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I M P R E S S O PODE SER ABERTO PELA ECT circulação GRATUITA Editora Mês Ano 1 - nº 7 Agosto de 2011 EDUCAÇÃO À distância, 308 mil alunos são inseridos na educação superior; vagas saltaram 22.000% ENTREVISTA Curitibano é autor de recente best-seller brasileiro; obra deve virar filme de Hollywood CIDADES Moradores questionam a qualidade das calçadas em Curitiba. Veja quem são os responsáveis MAIS ENGAJADOS Pesquisa revela mudanças no perfil dos jovens; em busca de sonhos individuais, eles também estão mais conectados ao social

Revista MÊS 07

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julho 2011

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Editora MêsAno 1 - nº 7Agosto de 2011

EducaçãoÀ distância, 308 mil alunos são inseridos na educação superior; vagas saltaram 22.000%

EntrEvistacuritibano é autor de recente best-seller

brasileiro; obra deve virar filme de Hollywood

cidadEsMoradores questionam a qualidade das calçadas

em curitiba. veja quem são os responsáveis

Mais EnGaJadosPesquisa revela mudanças no perfil dos jovens; em busca de sonhos individuais, eles também estão mais conectados ao social

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entrevista Talal Husseini

Paz Guerreira: “É essa guerra que devemos travar dentro de nós”O paranaense Talal Husseini é autor do livro “Paz Guerreira – o caminho das 16 pétalas”, que já se tornou best-seller no Brasil ao vender mais de 30 mil exemplares em apenas quatro meses. O sucesso, que está sendo comparado ao Senhor dos Anéis, será lançado este ano em Portugal, Espanha e Estados Unidos e, possivelmente, na Feira de Frankfurt (Alemanha). Também deve ir para as telonas. “São dois convites: um do Brasil e um de Hollywood”, diz o autor. A obra, que foi escrita em dois anos as terças das 19h30 às 2h da manhã, conta a história de Cadriel, que trava uma luta interna. O autor, especialista em Filosofia e faixa preta em artes marciais, lança mão de arquétipos da mitologia para cativar o público. Husseini recebeu a Revista MÊS em seu escritório, em um papo que foi desde sua saga individual até a evolução do ser humano e a busca da felicidade

Roberto Dziura Jr.

Arieta Arruda - [email protected]

Como começou sua carreira na filosofia?

Talal Husseini (TH) - Com 10 anos eu estava assistindo televisão vendo noticiário e pensei: será que tudo que es-tão falando nesse noticiário não é exatamente ao contrá-rio? Será que a verdade não é outra? Então, eu comecei a ficar em dúvida com relação ao que é certo e o que é errado, falso e verdadeiro. Muitos questionamentos. Fui numa livraria e pedi um livro que me falasse a verdade. O vendedor me trouxe um livro chamado “Dogma e ritual da Alta magia”, de Eliphas Levi, é um livro de esote-rismo, ele trouxe pra tirar sarro da minha cara. Só que quando eu folheei aquele livro, observei que tinha fotos de demônios, de coisas estranhas, eu pensei: talvez seja um livro que fale a verdade?! Eu li o livro em dois dias. Foi o primeiro livro que eu li na minha vida. E quando eu terminei o livro, leques se abriram ante meus olhos. Eu pensei: será que tudo que está dentro desse livro não é exatamente tudo ao contrário? Será que a verdade não é outra? Aí começou minha saga filosófica. Então, dos

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10 aos 14, já tinha lido mais de dois mil livros. E com 14 anos, eu tive uma luz. En-tendi que a verdade não estava nos livros e que deveria ser vivenciada por pessoas sá-bias. Comecei a buscar um mestre. Quan-do eu tinha 17 anos de idade, tinha uma pa-lestra “Como dominar o medo através das artes marciais”, quem deu essa palestra foi o professor Michael Echenique Isasa, aí eu encontrei o meu mestre.

Você trabalha com a filosofia à maneira clássica. Qual a diferença das outras?

TH - Ela busca a felicidade, a autorreali-zarão de forma extremamente prática. O sistema filosófico que eu desenvolvo, que aprendo e ensino não é puramente intelec-tual, não é só o ato de pensar, é também ser capaz do agir. É como um pássaro com duas asas: a fé e a razão. Se uma asa é mais curta que a outra, o pássaro vai girar e não vai chegar onde tem de chegar. Se eles têm bem equilibradas as duas asas (a fé e a ra-zão) você consegue ter um excelente equi-líbrio pra chegar até a luz do sol ou onde quer que você tenha como objetivo.

Por que a maioria das pessoas não se interessa pela Filosofia?

TH - A filosofia é muito importante para você desenvolver o pensamento, desenvol-ver muito bem as ideias. Todos os sistemas políticos, religiosos, culturais, artísticos vieram de uma ideia filosófica. A própria economia sempre está envolvida com al-gum conceito filosófico. Só que a filosofia quando teve o seu grande desenvolvimento na humanidade, ela não era intelectual, ela tinha uma visão intelectual, mas aplica-da ao mundo prático. E hoje, quando nós estudamos a filosofia, você vê a filosofia só no seu âmbito intelectual, o que torna as coisas um pouco chatas, às vezes, pelo menos para a maioria das pessoas, por que as pessoas não veem uma aplicação para aquilo ou acham complexo demais, abs-trato demais. Vejo também que os jovens de hoje em dia estão caindo no comodismo muito grande e com grau de informação muito grande, que é diferente de saber pen-sar. Você confunde, muitas vezes, a infor-mação com o conhecimento. E a filosofia é a busca da sabedoria. Ela não trabalha com informação, vai muito mais além e, hoje, existe uma forte tendência de as pes-soas ficarem na superficialidade das coisas e com informações achando que sabem. Muita horizontalidade de opiniões e pouca profundidade de sabedoria, essa é que é a grande questão hoje.

Como foi o processo de criação do livro Paz Guerreira?

TH - A minha fonte de inspiração foi o meu mestre em primeiro lugar. Ele foi minha grande fonte de inspiração. Por to-dos os lugares por onde eu passei, eu es-tudava muito como era a cultura marcial daquele país. Essa cultura marcial foi o segundo elemento que me trouxe as con-dições para escrever esse livro. O terceiro elemento foi justamente o conhecimento da filosofia. Então, integrando o que eu aprendi com o meu mestre, a cultura mar-cial nos países e a filosofia, que traz apor-tes mitológicos, arquétipos mitológicos universais, muitos recursos de conheci-mento. [A ideia do livro] Foi incrível, foi em um segundo. Foi uma inspiração, uma intuição. Em um segundo, eu vi a coluna vertebral inteira do livro. Depois, eu fui amarrando as histórias e criando outras histórias e criando o recheio. O projeto começou há 10 anos. Onde eu falei pro meu mestre que eu queria escrever um romance, e no meio de tudo isso eu en-sinaria algo com uma boa profundidade filosófica. Ele disse que eu teria de treinar o meu estilo de escrita. Durante oito anos eu escrevi um livro que não tem nada a ver com esse. E quando eu terminei, o meu mestre falou que tinha que descartar o livro que era só um treinamento. Deletei tudo. Há dois anos, eu comecei a escrever esse livro. Ele [mestre] falou assim para mim: você tem de escrever algo que veio com você. Aí depois de uma semana em silêncio veio em um segundo o tema: Paz Guerreira, que era algo que eu conhecia. Então, demorei dois anos para escrever, mas o processo vem de 10 anos.

O que é a Paz Guerreira?

TH - Paz guerreira é aquela paz que advém de uma guerra interior. Nós falamos mui-to de paz, mas quanto mais de paz se fala mais guerras vemos. Todas essas guerras que vemos no mundo são falsas, porque advêm da ignorância humana. Mas existe uma guerra que é verdadeira, que é a inte-rior. É essa guerra que nós devemos travar dentro de nós. Essa guerra dentro de nós é a luta contra as nossas sombras, os nossos defeitos, nossos medos, instintos, paixões etc. Como fazer para dominar isso? Quan-

do desenvolvemos nossas virtudes, que são qualidades humanas luminosas, elas domi-nam as nossas paixões, os nossos medos. É como se as virtudes fossem luminosas e os nossos defeitos uma escuridão, quanto maior o campo de luz dentro de nós, menor o espaço ou ponto de escuridão que exis-te dentro de nós. Tenho que aumentar as minhas virtudes para diminuir os defeitos.

O livro deve virar filme. Como está o andamento disso?

Não posso falar muito. De qualquer for-ma, o que eu posso adiantar é que são dois convites: um do Brasil e um de Hollywood. E eu estou analisando os dois e negociando. Vou para os Estados Uni-dos agora no segundo semestre, a gente vai analisar de perto, ver as propostas com roteiristas, produtores para ver as opções, observar claramente se vai estar dentro do que eu quero ou não. Mas está caminhando muito bem.

Sobre a felicidade. Ela é a ausência de problemas?

TH - Não. Você tem de sublimar tudo isso, tudo isso faz parte da sua vida. A alegria, o choro, a tristeza, o sorriso, tudo o que você possa imaginar faz parte do nosso plano de desenvolvimento. Mas a felicidade é um ponto em que você pode estar chorando e estar feliz, porque você tem uma compre-ensão superior. A felicidade não é ser ale-gre e ser feliz. Tudo tá dentro da felicidade, quando você compreende como chegar a esse ponto de harmonia. Ser feliz é uma coisa que é agora e não é amanhã. Sempre que você diz: “eu vou ser feliz amanhã”. Você não vai ser. E você tem de desenvol-ver potenciais dentro de você, para você vislumbrar essa felicidade dentro de você. Ela não está fora. A felicidade não está condicionada a questões materiais, que quando eu tenho algo. Agora porque eu te-nho isso, vou ser feliz. A felicidade é atem-poral, ela vai para além do que eu posso ter ou tocar. Por isso, tantas pessoas sofrem, porque elas estão buscando a felicidade fora e amanhã. Ela tá dentro de mim e não fora de mim. Ela não é amanhã, é agora.

Como chegar a esse ponto?

TH - Quando você desenvolve as 16 vir-tudes chega nesse centro que é a sabedo-ria. Uma vez que você esteja nesse centro, aprende a vencer sem lutar. Precisa vencer dentro, para agora fora, ter mais inteligên-cia. Só que esse vencer é gradativo,

“[Felicidade] tá dentro de mim e não fora de mim. Ela

não é amanhã, é agora.”

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passa, em certos momentos, não sabemos identificar e depois vê que foi importante.

Qual a importância de sonhar?

TH - Somos a dimensão dos nossos so-nhos. Nós temos essa dimensão, essa al-tura. Se você tem sonhos pequenos, é por-que você é pequeno. Se você tem sonhos grandes, é porque você é grande. Agora quando sonhamos não podemos confundir com fantasia. Quando eu concebo mental-mente aquele sonho, não tenho que deixar só no aspecto mental, tem que sentir isso, em segundo lugar. Em terceiro lugar, co-locar energia para que isso aconteça e, em quarto lugar, ter uma ação concreta, se-não não tem chance para realizar aquilo. Se você sonha grande, você pode romper o que as pessoas chamam de impossível.

Como trabalhar a ignorância da huma-nidade?

TH - O mundo está voltado mais para a tec-nologia, somos capazes de mandar pessoas à lua, mas não somos capazes de caminhar 30 cm que vai do nosso cérebro ao nosso coração. Existe uma força enorme buscan-do soluções através da economia, através de sistemas. Uma vez me perguntaram: “qual o melhor sistema para ser aplicado no mundo para criar uma nova civilização ou uma nova oportunidade histórica?” Eu falei: “não há que se pensar nisso”. Porque se você tem o melhor sistema do mundo e for aplicado pela pessoa errada, vai dar errado. Tem-se um sistema mais ou menos, mas se for aplicado pela pessoa certa, vai dar certo. A grande chave não tá no sistema ou na tecnologia ou em coisas que vemos fora, a grande chave está no ser humano. O sistema tá criando nas pessoas um con-forto achando que tudo está muito bem e, no entanto, as pessoas ficam cada vez mais infelizes, sentadas numa poltrona assistin-do à televisão, vendo a desfiguração de seu próprio ser. Enquanto não tivermos uma educação adequada, não teremos condição de evolução. Se não temos condições em instituições onde possam ter uma educação adequada, devemos buscar pessoas que são mais sábias do que nós, que conhecem a vida, como ela deve ser vivida.

Como a humanidade poderá caminhar sem guerras, sem que todas as pessoas estejam na mesma evolução?

TH - Você tem de dar a cada um aquilo que lhe corresponde. Isso é justiça. Aque-les que têm mais nível deveriam cuidar da-

é uma evolução. Uma vez que você esteja nesse centro, que é um ponto harmônico dentro de nós, começa a fazer as coisas na vida sem reação. Começa a fazer as coisas passando por todos os problemas - porque vão ter - mas não são eles que te absorvem. Consegue atravessar todos eles, porque está com a energia certa, comportamento certo, ação correta, e isso vem de dentro. É uma paz ativa, não é uma paz passiva. Você vai ter que lutar muito dentro de você.

Como acreditar na força da mente, mesmo diante da frustração?

TH - O que acontece é que, muitas vezes, somos imediatistas e avaliamos tudo pelo o que está acontecendo naquele instante. E não sabemos os desdobramentos de todo o conjunto. Não acredito no acaso. Acredito que tudo tem uma razão de ser, quando as coisas se conformam numa rea-lidade futura. Por exemplo, muito do meu sucesso e das coisas que eu vivo hoje, vieram de grandes reviravoltas e momen-tos que foram os mais difíceis da minha vida. Hoje, sou dono de 16 empresas, mas isso surgiu de uma época no passado em que eu tinha uma empresa que não deu certo, fracassou e foi duro de aguentar vendo tantas pessoas envolvidas tendo dificuldades em receber e muitas coisas. Dali surgiu a ideia de montar uma esco-la de negócios. E quando montei, foi um grande sucesso e se não fosse aquilo, não teria o que tenho hoje. Coisas que a gente

queles que têm menos, independentemente se ele quer aprender ou não. Nós devemos nos sacrificar e nos doar para ajudar quem tem menos condições em todos os aspec-tos, pode ser menos condição financeira, intelectual, menos condição de consciên-cia. Aqueles que têm mais condições de-veriam cuidar dessas pessoas e apoiá-las, não dando o peixe, mas criando condições. Dando uma vara para que elas aprendam a pescar pelo menos quando da necessidade delas. Ela não precisa ser rica, porque às vezes não é isso a condição dela. Não pre-cisa ser um sábio, mas tem que aprender a pescar pelo menos para o que ela precisa. Hoje nós não vemos muito isso, porque também muito do sistema político está sendo governado – não digo todos –, mas a maioria, por um governo de medo, de cor-rupção. Como as pessoas não dirigem a si mesmas, então, o que impera no momento em que vai dirigir é a corrupção, o medo e muitas falhas de caráter. O ideal seria diri-gir depois que tivesse dirigido a si mesmo. Seria um governo pautado nas virtudes, nas melhores qualidades humanas, porque já foi desenvolvido dentro dela. Confúcio dizia: “aquele que domine a si mesmo, pode dominar o mundo”.

Depois do primeiro livro, quais os pro-jetos futuros na literatura?

TH - Já estou começando a desenvolver um esboço do que vai ser o futuro livro, que vai ser um romance também. Vai ser uma outra obra. Não sei ainda [qual], por-que estou esperando aquele um segundo. Tenho a pretensão de escrever um roman-ce e o tema é a arte da convivência. En-sinar as pessoas a se relacionar bem com tudo e com todos.

Como conciliar tantas atividades? Casa, profissão, esporte, filosofia...

TH - O tempo é uma ilusão. Eu não vejo o tempo como normalmente as pessoas veem. Existem tempos diferentes, não só tempos físicos, existem tempos psicológi-cos também. O tempo vibra de várias for-mas simultâneas e depende da concepção que a gente tem. Quando eu me concentro em alguma coisa, eu ganho tempo. E eu sou uma pessoa concentrada. Sincronizo a mente e o corpo pra ganhar tempo. Eu sou muito disciplinado e me concentro muito. Terceiro é que eu tenho pessoas fantásticas comigo. Eu posso delegar com segurança e crescer junto com elas. Eu apoio muito os seres humanos, tudo está voltado às pessoas.

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entrevista Talal Husseini

O curitibano já vendeu mais de 30 mil exemplares

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Informação quentinha. Grátis nas melhores padarias da região.

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BABILÔNIAAl. Dom Pedro II, 541Batel / Curitiba

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MatÉria dE caPa 14

o “Eu” Mais colEtivo

4 EntrEvista

12 MirantE

20 coluna

21 MEnsaGEns dos lEitorEs

47 5 PErGuntas Para: AmisHA miller

56 livros

57 ÁlBuns

58 oPinião

59 FotoGraMa

cidadEs 22 o diFícil andar PElas

calçadas curitiBanas

Educação24 aPrEndEr dE

qualquEr luGar

EconoMia28 cidadania EMPrEsarial

30 uM Brasil dE PErsPEctivas

saÚdE26 aos 40, sEM o PEso

da idadE

intErnacional36 BrAsil: HegemoniA soB os

PaísEs da aMÉrica latina

turisMo40 litoral o ano intEiro

Política18 EM Busca do

Partido “PrEFEito”

culinÁria E GastronoMia42 o rEtorno do Pão artEsanal

sumárioEditora MêsAno I – nº 7Agosto de 2011

EsPortE44 YEs, nós taMBÉM tEMos FutEBol aMEricano

cultura E laZEr48 “Tudo começA com o desconHecido”

50 o saBEr do Povo ParanaEnsE

MEio aMBiEntE38 EntrEGa Movida a calorias

autoMóvEl54 sEdan MÉdio da PEuGEot Encara FortE sEus concorrEntEs

Moda E BElEZa52 de olHo no verão

tEcnoloGia32 quEr PaGar quanto?

aGricultura34 EM casa, uM EsPaço

Para cultivar

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ção

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abe aquela história de “tudo junto e misturado”? Ta aí a graça de viver em sociedade. É um vai e vem de objetivos, conceitos, valores e diferenças. Uma pluralidade que salta aos olhos e agrega no dia a dia. Um conviver rico e cheio

de meandros que fazem do cotidiano um desafio interminável.

Arriscar, ser arrojado, mas sem negligenciar o pensar no coletivo! Pensar no outro, trazer pra si a responsabilidade para aquele negócio chamado Brasil. Para que o País seja cheio de boas perspectivas e baseado no vencer juntos.

Essa sensação gostosa de que não estamos sozinhos, ao mesmo tempo em que nos for-talece, também nos incumbe de uma carga de deveres que precisam ser levados à diante para tudo acontecer. O momento positivo desse Brasil do futuro chegou. Os jovens, motor propulsor de qualquer sociedade, já estão mais mobilizados. É um novo ser social que se mostra. Aliás, esse é o tema da matéria de capa: “O ‘eu’ mais coletivo”.

No mesmo viés de olhar para si, sem excluir os outros, estão as palavras do entrevista-do da MÊS, Talal Husseini, o curitibano escritor do best-seller “Paz Guerreira”, que discute a busca dos lugares: Paz e Felicidade.

A união do só com todos é também tema da reportagem de tecnologia sobre financiamento coletivo. É unir o dinheiro de um, do outro, mais um e mais outros; para formar um todo que realize sonhos. Uma nova relação comercial e de parcerias.

Por falar em dinheiro, sabia que mais de 50 milhões de pessoas saíram da pobreza nos últimos oito anos no País? É. E com mais grana no bolso, os brasileiros estão buscando novas alternativas de emprego, mais qualidade de vida e maneiras de empreender. Criar, experimentar, tentar, entabular e abrir seu próprio negócio é a cara de um novo Brasil. Afinal toda essa criatividade popular, que antes servia para o famoso “jeitinho brasileiro” – da malandragem –, precisava servir para al-guma coisa positiva. Serviu! Somos um povo empreendedor e criativo, as reportagens de Economia trazem dados e motivos para você se convencer disso.

Também somos um povo mais educado. Sim, é pouco para dar nome de ideal, mas já é o caminho que começou a ser traça-do. Basta olhar para um indicativo: o crescimento estrondoso que a reportagem de Educação traz nessa edição. São mais de 23.000% de vagas em oito anos na educação à distância. É a educação superior chegando onde os centros universitários não puderam alcançar.

Dessa forma, com mais altos que baixos momentos, o brasileiro vai tomando uma dose de orgulho de si a cada dia e ven-cendo os gigantescos desafios que ainda temos de desbravar. O horizonte é de um sol radiante e com poucas nuvens. Tá a fim de se misturar? Seja bem-vindo.

