércio de proximidade e o emprego local, nomea-damente mediante o recurso a sistemas de incentivos que promovam a dinâmica eco-nómica e o emprego;

Eixo 4: Territorialização e GovernançaA - Informação e conhecimento47. Assegurar uma base local sólida e atua-lizada de informação urbana que permita suportar os diagnósticos de necessidades, preferências, contextos e custos das inter-venções inerentes ao desenvolvimento ur-bano sustentável, facilitando as avaliações ex-ante e o desenvolvimento de respostas inovadoras de política pública, a monitoriza-

ção e a avaliação das dinâmicas urbanas re-sultantes da implementação das estratégias definidas;48. Desenvolver as matrizes de inteligência, sustentabilidade e inclusão dos subsiste-mas urbanos, implementando um sistema de indicadores assente no quadro nacional de referência para as cidades sustentáveis e assegurando a complementaridade com os processos de avaliação ambiental estra-tégica e com os relatórios de estado do or-denamento do território de âmbito municipal e regional;49. Desenvolver sistemas de informação de base urbana, em particular geográficos, pro-movendo a integração e interoperabilidade com os sistemas existentes e harmonizan-do-os com a base nacional de referência, disponibilizando publicamente a informação e criando regimes abertos para a sua produ-ção e partilha;50. Desenvolver parcerias estratégicas com as universidades e centros de investigação e potenciar a articulação do “Programa Ho-rizonte 2020” com o agenciamento e ope-racionalização do desenvolvimento urbano sustentável, estimulando ganhos recípro-cos de conhecimento e produção científica orientados para a resolução de problemas urbanos;

B - Networking e capacitação institucional51. Envolver os agentes urbanos no pro-cesso de desenvolvimento urbano susten-tável, enquadrados numa parceria de com-promisso estratégico sub-regional, aberta, estruturada e permanente, que sustente a colaboração publico-privado-conhecimen-to-sociedade civil para o desenvolvimento, implementação e acompanhamento de uma visão comum de longo prazo;52. Capacitar os agentes urbanos vincula-dos ao processo de governança estratégica, desenvolvendo instrumentos, ferramentas e destrezas de trabalho em rede, inovação e produção de conhecimento, gestão da in-formação, comunicação, gestão de projeto, gestão financeira e contratação pública;53. Reforçar o trabalho em rede entre cida-des do sistema urbano e em plataformas nacionais e internacionais de cooperação e sistematização de conhecimento urbano, fomentando as iniciativas de benchmarking e benchlearning, de recolha e sistematiza-ção de boas práticas e de participação em fora e eventos ligados ao desenvolvimento urbano sustentável.Face à densidade do exposto, afigura-se que, uma vez mais, só faltará (…) passar das palavras aos atos, ou seja, também neste campo, há que (…) “Fazer Acontecer!”.

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FORMAÇÃO

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Gonçalo Xufre Silva PRESIDENTE DO CONSELHO DIRETIVO DA AGÊNCIA NACIONAL PARA A QUALIFICAÇÃO E O ENSINO PROFISSIONAL

A 1 DE DEZEMBRO, o Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Pro-fissional (CEDEFOP) lançou um novo site, designado EU Skills Panorama. Este site é uma promessa da Agenda Europa para Novas Competências e Empregos, apre-sentada em 2010, com objetivos muito definidos, como a flexibilidade e segurança do mercado de trabalho; o apetrechamento dos recursos humanos com competências adequadas aos atuais e futuros postos de trabalho; a qualidade do emprego; a me-lhoria das condições de trabalho e ainda a promoção da criação de emprego. Já nessa altura, a Comissão Europeia tinha em mente contrariar as elevadas taxas de desemprego (23 milhões de pessoas), o correspondente a 10% da população ativa, não esquecendo a necessidade de ter mais ativos no sistema, não só para poder ga-rantir o necessário crescimento económico mas também para assegurar a sustentabili-dade dos sistemas nacionais de segurança social. Desde então, todos os países foram incita-dos a desenvolver mecanismos de aproxi-mação entre as escolas e as empresas, de modo a adequar as necessidades presentes e futuras do mercado de trabalho, em ter-mos de competências, às ofertas de qua-lificação disponibilizadas pelos sistemas de educação e formação. As primeiras medidas prosseguindo este propósito começaram a surgir do lado dos sistemas de educação e formação, através de medidas como a promoção dos cursos profissionalizantes, assentes em currículos centrados na aquisição de competências orientadas para o exercício profissional; o (re)desenho curricular das qualificações, tendo por bases os resultados de aprendi-

