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PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Revista - Ministério Público do Estado de São Paulo · Andréia Mendonça Agostini Annelise Monteiro Steigleder Arícia Fernandes Correia ... Inês Virgínia Prado Soares Ingo

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    Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

  • VOLUME 237ANO 27

    JANEIRO/FEVEREIRO/MARO 2015

    Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

  • SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAGabinete do Ministro Diretor da Revista

    DiretorMinistro Herman BenjaminChefe de GabineteAndrea Dias de Castro CostaServidoresEloame AugustiGerson Prado da SilvaMaria Anglica Neves SantAnaTcnica em SecretariadoMaria Luza Pimentel MeloMensageiroCristiano Augusto Rodrigues Santos

    Superior Tribunal de Justiawww.stj.jus.br, [email protected] do Ministro Diretor da RevistaSetor de Administrao Federal Sul, Quadra 6, Lote 1, Bloco C, 2 Andar, Sala C-240, Braslia-DF, 70095-900Telefone (61) 3319-8055/3319-8003, Fax (61) 3319-8992

    Revista do Superior Tribunal de Justia. N. 1 (set. 1989). -- Braslia : STJ, 1989 - .

    Periodicidade varia: Mensal, do n. 1 (set. 1989) ao n. 202 (jun. 2006), Trimestral a partir do n. 203 (jul/ago/set. 2006).

    Volumes temticos na sequncia dos fascculos: n. 237 ao n. 239 organizados por Antonio Herman Benjamin, Jos Rubens Morato Leite e Slvia Capelli.

    Repositrio Ofi cial da Jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia. Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justia/Editora Braslia Jurdica, set. 1989 a dez. 1998; Superior Tribunal de Justia/Editora Consulex Ltda, jan. 1999 a dez. 2003; Superior Tribunal de Justia/ Editora Braslia Jurdica, jan. 2004 a jun. 2006; Superior Tribunal de Justia, jul/ago/set 2006-.

    Disponvel tambm em verso eletrnica a partir de 2009: https://ww2.stj.jus.br/web/revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.eletronica.

    ISSN 0103-4286

    1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudncia, peridico, Brasil. I. Brasil. Superior Tribunal de Justia (STJ). II. Ttulo.

    CDU 340.142(81)(05)

  • MINISTRO HERMAN BENJAMIN Diretor

    Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

  • Organizadores do Volume TemticoAntonio Herman BenjaminJos Rubens Morato Leite

    Slvia Cappelli

    RSTJ 237 - Direito Ambiental

    Juristas Colaboradoreslvaro Luiz Valery Mirra

    Ana Maria de Oliveira NusdeoAna Maria Moreira Marchesan

    Ana Paula Rengel GonalvesAndra Silva

    Andria Mendona AgostiniAnnelise Monteiro Steigleder

    Arcia Fernandes CorreiaBraulio Cavalcanti Ferreira

    Cndido Alfredo Silva Leal JniorCarlos E. Peralta

    Carlos Eduardo Ferreira PintoCarlos Magno de Souza Paiva

    Carlos Teodoro Jos Hugueney IrigarayClarides Rahmeier

    Cristiane DeraniDaniel Gaio

    Danielle de Andrade MoreiraDlton Winter de Carvalho

    Eduardo Coral ViegasEla Wiecko Volkmer de Castilho

    Eliane Cristina Pinto MoreiraEliziana da Silveira Perez

    Elton M. C. LemeEveline de Magalhes Werner Rodrigues

    Fernanda Dalla Libera DamacenaFernanda Luiza Fontoura de MedeirosFernanda Menna Pinto PeresFernando Reverendo Vidal AkaouiFrancisco Humberto Cunha FilhoGabriel WedyGabriela Cristina Braga NavarroGabriela SilveiraGermana Parente Neiva BelchiorGilberto Passos de FreitasGiorgia Sena MartinsGirolamo Domenico TreccaniGuilherme Jos Purvin FigueiredoHeline Sivini FerreiraHugo Nigro MazzilliIbraim RochaIns Virgnia Prado SoaresIngo Wolfgang SarletJarbas Soares JniorJoo Luis Nogueira MatiasJos Heder BenattiJos Rubens Morato LeiteKamila Guimares de MoraesKleber Isaac Silva de SouzaLeonardo Castro Maia

  • Letcia AlbuquerqueLeticia Rodrigues da Silva

    Lidia Helena Ferreira da Costa PassosLucas Lixinski

    Luciano Furtado LoubetLus Fernando Cabral Barreto Junior

    Luiz Fernando RochaLuiz Guilherme Marinoni

    Luiza Landerdahl ChristmannLuly Rodrigues da Cunha Fischer

    Marcelo Abelha RodriguesMarcelo Krs Borges

    Mrcia Dieguez LeuzingerMaria Leonor Paes C. Ferreira Codonho

    Marina Demaria VenncioMario Jose Gisi

    Melissa Ely MeloNatlia Jodas

    Ney de Barros Bello FilhoNicolao Dino

    Oscar Graa CoutoPatricia Antunes Laydner

    Patrcia Faga Iglecias LemosPatrcia Nunes Lima Bianchi

    Patryck de Araujo AyalaPaula Galbiatti Silveira

    Paulo Aff onso Brum VazPery Saraiva Neto

    Rafael Martins Costa MoreiraRaimundo Moraes

    Raquel Thais HunscheRaul Silva Telles do Valle

    Rodolfo de Camargo MancusoRodrigo Antonio de Agostinho Mendona

    Sandra Veronica CureauSlvia Cappelli

    Solange Teles da SilvaTalden FariasThas Dalla CorteThas Emlia de Sousa ViegasTiago FensterseiferUbiratan CazettaVansca Buzelato PrestesVictor Manoel PelaezVladimir Passos de FreitasXimena Cardozo FerreiraZenildo Bodnar

  • Resoluo n. 19/1995-STJ, art. 3.

    RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, 1, e 23.

    SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAPlenrio

    Ministro Francisco Cndido de Melo Falco Neto (Presidente)Ministra Laurita Hilrio Vaz (Vice-Presidente)Ministro Felix FischerMinistra Ftima Nancy Andrighi (Corregedora Nacional de Justia)Ministro Joo Otvio de Noronha (Diretor-Geral da ENFAM)Ministro Humberto Eustquio Soares MartinsMinistra Maria Th ereza Rocha de Assis MouraMinistro Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin (Diretor da Revista)Ministro Napoleo Nunes Maia Filho Ministro Jorge MussiMinistro Geraldo Og Nicas Marques Fernandes (Corregedor-Geral da Justia Federal)Ministro Luis Felipe SalomoMinistro Mauro Luiz Campbell MarquesMinistro Benedito GonalvesMinistro Raul Arajo FilhoMinistro Paulo de Tarso Vieira SanseverinoMinistra Maria Isabel Diniz Gallotti RodriguesMinistro Antonio Carlos Ferreira (Ouvidor)Ministro Ricardo Villas Bas CuevaMinistro Sebastio Alves dos Reis JniorMinistro Marco Aurlio Gastaldi BuzziMinistro Marco Aurlio Bellizze OliveiraMinistra Assusete Dumont Reis MagalhesMinistro Srgio Luz KukinaMinistro Paulo Dias de Moura RibeiroMinistra Regina Helena CostaMinistro Rogerio Schietti Machado CruzMinistro Nefi CordeiroMinistro Luiz Alberto Gurgel de FariaMinistro Reynaldo Soares da FonsecaMinistro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas

  • CORTE ESPECIAL (Sesses s 1 e 3 quartas-feiras do ms)

    Ministro Francisco Falco (Presidente)Ministra Laurita Vaz (Vice-Presidente)Ministro Felix FischerMinistra Nancy AndrighiMinistro Joo Otvio de NoronhaMinistro Humberto MartinsMinistra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Herman BenjaminMinistro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Jorge MussiMinistro Og FernandesMinistro Luis Felipe SalomoMinistro Mauro Campbell MarquesMinistro Benedito GonalvesMinistro Raul Arajo

    PRIMEIRA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms)

    Ministro Herman Benjamin (Presidente)

    PRIMEIRA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Srgio Kukina (Presidente)Ministro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Benedito Gonalves Ministra Regina Helena CostaMinistro Olindo Herculano de Menezes *

    * Desembargador convocado (TRF1)

  • SEGUNDA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministra Assusete Magalhes (Presidente)Ministro Humberto MartinsMinistro Herman BenjaminMinistro Mauro Campbell MarquesMinistra Diva Prestes Marcondes Malerbi **

    SEGUNDA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms)

    Ministro Raul Arajo (Presidente)

    TERCEIRA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Villas Bas Cueva (Presidente)Ministro Joo Otvio de NoronhaMinistro Paulo de Tarso SanseverinoMinistro Marco Aurlio BellizzeMinistro Moura Ribeiro

    QUARTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministra Isabel Gallotti (Presidente)Ministro Luis Felipe SalomoMinistro Raul ArajoMinistro Antonio Carlos Ferreira Ministro Marco Buzzi

    ** Desembargadora convocada (TRF3)

  • TERCEIRA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms) Ministro Sebastio Reis Jnior (Presidente)

    QUINTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Felix Fischer (Presidente)Ministro Jorge MussiMinistro Gurgel de Faria Ministro Reynaldo Soares da FonsecaMinistro Ribeiro Dantas

    SEXTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Rogerio Schietti Cruz (Presidente)Ministra Maria Th ereza de Assis Moura Ministro Sebastio Reis JniorMinistro Nefi CordeiroMinistro Ericson Maranho ***

    *** Desembargador convocado (TJ-SP)

  • COMISSES PERMANENTES

    COMISSO DE COORDENAO

    Ministro Marco Buzzi (Presidente)Ministra Regina Helena Costa Ministro Gurgel de Faria Ministro Nefi Cordeiro (Suplente)

    COMISSO DE DOCUMENTAO

    Ministro Jorge Mussi (Presidente)Ministro Raul ArajoMinistro Villas Bas CuevaMinistro Moura Ribeiro (Suplente)

    COMISSO DE REGIMENTO INTERNO

    Ministro Luis Felipe Salomo (Presidente)Ministro Benedito GonalvesMinistro Marco Aurlio BellizzeMinistro Jorge Mussi (Suplente)

    COMISSO DE JURISPRUDNCIA

    Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Presidente)Ministro Mauro Campbell MarquesMinistra Isabel GallottiMinistro Antonio Carlos FerreiraMinistro Sebastio Reis JniorMinistro Srgio Kukina

  • MEMBROS DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

    Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Corregedora-Geral)Ministro Herman Benjamin (Efetivo)Ministro Napoleo Nunes Maia Filho (1 Substituto)Ministro Jorge Mussi (2 Substituto)

    CONSELHO DA JUSTIA FEDERAL (Sesso 1 sexta-feira do ms)

    Ministro Francisco Falco (Presidente)Ministra Laurita Vaz (Vice-Presidente)Ministro Og Fernandes (Corregedor-Geral da Justia Federal)

