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REVISTA NOSSA TRIBO Nº 3 - MARÇO/ABRIL 2013

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Um Ponto de Vista Cultural

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No territórioIII Feira de Livros vai até 24 de marçoEm parceria com a Associação Brasileira de Livros, a Biblioteca Municipal de Cabo Frio promove a III Feira de Livros até o dia 24 de março. A Feira fica localizada na Praça Porto Rocha, sendo que este ano a novidade é a Feira também estar presente na Praça de São Cristó-vão. Há estande só para os escritores locais. A Feira de Livros funciona todos os dias da semana das 9h às 20h com preços promocionais.

Novos livros em nossa terra

Davar. Um caminho de almas. Paulo César d’Ávila

Cabo Frio: pólo coloni-zador do Brasil. Rose Fernandes

Através da mulher Davar, Caio tem acesso a um cami-nho espiritual de autoconhecimento e conhecimento de um mundo que aí está e nem todos percebem.

Resultado de doze anos de pesqui-sas, o livro cobre desde os primeiros habitantes de Cabo Frio até o período de D. JoãoVI, quan-do a nossa cidade se formava.

O anjo caído. Thomás Aragutti

Após um acidente de carro envolven-do amigos univer-sitários, o sumiço de um deles revela a existência de indivíduos de um passado esqueci-do, cuja fonte de energia está em Cabo Frio.

Livraria cria estante para escritores de nossa RegiãoA Livraria do Bou-levard, no centro de Cabo Frio, começou a formar uma estan-te só com os livros dos escritores de Cabo Frio e dos ou-tros municípios da Região. “Queremos ser uma referência de nossa produção literária”, afirmou o diretor da Livraria do Boulevard, Victor Rocha.

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Estamos aíEste é o terceiro número de nossa revista. Parece que foi hontem. E logo no primeiro número de Nossa Tribo começamos com o pé direito, um prê-mio de Comunicação, o 1° lugar, dado à jornalista Marcela Maiques com a matéria sobre o arquivo fotográfico de Wolney Teixeira.Cabo Frio tem história, tem cultura, tem gente que produz e é importante naquilo que faz. E a revista Nossa Tribo ocupa esse espaço necessário de revelar esse lado diferenciado de Cabo Frio - e, por que, não?, da Região dos Lagos - dizendo sonoramente que a nossa gente tem personalidade e valor.

Com o pé na estrada

FraudeTeus briosfalsos brilhosde lassas idéiase hermosas palavrasque o vento registrae a história não escreve.

ConstataçãoDa longa noite de amorecoamegos.

EncontroTarde inteiraresto de ruaeu nuadigerida na paisagem.

Lili Leite(1951-1990)

assu

ntos

Do livro “Flashes”, 1987, de Lili Leite, professora de Letras da rede estadual e da Ferlagos.

VaivémReterinvoluntário fio vitalserhistórica contradiçãoe como as marésrecomeçar.

No barLógicas cabeçaspregamagressiva liberdadebêbada de palavrasme apaixonao silêncio da cidade.

MargináliaNo silêncio das ruasperambulamcorações perdulários.

7NOSSOS CLÁSSICOS: O ROMANCE SOCIAL DE PEDRO GUEDES ALCOFORADO, O ESCRI-TOR QUE FOI BANIDO DE CABO FRIO

Circulação restrita aos membros da tribo

Idéia, Projeto Gráfico e Editoria: José CorreiaEndereço: [email protected]: Nomade Artes GráficasImpressão: GraflineCapa: Tela de Carlos Scliar (1920-2001), Mutante das Figuras, 1974, Cabo Frio, RJ (in “Scliar”, MAM, 1991).Página 9: “O cabofriense”, Júlia Quaresma.

NOSSA TRIBONOSSA TRIBO

9QUEM É O CABOFRIENSE? COM A PALAVRA, MERI DAMACENO, GERSON TAVARES, TOTONHO, BONIFÁCIO E YONE NOGUEIRA

ADÃO DOS ANJOS: HÁ 40 ANOS FAZENDO A INTERNACIONAL COCADA DO ADÃO NO CENTRO DE CABO FRIO6

13 DEPOIS DE 30 ANOS, UM ENCONTRO INESPERADO, O RETORNO DE UM AMOR INTERROMPIDO

4ENTREVISTA: PAULO ROBERTO ARAÚJO, DA EDITORIA DE “O GLOBO”

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Fluminense, de Niterói, o jornalista Paulo Roberto Araújo - editor-assistente e chefe de repor-tagem da editoria Rio de “O Globo” - conheceu a Região dos Lagos através do falecido artista plás-tico Armando Valles, um espanhol que se radicou em Niterói e ficou conhecido mundialmente por sua arte de produzir máscaras usadas pelos brasileiros no carnaval e nas campanhas políticas da Europa. Valles era proprietário de uma casa na Rua das Pedras, em Búzios, onde hoje funciona um sho-pping. Durante dez anos, Paulo Araújo curtiu com o artista plástico e as respectivas famílias as belezas naturais de Búzios.

