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Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Ceará Volume 53 - 2015 Janeiro / Março R. Jurisp. Trib. Justiça Est. Ceará, Fortaleza, v.53, p. 1 - 627, 2015 ISSN 2175-0874

Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Ceará · Antônio Abelardo Benevides Moraes Des. Francisco de Assis Filgueira Mendes ... Francisco Sales Neto Desa. Maria Nailde

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  • Revista de Jurisprudnciado Tribunal de Justia do Cear

    Volume 53 - 2015Janeiro / Maro

    R. Jurisp. Trib. Justia Est. Cear, Fortaleza, v.53, p. 1 - 627, 2015

    ISSN 2175-0874

  • Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Estado do CearVolume 53.2015Publicao Oficial do Tribunal de Justia do Estado do Cear, a cargo da Comisso de Jurisprudncia e Biblioteca. Os acrdos selecionados para publicao correspondem, na ntegra, s cpias obtidas nos Gabinetes dos Desembargadores deste Egrgio Tribunal.

    Comisso de Jurisprudncia e BibliotecaDes. Emanuel Leite Albuquerque - PresidenteDes. Francisco Bezerra CavalcanteDesa. Tereze Neumann Duarte ChavesDesa. Maria de Fatima de Melo LoureiroSecretrio Francisco Hudson Pereira RodriguesDisponvel tambm em CD-ROM e no sitehttp://www4.tjce.jus.br/sproc2/paginas/Revista.htm

    SuplentesDesa. Vera Lcia Correia LimaTiragem da Edio: 500 exemplares

    Expediente Coordenao:Des. Francisco Gladyson Pontes

    Conselho Editorial:Des. Durval Aires Filho - PresidenteDes. Carlos Rodrigues FeitosaDesa. Lisete de Sousa GadelhaDes. Mrio Parente Tefilo NetoDr. Francisco Martnio Pontes de VasconcelosDr. Emlio de Medeiros Viana

    Editor Responsvel:Mailu de Oliveira Franco Alvarenga

    NormalizaoDiviso de Biblioteca do Departamento de Gesto de Documentos do TJCEBibliotecria - Ismnia Souto de Arajo Andrade - CRB-3/834

    RevisoComisso de Jurisprudncia e Biblioteca

    Diagramao, Impresso e Arte GrficaDepartamento Editorial e Grfico do TJCE

    Tribunal de Justia do Estado do CearCentro Administrativo Governador Virglio TvoraAv. General Afonso Albuquerque de Lima S/N - Cambeba - Fortaleza - CECEP: 60.822-325 Fone: (85) 3207.7104www.tjce.jus.bre-mail: [email protected]

    Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Cear. v.1 - Fortaleza: Tribunal de Justia do Estado do Cear, 1989 - Trimestral

    ISSN 2175-0874

    1.Direito - Peridico. 2.Direito - Jurisprudncia. 3. Cear - Tribunal de Justia - Jurisprudncia.

    CDU 340.342 (05)

  • TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO CEAR

    PresidenteDesa. Maria Iracema Martins do Vale

    Vice-PresidenteDes. Francisco de Assis Filgueira Mendes

    Corregedor Geral da JustiaDes. Francisco Lincoln Arajo e Silva

    TRIBUNAL PLENO

    Desa. Maria Iracema Martins do Vale - PresidenteDes. Fernando Luiz Ximenes RochaDes. Luiz Gerardo de Pontes Brgido

    Des. Antnio Abelardo Benevides MoraesDes. Francisco de Assis Filgueira Mendes

    Des. Francisco Lincoln Arajo e SilvaDes. Francisco Sales Neto

    Desa. Maria Nailde Pinheiro NogueiraDes. Haroldo Correia de Oliveira Mximo

    Des. Francisco Pedrosa TeixeiraDesa. Vera Lcia Correia Lima

    Des. Clcio Aguiar de MagalhesDes. Francisco Barbosa Filho

    Des. Emanuel Leite AlbuquerqueDesa. Srgia Maria Mendona Miranda

    Des. Jucid Peixoto do AmaralDes. Paulo Francisco Banhos PonteDesa. Francisca Adelineide Viana

    Des. Durval Aires FilhoDes. Francisco Gladyson Pontes

    Des. Francisco Darival Beserra PrimoDes. Francisco Bezerra CavalcanteDes. Incio de Alencar Cortez Neto

    Des. Washington Luis Bezerra de ArajoDes. Carlos Alberto Mendes Forte

    Des. Teodoro Silva SantosDes. Carlos Rodrigues Feitosa

    Desa. Maria Iraneide Moura SilvaDes. Luiz Evaldo Gonalves Leite Des. Francisco Gomes de Moura

    Desa. Maria Vilauba Fausto LopesDesa. Maria Gladys Lima Vieira Desa. Lisete de Sousa Gadelha

  • Des.Raimundo Nonato Silva SantosDes. Paulo Airton Albuquerque Filho

    Desa. Maria Edna Martins Des. Mrio Parente Tefilo Neto

    Desa. Tereze Neumann Duarte ChavesDes. Jos Tarclio Souza da Silva

    Desa. Maria de Fatima de Melo LoureiroDesa. Helena Lcia Soares

    Dra. Lgia Andrade de Alencar Magalhes - Juiza ConvocadaDr. Francisco Martnio Pontes de Vasconcelos - Juiz Convocado

    Dr. Francisco Carneiro Lima - Juiz ConvocadoDr. Pedro Henrique Genova de Castro - Secretrio Geral

    RGO ESPECIAL(Reunies s quintas-feiras com incio s 13h30min)

    Desa. Maria Iracema Martins do Vale - PresidenteDes. Fernando Luiz Ximenes RochaDes. Luiz Gerardo de Pontes Brgido

    Des. Antnio Abelardo Benevides MoraesDes. Francisco de Assis Filgueira Mendes

    Des. Francisco Lincoln Arajo e SilvaDes. Francisco Sales Neto

    Desa. Maria Nailde Pinheiro NogueiraDes. Haroldo Correia de Oliveira Mximo

    Des. Francisco Pedrosa TeixeiraDes. Clcio Aguiar de MagalhesDes. Emanuel Leite Albuquerque

    Des. Jucid Peixoto do AmaralDes. Francisco Gladyson Pontes

    Des. Francisco Darival Beserra PrimoDes. Incio de Alencar Cortez Neto

    Des. Washington Luis Bezerra de ArajoDesa. Maria Iraneide Moura SilvaDes. Luiz Evaldo Gonalves Leite

    Dr. Pedro Henrique Genova de Castro - Secretrio Geral

    CMARAS CVEIS REUNIDAS(Reunies s ltimas teras-feiras de cada ms, com incio s 13h30min)

    Des. Fernando Luiz Ximenes Rocha - PresidenteDes. Antnio Abelardo Benevides Moraes

    Des. Francisco Sales NetoDesa. Maria Nailde Pinheiro Nogueira

    Des. Francisco Pedrosa TeixeiraDesa. Vera Lcia Correia Lima

  • Des. Clcio Aguiar de MagalhesDes. Francisco Barbosa Filho

    Des. Emanuel Leite AlbuquerqueDesa. Srgia Maria Mendona Miranda

    Des. Jucid Peixoto do AmaralDes. Paulo Francisco Banhos Ponte

    Des. Durval Aires FilhoDes. Francisco Gladyson Pontes

    Des. Francisco Darival Beserra PrimoDes. Francisco Bezerra CavalcanteDes. Incio de Alencar Cortez Neto

    Des. Washington Luis Bezerra de ArajoDes. Carlos Alberto Mendes Forte

    Des. Teodoro Silva SantosDes. Carlos Rodrigues Feitosa

    Desa. Maria Iraneide Moura SilvaDesa. Maria Vilauba Fausto LopesDesa. Maria Gladys Lima Vieira Desa. Lisete de Sousa Gadelha

    Des.Raimundo Nonato Silva SantosDes. Paulo Airton Albuquerque Filho

    Desa. Tereze Neumann Duarte ChavesDes. Jos Tarclio Souza da Silva

    Desa. Maria de Fatima de Melo LoureiroDesa. Helena Lcia Soares

    Dra.Lgia Andrade de Alencar Magalhes - Juiza ConvocadaDr. Antnio Valdir de Almeida Filho - Secretrio

    1 CMARA CVEL(Reunies s segundas-feiras com incio s 13h30min)

    Des. Fernando Luiz Ximenes Rocha - PresidenteDes. Paulo Francisco Banhos Ponte

    Desa. Lisete de Sousa GadelhaDes. Paulo Airton Albuquerque Filho

    Dra. Naiana Rocha Frota Philomeno Gomes - Secretria

    2 CMARA CVEL(Reunies s quartas-feiras com incio s 13h30min)

    Des. Francisco Sales Neto- PresidenteDesa. Maria Nailde Pinheiro Nogueira

    Desa. Maria Iraneide Moura SilvaDesa. Tereze Neumann Duarte Chaves

    Dra. Carmelita Noemy Pereira Ferr - Secretria

  • 3 CMARA CVEL(Reunies s segundas-feiras com incio s 13h30min)

    Des. Antnio Abelardo Benevides Moraes - PresidenteDes. Francisco Gladyson Pontes

    Des. Incio de Alencar Cortez Neto Des. Washington Luis Bezerra de Arajo

    Dr. Abelardo Rodrigues Cavalcante - Secretrio

    4 CMARA CVEL(Reunies s quartas-feiras com incio s 13h30min)

    Des. Francisco Pedrosa Teixeira - Presidente Desa. Vera Lcia Correia Lima

    Des. Emanuel Leite AlbuquerqueDesa. Maria de Fatima de Melo LoureiroDr. Alexandre Ramos Garcia - Secretrio

    5 CMARA CVEL (Reunies s quartas-feiras com incio s 08h30min)

    Des. Clcio Aguiar de Magalhes - PresidenteDes. Francisco Barbosa Filho

    Des. Carlos Alberto Mendes ForteDes. Teodoro Silva Santos

    Dra. Daniela da Silva Clementino - Secretria

    6 CMARA CVEL(Reunies s quartas-feiras com incio s 08h30min)

    Desa. Srgia Maria Mendona Miranda - PresidenteDes. Jucid Peixoto do Amaral

    Desa. Maria Vilauba Fausto LopesDra.Lgia Andrade de Alencar Magalhes - Juiza Convocada

    Dra. Gergia Mrcia Coelho Ramos - Secretria

    7 CMARA CVEL(Reunies s teras-feiras com incio s 08h30min)

    Des. Durval Aires Filho - PresidenteDes. Francisco Bezerra CavalcanteDesa. Maria Gladys Lima Vieira

    Desa. Helena Lcia Soares Dra. Ktia Cilene Teixeira - Secretria

  • 8 CMARA CVEL(Reunies s teras-feiras com incio s 08h30min)

    Des. Francisco Darival Beserra Primo - PresidenteDes. Carlos Rodrigues Feitosa

    Des.Raimundo Nonato Silva SantosDes. Jos Tarclio Souza da Silva

    Dra. Michelle Oliveira Freitas - Secretria

    CMARAS CRIMINAIS REUNIDAS(Reunies s ltimas quartas-feiras de cada ms, com incio s 13h30min)

    Des. Luiz Gerardo de Pontes Brgido - PresidenteDes. Haroldo Correia de Oliveira Mximo

    Desa. Francisca Adelineide VianaDes. Luiz Evaldo Gonalves Leite Des. Francisco Gomes de Moura

