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Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

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Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

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Expediente

Bispo da Primeira Região Eclesiástica

Paulo Lockmann

Conselho Editorial

Ronan Boechat de Amorim –coordenador,Paulo Fernando Barros da Silva, SelmaAntunes da Costa, Paula Damas Vieira,Luciano Amorim, Deise Luce Marques eNádia Mello.

Editora e jornalista responsável

Nádia Mello (MT 19.333)

Assistente de redação

Paula Damas

Capa/Editoração Eletrônica

Olga Rocha dos Santos

Circulação: 10 mil exemplares

Esta publicação circula comosuplemento do Jornal Avante,não sendo, portanto, distribuída

SumárioCAPA:

Uma análise sobre a prática da educação metodista a

partir da experiência com oInstituto Metodista Bennett

aponta para a necessidade de uma renovação e a

importância de se definir a identidade do educador num

colégio metodista. São destacadas dificuldades teóricas e

práticas, fazendo uma abordagem da missão do professor

como colaborador de uma missão apostólica e, mais

particularmente, como educador da fé.

Carta aos leitores 4

Quem era João Batista? 5

Estudo e Reflexão

A Vida que vence a morte 8

Espaço Aberto

O professor do colégio metodista como educador

da fé 10

Contexto

A importância da consolidação 13

Discipulado

Martin Luther King: Uma obra inacabada 14

História Viva

Revista da Igreja Metodista no Estado do Rio de Janeiro

Calendário Litúrgico

Janeiro-Fevereiro

Epifania (3ª estação)

Nº 20 – Ano 2 – janeiro-fevereiro/2009

Período: 6 de janeiro a 29 de fevereiro.

Cor litúrgica: branco por oito dias e depois,amarelo-ouro, a cor mais alegre de todas, a corda realeza.

Temas básicos: manifestação do Cristo ao mundocomo salvador de todas as pessoas.

Símbolos litúrgicos: estrela e coroa dos magos,mãos, peixes.

Page 4: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

4Fé&Nexo

Talvez na véspera de sua morte, Luther King pressentis-

se o fim de sua carreira, quando proferiu um discurso fazen-

do menção a Moisés. Assim como o patriarca, ele veria a

“terra prometida”, mas não entraria nela. De fato, a profecia

se cumpriu. Ele morreu sem ver seu sonho tornar-se realida-

de. De King até Obama houve mudanças. No entanto, o ne-

gro continua sua luta, embora num cenário mais favorável.

Obama como presidente dos Estados Unidos é um prova in-

contestável. Mas entre o sonho de Luther King e a realidade

de Obama ainda existem e existirão muitos confrontos dire-

tos e indiretos por melhorias que vão além da cor da pele.

Isso é bem real.

Por falar em melhorias, lembramos também de uma área

que merece cudados especiais: educação. Todo início de ano,

esse é um tema recorrente. Por se tratar de um setor de suma

importância para o desenvolvimento socioeconômico de uma

nação, professores e técnicos em educação decidiram anali-

sar a qualidade do ensino metodista e concluíram que as res-

ponsabilidades dos educadores não se limitam aos livros di-

dáticos. Vale apenas conferir.

Boa leitura!

Nádia Mello

Editora

Quando Barack Obama surgiu no cenário político inter-

nacional, o mundo vislumbrou a possibilidade de um

feito histórico: Estados Unidos teria seu primeiro presidente

negro. E isso aconteceu justamente num país marcado pela

lembrança do segregacionismo. Klu Klux Klan, guetos, guer-

ras entre brancos e negros nas ruas fazem parte da história

do negro norte-americano. A ascensão de Obama ao cargo

máximo da maior economia do mundo nos trouxe à memó-

ria outro grande nome do cenário afro-americano: Martin

Luther King, assassinado durante sua luta contra a discrimi-

nação nos Estados Unidos. No ano em que completaria 80

anos, sua trajetória é relembrada nesta edição como uma

História Viva.

Diferente de Obama, que se converteu ao cristianismo já

adulto, tornando-se membro da Igreja Batista da Trindade

Unida em Cristo, em Chicago, Luther King teve seus pri-

meiros ensinamentos religiosos em seu próprio lar. Tanto é

que ele foi ordenado pastor aos 19 anos. No entanto, seus

esforços não se limitaram em buscar apenas o Reino de Deus,

mas também garantir uma vida mais justa aqui na Terra, so-

bretudo para os negros americanos. Como um bom cristão,

nunca olhou para as circunstâncias por mais desfavoráveis

que elas aparentavam ser.

De Luther King a ObamaCARTA AOS LEITORES

BOA DICA

O prisioneiro do Senhor,de autoria do bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann, “revela uma posição de fé.

Embora numa prisão romana, o apóstolo Paulo não se reconhece prisioneiro de César,

mas sim de Cristo (cf. Ef 3.1). Na concepção cosmológica e histórica do apóstolo, quem

governa o mundo é o Senhor da História, Deus. Por isso, Deus permitira sua prisão com

um propósito, e, se desejasse, o soltaria, como já fizera antes. Sua prisão era, antes, uma

oportunidade diferenciada de serviço a Deus, como fora a prisão em Filipos, quando

todos foram tocados pelo louvor e testemunho de Paulo e Silas, culminando com a

conversão do carcereiro”.

