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Edição de número 77 da revista Fale!, um produto da Omni Editora.
p e l a u n i oa nova diretoria da Federao das indstrias do estado do Cear, eleita atravs de processo eleitoral inovador, inicia um novo modelo de gesto
Revista de informaoANO X N 77OMNI EDITORAwww.revistafale.com.br
ideias o que querem os candidatos no 2 turno
R$ 9,00
uma revista de informao.Poltica, economia e negcios com um olhar especial. H 10 anos no ar.
www.revistafale.com.brLeia tamBm na Verso diGitaL PaPerhttp://issuu.com/search?q=revistafale
www.omnieditora.com.br
R E V I S T A D E I N F O R M A O
editor&PuBLisHer LuS-SRgIO SANTOS
editor senior ISAbELA MARTIN
editor associado Lus Carlos Martins editor de arte Jon Romano redao Cinara S, Liana Costa, Carlos Mazza e Camila Torres coLaBoradores Fernando Maia, Roberto Martins Rodrigues e Roberto Costa
editor de arte Eduardo Vasconcelos desiGner GrFico assistente breno Ar
Gerente comerciaL Dena de Marchi n e-mail: [email protected] marKetinG Mirza Xenofonte Jurdico Mauro Sales BrasLia (61) 8188.8873
so PauLo (11) 6497.0424
imaGem Agncia brasil, AE, Reuters Financeiro Ftima Souza redao e PuBLicidade Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim S, 746 n Fones: (85) 3247.6101 n CEP 60.130-050, Aldeota, Fortaleza,
Cear n e-mail: [email protected] n home-page: www.revistafale.com.br Fale! publicada pela Omni Editora Associados Ltda. Preo da assinatura anual no brasil (12 edies): R$ 86,00 ou o preo com
desconto anunciado em promoo. Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00, exceto em promoo com preo menor. Nmeros anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos
pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados no refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! no se responsabiliza pela devoluo de matrias editoriais no solicitadas. Sugestes e comentrios
sobre o contedo editorial de Fale! podem ser feitos por fax, telefone ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereo do autor. Fale! marca registrada da Omni Editora Associados Ltda.
Fale! marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Copyright 2010 Omni Editora Associados Ltda. Todos os direitos reservados. IMPRESSO Prol grfica n Impresso no brasil/Printed in brazil. Fale! is published monthly by Omni Editora Associados Ltda. A yearly subscription abroad
costs uS$ 99,00. To subscribe call (55+85) 3247.6101 or by e-mail: [email protected]
A Omni Editora no autoriza ningum a falar em seu nome para angariar convites, presentes, emprstimos, permutas, benefcios de qualquer ordem. Qualquer relao comercial s ter validade sob
contrato formal com a Omni atravs de sua diretoria.
TIRAgEM DESTA EDIO: 11.000 EXEMPLARES
diretor editor LuS-SRgIO SANTOS
ISSN 1519-9533
arenaPolticatalkingHeadsonlinePeriscpio
Lixo eLeitoraLUm garoto brinca em meio s propagandas eleitorais de candidatos espalhadas em frente s zonas eleitorais do Distrito Federal. A sujeira deixada pelo perodo eleitoral foi concentrada, principalmente, nas proximidades dos locais de votao.
pesquisa no urna. Ulysses GUimares, j alertando para a falibilidade das pesquisas eleitorais que medem a inteno de voto e que, no Brasil, se reproduzem como baratasS e e S10 Talking Heads12 Online13 Arena Poltica
14 Periscpio61 Consumo63 Persona
48Vos da embraer Saiba como a terceira maior fabricante de avies se recuperou da crise financeira mundial vendendo um dos mais odiados smbolos de gastana e excesso: os jatinhos executivos. A reprter Liana Costa viu in loco os planos da Embraer para o Brasil e para o mundo
38Fiec se renovaRepresentatividade e integrao das foras so os pilares da nova gesto da FIEC, eleita neste ano em um processo eleitoral inovador para a instituio.
CAPA: eduArdO vAsCOnCelOs
fOTO
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Asil
28 senado conciliador Sem nomes como Tasso Jereissati, Arthur Virglio e Mo Santa a nova composio do Senado Federal ganha um tom alinhado ao Executivo, como defendeu o presidente Lula mas recebe novos membros, como Acio Neves e Itamar Franco
economia
||PausePoLtica
Prmio
Entre polticos, empresrios, artistas e profissionais liberais, a revista Fale! elaborou, com a ajuda de seus leitores, a lista dos 30 cearenses mais influentes. No site, o internauta encontra a edio especial dedicada aos homenageados e acompanha a cobertura da cerimnia de entrega dos prmios com fotos e vdeos. Toda a cobertura em vdeo da premiao est no site
navegue no site da revista Fale! e acesse reportagens, entrevistas, vdeos, blogs, edies anteriores e suas verses digitais. todo contedo livre e na ntegra
O site reserva um espao para a rede social, onde cada tweet novo exposto. As atualizaes esto na pgina principal. Siga a revista em www.twitter.com/revistafale
os 30 Cearenses Mais influentes
Vdeo
a corrida eleitoralO candidato tucano Presidncia da Repblica, Jos Serra, esteve em Fortaleza em maio. Na visita, Serra participou de uma palestra, que contou com a presena do senador Tasso Jereissati, e concedeu entrevista coletiva imprensa local. Fale! acompanhou e registrou a vinda do presidencivel ao estado. Confira os vdeos no site.
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Alm de se informar, que tal ouvir uma boa msica? A Fale! Fm oferece msicas dos anos 80 ao Jazz, incluindo clssicos e novidades do cenrio musical. O internauta pode conferir a programao em www.revistafale.com.br/falefm
FaLe! Fm
o melhor dos anos 80 e jazz
As edies anteriores da Fale! podem ser consultadas no site. Todo contedo tem acesso livre e est disponibilizado na ntegra. Para conferir as matrias passadas, acesse o endereo www.revistafale.com.br/edicoesanteriores. No site, tambm podem ser encontradas as verses digitais da revista.
edies anteriores
Contedo livre
||Pau
se
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revistafale.com.br
uma revista com a cara de Braslia.
www.revistafale.com.br/brasilia
(11) 6497.0424
A revista de informao de braslia. Toda grande cidade merece uma grande revista.
B BSe d i t o r a
(61) 8188.8873
fOTO WilsOn diAs_Abr
na poltica, no h espao para mgoas.
ciro Gomes, deputado federal (PSB), ao ser questionado sobre a crtica de seu ex-padrinho poltico Tasso Jereissati. O parlamentar lamentou a derrota de Tasso e afirmou que foi uma perda poltica muito grave
fOTO AnTOniO Cruz_Abr
Vou me dedicar aos meus netos.
tasso jereissati, senador (PSDB), derrotado ao tentar a reeleio
as pessoas mudam com o tempo. o poder encantador. ele no , nem de longe, aquele jovem idealista de 25 anos atrs.
idem, sobre o deputado federal Ciro Gomes (PSB), de quem foi aliado por mais de 20 anos e rompeu as relaes polticas nestas eleies
a no eleio do senador Tasso [Jereissati] e do senador arthur Virgilio tambm sinaliza algo. as pessoas no querem mais saber da velha poltica.
marina silva, candidata do PV e terceiro lugar no primeiro turno das eleies presidenciais, sobre a tambm derrota dos senadores tucanos Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgilio (AM)
||Pau
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talkingHeads
S e o
pior do que ser jornalista parcial (todos somos) ser passional ou, pior que isso, irracional e irascivel.
clUdio Barros, jornalista, pelo endereo twitter/cbthe
no sinto saudade dos tucanos no poder. Sinto falta de um pas com oposio para nos defender.
carmen PomPeU, jornalista, pelo endereo twitter/carmenpompeu
o Serra disse que ambientalista desde criancinha. Quando tinha 5 anos, plantou feijo no algodo.
GaBriel ramalho, publicitrio, pelo endereo twitter/gabsramalho
acho natural ganhar parabns hoje pelo Dia do professor. os jogadores me chamam assim e as mulheres tambm.
renato Gacho, tcnico do Grmio, pelo endereo twitter/renato_gaucho
Dilma Rousseff a candidata para os pobres, a classe trabalhista e a juventude. eu tenho esperana de que a juventude do Brasil a apie.
tom morello, guitarrista do Rage Against the Machine, pelo endereo twitter/tmorello
Serra mais preparado do que a Dilma.ciro Gomes, deputado federal (PSB), em entrevista a um programa da RedeTV, em abril passado. O parlamentar agora um dos novos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff Presidncia da Repblica
O PMDB um ajuntamento de assaltantes. Eu acho que o Michel Temer hoje o chefe dessa turma.
idem
i R o n i a ?
eu tenho currculo em matria ambiental muito bom. De maneira que a proximidade com o pV nesse aspecto absolutamente natural.
jos serra, candidato do PSDB Presidncia, visando o apoio do Partido Verde no 2 turno das eleies. Apesar de no garantir mudanas em sua plataforma poltica para incluir as propostas do partido, o tucano declarou ser um ambientalista convicto
Quarenta e sete pontos percentuais. Faltam apenas trs. portanto, seria muita incompetncia da nossa parte.
jos Pimentel, senador (PT) eleito pelo Cear, sobre os nmeros do desempenho de Dilma no primeiro turno, descartando uma derrota petista no segundo turno.
eu no quero ser o candidato da prefeita. eu no quero ser o candidato da prefeitura. Quero ser o candidato dos vereadores.
salmito Filho, presidente da Cmara Municipal de Fortaleza, dispensando o possvel apoio da prefeita Luizianne Lins na tentativa de reeleio para o binio 2011-2012.
Se quiserem, podem continuar ganhando de mim desse jeito.
hUGo chvez, presidente da Venezuela, ironizando o discurso de vitria dos partidos de oposio nas eleies parlamentares realizadas no ms passado. A oposio comemorava ter tirado do governo chavista a maioria de dois teros na Assembleia Nacional que permitia aprovar a maior parte das mudanas no pas
ela [Marina] uma extraordinria companheira. ela sabe do carinho que tenho por ela. Temos 30 anos de convivncia. ela saiu do governo porque ela quis. na poca, compreendi.
