Revista de Neuropsicologia

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  • Prezados Associados da SBNp,

    Nesta nova edio do Boletim de Abril, temos o texto do Prof. Guilherme Me-

    nezes Lage, intitulado Dimenses da impulsividade: o bom, o mau e o feio no

    controle motor, no qual discorre sobre um belssimo trabalho sobre neuropsi-

    cologia, impulsividade e controle motor, com resultados interessantes para a

    literatura sobre funes executivas.

    Na edio deste ms ainda temos a entrevista do Prof. Dr. Rohde relatando o

    papel essencial da neuropsicologia no contexto clnico para diagnstico e es-

    tudo do Transtorno de Dficit de Ateno e Hiperatividade.

    Na sesso de relatos, temos o relato de pesquisa I Funes executivas em

    crianas de 3 a 7 anos: Jogo das Cartas Mgicas doutoranda Emmy Ueha-

    ra. J o relato de pesquisa II Funes Executivas e Transtornos Emocionais

    em Populaes Clnicas escrito pela Profa. Da Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul Rosa Maria Martins de Almeida que aborda resultados sobre a

    relao entre as funes executivas e pacientes com Parkinson.

    Ainda nesta edio inauguramos uma nova sesso chamada perspectivas

    profissionais em neuropsicologia. O objetivo poder discutir a respeito da

    prtica do neuropsiclogo, mostrando a diversidade de atuaes e o campo de

    atuao da rea. Iniciamos nossa sesso com o relato do Alexandre Ferreira

    Campos, que Psiclogo e atua na Secretaria da Educao do Estado de Mi-

    nas Gerais.

    Temos tambm na sesso de eventos, a notcia sobre o I Congresso Mineiro

    de Neuropsicologia, bem como informaes para o prximo evento da rea, o

    8 Congresso Brasileiro de Crebro Comportamento e Emoes, que ter

    sua edio realizada em So Paulo-SP no prximo ms.

    Desejamos a todos uma excelente leitura!

    Equipe Boletim da SBNp

    Editorial

    Nesta edio:

    BOLETIM SBNp

    Gesto 2011-2013 -Edio Abril - 2012

    Dimenses da impulsivida-

    de: o bom, o mau e o feio

    no controle motor

    Relato de pesquisa I

    Projees metonmicas em

    afsicos de Broca

    Relato de pesquisa II

    Funes Executivas e

    Transtornos Emocionais

    em Populaes Clnicas

    Entrevista do ms

    Lus Augusto Paim Rohde

    Perspectivas profissionais

    em neuropsicologia

    Alexandre Ferreira Campos

    NEUROeventos

    Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

  • impulsividade. Em inmeros contextos

    observa-se uma alta demanda temporal

    e/ou espacial sobre o controle motor,

    exigindo assim diferentes nveis de

    compromisso (trade-off) entre velocida-

    de e acurcia. Alguns estudos tm sido

    conduzidos nesse sentido. Lage et al.

    (2012a) observaram que em uma tarefa

    de deslocamento rpido da mo a um

    alvo (tarefa de apontamento), a impulsi-

    vidade motora (caracterizada por dfi-

    cits no controle inibitrio) est mais

    associada ao controle motor do que a

    impulsividade por falta de planejamen-

    to.

    As associaes encontradas entre a

    impulsividade motora e o controle motor

    em uma populao no-clnica (Lage et

    al., 2012a) podem ser em parte inferi-

    das a partir de anlises antomo-

    funcionais do crebro. reas crticas

    para o controle inibitrio como o crtex

    pr-frontal dorsolateral (CPFD) esto

    interconectadas tanto no sentido funcio-

    nal como anatmico com reas associ-

    adas ao controle motor, tais como o

    crtex pr-motor e a rea motora suple-

    mentar (Tanji, 1994). Por outro lado, a

    impulsividade por falta de planejamento

    parece no estar diretamente associa-

    da ao controle motor tanto no aspecto

    A impulsividade pode ser entendida como um fentipo composto por do-

    mnios relativamente independentes.

    Por exemplo, Barrat e colegas

    (Patton, Stanford e Barrat, 1995) pro-

    pem a existncia de trs diferentes

    dimenses da impulsividade: (1) a

    impulsividade atencional caracteriza-

    da pela emisso de comportamentos

    inadequados, descontextualizados

    devido a dficits na capacidade de

    ateno sustentada, (2) a impulsivida-

    de motora revelada pela emisso de

    comportamentos de rompante, moti-

    vados pelo calor do momento e (3) a

    impulsividade por falta de planeja-

    mento observada na tomada de deci-

    so pautada nas recompensas mo-

    mentneas sem um julgamento ade-

    quado das possveis consequncias

    negativas a longo prazo.

    A maioria dos estudos aborda a im-

    pulsividade como algo negativo, dis-

    funcional, independente do contexto

    ou do domnio humano em que est

    sendo analisada. Quando aes rpi-

    das, automticas, apresentam resulta-

    dos positivos, as pessoas tendem a

    classific-las no como sinal de impul-

    sividade, mas como um indicativo de

    espontaneidade, rapidez, coragem ou

    criatividade. Uma exceo observada

    na literatura o modelo de Dickman

    (1990), o qual prope a existncia de

    dois tipos de impulsividade. A impulsi-

    vidade disfuncional est associada ao

    conceito clssico de impulsividade.

    Por outro lado, tambm proposto o

    conceito de impulsividade funcional, o

    qual relaciona-se tendncia que o

    sujeito tem para pensar, agir e falar

    rapidamente sem perdas consistentes

    na acurcia. Nesse modelo, assume-

    se que diferenas individuais no trao

    de personalidade impulsivo esto

    associadas a diferentes nveis de

    comprometimento entre acurcia e

    velocidade de resposta.

    O domnio motor parece ser um inte-

    ressante campo para a avaliao das

    possveis propriedades adaptativas da

    estrutural quanto funcional. No aspecto

    funcional, por exemplo, parece que a

    habilidade para postergar gratificao

    no uma varivel de influncia no de-

    sempenho de tarefas de apontamento

    rpido.