Boa Leitura!

editorial

expedienteA REVISTA MÊS é uma publicação mensal de atualidades distribuída gratuitamente. É produzida e editada pela Editora MÊS EM REVISTA LTDA. Endereço da redação: Rua Comendador Araújo, 565, Centro – Curitiba (PR) Fone/Fax: 41. 3223-5648 – e-mail: [email protected]

REDAÇÃO Editora-executiva e Jornalista responsável: Arieta Arruda (MTB 6815/PR); Repórteres: Mariane Maio, Roberto Dziura Jr. e Iris Alessi; Arte: Tércio Caldas; Fotografia: Roberto Dziura Jr.; Revisão: Larissa Marega; Direção comercial: Paula Camila Oliveira; Departamento comercial: Sandro Alves / [email protected] – Fone: 41. 3223-5648; Colaboraram nesta edição: Tiago Oliveira, Wallace Nunes, Eduardo Bentivoglio, Renato Sordi, Marcelo M. Bertoldi e Laércio Mello;Produção gráfica: Prol Editora Gráfica; Assinatura: [email protected].

Auditoria: ASPR - Auditoria e Consultoria;

Nova realidade social S

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mirante

Beto pode não entregar promessaO governador Beto Richa (PSDB) pode ter problemas na plenitude para entregar o apoio prometido ao prefeito Luciano Ducci (PSB). É que companheiros seus de partido – alguns históricos – já estão falando pela cidade que irão firmar fileiras com o ex--tucano Gustavo Fruet, que saiu do PSDB por não ter o apoio do governador, para concorrer à prefeitura de Curitiba. Em bre-ve, Fruet deve anunciar o partido pelo qual irá para esta disputa. Cresce a possibilidade de o destino ser o Partido Verde (PV).

internet e tablets mais baratosLogo, logo deve começar a produção de tablets em território nacional. Pelo menos é isso que acredita o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Segundo Bernardo, nove empresas foram cadastra-das para produzir esses equipamentos no Brasil. Com a maior oferta do produto e a produção nacional, os novos brinque-dinhos tecnológicos devem ficar mais acessíveis para os brasileiros. Os preços devem ser até 36% abaixo dos valores atuais. E por falar em preços mais baixos, outra boa notícia, é que, em breve, tere-mos conexão de Banda Larga por R$ 35, valor bem abaixo do cobrado atualmente.

linha dura A faxina foi grande no Ministério dos Transportes. Já foram mais de duas dezenas de demissões envolvendo servidores do ministério. Mas, por meio de interlocutores, a presidenta Dilma Rousseff manda avisar que sempre que houver graves denúncias em seu governo vai aplicar duras medidas, mas que não será refém de especulações da imprensa ou da oposição.

Entusiasmo totalEm encontro de velhos amigos realizado no final de julho, em Morretes, o entusiasmo do ex-depu-tado Wilson Pickler (PDT) com a possível candidatura à prefeitura de Gustavo Fruet pelo seu partido chamou a atenção dos presentes. Pickler, que não se reelegeu federal nas últimas eleições, dava como certa a filiação do ex-tucano em seu partido. Os presentes no almoço regado à costela no chão e barre-ado, na maioria profissionais da comunicação e alguns simpáticos ao PSDB, também se manifestaram a favor da candidatura de Fruet. Seja por qual partido for.

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começo quenteO primeiro dia da volta dos trabalhos, em agosto, na Câmara de Vereado-res de Curitiba começou tumultuado. A sessão foi marcada pela presença de muitos manifestantes que foram impedidos pela segurança da Casa de entrar no plenário, com a alegação de que não havia mais lugares vagos. No entanto, vereadores da oposição disseram que o local estava lotado de funcionários da Prefeitura. Os manifestantes apareceram em sessão para cobrar explicações do presidente, João Cláudio Derosso (PSDB), acusado de irregularidades em sua gestão. O parlamentar não compareceu.

aliança em torno de FruetGanha força entre membros do PT a ideia de formar uma aliança com Gustavo Fruet para a disputa municipal na Capital. A justificativa vai desde consolidar uma oposição ao governador até uma forma de o partido se fortalecer na Capital. Contudo, boa parte dos que defendem esta aliança acreditam que o vice, a ser indicado pelo PT, deve ter estatura política para atuar dentro do futuro Governo Municipal. Angelo Vanhoni aparece como um dos cotados.

desse mato saiu cachorroMais uma da Assembleia Legislativa. Dessa vez, um relatório divulgado no fim do mês de julho mostra que servidores da Casa podem ter se beneficiado com o pa-gamento de aposentadorias indevidas. De um total de 302 aposentadorias revisadas pela Casa, cerca de 90% dos benefícios tinham distorções. Ao todo, são gastos R$ 44,2 milhões/ano para o pagamento de aposentadorias dos servidores efeti-vos. Que uma Comissão Especial seja instaurada para apurar mais essa.

Limpa geraL

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“Como qualquer cidadão, o Fruet tem o direito de ser filiado ao partido que achar mais conveniente, mas isso não significa um alinhamento automático conosco”

Argumenta Tadeu Veneri (PT), deputado estadual

Portabilidade de planos de saúdeEntraram em vigor no final de julho as novas regras para os clientes de plano de saúde por adesão (individuais, famílias e coletivos) que assinaram seus contratos a partir de janeiro de 1999. As novas normas ampliam as regras da portabilidade de carências. Isso significa que o usuário poderá trocar de plano de saúde sem precisar cumprir os novos prazos de ca-rência. Isso também vale para a troca de um plano municipal para um estadual ou deste para um nacional. Essa mudança beneficia mais de 13 milhões de pessoas.

companhias aéreas no bico do corvoA paciência do Governo Federal com as companhias aéreas parece que já extrapolou os limites. A ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, cobra diariamente da ANAC e da In-fraero posicionamento sobre a situação dos aeroportos. A venda excessiva de passagens para o período das férias de julho, sem aumentar a quantidade de atendentes e a pane no sistema de che-ck in de Congonhas, colocam a Gol no topo das insatisfações do Governo. A companhia também é campeã de atrasos com picos em alguns dias de mais de 20% de voos atrasados.

“A gente vem há algum tempo discutindo internamente. Vejo como positivo. A gente tá

dialogando com os outros partidos”

Disse Roseli Isidoro, presidente do PT Curitiba

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Geração jovem atual tem demonstrado uma nova maneira de se comportar; o bem-estar individual e em grupo se unem para garantir a harmonia social

É nesse ambiente que ocorrem grandes ressignificações de valores, como família, emprego, religião, política e economia.

Estes novos conceitos foram percebidos pelo biólogo e dono de uma escola de tera-pias holísticas, Rafael Souza, recém-com-pletados 25 anos. “Tá acontecendo alguma coisa. Tem algo diferente no ar.” No mês de julho, ele e mais 100 jovens passaram um final de semana em Antonina, no Li-toral do Paraná, para realizar o sonho dos desabrigados em decorrência das chuvas de março: terem no local um playground para as crianças, um forno a lenha para trabalharem com panificação e uma horta. Com a ideia inicial de promover um evento para arrecadar donativos para as vítimas da tragédia, o projeto mudou de foco quando perceberam que esta não era a real necessi-dade daquela comunidade.

matéria de capa

o “eu” mais coletivo

ada pessoa é única, como di-ria Charles Chaplin. Mas o ser humano é também um ser social e, por isso, o momento

histórico influencia gerações, marca con-ceitos e atitudes coletivos. “Há um ele-mento de invenção e criação, que cada ge-ração estabelece para si em determinados momentos, estratégias que se colocam e recolocam permanentemente”, afirma a socióloga Ana Salas.

Para um país que era tido como do Futuro, uma nova ordem se coloca à frente desse

cMariane Maio - [email protected] que é o “Brasil do Presente”. Vive-se no

País uma nova ordem imposta pelos jovens: a transição do individualismo para a cole-tividade. Entender os anseios dos jovens brasileiros da primeira sociedade global foi justamente o objetivo da pesquisa “O Sonho Brasileiro”, realizada pela empresa BOX.

O resultado trouxe uma combinação, se-gundo eles, inédita. “País num momento único de sua história: crescente reconhe-cimento internacional e otimismo interno. Jovens de 18 a 24 anos naturalmente digi-tais, impactados por uma nova configura-ção do mundo, que já nasceram numa nova fase do Brasil, onde tudo parece possível”.

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Arq

uivo

pes

soal

Vive-se no País uma nova ordem: a transição do individualismo para

a coletividade

Um novo formato foi pensado e eles che-garam ao “Bioasis”. “É um projeto mul-tidisciplinar e interdisciplinar, ou seja, a gente trabalha esses conceitos de preser-vação do meio ambiente, de como a arte e a cultura são vitais para o desenvolvimen-to de uma sociedade. A grande missão é dar ‘empoderamento’ às pessoas”, expli-ca. Segundo o biólogo, os moradores dos abrigos estavam se sentindo incapazes e deprimidos. Portanto, apenas mandar mantimentos não iria mudar essa realida-de. “Depois que a gente criou esse afeto, através de uma ação de Páscoa, a gente fez uma reunião com eles, para ir pra pró-xima etapa do projeto: que é o sonho e o cuidado. Então, a gente se reuniu e pegou o sonho individual de cada um e formou em um sonho coletivo”, lembra Souza.

20 e poucos anosEssa necessidade de fazer algo pelos ou-tros atinge Rafael Souza e boa parte da juventude brasileira. De acordo com a pes-quisa, 74% dos jovens brasileiros afirmam “se sentir na obrigação de fazer algo pelo coletivo no seu dia a dia” e 79% disseram que concordariam em “utilizar parte do seu tempo livre para ajudar a sociedade”. “É um chamado. Você sente a necessidade de fazer isso. Vi tudo àquilo [tragédia do li-toral paranaense] e pensei: está na hora de fazer alguma coisa”, conta o biólogo. Os jovens querem mais respeito e cidadania, menos violência e menos corrupção.

A maioria (74%) dos jovens também afir-ma ter vontade de participar de projetos comunitários e as áreas de maior interesse estão relacionadas com o meio ambiente, cultura e arte, educação e esportes. “Exis-te a percepção da necessidade. Acredito que a gente está nos 48 minutos do segun-do tempo para fazer qualquer mudança. A situação que a gente está do planeta, de uma forma geral, é caótica. Se a gente não começar a fazer algo, vai começar a so-brar pra gente”, comenta o jovem.

E para que toda essa mobilização fosse possível, o grupo se utilizou da conectivi-dade. A rede de relacionamento Facebook foi escolhida para dar voz ao projeto e mo-bilizar ainda mais voluntários. “Rapida-mente dezenas, centenas de pessoas foram sabendo do projeto, se interessando e ade-rindo. Do último mês para cá o projeto ex-

plodiu. Tudo foi feito pelas redes sociais, divulgando através da internet”, conta.

Para a socióloga Ana, a tecnologia é um artefato cultural. “O uso que você faz dis-so, vai depender de como as pessoas se apropriam. As pessoas se conectam, se mobilizam e vão para as ruas. Por exem-plo, o que está acontecendo na Espa-nha, na Grécia, em Portugal, na Irlanda? Quando você tem um momento de crise econômica, como tem no caso desses paí-ses, aí não adianta fazer mobilização pela internet. Acho que essas coisas não se excluem, depende o que está em pauta”, explica Ana, acrescentando que essas ma-neiras de diálogo (real e virtual) podem ser complementares.

Êxito extra-profissionalDe acordo com os pesquisadores, a nova juventude brasileira se distingue da ante-rior, da década de 1990 em que os sonhos eram baseados no êxito profissional, alia-do ao poder financeiro.

Empregado na Shell aos 22 anos, um ano e meio depois Edgar Muniz de Barros Mo-reira (42), diretor-executivo da empresa Miti, pediu demissão para ir morar com os pais nos Estados Unidos. Apesar de forma-do em economia, lá trabalhava com empre-sa de jardinagem e pregava cortinas.

O emprego anterior, com certo status, não foi motivo para impedir Moreira, que escolheu ter uma vivência no exterior. “Eu ia fazer uma carreira profissional na Shell, mas não era algo que me atraia como ir aos Estados Unidos. Como queria ter um negócio próprio, não sentia que ia ficar para sempre na Shell. Como sabia disso, preferi ter uma nova experiência de vida e foi muito bom”, conta dizendo que o padrão americano empreendedor o ajudou posteriormente.

Dois anos depois, ele retornou ao Brasil e trabalhou em diversas empresas até mon-tar o seu próprio negócio. Depois de mu-dar o foco do seu negócio algumas vezes, hoje tem uma empresa líder de Clipping no País, que monitora 3.700 veículos e 100 mil notícias por dia, além de monito-rar mídias sociais e outro setor que faz o acompanhamento dos programas de rádio e televisão do Paraná. Recentemente, o empresário percebeu outra brecha no

“Ia fazer carreira profissional na Shell, mas não era algo que me atraia como ir aos

Estados Unidos”, diz Edgar Moreira (42) Rob

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matéria de capamercado e uniu suas habilidades para transformar seu negócio em uma empresa de inteligência de mercado.

Atualmente, os jovens querem mais que o emprego dos sonhos, com estabilidade financeira. “Eles não negam questões fun-cionais, como dinheiro e estabilidade, mas a diferença é que não param por aí. En-contramos muitos jovens conectando sua realização pessoal à profissão dos seus so-nhos. Em ser alguém. Essas buscas não são dissociadas, elas vêm juntas. O trabalho é cada vez menos visto como necessidade, e cada vez mais como elemento de realiza-ção e expressão”, conclui a pesquisa.

O biólogo Rafael Souza é identificado na pesquisa como “jovem-ponte”, uma cone-xão entre o novo e o velho, entre a natu-reza e o homem, entre um povo e outro. É alguém que conecta realidades diferentes, transmite ideias e conhecimento de forma transversal, abre diálogo entre preconcei-tos e diferenças, busca relevância social por meio do trabalho, constrói um novo tipo de participação coletiva e política.

Questionado sobre qual é o seu sonho, o coletivo apareceu ligado às suas vontades individuais. “Fazer esse grupo crescer e ter harmonia para trabalhar com isso [...] Hoje estou realizando meu sonho. Conse-guir fazer coisas que eu gosto e utilizar isso para fazer bem para os outros”, diz o jovem, contando que já teve sonhos mais consumistas, mas mudou seus valores.

luta menos violentaJá em relação à geração jovem dos anos de 1970, a juventude atual tem em co-mum um lado mais coletivo. “Após as representações acentuadamente indivi-dualistas dos anos 80 e 90, a partir dos anos 2000, os jovens voltam a valorizar e se conectar com discursos mais coleti-vos. Mas a noção de coletivo que trazem é diferente daquela predominante nos anos 70, quando o modelo era muito baseado na figura do mártir. Hoje, ganha força a ideia que pensar no outro não exclui pen-sar em si mesmo”, confronta a pesquisa.

“Havia uma busca por causas. Essa é uma diferença fundamental. Havia uma busca, não uma corrida para as profissões e as suas remunerações, patrimônio, mas uma causa que desse sentido a vida de cada um”, lembra o jornalista curitibano Luiz Manfredini (61). Neto de um dirigente do partido comunista, Manfredini participou

“A gente recebia muita informação, então chegava num ponto que você devolvia

artisticamente”, afirma André Faria (67)

“Estou realizando meu sonho. Conseguir fazer coisas que gosto e utilizar isso para fazer bem para os outros”, garante Rafael Souza (25)

desde cedo de grupos que lutavam contra a ditadura e repressão militar da época. Para se opor ao regime, se integrou ao mo-vimento estudantil e a Organização Ação Popular. Por conta disso, viveu clandesti-namente junto aos camponeses, no interior do Paraná, e foi preso quatro vezes.

A realidade daquela época fez com que muitos jovens fossem pelo mesmo cami-nho. “Nos anos 70 a forma de engajamento era outra, tinha uma ditadura militar. Então, a possibilidade, as estratégias para se procu-rar a ação política, era muito diferente, por-que tinha censura, e hoje não tem nada dis-so”, pondera a socióloga Ana Salas. Hoje, a maioria dos jovens, que vive um período de estabilidade econômica e política, percebeu que o seu bem-estar depende do bem-estar da sociedade onde vive.

“Todos somos um. Todos estamos conec-tados de uma forma ou de outra”, interpre-ta Rafael Souza. “Claro que você faz isso

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rando a interdição e não chegou. Resolvi voltar e aí resolveram interditar o filme. Ficou interditado até 80. O filme foi lan-çado 10 anos depois”, narra Faria.

“Bastante influenciados por movimentos de contracultura, os jovens buscam am-pliar sua liberdade de escolha e expressão. Para isso, precisam confrontar os padrões sociais mais tradicionais da sociedade, revolucionar os costumes”, relata a pes-quisa sobre esta geração. “A gente rece-bia muita informação, então chegava num ponto que você devolvia artisticamente. Naquela época, a gente achava que ia mu-dar o mundo”, observa o cineasta.

Apesar das diferentes formas de manifesta-ções, cada geração a seu modo torna os ide-ais reais e transformam a cara da sociedade. A cara da vez, apontada pela pesquisa, é de uma geração de jovens que tem na políti-ca uma prática cotidiana, sem caras parti-dárias; uma educação compartilhada; uma nova configuração da família (com mais laços afetivos) e o trabalho como extensão da identidade, por isso, com forte apelo so-cial e satisfação pessoal. São os sonhos dos jovens brasileiros do século XXI.

“O SOnhO BraSilEirO”

Pesquisa feita com mais de 25 mil jovens de 18 a 24 anos. confira alguns dos resultados:

59% concordam que têm que pensar em si antes de pensar nos outros.

77% concordam que o seu bem-estar depende do bem-estar da sociedade onde vive.

67% discordam da afirmação de que “só pensa em fazer algo pela sociedade se ti-ver algum benefício para si próprio”

74% afirmam “se sentir na obrigação de fazer algo pelo coletivo no seu dia a dia”

79% afirmam que concordariam em “utilizar parte do seu tempo livre para ajudar a sociedade”.

74% afirmam que têm vontade de par-ticipar de projetos comunitários.

“Havia uma busca por causa, que desse sentido a vida de cada um”,

lembra Luiz Manfredini (61)

segundo a época. O jogo é outro. Você tem de se ajustar. Ficar falando a mesma coisa que falava há 30 anos, vai dar com os burros n’água”, completa Manfredini.

Movimento arteAnterior à geração de Manfredini, André Faria (67) fingiu para o pai médico que queria passar no vestibular de Medicina, para poder ir estudar no Rio de Janeiro e em paralelo ao cursinho fazer um curso de Cinema no Museu de Arte Moderna e no Conservatório Nacional de Teatro.

Depois de ter reprovado no vestibular, pois preenchia a prova correndo para po-der chegar a tempo da prova do Conserva-tório, abandonou os estudos preparatórios e se dedicou ao Cinema. Foi trabalhando com a sétima arte que Faria se opôs à sua época. Profissional do Cinema Novo, ele participou dos movimentos de contracul-tura na década de 1960. Um de seus fil-mes, o “Prata Palomares” foi censurado em 1971 pelo governo brasileiro. “Não apresentei o filme para a censura e contra-bandeei o filme para Paris para ir para a Quinzena dos Realizadores [parte do Fes-tival de Cannes]. Isso foi muito bom, pois protegeu de certo sentido e o pessoal aqui ficou sem saber como agir. Fiquei espe-

Fonte: www.osonhobrasileiro.com.br

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Em busca do partido “prefeito”

Disposto a concorrer e vencer as eleições municipais de Curitiba, Gustavo Fruet sai do PSDB e negocia com partidos que sustentem seu objetivo

Mariane Maio - [email protected]

ara quem acompanha o cenário político paranaense, a saída de Gustavo Fruet do Partido da Social Democracia Brasileira

(PSDB) não foi exatamente uma novida-de. Conversas sobre a definição de qual candidato o partido apoiaria nas eleições para prefeito de Curitiba (PR) – escolha entre ele ou o atual prefeito Luciano Duc-ci (PSB) − ocorriam há meses. E o proble-ma foi justamente esse. Ficaram apenas nas conversas. A falta de uma declaração antecipada de apoio das lideranças do partido (Beto Richa e Valdir Rossoni) fez com que Fruet tomasse uma atitude, antes mesmo que o partido esperasse.