Informações e pedidos na Sede Regional pelos telefones: (21) 2557-7999 e 2557-3542

Page 5: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

5Fé&Nexo

Quem era João Batista?Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann

Nós, que vivemos num país de for-

te influência católica romana, temos

João Batista afetado por esta cultura

religiosa; muito pouco de quem ele foi

e de seu testemunho foi ensinado. O que

se vê é o santo mártir sendo adorado

como aquele que por sua fidelidade a

Deus foi assassinado, decapitado por

ordem de Herodes (Mc 6.16).

Mas, na verdade, João Batista era,

sem dúvida, o último dos profetas ao

estilo do Antigo Testamento. Suas se-

melhanças com Elias são notórias e re-

conhecidas (Lc 1.17), sua história de

nascimento tem semelhança com

Sansão (Jz 13.2-25), mas também

com Samuel, pois tanto um como

o outro nasceram de mulheres es-

téreis, o que aponta o nascimen-

to como um propósito de Deus,

um milagre (1 Sm 1.5-28; Lc

1.5-25). João Batista nasceu

cheio do Espírito Santo, e, por

orientação divina, foi consa-

grado a Deus. Seu pai, que ha-

via ficado mudo em virtude de

sua incredulidade, voltou a fa-

lar quando do seu nascimento

(Lc 1.62-64).

A figura de João Batista, ao ini-

ciar seu ministério, impressionava: bar-

budo, pois fizera certamente voto de

Nazireu, vestido de peles de camelo,

ESTUDO E REFLEXÃO

alimentando-se de mel silvestre, era

magro e musculoso devido às longas

caminhadas pelo deserto, onde vivera

até se manifestar a Israel (Lc 1.80).

Com certeza, não era o padrão de pro-

feta e homem de Deus que nós temos.

Se entrasse, hoje, em uma de nossas

igrejas, certamente, antes que abrisse

a boca, seria posto para fora, como

mendigo.

No entanto, antes de vermos o seu

testemunho, vejamos o que Jesus disse

dele: “Então, em partindo eles, passou

Jesus a dizer ao povo a respeito de João:

Que saístes a ver no deserto? Um cani-

ço agitado pelo vento? Sim, que saístes

a ver? Um homem vestido de roupas

Page 6: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

6Fé&Nexo

finas? Ora, os que vestem roupas finas

assistem nos palácios reais. Mas para

que saístes? Para ver um profeta? Sim,

eu vos digo, e muito mais que o profe-

ta. Este é de quem está escrito: “Eis aí

eu envio diante da tua face o meu men-

sageiro, o qual preparará o teu cami-

nho diante de ti. Em verdade vos digo:

entre os nascidos de mulher, ninguém

apareceu maior do que João Batista;

mas o menor no reino dos céus é maior

do que ele” (Mt 11.7-11). O que João,

o autor do Evangelho, disse? “Houve

um homem enviado por Deus cujo

nome era João. Este veio como teste-

munha para que testificasse a respeito

da luz, a fim de que todos virem a crer

por intermédio dele” (Jo 1.6-7).

O TESTEMUNHO DE JOÃO

“... o que vem depois de mim tem,

contudo, a primazia, porquanto já exis-

tia antes de mim...” (Jo 1.15).

Sem dúvida, Jesus é o primogênito

de toda a criação, sendo Ele o primei-

ro, tendo a primazia, pede um reconhe-

cimento disso por cada um de nós.

Vivemos numa sociedade onde to-

dos querem ter a primazia, querem ser

os primeiros, reivindicam tratamento

diferenciado, em tudo se investe nesta

idéia, anúncios de toda ordem querem

fazer de você alguém especial, mere-

cedor de tratamento diferenciado, en-

fim, todos querem estar no centro. Isso

no Brasil é tão sério que, quando a se-

leção brasileira de futebol não tira o 1º

lugar na Copa do Mundo, é como se

tivesse tirado o último. Todos queremos

a primazia.

Aqui, entra o Evangelho. Nele, nós

devemos nos colocar no segundo pla-

no, e Jesus deve ocupar a primazia. Isso

pede reorganização dos nossos valores,

pede que contrariemos nossos interes-

ses pessoais e a tendência que nos cer-

ca. Com certeza, não é algo que se faz

somente com uma disposição mental ou

esforço humano: precisamos ser afeta-

dos pelo Espírito, ou seja, nascer da

água e do Espírito, conforme ensinou

Jesus mais tarde ( Jo 3.5).

O anúncio de João Batista, além de

colocar Jesus como prioridade, como o

primeiro, nos apresenta a graça de

6Fé&Nexo

Page 7: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

7Fé&Nexo

Paulo Tarso deOliveira Lockmannbispo da IgrejaMetodista na PrimeiraRegião Eclesiástica

Deus: “...temos recebido da sua pleni-

tude graça sobre graça...” (Jo 1.16).

