View
216
Download
2
Embed Size (px)
ISSN 2175-5280Revista Liberdadesn 07 - maio-agosto de 2011ISSN 2175-5280
Revista Liberdades n 07 - maio-agosto de 2011
Revista Liberdadesn 07 - maio-agosto de 2010
07
ISSN 2175-5280
Revista Liberdades - n 7 - maio-agosto de 2011 2
EXPEDIENTEInstituto Brasileiro de Cincias Criminais
DIRETORIA DA GESTO 2011/2012
Presidente: Marta Saad
1 Vice-Presidente: Carlos Vico Maas
2 Vice-Presidente: Ivan Martins Motta
1 Secretria: Maringela Gama de Magalhes Gomes
2 Secretrio: Helena Regina Lobo da Costa
1 Tesoureiro: Cristiano Avila Maronna
2 Tesoureiro: Paulo Srgio de Oliveira
CONSELHO CONSULTIVO:
Alberto Silva Franco, Marco Antonio Rodrigues Nahum, Maria Thereza Rocha de Assis Moura, Srgio Mazina Martins e Srgio Salomo Shecaira
Publicao do Departamento de Internet do IBCCRIM
DEPARTAMENTO DE INTERNETCoordenador-chefe:Joo Paulo Orsini Martinelli
Coordenadores-adjuntos:Camila Garcia da SilvaLuiz Gustavo FernandesYasmin Oliveira Mercadante Pestana
Conselho Editorial da Revista LiberdadesAlaor LeiteCleunice A. Valentim Bastos Pitombo Daniel Pacheco PontesGiovani SaavedraJoo Paulo Orsini MartinelliJos Danilo Tavares LobatoLuciano Anderson de Souza
Revista Liberdades - n 7 - maio-agosto de 2011 3
NDICE EDITORIAL Revista Liberdades: mais um espao para concretizao de sonhos 04
CARTA DOS LEITORES 07
ENTREVISTA Entrevista com JOS HENRIQUE RODRIGUES TORRESA 08
ARTIGOSSOBRE A ADMINISTRATIVIZAO DO DIREITO PENAL NA SOCIEDADE DO RISCO. NOTAS SOBRE A POLTICA CRIMINAL NO INCIO DO SCULO XXI 23Bernardo Feijoo Sanchez
EL CASO CONTERGAN CUARENTA AOS DESPUS 63Manuel Cancio Meli
ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE AS VINCULAES FILOSFICAS E CONSTITUCIONAIS DO CONCEITOMATERIAL DE CRIME 77Cleopas Isaas Santos
CLAUS ROXIN, 80 ANOS 97Lus Greco / Alaor Leite
RESENHAA MAGISTRATURA PARA ALM DA DOGMTICA PENAL 124Clarissa de Baumont
FILME: ESTMAGO 132Danilo Cymrot e Joo Paulo Orsini Martinelli
Revista Liberdades - n 7 - maio-agosto de 2011 4
EDITORIAL
Revista Liberdades: mais um espao para concretizao de sonhos
Mais um volume da Revista Liberdades est pronto e disponvel a todos os
leitores interessados, gratuitamente, em qualquer parte do mundo. O reconheci-
mento da Revista e o peso de carregar a marca do Instituto Brasileiro de Cin-
cias Criminais obrigaram a Coordenao de Internet a fazer alguns ajustes para
continuar o trabalho iniciado na gesto anterior. Por isso, a primeira mudana
foi a criao de um Conselho Editorial, formado por professores gabaritados
e criteriosos, que, junto aos coordenadores-adjuntos e estagirios, tem como
misso levar ao pblico artigos, entrevistas e resenhas relacionados s Cincias
Criminais.
A Revista Liberdades um complemento ao incessante trabalho que o IBC-
CRIM vem desenvolvendo desde sua fundao e que, resumidamente, pode
ser definido como a proteo dos direitos humanos. Tarefa rdua num pas em
que os defensores dos direitos humanos so estigmatizados como amigos de
bandidos, cuja funo passar a mo na cabea de marginais. Ledo engano
que habita a cabea de pessoas desavisadas, fortemente influenciadas pela m-
dia interessada na propagao de uma violncia que garanta audincia e venda
anncios comerciais.
O fato mais recente foi a morte de crianas atingidas por disparos efetuados
por Wellington Menezes de Oliveira, em escola de Realengo, na cidade do Rio
de Janeiro. A tragdia foi retratada por horas ininterruptas, ao mesmo tempo em
que todos se perguntavam o que teria levado algum a matar crianas inocen-
tes, que teriam uma vida toda pela frente. Diversas foram as respostas, proveni-
entes dos mais diversos especialistas, inclusive de alguns que traaram o perfil
psicolgico do agente sem ter nunca feito contato pessoal com o mesmo.
Dentre as explicaes estava o desenvolvimento de uma personalidade
psictica derivada de bullying sofrido durante a infncia. No demorou a surgir
propostas de criminalizao do bullying e de rediscusso do comrcio de armas
no pas. Novamente a histria repete-se, mudando apenas alguns personagens:
Revista Liberdades - n 7 - maio-agosto de 2011 5
acontece um fato de grande repercusso e surgem propostas de criminalizao
e maior rigor nas penas. Escassos so os projetos de investimento na sade
pblica, para abranger o tratamento psicolgico eficiente, ou na capacitao de
professores, para que possam detectar comportamentos suspeitos entre seus
alunos. Punir devidamente as autoridades pela omisso nas polticas pblicas
eficazes seria, ento, uma utopia.
