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GOLAÇO FORA DE CAMPO A ONG love.fútbol transforma comunidades através de campos de futebol CARTÃO VERMELHO: Moradores de Camaragibe e São Lourenço da Mata reclamam do processo de desapropriação da Cidade da Copa MAIS: Conheça a história de quem ganha a vida com o futebol fora dos holofotes Foto: Felipe Bueno Foto: Felipe Bueno

Revista É Caixa! Nº 1

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Primeira edição da Revista É Caixa!, que aborda o futebol, dentro e fora de campo.

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GOLAÇO FORADE CAMPO

A ONG love.fútboltransforma comunidades

através de campos de futebol

CARTÃO VERMELHO:Moradores de Camaragibe e São Lourenço da Mata reclamam do processo de desapropriação da Cidade da Copa

MAIS: Conheça a história de quem ganha a vida com o futebol fora dos holofotesFo

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22.4. Apresentação5. Cartas9. Frases14. Gol a Gol: Manoel Silva24. Opinião: Felipe Bueno

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Apresentação

Equipe

Artur Portella

Felipe Bueno

Filipe Barros

Rafael Fernandes

Ticiana Dias

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Cartas

Filipe Barros

Rafael Fernandes

Ticiana Dias

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O outro lado da CopaFo

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Desde a confirmação do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, o país vem convivendo

com obras de todos os lados e uma grande desconfiança da Fifa. Obras foram canceladas ou estão atrasadas e, ainda falta muito para o país apresen-tar uma infraestrutura completa no megaevento. No quesito economia, as expectativas não podiam ser melho-res. Estima-se que a Copa de 2014 deve gerar cerca de 700 mil empregos, só na fase de preparação, 380 mil vagas serão abertas.

Com tantas construções e carência em diversos setores econômicos, instituições como o Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comer-cial, Senai - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e até as prefeituras estão oferecendos cursos técnicos voltados para a Copa do Mundo. O Senac Pernambuco está oferecendo cursos direcionados às áreas de Turismo e Hospitalidade, Saúde, Imagem Pessoal, Informática e Idiomas. A estudante de cozinha do Senac, Isadora Wanderley, tem 23 anos e espera estar empregada até a Copa do ano que vem. Para ela, não há uma oportunidade melhor para crescer no ramo gastronômico “Mi-nha expectativa é a melhor possível com a quantidade de turistas que vão vir ao Recife, sei que os restaurantes

vão estar precisando de profissionais qualificados e eu pretendo ser um deles”, disse a estudante.

Quem tem interesse nos cursos gra-tuitos oferecidos pelo Senac precisa acessar o site www.pe.senac.br/psgnet e se inscrever. Para cada das áreas há também pré-requisitos específicos que são informados na hora da matrí-cula. A Prefeitura do Recife divulgou em 2012 o projeto “Recife das oportu-nidades”, que está oferecendo mais de 45 cursos profissionalizantes nas áre-as de construção, indústria, idioma, turismo, vestuário, saúde, beleza civil e alimentação. As aulas são gratuitas e a ideia é oferecê-las aos profissionais que irão lidar diretamente com os visitantes, como taxistas, barraquei-ros de coco, recepcionistas, garçons e guardas municipais. Das vagas dispo-níveis nos cursos de inglês e espanhol, 80 foram reservadas para taxistas e profissionais que fazem atendimento aos turistas no Aeroporto Internacio-nal do Recife.

Uma das vagas é ocupada pelo taxista Márcio Aguiar. Ele trabalha na área há apenas dois anos e viu no curso de inglês uma oportunidade de capacita-ção para a Copa. “Espero estar com o inglês afiado até o ano que vem para poder oferecer um trabalho de qua-lidade aos turistas que virão visitar o Recife”, afirmou Márcio.

O outro lado da CopaPor Ticiana Dias

Enquanto os melhores jogadores de futebol do mundo se preparam fisicamente para a Copa do Mundo de 2014 no

Brasil, jovens brasileiros investem em cursos de capacitação oferecidos por escolas técnicas, na busca por oportunidades

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As aulas do projeto “Recife das opor-tunidades” da prefeitura, já estão lota-das. A boa notícia é que em setembro deve abrir novas vagas. As inscrições são feitas na próprias escolas. Para outras informações, é só ligar para Gerência de Educação Profissionali-zante da Prefeitura do Recife, das 8h às 12h ou das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira. Os telefones são (81) 3355-5970, (81) 3355-5971 e (81) 3355-5969. POR TRÁS DO FOGÃO SIM!

