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Revista de informação ANO VI — Nº 71 OMNI EDITORA www.revistafale.com.br R$ 9,00 C HICO X AVIER, UM CAMPEãO DE BILHETERIA Chico Xavier, O Filme, já arrebatou um público de mais e 2,5 milhões de espectadores e quer mais, entrar para o recorde de bilheteria B RASÍLIA, OS 50 ANOS DA CAPITAL O ator Nelson Xavier que interpreta no cinema a fase madura de Chico Xavier

Revista Fale! Edição 71

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Revista Fale! Edição 71. Matéria de capa: Chico Xavier, um campeão de bilheteria

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Revista de informaçãoANO VI — Nº 71OMNI EDITORAwww.revistafale.com.br

R$ 9,00

ChiCo Xavier, um Campeão de bilheteriaChico Xavier, o Filme, já arrebatou um público de mais e 2,5 milhões de espectadores e quer mais, entrar para o recorde de bilheteria

BRASÍLIA, OS 50 ANOS DA CAPITAL

O ator Nelson Xavier que interpreta no cinema a fase madura de Chico Xavier

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R E V I S T A D E I N F O R M A Ç Ã O

EDITOR&PUBLISHER LuíS-SéRgIO SANTOS

EDITOR SENIOR ISAbELA MARTIN

EDITOR ASSOCIADO Luís Carlos Martins EDITOR DE ARTE Jon Romano DESIGN GRÁFICO bruno Aôr EDITORES DE ARTE ASSISTENTES Eduardo Vasconcelos, Cinara Sá e Lívia Pontes WEBDESIGNER germano Hissa

REDAÇÃO Adriano Queiroz COLABORADORES Fernando Maia, Roberto Martins Rodrigues e Roberto Costa IMAGEM Agência brasil, AE, Reuters REDAÇÃO E PubLICIDADE Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim

Sá, 746 n Fones: (85) 3247.6101 e 3091.3966 n CEP 60.130-050, Aldeota, Fortaleza, Ceará n e-mail: [email protected] n home-page: www.revistafale.com.br Fale! é publicada pela Omni Editora Associados

Ltda. Preço da assinatura anual no brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção. Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00, exceto em promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! não se responsabiliza pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o

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costs uS$ 99,00. To subscribe call (55+85) 3247.6101 or by e-mail: [email protected]

ISSN 1519-9533

Vem aí O Livro do Ano 2009-2010. A história é de quem faz.

O mais completo documento de 2009 e os cenários para 2010.Mais um lançamento da Omni Editora. www.omnieditora.com.br

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DIA DO ÍNDIO“Não conhecemos na história nenhum momento em que uma nação

indígena invadiu a terra de outro para tomar conta, pelo contrário, o que acontece normalmente são os outros invadirem as terras indígenas tentando se apossar de uma terra que não é deles.” No dia do Índio, 19 de abril, Lula visitou a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Ele disse que interessa ao governo federal o crescimento econômico do estado, mas sem tirar o direito dos índios.

IMAGEM

fOtO RicARdO StuckeRt

“Nós atingimos um grau de maturidade em que a gente não pode, por conta de uma eleição, afrouxar o controle da

economia e deixar a coisa desandar, senão não controla mais. lula

ArenaPolíticaTalkingHeadsOnlineBrasíliaOffBlogosfera

S e Ç Õ e S8 talking Heads10 Arena Política

11 Online12 Periscópio55 Persona

ECONOMIA

16em busca do votoNos últimos seis meses, as

movimentações de Dilma e Serra, os dois principais concorrentes ao Palácio do Planalto se intensificaram. Viagens pelo país e pelo exterior, gravações de programas políticos, reforço nas estratégias de marketing, reuniões intermináveis para fechar alianças.

66Brasília, 50Há 50 anos, a construção de

Brasília vislumbrava a grandeza do futuro do Brasil. Hoje, para muitos, a capital federal é o retrato da corrupção e razão para a descrença

POLÍTICA

32 No dia em que o maior médium brasileiro

completaria 100 anos, chegou aos cinemas uma das maiores produções cinematográficas da história nacional, inspirada na vida do mineiro Chico Xavier. Orçado em R$ 12 milhões, Chico Xavier, o filme, é dirigido por Daniel Filho

49Pão com grifeO crescimento, em

Fortaleza, do mercado de luxo, voltado para as classes A, B e eventualmente C está atingindo também o segmento da panificação

cAPA: fOtO ique eSteVeS

Chico Xavier,agora ele emociona nos cinemas do Brasil

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eu não tenho nenhuma simpatia por Ciro Gomes. Zero! acho que ele fala demais, cai freqüentemente na bravata, é de uma espantosa arrogância, confunde falta de educação com autenticidade.

reinaldo azevedo, jornalista e colunista da revista Veja, em um post de seu blog

TalkingHeads

É preciso que a gente assuma o papel de partido político e decida o nosso destino, não ficar permitindo que o nosso destino fique correndo de tribunal para tribunal.

presidente lula, criticando a Justiça e as multas que recebeu do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o condenou por campanha eleitoral antecipada a favor de sua candidata

O presidente da República deve ser um espelho para todos os cidadãos e, por este motivo, não pode estimular a sociedade a desobedecer as decisões judiciais, o que levará certamente ao descrédito da própria democracia.

ophir CavalCante, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, sobre as declarações do Presidente

d e S l i Z e d e l u l a f

OtO

JARB

AS O

LiVe

iRA

dizem que Serra não gosta do Nordeste. e dizem até que eu não me dou bem com ele. É verdade que eu não o acho bonito e nem cheiroso, mas na época em que ele foi ministro do planejamento ele ajudou a fazer o Castanhão.

tasso jereissati, senador (PSDB -CE), sobre a verba federal liberada para o açude Castanhão quando José Serra era ministro do governo FHC

Ninguém mantém uma estrada fechada só porque vão dizer que estão inaugurando antes do tempo. Seria ridículo. esse é um fenômeno só brasileiro. É coisa de espírito de porco.

josé serra, ex-governador de São Paulo e candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, rebatendo as críticas de que estaria inaugurando obras que não estariam prontas para utilidade pública

o brasil não é uma voz isolada. essa é uma percepção equivocada de uma imprensa que não lê o noticiário internacional. São países importantes como a turquia e a China que têm posição diferente dessa.

MarCo aurélio GarCia, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, sobre a defesa do diálogo com o Irã e a oposição às sanções contra o país

“Recebo a homenagem como um reconhecimento ao Governo do presidente Lula e porque ajudou a construir uma parceria republicana no Ceará como a parceria do governador Cid Gomes com a prefeita Luizianne Lins.”

dilMa rousseff, candidata do PT ao Palácio do Planalto, agradecendo o título de cidadania de Fortaleza, na Câmara Municipal

fOtO AntOniO cRuz_ABR

EDIÇÃO Cinara Sá

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S e Ç ã o

Culpar as chuvas pelas mortes no rio é comodo.pq n culpar a ´politica criminosa de dar barracos em troca de votos?

vasques landiM, deputado estadual (PSDB-CE), pelo endereço twitter/ Vasques_Landim

a quem interessa criar interpretações falsas sobre as minhas palavras? Não importa, a verdade se impõe.vou seguir em frente.

dilMa rousseff, candidata do PT à Presidência da República, pelo endereço twitter/dilmabr

No discurso de Serra, eis o que faz a diferença: Quanto + mentiras nossos adversários falarem sobre nós, + verdades nós falaremos sobre eles.

Geraldo alCkMin, secretário de Desenvolvimento do governo paulista (PSDB), pelo endereço twitter/geraldoalckmin_

bom é isso aí. Na F1 você é tão bom quanto sua última corrida. hoje falam mal, amanhã batem palma. to calejado já.

ruBens BarriChello, piloto de fórmula 1, pelo endereço twitter/rubarrichello

eu tenho orgulho de dizer que sou um homem homossexual. eu sou muito abençoado em ser como sou.

riCk Martin, cantor latino, em nota no seu site oficial

pelo o que eu joguei até então, não mereço ir para a Seleção. isso é claro.

ronaldo, atacante do Corinthians, reconhecendo que seu atual desempenho é desfavorável à sua convocação para a Copa do Mundo

a melhor coisa que lula da Silva fez como presidente foi nada.

the wall street journal, jornal norte-americano, em editorial que critica duramente o presidente Lula, quem costumava elogiar

Sei que o presidente lula já fez muito por este país, em especial pelos pobres. o desafiaria a ser um herói, que lidere o mundo para um novo paradigma de desenvolvimento sustentável. a construção [da hidrelétrica de belo monte] não é uma resposta adequada.

jaMes CaMeron, cineasta, se dirigindo ao presidente Lula. O diretor do filme Avatar participou de uma manifestação em Brasília contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia

Quando falam em política, ele abaixa a cabeça.

alBerto fraGa, deputado federal (DEM -DF), descrevendo o estado de José Roberto Arruda, solto pelo STJ

uma campanha eleitoral é sempre difícil, mas nós temos que persistir, porque as mulheres podem vencer.

séGolène royal, líder socialista francesa, presidente do conselho regional da região de Poitou-Charentes e ex-candidata presidencial na França, durante encontro com a candidata do PT, Dilma Rousseff

É minha crença pessoal que os Castros não querem ver o fim do embargo e não querem ver a normalização com os Estados Unidos, porque eles perderiam todas as suas desculpas pelo o que não aconteceu em Cuba nos últimos 50 anos..

hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, acreditando que o fim do embargo econômico dos Estados Unidos contra o regime cubano não é interessante para os irmãos Castro

“Graças às medidas que tomamos o povo americano estará mais protegido e o mundo será mais seguro.”

BaraCk oBaMa, presidente dos EUA, após a cúpula de Segurança Nuclear, realizada em Washington, quando líderes mundiais firmaram compromissos em torno da questão nuclear

Quando as forças internacionais conseguiram entrar no imóvel, encontraram os corpos de quatro civis — duas mulheres, uma criança e um idoso — e quatro homens, suspeitos de ser insurgentes.

otan, em comunicado da Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf ), admitindo que seus aviões mataram inocentes no Afeganistão

fOtO ALex BRAndOn

fOtO VALteR cAMPAnAtO_ABR

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ArenaPolítica

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva os críticos da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte — projetada para ser construída no Rio Xingu, no Pará — torcem para que ocorra um apagão no Brasil, como o registrado em 2001. Segundo Lula, há uma entidade não governamental, ligada a partidos de oposição, insinuando ameaças de racionamento e crise energética. O presidente negou o risco de ocorrer um novo apagão.

“Orgulhosamente, eu

digo para vocês: ‘não terá apagão no Brasil’. A não ser que haja uma catástrofe. E aí, contra a catástrofe, ninguém pode. Só Deus é que pode resolver.”

Lula: “nós já fizemos, em oito anos, 30% do total de linhas de transmissão feitas em quase 125 anos”, disse. “Portanto [as usinas de] Belo Monte, Jirau, Santo Antônio são coisas que os nossos adversários torcem para não dar certo. Eu vi um cidadão dizer que isso é política. Quem não quis fazer política fez o apagão.”

para lula, oposição quer o apagão

PACTO PELA VIDA NO CEARÁ qUER DIAGNóSTICO SOBRE DROGAS

O Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia Legislativa do Ceará divulga o Pacto pela Vida — com foco no problemas das Drogas. A articulação pretende reunir órgãos governamentais, ONGs e membros da sociedade civil, para diagnosticar a situação das drogas no Ceará e fazer um plano estratégico de políticas públicas em busca de soluções.

Serão coletados dados das diversas instituições que realizam ações de prevenção, tratamento, repressão ao tráfico e ressocialização dos dependentes químicos no Ceará. A iniciativa tem o apoio do Sindicato dos Médicos do Ceará, da Central Única das Favelas (Cufa) e da Associação Cearense de Imprensa (ACI). Mais informações no site www.al.ce.gov.br/conselho/pactopelavida e pelo telefone (85) 3277.3743.

cesso.”A política do Distrito Federal entrou em

profunda crise política desde que a Polícia Fe-deral deflagrou, em novembro de 2009, a Ope-ração Caixa de Pandora sobre um esquema de distribuição de propina no governo distrital, envolvendo o primeiro escalão do Executivo local.

As denúncias levaram à prisão e afastamento, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do então governa-dor José Roberto Arruda.

Rogério Rosso (PMDB), governador eleito do DF impós um ritmo austero

O PROCuRADOR-GERAL DA REPú-bLICA, RObERTO GuRGEL, con-tinua defendendo a intervenção no Distrito Federal. Para ele, mesmo com

as eleições indiretas que escolheram Rogério Rosso (PMDb) como o novo governador do DF, a coisa continua como dantes. E é verda-de. São os mesmos quadros da política numa espécie de raposa fazendo auditoria no gali-nheiro.

Rosso, ex-secretário do Governo deposto, promete que irá conversar com Gurgel e mi-nistros do Supremo Tribunal Federal (STF) para convencê-los de que a medida não é mais necessária.

“Não fui procurado ainda. Se for, vou recebê-lo. Mas minha posição dificilmente vai mudar porque a intervenção independe da pessoa do governador mas sim do processo pelo qual ele foi escolhido”, afirma Gurgel.

“Não tenho nada contra a pessoa. A inter-venção é um remédio amargo, mas é o único caminho diante da gravidade da situação”. As eleições indiretas realizadas pela Câmara Legislativa do DF agravaram a situação de brasília, assegura Gurgel. “A eleição antes de apontar para a normalização, aponta para um agravamento. Dos 13 deputados que votaram em Rosso, oito são pessoas envolvidas no pro-

Novo GoverNo do dF NaS mãoS do StF

AS ORIGENS DA CRISE NA CANDIDATURA DE CIRO GOMES

Trecho do artigo do cientista político Murillo de Aragão postado no blog do Noblat: “A possibilidade de Ciro Gomes (PSB) disputar a presidência da República pelo PSB é altamente incerta. Diante dessa mesma percepção, ele escreveu duro artigo criticando seu próprio partido e a aliança PT-PMDB.” E continua Aragão: “A realidade é que a candidatura de Ciro perdeu consistência quando o bloco formado por PDT, PCdoB e PSB implodiu. As duas primeiras legendas decidiram apoiar a candidatura de Dilma Rousseff (PT) ao Planalto atendendo apelo do próprio presidente Lula.”

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Online

Eleições 2010As eleições presidenciais

de 2010 ganharam uma nova ferramenta para ajudar eleitores, políticos e imprensa a entenderem a dinâmica eleitoral. O site Observatório da Web, idealizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Web (INWeb), tem o objetivo de coletar informações sobre o que se fala dos presidenciáveis em vários ambientes — desde jornais e revistas que estão presentes na internet até redes sociais — organizá-las e apresentar resultados interativos para o internauta.

Com esses dados os visitantes podem analisar o desempenho dos candidatos sob vários aspectos e entender o contexto em que ele se forma. O endereço é www.observatorio.inweb.org.br.

teatro na redeO projeto Portal Cennarium, bancado pela empresa de mídias digitais Nortik, pretende facilitar o acesso da população ao teatro. a intenção é promover uma “inclusão cultural”, disponibilizando, para quem tiver computador conectado à internet, os principais espetáculos do eixo rio-SP, onde a movimentação teatral é mais intensa. as filmagens são feitas com tecnologia digital de alta definição para que os elementos cenográficos

não fiquem comprometidos. São oferecidas transmissões com três níveis de qualidade para atender tanto quem tem equipamentos mais modernos como conexão discada.Para assistir às peças, basta se cadastrar no portal e comprar créditos para fazer o download. Os ingressos são a partir de 10 reais, podendo chegar, no máximo, à metade do valor do espetáculo tradicional. Talvez seja um bom começo para a “inclusão cultural”.

O qUE É NOVOpen drives em clima de Copa. a empresa a-daTa desenvolveu a linha Soccer Jersey USb drive, que oferece pen drives em formato de camisas de seleção. Seis países participantes da Copa da África do Sul receberam a homenagem: brasil, alemanha, itália,

Coréia, México e estados Unidos. emborrachados, os gadgets têm material resistente à água e impactos externos. Sua capacidade de armazenamento é de 4Gb. Mais informações no site www.adata.com.tw, que informa onde seus produtos são vendidos.

Spam no Twitter?O Twitter relutou, mas acabou

se rendendo à publicidade. O site lançou o serviço Promoted Tweets, que permite empresas comprarem tweets promocionais que aparecerão nas páginas de resultados de buscas.

Será exibido apenas um anúncio por página – no mesmo formato das mensagens comuns – e, de início, apenas 10% dos usuários terá seu espaço dividido com esses textos. Alguns dos primeiros anunciantes são Best Buy, Red Bull, Starbucks e Virgin America.

Para um site que ainda não dá lucros, o projeto é uma iniciativa importante nesse sentido. Porém, muitos usuários já temem que o serviço se torne uma fábrica de spams – aquelas mensagens que quase nunca são bem vindas. Não demorou também para que a notícia do novo serviço – divulgada no blog de Biz Stone, cofundador da empresa – se tornasse um dos assuntos mais comentados do site.

Nokia e seus smartphonesA Nokia tentava há algum tempo concorrer com a líder no setor de aparelhos

móveis para e-mails corporativos, a RIM, fabricante do Blackberry. Para se fortalecer nesse desafio, o maior fabricante de celulares do mundo lançou três modelos de smartphones. O C3, C6 e E5 são aparelhos mais baratos - seus preços variam de R$ 215 a R$ 525 - e vão concorrer diretamente com o Blackberry, que assusta pela faixa de preço. O surgimento desse novo cenário - mais competitivo - foi facilitado pela crescente demanda por esse tipo de produto. Os novos modelos vêm com ferramentas de redes sociais, mensagens, e-mails e contatos, o que deverá popularizar ainda mais os serviços de comunicação pelo celular. Os três apresentam teclado QWERTY completo.

O novo modelo C3, segundo analistas, será uma das grandes apostas da Nokia nesse ano. Com conexão wireless, tela de 2,4” e suporte para cartão de memória de até 8GB, virá nas cores rosa choque, ouro branco e preto. O C6, mais avançado, tem tela de 3,2” e uma câmera de 5MP com auto-foco e flash, além de oferecer boa navegação na internet. Estarão disponíveis nas cores branco e preto. Já o E5 é direcionado para profissionais que usam o celular como ferramenta de trabalho. Com display de 2,4”, tem conectividade Wi-Fi, Bluetooth, GPS e suporte para memória externa de até 32GB. Até junho, deverão estar nas lojas os modelos C3 e C6. O prazo para o E5 estar disponível para compra é até setembro.

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H ildo Furtado Leite foi líder político do sertão cearense e deputado federal por mais de 30 anos, mantendo o domínio da sua região até quando

Deus o levou. Ensinava aos seus seguidores, “a humildade controlada”, sistema que consiste no domínio da política com uma máxima que sempre gostava de repetir: “Em política, não existe divisão. Ou vocês estão do meu lado, ou contra mim. Quero somar e multiplicar, dividir, nunca”. Antonio dos Santos, seu genro e seguidor, deputado estadual, ex-presidente da Assembléia Legislativa, governador em exercício algumas vezes, cita o exemplo do “Marechal”, como Hildo era chamado pelos jornalistas, para justificar a estratégia de Cid Gomes, reagindo as pressões do PT.

O governador não pretende dividir o poder com ninguém. Qualquer investida contra o seu determinismo pessoal e de Chefe de Estado apontam para mudanças políticas, desembarcando os “aliados” que o contrariem do poder. O seu compromisso de dar a vice aos petistas poderá ser cumprido a risca, desde que os seus pseudos aliados acatem os entendi-mentos acordados antes de eleger-se governador. O PT contraria a máxima do “seu Hildo”, e quer dividir o poder indicando não só o vice da chapa majoritária, mas também o candidato ao Senado. Cid Gomes quer liberdade para decidir por ele e pelo estado, quem deve ser o segundo candidato ao Senado da República, já que o primeiro, Eunicio Oliveira, entrou nos enten-dimentos com os petistas. O governador tem pelo deputado José Pimentel, estima e respeito, mas falta a ele, Pimentel, o amor que os Ferreira Gomes dedicam ao senador Tasso Jereissati. A “ humildade controlada” do Chefe do Executivo não o torna incapaz de dividir, como tem feito, mas não implica numa submissão que o deixe alijado desta escolha, acatando a indicação de um candidato contra a sua vontade.

Nesse caso, abraçar os ensinamentos do seu Hildo buscando a soma e a multiplicação, não

está fora de propósito. A chapa Cid Gomes, para governador, Domingos Filho, para vice, Eu-nicio e Tasso Jereissati para o Senado contrapon-do-se as ameaças dos petistas, já está na prensa para ser rodada. Esse quadro poderá mudar se o PT aceitar a cristianização da candidatura José Pimentel ao Senado, mas o ex-ministro da Previdência é uma questão pessoal do presidente Lula para derrotar Tasso. Se vencer essa queda de braço, o governador promoverá uma nova “união pelo Ceará”, juntando numa mesma panela a esquerda e a direita da política estadual, fazendo o PT perdoar Tasso e vice e versa, mas se não conseguir os seus objetivos pacificadores, Cid Gomes deve escolher de que lado quer ficar. Se com Pimentel e Lula, ou com Tasso e Serra. n

PeriscópiofERNaNdo maIaqUEM TE VIU

Uma vergonha a entrevista concedida pelo deputado Chico Lopes, no dia 6 de abril, a repórteres no Aeroporto Pinto Martins. O importante é ser governo, deixou claro. Isso seria até normal se o seu partido não fosse o PC do B, velha raposa cansada. O comunista renunciou o passado para adotar uma linha fisiológica de fazer corar franciscano. Candidato a deputado federal, Lopes foi além da conta na louvação ao governador, marcando posição para garantir votos.

NOVO ENDEREÇOAté agosto o senador Tasso

Jereissati estará mudando o seu tradicional escritório da Santos Dumont, para a torre que constrói junto ao Iguatemi onde ocupará todo um andar. E com ele, outros empresários acompanham o poderoso chefão do PSDB. Beto Studart, nome mais lembrado para assumir o partido depois que o Senador ensarilhar armas, é um deles. Vai de malas e bagagens levando para lá a sua holding, mas fez exigências. Quer os mesmos privilégios de Tasso: elevador privado para garantir a segurança. O edifício é o metro quadrado mais caro de Fortaleza para evitar o desembarque de pequenos empresários que queiram se aproveitar da boa vizinhança.

MAU AGOURO Ferve o caldeirão do Dem.

Chiquinho Feitosa não conseguiu segurar o bloco autêntico da agremiação. Rui Câmara e Erivelto Souza, vice e secretário geral, discreparam dos arranjos feitos pelo presidente do partido vomitando a bílis do descontentamento. Depois que garantiu para ele próprio a primeira suplência de Tasso, Feitosa entregou também o partido. Mas só o cartório. A tropa garante que ele não subirá a rampa do Senado sem antes ouvir o canto do mau agouro.

Eunício Oliveira e Cid Gomes

agripecVendida a um grupo australiano pelo empresário Beto Studart

por 1 bi, a Agripec acaba de ter 20% do seu capital adquirido pelo grupo nipônico Sumitomo. A boa aceitação dos seus produtos nos mercados europeu e asiático incentivou a compra por um valor não revelado, mas especula-se que, proporcionalmente, é superior à soma disponibilizada pelas ações da primeira transação.

humildade CoNtrolada

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Periscópio fERNaNdo maIa

A PERIGO Se valer a manifestação livre do eleitorado para as próximas eleições, o deputado Fernando Hugo, maior Ibope da TV Assembleia, será reeleito. O tucano, presença diária na tribuna com palavreado contundente e hilário ao mesmo tempo, agrada ao povão. Mas não soube agradar a “Lindona”, - é assim que chama a prefeita Luizianne - que minou o seu eleitorado colocando na regional de Messejana o vice Tin Gomes.

SILÊNCIOEmpresários e profissionais

liberais que buscam locação no Pátio Dom Luís, queixam-se das exigências para ocupar o prédio. Não é permitido qualquer atividade que possa incomodar locatários já instalados, operários não podem usar elevadores no horário de expediente, nem usar ferramentas que façam barulho. Broca e martelo, pode sim, desde que silenciosamente. Como fazer para furar buracos e bater pregos, ninguém sabe. Mas essa política parece agradar, porque a procura tem aumentado.

DERROTARoberto Pessoa encara as

próximas eleições como a maior derrota sofrida pela democracia no Ceará, desde a revolução de 64, quando os governantes eram nomeados. Sem adversários para confrontar o seu programa de realizações, o governador busca institucionalizar a sua administração para a continuidade da democracia cearense, que é diferente da desejada pelo povo, a quem não caberá escolha. Ex-candidato a proporcionar uma sadia disputa eleitoral, Pessoa considera que paira no ar um desvão de consciência.

DEFICIÊNCIAAprovado em Plenário pela

Câmara dos deputados, Projeto de Lei da deputada cearense Gorete Pereira, que permite às pessoas com deficiência se aposentarem com menos tempo de contribuição à Previdência Social. Se valer deficiência moral, mais da metade da Câmara será beneficiada.

BLEFEDo deputado Eli Aguiar sobre

o Secretário de Segurança Pública: “Esse homem é um blefe. Não entende nada de segurança. Só quem não admite é o governador para não passar recibo do erro que cometeu ao escolhê-lo para o cargo.”

MarinheirosEm êxtase, era como

se poderia definir o vereador Acrísio Sena, durante a solenidade de cidadania fortalezense para a ex-ministra Dilma Rousseff. A propósito, atentem para a semelhança de Acrísio com o marinheiro Brutus, que disputa o amor de Olívia Palito com outro marinheiro, o Popey, aquele que come espinafre.