    Desa. Maria Edna Martins Des. Mrio Parente Tefilo Neto

    Dr.Francisco Martnio Pontes de Vasconcelos - Juiz ConvocadoDr. Francisco Carneiro Lima - Juiz Convocado

    Dr. Antnio Valdir de Almeida Filho - Secretrio

    1 CMARA CRIMINAL(Reunies s teras-feiras com incio s 13h30min)

    Des. Luiz Gerardo de Pontes Brgido - PresidenteDesa. Maria Edna Martins

    Des. Mrio Parente Tefilo NetoDr.Francisco Martnio Pontes de Vasconcelos - Juiz Convocado

    Dr. Francisco Carneiro Lima - Juiz ConvocadoDr. Emanuel Andrade Linhares - Secretrio

    2 CMARA CRIMINAL(Reunies s teras-feiras com incio s 13h30min)

    Des. Haroldo Correia de Oliveira Mximo- PresidenteDesa. Francisca Adelineide VianaDes. Luiz Evaldo Gonalves Leite Des. Francisco Gomes de Moura

    Dra. Ana Amlia Feitosa Oliveira - Secretria

  • Sumrio

    Jurisprudncia Cvel

    Apelao Cvel ......................................................................................................15/289Agravo de Instrumento .......................................................................................293/361Agravo Regimental .............................................................................................365/412Ao Direta de Inconstitucionalidade .................................................................415/423Mandado de Segurana .......................................................................................427/468

    Jurisprudncia Criminal

    Apelao Crime ...................................................................................... 473/566Habeas Corpus ........................................................................................ 569/617

    ndice Alfabtico .................................................................................... 618/627

  • Jurisprudncia Cvel

  • Apelao Cvel

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    APELAO CVEL N: 0000960-46.2010.8.06.0071ORIGEM: 1 VARA DA CVEL DA COMARCA DE CRATO-CE.APELANTE: MIGUEL CAVALCANTE DE ALBUQUERQUEAPELADO: MUNICPIO DO CRATORELATORA: DESA. SRGIA MARIA MENDONA MIRANDARGO JULGADOR: 6 CMARA CVEL

    EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AO ORDINRIA. APELAO CVEL. SERVIDOR PBLICO. GUARDA MUNICIPAL DO MUNICPIO DE CRATO. JORNADA ININTERRUPTA DE 12 HORAS TRABALHADAS POR 36 HORAS DE DESCANSO. HORA EXTRA A PARTIR DA OITAVA HORA DIRIA TRABALHADA. PAGAMENTO DAS DIFERENAS. IMPOSSIBILIDADE NO CASO CONCRETO. NEGADO SEGUIMENTO AO APELO. SENTENA MANTIDA. 1. A jornada de trabalho fixada em escalas de 12x36 horas no gera ao pagamento de horas extras decorrentes do trabalho aps 8 hora diria, tendo em vista a compensao natural propiciada pelo descanso de 36 horas seguintes a cada 12 de trabalho. Precedentes do STJ.2. Negado seguimento ao Apelo. Sentena mantida

    RELATRIO

    Trata-se de Ao Ordinria proposta por servidor pblico, guarda municipal, contra o Municpio de Crato, com vistas ao recebimento de horas extras alegadamente decorrentes de extrapolao da jornada semanal de 40 horas, de desrespeito a intervalos intrajornada e de minutos que antecedem e que sucedem a jornada de trabalho.

    Julgada improcedente a lide, nos termos da sentena de pgs. 109/112, insurge-se o apelante, repisando a tese exposta na inicial e postulando a integral reforma do julgado.

    O recorrido apresentou contrarrazes apelao s pgs. 131/134.Inexistindo o interesse pblico a que alude o art. 53, inciso VI, do Regimento

    Interno desta Corte, deixei de submeter o feito douta Procuradoria Geral de Justia. o relatrio, no essencial para o deslinde da presente questo.

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    FUNDAMENTAO

    Presentes os requisitos de admissibilidade, conheo do Apelo, preparo dispensado por fora da Lei n 1.060/1950.

    Sem preliminares ou prejudiciais, passo anlise do mrito recursal.Pretende o autor da demanda o reconhecimento da ilegalidade do sistema

    de trabalho e receber horas extras referentes ao descanso semanal remunerado e s horas extra-jornada, com a utilizao do divisor de 180 horas.

    Inicialmente, saliento que a demanda deve ser analisada sob a tica do Direito Pblico, no se aplicando as disposies do Direito do Trabalho.

    No h bice ao cumprimento de jornada de trabalho especial assim prevista, na medida em que as horas excedentes oitava diria, considerado o nico dia repouso remunerado mensal, so compensadas pelas 36 horas de descanso.

    Na primeira semana de trabalho ultrapassa-se em 4 (quatro) horas o limite permitido (44 horas semanais), visto que os dias teis sero segunda, quarta, sexta e domingo, na semana seguinte compensa-se este excesso, j que a jornada semanal reduzida em 8 horas (dias teis, tera, quinta e sbado), o que alcana o total de 36 horas, resultando em compensao de 4 horas a favor do trabalhador.

    Com efeito, mostra-se descabido o argumento do apelante segundo o qual no teria base legal a sua jornada de trabalho, ou que deveria ser aplicado o quociente no valor de 180 (cento e oitenta) para o clculo das horas extras, pois o quociente adotado pela r para realizar o clculo de horas extras est previsto na Lei 2.136 de 27 de fevereiro de 2003, que altera a durao da jornada de trabalho dos servidores Pblicos do Municpio de Crato.

    Assim sendo, de ser aplicada a jornada de trabalho de 40 (quarenta) horas semanais estabelecida pela Lei municipal n 2.136/2003 que alterou o art. 9 da Lei n 2.061/2001, in verbis:

    Art. 9 A carga horria do servidor regido por esta Lei de 40 (quarenta) horas semais, desempenhadas em cada Secretaria, atravs de escalas estabelecidas pela Secretria de Administrao.

    Com jornada de trabalho de 40 (quarenta) horas semanais, o servidor trabalha 200 (duzentas) horas por ms, nos termos da Smula 431 do TST: Aplica-se o divisor 200 (duzentos) para o clculo do valor do salrio-hora do empregado sujeito a

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    40 (quarenta) horas semanais de trabalho. Com jornada de trabalho reduzida de 12 x 36, o servidor trabalha 180 horas/ms, como o caso do autor.

    Ademais, o entendimento do Superior Tribunal de Justia no socorre ao recorrente, conforme se verifica da transcrio abaixo:

    Sobre a jornada de 24 horas de trabalho por 72 de descanso (24x72), a mesma equivale jornada de 12 horas de trabalho por 36 de descanso (12x36), pois muito embora o servidor (no caso vigilante) trabalhe 48 horas nas trs primeiras semanas do ms, trabalha 24 horas na quarta semana, compensando a jornada semanal superior. Em cada semana, apesar de se trabalhar 48 horas, descansa-se 120 horas. Somadas as horas do ms, chega-se ao total de 168 horas trabalhadas, equivalendo a 42 horas por semana ou 6 horas por dia (que abrange o perodo de segunda a domingo). Desta feita, no regime de trabalho 24x72 (vinte e quatro horas de trabalho por setenta e duas horas de descanso), somente o tempo excedente s 24 horas dirias de trabalho que pode ser considerado como extraordinrio, pois no compensado com as 72 horas de descanso(REsp 977497/MA, Relator Ministro MARCO AURLIO BELLIZZE, DJU 09/08/2012) Grifo nosso.

    DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO FEDERAL. JORNADA DE TRABALHO ININTERRUPTA DE 12 HORAS POR 36 DE DESCANSO. ACRDO RECORRIDO FUNDADO EM MATRIA EMINENTEMENTE CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAO EM RECURSO ESPECIAL. VIOLAO AO ART. 535 DO CPC. NO-OCORRNCIA. FUNDAMENTOS SUFICIENTES A EMBASAR A DECISO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO.1. Conforme previsto no art. 535 do CPC, os embargos de declarao tm como objetivo sanar eventual obscuridade, contradio ou omisso existentes na deciso recorrida. No h omisso quando o Tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a questo posta nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes para embasar a deciso.2. O acrdo recorrido, ao entender possvel o regime de compensao de jornada de trabalho, o fez sob perspectiva eminentemente constitucional, pelo que refoge ao mbito do Superior Tribunal de Justia, em recurso especial, sua reapreciao. 3. Recurso especial conhecido e improvido.(REsp 799.888/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 30/08/2007, DJ 15/10/2007.) Grifo nosso.

    DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO FEDERAL. JORNADA DE TRABALHO ININTERRUPTA DE 12 HORAS POR 36 DE DESCANSO. ACRDO RECORRIDO FUNDADO EM MATRIA

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    EMINENTEMENTE CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAO EM RECURSO ESPECIAL. VIOLAO AO ART. 535 DO CPC. NO-OCORRNCIA. FUNDAMENTOS SUFICIENTES A EMBASAR A DECISO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO.1. Conforme previsto no art. 535 do CPC, os embargos de declarao tm como objetivo sanar eventual obscuridade, contradio ou omisso existentes na deciso recorrida. No h omisso quando o Tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a questo posta nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes para embasar a deciso.2. O acrdo recorrido, ao entender possvel o regime de compensao de jornada de trabalho, o fez sob perspectiva eminentemente constitucional, pelo que refoge ao mbito do Superior Tribunal de Justia, em recurso especial, sua reapreciao. 3. Recurso especial conhecido e improvido." (REsp 799.888/RS, Quinta Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ de 15.10.2007)

    Evidentemente, pela prpria natureza desse labor, o servidor se ativa em dias de domingos e feriados, mas certo tambm que, quando isso ocorre, descansa nas trinta e seis horas seguintes, o que implica dizer que h folga compensatria, inclusive com a observncia do intervalo interjornadas.

    Nesse sentido:

    (...)O art. 39, pargrafo 3, da Constituio Federal contempla os servidores pblicos com direito social previsto no inciso XIII do art. 7 da Carta Constitucional, que garante a durao de trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro horas semanais. J, o art. 19 da Lei n 8.112/90 reza que os servidores cumpriro jornada de trabalho fixada em razo das atribuies pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a durao mxima do trabalho semanal de quarenta horas e observados os limites mnimo e mximo de seis horas e oito horas respectivamente. No caso em apreo, incontroversa a questo de fato (o ex-servidor laborou em plantes de 12 horas com folga de 36 horas). Assim, demonstrado que cumprem jornada de trabalho superior ao mnimo previsto constitucionalmente, porm, no superior ao mximo. No tocante s horas que excedem o mnimo constitucionalmente previsto (8 horas), o artigo 7, XIII, da CF confere a faculdade de compensao de horrios e a reduo da jornada, feitas mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho, casos que, certo, no se aplicam no mbito da administrao pblica. Porm, como colocado com muita propriedade pelo eminente Juiz ANTNIO ALBINO RAMOS DE OLIVEIRA, na AC n 97.04.08417-0/RS, No se pode, porm, pr-excluir a possibilidade dessa compensao, pois isso levaria a uma excessiva rigidez do regime de

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    trabalho dos servidores pblicos, com prejuzo no s administrao e aos administrados como, tambm, aos prprios servidores. Nessa matria, ausente uma norma expressa que se aplique s relaes entre servidores e administrao, deve ser admitida alguma flexibilidade, temperada pelo princpio da razoabilidade.Assim, apesar do ex-servidor cumprir jornada de trabalho superior a 8 horas, considera-se, no caso, haver uma compensao do horrio, uma vez que trabalha 12 horas por dia (quatro horas alm do limite mximo permitido), mas descansa 36 horas (situao no estendida aos demais servidores que cumprem horrio normal de trabalho), no ultrapassando, assim, em tese, o limite mximo de durao do trabalho semanal de 40 horas. , pois, uma situao incomum, gerada por necessidades especficas da administrao e, at, do administrado - in casu, vigilncia permanente -, mas com uma compensao conferida ao servidor, qual seja o descanso de 36 horas.(RECURSO ESPECIAL N 956.123 - RS (2007/0123096-7), RELATORA: MINISTRA LAURITA VAZ,,Braslia (DF), 23 de fevereiro de 2011).

