Revista Jurídica (2012)

  • Upload
    mampadv

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    1/160

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    2/160

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    3/160

    Vol. 1 | Ano 2012 | 1aedio

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    4/160

    Ficha Catalogrfca

    Confederao Nacional de Municpios CNM

    Revista Jurdica CNM / Confederao Nacional de Municpios Braslia: CNM, 2012.

    160 pginas.

    ISSN 2238-5738

    1. Direito Pblico. 2. Gesto Municipal. 3. Fiscalizao Municipal. 4. Informaes Pblicas.

    5.Autonomia Municipal. 6.Contribuio Sindical. 7.Precatrios. 8.Endividamento Previdencirio. I.

    Ttulo: Revista Jurdica CNM.

    Qualquer parte desta publicao poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    Copyright 2012. Confederao Nacional de Municpios.

    Impresso no Brasil.

    Todos os direitos reservados :

    SCRS 505, Bloco C, Lote 1 3oandar Braslia/DF CEP: 70350-530Tel.: (61) 2101-6000 Fax: (61) 2101-6008

    Site: www.cnm.org.br E-mail: [email protected]

    Coordenao CNM:

    Elena Pacita Lois GarridoJeconias Rosendo da Silva JniorMoacir Rangel

    Organizao:

    Elena Pacita Lois Garrido

    Jamille Lavale de Carvalho Henriques de MouraVanessa Alexandra Santos Rezende

    Reviso:

    Keila Mariana de A. Oliveira

    Designgrfico:

    Themaz Comunicao Ltda.

    Autores:

    Cristina Aguiar Ferreira da SilvaElena Pacita Lois GarridoFbio Luiz Pacheco

    Jamille Lavale de Carvalho Henriques de MouraLaze Carvalho Palhano Xavier SouzaMarion Luiza Heinrich

    Paulo CaliendoRodrigo Garrido Dias

    Vanessa Alexandra Santos Rezende

    Wesley RochaMaria Aparecida Cardoso da Silveira

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    5/160

    Sumrio

    Apresentao ...................................................................................................07

    Prefcio ............................................................................................................ 09

    ARTIGOS

    Limites para a Atuao da Controladoria-Geral da Unio na Fiscalizao dosMunicpiosRodrigo Garrido Dias .....................................................................................15

    Do Recolhimento da Contribuio Sindical dos Servidores PblicosFbio Luiz Pacheco .........................................................................................29

    Da Eficcia da Smula No8 do STFPaulo Caliendo ................................................................................................37

    Lei de Acesso as Informaes PblicasElena Pacita Lois Garrido ..............................................................................50

    A Emenda Constitucional No62/2009 e sua Aplicabilidade

    Jamille Lavale de Carvalho Henriques de Moura ......................................... 71

    A Transferncia dos Ativos de Iluminao Pblica para os MunicpiosVanessa Alexandra Santos Rezende ................................................................ 87

    LC 140/2011: Autonomia Municipal na rea de Meio AmbienteMarion Luiza Heinrich ..................................................................................102

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    6/160

    A Defesa da Administrao Pblica Municipal na Justia TrabalhistaCristina Aguiar Ferreira da Silva ................................................................. 111

    A Execuo Fiscal e as Alternativas para a Cobrana dos Crditos MunicipaisWesley Rocha ................................................................................................. 123

    O Endividamento Previdencirio dos Municpios: Constataes e PerspectivasMaria Aparecida Cardoso da Silveira ..........................................................140

    Reajuste de Benefcios Previdencirios no mbito dos Regimes Prprios dePrevidncia Social (RPPS) e Adequao ao Novo Salrio MnimoLaze Carvalho ..............................................................................................150

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    7/160

    7Revista Jurdica da CNM

    APRESENTAO

    Este trabalho, elaborado pela rea jurdica da CNM, tem a finalidade

    de levar aos prefeitos municipais, vice-prefeitos, vereadores, procuradores dos

    nossos Municpios e servidores em geral posies defendidas pela CNM na ati-

    vidade diuturna de salvaguarda dos interesses das municipalidades brasileiras.

    Em todos os segmentos governamentais na esfera federal e junto ao

    Congresso Nacional e tambm ao Poder Judicirio, estamos permanentemen-te pleiteando, discutindo, apresentando sugestes ou buscando posies que

    defendam as prerrogativas dos entes locais.

    um trabalho que pretendemos que tenha continuidade ao longo do

    tempo, aproveitando sempre que possvel, tambm, a colaborao dos procu-

    radores dos Municpios brasileiros, que no seu dia a dia enfrentam as mais inu-

    sitadas situaes e criam tambm inusitadas e excelentes solues.

    Entendemos, por isso, de grande valia estaRevista Jurdica, que de-

    ver se transformar, a partir destaXV Marcha a Braslia em Defesa dos Mu-

    nicpios, o arquivo vivo de registro de todas estas criaes.

    Boa leitura.

    Paulo Ziulkoski

    Presidente da CNM

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    8/160

    8 Revista Jurdica da CNM

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    9/160

    9Revista Jurdica da CNM

    PREFCIO

    No ano de 2011, a rea jurdica da CNM realizou aproximadamen-

    te mil atendimentos diretos a prefeitos, procuradores municipais e secretrios,

    que buscaram junto CNM informaes para a complementao, a realizao

    ou a correo e, at mesmo, esclarecimentos sobre prticas administrativas ou

    judiciais a serem implementadas no dia a dia da administrao.

    Repetidamente, somos compelidos a exarar informaes ou parece-res sobre as mais diversas matrias e que, embora muitas vezes publicadas,

    continuam a provocar interrogaes e incompreenses. Temos buscado vrias

    formas de tornar as informaes o mais disponveis possvel para que os agen-

    tes polticos locais e os servidores pblicos delas possam apropriar-se, facili-

    tando prticas e impedindo equvocos.

    Chegamos, agora, ao amadurecimento pleno de que indispens-

    vel que publicaes sejam feitas para gerar uma produo avaliativa das nor-

    mas gerais de administrao pblica, voltadas para as realidades municipais

    que em muito diferem das prticas dos gabinetes em Braslia e nas capitais

    dos Estados federados.

    Com a autorizao da diretoria da CNM, resolvemos editar esta pri-

    meira Revista Jurdica da CNM, que esperamos no seja a nica, e almeja-

    mos que venha a alcanar os objetivos a que nos propusemos, quais sejam, o

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    10/160

    10 Revista Jurdica da CNM

    de suscitar uma discusso ampla sobre os temas que so impostos execuo

    pelos Municpios e que, na maioria das vezes, no se enquadram nas realida-des fticas existentes.

    notrio que os cursos de Direito dedicam um perodo muito pe-

    queno para o estudo do Direito Pblico e que, em razo disso, a maioria dos

    Municpios brasileiros se ressente da presena de especialistas nesta rea nos

    seus quadros de pessoal e que, portanto, essa certamente a maior causa das

    prticas ditas ilcitas realizadas por gestores pblicos e que, na verdade, na-

    da mais so do que erros formais decorrentes do desconhecimento.Nos artigos que compem nosso trabalho, h abrangncias relativas

    ao endividamento previdencirio dos Municpios que pretendem demonstrar

    a errnea montagem das dvidas municipais e a extorso aos errios que es-

    tas representam em decorrncia dos discrepantes juros que sobre elas recaem.

    H trabalho importantssimo sobre o reajuste de benefcios previ-

    dencirios no mbito dos regimes prprios de previdncia social, que pos-

    suem por finalidade apresentar a evoluo da legislao acerca desses rea-justes aps a reforma previdenciria veiculada pela Emenda Constitucional

    no41, de 2003, e, luz do que decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF)

    em controle concentrado de constitucionalidade, informar qual a legislao

    aplicvel atualmente.

    Aborda, tambm, a defesa administrativa pblica na justia do traba-

    lho, considerando que um grande nmero de Municpios brasileiros tem qua-

    dros regidos pela Consolidao das Leis do Trabalho e enfrenta muitas aesnessa rea judicial, deparando-se sempre com a dificuldade do entendimento

    de que o ente pblico no empresa e que sua funo atender ao interesse

    pblico fundamentalmente.

    Nossa resenha de temas de interesse municipal passa tambm pela

    apresentao da Lei de Acesso s informaes pblicas, direito assegurado a

    todo cidado e que entra em vigor, agora, em 16 de maio de 2012 e impem

    aos entes pblicos uma srie de prticas que assegurem o atendimento a este

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    11/160

    11Revista Jurdica da CNM

    direito. Discorremos, ainda, sobre o trato e o resguardo das informaes pesso-

    ais e sigilosas e da necessidade de prepararmos servidores pblicos para aten-derem a mais este servio pblico.

    H, tambm, um artigo que apresenta as mais recentes posies so-

    bre a contribuio sindical nos Municpios, matria geradora de conflitos em

    decorrncia do fato de serem os servidores pblicos estatutrios no sindica-

    lizados e de, mais uma vez, as decises atenderem muito mais aos interesses

    corporativos do que os do cidado.

    Tratamos tambm dos precatrios, vitria conquistada pela CNMquando da votao da EC no62, mas que, em decorrncia do interesse das

    corporaes que ganham muito com a truculncia do pagamento destes dbi-

    tos, em grande parte impagveis porque calculados em valores estratosfricos

    que superam qualquer referncia de mercado, vm sofrendo os mais diver-

    sos impedimentos na sua plena execuo, proporcionados, em grande par-

    te, pelo prprio Poder Judicirio, pela regulamentao contrria ao propsi-

    to da Emenda e por prticas autoritrias que se projetam com superioridade prpria lei.

    Nessa mesma linha de mais realista do que o rei, temos um trabalho

    desenvolvido sobre os limites para a atuao da Controladoria-Geral da Unio

    na fiscalizao dos Municpios, que oferece aos agentes pblicos locais instru-

    mentalizao para argumentar e contrapor-se s prticas desrespeitosas desen-

    volvidas pelos agentes desse rgo governamental, o qual deveria fiscalizar a

    aplicao dos recursos federais e as prticas dos rgos do governo federal eque no o faz. Motivo pelo qual a corrupo caminha solta por eles e que, em

    contrapartida, clere e gil na fiscalizao dos Municpios, publicando na in-

    ternet todas as falhas encontradas nas administraes municipais, apontando

    os entes locais como os grandes dilapidadores dos recursos pblicos, enquan-

    to a Nao expropriada pelos legtimos agentes da corrupo, normalmente

    vinculados ou ajudados pelas estruturas sediadas em Braslia.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    12/160

    12 Revista Jurdica da CNM

    Ao tratar da autonomia municipal na rea do meio ambiente, a au-

    tora analisa a Lei Complementar no

    140, que fixa normas para a cooperaoentre a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios nas aes admi-

    nistrativas, decorrentes do exerccio da competncia comum, relativas pro-

    teo do meio ambiente e busca enfocar a questo da autonomia do ente mu-

    nicipal para licenciar atividades de impacto local, alm de citar quais as aes

    administrativas que devem ser desenvolvidas pelos Municpios, bem como os

    instrumentos que podero ser usados na poltica ambiental. Tambm traz um

    alerta aos gestores pblicos locais para a importncia de assumirem a gestoambiental em seus Municpios.