    Mas o achado mais interessante que a

    demanda percepto-motora da tarefa pode

    influenciar a emergncia de aspectos

    funcionais ou disfuncionais da impulsivi-

    dade motora. Como esperado, sujeitos

    mais impulsivos apresentaram pior de-

    sempenho comparado a sujeitos menos

    impulsivos em condies de execuo

    que demandavam inibio de resposta e

    preciso espacial no acerto ao alvo. En-

    tretanto, foi observado que em uma situa-

    o experimental especfica, na qual os

    sujeitos deveriam executar o movimento

    sobre uma maior presso de espao e

    tempo, os sujeitos mais impulsivos apre-

    sentaram melhor desempenho. Em con-

    dies onde a demanda espacial e tem-

    poral alta, provvel que o processa-

    mento implcito/automtico observado

    nos sujeitos mais impulsivos seja mais

    efetivo, ou seja, apresente uma caracte-

    rstica funcional, adaptativa. Por outro

    lado, o planejamento controlado e refleti-

    do de sujeitos menos impulsivos, que

    envolve conscincia e lentido, pode ser

    contraprodutivo (Lage et al., 2012a).

    Esses achados devem ter um impacto

    interessante em determinados esportes,

    j que em determinadas situaes a de-

    manda espacial e temporal sobre a ao

    do atleta extremamente alta. Um pri-

    meiro passo na investigao sobre o pa-

    pel da impulsividade no desempenho

    tcnico de atletas foi dado em um estudo

    exploratrio (Lage et al., 2011). Nesse

    estudo realizado com atletas de hande-

    bol, foi correlacionado o desempenho

    motor avaliado durante partidas de um

    campeonato com os nveis de impulsivi-

    dade atencional, motora e por falta de

    planejamento avaliados atravs de testes

    neuropsicolgicos. A impulsividade aten-

    cional e motora .

    Dimenses da impulsividade: o bom, o mau e o feio no controle motor

    Guilherme Menezes Lage

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    2012

    Continua

  • Referncias

    Dickman, S.J. (1990). Functional and

    dysfunctional impulsivity: personality

    and cognitive correlates. Journal of

    Personality and Social Psychology,

    58, 95-102.

    Lage, G.M.; Gallo, L.G.; Junqueira, G.C.;

    Lobo, I.B.B.; Vieira, M.G.; Salgado,

    J.V.; Fuentes, D.; Malloy-Diniz, L.F.

    (2011). Correlations between impul-

    sivity and technical performance in

    handball female athletes. Psychol-

    ogy, 2, 721-726.

    Lage, G.M.; Malloy-Diniz, L.F.; Moraes,

    P.H.P.; Neves, F.S ; Corra, H.

    (2012a). A kinematic analysis of the

    association between impulsivity and

    manual aiming control. Human

    Movement Science.

    Lage, G.M.; Malloy-Diniz, L.F.; Fialho,

    J.V.A.; Gomes, C.M.; Albuquerque,

    M.R.; Corra, H. (2012b). Correla-

    o entre as dimenses da impulsi-

    vidade e o controle em uma tarefa

    motora de timing. Brazilian Journal

    of Motor Behavior, 6, 39-46.

    Patton, J.H.; Stanford, M.S.; Barrat, E.S.

    (1995). Factor structure of the Bar-

    ratt impulsiveness scale. Journal of

    Clinical Psychology, 51, 768-774.

    Tanji, J. (1994). The supplementary motor

    area in the cerebral cortex. Neuro-

    science Research, 19, 251-268.

    estiveram associadas a compor-

    tamentos disfuncionais, enquan-

    to a impulsividade por falta de

    planejamento associada a com-

    portamentos funcionais. Os re-

    sultados divergentes que foram

    encontrados entre um estudo

    com tarefa motora de laborat-

    rio (Lage et al., 2012a) e um

    estudo com tarefas mais ecol-

    gicas (Lage et al., 2011) refor-

    am a noo de que a impulsivi-

    dade funcional est associada

    demanda percepto-motora da

    tarefa avaliada. No caso do han-

    debol, o arremesso ao gol sob

    forte marcao da defesa, por

    exemplo, apresenta diferentes

    demandas cognitivas quando

    comparado ao deslocamento da

    mo a um simples alvo. No pri-

    meiro caso, aspectos como a

    escolha pela recompensa imedi-

    ata (ex. arremessar e tentar fa-

    zer o gol) ou pela postergao

    da gratificao (ex. passar a

    bola a um companheiro melhor

    posicionado, para que ele faa

    o gol) so fatores que parecem

    influenciar a qualidade da res-

    posta, j esse tipo de tomada

    de deciso no parece ter im-

    pacto direto no caso da tarefa

    de apontamento manual.

    Parece que um fator-chave para

    a emergncia da impulsividade

    funcional a forte demanda por

    tempo e espao. Quando a tare-

    fa motora no requer velocida-

    de, mas sim a execuo em um

    tempo-alvo (tarefa de timing

    coincidente) a impulsividade

    funcional no emerge em ne-

    nhuma das possveis dimen-

    ses (Lage et al., 2012b). Ao

    menos no domnio motor, pos-

    svel que passemos a observar

    a impulsividade no s sob a

    perspectiva do mau e do feio,

    mas tambm a do bom.

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    2012

    Guilherme Menezes Lage

    Bacharel em Educao Fsica (1999),

    especialista em Treinamento Esportivo

    (2001), mestre em Educao Fsica

    (2005) e doutor em Neurocincias pela

    UFMG (2010). professor Assistente III

    da Universidade FUMEC. pesquisa-

    dor do: 1) Grupo de Estudos em Desen-

    volvimento e Aprendizagem Motora

    (GEDAM) da UFMG; 2) Grupo de Pes-

    quisa em Ensino, Controle e Aprendiza-

    gem na Performance Musical da UFMG

    (ECAPMUS); (3) Laboratrios Integra-

    dos de Neurospicologia (LINEU) (UFMG

  • Na compreenso da patofisiologia do

    transtorno, portanto, a Neuropsicologia

    uma ferramenta fundamental e acre-

    dito que com a evoluo de determina-

    es fenotpicas mais homogneas

    poderemos trabalhar com a Neuropsi-

    cologia como uma ferramenta que atin-

    ja, assim como a neuroimagem, um

    status clnico importante. Isso na medi-

    da em que ela possa sair dos estudos

    que avaliam indivduos afetados versus

    controles com desenvolvimento tpico e

    possa auxiliar a definir fronteiras entre o

    t ranstorno e as d iversas co -

    morbidades. Nesse ponto, ser impor-

    tante associar elementos da Neuropsi-

    cologia que nos indiquem qual o trata-

    mento mais indicado e qual a probabili-

    dade de resposta. A evoluo do co-

    nhecimento cada vez mais vai torn-la

    prxima no sentido de nos ajudar a

    entender a clnica do TDAH, sendo uma

    ferramenta de diagnstico e de determi-

    nao de qual conduta clnica a ser

    tomada. Ento, nesse momento, a Neu-

    ropsicologia importante no entendi-

    mento da fisiopatologia. Em relao

    Psiquiatria do Desenvolvimento, ns

    estivemos trabalhando com diversas

    baterias neuropsicolgicas a fim de

    compreender melhor quais fatores do

    processamento neuropsicolgico colo-

    cam o indivduo em risco para que um

    transtorno mental progrida at o trans-

    torno mental completo. Ento ns esta-

    mos preocupados com marcadores

    genticos, marcadores neuropsicolgi-

    cos e marcadores de neuroimagem

    para entender as trajetrias dos trans-

    Atualmente, qual o seu contato

    com a Neuropsicologia?