Pcresci, onde construí todo o projeto? [...] Já dei demonstrações de apoio ao PSDB em nível nacional, estadual e local. Dei-xei de disputar a eleição para prefeito em 2008, entendendo que havia uma com-posição. Deixei de disputar a reeleição para deputado para ser candidato a se-nador”, questiona o ex-parlamentar em tom de desabafo.

chances reaisApós uma votação surpreendente na elei-ção para o Senado em 2010, em que rece-beu 2,5 milhões de votos no Paraná, sendo aproximadamente 646 mil em Curitiba, seu desejo de um dia assumir a Prefeitura da Capital ficou ainda mais palpável. “O

“Porque eu vou esperar até o final do mês de setembro? Chega uma hora em que é necessário assumir riscos. É virar uma pá-gina”, afirma o ex-deputado, dizendo que o interesse local prevaleceu ao projeto na-cional do PSDB de médio e longo prazo. “Não fiquei mandando recado. Não disse para ninguém que ia sair. Eu não ameaço. Acho que isso é diminuir a política. O li-mite para a chantagem é muito pequeno.”

Em coletiva de imprensa, em que comu-nicou sua saída, Fruet disse ter feito essa escolha com base no entendimento de que havia um bloqueio do PSDB em re-lação a ele. “Afinal, por que eu não pude em oito meses assumir a presidência do partido na Capital, na cidade onde nasci,

política

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Gustavo não é um político originário do PSDB. Ele foi [para lá] em 2004, 2005, por ter se afastado do Requião. À época ele era deputado pelo PMDB. Queria ser candidato a prefeito já, houve certo afas-tamento, e ele saiu do PMDB. Foi uma coisa meio ruidosa. Quando ele entrou no PSDB, eles já sabiam de um projeto pessoal dele de ser candidato”, lembra o cientista político Emerson Cervi.

Ao tomar essa decisão, Gustavo Fruet, que em outros momentos abriu mão de suas candidaturas em prol de um projeto partidário, mostrou que está focado em seu projeto político-pessoal. “Há tempo que defendo a possibilidade de constru-ção de uma candidatura a prefeito. Acho que há legitimidade para isso em função das votações para deputado, do Senado. O que não posso é ficar esperando inde-finidamente. A inércia na política é fatal. A política se faz todo dia, por coração ou omissão”, explica Fruet.

Apesar das lideranças do PSDB terem la-mentado a saída de Gustavo Fruet, tam-bém não fizeram nada anteriormente para que isso não ocorresse. “Um partido não perde um candidato desses. Quem perde são grupos políticos. Nesse caso, é muito claro como o grupo político – hoje lidera-do pelo Beto Richa – preferiu manter os interesses do grupo acima dos interesses do partido. Se fosse para manter os inte-resses do partido, com uma votação como essa, ninguém deixaria o sujeito sair do partido”, analisa o cientista político. Para Cervi, Fruet era “um estranho no ninho e tem uma origem e uma trajetória própria”.

o futuroIndependentemente dos motivos que le-varam Fruet a deixar o PSDB, a notícia agradou muitos partidos, que já estavam de olho no possível candidato. O próprio ex-deputado já confirmou que está con-versando com diversas lideranças par-tidárias para anunciar até o final deste mês sua decisão. “[Quero] liberdade para construir esse diálogo e começar a estabe-lecer algumas pontes visando à eleição e alianças, em 2012”, declara Fruet.

Gustavo Fruet pretende definir seu futuro partido

até o final desse mês

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As legendas mais cotadas são o PDT e o PMDB, mas Fruet também já citou o PV e o PSC. Para Emerson Cervi, o que fica cla-ro é que ele vai para algum partido da base aliada do Governo Federal. “Historica-mente, o Paraná tem uma política regional com dois grupos. Raramente aparece um terceiro com força. Nós tínhamos até um

tempo atrás, dois que eram protagonizados por um lado, Roberto Requião, e por outro lado, Jaime Lerner. O que acontece é que esses dois grupos estão saindo de cena. O Jaime Lerner saiu antes e em substituição a ele, apareceu uma nova figura política chamada Beto Richa. Do outro lado, você tem o grupo do Requião, sendo substituí-do gradativamente por uma espécie de um PT mais ao centro. Esse PT já mostrou que tem um problema, que é de manutenção às suas lideranças”. Para o cientista político, Gustavo Fruet tem a possibilidade de ocu-par esse espaço, mas para isso terá de “re-ver algumas coisas que ele fez até aqui”.

As articulações do próximo pleito servirão de pano de fundo para as eleições de gover-nador, em 2014, e “é obvio que o PT tem um projeto de concorrer, com chances de vitó-rias ao Governo do Estado. Qualquer candi-dato ao Governo do Paraná com condições normais, com exceção do Álvaro Dias nos últimos 30 anos, tem de sair muito bem vo-tado em Curitiba. Portanto, ter a Prefeitura é um pré-requisito para ter boas condições”, avalia Cervi, dizendo que dificilmente Fruet vá para o PT, mas que é provável que aja algum tipo de aliança do PT com o outro partido ao qual ele irá se filiar.

“Historicamente, o Paraná tem uma política regional com dois grupos”,

explica o cientista político

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“Porque eu vou esperar até setembro? Chega uma hora em que é necessário assumir riscos”, afirma Fruet

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sobre a política

Por Tiago Oliveira [email protected]

Eleições municipais e o poder dos apoios

Observando os movimentos realizados por ministros do Governo Federal, em especial pelos ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, e pelo governador Beto Richa, em direção à Capital, é de se supor que os movimentos eleitorais dos dois campos políticos que disputam a hegemonia nacional, com o PT capitaneando de um lado, e o PSDB do outro, já começaram. Beto Richa dá um passo a mais em sua estratégia ao criar dificuldades para a candidatura de Gustavo Fruet, a ponto de este sair do PSDB em busca de outro ninho, que lhe proteja em seu voo na disputa eleitoral do ano que vem.

Prefeito e pré-candidatos se revezam na pajelança a seus aliados. Uns aplaudem visitas, outros a liberação de recursos para obras e serviços. Mas todos são pródigos em buscar agendas com seus parceiros, seja para obter vantagens orçamentárias, seja para mostrar prestígio junto ao eleitorado local. Até que ponto esses apoios contribuirão para o sucesso nas eleições do próximo ano? Resposta difícil de encontrar, mas que vale algumas especulações.

Em minha opinião, os apoios serão absolutamente relativos, como foram nas eleições de 2008. Arriscaria dizer que assim como lá, terão papel absolutamente residual. Por isso, penso que o candidato, que apostar na capacidade de transferência de voto e apoio do governador, de deputados, senadores, ministros ou mesmo da própria presidenta, pode estar no caminho certo para dar com os “burros n’água”.

O eleitor é bastante inteligente para entender e relativizar esse apoio. Portanto, para ele, esses apoios não são determinantes. E, no caso brasileiro, isso fica cada vez mais evidente com o movimento que a política nacional faz para uma polarização entre dois grupos.

No caso do Paraná, o eleitor sabe que o vitorioso em sua cidade poderá ter mais trânsito para a liberação de recursos junto ao Governo do Estado e, se for de outra posição, será melhor junto ao Governo Federal. Essa

realidade na aritmética eleitoral dos brasileiros e, em Curitiba ainda mais forte, zera a questão dos apoios.

Nesse quadro, pesarão mais os valores individuais, as propostas e o histórico dos candidatos para a definição do voto. O eleitor sabe muito bem separar o que efetivamente está em debate nas eleições municipais, assim como, é ele quem constrói a agenda eleitoral, é ele quem delimita o espectro do debate. E para isso, ao contrário do que alguns pensam, não lhes falta inteligência. Nas eleições municipais, o eleitor quer saber das propostas para melhorar seu dia a dia na cidade onde mora. Os atributos pessoais são valorados na hora da escolha, mas pesará mais as propostas e, em especial, a capacidade demonstrada pelo candidato para realizá-las.

Por isso, aí vai a dica, candidato. Ao avaliarem as suas estratégias não sobrevalorizem os seus apoiadores. Pense primeiro em você mesmo e em seu programa de governo. E, principalmente, se você será capaz de, durante a campanha, convencer corações e mentes de que sua capacidade para fazer é maior do que a de seus adversários. E, aqui, a vantagem de quem disputa a reeleição é grande.

É necessário o trabalho cooperativo em vez da manutenção permanente da disputa

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RESPOSTA: Envie seu endereço de correspondência para o contato – [email protected] e comece a receber a sua MÊS em casa.

assinaturaGostaria de receber a revista em meu endereço.raphael travenssoli

Muito boa a revista. Tô morando em SC e o Paraná sempre dá saudades. Como faço pra assinar?

Mensagens do(a) leitor(a) As cartas da Revista MÊS são de mensagens enviadas à redação por correspondência ou de recados deixados em nosso perfil no Twitter: @mes_pr ou no Facebook: MÊS Paraná. Participe!

Juliana Hasse - @mes_pr está melhor a cada edição. #recomendo

3W Mobile - @mes_pr Parabéns pela reportagem sobre internet móvel da edição deste mês. Cada vez mais o brasileiro usa o smartphone no seu dia a dia.

dione Junges - @mes_pr Gostei Bastante do trabalho de vocês. Distribuição gratuita que geralmente configura algo com menos qualidade, não é a realidade de vocês.

renata FroeningAdorei a nova edição!E parabéns pela agilidade na entrega! A revista sempre chega muito rápido na minha casa!

João Paulo Mehl Muito boa reportagem [Capa: Filhos da Insegurança], a neura da insegurança acaba gerando pessoas inseguras, pouco dispostas ao risco, a ousadia e criatividade. Parabéns ao pessoal da Mês Paraná

Bolsa Financeira (da repórter Mariane Maio)Ficou excelente! Está de parabéns, muito profissional.

rui Felipe

leitura recomendada

A melhor publicação do gênero em nos-so Estado.

Francisco dely, jornalista, Jornal Gazeta do Estado

ParabenizandoPrezados da Revista Mês,Venho por meio deste agradecer o envio da revista a Florianópolis e parabenizá-los pela qualidade dos textos, fotos e reporta-gens. Gostei sobretudo da contra capa que traz reportagem sobre a questão do impres-so e digital com o ilustre escritor Laurenti-no Gomes, tema também da minha disser-tação de mestrado.Um super abraço e sucesso!

andressa da costa Farias

mensagens dos leitores

Li a revista ON LINE!! Ficou muito legal a reportagem. Parabéns pela sua competência! Kelly Tannylly schmidt Balbinot

Resposta: Para quem também não recebe ainda a Revista MÊS na versão impressa, você pode acessar o link: http://issuu.com/revistames . Todas as edições estão disponíveis por lá para ler e encaminhar aos amigos.

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ão é preciso caminhar muito por Curitiba (PR) para en-contrar obstáculos, buracos, entre outros empecilhos nas

calçadas. Muitas delas têm pedras soltas, irregularidades na superfície, lugares sem

A polêmica é antiga, mas a população continua a se queixar da qualidade dos passeios da cidade; regulamentação recente só dá conta de novas calçadas

n

o difícil andar pelas calçadas curitibanas

passeios e alguns deles relataram já ter sofrido algum acidente por conta da má conservação das calçadas. “Tem bastante pedra solta. Esses dias, eu até escorreguei, bati o joelho no chão”, conta a auxiliar de laboratório, Rosa Teixeira.

O consultor de indústria de confecção, Osiris Ribeiro da Silva, ressalta as bele-zas da cidade, mas pondera que “em com-pensação, as calçadas acabam com todos esses pontos positivos que Curitiba tem”. Ele brinca que tem uma teoria de que as

cidades

acesso para pessoas com dificuldades de locomoção, degraus ou estão deterioradas.

Esses itens são alguns dos problemas ci-tados pelos curitibanos. A reportagem da Revista MÊS foi às ruas e conversou com moradores da cidade. Todos os entrevis-tados queixaram-se de problemas nos

Iris Alessi - [email protected]

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calçadas foram construídas à base de lo-bby de ortopedistas e sapateiros.

dificuldadesPara as mulheres, há outro agravante quando existe a má conservação das cal-çadas. O uso de salto alto. “Para nós que usamos salto, é terrível. Nós temos que estar toda a semana trocando ‘taquinho’. É complicado”, diz a administradora Ma-rion Saboya. Um dos problemas aponta-dos por ela são as tampas de ferro mal colocadas nas quais, muitas vezes, acaba engatando o salto.

Com a necessidade da ajuda de uma ben-gala para andar, o afinador de pianos, José Olavo Silva, é enfático quando pergunta-do o que ele acha das calçadas de Curi-tiba: “péssimas”, responde. Ele diz que precisa tomar todo o cuidado enquanto anda, para não cair e não se machucar.

FiscalizaçãoA polêmica é antiga, mas os problemas continuam se agravando. As reclamações dos pedestres são recebidas pela Prefei-tura por meio da central 156. De acordo com o Departamento de Fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), apenas na Regional da Matriz, são recebidas entre 12 e 15 reclamações sobre calçadas por semana.

Conforme o diretor de Fiscalização da SMU, Nelson Roberto Gapski, “a grande maioria [das notificações em calçadas] é por reclamação, porque o melhor fiscal que tem é o público”.

Segundo o diretor de Fiscalização da SMU, o principal problema encontrado nos passeios da Capital é a deterioração das calçadas. Para tentar melhorar a qua-lidade, desde 2006, há um decreto que re-gulamenta padrões para a construção de novos passeios.

Segundo Gapski, há três padrões na cidade que são o paver, o CBQU (Concreto Betu-minoso Usinado a Quente), que é o asfalto, e placas de concreto. “E define que a calça-da pode ter uma inclinação máxima de 2%

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vados, já é exigido o passeio de acordo com o novo decreto. Eles vão ter que se adequar ao novo decreto, aos novos pa-drões”, explica o diretor.

A responsabilidade pela manutenção das calçadas é dos proprietários dos imóveis que ficam em frente e, no caso de lugares públicos, como praças, calçadão, em frente a prédios públicos, é dever da administra-ção pública local. Os imóveis que tenham calçadas no padrão antigo e que apresen-tem problemas de acessibilidade ou obstá-culos são notificados para que as reparem. “Quanto a sequência após a notificação, na hipótese do proprietário não atender ao so-licitado, ele será multado em R$ 550. Caso persista a infração, o 2º Auto será o dobro (R$ 1.100)”, informa Gapski.

Para o engenheiro de trânsito e diretor da Perkons, José Mario de Andrade, o pro-blema inicial das calçadas é justamente porque quem faz a obra é o proprietário e cada um acaba construindo sem padrão. “É cada um cuidando de sua própria cal-çada”, completa Andrade.

cada um por siA falta de padronização começa, de acor-do com Andrade, quando algumas pedras de um passeio, como no caso das calçadas feitas de petit pavet, se soltam e muitas vezes no conserto elas acabam perdendo a uniformidade. “É o grande problema do aspecto físico das calçadas. Agora, as cal-çadas têm outros problemas que é o uso do mobiliário urbano sem um determina-do padrão”, analisa Andrade.

O mobiliário urbano é considerado por An-drade um dos maiores problemas em Curi-tiba e não só na Capital. Por não ter uma padronização, é difícil tratar da acessibili-dade das pessoas com dificuldade de loco-moção. “Hoje eu diria que, especialmente para as calçadas, uma grande prioridade que a gente precisa fazer é dar atenção a esse pessoal”, aponta o engenheiro.

Ele ainda ressalta uma das qualidades das calçadas curitibanas comparadas com outros lugares que conhece: são amplas para se caminhar. No entanto, muitas vezes, os proprietários não perce-bem a diferença na vida das pessoas que o seu pedaço tem no contexto do passeio. Para Andrade, é preciso haver uma maior consciência para que se construa uma calçada de qualidade e que possa servir como um benefício a todos.

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Todos os entrevistados queixaram-se de

problemas nos passeios

MoradorEs José andrade

Para ele, um dos maiores problemas das calçadas é o mobiliário urbano

rosa Teixeira“Esses dias eu até escorreguei e bati o joelho no chão”, relata

Marion Saboya“Nós temos que estar toda semana trocando ‘taqui-nho’”, conta

Osiris ribeiro“As calçadas aca-bam com [...] os pontos positivos que a cidade têm”, avalia

José Olavo Silva“Péssimas” é a opinião dele sobre as calçadas em Curitiba

para garantir a acessibilidade, não pode ter obstáculos”, completa o diretor. O decreto ainda define que nas esquinas devem ter rampas de acesso para as pessoas portado-ras de necessidades especiais.

novos padrõesNo entanto, os padrões estabelecidos re-centemente que visam regulamentar as novas construções, não incluem as cal-çadas que já estão construídas. Para Gap-ski, não é possível fazer uma notificação geral de todas as calçadas na cidade. “À medida que os novos alvarás são apro-

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rescimento talvez não seja a melhor palavra para definir os últimos anos do desempe-nho da educação à distância

(EAD) no Brasil. Crescer seria eufemis-mo diante dos altos índices atingidos. Em apenas oito anos, o número de vagas oferecidas saltou quase 22.000%, passan-do de 6.856 para mais de 1,5 milhão de vagas, segundo dados do Instituto Nacio-nal de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Governo Federal.

Dados do Censo da Educação Superior, feito anualmente pelo Inep, mostram tam-bém que em 2001 havia 6.618 inscritos

Facilidades do ensino à distância estão fazendo a modalidade atingir altos índices de crescimento; vagas oferecidas aumentaram 22.000% em oito anos

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aprender de qualquer lugarem cursos de graduação à distância. No último balanço divulgado e realizado em 2009, esse número já havia saltado para 308.340 pessoas inscritas. “A proporção de alunos de educação à distância tá au-mentando muito em relação à presencial. Antigamente, EAD representava 1% do total e agora está ficando cada vez mais expressiva”, afirma o diretor-executivo das Faculdades FAEL, Mauricio Nunes.

A versatilidade geográfica, flexibilida-de de horários e o custo mais baixo são alguns dos motivos que fazem os alunos optarem pelo ensino não presencial. “O horário quem faz sou eu. Se eu não posso ir a um curso presencial, das 19h até as 22h30, eu posso muito bem fazer a dis-ciplina no final de semana ou de manhã”, afirma Sandro Niemicz, programador vi-sual gráfico e estudante de especialização à distância em Novas Tecnologias.

Com conhecimento de causa, Niemicz – que já tentou fazer uma especialização pre-sencial – garante que esse fator faz toda a diferença. “Eram duas vezes por semana.

educação

No começo fui bastante para aula, mas de-pois começou a gerar muito serviço, pois eu trabalho em uma editora, e não ia pra aula. Por isso, escolhi uma a distância”, conta.

vantagensPara Nunes, a abrangência que o ensino não presencial atinge também é um dos motivos pelo grande aumento nos últimos anos. “O ensino à distancia permite que se chegue com ensino superior em pontos mais distan-tes, que não seriam atendidos de outra for-ma. Locais distantes, longínquos de grandes centros, onde não tem uma faculdade pre-sencial, nós conseguimos chegar. Consegui-mos dessa forma, levar a educação de nível superior de uma forma mais pulverizada pra maior parte da população sem que aja ne-cessidade de deslocamento”.

De acordo com Jurema Ortiz, gerente de produção editorial da Aymará Educação, empresa que produz materiais de ensino à distância, o EAD é a possibilidade de multiplicar conhecimento para muitas pessoas. Um grande facilitador para essa

Mariane Maio - [email protected]

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nova realidade, na opinião da gerente, foi a popularização da tecnologia. “Aqui no Brasil, o Instituto Brasileiro é um dos pioneiros que oferecia e oferece cursos à distância, tudo por correspondência. Isso é educação à distância. O que acontece é que por conta das tecnologias ouve um boom da modalidade”.

desafiosApesar de todos os benefícios, a modalida-de ainda passa por desafios. “É claro que tem todo um ranço que existe em relação à educação à distância, quanto à eficácia, credibilidade, mas essas coisas já estão di-minuindo. Até por conta da fiscalização do MEC [Ministério da Educação], que é uma coisa muito séria”, destaca Jurema.

Para Nunes, já se comprovou que a quali-dade do EAD é igual ou superior ao ensino presencial. No entanto, para obter os resul-tados é preciso uma dose extra de discipli-na do aluno. “O aluno tem de realmente estudar. Não pode só frequentar uma aula que não vai ter o desempenho e o aprendi-zado. A metodologia é o que a gente chama de ‘estudo centrado no aluno’. Nós forne-cemos todo o material, o subsídio. Mas ele tem de ter a iniciativa de estudar em casa”, explica o diretor da Fael.