Presidente lUla, elogiando Marina Silva (PV), que recebeu 20% dos votos, o que provocou o segundo turno. O presidente admitiu a possibilidade da ex-companheira de partido manter-se neutra na segunda fase da disputa.
fOTO AgnCiA brAsil
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Gaga e BieberOs fenmenos pops Lady Gaga
e Justin Bieber esto prestes a alcanar um nmero bem atraente para incrementar seus currculos arststicos. Segundo David Birch, diretor de comunicaes da TubeMogul, eles devem ultrapassar 1 bilho de acessos no YouTube ainda neste ano. Gaga, se continuar no atual ritmo, dever ser a primeira a alcanar o feito, por volta do dia 20 de outubro. J o cantor adolescente dever alcan-la em novembro.
As projees so feitas a partir de dados que apontam Bieber como sendo o mais acessado do mundo: entre 1 de julho e 28 de setembro, ele teve a mdia de 3,98 milhes de acessos dirios, contra 2,04 milhes de Lady Gaga.
Mp3 ReTR. Tecnologia moderna com design retro. Assim o MP3 Walkman, player com formato de fita cassete e equipado com carto de memria Sd, clipe para cinto e botes falsos de stop, pause, forward e rewind. ele custa 45 euros no site Urban Outfitters. Os saudosistas vo gostar.
nova conjuntura miditicaO futuro dos jornais impressos nunca foi to
discutido. Com o surgimento de novas mdias mais adequadas s necessidades da nova gerao , talvez seja difcil faz-los sobreviver. Os esperanosos sempre se remetem poca em que o rdio resistiu chegada da televiso e continua forte at hoje. aquela velha histria de que uma tecnologia no substitui a outra.
Em contraponto a esse otimismo est o analista de negcios e escritor Ross Dawson, afirmando em seu blog que, sim, os jornais impressos podem perder a fora e se tornarem irrelevantes. Essa previso j seria para a prxima dcada e foi bem defendida no blog do analista com base em argumentos coerentes. Ele cita, por exemplo, que as pessoas consumiro notcias em dispositivos mveis, e o iPad ser considerado o precussor.
Alm disso, os leitores de notcias digitais custaro menos de 10 dlares e, em 2020 devero ser distribudos e cada vez mais sofisticados, dobrveis, rolveis e totalmente interativos. Ele acredita que,
porttil sustentvelA Nokia est desenvolvendo
um aparelho celular que capaz de recarregar sua bateria com o calor do bolso. ainda um conceito, mas a ideia poderia facilitar a vida de muita gente, pois manteria o celular carregado ao longo do dia. Alm de dar uma ajudinha para o meio ambiente, pois evitaria o gasto de energia com o carregador.
.br em altaO nmero de sites que surgem
todos os dias assustador: somente no segundo trimestre desse ano, o nmero de domnios na Internet cresceu cerca de 12,3 milhes em todo o mundo, uma expanso de 7% em relao ao mesmo perodo do ano passado. e o Brasil ocupa uma posio de destaque nesse cenrio. de acordo com o estudo publicado pela VeriSign, o nmero de domnios .br subiu 5% no ltimo ano. O Brasil foi o stimo pas que mais registrou novos sites entre abril e junho passados. A Alemanha ficou em primeiro, seguida pelo Reino Unido e China.
O QUE NOVO
apesar da mdia aumentar suas receitas, elas sero mal distribudas e as empresas da mdia precisaro inovar e se reinventar para se encaixar nesse novo contexto/cenrio.
Entre outros argumentos, ele embasa sua opinio, mas mais otimista quanto ao futuro dos jornalistas ao afirmar que os profissionais competentes no perdero seus empregos e com boa reputao, ele dever atrair mais credibilidade para o meio. Lembre-se que so apenas tendncias e previses, nada confirmado. Assim, s o tempo pode dizer se so verdades ou no. n
||Pau
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online
O PV decidiu, em plenria, ficar neutro no segundo turno das eleies. Havia cerca de 120 votantes na reunio e apenas quatro levantaram a mo pela defesa de definir qual dos dois candidatos apoiariam no segundo turno. Estamos definidos nestas eleies como indepen-dentes, disse o presidente do partido, Jos Luiz de Frana Penna.
A senadora Marina Silva, candidata do PV Presidncia no primeiro turno, leu uma carta endereada aos candida-tos Dilma Rousseff e Jos Serra, em que se declara neutra quanto aos rumos da campanha. Ela, no entanto, evitou ma-nifestar sua opinio sobre o apoio para o segundo turno.
Marina reclamou do embate que vem se travando entre o PSDB e o PT na reta final de campanha e lamentou que os dois partidos que nasceram inovadores, hoje se mostram conservadores. Para ela, o segundo turno seria um pragmatismo sem limites.
A senadora disse ainda que j convi-veu com os dois candidatos e que so pes-soas dignas. Com Dilma, Marina relem-brou que teve cinco anos de convivncia, quando ambas eram ministras do gover-no Lula, e disse que a convivncia foi boa
apesar das divergncias. J com Serra, ela relembrou ocasies em que convergiram na opinio sobre determinados projetos quando ele tambm era senador.
Marina admitiu que dos cerca de 20 milhes de votos que teve no primeiro turno, havia uma parte considervel de votos de evanglicos e alfinetou o teor religioso que a campanha do segundo turno recebeu. Professei minha f sem fazer dela uma arma eleitoral. Agora, a candidata do PV disse que o partido quer ser um veculo mediador de propostas e que vai cobrar de quem for eleito a execu-o das promessas de campanha.
Antes da votao, Alfredo Sirkis, vice-presidente do PV, enumerou vrias propostas do partido sobre temas como educao, segurana pblica, seguridade social e meio ambiente. Essas propostas foram apresentadas s candidaturas de Dilma e Serra anteriormente e os dois candidatos se posicionaram sobre cada uma dessas questes. Segundo Marina, o PT acolheu a maior parte das propostas.
O PV continua cobrando os demais partidos programaticamente, posicio-nando-se sempre sobre as propostas. A agenda de um partido como o nosso no se prende eleio, disse o presidente do partido Jos Luiz de Frana Penna. n
Verdes se dividem no segundo turnoJustia caraO Cear o estado que tem
o custo mais alto para o acesso Justia em causas que no ultrapassam o valor de R$ 2 mil, as mais comuns entre as pessoas de menor renda. Segundo levantamento indito feito pelo Conselho Nacional de Justia (CNJ), o Judicirio do estado cobra cerca de R$ 600 em taxas para julgar essas causas. O valor difere das demais unidades da Federao: em 63% dos estados, o valor de custas cobrado no ultrapassa os R$ 200.
O segundo colocado Mato Grosso, cujo valor de R$ 400, seguido pela Bahia, em que a cobrana est na faixa dos R$ 300.
As menores taxas para essas causas de pequeno valor so cobradas em Rondnia, Santa Catarina e no Distrito Federal, nesta ordem, com valores que no ultrapassam os R$ 50.
dVida PBLicaAs privatizaes feitas desde
o incio da dcada de 1990 sob o pretexto de fornecer dinheiro para o Estado e equilibrar as contas pblicas reduziram o endividamento do governo, mas em condies insuficientes para pagar os juros da dvida pblica. Segundo dados do Relatrio de Poltica Fiscal, divulgado mensalmente pelo Banco Central, o governo gastou cerca de 20 vezes mais com os juros nos ltimos 19 anos do que economizou com a venda de empresas ao setor privado.
De acordo com os dados mais recentes, o setor pblico pagou, de janeiro de 1991 a agosto deste ano, R$ 1,810 trilho em juros da dvida pblica. Em contrapartida, os ajustes de privatizao somavam R$ 75,476 bilhes em agosto, 4,1% dos gastos com os juros em quase 20 anos.
Na opinio do economista Joo Paulo dos reis Velloso, ex-ministro do Planejamento por dez anos (1969-1979), o prximo presidente deve retomar urgentemente a agenda de reformas, em especial a reforma poltica. Para poder ter taxas de crescimento maior temos que aproveitar oportunidades, para aproveitar oportunidades ns temos que fazer as reformas necessrias.
Reis Velloso foi ministro na poca da ditadura militar (1964-1985), durante os governos dos generais Garrastazu Mdici e Ernesto Geisel, e estava no poder durante o milagre brasileiro e as crises do petrleo em 1973
e em 1979. Daquele tempo, o economista faz uma auto-crtica: nos anos 1970, o nosso concorrente era a Coreia do Sul. A Coreia hoje est quilmetros a nossa frente porque fez reformas que ns no fizemos, porque tomou decises e fez opes que ns no fizemos.
Atualmente Reis Velloso, com 79 anos, participa do Conselho de Desenvolvimento Econmico e Social, o Conselho ligado Presidncia da Repblica e coordena na Fundao Getulio Vargas, o prestigiado Frum Nacional, que rene os principais economistas do pas e do exterior e costuma ser aberto pelo presidente da Repblica.
Futuro presidente deve se preocupar com a reforma poltica
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O U T U B R O d e 2 0 1 0 | Fale! | 13www.revistafale.com.br
arenaPoltica
ainda VaLeGenecias Noronha, ex-prefeito de
Paramb conhece ou j ouviu falar? coisinha de nada no Serto dos Inhamuns, foi eleito com 176 mil votos deputado fe-deral. Ningum acreditava na sua eleio, mas foi o terceiro mais votado da nossa representao com a moral de ficha limpa. Isso vale, sim. Ainda vale muito.
Lder roberto cludio, guardem bem
esse nome, ser o futuro lder do governo na Assemblia Legislativa, se quiser. Se depender dele disputar a presidncia da Mesa Diretora com poucas chances de ven-cer. Quer mesmo a primeira secretaria.
no PreoNo preo com RC para a primeira se-
cretaria esto os deputados Srgio Aguiar, uma legenda de tradio na poltica estadual, e Patrcia Saboya, que dispen-sa comentrios. J foi tudo no Cear: vereadora, deputada estadual e senadora da Repblica, um currculo de fazer inveja. Mas prefeita que gostaria de ser foi 4 vezes candidata derrotada. Apesar de ser subproduto do ex-marido, trata-se de uma pessoa de muito valor que no evoluiu por aceitar a condio de dependente.
mais VotosWelington Landin est com a maioria
dos votos para presidir a Assemblia Le-gislativa. E ainda tem o compromisso pes-soal do vicegovernador Domingos Filho, a quem caber a conduo do processo, segundo asseguram fontes palacianas.