Camila Araújo Soares, estudante de gastronomia do Senac é mais um exemplo dos jovens à procura de cur-sos profissionalizantes voltados para Copa. A aula tem apenas 20 anos e já começou sua preparação para o megaevento esportivo desde cedo. “Desde o anúncio do Brasil como país sede da Copa de 2014 comecei a me preparar: como gosto de idiomas, terminei o meu curso de inglês e co-mecei a estudar espanhol e italiano”. Camila só começou a estudar gastro-nomia depois que deixou o curso de jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco, no ano passado. Ela não se arrepende nem um pouco da decisão, mas sabe que a rotina da cozinha não é fácil. “O dia a dia na cozinha é bem complicado, muitas vezes passo mais de 10 horas em pé, no calor, levando broncas do chef, num espaço fechado com 8 pessoas estressadas que tem facas, líquidos ferventes e todo tipo de objeto em mãos”. Apesar das dificuldades, ela não desanima e enxerga a Copa do Mundo como o momento ideal para se trabalhar nas áreas de hospeda-gem, como gastronomia e hotelaria. O chef instrutor do curso de co-zinheiro e chef de gastronomia do Senac Recife, Ivalmir Barbosa, afirma que a demanda será tão grande que, restaurantes e empresas vão neces-sitar de profissionais com ou sem experiência.

Sobre o que esperar do megaevento, Camila diz ser bem realista. “Minhas expectativas são boas, mas poderiam ser melhores. Quem mora no Brasil sabe como é aqui: muitas promessas e

pouca realização. Todos estão cientes dos atrasos nas obras de infraestrutu-ra, e nós que somos da área de hotéis e restaurantes estamos na mesma situação: a constante preocupação sobre a capacidade da rede hoteleira comportar os turistas que virão ao país”, afirma a estudante.

A esperança da estudante é que o país consiga acabar as obras de infraestru-tura no prazo certo e que ela consiga mostrar que no Brasil também existe comida de qualidade, sofisticada, e ao mesmo tempo simples. g

Saiba Mais!

O curso de gastronomia custa R$ 824 (podendo ser divido em até 4 vezes) e tem aulas de segunda à sexta, sendo segundas e terças das 8h às 12h20, quartas das 8h às 9h40 e nas quintas e sextas das 8h às 11h30. Quem não tem condições de pagar o valor, o Governo do Estado está oferecendo vagas gratuitas nos cursos realizados pelo Senac e Senai. Para se inscrever é só acessar: http://sistemas.stqe.pe.gov.br/inscricao/precadastro/precadastro.php

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Frases

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MUITO ALÉM DAS QUATRO LINHAS

A ONG love.fútbol ajuda comunidades sem áreas de lazer a construir campos de futebol

para suas crianças. Mais que isso, provam que a força da população e do esporte é bem

maior do que o imaginado

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Hoje jogar bola é uma das melhores coisas do meu dia, é bom quando a gente tem o que fazer

aqui, antes não dava pra brincar, minha mãe não deixava, dizia que era perigoso. Agora tá bom, dá pra jogar e brincar com os colegas”. Jonathan Vieira, 12 anos, um dos garotos beneficiados pela ONG love.fútbol, no bairro de Várzea Fria, em São Lourenço da Mata.

Não é só estratégia, amor, desafio magia que pode-se definir o futebol. O esporte pode oferecer bem mais que tais definições, sem falar neces-sariamente em craques com salários milionários ou arquibancadas lo-tadas. A ONG love.fútbol e o Insti-tuto Alberto de Moura se uniram à comunidade da Várzea Fria, em São Lourenço da Mata, para requalificar um campo de futebol e oferecer uma área de lazer segura para as crianças. Depois de menos de um ano da rei-nauguração do gramado, a mudança que se vê vai muito além das quatro linhas.

A love.fútbol surgiu nos Estados Unidos e, antes de chegar ao Brasil, já havia construído nove quadras em comunidades da Guatemala. Segundo Manoel Silva, presidente da organização no Brasil, toda criança tem o direito de jogar futebol, e caso não exista um lugar seguro para isso, elas acabam se arriscando pelo lazer. “Muitas vezes, nós crescemos com um campo ou uma quadra boa e não nos damos conta da importân-cia disso, que deveria ser um direito básico. A ideia surgiu no Marrocos, quando o co-fundador Drew Chafetz viu crianças jogando futebol em um beco onde um canal marcava o meio-campo”, contou. Diante disso, a ONG começou a agir em favor dos jovens jogadores, mas acabou transfor-mando a realidade das comunidades envolvidas.

A Várzea Fria foi a primeira benefi-ciada brasileira. A comunidade antes era repleta de garotos ociosos, sem ter um lugar digno para praticar espor-tes, apenas um campo abandonado

e mal-tratado, que por muitas vezes era abrigo para o uso de drogas, um verdadeiro poço de mal exemplos para os jovens da comunidade. Esse mesmo campo também já foi rodeado por esgoto a céu aberto, mas hoje tem redes, muros e refletores. A reforma teve patrocínio da Coca-Cola e, com ajuda de voluntários da comunida-de, foi concluída em 25 dias, mesmo debaixo de chuva. De acordo com Eliane Sebastião, coordenadora do Instituto Alberto de Moura, o maior legado da obra foi o trabalho dos moradores. “O Instituto já existia antes da chegada da love.fútbol, mas ninguém participava, não acreditava em sua força. Depois da reforma do campo, todo mundo viu que pode contribuir, que não pode ficar de braços cruzados”, disse. Um simples campo de futebol mudou a paisagem da Várzea Fria e conscientizou a po-pulação quanto a seu próprio papel, além de outros benefícios.