    Membros EfetivosMinistro Mauro Campbell MarquesMinistro Benedito GonalvesDesembargador Federal Cndido Artur M. Ribeiro Filho (TRF 1 Regio)Desembargador Federal Poul Erik Dyrlund (TRF 2 Regio)Desembargador Federal Fbio Prieto de Souza (TRF 3 Regio)Desembargador Federal Luiz Fernando Wowk Penteado (TRF 4 Regio)Desembargador Federal Rogrio de Meneses Fialho Moreira (TRF 5 Regio)

    Membros SuplentesMinistro Raul ArajoMinistro Paulo de Tarso SanseverinoMinistra Isabel GallottiDesembargadora Federal Neuza Maria A. da Silva (TRF 1 Regio)Desembargador Federal Reis Friede (TRF 2 Regio)Desembargadora Federal Ceclia Maria Piedra Marcondes (TRF 3 Regio)Desembargador Federal Carlos Eduardo Th ompson Flores Lenz (TRF 4 Regio)Desembargador Federal Francisco Roberto Machado (TRF 5 Regio)

  • SUMRIO

    RSTJ N. 237

    APRESENTAO ..................................................................................................................................................19

    JURISPRUDNCIA E COMENTRIOS

    1. Desapropriao e Princpio da Funo Ecolgica da Propriedade ...........................211.1. Desapropriao Ambiental Direta .............................................................23

    AgRg no REsp 956.042-MG (Rel. Min. Cesar Asfor Rocha) .............23Comentrio de Gabriel Wedy ..................................................................31REsp 518.744-RN (Rel. Min. Luiz Fux) ..............................................38Comentrio de Jos Heder Benatti e Ibraim Rocha ...................................55REsp 996.203-SP (Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima) ..........................62Comentrio de Mrcia Dieguez Leuzinger ..............................................74REsp 1.395.597-MT (Rel. Min. Eliana Calmon) ................................83Comentrio de Giorgia Sena Martins .....................................................93REsp 1.426.602-PR (Rel. Min. Humberto Martins) ...........................99Comentrio de Rafael Martins Costa Moreira ......................................104

    1.2. Desapropriao Ambiental Indireta ........................................................111AgRg no REsp 1.361.025-MG (Rel. Min. Humberto Martins) e .....111EREsp 901.319-SC (Rel. Min. Eliana Calmon) ................................119Comentrio de Daniel Gaio ..................................................................127REsp 442.774-SP (Rel. Min. Teori Albino Zavascki) ........................133Comentrio de Th as Dalla Corte .........................................................154REsp 1.109.778-SC (Rel. Min. Herman Benjamin) ..........................164Comentrio de Guilherme Jos Purvin de Figueiredo .............................177REsp 1.168.632-SP (Rel. Min. Luiz Fux) ..........................................184Comentrio de Sandra Veronica Cureau................................................197

  • 1.3. Ao Possessria .....................................................................................204REsp 635.980-PR (Rel. Min. Jos Delgado) ......................................204Comentrio de Jos Heder Benatti e Luly Rodrigues da Cunha Fischer ....216

    2. Direito Adquirido e Meio Ambiente ....................................................................223MS 17.292-DF (Rel. Min. Castro Meira) ..........................................225Comentrio de Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros e Letcia Albuquerque ..............................................................................234REsp 1.172.553-PR (Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima) ....................241Comentrio de Ana Maria de Oliveira Nusdeo ....................................259REsp 1.222.723-SC (Rel. Min. Mauro Campbell Marques) ..............266Comentrio de Marcelo Krs Borges .....................................................282

    3. Princpio da Proteo ao Meio Ambiente e a Ordem Econmica .........................287AgRg no REsp 1.183.279-PA (Rel. Min. Humberto Martins) ..........289Comentrio de Raimundo Moraes, Eliane Moreira, Marina Demaria Venncio e Gabriela Silveira .................................................................305

    4. Princpio da Precauo ..........................................................................................315AgRg na SLS 1.279-PR (Rel. Min. Ari Pargendler, Presidente do STJ) ................................................................................................317Comentrio de Luiza Landerdahl Christmann e Th as Dalla Corte ........325AgRg na SLS 1.323-CE (Rel. Min. Ari Pargendler, Presidente do STJ) ................................................................................................336Comentrio de Gabriel Wedy ................................................................345AgRg na SLS 1.552-BA (Rel. Min. Ari Pargendler, Presidente do STJ) ................................................................................................352Comentrio de Slvia Cappelli .............................................................359AgRg na SLS 1.564-MA (Rel. Min. Ari Pargendler, Presidente do STJ) ................................................................................................364Comentrio de Clarides Rahmeier ........................................................370MS 16.074-DF (Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima) ............................377Comentrio de Heline Sivini Ferreira e Andria Mendona Agostini ......385

    5. Direito Ambiental Administrativo ........................................................................3955.1 Competncia do CONAMA ...................................................................397

  • REsp 994.881-SC (Rel. Min. Benedito Gonalves) ............................397Comentrio de Sandra Cureau .............................................................404REsp 1.462.208-SC (Rel. Min. Humberto Martins) .........................409Comentrio de Raul Silva Telles do Valle .............................................442

    5.2. Competncia Fiscalizatria ....................................................................448REsp 333.056-SP (Rel. Min. Castro Meira) ......................................448Comentrio de Vansca Buzelato Prestes ...............................................457REsp 994.120-RS (Rel. Min. Herman Benjamin) .............................464Comentrio de Eduardo Coral Viegas ...................................................472REsp 1.044.206-DF (Rel. Min. Francisco Falco) .............................479Comentrio de Leticia Rodrigues da Silva, Victor Manoel Pelaez e Andra Silva ..........................................................................................482REsp 1.057.292-PR (Rel. Min. Francisco Falco) .............................488Comentrio de Solange Teles da Silva .................................................491REsp 1.326.138-SC (Rel. Min. Humberto Martins) .........................495Comentrio de Ximena Cardozo Ferreira .............................................501RMS 38.479-RS (Rel. Min. Humberto Martins) ...............................505Comentrio de Slvia Cappelli e Raquel Th ais Hunsche .........................517

    5.3. Responsabilidade Administrativa pelo Dano Ambiental .........................520REsp 1.251.697-PR (Rel. Min. Mauro Campbell Marques)..............520Comentrio de Annelise Monteiro Steigleder .........................................526

    5.4. Sanes Administrativas .........................................................................536AgRg na SLS 1.446-DF (Rel. Min. Ari Pargendler, Presidente do STJ) ................................................................................................536Comentrio de Vansca Buzelato Prestes ...............................................551AgRg no AREsp 287.659-RS (Rel. Min. Og Fernandes) ..................557Comentrio de Leonardo Castro Maia ..................................................562REsp 1.091.486-RO (Rel. Min. Denise Arruda)................................571Comentrio de Vladimir Passos de Freitas ............................................577REsp 1.112.577-SP (Rel. Min. Castro Meira) ...................................584Comentrio de Carlos E. Peralta .........................................................597

    5.5. Multa, Termo de Compromisso e PRAD ...............................................602

  • REsp 1.034.426-RS (Rel. Min. Luiz Fux) ..........................................602Comentrio de Ela Wiecko Volkmer de Castilho .....................................606

    5.6. Lista dos 100 Maiores Desmatadores e Desnecessidade de Julgamentode Auto de Infrao ........................................................................................611

    MS 13.935-DF (Rel. Min. Teori Albino Zavascki)............................611Comentrio de Eliane Moreira, Jos Rubens Morato Leite e Marina Demaria Venncio .....................................................................615

    5.7. Medidas Administrativas e Repercusso da Absolvio Penal ................624REsp 539.189-SC (Rel. Min. Jos Delgado) ......................................624Comentrio de Rodrigo Antonio de Agostinho Mendona ......................633

    5.8. Grave Leso Ordem, Sade, Segurana e Economia Pblicas .....640AgRg na SS 2.508-PA (Rel. Min. Ari Pargendler, Presidente do STJ) ................................................................................................640Comentrio de Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros e Letcia Albuquerque................................................................................649

    5.9. Improbidade Administrativa Ambiental .................................................655REsp 699.287-AC (Rel. Min. Mauro Campbell Marques) ................655Comentrio de Vladimir Passos de Freitas ............................................659REsp 1.116.964-PI (Rel. Min. Mauro Campbell Marques) ...............667Comentrio de Lus Fernando Cabral Barreto Junior ............................690

    6. Confl ito Intertemporal de Normas Ambientais.....................................................697AgRg no REsp 1.313.443-MG (Rel. Min. Og Fernandes) ................699Comentrio de Luciano Furtado Loubet ...............................................704PET no REsp 1.240.122-PR (Rel. Min. Herman Benjamin) ............708Comentrio de Carlos Teodoro Jos Hugueney Irigaray ..........................723

    NDICE ANALTICO ........................................................................................................................................... 733

    NDICE SISTEMTICO ...................................................................................................................................... 747

    SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................................................. 751

    REPOSITRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA ............................................................................................................ 757

  • APRESENTAO

    Pela primeira vez, a Revista do Superior Tribunal de Justia publica coletneas temticas e comentadas de sua jurisprudncia. So vrios volumes e tomos dedicados ao Direito Ambiental, representando o labor da Primeira Seo (Direito Pblico) da Corte, e ao Direito do Consumidor, matria prpria da Segunda Seo (Direito Privado).

    Tal inovao busca atender demanda crescente de especializao, de sistematizao e de aprofundada anlise doutrinria dos julgados do STJ em ramos do Direito que, embora jovens, tm presena marcante na prtica judicial cotidiana da litigiosidade brasileira.

    Os Volumes 237, 238 e 239, Tomos 1 e 2, trazem as principais decises ambientais da Primeira Seo, desde 2000, cada uma comentada por renomado jurista da rea. No foi fcil selecion-las, sobretudo diante do nmero impressionante de julgados do STJ nos diversos domnios da proteo do meio ambiente, urbanismo, patrimnio histrico-cultural e sade das pessoas. Flora, fauna, gua, poluio industrial e sonora, reas protegidas, minerao, desapropriao direta e indireta, licenciamento, responsabilidade civil, direito adquirido, sanes administrativas, confl ito intertemporal de normas, entre tantos outros temas, praticamente nada fi ca de fora do crivo do STJ. Alm, claro, dos aspectos principiolgicos (mnimo existencial, princpios da preveno, da precauo, da funo ecolgica da propriedade, da reparao in integrum, poluidor-pagador, in dubio pro Natura, obrigao propter rem etc.) e processuais da matria, notadamente naquilo que diz respeito ao civil pblica e popular.

    No foi toa que os volumes iniciais desta srie histrica especializada comearam pelo Direito Ambiental, uma das disciplinas jurdicas que, entre ns, mais se desenvolveram nas ltimas dcadas, seja pelo surgimento de entidades acadmicas, como o Instituto O Direito por um Planeta Verde e a Aprodab Associao dos Professores de Direito Ambiental do Brasil, seja por formar centenas de especialistas, mestres e doutores, seja ainda pela produo doutrinria de altssimo quilate, espelhada em manuais e tratados, bem como em consagrados peridicos, como a Revista de Direito Ambiental (a primeira da Amrica Latina).

