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Litorânea #1 Julho 2014

Revista Litorânea

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Litorânea

#1Julho2014

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Expediente Para ler ouvindo: A revista é resultado da disciplina Projetos Experimentais, apresentada como traba-lho de conclusão de curso (TCC) do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de

Santa Catarina, no semestre 2014.1

*

Editora e repórterThayse SteinFotografias

Anselmo DöllFilipe Marllon Moreira

Thayse SteinOrientação

Jorge Kanehide IjuimProjeto gráfico e diagramação

Thayse SteinImpressão

Gráfica Post Mix

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Colaboradores da EdiçãoColuna assinada por Dulce Holanda

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A CapaFoto Anselmo Döll

Modelo Ana Clara Stein Maquiagem & Hairstyle Thayse SteinCosteira do Pirajubaé, Florianópolis

*

A ContracapaFoto Thayse Stein

Moda e MúsicaVocê já pensou em como moda e música tem tudo a ver? Criamos uma trilha sonora especial para a primeira edição da revista, com canções que falam sobre moda, beleza e comportamen-to, para embalar sua leitura. Aproveite o mo-mento!

001 Com Que Roupa? - Noel Rosa

002 Mandrake e os Cubanos - Skank

003 Agora é Moda - Rita Lee

004 Beleza Pura - Caetano Veloso

005 Salão de Beleza - Zeca Baleiro

006 Óculos - Os Paralamas do Sucesso

007 Vogue - Madonna

008 Fashion - David Bowie

009 Diamonds Are A Girl’s Best Friend - Marilyn Monroe

010 I Do - Placebo

011 A Certain Romance - Arctic Monkeys

012 Fashion Victim - Green Day

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Carta ao leitor

Julho de 2014 | 3

Tudo começou de uma simples ideia: lançar uma revista que falasse sobre moda, de maneira simples e agra-dável. Queríamos despertar a atenção dos leitores através de textos curtos, dinâmicos e gostosos de ler.

As fotos precisavam ter movimento, mesmo ao captar coisas completamente estáticas, precisavam de formas. Na diagramação, cada página foi desenhada especialmente para transformar toda a essência

da revista em pequenos detalhes, mas sem perder a coesão. Convidamos você a embarcar pelas páginas dessa publicação, navegando por esse novo mar de possibilidades.

Falar sobre moda é mais do que caçar tendências e roupas. Moda é atitude, é cenário, é expressão. Para conseguir unir tudo isso, fomos atrás de uma nova maneira de pensar a

renda de bilro, tradicionalíssima na nossa cultura. Em uma entrevista cheia de desco-bertas, abrimos espaço para uma conversa importante: como envolver esse traba-

lho na contemporaneidade? Para o editorial fotográfico dessa edição, a partir do tema sereias urbanas, levantamos a discussão sobre as construções e a

urbanização da cidade, contrastando com as paisagens naturais. Para quem tem interesse em saber mais sobre as profissões do mun-

do da moda, há um espaço para esclarecer dúvidas em relação ao produtor de moda, profissional responsável pela realização de

editoriais, catálogos e figurinos em campanhas publicitárias (revistas, jornais, sites, televisão e cinema).

Mapeamos e entrevistamos as donas dos principais blogs de streetstyle de Florianópolis, para saber-

mos como funciona a produção de conteúdo para esses espaços e como eles estão inseri-

dos na nossa cultura. Ainda nesta edição, contamos com a coluna de Dulce Ho-

landa, que fala sobre a evolução da nanotecnologia têxtil. Espera-

mos que vocês se apaixonem pelo nosso conteúdo e

possam aproveitá-lo por inteiro.

Boa leitura!

Thayse SteinEditora

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Saudades e perspectivas

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o05 AGENDA 06 GUIA DE COMPRAS

07 MODA PROFISSÃO

09 EDITORIAL

14 ENTREVISTA

17 STREETSTYLE

19 MATERIAIS

Renda de Bilro

Sereias Urbanas

Nanotecnologia inovadora

Moda de rua

Afinal, o que faz um Produtor de Moda?

Lojas virtuais gringas

O que rola aqui?

