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Arroz para novos pagos Produtores gaúchos fecham 2015 celebrando a abertura de mercados internacionais para a venda do grão Páginas 23 a 27 LAVOURA Volume 63 / Nº 465 / Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Revista Lavoura Arrozeira 365

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Revista Lavoura Arrozeira - edição 365 - Revista do Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga). Produção editorial: Padrinho Agência de Conteúdo

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Arroz para novos pagos

Produtores gaúchos fecham 2015 celebrando a abertura de mercados

internacionais para a venda do grão

Páginas 23 a 27

L A V O U R AVolume 63 / Nº 465 / Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Um alimento cheio de sabor e saúde.

3Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

EDITORIAL

A o encerrar-se, 2015 deixa para o produtor arrozeiro gaúcho a marca de um ano

de muito trabalho, mas igualmente com intempéries. Somado a um cenário econômico nacional um tanto desfavorável, com taxas negativas de crescimento, há de se considerar ainda o impacto de fenômenos climáticos no cenário de produtividade.

Principalmente devido às tempestades e aos fenômenos naturais extremos registrados em outubro e no início de novembro, projeta-se uma retração da ordem de 10% para a próxima colheita. Conforme as informações de campo do Irga, pouco mais de 45% da área estava plantada até o final da primeira semana de novembro, data-limite para um ciclo de alta produtividade.

Para efeito de comparação, na safra de 2010/2011 este número alcançava 92% em período semelhante.

Com este atraso, mais de 50% da área estará em florescimento no mês de março, época de menor radiação solar e com risco de frentes frias (baixas temperaturas). As regiões mais afetadas foram as planícies costeiras Interna e Externa e a Depressão Central.

Atento à saúde financeira dos produtores gaúchos, o Irga mobilizou-se para atenuar possíveis efeitos de uma

safra abaixo do ideal. Uma das ações consiste na negociação, junto ao governo federal, da ampliação do calendário de plantio de algumas cultivares – o que é importantíssimo para a garantia da cobertura de seguro.

Outro ponto importante está no manejo adequado de adubos e fertilizantes, já que o plantio fora de época acarreta, conforme dito, uma produtividade abaixo do ideal. E investir em insumos nesta situação pode comprometer o custo-benefício.

Bons exemplos podem ser seguidos para prosperar

Apesar do cenário um pouco desfavorável, não se pode fazer terra arrasada diante do quadro. O Irga lembra que, em 2014/2015, mesmo com atraso no plantio, chegou-se a um bom resultado porque o sol transformou-se em aliado – já que o dito lembra que “água no pé e sol na cabeça” são aliados do arroz.

Também há de se levar em consideração que planejamento e trabalho, mesmo em tempos de instabilidade, dão ao arrozeiro a chance de prosperar. Que os seis casos de sucesso mostrados a partir da página 30 inspirem a todos para um 2016 de sucesso.

Boas festas!

Foto do leitor 4Homenagem 5Eleição do Conselho 6Interatividade 8Selo ambiental 9Arroz orgânico 10Artigo técnico 13Semeadura 16Soja 6000 18Artigo técnico 21Reportagem de capa 23Programa Arroz na Bolsa 28Gestão na propriedade 30

Recursos hídricos 36Minicenso 38Cerveja de arroz 41Artigo técnico 46Planejamento 49Programação do Irga 50Expointer e eventos 51Calendário 54Há 50 anos 55Controle de pragas 56Pelos Nates 58Artigo técnico 60

Sumário – Lavoura Arrozeira Edição 465

Projeção de safra

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www.irga.rs.gov.br/assineÉ permitida a reprodução de reportagens,

desde que citada a fonte. Os artigos assinados não refletem, obrigatoriamente, a opinião da revista.

A revista Lavoura Arrozeira é uma publicação do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga)Av. Missões, 342 - Porto Alegre (RS) - BrasilCEP 90230-100 / Fone +55 (51) 3288-0400www.irga.rs.gov.brwww.facebook.com/IrgaRS - @IrgaRSISSN: 0023-9143

............................................................................Governador do Estado: José Ivo SartoriVice-governador: José Paulo CairoliSecretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação: Ernani PoloPresidente do Irga: Guinter FrantzDiretor Comercial: Tiago Sarmento BarataDiretor Técnico: Maurício Miguel FischerDiretor Administrativo: Renato da RochaChefe de gabinete: Janice Garcia MachadoAssessoria de comunicação: Luciara Schneid, Sérgio Pereira, Caroline Freitas e Raquel Flores.

......................................................................Revista Lavoura ArrozeiraCoordenação:Luciara Schneid - MTB 7.540Produção e execução:Padrinho Agência de ConteúdoEdição: Carlos Guilherme Ferreira - MTB 11.161Comitê Editorial:Tiago Barata, Maurício Fischer, Luciara Schneid, Rodrigo Schoenfeld, Sérgio Silva, Gilberto Amato, Tânia Nahra, Athos Gadea, Janice Machado e Carlos Guilherme Ferreira.Capa: foto Marcus Maciel / EspecialImpressão:Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (Corag)Tiragem: 8 mil exemplares

......................................................................Atendimento ao leitor:[email protected](51) 3288.0455

......................................................................

L A V O U R A

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

FOTO DO LEITOR

imagens arrozeirasUm olhar especial para

Quem lê a Lavoura Arrozeira sabe que abrimos espaço para as belas imagens enviadas por nossos leitores. São retratos captados com o olhar de quem vive o cotidiano arrozeiro.

Confira as quatro melhores imagens desta edição, escolhidas via Facebook do Irga.

4

Foto de Frederico Menezes - Camaquã - 83 curtidas

Foto de Lúcia de Toledo Buss - Maçambará - 84 curtidas

Foto de Lúcia de Toledo Buss - Maçambará - 100 curtidas

Foto de Lúcia de Toledo Buss - Maçambará - 121 curtidas

5Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

HOMENAGEM

Em 21 de agosto, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) perdeu uma de suas figuras históricas, o ex-

presidente Ararê Vargas Fortes. Ele faleceu aos 84 anos no hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, vítima de complicações pulmonares que vinha enfrentado havia cerca de três meses.

Ararê começou sua ligação com o arroz como produtor em Rosário do Sul, cidade que o elegeu conselheiro do Irga em 1970 e depois para outro mandato de três anos em 1973. Durante este segundo período, em 1974, Ararê ingressou no Irga como diretor-administrativo. De 1979 a 1983 ocupou a presidência da entidade.

Secretária de gabinete do Irga desde os anos 1970, Maria da Graça Rosa lembra que Ararê era uma pessoa muita séria no trato profissional. Porém, ela diz que, mesmo sendo rígido, era muito estimado entre os funcionários da entidade.

Amigo de Ararê, o ex-servidor aposentado do Irga Pascoal Ianni complementa que o ex-presidente era uma “pessoa muito afável”.

– Gostava de conversar com todo mundo – diz Ianni, que manteve o contato com Ararê após ambos deixarem o Irga.

Ianni recorda que outro traço marcante da personalidade de Ararê é que ele estava sempre buscando inovar.

– Ele tinha uma juventude de ver as coisas sempre à frente. Estava sempre buscando alguma coisa para que ele pudesse ajudar a implementar – diz Ianni, que começou a trabalhar no Irga, ainda como estagiário, no final da década de 1970, época em que conheceu o amigo. – Ele, com 80 anos, até um pouquinho antes de morrer, não parou de pensar em coisas futuras. Sempre tinha uma coisa que ele criava, que ele queria fazer. E assim foi no Irga.

Ianni diz que esse comportamento inovador acompanhou Ararê nos tempos de Irga, quando o ex-presidente estimulou o desenvolvimento de novas variedades de arroz, por exemplo.

Ex-dirigente do Irga morreu aos 84 anos, em Porto Alegre, vítima de complicações pulmonares

Ex-presidente Ararê era dedicado à lavoura

Além disso, lembra que ele sempre lutou para defender os interesses da lavoura, tendo encampado a luta pelo fortalecimento do preço mínimo em sua gestão.

– Ele sempre foi muito dedicado às questões da lavoura, mas nunca deixou de lado o interno do Irga – pontua Ianni.

No site do Irga

Ararê ocupou a presidência de 1979 a 83

IRGA

Magno da Rocha morre aos 88 anos

Foi sepultado na tarde de 10 de novembro o corpo de Magno Soares da Rocha, de 88 anos, ex-integrante do Conselho

Deliberativo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Rocha foi conselheiro eleito pelo município de Charqueadas entre 2006 e 2009 e na gestão 2012-2015, além de suplente em 2009-2012. Também foi funcionário de carreira da autarquia, chegando a ocupar a função de chefe de gabinete no final da década de 1980, durante o governo de Pedro Simon.

Formado em Economia, Magno Rocha nasceu em São Francisco de Paula (RS) em 20 de outubro de 1926. Ele morou boa parte de sua vida na cidade de Cachoeira do Sul (RS), onde foi vereador por dois mandatos, sendo que na legislatura de 31/12/1959 a 30/12/1963 foi o segundo vereador mais votado (PTB), com 791 votos.

Já na eleição de 1968, concorrendo pelo então MDB, foi o oitavo mais votado, alcançando 716 votos. Em novembro de 2008 recebeu da Câmara de Vereadores de Cachoeira do Sul o título de Cidadão Cachoeirense.

Magno deixa a esposa, a professora Angelina Marília Dornelles, nascida em 08/09/1930 e formada em história, e os filhos Caio Tibério da Rocha (titular da Secretaria do Produtor Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Maria de Fátima Rocha Besson e Magda Rocha.

O falecimento ocorreu em 9 de novembro, na cidade de Porto Alegre.

EX-CONSELHEIRO

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CONSELHO DELIBERATIVO

Produtores elegem 82 conselheiros para o triênio

J á está em atuação o novo Conselho Deliberativo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).

Empossados em 18 de agosto, os 82 membros exercem um mandato de três anos (2015-2018) no órgão que, juntamente com a Diretoria Executiva e com a Comissão de Controle, é responsável pela administração da entidade.

A cerimônia de posse, que contou com a participação do secretário estadual da Agricultura e Pecuária, Ernani Polo, foi realizada no auditório da própria sede do Irga em Porto Alegre.

O conselho é composto por: 76 representantes eleitos por produtores rurais registrados no Irga e vinculados aos municípios que produzem pelo menos 200 mil sacos de arroz em casca (50 kg cada); quatro representantes da Indústria e do

Comércio do Arroz; dois representantes das cooperativas arrozeiras. Cada um dos escolhidos tem dois suplentes eleitos.

A partir da escolha dos novos conselheiros, também foram criadas as Regionais Representativas do Conselho Deliberativos seguindo a base geográfica da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural, estabelecida no Organograma do Instituto, que é composta pelas seguintes regiões: Planície Costeira Interna, Planície Costeira Externa, Depressão Central, Zona Sul, Campanha e Fronteira-Oeste.

Além dessas regionais, ainda existem seis comissões permanentes formadas por membros do Conselho que se reúnem para discutir assuntos vinculados à administração do Irga e das lavouras arrozeiras.

Em reunião de conselheiros na 38ª edição da Expointer, no dia 1º

de setembro, foram formadas as composições das comissões de Granizo, Patrimônio, Pesquisa e Extensão, além de Recursos Hídricos e Meio Ambiente. Ficou para ser formada posteriormente a comissão de Mercado e Comercialização, bem como a da Fundação Irga. No mesmo evento, foi realizado um jantar para os membros do Conselho.

Anualmente, o Conselho é convocado para três reuniões ordinárias, uma a cada quadrimestre, com o objetivo principal de aprovar em primeira instância o orçamento, examinar as contas e o relatório da Diretoria Executiva, entre outras atribuições. Contudo, se for necessário avaliar uma pauta em um espaço de tempo menor, os conselheiros também pode ser convocados para reuniões extraordinárias.

Cabe ao Conselho Deliberativo administrar a instituição ao lado dos membros da Diretoria Executiva e da Comissão de Controle

Nominata para 2015-2018 foi empossada no dia 18 de agosto, na sede do Instituto, em Porto Alegre, com a presença de autoridades

ASSESSORIA IRG

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7Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

CONSELHO DELIBERATIVO

Aceguá: Sérgio Echenique LopesAgudo: Auro Reinoldo KirinusAlegrete: Henrique Osório DornellesArambaré: Jorge Longaray JaegerArroio Grande: Carlos Alberto Scotto GomesBagé: Valdir DonichtBarra do Quaraí: Werner ArnsBarra do Ribeiro: Marcelo Eduardo CzapliskiCaçapava do Sul: Sergio Rufino TorresCacequi: André Garcia RossiCamaquã: Solismar Paulo Freitas FonsecaCandelária: Maurício Eduardo BeskowCapão do Leão: Carlos Alberto P. Iribarrem Jr.Capela de Santana: Zenoni KovalskiCapivari do Sul: Fernando Quadros CardosoCharqueadas: Henrique Orlandi JúniorChuí: Luiz Otavio Gomes Da Silva MoraesCristal: José Luiz Jardim AgostiniDilermando de Aguiar: Sérgio Renato Rossi De FreitasDom Pedrito: Gilberto Zambonato RaguzzoniDona Francisca: Renato Celio HoppeEldorado do Sul: Davenir da Silva dos SantosEncruzilhada do Sul: Antônio Carlos Mesquita PereiraFaxinal do Soturno: Zair Roque CerettaFormigueiro: Jocélvio Gonçalves CardosoGeneral Câmara: Daniel Della Nina ReisGlorinha: Maurício Cardoso BarcellosGuaíba: Ivo Lessa Silveira FilhoItaqui: Ronaldo BusattoJaguarão: João Paulo Silveira SilveiraJaguari: Giancarlo SpagnoloMaçambará: Laurindo Osório Azambuja De SouzaManoel Viana: José Luiz RossoMinas do Leão: Sérgio RostMostardas: Alexandre Azevedo VelhoNova Santa Rita: Silvio Luiz da Rosa LopesNovo Cabrais: Nildo Arno RennerOsório: Anfilóquio Emerim MarquesPalmares do Sul: Marcelo Meyer dos SantosPantano Grande: Renaldo Silvio GlasenappParaíso do Sul: Roberto Frederico BlockPedras Altas: Gabriel Mello Souza FernandesPedro Osório: Jair Almeida da SilvaPelotas: Fernando RechsteinerQuaraí: Fernando Correa Osório

Restinga Seca: Paulo Renato PossebonRio Grande: Frederico Bergamaschi CostaRio Pardo: Nelson TatschRosário do Sul: Euzebio PrevedelloSanta Cruz do Sul: Renato Luiz MahlSanta Margarida do Sul: Adriano Aguette SoutoSanta Maria: Robertinho Luiz MeneghettiSanta Vitória do Palmar: Márcio Sanchez da SilveiraSantana do Livramento: José Antônio Tatsch da SilvaSanto Antônio da Patrulha: Jair Francisco B. PeixotoSanto Antônio das Missões: Alberi José PozzebomSão Borja: Jones Dalla PortaSão Francisco de Assis: Francisco Pedro BerguemaierSão Gabriel: Sérgio Augusto Giuliani FilhoSão Jerônimo: Luis Celso Lago de Oliveira FilhoSão João do Polêsine: Marcos Antônio CeraSão José do Norte: Joelma Knak GautérioSão Lourenço do Sul: Paulo Renato Soares de Souza CoelhoSão Pedro do Sul: Marcelo GiulianiSão Sepé: Eulo Juares Ferreira MachadoSão Vicente do Sul: Clanilton Silva SalvadorSentinela do Sul: Mario Dantas Carvalho DiasTapes: Luiz Carlos ChemaleTaquari: Jairo de OliveiraTavares: Flávio José Rodrigues de SouzaTorres: Alfredo Trein LothhammerTriunfo: Tiago AcordiTuruçu: Carlos WeymarUruguaiana: Walter ArnsVenâncio Aires: Clóvis José HanemannViamão: Eugênio de Freitas Bueno

REPRESENTANTES DA INDÚSTRIAE DO COMÉRCIO DE ARROZ

Representante 1: Armando Chaves Garcia de GarciaRepresentante 2: Zélio Wilton HocsmanRepresentante 3: Elio Jorge CoradiniRepresentante 4: Nestor de Moura Jardim Neto

REPRESENTANTES FEARROZ

Representante 1: André Barbosa BarrettoRepresentante 2: Alvaro Lima da Silva

Conselheiros titulares eleitos nos municípios arrozeiros com produção superior a 200 mil sacos de arroz em casca:

Confira a lista dos 82 titulares eleitos

ASSESSORIA IRG

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9Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

SUSTENTABILIDADE

ambiental e uso de tecnologias mais limpas nas suas lavouras, e queiram valorizar o seu produto, o Irga os monitora. Se estão adequados, concede um selo de qualidade – explica o diretor técnico do Irga, Maurício Fischer.

Entre as boas práticas agrícolas necessárias para a obtenção do selo, destacam-se o manejo adequado de água, semeadura na época correta e a utilização de defensivos de forma equilibrada. Contudo, apenas as lavouras que conseguem combinar essas condições com bons níveis de produtividade e com a adequação à legislação trabalhista estão aptas a receber o selo, por isso costuma-se dizer que é uma certificação de sustentabilidade ambiental, econômica e social.

Para Fischer, receber o selo traz uma vantagem competitiva ao produtor de arroz.

– Olhando para o futuro do consumidor, se tu tens um pouco mais de poder aquisitivo, vais querer comprar um produto

que a produção seja mais limpa – avalia.

Fischer explica que a emissão de selos esteve parada nas duas últimas safras em razão das trocas no corpo técnico

da entidade. Segundo ele, grande parte dos novos

técnicos ingressou no Irga nos últimos dois anos, o que fez

com que os novos servidores precisassem passar por treinamento.

Vale salientar que o produtor deve solicitar o Selo Ambiental e se submeter ao monitoramento a cada safra para receber a certificação. Para pleitear na safra 2015/16, os produtores deveriam ter feito a solicitação entre os dias 20 de novembro e 30 de dezembro.

Entre as safras de 2008/09 e 2013/14 (último ano realizado), 121 selos ambientais foram entregues a empreendimentos inscritos junto ao Irga.

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) voltará a emitir nesta safra (2015-16) o Selo Ambiental da

Lavoura de Arroz Irrigado do Rio Grande do Sul, certificação que fora emitida pela última vez na safra 2013-14.

Para conceder o Selo Ambiental a uma lavoura, o Irga leva em conta cinco fatores: produção sustentável, segurança do alimento, proteção ao ambiente, rentabilidade econômica e adequação à legislação.

– Os produtores que estão adequados em relação à legislação ambiental, à legislação trabalhista e que estejam seguindo as práticas de manejo para a redução de impacto

Certificação premia produtores que respeitam normas para reduzir o impacto no meio ambiente

Irga retoma concessão de selo ambiental

Fique atento

5 fatores são essenciais para a concessão do Selo Ambiental:

1 - Produção sustentável

2 - Segurança do alimento

3 - Proteção ao ambiente

4 - Rentabilidade econômica

5 - Adequação à legislação

Prazo de inscriçãoAté 30/12 para a safra 2015/16.