Isso deve ter soado entre os judeus

comuns como verdadeira “boa nova”,

e, para os religiosos da sinagoga e do

templo, como uma grande heresia. Por

isso, as embaixadas religiosas que se

seguiram incumbidas de confrontar

João Batista (Jo 1.19).

O Judaísmo, como religião, era pe-

sado. Jesus mesmo afirmou isso ao se

referir aos mestres de Israel: “Atam far-

dos pesados e difíceis de carregar e os

põem sobre os ombros dos homens,

entretanto, eles mesmos, nem com o

dedo querem movê-los” (Mt 23.4).

Uma religião sem graça, pura discipli-

na religiosa e ritual sem vida.

O apóstolo Paulo, grande anun-

ciador da graça, conseguiu mostrar o

contraste entre a religião judaica e a

mensagem de Jesus Cristo, já intro-

duzida pelo testemunho de João Batis-

ta. Ele dizia que a lei é como uma dama

que acompanha a noiva, ou como se

dizia antigamente: um aio, aquele ou

aquela que conduz a noiva ao noivo,

diante do noivo se encerra a função da

dama; neste caso, Cristo é o noivo. A

lei, do mesmo modo, vem ao nosso

encontro e denuncia que somos peca-

dores e que estamos debaixo da maldi-

ção, já que, biblicamente, pecado é

maldição. A desobediência à lei de Deus

traz maldição e morte, conforme a lei

revelada na Torah (Dt 27.26). Junto a

isso, Paulo ensinando a Igreja na

Galácia, disse: “Cristo nos resgatou da

maldição da lei, fazendo-se ele próprio

maldição em nosso lugar (porque está

escrito: Maldito todo aquele que for

pendurado em madeiro), para que a

bênção de Abraão chegasse aos genti-

os, em Jesus Cristo, a fim de que rece-

bêssemos, pela fé, o Espírito prometi-

do” (Gl 3.13-14).

Por tudo isso, é que, quando pelo

Espírito, João Batista anuncia a vinda

da graça sobre graça inaugura o Novo

Testamento, a nova aliança de Deus com

os seres humanos. O sacrifício de Jesus,

o seu sangue, anula a sentença de morte

e maldição que estava lançada sobre to-

dos nós, transgressores da lei de Deus,

pecadores e destituídos da glória-graça

de Deus (Rm 3.23; 6.23). Paulo chega a

dizer que, segundo a mente, ele era es-

cravo da lei; segundo a carne, do peca-

do, e dá um gemido: “... quem me livra-

rá do corpo desta morte?” (Rm 7.24). A

seguir, ele anuncia a graça do Espírito e

da vida em Cristo Jesus: “Agora, pois,

já nenhuma condenação há para os que

estão em Cristo Jesus, que não andam

segundo a carne, mas segundo o Espíri-

to”. Porque a lei do Espírito da vida, em

Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado

e da morte” (Rm 8.1-2).

A melhor ilustração da diferença da

religião dos mestres de Israel e a reli-

gião ou fé anunciada por João Batista,

e vivida e ensinada por Jesus, é o epi-

sódio narrado no próprio Evangelho de

João, no capítulo 8, a cena da mulher

apanhada em adultério. Leia com cal-

ma pedindo o discernimento do Espíri-

to Santo. Você fica estarrecido com o

contraste entre a religião judaica e a fé

ensinada por Jesus. Uma queria mon-

tar uma armadilha para Jesus, astúcia,

engano e traição, estratégias malignas.

Além disso, alimentava-se do sangue

dos pecadores e pecadoras apanhados:

queriam ver um apedrejamento, algo

cruel, e já traziam as pedras. A outra, a

de Jesus, era mansa, sem malícia ou

maldade. Ele nos enxerga conforme

somos: pecadores. Não como gostaría-

mos de ser vistos, por nossas belas rou-

pas, títulos, cursos, sim, olha para nós

e diz: “... quem não tiver pecado atire a

primeira pedra” (Jo 8.7). Em seguida,

rompe com o machismo patriarcal ju-

deu, que dirige a palavra à mulher, coi-

sa proibida. Um homem adulto não

podia dirigir a palavra a uma mulher

que não fosse sua esposa, ou filha, em

público. “... Nem eu tampouco te con-

deno, vai e não peques mais.” (Jo 8.11).

Com essa atitude, Jesus vive a religião

da graça sobre graça, anunciada e tes-

temunhada por João Batista. Que lição

aprendemos: Jesus investiu na miseri-

córdia, na restauração do pecador.

É esta a fé cristã que pregamos e

devemos discipular. Uma mensagem e

discipulado que não discrimina, que

ama, perdoa, salva, ensina, treina e en-

via os discípulos e discípulas como tes-

temunhas para contar a outros o que

Cristo fez por elas.