Indignado, o deputado Ivo Gomes denunciou na tribuna da Assembleia Legislativa que a Prefeitura de Fortaleza sonegou informações em relação à construção do novo local

para vendedores ambulantes. Quem deu o dinheiro foi Cid Gomes. Rapidamente, o deputado Artur Bruno reconheceu o equívoco no comercial de TV que trata do centro de Pequenos Negócios.

metralhadora

FISIOLOGISMO Osmar Baquit, homem de

confiança e líder do governo Tasso na AL, conquistou também a confiança de Cid Gomes e será um dos mais votados do PSDB. Chamado pelos colegas de Rei do Fisiologismo, se fez íntimo do poder abraçando as causas do governador com mais fervor do que qualquer outro aliado, garantindo trânsito livre em novos colégios eleitorais. Recuperou Quixadá, sua principal base política, pela incompetência do “prefeito laranja” eleito por Ilário Marques, que continua mandando na administração municipal.

SACRIFÍCIOFeito candidato para

preencher um espaço em nome do PC do B, que dessa forma achou a maneira mais fácil de fugir a compromissos de não apoiar o PT, não desagradar a Tasso nem ao governo, o advogado Hélio Leitão aceitou a indicação do seu nome por puro espírito democrático. Sabe que não terá a menor chance de eleger-se senador. Faltam-lhe verbas para tocar a campanha e lhe faltam também os amigos que o cercavam na presidência da OAB-Ce.

LEVA EUNão se sabe ainda quem vai

usar no Ceará o jingle “Leva Eu” – adaptação do sucesso do cantor Zeca Pagodinho – composto por Duda Mendonça para a campanha de Dilma Rousseff. O PT quer Cid Gomes, mas essa possibilidade torna-se cada dia mais distante. Vai depender da candidatura do insistente Ciro Gomes que não abriu mão da disputa e guarda mágoas do Planalto.

DOBRADINHAFamoso pelo seu jogo

de cintura, o vice-prefeito Tin Gomes, que colocou à disposição da eleição do primo Cid 30 vereadores em Fortaleza, não está cobrando a conta, mas será ajudado na sua campanha para deputado estadual pelo governador. Recente pesquisa o aponta como o mais votado na capital. E com ele, Mário Feitosa, que já encomendou a fatiota para tomar posse na câmara dos Deputados.

PROSCRIÇÃOCiristas justificam

o silêncio com que foi acolhida a proscrição do seu líder invocando conveniências táticas de Lula. – Não seria bom para o Presidente permitir a eleição de Ciro. Se isso acontecesse, o seu caminho de volta em 2014 seria mais difícil do que lá estando a Dilma.

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10PERGUNTASpaRa

ELA NASCEu PARA SER O CENTRO DAS ATENçõES. A PAuLISTA PATRíCIA CALDERóN já demonstrava o seu potencial de liderança na escola. Timidez ela nunca conheceu e nem também o medo de trabalhar. Já aos 14 anos começou a ganhar o próprio dinheiro. Para completar adorava as aulas de Português. uma combinação de características assim poderia fazer sucesso em muitas profissões ligadas às Ciências Humanas, mas foi ainda melhor para quem almejou desde cedo trilhar nos rumos do

Jornalismo. E foi essa vocação que ela descobriu e aperfeiçoou. Chegou à poderosa Rede Record, em 2002, menos de quatro anos depois da formatura na universidade São Judas Tadeu.

Antes disso, passou ainda pela rádio Transamérica, pela Editora Abril, pelo jornal Folha de S. Paulo e pelo SbT, além de ter feito trabalhos em assessoria de imprensa. Já na emissora do bispo Macedo

ela apresentou programas jornalísticos de grande audiência como o “Fala brasil” e o “Edição de Notícias”. Isso sem falar no sucesso que teve como repórter policial do programa Cidade Alerta da TV Record de São Paulo. Mas não se contentou em ficar na zona de conforto e aceitou um desafio novo: apresentar um telejornal, o “Jornal da Cidade”, e integrar um dos projetos mais bem sucedidos da afiliada cearense da Record, o “Riquezas do Ceará”. Desde que o programa foi ao ar pela primeira vez, Patrícia e sua equipe já percorreram mais de quinze mil quilômetros pelo Ceará – mostrando as peculiaridades de um município diferente, a cada edição – e, mais recen-temente, acompanhando a saga de cearenses que venceram em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Pois é a

mais de três mil quilômetros de sua terra natal onde, desde 2006, brilha a estrela de Patrí-cia Calderón. por adriano queiroz

quais as melhores lembranças da época de faculdade e o quê você só viu e aprendeu depois de sair dela, em termos de jornalismo?patrícia Calderón. Desde o primeiro ano da faculdade, tive a sorte de traba-lhar na área. Comecei na Rádio Transamérica e ganhava R$ 200 por mês, bem pouquinho, não dava nem pra pagar a faculdade, mas ia trabalhar feliz da vida. Queria crescer e trabalhar na área, desde o início, e todo o esforço valeu a pena. Evidente que as técnicas utilizadas na década de 90 já estão ultrapassadas. Na época mesmo, utilizei no meio jornalístico muito pouco do que aprendi na faculdade no dia a dia. Mas o aprendizado, as teorias que se aprende na faculdade, em algum momento são utilizadas.

você já atuou como repórter policial [no programa Cidade aler-ta], o que é preciso para não cair no sensacionalismo, em pautas por si só já tão chocantes? patrícia Calderón. Ser obrigado a lidar com a banalidade da violência co-tidiana, em busca da audiência, é realmente complicado. Trabalhei no programa “Cidade Alerta” em uma época que ele era líder no horário, em 2002. Por isso, a cobrança em cima da equipe era dobrada. Os repórteres iam para rua e só podiam

voltar pra redação com quatro ou até cinco reportagens feitas. A maior preocupação era com a quantidade e não com a qualidade. Na época, eu estava no início de carreira e claro que o profissional acaba se adequando ao que a chefia pede, manda. óbvio que as matérias só eram destaque se houvesse um toque de sensacionalismo e muito sangue. Nunca me esqueço de uma cena que vivi durante uma externa. Trabalhava

paTRÍCIa CaLdERÓN

hoje acredito

ter conquistado um lugarzinho ao sol e feito amizades verdadeiras por aqui.

||Pau

se

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no período da madrugada e a equipe foi chamada para cobrir uma chacina com mais de cinco mortos, entre as vítimas estavam três bandidos. No momento em que eu fazia a narração dos fatos, próximo aos cadáveres, o celular de um dos mor-tos começou a tocar. A polícia atendeu. Acredite se quiser, do outro lado da linha estava uma mãe desesperada por notícias do filho. Era a mãe de um dos bandidos. O policial, irônico, virou e disse: “minha senhora o seu filho partiu desta para uma melhor”...E caiu na risada. Aquilo me fez acreditar em como os crimes se tornaram banais, principalmente para quem lida com isso diariamente, como é o caso da polícia.

você realizou há pouco tempo uma grande entrevista com o governador Cid Gomes, sobre a violência no Ceará. em sua avaliação essa foi uma de suas maiores entrevistas?patrícia Calderón. A minha en-trevista com o governador Cid Gomes marcou bastante. Na mesma semana da entrevista com o governador cearense, tive a oportunidade de falar também com o governador de São Paulo, José Serra. Eles são grandes personalidades, homens inteligentes, importantes, cul-tos, e chefes de estado. No caso do go-vernador Cid Gomes eu me senti bem à vontade. Criei com o governador um excelente vínculo profissional. Eu o ad-miro e ele acredita no meu trabalho. Quando há uma empatia entre entrevis-tado e entrevistador, não há como nada dar de errado, tudo flui, é ótimo. Já com o governador José Serra, tive a oportu-nidade de entrevistá-lo em outras ocasi-ões, já que sou de São Paulo. Não posso me esquecer de outro momento que me comoveu bastante que foi conseguir uma sonora com o Presidente Lula, no dia em que ele foi eleito presidente do brasil. Re-pórteres estavam todos a postos em frente à casa dele, no AbC Paulista, e na sede do PT, em São Paulo. Assim que soube da notícia, o presidente chamou a imprensa e fez o primeiro pronunciamento como pre-sidente eleito. O presidente chorou e não teve como não se arrepiar, foi emocionan-te. Afinal de contas um ex-metalúrgico, um sindicalista, se tornaria o homem mais importante do país. Foi marcante. Num outro oposto está uma entrevista que eu fiz com Suzane Von Richthofen, acusada de ser a mandante do crime contra os seus pais, que também marcou. Gravei com ela

antes da polícia descobrir que a mesma era a mandante do crime.

quem são seus grandes ídolos ou musas dentro da profissão?patrícia Calderón. Caco barcelos é um deles. Outro grande nome do jor-nalismo, em minha opinião, é Marcelo Canellas, para mim, o mestre na arte de escrever um texto que emociona a gente. Texto em que você se sente fazer parte de tudo o que está sendo narrado.

Como surgiu a oportunidade de vir ao Ceará e trabalhar na tv Cidade de fortaleza? patrícia Calderón. Foi quando eu ainda fazia parte do núcleo de repórteres da TV Record em São Paulo. O senhor Miguel Dias, dono do Grupo Cidade de Comunicação, fez uma visita na redação, em São Paulo, e me reconheceu. Disse que sempre acompanhou o meu traba-lho no “Cidade Alerta” e que gostava do jeito como eu buscava a notícia: com muita determinação. Poucos dias de-pois, me convidou para conhecer a TV Cidade e comentou que buscava uma jornalista para apresentar um novo pro-duto que seria lançado pela TV. Tudo isso aconteceu em 2006. Há quatro anos à frente do “Jornal da Cidade” e do “Ri-quezas do Ceará”. Não me arrependo de ter jogado tudo para o alto e arriscar um novo caminho.

acredita que seja possível es-tabelecer grandes amizades no meio televisivo ou a competiti-vidade atrapalha você?patrícia Calderón. Sim, é possível. Tenho dezenas de belas e firmes amiza-des dentro das Tvs. O meio jornalístico é um mundinho que dá muitas voltas. um dia você está numa Tv, trabalhando com uma pessoa, momentos depois você pode cruzar com essa mesma pessoa em outro lugar.

quais as principais razões para este sucesso que o riquezas do Ceará faz? patrícia Calderón. Amo fazer o “Ri-quezas do Ceará”. Trato-lhe como a um fi-lhinho meu. O programa me proporciona sair do peso que são as notícias diárias so-bre a violência e o cotidiano, no geral, para me levar a um mundo do fascínio, do que é belo de se ver, de conhecer. Lugares bo-nitos, pessoas interessantes, uma culinária diferente. O “Riquezas”, em minha opi-nião, não é apenas um programa de via-gens. É um mix de cultura, lazer, turismo e muita, muita curiosidade. Já viajamos mais de 15 mil quilômetros no decorrer de quase dois anos de programa.

o que a patrícia Calderón ainda quer conquistar? patrícia Calderón. Sinto-me feliz com tudo o que conquistei até aqui. Te-nho saúde, uma família linda, um bom trabalho, mas ainda busco respeito, va-lorização e o principal: reconhecimen-to. Digo isso porque às vezes é gostoso ouvir que você faz um bom trabalho. Elogio é bom e todo mundo gosta. Mas sou aberta às críticas também, elas me fazem crescer. n

No dia em que tamanha

violência não me chocar mais, penduro o microfone e me aposento.

||Pause

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Nos últimos seis meses, as movimentações dos dois principais concorrentes ao palácio do planalto se intensificaram enormemente. viagens pelo país e pelo exterior, gravações de programas políticos, reforço nas estratégias de marketing, reuniões intermináveis para fechar alianças. tudo isso somado à preocupação de não desrespeitar a legislação eleitoral que proíbe a campanha antecipada. Nesse quesito um foi criticado por demorar a assumir a candidatura, a outra por não escondê-la de ninguém. mas, discreta ou indiscretamente, a luta pelo eleitorado já estava na pauta do tucano JoSÉ Serra e da petista dilma rouSSeFF

O CearÁ Na Mira dOS PreSideNCiÁveiS

Política16 | Fale! | abril de 2010 www.revistafale.com.br

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desde o fim das eleições municipais de 2008. e em 2010, o Ceará e o Nordeste terão um papel fundamental na definição de quem vai ganhar essa disputa. isso porque o estado e a região estão entre os principais redutos eleitorais do presidente luiz inácio lula da Silva – o que em tese favorece dilma rousseff – e do presidenciável Ciro Gomes – o que, no caso da desistência do pessebista, pode favorecer José Serra. eles sabem disso e não se esqueceram de passar por aqui para marcar posição. Fale! acompanhou as mais recentes visitas dos dois oponentes e captou as ideias que estarão em debate nos próximos seis meses. Por AdriAno Queiroz

O CearÁ Na Mira dOS PreSideNCiÁveiS

abril de 2010 | Fale! | 17www.revistafale.com.br

Page 18: Revista Fale! Edição 71

iDEias. José serra fala para empresários e políticos cearenses em evento do Centro industrial do Ceará no auditório da Federação das indústrias fOtOS JARBAS OLiVeiRA

POLÍTICA

18 | Fale! | abril de 2010 www.revistafale.com.br

Page 19: Revista Fale! Edição 71

SERRAe os sete pontos para o desenvolvimento

fOtO JARBAS OLiVeiRA

AúLTIMA VISITA DE JOSÉ SERRA, DO PSDb, ao Ceará, foi ainda como governa-dor de São Paulo, em fins de 2009, a con-vite do Centro Industrial do Ceará – CIC. Na ocasião, Serra fez questão de enfatizar sua relação com o Nordeste, desde os tem-pos em que era ministro do Planejamento – entre 1995 e 1996 – e de negar a fama

de anti-nordestino, sem, no entanto, se inibir de criticar o que considera o fracasso da nova Sudene. Sempre acompanhado do correligionário senador Tasso Jereissati, ele classificou-se como um “político nacional” e não apenas paulista, destacando sete aspectos importantes que serão enfatizados na política governa-mental que pretende implementar, caso seja eleito: investimen-tos estruturantes, política macroeconômica, política de financia-mento, desenvolvimento regional, segurança, saúde e educação. Conheça um pouco mais do pensamento do tucano candidato à presidência da República.

abril de 2010 | Fale! | 19www.revistafale.com.br

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investimentos estruturantesFalta uma política de investimentos

estruturantes no brasil. Segundo um es-tudo do bID, há um subinvestimento nas grandes fronteiras agrícolas. Poderíamos estar produzindo 30% mais e exportando mais com os investimentos de infraestru-tura adequados. Tem-se investido muito pouco.

Quando eu era ministro do Planeja-mento, conseguimos um financiamento japonês para começar o metrô de Fortale-za. Nós estamos fazendo quatro linhas em São Paulo, uma com quatro quilômetros. Esses quatro quilômetros custam R$ 2 bilhões, porque é tudo túnel. A desapro-priação é caríssima. Mas cada cidade de mais de 500 mil habitantes devia começar a fazer um metrô, porque em céu aberto é fácil, a desapropriação é mais barata.

Aqui, quando o Tasso era governador, aconteceram investimentos estruturantes. Eu tive ligado a vários deles, como o Cas-tanhão. Eu era o ministro do Planejamen-to e foi nessa época que veio primeiro o

dinheiro para esse projeto. Com o Porto do Pecém foi a mesma coisa. O porto é o maior exportador de frutas do brasil e tem potencial para ser um hub, para o qual convergem muitos fluxos de transporte, para ser um distribuidor em escala inter-nacional.

O Aeroporto foi feito via Prodetur, que foi inventado pelo Paulo Renato, ex-ministro de Educação – na época gerente

do bID. O Prodetur seria financiado em parte pelo governo federal e em parte atra-vés da contrapartida dos estados do Nor-deste. Os estados não tinham dinheiro para dar a contrapartida na época. Eu fiz com que o bNDES fizesse isso no lugar dos estados. Criou-se, então, uma infraes-trutura aeroportuária no Nordeste.

O investimento estruturante dá uma direção ao desenvolvimento. E ele tem que ser materializado. As perspectivas daqui são: a siderúrgica, a refinaria e a Transnordestina, que é uma ideia que não vingou. Os investimentos não se realiza-ram no seu potencial, não se materializa-ram. Isso se multiplica pelo brasil. Tem que ter um plano em que possa se associar o capital privado.

política macroeconômica O brasil era um país apoiado na ex-

portação de produtos primários, hoje cha-mados de commodities. Com a crise de 30, foi havendo uma mudança, o brasil se industrializou. Não deixou de fazer a ex-portação de produtos primários, mas tam-

Quando a gente governa, tem

que ter uma espécie de estrabismo cívico: um olho no presente e outro no futuro.

josé serra

POLÍTICA

METROFOR. “Quando eu era ministro do Planejamento, conseguimos um financiamento japonês para começar o metrô de Fortaleza. Não sei em que pé está, se já está circulando. [risos da platéia] Não tem trem rodando? Juro que não fiz ironia. Mas são 15 anos.”

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bém diversificou muito a sua economia. Eu me pergunto: nós vamos optar por vol-tar àquele modelo ou continuar com uma economia aberta, puxada pelo crescimen-to doméstico da produção e do emprego, tendo a exportação como complemento necessário para também gerar emprego e trazer as divisas que o país precisa?

Eu acho que a política macroeconômi-ca praticada nos últimos anos tende a levar o brasil de volta à condição de economia primária-exportadora, por causa da políti-ca de juros e a política cambial. O Ceará exporta frutas, vestuário, calçados, produ-tos do mar, castanha de caju. uma boa parte da renda do Ceará vem das exporta-ções. O que acontece é que o exportador faz um esforço tremendo para aumentar sua produtividade, mas a política cambial provoca perdas crescentes, em todo o país. Esse modelo tende a enfraquecer a posi-ção do país como player do jogo econô-mico internacional. Nos últimos anos, as exportações cresceram, mas basicamente em produtos primários, o que aconteceu também como fruto de uma alta de preços

Falam que eu sou um político

paulista, mas eu sou um político nacional. Sempre me guiei numa visão global.

josé serra

iNVEsTiMENTOs. Presidente Nacional do PPs, Roberto Freire, o Presidente da Fiec, Roberto Macêdo, e o senador tucano Tasso Jereissati, ratificam a necessidade de amplicação de investimentos estruturantes na economia do Brasil, propostos por José serra, durante a palestra.

fOtOS JARBAS OLiVeiRA

inusitada. Mas nós não estamos num período de

explosão de preços de produtos primá-rios. E nós continuamos tendo uma das maiores taxas de juros da América Latina, senão a maior. Caiu, mas a dos outros caiu primeiro. Nós demoramos de três a quatro meses para abaixar os juros, caso único no mundo inteiro. Quando o câm-bio chegou num nível satisfatório, não se

manteve isso. Esse é um preço grande para a nossa economia. Quando a gente gover-na, tem que ter uma espécie de estrabismo cívico: um olho no presente e outro no futuro. Não é possível concentrar apenas no presente, pois o dia de amanhã pode-rá trazer problemas, uns previstos, outros que surpreenderão porque não enxerga-ram adiante.

Ao mesmo tempo, isso está ligado a uma política fiscal. No plano federal, tem-se privilegiado o aumento de gastos de custeio, inclusive permanentes. Para sair da crise, nós fizemos em São Paulo uma política de incentivo à demanda: reduzi-mos impostos, abrimos linha de crédito no banco estadual, antecipamos compras, fizemos o impossível para evitar o desaba-mento da atividade econômica. O gover-no federal também fez, a meu ver, isen-ção de impostos e expansão de crédito do bNDES. Mas, ao mesmo tempo, houve um aumento de gastos de custeio que são permanentes e que vão terminar barrando a redução de juros e uma condição mais favorável no comércio exterior.

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E vamos ter claro o seguinte: os chi-neses não são campeões de exportação apenas porque são eficientes. A indústria de calçados brasileira é mais eficiente. Eles levaram técnicos para lá e aprenderam a fazer sapato. Eles não fazem melhor que a gente, mas tem um câmbio mega-desva-lorizado. Se o real tivesse o valor do yuan em relação ao dólar, o dólar seria quatro reais e meio. Isso dá pra competir com qualquer coisa. Não estou achando factí-vel isso no brasil, estou apenas querendo entender o problema e comparar com a China e a índia, campeões de crescimento econômico. São países que tem um proje-to nacional de desenvolvimento a médio e longo prazo consistente.

política de financiamento Fui co-responsável por duas fontes de

financiamento. uma é o FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador – que resultou de uma Emenda Constitucional que eu aprovei na Constituinte, criando o fundo

como fonte para pagamento do seguro-desemprego e, ao mesmo tempo, com aplicação através do bNDES. O bNDES expandiu muito por causa dos recursos do FAT. E tem o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, com dois por cento do FPM – Fundo de Participação dos Municípios. Este fundo teve uma importância decisiva e eu me pergunto: o que aconteceria se ele

não existisse? Houve a crise econômica e os estados

e municípios não puderam emitir dívidas. Nenhum governo estadual ou municipal pode emitir papel e pegar dinheiro para investir e melhorar a economia. O go-verno federal pode. Eu tenho um dado, calculado pelo economista José Roberto Afonso, de que 70% dos investimentos no brasil, excluindo os da Petrobras e outras empresas estatais, vêm dos estados e mu-nicípios. É curioso isso. Vem a crise e eles não podem aumentar os investimentos. Aí, eles têm queda de receita e tem que apertar o orçamento. Como não podem apertar os salários, apertam os investimen-tos. Isso explica porque o investimento no brasil continua muito baixo, seja do pon-to de vista do emprego, seja do ponto de vista estrutural.

desenvolvimento regionalFoi refeita a Sudene e criou-se uma ex-

pectativa, pelo menos para mim. Minha expectativa era de que a Sudene fosse um

POLÍTICAfOtOS JARBAS OLiVeiRA

POLÍTICA

FUTEBOL. Presidente do CiC, Robinson de Castro e silva presenteia serra com camisa do Ceará sporting Clube, recém promovido a 1ª divisão do Campeonado Brasileiro em 2010. serra torce pelo Palmeiras.

tentam espalhar que o Serra

não gosta do Nordeste. mas praticamente todas as obras estruturais que vieram para cá foram dadas pelo Serra.

tasso jereissati

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grande centro de coordenação da política regional no Nordeste. Mas a criação da Sudene não deu em nada. Há uma visão torta de que incentivo é só tributário, mas é também investimento em estrutura, em qualificação de mão de obra, energia, re-muneração por desempenho e também tributário. Havia uma ideia, a qual eu dei ênfase quando era ministro, que era o for-talecimento do bNDESPar, de participa-ção direta de empresas. Era uma idéia im-portante, que foi por água abaixo. É um instrumento relevante e, em geral, dá lu-cro. O bNDES não sairia perdendo, não.

SegurançaEm São Paulo, o orçamento da segu-

rança é de R$ 13 bilhões e a violência di-minuiu muito, desde o segundo governo do Mário Covas. Diminuímos a violência para a metade e o índice de homicídios é metade da média brasileira, o que antes era a média. Mas continua a sensação de insegurança. Porque ainda há muito que avançar. A segurança exige três coisas fun-damentais: dureza, respeitando direitos individuais; planejamento e investimento em tecnologia, já que não adianta aumen-tar o número de homens e sim aumentar a eficiência; e combater o contrabando de armas e drogas. Hoje, uma das fontes do crime é esse contrabando. Isso é respon-sabilidade do governo federal. Sessenta por cento das drogas entram pelo mar. O brasil não produz cocaína. Isso é uma demanda de ação federal. Os estados são os principais responsáveis pela segurança, mas não vão dar conta, porque a prospe-ridade do crime é alimentada pelo contra-bando de drogas e de armas.

SaúdeQuando ministro, eu me baseei numa

experiência do Ceará, a do agente comu-nitário de saúde. Nós tínhamos 50 mil agentes no brasil e levamos pra 150 mil, especialmente para o Nordeste. Desen-volvemos um programa que derivou dos agentes: o Programa de Saúde da Família (PSF). Eram 1.700 equipes e multiplica-mos por nove. Aqui no Ceará, eram 200 equipes e deixamos 1.200 equipes. O pri-meiro atendimento é crucial. Mas há um estrangulamento no brasil. Em saúde, a demanda está sempre na frente. A gente vai sempre correndo atrás. E o que a gente quer é que o hoje seja melhor que o ontem e amanhã melhor que hoje. Temos que procurar soluções.

Por exemplo, em São Paulo havia o

problema para conseguir uma consulta de especialidades. Criamos um novo tipo de unidade de saúde, o ambulatório médico de especialidade, que só faz consulta e ali-via os hospitais. Temos que avançar na organização da saúde e voltar a procedi-mentos abandonados, como os mutirões. Na área de medicamentos, nós criamos os genéricos. Hoje, eles ficaram em 25% de participação no mercado, porque acabou o ativismo governamental. Não houve mais promoção, para mostrar que o gené-rico tem a mesma qualidade. Eu lamentei muito também porque a ANVISA não participa mais do reconhecimento de pa-tente. Isso foi suprimido.

educaçãoA educação é a área social que mais

une preocupações da população e dos em-presários. Estou convencido pela minha experiência na prefeitura e no estado de São Paulo que o problema da educação está na sala de aula. Transporte, meren-da, prédio, material escolar mais ou me-nos funcionam, mas o problema está no aprendizado. Nas faculdades de pedago-gia, pelo menos em São Paulo, as teses são todas metateorias, filosofia...não há pesquisa sobre melhoria da qualidade de ensino. Empresas deveriam financiar teses de mestrado e doutorado com temas pré-determinados.

