88
N o 32 Ano 18 Revista Quadrimestral de Saneamento Ambiental Maio 2012 Plansab Saneamento com visão no futuro Entrevista Carlos Eduardo Morelli Tucci Consultor em Gestão dos Recursos Hídricos Opinião Cassilda Teixeira de Carvalho Saneamento pode gerar mais de meio milhão de empregos por ano

Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

  • Upload
    vohuong

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

No 32 Ano 18

Revista Quadrimestral de Saneamento Ambiental

Maio 2012

PlansabSaneamento com visão no futuro

EntrevistaCarlos Eduardo Morelli TucciConsultor em Gestão dos Recursos Hídricos

OpiniãoCassilda Teixeira de CarvalhoSaneamento pode gerar mais de meio milhão de empregos por ano

Revista Ecos 32.indd 1 17/05/2012 16:28:11

Page 2: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Revista Ecos 32.indd 2 17/05/2012 16:28:13

Page 3: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

3

EcEcEccEco

so

so

so

ss llll33333

222222

3333333333333

A população brasileira terá papel fundamental na implantação do Plansab

A partir da implantação do Plano Nacional de Saneamento (Plansab), caberá à popula-ção brasileira acompanhar sua execução e exigir o cumprimento de suas metas. Mas também caberá à população fazer a sua par-te, contribuindo e participando de ações que busquem sua própria melhoria de vida.

É fundamental que haja envolvimento da comunidade no uso adequado das redes, tanto no tratamento da água e do esgoto quanto na drenagem e na destinação dos resíduos sóli-dos, pois não adianta receber infraestrutura nesta área se ela não for corretamente utiliza-da. Mas, tanto os serviços como as empresas de saneamento terão que estar preparados para investir em suas gestões. Só assim tere-mos um caminho afinado entre a prestação do serviço e a satisfação dos clientes.

Nesta edição da Revista ECOS, destaca-mos a entrevista do professor e consultor em recursos hídricos Carlos Eduardo Morelli Tucci. Ele diz que falta definição no setor quando se trata de estabelecer metas e obje-tivos. Mesmo assim, está otimista com os avanços obtidos pelo Brasil.

Na seção Ambiente, o leitor encontrará informações relativas ao Projeto da Orla do Guaíba, que será elaborado por um dos ur-banistas mais destacados do país, o arqui-teto Jaime Lener. Esse projeto vai transfor-mar e valorizar um trecho de 5,9 quilôme-tros da orla, entre a Usina do Gasômetro e o arroio Cavalhada, na Zona Sul da cidade.

A ECOS apresenta, ainda, uma reporta-gem sobre o “Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio: um futuro possível”, cujo protocolo de cooperação, entre as prefei-turas de Porto Alegre e Viamão, a Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul e a Ponti-fícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, foi assinado em dezembro de 2011.

Para finalizar, na seção Opinião há um artigo da presidente da Associação Brasi-leira de Engenharia Sanitária e Ambien-tal, Cassilda Teixeira de Carvalho, em que ela enfatiza o papel do setor do saneamen-to na melhoria da qualidade de vida da po-pulação e no aumento da geração de em-prego, o que reflete positivamente na eco-nomia do país.

Revista Ecos 32.indd 3 17/05/2012 16:28:15

Page 4: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

A Revista Ecos é uma publicação quadrimestral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), com circulação nacional e distribuição gratuita, registrada sob o no 775.831 no Cartório de Registro Especial, Comarca de Porto Alegre (RS) - ISSN 0104-5261.

Os artigos e textos publicados são de responsabilidade de seus autores. A reprodução destes, bem como das fotos e ilustrações, é permitida desde que sejam citadas a autoria e a fonte. A redação solicita que seja comunicada a transcrição, referência ou apreciação dos artigos e reportagens publicados na revista.

6 ENTREVISTACarlos Eduardo Morelli Tucci:“Somos um país de muitos direitos e poucos deveres, e isso se reflete na gestão dos recursos hídricos.”

20 REPORTAGEMBrasil tem plano de saneamento para os próximos 20 anosA participação da população será decisiva na implantação do Plansab nos próximos 20 anos.

Mar

ço d

e 2

012

4

Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Departamento Municipal de Água e Esgotos

Supervisão de Comunicação Social da PMPA

CONSELHO EDITORIAL: Adriana Nascimento Machado (DEP)Antônio Goulart (ARI) Belkys Gonçalves Bittencourt (Pucrs)Cibele Carneiro da Silva (Smam) Deisy Maria Andrade Batista (Abes-RS)Flávio Ferreira Presser (Dmae)Iara Conceição Morandi (Dmae)Luiz Fernando Cybis (Ufrgs)Magda Cristina Granata (Dmae)Nádia Maria Lorini (Unidmae)Roberto Azevedo (DMLU)Silvana Barletta(Sema)

COORDENADORA DA UNIDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIALAngélica Ritter, Mtb 11010

EDIÇÃOMaria de Lourdes da Cunha Wolff, Mtb 6535

FOTO DA CAPA Acervo DMLU e DEPIvo GonçalvesVera Lúcia Petersen

DIAGRAMAÇÃO e REVISÃOImagine Design

COLABORADORESKarina dos Santos VianaLeonardo Simões AquinoRenata Krás

IMPRESSÃOGráfi ca e Editora Líder Ltda Epp.

TIRAGEM4.000 exemplares Notas da RedaçãoEnvie sua colaboração para a redação Unidade Técnica do Dmae, Rua 24 de Outubro, 200 CEP 90510-000 - Porto Alegre (RS) Fone: (51) 3289-9724, Fax: (51) 3289-9286

Rena

ta K

rás

Revista Ecos 32.indd 4 17/05/2012 16:28:16

Page 5: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Rua 24 de Outubro, 200CEP 90510-000 Porto Alegree-mail: [email protected]

11 AMBIENTEOrla do Guaíba: um novo parque de lazer para Porto AlegreProjeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre a Usina do Gasômetro e o arroio Cavalhada, na Zona Sul da cidade.

A primeira capitaldo Brasil com coletaautomatizada de lixoA coleta automatizada do lixo foi instalada numa área piloto que alcança cinco bairros da região central da capital gaúcha.

Porto Alegre recebe várias obras contra alagamentosInvestimentos em drenagem urbana em várias regiões da cidade levaram Porto Alegre ao reconhecimento, pelo meio técnico e acadêmico, como uma das cidades mais inovadoras na área de drenagem urbana do Brasil.

27 PRESERVAÇÃOPorto Alegre e Viamão planejam a recuperação da bacia do DilúvioFoi assinado o Protocolo de Cooperação entre as prefeituras de Porto Alegre e Viamão, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

31 GESTÃODmae prepara modernização do Conselho DeliberativoPara o consultor em saneamento do BID, Fidel Humberto Cuéllar Boada, o governo coperativo é uma solução tanto para empresas públicas como para empresas privadas.

36 OPINIÃOSaneamento pode gerar mais de meio milhão de empregos por ano Com a palavra, a presidente nacional da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, Cassilda Teixeira de Carvalho.

Eco

s l 3

2

5

Vera

Luc

ia P

erte

rsen

Gab

riela

Mur

illo/

Div

ulga

ção

PMPA

Revista Ecos 32.indd 5 17/05/2012 16:28:20

Page 6: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Carlos Eduardo Morelli TucciConsultor em Gestão dos Recursos Hídricos

Foto

s: R

enat

a Kr

ás

Revista Ecos 32.indd 6 17/05/2012 16:28:22

Page 7: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

7

CARLOS EDUARDO MORELLI TUCCI:

“Somos um país de muitos direitos e poucos deveres, e isso se reflete na gestão dos recursos hídricos”

Carlos Eduardo Morelli Tucci é professor aposentado do IPH da Ufrgs e uma autoridade nacional em recursos hídricos, tendo participado de diversas discussões nacionais e internacionais sobre o tema. Atualmente, mantém em Porto Alegre uma empresa de consultoria na área ambiental. Nesta entrevista à Revista ECOS, o professor Tucci faz uma apreciação do momento vivido atualmente no Brasil no setor de recursos hídricos. Ele diz que falta definição no setor quando se trata de estabelecer metas e objetivos, e também quando se trata de definir os responsáveis pelo processo, o que resulta em excesso de representação e pouca decisão. Mesmo assim, vê com otimismo a posição do Brasil no setor, considerando que mesmo os países desenvolvidos ainda não resolveram adequadamente a questão. O Brasil, pelo menos, já se preocupou com a formação da sua legislação e com a formatação das questões de gestão, embora os resultados desse processo ainda sejam pequenos.

Por Ademar Vargas de Freitasjornalista

"Não estamos organizados para a gestão de eventos extremos: estão aí os acontecimentos de todo dia para mostrar que não temos nada sobre o assunto."

Revista Ecos 32.indd 7 17/05/2012 16:28:23

Page 8: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

mai

o d

e 2012

8

Ecos - Professor, o Brasil está entre os países que mais dispõem de recursos hídricos e, ao mesmo tempo, aproveita de forma pouco eficiente todo o potencial que a natureza ofe-rece. O que está errado?

Tucci - Eu não acredito que o Brasil esteja num estágio tão ruim. O que falta é preparo de vários setores. Mesmo nos paí-ses desenvolvidos, não há um desenvolvimento tão grande na parte de gestão de recursos hídricos. Existe gestão seto-rial, mas não existe gestão in-tegrada, como deveria ser. Ao longo dos últimos anos, o Bra-sil se destacou na formação da sua legislação e na formatação das questões de gestão, mas os resultados desse processo ain-da são pequenos. Foi montado um sistema, mas esse sistema ainda não deu resultados. Es-tamos “perdidos no processo”: as pessoas estão ainda muito preocupadas com a forma e pouco preocupadas com o re-sultado. Não há metas, nem objetivos bem definidos. Mas é um processo, não se pode di-zer que está péssimo, mas bom não está.

Ecos - Qual seria a próxi-ma etapa desse processo no rumo da gestão integrada?

Tucci - O próprio Plano Na-cional de Recursos Hídricos tem três objetivos definidos: garantir a disponibilidade hí-drica; racionalizar o uso da água; e promover a gestão de eventos extremos, como secas e enchentes. Até aí, tudo bem, mas está faltando discutir du-as questões diretamente rela-cionadas com o ambiente: a qualidade da água e os proble-mas ambientais.

Ecos - Isso não foi contem-plado?

Um comitê de bacia que não tem recursos e nem tomada de decisão vira um happy-hour: no final do dia, todo mundo vai pra casa e tudo continua do mesmo jeito.

Tucci - Não como objetivo da lei. Além disso, não temos metas sobre esses objetivos. Por exemplo, não estamos or-ganizados para a gestão de eventos extremos. A lei existe desde 1997 e não temos nenhu-ma estratégia para o assunto. Sobre disponibilidade hídrica e racionalização do uso da água tem havido algumas ações. Mas também não temos metas. As que estão no Plano Nacio-nal de Recursos Hídricos são “metas de processo”: criar uma comissão, criar relação intergovernamental. Meta é al-go quantitativo que define aon-de queremos chegar.

Ecos - Dê um exemplo. Tucci - Todo mundo sabe,

desde a década de 1980, que o maior problema em recursos do Brasil é a falta de trata-mento de esgoto. Não temos nenhuma meta sobre o assun-to, e tudo continua mais ou menos como era 14 anos atrás. Criamos comissões, gastamos homens-hora, cria-mos um grande número de co-mitês e de agências... E daí? Mudou? Ou não mudou? Essa é a pergunta que geralmente eu faço. A minha crítica ao sistema é que temos excesso de assembleias. Há um certo assembleísmo exagerado, com pouco resultado prático.

Vou dar outro exemplo. O mais antigo comitê de bacia do

Brasil é o Comitê de Bacia do Rio dos Sinos. E o que é que acontece todos os anos nessa bacia? Mortandade de peixes. Como é que um comitê de ba-cia, que deve ter mais de 20 anos, não consegue evitar is-so? As metodologias para ava-liar o que se tem que fazer es-tão aí desde os anos 70. Não tem nenhum hi-tec para fazer isso. O que falta é: gestão, ges-tão, gestão. Com isso quero di-zer que é preciso avaliar, quan-tificar (saber quanto custa) e executar.

Ecos - Onde está a falha, professor?

Tucci - A falha está na fal-ta de definição de quem são os responsáveis pelo proces-so, porque há excesso de re-presentação e pouca decisão, além de poucos recursos. Na verdade, recursos não faltam. Um exemplo típico: o que se precisaria fazer numa bacia como a do rio dos Sinos? Eu faço uma quantificação das cargas industriais, agrícolas e domésticas. Simulo e vejo o que isso está impactando. E, agora, começo a dizer: quero reduzir esse impacto do tra-tamento de esgotos na cida-de, cobrando o dano das in-dústrias, quero chegar ao ní-vel de qualidade da água do rio de acordo com a lei de uma classe ambiental. Pra fa-

Revista Ecos 32.indd 8 17/05/2012 16:28:26

Page 9: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

9

Ecos - O senhor acha que o brasileiro é pouco rígido na co-brança?

Tucci - Eu acho é que nós temos leis, só não temos como fazer com que se cumpram. Por exemplo, se passa uma re-de de esgoto na frente da sua casa, segundo a lei você é obri-gado a conectar. Mas se você não conectar não tem nada que o penalize. Então, quem não quer não liga. Agora, cada município pode fazer as suas imposições. Uma solução inte-ligente que parece que está saindo em Pernambuco agora é que eles mandam o nome da

zer isso, toda a parte técnica está disponível desde os anos 60 e 70. Não é nada tecnica-mente aprofundado. No en-tanto, não é feito. Por que é que não é feito? Você tem “n” instituições e ninguém é res-ponsável por fazer as coisas. Dizem “ah, precisa de dinhei-ro". E, depois, definido quan-to cada um tem que fazer, existe alguma cobrança para que a cidade faça o que deve ser feito? Geralmente existe para a indústria, mas não pa-ra a cidade.

Ecos - Então, falta fiscali-zação e cobrança?

Tucci - O enquadramento dos rios – um dos processos do plano de bacia – é uma meta. Diz o que eu tenho que fazer para que a qualidade da água do meu rio chegue a um nível aceitável, um nível que a socie-dade considere bom. O que eu tenho que fazer são ações, e essas ações são feitas pelos municípios, ou pela indústria, ou pela agricultura. Mas não existe um mecanismo que os obrigue a fazer, nem multa pa-ra o caso de não fazerem.

Ecos - O senhor acha que isso é um reflexo do que ocorre no restante do país?

Tucci - Sim. Eu estive re-centemente em Vitória (ES), cidade que tem 100% de cober-tura de esgoto. Só que faltam 100 mil ligações. As pessoas não ligam. Então, tem que ser um trabalho de formiguinha. Não se pode fazer um plano e uma execução de rede de cole-ta de esgoto sem estar previsto como vai ser imposta a cone-xão das casas. Porque, senão, aquela obra não terá a menor utilidade.

O Chile, que não tem nenhum sistema de recursos hídricos, nenhum plano, nem nada, decidiu que em tantos anos iria ter cobertura de 100% de tratamento dos esgoto das cidades.

Hídricos em Maceió, eu dizia que parece que alguém foi ma-quiavélico, porque a gente sa-be que, quando não se quer re-solver alguma coisa, cria-se uma comissão. É um setor com excesso de comissões. Mesmo os conselhos têm câmaras téc-nicas para examinar isso ou aquilo. O que é necessário é ver o que a lei diz. Está lá: vo-cê tem que fazer o Plano de Bacia Hidrográfica.

Os planos de bacia hidro-gráfica que temos hoje são diagnósticos, não são planos. Eles apontam os problemas, mas não dizem o que fazer. É preciso definir como fazer a outorga da água, como fazer o enquadramento, com que re-cursos e quando, e que metas se quer atingir em determina-do tempo. Isso não está nos planos. Começa que existe um grande financiamento de pla-nos em todo o Brasil e não há definição de metas.

Ecos - O senhor falou no começo desta entrevista que a situação do Brasil era seme-lhante à da maioria dos países, inclusive os desenvolvidos.

Tucci - O Chile, que não tem nenhum sistema de recursos hí-dricos, nenhum plano, nem na-da, decidiu que em tantos anos iria ter cobertura de 100% de tratamento dos esgoto das cida-des. E está completando esse plano, mesmo tendo problemas de gestão. É que os chilenos fo-ram pragmáticos em determina-dos setores, e com esse pragma-tismo chegaram a resultados com metas definidas.

Agora, construir um canal ou realizar outra obra são meios para atingir a meta. O que temos que fazer é sair dos meios e buscar as soluções e

pessoa para o cadastro de inadimplentes. Aí ele fica sem crédito no mercado. O fato é que somos um país de direitos e de muito pouco deveres. Isso se reflete na gestão dos recur-sos hídricos.

Ecos - E qual é a saída pa-ra isso?

Tucci - A saída é criar, nos comitês de bacia, poderes e re-cursos para que possam exe-cutar as suas funções. Os co-mitês de bacia necessitam de meios para executar esse sis-tema. Recentemente, no Con-gresso Brasileiro de Recursos

Revista Ecos 32.indd 9 17/05/2012 16:28:26

Page 10: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

mai

o d

e 2012

10

os resultados finais. Não estou dizendo que tudo o que foi fei-to está ruim, mas temos que ser mais pragmáticos. Fazer menos reuniões, estabelecer mais metas e buscar os recur-sos. Um comitê de bacia que não tem recursos e não tem to-mada de decisão vira um happy-hour: no final do dia, todo mundo vai pra casa e tu-do continua do mesmo jeito. E isso ainda acontece em grande parte do país.

Ecos - Quando se fala em gestão aparecem duas ques-tões. A primeira, de caráter po-lítico: é preciso ter vontade polí-tica para implementar a gestão. E a segunda são os recursos humanos qualificados. Como estamos nestes dois quesitos?

Tucci - A questão política é complexa porque temos muito governo e pouco esta-do, no país, de forma geral. Então, o que foi feito num go-verno não serve pro outro, mesmo sendo do mesmo par-tido. Temos projetos bons que sumiram. Um exemplo disso é o Prodes, um projeto do go-verno federal que hoje prati-camente não tem dinheiro, porque mudou o governo.

Ecos - Por que ele era bom?Tucci - Era bom porque,

em esgoto, dava subsídio, mas não cobrava por obra e sim pe-lo resultado, pela saída do efluente, se estava nas condi-ções previstas. E ele dava em títulos públicos, resgatáveis apenas quando os resultados eram atingidos. Então, ele comprava resultados e não obra. Era uma filosofia muito boa, mas hoje é um pingo d’água no oceano do Brasil. Então, o problema do país é

O que nos falta é gestão, gestão, gestão. Com isso quero dizer que é preciso avaliar, quantificar (saber quanto custa) e executar.

não termos um estado para planejamento de longo prazo. Isso é político, puramente polí-tico. Hoje está melhorando. Até no governo federal, que contratou mais de 800 pessoas pelo Ministério do Planejamen-to para colocar nos ministé-rios. Melhorou, porque antes você não tinha nem com quem conversar. As carreiras valora-das no governo federal são as carreiras de fiscalização, que é Receita, Polícia e Judiciário. As de segunda classe são as que têm que planejar e fazer o país acontecer. Então, nós con-tinuamos sendo um país de fis-cais e não um país de realiza-ção. Vai ser sempre um país que vai ser muito bom, como é, em cobrar impostos, mas não em entregar para a sociedade resultados palpáveis.

Ecos - E no que se refere aos recursos humanos qualifi-cados?

Tucci - Acho que num cer-to nível o Brasil fez avanços. Na década de 80 houve um in-vestimento muito grande na formação de nível superior e pós-graduação no exterior, e isso se refletiu. O que eu con-sidero terrível é a formação primária e secundária, que ainda são extremamente defi-cientes. Vou apresentar al-guns dados importantes. Um país cresce em economia por duas razões: por produtivida-de e por movimento de pesso-as de uma classe mais baixa para uma classe melhor. Nisso o Brasil está bem, hoje. No

momento que tivermos esse reequilíbrio social, vamos en-trar num estágio como Grécia, Itália e Portugal, e com um es-tado muito grande. O que vai acontecer? A produtividade do Brasil nos últimos dez anos é negativa. Significa que não estamos crescendo por inova-ção e produtividade, por cau-sa de qualificação e das amar-ras que existem na adminis-tração do país. Nós fazemos tudo para que ninguém faça nada. Isso é uma infelicidade muito grande, porque a buro-cracia é tão odiosa... tem um monte de coisas que só tem no Brasil, como reconhecimento de firma, carimbar 500 vezes a mesma coisa. Isso tem um custo para a sociedade. Achar que vai se pegar o corrupto pedindo para ele “n” carim-

bos? Não vai pegar nunca! Só vai atrapalhar a massa da po-pulação brasileira.

Isso custa para o país. Por isso a nossa produtividade é negativa. E, se a produtivida-de continuar negativa, vamos chegar lá com uma classe mé-dia grande, vivendo a partir do estado, e vamos quebrar, como quebraram esses paí-ses. Para evitar isso, é preciso melhorar a educação primária a secundária, desamarrar o país, que está preso, hoje, do ponto de vista burocrático. Porque nós temos uma econo-mia moderna dentro de um governo amarrado, preso em si próprio. Se o Brasil melho-rar, nesse sentido, vamos ter

Revista Ecos 32.indd 10 17/05/2012 16:28:26

Page 11: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

11

chance de ter algum sucesso no futuro.

Ecos - Falar em recursos hídricos nos remete também para uma questão importante que é a preservação ambien-tal. O Brasil tem convivido com o desrespeito crescente de usuários, e o resultado tem si-do um aumento da poluição. Como reverter esta situação?

Tucci - Acho que o país me-lhorou, embora esteja muito longe do ideal. Saímos de ce-nários péssimos de poluição em geral. Hoje, temos um sis-tema de licenciamento. O que eu sempre vejo é que o setor privado é mais controlado, e o mais difícil é controlar o setor público. De qualquer forma, te-mos que ir aprimorando o mo-nitoramente, aprimorando as nossas instituições de licencia-mento, tornando-as indepen-dentes, o que elas não são, pois dependem ainda da estru-tura do estado. Mas esse é um processo de negociação per-manente. Porque sempre have-rá o desenvolvedor que quer fazer além do que pode e o li-cenciador que quer preservar além do que poderia ser razoá-vel. Isso é um processo natu-ral. Agora, o que nós precisa-mos, do ponto de vista de ges-tão, é nos antecipar às ques-tões de poluentes e criar mais estratégias, que são avaliações ambientais regionais ou seto-riais. Temos que criar estraté-gias sobre o que queremos pa-ra cada região em termos am-bientais. Por exemplo: você vai numa bacia hidrográfica e quer fazer 200 barragens de PCH (pequenas centrais hidre-létricas). Se você analisar uma por uma, você aprova todas. Mas, se for estratégico, se per-

guntará: onde eu quero preser-var e onde posso permitir que haja desenvolvimento. E um paga a conservação do outro. Criar estratégias de incentivo a mecanismos econômicos de sustentabilidade. Isso vale pa-ra a indústria, porque o setor privado quer regras bem defi-nidas, com o mínimo de incer-teza. E criando essas regras dentro de uma estratégia mais regional você dá mais susten-tabilidade e alinha o desenvol-vimento à conservação e pre-servação do meio ambiente.

dos Sinos. Analisar todas as cargas que estão lá para saber quanto eu tenho que tratar. Se até agora eu não sei isso, en-tão, até agora sequer comecei a fazer algo. E fico lamentando todos os anos pelos peixes mor-tos.

Ecos - As diferentes pastas governamentais para tratar de recursos hídricos, saneamento e meio ambiente não dificul-tam uma ação mais efetiva e eficiente dos recursos e proje-tos disponíveis?

Tucci - É evidente. O setor de recursos hídricos, por ser multidisciplinar, está fragmen-tado no governo, uns quatro ou cinco ministérios tratam do as-sunto. Agora estão buscando soluções com relação às en-chentes. Aí se tem um pedaci-nho do Ministério da Ciência da Tecnologia, um pedacinho do Ministério do Meio Ambien-te, um pedacinho... e assim vai. Então, é algo que não pode funcionar. É preciso criar um programa integrado, com me-tas, com responsável, que reú-na as contribuições dos dife-rentes ministérios.

Ecos - No momento em que se fala em Plano Nacional de Saneamento (Plansab), como se encaixa nesta proposta a gestão hídrica?

Tucci - Esse plano é recen-te, ainda não o conheço em de-talhes, mas se ele não tiver metas para o saneamento pa-ra o país, ainda não estará completo. Para ser um plano de saneamento, precisa indi-car, por região, quando vamos ter aumento da cobertura de tratamento de esgoto e a redu-ção das cargas lançadas nos rios. Se não, não é um plano, é um diagnóstico.

É preciso criar um programa integrado, com metas, com responsável, que reúna as contribuições dos diferentes ministérios.

Ecos - A questão do rio dos Sinos, por que não chegamos ainda a uma solução?

Tucci - Só pra dar um exem-plo: não tem tratamento de es-goto em toda a bacia, e a popu-lação continua crescendo. Tam-bém existe a poluição indus-trial, que tem algum controle mas que ainda precisa ser apri-morado, porque à noite as in-dústrias podem soltar seus des-pejos. Quem vai saber? Desde a década de 80 existe monitora-mento com tanques de peixes (você sabe o estresse em que o peixe entra quando soltam água poluída). Hoje, existem sistemas eletrônicos de monito-ramento. Mas nem chegamos ao básico, que é tratar o esgoto das cidades do vale do Sinos. O que se deveria fazer? Um pro-grama de despoluição do rio

Revista Ecos 32.indd 11 17/05/2012 16:28:26

Page 12: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

12

Pela primeira vez na história da cidade, a extensão da Orla do Guaíba receberá investimen-to público para transformar a beira do lago em espaço comple-to de lazer para a população lo-cal e turistas. Um dos mais re-conhecidos urbanistas do país, o arquiteto Jaime Lerner, foi con-tratado, em dezembro de 2011, pela Prefeitura para desenvol-ver uma proposta de revitaliza-ção unificada para os 5,9 quilô-metros entre a Usina do Gasô-metro e o arroio Cavalhada, na altura do Iate Clube Guaíba.

Para realizar o projeto, uma equipe do escritório de arquite-tura de Lerner esteve na Capi-tal como o objetivo de se apro-priar da percepção dos porto--alegrenses sobre a orla e os hábitos da população na rela-ção com o Guaíba. O estudo servirá de guia na elaboração das opções de lazer, prática es-portiva e turismo, além da in-fraestrutura mais adequada e segura para o espaço.

Orla do Guaíba: um novo parque de lazer para Porto AlegreCarolina Seeger e Paula AguiarJornalistas, assessoras de Imprensa do Gabinete do Prefeito de Porto Alegre

Rica

rdo

Stric

her/

PMPA

Revista Ecos 32.indd 12 17/05/2012 16:28:26

Page 13: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

13

O escritório do urbanista se-rá responsável por desenvolver o plano conceitual para o Par-que Urbano da Orla do Guaíba e também os projetos executi-vos de arquitetura e paisagis-mo da primeira etapa de execu-ção, que compreende o trecho entre a Usina do Gasômetro e a primeira curva da avenida Bei-ra-rio, sentido centro-bairro. O objetivo é construir um planeja-mento integrado que garanta unidade nas instalações ao lon-go de toda a Orla.

Durante visita à Capital em dezembro do ano passado, para dar início aos trabalhos, Lerner disse que a revitalização da or-la, integrada ao projeto do Cais Mauá, dará novo sentido ao la-go Guaíba e à relação dos mo-radores com o espaço. “A revi-talização promoverá integração da área do Guaíba com o centro da cidade, com o cotidiano do porto-alegrense”, disse. Confor-me o urbanista, a sua equipe atuará de forma integrada com os técnicos do município, no trabalho pautado pelo respeito aos aspectos ambientais.