Para a diretoria técnica do Irga, o selo representa uma oportunidade competitiva ao produtor

121selos ambientais

foram emitidos entre as safras de 2008/09

e 2013/14

ASSESSORIA IRG

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Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201510

S eja para complementar a clássica dobradinha com o feijão ou como base

para o tradicional carreteiro no Rio Grande do Sul, o arroz é elemento básico no prato dos brasileiros. O grão teve sua produção aprimorada com o passar dos anos, adaptando-se às mudanças de exigência do consumidor. Não apenas à referente ao paladar, mas também àquela que tem a ver com as predileções do comprador final, cada vez mais preocupado com questões de saúde individual, familiar e de conservação ambiental – cuidado também muito caro a uma parte expressiva de

arrozeiros, como João Batista Volkmann, de Sentinela do Sul (leia à página 12). É dentro deste contexto que o arroz orgânico ganhou mais espaço à mesa.

O cultivo de maneira orgânica foi resgatado nos anos 80, ganhou força na década seguinte e iniciou o processo de popularização a partir de 2000, de acordo com o engenheiro agrônomo André Oliveira, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).

A diferença do arroz comum está no fato de que o orgânico tem o cultivo feito com técnicas alternativas como biofertilização, preparados

biodinâmicos, homeopatias e integração com a pecuária, quando os animais ativam o ambiente com a vivificação proporcionada pela silagem dos nutrientes.

Com isso, além de saudável, tem-se um produto resultante do plantio preocupado com a conservação ambiental, pois a qualidade da agrobiodiversidade é que proporciona o controle de pragas. Some-se aí, também, a questão financeira.

Oliveira estima que um hectare de arroz orgânico seja produzido com custo entre R$ 2 mil e R$ 3 mil. Já a mesma quantidade do grão

‘normal’ deve gerar um gasto em torno de R$ 6 mil. Mesmo sem considerar a melhor remuneração do produtor, que conforme a estratégia traz acréscimo de 20% a 500% em relação ao preço casca do comum.

A popularização também criou uma demanda cada vez maior no mercado nacional. Se há 30 anos boa parte do arroz orgânico era voltado ao Exterior, agora ele é “prato da casa”.

– A população passou a buscar produtos mais saudáveis, gerando um panorama mais atrativo para toda a cadeia produtiva. Médicos receitam o produto para melhorar o funcionamento do aparelho digestivo. Já se pode considerar o consumo interno maior do que o externo – constata Oliveira.

Atenção ao ambiente e à saúde favorece o crescimento de mercado do arroz orgânico, um produto cultivado sem fertilizantes altamente solúveis e agrotóxicos

ARROZ ORGÂNICO

11Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Área cultivada com arroz orgânico no Estado (estimativa safra 2014/15)Agricultor/Entidade Municípios Famílias Hectares

cultivadosHectares

certificadosMercados

João Batista Amadeo Volkmann/ABD/ABDSul

Sentinela do Sul 18 220 570 Nacional, Alemanha, EUA, Australia, Nova Zelândia, Uruguai, Paraguai, Canadá

Juarez Felipe Pereira ABD/ABDSUl

Mariana Pimentel 3 25 16 Feiras e restaurantes

MST/ Coceargs/Cotap Grupo Gestor do arroz ecológico

11 municípios 460 4520 6695 Merenda escolar, pequenos comércios, feiras, Venezuela

CAPA São Lourenço São Lourenço 2 3 10 Feiras, merenda escolar e restaurantes

Amigos do Taim Santa Vitória, S. J do Norte e Rio Grande

10 220 500 Indústria gaúcha (Josapar), feiras

CAPA Santa Cruz Santa Cruz do Sul 2 10 30 Feiras, merenda escolar e restaurantes

Nestor Selau Morrinhos 1 5 15 Indústria catarinense

Faustino S. Cardoso Reg Torres 1 10 _ Indústria catarinense

José Alfredo Vagner Reg Torres 1 10 _ Indústria catarinense e feiras

Maria Scarpari (ACERT) Reg Torres 1 2 _ Feiras

Alcione Augusto Buske Dona Francisca 3 5 60 Feiras de Santa Maria

502 5.003 7.836

Santa Catarina e os litorais de São Paulo e Paraná estão entre os fornecedores de arroz orgânico. À frente desses lugares está o Estado, com um montante estimado superior a 90% da produção nacional, de acordo com pesquisas que ainda devem ser consolidadas. Conforme Oliveira, existe uma área de aproximadamente 8 mil hectares certificada para cultivo no Estado, sendo mais de 5 mil hectares

plantados. Entre as cidades que se destacam estão Viamão, Nova Santa Rita e Manoel Viana.

Porém, o arroz orgânico não deixou de ser produto de exportação, no sentido de que é cada vez mais apreciado pelos quatro cantos do planeta. EUA e Japão estão na vanguarda da tecnologia desse tipo de grão livre de pesticidas:

– São locais onde existe uma grande preocupação com a natureza.

Desde 2012, um encontro mundial para discutir o tema é organizado em países distintos. A primeira edição da Conferência Internacional sobre Sistemas de Produção de Arroz Orgânico (ORP/2012) ocorreu em Montpellier, na França. Já a segunda foi sediada em Pávia, Itália, em setembro de 2015. Foi lá que Oliveira teve uma grata surpresa: a de que o terceiro encontro será no Brasil, provavelmente no Estado, com cidade a definir. A iniciativa foi proposta pela coordenação do evento e por representantes de diversos países e continentes. Conforme Oliveira, é uma excelente oportunidade para trocas de experiências e ampliação de pesquisa.

– É muito interessante perceber o crescimento do interesse por uma alimentação mais saudável e com a eliminação de contaminantes. Além disso, o consumidor está cada vez mais informado e tem ampliado o grau de exigência na escolha com critérios de relação da produção com a conservação ambiental e o respeito ao homem, aos nimais e às condições de trabalho – destaca Oliveira.

FOTO

S LUIZ ÁVILA

João Batista Volkmann, de Sentinela do Sul (no detalhe) é um produtor gaúcho que aposta forte no arroz orgânico

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201512

João Batista Volkmann faz do arroz orgânico não apenas um meio de subsistência, mas uma filosofia de vida. Sentado à sombra de uma figueira provavelmente centenária – como denuncia o largo tronco –, o engenheiro agrônomo conta que a agricultura biodinâmica é um processo surgido em 1924, e que há gerações influencia sua família.

– O maior pagamento de todos é o acolhimento pela sociedade. O carinho para quem produz – orgulha-se João.

À frente da Fazenda Capão Alto das Criúvas, no interior de Sentinela do Sul, o produtor tem motivos para sorrir. Porque arroz orgânico, para ele, também significa prosperidade. Ou qual seria a explicação para a

produção em terra própria e em outras duas arrendadas, com área total cultivada de 240 hectares e uma equipe de funcionários? Sem contar que o custo de produção por hectare é mais baixo, como consta na reportagem à página anterior, e o valor de um saquinho em uma gôndola de supermercado pode facilmente superar os R$ 10.

São sete produtos sem agrotóxicos e conservantes, a saber: arroz agulinha integral, agulinha polido, cateto integral, cateto polido, arroz negro, vermelho e, ainda, farinhas de arroz. Tudo processado em um engenho de arroz com telhado verde, bem de acordo com a prática sustentável. A armazenagem do produto é feita em casca, e existe controle

de temperatura e umidade, sem inseticidas. O ciclo, confirma, em nada difere das variedades convencionais de arroz.

A Volkmann Alimentos, de João, trabalha desde 1986 com arroz orgânico e exporta a produção para o Exterior – países como Estados Unidos, Canadá e Japão, além de outros na Europa, Oceania e América Latina. Expert no assunto, o produtor já conferenciou em eventos na Europa e vê com entusiasmo a próxima conferência mundial sobre arroz orgânico, que deve ser no Rio Grande do Sul. O conhecimento vem de oportunidades como um tour pela Europa, em 1996, quando passou cerca de 15 dias visitando fazendas biodinâmicas em diversos países.

Produtos da Volkmann Alimentos

Fundação: 1986

Variedades de arroz Agulinha integral Agulinha polido Cateto integral Cateto polido Arroz negro Arroz vermelho Farinhas de arroz

Município: Sentinela do Sul

Custo de produção do arroz orgânico/ha*

R$ 2 mil e R$ 3 mil Custo de produção

do arroz convencional/ha*

R$ 6 mil

*Valor por hectare.

Na ponta do lápis

ARROZ ORGÂNICO

Mesmo ciclo vale para o produto sem agrotóxicos

LUIZ ÁVILA

13Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

1) Cenário da Brusone no Rio Grande do Sul

A Brusone é a principal doença do arroz irrigado. ALIADA a fatores como suscetibilidade das cultivares, épocas de semeadura tardia, adubação desequilibrada e condições climáticas favoráveis, pode ocasionar perdas de até 100% na produtividade.

De acordo com a estimativa do Irga, na safra 2014/2015 foram cultivados em torno de 1,12 milhão de hectares de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul, e o que chamou mais atenção foi que em 96% destas áreas foram realizadas pelo menos uma aplicação de fungicidas para o controle de doenças e, principalmente, a Brusone. Em alguns casos, houve até cincos aplicações por ciclo da cultura, fato que onera muito os custos de produção e prejudica principalmente a saúde humana e o meio ambiente. Lembrando que em 2010 apenas 20% das áreas orizícolas tiveram fungicidas aplicados, principalmente por aqueles produtores que visavam a altos rendimentos e para o controle de doenças do final de ciclo.

Sendo assim, por que temos um cenário de epidemia de Brusone no Estado? Principalmente devido à utilização de cultivares suscetíveis à doença, pois, de acordo com levantamento do Irga, em mais de 70% das áreas de arroz plantada no RS são utilizadas cultivares suscetíveis à Brusone. Por isso que em anos com clima favorável à doença, como foram os anos de 2012 e 2014, há uma epidemia de Brusone no Estado com perdas elevadas nas lavouras.

Infelizmente, o mesmo cenário é esperado para a próxima safra 2015/2016, com um ano de “El Niño” mais forte do que na safra passada. Diante disso, quais são as recomendações para que a Brusone não cause tantas perdas nas lavouras orizícolas do Estado? O recomendado é a adoção de diversas práticas de manejo integrado da doença, visando a uma produção mais sustentável da cultura, as quais serão apresentadas a seguir.

Entretanto, antes de adotar qualquer medida de controle de uma doença, o importante é conhecê-la e saber identificar os sintomas para, assim, escolher as medidas adequadas para melhor manejá-la.

Epidemia de Brusone do Arroz no Rio Grande do Sul

ARTIGO TÉCNICO

ENG. AGR. DR. CLÁUDIO OGOSHIFitopatologista EEA/IRGA

2) Quais são os sintomas da Brusone?

A Brusone pode ocorrer em todas as partes aéreas da planta, desde os estádios iniciais de desenvolvimento até a fase final de maturação dos grãos. Nas folhas, os sintomas típicos da doença se caracterizam por pequenos pontos de coloração castanha, do tamanho da cabeça de um alfinete, os quais evoluem formando manchas alongadas (Figura 1A) que crescem em sentido da nervura, apresentando o centro acinzentado e bordas marrom-avermelhadas, às vezes circundadas com halo amarelado (Figura 1C).

As formas e os tamanhos das lesões dependem das condições climáticas, da idade das lesões e do grau de suscetibilidade das cultivares. A redução da área foliar fotossintetizante tem um reflexo direto sobre a produção de grãos. Quando a doença ocorre severamente nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta (Figura 1B), principalmente em cultivares suscetíveis, o impacto é tão grande que a queima das folhas

Figura 1

Figura 2

SINTOMAS DA BRUSONE NAS FOLHAS

A e C) Sintomas característicos da Brusone nas folhas com lesões alongadas que crescem em sentido da nervura e centro acinzentado. B) Plantas atacadas já no estádio vegetativo da cultura. D) Plantas mortas devido ao ataque da Brusone nas folhas.

SINTOMAS DA BRUSONE NO PESCOÇO E NAS PANÍCULAS.

A) “Brusone do pescoço” B) Panículas esbranquiçadas, facilmente identificadas no campo.

causa a morte das plantas (Figura 1D).Nas panículas, a doença pode atingir

a ráquis, as ramificações e o nó basal. As manchas encontradas nas ráquis e nas ramificações são marrons e normalmente não apresentam forma definida, sendo que os grãos originados destas ramificações infectadas pelo patógeno se apresentam chochos. A infecção no último nó da panícula é conhecida como “Brusone do Pescoço” e tem um papel relevante na diminuição da produtividade do arroz (Figura 2A). O sintoma se expressa na forma de uma lesão marrom que circunda a região nodal, o que provoca um estrangulamento. Quando as panículas são atacadas logo após a sua emissão até a fase de aparecimento de grãos leitosos, a doença pode provocar o “chochamento” total das espiguetas. As panículas se apresentam esbranquiçadas e eriçadas, sendo facilmente identificadas no campo (Figura 2B). Quando as panículas são infectadas mais tardiamente, ocorre redução no peso dos grãos ou a quebra da panícula na região afetada, caracterizando o sintoma conhecido por “pescoço quebrado”.

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201514

3) Principais Estratégias de Manejo da Brusone

Utilização de Cultivares Resistentes

A utilização da resistência genética é a principal tática a ser utilizada no manejo integrado de qualquer doença de plantas, inclusive a Brusone em arroz irrigado, visto que é a forma mais fácil, eficiente, de baixo custo e de menor impacto ambiental no manejo.

Diante desta importância, o Programa de Melhoramento Genético de Arroz Irrigado do Irga utiliza, desde a safra 1999/2000, uma estratégia para a obtenção de genótipos resistentes à Brusone, denominada de “Hot Spot”. Neste método, a principal estratégia utilizada tem sido a avaliação de linhagens iniciais (gerações segregantes) e de genótipos potenciais doadores de genes de resistência em condições de alta pressão de inóculo do patógeno, realizando várias avaliações durante o ciclo da cultura.

Como consequência deste trabalho, as cultivares recém-lançadas do Irga apresentam graus de resistência à Brusone. A cultivar IRGA 424 RI é resistente tanto nas folhas quanto nas panículas.

Na Figura 3, observa-se no viveiro de Brusone uma cultivar suscetível já morta no estádio vegetativo, em comparação com uma cultivar resistente sem sintomas da doença. Já um ensaio conduzido na safra 2014/2015, em Palmares do Sul, evidencia a maior produtividade das cultivares IRGA 423 e IRGA 424, as quais foram resistentes à Brusone, em comparação com as cultivares IRGA 417 e BR IRGA 409, que foram suscetiveis à enfermidade (Figura 4).

Apensar de ficar clara a vantagem da utilização de genética resistente à Brusone, infelizmente, as cultivares mais utilizadas no Rio Grande do Sul são suscetíveis. Como se pode observar na Figura 5, das 10 variedades mais cultivadas no Estado na safra 2014/2015, apenas a cultivar IRGA 424 é resistente à Brusone, sendo as outras suscetíveis, o que representa mais de 70% da área do estado semeada com cultivares suscetíveis à doença.

Sabe-se que o principal motivo da utilização destes genótipos suscetíveis é principalmente devido ao uso de cultivares com tolerância a herbicidas, que é muito importante no manejo do arroz vermelho, e também por apresentarem melhor qualidade de grão. Diante disso, o programa de melhoramento genético do Irga aumenta seus esforços em

desenvolver cultivares resistente a herbicidas não seletivos à cultura, com alta qualidade de grão e principalmente resistentes à Brusone.

Semeadura na época recomendada

A semeadura na época recomendada é uma ferramenta importante para os orizicultores no manejo integrado da Brusone, pois evita que os períodos críticos de suscetibilidade das plantas de arroz coincidam com condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença.

Pelo projeto 10 desenvolvido pelo Irga foram estabelecidas as épocas de semeadura mais adequadas para a semeadura do arroz irrigado, entre 1º de setembro e 5 de novembro, independente da região orizícola.

Figura 3

Figura 4

Figura 5 – As 10 mais plantadas 2014-15, em ha e % total RS

Cultivar suscetível (linha morta) e cultivar resistente à Brusone no viveiro onde se avalia resistência à doença localizada no município de Torres na safra 2012/2013.

Líderes: Puitá INTA CL (31,99%), Guri INTA CL (21,17%) e IRGA 424 ( 13,48%)

Resultado de um ensaio conduzido na safra 2014/2015 em Palmares do Sul.A) Área Abaixo da Curva de Progresso da Brusone nas Folhas nas cultivares BR IRGA 409 (suscetível), IRGA 417 (suscetível), IRGA 423 e IRGA 424 (resistentes). B) Produtividade das cultivares em Kg/ha.

ARTIGO TÉCNICO

15Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

doenças do arroz irrigado estão listados nas Recomendações Técnicas da Pesquisa Para o Sul do Brasil (SOSBAI, 2014). Mas tão importante quanto a escolha dos produtos químicos, o momento de aplicação é fundamental, possibilitando maiores chances de sucesso no controle da doença. Com a utilização de cultivares muito suscetíveis à Brusone em algumas regiões do Estado, o aparecimento dos sintomas da doença já ocorre no estádio vegetativo. Sendo assim, deve-se realizar o monitoramento dos sintomas iniciais da Brusone na folha e, caso sejam detectados, deve-se realizar a aplicação do fungicida, pois terão uma eficiência maior e a quantidade de aplicações subsequentes será menor.

Caso não ocorra o aparecimento dos sintomas nas folhas no estádio vegetativo em uma cultivar suscetível à Brusone, deve-se realizar a aplicação preventiva no final do emborrachamento (estádio de desenvolvimento R2) para a proteção das plantas quanto à brusone da panícula ou do pescoço. Pois caso a aplicação seja realizada com a doença já instalada, a eficiência do controle é baixa e as perdas ocasionadas pela doença já foram significativas.

Com o lançamento da cultivar IRGA 424 RI algumas dúvidas quanto à aplicação de fungicidas foram surgindo. Quanto à Brusone, esta cultivar é resistente, sendo assim, não é preciso aplicar um produto químico “brusonicida” como é o caso do funcigida com ingrediente ativo triciclazol. Entretanto, caso o histórico da área de cultivo

demonstre a ocorrência de outras manchas foliares e o clima esteja favorável, recomenda-se uma aplicação com um produto à base de estrobilurina + triazol, deixando o produto brusonicida para a aplicação em cultivares suscetíveis à Brusone.

Outras medidas importantes no manejo da Brusone

>  Utilização de sementes certificadas com alta qualidade fisiológica e sanitária;

>  Manejo adequado da lâmina de água de irrigação;

>  Eliminação de hospedeiros alternativos;> Controle eficiente de plantas daninhas;> Sistematização da lavoura

adequadamente, evitando reboleiras com focos da doença.

4) Considerações finais

Os produtores devem ficar em alerta com a Brusone que, sem dúvida, será um dos fatores limitantes de altas produtividades do arroz irrigado nesta safra 2015/2016.  Acima foram mencionadas as medidas importantes no manejo integrado da doença, as quais, se adotadas corretamente, contribuirão no manejo mais eficiente e sustentável da Brusone. Caso venha a surgir alguma dúvida, procure o engenheiro agronômo responsável mais próximo dos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural do Irga, ou entre em contato com a Estação Experimental do Arroz.