“Já bem idoso, o Armando optou por vender a casa. Não suportava mais o agito, o barulho da Rua das Pedras. Como já estava acostumado com a Re-gião dos Lagos, decidi comprar meu próprio imóvel. Mas aí veio a dúvida: qual a melhor praia? Procurei a antiga Feema, hoje Inea, e pedi a análise de bal-neabilidade de todas as praias da região, de Maricá a Macaé. O melhor índice (zero) era no Peró, em Cabo Frio, uma praia que conhecia muito pouco até então. Passei a visitar o balneário com olhar de futuro veranista/morador e acabei me apaixo-nando quando cheguei ao Peró, há nove anos. Com outros veranistas, fundamos o grupo Amigos do Peró” – afirma o jornalista Paulo Roberto Araújo, que conquistou o Prêmio Crea de Meio Ambiente em 2001 e é cidadão cabofriense por indicação do vereador Paulo Henrique Corrêa.

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Entrevista: Paulo Roberto Araújo

Esta região ésimplesmentefantástica

Vejo uma grande falta de união em prol do coletivo. Chega uma hora em que todos devem se unir em favor da cidade, da região. Paulo Roberto Araújo

“Paulo Roberto Araújo na redação do jornal “O Globo”.

A cada ano aumenta o número de pessoas que pro-curam Cabo Frio e a Região dos Lagos. Os problemas se agravam na mesma propor-ção. O que ainda anima você a vir para cá?

Os problemas de fato exis-tem, mas ainda são bem me-nores que no Grande Rio. Já perdi seis horas entre os 27km que separam a minha casa do trabalho, no O Globo. O trânsito no Grande Rio é caótico e a tendência é só pio-rar, principalmente quando o Comperj entrar em ação. Bus-co qualidade de vida. Confesso que fico triste quando entro no carro para voltar para casa no final do domingo. Para quem mora aqui, é normal, mas me sinto muito bem quando vou ao Pescatore, meu restaurante preferido, encontro vaga para

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o carro e nenhum flanelinha por perto. Isso é o máximo.

Todos os lugares têm a sua elite, na economia, nos serviços do turismo, à frente dos setores públicos, enfim, essa elite consegue promover bem as potencialidades de nossa Região?

Acho que ainda não. Vejo uma grande falta de união em prol do coletivo. Tudo bem que aconteça a disputa política. Mas chega uma hora em que todos devem se unir em favor da cidade, da região. Nas viagens que fiz pelo país e pelo exterior, nunca vi um local que reúna tantos atrati-vos naturais belíssimos como a Região dos Lagos. Não se admite que os prefeitos de Arraial, Cabo Frio e Búzios não sentem em uma mesma mesa para discutir o turismo, o saneamento, o meio am-biente, a economia. Se isso acontecer, todos vão ganhar e vai aumentar o tempo de permanência do turista na região. Potencial, nós temos. Falta profissionalizar a ativi-dade turística.

Em sua opinião, ao se falar em Cabo Frio e Região dos La-gos, a que elas imediatamente estão associadas?

Anualmente, a Fecomér-cio faz uma pesquisa que aponta o principal destino do carioca. Há anos que dá Cabo Frio. Já alertei, mas isso jamais foi explorado numa boa peça de marketing. Búzios tem o seu inegável glamour, Arraial tem praias e atividades náuti-cas riquíssimas, mas Cabo Frio é o referencial da Região dos Lagos em termos de potencial econômico, saúde, educação. O anúncio da abertura do

Centro de Convenções no prédio da Veiga de Almeida é sensacional. Pode ser o ponto de partida para Cabo Frio se transformar num grande des-tino turístico com a expansão da indústria hoteleira e do aeroporto.

Quando você se aposentar,

Cabo Frio será um daqueles lugares em que você será frequentemente encontrado?