InfraestruturaAo longo dos 5,9 quilômetros

de orla, a área a ser revitaliza-da totaliza mais de 56,7 hecta-res, que receberão terminal tu-rístico para barcos de passeio, calçadão, ciclovia, banheiros, quadras esportivas, instalação de bancos e quiosques. Essas instalações integram o planeja-mento inicial da Prefeitura e serão enriquecidas por outras inovações a serem criadas pe-los projetistas.

Diante da extensão e da com-plexidade da obra, o projeto se-rá executado por etapas. As obras do primeiro trecho, entre a Usina do Gasômetro e a pri-

meira curva da avenida Beira-rio, devem começar no primeiro semestre de 2012. Após receber os projetos do escritório contra-tado, a Prefeitura realizará lici-tação para contratar a execução do serviço, custeado por recur-sos próprios do município.

IntegraçãoA revitalização da Orla co-

meça no momento em que a Capital recebe um conjunto de investimentos e projetos que modernizarão o espaço urba-no, garantindo melhorias sig-nificativas para a infraestrutu-ra e a qualidade de vida de quem mora ou visita Porto Ale-gre. O metrô, a revitalização do Cais Mauá, o aeromóvel e as obras de infraestrutura pre-paratórias à Copa de 2014 são conquistas que elevarão subs-tancialmente o patamar de de-senvolvimento da cidade.

O Centro Histórico, parti-cularmente, vive um novo es-tágio na transformação empe-nhada ao longo dos últimos anos, com a concretização de sonhos antigos dos morado-res. Ao colocar em prática a criação do Parque Urbano da Orla do Guaíba, a Prefeitura soma esforços à iniciativa pri-vada, responsável pela execu-ção do novo Cais Mauá, para estabelecer um espaço com-pleto de lazer e entretenimen-to que será responsável por recuperar a relação das pes-soas com o lago Guaíba.

Além dos 5,9 quilômetros da Orla que serão transfor-mados pelo projeto da prefei-tura, a revitalização do Cais Mauá dará nova vida ao tre-cho, de aproximadamente 2,5 quilômetros, da Rodoviária à Usina do Gasômetro. Os em-preendedores projetam já pa-ra 2014 a entrega dos arma-zéns revitalizados para o fun-cionamento de bares, restau-rantes, lojas e estabelecimen-tos culturais, em obras que devem começar no primeiro semestre deste ano. Ainda, o espaço receberá infraestrutu-ra completa com a constru-ção de prédios comerciais e mistos (residenciais e comer-ciais), gerando cerca de 9 mil empregos diretos e indiretos na operação, conforme proje-tos dos investidores.

Após as intervenções que a Prefeitura está empreendendo na Orla e o projeto de revitali-zação do Cais Mauá, os mora-dores e visitantes da Capital poderão desfrutar um espaço adequado para caminhadas e passeios de bicicleta na beira do lago, desde a Estação Rodo-viária até o arroio Cavalhada. A integração e o pioneirismo dos projetos vão auxiliar na realização de um antigo sonho da população da cidade e na abertura de novas atrações tu-rísticas, que agregam beleza, desenvolvimento econômico e respeito ao meio ambiente, ge-rando cada vez mais qualidade de vida para Porto Alegre.

/

Revista Ecos 32.indd 13 17/05/2012 16:28:28

Page 14: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

14

Na manhã de uma terça-feira de inverno, dia 12 de ju-lho de 2011, o prefeito José Fortunati e o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Mário Moncks, estavam na simbólica Praça da Matriz, no Centro Histórico da cidade,

cartar o seu lixo a qualquer hora do dia ou da noite e, pa-radoxalmente, o Centro His-tórico ficou muito mais limpo. Três mil metros cúbicos de li-xo, que equivalem a um pré-dio de dez andares, ficaram protegidos da ação danosa da chuva e do vento, e fora do al-cance dos animais. Os buei-ros pararam de entupir e aca-baram-se os alagamentos. Não é por acaso que as pes-

para receber o primeiro con-têiner de coleta automatiza-da de lixo em uma capital brasileira. Na frente das se-des dos três poderes estava iniciando a fase de moderni-zação da limpeza urbana de Porto Alegre.

“A estética mudou de um dia para o outro. Desaparece-ram os saquinhos de lixo das calçadas. As pessoas passa-ram a ter o conforto de des-

A primeira capitaldo Brasil com coletaautomatizada de lixoRoberto AzevedoJornalista, assessor de imprensa do DMLU

Rica

rdo

Giu

sti/

PMPA

Revista Ecos 32.indd 14 17/05/2012 16:28:29

Page 15: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

15

soas logo entenderam e apro-varam a mudança”, explica Mário Moncks.

A coleta automatizada do lixo foi instalada numa área piloto que alcança cinco bair-ros completos (Centro Histó-rico, Cidade Baixa, Indepen-dência, Bom Fim e Farroupi-lha) e parte de outros oito bairros (Praia de Belas, Me-nino Deus, Azenha, Santana, Rio Branco, Santa Cecília, Moinhos de Vento e Floresta). Esta área representa cerca de 9% da cidade, beneficia aproximadamente 124 mil moradores e está limitada pe-lo Guaíba a oeste, pela aveni-da Ipiranga ao sul, pelas ave-nidas Silva Só e Goethe e pe-la rua Dr. Timóteo a leste, e, a norte, por um contorno que, da Dr. Timóteo segue pela avenida Cristóvão Colombo até a rua Ramiro Barcelos e desta, pela Voluntários da Pá-tria, até a Mauá.

Foram distribuídos inicial-mente 1.100 contêineres, dis-tantes cem metros um do ou-tro e apenas para receber o lixo orgânico domiciliar. A co-leta seletiva do lixo seco man-teve-se inalterada (sem con-têineres), duas vezes por se-mana, dentro do modelo que já tem 21 anos, foi pioneiro no país e hoje é referência na América Latina por atender 100% dos bairros da cidade e distribuir esses resíduos en-tre 18 unidades de triagem conveniadas com o DMLU, que geram renda média de um salário mínimo para cer-ca de 800 pessoas, na grande maioria mulheres.

O DMLU já estuda um pro-jeto de ampliação a ser apre-sentado ao prefeito Fortunati em 2012. Provavelmente será

A coleta automatizada do lixo foi instalada numa área piloto que alcança cinco bairros completos (Centro Histórico, Cidade Baixa, Independência, Bom Fim e Farroupilha) e parte de outros oito bairros (Praia de Belas, Menino Deus, Azenha, Santana, Rio Branco, Santa Cecília, Moinhos de Vento e Floresta).

Foto

s: F

ranc

ielle

Cae

tano

/PM

PA

Revista Ecos 32.indd 15 17/05/2012 16:28:30

Page 16: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

16

um módulo muito semelhante ao primeiro, com pouco mais de mil contêineres, e em áreas estendidas naqueles bairros que já são servidos parcial-mente. A ideia é aproveitar as zonas de maior densidade po-pulacional e evitar a criação de um número maior de fron-teiras com a coleta tradicional do lixo domiciliar, feita porta a porta no restante da cidade.

Da educação ambientalao vandalismo

Um mês antes da chegada dos contêineres às ruas de Porto Alegre, enquanto a Co-ordenação de Comunicação da Prefeitura Municipal pre-parava a campanha publicitá-ria nos mais diversos tipos de mídia para o lançamento da coleta automatizada, o DMLU, com a ajuda dos leitores de contas do Departamento Mu-nicipal de Água e Esgotos (Dmae), iniciou a distribuição de panfletos informativos e explicativos aos mais de cem mil domicílios da área piloto.

A partir do dia 12 de ju-lho, quando os contêineres

passaram a ser instalados a uma média de 200 por dia, a equipe da Assessoria Comu-nitária do DMLU trabalhou em tempo integral ao redor de cada equipamento que era colocado na via pública para explicar aos morado-res (ou simples curiosos, no caso do Centro Histórico) como era o funcionamento e a que tipo de lixo se destina-vam os novos contêineres. Sempre deixando com cada pessoa, ou em cada residên-cia, um novo panfleto ilus-

trado com foto, gráfico e de-senho.

O diálogo e a interação do DMLU com a população não evitaram, porém, uma onda de vandalismo que preocupou os responsáveis pela nova operação durante os primei-ros meses. Os bombeiros fo-ram chamados 28 vezes para apagar fogo em contêineres.

Algumas ações não tive-ram maiores consequências, porque o lixo orgânico não alimenta o fogo, mas o des-carte errado de lixo seco, principalmente papel, pape-lão e plástico, fez com que 13 equipamentos restassem muito queimados e tivessem que ser substituídos e enca-minhados à oficina de manu-tenção. O vandalismo só foi diminuindo e praticamente desapareceu na medida em que as pessoas satisfeitas com os contêineres passaram a expor sua indignação, vi-giar os equipamentos e de-nunciar os vândalos.

O diálogo e a interação do DMLU com a população não evitaram uma onda de vandalismo que preocupou os responsáveis pela nova operação durante os primeiros meses. Os bombeiros foram chamados 28 vezes para apagar fogo em contêineres. Algumas ações não tiveram maiores consequências, porque o lixo orgânico não alimenta o fogo, mas o descarte errado de lixo seco fez com que 13 equipamentos restassem muito queimados.

Abrângencia da área piloto

Revista Ecos 32.indd 16 17/05/2012 16:28:32

Page 17: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

17

Porto Alegre recebe várias obras contra alagamentos

Adriana Nascimento Machado Jornalista, assessora de imprensa do DEP

Enchentes urbanas no Bra-sil e em várias partes do mun-do estão destruindo cidades inteiras e prejudicando a qua-lidade de vida da população. Em tempos de tsunâmis e ou-tras catástrofes climáticas é bom saber que aqui em Porto Alegre jet skis não andam mais na avenida Goethe, os

alunos do Colégio Santa Rosa de Lima, no bairro Santana, não precisam mais tirar os sa-patos para entrar na escola em dias de chuva, o Acampa-mento Farroupilha não vira um lodo em setembro, os por-tões do Muro da Mauá estão reformados e preparados pa-ra proteger o Centro Histórico de uma enchente do Guaíba. Enfim, basta que se compare o passado com o presente pa-ra que se perceba que a dre-nagem da cidade está melho-

rando com as novas obras do Departamento de Esgotos Plu-viais (DEP).

Porto Alegre tem avançado muito no combate aos alaga-mentos com investimentos su-cessivos da Prefeitura na am-pliação da rede de drenagem em várias regiões da cidade. Este foi um dos motivos de Por-to Alegre ser considerada, no meio técnico e acadêmico, como uma das cidades mais inovado-ras na área de drenagem urba-na do Brasil e ter sido sede em

Foto

s: D

ivul

gaçã

o/D

EP

Revista Ecos 32.indd 17 17/05/2012 16:28:32

Page 18: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

18

2011, da 12a Conferência Inter-nacional de Drenagem Urbana, que pela primeira vez ocorreu fora do eixo dos países euro-peus e da América do Norte.

Foram investidos R$ 67 mi-lhões no primeiro pacote de obras (fora o Conduto). Muitas delas já foram inauguradas e outras serão concluídas no de-correr do ano. Outro pacote de mais 10 obras será iniciado em 2012, atingindo um investimen-to de mais R$ 26,2 milhões em obras contra alagamentos.

Entre as obras já concluídas após o Conduto Álvaro Chaves – maior obra de drenagem de Porto Alegre nos últimos 40 anos, com investimento de R$ 59 milhões – muitas eram de-mandas antigas.

Em janeiro de 2011 foi en-tregue a obra de reforma das 14 comportas de vedação do Muro da Mauá. Agora, os por-tões que impedem que as águas do Guaíba invadam o Centro Histórico em caso de cheias funcionam com aciona-mento hidráulico. Esta foi a primeira reforma total dos portões da Mauá desde que fo-ram construídos pelo extinto Departamento Nacional de

Obras e Saneamento (DNOS), na década de 70.

Em abril do ano passado foi entregue a obra de drenagem Santa Teresinha, no bairro San-tana. Foi construída uma casa de bombas com capacidade de bombear 5.500 litros por segun-do de água da chuva em direção ao arroio Dilúvio e mais 1.270 metros de redes pluviais com galerias de até 2 m por 1,20 m de seção. A primeira chuva após a inauguração da obra comprovou que, após 30 anos, o bairro Santana não alaga mais, em virtude desta construção.

rador, que permitirá que fun-cione mesmo que falte energia elétrica.

O DEP executou a primeira parte da obra do Jardim do Sal-so, que fica no trecho da aveni-da Cristiano Fischer, desde a avenida Ipiranga até a rua Pro-fessor Pedro Santa Helena. A segunda etapa deverá iniciar-se no decorrer de 2012. O DEP também completou a reforma das casas de bombas 3 (avenida Castelo Branco, próximo da avenida São Pedro) e da casa de bombas Vila Farrapos, na rua Frederico Mentz.

Foram investidos R$ 67 milhões no primeiro pacote de obras (fora o Conduto). Muitas delas já foram inauguradas e outras serão concluídas no decorrer do ano.

Também foi concluída a obra de reforma da casa de bombas 5 no bairro Humaitá. Esta casa de bombas teve sua capacidade de bombeamento ampliada de 7.750 litros por segundo para 10.250 litros por segundo de água da chuva, além da instalação de um ge-

A Zona Sul da cidade teve uma obra que beneficiou 20 mil moradores. A obra de drenagem João Mendes Ouriques, em Ipa-nema, estende-se pelas avenidas Coronel Marcos e Arlindo Pas-qualini, ruas Manoel Leão, João Mendes Ouriques, Jigoro Kano, Homero Prado, José Kanan Ara-

Foto

s: D

ivul

gaçã

o/D

EP

Revista Ecos 32.indd 18 17/05/2012 16:28:33

Page 19: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

19

nha e Travessa Pedra Redonda. Foram implantados 1.937 metros de redes pluviais com galerias de até 3 m por 1,30 m de seção e tubos de até 1,20 m de diâmetro. A obra foi inaugurada em setem-bro e é considerada a maior obra de drenagem da Zona Sul de Porto Alegre.

Obras em execução

No bairro Lindoia, já está pronta a primeira parte da obra da avenida Panamerica-na, trecho entre a avenida Ser-tório e a rua Quito. Está em andamento a segunda parte, que fica na avenida Panameri-cana, trecho da rua Quito até a avenida Assis Brasil. No total, estão sendo implantados 1.221 m de tubos e 1.526 m de gale-rias de até 2 m de largura por 1,50 m de altura. Serão benefi-ciados 100 mil moradores do Lindoia e bairros do entorno.

Continuam em execução as obras de recuperação dos talu-des do arroio Dilúvio, na aveni-da Ipiranga, que atingirão 21 quilômetros de concretagem (10,5 quilômetros de cada lado do Dilúvio). Prossegue também a obra da avenida São Pedro, no bairro São Geraldo. Já foi concluído o primeiro lote, da avenida Castelo Branco até a travessia da avenida Farrapos. Agora o DEP executa o lote II da obra da avenida São Pedro, trecho da avenida Farrapos até a avenida Benjamin Constant. No total serão implantados 1.679 m de redes entre tubos e galerias pluviais de até 1,50 m por 1,50 m de seção.

Na Vila Minuano, bairro Sa-randi, está sendo executada uma grande obra contra alaga-mentos, com 1.265 m de redes de

1,50 m de diâmetro, em fase final na avenida Rocco Aloise, na ave-nida dos Gaúchos e na rua Fran-cisco Pinto da Fontoura. Está sendo construída uma casa de bombas ao longo do arroio Sa-randi / Passo da Mangueira, no final da avenida Rocco Aloise. Esta casa de bombas terá cinco bombas com capacidade de bombear 8 mil litros de água da chuva por segundo em direção ao arroio Passo da Mangueira. Outra parte desta obra, também em execução, compõe-se de 767 m de diques em terra e em con-creto na margem esquerda do arroio Passo da Mangueira para impedir que as águas do arroio invadam a Vila Minuano.

Em fevereiro de 2011, teve início, na Zona Norte, a obra de drenagem da vila Asa Branca.

Esta gigantesca obra de drena-gem contará com 3.249 m de tu-bos e galerias com seções varia-das, uma casa de bombas com capacidade de bombear 1.900 li-tros por segundo de água da chuva na rua B-2. Também se-rão executados 1.653 m de di-ques (880 m de diques e 773 m de valas), que deverão ser im-plantados em toda a divisa da vila Asa Branca. Estes diques, feitos de argila compactada, protegerão a área baixa, onde está inserida a vila, do extrava-samento de dois valos existen-tes no local.

Em função de tantas obras, Porto Alegre destaca-se entre as grandes capitais como a ci-dade com maior investimento per capita na área de drena-gem urbana no Brasil.

OBRAS A SEREM EXECUTAS EM PORTO ALEGRE PARA COMBATER ALAGAMEN-TOS, COM INVESTIMENTO DE R$ 26,2 MILHÕES

Obras Previsão início

1 Drenagem rua Ângelo Crivellaro no Jardim do Salso (2ª etapa) 2012

2 Redes complementares da bacia de amortecimento da praça Celso Luft, bairro Chácara das Pedras 2012

3 Reservatório e redes de drenagem nas ruas José Gertum e Ernesto Ludwig, bairro Chácara das Pedras 2012

4 Reservatório de amortecimento de cheias na praça Joaquim Leite, bairro Chácara das Pedras 2012

5 Drenagem na rua Teixeira Mendes, bairro Chácara das Pedras 2012

6 Drenagem na rua Olávio José de Souza, bairro Belém Novo 2012

7 Drenagem na rua Frei Germano, bairro Partenon 2012

8 Drenagem na avenida Carazinho, bairro Petrópolis 2012

9 Drenagem na rua Carlos Barbosa e adjacências, bairro Azenha 2012

10 Drenagem na rua Damasco e adjacências, bairro Azenha 2012

Revista Ecos 32.indd 19 17/05/2012 16:28:36

Page 20: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

20

Com o atraso de muitas dé-cadas, o Brasil prepara um im-portante plano para o sanea-mento, envolvendo água, esgo-to, macrodrenagem e resíduos sólidos junto a medidas de pre-venção ao meio ambiente e em consonância com a Declaração do Milênio, convenção da Orga-nização das Nações Unidas (ONU) de 2000 da qual o país é signatário. Se vingar e se tor-nar efetiva, a nova proposta, com projeções para os próxi-mos 20 anos, deverá colocar o Brasil nos mesmos níveis das nações mais desenvolvidas da

atualidade, rompendo um ciclo histórico de atraso no setor. Es-tamos falando do Plano Nacio-nal de Saneamento (Plansab), que resgata um esforço nacio-nal para sanear o país, com iní-cio lá nos anos 30 do século passado, atualizado na década de 70 com o Planasa, e que no decorrer das décadas seguintes perdeu força e poder de ação.

O Plansab, em decorrência do volume de recursos de que necessitará, buscará dar sequ-ência organizada, do ponto de vista de investimentos, ao pro-cesso de obras do setor, iniciado

Brasil tem plano de saneamento para os próximos 20 anos

Por Charles SoveralJornalista

em 2007 pelo Programa de Ace-leração do Crescimento (PAC), que, de lá para cá, aumentou aportes na área, passando de desembolsos de 1,7 bilhão em 2006 para 2,9 bilhões em 2007, 3,5 bilhões por ano em 2008 e 2009 e quase 40 bilhões previs-tos no orçamento de 2010, em-bora uma parcela deste valor ainda não tenha sido executada.

Diferente do que é feito atu-almente, quando muitas vezes a intervenção política se sobre-põe aos aspectos técnicos, o Plansab prevê que a liberação de recursos pelo Governo Fede-

Ivo

Gon

çalv

es/P

MPA

Revista Ecos 32.indd 20 17/05/2012 16:28:36

Page 21: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

21

ral esteja condicionada à elabo-ração, por parte das prefeitu-ras, de planos municipais que orientem os projetos munici-pais em saneamento. Apenas 12% das cidades brasileiras contam com esse tipo de legis-lação atualmente, e Porto Ale-gre está entre estas cidades.

Uma vez em vigor, o Plano traçará metas a serem alcança-das até 2030, quando se espera universalizar o saneamento bá-sico no Brasil. Para tanto, será necessário uma quantia na or-dem de 420 bilhões de reais, sendo 250 bilhões provenientes de fontes federais. O restante deverá vir de aportes estadu-ais, municipais, da iniciativa privada e de órgãos internacio-nais de concessão de crédito, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Para o professor Léo Hel-ler, do Departamento de Enge-nharia Sanitária da Universi-dade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos técnicos que colaboraram na elabora-ção do Plansab, o Brasil tem muito pouca tradição de pla-nejamento. Ele lembra que o marco anterior ao Plansab foi exatamente o Planasa, elabo-rado em 1971. “Mas foi um plano muito distinto deste. Era um plano de gabinete, não foi nada estratégico. O que ele estabeleceu, na verdade, foi um novo modelo institucional para o setor de saneamento – com a criação das compa-nhias estaduais de saneamen-to – e uma modelagem finan-ceira. O Planasa estabeleceu metas, para 1980 e para 1990. Mas não havia propriamente um acompanhamento da sua execução. Foi um plano que hoje a gente chama de plano tradicional, um plano norma-

O Planasa estabeleceu metas, para 1980 e para 1990. Mas não havia propriamente um acompanhamento da sua execução, mudanças de rumo. Foi um plano que hoje a gente chama de plano tradicional.

tivo, que se contrapõe a uma ideia de plano estratégico, co-mo se pretende que seja o Plansab” afirma ele.

A história nos mostra que o Brasil entrou mesmo tarde no processo de saneamento, que deu os primeiros passos no sé-culo 19. Naquela época, a neces-sidade do intercâmbio comercial forçava a instalação de medidas sanitárias eficientes, pois a dis-seminação de doenças contagio-sas em cidades desprovidas des-sas iniciativas traziam, logica-mente, aos visitantes os mes-mos riscos de contaminação, ge-rando insegurança e obrigando os navios comerciais da época a

ziu no Brasil em 1912 o outro conceito importante de sanea-mento, que é o Sistema Separa-dor Absoluto, cuja característi-ca principal é ser constituído de uma rede coletora de esgo-tos sanitários e uma outra ex-clusiva para águas pluviais.

Mas os planos de distribui-ção e tratamento de água e a coleta de esgotos sempre tive-ram uma visão inicial sanitaris-ta e limitadora de ações. Resí-duos sólidos, macrodrenagem e tratamento do esgoto antes de devolvê-lo à natureza estavam fora dos planos assim como qualquer ação minimizadora dos efeitos poluentes e do im-pacto no meio ambiente das obras que eram executadas. Essa é uma diferença que ago-ra se vê claramente entre as preocupações do Plansab. “O

evitarem esses portos de suas rotas marítimas, e causando prejuízos constantes às nações mais pobres e dependentes do comércio internacional.

No Brasil, relacionavam-se nesta situação os portos do Rio de Janeiro e Santos. Temendo os efeitos de um desastre eco-nômico, o imperador D. Pedro II contratou os ingleses para ela-borarem e implantarem siste-mas de esgotamento para o Rio de Janeiro e São Paulo, já na época, as principais cidades brasileiras. Ao estudarem a si-tuação, os projetistas depara-ram-se com situações peculia-res e diferentes das encontra-das na Europa, principalmente as condições climáticas (clima tropical, com chuvas muito mais intensas) e a urbanização (lotes grandes e ruas largas).

Após criteriosos estudos e justificativas, foi adotado, na ocasião, um inédito sistema no qual eram coletadas e conduzi-das às galerias, além das águas residuárias domésticas, apenas as vazões pluviais provenientes das áreas pavimentadas inte-riores aos lotes (telhados, pá-tios etc). Criava-se, então, o Sistema Separador Parcial, cujo objetivo básico era reduzir os custos de implantação e, consequentemente, as tarifas a serem pagas pelos usuários. Foi a partir de uma ideia dos engenheiro norte-americanos George Waring e Cady Staley que Saturnino de Brito introdu-

Revista Ecos 32.indd 21 17/05/2012 16:28:37

Page 22: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

22

Brasil e o mundo têm hoje uma visão mais integrada destas coisas. Não se pode falar em saneamento sem olhar todas as conexões deste processo. Isto envolve saúde, envolve educa-ção, envolve participação, en-volve meio ambiente, envolve gestão, organização de recur-sos, definição política”, explica Fidel Humberto Cuéllar Boada, economista colombiano, espe-cialista em saneamento que es-tá desenvolvendo um trabalho de consultoria técnica para o Dmae de Porto Alegre em go-vernança corporativa.

De mesma opinião é o pro-fessor Heller, para quem o pla-nejamento estratégico é o gran-de diferencial do novo plano na-cional de saneamento. “O pla-nejamento tem inicialmente um desafio, que é o de pensar o fu-turo, e o futuro é algo que não é dado, algo de que não se tem ja-mais uma certeza de como ocorrerá. A gente costuma di-zer que o planejador não tem uma bola de cristal na sua fren-te. Então, o plano estratégico foi no sentido de se pensar ce-nários, não um futuro único, mas futuros prováveis e desejá-veis. Pensou-se em três cená-rios e se planejou tendo em vis-ta um deles, que foi o cenário de referência, ficando os outros dois como cenários alternati-vos. Então, o lado estratégico do Plansab será monitorar, de forma sistemática, a ocorrência desses cenários. E caso o cená-rio de referência não ocorra, ou a realidade se distancie muito desse cenário de referência, is-so implicaria revisões, altera-ções de rumo, ajustes, para que fique compatível com a realida-de”, observa.

Segundo Heller o cenário adotado para o Plansab é rela-

tivamente otimista. O Plano projeta que em 20 anos o Bra-sil terá políticas públicas mais estáveis, melhor relaciona-mento entre União, estados e municípios, terá um marco re-gulatório observado, terá uma política macroeconômica de crescimento contínuo. “Acredi-tamos que as tecnologias apli-cadas ao saneamento – outra variável – serão cada vez mais apropriadas à realidade e que haverá crescentes investimen-tos para o setor, com estabili-dade. Então, é um cenário que mostra até onde se conseguia enxergar o Brasil na época em que foi elaborado o Plansab. É um cenário relativamente oti-mista, com democracia na ges-tão pública, com controle so-cial.”, completa ele.

Já o professor da Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e uma das maio-res autoridades brasileiras em

Recursos Hídricos, Carlos Eduardo Morelli Tucci, explica que o Brasil tem problemas estruturais graves que preci-sam ser vencidos para que o Plansab não fique apenas no terreno das boas intenções. “No Brasil a política de sanea-mento está espalhada em di-versos ministérios que não se conversam. Falta gestão, falta organização e decisão política de colocar estes temas na pau-ta de prioridades reais do Go-verno”, critica ele.

O professor Tucci, que diri-ge a Rhama Consultoria, lem-bra que o cenário atual do sa-neamento no Brasil ainda é precário. Ele assinala, por exemplo, que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE), revelam que dos 5,5 mil municípios brasileiros, pouco mais de 3 mil contam com rede coletora, o equivalen-te a 55,2% do total. Para trata-

Div

ulga

ção/

DM

AE

Revista Ecos 32.indd 22 17/05/2012 16:28:37

Page 23: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

23

mento de esgoto, o cenário é o seguinte: 68,8% do total coleta-do passam por estações de tra-tamento, sendo o restante des-pejado em locais inapropria-dos, como córregos e rios.

Tucci admite que houve avanços na década passada, e as reformas estruturais inicia-das no final da década de 90 conduziram o Brasil para novo patamar, mas lamenta que te-nhamos perdido tempo demais. “O Brasil avançou com as legis-lações criadas ainda nos anos 90, como a Lei de Recursos Hí-dricos (9.433/97), e no início des-te século, com a Lei do Sanea-mento (11.445/07), mas não de-senvolveu corretamente os apa-relhos de gestão, de fiscalização, de qualificação e de incentivo para que os brasileiros pudes-sem definir prioridades com cla-reza, investir nas obras com se-gurança e proporcionar serviços de qualidade. Especialmente nas regiões metropolitanas que concentram grande população, crescimento exponencial desor-denado, acúmulo na geração de

lixo e pouco ou quase nenhum planejamento. Isto tudo torna os serviços de baixa qualidade e, muitas vezes, sem o comprome-timento necessário com a popu-lação e com o meio ambiente”, diz o professor da Ufrgs.