QueM SeR QueM aManh
QUEM SER QUEM NO PRXIMO CONSULADO PRESIDEN-cial? No ser difcil responder a pergunta levando-se em conta o histrico de acontecimentos dos dois candidatos que chegaram ao segundo turno. Uma vitria de dilma deixar em situao privilegiada a famiglia Ferreira
Gomes, muito mais o governador do que o primognito. Por mais incrvel que possa parecer, the broders conseguiram a extra-ordinria faanha de liderar a campanha no Cear passando por cima do PT. Cid fez barba cabelo e bigode. Elegeu-se no primeiro turno e fez os dois senadores, derrubando Tasso para satisfazer pedido do presidente. Ciro foi nomeado coordenador geral do NE, suplantando o lugar de consolo dado a Luizianne, - coordenadora de Fortaleza (?), e tambm o banco da cozinha onde ficou Jos Guimares, o mais votado federal do PT no ultimo pleito, maior cacique do partido entre ns, nico que tem acento na Taba consensual de Lula.
O Ciro teve leve recuperao ao entregar os pontos, mas levou azar com a extraordinria votao do presidente do PSB e go-vernador Eduardo Campos, de Pernambuco. O homem exagerou com 80% dos votos do seu estado. Coisa nunca vista. Isso signi-fica que ele ser o primeiro a ser consultado pelo Planalto, e que qualquer analise do nome de Ciro passar pelas mos do Dudu do seu Miguel, como ele era chamado pelos amigos de Miguel Arra-es, quando menino. Mas o Cear parece propenso a aplicar a lei da compensao no segundo turno votando em Serra e pedindo a Deus que ele vena para no deixar o domnio absoluto da poltica estadual nas mos de uma famlia mandando aqui e em Braslia.
O governador fermentou o bolo e sua turma tem crescido bastante. Segurou Eunicio (PMDB), matou Lucio Alcntara (PR) e Tasso Jereissati (PSDB), constituindo-se, por ultimo, uma ameaa ao prprio PT. Sabedoria demais vira bicho e come o dono. No d encosto a ningum. Mas se Serra vencer a eleio a coisa ser diferente. Vo subir os que estavam na bacia das almas imploran-do perdo pelas besteiras que fizeram no passado. Tasso, Lucio e Roberto Pessoa assumem a liderana das aes poltico-adminis-trativas do governo federal para o Cear, fechando o poder dos broders aos limites territoriais do Cear.
Quer dizer: a coisa vai ficar dividida. O BNB, no ser mais do Guimares, o DNOCS no ser mais do RGN e o Denit poder con-tinuar com o Dr. Lucio e Roberto Pessoa, que tero direito tambm a nomear diretores do Banco do Nordeste. Com Jos Serra, dois outros polticos concorrem em faixa prpria e so considerados fortes vetores de influencia: o deputado Rai-mundo Gomes de Matos, cuja fora se nivela a de Tasso pela forte amizade entre ele e Serra, vem de muito antes de candidaturas, e Ale-xandre Pereira, sim, ele mesmo, o boulan-ger que foi candidato ao senado pelo PR, circunstante sempre prximo de notveis e poderosos que pode ter encontrado a sua sorte desta vez. n
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PeriscpioFernAnDo mAiA
Periscpio FernAnDo mAiA
mania de GrandezaDeusinho Filho, vereador
presidente da Unio dos Vereadores do Cear (UVC), amargou fragorosa derrota na sua postulao de deputado estadual. Com a sua mania de grandeza, come panelada e arrota lagosta faz oposio inconseqente ao Dr. Washington, e sempre dizia que seria o prximo prefeito de Caucaia. Est as moscas, a beira de um abismo, sem amigos e cercado de credores.
mostraA 12a. edio da Mostra SESC
Cariri de Cultura acontece de 12 a 17 de novembro no Cariri e de 19 a 21 do mesmo ms em Fortaleza, reunindo grupos culturais que representam a memria cultural das regies. Seis pases e doze estados faro parte do contexto abrangente do evento, que teve no presidente Luis Gasto, o principal incentivador.
meLHor esquecerDe experiente raposa da
Cmara Municipal de Fortaleza. Se a prefeita Luizianne insistir com Acrisio Sena para a presidncia da Casa, vai apanhar de lavagem. Ser um desastre total. Se apoiar outro nome, tambm perder feio. Se ela quiser um bom conselho, melhor esquecer ranos e apoiar Salmito Filho.
surPresaEleio traz sempre alguma
surpresa, e desagradvel s vezes. A derrota de Tasso foi uma delas. A outra, tambm de enormes prejuzos para o nosso estado, foi a derrota nas urnas do empresrio Mrio Feitosa. No s pelo castigo de no ter a sua capacidade no Congresso a nosso favor, mas pelo seu substituto, o indefectvel deputado Manuel Salviano, de Juazeiro, nulidade absoluta que ocupa mandatos polticos sem nada construir a favor do estado.
o DeMoliDoR Varrio geral na poltica de Caucaia. O prefeito Washington Ges venceu as eleies derrotando todos os seus adversrios. Acabou com o domnio poltico do deputado Jos Gerardo Arruda que vinha administrando um feudo iniciado em l950 pelo seu sogro, tenente Edson da Mota Correia. No ficou nem a semente da famlia Arruda. Ins, ex-prefeita e esposa de Zegerardo, perdeu pra deputada estadual, e o seu filho, Jos Gerardo no se elegeu deputado federal para ocupar em Braslia, o lugar do pai.
serra e a tHe economist Para a vetusta revista britnica The Economist, o Brasil se
beneficiaria de mudana no governo aps oito anos de governo do PT. Sob um ttulo que pode ser traduzido como Segundo round, novos pensamentos?, o texto diz que Jos Serra (PSDB) seria um presidente melhor que Dilma Rousseff (PT). Segundo a revista, Serra tem sorte de ter tido uma segunda chance, pois sua campa-nha fora azarada e deve o adiamento da deciso votao de Ma-rina Silva (PV) e influncia de lderes religiosos. Afirmando que o Brasil agora tem escolha e que Serra mais persuasivo. O texto diz que Serra, apesar de defeitos como querer gerenciar tudo, se-ria mais rpido em cortar gastos pblicos e eliminar dficit fiscal, e em mobilizar capital privado para infraestrutura.
Enquanto Dilma no Lula, no tem suas habilidades po-lticas e pragmatismo, Serra, apesar de ter sido um oponente pobre, foi um ministro, prefeito e governador eficiente.
Todo mundo quer que a economia americana se recupere, porm no adianta ficar jogando dlar de helicptero.
GUido manteGa, ministro da Fazenda
enquanto o mundo no exercer restrio emisso de moedas de reserva como o dlar -- e isso no fcil -, a ocorrncia de outra crise inevitvel.
Xia Bin, assessor do banco central da China
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o futuro verde?O cientista poltico David Fleischer, da Universidade de Bras lia, afirma que o Partido Verde, a partir do desempenho eleitoral de Marina Silva, se consolida a longo prazo como alternativa de poder Por Marcos Chagas
Poltica
o PARTIDO VERDE SE CONSOLIDA, A LONGO PRAzO, COMO alternativa de poder no Brasil. Esta a tese de David Fleis-cher, cientista poltico e professor da Universidade de Bras-lia (UnB), que tem como base a anlise de dados estatsticos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a tendncia do crescimento partidrio ao longo do perodo de redemocra-tizao do Brasil. Mas Fleischer pondera que, para isso se
efetivar, o Partido Verde deve adotar posturas semelhantes s adotadas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) a partir da dcada de 1980.
Uma delas, lembra Fleischer, os verdes adotarem a estratgia de crescer com as prprias pernas, evitando alianas que possam com-prometer essa trajetria. Isso ter que ser feito mesmo que traga nus, como o assumido pelo PT, em 1989, de no referendar a Constituio Cidad.
A candidata Presidncia pelo PV, Marina Silva obteve 19,33% dos votos na eleio de 3 de outubro e foi a candidata mais votada no Dis-trito Federal e a segunda mais vota-da em cinco estados.
David Fleischer entende que Marina levantou nesta campanha a bandeira de um novo modelo de desenvolvimento social atrelado preservao do meio ambiente. Analisando o cenrio das pesquisas de inteno de votos aos candidatos presidenciais, o cientista poltico destacou que os cerca de 10% das
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intenes de votos candidata ori-ginam-se da elite mais esclarecida do pas que j teria entendido o discurso da candidata. A arrancada de Marina ocorreu nos ltimos 15 dias de campanha.
Um dia essas bandeiras chega-ro base da pirmide do eleitora-do brasileiros, mas isso demanda tempo e pacincia, disse Fleischer. Para ele, o processo de crescimento do PV pode ocorrer em uma veloci-dade mais acelerada que a do Parti-do dos Trabalhadores uma vez que os potenciais doadores fazem parte de uma elite, na sua avaliao, mais esclarecida sobre a necessidade de buscar o crescimento econmico e social em conformidade com a pre-servao do meio ambiente.
Outro fator que ajuda o PV nes-te processo seria os verdes j terem consolidado uma liderana para o pblico, no caso Marina, como foi Lula para o PT. Se quiser ser uma alternativa vivel de poder, o parti-do tem o desafio, agora, de encon-trar um lder voltado para dentro que seja capaz de construir um pro-grama claro e capaz de controlar eventuais faces que porventura venham a existir.
Joo Paulo Peixoto, cientista po-ltico e tambm professor da Uni-versidade de Braslia, avalia que os processos histricos de criao e crescimento do PT e, agora, do PV so antagnicos, uma vez que o Par-tido dos Trabalhadores teve como base para seu crescimento os movi-mentos sindicais e sociais. Por isso, ele no acredita que a mdio prazo os verdes tenham a capacidade de chegar Presidncia da Republica.
No existe similaridade entre o PT e o PV como alternativa de po-der, diz Peixoto. Ele acentua que a campanha de Marina Silva foi fun-damental para consolidar o proces-so de crescimento do PV a partir de agora. Isso far com que o partido ganhe densidade e peso para cons-truir alianas polticas que sejam capazes de chegar ao Poder.