Page 8: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

8Fé&Nexo

A Vida quevence

a morteJoão 14.27

Luiz Vergílio Batista da Rosa*

ESPAÇO ABERTO

Para determinados ramos do conhe-

cimento, notadamente a Antropologia,

Sociologia e a Psicologia, o ser humano

tem na agressividade sua força impulsio-

nadora para realizações sublimes e ações

dantescas. Essa realidade, entre o ser ci-

vilizado e o lobo, determina uma perma-

nente tensão entre os valores da pessoa

humana e os valores do contrato social

estabelecido no processo civilizatório. Os

séculos desse processo demonstram que

o sentimento de matilha não respeita as

razões de quem é colocado, supostamen-

te, como integrante desse rebanho.

Por isso, a estupidez de uma guerra,

geralmente de natureza econômica, onde

vidas inocentes são ceifadas diariamen-

te, não causa indignação e desconforto

maior do que a indisposição gerada pelo

excesso de comida e bebida; um descon-

forto superado por uma boa noite de sono.

A morte de crianças palestinas são ape-

nas notas jornalísticas que incrementam

uma mórbida emoção provocada pelos

programas e noticiários das redes de tele-

visão e as multimídias eletrônicas inter-

nacionais.

O massacre de crianças palestinas –

estas têm sido a maioria – é registrado

como uma lamentável consequência de

causas maiores envolvendo árabes e is-

raelenses. Mas por que se preocupar com

as crianças que estão longe de nós e são

vítimas de um conflito histórico e com-

plexo?

Sim, por que se preocupar com aque-

las, tão distantes, quando no cotidiano das

ruas, vilas, becos e praças de nossas cida-

des milhares de crianças sucumbem ao

Page 9: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

9Fé&Nexo

tráfico de drogas, à violência e à ex-

ploração do comércio de seus corpos

prostituídos, da falência da estrutura

familiar numa realidade socioeconômi-

ca de pobreza que atinge parcelas sig-

nificativas da população?

Como ter atitude diferente se esta

realidade justifica-se pela falta de uma

educação universal e qualificada, de

programas de saúde preventiva, de mo-

radia digna e de trabalho que permita o

sustento necessário aos valores e direi-

tos da pessoa humana, ainda conside-

rados privilégios?

A mensagem de Cristo anuncia a

paz de Deus, que restabelece a comu-

nhão perdida pelo pecado humano, pro-

duzindo reconciliação, nova vida e no-

vos relacionamentos pautados pela éti-

ca do amor e pelo fruto da alegria, jus-

tiça e paz. Apesar disso, continuamos

em guerra uns contra os outros. Assim,

começamos mais um ano novo onde a

violência humana, que atenta contra a

própria vida, criação divina, continua.

Guerras, tráfico, exploração, sinais de

morte ainda persistem.

Porém, persiste também nosso com-

promisso profético, nossa ação sacer-

dotal e pastoral, como povo cristão e

metodista, anunciando, denunciando,

derribando e edificando. A cada nova

pessoa que confessa que Jesus é Senhor,

aumenta a esperança de que mais vidas

serão defendidas, preservadas e salvas

do coração de pedra (de lobo) para um

coração solidário, fraterno e consagra-

do à missão daquele que trouxe vida

em abundância.

Em Cristo reside a nossa esperança

de que a paz de Cristo, vivenciada en-

tre nós, produza uma onda de entendi-

mento e reconciliação, que se propaga

na família e se estende a toda a socie-

dade humana. Há esperança de que nes-

te ano a vida também vença a morte!

* Bispo da 2ª Região Eclesiática das Igre-jas Metodistas

Page 10: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

10Fé&Nexo

CONTEXTO

O professordo colégio metodistacomo educador da fé

Ana Lucia Cordeiro Cruz Lago

Iniciou-se um tempo de estudo e

reflexão com vistas à renovação da prá-

tica educativa dos colégios metodistas.

Uma das dificuldades encontradas nes-

ses esforços de renovação refere-se à

identidade do educador num colégio da

rede metodista.

Ressaltamos que

ensinar num colé-

gio metodista é um

ministério. Cons-

tata-se que as difi-

culdades são tão te-

óricas quanto práti-

cas e se referem,

sobretudo, à mis-

são plena do pro-

fessor como cola-

borador de uma

missão apostólica

e, mais particular-

mente, como edu-

cador da fé. Afinal,

um ensino de qua-

lidade afinado com

as exigências do

mundo contempo-

râneo é uma questão moral, de com-

petência e de sobrevivência.

Essa reflexão é dirigida, em primei-

ro lugar, aos professores e técnicos em

educação de nossos colégios. Ela apon-

ta para um ideal elevado, uma utopia

que, num colégio metodista, se consti-

tui ao mesmo tempo meta e desafio. A

educação enfrenta hoje uma crise mun-

dial. Generaliza-se uma filosofia de

vida voltada para o privatismo, o

narcisismo e a satisfação egoísta e ime-

diata dos sentidos.

Nossos alunos de-

vem aprender a

amar a todos como

irmãos e irmãs na

sociedade humana

e a dar de si para

construir uma soci-

edade mais justa e

melhor.