Outro aspecto que o profes-sor gaúcho destaca está no fato de que o planejamento de mé-dio e longo prazos enfrenta as dificuldades tradicionais do Brasil que a cada quatro anos

muda a administração dos ser-viços públicos e, geralmente, das prioridades. “O que acarre-ta, em função de interesses po-líticos, muitas vezes, a inter-rupção de programas e proje-tos que estão funcionando bem somente porque são ideias ou propostas construídas na admi-nistração anterior. É preciso acabar com esta cultura de que somente o que eu criei é bom”, conclui Tucci.

Construção do plano foi a mais democrática até hoje

O professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Léo Heller, explica que o plano teve um esforço concentrado de ela-boração durante mais ou me-nos um ano, de julho de 2009 até junho de 2010, e ouviu todos os segmentos interessados em um processo amplo e democrá-tico como não havia ainda ocor-rido neste setor.

Heller lembra que o Minis-tério das Cidades publicou

uma chamada para as univer-sidades públicas sugerindo que propusessem a elaboração de um estudo que teve o nome de Panorama do Saneamento Básico no Brasil. Esse estudo gerou, como um de seus sub-produtos, a versão preliminar do Plansab. “Concorremos a esse edital com três universi-dades: Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal da Bahia e Universida-

Mar

ia d

e Lo

urde

s W

olff

/DM

AE

Revista Ecos 32.indd 23 17/05/2012 16:28:38

Page 24: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

24

de Federal do Rio de Janeiro. Cada universidade ficou encar-regada de parte do estudo e também de uma coordenação integrada. A equipe teve a par-ticipação de cerca de 60 pesso-as, mas se contarmos os que tiveram atuações mais pontu-ais, chega-se a quase 100 pes-soas” revela o professor.

Conforme Heller, o Plansab tem um conjunto de macrodi-retrizes, um conjunto de estra-tégias e metas de curto, médio e longo prazos. A ideia propos-ta é que, ao longo do período de execução, que é de 20 anos, todos esses elementos sejam monitorados e avaliados, o que pode implicar revisões. Foram previstos cinco diferentes es-tratégias de monitoramento: o monitoramento dos cenários, das metas, de alguns indicado-res complementares às metas, das diretrizes e estratégias, e da execução das obras nos se-tores envolvidos.

O professor mineiro também diz que, como parte da metodo-logia de geração de cenários, foi feito um conjunto de oficinas para identificar as variáveis, as hipóteses de variação de cada cenário e suas possibilidades. Além das universidades, o pro-jeto do Plansab ouviu a popula-ção em audiências públicas que percorreram todas as regiões do país coletando relatos da po-pulação e inserindo no texto problemas reais da sociedade naquilo que poderia se definir com um dos projetos mais de-mocráticos em sua construção que o Brasil presenciou até ho-je. “Fizemos cinco seminários regionais, para discutir o plano, para captar as particularidades de cada região. E, depois que a versão preliminar do plano foi concluída, fizemos cinco audi-

ências públicas, uma em cada região do país, para expor o plano, discutir, escutar as con-tribuições.”

De acordo com o professor Heller, o resultado de todo esse trabalho é que a existência de um plano pode trazer mais ra-cionalidade à condução da polí-tica pública, torná-la menos re-fém de pressões, de fatores que não são muito legítimos nas de-cisões do gestor público. “O Pla-no mostra a direção da política. Uma coisa é a política sem pla-nejamento e outra coisa é a po-lítica que tem norte bem defini-do, metas a serem perseguidas.

de saneamento e atingir a tão almejada universalidade que o setor precisa atingir por força legal, mas muito mais pelo di-reito de todos os cidadãos bra-sileiros de ter acesso ao sanea-mento básico.

Em termos de investimen-tos, Heller adianta que a previ-são orçamentária do Plansab é histórica, pois trabalha com uma grande soma. Ele lembra que a estimativa governamen-tal é de que o plano será execu-tado em 20 anos, com recursos em torno de 420 bilhões de re-ais, cerca de 250 bilhões do go-verno federal e o restante trazi-do por outros governos, os pró-prios prestadores e até mesmo investidores privados.

Um dado importante aponta-do pelo professor da UFMG é que esse valor não aumenta de forma drástica o histórico do in-vestimento que já está desenha-do para o setor pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Se o PAC conseguir se consolidar com eficiência na aplicação dos recursos, o recur-so mobilizado, explica ele, é coe-rente com o que estimou para o Plansab. “Mas, para isso, será preciso maior eficiência, sobre-tudo, estabilidade na aplicação dos recursos. Para tanto, será necessário que os prestadores de serviço gerem recursos por meio da cobrança de tarifas que ampliem seus investimentos.

O Brasil resgatará dívida histórica, afirma secretário nacional do saneamento

Em termos de investimentos, Heller adianta que a previsão orçamentária do Plansab é histórica, pois trabalha com uma grande soma.

Então, as direções podem tra-zer melhor articulação e coor-denação entre as ações dos vá-rios atores. E, o fato de o plane-jamento ser estratégico poderá fazer com que ele seja compatí-vel com a realidade que o país apresenta, ou seja, viável. Te-nho forte expectativa de que o Plansab pode, de fato, dar uma direção mais efetiva às políticas

A proposta do Plano Nacio-nal de Saneamento Básico (Plansab), elaborada pelo go-verno federal, planejado e co-ordenado pelo Ministério das

Cidades, será um marco na história do saneamento brasi-leiro porque vai resgatar uma dívida do país com sua popula-ção e promoverá ganhos de

Revista Ecos 32.indd 24 17/05/2012 16:28:40

Page 25: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

25

qualidade de vida para todos os níveis sociais, especialmen-te os mais pobres e socialmen-te excluídos. A opinião é do se-cretário nacional de Sanea-mento Ambiental, Leodegar Tiscoski. “O Plansab será, sem dúvida, a referência para os futuros investimentos no setor saneamento básico brasileiro nos próximos 20 anos, exer-cendo também o papel indutor junto aos estados e municípios para impulsionar a organiza-ção e a consolidação dos pila-res básicos da gestão do setor, previstos na lei, que incluem o próprio planejamento, a regu-lação e fiscalização, a presta-ção dos serviços e o controle social”, garante Tiscoski.

O secretário nacional res-salta que as diretrizes, estra-tégias e programas estabeleci-dos no Plano consolidam o grande esforço do governo fe-deral e da sociedade civil, para

que a população brasileira se-ja atendida com serviços de elevada qualidade na área de saneamento. “O Brasil e sua população conquistaram esse direito elegendo as prioridades nacionais. Será o resgate de uma dívida histórica. Este é o fator diferencial do Plano, que teve ampla participação da co-munidade, dos técnicos, das universidades, das empresas de saneamento. Esse somató-rio de esforços oferece um pro-jeto consistente, que tem nos recursos previstos a garantia de que a execução vai alavan-car muito o desenvolvimento do setor em nosso país. Em meu estado, Santa Catarina, a população vê no saneamento uma necessidade urgente, fun-damental para o desenvolvi-mento urbano”, assegura.

Iniciado em 2008, o proces-so de construção do Plano foi organizado em quatro etapas

de trabalho: a primeira foi o Pacto pelo Saneamento Bási-co; a segunda foi a elaboração do diagnóstico da situação do saneamento no país, mediante a pesquisa Estudo do Panora-ma do Saneamento Básico no Brasil e, também, a proposta do Plano Nacional de Sanea-mento Básico; a terceira eta-pa deverá contemplar a divul-gação e o debate público da Proposta de Plano. O Plan-sab, que atualmente se encon-tra na Casa Civil da Presidên-cia da República, aguarda ma-nifestação pública para poste-riormente ser realizada a quarta etapa, que é o detalha-mento dos programas, proje-tos e ações, bem como monito-ramento e avaliação.

O Plansab consolida os avanços verificados no setor de saneamento nos últimos anos a partir da aprovação do marco regulatório (Lei no

Vera

Lúc

ia P

eter

sen/

DM

AE

Revista Ecos 32.indd 25 17/05/2012 16:28:40

Page 26: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

26

11.445/2007 e Decreto no 7.217/2010), ocupando um vácuo de planejamento que vem de meados dos anos 80 e que permitirá aos municípios e laborarem seus planos, abrindo espaço para consoli-dação de projetos regionais.

Tiscoski aponta também a abordagem integrada do sa-

Planejamento faz parte da rotina do Dmaedesde sua criação, na década de 60

neamento básico, incluindo os quatro componentes – abastecimento de água potá-vel, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas – como uma propos-ta diferenciada de tudo o que já foi feito até hoje no Brasil.

“Hoje sabemos que sanea-mento não é uma ilha isola-da, que está relacionado aos cuidados ambientais, à pre-servação dos recursos hídri-cos, à correta destinação dos resíduos sólidos. Não dá para pensar em um plano que não englobe todas estas áreas”, conclui o secretário nacional.

Desde a fundação do Dmae, em 1961, o planejamento de médio e longo prazos está pre-sente. Até hoje, no Brasil, sur-gem como raras exceções as organizações que conseguem estabelecer planejamentos co-mo rotina. Daí a importância do primeiro Plano de Esgotos (PDE) de Porto Alegre, que da-ta de 1966, e o de Água (PDA), que ocorreu em 1982.

Flávio Presser, diretor-geral do Dmae, destaca que os planos de água e esgotos de Porto Ale-gre sofreram periódicas revisões para ajustá-los às novas deman-das da cidade, fruto de seu cons-tante crescimento.

Presser assinala que as re-centes revisões do PDA e PDE são, em termos de princípios, semelhantes ao Plansab. “Por-que defendem as mesmas pro-postas, que incluem a busca pe-la universalização dos serviços até 2030, a equidade que quer levar os serviços de forma ade-quada a todos com tarifa aces-sível, além da sustentabilidade ambiental, social e econômica”, afirma ele.

O diretor-geral do Dmae acrescenta como fatores fun-damentais no processo insta-lado no Departamento o con-

trole social, que é assegurado pela transparência de infor-mações e participação da so-ciedade através do conselho deliberativo, além da gover-nança corporativa, que promo-ve mais eficiência e controle ao organismo público. “Hoje é possível verificar com meca-nismos disponíveis, como a in-ternet, todos os investimentos, orçamentos, gastos, projetos e trabalhos que o Dmae execu-

ta. Um aliado importante nes-te processo de avanço, pode se afirmar, é a inovação tecnoló-gica, que atinge vários setores do Departamento, desde a pes-quisa, o tratamento e a opera-ção, que oferece serviços qua-lificados até na gestão de ati-vos, de aquisição de material e de recursos humanos que tornam a instituição moderna e capaz de cumprir seus obje-tivos sociais.”

Div

ulga

ção/

DEP

Revista Ecos 32.indd 26 17/05/2012 16:28:42

Page 27: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

27

HISTÓRIA DO SANEAMENTO NO BRASIL

1942 Criado o SESP - Serviço Especial de Saúde Pública.

1964

Criado o BNH - Banco Nacional da Habitação, que contava com recursos do FGTS, cuja aplicação deveria seguir a seguinte orientação: 60% em habitação, 30% em saneamento e 10% em infraestrutura.

1965Brasil assina acordo com o governo dos Estados Unidos, através do DNOS e Usaid, criando o Fundo Nacional de Financiamento para Abastecimento de Água.

1968Criado o SFS, Sistema Financeiro do Saneamento, gerido pelo BNH, que passou a receber recursos dos governos federal, estaduais e municipais.

1971

Formatado o Plano Nacional de Saneamento com mudança radical nos negócios de saneamento do país e surge um novo modelo de gestão para o setor: as companhias estaduais de saneamento, em todos os estados do Brasil.

Lei 9.433 de 8 de janeiro de 1997

Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

Lei 11.445 de 5 de janeiro de 2007

Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico e estabelece como meta a universalização dos serviços de água e esgoto.

Mar

ia d

e Lo

urde

s W

olff

/DM

AE

Flávio Presser reforça que, na busca pela universalização a que se propõe o Dmae, se-rão necessários investimentos que se aproximam dos R$ 2 bilhões. “Estão previstos até 2030 investimentos de R$ 340 milhões para abastecimento de água, R$ 860 milhões para a coleta e tratamento de esgo-tos e cerca de R$ 800 milhões para o pagamento de dívidas e financiamentos.”

Um aspecto importante é que o PDE e o PDA do Dmae preveem a regulação, o forta-lecimento da gestão, o contro-le e redução de perdas e o acompanhamento da evolução do plano através de indicado-res. “No caso destes indicado-res é preciso avaliar o percen-tual de execução das obras e sua relação com o cronogra-ma, os índices de lançamento de redes, o índice de substitui-ção de redes, o controle da qualidade da água e o percen-tual de serviços que oferecem rápida resposta aos usuários/consumidores em até 24 ho-ras. Tudo isso permite que os usuários avaliem se as metas serão alcançadas no prazo previsto. Neste aspecto, tanto os planos do Dmae como o Plansab apresentam similari-dade”, conclui Presser.

“Hoje temos a previsão de investimentos até 2030 de R$ 340 milhões para abastecimento de água, R$ 860 milhões para a coleta e tratamento de esgotos e cerca de R$ 800 milhões para o pagamento de dívidas e financiamentos.”

Revista Ecos 32.indd 27 17/05/2012 16:28:44

Page 28: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

28

PRINCÍPIOS DO PLANSAB

ObjetivoCumprir a Lei 11.445/207 (do saneamento) que prevê no artigo 52 que o plano deve conter metas nacionais e regionalizadas, de curto, médio e longo prazos, para a universalização dos serviços de saneamento básico.

Obrigação

O plano não deverá ser meramente técnico, mas deverá estar em sintonia com o Estatuto da Cidade (Lei 10257/2201) e portanto expressar um novo pacto socioterritorial para o saneamento ambiental, com metas e regras acordadas por atores diferentes, que contemplem interesses e concepções divergentes e que combatam a desigualdade e a exclusão territorial.

Competência O município tem a responsabilidade do serviço e compartilha projetos com estados e União.

Principais Obras

O Plansab prevê obras de rede de água e esgoto, estações de tratamento, macrodrenagem urbana, projetos de destinação de resíduos sólidos, reestruturação urbana e ambiental, recuperação de recursos hídricos, educação.

GRÁFICOS ILUSTRATIVOS DA QUESTÃO SANEAMENTO NO BRASIL

Destinos Resíduos Sólidos Brasil - Regiões

Revista Ecos 32.indd 28 17/05/2012 16:28:45

Page 29: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

29

Além de sanear e despoluir, o programa realizado em conjunto com a Ufrgs e com a Pucrs viabilizará a criação de espaços verdes e de lazer nas encostas dos morros e ao longo do arroio.

Porto Alegre e Viamão planejam a recuperação da bacia do DilúvioPor Ademar Vargas de FreitasJornalista

Dentro de alguns anos, a ba-cia do arroio Dilúvio poderá es-tar saneada e integrada às co-munidades vizinhas, com signi-ficativa melhoria de qualidade da vida de porto-alegrenses e viamonenses. Entre as pistas da avenida Ipiranga correrá água limpa, e as pessoas não mais voltarão as costas ou ta-parão o nariz ao passarem pe-las margens do Dilúvio. Ao con-trário, a população vai se apro-priar da área, que também será de lazer e cultura. Só que, para que isso ocorra de fato dentro dos próximos 20 anos, a mu-dança tem que começar agora. E é o que está acontecendo.

O passo inicial foi dado no final do ano passado, em ceri-mônia realizada no pórtico do parque Saint’ Hilaire, em Via-mão, quando os prefeitos de Porto Alegre, José Fortunati, e de Viamão, Alex Boscaini, re-ceberam o marco conceitual do “Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio: um fu-turo possível” e assinaram um protocolo de cooperação com a Universidade Federal do Rio

Rica

rdo

Stric

her/

PMPA

Revista Ecos 32.indd 29 17/05/2012 16:28:49

Page 30: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

mai

o d

e 2012

30

Grande do Sul e com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Participaram da cerimônia os reitores Carlos Alexandre Netto, da Ufrgs, e Joaquim Clotet, da Pucrs. Crianças de duas escolas públicas do entorno puderam vi-sitar uma exposição, que mos-trava a diversidade da fauna na-tiva, a morfologia natural da ba-cia, paisagens ancestrais e a história da ocupação urbana, além dos impactos provocados. Também houve o plantio de mu-das de árvores. O próximo passo será estruturar o modelo de ges-tão para definir papéis e elabo-rar o plano básico, com os deta-lhamentos necessários para as grandes ações.

Inspirados em modelos que se desenvolveram em outros paí ses, os representantes das duas prefeituras e das duas universidades elaboraram o marco conceitual, estudo preli-minar sobre a bacia do Dilúvio. O exemplo veio de Seul, capital da Coreia do Sul, onde o rio Cheong-gye-cheon, que corta a cidade, teve seus quase 6 km de extensão despoluídos e integra-dos à comunidade, com a cria-ção de um moderno espaço pú-blico, áreas de lazer e cultura.

Trinta e seis profissionais, entre técnicos das duas prefei-turas e professores doutores das duas universidades, atuam no programa de revitalização da bacia do Dilúvio. Pela Prefei-tura de Porto Alegre, o secretá-rio do Meio Ambiente Luiz Fer-nando Zácchia coordena um grupo de 11 técnicos; pela Pre-feitura de Viamão, o coordena-dor do Departamento de Proje-tos e Planejamento Urbano Ruy Atílio Rostirolla lidera quatro técnicos da Secretaria de Meio Ambiente; pela Ufrgs, o pró-rei-

tor de Pesquisa João Edgar Schmidt coordena um grupo de trabalho com nove pro-fessores doutores; e pela Pucrs a diretora do Instituto do Meio Ambiente e dos Re-cursos Naturais Betina Blo-chtein lidera outros 12 pro-fessores doutores. No pri-meiro semestre de 2011, o professor João Edgar Sch-midt visitou a capital corea-na, juntamente com o pro-f e s s o r Lu i s H u m b e r t o Villwock, da Pucrs, ao inte-grarem a missão econômica liderada pelo governador Tarso Genro.

Participam do Programa, por Porto Alegre, a Secretaria do Meio Ambiente, a Secreta-ria de Planejamento, a Secre-taria de Gestão e Acompanha-mento Estratégico, o Departa-mento de Esgotos Pluviais, o Departamento Municipal de Água e Esgotos, o Departa-mento Municipal de Limpeza Urbana e a Procempa (empre-sa municipal de processamen-to de dados). Por Viamão, fa-zem parte a Secretaria de De-senvolvimento Econômico e o Departamento de Projetos e Planejamento Urbano. Tam-bém é considerada importante a participação de empresas es-taduais, como a Companhia Riograndense de Saneamento

(Corsan) e a Companhia Estadu-al de Energia Elétrica (CEEE).

Marco Conceitual

O marco conceitual – que servirá de base para o Progra-ma e para os projetos de recu-peração – explica a geografia da bacia do Dilúvio, sua flora e fauna, seus principais pro-blemas e sua perspectiva de futuro. São 40 páginas em co-res, ilustradas com imagens antigas e recentes do arroio que corta Porto Alegre. Além disso, mostra aspectos da re-cuperação de cursos d’água realizada em outros países. E remete para questões de sa-neamento, erosão, inclusão social e educação ambiental (identificadas de longa data), e para os aspectos que cau-sam impacto à sociedade e à natureza.

O documento – concluído após uma dezena de reuniões do grupo, desde junho de 2011 – estabelece algumas linhas dos assuntos que precisam ser considerados na montagem do programa e do projeto. Agora serão formados grupos de tra-balho para abordar cada tópi-co, especificamente, e propor medidas para solucionar os problemas. Mas estarão inte-

Div

ulga

ção/

PMPA

Revista Ecos 32.indd 30 17/05/2012 16:28:50

Page 31: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

31

grados ao todo, pois as abor-dagens de um tema podem im-pactar outro.

Segundo o professor João Edgar Schmidt tudo faz parte de um problema geral, de longo prazo, cuja solução depende em primeiro lugar, dos recursos financeiros (estimado em apro-ximadamente R$ 800 milhões num cálculo superficial relativo ao quilômetro quadrado de im-plantação de esgotamento sani-tário para toda a área). “É um valor grande, mas o valor agre-gado que vai trazer para a so-ciedade será muito grande tam-bém. Vai melhorar o setor eco-nômico, a qualidade de vida e, evidentemente, a qualidade do meio ambiente.”

Bacia doDilúvio

Com uma área total de 83 km2, a bacia do arroio Dilúvio abrange 36 bairros de Porto Alegre, além de parte da cidade de Viamão. Nessa área habitam 450 mil pessoas. Os problemas são muitos: a água de péssima qualidade arrasta resíduos sóli-dos, espuma, animais mortos e tudo o mais que uma parte da população do entorno costuma descartar no leito do arroio. E a erosão causada pelos desmoro-namentos dos morros contribui para o assoreamento do leito, normalmente raso.

As nascentes do Dilúvio es-tão localizadas no entorno das represas da Lomba do Sa-bão e Mãe d’Água, ambas em Viamão. Ao longo da suave descida de 17,6 quilômetros até o lago Guaíba, o arroio Di-lúvio recebe diversos afluen-tes e muita poluição. Cerca de 50 mil metros cúbicos de terra e resíduos sólidos são despe-

jados no arroio a cada ano, o que exige constantes draga-gens. Junto com a terra vem caliça, lixo, móveis quebrados, geladeiras, fogões e até carca-ças de automóvel. Tanto que o Dmae mantém uma espécie de museu, a Casa do Dilúvio, com itens retirados do arroio.

Mas, outro fator afeta grave-mente a saúde do Dilúvio: as li-gações irregulares, que fazem com que o esgoto doméstico e mesmo o esgoto hospitalar se-jam lançados diretamente no arroio. Isso resulta em um pro-blema maior, pois a rede pluvial é um canal de drenagem sub-terrânea que desemboca no Di-lúvio, e, desta maneira, o esgo-to escoa para os arroios e bar-ragens sem nenhum tratamen-to. A obstrução dos canais pela gordura e pelos resíduos onera a conservação, além de provo-car inundações em vários pon-tos da cidade, trazendo descon-forto e riscos para a população.

Questão deInvestimento

O professor João Edgar Schmidt lembra que, no Brasil, há uma dificuldade muito gran-de em fazer planejamento a longo prazo, o que implica tra-balhar muito para resolver emergências. Sobre o desenvol-vimento do Programa, ele acha que tudo vai depender do inte-

resse do estado e dos municí-pios em fazer determinado tipo de intervenção. “Se é apenas para sanear o Dilúvio, é uma si-tuação. Mas, se é para transfor-mar toda a bacia num parque, onde as pessoas possam passe-ar, entrar em contato com a água, fazer exposições artísti-cas, como na Coreia do Sul, será necessário pensar de maneira mais arrojada e investir mais.”

O protocolo não menciona verbas a serem aplicadas nos projetos de pesquisa e execução, mas a bióloga Betina Blochtein se mostra tranquila. “Os recur-sos existem, e além do governo também pode ser mobilizada a iniciativa privada. Precisamos de bons projetos e, talvez, setori-zar algumas coisas. Temos que pensar o Programa como um to-do, mas os projetos devem ser executados de forma indepen-dente.” Para ela, o próximo de-safio é definir como fazer isso. “Muitas vezes, mudanças de go-verno alteram o curso das priori-dades. Queremos tentar montar uma estrutura que, independen-temente do governo que seja eleito aqui ou lá – mesmo nas universidades existem mudan-ças – possa manter o Programa como uma prioridade.”

Nesse sentido, o secretário Luiz Fernando Zácchia espera formar uma figura jurídica – tal-vez, capitaneada pelas universi-dades, com compromisso, com-prometimento e vínculo com as

Rica

rdo

Stric

her/

PMPA

Revista Ecos 32.indd 31 17/05/2012 16:28:50

Page 32: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

mai

o d

e 2012

32

O marco conceitual aponta

preliminarmente os eixos que

deverão ter atenção específica

no Programa

SANEAMENTO Distribuição de água, coleta e tratamento de

esgoto sanitário, coleta e processamento de resíduos sólidos ur-

banos, e drenagem pluvial.

EROSÃO E ASSOREAMENTO Recuperação de áreas ex-

postas, contenção de encostas e drenagem pluvial.

RECUPERAÇÃO-PRESERVAÇÃO AMBIENTAL Recupe-

ração das nascentes, despoluição dos arroios, recuperação

das matas ciliares, recuperação de flora e fauna, e integração

com a orla do Guaíba.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL Valorização do respeito à nature-

za e aos bens públicos, estímulo à consciência ambiental e par-

ticipação do cidadão no processo de ecologização, ampliação de

ações de educação ambiental, integrando distintas áreas de

atuação e segmentos da sociedade.

URBANIZAÇÃO, HABITAÇÃO E PAISAGISMO Reassenta-

mentos, instalação de equipamentos urbanos em vilas e bairros

(arruamento, serviços básicos etc.), instalação de parques, tra-

tamento da poluição visual (retirar linhas de transmissão, dis-

ponibilizar equipamentos e espaços públicos urbanos para uso

social e cultural).

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Integração com o Proje-

to Região de Potencial Tecnológico do Município de Porto Alegre

(Repot), geração de emprego e renda, geração de novos negócios.

MOBILIDADE URBANA Ampliação de alternativas de

transporte coletivo, integração com ciclovias e integração

com transporte fluvial.

prefeituras de Porto Alegre e Viamão – de maneira que sobre-viva às alternâncias naturais de um processo democrático. “Es-sa figura jurídica tem um mode-lo, que já estamos buscando es-tudar. Um processo parecido com o nosso, de recuperação de um arroio que corta um setor da cidade de Los Angeles (EUA) e que tem a participação do go-verno, do mundo acadêmico e da iniciativa privada.”

Questão de Cidadania

A professora Betina Blo-chtein lembra que pelo menos 1.500 famílias vivem em ocupa-ções irregulares, lançando deje-tos em valões e riachos. “Mesmo dentro do parque Saint’ Hilaire há moradias irregulares, que jo-gam o esgoto na barragem da Lomba do Sabão, responsável pelo abastecimento de 3% a 4% da população dos dois municí-pios. Em uma situação muito grave porque polui a água que depois deverá ser tratada com muito mais dificuldade e certa-mente terá qualidade bem infe-rior ao que desejaríamos.”

Segunda a professora, o ar-roio Dilúvio reflete o comporta-mento do cidadão porto-ale-grense e do cidadão viamonen-se na área da bacia, que não estão cuidando adequadamen-te dos seus resíduos e efluen-tes, nem do uso dos terrenos. “O que ocorre aqui em baixo, no Dilúvio, é a concentração dos problemas que estão dissi-pados e, muitas vezes, não chamam atenção ali na encos-ta do morro, tomada por ocu-pações irregulares.”

Justamente por isso, um dos eixos transversais do Programa toca a educação ambiental, o

exercício da cidadania, no senti-do de promover a mudança de atitudes. “Por exemplo, uma es-cola ensinando educação am-biental. Será que a rede de esgo-to desta escola está instalada corretamente? Será que a água utilizada tem uso adequado? Co-

mo é feito o reúso do óleo na co-zinha? E a coleta dos resíduos? Talvez se tenha que passar, ago-ra, para a etapa seguinte, que é a atitude do cidadão. Parece in-crível, mas são degraus diferen-tes, o conhecimento e o apodera-mento desse conhecimento.”