Joo Paulo Peixoto afirmou ain-da que os verdes se consolidam como uma nova fora que tem de ser considerada no processo polti-co a partir destas eleies. Eu diria at que esse crescimento dos verdes no se d apenas no Brasil, mas em todo o mundo. n
Terceira mais votada, com 19,33% dos votos vlidos na corrida presidencial, marina Silva entende que sua candidatura foi a primeira colocada da nova po-ltica brasileira. estamos felizes e vitoriosos, porque, ainda que no tenhamos ido para o segun-do turno, o Brasil tem o segundo turno para pensar duas vezes, celebra marina. Quem sair deste processo sair mais fortalecido, sair mais legitimado.
os brasileiros, mesmo reconhecendo que esto vivendo melhor, deram uma clara sinali-zao de que nem s de po vive o homem, argumenta. A gente vive tambm de verbo. A gente tambm vive da poltica.
Sobre um eventual apoio aos que disputam o segundo turno: Vamos ter que estabelecer um processo de discusso nas instn-cias do partido e buscar estimular
um especie de plenria com os ncleos vivos que colaboraram, disse marina. A nossa deciso ser uma deciso que, no meu entendimento, no tem nada a ver com a velha politica, que se apressa em manifestar uma po-sio s para vislumbrar pontos l na frente.
marina revelou-se satisfeita por ter conseguido comprovar que o melhor caminho para sua candidatura foi o de no ter ido para o vale-tudo eleitoral, com o uso de denncias para tentar tirar votos dos adversrios. Foi acertado no termos ido para o vale-tudo eleitoral. S nos dispomos a ganhar ganhando, e de perder ganhando. Alis, no tem perda, s tem ganho. Se no fomos para segundo turno, estamos em primeiro lugar de uma nova poltica que se inau-gura no Brasil.
m a r i n a s i L V aestamos em primeiro lugar de uma nova poltica que se inaugura no Brasil
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iDeiaS De DilMa18 | Fale! | O U T U B R O d e 2 0 1 0 www.revistafale.com.br
PoLtica
iDeiaS De DilMa
a ex-ministra da Casa Civil do Governo lula disputa o segundo turno estimulada pelo seu principal cabo eleitoral, o presidente da Repblica, numa campanha que tem como grande desafio fortalecer o discurso de continuidade e ampliar o nmero de eleitores
C OM 46,91% DOS VOTOS VLIDOS na eleio presidencial do dia 3 de outubro de 2010, a mineira Dilma Rousseff, candidata do PT pre-sidncia da Repblica, disputa o segundo turno com o tucano Jos Serra. Dilma tem uma trajetria poltica marcada pela militncia contra o regime autoritrio e por sua atuao no servio pblico. Na juventude, foi presa e tortu-rada por fazer oposio ditadu-ra militar. Depois de passar trs anos na priso, mudou-se para o Rio Grande do Sul. L, chegou ao
primeiro escalo da administrao estadual, coman-dando a Secretaria de Minas e Energia nos governos de Alceu Collares (PDT) e de Olvio Dutra (PT). Devido ao seu conhecimento na rea, foi convidada pelo presi-dente Luiz Incio Lula da Silva para assumir o Minis-trio de Minas e Energia, em 2003. Dois anos depois, passou a comandar a Casa Civil, tornando-se uma das principais executivas da gesto Lula. Seu desempenho levou Lula e o PT a lan-la para presidente. Essa a primeira vez que Dilma disputa uma eleio.
Filha de um empresrio blgaro e uma brasileira, a uni-versitria Dilma deixou a famlia de classe mdia em Minas Gerais para ingressar na luta contra a ditadura militar, como militante do Comando de Libertao Nacional (Colina) e da Vanguarda Armada Revolucionria Palmares (VAR Palma-res). Foi presa pelo Departamento de Ordem Poltica e Social (Dops) e torturada na cadeia.
Na dcada de 70, depois de quase trs anos presa, passou a viver no Rio Grande do Sul, onde engajou-se na campanha
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pela anistia e ajudou a fundar o PDT.Em 1986, foi nomeada secretria
da Fazenda de Porto Alegre, na admi-nistrao de Alceu Collares. Depois, comandou a Secretaria Estadual de Minas e Energia. Em 2001, integrou o grupo que saiu do PDT para se filiar ao PT, partido pelo qual disputar, em outubro, a Presidncia da Repblica.
Dilma ingressou no governo Lula no primeiro mandato, quando assu-miu o Ministrio de Minas e Energia. Dois anos depois, passou a chefiar a Casa Civil. No comando da pasta, ge-renciou o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) - o que lhe rendeu o ttulo de me do PAC - e se tornou uma das ministras mais importantes do governo Lula.
Em abril deste ano, saiu da Casa Civil para tentar ser a sucessora de Lula no Palcio do Planalto. Antes disso, em 2009, passou por um tra-tamento para cncer no sistema lin-ftico. Dilma economista e tem uma filha e um neto.
Educao a prioridade das prioridades
A educao a prioridade das
prioridades no eventual governo da candidata do PT Presidncia da repblica, Dilma rousseff. em entrevista reprter Luciana Lima, da Agncia Brasil, Dilma afirma que nem agora, e nem no futuro, possvel imaginar um Brasil real-mente desenvolvido se a prioridade das prioridades no for a educao. Dilma tambm falou sobre sade, destacando que a principal tare-fa ser a de construir a estrutura definitiva do Sistema nico de Sade (SUS), observando os princpios de universalizao, equidade e melho-ria na qualidade. A candidata res-saltou ainda suas propostas para as reas de segurana, meio ambiente e transportes.
Por que a senhora quer ser presi-dente da Repblica?Dilma Rousseff. Para o Brasil seguir mudando. meu sonho de Brasil o mesmo sonho que embalou o atual governo: um pas para 190 milhes
de brasileiros, e no para poucos. Tiramos 24 milhes de brasileiros da misria e elevamos 31 milhes de pessoas para a classe mdia. Que-remos um pas de classe mdia, com a pobreza erradicada, crescimento elevado e oportunidades para todos. Um pas que ingresse em definitivo no clube das naes desenvolvidas.
Quais as demandas da sociedade a que a senhora dar tratamento prioritrio em seu governo?Dilma Rousseff. A educao, a sade e a segurana pblica sero prioridades. mas nem agora, nem no futuro, possvel imaginar um Brasil realmente desenvolvido se a prioridade das prioridades no for a educao. Vamos comear com a ateno criao e aos investimen-tos em creches. Vamos chegar em 2014 com as crianas atendidas por creches de qualidade. Vamos expan-dir o ProUni e valorizar os professo-res. Vamos criar escolas tcnicas e torn-las cada vez mais modernas e eficientes. Alm da educao de qualidade, nos prximos dez anos o Brasil precisa universalizar servios bsicos, como o saneamento, redu-zir ainda mais o dficit habitacional e eliminar a pobreza extrema.
O que a senhora pensa em fazer para reduzir a tributao sobre quem ganha menos?Dilma Rousseff. Vejo com ateno especial a necessidade de uma reforma tributria capaz de fazer o Brasil prosseguir nesse caminho do desenvolvimento econmico com distribuio de renda, num cenrio de maior sustentabilidade e compe-titividade. nas mudanas, considero fundamentais a desonerao dos in-vestimentos, a devoluo automtica dos crditos aos quais as empresas tm direito, a desonerao da folha e dos preos dos remdios.
Qual o tratamento dado em seu plano de concesso de subsdios tributrios e de estmulo a determi-nados segmentos da economia?Dilma Rousseff. Alm do estmulo ao crdito, olhamos para aqueles segmentos capazes de permitir ao Brasil uma robustez em seu merca-do interno, maior gerao de empre-gos, expanso da renda e do con-sumo. nosso plano para o prximo governo trabalhar para a desone-rao total dos investimentos.
Que medidas a senhora pretende
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adotar para erradicar o analfabe-tismo e melhorar a qualidade do ensino mdio e universitrio?Dilma Rousseff. Vamos dar ateno a uma viso integrada da educao da creche ps-graduao. no imagino que seja possvel educao de qualidade sem professor bem pago e com uma formao continua-da garantida. Vamos construir esco-las tcnicas federais em municpios com mais de 50 mil habitantes e em cidades polos. Faremos ainda uma ampla estrutura de banda larga de fcil acesso e baixo custo. Tambm vamos investir na qualificao do ensino universitrio, com nfase na ps-graduao para formar pesqui-sadores e tornar muitas de nossas universidades, centros de exceln-cia. implantarei o Promdio, para ampliar a oferta de ensino mdio integrado ao profissionalizante, essencial para que nossos jovens obtenham, ao final do ensino mdio, emprego de qualidade. Vou manter o enem e ampliar o ProUni.
O que o seu governo poder fazer para que o pagamento do piso se torne uma realidade no Brasil?Dilma Rousseff. nossa meta ga-rantir remunerao digna, progres-so salarial, melhores condies de trabalho dos educadores e formao dos profissionais da educao. Uma vez definido o piso nacional para o magistrio, a lei tem de ser cumpri-da. Contamos com a Justia e com o dilogo com governadores e prefei-tos. fundamental uma redefinio das prioridades do gasto pblico de cada estado e cada municpio para que isso se torne realidade.
O que a senhora pretende fazer para preservar os recursos natu-rais e reduzir o desmatamento?Dilma Rousseff. preciso recusar qualquer conivncia com desma-tamento e qualquer lenincia e flexibilidade com desmatadores. A vinculao da questo ambiental com a questo social, que foi um grande avano no governo Lula, continuar sendo marca das polticas nesta rea. neste sentido, permanecero aes voltadas para os milhes de brasilei-ros que vivem na Amaznia, na Caa-tinga, no Pantanal. Todos os nossos esforos se daro em busca de uma
economia de baixo carbono, planejan-do a predominncia da energia reno-vvel em nossa matriz, incentivando projetos de reflorestamento em reas degradadas, cumprindo as metas de reduo de desmatamento e de modernizao dos processos produti-vos na agricultura que levamos a CoP 15 [15 Conferncia das Partes da Conveno do Clima, em Copenha-gue, na Dinamarca, em dezembro de 2009] e incentivando a pesquisa e inovao de materiais e produtos modernos de baixo carbono e de baixo consumo de energia.