Certamente. E no Peró, que é um lugar mágico ainda pou-co reconhecido pelas autorida-

des. Falta união dos hoteleiros e pousadeiros. No Peró você encontra grandes personali-dades nacionais, de todos os ramos, que fazem questão ab-soluta da simplicidade. É um reduto de artistas e de pessoas que amam o meio ambiente preservado. É um local onde você é vizinho da natureza e em posição privilegiada para curtir a gastronomia, as praias e os demais atrativos do centro de Cabo Frio, de Búzios e de Arraial do Cabo. Esta região é simplesmente fantástica.

- Tchau !

Paulo Roberto Araújo com os filhos Fabrí�cio e Bárbara | Com o “amigo do Peró”, Elias | Na Praia do Peró, no Dia da Limpeza, com a jornalista Isabel Araújo, de “O Globo”.

O Peró é um lugar mágico ainda pouco conhecido pelas auto-ridades. Lá, você encon-tra grandes personali-dades nacio-nais, de todos os ramos. É um reduto de artistas e de pessoas que amam o meio ambiente. Paulo Roberto Araújo

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Uma vez um cliente meu, que é avia-dor, estava em Lisboa e viu na tele-visão um programa que passou Cabo Frio e a Cocada do Adão. Eu fui filmado e nem vi. Adão dos Anjos

““Fui despachante de cami-nhão em Campos e depois fui trabalhar numa empresa de limpeza pública no Rio. Retor-nei a Campos para trabalhar na Usina de Cana de Açúcar e decidi, enfim, vir para Cabo Frio nos anos de 1970”, disse Adão, um homem sereno, de uma fala tranquila.

Com seu ponto na Avenida Assunção no centro da cidade, Adão, diz que nunca saiu da-quela área, apenas mudando de ponto ao longo do tempo.

“Desde que eu cheguei a Cabo Frio trabalho nessa rua. Meu primeiro ponto aqui foi em frente ao Supermercado Corco-vado, depois em frente a Casa da Banha. Os dois mercados fe-charam com o passar dos anos”, lembra Adão, que atualmente está com o ponto em frente a Drogaria do Povo, próximo ao Banco Bradesco.

São cerca de 20 sabores de cocada que o doceiro faz diaria-mente, várias vezes ao dia. As cocadas mais vendidas são as de leite condensado, creme de

leite, chocolate, abacaxi, coco queimado, abóbora e maracujá. E sua mercadoria, considerada por muitos uma verdadeira iguaria, já é conhecida no país inteiro e fora dele.

“São muitas e muitas histó-rias de clientes do Brasil inteiro e do mundo. Uma vez, um cliente meu, que é aviador, foi descansar em Lisboa e disse para mim que estava em um hotel e quando viu passar na televisão um progra-ma sobre o Brasil, logo depois passou Cabo Frio e a Cocada do Adão. Eu fui filmado e nem vi”, contou alegre o doceiro.

“Graças a Deus eu sou muito conhecido, todo mundo sabe onde é a Cocada do Adão em Cabo Frio. Também tenho clien-tes nos Estados Unidos, Argenti-na e Chile. Uma vez, uma chile-na provou uma cocada e gostou tanto que me pediu 100 cocadas para levar para o país dela. Outra vez uma brasileira levou minhas cocadas para uma comemoração num castelo da França e tiraram fotos”, contou.

Segundo Adão, o ponto em

Cabo Frio é o sustento de sua família e o trabalho é duro.

“É uma vida difícil, de muito trabalho. Eu sempre procurei andar certo. Esse aqui é meu emprego, trabalho com digni-dade. É o sustento da minha família. Tenho três filhas que trabalham comigo e mais duas pessoas, seja na venda ou no preparo, como descascar o coco. Já a massa pesada sou eu que faço, todo o tempo, como você está vendo”, disse. “A idade já chegou. No próximo dia 30 de setembro vou fazer 69 anos. Quero continuar fazendo até onde minha saúde permitir. Depois passarei para minhas filhas.”

Nestes últimos 40 anos, Adão diz que a melhor fase, sem sombra de dúvida, é a atual. “Hoje está bem melhor. Anti-gamente vendia muito, mas se ganhava muito pouco, o produto não era valorizado. Hoje a gente aprendeu a trabalhar”.

Além da fase boa, a troca de prefeitos não altera nada, pois todos gostam do seu produto.

A internacional cocada do Adão

Um dia na vida

Lucas Müller

“A massa pesada sou eu que faço, todo o tempo”, afirma Adão | Fotos: Lucas Müller.

Considerada uma verdadeira iguaria em Cabo Frio, a “Cocada do Adão” está prestes a completar 40 anos de bons serviços. Adão dos Anjos, 68 anos, dono do carrinho da cocada mais conhecida de Cabo Frio, nasceu em Cam-pos dos Goytacazes e se mudou para nossa cidade em 1973.