Em São Paulo, fixamos uma meta para cada escola. Quem cumpre ganha salários a mais. Toda a escola ganha, da limpeza à direção. São até três salários a mais por ano. Ganha quem faltar menos, ter menor rotatividade e fazer uma prova de conhe-cimentos. Os sindicatos são contra, mas a população é a favor. As famílias acham le-gítimo que a remuneração seja proporcio-nal ao desempenho. Outro lado da educa-ção é o ensino técnico, que é fundamental para os alunos de Ensino Médio. Temos

que criar oportunidades para esses alunos. Eu peguei 70 mil estudantes em cursos técnicos e estamos levando para 170 mil.

Aumentamos a variedade também. Eram apenas 30 especialidades e hoje são 80. Ao mesmo tempo, as faculdades de tecnologia formam o tecnólogo em três anos. Isso dá oportunidade para a juven-tude e é economia. Tendo potencial em algo, devemos formar gente nessa área, até para serem empreendedores. Isso tem que ser feitos pelos estados, com ajuda dos municípios e bancado pelo governo federal. Já houve experiências importan-tes aqui no Ceará. O mais crucial é que a gente possa refletir. n

em São paulo, fixamos uma

meta para cada escola. Quem cumpre ganha salários a mais. toda a escola ganha, da limpeza à direção.

josé serra

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POLÍTICA

iDEias. Dilma durante o discurso no iV Congresso do PT em fevereiro de 2010 fOtO JOSé cRuz _ ABR

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DILMA,os desafios e as oportunidades da década

fOtO JARBAS OLiVeiRA

AEx-MINISTRA-CHEFE DA CASA CI-vil, Dilma Rousseff, esteve pela última vez no Ceará graças a um motivo polêmico. No dia 12 de abril, ela foi agraciada com o título de cidadã fortalezense, pela Câmara Muni-cipal, graças à propositura do vereador Acrí-sio Sena, que assim como ela, integra o PT. A oposição questionou a legitimidade de se

conceder tal honraria a quem pouco esteve na cidade durante sua trajetória política. Tentando justificar o prêmio, Dilma lembrou até da influência que teve de escritores e mulheres ilustres do esta-do em sua formação intelectual, além de ter destacado os projetos do governo Lula em parceria com o governador Cid Gomes e com a prefeita Luizianne Lins. Em termos nacionais e até globais, a pré-candidata petista apostou na transformação do país na quinta economia do mundo até o fim da década. Veja como ela acredita que isso será possível.

abril de 2010 | Fale! | 25www.revistafale.com.br

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mulher, família e lei Orgulhou-me receber essa homenagem

porque essa é uma terra de mulheres guer-reiras, que estão inscritas na história desse país e na história de Fortaleza, que elegeu a primeira mulher prefeita de capital.

uma mulher cearense que eu também considero muito especial é a Maria da Pe-nha Maia Fernandes, ela inspirou pela sua coragem, pela sua indignação, pelo seu inconformismo, uma lei muito impor-tante para 52% da população brasileira. Nós mulheres somos 52% da população e mães dos 48% restantes. E a Maria da Penha inspirou essa legislação de proteção à mulher. E eu quero dizer que nós não re-cuaremos nessa luta contra a violência que afeta e que atinge a mulher. Eu falo isso ainda no plural porque eu vivi isso den-tro do governo Lula. Ao atingir a mulher, atinge a família.

E uma nação será sempre avaliada e julgada pela capacidade de proteger a fa-mília, os filhos, as mulheres. Esta é uma legislação que atinge o coração do brasil

porque mais que ferir a mulher, quando a mulher é espancada, o que se fere é toda a família. É um exemplo que corrói, é um exemplo que destrói. Por isso, nós jamais retrocederemos um passo na lei Maria da Penha.

habitação e saneamento Os últimos projetos de envergadura de

habitação popular remontam ao bNH – banco Nacional de Habitação. E mesmo naquela época, no auge, acumulando todas as intervenções, foram feitas 500 mil casas.

De lá para cá, as populações se aglo-meraram nas grandes cidades. Como não tinha política habitacional foram para bei-ras de rios, fundos de vales, beiras de cór-regos, encostas de morros, todos os lugares eminentemente arriscados, em termos não só de qualidade de vida, mas, sobretudo, da própria vida por serem locais onde as pessoas podiam morrer.

Esse processo nós começamos a alterar, entre outras coisas, porque nós investimos de forma significativa em saneamento. Para vocês terem uma ideia em 2002, o in-vestimento em saneamento não chegava a R$ 300 milhões de reais. Hoje, uma cida-de como boa Vista, em Roraima, tem um investimento de R$ 500 milhões, sem falar nos investimentos de bilhões de reais que

estou convencido de que a dilma vai

ser a próxima presidente do brasil. a campanha está apenas começando, vai começar mesmo a partir de junho. o brasil está de parabéns por ter os candidatos que tem.

lula

saNEaMENTO. “Para vocês terem uma ideia, em 2002, o investimento em saneamento não chegava a R$ 300 milhões de reais. Hoje uma cidade como Boa Vista, em Roraima, tem um investimento de R$ 500 milhões, sem falar nos investimentos de bilhões de reais que nós investimos aqui em Fortaleza”.

POLÍTICA

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nós investimos aqui em Fortaleza. Isso em coleta a tratamento de esgoto.

Como uma cidade vai poder ser desen-volvida, se não tiver tratamento de esgoto e coleta? Como uma cidade vai poder pro-teger seus moradores se não puder oferecer moradias e casas dignas? Como uma cida-de vai poder fazer a prevenção de enchente se ela não tiver ou se o governo federal não tiver uma política de drenagem?

Foco no NordesteEu acho que o brasil sempre olhou o

Nordeste com olhares brasileiros. É chega-da a hora de o Nordeste olhar para o bra-sil com olhares nordestinos e com olhar cearense. Eu acho que o presidente Lula, de certa forma, fez isso. Ele olhou para o brasil, com um olhar que vinha aqui do Nordeste, de uma pessoa que foi retirante. Daí porque nós temos esse imenso com-promisso com o bolsa-Família. Daí por-que nós tivemos esse compromisso com o Luz Para Todos. Porque não é só garantir que as pessoas comam três vezes ao dia, o

que é fundamental. É pouco? Mas é muito para um país

em que se achava que não devia fazer isso, que primeiro era preciso desenvolver para depois distribuir. Mas eu acho outra coisa fantástica é a percepção do “Luz Para To-dos”, que é trazer pessoas do século xIx para o século xxI. Elas estão no século

xIx, sem luz elétrica. Eu acredito também que o Ceará tem essa característica que o José do Patrocínio chamou de “Terra da Luz”. Essa luz que ele se referia era outra luz, a de quem primeiro aboliu a escravi-dão. Então, no brasil combinamos essas duas luzes: levar luz elétrica para doze mi-lhões de famílias e ao mesmo tempo ilumi-nar essa questão da libertação e da emanci-pação do povo.

infra-estrutura no NordesteNós tivemos o cuidado de modificar

a forma como se investe em infraestrutu-ra no brasil. É por isso que o presidente Lula não descansa e nenhum ministro descansa enquanto não se implanta a transnordestina, porque a transnordes-tina vai ligar o Porto do Pecém ao Porto de Suape, mas também ao de Eliseu Mar-tins. Vai construir um eixo de desenvol-vimento, de escoamento da produção de grãos, de minérios e de bens energéticos. Nós também estamos fazendo a trans-posição de bacias, apesar de termos sido

No brasil combinamos essas duas luzes:

levar luz elétrica para doze milhões de famílias e ao mesmo tempo iluminar essa questão da libertação e da emancipação do povo.

dilMa rousseff

EsTRaTéGia. a campanha de Dilma Rousseff deverá ser embalada pelos investimentos do Programa para aceleração do Crescimento (PaC) e pela alta popularidade do presidente Lula. O grande desafio é conseguir associar a imagem de Dilma ao governo Lula.

fOtO AgênciA PetROBRAS

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muito criticados pela interligação da bacia do São Francisco, que vai permitir que mais de 20 milhões de pessoas que moram no semi-árido brasileiro tenham acesso à água, utilizando um percentual pequeno da água do rio.

Eu queria lembrar que aqui em For-taleza tinha termelétrica e não tinha gás suficiente. Em algum momento podia ser necessário que essas termelétricas funcio-nassem e não tinha gás para isso. Por isso foi instalado aqui esse terminal de regasei-ficação e por isso também nós acabamos de concluir o gasoduto do Nordeste que liga a malha do Sudeste à malha do Nordeste. Por isso, o brasil vai estar interligado de gás, de Fortaleza à Porto Alegre. E agora o petróleo do pré-sal, o petróleo da bacia de Campos e, inclusive, o petróleo que vem da bolívia pode chegar aqui, o que antes não podia. Aqui antes era uma ilha em relação a todo o fornecimento de gás do brasil. Daqui também vai poder vir o gás importado dessa unidade de regaseifi-cação e chegar ao resto do brasil.

Nordeste como protagonista

Eu acho que houve uma modificação da situação. Eu cresci ouvindo que o Nor-deste precisava de ajuda, que precisava do apoio dos brasileiros das outras regi-ões. Mas o que nós vemos hoje depois de sete anos do governo Lula? Nós vemos o Nordeste ajudando o brasil a crescer. Pela primeira vez o Nordeste não só é parceiro, como é protagonista do desenvolvimento do brasil.

Os economistas dizem que nessa crise de 2008 para 2009, que foi a maior cri-se depois de 1929, aconteceu que aqui no Nordeste o crescimento do comércio va-rejista se deu em taxas que a gente chama de asiáticas, chinesas. Aqui o brasil cresce mais rápido e cresceu mais rápido. As esta-tísticas estão aí para se ver. É fruto de uma mudança na forma de ver a economia do nosso país. É fruto do novo padrão de de-senvolvimento que combinou duas coisas: crescimento com distribuição de renda pessoal, portanto social, e regional. Não foi só a mudança na distribuição pessoal da renda, mas também uma quantidade muito expressiva de investimentos come-çou a ser feita aqui no Nordeste.

Juntou-se isso ao empreendedorismo

do próprio Nordeste e se configurou uma re-alidade em que o mercado interno foi quem segurou a nossa economia diante da crise. E por isso, com certeza, se nós tivemos uma das situações menos graves diante da crise se deveu ao fato de que aqui no Nordeste não houve um declínio tão pronunciado como houve em outras regiões do país. Não só o consumo aqui foi muito signifi-cativo, com o comércio varejista aqui no Ceará, por exemplo, atingido níveis ex-tremamente altos, mas também o cresci-mento industrial, o investimento. Para se ter uma ideia, o Ceará teve a maior taxa de crescimento do emprego em 2009. Dos 955 mil empregos que nós criamos no ano da crise, uma grande parte foi ge-rada no Nordeste e aqui no Ceará.

Quem contribui para isso? O bolsa-Família contribuiu porque uma parte que não consumia passou a consumir. O au-mento do salário mínimo acima da infla-ção também contribuiu. O crédito também contribuiu. Esse era um país estranho. O crédito no brasil não chegava a 400 bilhões de reais, no início de 2003. Hoje, o volume de crédito, com dados de fevereiro, é de 1 trilhão e 400 bilhões de reais. Ou seja, nós

POLÍTICAfOtOS JARBAS OLiVeiRA

POLÍTICA

aLiaNça. a candidata ao lado do vice-presidente José alencar e do presidente Lula, em fevereiro, no Congresso do PT. No evento, foram discutidas as alianças políticas, as táticas eleitorais e o programa de governo de Dilma

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aumentamos R$ 1 trilhão em recursos, in-jetamos na economia e sem obras de infra-estrutura. Isso é muito importante porque por trás de tudo isso o que importa são as pessoas. É o homem, a mulher e a criança desse país. Nesse período a renda do nor-destino cresceu 77%.

mobilidade social O que é, de fato, esse tal de desenvolvi-

mento com distribuição de renda? É o de-senvolvimento com o povo melhorando, subindo de vida, é a mobilidade social que tira mais de 24 milhões de brasileiros da situação de miséria e que tira da classe D e E mais de 30 milhões de brasileiros. Isso faz com que hoje, se você somar as classes A, b e C nós tenhamos algo como 70% da população nessa faixa de renda e mais de 53% disso na classe média. Isso signi-fica comprar carro, computador, celular, casa. Porque ninguém terá condições de ter segurança pública se não tiver seguran-ça pessoal, se não tiver um lar, se não tive onde criar seus filhos.

Quinta economia do mundo?Nós temos que olhar essa década que

entramos como sendo a década em que nós vamos acabar com a pobreza no bra-sil. Há um exercício internacional tanto de revistas e jornais de economia, como de consultorias, dizendo que o brasil vai ser a quinta economia do mundo. O prazo é variado, mas cabe nessa déca-da entre 2010 e 2020. uns dizem que é 2014, outros que dizem que é 2016, ou-tros que dizem que é 2018. Ser a quinta economia do mundo significa passar a França e a Alemanha, o que não é uma coisa trivial, nem tampouco simples.

Mas eu acho que o potencial da eco-nomia brasileira é para isso. Nós modifi-camos as condições até da educação que vai ser uma variável estratégica, porque sem educação, sem escolas profissiona-lizantes, que nós voltamos a abrir, sem universidades, sem ensino básico fun-damental nós nunca chegaremos a ser a quinta economia. Isso é fundamental e o presidente Lula tornou prioritário e por isso nós teremos também os recur-sos do pré-sal para a educação. A gente tem de ter clareza de uma coisa, para nenhum de nós vale a pena ser a quin-ta economia com o seu povo na décima nona, na quinquagésima posição.

Para um país ser a quinta economia do mundo, o seu povo tem de acompa-nhar os benefícios dos seus ganhos. Foi isso que nós aprendemos e foi isso que nós provamos ser possível. A tese de que a

gente, primeiro tinha de crescer para de-pois distribuir, se provou equivocada. O que nós percebemos é que quando a gente repartiu o ganho se operou o crescimento do bolo e não uma diminuição. Quanto mais a gente repartir o bolo, mais capa-cidade de investimento e consumo vai ocorrer nesse país. E 190 milhões comen-do o bolo é o que transforma esse país em uma grande nação.

o brasil e os briCsPorque essas economias dos bRIC’s

são denominadas emergentes? O que as distingue? Distingue o fato de serem paí-ses continentais, distingue o fato de serem geralmente países ricos. No brasil, por exemplo, nós temos uma imensa riqueza na área agrícola, uma imensa riqueza no petróleo, uma imensa riqueza em termos de indústria diversificada.

Temos hoje um agronegócio muito forte, competitivo internacionalmente. Temos uma agricultura familiar se ex-pandido e sendo a base democrática no campo. Temos também 190 milhões de brasileiros, chegando a 200 milhões. Aliás, todos esses países são distinguidos pelo tamanho dos seus mercados inter-nos. Porque muitos dos emergentes não têm o tanto de petróleo ou o tanto de agricultura que nós temos, mas têm mer-cado interno, são economias populosas.

Nós temos de cuidar de transformar esses 190 milhões de brasileiros em con-sumidores, em trabalhadores, em empre-endedores do campo e da cidade e isso é pré-condição para que eles se tornem cidadãos plenos de direitos. E aí nós te-mos outra característica muito impor-tante, já somos a maior democracia desse grupo de países. Entre todos eles, somos a democracia mais estabilizada, com prá-ticas mais abertas. Somos uma sociedade onde a liberdade de expressão prevalece, onde prevalece o direito de liberdade de imprensa.

lula não é continuidadeNós do projeto do presidente Lula, te-

mos uma visão de que continuar esse pro-jeto é fazê-lo avançar, mas estamos cons-cientes de que tem uma distinção que é a seguinte: nós criamos uma diferença em relação a toda história dos últimos vinte e cinco anos. Muitos querem dizer que hou-ve uma continuidade, que nada mudou no brasil, que tudo continuou o mesmo, nós não concordamos com isso. Nós achamos que o presidente Lula abriu o caminho para uma nova era de prosperidade para o futuro do nosso brasil. n

pela primeira vez o Nordeste

não só é parceiro, como é protagonista do desenvolvimento do brasil.

dilMa rousseff

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Nasceu em São Paulo, no dia 19 de março de 1942. Tem formação como economista e está filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB – desde sua fundação em 1988. Em 2006 foi eleito governador do estado de São Paulo, sendo até hoje o único eleito já em primeiro turno. Ocupou o cargo de governador do estado no período de 1 de janeiro de 2007 até 2 de abril de 2010, quando renunciou ao cargo para se candidatar pela segunda vez à Presidência da República. Na juventude foi eleito presidente

da União Nacional dos Estudantes – UNE – e perseguido pelo regime militar instalado em 1964 foi para o exílio na Bolívia, França e Chile, quando chegou a ser preso, além de Itália e Estados Unidos. Serra exerceu também os mandatos de deputado federal constituinte, entre 1987 e 1991, deputado federal, entre 1991 e 1995 e senador, entre 1995 e 2003, os cargos de Secretário de Planejamento de São Paulo, entre 1983 e 1986; de ministro do Planejamento e Orçamento, em 1995 e 1996; de ministro da

Saúde, entre 1998 e 2002 e ainda prefeito de São Paulo, nos anos de 2005 e 2006. José Serra foi candidato à Presidência da República pela coligação PSDB-PMDB em 2002, tendo sido derrotado no 2º turno por Luiz Inácio Lula da Silva. Serra tornou-se o único pré-candidato a Presidência da República pelo PSDB para as eleições brasileiras de 2010, diante da desistência oficial de seu competidor, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, anunciada em 17 de dezembro de 2009. n

CONHEÇA A HISTóRIA POLÍTICA DE jOSÉ SERRA

É melhor estar em

dúvida entre dois grandes candidatos do que ter que inventar um, como o lula fez.

tasso jereissati, critica antecipação do nome de Dilma Rousseff e sobre a candidatura para o PSDB para presidência em 2010

EXPERiENTE. serra deverá

explorar seu vasto histórico

político nas campanhas

eleitorais.

POLÍTICAfOtO JARBAS OLiVeiRA

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Nasceu em Belo Horizonte no dia 14 de dezembro de 1947. Tem formação como economista e está filiada ao Partido dos Trabalhadores - PT – desde 2001. Foi ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula até o dia 31 de março de 2010, e é a pré-candidata apoiada pelo atual governo para as eleições à Presidência da República deste ano. Nascida em família de classe média alta, de origem búlgara, logo após o Golpe Militar de 1964 passou para a luta armada contra o regime,

tendo integrado as organizações COLINA e VAR-Palmares. Ficou quase três anos presa, entre 1970 e 1972, quando chegou a ser torturada. Reconstruiu sua vida no Rio Grande do Sul, onde junto com o companheiro Carlos Araújo ajudou na fundação do Partido Democrático Trabalhista – PDT. Exerceu o cargo de secretária municipal da Fazenda de Porto Alegre no governo Alceu Collares e mais tarde foi secretária estadual de Minas e Energia, tanto naquele governo como no de Olívio Dutra, no

meio do qual se filiou ao PT. Participou da equipe que formulou o plano de governo na área energética na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2002, onde se destacou e foi indicada para titular do Ministério de Minas e Energia no ano seguinte. Novamente reconhecida por seus méritos técnicos e gerenciais, foi nomeada ministra-chefe da Casa Civil após o escândalo do mensalão, que levou à renúncia do então titular da pasta José Dirceu. n

CONHEÇA A HISTóRIAPOLÍTICA DE DILMA ROUSSEFF

dilma tem duas

coisas importantes: competência com debate político, e uma mulher sem rancor, sem mágoa, depois de passar pela barbárie da tortura que ela passou.

presidente lula

TéCNiCa. Dilma tem pouca

experiência eleitoral,

mas seus conhecimentos

técnicos e gerenciais são reconhecidos

fOtO JOSé cRuz _ ABR

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Chico Xavier,agora ele emociona nos cinemas do Brasil

No dia em que o maior médium brasileiro completaria 100 anos, chegou aos cinemas uma das maiores produções cinematográficas da história nacional, inspirada na vida do ícone do espiritismo no brasil, o mineiro Chico Xavier. Orçado

em R$ 12 milhões, Chico Xavier, O Filme foi dirigido por Daniel Filho e tem interpretações de nomes consagrados na dramaturgia brasileira, como Nelson Xavier, Ângelo Antônio, Luis Melo, Letícia Sabatella, Pedro Paulo Rangel, Tony Ramos, Christiane Torloni, Cássia Kiss, Paulo goulart, Anselmo Vasconcelos, Ana Rosa, giulia gam e giovana Antonelli.

baseado no livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior, o filme é um campeão de bilheteria. “Sou ateu, assim como o Nelson [Xavier] e o Daniel [Filho]. Talvez por isso o filme tenha ficado como ficou: uma reconstituição dos altos e baixos da trajetória de Chico Xavier que é contada sem a intenção de converter ou de explicar a doutrina”, diz Marcel. O sucesso do livro se amplia agora no cinema.

Cultura

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iMERsãO. Nelson Xavier em soberba

interpretação de Chico Xavier

fOtO ique eSteVeS

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ERA O DIA 2 DE AbRIL DE 1910 NA PACATA cidade mi-neira de Pedro Leopoldo. Nascia naquela data aquele que se tornou, anos depois, o maior nome do espiritismo no brasil. Mais que isso, Francisco de Paula Cândido, o mé-dium Chico xavier, tornou-se a maior referência mun-dial dessa doutrina desde a morte de seu decodificador, o francês de pseudônimo Allan Kardec. No dia 2 de abril de 1966, no Rio de Janeiro, nascia — coincidentemente no aniversário de 56 anos de Chico xavier — aquele que se-ria o principal biógrafo do espírita, Marcel Souto Maior.

Ligando esses dois personagens definitivamente – embora talvez um pouco me-nos por coincidência – no dia 2 de abril de 2010 – feriado cristão da sexta-feira da Paixão – estreou o longa-metragem “Chico xavier, O Filme”, dirigido pelo cineasta e todo-poderoso executivo de televisão da Rede Globo, Daniel Filho. Isso porque o roteiro do filme – redigido por Marcos bernstein, o mesmo roteirista de “Central do brasil” – é uma adaptação da biografia “As Vidas de Chico xavier”, publicada por Marcel em 2003. A plateia restrita que assistiu, em Fortaleza, a película, três dias antes da estreia oficial do longa-metragem, pôde rir, chorar e divagar com as muitas passagens da vida do médium mineiro retratadas no filme.

Tudo isso ao lado de alguns dos responsáveis por levar a figura de Chico xavier para o cinema. Dois dos atores que interpretaram o líder espírita em diferentes fases do personagem estiveram na cidade divulgando a produção: Matheus Costa, que en-cenou o médium quando menino, e Nelson xavier que, além do sobrenome em co-mum, conferiu um realismo impressionante ao representar Chico maduro e contou com a ajuda de um bom trabalho de caracterização realizado pela equipe técnica do

filme. Também estiveram na capital cea-rense divulgando o longa-metragem, os atores André Dias e Anselmo Vasconce-los, que interpretaram, respectivamente, o guia espiritual Emmanuel e o médium Perácio – que introduziu Chico xavier no espiritismo.

Além de Fortaleza foram exibidas avant-premières de “Chico xavier, O Filme” em Pedro Leopoldo e uberaba — cidades mineiras onde morou o espírita — bem como em Paulínia, no interior de São Paulo, e nas capitais Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Nelson xavier foi um dos que mais se envolveu com o en-redo. Tendo no currículo, entre outros prêmios, o de melhor ator, no Festival de brasília – pelas interpretações em “A Queda”, de 1978, e “O Mágico e O De-legado”, de 1983 – e também de melhor ator no Festival de Gramado – por “O Testamento do Senhor Nepomuceno”, de 1998 – Nelson já interpretou outro forte personagem da história brasileira,

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palavra de quem viu“Tive a oportunidade de assistir duas pré-estreias do filme Chico Xavier e desde a primeira vez que vi, já comecei a fazer propaganda. Um filme muito bem feito e que não deixa a desejar a nehuma superprodução. Consegue mesclar humor e drama e mostrar fatos interessantes e marcantes da vida desse grande humanista que foi Chico Xavier. destaco as atuações do ator Nelson Xavier e dos atores Cristiane Torloni e Tony Ramos. de emocionar. Com certeza deve agradar ao público espírita e não-espírita. Tocante, mostra como somos ainda tão pequenos e como o amor pode vencer barreiras. Recomendo porque sei que um filme desse tipo tem o poder de mudar alguma coisa dentro de cada um. pra melhor. E o mundo está precisando de mais amor.” Ariane Cajazeiras, jornalista

o lendário cangaceiro Lampião – no fil-me para TV “Lampião e Maria bonita”.

Mas para o ator foi mesmo atuando em “Chico xavier, O Filme” que ele vi-veu seu maior personagem. Ele represen-tou o intervalo da vida do líder espírita que vai de 1969 até 1975. “O trabalho foi feito com grande entrega. Conhecer a figura de Chico xavier foi uma expe-riência única. Comecei procurando um homem e acabei descobrindo um santo”, emociona-se. Aliás, a própria escolha de Nelson xavier para interpretar o mé-dium foi envolta em muitas emoções e experiências, no mínimo, intrigantes. Ele revelou em diversas entrevistas que se sentiu escolhido por Chico xavier para interpretá-lo, pois muito antes do filme começar a ser gravado, o ator foi abordado por um espírita que o interpe-lou dizendo que Nelson ainda faria esse papel.

