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Secção Regional do Centro Enfermagem e o Cidadão NA SOLIDÃO DA DOENÇA MENTAL, NO INTERIOR DESERTIFICADO REPORTAGEM ENFERMEIRA OU ATRIZ ENFERMEIRO ARTISTA DESPORTISTA ESPERO-TE NO CAIS! ENTREVISTA COMO O CIDADÃO VÊ A ENFERMAGEM março 2015 - n.º 42

revista Enfermagem e o Cidadão n. 42

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Page 1: revista Enfermagem e o Cidadão n. 42

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NA SOLIDÃO DA DOENÇA MENTAL, NO INTERIOR DESERTIFICADOREPORTAGEM

ENFERMEIRA OU ATRIZENFERMEIRO ARTISTA DESPORTISTA

ESPERO-TE NO CAIS!

ENTREVISTA

COMO O CIDADÃO VÊ A ENFERMAGEM

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Como o cidadão vê a Enfermagem Editorial

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DiretoraIsabel Oliveira

Coordenação, Produção e EdiçãoGabinete de Comunicação e Imagem - GCI Centro

Colaboradores PermanentesAndreia Magina, Ângela Quinteiro, Pedro Quintas

Colaboram neste númeroAndreia Magina, Ângela Quinteiro, António Vilhena, Carlos Torres, Cristina Albuquerque, Francisco Fontes, Isabel Oliveira, José António Ferreira, Lídia Videira, Maria Manuela Marques, Maria de Sousa, Nelson Odilon, Pedro Quintas, Pedro Renca, Rui Cavaleiro

FotografiaJosé António Ferreira, Pedro Renca, Eva Fontes, Francisco Fontes, autores

IlustraçãoAntónio Alves

Deposito Legal178374/02

ContactosTelf.: 239 487 810; Fax.: 239 487 [email protected]

PropriedadeOrdem dos Enfermeiros – Secção Regional do CentroTelf.: 239 487 810; Fax.: 239 487 819E-mail: [email protected]

Edição eletrónicahttp://www.ordemenfermeiros.pt/sites/centro/Paginas/default.aspx

Conteúdos vídeohttps://www.youtube.com/channel/UCydm4zJs7ZVpab6hWTY-MFQ

Conceção Gráfica Filipe Marques/Academia do Design

Paginação Paulo Oliveira/PMP

Tiragem 14.000 exp.

Distribuição GCI - Centro, Jornal de Notícias/Diário de Notícias

Isabel de Jesus Oliveira*

O primeiro trimestre de 2015 começou particularmente difícil para os profissionais que trabalham nas urgências e a população que a elas tiveram de recorrer. Dependendo do quadrante político, institucional ou social, as análises divergiram. Desde a explicação de que foi um quadro anormalmente atípico, causado pela conjugação do número de casos de gripe associados às complicações crónicas dos utentes, o responsável pelo anormal afluxo às urgências, até à ilação da falta de profissionais ou da sua exaustão, vários foram os argumentos debatidos para o caos que se verificou nalgumas instituições. Reflectindo, a esta distância, sobre as polémicas nas várias urgências, a conclusão é algo paradigmática na forma como os portugueses e a generalidade dos governantes olham para a saúde. Para a população quando algo corre mal normalmente vem associado à falta de médicos, para os governantes a situação é normal nesta altura do ano e “arranjam-se” soluções temporárias para fazer face ao problema. Não tão raramente, ouvimos ainda que é a população que usa mal as opções que tem à disposição, entupindo as urgências com situações que poderiam ser resolvidas no centro de saúde. Raríssimas vezes, os enfermeiros são falados. Ora, tanto para a população, como para os governantes, os enfermeiros não são problema nem fazem parte da solução. Contudo, nos últimos tempos assistiu-se ao discurso de os enfermeiros poderem ser solução, suprindo a falta de outros profissionais, aumentando assim as suas competências. É preciso ter cuidado com esta leitura. Não quer dizer que os enfermeiros não tenham competências para tal, pelo contrário. Mas esta não é a solução para resolver os problemas de base dos serviços de saúde. Para quando a correta alocação de enfermeiros nos serviços? Quem irá colmatar a falta de enfermeiros que lamentavelmente e tão frequentemente podemos constatar nas visitas de acompanhamento do exercício profissional? Quem irá colmatar a falta de enfermeiros que vêem as suas atividades aumentarem, acrescentando mais ao que tanto fazem, sendo frequentemente menos do que deviam ser? É aqui que reside o problema. Apesar da sua comprovada importância, a maior parte da sociedade desconhece aquilo que os enfermeiros fazem e se são ou não suficientes para o que fazem. Isto acontece porque o financiamento em saúde é feito a partir da atividade médica. Quando o financiamento também for efetuado pela atividades dos enfermeiros, aí os enfermeiros farão parte da

solução e da caracterização do problema. Então passará a ser visto o que é feito e o que deixa de ser efectuado. A falta de condições de segurança para as populações que recorrem aos serviços de saúde tem sido uma preocupação constante da Ordem dos Enfermeiros. Temos denunciado publicamente as instituições de saúde que não têm enfermeiros em número suficiente. Por não existir qualquer instrumento que orientasse as instituições de saúde e seus gestores sobre o número de enfermeiros necessários para o seu funcionamento com condições de segurança para os doentes, a Ordem dos Enfermeiros publicou recentemente em Diário da República o Regulamento n.º533/2014 – a Norma para o Cálculo de Dotações Seguras dos Cuidados de Enfermagem, sendo este um instrumento regulador do número de enfermeiros necessários por cada serviço de forma a garantir a segurança dos doentes que a eles recorrem. Este é um importante instrumento, não só para os profissionais, mas também para os cidadãos, que vêem assim salvaguardadas as condições de segurança e qualidade que esperam e a que têm direito em qualquer serviço de saúde. O que aconteceu nas urgências é de lamentar. Todavia, qualquer que seja a análise, não podemos esquecer-nos de que existem diversos serviços e instituições que não têm eco na comunicação social, que se debatem com profundas dificuldades, associadas a reduzido número de enfermeiros para as necessidades identificadas. São equipas exaustas e a prestar cuidados em contextos que põem em causa a segurança dos doentes, pela insuficiência de materiais para prestar cuidados, pelas instalações degradadas e pouco dignas, que ao invés de proporcionarem um ambiente seguro para doentes e profissionais, constituem-se elas mesmas como um risco acrescido. Esses contextos têm sido denunciados e continuar a manter a cabeça “enterrada” na areia terá os seus efeitos a médio/longo prazo. Não há investimento na promoção da saúde e prevenção da doença, não existe planeamento estratégico em saúde a longo prazo. Mantém-se a gestão da saúde da nossa população com prazos de 4 anos. Uma população saudável é uma população feliz, ativa, trabalhadora, mas esse investimento tem de ser feito desde o nascimento, na comunidade, onde as famílias vivem, onde as crianças estudam, e não apenas quando ficam doentes. Faltam profissionais de saúde nos cuidados de saúde primários, nas comunidades, nas escolas e sobrecarregar o que falta não será a melhor solução, repor o necessário é o caminho. É urgente e não é só para as urgências.

*Presidente do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros

ENFERMEIROS:

REPOR OS NECESSÁRIOS É URGENTE

E NÃO SÓ PARA AS URGÊNCIAS

pág.03

António Vilhena Será que ela se lembrava da promessa que tinham celebrado, vinte anos antes, aquando da despedida em Paris? Eram jovens quando se conheceram entre Madrid e Barcelona, no comboio nocturno. Viajavam sós com o mesmo sonho: conhecer a Europa. A carruagem onde seguiam era uma mescla cosmopolita do velho continente. Aos poucos a Costa Brava chegava pelo aroma do mar. Para trás ficava uma noite de conversa, de fascínio e de beleza. Foram muitas horas de viagem e o cansaço chegou de mansinho. Ela rendeu-se aos braços de João no último terço do percurso. O baloiçar sobre os carris acabou por vencer os viajantes. A vida de ambos nunca mais foi a mesma. Alteraram as rotas para viajarem juntos. A descoberta da Europa reabilitou o mito fundador; ambos reencontraram motivos suficientes para expandirem a cumplicidade. O mito revela-nos que a ninfa fenícia, filha do rei Agenor, arrastada por um touro, até à ilha de Creta, onde a deixou sob um plátano. Tratava-se de Zeus disfarçado para fugir às represálias de Hera. Escusado será dizer que se apaixonou por Europa. Os turistas acidentais refizeram o itinerário rumo a Atenas. Tinham esse gosto comum pela Cultura Clássica e, por isso, foi fácil mudarem o destino como Ulisses. Quando se viaja sob um manto de paixão o mundo parece escrito pelos poetas. Todos os pormenores desaguam num beijo ou num abraço. Foi assim, a odisseia de Salvina e de João, uma aventura sublime sobre um manto de pétalas e de aconchegos. Quando chegaram a Atenas, o Pártenon, "παρθενών",impôs-lhes o silêncio do deslumbramento, da história e da cultura. Os dias, confidentes de deuses e homens, resgataram um enamoramento de consequências imprevisíveis. Viveram cada segundo como se a vida fosse acabar, misturaram a utopia com a urgência e dançaram em ruas desertas. Foram forasteiros em mercados e ruelas, beberam em bares e embriagaram-se de músicas e gentes de outras paragens. Foram andarilhos numa Europa de amantes e heróis, de nostalgia e bibliotecas. Terminaram a viagem em Paris. Regressaram aos seus países e às suas vidas com a promessa de se reencontrarem, passados vinte anos, à mesma hora, no mesmo cais de embarque. Muita coisa mudou na Europa: algumas guerras deixaram marcas profundas nos Balcãs e José Saramago ganhou o Nobel da Literatura. Entretanto, Salvina e João nunca mais se encontraram. O silêncio frio derramou-se nas suas vidas. Quando se conheceram eram jovens e tudo era fácil, como se o impossível fosse apenas um muro de magia. Como serão vinte anos depois? Será que ambos se lembram da promessa do reencontro?

Não consigo imaginar os pensamentos e as emoções de ambos, à medida que se aproxima o dia marcado para o possível reencontro na Gare du Nord, em Paris. João chegou primeiro, duas horas antes. Sentou-se num banco na sala de espera. Tudo era possível. Ele sabia que aquele encontro podia ser para sempre. Os comboios chegavam e partiam. A emoção era um cardume de nervos sobre o peito. A Gare conservava a mesma arquitectura, as mesmas esculturas, como o plátano, que acolheu Europa na ilha de Creta, mantém as suas folhas verdes no Verão e no Inverno. Na Gare du Nord, passados vintes anos, o cais da despedida é um lugar de medo e de ansiedade. Aos poucos os ponteiros do relógio avançam indiferentes. Alguns casais despendem-se ao longo das plataformas, enquanto outros se apressam em direcção aos seus destinos. Eram 16h de uma tarde soturna, há vinte anos. Será que se reconhecem? O tempo transforma os rostos e os corpos. À hora marcada Salvina, enfermeira de profissão, surge de uma porta lateral. Estanca, mal depara com o João. Ele levanta-se num ápice. Correm de braços abertos um para o outro. O abraço é demorado e silencioso. Há um choro indecifrável para quem passa. A hora do encontro traz-me à memória dois versos do poeta grego Konstatínos Kávafiz: E eis-me agora aqui na sorte a que fui dado/ em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.

Nota BiográficaAcaba de sair o livro do escritor António Vilhena, Cartas a Um Amor Ausente, editado pela Caracol Edições. Este nosso autor que tem um percurso singular. Nos últimos dois anos publicou seis títulos: Do Ventre da Terra - poesia, 1987; Trança D`Água - poesia, 1989; A Eterna Paixão de Nunca estar Contente -prosa poética, 1991; Mais Felizes Que o Sonho - poesia, 1996; Diálogos de Rosa e Espada - crónicas, 2004; O Piano Adormecido - infantil, 2006; Canto Imperecível das Aves - poesia, 2012; A Formiga Barriguda - Infantil, 2012; Templo do Fogo Insaciável - poesia, 2013; As Férias da Formiga Barriguda -infantil, 2013; Cartas a Um Amor Ausente - narrativa poética, 2014; A Orquestra da Formiga Barriguda e os Sons da Água – infantil, 2014.O autor prepara, ainda, para 2015, a edição do ensaio “O Drama do Originado em Natália Correia – O Progresso de Édipo”, resultante da sua tese de Mestrado, e a narrativa juvenil, Biblioteca das Águas, uma homenagem aos bibliotecários. ANTÓNIO VILHENA é natural de Beja. Licenciado em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de Coimbra, Mestre em Estudos Clássicos e Doutorando em Mundo Antigo pela Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra. Membro convidado do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras de Universidade de Coimbra. Poeta, cronista e autor de livros infantis.

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O conteúdo dos artigos é da total responsabilidade dos autores e não vincula a SRC da OE

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DiretoraIsabel Oliveira

Coordenação, Produção e EdiçãoGabinete de Comunicação e Imagem - GCI Centro

Colaboradores PermanentesAndreia Magina, Ângela Quinteiro, Pedro Quintas

Colaboram neste númeroAndreia Magina, Ângela Quinteiro, António Vilhena, Carlos Torres, Cristina Albuquerque, Francisco Fontes, Isabel Oliveira, José António Ferreira, Lídia Videira, Maria Manuela Marques, Maria de Sousa, Nelson Odilon, Pedro Quintas, Pedro Renca, Rui Cavaleiro

FotografiaJosé António Ferreira, Pedro Renca, Eva Fontes, Francisco Fontes, autores

IlustraçãoAntónio Alves

Deposito Legal178374/02

ContactosTelf.: 239 487 810; Fax.: 239 487 [email protected]

PropriedadeOrdem dos Enfermeiros – Secção Regional do CentroTelf.: 239 487 810; Fax.: 239 487 819E-mail: [email protected]

Edição eletrónicahttp://www.ordemenfermeiros.pt/sites/centro/Paginas/default.aspx

Conteúdos vídeohttps://www.youtube.com/channel/UCydm4zJs7ZVpab6hWTY-MFQ

Conceção Gráfica Filipe Marques/Academia do Design

Paginação Paulo Oliveira/PMP

Tiragem 14.000 exp.

Distribuição GCI - Centro, Jornal de Notícias/Diário de Notícias

Isabel de Jesus Oliveira*

O primeiro trimestre de 2015 começou particularmente difícil para os profissionais que trabalham nas urgências e a população que a elas tiveram de recorrer. Dependendo do quadrante político, institucional ou social, as análises divergiram. Desde a explicação de que foi um quadro anormalmente atípico, causado pela conjugação do número de casos de gripe associados às complicações crónicas dos utentes, o responsável pelo anormal afluxo às urgências, até à ilação da falta de profissionais ou da sua exaustão, vários foram os argumentos debatidos para o caos que se verificou nalgumas instituições. Reflectindo, a esta distância, sobre as polémicas nas várias urgências, a conclusão é algo paradigmática na forma como os portugueses e a generalidade dos governantes olham para a saúde. Para a população quando algo corre mal normalmente vem associado à falta de médicos, para os governantes a situação é normal nesta altura do ano e “arranjam-se” soluções temporárias para fazer face ao problema. Não tão raramente, ouvimos ainda que é a população que usa mal as opções que tem à disposição, entupindo as urgências com situações que poderiam ser resolvidas no centro de saúde. Raríssimas vezes, os enfermeiros são falados. Ora, tanto para a população, como para os governantes, os enfermeiros não são problema nem fazem parte da solução. Contudo, nos últimos tempos assistiu-se ao discurso de os enfermeiros poderem ser solução, suprindo a falta de outros profissionais, aumentando assim as suas competências. É preciso ter cuidado com esta leitura. Não quer dizer que os enfermeiros não tenham competências para tal, pelo contrário. Mas esta não é a solução para resolver os problemas de base dos serviços de saúde. Para quando a correta alocação de enfermeiros nos serviços? Quem irá colmatar a falta de enfermeiros que lamentavelmente e tão frequentemente podemos constatar nas visitas de acompanhamento do exercício profissional? Quem irá colmatar a falta de enfermeiros que vêem as suas atividades aumentarem, acrescentando mais ao que tanto fazem, sendo frequentemente menos do que deviam ser? É aqui que reside o problema. Apesar da sua comprovada importância, a maior parte da sociedade desconhece aquilo que os enfermeiros fazem e se são ou não suficientes para o que fazem. Isto acontece porque o financiamento em saúde é feito a partir da atividade médica. Quando o financiamento também for efetuado pela atividades dos enfermeiros, aí os enfermeiros farão parte da

solução e da caracterização do problema. Então passará a ser visto o que é feito e o que deixa de ser efectuado. A falta de condições de segurança para as populações que recorrem aos serviços de saúde tem sido uma preocupação constante da Ordem dos Enfermeiros. Temos denunciado publicamente as instituições de saúde que não têm enfermeiros em número suficiente. Por não existir qualquer instrumento que orientasse as instituições de saúde e seus gestores sobre o número de enfermeiros necessários para o seu funcionamento com condições de segurança para os doentes, a Ordem dos Enfermeiros publicou recentemente em Diário da República o Regulamento n.º533/2014 – a Norma para o Cálculo de Dotações Seguras dos Cuidados de Enfermagem, sendo este um instrumento regulador do número de enfermeiros necessários por cada serviço de forma a garantir a segurança dos doentes que a eles recorrem. Este é um importante instrumento, não só para os profissionais, mas também para os cidadãos, que vêem assim salvaguardadas as condições de segurança e qualidade que esperam e a que têm direito em qualquer serviço de saúde. O que aconteceu nas urgências é de lamentar. Todavia, qualquer que seja a análise, não podemos esquecer-nos de que existem diversos serviços e instituições que não têm eco na comunicação social, que se debatem com profundas dificuldades, associadas a reduzido número de enfermeiros para as necessidades identificadas. São equipas exaustas e a prestar cuidados em contextos que põem em causa a segurança dos doentes, pela insuficiência de materiais para prestar cuidados, pelas instalações degradadas e pouco dignas, que ao invés de proporcionarem um ambiente seguro para doentes e profissionais, constituem-se elas mesmas como um risco acrescido. Esses contextos têm sido denunciados e continuar a manter a cabeça “enterrada” na areia terá os seus efeitos a médio/longo prazo. Não há investimento na promoção da saúde e prevenção da doença, não existe planeamento estratégico em saúde a longo prazo. Mantém-se a gestão da saúde da nossa população com prazos de 4 anos. Uma população saudável é uma população feliz, ativa, trabalhadora, mas esse investimento tem de ser feito desde o nascimento, na comunidade, onde as famílias vivem, onde as crianças estudam, e não apenas quando ficam doentes. Faltam profissionais de saúde nos cuidados de saúde primários, nas comunidades, nas escolas e sobrecarregar o que falta não será a melhor solução, repor o necessário é o caminho. É urgente e não é só para as urgências.