    Ainda dentro das atribuies e competncias dos Entes locais, h um

    artigo que trata especialmente da transferncia dos ativos de iluminao p-

    blica para os Municpios, que, por ocasio das concesses, no ficaram com

    a responsabilidade de manter essas linhas de transmisso da iluminao p-

    blica, o que ensejou uma peregrinao da CNM por boa parte do Pas e im-

    ps Aneel a revogao de parte das regras contidas na Resoluo no414 de2010 para prorrogar esta ao, de forma a possibilitar sua exequibilidade jun-

    to aos entes locais.

    Tratamos, ainda, da Eficcia da Smula vinculante no8, que deter-

    minou que a Lei no8.212/1991 no poderia definir prazos de decadncia e de

    prescrio diversos daqueles previstos no Cdigo Tributrio Nacional, con-

    forme disposto, respectivamente, em seus arts. 173 e 174 e tambm da Exe-

    cuo Fiscal e de alternativas de cobranas do crdito pblico municipal.Para tanto, o autor descreve a cobrana administrativa plenamente vincula-

    da e conceitua de forma sucinta a certido de dvida ativa. Dessa forma, h

    o entendimento de que esto sendo utilizados meios prticos para a Fazenda

    Municipal, amparados, inclusive, em recentes decises do Superior Tribunal

    de Justia.

    Esperamos que a Revista alcance seus objetivos, ou seja, produza

    junto aos operadores do Direito nos nossos entes locais a deciso de discutir

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    13/160

    13Revista Jurdica da CNM

    de forma mais amiudada os problemas legais que os agentes pblicos locais

    enfrentam para corretamente implementar decises elaboradas ou interpreta-das em esferas outras que no a do Municpio, ente sujeito ao entendimento e

    costume do grupamento social em que est inserido.

    Queremos tambm que ela sirva de orientao aos gestores para a

    prtica de aes efetivas de defesa dos interesses dos Municpios brasileiros.

    Elena GarridoDiretora Jurdica da CNM

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    14/160

    14 Revista Jurdica da CNM

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    15/160

    15Revista Jurdica da CNM

    LIMITES PARA A ATUAO DACONTROLADORIA-GERAL DA

    UNIO NA FISCALIZAO DOSMUNICPIOS

    Rodrigo Garrido Dias 1

    RESUMO: O presente artigo tem por objetivo analisar os limites para a atu-

    ao da Controladoria-Geral da Unio (CGU) na fiscalizao dos Municpios

    brasileiros. A problemtica a ser questionada : luz da Constituio Federal

    tem a CGU competncia para fiscalizar os entes locais? E, em caso afirmati-

    vo, quais os limites para essa fiscalizao? A hiptese suscitada para resolver a

    questo no sentido de que a atuao da Controladoria usurpa competncia es-tabelecida de forma expressa pela Constituio ao Tribunal de Contas da Unio

    (TCU). Quanto metodologia empregada, trata-se de uma pesquisa bibliogr-

    fica e documental. Por fim, analisa-se de acordo com o texto constitucional

    se existe invaso da esfera de competncia do TCU, apesar de o Supremo Tri-

    1 Especialista em Direito Pblico. Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais pela Unisinos (RS). Advogado eSupervisor Jurdico da CNM.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    16/160

    16 Revista Jurdica da CNM

    bunal Federal (STF) ter definido, por maioria, que a CGU pode fiscalizar os

    Municpios, limitando, contudo, o desempenho dessa tarefa aos recursos fede-rais repassados mediante transferncias voluntrias.

    Palavras-chave: federao; autonomia municipal; controle externo.

    1. INTRODUO

    Desde 2003, a Controladoria-Geral da Unio (CGU) fiscalizou 1.811

    (mil oitocentos e onze) Municpios brasileiros por meio de um Programa de

    Fiscalizao,2a partir de sorteios pblicos que englobam recursos na ordem de

    R$ 13,8 (treze bilhes e oitocentos milhes) de reais.3Dessas inspees, po-

    dem resultar responsabilizaes de ordem poltica, civil ou criminal de agen-

    tes pblicos.

    A responsabilizao dos agentes pblicos, alis, uma das marcasdistintivas da Repblica. Neste sentido, aponta Ataliba (1984, p. 71 apudCAR-

    RAZA, 2008, p. 75):

    Diversos matizes tm a responsabilidade dos mandatrios exe-

    cutivos, no regime republicano; poltico, penal e civil. Quer

    dizer: nos termos da Constituio e das Leis, respondem eles

    (presidente, governadores e, por extenso, prefeitos) perante

    o povo, ou o Legislativo ou o Judicirio, por seus atos e de-liberaes. Nisso ope-se a Repblica s demais formas de

    governo, principalmente Monarquia, regime no qual o chefe

    do Estado irresponsvel (the King can do no wrong) e, por

    isso, investido vitaliciamente.

    2 Trata-se de um programa pelo qual o governo federal sorteia Municpios e, a partir disso, realiza fiscaliza-o in locopara verificar a correta aplicao de recursos pblicos.

    3 Disponvel em: . Acesso em: 13 de abr. de 2011.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    17/160

    17Revista Jurdica da CNM

    Esse regime de responsabilidade tambm se expressa no dever de pres-

    tar contas, nsito a todos aqueles que possuem a misso de gerir recursos pblicos.Esse dever de prestar contas e o sistema de controle dessa obrigao

    do administrador pblico so muito sofisticados no Brasil.

    A doutrina costuma classificar as formas de controle da seguinte

    maneira: quanto origem (externo, interno e popular); quanto ao momento

    de exerccio (controle prvio, concomitante e subsequente); quanto ao aspec-

    to controlado (controle de legalidade e controle de mrito); e quanto ampli-

    tude (hierrquico e finalstico) (ALEXANDRINO, 2010).Vai nos interessar, para o presente trabalho, o enfoque quanto ori-

    gem e em especial no tocante ao controle externo e interno.

    Por controle externo compreende-se aquele exercido por um Poder

    sobre os atos praticados por outro Poder e interno quele exercido dentro do

    mesmo Poder (CARVALHO FILHO, 2010).

    No caso especfico dos Municpios, a Carta Federal estabelece, no

    artigo 31, que o controle externo ser realizado pela Cmara Municipal de Ve-readores com o auxlio do Tribunal de Contas do Estado ou do Municpio ou

    de Conselhos de Contas e Tribunais de Contas dos Municpios, onde houver

    (BRASIL, p. 39). Aduz, ainda, que o controle interno ser feito pelo sistema

    de controle do prprio Poder Executivo municipal.

    J no que diz respeito aos recursos federais, definiu a Constituio, no

    artigo 70, que o controle externo incumbe ao Congresso Nacional auxiliado

    pelo Tribunal de Contas da Unio (TCU); e o controle interno, por sua vez, ficasob a responsabilidade do sistema de controle de cada Poder (BRASIL, 2010).

    Com o objetivo de regular o sistema de controle interno do Poder

    Executivo Federal, foi aprovada a Lei no10.180/2001, que estabelece (BRA-

    SIL, Lei no10.180, de 6 de fevereiro de 2001):

    Art. 19. O Sistema de Controle Interno do Poder Executivo

    Federal visa avaliao da ao governamental e da gesto

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    18/160

    18 Revista Jurdica da CNM

    dos administradores pblicos federais, por intermdio da s-

    calizao contbil, nanceira, oramentria, operacional e pa-

    trimonial, e a apoiar o controle externo no exerccio de suamisso institucional.

    Nessa sistemtica de controle, surgiu a Corregedoria-Geral da Unio,

    instituda pela Medida Provisria no2.143-32/2001, com o objetivo de auxi-

    liar o Presidente da Repblica no controle interno do Poder Executivo Federal.

    Posteriormente, com o advento da Lei no10.683/2003, mudou-se a

    denominao do rgo para Controladoria-Geral da Unio, nome que perma-nece at os dias atuais.

    Consoante o disposto no artigo 17 da Lei no10.683/2003, compete

    CGU (BRASIL, Lei no10.683/2003, de 28 de maio de 2003):

    [...] assistir direta e indiretamente ao Presidente da Repbli-

    ca no desempenho de suas atribuies quanto aos assuntos e

    providncias que, no mbito do Poder Executivo, sejam ati-

    nentes defesa do patrimnio pblico, ao controle inter-

    no, auditoria pblica, correio, preveno e ao combate

    corrupo, s atividades de ouvidoria e ao incremento da

    transparncia da gesto no mbito da administrao pblica

    federal(grifo nosso).

    Verifica-se, assim, que os parmetros constitucionais e legais aca-

    bam por cingir a atuao da Controladoria ao mbito da administrao pbli-ca federal.

    Ento, o que se pretende saber o seguinte: pode a CGU fiscalizar

    os Municpios? Em caso afirmativo, quais os limites para essa fiscalizao?

    A hiptese formulada para responder a esse problema sustenta que

    a atuao da CGU acaba por usurpar competncia especfica do TCU trazida

    pelo artigo 71, VI, da Constituio, a saber (BRASIL, p. 70):

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    19/160

    19Revista Jurdica da CNM

    Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional,

    ser exercido com o auxlio do Tribunal de Contas da Unio,

    ao qual compete:[...]

    VI scalizar a aplicao de quaisquer recursos repassa-

    dos pela Unio mediante convnio, acordo, ajuste ou outro

    instrumento congnere, a Estado, ao Distrito Federal ou a

    Municpio; (grifo nosso)

    Toda essa discusso ganha ainda mais relevncia em face de recente

    julgamento do STF no Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana (RMS)no25.943/DF, em que um ex-prefeito se insurgiu contra a fiscalizao da CGU

    alegando violao autonomia municipal e usurpao da competncia do TCU.

    Pretende-se, assim, verificar o assunto com base nos preceitos consti-

    tucionais, bem como analisar a repercusso da deciso do STF no RMS 25.943/

    DF para a atuao da Controladoria.

    2. O CONTROLE EXTERNO DO ENTE FEDERADO MUNICPIO

    LUZ DA CONSTITUIO DE 1988

    2.1 O Municpio como ente federado

    A postura inovadora do legislador constituinte originrio, erigin-

    do o Municpio condio de integrante da federao, conferiu ao ente local

    um alcance indito at ento na histria dos sistemas federativos (BONAVI-

    DES, 2004).

    A federao inveno norte-americana. O constituinte estaduni-

    dense de 1787 conseguiu uma maneira engenhosa de criar uma aliana entre

    Estados soberanos que cederam parte de sua autonomia para o estabelecimen-

    to do pacto federal.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    20/160

    20 Revista Jurdica da CNM

    As caractersticas comuns das federaes so a aliana entre unida-

    des autnomas; a impossibilidade de ela ser desfeita ou a inexistncia de di-reito de secesso; o fundamento constitucional do pacto; a descentralizao

    poltica; a participao dos Estados no Poder Legislativo Federal; os rgos

    representativos dos Estados-membros; a repartio rgida de competncias; a

    possibilidade de interveno federal, em casos excepcionais; a possibilidade

    de formao de Estados-membros e tambm a previso de um rgo de cpu-

    la do Poder Judicirio (BULOS, 2009).