Figura 6 Um ensaio executado na safra 2014/2015 em Cachoeirinha demonstra bem isso, sendo que na semeadura do dia 29 de outubro a severidade da Brusone foi duas vezes e meia menor do que a semeadura realizada no dia 5 de dezembro, como observado na Figura 06. Diante disso, para o manejo mais adequado da Brusone, recomenda-se evitar as semeaduras principalmente a partir do meio de novembro.

Adubação nitrogenada equilibrada

A adubação equilibrada é um dos componentes essenciais a ser incluída no manejo integrado da Brusone, pois plantas com excesso ou deficiência de um determinado nutriente são mais predispostas ao ataque de doenças.

Infelizmente, além do uso irracional dos fungicidas pelos orizicultores, outra realidade é a aplicação excessiva de uréia visando principalmente a obtenção de altos rendimentos, o que agrava ainda mais a situação da Brusone no Estado. O excesso de nitrogênio, além de desequilibrar a absorção de outros nutrientes, promove condições favoráveis ao ataque da doença devido à redução da espessura das paredes celulares, tornando-as mais fracas. Isso diminui a produção de compostos fenólicos e de lignina das folhas.

No experimento conduzido em Cachoeirinha na safra 2014/2015, visando a verificar a severidade da Brusone sob curvas de resposta a nitrogênio em duas épocas de semeadura na cultivar Guri Inta CL, verificou-se que altas doses de nitrogênio, principalmente acima de 120 Kg de N por hectare, promovem o aumento da severidade da Brusone nas folhas e consequentemente diminui a produtividade do arroz irrigado, principalmente em épocas de semeadura mais tardia.

Aplicação de fungicidas

Os fungicidas são muito importantes no controle de doenças de plantas, entretanto, não se deve considerá-los como única estratégia de controle e, sim, como parte do manejo integrado de doenças de plantas. Ressalta-se que a escolha da cultivar, época de semeadura, origem das sementes, nível de adubação, controle de plantas daninhas, manejo da água, uso do nitrogênio e monitoramento dos insetos são os principais constituintes do potencial produtivo e, a aplicação de fungicida deve ser conforme a necessidade, sendo considerado somente o protetor do potencial produtivo.

Os fungicidas recomendados para as

Resultado de um ensaio executado em Cachoeirinha-RS na safra 2014/2015, demonstrando que a semeadura mais tardia apresentou 2,5 vezes mais Brusone do que a semeadura dentro da janela recomendada na cultivar Guri Inta CL. ´

´

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201516

SEMEADURA

E feito do El Niño, com a intensificação da chuva no mês de outubro e início de

novembro, a semeadura do arroz no Rio Grande do Sul atrasou como há muito anos não ocorria. Até o dia 7 de novembro, quase na data limite indicada para alta produtividade, apenas 45,4% da área estava semeada. Para se ter uma ideia do que isso significa, no ciclo 2010/2011 esse índice chegava a 92%.

Ao analisar o histórico de dados de períodos de El Niño, o diretor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Maurício Fischer, avalia que a perda de produtividade deve ficar em torno de 12,5%. O florescimento no mês de março pode coincidir com a ocorrência de menor radiação e baixas temperaturas, podendo aumentar a esterilidade das espiguetas e consequente redução da produtividade.

– Mas vale lembrar que no ano passado também houve atraso e, ainda assim, obtivemos uma das melhores produções no Estado. Pois em março de 2015 ocorriam condições climáticas favoráveis à cultura – avalia Fischer.

As regiões mais afetadas pela chuva e com maiores índices de atraso são Depressão Central e Planícies Costeira Interna e Externa. Presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles recomenda aos produtores afetados que tenham cuidado na aplicação de insumos.

– Nessa situação, não vale a pena gastar muito com adubação e fertilizantes, por exemplo, porque para o grão semeado fora da época a chance de alcançar a produtividade plena é menor. Aí o produtor vai gastar e não vai ter retorno. Ainda mais com o custo que está o insumo, em razão da

alta do dólar – alerta Dornelles.Uma das iniciativas adotadas

para reduzir os riscos e as perdas foi buscar junto ao governo federal a ampliação do calendário de plantio para algumas cultivares. As datas oficiais definidas pelo Ministério da Agricultura são importantes para os orizicultores não deixarem de contar com as garantias da cobertura do seguro.

Outro problema do plantio fora de época é que aumenta o risco de incidência de pragas e doenças na lavoura. Sem a dosagem certa de umidade e luminosidade, a proliferação pode ser maior.

– O arroz precisa, em termos de tempo, basicamente de água no pé e sol na cabeça. Sem essa situação ideal, os riscos aumentam – explica Fischer.

O diretor técnico do Irga explica que a melhor produtividade no arroz se dá nas

lavouras plantadas em outubro. Semeaduras de setembro e novembro têm produtividades menores, mas muito acima da obtida em dezembro, quando nem é recomendado fazê-lo.

Com o arrefecimento da chuva, a partir dos primeiros dias de novembro, foram muitos os produtores que correram para acelerar o plantio e semear até 10 de novembro. Para isso, as máquinas foram colocadas no campo dia e noite, como forma de aproveitar melhor os dias secos. Para dezembro, a expectativa era de redução das chuvas. Nesse período, elas se concentram mais sobre o sudeste e o centro-oeste do Brasil.

Por causa do El Niño, na primeira semana de novembro havia sido semeada apenas 45,4% da área prevista no RS

Atraso no plantio pode reduzir

produtividade12,5%

Pode ser a perda de produtividade,avalia o Irga

Vale lembrar que no ano passado também houve atraso e, ainda assim, obtivemos uma das melhores produções no Estado

MAURÍCIO FISCHERDiretor técnico do Irga

17Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Atraso no plantio pode reduzir

produtividade

As lavouras cultivadas no sistema pré-germinado, mesmo com as condições adversas, avançaram mais

do que as áreas de semeadura no frio

FOTO

S LU

IZ A

VILA

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201518

ROTAÇÃO DE CULTURAS

Soja 6000: rumo à primeira safraDiversificação das culturas e aumento da rentabilidade das lavouras são atrativos para adedir ao programa, que busca colher 6 mil quilos por hectare

19Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

C om 24 áreas já inscritas para acompanhamento e monitoramento por técnicos

do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), o Projeto Soja 6000

avança no Estado rumo a sua primeira safra consolidada.

A alternativa de ter a oleaginosa como parceira

do arroz anima os produtores, interessados na diversificação de culturas e no aumento da rentabilidade das suas propriedades. A introdução e o apoio ao desenvolvimento dessas novas lavouras, especialmente em áreas não tradicionais, porém, demanda trabalho extra a agricultores e para técnicos do instituto.

– Nas áreas parceiras faremos um acompanhado direto, além do trabalho de extensão e pesquisa que sempre oferecemos. Os resultados obtidos nas 24 unidades serão auditados por nós e por terceiros, o que nos dará ainda mais credibilidade nos números obtidos – explica o gerente da divisão de pesquisa do Irga, Rodrigo Schoenfeld.

O engajamento ao projeto tem sido

positivo, assegura. A meta é colher 6 mil quilos de soja por hectare em todas as áreas cultivadas sob orientação do Irga. A base do trabalho vem da ação que já é feita pelo instituo em suas áreas de pesquisa.

Em junho de 2016, quando o primeiro ciclo de plantio e colheita estiver concluído, o Irga divulgará os primeiros dados completos do grupo de estreia do Soja 6000, em evento na cidade de Santa Maria. Os dados serão a base de análise, por exemplo, para verificar que ações adotadas pelos produtores e pelo instituto resultaram em melhores produtividades. A maior dificuldade, em geral, é com o manejo do grão em áreas tradicionalmente alagadas para o cultivo de arroz.

– Adaptar as chamadas terras baixas às exigências da oleaginosa é um dos itens que exigem cuidado redobrado e investimento. Outra recomendação é fazer a semeadura no tempo correto, de 15 de outubro a 15 de novembro. Neste ano, porém, assim como ocorreu com o plantio de arroz, a chuva criou uma

dificuldade extra – explica Schoenfeld.Integrante dessa primeira turma de 24

produtores do Soja 6000, Werner Arns, 61 anos, cultiva soja paralelamente ao arroz há dez anos e é um defensor da rotação de culturas. Além de soja e do arroz, Arms também produz aveia e azevém, e quer investir ainda em lavouras de trigo e de milho irrigado. Ele também reserva na propriedade, em Uruguaiana, espaço para a pecuária.

– Cultivar outros grãos, além do arroz, é um processo irreversível. No ano passado, semeamos 350 hectares com soja. Nesta safra, serão 580 hectares. E devemos ter um bom incremento na produtividade – antecipa o produtor.

Com o uso de melhores tecnologias de plantio, Arns espera passar das 59 sacas obtidas por hectare no ciclo passado (3,5 mil quilos) para 75 (4,5 mil quilos) na atual safra. O agricultor diz que vem investindo em sementes melhores e em adubação para ampliar o rendimento.

– Também valorizo mais a época recomendada para semeadura, o que não fiz durante algum tempo – explica Arns.

Projeto conta com orientação do Irga em suas áreas de

pesquisa

ASSESSORIA IRG

A

Mais de uma vantagem

Benefícios da rotação de culturas

Além do ganho econômico direto proporcionado pela soja, a parceria da oleaginosa com o arroz tem outros benefícios:

Reduz a presença de plantas daninhas nas lavouras.

Dificulta a proliferação do arroz vermelho.

Aumenta a fertilidade do solo e leva à redução no consumo de fertilizantes.

Facilita o preparo do solo (o entaipamento) para o arroz no ano seguinte.

Dica de quem cultivaWerner Arns, 61 anos, recomenda ao produtor que fique atento à adaptação das plantadeiras que

usará na nova lavoura e faça uso de sulcadores específicos se for feito o

plantio sobre a palhada.

Por dentro do projeto Soja 6000

Os objetivos principais do Soja 6000, lançado em junho de 2015, são desenvolver práticas de cultivo para a obtenção de altas produtividades de soja, operacionalizar um sistema de transferências de informações e gerar e difundir tecnologias nesta área. A meta é alcançar 6 mil quilos de soja por hectare.

No desenvolvimento de práticas de manejo mais adequadas a essas áreas, o Irga lançou, em parceria com a CCGLTec, a cultivar TEC

ROTAÇÃO DE LAVOURA

Experimentos do Irga com a soja são tradicionais, e cultura em rotação

com o arroz irrigado ocupou 300 mil hectares na safra 2014/2015

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201520

ASSESSORIA IIRG

A

Irga 6070 RR, melhor adaptada às condições de excesso hídrico no solo.

Para a consolidação do projeto, foi realizado um seminário, com formação de comitês regionais e a definição das áreas de validação do Soja 6000 para a safra 2015/2016, em agosto e setembro. O 2º Encontro de Produção de Soja em Terras Baixas está programado para junho do próximo ano.

No primeiro encontro foram debatidas questões como os pontos fortes no uso da soja em rotação com arroz, os fatores limitantes e as prioridades para as áreas de pesquisa e difusão do trabalho.

Apesar de o Soja 6000 ter sido lançado neste ano, os trabalhos do Irga com a soja já têm uma década. Neste período, a cultura semeada em rotação com o arroz irrigado ampliou consideravelmente a área cultivada, de 50 mil hectares para 300 mil hectares na safra 2014/2015.

Favorece a ciclagem de nutrientes. Incorpora nitrogênio ao solo. Melhora a estrutura física do solo. Auxilia no controle do arroz vermelho e

capim arroz resistente a alguns herbicidas.

Ajuda no controle de pragas e doenças. Também há benefícios ambientais,

já que seu uso minimiza o uso de agrotóxicos agrícolas para controle de pragas e doenças e plantas daninhas.

A geração de energia elétrica a partir da biomassa, além de ser uma opção limpa,

competitiva e ambientalmente viável, ainda permite aproveitar a sazonalidade anual das culturas e o uso de seus resíduos. No Brasil, existem 393 usinas geradoras de energia elétrica a partir de biomassa, sendo que oito delas estão localizadas no RS e utilizam a casca de arroz como combustível nas suas fornalhas.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), essa geração corresponde a 0,03% de contribuição para a geração total de energia do país. A energia a partir da biomassa se enquadra nos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), importantes para a redução dos gases de efeito estufa (GEE), obtenção de selos de qualidade e atendimento a padrões de certificação. Além disso, demonstram o compromisso sócio-ambiental da cadeia produtiva.

No município de Alegrete existem duas usinas que utilizam a casca de arroz, totalizando uma geração de energia de 8,82 megawatts, destinada ao consumo das próprias usinas – o excedente é liberado na rede da concessionária.

A energia gerada pela Cooperativa Agroindustrial Alegrete Ltda. (CAAL) pode ser comparada ao suprimento de uma cidade de 40 mil habitantes e ainda contribui para a retirada anual de 45.000 toneladas de carbono da atmosfera, o que equivale à redução de gases de efeito estufa emitida por cerca de 38.000 carros por ano.

casca de arrozO uso agrícola da cinza da

Há boas opções, como a geração de energia elétrica a partir da biomassa e a função de adubo natural e corretivo de solos

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201521

Além disso, se essas cinzas puderem ser utilizadas nas propriedades agrícolas, cria-se uma logística reversa entre o elo da agroindústria e os sistemas agrícolas. Estes podem receber de volta a cinza para adubo natural e corretivo de solos. Desta forma, completa-se o ciclo da industrialização do arroz em um modelo ideal, com resíduo zero.

O uso agrícola da CCA é estudado pela bióloga Maria de Fátima Marchezan desde 2012, com resultados promissores tanto para o solo quanto para as culturas e o meio ambiente. A pesquisa é financiada pela CAAL e tem como parceiros o Irga, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e o Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete.

Os experimentos se desenvolvem em casa de vegetação localizada na universidade e a campo no Centro Técnico Experimental da cooperativa. A pesquisadora realiza todas as análises físicas, químicas e biológicas do solo da área experimental nos laboratórios da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), onde realiza seu Doutorado em Manejo e Conservação do Solo e da Água.

Nos experimentos realizados na casa de vegetação, foi observado que a incorporação de doses crescentes de CCA na cultura da soja provocou incrementos no número de grãos por planta e no peso dos grãos. As plantas que se desenvolveram no solo com 64 t CCA ha-1 produziram grãos 20% mais pesados que a testemunha e 22% a mais de grãos. Além disso, as plantas

apresentaram boa nodulação em todos os tratamentos, indicando que a CCA não afetou o desenvolvimento do Rhizobium.

A demanda hídrica da soja cresceu na ordem 0<16<4<8<32<64 t CCA ha-1, indicando que a CCA pode interferir na capacidade de armazenamento de água do solo, o que pode ser justificado pelo fato de que, ao produzirem

grãos mais pesados e em maior quantidade, as plantas consomem mais água. Para as culturas de arroz irrigado, apenas uma das variedades apresentou ganhos significativos de produtividade, justificada em 97% pela adição da CCA no solo, sendo que as plantas que se desenvolveram no solo com 64 t CCA ha-1 alcançaram uma produtividade relativa 75% maior que a testemunha.

A bióloga Maria de Fátima Marchezan, que estuda desde 2012 o uso agrícola do CCA

ARTIGO TÉCNICO

22Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Os resultados das análises químicas das águas percoladas nos experimentos foram divulgados no XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso Peruano de la Ciencia del Suelo ocorrido em 2014. O percolado foi armazenado durante todo o ciclo das culturas e, mesmo com 256 t ha-1 de CCA em solo arenoso, não foram identificadas substâncias tóxicas ou metais pesados como cádmio, cromo, chumbo, níquel e mercúrio. O pH ficou próximo da neutralidade e todas as amostras apresentaram valores abaixo dos limites estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores competentes para os elementos fósforo, nitrogênio total e carbono orgânico total considerados eutrofizantes.

Na área experimental a campo, um Neossolo Regolítico, foi cultivado arroz irrigado com doses cumulativas de CCA ao longo de três anos, da safra 2012/13 à de 2014/15, totalizando, na última incorporação, 12, 24, 48 e 96 t de CCA ha-1. O acompanhamento da qualidade do solo teve avaliações de parâmetros físicos, químicos e biológicos, além da avaliação de parâmetros da cultura, tais como produtividade, massa seca, macro e micronutrientes em folhas e grãos, peso de grãos e qualidade de indústria.

Alguns desses parâmetros ainda se encontram em avaliação pela doutoranda, mas os resultados são promissores, pois não foram encontradas restrições à penetração de raízes até 60cm de profundidade e as parcelas que receberam até 64 t de CCA ha-1 não apresentaram diferença estatística da área em pousio no que se refere à agregação do solo.

No que se refere à fertilidade, ocorreu incremento do pH de 5,2 para valores em torno de 6,0. A CTC efetiva passou de 16,4 para valores superiores a 34 cmolc dm-3. Além disso, ocorreram incrementos nos teores de cálcio,

magnésio e enxofre, e o teor inicial de fósforo quase dobrou.

As plantas produziram grãos mais pesados, justificados em 82% na primeira safra e 62% na segunda safra, pelo uso da CCA. A última safra apresentou uma correspondência baixa de apenas 41%, o que pode ser justificado por alguns problemas de campo, como falhas na semeadura, atraso na entrada da água de irrigação e à presença de invasoras de difícil controle, o que também refletiu nas produtividades. Não foram verificadas variações no rendimento de indústria que ficou superior a 66 em todos os tratamentos com CCA.

A incorporação de até 64 t ha-1 de CCA não provocou impactos negativos para a microbiota do solo, onde avaliaram-se indicadores biológicos Carbono da Biomassa Microbiana do Solo, Respiração Basal, Quociente Microbiano, Quociente Metabólico e o Índice de Reservatório de Carbono, dos diferentes tratamentos com incorporação de CCA entre si e destes com os valores de referência da área em pousio.

A adição de CCA no solo estudado promoveu um incremento no Carbono da Biomassa Microbiana e da qualidade nutricional da microbiota, indicando que a mesma possa estar se beneficiando do C contido na CCA, o que é corroborado por Gama-Rodrigues e Gama-Rodrigues (2008), que afirmam que se ocorrer um aporte de matéria orgânica de boa qualidade, o Quociente Microbiano aumenta. Além disso, o decréscimo dos valores de Quociente Metabólico indica que o solo do experimento tende à estabilidade, com maior eficiência na conversão do carbono em biomassa e menos gás carbônico sendo liberado para a atmosfera com o aporte de dosagens de CCA até 64 t ha-1.

Resultados saíram em congressos internacionais

Adição de CCA no solo

Em campo experimental, foi

cultivado arroz irrigado com doses

cumulativas de CCA ao longo de

três anos; os resultados foram

promissores

Dosagens de até 64 t por hectare resultam em maior eficiência na conversão do carbono em biomassa e diminuem a liberação do gás carbônico na atmosfera:

FOTO

S IRGA

23Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

MERCADO EXTERNO

Arroz gaúcho comemora

conquistas internacionais

Ao abrir tratativas com México, Nigéria e China, setor fecha 2015 com a expectativa de exportar cerca de 1,3 milhão de toneladas

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Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201524

MERCADO EXTERNO

C om apenas 10 anos de exportação de arroz e sem nenhum acordo bilateral específico para o grão,

o Brasil começa a comemorar grandes conquistas na área. Está prestes a iniciar embarques para o México e retoma vendas para a Nigéria, além de já ter começado tratativas comerciais com a China. Tudo isso graças à qualidade diferenciada do grão produzido aqui, fruto de anos de pesquisa e desenvolvimento de cultivares, especialmente no Rio Grande do Sul.