*Presidente do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros

ENFERMEIROS:

REPOR OS NECESSÁRIOS É URGENTE

E NÃO SÓ PARA AS URGÊNCIAS

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António Vilhena Será que ela se lembrava da promessa que tinham celebrado, vinte anos antes, aquando da despedida em Paris? Eram jovens quando se conheceram entre Madrid e Barcelona, no comboio nocturno. Viajavam sós com o mesmo sonho: conhecer a Europa. A carruagem onde seguiam era uma mescla cosmopolita do velho continente. Aos poucos a Costa Brava chegava pelo aroma do mar. Para trás ficava uma noite de conversa, de fascínio e de beleza. Foram muitas horas de viagem e o cansaço chegou de mansinho. Ela rendeu-se aos braços de João no último terço do percurso. O baloiçar sobre os carris acabou por vencer os viajantes. A vida de ambos nunca mais foi a mesma. Alteraram as rotas para viajarem juntos. A descoberta da Europa reabilitou o mito fundador; ambos reencontraram motivos suficientes para expandirem a cumplicidade. O mito revela-nos que a ninfa fenícia, filha do rei Agenor, arrastada por um touro, até à ilha de Creta, onde a deixou sob um plátano. Tratava-se de Zeus disfarçado para fugir às represálias de Hera. Escusado será dizer que se apaixonou por Europa. Os turistas acidentais refizeram o itinerário rumo a Atenas. Tinham esse gosto comum pela Cultura Clássica e, por isso, foi fácil mudarem o destino como Ulisses. Quando se viaja sob um manto de paixão o mundo parece escrito pelos poetas. Todos os pormenores desaguam num beijo ou num abraço. Foi assim, a odisseia de Salvina e de João, uma aventura sublime sobre um manto de pétalas e de aconchegos. Quando chegaram a Atenas, o Pártenon, "παρθενών",impôs-lhes o silêncio do deslumbramento, da história e da cultura. Os dias, confidentes de deuses e homens, resgataram um enamoramento de consequências imprevisíveis. Viveram cada segundo como se a vida fosse acabar, misturaram a utopia com a urgência e dançaram em ruas desertas. Foram forasteiros em mercados e ruelas, beberam em bares e embriagaram-se de músicas e gentes de outras paragens. Foram andarilhos numa Europa de amantes e heróis, de nostalgia e bibliotecas. Terminaram a viagem em Paris. Regressaram aos seus países e às suas vidas com a promessa de se reencontrarem, passados vinte anos, à mesma hora, no mesmo cais de embarque. Muita coisa mudou na Europa: algumas guerras deixaram marcas profundas nos Balcãs e José Saramago ganhou o Nobel da Literatura. Entretanto, Salvina e João nunca mais se encontraram. O silêncio frio derramou-se nas suas vidas. Quando se conheceram eram jovens e tudo era fácil, como se o impossível fosse apenas um muro de magia. Como serão vinte anos depois? Será que ambos se lembram da promessa do reencontro?

Não consigo imaginar os pensamentos e as emoções de ambos, à medida que se aproxima o dia marcado para o possível reencontro na Gare du Nord, em Paris. João chegou primeiro, duas horas antes. Sentou-se num banco na sala de espera. Tudo era possível. Ele sabia que aquele encontro podia ser para sempre. Os comboios chegavam e partiam. A emoção era um cardume de nervos sobre o peito. A Gare conservava a mesma arquitectura, as mesmas esculturas, como o plátano, que acolheu Europa na ilha de Creta, mantém as suas folhas verdes no Verão e no Inverno. Na Gare du Nord, passados vintes anos, o cais da despedida é um lugar de medo e de ansiedade. Aos poucos os ponteiros do relógio avançam indiferentes. Alguns casais despendem-se ao longo das plataformas, enquanto outros se apressam em direcção aos seus destinos. Eram 16h de uma tarde soturna, há vinte anos. Será que se reconhecem? O tempo transforma os rostos e os corpos. À hora marcada Salvina, enfermeira de profissão, surge de uma porta lateral. Estanca, mal depara com o João. Ele levanta-se num ápice. Correm de braços abertos um para o outro. O abraço é demorado e silencioso. Há um choro indecifrável para quem passa. A hora do encontro traz-me à memória dois versos do poeta grego Konstatínos Kávafiz: E eis-me agora aqui na sorte a que fui dado/ em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.

Nota BiográficaAcaba de sair o livro do escritor António Vilhena, Cartas a Um Amor Ausente, editado pela Caracol Edições. Este nosso autor que tem um percurso singular. Nos últimos dois anos publicou seis títulos: Do Ventre da Terra - poesia, 1987; Trança D`Água - poesia, 1989; A Eterna Paixão de Nunca estar Contente -prosa poética, 1991; Mais Felizes Que o Sonho - poesia, 1996; Diálogos de Rosa e Espada - crónicas, 2004; O Piano Adormecido - infantil, 2006; Canto Imperecível das Aves - poesia, 2012; A Formiga Barriguda - Infantil, 2012; Templo do Fogo Insaciável - poesia, 2013; As Férias da Formiga Barriguda -infantil, 2013; Cartas a Um Amor Ausente - narrativa poética, 2014; A Orquestra da Formiga Barriguda e os Sons da Água – infantil, 2014.O autor prepara, ainda, para 2015, a edição do ensaio “O Drama do Originado em Natália Correia – O Progresso de Édipo”, resultante da sua tese de Mestrado, e a narrativa juvenil, Biblioteca das Águas, uma homenagem aos bibliotecários. ANTÓNIO VILHENA é natural de Beja. Licenciado em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de Coimbra, Mestre em Estudos Clássicos e Doutorando em Mundo Antigo pela Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra. Membro convidado do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras de Universidade de Coimbra. Poeta, cronista e autor de livros infantis.

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A glicémia plasmática em jejum ≥126 mg/dl ou um valor de glicémia plasmática ocasional >200 mg/dl podem indiciar a presença de Diabetes prévia à gravidez e que só foi diagnosticada na gestação em curso. A orientação e o tratamento destas grávidas é idêntico ao das mulheres com diabetes prévia.A Prova de Tolerância à Glicose Oral realizada às 24-28 semanas de gestação consiste numa sobrecarga de 75 g de glicose diluída em 300 ml de água e bebida pela grávida. Fazem-se determinações das glicémias às 0, 1 e 2 horas. Esta prova deve ser realizada de manhã e após um jejum de pelo menos 8 horas e nunca superior a 14 horas, devendo a grávida estar em repouso enquanto efetua as colheitas de sangue.O diagnóstico da DG faz-se quando um ou mais valores das três avaliações for igual ou superior aos valores de referência do quadro seguinte:

Hora 0 1 2Glicémia plasmática�� � 92 mg/dl� �180 mg/dl� �153 mg/dl

Se os resultados forem todos inferiores aos valores de referência descritos no quadro, a prova é considerada negativa.Quando se confirma o diagnóstico da DG ou provável diabetes prévia, a grávida deve ser referenciada à consulta Hospitalar de Medicina Materno-Fetal para a Diabetes. Nesta consulta a grávida é informada, de forma individualizada, dos riscos maternos e perinatais e recebe aconselhamento sobre a importância e necessidade de fazer modificações no seu estilo de vida. Esta consulta deve contemplar uma equipa multidisciplinar, constituída por obstetra, endocrinologista, dietista, enfermeiro especialista em saúde materna e obstétrica e ainda, estar dotada de recursos necessários ao acompanhamento da grávida, feto/RN.Dos cuidados de enfermagem prestados à grávida com DG é dado particular enfase ao cumprimento do plano alimentar, à prática de exercício físico (em particular a marcha em período pós-prandial), e ao autocontrolo das glicémias bem como a administração de insulina (caso seja necessário). São também, efetuados ensinos adequados à idade gestacional e vigilância do bem-estar materno-fetal a partir das 35 semanas com a realização de registo cardiotocográfico (RCT).A mulher a quem foi diagnosticada DG deve realizar uma prova de reclassificação, 6 a 8 semanas após o parto. Esta PTGO consiste numa sobrecarga de 75g de glicose com apenas duas determinações da glicémia plasmática: às 0 e às 2 horas. Esta prova é considerada negativa se os valores de glicémia em jejum forem <110 mg/dl e <140 mg/dl 2 horas após a ingestão da glicose, contudo a mulher deve fazer uma determinação anual da glicémia plasmática em jejum, uma vez que tem risco aumentado para desenvolver Diabetes Mellitus.Numa futura gravidez, a mulher com antecedentes de diabetes gestacional deve realizar uma avaliação da glicémia pré-concecional. Em conclusão salienta-se que quanto mais precocemente for diagnosticada a Diabetes Gestacional e iniciado o controlo metabólico, menor é o risco de ocorrência de complicações maternas e morbilidade e mortalidade perinatais.

1Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica Pós Graduação em Gestão de Serviços de SaúdeSocióloga2Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica Pós Graduação em Gestão de Serviços de Saúde

BIBLIOGRAFIA:AMERICAN DIABETES ASSOCIATION (2011), “Diagnosis and classification of diabetes mellitus”. Diabetes care. Mars; 34 (I): 62-69.DORES, Y. et al (2011), “Relatório de consenso sobre a diabetes e gravidez”. Disponível em www.dgs.pt, consultado em 3/3/2015.INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION (2009), “Global Guideline on Pregnancy and Diabetes”.NORMA DA DIRECÇÃO GERAL DA SAÚDE nº 007/2011, janeiro de 2011. Disponível em www.dgs.pt, consultado em 3/3/2015.Orientações Clinicas de Saúde Reprodutiva/Planeamento familiar (2008), “Critérios Médicos de elegibilidade” Direcção Geral da Saúde, Lisboa.

Divulgação

1Cristina Paula Ferreira Oliveira Albuquerque2Maria Manuela Figueiredo Pereira Marques

Nas sociedades contemporâneas a mudança do estilo de vida das mulheres tem sido notório, nomeadamente nas suas atitudes, já que engravidam cada vez mais tarde e têm excesso de peso, muitas vezes associado a hábitos alimentares incorretos e a uma vida sedentária.A prevalência da Diabetes Gestacional (DG) tem vindo a aumentar em todo o mundo, o que implica um acréscimo da necessidade de recursos de saúde. O conhecimento, o diagnóstico precoce e o controlo da DG permitem otimizar uma gravidez com menos riscos quer para a grávida quer para o feto/ recém-nascido.Fizemos uma revisão bibliográfica com o objetivo de compreender estas mudanças e promover maior qualidade nos cuidados de saúde prestados às grávidas com DG, quer durante as consultas, quer durante o trabalho de parto e parto.A Diabetes Gestacional define-se como uma intolerância aos hidratos de carbono, de grau variável, que é diagnosticada ou reconhecida pela primeira vez durante a gravidez (American Diabetes Association, 2011). Geralmente desaparece após o nascimento do bebé (DGS, 2011).Durante a gravidez, as hormonas produzidas pela placenta fazem subir a glicémia, o que faz com que o pâncreas segregue mais insulina para manter a glicose materna em níveis normais. Quando esse aumento de insulina é insuficiente, o nível de glicose sobe, podendo dar origem à diabetes gestacional. São fatores de risco para a diabetes, a idade, antecedentes familiares de diabetes, obesidade e diabetes gestacional em gestação anterior. Os critérios de diagnóstico para a DG hoje adotados são baseados em estudos recentes, conforme refere a Direção Geral da Saúde (DGS, 2011), que demonstram uma relação direta entre os valores da glicémia materna e a morbilidade materna, fetal e neonatal. A grávida com DG tem risco aumentado de vir a desenvolver hipertensão arterial (HTA) na gravidez atual, de ter um parto mais traumático, necessidade de um parto por cesariana e de desenvolver diabetes no futuro. Já para o feto/RN existe um risco superior de malformações fetais, morte fetal in útero, traumatismo no parto como resultado de macrossomia, dificuldade respiratória ao nascer, alterações metabólicas e maior prevalência de vir a sofrer de diabetes. Sendo assim, uma boa vigilância e controlo da glicémia durante a gravidez diminui as complicações maternas e a morbilidade e mortalidade perinatais.O diagnóstico de DG é feito em duas fases distintas:1- Glicémia plasmática em jejum na primeira consulta de vigilância pré-natal. Se este valor for ≥92 mg/dl e <126 mg/dl, faz o diagnóstico de Diabetes Gestacional.2- Prova de Tolerância à Glicose Oral (PTGO) realizada entre as 24-28 semanas de gestação. Esta prova só é realizada se a glicémia plasmática em jejum for <92 mg/dl.

Divulgação pág.05

Ângela Quinteiro*

A chegarmos a passos largos à época da Páscoa aquilo de que nos lembramos mais rapidamente é das amêndoas e dos ovos da Páscoa e das grandes mesas para a visita pascal, com doces apetitosos e em abundância, com tudo o que faz os nossos olhos sorrirem, mas que, ao mesmo tempo, faz o nosso organismo viver “momentos de aflição”.

Todos sabemos que qualquer época festiva, seja a Páscoa, os aniversários, as comemorações familiares, as festas do final do ano, entre outras, se baseiam em excessos… quantidades exageradas de comida, doces em demasia, álcool sem medida, sedentarismo após as refeições, excessos que só prejudicam o nosso organismo, piorando alguns dos fatores de risco que cada um de nós possui, como a hipercolesterolemia, hipertensão e hiperglicemias, aumentando o risco de contrair doenças cardiovasculares, ou outras, reduzindo cada vez mais a nossa qualidade de vida e interferindo com a nossa longevidade.

Como tal, para épocas festivas como a Páscoa, ou o Natal, ou aniversários, ficam alguns conselhos relacionados com os hábitos alimentares festivos, de forma a festejarem de forma saudável:- Cozinhe sempre legumes, como acompanhamento da refeição principal;- Reduza o sal nos seus pratos principais;- Não cozinhe em quantidades exageradas, pois vai fazer com que tenha restos para consumir posteriormente, desnecessariamente;- Não abuse das gorduras nos seus assados. Use preferencialmente o azeite, mas em quantidades moderadas;

- Troque sobremesas doces por fruta da época;- Evite ao máximo comprar gomas, rebuçados, amêndoas com cobertura de açúcar, amêndoas de chocolate e chocolates, de forma a reduzir o seu consumo. No caso de estes produtos lhe serem oferecidos, lembre-se de que são produtos com franca validade, pelo que podem ser consumidos de forma ponderada e moderada.- Experimente, sempre que possível, doces alternativos, que trocam os doces tradicionais fritos por doces feitos no forno;- Consuma bebidas alcoólicas e bebidas açucaradas com moderação. Prefira água a acompanhar a sua refeição;- Se achar que comeu demasiado, faça uma caminhada para desgastar os excessos;- Se consumiu bebidas alcoólicas… não conduza!