Div

ulga

ção/

PMPA

Revista Ecos 32.indd 32 17/05/2012 16:28:51

Page 33: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

33

Consultor de projetos de saneamento para o BID define governo corporativo como uma solução tanto para empresas privadas como públicas.

ta em governança corporati-va. Trata-se do consultor e economista colombiano Fidel Humberto Cuéllar Boada, que pesquisou e estudou toda a atividade do Conselho Delibe-rativo para aperfeiçoar a ges-tão corporativa. Esta moder-nização, apoiada pelo Banco Interamericano de Desenvol-vimento (BID), também está em curso na Companhia de Saneamento do Estado de Mi-nas Gerais (Copasa), na Com-panhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará (Cagece), na Companhia de Saneamento

Dmae prepara o fortalecimento e a modernização do Conselho Deliberativo

Por Charles SoveralJornalista

Com o objetivo de aprimo-rar e otimizar seu Conselho Deliberativo, que é constituído por representantes de 14 or-ganizações da sociedade civil, o Dmae está preparando a modernização desse conselho baseada em novos e atualiza-dos conceitos de gestão. Para atingir o novo patamar de atu-ação, o Conselho Deliberativo conta, desde o final de 2011, com a ajuda de um especialis-

Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e nas Águas de Join-ville (SC).

Cuéllar Boada diz que o Dmae se destaca por ser uma autarquia que faz parte da ad-ministração municipal, mas tem características autôno-mas. “Encontrei aqui uma or-ganização focada e preocupa-da em oferecer o melhor, o que já é um grande diferen-cial”, comenta o consultor. O colombiano destaca que o Conselho Deliberativo do Dmae cumpre as tarefas para as quais foi desenhado, pois

Rica

rdo

Giu

sti/

DM

AE

Gestão

Revista Ecos 32.indd 33 17/05/2012 16:28:51

Page 34: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

34

Karin

e do

s Sa

ntos

Via

na/D

MAE

tem uma composição que con-templa distintos interesses e grupos diferentes da comuni-dade porto-alegrense. Mas ele entende que é preciso traba-lhar na modernização deste conselho para que ele possa ter o seu papel institucional reforçado. “Dentro do mesmo tempo que já dispõem para o Departamento, os conselhei-ros contribuirão melhor e de forma mais eficaz se dedica-rem um espaço maior para as-suntos estratégicos e não se concentrarem apenas nas questões de curto prazo, como aprovação de contratos. Seria importante poder acompa-nhar a administração em uma boa reflexão sobre projetos futuros, ampliações, deman-das reprimidas ou projetadas para cinco, dez, 15 anos”, re-força Cuéllar Boada.

O consultor define o Gover-no Corporativo como uma so-lução tanto para organizações privadas como para organiza-ções públicas. Ele desenvol-

veu uma metodologia própria para as organizações de água e saneamento. A metodologia consiste em definir diferentes estágios para cada um dos atributos de uma boa gover-nança corporativa, a qual cha-mou de “matriz de avanços”, onde cada instituição trata de identificar as etapas que já cumpre e aquelas que deseja atender no curto prazo. Desta forma, fica imediatamente identificado um plano de ação e um objetivo a ser alcançado.

“Em todo o mundo existem milhões de pessoas que ainda não possuem acesso aos servi-ços de água potável nem de es-gotamento sanitário. Sabemos que os recursos disponíveis atu-almente também não são sufi-cientes. Existe uma meta de de-senvolvimento do milênio pro-posta pela ONU que estabelece acesso aos serviços de sanea-mento que os países precisam alcançar. Por isso existe tanta preocupação com estes recur-sos escassos para que eles che-

guem ao maior número de pes-soas possível, melhorando as condições de vida de milhões de pessoas que ainda estão margi-nalizadas neste processo. A pro-posta é que estes recursos, apli-cados aos projetos, rendam o mais que possam render.”

Uma realidade em vários lo-cais, segundo o que ele observa, é que as organizações de servi-ços de saneamento de proprie-dade dos governos às vezes não recebem o controle necessário por parte destes, seja no tocante aos serviços, seja no desempe-nho econômico-financeiro. Cuéllar Boada assinala que os governos administram realida-des cada vez mais complexas e não têm tempo para se dedicar a um determinado aspecto da administração pública. “Quem tem o dever de vigiar e fazer o papel de dono não o faz correta-mente. No caso das organiza-ções privadas, os donos estão sempre monitorando. Então a gente percebe que existe uma ausência de vigilância entre os

Revista Ecos 32.indd 34 17/05/2012 16:28:53

Page 35: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

35

processos administrativos de or-ganizações públicas, o que não ocorre com as empresas priva-das onde os donos percebem imediatamente quando há algo errado”.

Muitas vezes, o efeito desta situação é isolar os administra-dores de organizações públi-cas. Além disso, os governan-tes, democraticamente eleitos, têm um período de mandato, às vezes de quatro anos, as vezes de três anos, o que resulta na falta de uma continuidade dos trabalhos e projetos em anda-mento. Ele ressalta que tam-bém ocorre a situação de des-conhecimento do que fez o ad-ministrador anterior. Esta situ-ação tende a gerar programas de curto prazo para que o go-vernante possa usufruir dos re-sultados, se houver, ainda em seu mandato. No saneamento, geralmente, os programas pre-cisam de prazos maiores e isto acaba por afastar o interesse desses governantes.

Cuéllar Boada fala ainda de outra preocupação, que são os conflitos de interesse das partes interessadas. Para ele, é preciso estar atento e ter firmeza e con-vicção para contrariar estes in-teresses e defender os propósi-tos da organização. “Se vê com muita frequência uma longa his-tória de manipulação, que ocor-re porque a estrutura de poder, a tomada de decisões não está suficientemente alinhada com os objetivos estratégicos. É im-portante que as organizações públicas desenvolvam mecanis-mos que permitam controlar o uso de recursos e investimentos. As práticas de Governo Corpo-rativo tratam de entregar a to-dos os interessados boa infor-mação, informação detalhada, sobre a forma como estão sendo

administrados os recursos pú-blicos com muita transparência. Com frequência se encontra nos serviços públicos a falta de transparência, quando as infor-mações são tratadas como se-gredos. E os segredos são ami-gos do descaso, da incompetên-cia, dos desvios, dos abusos e da corrupção.”

Para Cuéllar Boada, as bo-as práticas de Governo Cor-porativo ajudam a combater isto. É fundamental que os gestores de organizações pú-blicas tenham autonomia e independência, juntamente com os conselhos diretivos e todos aqueles que podem, à frente das organizações pú-blicas, definir o que é melhor para a instituição e para a sociedade, com a permanente visão de atender o interesse de ambos, o que não é uma tarefa fácil. O consultor lem-bra que, neste aspecto, é pre-ciso uma verdadeira gover-nança. “Isto implica pesqui-sar e estudar sempre as me-lhores estratégias e conquis-

tar os resultados." Um dos objetivos da Governança Cor-porativa é evitar a destruição de valor, que consiste na to-mada de decisão, que se for equivocada gera mais despe-sas ou não dá o retorno espe-rado. Com a ampliação da in-fraestrutura, a gestão de ati-vos também se mostra cada vez mais importante para não haver destruição de valor.

Se a organização possui contratos, compromissos e obrigações legais, é muito importante que os cumpra, que a empresa assuma a res-ponsabilidade para evitar que mais adiante se veja en-volvida em pleitos judiciais que repercutem na perda de dinheiro público. “Será com a combinação destes fatores que os gestores vão estabele-cer o valor ideal da tarifa a ser aplicada aos serviços que oferece, mantendo disci-plina financeira e transfor-mando serviço público em modelo de eficiência”, recei-ta Cuéllar Boada.

Entidades integrantes do Conselho Deliberativo do Dmae

Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Am-biental (Abes), Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA), Associação Riograndense de Imprensa (ARI), Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente (Apedema-RS), Centro das Indústrias do RS (Ciergs), Conselho Regional de Engenharia do Rio Gran-de do Sul (Crea), Departamento Intersindical de Estatís-tica e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul (Iargs), Sindicato das Empresas de Compra e Venda, Locação e Administração de Imóveis (Secovi-RS), Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), Sociedade de Economia do RS, So-ciedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs), União das Associações de Moradores de Porto Alegre (Uampa) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Revista Ecos 32.indd 35 17/05/2012 16:28:54

Page 36: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

36

Saneamento pode gerar mais de meio milhão de empregos por anoCassilda Teixeira de CarvalhoEngenheira civil, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes)

Encerra-se o ano de 2011 com notícias al-vissareiras sobre a saúde financeira do país frente à crise econômica da Europa e dos Es-tados Unidos. Apesar disso, quando nos refe-rimos a saneamento no Brasil, observamos uma tendência morosa no que tange aos in-vestimentos necessários para dotarmos o pa-ís de um sistema adequado com vistas a aten-der as necessidades da população de abaste-cimento de água tratada e coleta de esgoto, e definitivamente alcançarmos a universaliza-ção do saneamento.

O governo planeja fazer essa universaliza-ção em décadas. No entanto, tenho afirmado nos encontros, congressos e reuniões que é possível uma solução em prazo muito menor. O Brasil tem recursos humanos e financeiros suficientes para, em 10 anos, praticar a uni-versalização, ou seja, solucionar o problema de abastecimento de água tratada, recolhi-

mento e tratamento de esgoto de toda a popu-lação. Isso, no entanto, depende de boa vonta-de política e utilização de meios modernos de administração, como, por exemplo, contratar a solução do problema.

Os dados estatísticos divulgados pelo IBGE em recente edição do Atlas do Sanea-mento continuam demonstrando que metade da população não é atendida por esgotamento sanitário e, do que é recolhido da outra meta-de, apenas um terço do esgoto é tratado. É uma situação preocupante para a saúde do ci-dadão e para o meio ambiente, pois a falta de saneamento produz impactos sociais perma-nentes na vida da sociedade brasileira.

Como já é de conhecimento público, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que cada real investido em sanea-mento gera economia de quatro reais na área de saúde. Esses números demonstram

Div

ulga

ção/

Dm

ae

Revista Ecos 32.indd 36 17/05/2012 16:28:55

Page 37: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Eco

s l 3

2

37

que o país gasta muito mais do que devia com a saúde da população e vive o estrangu-lamento do setor com fre-quentes casos gravíssimos de falta de atendimento rela-tados pela mídia.

Em 2011, por exemplo, o orçamento aprovado para a pasta da saúde foi de R$ 60,9 bilhões, enquanto sane-amento, habitação, desen-volvimento e mobilidade ur-bana dividiram R$ 18,5 bi-lhões. O governo tem de-monstrado que está tentan-do mudar esse quadro. Ao longo do ano, destinou volu-me maior de investimento para a área de infraestrutu-ra, porém muito aquém das necessidades observadas no Atlas do Saneamento.

Existem ainda outros im-pactos sociais que mostram a necessidade de maior aten-ção com o setor: sete crian-ças morrem todos os dias no Brasil vítimas de diarreia, e mais de 700 mil pessoas são internadas a cada ano nos hospitais públicos em conse-quência da falta de coleta e tratamento de esgoto. Outros dados informam que, por ano, 217 mil trabalhadores preci-sam se afastar de suas ativi-dades devido a problemas gastrointestinais ligados à falta de saneamento, e em ca-da afastamento o país perde 17 horas de trabalho.

Mas também há um dado muito importante para a eco-nomia brasileira: cada R$ 1 milhão investidos em obras de saneamento gera 30 em-pregos diretos e 20 indiretos, além daqueles que são per-manentes a partir do momen-to em que o sistema entra em operação. Com investimentos

de R$ 11 bilhões a cada ano, reivindicado pelo setor de sa-neamento, calcula-se a gera-ção de 550 mil novos empre-gos no mesmo período.

Tudo isso, no entanto de-pende de esforço político. Es-forço, como o observado nos investimentos liberados para dotar o país de melhor estru-tura para a realização da Co-pa do Mundo de Futebol em 2014. O Rio, por exemplo, ne-cessita, entre outras coisas, de tratamento para o esgoto que é lançado na lagoa de Ja-carepaguá, localizada em uma das áreas nobres da ci-

Como já é de conhecimento público, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que cada real investido em saneamento gera economia da quatro reais na área de saúde. Esses números demonstram que o país gasta muito mais do que devia com a saúde da população e vive o estrangulamento do setor com frequentes casos gravíssimos de falta de atendimento relatados pela mídia.

dade e na baía da Guanaba-ra. São obras importantes com objetivo de preparar in-tegralmente a cidade para re-ceber as Olimpíadas em 2016.

Mas é preciso reflexão. As cidades brasileiras estão re-cebendo volumosos investi-mentos para melhoria do transporte público, moderni-zação de aeroportos, novos estádios estão sendo constru-ídos, entre outros. Tudo em função da realização da Copa do Mundo de Futebol. Isso é ótimo, é bom para o país, mas é preciso olhar com mais atenção o setor de saneamen-

to para melhoria da saúde do cidadão e do meio ambiente.

A Abes (Associação Brasi-leira de Engenharia Sanitária e Ambiental) tem cumprido seu papel. Trabalha incansa-velmente para dotar o setor com qualidade de gerencia-mento do sistema de sanea-mento. Anualmente realiza congressos internacionais e nacionais, entre eles o maior e mais importante da Améri-ca Latina, em que são apre-sentados mais de mil traba-lhos, mesas-redondas, pai-néis, olimpíadas entre as em-presas e programa Jovem

Profissional. Mais do que is-so: anualmente entrega o PNQS (Prêmio Nacional de Qualidade em Saneamento) às empresas que se destaca-ram no gerenciamento, como forma de incentivo pela busca da excelência de gestão.

Os esforços da Abes, perse-guindo a excelência, preparan-do, capacitando e especializan-do, já somam 15 anos. Os crité-rios do PNQS permitem avaliar o grau de maturidade da ado-ção dos fundamentos de exce-lência pelas organizações do setor de saneamento, bem co-mo os processos gerenciais e

Revista Ecos 32.indd 37 17/05/2012 16:28:57

Page 38: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Mai

o d

e 2012

38

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

Ma

MMMMMMMMMMMMMooioiooioooioooioioioioiooioiooooooooooioioiooooiooiiii

dddddddddddddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

200

20

20

20

20

20

200

20000

20

20

200

200

20

20

20

2222222222222222212

12

12

12

12

12

122

111111

333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333338888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888

os resultados nas organizações como: Boas Prá-ticas de Gestão, Programas de Redução de Per-das, Logística e Suprimentos, Gestão de RH, Gestão Financeira, Gestão por Resultados e Inovação da Gestão em Saneamento (IGS).

Periodicamente surgem novas ideias para resolver o problema do saneamento. Mas, em linhas gerais, ainda é predominante o Plano Nacional de Saneamento (Planasa), lançado em 1971, marco histórico e institucional para o setor e o mais importante modelo de todos os tempos, tendo possibilitado os mais significati-vos crescimentos no acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário e sua estrutura.

Em 2011, 40 anos depois do Planasa, surge o Plano Nacional de Saneamento Básico, (Plansab), fruto da Lei 11.445, sancionada em 2007, que sob a coordenação do Ministério das Cidades, em versão preliminar, ainda em discussão, define diretrizes, estratégias e me-tas nacionais e macrorregionais em busca da universalização e do aperfeiçoamento na ges-tão dos serviços no país.

O Plansab, disponibilizado em abril de 2011, foi criado com objetivo de orientar a po-lítica nacional de saneamento nos próximos 20 anos. Como resultante de um processo pla-nejado e coordenado pelo Ministério das Cida-des visando seu aperfeiçoamento, foi promo-vido no primeiro semestre do ano um ciclo de cinco seminários regionais e duas audiências

públicas para discussão das propostas que in-tegram o documento. A conclusão do debate com a sociedade deveria ter sido finalizada em maio com a realização de consulta pública através da internet, a ser disponibilizada no sítio eletrônico do Ministério das Cidades. Um projeto importante como esse não mereceu a devida atenção do governo.

Quando o Plansab for aprovado em sua etapa final, após avaliação pelos conselhos nacionais de Saúde, de Meio Ambiente, de Re-cursos Hídricos e das Cidades, e efetivamente for colocado em prática, constituirá o eixo central da política federal para o saneamento básico, promovendo a articulação nacional dos entes da federação para a implementação das diretrizes da Lei 11.445/07.

A Abes entende que 2012 continuará a ser um ano de crescimento para o Brasil e que, nesse sentido, o setor do saneamento poderá se tornar o carro-chefe da política de cresci-mento econômico, uma vez que traz dentro de si impactos sociais positivos, como o cresci-mento de ofertas de emprego, o cuidado exigi-do com o meio ambiente e a melhoria da saú-de da população.

O tripé descrito, saneamento-meio ambien-te-saúde, se efetivamente priorizado pelo go-verno, poderá ser o grande alavancador do crescimento econômico e social brasileiro.

É possível.

Div

ulga

ção/

DM

AE

Revista Ecos 32.indd 38 17/05/2012 16:28:57

Page 39: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

A A liligagaçãçãoo àà rereedede dde esse gootoo ccloloacacalala éé funu dadaamementn ala ::

DeDescscarartete aadedeququadado o dodo óóleleo o dede ccozozininhaha:

MaManunutetençnçãoão dde e cacalçl adada asas:

AAtetençnççãoãoã pparara a osos ddiaias s deded ccololo eteta dede lixixxo:o

wwwwwwwwww..eeeuuuccuurrrttoooeeeuuucccuuuiiddooo..ccoomm.bbbrr

Revista Ecos 32.indd 39 17/05/2012 16:29:09

Page 40: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Revista Ecos 32.indd 40 17/05/2012 16:29:12

Page 41: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

ESPECIAL

TécnicaEncarte no 4 Maio de 2012

Page 42: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Técnica

Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Departamento Municipal de Água e Esgotos

Supervisão de Comunicação Social

Coordenadora da Unidade de Comunicação SocialAngélica Ritter. Mtb 11.010

EdiçãoMaria de Lourdes da Cunha Wolff – Mtb 6.535

Foto da CapaEvandro R.C. Colares

Diagramação e RevisãoImagine Design

ImpressãoGráfica e Editora Lider Ltda Epp.

Tiragem4.000 exemplares

Ecos Técnica é uma publicação quadrimestral, encartada na revista ECOS nº- 32, ano 18, maio de 2012, do Departamento Municipal de Água e Esgo-tos, dedicada à divulgação de trabalhos técnicos realizados pelos funcionários do Dmae, na área de saneamento ambiental e recursos hídricos.

Comissão Editorial da Ecos Técnica

TitularesAirana Ramalho do CantoAline Franckowiak SalisMagda Cristina Granata Maria Aparecida da Rosa Lopes Maria de Lourdes da Cunha WolffNádia Maria Lorini (coordenação)

SuplentesAlessandro Ferreira SippelAngélica RitterDenise Regina Loureiro PedrosoIara Conceição MorandiJosé Giovane da Costa NunesLuiz Fernando Alves da Silva

Correspondência Encarte TécnicoUnidmae – Universidade Corporativa do DmaeRua 24 de Outubro, 200E-mail: [email protected]

Page 43: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Apre sentação

Esta edição da Ecos Técnica, encarte técnico da Revista Ecos, é comemorativa aos 50 anos do Departamento Municipal de Água e Esgotos, motivo de orgulho e reflexão para os funcionários pelo que vem sendo realizado em saneamento e em gestão de pessoas.Na capa, fotos que retratam a beleza dos jardins da Divisão de Pesquisa do Dmae. No interior, trabalhos técnicos que expõem as realizações do Departamento e buscam divulgar o conhecimento produzido pelas diversas áreas.Em Lago Guaíba (RS): índice de qualidade da água – IQA, 2000 a 2009, evidenciam-se a necessidade de integração entre gestão de recursos hídricos e saneamento, os avanços na implantação do sis-tema de recursos hídricos no RS e os investimentos do Dmae para a universalização do saneamento.O artigo Caracterização dos esgotos domésticos afluentes às estações de tratamento de esgoto do Departamento de Água e Esgotos de Por-to Alegre (RS) Brasil compara dados consagrados na literatura com os dados observados nos esgotos da cidade de Porto Alegre entre 2000 e 2009, bem como avalia se existem diferenças significativas na composição dos esgotos afluentes às nove ETEs.O trabalho A experiência do Dmae com a leitura remota de seus hidrômetros mostra como a experiência do processo de individua-lização da medição da água de um condomínio popular na cidade de Porto Alegre oportunizou a implantação da leitura dos medido-res por radiofrequência.E o artigo Treinamento no local de trabalho (on the job training) – estudo de caso referente à implementação da metodologia no Dmae relata uma das práticas de gestão utilizada no Departamen-to para incrementar a qualificação dos funcionários e o processo de gestão do conhecimento.Este encarte é um instrumento que a Universidade Corporativa do Dmae utiliza para reconhecer os trabalhos técnico-científicos pro-duzidos pelos funcionários e divulgá-los a sociedade.

Page 44: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

Índi ce3

Apre sen ta ção

5Lago Guaíba (RS): índice de qualidade da água

– IQA, 2000 a 2009

15Caracterização dos esgotos domésticos afluentes às

estações de tratamento de esgoto do Departamento

Municipal de Água e Esgotos - Porto Alegre (RS) Brasil

30A experiência do Dmae com a leitura remota

dos seus hidrômetros

36Treinamento no local de trabalho (on the job training) –

estudo de caso referente à implementação

da metodologia no DmaeCr

édito

: Joã

o Fi

orin

/arq

uivo

PM

PA

Page 45: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

5

Rodrigo da R. AndradeEvandro R. C. ColaresSônia S. KriggerCarmem R. M. MaizonaveIara C. Morandi

Resumo

A necessidade de integração entre gestão de recursos hídricos e saneamento, os avanços na implantação do sistema de recursos hídricos no RS e os investimentos do Dmae para a universalização do saneamento exigem diagnóstico atualizado da qualidade da água no lago Guaíba, principal manancial de abastecimento de Porto Alegre. Este trabalho objeti-vou atualizar o índice de qualidade da água (IQA) do lago. Amostragens trimestrais, entre 2000 e 2009, em 26 pontos de monitoramento no delta, canal de navegação e margens esquerda e direita foram analisadas para o cálculo e definição de faixas do IQA. Obtiveram menores médias do IQA e predominaram nas faixas de Muito Ruim e Ruim os pontos 40 na margem esquerda e 31, 36 e 59 no delta. Em onze pontos predominou a faixa de Regu-lar, inclusive no ponto 50 (canal de navegação), cujo IQA aproximou-se do IQA médio do lago (= 63,2). A faixa de Bom e as maiores médias ocorreram na margem direita (64c, 50h e 56a), no delta (57) e ao sul da margem esquerda (64h, enseada do Lami). Os resultados reiteram a necessidade de haver continuidade de investimentos em ações de saneamento nas bacias hidrográficas do rio Gravataí, do rio dos Sinos e do arroio Dilúvio.

Palavras-chave: Abastecimento público. Monitoramento ambiental. Recursos hídricos.

Lago Guaíba (RS): índice de qualidade da água – IQA, 2000 a 2009

1. Introdução

A busca pela melhoria da saúde e da qualidade de vida implica o planejamento de ações voltadas ao saneamento. Todos os impactos incidentes na bacia hidrográ-fica são refletidos diretamente na qualida-de da água. Deste modo, a gestão de recursos hídricos necessariamente precisa ser sistematizada e integrada à gestão do saneamento no âmbito das bacias hidro-gráficas (BOLLMANN et al., 2005).

Para subsidiar ações de controle da qualidade dos mananciais e para auxiliar na tomada de decisões, o monitoramento da qualidade das águas é ferramenta fun-damental (BOLLMANN et al., 2005). O monitoramento representa a conexão entre a água no meio e os responsáveis pela tomada de decisão. Apesar de sua

importância gerencial, estudos técnicos de monitoramento nem sempre são de fácil compreensão aos leigos, daí a neces-sidade do uso de índices de qualidade da água (IQA) que agregam e ponderam diferentes variáveis físicas, químicas e microbiológicas, posteriormente converti-das a faixas nominais de qualidade, com-preensíveis ao público em geral. Uma revisão sobre estruturação de índices em relação aos usos múltiplos locais dos recursos hídricos encontra-se em Boll-mann e Marques (2000), e em muitos outros autores. Em que pese o maior poder analítico e aplicabilidade locais, a proposição de diferentes índices impede a avaliação gerencial mais ampla e a com-parabilidade necessária à regulação dos recursos hídricos em níveis gerenciais estaduais e federal. Com isso, há uma

Page 46: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

6

diretriz nacional de avaliação periódica dos recursos hídricos padronizada pelo IQA proposto pela National Sanitation Foundation (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2011).

Estudos de diagnóstico com o uso do IQA ou de suas variáveis têm sido pro-duzidos para o Brasil e, para o estado do RS, podem ser citadas as publicações do Comitesinos (1990, 1993) e Blume et al. (2010) para o rio dos Sinos, Wetzel et al. (2002) para diferentes trechos dos rios Pardo e Pardinho, Almeida e Schwarz-bold (2003) para o arroio da Cria em Montenegro, Pereira e De Luca (2003) para o arroio Maratá na bacia do rio Caí, Gonçalves et al. (2005) para o arroio Lino em Agudo, Campello et al. (2005) para águas da Floresta Nacional de São Francisco de Paula, König et al. (2008) para riachos da região norte do RS e Marchesan et al. (2009) para os rios Vacacaí e Vacacaí-mirim.

Para o lago Guaíba (RS) constam os relatórios e trabalhos técnicos realizados pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) desde a década de 70, compilados em meio digital por Morandi e Colares (2007), o trabalho de Bendati et al. (2003), que avaliaram o IQA nos pontos monitorados pelo Dmae, no perí-odo de maio de 1998 a fevereiro de 2000, e o último relatório elaborado pela rede de monitoramento ambiental do Pró-Guaíba (2005). Tendo em vista a diretriz nacional de avaliação periódica dos recursos hídricos da Agência Nacio-nal de Águas (ANA), os avanços na implantação do sistema de recursos hídricos no RS, os investimentos atuais do Dmae na busca pela universalização do saneamento básico e a necessidade de produção de informação para a popula-ção da bacia, é imprescindível diagnósti-co atualizado da qualidade da água no lago Guaíba com vistas à gestão integra-da dos recursos hídricos e do saneamen-to básico. Este trabalho tem por principal objetivo atualizar o índice de qualidade da água (IQA) de diferentes pontos do

lago Guaíba para o período compreendi-do entre os anos de 2000 e 2009.

2. Metodologia

2.1 Área de estudo

A bacia hidrográfica do lago Guaíba situa-se a leste do estado do RS, entre as coordenadas geográficas de 29º55’ a 30º37’ de latitude Sul e 50°56’ a 51°46’ de longitude Oeste (Figura 1). Possui área de 2.459,91 km², abrangendo as áreas totais ou parciais de 14 municípios (Barão do Triunfo, Barra do Ribeiro, Canoas, Cerro Grande do Sul, Eldorado do Sul, Guaíba, Mariana Pimentel, Nova Santa Rita, Porto Alegre, Sentinela do Sul, Sertão Santana, Tapes, Triunfo e Viamão). A população total estimada para a bacia é de 1.285.614 habitantes, com densidade de 523 hab.km-2

(RIO GRANDE DO SUL, 2007). As principais atividades econômicas desenvolvidas na bacia são agricultura e pecuária, indústria, comércio e serviços.

Ao norte do lago encontra-se a con-fluência de quatro rios (Jacuí, Caí, dos Sinos e Gravataí), que formam o conjun-to de ilhas fluviais que compõem o delta do Jacuí. Em seu maior eixo, norte-sul, o lago é atravessado pelo canal de navega-ção e, ao sul, as águas do lago têm cone-xão com a laguna dos Patos. O compri-mento do lago é de cerca de 50 km e sua largura varia de 900 m a 19 km, com a área da lâmina d’água variando de 470 a 542 km2. A vazão média anual é de 1.888,35 m3.s-1 (RIO GRANDE DO SUL, 2007). O fluxo dos rios, a direção e intensidade dos ventos e o nível da laguna dos Patos são os principais fato-res controladores da hidrodinâmica do lago (NICOLODI, 2007).