    O meu contato com a Neuropsicologia

    se d em dois campos. Em primeiro

    lugar, no campo de pesquisa. As mi-

    nhas reas principais de pesquisa

    hoje se relacionam com o Transtorno

    de Dficit de Ateno e Hiperatividade

    (TDAH), que o meu foco principal h

    mais de 15 anos. Em segundo lugar,

    tenho trabalhado, nos ltimos cinco

    anos, com a perspectiva da Psiquiatri-

    a do Desenvolvimento com a criao,

    atravs do suporte do CNPq e da

    FAPESP, do Instituto Nacional de

    Psiquiatria do Desenvolvimento, onde

    atuo como vice-lder com o Prof. Eur-

    pedes Miguel Filho. Tambm tenho

    trabalho em funo das minhas cone-

    xes com os sistemas classificatrios

    internacionais, principalmente o DSM-

    V, nas questes de diagnstico psi-

    quitrico com enfoque maior na infn-

    cia e na adolescncia. Em qualquer

    dessas reas, a Neuropsicologia tem

    um papel essencial. No caso do

    TDAH, embora os testes neuropsico-

    lgicos no tenham um valor preditivo

    positivo e negativo suficiente a ponto

    de serem incorporados como ferra-

    mentas diagnsticas, eles so de ex-

    trema importncia para que possamos

    compreender os processos fisiopato-

    lgicos que esto determinando o

    TDAH. Hoje sabemos, por exemplo,

    que os aspectos genticos tm uma

    relevncia muito grande na etiologia

    do TDAH, s que devido heteroge-

    neidade clnica do transtorno, muito

    difcil encontrar associaes, ento

    buscamos endofentipos intermedi-

    rios e, nesta definio, as avaliaes

    neuropsicolgicas so fundamentais.

    Por exemplo, sabemos que uma ca-

    racterstica clara de crianas, adoles-

    centes e adultos com TDAH uma

    variabilidade no tempo de reao (TR)

    em diversos testes neuropsicolgicos.

    As pesquisas genticas correlacio-

    nando essas variaes de TR so

    muito mais promissoras que quando

    se analisa fentipos como um todo.

    tornos mentais na infncia e adolescn-

    cia. No mbito do diagnstico psiquitri-

    co, vale a mesma coisa que para o

    TDAH, ou seja, a Neuropsicologia cola-

    bora no sentido de ser uma ferramenta

    diagnstica auxiliar, aumentando sua

    validade preditiva negativa e positiva

    para que vrios transtornos faam parte

    dos sistemas classificatrios. No mbito

    do atendimento clnico, utilizo a Neurop-

    sicologia em todas as minhas avalia-

    es, pois faz parte da avaliao padro

    a solicitao de uma avaliao para um

    neuropsiclogo, seja para ter uma infor-

    mao do desenvolvimento cognitivo

    atravs do WISC e do WAIS ou outros

    testes neuropsicolgicos, seja para ter

    uma ideia do desenvolvimento cognitivo,

    que fundamental quando se faz um

    fechamento do caso e para poder enten-

    der quais so as dificuldades e potenciali-

    dades daquele indivduo e fazer um pla-

    nejamento. claro que, dependendo da

    patologia em questo, os testes nos auxi-

    liam tambm na compreenso e podem

    nos dar ainda uma informao que auxilia

    no entendimento completo do indivduo

    que tem a doena.

    Quais so as mudanas previstas para

    os critrios diagnsticos do TDAH no

    DSM-V?

    O DSM-V ser publicado em maio de

    2013. Avanos em termos de pesquisas

    de neuroimagem, genticas e neuropsi-

    colgicas em todos os transtornos, com

    exceo da Doena de Alzheimer, no

    esto ainda suficientemente maduras

    para serem incorporadas como parte do

    sistema classificatrio. Ento vamos ter

    um DSM-V com melhoras em relao a

    aspectos inadequados da descrio feno-

    tpica dos transtornos mentais, mas que

    ainda vai estar longe de aproximar o di-

    agnstico em Psiquiatria e aspectos fisio-

    patolgicos. Precisamos avanar muito

    na pesquisa para poder incorporar mar-

    cadores biolgicos advindos da neuroi-

    magem, neuropsicologia e gentica no

    diagnstico psiquitrico.

    Lus Augusto Paim Rohde Por: Juliana Sbicigo

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    Continua

  • permitam colocar uma ferramenta que

    inequvoca na eficcia. Posso dizer que

    o treinamento atencional e de memria

    de trabalho uma rea que ns temos

    nos interessado em trabalhar na pes-

    quisa, pois achamos que pode ter um

    espao como ferramentas de tratamen-

    to. Contudo, ainda precisam de evidn-

    cias cientficas para que possamos

    determinar seu lugar no tratamento do

    TDAH.

    Em sua equipe, quais especialidades

    esto envolvidas no estudo do

    TDAH?

    Nossa equipe conta com psiquiatras,

    alunos do mestrado e doutorado em

    Psiquiatria, Neuropsicologia e Psicolo-

    gia da Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul (UFRGS), geneticistas,

    alunos do Departamento de Gentica e

    Biologia Molecular da UFRGS, profis-

    sionais que trabalham com neuroima-

    gem, pedagogos, psicoterapeutas cog-

    nitivo-comportamentais, profissionais

    mais voltados a elementos educacio-

    nais e auxiliares de pesquisa. Ento

    uma equipe interdisciplinar estudando o

    TDAH. O dilogo entre eles ocorre a

    partir de pontos de aproximao no

    estudo do transtorno.