Tempos depois, o próprio biógrafo do médium mineiro, mandou para o

ator um livro de Chico xavier acompanhado de um bilhete em que o incentivava a inter-pretar seu biografa-do um dia. Nelson xavier disse também que nunca antes, em sua extensa carreira, pediu para fazer um personagem, mas que não conseguiu ficar parado ao saber que o filme seria rodado e ligou para o diretor Daniel Filho pedindo o papel. Quando os preparativos para as gravações começaram o envolvimento de Nelson com o personagem só cres-ceu. “A onda de emoção que me tomou à medida que eu me aproximava desse universo era tão intensa e forte que tor-nou tudo fácil. Eu não construí um per-

sonagem, o personagem me tomou. Foi a primeira vez que me aconteceu isso”, emocionou-se o ator.

No último dia de gravações em uma cena gravada no jardim da casa em que morou Chico xavier, Nelson, emocio-

MakinG of. O diretor Daniel Filho conversando com os atores Nelson Xavier e Ângelo antônio no cenário das gravações

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Uma breve biografia de Chico Xavier

Nascido de uma família pobre em pedro Leopoldo, região metropolitana de Belo Horizonte, era filho de maria João de deus e João Cândido Xavier. Educado na fé católica, Chico teve seu primeiro contato com a doutrina Espírita em 1927, após fenômeno obsessivo verificado com uma de suas irmãs. passa então a estudar e a desenvolver sua mediunidade que, como relata em nota no livro parnaso de além-Túmulo, somente ganhou maior clareza em finais de 1931. o seu nome de batismo francisco de paula Cândido foi dado em homenagem ao santo do dia de seu nascimento, substituído pelo nome paterno de francisco Cândido Xavier logo que rompeu com o catolicismo e escreveu seus primeiros livros, e mudado oficialmente em abril de 1966, quando da segunda viagem de Chico aos Estados Unidos.

nado, começou a chorar profundamen-te. A atriz Renata Imbriani, que é espí-rita e se diz médium, chegou a afirmar que sentiu a presença imaterial do líder do espiritismo em volta de Nelson xa-vier durante as gravações. “Estava aguar-dando a minha vez de entrar em cena e o Nelson estava gravando. De repente, vi uma porta entreaberta de onde saiu uma luz muito grande. Era o Chico. Ele apoiou o braço direito do Nelson e ficou todo o tempo energizando”, declarou. A propósito, Nelson xavier não foi o úni-co protagonista de histórias misteriosas que envolveram os bastidores do filme. Até mesmo o ateu convicto diretor Da-niel Filho viveu uma experiência para a qual ele não tem explicação.

Daniel Filho disse que no dia em

que tomou a decisão de dirigir o lon-ga-metragem foi contar isso à esposa, Olívia byngton, e mesmo muito feliz, as lágrimas não paravam de lhe escorrer dos olhos. Outros fatos que mexeram com a emoção dos envolvidos nas grava-ções foram as interrupções abruptas de chuvas no início de algumas gravações e a suposta manifestação mediúnica de uma figurante em cena. Mistérios e ce-ticismos à parte, o filme foi produzido com muito profissionalismo graças, em parte, à visão não-religiosa do diretor. Na verdade, justamente por tratar de um líder religioso, Daniel teve um re-ceio inicial em dirigir a produção, mas foi convencido pelo diretor geral da dis-tribuidora Columbia TriStar do brasil, Rodrigo Saturnino, a aceitar o desafio,

em memória do ex-diretor de televisão Augusto César Vannuci — espírita, ami-go de ambos.

Escolhas. Aceito o de-safio, Daniel Filho começou a montar o elenco. Isso, claro, excluindo Nelson xavier, que pediu para fazer o papel e ficou incumbindo de representar fatos que ocorreram na vida de Chico entre 1969 e 1975. baseado no roteiro de bernstein, que estava estruturado em três fases da vida do médium mineiro, o diretor escolheu os outros dois atores para representar Chico xavier. Ângelo Antônio foi escolhido quase intuitiva-mente, devido às semelhanças físicas e interpretativas com Nelson, para repre-

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o mais conhecido dos espíritas brasileiros contribuiu para expandir o movimento espírita brasileiro e encorajar os espíritas a revelarem sua adesão à doutrina sistematizada por allan Kardec. Sua credibilidade serviu de incentivo para que médiuns espíritas e não-espíritas realizassem trabalhos espirituais abertos ao público. Chico é lembrado principalmente por suas obras assistenciais em Uberaba, cidade onde faleceu. Nos anos 1970 passou a ajudar pessoas pobres com o dinheiro da vendagem de seus livros, tendo para tanto criado uma fundação. Segundo biógrafos, a mediunidade de Chico teria se manifestado pela primeira vez aos quatro anos de idade, quando ele respondeu ao pai sobre ciências, durante conversa com uma senhora sobre gravidez. Ele dizia ver e ouvir os espíritos e conversava com eles. aos 5 anos conversava com a mãe, já desencarnada.

Na casa de sua madrinha, foi

muito maltratado, chegando a levar garfadas na barriga. aos sete anos de idade, saiu da casa da mesma para voltar a morar com o pai, já casado outra vez. Ele, para ajudar nas despesas da casa trabalhava e estudava em escola pública. por conseqüência, dormia apenas sete horas por dia. No ano de 1924, terminou o curso primário e não voltou a estudar, começando a trabalhar como auxiliar de cozinha em um restaurante no ano de 1925. No mês de maio de 1927, participou de uma sessão espírita onde vê o espírito de sua mãe, que lhe aconselha ler as obras de allan Kardec, em junho ajudou a fundar o Centro Espírita Luiz Gonzaga, e em julho inicia os trabalhos de psicografia escrevendo 17 páginas. Em 1928, aos 18 anos, começou a publicar suas primeiras mensagens psicografadas nos jornais o Jornal, do Rio de Janeiro, e almanaque de Notícias, de portugal.

Em 22 de maio de 1965, Chico

Xavier e Waldo Vieira viajaram para Washington, Estados Unidos, a fim de divulgar o espiritismo no exterior. Lá estudaram inglês e lançaram o livro The World of The Spirits. Chico Xavier faleceu aos 92 anos de idade em decorrência de parada cardíaca. Conforme relatos de amigos e parentes próximos, Chico teria pedido a deus para morrer em um dia em que os brasileiros estivessem muito felizes, por isso ninguém ficaria triste com seu passamento. de fato, o país festejava a conquista da Copa do mundo de futebol de 2002 no dia de seu falecimento. Chico foi eleito o mineiro do século XX, seguido por Santos dumont e Juscelino Kubitschek. antes de sua morte, ele havia deixado uma espécie de código com pessoas de sua confiança para que pudessem ratificar sua presença quando houvesse um contato. Já nos aproximamos do décimo ano de sua morte e nenhum contato foi confirmado. n

sentar o intervalo entre 1931 e 1959. Já Matheus Costa, após enfrentar uma maratona de testes foi aprovado para vi-ver nas telas a infância do líder espírita entre 1918 e 1922. O jovem ator teve de aprender até a rodar pião e aprendeu o sotaque mineiro em um workshop pro-movido pelos produtores do longa.

Outro escolhido por meio de testes foi o ator André Dias, até então com destaque apenas no teatro. Em entrevis-ta à Fale! André Dias repetiu o entu-siasmo de Nelson xavier e qualificou o seu respectivo personagem – o guia es-piritual Emmanuel – como o ponto alto de sua carreira. “Ninguém sai de um mergulho na vida de Chico xavier, nem da oportunidade de contracenar com dois atores do calibre de Ângelo Antô-nio e Nelson xavier impunemente, sem uma grande transformação. Eu acho que as pessoas vão passar por essa transfor-mação ao assistir a esse filme (...) que resgata os grandes valores perdidos pela humanidade”, aposta o ator. São, aliás, as intervenções de seu personagem os momentos mais descontraídos do filme, pois o caráter disciplinador de Emma-PiNGa-FOGO. Tony Ramos interpreta Orlando, diretor da TV Tupi

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nuel contrasta ironicamente com o bom humor ingênuo do médium.

Mas se “Chico xavier – O Filme” revela bons novatos, o filme reuniu uma verdadeira constelação da dramaturgia nacional. Luis Melo interpreta o pai do médium; Letícia Sabatella vive a mãe que se comunica espiritualmente com o filho; Giulia Gam interpreta a ma-drinha que fica responsável pelo garoto Chico por determinado tempo – quan-do comete brutalidades com o menino; Giovana Antonelli vive a madrasta, que se torna uma segunda mãe para o líder religioso; Anselmo Vasconcelos e Ana Rosa interpretam os médiuns que inicia-ram Chico xavier na doutrina espírita; Pedro Paulo Rangel interpreta o pároco da cidade de Pedro Leopoldo, amigo do espírita. Integram ainda o elenco, Christiane Torloni, Tony Ramos, Cás-sio Gabus Mendes, Cássia Kiss, Paulo Goulart, Rosi Campos, Carla Daniel e Ailton Graça.

ótimo elenco, diretor consagrado, história rica e polêmica baseada em fa-tos reais, emoção a cada cena, orçamen-to milionário – estimado em R$ 12 mi-lhões – e um público potencial enorme, entre espíritas, simpatizantes e curiosos, com essa combinação o resultado não poderia ser outro. Já no fim de semana de estreia do filme veio a consagração com o recorde de espectadores no cine-ma brasileiro do período denominado de “retomada” – iniciado em 1994, com o filme “Carlota Joaquina, Princesa do

CULTUR A

Belas iMaGens. O filme conta com Nonato Estrela assinando a direção de fotografia

Frases de

Chico Xavier

1. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,

qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.

2. O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as

pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros.

3. Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente.

4. Cada dia que amanhece assemelha-se a uma página

em branco, na qual gravamos os nossos pensamentos, ações e atitudes. Na essência, cada dia é a preparação de nosso próprio amanhã.

5. Lembremo-nos de que o homem interior se renova

sempre. A luta enriquece-o de experiência, a dor aprimora-lhe as emoções e o sacrifício tempera-lhe o caráter. O Espírito encarnado sofre constantes transformações por fora, a fim de acrisolar-se e engrandecer-se por dentro.

6. Tudo que criamos para nós, de que não temos

necessidade, se transforma em angústia, em depressão...

7. Deixes algum sinal de alegria, onde passes.

8. A questão mais aflitiva para o espírito no Além é a

consciência do tempo perdido.

9. Agradeço todas as dificuldades que enfrentei;

não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito.

10. A felicidade não entra em portas trancadas.

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brasil”, de Carla Camurati. Nada menos que 590 mil pessoas lotaram as 377 salas de cinema em que o longa-metragem foi exibido no país. Até o dia 18 de abril já tinham assistido ao filme cerca de 2 milhões de pessoas. O Ceará tinha até então o terceiro maior público geral. A distribuição está sendo feita em parceria entre a Columbia, a Sony Pictures e a Downtown Filmes – a mesma de “Lula, O Filho do brasil”.

cearense. Produzido para ser flexibilizado, a fim de se desdobrar em microssérie de televisão, a versão para as telonas ficou em 125 minutos. O viés televisivo deveu-se às produtoras Globo Filmes e Lereby – de Daniel Filho. Mas o que nem todos sabem é que há uma produtora cearense envolvida no projeto. É a Estação da Luz, do empresário e produtor de cinema Luiz Eduardo Girão – que investiu cerca de R$ 1 milhão. A produtora foi chamada para trabalhar em cima do longa-metragem, devido à experiência com a temática espírita e, principalmente, devido ao sucesso inesperado que fez um de seus filmes, “bezerra de Menezes, O Diário de um Espírito”. Com baixíssimo orçamento e concebido inicialmente para ser um documentário, o filme foi visto por mais de 500 mil pessoas e já vendeu mais de 45 mil cópias em DVD.

Girão acredita que está se consolidan-do uma nova tendência no cinema nacio-nal. Depois de tantos filmes ambientados em favelas — com destaque para Cidade de Deus – tendo a criminalidade como temática principal, ele vê um potencial muito grande para produções que abor-dem a espiritualidade. “Esse tipo de filme é o nosso verdadeiro pré-sal. Essa temáti-ca está em evidência no mundo inteiro. Na literatura, por exemplo, Zíbia Gas-paretto tem 10 milhões de exemplares vendidos. O Divaldo Franco que é con-siderado um sucessor do Chico xavier, o maior médium brasileiro depois de Chi-co, já vendeu 8 milhões de exemplares. A movimentação dos espíritas é funda-mental, mas a divulgação na grande mídia facilita o alcance a um público de todas as religiões”, explica o produtor.

De fato, para este ano estão previstas novas produções. Os cineastas cearenses Glauber Filho e Joe Pimentel, associados ao cineasta brasileiro, radicado nos Esta-dos unidos, Gerson Saginatto, começa-ram, em Guaramiranga, as gravações de “As Mães de Chico xavier”, inspirados

no segundo livro do jornalista Marcel Souto Maior, “Por Trás do Véu de ísis”, que narra histórias verídicas de mulheres que perderam os filhos e encontraram consolo nas cartas psicografadas pelo médium mineiro. Na nova produção do cinema transcendental cearense, o ator Nelson xavier repete a interpretação de Chico.

Mas o filme que já está alvoroçando os apreciadores do cinema espiritualista é “Nosso Lar” – com estreia prevista para setembro – baseado no livro mais vendido de Chico xavier. O livro teria sido dita-do por um médico falecido no início do século xx, chamado André Luiz, e nar-ra o cotidiano de uma cidade espiritual. Prometem-se muitos efeitos especiais para retratar as cenas desse mundo imaterial.

Quanto à “Chico xavier, O Filme”, Girão acredita que o longa-metragem tem potencial para ultrapassar a marca de 6 milhões e pode superar o filme de maior bilheteria da “retomada”, “Se eu Fosse Você 2”, que teve 6,13 milhões de espec-tadores. Para o produtor, “o filme será uma invasão de amor nas telas. Ele vai mostrar que o amor vale a pena. As pessoas estão sedentas por isso. Vai ser juntar a fome com a vontade de comer. Acredito que as pessoas irão aos montes para o cinema”.

A julgar pelo êxito dos projetos anteriores de Girão, não há mes-mo motivos para duvidar. Além de ter criado a Estação da Luz, ele organiza há dez anos a Mostra bra-sileira de Teatro Transcendental. Junto com o próprio biógrafo e jor-nalista Marcel Souto Maior, Girão organiza ainda a Semana Chico xavier, que em 2010 esteve na sua quinta edição.n

luiz eduardo Girão. Empresário cearense que investiu cerca de R$ 1 milhão no filme sobre Chico

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Conexão África

Educação40 | Fale! | abril de 2010 www.revistafale.com.br

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No século XX foi comum ouvir dizer que o brasil era o país do futuro. Nos anos mais difíceis chegou-se a dizer que esse era “o país do futuro que nunca chega”. No início da segunda década do século XXi, com o brasil reconhecido internacionalmente como uma das potências emergentes, alguns países africanos querem aprender com o gigante sul-americano como abandonar o subdesenvolvimento e ganhar o respeito do mundo. as dificuldades são enormes, mas as maiores esperanças dessas nações estão depositadas sobre jovens estudantes que tentam encontrar – muitas vezes a milhares de quilômetros de casa — os caminhos da educação superior, do profissionalismo e até do engajamento político-ideológico. — por adriano Queiroz

no Ceará, residem cerca de 1.000 estudan-tes de diversos países da África, inclusive de nações anglófonas ou francófonas – que tem como idiomas oficiais o inglês e o fran-cês, respectivamente. A maior comunidade é a de Guiné bissau – aproximadamente 500 universitários – seguida pela de Cabo Verde – em torno de 250 estudantes. Entre outras razões, a proximidade do Ceará com o continente – especialmente com essas duas nações lusófonas – explica o grande número de jovens inscritos anualmente em programas de convênios que permitem o aproveitamen-to de vagas ociosas em universidades locais.

Essas vagas se distribuem entre uni-versidades públicas e privadas e abrangem diversos cursos, através das iniciativas do Ministério da Educação do brasil, PEC-G e PEC-PG, respectivamente, Programa

de Estudantes-Convênio de Graduação e Convênio de Pós-Graduação. Criados ain-da durante o regime militar, esses convênios do brasil com países subdesenvolvidos – ou em desenvolvimento – permitem que estu-dantes, entre 18 e 25 anos, após a participa-ção em seleções prévias realizadas em seus respectivos países, tenham acesso à bolsa integral para cursos de nível superior. Para isso, os pais precisam também comprovar a capacidade de arcar com despesas como alimentação, moradia e transporte dos es-tudantes no brasil. Além dos beneficiados com esse tipo de incentivo, outros estudan-tes africanos são atraídos por divulgações – nem sempre muito realistas – de outras instituições feitas no exterior.

Assim, a crescente participação de ca-

bo-verdianos, guineenses, tomeenses, an-golanos, moçambicanos, entre outros, na comunidade acadêmica cearense levou ao surgimento de uma associação, sem fins lu-crativos, que visa atender a demanda desses jovens no Estado.

A Associação dos Estudantes Africa-nos no Ceará – Aeac – foi fundada em 28 de fevereiro de 2009 e, apesar das des-confianças iniciais de setores do próprio corpo estudantil, vem se firmando como legítima representante desse grupo social que cresce a cada novo semestre letivo. À frente dela está o doutorando em Sanea-mento Ambiental e engenheiro químico Fernando Pedro Dias, que veio de Guiné-bissau para o Ceará em 2001. “Quando cheguei aqui tinha uma média de 10 a 12

o ANO DE 2010 FARÁ MuITA GENTE OuVIR FALAR SObRE O CONTINENTE africano, afinal a próxima Copa do Mundo de futebol será realizada em uma das suas mais prósperas nações. Mas para além de vuvuzelas – uma corneta típica dos torcedores africanos – craques do esporte e grandes animais, a África abriga meia centena de nações que desejam deixar as incômodas últimas posi-ções nos rankings de desenvolvimento humano e econômico. Cinco delas são lusófonas, compartilhando com brasil e Portugal o idioma: Cabo Verde, Guiné bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Mas se não bastasse a língua em comum, temos raízes históricas que ligam o brasil a esses países. Em nosso passado, muitos africanos foram trazidos como escravos para cá. E apesar da extrema violência física, social e cultural a que foram submetidos, conseguiram deixar um grande legado para nossa nação.

Hoje, os africanos que vêm para o lado de cá do oceano Atlântico trazem a esperança de um futuro melhor, não só para eles como indivíduos, como também para suas nações de origem, já que a maioria retorna levando novos conhecimentos, ao fim dos estudos. Somente

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EDUCAÇÃO

estudantes africanos aqui no estado”, lem-bra. Ele acompanhou o crescimento no número de estudantes africanos no Ceará e o nascimento da idéia de criar a Aeac.

“Comecei a conversar com alguns cole-gas que estavam aqui sobre a possibilidade de articularmos manifestações culturais. Então foram surgindo festinhas de aniver-sário dos colegas, datas comemorativas dos países africanos, etc. A partir de 2006 teve um fluxo maior de estudantes e eu chamei alguns colegas que aqui estavam para ten-tarmos criar uma associação”, conta Fer-nando. As primeiras tentativas, no entanto, foram infrutíferas. “Em 2007 fizemos uma tentativa, que falhou. Em 2008, fizemos uma nova tentativa que também não deu certo. Mas em 2009 resolvemos mudar a estratégia de trabalho, adotando a política de conversar com pessoas que eram os for-

madores de opinião de cada comunidade, levando em conta as suas nacionalidades de origem. Dessa vez realmente foi levado a sério um trabalho de estruturação, de mo-bilização, de buscar as ferramentas necessá-rias para essa ideia dar certo, tais como os fins dessa associação, a questão do estatuto e fora algumas atividades culturais”, relata.

As reuniões costumam ocorrer aos do-mingos à tarde, no Centro de Humani-dades da universidade Federal do Ceará – uFC – e estão abertas a todos os estu-dantes africanos. Além dessa IES pública, também há quantidades significativas de jovens universitários de origem africana na uece, Fanor, unifor e uVA, mas devido à posição geográfica central daquele campus, tornou-se o ponto de encontro da recém-criada associação. Sem se focar em uma única bandeira, a Aeac tenta dar suporte aos estudantes africanos nos mais diferen-tes aspectos: desde a troca de conhecimen-tos à luta contra a discriminação racial ou à xenofobia, passando pela regularização dos que estão ilegalmente no país; recep-ção, acomodação e acompanhamento dos recém-chegados; além de iniciativas que facilitem o intercâmbio da cultura afri-cana com a cultura brasileira. Em maio, por exemplo, a entidade apóia a Semana da África no Ceará, promovida pela Ong Travessia, e pretende organizar comemo-rações paralelas nesse sentido, em 2010.

Contudo, a integração dos estudantes africanos ao estado vai além das salas de aula, da representação da Aeac ou de even-tos pontuais. Há quem já esteja ganhando destaque na cena cultural cearense. Que o

Cabo Verde

GuinéBissau

São Tomé e Príncipe

Angola

Moçambique

Países EmissoresCabo Verde, Guiné, São Tomé, angola e moçambique tem alunos estudando no Ceará

diga o estudante cabo-verdiano Andy Mon-roe, que é também guitarrista da banda de samba rock, Cordel do Conto do Vigário. O grupo é formado ainda por um músico carioca e por três cearenses e nasceu entre viagens de seus integrantes à praia de Jerico-acoara – na região norte do Ceará, a 305 km de Fortaleza. Aliás, a música – principal-mente a bossa nova – e as atrações turísticas eram as maiores referências que o estudante de publicidade tinha do brasil. Outra refe-rência eram as informações de conterrâneos

dele que visitavam o nosso país e de brasilei-ros que viviam em Cabo Verde. “Todos os que eu conhecia me pareciam pessoas legais. Isso chamou minha atenção e de muitos em meu país. Se você for à avenida beira Mar só o que você vai ver é cabo-verdiano. Até porque Cabo Verde é muito perto de For-taleza, são 3h30 de avião”, aponta Andy. Apesar disso, foi impossível, para ele, evitar o choque diante da grandiosidade territo-rial e populacional do brasil. “De início foi complicado. Lá em Cabo Verde eu mal an-

estudantes afriCanos formam relevante comunidade em Fortaleza.Da esquerda para a direita: (em pé) alezino Gomes, Massude afonso, Fernando Pedro Dias, Willy Obama, (sentados) Maza Fernandes, Benjamin santos, alexandra Mane e Cadija Embalo

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dava de ônibus. Do bairro onde eu morava para o centro da cidade levava uns vinte ou trinta minutos a pé. Então lá é tudo bem próximo e eu chego aqui e a cidade é dez vezes maior que a minha, com muita gente, muita gente. uma das coisas que me deixou impressionado foi entrar em um terminal de ônibus. Lá não tinha terminal de ôni-bus e eu entrei no terminal daqui e vi aque-le montão de gente”, relembra Andy. Vale lembrar que a área total do arquipélago de Cabo Verde é de 4.033 km2 e – equivalente ao município de Tauá e 30% menor que a área da Região Metropolitana de Fortaleza – e a população é pouco superior a 500 mil habitantes – cerca de quatro vezes inferior à do município de Fortaleza. Entre os países africanos lusófonos, além de Cabo Verde, também Guiné-bissau e São Tomé e Prín-cipe possuem pequena dimensão territorial.

Angola, por sua vez, tem área comparável à do Pará e Moçambique à de Mato Grosso.

Outro estudante que enfrentou difi-culdades semelhantes, principalmente na chegada ao brasil, foi o tomeense Massude Madre de Deus Afonso. Também egres-so da iniciativa PEC-G ele foi o primeiro daquele país a vir estudar no Ceará, em 2004. Massude cursou inicialmente física, mas em 2005 ele mudou para a engenharia química, ambos os cursos na universidade Federal do Ceará. O estudante lembra que logo quando chegou ao Aeroporto Interna-cional Pinto Martins, em Fortaleza, se deu conta de que não tinha feito reserva em nenhum hotel da cidade. “Eu peguei um táxi e o taxista me perguntou: - Você quer que eu te leve para onde? Eu disse: Me leva para qualquer canto. (risos) E ele me levou para uma boa pensão na Rua barão de Ara-tanha. Desde esse dia me encantei com o Ceará e a hospitalidade de seu povo”, con-fessa Massude. Mas mesmo dizendo que já sente um cearense, Massude, não esquece suas origens. Ele nos conta que o povo to-meense é jovem e alegre, assim como o bra-sileiro e que o país é calmo, tendo grande potencial turístico e petrolífero. Para ele a maior dificuldade é a distância da família.

Falar sobre a África e sobre a realidade dos negros em nosso país é algo até cor-riqueiro entre a chamada elite intelectual brasileira e a comunidade acadêmica. Mas o que será que os próprios africanos pensam sobre temas polêmicos como a discrimina-ção racial e a adoção de cotas raciais para o ingresso nas universidades públicas no brasil, sobre as conquistas negras mundiais

mais recentes, como a ascensão de Obama e a realização do primeiro grande evento esportivo na África, a Copa do Mundo de 2010? Para ter uma ideia geral de como essas discussões repercutem na comunida-de africana que reside em Fortaleza, Fale! conversou com três deles: o presidente da Aeac e doutorando em saneamento am-biental, Fernando Pedro Dias, o músico e estudante de publicidade Andy Monroe e o estudante de engenharia química Mas-sude Madre de Deus Afonso, respectiva-mente de Guiné-bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe — países com as maio-res colônias africanas no Ceará. Confira.

a África não é um paíse não é pobre

entre várias visões comuns talvez a que mais aproxime os africanos que residem no brasil esteja paradoxal-mente relacionada à necessidade de se esclarecer a pluralidade da África.

Afinal são 53 nações independentes, 6 ter-ritórios e uma infinidade de etnias, idio-mas e crenças religiosas.