Ainda segundo Eliane, a escolha da Coca-Cola pela comunidade foi por uma compatibilidade nos ideais da empresa e do instituto. “Nossas missões são iguais. Quando eles procuraram por todos os institutos de São Lourenço, o nosso foi justamente aquele que pensava igual a Coca-Co-la, nós queríamos a mesma coisa”.

O gramado abriga uma escolinha de futebol para aproximadamente 90 crianças, que tem que obrigato-riamente estar matriculado em uma escola. Além disso, o campo pode ser alugado e a renda vai para sua manu-tenção e para o Instituto Alberto de Moura. A love.fútbol, agora, deixa a Várzea Fria caminhar com as próprias pernas, e isso já rende frutos. O pró-prio Instituto receberá uma sala de aula do Senac, onde cursos de beleza - cabeleireiro, manicure, e outros - serão lecionados.

Outra iniciativa é o projeto Minha Comunidade Faz a Diferença, em

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que a própria população tenta resol-ver seus problemas. O projeto já está recondicionando 150 carteiras de es-colas comunitárias e quer continuar atuando. “O povo pode fazer muito mais, só precisa de um empurrãozi-nho. Nós tivemos a chance e aprovei-tamos”, concluiu Eliane.

MAPA: A love.fútbol já trabalha em cinco comunidades ao redor do Bra-sil. Além de São Lourenço da Mata, a organização já construiu uma quadra na comunidade de Cachoeira em Maragogi, AL, e um campo no Com-plexo do Alemão, no Rio de Janeiro, RJ. Em Curitiba e Foz do Iguaçu, PR, dois novos espaços já estão em obras. Depois da conclusão destes, a ONG pretende ampliar sua atuação no Nordeste, região com mais comu-nidades necessitadas, mas onde foi mais difícil estabelecer parcerias.

Ninguém entra em campo

Pela Região Metropolitana do Recife, campos amadores não faltam. Assim como a vontade de crianças e adoles-centes de ter, em suas comunidades, opções de lazer e esporte, que em al-guns casos – como no caso do campo na Varzea Fria – até existem, mas são esquecidos pelas autoridades e pela própria comunidade.

Em caminhada pelos vários bairros do Recife, principalmente os de baixa renda, onde o número de crianças fora das escolas é alto, a Revista É Caixa! encontrou campos constru-ídos e funcionando para o bem de crianças e adolescentes, mas também se deparou com campos completa-mente abandonados, e jovens per-didos para as drogas e o tráfico por

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não haver uma saída de diversão e entretenimento.

O bairro da Mustardinha, Zona Oeste do Recife, é onde vive Josileide Teixeira, mãe de três filhos entre ida-des de 8 a 15 anos. Na comunidade da Mangueira, localizada no mesmo bairro, existe um campo de terra ba-tida, sem grades de proteção e barras fixas. A noite, a iluminação da rua não dá conta de iluminar o campo todo, só restando o dia para a prática de esportes e lazer. Prática essa que também fica inviável a luz do dia, já que existe uma feira livre na rua do campo, que por muitas vezes invade a área destinada à prática de espor-tes. Josileide e um grupo de mães da comunidade já reclamaram da falta de cuidados com o espaço, e ouvi-ram várias vezes a resposta de que de nada adiantava reclamar, já que o espaço não é de posse da prefeitura.

Diferente da Várzea Fria, os mora-dores da Mustardinha não ligam muito para o estado com campo, e a vontade de mudar não está presente em todas as casas. Adriano Sales tem 13 anos e nunca viu aquele campo ser utilizado. “Eu queria um lugar pra jogar e brincar fora da escola, porque as vezes eu fico em casa sem nada pra fazer, e nas férias piora. Acho que ninguém joga lá, tá abandonado mesmo”.

Ao que tudo indica, se depender das autoridades e dos próprios mora-dores, o campo da comunidade da Mangueira vai ficar do jeito que está, sem condições de uso, e sem fazer a diferença na vida das crianças. De novo com dona Josileide, tentamos ligar para a prefeitura e tivemos a mesma resposta. g

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Gol a Golcom

Manoel Silva,fundador da love.fútbol

O futebol sempre esteve presente na vida de Manoel Silva, funda-dor da ONG love.fútbol, famosa

por ter tido sua marca estampada na camisa do Náutico em 2012. Em me-nor ou maior escala, o esporte acabou transformando a vida do pernambu-cano, que sempre jogou bola na infân-cia e acabou chamando a atenção da Universidade de Nova Iorque. Ganhou uma bolsa como atleta e lá, descobriu que “gostava muito mais do futebol social do que do futebol espetáculo”, fundando a organização que transfor-ma a realidade de crianças e comuni-dades. Até hoje, 14 áreas de lazer, entre quadras e campos de futebol, foram reformadas, entre Guatemala e Brasil. O projeto ainda quer agir em outros lugares, mudando não só o esporte das crianças, mas o espírito de todas as co-munidades envolvidas.Fo

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Futebol sempre fez parte de sua vida?