Antes de se matricular na especialização à distância, Sandro Niemicz admite que também ficou receoso. “Você entra com aquela dúvida se vai dar certo, se é um curso fácil demais, se não está pagando só para ter um diploma. É difícil, você tem de estudar e colocar a cara nos livros. Você se obriga a ir atrás, porque tem de

aprender. Entrei com dúvida e estou sain-do satisfeito”, garante.

Um dos pontos que diferenciam as mo-dalidades de educação convencional e a distância é a perda do contato com os co-legas e a saudável troca de experiências. No entanto, para Mauricio Nunes, “a ten-dência é que a gente chegue a um mis-to de presencial e à distância. Que haja uma mescla das duas tecnologias [...] A interação presencial ainda é importante em alguns momentos, até para a pessoa conhecer quem é o outro que fala tanto pela internet. Mas cada vez mais a EAD vai tomando o espaço do presencial. A tendência é que aja uma mescla, mas com uma participação maior do ensino à dis-tância”, observa o diretor.

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O estudante de especialização em EAD, Sandro Niemicz, admite que entrou com receio do método, mas está saindo satisfeito

Para Mauricio Nunes, a tendência é que se tenha um misto de presencial e à distância

À distânciaComo identificar uma instituição de EAD idônea?

Deve estar formalmente autori-zada pelo MEC no caso de cur-

sos superiores

Consultar no sistema de busca do MEC dos pontos de atendimento

aos estudantes (polos) que sejam regu-lares: www.siEAD.mec.gov.br

Verificar junto ao MEC e órgãos públicos se há denúncias graves ou

irregularidades da instituição desejada

Consultar estudantes da institui-ção para averiguar se há algum

problema na oferta dos cursos

Fonte: MEC

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no último balanço divulgado (2009),

308.340 pessoas estavam inscritas em EaD

outros públicosOutro campo atingido pela EAD é o cor-porativo. Muitas empresas decidiram se aliar a essa tecnologia para treinamentos e capacitação. “Não só formar, como apri-morar aquele funcionário que está na sua prática. A qualificação é uma preocupa-ção bem grande das empresas que viram na EAD a possibilidade de, com baixo custo, atender várias pessoas”, afirma Ju-rema Ortiz, da Aymará Educação.

Também a EAD está atendendo com êxi-to os portadores de deficiência. Moradora da cidade de Lapa (PR), Patrícia do Rocio Scheffer Kovalski, teve uma deficiência auditiva detectada aos dois anos. Amante de crianças e com vontade de ensinar, ela decidiu fazer o curso de Pedagogia e optou por um curso à distância, pois era o que mais se adequava às suas necessidades. “Gostei da metodologia e também poderia contar com os intérpretes de libras”.

Segundo Maurício Nunes, os cursos de EAD são acessíveis aos alunos portadores das mais diferentes deficiências. “Cem por cento das nossas aulas têm tradução em libras. Para os alunos com problemas visuais, nós temos materiais em braile ou material ampliado”, exemplifica.

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arafraseando o pensador chinês Confúcio, “qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?”. Muito se discute so-bre a idade do corpo e da alma. O estadista e

escritor Benjamim Franklin acredita que “aos 20 anos, a vontade é soberana; aos 30, o espírito; aos 40, a ra-zão”. Para o escritor irlandês, Oscar Wilde, “experiência é simplesmente o nome que damos aos nossos erros”.

O certo é que, para a maioria das pessoas, o passar dos anos costuma trazer mais sabedoria e paciência. A experiência costuma ensinar. Mas essa dose de “no-vas qualidades” vem acompanhada de claros sinais do tempo, principalmente, para a saúde. Encarar o passar dos anos com bom humor e a mente sã contribui bas-tante, mas negar o peso da idade não é exatamente uma opção. As mudanças, tanto físicas quanto psicológicas, aparecem inevitavelmente.

Nas mulheres, essas transformações são ainda mais evi-dentes. “Várias são as mudanças no organismo ao longo da vida, mas podemos perceber com mais propriedade após os 40 anos, as alterações provenientes da fase de involução gonadal (chamada de fase climatérica), dando os sintomas comuns como ‘calorões’, desânimo, dimi-nuição da libido, irritabilidade, diminuição da densidade óssea, insônia, pele ressecada, entre outros”, explica o ginecologista e obstetra Dr. Cezar Presibella Júnior.

os reflexosA sensação de estar à beira de um colapso é comum em algumas mulheres, conforme afirma o médico. As sen-sações variam de pessoa para pessoa, mas as mulheres que entram nessa fase da vida têm, comprovadamente, “aumento do risco de doenças cardíacas, diminuição da densidade óssea (risco de osteoporose) e aumento na incidência de doenças graves das mamas e ovários”, diz o médico.

Após a quarta década de vida, as pessoas passam invariavelmente por mudanças físicas e psicológicas; veja como retardar os efeitos

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aos 40, sem o peso da idadeB

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Mariane Maio - [email protected]

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Ele explica que é natural as mulheres te-rem menos massa magra e mais tecido adiposo. “Até os 40 anos, o estrogênio es-timula o acúmulo de gorduras nos quadris, enquanto nos homens a gordura é deposi-tada na região abdominal, que é perigosa para a saúde. Depois dos 40 anos, o nível de estrogênio das mulheres começa a di-minuir, enquanto a testosterona sobe. Por isso, muitas mulheres começam a acumu-lar gordura no abdômen”, esclarece.

Outra doença que acomete muitas mulhe-res após os 40 anos é o hipotireoidismo que é o distúrbio da falta de hormônio da tireóide. “A incidência aumenta com a idade e é muito mais prevalente em mu-lheres. As suas consequências são as mais diversas possíveis. Classicamente seriam sono em excesso, desânimo, ganho de peso, letargia e queda de cabelo”, explica o ginecologista.

os olhos sentemOutro problema enfrentado após os 40 anos são os relacionados à visão. Se-gundo o oftalmologista Dr. Luiz Geral-do Simões de Assis, 100% das pessoas após essa idade, vão ter dificuldades para enxergar de perto (presbiopia). “O olho tem duas lentes naturais. A córnea e a cristalina. Essa segunda é a respon-sável pela acomodação. Os músculos co-meçam a ficar menos eficientes, porque ficam mais rígidos”, explica.

Mais cedo ou mais tarde, todos sofrerão da famosa vista cansada. É comum as pessoas dessa faixa etária comentarem de que é preciso ter os braços mais longos, em alusão ao problema para enxergar de perto. A correção desse problema pode ser com o uso de óculos ou com interven-ções cirúrgicas. “A cirurgia é recomenda-da para aquelas pessoas que não querem usar os óculos para ler”, comenta Assis. O procedimento a laser é rápido e bastan-te preciso. “Tratamos um grau em apro-ximadamente dois segundos. A cirurgia refrativa evoluiu muito em segurança e resultado”, lembra o oftalmologista.

A tecnologia disponível permite que se-jam medidas as particularidades de cada olho do paciente. “Você vai primeiro en-

após os 40 anos, muitas mulheres têm a

sensação de estar à beira de um colapso

tender quais são as necessidades, os exa-mes e qual o melhor tratamento possível”, garante Assis.

A advogada Geni Propst (51) se submeteu a uma cirurgia para melhorar a visão e, consequentemente, a qualidade de vida. Ativa profissionalmente, Geni observou seu problema piorar após os 40 anos, o que estava dificultando seu desempenho no trabalho. “Eu leio muito e fico em frente ao computador. Antes [da cirurgia], mesmo usando óculos tinha uma visão debilitada. Agora estou enxergando muito bem”, assegura.

Os problemas de visão de Geni não afeta-vam apenas o lado profissional. Ela conta que uma época ficou praticamente depen-dente de seu marido para se locomover. “Para dirigir, eu tinha muita insegurança. Você enxergar e depois quase não enxer-gar, é muito difícil”, lembra.

retardando o efeitoA fórmula do não envelhecimento ainda não foi descoberta. Mas algumas atitudes podem sim retardar os sintomas da idade. Para os olhos, o oftalmologista recomen-da sempre ler em locais iluminados. Além disso, quando as dificuldades começarem a aparecer é o momento de insistir um pouco mais. “A pessoa deve forçar o que puder para poder enxergar sem os óculos. No momento que a gente prescreve, tira-mos esse restinho de acomodação que o organismo vinha fazendo. Os óculos só devem ser prescritos quando já não con-segue mesmo ler”.

Para o ginecologista Cezar Presibella Jú-nior, a fórmula para retardar o envelheci-mento passa pelos conselhos milenares. “Levar a vida com menos estresse, ter alimentação saudável e variada, boa hi-dratação, praticar exercício físico de forma regular, mas sem excessos, não fumar, dor-mir bem, se preocupar menos, sorrir mais, brigar menos e ir frequentemente ao seu médico”, são atitudes necessárias para ten-tar sentir menos o “peso da idade”.

Geni garante que se pudesse voltar no tempo teria atitudes diferentes. “Teria pensado mais na minha saúde. Pensei em trabalhar, fazer o que eu achava que era minha obrigação e esqueci que eu tinha um físico que um dia ia sentir as conse-quências”. Mas já que não se pode mudar o passado, o caminho é se aceitar. “Tem de fazer uma adaptação mental para saber que isso é da idade e aceitar”, comple-menta a advogada.

Geni Propst escolheu se submeter a uma cirurgia para melhorar a visão e a qualidade de vida

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Segundo o médico, 100% das pessoas após os 40 anos vão ter dificuldades para enxergar de perto

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cidadania empresarialLei federal permite que autônomos sejam empreendedores individuais, pagando baixos impostos; no Paraná, já são mais de 65 mil formalizados

economia

pós 13 anos de espera, Valdir Novaki conseguiu da Prefei-tura de Curitiba a liberação de um ponto para, enfim,

montar o seu próprio negócio: um carri-nho de pipoca. “Só tenho a quarta-série primária e todo lugar hoje exige estudo. Quando percebi que as portas estavam se fechando para mim, resolvi abrir um carrinho de pipoca”, lembra Novaki, ex-plicando que veio de uma família pobre

a

O diferencial está em pequenos detalhes. Começa por oferecer uma pipoca feita na hora e com uma higiene impecável. Toda manhã ele e a esposa, Lenice Ferreira de Souza, demoram duas horas na limpeza do carrinho. Eles também utilizam unifor-mes personalizados com o dia da semana estampados no bolso, para que o cliente tenha certeza de que trocaram o avental do dia anterior.

Mas o “charme” fica por conta do kit hi-giene. Quando o cliente compra a pipo-ca vem junto um guardanapo de papel, uma bala de hortelã e um fio dental. E os destaques continuam. A Pipoca do Valdir oferece um cartão fidelidade, que a cada cinco pipocas, o cliente ganha uma, e

e, que por conta disso, não teve oportuni-dades de avançar nos estudos.

Apesar de pouco estudo, desde o começo Novaki mostrou ter faro para os negócios. O pipoqueiro conta que usou o tempo de espera da liberação do alvará de funcio-namento para estruturar o projeto e ana-lisar os concorrentes dessa área. Quando iniciou seu negócio já tinha um serviço diferenciado para oferecer. Deu certo. Em cinco anos, aumentou em 15 vezes a ven-da de seu produto.

Mariane Maio - [email protected]

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também tem a promoção “OBA!!!Dúzia de 10”, um cartão pré-pago em que o cliente compra antecipadamente 10 pipo-cas e depois de consumir todas, tem direi-to a duas gratuitamente.

As ideias inovadoras de Novaki não afe-taram o preço de seu produto – R$ 2,50 o pacote grande – mas com certeza muda-ram sua vida. Constantemente, ele é con-vidado para dar palestras de motivação em grandes empresas e universidades. Com a renda do carrinho e das palestras, Novaki sustenta a família. “O meu maior sonho é ver meu filho formado, porque eu não tive a oportunidade de estudar”, afirma.

FormalizaçãoDesde 2008, trabalhadores autônomos como Valdir tem a oportunidade de se formalizar por meio do sistema de Micro Empreendedor Individual (MEI) do Go-verno Federal. Segundo o Sebrae, existem cerca de 65 mil empreendedores indivi-duais formalizados no Estado. Mas esse número poderá ser ainda maior. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE) indicou que em 2003 existiam no Paraná cerca de 550 mil pessoas na informalidade.

A lei federal (Lei Complementar nº 128/08) que garante que autônomos de 439 áreas possam se formalizar pagando im-postos e taxas muito baixas, trouxe outra perspectiva para este cenário. Hoje, o valor fixo mensal pago para o microempreende-dor é de R$ 28,25 (comércio ou indústria) ou R$ 33,25 (prestação de serviços). Este dinheiro é destinado à Previdência Social e ao Imposto sobre Circulação de Mercado-rias e Prestação de Serviços (ICMS) ou ao Imposto Sobre Serviços (ISS). Os demais tributos federais são isentos.

O custo reduzido tem sido o chamariz para que cada vez mais os autônomos procurem legalizar sua atividade. Valdir Novaki aproveitou a oportunidade para garantir os benefícios previdenciários, conseguir o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e poder comprar dos for-necedores com um prazo maior de paga-mento. Futuramente, pretende ainda dis-ponibilizar máquina de cartão de crédito para os clientes.

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São 439 áreas de atuação que podem se

cadastrar no MEi

“Isso é uma coisa que a gente jamais ima-ginava que podia acontecer para nós ven-dedores ambulantes. Com todos os bene-fícios que qualquer outra pessoa tem, com auxílio doença, direito à aposentadoria. Foi uma novidade e tanto! Por isso, pro-curei o mais rápido possível me formali-zar”, explica o pipoqueiro que trabalha há cinco anos com o carrinho.

Outras pessoas também estão entrando nessa onda da cidadania empresarial. As amigas Andréia Vanine Meier e Vanessa Gomes estiveram na Feira do Empreende-dor Individual, realizada pelo Sebrae-PR, no final de junho, em Curitiba, para saber das vantagens desse sistema. No dia se-guinte, já voltaram ao local para entregar a documentação. Há quatro anos, Andréia vende bolsas e bijuterias com a parceria da amiga Vanessa. “Faço para ter um di-nheiro para mim, sem ter de ficar pedin-do para o meu marido. Tenho um filho de sete anos. Quando era solteira trabalhava, mas agora não tem como sair. Deixo ele à tarde na escola e marco com as clientes”.

Apesar das vantagens de trabalhar de forma mais livre, como autônoma, a não formalização a incomodava e se conven-ceu de ingressar no MEI. “Gostei, porque posso ter meu CNPJ, não pagar muito imposto e ainda pegar a maquininha [de cartão de crédito]”, conta.

Recém-saída de um emprego com regis-tro em carteira, Jéssica Ramos Santos de Oliveira, investiu o dinheiro que em-

bolsou em máquinas de costura. Com a avó e mãe costureiras, a jovem disse ter “herdado” o dom. Em um mês, que ficou desempregada, ela já fez algumas peças de roupas e vendeu para familiares e vi-zinhos. “Deu para ganhar uns R$ 500”, afirma ela, que pretende aderir ao progra-ma do MEI para abrir uma confecção e mais para frente uma pequena loja. “Sei que fazendo isso, eu tenho como crescer”.

vantagensPara o diretor-superintendente do Sebrae--PR, Allan Marcelo de Campos Costa, a pessoa ao se formalizar passa a ter ci-dadania empresarial. “A pessoa sai da marginalidade e passa a fazer parte da economia de verdade. Dessa forma pode, por exemplo, emitir nota fiscal, contratar um funcionário e ter vantagens do ponto de vista social, pois passa a contar com a previdência social.”, explica.

Rainer Zielasko, presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresa-riais do Paraná (Faciap), concorda com a afirmação. “A informalidade é o pior dos cenários, porque a pessoa não existe, não tem a sua previdência e fica à margem dos processos legais”, diz. De acordo com ele, cada vez mais “o grupo de líderes de opiniões de uma cidade deve levar a informação aos seus habitantes para que eles venham para a formalidade e possam, com isso, sonhar em ter uma empresa que no futuro pode se tornar grande”.

Segundo Costa, o principal desafio “é desmistificar pro empreendedor qual é a vantagem de se formalizar e fazer com que ele entenda que isso não é um pro-cesso que visa fiscalizar e saber quanto ele está faturando, se trata efetivamente de um instrumento de cidadania, que per-mite aos informais que se formalizem e passem a ter vantagens”.

Tem direito ao benefício, o trabalhador autônomo que fatura até 36 mil por ano, tem até um empregado e se encaixa na lista das mais de 439 áreas. De acordo com o coordenador estadual de Políticas Públicas do Sebrae-PR, Cesar Rissete, quem precisar de mais informações pode procurar qualquer escritório do Sebrae ou ligar no 0800-570 0800 (de segunda a sexta das 8h às 20h).

As amigas foram conhecer à Feira do Empreendedor Individual e, no dia seguinte, já voltaram para se formalizar

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s números são do estudo “Os Emergentes dos Emergentes – reflexões globais e ações locais para a nova classe mé-

dia brasileira”, apresentado em junho pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além da positiva realidade atual, as perspectivas são também promissoras, como mostra o índice da estabilidade econômica. “A chance de um indivíduo permanecer na classe ABC no período mais recente (terminado em 2011) é 2,8 vezes maior que a apresentada no iní-cio da série”, apresenta o estudo.

O primeiro impacto dessa mudança en-tre as classe sociais foi o crescimento do consumo, aponta o coordenador do Curso

Pesquisa da FGV aponta que nos últimos 21 meses mais de 13 milhões de brasileiros subiram para as classes ABC; desde 2003, já são 50 milhões de pessoas

o

um Brasil de perspectivasSuperior de Tecnologia (CST) em Logís-tica da UniCuritiba, Glavio Leal Paúra. “Você tem um número de pessoas mui-to maior comprando produtos que antes eram considerados sofisticados”, explica o coordenador. Assim, os consumidores que ascenderam têm mais anseios e criam novas necessidades.

Na Capital paranaense, a renda média da população é de R$ 1.569,96, valor que configura o 13º lugar no ranking nacional e o primeiro na lista das cidades parana-enses, conforme a pesquisa.

consumoA aquisição de bens duráveis e não du-ráveis passaram a fazer parte da vida do

economia

brasileiro. Por isso, muitas empresas já visam esse novo mercado consumidor. O presidente da rede de lojas Marisa, Mar-cio Luiz Goldfarb, diz que a empresa já vem se preparando para atender este novo mercado consumidor. “Chegou a hora. Há três anos que a gente vem sentido realmente uma mulher madura, chefe de família, com poder aquisitivo, procuran-do qualidade, procurando custo-benefício nos preços”, avalia o presidente. Para atender esse novo público, a empresa in-veste em pesquisas.

“Na medida em que as populações bai-xas tenham condições de consumo, vai aumentar significativamente o consumo de produtos industrializados e, conse-quentemente, vai inserir em novas opor-

Iris Alessi - [email protected]

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O primeiro impacto dessa mudança entre as classe sociais foi o

crescimento do consumo

tunidades de industrialização”, enfatiza o sociólogo e professor da Pontifícia Uni-versidade Católica (PUC-PR), Lindomar Wessler Boneti.

São mais de 13 milhões de brasileiros que nos últimos meses (21) tiveram a conta bancária maior e imprimiram no País um novo padrão de vida. Nos últimos oito anos, foram mais de 50 milhões de pes-soas que ascenderam de classe, mais que uma Espanha, em termos comparativos.

Com isso, a noção de felicidade também melhorou. A pesquisa da FGV aponta que o Brasil é o país com o maior índice de fe-licidade futura dos Brica (grupo de países em desenvolvimento que contém: Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul), atin-gindo 8,7, numa escala de 0 a 10 pontos.

Mas nem tudo é positivo. Uma das con-sequências desse aumento no consumo é o endividamento de algumas famílias. As pessoas acabam parcelando os produtos e dando o passo maior que a perna, como diria no jargão popular. “As pessoas não estavam preparadas para um dinheiro. A gente não tem uma educação financeira desde a base”, comenta o coordenador.

Emprego A geração de emprego no País também é uma dos resultados do desenvolvimento da economia. Há oportunidades de traba-lho sendo criadas em diversos setores da economia. No entanto, a falta de preparo dos trabalhadores tem dificultado o maior crescimento da economia nacional.