zagem; o reforço da carga horária da forma-ção em contexto de trabalho; a mobilização das empresas para o acolhimento de mais estagiários; o envolvimento de representan-tes do tecido empresarial no processo de elaboração e atualização das qualificações; e a criação de sistemas de qualidade aplica-dos aos cursos profissionalizantes.Mas este esforço do lado dos sistemas de educação e formação não foi acompanha-do por um esforço semelhante do lado das empresas. Isso mesmo é agora revelado pelos dados apurados no primeiro inquérito pan-europeu centrado na desadequação das competên-cias. Cobrindo uma amostra de 49 mil adul-tos empregados dos 28 Estados-Membros, com idades compreendidas entre os 24 e os 65 anos, os inquéritos aplicados entre março e maio de 2014 revelaram precisa-mente a falta de investimento num emprego de qualidade por parte das empresas, com consequências nefastas para todos.De entre as principais conclusões deste estudo, extrai-se, por exemplo, que quase metade (47%) dos trabalhadores europeus passaram por mudanças tecnológicas des-de que ingressaram nos seus empregos e 21% consideram que muitas das compe-tências que detêm tornar-se-ão obsoletas nos próximos cinco anos. E, evidentemente, muitas das competências que são agora

requeridas terão de ser adquiridas em am-biente informal, no local de trabalho. To-davia, apenas um em cada cinco adultos empregados reconhece ter desenvolvido as competências que já detinha desde que en-trou na respetiva empresa. A situação é ainda mais gravosa se conside-rarmos que quatro em cada dez empresas reclamam não conseguir angariar recursos humanos com as competências de que ne-cessitam, muito embora haja uma disponibi-lidade para aceitação de postos de trabalho como nunca antes existiu. E esta situação coabita com a constatação de 25% de adul-tos sobre qualificados para os empregos que ocupam e ainda com a expressão, por parte de 41% dos adultos empregados que usam apenas competências básicas de lite-racia nas tarefas que executam. Além disso, 27% de adultos ocupam empregos consi-derados “becos sem saída”, com um poten-cial de desenvolvimento bastante limitado. Em suma, é tempo de todos atuarmos com a convicção, tal como muito bem expressa este relatório, de que a adequação das com-petências, para poder funcionar, terá de se fazer de ambos os lados: as pessoas neces-sitam das competências ajustadas aos tra-balhos que irão ocupar, mas os empregos de qualidade, a disponibilizar pelas empresas, têm de ser facilitadores de carreiras a longo prazo. No final, todos ganharemos.

Os ajustes necessários às qualificações

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INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

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* Dados do National Cancer Institute: National Cancer Institute. Surveillance, Epidemiology, and End Results Program. http://seer.cancer.gov/faststats/selections.php?#Output. Rockville, Md.: National Institutes of Health. Citado em PhRMA, biopharmaceutical in perceptive, spring 2015. Fonte: PhRMA, biopharmaceutical in perceptive, spring 2015

NOTAS

Inovação farmacêutica e a oportunidade de saber gerirO RESULTADO do forte investimento das empresas farmacêuticas na investigação e desenvolvimento de novos medicamentos está a permitir um aumento gradual dos fár-macos disponíveis, capazes de restabelecer a saúde do doente, em patologias até agora sem cura.É o que habitualmente classificamos como inovação disruptiva relativamente aos an-teriores paradigmas de Investigação & De-senvolvimento (I&D) de medicamentos e que nos coloca, enquanto sociedade, perante a satisfação de poder tratar doenças que an-teriormente, no limite, apenas conseguía-mos controlar. E, simultaneamente, diante da necessidade de tomar novas decisões sobre o que consideramos prioritário e os recursos que lhe atribuímos.O envelhecimento progressivo da população e o aumento da incidência de doenças cró-nicas severas como o cancro, ou as doen-ças autoimunes, possuem custos transver-sais, que afectam desde os orçamentos que decidimos alocar à Saúde, para a prestação de cuidados, aos recursos que atribuímos à Segurança Social, para apoiar os doentes e as suas famílias, até à Economia, no impac-to sobre a capacidade produtiva individual e, consequentemente, na aptidão de Portugal gerar riqueza.À primeira vista, se nada de extraordinário se tivesse passado na I&D de novos me-dicamentos, o que poderíamos esperar do futuro seriam custos de Saúde progressiva-mente elevados, para garantir o tratamento dos doentes, um aumento dos gastos em apoio social, para assegurar o apoio indis-pensável a quem está em tratamento e aos seus cuidadores, e custos crescentes em absentismo laboral e diminuição da produ-tividade.Esta é uma realidade para a qual, enquanto sociedade, nos temos vindo a preparar há décadas e que, nos últimos anos, se alterou. Só na área da Saúde, e de acordo com um comunicado divulgado em Julho deste ano pelo INFARMED, a Autoridade Nacional do