    Doutrina e docncia, entretanto, pouco signifi cam sem prtica judicial robusta e constante. Essa talvez a grande diferena entre o Direito Ambiental brasileiro e o de tantos outros pases, onde no passa de aspirao terica, com pouca ou nenhuma repercusso no dia a dia dos tribunais e das pessoas.

    Nisso reside a expressividade e a riqueza da jurisprudncia do STJ, nessa coletnea retratada pela obra dos Ministros que compem sua Primeira Seo, embora a Segunda e Terceira Sees tambm possuam magnfi cos precedentes ambientais no mbito de sua competncia (Direito Privado e Direito Penal, respectivamente). Quem compulsar qualquer dos tomos da obra se deparar com julgados dotados de articulao terica original e sofi sticada, o que pe o STJ na linha de frente da jurisprudncia ambiental mais progressista, tcnica e numerosa do mundo. No apenas mera constatao numrica, contudo, tal resultado refl ete a grande sensibilidade social e o amplo saber jurdico dos Ministros de hoje e de ontem. Por conta dessa elaborao jurisprudencial massiva e de qualidade, podem ser eles considerados os mais infl uentes obreiros do Direito Ambiental brasileiro.

  • Por isso mesmo, alm da fi nalidade informativa e de divulgao, a coletnea, nem poderia ser diferente, denota merecida homenagem que a Revista presta aos Ministros de ontem e de hoje da Primeira Seo do STJ, reconhecimento do seu compromisso coletivo com o admirvel projeto poltico-jurdico, mas igualmente tico-ecolgico, de Nao, estampado na Constituio de 1988.

    No se deve esquecer, no entanto, que os julgados do STJ espelham a prpria maturidade, preparo e excelncia dos juzes de primeiro grau, assim como dos Desembargadores dos Tribunais de Justia e dos Tribunais Regionais Federais. Muito do mrito dos acrdos que ora se publicam deve-se a esses artfi ces devotados do Direito Ambiental, os quais, com sucesso, souberam tirar a disciplina dos livros de leis e doutrina, ou mesmo do mundo das hipteses (law in the books), e dar-lhe visibilidade e efetividade, no mundo dos fatos (law in action).

    Muito alm disso, ou seja, julgar bem, observa-se, nas Justias federal e estadual, processo de especializao judicial, com criao de Varas Ambientais e at mesmo com o estabelecimento, no Tribunal de Justia de So Paulo, de duas Cmaras com competncia exclusiva para essa modalidade de litgio, fato esse notvel em si mesmo. especializao do Ministrio Pblico brasileiro, a quem se imputa muito dos avanos e sucesso do nosso Direito Ambiental, segue-se, pois, a especializao da prpria jurisdio, o que certamente ter impactos em outras instituies, como a Advocacia-Geral da Unio, as Procuradorias federais, estaduais e municipais e a Defensoria Pblica, na linha do que prega o IBAP Instituto Brasileiro de Advocacia Pblica.

    O cuidado aqui louvar o progresso inequvoco, como refl etido na jurisprudncia que agora se leva a lume, sem olvidar que muito ainda h por fazer. Evidente que no basta contar com juzes independentes e atentos dimenso pica da crise ambiental que assola o mundo e, de maneira particular, o Brasil. No iremos muito longe no enfrentamento da acelerada degradao da biota, convulso no sistema climtico da Terra, contaminao das pessoas e eroso da biodiversidade sem rgos ambientais fortes, ntegros e competentes, sem sociedade civil organizada apta a se manifestar, protestar e exigir, sem empresrios conscientes de suas responsabilidades para com as geraes futuras e o Planeta.

    Em sntese, ao reconhecer que a presente coletnea realmente eloquente exemplo de que nossos juzes esto atentos crise planetria, inserida de maneira central em todos os debates jurdicos da atualidade, devemos, por igual, referir existncia de incontveis boas prticas ambientais por este Pas afora. A esperana maior reside a, na transformao tica e cultural, por meio da educao, de um povo que avana na direo de uma genuna ecocivilizao.

    Finalmente, agradeo, em nome da Revista, aos Professores Jos Rubens Morato Leite e Slvia Cappelli, aclamados juristas da matria e co-organizadores da obra, assim como aos 97 especialistas-colaboradores que emprestaram seu vasto conhecimento ao comentrio dos acrdos selecionados. Destaco, ainda, o trabalho incansvel e esmerado zelo da pequenssima equipe do Gabinete da Revista, to bem chefi ado pela Dr Andrea Costa.

    Ministro Diretor da Revista Antonio Herman Benjamin

  • 1. Desapropriao e Princpio da Funo Ecolgica da Propriedade

  • 1.1. Desapropriao Ambiental Direta

    AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 956.042-MG (2007/0116759-1)

    Relator: Ministro Cesar Asfor RochaAgravante: Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRAProcurador: Valdez Adriani Farias e outro(s)Agravante: Ruff o de FreitasAdvogado: Carlos Barta Simon Fonseca e outro(s)Agravado: Os mesmos

    EMENTA

    Agravos regimentais. Recurso especial. Desapropriao. Reforma agrria. Juros moratrios. Base de clculo. Art. 15-B do Decreto n. 3.365/1941. Verbete n. 284 da Smula do STF. Clculo, em separado, da cobertura vegetal. Impossibilidade. Precedentes.

    Inadmissvel o recurso especial que, em razo da sua defi ciente fundamentao, no permite aferir o interesse recursal e a exata compreenso da questo controvertida.

    O clculo da cobertura fl orstica, em separado, somente possvel quando h prvia e lcita explorao da vegetao. Precedentes do STJ.

    Agravos regimentais de ambas as partes improvidos.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento aos agravos regimentais, nos termos do voto do Sr. Ministro

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    24

    Relator, sem destaque. Os Srs. Ministros Castro Meira, Humberto Martins (Presidente), Herman Benjamin e Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Braslia (DF), 14 de junho de 2011 (data do julgamento).Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: O Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - Incra e Ruff o de Freitas interpem agravo contra a deciso que deu parcial provimento ao recurso especial apresentado pela autarquia federal, assim lanada:

    Trata-se de recurso especial interposto pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA contra acrdo do Tribunal Regional Federal da 1 Regio, assim ementado, in verbis:

    Administrativo. Desapropriao. Reforma agrria. rea do imvel. Divergncia. Registro e rea real. Laudo. Fundamentao suficiente. Cobertura fl orstica. Indenizabilidade parcial. Juros compensatrios. Base de clculo. Juros moratrios. Correo monetria. Benfeitorias e terra nua. Previso especfica. Decreto n. 578/1992. Realizao de EIA/RIMA. Apelaes e remessa ofi cial parcialmente providas.

    1. Havendo divergncia entre a rea constante da matrcula do imvel e a rea real, medida pelo perito com ajuda de tecnologia avanada, prevalece a ltima.

    2. Existindo laudo do perito ofi cial bem fundamentado, com indicao precisa das coordenadas tcnicas do imvel, da localizao, da proximidade com os centros, ou seja, suportado em dados objetivos, a jurisprudncia tem entendido que ele deve ser mantido, j que o profi ssional nomeado pelo juzo e de sua confi ana, no-ligado s partes, tem mais condies de averiguar a real situao de fato do imvel desapropriado.

    3. Tendo sido avaliada separadamente o valor da cobertura fl orstica, tem a parte o direito de receber um percentual que varia entre 10 e 20% desse valor, conforme j se decidiu em inmeros outros julgados desta Turma, haja vista ser defeso desconsiderar o fato de existir rvores de corte aptas explorao econmica.

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    RSTJ, a. 27, (237): 21-222, janeiro/maro 2015 25

    4. indenizvel, a ttulo de benfeitoria, a cerca existente, feita de madeira extrada da prpria fazenda.

    5. Os honorrios advocatcios devem ser arbitrados entre 0,5 e 5% do valor da diferena entre a indenizao e a oferta. A fi xao depende do tipo de trabalho realizado e do local da prestao de servios, dentre outros requisitos, constantes do 4 do art. 20 do Cdigo de Processo Civil.

    6. Os juros compensatrios incidem sobre a diferena entre a indenizao arbitrada pelo juiz e 80% da oferta.

    7. Os juros moratrios somente so cumulveis com os juros compensatrios se o valor a ser pago em dinheiro no for pago por meio do precatrio. Isso porque o novo art. 15-B do Decreto-Lei n. 3.365/1941 prev a incidncia dos juros moratrios apenas a partir de 1 de janeiro do exerccio seguinte em que o pagamento deveria ser feito.

    8. A correo monetria sobre o valor das benfeitorias aplicada pelos ndices do Conselho da Justia Federal.

    9. A correo monetria incidente sobre o valor da terra nua tem regulamentao prpria, regulada pelo Decreto n. 578/1992. Os TDA so corrigidos pela TR mais juros de 6% ao ano, no se aplicando sobre eles ndices ofi ciais de medio.

    10. No cabe ao juiz determinar, de ofcio, a realizao de Estudo de Impacto Ambiental e Relatrio de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).

    11. Apelaes e remessa ofi cial parcialmente providas. (fl . 549).

    Opostos embargos de declarao, foram estes rejeitados pelo tribunal a quo (fl s. 548-554).

    Aponta o recorrente violao dos arts. 165, 458, II, e 535 do CPC, pois, a despeito da oposio de embargos de declarao, a Corte de origem no teria apreciado todos os pontos aduzidos na sua apelao. Alega, ainda, ofensa ao disposto no art. 12, caput, e 2 da Lei n. 8.629/1993, uma vez que o Tribunal acrescentou percentual relativo cobertura vegetal sem observar que esta parcela j havia sido considerada pelo Perito Judicial (fl . 566). Sustenta no ser possvel a avaliao em separado da cobertura vegetal e que a indenizao da cobertura vegetal no possui amparo legal, pois no houve comprovao da sua efetiva explorao nem autorizao do rgo competente. Com relao aos juros moratrios, entende que a base de clculo destes deve corresponder diferena apurada entre a oferta corrigida e a condenao.

    Foram apresentadas contrarrazes s fl s. 575-593.

    A irresignao merece prosperar em parte.

    Primeiramente, a alegada ofensa aos arts. 165, 458, II, e 535 da Lei Processual Civil no subsiste. Os embargos declaratrios foram rejeitados pela inexistncia

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    de omisso, contradio ou obscuridade, tendo o Tribunal de origem dirimido a controvrsia, embora de forma desfavorvel ao ora recorrente, o que no importa em ofensa s referidas regras processuais. Ademais, esta Corte j assentou o entendimento de que o rgo julgador no est obrigado a analisar todos os dispositivos legais apresentados no recurso, bastando que solucione a lide e apresente os fundamentos da sua convico.