Para Fernando Pedro Dias é difícil ain-da para os brasileiros compreenderem que “um guineense tem características diferen-tes de um cabo-verdiano, um tomeense, um angolano, um moçambicano, um sene-galês, em termos culturais, tais como músi-ca, linguagem, esportes favoritos. É como se quisessem comparar o brasileiro com um norte-americano. Todos são america-nos, mas são diferentes. Então é errada essa identidade que se dá aqui aos africanos”.

Já o músico Andy lembra que as nações colonizadoras europeias tinham essa mes-ma visão unificada com relação aos povos africanos quando dividiram arbitrariamen-te o continente entre si, em fins do século xIx. “A África é rica, o problema vem lá de trás na história. Exploraram muito o conti-nente e foram fazer as divisões territoriais que fizeram, deixando o continente pessimamen-te estruturado, com guerras étnicas e tudo mais. Em qualquer lugar do mundo poderia ter acontecido algo parecido”, pondera.

Andy lembra ainda que “mesmo assim muitos países africanos têm crescido bastan-te nos últimos anos como a África do Sul, o Egito e até Angola e Moçambique. Só que quando a gente fala sobre a África para as pessoas e diz que lá tem cinqüenta e tantos países, as pessoas ainda dizem com espanto: sério?”, lamenta Andy. A mesma contrarieda-de demonstra o tomeense Massude. “É incrí-vel como as pessoas no brasil desconhecem a África e acham que ela é um país. Isso nos deixa profundamente chateados”, admite.

discriminação racial existe, sim, senhor

o desconhecimento sobre a África é, infelizmente, a faceta menos desa-gradável com a qual os estudantes africanos se deparam no brasil. Ex-cluindo as dificuldades concretas

com acomodação, adaptação ao novo país e eventuais problemas financeiros, o mais difícil é conviver com o preconceito duplo: por serem negros e estrangeiros. O presi-

sons. O aluno do intercâmbio andy Monroe, de Cabo Verde concilia a vida acadêmica com a atividade musical

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EDUCAÇÃO

dente da Aeac, Fernando Pedro Dias lembra que já ouviu muitos estudantes brasileiros declarando-se contra a concessão de vagas ociosas nas universidades para os africanos sob a alegação de que se estaria roubando o lugar de um brasileiro.

Ele também disse já ter ouvido relato de estudantes que foram buscar estágio em uma grande loja de eletrodomésticos da cidade e ouviram de funcionários que a mesma não contratava negros. Esses e ou-tros comentários ou ações de que seriam vítimas os estudantes africanos, levam o engenheiro químico a contestar o antigo mito da democracia racial brasileira. “Mui-tos negam que existe, mas tem várias for-mas de você identificar isso na sociedade. Alguns falam: - Na África do Sul tinha o apartheid, que o branco fazia isso e aquilo. Mas aqui também existe um que ninguém deixa identificar porque existe uma lei fe-deral que proíbe essas manifestações racis-tas”, argumenta.

Fernando disse ainda que há sutileza nesse racismo à brasileira, mas isso não o descaracteriza como algo nocivo. “Lá na África nós não conhecíamos termos como marrom bombom, marrom chocolate, que ainda dizem aqui que é termo carinhoso. Que carinhoso é esse que faz com que a gente não seja chamado pelo nome com o qual a gente é registrado?”, questiona. Ele lembrou ainda que o brasil é o segun-do país com a maior população negra do

“no brasil ainda há a ideia de as-sociar o negro à coisas ruins, de que negro não quer estudar. Eu apóio as cotas porque aqui se chega ao ponto de o negro não ter oportunidade mesmo de estudar, porque tem que ajudar à família, porque não tem acesso à emprego e salário dignos, mas isso não significa que a pessoa não queira estu-dar ou que seja preguiçosa”.

Já Fernando ressalta que “às vezes o homem negro fazendo a mesma função que o branco ainda ganha menos. E como a sociedade brasileira não discute como acabar com isso e nega oportunidades a pessoas que não têm condições de ingres-sar no ensino superior? Isso é uma forma de discriminação. Além disso, a história do brasil nos mostra que aos negros e aos índios sempre foi negado o direito de aces-so à escola”.

Sem entrar em polêmicas maiores, Mas-sude diz que não sofreu preconceito, em seis anos no Ceará. Contudo, ele não nega que exista discriminação racial no Estado ou no brasil como um todo. “Existe sim, mas a pessoa que vier me discriminar vai perder o seu tempo. Para mim o preconceito vem de uma ignorância, de um desconhecimen-to da pessoa. Como eu me considero com certa formação intelectual esse tipo de coisa não me atinge. Portanto, acho que isso tam-bém é um pouco uma questão de atitude que devemos ter perante essas pessoas racis-

mundo, com aproximadamente 90 mi-lhões de negros – incluindo, de acordo com o IbGE, pretos e pardos – perdendo apenas para a Nigéria que tem cerca de 150 milhões. Andy Monroe concorda que existe racismo em nosso país. Ele disse que no Ceará, por exemplo, é comum observar as pessoas atravessarem a calçada ou levan-tar os vidros das janelas dos carros quando cruzam com negros.

Mas o músico lembra que o problema da discriminação racial não é só do brasil e relata um caso que aconteceu com ele em Cabo Verde, país africano onde tam-bém há grande miscigenação. “O negro sente essa discriminação. Eu lembro que eu tinha um professor de história, que era por-tuguês e estava ensinando, em Cabo Verde, a história da África, eu já achei isso muito contraditório, a priori. uma vez ele fez um comentário que eu não gostei e gerou uma discussão em sala de aula. Ele disse: - Os negros sempre gostam de falar que tem or-gulho de ser negro. Isso é besteira. Nunca falem algo parecido. Aí eu disse: - Como assim? Você alguma vez foi negro? Passe um dia de negro para você ver”, redarguiu na época, o hoje estudante de publicidade.

Andy e Fernando são favoráveis às polí-ticas afirmativas adotadas nos últimos anos no brasil, tais como o sistema de cotas ra-ciais para a entrada em universidades públi-cas. Os dois recorrem ao passado e ao pre-sente para justificar esse apoio. Para Andy

unidos por uM Continente.

Estudantes se reúnem para

discutir assuntos de interesse comum.

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uma vez me perguntaram se a

África do Sul ficava perto de Cabo verde. andy Monroe, guitarrista cabo-verdia-no que mora no Brasil.

tas”, defende.

legado da Copa do mundo de 2010 para o continente

o esporte pode ser uma ferramenta para a mudança da percepção do mundo em relação à África. Essa é a apos-ta dos estudantes entrevistados pela Revista Fale! sobre o legado – para o

continente – da Copa do Mundo de 2010, a ser realizada entre junho e julho na África do Sul. Mas apesar de enxergarem o evento como positivo, temem que seja reforçada a ideia de que a África é uma coisa só. O gui-tarrista Andy Monroe nos contou que já lhe perguntaram se a África do Sul ficava perto de Cabo Verde. Detalhe: a nação insular, tem maior proximidade de Fortaleza que da sede do próximo Mundial.

Mesmo diante de perguntas como essa, o músico disse acreditar que “as pes-soas vão acabar mudando esse preconcei-to e essa ideia distorcida de que África é muito tribal e que não tem condições de se desenvolver. Eu vejo ainda como uma proposta para que outros países da África se inspirem”. O engenheiro químico to-meense Massude Afonso também acredita que a Copa do Mundo de 2010 vai “realçar a África. Isso vai mostrar um outro lado do nosso continente, que não apenas o da pobreza. A Copa vai abrir mais oportuni-dades, principalmente para a África do Sul. As pessoas vão conhecer mais aquele país e continente como um todo.”

Na mesma linha de raciocínio, o tam-bém engenheiro químico Fernando Pedro Dias destaca que um evento como a Copa do Mundo “traz informações, traz investimen-tos, traz turismo, traz desenvolvimento. Sevo-cê for ver a história da África do Sul, o que Nelson Mandela passou... E mesmo assim ele usou o esporte para unir a sociedade sul-africana, tem até um filme em cartaz agora, o ‘Invictus’. Então, nós africanos sim temos capacidade de realizar grandes eventos”.

Ele lembrou ainda que as mesmas pessoas que questionam a capacidade de um país africano receber uma competição desse porte não se preocuparam diante de problemas como a tensão entre as duas Coreias em 2002. “Todo mundo sabe que a Coréia do Sul, ao lado da Coreia do Nor-te, é um barril de pólvora. Mas foi realiza-da a Copa lá. Aqui no brasil foi realizada em 1950 e vai ser realizada em 2014, mas a gente sabe que esse país tem problemas sociais grandes”, enumera Fernando.

obama na Casa branca, um símbolo para os africanos

o descendente de quenianos barack Obama, presidente da maior potên-cia do planeta, os Estados unidos, é motivo de orgulho para eles, mesmo com eventuais erros cometidos no iní-

cio do mandato. “Eu acho que ele ainda está indo bem, apesar de alguns criticarem a polí-tica militar no Afeganistão, mas eu pergunto: a Al-Qaeda quer atacar só os Estados unidos ou toda a sociedade ocidental? Muitos ata-ques foram na Europa, na Ásia, na África. E se não existisse os Estados unidos para bater de frente com essa organização terrorista, como ficaria o mundo?”, interroga Fernando Pedro Dias.

Já o músico Andy Monroe enalteceu a identificação de Obama com sua raízes africanas. “Ele, assim como todos os negros norte-americanos, é de origem africana e o Obama não esqueceu suas origens, como acontece muito, mas ele fez questão de voltar para o Quênia e comemorar isso com o avô. O mundo olhou para a África porque os Es-tados unidos é uma potência mundial e a po-sição do negro em qualquer continente que não seja a África é vista de forma diferencia-da. Então, se ele lutou e mostrou que o negro pode chegar aonde Obama chegou, isso serve de exemplo para todos”, sentenciou. Massude vai mais longe e diz que além de símbolo para os negros, a eleição de Obama foi “uma der-rota para o fascismo norte-americano, uma quebra de paradigmas em um país onde ainda há tanto racismo”. n

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É Só uM COMEçO. É ASSIM QuE A SECRETÁRIA DO Centro de Fortaleza, Luiza Perdigão, avalia os primeiros resultados do processo de requalificação da região. Sim, requalificação. O termo revitali-zação, comum aos ouvidos do fortalezense, não é adequado no entender da Secretaria. O Centro esbanja vida, apenas está tentando recuperar sua

b o a saúde. Formada em Direito e integrante do governo municipal desde 2006, Luiza também coordenou a Comissão de Projetos Especiais e a Co-

missão de bens Imóveis da Prefeitura. Em suas palavras, a secre-tária revela seu otimismo em relação aos problemas do Centro e

alerta que é fundamental a colaboração de seus frequentadores, comerciantes e da sociedade em geral no sentido de resolver

tais problemas. Para 2010, a prioridade é reorganizar o es-paço público, tratando das questões dos camelôs, catado-res de lixo, estacionamentos e bancas, além do Plano de Habitação do Centro, que pretende tornar a região mais atrativa como moradia. Sobre a Copa de 2014, quando Fortaleza será uma das subsedes, a Secretária reforça o alerta aos que gostariam de oferecer um Centro agradá-vel aos olhos dos turistas. Apontando para um trabalho em conjunto, com o apoio e a consciência de todos.

Luiza trata o “abandono” da região, que guarda grande parte da história do Estado, como uma questão cultural. “O Centro, que é de todos, parece que não é de ninguém. Não acreditamos que este tesouro que é o Centro pode nos ajudar a ganhar dinheiro sem des-truir, a nos divertir sem sujar. E não acreditamos tam-bém, sociedade, empresas e o poder público, que somos capazes de mudar. O desafio é desenvolver pessoas para

ainda principal destino comercial da cidade, o Centro de Fortaleza carrega problemas

estruturais que mancham sua imagem e ainda ofuscam seu valor histórico. a advogada luiza perdigão, secretária do Centro, fala sobre alguns desses problemas, como revitalização, insegurança, lixo e comércio ambulante

preFeita do CeNtroEntrevista

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fazer a cidade crescer.” Acrescente-se ao otimismo de suas palavras o apego com que Luiza Perdigão abraça os problemas do Centro. A entrevista se revela um convite à sociedade para participar desse abraço e valorizar esse espaço.Fale! Quais são as prioridades da secretaria, neste ano, em relação ao processo de revitalização do Centro? Luiza Perdigão. O Centro tem uma vida muito intensa, não precisa de revi-talização, como imagina ser necessário o fortalezense que deu as costas para esta área privilegiada da cidade, inclusive os poderes públicos, levando dela não a vida mas a qualidade desta vida. Então, a Se-cretaria está mais preocupada em priori-zar a requalificação, a reabilitação como ocorreu e ocorre em várias cidades, de vários países. Como prioridade, estamos devolvendo os espaços públicos ao pú-blico, reorganizando a participação dos camelôs, dos catadores de lixo, o discipli-namento dos estacionamentos e bancas de revistas. Em paralelo, estamos execu-tando o Plano de Habitação do Centro, para que o fortalezense possa viver numa área perto da praia, com esgoto, transpor-te, inclusive metrô, comércio, serviços, etc, e a custo mais baixo que é o que todo mundo quer.

Fale! Já é possível visualizar resul-tados positivos desde o início desse processo?Luiza Perdigão. A Secretaria do Centro passou de extraordinária a executiva e a volta do Paço Municipal para o Centro recoloca não só o Poder Executivo no Centro, mas sobretudo o Centro no Po-der Executivo, o que facilita a visualização dos problemas e a tomada de decisões. As praças Pedro II e José de Alencar foram devolvidas à cidade, todas as praças estão passando a ter manutenção permanente; duas pesquisas que fizemos, sobre o lixo e sobre os camelôs, deram pela primei-ra vez uma noção exata do que estamos enfrentando. Organizamos o comércio ambulante, provisoriamente, na rua José Avelino, estamos transferindo os que ocu-pam a praça da Lagoinha e, finalmente, os comerciantes do beco da Poeira vão ter um lugar digno para atrair mais clientes. É só um começo.

Fale! Quais são os planos para re-solver o problema do despejo de lixo nas ruas e da falta de manuten-ção em determinados monumentos, calçadas e bancos de praças?

do jeito que está, até

parece que o lixo no Centro não é um problema, é uma opção. o que nos cabe é exigir o cumprimento da lei e vamos ser rígidos. Não adianta recolher a certa hora e a cada duas horas a rampa de lixo está formada outra vez, como ocorre agora.

Luiza Perdigão. Esta é uma pergunta que deve ser feita também a quem joga o lixo, a quem prefere ter a porta de seu es-tabelecimento sujo e mal cheiroso, atrain-do doenças e afastando novos negócios. A quem produz o lixo numa atividade lucrativa e não reserva uma ínfima quan-tia para cumprir a lei que obriga à coleta particular em caso de grandes quantida-des. Do jeito que está, até parece que o lixo no Centro não é um problema, é uma opção. O que nos cabe é exigir o cumpri-mento da lei, da empresa contratada aos grandes produtores, e vamos ser rígidos, porque o problema é muito grave. Não adianta recolher a certa hora e a cada duas horas a rampa de lixo está formada outra vez, como ocorre agora. E você não acha que é preciso primeiro retirar o camelô da praça, para em seguida tapar os buracos deixados, os bancos quebrados? É assim que estamos agindo.

Fale! O Centro abriga lugares com grande valor turístico, como o The-atro José de alencar e o Mercado Central. Porém, lugares como a Pra-ça do Ferreira e o Passeio Público nem sempre estão incluídos nas ro-tas de viagens. Existe algum plano para explorar o potencial turístico

de mais locais?Luiza Perdigão. Estamos requalificando o Centro para quem vive e trabalha no Centro, para quem deseja voltar a usar o Centro, e o que estamos conseguindo é um sinal de que o turismo e outros ramos de atividade podem usar os equipamen-tos e atrativos que estão de portas abertas. Mas essa é uma decisão da iniciativa pri-vada, que aliás poderia se integrar à luta que estamos empreendendo, ao invés de só ficar esperando pelo poder público. Onde a parceria acontece tem dado certo. À medida que a avançarmos, vamos su-gerir a exploração de roteiros pelos mais de 30 equipamentos culturais; o corredor histórico da Catedral à Estação João Fe-lipe; as praças que contam nossas lutas de liberdade; o roteiro das compras; dos mercados públicos e até o cemitério São João batista pode virar ponto de visitação.

Fale! De que forma a secretaria está trabalhando para garantir mais segurança aos freqüentadores do Centro?Luiza Perdigão. Estamos fazendo em tempo recorde com a AMC um novo projeto de iluminação do Centro. Isso vai deixar o Centro mais bonito e mais se-guro à noite. E com a Guarda Municipal estamos instalando 13 câmeras de moni-toramento 24 horas por dia, para iden-tificar comportamentos suspeitos, antes que ocorram crimes contra o patrimônio. Aumentamos o rigor com a fiscalização dos prédios que estão fechados e correm o risco de desabar ou pegar fogo – isso tam-bém é segurança. Ao lado dessa linha de prevenção, atuamos com inteligência, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública. Queremos aumentar a presença e a atuação do poder público no Centro, para assim banir a atividade marginal, porta de entrada do crime organizado. Hoje somos um “problema”, por exem-plo, para quem usava o beco da Poeira para vender CD e DVS piratas.

Fale! Quais as garantias e a estru-tura que vão cercar os permissioná-rios do Beco da Poeira e do Terminal Rodoviário Engenheiro João Thomé no Centro de Pequenos Negócios?Luiza Perdigão. O novo Centro de Pe-quenos Negócios vai enterrar o beco da Poeira, que foi útil para abrigar camelôs na época da Maria Luiza (1986-1989), mas que foi abandonado nas gestões se-guintes. Hoje o que temos lá são indus-triais, atacadistas, corretores que fazem parte da nossa economia e precisam de

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um espaço para trabalhar com mais segu-rança, conforto e conveniências que vão atrair novos e melhores clientes. Você, por exemplo, vai ter vontade de aprovei-tar os bons preços do Novo beco, como estão chamando. Perto do metrô, com banco, lotérica, praça de alimentação e o mais importante: a presença da Secre-taria do Centro, que volta a administrar o mercado e apoiar os permissionários, depois que uma entidade se apropriou indevidamente do espaço público e apli-cou um golpe milionário com a venda de boxes que não existiam.

Fale! Qual a situação dos ambulan-tes das outras áreas?Luiza Perdigão. O ambulante é par-te da nossa economia, é da nossa voca-ção comercial, é um atrativo a mais do Centro. Isto está comprovado na pes-quisa minunciosa que encomendamos. Os clandestinos, para nossa surpresa, são menos que imaginávamos. O que é grave? É a ocupação de alguns espaços públicos, algumas atividades que sujam muito e a desorganização que não é boa nem para eles. Estamos restabelecendo a relação do município com o camelô. Quem estava na praça Pedro II está em galpões da Rua José Avelino. Quem es-tava na José de Alencar foi provisoria-mente para a Lagoinha e, daí, para uma área bem localizada e com estrutura que eles estão escolhendo. Quem trata com a prefeitura, automaticamente recebe o apoio para entrar no Empreendedor In-dividual. Fale! Existe uma tendência de despolarização do setor comercial, quais são as ações da secretaria para tornar o Centro mais compe-titivo e continuar atraindo consu-midores?Luiza Perdigão. Não é mais uma ten-dência, é uma realidade, que cada Re-gional tenha seus corredores de comér-cio. Veja a bR 116 até Messejana, a José bastos até Parangaba e a Osório de Paiva, a Godofredo Maciel até Mondubim, a bezerra de Menezes até Antônio bezerra, entre outros exemplos. A Aldeota e en-torno também têm seu comércio, isso é bom, é a conveniência. No Centro temos uma atividade econômica crescente, seja no comércio ou nos serviços. Veja os no-vos restaurantes que surgem todo dia, as lojas de confecções e calçado das melho-res marcas, o comércio especializado em eletrônica, tecidos, couro, aviamento. Pergunte ao Carlos da Eletrônica Israel

o maior problema do

Centro não é do Centro, é de toda a cidade. Não temos uma relação de pertencimento ao território da nossa cidade, parece que vivemos num espaço que não é nosso e que não merece da nossa parte o zelo, a admiração, o carinho mesmo.

se ele não quer outro ponto no Centro. O Renato da ban ban Calçados já abriu três lojas. É por aí. Fale! Quais serão os benefícios para a infra-estrutura do Centro advindos dos preparativos para a Copa de 2014?Luiza Perdigão. Respondo com uma pergunta, qual é o Centro que nós cea-renses queremos mostrar para os milha-res de turistas que vão nos visitar daqui a apenas 4 anos? Se for o do lixo, da ven-da de produtos piratas, do camelô clan-destino, das fachadas históricas tapadas e da espada do General Tibúrcio ou do relógio da Praça do Ferreira surrupia-dos, vamos ficar mal vistos e mal falados para o resto dos tempos. Se for de uma cidade onde o espaço público esteja as-segurado para uso comum, da história representada nos prédios e praças, de uma sociedade limpa, alegre e organiza-da, esse desejo tem o nosso total apoio. Se você quer saber sobre obra temos projetos de acessibilidade, fiação subter-rânea, drenagem urbana, com recursos já assegurados, sem falar nas duas linhas de metrô, obra do Governo Federal com a participação do Estado e com apoio do município.

Fale! Numa escala de valores, qual o problema mais crítico do Centro

da cidade na sua opinião?Luiza Perdigão. O maior problema do Centro não é do Centro, é de toda a ci-dade. Não temos uma relação de perten-cimento ao território da nossa cidade, parece que vivemos num espaço que não é nosso e que não merece da nossa parte o zelo, a admiração, o carinho mesmo. O Centro, que é de todos, parece que não é de ninguém. Outro lado desta mesma questão é, que, não se sentido parte, não vemos que no Centro está o marco zero da nossa geografia e da nossa história, não enxergamos nos prédios e praças as nossas marcas que vão ser, ou não, impressas nos nossos filhos e netos. E, finalmente, não vendo e não valori-zando, não acreditamos que este tesouro que é o Centro pode nos ajudar a ganhar dinheiro sem destruir, a nos divertir sem sujar. E não acreditamos também, socie-dade, empresas e o poder público, que somos capazes de mudar. É uma questão cultural que precisamos todos enfrentar. O desafio é desenvolver pessoas para fa-zer a cidade crescer. n

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Economia

o crescimento, em Fortaleza, do mercado de luxo, voltado para as classes a, b e eventualmente C está atingindo também o segmento da panificação. prova disso é a inauguração do espaço de conveniência-gourmet empório do pão, ocorrida no último dia 8 de abril. a casa traz conceitos inovadores para o consumidor cearense, tais como a autêntica baguette francesa e uma espécie de restaurante interativo, onde o cliente pode reservar tempo e espaço para exercitar seus dotes de mestre-cucaP o r Ad r i ano Que i r o z | Imagen s Ja r ba s O l i v e i r a

iMAGINE NuM MESMO LOCAL TOMAR café da manhã, se deliciando com a receita original do mais famoso pão francês, e pre-parar uma bela massa para amigos especiais. Imagine ainda que nesse mesmo espaço você possa comprar de chá verde a camarões, comer sushi ou pizza, escolher entre os melhores vi-

nhos importados e as melhores cachaças brasileiras. bem se você é um amante da culinária, fortalezense ou de férias na capital cearense, não terá muita difi-culdade em encontrá-lo. No último dia, 8 de abril, dois empreendedores com sucesso no ramo da pani-ficação, um cearense e um mineiro, juntaram as mais modernas tendências do segmento, no que autodeno-minaram uma conveniência-gourmet, e deram vida ao Empório do Pão. O negócio nasceu de uma parceria entre o político e empreendedor cearense, Alexandre Pe-reira – que é também presidente da Associação brasileira

Quem disse que padaria é só pão?

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da Indústria de Panificação, a Abip, e do PPS-CE – e o empresário e consul-tor mineiro, Márcio Rodrigues – que é também presidente do Conselho Dire-tor do Instituto Tecnológico da Panifi-cação e Confeitaria, o ITPC. Os dois ainda firmaram parceria com uma das mais respeitadas escolas de panificação francesa, a “Association des Compag-nons Du Devoir”, ou Associação dos

xo de edifícios que integra residências, escritórios e lojas.

O espaço tem mais de quatro mil itens de delicatessen, um restaurante sofisti-cado que está aberto a interação com o público, como veremos adiante, uma ex-celente adega de vinhos, além das mais variadas bebidas, queijos, frios, biscoitos e temperos finos, hortifrutigranjeiros, laticínios variados, sorvetes, chocola-tes, bombons e, é claro, pães diversos. Além disso, a casa conta com serviços de sushibar e pizzaria. O foco inicial é o consumidor das classes A, b e, eventu-almente, C. No evento de inauguração do espaço, estiveram presentes, entre outros representantes desse público se-leto, o ex-governador Lúcio Alcântara, o deputado federal Raimundo Matos, o deputado estadual Adahil barreto, o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, o presidente da Associação brasileira da Indústria Hoteleira no Ceará, Régis Medeiros, o presidente da Federação das Indústrias do Ceará – FIEC – Rober-to Macedo, o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará – FCDL-CE , Honório Pinhei-ro, o presidente da CDL de Fortaleza, Francisco Freitas Cordeiro, a presidente do Centro Industrial do Ceará, Roseane Medeiros, o coordenador de publicida-de da Prefeitura de Fortaleza, Demétrio Andrade e o ex-jogador da seleção brasi-leira de futsal, Manoel Tobias.