João Almeida Lopes PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA APIFARMA

Medicamento e Produtos de Saúde, a dis-ponibilização de um fármaco inovador a cer-ca de 5 mil doentes com Hepatite C, até 30 de Junho, resulta numa alteração sem pre-cedentes na esperança de vida dos doentes em Portugal e numa avultada diminuição da despesa pública.Segundo o mesmo comunicado, através do medicamento inovador, são evitadas 2.184 mortes prematuras, há um aumento médio de 7,9 anos de esperança de vida, ganhos 39.740 anos de vida, evitados 217 trans-plantes e 1.200 carcinomas; e conseguida uma poupança de 166,2 milhões de euros em custos de tratamento associados à evo-lução da doença.Nos Estados Unidos da América os núme-ros também são elucidativos. Os estudos mostram que a identificação precoce e os avanços nos tratamentos têm contribuído para um aumento das taxas de sobrevivên-cia de cancro. Desde os anos noventa, as novas terapias têm contribuído para uma re-dução, em 22%, das mortes causadas por doenças oncológicas. Mais, segundo um estudo recente, 83% dos ganhos de tempo de vida são resultado de novos tratamentos e medicamentos*.Estão contabilizados indicadores semelhan-tes para a Segurança Social? E na econo-mia portuguesa?Conhecer o impacto do investimento em Saúde nos resultados em Saúde, a médio e longo prazo, e a sua influência em outras áreas da sociedade, é a primeira das novas formas de pensar que temos de desenvol-ver.E não nos restringirmos apenas aos resulta-

dos imediatos, de um ano para o outro, mas saber contabilizar o que representa para a sociedade um dado investimento em Saúde ao fim de, por exemplo, 5 anos.Saber tomar novas decisões sobre o que consideramos socialmente prioritário, e os recursos que lhe atribuímos, exige que sai-bamos também desenvolver mecanismos transparentes e eficazes de medição de resultados, capazes de nos serem úteis na avaliação das políticas públicas e nas esco-lhas que, como sociedade, fazemos.Se desperdiçarmos esta oportunidade que a inovação farmacêutica nos está a dar, es-taremos também a desprezar a capacida-de de gerir melhor os nossos recursos e de aproveitar o retorno do que investimos.

INOVAÇÃOAtravés

do medicamento

inovador, são evitadas

2.184 mortes

prematuras e há

um aumento médio

de 7,9 anos de

esperança de vida

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INOVAÇÃO

INDÚS TR IA • Dezembro 201542 INDÚS TR IA • Dezembro 201542

Marcas – que valor?

Os três primeiros lugares do ranking Forbes The World’s most valuable Brands (em maio de 2015) são ocupados pelas tão aclamadas tecnológicas. A escolha do nome Apple para assinalar computadores, iphones, ipads, ipods teve tal criatividade (associada a estratégias de Marketing massivas e a uma humanização sentimental do fenómeno tecnológico) que a Apple empresa, mesmo sem ser líder em qualquer um dos sectores onde está presente, detém a marca mais valiosa do mundo, avaliada aproximadamente em 145 (cento e quarenta e cinco) mil milhões de dólares

SEGUEM-SE NESTA lista as marcas Mi-crosoft e Google, intercalando-se o ranking com a Coca-cola, voltando logo em segui-da a surgir uma tecnológica (velha conhe-cida da Apple), a IBM. Nos dez primeiros lugares cabem também empresas como o Facebook, a General Electric, o McDonal-ds, a Toyota e a Samsung. Sectores variados portanto, mais ainda se considerarmos os vinte primeiros lugares do ranking, ondem podemos encontrar marcas associadas aos mais diferentes sectores como sejam a Disney, a Amazon, a Louis Vuitton, a Cisco, a Nike ou a Wal--Mart.