    Com relao ao clculo indenizatrio da cobertura fl orstica, a jurisprudncia da Primeira Seo pacfi ca no sentido de que o clculo desta em separado somente possvel quando h prvia e lcita explorao da vegetao. Nesse sentido, confi ra-se o seguinte precedente:

    Embargos de divergncia em recurso especial. Desapropriao. Estao Ecolgica Juria-Itatins.

    1. A indenizao pela cobertura vegetal, de forma destacada da terra nua, est condicionada efetiva comprovao da explorao econmica lcita dos recursos vegetais, situao no demonstrada nos autos.

    [...]

    4. Embargos de divergncia parcialmente acolhidos.

    (EREsp n. 251.315-SP, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Seo, DJe 18.6.2010)

    Ademais, aps a edio da MP n. 1.577/1997 vedado, em qualquer hiptese, o clculo em separado da cobertura fl orstica, nos termos do art. 12 da Lei n. 8.629/1993, consoante o seguinte precedente da Corte:

    Processual Civil. Administrativo. Recurso especial. Desapropriao para fi ns de reforma agrria. Inexistncia de violao do art. 535 do CPC. Juros moratrios. Termo inicial. Ausncia de prequestionamento. Cobertura vegetal. Clculo em separado. Impossibilidade. Ausncia de explorao econmica. Juros compensatrios. Imvel improdutivo. Incidncia. Pronunciamento pela sistemtica do art. 543-C do CPC (REsp n. 1.116.364-PI).

    (...)

    3. Quanto possibilidade de indenizao da cobertura florstica em separado, imprescindvel o exame da demanda luz da legislao vigente ao tempo de sua propositura. Se a ao foi ajuizada em 1998 e o laudo pericial foi concludo em 1999, ou seja, ambos os atos posteriores vigncia da MP n. 1.577/1997, que modifi cou a redao do art. 12 da Lei n. 8.629/1993, invivel o clculo em separado da cobertura fl orstica.

    (...)

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    RSTJ, a. 27, (237): 21-222, janeiro/maro 2015 27

    6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente provido, apenas para excluir a indenizao relativa cobertura fl orestal.

    (REsp n. 963.660-MA, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 25.8.2010).

    O TRF fi xou indenizao pela cobertura fl orstica calculada em 10% do sobre o valor da cobertura vegetal encontrada pelo perito (fl . 547).

    Considerando que a ao foi ajuizada em 2000 e que o laudo pericial foi concludo em 2001, ou seja, ambos os atos posteriores vigncia da MP n. 1.577/1997, entendo ser invivel o clculo em separado da cobertura fl orstica, diversamente da concluso a que chegou a Corte de origem.

    No que tange base de clculo dos juros moratrios, o recurso especial no pode ser conhecido. Em relao a esse ponto, a Autarquia no indicou, de forma precisa e clara, os dispositivos legais supostamente violados, para sustentar sua irresignao pela alnea a do permissivo constitucional. Tampouco trouxe qualquer divergncia jurisprudencial. Diante disso, o conhecimento do recurso especial encontra bice no Verbete n. 284 da Smula do Supremo Tribunal Federal. A propsito:

    Agravos regimentais. Desapropriao para fins de reforma agrria. Violao do art. 535 do CPC. Inexistncia. Indenizao da terra nua. Utilizao de laudo pericial. Discusso que envolve matria ftica-probatria (Smula n. 7-STJ). Juros compensatrios. Percentual. Princpio tempus regit actum. Base de clculo dos juros moratrios. Fundamento da deciso agravada no impugnado (Smula n. 182-STJ). Atualizao do valor da oferta. Fundamentao defi ciente do recurso especial (Smula n. 284-STF).

    (...)

    5. Base de clculo dos juros moratrios. O agravante no impugnou os fundamentos da deciso agravada. Incidncia do Enunciado n. 182 da Smula deste Tribunal, aplicado, mutatis mutandis, ao caso sob anlise ( invivel o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da deciso agravada.)

    (...) (AgRg no REsp n. 892.747-PA, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 2.6.2009).

    Ante o exposto, com fundamento no art. 557, caput e 1-A, do Cdigo de Processo Civil, conheo em parte do recurso especial e dou-lhe parcial provimento, para afastar a indenizao em separado da cobertura fl orstica (10%), que perfaz a quantia de R$ 46.889,77.

    Publique-se (fl s. 610-614).

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    O Incra, preliminarmente, afi rma que se resigna em relao ao fundamento de inexistncia de ofensa aos arts. 165, 458, II, e 535 do CPC.

    No mrito, afi rma no concordar com a aplicao do Enunciado n. 284 da Smula do STF, pois, quanto questo da base de clculo dos juros moratrios, assevera que indicou como violados o art. 15-B do Decreto n. 3.365/1941 e o art. 12 da Lei n. 8.629/1993, conforme se v s fl s. 569-570. Ademais, foram esposados diversos argumentos no sentido de que o acrdo do TRF no fi xou a base de clculo dos juros moratrios, que dever ser apurada entre a oferta corrigida e a condenao (fl . 570).

    Por sua vez, o expropriado Ruff o de Freitas aduz ser devida a indenizao, em separado, da cobertura fl orstica. Diz que a deciso agravada feriu o disposto nos arts. 5, XXIV, e 184 da CF (fl s. 617-622).

    o relatrio.

    VOTO

    O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): Analiso, separadamente, os recursos interpostos.

    O Incra sustenta ser possvel o conhecimento do recurso na parte referente aos juros moratrios.

    No obstante ter a autarquia indicado nas razes recursais ofensa aos arts. 15-B do Decreto n. 3.365/1941 e 12 da Lei n. 8.629/1993, no demonstrou de que forma tais dispositivos foram violados pela Corte de origem, tampouco tornou claro o gravame causado pelo provimento, o que impede a exata compreenso da questo controvertida e devolvida ao STJ.

    Observe-se que o Tribunal a quo afi rmou que os juros de mora seriam devidos somente se no fosse efetuado o pagamento do precatrio, ressaltando que seria hiptese difcil de ocorrer, em se tratando de rgos federais. Acrescentou, no julgamento dos embargos declaratrios opostos, que, quanto base de clculo dos referidos juros, no haveria dvida ou omisso [...], pois incidiro sobre o valor a ser pago em dinheiro, essa a base de clculo portanto (fl . 551, grifei).

    Assim, da letra do aresto no se infere ofensa s normas invocadas nem o gravame eventualmente sofrido pela autarquia recorrente, e esta, reitero, no se desincumbiu de tal nus.

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    RSTJ, a. 27, (237): 21-222, janeiro/maro 2015 29

    Assim, tenho por inafastvel a incidncia do Verbete n. 284 da Smula do STF e improspervel a irresignao do Incra.

    Ruff o de Freitas insurge-se contra o afastamento da indenizao, em separado, da cobertura fl orstica.

    No lhe assiste razo.Conforme assentado na deciso agravada, a jurisprudncia da Primeira

    Seo pacfi ca no sentido de que o clculo da cobertura fl orstica, em separado, somente possvel quando h prvia e lcita explorao da vegetao. Nesse sentido, transcrevo o seguinte precedente que se amolda perfeitamente ao presente caso, cujo acrdo recorrido emana do mesmo Tribunal a quo:

    Processual. Art. 105, III, a, da CF/1988. Administrativo. Desapropriao por interesse social para fi ns de reforma agrria. Indenizao de rea no registrada. Impossibilidade. Art. 34, do Decreto-Lei n. 3.365/1941, e art. 6, 1, da LC n. 76/1993. Indenizao da cobertura vegetal em separado terra nua. Ausncia de comprovao de explorao econmica. Impossibilidade. Precedentes. Valor da terra nua. Laudo ofi cial. Reviso. Smula n. 7-STJ. Juros compensatrios. Imvel improdutivo. Incidncia. Princpio do tempus regit actum. Matria apreciada pela 1 Seo, sob o rito do art. 543-C, do CPC (REsp n. 1.116.364-PI, DJe 10.9.2010). Violao a dispositivo constitucional. Competncia do excelso Supremo Tribunal Federal. Violao do art. 535, II, do CPC. Inocorrncia.

    [...]

    3. A indenizao da cobertura vegetal deve ser calculada em separado ao valor da terra nua, quando comprovada a explorao econmica dos recursos vegetais. Precedentes: REsp n. 1.035.951-MT, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 20.4.2010, DJe 7.5.2010; REsp n. 804.553-MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 3.12.2009, DJe 16.12.2009; REsp n. 1.073.793-BA, Rel. Ministro Francisco Falco, Primeira Turma, julgado em 23.6.2009, DJe 19.8.2009; REsp n. 978.558-MG, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 4.12.2008, DJe 15.12.2008.

    4. In casu, o Tribunal Regional Federal da 1 Regio afastou a indenizao da cobertura vegetal em separado terra nua, sob o fundamento de que no seria a hiptese de pagamento em separado. No obstante, acrescentou ao valor da terra nua o percentual de 10% (dez por cento), o que, por via obliqua, acabou por indenizar novamente a cobertura vegetal e, a fortiori, contrariar o prprio entendimento, bem aquele fi rmado por esta e. Corte, conforme se colhem das razes do v. acrdo proferido pelo Tribunal a quo, verbis:

    Porm, embora havendo impossibilidade legal de indenizao integral da cobertura fl orstica em separado, faz-se necessrio, como medida de

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    justia, um acrscimo ao valor da terra nua, como forma de reparar o proprietrio pela cobertura vegetal existente no imvel desapropriado.

    A jurisprudncia desta Terceira Turma, em casos como o presente, tem admitido o acrscimo de um percentual de 10% a 20% ao valor da terra nua, a fi m de compensar a existncia da vegetao natural no considerada em separado na avaliao pericial, conforme julgado a seguir transcrito, verbis:

    (...)

    Sendo assim, existindo potencial madeireiro e considerando as peculiaridades do caso concreto, reputo necessrio o acrscimo de 10% sobre o valor da terra nua. (fl s. 903-904)

    [...]

    15. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente provido (REsp n. 1.075.293-MT, Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 18.11.2010).

    No mesmo sentido, cito precedente desta Turma:

    Processual Civil e Administrativo. Teses recursais sobre a afronta aos arts. 2, 128, 460, 512 e 515, do CPC. Ausncia de prequestionamento. Smula n. 211-STJ. Desapropriao para fi ns de reforma agrria. Acrscimo de 10% sobre o valor da terra nua, a ttulo de reparao pela cobertura vegetal devido ao potencial madeireiro. Impossibilidade. Valor da oferta. Correo monetria. Sucumbncia. Juros compensatrios (REsp n. 1.111.829-SP - Regime do artigo 543-C do CPC). Juros moratrios (REsp n. 1.118.103-SP).

    [...]

    2. O clculo indenizatrio da cobertura florstica em separado somente possvel quando h prvia e lcita explorao da vegetao. Ademais, aplicvel ao caso (desapropriao ajuizada em dezembro de 1998) a redao do art. 12 da Lei n. 8.629/1993, aps a modifi cao trazida pela MP n. 1.577/1997, veda o clculo em separado da cobertura fl orstica em qualquer hiptese.