    Por outro bordo, os princpios da economia e celeridade processual garantem que, recursos em confronto com a jurisprudncia dominante deste Tribunal e tambm dos Tribunais Superiores possam ser decididos monocraticamente. H expressa autorizao legal nesse sentido, constante no artigo 557 caput do Cdigo de Processo Civil.

    O artigo 557 do Cdigo de Processo Civil dispe:

    Art. 557. O relator negar seguimento a recurso manifestamente inadmissvel, improcedente, prejudicado ou em confronto com smula ou com jurisprudncia dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. Grifo nosso.

    Pelas razes acima esposadas, deixo de submeter o presente recurso ao rgo colegiado.

    DISPOSITIVO

    Diante do exposto, considerando que a deciso recorrida est em sintonia com a doutrina, jurisprudncia e legislao mencionadas, conheo da Apelao para negar-lhe seguimento, nos termos do artigo 557, caput, do CPC, inalterada a sentena objurgada, inclusive no que pertine aos encargos sucumbenciais.

    Expedientes necessrios.

    Fortaleza, 14 de novembro de 2014.

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    APELAO CVEL e REEXAME NECESSRIO n 0136881-85.2013.8.06.0001. ORIGEM: 8 VARA DA FAZENDA PBLICA DE FORTALEZAAPELANTE/APELADO: DIEGO GEYSON XIMENES AGUIAR APELADO/APELANTE: ESTADO DO CEARRELATORA: DESA. SRGIA MARIA MENDONA MIRANDARGO JULGADOR: 6 CMARA CVEL

    EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAO CVEL. CONCURSO PBLICO. CANDIDATO APROVADO FORA DO NMERO DE VAGAS PREVISTAS NO EDITAL. PARTICIPAO NO CURSO DE FORMAO EM VIRTUDE DE LIMINAR PROFERIDA POR ESTA CORTE DE JUSTIA. INEXISTNCIA DE DIREITO SUBJETIVO A CONTINUAR NAS FILEIRAS DA POLCIA MILITAR DO ESTADO DO CEAR. INOBSERVNCIA DA NOTA DE CORTE PARA O LIMITE DE VAGAS PREVISTO NO EDITAL DO CERTAME. PERCEPO DE REMUNERAO PELOS SERVIOS EFETIVAMENTE PRESTADOS. POSSIBILIDADE. SENTENA PARCIALMENTE REFORMADA.1. O edital do certame vedava a convocao dos aprovados alm da 5.225 posio, o que no se revela inconstitucional, representando a norma interna do concurso, de modo que deve ser levado em considerao ante o princpio da vinculao s suas disposies.2. A simples obteno de nota superior ao mnimo exigido no edital no enseja em aprovao, por si s, na primeira fase de concurso pblico, devendo o candidato alcanara classificao exigida para participar da segunda fase do certame.3. A Jurisprudncia ptria j consagrou entendimento no sentido da possibilidade de se limitar a convocao de candidatos aprovados para a segunda etapa do certame, com o escopo de selecionar somente aqueles considerados mais aptos para o exerccio do cargo pretendido, a depender, portanto, do desempenho na fase antecedente do concurso pblico. 4. As condies exigidas para as fases subsequentes so

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    claras, razoveis e impostas a todos os participantes, entender o contrrio seria afrontar os princpios da isonomia, da legalidade e da vinculao ao instrumento convocatrio do edital, no se evidenciando pela da documentao carreada aos autos nenhuma ilegalidade passvel de anulao pelo Poder Judicirio.5. Quanto percepo da remunerao devida, tem-se que o autor, por meio de liminar concedida por esta Eg. Corte, ingressou no servio pblico, prestando-o imbudo de boa-f e albergado pelo princpio da inafastabilidade da jurisdio, ao passo que, por meio de determinao do Poder Judicirio prestava aquele servio pblico. 6. No se pode conceber que o promovente trabalhe sem a devida contraprestao, sob pena de constitui-se verdadeiro enriquecimento sem causa do Estado do Cear, motivo pelo qual tal atitude deve ser repulsada.7. Exigir do autor a comprovao de que no percebeu remunerao pelos servios prestados no se mostra razovel. Tal nus seria do prprio Estado, pois, constitui-se em elemento que extingue o direito do autor (art. 333, II, do CPC), sendo, inclusive, uma prova de fato negativa, considerada prova diablica para o requerente, de dificlima produo.8. O requerente/apelante trabalhou como Soldado da Polcia Militar do Estado do Cear, efetivamente prestando servios pblicos, no perodo correspondente de 27/06/2011 (conforme declarao, assinada pelo Comandante do 4 BPM, s fls. 65/66) at o dia 31/07/2013.9. Conhecidos os recursos para negar provimento ao Apelo do Estado do Cear, e, dar parcial provimento Apelao de Diego Geyson Ximenes Aguiar.

    Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Processo n 0136881-85.2013.8.06.0001, em que figuram as partes acima indicadas. Acorda a 6 Cmara Cvel do Egrgio Tribunal de Justia do Estado do Cear, por unanimidade, em conhecer da Apelao interposta pelo Estado do Cear, para negar-lhe provimento, e conhecer do Apelo manifestado por Diego Geyson Ximenes Aguiar para dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto da Relatora.

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    RELATRIO

    Tratam-se de Apelaes Cveis interpostas por Diego Geyson Ximenes Aguiar e pelo Estado do Cear em face de sentena proferida pelo Juzo da 8 Vara da Fazenda Pblica, a qual julgou parcialmente procedente os pedidos contidos na Ao de Obrigao de Fazer c/c Indenizao ajuizada pelo primeiro recorrente e Aliandro Gomes Barbosa em desfavor do ente estatal.

    Na inicial (pgs.01/13), os promoventes aduziram que se inscreveram em concurso pblico para o cargo de soldado da carreira de praas da Polcia Militar, nos moldes do edital n 01/2008. Asseveram que o referido certame possua 2.000 (duas mil) vagas, sendo 1.900 destinadas aos candidatos do sexo masculino e 100 para o sexo feminino.

    Afirmam que, segundo a banca organizadora, todos os candidatos que obtivessem mais de 42 pontos estariam classificados para realizar os exames mdicos (segunda etapa). Ocorre que, segundo alegam, no foram convocados para tal fim.

    Sustentam que o Estado, agindo ilegalmente, convocou aqueles que conseguiram maiores notas nas provas objetivas, dando posse a tais candidatos sem que fosse garantido e concludo o certame em relao aos demais.

    Mencionam que o Estado do Cear no conseguiu preencher as duas mil vagas, mesmo aps a realizao de cursos de formao. Asseveram que, visando o preenchimento de tais vagas ociosas, impetraram Mandado de Segurana que lhe garantiram, via liminar, o prosseguimento nas fases subsequentes do certame.

    Em virtude da referida liminar, realizaram exames mdicos e frequentaram o Curso de Formao, assumindo o cargo de soldado da PM, muito embora sem perceber os vencimentos que eram devidos. Aduzem que foram impedidos de realizar o exame final, conforme edital n 57/2010, D.O.E de 01/07/2010.

    Em continuidade, afirmam que, por uma questo de ordem tcnica, o aludido Mandado de Segurana est prestes a ser extinto sem apreciao do mrito, razo pela qual estaro sujeitos excluso dos quadros da Polcia Militar do Cear, sem ter percebido os vencimentos que lhes eram devidos.

    Diante desses fatos, requerem a confirmao dos efeitos da antecipao da tutela jurisdicional para que o Estado do Cear seja obrigado a garantir a sua manuteno no cargo, devendo perceber os provimentos devidos. Ainda como pleito liminar, requerem que o promovido se abstenha de nomear novos aprovados e que sejam os autores includos na folha de pagamento do Estado, exercendo o mister inerente ao cargo de Policial Militar.

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    Ao fim, pleitearam o julgamento procedente da demanda, com o fito de tornar definitiva a liminar concedida, condenando o Estado a nomear os promoventes, concedendo-lhes o certificado de concluso do Curso de Formao, pagando as remuneraes inadimplidas e indenizao por danos materiais e morais sofridos.

    Despacho pg. 266, em que o Juzo de primeiro grau recebeu a exordial e reservou-se apreciao dos pleitos antecipatrios em momento posterior formao do contraditrio.

    O Estado do Cear s pgs. 268/285, manifestou-se pelo indeferimento do pedido de antecipao de tutela, tendo os requerentes apresentado resposta manifestao do ente estatal s pgs. 286/290.

    Sentenciando o feito (pgs. 352/357), o magistrado de primeiro grau julgou improcedente a demanda, sob o fundamento de que os autores no foram aprovados dentro do nmero de vagas ofertadas, considerando, tambm, a inexistncia de qualquer ilegalidade na esfera administrativa.

    Foram opostos Embargos de Declarao s pgs. 362/368. Aps contrarrazes prestadas pelo Estado do Cear, o magistrado de plancie deu parcial provimento ao recurso, reformando a sua deciso no sentido de condenar o Estado ao pagamento dos valores oriundos da prestao de servio de Soldado da Polcia Militar que desempenharam os requerentes no perodo 27/06/2011 a 11/04/2012.

    Diego Geyson Ximenes Aguiar interps Apelao (pgs.394/408), apresentando como principais fundamentos, em suma: a) inconstitucionalidade e ilegalidade da chamada clusula de barreira, bem como ferimento ao princpio da isonomia; b) inconstitucionalidade e ilegalidade do aditivo feito ao edital; c) impossibilidade de se usar a ordem de classificao como critrio para desclassificao de candidato; d) necessidade de reforma da deciso no que se refere ao pagamento do perodo laborado, constando como perodo final o dia 31/07/2013.

    Ao final, requer a reforma da deciso, para que sejam julgados procedentes os pedidos formulados na petio inicial, bem como para que se condene o Estado do Cear ao pagamento de soldos at a data do efetivo desligamento do recorrente.

    O ente estatal tambm apresentou Recurso de Apelao (pgs. 413/422), alinhando como principais argumentos de sua irresignao a inadequao da via eleita em relao ao pagamento da remunerao, falta de prova e impossibilidade de execuo em ao autnoma. Requerendo, finalmente, a extino da demanda sem resoluo do mrito, nos termos do ar. 267, inciso VI, do CPC.

    Contrarrazes do Estado s pgs.423/445, e do promovente s pgs. 449/451.

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    A douta Procuradoria Geral de Justia ofertou parecer s pgs.462/482, opinando pelo desprovimento do recurso interposto pelo Estado do Cear e pelo parcial provimento do Apelo apresentado por Diego Geyson Ximenes Aguiar, apenas para reformar a deciso no que tange ao perodo efetivamente laborado para efeitos de adimplemento vencimental.

    o relatrio, no essencial.

    VOTO

    Impondo-se um juzo antecedente de admissibilidade recursal, conheo do presente recurso voluntrio, eis que prprio, interposto tempestivamente, realizado o devido preparo, encontrando-se, pois, presentes os chamados requisitos intrnsecos (legitimidade, interesse e cabimento) e extrnsecos (preparo, adequao, regularidade formal e inexistncia de fato impeditivo, suspensivo ou impeditivo do direito de recorrer) ao transpasse para o julgamento de mrito.