Somando-se apenas os mercados mexicano e nigeriano, o comércio potencial que se abre é de quase 800 mil toneladas extras, de acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A expectativa do setor é encerrar 2015 com cerca de 1,3 milhão de toneladas embarcadas para o Exterior.

– Vender mais para fora do país era a única forma de baixar os estoques nacionais, que estavam muito altos – explica o presidente do Irga, Guinter Frantz, que tem a ampliação do comércio internacional, por meio de acordos bilaterais, como uma das prioridades de trabalho.

Além da qualidade superior do grão, um diferencial do Brasil, o produto nacional também ganhou impulso nas exportações com a alta do dólar. Enquanto em 2014 o produtor precisava receber cerca de US$ 15 por saca, agora com US$ 11 a conta já fecha. Ou seja, o grão brasileiro ganhou competitividade, ao mesmo tempo em que novos mercados consumidores se abrem para nós. Um dos melhores exemplos desse trabalho de “diplomacia comercial” é a entrada no México. O acerto para abrir espaço ao arroz brasileiro nas gôndolas mexicanas tem como contrapartida a abertura do mercado nacional para o feijão do México, o que facilitou a negociação. Para assinatura final do acordo falta apenas uma questão fitossanitária a ser resolvida.

Já o trabalho na Nigéria foi retomado com a derrubada da taxa de 110% sobre as importações de arroz imposta pelo governo local em 2013. A ideia era estimular a produção interna. A medida não surtiu efeito, da mesma forma que não frutificou a iniciativa de levar produtores gaúchos para plantarem por lá – ou seja, não restou alternativa além

de derrubar a taxa de importação, em outubro último.

O desafio brasileiro, agora, é reconquistar esse mercado local, já que os nigerianos seguiram comprando de outros países. O terceiro grande mercado em prospecção, a China, porém, ainda deve demorar a ser anunciado.

– Não é possível prever uma finalização para esse acordo devido aos muitos trâmites chineses. Mas é início do processo em um mercado que temos de buscar – alerta o diretor comercial do Irga, Tiago Barata.

Já o presidente Guinter Frantz antecipa que está na mira, também, o mercado de Gana, que já emitiu convite para receber uma comitiva de representantes de arrozeiros do Brasil. Outro país que está na mira do Irga é o Iraque – tradicional cliente, por exemplo, do frango brasileiro. O problema para vender ao mercado iraquiano é a falta de estrutura portuária no Estado para embarcar arroz ensacado.

– A Argentina, por exemplo, consegue vender para lá. Falta um shiploader (equipamento para embarque de grãos) e a implantação de um terminal específico para o arroz, em Rio Grande. Com isso, poderemos abrir novos mercados, já que alguns países só compram arroz ensacado – explica o diretor comercial do instituto.

Para o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), Henrique Dornelles, a atual conquista de compradores estrangeiros ajuda a dar certo otimismo ao produtor.

– As exportações são o único motivo de comemoração, atualmente, para o produtor de arroz. No campo, há o horizonte da incerteza climática e do dólar afetando custos. Isso faz com que o produtor trabalhe com os pés bem no chão, e isso é bom. Os novos mercados podem nos dar um certo alento – avalia Dornelles.

De acordo com o diretor comercial Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), Lúcio do Prado, todos os recursos captados nas atividades em Rio Grande estão sendo reinvestidos no próprio local, o que dá boas perspectivas para o andamento do projeto do terminal arrozeiro.

– Já temos o tombador pronto, o que vai agilizar a descarga. E vamos seguir avançando – ressalta Prado.

PORTO DO RIO GRANDE / DIVULGAÇÃO

25Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Porto do Rio Grande é um dos principais corredores

de escoamento da produção arrozeira

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201526

MERCADO EXTERNO

Veja com quem o Brasil troca conhecimento e comercializa arroz:

Ao mesmo tempo em que produtores, entidades e governo prospectam novos mercados para o arroz brasileiro, olhares estrangeiros também se voltam para cá. Mas por outras razões. Orizicultores, cientistas e representantes de diferentes países cruzam o oceano para conhecer a tecnologia gaúcha de produção. Mais especificamente os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na estação experimental de Cachoeirinha.

O avanço das pesquisas do centro, que tem como meta desenvolver um tecnologia que leve a 10 toneladas por hectare, chama a atenção até do Vietnã, o quarto maior produtor de arroz do mundo (o Brasil é o sexto) e o segundo maior exportador (a Índia lidera).

Embaixador da República Socialista do Vietnã no Brasil, Nguyen Van Kien veio ao Rio Grande do Sul em meados de 2015 e buscou saber mais sobre um dos maiores problemas dos arrozeiros vietnamitas, o percevejo (que no Rio Grande do Sul não é causador de grandes

Relações internacionaisprejuízos), e questionou métodos para o controle da praga. Um dos atrativos do grão com tecnologia gaúcha é a produtividade. Cultivares desenvolvidas na estação experimental em Cachoeirinha alcançam 8,7 mil quilos por hectare, volume que até pouco tempo girava em torno de 5 mil quilos por hectare.

– Conseguimos esse avanço porque pesquisamos o que demanda o produtor, e repassamos a tecnologia diretamente a ele. Desenvolvemos conforme a necessidade – sintetiza Rodrigo Schoenfeld, que é gerente da divisão de pesquisa do Irga.

Em sua visita ao Irga, o embaixador vietnamita também quis trocar experiências. Kien explicou como funciona uma linha de trabalho que tem bons resultados no país asiático, a diversificação de culturas – também foco de trabalho do instituto. O sistema de rotação de culturas é um dos diferenciais vietnamitas. Em algumas regiões do Vietnã, pelas características climáticas, são feitas de três a quatro colheitas de arroz por ano (no Brasil é apenas uma). Sempre em rotação com outra cultura, como a batata.

Por meio do projeto Brazilian Rice, expectativa

é ampliar o mercado para

55 países

Um olho lá, outro

aqui

O acerto para abrir espaço ao arroz

brasileiro nas gôndolas mexicanas tem como

contrapartida a abertura do mercado nacional

para o feijão do México

MARCUS MACIEL / ESPECIAL

27Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Veja com quem o Brasil troca conhecimento e comercializa arroz:

O projeto Brazilian Rice, convênio entre a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), terá duração de dois anos, com investimentos de R$ 1,991 milhão. O

valor prevê ações como inteligência de mercado, relacionamento, participação em feiras, missões comerciais, investimentos em imagem e capacitação de empresas para atuação em diferentes países.

A intenção é diversificar o mercado de 55 países em

2014/15, aumento no número de empresas com exportação direta, inclusão de novas organizações no projeto (como indústrias de massas, óleos e biscoitos derivados do arroz) e aumento da exportação de arroz com alto valor agregado.

Outras iniciativas

Governo do Vietnã demonstrou interesse na

produtividade do grão gaúcho e no

controle de pragas

800 mil toneladas extras

é o potencial de exportação apenas para os mercados

mexicano e nigeriano

110% era a taxa de importação do governo local, já derrubada

Tratativas com o mercado chinês,

marcado pelo excesso de trâmites,

já se iniciaram

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201528

O território virtual pode ser bastante fértil para os negócios. Quem trabalha com agricultura sabe que a

internet é um excelente terreno para colher oportunidades e uma ótima ferramenta para escoar o que é plantado em solo real. Vide o Programa Arroz na Bolsa, série de leilões promovidos via web com o objetivo de ajudar produtores e indústrias interessados em comercializar grãos de qualidade.

Criada em parceria entre o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), a Emater e o Banrisul, a iniciativa foi lançada durante a edição 2015 da Expointer e, até fim de outubro, teve duas edições.

Na primeira, realizada em 1º de outubro, foram vendidas apenas 10% das 60,8 mil sacas ofertadas. Já na seguinte, ocorrida no dia 22, a adesão foi maior: 70,32% dos 76,64 mil sacos colocados à disposição foram adquiridos. De acordo com o diretor comercial do Irga, Tiago Barata, os pregões realizados pelo site da BBM ainda são vistos com certa estranheza tanto por quem cultiva quanto pelas indústrias que compram o produto. Porém, a situação deve se reverter conforme as partes forem assimilando os benefícios que esse tipo de transação oferece.

– A ideia é dar mais força ao produtor na hora da comercialização. Por meio do

Programa Arroz na Bolsa, amplia-se a abrangência da

oferta, já que indústrias de todo o Brasil podem ter acesso. Para quem compra, o principal benefício é a certeza de receber um produto certificado de

qualidade – afirma Barata.O dirigente ressalta, também,

que não é preciso um volume expressivo de grãos para participar do

programa e que a procura pelo Arroz na Bolsa está crescendo gradativamente:

– 540 sacos são suficientes para criar um cadastro na página da BBM e estar apto para o procedimento. É um instrumento acessível aos pequenos produtores. É um mecanismo que estamos construindo em conjunto, conversando com os produtores e indústrias pelo Interior.

Segundo o presidente da BBM, Giuliano

Ferronato, um ponto que gera resistência à nova empreitada por parte dos arrozeiros é a cobrança de uma taxa de 0,5% sobre o valor do fechamento. Mesmo assim, ele considera que, no fim das contas, os leilões são vantajosos para quem vende.

– Nas negociações diretas, geralmente, a indústria sempre acaba pagando menos do que o tratado com o produtor, pois ela desconta grãos que considera não serem aproveitáveis. Na bolsa não existe isso. O produto entregue é o que está informado na descrição do site. Isso é vantagem tanto para quem vende, pois o valor a ser recebido não será reduzido, quanto para quem adquire, que terá acesso exatamente àquilo que pagou – explica Ferronato.

Caso haja algum desentendimento durante o trâmite, existe um Juízo Arbitral formado por uma comissão de especialistas que avaliará o caso para dizer quem tem razão. Enquanto uma decisão não for tomada, o dinheiro envolvido no negócio fica retido.

MERCADO

Arroz na Bolsa permite segurança nos negóciosCriado em outubro, sistema de leilões virtuais é uma parceria entre Irga, Federarroz, BBM, Emater e Banrisul

Leilões ocorrem na

sede da Bolsa Brasileira de Mercadorias,

em Porto Alegre

540 sacos são suficientes para criar um cadastro

na página da BBM e estar apto para o

procedimento.

29Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Faça parte dos leilões

InscriçãoÉ preciso enviar e-mail para [email protected]@federarroz.com.br

Na mensagem, deve constar nome do interessado, telefone de contato, cidade de origem e quantidade de arroz que pretende ofertar. Depois, um representante da Banrisul Corretora de Valores dará retorno para efetuar o credenciamento.

Quem pode participarProdutores rurais (pessoas físicas ou jurídicas), cooperativas de produtores rurais, comerciantes e agroindústrias do arroz por meio de corretoras associadas à Bolsa, dos pregões de venda eletrônica.

TransparênciaNa Bolsa Brasileira de Mercadorias,

produtores e compradores têm acesso a informações de qualidade, podendo acompanhar os leilões e saber os preços que estão sendo efetivamente praticados.

Como negociar Arroz na BolsaApós realizar o credenciamento por uma corretora da Bolsa Brasileira de Mercadorias, tanto o comprador como o vendedor poderão visualizar seus lances no sistema eletrônico via internet com total segurança.

Como comprar Arroz na BolsaA corretora associada à Bolsa Brasileira de Mercadorias vai acompanhar o leilão, como representante do comprador, e ofertar os lances que poderão resultar na compra do arroz que o comprador necessita.

Entrega X PagamentoOs compradores realizam os pagamentos

diretamente na conta de liquidação da Bolsa Brasileira de Mercadorias. Após a constatação do pagamento e o aceite do comprador, a Bolsa comunica o vendedor, autorizando-o a entregar o produto. Após a entrega, a Bolsa providencia a transferência do pagamento ao vendedor.

Vantagens do Arroz na Bolsa

> Segurança e confiabilidade; corretoras associadas à Bolsa proporcionam total assessoria aos compradores e vendedores;

> Juízo Arbitral: resolve controvérsias de qualquer natureza a partir de contratações na Bolsa por associados e terceiros.

> Pagamento antecipado à entrega, por meio da conta de liquidação da Bolsa.

PADRINHO AGÊNCIA DE CONTEÚDO

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201530

PLANEJAMENTO

Administrar uma lavoura de arroz é uma tarefa que exige determinação, planejamento e bastante trabalho. Como fonte de inspiração para os produtores gaúchos, a reportagem da Lavoura Arrozeira selecionou seis orizicultores que adotam boas práticas em suas propriedades. Confira nesta e nas próximas páginas o que eles fazem de bom.

6 exemplos de gestão na propriedade

Os três pilares que José Carlos Gross Dias elenca para fazer uma boa gestão de sua propriedade são facilmente listados: pessoal, comercialização e planejamento. Mesmo atuando apenas com terras arrendadas em Camaquã e em Arambaré, Gross consegue se programar e ter visão de longo prazo do negócio.

– Tenho um bom relacionamento com os proprietários, e isso ajuda na hora de planejar o plantio de terra de forma continua. Termino uma lavoura e em seguida já começo a preparar o local para o próximo plantio – explica o produtor, de 53 anos, que é também é engenheiro agrônomo.

Para Gross, antes de qualquer

Visão de longo prazo diferencia José Carlos Gross Dias

coisa o gestor tem de valorizar, treinar e capacitar constantemente o grupo de trabalho. Ele gerencia 12 pessoas que passam por, ao menos, três cursos e treinamentos por ano (internos e externos).

– Na propriedade, fazemos os treinamentos mais práticos, com de manejo da lavoura. Externamente, a equipe faz cursos de normas regulamentares, como de trabalho em silos e lugares confinados  – diz o produtor, que passou a intensificar essa ação nos últimos cinco anos.

O segundo pilar é a compra de insumos e a venda do produto. Seguindo basicamente duas linhas de trabalho Gross consegue ter um bom diferencial. Ele busca sempre fazer a compra antecipada dos insumos da próxima lavoura e investe em armazenagem própria para vender no período de maior valorização do grão.

– A compra de insumos eu começo logo que encerro uma

lavoura. É quando ninguém está comprado, aí se consegue negociar melhores preços ou condições.

Outra dica do engenheiro agrônomo é sobre a preparação do solo. Gross conta que prioriza a antecipação do processo. Assim que termina o plantio da soja ele já faz o entaipamento da terra. Ou seja, entre março e abril ele já está com o espaço bem encaminhado para o plantio lá em outubro:

– Eu uso rolo-faca em cima da resteva de arroz, enquanto muita gente usa arado gradeado, que pica a palha. Faço ainda com umidade no solo e passo a plaina depois que estiver seco. Evito mexer terra, faço menos operações, reduzo o custo de óleo diesel e ainda fico com o solo mais compactado. Isso facilita o plantio em período de chuva. E plantar no período certo também é importante para uma boa colheita – ensina Gross.

José Carlos Gross Dias prioriza a preparação antecipada do solo

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S DIVULG

AÇÃO

ÁREAS ARRENDADASFazenda Pontal, em CamaquãAtividades: 280 hectares de arroz, 300 hectares de soja e bovinos de corte (cerca de 200 cabeças)

Fazenda Santana, em ArambaréAtividades: 220 hectares de arroz.

31Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Ricardo de Lara, 62 anos, de Cachoeira do Sul, costumava focar seu trabalho na busca por maior produtividade, procurando na parte técnica formas de ter esse incremento. Ao longo dos anos, percebeu que isso não era suficiente.

– Algumas vezes se alcançava maior produtividade, mas o resultado financeiro não era suficiente – relembra Lara, engenheiro agrônomo, que se deu conta de que eram necessárias outras ferramentas para que os ganhos aumentassem.

Nessa busca, implantou, há cerca de 10 anos, um software de gestão na propriedade e nunca mais abandonou esse recurso de controle. O software permite que o engenheiro agrônomo e o irmão e sócio tivessem uma visão mais geral do negócio. O programa lhe permite ver o custo total, custo operacional e desembolsos, entre outros itens (inclusive levando em conta a depreciação dos equipamentos da lavoura).

– O produtor deve ter inclusive esse controle do desgaste na máquina para poder fazer uma gestão eficiente da lavoura – alerta o engenheiro.

Lara também ressalta outra potencialidade do uso de um software de gestão, como o adotado na Estância do Chalé: a possibilidade de ver os ganhos reais sobre o capital investido:

– É preciso saber se o dinheiro aplicado na terra e na propriedade te trouxe retorno melhor do que se fosse investido em outra aplicação. Se não fizer todas essas análises, é um vôo cego. O produtor não vai nem saber se está tendo lucro ou prejuízo.

Na Estância Chalé, o software é utilizado inclusive para que os irmãos Lara decidam onde e quanto deve ser investido. Do

Tecnologia e planejamento são as armas de Ricardo Lara

contrário, alerta o produtor, muitos acabam investindo o que nem têm, ou no lugar errado. A conseqüência é a falência do negócio.

Planejamento mensal e visível

Outra medida eficaz e simples de implantar, recomenda Lara, é ter uma planilha com os 12 meses do ano onde conste um calendário do que deve ser feito mês a mês, por atividade. A sugestão é que esse material fique em local visível a todos. E, claro, que seja executado:

– Na nossa tabela eu coloco, por exemplo, as tarefas que tempos de executar após a colheita do arroz. Em dezembro e janeiro é preciso preparar a terra para novo cultivo. Em fevereiro, coletar amostras de solo, e assim por diante. Reduz o risco de tu lembrares tarde demais de algo que deveria ter sido feito antes.

Com a gestão de custos e gastos já consolidada, Lara percebeu, recentemente, que precisava melhorar outra área tão fundamental para a empresa quanto a dos números. Começou a executar um plano para integrar mais os trabalhadores

às metas e focos das ações na propriedade. A primeira medida não teve custos:

– Fazemos uma roda de conversas com todo mundo para esclarecer os planos e receber contribuições, ideias. Eles estão na linha de frente e são estimulados a fazerem suas críticas e sugestões. Todo mundo passou a se sentir mais parte do processo – avalia Lara, ressaltando que a conversa é feita realmente em roda, para não ter hierarquia, de chefe e de subordinado, para estimular a conversa.

Além do bate-papo, Lara também valoriza o bolso dos trabalhadores, com percentual de divisão da lavoura conforme a produtividade. Em média, é dividido entre os empregados o equivalente a cerca de 3% do que é colhido, com o pagamento em grãos.

Ricardo Lara trabalha com um software para

ter uma visão global da propriedade

Propriedade em Cachoeira do SulAtividades: Em uma área de 3,4 mil hectares, 600 hectares com arroz, 100 hectares, em média, com soja e o restante da área ocupado pela pecuária (cerca de 2,1 mil bovinos angus e brangus e cerca de 400 de ovinos merino e texel, com foco na genética).

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201532

P rodutividade, custo e valor da venda. É isso que olha com atenção o produtor

Frederico Costa, 52 anos, de Rio Grande, quando o assunto é gestão da propriedade.