    7. Recurso especial provido em parte (REsp n. 1.111.210-BA, Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe de 5.11.2010).

    Acrescento, por fi m, que no compete a esta Corte Superior, ex vi do art. 105, inciso III, da CF, em sede de recurso especial, prequestionar matria constitucional.

    Ante todo o exposto, nego provimento a ambos os agravos regimentais.

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    COMENTRIO DOUTRINRIO

    Gabriel Wedy1

    1. BREVES APONTAMENTOS ACERCA DOS FATOS E DAS QUESTES JURDICAS ABORDADAS NO ACRDO

    Trata-se de acrdo assim ementado:

    AGRAVOS REGIMENTAIS. RECURSO ESPECIAL. DESAPROPRIAO. REFORMA AGRRIA. JUROS MORATRIOS. BASE DE CLCULO. ART. 15-B DO DECRETO N. 3.365/1941. VERBETE N. 284 DA SMULA DO STF. CLCULO, EM SEPARADO, DA COBERTURA VEGETAL. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

    Inadmissvel o recurso especial que, em razo da sua defi ciente fundamentao, no permite aferir o interesse recursal e a exata compreenso da questo controvertida. O clculo da cobertura florstica, em separado, somente possvel quando h prvia e lcita explorao da vegetao. Precedentes do STJ.Agravos regimentais de ambas as partes improvidos.

    A Segunda Turma do Egrgio Superior Tribunal de Justia, seguindo o voto condutor do Ministro Cesar Asfor Rocha, relator do processo, negou provimento aos agravos regimentais interpostos.

    O Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria Incra e Ruff o de Freitas interpuseram agravos regimentais contra a deciso que deu parcial provimento ao recurso especial apresentado pela autarquia federal. No agravo agravo regimental interposto pela autarquia, foi invocada ofensa aos arts. 15-B do Decreto n. 3.365/1941 e 12 da Lei n. 8.629/1993. Ruff o de Freitas, em sede de agravo regimental, por sua vez, insurgiu-se contra o afastamento da indenizao, em separado, da cobertura fl orstica do imvel expropriado.

    Importa grifar, portanto, que o caso debatido versa sobre expropriao, em especfi co, indenizao sobre cobertura vegetal em separado e pagamento de juros compensatrios. Nos termos da Constituio Cidad, existem dois modelos principais de expropriao, por necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social:

    1 Juiz Federal. Doutorando e Mestre em Direito. Visiting Scholar pela Columbia Law School [Sabin Center for Climate Change Law]. Professor de Direito Ambiental na Escola Superior da Magistratura Federal- Esmafe/RS.

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    Art. 5: (...)

    XXIV - a lei estabelecer o procedimento para desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, mediante justa e prvia indenizao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituio;

    Alm destes modelos ordinrios de desapropriao esto previstas pela Constituio a desapropriao urbanstica, desapropriao rural e desapropriao confiscatria. A desapropriao urbanstica, de acordo com o artigo 182, pargrafo 4, II da CF, refere-se ao solo urbano no edifi cado, subutilizado ou no utilizado, e d-se mediante pagamento de ttulos da dvida pblica. A desapropriao rural realizada para fi ns de reforma agrria, do imvel rural que no esteja cumprindo sua funo social, mediante prvia e justa indenizao em ttulos da dvida agrria, conforme dispe o artigo 184 da CF. A desapropriao confi scatria, por sua vez, est prevista no artigo 243 da CF e refere-se a expropriao de glebas utilizadas para plantio ilegal de plantas psicotrpicas.

    Como bem definido por BANDEIRA DE MELLO, o instituto da desapropriao:

    procedimento atravs do qual o Poder Pblico, fundado em necessidade pblica, utilidade pblica ou interesse social, compulsoriamente despoja algum de certo bem, normalmente adquirindo-o para si, em carter originrio, mediante indenizao prvia, justa e pagvel em dinheiro, salvo no caso de certos imveis urbanos ou rurais, em que, por estarem em desacordo com a funo social legalmente caracterizadas para eles, a indenizao far-se- em ttulos da dvida pblica, resgatveis em parcelas anuais e sucessivas, preservados seu valor real.2

    O caso em tela trata-se de desapropriao por interesse social. Essa modalidade de desapropriao disciplinada pela Lei n 4.132/1962 - que defi ne os casos de desapropriao por interesse social e dispe sobre sua aplicao; pela Lei 8.629/93 - que dispe sobre a regulamentao dos dispositivos constitucionais relativos reforma agrria, previstos no Captulo III, Ttulo VII, da Constituio Federal e pela Lei Complementar n 76/93 que dispe sobre o procedimento contraditrio especial, de rito sumrio, para o processo de desapropriao de imvel rural, por interesse social, para fi ns de reforma agrria).

    2 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 26 ed. So Paulo : Malheiros, 2009, pp. 858-859.

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    2. ANLISE TERICA E DOGMTICA DOS FUNDAMENTOS DO ACRDO

    Feitas estas breves consideraes, o agravo regimental interposto por Ruff o de Freitas poderia, em tese, no ser conhecido pela Corte, uma vez que a discusso sobre a indenizao de cobertura fl orstica no tem o seu mrito apreciado pelo egrgio Supremo Tribunal Federal, em casos semelhantes, por considerar a Corte esta matria como tpico caso de reexame de fatos e provas dos autos, o que contraria as smulas ns 279 e 280. Neste sentido, os seguintes precedentes:

    A verifi cao a respeito do valor da cobertura vegetal se includa ou no no valor avaliado pela terra nua implicaria anlise, no caso, de matria ftico-probatria, invivel nesta sede recursal, conforme Smula STF 279 e precedentes. 3. Agravo regimental improvido(RE-AgR 395.793, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 17.4.2009) Por fi m, destaco que a discusso acerca dos juros compensatrios no percentual de 6% ao ano est prejudicada, tendo em vista o parcial provimento do RESP, interposto pelo INCRA quanto a esse ponto. No h, pois, o que prover quanto s alegaes da agravante. Ante o exposto, nego seguimento ao recurso (arts. 21, 1, do RISTF e 557, caput, do CPC)(STF - RE: 793147 MG , Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 27/03/2014, Data de Publicao: DJe-064 DIVULG 31/03/2014 PUBLIC 01/04/2014)

    EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinrio. Administrativo. Desapropriao. Reforma agrria. Percia. Valor da indenizao. Cobertura vegetal. Potencial de explorao. Forma de calcular a indenizao. Ofensa refl exa. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Precedentes. 1. Mostra-se inadmissvel, em recurso extraordinrio, o reexame dos fatos e das provas dos autos. Incidncia da Smula n 279 desta Corte. 2. Agravo regimental no provido.(STF - RE: 593871 GO , Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 13/11/2012, Primeira Turma, Data de Publicao: ACRDO ELETRNICO DJe-026 DIVULG 06-02-2013 PUBLIC 07-02-2013)

    Neste aspecto processual, contudo, o egrgio Superior Tribunal de Justia possui entendimento diverso do Supremo Tribunal Federal. Este posicionamento justifi cvel, pois a matria apreciada pelo egrgio Superior Tribunal de Justia de cunho infraconstitucional e este no est atrelado ao entendimento do egrgio Supremo Tribunal Federal.

    Em relao discusso sobre o valor de indenizao pela cobertura fl orstica pretendido pelo agravante Ruff o de Freitas, a Primeira Seo do

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    STJ possui o entendimento pacfi co de que esta devida apenas quando existe prvia e lcita explorao da vegetao. (EREsp 251.315/SP, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Seo, DJe 18/06/2010) No resta dvida que aps a edio da MP n. 1.577/1997 vedado, em qualquer hiptese, o clculo em separado do valor indenizatrio da cobertura fl orstica, nos termos do art. 12 da Lei 8.629/1993 e do consolidado entendimento do Egrgio Superior Tribunal de Justia (REsp 963.660/MA, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 25.8.2010; REsp 1.035.951/MT, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 20/04/2010, DJe 07/05/2010; REsp 804.553/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 03/12/2009, DJe 16/12/2009; REsp 1.073.793/BA, Rel. Ministro Francisco Falco, Primeira Turma, julgado em 23/06/2009, DJe 19/08/2009; REsp 978.558/MG, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 04/12/2008, DJe 15/12/2008).

    O egrgio TRF da Primeira Regio, em sentido oposto, fi xou indenizao pela cobertura florstica calculada em 10% do valor da cobertura vegetal encontrada pelo perito. Este entendimento, contudo, destoa do texto da MP 1557/1997. No presente caso a ao ajuizada e o laudo pericial foram supervenientes vigncia da MP 1.577/1997 o que afasta o pagamento da referida indenizao pela cobertura fl orstica.

    No que concerne violao aos artigos arts. 5o, XXIV, e 184 da CF melhor sorte no estava reservada ao agravante. Em verdade, a propriedade expropriada foi indenizada, no foram apenas as coberturas vegetais.

    O direito de propriedade um direito fundamental de primeira gerao, todavia no absoluto, sob este pesa uma hipoteca social e mais do que isto, ambiental.O interesse social, o interesse pblico e a proteo do meio ambiente so limitadores do uso, gozo e fruio do direito de propriedade. Como refere BENJAMIN:

    sob forte influ ncia da concep o individualista ultrapassada, defendeu-se que a fun o social da propriedade operava somente atrav s de imposi es negativas (n o fazer). Posteriormente, percebeu-se que o instituto atua principalmente pela via de presta es positivas a cargo do propriet rio. A fun o social mais que aceita, requer a promulga o de regras impositivas, que

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    estabele am para o propriet rio obriga es de agir, na forma de comportamentos ativos na dire o do proveito social3

    So antigas, mas ainda atuais, as lies de PONTES DE MIRANDA sobre a propriedade e a sua vinculao ao bem- estar social, como se observa nos seus comentrios Constituio de 1946:

    O uso da propriedade garantido dentro da lei. Fixado o contedo do direito de propriedade, sabe-se at onde vai a sua usabilidade. O que o art. 147, 1 parte, estabelece que o uso da propriedade h de ser compossvel com o bem-estar social; se contra o bem-estar, tem de ser desaprovado. O art. 147, 1 parte, no , portanto, somente pragmtico. Quem quer que sofra prejuzo por exercer algum o uso, ferindo ou ameaando o bem-estar social, pode invocar o art. 147, 1 parte, inclusive para as aes cominatrias.4

    No existe dvida, no entanto, que a propriedade quando expropriada pelo Estado, total ou parcialmente, deve ser indenizada. Nos Estados Unidos existe a fi gura do takings clause extrada da 5a Emenda e que, tambm, aplicada contra os Estados e Municpios, via clusula do devido processo, contida na 14a Emenda Constituio de 1787. A moderna takings doutrine tem origem no caso Pennsylvania Coal Co. v. Mahon, 260 U.S. 393 (1922)5, e est fundada na mxima de que o governo federal no pode tomar a propriedade privada para o uso pblico sem justa compensao.6 A tomada fsica da propriedade ou invaso para o direito americano gera o direito a indenizao ao proprietrio, como se observa em Loretto v. Teleprompter Manhattan CATV Corp., 458 U.S. 419 (1982)7. Contudo, o Justice HOLMES, de modo preciso, defendia que a takings clause incidiria apenas nos casos em que a regulao (interveno)

    3 BENJAMIN, Ant nio Hermann. Refl ex es sobre a hipertrofi a do direito de propriedade na tutela da reserva legal e das reas de preserva o permanente. In: Anais do 2 Congresso Internacional de Direito Ambiental. S o Paulo: Imprensa Ofi cial, 1997, p. 14.4 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentrios Constituio Federal de 1.946, vol. IV, p. 500 e 501. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947.5 FARBER, Daniel; FREEMAN, Jody; CARLSON, Ann. Cases and Materials in Environmental Law. Eight Edition. .St. Paul: Th ompson Reuters, 2010. p. 3446 Como refere Linda Malone: Th e Fifth Amendanent provides that the federal government shall not take private property for public use without just compensation. MALONE, Linda. Environmental Law. Fourt Edition. New York: Wolters Kluwer, 2014. p. 357 Disponvel em: www.supremecourt.gov. Acesso em: 15.abr. 2015.