Bons festejos…com moderação e da forma mais saudável possível!

*Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e PediatriaA exercer funções na USF Viriato, Viseu

COMO TORNAR OS EXCESSOS

FESTIVOS UM POUCO MAIS SAUDÁVEIS!

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Page 5: revista Enfermagem e o Cidadão n. 42

A glicémia plasmática em jejum ≥126 mg/dl ou um valor de glicémia plasmática ocasional >200 mg/dl podem indiciar a presença de Diabetes prévia à gravidez e que só foi diagnosticada na gestação em curso. A orientação e o tratamento destas grávidas é idêntico ao das mulheres com diabetes prévia.A Prova de Tolerância à Glicose Oral realizada às 24-28 semanas de gestação consiste numa sobrecarga de 75 g de glicose diluída em 300 ml de água e bebida pela grávida. Fazem-se determinações das glicémias às 0, 1 e 2 horas. Esta prova deve ser realizada de manhã e após um jejum de pelo menos 8 horas e nunca superior a 14 horas, devendo a grávida estar em repouso enquanto efetua as colheitas de sangue.O diagnóstico da DG faz-se quando um ou mais valores das três avaliações for igual ou superior aos valores de referência do quadro seguinte:

Hora 0 1 2Glicémia plasmática�� � 92 mg/dl� �180 mg/dl� �153 mg/dl

Se os resultados forem todos inferiores aos valores de referência descritos no quadro, a prova é considerada negativa.Quando se confirma o diagnóstico da DG ou provável diabetes prévia, a grávida deve ser referenciada à consulta Hospitalar de Medicina Materno-Fetal para a Diabetes. Nesta consulta a grávida é informada, de forma individualizada, dos riscos maternos e perinatais e recebe aconselhamento sobre a importância e necessidade de fazer modificações no seu estilo de vida. Esta consulta deve contemplar uma equipa multidisciplinar, constituída por obstetra, endocrinologista, dietista, enfermeiro especialista em saúde materna e obstétrica e ainda, estar dotada de recursos necessários ao acompanhamento da grávida, feto/RN.Dos cuidados de enfermagem prestados à grávida com DG é dado particular enfase ao cumprimento do plano alimentar, à prática de exercício físico (em particular a marcha em período pós-prandial), e ao autocontrolo das glicémias bem como a administração de insulina (caso seja necessário). São também, efetuados ensinos adequados à idade gestacional e vigilância do bem-estar materno-fetal a partir das 35 semanas com a realização de registo cardiotocográfico (RCT).A mulher a quem foi diagnosticada DG deve realizar uma prova de reclassificação, 6 a 8 semanas após o parto. Esta PTGO consiste numa sobrecarga de 75g de glicose com apenas duas determinações da glicémia plasmática: às 0 e às 2 horas. Esta prova é considerada negativa se os valores de glicémia em jejum forem <110 mg/dl e <140 mg/dl 2 horas após a ingestão da glicose, contudo a mulher deve fazer uma determinação anual da glicémia plasmática em jejum, uma vez que tem risco aumentado para desenvolver Diabetes Mellitus.Numa futura gravidez, a mulher com antecedentes de diabetes gestacional deve realizar uma avaliação da glicémia pré-concecional. Em conclusão salienta-se que quanto mais precocemente for diagnosticada a Diabetes Gestacional e iniciado o controlo metabólico, menor é o risco de ocorrência de complicações maternas e morbilidade e mortalidade perinatais.

1Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica Pós Graduação em Gestão de Serviços de SaúdeSocióloga2Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica Pós Graduação em Gestão de Serviços de Saúde

BIBLIOGRAFIA:AMERICAN DIABETES ASSOCIATION (2011), “Diagnosis and classification of diabetes mellitus”. Diabetes care. Mars; 34 (I): 62-69.DORES, Y. et al (2011), “Relatório de consenso sobre a diabetes e gravidez”. Disponível em www.dgs.pt, consultado em 3/3/2015.INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION (2009), “Global Guideline on Pregnancy and Diabetes”.NORMA DA DIRECÇÃO GERAL DA SAÚDE nº 007/2011, janeiro de 2011. Disponível em www.dgs.pt, consultado em 3/3/2015.Orientações Clinicas de Saúde Reprodutiva/Planeamento familiar (2008), “Critérios Médicos de elegibilidade” Direcção Geral da Saúde, Lisboa.

Divulgação

1Cristina Paula Ferreira Oliveira Albuquerque2Maria Manuela Figueiredo Pereira Marques

Nas sociedades contemporâneas a mudança do estilo de vida das mulheres tem sido notório, nomeadamente nas suas atitudes, já que engravidam cada vez mais tarde e têm excesso de peso, muitas vezes associado a hábitos alimentares incorretos e a uma vida sedentária.A prevalência da Diabetes Gestacional (DG) tem vindo a aumentar em todo o mundo, o que implica um acréscimo da necessidade de recursos de saúde. O conhecimento, o diagnóstico precoce e o controlo da DG permitem otimizar uma gravidez com menos riscos quer para a grávida quer para o feto/ recém-nascido.Fizemos uma revisão bibliográfica com o objetivo de compreender estas mudanças e promover maior qualidade nos cuidados de saúde prestados às grávidas com DG, quer durante as consultas, quer durante o trabalho de parto e parto.A Diabetes Gestacional define-se como uma intolerância aos hidratos de carbono, de grau variável, que é diagnosticada ou reconhecida pela primeira vez durante a gravidez (American Diabetes Association, 2011). Geralmente desaparece após o nascimento do bebé (DGS, 2011).Durante a gravidez, as hormonas produzidas pela placenta fazem subir a glicémia, o que faz com que o pâncreas segregue mais insulina para manter a glicose materna em níveis normais. Quando esse aumento de insulina é insuficiente, o nível de glicose sobe, podendo dar origem à diabetes gestacional. São fatores de risco para a diabetes, a idade, antecedentes familiares de diabetes, obesidade e diabetes gestacional em gestação anterior. Os critérios de diagnóstico para a DG hoje adotados são baseados em estudos recentes, conforme refere a Direção Geral da Saúde (DGS, 2011), que demonstram uma relação direta entre os valores da glicémia materna e a morbilidade materna, fetal e neonatal. A grávida com DG tem risco aumentado de vir a desenvolver hipertensão arterial (HTA) na gravidez atual, de ter um parto mais traumático, necessidade de um parto por cesariana e de desenvolver diabetes no futuro. Já para o feto/RN existe um risco superior de malformações fetais, morte fetal in útero, traumatismo no parto como resultado de macrossomia, dificuldade respiratória ao nascer, alterações metabólicas e maior prevalência de vir a sofrer de diabetes. Sendo assim, uma boa vigilância e controlo da glicémia durante a gravidez diminui as complicações maternas e a morbilidade e mortalidade perinatais.O diagnóstico de DG é feito em duas fases distintas:1- Glicémia plasmática em jejum na primeira consulta de vigilância pré-natal. Se este valor for ≥92 mg/dl e <126 mg/dl, faz o diagnóstico de Diabetes Gestacional.2- Prova de Tolerância à Glicose Oral (PTGO) realizada entre as 24-28 semanas de gestação. Esta prova só é realizada se a glicémia plasmática em jejum for <92 mg/dl.

Divulgação pág.05

Ângela Quinteiro*

A chegarmos a passos largos à época da Páscoa aquilo de que nos lembramos mais rapidamente é das amêndoas e dos ovos da Páscoa e das grandes mesas para a visita pascal, com doces apetitosos e em abundância, com tudo o que faz os nossos olhos sorrirem, mas que, ao mesmo tempo, faz o nosso organismo viver “momentos de aflição”.

Todos sabemos que qualquer época festiva, seja a Páscoa, os aniversários, as comemorações familiares, as festas do final do ano, entre outras, se baseiam em excessos… quantidades exageradas de comida, doces em demasia, álcool sem medida, sedentarismo após as refeições, excessos que só prejudicam o nosso organismo, piorando alguns dos fatores de risco que cada um de nós possui, como a hipercolesterolemia, hipertensão e hiperglicemias, aumentando o risco de contrair doenças cardiovasculares, ou outras, reduzindo cada vez mais a nossa qualidade de vida e interferindo com a nossa longevidade.

Como tal, para épocas festivas como a Páscoa, ou o Natal, ou aniversários, ficam alguns conselhos relacionados com os hábitos alimentares festivos, de forma a festejarem de forma saudável:- Cozinhe sempre legumes, como acompanhamento da refeição principal;- Reduza o sal nos seus pratos principais;- Não cozinhe em quantidades exageradas, pois vai fazer com que tenha restos para consumir posteriormente, desnecessariamente;- Não abuse das gorduras nos seus assados. Use preferencialmente o azeite, mas em quantidades moderadas;

- Troque sobremesas doces por fruta da época;- Evite ao máximo comprar gomas, rebuçados, amêndoas com cobertura de açúcar, amêndoas de chocolate e chocolates, de forma a reduzir o seu consumo. No caso de estes produtos lhe serem oferecidos, lembre-se de que são produtos com franca validade, pelo que podem ser consumidos de forma ponderada e moderada.- Experimente, sempre que possível, doces alternativos, que trocam os doces tradicionais fritos por doces feitos no forno;- Consuma bebidas alcoólicas e bebidas açucaradas com moderação. Prefira água a acompanhar a sua refeição;- Se achar que comeu demasiado, faça uma caminhada para desgastar os excessos;- Se consumiu bebidas alcoólicas… não conduza!

Bons festejos…com moderação e da forma mais saudável possível!

*Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e PediatriaA exercer funções na USF Viriato, Viseu

COMO TORNAR OS EXCESSOS

FESTIVOS UM POUCO MAIS SAUDÁVEIS!

DIABETES

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Page 6: revista Enfermagem e o Cidadão n. 42

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O leite materno pela sua composição é facilmente digerido, metabolizado e absorvido sendo adequado à imaturidade da função gastrointestinal e renal do recém-nascido. Apenas por volta dos 4 meses, o bebé se encontra preparado para a diversificação alimentar, quer do ponto de vista da evolução maturativa, quer pela aquisição de maior estabilidade cervical e maxilar. Entre o 5º e o 8º mês o padrão primitivo da sucção modifica-se e estabelece-se a passagem da sucção para a mastigação.

Benefícios do Aleitamento MaternoAmamentar é um ato que traz benefícios para a saúde da mãe e filho, a curto e a longo prazo. Estes benefícios em saúde repercutem-se em vantagens sociais, económicas e ambientais.Diversos estudos comprovam uma associação entre aleitamento materno e um menor risco de otite média, gastroenterite aguda, infeções respiratórias baixas severas, dermatite atópica, asma, obesidade, diabetes de tipos 1 e 2, leucemia, síndrome de morte súbita no latente e enterocolite necrotizante.Estima-se que se todas as crianças no Reino Unido estivessem em programa de amamentação exclusiva, o número de hospitalizações a cada mês, por diarreia, seria reduzido a metade, e o número de crianças hospitalizadas por infeção respiratória, reduzida para um quarto.Também a mulher que amamenta beneficia com a amamentação:• Involução uterina mais rápida e menor risco de hemorragia pela ação da ocitocina;• Menor risco de anemia e aumento das reservas de ferro pela diminuição do sangramento durante o puerpério, e ação da amamentação sobre o eixo hipotálamo-hipófise-ovário inibindo a ovulação e, consequentemente, a menstruação (atraso no regresso da fertilidade);• Recuperação do peso pré-gravídico devido ao ato de amamentar (amamentar queima até 500 calorias a mais por dia) e ao gasto energético da produção de leite, sendo mais evidente a partir dos 3 meses e localizada na cintura e anca;• Prevenção da osteoporose devido ao aumento da metabolização de cálcio que ao mesmo tempo que é mobilizado dos depósitos ósseos para a produção de leite, também aumenta a sua absorção;• Diminuição do risco de cancro da mama e do ovário.É de salientar também o desenvolvimento de um vínculo de apego saudável e duradouro, maior auto-estima e autoconfiança, maior satisfação intima, superação das dificuldades biológicas e psicossociais e menor índice de depressão pós-parto ou o seu aparecimento tardio.As vantagens económicas dizem respeito aos custos associados às fórmulas infantis e artigos relacionados (biberões, esterilizadores, etc.). Há que ter em conta o menor gasto em consultas, internamentos, medicamentos e absentismo dos pais.Também a nível ambiental permite a redução de energia e recursos alimentares. Além disso não são necessárias embalagens, nem produtos para limpeza ou desinfeção.

1 Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia, Aces Entre Douro E Vouga II 2 Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, Aces Baixo Mondego

Bibliografia:National Institute for Health and Clinical Excellence (2008) – Maternal and child nutrition. Disponível na web em http://publications.nice.org.uk/maternal-and-child-nutrition-ph11.Sociedade Portuguesa de Pediatria (2012), Alimentação e Nutrição do Lactente. In Acta Pediátrica Portuguesa – Vol. 43, Nº 5, setembro – abril 2012 - Suplemento II.Weimer, J. (2001), The Economic Benefits of Breastfeeding: A Review and Analysis. In Food and Rural Economics Division, Economic Research Service, U.S. Department of Agriculture. Food Assistance and Nutrition Research. Report No. 13.

Entrevista / O que os enfermeiros também fazem… pág.07

1Nelson Odilon2Pedro Quintas

“O aleitamento materno é a prenda mais preciosa que umamãe pode dar ao seu filho. Na doença ou na desnutrição, esta

prenda pode salvar a vida. Na pobreza pode ser a única prenda.”

Lawrence (1991)

Porquê amamentar? Porque o leite é um produto natural, vivo e inimitável. Este transmite ao bebé, de forma natural, inócua e gratuita, anticorpos, água e nutrientes em quantidade adequada e suficiente.Atualmente as organizações internacionais, governos, associações científicas e técnicas, entre as quais a Organização Mundial de Saúde, recomendam o aleitamento materno exclusivo, durante os primeiros seis meses de vida, assim como a sua continuação até aos 2 ou mais anos. É então desejável que o aleitamento materno prossiga ao longo de todo o programa de diversificação alimentar e enquanto for mutuamente desejado pela mãe e latente. No entanto alguns latentes poderão necessitar de complementar o aleitamento materno antes dos 6 meses (mas nunca antes dos 4 meses) de forma a assegurar um crescimento e desenvolvimento normais.Do ponto de vista nutricional é importante lembrar que a partir dos 6 meses o volume de leite ingerido é insuficiente para suprimir as necessidades energéticas, proteicas e em micronutrientes do bebé. Para além dos aspetos nutricionais associados à amamentação, a maturação fisiológica e neurológica do latente requerem um plano seguro na diversificação alimentar até ao regime familiar.

BENEFÍCIOS

DA AMAMENTAÇÃO

etapas elas em que numas serei Enfermeira/Atriz e noutras Atriz/ Enfermeira. Isto porque, apesar de ambas as áreas me concretizarem em diferentes aspetos, para já não consigo dar prioridade a uma delas.

EC: Se pudesse alterar, o que tornaria diferente na Saúde para os portugueses? Qual é hoje a sua visão dos cuidados de Enfermagem? MS: Se estivesse ao meu alcance, tornaria a Saúde dos Portugueses num modelo de referência no que respeita à promoção da saúde e prevenção da doença. Calculo que esta afirmação soe a “clichê” por parte de uma estudante de enfermagem. No entanto, tendo em conta o ciclo económico e social em que vivemos, associado às alterações demográficas do qual o envelhecimento e a morbilidade são bem conhecidas, a melhor forma de atuar seria valorizar a prevenção e a promoção da saúde. No fundo, promover o autocuidado - tarefa exclusiva do enfermeiro. É importante referir que esta questão da “prevenção” não pode ser encarada de ânimo leve. Não basta realizar ensinos assentes em frases tais como “Fumar mata”, “Tem de fazer exercício para perder peso” ou até mesmo “Olhe que o consumo de sal aumenta a sua tensão!”. É necessário explicar as alterações corporais e fisiológicas que a pessoa experimenta quando tem comportamentos de risco de forma a consciencializá-la. Ora, esta nobre e complexa atividade requer disponibilidade temporal por parte dos Enfermeiros que deverão estar em número suficiente no seio das equipas, exigindo destes dedicação, continuidade e profissionalismo. Fornecer aos cidadãos ferramentas para que possam gerir a sua saúde e atuar em situação de doença. Deste modo, com mais informação estaríamos a aumentar o poder dos utentes e a diminuir a hiperutilização dos serviços de urgência. Hoje, a minha visão do enfermeiro centra-se no enfermeiro de família. No enfermeiro capaz de gerir a saúde de uma família. O enfermeiro pertencente a uma rede de cuidados em que, para além das suas intervenções, é responsável pela triagem e encaminhamento dos seus utentes.