Retém-se a ideia de que, independente-mente do sector, é possível associar tal imagem de confiança ao nome/logo que consta dos produtos ou serviços (a que os anglo-saxónicos chamam goodwill) que o consumidor irá sentir de tal forma que, con-sequentemente, gerará um valor comercial. O valor intangível da marca.

Na verdade, o valor dos activos intangíveis de uma empresa (entre eles as marcas, as patentes….e o trade secret claro) pode ter, e cada vez mais tem, um enorme im-pacto no valor global da própria empresa. De acordo com um estudo publicado pela

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8º Evento – Coimbra: O empreendedorismo é uma ameaça às indústrias?O 8º evento passou por Coimbra em outubro de 2015 e decorreu nas instalações da NERC. Com uma assistência muito diversificada um dos temas quentes foi: Será que o empreendedorismo é uma ameaça às indústrias ou a negócios instalados?Algumas opiniões foram dadas mas foi consensual o facto de que esta febre pelo empreen-dedorismo é muito promissora para a classe empresarial de Portugal. Porém é possível que as industrias sejam quem mais tem a ganhar com esta revolução do conhecimento e da tecnologia. Veja-se, muitas limitaram muito o investimento em tempo de crise, enquanto lutavam pela sobrevivência, sem orçamento para investir em Investigação e Desenvol-vimento (I&D). Porém a explosão de empreendedorismo que se sente em Portugal pode levar conhecimento para dentro das empresas. Não será mais fácil fazer parceria com um sonhador do que alimentar um gigante? Ou seja, não será melhor estratégia procurar startups que estejam a investigar / criar inovação (numa certa área ou especialidade), do que criar uma pesada equipa interna de I&D?Portugal é um dos países onde é gerada mais inovação universitária mas em simultâneo aquele onde é menor a inovação que chega ao mercado. Isto porque a transferência de tecnologia ainda está muito pouco desenvolvida em Portugal e as empresas vivem, na sua maioria, de costas voltadas para Universidades e Incubadoras. Acresce ainda que diversos estudos apontam para o facto de poucas empresas apostarem numa política de marca e estratégias de comunicação empresarial. Na verdade nenhum projeto sobrevive apenas como ideia, as ideias só conquistam sucesso quando são bem comunicadas e protegidas

das imitações.

9º Evento – Aveiro, cidade da inovação?Para além de ser a Veneza portuguesa, Aveiro tem-se tornado notícia permanente quando se fala de inovação. Talvez para isso contribua a cooperação clara entre as entidades locais: Câmara Municipal de Aveiro, Universidade de Aveiro (uma das mais dinâmicas do país), IERA, AIDA e APOMA.No evento “Rotas da Inovação Empresarial” estiveram presen-tes representantes de todas estas entidades, tornando fan-tástica a tarde do dia 18 de novembro, com speakers de com-petência reconhecida numa conferência muito participada pelos empresários e empreendedores do distrito de Aveiro. No showroom as possibilidades de networking foram de alto nível havendo muito interesse pelas temáticas ligadas à proteção de ideias que os direitos de Propriedade Industrial conferem, mesmo quando se exporta.Apesar de os Ovos Moles de Aveiro terem sido a estrela do dia, a Cerveja Maldita também teve o seu momento, já que foi a empresa convidada para a rubrica “Sou empreendedor”, tem-po na conferência dedicado a mostrar, desde a sua conceção, um projeto de sucesso nascido naquela cidade.

Rotas da Inovação

Próximo destino? Porto em janeiro de 2016Os empresários do norte estão desde já convidados a assistir e/ou expor no showroom a custo zero, neste que é um evento de partilha de conhecimento, potenciador de ne-tworking e de crescimento sustentado. Todas as informações em www.rotasdainova-

caoempresarial.pt

Cristina Costa ORGANIZAÇÃO “ROTAS DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL”

firma Ocean Tomo (que se dedica ao Intel-lectual capital research) a percentagem de valor corporativo de mercado no S&P 500 que é atribuída aos activos intangíveis das empresas, passou de 17% em 1975 para 84% em 2015. Marcas cujo valor signifique um quarto do valor global da empresa não só garantem uma fonte de receitas mas também um seguro contra eventualidades negativas e, acima de tudo, um verdadeiro activo de negociação com investidores e parceiros.