Como colocar em prtica a Poltica Nacional de Resduos Slidos?Dilma Rousseff. Ser apoiada e estimulada a formao de consr-cios municipais para modelos mais eficientes de destinao de resduos slidos, avanando na construo de solues permanentes em torno da eliminao dos lixes, do reapro-veitamento e da reciclagem dos resduos slidos, da consolidao de cooperativas de catadores e da ado-o da responsabilidade comparti-lhada pelo ciclo de vida dos produtos. Tambm ser estimulada a consti-tuio de cooperativas de catadores em todo o Brasil, de forma a permitir a profissionalizao e o aumento de
renda. essencial que a reciclagem seja elo estratgico da economia dos resduos slidos, com financiamento aos municpios que faam coleta seletiva com catadores, conforme a nova lei estabelece. A nfase na reduo, no reuso e no reaproveita-mento de resduos slidos estabele-ce um desafio de mudana de com-portamento da sociedade brasileira e do governo. Hoje, no Brasil, somente 12% dos resduos slidos urbanos e industriais so reciclados.
O que a senhora est propondo para garantir os direitos dos povos indgenas?Dilma Rousseff. o desempenho ambiental do Brasil deve muito ao Plano de Preveno e Controle do Desmatamento na Amaznia Legal que, entre outras coisas, tem titula-do terras indgenas. no fim do ano passado, o presidente Lula assinou vrios decretos demarcando nove reservas indgenas, que somam mais de 5 milhes de hectares. A homologao transformou as reas em posse permanente dos grupos indgenas que nelas vivem. minha proposta dar continuidade a mes-ma preocupao que pontuou nossa ao no governo do presidente Lula.
O que a senhora pretende fazer para garantir a oferta de alimentos saudveis populao?Dilma Rousseff. Vamos avanar para termos uma produo mais sustentvel, para continuar implan-tando melhores prticas no campo, para usar a cincia e a tecnologia, para ampliar a produo. o meio rural reflete hoje uma diversidade grande e continuaremos no meu governo, se eleita, a incentivar essa diversidade. no falamos mais ape-nas em latifundirios e sem-terras. Falamos em agronegcio dinmico, bem posicionado na produo de commodities, em uma agricultu-ra familiar moderna e produtiva, em pescadores e ribeirinhos, em extrativistas, em mdios produto-res. As dificuldades de reposio de estoques mundiais, o aumento do consumo de gros como milho, soja e trigo, e o processo de produo sustentvel criam condies favor-veis a pases como o Brasil. Portan-to, daremos continuidade poltica
ningum sai, s entra. A gente no diminui. ns estamos na fase de somar. O processo hoje de adio. Agora, a campanha conta com uma poro de lideranas que so eleitas, que antes estavam dedicadas s outras campanhas.
diLma rousseFF
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externa iniciada no governo Lula de diversificao dos destinos das exportaes, com o fortalecimento das relaes com pases da frica, sia e Amrica Latina. Vamos incre-mentar as medidas de incentivo s exportaes, melhorando a compe-titividade da produo brasileira.
Qual a sua estratgia de desenvol-vimento econmico para que o pas possa continuar criando empregos?Dilma Rousseff. o caminho a educao. Sublinhei essa questo da qualificao da mo de obra e das oportunidades de trabalho da surgidas na discusso do papel da educao, e em especial na educa-o profissionalizante. o caminho criar mais escolas tcnicas e ofere-cer mais vagas. Ao mesmo tempo, vamos apostar decididamente na formao de engenheiros, matem-ticos e fsicos, porque no h ino-vao sem eles. o ensino superior brasileiro um elemento essencial para que institutos de pesquisa se associem a empresas e projetos e criem tecnologias capazes de serem utilizadas nos processos industriais do pas. A articulao do estado, das instituies de pesquisa e da aca-demia com o setor privado nacional crucial para o processo. Fortale-ceremos os processos de qualifi-cao de mo de obra, oferecendo cursos de qualidade, articulados com as demandas dos empresrios. o acordo entre o meC e o Sistema S ser mantido e fortalecido, para que os trabalhadores brasileiros que precisam se capacitar e os estudantes de ensino mdio possam ter acesso aos cursos de qualidade oferecidos por este sistema. Para incentivar a gerao de emprego de qualidade, continuaremos incenti-vando a formalizao de empres-rios individuais e daremos reforo ao crdito e apoio tcnico e de gesto para as micro e pequenas empre-sas. Criaremos um ministrio para apoiar o desenvolvimento das micro, pequenas e mdias empresas. essa uma questo fundamental.
Que medidas a senhora pretende adotar para melhorar o sistema de Sade?Dilma Rousseff. A principal tarefa construir a estrutura definiti-
va do Sistema nico de Sade, o SUS, considerando os princpios de universalizao, equidade e melho-ria na qualidade da sade. Temos de melhorar a gesto na rea da sade, integrar mais os programas e melhorar os servios. na tarefa de completar o SUS, colocaremos em prtica um audacioso projeto. Vamos elevar a qualidade da ateno bsica de sade, garantindo o Programa de Sade da Famlia em todos os muni-cpios brasileiros, implantando 8.694 Unidades Bsicas de Sade (UBS), porta de entrada no sistema de sa-de e universalizando o Brasil Sorri-dente. Para enfrentar a questo das emergncias, vamos universalizar o Samu e instalar mais 500 Unida-des de Pronto Atendimento (UPAs). Vou criar a rede Cegonha, uma linha de cuidado qualificada para as gestantes e purperas e para os
recm nascidos. Com a implanta-o do Samu Cegonha e a expanso dos Samu neonatais reduziremos a desigualdade na oferta de leitos em UTi neonatal. Garantiremos a oferta de consultas com especialistas e exames, pelo estabelecimento de mecanismos de gesto compartilha-da e expanso de policlnicas onde a presena pblica for necessria. e vamos ampliar o Programa Aqui tem Farmcia Popular e garantir oferta gratuita de medicamentos de diabetes e hipertenso.
O que a senhora pretende fazer para melhorar o sistema prisional brasileiro?Dilma Rousseff. Daremos continui-dade ampliao dos investimentos em penitencirias estaduais, apoian-
do a construo de mais presdios, para diminuir o dficit de vagas hoje existente, e melhorar a gesto do sistema nos estados, assegurando melhores condies de ressocializa-o, mas garantindo que os presos no sigam comandando o crime de dentro das cadeias.
Que medidas a senhora adotaria para reduzir o consumo de drogas entre os jovens e adultos, especial-mente do crack?Dilma Rousseff. o combate ao crack ser feito em trs frentes funda-mentais: primeiro, no apoio e na preveno para impedir que mais pessoas caiam nessa armadilha, que fatal. Segundo, na ateno e no tratamento, para cuidar dos que precisam se libertar do vcio. e, ter-ceiro, na questo da represso e da autoridade para combater e derrotar os traficantes. Simultaneamente, o macio investimento em infraestru-tura em reas expostas ao do crime o que tem sido feito com o PAC em todo o Brasil e as unidades de Polcia Pacificadora (UPPs) no rio, por exemplo alm do esporte e da educao que so aes fun-damentais para evitar que os jovens e as crianas sejam submetidos a situaes de risco.
O que a senhora pretende fazer para melhorar o atual sistema de transporte coletivo?Dilma Rousseff. o grande princpio a nortear estas aes a melhoria da mobilidade urbana, articulando o ordenamento territorial com o de transporte e de acessibilidade. no h como suportar a escalada do uso do transporte individual motorizado em detrimento de solues cole-tivas, que sejam economicamente mais igualitrias. essa uma lgica a ser alterada em pouco tempo. Um grande estmulo para resolver em definitivo o problema do transporte pblico nas grandes cidades ser a realizao da Copa do mundo de 2014. As conquistas vo muito alm do futebol, elas sero muito intensas para as cidades brasileiras. inves-timentos em infraestrutura esto entre os maiores legados que a Copa deixar para o Brasil. Alm dos aeroportos, so obras de transporte urbano como trens, metrs, veculos
liberdade de imprensa, de opinio, de expresso e de organizao. essas quatro liberdades so muito preciosas.
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leves sobre trilho, corredores de nibus e os prprios terminais.
O governo deve dispor de algum ins-trumento para garantir ao cidado a plena liberdade de informao?Dilma Rousseff. Liberdades de todas as formas. Liberdade de im-prensa, de opinio, de expresso e de organizao. essas quatro liber-dades so muito preciosas. So um bem da sociedade. A consolidao do estado democrtico de direito passa, igualmente, pela garantia e pela manuteno da liberdade de imprensa e da livre circulao e difuso de ideias. exige, cada vez mais, a ampliao do direito in-formao da populao, que passa tambm pelas fantsticas possibi-lidades abertas pelo mundo digital e pela internet. o acesso banda larga uma questo central da de-mocratizao, que ser respondida por iniciativas importantes, com destaque para o Plano nacional de Banda Larga, que permitir garan-tir o acesso internet, de forma mais barata, para toda populao brasileira.
Como deve ser a poltica externa do Brasil?Dilma Rousseff. os princpios do relacionamento internacional do Brasil so e devem continuar a ser os mesmos. esto presentes na Constituio: autodeterminao dos
povos, no interveno, integrao latino-americana, respeito sobera-nia dos estados e a prevalncia dos direitos humanos. Uma poltica ex-terna correta e efetiva para um pas com a projeo internacional que o Brasil tem hoje deve ser marcada tanto pelo sentido de solidariedade e cooperao com outros pases como tambm pela audcia. Temos capacidade e relevncia para tomar atitudes sem pedir licena.
Que tipo de projeto a senhora tem para modernizar a Previdncia Social para melhorar os benefcios daqueles que ganham apenas um salrio mnimo?Dilma Rousseff. Defendo ajustes sis-temticos na Previdncia, mas sem reformas grandes como as realiza-das no passado. A reforma na Previ-dncia pode resultar em armadilhas, como ocorreu em alguns pases onde houve uma corrida para aposenta-doria precoce, produzindo um efeito contrrio ao que se imaginava.