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    e limitao (da propriedade) fosse muito alm.8 No mesmo sentido, deve o Estado possuir legtimo interesse ao impor regulaes ambientais a propriedade dentro do exerccio do seu poder de polcia, como sacramentado em Agins v. City of Tiburon, 447 U.S. 255 (1980)9.

    No caso em tela a propriedade foi indenizada pela Unio dentro de procedimento de desapropriao regular, observado o devido processo legal. No foi reconhecido, nos termos da legislao atual, o direito ao pagamento da indenizao em separado da cobertura vegetal pretendida pelo agravante. A propriedade in casu foi desapropriada por interesse social, no restando demonstrada explorao prvia e lcita da vegetao na rea expropriada, logo no existia embasamento legal para o pagamento de qualquer indenizao em separado em virtude desta.

    Em relao ao agravo regimental do Incra, este no poderia, de fato, ser provido. A autarquia no indicou, os dispositivos legais supostamente violados, para sustentar sua irresignao pela alnea a do permissivo constitucional, nem alegou divergncia jurisprudencial. O verbete n. 284 da Smula do Supremo Tribunal Federal foi aplicado corretamente ao caso em debate, seguindo os precedentes da Corte. (AgRg no REsp 892.747/PA, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 02/06/2009)

    3. CONSIDERAES FINAIS

    O direito de propriedade um direito fundamental de primeira dimenso e o Estado no pode se apropriar da propriedade privada, sem compensao, nos termos da Constituio e legislao de regncia. Outrossim, o direito de propriedade no absoluto. Esta deve cumprir com a sua funo scio-ambiental. A propriedade privada pode ser desapropriada para fi ns de reforma agrria, por interesse social, contudo esta desapropriao no confere ao expropriado o direito de indenizao da cobertura vegetal a ser apurada em separado se no restar demonstrada a prvia e lcita explorao da vegetao inerente rea expropriada. A Segunda Turma apreciou o caso corretamente de acordo com o texto constitucional e a legislao infraconstitucional que rege a matria posta em debate.

    8 Como referido por Linda Malone: In the Pa. Cola decision, Justice Holmes said only that when a regulation goes too far it is taking. Apud MALONE, Linda. Environmental Law. Fourt Edition. New York: Wolters Kluwer, 2014.p. 35.9 Disponvel em: www.supremecourt.gov. Acesso em: 15. Abr. 2015.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 26 ed. So Paulo : Malheiros, 2009.BENJAMIN, Ant nio Hermann. Reflex es sobre a hipertrof ia do direito de propriedade na tutela da reserva legal e das reas de preserva o permanente. In: Anais do 2 Congresso Internacional de Direito Ambiental. S o Paulo: Imprensa Ofi cial, 1997.BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE: 793147 MG , Segunda Turma. Relator: Min. GILMAR MENDES, DJe-01/04/2014.______Supremo Tribunal Federal - RE: 593871 GO , Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 13/11/2012, Primeira Turma, 07-02-2013.BRASIL. Superior Tribunal de Justia. REsp 963.660/MA, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 25.8.2010.______REsp 1.035.951/MT, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 20/04/2010, DJe 07/05/2010.______REsp 804.553/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 03/12/2009, DJe 16/12/2009.______REsp 1.073.793/BA, Rel. Ministro Francisco Falco, Primeira Turma, julgado em 23/06/2009, DJe 19/08/2009.FARBER, Daniel; FREEMAN, Jody; CARLSON, Ann. Cases and Materials in Environmental Law. Eight Edition. St. Paul: Th ompson Reuters, 2010.MALONE, Linda. Environmental Law. Fourt Edition. New York: Wolters Kluwer, 2014.PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentrios Constituio Federal de 1.946, vol. IV, p. 500 e 501. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947.UNITED STATES OF AMERICA. Supreme Court. Loretto v. Teleprompter Manhattan CATV Corp., 458 U.S. 419 (1982). Disponvel em: www.supremecourt.gov. Acesso em: 15. Abr. 2015.______.Agins v. City of Tiburon, 447 U.S. 255 (1980)Disponvel em: www.supremecourt.gov. Acesso em: 15. Abr. 2015.

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    RECURSO ESPECIAL N. 518.744-RN (2003/0048439-9)

    Relator: Ministro Luiz FuxRecorrente: Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRAProcurador: Carlos Octaviano de M Mangueira e outrosRecorrido: Jos Patrcio de Figueiredo JuniorAdvogado: Jacqueline Germano Medeiros e outros

    EMENTA

    Administrativo. Desapropriao. Indenizao. Obra realizada por terceira pessoa em rea desapropriada. Benfeitoria. No caracterizao. Propriedade. Solo e subsolo. Distino. guas subterrneas. Titularidade. Evoluo legislativa. Bem pblico de uso comum de titularidade dos Estados-Membros. Cdigo de guas. Lei n. 9.433/1997. Constituio Federal, arts. 176, 176 e 26, I.

    1. Benfeitorias so as obras ou despesas realizadas no bem, para o fi m de conserv-lo, melhor-lo ou embelez-lo, engendradas, necessariamente, pelo proprietrio ou legtimo possuidor, no se caracterizando como tal a interferncia alheia.

    2. A propriedade do solo no se confunde com a do subsolo (art. 526, do Cdigo Civil de 1916), motivo pelo qual o fato de serem encontradas jazidas ou recursos hdricos em propriedade particular no torna o proprietrio titular do domnio de referidos recursos (arts. 176, da Constituio Federal).

    3. Somente os bens pblicos dominiais so passveis de alienao e, portanto, de desapropriao.

    4. A gua bem pblico de uso comum (art. 1 da Lei n. 9.433/1997), motivo pelo qual insuscetvel de apropriao pelo particular.

    5. O particular tem, apenas, o direito explorao das guas subterrneas mediante autorizao do Poder Pblico cobrada a devida contraprestao (arts. 12, II e 20, da Lei n. 9.433/1997).

    6. Ausente a autorizao para explorao a que o alude o art. 12, da Lei n. 9.443/1997, atentando-se para o princpio da justa indenizao,

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    RSTJ, a. 27, (237): 21-222, janeiro/maro 2015 39

    revela-se ausente o direito indenizao pelo desapossamento de aqfero.

    7. A ratio deste entendimento deve-se ao fato de a indenizao por desapropriao estar condicionada inutilidade ou aos prejuzos causados ao bem expropriado, por isso que, em no tendo o proprietrio o direito de explorao de lavra ou dos recursos hdricos, afasta-se o direito indenizao respectiva.

    8. Recurso especial provido para afastar da condenao imposta ao INCRA o quantum indenizatrio fi xado a ttulo de benfeitoria.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda, Jos Delgado e Francisco Falco votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Braslia (DF), 3 de fevereiro de 2004 (data do julgamento).Ministro Luiz Fux, Relator

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Luiz Fux: O Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA interps recurso especial, com fulcro na alnea a, do inciso III, do art. 105, da Constituio Federal, contra acrdo proferido em sede de apelao pelo Tribunal Regional Federal da 5 Regio, assim ementado:

    Constitucional e Administrativo. Desapropriao. Reforma agrria. Manuteno da indenizao fi xada de acordo com o laudo do assistente tcnico do expropriante. Indenizao de benfeitoria. Cabimento.

    - Afastada a utilizao do laudo elaborado pelo perito oficial, bem como os valores encontrados pelo assistente tcnico dos expropriados, no merece quaisquer reparos a sentena que, comparando os trs laudos apresentados e jungido livre apreciao da prova, prestigiou os valores encontrados pelo

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    assistente tcnico do expropriante, que demonstrou mais convincentemente como determinou o preo do imvel rural, em obedincia ao disposto no art. 12 da MP n. 1.577/1997 e suas sucessivas reedies, j em vigor quando da propositura da ao expropriatria.

    - A possvel ausncia de gastos fi nanceiros com a construo do poo tubular cedido pela PETROBRS no descaracteriza a sua qualidade de benfeitoria. Reconhecida a importncia econmica do bem, deve este ser indenizado, adotando-se o valor encontrado pelo Perito Ofi cial.

    - Fixao dos honorrios advocatcios em 5% (cinco por cento) sobre o valor da diferena entre a oferta e a indenizao fi xada.

    - Apelao dos expropriados provida em parte.

    Trata-se, originariamente, de ao de desapropriao de imvel rural para fi ns de reforma agrria ajuizada pelo INCRA contra Jos Patrcio de Figueiredo Jnior e sua esposa, julgada procedente pelo r. juzo monocrtico, nos termos assim sintetizados, verbis:

    Ementa: Constitucional. Administrativo e Processual Civil. Ao de desapropriao por interesse social para fi ns de reforma agrria. Indenizao. Preo justo. Fixao de acordo com o valor de mercado do imvel. Acatamento da avaliao do assistente tcnico do expropriante. Pedido procedente.

    01. Diante da divergncia entre os expertos, razovel acatar o parecer do assistente tcnico do INCRA, que fi xou a indenizao da desapropriao do imvel com base no preo atual de mercado do imvel em sua totalidade, considerando a nova dico normativa do art. 12, da Lei n. 8.629/1993, dada pela MP n. 2.027-40, de 29.6.2000.

    02. Impossibilidade de acolhimento do parecer do assistente tcnico dos expropriados, bem como do laudo pericial, tendo em vista que, em suas avaliaes, a fi xao da indenizao decorreu do somatrio do preo da terra nua com o de cada uma das benfeitorias existentes no imvel, ultrapassando, portanto, ao fi nal, de modo excessivo, o seu valor de mercado.

    03. Incidncia da correo monetria, juros compensatrios e moratrios, bem como verbas honorrias, n os termos legais e jurisprudenciais.