A situação edu-

cacional na Améri-

ca Latina constitui-

se um drama e um

desafio. Analisan-

do as deficiências

quantitativas e qua-

litativas, propomos

uma educação liber-

tadora, que corres-

ponda às nossas ne-

Reprodução

Page 11: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

11Fé&Nexo

cessidades: uma educação que coloque

o educando como sujeito do processo

educativo e se oriente no sentido de cri-

ar um novo homem numa nova socie-

dade.

Devemos aprofundar e completar

essa proposta de educação libertadora

com a noção de uma educação evange-

lizadora, pois a educação deve contri-

buir para a conversão do homem total

e para sua abertura a Deus e à comu-

nhão fraterna. A educação metodista

deve preparar agentes de transforma-

ção permanentes, pois é o que a socie-

dade da América Latina requer.

O Evangelho testifica que no minis-

tério de Jesus o processo educativo foi

priorizado. A educação, no entanto, es-

teve lado a lado com a proclamação

histórica e profética e o ministério

terapêutico de libertação e restauração

que Ele desenvolveu.

Num mundo globalizado, transna-

cional, nossos alunos precisam estar

preparados para uma leitura crítica das

transformações que ocorrem em escala

mundial. Diante das intensas transfor-

mações científicas e tecnológicas, pre-

cisam de uma formação geral sólida,

capaz de ajudá-los na sua capacidade

de pensar cientificamente e de colocar,

da mesma forma, os problemas urba-

nos. Por outro lado, diante da crise de

princípios e valores, resultante da

deificação do mercado e da tecnologia,

do pragmatismo moral ou relativismo

ético, é preciso que a escola contribua

para uma nova postura ético-valorativa

de recolocar valores humanos funda-

mentais como a justiça, a solidarieda-

de, a honestidade, o reconhecimento da

diversidade e da diferença, e o respeito

à vida e aos direitos humanos básicos

como suportes de convicções democrá-

ticas. A par disso, a escola tem um gran-

de papel no fortalecimento da socieda-

de civil, das entidades, das organiza-

ções e movimentos sociais.

A escola tem, pois, o compromisso

de reduzir a distância entre a ciência

cada vez mais complexa e a cultura de

base produzida no cotidiano – e a pro-

vida pela escolarização. Junto a isso,

tem, também, o compromisso de aju-

dar os alunos a tornarem-se sujeitos

pensantes, capazes de construir elemen-

tos categoriais de compreensão e apro-

priação crítica da realidade.

Os desafios do século que se inicia

reafirmam a importância desse campo

de trabalho e abrem os colégios meto-

distas a uma renovação pedagógica e

pastoral com uma definição bem clara:

“o serviço da fé e a promoção da justi-

ça”. A humanidade necessita de uma

restauração de princípios e valores cri-

ados segundo a justiça e a graça divi-

nas. Por isso, a proposta pedagógica dos

nossos colégios, além de seguir os

parâmetros da lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional, baseia-se nos

fundamentos educacionais metodistas

conforme expressas nas Diretrizes para

a Educação na Igreja Metodista.

A educação confessional, dentro da

caminhada metodista da fé, traduz no

despertar dos alunos para uma consci-

ência crítica e um conceito de cidada-

nia mais justo e solidário, pois a edu-

cação é um processo de construção e

reconstrução de valores, procedimen-

tos e experiências. Assim traçamos o

perfil do aluno que queremos formar e

da comunidade educativa necessária

para essa missão.

O ponto de partida para o desenvol-

vimento desse trabalho é a consciência

de quem somos, da nossa realidade atu-

al e de nossas potencialidades, daquilo

que podemos vir a ser se nos dispuser-

mos a abraçar juntos esta missão de

educar na fé. A fé é algo muito existen-

cial, mas, ao mesmo tempo, está ligada

à história e à revelação de Deus por

meio de Jesus Cristo. Assim, entende-

mos por fé o seguimento consciente,

alegre e convicto do caminho de Jesus

Cristo e a adesão a Ele dentro de uma

comunidade cristã que celebra essa fé

e busca crescer junto no compromisso.

Qual o perfil do professorado dos

colégios metodistas do Brasil? Em

muito aspectos, é semelhante ao perfil

do professor das demais escolas, sejam

privadas, sejam estatais. Muitos, inclu-

sive, fazem parte dos quadros do ma-

gistério público, trabalhando numa re-

alidade, em geral, completamente di-

ferente das escolas metodistas. Quanto

ao aspecto religioso, muitos trazem

consigo uma formação cristã básica,

que, na maioria dos casos, ficou numa

primeira iniciação, sem aprofunda-

mento. Há os que vivem e expressam

conscientemente sua adesão à fé e à

Igreja, as quais constituem valores sig-

nificativos em sua vida. Mas até que

Page 12: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

12Fé&Nexo

ponto o caráter con-

fessional da escola

metodista terá exer-

cido alguma influên-

cia na decisão do

professor de ingres-

sar ou permanecer

num colégio meto-

dista? Não é fácil

dizê-lo. De qualquer

modo, em algum

momento, lhe terá

surgido esta pergun-

ta: qual o meu com-

promisso com a pro-

posta da escola em

que trabalha? Ou de

forma mais positiva:

como posso colabo-

rar com os metodis-

tas para educar mo-

ralmente nossos alunos segundo a pro-

posta filosófica da escola?