Divulgação / AB

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Nina Mansik / Street Style Floripa

Guilherme Dimatos / OCTA Fashion

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Thayse Steinl / Revista Litorânea

Divulgação / SEBRAE

Maria Eduarda Zapelini / Arquivo

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Agenda

Um dos maiores eventos de empreendedorismo do Brasil, a Feira do Empreendedor, organizada pelo Sebrae/SC, acontecerá nos dias 17 a 20 de julho, no Centro Sul, em Florianópolis. O evento está em sua décima edição e trará informações sobre aber-tura de empresas, gestão, alternativas de negócios, novos empreendimentos, inovações tecnológicas, acesso a mercados, oportunidades e crédito aos empreendedores. Durante a feira serão realiza-das palestras e oficina, formalização e capacitação para empreendedores individuais – MEI, mostra de artesanato e agronegócios e haverá também um espaço com cerca de 60 expositores de diferentes segmentos. Saiba mais informações no site: http://www.feiradoempreendedor.com.br/

Em cartaz no Cinema do CIC, o filme venezuelano Pelo Malo (2013) conta a história de Junior (Samuel Lange Zam-brano), um menino de nove anos de idade. Ele sonha em alisar o cabelo para ficar mais parecido com sua imagem fantasiosa de um cantor de cabelos com-pridos. Sua mãe Marta (Samantha Cas-tillo) luta para sustentar a família após a morte do marido e, ao mesmo tempo, tenta evitar o jeito diferente do filho. O drama possui 1h33min e não é reco-mendado para menores de 14 anos.

O espetáculo teatral Sonhar Contigo da Cia de Arte Irreversível é uma comédia romântica sobre a realidade de homens e mulheres que guardam segredos, mas que sonham em um dia revelá-los. O cenário onírico é bastante convidativo e a apresentação acontece no dia 22 de julho, às 19h30min, no Teatro Álvaro de Carval-ho (TAC), em Florianópolis. Os ingressos custam R$ 10 inteira e R$ 5 meia-entra-da.

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Guia de compras

Comprar pela internet é um hábito cada vez mais comum no Brasil. Nos primeiros meses deste ano, as compras de mercadorias feitas no exterior por brasileiros via internet aumentaram 40% em relação ao ano passado. Segundo da-dos da Receita Federal, o país recebe cerca de 1,7 milhão de pacotes a cada mês, sendo que no ano passado, foram 18,8 milhões no total. Separamos algumas dicas para quem gosta de garimpar e quer comprar com segurança.

Sabe aquelas peças que vemos as blogueiras usando no Lookbook.nu e nunca sabemos onde encontrar? Elas estão aqui! A Romwe é chinesa e como todas as lojas de lá, você precisa ficar atento às dimensões das roupas, que normal-mente não batem com as numerações do Brasil. Por isso, sempre olhe as medidas do produto e não apenas o tama-nho. A melhor notícia? O frete é grátis para o mundo todo.

Esse banco online protege as suas infor-mações financeiras, assim, as lojas não conseguem ver seus dados (como número do cartão, por exemplo). Para se cadastrar, você cria uma conta e recebe um código através da sua fatura do cartão de crédito (que precisa ser internacional), no valor de R$4,00 (essa quantia depois retorna para sua conta quando você faz a confir-mação no site). O Paypal também pode ser usado para recebimentos.

Assim como o mercado livre, esses sites possuem vários vendedores (o bom é sempre conferir o feedback de quem já comprou, para saber se é confiável). Os dois vendem de tudo: desde objetos eletrônicos até roupas e acessórios (mas com o auxilio dos filtros de busca, fica mais fácil). Lembre-se de verificar se o vendedor entrega no Brasil e tentar um contato com ele, antes de finalizar a compra.

Nesse site, você encontra roupas femininas e masculinas, além de bolsas, lingeries, sapatos, acessórios e até fanta-sias para cosplay! O frete é calculado separadamente e costuma custar cerca de um terço do valor da peça. A loja tem uma variedade enorme de produtos, que podem de-morar até dois meses para chegar, devido a triagem inter-nacional, que costuma ser demorada.

Com o método de compra bem parecido com o da Mart Of China, aqui o frete também é pago. Nessa loja, você en-contra roupas masculinas e femininas, para ocasiões casuais e formais. Também é possível comprar sapatos (que estão com a numeração europeia - dois números acima do Bra-sil), relógios, maquiagens, itens de decoração e brinquedos infantis. i

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Encomenda Internacional

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Moda Profissão

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Ser produtor de moda é o sonho de muitos, mas você sabe os desafios que poderá encontrar nessa área?