Maria de Sousa reparte-se por duas paixões, e só o futuro lhe revelará se deverá ser enfermeira ou atriz. Finalista no curso de Enfermagem, estreou-se profissionalmente como atriz na série Morangos com Açúcar. Depois foi a Luísa Ferreira, a filha do caseiro da família Belmonte, na novela com o mesmo nome. Segue-se o cinema.

Enfermagem e o Cidadão (EC): Como surge a atuação na sua vida? Desenvolve ou desenvolveu outras atividades culturais? Maria de Sousa (MS): A representação surgiu relativamente cedo na minha vida, aos 13 anos de idade, altura em que comecei a frequentar a Oficina de Teatro de Espinho (OTE), grupo de teatro da minha cidade de origem. É sempre difícil para mim abordar a motivação que me conduziu por este caminho, o “bichinho” que tão comummente se fala. Provavelmente porque eu mesma desconheço o porquê desta paixão. Nasce com as pessoas, eu penso. Aliás, qualquer paixão surge sem razão de ser. Recordo-me de, desde muito nova, ser aficionada pelo teatro, pelo cinema, pela televisão. Lembro-me também das vezes em que me trancava no quarto, onde me colocava de frente ao espelho, imitando os personagens que tinha observado e mais gostado. Gostava também de recriar, através da expressão dramática todos os livros que lia. Sempre “fechada no mundinho da imaginação”. Foi uma escolha, portanto, alimentar esta paixão e ao ingressar na OTE tive a oportunidade de aprender mais sobre esta área e aprimorar a técnica. Mais tarde, aos 18 anos, ingressei no Ensino Superior, no Curso de Licenciatura em Enfermagem. Pela falta de tempo e disponibilidade que adveio, afastei-me do grupo de teatro, no entanto mantendo sempre contacto com os meus colegas e amigos, aguardando com esperança a oportunidade de um possível concilio. No meu segundo ano de licenciatura, já com 19 anos, tive conhecimento através da comunicação social de um casting aberto que iria ser realizado pela Plural Entertainment, em Lisboa, para a escolha do próximo elenco da série juvenil Morangos com Açúcar. Enviei o meu currículo, fui chamada para casting, fiquei selecionada para a realização de um workshop de interpretação, dança e canto e, três meses mais tarde, em casting final, fiquei contratada pela TVI para a realização da série. Este foi o meu primeiro trabalho televisivo, sendo o marco do início da jornada nesta área.

EC: Como consegue conciliar o curso de Enfermagem com a sua “outra vida”, de atriz? MS: Concilio estes dois “mundos” dedicando-me individualmente a cada um deles. Ou seja, quando surge um trabalho na área da representação sou obrigada a congelar a matrícula e a adiar o ano letivo. Até agora tem sido impossível trabalhar em simultâneo nas duas áreas, sendo esta a melhor alternativa que encontrei.

EC: Como imagina que será no futuro a v ida de uma Enfermeira/Atriz, ou de Atriz/Enfermeira? A qual delas gostaria de dar prioridade? MS: Sem dúvida que trabalhar na área da representação desenvolve muito o nosso lado comunicacional, sendo essa uma grande vantagem que levo para Enfermagem, para além de que trabalhar no mundo televisivo desenvolve o nosso lado mais profissional, assertivo e ponderado, contributos também muito importantes na área da saúde. De Enfermagem para a Representação, se tivesse alguma influência no argumento e no marketing do projeto, lançaria algumas mensagens de promoção para a saúde.

EC: Independentemente do que o futuro lhe reservar, que contributos espera levar da atuação para a Enfermagem, se esta for a opção de carreira, ou da Enfermagem para a atividade de atriz? Optaria exclusivamente por uma carreira de atriz?MS: Atualmente, ambas as áreas apresentam algumas dificuldades em termos de trabalho e empregabilidade, há muita procura e pouca oferta. São profissões “ingratas” em que nem sempre sermos bons profissionais é suficiente. Sendo assim, e como já referi anteriormente, visto não conseguir optar e dar prioridade a nenhuma delas, irei trabalhar em função das oportunidades que surgirem. A minha vida será certamente feita por etapas,

MARIA DE SOUSA

ENFERMEIRA OU ATRIZ

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Nota Biográfica Maria de Sousa é uma jovem Atriz e Estudante de Enfermagem, natural de Espinho. Atualmente está no último ano de Licenciatura de Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Formou-se também na Oficina de Teatro de Espinho, onde adquiriu as principais ferramentas que lhe permitem ser atriz e onde pisou o palco pela primeira vez. Em 2010 estreou-se na televisão com a série juvenil Morangos com Açúcar e, a partir daí tem sido convidada para integrar novos projetos sempre com total entrega e profissionalismo. Maria é versátil e

destemida, acreditando na possível conciliação das suas paixões - Enfermagem e Representação.

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O leite materno pela sua composição é facilmente digerido, metabolizado e absorvido sendo adequado à imaturidade da função gastrointestinal e renal do recém-nascido. Apenas por volta dos 4 meses, o bebé se encontra preparado para a diversificação alimentar, quer do ponto de vista da evolução maturativa, quer pela aquisição de maior estabilidade cervical e maxilar. Entre o 5º e o 8º mês o padrão primitivo da sucção modifica-se e estabelece-se a passagem da sucção para a mastigação.

Benefícios do Aleitamento MaternoAmamentar é um ato que traz benefícios para a saúde da mãe e filho, a curto e a longo prazo. Estes benefícios em saúde repercutem-se em vantagens sociais, económicas e ambientais.Diversos estudos comprovam uma associação entre aleitamento materno e um menor risco de otite média, gastroenterite aguda, infeções respiratórias baixas severas, dermatite atópica, asma, obesidade, diabetes de tipos 1 e 2, leucemia, síndrome de morte súbita no latente e enterocolite necrotizante.Estima-se que se todas as crianças no Reino Unido estivessem em programa de amamentação exclusiva, o número de hospitalizações a cada mês, por diarreia, seria reduzido a metade, e o número de crianças hospitalizadas por infeção respiratória, reduzida para um quarto.Também a mulher que amamenta beneficia com a amamentação:• Involução uterina mais rápida e menor risco de hemorragia pela ação da ocitocina;• Menor risco de anemia e aumento das reservas de ferro pela diminuição do sangramento durante o puerpério, e ação da amamentação sobre o eixo hipotálamo-hipófise-ovário inibindo a ovulação e, consequentemente, a menstruação (atraso no regresso da fertilidade);• Recuperação do peso pré-gravídico devido ao ato de amamentar (amamentar queima até 500 calorias a mais por dia) e ao gasto energético da produção de leite, sendo mais evidente a partir dos 3 meses e localizada na cintura e anca;• Prevenção da osteoporose devido ao aumento da metabolização de cálcio que ao mesmo tempo que é mobilizado dos depósitos ósseos para a produção de leite, também aumenta a sua absorção;• Diminuição do risco de cancro da mama e do ovário.É de salientar também o desenvolvimento de um vínculo de apego saudável e duradouro, maior auto-estima e autoconfiança, maior satisfação intima, superação das dificuldades biológicas e psicossociais e menor índice de depressão pós-parto ou o seu aparecimento tardio.As vantagens económicas dizem respeito aos custos associados às fórmulas infantis e artigos relacionados (biberões, esterilizadores, etc.). Há que ter em conta o menor gasto em consultas, internamentos, medicamentos e absentismo dos pais.Também a nível ambiental permite a redução de energia e recursos alimentares. Além disso não são necessárias embalagens, nem produtos para limpeza ou desinfeção.

1 Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia, Aces Entre Douro E Vouga II 2 Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, Aces Baixo Mondego

Bibliografia:National Institute for Health and Clinical Excellence (2008) – Maternal and child nutrition. Disponível na web em http://publications.nice.org.uk/maternal-and-child-nutrition-ph11.Sociedade Portuguesa de Pediatria (2012), Alimentação e Nutrição do Lactente. In Acta Pediátrica Portuguesa – Vol. 43, Nº 5, setembro – abril 2012 - Suplemento II.Weimer, J. (2001), The Economic Benefits of Breastfeeding: A Review and Analysis. In Food and Rural Economics Division, Economic Research Service, U.S. Department of Agriculture. Food Assistance and Nutrition Research. Report No. 13.

Entrevista / O que os enfermeiros também fazem… pág.07

1Nelson Odilon2Pedro Quintas

“O aleitamento materno é a prenda mais preciosa que umamãe pode dar ao seu filho. Na doença ou na desnutrição, esta

prenda pode salvar a vida. Na pobreza pode ser a única prenda.”

Lawrence (1991)

Porquê amamentar? Porque o leite é um produto natural, vivo e inimitável. Este transmite ao bebé, de forma natural, inócua e gratuita, anticorpos, água e nutrientes em quantidade adequada e suficiente.Atualmente as organizações internacionais, governos, associações científicas e técnicas, entre as quais a Organização Mundial de Saúde, recomendam o aleitamento materno exclusivo, durante os primeiros seis meses de vida, assim como a sua continuação até aos 2 ou mais anos. É então desejável que o aleitamento materno prossiga ao longo de todo o programa de diversificação alimentar e enquanto for mutuamente desejado pela mãe e latente. No entanto alguns latentes poderão necessitar de complementar o aleitamento materno antes dos 6 meses (mas nunca antes dos 4 meses) de forma a assegurar um crescimento e desenvolvimento normais.Do ponto de vista nutricional é importante lembrar que a partir dos 6 meses o volume de leite ingerido é insuficiente para suprimir as necessidades energéticas, proteicas e em micronutrientes do bebé. Para além dos aspetos nutricionais associados à amamentação, a maturação fisiológica e neurológica do latente requerem um plano seguro na diversificação alimentar até ao regime familiar.

BENEFÍCIOS

DA AMAMENTAÇÃO

etapas elas em que numas serei Enfermeira/Atriz e noutras Atriz/ Enfermeira. Isto porque, apesar de ambas as áreas me concretizarem em diferentes aspetos, para já não consigo dar prioridade a uma delas.

EC: Se pudesse alterar, o que tornaria diferente na Saúde para os portugueses? Qual é hoje a sua visão dos cuidados de Enfermagem? MS: Se estivesse ao meu alcance, tornaria a Saúde dos Portugueses num modelo de referência no que respeita à promoção da saúde e prevenção da doença. Calculo que esta afirmação soe a “clichê” por parte de uma estudante de enfermagem. No entanto, tendo em conta o ciclo económico e social em que vivemos, associado às alterações demográficas do qual o envelhecimento e a morbilidade são bem conhecidas, a melhor forma de atuar seria valorizar a prevenção e a promoção da saúde. No fundo, promover o autocuidado - tarefa exclusiva do enfermeiro. É importante referir que esta questão da “prevenção” não pode ser encarada de ânimo leve. Não basta realizar ensinos assentes em frases tais como “Fumar mata”, “Tem de fazer exercício para perder peso” ou até mesmo “Olhe que o consumo de sal aumenta a sua tensão!”. É necessário explicar as alterações corporais e fisiológicas que a pessoa experimenta quando tem comportamentos de risco de forma a consciencializá-la. Ora, esta nobre e complexa atividade requer disponibilidade temporal por parte dos Enfermeiros que deverão estar em número suficiente no seio das equipas, exigindo destes dedicação, continuidade e profissionalismo. Fornecer aos cidadãos ferramentas para que possam gerir a sua saúde e atuar em situação de doença. Deste modo, com mais informação estaríamos a aumentar o poder dos utentes e a diminuir a hiperutilização dos serviços de urgência. Hoje, a minha visão do enfermeiro centra-se no enfermeiro de família. No enfermeiro capaz de gerir a saúde de uma família. O enfermeiro pertencente a uma rede de cuidados em que, para além das suas intervenções, é responsável pela triagem e encaminhamento dos seus utentes.

Maria de Sousa reparte-se por duas paixões, e só o futuro lhe revelará se deverá ser enfermeira ou atriz. Finalista no curso de Enfermagem, estreou-se profissionalmente como atriz na série Morangos com Açúcar. Depois foi a Luísa Ferreira, a filha do caseiro da família Belmonte, na novela com o mesmo nome. Segue-se o cinema.

Enfermagem e o Cidadão (EC): Como surge a atuação na sua vida? Desenvolve ou desenvolveu outras atividades culturais? Maria de Sousa (MS): A representação surgiu relativamente cedo na minha vida, aos 13 anos de idade, altura em que comecei a frequentar a Oficina de Teatro de Espinho (OTE), grupo de teatro da minha cidade de origem. É sempre difícil para mim abordar a motivação que me conduziu por este caminho, o “bichinho” que tão comummente se fala. Provavelmente porque eu mesma desconheço o porquê desta paixão. Nasce com as pessoas, eu penso. Aliás, qualquer paixão surge sem razão de ser. Recordo-me de, desde muito nova, ser aficionada pelo teatro, pelo cinema, pela televisão. Lembro-me também das vezes em que me trancava no quarto, onde me colocava de frente ao espelho, imitando os personagens que tinha observado e mais gostado. Gostava também de recriar, através da expressão dramática todos os livros que lia. Sempre “fechada no mundinho da imaginação”. Foi uma escolha, portanto, alimentar esta paixão e ao ingressar na OTE tive a oportunidade de aprender mais sobre esta área e aprimorar a técnica. Mais tarde, aos 18 anos, ingressei no Ensino Superior, no Curso de Licenciatura em Enfermagem. Pela falta de tempo e disponibilidade que adveio, afastei-me do grupo de teatro, no entanto mantendo sempre contacto com os meus colegas e amigos, aguardando com esperança a oportunidade de um possível concilio. No meu segundo ano de licenciatura, já com 19 anos, tive conhecimento através da comunicação social de um casting aberto que iria ser realizado pela Plural Entertainment, em Lisboa, para a escolha do próximo elenco da série juvenil Morangos com Açúcar. Enviei o meu currículo, fui chamada para casting, fiquei selecionada para a realização de um workshop de interpretação, dança e canto e, três meses mais tarde, em casting final, fiquei contratada pela TVI para a realização da série. Este foi o meu primeiro trabalho televisivo, sendo o marco do início da jornada nesta área.

EC: Como consegue conciliar o curso de Enfermagem com a sua “outra vida”, de atriz? MS: Concilio estes dois “mundos” dedicando-me individualmente a cada um deles. Ou seja, quando surge um trabalho na área da representação sou obrigada a congelar a matrícula e a adiar o ano letivo. Até agora tem sido impossível trabalhar em simultâneo nas duas áreas, sendo esta a melhor alternativa que encontrei.

EC: Como imagina que será no futuro a v ida de uma Enfermeira/Atriz, ou de Atriz/Enfermeira? A qual delas gostaria de dar prioridade? MS: Sem dúvida que trabalhar na área da representação desenvolve muito o nosso lado comunicacional, sendo essa uma grande vantagem que levo para Enfermagem, para além de que trabalhar no mundo televisivo desenvolve o nosso lado mais profissional, assertivo e ponderado, contributos também muito importantes na área da saúde. De Enfermagem para a Representação, se tivesse alguma influência no argumento e no marketing do projeto, lançaria algumas mensagens de promoção para a saúde.

EC: Independentemente do que o futuro lhe reservar, que contributos espera levar da atuação para a Enfermagem, se esta for a opção de carreira, ou da Enfermagem para a atividade de atriz? Optaria exclusivamente por uma carreira de atriz?MS: Atualmente, ambas as áreas apresentam algumas dificuldades em termos de trabalho e empregabilidade, há muita procura e pouca oferta. São profissões “ingratas” em que nem sempre sermos bons profissionais é suficiente. Sendo assim, e como já referi anteriormente, visto não conseguir optar e dar prioridade a nenhuma delas, irei trabalhar em função das oportunidades que surgirem. A minha vida será certamente feita por etapas,

MARIA DE SOUSA

ENFERMEIRA OU ATRIZ

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Nota Biográfica Maria de Sousa é uma jovem Atriz e Estudante de Enfermagem, natural de Espinho. Atualmente está no último ano de Licenciatura de Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Formou-se também na Oficina de Teatro de Espinho, onde adquiriu as principais ferramentas que lhe permitem ser atriz e onde pisou o palco pela primeira vez. Em 2010 estreou-se na televisão com a série juvenil Morangos com Açúcar e, a partir daí tem sido convidada para integrar novos projetos sempre com total entrega e profissionalismo. Maria é versátil e

destemida, acreditando na possível conciliação das suas paixões - Enfermagem e Representação.