Conforme o diretor-presidente da em-presa prestadora de serviços Higi Serv, Adonai Aires de Arruda, o setor em que atua hoje sofre com a falta de pessoal. Um dos motivos é a migração desses tra-balhadores para outros setores, como a construção civil que, por estar num mo-mento aquecido, pode pagar mais. A falta de trabalhadores acaba, por vezes, limi-tando o crescimento das empresas. “Aqui na minha empresa, se eu tivesse mão de obra disponível, a gente estaria crescendo entre 10% e 15%”, lamenta Arruda.

De acordo com o estudo da FGV, entre janeiro e abril deste ano, foram criados 798 mil novos postos de trabalho com carteira assinada. O número é o terceiro maior para o período desde 2000, perden-do apenas para os anos de 2010 e 2008 em que foram gerados 962 mil e 849 mil novas vagas, respectivamente. Também de acordo com o estudo, não há sinal de desaceleração na abertura de novos pos-tos de trabalho.

EducaçãoAlém das oportunidades de emprego, a educação tem colaborado para o desen-volvimento da economia e das classes sociais, de forma fundamental. A aqui-sição de novas habilidades e de novos saberes, de acordo com Boneti, é um dos fatores que ajuda as pessoas a se inse-rirem no social. Da mesma forma anali-sa Paúra, quando afirma que as pessoas passam a buscar mais qualificação com o intuito de buscar novas oportunidades de emprego. “Creio que a consequência do desenvolvimento da classe social foi você ter dado mais educação à popula-ção”, avalia o coordenador.

Para Boneti, também dois outros fatores contribuíram para que a renda da popu-lação menos abastada seja maior hoje: as novas alternativas de empregos e as políticas sociais do Governo Federal nas últimas décadas.

“O Brasil tem uma tradição de ser gover-nado pela elite e para a elite. Nos últimos tempos tem se quebrado, um pouco, essa lógica. Então, começa a se perceber que na medida em que as classes populares tenham melhores condições de compra, eles se transformam em potenciais con-sumidores e, com isso, o movimento [da economia] se amplia e todo mundo sai ga-nhando”, completa.

desigualdadeA curva de decréscimo das classes DE e a de crescimento da classe C se cruzaram e já se distanciam no gráfico das castas so-ciais. Enquanto a linha da pobreza extre-ma cai, a linha da classe média tem cres-cido a olhos vistos. As classes DE caiu de 96,2 milhões de pessoas, em 2003, para 63,6 milhões de brasileiros. A classe C, por sua vez, tem 105,4 milhões de pesso-as, segundo o estudo da FGV.

Com mais pessoas ascendendo às classes ABC, a base (mais pobre) da pirâmide social do Brasil está ficando menor. Para Bonetti, a redução dessa base torna o país menos “vergonhoso”. “Porque outrora tí-nhamos uma base extremamente volumo-sa, larga. [...] fazendo com que o Brasil fosse assim, 10% da população contava com 80% da renda nacional”, avalia.

Para Paúra, não é possível dizer ainda que o Brasil vá zerar a desigualdade, mas que ela já está sendo reduzida, sim. “Cla-ro que incentivos como o Bolsa Família contribuíram, mas o principal fato é o de-senvolvimento econômico do Brasil. No que diz respeito à economia, nós somos o sétimo país do mundo. Isso não é pouca coisa”, completa.

No entanto, o resultado da pesquisa dá um alerta para esse Brasil cheio de perspecti-vas. “É preciso ir além e ‘dar o mercado aos pobres’, completando o movimento dos últimos anos, quando pelas vias de queda da desigualdade ‘demos os pobres aos mercados (consumidores)’”. Nesse panorama, é essencial crescer na educa-ção formal, na educação profissional, no microcrédito, na formalização, no micro-seguro, interação público-privada, servi-ços produtivos e olhar para a demanda, informa a pesquisa.

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A redução da desigualdade deve-se, principalmente, ao desenvolvimento

da economia, comenta Paúra

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tecnologia

m grupo de amigos cria uma banda em Curitiba. Uyara Torrente, Diego Plaça, Luís Bourscheidt, Rodrigo Lemos

e Vinícius Nisi tinham poucos recursos, pouca notoriedade, assim como muitas bandas que surgem na cena estadual. Por paixão à música, desde 2009 trabalhavam em composições próprias e divulgavam o trabalho pela internet. Até aí tudo normal.

Colocaram o vídeo da música “Oração” – que tem um interessante plano sequencial e um lúdico encontro de amigos – no dia 18 de maio, no Youtube. Buumm. Foi o suficiente para A Banda Mais Bonita da Cidade explodir nas paradas de sucesso, conquistando mais de seis milhões de vi-sualizações em pouco tempo. A canção ficou na boca das pessoas por mais algu-mas semanas. A presença na internet, com contas nas redes sociais, transformaram a teia de contatos da banda, inicialmente

u

quer pagar quanto?Novo sistema de financiamento democratiza acesso à captação de recursos para projetos criativos; tudo isso graças à tecnologia

construída no fundo de quintal, em uma dimensão global. Coisas do mundo web.

sucessoUm dos fatores interessantes desse fenôme-no musical paranaense foi que eles levaram à reboque uma nova forma de financiar pro-jetos, utilizando como plataformas a coleti-vidade, a democratização de oportunidades de negócios criativos e a tecnologia como meio de promover esse encontro.

Crowdfunding é o nome do sistema de financiamento coletivo que está começan-do a “bombar” no País. Criado nos Es-tados Unidos em 2009 chegou ao Brasil no ano passado, com o site Catarse. Tudo começou com a união de dois amigos – colegas de faculdade de Administração – Luis Otávio Ribeiro o Diego Reeberg, de São Paulo, e outro profissional que se agregou ao projeto, o gaúcho e programa-dor Daniel Weinmann. Depois do sistema no ar, dentre os cinco primeiros projetos, quatro deles foram financiados, arreba-tando em média R$ 20 mil reais cada um.

Mas a maior visibilidade para essa no-vidade foi a presença de A Banda Mais Bonita da Cidade, que no final de maio financiou a gravação de suas músicas no

Catarse. “O dado mais significativo, além do número de visitação no site que bateu o recorde, a gente tinha seis mil usuários cadastrados. Um mês depois que o projeto [deles] acabou a gente está com 14,5 mil usuários”, comenta Reeberg.

“Virou uma febre [...] Hoje, a gente não pode ir contra essa tendência de ter um envolvimento das pessoas pela internet”, confirma o vice-presidente do Instituto Bra-sileiro de Executivos de Finanças do Paraná (Ibef-PR), Nelson Luiz Paula de Oliveira. Segundo ele, esse tipo de sistema traz maior democratização de ideias e “quase uma solidarização dos recursos”, diz Oliveira. Assim, o crowdfunding se configura como nova tendência de mercado.

PerspectivasPara Oliveira, já é possível imaginar que esse tipo de arrecadação possa se estender para além de projetos criativos e migrar também para a reforma de um prédio, a compra de um terreno para uso comum de uma comunidade, por exem-plo. “São infinitas as possibilidades”, afirma o vice-presidente.

Fato é que esse formato de arrecadar fun-dos para tirar do papel o projeto funcionou

Arieta Arruda - [email protected]

Banco de imagens

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O sistema de financiamento coletivo está se consolidando

no Brasil

bem com o setor cultural, em que o apelo emocional dos investidores é maior e o engajamento também. Agora, os artistas e produtores culturais podem trabalhar com o crowdfunding na perspectiva de uma nova alternativa vinda da massificação do uso da tecnologia. “É um desafio para o artista. Normalmente, ele está muito numa relação viciada com leis de incentivo, com contra-tos e todos os tipos de patrocínios”, afirma Walquiria Raizer, da produção e agencia-mento de A Banda Mais Bonita da Cidade.

FuncionamentoO negócio funciona mais ou menos as-sim: você tem uma ideia interessante, mas não tem grana para bancar, tem perfil empreendedor e não quer correr riscos ou ter intermediários para obter os recursos. Pronto. Você já pode se inscrever em al-gum site de confiança que ofereça esse modelo de negócio (já surgiram várias alternativas na web).

Atenção! É importante divulgar para sua rede de contatos para que eles possam in-vestir e colaborar no engajamento de outras pessoas. “É uma pré-venda, sem risco”, analisa João Caserta, produtor de A Banda Mais Bonita da Cidade. Em troca, as pesso-as recebem um produto estipulado. São vá-rias as formas de pagamento. Caso não con-siga atingir o objetivo de captação proposto, em um período determinado, o dinheiro dos que já colaboraram é devolvido.

Para quem quer investir, o processo é ain-da menos complicado. Se tiver interesse em “apostar” em alguma ideia, você paga uma quantia pré-determinada e em troca vai receber o produto investido.

O caso da banda curitibana é emblemático. As 903 pessoas que colaboraram financei-ramente por 11 músicas inscritas pela A Banda Mais Bonita da Cidade – só uma ficou de fora chamada “Lobotomia” - vão receber as recompensas, conforme sua con-tribuição que partiram de R$ 10. Segundo a banda, a maior parte das contribuições foi de R$25,00, que tinha como benefício cor-respondente o CD da banda. A arrecadação do dinheiro teve o período de 34 dias.

Ao todo foi captado mais de R$ 52 mil, em 155 cidades de 25 estados do Brasil,

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Inspiração veio do sucesso norte-americano Kickstarter

catarsEO pioneiro no BR

Áreas Cultural, jornalística e empreendedora

inscrição O que é o projeto?, Quanto custa?, Quais as recompensas?, Mais informações

tempo exposto Até 90 dias

Pagamento Cartão de crédito, transferência bancária, boleto e paypal

taxas 5% do Catarse e 5% a 7% de operações financeiras

Devolução do dinheiro se o projeto não for bem sucedido ou migrar para outro projeto

Cem projetos já foram ao ar, 44 bem sucedidos

Seis meses de atividade: R$ 352 mil captados

novidades

Equipe quer ampliar a participação de empresas e firmar parcerias com outros produtores culturais

pessoas de Portugal, Estados Unidos e Itália. Cada música/projeto tinha o valor total de R$ 4 mil.

Isso não é o caso de todos os projetos, cla-ro. Mas esse tipo de sistema abre espaço para novas formas de parcerias. O finan-ciamento coletivo está funcionando bem, segundo o criador do Catarse, pois “é o pú-blico que define que ideia vai para frente ou não. Se a pessoa quer que essa ideia vá pra frente, ela ‘micropatrocina’ [...] Todo mundo tem a oportunidade”. Dessa forma, pessoas conectadas nas mesmas ideias po-dem se unir e fazer um projeto acontecer.

segurançaNo entanto, para quem quer inscrever o seu projeto ou mesmo financiar alguma ideia que julgue bacana, é preciso tomar alguns cuidados para não cair em arma-dilhas cibernéticas. Nelson Luiz Paula de Oliveira orienta que se pesquise o histó-rico do site e verifique se existe algum tipo de reclamação publicada em sites

ou redes sociais. Perguntar aos amigos ou pessoas que já usaram aquele site, ver se é idôneo, também é importante. Se for lesado, busque os órgãos de defesa do consumidor. “Precisa se cercar da maior quantidade possível de elementos de se-gurança”, ressalta Oliveira.

Parte da equipe da A Banda Mais Bonita da Cidade, que financiou em crowfunding o seu 1º CD

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Em casa, um espaço para cultivar Alimentos e temperos para consumo

próprio podem ser gerados em pequenos espaços em casa; é a “agricultura urbana”

olher alimentos e temperos fresquinhos parece ser uma exclusividade de quem mora no campo, próximo às plan-

tações, com terra abundante, mas não é. Apesar de, muitas vezes, o espaço em casa ou no apartamento ser reduzido, é possível cultivar algumas hortaliças para consumo próprio.

No quintal, em um espaço de 10m², a dona de casa Dulce Inês Cristoff planta diversas hortaliças e temperos. O espaço aos poucos foi se transformando em uma plantação vistosa. A horta produz uma

agricultura

cmas ervas e temperos. O gastrônomo João Carlos Scalzo, que mora em apartamen-to, tem um cantinho onde planta diversos tipos de temperos. Temperos esses que ajudam muito em sua profissão. O profis-sional de Gastronomia considera impor-tante ter uma horta em casa. Segundo ele, as ervas colhidas na hora dão mais sabor ao prato do dia.

Além de toda a comodidade de ter alguns temperos em casa, Scalzo ressalta a eco-nomia que pode ser realizada com essa atividade, já que não é preciso gastar quase nada para mantê-la. Outro ponto positivo apontado por ele é saber a pro-cedência do alimento. “Você sabe que o

quantidade adequada para o consumo da família e ainda sobra. Mas nada de jogar fora. Dulce sempre oferece aos amigos e vizinhos parte da produção caseira.

Para ter a horta sempre em ordem, a dona de casa dedica cerca de meio dia por se-mana. O resultado desse cuidado todo, ela percebe na hora em que colhe os alimen-tos frescos e ao saboreá-los. “Até o sabor é diferente. Tudo da horta caseira é dife-rente”, avalia Dulce.

dentro de casaMas não é preciso ter necessariamente um quintal espaçoso para se produzir algu-

Iris Alessi - [email protected]

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que você planta não tem agrotóxico, sabe de onde vem”, salienta o gastrônomo, que considera a atividade uma espécie de terapia. “Você tem que ter um certo cuidado, mas é gostoso.”

EspaçoPara que as plantas se desenvolvam, elas requerem espaços com algumas caracte-rísticas básicas, como boa iluminação e um lugar arejado. “Ambiente com muita sombra, a planta não se desenvolve. [...] Ela precisa de pelo menos três horas de incidência solar [por dia]”, afirma Emma-nuelle Carneiro, paisagista da Esalflores.

Segundo o técnico agrícola Ralph Lago, outro ponto importante é que seja um lo-cal arejado e, no caso das plantas culti-vadas em apartamento, é bom colocá-las às vezes para pegar um pouco de chuva. “Nos dias de frio, recolhe o vasinho pro pessoal que tem em apartamento para não pegar geada”, completa Lago.

a diversidade de ervas e hortaliças mantidas em casa pode ser grande

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drEnaGEM. Num vaso, coloque no fundo argila expandida ou outro tipo de pedregulho, como pedaços de tijolo. Essas pedras serão responsáveis pela drenagem do vaso fazendo que a água não se acumule. É preciso que todo o fundo seja coberto para a drenagem funcionar corretamente.

tErra. Coloque terra até a altura do vaso, preenchendo-o completamente.

Plantando. Escolha as mudas de sua preferência. Faça um buraco na terra do tamanho de sua muda. Retire o plástico que envolve a muda e coloque-a na terra. A muda deve ficar firme, por isso é preciso fazer uma pequena pressão sobre a parte aterrada.

dEcoração. Como o vasinho pode servir também para a decoração da casa, é possível dispor de pedras e outros elementos para o vaso também servir como decoração.

HorA de regAr. Após terminar o plantio é preciso regar as plantas. Essa rega deve ser realizada nos horários mais frescos: começo da manhã ou final da tarde. Para as demais, seguindo a mesma orientação de horário, é preciso ver se a terra está precisando de água. A terra tem de estar sempre úmida, mas não com excesso de água. Cuidado ao regar para não formal sulcos na terra.

Passo a Passoaprenda a montar um vaso com temperos em casa

variedadesA diversidade de ervas e hortaliças man-tidas em casa pode ser grande. O técnico agrícola sugere o plantio de manjericão, manjerona, salsinha, cebolinha, pimenta de cheiro e folhosas, em geral. As folho-sas podem ser plantadas em vasos, pois as raízes não precisam de tanta profundidade para o seu desenvolvimento.

Já para quem tem o espaço no quintal de casa um pouco maior, dá para ter outros tipos de alimentos, como alface, rúcula,

rabanete, couve e beterraba. “Se tiver um espaço maior dá para ter bastante coisa”, finaliza Lago.

Atualmente, é possível encontrar à venda muitos suprimentos, como terra e adubos, para montar sua horta em casa. Também há diversos lugares que vendem mudas dos mais diferenciados alimentos. Além da vantagem da alimentação mais saudá-vel dentro de casa, as plantas também po-dem dar um charme especial à decoração e deixar um cantinho da varanda ou do quintal com ares de campo.

Fonte: Esalflores

A paisagista ressalta que em casa não é

necessário muito espaço, mas ele deve

ser arejado e com boa luminosidade

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Brasil: hegemonia sob os países da américa latinaCrescimento econômico faz o nosso País ser temido por nações vizinhas e cresce o sentimento de discordância do poderio brasileiro

lista em América Latina e vice-diretor da Fundação Ciência e Política (SWP), Gunther Maihold.

Com quase 200 milhões de habitantes, um território similar em tamanho ao dos Estados Unidos e da China, o Brasil tem uma economia cujo Produto Interno Bru-to (PIB) gira em torno de US$ 2 trilhões.

O Brasil se empenha ativamente para estabilizar os países vizi-

nhos e apaziguar conflitos, sem esperar esta iniciativa de terceiros. Agora, com o crescimento do poder econômico cada vez mais vigoroso, muitas nações da re-gião se assustam”, constata o especia-

Wallace Nunes - [email protected]

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Membro do Brica, a nova nomenclatura para os emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o maior país da América Latina é sério candidato para representar a região Sul no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

O País se perfila como nova potência mundial por abrigar os jogos da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e dos Jogos Olímpicos de 2016, e com o crescimen-to da sua influência política e de seus

internacional

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REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 37

Brasil: hegemonia sob os países da américa latinainvestimentos em países vizinhos. Em-preendimentos bilionários de empresas brasileiras, que incluem a construção de uma hidrelétrica no Peru e a exploração de potássio na Argentina, configuram al-guns dos recursos que o Brasil vai aplicar no exterior.

Entretanto, esses investimentos foram suspensos ou enviados à consulta popu-lar, porque os desentendimentos envol-vendo a Vale e a Eletrobrás, entre outras empresas, teriam como motivação princi-

pal o fato de que os investimentos bene-ficiariam mais ao Brasil do que aos locais onde seriam instalados.

A expansão cada vez maior de empresas brasileiras (privadas ou estatais), muitas vezes, financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para outros territórios começa a despertar em alguns países do continente uma espécie de sentimento anti-imperia-lismo brasileiro.

“Ouvi de muitos parlamentares sul-ameri-canos, de esquerda e direita, que o Brasil adota essa postura, mas isso não procede”, explica o integrante da Comissão de Rela-ções Exteriores e de Defesa Nacional, de-putado federal Dr. Rosinha (PT-PR).

A atuação de algumas dessas compa-nhias em outros países da região é apon-tada como uma das principais causas de atritos. “Se comportar visando somente o lucro, gera problemas sociais”, afirma Dr. Rosinha. Mas os esforços do governo brasileiro para a integração do continente, como as ações no Mercosul e na União de Nações Sul-Americanas (Unasul) – orga-nização formada pelos 12 países da Amé-rica do Sul visando melhores políticas sociais, educação e avanços na infraestru-tura – são elogiados, segundo o deputado.

Hegemonia Com a sétima economia do mundo e o maior território da América do Sul, o Bra-sil desponta como o líder da região e, ape-sar das desconfianças de alguns vizinhos, é tido por estes países como uma possível voz em defesa dos interesses locais.

“Os argentinos não estão muito entusias-mados com isso, além de terem grandes problemas com o Brasil no Mercosul. Os mexicanos também não consideram o Brasil o líder natural na América Latina. Há uma grande tensão em tudo isso”, diz o especialista em América Latina da Uni-versidade de Tübingen, Andreas Boeckh.

A Argentina, hoje economicamente ilhada sob o abraço sufocante do Mercosul, não representa uma ameaça, já que está muito debilitada no plano econômico e também militar. O Paraguai e o Uruguai, dois paí-ses pequenos, também estão inseridos na órbita brasileira. Associada ao Brasil para explorar suas reservas de gás, a Bolívia compartilha com seu novo sócio estraté-gico um interesse na saída para o Pacífico.

Para Gunther Maihold, o papel de porta--voz e de liderança também depende da pré-disposição de Brasília em assumir custos da integração regional, seja recru-tando tropas de paz para o Haiti ou ban-cando uma infraestrutura de cooperação regional, ou ainda, seja fazendo conces-sões à Argentina dentro do Mercosul.

O analista alemão considera importantes esses novos elementos, sobretudo diante da resistência de alguns países, como o Chile e a Colômbia, ao papel de destaque do Brasil. “A questão decisiva é até que ponto o Brasil estará em condições de co-ordenar a diversidade de todos esses cam-pos de atuação e também até quando Lula manterá seu prestígio político interno, a fim de poder bancar uma política externa de impacto”. “A região, que precisa de inves-timentos, ainda não possui uma agência de fomento exclusiva,”, finaliza Rosinha.