Desde pequeno, eu era da “turma da secura”, queria jogar bola toda hora e parecia que nunca ficava cansado. Ainda hoje, onde tem futebol, eu quero ficar para assistir ou jogar. Sempre participei das categorias de base do Náutico e tive a chance de cursar a faculda-de nos Estados Unidos por causa do futebol. Ganhei uma bolsa em Nova Iorque e lá, participei da fundação da love.fútbol. Hoje, o meu trabalho é com futebol e, além da ONG, atualmente sou capitão do time oficial de futebol society do Náutico. Engraçado, tudo na minha vida aconteceu no Náutico - inclusive a maior publi-cidade da organização - mas eu sou rubro-negro roxo. Na época da divulgação da organização, procurei logo meu time, mas não se concretizou e acabei conhecen-do os bastidores do Náutico, que acabou sendo ótimo conosco.

E como surgiu o interesse pelo trabalho social?

Na época do meu intercâmbio para Nova Iorque, os estudantes normalmente viajavam nas férias para a Europa ou o Canadá, mas eu era um pouco diferente. Não queria viajar só para me diver-tir, queria aprender um pouco dos lugares que ninguém falava. Então, minhas melhores viagens foram para a América Central. Eu e meus amigos íamos para as comunidades carentes apenas com uma bola debaixo do braço. Mal falávamos espanhol, mas só com a bola e um sorriso, as crianças nos aceitavam e jogavam a tarde

inteira, e foi aí que vimos o poder do esporte. Descobri ali que eu gostava muito mais do futebol social do que do futebol espe-táculo. Mas também víamos as condições de lazer dessas crianças, e em uma dessas viagens, meu amigo Drew Chaftz viu um campo onde o esgoto era o meio-campo. Os meninos começavam a jogada, aí davam um “chutão”, pulavam o córrego e continuavam o jogo. Foi aí que surgiu a ideia da love.fútbol.

O projeto mira apenas uma área de lazer para as crianças?

Não só isso. O nosso instrumen-to é o futebol, mas o resultado final que temos visto é toda uma comunidade transformada. Nós não vamos aos bairros, constru-ímos o campo e saímos. Como dizem, nós não damos o peixe, mas ensinamos a pescar. Um dos nossos focos é que os moradores participem. Isso é importante, não só para ensiná-los a fazer, mas também para que eles se unam e valorizem o que construíram ali, no lugar onde moram. Por isso, quando reformamos um campo, não queremos só um lugar seguro para as crianças, queremos tam-bém mostrar a força da comuni-dade, queremos que o campo se transforme em um símbolo para que eles continuem se desenvol-vendo depois da nossa saída.

E porque o primeiro campo no Brasil foi em São Lourenço da Mata?

Quando eu estava morando fora, queria voltar para Pernambuco, minha casa. Depois de fundarmos

a love.fútbol nos Estados Unidos, fomos primeiramente à Guatema-la - que já conhecíamos por conta daquelas viagens - e construímos nove quadras, várias delas em comunidades onde não se falava nem espanhol. Foi uma sensação muito boa, dizem que transfor-mamos as comunidades do país e a maneira de tratar os povos não hispânicos. Foi uma sensação de dever cumprido, mas eu sentia que também era preciso vir para o Brasil. Fizemos um mapeamento aqui e encontramos vários bairros que precisavam de ajuda, e um deles era a Várzea Fria, aqui em São Lourenço.

E no futuro, como ficará a organi-zação e o projeto desenvolvido em São Lourenço? Bom, o projeto daqui já está em uma fase que chamamos de saída. Nós estamos começando a deixar a comunidade andar com suas próprias pernas, resolver seus próprios problemas da maneira que puderem. Eles já administram o campo e nós fazemos umas visitas, damos dicas e tentamos ajudar de longe. Mas falando dos outros lugares, já concluímos uma quadra na comunidade de Ca-choeira, localizada em Maragogi, Alagoas, e um campo no Comple-xo do Alemão, no Rio de Janeiro. No momento, estamos reforman-do mais duas áreas no Paraná, em Curitiba e Foz do Iguaçu. Estamos felizes com o andar da carruagem, ainda têm muitas áreas que ma-peamos e vimos que precisam de ajuda. Ainda quero voltar para o Nordeste, mas mesmo com tanta gente precisando, é difícil conse-guir parceiros para patrocinar as reformas. g

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Em meio às festas e preparativos para as

copas das Confederações e do Mundo, moradores

da área da Cidade da Copa reclamam do

processo de desapropriação

Por Felipe Bueno

DE QUEM

É A COPA?

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A escolha do Recife para ser uma das subsedes das copas das Confederações de 2013 e do Mundo de

2014 é uma oportunidade única. Com ela, a capital pernambucana e sua região metropolitana receberam investimentos maciços, espaço na mídia mundial, novos planos de infraestrutura e transporte. Logo, os megaeventos da Federação Inter-nacional de Futebol Associação (Fifa) deveriam trazer benefícios para toda a população local, cor-reto? Mas não é o que parece estar acontecendo. Muitos moradores de São Lourenço da Mata e Camaragi-be estão reclamando do processo de desapropriação feito pelo Governo Federal e seus parceiros. Segun-do eles, as negociações e o valor imposto são injustos com os antigos donos da área que será transforma-da na Cidade da Copa.