2.2. Coletas e análises

Foram considerados os resultados dos monitoramentos realizados em 26 pontos do lago Guaíba, com frequência trimestral, no período de 2000 a 2009. Os pontos de

Page 47: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

7

coleta estão representados na Figura 1. Foram analisados os seguintes parâmetros: Temperatura da água – TEMPAG em ºC, profundidade – PROF em m, Oxigênio Dissolvido – OD em mgO2.l-1, Escheri-chia coli, em NMP.100ml-1, pH, Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO em mgO2.l-1, Fósforo Total em mgP.l-1, Nitrato – NO3 em mgN.l-1, Turbidez – TURB, expressa em UNT e Sólidos (Resí-duos) Totais a 105ºC – RT105 em mg.l-1 conforme ABNT (1988, 1989, 1992 e 1999), APHA (1998) e USEPA (1993).

2.3. Cálculo do IQA e análise dos dados

O índice de qualidade de água (IQA) foi desenvolvido pela National Sanitation Foundation (NSF) dos EUA. O cálculo baseou-se nas modifi-cações propostas por Comitesinos

(1990). Os parâmetros e pesos relati-vos do IQA encontram-se na Tabela 1, e as faixas de qualidade na Tabela 2. O modelo de IQA utilizou fórmula multi-plicativa, conforme equação 1 a seguir:IQA = π qi wi (equação 1)onde π = símbolo de produtório; qi = qua-lidade relativa do i – ésimo parâmetro; wi = peso relativo do i-ésimo parâmetro e i = número de ordem do parâmetro (1 a 8).

A qualidade relativa de cada parâ-metro foi estabelecida em curvas de variação que relacionaram o respectivo valor do parâmetro a uma nota, variá-vel entre 0 e 100, sendo que o valor 100 representa a melhor qualidade. Neste estudo foi aplicado um método computacional para ajustar uma equa-ção conforme aplicado em Bendati et al. (2003) e com os seguintes ajustes, conforme equações 2 e 3 a seguir:

Figura 1. Área de estudo com detalhamento da posição do lago Guaíba e dos pon-tos de coleta – A, em relação à região hidrográfica e ao RS - B.

qi fósforo = 1/0,009962 + 0,0137639*PO4 + 0,00076279*(PO4)2 (equação 2)

qi nitrato = 96,887435 - 7,39622*NO3 + 0,3135386*(NO3)2 -0,0067919*(NO3)3

+ 6,9235918*10-5*(NO3)4 - 2,647822*10-7*(NO3)5 (equação 3)

Page 48: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

8

Tabela 1. Parâmetros e pesos relativos do IQA.

Tabela 2. Faixas de qualidade de água para o IQA do NSF.

Parâmetros Código Pesos Relativos (wi)% Saturação de Oxigênio Dissolvido %OD 0,19Coliformes Termotolerantes COLITERMO 0,17pH pH 0,13Demanda Bioquímica de Oxigênio DBO 0,11Fosfato total PO4 0.11Nitrato NO3 0,11Turbidez TURB 0,09Resíduos (sólidos) totais a 105oC RT105 0,09

Faixas de IQA Classifi cação de qualidade de água0 - 25 Muito Ruim26 - 50 Ruim51 - 70 Regular71 - 90 Bom

91 - 100 Excelente

Fonte: Comitesinos (1990).

Fonte: Comitesinos (1990).

Os dados de nitrato e fósforo foram transformados em mgNO3.l-1 e mg PO4.l-1 e os dados de Escherichia coli foram convertidos a coliformes termotolerantes, baseando-se na pro-porção contida na Resolução Conama no 274 (BRASIL, 2000), onde colifor-mes termotolerantes = 1,2 * Escheri-chia coli (NMP.100 ml-1).

A percentagem de saturação do oxi-gênio dissolvido - %OD foi obtida pela equação 4:%OD = (OD/(0,0037 * TEMPAG2 – 0,3296 * TEMPAG + 13,943)*100) (equação 4)

Foram realizadas as estatísticas descritivas para as variáveis considera-das e para os valores brutos do IQA, bem como as percentagens das amos-tras por faixas de qualidade para cada ponto, as quais foram graficamente expressas em figuras por regiões (Del-ta do Jacuí, canal de navegação e mar-gens esquerda e direita do lago).

3. Resultados e discussão

A temperatura da água variou de 11,5 ºC no ponto 56a em maio/2007 a 33,0 ºC no mesmo ponto em feverei-ro/2001. Os valores médios variaram de 20,6 ºC no ponto 58 a 21,4 ºC nos pontos 41b e 64h, enquanto que a pro-fundidade média variou de 1,1 m no ponto 40, na foz do Dilúvio, a 13,1 m no ponto 123, no Delta do Jacuí. (Tabela 3).

O ponto 40 apresentou os maiores valores médios de COLITERMO (1,8E+05 NMP.100 ml-1), DBO (13,9 mgO2.l-1), PO4 (2,91 mgPO4.l-1) e RT105 (178,2 mg.l-1) e, juntamente com o ponto 31, apresentou os meno-res valores médios de OD (2,5 mgO2.l-1). Por sua vez, o ponto 31 apresentou o menor valor médio de %OD (27,5%) e o ponto 64c apresen-tou os maiores valores médios de OD (8,5 mgO2.l-1) e %OD (97,6%).

Page 49: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

9

O menor valor médio de COLI-TERMO foi de 5,0E+00 NMP.100 ml-1 nos pontos 50h e 64c. Conjunta-mente aos pontos 57 e 86a, o ponto 50h apresentou menor valor médio de DBO (0,8 mgO2.l-1). O ponto 57 tam-bém apresentou os menores valores médios de PO4 (0,22 mgPO4.l-1) e RT105 (88,5 mg.l-1 ).

Os valores médios de nitrato varia-ram de 0,72 mgNO3.l-1 no ponto 31 a 4,01 mgNO3.l-1 no ponto 58 e o pH médio variou de 7,0 nos pontos 59, 31 e 36 a 7,7 nos pontos 64c e 64h. A tur-bidez média variou de 19,0 UNT no ponto 40 a 44,7 UNT no ponto 47-8b.

Quanto ao IQA, os menores valores médios foram de 25,3 no ponto 40, 28,9 no ponto 31, seguidos dos valores de 48,0 no ponto 59 e 49,2 no ponto 36. E os maiores valores médios foram de 75,3 no ponto 56a, 75,7 no ponto 57, 77,0 no ponto 64h, 79,3 no ponto 50h e 79,5 no ponto 64c. Quando con-siderada a média do IQA da totalidade de pontos (IQA = 63,2), os pontos mais próximos da média foram o 47-8b (IQA = 59,7), 46 (IQA = 59,9), 50 (IQA = 64,5), 51b (IQA = 64,9) e 38 (IQA = 66,0). O ponto 50, geografica-mente, pode ser considerado o ponto de monitoramento mais central do lago e, coincidentemente, possui valores mais próximos da média do IQA da totalidade de pontos (escore z = 0,09).

Quanto às faixas de qualidade do IQA, os pontos 31 (foz do Gravataí), 36 (delta) e 59 (foz do Sinos) apresen-taram mais de 50% das amostragens na faixa de Ruim (Figura 2), enquanto que o ponto 40 (foz do Dilúvio) apre-sentou 59% das amostragens na faixa de Muito Ruim (Figura 3). Diferente-mente dos pontos 36 e 59, o ponto 31 apresentou 43% das amostragens na faixa de Muito Ruim e nenhuma amos-tragem nas faixas de Regular ou Bom.

A faixa de Regular predominou, com mais de 50% das amostragens, nos pontos 58 (foz do Caí), 38 (delta),

41a, 46, 50 e 60 (canal de navegação), 41b, 45e, 47-8b e 47-8d (margem esquerda), bem como, o ponto 51b (margem direita). Dentre esses pontos, o ponto 41b foi o mais expressivo na faixa de Ruim (45%) e o ponto 58 não apresentou nenhuma amostragem na faixa de Ruim e 33% das amostragens na faixa de Bom.

O ponto 86a (delta), por sua vez, apresentou 49% das amostragens na faixa de Regular, 48% na faixa de Bom e 3% na faixa de Ruim, estando numa posição intermediária entre os pontos onde predominaram ou a faixa de Regular ou a faixa de Bom.

Na faixa de Bom predominaram as amostragens dos pontos 57 (foz do Jacuí), 123 (delta), os pontos 64 e 61 (canal de navegação), os pontos 56a, 53a e 50h (margem direita), e um úni-co ponto na margem esquerda, o ponto 64h na enseada do balneário Lami, em Porto Alegre.

Em relação ao estudo da qualidade da água realizado por Bendati et al. (2003), verificou-se que o maior esfor-ço amostral do estudo atual permitiu registrar maior abrangência da varia-ção nos valores brutos do IQA de cada ponto considerado. Praticamente todos os conjuntos de valores brutos de IQA, por ponto, variaram para mais e para menos em relação aos valores extre-mos do estudo anterior. Com isso, não foi possível afirmar se houve melhoria ou degradação significativa da qualida-de da água em cada um dos pontos. De qualquer forma, verificou-se que a análise de uma série de longa duração de dez anos, garantiu uma avaliação mais ampla e refinada da qualidade da água no lago.

Ao comparar as percentagens por faixa de qualidade do IQA com o estu-do de Bendati et al. (2003), verificou-se que, para o ponto 86a (delta), houve redução da faixa de Regular de 62,5 para 49,0% e concomitante aumento da faixa de Bom de 37,5 para 48,0%.

Page 50: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

10

Tabela 3. Média das variáveis e do IQA no lago Guaíba (RS), 2000 a 2009.

PONTO PROF TEMPAG COLITERMO DBO NO3 OD %OD pH PO4 RT105 TURB IQA

m oC NMP.100ml-1 mgO2.1-1 mgNO3.1-1 mgO2.1-1 % - mgPO4.1-1 mg.1-1 UNT

57 8,6 20,8 37 0,8 2,08 8,1 92,0 7.3 0.22 88.5 30.5 75.7

58 4.3 20.6 94 1,4 4,01 6,8 76,8 7,1 0,33 117,7 31,6 67,7

59 4,7 20,6 2085 2,4 1,88 4,0 44,6 7,0 0,61 132,3 34,3 48,0

31 4,8 21,1 71131 9,6 0,72 2,5 27,5 7,0 2,01 159,8 33,6 28,9

86a 4,0 21,0 181 0,8 2,05 7,8 89,3 7,2 0,25 88,5 36,6 69,8

36 6,7 21,2 14359 2,2 2,19 5,9 68,7 7,0 0,53 103,2 32,7 49,2

123 13,1 20,9 131 0,9 2,18 7,9 90,4 7,3 0,24 95,3 30,2 71,3

38 13,0 20,8 389 1,0 2,44 7,5 85,2 7,2 0,30 91,8 35,8 66,0

41a 6,7 20,9 3408 1,1 2,38 7,5 85,2 7,2 0,30 95,7 35,1 58,9

46 6,7 20,8 2322 1,2 2,30 7,5 85,8 7,2 0,33 95,3 36,0 59,9

50 7,3 20,7 569 1,2 2,29 7,7 88,2 7,4 0,31 95,2 37,0 64,5

60 7,3 20,8 130 1,1 2,25 8,1 92,7 7,5 0,29 98,7 36,1 69,4

64 6,5 20,8 49 1,0 2,16 8,3 94,7 7,6 0,29 95,6 36,8 72,3

61 8,4 20,7 27 1,0 2,31 8,2 93,1 7,6 0,29 93 34,8 74,6

40 1,1 20,9 180169 13,9 2,06 2,5 28,3 7,2 2,91 178,2 19,0 25,3

41b 9,8 21,4 10820 1,7 2,15 6,1 70,4 7,1 0,46 99,1 31,4 51,3

45e 4,7 21,1 4608 1,2 2,24 6,4 73,5 7,1 0,43 95,9 31,2 55,5

47-3 1,2 21,4 2600 2,0 2,40 7,1 82,8 7,5 0,43 101,1 29,9 57,0

47-8b 2,0 20,9 1459 1,3 1,87 7,5 85,9 7,5 0,56 112,0 44,7 59,7

47-8d 3,8 21,0 101 1,5 2,67 8,0 91,5 7,5 0,42 90,9 30,7 69,5

64h 1,8 21,4 10 1,2 2,33 8,0 92,6 7,7 0,31 98,2 34,1 77,0

56a 2,1 20,8 14 1,5 1,24 8,2 93,0 7,6 0,41 98,0 43,2 75,3

51b 3,1 20,9 454 1,2 2,33 7,6 86,9 7,2 0,35 148,8 35,7 64,9

53a 2,1 20,7 58 0,9 2,01 8,1 92,8 7,6 0,33 96,5 37,0 72,1

50h 1,8 20,6 5 0,8 1,92 8,2 92,9 7,6 0,30 92,8 34,4 79,3

64c 3,5 20,7 5 1,0 2,03 8,5 97,6 7,7 0,26 94,1 37,2 79,5

Da mesma forma, no canal de navega-ção, o ponto 38 apresentou redução da faixa de Regular de 87,5 para 62,0% e aumento da faixa de Bom de 0,0 para 30,0%. Na margem direita, verificou-se, para o ponto 56a, redução da faixa de Regular de 50,0 para 15,0%, bem como aumento da faixa de Bom de 50,0 para 85,0%. Da mesma forma, no ponto 64c houve redução da faixa de Regular de 25,0 para 3,0% e aumento da faixa de Bom de 75,0 para 97,0%.

Ainda em relação ao estudo de Ben-dati et al. (2003), no canal de navega-ção, o ponto 50 apresentou aumento da faixa de Regular de 62,5 para 87,0%, bem como redução da faixa de Bom de 37,5 para 13,0% e o ponto 60 apresen-tou aumento da faixa de Regular de 50,0 para 70,0% e redução da faixa de Bom de 50,0 para 30,0%. Na margem esquerda verificou-se no ponto 40, foz do arroio Dilúvio, aumento da faixa de Muito Ruim de 25,0 para 59,0% e con-

Page 51: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

11

Figura 2. Faixas de qualidade do IQA no Delta do Jacuí e canal de navegação do lago Guaíba (RS), 2000 a 2009.

comitante redução da faixa de Ruim de 75,0 para 38,0%.

4. Conclusões

Os resultados permitiram verificar que a foz dos rios Gravataí, dos Sinos e arroio Dilúvio, bem como alguns pontos da margem esquerda do lago, estão mais comprometidos em função de maior adensamento populacional associado à menor vazão de tributá-rios relacionados. Pontos na margem direita e a foz do rio Jacuí apresenta-ram os melhores valores de IQA. Na margem esquerda sul do lago Guaíba, observaram-se águas de melhor quali-

dade, o que pode ser atribuído à implantação dos sistemas de esgota-mento sanitário – (SES Belém Novo e Lami), bem como ao poder depurador do lago ao longo de seu percurso.

Os resultados reiteram a necessida-de de continuidade de investimentos em saneamento, a médio e longo pra-zo, nas bacias dos rios Gravataí, dos Sinos e arroio Dilúvio. Nesse sentido, o Dmae está implementando o SES Sarandi na bacia do Gravataí, bem como o Programa Integrado Socioam-biental (Pisa), que expandirão a capa-cidade de tratamento de esgotos de Porto Alegre de 27% para 80% e pro-moverão o saneamento nas bacias cor-

Page 52: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

12

respondentes. Para avaliar as melho-rias ambientais decorrentes dos inves-timentos do Dmae em saneamento na cidade de Porto Alegre, a médio e lon-go prazo, será mantido o monitora-mento da qualidade das águas no lago Guaíba.

Para a série temporal deste traba-lho, ainda serão realizados estudos com vistas a estabelecer a condição de qualidade das águas segundo a legisla-ção ambiental, bem como verificar a influência das variações climático-temporais e hidrodinâmicas na quali-dade das águas do lago Guaíba.

5. Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: informe 2011. Brasília: ANA, 2011. 112 p.

ALMEIDA, M. A. B.; SCHWARZ-BOLD, A. Avaliação sazonal da quali-dade das águas do Arroio da Cria Montenegro, RS com aplicação de um índice de qualidade da água (IQA). Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 81-97, 2003.

Figura 3. Faixas de qualidade do IQA nas margens esquerda e direita do lago Guaíba (RS), 2000 a 2009.

Page 53: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

13

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10664: água: determinação de oxigênio dissol-vido: método iodométrico de Winkler e suas modificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1988. 11 p.

___. NBR 10559: água: determinação de resíduos (sólidos): método gravimétrico. Rio de Janeiro: ABNT, 1989. 14 p.

___. NBR 12772: água: determinação de fósforo. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. 9 p.

___. NBR 14339: água: determinação de pH: método eletrométrico. Porto Alegre: ABNT, 1999. 3 p.

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and waste water. 20.ed. Washington, DC: Academic Press, 1998.

BENDATI, M. M. et al. Avaliação da qualidade da água do Lago Guaíba. Subsídios para a gestão da bacia hidro-gráfica. Ecos Pesquisa, Porto Alegre, v. 4, n.7, p. 1-34, 2003.

BLUME, K. K. et al. Water quality assessment of the Sinos River, Sou-thern Brazil. Brazilian Journal of Biology, São Paulo, v. 70, n. 4, p. 1185-1193, 2010.

BOLLMANN, H. A.; MARQUES, D. M. Base para a estruturação de indica-dores de qualidade de águas. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 37-60, 2000.

BOLLMANN, H. A. et al. Qualidade da água e dinâmica de nutrientes. In: ANDREOLI, C. V.; CARNEIRO, C. (Ed.). Gestão integrada de manan-ciais de abastecimento eutrofizados. Curitiba: Sanepar/Finep, 2005. cap. 7, p. 213-269.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n° 274, de 29 de novembro de 2000. Define as condições da água para recreação de contato primá-rio em águas brasileiras e dá outras provi-dências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 jan. 2001.

CAMPELLO, F. D. Avaliação prelimi-nar da qualidade das águas da Floresta Nacional de São Francisco de Paula, RS, Brasil. Revista Brasileira de Bio-ciências, Porto Alegre, v. 3, n.1/4, p. 47-64, 2005.

COMITÊ DE PRESERVAÇÃO, GERENCIAMENTO E PESQUISA DA BACIA DO RIO DOS SINOS. Utilização de um índice de qualida-de da água para o Rio dos Sinos/RS. Porto Alegre: COMITESINOS, 1990. 33 p.

___. Aplicação de um índice de qua-lidade da água no Rio dos Sinos/RS. Porto Alegre: DMAE, 1993. 59 p.

GONÇALVES, C. S. et al. Qualidade da água numa microbacia hidrográfica de cabeceira situada em região produ-tora de fumo. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, PB, v. 9, n. 3, p. 391-399, 2005.

KÖNIG, R. et al. Qualidade das águas de riachos da região norte do Rio Gran-de do Sul (Brasil) através de variáveis físicas, químicas e biológicas. Pan-American Journal of Aquatic Scien-ces, [s.l.], v. 3, n. 1, p. 84-93, 2008.

MARCHESAN, E. et al. Qualidade de água dos rios Vacacaí e Vacacaí-mirim no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural, Santa Maria, RS, v. 39, n. 7, p. 2050-2056, 2009.

MORANDI, I. C.; COLARES, E. R. C. (Coord.). DMAE: Divisão de Pesquisa:

Page 54: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

14

Coleção Digital. Porto Alegre: DMAE, 2007. CD-ROM.

NICOLODI, J. O padrão de ondas no Lago Guaíba e sua influência nos processos de sedimentação. Porto Alegre: UFRGS, 2007. 195 p. Tese de Doutorado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Geociências.

PEREIRA, D.; DE LUCA, S. J. Ben-thic macroinvertebrates and the quality of the hydric resources in Maratá Cre-ek basin (Rio Grande do Sul, Brazil). Acta Limnologica Brasiliensia, Rio Claro, SP, v. 15, n. 2, p. 57-68, 2003.

PROGRAMA PARA O DESENVOL-VIMENTO SOCIOAMBIENTAL DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO GUA-ÍBA – PRÓ-GUAÍBA. Relatório-sínte-se 2005: rede de monitoramento ambiental: monitoramento das águas superficiais. Porto Alegre: FEPAM, CORSAN, DMAE, 2005. 32 p.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Departa-mento de Recursos Hídricos. Contrato nº 002/06: elaboração do Plano Esta-dual de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul: relatório síntese da Fase A – RSA, diagnóstico e prognós-tico hídrico das bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Eco-plan Engenharia, 2007. 146 p.

UNITED STATES ENVIRONMEN-TAL PROTECTION AGENCY. Method 300.0: determination of inor-ganic anions by ion chromatography. Washington, USEPA, 1993.

WETZEL, C. E. et al. Diatomáceas epilít icas relacionadas a fatores ambientais em diferentes trechos dos rios Pardo e Pardinho, bacia hidrográ-fica do Rio Pardo, RS, Brasil: resulta-dos preliminares. Caderno de Pesqui-sa, Série Botânica, Santa Cruz, v. 14, n. 2, p. 17-38, 2002.

Page 55: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

15

Maria da Graça da Silva Ortolan1

Resu mo

O conhecimento das concentrações dos principais constituintes dos esgotos domésticos brutos é crucial à gestão, planejamento e concepção de projetos de estações de tratamento de esgotos sanitários (ETEs). Esta pesquisa teve como objetivo comparar dados consagra-dos na literatura com os observados nos esgotos da cidade de Porto Alegre/RS, no período de 2000 a 2009, bem como avaliar se existem diferenças significativas na composição dos esgotos afluentes às nove ETEs. Foram determinadas as estatísticas descritivas dos dados de monitoramento dos esgotos afluentes às ETEs para os seguintes parâmetros: demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), sólidos suspensos totais (RNF105°C), nitrogênio total (NT), fósforo total (Ptotal) e coliformes termotoleran-tes (COLI). Considerando os parâmetros analisados, os resultados mostraram que, de maneira geral, os esgotos brutos de Porto Alegre apresentaram valores inferiores aos con-siderados típicos pela literatura. Os valores médios das variáveis no período referido para cada ETE foram comparados através da ANOVA para fator único, demonstrando haver diferenças significativas entre os afluentes que aportam à maioria das ETEs estudadas. Destacam-se ETEs da Zona Sul com significativas reduções nas concentrações da maioria dos parâmetros avaliados, apontando a necessidade de ampliação e melhoria das redes coletoras daquela área da cidade.

Palavras-chave: Afluentes. ANOVA. Caracterização de esgotos domésticos. Concen-trações de esgotos brutos. Dmae.

Caracterização dos esgotos domésticos afluentes às estações de tratamento de esgoto do Departamento Municipal de Água e Esgotos - Porto Alegre (RS) Brasil

Introdução

A caracterização dos esgotos domés-ticos é de importância estratégica para o dimensionamento e a definição do tipo de tratamento a ser utilizado quan-do são consideradas alternativas para implantação de novas Estações de Tra-tamento de Esgotos (ETEs). Além dis-so, a determinação das características

dos esgotos afluentes às ETEs é ferra-menta crucial para a gestão do sanea-mento ambiental, pois fornece subsí-dios à tomada de decisão do ponto de vista do tratamento do esgoto, sendo fundamental ao acompanhamento da eficiência na remoção de poluentes (SOARES et al., 2001).

A cidade de Porto Alegre (RS) apre-senta, segundo Censo Demográfico do

1Bióloga, MSC. DVP/DmaeConsultoria em Estatística: Prof. Dr. Luiz Glock

Page 56: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

16

IBGE (2010), uma população de 1.409.351 habitantes distribuída em uma área de 470,25 km2 (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2000). Se considerarmos a geração de esgotos per capita de 93 L/hab/dia, sugerida no estudo de Silva e Bezerra (2005), tere-mos uma estimativa de geração diária 1.131.124.327 L de esgotos em Porto Alegre. Deste total, apenas 20% apor-tam nas estações de tratamento (POR-TO ALEGRE, 2010).

De acordo com Nascimento e Fer-reira (2007), a característica dos esgotos é reflexo dos usos aos quais a água foi submetida, bem como a forma como estes usos são exercidos. Estes usos variam com o clima, situação socioeco-nômica e hábitos da população.

A forma como é feita a coleta de esgotos também é uma variável impor-tante. Na cidade de Porto Alegre esta não ocorre de maneira uniforme. Há áreas da cidade em que os esgotos in natura, ou com um pré-tratamento do tipo fossa e filtro, são encaminhados junto com a coleta de rede pluvial e seguem seu des-tino rumo aos cursos naturais de água, não sendo direcionado às ETEs. Em outras, há sistemas eficientes, do tipo separador absoluto, que visam a garantir que apenas o esgoto de origem cloacal aporte a ETE. E há ainda outros setores da cidade em que as ETEs são o destino final de redes mistas, ou seja, o esgoto cloacal sofre interferência de precipita-ções que podem diluir a carga que aporta em algumas ETEs (PORTO ALEGRE, 2010).

Estes diferentes arranjos produzidos entre qualidade, volumes gerados e capacidade de separação e coleta de esgotos, parecem produzir um diferen-cial entre as características dos esgotos produzidos em diferentes regiões da cidade. Consequentemente, estas varia-ções devem refletir-se nos esgotos afluentes às nove ETEs operadas pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).

Sistemas de Esgotamento Sanitário

A subdivisão da área do município em bacias sanitárias teve seu início em 1973, por ocasião da elaboração do segundo Plano Diretor de Esgotos. De acordo com este Plano, a cidade foi dividida em quatro zonas, em função de sua topografia: Sistema Gravataí, Sistema Navegantes, Sistema Ponta da Cadeia e Sistema Zona Sul. Em 1999, foram acrescentados os sistemas Cava-lhada, Ponta Grossa, Restinga, Belém Novo, Lami e Ilhas. O plano atual estabelece a divisão dos Sistemas Gra-vataí e Restinga resultando, respectiva-mente, nos sistemas de esgotamento sanitário (SES) Sarandi e Rubem Berta e SES Salso-Restinga e Salso-Lomba. Esta última alteração resulta em uma divisão geográfica do município em 11 (onze) SES e pode ser visualizada na Figura 1.

Parâmetros indicadores da caracterização do esgoto

Segundo Von Sperling (1996), os parâmetros físicos, químicos e biológi-cos definem a qualidade do esgoto. E dentre eles destacam-se a utilização de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), sólidos suspensos totais (RNF105°C), nitrogênio total (NT), fósforo total (Ptotal) e coliformes ter-motolerantes e E. coli (COLI), compi-lados no estudo realizado por Oliveira, Souki e Von Sperling (2005).

Objetivos

O presente trabalho tem como obje-tivo avaliar as características dos esgo-tos afluentes às nove ETEs operadas pelo Dmae na cidade de Porto Alegre, buscando verificar se existem diferen-ças significativas na qualidade entre os esgotos gerados em diferentes locais

Page 57: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

17

Figura 1. Divisão geográfica do município de Porto Alegre em Sistemas de Esgo-tamento Sanitário, com a localização das ETEs operadas pelo Dmae. Fonte: modifi-cado de Plano Diretor de Esgotos Sanitários (PORTO ALEGRE, 2010)

da cidade. Os resultados obtidos no presente estudo serão comparados com dados da literatura, de maneira a servi-rem como ferramenta de gestão e pla-nejamento ao saneamento da cidade de Porto Alegre.

Metodologia

Os dados utilizados no presente estudo foram disponibilizados pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos.

Foram considerados os parâmetros físico-químicos e biológicos de amos-tras mensais coletadas na chegada das nove ETEs operadas pelo Dmae na cidade de Porto Alegre, quais sejam: Nova Restinga (NR), Rubem Berta

(RB), São João/Navegantes (SJN), Esmeralda (ES), Belém Novo (BN), Arvoredo (AR), Bosque dos Maias (BQ), Ipanema (IP) e Lami (LA).