Que essas perguntas fiquem dentro

do coração de cada um de nós para que

assim entendamos pela fé o seguimen-

to consciente, alegre e convicto do ca-

minho de Jesus Cristo e a adesão a Ele

dentro de uma comunidade cristã que

celebra essa fé e busca crescer junto no

compromisso. Ressalto que essa fé não

apenas leva a uma visão crítica da rea-

lidade e à descoberta progressiva das

causas da pobreza e da injustiça, mas

também busca estabelecer contato real

com o mundo da injustiça e realizar

ações que eduquem para a justiça e para

a caridade, olhando o mundo com o

olhar misericordioso de Deus.

Ao educador, pede-se uma atitude

pedagógica que parta do respeito pro-

fundo a cada pessoa, que use o diálogo

como método e que procure fazer do

próprio aluno o sujeito do seu cresci-

mento pessoal. A missão de educar na

fé, ou seja, educar moralmente e cons-

truir em nossos alunos uma autonomia

moral é responsabilidade de todo o cor-

po docente de um colégio metodista.

O dia-a-dia de uma escola oferece

oportunidades frequentes para educar-

mos moralmente, para que o educador

exerça sua missão de educador da fé

não só em situações em sala de aula,

mas também no trato e convívio infor-

mal. As ocasiões surgem, às vezes, de

forma inesperada e em disciplinas que

aparentemente nada

têm a ver com reli-

gião. O questiona-

mento de dogmas

positivistas no mun-

do da ciência, a crí-

tica a um relativismo

ético, o significado

das conquistas técni-

cas ou o exemplo de

fé religiosa de cien-

tistas de renome po-

dem dar ocasião a

discussões muito

proveitosas.

Diante de todas

essas exigências, to-

do o currículo da

vida da escola deve

ajudar a testemunhar

a fé, uma educação

moral e a construção de uma autono-

mia moral em nossos alunos, de modo

que os que passem por ela ganhem me-

lhores e mais efetivas condições de

exercício da liberdade política e inte-

lectual. É esse o desafio que se põe à

educação escolar neste início de sécu-

lo. Mesmo assim, o tratamento da ques-

tão ética na escola ainda depende de in-

vestigações mais consolidadas. No en-

tanto, constitui-se um desafio aos edu-

cadores preparar-se para ajudar os alu-

nos nos problemas morais, tais como a

luta pela vida, a solidariedade, a demo-

cracia, a justiça, a convivência com as

diferenças, o direito de todos à felici-

dade e auto-realização.

* Professora do Colégio Metodista Bennett

Reprodução

Page 13: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

13Fé&Nexo

DISCIPULADO

Deus é o Criador de toda humani-

dade e estabeleceu princípios rígidos

que regem o desenvolvimento do ho-

mem e possibilita a perpetuação da sua

espécie. A Bíblia mesmo faz alusões a

essas situações levando-nos a perceber

as realidades destes fatos e permitin-

do-nos tomar as devidas providências

em todas as fases de desenvolvimento

do nosso ser.

A FASE DO RECÉM-NASCIDO

EFÉSIOS 4.13

Para que não sejamos mais meni-

nos inconstantes, levados em roda por

todo o vento de doutrina, pelo engano

dos homens que com astúcia enganam

fraudulosamente.

Inicia-se no instante do nascimento

e termina com a queda do coto umbili-

cal. Tem a duração, em média, de sete

dias e vai depender dos cuidados que

irá receber para desenvolver-se satisfa-

toriamente. Da mesma maneira acon-

tece com o bebê espiritual. E este ne-

cessitará:

I - ALIMENTAR-SE DA PALAVRA DE

DEUS PARA PERMANECER VIVO

“Não só de pão viverá o homem,

mas de toda Palavra de Deus” (Mt 4.4).

Assim como um bebê natural necessita

do seio de sua mãe, também o bebê es-

piritual precisa nutrir-se da Palavra de

Deus, porque é o único elemento que

pode ajudá-lo no crescimento espiritu-

A importância da ConsolidaçãoPaulo Fernando Barros da Silva*

al. “Desejai ardentemente, como crian-

ças recém-nascidas, o puro e genuíno

leite espiritual, para que por ele seja

dado crescimento para a salvação”

(1 Pe 2.2). Devemos estar bem para aju-

darmos os bebês que estão chegando,

pois a Bíblia diz: “Ora, todo aquele que

se alimenta de leite é inexperiente na

Palavra da justiça, porque é criança”

(Hb 5.13). Um bebê não pode cuidar

de outro bebê. Por isso, devemos ma-

nejar bem a Palavra de Deus e aplicá-

la especialmente em nossas vidas, ten-

do a vida de Deus e um caráter irre-

preensível, qualidades que os adultos

espirituais certamente possuem.