    Irresignados, apelaram os expropriados, tendo o Tribunal de origem, por unanimidade, dado parcial provimento ao recurso para incluir na indenizao, como benfeitoria indenizvel, o valor encontrado pelo perito judicial pelo poo tubular cedido pela Petrobrs aos proprietrios do bem, com base no valor, nos seguintes termos do voto-condutor, verbis:

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    RSTJ, a. 27, (237): 21-222, janeiro/maro 2015 41

    (...)

    Ressalva-se, todavia, o direito indenizao do poo tubular cedido pela PETROBRS. Ficou comprovada a existncia, durante a instruo processual, embora o INCRA no o tenha considerado como benfeitoria indenizvel sob o argumento de que os poos perfurados s expensas da PETROBRS no devem ser indenizados quando da desapropriao, por interesse social, para fi ns de reforma agrria, haja vista a Unio, atravs de duas das pessoas jurdicas que mantm PETROBRS e INCRA pagar para construir os poos e, posteriormente, pagar para desapropriar (fl . 307).

    A possvel ausncia de gastos financeiros com a construo do poo tubular no descaracteriza a sua qualidade de benfeitoria. Deve-se levar em conta a funo que esta apresenta em relao ao bem, seja conservando-o ou valorizando-o (art. 63, 2 e 3, do Cdigo Civil).

    Observe-se que no seu laudo o prprio assistente tcnico do INCRA reconheceu a importncia econmica do bem quando, s fls. 21, afirmou: Vale salientar que a PETROBRS perfurou um poo no imvel a procura de petrleo, onde foi encontrado gua de boa qualidade, conforme fi cha em anexo, e conforme parecer tcnico o custo para recuper-lo de apenas 30.000,00 (trinta mil reais).

    (...)

    O INCRA no atribuiu qualquer preo benfeitoria e o valor apresentado pelo assistente tcnico do expropriado mostra-se evidentemente superavaliado (R$ 540.532,00 - fl s. 324). Adoto, pois, o valor encontrado pelo perito ofi cial para fi xar a indenizao no poo tubular existente no imvel em R$ 96.096,00 (noventa e seis mil e noventa e seis reais)

    (...)

    Na presente irresignao especial aponta o INCRA a violao aos arts. 64, do Cdigo Civil, art. 12, da Lei n. 8.629/1993 e arts. 131 e 436, do CPC, sob o fundamento de que no se trata de benfeitoria indenizvel o poo tubular construdo s expensas da Administrao Pblica (PETROBRS), motivo pelo qual a se prevalecer o entendimento do acrdo recorrido, estar-se-ia violando o Princpio da Justa Indenizao e favorecendo o enriquecimento ilcito dos expropriados.

    No foram apresentadas contra-razes.Realizado o juzo de admissibilidade positivo do apelo extremo, na

    instncia de origem, ascenderam os autos ao E. STJ. o relatrio.

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    VOTO

    O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Preliminarmente, verifi ca-se que a matria federal foi devidamente prequestionada, motivo pelo qual merece conhecimento o presente recurso especial.

    Trata-se, originariamente, de ao de desapropriao de imvel rural para fi ns de reforma agrria ajuizada pelo INCRA contra Jos Patrcio de Figueiredo Jnior e sua esposa, julgada procedente pelo r. juzo monocrtico.

    Em sede de apelao o Tribunal a quo incluiu na indenizao, como benfeitoria indenizvel, o valor encontrado pelo perito judicial pelo poo tubular que cavado pela Petrobrs em busca de petrleo que, todavia, encontrou gua.

    Na presente irresignao especial aponta o INCRA a violao aos arts. 64, do Cdigo Civil, art. 12, da Lei n. 8.629/1993 e arts. 131 e 436, do CPC, sob o fundamento de que no se trata de benfeitoria indenizvel o poo tubular construdo s expensas da Administrao Pblica (PETROBRS), motivo pelo qual a se prevalecer o entendimento do acrdo recorrido, estar-se-ia violando o Princpio da Justa Indenizao e favorecendo o enriquecimento ilcito dos expropriados.

    A controvrsia a ser dirimida nos presentes autos cinge-se em defi nir se a natureza jurdica do poo que fora construdo pela Petrobrs na propriedade do expropriado, ora recorrido, trata-se de benfeitoria, para, somente ento, concluir pela possibilidade ou no de indenizar o expropriado quanto referida obra.

    Deveras, benfeitorias so as obras ou despesas realizadas no bem, para os fi ns de conserv-lo, melhor-lo ou embelez-lo, engendradas pelo proprietrio ou legtimo possuidor. No caso de terceira pessoa, que no o proprietrio ou o possuidor efetivar modifi caes no bem, no h que se falar em benfeitoria, mas, em acesso intelectual ou artifi cial.

    Neste sentido, a lio de Slvio de Salvo Venosa, in Direito Civil, (Atlas, 2002, So Paulo, p. 326-327):

    (...)

    No se confundem, tambm, benfeitorias com acesses,. Tudo que se incorpora, natural ou artifi cialmente, a uma coisa chama-se acesso. A acesso artificial, mormente as construes, na prtica, podem ser confundidas com benfeitorias, o que no correto. Pontifi ca com clareza Miguel Maria de Serpa Lopes (1962, v. 1:374):

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    H uma benfeitoria, quando quem faz procede como dono ou legtimo possuidor, tanto da coisa principal como da acessria, ou como mandatrio expresso ou tcito do dono da primeira, por exemplo, benfeitorias feitas pelo locatrio. Na acesso, pelo contrrio, uma das coisas no pertence a quem uniu a outra ou a quem a transformou; o autor da acesso no procede na convico de ser dono ou legtimo possuidor de amas as coisas unidas, ou como mandatrio de quem o de uma delas, antes sabe no .

    Nas benfeitorias, portanto, h convico de que a coisa acrescida pertence ao mesmo dono ou ao mesmo possuidor. Na acesso, a coisa acrescida pertence a proprietrio diverso e no existe tal convico. A acesso uma das formas de aquisio da propriedade.

    (...)

    Resta evidente, portanto, que o poo cavado pela Petrobrs na propriedade do ora recorrido no se trata de benfeitoria, haja vista que a obra no foi engendrada pelo proprietrio ou, sequer, por legtimo possuidor.

    No obstante, tambm falsa a afi rmativa de que referida obra seria uma acesso, modo originrio de aquisio da propriedade, haja vista que, muito embora a obra no tenha sido realizada pelo proprietrio mas pela Petrobrs, a discusso gira em torno da propriedade do subsolo que no se confunde com a titularidade do domnio do subsolo e suas jazidas e recursos.

    O art. 526, do Cdigo Civil de 1916, dispunha que a propriedade do solo abrange a do que lhe est superior e inferior em toda a altura e em toda a profundidade, teis ao seu exerccio, no podendo, todavia, o proprietrio opor-se a trabalhos que sejam empreendidos a uma altura ou profundidade tais, que no tenha ele interesse algum em impedi-los

    Em comentrios ao referido preceito, J. M. Carvalho Santos in Cdigo Civil Interpretado, ensina que a propriedade do solo no se confunde com a do subsolo:

    (...)

    De sorte que, na natureza, no pode existir o solo sem o subsolo. O que no impede que possa a propriedade do solo existir separada do subsolo. Para tanto basta distinguir duas camadas: a primeira camada ou crosta de terreno necessrio para as culturas da lavoura, para plantao de rvores, para o alicerce das casas, enfi m, para o exerccio do direito da propriedade do solo, segundo a sua ordinria destinao; a outra crosta, composta das camadas inferiores, nas quais existem as minas, etc. E desde logo se concebe que a propriedade da primeira

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    camada, que o solo, pode ser separada daquela inferior, que se denomina em geral subsolo, pertencendo a um o solo e a outro a mina ou o veio. Sendo essencial que o proprietrio inferior nada faa que possa provocar o desabamento ou runa da poro do subsolo superior (Cfr. PACIFICI-MAZZONI, cit, n. 128; GABRA, obr. Cit., p. 122).

    (...)

    Deveras, referido preceito foi derrogado com a promulgao da Constituio Federal de 1988, que, em seu art. 176, conferiu Unio a propriedade do subsolo onde forem encontrados jazidas e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidrulica, e aos Estados, no art. 26, I,, a titularidade do domnio das guas superficiais ou subterrneas, fluentes, emergentes e em depsito, condicionando a explorao de referidos recursos autorizao ou concesso do poder pblico:

    Art. 176. As jazidas, em lavra ou no, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidrulica constituem propriedade distinta do solo, para o efeito de explorao ou aproveitamento, e pertencem Unio, garantida ao concessionrio a propriedade do produto da lavra.

    1 A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o caput deste artigo somente podero ser efetuados mediante autorizao ou concesso da Unio, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituda sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administrao no Pas, na forma da lei, que estabelecer as condies especfi cas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indgenas.

    Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

    I as guas superfi ciais ou subterrneas, fl uentes, emergentes e em depsito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da Unio

    O Novo Cdigo Civil, em seu art. 1.230, reproduz o texto do art. 176, da Constituio, verbis:

    Art. 1.230. A propriedade do solo no abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidrulica, os monumentos arqueolgicos e outros bens referidos por leis especiais.

    Pargrafo nico. O proprietrio do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construo civil, desde que no submetidos a transformao industrial, obedecido o disposto em lei especial.

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    Sobre o tema, dissertou Slvio de Salvo Venosa in Direito Civil (Direitos Reais, Vol. V, p. 159-160):

    A essa altura de nosso estudo, facilmente compreensvel a assertiva clssica de ser o direito de propriedade absoluto. Destarte, por tudo j examinado, no contraditrio nem inoportuno repetir o relativismo dessa afi rmao. O direito de propriedade absoluto dentro do mbito resguardado pelo ordenamento. o direito real mais amplo, mais extenso. Esse o sentido tambm de sua oposio perante todos (erga omnes). No art. 526 do Cdigo de 1916, o legislador j estipulara limite a seu exerccio. A propriedade exercida nos limites de sua utilidade e interesse:

    A propriedade do solo abrange a do que lhe est superior e inferior em toda a altura e em toda a profundidade, teis ao seu exerccio, no podendo, todavia, o proprietrio opor-se a trabalhos que sejam empreendidos a uma altura ou profundidade tais, que no tenha ele interesse algum em impedi-los

    A mesma noo mantida pelo art. 1.229 do novo Cdigo. O proprietrio do solo no pode se levado ad sidera et ad inferos, como se sustentava no direito intermdio.

    As riquezas do subsolo, entre ns, so objeto de propriedade distinta para efeito de explorao e aproveitamento industrial de acordo com o ordenamento (arts. 176 e 177 da Constituio). Nesse sentido dispe o art. 1.230 do Cdigo de 2002 que

    a propriedade do solo no abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidrulica, os monumentos arqueolgicos e outros bens referidos por leis especiais

    (...)

    Deveras, no obstante as modifi caes legislativas e constitucionais, a noo de que a titularidade do domnio do solo no se confunde com a do subsolo em nenhum momento sofreu alterao.