Foram analisados todos os dados disponíveis para os parâmetros DBO, DQO, RNF105°C, NT, Ptotal, E.coli e coliformes termotolerantes existentes no banco de dados da Divisão de Pes-quisa (DVP) do Dmae para o período de 2000 a 2009. Os parâmetros escolhi-dos foram obtidos segundo metodolo-gias analíticas preconizadas pelo Stan-dard Methods (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, 1998).

Como o tamanho da amostra conside-rada é fruto da compilação da totalidade de dados disponíveis no período conside-rado, o conjunto de amostras resultante

Page 58: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

18

(n) varia de 16 a 125 dados, de acordo com a ETE e o parâmetro analisado.

Para testar a hipótese de que exis-tem diferenças significativas nas carac-terísticas dos esgotos domésticos afluentes às ETEs operadas pelo Dmae foram realizadas avaliações de estatís-tica descritiva e testes de comparação entre médias. Os valores médios das variáveis no período referido para cada ETE foram comparados através da ANOVA para fator único conforme Zar (2010), considerando-se significa-tivas as diferenças para alfa = 0,05.

Os dados são apresentados em tabelas e gráficos de acordo com as normas de apresentação de dados da estatística brasileira (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1993).

Resultados e Discussão

A comparação entre as concentra-ções observadas e os valores típicos citados pela literatura especializada para esgotos brutos, predominantemen-te domésticos, é apresentada nas Tabe-las 1 e 2. As confrontações entre os valores das medidas de tendência cen-tral obtidas para os esgotos afluentes a nove estações de tratamento de esgoto, ao longo da década compreendida entre 2000 e 2009, são apresentadas nas Tabelas 3 a 9.

Parâmetros Condições do EsgotoForte Médio Fraco

DBO5 (20oC) 400 200 100DQO 800 400 200Nitrogênio Total 85 40 20Fósforo Total 20 10 5RNF105o 360 230 120

Valores p H 6,5 a 7,5Típicos Coliformes fecais 105 a 108

Tabela 1. Valores típicos de parâmetros de carga orgânica (mg/L) no esgoto sani-tário segundo Jordão e Pessôa, 2005.

Para fins desta avaliação é conside-rada como esgoto de Porto Alegre a avaliação do conjunto de dados obti-dos, reunindo as informações de todas as ETEs analisadas no período de 2000 a 2009.

Os dados da literatura (Tabelas 1 e 2) são comparados com os valores obtidos na estatística descritiva (Tabe-las 3 a 9) das nove ETEs para os sete parâmetros.

Parâmetro DBO

O esgoto bruto apresentou valores extremos de DBO com uma variação de 5 mgO2/L (ETE IP) a 505 mgO2/L (ETE SJN). Os valores médios oscila-ram de 55,4 a 289,2 mgO2/L (Tab. 3), respectivamente, para as ETEs Ipane-ma e Rubem Berta. Segundo classifi-cação estabelecida por Jordão e Pessôa (2005) - Tab. 1, estes valores represen-tam comportamento de esgoto fraco para a ETE localizada na Zona Sul (ETE IP), e como um esgoto forte para a ETE da Zona Norte (ETE SJN).

Quando o conjunto dos dados é comparado com os da literatura (Tab. 2), verifica-se que a DBO do esgoto de Porto Alegre encontra-se abaixo dos valores considerados típicos (350 mgO2/L) para o estudo de von Sper-ling (2005), chegando o percentil 75 (285,5 mgO2/L) a, no máximo, 81,6%

Page 59: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

19

ParâmetrosConcentrações

Von Sperling típicasa

Oliveira et al. típicasb

Morandi et al. típicasc

Esgoto Porto Alegre

Faixa Típico Faixa (percentis 25 e 75%) Média Faixa

(mín e máx) Média Faixa (percentis 25 e 75%)

DBO5 (mgO2/L) 200 - 500 350 382 - 617 527 80 - 530 321 30 - 350

DQO (mg O2/L) 400 - 800 700 898 - 1291 1113 210 - 1228 611 66,5 - 618

NT (mgN/L) 35 - 70 50 50 - 78 66 20 - 51,38 40 10 - 69,4

PT (mgP/L) 4 - 15 7 6 - 10 8 2,54 - 21,66 7,16 0,9 - 11,7

SST (mg/L) 200 - 450 400 323 - 472 435 230 - 867,0 605 35 - 269

pH - - - - 6,6 - 8,7 7,8 6,5 - 8,1

CF (NMP/100mL) 106 - 109 5. 107 2,1.107 - 5,0.107 9,4.107 104 - 108 9,4.107 106 - 107 **

ESTAÇÕES

NR RB SIN ES BN AR BQ IP LA

Nº- de dados 106 76 125 110 95 87 61 111 117

Mínimo 20 101 32 70 52 57 46 5 9,6

Máximo 425 460 505 449 329 479 443 220 305

Média 176,0 289,2 179,0 225,9 176,8 230,3 210,1 55,4 80,8

Desvio Padrão 71,2 83,4 87,3 83,4 61,8 81,9 93,9 38,3 61,9

Mediana 170 290 170 220 181 226 206 49,2 62

25 percentil 124,5 235,5 120 158,5 140 175 142 30 33,9

75 percentil 220 350 213 285,5 219 278 256 68 107,5

do valor típico obtido pelo autor (Tab. 3). Em comparação dos valores obti-dos para DBO com os verificados por Oliveira et al. (2005), em estudo que avaliou o esgoto afluente a 206 ETEs do Brasil, verifica-se uma discrepância ainda maior, pois o valor máximo de DBO obtido no percentil 75 do presen-te estudo equivale a apenas 54,2% do valor médio (527 mgO2/L) obtido pelos pesquisadores (Tab. 3).

Em comparação com estudo consi-derado referência dos padrões munici-pais de esgotos domésticos, realizado

pelo Dmae em 1998 (MORANDI et al. 1998), avaliando concentrações de esgotos afluentes a tanques sépticos em condomínios residenciais de Porto Ale-gre, verifica-se que as concentrações mínimas e máximas obtidas no presente estudo (mín = 5 e máx = 505 mgO2/L) são inferiores as obtidas naquele estudo (mín = 80 e máx = 530 mgO2/L).

Parâmetro DQO

Para o parâmetro DQO, no esgoto doméstico, os valores variaram de 29,7

Fonte: modificado de (a) Von Sperling (2005); (b) Oliveira et al. (2005); (c) Morandi et al. (1998). ** valores obtidos pela reunião de dados de duas metodologias fortemente correlacionadas (r = 0,7386), utilizando a equação (y = 0,3459x + 4,5062 com R² = 0,5455) para conversão dos resultados de E.coli para coliformes termotolerantes.SST = Sólidos Suspensos TotaisCF = Coliformes Fecais (Termotolerantes)

Legenda: ETEs: NR = Nova Restinga, RB = Rubem Berta, SJN = São João Navegantes, ES = Esmeralda, BN = Belém Novo, AR = Arvoredo, BQ =Bosque dos Maias, IP = Ipanema e LA = Lami. Fonte: elaborado pela autora.

Tabela 2. Comparação entre as concentrações observadas no esgoto de Porto Alegre no período de 2000 a 2009 e os valores típicos propostos por Von Sperling (2005), Oliveira et al. (2005) e Morandi et al. (1998).

Tabela 3. Estatísticas descritivas referentes às concentrações do parâmetro DBO (mgO2/L) no esgoto afluente às nove ETEs operadas pelo Dmae no período de 2000 a 2009.

Page 60: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

20

a 1.272 mgO2/L, ETEs Ipanema e São João/Navegantes respectivamente (Tab. 4). Os valores médios variaram de 111,0 a 571,6 mgO2/L, ETEs Ipa-nema e Rubem Berta, respectivamente. Novamente os valores mais baixos foram observados na Zona Sul. Este parâmetro também caracteriza-se por apresentar resultados abaixo dos obser-vados na literatura de referência. Para as ETEs analisadas, apenas os dados acima do percentil 75 poderiam ser considerados típicos (700 mgO2/L) na classificação de Von Sperling (2005).

Na comparação com o estudo de Oliveira et al. (2005), verifica-se uma diferença ainda maior, sendo que o maior valor obtido de DQO no percen-til 75 (618 mgO2/L) representa 55,5% do valor médio (1113 mgO2/L) encon-trado no estudo.

As concentrações médias de todas as ETEs analisadas apresentam valores inferiores a média obtida em estudo anteriormente produzido pelo Dmae (MORANDI et al., 1998).

Apenas o valor máximo observado para a ETE São João/Navegantes (1272 mgO2/L) apresenta-se levemen-te superior ao obtido no estudo anterior (1228 mgO2/L).

Parâmetro Nitrogênio total

Na avaliação de NT verifica-se a existência de uma grande oscilação dos valores em ETEs da Zona Sul, com os menores mínimos, 1,9 mgN/L (IP) e maiores máximos, 98,7 mgN/L (NR), com valores médios entre 18,6 mgN/L (IP) e 55,9 mgN/L (NR) - Tab. 5. Assim, se considerada a classificação estabele-cida por Jordão e Pessôa (2005), verifi-ca-se a presença de duas categorias em uma mesma área da cidade, ou seja, de características fracas a fortes em ETEs geograficamente próximas (Tab. 1).

Em comparação com os dados da literatura (Tab. 2), podemos constatar que os valores máximos obtidos no

percentil 75 (69,4 mgN/L) estão de acordo com os obtidos no limite supe-rior da faixa de concentração estabele-cida por Von Sperling (2005) - 70 mgN/L. No entanto, os valores míni-mos observados no percentil 25 (10 mgN/L) estão abaixo do valor do limi-te inferior (35 mgN/L) referido pelo mesmo autor. Quando os dados são confrontados com os obtidos por Oli-veira et al. (2005), verifica-se a mesma situação, ou seja, valores dos percentis 75 (69,4 mgN/L) e 25 (10 mgN/L) abaixo dos obtidos pelos pesquisado-res (78 e 50 mgN/L, respectivamente).

Ainda que o valor mínimo (1,9 mgN/L) observado apresente-se muito inferior ao mínimo obtido por Moran-di et al. (1998), 20 mgN/L, os máxi-mos verificados (98,7 mgN/L) na ETE Nova Restinga são superiores aos observados pelos mesmos autores (51,38 mgN/L). Em termos de valores médios, verificam-se ETEs como Ipa-nema e Lami com médias (18,6 e 20,9 mgN/L, respectivamente) muito abai-xo da média estabelecida em 1998 por Morandi et al. (40 mgN/L). No entan-to, os valores médios obtidos para Nova Restinga e ETE Rubem Berta (55,9 e 55,4 mgN/L, respectivamente) são superiores aos máximos observa-dos no estudo em questão (51,38 mgN/L).

Parâmetro Fósforo total

Para o parâmetro Ptotal, os valores das médias variaram entre 2,7 mgP/L (LA) e 9,5 mgP/L (SJN) - Tab. 6. São consideradas como típicas de esgotos fracos se utilizada a classificação de Jordão e Pessôa (2005) - Tab. 1. Os valores extremos observados são típi-cos de esgotos muito fracos 0,04 mgP/L (LA) a muito fortes 81,9 mgP/L (SJN). Diferentemente de outros parâmetros, o fósforo parece ter valores baixos em toda a cidade, mas apresenta picos em ETE da Zona

Page 61: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

21

ESTAÇÕES

NR RB SIN ES BN AR BQ IP LA

Nº- de dados 26 15 126 29 51 19 16 111 113

Mínimo 140 436 80 204 85,2 203 100 29,7 42

Máximo 400 705 1272 803 909 704 813 497 703

Média 284,9 571,6 323,9 425,9 280,1 422,7 393,2 111,0 153,8

Desvio Padrão 72,6 89,6 171,7 161,4 138,2 124,3 162,4 77,2 115,3

Mediana 296 591 300 388 260 441,7 353,4 84 111

25 percentil 216,5 486 200 310 202 352 296,1 66,5 80

75 percentil 350 618 402,25 489 367 492 462,3 133 183

ESTAÇÕES

NR RB SIN ES BN AR BQ IP LA

Nº- de dados 20 11 93 20 85 14 11 114 118

Mínimo 31,7 37,1 9,9 20,1 16,5 24,7 16,5 1,9 4,3

Máximo 98,7 73,9 83,5 62,1 72,1 56,0 62,0 40,1 90,0

Média 55,9 55,4 40,7 41,1 43,1 35,8 39,1 18,6 20,9

Desvio Padrão 14,3 12,8 14,7 11,8 13,5 8,6 14,8 8,1 16,3

Mediana 56,3 50,6 40,3 40,7 44,7 35,7 40,2 18,8 16,0

25 percentil 51,1 46,0 29,5 31,5 32,9 27,6 23,6 12,7 10,0

75 percentil 61,3 69,4 50,8 51,5 53,1 40,4 54,9 23,2 24,4

Tabela 4. Estatísticas descritivas referentes às concentrações do parâmetro DQO (mgO2/L) no esgoto afluente às nove ETEs operadas pelo DMAE no período de 2000 a 2009.

Tabela 5. Estatísticas descritivas referentes às concentrações do parâmetro (NT mgN/L) no esgoto afluente às nove ETEs operadas pelo Dmae no período de 2000 a 2009.

Legenda: ETEs: NR = Nova Restinga, RB = Rubem Berta, SJN = São João Navegantes, ES = Esmeralda, BN = Belém Novo, AR = Arvoredo, BQ = Bosque dos Maias, IP = Ipanema e LA = Lami. Fonte: elaborado pela autora.

Legenda: ETEs: NR = Nova Restinga, RB = Rubem Berta, SJN = São João Navegantes, ES = Esmeralda, BN = Belém Novo, AR = Arvoredo, BQ = Bosque dos Maias, IP = Ipanema e LA = Lami. Fonte: elaborado pela autora.

Norte (SJN). Na comparação dos dados dos percentis 75 verifica-se que o valor máximo observado (11,7 mgP/L) no presente estudo apresenta-se levemente acima do limite superior (10 mgP/L) obtido para Oliveira et al. (2005). Também está levemente abai-xo do valor percentil 75 (15mgP/L), encontrado por Von Sperling (2005) - Tab. 2. No entanto, o valor mínimo observado nos percentis 25 das ETEs (0,9 mgP/L) é menor que o menor valor citado na literatura, 4 mgP/L (VON SPERLING, 2005).

Na comparação com os resultados dos estudos anteriores realizados pelo

Dmae (MORANDI et al., 1998), veri-fica-se que as concentrações atuais do parâmetro são inferiores àquelas obti-das, salvo para a ETE São João/Nave-gantes, cujo valor máximo observado foi de 81,9 mgP/L.

Parâmetro Sólidos Suspensos

Para a avaliação de RNF105°C, a variação foi de 13 mg/L (IP) a 5780 mg/L (LA) - Tab. 7. É importante des-tacar que o valor máximo obtido é totalmente atípico para a ETE Lami, ficando fora do percentil 75 (94 mg/L). Neste caso, para fins de verificar a

Page 62: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

22

oscilação da medida de tendência cen-tral, é mais adequado utilizar os valo-res das medianas às médias. Assim, a menor e a maior mediana foram obser-vadas, respectivamente, nas ETEs Ipa-nema (50 mg/L) e São João/Navegan-tes (222 mg/L). Para este parâmetro, os valores máximos obtidos nos percentis 75 (269 mg/L) estão abaixo dos valo-res considerados típicos pelas literatu-ras de referência nesta área (Tab. 2). Representa 67,3% do valor típico (400 mg/L) estabelecido por Von Sperling (2005), sendo inferior ao valor obtido no percentil 25 (323 mg/L) do estudo conduzido por Oliveira et al. (2005).

Novamente a ETE São João / Nave-gantes apresentou valores máximos superiores aos verificados nos estudos anteriores realizados pelo Dmae (MORANDI et al., 1998). Os maiores valores, tanto das médias (216 mg/L) como das medianas (222 mg/L), a exemplo dos demais parâmetros anali-sados, é inferior à média estabelecida por aqueles autores (605 mg/L).

Parâmetro pH

Os valores de pH do esgoto bruto oscilaram de 5,7, ETE Lami, a 9,5, ETEs Belém Novo e São João/Nave-gantes (Tab. 8).

A variação das médias foram de 6,7 para Lami a 7,8 na Rubem Berta. Ain-da que os valores das médias e media-nas de todas as ETEs avaliadas estejam próximos à neutralidade, verifica-se que os percentis 75 das ETEs Arvore-do e Rubem Berta são os que apresen-tam os valores mais elevados, 7,8 e 8,1, respectivamente. Estas duas ETEs estão localizadas na Zona Norte do município (Figura 1).

Os valores de pH, quando compara-dos com o estudo anterior realizado pelo Dmae (MORANDI et al., 1998), na maior parte dos dados obtidos no presente estudo, embora ligeiramente inferiores, concordam com as faixas estabelecidas pelos autores.

Parâmetro colimetria

Ao longo do período considerado foram utilizadas duas metodologias distintas, tubos múltiplos (coliformes termotolerantes) e método de subs-trato enzimático (Escherichia coli). A concordância dos valores obtidos por ambas as metodologias pode ser avaliada em virtude da existência de dados pareados em um curto período de tempo.

A distribuição de coliformes é log-normal. Por isto os testes estatísticos

Legenda: ETEs: NR = Nova Restinga, RB = Rubem Berta, SJN = São João Navegantes, ES = Esmeralda, BN = Belém Novo, AR = Arvoredo, BQ = Bosque dos Maias, IP = Ipanema e LA = Lami. Fonte: elaborado pela autora.

Tabela 6. Estatísticas descritivas referentes às concentrações do parâmetro total (mgP/L) no esgoto afluente às nove ETEs operadas pelo Dmae no período de 2000 a 2009.

ESTAÇÕES

NR RB SIN ES BN AR BQ IP LA

Nº- de dados 16 16 88 23 92 17 17 93 95

Mínimo 0,7 1,4 0,3 1,6 0,2 0,6 1,3 0,5 0,04

Máximo 11 10,6 81,9 10,0 42,9 19,3 9,9 17,0 16,7

Média 6,3 7,7 9,5 6,1 7,9 6,8 5,8 3,0 2,7

Desvio Padrão 2,5 2,2 11,8 2,1 7,0 4,2 2,2 2,0 2,9

Mediana 6,5 7,9 6,3 5,9 6,5 6,0 6,3 2,8 1,9

25 percentil 4,6 7,1 3,1 4,6 4,2 4,6 3,9 1,8 0,9

75 percentil 7,9 8,9 11,7 7,7 9,0 6,9 7,5 3,4 3,3

Page 63: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

23

ESTAÇÕES

NR RB SIN ES BN AR BQ IP LA

Nº- de dados 107 76 128 111 97 87 61 114 119

Mínimo 16 63 16 50 15 34 17 13 20

Máximo 342 443 1387 833 660 520 505 304 5780

Média 90,4 225,6 194,4 216,0 163,6 165,3 152,9 64,5 131,8

Desvio Padrão 46,6 75,2 155,6 121,0 80,0 73,6 97,5 49,0 528,7

Mediana 82 222 160 196 158 152 126 50 52

25 percentil 62 176 104 129 112,5 124 96 35 39

75 percentil 106 257,3 241,5 269 203 185 198 75 94

ESTAÇÕES

NR RB SIN ES BN AR BQ IP LA

Nº- de dados 107 76 129 111 109 87 61 114 120

Mínimo 6,8 7,0 6,5 6,7 6,8 6,9 6,7 6,6 5,7

Máximo 8,1 8,8 9,5 8 9,5 9,1 7,6 7,9 7,6

Média 7,6 7,8 7,0 7,2 7,3 7,6 7,1 7,3 6,7

Desvio Padrão 0,2 0,4 0,3 0,2 0,3 0,4 0,2 0,2 0,3

Mediana 7,6 7,8 7 7,26 7,3 7,6 7,1 7,3 6,7

25 percentil 7,4 7,6 6,9 7,1 7,2 7,3 7 7,2 6,5

75 percentil 7,7 8,1 7,1 7,4 7,4 7,8 7,2 7,4 6,9

foram aplicados aos logaritmos deci-mais dos dados originais, conforme recomendação do Standard Methods for the Examitation of Water and Was-tewate r (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, 1998).

Para verificar a correlação entre os métodos, utilizou-se o Teste F de Snede-cor com nível de significância a 5% (α = 0,05), como recomendado pelo Stan-dard Methods (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, 1998) para amostras ambientais. Pelos resultados encontrados verifica-se forte correlação (r = 0,7386) entre as metodologias testadas.

A utilização da equação de regres-são linear para obtenção da variável

Tabela 7. Estatísticas descritivas referentes às concentrações do parâmetro RNF105°C (mg/L) no esgoto afluente às nove ETEs operadas pelo Dmae no perío-do de 2000 a 2009.

Tabela 8. Estatísticas descritivas referentes às variações do parâmetro pH no esgoto afluente às nove ETEs operadas pelo Dmae no período de 2000 a 2009.

Legenda: ETEs: NR = Nova Restinga, RB = Rubem Berta, SJN = São João Navegantes, ES = Esmeralda, BN = Belém Novo, AR = Arvoredo, BQ = Bosque dos Maias, IP = Ipanema e LA = Lami. Fonte: elaborado pela autora.

Legenda: ETEs: NR = Nova Restinga, RB = Rubem Berta, SJN = São João Navegantes, ES = Esmeralda, BN = Belém Novo, AR = Arvoredo, BQ = Bosque dos Maias, IP = Ipanema e LA = Lami. Fonte: elaborado pela autora.

dependente (coliformes termotole-rantes) quando o valor de E. coli é conhecido está proposta no trabalho de Thewes et al. (2008). No entanto, para a presente avaliação não foi considerada a equação proposta (Coliforme termotolerante = 1,282 + (0,823*E.coli). Tanto o coeficiente de correlação (r) de 0,664 como o coeficiente de determinação (R2) de 0,442 obtidos por aqueles autores foram inferiores aos do presente estudo (r = 0,7386 e R2 = 0,5455). Para a conversão dos resultados de E. coli para coliformes termotoleran-tes foi util izada a equação (y = 0,3459x + 4,5062 com R² = 0,5455).

Page 64: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

24

Assim, para efeitos de comparação das médias entre as ETEs e com a lite-ratura de referência (Tab. 2 e 9), o ter-mo COLI representa a reunião de dados obtidos através das duas meto-dologias, pela conversão de E. coli a coliformes termotolerantes.

Para a avaliação do parâmetro COLI (Tab. 9), verifica-se que os valores mínimos observados nas ETEs situam-se na escala de 104 (NMP/100mL), ETE Lami, e os máximos de 109 (NMP/100mL) na ETE Arvoredo. Os valores médios apresentam uma peque-na oscilação de 106, Ipanema, Lami e Bosque a 107, para as demais ETEs. Constata-se que os menores valores obtidos estão em afluentes de ETEs localizadas na Zona Sul (≤106). Compa-rando-se os dados obtidos com os da literatura, verifica-se que os percentis 25 (106) estão de acordo com as faixas estabelecidas por Von Sperling (2005). Já os percentis 75 (107) estão compati-veis com os obtidos no estudo conduzi-do por Oliveira et al. (2005).

Diferentemente dos demais parâme-tros, os valores de colimetria tendem a ser mais elevados no presente estudo do que os observados em Morandi et al.

(1998). À exceção dos afluentes das ETEs Bosque, Ipanema e Lami, cujas médias situam-se em 106, para as demais, tanto a média como a mediana, indicam valores na escala de 107.

Comparação entre os parâmetros

As observações individualizadas por parâmetro nos indicam uma grande variabilidade nas características dos esgotos afluentes às ETEs analisadas. A amplitude destas variações podem ser melhor visualizadas na forma gráfica do tipo Box-plot (Fig. 2). Esta representa-ção permite visualizar claramente que as ETEs Ipanema e Lami têm compor-tamento distinto das demais. Estas têm uma tendência a apresentar valores reduzidos para todos os parâmetros ana-lisados, à exceção do pH, o qual parece ter padrão distinto entre as duas ETEs.

O comportamento da maioria dos parâmetros analisados tendem a ser inferiores aos valores consagrados na literatura, inclusive aos dados tidos como referência pelo próprio Dmae (MORANDI et al., 1998). Com relação a este último estudo, é importante des-tacar que os dados pretéritos foram

ESTAÇÕES

NR RB SIN ES BN AR BQ IP LA

Nº- de dados 108 76 125 111 95 86 61 113 119

Mínimo 5,5 5,8 5,2 5,4 4,6 4,4 5,4 4,3 3,9

Máximo 7,8 7,8 7,9 8,5 7,9 8,7 7,7 7,4 7,9

Média 6,8 7,1 6,7 6,9 6,6 6,7 6,3 5,8 6,0

Média Geom. 6,8 7,1 6,6 6,8 6,6 6,7 6,3 5,7 6,0

Desvio Padrão 0,5 0,3 0,6 0,6 0,6 0,7 0,4 0,5 0,8

Mediana 6,7 7,1 6,7 6,9 6,5 6,6 6,3 5,8 5,9

25 percentil 6,8 7,0 6,5 6,8 6,7 6,7 6,5 5,6 5,7

75 percentil 7,2 7,3 7,1 7,4 7,1 7,2 6,9 6,3 6,7

Tabela 9. Estatísticas descritivas referentes às concentrações do parâmetro coli-forme termotolerante* (NMP/100mL) no esgoto afluente às nove ETEs operadas pelo Dmae no período de 2000 a 2009.

Legenda: ETEs: NR = Nova Restinga, RB = Rubem Berta, SJN = São João Navegantes, ES = Esmeralda, BN = Belém Novo, AR = Arvoredo, BQ = Bosque dos Maias, IP = Ipanema e LA = Lami. *Para a conversão dos resultados de E. coli em coliformes termotolerantes foi utilizada a equação (y = 0,3459x + 4,5062 com R² = 0,5455). Fonte: elaborado pela autora.

Page 65: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

25

Figura 2. Representação gráfica (Box-plot) das variações observadas no comportamento dos parâmetros DBO (A), DQO (B), NT(C), Ptotal (D), RNF105 (E), PH (F) e COLI (G) nos esgotos afluentes às ETEs do Dmae no período de 2000 a 2009. Fonte: elaborado pela autora.

Page 66: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

26

Tabela 10. Resultados com diferenças significativas obtidos através da análise de variância (ANOVA) aplicada à comparação das médias de sete parâmetros em esgotos afluentes a nove ETEs de Porto Alegre no período de 2000 a 2009.

SES Restinga Rubem Berta Navegantes Ponta da

CadeiaBelém Novo Sarandi Sarandi Restinga Lami

SES ETE Parâmetro NR RB SIN ES BN AR BQ IP LA

Restinga NR

DBO x x x x x xDQO x x x x x xNT x x x x x x x

PtotalpH x x x x x x x

RNF105 x x xcoli x x x x

Rubem Berta RB

DBO x x x x x x x xDQO x x x x x x x xNT x x x x x x x

Ptotalp Hx x x x x x x x

RNF105 x xcoli x x x x x x x x

Navegantes SIN

DBO x x x x xDQO x x xNT x x x x

Ptotal x xpH x x x x x x x

RNF105 x xcoli x x x x

Ponta da Cadeia ES

DBO x x x x x xDQO x x x x xNT x x x x

PtotalpH x x x x x x

RNF105 x xcoli x x x x

Belém Novo BN

DBO x x x x xDQO x x x x x xNT x x x x

PtotalpH x x x x x x

RNF105 xcoli x x x x

Sarandi AR

DBO x x x x x xDQO x x x x xNT x x x x

PtotalpH x x x x x x x

RNF105 xcoli x x x x

Sarandi BQ

DBO x x x xDQO x x x x xNT x x x x

PtotalpH x x x x x x x

RNF105coli x x x x x x x x

Restinga IP

DBO x x x x x x xDQO x x x x x x xNT x x x x x x x

Ptotal xpH x x x x x x

RNF105 x x x x xcoli x x x x x x x

Lami LA

DBO x x x x x x xDQO x x x x x x xNT x x x x x x x

Ptotal xp Hx x x x x x x x

RNF105coli x x x x x x x

X = representação da existência de diferença significativa na comparação das médias dos parâmetros. Fonte: elaborado pela autora.