Brasil e Bolívia compartilham interesse estratégico um plano para expansão de gás na A. L

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FPO País perfila-se como nova potência mundial – por abrigar

jogos da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos

Olímpicos de 2016

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corrido cotidiano de cidades como Curitiba exige rapidez para entregas de documen-tos e produtos entre outros

pequenos e médios objetos. A agilidade impressa por motoqueiros no trânsito fa-cilitou as entregas de muitos desses pro-dutos. Mas os motoboys nunca foram os únicos responsáveis pelas entregas e, com a maior preocupação com o meio ambien-te, as bicicletas voltam à cena com força total nesse mercado.

Um dos setores que comumente se utili-za das bicicletas para as entregas são as lojas que comercializam água mineral. É assim que a Boutique de Água Timbu encaminha sua mercadoria para os mo-radores da região do Batel, em Curitiba (PR). Segundo a diretora de Água Mine-ral Timbu, Maria Alice Silveira Carneiro, um dos motivos para o uso da bicicleta é atender a região próxima da área onde es-tão instalados, com maior rapidez. O uso do ciclista para fazer as entregas também é uma proposta sustentável.

“É a nossa primeira experiência de loja, digamos assim, mas na fábrica, a gente tem várias atitudes sustentáveis e fazemos várias coisas. E a bicicleta, eu acho que é uma consequência disso tudo”, ponde-ra Maria Alice. Para Maria Alice muitas entregas pequenas, como documentos e outros objetos, são possíveis de ser rea-lizadas por bicicletas e não podem ficar restritas apenas à entrega da água mineral.

sustentabilidadeVisando a sustentabilidade e uma mudan-ça de atitude que possa contribuir com o

Transporte de mercadorias por ciclistas visam o carbono zero no setor de serviços de grandes cidades, como Curitiba

o

Entrega movida a calorias

meio ambiente é que surgiu no mês pas-sado, em Curitiba, a EcoBike Courier. A empresa se inspirou em modelos bem sucedidos na Europa e em outras cidades brasileiras, que utilizam bicicletas para o transporte de pequenas mercadorias.

De acordo com o sócio da EcoBike Cou-rier, Cristian Trentin, a intenção da em-presa não é concorrer com as empresas de motoboys e sim atender clientes que estejam preocupados com as questões

ambientais. “Queria montar uma empre-sa que não fosse só dar lucro, eu queria que ela tivesse um algo a mais. E a gente começou a pesquisar sobre os couriers e acabou montando aqui”, revela Trentin.

carbono ZeroOs bikers, como são chamados os ciclis-tas que fazem o transporte, não queimam nada além de calorias para fazer as entre-gas. “Um dos grandes focos da empresa

meio ambiente

Iris Alessi - [email protected]

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Os bikers não queimam nada além de calorias para fazer as entregas

é carbono zero. A gente não polui nada”, afirma o sócio. Segundo Trentin, outra vantagem da bicicleta é o tempo que ela leva para fazer um determinado trajeto. A vantagem competitiva foi comprovada em 2010, na comparação intermodal rea-lizado pelo projeto Ciclovida da Univer-sidade Federal do Paraná (UFPR), entre bicicletas, motos, carros, pessoas a pé e no transporte coletivo em Curitiba. Nesse episódio, os ciclistas chegaram antes de todos os outros competidores.

Entretanto, também existem desvanta-gens nesse tipo de entrega. “Grandes dis-tâncias” é uma delas apontadas por Tren-tin. Outra desvantagem está relacionada com o peso. “A moto consegue transpor-tar grandes volumes, nós transportamos até 3kg, 5kg”, completa o empresário, ressaltando que no centro da cidade, a bi-cicleta não perde para nenhum outro meio de transporte.

Para o sócio de uma empresa de cartão--presente, Diego Sampaio, três motivos levaram a escolha da empresa de bikers para entregar seus produtos em Curitiba. “O primeiro foi pela questão da susten-tabilidade e a locomoção no trânsito”, aponta Sampaio. Os outros dois motivos foram a diferença no atendimento e os valores praticados pela empresa. “O lado ecológico claro que pesa, mas o lado eco-nômico e o lado da qualidade do atendi-mento” também foram importantes para

a decisão de Sampaio. Ele acredita que, apesar de ser pouco, está colaborando para a questão da sustentabilidade.

BikersRespeito ao meio ambiente e paixão pela bicicleta foram alguns dos pontos que le-varam Natan da Costa Moscofian (22) a encarar o emprego como biker. “Tenho paixão pela bicicleta e estava precisando de um emprego. Daí, uni o útil ao agradá-vel e resolvi tentar uma entrevista”, rela-ta o biker que junto com a preocupação de não poluir o ar, utilizando a bicicleta, também é vegetariano.

Outro biker, Marco Antonio Zavorize (43), também uniu o útil ao agradável. “Eu adoro andar de bike. Sempre andei desde meus oito anos de idade”, afirma Zavorize que também faz entregas de bi-cicleta para uma pizzaria da cidade. Nes-tes ofícios, ele fica o dia todo pedalando. “É um serviço que eu gosto. Você está respirando, você não fica parado, além do número de carros. É menos um carro que vai ser usado”, avalia o biker.

Para ele, é preciso pensar nas gerações futuras e como ficarão as coisas nos pró-ximos anos. “A gente tomando atitudes ecológicas assim, quem sabe a gente pode preservar o meio ambiente para eles?!”, sugere Zavorize.

A “magrela” pode ser um meio de trans-porte utilizado para diversas atividades e o mais interessante é que, além de reduzir a emissão de carbono na atmosfera, é uma excelente forma de manter os exercícios físicos em dia.

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Os bikers Moscofian e

Zavorize unem o útil ao agradável na profissão de entregadores

idEia

Com uma simples ideia, o morador de Curitiba José Luiz Zardo preten-de descongestionar o sistema elétrico brasileiro nos horários de pico. Das 18 às 21h é o período em que mais se consome energia elétrica e em que ocorrem os famosos apagões. Um dos grandes vilões dessa história são os chuveiros elétricos, que gastam, em média, 25% do gasto total de energia dentro de casa.

A iniciativa de Zardo é aquecer a água em outros horários, que não os de pico, e armazenar na caixa d’água para usar à noite. Assim, essa água poderá ser utilizada no horário de maior uso sem o gasto do chuveiro, descongestionando o consumo na-quele período. O chuveiro fica na posição “verão”, mas com água pre-viamente aquecida. Segundo a Copel, essa posição do chuveiro consome até 40% menos energia.

Para obter esse resultado, o empre-sário gastou R$ 70 com a compra de uma resistência e um termostato. Os dois itens são instalados na caixa d’água para aquecê-la em horários intermediários aos de pico (ver foto).

“O Brasil não sabe tomar banho”, desafia Zardo. Segundo ele, o que há no País é um sistema mal distri-buído de energia elétrica e precisaria haver mudanças para melhorar a sua eficiência, como por exemplo, com a implantação de tarifas especiais para incentivar as pessoas a consumir a energia em horários intermediários e gastando menos energia.

(Arieta Arruda)

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COnSuMO COnSCiEnTE

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litoral o ano inteiroEmpresários garantem que os municípios litorâneos têm atrações em todas as estações do ano; para incentivar o turismo é oferecido um passaporte de descontos

itoral lembra praia, que lembra calor. É comum no verão ver famílias, casais e grupos de ami-gos se reunirem para passar uma

temporada curtindo sol, areia e mar. Se-gundo dados da Secretaria de Turismo do Paraná, na alta temporada entre 1 e 1,5 mi-lhão de pessoas visitam o litoral do Estado, que é composto pelas cidades de Antoni-na, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e Pontal do Paraná.

Já nos outros meses do ano – de março a novembro – a procura cai, considera-velmente. “Se comparada com o verão a queda chega a 80%, com alguns picos de 90%”, afirma Carlos Cesar de Paula Gna-

lta, presidente da Agência de Desenvolvi-mento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur). Para ele, essa visão de que o litoral só oferece encantos no verão é equivocada. “O litoral [paranaen-se] tem uma quantidade de atividades que não é só ir à praia. Nós temos a serra e o mar”, diz Gnata.

Segundo a Adetur, existem opções para quem gosta do turismo de aventura, cul-tural, gastronômico, religioso, náutico, de pesca, de negócios e eventos, de lazer “sol e praia” e o ecoturismo.

“O turista que gosta das cidades históricas tem agora a segunda cidade tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, que é An-tonina. Morretes tem o trem que chega até

turismo

Mariane Maio - [email protected] O passaporte oferece descontos em 58 estabelecimentos das cidades do litoral

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lá e está com um barco novo, todo equipa-do, que sai do rio Nhundiaquara e vai até a Ilha do Mel. Além disso, temos atividades em ecoturismo, escaladas e rafting. Dentro da Baía de Paranaguá, tem a Reserva do Sebuí, que é uma reserva ecológica. Te-mos a gastronomia do litoral famosa, com o barreado. Caiobá é hoje um dos grandes centros de atividades de competições náu-ticas, de corrida de aventura”, cita Gnata destacando algumas atrações.

incentivoPara mudar essa realidade, um grupo de empresários se juntou à concessionária Ecovia e ao Sebrae-PR e lançaram, em outubro de 2010, um passaporte que ofe-rece descontos em 58 estabelecimentos. O kit de benefícios vem com um livreto de informações turísticas, um mapa, os cupons de descontos e brindes das empre-sas participantes. “O objetivo principal era de movimentar a região de março a novembro, além de aumentar o nível de conhecimento sobre os atrativos e servi-ços turísticos existentes, que podem ser usufruídos durante o ano todo”, explica

Fora de temporada, o movimento do litoral

diminui em mais de 80%

Gustavo Trevizan Socachewsky, respon-sável pela comunicação da Adetur.

As ofertas são válidas fora da alta tem-porada (entre março e novembro, exceto feriados). Assim que utilizado, o dono do estabelecimento carimba o passaporte do turista que poderá continuar usando para aproveitar as demais ofertas.

Para adquirir um exemplar, basta se en-caminhar a um dos pontos de Serviço de Atendimento ao Usuário (SAUs), da Eco-via, na BR 277, que dá acesso ao litoral do Paraná.

“Se você fosse considerar que os 10% de desconto de cada estabelecimento fosse equivalente a R$ 10, você estaria carregan-do um desconto de R$ 580 em uma visita ao litoral”, compara o presidente da Adetur. Mas mesmo com esse benefício, os turistas ainda estão fazendo pouco uso do passa-porte. “Ele retira, dá uma olhada, coloca na porta do carro e esquece. Até mesmo indo para o litoral. Não faz uso”, comenta.

A Adetur ainda não tem um diagnóstico de quanto o passaporte incrementou no turismo do litoral paranaense, mas a im-pressão é de que foi abaixo do previsto. “A gente sabe que o resultado não foi o que a gente esperava. Esperávamos que desses 70 mil, fossem utilizados pelo me-nos 15% a 20%. Nós acreditamos que não vai chegar a 10%”, se queixa Gnata.

Apesar dos baixos resultados, a Adetur acredita no poder do passaporte para in-centivar os turistas a visitarem o litoral paranaense. Tanto que uma segunda edi-ção já está sendo preparada e contará com a participação de mais estabelecimentos.

Além disso, a Agência estuda a possibili-dade de estender o uso do passaporte na alta temporada (2011/12), como forma de atrair muitos turistas que desapareceram após as tragédias das chuvas de março.

“[A baixa temporada] tá sendo terrível. Sempre temos um movimento até meados de maio. Depois da chuva, o inverno chegou para nós antes. Março foi um mês que não teve movimento para ninguém. Em abril, só teve a Páscoa, depois disso acabou”, conta Carlos Gnata que também é proprietário de uma pousada na Ilha do Mel. Ele garante que todo o serviço já está normalizado.

FEstivalMais atrações no Litoral

Entre os dias 18 e 21 deste mês, a cidade de Morretes irá receber o 1º Festival de Turismo do Litoral do Paraná. A ideia do evento é mostrar, tanto para os turistas, quanto para os empresários do setor, que as sete cidades que compõem o litoral estão preparadas para receber visitantes o ano inteiro.

Durante o Festival haverá uma feira comercial com a exposição dos estabelecimentos lo-cais, demonstração de artesanato e produção da agricultura familiar local, estandes das sete cidades, seminário com oficinas e palestras, visitas técnicas, além de uma área de gastro-nomia, em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR) e o Centro Europeu, em que chefs de cozinha irão elaborar pratos junto aos responsáveis pelos restaurantes locais, oferecendo-os para degustação. A entrada para todo o evento é gratuita.

Para conferir mais informações, acesse: www.festivaldolitoral.com.br

“O litoral [paranaense] tem uma quantidade de atividades que não é só ir à

praia”, afirma Carlos Gnata

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o retorno do Pão artesanalFeito à mão, sem conservantes e com experimentações inusitadas, o pão caseiro volta às prateleiras de padarias gourmet de Curitiba

pão da Maria, o pão da Sil-via, o pão do José, o pão do João, e qual o seu pão? Cada um que quiser pode ter um

pão para chamar de seu. Isso porque as o

Miraglia, especialista em pães artesanais, chef da Oli Gastronomia, que colocou em seus pães o nome de alguns clientes.

A fumacinha que sai quando está quenti-nho, a massa macia e o sabor que satisfaz. São sensações que o pão nosso de cada dia traz na hora da degustação. Pode ser no café da manhã, à tarde ou no lanchi-nho leve à noite, o pão é o grande compa-nheiro para essas refeições. Mas se todo dia (ou quase), ele está à mesa, algumas pessoas gostam de variar no sabor. Pode ser de centeio, linhaça dourada, quinoa, girassol, gergelim, doce, salgado, integral ou de legumes (batata ou cenoura).

Ao que tudo indica, os pães artesanais estão voltando ao gosto popular com um ar de requinte. “Qualquer pessoa prefere optar por uma alimentação mais saudá-

padarias empório ou gourmet apostam na customização para ganhar a freguesia ao oferecer os pães artesanais. Uma volta aos costumes do pão feito em casa. “O pão tem uma característica que os clientes gostam de um tipo de pão e se identifi-cam com ele. É o hábito”, conta Geraldine

culinária&gastronomia

Arieta Arruda - [email protected]

vEJa ondE Encontrar Padarias quE coMErcialiZaM PãEs artEsanais

panettiere Preço médio: R$ 6,00 unidadeLocal: Av. Cândido Hartmann, 3515 Mais infos: 41.3014-5334 e 3336-5460

FamíLia Farinha Preço médio: R$ 17,90 o quiloLocal: Av. Nossa Senhora da Luz, 2345Mais infos: 41.3362-3052

prestinaria Preço médio: R$ 6,90 unidadeLocal: Rua Euclides da Cunha, 699Mais infos: 41.3014-4576 e 3342-4576

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REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 43

novidades As experimentações são variadas e quase sem limites. Geraldine que sempre está bus-cando novidades, aposta em combinações com passas e canela, além de outro pão com pimenta do reino e queijo Gruyèr. Outra novidade que será produzida é o pão que leva sálvia e cebola. Já Adelino Farinha, um grande curioso e pesquisador das novidades fora do País, deve lançar em breve, os pães tipicamente alemães e os pães com semente de abóbora, com fermentação natural. “São pães mais funcionais”, analisa Farinha. Mas a proposta não é complicar. “Não é inventar a roda. A ideia é essa, fazer tudo o mais ar-tesanal possível”.

E a criançada aprova. Pelo menos, a clien-tela de Geraldine. Ela conta que os pais chegam a perguntar: “o que eu coloco que vicia? E a resposta é o que eu não colo-co que vicia. São pães sem conservantes. Sustenta mais”.

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vel, pois normalmente o mais saudável é mais saboroso”, afirma Adelino Farinha, proprietário da tradicional padaria Famí-lia Farinha, em Curitiba. “Hoje tem uma busca por alimento cada vez mais natural. Teve uma época de abuso da alimentação industrial e o aumento da quantidade de celíacos [não podem comer glúten], por causa do abuso da farinha branca”, analisa Geraldine. Por isso, ela opta por trabalhar com farinhas integrais e com ingredientes de maior qualidade para a produção de pães artesanais.

É possível observar a maior demanda pelo natural, estilo caseiro, em Curitiba. Só na padaria da Família Farinha são 500 kg por dia de farinha de trigo e 65 pessoas traba-lhando para produzir os pães, no setor de confeitaria e salgados – tudo de forma ar-tesanal. Outro indicador desse movimento é a maior procura pela profissionalização do setor. Geraldine comenta que “mesmo as grandes panificadoras tem um pouco desses pães. Vejo que tem muita gente querendo estudar isso. Estudar profissionalmente”.

Mas ainda o passo da profissionalização está devagar para tamanha demanda. Se-gundo Adelino Farinha, uma das maiores dificuldades de aumentar a produção é encontrar a mão de obra técnica. Sinal de escassez no mercado.

diferenças Uma diferença essencial entre os pães industriais – aqueles de saquinho de for-ma ou mesmo os pães franceses, que são vendidos em grandes quantidades nos supermercados ou em panificadoras – e o pão caseiro, está na ausência ou não da pré-mistura e o tipo de fermento. Se-gundo Adelino Farinha, existe três tipos de fermento na culinária: fermento quí-mico, fermento biológico e o fermen-to natural. O último é o utilizado para confeccionar pães artesanais, que ficam

as combinações são variadas para acompanhar a massa caseira

livres de conservantes e aditivos quími-cos, além de garantir um sabor especial, garantem os especialistas.

O cuidado na produção desse tipo de pão já começa no preparo do fermento. Para Geraldine, o fermento natural é como “um filho”, pois é preciso alimentar com água e farinha diariamente. A mistura que ela utiliza é à base de maçã. “Fermenta a maçã, deixa descansar no escuro e depois alimenta com água e farinha. É a levain, técnica francesa de fermentação natural, mas dá para fazer de vários tipos”.

O custo do produto pode ter um adicional, por conta do processo inteiramente arte-sanal e os ingredientes selecionados. No entanto, para o gosto curitibano não pare-ce ser tão salgado, de acordo com Adelino que está no mercado há algumas décadas. “O curitibano gosta do preço justo. Não se importa de pagar mais se [o produto] for de qualidade.”

Adelino Farinha aposta no trabalho artesanal e nas novidades trazidas do exterior

saint germain Preço médio: R$ 9 a 15 unidadeLocal: Alameda Princesa Izabel, 1347Mais infos: 41.3233-9048

Joaquim José padariaPreço médio: R$ 15 a 25 o quiloLocal: Av. Comendador Franco, 2777Mais infos: 41.3266-1113

oLi gastronomia Preço médio: R$ 6,00 unidadeLocal: Rua Senador Saraiva, 209Mais infos: 41.3016-8696

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44 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Yes, nós também temos Futebol americanoCresce o número de praticantes do esporte no Brasil e campeonatos interestaduais têm a participação de seis clubes paranaenses

s curitibanos do Brown Spi-ders, Hurricanes, Predadores, Coritiba Crocodiles, mais os ponta-grossenses dos Phan-

toms e o Black Sharks, de Foz do Iguaçu (PR), são as seis equipes que disputaram, este ano, o Campeonato Paranaense de Fu-tebol Americano e até o final do ano seguem

o

esporte

Roberto Dziura Jr. - [email protected] na corrida pelo título de dois campeonatos brasileiros que ocorrem simultaneamente.

A descoberta dos brasileiros por deno-minações como touchdown, extra-point, field goal e drop kick começou nos anos de 1990, com as transmissões pela televi-são da Liga Norte Americana de Futebol Americano (NFL). Foi nesta época que surgiram os primeiros praticantes do es-

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FutEBol aMEricanoEntenda mais o esporte

O Futebol Americano surgiu nos Es-tados Unidos no século XIX, em uma série de jogos entre as Universidades de Harvard e Yale, época em que as equipes jogavam com alternância de regras baseadas no rugby.

O jogo consiste em uma série de jogadas de curta duração, sendo permitidas subs-tituições de jogadores entre elas. A parti-da tem 60 minutos, divididas em quatro tempos de 15 minutos. As equipes, com 11 jogadores cada time, mudam de lado no fim do primeiro e do terceiro quartos. Cada time tem cinco chances para avan-çar 10 jardas, e assim sucessivamente, até conseguir pontos ou perder a bola.