– A meta é colher mais, comprar bem e vender melhor. O produtor precisa equacionar o negócio pesando nessas três variáveis – sintetiza Costa, que também é engenheiro civil.

Para a questão da produtividade, Costa ressalta a importância da tecnologia, seguindo rigorosamente as orientações dadas por instituição como o próprio Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Seguir recomendações técnicas e plantar no período certo também reduz os custos, como no uso de insumos, destaca o produtor.

Costa também ressalta que o arrozeiro deve ter com meta cultivar com recursos próprios. Depender de bancos e indústrias para financiar o cultivo implica usar um dinheiro que terá custo maior. A ideia é ir gradativamente se capitalizando.

– Quem não consegue plantar tudo com recursos próprios ou com origem em crédito público deve ter uma programação para, ano a ano, ir reduzindo essa dependência de recursos externos. Em um ano, separa 10% a mais do lucro para custear a próxima safra, e assim por diante, até chegar ao ponto de não depender mais dos externos. Não existe mágica, é planejamento – recomenda Costa.

Para colocar mais dinheiro em caixa a opção é investir em

armazenagem. Assim, o produtor pode se concentrar nas vendas no segundo semestre do ano, quando há menos arroz no mercado e o preço sobe.

– Se o produto não tiver onde estocar, a venda acaba se concentrando no primeiro semestre, onde o preço tende a ser menor – alerta o produtor.

O produtor também indica como método de gestão que os empresários rurais participem mais de entidades de classe, sindicatos e outras instituições afins. Esses são importantes espaços de troca de conhecimento, alerta Costa:

– Estando neste meio se está sempre atualizando sobre novas técnicas, recursos e tecnologias.

O produtor usa sua própria história para exemplificar como esse conjunto de ações podem mudar uma propriedade. E o retorno econômico dela.

– Entre 1990 e 1995, gerenciando 1,5 mil hectares de lavoura, acumulei muita dívida. Depois, administrando 500 hectares, paguei todas as contas de 1,5 mil hectares. Tudo por ter melhores controles e gestão – ressalta Costa.

PLANEJAMENTO

Frederico Costa aposta na capitalização e na integração com o setor arrozeiro

Frederico Costa sugere seguir recomendações técnicas e plantar no período mais correto

Propriedade: fazenda em Rio Grande

Atividades: 700 hectares cultivados com arroz e 600 hectares com soja.

33Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

A base da Sementes Condessa, propriedade administrada por Geraldo

Azevedo, é ver a lavoura como um recurso financeiro. Controle rígido de custos, fluxo de caixa, maximização de recursos, sustentabilidade e valorização dos colabores são algumas das ações que Azevedo lista como prioritárias.

– Nosso foco é olhar de perto os itens que têm maior participação no percentual de custos. Para isso, trabalhamos com um bom histórico de dados, o que nem todos os produtores fazem. Se nosso custo com manutenção das máquinas subiu muito, é sinal que estão desgastadas ou mal operadas, e aí vamos atacar o problema ou renovar os equipamentos. Mas para ter isso é preciso um base histórica de valores e percentuais – alerta Azevedo.

O controle de custos é feito de forma precisa, diz o produtor. Os cálculos de uma safra são realizados, por exemplo, pelos

números totais e por variedade cultivada. Assim, conta o também médico veterinário, fica mais fácil decidir sobre a cultivar que será priorizada no ano seguinte:

– Fazer uma boa gestão não é necessariamente cortar custo, mas maximizar os investimentos. Da parte agronômica se tem mais informações. Já a parte financeira exige mais esforço porque os dados não estão prontos e não são tão fáceis de obter.

Azevedo também avalia que o foco na sustentabilidade é amplo e, por isso, também é grande o espectro de benefícios que pode trazer à propriedade. Na Sementes Condessa a opção foi por adotar a sistematização dos recursos hídricos. Assim, reduziu-se o consumo de água e energia, gerando economia ambiental e financeira. Ser

Decisões amparadas em números diferenciam o time de Geraldo Azevedo

um modelo de gestão nesse tipo de ação, na produtividade e lucratividade, norteiam o trabalho:

– Nossa meta é estar sempre entre os 5% a 10% mais eficientes dentro do ambiente em que atuamos.

Azevedo garante que não existe uma ação específica para aprimorar o negócio. Mas várias.

– A gestão é acertar várias pequenas decisões. É um trabalho frequente, que tu vais acertar mais do que errar. Para isso, é preciso ter uma base de dados para tomada de decisão. Temos arquivos até com 15 anos de dados. É na falta desse histórico que muitas vezes o produtor se perde – ressalta Azevedo.

Equipe da Sementes Condessa, em

Mostardas

Propriedade Sementes Condessa, de Mostardas

Atividades: produção de sementes de arroz e de soja, arroz para consumo e pecuária

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Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201534

Uma mudança implantada há cerca de cinco anos ajudou a dar novos rumos

à propriedade dos Giuliani, em São Gabriel. Alberto Giuliani Neto explica que muita coisa começou a mudar, para melhor, quando o formato de administração conjunta e familiar foi alterada.

– Contratamos um serviço de coaching porque estávamos tendo problemas, alguns comuns à gestão de família, o que gerava muitos conflitos. Todo mundo mandava em tudo, e não estava funcionando. Hoje, cada um tem sua área de responsabilidade e onde tem a palavra final, como produção, financeiro e comercial – conta Giuliani.

Dentro desse trabalho de profissionalização, o produtor conta que cada um entender o seu real papel na estrutura, e

dos colegas, acrescenta diferente benefícios ao negócio.

Essa modernização na gestão familiar também foi replicada para outras áreas. Todos os funcionários têm acesso à internet e colaboradores e familiares podem frequentar uma escola que funciona dentro da propriedade e atende até o 5º ano do Ensino Fundamental.

Com educação e maior intimidade de todos com novas ferramentas de trabalho, a ação de fazer controle de custos e até mesmo de organizar e planejar qualquer coisa se torna mais fácil. Giuliani conta que há um plano de expansão elaborado para os negócios até 2025.

– A cada safra, temos uma atualização de dados e informações. Para trás e para frente. Trabalhamos olhando para muitas variáveis, como o

PLANEJAMENTO

Consultorias, profissionalização e inovação no foco dos Giuliani

mercado, o clima e outros itens – afirma.

A propriedade também conta com organograma de todos os cargos, funções e responsabilidades, contrata consultoria em diferentes áreas (como tributária, econômica e até psicológica, quando necessário). Além disso, as contas familiares e da empresa foram separadas e mesmo os herdeiros trabalham com pró-labore próprio.

– Já os funcionários são premiados por produtividade. A propriedade rural é uma empresa como outra qualquer, que tem de ser também inovadora – explica Giuliani.

O resultado de tudo isso? O avanço da produtividade em mais de 10% em quatro anos no arroz, que passou de 10,6 mil

quilos por hectare em 2011/2012 para quase 11,6 mil quilos no ciclo 2014/2015.

Outra receita é diversificar a atuação: feno, transporte, arroz, sementes, soja e pecuária de corte integram o mix de negócios.

Alberto Giuliani Neto (E) tem o cargo de diretor de produção, e Sergio Augusto Giuliani Filho responde pela diretoria comercial

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S DIVULG

AÇÃO

Formosa Agropecuária, em São GabrielAtividades: plantio de arroz em 820 hectares, soja na coxilha em 520 hectares e soja na várzea em 1,1 mil hectares, além de pecuária de corte (1,1 mil bovinos)

35Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

O lhar a propriedade de perto, das rotinas de trabalho às lavouras,

mas com apoio especializado e delegando poder. Sem abrir mão, claro, do planejamento. É com essa filosofia que o geólogo Walter Arns, 60 anos, de Uruguaiana, pode ser apontado como um bom exemplo de gestão de propriedade.

– Minha lavoura de arroz já estava toda plantada 20 dias antes do prazo. A maioria dos produtores ainda tem um trecho ou outro para tocar. Priorizo muito fazer a semeadura cedo e, sabendo dos riscos do El Niño, nos antecipamos ainda mais. Cheguei a plantar, no cedo, uma parte em setembro – diz Arns.

O produtor diz, porém, que tem uma posição privilegiada em relação a muitos outros produtores. Ele conta com

2,2 mil hectares para plantio distante apenas 25 quilômetros de sua residência, o que facilita o contato direto com o campo e com os gestores locais da propriedade. Em geral, os orizicultores acabam tendo mais de uma área para cuidar, inclusive em municípios diferentes. Arns soube tirar proveito da proximidade:

– Com o responsável agronômico eu falo praticamente todos os dias. E tem ainda um responsável pela parte comercial. Reuniões ocorrem semanalmente. Olho as coisas com visão crítica e, quando não concordo, vou direto ao gestor da área e discutimos o assunto para resolver – explica Arns, que participa de diferentes atividades ligadas ao setor, por meio das quais se mantém atualizado.

O produtor também está sempre inteirado dos problemas

e soluções para a atividade por meio do próprio trabalho diário, no comando da Vetagro, escritório de consultoria agrônoma, em Uruguaiana.

– Nossos profissionais de assistência técnica circulam em muitas propriedades e estou sempre me informando do que ocorre na região. Isso ajuda a ter uma visão ampla. Aprendo com as experiências deles também – explica o produtor.

Outra prioridade na gestão do geólogo é contar com bom maquinário. Arns diz que, apesar da área extensa que gerencia, tem condições de semear tudo em no máximo 15 dias. Novamente, para privilegiar a capacidade de plantar cedo. Assim que o tempo permitir.

– É comprovado que o arroz plantado em outubro tem maior potencial de produtividade. No

Visão crÍtica e presença constante marcam gestão de Arns

começo de novembro também, mas neste ano correríamos o risco de não conseguir. E muitos não conseguiram em razão do El Niño – pondera Arns.

A gestão de pessoal também tem peso no trabalho: são cerca de 60 funcionários, que recebem participação nos lucros, pagamento extra por produtividade e sorteios.

– Nossa produção média é de 9 mil quilos por hectare. No ciclo atual queremos chegar a 10 mil. Claro que isso também depende do clima – ressalva Arns.

Walter Arns procura antecipar ao máximo o plantio devido a fenômenos como o El Niño

Estabelecimento Guará, em Uruguaiana

Atividades: 2,2 mil hectares de arroz, 200 hectares de soja e pecuária (recria de terneiros, cerca de 9 mil por ano)

Irga recebe outorga para a Barragem do CapanéParceria entre o instituto e Departamento de Recursos Hídricos encerrou questão de cerca de 50 anos

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201536

RECURSOS HÍDRICOS

A pós cerca de 50 anos de luta, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) finalmente recebeu no último

mês de setembro, no dia 11, a outorga de direito ao uso da água da Barragem do Capané, em Cachoeira do Sul. Na ocasião, o presidente do Irga, Guinter Frantz, afirmou que a concessão significa um momento histórico.

Em entrevista à Lavoura Arrozeira, o diretor do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema), Fernando Meirelles, salienta que, apesar de as águas da Barragem do Capané serem utilizadas pelos produtores da região há décadas para a irrigação das lavouras de arroz, a situação nunca foi regularizada por

meio da entrega de uma outorga oficial.Meirelles explica que, após anos de

discussões e de disputas infrutíferas, que não resultavam nem na concessão de outorga nem na interrupção da utilização da água local para a produção, partiu do Irga a iniciativa de procurar o DRH para, de uma vez por todas, regularizar a situação.

– Nunca conseguiu se fazer um diálogo de uma maneira positiva com o Irga. Sempre se pediu mais documentos. Agora, a gente rompe este processo de tensionamento, reconhece que a barragem estava sendo usada e dá um prazo para regularizar. Isso foi construído com o Irga – disse Meirelles.

Também durante a concessão da outorga,

37Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Diretor do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema), Fernando Meirelles explica que outra situação trabalhada entre o Irga e a Sema é a questão das bacias especiais, em que a concessão de novas outorgas está congelada porque a ampliação do uso da água poderia colocar em risco os rios.

Ele afirma que, recentemente, os arrozeiros da região da Bacia do Sinos patrocinaram um estudo junto ao CBH local para comprovar que houve mudanças no volume de água utilizada para a irrigação das lavouras, o que poderia acarretar em uma mudança na política de outorgas.

– Há uma definição técnica de um novo manejo de água que existe na lavoura de arroz.– explica Meirelles.

Seguindo os passos da ação bem-sucedida no região dos Sinos, Meirelles diz que os produtores das regiões da Bacia do Gravataí e de Santa Maria poderiam optar pelo mesmo caminho para pleitear o descongelamento de novas outorgas.

o secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, Ernani Polo, afirmou que a iniciativa do Irga foi feita de forma técnica e com respaldo dos produtores. Ele ponderou que a entrega da outorga simboliza o trabalho respeitoso que a diretoria da entidade tem feito para atender as necessidades dos produtores.

Sobre a participação dos produtores no processo, o presidente do Irga ainda ressaltou:

– É importante que os produtores participem e demandem, pois é através disso que podemos solucionar os problemas – disse Guinter Frantz.

O diretor do DRH salienta, porém, que a outorga ainda não é definitiva. Foi concedida uma outorga precária para a próxima safra, explica.

Segundo ele, o Irga ficará responsável por produzir um estudo de viabilidade técnica e comprovar, por meio de documentos, a situação de estabilidade da barragem, o estado do vertedor no local, o manejo das comportas, entre outros

documentos que devem ser apresentados em março de

2016, quando o Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH) do Baixo Jacuí, órgão vinculado à Agência Nacional de Águas (ANA), irá avaliar a possibilidade de

concessão de nova outorga.O Irga mantém contrato

para a utilização de água da Barragem do Capané com cerca de 35

produtores. A represa está entre as cinco maiores do Estado e fornece água para irrigação de mais de 5 mil hectares.

Segundo Meirelles, o principal benefício para os produtores a partir da outorga é que, com a regularização do uso das águas da barragem, eles poderão ter acesso facilitado a financiamentos para a produção.

– Como não havia outorga pelo uso da água, o banco dizia que não podia dar financiamento porque não tinha garantia pela utilização da água – afirmou.

Além disso, também abre-se o espaço para a ampliação da área irrigada na região, desde que o Irga apresente um estudo de que isso não trará prejuízos para os demais usuários da bacia.

Novas outorgas em bacias especiaisA represa está

entre as cinco maiores do Estado e pode fornecer

água para irrigar mais de

5 milhectares.

ASSESSORIA IRG

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Minicenso prepara terreno para levantamento da próxima safraEstudo preparativo servirá como base para o Censo previsto pelo Irga para o ano de 2016

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201538

RADIOGRAFIA DA LAVOURA

39Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

O último Censo da produção do arroz realizado pelo Instituto Rio Grandense

do Arroz (Irga) ocorreu na safra 2004/2005. Como o órgão tem o objetivo de realizar um levantamento do tipo a cada 10 anos, um novo Censo deveria ser realizado na safra de 2014/2015. Contudo, em decorrência de problemas técnicos, optou-se por fazer inicialmente um Minicenso preparativo para um estudo completo a ser realizado na próxima safra.

Diretor técnico do Irga, Maurício Fischer explica que essa decisão de fazer um minicenso preliminar foi tomada em razão de os técnicos da entidade que trabalham junto aos produtores terem sido convocados apenas de 2014 para cá, o que fez com que eles ainda não conhecessem grande parte dos produtores dos 40 núcleos de assistência técnica do Irga no interior do Rio Grande do Sul.

Em razão disso, optou-se por fazer um Minicenso como teste nesta safra. O levantamento trouxe dados interessantes (confira nas páginas seguintes), como o fato de que a produtividade média de arroz no RS está em 7.780 kg/ha.

– O primeiro objetivo dos novo técnicos foi conhecer os produtores e também aproveitar o contato para testar a metodologia que vai ser utilizada pelo Censo no futuro – diz Fischer.

Uma das metodologias que está sendo testada é a utilização de um banco de dados e sistema de análise.

– As perguntas vão cair direto no sistema, que já processa e gera resultados. No modelo anterior, nós utilizávamos uma planilha manual e depois passávamos para o Excel – salienta Fischer.

Em razão da aceleração do processo de apuração dos

resultados, a expectativa do Irga é que os resultados do Censo possam ser divulgados em uma publicação ainda em 2016 - o último Censo foi realizado em 18 meses no total.

Diferenças entre Censo e Minicenso

O Censo do Irga tem o objetivo de coletar informações sobre as condições socioeconômicas dos produtores de arroz, os dados agronômicos, tecnológicos e dos recursos hídricos disponíveis, bem como fazer um levantamento sobre a concessão do crédito agrário, da situação da terra após a colheita, sobre o maquinário utilizado e o nível de emprego na lavoura, entre outros dados.

– O Minicenso tem bastante informação, mas não tanto quanto o censo. Não tem quantos tratores o produtor tem, se ele utiliza secador ou não. Isso são informações coletadas no Censo. O mini são informações básicas, mais da gestão da unidade de

produção – explica Fischer.

No Censo anterior – safra 2004/2005 –, o Irga identificou 9.032 lavouras em 133 municípios do Estado – nove municípios atendidos pela entidade não tinham cultivado arroz na ocasião. Identificou-se que 18.529 pessoas participaram

da produção de arroz, sendo 11.960 produtores e 6.569 parceiros ou proprietários de terra.

Além disso, verificou-se em 2004/2005 a produção de 125.025.986 sacos de 50 kg arroz em casca em uma área total de 1.034.820 hectares. Em comparação, o Minicenso entrevistou 8,2 mil produtores em 7.113 lavouras, o que representaria cerca de 87% das lavouras de 126 municípios arrozeiros. Segundo Fischer, a ideia é que, no Censo da safra de 2015/2016, até 95% dos produtores sejam entrevistados.

As perguntas vão cair direto no sistema, que já processa e gera resultados.

MAURÍCIO FISCHERDiretor técnico do Irga

ASSESSORIA IRG

A

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201540

O que revela o Minicenso da lavoura arrozeira

Na comparação com os resultados dos últimos anos, o Minicenso apontou uma continuação da tendência de aumento da produtividade média. Na safra de 2010/2011, a produtividade média era de 7.497 kg/ha. Vale salientar que o aumento da produtividade se deu mesmo com a queda na área plantada entre os dois períodos, de 1.170 mil hectares para 1.124 mil hectares.Se voltamos ainda mais no tempo, percebe-se que a produtividade da lavoura de arroz deu um grande salto desde o início do século. Na safra de 2002/2003, a produtividade média era de 5.330 kg/ha. Em 2003/2004, 6.110 kg/ha.

RESULTADOS DA SAFRA

Foram coletados dados de 7.113 lavouras

Isso corresponde a 87% da lavoura de arroz do RS

Levantamento realizado em 126 municipios do RS

LEVANTAMENTO REALIZADO

Produção8.719.449 toneladas

Área colhida1.120.234 hectares

Produtividade média7.780 kg/ha

Os dados do Minicenso demonstram

que quase a metade dos arrozeiros plantam até 50 ha.