    Conforme brevemente relatado, trata-se de Ao Ordinria em que candidatos inscritos em concurso pblico para o preenchimento de cargos dos quadros da Polcia Militar do Cear visam a sua nomeao no cargo de Soldado da Polcia Militar, alm da condenao do Estado do Cear ao pagamento de indenizao por danos materiais e morais.

    Prossigo a uma anlise conjunta dos recursos interpostos, posto que, no que pertine ao pagamento do perodo supostamente laborado, estes se imiscuem.

    1. Ingresso permanente do primeiro apelante nos quadros da Polcia Militar do Cear.

    Diego Geyson Ximenes Aguiar teve assegurada a matrcula no Curso de Formao Profissional, e, manuteno no cargo de Soldado da PMCE, por fora de deciso liminar proferida nos autos do Mandado de Segurana de n 0002581-63.2011.8.06.0000. Transcrevo excerto da deciso constante das pgs. 389/390 do referido processo:

    Face ao exposto, reconsidero a deciso de fls. 13/18, para CONCEDER initio litis e inaudita altera pars, o pedido liminar formulado pelo Autores anteriormente relacionados, deixando de atender ao pedido dos demais impetrantes no enumerados, em razo da insuficincia da documentao apresentada, no sentido de ordenar ao Comandante Geral da Polcia

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    Militar do Estado, e demais autoridades envolvidas na seleo, a imediata matrcula no Curso de Formao Profissional que est em andamento, sob a responsabilidade da UECE, para ocupao de cargo de soldado da PMCE, regulamentado pelo Edital n. 01/2008; que esta determinao judicial seja de logo cumprida pela autoridade impetrada ou quem suas vezes fizer, sob pena de multa diria de hum mil reais (RS 1.000,00) em caso de desobedincia, de modo que os impetrantes matriculados sejam mantidos no status de soldado e no sejam excludos do aludido cargo ao final do Curso de Formao, salvo se assim deliberado por este Juzo, ficando assim garantidos aos candidatos impetrantes a identificao militar, fardamentos para que possam assumir o novo cargo, conferindo-se-lhes os efeitos legais e funcionais decorrentes.

    Cabe ressaltar que o demandante ingressou na lide como litisconsorte ativo na mesma deciso referenciada, cujo trecho tambm merece transcrio (pg. 386 do writ):

    Desta forma, ante os permissivos legais do art. 46 do CPC e do art. 294 da nova Lei do Mandado de Segurana, em tudo aplicveis espcie, admito a relao litisconsorcial requestada na pessoa dos seguintes candidatos: ALEXANDRE GOMES DOS SANTOS, ALIANDRO GOMES BARBOSA, DIEGO GEYSON XIMENES AGUIAR, ALLAN RODRIGUES GOMES, ERYVAN DE ALMEIDA LIRA (...)

    Ocorre que tal deciso foi revogada e teve seus efeitos anulados por fora da extino da ao mandamental, com fulcro no art. 267, VI, do CPC, tendo o rgo Especial desta e. Corte entendido, em relao aos litisconsortes, ser impossvel sua formao ativa em fase ulterior, e em relao ao impetrante inicial, no haver sido identificado o direito lquido e certo alegado. Processo julgado na Sesso do rgo Especial do dia 16/05/2013 (fls. 847 dos autos do MS n 0002581-63.2011.8.06.0000).

    Mesmo antes da extino do mandamus o demandante ingressou com Ao de Obrigao de fazer c/c indenizao e pedido liminar de antecipao de tutela, pretendendo assegurar a sua manuteno no cargo que ocupava, no obstante a situao precria que se constitura e que o amparava em condio sub judice.

    De todo o exposto, observa-se que o direito ao regular exerccio do cargo e o devido acesso, que foi assegurado ao demandante atravs de medida liminar em sede de Mandado de Segurana, foram matrias amplamente apreciadas, tanto no julgamento do writ, quanto na ao posteriormente manejada, de obrigao de fazer, objeto de recurso de apelao.

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    foroso admitir, diante do exaustivo exame, que o direito no ampara o demandante. E isto se d basicamente pelo fato de que o mesmo logrou apenas a 23.838 posio, num certame que vedava a convocao dos aprovados alm da 5.225 posio. Esta era a condio sine qua non para a aprovao definitiva, independentemente da pontuao obtida, sendo este o fundamento a que se ateve, equivocadamente, o autor.

    Os ora Recorrentes prestaram concurso para o provimento de vagas do cargo de soldado da carreira de praas da Polcia Militar, de acordo com as normas previstas no Edital n. 01/2008, publicado em 09/06/08.

    O mencionado edital previa, inicialmente, a existncia de 2.000 (duas mil) vagas, 1.900 (mil e novecentas) para os candidatos do sexo masculino e 100 (cem) para o sexo feminino, sendo que, dos aprovados na primeira etapa do certame, 2.850 (dois mil oitocentos e cinquenta) candidatos do sexo masculino seriam chamados a participar da segunda fase, exames mdicos, e da terceira o Curso de formao profissional.

    Nesse sentido, no h qualquer ilegalidade no edital do certame em limitar o nmero de convocados para a fase posterior do concurso com base na nota obtida. A previso editalcia clara ao estabelecer que, dentre os aprovados na primeira etapa da concorrncia pblica, somente 2.850 (dois mil oitocentos e cinquenta) candidatos do sexo masculino seriam chamados a participar da segunda fase, item 8.3.

    Ressalto que "a limitao de convocao de candidatos aprovados para a segunda etapa do certame tem por escopo selecionar os melhores e mais aptos para o exerccio da profisso, de sorte que os classificados na primeira etapa do concurso tm somente expectativa de direito convocao para as demais fases, o que no basta para obter tutela mandamental." (STJ - RMS 24971/BA - Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana, Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho, Quinta Turma, j. em 28/08/2008, DJ 22/09/2008).

    A meu sentir, a regra acima mencionada, contida no item 8.3 do edital 01/2008, passa longe da pecha de ilegal que pretende lhe adjetivar o ora recorrente. Ademais, quando a Administrao resolveu convocar mais do que os 2.850 estabelecidos inicialmente, agiu dentro da sua convenincia e oportunidade, posto que foi respeitada a ordem de classificao.

    Nesse desiderato, o ente Estatal, a partir da discricionariedade conferida para a hiptese de nova convocao, valeu-se de critrios de convenincia e oportunidade, para entender por bem realizar uma nica nova chamada, no havendo irregularidade nesse proceder a ser reconhecida e dirimida pelo Poder Judicirio.

    O Edital n 01/2009, portanto, foi alterado pelo Edital n 79/2009, estabelecendo-se, no subitem 8.3, como convocveis para fase ulterior apenas os que

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    se classificassem at a 5.225 colocao, se do sexo masculino, e 275 lugar, para as candidatas do sexo feminino, de modo que inexiste direito a amparar ao promovente/apelante.

    Como dito, o recorrente, na primeira etapa, classificou-se na 23.838 colocao, com a pontuao de 51,00 (cinquenta e um) pontos, conforme pg. 307.

    Como se observa nos autos, pg. 307, o ltimo candidato, do sexo masculino, convocado para a inspeo de sade obteve nota de 72,50 (setenta e dois inteiros cinquenta dcimos) pontos, estando na 5.225 colocao, e, por bvio, o ora Recorrente deixou de s-lo, uma vez que ocupava a 23.838 colocao.

    Nessas condies, tenho que no assiste ao Recorrente qualquer direito a ser resguardado na hiptese, uma vez que no obteve classificao dentro do nmero de vagas fixado no Edital.

    Dessa forma, a simples obteno de nota superior ao mnimo exigido no edital no enseja em aprovao, por si s, na primeira fase de concurso pblico, devendo o candidato lograr classificao exigida para participar da segunda fase do concurso. Inexiste direito ao apelante de participar da etapa subsequente, curso de formao, pois se deve respeitar a classificao final do concurso e as vagas delimitadas pelo edital.

    Ora, o edital do certame vedava a convocao dos aprovados alm da 5.225 posio, o que, ao contrrio do que argumenta o autor/recorrente, no inconstitucional, representando a norma interna do concurso, o que deve ser levado em considerao ante o princpio da vinculao s suas disposies, sendo que o promovente se submeteu aos ditames ali assinalados no ato de sua inscrio.

    Como j dito a jurisprudncia ptria j consagrou entendimento no sentido da possibilidade de se limitar a convocao de candidatos aprovados para a segunda etapa do certame, com o escopo de selecionar somente aqueles considerados mais aptos para o exerccio do cargo pretendido, a depender, portanto, do desempenho na fase antecedente do certame.

    Trago colao de julgados proferidos pelo e. STJ, expressando o entendimento daquela Corte de Justia:

    RECURSO EM MANDADO DE SEGURANA. CONCURSO PBLICO PARA O PROVIMENTO DE CARGO DE DELEGADO DE POLCIA. CANDIDATO APROVADO FORA DO NMERO DE VAGAS. PRETENSO DE CONVOCAO PARA SEGUNDA ETAPA DO CERTAME. DIREITO LQUIDO E CERTO NO RECONHECIDO. CONVOCAO DE CANDIDATOS POR FORA DE DECISO JUDICIAL. INOCORRNCIA DE PRETERIO. RECURSO DESPROVIDO.

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    1. A definio dos critrios utilizados para se alcanar o perfil do candidato, de acordo com as atividades que sero exercidas, feita de forma discricionria pela Administrao, que, com base na oportunidade e convenincia do momento, estabelece as diretrizes a serem seguidas na escolha dos candidatos.2. A limitao de convocao de candidatos aprovados para a segunda etapa do certame tem por escopo selecionar os melhores e mais aptos para o exerccio da profisso, de sorte que os classificados na primeira etapa do concurso tm somente expectativa de direito convocao para as demais fases, o que no basta para obter tutela mandamental. 3. A convocao de candidatos por fora de medida judicial, no implica em violao de direito individual dos candidatos remanescentes que no foram beneficiados com decises judiciais, uma vez que a coisa julgada no se estende a terceiros estranhos ao processo. 4. No presente caso, o recorrente atingiu a pontuao mnima exigida, porm no se classificou dentro do limite estipulado para participao na segunda fase do concurso, conforme requisito exposto no Edital, de sorte que no h direito lquido e certo a ser amparado pelo writ. 5. Recurso Ordinrio desprovido, em consonncia com o parecer ministerial.(STJ. 5 Turma. ROMS 24.971/BA. Relator Ministro NAPOLEO NUNES MAIA FILHO. DJe 22.09.2008). Grifo nossos.

    PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA. AUSNCIA DE IMPUGNAO AOS FUNDAMENTOS DA DECISO AGRAVADA. SMULA N. 182 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA. CONCURSO PBLICO. PARTICIPAO DA FASE DE APRESENTAO DOS TTULOS LIMITADA PELO EDITAL. CLASSIFICAO DO ORA AGRAVANTE EM COLOCAO SUPERIOR AO LIMITE PREESTABELECIDO. 1. O Agravante, nas razes do regimental, no impugnou especificamente os fundamentos da deciso hostilizada, razo pela qual impe-se a aplicao do enunciado n. 182 desta Corte Superior. 2. O Edital n. 001/2001 cristalino ao informar que, aps a aprovao e classificao nas Provas 1 e 2, somente seriam convocados para participao na apresentao dos ttulos, os candidatos aprovados e classificados dentro do limite de at duas vezes o nmero de vagas para o cargos de Controlador de Recursos Pblicos cargo para o qual concorreu o Impetrante, na rea de conhecimento de Direito - que tinha 16 vagas. Ocorre que, o ora Recorrente classificou-se em 117 lugar, no logrando alcanar, na forma do edital, classificao mnima suficiente para a apresentao do ttulo. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ. 5 Turma. AgRg no ROMS 22.914/ES. Relatora Ministra LAURITA VAZ. DJU 06.08.2007).Grifo nosso.