Page 67: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

27

obtidos em amostras afluentes a tan-ques sépticos, e a presente avaliação refere-se a concentrações afluentes às ETEs operadas pelo Dmae.

Esta diferença metodológica parece indicar a existência de um fator de diluição dos esgotos que realmente aportam as ETEs.

Comparação entre os esgotos afluentes às ETEs

Para avaliação das diferenças entre os esgotos afluentes foi realizada uma comparação das médias dos sete parâ-metros através da análise de variância (ANOVA). Os resultados das compara-ções que resultaram em diferenças sig-nificativas entre as ETEs estão assina-lados na Tab. 10.

Observando os resultados obtidos nas comparações das médias dos parâ-metros das ETEs, verifica-se que:

1. O Ptotal foi o parâmetro que apresentou maior homogeneidade entre as amostras das ETEs analisadas;

2. O parâmetro que apresentou maior frequência de respostas indicati-vas de existência de variação entre as Estações foi o pH;

3. Na comparação pareada, os gru-pos ETEs Ipanema e Lami; Esmeralda e Arvoredo e São João/Navegantes e Belém Novo foram as que não apre-sentaram diferenças significativas entre si, salvo para o parâmetro pH.

4. Ainda avaliando a comparação pareada entre as ETEs, verifica-se que São João/Navegantes e Bosque não apresentam diferenças significativas entre si, exceto para o parâmetro COLI.

5. A ETE Belém Novo apresentou diferenças significativas para a maioria dos parâmetros quando comparadas com afluentes das outras ETEs da Zona Sul (Lami e Ipanema), salvo para Ptotal e RNF105º na Lami e Ptotal e pH na Ipanema.

6. O afluente da ETE Ipanema apresenta diferenças significativas para

todos os parâmetros analisados quando comparado com os da ETE São João/Navegantes.

7. Salvo para o parâmetro RNF105°C, o afluente da ETE São João/Navegantes também difere significativamente do afluente da ETE Lami.

8. Entre as ETEs Ipanema e Rubem Berta somente para o parâmetro Ptotal não foram constatadas diferenças sig-nificativas entre as médias dos seus afluentes.

9. Embora as ETEs Rubem Berta, Arvoredo e Bosque estejam geografi-camente próximas, as características de seus afluentes diferem significativa-mente entre si, salvo para os parâme-tros Ptotal e RNF105°C.

Conclusões

O presente estudo constatou que exis-tem diferenças significativas nas caracte-rísticas do esgoto que aporta às ETEs operadas pelo Dmae, para os parâmetros e período considerados. As diferenças observadas não estão diretamente rela-cionadas aos sistemas de esgotamento sanitário onde a ETE está inserida.

Entre as combinações pareadas das estações verifica-se que todos os afluentes apresentaram pelo menos um parâmetro com diferença significativa entre as médias observadas.

Na comparação dos resultados obti-dos com os valores de referência cons-tata-se que o esgoto doméstico da cida-de de Porto Alegre possui valores infe-riores aos observados na literatura con-sagrada (VON SPERLING, 2005, OLIVEIRA et al., 2005 e MORANDI et al., 1998).

Uma situação facilmente observá-vel nos dados analisados é a existência de redução acentuada nos valores dos parâmetros em ETEs da Zona Sul (Ipa-nema e Lami). Este fato parece indicar maior influência das redes mistas como fator de diluição dos esgotos que aportam àquelas ETEs.

Page 68: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

28

Esta constatação em relação a Zona Sul de Porto Alegre sinaliza para uma carência na implantação da rede cole-tora de esgotos e para a necessidade de investimentos em infraestrutura, corro-borando a diretriz de ações previstas no Plano Diretor de Esgotos de Porto Alegre de 2010.

Referências

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 20. ed. Washington: APHA, 1998. 937 p.

FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASI-LEIRO DE GEOGRAFIA E ESTA-TÍSTICA. Normas de apresentação tabular. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993. 62 p. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/normas tabular.pdf>. Acesso em: 6 abr. 2011.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚ-DE. Perfil Municipal: Porto Alegre (RS). Disponível em: <http://www.funasa.gov.br/internet/arquivos/vigi-sus/IDH18.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2011.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO-GRAFIA E ESTATÍSTICA. [Seção Cidades@]: Rio Grande do Sul. 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Aces-so em: 6 mar 11.

JORDÃO, Eduardo Pacheco; PES-SÔA, Constantino Arruda. Tratamen-to de esgotos domésticos. 4. ed. Rio de Janeiro: ABES, 2005. 932p.

MORANDI, I. C.; et al. Avaliação de desempenho de tanques sépticos na

cidade de Porto Alegre: caracteriza-ção dos efluentes líquidos e sólidos. Porto Alegre: Dmae, 1998. 54 p.

NASCIMENTO, Mônica de Souza Ferreira; FERREIRA, Osmar Mendes. Tratamento de esgoto urbano: com-paração de custos e avaliação de efici-ência. 2007. 22 f. Trabalho de Conclu-são de Curso (Engenharia Ambiental)-Universidade Católica de Goiás, Goi-ás, 2007.

OLIVEIRA, Sílvia M. A. Corrêa; SOUKI, Maria Izabel O.; VON SPER-LING, Marcos. Características dos esgotos afluentes a 206 estações de tra-tamento de esgotos em operação no país. In: CONGRESSO INTERAME-RICANO DE ENGENHARIA SANI-TÁRIA E AMBIENTAL, 23., 2005, Campo Grande. Anais eletrônicos... Campo Grande: ABES, 2005. Disponí-vel em: <http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/abes23/II-406.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2011.

PORTO ALEGRE. Departamento Municipal de Água e Esgotos. Plano Diretor de Esgotos Sanitários de Por-to Alegre: atualização 2006/2009. 5. ed. Porto Alegre: Dmae, 2010. Disponível em: <http://www.portoalegre.rs.gov.br/dmae/>. Acesso em: 6 jan. 2011.

SILVA, Fernando José Araújo; BEZER-RA, Maria Ester Esmeraldo. Contribui-ção à caracterização de esgotos sanitá-rios em Fortaleza, Ceará. In: CON-GRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 23., 2005, Campo Gran-de. Anais eletrônicos... Campo Grande: Abes, 2005. Disponível em: <http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/abes23/II-285.pdf>. Acesso em 6 jan. 2011.

Page 69: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

29

SOARES, Sérgio Rodrigues Ayrimo-raes; et al. Respirometria na caracte-rização do afluente para o controle operacional de ETE. In: CONGRES-SO BRASILEIRO DE ENGENHA-RIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 21., 2001, João Pessoa. Anais eletrô-nicos... João Pessoa: ABES, 2001. Disponível em: <http://www.bvsde.paho.org/bvsaidis/aresidua/brasil/ii- 011.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2011.

THEWES, Márcia Regina; MADEIRA, Adriano; OLYMPIO, Madalena Gon-çalves; ALVES, Ana Marisa Oliveria. Comparação entre as técnicas de tubos múltiplos e substrato enzimático para determinação dos coliformes termotole-rantes e Escherichia coli em estações de tratamento de esgoto do Dmae de Porto Alegre (RS). Ecos: Revista quadrimes-

tral de saneamento ambiental, Porto Alegre, v.15, n. 28, p. 5, dez. 2008.

VON SPERLING, Marcos. Princípios básicos do tratamento de esgotos. Belo Horizonte: DESA, 1996. 211 p. (Princípios do tratamento biológico de águas residuárias; v. 2)

VON SPERLING, Marcos. Introdu-ção à qualidade das águas e ao tra-tamento de esgotos. 3. ed. Belo Horizonte: Desa, 2005. (Princípios do tratamento biológico de águas residuárias, 1).

ZAR, Jerrold H. Multisample hypote-sis and the analysis of variance. In: _____. Biostatistical analysis. 5. ed. New Jersey: Pearson Prentice Hall, 2010. Cap. 10, p. 189-225.

Page 70: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

30

Elton J. Mello1

Maturino Rabello Júnior2

Resu mo

O processo de individualização da medição da água de um condomínio popular na cida-de de Porto Alegre oportunizou que se implantasse a leitura dos medidores por radiofre-quência (RF). A decisão de utilizar medição remota baseou-se na certeza de que a redu-ção da inadimplência e o uso racional da água pelos moradores seriam os resultados alcançados com a individualização, possibilitando a aceleração da política de individua-lização de condomínios de baixa renda pelo Departamento Municipal de Água e Esgo-tos (Dmae), e exigindo cada vez mais infraestrutura e mão de obra para dar conta do incremento dos novos pontos de leitura, o que não poderia se constituir em um obstácu-lo. Assim, visando a adoção da leitura a distância dos medidores como um dos procedi-mentos de leitura do Departamento e com o objetivo de avaliar o sistema de leitura remota sob os aspectos técnicos e comerciais – confiabilidade, praticidade, economici-dade, etc. – o Dmae deu o seu primeiro passo para a utilização da telemetria em escala comercial. O detalhamento dos passos seguidos e os cuidados observados para a incor-poração desta nova tecnologia pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos de Por-to Alegre, assim como os resultados já alcançados estão apresentados neste trabalho.

Palavras-chave: Hidrômetro. Leitura remota de medidor. Medição de água. Medição inteligente. Telemetria.

A experiência do Dmae com a leitura remota dos seus hidrômetros

Introdução

A qualidade da medição, além dos programas de manutenções corretiva e preventiva com a substituição dos medidores a cada 5 ou 8 anos, confor-me critérios de utilização e operação, é buscada através de várias ações que envolvem o Dmae como um todo. Essas ações são orientadas pelos indi-cadores – perdas por ligação, perdas de faturamento, hidrometração, macrome-

dição, produtividade de pessoal – esta-belecidos no Acordo de Melhoria de Desempenho, assinado com a Secreta-ria Nacional de Saneamento Ambiental para contratação do Programa “Sanea-mento para Todos”. De uma forma ou outra, estes indicadores, obrigatoria-mente, impactam ou são impactados pela qualidade da medição.

Outros dois programas, resultantes de legislação municipal, orientam a política de medição do Departamento:

1Engenheiro mecânico pela Universidade Federal de Santa Maria. Especialista em Engenharia Clínica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Superintendente comercial do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre (Dmae) no período de 2001 a 2003. Gerente de Engenharia do Grupo Hospitalar Conceição do Ministério da Saúde de 2003 a 2008. Desde junho de 2008, exerce a função de supervisor técnico do Laboratório de Hidrômetros e Novas Tecnolo-gias de Medição de Água do Dmae. 2Engenheiro Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). Especialista em Saneamento Básico pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) em 1992. Diretor de Instalações do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre (Dmae) no período de 2001 a 2004. Desde janeiro de 2005, exerce a função de chefe da Seção de Medição do Dmae.

Page 71: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

31

Programa de Conservação, Uso Racio-nal e Reaproveitamento das Águas, onde se inclui o Programa de Individua-lização da Medição, sendo o Dmae res-ponsável pela gestão da medição indivi-dualizada em condomínios populares.

Desta forma, a medição inteligente, como a possibilitada pela leitura por radiofrequência, tem na individualiza-ção da medição um dos principais fato-res que a impulsionam no mercado imobiliário e, também, oportuniza a sua incorporação pelo setor água. A individualização permite que se apro-funde o conceito de justiça na cobran-ça da água – o usuário paga apenas o seu consumo – e atua como incentiva-dora para a sua economia e conserva-ção e, por isso, tende a crescer ainda mais no Brasil.

Mas, para isso, a instalação de sis-temas de individualização da medição deve ser prática e ágil, em especial não necessitando de plena acessibilidade ao hidrômetro para a leitura mensal, de forma a permitir que o mesmo seja ins-talado em locais cujo acesso ocorra apenas em situações esporádicas, como para a manutenção.

Claro que esta vantagem pode e deve ser estendida à medição em geral – residencial, comercial e industrial – pois a falta de acessibilidade ao hidrô-metro é uma das maiores causas de negativa ou erro de leitura, o que implica a emissão de contas de água por média e, muitas vezes, camuflam problemas, como vazamentos que estão ocorrendo ou ocorreram nas ins-talações hidráulicas do imóvel.

Aliada a esta vantagem, outro bene-fício da medição inteligente é a confia-bilidade dos dados, que, praticamente, reduz a zero os erros de leitura. No caso do Dmae, em 2010, o índice de leituras que apresentaram erros e que foram revisadas foi de 1,79% do total de medidores lidos, o que significa uma média de 4.744 leituras/mês. Somem-se a este indicador as altera-

ções nos consumos medidos que exigi-ram a confirmação de leitura e que, ao longo do ano de 2010, representaram 2,07% do total de leituras realizadas, representando uma média de 5.504 releituras/mês.

Esta confiabilidade é alcançada pela ausência da interface humana no ato da leitura e, principalmente, graças às informações adicionais que agregam valiosos parâmetros ao volume regis-trado e lido, como vazamentos (sua existência é comprovada e é indicado qual o volume desperdiçado) e fraude no medidor (inversão). Desta forma, além dos custos envolvidos, o Dmae evita a reemissão de contas de água ou mesmo a devolução de valores pagos indevidamente, e o usuário tem a garantia de uma medição correta e transparente, podendo pleitear revisão da conta com os dados registrados para o caso de vazamento ou fuga, quando a legislação permite, como ocorre em Porto Alegre.

Metodologia Utilizada

Inicialmente, optou-se por um pro-jeto piloto com a instalação de 148 conjuntos de medidores/sensores de RF instalados em apartamentos no condomínio popular Fernando Ferrari (Figura 1), cuja gestão da medição é de responsabilidade do Dmae.

O condomínio, conforme visto na Figura 1, é composto por 23 blocos residenciais, com 48 ou 64 economias (apartamentos) por bloco, e 1 bloco comercial. A população é de aproxima-damente 5.000 moradores.

Utilizando as informações sobre municípios do Diagnóstico 2007 do SNIS (BRASIL, 2009) pode-se ter uma ideia da dimensão desta experiên-cia: considerando a população total com abastecimento de água (indicador AG001) este condomínio estaria na frente de 1.840 municípios do total de 4.547 considerados; se for pela quanti-

Page 72: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

32

dade de economias ativas de água (indicador AG003) superaria 1.450 dos municípios brasileiros avaliados no levantamento.

Na parceria estabelecida, coube ao fabricante dos medidores/sensores a instalação dos conjuntos medidores/sensores e a leitura mensal por RF dos 148 pontos, com acompanhamento por parte dos técnicos do Dmae.

Esta 1ª- etapa – o projeto piloto – foi desenvolvida de dezembro de 2008 a abril de 2009, sendo possível neste período realizar as avaliações necessá-rias para a tomada de decisão de adotar a leitura por radiofrequência para todos os apartamentos do condomínio.

Em novembro de 2009, depois de encerrado o projeto piloto, o sistema de radiofrequência foi instalado em 112 bancas do Mercado Público Muni-cipal (Figura 2).

Esta fase permitiu que a 1ª- etapa de avaliação fosse concluída de forma que o Dmae, com a aquisição de um

Figura 1. Projeto-piloto, condomínio de baixa renda

coletor de dados, praticasse todos os procedimentos recomendados e orien-tados pelo fabricante para o processo de leitura, desde a configuração do conjunto medidor/sensor, passando pela criação das rotas de leitura, finali-zando com a aquisição das leituras e processamento das informações.

De novembro de 2009 a junho de 2010, após a aquisição por licitação dos medidores com sensores dotados de radiofrequência, deu-se a 2ª- etapa com a implantação e a utilização do sistema de telemetria por RF abrangendo os 1.236 medidores individuais e 6 medi-dores principais do condomínio.

A 3ª- etapa, iniciada em julho de 2010 e com conclusão prevista para dezembro de 2011, refere-se ao desen-volvimento da solução para a integra-ção do sistema de telemetria por RF com o sistema de faturamento do Departamento. A conclusão inclui o treinamento dos leituristas, que utiliza-rão o novo sistema de leitura remota

Page 73: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

33

Figura 2. Mercado Público

dos medidores de Porto Alegre, pois embora a operação dos coletores de RF seja similar a dos coletores de dados do Dmae, novas informações serão agregadas à leitura e exigirão novas ações e providências por parte dos lei-turistas.

Resultados obtidos

O projeto piloto permitiu avaliar as condições existentes da instalação para receber o conjunto medidor/sensor, como o espaço existente nas caixas de proteção; verificar a necessidade de incorporar a informação do número do sensor ao cadastro de medidores do DMAE; estabelecer a revisão dos pro-cedimentos de instalação de hidrôme-tros, corte e restabelecimento de água; e observar a diferenciação entre as rotas para leitura visual e a leitura por radiofrequência.

Para uso comercial não foi aprova-da a utilização do sistema de gestão das leituras que acompanha os equipa-mentos de telemetria. Buscando a manutenção da simplicidade e agilida-

de do processo de leituras e, principal-mente, considerando a existência do sistema de faturamento do Dmae, denominado Sistema de Cadastro de Água (SCA), e os procedimentos da Seção de Leitura para carga e descarga de seus coletores móveis, decidiu-se que os sistemas de telemetria a serem adquiridos deveriam receber as infor-mações necessárias para as leituras – rotas, clientes, endereços, medidores, sensores, etc. – através de arquivos gerados diretamente pelo SCA.

Assim, o projeto piloto serviu para aprovar e validar a incorporação do sistema de leitura remota por radiofre-quência, dando segurança para a conti-nuidade do planejamento de utilizá-lo em todo o condomínio.

Na 2ª- etapa, observou-se uma redu-ção no tempo de leitura em relação ao procedimento anterior com coletor móvel e emissão simultânea da conta. Todos os ramais do condomínio que eram lidos por 5 leituristas durante 6 horas, passaram a ser lidos em 3 horas por um único leiturista, conforme a Figura 5. Obviamente, este tempo seria

Page 74: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

34

maior se houvesse emissão de contas, tendo sido estimado que se levaria o dobro do tempo com esta operação adicional.

Foram testados vários modos de leitura, mas em função dos equipamen-tos empregados, especialmente pelo tempo de troca e aquisição das infor-mações entre o coletor e os sensores de RF, e devido ao leiaute do condomínio, o que se mostrou mais eficiente foi o modo walk-by com o coletor móvel dotado de antena com comprimento de meia onda, conforme visto na Figura 3.

Na 3ª- e última etapa deve ocorrer a incorporação definitiva da nova tecno-logia para a medição remota da água por radiofrequência, de maneira que este novo sistema seja incorporado ao processo de transferência das informa-ções de leituras praticado pelo Depar-tamento, sem que seja necessária qual-quer alteração no procedimento adota-do atualmente.

Conclusões/Recomendações

O sistema de medição de água por radiofrequência apresentou agilidade no processo, com significativa redução nos tempos de leitura, sendo da ordem

Figura 3. Leitura sendo executada pelo modo walk-by.

de 90% no condomínio Fernando Fer-rari, pois se utilizavam 5 leituristas durante 6 horas com emissão simultâ-nea da conta, enquanto com o novo sistema foi necessário apenas 1 leitu-rista durante menos de 3 horas, mas sem emissão da conta.

Resolveu as dificuldades de acessi-bilidade ao medidor para a leitura mensal, que muitas vezes resultam na emissão de contas de água por média, mascarando problemas nas instalações do usuário como vazamentos ou fugas, ou no posicionamento incorreto do medidor para permitir a lei tura (MELLO, 2000).

Observou-se melhoria na confiabi-lidade dos dados, praticamente elimi-nando os erros de leitura e a necessi-dade das confirmações motivadas por alterações anormais no consumo de água.

Ganhou-se qualidade na medição através de informações que agregam valor à leitura, como o registro e a indicação de vazamentos.

Mostrou-se eficaz no combate à fraude na medição, pois através de alarmes registra inversão do medidor ou retirada do sensor do seu local de instalação.

Page 75: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

35

Outro aspecto positivo verificado foi a capacidade de transmissão por GSM/GPRS, ou seja, através de rede fixa, permitindo que o Dmae utilize o sistema em outros consumidores, sem se prender a determinado fornecedor ou marca de equipamento, pois os dados de leitura chegarão ao servidor do Departamento em protocolo aberto (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010), inde-pendente daquele utilizado pelo siste-ma de radiofrequência instalado.

Embora no condomínio Fernando Ferrari o projeto de implantação não contemplasse a leitura com a emissão simultânea da conta de água, pois se optou pela transmissão à distância via GPRS como a próxima melhoria do sistema, verificou-se que é perfeita-mente possível que se utilize esta faci-lidade em outras situações de aplica-ção da telemetria por radiofrequência.

Por fim, cabe destacar o maior pro-blema encontrado na implantação do sistema de telemetria por radiofreqüên-cia, que foi a incompatibilidade opera-cional dos equipamentos de fabricantes diferentes em função da não padroni-zação dos protocolos de comunicação.

A forma encontrada pelo Dmae para contornar este problema e tornar possível a incorporação desta tecnolo-gia, garantindo a possibilidade de expansão de seu uso na rede pública de abastecimento de água de Porto Ale-gre, foi fazer cada licitação dos equi-pamentos em número suficiente para atender vários condomínios ou proje-tos de cada vez. E, principalmente, exigir que os sistemas (coletores de RF) fornecidos trabalhem diretamente com os arquivos de entrada e saída do SCA, o sistema de faturamento do

Dmae. Desta forma, não importa que sejam empresas diferentes que ganhem as licitações, apesar do contratempo de se ter tantos coletores de RF quantos forem os fornecedores.

Em que pese a primeira norma mundial para sistemas de medição remota (ASSOCIAÇÃO BRASILEI-RA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010) ter representado uma contribuição fun-damental e um avanço efetivo para a utilização deste tipo de medição no Brasil, somente o estabelecimento de padrões de comunicação para garantir a interoperacionalidade dos equipa-mentos de fabricantes diferentes facili-tará e dará segurança no processo de implantação em larga escala da medi-ção inteligente pelo setor água.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15806: Sistemas de medição predial remota e centralizada de consumo de água e gás. Rio de Janeiro, 2010.

BRASIL. Sistema Nacional de Infor-mações sobre Saneamento. Diagnósti-co dos serviços de água e esgotos: 2007. Brasília, DF: Programa de Modernização do Setor de Saneamen-to, 2009.

MELLO, E. J. As perdas não físicas e o posicionamento do medidor de água. In: CONGRESSO INTERAMERICA-NO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 27., 2000, Porto Ale-gre. Anais... Rio de Janeiro: ABES, 2000.

Page 76: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

36

Nadia Maria Lorini1

Resumo

Cada vez mais, a sociedade exige maior qualidade dos produtos e serviços presta-dos pelas empresas, obrigando que estejam atentas ao constante processo de mudanças como forma de adaptar os negócios às novas demandas. Nesse contexto, on the job training (OJT), tem sido utilizado como importante ferramenta capaz de incrementar a qualificação dos funcionários e o processo de gestão do conhecimen-to. Dessa forma, o objetivo deste artigo é analisar a implementação de uma meto-dologia de treinamento na educação de trabalhadores vinculados à área operacio-nal, a fim de preencher lacunas existentes. E, com isto, alcançar resultados expres-sivos em prol da organização, na qualificação dos servidores de cargos operacio-nais, agregando conhecimentos, novas habilidades técnicas e comportamentais. A pesquisa foi de caráter exploratório, com a realização de um estudo de caso. Os dados foram coletados a partir da análise documental e observação. O estudo mos-trou que o OJT oferece uma série de vantagens para a organização, principalmente qualitativas, relacionadas ao processo de gestão do conhecimento organizacional.

Palavras-chave: Desenvolvimento de lideranças e equipes. Gestão do conhecimento. Treinamento no local de trabalho.

Treinamento no local de trabalho (on the job training) – estudo de caso referente à implementaçãoda metodologia no Dmae

Introdução

Atualmente, no mundo corporativo em constantes transformações, faz-se necessário investir em gestão (estraté-gica, processos e pessoas), seja pela mudança do perfil da sociedade, que exige a qualidade dos serviços presta-dos, ou pelo entendimento das pró-prias organizações de sobrevivência e perpetuação no mercado globalizado. Constata-se a importância de uma atu-ação diferenciada das organizações,

voltadas para a formação e o desenvol-vimento dos talentos humanos, promo-vendo a gestão do conhecimento orga-nizacional.

Em decorrência dessas mudanças, com repercussão no contexto atual, o Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto Alegre, busca atender sua visão de universalizar a prestação de serviços públicos de esgotamento sanitário até 2030, investe na gestão do negócio com a adoção de um Siste-ma Estruturado de Gestão.

1Psicóloga, especialista em Gestão do Capital Humano, coordenadora da Universidade Corporativa do Dmae (Unidmae) e com experiência de mais de 10 anos em treinamento e desenvolvimento.

Page 77: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

37

Referencial Teórico

Durante muitos anos entendeu-se que a aquisição de conhecimentos era restrita ao ambiente escolar, acreditando que a aprendizagem ocorria apenas em uma etapa da vida do indivíduo: a idade escolar. Recentemente, essa visão é substituída pela crença na formação continuada. Assim, criam-se novos espaços para a construção do conheci-mento, dentre eles destaca-se o espaço profissional que apresenta oportunida-des de qualificação, tanto para o funcio-nário quanto para a instituição.

Diversos estudiosos do assunto afirmam que, na sociedade do conheci-mento, os colaboradores desempenham um papel central no desempenho das organizações. Trata-se de uma nova tendência no mercado profissional, tra-çar um perfil de um indivíduo pró-ati-vo, comunicativo, crítico, criativo, capaz de resolver problemas, dominar as tecnologias e trabalhar em equipe.

As pessoas e as organizações se desenvolvem por meio da aplicação de sistemas educativos para a implementa-ção de uma cultura de aprendizagem contínua e da mudança de comporta-mento. Oliveira e Neves (2008) defen-dem que o conhecimento valorizado pelas organizações é aquele que pode ser aplicado para obter resultados, que pode ser utilizado de forma sistemática para ampliar o nível de competitividade das empresas.

Nonaka e Takeuchi (1997) desta-cam que o conhecimento organizacio-nal acontece a partir do conhecimento criado individualmente, firmando-se como parte da rede de conhecimentos. O conhecimento deve ser construído internamente na empresa, passando pela conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito, sobretudo pelo processo de compartilhamento de experiências. Para Sayon (1998), ges-tão do conhecimento é um processo interno para conseguir o reaproveita-

mento do conhecimento adquirido pelos colaboradores no dia a dia da empresa.

Uma das práticas de gestão do conhecimento adotadas pelas empresas preocupadas em preparar seus profis-sionais às necessidades diárias especí-ficas do seu negócio de atuação é a implementação da educação corporati-va, com a criação de sua Universidade Corporativa ou fomentando suas áreas de treinamento e desenvolvimento.

A educação corporativa deve ser considerada como um processo de aperfeiçoamento e atualização de conhecimentos ativo e contínuo. Nesse sentido, Oliveira (2007, p. 586) refere-se à educação permanente, definida como “[...] toda e qualquer atividade que tem por objetivo provocar uma mudança de atitudes e/ou comporta-mento a partir da aquisição de novos conhecimentos, conceitos e atitudes”.

Para tanto, é necessário que as Organizações disponibilizem uma diversidade de atividades, de formação básica (conclusão do ensino formal), de capacitação e aperfeiçoamento pro-fissional, procurando manter seus pro-fissionais atualizados tecnicamente para o desempenho das atribuições do cargo ou função (FAZER), e de desen-volvimento. A proposta de ações de desenvolvimento (SER) busca preparar o empregado para funções que ele venha a executar no futuro, pensando então na sucessão de carreira e nos processos de inovação das empresas.

Um dos métodos bastante utiliza-dos para preparar e atualizar tecnica-mente os profissionais é o treinamento no local de trabalho, também conheci-do como on the job training ou método de instrução TWI (training within industry – treinamento dentro da indústria).