    Quais so os desafios para quem

    pretende trabalhar com o TDAH?

    O primeiro conselho se aproximar de

    grupos produtivos na rea de TDAH no

    pas. Existem vrios grupos produtivos

    bem estabelecidos como o grupo do

    Prof. Paulo Mattos, no Rio de Janeiro, o

    grupo do professor Guilherme Po-

    lanczyk, na Universidade de So Paulo,

    e o nosso grupo, na UFRGS, dentre

    outros grupos que so produtivos. O

    primeiro passo se apropriar do que

    est sendo discutido a respeito do as-

    sunto. reas de desafio ou reas novas

    em termos de TDAH consistem na ava-

    liao de determinantes genticas que

    chamamos de variantes raras do

    TDAH. Essa uma rea promissora, na

    qual se busca associaes entre altera-

    es de neuroimagem, genticas e

    neuropsicolgicas, como dito antes,

    para que possamos entender a fisiopa-

    tologia do transtorno. Estamos em um

    momento de renovao dos critrios

    No DSM-V haver melhoras no caso

    do TDAH, pois h uma proposta de

    adequao dos critrios para idade

    adulta e de reviso do critrio de ida-

    de de incio dos sintomas antes dos

    sete anos buscando expandir at 12

    anos. Isso porque a pesquisa mostra

    que no h justificativa para determi-

    nar a presena de sintomas causan-

    do prejuzos antes dos sete anos.

    Alm disso, haver eliminao do

    critrio de excluso da possibilidade

    do diagnstico na presena de qua-

    dros de Transtorno Global do Desen-

    volvimento. Ento haver uma srie

    de melhoras quanto ao ajuste dos

    critrios fenotpicos baseados nas

    evidncias disponveis atualmente.

    Como se configura o tratamento

    do TDAH? H alguma proposta de

    interveno direcionada s habili-

    dades cognitivas?

    O tratamento do TDAH deve ser indi-

    vidualizado, depender do estgio do

    desenvolvimento em que o indivduo

    est para que se possa ter uma idia

    baseada em evidncias sobre qual

    a interveno mais adequada. Para

    uma criana em idade escolar, antes

    dos seis anos, provavelmente a pri-

    meira indicao o treinamento de

    pais, uma tcnica comportamental de

    treino parental. No caso de uma cri-

    ana em idade escolar, dependendo

    das co-morbidades, a primeira indica-

    o pode ser o uso de medicao ou

    pode ser uma indicao de tratamen-

    to combinado. Um adulto pode ter

    uma indicao de tratamento psicote-

    rpico cognitivo-comportamental, j

    que existem ensaios clnicos rando-

    mizados demonstrando a eficcia da

    combinao de terapia junto medi-

    cao. Quanto a intervenes especi-

    ficamente neuropsicolgicas, o que

    temos de mais recente o treinamen-

    to atencional. Existem programas

    como o Cognitive Plus, alguns pro-

    gramas de treinamento cognitivo que

    visam a trabalhar aspectos atencio-

    nais e aspectos de memria de traba-

    lho para ajudar no TDAH. As pesqui-

    sas iniciais com essas tcnicas tem

    sido promissoras, mais ainda no

    temos uma quantidade de estudos

    randomizados controlados que nos

    diagnsticos da Associao Americana

    e da Organizao Mundial da Sade,

    ento determinaes fenotpicas, por

    exemplo, do diagnstico em adultos

    uma rea bastante promissora, j que

    o diagnstico foi sempre estabelecido

    com base na discusso dos achados

    fenotpicos em crianas e adolescen-

    tes. Ento precisamos evoluir para

    verificar como so essas manifesta-

    es, se elas se modificam em adul-

    tos. Ento penso que a rea mais de-

    safiadora a do diagnstico fenotpico

    na idade adulta.

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    2012

    Prof. Dr. Lus Augusto Paim Rohde

    Professor Associado de Psiquiatria da

    Infncia e da Adolescncia do Depar-

    tamento de Psiquiatria da Universida-

    de Federal do Rio Grande do Sul e

    diretor do Programa de Dficit de

    Ateno/Hiperatividade no Hospital

    de Clnicas de Porto Alegre

  • Os seres humanos so capazes de lidar com novas situaes e se adaptar s

    mudanas de forma rpida e flexvel. As

    habilidades cognitivas que permitem ao

    indivduo controlar e regular seus pensa-

    mentos e comportamentos so denomi-

    nadas funes executivas FE (Zelazo,

    Muller, Frye e Marcovitch, 2003). As FE

    englobam um conjunto altamente com-

    plexo de habilidades inter-relacionadas

    tais como flexibilidade cognitiva, controle

    inibitrio e memria de trabalho(Garon,

    Bryson e Smith, 2008).

    A flexibilidade cognitiva diz respeito

    capacidade de alternar o curso das a-

    es ou dos pensamentos de acordo

    com as exigncias do ambiente

    (Diamond, 2006). considerada um dos

    principais componentes de controle cog-

    nitivo juntamente com a capacidade de

    atualizao da memria de trabalho

    (manipulao e utilizao de informa-

    es retidas na mente) e inibio

    (supresso de estmulos irrelevantes ou

    respostas inapropriadas)(Huizinga, Do-

    lan e van der Molen, 2007).

    Uma srie de paradigmas foi desenvolvi-

    do para investigar a flexibilidade cogniti-

    va em crianas e adultos, onde a medida

    mais conhecida o Teste Wisconsin de

    Classificao de Cartas WCST (Grant

    e Berg, 1948). J em pr-escolares, a

    flexibilidade tem sido investigada usando

    tarefas parecidas com o WCST, em que

    as crianas devem ordenar os cartes

    (Frye, Zelazo e Palfai, 1995; Zelazo,

    Mller, Frye e Marcovitch, 2003) ou es-

    colher os itens com base em vrias ca-

    ractersticas perceptivas, normalmente

    cor e forma(Chevalier e Blaye, 2008;

    Deak, 2000). A tarefa mais difundida em

    pr-escolares o Dimensional Change-

    CardSort (DCCS), infelizmente, ainda sem

    traduo para o portugus(Frye et al,

    1995).