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do país, torna propício o mercado da área de mídias, como os catálogos, vídeos, desfiles e publicidade”. Os profissionais que atuam nessa área, nor-malmente são mal remunerados, principalmente para aquele que está em fase de iniciação da carreira. “As maiores remunerações vêm de trabalhos publicitários, que dificilmente convocam um produtor sem um nome conceituado no mercado”. A média de remuneração também varia muito de serviço para serviço, pois cada editora trabalha de uma maneira diferente. Os contratos podem abranger um valor fixo para um serviço a ser efe-tivado (produção para editorial, still* ou capa) ou, então, a remuneração é estabelecida pelo número de páginas publicadas. “Nesse ú l t i m o , em caso de cor-tes na edição, o profissional não é re-munerado pelo servi-ço que fez. Ta m b é m vale ressal-tar que não existe limite de horas trabalha-das diariamente ou

A partir de uma pauta ou um briefing*, o pro-dutor de moda deve buscar as peças de roupa que transmitam o conceito proposto através de signos vi-suais. Esse processo compreende o contato com as assessorias de imprensa, visita às lojas, acompanha-mento da edição e da foto e, por fim, a devolução das peças em perfeito estado. Maria Eduarda Zapelini, decidiu largar a fa-culdade de Design de Moda para atuar na área de produção de moda, como free lancer. Entre os seus principais clientes editoriais, estão as revistas de moda Elle, Vogue, Glamour, Veja Luxo e Caras Fashion. No começo da carreira, ela acreditava que o produtor de Moda seria mais atuante na parte de criação e elabo-ração de conceitos: “Eu achava que teria mais influ-ência na construção da identidade visual de um tra-balho. Na verdade, descobri que o produtor é apenas um executor de ideias já estabelecidas. Acaba sendo um trabalho bastante mecânico, que exige disciplina, comunicação e dedicação”. Maria Eduarda é natural de Florianópolis, mas foi para São Paulo tentar a carreira. Segundo ela, em Santa Catarina, “existe, sim um mercado para profis-sionais dessa área, mas ele parece ser muito restrito na área editorial, já que o estado não tem grandes ou numerosas publicações de Moda. Mas, como Santa Catarina é considerada o segundo maior polo têxtil

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omais difícil é ter que lidar com a baixa remuneração ou inexistente, carga horária ilimitada e a falta de vínculo de emprego”.Para Zapelini, existem três pré-requisitos para trabalhar na área de produção: conhecimento, humildade e mui-ta força de vontade. “Nos grandes mercados, sempre existem vagas na área. Mas quem deseja investir nesse tipo de carreira precisa estar preparado financeiramente, afinal leva algum tempo para se construir um nome, por isso a paciência e dedicação são fundamentais para que o profissional se torne bem-sucedido”. i

A edição de setembro (2009)R.J. Cutler

O documentário acompanha a editora Anna Wintour e a edição de setembro da re-vista Vogue estadunidense, que traz a coleção de outono e é, em geral, a maior do ano, com artigos extensos, fotos bem trabalha-das e muitos anúncios

Moda e Comunicação (2003)Malcolm Bernard

Uma peça de roupa pode indicar milhares de informações sobre uma pessoa. Pensando nisso, o autor analisa a moda baseando-se em teorias sociológicas, econômicas, políticas e filosóficas, o que pode auxiliar o produtor de moda

semanalmente, cabe ao profissional concluir suas me-tas dentro do tempo dado pelo editor”. Apesar das dificuldades, Maria Eduarda acre-dita que atuar na área é muito interessante. “No ramo da Moda, a produção é o que pode proporcionar o maior conhecimento possível dos processos do meio. O profissional acaba convivendo e trocando experi-ências com outras pessoas que trabalham com cria-ção, mídia e mercado, já que a boa comunicação é fundamental”. Para ela, as maiores dificuldades ainda são os abusos sofridos pelos profissionais da área: “O

Diana Vreeland: O olhar tem que viajar (2011)Lisa Immordino Vreeland

A editora de moda mais icônica e extrava-gante do mundo foi celebrada após

20 anos de sua morte, nesse do-cumentário que conta com

trechos de sua vida pes-soal, profissional e

entrevistas de estilistas fa-

mosos

Produção de Moda (2012)Ruth Joffily & Maria de Andrade

Neste livro, as autoras trazem um panora-ma histórico e econômico da moda no

Brasil e apresentam o perfil da pro-fissão e suas possibilidades

de trabalho, com con-selhos e orientações

de profissionais renomados

na área

*Briefing significa dossiê, em inglês. É um conjunto de informações, adquirido através de uma coleta de dados passadas em uma reunião para o desenvolvimento de um trabalho ou docu-mento. O briefing deve criar um roteiro de ação para mapear soluções.