Maria José de Oliveira, desempre-gada, quatro filhos. Ela diz que está sendo quase obrigada a aceitar uma baixa proposta para sair da casa onde vive há quinze anos, localizada no bairro do Timbí, em Camaragi-be, por causa da construção do ter-minal de Cosme e Damião, uma das obras viárias da Cidade da Copa. De acordo com Maria José, o valor oferecido para que ela desocupe sua casa é insuficiente. “Primeiro, me ofereceram R$ 27 mil, mas eu ainda consegui que eles subissem para R$ 35 mil. É muito pouco, não dá pra comprar outra casa, nem mesmo um terreno”, disse Maria. Ainda, ela reclama que a negociação tem sido desigual. A mãe de quatro filhos conta que, caso não aceite a propos-ta, terá que enfrentar uma ordem de despejo para que seu terreno seja incluído nas obras da Estação Cos-me e Damião. “Eles me ameaçam dizendo que, se eu não aceitar esse pouco, ficarei sem nada.”

Para Evanildo Barbosa, represen-tante do Comitê Popular da Copa em Pernambuco (órgão criado nas subsedes por ONGs para apoiar a

população afetada), é importan-te que o público se organize para defender seus interesses com mais força ao enfrentar as decisões da Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa) e suas concessionárias. Em meados de abril, o Comitê conse-guiu atrair a atenção do Governo Federal. Auditores da Secretaria de Controle Interno da Presidência da República visitaram a população que está reclamando do processo. Eles garantiram avaliar todos os im-passes e enviar relatórios aos órgãos responsáveis. “Recebemos algumas denúncias e viemos ouvir a popula-ção. Faremos um relatório para que sejam tomadas as medidas corretas para amenizar os danos causados”, prometeu André Marini, auditor da república.

Depois da visita, o Comitê Popular entregou um “dossiê” aos auditores contendo todas as informações e os depoimentos que provariam os maus tratos sofridos pelos morado-res de São Lourenço da Mata e Cama-ragibe. Do outro lado, o governo prometeu analisar a situação e reparar qualquer dano causado

injustamente. De fato, o projeto de Pernambuco é o mais inovador das subsedes da Copa. A Arena Per-nambuco, com seu visual futurista, e a Cidade da Copa prometem aquecer e incentivar uma nova área da Região Metropolitana do Recife, mas é preciso dar atenção a quem terá de se mexer para dar espaço às inovações. A oportunidade de se-diar um megaevento da Fifa talvez seja única para Recife, e ela deve ser utilizada para o bem da população. A festa não pode ser estragada antes mesmo de começar.

O CASO DE QUÉZIA

Ao contrário de vários moradores das áreas em fase de desapropria-ção na Região Metropolitana do Recife, Quézia Souza de Santos não ofereceu nenhuma resistência para vender seu imóvel. Logo no começo das negociações, chegou a um acor-do com o consórcio responsável e desocupou a área. O problema veio depois: as escavadeiras derrubaram metade da casa e o valor referente à venda não foi depositado em sua

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“Eu fui a primeira do meu bairro a aceitar a proposta, iria receber R$ 35 mil, mas até agora eles não me deram o dinheiro. Derrubaram as paredes do quarto e do meu quintal, aí não tenho mais como usar a casa”, contou. Por sorte, Quézia não mo-rava no imóvel. Porém, o lugar era usado como depósito pelo seu mari-do, que é comerciante, e ainda era alugado por alguns inquilinos. De uma vez só, a desordem da desapro-priação tirou duas fontes de renda da família sem pagar o prometido. “Tiraram os dois ‘ganha-pão’ da minha família.”

Segundo a construtora que toma conta da obra no novo terminal de Cosme e Damião, a parte da casa de Quézia foi demolida equivoca-damente. Segundo o funcionário da obra, Geraldo Martins, o erro ocorreu quando houve uma troca na equipe. “Alguns trabalhadores foram substituídos no meio da construção, aí os novos chegaram desavisados e derrubaram algumas casas que não era pra derrubar. A gente parou na metade, mas as que já estavam no chão, não tinha como voltar atrás”, contou. Alguns ex-vizi-nhos de Quézia ainda estão com as casas de pé, mas já vivem cercados

por tratores e blocos de concreto.

Quézia não quer sua casa de volta. Tampouco busca longas batalhas judiciais. Ela só queria que seu caso fosse resolvido de maneira justa, já que aceitou tranquilamente a pro-posta inicial do consórcio da parce-ria político-privada, mas não obteve aquilo que lhe foi prometido. “Não quero briga, só quero o que eles me prometeram. Quando a gente faz alguma coisa errada, logo aparece multa, advertência, prisão... E com o governo e as empresas fazendo? A gente está de olho.” g

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O Brasil ostenta com muito orgulho o título de País do Futebol. E todas as pes-quisas apontam para esse

fato incontestável dentro dos campos, pentacampeão mundial, diversas vezes campeão da Copa América, e seus clubes cada vez mais conquis-tando espaço no planeta bola. O que completa ainda mais essa denomina-ção do nosso país não são somente as conquistas dentro de campo. O esporte que movimenta milhões de reais todos os anos com negociações de jogadores, também movimenta

cifras parecidas fora de campo.