    Conclui-se, assim, que a obra engendrada pela Petrobrs na propriedade do ora recorrido no se reveste da caracterstica de benfeitoria ou acesso, bem como, no h que se garantir o direito indenizao ao ora recorrido to-somente pelo fato de ser o proprietrio titular do domnio do solo.

    In casu, matria ftica incontroversa e impassvel de reviso por esta Corte no presente apelo extremo, a de que, na perfurao engendrada pela Petrobrs,

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    foi encontrada gua potvel, consoante se colhe do seguinte excerto do voto-condutor do aresto recorrido:

    Observe-se que no seu laudo o prprio assistente tcnico do INCRA reconheceu a importncia econmica do bem quando, s fl s. 21, afi rmou: Vale salientar que a PETROBRS perfurou um poo no imvel a procura de petrleo, onde foi encontrado gua de boa qualidade, conforme fi cha em anexo, e conforme parecer tcnico o custo para recuper-lo de apenas 30.000,00 (trinta mil reais).

    Subjaz, portanto, a anlise da titularidade do domnio do poo cavado pela Petrobs, luz das normas que disciplinam o regime das guas no ordenamento jurdico ptrio, para, ento, concluir-se pela indenizabilidade ou no da desapropriao desta parte da rea referida.

    Os bens pblicos, consoante o disposto no art. 66, do Cdigo Civil de 1916 so: I os de uso comum do povo, tais como os mares, rios estradas, ruas e praas; II os de uso especial, tais como edifcios ou terrenos aplicados a servio ou estabelecimento federal, estadual ou municipal; III os dominicais, isto , os que constituem o patrimnio da Unio, dos Estados, ou dos Municpios, como objeto de direito pessoal, ou real de cada uma dessas entidades.

    Destarte, somente os bens dominicais so passveis de alienao e, portanto, podem ser objeto de possvel desapropriao, porquanto os nicos dotados de disponibilidade pelo Poder Pblico.

    No que pertine ao regime das guas, o art. 8, do Decreto n. 24.643/1934, dispunha que so particulares as nascentes e todas as guas situadas em terrenos que tambm o sejam, quando as mesmas no estiverem classifi cadas entre as guas comuns de todos, as guas pblicas ou as guas comuns e, no seu art. 96, possibilitava que a apropriao das guas subterrneas pelo proprietrio do terreno onde fosse encontrada:

    Art. 96. O dono de qualquer terreno poder apropriar-se por meio de poos, galerias, etc, das guas que existam debaixo da superfcie de seu prdio contanto que no prejudique aproveitamentos existentes nem derive ou desvie de seu curso natural guas pblicas dominicais, pblicas de uso comum ou particulares.

    Todavia, conforme j afi rmado, com a promulgao da Constituio Federal de 1988, o domnio das a propriedade do subsolo onde fossem encontradas jazidas e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidrulica passou para a Unio (art. 176) e a titularidade do domnio das guas superfi ciais ou

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    subterrneas, fl uentes, emergentes e em depsito, foi conferida aos Estados (art. 26, I).

    Por sua vez a Lei n. 9.433/1997, pois termo possvel subsistncia de o domnio das guas ser conferido a particulares ao preceituar, em seu art. 1, inciso I, que a gua um bem de domnio pblico.

    Neste sentido, a lio de Paulo Aff onso Leme Machado, in Recursos Hdricos Direito Brasileiro e Internacional (Malheiros, 2002, p. 24-30):

    (...)

    A Lei n. 9.433/1997 inicia com a afi rmao: A gua um bem de domnio pblico. Essa declarao do art. 1, I, da lei em exame tem diversas implicaes.

    4.1.1. A gua bem de uso comum do povo.

    A gua um dos elementos do meio ambiente. Isto faz com que se aplique gua o enunciado do caput do art. 225 da Constituio Federal: Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo (...)

    H diversidade de categorias de bens, pois a gua um bem corpreo e o meio ambiente um bem incorpreo de domnio pblico.

    Antes de promulgao do Cdigo Civil Brasileiro manifestava-se a doutrina, na pena de Jos Antnio Pimenta Bueno: Domnio pblico por esta denominao comumente se indica a parte dos bens nacionais que afetada imediatamente ao gozo e servio comum do povo, como as estradas, canais, rios navegveis ou boiantes, etc.

    O Cdigo Civil Brasileiro, no seu livro II, trata Dos Bens. O Captulo III versa sobre Bens Pblicos e Particulares. Diz o art. 66: Os bens pblicos so: I os de uso comum do povo, tais como os mares, rios, estradas, ruas e praas; II os de uso especial, tais como edifcios ou terrenos aplicados a servio ou estabelecimento federal, estadual ou municipal; III os dominicais, isto , os que constituem o patrimnio da Unio, dos Estados ou dos Municpios, como objeto de direito pessoal, ou real de cada uma dessas entidades.

    Como vemos, os rios sempre foram classifi cados no Direito Brasileiro como bens de uso comum do povo, seguindo-se o Direito Romano, como se v nas Institutas de Justiniano.

    O Cdigo das guas Decreto n. 24.643, de 10.7.1934 ampliou a dominialidade pblica das guas. Veja-se a Exposio de Motivos do referido decreto, de autoria do Dr. Alfredo Vallado.

    O domnio pblico da gua, afi rmado na Lei n. 9.433/1997, no transforma o Poder Pblico Federal e Estadual em proprietrio da gua, mas o torna gestor desse bem, no interesse de todos. O ente pblico no proprietrio, seno no

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    sentido puramente formal (tem o poder de autotutela do bem), na substncia um simples gestor do bem de uso coletivo.

    Salientemos as conseqncias da conceituao da gua como bem de uso comum do povo: o uso da gua no pode se apropriado por uma s pessoa, fsica ou jurdica, com excluso absoluta dos outros usurios em potencial; o uso da gua no pode signifi car a poluio ou a agresso desse bem; o uso da gua no pode esgotar o prprio bem utilizado; e a concesso ou a autorizao (ou qualquer tipo de outorga) do uso da gua deve ser motivada ou fundamentada pelo gestor pblico.

    A presena do Poder Pblico no setor hdrico tem que traduzir um efi ciente resultado na poltica de conservar e recuperar as guas. Nesse sentido o art. 11 da Lei n. 9.433/1997, que diz: O regime de outorga de direito de uso de recursos hdricos tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da gua e o efetivo exerccio dos direitos de acesso gua. O Poder Pblico no pode agir como um testa-de-ferro de interesse de grupos para excluir a maioria dos usurios do acesso qualitativo e quantitativo s guas. Seria um aberrante contra-senso o domnio pblico aparente das guas para privatiz-las, atravs de concesses e autorizaes injustifi cadas do Governo Federal e dos Governos Estaduais, servindo ao lucro de minorias.

    Se houver a pretenso de instituir-se um leilo de guas, comerciando-se o direito de outorga do uso do recurso hdrico, ao mesmo tempo, haver de ser instituda uma reserva hdrica para os usos insignifi cantes e gratuitos e para a conservao do meio ambiente, em especial da fauna aqutica.

    O legislador brasileiro agiu bem ao considerar todas as guas de domnio pblico, no sentido de bem de uso comum do povo. O professor Michel Prieur critica o sistema legal francs, dizendo que, infelizmente, por ter faltado a ousadia de nacionalizar a gua, como patrimnio coletivo, os mltiplos regimes jurdicos subsistem em sua complexidade e em sua imbricao, ainda que tenha sido elaborada a Lei das guas, de 3.1.1992

    4.1.2. A gua no bem dominical do Poder Pblico.

    O bem dominical aquele que integra o patrimnio privado do Poder Pblico. Seu trao peculiar a alienabilidade. Bem dominical difere, portanto de bem dominial.

    Indique-se o art. 18 da Lei n. 9.433/1997 para atestar que a gua no faz parte do patrimnio privado do Poder Pblico, ao dizer: A outorga no implica a alienao parcial das guas que so inalienveis, mas o simples direito de uso. A inalienabilidade das guas marca uma de suas caractersticas como bem de domnio pblico.

    O art. 1 do Decreto n. 24.643/1934 chamado Cdigo das guas diz que as guas pblicas podem se de uso comum ou dominicais. Vimos que com o advento da Constituio Federal (art. 225) e da Lei n. 9.433/1997 (arts. 1 e

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    18, cits.) essa parte do artigo do decreto de 1934 est revogada (art. 57 da lei mencionada), pois as guas pblicas no podem ser dominicais.

    O Governo Federal e os Governos Estaduais, direta ou indiretamente, no podem tornar-se comerciantes de guas. A Lei n. 9.433/1997 introduz o direito de cobrar pelo uso das guas, mas no instaura o direito de venda das guas.

    4.1.3. A abrangncia do domnio pblico das guas, Cdigo Civil e Cdigo das guas.

    Utilizando a locuo a gua um bem de domnio pblico, a Lei n. 9.433/1997 abrange todo o tipo de gua, diante da generalidade empregada. No especifi cando qual a gua a ser considerada, a gua de superfcie e a gua subterrnea, a gua fluente e a gua emergente passaram a ser de domnio pblico.

    O Cdigo Civil Brasileiro de 1916 (arts. 563 a 567) e o novo Cdigo Civil, de 2002 (arts. 1.288 a 1.296), no se referem diretamente ao domnio das guas, obrigando, em certos casos, a recepo de gua do prdio superior, ou o direito de recepo de guas por parte de prdio inferior e a utilizao de guas pluviais.

    O Cdigo das guas Decreto n. 24.643/1934 previu o tema guas Particulares em seu Livro I, Ttulo I, Captulo III, afi rmando, em seu art. 8: So particulares as nascentes e todas as guas situadas em terrenos que tambm o sejam, quando as mesmas no estiverem classifi cadas entre as guas comuns de todos, as guas pblicas ou as guas comuns. Com a entrada em vigor da Lei n. 9.433/1997 pode-se entender que essa disposio do decreto de 1934 contraria a nova lei, e por isso, conforme seu art. 57, foi revogada. As nascentes podero ser utilizadas pelos proprietrios privados com a fi nalidade do consumo humano e da dessedentao de animais (art. 1, III, da Lei n. 9.433/1997), sendo que o regulamento dispor sobre as derivaes e captaes insignifi cantes, quando desnecessria a prvia outorga do Poder Pblico (art. 12, 1, III, da lei apontada).

    (...)

    As guas subterrneas passam a fazer parte do domnio pblico em face dos arts. 1, I, 12, II, e 49, caput e inciso V, todos da Lei n. 9.443/1997, pois est sujeita outorga pelo Poder Pblico a extrao de gua de aqfero subterrneo para consumo fi nal ou insumo de processo produtivo, e considerada infrao das normas de utilizao de recursos hdricos subterrneos perfurar poos para extrao de gua subterrnea ou oper-los e sem a devida autorizao. As guas subterrneas integram os bens do Estado (art. 26, I, CF).

    Aqfero a formao porosa (camada ou estrato) de rocha permevel, areia ou cascalho, capaz de armazenar e fornecer quantidades signifi cativas de gua.

    Co