    Verifica-se, assim, que a federao brasileira apresenta certa pecu-liaridade em relao aos postulados histricos do modelo federal. Nesse pon-

    to, estamos ainda em uma verdadeira construo da nossa identidade federal.

    Podemos apontar, como exemplo dessa incompletude, o fato de que

    os Municpios no possuem representatividade no poder central, afinal, o nos-

    so sistema bicameral prev a Cmara dos Deputados como representante do

    Povo e o Senado Federal como representante dos Estados-membros e do Dis-

    trito Federal.De qualquer maneira, a partir dessestatusde ente federado, confe-

    rido pelo artigo 18 da Constituio, ganhou ainda mais valor a autonomia dos

    entes locais que, na lio de Meirelles (2006, p. 93), se expressa no:

    [...] a) poder de auto-organizao (elaborao de lei orgnica

    prpria); b) poder de autogoverno, pela eletividade do prefeito,

    do vice-prefeito e dos vereadores; c) poder normativo prprio,

    ou de autolegislao, mediante a elaborao de leis municipais

    na rea de sua competncia exclusiva e suplementar; d) poder

    de auto-administrao: administrao prpria para criar, man-

    ter e prestar os servios de interesse local, bem como legislar

    sobre seus tributos e aplicar suas rendas.

    Pode-se dizer, ainda sobre autonomia, que ela consubstancia exerc-

    cio de poder limitado pela Constituio. No se pode, por conseguinte, falar de

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    21/160

    21Revista Jurdica da CNM

    hierarquia entre Unio, Estados-membros, Distrito Federal e Municpios; to-

    dos atuam sob o influxo de competncias estabelecidas na Carta da Repblica.

    2.2 O controle da aplicao dos recursos pblicos em uma Federao

    Ante todo o exposto, resta claro que o controle da administrao p-

    blica em especial no que toca origem, ou seja, se externo ou interno pre-

    cisa ser desenvolvido dentro desses estritos mandamentos federativos.

    Como j destacado, o controle externo dos recursos pblicos aplica-dos pelos Municpios de responsabilidade da Cmara de Vereadores, com o

    auxlio do rgo de contas estadual ou municipal, onde houver.

    A exceo a essa regra trazida pelo mandamento do artigo 71, VI,

    da Constituio, ou seja, nos casos de recursos repassados pela Unio me-

    diante convnio, acordo, ajuste ou outro instrumento congnere, em que a

    competncia passa a ser do TCU (BRASIL, p. 70).

    hialino na doutrina que as excees devem ser interpretadas de for-ma estrita. Nesse sentido, aponta Maximiliano (1979, p. 306-315 apud CAR-

    VALHO, 2010, p. 365-366):

    Carlos Maximiliano formulou algumas regras de interpretao

    da Constituio extradas, sobretudo, de constitucionalistas

    norte americanos [...] IX interpretam-se estritamente os

    dispositivos que instituem excees s regras gerais rma-

    das pela Constituio(grifo nosso).

    De tudo se extrai que o legislador constituinte originrio ao estabe-

    lecer uma Federao partiu do reconhecimento de que a descentralizao e a

    autonomia so valores caros em um Estado Democrtico de Direito.

    evidente, assim, que a regra do jogo a preservao desse locus

    poltico e autnomo de cada ente federado. Tanto assim que, quando a Carta

    Magna trata de controle externo, ela dispe que o outro Poder que est incum-

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    22/160

    22 Revista Jurdica da CNM

    bido de realizar o controle deve, em regra, pertencer ao mesmo ente federado.

    Est aqui a afirmao lmpida da forma de estado federal, ou seja, uma enge-nhosa criao do homem, voltada a distribuir o poder poltico ao longo do ter-

    ritrio do Estado, tendo, como norte, rgidas balizas constitucionais.

    A exceo, como verificamos, aparece na fiscalizao levada a efei-

    to pelo TCU, quando analisa a aplicao dos recursos provenientes de transfe-

    rncias voluntrias da Unio para os outros entes da Repblica. Aqui, permitiu

    o constituinte originrio que outro ente federado, no caso a Unio, fiscalize a

    aplicao dos recursos pblicos. Trata-se de exceo que merece, por conse-guinte, estrita interpretao.

    Por isso, nos casos em que a CGU fiscaliza a aplicao de recur-

    sos provenientes de transferncia voluntria da Unio aos Municpios, ocor-

    re ntida usurpao de competncia atribuda pela Carta Federal ao Tribunal

    de Contas da Unio.

    No diferente o posicionamento do ministro Marco Aurlio Mello no

    Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana no25.943/DF (BRASIL, 2010):

    [...] a Carta da Repblica, que at aqui rgida, no pode ser

    alterada fora das hipteses versadas no artigo 60 dela constan-

    te, j prev, mitigando a autonomia dos Municpios, o controle

    quanto a essas verbas e o atribui no a rgo do Executivo fe-

    deral, mas ao Tribunal de Contas da Unio, que, como disse,

    no est situado no mbito do Executivo. Est vinculado ao

    Congresso Nacional. Conforme preceitua a Constituio,

    Presidente, em bom portugus, compete ao Tribunal de

    Contas da Unio essa scalizao, e no Controladoria-

    -Geral da Unio art. 71, inciso VI. [...] (grifo nosso)

    A mesma viso compartilhada pelo ministro presidente do STF,

    Cezar Peluso, a saber (BRASIL. Supremo Tribunal Federal):

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    23/160

    23Revista Jurdica da CNM

    [...] Se Vossas Excelncias me permitem, adianto alguma idia.

    A mim, parece-me que est mais ou menos claro, nos termos

    da Lei 10.683, que a Controladoria, pela lei federal, no tem

    poder de intervir alm do mbito da Administrao Pbli-

    ca Federal. Ento, pela lei, no foi atribuda a esse rgo do

    Poder Executivo Federal competncia para intervir seja no Es-

    tado, Municpio, Distrito Federal, etc. Segundo, como se trata,

    na verdade, de controle que no feito pelo prprio rgo

    responsvel pelas despesas, o caso de controle externo,

    porque, quando feito pelo prprio rgo que efetua a despesa,

    o caso de controle interno. Feito por outro rgo, temos um

    controle externo. Ora, pelo artigo 70, caput, da CF, o controle

    externo. Ainda que alcance Estados, Municpios, Distrito

    Federal, prerrogativa exclusiva do Congresso Nacional.

    o que diz: Art. 70 A scalizao [...] ser exercida pelo

    Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo siste-

    ma de controle interno de cada Poder. Noutras palavras, o

    prprio rgo que faz o gasto que exerce controle interno. E o

    controle externo exercido pelo Congresso Nacional, por

    intermdio do qu? Do Tribunal de Contas, pelo artigo 71.Ento, o Tribunal de Contas da Unio, pela Constituio,

    tem o poder de fazer o controle externo. [...] (grifo nosso)

    O RMS 25.943/DF, acima referido, foi o primeiro caso em que a Su-

    prema Corte enfrentou a polmica sobre a competncia da CGU para fiscali-

    zar verbas federais aplicadas pelos Municpios.

    verdade que o STF, ao final, entendeu pela possibilidade da fis-

    calizao; entretanto, limitou-a aos recursos federais oriundos de transfern-

    cias voluntrias.

    O cerne da questo debatida no Supremo foi: a atuao da CGU usur-

    paria ou no competncia do TCU?

    O voto condutor, no sentido de que no ocorreria tal usurpao, foi

    dado pelo ministro Ricardo Lewandowski, que em certa passagem ressaltou:

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    24/160

    24 Revista Jurdica da CNM

    [...] Nesse sentido, pode a Controladoria-Geral da Unio sca-

    lizar a aplicao de dinheiro da Unio onde quer que ele esteja

    sendo aplicado, isto , se houver um repasse de verbas federaisa um Municpio, ele pode ser objeto de scalizao no tocante

    sua aplicao. E essa scalizao tem, evidentemente, um

    carter interno, pois exercida exclusivamente sobre ver-

    bas provenientes do oramento do Executivo destinadas a

    repasses aos entes federados. (grifo nosso)

    A concluso do ministro Lewandowski, que acabou por prevalecer

    ao final do julgamento, no condiz, data mxima vnia, com o que preceituaa nossa Carta Constitucional, no que respeita ao controle externo das trans-

    ferncias voluntrias da Unio aos demais entes federados. Alm disso, no

    estamos a falar, nesse caso, de controle interno; afinal, como verificamos pe-

    la classificao doutrinria, trata-se de fiscalizao levada a efeito por rgo

    alheio ao fiscalizado.

    Nem se poderia alegar, outrossim, que a funo desempenhada pela

    CGU estaria respaldada pelo disposto no artigo 74, VI, da Constituio que diz:

    Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio man-

    tero, de forma integrada, sistema de controle interno com a

    nalidade de:

    [...]

    IV apoiar o controle externono exerccio de sua misso

    institucional; (grifo nosso)

    O fato que, quando a Controladoria institui um Programa de Fis-

    calizao por sorteios pblicos, ela no est atuando em parceria com o TCU

    ou por solicitao do Congresso Nacional. Ela o faz de modo prprio e em

    cumprimento determinao do Poder Executivo Federal. No estamos tra-

    tando, aqui, de qualquer tipo de apoio ao controle externo do Congresso Na-

    cional (que realizado pelo TCU), mas de atuao que visivelmente ultrapas-

    sa a competncia da CGU.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    25/160

    25Revista Jurdica da CNM

    Assim, apesar de apenas dois ministros terem votado no sentido da

    usurpao de competncia do TCU, vislumbramos que, em um futuro prxi-mo, dado o volume de fiscalizaes levadas a efeito pela CGU, poder a ma-

    tria ser suscitada novamente na Suprema Corte e, nesse sentido, receber no-

    va avaliao pelos ministros que compem o Supremo.

    3. METODOLOGIA

    O presente trabalho baseou-se na pesquisa bibliogrfica e documen-

    tal. Foram consultadas, para tanto, obras doutrinrias na rea do direito cons-

    titucional e administrativo, bem como, stios na internet que permitiram reali-

    zar uma abordagem qualitativa a respeito do tema, relacionando os elementos

    e interpretando dados e informaes.

    4. CONCLUSO

    Por fim, verifica-se que apesar de a Constituio Federal de 1988 ter

    conferido ao TCU a incumbncia de fiscalizar a aplicao dos recursos fede-

    rais transferidos pela Unio, por convnio, aos demais entes federados, enten-

    deu o STF que a atuao da CGU na fiscalizao dos Municpios no usurpa

    competncia do Tribunal de Contas. Para o Supremo, a atuao da Controla-doria d-se na qualidade de rgo de controle interno da Unio, no ocorren-

    do, no caso, exerccio de controle externo pela CGU.