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    Assim, relativamente possibilidade de se admitir a participao do recorrente nas demais fases do concurso pblico, deve-se considerar que todos os candidatos se submetem s normas lanadas no Edital, as quais representam a concreta aplicao do princpio da discricionariedade administrativa, obedecidas as normas legais regente da espcie.

    Tal instrumento expressa todas as regras e diretrizes do concurso pblico, alm de prever as vagas as quais visa preencher, obedecidas as normas financeiras e oramentrias para o provimento dos cargos em disputa.

    Deve-se salientar, ademais, que a inscrio no certame conduz concluso inequvoca de que o candidato aceitou todas as normas ali constantes, em especial, a possibilidade de limitao dos classificados aptos para o ingresso em fase posterior do concurso, o que deve ser pautado pela observncia dos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade.

    Tal ocorrncia conhecida como clusula de barreira ou clusula de eficincia, que admitida pelo Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justia, que afasta o direito do autor/apelante, uma vez fora do limite vlido para o prosseguimento nas demais fases do concurso, conforme adiante se v:

    RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA. CONCURSO PBLICO PARA O CARGO DE AGENTE E ESCRIVO DE POLCIA CIVIL DO ESTADO DA BAHIA. CANDIDATOS HABILITADOS NA PRIMEIRA FASE DO CERTAME. LIMITAO DOS CONVOCVEIS PARA PARTICIPAO NA SEGUNDA ETAPA DO PROCESSO SELETIVO. INEXISTNCIA DE DIREITO SUBJETIVO. ATO DISCRICIONRIO DA ADMINISTRAO QUE RESPEITOU OS PRINCPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. A definio dos critrios utilizados para se obter o perfil do candidato, de acordo com as atividades que sero exercidas, feita de modo discricionrio pela Administrao, com base na oportunidade e convenincia administrativas, estabelecendo diretrizes a serem seguidas na escolha dos candidatos.2. A limitao de convocao de candidatos aprovados para a segunda etapa do certame tem por escopo selecionar os melhores e mais aptos para o exerccio do cargo, de sorte que os classificados na primeira etapa do concurso tm somente expectativa de direito convocao para as demais fases, o que no basta para obter tutela mandamental.3. induvidoso que no se pode impor Administrao Pblica convocar todos os habilitados em determinada fase do certame para as

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    remanescentes, pela flagrante inviabilidade material do procedimento, bem como pela sua discrepncia com o princpio da razoabilidade. (...)(RMS 29.892/BA, Rel. Ministro NAPOLEO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 10/08/2010, DJe 06/09/2010) Grifo nossos.

    Recurso ordinrio em mandado de segurana. 1. Impugnao de clusula de edital de concurso pblico. Decadncia. Termo inicial. Momento em que a disposio editalcia causar prejuzo ao candidato impetrante.2. Carter precrio e transitrio da concesso liminar mandamental.3. A estipulao, em edital de concurso pblico, da denominada clusula de barreira que estipula a quantidade de candidatos aptos a prosseguir nas diversas fases do certame no viola a Constituio Federal.4. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.(STF, RMS 23586, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 25/10/2011, DJe-217 DIVULG 14-11-2011 PUBLIC 16-11-2011 EMENT VOL-02626-01 PP-00014). Grifo nosso.

    AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PBLICO. LIMITAO DO NMERO DE HABILITADOS NA FASE ANTERIOR PARA PARTICIPAO NA SUBSEQUENTE. POSSIBILIDADE. ABERTURA DE NOVO CONCURSO. DIREITO PARTICIPAO EM CURSO DE FORMAO. INEXISTNCIA. PRAZO DE VALIDADE. LEGISLAO INFRACONSTITUCIONAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.1. No viola a Constituio Federal a limitao, pelo edital do concurso, do nmero de candidatos que participaro das fases subsequentes do certame, ainda que importe na eliminao de participantes que, no obstante tenham atingido as notas mnimas necessrias habilitao, tenham se classificado alm do nmero de vagas previsto no instrumento convocatrio.2. A Corte de origem concluiu, com base nas Leis ns 8.112/90 e 8.541/92 e nos fatos e nas provas dos autos, que o prazo do concurso do qual participava o ora recorrente j havia expirado quando da abertura da nova seleo.3. Inadmissvel, em recurso extraordinrio, a anlise da legislao infraconstitucional e o reexame dos fatos e das provas dos autos. Incidncia das Smulas ns 636 e 279/STF.4. Agravo regimental no provido.(STF, AI 735389 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 11/09/2012, ACRDO ELETRNICO DJe-189 DIVULG 25-09-2012 PUBLIC 26-09-2012). Grifo nosso.

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    Noutra vertente, o STJ tambm tem entendimento contrrio ao interesse do apelante/promovente, o qual ora adotamos, por no admitir a possibilidade de aproveitamento de candidatos classificados fora do nmero de vagas previsto em edital, mesmo diante da supervenincia de lei que crie novas vagas:

    RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PBLICO PARA PROVIMENTO DO CARGO DE AGENTE PENITENCIRIO. EDITAL N. 13/2006. CANDIDATOS CLASSIFICADOS FORA DO NMERO DE VAGAS ORIGINARIAMENTE PREVISTAS NO EDITAL. SUPERVENINCIA DE LEI ESTADUAL. AUMENTO DO NMERO DE CARGOS. INEXISTNCIA DE DIREITO LQUIDO E CERTO. EXPECTATIVA DE DIREITO. 1. De acordo com a jurisprudncia consolidada no Superior Tribunal de Justia, no h falar em direito lquido e certo nomeao de candidatos que, aprovados em determinada fase do concurso, no se classificaram dentro do nmero de vagas oferecidas no edital. 2. No presente caso, a criao de novas vagas durante o certame no favoreceu os recorrentes, porquanto repercutiu apenas para fins de provimento dos cargos. 3. Segundo os clculos matemticos de classificao contidos no edital, os recorrentes no obtiveram a pontuao necessria para se classificar dentro do nmero de vagas oferecidas. Ausncia de direito subjetivo. 4. Recurso ordinrio em mandado de segurana improvido. (RMS 30.085/CE, Rel. Ministro SEBASTIO REIS JNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 20/06/2013, DJe 01/08/2013). Grifo nossos.

    Assim, a ttulo de complementao, o STJ firmou entendimento no sentido de que os candidatos aprovados fora do nmero de vagas previstas em edital no detm direito lquido e certo nomeao, mesmo diante do surgimento de novas vagas. (MS 20.079/DF, Ministro Benedito Gonalves, Primeira Seo, julgado em 09/04/2014, DJe 14/04;2014).

    Sobre a aludida limitao, este Tribunal tem entendimento no mesmo sentido:

    EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO PBLICO. DELEGADO DE POLCIA CIVIL DO CEAR. NMERO DE VAGAS ESTABELECIDO NO EDITAL. LIMITE DE CLASSIFICADOS PARA PARTICIPAO EM FASES SUBSEQUENTES. POSSIBILIDADE. LEI SUPERVENIENTE CRIANDO NOVOS CARGOS. INALTERADO O EDITAL. CANDIDATO CLASSIFICADO FORA DO NMERO

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    DE VAGAS. TUTELA ANTECIPADA. FUNGIBILIDADE. MEDIDA CAUTELAR. FUMUS BONI IURIS. NO VISLUMBRADO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A fumaa do bom direito deve gerar um sentimento de credibilidade no julgador acerca do direito alegado. 2. O limite do nmero de candidatos aptos a participar das subsequentes fases do concurso pblico, de acordo com a sua classificao, lcito e aceito pelos Tribunais, em razo do poder discricionrio da Administrao Pblica. 3. No h que se falar em alterao automtica das regras editalcias em razo da publicao de lei, criando novos cargos. 4. Recurso conhecido e provido. Suspensividade ratificada. Deciso reformada."(TERCEIRA CMARA CVEL, Agravo de Instrumento n: 30512-46.2008.8.06.0000/0, Rel. Des. ANTNIO ABELARDO BENEVIDES MORAES. Data da pub. 16/08/2011, DJe 24/10/2011 )

    Pelo teor da documentao trazida colao, conforme se viu o demandante/apelante foi classificado em colocao bem alm do limite previsto no edital, no atingindo posio que lhe assegurasse e no eliminao na prova, embora, tenha superada a pontuao mnima,42 (quarenta e dois) pontos, prevista no edital, de modo que no implementou a segunda condio para se habilitar na fase seguinte, tendo em vista que no comps o grupo que se classificou at a 2.851 posio, classificao essa prevista inicialmente para o sexo masculino, e tampouco entre as classificaes do intervalo entre as posies 2.851 a 5.225, estas majoradas pelo edital n 79/2009.

    Desse modo, tendo alcanado o candidato a posio n 23.838, obtendo nota inferior a do ltimo classificado, nos termos do item 8.3 do citado instrumento, impossvel ter o mesmo direito ao pleito perscrutado, de modo que o recorrente/autor deixou de preencher um dos requisitos cumulativos e de carter eliminatrio. Nesse sentido, importante destacar o que afirmou o Eminente Desembargador Francisco de Assis Filgueira Mendes, nos autos do Mandado de Segurana n 0002581-63.2011.8.06.0000:

    O edital do concurso, por seu turno, claro quando prev no item 8.3. que seriam convocados para realizar a segunda etapa inspeo de sade os candidatos aprovados na prova objetiva e classificados at o de nmero 2.850, se do sexo masculino, ou seja, para a aprovao na 1 fase do aludido certame e habilitao para a segunda etapa, o candidato, alm de obter a nota mnima exigida (42,00 pontos) na Prova de Conhecimentos Gerais, tambm deveria se classificar dentro do limite previsto para a convocao na segunda etapa do concurso, entre as 2.850 melhores notas, o que no o caso dos autos, pois o impetrante atingiu a nota 51 e sequer foi convocado

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    para a 2 Etapa Inspeo de Sade em virtude de sua classificao (23.365 posio), e conforme informaes da FUNECE (fl. 20), o ltimo candidato, do sexo masculino, convocado para a Inspeo de Sade visando a Turma 2 do Certame obteve 72,50 (setenta e dois vrgula cinquenta) pontos na Prova Objetiva da 1 Etapa e est classificado na 5225 posio

    As condies exigidas para as fases subsequentes so claras, razoveis e impostas a todos os participantes, entender o contrrio seria afrontar os princpios da isonomia, da legalidade e da vinculao ao instrumento convocatrio do edital, no se evidenciando pela da documentao carreada aos autos nenhuma ilegalidade passvel de anulao pelo Poder Judicirio.