Para Márcio Rodrigues, “o consu-

Companheiros do Dever, para trazer pela primeira vez ao Ceará, a legítima baguette francesa. Mas se não bastasse a ousadia dos sócios em inovar no modelo de empreendimento, o endereço escolhi-do também foi uma aposta. O Empó-rio do Pão fica no mais novo shopping center da cidade, o Pátio Dom Luís. O próprio centro de compras está inserido num contexto inovador, em um comple-

sóCios. alexandre Pereira, presidente da abip e do PPs-CE, e Márcio Rodrigues, presidente do Conselho Diretor do iTPC, se uniram para abrir o Empório do Pão

oriGinal. a legítima baguete francesa com receita original foi trazida da Association des Compagnons Du Devoir

ECONOMI A& NEGóCIOS

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midor Ab de Fortaleza carecia de um ambiente em que encontrasse de uma só vez um conjunto de serviços como delicatessen, pizzaria, loja de conve-niência, espaço gourmet, além de pro-dutos de padrão internacional. Nesse sentido, uma novidade que trouxemos foi um restaurante onde nossos clien-tes não só tem a possibilidade de se deliciar com variadas opções de café da manhã, almoço e jantar, como também vão poder reservá-lo com antecedência para receber amigos e convidados em um ambiente aconchegante, onde po-dem participar do preparo dos próprios pratos que quiserem servir e degustar”. Quem supervisiona tão interativa cozi-nha é a chef bia Leitão. O ambiente do restaurante é de fato muito agradável. Na decoração, há a predominância dos tons creme e marrons, com sutis referên-cias. n

sofistiCado. Com foco no segmento aB, o Empório do Pão fica no mais novo shopping center da cidade, o Pátio Dom Luís

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Diariamente, todas as grandes em-presas e órgãos produzem milha-res de documentos em suas redes de computadores que necessitam

de controle, a partir da digitalização da informação. Hoje, serviços críticos para o cidadão comum passam pelo desenvol-vimento da Tecnologia da Informação, desde o uso do celular ao atendimento efi-ciente em hospitais. Mecanismos de con-trole, armazenamento e processamento de dados, com o grande volume de infor-mação gerada a todo segundo, se tornam necessários para evitar a eventual perda de informações essenciais.

A empresa cearense de Tecnologia da Informação Chip é uma das lideranças em desenvolvimento de soluções tecnológicas específicas para o mercado corporativo e grandes órgãos públicos lidando com esse grande volume de dados. Comemorando 25 anos no mercado, a empresa tem forte atuação no Ceará e é exemplo da impor-tância e utilidade da tecnologia de infor-mação para a eficiência de empresas a nível estrutural e também no atendimento de clientes e cidadãos em situações delicadas; no caso da Chip, no contato com a polícia e em hospitais cearenses.

Pioneira em uma época em que a di-

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Ela está no seu cotidiano

“banda larga não é luxo. banda larga é feito alfabetização. todo mundo tem que ter”

Banda larga para todos. Esta é a meta do Plano geral de banda Larga, que está em elaboração

pelo governo, que deverá ser totalmente implementado até 2014, como assegura o ministro da Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, Franklin Martins.

“A Telebrás será recuperada para “fazer a banda larga neste país”, diz o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O brasil em alta

velocidade” é o título da proposta de Plano Nacional de banda Larga - PNbL.

Durante audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, Franklin Martins disse que “o plano está sendo concebido para ir até 2014 e é evidente que não será todo realizado este ano. é evidente que parte dele será

Banda larga para todos

a empresa cearense de tecnologia da informação Chip é uma das lideranças em desenvolvimento de soluções tecnológicas específicas para o mercado corporativo e grandes órgãos públicos

gitalização dos meios de comunicação, principalmente da telefonia, apenas engatinhava, a empresa acompanhou o processo de mudança no setor de per-to, atuando nas novas necessidades das empresas atendidas. Dennis bentes, En-genheiro Elétrico com formação em TI e sócio, fala com orgulho da solidez da empresa e dos projetos desenvolvidos com sucesso, como o aplicado no Ron-da do Quarteirão do governo do Esta-do, que facilita o monitoramento das ligações pela base policial e transfere as ligações de cidadãos para as viaturas. “O cidadão liga para um número fixo, nossa plataforma reconhece o número, vê para qual viatura ele está associa-do (na verdade, o sufixo do número é o número da viatura), encaminha essa chamada para a viatura diretamente,

ECONOMI A& NEGóCIOS

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TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Ela está no seu cotidiano

desenvolviMento. Dennis Bentes é o presidente da empresa Chip

O SETOR DE TI NO BRASILReceita Líquida (2006)Fabricação de máquinas de escritório, de contabilidade e de informáticaR$ 12.816.457 miFabricação de transmissores de rádio e televisão e de equipamentos para linhas telefônicas e de telégrafoR$ 25.532.466 miTelecomunicações R$ 88.781.311 miFONTE: IbgE

grava essa chamada e permite que o centro de operações policial, se quiser, entre na chamada para dar algum tipo de orientação ou algum tipo de registro, até de estatística, como quanto tempo a viatura leva para chegar ao local que é necessário atendimento”, detalhou.

O processo será implantado também em outros estados, como Pernambuco e Maranhão. Grande parte da pesquisa para as tecnologias utilizadas provém de cientistas da universidade Federal do Ceará (uFC), em convênio com o Ins-tituto Atlântico. Em parte de iniciativa cearense, os softwares e produtos de-senvolvidos são feitos pela Dígitro, par-ceira da Chip em Santa Catarina desde a fundação da empresa, e adequados à demanda dos clientes.

Outra situação em que a TI é im-prescindível é no atendimento em hos-pitais. No Ceará, o Hapvida, sistema de saúde, que concentra em Fortaleza a base de seu atendimento, requer gran-des cuidados em seu sistema eletrônico de atendimentos nos hospitais que não pode ser interrompido, e por isso re-quer um contingenciamento; se um site falhar, outro entra em ação. Tudo isso, com monitoramento remoto da Chip, que projetou a forma como as chama-das dos atendimentos são transferidas, e seus dados, para todos os lugares do brasil onde o Hapvida opera, com mais de 700 mil clientes.

Em órgãos públicos com bases de dados gigantescas como a Secretaria da Fazenda e o Tribunal de Justiça, um

tipo de inteligência corporativa pode entrar em cena para localizar dados es-pecíficos e fazer cruzamentos com outras bases. Isso que faz a mineração de dados, um produto novo que procura a agulha no palheiro virtual de informações. Tudo isso, facilitando o cotidiano de todos, que, hoje, anda lado a lado com as tecnologias di-gitais. n

feito este ano.”De acordo com ele, a

banda larga não pode ficar restrita a apenas alguns segmentos da sociedade. “A banda larga não é luxo. banda larga é feito alfabetização. Todo mundo tem que ter, todo mundo tem que ter acesso a informação, aos conteúdos, às trocas que existem na banda larga.”

Martins disse ainda que o

governo vai usar as redes de fibra óptica que pertencem à Telebrás. Isso, assinalou, poderá ser usado para “aumentar a competição, derrubar preços e fazer com que os serviços fiquem mais baratos na ponta”.

O coordenador do Plano geral de banda Larga é Cezar Alvarez, assessor especial da Presidência da República. Numa entrevista no ano passado ao jornal O Estado de S. Paulo,

Alvarez disse que “é difícil promover inclusão digital quando se trabalha com uma população de mais de 190 milhões de habitantes em um país com desigualdade de renda e proporções continentais, em que a infraestrutura de telecomunicações ainda está bastante concentrada. n

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iX bienal do livro do Ceará“Um evento para o povo”

m aurício de Souza, Ziraldo, Thiago de Mello, Carlos Heitor Cony, Paulo Markun, Calé Alencar, Arnaldo Antunes, Erasmo Carlos. Esses foram apenas alguns dos nomes que participaram da Ix bienal Internacional do Livro, realizada entre os dias 9 e 18 de

abril, no Centro de Convenções de Fortaleza. Com o tema “O Livro e a Leitura dos Sentimentos do Mun-

do”, o evento teve uma proposta bem mais popular que edições anteriores, com estrutura de organização des-centralizada. Em 2010, a bienal homenageou, ainda, o centenário do nascimento da escritora cearense Rachel de Queiroz, com ambientes inspirados em obras, per-sonagens e cenários descritos em livros da “imortal”.

Eu fui duas vezes só nessa edição e nos últimos dias, foi quando houve mesmo um ver-dadeiro clamor de pessoas por livros e eu gosto muito de ver isso. Antô-nio Rodrigues Filho, economista

Dava para en-contrar livros muito bons com preços melhores ainda. A Bienal é sempre um momento muito esperado por mim e eu gosto muito de vir. Aline Campos, graduanda em Ciên-cias Biológicas

Teve muitos temas interes-santes e livros com preços bons. Muitos romances inter-essantes, mas também muitos bons livros nas áreas técnicas e ligadas à minha profissão. Israel Felipe, graduando em Ciên-cias Contábeis

A cada edição, a Bienal tem sido palco de muitos lançamentos literários e artísticos. Vejo também número crescente de admiradores de uma das mais importantes formas de arte do mundo, que é a literatura. Elder Costa, advogado e professor

Havia pessoas de todas as classes sociais querendo uma oportunidade de descobrir os livros. Nós temos que res-gatar toda essa cultura do livro que está sendo perdida hoje por causa das novas tecnologias. Mariane Diogo, expositora

Eu achei que houve uma diversidade am-pla na maioria dos conteúdos, embora tenha visto poucos liv-ros de iniciação à Medicina, mas vi muitos livros avançados. Ta-tiana Pinheiro, graduanda em enfer-magem e vestibulanda em Medicina

Cultura

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Nada de círculos restritos a peque-nos grupos de iniciados no universo li-terário. No que dependeu dos organiza-dores da Ix bienal Internacional do Livro do Ceará, a edição 2010 do megaevento literário esteve muito mais próxima dos anseios do cidadão comum. “O que a gen-te queria era fazer esse evento para o povo, para o cidadão cearense. Quando você faz uma bienal com intelectuais da América Latina desconhecidos por 80% a 90% da população você não quer fazer um evento popular. Porque eu vou fazer uma bienal para a minoria como foi a de 2008?”, ques-tionou Karine David, coordenadora de Políticas de Livros e Acervos, da Secretaria de Cultura do Ceará – Secult. Assim, em vez de autores estrangeiros, desconhecidos do leitor cearense médio, nomes locais e

nacionais de grande reconhecimento mos-traram porque suas obras atraem tantos

novos leitores. Os organizadores do evento optaram

ainda por não inflar o evento com atra-ções múltiplas e só inseriram outras ma-nifestações artísticas em consonância com o mundo dos livros. Outra estratégia para aumentar a presença de público foi refor-çar o trabalho de comunicação. A asses-soria de imprensa do evento ficou a cargo da AD2M e o marketing ficou por conta da Inova. A descentralização do planeja-mento também foi uma aposta da Secult, tanto que nessa edição não houve a indi-cação de um curador geral, mas sim de um grupo curador, composto pelo es-critor Raimundo Neto, pela presidente do SindiLivros, Mileide Flores, e pela própria Karine David. Formar novos leitores foi também, claramente, um dos

Eu não sabia antes da Bienal do Livro do Ceará. Acho que poderia ser mais bem divul-gada nacional-mente, mas é sempre muito bom participar de uma Bienal como essa. Sara Haddad, professora da Uni-versidade Federal do Piauí

Vimos mui-tos colégios trazendo seus alunos para que eles tenham acesso a bons livros capazes de fazer com que essa criançada tome gosto pela leitura. Pedro jorge, professor

A Bienal é um evento es-sencial para os estudantes e devia ser anual porque ela alimenta e sacia a von-tade de obter conhecimentos, e aumentar sua intelectuali-dade. Igor Félix Almeida, estu-dante universitárioO Centro de

Convenções está ficando pequeno para um evento desse tamanho, mas com o novo Centro de Eventos e Fei-ras, prometido pelo governo do Estado, eu acho que ela só tem a crescer. Carol Martins, jornalistaDevia trazer liv-ros com preços

mais acessíveis para as pessoas que tem pou-cas condições financeiras. O livro do Dan Brown está com mesmo preço que em qualquer livrar-ia de shopping. Francisco Neto, estudante de Ensino MédioEu achei inter-essante a Bienal

do Livro como instrumento para fomentar a cultura em uma terra em que as pessoas leem pouco. Aqui elas tiveram acesso à bons livros, à boas revistas, à leitura em geral. Carlos jarbas, servidor da Assembleia

dentro do livro estão todos os sentimentos que a gente tem: amor, igualdade, liberdade, fraternidade, coleguismo, saudade.

karine david, Coordenadora de

polítiCas de livros e aCervos,

da seCretaria de Cultura do

Ceará – seCult.

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CULTUR A

grandes objetivos da Ix bienal. Para isso, não faltaram alguns ícones da literatura infanto-juvenil e dos gibis, tais como Pe-dro bandeira, o autor de literatura juvenil mais vendido no país; Ziraldo, o criador do personagem o “menino-maluquinho”; e Maurício de Souza, pai da “Turma da Mônica” e o escritor mais solicitado nas pesquisas realizadas pelos organizadores da bienal.

Na verdade, a preocupação com os pequenos e jovens leitores foi muito além do convite de personalidades ligadas a esse universo. No último dia da bienal, houve uma programação voltada essencialmente a esse público, aproveitando a celebração do Dia Nacional do Livro Infantil. Além disso, no planejamento dos espaços que integraram a Ix bienal foi reservado para crianças e adolescentes todo o “bloco F Superior” do Centro de Convenções de Fortaleza. Com um espaço reservado tão grande, a Secult – por meio da Coorde-nadoria de Políticas de Livros e Acervos – Copla – aproveitou para promover, em parceria com a Coelce, a visitação de apro-ximadamente 46 mil estudantes de esco-las públicas e particulares, durante os dez dias do encontro literário – 9 a 18 de abril. Mas como livro bom é aquele que se torna propriedade do leitor, os estudantes rece-beram também um vale – a “notinha-le-gal” – que deu direito a aquisição de livros infanto-juvenis nos valores de R$ 1,00 a R$ 5,00. A participação dos estudantes foi incentivada, ainda, por um concurso de redação, que trouxe como tema “Ser culto é a única forma de ser livre”, inspirado em

frase do poeta cubano José Martí. E por falar em tema, o da bienal foi

“O Livro e a Leitura dos Sentimentos do Mundo”. Segundo Karine David a ideia foi justamente reforçar esse aspecto emo-cional que permeia o universo das palavras escritas. “Dentro do livro estão todos os sentimentos que a gente tem: amor, igual-dade, liberdade, fraternidade, coleguismo, saudade. Mesmo que seja um livro cientí-fico, por exemplo, tem sempre a coisa do sentimento embutida, quer seja a curiosi-dade, a aprendizagem”, defendeu. Sintoni-zada com o tema esteve a homenagem des-te ano. Ninguém melhor para representar os sentimentos que se colhem nas linhas de um livro que a escritora cearense, Rachel de Queiroz, falecida em 2003. Ainda mais quando se comemora, em 2010, o cente-nário do nascimento da primeira mulher a entrar na Academia brasileira de Letras, tornando-se uma “imortal”. A propósito dessa homenagem, todos os ambientes da Ix bienal foram nomeados com títulos que remetem a livros, personagens ou ce-nários descritos por Rachel de Queiroz em seus livros, como, por exemplo, o salão “O Quinze” e a sala “Três Marias”.

SemiNÁrio. Logo na abertura do evento – que contou com a presença do governador Cid Gomes, do secretário da Cultura, Auto Filho, e do ministro da Cul-tura, Juca Ferreira – familiares da escritora receberam uma comenda alusiva à data especial. Paralelamente ao evento literário, foi realizado o seminário “Cem Anos de

Rachel de Queiroz”, com depoimentos de pessoas próximas à autora, performances teatrais e musicais, além de palestras com especialistas na obra da homenageada. Além disso, durante todos os dias da Ix bienal, no espaço “Não me Deixes”, houve uma mostra com fotografias, documentos e livros referentes à vida e ao trabalho de Rachel de Queiroz. Também não fica-ram desapontados aqueles que quiseram conhecer um pouco mais sobre a cultura e sobre a história de Fortaleza. É que na edição 2010 do maior encontro literário do Ceará, houve uma feliz coincidência de datas e o aniversário da capital do estado marcou também o quinto dia do evento. Por conta disso, os organizadores da bie-nal prepararam uma programação especial para a terça-feira, 13 de abril. n

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Rachel, seminário

A IX bienal Internacional do Livro do Ceará homenageou a escritora Rachel de queiroz e dedicou a Sala As Três Marias como centro dos eventos relativos a Rachel. O seminário Cem Anos de Rachel de Queiroz, teve depoimentos de Ana Miranda, José Augusto bezerra e Socorro Acióli. Vicência Jaguaribe e batista Lima irão falaram sobre as obras que a escritora destinou ao público infantil. Além de “O menino mágico” e “Andira”, livros para crianças, Rachel de Queiroz também escreveu “Cafute e Pena de Prata”. Diz batista de Lima sobre “Cafute e Pena de Prata”: “O livro torna-se, então, uma preparação do pequeno leitor para a grande aventura do

ingresso no mundo simbólico da leitura. A partir dessa leitura curta mas muito colorida, ele vai facilmente encetar grandes aventuras lecturais.”

O jornalista e escritor ítalo

gurgel, Lourdinha Leite barbora e Aíla

Sampaio, falaram sobre os romances da escritora.

Duas palestras, “Rachel de Queiroz: Múltiplas faces”, com o

escritor Antônio Torres, e a palestra “Rachel, Rachel”, com Heloísa buarque

de Holanda finalizaram as homenagens. As escritoras Heloísa buarque de Holanda,

Ana Miranda e Fernanda Cotinho, participam do lançamento e um bate-papo sobre o livro A Trilogia Rachel de Queiroz: Rachel de Queiroz: uma escrita no tempo (ensaio), A Lua de Londres (crônica) e Do Nordeste ao Infinito (crônica). n

Mauricio de Sousa, 50

O mundo mágico da Turma da Mônica foi um ponto alto da IX

bienal do Livro coincidindo com o Dia Nacional do Livro Infantil, com a presença

do quadrinista Mauricio de Sousa, com a palestra “Mauricio 50 Anos: Como fazer

Quadrinhos e Dar Certo no brasil?”. Maurício de Sousa começou a desenhar histórias em quadrinhos no final dos anos 50, quando uma história do bidu, seu primeiro personagem, foi aprovada pelo jornal

em que trabalhava. As tiras em quadrinhos com um cãozinho bidu e seu dono, Franjinha, deram origem aos primeiros personagens conhecidos

da era Mônica. Essa é a primeira vez que Mauricio de Sousa vem ao Ceará depois

do sucesso da série “Turma da Mônica Jovem”.

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CULTUR A

Na esteira da Ix bienal Internacional do Livro e do último ano do atual mandato do governador Cid Gomes, a Fale! entrevistou o secretário de Cultura do Ceará, o filósofo e bibliófilo Francisco Auto Filho, professor de Economia Política da universidade Estadual do

Ceará. Mas longe de ser apenas uma conversa sobre balanços e prognósticos, o gestor toca em pontos polêmicos, tais como a qualidade da literatura de Ra-chel de Queiroz, a principal homenageada dessa edição do encontro literário e fala também sobre o seu desejo de não permanecer no caso de uma eventual reeleição do governador Cid Gomes. Confira.

Auto Filho, secretário da Cultura

auto filho. As pesquisas sobre forma-ção de leitores feitas no brasil e em outros países têm revelado que a melhor política de formação de leitores é aquela que dá prioridade à criação do “hábito de leitura” a partir da primeira infância, tanto na es-cola como no lar. A programação infantil da bienal teve como propósito mobilizar a infância cearense para participar ativa-mente da bienal e motivar a meninada a ler.

porque o livro ainda é tão caro no Brasil? o que a secult tem feito ou pretende fazer para fa-cilitar o acesso do cearense aos livros? a interiorização dos inves-timentos em bibliotecas públicas pode ser uma boa alternativa? auto filho. O livro continua caro no brasil porque as tiragens são ainda muito pequenas. Só quando for criado um mer-cado permanente para os livros não didá-ticos, envolvendo dezenas de milhões de leitores novos, poderemos baixar o preço do livro. O Governo Cid Gomes vem pro-movendo a maior e mais ousada política de democratização do acesso ao livro não didático já feita no brasil. Graças a essa iniciativa, tanto o Ministério da Cultura quanto as Secretarias de Culturas de di-versos Estados alteraram suas políticas, passando a dar destaque à política do li-vro e leitura, com a instalação de biblio-tecas públicas nos municípios. No Ceará já são 192 bibliotecas públicas em 184 municípios. Ainda temos os programas de bibliotecas escolares (tocado pela Seduc), bibliotecas comunitárias, bibliotecas em-presariais e bibliotecas temáticas. A inten-ção é constituir, ao longo dos próximos de anos, um acervo de 12 milhões de livros no Ceará, superando o tamanho da popu-lação, que é 8,4 milhões de habitantes.

Considerando que este é o últi-mo ano desse mandato do Gover-nador Cid Gomes, que balanço o senhor faz do trabalho desenvol-vido em termos de incentivo à lei-

auto filho elogia Cid, mas diz que deixará o cargo ao fim de 2010

SEMEADOR DE LIVROSem sua gestão, ele distribuiu 3,5 milhões de livros para 192 bibliotecas públicas do Ceará, o único estado brasilerio com bibliotecas públicas em cada um dos seus municípios

o que o secretário destaca como sendo o maior mérito da programação da iX Bienal em relação à viii? auto filho. Em primeiro lugar, uma maior e mais significativa participação dos escritores brasileiros consagrados pelo público leitor. Em segundo lugar, um destaque maior para os autores ce-arenses, selecionados pelo Fórum de Literatura do Ceará e pela Academia Cearense de Letras. Em terceiro, a am-pliação do programa Visitação Escolar, que este ano atendeu a 50 mil alunos da rede pública, filantrópica e comunitária de todo o Estado, com destinação de R$ 250 mil reais para a chamada “no-tinha legal”, vale-livro dado a cada um dos participantes.

enquanto leitor contumaz, quais os maiores méritos que o senhor atribui à literatura da homenageada dessa edição da Bienal, a escritora rachel de queiroz? auto filho. Se entendi bem, a per-gunta é dirigida ao professor e não ao Secretário da Cultura. O Secretário da Cultura considera a homenagem pela passagem do seu centenário de nasci-mento inteiramente justa. Como leitor, não compartilho da opinião de outros leitores e de alguns críticos segundo a

qual Rachel de Queiroz é uma das maiores escritoras brasileiras. Entre os escritores nordestinos, dou prefe-rência a Graciliano Ramos. No Ce-ará, o melhor ficcionista é Durval Aires e o grande contista é Moreira Campos. No conjunto da literatura brasileira, meu escritor predileto é Machado de Assis e meu romancista preferido é Lima barreto.

o grande destaque que a programação infantil rece-beu na Bienal em 2010 teve que motivações principais? formar novos leitores seria a maior delas?

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tura e, de um modo mais geral, do seu trabalho à frente da secult? o senhor gostaria de permanecer no cargo caso o Governador seja reeleito? auto filho. Confesso que sou excessiva-mente autocrítico, nunca estou satisfeito com o que faço. Nessa perspectiva, prefiro falar sobre o que falta e não sobre o que fiz. A política do livro e da leitura precisa dar continuidade ao programa de aquisi-ção de livros para o sistema de bibliotecas públicas municipais e criar estratégias para que a sociedade ajude a montar os sistemas de bibliotecas comunitárias, empresariais e temáticas. Também é necessário ampliar significativamente o programa agentes de leitura, que hoje atua em 30 municípios cearenses e 10 bairros de Fortaleza. Por último, criar o Instituto do Livro e da Lei-tura na forma de Organização Social para cuidar de toda a política estadual para este setor fundamental da cultura. No tocante aos demais setores sob responsabilidade da Secult ficaria muito extenso expor tudo que será encaminhado ao Governador até o final do ano. No entanto, posso destacar duas coisas: primeiro há necessidade de criar uma política forte de defesa do pa-trimônio histórico-cultural. Aqui é preciso ir além para criar o Instituto Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico-Cultural, com um quadro de profissionais altamen-te especializados, três grandes e modernos laboratórios com capacidade para mapear e proteger os sítios e fornecer certificação para os grandes empreendimentos econô-micos que pretendam se instalar em áreas litorâneas e sítios históricos de nosso Esta-do. Segundo, reabrir a Pinacoteca do Esta-do para funcionar como cabeça de rede de um sistema estadual de pinacotecas muni-cipais. Isso levaria a nossa arte ao povo e ajudaria a criar um mercado público per-manente para nossos artistas visuais. Quan-to à pergunta se “gostaria de ficar”, devo esclarecer que trabalhar com Cid Gomes tem sido uma experiência gratificante, pois ele apóia com entusiasmo tudo que a co-munidade artística e intelectual tem sugeri-do ou reivindicado. Mas, paradoxalmente, é muito doloroso, do ponto de vista da saúde, o exercício da gestão pú-blica no primeiro escalão do poder executivo. Quando tentamos voltar a máquina pública para servir

ao povo, encontramos uma montanha de obstáculos buro-cráticos, legais e contábeis. Isso gera estresse e afeta a saúde de quem as-sume a mis-são de corpo e alma. Em síntese, o Es-tado burguês é por demais insalubre. Por isso, vou traba-lhar para que o mundo artístico e intelectual cearen-se ajudar a reeleger o Cid, mas não vou fazer qualquer movi-mento para permane-cer no cargo. n

precisamos criar uma política forte de defesa do patrimônio histórico-cultural

auto Filho: “é muito doloroso o exercício da gestão pública”

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Estilo

há cerca de 5000 anos, entre egípcios, mesopotâmios e sumérios, a cerveja já era conhecida. em roma, o vinho era a bebida alcoólica preferida e a cerveja era considerada bebida de bárbaros - grupo étnico tido como inferior. de lá para cá, o consumo da bebida se difundiu e sofreu transformações ao passar dos anos e ao sabor dos elementos de cada região, como os hábitos e o clima. mais uma vez, então, seu consumo está sendo reinventado

Para degustar com moderação

A disseminação do consumo de cerveja no brasil é de conhecimento geral. De norte a sul, ela tem seu

público consumidor garantido. A bebida, popularizada no país por volta da metade do século xx, faz parte dos hábitos dos brasileiros, para quem não fal-tam motivos - se precisar - para frequentar bares, restaurantes ou ficar em casa para tomar uma “gelada”.