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Em praticamente todos os setores da vida cultural cabofriense, a impressão que se tem é que tudo se começa do zero, porque quem se dedica a alguma atividade dificilmente tem acesso à noção de que está em meio a uma história. Porque tudo parece inóspitamente contemporâneo. E nesse sentido, o indivíduo vive tão somente o presente, experimentando a sensação inautêntica de ser o pioneiro solitário. Na literatura cabofriense este sintoma percebe-se melhor. Quem foi e o que escreveu Pedro Guedes Alcoforado? A mesma pergunta podemos fazer para Waldemir Terra Cardoso, Walter Nogueira da Silva ou Eduardo Pacheco. Que importância tiveram para as nossas letras?

Para se ter uma idéia, só agora em 2012, é que o livro de poesia de Waldemir Terra Cardoso, “Zé-tarrafeiro”, lançado em 1935, teve uma segunda edição em fac-simile no “Anuário de Cabo Frio”. Ou seja, 77 anos depois de seu lançamento é que chegou a uma 2ª. edição! Se é um livro que dignifica a história da literatura cabo-friense, o livro de poesia mais luminoso que produzimos, que falta seu abandono fez a sucessivas gerações de escritores cabofrienses?

O mesmo se pode dizer da produção literária do paraibano Pe-dro Guedes Alcoforado (1892-1964), que fundou em Cabo Frio, em 1917, o jornal semanal “O Arauto”, de grande expressão. Alcoforado defendia sua opinião crítica e independente. Por isso mesmo, fez grandes inimizades, até se sentir obrigado a deixar Cabo Frio por Niterói em 1930. Mais que um proprietário de jornal e jornalista, foi editor e escritor. Orgulhava-se de dizer que fora ele quem descobrira o talento de Waldemir Terra Cardoso (que escreveu em seu jornal). Autor de “O sal fluminense” (1924), recebeu uma 2a. edição em 1936 por iniciativa do governo do Estado, que atestava seu valor.

“Culpa dos paes” apareceu em “O Arauto” como folhetim (1928) e depois como livro (1930). Chegou a três edições patrocinadas pelo autor, a última em 1952. O livro tem como tema a sufocante sociedade cabofriense dominada pelos Liras e Jagunços no início do século XX, onde o romance impossível entre os jovens Dakir (filho de Jagunço) e Dalita (filha de Lira) é retomado quando os dois adultos, casados e infelizes, vivem então um amor proibido e feliz, que os leva ao suicídio na Praia do Forte. Este é o primeiro romance cabofriense de crítica social plenamente realizado.

A potencialidade de “Culpa dos paes” só alcançaria mesmo o teatro, quando nos anos de 1990 a professora Silvana Lima se ins-pirou no livro de Pedro Guedes Alcoforado para escrever “Querelas Liras e Jagunços”, peça teatral de apresentações vitoriosas.

“Culpa dos paes” é um clássico na história da literatura cabo-friense como iniciativa, pioneirismo, realização romanesca. Mas para se tornar legitimamente um clássico teria de ser lido, relido, avaliado, para fazer amigos e influenciar pessoas. Enfim, o livro precisaria reencontrar sua esquecida vida literária.

“Culpa dos paes”, de Pedro Guedes Alcoforado.

José Correia

“Cabo Frio é uma cidade muito receptiva, sem-pre veio de braços abertos a mim e eu aqui gosto de todos. Gosto de todos os prefeitos, Marquinhos, Alair, Zezinho. Eles sempre me cumprimentam e às vezes dão beijo na minha testa em sinal de respeito. Eu me dou bem com todos eles. Gosto de verdade muito dessa cidade”, disse o doceiro que esconde um pouco o jogo quando se pergunta como ele prepara a cocada.

“Todas as cocadas eu tenho que provar. Tem que saber, tem que ter o macete. O doce não pode ser muito doce, tem que levar sal. O tempero é mais ou menos isso”. E acabou revelando que sua cocada favorita é a de creme de leite.

A Cocada do Adão funciona na alta tempo-rada todos os dias, das 9h às 20h, e fora da tem-porada, de segunda a sábado, das 9h às 19h30.

“No verão vendemos cerca de 600 cocadas por dia. Fora da temporada, varia de 200 a 250”, finalizou Adão dos Anjos, também conhecido como o Adão da Cocada.

Adão da Cocada ao lado de sua famosa “fábrica”.