*Still é uma expressão que se refere à fotografia de temas inanimados. Esse tipo de fotografia é muito usado em campanhas publicitárias e no comércio varejista.

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Glossário

Filmes e livros sobre a profissão

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Sereia Urban

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Em clima de outono/inverno, com referências claras ao anos 70, surgem as mulheres que viv

em o litoral o ano inteiro. E

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conchas, redes e águas calmas, encontramos e exaltamos o forte contraste da cidade avançando sobre a natureza

Editorial

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Fotografias Anselmo DöllModelos Kawani Fernandes, Emanuela

Döll e Ana Clara Stein Maquiagem & Hairstyle Thayse SteinAgradecimentos Carmem Steffens e

Chamelle do Shopping Itaguaçu

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Entrevista

reflexo das imigrações para o país, das mais diversas regi-ões do mundo. A partir disso, escolhi o subtema Cultura Açoriana, por ser de descendência açoriana. Há uma ligação em relação ao saudosismo e em minhas vivências familiares. Os açorianos que colonizaram Florianópolis, em meio a he-ranças da terra natal, adaptações e influências de agentes culturais e turísticos, contribuíram para o desenvolvimento do artesanato catarinense, construindo uma riqueza cultu-ral inestimável. O ponto a ponto do confeccionado a mão foi a união de cada um dos muitos tipos de pontos das tra-mas do litoral do estado. Saindo da nostalgia da renda-de-enfeitar, inseri uma nova ação criacional que associa moda, design, inovação, sustentabilidade, criação, economia cria-tiva e artesanato ativo, com base em referências levantadas para, por fim, desenvolver a coleção contemporânea com artesanato de luxo.

L Como foi o seu processo de pesquisa e de criação? TB A valorização das rendeiras interioranas que muito tem a ensinar e aprender para os estudiosos, em especial, de

O que vem a sua mente quando você pensa em renda de bilro? Provavelmente as palavras são rendeira, tecido, alfinetes, almofada e tradição. Esse tipo de ren-da, comum em Florianópolis por sua herança açoriana, recebeu um novo olhar, na coleção de formatura da Talyta Duarte Bastos. Com apenas 21 anos, formada no ano passado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ela se envolveu com suas raízes para tramar essa história. Do tema “Brasis”, a designer desenvolveu a coleção Pontos Contemporâneos, com enfoque na renda de bilro da Ilha de Santa Catarina. Cansada de ver os mes-mos desenhos, que são copiados e reproduzidos com os bilros, Talyta queria contar uma história diferente, que re-metesse à tradição, mas que abrisse novas possibilidades na hora de construir peças com a renda.

Litorânea Porque você decidiu fazer uma coleção tra-zendo um novo significado para a renda de bilro?Talyta Bastos O tema Brasis deu alicerce para o início de uma pesquisa com enfoque no multiculturalismo como

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Talyta Bastos entre as modelos que desfilaram seus looks da coleção Pontos Contemporâneos, no evento Octa Fashion 2013

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L Quem

foram as pes-soas que desenvol-

veram a coleção com você? Como foram as etapas de produ-

ção?TB O processo de desenvolvimento do produto

foi subdivido em três looks, no qual cada um possuía uma particularidade nos itens: modelagem, construção das ren-das – piques, tipos de linhas e tipos de pontos, rendeiras, tingimento, confecção – corte, costura e acabamentos. A proposta de inovação das peças que fizeram parte dessa coleção foi a de desenvolver após a modelagem tridimen-sional, os moldes e, a partir disso, os piques no próprio molde. O processo foi feito com a ajuda de minha avó e também com a rendeira Maria da Souza Silva, amiga da minha família que reside no bairro Ingleses. Ela é a ren-deira mais criativa, dedicada e inovadora que eu conheci, em todo esse desenrolar. Seu esforço para entender meus termos técnicos de moda, principalmente, de modelagem, foi primordial para a estruturação do meu trabalho.