Mas o que poucos sabem

ainda é que a bebida, do gosto popular, invadiu outro espaço: o paladar refinado dos brasileiros. Em uma comparação simples, a cerveja chegou ao mesmo “pata-mar” dos vinhos, por exemplo. Seus vários tipos e maneiras de ser consumida, permitem que ela entre no mercado de um público que aprecia boa gastro-nomia.

uma visão mais conservadora pode enxergar essa “tendência” com certo preconceito. A relação bebida&gastronomia sempre pertenceu aos vinhos e a socieda-

de se acostumou com isso. Mas a imensa variedade de cervejas que se vê hoje em restaurantes, bares e supermercados, oferece inúme-ras possibilidades de harmoniza-ção.

Clara ou escura, com baixo ou alto teor alcoólico - ou sem ele - quente ou fria, a cerveja tem, agora, a maneira certa de ser con-sumida, ou melhor, saboreada. Ela pede copo específico, temperatura adequada e o acompanhamento certo.

Não é apenas o sabor que diferencia seus tipos. O aroma, a cor, o brilho e a es-puma também são levados em conta na de-gustação. Essa nova estrutura de consumo

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Tipos de cervejade uma forma geral, as cervejas podem ser divididas em duas

grandes famílias. a tipo ale, mais antiga, é de alta fermentação, o que lhe confere mais sabor, criando um aroma frutado - pode ser comparado ao tinto, no mundo dos vinhos. O tipo lager, mais comum, é de baixa fermentação, geralmente de cor clara, com sabor e cheiro que lembram malte e lúpulo — voltando à comparação, é similar ao vinho branco.LagerSua origem é alemã e sua fermentação acontece a baixas temperaturas — de até 2º C. Seus aromas e sabores lembram malte e lúpulo. em geral, tem a cor clara e pode ser comparada ao vinho branco.AleProduzida na bélgica e na inglaterra. É mais encorpada e tem seu processo de fermen-tação feito em temperatura ambiente, o que lhe confere um aroma frutado. É o tipo de cerveja mais antigo e pode ser comparada ao vinho tinto. a pilsen é uma variação da ale.

vem inspirando admiradores da cerveja, fazendo emergir vários clubes dedicados à sua apreciação.

Este é o ponto interessante dessa nova forma de consumir cerveja. A bebida mais popular do mundo - comumente encon-trada em barzinhos e botecos, servida sem espuma - esta essencial para preservar cer-tos elementos da bebida - e em copos nada simpáticos, pelo menos aos mais exigentes,

vem ganhando um novo status. Nada mais atraente para o mercado cervejeiro. Se ele já é grande e competitivo, essa sua expansão é bem-vinda. Assim, cada vez mais empresas trazem marcas importadas para diversificar o mercado na-cional.

O mercado brasilei-ro é liderado pela Am-bev, a maior cevejaria

da América com 2 milhões de postos de venda na América Lati-na e dona das mar- c a s mais conheci- das,

como An-

Ranking do fabricanteambev lidera a lista dos maiores fabricantes de cerveja seguida pela Schincariol segundo dados da aC Nielsen

Mercado brasileiro de cervejasas principais marcas são lideradas pela Skol, seguida pela brah-ma e antarctica, todas da ambev. Fonte: da aC Nielsen

Itaipava6,2%

Kaiser4% Crystal

3,1%Bavária2,2%

Brahma

18,5%

AmBev 70%

Skol

32,7%

Schincariol 11,6%

Petrópolis 9,6%

Outras 1,6%

Femsa 7,2%

Nova Schin

10,3%Sol

0,5%

Antarctica

12,3%

E STILO

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Harmonizaçãoa satisfação do paladar de cada um é o que importa. Mas algumas har-monizações viraram consenso por estarem de acordo com o refinamento da alta gastronomia. a seguir, algumas sugestões.n a tipo Pilsen, como

brahma, antarctica e Skol, são boas companhias para aperitivos, carnes vermelhas e pratos orientais.n Carnes brancas e saladas

combinam com cervejas light, como a brahma lightn as cervejas feitas de trigo, como

a bohemia Weiss, são ideais para pratos frios, defumados e alemãesn as Stout, como a Caracu, vão

bem com mariscos, ostras e crustáceos. Chocolate também é uma boa combinaçãon as tipo ale, como a bohemia

royal, combinam com carnes vermelhas e pratos codimentados

n bolo de chocolate e de frutas acompanham bem as cervejas lambic, Schwarzbier (como a bohemia escura), e

as produzidas com malte torrado e notas de

toffee, como a Caracun Carnes

mais leves, como as de coelho, vitela

e pato são ideais para as cervejas tipo abadia, como a bohemia Confrarian as bock, como a brahma bock,

são bebidas fortes e produzidas em duas épocas do ano: primavera e outono. Para harmonizar, as sugestões são queijos, pratos quentes e pesados

Cada cerveja, um copodepedendo do copo utilizado, as características de cada cerveja são ressaltadas e mantidas juntamente com

seu frescor. Ale. Copo com formato mais

alongado e a parte superior mais bojuda para evidenciar a espuma, mantendo o aroma e o sabor.

Lager. devem ser servidas nos

conhecidos copos de chop — muitos confudem com a tulipa — ou em pequenas canecas, pois ressaltam o brilho, a cor e a cremosidade da espuma, além de reter aromas.

tárctica, brahma e Skol. A multinacional também é responsável pelas de caráter es-pecial, como a tradicional bohemia - a pri-meira cerveja brasileira - e a Original.

São dezesseis rótulos de cerveja — sem contar com as suas variações — oferecidos pela empresa. Dessas, sete são importadas: Quelmes, Stella Artois - carro chefe das cer-vejas Premium da Ambev e, dessa catego-ria, é a mais vendida no brasil - , Franziska-ner, Holgaarden, Leffe, Norteña e Patricia.

O abastecimento desse mercado não é exclusivo de grandes cervejarias. Desde a segunda metade do século xx, as microcer-vejarias vem se instalando nesse ambiente. Com modalidade de produção e comércio específicos, elas ainda participam de forma tímida do mercado cervejeiro, mas estão em expansão. De forma artesanal, suas ins-talações produzem pequenas quantidades de cerveja, geralmente para consumo local ou, eventualmente, para outras regiões ou estados. No brasil, as microcervejarias se concentram nas regiões Sudeste e Sul - esta última por conta da forte influência da cul-tura alemã na população local.

Em Campos do Jordão, no estado de São Paulo, a microcervejaria baden baden, um dos pontos turísticos da cidade, produz

manualmente suas cervejas de forma que elas guardem característcas bastante pecu-liares. Dos seus onze tipos de cerveja, sete são “regulares”, que são produzidas durante todo o ano. Para aumentar o caráter espe-cial, as quatro marcas restantes - chamadas “sazonais” - são elaboradas para serem con-sumidas em três épocas específicas do ano: verão, inverno e Natal. Assim como em vi-nícolas, eles abrem as portas para visitantes acompanharem o processo de fabricação das cervejas, degustarem e receberem su-gestões de harmonização, que também po-dem ser encontradas nos próprios rótulos de suas garrafas.

A combinação com os alimentos, pela imensa particularidade de paladares, pode ter muitas possibilidades. Mas, no momen-to de harmonizar, os sabores da comida e da bebida devem ser complementares para que não haja predominância de nenhum. Portanto, a boa percepção do aroma, uma das características principais da cerveja, é essencial para uma combinação adequada. Apesar das variedades de preferências por conta da liberdade do paladar humano, existem harmonizações que foram apro-vadas por muitos e viraram “consensos”. É o que especialistas e pessoas mais afinadas

com a bebida defendem: não há regra, são apenas sugestões para que o consumidor se familiarize com o requinte da cerveja e depois siga o caminho que desejar. Expe-rimentá-las talvez seja uma boa ideia para quem pretende se iniciar nesse novo mun-do cervejeiro. n

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Por Roberto costa

Autos&Máquinas

NISSAN LIVINA x-GEAR,FAbRICADO EM SãO JOSÉ dos Pinhais (PR), chegou ao mercado com a pretensão de aquecer o já dispu-tado seguimento dos monovolumes no país. O espaço destinado aos passageiros é generoso não somente para os ocupantes dos ban-cos dianteiros, mas também para os que viajam atrás, onde qua-tro pessoas se acomodam confortavelmente podendo transportar uma quinta sem grandes dificuldades. O acabamento se destaca por

bancos anatômicos e volante com regulagem de altura revestidos em couro, detalhes cromados nas portas, pára-sol com espelho de cortesia para motorista e passageiro, além de banco traseiro bipartido que facilita a acomodação de bagagens sem perder a possibilidade de continuar transportando passageiros.

O painel tem leitura fácil com seus três relógios bem posicionados e ainda rece-bendo rádio AM/FM/CD player com função MP3, entrada auxiliar para MP3/iPod

centro, sendo que nesta versão o pára-choque envolvente recebe na parte infe-rior uma moldura aluminizada. Visto de perfil, além das quatro portas com grande ângulo de abertura que facilitam o aces-so especialmente para o banco de trás, notam-se protetores pintados de preto, espelhos retrovisores na cor do carro. Na traseira, uma ampla porta dá acesso ao porta-malas, com capacidade para 449 litros, traz um pára-brisa de tamanho re-gular com desembaçador e limpador de série ladeada pelas lanternas trapezoidais e o pára-choque também recoberto por travessa em alumínio.

Dirigir o Livina X-Gear na cidade ou na estrada é tarefa fácil. Sua direção com auxílio elétrico, seu tamanho com-pacto, além da boa visibilidade traseira e lateral, auxiliada pelos bons retroviso-res que tentam neutralizar o ponto cego

liviNa X-GearprÁtiCo e CoNFortÁvel

e quatro alto-falantes, relógio digital in-tegrado ao display do equipamento de áudio, os controles do eficiente sistema de ar condicionado, vidros com acio-namento elétrico e um espaçoso porta-luvas, além do console com porta-copos na frente e atrás. Entre os equipamentos

de segurança estão air-bags para motoris-ta e passageiro e travamento automático das portas com o veículo em movimento. Externamente, o mono-volume da Nis-san traz grandes faróis que integram to-das as funções de iluminação e segurança, tela cromada com o símbolo da marca ao

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ABiAutOEm assembleia geral foi eleita a nova diretoria da Associação Brasileira de Imprensa Automotiva. A presidente é a jornalista paulista Célia Murgel, que terá como vice-presidente o jornalista brasiliense Saulo Moreno. “Nossa meta é dar continuidade ao crescimento da Abiauto, com ainda mais união e credibilidade. Pretendemos que seja cada vez mais uma entidade de serviço ao jornalista especializado e aos segmentos correlatos. Para isto, iremos fazer várias parcerias para promover a assistência social, cultural e

recreativa de seus associados”, discursou Célia. São membros da diretoria os jornalistas Ricardo Hernandes/SP (Tesoureiro), Ricardo Caruso/SP (2º Tesoureiro), João Alberto Otazú/SP (Comunicação), Sueli Osório/SP (Secretária), Fábio Amorim/AL (2º Secretário), Paulo Cruz/MS (Conselho Fiscal), Roberto Nasser/DF (Conselho Fiscal) e Marcondes Viana/CE (Conselho Fiscal).

gerado pela larga coluna traseira, trazem conforto e segurança mesmo para os jo-vens motoristas.

A versão avaliada por AuTOS & MÁQuI-NAS tinha motorização 1.6 – 16 válvulas Flex que desenvolvem 104 cavalos - que se mostrou suficiente para o modelo mesmo quando trafegamos em estradas serranas no interior do Paraná. Mas para quem achar pouco existe a opção 1.8 com 125 cavalos. O câmbio mecânico de cinco velocidades tem engates rápidos e precisos e apenas pareceu longo na quin-ta marcha, demonstrando a opção da montadora por economia em velocidades mais altas, fazendo com que - em algu-mas situações, especialmente em aclives

VW Saveiro crossNa Saveiro Cross, o caráter aventureiro é marcado, na dianteira, pelos parachoques com grandes faróis auxiliares de dupla função incorporados. Nas laterais, as caixas de rodas têm as linhas acentuadas por molduras pretas exclusivas para esta versão, unidas por um friso que percorre todo o comprimento do veículo, ressaltando também as rodas de liga e os pneus “All Terrain”. Um santantônio de alumínio, com acabamento em preto fosco, criado especialmente para esta versão, se prolonga do teto até a borda da caçamba, unindo funcionalidade ao efeito estético. A Saveiro Cross foi concebida para atender a um consumidor com estilo de vida e comportamento diferenciados, que busca um veículo prático, capaz de transportar seus equipamentos esportivos e de lazer e, ao mesmo tempo, busca sofisticação, diferenciação e conforto. A Saveiro Cross é oferecida exclusivamente com cabine estendida e utiliza motor VHT 1.6 Total Flex e transmissão manual, com cinco marchas.

iVecO nA Seduc A Iveco entregou o primeiro lote de 15 microônibus CityClass 70C16 à Seduc – Secretaria de Educação do Estado do Ceará. A marca foi uma das ganhadoras de uma licitação do governo cearense e será responsável pelo fornecimento de um lote inicial de 50 unidades do modelo, que serão utilizadas no transporte de alunos carentes que residem em regiões de difícil acesso. Os outros 35 microônibus serão entregues à Seduc ainda em 2010. Além disso, a Navesa comercializou mais 26 unidades do CityClass a prefeituras locais, em uma venda total de 76 modelos.

- fosse conveniente a utilização da quarta marcha. Como opcional é disponível um câmbio automático de quatro velocida-des. O comportamento dinâmico chega a surpreender em se tratando de uma mini-van, já que mesmo em velocidades relativamente altas, mantém-se bastante neutro e praticamente sem adernar nas curvas com a suspensão trabalhando de forma firme mas sem gerar desconforto ou transmitir as imperfeições do solo aos passageiros. Os freios são um capítulo a parte com discos ventilados na frente e tambor atrás auxiliados por sistema anti-travamento AbS, que imobilizam Livina x-GEAR em pequenos espaços sem qual-quer mudança de trajetória ou travamen-to.

Durante a avaliação somente do Nissan Livina x-GEAR não rodamos em estradas de terra e trafegamos bastante nas exce-lentes estradas do Paraná, onde se paga os pedágios mais caros do brasil. Mesmo com

cinco passageiros a bordo, quando bastan-te solicitados em aclives, o desempenho e o consumo de combustível se mostrou co-erente com perfil de veículo familiar.

Com o intuito de complementar sua linha de produtos, a Nissan acaba de colo-car no mercado mais uma versão para a fa-mília Lívia, Grande Livina e x-Gear, com pacote denominado S que traz uma série de equipamentos como air bag, destrava-mento das portas por controle remoto, rádio com função MP3 e entrada auxiliar, entre outros, com preços variando de R$ 48.690,00 (Livina), R$ 58.890,00 (Grand Livina) e R$ 51.700,00 (x-GEAR)

Diante destes atributos, a Nissan pretende fazer do Livina um grande

player, especialmente na disputa do mercado com Kia Soul, Honda Fit, Citroën XTR, além de Fiat Idea Ad-venture e Peugeot 207 SW Escapade. n

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Há 50 anos, a construção de brasília vislumbrava a grandeza do futuro do brasil. Hoje, para muitos, a capital federal é o retrato da corrupção e razão para a descrença de muitos brasileiros no destino do País. A visão de Juscelino e de seus colaboradores, porém, era bem diferente — Por Lívia Pontes

BRASÍLIA, 50 ANOS

Pérola do Planalto Central

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MarçO de 2010 | Fale! | 67www.revistafale.com.br

História

Para aqueles nascidos após 1960, nada mais natural do que afirmar: ‘a capital do brasil é brasília’. Essa simples frase foi motivo de um embate nacional há mais de cinquenta anos, dividindo o país com o ceticismo daqueles que, com razão, duvidavam da construção de uma cidade inteira, equipada para receber os centros de decisão do brasil, em menos de quatro anos. Do outro lado, estavam aqueles que embarcaram numa missão inédita e, por

sua magnitude, digna de tanto ceticismo. Atraídos pela liderança de Juscelino Kubistchek, a legião que comandou a construção de brasília era heroicizada e difamada ao mesmo tempo, enquanto a nova capital era erguida.

A ambição política e um projeto de redistribuição populacional guiavam o 21º pre-sidente da república, cujo governo foi marcado pela construção de uma nova capital federal para estimular o desenvolvimento do centro-oeste, ainda pouco habitado. Antes mesmo de ser presidente, brasília era ponto chave do plano desenvolvimen-tista de JK. O sucesso ou fracasso desse plano dependia da construção da cidade – o legado governista e o futuro político do presidente bossa Nova dependiam da inauguração triunfante de uma brasília moderna e veloz.

Mobilizando os quatro cantos do País, o projeto colossal foi iniciado. Para isso vieram os candangos do norte e nordeste, trabalhadores que construíram a cidade trabalhando dias inteiros, mesmo nos fim de semana e feriados, e não puderam

usufruir de suas próprias construções. As más-condições de trabalho, as longas jor-nadas e o posterior isolamento dos traba-lhadores nas regiões periféricas de brasília antes mesmo de sua inauguração, são a parte mais sombria das memórias da for-mação da cidade.

Quando, em 1956, o Congresso Na-cional aprovou a criação da nova capital e da Companhia urbanizadora da Nova Capital do brasil, a Novacap, todo o pro-cesso se deu com uma velocidade estranha às obras públicas. Só naquele ano JK tinha visitado a região que seria a capital pela primeira vez. A mata fechada do cerrado, a falta de rodovias ou ferrovias dificultava

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e encarecia a construção, até hoje sem estimativa confiável de seu custo astronômico, que acarretou em déficits sentidos pelo sucessor de Juscelino, Jânio Quadros. Mas as obras não podiam parar, e a bu-rocracia do governo inexistia para as construtoras e fornecedores de brasília.

Para a nova capital, tudo era exceção. Os envol-vidos na empreitada de JK, por pouco mais de três anos, só tiveram olhos para o cerrado. Alguns deram a vida por isso, como foi o caso do diretor da Nova-cap, bernardo Sayão, atingindo por um tronco de árvore nas obras. A convicção inabalável no projeto, que representava muito mais do que somente uma cidade, era necessária. Surgiu então a noção do “Es-pírito de brasília” - todos os trabalhadores da cons-trução foram tomados por ele, e uma parcela signi-ficativa do País apoiava os mudancistas. Construir brasília representava um feito inédito no mundo àquela época; em menos de quatro anos, transformar o pó do cerrado em metrópole era motivo de orgulho num país onde tudo era difícil e demorado.

O Chefe do Departamento de urbanismo e Ar-quitetura da Novacap, Oscar Niemeyer, via a capital como a chance para um protótipo socialista de urbe, onde todos, independente de classe, compartilhavam dos mesmos bens materiais. E foi assim que viveram por algum tempo durante a construção, quando os acampamentos e a comida eram iguais para o ideali-zador de brasília e os operários.

Lucio Costa, vencedor do concurso do Plano Piloto, elaborou o projeto com a perspectiva de ci-dade definitiva: “Era uma mudança definitiva e eu

concebi uma capital, uma cidade, com características de capital, uma escala de capital e capital. De modo que quando um carioca ou um paulista que fosse lá, mesmo no início... não se sentisse numa cidade-província”, disse certa vez em entrevista. Menos celebrado do que seu colega Niemeyer, Costa foi o urbanista responsável pelo projeto de brasília. Com um trabalho ambicioso e moderno, o arquiteto ob-teve pouco reconhecimento em vida, e morreu es-quecido no Rio de Janeiro em 1998, com uma pen-são modesta de servidor público.

Vencendo todos os obstáculos, brasília desa-fiou os opositores ao ser inaugurada na data prevista pela lei do Congresso, aprovada para desmoralizar o presidente na ocasião, certa para os opositores, de atraso e esquecimento da obra. A oposição sabia que, eventualmente, tudo aquilo seria deixado para as moscas, como tantos outros projetos já feitos no País. Com a aproximação da data de inauguração, e claros indícios da vitória de JK, a oposição udeni-sta tentou manobras até a última hora para impedir a mudança para a nova capital, o triunfo de JK e tudo o que ele representava. Liderada por Carlos Lacerda, que já havia declarado, “Ou Juscelino acaba com brasília, ou brasília acaba com ele!”, a uDN, e até facções do próprio PTb, partido aliado ao presi-dente, ainda no mês da inauguração, à 21 de abril de 1960, lutavam para instalar CPIs e inquéritos sobre os gastos das obras e a possível corrupção das construtoras envolvidas, as quais nunca ocorreram devido a falta de provas.

Para acabar com as teorias conspiratórias, montou-

HISTóRI A

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do pó ao aço. a estrutura do Congresso Nacional em

fase de construção.

de pampulha à brasília eu segui o mesmo caminho, preocupado

com a forma nova, com a invenção arquitetural. Fazer um projeto que não representasse nada de novo, uma repetição do que já existia, não me interessa. e nesse sentido, até brasília eu caminhei. mas senti que tinha que explicar as coisas, às vezes não era compreendido, que havia mesmo uma tendência a contestar essa liberdade de formas que eu prometia. osCar nieMeyer

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a gente tem que sonhar, senão as

coisas não acontecem. osCar nieMeyer

nasCe Brasília. Do sonho de Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer (foto abaixo) nasceu Brasília sob a crítica acirrada da oposição

HISTóRI A

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Gente de todo o país. Uma gigantesca frente de serviço, candangos fizeram Brasília à mão, ferro e fogo

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CULTUR A

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obrigado pela profissão, iniciei uma série de artigos esclarecendo nosso trabalho, nossas dififculdades e

atropelos, artigos que se foram somando, ampliando, até sugerirem a alguns amigos a possibilidade de os organizar em forma de livro que permanecesse como um documento honesto e espontâneo do empreendimento. osCar nieMeyer, soBre o livro que lançou eM 1961, ‘Minha eXperiênCia eM Brasília’

HISTóRI A

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espero que brasília seja uma cidade de homens felizes: homens que sintam a vida em toda

sua plenitude, em toda sua fragilidade; homens que compreendam o valor das coisas simples e puras um gesto, uma palavra de afeto e solidariedade. osCar nieMeyer

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a vida é importante, a Catedral de brasília: Na Catedral, por exemplo, evitei as soluções usuais das

velhas catedrais escuras, lembrando pecado. e, ao contrário, fiz escura a galeria de acesso à nave, e esta, toda iluminada, colorida, voltada com seus belos vitrais transparentes para os espaços infinitos. osCar nieMeyer

o dF em NúmeroS hoJe populaÇão 2.455.903hab deNSidade demoGrÁFiCa 354,3hab/Km² ÍNdiCe de deSeNvolvimeNto humaNo (idh) 0,844 (0-1) aNalFabetiSmo 4,35% partiCipaÇão

No pib braSileiro 3,8%

HISTóRI A

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do espaço. Brasília foi fotografada do espaço por um engenheiro da Nasa, o astronauta soichi Noguchi, que faz parte da equipe que orbita a Terra na Estação Espacial internacional (iss, na sigla em inglês). Feita na penúltima semana de abril mostra, com detalhes, o formato de avião do Distrito Federal. Noguchi postou a imagem em seu twitter @astro_soichi.

Fiz o que quis. Juscelino Kubitschek nunca me disse para

projetar cúpulas no Congresso, rampa no planalto, parlatório. até que ficou direitinho. Se não houvesse parlatório, os presidentes ficariam acenando para o povo de uma janela, como se fossem papas. Seria ridículo. osCar nieMeyer

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se uma indústria pró-brasília: um noticiário radiofônico sobre o andamento das obras informava todos os cidadãos da veracidade do compromisso do governo, acalmando âni-mos. Dezenas de edições da Revista brasília foram publicadas com o mesmo objetivo, e palestras eram ministradas nas cidades so-bre a construção. No dia 20 de abril, Jus-celino deixava o Rio e o Palácio do Catete para o evento político que definiu seu lega-do, bem ou mal. A mudança da capital sig-nificava uma nova era na política brasileira, esperavam muitos.

A brasília de hoje, com mais de 2 milhões de habitantes – número inimaginável para Juscelino – preparava uma grande comem-oração para os 50 anos da cidade de con-struções monumentais, feita para deslumbrar seus visitantes em frenético ritmo urbano. Paul McCartney ou Madonna, era essa a dúvida no governo do Distrito Federal para o grande show de comemoração, quando o

escândalo do ex-governador José Roberto Arruda, amplamente noticiado, diminuiu o ritmo e a magnitude dos eventos. A agenda oficial de comemoração conta agora com ar-tistas brasilienses e nacionais, com destaque para Daniela Mercury e Paralamas do Suces-so na Esplanada dos Ministérios. Entre 17 e 21 de abril, o governo do DF desembolsou até R$10 milhões de reais na comemoração da capital. A metade da verba inicialmente prevista.