Fomos aos três grandes clubes do es-tado. Santa Cruz, Náutico e Sport são forças significativas do esporte bretão. Os times de grande massa têm como seu maior rendimento o seu torce-dor, por conta da grande presença no campo. Mais uma vez o fenômeno dentro dos campos se retrata nas ruas. O comércio fora dos campos cada vez é mais crescente. Vendas de produtos dos clubes, alimentos, be-bidas ou outros relacionados à região são cada vez mais rentáveis para os

vendedores.

Nos arredores do Estádio da Ilha do Retiro, alguns vendedores de ca-misas se sustentam com essa única forma de renda. “Faço este comércio por conta da baixa renda do públi-co, meus clientes não têm dinheiro para comprar um produto oficial do Sport”. Afirmou Roberto Gonçalves, um ambulante muito feliz com sua profissão. “Adotei esse ponto como meu ganha-pão, as pessoas passam e já me conhecem, eu me divirto além do trabalho”.

TítuloPor Rafael Fernandes

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Nos últimos meses, presenciamos fatos históricos negativos para o estado, torcidas uniformizadas dos três clubes propagaram verdadeiras guerras em praças e avenidas da ci-dade. Com isso, o público dos está-dios de Pernambuco caiu assustado-ramente. Nas finais do estadual de 2013, duas rendas abaixo do espe-rado. No primeiro jogo, apenas 38 mil pessoas viram a vitória do Santa Cruz sobre o Sport no Arruda. No segundo, na Praça da Bandeira, a mesma decepção, apenas 25 mil pa-gantes. Interessante e intrigante que o movimento de ausência das torci-das dentro de campo neste último caso, não interferiu nos vendedores fora de campo. “Ajudou e muito a proibição das torcidas organizadas virem a campo. Vendo muito mais e também fico mais tranqüilo em expor os meus produtos”. Afirmou o comerciante Júlio Silva, que possui um ponto de espetinho.

As torcidas organizadas proporcio-navam um belo espetáculo dentro dos campos, mas fora deles, o que se via era destruição e até mortes. Os marginais trajados de torcedores destruíam os pontos de negócios informais, quebravam e rasgavam os produtos, dando um prejuízo aos comerciantes que nada podiam fazer. Mas passada essa má fase as vendas superam o esperado na maioria dos jogos.

Um de nossos clubes, o Sport, participou da Copa Libertadores da América no ano de 2009, após ser campeão da Copa do Brasil do ano anterior. O Leão faturou milhões com os jogos dentro de casa, com o faturamento da renda em ingres-sos caríssimos. Fora dos campos, o aumento dos produtos também se fez presente. O faturamento dobrou durante a competição sul-america-na, onde uma camisa custava R$ 20, passou a valer R$35.

O Náutico é o clube que mais enfrentará mudanças. No segundo semestre, o clube de Rosa e Silva mandará seus compromissos na Arena Pernambuco. O comerciante José Moreira fala do prejuízo das mudanças. “São mais de 20 anos aqui nos Aflitos, esse clube é o meu sustento, e não vou ter mais, não sei o que vou fazer”. Classificado para a Série “A” do Campeonato Brasileiro, o alvirrubro disputará a competição contra grandes clubes do futebol nacional, como Santos, São Paulo, Flamengo, Internacional, entre ou-tros. O clube pernambucano ainda

disputará uma competição inédita, a Copa Sulamericana, que reúne clubes de todo o continente.

O fato é que o torcedor não será mais o mesmo na Arena, junto com o aumento do conforto e da acessi-bilidade, veio também o aumento dos ingressos. O panorama renova-do traz à tona uma nova realidade, será que os comerciantes informais continuarão a seguir com os negó-cios do mesmo jeito? g

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Estamos vivendo um mo-mento especial em Per-nambuco e no Brasil. Nos próximo ano, iremos

receber um grande evento de porte mundial. A copa do mundo chega exigindo modernidade nas estrutu-ra das cidades brasileiras. Atrelado a esses avanços, os estádios por exem-plo, estão se adaptando a um apelo mundial. A sustentabilidade está presente nos estádios com energia solar e reaproveitamento hídrico. Essa consciência infelizmente não se faz presente nos estádios dos nos-sos clubes da capital. O descartável era para ser apenas o copo plástico e não a consciência e a responsa-bilidade. Postura dos torcedores e dirigentes do futebol pernambuca-no, despreocupados com o impacto ambiental provocado pelo lixo pro-duzido e “administrado” por eles. A atitude é tão condenável que não há, por vergonha, muito provavelmen-te, como assumir o erro. Melhor transferir a culpa para a outra parte e deixar esquecidas soluções simples para reduzir os estragos. O placar se faz em Anticidadania 5 x 0 consci-ência. Essa é a famosa e verdadeira buchuda!