PROPRIEDADE DA TERRA

42% têm terras próprias58% utilizam terras arrendadas

FAIXA DE PRODUTIVIDADE

Produtividade por lavouras de arroz:23,5% Até 6,5 mil kg/ha37% Entre 6.501 e 7,5 mil kg/ha24% Entre 7.501 e 8,5 mil kg/ha15,5% Acima de 8.501 kg/ha

46% Lavouras de até 50 hectares17% Lavouras de 51 a 100 hectares16% Lavouras de 101 a 200 hectares21% Lavouras acima de 201 hectares

TAMANHO DAS PROPRIEDADES

ANÁLISE POR REGIÕES

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2000

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Maior produtividade média em kg/haZona Sul - 8.479Campanha - 8.165Fronteira Oeste - 8.149Depressão Central - 7.249Planície Costeira Interna - 7.234Planície Costeira Externa - 6.581

Do prato para o

Em parceria com a Escola da Cerveja, de

Porto Alegre, o Irga já testa a produção

de uma cerveja feita a partir de arroz.

Variedade derivada do grão é mais comum

no mercado dos Estados Unidos

CERVEJA DE ARROZ

41Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

copo

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201542

A popularização das cervejas artesanais acabou por difundir também mais informações sobre a bebida surgida

antes mesmo de Jesus transformar água em vinho – há apontamentos de que o líquido dourado, hoje um dos mais consumidos no planeta, tenha sido descoberto quase que junto ao processo de fermentação, por volta de 10 mil A.C.

Com isso, surgiram “mestres cervejeiros” de ocasião, que defendem com unhas e dentes a Lei da Pureza da Cerveja (Reinheitsgebot), promulgada em 1516, a qual diz que a bebida só pode ser feita com malte, lúpulo e água. Mas os tempos são outros e as regras para produção, também. Diferentes insumos, tais quais milho e arroz, agora são permitidos. O que habilita o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) a investir em algumas experiências no ramo em parceria com a Escola da Cerveja, de Porto Alegre.

Na legislação brasileira, por exemplo, os chamados adjuntos cervejeiros – que complementam ou substituem parte do malte – podem estar presentes em até

45% da fórmula. Uma boa desculpa usada por consumidores mais radicais para marginalizar exemplares que fogem à composição tradicional adotada há mais de meio milênio. E, ainda que puristas tenham seus argumentos, a verdade é que uma cerveja dentro dos padrões da antiga lei não necessariamente será boa.

Bem como não há garantia de que uma fabricada com materiais fora da concepção purista será ruim.

– Nos Estados Unidos, o uso do arroz na cerveja é mais comum do que no Brasil. Quando colocamos esse tipo de grão na composição da cerveja e ela é bem feita, o produto final fica mais leve – salienta Marcelo Scavone, fundador da Escola da Cerveja.

De acordo com Janice Garcia Machado, engenheira química e assessora da Presidência do Irga, ainda que o senso comum indique o milho como adjunto cervejeiro preferido em território nacional,

não há estudos que atestem a informação como verdadeira. Ela, inclusive, aposta que o arroz é o favorito dos fabricantes, no Estado e no país:

– Não há essa estatística sobre o uso do arroz em maior quantidade, se comparado com outras

possibilidades de adjunto. Contudo, acredita-se que essa demanda maior ocorra não só no RS (esse é um fator a ser pesquisado), mas em todo Brasil.

Vale lembrar que não se trata do cereal inteiro, seja milho ou arroz. O que é colocado, geralmente, na produção de cerveja são os grãos quebrados, considerados excedentes da colheita.

– É o que chamamos de quirera. Até porque o malte tradicional também precisa ser moído para que cumpra sua função durante a fervura do mosto (mistura açucarada destinada à fermentação alcoólica) – explica Janice, que tem expertise na indústria cervejeira.

CERVEJA DE ARROZ

“Nos Estados Unidos, o uso do arroz na cerveja é mais comum do que no Brasil”, diz Marcelo Scavone

Marcelo Scavone, da Escola da Cerveja, fez parceria com o Irga

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CERVEJA DE ARROZ

O uso do arroz como adjunto é uma prática antiga, bastante validada e extremamente positiva, pois é utilizada pelas grandes empresas multinacionais.

O arroz é usado como fonte de menor custo de açúcar disponível para a etapa de fermentação e com poucos resíduos, contribuindo para a produção de uma cerveja mais clara e mais leve.

Os produtores de cervejas artesanais ainda não incorporam arroz ao seu produto porque entendem que a uma qualidade superior da bebida está associada ao uso de maior quantidade de malte de cevada, o que consequentemente produz cervejas encorpadas.

Ao passo que as escalas começam a aumentar, para viabilizar os custos de produção, os adjuntos acabam sendo incorporados na produção. E o arroz é uma excelente alternativa.

coisas que você (provavelmente) não sabia sobre o arroz e a cerveja

43Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Ingredientes da cerveja de arroz (a partir da E): água, malte, arroz, lúpulo e fermento em pó

Segundo Scavone, a prática de adicionar esses tipos de cereais na estrutura da bebida tornou-se muito popular nos EUA após a revogação da Lei Seca. A partir daí, a combinação de ingredientes parece ter caído nas graças dos consumidores. Tanto que uma das 10 marcas mais consumidas no mundo, a americana Budweiser, opta por incluir arroz junto ao tradicional malte de cevada. Há quem diga que a mistura é apenas para diminuir gastos, mas ela tem outras funções.

– Isso deixa a bebida mais leve e clara e, consequentemente, mais fácil de beber. É o estilo mais vendido no mundo – afirma Scavone.

Janice faz coro à resposta do cervejeiro gaúcho.

– O uso do arroz não se justifica apenas pelo preço, e sim pelas características, como menos gordura em relação a outros adjuntos e amido facilmente disponível para transformação em açúcar na fermentação. Além disso, o acréscimo de arroz diminui proporcionalmente o uso da cevada malteada (malte), que é mais cara que o arroz quebrado.

Scavone reforça que a cerveja com essas características deve ser classificada como American Light Lager, e não como Pilsen, algo erroneamente feito no Brasil por grande parte da indústria. Por enquanto, é essa variedade que ele produz em parceria com o Irga. A primeira leva foi há dois anos, e continha 30% de arroz. Já a mais recente foi apresentada na Expointer 2015, em comemoração aos 75 anos do instituto, e continha 45% do grão (orgânico) – o máximo permitido legalmente.

O desafio agora é tentar produzir o malte diretamente do arroz, para desenvolver uma cerveja pura. O que significa deixar o cereal com propriedades e enzimas mais aptas a serem convertidas em açúcares.

– Faz-se isso deixando o grão germinar e desenvolver o conteúdo proteico. Quando ele está com todos os nutrientes, é tostado e fica com toda essa reserva – afirma o engenheiro químico Gilberto Wageck Amato, do Irga.

Além de tentar ‘maltear’ o arroz, existem outras ideias de pesquisa envolvendo o grão e a cerveja. Entre elas, está fabricar cervejas com arroz vermelho, preto e variedades de arroz com baixa amilose (japônico). O Irga busca parcerias técnicas para colocar em prática esses projetos.

– Temos a expectativa de que grãos distintos confiram características especiais de cor, sabor e corpo, criando um produto diferenciado para atrair o mercado cervejeiro – destaca Janice.

I niciativas isoladas de incluir o arroz na composição da cerveja podem ser vistas também em Pelotas, na Zona Sul do

Estado, onde o cereal responde por parcela significativa da economia regional. Uma destas iniciativas veio em forma de tese de doutorado, que será defendida em 2016, em que o doutorando do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Ciência e Tecnologia da UFPel, Dejalmo Nolasco Prestes, defende a ideia de produzir cerveja puro arroz e com malte de arroz.

– Para se fazer cerveja é necessário que tenhamos o malte, que é o elemento principal – explica o pesquisador.

Prestes trabalha na malteação e sacarificação de arroz para elaboração de cerveja puro arroz. A variedade utilizada é a IRGA 424, que já teve uma cerveja fruto de enzimas do malte sem a necessidade de enzimas comerciais. A cerveja possui quatro elementos principais que são água, malte, lúpulo e leveduras, de acordo com a Lei da Pureza da Cerveja, criada no dia 23 de abril de 1516. A cevada é o cereal mais usado, para que se tenha maior quantidade de amido e maior potencial para tradução de enzimas no

momento da germinação.– O arroz, mesmo que em certos

momentos seja tratado como vilão em uma cerveja por ela não ser puro malte, como adjunto torna a cerveja mais leve, com coloração mais ouro, mais saborosa e refrescante, além de ser uma boa fonte de açúcares fermentáveis – explica Prestes.

Ele ressalta que o objetivo do seu trabalho, a partir do cereal germinado na variedade IRGA 424, é fazer a malteação do arroz, o que

requer apenas uma técnica de germinação controlada com temperatura e umidade favoráveis. A dificuldade começa no momento da

torrefação e sacarificação (açúcar), diz.

Segundo ele, é preciso avaliar o teor de alfa e betamilase

(duas enzimas) do grão de arroz, após a germinação controlada.

– Meu experimento está avançado e já consegui fazer cerveja 100% arroz ou puro malte de arroz – afirma.

Ele também já fez cerveja sem glúten usando o arroz sem malteação e fazendo a sacarificação com as enzimas comerciais, pois “a finalidade é ter a minha cerveja de consumo oriunda do arroz”, ressalta.

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201544

CERVEJA DE ARROZ

O que motivou o estudo de Dejalmo foi o fato do arroz ter uma grande importância para a economia da região de Pelotas e o malte de cevada ser quase todo importado:

– O arroz é uma fonte muito grande de amido, trata-se de matéria-prima barata e de fácil acesso.

Ele busca ainda fazer alguns ajustes para chegar a uma cerveja que tenha identidade para atender os celíacos. A cerveja artesanal mais lupulada tem mais amargor e pode ser muito benéfica na prevenção de doenças, pois existem estudos avançados que comprovam os componentes do lúpulo como anticancerígenos.

– Também há indícios de que o álcool em pequenas doses é benéfico para o sistema cardiológico da pessoa e que uma cerveja artesanal é um grande alimento – assegura Prestes.

Diante deste novo hábito de beber cerveja artesanal, Prestes vê esta possibilidade de explorar a sua riqueza nutricional, social e também suas vantagens saudáveis. Os cervejeiros artesanais são muito dinâmicos em divulgar e buscar a informação a todo momento.

– Já fiz cerveja saborizada com pimenta, araçá, butiá, morango, mirtilo e frutas nativas. A ideia agora é fazer uma cerveja de puro arroz saborizada com pêssego, dois produtos típicos da região Sul – acrescenta.

O aumento do consumo de cervejas artesanais e caseiras no Brasil levou os cervejeiros a buscar alternativas e atributos sensoriais, com a valorização da cor, aroma e sabor por meio do malte, fermento e lúpulo. A elaboração com a utilização de adjuntos especiais, como o arroz, é uma forma de reduzir o custo de fabricação de cervejas.

Importância regional motivou o estudo

Tese de doutorado defende o malte de arroz

Dejalmo Nolasco Prestes utiliza a variedade IRGA 424 e afirma já ter feito uma cerveja 100% pura

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Arroz torna a cerveja mais

leve e também traz sabor e

refrescância

45Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

CERVEJA DE ARROZ

A curiosidade em relação à produção de cerveja artesanal foi a principal

motivação do pesquisador da Embrapa Pelotas, Alcides Severo, a se aventurar por esta descoberta de sabores. Ele lembra que tudo começou em 2011, motivado por um amigo, com a produção de volume pequeno, que foi aumentando aos poucos em função da criação de uma confraria em torno da cerveja que já ganhou até marca, Bruma Bier, e soma 27 integrantes, que se reúnem uma vez por mês, sempre na última quinta-feira, para degustar as bebidas.

A diversidade de sabores e tipos é grande, mas para Severo, na artesanal, cada cerveja é única.

– Por mais que tu repitas os processos como devem ser, tu nunca vais fazer uma cerveja igual à outra – afirma.

Em países como a Bélgica, o arroz é utilizado como adjunto na fabricação de cerveja. A maioria utiliza o arroz longo fino (agulhinha). Nos Estados Unidos, existem cervejas com até 90% de arroz, garante.

Arroz Gigante é uma variedade testada

Por trabalhar numa empresa que desenvolve pesquisa na área de arroz, a Embrapa, Severo resolveu testar uma nova variedade para a fabricação da bebida, o BRS AG, o Arroz Gigante, como é chamado. O motivo foi a sua melhor eficiência na conversão do açúcar, por ser um grão mais farináceo. Segundo ele, o tempo e a temperatura de gelatinização são menores em relação a um arroz classe longo fino,

facilitando assim o processo de conversão do amido:

– Utilizando os mesmos processos (tempo e temperatura), obtive com o gigante 10% a mais de eficiência de brassagem comparando com quando usei arroz longo fino.

Cerveja servida em congresso foi Cream Ale

Durante o 9º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado (CBAI), realizado em agosto, em Pelotas, Severo ofereceu uma mostra do quanto a variedade se presta à elaboração de cerveja. Foram 60 litros da bebida artesanal para a degustação dos participantes, que aprovaram.

A bebida produzida especialmente para o Congresso é a cerveja de estilo Cream Ale, uma cerveja clara, com aroma sutil, levemente frutada,  teor alcóolico de 4,4% e amargo levemente acentuado. Segundo Severo, a cerveja foi elaborada com 40% de arroz em sua composição. Conforme afirma, a maioria das cervejas já inclui em sua composição arroz e milho.

– Principalmente nos Estados Unidos, a produção de cerveja possui uma composição com uma quantidade expressiva de milho.

Para a  produção da cerveja artesanal é preciso passar por várias etapas, entre elas, brassagem, fervura, resfriamento, fermentação e maturação, que pode levar de 30 a 45 dias.

Atualmente, Severo produz 24 estilos de cerveja, com diversas características e rótulos próprios. Mas os produtos não estão à venda. São produzidos para reuniões de amigos que degusta os benefícios da bebida.

Pesquisador de Pelotas aventura-se com o sabor do grão

90%de arroz é a composição de algumas cervejas nos

Estados Unidos

60 litros de cerveja com

40% de arroz estiveram à disposição dos participantes do 9º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado (CBAI),

em Pelotas

Alcides Severo produz 24 tipos de cerveja e reúne-se com outros cervejeiros em uma confraria para degustação

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201546

Arroz parboilizado traz segurança alimentar

ARTIGO TÉCNICO

47Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Produto naturalmente fortificado, concentra fatores como baixa quebra técnica no armazenamento e estabilização enzimática

A Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável trata do direito dos cidadãos ao

acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, com atenção à sustentabilidade ambiental, cultural, social e econômica.  

O termo “alimentar” vincula ao trinômio produção-comercialização-consumo.

O “nutricional” trata da utilização do alimento e seu reflexo na saúde.

O recente complemento “sustentável” envolve as óticas ambiental, cultural, social e econômica.

O arroz cumpre, no Brasil, com todos os aspectos da definição por:

Ter a proteína de maior valor biológico entre cereais;

Possuir baixo índice glicêmico – o inimigo do déficit de atenção – e não “conter” glúten;

Ter preço acessível;

Ser cultivado e beneficiado por boas práticas agronômicas e industriais;

Constituir hábitos alimentares onipresente em todas as regiões; e

Por ser a principal fonte de carboidratos eleita por solos, climas e consumidores de todos os “Brasis”.

Programas sociais Internacionais

A Melinda and Bill Gates Foundation desenvolve o programa Arroz Vitaminado, baseado na adição de vitaminas e minerais ao arroz.

A sustentação do arroz é por ser um alimento básico, forma inteligente e barata no combate à “fome oculta”.

Trata-se de ação avalizada por organismos internacionais como a

GILBERTO WAGECK AMATO Eng. Quím., M. Sc.Pesquisador da Cientec, Assessor Técnico do Irga

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Organização Mundial da Saúde (OMS), Unicef, Banco Mundial; e nacionais, como Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Associação Brasileira das Indústrias do Arroz Parboilizado (Abiap), Irga, Sindicato da Indústia do Arroz (Sindarroz-RS), Sindarroz-SC, Sindapel, UNV etc.

Destacam-se a adição de minerais – Zn e Fe – e vitaminas B1 (niacina) e B9 (ácido fólico). O veículo para disponibilizar se dá através da mistura de grãos estrudados enriquecidos a grãos convencionais de arroz polido – branco ou parboilizado.

Arroz parboilizado: sinônimo de segurança

A busca por um arroz com segurança alimentar e nutricional sustentável encontra no parboilizado um aliado de primeira grandeza.

Trata-se de um produto naturalmente fortificado, fazendo-se necessária uma adição menor de micronutrientes. E prescinde de adição de ácido fólico – o constituinte mais caro – naturalmente recuperado no tratamento hidrotérmico da parboilização.

O parboilizado concentra fatores de segurança alimentar como estabilização enzimática e baixíssima “quebra técnica” durante o armazenamento. Assim, oferece maior quantidade de alimento durante mais tempo.

Durante a parboilização, o gérmen permanece aderido ao grão. Assim, são 2,5% a mais de massa contribuindo para diminuir os custos do processo, mas, principalmente, agregando a parte nutricional mais importante do grão. Entre os ganhos nutricionais encontram-se alguns constituintes pouco citados. Como exemplos, entre pertencentes ao grupo “esqueceram de mim”, destacam-se os Ácidos Graxos Essenciais: Linolênico – Ômega-3 – e o Linoléico – Ômega-6. Estes, por não serem sintetizados pelo organismo humano, necessitam ser disponibilizados a partir da ingestão. Também, os microconstituintes lipossolúveis Gama Orizanol (o principal antioxidante produzido pela natureza) e Vitamina E.

IRGA

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201548

Entenda a intensidade de gelatinização

ARTIGO TÉCNICO

Processamento de arroz parboilizado

IRGA

Fibras: a garantia do “conjunto da obra”

Um constituinte que passa muitas vezes despercebido merece ser referenciado como um agente corresponsável pela disponibilização mais efetiva no organismo, tanto de macronutrientes (proteínas, gorduras) como micronutrientes (vitaminas, sais minerais): as fibras!   

Efeitos fisiológicos da fibra alimentar

Emagrecimento: as fibras contribuem na sensação de saciedade, por não adicionar calorias.

Diabetes: na forma de fibra solúvel, pode retardar a digestão e a absorção de carboidratos, ajudando os diabéticos no controle de açúcar no sangue.

Câncer: na forma insolúvel, reduz o tempo de trânsito intestinal, exercendo efeito de inibir o crescimento e proliferação de células cancerígenas no intestino. Também pode contribuir na redução de doenças diverticular, hemorróidas e como protetor contra o cancro do cólon.

Colesterol sanguíneo.

O farelo de arroz, como o da aveia, contribui na redução do “mau” colesterol, aumentando a proteção contra doença coronária.

Mais fibras com o processo de parboilização

Uma importante inovação foi desenvolvida pelo LabGrãos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com base em método criado pela Cientec, com o apoio do Irga e em atendimento à demanda do setor privado.

Visou a avaliar a operação unitária mais importante do processo, a gelatinização.

O principal resultado de teses e dissertações é a correlação entre a gelatinização e o aumento na composição de nutrientes e em componentes funcionais, como proteínas, minerais, vitaminas, fibra, gordura. Entre os componentes funcionais aparece um novo componente denominado Amido Resistente, uma que une os atributos da fibra, mas sem o problema da rejeição pela palatabilidade (“gosto de serragem”) identificado em alguns produtos integrais.

49Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

PLANEJAMENTO

O Irga fecha 2015 com aproximadamente 30 projetos em fase de desenvolvimento ou

execução. Diretor administrativo do instituto, Renato Caiaffo da Rocha conta que uma das primeiras medidas da atual direção foi realizar um diagnóstico de todos os prédios da instituição, com o intuito de determinar quais obras seriam priorizadas, considerando-se as maiores necessidades da autarquia.

Em um segundo momento, o setor de engenharia foi reestruturado:

– Nós tivemos de reforçar o setor de engenharia, que possuía apenas um engenheiro, para poder dar conta de todas essas demandas – afirma Rocha.

O diretor também destaca o compromisso de colocar “a casa em ordem”, para que a instituição tenha condições de cumprir com sua atividade-fim. Mesmo com restrição orçamentárias, o setor comandado pelo engenheiro civil Décio Colatto recebeu aporte. Foram contratados

Reestruturação de setores, assim como construção e reforma de diversos prédios do Irga, são prioridades para a nova diretoria

Irga projeta obras para 2016

Em relação às obras já realizadas, Renato Rocha destaca a viabilização do acesso à internet por cabos de fibra ótica na sede do instituto. Anteriormente o serviço funcionava via rádio e com uma velocidade cinco vezes menor do que a atual, que é de 10MB por segundo.

Os Núcleos de Assistência Técnica (Nates), localizados em diversas cidades do interior, também foram contemplados. A velocidade de dados passou de 300kbps para 2MB.

Na Divisão de Pesquisa foi concluída a construção de passarelas e estacionamento, além de reformas na biblioteca, no depósito de defensivos e em três auditórios.

Para 2016, o diretor relata que estão previstas a reforma de um alojamento, normalmente utilizado por técnicos dos Nates que realizam cursos em Cachoeirinha. No Interior, estão previstas reformas em prédios do Irga e a continuidade dos projetos de construção das Casas do Arrozeiro.

Divisão de Cachoeirinha recebeu máquinas

dois estagiários de engenharia, somados à compra de softwares, resultando em melhoria da produtividade nos projetos.

Com o apoio político do secretário da Agricultura, Ernani Polo, e do secretário-geral de Governo, Carlos Burigo, aliado ao trabalho técnico do setor de engenharia, foi dada continuidade ao projeto do Centro de Excelência em Difusão de Tecnologias Orizícolas na Estação Experimental do Arroz, aproveitando os recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Localizado em Cachoeirinha, o investimento de R$ 3,3 milhões pretende hospedar a parte administrativa, além de alojamentos e espaço para capacitação e treinamento de funcionários e produtores.

Há também a retomada do projeto da nova sede para o instituto. Devido às dificuldades financeiras do Estado, o instituto estuda uma união com incorporadoras e construtoras. A diretoria ressalta que estas cooperações dependem de decisão do Conselho Deliberativo do instituto e do aval da Secretaria de Agricultura do Estado, mas que as parcerias não envolvem o repasse de recursos financeiros.

Projetos em elaboração

Projeto elétrico da rede de alta tensão de toda Divisão de Pesquisa;

Projeto elétrico da UBS; Reforma do prédio da UBS; Vertedouro da Barragem do Capané em

Cachoeira do Sul Laboratório de Pesquisa e Análise em

Uruguaiana

FOTOS ASSESSORIA IRGA

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201550

EVENTOS

A equipe de gastronomia e eventos do Irga participou de 5 a 7 de novembro da Feira Gastronômica do 27º Festival do Turismo (Festuris) de Gramado. Durante o jantar, as sobremesas – as mais diversas variações do tradicional arroz com leite – foram servidas aos convidados, que elogiaram a iguaria.

A novidade deste ano do Festuris foi o Salão de Destinos Turísticos e Salão de Gastronomia, um espaço criado para ser a vitrine da gastronomia do Rio Grande do Sul no evento. O local possui a Alameda e a Arena Gastronômica, onde os expositores promoveram a imagem do destino em conjunto com a gastronomia local. Neste espaço, o Clube Nacional do Arroz Amigo criou o Boteco do Arroz Amigo e convidou o Irga a integrar o projeto onde divulga a versatilidade do arroz nos mais variados pratos.

A atividade integrou as ações do Programa de Incentivo ao Consumo do Arroz, em fase de planejamento e que tem lançamento previsto para o início de 2016. Da mesma forma, o Arroz Amigo é parceiro do Irga nas ações do programa. Além dos doces e salgados com farinha de arroz, a equipe do Irga e Arroz Amigo fez um risoto com mix variado de arroz.

O coordenador regional da Fronteira Oeste do Instituto Rio Grandense do Arroz, engenheiro agrônomo Ivo Mello, esteve na China em agosto para uma visita técnica ao Instituto de Pesquisa de Arroz Híbrido (HRRI), na Província de Hunan. Ele foi recebido por Huang Zhicai, que o acompanhou durante os dois dias na cidade de Changsha, onde fica a sede do instituto.

No primeiro dia da visita, Mello conheceu os laboratórios do instituto utilizados pelos pesquisadores para acompanhar os detalhes do programa de desenvolvimento de híbridos de arroz. Em seguida, percorreu um dos campos experimentais do HRRI no mesmo local dos laboratórios.

Mello também fez uma apresentação institucional do Irga para a direção do HRRI e os pesquisadores mais próximos aos programas de cooperação.

– Questionaram muito o porquê de termos ainda tão pouca superfície semeada com híbridos. Expliquei que, além do alto custo da semente, os híbridos disponíveis para o mercado do Rio Grande do Sul ainda não possuem uma qualidade de grãos que seja de agrado da indústria – relata Mello.

Irga na Feira Gastronômica do 27º Festival de Turismo de Gramado

Coordenador da Fronteira Oeste do Irga faz visita técnica na China

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S ASSESSORIA IRG

A

51Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

ACasa do Irga no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, esteve movimentada

durante a 38ª Expointer 2015, que ocorreu de 29 de agosto a 6 de setembro. Entre os eventos de maior destaque estão o Dia do Arroz, em parceria com o Canal Rural, na Casa da RBS, no dia 31 de agosto, durante todo o dia.

Esse dia teve como principal atividade o Fórum Canal Rural, composto por debates que foram transmitidos ao vivo, direto da Casa da RBS. As atividades tiveram início às 9h15min com recepção do público e degustação da culinária experimental (doces e salgados à base de farinha de

arroz) elaborada pela equipe de Gastronomia e Eventos do Irga.

Pela manhã, o programa foi conduzido pela jornalista Kellen Severo e contou com as participações do diretor técnico do Irga, Maurício Fischer, e dos produtores rurais Alberto Giuliani Neto (São Gabriel), Fernando Rechsteiner (Pelotas) e Jair Buske (Agudo). O programa enfocou o tema “Caminhos para uma lavoura bem-sucedida” e contou ainda com a participação do analista do Canal Rural Miguel Daoud. O presidente do Irga, Guinter Frantz, e os diretores Tiago Sarmento Barata e Renato Rocha acompanharam

os debates. Fischer abriu os debates

lembrando a história e os 75 anos do Irga. Sobre a crise econômica, Fischer falou sobre o trabalho do instituto no sentido de orientar e ajudar os produtores. Citou ainda números relevantes da última safra da lavoura de arroz: – Plantamos 1,124 milhão de hectares, com uma produção de 8,7 milhões de toneladas e produtividade média recorde de 7,77 mil quilos por hectare. São números bem significativos.

O diretor do Irga lembrou ainda que o Estado é responsável por 67% de toda produção de arroz do Brasil.

– São 232 mil empregos diretos e indiretos no setor produtivo, 131 municípios arrozeiros e 18 mil produtores no RS – disse.

Durante o programa, também foram chamados a se manifestar o secretário de Agricultura do RS, Ernani Polo, o presidente da Emater RS, Clair Kuhn, e o presidente da Federarroz, Henrique Dornelles.

O presidente da Comissão de Irrigantes da Farsul e do Clube da Irrigação, João Augusto Telles, apresentou resultados do Clube. Em seguida, o engenheiro agrônomo e gerente da Divisão de Pesquisa do Irga, Rodrigo Schoenfeld, falou sobre o projeto Soja 6000.

À tarde, os debates giraram em torno do tema as “Perspectivas da soja no Sul do Brasil”, em que foram discutidos os cenários da soja em rotação com o arroz. Participaram o engenheiro agrônomo da Proatec Consultoria, de Alegrete, Rafael Ramos; o produtor rural e administrador de empresas Gustavo Lara, de Pelotas, e o produtor rural e médico veterinário Geraldo Azevedo, de Mostardas.

Dia do Arroz esteve entre os principais eventos promovidos pelo Instituto, por discutir o cenário da lavoura arrozeira

Sede do órgão no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, sediou jantares, almoços, entregas de prêmios e recebeu visitas

Casa do Irga foi centro de atividades

EXPOINTER 2015ASSESSO

RIA IRGA

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201552

Assinatura da minuta do Programa Arroz na Bolsa

Além da programação própria, a Casa do Irga serviu como palco para eventos de várias entidades parceiras, como o jantar da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), na noite de 2 de setembro. Foi assinada a minuta do projeto Arroz na Bolsa, realizado em parceria entre Irga, Federarroz, BBM, Corretora Banrisul e Emater (leia mais sobre o Arroz na Bolsa às páginas 21 e 22).

Na noite de 3 de setembro, foi a vez da Camil realizar seu coquetel e recepcionar seus clientes e amigos. Na sexta-feira, 4 de setembro, a Federarroz realizou entrevista coletiva para o lançamento da 26ª Abertura da Colheita do Arroz, que ocorre de 18 a 20 de fevereiro de 2016, no parque do Sindicato Rural de Alegrete.

Engenheiro recebe prêmio por projeto

Na noite do dia 31 de agosto, o engenheiro agrônomo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e gerente da Divisão de Pesquisa de Cachoeirinha, Rodrigo Schoenfeld, recebeu o prêmio O Futuro da Terra 2015, concedido pelo Jornal do Comércio. Schoenfeld foi selecionado pelo comitê científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) com o projeto sobre desenvolvimento de tecnologias para mitigar o impacto da lavoura arrozeira no meio ambiente, na categoria Preservação Ambiental.

Concurso teve mais de 30 receitas com arroz

Ainda durante toda a Expointer, o Irga realizou Concurso de Receitas com Arroz, ação do Programa de Incentivo ao Consumo de Arroz, que recebeu mais de 30 receitas, com cinco delas consideradas as mais originais. A comissão julgadora decidiu então pelo Sushi 100% Arroz como a mais saborosa e a mais original, de autoria da sushiwoman Jaqueline Viegas dos Passos, de 48 anos. Jaqueline levou para casa uma cesta repleta de alimentos de arroz, com produtos patrocinados pelas empresas Josapar, Arroz Pilecco Nobre, Volkmann Alimentos e Vitao.

EXPOINTER 2015FO

TOS ASSESSO

RIA IRGA

53Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

EVENTOS

Com o tema “Inovações e desafios no sistema produtivo do arroz irrigado integrado a culturas em rotação”, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) realiza o seu Dia de Campo Estadual, no dia 1º de março de 2016, terça-feira, das 7h às 14h, na Estação Experimental de Arroz, situada na avenida Bonifácio Carvalho Bernardes, 1.494, bairro Carlos Wilkens, em Cachoeirinha.

São esperados em torno de 1,5 mil participantes, na grande maioria produtores orizícolas de diversas regiões do Estado, pesquisadores, professores, extensionistas rurais, industriais, comerciantes, empresários do agronegócio de arroz, organizações de produtores, técnicos do setor público e privado, empresas de exportação, lideranças rurais, alunos e profissionais da área de pesquisa do arroz irrigado, além de diversas autoridades do Estado.

Este é um dos eventos mais tradicionais e de maior importância para a área de pesquisa do Instituto. Apresenta as novidades desenvolvidas pela pesquisa, nas linhas de melhoramento genético, lançamento de novas cultivares além de práticas de manejo, adubação, sementes, doenças e irrigação. Nos últimos anos, a rotação de culturas também passa a ter destaque.

O evento dispõe de área de estandes para empresas, oficinas técnicas na área ambiental, boas práticas agrícolas, pós-colheita e regulagem de máquinas. A abrangência é estadual, com público de todas as regiões orizícolas. O Dia de Campo da Estação Experimental do Arroz é uma ação conjunta das Divisões de Pesquisa, Departamento de Extensão Rural (Dater) do Irga e da Fundação Irga.

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) será o anfitrião do 10º Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado (CBAI), que ocorre em Porto Alegre, em agosto de 2017. A decisão foi anunciada no último dia da nona edição, que ocorreu de 11 a 14 de agosto de 2015, no Centro Histórico de Pelotas. Promovido pela Sociedade Sul-Brasileira de Arroz

Irrigado (Sosbai) o tema desta edição foi Ciência e Tecnologia

para a Otimização da Orizicultura, com realização a cargo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apoio da Prefeitura de

Pelotas e copromoção do Irga, da Empresa de Pesquisa

Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri),

e das Universidades Federais de Pelotas (UFPel), do Rio Grande do Sul

(UFRGS) e de Santa Maria (UFSM). No final do evento, foi eleita e

empossada a nova Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal da Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai), que têm a atribuição de promover o próximo evento. O presidente é o gerente da Estação Experimental do Arroz do Irga em Cachoeirinha, Rodrigo Schoenfeld. O vice-presidente é o representante da Epagri, Klaus Scheuermann, que ficará responsável pela 11ª edição do evento, em 2019. Na diretoria executiva estão ainda outros representantes do Irga: Alencar Júnior Zanon como secretário; Filipe Selau Carlos, segundo secretário; Felipe Ferreira, tesoureiro, e Fernando Fumagalli Miranda, segundo tesoureiro.

As conferências e painéis do 9º Congresso foram realizados no Theatro Guarany, com capacidade para 1,2 mil pessoas.

Dia de Campo Estadual do Irga ocorre em 1º de março de 2016

Instituto será o anfitrião do 10º Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado (CBAI)

Fique ligado: o 10º congresso será em

2017

Decisão sobre a sede do novo evento foi anunciada ao final da nona edição, em Pelotas

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201554

CALENDÁRIO

AGENDA DE EVENTOS DO IRGA

21/01Cachoeira do Sul

Dia de Campo Regional DC

04/02Candelária

Dia de Campo

28/01Jaguarão

Dia de Campo

17/02São João do

Polêsine

Dia de Campo

02/02Paraíso do Sul

Dia de Campo

18 a 20/02Alegrete

Aberta Oficial da Colheita

03/02Pantano Grande

Dia de Campo

08/03Bagé

Dia de Campo Regional

Janeiro/Fevereiro/Março 2016

PARA SABER OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE O CALENDÁRIO: Site oficial do Irga - www.irga.rs.gov.br – Telefone: (51) 3288-0400

FOTO ASSESSORIA IRGA

27/01Santana do Livramento

Roteiro técnico

25/02Piratini

Dia de Campo

25/02Palmares do Sul

Dia de Campo Regional PCE

1º/03Cachoeirinha

Dia de Campo estadual

15/03Caçapava do Sul

Dia de Campo

16/03Formigueiro

Dia de Campo

17/03Restinga Seca

Dia de Campo

21 a 23/03Rio Pardo

Expoagro/Afubra

55Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

ALMANAQUE

Há 50 anos na Revista Lavoura Arrozeira

REPROD

UÇÕES

OUTUBRO - Edição 223

Com 40 páginas, a Lavoura Arrozeira de outubro de 1965 trazia dois artigos técnicos muito bem fundamentados: “Ensaios sobre Adubação: Adubos em cobertura e adubos no solo” e “O carneiro hidráulico na prática”. Neste segundo caso, o autor destacava que esse aparelho eleva o líquido (quando houver abundância de água) de uma das maneiras mais econômicas que se conhece: com a energia cinética criada por um desnível.

A revista publicou, também, a terceira parte do Estatuto da Terra, além do calendário orizícola para o mês e de um texto sobre rotação de pastagens com arroz, assinado pelo engenheiro agrônomo Paulo Annes Gonçalves. Não faltaram, claro, os indicadores de preços para materiais diversos.

DEZEMBRO - Edição 225

A última edição da revista Lavoura Arrozeira em 1965, publicada em dezembro, teve o texto “Rio Grande tem condições para aumentar a exportação de arroz” como um dos principais conteúdos. O material era composto pela fala do então deputado estadual Júlio Brunelli, que exaltou a importância do grão para a economia e desenvolvimento do Estado durante pronunciamento no plenário da Assembleia Legislativa.

O periódico editado pela Irga trazia ainda pautas que abordavam o calendário orizícola para janeiro do ano seguinte, os impostos sobre fertilizantes e adubos e o congresso estadual de orizicultura. Havia ainda materiais sobre noticiário internacional, medidas agrárias, reunião da FAO sobre assuntos de arroz, estimativa da área e produção para a safra 1964/65 e Lages na rota do cooperativismo.

NOVEMBRO - Edição 224

Um dos temas de destaque na edição da revista Lavoura Arrozeira de novembro de 1965 foi sobre experimentos de adubação de arroz. O trabalho de pesquisa, assinado pelos engenheiros agrônomos John Murdock, Bonifácio Bernardes, Moacyr Pavageau e Felix Marcos Caldeira, disserta sobre o efeito de diferentes tipos de fertilização em 10 localidades do Rio Grande do Sul. O estudo contou com a participação do Irga, a Faculdade de Agronomia e Veterinária da UFRGS e a Universidade de Wisconsin.

A publicação teve ainda uma reportagem intitulada “O Chile também realiza experiência com rotação de arroz”, que aborda trabalhos de semeadura na área de pastagens artificiais realizadas em Linares, no país. O periódico também abordou assuntos como “Dispense maior atenção aos pneus do seu trator”, “O desenvolvimento da América Latina e a Reforma Agrária”, “Preços do Arroz em Porto Alegre, Rio de Janeira e São Paulo” e “Uruguai Exporta Arroz”.

Pomba-de-bando é ameaça à lavoura de arrozNa região da Campanha, onde perdas chegaram a até 60 sacas por hectare, produtores buscam manejo para reduzir dano na lavoura

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201556

CONTROLE DE PRAGAS

Zenaida auriculata é o nome científico

da pomba-de-bando, que ataca

a lavoura de arroz em fase de

colheita

Grupo de trabalho composto por

técnicos do IRGA, produtores e

acadêmicos do IFSul visitou a Região

da Campanha para receber capacitação

da UFRGS

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S DIVULG

AÇÃO / IRG

A

57Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

M ais conhecida como pomba-de-bando, a Zenaida auriculata causa estragos nas plantações de

arroz e de soja de produtores da região da Campanha. Após perdas de até 60 sacas por hectare na colheita destas culturas, produtores de Dom Pedrito, Bagé, Santana do Livramento Rosário do Sul e São Gabriel buscaram junto ao Irga uma forma de conter o avanço da pomba e os prejuízos.

Vinda em fase migratória da Argentina e do Uruguai, a pomba-de-bando alimenta-se das plantações em duas fases: no arroz em fase de colheita – quando o grão já está maduro -–e também na soja em fase inicial do cultivo, quando ainda é um cotilédone.