Uma marca forte significa, em primeiro lu-gar, a fidelização de uma carteira de con-sumidores. Veja-se o exemplo da marca RockinRio. Esta marca tem tal força que os bilhetes chegam a ser vendidos sem qual-quer confirmação de cartaz.

Significa também a possibilidade de venda da própria marca enquanto parte dos acti-vos da empresa, e veja-se o enorme valor pago pelo Facebook para adquirir o What-sApp – 19 milhões de dólares – do qual grande parte foi para pagar a “marca”. Mas também significa possibilidade de conces-são de licenças, senão a Calvin Klein não teria tido, em 2014, cerca de 57% das suas receitas vindas directamente das suas li-cenças.

Citando Bill Bryson1: “Black bears rarely attack. But here's the thing. Sometimes they do. All bears are agile, cunning and immensely strong, and they are always hungry. If they want to kill you and eat you, they can, and pretty much whenever they want. That doesn't happen often, but - and here is the absolutely salient point - once would be enough.”

Basta uma pequena falha estratégica para comprometer todo um negócio, toda uma história, e a marca serve por isso, também, um último fundamental propósito – a pro-tecção dos concorrentes. Uma marca forte cria, no mesmo sector, um first mover ad-vantage mas também, e em sectores não idênticos, um monopólio que permite limi-tar as possibilidades de concorrência, pro-tegendo os produtos/serviços da empresa dessa mesma concorrência e servindo de base para uma estratégia correcta de En-forcement.

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1- Bill Bryson, A Walk in the Woods: Rediscovering America on the Appalachian Trail

NOTAS

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O VALOR DA SOCIEDADE CIVILPrémio Nobel da Paz

A atribuição do Prémio No-bel da Paz de 2015 ao Quar-teto para o Diálogo Nacional na Tunísia teve um impor-tante valor simbólico para todos quantos valorizam o papel da sociedade civil e do diálogo na construção da paz e do desenvolvimentoO grupo é composto por qua-tro organizações: a União Geral Tunisina do Trabalho (UGTT, principal central sindical da Tunísia), a União Tunisina da Indústria, do Comércio e do Artesanato (UTICA, que constitui a confederação patro-nal daquele país), a Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia (ONAT) e a Liga Tunisina dos Direitos Humanos (LTDH).O Comité Nobel recordou que estas organizações representam diferentes sectores e valores da sociedade tuni-sina. Partindo dessa base, o Quarteto desempenhou um papel de mediador e condutor no desenvolvimento pacífi-co da democracia pluralista na Tunísia, com grande autoridade moral, após a Revolução de Jasmim de 2011.O Quarteto foi lançado no verão de 2013, quando o processo de demo-cratização se encontrava fortemente ameaçado depois de uma série de as-sassinatos políticos e sobressaltos so-ciais. O Quarteto tomou a iniciativa de “apadrinhar” o diálogo nacional entre as diversas forças políticas, propôs um “roteiro” ambicioso e obteve o consen-so de 21 partidos políticos, o que per-mitiu estabelecer uma alternativa e um processo pacífico, num momento em que o país estava em risco de cair numa guerra civil. Foi crucial para a capacidade da Tunísia se dotar duma Constituição garantindo os direitos fundamentais para o conjunto da po-pulação tunisina.A importância que a CIP atribui à es-colha deste ano para Prémio Nobel da Paz justifica-se não só pelo facto de a UTICA ser uma instituição congénere da CIP, mas pela enorme relevância que foi conferida à intervenção da so-ciedade civil, em geral, e dos parceiros sociais, em particular, em prol da paz social, através de processos de diálogo. A este respeito, o Comité Nobel afir-