A anticidadania praticada no fu-tebol pernambucano fica expressa no momento pós-jogo. As marcas aparecem com o estádio vazio. Com a saída dos torcedores, podemos contatar garrafas e copos plásticos, latas, embalagens de salgadinho, papel, pontas de cigarro, tudo depositado em grande quantida-de em todos os setores do estádio, arquibancada, geral e cadeiras. A limpeza demora dois ou três dias e

o resultado são quatro, cinco e até doze papa-metralhas cheias de lixo sem qualquer tratamento prévio que serão depositados nos aterros sanitários.

Devido à diversidade de materiais encontrados e a sua variação de peso, seria incoerente estimar em quilos, ou toneladas, a quantidade de entulho despejada pelos clubes de futebol nos aterros sanitários. A quantidade de papa-metralhas no ano, porém, é um indicativo da sujeira gerada nos estádios. Nos Aflitos, a média de lixo recolhido por partida é de cinco papa-metra-lhas. Neste ano, o Náutico já dispu-tou oito jogos e tem mais jogos para disputar pela Copa Sulamericana e o brasileirão. A média anual de pa-pa-metralhas usados pelo Náutico é de quase 200 caminhões. No Sport, a média é de oito por jogo. Como a equipe vai fazer um jogo pela final do pernambucano 2013 e mais 38 partidas Campeonato brasileiro da série B, a estimativa da quantidade de papa-metralhas que será usada gira em torno de quase 300 cami-nhões. O Santa Cruz não possui uma estimativa de numeros para essa questão.

A falta de perspectiva de mudança aumenta a gravidade do problema. Os torcedores entrevistados em dias de jogo garantem: jogam o lixo no chão porque não há coletores nos estádios, somente próximos aos ba-res. Nenhum deles, porém, cogitou a possibilidade de juntar o seu pró-prio lixo em sacolas e depositá-lo na saída do estádio (iniciativa bastante fomentada na Copa do Mundo da

Coréia/Japão). Melhor responsabili-zar a omissão do clube.

“ Sempre venho aos jogos na Ilha do Retiro há mais de 15 anos e nunca vi lixeiras na arquibancada. Se ti-vesse, com certeza o volume de lixo iria diminuir. Não iria acabar, claro”, alega a torcedora rubro-negra Lua-na Tereza dos Santos, 27 anos. Há quem até ensaie dar o exemplo. “Eu me levanto e vou até os bares jogar a lata e o palito do espetinho. Mas antes do jogo. Depois do início, aca-bo jogando no chão. Não tem como deixa o local na arquibancada por-que perco o lugar e parte do jogo”, destaca o empresário José Orlando Duarte, 50 anos. “Ajudaria muito se hovesse um local nas arquibancadas para jogar o lixo”, completa.

A versão encontra amparo em de-clarações dos responsáveis dos clu-bes, mas também há elementos que condenam a educação do torcedor. Gerente de logística do Náutico, Pedro Tibúrcio da Silva coordena a limpeza dos Aflitos há mais de 20 anos. Segundo ele, houve, nesse tempo, uma iniciativa para tratar o lixo produzido nas partidas.

“ Há dois anos atrás, o clube fez uma parceria com uma empresa de reciclagem. Foram disponibilizados tonéis nos corredores do estádio para que o torcedor colocasse todo o lixo reciclável. A parceria durou apenas seis jogos. A empresa de-sistiu porque ninguém utilizava os tonéis”, afirma. A falta de divulgação da campanha também contribuiu para o fracasso.

Os clubes de futebol e os seus torcedores perdem

feio no jogo contra o lixoPor Filipe Barros

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No Sport, onde chegam a ser reco-lhido até dez papa-metralhas após um jogo, a situação é semelhante. O bom exemplo até existe. De acordo com o conselheiro rubro-negro Silvio Amorim. Há um convênio com uma empresa para o aproveita-mento das latas. “Nós temos com-pradores permanentes”, assegura. A boa atitude, no entanto, acaba sendo “jogada no lixo” logo em seguida, numa frase que sintetiza bem como é encarada a questão. Ao ser perguntado sobre o restante do material que é recolhido por uma empresa especializada e lançado no aterro sanitário, o conselheiro responde sem qualquer constran-gimento: “Aí não é mais problema nosso”.

COMO IMPLANTAR A RECI-CLAGEM NOS CLUBES PER-NAMBUCANOS

Você sabia que o Brasil é líder na utilização do PET para confecções de materiais e objetos diversos? isso mesmo, além do futebol, o Brasil é campeão em reciclar e usar o mate-rial no mundo. Como nosso papo é sobre futebol, um exemplo a ser ressaltado é a camisa da seleção bra-sileira de futebol usada na última Copa do Mundo. A camisa que os jogadores brasileiros utilizaram na disputa, foi toda confecçionada por PET. Se a seleção brasileira fez um pouco para ajudar o planeta, por que os clubes da terra do frevo não pode fazer algo pela mesma idéia? o estádio Mané Garrincha de Brasília, é formada por cadeiras produzidas com o material reciclável. Nessa linha, como Sport, Náutico e Santa Cruz podem fazer para contribuir, é uma questão para ser discutida.