II - MANTER UMA VIDA DE ORAÇÃO

PERMANENTE

Seja lá o que estejamos fazendo du-

rante o dia, os nossos corações devem

pulsar pelo Pai celeste, pois tudo no

mundo e em nossas vidas depende da

oração. Disse Jesus: “...porque sem mim

nada podeis fazer” (Jo 15.5). A oração é

o meio de comunicação estabelecido por

Deus; ela é tão imprescindível que Je-

sus, que não ensinou os seus discípulos

a pregar, os ensinou a orar. Nós também

vamos ensinar a nossos bebês como de-

vem se comunicar com o Pai.

III - DAR TESTEMUNHO DA SUA FÉ

Como um choro que o bebê não

pode conter, os novos crentes podem

dizer: “não podemos deixar de falar das

coisas que temos visto e ouvido”

(At 4.20). E fazem como a mulher

samaritana que “deixou o seu cântaro,

foi à cidade e disse (...) vinde, vede um

homem que me disse tudo quanto te-

nho feito” (Jo 4.28-29).

IV - SER INCENTIVADO A TER

COMUNHÃO COM OUTROS CRISTÃOS

A Igreja Primitiva tinha como ca-

racterística perseverar na comunhão uns

com os outros (At 2.42). “Conside-

remo-nos uns aos outros, para nos esti-

mularmos ao amor e às boas obras; não

deixando de congregar-nos, como é

costume de alguns, antes, façamos ad-

moestações, e tanto mais quando vedes

que o dia se aproxima” (Hb 10. 24-25).

Devemos andar e estar na luz para que

tenhamos comunhão uns com os outros

e assim, o sangue de Jesus nos purifi-

cará de todo pecado (1 Jo 1.7).

Finalizando, os bebês espirituais

também precisam ser avaliados para

sabermos se estão desenvolvendo-se

normalmente com meditação na Pala-

vra de Deus; vida ativa de oração; tes-

temunho de sua fé; comunhão com os

outros cristãos e exercício da fé em to-

das as áreas: espiritual, física, sentimen-

tal, etc. E isso se dá através do acom-

panhamento individual (discipulado)

dos Grupos Pequenos.

* Pastor e coordenador do Ministério Re-gional de Discipulado

Page 14: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

14Fé&Nexo

o título de doutor em filosofia na área

de teologia sistemática.

Ao longo dos tempos, as igrejas

negras, principalmente as batistas e

metodistas, vieram a ser espaços de re-

sistência e luta contra o racismo e a se-

gregação racial nos Estados Unidos.

Foram elas nutridas na aplicação do

ensino bíblico à vida cotidiana sofrida

da população afro-americana, tanto

antes como depois de sua emancipação,

tão bem expressa nos cânticos dos Ne-

gro Spirituals.

Pesquisas mais recentes sobre o

pensamento de King mostram que sua

formação teológica tanto no Crozer

como em Boston o levaram a apro-

fundar sua resistência e crescentemente

oposição a qualquer forma intimista ou

individualista da fé religiosa. Neste sen-

tido, King assumiu crescentemente a

agenda teológica do liberalismo norte-

americano, especialmente do Evange-

lho Social (Social Gospel). A forte pie-

dade e espiritualidade místicas de King,

insertadas na cultura religiosa afro-

americana, foram cada vez mais ao lon-

go de sua curta existência determina-

das por seu crescente e radical compro-

misso social na luta em favor da justi-

ça e da paz.

Sua vida vai ter uma mudança ra-

dical com a sua designação para o

pastorado da Igreja Batista da Aveni-

da Dexter em Montgomery, Alabama,

Martin Luther King:Uma obra inacabada

No dia 19 de janeiro, foi feriado

nacional nos Estados Unidos, em ho-

menagem a Martin Luther King Jr.,

quando completaria 80 anos. Quere-

mos honrar a memória e a luta de um

dos maiores seres humanos que o sé-

culo XX teve oportunidade de oferecer

a todas as gerações. Vamos refletir so-

bre a trajetória desse homem que sem-

pre soube que sua obra não terminaria

com a sua morte. Essa convicção fez

de Martin Luther King um símbolo para

todas as pessoas que lutam pela supe-

ração de todas as formas de exclusão e

discriminação.

Mas quem foi Martin Luther King?

Ele nasceu em Atlanta, em 15 de janei-

ro de 1929. Como seu pai, tornou-se

pastor batista, sendo ordenado aos 19

anos de idade, quando também se gra-

duou em Sociologia na conceituada fa-

culdade negra Morehouse College. Foi

nessa mesma época que King pela pri-

meira vez tomou contato com a vida e

obra de Mahatma Ghandi, passando

desde então a estudar com seriedade

seus ensinos sobre a não-violência

como estratégia para radicais mudan-

ças sociais.