O campo é um retângulo com 120 jar-das (109,73 m) de comprimento e 53 1/3 jardas (48,76 m) de largura. Existe uma linha de gol a 10 jardas de cada uma das linhas finais e paralelas a ambas. Ao centro de cada linha final, situa-se um conjunto de traves, que tem dois postes longos que se estendem por cima de uma barra horizontal em forma de Y. O jogo começa com um kickoff (chute inicial), também utilizado para reini-ciar o jogo, depois de cada field goal ou touchdown. Diversas jogadas de nomes estrangeiros completam o jogo.

Yes, nós também temos Futebol americano

Patriotas, Corinthians Steamrollers, Santos Tsunami, Botafogo Mamutes e Palmeiras Locomotives. A final do Torneio também está marcada para o dia 10 de dezembro.

Gerard Kaghtazian Junior, presidente do Coritiba Crocodiles, acrescenta a existên-cia de um terceiro campeonato interesta-dual, este com a participação somente dos clubes do Nordeste brasileiro. Ele acredi-ta que para a temporada de 2012 poderá existir a unificação dos campeonatos na-cionais da categoria.

Equipes ParanaensesUm dos mais antigos clubes de Futebol Americano do País é o Curitiba Brown Spiders, que surgiu em 2001. Somente seis anos após a reunião de amigos apai-xonados pelo esporte foi que a equipe con-seguiu adquirir equipamentos completos e oficiais de proteção. “Atualmente, o grupo conta com pessoas de diversas

porte no País. Hoje, são cerca de 50 clu-bes brasileiros.

“É um esporte que demanda muita estra-tégia e trabalho em equipe, o que faz do jogo muito emocionante e competitivo, com o resultado podendo ser decidido em detalhes e em poucos segundos”, justifica sua paixão pela bola oval, Leandro José Molinari, presidente do Brown Spiders.

“O futebol americano é um esporte que demanda muita estratégia e trabalho em equipe”, diz Molinari,

presidente do Brown spiders

De acordo com Orlando Ferreira Junior, presidente da Liga Brasileira de Fute-bol Americano (LBFA), o campeonato é mantido pelo pagamento de anuidade das equipes e são os atletas – todos amado-res – que pagam os custos, o que inclui a aquisição dos equipamentos, despesas com viagens, alimentação e estadia.

Embora ainda amador, o esporte é organi-zado pela AFAB (Associação de Futebol Americano do Brasil). Sua comissão téc-nica seleciona e convoca os jogadores que fazem parte da Seleção Brasileira. Eles têm um amistoso marcado contra o Chile, no dia 21 de janeiro de 2012. Jogo progra-mado para ser realizado em Foz do Iguaçu.

torneios interestaduaisA história dos campeonatos nacionais de futebol americano começou em 2009, com o Torneio Touchdown, vencido pelo Rio de Janeiro Imperadores, hoje Fluminense. Em 2010, ocorreu uma separação das entidades ligadas ao esporte e a criação da LBFA, composta por oito equipes nacionais. A edição da Liga do ano passado teve como campeão o Cuiabá Arsenal e vice-campeão nacional e campeão da sua região, os para-naenses do então Barigui Crocodiles.

Na edição deste ano, a competição conta com a presença de 12 equipes divididas pelas Conferências Norte e Sul. Nes-sa última, participam os paranaenses do Coritiba Crocodiles, Curitiba Brown Spi-ders e o Foz do Iguaçu Black Sharks. Na temporada regular, cada equipe disputará seis partidas e as melhores classificadas pleiteiam a vaga para o Brasil Bowl, “a grande final com os vencedores das Con-ferências que acontece no dia 10 de de-zembro”, destaca o presidente da Liga.

Já o Torneio Touchdown tem, este ano, a participação de 16 times divididos em duas Conferências, a Walter Camp (homenagem ao pai do futebol americano) e George Ha-las (incentivador da NFL). Junto com o Phantoms, de Ponta Grossa, e os curitiba-nos do Hurricanes e Predadores, o Torneio conta com cinco equipes associadas a clu-bes do futebol tradicional: Vasco da Gama

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formações, com faixa etária variando en-tre 16 e 40 anos”, conta Molinari.

Campeão paranaense das três edições e atual vice da LBFA, o Coritiba Crocodiles também começou com a união de amigos.

Kaghtazian, presidente da equipe, obser-va que o sucesso das conquistas deve-se ao pioneirismo na prática do esporte no Brasil, assim como fez o Brown Spiders, e também ao compromisso da diretoria que leva o esporte a sério.

esporte

Das seis equipes paranaenses, três disputam a Liga Brasileira e, as outras três, o Torneio Touchdown. Os paranaenses são destaque no esporte no País

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Outro pioneiro é o Hurricanes, nascido em 2006 e efetivado somente em 2009. Com menos de um ano de treino, eles conquistaram o 4º lugar no Campeonato Paranaense e a terceira colocação esta-dual em 2010 e 2011. No ano passado, foram semifinalistas do Torneio Toucho-wn, sendo destaque pela melhor defesa do campeonato.

O Foz do Iguaçu Black Sharks surgiu em 2008 e tem como títulos a conquista do 3º lugar no Paranaense 2009, o vice-campe-onato em 2010, e a 5ª colocação na LBFA 2010. De acordo com o presidente, Hel-der Bacelar Ludwig, a equipe tem joga-dores de Cascavel (PR), Santa Terezinha de Itaipu (PR) e até mesmo do Paraguai. “Mesmo com alguns apoiadores, a maio-ria das vezes, os jogadores têm que tirar dinheiro do bolso para viajar.”

Uma das mais novas equipes do esporte no Brasil é o Curitiba Predadores, que surgiu na Região Metropolitana e mi-grou para a capital paranaense. A lista de equipes de futebol americano do Paraná completa-se com o Ponta Grossa Phan-toms, uma fusão dos Black Knights Foo-tball e Tigers Football. A equipe Brown Spiders é uma das mais antigas do esporte no País e tem pessoas entre 16 e 40 anos

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Empreendedor brasileiro chama a atenção no exteriorRecentemente, a inglesa Amisha Miller, mestre em População e Desenvolvimento, esteve no Paraná para analisar e fechar possíveis acordos no Estado. O objetivo da gerente de pesquisa da Endeavor Brasil, organização que estimula o empreendedorismo de alto impacto, é fazer um diagnóstico do País por meio de uma pesquisa qualitativa e também traçar o perfil específico dos empreendedores de alguns estados, o que inclui o Paraná, como terceiro estado mais importante nessa área. Amisha falou à MÊS com exclusividade

5 perguntas para: amisha Miller

to. Talvez, nem todos os empreendedores tenham isso, mas os bem sucedidos têm. Queremos entender suas atitudes e capaci-dades: o potencial dos empreendedores do Brasil. Vamos fazer uma pesquisa qualitati-va, grupos de pesquisa com empreendedo-res e não empreendedores, para ver o que eles acham sobre o empreendedorismo.

Existe alguma diferença entre o empre-endedor brasileiro e de outros países?

AM - Uma pesquisa do BID [Banco Inte-ramericano de Desenvolvimento] sobre os

empreendedores no Brasil, na Índia e na China, mostra que os brasileiros não têm tanto interesse em dinheiro quanto os ou-tros. Na pesquisa, a pergunta foi: “se você tiver todo dinheiro do mundo, vai fechar sua empresa?”. E a maioria dos brasilei-ros falou: Não. O brasileiro tem interesse na empresa, ele não quer parar. Tem uma coisa de paixão. Mas, normalmente, as pesquisas internacionais concluem que os empreendedores têm muito em comum.

Como definiria o perfil do brasileiro para os negócios?

AM - Não existem muitas pesquisas in-ternacionais sobre os empreendedores, sobre as pessoas. A gente sabe que aqui os investidores gostam de ter menos riscos do que em outros países. Mas isso é muito normal em países em desenvolvimento.

A Endeavor fará uma pesquisa nacio-nal e depois pretende regionalizar os dados para conhecer as particularida-des de alguns estados. Como o Paraná será envolvido nisso?

AM - A ideia é de fazer em estados im-portantes. Temos um dado do IBGE [Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística] que fala que, depois de São Paulo e Rio de Janeiro, o estado com maior número de empreendedores de alto rendimento de empresas com menos de cinco anos é o Pa-raná. Então, a gente quer estudar um pou-co mais e entender o porquê. Fizemos duas reuniões [em Curitiba]. Mas precisamos falar um pouco mais. O que é legal é que todo mundo tem interesse nesse projeto.

Qual a previsão de término da pesqui-sa? Após isso, como esses dados serão apresentados?

AM - A gente quer fechar essa pesquisa antes do final do ano. Queremos fazer um relatório e desenvolver uma pesquisa pe-quena. Queremos saber as oportunidades e barreiras de todos esses grupos, as atitu-des, as capacidades. Trabalhar mais foca-do em cada grupo. Fazer projeto de apoio, tipos de cursos diferentes para diferentes tipos de empreendedores.

O que é ter uma cultura empreendedo-ra? Como será feito o estudo?

Amisha Miller (AM) - A gente já fez um grupo de discussão com alguns empreen-dedores bem sucedidos, para entender o que é importante para criar esse tipo de empreendedor. Eles querem ter riscos, mas querem gerenciar isso. Têm muita paixão sobre o que estão fazendo. Têm a ideia de mudar o mundo. Essa é uma coisa que a gente acha que é muito de alto impac-

Mariane Maio - [email protected]

Amisha trabalha na construção de indicadores e mapas para

analisar as mudanças do

empreendedorismo no País

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m meio a mistérios, amores rasgados e antagonismos entre o bem e o mal, o desconhecido vem se revelando aos olhos dos

telespectadores. Apesar de “O Astro” ser uma releitura da obra de Janete Clair, os novos autores – Alcides Nogueira e Geral-do Carneiro – trouxeram novidades na tra-ma e a adição de magia e conflitos atuais.

Novidades, a começar pelo cenário. As cenas dos primeiros capítulos foram gravadas no Paraná. Durante 12 dias, a equipe da produção de “O Astro” esteve no Estado construindo as primeiras cenas da minissérie da Rede Globo, que terá ao todo 60 capítulos. Tudo começou na es-tação do Marumbi, que ambientou uma fictícia estação ferroviária. Rodrigo Lom-bardi, o protagonista Herculano Quintani-lha, e toda a equipe, passaram pela expe-riência de viajar pela linha Litorina. “[O resto do Brasil] deveria conhecer, porque é uma viagem prazerosa, gostosa de se fa-zer, de se sentir, o ar que bate no seu ros-to, junto com aquela paisagem incrível”, afirma Lombardi.

Já em Antonina e Morretes, as cidades históricas paranaenses serviram de palco para atuar a cidade fictícia de Bom Jesus do Rio Claro, onde a história começou. “Sabia que poderíamos utilizar parte da antiga realidade local para dar mais re-alidade às cenas”, disse o diretor-geral, Mauro Mendonça Filho.

Além das ruas bucólicas, antigas e con-servadas, a população também contribuiu para essa realidade emprestada a ficção. Foram mais de 280 pessoas que partici-param da figuração. Faziam parte desse elenco de apoio, os atores paranaenses Chico Nogueira, Danilo Correia, Rafael

cultura&lazer

E

“tudo começa com o desconhecido”A afirmação é de Rodrigo Lombardi, o novo protagonista de “O Astro”, minissérie da Rede Globo que teve suas primeiras cenas gravadas no Paraná

Magaldi e Zeca Cenovicz, que “suaram a camisa” para fazer o papel. O resulta-do veio a ‘olhos vistos’. “A gente ficou abismado com tamanho profissionalismo,

dedicação e tamanha desenvoltura desde a figuração até de profissionais mais ex-perientes. Isso fez com que a gente saísse daqui com o dever cumprido”, enfatiza o ator global.

talento paranaenseFoi durante uma perseguição entre Her-culano e populares que os paranaenses puderam atuar. “Participar de uma produ-ção da Globo é bacana. Demos sorte de estarmos trabalhando com gente que se conhece. Valoriza o trabalho. É uma parte

“É um ambiente extremamente

intimidador, você fica acuado quando entra”,

afirma Rodrigo Lombardi sobre o Presídio do ahú

Arieta Arruda - [email protected]

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da há quatro anos – um ambiente propício para as primeiras cenas da minissérie. “A direção pediu realidade em todas as mon-tagens. Pesquisamos para que o real e a fic-ção estivessem misturados a tal ponto de não sabermos diferenciar quando começa um e termina o outro”, comenta Isabela Urman, parte da equipe de cenografia.

“É um ambiente extremamente intimida-dor, você fica acuado quando entra. Isso, na verdade, é um carinho pra gente, por poder trabalhar num ambiente como esse, ao invés de fazer no estúdio ou numa ci-dade cenográfica. A gente vive dessa sen-sação, então chegar aqui, já com essa sen-sação, é muito mais fácil de trabalhar”, observa Lombardi.

“O Astro” é um trabalho da Rede Globo em comemoração aos 60 anos da teledra-martugia brasileira e revisita o trabalho de Janete Clair, do estrondoso sucesso na década de 1970, quando todos queriam saber: quem matou Salomão Hayalla? Mas o sucesso desse trabalho atual não está garantido. Sem mágicas na audiên-cia, o tempo dirá e a audiência também, pois o “sucesso não tem receita. A única coisa que tem, em 90% dos casos, é que o sucesso tem de haver uma maravilho-sa inter-relação de trabalho. Todo mundo tem de estar de mão dada. E isso a gente tá”, finaliza Rodrigo Lombardi, que revi-sitou Curitiba um dia antes do lançamento da minissérie em rede nacional e conver-sou com a reportagem da MÊS.

Presídio do AHúLocalizado em Curitiba, foi a primeira Peni-tenciária do Paraná, inaugurada no dia 05 de janeiro de 1909. Inicialmente, tinha a capa-cidade de 52 celas individuais. O local pos-suía seis galerias e uma solitária, utilizada principalmente na época da Ditadura Militar, chamada pelos presos de “Surda”. O Presídio do Ahú está desativado desde julho de 2006, quando foram transferidos 900 detentos que viviam no local. Segundo Clayton Awerter, agente penitenciário, que serviu de guia do local, já existe o projeto de essa área trans-formar-se no Museu Penitenciário do Paraná.

do processo que ajuda a compor o perso-nagem”, afirma Rafael Magaldi. Danilo Correia completa ao comentar as cenas: “a gente pensava junto e cansava junto. Essa troca foi muito boa”.

Para as cidades do litoral do Paraná, a experiência teve ainda outros resultados. “Antonia e Morretes tinham acabado de passar por uma tragédia horrível. Isso levou uma autoestima pra população de Antonina e de Morretes. Fizeram figura-ção, os hotéis foram todos ocupados, as pousadas, os restaurantes. Isso trouxe um ânimo, um fôlego”, explica o ator parana-ense, Zeca Cenovicz.

Ainda na região, Rodrigo Lombardi e a equipe de mais de 50 pessoas entre elen-co, direção, produção, assistentes, pude-ram experimentar a gastronomia tipica-mente paranaense: o barreado. “O cara colocou o prato na cabeça e disse: ‘se cair, tu não paga’. Como não caiu, tive de pa-gar. [risos] Mas é incrível, adorei”.

PrisãoDepois do trabalho externo, foi a vez do Presídio do Ahú, em Curitiba (PR), servir de cenário para a minissérie. O persona-gem Herculano enquanto estava preso por oito anos, conheceu seu mestre, Ferragus, papel vivido por Francisco Cuoco, o pri-meiro protagonista de “O Astro”. “Ele será o mestre Ferragus que, de algum modo, é o Herculano 30 anos depois”, diz Lombardi.

Durante as cenas gravadas no presídio, participaram 180 paranaenses como fi-gurantes. O ambiente frio, marcado pelas angústias e negatividade da ocupação real de detentos, fizeram da locação – desativa-

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Desativado desde 2006, o Presídio do Ahú foi cenário das primeiras

cenas da minissérie

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Junto com atores paranaenses, o ator global esteve em Curitiba para o lançamento de “O Astro”

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ra uma vez um arqueólogo de nome William John Thoms que, no dia 22 de agosto de 1846, publicou pela primeira vez, no

jornal londrino “O Ateneu”, a palavra folclore (folk – povo e lore – saber) para denominar as manifestações artísticas populares. Essa história tem continui-dade no Brasil quando, por meio da Lei 5.6747/1965, o então presidente Hum-berto de Alencar Castelo Branco decreta a obrigatoriedade do ensino do “saber do povo” nas escolas brasileiras.

E

o saber do povo paranaenseLendas, brincadeiras de rua, danças e costumes do Paraná são lembrados no Dia do Folclore (22 de agosto)

No Paraná, o capítulo dessa história pros-segue com centenas de lendas, brincadei-ras, músicas e danças que fazem parte da cultura do Estado. Causos como a Lenda da Gralha Azul e das Sete Quedas. Brin-cadeiras populares como ciranda de roda, peão, mané gostoso, bolinha de gude, pipa, cinco Marias, peteca e amarelinha são mantidas vivas nas mãos de crianças e pessoas que não deixam essa história morrer, como o artista educador dos Co-légios Novo Ateneu e Opet, Guga Cidral.

Para ele, o folclore pertence ao dia adia das pessoas. “Dentro de casa existe um

folclore. Cada um tem um jeitinho dife-rente de viver, um dito, costume, uma re-ceita familiar”. Mas sua missão é deixar vivos os contos populares e as brincadei-ras de rua. “O Brasil é rico em histórias e a importância das crianças conhecerem isso [é que] desperta a imaginação, pois muitas crianças de hoje recebem tudo muito pronto”.

Segundo o professor e estudioso da cultu-ra popular, Inami Custódio Pinto, autor do livro “Folclore no Paraná”, a importância de manter presente o folclore é a trans-formação humana que isso proporciona. “Nós somos os únicos que temos em nos-sa formação cultural três almas: portugue-sa, negra e a dos indígenas brasileiros”.

cultura&lazer

Roberto Dziura Jr. - [email protected]

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Inspirado na lenda das Sete Quedas, o pro-fessor escreveu uma ópera, a qual espera há 60 anos a sua produção. Ele considera ser a primeira do gênero em língua tupi no Brasil. “Esta história é uma das muitas que desejo preservar e começa assim: o rio Pa-raná era sereno como um lago. Nas suas profundezas morava uma cobra gigantesca (M’boi) que só deixava os indígenas tira-rem o alimento dali se, a cada ano lunar, sacrificassem a mais bela virgem. A pro-metida era Naipi, que costumava apanhar mel, flores e frutas fora da tapa. Mas um dia ela ficou na floresta até a noite, e nin-guém sobreviveria uma noite na selva. Ao se ver perdida, surge em sua frente Tarobá, jovem guerreiro da tribo rival de Naipi.

Ambos apaixonaram-se, mas este amor foi proibido pelas tribos. No dia do sacrifício, Tarobá conseguiu resgatar a sua amada e fugiram em uma piroca. Os índios, ao per-ceberam que não conseguiriam alcançá--los, avisaram M’boi, este com raiva, co-meçou a perseguí-los e dar rabanas no rio, onde surgiram as quedas. Ao perceber que esforço custaria à própria vida, M’boi pela sétima e derradeira vez abriu uma fenda maior – a sétima queda (hoje Usina de Itai-pu). Naipi se perde na fenda e Tarobá fica preso no precipício, onde, petrificado, ob-serva o abismo. Diz a lenda que nas noites de lua cheia, ela emerge, olha para o seu amado e se escuta, por todo o vale, uma linda canção de amor”.

FandangoEm sua opinião, a mais legítima mani-festação do folclore paranaense é o Fan-dango, palavra de origem espanhola que significa um baile de ruídos acompanhado de viola. Com 81 anos de idade, Custódio passou a vida se dedicando a cultura po-pular e mantém a promessa de perpetuar a dança que fez aos amigos Manequinho da Viola (falecido) e Romão Costa.