Uma chilena provou uma cocada e gostou tanto que me pediu 100, para levar para o país dela. Adão dos Anjos“

NossosCLÁSSICOS

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“Almoço das 12h às 14h.” O uso do acento grave está correto.É importante lembrar dos casos em que a crase é empregada,

obrigatoriamente: nas expressões que indicam horas ou nas locuções à medida que, às vezes, à noite, dentre outras, e ainda na expressão “à moda”. Exemplos: Sairei às duas horas da tarde. À medida que o tempo passa, fico mais feliz por você estar no Brasil. Quero uma pizza à moda italiana.

Na maioria das vezes, há crase no “a” que precede horas: Os supermercados abrem às 7h. O jogo será à 1h da madrugada. À 0h do dia 1.º de janeiro, começará a queima de fogos.

Em cinco casos, porém, não há crase nesse “a” que acompanha horas: quando antes dele há as preposições “até”, “após”, “desde”, “entre” e “para”. Veja: Os ingressos serão vendidos até as 18h. Os por-tões serão fechados após as 7h30. O consumo de álcool está liberado desde a 0h de terça-feira. Há uma lei que proíbe a prática esportiva na praia entre as 8h e as 16h. A sessão estava marcada para as 20h.

“Atendimento? Aperte à campainha.” O uso do acento grave está incorreto.

Nesta oração, o verbo apertar é transitivo direto, ou seja, não pede preposição. Neste caso, a vogal funciona como artigo, pois acompanha o substantivo campainha. Desta forma, definimos o conceito de crase como sendo a fusão de duas vogais da mesma natureza, representada pelo acento grave. Não houve fusão, logo, não existiu o fenômeno da crase.

Veja os casos em que não há a ocorrência da crase. Antes de palavras masculinas: Fomos a cavalo para o passeio. Antes de ver-bos: Os meninos estão acostumados a acordar bem cedo. Antes de artigos indefinidos: Ele dedica-se a uma vida mesquinha. Antes de pronomes pessoais, de tratamento, indefinidos e demonstrativos: Entregue a ela esta avaliação. Mandou pedir a Vossa Excelência que atendesse ao meu pedido. Devemos obedecer a todas as normas do colégio. Estamos em frente a esta casa, que um dia foi minha. Entre palavras repetidas: O jogador ficou cara a cara com o juiz. Antes de palavra feminina no plural não precedida de artigo: Dedicou-se a crianças abandonadas.

Nossa brenhosa LÍNGUA

Tereza Ramalho Faria

Aviso em portão de depósito da Prefeitura. Em uma frase, o uso correto do acento grave, em outra, não.

Em Cabo Frio, os apaixonados pelos livros dos sebos viveram esse romance por apenas dois anos, de 2009 até início de 2012, quando o sebo “Fala Rabino” funcionou na galeria do Square Shopping, centro da cidade. Há 10 meses, o sebo mudou de nome e de lugar. Agora é o sebo “Ponto do Saber” no novo endereço em Campo Redondo, São Pedro da Aldeia (foto, abaixo).

“O aluguel caro inviabilizou a nossa perma-nência em Cabo Frio”, afirma Simone Galvão, proprietária do sebo.

Simone pagava R$ 2.475,00 de aluguel, além de condomínio, luz cara, telefone caro e a neces-sidade permanente de ter um funcionário.

“Se renovase o aluguel em Cabo Frio iria para R$ 3.100,00. Um absurdo. Agora pago R$ 550,00 de aluguel por duas lojas, não tenho condomínio, telefone é mais barato e sozinha abro e fecho o sebo. Minha qualidade de vida também melho-rou: passei a ter mais tempo para viver com meus filhos e a minha família”, constata.

Com essa mudança necessária e radical, o sebo perdeu muitos clientes.

“Cabo Frio tem clientes viciados, fiéis. São poucos, mas vêm. Agora, aquela clientela que o sebo no centro de Cabo Frio atraía, não tem mais. Em compensação, aumentaram os clientes de São Pedro da Aldeia. Para cada cliente de Cabo Frio, dez são de São Pedro da Aldeia.”

O forte de vendas do sebo, segundo Simone, continua a ser pela internet. O “Ponto do Saber” é associado do site Estante Virtual com uma média de venda de 200 livros por mês.

O sebo está na rua Jardim Campo Redondo número 152 (telefone 2625-0290), primeira rua depois do posto de gasolina “Elefantinho”.

Aluguel caro tira sebo de Cabo Frio

O sebo tem 21 mil livros com bons preços. Funciona de segunda a sexta-feira das 7h às 11h e das 13h às 17h.

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|O CABOFRIENSE É SACANA|O CABOFRIENSE É SAUDOSISTA|

QUEM É O CABOFRIENSE?