mou que “o exemplo da Tunísia subli-nha o valor do diálogo e o sentido de pertença nacional numa região mar-cada pelo conflito”, acrescentando ain-da que a transição neste país mostrou o papel crucial que as organizações da sociedade civil podem desempenhar.O Prémio deste ano sublinha também a importância de estabelecer relações de confiança entre associações patro-nais, sindicatos e sociedade civil para a criação de estabilidade, paz e desen-volvimento.Wided Bouchamaoui, empresária que preside à UTICA desde maio de 2011, já tinha recebido, em 2014, o prémio da Business for Peace Foundation pela sua “capacidade admirável para cons-truir estabilidade e paz” e para “fazer da comunidade empresarial uma grande força no desenvolvimento da sociedade”.Segundo esta organização, Wided Bou-chamaoui declinou uma oferta para se tornar Primeira Ministra, preferindo manter a sua independência e traba-lhar como mediadora para alcançar estabilidade social e fomentar o desen-volvimento económico da Tunísia.Mesmo antes da criação do Quarteto, Wided Bouchamaoui tinha já inicia-do negociações com a central sindical UGTT e o Governo, que levaram à as-sinatura, em janeiro de 2013, de um Contrato Social e à institucionalização do diálogo social num conselho nacio-nal de composição tripartida.Reagindo à atribuição do Prémio No-bel da Paz de 2015, o Presidente da CIP mostrou-se satisfeito com o reco-nhecimento internacional do valor do diálogo e lamentou que seja só “em situações extremas que muitas vezes vêm ao de cima valores e solidarieda-des” nem sempre possíveis de emergir noutras circunstâncias.

NOTÍCIAS

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BREVES

Upgrade Solvay O grupo Solvay está a criar novas oportu-nidades na sua fábrica portuguesa de Pó-voa de Santa Iria, através de um upgrade das actividades Peróxidos e da abertura do perímetro industrial, estrategicamente localizado, a outras empresas.

Sinergias na energia A Vivapower e a Selfenergy uniram-se formando um grupo empresarial de maior dimensão, com a missão de deixar bem vincada a sua marca no sector da energia, continuando a prestar serviços de excelência no domínio da eficiência energética e produção de energia com recurso a fontes renováveis.O passo estratégico dado no sentido do crescimento do negócio tem por base a existência de sinergias, que permitem unificar as equipas, convergir na capacidade do desenvolvimento integrado das actividades e optimizar custos operacionais, tornando a empresa mais forte, mais competitiva e com maior capacidade de resposta às exigências e desafios colocados pelos clientes.

Livro de António SaraivaAntónio Saraiva lançou em Lisboa, no dia 10 de dezembro, o livro A Defesa de Causas e o Papel da Sociedade. Numa cerimónia que contou com casa cheia, o Presidente da CIP apresentou a obra juntamente com António Ramalho Eanes, António Vasco de Mello e Jorge Rocha de Matos.No seu livro, António Saraiva apresenta, de forma eficaz e sistematizada, a sua forma de estar e interpretar o mundo em-presarial. Presidente da CIP desde janeiro de 2010, António Saraiva dedicou sempre grande atenção à defesa de causas e à valorização do papel da sociedade civil en-quanto agente de promoção da mudança, do progresso e do empreendedorismo.

Aluno na ABB Integrado na iniciativa “Braço Direito” da JA Portugal, uma organização sem fins lucrativos que promove o empreendedo-rismo junto dos mais novos e da qual a ABB em Portugal é parceira, José Cunha, da divisão PLow Voltage Products, voluntariou-se para receber um estudante do secundário, acompanhando-o durante um dia inteiro de trabalho e proporcio-nando assim ao aluno uma primeira experiência no mundo profissional.