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Reportagem

NA SOLIDÃO DA DOENÇA MENTAL,

NO INTERIOR DESERTIFICADO

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NA SOLIDÃO DA DOENÇA MENTAL,

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Entrevista / O que os enfermeiros também fazem…

Nota Biográfica Pedro RencaNascimento: 1979.Naturalidade da Guarda.Licenciatura em Enfermagem; Pós-Graduação em Gestão Hospitalar e Serviços de Saúde; Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria; Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais.Local de trabalho: ULS Guarda EPE – Departamento de Psiquiatria e de Saúde Mental.Várias Exposições de Fotografia e Pintura a óleo, aguarelas e carvão em diversas galerias.Autor do Livro: “Historinhas em Psiquiatria” (2008).Desporto: Ciclismo (BTT e estrada), Futebol Federado, Natação, Surf, Snowboard…

Colaborador de Rádio (2003).Integração em vários projetos musicais. Realização do documentário Esta é a Minha Casa (2014)

EC: Que projetos gostaria de desenvolver? Em que medida o enfermeiro estará presente?PR: O Doutoramento com um projeto na área da Saúde Mental Comunitária e continuar a desenhar projetos na área da expressão musical. Como Enfermeiro e Cidadão, estou certo que gostaria de continuar ligado a esta paixão: a promoção da Saúde Mental e luta contra o estigma associado aos seus problemas.

EC: A Enfermagem contribuiu para um olhar diferente sobre a sua vida, sobre o mundo?PR: Sem dúvida alguma. A Enfermagem é mais do que a aplicação de uma técnica ou de um saber científico. É óbvio que tem de haver uma atualização constante de conhecimentos, mas não nos podemos esquecer daquele lado HUMANO. Cuidamos de uma pessoa, estamos junto daquele que precisa de ajuda e não consegue encontrar a resposta. Vivemos num mundo demasiadamente tecnológico e esquecemos que aquele que precisa de nós precisa de um toque, de um abraço, que lhe segurem a mão e de um sorriso.

EC: Se pudesse alterar, o que tornaria diferente na Saúde para os portugueses?PR: Vindo eu da área da Saúde Mental, apenas partilho o meu princípio de vida: Sorrir para uma melhor Saúde Mental!

Desportista, escritor, fotógrafo, pintor, radialista, músico e cineasta. Estas são algumas das múltiplas facetas que o enfermeiro Pedro Renca revela nesta entrevista.

Enfermagem e o Cidadão (EC): Como surge o cinema documental na sua vida? Desenvolve ou desenvolveu outras atividades culturais, desportivas ou cívicas?Pedro Renca (PR): O cinema documental surge como sendo mais uma forma de expressão e comunicação. Tendo um particular interesse por outras formas de comunicar, em primeiro lugar, apareceu na minha vida a expressão musical. Aos seis anos de idade os meus pais proporcionaram-me, a mim e aos meus dois irmãos, a possibilidade de termos formação musical. Penso que essa altura foi o ponto crucial para que se fosse desenvolvendo o gosto por outras formas de expressão. Neste sentido, o meu espírito criativo foi desenvolvendo-se. Ao mesmo tempo que aprofundava os meus conhecimentos em música, apareceram a pintura, o desenho, a fotografia, a escrita e agora mais recentemente a realização cinematográfica.Porque penso que somos seres holísticos inseridos numa comunidade pluricultural, desenvolvi outras atividades. Estive ligado a grupos e projetos de cariz social e religioso, sempre a pensar no próximo, na pessoa que tem a satisfação das suas necessidades comprometida. Concomitantemente a estas atividades desenvolvi e estive integrado em diversos projetos musicais, rádio e atividades no âmbito desportivo, representando distintos clubes nas modalidades de futebol, BTT, natação e snowboard.Fazendo uma breve retrospetiva e avaliação de todos os projetos em que estive integrado, digo que foram a melhor terapia que surgiu no meu equilíbrio físico e mental. Não sou um ser isolado, não somos só uma profissão, a nossa vida é demasiado grande e torna-se muito pequenina para conseguirmos ter o máximo de experiências que nos fazem construir tudo o que somos como pessoas, como cidadãos, como seres que transportamos uma sensibilidade peculiar e única no meio de tantos outros. Tudo nos completa num natural equilíbrio.

EC: Como consegue conciliar a Enfermagem com as atividades cívicas e culturais que desenvolve?PR: Para mim todas as atividades extracurriculares são um complemento ao bem-estar e equilíbrio. Neste sentido é relativamente fácil conciliá-las com a minha atividade profissional, que tanto me seduz. Quando se quer algo e existe compreensão por parte da família e das pessoas que nos rodeiam, é fácil encontrar soluções para o conseguirmos fazer. A inspiração vem dos outros e daquilo que nos rodeia, a motivação vem de nós. Havendo motivação realizamos mais do que pensamos conseguir fazer.

EC: Ser enfermeiro contribuiu para aquilo que fez ou faz hoje? Como?PR: Precisamente porque penso que uma pessoa é um todo, uma história de experiências vividas, quanto mais contacto tiver com formas diferentes de estar na vida mais consigo desenvolver uma relação de ajuda e estar junto dos que mais necessitam de mim. A Enfermagem surge na minha vida como essa contribuição bem real para poder cuidar de diferentes sensibilidades, ajudando-me a ser o que sou e a estar na vida. Tudo se complementa e tudo me constrói.

PEDRO RENCA

O ENFERMEIRO

ARTISTA E DESPORTISTA

Divulgação pág.11

Andreia Eunice Pinto Magina*

Bullying versus CiberbullyingBullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. Aqui o provocador é conhecido e a vítima recebe humilhações consecutivas. O bullying, ao contrário do que pensam, não ocorre só no contexto escolar, no entanto é frequente na sala de aula e no recreio. Os estudos revelam que é mais comum em rapazes do que em raparigas. Em casa, os pais também sofrem com este tipo de violência. As vítimas muitas vezes permanecem em silêncio com medo de ser gozadas ou das represálias, não revelando aos pais este sofrimento. Existem vários tipos de bullying e o cyberbulling ou bullying virtual é um dos que tem vindo a aumentar. Este está relacionado com as redes sociais, telemóveis e internet., onde circulam mensagens difamatórias ou ameaçadoras. É quase uma extensão do que os alunos dizem e fazem na escola, mas com a agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara. Estes meios têm sido utilizados como forma de humilhação, colocando em causa a reputação da vítima. Aqui existe um anonimato e o provocador tem características diferentes em relação ao do bullying. O agressor quer que o máximo de pessoas tenha conhecimento de algumas informações para humilhar, mas atua às escondidas ou de forma mais reservada. Dessa forma, o anonimato pode aumentar a crueldade dos comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou piores. O cyberbulling precisa receber o mesmo cuidado preventivo do bullying e a dimensão dos seus efeitos deve sempre ser abordada para evitar a agressão na internet. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do adolescente de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.

Como perceber que o seu filho está a ser vítima de bullying? Como atuar?Muitos dos sintomas podem ser confundidos com comportamentos característicos da adolescência, sendo por isso necessária uma atenção redobrada.Os pais deverão estar atentos. Sempre que verificarem alterações acentuadas no humor do filho/a, cansaço físico e psicológico mais que o habitual, impaciência ou pouca tolerância, mais isolamento, mais introspetivo, baixo rendimento escolar, queixas físicas permanentes e sistemáticas para não ir para a escola, irritabilidade extrema e inércia: desconfie. Quando as crianças são tímidas e não revelam os maus-tratos dos quais são vítimas torna-se problemático, podendo estas práticas prolongarem-se de forma silenciosa, provocando danos irreparáveis. Por isso, é de extrema importância acompanhar os filhos e principalmente perceber como estes se sentem na escola e como se relacionam com os colegas. Se ele for tímido, procure falar com os pais dos colegas da escola ou até mesmo com os colegas em festas de aniversário ou convidá-los para ir brincar/conviver em sua casa com os seus filhos. São estratégias que podem resultar na obtenção de alguma informação. Assim, e de uma forma sucinta podemos apontar como sinais de alerta da violência: ataques de fúria; irritabilidade extrema e frustração

frequente; impulsividade; auto-agressão; existência de poucos amigos; dificuldade para prestar atenção e uma certa inquietude física.Sinalizar, encaminhar e intervir precocemente, quer nas crianças que estejam em risco, como naquelas que já são vítimas, é importante, tal como alertar e sensibilizar os professores, pais e profissionais de saúde, para a identificação precoce dos sinais de alerta e a referenciação para serviços especializados que possam intervir/apoiar nesta área. Denunciar este tipo de violência é essencial, para se poder intervir. A intervenção é um desafio que se coloca a todos os profissionais que possam atuar nesta área: professores, médicos, enfermeiros, psicólogos e governantes. A família tem um papel primordial, assim como a escola. Ambos devem conhecer os sinais de alerta, não fechar os olhos a estas situações e deverão em conjunto promover medidas de proteção e vigilância a estes alunos e de penalização/encaminhamento especializado para aqueles que constituem os agressores. Nestes casos, o apoio psicológico é muito importante. Também é necessário apoiar e preparar os pais para lidar com estas situações.Já existe uma plataforma interativa em Portugal, Fear Not (disponível na versão inglesa), que recria situações de violência e ensina o utilizador a defender-se. Em síntese, para prevenir o bullying e o ciberbullying é necessário investir em sessões de sensibilização dirigidas a pais, professores e alunos; criar serviços de apoio à vítima e investir em formas eficazes de sinalização e de intervenção especializada.

*Enfermeira Especialista em Saúde Mental e PsiquiátricaLicenciada em Ciências da Educação

Instrutora de Massagem Infantil certificada pela IAIMUnidade de Cuidados na Comunidade do ACES EDV II – Aveiro Norte

Referências Bibliográficas1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (1996).DSM IV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Climepsi Editores. 2. Sites: Portal Bullying centro de ajuda online - http://www.portalbullying.com.pt/; http://www.bullying.org;3. APAV - http://www.apavparajovens.pt/

BULLYING/CIBERBULLYING:

UM MODO DE VIOLÊNCIA…

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Entrevista / O que os enfermeiros também fazem…

Nota Biográfica Pedro RencaNascimento: 1979.Naturalidade da Guarda.Licenciatura em Enfermagem; Pós-Graduação em Gestão Hospitalar e Serviços de Saúde; Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria; Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais.Local de trabalho: ULS Guarda EPE – Departamento de Psiquiatria e de Saúde Mental.Várias Exposições de Fotografia e Pintura a óleo, aguarelas e carvão em diversas galerias.Autor do Livro: “Historinhas em Psiquiatria” (2008).Desporto: Ciclismo (BTT e estrada), Futebol Federado, Natação, Surf, Snowboard…

Colaborador de Rádio (2003).Integração em vários projetos musicais. Realização do documentário Esta é a Minha Casa (2014)

EC: Que projetos gostaria de desenvolver? Em que medida o enfermeiro estará presente?PR: O Doutoramento com um projeto na área da Saúde Mental Comunitária e continuar a desenhar projetos na área da expressão musical. Como Enfermeiro e Cidadão, estou certo que gostaria de continuar ligado a esta paixão: a promoção da Saúde Mental e luta contra o estigma associado aos seus problemas.

EC: A Enfermagem contribuiu para um olhar diferente sobre a sua vida, sobre o mundo?PR: Sem dúvida alguma. A Enfermagem é mais do que a aplicação de uma técnica ou de um saber científico. É óbvio que tem de haver uma atualização constante de conhecimentos, mas não nos podemos esquecer daquele lado HUMANO. Cuidamos de uma pessoa, estamos junto daquele que precisa de ajuda e não consegue encontrar a resposta. Vivemos num mundo demasiadamente tecnológico e esquecemos que aquele que precisa de nós precisa de um toque, de um abraço, que lhe segurem a mão e de um sorriso.

EC: Se pudesse alterar, o que tornaria diferente na Saúde para os portugueses?PR: Vindo eu da área da Saúde Mental, apenas partilho o meu princípio de vida: Sorrir para uma melhor Saúde Mental!

Desportista, escritor, fotógrafo, pintor, radialista, músico e cineasta. Estas são algumas das múltiplas facetas que o enfermeiro Pedro Renca revela nesta entrevista.

Enfermagem e o Cidadão (EC): Como surge o cinema documental na sua vida? Desenvolve ou desenvolveu outras atividades culturais, desportivas ou cívicas?Pedro Renca (PR): O cinema documental surge como sendo mais uma forma de expressão e comunicação. Tendo um particular interesse por outras formas de comunicar, em primeiro lugar, apareceu na minha vida a expressão musical. Aos seis anos de idade os meus pais proporcionaram-me, a mim e aos meus dois irmãos, a possibilidade de termos formação musical. Penso que essa altura foi o ponto crucial para que se fosse desenvolvendo o gosto por outras formas de expressão. Neste sentido, o meu espírito criativo foi desenvolvendo-se. Ao mesmo tempo que aprofundava os meus conhecimentos em música, apareceram a pintura, o desenho, a fotografia, a escrita e agora mais recentemente a realização cinematográfica.Porque penso que somos seres holísticos inseridos numa comunidade pluricultural, desenvolvi outras atividades. Estive ligado a grupos e projetos de cariz social e religioso, sempre a pensar no próximo, na pessoa que tem a satisfação das suas necessidades comprometida. Concomitantemente a estas atividades desenvolvi e estive integrado em diversos projetos musicais, rádio e atividades no âmbito desportivo, representando distintos clubes nas modalidades de futebol, BTT, natação e snowboard.Fazendo uma breve retrospetiva e avaliação de todos os projetos em que estive integrado, digo que foram a melhor terapia que surgiu no meu equilíbrio físico e mental. Não sou um ser isolado, não somos só uma profissão, a nossa vida é demasiado grande e torna-se muito pequenina para conseguirmos ter o máximo de experiências que nos fazem construir tudo o que somos como pessoas, como cidadãos, como seres que transportamos uma sensibilidade peculiar e única no meio de tantos outros. Tudo nos completa num natural equilíbrio.

EC: Como consegue conciliar a Enfermagem com as atividades cívicas e culturais que desenvolve?PR: Para mim todas as atividades extracurriculares são um complemento ao bem-estar e equilíbrio. Neste sentido é relativamente fácil conciliá-las com a minha atividade profissional, que tanto me seduz. Quando se quer algo e existe compreensão por parte da família e das pessoas que nos rodeiam, é fácil encontrar soluções para o conseguirmos fazer. A inspiração vem dos outros e daquilo que nos rodeia, a motivação vem de nós. Havendo motivação realizamos mais do que pensamos conseguir fazer.

EC: Ser enfermeiro contribuiu para aquilo que fez ou faz hoje? Como?PR: Precisamente porque penso que uma pessoa é um todo, uma história de experiências vividas, quanto mais contacto tiver com formas diferentes de estar na vida mais consigo desenvolver uma relação de ajuda e estar junto dos que mais necessitam de mim. A Enfermagem surge na minha vida como essa contribuição bem real para poder cuidar de diferentes sensibilidades, ajudando-me a ser o que sou e a estar na vida. Tudo se complementa e tudo me constrói.

PEDRO RENCA

O ENFERMEIRO

ARTISTA E DESPORTISTA

Divulgação pág.11

Andreia Eunice Pinto Magina*

Bullying versus CiberbullyingBullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. Aqui o provocador é conhecido e a vítima recebe humilhações consecutivas. O bullying, ao contrário do que pensam, não ocorre só no contexto escolar, no entanto é frequente na sala de aula e no recreio. Os estudos revelam que é mais comum em rapazes do que em raparigas. Em casa, os pais também sofrem com este tipo de violência. As vítimas muitas vezes permanecem em silêncio com medo de ser gozadas ou das represálias, não revelando aos pais este sofrimento. Existem vários tipos de bullying e o cyberbulling ou bullying virtual é um dos que tem vindo a aumentar. Este está relacionado com as redes sociais, telemóveis e internet., onde circulam mensagens difamatórias ou ameaçadoras. É quase uma extensão do que os alunos dizem e fazem na escola, mas com a agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara. Estes meios têm sido utilizados como forma de humilhação, colocando em causa a reputação da vítima. Aqui existe um anonimato e o provocador tem características diferentes em relação ao do bullying. O agressor quer que o máximo de pessoas tenha conhecimento de algumas informações para humilhar, mas atua às escondidas ou de forma mais reservada. Dessa forma, o anonimato pode aumentar a crueldade dos comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou piores. O cyberbulling precisa receber o mesmo cuidado preventivo do bullying e a dimensão dos seus efeitos deve sempre ser abordada para evitar a agressão na internet. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do adolescente de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.