Vivemos em uma cidade e nos identificamos com ela, unidos que estamos por laços culturais, simbólicos, expectativas, humores e projetos. Mas como nos vemos? Que identidade temos? Esta ava-liação não está escrita, articulada, exposta con-sensualmente. A indagação de quem somos, parte de uma visão pessoal inscrita pela experiência e pela nossa maneira de ver as coisas. Afinal, qual é a característica do cabofriense? O cabofriense tem algum traço identificador?

Primeiramente, há uma pedra no caminho: quem é o cabofriense? De um modo geral, os en-trevistados aceitam a idéia de que os cabofrienses históricos são aqueles que não só nasceram na

cidade, mas que têm aqui mais de uma geração lhes antecedendo. Há quem não tenha nascido na cida-de, num primeiro momento, forasteiro, mas que se estabeleceu aqui formando família e que também se considera legitimamente um cabofriense.

O tema é espinhoso, mas os entrevistados cons-truíram ao longo do tempo julgamentos que levam a caracterizar quem é o cabofriense. O interessante é que cada um formou uma idéia especial do ca-bofriense e, no entanto, os entrevistados falam do tipo que entendemos ser realmente o nosso perso-nagem. E para você, leitor da NOSSA TRIBO, quem é o cabofriense? Mande um email para a gente que daremos continuidade a este tema. (José Correia)

Em busca de uma definição

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|O CABOFRIENSE É HOSPITALEIRO|O CABOFRIENSE É GENTIL|

Em março de 2012, Meri Damaceno lançou o pri-meiro volume da série “Guardas da memória”, livro que reúne dezenas de depoimentos de antigos moradores de Cabo Frio abordando os mais variados aspectos da vida cotidiana de cidade.

“O cabofriense é muito sacana, é muito sarcástico, gosta de fazer piadas e de dar apelidos”, afirma Meri Damaceno.

Para ela, este é um jeito aberto do cabofriense fazer amizade. Ela observa que as pessoas de Búzios e de Ar-raial do Cabo também são assim.

“A gente já recebe as pessoas sacaneando. Esse é o

O cabofriense é sacana, mas está nostálgico porque a cidade mudou

nosso traço, além de sermos solidários e hospitaleiros. As pessoas novas na cidade, a gente sempre recebeu de braços abertos. Isso é na Passagem, no São Bento e na Vila Nova. Recebemos dando um apelido, ‘ô paulista’, ‘ô mineiro’. Na bagunça, somos parceiros. E as pessoas aceitam.”

Para Meri, há pessoas que moram há anos na cidade e reclamam que é difícil se integrar com o cabofriense.

“Tem gente que ainda não sacou isso, que o cabofrien-se é sacana. Se ainda não fez amizade com o cabofriense é porque o problema é dele”, sentencia.

Mas Meri Damaceno também observa que o cabo-friense está com saudade do que ele foi um dia e do que a cidade deixou de ser.

“Cabo Frio cresceu muito rápido. Foram 50 anos em 5 anos. E o cabofriense está ocioso, em busca do que ele foi, está distante do que a cidade já foi. Está procurando o espaço que já perdeu. Vive a ansiedade de se reencontrar. Antes, ele tinha vizinhos ao lado que conhecia. A vizi-nhança se perdeu. Os bairros perderam a identidade. O espaço público se perdeu. A esquina era uma referência com a padaria, o armazém, a farmácia. O comércio, ele conhecia o armazém do seu Chiquinho, do seu Barreto. Em qualquer lugar o cabofriense comia o seu peixinho, o que hoje não tem mais. Essas coisas corriqueiras desa-pareceram. E esse cabofriense ficou nostálgico”, avalia Meri Damaceno.

“O cabofriense, homem ou mulher, é acolhedor. Os que aqui chegam são recebidos com simpatia”, é como o ex-prefeito define a personalidade do cabofriense.

“Ele não tem muita consciência do privilégio de ter nascido e de viver numa cidade de tanta beleza natural. Mas gosta do vento nordeste e sabe que quase sempre o sudoeste indica chuva e frio.”

Para José Bonifácio, há também um traço nostálgico no cabofriense.

“Ele é saudosista. E quando dois ou três cabofrienses se reúnem gostam de relembrar a infância e o que ou-viram dos seus pais, fatos e acontecimentos passados na vida da cidade.”

O cabofriense é acolhedor e saudosista

Para Meri Damaceno, o cabo-friense é brincalhão, é sacana.