    Nesse mesmo sentido, decidindo questes idnticas a que ora se aprecia, j decidiu esta Egrgia Corte de Justia:

    DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. APELAO. INOCORRNCIA. CONCURSO PBLICO. CANDIDATO APROVADO FORA DO NMERO DE VAGAS PREVISTA NO EDITAL. PARTICIPAO EM CURSO DE FORMAO EM VIRTUDE DE LIMINAR. INEXISTNCIA DE DIREITO SUBJETIVO A CONTINUAR NAS FILEIRAS DA POLCIA MILITAR. DANOS MORAIS. INEXISTNCIA. APELAO CONHECIDA, MAS IMPROVIDA. SENTENA CONFIRMADAPRELIMINARES DE LITISPENDNCIA E CERCEAMENTO DE DEFESA..(...)5. A simples obteno de nota superior ao exigido no edital no enseja em aprovao, por si s, na primeira fase de concurso pblico, devendo o candidato estar dentro da classificao exigida para participar da segunda fase do concurso. Inexiste direito ao apelante de participar da etapa subsequente, curso de formao, tendo em vista estar classificado muito alm das vagas previstas no edital.6. No caso, o candidato assumiu a funo em virtude de liminar, o qual ensejou a anotao em sua carteira funcional de sub judice; inexistindo, assim, ato ilegal por parte da Administrao que acarrete a ocorrncia de danos morais.7. Apelao conhecida, mas improvida. Sentena Confirmada.(TJCE, 5 Cmara Cvel, Relator: Desembargador Clcio Aguiar de Magalhes, Apelao Cvel n 0139242-75.2013.8.06.0001, publicado em 04/12/2013) Grifo nosso.

    J tendo, inclusive, esta 6 Cmara Cvel se manifestado acerca do tema, conforme denota o julgado de minha relatoria a seguir ementado:

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    AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AO ORDINRIA. CONCURSO PBLICO PARA SOLDADO DA POLCIA MILITAR. CURSO DE FORMAO. INOBSERVNCIA DA NOTA DE CORTE PARA O LIMITE DE VAGAS PREVISTO NO EDITAL DO CONCURSO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO CONHECIDO E IMPROVIDO.1. O edital estabelece que ser reprovado na prova objetiva e automaticamente eliminado do concurso o candidato que obtiver nota inferior a 42,00 pontos, sendo convocado para a fase de inspeo de sade e curso de formao aqueles classificados at o 2.850 lugar, se do sexo masculino, e at o 150 lugar, se do sexo feminino.2. Na espcie, o autor da ao ordinria, ora agravante, obteve nota inferior a do ltimo classificado nos termos do item 8.3 do citado instrumento alterado pelo edital n. 079/2009, e deseja participar das demais fases, inclusive matrcula no curso de formao, sob fundamento da possibilidade de convocao para realizao da segunda etapa dos candidatos aprovados na prova objetiva at o 5.225 lugar, todavia sem atingir a respectiva nota de corte.3. No tendo sido convocado para a fase de inspeo mdico-odontolgica no possui, outrossim, direito participao no multicitado curso, sob pena de violao dos princpios da isonomia, da impessoalidade e do acesso meritocrtico cargo ou emprego pblico, previstos no art. 37, e seu inciso II, da CRFB.4. Agravo conhecido e improvido. (TJ/CE, Agravo de Instrumento 3420215201080600000, Relator(a): SRGIA MARIA MENDONA MIRANDA, Comarca: Fortaleza, rgo julgador: 6 Cmara Cvel, Data de registro: 10/01/2011). Grifo nossos.

    Por fora dos argumentos acima expendidos, ante a ausncia de prova robusta, e certo de que o candidato acima nominado nunca esteve apto a continuar no curso para ingresso na carreira de Policial Militar, da porque no convocado para Inspeo de Sade (2 etapa) e Curso de Formao Profissional (3 etapa) que se vislumbra a inexistncia do direito postulado.

    Outrossim, sobre a alegao de ilegalidade e inconstitucionalidade na alterao editalcia para que fossem includos novos candidatos para se classificarem segunda fase do certame, entendo que esta se deu dentro da discricionariedade conferida Administrao Pblica, tendo obedecido, inclusive, aos princpios insculpidos no art. 37, da Constituio Federal.

    Tem-se que o objetivo da administrao fora o de permitir que o quadro de pessoal da Polcia Militar do Cear fosse efetivamente preenchido, o que no nos

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    parece ir de encontro legislao ptria, vez que inserido nos critrios de convenincia e oportunidade que detm a Administrao Pblica.

    2. Do pagamento devido ao apelante pelo perodo laborado.

    oportuno anotar que a questo ora em anlise envolve o mrito de ambos os recursos apelatrios. O primeiro, de autoria do candidato, visa ampliao do perodo tido como de efetivo servio concedido pelo juzo a quo. O segundo, por outro lado, tenta demonstrar a impossibilidade de ser feito tal pagamento.

    Os argumentos do Estado do Cear no merecem prosperar, isso porque, se comprovado determinado perodo de efetivo servio prestado por algum mquina pblica, excetuando-se o trabalho voluntrio e contanto que prestado de boa-f, dever ser remunerado.

    Analisando-se a via eleita, o autor assumiu a funo de Soldado da PM com fundamento em deciso liminar proferida do Mandado de Segurana n 00002581-63.2011.8.06.0000. Com efeito, o requerimento de parcelas anteriores em Mandado de Segurana no legtimo, a teor das Smulas n 269 e 271, do STF, pelo que considero adequada a presente ao.

    No h bice em se buscar os aludidos vencimentos em ao prpria. Mesmo que o aludido mandamus tivesse a segurana concedida, o impetrante deveria buscar as remuneraes no adimplidas em demanda autnoma, caso o Estado do Cear no as pagassem de maneira voluntria, observando-se apenas o prazo prescricional.

    No caso dos autos, percebe-se, claramente, que o autor, por meio de liminar concedida por esta Eg. Corte, ingressou no servio pblico, prestando-o imbudo de boa-f e albergado pelo princpio da inafastabilidade da jurisdio, ao passo que, por meio de determinao do Poder Judicirio, prestava aquele servio pblico.

    Desse modo, no se pode conceber que o promovente trabalhe sem a devida contraprestao, sob pena de constitui-se verdadeiro enriquecimento sem causa do Estado do Cear, motivo pelo qual tal atitude deve ser repulsada.

    Quanto aos nus da prova, tem-se, nos termos do art. 333 do CPC, que ao autor cabe provar o fato constitutivo do seu direito, enquanto o ru cabe a prova relativa existncia de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

    Na hiptese dos autos, restou incontroverso que a parte autora/recorrente laborou no servio pblico por meio de deciso concedida no aludido Mandado de Segurana. A partir dessa premissa, resta constitudo o direito daquele que prestou seus servios ao Estado em receber as remuneraes devidas.

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    Outrossim, exigir que se comprove o no adimplemento no se mostra razovel. Tal nus, na esteira do parecer da PGJ, seria do prprio Estado, pois constitui-se em um elemento que extingue o direito do autor (art. 333, II, do CPC), sendo, inclusive, uma prova de fato negativa, considerada prova diablica para o requerente.

    Nesse sentido j se pronunciou a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia:

    ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. CONCURSO PBLICO. MANDADO DE SEGURANA. DEMONSTRAO DE DIREITO LQUIDO E CERTO. CLUSULA DO EDITAL DO CONCURSO. REVISO. MATRIA FTICO-PROBATRIA. INCIDNCIA DAS SMULAS 5 E 7/STJ. EXIGNCIA DE PROVA DE FATO NEGATIVO. FORMALISMO EXCESSIVO. PROVA DIABLICA. APLICAO DAS CLUSULAS GERAIS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE.(...)3. Isso porque, em se tratando de fato negativo (ou seja, circunstncia que ainda no tinha ocorrido) a exigncia da produo probatria consistiria, no caso em concreto, num formalismo excessivo e levaria produo do que a doutrina e a jurisprudncia denominam de "prova diablica", exigncia que no tolerada na ordem jurdica brasileira. Precedente: AgRg no AgRg no REsp 1187970/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 16/08/2010.4. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgRg no AREsp 262.594/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 05/02/2013). Grifo nosso.

    AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEA OBRIGATRIA. CERTIDO DE INTIMAO DA DECISO AGRAVADA. FORMALISMO EXCESSIVO. PROVA DIABLICA. MEIO DIVERSO DE VERIFICAO DA TEMPESTIVIDADE. NOTIFICAO EXTRAJUDICIAL. POSSIBILIDADE.1 - Em homenagem ao princpio da instrumentalidade, a ausncia da certido de intimao da deciso agravada pode ser suprida por outro instrumento hbil a comprovar a tempestividade do agravo de instrumento.2 - Exigir dos agravados a prova de fato negativo (a inexistncia de intimao da deciso recorrida) equivale a prescrever a produo de prova diablica, de dificlima produo. Diante da afirmao de que os agravados somente foram intimados acerca da deciso originalmente recorrida com o recebimento da notificao extrajudicial, caberia aos agravantes a demonstrao do contrrio.3 - Dentro do contexto dos deveres de cooperao e de lealdade processuais, perfeitamente razovel assumir que a notificao

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    remetida por uma das partes outra, em ateno determinao judicial e nos termos da Lei 6.015/73, supre a intimao de que trata o art. 525, I, do CPC.Agravo a que se nega provimento.(AgRg no AgRg no REsp 1187970/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 16/08/2010). Grifo nosso.

    Assim, a efetiva prova de que o Sr. Diego Geyson Ximenes Aguiar teria recebido corretamente os vencimentos devidos caberia ao Estado do Cear, tendo em vista que tal elemento probatrio seria extremamente fcil de obteno pelo ente pblico.

    Pelo exposto, no merece provimento o apelo do Estado do Cear.Constatada a necessidade de se realizar o pagamento dos vencimentos do

    requerente, e, emps uma anlise minuciosa dos autos, tenho que a sentena deve ser modificada no que se refere ao perodo devido pelo Estado, pois, verifico que o ato de afastamento do apelante/promovente foi publicado no dia 31/07/2013 (pgs.339/341). Esse ato administrativo, juntamente com as demais provas documentais acostadas ao presente processo, convence no sentido de que o requerente laborou at a aludida data.

    Isso porque, consoante se averigua da pg. 295, existe uma declarao de superior hierrquico do autor/apelante em que se narra que at a data de 27/05/2013 o mesmo laborou na 1 Companhia do 4 Batalho do Municpio de Canind. E esse documento lastreado pelas Escalas de Servio acostada aos autos, em que consta o nome do Sr. Diego como escalado para efetivamente prestar o servio, em especial as de pgs. 299 e 301.

    Conclui-se, portanto, que o requerente/apelante trabalhou como Soldado da Polcia Militar do Estado do Cear, efetivamente prestando servios pblicos, no perodo correspondente de 27/06/2011 (conforme declarao, assinada pelo Comandante do 4 BPM, s fls. 65/66) at o dia 31/07/2013.

    Pelo exposto, conheo de ambos os Recursos de Apelao, para negar provimento quele interposto pelo Estado do Cear e dar parcial provimento ao apresentado por Diego Geyson Ximenes Aguiar, apenas para reformar a sentena no que pertine ao perodo efetivamente laborado pelo apelante para efeitos de adimplemento vencimental, considerando este entre os dias 27 de junho de 2011 e 31 de julho de 2013, descontando-se as parcelas comprovadamente pagas durante tal perodo, mantendo-se, no mais, a sentena atacada.

    como voto.

    Fortaleza, 7 de janeiro de 2015.

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    APELAO CVEL N 0154653-61.2013.8.06.0001ORIGEM: VARA DA JUSTIA MILITARAPELANTE: ESTADO DO CEARAPELADO: RENALDO ANDRADE DE QUEIROZRELATORA DESA. SRGIA MARIA MENDONA MIRANDARGO JULGADOR: 6 CMARA CVEL.

    EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. DIREITO ADMINISTRATIVO. AO ORDINRIA. POLICIAL MILITAR. INSTAURAO DE PROCESSO DISCIPLINAR PARA APURAR POSSVEIS TRANSGRESSES. CONCLUSO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. ARQUIVAMENTO. EXTINO DA AO POR PERDA SUPERVENIENTE DE INTERESSE PROCESSUAL. CONDENAO AO PAGAMENTO DE HONORRIOS ADVOCATCIOS. POSSIBILIDADE (LEI N. 1.060/50, ART. 12). APELO CONHECIDO E PROVIDO. 1. Considerando a superao do processo administrativo e a no apreciao da tutela antecipada, resta invivel no reconhecer a inexistncia do interesse de agir, por inutilidade do provimento jurisdicional almejado, o que acarreta a extino do processo, sem resoluo do mrito, nos termos do artigo 267, inciso VI do CPC. 2. A condenao nos nus sucumbenciais deve se pautar pelo princpio da causalidade, devendo responder por esses encargos aquele que deu causa instaurao do processo no qual foi vencido, seja o autor, seja o ru. 3. O Juzo a quo se equivocou ao deixar de condenar o requerente a suportar o nus sucumbencial pelo fato de ser beneficirio da justia gratuita, pois, no obstante a hipossuficincia da parte, o Juiz deve consignar, na sentena, o disposto no artigo 12 da Lei n 1.060/50.4. Apelo conhecido e provido.

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    Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Apelao Cvel ACORDAM os Desembargadores membros da Sexta Cmara Cvel do Egrgio Tribunal de Justia do Estado do Cear, por unanimidade, em conhecer do Apelo para lhe dar provimento, nos termos do voto da Relatora e da douta Procuradoria de Justia.

    RELATRIO

    Trata-se de Ao Ordinria de anulao de ato administrativo cumulada com pedido de antecipao de tutela, ajuizada por RENALDO ANDRADE DE QUEIROZ, policial militar do Estado do Cear, com o intuito de obter provimento jurisdicional que determine a suspenso do Conselho de Disciplina instaurado pelo Controlador-Geral de Disciplina por meio da Portaria n 037/2013, de 25 de janeiro de 2013.

    Aduz, em apertada sntese, que estaria sendo acusado de infringir diversos deveres e valores militares em virtude de, supostamente, haver participado de uma reunio pacfica realizada no dia 3 de janeiro de 2013 pela APROSPEC (Associao dos Profissionais de Segurana Pblica do Estado do Cear), realizada com a nica finalidade de manter os associados a par das negociaes entre o Governo do Estado e os militares, o que j vinha se estendendo desde janeiro de 2012.

    Requereu a concesso da gratuidade da justia, bem como a antecipao de tutela, a fim de que seja suspenso o PAD em questo, como o imediato retorno do promovente ao desempenho de suas atribuies funcionais.

    Por fim, pugnou pela procedncia do pedido, para declarar a nulidade do ato administrativo praticado pelo Controlador Geral de Disciplina da Polcia Militar do Cear, bem como seja determinado o definitivo trancamento do processo administrativo disciplinar vergastado.

    Juntada de documentos s pgs. 22/62.Em despacho pg.63, o Juzo a quo reservou-se a apreciar o pedido de

    antecipao de tutela aps constitudo o contraditrio, e, deferiu a gratuidade judiciria.Citado, o Estado do Cear apresentou contestao s pgs.69/88, arguindo,

    preliminarmente, a ausncia de interesse de agir, em razo da perda superveniente do objeto da ao, em virtude de j haver sido concludo o processo administrativo referente ao autor, tendo sido aplicada a punio de permanncia disciplinar de dez dias.

    O Juzo a quo s pgs.90/91, fundamentou a deciso nos seguintes termos:

    Compulsando os autos e consultando o Dirio Oficial do Estado n 88, de 14 de maio de 2013, pgs. 107/108, infere-se que efetivamente o processo

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    administrativo guerreado j foi finalizado, tendo sido aplicada ao autor uma punio de 10 (dez) dias de permanncia disciplinar. Analisando o pedido formulado na exordial, verifica-se que se pleiteou antecipao de tutela para o fim de que fosse determinado o imediato retorno do autor s suas atribuies funcionais e, ao final, o trancamento do PAD em questo. Com a concluso do PAD, foi o militar regularmente reintegrado s suas funes, restando superadas as pretenses veiculadas na inicial.Destarte, infere-se a ausncia de interesse de agir, que leva carncia da ao em razo de fato superveniente, qual seja, o arquivamento do processo administrativo disciplinar relativo ao autor.()Em face do exposto, tendo em vista a perda do objeto da presente demanda, acolho a preliminar suscitada pelo Estado do Cear, e julgo extinto o presente feito, sem resoluo do mrito, com fulcro no art. 267, VI, do CPC. Sem custas e honorrios, ante a gratuidade da justia deferida pg. 63. P.R.I.

    Desta forma, irresignado com esse entendimento, o Estado do Cear interps recurso apelatrio, pgs.93/99, defendendo em sntese, a possibilidade de condenao da parte sucumbente ao pagamento de honorrios e custas ainda que beneficirio da justia gratuita.

    s pgs. 105/112, apresentou o promovido contrarrazes, aduzindo que no dispe de condies suficientes para arcar com as custas processuais que dir de honorrios advocatcios sucumbenciais, devendo ser mantida a sentena primevo.

    Deixei de submeter o feito Douta Procuradoria Geral de Justia, em face da ausncia de interesse Pblico a justificar a interveno do Ministrio Pblico.

    o relatrio, no essencial.

    VOTO

    Atendidos os requisitos de admissibilidade insertos nos artigos 506 e 513, ambos do Cdigo de Processo Civil, recebo o recurso.

    Sem preliminares ou prejudiciais. Passo a enfrentar o mrito recursal.Ab initio, cumpre esclarecer que as condies da ao, por se tratar de

    matria de ordem pblica, podem ser analisadas em qualquer tempo e grau de jurisdio, e, ausente uma delas, a demanda deve ser extinta de imediato. A perda superveniente de interesse tambm matria que merece ser observada a qualquer tempo, prejudicando a anlise da resoluo do mrito.

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    Ensina a melhor doutrina que as condies da ao devem ser analisadas aps os pressupostos processuais e antes do mrito da demanda, constituindo, assim, requisito para o julgamento do pedido do demandante com resoluo do mrito da causa.

    O Cdigo Buzaid define as referidas condies como a legitimidade para agir pertinncia subjetiva nos polos ativo e passivo, o interesse processual binmio necessidade e utilidade da providncia jurisdicional almejada, e a possibilidade jurdica do pedido admissibilidade em abstrato pelo ordenamento jurdico. Estas devem ser analisadas in status assertionis, ou seja, conforme os fatos e fundamentos jurdicos expostos pelo promovente na pea exordial.

    Imperativo destacar, porm, que se tratando de matria de ordem pblica, como j exposto, levando-se em considerao as provas produzidas no processo ou convencendo-se o julgador da ausncia de qualquer das condies, poder conhecer de ofcio, em qualquer tempo e grau de jurisdio, devendo extinguir o processo sem resoluo do mrito.

    O objeto imediato solicitado pelo requerente era a concesso de provimento jurisdicional antecipatrio, com o fito de que fosse determinado o imediato retorno s suas atribuies funcionais e, ao final, o trancamento do PAD em questo. Todavia, o que se extraiu dos autos foi que o processo administrativo guerreado j tinha sido finalizado, restando, portanto, concludo, sendo o militar regularmente reintegrado s suas funes, ficando superadas as pretenses veiculadas na exordial.

    Diante das informaes constantes nos autos, tem-se que o julgamento da presente Ao Ordinria no traria qualquer utilidade de ordem prtica para o requerente, vez que o autor objetivava to somente a suspenso do Conselho de Disciplina ao qual foi submetido, bem como o seu posterior trancamento e arquivamento da avaliao.

    No h como conceder ao suplicante a suspenso ou o trancamento do referido Conselho de Disciplina, vez que tal procedimento administrativo j fora finalizado, com a aplicao de sano disciplinar ao militar transgressor, perdendo a presente ao o seu objeto.

    O interesse processual se vincula real necessidade da parte de exercer o direito de ao. Ademais, a tutela pleiteada deve ser til ao fim que se pretende alcanar. o que os processualistas identificam como binmio necessidade utilidade, que compem o amplamente mencionado interesse processual.

    In casu, como o pronunciamento judicial deve refletir o estado da causa por ocasio do desfecho do processo (art. 462, CPC), h de se considerar que, o encerramento do Conselho de Disciplina, resta inarredvel a perda de utilidade do uso da via judicial e a no apreciao da tutela antecipada, resta invivel no reconhecer a

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    inexistncia do interesse de agir, por inutilidade do provimento jurisdicional almejado, o que acarreta a extino do processo, sem resoluo do mrito, nos termos do artigo 267, inciso VI, do CPC.

    Superadas estas consideraes, o Estado do Cear questiona a ausncia de condenao do recorrido ao pagamento de honorrios advocatcios, ante o disposto no art. 20, 41, do Cdigo de Processo Civil, sendo necessrio destacar que doutrinariamente h entendimento intermedirio, segundo o qual o beneficirio da gratuidade judicial dever ser condenado, na sentena, ao pagamento das verbas sucumbenciais, condicionando-se a exigibilidade do crdito, porm, prova de perda da condio de necessitado.

    No presente caso o Juzo a quo se equivocou ao deixar de condenar a requerente a suportar o nus sucumbencial pelo fato de ser beneficirio da justia gratuita, pois, no obstante a parte ser hipossuficiente, o Juiz deve consignar na deciso o disposto no artigo 12 da Lei n 1.060/50.

    Nessa linha de pensamento a posio jurisprudencial do egrgio Tribunal de Justia do Estado do Cear, vejamos:

    EMENTA: RECURSOS ADESIVO E APELATRIO. CONSTITUCIONAL. AO ORDINRIA. SERVIDOR PBLICO. REVISO DO QUADRO DE MAGISTRIO. LEI N 12.611/96. PEDIDO DE ISONOMIA DE VENCIMENTOS. IMPOSSIBILIDADE. AUSNCIA DE LEI ESPECFICA. SMULA N 339 DO STF. NUS SUCUMBENCIAIS DEVIDOS. RECURSO ADESIVO PROVIDO E APELATRIO IMPROVIDO.1 - O reajuste salarial dos servidores deve ser concedido atravs de lei especfica (art. 37, X, da Constituio Federal).2 - Hiptese em que a Lei n 12.611/96 tratou exclusivamente dos servidores do magistrio do Grupo Ocupacional de 1 e 2 graus, no acarretando afronta ao princpio da isonomia.3 - Patente a impossibilidade do Poder Judicirio, que no tem funo legislativa, aumentar vencimentos de servidores pblicos, sob o fundamento de isonomia. Afronta ao enunciado da Smula n 339 do STF e aos princpios da Legalidade e Independncia entre os Poderes.4 - Smula n 339 do STF: "No cabe ao poder Judicirio, que no tem

    1 Art. 20. A sentena condenar o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorrios advocatcios. Essa verba honorria ser devida, tambm, nos casos em que o advogado funcionar em causa prpria. 1 O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso, condenar nas despesas o vencido. (omissis)

    4 Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimvel, naquelas em que no houver condenao ou for vencida a fazenda pblica, e nas execues, embargadas ou no, os honorrios sero fixados consoante apreciao eqitativa do juiz, atendidas as normas das alneas a, b e c do pargrafo anterior.