    Portanto, com base nessa ltima tarefa,

    nosso objetivo foi desenvolver um teste

    computadorizado para avaliar habilidades

    executivas em crianas de 3 a 7 anos

    intitulado "Jogo das Cartas Mgicas

    (JCM)". O teste uma verso adaptada e

    computadorizada do DCCS tendo como a

    temtica: o circo. Ele dividido em seis

    partes: dados de identificao da criana,

    treinamento da tarefa, trs fases do jogo,

    resultado geral, feedback da criana e

    feedback do comportamento da mesma

    enviado pelo avaliador e dados brutos tais

    como tempo de durao e de reao.

    O Jogo das Cartas Mgicas pode ser exe-

    cutado em qualquer navegador e sistema

    operacional com os programas Adobe

    Flash Player 9 e Adobe AIR 2.3 instala-

    dos. Os dados de input podem ser inseri-

    dos por mouse ou teclado, dependendo

    da faixa etria ou acurcia que o exami-

    nador necessitar. Com o layout dinmico

    e colorido, o JCM oferece elementos atra-

    tivos para crianas nessa faixa etria, o

    que auxilia na motivao e no interesse

    na tarefa. Ao mesmo tempo, o teste em

    formato de jogo, mantm as medidas de

    confiabilidade e validade psicomtricas do

    presente instrumento.

    Referncias

    Chevalier, N., &Blaye, A. (2008).Cognitive flexi-

    bility in preschoolers: The role of repre-

    sentation activation and maintenance.

    DevelopmentalScience, 11, 339353.

    Dak, G. O. (2000). The growth of flexible pro-

    blem solving: Preschool children use

    changing verbal cues to infer multiple

    word meanings. Journal of Cognition and

    Development, 1, 157191.

    Diamond, A.The early development of executi-

    ve functions.In E. Bialystock, E., &Craik,

    F.I.M. (Eds.) (2006).The early develop-

    ment of executive functions. Lifespan

    cognition: Mechanisms of change (70

    95). Oxford, England: Oxford University

    Press.

    Frye, D., Zelazo, P.D.,&Palfai, T. (1995). The-

    ory of mind and rule-based reaso-

    ning.Cognitive Development, 10, 483

    527.

    Garon, N.,Bryson, E, & Smith, I.

    (2008).Executive function in preschoo-

    lers: A review using an integrative frame-

    work. Psychological Bulletin, 134(1), 31-

    60.

    Grant, D.A., &Berg, E.A. (1948).A behavioral

    analysis of degree of reinforcement and

    ease of shifting to new responses in a

    Weigl-type card sorting problem. Journal

    of Experimental Psychology, 34, 404-

    411.

    Huizinga, M., Dolan, C. V.,&Van DerMolen, M.

    W. (2006).Age-related change in executi-

    ve function: Developmental trends and a

    latent variable analysis. Neuropsycholo-

    gia, 44, 2017-2036.

    Zelazo P.D., Muller, U. Frye, D., &Marcovitch,

    S. (2003). The development of executive

    function in early childhood. Monographs

    of the Society for Research on Child

    Development, 68 (3, Serial No. 274).

    Funes executivas em crianas de 3 a 7 anos: Jogo das Cartas Mgicas Emmy Uehara

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    2012

    Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

    Emmy Uehara

    Psicloga formada pela UFRJ. Doutoranda e

    Mestre em Psicologia Clnica e Neurocincias

    pela PUC-Rio.

    Figuras: 1) Tela inicial com as instrues do jogo; 2) incio do jogo e 3) tela do jogo

  • al., 2008). Estes pacientes, apesar

    de apresentarem a maior parte das

    funes cognitivas preservadas, no

    so capazes de desempenhar ativi-

    dades que envolvam iniciativa ou

    planejamento, resultando em auto-

    cuidado insatisfatrio, dificuldades

    em realizar um trabalho de forma

    independente e de sustentar relacio-

    namentos sociais. Na pesquisa da

    Mestranda Greici Rssler Macuglia

    foram avaliadas FE e alteraes de

    humor em Pacientes com doena de

    Parkinson. Para a avaliao das FE

    foi feita primeiramente a adaptao e

    validao do instrumento Behavioural

    Assessment of Dysexecutive Syndro-

    me (BADS), que apresentou validade

    de contedo aceitvel (> 0,80) para

    todos os subtestes e questionrio

    disexecutivo (DEX). No estudo emp-

    rico, foi comparado o desempenho

    nas FE e alteraes do humor em

    um grupo de pacientes com doena

    de Parkinson (n= 40) e num grupo

    controle (n= 30). Os resultados evi-

    denciaram um percentual elevado de

    indivduos com ansiedade e depres-

    so. 72,5% de pacientes apresenta-

    ram disfuno executiva (DE), os

    quais tiveram tambm uma associa-

    o significativa com o sexo e esco-

    laridade, mas no com o comprome-

    timento motor e o estgio da doena.

    O estudo concluiu que DE e as alte-

    raes de humor esto presentes

    desde os primeiros estgios da doen-

    a de Parkinson, independentemente

    do comprometimento motor e estgio

    da doena, com pacientes do sexo

    feminino e com baixa escolaridade

    sendo os mais afetados.

    O Laboratrio de Psicologia Ex-perimental, Neurocincias e Com-

    portamento (LPNeC- https://

    sites.google.com/site/lpneclab/) e

    mais, recentemente, o Ncleo de

    Pesquisas em Neurocincia Clni-

    ca NUPENC da Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul

    (UFRGS) coordenado por mim,

    Profa. Dra Rosa Maria Martins de

    Almeida, tm investigado Funes

    Executivas (FE) em diversas popu-

    laes clnicas e no clnicas. As

    FE so atividades complexas que

    resultam diretamente da atividade

    desempenhada pelas reas pr-

    frontais do crebro (Barkley, 2001;

    Goldberg, 2002), constituindo habi-

    lidades que permitem a um indiv-

    duo direcionar seu funcionamento

    cognitivo, comportamental e emo-

    cional a metas (Rzezak, 2009). O

    conjunto de prejuzos das FE

    denominado sndrome disexecuti-

    va (Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes,

    & Leite, 2008; Zinn, Bosworth, Ho-

    ening, & Swartzwelder, 2007). Esta

    sndrome pode estar presente em

    diversos quadros psicopatolgicos

    e neurolgicos (Verfaellie & Heil-

    man, 2006). Pacientes com um

    quadro de sndrome disexecutiva

    podem apresentar dificuldades na

    tomada de deciso, impulsividade,

    desateno, insens ib i l idade,

    traam metas irrealistas, no avali-

    am as consequncias de seus atos

    e procuram solucionar seus pro-

    blemas atravs de tentativa e erro.