    Com essas balizas, estabeleceu, tambm, a Suprema Corte que a CGU

    s pode fiscalizar os recursos federais recebidos pelos Municpios a ttulo de

    transferncia voluntria da Unio. A CGU no poderia, conforme o STF, contro-

    lar recursos federais oriundos de transferncias obrigatrias ou constitucionais.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    26/160

    26 Revista Jurdica da CNM

    Em que pese a respeitvel posio da nossa Corte Constitucional,

    cumpre destacar os votos do ministro Czar Peluso, presidente do STF, bemcomo do ministro Marco Aurlio Mello, no sentido de que a atuao da CGU

    acaba por usurpar competncia atribuda pela Constituio ao TCU, o que per-

    mite que no futuro este tema receba nova conformao pela nossa mais alta

    Corte de Justia.

    Um aspecto fundamental que fica desse julgamento o pacfico en-

    tendimento de que a atuao da Controladoria est limitada quelas transfe-

    rncias voluntrias feitas mediante convnio com os Municpios. No podea CGU, por conseguinte, a partir dessa deciso, chegar ao Municpio e reali-

    zar verdadeira devassa de documentos, processos ou legislaes que no te-

    nham relao direta para com o recurso federal transferido por convnio ou

    outro instrumento congnere. Nesse sentido, pode-se afirmar que a deciso

    do Supremo homenageou o sistema federal e, em especial, a autonomia dos

    entes locais.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    27/160

    27Revista Jurdica da CNM

    REFERNCIAS

    ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente.Direito Administrativo Des-

    complicado. 18. ed. So Paulo: Mtodo, 2010.

    BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15. ed. So Paulo: Ma-

    lheiros, 2004.

    BULOS, Uadi Lammgo.Direito Constitucional ao alcance de todos. So

    Paulo: Saraiva, 2009.

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. 44. ed. So Pau-

    lo: Saraiva, 2010.

    BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ementa: Recurso Ordinrio em Man-

    dado de Segurana. Recursos Pblicos Federais repassados aos Municpios.

    Possibilidade. Recurso Desprovido. I A Controladoria-Geral da Unio po-

    de fiscalizar a aplicao de verbas federais onde quer que elas estejam sen-

    do aplicadas, mesmo que em outro ente federado s quais foram destinadas.

    II A fiscalizao exercida pela CGU interna, pois feita exclusivamente so-

    bre verbas provenientes do oramento do Executivo. III Recurso a que senega provimento. Disponvel em: . Acesso em: 25 de maro de 2011.

    CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.Manual de Direito Administrativo. 23.

    ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    28/160

    28 Revista Jurdica da CNM

    CARVALHO, Kildare Gonalves.Direito Constitucional. 16. ed, ver. atual. e

    ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.

    MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocncio Mrtires; BRANCO, Pau-

    lo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. So Paulo: Sarai-

    va, 2008.

    MEIRELLES, Hely Lopes.Direito Municipal Brasileiro. 14. ed. So Paulo:

    Malheiros, 2006.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    29/160

    29Revista Jurdica da CNM

    DO RECOLHIMENTO DACONTRIBUIO SINDICAL DOS

    SERVIDORES PBLICOS

    Fbio Luiz Pacheco1

    Resumo:Todos os anos os servidores pblicos tm descontado de suas re-muneraes um dia de trabalho, a ttulo de contribuio sindical. O diploma

    legal que regulamenta este desconto a Consolidao das Leis do Trabalho

    (CLT). No presente artigo, com base em argumentos legais e puramente tc-

    nicos, questiona-se a validade dessa cobrana.

    Palavras-chave:contribuio sindical; servidores pblicos; legalidade; Con-

    solidao das Leis do Trabalho; Supremo Tribunal Federal.

    1 Ex-consultor jurdico da CNM. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela PUC/RS.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    30/160

    30 Revista Jurdica da CNM

    1. DA CONTRIBUIO SINDICAL

    Em que pese a discusso acerca da legalidade do pagamento da con-

    tribuio sindical pelos servidores pblicos estatutrios no seja recente, este

    tema voltou a ser alvo de anlises e estudos mais profundos aps a publica-

    o, pelo Ministrio do Trabalho e Emprego, da Instruo Normativa no1, de

    30 de setembro de 2008, a qual dispe sobre a cobrana da contribuio sin-

    dical dos servidores e dos empregados pblicos.

    A atual contribuio sindical corresponde ao antigo imposto sindi-cal, criado em 1940, pelo Decreto no2.377. A nomenclatura foi alterada pelo

    Decreto-Lei no27, de 14 de novembro de 1966, o qual conferiu nova redao

    ao art. 217 do Cdigo Tributrio Nacional. Em 1967, o Decreto-Lei no229 ra-

    tificou a nova denominao, que se mantm at os dias de hoje. De fato, a de-

    nominao de imposto no era a mais acertada, uma vez que somente uma

    parte da arrecadao era destinada ao Estado, ao passo que a maior parte era

    dividida pelo sistema sindical.2Conforme Srgio Pinto Martins,3

    agora, fala-se contribuio sindical, indicando que sua arreca-

    dao vinculada a uma nalidade, que o custeio do sistema

    sindical, sendo que parte do valor arrecadado ser devido ao

    Estado. Trata-se de contribuio de interesse de categoria pro-

    ssional e econmica, nos termos do art. 149 da Constituio.

    Na Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), diploma que regula-menta as receitas dos entes sindicais, a contribuio sindical est regulada en-

    tre os arts. 578 e 610. Para os empregados, o valor descontado corresponde

    remunerao de um dia de trabalho por ano, a ser deduzido no ms de maro,

    e ser recolhido at o final do ms de abril subsequente.

    2 MARTINS, Srgio Pinto. Contribuies Sindicais. So Paulo: Editora Atlas, 1998, p. 57.

    3 Idem, ibidem.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    31/160

    31Revista Jurdica da CNM

    A contribuio sindical a nica contribuio que, efetivamente,

    obrigatria para todos os membros das categorias profissionais, econmi-cas, de autnomos e profissionais liberais , independentemente de serem ou

    no associados a sindicatos.4

    Conforme recm visto, o surgimento da atual contribuio sindical

    deu-se em 1940. Com o advento da Constituio Federal de 1988, o disposto

    no art. 8o, inc. IV, recepcionou essa contribuio compulsria, apesar da regra

    geral do caputdo art. 8o o qual desautorizaria tal recepo, pois prescreve o

    princpio da liberdade sindical.Para Amauri Mascaro Nascimento,5o imposto sindical (hoje con-

    tribuio sindical) compulsrio (sobre todos os que integram uma categoria,

    scios ou no do sindicato), do tipo tributrio, com o qual o Estado pretendeu

    dar uma fonte de recursos para os sindicatos.

    Importante que se aprecie, outrossim, a natureza jurdica do institu-

    to em questo. A posio majoritria inclina-se no sentido de que a contribui-

    o sindical possui natureza jurdica de tributo. Seu carter compulsrio esua exigibilidade possui respaldo no art. 149 da Constituio Federal, nos arts.

    578 e seguintes da Consolidao das Leis do Trabalho e no inc. I, do art. 217

    do Cdigo Tributrio Nacional.

    Outro argumento a ratificar a tese majoritria, ou seja, reconhecen-

    do a natureza tributria da contribuio sindical, a prpria insero do insti-

    tuto na previso do art. 3odo CTN (Cdigo Tributrio Nacional), o qual esta-

    belece que tributo a prestao pecuniria compulsria, em moeda ou cujovalor nela se possa exprimir, que no constitua sano de ato ilcito, institu-

    da em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

    Ademais, seu pagamento devido por todos os que se enquadram,

    4 Art. 579, da CLT: A contribuio sindical devida por todos aqueles que participarem de uma determina-da categoria econmica ou profissional, ou de uma profisso liberal, em favor do sindicato representativo da mesmacategoria ou profisso ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591.

    5 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compndio de Direito Sindical.4 ed. So Paulo: LTr, 2005, p. 262.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    32/160

    32 Revista Jurdica da CNM

    a teor da lei, nos conceitos de categorias profissionais, econmicas, de aut-

    nomos e de profissionais liberais, independentemente de uma filiao efetivados contribuintes na entidade sindical.

    Assim, por possuir natureza tributria, a contribuio sindical fica

    submetida aos princpios do Direito Tributrio, no sendo possvel, por tal mo-

    tivo, outorgar uma interpretao ampliativa para seus fatos geradores, assim

    como dilatar o universo dos sujeitos passivos da obrigao tributria.

    2. DOS SERVIDORES PBLICOS

    Os servidores pblicos lato sensuou agentes estatais representam

    o gnero de inmeras espcies, dentre elas, os servidores pblicos estatut-

    rios (ocupantes de cargos pblicos), os contratados por prazo determinado e

    os empregados pblicos.

    As duas primeiras espcies so regidas por regras especficas, dife-rentemente dos empregados pblicos, regidos pela Consolidao das Leis do

    Trabalho e pela legislao trabalhista em geral.

    No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro,6servidores pblicos

    so pessoas fsicas que prestam servio ao Estado (administrao direta e in-

    direta). Compreendem os servidores estatutrios (sujeitos ao regime estatut-

    rio e ocupantes de cargos pblicos); os empregados pblicos (submetidos ao

    regime celetista e ocupantes de empregos pblicos); e os temporrios (exer-centes de funo pblica, no vinculados a cargos ou a empregos pblicos).

    Nos moldes do art. 3oda CLT,7empregado toda pessoa fsica que

    habitualmente presta servios outra pessoa (fsica ou jurdica), sob os co-

    mandos desta e, em contrapartida, recebe um salrio.

    6 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.18 ed. So Paulo: Atlas, 2005, p. 445-446.

    7 Art. 3o Considera-se empregado toda pessoa fsica que prestar servios de natureza no eventual aempregador, sob a dependncia deste e mediante salrio.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    33/160

    33Revista Jurdica da CNM

    Nas relaes puramente administrativas entre a administrao pbli-

    ca e seus servidores (estatutrios e contratados emergencialmente), portanto, aConsolidao Trabalhista no pode e no deve ser aplicada, sob pena de des-

    respeitar a legislao prpria do ente. Por esse motivo, existem dvidas sobre

    a aplicabilidade dos artigos da CLT para fundamentar a cobrana da contribui-

    o sindical dos servidores estatutrios.

    3. DA INEXIGIBILIDADE DA CONTRIBUIO SINDICAL DOSSERVIDORES PBLICOS

    Sobre o tema sempre existiram controvrsias, ou seja, uns tribunais

    e doutrinadores entendem pela possibilidade do recolhimento em debate, ao

    passo que outros no.

    Zelando pela melhor tcnica, a tese da inexigibilidade do recolhimento

    da contribuio sindical dos servidores pblicos mostra-se mais slida. A ttuloexemplificativo, citam-se alguns argumentos que amparam este entendimento:

    inexistncia da lei especfica prevista na parte final do inc. IV

    do art. 8oda Constituio Federal;

    inaplicabilidade das normas da CLT para os servidores pbli-

    cos estatutrios;

    inexistncia de sindicato patronal e, por consequncia, do sindi-

    cato obreiro logo, no h sindicato, nem contribuio sindicalde servidores pblicos.