Quanto ao fator previdencirio, a senhora teria um modelo melhor que substitusse o fator previdenci-rio sem comprometer as contas da Previdncia?Dilma Rousseff. Acho que o gover-no agiu corretamente ao manter a aplicao do fator previdencirio no clculo das aposentadorias. evita--se, assim uma presso adicional na
conta da Previdncia, por desesti-mular as aposentadorias precoces. Ao mesmo tempo em que o pre-sidente Lula manteve a aplicao do fator previdencirio no clculo das aposentadorias, garantiu um reajuste de 7,7% para aposentados que ganham acima de um salrio mnimo. A questo da robustez fiscal e a situao dos aposentados foram igualmente respeitadas. assim que eu imagino agir.
Qual seria a melhor soluo para garantir a governabilidade?Dilma Rousseff. ningum governa sozinho. nenhum governo pode ser governo de um partido. Ainda mais num pas como o Brasil, marcado pela grande diversidade. Democra-cia exige esforo, dilogo, negocia-o e uma base no Congresso capaz de dar sustentao aos grandes projetos de mudana.
Qual a sua proposta para a diviso da riqueza pelo pr-sal?Dilma Rousseff. A Constituio determina que os estados produ-tores, que tenham equipamentos na rea de petrleo e gs, tenham tratamento especial em matria de royalties. justo que o Brasil inteiro receba pelo benefcio. Agora, justo tambm que os estados produtores e os estados que tenham essas ins-talaes tenham tratamento dife-renciado, porque eles tm seu meio ambiente mais afetado.
Que espao a mulher ter no seu governo caso seja eleita?Dilma Rousseff. Continuaremos a implementar polticas que pro-movam a autonomia econmica e financeira das mulheres. no caso das mulheres trabalhadoras com filhos, por exemplo, a construo de creches um programa muito im-portante. ns sabemos que mulher que trabalha quer ter onde deixar seu filho, onde sejam cuidados com toda ateno necessria. As mu-lheres chefiam 35% das famlias brasileiras. meu propsito continu-ar apoiando a implementao do 2 Plano nacional de Polticas para as mulheres, que tem um de seus cap-tulos dedicado justamente amplia-o da participao das mulheres nos espaos de poder e deciso. n
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iDeiaS De SeRRa24 | Fale! | O U T U B R O d e 2 0 1 0 www.revistafale.com.br
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iDeiaS De SeRRa
Com 32,61% dos votos vlidos e ajudado pela expressiva votao de Marina Silva, 19,33%, Jos Serra, ex-governador de So paulo e ex-ministro da Sade no Governo FhC, disputa o segundo turno das eleies presidenciais de 2010 com a candidata da situao Dilma Rousseff
o EX-GOVERNADOR DE SO PAU-LO, Jos Serra, 68 anos, entra na corrida pela presidncia da Repblica nas eleies de 2010 como candidato do PSDB, partido do qual um dos fun-dadores. A carreira poltica de Serra comeou na militncia estudantil nos anos 60, quan-do estava na universidade e foi eleito presidente da unio na-cional dos estudantes (UNE). Com o golpe militar, foi exilado no Chile e nos Estados Unidos, onde lecionou na Princeton
University, New Jersey.Depois de 14 anos no exlio, Serra retornou ao
Brasil e passou a lecionar no curso de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). Nos anos 80, tornou-se secretrio estadual de Planejamento no go-verno do peemedebista Franco Montoro, falecido em 1999. Em 1986, ele foi eleito deputado federal por So Paulo pelo PMDB e participou da Assembleia Nacio-nal Constituinte.
Dois anos depois, ajudou a fundar o PSDB. Em 1990, conquistou o segundo mandato na Cmara dos Deputa-dos. Na eleio seguinte, assumiu a vaga de senador.
Licenciado do Senado, Jos Serra comandou os Mi-nistrios do Planejamento (em 1995 e 1996) e da Sade (de 1998 a 2002) na gesto do ento presidente Fernan-do Henrique Cardoso. Na primeira pasta, desenvolveu programa de execuo de obras do Governo Federal em parceria com estados e prefeituras. Na sade, a adminis-trao dele foi marcada pela implantao do programa
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de combate Aids que serviu de modelo para outros pases e teve re-conhecimento da Organizao das Naes Unidas (ONU).
Em 2002, concorreu ao posto mais alto do pas, o de presidente da Repblica. Porm, perdeu a disputa para o ento candidato Luiz Incio Lula da Silva no segundo turno. Aps dois anos, foi eleito prefeito de So Paulo.
Em 2006, assumiu o governo estadual, eleito em primeiro turno. No incio deste ano, renunciou ao posto para ser o pr-candidato dos tucanos Presidncia da Repblica nas eleies de outubro.
Filho de imigrantes italianos, Serra nasceu em 19 de maro de 1945 na capital paulista. econo-mista e casado. Tem filhos e netos.
Ele promete fortalecer Bolsa Famlia
o candidato Jos Serra vai pela segunda vez para uma final de campanha presidencial. em 2002, ele perdeu para o presidente Luiz incio Lula da Silva. Agora ele foca seu discurso na defesa da qualida-de da sade e da educao pblica e defende a tambm a reduo da carga tributria.
nesta entrevista TV Brasil, Serra diz que uma base aliada frgil, nomeaes polticas e falhas em programas sociais so pontos baixos do Governo. o governo Lula forte pelo prestgio do presidente, mas no Congresso fraco. o governo po-pular por causa do presidente, no porque tem uma base no Congres-so, disse o candidato. em geral, a projeo do Brasil [no exterior] foi positiva por causa dos bolsas [alguns programas sociais cujos no-mes nomes comeam com a palavra bolsa]. [Se eleito] eu fortalecerei o Bolsa Famlia e o Sade da Famlia, que eu implantei, [e que] no esto coordenados.
Por que o senhor candidato a presidente da Repblica?Jos Serra. Sou candidato porque
creio que estou estou preparado. Porque creio que o Brasil pode mais em vrias reas, como sade, educao e segurana. Pode mais em reas como infraestrutura. Diante de muitas manifestaes de pessoas e do partido, eu acreditei que poderia oferecer com legitimi-dade meu nome.
Se eleito presidente, o que o senhor pretende fazer de diferente em relao aos antecessores?Jos Serra. no faria loteamentos. [Por exemplo, o que ocorreu com o caso da analista da receita Federal suspeita de violar o sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, eduardo Jorge] A receita Federal cometeu
um crime: quebrou sigilo [do eduar-do Jorge]. isso depende da gula dos partidos. o PT tem uma gula infinita. eu acho que todos os presidentes, sem exceo, subestimaram sua fora no Congresso. Quando estive no executivo, eu no fiz isso.
Muitos pensam que os adversrios torcem uns contra os outros. Isso real?Jos Serra. eu sou candidato para governar o Brasil no futuro. no fico jogando no quanto pior melhor. no Brasil, tem uma doena que o pa-trimonialismo. Por exemplo, o [atual] governo aparelha as agncias. H uma srie de loteamentos. Politizou-
-se [a relao dentro do governo]. A Fundao nacional de Sade [Funasa], que cuida de epidemias, foi posta de joelhos e destruda.
Na sua opinio, como possvel mudar este comportamento?Jos Serra. um comportamento do governo. eu governei So Paulo com maioria [na Assembleia Le-gislativa] e ningum nomeou [para cargos em setores pblicos]. isso significa no ter gente competente? no. eu acho que [ a relao esta-do-Governo] deixa muito a desejar. A questo da instituio, o Brasil tem um sistema eleitoral inteira-mente obsoleto e malfeito principal-mente no que se refere s eleies legislativas.
Por que o senhor fala tanto em en-sino profissionalizante e mudanas na educao?Jos Serra. meu av nasceu e mor-reu analfabeto, meu pai ficou anal-fabeto at os 20 anos. no Brasil, no tem mais espao para isso. outro dia conversei com uma mulher, que tem uma filha, que ia fazer 18 anos, e ia perder a Bolsa Famlia e no tinha emprego. ento vamos dar uma profisso [aos jovens]. Vamos criar 1 milho de vagas tcnicas, vamos fazer cursos [profissionalizantes].
A Argentina sancionou lei autori-zando o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o senhor defende que o Brasil siga este exemplo?Jos Serra. Acho que no uma questo do estado. Virou uma questo xod das entrevistas. um problema das pessoas. Cada crena entra na questo. Se uma igreja no quer casar, o estado no intromete.
E, no caso de mudanas na lei que autoriza o procedimento do aborto, o Estado deve interferir?Jos Serra. no que depender de ini-ciativa do executivo, eu no procura-rei mudana na lei atual.
Pelos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), houve uma reduo de 26,65% do interesse dos eleito-res de 16 a 17 anos em relao s eleies presidenciais de 2006. O que o senhor tem a dizer a esses eleitores?
eu sou candidato para governar o brasil no futuro. no fico jogando no quanto pior melhor. no brasil, tem uma doena que o patrimonialismo. Por exemplo, o governo aparelha as agncias.
Jos serra
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Jos Serra. Pensem, por favor, que seu voto pode ajudar a mudar. Procura ver em quem voc vai votar. no votar ajuda os piores. Vamos fazer um esforo importante. Vamos comparar. Sou um otimista em relao ao Brasil. o Brasil avanou muito. A gente tem de pegar o bas-to de onde est e d para melhorar. o Brasil pode mais. Sou candidato do pode mais e d para fazer.
O que o senhor considera urgen-te na reforma poltica e o que sagrado?Jos Serra. meu principal objetivo com a reforma poltica diminuir os custos de campanha e em segundo [lugar], aumentar o controle do elei-tor sobre o poltico [que ele ajudou a eleger]. Tem de ter um mecanis-mo para esse controle. H sempre coisas sagradas [para os polticos]. o velhinho, a mulher, as crianci-nhas e os municpios. mas tem uma que est por trs que maior que a reeleio.
O senhor fala muito em combate droga e tratamento aos depen-dentes qumicos. Para o senhor necessrio ter mudana na poltica pblica relacionada ao assunto?Jos Serra. A questo da droga gravssima. o preo da cocana baixou 50 vezes, ento isso aumenta o consumo. [mas para combater so necessrias] cinco etapas [de ao]. A Bolvia expandiu tanto sua produ-o que impossvel que seja usada para consumo interno. [o governo] deveria pressionar o governo boli-viano a no ser frouxo. A base do crime organizado o contrabando de armas e drogas. Por isso, quero criar o ministrio da Segurana. Se a segurana vai mal, o governo se des-gasta com os governadores. o crime organizado um crime nacional.