Como perceber que o seu filho está a ser vítima de bullying? Como atuar?Muitos dos sintomas podem ser confundidos com comportamentos característicos da adolescência, sendo por isso necessária uma atenção redobrada.Os pais deverão estar atentos. Sempre que verificarem alterações acentuadas no humor do filho/a, cansaço físico e psicológico mais que o habitual, impaciência ou pouca tolerância, mais isolamento, mais introspetivo, baixo rendimento escolar, queixas físicas permanentes e sistemáticas para não ir para a escola, irritabilidade extrema e inércia: desconfie. Quando as crianças são tímidas e não revelam os maus-tratos dos quais são vítimas torna-se problemático, podendo estas práticas prolongarem-se de forma silenciosa, provocando danos irreparáveis. Por isso, é de extrema importância acompanhar os filhos e principalmente perceber como estes se sentem na escola e como se relacionam com os colegas. Se ele for tímido, procure falar com os pais dos colegas da escola ou até mesmo com os colegas em festas de aniversário ou convidá-los para ir brincar/conviver em sua casa com os seus filhos. São estratégias que podem resultar na obtenção de alguma informação. Assim, e de uma forma sucinta podemos apontar como sinais de alerta da violência: ataques de fúria; irritabilidade extrema e frustração

frequente; impulsividade; auto-agressão; existência de poucos amigos; dificuldade para prestar atenção e uma certa inquietude física.Sinalizar, encaminhar e intervir precocemente, quer nas crianças que estejam em risco, como naquelas que já são vítimas, é importante, tal como alertar e sensibilizar os professores, pais e profissionais de saúde, para a identificação precoce dos sinais de alerta e a referenciação para serviços especializados que possam intervir/apoiar nesta área. Denunciar este tipo de violência é essencial, para se poder intervir. A intervenção é um desafio que se coloca a todos os profissionais que possam atuar nesta área: professores, médicos, enfermeiros, psicólogos e governantes. A família tem um papel primordial, assim como a escola. Ambos devem conhecer os sinais de alerta, não fechar os olhos a estas situações e deverão em conjunto promover medidas de proteção e vigilância a estes alunos e de penalização/encaminhamento especializado para aqueles que constituem os agressores. Nestes casos, o apoio psicológico é muito importante. Também é necessário apoiar e preparar os pais para lidar com estas situações.Já existe uma plataforma interativa em Portugal, Fear Not (disponível na versão inglesa), que recria situações de violência e ensina o utilizador a defender-se. Em síntese, para prevenir o bullying e o ciberbullying é necessário investir em sessões de sensibilização dirigidas a pais, professores e alunos; criar serviços de apoio à vítima e investir em formas eficazes de sinalização e de intervenção especializada.

*Enfermeira Especialista em Saúde Mental e PsiquiátricaLicenciada em Ciências da Educação

Instrutora de Massagem Infantil certificada pela IAIMUnidade de Cuidados na Comunidade do ACES EDV II – Aveiro Norte

Referências Bibliográficas1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (1996).DSM IV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Climepsi Editores. 2. Sites: Portal Bullying centro de ajuda online - http://www.portalbullying.com.pt/; http://www.bullying.org;3. APAV - http://www.apavparajovens.pt/

BULLYING/CIBERBULLYING:

UM MODO DE VIOLÊNCIA…

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Divulgação

TESTAMENTO VITAL

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

CIGARRO ELETRÓNICO:

UMA NOVA TERAPIA OU UM NOVO VÍCIO?

Carlos Torres*

A aplicação do conhecimento científico teve um efeito avassalador nos cuidados de saúde, possibilitando a cura de doenças, até então incuráveis, a melhoria da qualidade de vida e muitas vezes, até, o adiar da morte. Mas, a verdade é que a morte continua a ensombrar esses avanços… e apesar de vivermos até mais tarde, os últimos tempos são, por vezes, vividos com alto grau de dependência, de sofrimento, de fragilidade. É, também, frequente que a fase final de vida seja vivida sem “consciência” ou capacidade de decisão sobre as nossas ações e sobre o tipo de cuidados a que queremos estar sujei tos, f icando, nestes casos, os familiares com a responsabilidade de decidir o que fazer ou não fazer…incorrendo sempre no dilema de poder não saber o que o sujeito doente quereria nessa situação. Foi em resposta a estas situações que em Portugal se legislou recentemente as “Diretivas Antecipadas de Vontade”, também designadas como “Testamento Vital”.

Testamento Vital é a possibilidade de, a qualquer momento, a pessoa consciente e maior de idade redigir um documento no qual manifesta antecipadamente a sua vontade no que concerne aos cuidados de saúde que deseja receber, ou não deseja receber, em caso de se vir a encontrar incapaz de expressar a sua vontade. Convém esclarecer que não se trata de dizer quando e como quer morrer, mas sim quais os tratamentos que entende aceitáveis ou não nos últimos tempos da sua vida. Assim, cada pessoa passa a poder decidir que futuramente não quer ser submetido a tratamentos como o suporte artificial das funções vitais (ventilação assistida); não prolongar tratamentos dolorosos que se estejam a revelar fúteis (ex. quimioterapia ou radioterapia), ou recusar medidas de alimentação e hidratação artificiais que apenas visem retardar o processo natural de morte. Por outro lado, pode também deixar expresso que pretende “receber os cuidados paliativos adequados”

Pedro Quintas*

O cigarro eletrónico (CE) tem sido anunciado como uma alternativa ao cigarro convencional, que pode ser usado em ambientes fechados e espaços públicos, por não libertar fumo. Este novo produto também apresenta-se como um auxílio para deixar de fumar… Será mesmo verdade? Fará bem à sua saúde? Informe-se hoje!

O que são cigarros eletrónicos?Este produto emergiu na China em 2004 e rapidamente se espalhou pelo mundo inteiro, tendo a sua venda vindo a crescer exponencialmente. Em Portugal, durante o ano de 2013, assistiu-se à abertura duma série de lojas especializadas em CE nas principais cidades do nosso país. O CE é um dispositivo que mimetiza o ato de fumar e que permite ao utilizador obter, na maior parte dos casos, uma dose variável de nicotina por inalação. No CE a nicotina é inalada diretamente nas vias aéreas, pelo que o seu potencial de adição é elevado. Também o vapor do CE contêm substâncias tóxicas e nocivas para a saúde, habitualmente propelentes como o dietilenglicol, ainda que se use cada vez mais o propilenglicol.

Serão os CE um método eficaz para deixar de fumar?A eficácia dos CE para deixar de fumar ainda não foi cientificamente demonstrada. Um comunicado de 2013 da Organização Mundial de Saúde (OMS) recorda que não há evidência científica consistente para apoiar o uso terapêutico destes produtos. No fundo, a OMS refere que desconhece se o mecanismo mediante o qual se produz a inalação pulmonar de nicotina através do CE pode ajudar a vencer a adição ou, pelo contrário, pode ajudar a mantê-la ou iniciá-la entre os jovens. Por outro lado, a OMS proibiu expressamente os fabricantes de anunciarem os CE como uma forma de tratamento do tabagismo.

Qual o enquadramento legal e sua comercialização em Portugal? Segundo uma circular de 2011 do Infarmed está bem explícito que “tal como o cigarro convencional, o uso de CE pode induzir dependência, independentemente da quantidade de nicotina dispensada.”. Sabemos que até ao momento, o Infarmed não tem qualquer autorização ou registo para este tipo de produtos, nem como medicamento, nem como dispositivo médico. Assim, o Infarmed desaconselha a utilização deste tipo de produtos, por não ser possível assegurar a sua qualidade, segurança e eficácia/desempenho. De salientar que até ao momento a Direção-Geral de Saúde ainda não se pronunciou sobre esta matéria. Pensamos que esta deverá ser objeto de reflexão e devidamente integrada no âmbito do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo.

de modo a ver respeitado o seu direito a um fim de vida com dignidade e livre de sofrimento desnecessário. Nesta nova possibilidade legal encontramos alguns pontos positivos destacando, desde logo, a possibilidade de aliviar os familiares do conflitos ético/morais motivados pela necessidade de tomar decisões sobre a vida de alguém, que na maioria das vezes lhes é querido, mas para as quais não estão preparados. Nestes casos sofre-se quase sempre de um claro conflito de “interesses” entre a dor de deixar partir alguém que lhes é querido e a possibilidade de prolongar a sua vida mas num estado que talvez o próprio não considerasse digno. Neste sentido, o Testamento Vital pode permitir “respeitar a noção de dignidade que cada um tem, aceitar que perante a doença grave ou a grave diminuição da qualidade de vida, tanto é legítima a esperança fundada da pessoa doente, como a sua desistência igualmente fundada” (Santos,L.2011).

O Estado poderá não conseguir cumprir cuidados paliativos pedidosMas há também pontos negativos… Em primeiro lugar parece-nos existir uma clara desigualdade na possibilidade de cumprimento dos tratamentos recusados em relação aos tratamentos pedidos. Se recusar medidas de suporte artificial, por exemplo, é fácil de cumprir, já o mesmo não poderemos dizer do pedido de cuidados paliativos adequados, pois a rede de cuidados paliativos é claramente deficitária e só permite o acesso a uma pequena percentagem dos doentes que deles necessitam, pelo que é uma obrigação moral do legislador fazer tudo para aumentar a possibilidade de acesso a este tipo de cuidados de modo a não parecer ter-se criado uma lei com o objetivo de recusar tratamentos. Por fim, parece-nos que esta lei deveria estar associada a uma grande campanha de informação e de reflexão de modo a que as futuras decisões venham a ser de facto conscientes… todos temos ao longo da vida opiniões sobre como quereremos ser tratados, sobre o que nos parece aceitável ou não num fim de vida, mas na verdade, só quando passamos pelas situações é que sabemos como reagimos, como sofremos e quais as prioridades que orientam as nossas decisões. Neste sentido, o Testamento Vital não deverá reduzir-se ao preenchimento solitário de um formulário e, é neste ponto, que nos parece que os Profissionais de Enfermagem podem, pelo menos humanizar esta lei, funcionando como interlocutores, consultores, de quem quer formular este documento. São estes profissionais quem mais horas passa à cabeceira de doentes terminais, aliviando o seu sofrimento, ouvindo os seus desabafos, os seus últimos desejos…esta experiência dota-os de uma compreensão ímpar da vulnerabilidade humana e da realidade do ser humano face à morte e, por isso, talvez fosse interessante que cada cidadão antes de tomar as suas decisões pudesse conversar, esclarecer as suas dúvidas com um Enfermeiro.

*Enfermeiro, Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Vila Real- UTAD

Referências Bibliográficas: Santos, L. (2011). Testamento vital. O que é? Como elaborá-lo? Porto: Sextante Editora.Lei nº 25/2012, de 16 de junho. Regula as diretivas antecipadas de vontade, designadamente sob a forma de testamento vital, e a nomeação de procurador de cuidados de saúde e cria o Registo Nacional do Testamento Vital (RENTEV). Diário da Republica, 136. Série I.

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O que pensam os especialistas portugueses sobre esta matéria? Em Portugal vieram a público, recentemente, vários especialistas da Sociedade Portuguesa de Pneumologia a desaconselhar o CE, considerando mesmo que este é “um retrocesso na luta contra o tabagismo”, pelo que recomendam que não seja utilizado enquanto os efeitos e a eficácia não forem provados. Acrescentam ainda que se deve ter em conta que alguns jovens não fumadores podem começar a usar o CE por acreditarem ser menos nocivo do que fumar os cigarros tradicionais.

Uma nova Diretiva Europeia está a chegar…O que vai mudar?Em março de 2014 foi publicada uma Diretiva Europeia, que deverá ser aplicada até 2016, que regulamenta o fabrico, apresentação e venda destes produtos e que permitirá a obtenção de dados, tendências e padrões de consumo.Assim, com a revisão da legislação os CE com menos de 20 mg/dl de nicotina e sem alegações de saúde passarão a ser considerados como produtos de tabaco, os que têm mais, serão considerados medicamentos, sendo o seu uso monitorizado por um profissional de saúde. Os CE com propriedades alegadamente curativas ou preventivas de doenças só poderão ser autorizados e comercializados como medicamentos, desde que cumpram as obrigações legais a que estes estão sujeitos.Por seu turno, fabricantes e importadores ficam também obrigados a fornecer às autoridades competentes a lista de todos os ingredientes presentes nos dispositivos. Por último, a publicidade a CE será sujeita às mesmas restrições que a publicidade a produtos de tabaco. Os CE sem nicotina não são regulados pela nova diretiva comunitária, o que é de lamentar. Tratando-se de produtos inalados com um risco ainda desconhecido, é inadmissível que continuem a ser vendidos livremente, sem enquadramento legal específico.

Lembre-se que:- A maioria dos fumadores recorre aos CE (com ou sem nicotina) com o intuito de deixar de fumar, não sendo este um método mais eficaz que outros já existentes para ajudar à cessação tabágica;- Foram identificadas substâncias tóxicas e carcinogénicas no vapor dos CE;- O intenso marketing praticado atualmente pode levar ao aumento da utilização dos CE por jovens, por não fumadores e por ex-fumadores;- O CE é atualmente um produto não medicamentoso, pelo que está fora dos mecanismos habituais de controlo de segurança e eficácia dos produtos de saúde;- Não se descarta a hipótese de que seja um método que possa ajudar algumas pessoas a deixar de fumar. Contudo, neste momento ainda não pode ser aconselhado, devido ao desconhecimento sobre a sua segurança e falta de estudos de efetividade.

*Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, UCSP Figueira Sul, ACES Baixo Mondego

*Pedro Quintas, Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, UCSP Figueira Sul, ACES Baixo Mondego, ARS Centro IP, [email protected]

Referências BibliográficasAgência Lusa (2014), Sociedade Portuguesa de Pneumologia desaconselha cigarro electrónico, disponível na web em http://www.publico.pt/sociedade/noticia/sociedade-portuguesa-de-pneumologia-desaconselha-cigarro-electronico-1675659.Comissão Europeia (2014), Directive 2014/40/EU of The European Parliament and of The Counci l o f 3 Apr i l 2014 , d isponível na web em ht tp : / /observador.p t /wp-content/uploads/2014/05/ ec.europa.eu_health_tobacco_docs_dir_201440_en.pdf.Garcia, Rodrigo C. & Andrés, Concepción S. (2013), “Cigarrillo Electrónico”, in AMF, Vol. 9, N.º 11, pp. 624-627.Gomes, Liliana (2014), “Cigarros Eletrónicos”, in Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários, Ano II, N.º 17, p. 11.Infarmed (2011), Circular Informativa N.º 156/CD de 12/08/2011 “Cigarros eletrónicos”, disponível na web em http://www.infarmed.pt/.OMS (2013), Electronic cigarettes (e-cigarettes) or electronic nicotine delivery systems Statement revised on 3 June 2014, disponível na web em http://www.who.int/tobacco/ communications/statements/eletronic_cigarettes/en.

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TESTAMENTO VITAL

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

CIGARRO ELETRÓNICO:

UMA NOVA TERAPIA OU UM NOVO VÍCIO?

Carlos Torres*

A aplicação do conhecimento científico teve um efeito avassalador nos cuidados de saúde, possibilitando a cura de doenças, até então incuráveis, a melhoria da qualidade de vida e muitas vezes, até, o adiar da morte. Mas, a verdade é que a morte continua a ensombrar esses avanços… e apesar de vivermos até mais tarde, os últimos tempos são, por vezes, vividos com alto grau de dependência, de sofrimento, de fragilidade. É, também, frequente que a fase final de vida seja vivida sem “consciência” ou capacidade de decisão sobre as nossas ações e sobre o tipo de cuidados a que queremos estar sujei tos, f icando, nestes casos, os familiares com a responsabilidade de decidir o que fazer ou não fazer…incorrendo sempre no dilema de poder não saber o que o sujeito doente quereria nessa situação. Foi em resposta a estas situações que em Portugal se legislou recentemente as “Diretivas Antecipadas de Vontade”, também designadas como “Testamento Vital”.