    Conforme j asseverado, o entendimento supra encontra amparo,

    dentre outros:

    INFORMAO/JCOA/CONJUR/TEM no008/2002, aprova-

    da pelo PARECER/CONJUR/MTE/No149/2002 do Minist-

    rio do Trabalho e Emprego; Nota Tcnica no37/2005, da Coordenao-Geral das Relaes

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    34/160

    34 Revista Jurdica da CNM

    de Trabalho, da Secretaria de Relaes de Trabalho do Minis-

    trio do Trabalho e Emprego; Ofcio Circular no7/SRH/MP, de 29 de maro de 2004 do Mi-

    nistrio do Planejamento, Oramento e Gesto;

    Parecer no65/2001 do Tribunal de Contas do Estado do Rio

    Grande do Sul;

    Processo no10243/026/97 do Tribunal de Contas do Estado

    de So Paulo;

    Processo no

    0045432007, Relator Paulo Srgio Velten Pereira,Tribunal Pleno do TJ/MA, 5/9/2007 Tribunal de Justia do Es-

    tado do Maranho;

    Processo no1.0027.00.009810-6/001; Relator: Des. Carreira Ma-

    chado; 4aCmara Cvel; Data de publicao: 10/5/2005 Tribu-

    nal de Justia do Estado de Minas Gerais;

    Apelao Cvel no70006913701, Terceira Cmara Cvel, Rela-

    tor: Matilde Chabar Maia, Julgado em 19/2/2004 Tribunal deJustia do Estado do Rio Grande do Sul.

    Com base nos argumentos acima, ntido que h razes suficientemen-

    te fortes para questionar a legalidade da contribuio sindical cobrada anual-

    mente dos servidores pblicos.

    Conforme j dito anteriormente, existem muitas dvidas sobre a le-

    galidade da contribuio em anlise com existncia de decises administra-tivas e judiciais para ambos os sentidos.

    Contrariando, todavia, os embasamentos legais trazidos baila, o

    Supremo Tribunal Federal, em acrdo proferido em sede de Agravo Regi-

    mental em Recurso Extraordinrio, decidiu, mais uma vez, pela legalidade do

    recolhimento da contribuio sindical dos servidores pblicos (inclusive esta-

    tutrios) o qual, tornar-se-, naturalmente (e processualmente) uma tendn-

    cia do restante do Judicirio brasileiro.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    35/160

    35Revista Jurdica da CNM

    4. POSIO ATUAL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

    O rgo Supremo, no RE 413080 AgR / RJ,8reiterou seu posiciona-

    mento, tambm turmrio, e decidiu pela exigibilidade dos servidores pblicos

    civis da contribuio sindical prevista no art. 8o, inc. IV, in fine, da Carta Magna.

    Apesar de no entrar em muitos detalhes, o Supremo praticamen-

    te pacificou sua posio, que ampara a legalidade da contribuio analisada.

    O STF, imperioso destacar, decidiu pela legalidade da referida con-

    tribuio em processos de controle difuso de constitucionalidade, com efeitorestrito s partes litigantes nos casos concretos analisados. No significa dizer

    que o prprio SFT, se novamente provocado, no possa proferir deciso em

    sentido contrrio pela ilegalidade do recolhimento.

    5. CONCLUSO

    Apesar da discordncia do entendimento exarado pelo STF sobre

    a matria abordada, no se pode fazer vistas grossas s decises da instncia

    mxima do Judicirio do Pas.

    Igualmente, no podem os jurisdicionados esperar que um rgo

    do Judicirio, diante da inexistncia de uma lei especfica, regule matria que

    deveria ser elaborada no Legislativo. Por isso, ainda defende-se a tese da im-

    possibilidade de cobrana, nos dias de hoje, da contribuio sindical dos ser-vidores pblicos diante da impossibilidade tcnica da aplicao da CLT aos

    servidores pblicos, dentre outros argumentos.

    Nesse sentido, espera-se que, com a chegada Suprema Corte (de-

    zembro de 2011) de uma ministra originria da magistratura trabalhista e, por-

    8 DJe-145; Divulgao: 5-8-2010; Publicao: 6-8-2010; Relator: Ministro Celso de Mello, Segunda Turma.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    36/160

    36 Revista Jurdica da CNM

    tanto, afeita s questes sociais, Min. Rosa Maria Weber Candiota da Rosa (ex-

    -TST), a questo em tela seja definitivamente mais bem analisada, levando-seem considerao todos os argumentos acima analisados.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    37/160

    37Revista Jurdica da CNM

    DA EFICCIA DA SMULA NO8DO STF

    Paulo Caliendo1

    RESUMO:O presente artigo trata da eficcia da Smula Vinculante no8, que

    determinou que a Lei no8.212/1991 no poderia definir prazos de decadncia

    e de prescrio diversos daqueles previstos no Cdigo Tributrio Nacional,

    conforme disposto, respectivamente, em seus arts. 173 e 174.

    PALAVRAS-CHAVES:Smula vinculante; prazos prescricionais e decadenciais;

    normas gerais do CTN.

    1 Paulo A. Caliendo V. da Silveira graduado em Direito pela UFRGS, mestre em Direito dos Negcios e daIntegrao tambm pela Faculdade de Direito da UFRGS. doutor em Direito Tributrio junto PUC/SP, tendo comotema de tese de doutorado o estudo dos Estabelecimentos Permanentes em Direito Internacional Tributrio. Professordo mestrado e doutorado da PUC/RS, na disciplina de Direito Tributrio, e de diversos cursos de Ps-graduao no Pas.Realizou estgio de doutoramento junto ao prof. Moris Lehner, da Universidade de Munique (Ludwig-Maximilians Uni-vesitt), no Instituto de Pesquisas em Direito Europeu e Internacional tributrio (Forschunsstelle fr Europisches undInternationales Steuerrecht). autor de diversos artigos e do livro Estabelecimentos Permanentes em Direito Tributrio

    Internacional, RT, 2005; Direito Tributrio e Anlise Econmica do Direito, So Paulo: Elsevier, 2009, e Direito Tributrio:trs modos de pensar a tributao, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    38/160

    38 Revista Jurdica da CNM

    1. DA ILEGALIDADE E DA INCONSTITUCIONALIDADE DO

    PARGRAFO NICO DO ART. 5O

    DO DECRETO LEI NO

    1.569/1977E OS ARTS. 45 E 46 DA LEI NO8.212/1991

    Determinavam os arts. 45 e 46 da Lei no8.212/1991 que:

    Art. 45. O direito da Seguridade Social apurar e constituir seus

    crditos extingue-se aps 10 (dez) anos contados: (Vide Su-

    mula Vinculante no8). (Revogado pela Lei Complementar no

    128, de 2008)I do primeiro dia do exerccio seguinte quele em que o cr-

    dito poderia ter sido constitudo; (Revogado pela Lei Comple-

    mentar no128, de 2008)

    II da data em que se tornar denitiva a deciso que houver

    anulado, por vcio formal, a constituio de crdito anterior-

    mente efetuada. (Revogado pela Lei Complementar no128,

    de 2008)

    [...]Art. 46. O direito de cobrar os crditos da Seguridade So-

    cial, constitudos na forma do artigo anterior, prescreve em

    10 (dez) anos.

    Esse dispositivo gerou uma grande polmica sobre a sua constitucio-

    nalidade em razo do conflito com o disposto nos arts. 173 e 174 do CTN. Pos-

    teriormente, estes foram revogados pela Lei Complementar no128, de 2008,

    e tiveram a sua eficcia retirada pela Smula Vinculante no8.

    A doutrina igualmente se debruou sobre o assunto. Para Roque An-tnio Carrazza,2a fixao do prazo prescricional no exige lei complementar.

    Em seu entender, o caputdos arts. 173 e 174 do Cdigo Tributrio Nacional

    (CTN), enquanto fixam prazos decadenciais e prescricionais, tratam de ma-

    tria reservada lei ordinria de cada pessoa poltica, o que permite a fixa-

    2 Cf. CARRAZA, Roque. Curso de Direito Constitucional Tributrio, 19aed. So Paulo: Malheiros, 2003, p. 816817.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    39/160

    39Revista Jurdica da CNM

    o por lei ordinria federal de prazos prescricionais e decadenciais diferen-

    tes dos estabelecidos pelo CTN.A mensagem dos arts. 173 e 174 do CTN aplica-se a todos os tribu-

    tos. Seu objetivo o de uniformizar os prazos decadenciais ou prescricionais

    no campo das relaes tributrias. Assim, entendendo-se a alterao do pra-

    zo fixado nos arts. 173 e 174, por visar uniformizar a sua aplicao a todos os

    tributos, sendo, portanto, uma norma geral tributria, s pode ser alterada por

    lei complementar.

    Essa linha de raciocnio foi adotada pelo STF, conforme LeandroPaulsen:3

    A questo da prescrio e da decadncia, entretanto, parece-me

    pacca. que tais institutos so prprios da lei complemen-

    tar de normas gerais (art. 146, III, b). Quer dizer, os prazos de

    decadncia e de prescrio inscritos na lei complementar de

    normas gerais (CTN) so aplicveis, agora, por expressa pre-

    viso constitucional, s contribuies parascais (CF, art. 146,III, b, art. 149). (STF. Plenrio. RE 148.142/RJ, excerto do

    voto do Exmo.do Min. Carlos Velloso, junho/93).

    No mesmo sentido, entenderam Sacha Calmon Navarro Coelho4e

    Hugo de Brito Machado.5Portanto, no resta dvida de que a matria disci-

    plinada no art. 45 e 46 da Lei no8.212/1991 somente poderia ser tratada por

    lei complementar, e no por lei ordinria, como o foi. Poder-se-ia argumen-

    tar que o dispositivo no tratou de normas gerais sobre decadncia, j que

    simplesmente estabeleceu um prazo. o que defende Roque Antonio Cara-

    zza, para quem

    3 Cf. PAULSEN, Leandro. Direito Tributrio. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 2009, p. 1.268.

    4 Cf. COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributrio Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, p. 138.

    5 Cf. MACHADO, Hugo de Brito. Decadncia e Prescrio Relativamente s Contribuies de SeguridadeSocial. Repertrio IOB Jurisprudncia1998 verbete 112.466.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    40/160

    40 Revista Jurdica da CNM

    a lei complementar, ao regular a prescrio e a decadncia tri-

    butrias, dever limitar-se a apontar diretrizes e regras gerais.

    No poder, por um lado, abolir os institutos em tela (que fo-ram expressamente mencionados na Carta Suprema) nem, por

    outro, descer a detalhes, atropelando a autonomia das pessoas

    polticas tributantes [...] No dado, porm, a esta mesma lei

    complementar entrar na chamada economia interna, vale

    dizer, nos assuntos de peculiar interesse das pessoas polticas

    [...] Eis por que, segundo pensamos, a xao dos prazos pres-

    cricionais e decadenciais dependem de lei da prpria entidade

    tributante. No de lei complementar. Nesse sentido, os arts. 173

    e 174 do Cdigo Tributrio Nacional, enquanto xam prazos

    decadenciais e prescricionais, tratam de matria reservada

    lei ordinria de cada pessoa poltica. Portanto, nada impede

    que uma lei ordinria federal xe novos prazos prescricionais

    e decadenciais para um tipo de tributo federal. No caso, para

    as contribuies previdencirias.