“A arte é muito viva e presente nas carac-terísticas e tradições de um povo. Acredi-to que a conceitualização [folclore] é uma invenção dos românticos para um olhar de fora das manifestações culturais. A arte do povo é dinâmica e está em constante transformação”, afirma o multiartista Itaercio Rocha, do Maranhão, que há 20 anos reside em Curitiba (PR).

lendas paranaensesPara o professor Custódio, “a lenda tem uma correspondência histórica, é feita so-bre algo que existiu ou existe”. E o Para-ná possui centenas dessas lendas, muitas delas adaptadas. Entre as mais conhecidas está a lenda das Sete Quedas e a história da Gralha Azul, esta última contada por Custódio. “Todas as gralhas eram pardas e somente prejudicavam as plantações. Uma delas andava pela floresta lamentan-do: ‘Senhor eu nada sou, pra nada sirvo. Vivo a tagarelar e estragar as plantações. Mas, se o seu poder me favorecer, eu serei capaz de coisa muito útil!’. E Deus, com o seu poder de transformar um mero ani-malzinho em uma coisa incomensurável, entregou a gralha uma semente para que ela plantasse. Nasceu então o pinheiro. Para premiar a boa intenção da ave é que Deus cobriu-a com o seu manto azul”. Sobre esta lenda, o estudioso acrescenta: “ao contrário do que dizem, ela não enter-ra o pinhão. Ela planta a árvore símbolo do Paraná, pois descasca o pinhão, corta o fruto na horizontal e deposita o restante em uma cova rasa”.

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O professor espera há 60 anos a produção de sua ópera inspirada na lenda das Sete Quedas

“a importância das crianças conhecerem isso [é que] desperta a imaginação, pois muitas crianças de

hoje recebem tudo muito pronto”, diz Cidral

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de olho no verão

clima do inverno, muitas vezes, acaba afastando as pessoas das atividades fí-sicas, sem contar que nes-

se período a alimentação saudável nem sempre é levada à risca e muitos excessos são cometidos. Com poucos cuidados, ao final do inverno, o resultado é a saúde e a beleza deixadas de lado.

Por isso, não dá para deixar para a última hora para eliminar os quilinhos a mais ad-quiridos neste período e entrar bem no ve-rão. Nessa onda, o jornalista Zeca Camar-go e o preparador físico Márcio Atalla, estiveram em Curitiba, para lembrar a im-portância da prática de exercícios físicos,

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Para quem abandonou as atividades físicas e está abusando neste inverno, chegou a hora de recuperar a forma e a alimentação para chegar bem no verão

moda&beleza

Iris Alessi - [email protected]

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dando sequência ao quadro do Fantástico: Medida Certa (Rede Globo, em parceria com Sesi). “Nessa vida que eu estou hoje, eu vi que dá para encaixar todos os há-bitos alimentares e aí eu vou em frente”, afirma Zeca Camargo.

E foi isso que resolveu fazer, a econo-mista Hévilla Juliane Altoé. Ela iniciou a prática de exercícios mais cedo, este ano, para chegar ao verão sem “peso” na cons-ciência. O objetivo da volta para a aca-demia é “emagrecer o que eu adquiri nos últimos tempos”, afirma Hévilla.

A economista espera que em quatro meses já esteja em forma para aproveitar bem o verão. Para isso, ela pretende levar a sério os exercícios. Hévilla também já buscou orientação médica para ver se a saúde está em ordem. A motivação dela é dessa vez não deixar de lado a malhação. “Toda vez eu deixo para a última hora e nunca dá tempo. Esse ano, resolvi começar antes”.

Exercícios A economista está seguindo o caminho in-dicado pelos profissionais da área. O pri-meiro mês é o mais difícil, pois “o corpo começa a liberar endorfina e outros neuro-transmissores. É chato, é duro, você tem preguiça, não é raro a pessoa ficar gripa-da”, observa Atalla. Mas não pode desistir. Segundo o personal trainer e instrutor da Academia Gustavo Borges, Glauco Mon-dardo, são várias as etapas para adquirir a forma física ideal. “A partir do segundo mês, vai começar a ocasionar modifica-ções estruturais”, afirma o personal.

Para ele, deixar para fazer atividades às vésperas do verão pode causar lesões, como tendinite e estiramento muscular, de-vido ao excesso de esforço. “Tem que ser um processo gradativo e lento”, completa.

alimentaçãoOs cuidados para entrar em forma para o verão não devem ficar atrelados apenas às atividades físicas. A alimentação tem um papel importante nessa caminhada. Para a nutricionista da Amil, Alessandra Fer-rarini, antes da chegada do verão é preci-

Deixar para fazer atividades às vésperas do verão pode causar lesões

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so investir em “um cardápio balanceado, aumentando o consumo de verduras, le-gumes e frutas, alimentos ricos em vita-minas, minerais e fibras, sem deixar de ingerir proteínas e carboidratos integrais, pois sem eles não há energia para queimar ‘os pneuzinhos indesejáveis’.”

A nutricionista dá dicas para quem quer associar uma dieta balanceada aos exer-cícios físicos. As refeições devem ser feitas duas horas antes da realização da atividade física, “pois praticar exercícios de estômago cheio pode lhe causar uma congestão ou mal-estar, ou diminuir o seu rendimento na atividade física”, afirma a nutricionista que também aconselha a não praticar exercícios sem comer nada. Isso pode ser prejudicial à saúde.

Segundo ela, o carboidrato é o alimento “mais recomendado antes da prática da atividade física, além de ser o responsá-vel pela reposição de glicogênio no fíga-do e no músculo”, diz. E água sempre. É importante ingerir água antes, durante e após as atividades físicas.

saudável o ano todoApesar de a preguiça e a vontade exage-rada de comer baterem à porta no inver-

no, é importante a prática de exercícios e seguir uma dieta balanceada o ano todo. A prática de atividade física não deve ser apenas no verão ou nas proximidades des-sa estação.

Para Zeca Camargo, ter tempo ou não para fazer exercícios físicos é desculpa. “Quando a sua saúde for prioridade, você vai arrumar esse tempo”, completa Már-cio Atalla.

Junto com as atividades “uma dieta balan-ceada, com calorias adequadas para gerar um emagrecimento saudável [...], geram um resultado imediato e gradativo tanto no peso, quanto na melhora da saúde e da qua-lidade de vida”, completa Alessandra.

Segundo Mondardo, o processo para deixar o corpo em forma é lento

aliMEntaçãoO que consumir 20 minutos antes das atividades físicas?

Um copo de suco de frutas

Frutas frescas, em geral, ou frutas desidratadas: banana seca, damasco seco, maçã ou pêra secas

Bolachas simples integrais, bolo sem recheios de preferência feitos com farinha integral, pão integral ou barra de cereais

Fonte: Nutricionista Alessandra Ferrarini

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acrescido no meio, é um padrão da marca que não tem significado. O 408 é o suces-sor do 407 Sedan, mas substituirá também o 307 Sedan, uma variação do 307 Hatch.

O veículo começou a ser fabricado ain-da em janeiro, na Argentina, mas suas vendas no Brasil estrearam em abril por causa de problemas alfandegários entre os dois países. Desenvolvido sob uma nova plataforma voltada para os mercados con-siderados emergentes, o automóvel vem com maior robustez e menos sofisticação para suportar condições de rodagem em estradas, ruas e avenidas acidentadas. O 408 chega ao mercado moderno e bem servido de recursos.

automóvel

m sedan médio para ninguém botar defeito. Assim é o Peu-geot 408. Como seu nome re-vela, o 408 é a oitava geração

de Peugeot (daí o número 8), com 4 me-tros de comprimento – mais precisamente 4,69 metros (daí o número 4). Já o zero

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sedan médio da Peugeot encara forte seus concorrentesSubstituto do 307 Sedan e sucessor do 407, o Peugeot 408 quer brigar com Toyota Corolla e Honda Civic, concorrentes tradicionais da categoria

Freios ABS, ESP, seis airbags, ar-condi-cionado dual zone, faróis de xenônio e sistema de navegação por satélite são os assessórios de série do veículo. E mais: motor 2.0 de 140 CV, também disponível na versão flex e a transmissão manual de cinco marchas ou automática sequencial de quatro, não deixa nada a desejar aos seus competidores.

Ao dirigir o veículo, após testes nas rodo-vias Anchieta e Imigrantes em São Paulo, a impressão que o modelo francês passa é de absorção das irregularidades do piso, com muita astúcia, que ajuda o automóvel rodar com maciez e conforto, sem ruídos. Os pneus 225/45 R17 dão estabilidade ao

Wallace Nunes - [email protected]

Cal

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veículo e à aerodinâmica para velocida-des acima dos 100 km/h.

A direção do 408 é hidráulica, o que compete a essa nova versão do conjunto o sentimento de leveza ao carro. Segun-do a fábrica, o 408 automático acelera de 0 a 100 km/h em 11,2 segundos e chega a 198 km/h de velocidade. O manual faz de 0 a 100 km/h em 9,8 segundos e atin-ge 210 km/h.

design Faróis delgados, quase verticais, é uma so-lução nova. Onde antes existiam superfí-cies lisas e frisos de pouca expressividade, agora há vincos marcantes assimétricos,

FicHA TÉcnicADiâMETRO x CuRSO 85 x 88 mmTAxA DE COMPRESSÃO 10,8:1POTênCiA 140 cvTORQuE 20,2 mkgfCâMBiO manual, 5 marchas, tração dianteiraCARROCERiA sedan, 4 portas, 5 lugaresDiMEnSõES largura, 181 cm; comprimento, 469 cm; altura, 150 cm; entre-eixos, 271 cmPORTA-MALAS/CAÇAMBA 526 litrosTAnQuE 60 litrosSuSPEnSÃO DiAnTEiRA McPhersonSuSPEnSÃO TRASEiRA eixo de torçãoFREiOS dianteira: discos ventilados; Traseira: discos sólidosDiREÇÃO hidráulica, pinhão e cremalheiraPnEuS 225/45 R17EQuiPAMEnTOS ESP, airbags, ar-condicionado, cruise control, faróis de xenônio

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que dão a noção de movimento. É uma tendência dos lançamentos recentes no segmento dos sedans médios, como o VW Jetta e Renault Fluence. O painel tem li-nhas suaves e os bancos são confortáveis.

No conjunto, o 408 é bem projetado para agradar ao público de seu segmento. Seu preço vai do Allure (manual) de R$ 59.500, passando pelas variações: Allure (automático) de R$ 64.500, Feline (auto-mático) ao valor de R$ 74.900 e Griffe (automático) de R$ 79.900. O modelo está pronto para encarar o competitivo mercado que vai entrar em fase de reno-vação. Uma fila que começa a ser puxada pelo Fluence e incluem as estrelas do seg-mento, Civic e Corolla.

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História e ArteMitos e lendasorigens e significadosPhilip Wilkinson Editora WMF Martins FontesDesde os tempos imemoriais, o ser humano procura desvendar os mistérios sobre o mundo e as divindades que o regem. O autor Philip Wilkinson, que escreveu mais de 50 livros sobre mitologia, entrega essa obra, muito bem acabada, que traça as histó-rias transmitidas de geração a geração, ilustrada por fotos e gravuras que retratam desde personagens do panteão grego até as diversas divindades hindus, cultuadas ainda hoje. O livro pode ser lido pon-tualmente sem ordem definida, o que facilita seu acompanhamento.

Infanto-juvenilHarry e seus fãsMelissa Anelli Editora RoccoMelissa Anelli é uma velha conhecida dos fãs da série Harry Potter por ter criado e comanda-do um dos maiores fansites do planeta sobre o bruxinho. Agora, chega às livrarias de todo o mundo, o primeiro livro escrito por ela, em que conta sua história, similar a de milhões de (hoje não tão) crianças, em meio ao maior fenômeno literário de todos os tempos. Com prefácio da J.K. Rowing, a autora da série, o livro destaca as loucuras a que todo aficionado se dispõe e algumas proezas, como ter entrevistado a criadora do mundo mágico que definiu uma geração de novos leitores.

Romance Brasileiroo Moleque ricardoJosé Lins do Rêgo Editora José OlympioO Moleque Ricardo não foi a estreia de José Lins do Rêgo em romances, mas foi o primeiro fora do ambiente rural ao qual o autor havia se habituado em seus três primeiros livros. Além disso, trata-se do primeiro a ser escrito em terceira pessoa e descreve as tentativas de um jovem negro na capital pernambucana. As vi-vências do protagonista refletem as agruras de muitos migrantes do sertão tentando se estabelecer nas áreas urbanas. A reedição desse clássico nacional traz de volta a visão nordestina sobre o operariado em meados da década de 30.

Literatura Mundiala Gata ou como Perdi a EternidadeJutta Richter Editora 34Com o simples, mas espetacular enredo de forma-ção, em que uma gata dá conselhos sobre diversos aspectos da exis-tência para uma garotinha de 8 anos, a obra pode ser lida por crianças de todas as idades e é capaz de surpreender até aqueles que acham que sabem tudo sobre a vida. Jutta Richter, a autora, é alemã e ganhou diversos prêmios literários em seu país de origem. As ilustrações, essenciais, ficam a cargo de Rotraut Susanne Berner, que também é escri-tora e já ganhou o Prêmio Alemão de Literatura Infanto-juvenil.

EducaçãoPais e Educadores de alta Performance içami Tiba Editora integrareCom 40 milhões de analfabetos funcionais, o País vive um momento de mudanças. Para ajudar pais e mães, além de educado-res, o psiquiatra e educador Içami Tiba lança sua mais recente obra. Nela, o autor defende uma educação de alta performan-ce ao unir o empenho dos pais e educadores para melhor lidarem com as crianças e adolescentes do mundo atual, cada vez mais informatizados e independentes. Para Içami Tiba, a mudança começa em casa. Com exemplos práticos, o livro mostra alguns caminhos para melhorar a for-mação dos nossos pequenos.

Eduardo Bentivoglio - [email protected]: Arieta Arruda - [email protected]

livros do mês

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MPBMarcelo cameloToque Dela Zé Pereira/universal MusicO segundo disco solo de um dos mais importantes compositores brasileiros da atualidade chega ao público con-tando com parcerias de bandas e artis-tas consagradas no cenário underground, como a paulista-na Hurtmold e Marcelo Jeneci, que estreou recentemente com o disco “Feito para Acabar”. Melodias, letras mais alegres que as do disco anterior e a vontade de se firmar como intérprete levantam o astral dos mais sensíveis e mostra uma face diferente do trabalho do carioca.

Rock Pearl Jam ‘Vs.’ e ‘Vitalogy’ Sony MusicDepois de 20 anos de estrada na cena grunge e com mais de 60 milhões de CDs vendidos, a banda Pearl Jam vem consagrar seu sucesso em terras tupiniquins. O grupo norte-americano fará sua turnê em quatro cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e também Curitiba, no dia 09 de novembro, na Vila Capanema. Em comemoração a data, eles vão apresentar uma compilação ao vivo das canções marcantes da banda. No próximo mês, vem por aí também o documentário e livro, chamados: “Pearl Jam Twenty”, de Cameron Crowe.

POPshakiraSale El Sol Sony MusicFaltava à música pop alguém que dissesse “i’m crazy, but you like it”. Colombiana metade libanesa, catalã, italiana que fala espanhol, inglês e português, Shakira se diferencia das demais protagonistas do pop atual, tão caricatas e disfor-mes. “Sale El Sol” é um disco cheio de altos e baixos, em que a cantora faz uma salada de alto apelo pop, misturando reggaeton, merengue, hip-hop, rock e ritmos variados. Como deve ser qualquer bom disco pop, Sale El Sol vale a título de entretenimento. E os momentos mais divertidos estão nas faixas “Loca” (feat. Dizzee Rascall), “Islands”, cover da banda The XX, e “Rabiosa”.

Eduardo Bentivoglio - [email protected]: Arieta Arruda e Renato Sordi

álbuns do mês

Samba thaís Gulin ôÔÔôôÔôÔ SLAPLonge de mimetismos, a curitibana Thaís Gulin solta sua música em um sonoro CD chamado ôÔÔôôÔôÔ. Com uso de ricas influências do samba de raiz e tango, em sua maioria de composição própria, a cantora apresenta seu segundo trabalho. De voz doce, mas firme, Thaís imprime nessas canções a sua face carioca, ambientadas na Lapa, Baixo Leblon e Gávea. Ela traz parcerias importantes como de Chico Buarque, grande incentivador de seu trabalho, e também estão nesse CD participações de Tom Zé, Adriana Calca-nhoto e Ana Carolina.

Pop Rockr.E.M.Collapse into now Warner MusicHá pouco tempo, eram poucos os que se lembravam do R.E.M. “das antigas”. Poucas menções honrosas e participa-ções em shows de terceiros camuflavam a formulação desse novo trabalho. O trio retorna agora ao patamar dos grandes, com o déci-mo quinto álbum da carreira, recheado de participações especiais como Patti Smith, Eddie Vedder (Pearl Jam) e a canadense Peaches. Destaques como Discoverer e Mine Smell like Honey fazem com que o R.E.M. deixe pegan-do fogo a cena atual da música até a beira do colapso.

RockFoo FightersWasting Light Sony MusicJá faz muito tempo que Dave Grohl não é mais lembrado como o ex-bate-rista do Nirvana. Não fosse suficiente toda a bagagem adquirida ao lado de Kurt Cobain, na breve carreira da maior banda dos anos 90, ele conseguiu consolidar--se como o líder de um dos mais importantes grupos da década seguinte. Contrariando as expectativas, já muito diminuídas pela liberação das pesadíssimas faixas Rope e White Limo, o Foo Fighters entrega o disco mais pesado de sua carreira e deixa de sorriso aberto os novos e/ou reconquistados fãs.

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opiniãoMarcelo M. Bertoldi Doutor em Direito Societário e coordenador-geral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa no Paraná D

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os diversos temas relacionados com gover-nança na empresa familiar, aquele que diz respeito ao tratamento que a família dá aos bens da empresa merece especial atenção.

Muitas vezes, se negligenciado, ele pode causar sérios transtornos e colocar em risco a saúde da sociedade em-presarial. É comum, e até mesmo natural, que o empre-endedor – aquele que criou o negócio e o fez prosperar – considere os bens da empresa como seus próprios bens, utilizando-os em proveito da empresa e também em seu proveito próprio. Clássico é o exemplo do jardineiro da empresa que, uma vez ao mês, trata do jardim da casa do seu patrão; do avião da empresa que leva os amigos para aquela pescaria ou a família para as férias de final de ano; ou mesmo do apartamento na praia ou casa no campo que, sem nenhum motivo lógico, acabou sendo com-prada em nome da empresa, mas que serve exclusiva-mente como instrumento de lazer da família.

Para uma pequena empresa, liderada por uma única pes-soa que ainda não está diante da necessidade de pensar sua sucessão, certamente essa confusão entre interesse familiar e empresarial não lhe trará maiores transtornos. No entanto, se a família empresária já estiver diante do início do seu processo de sucessão, com os herdeiros em fase de se integrar nos negócios, seja como colaborado-res (funcionários ou executivos), seja diante do necessá-rio treinamento pelo qual devem passar para se tornarem bons sócios (donos do negócio), essa confusão fatalmen-te trará consequências negativas para o negócio e para as relações familiares.

É natural que a divisão da riqueza gerada pela empresa passe a ser um tema enfrentado pelas gerações que suce-dem o fundador do negócio, sendo expectativa de todos que tal divisão seja feita da forma mais justa possível. Se é assim, não será mais admissível que se permita que os só-cios (irmãos e/ou primos) passem a utilizarem-se indistin-tamente dos bens da sociedade. Ao contrário, o ideal é que seja incluído no acordo societário – que deve regular as re-lações entre os sócios familiares – que os bens da socieda-de devem ser utilizados, exclusivamente, para o proveito do negócio, cabendo aos sócios usufruírem exclusivamen-te dos dividendos gerados pela sociedade e não obterem vantagens indiretas, na maioria das vezes difíceis de serem fiscalizadas e/ou valoradas e, que, possivelmente, causa-

rão a tão repudiada despropor-ção e injustiça na divisão dos benefícios societários.

Este tema pode parecer de pe-quena importância diante de uma grande empresa. Afinal de

contas, qual a relevância do custo de algumas horas do tra-balho de um funcionário ou da utilização de algumas horas por ano de um avião ou de alguns dias de utilização de um apartamento ou casa diante da enorme riqueza de uma gran-de empresa? Possivelmente, a empresa não será mais rica ou mais pobre, diante da utilização comedida de seus bens em proveito dos interesses particulares de seus sócios. Em contrapartida, como esses benefícios dificilmente poderão ser distribuídos de forma equilibrada e justa entre todos os sócios familiares, certamente existirão aqueles que ficarão com a sensação de que seus interesses estão sendo preteri-dos em proveito de outro familiar, gerando, com isso, des-gaste na relação entre sócios, enormes prejuízos à sociedade e, principalmente, às relações familiares.

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Minha Família, Minha Empresa, Meus Bens

Essa confusão fatalmente trará consequências negativas para o

negócio e para as relações familiares

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