A cabofriense Meri Damaceno, 53 anos de idade, é a pesqui-sadora que mais se dedica à história oral e fotográfica de Cabo Frio, e quem tem, portanto, um ponto de vista bem fundamen-tado para dizer quem é o cabofriense.

O ex-prefeito de Cabo Frio, José Bonifácio Ferreira Novellino (foto), cabofriense, 65 anos de idade, é de opinião que o cabofriense é, antes de tudo, uma pessoa acolhedora, e tem a natureza como refe-rência.

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Gerson Tavares divide a popula-ção de Cabo Frio entre os forastei-ros e os verdadeiros cabofrienses, que são aqueles que nasceram em Cabo Frio, de pais cabofrienses. Segundo Gerson, os traços dos cabofrienses - divididos em positi-vos e lamentáveis - se confundem muito com as características dos brasileiros.

“Esse lado gentil do cabofriense é nacional. O lado bom do cabo-friense é que ele confia. Por exem-plo, o vendedor no bazar, se ele vê que você não tem todo o dinheiro para pagar, ele diz com naturalida-de: ‘depois você paga’. E essa é outra característica do cabofriense: ele não chama você de senhor, mas de você, o que é simpático e é natural nele. Isso deixa o turista, o visitan-te, à vontade. Ele se sente melhor.”

Mas Gerson Tavares também observa que o cabofriense é re-servado com o forasteiro. Gerson entende que é uma forma do ca-bofriense se proteger daquele que vem de fora e que, na verdade, não deixa de ser um competidor.

“O cabofriense tem muito o

|O CABOFRIENSE É PROVINCIANO|O CABOFRIENSE É ECOLÓGICO|

O cabofriense vê o forasteiro como competidor, por isso é reservado

verniz do carioca, até na maneira de se vestir. Mas se você meter a unha e descascar vai ver que ele é provinciano. Eu, por exemplo, raramente almocei na casa de um cabofriense. Creio que isso o dese-

quilibra emocionalmente, que ele não se sente à vontade com você na casa dele. O paulista também é um pouco provinciano, mas não tanto reservado. O baiano, não, é muito à vontade, é aberto, mas se protege de outro modo.”

Gerson Tavares faz sauna em um clube da cidade e percebe que o cabofriense tem como temas prefe-ridos o futebol e a comida, porque se sente tímido quando o assunto sai dessa esfera. Se o assunto, então, se torna cultural, o cabofriense si-lencia. “Quando puxo esse tipo de conversa, apagam”, afirma Gerson.

“O cabofriense ser provinciano não é defeito, é uma característica. O francês é fechado. O inglês, mais fechado ainda. Mas são todos muito bons. O francês e o americano, no entanto, têm educação coletiva. O brasileiro, não, é mal educado: não sabe dizer obrigado, desculpa, com licença e por favor. Mas há no Brasil, como em outros países, diferenças regionais. Do Norte e Nordeste até o Rio de Janeiro, é um Brasil. De São Paulo para baixo, é outro país.”

Gerson Tavares (foto) fixou residência em Cabo Frio há quase 30 anos. Diretor de cinema e de do-cumentários premiados, Gerson Ta-vares já estudou cinema na Itália, artes plásticas na França, viajou pelo Brasil e pelo mundo. Adaptou para o cinema, o livro de Carlos Heitor Cony, “Antes, o verão”.

A revista “Nossa Tribo” você encontra na Livraria do Boulevard.

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|O CABOFRIENSE É RESERVADO |O CABOFRIENSE É ACOLHEDOR|

As famílias cabofrienses, influentes, sempre dependeram do poder público

O cabofriense está ligado à sua terra

“Eu tenho esse sentimento profundo, essa ligação com a nossa terra e sua beleza. A nossa natureza é excepcional. O cabofriense ama sua terra.”

Yone Nogueira lembra que intelectuais importantes que passaram por Cabo Frio, como Pedro Bloch e Rachel de Queiróz, deixaram textos expressando essa identifica-ção pela bela natureza e um amor enorme a Cabo Frio.

“No sul da França, o provençal também tem uma re-

A professora cabo-friense, Yone Nogueira, às vesperas de comemorar 84 anos de idade, define como traço mais marcan-te daquele que nasceu ou que adotou Cabo Frio para viver, o amor à terra.

“Há dois tipos de cabo-frienses: o das famílias tradicionais ligadas ao poder e o das famílias tra-dicionais pobres, fora do poder. Estes foram sendo excluídos também geo-graficamente: do centro, foram para São Cristovão, e daí para Jardim Esperan-ça. As famílias influentes têm como característi-ca sempre dependerem do poder público. Como prestadores de serviços ou empregados. Ter uma portaria da Prefeitura nas famílias tradicionais nun-ca foi considerado como um pecado, mas como um direito”, afirma.