Testamento Vital é a possibilidade de, a qualquer momento, a pessoa consciente e maior de idade redigir um documento no qual manifesta antecipadamente a sua vontade no que concerne aos cuidados de saúde que deseja receber, ou não deseja receber, em caso de se vir a encontrar incapaz de expressar a sua vontade. Convém esclarecer que não se trata de dizer quando e como quer morrer, mas sim quais os tratamentos que entende aceitáveis ou não nos últimos tempos da sua vida. Assim, cada pessoa passa a poder decidir que futuramente não quer ser submetido a tratamentos como o suporte artificial das funções vitais (ventilação assistida); não prolongar tratamentos dolorosos que se estejam a revelar fúteis (ex. quimioterapia ou radioterapia), ou recusar medidas de alimentação e hidratação artificiais que apenas visem retardar o processo natural de morte. Por outro lado, pode também deixar expresso que pretende “receber os cuidados paliativos adequados”

Pedro Quintas*

O cigarro eletrónico (CE) tem sido anunciado como uma alternativa ao cigarro convencional, que pode ser usado em ambientes fechados e espaços públicos, por não libertar fumo. Este novo produto também apresenta-se como um auxílio para deixar de fumar… Será mesmo verdade? Fará bem à sua saúde? Informe-se hoje!

O que são cigarros eletrónicos?Este produto emergiu na China em 2004 e rapidamente se espalhou pelo mundo inteiro, tendo a sua venda vindo a crescer exponencialmente. Em Portugal, durante o ano de 2013, assistiu-se à abertura duma série de lojas especializadas em CE nas principais cidades do nosso país. O CE é um dispositivo que mimetiza o ato de fumar e que permite ao utilizador obter, na maior parte dos casos, uma dose variável de nicotina por inalação. No CE a nicotina é inalada diretamente nas vias aéreas, pelo que o seu potencial de adição é elevado. Também o vapor do CE contêm substâncias tóxicas e nocivas para a saúde, habitualmente propelentes como o dietilenglicol, ainda que se use cada vez mais o propilenglicol.

Serão os CE um método eficaz para deixar de fumar?A eficácia dos CE para deixar de fumar ainda não foi cientificamente demonstrada. Um comunicado de 2013 da Organização Mundial de Saúde (OMS) recorda que não há evidência científica consistente para apoiar o uso terapêutico destes produtos. No fundo, a OMS refere que desconhece se o mecanismo mediante o qual se produz a inalação pulmonar de nicotina através do CE pode ajudar a vencer a adição ou, pelo contrário, pode ajudar a mantê-la ou iniciá-la entre os jovens. Por outro lado, a OMS proibiu expressamente os fabricantes de anunciarem os CE como uma forma de tratamento do tabagismo.

Qual o enquadramento legal e sua comercialização em Portugal? Segundo uma circular de 2011 do Infarmed está bem explícito que “tal como o cigarro convencional, o uso de CE pode induzir dependência, independentemente da quantidade de nicotina dispensada.”. Sabemos que até ao momento, o Infarmed não tem qualquer autorização ou registo para este tipo de produtos, nem como medicamento, nem como dispositivo médico. Assim, o Infarmed desaconselha a utilização deste tipo de produtos, por não ser possível assegurar a sua qualidade, segurança e eficácia/desempenho. De salientar que até ao momento a Direção-Geral de Saúde ainda não se pronunciou sobre esta matéria. Pensamos que esta deverá ser objeto de reflexão e devidamente integrada no âmbito do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo.

de modo a ver respeitado o seu direito a um fim de vida com dignidade e livre de sofrimento desnecessário. Nesta nova possibilidade legal encontramos alguns pontos positivos destacando, desde logo, a possibilidade de aliviar os familiares do conflitos ético/morais motivados pela necessidade de tomar decisões sobre a vida de alguém, que na maioria das vezes lhes é querido, mas para as quais não estão preparados. Nestes casos sofre-se quase sempre de um claro conflito de “interesses” entre a dor de deixar partir alguém que lhes é querido e a possibilidade de prolongar a sua vida mas num estado que talvez o próprio não considerasse digno. Neste sentido, o Testamento Vital pode permitir “respeitar a noção de dignidade que cada um tem, aceitar que perante a doença grave ou a grave diminuição da qualidade de vida, tanto é legítima a esperança fundada da pessoa doente, como a sua desistência igualmente fundada” (Santos,L.2011).

O Estado poderá não conseguir cumprir cuidados paliativos pedidosMas há também pontos negativos… Em primeiro lugar parece-nos existir uma clara desigualdade na possibilidade de cumprimento dos tratamentos recusados em relação aos tratamentos pedidos. Se recusar medidas de suporte artificial, por exemplo, é fácil de cumprir, já o mesmo não poderemos dizer do pedido de cuidados paliativos adequados, pois a rede de cuidados paliativos é claramente deficitária e só permite o acesso a uma pequena percentagem dos doentes que deles necessitam, pelo que é uma obrigação moral do legislador fazer tudo para aumentar a possibilidade de acesso a este tipo de cuidados de modo a não parecer ter-se criado uma lei com o objetivo de recusar tratamentos. Por fim, parece-nos que esta lei deveria estar associada a uma grande campanha de informação e de reflexão de modo a que as futuras decisões venham a ser de facto conscientes… todos temos ao longo da vida opiniões sobre como quereremos ser tratados, sobre o que nos parece aceitável ou não num fim de vida, mas na verdade, só quando passamos pelas situações é que sabemos como reagimos, como sofremos e quais as prioridades que orientam as nossas decisões. Neste sentido, o Testamento Vital não deverá reduzir-se ao preenchimento solitário de um formulário e, é neste ponto, que nos parece que os Profissionais de Enfermagem podem, pelo menos humanizar esta lei, funcionando como interlocutores, consultores, de quem quer formular este documento. São estes profissionais quem mais horas passa à cabeceira de doentes terminais, aliviando o seu sofrimento, ouvindo os seus desabafos, os seus últimos desejos…esta experiência dota-os de uma compreensão ímpar da vulnerabilidade humana e da realidade do ser humano face à morte e, por isso, talvez fosse interessante que cada cidadão antes de tomar as suas decisões pudesse conversar, esclarecer as suas dúvidas com um Enfermeiro.

*Enfermeiro, Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Vila Real- UTAD

Referências Bibliográficas: Santos, L. (2011). Testamento vital. O que é? Como elaborá-lo? Porto: Sextante Editora.Lei nº 25/2012, de 16 de junho. Regula as diretivas antecipadas de vontade, designadamente sob a forma de testamento vital, e a nomeação de procurador de cuidados de saúde e cria o Registo Nacional do Testamento Vital (RENTEV). Diário da Republica, 136. Série I.

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O que pensam os especialistas portugueses sobre esta matéria? Em Portugal vieram a público, recentemente, vários especialistas da Sociedade Portuguesa de Pneumologia a desaconselhar o CE, considerando mesmo que este é “um retrocesso na luta contra o tabagismo”, pelo que recomendam que não seja utilizado enquanto os efeitos e a eficácia não forem provados. Acrescentam ainda que se deve ter em conta que alguns jovens não fumadores podem começar a usar o CE por acreditarem ser menos nocivo do que fumar os cigarros tradicionais.

Uma nova Diretiva Europeia está a chegar…O que vai mudar?Em março de 2014 foi publicada uma Diretiva Europeia, que deverá ser aplicada até 2016, que regulamenta o fabrico, apresentação e venda destes produtos e que permitirá a obtenção de dados, tendências e padrões de consumo.Assim, com a revisão da legislação os CE com menos de 20 mg/dl de nicotina e sem alegações de saúde passarão a ser considerados como produtos de tabaco, os que têm mais, serão considerados medicamentos, sendo o seu uso monitorizado por um profissional de saúde. Os CE com propriedades alegadamente curativas ou preventivas de doenças só poderão ser autorizados e comercializados como medicamentos, desde que cumpram as obrigações legais a que estes estão sujeitos.Por seu turno, fabricantes e importadores ficam também obrigados a fornecer às autoridades competentes a lista de todos os ingredientes presentes nos dispositivos. Por último, a publicidade a CE será sujeita às mesmas restrições que a publicidade a produtos de tabaco. Os CE sem nicotina não são regulados pela nova diretiva comunitária, o que é de lamentar. Tratando-se de produtos inalados com um risco ainda desconhecido, é inadmissível que continuem a ser vendidos livremente, sem enquadramento legal específico.

Lembre-se que:- A maioria dos fumadores recorre aos CE (com ou sem nicotina) com o intuito de deixar de fumar, não sendo este um método mais eficaz que outros já existentes para ajudar à cessação tabágica;- Foram identificadas substâncias tóxicas e carcinogénicas no vapor dos CE;- O intenso marketing praticado atualmente pode levar ao aumento da utilização dos CE por jovens, por não fumadores e por ex-fumadores;- O CE é atualmente um produto não medicamentoso, pelo que está fora dos mecanismos habituais de controlo de segurança e eficácia dos produtos de saúde;- Não se descarta a hipótese de que seja um método que possa ajudar algumas pessoas a deixar de fumar. Contudo, neste momento ainda não pode ser aconselhado, devido ao desconhecimento sobre a sua segurança e falta de estudos de efetividade.

*Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, UCSP Figueira Sul, ACES Baixo Mondego

*Pedro Quintas, Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, UCSP Figueira Sul, ACES Baixo Mondego, ARS Centro IP, [email protected]

Referências BibliográficasAgência Lusa (2014), Sociedade Portuguesa de Pneumologia desaconselha cigarro electrónico, disponível na web em http://www.publico.pt/sociedade/noticia/sociedade-portuguesa-de-pneumologia-desaconselha-cigarro-electronico-1675659.Comissão Europeia (2014), Directive 2014/40/EU of The European Parliament and of The Counci l o f 3 Apr i l 2014 , d isponível na web em ht tp : / /observador.p t /wp-content/uploads/2014/05/ ec.europa.eu_health_tobacco_docs_dir_201440_en.pdf.Garcia, Rodrigo C. & Andrés, Concepción S. (2013), “Cigarrillo Electrónico”, in AMF, Vol. 9, N.º 11, pp. 624-627.Gomes, Liliana (2014), “Cigarros Eletrónicos”, in Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários, Ano II, N.º 17, p. 11.Infarmed (2011), Circular Informativa N.º 156/CD de 12/08/2011 “Cigarros eletrónicos”, disponível na web em http://www.infarmed.pt/.OMS (2013), Electronic cigarettes (e-cigarettes) or electronic nicotine delivery systems Statement revised on 3 June 2014, disponível na web em http://www.who.int/tobacco/ communications/statements/eletronic_cigarettes/en.

Page 14: revista Enfermagem e o Cidadão n. 42

Inovação O Enfermeiro Comenta

Lídia Videira*

Grupo Nursing Research. Enfª Lídia Videira, a primeira à esquerda

Toda a investigação científica é uma actividade humana de grande responsabilidade ética pelas características que lhe são inerentes. Sempre associada à procura da verdade, exige rigor, isenção, persistência e humildade. A investigação em enfermagem não foge a estas exigências e requisitos, devendo obedecer aos princípios éticos nacional e internacionalmente estabelecidos.

Reconhece-se a importância da investigação para o desenvolvimento contínuo da profissão e a tomada de decisões adequadas e inteligentes para prestar os melhores cuidados aos utentes, para a alicerçar e consolidar ao nível do saber e da ciência e ainda para demonstrar aos outros os fundamentos sobre os quais se estabelece a sua prática, ou seja, dá um forte contributo para a sua visibilidade social.O Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. (CHCB) foi reconhecido Internacionalmente pela Joint Commission International como Centro Médico Académico, o que implica maiores responsabilidades, quer do ponto vista académico, quer do ponto vista clínico. No CHCB, o grupo "Nursing Research" surgiu em finais de 2013, após o desafio lançado pela Direcção de Enfermagem, na pessoa do Diretor de Enfermagem, Enfº António João Rodrigues. Foram assim nomeados para fazer parte do grupo Nursing Research a Enfermeira Lídia S. Videira, como coordenadora, e os Enfermeiros Isabel Dias, Maria José Mugeiro e Ricardo Santos. Estes enfermeiros chamaram a si a responsabilidade de:- Sensibilizar os enfermeiros para a importância da investigação em enfermagem, dando a conhecer os diferentes estudos desenvolvidos;- Divulgar os trabalhos de investigação realizados por enfermeiros através de sessões de dinamização da investigação por enfermeiros, com a apresentação de projetos em desenvolvimento, assim como a organização de eventos onde são divulgados trabalhos já com resultados.- Incentivar a publicação desses trabalhos, tendo sido realizada uma recolha de informação acerca das possibilidades da sua publicação em revistas científicas;- Fazer a articulação com as entidades do ensino superior da região, para que se estabeleçam parcerias no âmbito da investigação e da formação em enfermagem;

Rui Cavaleiro*

Não será a formação o único aspecto que leva os profissionais de enfermagem ao ponto de ruptura e desmotivação que apresentam neste momento com a profissão. Este importante aspecto não é facilmente visível e acessível, mesmo aos mais atentos sectores da sociedade. Mas se a juntarmos com a remuneração aferida e a imagem que um qualquer cidadão tem dum enfermeiro, pode retractar uma considerável justificação da fase que os enfermeiros atravessam.

Será necessário logo à partida dividir a formação em duas grandes áreas, o curso base e a formação avançada (não digo pós-graduada para não ser confundida com as populares pós graduações pelos mais simplistas). Assistimos, há bem pouco tempo, à fusão de diversos estabelecimentos de ensino, medida económica de elevada poupança para o ensino público, algo que faz todo o sentido tendo em conta a fase que o país atravessa e atravessou. Mas isso não mudou os conceitos base que minam um ensino que poderia ser de excelência. As escolas e professores preocupados com os seus doutoramentos meramente teóricos, para cumprir rácios, focam os alunos em aspectos por vezes pouco relevantes, no meu entender.Veja-se a comparação com o curso de Medicina (quer muitos queiram, quer não), são pares nas equipas de saúde e muito bom exemplo nestas áreas. Os professores na área da medicina estão praticamente na totalidade “no activo”, não deixaram a prática há muitos anos. Não se trata apenas de estarem actualizados ou não a nível de conhecimentos teóricos, mas sim, a nível da realidade que se encontra no terreno, trata-se da posição de conforto principesca de quem apenas frequenta a sala de professores da faculdade, trata-se da prática do dia-a-dia.Noutras profissões os alunos já nas faculdades são simultaneamente professores dos seus colegas mais novos, começa logo aí a ligação/apoio/coesão/união/interacção entre os elementos duma profissão. Não se mostra a altivez da estrutura educativa, tanto a nível dos recursos humanos como das burocracias desajustadas, para “parecer bom ensino”. O difícil nem sempre é o melhor. Não defendo com isto, de forma nenhuma, a aprendizagem não exigente, mas defendo um ensino equilibrado e descontraído, não opressivo, próprio dos cursos evoluídos.No final do século passado a enfermagem evoluiu muito a nível de ensino, no entanto nas últimas décadas estagnou. As próprias actuais un idades cur r i cu la res das esco las ( fundamentação de ECTS/disciplinas) são questionáveis, são muito fechadas “na

- Desenvolver iniciativas ou práticas de investigação como forma de resolução de problemas no âmbito e de acordo com as características de cada Unidade ou Serviço;- Dar pareceres técnico-científicos no âmbito da enfermagem com base na evidência científica;- Estabelecer parcerias com as diversas entidades ligadas à prestação de cuidados, não só com os Hospitais e Centros de Saúde da região, como outras a nível nacional e mesmo internacional, para o desenvolvimento de projetos de investigação;- Criar uma comunidade científica, constituída por enfermeiros e aberta a outros profissionais de saúde no sentido de se discutirem e analisarem aspetos ligados à investigação e participação em programas de melhoria contínua da qualidade.

Todos os elementos deste grupo enveredaram pela sua qualificação no mundo académico. Frequentaram todos uma especialização em enfermagem, em áreas diversificadas como a de Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, Enfermagem de Reabilitação e Enfermagem Médico-Cirúrgica. São ainda detentores de pós graduações, mestrados e um elemento encontra-se em programa de doutoramento. Desenvolveram e têm projetos de investigação em curso, quer em âmbito académico, quer em contexto da sua prática clínica, e com trabalhos publicados e divulgados.A principal missão do grupo prende-se por promover, coordenar e apoiar a realização de projetos/trabalhos de investigação dos enfermeiros do CHCB.O NR articula-se com o Centro de Investigação Clínica do CHCB. Este encarrega-se de dar conhecimento ao NR de todos os projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento por enfermeiros, no CHCB, uma vez que todos os projetos têm que dar entrada neste Centro para seguirem o percurso normal de aprovação da sua realização a nível interno.Sempre que necessária a orientação ou co-orientação interna da enfermagem no CHCB, essa articulação realiza-se entre os coordenadores do CIC e do NR.Os enfermeiros do CHCB têm desenvolvido uma quantidade considerável de projetos/trabalhos de investigação, alguns com bastante qualidade, mesmo fora do âmbito académico, que não são divulgados ou apresentados, muitos dos quais já com resultados que a todos interessam, pelo que foi considerada a importância de um grupo ligado à investigação realizada por enfermeiros. Este grupo veio “agitar” os enfermeiros para partilharem e refletirem sobre saberes e experiências, fruto da investigação na prática clinica, nas mais diversas áreas.