    Desse modo, resta concluir que as contribuies sociais, inclusive

    as destinadas a financiar a seguridade social (CF, art. 195), tm, no regime da

    Constituio de 1988, natureza tributria. Por isso mesmo, deve ser aplicada

    a elas tambm o disposto no art. 146, III, b, da Constituio, segundo o qual

    cabe lei complementar tratar sobre normas gerais em matria de prescrio

    e decadncia tributrias, compreendida nessa clusula, inclusive, a fixao dos

    respectivos prazos. Consequentemente, padece de inconstitucionalidade for-

    mal o art. 45 e 46 da Lei no8.212, de 1991, que fixou em dez anos o prazo de

    prescrio e decadncia para o lanamento das contribuies sociais devidas

    Previdncia Social.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    41/160

    41Revista Jurdica da CNM

    2. DO AI NO RECURSO ESPECIAL No616.348 MG

    O Egrgio Superior Tribunal de Justia julgou em agosto de 2007 o

    AI no Recurso Especial no616.348-MG, cujo relator foi o ministro Teori Al-

    bino Zavascki.

    A deciso restou assim ementada:

    EMENTACONSTITUCIONAL, PROCESSUAL CIVIL E TRIBUT-

    RIO. INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. DO

    ARTIGO 45 DA LEI 8.212, DE 1991. OFENSA AO ART. 146,

    III, B, DA CONSTITUIO.

    1. As contribuies sociais, inclusive as destinadas a nanciar a

    seguridade social (CF, art. 195), tm, no regime da Constituio

    de 1988, natureza tributria. Por isso mesmo, aplica-se tambm

    a elas o disposto no art. 146, III, b, da Constituio, segundoo qual cabe lei complementar dispor sobre normas gerais em

    matria de prescrio e decadncia tributrias, compreendi-

    da nessa clusula inclusive a xao dos respectivos prazos.

    Conseqentemente, padece de inconstitucionalidade formal o

    artigo 45 da Lei 8.212, de 1991, que xou em dez anos o pra-

    zo de decadncia para o lanamento das contribuies sociais

    devidas Previdncia Social.

    2. Argio de inconstitucionalidade julgada procedente.Desse modo, decidiu a Egrgia Primeira Corte Especial do

    Superior Tribunal de Justia, preliminarmente, conhecer, por

    maioria, da argio de inconstitucionalidade, vencido o Sr.

    Ministro Jos Delgado, e, no mrito, aps o voto-vista do Sr.

    Ministro Jos Delgado e os votos dos Srs. Ministros Fernan-

    do Gonalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior, Gilson

    Dipp, Eliana Calmon, Paulo Gallotti, Francisco Falco e Luiz

    Fux acompanhando o voto do Sr. Ministro Relator, por unani-

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    42/160

    42 Revista Jurdica da CNM

    midade, declarar a inconstitucionalidade do art. 45 da Lei no

    8.212, de 1991, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Na

    preliminar os Srs. Ministros Antnio de Pdua Ribeiro, Fran-cisco Peanha Martins, Humberto Gomes de Barros, Fernando

    Gonalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior, Gilson Dipp,

    Eliana Calmon, Paulo Gallotti, Francisco Falco e Luiz Fux

    votaram com o Sr. Ministro Relator.

    No mrito os Srs. Ministros Antnio de Pdua Ribeiro, Fran-

    cisco Peanha Martins, Humberto Gomes de Barros, Cesar

    Asfor Rocha, Jos Delgado, Fernando Gonalves, Felix Fis-cher, Aldir Passarinho Junior, Gilson Dipp, Eliana Calmon,

    Paulo Gallotti, Francisco Falco e Luiz Fux votaram com o

    Sr. Ministro Relator.

    O Exmo. Sr. ministro Teori Albino Zavascki, relator do referido pro-

    cesso, entendeu que:

    1.O dispositivo acoimado de inconstitucional o artigo 45 daLei 8.212, de 1991, que estabelece em dez anos o prazo para

    que a Seguridade Social exera seu direito de apurar e consti-

    tuir seus crditos, verbis:

    Art. 45. O direito da Seguridade Social apurar e constituir seus

    crditos extingue-se aps 10 (dez) anos contados:

    I do primeiro dia do exerccio seguinte quele em que o cr-

    dito poderia ter sido constitudo;II da data em que se tornar denitiva a deciso que houver

    anulado, por vcio formal, a constituio de crdito anterior-

    mente efetuada.

    O voto que proferi suscitando o incidente de inconstitucionali-

    dade, acolhido por unanimidade pela 1 Turma, teve a seguinte

    fundamentao:

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    43/160

    43Revista Jurdica da CNM

    Mantenho o entendimento da deciso agravada, j que o art.

    45, acima transcrito, padece de insupervel inconstitucionali-

    dade formal. Com efeito, no regime da Constituio de 1988,as contribuies sociais, entre as quais as destinadas a nanciar

    a seguridade social (CF, art. 195), tm natureza tributria. A

    doutrina, praticamente unnime nesse sentido (Geraldo Ataliba,

    Hiptese de Incidncia Tributria, Malheiros, 1996, pg. 116;

    Ives Gandra da Silva Martins, As Contribuies no Sistema

    Tributrio Brasileiro, coord. Hugo de Brito Machado, Dia-

    ltica, 2003, pg. 339; Wagner Balera, As Contribuies no

    Sistema Tributrio Brasileiro, coord. Hugo de Brito Machado,

    Dialtica, 2003, pg. 563; Hugo de Brito Machado, Curso de

    Direito Tributrio, 18 ed., Malheiros, 2000, pg. 339; Roque

    Antonio Carazza, Curso de Direito Constitucional Tributrio,

    19 ed., Malheiros, 2003, pg. 461; Jos Eduardo Soares de

    Melo, Contribuies Sociais no Sistema Tributrio, 3 ed.,

    Malheiros, 2000, pg. 72), ganhou a chancela da jurisprudncia,

    inclusive a do Supremo Tribunal Federal. Veja-se:

    CONTRIBUIO SOCIAL SOBRE O LUCRO DAS PES-SOAS JURDICAS. LEI 7.68988. No inconstitucional a

    instituio da contribuio social sobre o lucro das pessoas

    jurdicas, cuja natureza tributria. Constitucionalidade dos

    artigos 1o, 2oe 3oda Lei 7.68988. Refutao dos diferentes ar-

    gumentos com que se pretende sustentar a inconstitucionalida-

    de desses dispositivos legais. [...]. (RE 146733-6SP, Tribunal

    Pleno, Min. Moreira Alves, DJ de 06111992)

    Imunidade tributria. Contribuies para o nanciamento daseguridade social. Sua natureza jurdica. Sendo as contribuies

    para o FINSOCIAL modalidade de tributo que no se enquadra

    na de imposto, segundo o entendimento desta Corte em face do

    sistema tributrio da atual Constituio, no esto elas abran-

    gidas pela imunidade tributria prevista no artigo 150, VI, d,

    dessa Carta Magna, porquanto tal imunidade s diz respeito a

    impostos. Dessa orientao divergiu o acrdo recorrido. Re-

    curso extraordinrio conhecido e provido. (RE 141715-3PE,

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    44/160

    44 Revista Jurdica da CNM

    1 T., Min. Moreira Alves, DJ 25.08.95)

    AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMEN-

    TO. CONTRIBUIO SOCIAL INSTITUDA PELA LEI

    COMPLEMENTAR No7091. EMPRESA DE MINERAO.

    ISENO. IMPROCEDNCIA. DEFICINCIA NO TRAS-

    LADO. SMULA 288. AGRAVO IMPROVIDO. 1. As con-

    tribuies sociais da seguridade social previstas no art. 195 da

    Constituio Federal que foram includas no captulo do Siste-

    ma Tributrio Nacional, podero ser exigidas aps decorridos

    noventa dias da data da publicao da lei que as houver institu-do ou modicado, no se lhes aplicando o disposto no art. 150,

    III, b, do Sistema Tributrio, posto que excludas do regime

    dos tributos. 2. Sendo as contribuies sociais modalidades de

    tributo que no se enquadram na de imposto, e por isso no es-

    to elas abrangidas pela limitao constitucional inserta no art.

    155, 3o, da Constituio Federal. 3. Decincia no traslado.

    A ausncia da certido de publicao do aresto recorrido. Pea

    essencial para se aferir a tempestividade do recurso interposto

    e inadmitido. Incidncia da Smula 288.Agravo regimental improvido. (AI 174540 AgRAP, 2 T.,

    Min. Maurcio Corra, DJ 26.04.96).

    Ao votar no RE 146733-6SP, o min. Moreira Alves, relator, observou:

    Sendo, pois, a contribuio instituda pela Lei 7.68988 verda-

    deiramente contribuio social destinada ao nanciamento da

    seguridade social, com base no inciso I do artigo 195 da CartaMagna, segue-se a questo de saber se essa contribuio tem,

    ou no, natureza tributria em face dos textos constitucionais

    em vigor. Perante a Constituio de 1988, no tenho dvida

    em manifestar-me armativamente.

    Pois bem, afirmada a natureza tributria da contribuio social, est

    ela, inquestionavelmente, sujeita ao que dispe o art. 146, III, b, da CF:

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    45/160

    45Revista Jurdica da CNM

    Art. 146. Cabe lei complementar:

    [...]III estabelecer normas gerais em matria de legislao

    tributria, especialmente sobre:[...]

    b) obrigao, lanamento, crdito, prescrio e decadncia

    tributrios.

    No h dvida, portanto, que a matria disciplinada no artigo 45

    da Lei 8.21291 (bem como no seu artigo 46, que aqui no est

    em causa) somente poderia ser tratada por lei complementar, e

    no por lei ordinria, como o foi. Poder-se-ia argumentar queo dispositivo no tratou de normas gerais sobre decadncia,

    j que simplesmente estabeleceu um prazo. o que defende

    Roque Antonio Carazza (Curso de Direito Constitucional Tri-

    butrio, 19 ed., Malheiros, 2003, pginas 816817), para quem

    a lei complementar, ao regular a prescrio e a decadncia tri-

    butrias, dever limitar-se a apontar diretrizes e regras gerais.

    No poder, por um lado, abolir os institutos em tela (que fo-

    ram expressamente mencionados na Carta Suprema) nem, por

    outro, descer a detalhes, atropelando a autonomia das pessoaspolticas tributantes [...]No dado, porm, a esta mesma lei

    complementar entrar na chamada economia interna, vale

    dizer, nos assuntos de peculiar interesse das pessoas polticas

    [...] Eis por que, segundo pensamos, a xao dos prazos pres-

    cricionais e decadenciais dependem de lei da prpria entidade

    tributante. No de lei complementar. Nesse sentido, os arts. 173

    e 174 do Cdigo Tributrio Nacional, enquanto xam prazos

    decadenciais e prescricionais, tratam de matria reservada

    lei ordinria de cada pessoa poltica. Portanto, nada impede

    que uma lei ordinria federal xe novos prazos prescricionais

    e decadenciais para um tipo de tributo federal. No caso, para

    as contribuies previdencirias.