    Alteraes de humor como apatia,

    euforia, sintomas depressivos e

    afeto descontextualizado tambm

    podem ser comuns (Malloy-Diniz et

    Referncias:

    Barkley, R. (2001). The executive functions and self-regulation: an evolutionary neuropsychologi-cal perspective. Neuropsychol-ogy Review, 11(1), 1-29.

    Goldberg, E. (2002). O crebro exe-cutivo: lobos frontais e a mente civilizada. Rio de Janeiro: Imago.

    Malloy-Diniz, L. F., Sedo, M., Fuen-tes, D., & Leite, W. B. (2008). Neuropsicologia das funes executivas. In D. Fuentes, L. F. Malloy-Diniz, C. H. P. Camargo, & R. M. Cosenza (Eds.). Neuropsi-cologia: teoria e prtica (pp. 187-206). Porto Alegre: Artmed.

    Rzezak, P. (2009). Avaliao das fun-es executivas e mnsticas de crianas e adolescentes com epi-lepsia do lobo temporal. Tese de doutorado, Programa de Ps-Graduao em Medicina, Universi-dade de So Paulo, So Paulo.

    Verfaellie, M., & Heilman, K.M. (2006).

    Neglect syndromes. In P.J.

    Snyder, P.D. Nussbaum, & D.L.

    Robins (Eds.). Clinical

    Neuropsychology (pp. 489-507).

    Washington: APA.

    Zinn, S., Bosworth, H. B., Hoening, H.

    M., & Swartzwelder, S. (2007).

    Executive function deficits in acute

    stroke. Archives of Physical Medi-

    cine and Rehabilitation, 88, 173-

    180.

    Funes Executivas e Transtornos Emocionais em Populaes Clnicas

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    2012

    Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

    Rosa Maria Martins de Almeida

    Professora da Universidade Federal do Rio Grande

    do Sul (UFRGS). Atua principalmente, nos temas

    comportamento, agressividade, impulsividade e

    ansiedade; ateno e memria; e uso de drogas.

  • Seguindo o compromisso da

    SBNp de discutir o campo da

    atuao da neuropsicologia

    tanto teoricamente quanto na

    prtica profissional, estreamos

    hoje uma nova coluna

    perspectivas profissionais em

    neuropsicologia, que tem por

    objetivo trazer profissionais do

    campo da neuropsicologia que

    atuam em diversas prticas

    tanto consagradas quanto ino-

    vadoras. Iniciamos nossa ses-

    so entrevistando Alexandre

    Ferreira Campos, que Psic-

    logo e atua na Secretaria da

    Educao do Estado de Minas

    Gerais.

    Alexandre, tendo em vista seu

    papel dentro da educao, qual

    sua atuao nessa interface neu-

    ropsicologia x educao?

    A minha atuao em Neuropsicolo-

    gia concentra-se basicamente no

    desenvolvimento infantil. Traba-

    lho na rea educacional e coor-

    deno, desde 2006, juntamente

    com o Dr. Leandro Fernandes

    Malloy-Diniz (UFMG), o servio

    de Neuropsicologia do Ambula-

    trio da Criana de Risco do

    Hospital das Clnicas da Univer-

    sidade Federal de Minas Gerais

    (ACRIAR/UFMG), que acompa-

    nha, longitudinalmente, crianas

    nascidas prematuras e com

    baixo peso.

    Qual sua formao e seu percur-

    so dentro da neuropsicologia?

    Formei-me em Psicologia pela

    Universidade FUMEC (2005) e,

    durante a graduao, sempre tive

    interesse em desenvolvimento

    infantil. Ainda na graduao fui

    monitor do Ncleo de Intervenes

    Clnicas e bolsista de iniciao

    cientfica em uma pesquisa na rea

    da Neuropsicologia. Depois de

    formado, tive a oportunidade de me

    vincular a uma conceituada clnica

    de avaliao neuropsicolgica em

    Belo Horizonte/MG. A experincia

    e contatos estabelecidos nessa

    clnica abriram as portas para o

    servio de Neuropsicologia do

    ACRIAR/UFMG e para atuar como

    psiclogo na rea educacional.

    Ao mesmo tempo em que procura-

    va me estabelecer profissionalmen-

    te, fui dando continuidade minha

    formao. Cursei um Mestrado

    (2007-2009) em Cincias da Sade

    rea de concentrao em Sade

    da Criana e do Adolescente pela

    Faculdade de Medicina da UFMG e,

    atualmente, estou no ltimo ano do

    Doutorado em Psicologia do Desen-

    volvimento (UFMG). Tanto no mes-

    trado, quanto no doutorado, meu

    interesse foi avaliar o possvel im-

    pacto da prematuridade sobre o

    desenvolvimento cognitivo, neurop-

    sicolgico e acadmico das crian-

    as.

    Atualmente qual sua linha de

    pesquisa?

    Como j comentei, minha linha de

    pesquisa principal o desenvolvi-

    mento cognitivo de crianas de

    risco ao nascimento. O alto ndice

    de prematuridade constatado nos

    ltimos anos identifica uma popula-

    o de recm-nascidos com condi-

    es desfavorveis de sade. Por

    isso, no Mestrado enfatizei os as-

    pectos neurolgico e neuropsicol-

    gico das crianas nascidas prema-

    turas e no Doutorado estou avalian-

    do, por meio de um estudo longitu-

    dinal, o processo de aquisio das

    habilidades de leitura e escrita nes-

    sa populao. Minha questo norte-

    adora entender quais aspectos

    especficos dificultam a aprendiza-

    gem dos prematuros, mesmo quan-

    do estes apresentam desenvolvi-

    mento tpico para a idade e tiveram

    a oportunidade de serem acompa-

    nhados por um programa de follow-

    up desde a alta neonatal. Alm do

    ACRIAR/UFMG e da Secretaria da

    Educao do Estado de Minas Ge-

    rais, tambm estou vinculado ao

    Laboratrio de Investigaes Neu-

    ropsicolgicas (LIN), coordenado

    pelo Prof. Leandro Fernandes Mal-

    loy-Diniz, e ao Laboratrio de De-

    senvolvimento Cognitivo e Lingua-

    gem, conduzido pela Profa. Cludia

    Cardoso-Martins.