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    funo legislativa, aumentar vencimentos de servidores pblicos sob fundamento de isonomia.5 - A improcedncia do pedido autoral, quando a parte no beneficiria da justia gratuita, acarreta a obrigatoriedade do pagamento de honorrios advocatcios, devendo o julgador se valer dos requisitos objetivos previstos no art. 20, 3, do Cdigo de Processo Civil.6 - Recurso Adesivo CONHECIDO e PROVIDO para condenar os demandantes no pagamento de honorrios advocatcios fixados em R$ 500,00 (quinhentos reais). Recurso Apelatrio CONHECIDO e IMPROVIDO, para reconhecer a inexistncia de direito em favor dos apelantes, com observncia da supremacia da Constituio Federal de 1988, que impede a equiparao de reajuste pretendida, por parte do Judicirio.(Apelao Cvel n. 0739766-77.2000.8.06.0001/1, Des. Antnio Abelardo Benevides Moraes , 3 Cmara Cvel, 16 de maro de 2009). Grifo nosso.

    EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. APELAO CVEL. AO ORDINRIA. PRESCRIO DE FUNDO DE DIREITO. INOCORRNCIA. SERVIDORES EMENTA: CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. APELAO E RECURSO ADESIVO EM AO ORDINRIA. SERVIDOR PBLICO. LEI ESTADUAL N. 12.611/96. CONCESSO DE REAJUSTE SETORIAL DE 19% AOS SERVIDORES INTEGRANTES DO MAGISTRIO DE 1 E 2 GRAUS. EXTENSO AOS DEMAIS SERVIDORES ESTADUAIS. IMPOSSIBILIDADE. REVISO GERAL. NO OCORRNCIA. ISONOMIA. INAPLICVEL (SMULA 339 DO STF). PRESCRIO DO FUNDO DE DIREITO. OCORRNCIA. OBRIGAO DE TRATO SUCESSIVO. NO CARACTERIZAO. PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE. APELAO IMPROVIDA. PROMOVENTE-APELANTE BENEFICIRIO DA JUSTIA GRATUITA. CONDENAO NAS CUSTAS PROCESSUAIS E NOS HONORRIOS ADVOCATCIOS. POSSIBILIDADE (LEI N. 1.060/50, ART. 12). RECURSO ADESIVO PROVIDO.1. O art. 37, inc. X, da CF/88 se refere reviso geral da remunerao de todos os servidores, a ser efetuada anualmente, na mesma data, sem distino de ndices. Tal reviso no se confunde com aumento setorial, que beneficia apenas determinada categoria de servidores pblicos, por terem fundamentos diversos. A Lei Estadual n. 12.611/96 conferiu aumento dos vencimentos apenas aos ocupantes de cargo de magistrio de 1 e 2 graus, no se referindo, em momento algum, a efetivao de reviso geral.2. Noutro giro, os vencimentos dos servidores pblicos somente podem ser fixados ou alterados mediante a edio de lei especfica, no podendo o Judicirio, que no exerce tipicamente funo legislativa, estender a todos os servidores aumento dado apenas a determinada categoria, ainda que sob invocao do princpio da isonomia (CF, art. 5, caput), sob pena de

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    afronta direta ao princpio da Separao dos Poderes, conforme orientao emanada da Smula 339 do C. STF. 3. Em demandas ajuizadas em face da Fazenda Pblica, aplica-se o prazo prescricional qinqenal previsto no Decreto n. 20.910/32. In casu, no se caracteriza obrigao de trato sucessivo, na medida em que o direito pleiteado pelos promoventes surgiu de um nico ato - edio da Lei n. 12.611/96, que no concedeu o aumento requerido -, no cabendo se falar em renovao ms a ms de relao que no chegou, sequer, a se constituir.4. In casu, julgada improcedente a ao, deve o promovente - apelante ser condenado ao pagamento das custas processuais e dos honorrios advocatcios, por ter sucumbido e por ser responsvel pela movimentao da mquina judiciria.5. O fato de uma das partes litigar sob o plio da assistncia judiciria gratuita no afasta a possibilidade de, sendo vencida na demanda, ser condenada nos encargos da sucumbncia. 6. que, ocorrendo alterao, durante o prazo legal de 05 (cinco) anos, de sua situao financeiro-econmica, pode o vencedor executar, com base no ttulo judicial, os valores nos quais fora condenado o gratuitamente assistido (Lei n. 1060/50, art. 12). Precedentes do C. STJ.7. Apelao conhecida e improvida.8. Recurso Adesivo conhecido e provido. (Apelao Cvel n. 0722091-04.2000.8.06.0001/1, Des. Raul Arajo Filho , 1 Cmara Cvel, 16 de dezembro de 2009). Grifo nosso.

    EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. APELAO CVEL EM AO ORDINRIA COM FITO DE EXTENSO DE REAJUSTE SALARIAL A SERVIDORES ESTADUAIS. PRESTAES DE TRATO SUCESSIVO. PRESCRIO DO FUNDO DE DIREITO NO CONFIGURADA. HIPTESE DE REAJUSTE ESPECFICO DE UMA CATEGORIA. INEXISTNCIA DE OFENSA AO PRINCPIO DA ISONOMIA. IMPROCEDNCIA DO APELATRIO. RECURSO ADESIVO DO ESTADO DO CEAR. APLICAO DO ART. 12 DA LEI N 1.060/50. PROCEDNCIA.I - Tratando-se de prestaes de trato sucessivo, aplica-se, in casu, a Smula 85 do STJ, segundo a qual a prescrio incide somente sobre as parcelas vencidas no qinqnio anterior propositura da ao.II - No h que se falar em ofensa ao princpio da isonomia quando da edio da lei estadual n 12.611/96, que majorou em 19% a remunerao do Grupo Operacional Magistrio de 1 e 2 graus, uma vez que o referido diploma legislativo no teve por objeto promover a reviso anual dos vencimentos do funcionalismo pblico estadual, tal como previsto no art. 37, X, mas sim conferir a uma determinada categoria profissional um reajuste setorial que possibilitasse a correo de uma defasagem salarial.III - Improspervel o pleito autoral de extenso do reajuste concedido pela lei n 12.611/96 aos demais servidores pblicos estaduais, tendo em vista

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    que ao Poder Judicirio vedado aumentar vencimentos de servidores pblicos a ttulo de isonomia, nos termos da Smula 339 do STF.IV - Laborou em equvoco o douto magistrado de piso ao afastar a condenao da parte sucumbente nas custas e honorrios advocatcios em razo de ter litigado sob o plio da justia gratuita. Em tais situaes, deve ser aplicado o art. 12 da Lei n 1.060/50, suspendendo-se a exigibilidade do pagamento da verba sucumbencial pelo prazo de cinco anos.V - APELAO CONHECIDA E DESPROVIDA. RECURSO ADESIVO CONHECIDO E PROVIDO. (Apelao Cvel n. 0728407-33.2000.8.06.0001/1, Des. Francisco de Assis Filgueira Mendes, 2 Cmara Cvel, 03 de dezembro de 2008). Grifo nosso.

    Diante do exposto, conheo do recurso, para dar-lhe provimento, reformando a sentena hostilizada, apenas para condenar o autor ao pagamento de honorrios advocatcios, os quais arbitro em R$ 1.000,00 (um mil reais), observando-se, porm, o disposto no artigo 12 da Lei 1.060/50, vez que litiga sob o plio da gratuidade judicial, mantendo-se a sentena inalterada em seus demais termos.

    como voto.

    Fortaleza, 12 de novembro de 2014.

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    APELAO CVELPROCESSO: 0182898-82.2013.8.06.0001APELANTE: BLOKUS ENGENHARIA ADV. FCO. WELVIO URBANO CAVALCANTE ADV. LARA COSTA DE ALMEIDARELATOR: DES. PAULO AIRTON ALBUQUERQUE FILHO

    EMENTA: REGISTROS PBLICOS. CONTRATO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA. PEDIDO DE AVERBAO MARGEM DA MATRCULA IMOBILIRIA. DETALHAMENTO DE PENDNCIAS PELO OFICIAL DE REGISTRO: DESNECESSIDADE. PRINCPIO DA PUBLICIDADE. APLICAO DO ART. 1.046 DO CDIGO DE NORMAS DO SERVIO NOTARIAL E REGISTRAL DO ESTADO DO CEAR.- A apelante requereu a averbao do contrato particular de compra e venda margem das matrculas imobilirias, que no foi perfectibilizada pela Oficiala de Registro de Imveis porque detalhadas pendncias a serem resolvidas pelo requerente.- Na via judicial, a magistrada decidiu pela realizao das averbaes, determinando que as pendncias fossem resolvidas pelas partes.- A averbao do contrato de compra e venda na matrcula imobiliria no transfere a propriedade do bem, mas possui utilidade luz do princpio da publicidade, reportando-se matricula e ao assentamento do imvel e "no com o negcio jurdico que o teve por objeto", como bem explica Walter Ceneviva (in: Lei dos Registros Pblicos Comentada, edio So Paulo: Saraiva, 2009, pg. 564).- A averbao conforma-se ao ato jurdico publicidade e necessria para "garantir a oponibilidade e preservar a inoponibilidade a todos os terceiros", sendo instrumento legal de garantia dos atos jurdicos submetidos a registro ou averbao (ob. cit., pgs. 38/39).

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    - Ressalta-se, outrossim, para que fique extreme de dvidas: caso se tratasse de registro do ttulo translativo das propriedades imobilirias as exigncias contidas no detalhamento de pendncias constante nos autos seriam plenamente pertinentes.Apelao conhecida e provida para determinar que as averbaes do negcio jurdico nas matrculas imobilirias sejam feitas independentemente das pendncias anotadas, tendo em vista que estas dizem respeito translao da propriedade e no pretendida publicidade do negcio jurdico, objeto do recurso.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos do recurso identificado na epgrafe, acordam os excelentssimos senhores Desembargadores componentes da Sexta Cmara Cvel, em votao unnime, em conhecer da apelao e prover-lhe provimento, nos termos do voto do em. Relator.

    RELATRIO

    Blokus Engenharia Ltda interps apelao com o objetivo de reformar em parte a sentena de fls. 100/103, integrada pela deciso de fls. 124/125, proferida em sede de embargos de declarao.

    O caso: a autora/apelante ingressou com pedido de averbao imobiliria em face da Oficiala do Cartrio de Registro de Imveis da 2 Zona da Comarca de Fortaleza, pretendendo averbar margem das matrculas 29.783, 25.022 e 25.029 e, tambm, da nova matrcula a ser aberta quando levada a registro a transcrio n 28.878 do 1 CRI, a existncia de um contrato particular de promessa de compra e venda e seus aditivos envolvendo dos imveis nelas identificados. Sustenta que o requerido apresentou detalhamento de pendncias que no se relacionam com o pedido de publicidade aos negcios jurdicos em tablado, posto no se tratar de ttulos traslativos das propriedades imobilirias.

    A sentena: julgou procedentes os pedidos de averbao formulados na inicial, todavia determinou que a autora resolvesse as pendncias assinaladas junto ao Cartrio do 2 Ofcio de Imveis.

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    Razes apelativas s fls. 130/143 postulando a modificao parcial da sentena apenas para excluir a condicionante relacionada s pendncias cartorrias apontadas, devendo a averbao do contrato e dos seus aditivos se dar no estado em que se encontram.

    Preparo comprovado fl. 145. o relatrio. em. Desembargadora Revisora.

    Fortaleza, 1 de dezembro de 2014.