Conforme o diretor administrativo do Irga, Renato Caiaffo da Rocha, o instituto busca soluções para conter os ataques às lavouras com base na legislação vigente. Um grupo de trabalho foi formado em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fundação Zoobotânica do RS (FZB), Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), além da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do RS (Emater) e Ministério Público (MP).

O grupo busca, em um primeiro momento, a comprovação dos danos nas plantações, além da realização de um censo populacional da pomba-de-bando. Rocha também ressalta que, desde maio, o grupo de trabalho reúne-se e discute soluções ao problema. Em outubro, o professor

Ações para reduzir danos na fase inicial das culturas:

Se possível, realizar a semeadura de soja sobre palha.

Buscar a sincronia da época de semeadura de lavouras de uma mesma região.

Estabelecer uma adequada população de plantas na lavoura, aumentando a densidade de semeadura em áreas próximas até 200 metros de banhados e matos.

Manter as lavouras de arroz e soja e suas bordas livres de plantas daninhas.

Ação para reduzir danosna fase de colheita:

Redução do período de exposição do arroz maduro ao ataque.

Retardar a retirada da água até próximo a colheita, quando constatada a presença de pombas.

Ações de caráter geral para evitar o aumento populacional no ecossistema:

Evitar perdas durante a colheita. Reduzir acúmulo de resíduos da

pré-limpeza de arroz nas propriedades rurais.

Reduzir perdas de arroz em rodovias por ocasião do transporte a indústrias.

Manter nas propriedades, distantes das lavouras de arroz, áreas com alimentos alternativos.

SOS contra as pombas

Custos do projeto de pesquisa para manejo da ave devem chegar a

R$ 500 mil

Demetrio Guadagnin, da UFRGS, realizou capacitações junto a técnicos do Irga, produtores, alunos e professores do IFSul, aqueles que farão a avaliação de danos a partir das chamadas dos produtores.

Em setembro e outubro, o programa foi apresentado às comunidades produtoras por meio de palestras em eventos promovidos pelos Nates do Irga. Nesta oportunidade, foi distribuída aos produtores uma cartilha contendo o manejo preventivo e as principais leis que regulam a matéria, sendo a principal a Lei Federal de Crimes Ambientais (Art.29, Nº 9.605/98 e Art. 24, Decreto 6517/08): “é proibido matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente,

ou em desacordo com a obtida”. Contudo, quando há risco de ação predatória ou destruidora

para as lavouras, o controle da praga se faz necessário.

É neste contexto que o grupo de trabalho busca, em um segundo momento, formar uma base jurídica

que obtenha autorização para o controle da ave junto à Sema

e ao Ibama para minimizar os danos da pomba-de-bando. Este

controle poderia, então, ser realizado de forma legal com fiscalização dos órgãos ambientais. Rocha estima que os custos do projeto de pesquisa cheguem até R$ 500 mil.

O diretor reforça que existem medidas simples que podem diminuir os ataques às plantações. A semeadura da soja sobre a palha ou a redução de tempo de exposição do arroz maduro são alguns dos cuidados que o produtor pode ter ao cuidar das lavouras. Rocha aconselha o produtor a escalonar o plantio e a colheita das lavouras de arroz, pois as pombas atacam planta já em fase madura.

O projeto de pesquisa para o manejo da pomba-de-bando já tem verba assegurada. No dia 9 de dezembro,

a secretária executiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Maria Emilia Mendonça Pedroza Jaber, garantiu R$ 500 mil durante audiência em Brasília, com as presenças do diretor administrativo do Irga, Renato Caiaffo da Rocha; do deputado federal Jerônimo Goergen, que agendou o encontro; e do assessor do Irga José Carlos Pires. O recurso virá via Embrapa Clima Temperado e deve

estar disponível já no início de 2016.– A secretária executiva se mostrou

sensível ao problema, porque sabe que os agricultores gaúchos precisam de uma solução imediatamente – diz Rocha.

O diretor do Irga e o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado de Pelotas, Clenio Pillon, participaram de audiência com o secretário do Produtor Rural e Cooperativismo do Mapa, Caio Rocha, que recebeu o Termo de Execução Descentralizada (Ted) do projeto de manejo e prometeu ajudar na liberação do recurso.

Verba de R$ 500 mil já está garantida pelo Mapa

Audiência entre Irga e Mapa ocorreu em Brasília

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201558

PELOS NATES

Fique por dentro doque acontece nas regionais do Irga

P or meio do 3º Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nate) de Camaquã, o Instituto Rio Grandense do

Arroz (Irga) homenageou um dos pioneiros na cultura e em sua rotação com a soja, na região da Planície Costeira Interna (PCI). Trata-se do engenheiro agrônomo Selênio Simões de Oliveira, de 88 anos.

Por estar com problemas de saúde, ele não pode comparecer à solenidade realizada durante o Dia do Arroz, na 49ª Expofeira de Camaquã (Expocamaquã 2015), e foi representado pelo amigo e presidente da Associação dos Usuários do Arroio Duro (AUD), Almiro Bridi.

Das mãos do presidente do Irga, Guinter Frantz, e do diretor Técnico, Maurício Fischer, Bridi recebeu a placa comemorativa aos 75 anos do Instituto, completados em junho deste ano. Alguns dias depois, um grupo de produtores e profissionais rurais, liderado por Bridi, visitou o agrônomo para entregar a placa de reconhecimento do Irga.  

Servidor público aposentado, Dr. Selênio, como é conhecido, atuou por décadas no Irga e como chefe do 3º Nate, com sede em Camaquã. Foi responsável por uma série de

iniciativas inovadoras, as quais beneficiaram a produção de arroz regional. Integraram o grupo o prefeito João Carlos Machado, o secretário municipal da Agricultura, José Carlos Berta Dorneles, e a equipe de trabalho do Irga Camaquã 3º Nate, com produtores.

Entre as ações que fizeram de Selênio um dos agrônomos mais respeitados do Instituto no Estado esteve a implantação, na década de 1970, do cultivo de soja em terras de várzea. Espalhado cada vez mais como prática comum entre os arrozeiros, que a consorciam com o arroz, o plantio da oleaginosa em Camaquã teve os seus primeiros passos técnicos embalados pelo trabalho de Selênio, morador local desde 1950.

Formado na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem/UFPel), Selênio ingressou em 1961 no Irga, onde atuou pelo 13º Nate até 1964, ano em que foi transferido para Camaquã, onde permaneceu até se aposentar. Casado com Eny Feijó de Oliveira, tem três filhas. Além da aplicação inovadora da soja em terras baixas, Selênio Simões de Oliveira foi um dos criadores da Asteca, associação que reúne agrônomos e técnicos agrícolas que atuam em Camaquã.

Engenheiro agrônomo Selênio Simões de Oliveira é homenageado pelo Irga na Expocamaquã 2015

Selênio recebeu placa em reconhecimento à sua importância para a lavoura arrozeira

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ALEX SOARES

Exportações de arroz no foco em Rio Grande

O tema “Exportação do Arroz Gaúcho” movimentou Rio Grande na noite de 12 de novembro. O

evento, organizado pelo Irga, ocorreu no restaurante panorâmico da Câmara do Comércio, paralelo à programação da 41ª Expofeira do município. O encontro contou com as presenças do presidente do Irga, Guinter Frantz; dos diretores Técnico, Maurício Fischer, e Comercial, Tiago Sarmento Barata; além do secretário da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado, Ernani Polo, do superintendente do Porto de Rio Grande, Janir Branco e do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz), Henrique Dornelles, entre outras autoridades.

Essa foi a terceira edição do evento, que contou com os palestrantes Rafael Alberton, economista do Sistema Farsul (Federação da Agricultura do RS), que falou sobre “O Boom da Exportação Gaúcha e a Agrologística”; Tiago Barata, que enfocou “Mercados Externos para o Arroz Gaúcho”; e o superintendente do Porto de Rio Grande, Janir Branco, que abordou “O Papel do Porto de Rio Grande na Exportação de Arroz”.

O Sindicato Rural de Rio Grande foi parceiro na organização do evento. Após a fala dos três palestrantes e do secretário Ernani Polo, foi servido o tradicional carreteiro com feijoada pela equipe do Irga Zona Sul, conforme o coordenador regional André Barros Matos.

ASSE

SSO

RIA

IRG

A

Visita ocorreu no dia 12 de novembro

59Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

A equipe da Regional Zona Sul, preocupada com o aprimoramento técnico, qualifica-se cada vez mais para levar a melhor informação aos produtores da Zona Sul. Entre outras ações, realizou treinamento em agricultura de precisão em pulverização e distribuição de sólidos na empresa Stara.

No início desta safra, a equipe elaborou treinamentos de mão de obra rural em arroz e soja, visando a levar as boas práticas dessas culturas e motivar os colaboradores, mostrando-lhes a sua importância dentro do sistema de produção. Foram realizados 62 treinamentos, com

2º Nate - Pelotas11º Nate - Arroio Grande16º Nate - Santa Vitória do Palmar25º Nate - Jaguarão33º Nate - Rio Grande

Pelos Núcleos de Assistência – Zona Sul

Com o objetivo de integrar e nivelar tecnicamente agrônomos e técnicos agrícolas da equipe, a CRZS realiza visitas técnicas mensais em produtores de referências técnicas na região, sempre na primeira semana de cada mês e alternando entre os Nates.

Durante a realização das expofeiras municipais, são realizados eventos técnicos. Em Pelotas, ocorreu o Dia do Arroz, com palestras do consultor Eduardo Muñoz e do pesquisador

Regional da Zona Sul realiza diversos treinamentos nas empresas

Palestra na Agronomia da UFPelA engenheira agrônoma do 16º Nate, Glaciele Valente, e o

coordenador regional André Matos foram palestrantes da 45ª Semana Acadêmica do Curso de Agronomia da UFPel. Glaciele abordou o tema soja na várzea e André, o manejo para altos rendimentos do arroz irrigado, para mais de 200 estudantes de graduação. O evento foi realizado no auditório da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem).

Jaguarão terá Dia de Campo RegionalForam iniciados os preparativos para o Dia de Campo

Regional, que ocorre em Jaguarão, no dia 28 de janeiro de 2016, no Grupo Quero-Quero/Dr. Oscar Prado. O grupo Quero-Quero de Jaguarão, na tentativa de dar estabilidade produtiva à soja na várzea, vem desenvolvendo uma máquina sulcadora em parceria com a Kohler Metalúrgica. O objetivo é drenar e irrigar através dos sulcos.

capacitação de 1.252 pessoas entre colaboradores, técnicos e produtores, atingindo uma área cultivada de 99.561 hectares.

Eventos técnicos marcam expofeiras municipais

da Embrapa André Andres. Ocorreu também o Dia da Soja, com palestras do engenheiro agrônomo Fabiano Paganella da Plantec Consultoria e do professor Edson Massao Tanaka, da Fatec Pompeia, de São Paulo.

Em Arroio Grande, no 5º Fórum de Integração Lavoura-Pecuária, participou o secretário da Agricultura, Ernani Polo. Foram palestrantes o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, e o professor José Luiz Tejon, um dos maiores consultores em agronegócio do Brasil. O ciclo de Expofeiras se encerrou com palestras em Santa Vitória do Palmar, no Dia do Arroz, e em Rio Grande.

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S ASSESSORIA IRG

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Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201560

ARTIGO TÉCNICO

POLÍTICA SETORIAL – IRGA

1. ApresentaçãoO artigo busca dar uma visão holista sobre

a farinha de arroz. Descreve o processo produtivo instigando empreendedores da cadeia produtiva ao ingresso no mercado, diversificando suas atividades.

Um dos alvos é demonstrar que o processo é simples, não dependendo de insumos ou tecnologia do exterior.

Um dos apelos da farinha é ter as mesmas características nutricionais e funcionais do arroz: a proteína mais nobre, o baixo Índice Glicêmico, a característica gluten free etc.

Quando o investidor é o engenho, a utilização da quirera permite um ganho indireto. A título de exemplo, se o arroz está saindo do polimento com 15% de Quebrados e Quirera, um rebaixamento para 7,5% promove de Tipo 2 para Tipo 1. Assim, a geração de um “rejeito” permite uma valorização extra no core business da empresa.

Quanto à negociação da farinha em gôndolas, poucas são as possibilidades, por hora, de sucesso. Um dos problemas é a necessidade de o produto ser colocado apartado do grupo das demais farinhas que contêm glúten (trigo, centeio, cevada e aveia).

Ao final do artigo é levantada a principal oportunidade de consumo, como mistura com farinha de trigo.

2. Processo de obtençãoA farinha de arroz é obtida pela moagem do

arroz, seguida da classificação granulométrica e embalagem. Uma operação opcional é o tratamento térmico para inativação enzimática. Esta operação tem por finalidade assegurar uma vida de produto mais ampla. Partindo do integral (“macrobiótico”), esta operação torna-se obrigatória.

Os equipamentos e áreas da unidade

fabril devem seguir o preceito da “qualidade alimentar”.

Tendo em conta que a carga microbiológica de um alimento está diretamente relacionada à superfície específica, toda a produção de farinha exige cuidados adicionais.

Assim, o controle geral de higiene deve fazer parte da concepção do projeto, não dispensando o controle de matérias-primas, produtos intermediários e produtos finais.

Um cuidado especial no processo produtivo é com o isolamento total em relação às matérias-primas contendo glúten. Isso permite

apresentar a farinha como “isenta de glúten”, atendendo a um crescente mercado de celíacos e celíacos “tardios”.

3. Insumo principalA matéria-prima comumente utilizada é a

quirera, naturalmente gerada por ocasião do polimento do arroz branco comum. Quando parte do parboilizado, o processo hidrotérmico garante a esterilização do produto final, zerando a carga microbiológica e inativando enzimas.

Uma atenção especial deve ser dada caso a matéria-prima seja o arroz orgânico: à rastreabilidade, com o intuito de evitar fraudes.

4. Misturas com farinhas panificáveis

Uma característica sensorial pouco percebida pelo consumidor é que a farinha de arroz pode participar da misturada com até 20 a 30%.

Esta, usada em frituras, permite a rotulagem como produto “light”, devido a diminuições na gordura absorvida e, consequentemente, no valor calórico.

No caso de um sonho, se a mistura for frita com óleo de arroz, melhor ainda! Pode-se prever cerca de 20% a menos de gordura.

O parboilizado só teria vantagem para obter uma farinha extra, naturalmente rica em constituintes como a vitamina B9, o ácido fólico. Mas a parboilização gera praticamente só grãos inteiros, com maior valor no mercado que os grãos partidos.

As preparações caseiras podem ser feitas com um simples liquidificador, preferencialmente utilizando o acessório de moer café.

5. Análise EconômicaA proposta de introdução de um percentual

de farinha de arroz na farinha de trigo traz, além das vantagens nutricionais, ganhos financeiros. No ano de 2014, 54,6% do trigo consumido no Brasil foi importado.

As importações de trigo em grão em 2014 totalizaram US$ 1.812.312.000,00 e as de farinha atingiram US$ 130.659.000,00.

No período de 2009 a 2014 foram importadas 37,1 milhões de toneladas de trigo em grão (média de 6,2 milhões de toneladas/ano e US$ 1,758 bilhões); 3,15 milhões toneladas de farinha (média 524,6 mil t/ano e U$ 206,4 milhões). Segundo a CONAB, a safra 2015 de trigo deverá ser superior à 2014 em 4,34%, gerando uma necessidade de importação de 4,9 milhões de toneladas.

No Brasil, em 2014, foram consumidos 8,7 milhões de toneladas de farinha de trigo. Se colocássemos 10% de farinha de arroz na farinha de trigo, 873.100 toneladas de trigo deixariam de ser consumidas.

A economia mensurada pela qualidade – e não só pelas cifras – também é uma economia saudável.

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015 61

54,6%do trigo consumido no Brasil em 2014

foi importado

8,7 milhõesde toneladas de farinha

de trigo foram consumidas no Brasil em 2014

Economia em números

37,1 milhõesde toneladas de trigo em grão foram importadas

de 2009 a 2014

US$ 130 milhões

foi o valor daimportação de farinha

US$ 1,8 bilhão

totalizaram as importações de trigo

em grão em 2014

QUIRERA

FARINHADE ARROZ

Moagem

Embalagem

Tratamentotérmico

Classificaçãogranulométrica

DO

LLAR

PHO

TOCL

UB

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 201562

6. A produção de farinha de arroz faz bem à economia tanto quanto para a saúde alimentar?

Não mais que 10 indústrias, em um universo de 201 beneficiadores, produzem farinha de arroz.

Por que tão poucas?

Quais são os obstáculos que impedem a farinha de arroz de galgar mercados e incorporar-se, em definitivo, aos hábitos dos consumidores?

Rejeição, desconhecimento, baixa oferta ou outros?

Pode-se falar em rejeição de um determinado produto antes mesmo de sua oferta?

Neste caso, a situação é categórica: há muito mais desconhecimento do que qualquer outro fator.

É provável, mesmo, que haja mais demanda latente do que oferta consumada. E por que o panorama se encontra nesta situação? Simples: tributos.

Para elucidar o entrave tributário tem-se em uma nota fiscal de R$ 1.620,00 o valor de R$ 425,19 de tributos. São R$ 26,67 de PIS (1,6%), R$ 123,12 de COFINS (7,6%) e R$ 275,40 de ICMS (17%).

ARTIGO TÉCNICO

Por que onerar um produto cuja função pode vir a se tornar tão nobre, auxiliando na dieta dos celíacos e, igualmente, possa ser fundamental na redução dos índices de obesidade, que não param de crescer no país?

Será que o incentivo ao consumo da farinha de arroz – com redução de tributos e divulgação dos benefícios – não redundaria em um ganho de saúde, qualidade de vida e equilíbrio muito superior à simples arrecadação de tributos que hoje pouco ou nada representam aos cofres públicos?

Quanto o país gasta anualmente com a obesidade, seja mórbida ou não?

Quantos fazem, anualmente, a operação bariátrica e, quantos amargam a fila de espera na esperança de terem parte de seus problemas resolvidos com a perda de peso?

Tramita no Congresso Nacional, desde 2005, o Projeto de Lei Nº 6.023, de autoria

do deputado Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB/SP) que reduz a zero as alíquotas da contribuição para PIS/PASEP e da COFINS.

Mas por que tanta demora em

transformar um projeto em lei, ainda mais em se tratando de algo que diz respeito à saúde pública?

Não deveria um projeto desses ser aprovado, assim de vereda, sem solavancos e percalços?

Por que a dificuldade na percepção de que ceder um pouco hoje pode representar um ganho maior amanhã?

O incremento na produção e divulgação dos benefícios da farinha de arroz está palpitando. Urge aprofundar as discussões, ouvir e pleitear as reivindicações do setor, antes que o trem parta e nós, obesos, na estação da letargia, percamos o vagão da oportunidade.

Em uma nota fiscal de R$1.620 de Farinha de Arroz

TRIBUTOS ALIQUOTA VALOR

PIS 1,64% 26,67

COFINS 7,60% 123,12

ICMS 17,00% 275,40

TOTAL (26,24%) 425,19

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RAFAEL NED

DERM

EYER / FOTO

S PÚBLICAS

Um alimento cheio de sabor e saúde.

Arroz para novos pagos