Como o senhor explica suas crticas ao presidente Lula e ele mantm uma das avaliaes positivas mais elevadas da histria poltica do pas?Jos Serra. o governo Lula forte pelo prestgio do presidente, mas no Congresso fraco. o governo po-pular por causa do presidente, no porque tem uma base no Congresso. no Congresso fraco. em geral a projeo do Brasil [no exterior]
foi positiva por causa dos bolsas [alguns programas sociais cujos no-mes nomes comeam com a palavra bolsa]. [Se eleito] eu fortalecerei o Bolsa Famlia e o Sade da Famlia, que eu implantei, [e que]no esto coordenados.
H uma queixa geral do brasileiro sobre o peso dos impostos. Qual a maior discrepncia?Jos Serra. Pobre no pas paga o dobro em impostos em relao ao rico. isso proporcionalmente. Por exemplo, a manteiga e uma srie de produtos da alimentao tm impostos embutidos. [A carga tribu-tria] poderia ser reduzida. isso no precisa de Constituio. no precisa onerar os investimentos. Vou criar a nota fiscal brasileira. o consumi-dor vai comprar no varejo e ter de volta 30% do imposto que o varejista pagou. eu fiz isso em So Paulo e diminuiu a sonegao.
Uma das reclamaes, no Brasil, que existe sonegao de impostos enquanto muitos pagam bastante. Como resolver isso?Jos Serra. Quem sonega no paga nada, quem no sonega paga o dobro. Supomos que sejam donos de quatro empresas: duas pagam e as outras no. ento tem de arrecadar mais de quem paga. A sonegao uma coisa injusta. isso d para fazer s mexendo nesta estrutura a.
possvel solucionar a questo da
carga tributria elevada sem one-rar os investimentos?Jos Serra. A maior taxa de juros do mundo ns [ que] somos recor-distas. Temos o menor investimento governamental do mundo e ainda a carga tributria entre os pases desenvolvidos. este trip perver-so. preciso que o gasto pblico cresa menos. D para cortar gastos? D. D para cortar desper-dcio. importante no onerar os investimentos. Pode arrecadar na produo. Tem uma srie de coisas que se pode fazer.
Mas ser que possvel, por exem-plo, evitar que crises econmicas externas atinjam o Brasil?Jos Serra. Acho que a gente tem o dever de antecipar os problemas. Para continuar crescendo no futuro, preciso ter mais investimentos. no Brasil est se importando de-mais e exportando de menos. Tem gente dentro do governo em nvel de ministrio que pensa como ns. no uma coisa isolada. preciso fazer uma equipe homognea. Hoje h diferenas entre o Banco Central e [os ministrios do] Planejamento e da Fazenda. preciso ter um time harmnico.
O senhor costuma criticar a poltica cambial...Jos Serra. no, no fao crtica alguma situao atual. Acho que o momento bom. o instant-neo bom. n
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TUDO ACONTECEU COMO O presidente Lula queria. O Senado Federal, o foco de oposio ao seu gover-no no Congresso Nacional, mudou de configurao. As bancadas do PMDB e PT
cresceram e o perfil mais moderado o que passa a prevalecer a partir
uM SenaDo ConCiliaDoRSem nomes como Tasso Jereissati, arthur Virglio e Mo Santa a nova composio do Senado Federal ganha um tom alinhado ao executivo, como defendeu o presidente lula mas recebe novos membros, como acio neves e itamar Franco
de 2011. A bancada do PT no Sena-do sobe de 8 para 14 senadores. A bancada do PMDB foi de 17 para 19 senadores. No item renovaao 33 das 54 vagas passam a ser ocupadas por estreantes no Senado embora, a maioria, no seja nefita em gesto pblica. Dos alinhados ao PT esto a ex-prefeita de So Paulo Marta
Suplicy (SP), o ex-governador do Acre Jorge Viana e o ex-ministro da Sade, Humberto Costa (PE)., o ex-ministro da Previdncia Soc ial, Jos Pimentel (CE) e o ex-ministro das Comunicaes, Euncio Oli-veira (PMDB-CE), Walter Pinheiro (BA), Eduardo Braga (PMDB-AM)
No Senado, agora sero trs os ex-presidentes da Repblica com assento, Jos Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco, reste eleito sob os auspcios do ex-governador de Minas Acio Neves, tambm se-nador estreante em 2011.
Baixas marcaram a no eleio de senadores, como Tasso Jereis-
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sati (PSDB-CE), Arthur Virglio Netto (PSDB-AM), Marco Maciel (DEM-PE), Herclito Fortes (DEM--PI) e Efraim Moraes (DEM-PB). Eles eram crticos do governo fe-deral dentro do plenrio e tiveram participao importante na votao que derrubou a prorrogao da co-brana da Contribuio Provisria sobre Movimentao Financeira (CPMF). Enfrentaram, durante a campanha, a oposio direta do presidente Lula.
Dois senadores de tom modera-do tambm comporo a nova ban-cada no Senado, tambm se acen-tuou. Pelo PTB o presidente da Confederao Nacional da Inds-tria, Armando Monteiro, o mais votado em Pernambuco. No Distri-to Federal, o PSB elegeu Rodrigo Rollemberg um dos principais arti-culadores governista nas votaes da Cmara. Ciro Nogueira (PP-PI) tambm se elegeu para o Senado. Ele ocupou, como deputado fede-ral, vrios cargos na Mesa Diretora da Cmara dos Deputados.
Outra estria importante o tu-cano Aloysio Nunes Ferreira, eleito em So Paulo com a maior votao para o Senado. Eu acho que vou ga-nhar, comentava Aloysio, antes do final da apurao. importante ter um senador aqui de So Paulo para ajudar o governador Alckmin em Braslia e dar suporte ao presidente Serra. O PMDB o maior partido no Senado e o PT ganhou a maior bancada na Cmara dos Deputa-dos. provvel que cada um desses
19*
11*
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6
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4
5*
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PMdb
Psdb
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PTb
PdT
Pr
PP
OuTrOs
como fica a bancada do senado
Hoje2011
17
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o dia seguinte. o residente Lula recebe os governadores e senadores eleitos no Palcio da alvoradafOTO AnTOniO Cruz _ 5 de OuTubrO de 2010
PmDB pode ganhar dois enadores (uma vaga do PSDBe outra do PSoL) e o PT pode ganhar uma vaga do PP
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partidos passe a presidir uma das Casas. Hoje, o PMDB ocupa os dois cargos, mas, com certeza, o PT deve-r mudar esta condio.
A Cmara passou por uma re-novao menor que a mdia das ltimas eleies. Nos clculos do Departamento Intersindical de As-sessoria Parlamentar (Diap), a reno-vao ficou em 44,25%: 286 depu-tados no se reelegeram e 227 sero novos na Casa.
Na Cmara, os partidos que mais cresceram foram os da atual base governista, capitaneados por PMDB e PT. Eles tinham juntos 357 dos 513 deputados e somaro 372 na prxima legislatura. O atual governo conta potencialmente com 69,5% da Cmara. Dilma Rousseff contar com 72,5% de apoio parla-mentar quase uma sucursal do Executivo. No Senado, a base gover-nista, teoricamente, controlava 59% das cadeiras. Agora, o bloco gover-natista ir a 72% da Casa. Se eleita, Dilma ter uma situao folgada tambm no Senado, inclusive para aprovar emendas constitucionais.
A ser confirmada a hiptese de Jos Serra presidente, a negociao permear a relao com o Legislati-vo, j que PSDB e DEM tm nas duas casas cerca de 27% das cadeiras.
o dia seguinte. geraldo alckmin, Jos serra e aloysio nunes que desautorizou as pesquisas juntos em carreata de campanha em araraquara, so Paulo. ao lado, o fenmeno eleitoral tiririca, em sPfOTO: CieTe silvriO_ 24_08_2010 e deTAlHe de PrOPAgAndA nA Tv
No estaro no Senado polticos de ndole mais combativa, como Tarso Jereissati, Arthur Virglio e Herclito Fortes, que teriam ten-tado, juntamente com Jorge Bor-nhausen, articular o impeachment em 2005 em decorrncia do escn-dalo do mensalo que derrubou al-guns petistas notrios, dentre eles o ento ministro-chefe da Casa Civil Jos Dirceu.
No Rio Grande do Norte, o sena-dor Jos Agripino Maia, do DEM, foi reeleito com o apoio de peeme-debistas. Marco Maciel (DEM-PE), um intelectual conciliador no con-segiu a reeleio.
A nova Cmara perdeu no-mes importantes, alguns porque
no quiseram concorrer, como o secretrio-geral do PT, Jos Edu-ardo Cardozo e Ciro Gomes, do PSB, outros porque foram derrota-dos, como Jos Genoino e Antonio Carlos Biscaia, ambos do PT. No se elegeram ainda tucanos de alta plumagem como Arnaldo Madeira, Joo Almeida, atual lder, e Antonio Carlos Pannuzio. Antonio Palocci, do PT, tambm no voltar porque no concorreu, optando por coorde-nar a campanha de Dilma Rousseff.
Em compensao entra o de-putado como Tiririca (PR-SP) com 1.353.820 de votos. Ele se elegeu envergando o slogan pior que est no fica. Pior de tudo que pode ficar pior, Tiririca. n
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pROVAVELMENTE NINGUM DUVIDA QUE A PESQUISA DE opinio seja uma das principais armas de conquista eleitoral. O problema quando ela no cumpre o seu papel elementar de expor a opinio de toda populao por meio de uma amostragem. Os erros cometidos pe-las pesquisas de inteno de voto nas ltimas eleies chamaram a ateno dos eleitores e de especialistas so-
bre o assunto. At que ponto benfico para o processo eleitoral
peSQuiSaS eM XeQueerros coletivos nas pesquisas de inteno de voto do ibope e Datafolha, extrapolando abruptamente a margem de erro, descredibilizam a eficcia da metodologia desses institutos, que ficaram reticentes em divulgar a boca de urna
valorizar tanto, at sacralizar, as sondagens eleitorais dos institu-tos de pesquisa? Na maioria dos jornais, as pesquisas so tratadas como a principal manchete de primeira pgina.