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Atlas Copco

Cotesi

DAS CORDAS AOS SISTEMAS DE PROTECÇÃOA Cotesi - Companhia de Têxteis Sintéticos, S.A. opera nos mercados agrícolas na-cionais e internacionais há mais de 30 anos. Pioneira na Europa na produção de fios, cordas e redes de matérias-primas sintéticas e naturais, é, hoje em dia, o maior produtor de fio agrícola a nível mundial. Para além deste seu “core business”, a Cotesi S.A tem procurado ter sempre uma gama actualizada, tanto do ponto de vista técnico como agronómico, destinada a muitas outras actividades de produ-ção, protecção e embalagem agrícola.Uma destas áreas, de grande interesse estratégico para a companhia é precisa-mente a área da protecção agrícola, que ao longo dos seus largos anos de activi-dade, tem sido desenvolvida em mais de cinco continentes. Sempre apresentando soluções para a produção e protecção dos mais variados tipos de culturas e cir-cunstâncias. Portugal e a Europa atravessam uma crise económica e social, mas os sectores agrícola e agro-industrial têm demonstrado que muito podem contribuir para uma melhoria dessa situação e que são fundamentais para uma sociedade e uma economia estruturada, ou seja, ajustada, estável e sustentada.“Hoje e como sempre, posicionamo-nos como o principal agente económico na-cional nesta área, bem como um dos mais competentes à esfera global. O nosso aporte de conhecimento permite-nos replicar as melhores soluções para os nossos clientes, aliando-se a sensibilidade própria em entender as suas necessidades e objectivos.A produção de fruta em Portugal está a dar os passos que já foram dados noutros países, procurando desta forma a produção de bens com a maior qualidade possí-vel, utilizando métodos de produção com o mais elevado rigor técnico e agronómi-co”, destacam os responsáveis da empresa.

A nova Atlas Copco Citypaver Dynapac SD1800 tem uma capacidade de co-locação de asfalto de 350T / h, numa largura de 0,70 m até 4,70 m. De acor-do com a marca, é ideal para ruas e construção rodoviária da cidade, assim como para trabalhos de reparação.A geração de 2016 é marcada pela introdução da série SD na classe Ci-typaver. Entre outras melhorias e be-nefícios, agora todos os controlos de pavimentação introduzidos com o sis-tema PaveManager 2.0, que são bem conhecidos das grandes pavimenta-doras Dynapac SD e altamente valo-rizados pelos clientes, estão também presentes nesta gama de produtos.A nova solução possui potência fiá-vel, através da utilização de tecnolo-gia altamente avançada em controlo electro-hidráulico, debitando uma potência de 54kW fornecida pelo mo-tor Deutz T3/ T4, a qual é distribuída através de um sistema inteligente.Apresenta o sistema de controlo in-teligente Dynapac SD1800, que lhe fornece uma excelente monitorização

de todo o processo de pavimentação, garantindo um desempenho contínuo e otimizado de todo o processo, Com um comprimento de 5 metros e uma largura de apenas 1,80 m, a pavi-mentadoraSD1800 é ideal para locais de trabalho estreitos e a baixa altura deste equi-pamento permite fazer pavimentação debaixo de árvores, mantendo uma excelente visibilidade. O conforto do operador é uma priori-dade para a Atlas Copco. A plataforma oferece um espaço generoso e uma a nova canópia de proteção. Os assen-tos são ergonómicos, articuláveis e são colocadas numa guia deslizável. O painel de controlo também é desli-zável e inclinável. Esta pavimentadora apresenta o mesmo conceito HMI (Hu-man Machine Interface), idêntico aos equipamentos maiores, da serie F e SD, que possibilita utilizar os mesmos princípios de operação em modelos diferentes. Para melhorar o ambiente de trabalho, há ainda a opção de ter um sistema de aspiração de fumos.

NOTÍCIAS

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BREVES

50 anos ATP A ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, organização patronal representativa de toda a fileira têxtil e vestuário nacional, completou 50 anos de existência em 2015. Esta efeméride tem como base a fun-dação, em 1965, de uma das enti-dade que deu origem à ATP e que prevaleceu enquanto entidade com personalidade jurídica, apesar de a Associação ser, atualmente, o resul-tado da fusão da APIM – Associação Portuguesa das Indústrias de Malha e Confeção, da APT – Associação Portuguesa dos Têxteis e Vestuário, e da ANET - Associação Nacional das Empresas Têxteis (antigos Grossis-tas Têxteis), fusão esta considerada exemplar ao nível do associativismo nacional e mesmo internacional.

Formação aduaneira Com o objetivo de ir de encontro a uma necessidade prática sentida e apontada pelo sector, a AGEPOR está a organizar uma Ação de Forma-ção em Procedimentos Aduaneiros. O Programa pretende abordar as matérias mais relevantes para os profissionais que lidam com pro-cedimentos e assuntos de índole aduaneira, no âmbito de processos que envolvam meios de transporte e movimentação de mercadorias.