    Como voc percebe a neuropsico-

    logia brasileira hoje e suas pers-

    pectivas dentro do contexto esco-

    lar?

    Percebo a Neuropsicologia em fran-

    ca expanso no Brasil. A cada dia

    aumenta o nmero de pessoas inte-

    ressadas e o volume de pesquisas

    acadmicas envolvendo a Neuropsi-

    cologia. Alm disso, h nomes e

    grupos importantes se consolidando

    na rea. Em relao ao contexto

    escolar a situao bem diferente.

    H tempos a Psicologia estabelece

    um importante dilogo com a educa-

    o. Essa relao vem sendo re-

    forada pelos conhecimentos atu-

    ais trazidos pela Neurocincia, no

    entanto, a presena do psiclogo

    no contexto escolar ainda pouco

    frequente. Na verdade, as Escolas

    pblicas de educao regular de

    Minas Gerais ainda no contam

    com psiclogos no seu quadro de

    funcionrios. Meu caso, portanto,

    bastante atpico! Apesar de nortear

    minha atuao pela Neuropsicolo-

    gia, enquanto Psiclogo, atuando

    dentro de uma instituio escolar,

    tenho que estar pronto para atender

    distintas demandas (dificuldades de

    aprendizagem e comportamentais;

    indisciplina; orientao aos alunos,

    familiares e professores; incluso;

    encaminhamentos; relatrios; reuni-

    es pedaggicas; busca de parceri-

    as com outros profissionais da edu-

    cao e sade etc.).

    Existem muitas pesquisas envolven-

    do Neuropsicologia e Educao,

    mas acredito que uma participao

    regular da Neuropsicologia direta-

    mente dentro no contexto escolar

    poderia contribuir para a transforma-

    o do cenrio que encontramos

    nas escolas.

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    2012

    Perspectivas profissionais em neuropsicologia

    Alexandre Ferreira Campos

    Por: Cristina Yumi N. Sediyama

    Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

    Alexandre Ferreira

    Campos Psiclogo da

    Secretaria da Educao

    do Estado de Minas

    Gerais e doutorando em

    P s i c o l o g i a d o

    Desenvolvimento pela

    Faculdade de Filosofia e

    Cincias Humanas da

    Universidade Federal de

    Minas Gerais (UFMG).

    Continua

  • Como voc concilia sua -

    rea de formao com a pr-

    tica clnica e acadmica em

    neuropsicologia?

    Considero que meu trabalho

    como um todo (pesquisa-

    clnica-educao) esteja bem

    entrelaado. Tenho grande

    preocupao que minhas pes-

    quisas tenham relevncia so-

    cial e que tragam implicao

    direta para minha rea de atu-

    ao. A melhor forma de auxi-

    liar no desenvolvimento da

    criana, as variveis interveni-

    entes no processo de aprendi-

    zagem, as intervenes psico-

    pedaggicas mais adequadas,

    como orientar a famlia quanto

    ao processo de aprendiza-

    gem, dentre outras, so ques-

    tes que me interessam.

    O que voc considera ser o

    diferencial de sua rea de

    formao para a sua prtica

    clnica?

    A nfase na Neuropsicologia

    infantil o diferencial na mi-

    nha formao, principalmente

    considerando minha tentativa

    de direcionar esse conheci-

    mento para dentro do contex-

    to escolar. A possibilidade de

    identificar precocemente difi-

    culdades nos alunos pode

    favorecer medidas pedaggi-

    cas mais aptas a potencializar

    a s o p o r t u n i d a d e s

    de aprendizagem durante os

    primeiros anos escolares. Em

    relao ao ACRIAR/UFMG a

    resposta similar. Apesar do

    enfoque preventivo do ACRI-

    AR/UFMG e das inmeras

    evidncias de problemas cog-

    nitivos associados s crianas

    nascidas prematuras, o ambu-

    latrio ainda no contava com

    o trabalho de um Neuropsiclo-

    go na equipe multidisciplinar.

    Qual a sua opinio sobre a

    neuropsicologia no contexto

    multidisciplinar e a utilizao

    de testes neuropsicolgicos

    por esses profissionais?

    Vejo o carter multidisciplinar

    da Neuropsicologia como algo

    positivo. Profissionais de reas

    distintas falando a mesma ln-

    gua podem ajudar muito na

    compreenso de determinado

    fenmeno. Concordo com o

    fato de que um profissional ca-

    pacitado poderia aplicar, corri-

    gir e interpretar um teste sem

    maiores dificuldades. Entretan-

    to, considero importante que as

    particularidades de cada profis-

    so sejam respeitadas. A op-

    o por uma formao em

    Neuropsicologia deveria tocar

    cada profissional naquilo que

    especfico de sua rea de atua-

    o. Ser psiclogo direciona

    meu foco para determinados

    processos, eleitos em virtude

    de minha formao. Um Fono-

    audilogo, por exemplo, elege-

    ria outros processos. Apesar de

    formaes distintas, a opo

    por Neuropsicologia estaria

    como pano de fundo para o

    entendimento desses pro-

    cessos. isso que torna a

    multidisciplinaridade pro-

    posta pela Neuropsicologia

    algo diferenciado. Portanto,

    como a atuao em Neu-

    ropsicologia extrapola o uso

    de testes, no vejo muito

    problema nessa questo.

    Qual conselho voc daria

    para algum que est ini-

    ciando na neuropsicologi-

    a?

    Se existisse uma frmula

    mgica, creio que seria:

    teoria, prtica, superviso e

    atualizao. Para mim, es-

    tudar profundamente o de-

    senvolvimento humano tpi-

    co e os processos patolgi-

    cos o incio de tudo. Aliar

    o conhecimento terico s

    atividades clnicas, ao con-

    tato direto com as pessoas,

    procurando perceber sem-

    pre as especificidades de

    cada caso outro ponto de

    investimento essencial. A-

    lm disso, a possibilidade

    de participar de um grupo

    de discusso e/ou supervi-

    so tambm traz um grande

    diferencial para o profissio-

    nal. Trocas com profissio-

    nais de diferentes reas de

    formao e contato direto

    com profissionais mais ex-

    perientes fazem toda a dife-

    rena. Claro que tudo isso

    apoiado atualizao conti-

    nuada...

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    2012

    Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

    Se existisse uma fr-

    mula mgica, creio

    que seria: teoria, prti-

    ca, superviso e atua-

    lizao.