Como principais atividades desenvolvidas, o NR em 2014 organizou uma sessão de divulgação de projetos já a decorrer no CHCB e foi realizado um Fórum com o tema "Investigação de Enfermagem", com apresentação de trabalhos também da ULS da Guarda, da ULS de Castelo Branco e da ACES da Cova da Beira.Em 2015 prevemos dar continuidade ao trabalho

realizado em 2014, integrando o plano de atividades do NR workshops de divulgação científica, formação em metodologias de investigação e um II Fórum de divulgação de trabalhos de investigação. Temos já agendado o II Fórum de Investigação de Enfermagem para o dia 22 de Maio de 2015, aberto a toda a comunidade científica de enfermagem.

Em suma, na era da prática baseada na evidência e dos cuidados de saúde orientados pelos conhecimentos, todos os enfermeiros são desafiados a descobrirem melhores formas de prestarem cuidados que assentem em novos conhecimentos e evidências, obtidos através da investigação. Os enfermeiros têm ainda uma obrigação profissional para com a sociedade no sentido de desenvolverem cuidados com segurança e qualidade que sejam constantemente analisados, investigados e validados.

*Enfermeira

enfermagem”, não preparando os alunos para todo o resto que vão enfrentar quando lutarem no “charco dos tubarões” que são as equipas de saúde ou mercados de trabalho.Tudo isto leva a que, e entrando já na formação avançada, os alunos, depois jovens profissionais, optem também por pseudo-formações com pouca credenciação. Isso leva à proliferação de estabelecimentos de pós-graduações e cursos (quase exotéricos) de valor duvidoso, sem elementos de referência. Orgulhosamente colocam essas referências nos CV's não se apercebendo que jogaram dinheiro fora. Esses estabelecimentos, institutos, centros de formação não são mais (na sua maioria) que uns aglomerados de elementos aproveitadores da infelicidade/necessidades dos enfermeiros. Não se vêem este tipo de proliferações nas áreas do direito, da medicina ou da engenharia, tendo estas áreas também bastantes sub-especificações.Academicamente não têm valor, têm a sua importância quando usados cirurgicamente, específicos para uma muito singular necessidade. Mas fiquem cientes que quando uma empresa ou instituição pública olha para essa certificação não dá qualquer valor, mais que não seja pela sua diminuta carga horária/ECTS. Ora, se nos cursos base e de E-learning as Faculdades de Enfermagem são quem tem responsabilidades sobre a mediocridade, aqui são os enfermeiros possidónios que não sabem escolher. Estão sedentos da rápida formação para se poderem evidenciar e ultrapassar um outro infeliz numa qualquer seriação (lamentavelmente utilizo a caracterização de infeliz). Uma formação avançada com grau académico, numa instituição de renome é sempre a melhor opção. A excepção a estas afirmações é o curso de especialização em enfermagem (especialidade), neste caso vejo com bons olhos a sua frequência. Muitos dirão neste momento que “não dá para nada”, não me compete a mim enunciar o Diário da República sobre o patamar de especialista para atingir outras posições, ou fazer futurismo duma realidade próxima onde o patamar de enfermeiro especialista vai novamente ter diferenciação monetária na carreira, apenas posso dizer que é indispensável à profissão se não se quiser regredir. Nesta linha colocam-se questões importantíssimas sobre o número e as áreas dessas mesmas especialidades. Tenho largas reservas sobre o sistema actual, vejo que as especialidades deverão passar por uma aproximação à organização do sistema de saúde português, muito próximas às especialidades médicas onde assenta toda à organização do sistema de saúde. Não vale a pena forçar grandes áreas de especialidade ou afunilar áreas que nunca vão ter ”corpo” ou reconhecimento suficiente no sistema de saúde, seja ele público ou privado. Tendo em vista a opinião pública, a imagem e a formação, na generalidade, são ainda pontos-chave a rever pela profissão. A investigação tem de ser real e robusta, o ensino tem de ser estrategicamente nivelado por uma visão/ambição internacional, olhando sempre à organização do sistema de saúde português. Existe ainda um largo percurso até a Enfermagem ser olhada como uma das profissões mais influentes do futuro.

*Licenciatura em Enfermagem, Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria, Mestre em Cuidados Paliativos,

Doutorando da Faculdade de Medicina de Lisboa em Doenças Metabólicas e do Comportamento Alimentar

DA INVESTIGAÇÃO À PRÁTICA…

A CONSTRUÇÃO DO SABER EM ENFERMAGEM FORMAÇÃO NA ÁREA

DA ENFERMAGEM

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Inovação O Enfermeiro Comenta

Lídia Videira*

Grupo Nursing Research. Enfª Lídia Videira, a primeira à esquerda

Toda a investigação científica é uma actividade humana de grande responsabilidade ética pelas características que lhe são inerentes. Sempre associada à procura da verdade, exige rigor, isenção, persistência e humildade. A investigação em enfermagem não foge a estas exigências e requisitos, devendo obedecer aos princípios éticos nacional e internacionalmente estabelecidos.

Reconhece-se a importância da investigação para o desenvolvimento contínuo da profissão e a tomada de decisões adequadas e inteligentes para prestar os melhores cuidados aos utentes, para a alicerçar e consolidar ao nível do saber e da ciência e ainda para demonstrar aos outros os fundamentos sobre os quais se estabelece a sua prática, ou seja, dá um forte contributo para a sua visibilidade social.O Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. (CHCB) foi reconhecido Internacionalmente pela Joint Commission International como Centro Médico Académico, o que implica maiores responsabilidades, quer do ponto vista académico, quer do ponto vista clínico. No CHCB, o grupo "Nursing Research" surgiu em finais de 2013, após o desafio lançado pela Direcção de Enfermagem, na pessoa do Diretor de Enfermagem, Enfº António João Rodrigues. Foram assim nomeados para fazer parte do grupo Nursing Research a Enfermeira Lídia S. Videira, como coordenadora, e os Enfermeiros Isabel Dias, Maria José Mugeiro e Ricardo Santos. Estes enfermeiros chamaram a si a responsabilidade de:- Sensibilizar os enfermeiros para a importância da investigação em enfermagem, dando a conhecer os diferentes estudos desenvolvidos;- Divulgar os trabalhos de investigação realizados por enfermeiros através de sessões de dinamização da investigação por enfermeiros, com a apresentação de projetos em desenvolvimento, assim como a organização de eventos onde são divulgados trabalhos já com resultados.- Incentivar a publicação desses trabalhos, tendo sido realizada uma recolha de informação acerca das possibilidades da sua publicação em revistas científicas;- Fazer a articulação com as entidades do ensino superior da região, para que se estabeleçam parcerias no âmbito da investigação e da formação em enfermagem;

Rui Cavaleiro*

Não será a formação o único aspecto que leva os profissionais de enfermagem ao ponto de ruptura e desmotivação que apresentam neste momento com a profissão. Este importante aspecto não é facilmente visível e acessível, mesmo aos mais atentos sectores da sociedade. Mas se a juntarmos com a remuneração aferida e a imagem que um qualquer cidadão tem dum enfermeiro, pode retractar uma considerável justificação da fase que os enfermeiros atravessam.

Será necessário logo à partida dividir a formação em duas grandes áreas, o curso base e a formação avançada (não digo pós-graduada para não ser confundida com as populares pós graduações pelos mais simplistas). Assistimos, há bem pouco tempo, à fusão de diversos estabelecimentos de ensino, medida económica de elevada poupança para o ensino público, algo que faz todo o sentido tendo em conta a fase que o país atravessa e atravessou. Mas isso não mudou os conceitos base que minam um ensino que poderia ser de excelência. As escolas e professores preocupados com os seus doutoramentos meramente teóricos, para cumprir rácios, focam os alunos em aspectos por vezes pouco relevantes, no meu entender.Veja-se a comparação com o curso de Medicina (quer muitos queiram, quer não), são pares nas equipas de saúde e muito bom exemplo nestas áreas. Os professores na área da medicina estão praticamente na totalidade “no activo”, não deixaram a prática há muitos anos. Não se trata apenas de estarem actualizados ou não a nível de conhecimentos teóricos, mas sim, a nível da realidade que se encontra no terreno, trata-se da posição de conforto principesca de quem apenas frequenta a sala de professores da faculdade, trata-se da prática do dia-a-dia.Noutras profissões os alunos já nas faculdades são simultaneamente professores dos seus colegas mais novos, começa logo aí a ligação/apoio/coesão/união/interacção entre os elementos duma profissão. Não se mostra a altivez da estrutura educativa, tanto a nível dos recursos humanos como das burocracias desajustadas, para “parecer bom ensino”. O difícil nem sempre é o melhor. Não defendo com isto, de forma nenhuma, a aprendizagem não exigente, mas defendo um ensino equilibrado e descontraído, não opressivo, próprio dos cursos evoluídos.No final do século passado a enfermagem evoluiu muito a nível de ensino, no entanto nas últimas décadas estagnou. As próprias actuais un idades cur r i cu la res das esco las ( fundamentação de ECTS/disciplinas) são questionáveis, são muito fechadas “na

- Desenvolver iniciativas ou práticas de investigação como forma de resolução de problemas no âmbito e de acordo com as características de cada Unidade ou Serviço;- Dar pareceres técnico-científicos no âmbito da enfermagem com base na evidência científica;- Estabelecer parcerias com as diversas entidades ligadas à prestação de cuidados, não só com os Hospitais e Centros de Saúde da região, como outras a nível nacional e mesmo internacional, para o desenvolvimento de projetos de investigação;- Criar uma comunidade científica, constituída por enfermeiros e aberta a outros profissionais de saúde no sentido de se discutirem e analisarem aspetos ligados à investigação e participação em programas de melhoria contínua da qualidade.

Todos os elementos deste grupo enveredaram pela sua qualificação no mundo académico. Frequentaram todos uma especialização em enfermagem, em áreas diversificadas como a de Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, Enfermagem de Reabilitação e Enfermagem Médico-Cirúrgica. São ainda detentores de pós graduações, mestrados e um elemento encontra-se em programa de doutoramento. Desenvolveram e têm projetos de investigação em curso, quer em âmbito académico, quer em contexto da sua prática clínica, e com trabalhos publicados e divulgados.A principal missão do grupo prende-se por promover, coordenar e apoiar a realização de projetos/trabalhos de investigação dos enfermeiros do CHCB.O NR articula-se com o Centro de Investigação Clínica do CHCB. Este encarrega-se de dar conhecimento ao NR de todos os projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento por enfermeiros, no CHCB, uma vez que todos os projetos têm que dar entrada neste Centro para seguirem o percurso normal de aprovação da sua realização a nível interno.Sempre que necessária a orientação ou co-orientação interna da enfermagem no CHCB, essa articulação realiza-se entre os coordenadores do CIC e do NR.Os enfermeiros do CHCB têm desenvolvido uma quantidade considerável de projetos/trabalhos de investigação, alguns com bastante qualidade, mesmo fora do âmbito académico, que não são divulgados ou apresentados, muitos dos quais já com resultados que a todos interessam, pelo que foi considerada a importância de um grupo ligado à investigação realizada por enfermeiros. Este grupo veio “agitar” os enfermeiros para partilharem e refletirem sobre saberes e experiências, fruto da investigação na prática clinica, nas mais diversas áreas.

Como principais atividades desenvolvidas, o NR em 2014 organizou uma sessão de divulgação de projetos já a decorrer no CHCB e foi realizado um Fórum com o tema "Investigação de Enfermagem", com apresentação de trabalhos também da ULS da Guarda, da ULS de Castelo Branco e da ACES da Cova da Beira.Em 2015 prevemos dar continuidade ao trabalho

realizado em 2014, integrando o plano de atividades do NR workshops de divulgação científica, formação em metodologias de investigação e um II Fórum de divulgação de trabalhos de investigação. Temos já agendado o II Fórum de Investigação de Enfermagem para o dia 22 de Maio de 2015, aberto a toda a comunidade científica de enfermagem.

Em suma, na era da prática baseada na evidência e dos cuidados de saúde orientados pelos conhecimentos, todos os enfermeiros são desafiados a descobrirem melhores formas de prestarem cuidados que assentem em novos conhecimentos e evidências, obtidos através da investigação. Os enfermeiros têm ainda uma obrigação profissional para com a sociedade no sentido de desenvolverem cuidados com segurança e qualidade que sejam constantemente analisados, investigados e validados.

*Enfermeira

enfermagem”, não preparando os alunos para todo o resto que vão enfrentar quando lutarem no “charco dos tubarões” que são as equipas de saúde ou mercados de trabalho.Tudo isto leva a que, e entrando já na formação avançada, os alunos, depois jovens profissionais, optem também por pseudo-formações com pouca credenciação. Isso leva à proliferação de estabelecimentos de pós-graduações e cursos (quase exotéricos) de valor duvidoso, sem elementos de referência. Orgulhosamente colocam essas referências nos CV's não se apercebendo que jogaram dinheiro fora. Esses estabelecimentos, institutos, centros de formação não são mais (na sua maioria) que uns aglomerados de elementos aproveitadores da infelicidade/necessidades dos enfermeiros. Não se vêem este tipo de proliferações nas áreas do direito, da medicina ou da engenharia, tendo estas áreas também bastantes sub-especificações.Academicamente não têm valor, têm a sua importância quando usados cirurgicamente, específicos para uma muito singular necessidade. Mas fiquem cientes que quando uma empresa ou instituição pública olha para essa certificação não dá qualquer valor, mais que não seja pela sua diminuta carga horária/ECTS. Ora, se nos cursos base e de E-learning as Faculdades de Enfermagem são quem tem responsabilidades sobre a mediocridade, aqui são os enfermeiros possidónios que não sabem escolher. Estão sedentos da rápida formação para se poderem evidenciar e ultrapassar um outro infeliz numa qualquer seriação (lamentavelmente utilizo a caracterização de infeliz). Uma formação avançada com grau académico, numa instituição de renome é sempre a melhor opção. A excepção a estas afirmações é o curso de especialização em enfermagem (especialidade), neste caso vejo com bons olhos a sua frequência. Muitos dirão neste momento que “não dá para nada”, não me compete a mim enunciar o Diário da República sobre o patamar de especialista para atingir outras posições, ou fazer futurismo duma realidade próxima onde o patamar de enfermeiro especialista vai novamente ter diferenciação monetária na carreira, apenas posso dizer que é indispensável à profissão se não se quiser regredir. Nesta linha colocam-se questões importantíssimas sobre o número e as áreas dessas mesmas especialidades. Tenho largas reservas sobre o sistema actual, vejo que as especialidades deverão passar por uma aproximação à organização do sistema de saúde português, muito próximas às especialidades médicas onde assenta toda à organização do sistema de saúde. Não vale a pena forçar grandes áreas de especialidade ou afunilar áreas que nunca vão ter ”corpo” ou reconhecimento suficiente no sistema de saúde, seja ele público ou privado. Tendo em vista a opinião pública, a imagem e a formação, na generalidade, são ainda pontos-chave a rever pela profissão. A investigação tem de ser real e robusta, o ensino tem de ser estrategicamente nivelado por uma visão/ambição internacional, olhando sempre à organização do sistema de saúde português. Existe ainda um largo percurso até a Enfermagem ser olhada como uma das profissões mais influentes do futuro.

*Licenciatura em Enfermagem, Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria, Mestre em Cuidados Paliativos,

Doutorando da Faculdade de Medicina de Lisboa em Doenças Metabólicas e do Comportamento Alimentar

DA INVESTIGAÇÃO À PRÁTICA…

A CONSTRUÇÃO DO SABER EM ENFERMAGEM FORMAÇÃO NA ÁREA

DA ENFERMAGEM

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Page 16: revista Enfermagem e o Cidadão n. 42

Considerando que pertencemos à União Europeia faz com que cada vez mais o centro de decisões político, económico e profissionais não sejam somente de um só país, mas antes, ao nível dos vários estados membros que a compõem. Neste contexto, faz todo sentido que as ordens profissionais dos diferentes países conheçam o que cada congénere pretende, quer a nível nacional, quer a nível europeu, para a profissão que representam. Assim, no intuito de manter essa cooperação, vertida num protocolo existente entre a Secção Regional do Centro e o Colegio de Enfermería de Cáceres, mantemos uma estreita relação com este Colegio, estando neste momento as duas instituições a preparar a realização do VIII Encontro Ibérico, que este ano terá como tema central “A Segurança do Doente”. Pretende-se que, acima de tudo, este seja um momento para debater as práticas nos dois países e promover o desenvolvimento da profissão além-fronteiras.