Niemeyer, o escultor da cidade, ai-nda a presenteia com novas obras, mas as cidades-satélites, a poucos kilômetros do Plano Piloto, mostram o lado perverso do convívio urbano, que desde sua inaugura-ção no meio do cerrado há 50 anos, isola e esquece a população necessitada, e continua a prestigiar a classe política que habita as ruas pré-planejadas de brasília. n

poderes. Executivo e Legislativo e Judiciário, na

Praça dos Três Poderes

HISTóRI A

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CroNoloGia Cidade em construção

foNTES: INfoBRaSILIa.Com.BR E Gdf.df.GoV.BR

1823. Brasília começou a existir na primeira Constituinte no Império Brasileiro, em 1823, numa proposta colocada por José Bonifácio de andrada e Silva, argumentando quanto à necessidade da mudança da Capital para um ponto mais central do interior do país e sugerindo ainda para a cidade o próprio nome

com o qual foi batizada posteriormente.

1892. Nomeação da Comissão Exploradora do planalto Central , a missão Cruls, que dois anos depois demarca uma área de 14.400 km2 considerada adequada para a futura capital. Esta área ficou

conhecida como o “Quadrilátero Cruls”.

1922. Em 7 de Setembro deste ano, é lançada a pedra fundamental de Brasília, próxima a planaltina. Só em 1956 as obras se tornariam realidade, pelas mãos de Juscelino Kubistchek.

1955. Juscelino Kubistchek, candidato à presidência da República, lança o projeto de mudar a capital federal do Rio de Janeiro para uma cidade

totalmente pré-planejada no planalto Central. a capital resultaria em integração nacional, impulsionando fluxo migratório para o centroeste. a Comissão de Localização da Nova Capital federal (que havia sido criada em 1953) escolhe o local definitivo onde será construída Brasília - o “Sítio

Castanho”.

1956. Eleito, o presidente Bossa Nova inicia o planejamento da nova capital. a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, a NoVaCap, é fundada e as obras são iniciadas em pouco

tempo. da Companhia, seriam funcionários Lúcio Costa e oscar Niemeyer. Nesse ano, também foi lançado o edital do Concurso do plano piloto.

1957. o projeto do urbanista Lucio Costa para o plano piloto foi escolhido vencedor. Nesta data, construções como a do primeiro aeroporto e a do palácio do alvorada já haviam sido iniciadas.

1958. Iniciado o primeiro asfaltamento. Nesse ano, foi fundada Taguatinga (atualmente a mais importante cidade-satélite do df), a primeira cidade-satélite de Brasília.

1959. os cinco primeiros funcionários públicos da União tinham se mudado para Brasília, por meio de ato de JK. o presidente enfrentava problemas de financiamento para concluir a nova capital, símbolo de seu governo.

21 de abril 1960. após três anos de obras, a nova capital, Brasília, é inaugurada por JK, com apenas a estrutura básica da cidade edificada. Às 9:30h do dia 21, os Três poderes da República se instalaram simultaneamente em Brasília.

1961 – 1964. durante os Governos de Jânio Quadros e de João Goulart, a construção da cidade e a transferência de órgãos da antiga capital (Rio de Janeiro) fica quase estagnada. a partir de 1964, Castelo Branco e os demais presidentes militares que o sucederam consolidam Brasília como a capital de fato do país.

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HISTóRI A

P R I M E I R A P E S S O A

... e foi nessa ocasião que conheci Juscelino Kubistchek, candidato a prefeito de belo horizonte. Fiz o projeto, que mostrei a benedito, mas o assunto só foi retomado meses depois, quando JK, prefeito da cidade, novamente me convocou.

No dia combinado voltei a belo horizonte com rodrigo. tornei a conversar com JK, que me explicou: ‘Quero criar um bairro de lazer na pampulha, um bairro lindo como outro não existe no país. Com cassino, clube, igreja e restaurante, e precisava do projeto do cassino para amanhã’. e o atendi, elaborando durante a noite no quarto do hotel Central o que me pedira. osCar nieMeyer, eM 1940, quando ConheCe o prefeito de Belo horizonte, jusCelino kuBitsChek, que o Convida a desenvolver o projeto do Conjunto da paMpulha

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entrei para a escola

Nacional de belas artes em 1929, quando ainda morava na casa de laranjeiras. Gostava de desenhar e o desenho levou-me à arquitetura. lembro-me que ficava com o dedo no ar desenhando. minha mãe perguntava: ‘o que está fazendo menino?’ ‘desenhando’, respondia com a maior naturalidade. realmente, fazia formas no espaço, formas que guardava de memória, corrigia e ampliava, como se as tivesse mesmo a desenhar. Nos primeiros anos de escola, pouco compareci às aulas. ajudava meu pai na tipografia e somente nas horas de folgas podia freqüentá-las. mas em pouco tempo os assuntos da arquitetura — com a aprovação de meu pai — absorviam-me inteiramente. passei os cinco anos da escola Nacional de belas artes sem problemas, e fiz boas amizades. amigos para toda a vida como hélio uchôa, Carlos bittencourt, milton roberto, João Cavalcanti, Fernando Saturnino de brito e outros. osCar nieMeyer, que eM 1929 MatriCula-se na esCola naCional de Belas artes do rio de janeiro, que seria diriGida, a partir de 1931, por luCio Costa

hoje, sábado, num desses momentos de ócio, lembrei que poderia escrever um livro contando minha vida e meus problemas de arquiteto, nesse curto passeio que o destino oferece. um livro que definisse minhas atitudes e marcasse as razões

e os sentimentos mais íntimos que influenciaram minha existência tão pouco importante de ser humano. o meu apego aos problemas da vida, deste universo fantástico em que vivemos sem para isso termos sido convidados. um livro que mostrasse ter eu sempre encontrado tempo para pensar maior, sentir como a vida é injusta, como nossos irmãos mais pobres são explorados e esquecidos. Nele contaria minhas origens, defeitos e qualidades, minha descrença diante deste mundo absurdo e minha determinação de juntar-me aos mais bravos e com eles tentar melhorá-lo um pouco. e falaria também desse ser oculto que a informação genética inventou e dentro de nós existe, responsável em parte pelas nossas ações e atitudes. osCar nieMeyer, no livro de MeMórias as Curvas do teMpo, 1998

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HISTóRI A

CoMeço de uMa aMizade. a foto abaixo, de 1940, quando Conhece o prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que o convida a desenvolver o projeto do Conjunto da Pampulha. Na evolução das coisas, Niemeyer contruiu sua maior obra, a cidade de Brasília, com ícones como a catedral (acima) e o Congresso Nacional

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Coitada de brasília, Oscar Niemeyer não gosta mais dela. Infelizmente, não dá mais para igno-rar a realidade que aí está. Infelizmente, não dá para encontrar outra explicação para o estrago que o grande arquiteto federal vem fazendo, já há algum tempo, em sua principal obra, aquela que lhe rendeu suas mais altas honrarias, aquela que lhe garantiu uma posição ímpar no ranking dos arqui-tetos do século xx.

Tudo começou devagarzinho, primeiro a Praça dos Três Poderes sendo comida pelas bordas com o Panteão da Pátria, predinho sem graça e sem uso, verdadeira câmara escura que só serve para atravancar o espaço e impedir a vista… O Su-perior Tribunal de Justiça, a Procuradoria Geral da República e o Anexo do Supremo vieram na seqüência, bem mais pretensiosos e ainda mais fora de escala, com suas formas gratuitas e suas metra-gens gigantescas – afinal, quantos mais metros quadrados, melhor o honorário.

E assim, de projeto em projeto, cada vez mais intervindo na escala monumental da

BRASÍLIA, 50 ANOS

Oscar Niemeyer e Brasília Criador versus criatura

complexo cultural, a cidade iria ganhar mais um árido calçadão, mais um inóspito vazio onde desde sempre havíamos convi-vido sem maiores problemas com um mo-desto gramado… E lembremos o que fora previsto para o local por seu legítimo ide-alizador: um espaço desimpedido destina-do a atividades ocasionais, como paradas militares, desfiles esportivos ou procissões; nas próprias palavras Lucio Costa, “o ex-tenso gramado destina-se ao pisoteio…” (“O tráfego de brasília”, 1960).

Ao que parece, Oscar Niemeyer se es-queceu da sua dileta pomba, aquela que, como afirmara veementemente à época, deveria ser a sua derradeira contribuição para brasília e sem a qual o seu opus bra-siliense estaria inconcluso. E parece que se esqueceu também do “povo”; agora, no mesmo local a praça será da “soberania”. Lá deverá ser erigido um prédio impres-cindível, seja para o povo, seja para a sobe-rania: o Memorial dos Presidentes. E um Monumento ao Cinqüentenário de brasí-lia, a ser comemorado em 2010; para que ninguém deixe de entender a sua comple-xa simbologia, nada melhor do que um chifre de concreto, de cem metros altura, descrito como obra de grande ousadia tec-nológica. Tanta construção apenas para en-cobrir um estacionamento subterrâneo… De quebra, na maquete eletrônica (inci-dentalmente, o novo tipo de empulhação

Coitada de Brasília. Para Oscar Niemeyer, ela está aí tão somente para manter ocupado o seu escritório sem risco de concorrência. — Por Sylvia Ficher

cidade, cada vez mais rompendo a graça e elegância da Esplanada dos Ministérios, chegou a vez do Complexo Cultural da República, com sua nanica biblioteca – nanica, talvez, por conta de um incons-ciente desinteresse por edifícios úteis – e sua cúpula-museu – nem tão cúpula as-sim, menos ainda museu. De quebra, a bela Catedral Metropolitana perdeu sua

ambientação urbana e, para piorar, foi estrangulada pela gravata de concreto que lhe dá uma rampa sem rumo ou razão.

Há coisa de dois anos, uma robótica pomba — isto mesmo, uma pomba! — seria o principal elemento da praça que, segundo o arquiteto, estava faltando no Plano Piloto: a Praça do Povo. Repetin-do a ausência de paisagismo do vizinho

HISTóRI A

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arquitetôni-ca que

nos oferece o maravilhoso mundo

da in- formática) é contra-b a n d e a d o um antigo projeto vetado pelo IPHAN por desrespeitar em muito o gabarito estabelecido legalmen-te para o local – uma altíssima cobertura

curva para abrigar shows de mús i c a popular, a qual implacavelmente lembra “as curvas do corpo da mulher amada”, só que com redondinhos seios de silicone e já buchuda.

Coitada de brasília. Afinal, apesar de tombada, há uma portaria do IPHAN que autoriza tudo isso:

Excepcionalmente, e como disposição naturalmente provisória, serão permitidas quando aprovadas pelas instâncias legal-mente competentes, as propostas para novas edificações encaminhadas pelos autores de

oscar Niemeyer, já era um arquiteto consagrado quando, em 1956, foi convidado pelo presidente da

república para projetar brasília e seus edifícios. “oscar, desta vez vamos construir a capital do brasil. uma capital moderna. a mais bela capital deste mundo!” disse-lhe, na ocasião, Juscelino Kubitschek de oliveira. Niemeyer aceitou apenas tratar das questões arquitetônicas da cidade, recusando a autoria do plano urbanístico da futura capital. andrey rosenthal sChlee e GraCiete Guerra da Costa

Brasília – arquitetos Lucio Costa e Oscar Niemeyer – como complementações necessá-rias ao Plano Piloto original … (Portaria nº 314, 8/10/1992, Art. 9º, § 3º ).

Tal qual o bordão de uma famosa per-sonagem de programa humorístico, “Os-car Niemeyer pode!!“

Coitada de brasília. Para Oscar Nie-meyer, ela está aí tão somente para man-ter ocupado o seu escritório sem risco de concorrência. Coitada de brasília, cujo plano piloto foi escolhido transparente-mente por concurso público, agora sujeita a decisões tomadas nos gabinetes de seus governantes. Coitada de brasília, fadada a ser conhecida daqui por diante não mais como Patrimônio Cultural da Humani-dade, porém como Capital Mundial dos unicórnios. n

Sylvia Ficher é arquiteta, doutora em história e professora da Universidade de Brasília

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Uma revista com a cara de Brasília.

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A revista de informação de brasília. Toda grande cidade merece uma grande revista.

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Pensata

quando o deputado mineiro Paulo Delgado voltou de uma viagem à China trouxe na cabeça um provérbio tibetano,

que ele ouviu por lá: “Quem fala bem de nós nada nos ensina”. O deputado petista, professor e didático, explicava: o elogio fácil piora o caráter do elogiado.

O ex-deputado cearense Carlos Virgílio Távora carregava na agenda esses versos de Álvaro Moreira; “um dia acreditei na vida/ E ela em mim/ Depois

desandamos a rir/ um do outro”.Anexim era peça de resistência

dos famosos almanaques que os laboratórios de medicamentos distribuíam, como brinde, nas farmácias de todo o país.

A expressão “cultura de almanaque” era usada para identificar de forma pejorativa as pessoas falantes que citavam fatos históricos e provérbios para demonstrar conhecimento.

As Seleções também usavam e abusavam de máximas como “Estava triste porque não tinha sapato. Ao virar a esquina vi um homem que não tinha pé”.

Ou Confúcio: “Não me preocupo quando as pessoas não me conhecem, mas sim, quando não as conheço”.

Os provérbios nunca saíram de moda. Os almanaques, como o Capivarol , desapareceram,

mas os ditos sentenciosos, você encontra hoje em dia, com a maior facilidade, até na Internet.

Muita gente gosta de citar provérbios, e faz com tanta propriedade que encaixa na conversa como luva em mão.

O colunista gilberto Amaral, que vive dizendo que “caixão não tem gaveta”, podia escrever que o jornalista Pedro Rogério disse que “O cão sonha com o osso”, que todas acreditariam, pois tem o jeito dele. Esse, italiano,“A sabedoria vem de escutar; de

falar, vem do arrependimento”, parece com o reservado Toninho Drummond. Jorge Ferreira, do Feitiço Mineiro, não disse mas podia dizer, que não pareceria estranho: “Pega-se o touro pelos chifres, o homem pela palavra e a mulher pelo elogio”.

Os provérbios traduzem a sabedoria dos povos. Os chineses são mestres em sentença moral:

“Difícil é ganhar um amigo em uma hora; fácil é ofendê-lo em um minuto”. “Se você quer manter a sua cidade limpa, comece varrendo diante de sua casa”.

“Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”

Os árabes também sabem se expressar de forma sucinta e rica em imagem: “Em dia de vitória ninguém fica cansado” ´ “Não é o que possuímos, mas o que gozamos, que constitui nossa

abundância.”E os judeus? “Não há melhor

negócio que a vida. A gente a obtém a troco de nada.” Provérbio turco: “Quando o machado entrou na floresta as árvores disseram: o cabo é dos nossos”. um russo: “Saber demasiado é envelhecer prematuramente”.

E para sua reflexão: “Toda manhã, na África, uma gazela acorda. Ela sabe que deverá correr mais rápido do que o leão, ou morrerá”.

“Toda manhã, na África, um leão acorda. Ele sabe que deverá correr mais rápido do que a gazela ou morrerá de fome.”

Quando o Sol surgir no horizonte, não importa se você é leão ou gazela. Corra.n

Wilson Ibiapina é jornalista, diretor do jornal Diário do Nordeste em Brasília

Em cada cabeça uma sentençaPor Wilson Ibiapina

quando o Sol surgir no

horizonte, não importa se você é leão ou gazela.

Corra.

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apenas de short jeans e exibindo seu bronzeado, é assim que fernanda paes Leme está estampada na cada

da revista Homem Vogue da edição de abril. a atriz de 26 anos - com 1,62m de altura e 50 quilos – esbanja sensualidade e forma física em dia. Segundo a revista, as fotos do ensaio quase não tiveram tratamento de imagem. Sua beleza está exposta de forma natural.

fernanda iniciou sua carreira na televisão aos 15 anos, quando participou do seriado Sandy e Júnior da Rede Globo, emissora onde permanece até hoje. Já participou de novelas, especiais e minisséries globais e agora está encarando um novo desafio: o teatro. atualmente está em cartaz com a peça dona flor e Seus dois maridos, onde substituiu a atriz Carol Castro no papel principal. Segundo seu companheiro de cena, o ator marcelo faria, a dona flor interpretada por fernanda é mais “safada”.

filha do jornalista esportivo Álvaro José, da Rede Bandeirantes, a atriz já tem certa experiência em trabalhos sensuais. Em 2005, aos 22 anos de idade, também foi capa da revista playboy e, desde o começo do ano, aparece em cenas de nudez como dona flor. “Lido com isso de forma tranquila. Não é um tabu nem uma dificuldade.”, diz fernanda sobre sua nudez no palco. Natural e desinibida. n

FERNANDA PAES LEME Natural e desinibida

persona

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personaL u i z c A R L O S M A R t i n S

Vice-governador Francisco Pinheiro entrega diploma ao Presidente do TCU, Ubiratan Aguiar

Antônio dos Santos, Guedes Neto e Fernando Maia Ivens Dias Branco, Sérgio Machado e Roberto Macêdo

Érika e Assis Martins Rejane e João Batista Fujita e Luís Sérgio Vieira Adauto Bezerra e Silvana

reConheCiMento. o ministro ubiratan aguiar e a presidente da associação dos agentes Comunitários, Maria edilza, foram agraciados com a Medalha da abolição em solenidade no theatro josé de alencar. fotos iRAtuÃ

Sellene Bezerra, Mônica Arruda e Terezita Aguiar Luís Marques e Hermeto de Paula Eliardo Rodrigues, Ubiratan e Terezita Aguiar e Lourdinha Rodrigues

Ana Juaçaba e Maria José Ferreira Gomes

Maria Edilza, também homenageada com a mais alta comenda do Estado

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hoMenaGeM da Cidade. por propositura do vereador Machadinho, o deputado eunício oliveira foi agraciado com a Medalha do Mérito Municipalista em cerimônia na Câmara Municipal de fortaleza. fotos iRAtuà fReitAS

personaL u i z c A R L O S M A R t i n S

Eunício Oliveira, Salmito Filho, Francisco Pinheiro e Tin Gomes

A alegria do homenageado Convidados na cerimônia cívica

Eunício Oliveira e presidente da Câmara Salmito Filho Homenageado entre vereadores Acrísio Sena e Walter Cavalcante

Homenageado com autoridades

Carlomano Marques e vereadora Magaly Marques

Vereador Machadinho Neto entrega distinção a Eunício Oliveira

Paes de Andrade

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personaL u i z c A R L O S M A R t i n S

pão CoM estilo. prestigiada inauguração da padaria empório do pão, com espaço gourmet, sushi bar e maravilhas gastronômicas. fOtOS JARBAS OLiVeiRA

Convidados na inauguração da loja Alexandre Pereira, com a mãe Alice e esposa Isabel Pereira

Alexandre Pereira e Roberto Pessoa

Manoel Victor, Beatrice e Paulo Ary e Alice Pereira Demétrio de Andrade e Alexandre Pereira

Régis Dias, Verônica Perdigão e Roseane Medeiros Renata e Liliana Brígido

Isabel Pereira, Tânia e Roberto Macêdo e Maria Luiza Ary

Márcio Rodrigues e Luiz Machado

Tales de Sá Cavalcante

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dezeMbrO de 2009 | Fale! | 91

personaL u i z c A R L O S M A R t i n S

Luiz Carlos Martins. De A a Z no Caderno Linha Azul, jornal O Estado

Alexandre Pereira e Lúcio Alcântara

Wilson Vicentino, Ruy Câmara, Erivelto Sousa e Luís-Sérgio Santos

Jaime Cavalcante e Wilson Vicentino Mila Ary e João Walter

Aguiar Junior, Raimundo Gomes de Matos, Alexandre Pereira e Demétrio de Andrade

Alice e Ricardo Pereira João e Roseane Medeiros

Roberto Macêdo e Raimundo Gomes de Matos Pompeu Vasconcelos e Marília Quintão Roberto Pessoa, Marcos Montenegro e Esio Caracas

A benção da nova loja

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personaL u i z c A R L O S M A R t i n S

no rol dos setentÕes. o desembargador Antonio carlos chaves Antero comemorou seu aniversário (70 anos), com impecável jantar no Salão Mucuripe do Hotel gran Marquise, reunindo a família e os amigos mais chegados. fOtOS AuStOn

Marília Studart e Assis Antero Sabino e Auxiliadora Henrique

Rebeca e Cândido Albuquerque, Marcos e Giovana Albuquerque

Ademar e Angélica Bezerra, Antonio Carlos (aniversariante) e Lillian Antero, Nazaré e Cláudio Pires Emmanuel e Luiza Furtado Lúcia e Sérgio Liebmann

Lisiane Antero e Socorro França Pedro Chaves Antero e Fernando Ximenes Lilian Antero, Silvio de Castro e Osmar Pontes

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personaL u i z c A R L O S M A R t i n S

Brinde. advogado fernando férrer ganhou festa dos amigos no fagulha, ao som da banda djones, motivado pelos seus 41 anos. fOtOS iRAtuà fReitAS

Priscila e Fernando Férrer e Vanessa Queiroz

Pompeu Vasconcelos e Marília Quintão

Christiano Alencar, Fernando Férrer e Valdetário Monteiro

Luiz Carlos Martins, Cleto Gomes e Paulo Régis Botelho Hermano e Beth Queiroz

Deuzmar Queiroz, Fernando Férrer e Gaudêncio Lucena

Alberto Bardawil, Lavanery Wanderley, Fernando Férrer e Antônio Parente da Silva

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O melhor dos anos 80, com uma pitada de jazz.

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ÚltimaPáginaÚltimaPágina

A inserção constitucional de órgão jurídico destinado à defesa dos interesses dos necessitados explicita a linha da Carta de 1988,

no sentido de estabelecer a função social do Direito como instrumento de realização do princípio da isonomia (tratamento igual dos iguais e desigual dos desiguais na proporção pertinente - lição de Rui barbosa). A Defensoria Pública é definida, pela nossa Constituição, como”instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus dos necessitados...”.

A Defensoria é sucessora da Assistência Judiciária aos Necessitados, prestadora de relevantes serviços aos que não podem arcar com advogados particulares para o seu acesso à Justiça. Estruturada e equipada com o indispensável à realização de seu nobre mister, a Defensoria demonstra a vocação dos realizadores de suas importantes atividades para um tipo de advocacia mais ligado à principal função do Direito, como regra e dinâmica da efetivação da Justiça. E, em que pese ao tratamento remuneratório não de todo adequado ao nível, à complexidade e aos fins do trabalho de seus componentes, a Defensoria vem crescendo e acentuando sua participação na construção democrática dos princípios constitucionais mais eminentes, nomeadamente os que visam assegurar os direitos dos excluídos da cidadania completa. Na Defensoria, a advocacia é plena e majestática. Enobrece quem a exerce. E mostra, nas suas variantes, a verdadeira função

Defensoria pública e exame de OrdemPor Roberto Martins Rodrigues

Na defensoria, a advocacia é plena

e majestática. Enobrece quem a

exerce. E mostra a verdadeira função do

advogado

da qualificação dos aspirantes à advocacia. é o que está, por sinal, na Constituição, quando prescreve a liberdade de trabalho e profissão, avaliadas as qualificações profissionais estabelecidas em lei. O chamado exame de ordem, em que pese a manifesta intenção de seus idealizadores, não tem sido, a rigor, um instrumento válido de avaliação das qualificações profissionais do candidato a advogado. Tem sido, na verdade, um mero e clássico vestibular (aliás, em boa hora, substituido pelo chamado “Enem”), com questões mais destinadas a um “market” contra os cursos de Direito. gerador da indústria vitoriosa de novos cursinhos, o Exame de Ordem não prova o que interessa à advocacia: além do conhecimento técnico e o embasamento teórico (teoria geral do direito), principalmente a vocação e a ética, que só o fazer diário pode demonstrar.

No mercado dos livros dedicados ao dito exame, já existe até “DVD” sob o título: “Como passar no Exame de Ordem”. Por que não obrigar aos formados em Direito, que querem advogar (a OAb afirma que mais de setenta por cento não pretendem advogar) a um estágio de um ano, pelo menos, em órgão da Defensoria Pública? Ficaria demonstrado, no estágio, até sob a fiscalização e apuração dos resultados pela OAb, a vocação do candidato, sua conduta ética e o conhecimento do fundamental para o exercício da profissão. Defensoria e Ordem têm missão irmã, do ponto de vista constitucional. Por que não fazer um trabalho conjunto, considerando-se, ainda, que a Defensoria Pública tem permanente necessidade de pessoal? n

Roberto Martins Rodrigues é advogado

social do advogado, como defensor de ordem jurídica bem aplicada e, por isso, justa, exigida pelo social. Por outro lado, a Constituição de 1988 define, igualmente, o advogado como peça indispensável à administração da justiça, dando-lhe a segurança da inviolabilidade no seu exercício profissional.

A Constituição situa, ainda, a Ordem dos Advogados do brasil como fonte geradora de preenchimento de vagas nas cúpulas do Poder Judiciário, o que coloca a instituição como entidade de índole constitucional, ocupando patamar fundamental na árvore da Lei Maior, dando-lhe competência para atuar como defensora direta da ordem jurídica. Daí a importância das funções da OAb, reclamada a sua presença como instrumento importante na realização da ordem democrática e da defesa de seus cânones. Por essas razões, não se pode negar à Ordem o dever de zelar pelo exercício da advocacia, estabelecendo critérios e procedimentos para o ingresso em seus quadros dos que pretendem, portadores dos diplomas pertinentes, exercer a profissão. A competência da Ordem, para tal, não pode, entretanto, ir além do necessário para a avaliação

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