    Acolher esse argumento, todavia, importa, na prtica, retirar

    a prpria substncia do preceito constitucional. que estabe-

    lecer normas gerais [...] sobre [...] prescrio e decadncia

    signica, necessariamente, dispor sobre prazos, nada mais. Se,

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    46/160

    46 Revista Jurdica da CNM

    conforme se reconhece, a abolio desses institutos no vivel

    nem mesmo por lei complementar, outra matria no poderia

    estar contida nessa clusula constitucional que no a relativa aprazos (seu perodo e suas causas suspensivas e interruptivas).

    Tem-se presente, portanto, no artigo 45 da Lei 8.212, de 1991,

    inconstitucionalidade formal por ofensa ao art. 146, III, b, da

    Carta Magna. Sendo inconstitucional, o dispositivo no operou

    a revogao da legislao anterior, nomeadamente os artigos

    150, 4oe 173 do Cdigo Tributrio Nacional, que xam em

    cinco anos o prazo de decadncia para o lanamento de tributos.

    2.Ante o exposto, acolho o incidente para reconhecer a incons-

    titucionalidade do artigo 45 da Lei 8.21291. o voto.

    O Exmo. Sr. ministro Francisco Peanha Martins entendeu que:

    [...] de clareza absoluta o texto constitucional. Prescrio

    matria que s pode ser tratada em lei complementar. Alis oSupremo Tribunal Federal est examinando a questo relativa

    incidncia da Cons sobre prossionais liberais porque, nesse

    caso, a lei ordinria no poderia ampliar o rol dos contribuintes.

    Parece-me que a deciso j estaria com seis votos favorveis

    dizendo-se que a matria de competncia da lei complementar.

    Acompanho o nobre Ministro Relator, acolhendo o incidente para

    reconhecer a inconstitucionalidade do art. 45 da Lei no8.21291.

    3. DA SMULA VINCULANTE No8 STF

    O STF editou a Smula Vinculante no8 do STF que determinou:

    SMULA VINCULANTE No8

    So inconstitucionais o pargrafo nico do artigo 5odo Decreto-

    -Lei no1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei no8.212/1991,que tratam de prescrio e decadncia de crdito tributrio.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    47/160

    47Revista Jurdica da CNM

    Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram no dia

    12 de junho de 2008 modular os efeitos da declarao de inconstitucionalida-de dos dispositivos que tratam dos prazos de prescrio e decadncia em ma-

    tria tributria. Por maioria de votos, o Plenrio decidiu que a Fazenda Pbli-

    ca no pode exigir as contribuies sociais com o aproveitamento dos prazos

    de 10 anos previstos nos dispositivos declarados inconstitucionais, na sesso

    plenria. A restrio vale tanto para crditos j ajuizados, como no caso de cr-

    ditos que ainda no so objeto de execuo fiscal. Nesse ponto, a deciso teve

    eficcia retroativa, ou seja, a partir da edio da lei.Ao negar provimento aos Recursos Extraordinrios (REs) 556664,

    559882, 559943 e 560626, na quarta-feira, o Plenrio reconheceu que apenas

    lei complementar pode dispor sobre normas gerais em matria tributria. No

    caso, foram considerados inconstitucionais os arts. 45 e 46 da Lei Ordinria

    no8.212/1991, que haviam fixado em dez anos os prazos decadencial e pres-

    cricional das contribuies da seguridade social e tambm reconheceram a in-

    compatibilidade constitucional do pargrafo nico do art. 5odo Decreto-Lei no1.569/1977. Esse dispositivo determinava que o arquivamento administrativo

    das execues fiscais de crditos tributrios de pequeno valor seria causa de

    suspenso do curso do prazo prescricional.

    Repetindo entendimento j esposado em julgamentos recentes, tan-

    to da prpria Corte quanto do Superior Tribunal de Justia, o STF declarou

    inconstitucional o dispositivo contido no art. 45 da Lei no8.212/1991, que es-

    tipula terem os rgos arrecadadores, sob pena de decadncia, dez anos pa-ra apurar e constituir, mediante lanamento, os crditos relativos s contribui-

    es de Seguridade Social. O mesmo tratamento foi dispensado ao art. 46 do

    mesmo diploma legal, que preceitua igual prazo, desta feita de natureza pres-

    cricional, para que o Fisco execute judicialmente os crditos previdencirios

    formalmente constitudos.

    Restou sumulado, portanto, que a Lei no8.212/1991 no poderia, em

    decorrncia de sua natureza de Lei Ordinria, suplantar os prazos quinquenais

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    48/160

    48 Revista Jurdica da CNM

    de decadncia e de prescrio do Cdigo Tributrio Nacional, previstos, res-

    pectivamente, em seus arts. 173 e 174.Decorre disso, nos termos do art. 146, inciso III, b, da Constituio

    Federal, que os prazos de decadncia e de prescrio a elas relativos s pode-

    riam ser definidos, pela Unio, mediante a promulgao de Lei Complementar

    e, jamais, por meio de mera Lei Ordinria. Os art. 45 e 46 da Lei no8.212/1991,

    portanto, padecem de flagrante inconstitucionalidade formal, na medida em

    que dispem sobre matria reservada espcie de ato normativo diversa.

    O prazo decadencial para o lanamento de crditos relativos s con-tribuies de Seguridade Social, assim, de cinco anos, tal qual qualquer esp-

    cie de crdito tributrio. No mesmo diapaso, depois de realizado o lanamento

    por qualquer forma abre-se ao rgo arrecadador o interregno equivalente

    a um quinqunio para a inscrio na Dvida Ativa da Unio e a posterior pro-

    moo da execuo fiscal.

    A nova orientao, que, antes de se encontrar consubstanciada na s-

    mula vinculante recm-elaborada, j havia sido esposada pelos tribunais supe-riores em julgados esparsos, encontra enorme resistncia do INSS, que persis-

    te na propositura de execues fiscais e no lanamento de dbitos relativos a

    perodos que superam o prazo decadencial e prescricional do CTN.

    4. CONCLUSO

    A Smula Vinculante no8 determinou que a Lei no8.212/1991 no

    poderia definir prazos de decadncia e de prescrio diversos daqueles pre-

    vistos no Cdigo Tributrio Nacional, previstos, respectivamente, em seus

    art. 173 e 174.

    Compete ao governo federal, Receita Federal do Brasil e ao INSS

    cumprir o comando vinculante do STF, sob pena de violao direta de nor-

    ma judicial.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    49/160

    49Revista Jurdica da CNM

    REFERNCIAS

    CARRAZA, Roque. Curso de Direito Constitucional Tributrio, 19aed. So

    Paulo: Malheiros, 2003.

    PAULSEN, Leandro.Direito Tributrio. Porto Alegre: Livraria dos Advoga-

    dos, 2009.

    COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributrio Brasileiro.

    Rio de Janeiro: Forense, 2009.

    MACHADO, Hugo de Brito. Decadncia e Prescrio Relativamente s Contri-

    buies de Seguridade Social.Repertrio IOB Jurisprudncia1998 verbete 11.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    50/160

    50 Revista Jurdica da CNM

    LEI DE ACESSO S INFORMAESPBLICAS

    Elena Pacita Lois Garrido1

    RESUMO:O presente artigo tem como objetivo informar, luz de

    uma viso de cidado comum, as regras que a Lei de Acesso Informao pre-

    tende instituir. Nessa avaliao, o que se pretende demonstrar a importncia

    do acesso informao por parte de qualquer brasileiro, para a democracia, ao

    mesmo tempo em que no se deixa de considerar a obrigatria mudana que

    ter de ser operada na forma e na conceituao da prestao do servio pbli-

    co no Brasil. Por outro lado, conclumos pela necessidade da criao de um

    novo servio em todos os entes pblicos municipais e a habilitao, o treina-mento e a atualizao de servidores para o atendimento desta nova obrigao.

    Palavras-chave:acesso, servio pblico e cidadania.

    1 Diretora Jurdica da Confederao Nacional de Municpios. Especialista em Gesto Estratgica Municipal.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    51/160

    51Revista Jurdica da CNM

    1. INTRODUO

    A Lei no12.527, de 18 de novembro de 2011, institui um novo regi-

    me de gerenciamento, divulgao e acesso s informaes pblicas no Brasil.

    Estabelece um conjunto de regras que norteiam o tratamento, a guar-

    da e a classificao das informaes pessoais e sob sigilo e determina o livre

    acesso a todas as informaes no classificadas como tal, de forma a possibi-

    litar ao cidado em geral o conhecimento pleno das prticas administrativas

    nas entidades pblicas dos trs poderes, de todos os nveis de governo, assimcomo em todos os rgos de controle e ainda nas autarquias, fundaes pbli-

    cas, empresas pblicas, sociedades de economia mista e entidades controladas

    direta ou indiretamente por qualquer ente da federao.

    Esta lei impe, tambm, este mesmo regime s entidades privadas

    sem fins lucrativos que recebam recursos pblicos para a realizao de aes

    de interesse pblico.

    Em um conjunto de seis captulos e quarenta e sete artigos, a lei pre-tende regrar inteiramente os procedimentos a serem adotados para que o cidado

    brasileiro possa ter acesso integral a todas as aes dos gestores da res pblica.

    2. CENRIO

    No prestar informaes que so pblicas decorre do no quererinformar ou do no ter para informar ou ainda do no saber como informar?

    Avanada em relao ao que feito na maioria dos pases, a lei bra-

    sileira quer alcanar um patamar de eficincia que somente agora e, aos pou-

    cos, comeamos a perseguir.

    O cenrio o mesmo da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Jo-

    ga-se a obrigao e adapta-se quem puder, pois certamente no poder ser pa-

    ra quem quiser.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    52/160

    52 Revista Jurdica da CNM

    A Lei no12.527/2011 chega e estar vigendo antes da plena imple-

    mentao da Lei Complementar no

    131/2009, que ampliou a transparncia in-troduzida pela Lei Complementar no101/2000.

    A produo legislativa prdiga, e os compromissos que os entes

    so compelidos a assumir tambm, e o descumprimento ainda maior para os

    detentores do Poder, menos para aqueles que, desprovidos de recursos mate-

    riais, fsicos e humanos, so responsabilizados por tudo.

    Quando da implantao da Lei Complementar no101 de 2000, conhe-

    cida como Lei de Responsabilidade Fiscal, no texto legal, mais precisamenteno art. 64, a Unio comprometeu-se a prestar assistncia tcnica e cooperao

    financeira aos Municpios para a modernizao das respectivas administraes

    tributria, financeira, patrimonial e previdenciria, visando ao cumprimento

    das obrigaes institudas por meio da Lei de Finanas Pblicas.2

    Nos pargrafos primeiro e segundo do citado artigo, a lei especifica-

    va no que consistiriam esses auxlios, afirmando que a assistncia tcnica ocor-

    reria na forma de treinamento e desenvolvimento de recursos humanos e, ain-da, na transferncia de tecnologia e apoio divulgao dos relatrios em meio

    eletrnico de amplo acesso pblico. A cooperao financeira compreenderia a

    doao de bens e valores, o financiamento por meio das instituies financei-

    ras federais e o repasse de recursos oriundos de operaes financeiras externas.