L O que você pode descobrir e aprender com esse traba-lho, baseado na renda de bilro?TB Inicialmente, comecei a procurar rendeiras de regiões mais conhecidas, como a Lagoa da Conceição, porém com a falta de abertura e interesse delas, resolvi partir do que me instigou a pesquisar sobre renda de bilro: a minha avó. Assim, desenvolvemos juntas os projetos de design têxtil

moda, foi o ponto

aprofundado no meu trabalho de conclu-

são de curso, que resultou em uma coleção. O conceito

da coleção Pontos Contem-porâneos surgiu a partir do meu

interesse pela prática artesanal, os trabalhos manuais e a construção da

junção de pontos de cada trama ao tecer. Inicialmente, era algo curioso que culmina-

va ao olhar dos bilros de minha avó materna e das imensas redes de pesca confeccionadas por

meus tios e avô paterno. Após o desenvolvimento do book criativo, aprofundamento de pesquisas e

enriquecimento de ideias, foram escolhidos os tipos de cores, fios e pontos, tudo com o auxílio de minha avó,

a senhora Laurecy Maura Duarte, atualmente rendeira nas horas vagas e que me ajudou, também, na produção do design têxtil da coleção.

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A renda de bilro O trabalho é realizado sobre uma almofada dura, normalmente estampada com tecido de chita. O rebolo ou cilindro é feito de pano grosso, cheio de palha ou algodão. A rendeira, normalmente faz o seu trabalho sentada, de frente para a almofada, que por sua vez, fica sobre um suporte de madeira. O trabalho das rendeiras se desenvolve basicamente assim: no rebolo, é colocado um cartão (conhecido como pique), onde se encontra o desenho que vai formar a renda, feito com pequenos furos. É nesses furos da zona de desenho que são espetados os alfinetes coloridos, que se deslocam à medida que o trabalho progride. A composição da renda se dá pelo entrelaçamento dos fios, que são levados pelas peças de madeira torneada (ou de outros materiais, como o osso), os bilros.

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e pontos

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está n a s obras-p r i m a s do interior da cidade, ainda pouco explorado. São em bairros como Ingleses e Rio Ver-melho que ainda exis-tem rendeiras autênticas e criativas. Muitas criam o seu próprio desenho e molde e fazem dos seus trabalhos ver-dadeiras composições artísticas. Já outras inovam com desenhos con-temporâneos, mas nunca fogem do tipo característico açoriano, configurado com extrema perfeição.

L Você acredita que as rendeiras são valoriza-das? As pessoas costumam consumir e apreciar esse trabalho?TB O trabalho que desenvolvi tinha como uma das metas incentivar essas artesãs pouco reconhecidas. Apesar de toda grandiosidade do trabalho de rendeiras, o acesso à venda é difícil. Também existem muitos outros trabalhos com problemas de qualidade e preços baixos. O único contato que elas têm com consumidores é através de compradores que, na maioria das vezes, exploram com pa-gamentos baixíssimos. Além disso, poucas são as rendeiras que dão abertura para ensinar suas técnicas. E as pessoas que possuem contato com elas, em sua maioria, não têm interesse em aprender e preservar essa tradição. As senho-ras que ainda confeccionam renda estão envelhecendo e precisam de apoio e incentivo para compartilharem seus conhecimentos com pessoas que se interessem em valori-zar seus trabalhos. i

e superfície, pesquisa e testes de fios, cores, aviamentos, modelos, tipos de renda, entre outros. Com a proposta de inovação de criar a renda a partir da modelagem tridimensional e que cada look possuísse um significado que transpuses-se a passagem do secular para o contemporâneo, senti a necessidade de buscar uma rendeira que possuísse co-nhecimentos de desenho de renda. Foi nesse momento que conheci a rendeira Maria de Souza Silva. Em um pri-meiro momento, ela me apresentou lustres feitos com bilros e uma casa toda composta com muito amor pela renda e artesanatos originalmente açorianos. Pois, além de rendeira, ela cria piques totalmente únicos, que vão desde as imagens do cantor Roberto Carlos, pescadores no mar até beija-flores, cães, araras e galos. O processo inicia quando ela, ao olhar para algum desenho, inspira-se, amplia o tamanho desejado da imagem ou ilustração e, a partir disso, torna tudo renda, inovando em cores e pontos com emendas quase imperceptíveis.