Sua carreira acadêmica foi desen-

volvida primeiro no Seminário Teoló-

gico Crozer, na Pennsylvania, onde se

bacharelou em Teologia, e posterior-

mente na Faculdade de Teologia da

Universidade de Boston, onde recebeu

no coração racista do chamado Deep

South, a terra da mais abjeta discrimi-

nação e segregação raciais. Um ano

depois de sua chegada a Montgomery,

King não teve como escapar ao desa-

fio colocado pela inusitada e radical

decisão de Rosa Parks, uma mulher ne-

gra de 42 anos de idade, que se recu-

sou ceder seu lugar a um branco num

dos ônibus da cidade. Rosa, recente-

mente falecida, por causa de seu apa-

rente tresloucado gesto no dia 1º de

dezembro de 1955, acendeu a chama

de uma fogueira que logo estaria in-

cendiando a vida de milhares e milha-

res de mulheres e homens negros em

todo sul dos Estados Unidos, inclusi-

ve de Martin Luther King. Quatro dias

depois, simultaneamente, ocorreram o

boicote contra as companhias de ôni-

bus, o julgamento de Rosa Parks, e a

eleição de King por unanimidade para

presidente da Associação para o Pro-

gresso [de Pessoas de Cor] de

Montgomery.

Em 1958, King sofreu um atentado

no Harlem, em Nova Iorque. No início

de 1960, ele foi transferido para Atlanta

a fim de assumir com seu pai o co-

pastorado da histórica Igreja Batista

Ebenezer. Os anos seguintes veem King

cada vez mais articular politicamente a

luta contra o racismo, tanto local como

nacionalmente. Em agosto de 1963, em

um grande encontro nacional, King pro-

HISTÓRIA VIVA

Page 15: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009

15Fé&Nexo

feriu seu célebre discurso I have a

Dream (Eu tenho um sonho). Nessa

ocasião King e outros líderes do movi-

mento se encontram uma vez mais com

o presidente norte-americano John

Kennedy.

Em setembro quatro meninas ne-

gras são mortas num atentado à bom-

ba a uma igreja negra na cidade de

Birmingham, Alabama, e em novem-

bro o Presidente Kennedy é assassi-

nado. O ano de 1964 vê King envolvi-

do em diversos protestos por todo o

sul dos Estados Unidos. No início de

1965, Malcom X, ex-líder do movi-

mento muçulmano negro, é assassina-

do por antigos companheiros muçul-

manos. King, apesar de suas profun-

das divergências ideológicas com

Malcolm, devido à questão do uso es-

tratégico da não-violência, expressa

seu profundo pesar pela morte do ou-

tro líder negro norte-americano mais

importante naquela década.

Em 1966 King toma a decisão que

vai gerar graves conseqüências para

os três anos finais de sua vida: ele re-

solve deslocar sua ação no movimen-

to dos direitos civis para as cidades

do norte dos Estados Unidos. Isto vai

lhe custar problemas praticamente in-

superáveis com os brancos liberais e

os setores negros do norte. Os distúr-

bios urbanos particularmente no nor-

te do país exemplificavam em gran-

de parte o desencanto com a estraté-

gia não-violenta ardorosamente de-

fendida por King.

Ao alugar um apartamento no

gueto negro de Chicago, King passa a

viver com o cotidiano da vida dos ne-

gros numa grande metrópole do norte

do país e de um grande centro do libe-

ralismo norte-americano. É neste mes-

mo ano que King vai começar a se en-

volver no movimento contra a guerra

no Vietnam. No ano seguinte, em mar-

ço de 1967, no Coliseu de Chicago,

durante uma grande demonstração

contra a guerra, King lança um forte

ataque à política militarista norte-ame-

ricana. No restante do ano, a situação

social se agrava e se torna cada vez

mais tensa e conflituosa, com distúr-

bios urbanos explodindo em distantes

partes do norte do país com enorme

número de feridos e mortos. Diante de

tal quadro, King cada vez mais articu-

la sua luta não-violenta contra o ra-

cismo com as lutas contra a

guerra e a pobreza, explici-

tando cada vez mais com

maior clareza a natureza

estrutural-econômica de

suas causas.

Em fevereiro de 1968

é deflagrada a greve dos

trabalhadores dos serviços

de água e esgoto de

Memphis, no Estado do

Tennessee. King resolve

apoiar o movimento e duran-

te uma marcha de protesto, a

violência irrompe e deixa o

saldo de um morto e cerca de

cinquenta feridos. No dia 3 de

abril, King profere diante da assem-

bleia dos grevistas o seu discurso: “Eu

estive no alto da montanha”. Ele fez

menção à passagem bíblica

em que Moisés só avista a

terra prometida, mas não

entra nela. No dia seguinte King é as-

sassinado.

Nota da Redação. O homem que teve

um sonho de viver numa sociedade

mais justa e sem preconceitos morreu.

Mas sua morte não significa o fim des-

se sonho. A eleição do primeiro presi-

dente negro nos Estados Unidos,

Barack Obama, que, além de afro-ame-

ricano, vem de família muçulmana, si-

naliza para um mundo um pouco mais

próximo daquele sonhado por Martin

Luther King.

Adaptação do artigo de Paulo AyresMattos, publicado na íntegra no site

www.metodista-rio.gov.br e nometodistavilaisabel.org.br

Renato Ormond

Page 16: Revista Fé e Nexto Janeiro-Fevereiro 2009