  • A neuropsicologia tem ganhado

    fora em todo o Brasil e no poderia

    ser diferente em Minas Gerais. Para

    tanto, o I Congresso Mineiro de Neu-

    ropsicologia III Carl Wernicke, que

    ocorreu no Colgio Salesiano nos

    dias 29, 30 e 31 deste ano, serviu

    como mais um marco da importncia

    e do crescimento do trabalho realiza-

    do nesta rea no estado. O Congres-

    so foi organizado pelo Laboratrio de

    Neuropsicologia do Desenvolvimento

    e pelo Laboratrio de Investigaes

    Neuropsicolgicas, coordenados,

    respectivamente, pelo Prof. Dr. Vitor

    Haase e pelo Prof. Dr. Leandro Mal-

    loy-Diniz, ambos da Universidade

    Federal de Minas Gerais.

    O Congresso contou com cerca de

    400 participantes, sendo quase um

    tero deste pblico formado por parti-

    cipantes advindos, dentre outros, de

    So Paulo, Rio de Janeiro, Pernam-

    buco, Rio Grande do Sul e Paran,

    mostrando a difuso e o interesse na

    Neuropsicologia em todo o Brasil e a

    oportunidade de interao e parceri-

    as entre os laboratrios destas regies.

    Os participantes ainda participaram em

    massa no envio de trabalhos. No total,

    94 psteres foram apresentados.

    Demarcado por uma variedade de te-

    mas e por um pblico amplo de diferen-

    tes reas acadmicas, o Congresso

    contou com a interdisciplinaridade to

    caracterstica da Neuropsicologia. O

    Congresso foi precedido por oficinas

    que abordaram o tema de Avaliao

    Neuropsicolgica na Infncia, Avaliao

    Neuropsicolgica em Idosos e Treina-

    mento de Pais. Alm disso, ao longo

    dos trs dias, foram abordados os te-

    mas de Avaliao Neuropsicolgica,

    Linguagem, Intervenes e Interfaces

    da Neuropsicologia com a Psiquiatria e

    com a Educao, com palestras que

    conseguiram se aprofundar na teoria e

    na prtica dos temas abordados.

    Dentre as palestras, destaca-se a Con-

    ferncia Magna, ministrada ao final do

    primeiro dia do Congresso pelo Deputa-

    do Eduardo Barbosa e pelo Prof. Dr.

    Paulo Eduardo Luiz de Mattos. O Dep.

    Eduardo Barbosa versou sobre a impor-

    tncia de se utilizar o conhecimento e

    os avanos cientficos, e no apenas

    posies filosficas, para o desenvolvi-

    mento de Polticas Pblicas nas reas

    da Educao e da Sade. J o Prof. Dr.

    Paulo Mattos discursou sobre a avalia-

    o neuropsicolgica na prtica clnica,

    seus potenciais e seus limites.

    Bo

    leti

    m S

    BN

    p

    Ab

    ril

    2012

    8 Congresso Brasileiro de Crebro Compor-

    tamento e Emoes

    O Congresso Brasileiro de Crebro Comportamento e

    emoes chega em sua oitava edio! Nesse ano, o

    evento ao invs de ser sediado em GramadoRS,

    ocorrer no prximo ms, dos dias 02 a 05 de maio,

    no Centro de Convenes frei CanecaSo Paulo-SP! Vale a

    pena conferir!!!

    Para mais informaes:

    http://www.cbcce.com.br/

    Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

    Notcia: I Congresso Mineiro de Neuropsicologia

    Isabela Sallum Guimares

    Abertura do I Congresso Mineiro de Neuropsicologia

  • Vitor Geraldi Haase (MG-UFMG)

    Conselho Fiscal:

    Carina Chaubet DAlcante (SP-USP)

    Gabriel C. Coutinho (RJ Instituto D`OR)

    Neander Abreu (BA-UFBA)

    Representaes Regionais:

    Alagoas: Katiscia Karine Martins da Silva

    Bahia: Tuti Cabuu

    Cear: Silviane Pinheiro de Andrade

    Centro Oeste: Leonardo Caixeta

    Minas Gerais: Jonas Jardim de Paula

    Paran: Amer Cavalheiro Handan

    Pernambuco: Lara S Leito

    Rio de Janeiro: Flvia Miele

    Rio Grande do Norte: Katie Almondes

    Rio Grande do Sul: Rochele Paz Fonse-ca

    Presidente:

    Leandro Fernandes Malloy-Diniz (MG-UFMG)

    Vice-Presidente:

    Lcia Iracema Zanotto Mendona (SP-PUC-SP;USP)

    Secretrio:

    Thiago S. Rivero (SP-UNIFESP)

    Tesoureira:

    Deborah Azambuja (SP)

    Secretria Geral:

    Camila Santos Batista (SP)

    Tesoureira Geral:

    Eliane Fazion dos Santos (SP)

    Conselho Deliberativo:

    Daniel Fuentes (SP-USP)

    Jerusa Fumagalli de Salles (RS-UFRGS)

    Paulo Mattos (RJ-UFRJ)

    Santa Catarina: Rachel Schlindwein-Zanini.

    So Paulo: Juliana Gis

    Equipe do Boletim SBNp:

    Coordenadora:

    Cristina Yumi N. Sediyama (MGCoordenadora)

    Alexandre Nobre (RS)

    Carina Chaubet DAlcante (SP)

    Gabriel Coutinho (RH)

    Giuliano Ginani (York-UK)

    Jessica Fernanda (RO)

    Jonas Jardim de Paula (MG)

    Juliana Burges Sbicigo (RS)

    Maicon Albuquerque (MG)

    Marcus Vinicius Costa Alves (SP)

    Ricardo Franco de Lima (SP)

    Sabrina Magalhes (PR)

    SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOLOGIA (SBNp)

    GESTO 2011-2013

    TORNE-SE SCIO DA SBNp!

    Para voc que quer se tornar scio da SBNp,

    confira algumas das vantagens:

    Desconto no Congresso Brasileiro de Neuroposicologia

    Acesso ao contedo em udio e vdeo do XI Congresso Bra-

    sileiro de Neuropsicologia

    Desconto de 20% em livros sobre neuropsicologia da editora

    Artmed

    E muito mais!

    Para maiores informaes, consulte:

    www.sbnp.com.br

    Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

    Tel: 0xx(11) 3031-8294

    Fax: 0xx(11) 3031-8294

    Email: [email protected]