L Você acredita que a renda de bilro está desaparecen-do? TB As rendeiras do litoral catarinense, hoje em dia, pos-suem maior visibilidade, muitas participam de coopera-tivas, outras reproduzem seus artesanatos em parceria com instituições, além de aceitarem encomendas e co-mercializarem suas peças tradicionais. O acesso dos con-sumidores já não é somente local, inclusive, as cooperati-vas já estão anunciando via sites. Mas acredito que ainda há muitas barreiras a serem superadas, principalmente no critério inovação. A famosa renda da Lagoa da Concei-ção, na sua maneira de confeccionar, de certo modo, já se tornou automatizada. Primeiramente, devido a forma de fazer com piques muitas vezes em xerox. O modo de comercialização, considerando que os produtos estão misturados com outros tipos de vestuário e rendas do nordeste. Além disso, poucos são

os incentivos para as produtoras

de rendas das demais loca-lidades da cidade. En-tão, pode-se

dizer que o diferencial do

trabalho feito em renda da Ilha

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Com mais de mil visitas semanais, o site Barba e Bigode registra o estilo masculino pelas ruas de Floripa

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ralelas. Hoje eu conto com três colaboradores: Nina Mansik, que é designer de moda; Vinícius Martins, que é estudante de publicidade e Renato Kormives, que é designer gráfico”. Emanuele Lazzari reafirma que o estilo de rua, não só em Florianópolis, como no Brasil todo, rece-

be influência de diversos lugares do mundo. “Principalmente durante as semanas de

moda, vemos os sites internacionais pi-pocarem com fotos de Street Style que

muitas vezes recebem mais atenção do que as próprias coleções. Os brasileiros estão acessando mais esse tipo de site e incorporando di-versos elementos que veem por lá em seus estilos pessoais. E, é claro,

adaptando essas referências ao cli-ma tropical do Brasil”.

Segundo Emanuele, o que fal-ta para o estilo de rua ganhar força e ser

mais valorizado é informação de moda. “Eu acredito que é importante que cada um descubra seu estilo próprio e se vista de uma forma autoral. Grande parte dos brasileiros ainda é muito influenciada pela mí-dia, principalmente pelas novelas”. As tramas normal-mente apresentam várias personagens que possuem estilos bem definidos e, com isso, descobrir o próprio estilo é uma tarefa difícil. “As pessoas acabam se es-pelhando na personagem que julgam ser interessante. Daí, incorporam esse estilo em suas vidas, recebendo a ajuda de diversas revistas de moda para isso. Ou seja,

O cenário de sites e blogs que abordam assuntos rela-cionados a moda, cresceu e ganhou força nos últimos dez anos. Em Florianópolis, os pioneiros surgiram no fi-nal dos anos 2000 e, aos poucos, foram conquistando território, como o saudoso Donde Estás Corazón, que não é atualizado desde 2011. Emanuele Lazzari, 22, criou o site Bar-ba e Bigode em junho de 2013, para le-var ao público masculino um conteúdo de moda simples e didático. Segun-do ela, “fora do Brasil, os homens não têm medo de usar estampas, acessórios, de fazer combinações diferentes e inusitadas; porém, aqui, isso infelizmente ainda é um tabu. Muitos homens têm precon-ceito com a moda e, quando eu criei o site, era isso que eu queria mudar”. Atualmente, o Barba e Bigode conta com aproximadamente 7mil visitas mensais. O público são homens entre 17 e 35 anos, de todo o Brasil, que são interessados em moda, de-sign e entretenimento. Ao contrário do que muita gente pensa, manter um blog atualizado não é nada fácil. É preciso pesquisar, produzir e perceber a reação do público. Emanuele explica que “o trabalho em um blog consome muitas horas do dia, ainda mais aliado a re-des sociais, que precisam ser atualizadas com maior frequência. Por isso, é muito difícil fazer algo de quali-dade sozinho, quando você leva outras atividades pa-

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StreetStyle

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ttambém que no site eu coloco o texto em inglês”. Fazer um site de moda de rua em Florianópolis parece desa-fiador, mas Nina defende que a cidade possui “Aquele charme de misturar essa coisa de ser capital com o lado – bem forte, aliás - provinciano, artesanal. Apesar de ver

uma certa influência meio carioca, meio Califórnia, acredito que aqui tem de tudo, basta saber para onde olhar”. O conteúdo do site está inti-mamente ligado com a moda, mas Nina não considera o Street Style Floripa como um blog de moda. “É muito mais sobre pessoas e so-bre estilo de vida. Acho que hoje em dia a visão popular de blog de moda está bem distorcida, pois para mim moda é comunicação, é personalidade, identidade e o que menos vemos nesses blogs é