Na opinião de torcedores pernam-bucanos, os clubes estão escan-teando um pouco essas questões sustentáveis que estão em evidência no mundo. O torcedor Francisco Mendez, desde que frequenta os estádios de Recife, o que em média

gira em torno de 20 anos, nunca viu uma ação de conscientização nos estádios. “Nó vemos ações de marketing muito bem feitas nos estádios. Propagandas bem elabo-radas atreladas a marcas mundiais e regionais. Esse mesmo sistema deveria ser utilizado para ensinar os torcedores a não jogarem lixo no chão e nos arredores do estádio. Na minha opinião, tudo começa pela conscientização”.

Atualmente várias empresas vem utilizando o PET na fabricação de materiais esportivos. As bolas da Nike por exemplo, possuem um reforço no entorno da circunferên-cia feita pelo material reciclado. As redes do gol também podem ser feitas de PET. O Brasil abriga uma das maiores empresas de cordas 100% à base do material reciclado da América Latina. As camisas po-dem ser feitas a base do material,

a exemplo do que fez a seleçãobrasileira de 2010. Há muitos anos, calçados esportivos e até sociais utilizam um produto conhecido como TNT ou tecido não-tecido, feito com PET reciclado. Também está muito presente no solado das chuteiras. Além dos jogadores que estrelam os estádios de futebol bra-sileiros, os consumidores já contam com marcas renomadas que usam o PET reciclado na estrutura de seus calçados.

Tamanha diversidade de aplicações é resultado de investimentos por parte de uma indústria que hoje movimenta mais de R$ 1 bilhão ao ano e reúne aproximadamente 500 empresas, que reciclam 54,8% das garrafas de PET descartadas no Brasil. Esse volume posiciona o país como um dos líderes na atividade, à frente dos Estados Unidos e da União Européia. g

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Vê-se futebol por todos os lados. Jogamos, assisti-mos, comentamos. No mundo inteiro, é o es-

porte que movimenta mais massas, entre praticantes e espectadores. Porém, também é o esporte que movimenta mais massas “suspeitas” de dinheiro. Também é o esporte que leva massas a entrarem em conflito por causa de um simples jogo, com mortos, feridos e, acima de tudo, muito medo dos que só querem se divertir. Tão usado pelo mal, porque não explorar o futebol para o bem?

Patrocínios milionários, jogadores a preço de ouro, arenas modernís-simas. O futebol se tornou uma economia poderosa, tão forte que os atuais valores desafiam a crise mundial. Na Espanha, um dos paí-ses mais prejudicados pela recessão global, Real Madrid e Barcelona torram milhões com novos atletas. O time merengue teria oferecido R$ 315 milhões por Neymar. E tal po-derio monetário atrai os espertos, inclusive das altas cúpulas da Fifa. Pouco a pouco, corruptos vão sendo conhecidos e saem de cena, mas ainda há mais por vir. Ou apenas o acaso escolheu África do Sul, Brasil, Rússia e Qatar como sedes de Copa do Mundo? São quatro dos países com maiores índices de corrupção do planeta, e muitos querem se aproveitar das obras superfaturadas.

Enquanto isso, nas camadas mais baixas – diga-se de passagem, as que sustentam toda essa exuberân-cia econômica do futebol – torce-dores se batem para saber quem é o “terror da capital”, quem é “a maior do Nordeste”, quem mete mais medo nos “inimigos”, enquanto espalham esse medo por toda a ci-dade. Torcedores? Será que podem

ser nomeados assim? As torcidas organizadas aproveitam as multi-dões dos jogos para se tornarem apenas um número, pessoas irreco-nhecíveis que praticam crimes em meio aos verdadeiros torcedores. O resultado de tudo isso pode ser vis-to nas delegacias e hospitais, cada vez mais movimentados em dias de partida, e casas, com cada vez mais torcedores reprimidos em frente aos televisores.

Enquanto os “vilões” das quatro linhas estão organizados demais, os “mocinhos” ficam cada vez mais retraídos - “O que me preocupa não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons”, dizia Martin Luther King -, mas o futebol pode oferecer muito mais. A mesma massa que funda “torcidas” organizadas é capaz de mobilizar os torcedores em prol da solidariedade – por exemplo, a campanha feita pela Federação Per-nambucana de Futebol para arreca-dar alimentos para os atingidos pela seca. O futebol auxilia a desenvolver nas crianças o espírito esportivo e o senso de coletividade. Com sua vi-sibilidade, os clubes se transformam em exemplos para a sociedade e poderiam disseminar transparência, sustentabilidade e outros valores. Ainda há o que explorar.

Algumas iniciativas já podem ser vistas, como a campanha de doação de órgãos do Sport. O rubro-negro não ganhou nada, além da publici-dade. Nada mais justo: o time usou sua visibilidade para promover uma causa nobre. Louvável, mas ainda é muito pouco perto do que se pode aproveitar do futebol. É preciso “quebrar a cabeça” e descobrir os novos caminhos que um jogo ou uma pelada podem trazer. É preci-so ser tão criativo quanto os que o usam para o mal. g

Felipe Bueno

VAMOS

USAR

O

FUTEBOL

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