Segundo Boog (1994), o treinamen-to em serviço vem alicerçando a hipó-tese de que as habilidades necessárias à execução das tarefas podem ser

Page 78: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

38

aprendidas com muito mais eficiência por meios de métodos formais:

Tratando-se de treinamento em ser-viço, é recomendável que supervisor e técnico atuem conjuntamente dentro do programa de treinamento a ser apli-cado, pois o supervisor identifica a necessidade de treinamento, analisa e em conjunto com o técnico de treina-mento desenvolvem a metodologia, os objetivos ao qual o treinamento será proposto, bem como avaliam os resul-tados obtidos no processo (BOOG, 2004, p. 142).

Para Baggio e Maóski (2012), o on the job training viabiliza o desenvol-vimento, a participação e o comprometi-mento de toda a equipe com os resulta-dos organizacionais, sendo ainda a base de sustentação dos Programas de Melho-ria da Qualidade das Organizações.

Ainda para estes autores o diferen-cial deste método é a aplicação prática dos conhecimentos e habilidades adquiridos, daí o lema: educar, treinar e fazer. O treinamento na tarefa decor-re da definição clara de procedimentos operacionais, que descrevem o traba-lho a ser executado em cada tarefa, o que virá a compor os manuais (mate-riais didáticos). A delegação é a base da educação, assim, quando a pessoa tem autoridade sobre o processo que está sob sua responsabilidade, ela une seu conhecimento com sua iniciativa produzindo resultados, e a participação é a palavra chave para despertar o desejo de ser qualificado.

No on the job training as pessoas constroem juntas a relação de aprendi-zagem, desde a elaboração do material didático (construção e detalhamento dos procedimentos operacionais des-critos nos documentos) até a experi-mentação das situações concretas do seu cotidiano em um ambiente de aprendizagem.

Nonaka e Takeuchi (1997) salien-tam que documentos ou manuais faci-litam a transferência do conhecimento

explícito para outras pessoas, ajudan-do-as a vivenciar indiretamente as experiências dos outros, podendo, até mesmo, recriá-las. Os autores apresen-tam quatro modos ou processos para a conversão do conhecimento.

1) socialização: corresponde à troca de conhecimento tácito entre indivídu-os, principalmente, por meio do conhe-cimento de experiências vivenciadas;

2) externalização: ocorre quando o conhecimento tácito, que é difícil de ser comunicado e formulado, torna-se explícito.

3) internalização: é o processo que converte o conhecimento explícito em tácito por meio da verbalização e da diagramação do conhecimento sob a forma de documentos, manuais, nor-mas e instruções de trabalho.

4) combinação: refere-se à troca e união de diferentes conhecimentos explí-citos para gerar novos conhecimentos.

Os quatro modos de conversão do conhecimento permitem que conheci-mentos sejam gerados e compartilhados.

Metodologia

A pesquisa realizada é de caráter exploratório. Para atingir os objetivos estabelecidos foi realizado um estudo de caso. Os dados foram coletados a partir de análise documental e observa-ção in loco. A seguir, serão apresenta-das e analisadas as informações coleta-das no estudo de caso.

Estudo de Caso Dmae

O Departamento Municipal de Água e Esgotos, desde 2005, vem tra-balhando no que é hoje o Sistema de Gestão do Dmae, que associa instru-mentos da qualidade total, os oito cri-térios de excelência do PGQP e meca-nismos de motivação e exercício da liderança de seus servidores.

Na época da estruturação foram constituídas quatro frentes de trabalho

Page 79: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

39

do Programa de Gestão Total (PGT): Sistema de Avaliação e Premiação do PGQP, Desdobramento das Iniciati-vas Estratégicas, Certificação ISO 9001:2000 e Gestão da Mudança e Desenvolvimento de Equipes. Esta última impactaria fortemente na ges-tão de pessoas, uma vez que tinha por objetivo fortalecer a capacidade de mobilizar e sustentar o processo de mudança do modelo de gestão, por meio de implementação da gestão de pessoas, com ênfase na estrutura da organização, na constituição das car-reiras e nos processos de avaliação, bem como desenvolvimento de equipe e das competências coletivas, mapea-mento do clima organizacional para fornecer subsídios ao gerenciamento estratégico das pessoas, alinhado à estratégia da organização.

Na fase de estruturação do Siste-ma de Gestão (2005 a 2008) foram constituídas equipes de processo, com-postas pelos gestores e pessoas estraté-gicas das áreas que tinham como atri-buição mapear os processos principais e de apoio do negócio. Nesta etapa foi elaborado o Manual de Gestão que contém as políticas, diretrizes, práticas e indicadores a serem seguidos por todos os processos do Departamento. Houve a iniciação do aprendizado para o método de gerenciamento do PDCA e para a importância da melhoria contí-nua e da padronização das atividades.

Em 2009, o Escritório da Qualidade realizou um diagnóstico do Sistema de Gestão, que, segundo Santos (2011), tinha por objetivo avaliar o estágio do PGT e definir os novos desafios. Este diagnóstico trouxe informações impor-tantes, indicando a necessidade de melhorias na comunicação interna, apoio para implementar melhoria con-tínua no sistema, por meio da utiliza-ção de ferramentas para resolver pro-blemas, aplicação da metodologia on the job training (ensino correto do tra-balho) e desenvolvimento de equipes.

Em suma, o diagnóstico apontou, para a fase de implementação (2009-2011), a necessidade de ações relacio-nadas ao aprimoramento das relações interpessoais, à disseminação do Siste-ma de Gestão e ao uso de ferramentas da qualidade, e que os gestores precisa-vam praticar, ou seja, “aprender fazen-do”. Dessa forma, a base operacional precisa ser intensivamente envolvida, a organização do trabalho deve ser revi-sada, as ferramentas e os conteúdos da política da qualidade e do SGD, trans-mitidos às equipes, para integrar a roti-na e a melhoria contínua dos processos.

Com o objetivo de alinhar projetos e esforços para minimizar as lacunas verificadas, foi elaborada a proposta de Atuação Integrada para Gestão da Mudança e Desdobramento do Sistema de Gestão, conforme Figura 1.

A proposta de atuação integrada apoia e consolida os esforços de mudança do modelo de gestão, o que exige, continuamente, repensar os processos e mobilizar as pessoas na direção traçada pela estratégia do Departamento. Neste contexto, as áre-as de RH e Unidmae são centrais no processo de mudança e o desafio era buscar um novo método de treina-mento que atendesse as lacunas exis-tentes nos cargos operacionais, uma vez que, aproximadamente, 70% do quadro funcional são servidores des-ses cargos e não vinham recebendo treinamento suficiente. Dentre os motivos que ocasionavam a falta de qualificação desses servidores, eram citados: falta de treinamentos especí-ficos para o desempenho das ativida-des diárias, necessidade de serviço que impossibilitavam a liberação dos servidores para treinamentos formais em sala de aula, falta de preparo das lideranças para apontar as necessida-des dos servidores no levantamento das necessidades de capacitação.

Assim, dentre outras ações, buscou-se uma técnica para sensibilizar as

Page 80: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

40

Intervenção Público-alvo Responsabilidade

Saber o trabalho (conhecimento do negócio e do seu trabalho) Gestores Qualidade e Unidmae

Ter conhecimento da responsabilidade (papel, competências)Liderança e Co-labor-ação em equipe

Gestores Recursos Humanos e Unidmae

Habilidades para ensinar (educar, treinar e acompanhar) Gestores e servidores (área operacional) Unidmae

Habilidades para gerenciar (melhorar e manter métodos de trabalho) Gestores Qualidade e Unidmae

Habilidades de relacionamento (liderar e gerenciar)Liderança e Co-labor-ação em equipe

Gestores e suas equipes Recursos Humanos e Unidmae

Figura 1. Atuação Integrada do PGT

lideranças a assumirem seu papel de responsáveis pelo desenvolvimento de suas equipes e, em especial, de ensinar a seus liderados o trabalho, de forma correta, padronizada e segura no pró-prio local de trabalho. E que, ao mes-mo tempo, viesse a impulsionar a ges-tão do conhecimento no Departamen-to. Como o conhecimento estava sendo documentado por meio do Sistema de Gestão (conhecimento tácito, transfor-mado em explícito), a proposta foi adotar uma metodologia que auxiliasse na socialização e internalização desses conhecimentos.

Com o aporte de consultoria espe-cializada, iniciou-se a implementação da metodologia on the job training em setembro de 2009, com as equipes do subprocesso de manutenção de redes (água), obedecendo as seguintes etapas.

1a etapa: foram promovidas reuniões de sensibilização dos gestores, desde a Superintendência até as lideranças de equipe, para expor os benefícios do OJT.

2a etapa: foi feito o mapeamento das atividades executadas pelas equi-pes de trabalho. Para esse mapeamen-to, foram utilizados os conhecimentos existentes no Manual de Gestão e demais documentos do SGD. Cada ati-vidade foi detalhada pela Consultoria, com o apoio do Serviço de Segurança do Trabalho e de equipes em “o que fazer e como fazer”, agregando fotos, detalhes importantes, selos de seguran-ça e recomendações ambientais.

Convém salientar que o princípio norteador na construção destes docu-mentos é explicitar o conhecimento das atividades rotineiras, propiciando a exe-cução dos serviços de forma padroniza-da e segura. Para tanto, utiliza-se uma linguagem simples e objetiva que possa auxiliar as lideranças no repasse das informações nos treinamentos, bem como facilitar a consulta das equipes quando da execução das tarefas in loco.

Outro aspecto significativo nesta etapa foi o envolvimento dos servido-res no detalhamento das atividades. Isto fez com que o grupo se sentisse motivado, valorizado e participativo, uma vez que estavam melhorando os processos de trabalho e socializando seus conhecimentos.

3a etapa: pré-validação dos docu-mentos detalhados (material didático) pelos gestores. Este momento é impor-tante para que haja a análise da obser-vância de todas as etapas do trabalho, bem como o atendimento dos quesitos de segurança do trabalhador, tais como: uniformes adequados, utilização dos equipamentos de proteção indivi-duais e coletivos.

4a etapa: treinamento dos gestores e lideranças operacionais na metodologia, cujo objetivo é desenvolver a habilidade de ensinar, bem como instrumentalizá-los a utilizar a metodologia para influen-ciar a mudança de comportamento das equipes de trabalho, conseguindo que o servidor execute determinado trabalho

Page 81: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

41

de forma correta, rápida e consciente. No treinamento é apresentada a metodologia que é dividida em quatro passos básicos conforme Figura 2.

5a etapa: treinamento das equipes. Com o documento pré-validado, as lideranças colocam em prática com suas equipes os conhecimentos adquiridos no treinamento. Cabe ao líder/instrutor organizar a atividade de treinamento, observando as orientações dos passos básicos. Como a proposta é que as lide-ranças assumam a responsabilidade por ensinar suas equipes, é disponibilizado o aporte de consultoria em duas rodadas de treinamento (dois documentos).

No treinamento das equipes é oportu-nizado outro momento para que os servi-dores colaborem com suas experiências profissionais, possibilitando a transfor-mação do conhecimento tácito em explí-cito e permitindo que conhecimentos sejam gerados e compartilhados.

6a etapa: mapeamento e certifica-ção das competências técnicas. Com o detalhamento das atividades, é realiza-do o mapeamento das competências técnicas que são definidas por níveis de complexidade (nível I, II e III). No nível I estão detalhadas as atividades que apresentam menor de complexida-

I PREPARAÇÃO

• Fazer com que o treinando sinta-se à vontade• Indicar o trabalho a ser executado• Perguntar se já conhece o trabalho• Despertar seu interesse pelo trabalho• Colocar o treinando na posição correta

II APRESENTAÇÃO

1o momento• Demonstrar o trabalho em ritmo normal

2o momento• Explicar e mostrar de maneira simples• Destacar os pontos importantes do trabalho• Ensinar separadamente as fases importantes• Executar o trabalho com perfeição• Ensinar clara, completa, paciente e objetivamente

3o momento• Repetir o trabalho em ritmo normal

III APLICAÇÃO

• Solicitar que execute o trabalho• Corrigir os erros no momento• Fazer perguntas durante a execução do trabalho• Solicitar que repita o trabalho

IV ACOMPANHAMENTO

• Encorajar o treinando a assumir o trabalho• Incentivar a fazer perguntas• Colocar-se a disposição do treinando• Indicar outra pessoa que possa também ajudá-lo• Acompanhar o trabalho.

Figura 2. Passos básicos da metodologia on the job training

de (atividades desempenhadas por um servidor que ingressa no subprocesso) e no nível III são agregadas às ativida-des de maior complexidade.

Em julho de 2010, iniciamos a implantação desta metodologia para as Distritais de Esgoto, que também fazem parte do subprocesso manuten-ção de redes. E em janeiro de 2011, para o processo de manutenção.

Análise e Discussãodos Resultados

A medição dos resultados com as ações de gestão de pessoas é um desa-fio, visto que a proposta é que as reper-cussões ocorram nos processos de tra-balho e isso dificilmente aparece em curto prazo. A ferramenta utilizada no Departamento para avaliar o nível de satisfação dos servidores é a Pesquisa de Clima Organizacional (PCO). A PCO considera as inúmeras dimensões da motivação, com vistas a melhorar a produtividade e a qualidade de vida e aumentar a satisfação da pessoa no tra-balho. É com base nos indicadores que a Divisão de Recursos Humanos e a Unidmae elaboram e priorizam suas ações em relação à gestão de pessoas.

Page 82: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

42

O resultado da PCO 2010 eviden-ciou uma melhora significativa na satisfação dos funcionários, uma vez que a PCO 2006 teve como resultado a nota 54. Em 2008 a nota geral de 56 e em 2010, de 59 em uma escala de 100 pontos. Entende-se que este resultado crescente decorre da implementação das ações da proposta integrada do SGD, dentre elas destacamos o esforço do Departamento no desenvolvimento dos gestores por meio do Programa de Desenvolvimento Gerencial, das Equi-pes – Projeto Co-labor-ação e das lide-ranças operacionais por meio da meto-dologia do on the job training.

Para buscar identificar as repercus-sões das ações relacionadas à qualifi-cação dos servidores nos resultados da PCO, serão apresentados os resultados obtidos pelos temas estratégicos Ges-tão de Pessoas e Prontidão de RH. Gestão de Pessoas visa a transformar o Departamento pela transformação das pessoas através dos líderes, conforme explicita a proposta de atuação integra-da. Os resultados demonstrados nos gráficos abaixo demonstram a evolu-ção do estilo de gestão e liderança, comprovando a eficácia dos esforços que o Departamento vem implemen-

tando no intuito de transformar os líde-res em gestores eficazes de pessoas.

Já em Prontidão de RH é verificado se está sendo atingido o objetivo de dis-ponibilizar as pessoas capacitadas e ali-nhadas com as informações necessárias para o funcionamento eficiente e eficaz do Departamento. Neste tema são tra-duzidos os objetivos e iniciativas a serem atendidas a partir do processo de Gestão do Conhecimento, dentro do qual estão previstas as atividades de aprendizagem (capacitação e desenvol-vimento) e comunicação interna, e do processo de Gestão de Talentos.

No Departamento o processo de gestão do conhecimento ainda é acompanhado pelo indicador estraté-gico “índice de capacitação da força de trabalho (hora/func)”. Este indica-dor tem como meta para 2011 atingir o quantitativo de 44 horas de capaci-tação por funcionário, em média. Até o mês de junho o acumulado de horas chegou a 19,82, o que é muito signifi-cativo, uma vez que, nos meses de férias (janeiro, fevereiro e 1a quinze-na de março), as áreas não liberam os servidores para atividades de capaci-tação, em função da redução do efeti-vo nos postos de trabalho.

Page 83: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

43

Neste quantitativo de horas de capa-citação, o número de horas de capacita-ção na metodologia de set/2009 a jun/2011 contabiliza: 2.360 horas de treinamento das lideranças; 418 horas de assessoria às lideranças no treina-mento das equipes; 676 horas de treina-mento das equipes de manutenção de redes de água; 378 horas de treinamen-to das equipes de manutenção de redes de esgoto e 188 horas de treinamento das equipes do processo manutenção. Atualmente a metodologia atende a 118 lideranças e a 352 servidores de cargos operacionais.

Como resultados qualitativos da implantação da metodologia desta-cam-se:

• a revisão e atualização dos docu-mentos do Sistema de Gestão do Dmae, uma vez que o treinamento suscita a adequação dos mesmos para material didático;

• a complementação da documenta-ção com os requisitos necessários para a realização dos serviços de forma segura. Ou seja, há uma preocupação em garantir a saúde e segurança do trabalhador;

• a padronização dos serviços, já que todos os servidores envolvi-dos nos processos de trabalho são treinados;

• a satisfação e motivação dos fun-cionários, pois eles participam ati-vamente da construção e revisão da documentação dos serviços executados;

• em especial, o desenvolvimento das lideranças e das equipes, uma vez que é viabilizada a participa-ção e o comprometimento de toda a equipe com os resultados orga-nizacionais;

• a implementação de uma cultura de melhoria contínua, visto que os funcionários são incentivados a trazer seus conhecimentos e expe-riências a fim de melhorar os pro-cessos de trabalho;

• a instauração de uma cultura de gestão do conhecimento, propi-ciando espaço para a conversão do conhecimento, seguindo os quatro processos citados pelos autores: socialização (tácito para tácito), externalização (tácito para explícito), internalização (explíci-to para tácito) e combinação (explícito para explícito). A con-versão do conhecimento tácito para explícito pode ser verificada na documentação do SGD, e o aprendizado obtido pela leitura destes documentos constitui um exemplo de internalização, além da socialização por meio do com-partilhamento das experiências.

Conclusões

O objetivo deste artigo foi analisar a efetividade da implementação da metodologia on the job training aplica-da a uma instituição prestadora de ser-viços públicos de saneamento, que tem como um de seus desafios qualificar os funcionários das áreas operacionais, que representam aproximadamente 70% do quadro funcional.

É possível afirmar que o OJT é rea-lizado de forma estruturada, uma vez que existem as evidências que compro-vam a utilização da metodologia, tanto nos registros dos treinamentos, que são realizados em banco de dados, quanto na existência de formulários registra-dos, que estão preenchidos e assinados pelas lideranças e servidores.

O estudo de caso traz evidências de que o OJT oferece uma série de vanta-gens para a instituição, principalmente pelos resultados qualitativos que demonstram as repercussões no proces-so de criação do conhecimento organi-zacional, já que a metodologia fomen-tou a conversão do conhecimento tácito em explícito (detalhamento da docu-mentação do SGD), o compartilhamen-to das experiências profissionais por

Page 84: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

44

meio da socialização, a internalização do conhecimento pelos treinamentos e ainda pela criação de um novo conheci-mento explícito (combinação).

A importância da qualificação dos servidores utilizando-se esta metodolo-gia é reforçada pelo diretor-geral do Dmae no Caderno do Planejamento Estratégico (2011, p. 6-7), no qual consta que “[...] o on the job é a forma dos líderes aperfeiçoarem suas equipes de trabalho, ensinando-as a praticarem suas tarefas dentro dos padrões de excelência estabelecidos pelo Departa-mento”.

A realização de pesquisa futura, com enfoque qualitativo, a partir da análise dos resultados da avaliação da eficácia dos treinamentos atrelada à melhoria dos processos e ao atendimento das metas das equipes, poderá trazer subsí-dios para avaliar a eficiência e a eficá-cia do OJT nos diferentes processos de trabalho do Departamento.

Referências

ANGELONI, Maria Terezinha (Org.). Gestão do conhecimento no Brasil: casos, experiências e práticas de empresas públicas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008.

BAGGIO, Mário Augusto; MAÓSKI, Ary. On The Job Training – OJT (Treinamento no local de trabalho): uma forte tendência na educação de adultos. Disponível em: <http://www.semasa.sp.gov.br/Documentos/ASSE-MAE/Trab_07.pdf.>. Acesso em: 30 março 2012.

BOOG, Gustavo G. Manual de trei-namento e desenvolvimento ABTD. São Paulo: Makron Books, 1994.

LORINI, Nadia Maria. Educação a distância: uma ferramenta estratégica

na gestão do conhecimento. Porto Ale-gre, 2008. (Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação da FAPA Núcleo Integrado de Pós-Graduação Especialização em Gestão do Capital Humano).

NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japo-nesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

OLIVERIA, Leonardo Paiva Martins de; NEVES, Jorge Tadeu e Ramos. Gestão do conhecimento em uma instituição de pesquisa: o caso da Embrapa Milho e Sorgo. In: ANGE-LONI, Maria Terezinha. Gestão do conhecimento no Brasil: casos, experiências e práticas de empresas públicas. Rio de Janeiro, Qualityma-rk, 2008. p.177-190.

OLIVEIRA, Marluce Alves Nunes. Educação a distância como estratégia para a educação permanente em saú-de: possibilidades e desafios. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, DF, v.60, n.5, p. 585-9, set.-out. 2007.

PORTO ALEGRE. Departamento Municipal de Água e Esgotos. Pesqui-sa de clima organizacional: relatório geral DMAE. Porto Alegre: DMAE, Giovanoni Consultoria, 2010. [Não publicado].

PORTO ALEGRE. Departamento Municipal de Água e Esgotos. Plane-jamento estratégico 2011. [Porto Ale-gre]: DMAE, 2011.

SANTOS, Elisete Silva dos. Sistema de Gestão. In: ASSEMBLÉIA NACIO-NAL DA ASSEMAE, 41., 2011, São Paulo. [Anais...] São Paulo, SP: ASSEMAE, 2011.

Page 85: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l M

aio

de 2

012

45

IT 319 – Instruções para apresentação de artigos técnicos e destaques fotográficos na ECOS Técnica

Normas de apresentação de artigo técnico:

O estilo de redação deverá ser claro e coe-rente na exposição das idéias, observando-se o uso adequado da linguagem. Sugere-se ao autor que o trabalho passe por uma revisão gramatical antes de seu encami-nhamento à Comissão Editorial.

Os trabalhos deverão ser digitados com o editor de texto Microsoft Word versão 6.0 ou superior.

O texto deverá ser escrito em português, utilizando-se a fonte Times New Roman, tamanho 12, espaço 1,5 entre linhas e pará-grafos, alinhamento justificado, papel A4, páginas não numeradas, margens superior e inferior com 2,5 cm e margens esquerda e direita com 3,0 cm.

Palavras estrangeiras deverão ser citadas em itálico. Nomes científicos de espécies e subs-tâncias químicas, bem como unidades de pesos e medidas, deverão obedecer as regras e padrões internacionais.

A Extensão do texto deverá atender no míni-mo 5 laudas e no máximo 12 laudas (tama-nho A4).

O Artigo deverá ter a seguinte estrutura: Títu-lo, Autor(es), Resumo, Palavras-chave, Intro-dução, Metodologia, Resultados e Discussão, Conclusões, Referências Bibliográficas.

Os títulos e subtítulos deverão estar em negrito e ter apenas a primeira letra da pri-meira palavra em maiúscula. O título do arti-go deve estar em português, ser conciso, cla-ro e expressar o conteúdo geral do artigo.

O(s) autor(es) será(ão) especificado(s) logo abaixo do título. Serão aceitos arti-gos com no máximo 4 (quatro) autores, sendo um destes, obrigatoriamente, fun-cionário do DMAE. É necessário indicar o

autor principal do artigo. Demais colabo-rados poderão constar, mas serão relacio-nados ao pé da primeira página. Quanto ao(s) autor(es), deve constar nome com-pleto, bem como sua respectiva titulação detalhada.

Resumo: cada artigo deverá ser acompanha-do de resumo em português, com extensão máxima de 200 palavras cada.

Palavras-chave: deverão ser fornecidas no mínimo três e no máximo cinco palavras-chave em português, visando à confecção de instrumentos de busca. A Comissão Edi-torial poderá, a seu critério, substituir ou acrescentar palavras-chave, as quais enten-da pertinentes ao conteúdo apresentado e possam melhor auxiliar na indexação e recu-peração dos trabalhos.

Corpo do texto (Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão, Conclusões, Referências): deverá ter uma estrutura lógica e sequencial de apresentação, sen-do dividido em subtítulos indicativos dos tópicos abordados.

Citações de até 3 (três) linhas deverão ser incluídas no texto entre aspas duplas. Cita-ções com mais de 3 linhas deverão ser recuadas 4 cm a partir da margem, com recuo tamanho de fonte 10, espaçamento simples.

A inclusão de ilustrações, gráficos, dese-nhos, quadros, tabelas, fotografias, etc, deverá se restringir ao necessário para o entendimento do texto. Esses elementos deverão estar localizados o mais próximo possível do trecho onde são mencionados e estar acompanhados de suas respectivas legendas ou títulos. Fotografias e demais imagens digitalizadas deverão ter resolu-ção mínima de 300dpi e, preferencialmente estar em formato jpeg ou bmp ou tif, podendo ser apresentadas em arquivos separados, com a indicação de sua locali-

Page 86: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

l D

mae

EC

OS

Téc

nica

46

Comissão Editorial - ECOS Técnica

Rua 24 de Outu bro, 200, (Pré dio Unid mae)CEP 90510-000 - Por to Ale gre (RS)[email protected]

zação no trabalho. A dimensão máxima deverá ser de 14 x 23 cm.

As referências bibliográficas deverão estar de acordo com a NBR-6023 da ABNT.

Normas de apresentação de destaque fotográfico (para capa da ECOS Técnica):

Os registros fotográficos deverão retratar os mais diversos ambientes do Dmae (não envolvendo pessoas).

O autor deve ser identificado com seu nome completo, bem como sua titulação detalhada.

As fotografias deverão ter resolução mínima de 300dpi e, preferencialmente estar em for-mato jpeg ou bpm ou tif. A dimensão máxima deverá ser de 14 X 23 cm. Cada autor deverá enviar no mínimo de 40 (quarenta) fotos para que a Comissão Editorial possa escolher 21 (vinte e uma) fotos para o encarte técnico.

Critérios para seleção dos artigos técnicos

A seleção dos artigos será realizada pelos membros da Comissão Editorial da ECOS Técnica que decidirão sobre sua aceitação ou recusa. Essa Comissão contará com o apoio de consultoria técnica especializada, conforme assunto do artigo, sempre que necessário para contribuir na validação dos artigos. Tal prática assegura isenção, agili-dade e objetividade do processo de seleção dos trabalhos.

I. O artigo deve tratar, obrigatoriamente, de assunto de interesse e com aplicabilida-de no Dmae.

II. Artigo com participação de outras entida-des serão aceitos, desde que, no mínimo, um dos autores seja servidor do Dmae.

III. Todas as normas para apresentação de Artigo Técnico, constantes no item 1, devem ser rigorosamente seguidas.

IV. Declaração assinada por todos os autores com o número de CPF indicando a responsa-bilidade do(s) autor(es) pelo conteúdo do artigo e transferência de direitos autorais (copyright) para a ECOS Técnica, caso o arti-go venha a ser aceito e/ou escolhido pela Comissão Editorial.

Critérios para seleçãodas fotografias

A seleção das fotografias será realizada pelos membros da Comissão Editorial da ECOS Técnica que decidirão sobre sua aceitação ou recusa, preferencialmente vinculando aos assuntos dos artigos técnicos escolhidos.O autor do registro fotográfico deverá enviar declaração assinada contendo o número de CPF indicando a autoria do tra-balho e transferência de direitos autorais (copyright) para a ECOS Técnica, caso a fotografia venha a ser aceita e/ou escolhi-da pela Comissão Editorial.Nota: Não serão aceitas fotografias de pes-soas que não pertençam ao quadro de fun-cionários do Dmae.

Page 87: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre
Page 88: Revista Ecos 32 - Portal PMPAlproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_ecos_32... · Projeto da Orla do Guaíba vai revitalizar uma área de 5,9 quilômetros entre

ESPECIAL