isto”. Para a autora, as ditas blogueiras viraram em sua maioria cabides de roupas, afinal “elas são pagas para usar, influenciando centenas de outras pessoas simples-mente a consumirem e copiarem, não pensarem sobre seu próprio estilo. O resultado disso são várias replica-ções e monotonia”. i

pode-se perceber que as pessoas desejam ter um estilo interessante e diferente, mas, muitas vezes, não recebem a instrução correta para que isso aconteça e acabam copiando o que veem de novidade na TV”. Nina Mansik, 24, além de colaborar no site Bar-ba e Bigode, também foi a ideali-zadora de um dos primeiros blogs de moda de rua em Florianópolis, o Street Style Floripa. “Tudo come-çou em 2010, quando trabalhei diretamente com pesquisa para uma marca e era viciada em blo-gs de street style, tinha pastas e pastas no meu computador com fotos, o Pinterest ainda não era popular”. O objetivo, segundo a autora, “sempre foi ser algo mais além que a roupa, porque para mim pouco importa se a pessoa veste Renner ou Gucci, o que atrai é o conjunto, é a pessoa que tem por trás daquilo que o torna interessante”. Apesar do Street Style Floripa ter uma proposta local, o público é bem variado. “Como eu hospedo no Tumblr, tem muita gente de fora do país que aceita e rebloga a foto em seus próprios domínios, é por isso

O objetivo sempre foi ser algo mais que a roupa, pra mim pouco impor-ta se a pessoa veste Renner ou Gucci

Nina Mansik

Fotos da página: Nina Mansik/Street Style Floripa

Para saber mais, acesse:

www.barbaebigode.com.brwww.streetstylefloripa.com.br

Page 19: Revista  Litorânea

Materiais

corporação de exigências dos consumidores. Estudos da nanotecnologia têm permitido a transformação das características intrínsecas dos materiais, a produção industrial de tecidos tratados com plasma, que confere ao tecido ní-veis de resistência ao “peeling” (desprendimento das fibras que gera as tão famosas bolinhas no tecido), ao desgaste e a abrasão, e a capacida-de de dispersar rapidamente os líquidos (desta forma o tecido torna-se capaz de transportar o vapor corporal e dispersá-lo imediatamente evitando que fique em contato com a pele) com performances altíssimas muito superiores as alcançadas por tecidos sintéticos.

O professor Arun Kardile, chefe do Labo-ratório de Parametria Física Têxtil da Univer-sidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, explica que ao se aplicar a nanotecnologia nos

têxteis em nível molecular, podem-se ori-ginar produtos inovadores como fibras

condutivas e térmicas, fibras an-timicrobiais, fibras que gerenciam

umidade, odor, entre outras de forma muito mais eficiente. A inovação é a palavra chave que está le-vando a um enriquecimento contínuo das fun-cionalidades dos tecidos para confecção, onde os materiais são os ingredientes principais nas indústrias a fim de atender ao mercado con-sumidor. Assim, podemos esperar um futuro cheio de novidades nesta área! i

Controle de odores, temperatura, auto limpeza, iluminação, você acredita que hoje todas estas funções podem ser re-

alizadas por tecidos? A tecnologia têxtil hoje não tem limites, e vem tomando conta da nos-sa rotina sem nem mesmo percebermos.

Os tecidos funcionais, também chama-dos inteligentes, técnicos, diferenciados

ou de performance, são aqueles que incorporam funções além

das tradicionais encontra-das nos tecidos que co-

nhecemos, como aquecer e pro-

teger.

Apresentam propriedades que agregam fun-ções nas áreas de saúde, proteção, esportes, embalagem, automotivo, industrial, constru-ção, geotérmicos, agrícolas, entre outros. O uso de tecnologias recentes como a nanotec-nologia tem produzido aplicações sofisticadas e com propriedades específicas. Diferentes nanoacabamentos tornam possíveis têxteis com ação bactericida e autolimpantes, por exemplo. Porém, o grande desafio da indústria ainda está longe de ser concluído, pois incor-porar aos tecidos propriedades funcionais é só uma parte do problema. Construir texturas agradáveis ao toque, que resistam às constan-tes limpezas e que ainda sejam produtos ecolo-gicamente corretos caminham junto com a in-

Dulce Holanda é doutora em Engenharia Têxtil e é

professora na UDESC, no Curso de Design de Moda.

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Fibras analisados pelo Laboratório de Nanotecnologia Têxtil da Universidade Cornell

Divulgação

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Nanotecnologia têxtil

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