350 anos de atividadeO Grupo Saint-Gobain – multina-cional francesa especializada em soluções para o setor da construção – está a assinalar, ao longo do ano de 2015, 350 anos de atividade. A ce-lebração deste aniversário tem vindo a acontecer nos principais mercados da marca, incluindo Portugal, onde opera desde 1980, com a aquisi-ção de 100% do capital da COVINA. Atualmente, o Grupo Saint-Gobain está presente em Portugal através de 14 empresas, empregando, de forma direta e indireta, um total de 1900 profissionais. Em 2016, o Grupo Saint-Gobain prevê atingir, em Portugal, um volume de negócios na ordem dos 301 milhões de euros. No próximo ano, a Saint-Gobain Autover Portugal – uma das empresas do grupo – tem prevista a criação de 50 novos postos de trabalho.

NOVA PAVIMENTADORA CITYPAVER DYNAPAC

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INVESTIMENTO

INDÚS TR IA • Dezembro 20154646

SETORES AGRÍCOLA E AGRO-ALIMENTAR

BPI contrata empréstimo de50 milhões de euros com o BEI

ATRAVÉS DE um empréstimo de 50 milhões de euros, o Banco Europeu de Investimento (BEI) irá financiar, em cooperação com o BPI, projetos realizados por pequenas e médias empresas (PME), nos setores agrícola e agro--alimentar. O contrato de financiamento foi assinado em Lisboa com a participação de Román Escolano, Vice-Presidente do BEI, e de Fernando Ulrich, Presidente da Comissão Executiva do Banco BPI.Para além das PME, também as empresas de média dimensão (“mid-caps”, i.e. até 3 000 trabalhadores) serão elegíveis para os empréstimos concedidos ao abrigo desta linha de crédito. O objetivo deste financia-mento consiste em promover a concessão de crédito, garantir o acesso ao financia-mento e alargar a cobertura às PME e em-presas de média dimensão do meio rural cuja atividade esteja centrada na agricultura.Os fundos do BEI serão prioritariamen-te destinados ao financiamento de proje-tos nos setores agrícola e agroalimentar e também de projetos em zonas rurais ao longo de toda a cadeia de valor. Prevê-se que a maioria das PME beneficiárias este-

ja localizada nas regiões de convergência. O empréstimo está em total consonância com o renovado destaque estratégico con-ferido pelo BEI ao setor agrícola e agroali-mentar. O financiamento do BEI contribuirá para reforçar a produtividade e a competiti-vidade das PME e o emprego em Portugal.Este primeiro empréstimo concedido ao BPI especificamente para financiar as PME no setor da agricultura vem melhorar a oferta de crédito ao sector. Ele complementa ainda as outras linhas de crédito do BEI ao BPI e reforça a cooperação de longa data entre as duas instituições.

Informação institucionalO Banco Europeu de Investimento (BEI) é a instituição de financiamento a longo pra-zo da União Europeia, cujo capital é detido pelos Estados-Membros. Concede financia-mentos a longo prazo para investimentos viáveis que contribuam para a concretiza-ção dos objetivos políticos da UE. O apoio às pequenas e médias empresas constitui, desde há muito, uma das grandes priori-dades de financiamento do banco da UE.

Em 2014, o Grupo BEI concedeu um mon-tante recorde de 25 500 milhões de euros às pequenas empresas, beneficiando mais de 290 000 empresas em toda a Europa. Em Portugal, no mesmo ano, o BEI assinou contratos de empréstimo no valor total de 1 319 milhões de euros, incluindo 875 milhões de euros destinados às PME e mid-caps.O BPI é o terceiro maior banco privado por-tuguês com uma quota de mercado de cer-ca de 10 % em depósitos e crédito e supe-rior a 15 % na gestão de ativos. É um banco universal cuja oferta inclui o leque completo de serviços bancários, atingindo uma posi-ção de mercado relevante no financiamento competitivo da economia, designadamente no “funding” adequado do investimento em capital fixo e circulante de PMEs e “mid--caps” (até 3 000 trabalhadores) em Portu-gal. O BPI é um dos bancos líderes no apoio ao sector agrícola em Portugal. Numa par-ceria estreita com as principais associações empresariais do sector, o BPI atingiu uma posição proeminente no financiamento do investimento em capital fixo e circulante do sector nos últimos anos.

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