Todos os institutos erraram o resultado final das eleies 2010 no Pas. Datafolha, Ibope, Vox Po-pulli e CNT/Sensus mostraram re-sultados dspares entre as ltimas pesquisas, inclusive a pesquisa de boca de urna e o resultado final das eleies. Os institutos extrapola-
ilusTrAO: rOWd HugH MACleOd
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brAnCO
3%2%
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19%20% 19%
11/091 28/091 02/101 03/10 02/102
61.27%Cid
69%
62%65%
55%
datafolha iboperesultado das urnas
sucesso de erros As barrigada nas pesquisas
1 Margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.2 Margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
6%
16.44%MArCOs
14%10% 11%
indeCisOs
14%
8% 7%
12%
ram num ponto em que as pesquisas no podem descuidar: a margem de erro. Os resultados divulgados nos ltimos dias antes das eleies con-tinham uma diferena de 4 a 7 pon-tos do resultado final da candidata Dilma Rousseff. Pontuao decisi-va, pois negava a ocorrncia de um segundo turno.
No caso do Ibope, o erro foi mais grave. Eles erraram na pesquisa em que a populao tradicional-mente mais confia: a boca de urna, que entrevista os eleitores no dia da votao e, preventivamente, tem amostra maior. Ainda que o insti-tuto apresentasse a possibilidade de haver segundo turno, o resultado da pesquisa apontou 5 pontos a mais do que a realidade para a candidata Dil-ma Roussef. Detalhe: foram ouvidas 4.300 pessoas e a margem de erro era de apenas 2 pontos. Alm disso, a pesquisa de boca de urna, tradicio-
nalmente divulgada pela Rede Globo s 18 horas, logo aps o encerramen-to da votao, foi levada ao ar mais de uma hora depois do habitual, quan-do a apurao oficial j ultrapassava mais de 40% das urnas apuradas.
Tendncias. De acordo com o resultado das pesquisas, fica claro que os institutos superestimaram o desempenho da candidata Dilma Roussef e subestimaram a candi-data Marina Silva. Em entrevista concedida ao programa Roda Viva da TV Cultura, em 4 de outubro de 2010, Mrcia Cavallari, diretora do Ibope Inteligncia, defende as pes-quisas e afirma que os institutos no erraram. Ao longo da cam-panha, todas as tendncias foram apontadas, disse. Como saber? A nica pesquisa afervel mesmo a de boca de urna e, mesmo aqui, os
institutos erraram. Mrcia explicou que Marina Silva teve um cresci-mento mais lento em relao a Serra e Dilma, mas que avanou de forma acentuada na ltima semana.
Rachel Meneguello, diretora do Centro de Estudos de Opinio P-blica da Unicamp, afirma que exis-tem questes imponderveis que as pesquisas sempre tero dificuldade para captar. Para ela, no se deve culpar totalmente os institutos por certos erros, mas sim a pressa na captao das opinies. H tendn-cias que surgem no eleitorado de ltima hora, que os institutos no conseguem captar com preciso. Se as pesquisas de campo tivessem tempo para serem feitas, com o de-vido clculo das probabilidades nas amostras, os erros seriam diminu-dos, mas h pesquisas sendo divul-gadas todos os dias, disse.
Segundo Jairo Nicolau, cientista
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poltico e professor visitante do Instituto de Estudos Sociais e Polticos da UERJ, este foi o maior erro coletivo j cometido pelos institutos do Brasil. Todos os institutos erraram o resultado final, lembra. O professor tambm afirmou que em 1992 aconteceu na Inglaterra o mesmo tipo de erro com os institutos de pesquisa do Pas. Aps as eleies, os institutos montaram uma fora-tarefa de socilogos, cientistas polticos e estatsticos para analisar cuidadosamente o que havia acontecido. O relatrio dos pesquisadores apontou uma srie de fatores: desde o voto envergonhado, que no se declarava sinceramente ao entrevistador, aos efeitos da absteno, disse.
Segundo Nicolau, outra causa apontada foi o uso da pesquisa por quota, utilizada por todos os insti-tutos de pesquisa do Brasil. O pro-fessor afirmou que os institutos
ingleses abandonaram esse tipo de pesquisa desde ento. Minha su-gesto que os institutos brasileiros faam o mesmo. Convoquem pesqui-sadores, estudiosos da opinio p-blica e estatsticos para um estudo detalhado sobre as razes dos erros desta eleio, disse. Nicolau afirma que as imprecises das pesquisas de eleies passadas sempre so justi-ficadas com a frase tivemos mais acertos do que erros.
No Cear, nem Ibope nem Data-folha apontaram que o candidato do PSDB, Csar Cals Neto, seria o se-gundo colocado com 19,51% dos vo-tos vlidos. Lucio Alcntara, do PR, acabou chegando com 16,44% dos votos vlidos e, Cid Gomes, sempre favorito nas pesquisas, ficou com 61,27% dos votos vlidos.
Na boca de urna do Ibope, Cid apareceu cm 64%, Marcos Cals com 15% e Lcio com 19% dos votos vli-
dos. Margem de erro: 3% para mais ou para menos.
Em artigo sob o titulo Um pre-sidente, no um santo, o jornalista Sandro Vaia, autor do livro A Ilha Roubada (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez, iro-niza: As margens de erro dos insti-tutos de pesquisa viraram motivo de chacota, e os mais esquentados saram a colocar em dvida a existncia real daquela multido de 80% de brasilei-ros que aprovam o presidente Lula.
Para o scio da Statistika Consul-toria, Jos Ferreira de Carvalho, as pesquisas de amostragem por quota no podem conter margem de erro. A margem de erro se coloca numa pesquisa de amostragem estatstica, isto , quando as pessoas so sor-teadas e no escolhidas para entrar num determinado perfil de renda, cor da pele e sexo, como ocorre coma amostragem por quota, diz. n
24%
17%
02/091 01/081
61%
49%
ibope
Os equvocos das pesquisas do Ibope e Datafolha no Cear
3%5%
10%lCiO
Cid
brAnCOMArCOsindeCisOs6%
9%
em ano de eleio, as pesqui-sas de inteno de voto orientam estratgias partidrias, determi-nam os rumos das campanhas polticas e despertam grande interesse no eleitor. So uma es-pcie de bssola para polticos e eleitorado, capazes de influenciar diretamente a opinio pblica e, portanto, o voto. mas geralmente esto erradas.
Deslizes como o ocorrido na disputa presidencial, onde as pesquisas superestimaram o desempenho de Dilma roussef e subestimaram especialmente a candidata marina Silva, que termi-nou as eleies com 20% do elei-torando quando, nas pesquisas, nunca havia ultrapassado a marca de 16%, tambm se estenderam ao mbito estadual.
no Cear, por exemplo, en-quanto a pesquisa ibope falhou em medir a verdadeira fora do governador Cid Gomes, o Data-folha o colocou quatro pontos percentuais acima do resulta-
do final. Ao comparar as duas pesquisas entre si, a discrepncia gritante: uma diferena de dez pontos percentuais. A surpresa no estado, no entato, ficou por conta do segundo lugar. Lcio Alcntara, que permaneceu na vice lideran-a em todo o perodo eleitoral, acabou amargando uma terceira colocao nas urnas. o tucano marcos Cals, que oscilava nas pesquisas entre os dez e catorze pontos percentuais, ultrapassou Lcio, contabilizando, no final das contas, 19,51% do eleitorado.
Para o historiador marco Anto-nio Villa, necessrio ter cautela com os nmeros divulgados nas pesquisas, pois pesquisas erradas podem alterar os resultados de uma disputa apertada. preciso discutir a oportunidade de divul-gao de pesquisas com erros graves de metodologia, porque as campanhas, os eleitores e a prpria mdia se pautam por elas, o que pode influenciar artificial-mente o voto, explica.
O U T U B R O d e 2 0 1 0 | Fale! | 33www.revistafale.com.br
o CeaRDe CiDCom 61,3% dos votos, o governador Cid Gomes se reelege e confirma sua hegemonia no estado com mais quatro anos de mandato
DEPOIS DE UMA CAMPANHA CONTURBADA, MAR-CADA por duras crticas de seus adversrios aps uma acusao de corrupo divulgada pela Revista Veja, Cid Gomes (PSB) foi reeleito, logo no primei-ro turno, governador do Cear. Segundo dados da Justia Eleitoral, Cid recebeu 2.463.940 votos dos cearenses, equivalentes a 61,3% dos votos vlidos do estado. Quem conquistou o segundo lugar nas
urnas foi o candidato Marcos Cals (PSDB), que recebeu 775.852 votos, ou 19,83% do total.
A vitria de Cid d espao para que o governador d continuao a obras de sua gesto atual, como a concluso da linha sul do metr de Fortaleza e a quadruplicao do Por-to do Pecm, alm da inaugurao de aeroportos no interior do estado. Entre as promessas que nortearam sua campanha e garantiram a supre-macia de Gomes no Cear, tiveram destaque as na rea de segurana,
como a contratao, por concurso pblico, de mais 3 mil policiais mi-litares. Outras promessas de Cid so a construo de 240 centros de edu-cao infantil e 100 escolas de nvel mdio, a entrega de cinco hospitais um em Fortaleza, outro na Regio Metropolitana e trs no interior e a instalao de scanners com raio X nas estradas do Estado, para comba-ter o trfico de armas e drogas.
Repetindo o que ocorreu em 2006, quando bateu Lcio Alcantra (ex-PSDB, atual PR) com votao quase idntica a obtida no pleito desse ano, Cid conquistou a eleio logo no primeiro turno. Apesar das acusaes de suposto envolvimen-to em um esquema de corrupo que envolvia prefeituras do estado e um desvio de R$ 300 milhes em licitaes fraudulentas, a corrida eleitoral no teve grandes revira-voltas, mantendo a ampla lideran-a de Cid sobre os adversrios, j antecipada nas pesquisas eleito-rais. A surpresa dessas eleies no estado ficou por conta do can-didato do PSDB, Marcos Cals, que superou o principal adversrio de Cid, Lcio Alcantra, e conquistou o segundo lugar na disputa pelo go-verno cearense. n
Leia o grfico nas pginas 36 e 37
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