Criminalizar o bullying uma alternativa com muitos problemas. O primeiro a
tipificao da conduta. O que seria bullying para fins criminais? H necessidade
de concurso de agentes ou de reiterao do comportamento? O bem jurdico tu-
telado seria a honra da pessoa ou o desenvolvimento de sua personalidade? As
respostas so bastante obscuras. Outro empecilho seria a aplicao da lei. No
caso de bullying escolar, seria possvel aplicar medidas socioeducativas aos ado-
lescentes que o praticam? E se os agressores forem menores de 12 anos? Um
terceiro problema a contextualizao do bullying. H de se diferenciar a cultura
brasileira da norte-americana, de onde foi importado o conceito. Nem tudo que
bullying em outras culturas tambm o no Brasil. Enfim, antes de criminalizar o
bullying, devemos compreender o que seja o fenmeno, promovendo discusses
entre profissionais de diversas reas e no apenas no crculo jurdico.
A outra discusso, referente ao comrcio de armas, est mais do que su-
perada. A populao foi contra sua proibio e, provavelmente, se outra consulta
popular for realizada, o comrcio de armas ter apoio da maioria. Soa repetitivo,
mas vale enfatizar: comprar arma licitamente no Brasil muito difcil, pois as
exigncias so muitas; o maior desafio conter o comrcio ilegal, pois vem da
o abastecimento dos criminosos. J existe uma lei que criminaliza as diversas
condutas ilcitas relacionadas s armas de fogo, basta aplic-la. No h moti-
vos para alterar a legislao criminal, no entanto, legtimo (e obrigatrio) dar
melhor estrutura s foras de segurana para que possam coibir a entrada e a
circulao de armas ilcitas e, assim, possibilitar a aplicao do Estatuto do De-
sarmamento.
No se defende, aqui, o fim do direito penal ou a impunidade generalizada. O
que se deseja uma legislao penal racional, de ultima ratio, que no despreze
uma poltica criminal sria. A criminalizao de comportamentos reduz a liber-
dade das pessoas, por isso a necessidade de cuidado ao verificar o que real-
mente deve ser crime. Poltica criminal no se faz apenas com recrudescimento
da lei, para reprimir, mas tambm com preveno, fornecendo meios para que
todos possam se desenvolver com dignidade.
Revista Liberdades - n 7 - maio-agosto de 2011 6
Com o intuito de discutir poltica criminal seriamente, a Revista Liberdades
chega ao pblico por meio eletrnico, em qualquer parte do mundo, disponibili-
zando material de qualidade para os estudiosos das Cincias Criminais. Espera-
mos a opinio de todos, com crticas e sugestes, para aprimorarmos cada vez
mais a Revista que veio para ficar.
JOO PAULO ORSINI MARTINELLI
Doutor e Mestre em Direito Penal (USP).
Coordenador-chefe do Departamento de Internet do IBCCRIM.
Revista Liberdades - n 7 - maio-agosto de 2011 7
CARTA DOS LEITORESEste espao destinado a voc, leitor.
Parabenizo o IBCCRIM pela publicao digital da excelente Revista Liber-
dades, com destaque para o brilhante artigo com o Professor Roberto Romano.
Na entrevista concedida Revista Liberdades, o Professor Roberto demonstrou
preocupao com a reconstruo da tica, nico meio efetivo de se reduzir a
criminalidade, de encontro aos modernos ideais de realizao de uma sociedade
mais justa e solidria. Disponvel a todos na rede mundial de computadores, a
Revista Liberdades mostra-se um exemplo de exerccio de democracia e partici-
pao.
Carlo Mazza Britto Melfi
ESCREVA PARA NS!revistaliberdades@ibccrim.org.br
Revista Liberdades - n 7 - maio-agosto de 2011 8
ENTREVISTA(Jos Henrique Rodrigues Torres - Juiz de Direito, Professor de Direito Penal da PUC-CAMPINAS. E Membro do IBCCRIM e da Associao Juzes para a Democracia).
JHRT. Eu nasci em Botucatu, onde a lua faz claro, terra de Angelino de Oliveira, que comps a msica A tristeza do Jeca1, um dos maiores clssicos
sertanejos de todos os tempos. Por mais non sense que isso possa parecer,
talvez a letra dessa msica explique porque eu resolvi estudar direito. Neto de
um advogado carioca que migrou para o interior paulista e dedicou toda a sua
vida defesa de excludos, que vivem padecendo de tristeza e cantando pra se
aliviar... e filho de um advogado apaixonado pelo direito, que dedicou todos os
seus dias, intensamente, defesa daqueles que vivem cantando o seu sofrer e a
sua dor, que vivem em ranchinhos beira cho e que j no podem mais can-
tar, eu passei a minha infncia e a minha adolescncia ouvindo emocionantes
histrias de injustias e sofrimentos, mas tambm de batalhas incansveis, em
audincias nos fruns, nos julgamentos, nos tribunais, onde hericos advogados
lutavam contra essas injustias, contra tanto sofrimento. Talvez eu tenha sido
submetido a um p