    Sabemos todos que nada disso ocorreu e que os tmidos auxlios al-

    canados o foram por meio de financiamentos inacessveis esmagadora maio-

    ria dos Municpios brasileiros.

    2 LC no101/2000 Art. 64 A Unio prestar assistncia tcnica e cooperao financeira aos Municpiospara a modernizao das respectivas administraes tributria, financeira, patrimonial e previdenciria, com vistas aocumprimento das normas desta Lei Complementar.

    1oA assistncia tcnica consistir no treinamento e desenvolvimento de recursos humanos e na transferncia detecnologia, bem como no apoio divulgao dos instrumentos de que trata o art.48 em meio eletrnico de amploacesso pblico.

    2o

    A cooperao financeira compreender a doao de bens e valores, o financiamento por intermdio das institui-es financeiras federais e o repasse de recursos oriundos de operaes externas.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    53/160

    53Revista Jurdica da CNM

    Doao de bens e valores desconhecemos.

    Em decorrncia da omisso comprometida, os pequenos Municpios,que so muitos, ainda esto implantando estruturas extremamente simples, sem

    mo de obra qualificada e dependente, em sua maioria, dos sistemas que os

    Tribunais de Contas disponibilizam por conta das funes de controle externo.

    A transparncia, importante e desejada, fica muito aqum das ex-

    pectativas em decorrncia dessas estruturas precrias de tecnologia da infor-

    mao, embora os Municpios e seus gestores estejam fazendo o mximo pa-

    ra atender ao preconizado pela legislao.Se afirmarmos que os Municpios no esto preparados e no tm,

    neste momento, condies de atender s exigncias da lei que passa a viger

    em 18 de maio do ano corrente, muitos vo entender que mais uma tentativa

    de omitir da populao os dados a que ela tem direito. No entanto, sabemos

    todos e sabem, tambm, o governo e o Poder Legislativo federal, que mais de

    3.500 Municpios brasileiros no tm a mnima condio de oferecer ao povo

    o acesso s informaes pblicas na forma como preconizam os textos legais,tanto que, no pargrafo 4odo artigo 8o, o legislador dispensa os Municpios

    com menos de dez mil habitantes a realizarem a obrigatria divulgao na In-

    ternet de alguns itens exigidos pela Lei, mantendo apenas a obrigao, que j

    no pequena, de divulgar em tempo real a execuo oramentria.

    Os Municpios no esto preparados para atender Lei Complemen-

    tar no131/2009,3para cumprir com as normas da nova contabilidade pblica, e

    no tm condies de atender lei de acesso a informao pblica, como ain-da no conseguem atender plenamente a LRF. No por descaso de seus gesto-

    res, mas por falta de tecnologia ao seu alcance, de treinamento de seus servi-

    dores, de escolas de formao para as prticas bsicas de gesto pblica, por

    3 LC no131, de 27 de maio de 2009, acrescenta dispositivos Lei Complementar no1o, de 4 de maio de 2000,que estabelece normas de finanas pblicas voltadas para a responsabilidade na gesto fiscal e d outras providncias,

    a fim de determinar a disponibilizao, em tempo real, de informaes pormenorizadas sobre a execuo oramentriae financeira da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    54/160

    54 Revista Jurdica da CNM

    precariedade de servios pblicos indispensveis ao pleno atendimento daqui-

    lo que apregoado pelos textos legais.Portanto, embora meritrio o propsito legal, mais uma vez est sen-

    do vendida populao uma iluso inexequvel na sua plenitude e que, como

    sempre, onerar o errio municipal, diminuindo o atendimento s necessida-

    des mais prementes da populao.

    muito bem-vinda a Lei de Acesso a Informaes Pblicas, mas

    indispensvel que, com ela, sejam oferecidas solues e recursos materiais, f-

    sicos e humanos capazes de efetivamente permitir o atendimento do que a Leipretende oferecer ao contribuinte.

    indiscutvel a urgncia em providncias para estancar a sangria aos

    recursos pblicos e garantir o controle efetivo do povo sobre os gastos pbli-

    cos, no entanto, sem educao e sem meios disponveis de acesso populao,

    a Lei ser mais uma pea decorativa, inexecutada, inqua ou cobrada apenas

    daqueles que no tm meios de cumpri-la, os prefeitos.

    3. ALCANCE

    Saudar a edio da Lei como o instrumento que vai barrar a corrup-

    o no Pas ludibriar a opinio pblica, fazer propaganda enganosa e mais

    uma vez mentir para o cidado brasileiro, acenando com uma via de soluo

    que no vai solucionar coisa alguma.Devemos saud-la, isso sim, como o incio de uma caminhada edu-

    cativa, pedaggica, formadora de hbitos na populao que aprimorem os ins-

    trumentos de controle e de combate corrupo.

    O passo inicial a ser desenvolvido a mudana cultural dos servidores

    pblicos e dos agentes polticos que mantm uma viso errada do que pbli-

    co, fato, alis, que tambm est presente na conscincia do cidado em geral.

    O pblico no Brasil tido como aquilo que de algum que no sou

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    55/160

    55Revista Jurdica da CNM

    eu. O que pblico pode ser usado de qualquer forma, pode ser danificado,

    pode ser destrudo, pode ser desperdiado, pois no MEU!Pesquisa realizada pela Controladoria-Geral da Unio aponta o en-

    tendimento errado dos servidores pblicos em geral quanto ao direito de aces-

    so a informaes de que o cidado detentor. Os servidores no sabem que

    todas as informaes pblicas so direito de qualquer cidado, eles entendem

    que o direito de acesso se restringe ao interesse do requerente.

    Logo, evidente que o primeiro passo para a vigncia da lei a cons-

    cientizao e o treinamento do servidor pblico.A lei determina a obrigao de todos os rgos pblicos criarem um

    servio de informaes ao cidado e estabelece que o fornecimento dos dados

    seja gratuito. Nesses servios, os cidados recebero orientaes sobre os pro-

    cedimentos a serem adotados para requerer a informao desejada.

    A Lei no12.527,4de 18 de novembro de 2011, que passa a vigorar a

    partir de 18 de maio do ano corrente, dispe sobre os procedimentos a serem

    adotados pela Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios para garantir osdireitos previstos nos inciso XXXIII do art. 5o,5no inciso II6do 3odo art. 37

    e no 2odo art. 216 da Constituio da Repblica.

    As regras por ela institudas obrigam os rgos da administrao di-

    reta dos Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio, incluindo-se os Tribu-

    nais de Contas e o Ministrio Pblico, alm das autarquias, das fundaes p-

    blicas, das empresas pblicas, das sociedades de economia mista e todas as

    4 Lei no12.527, de 18 de novembro de 2011, regula o acesso a informaes previsto no inciso XXXIII do art.5o, no inciso II, do 3o, do art. 37, e no 2odo art. 216 da Constituio Federal; altera a Lei no8.112, de 11 de dezembrode 1990; revoga a Lei no11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no8.159, de 8 de janeiro de 1991; e d ou-tras providncias.

    5 Constituio Federal de 1988 art. 5oXXXIII todos tm direito a receber dos rgos pblicos informa-es de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena deresponsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado.

    6 Constituio da Repblica de 1988, 3odo art. 37 A lei disciplinar as formas de participao do usurio

    na administrao pblica direta e indireta, regulando especialmente: II o acesso dos usurios a registros administra-tivos e a informaes sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5o, X e XXXIII.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    56/160

    56 Revista Jurdica da CNM

    entidades controladas direta ou indiretamente pelos entes que formam a Fe-

    derao brasileira.So responsveis tambm pelo atendimento ao disposto na Lei no

    12.527/2011 as entidades privadas sem fins lucrativos que recebam, por meio

    de subvenes sociais, contrato de gesto, termo de parceria, convnios, acor-

    dos, ajustes ou outros instrumentos congneres, recursos pblicos ou ainda di-

    retamente do oramento, para o desenvolvimento de aes de interesse pblico.

    O atendimento ao direito fundamental de acesso informao passa

    obrigatoriamente pelo cumprimento dos princpios fundamentais da adminis-trao pblica e, tambm, pela observncia da publicidade como preceito ge-

    ral e o sigilo como exceo; da divulgao das informaes de interesse pbli-

    co, independentemente de solicitaes; da utilizao de meios de comunicao

    viabilizados pela tecnologia da informao; pelo fomento ao desenvolvimen-

    to da cultura de transparncia na gesto dos bens pblicos e pelo desenvolvi-

    mento sempre maior do controle social sobre os atos da administrao pblica.

    O desenvolvimento de uma cultura de transparncia vem sendo pra-ticado desde 2000, quando a LRF exige que a administrao divulgue em meio

    eletrnico todos os relatrios e se amplia no momento em que os gestores pas-

    sam a ter a obrigao de realizar a execuo oramentria on-line, em tempo

    real, de forma a ser acompanhada pelo contribuinte. At 27 de maio de 2013,

    todos os entes pblicos do Brasil devero adotar este procedimento.

    No art. 4o, a lei de acesso s informaes pblicas define os itens que

    podero ser solicitados ou fornecidos e, de forma muito precisa, estabelece oque informao sigilosa, dizendo ser aquela submetida temporariamente

    restrio de acesso pblico em razo de sua imprescindibilidade para a segu-

    rana da sociedade e do Estado.

    Portanto, fundamental nos preparar para o exerccio de uma transpa-

    rncia real, sem restries e sem questionamentos sobre poder ou no atender.

  • 7/21/2019 Revista Jurdica (2012)

    57/160

    57Revista Jurdica da CNM

    4. CONDIES DE EXECUO

    A lei muito clara ao determinar que dever do Estado garantir o di-

    reito de acesso informao, que ser franqueada, mediante procedimentos obje-

    tivos e geis, de forma transparente, clara e em linguagem de fcil compreenso.

    da responsabilidade do Poder Pblico, por meio de suas entidades

    e rgos de atuao, assegurar a transparncia das informaes, proporcionan-

    do o amplo acesso, valendo-se, portanto, de todos os instrumentos e ferramen-

    tas de informao, com maior capilaridade, para, por meio deles, divulgar su-as prticas administrativas, de forma que todo cidado possa acompanhar, se

    o desejar, a ao governamental, seja ela relativa a atos administrativos, aqui-

    sio de bens, pagamento de seus servidores ou execuo de seus oramentos.

    Tambm da responsabilidade do poder pblico e de seus agentes

    a proteo da informao, assegurando sua autenticidade, integridade e dis-

    ponibilidade.

    H de preocupar-se, o ente, com o treinamento e a habilitao dosservidores que atuaro no servio de informao ao cidado, pois estes, alm

    de terem a necessidade de conhecer com profundidade o que a lei preconiza,

    precisam ter discernimento para trabalhar conceitos como informao sigilo-

    sa7e informao pessoal8, reconhecendo os momentos de restrio ao acesso.

    Percebe-se, de imediato, que o atendimento s regras da lei esbar-

    rar