As migrações de Cam-pos e de cidades das bai-xada fluminenses, na

observação do professor, já se estendem a três gera-ções. “Estes você nem co-nhece porque se mistura-ram aos forasteiros e não se sabe quem é quem”.

Há algum tempo, Cabo Frio também sofre dois tipos de migração: a da classe média que foge da violência do Rio de Ja-neiro ou que, aposentada em outros Estados, se fixa na cidade, e a migração das classes pobres, que vêm à procura de oportu-nidade de vida.

“Enquanto o cresci-mento populacional no Estado é de 1,9% ao ano, em Cabo Frio é de 8%. Ao longo dos anos, Cabo Frio perdeu sua identidade cultural. Quem é a elite

“Um dos traços do cabofriense é não ter traço”. A afirmação é do cabofriense Luiz Anto-nio Nogueira da Guia (foto), o Totonho, 63 anos de idade, professor de História aposentado pela secretaria de Esta-do de Educação, filho de uma tradicional família da cidade.

de hoje? Há uma parte que não se liga ao dia a dia da cidade. E há outra elite que está ligada ao poder públi-co. Mas que projeto têm para a cidade? Respondo: ganhar dinheiro no prazo mais rápido possível. As elites antigas tinham um projeto para a cidade. As novas, não. Porque nem sociedade civil organizada temos, excetuando o SEPE, a OAB e a ACIA. Mas esta, de seis mil estabelecimen-tos, só tem perto de quatro-centos filiados. Diferente de Paraty, que se favoreceu pela presença de uma bur-guesia paulista, Cabo Frio não tem mais referência que favoreça um projeto para a cidade”, avalia o professor Totonho.

lação forte com a beleza de sua paisagem. Cabo Frio tem um micro clima especial, favorecido pela ausencia de rios, o que dá uma luminosidade, um céu e um mar únicos.”

A recordação mais constante que Yone Nogueira guarda é o mar. “Até hoje ouço a barulho do mar. Morava na rua Major Belegard e o mar, representado pela lagoa e pelo oceano, marcou minha criação. Frequentava mais a lagoa, mais calma. E o mar, na praia, tinha o acesso mais difícil e mais perigoso. Sempre que íamos para a praia, papai lembrava que tivessemos cuidado com os tinturei-ros, que eram os cações, que vinham até à beira da praia. Por isso, defendo que as secretarias mais importantes de Cabo Frio são as de Cultura, Meio Ambiente e Turismo.”

Esta é uma visão que ela tem de um Cabo Frio que se perdeu. “Muito se perdeu e muito se ganhou. A cidade mudou muito. Talvez para os mais novos, o Cabofolia tenha uma importancia maior.”

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LanÇamento

um lançamento original de livro, em que o tema se encontra com o seu contex-to. O tema: o tráfico ilegal de escravos. O contexto: quilombo da Rasa, em Búzios.

Reunindo pessoas das comunidades quilombolas, como Rasa, José Gonçalves, Maria Joaquina, Botafogo, Caveira, Vila Verde, além da presença de Dona Eva Maria Oliveira, a mais antiga moradora da Rasa, 103 anos de idade, assim como professores e autoridades, a professora Nilma Accioli lançou na quinta-feira, dia 21 de fevereiro, às 15h30, o livro “José Gonçalves da Silva à Nação Brasileira: O tráfico ilegal de escravos no antigo Cabo Frio” (Funarj/Imprensa Oficial, 2012).

O que chamou a atenção de Nilma Accioli em seu trabalho de pesquisa foi constatar que várias comunidades negras rurais na Região dos Lagos mantinham viva a memória do traficante de escravos José Gonçalves da Silva (1801 ou 1802 -1868).

“Uma vez, esperando uma van, era tal a demora que reclamei, quando alguém disse: ‘aqui é terra dos pretos traficados por José Gonçalves, tem de esperar’. Além de exisitir o bairro José Gonçalves, fiquei impressionada com a preservação do nome dele”, contou Nilma.

Ao pesquisar a vida e a atividade do português José Gonçalves, Nilma Accioli pode restabelecer como o tráfico ilegal se

O tráfico ilegal de escravos

O local de lançamento do livro sobre José

Gonçalves da Silva e o tráfico ilegal de es-

cravos no antigo Cabo Frio, não poderia ser

mais apropriado: quilombo da Rasa. Na

outra foto, a profes-sora Nilma Teixeira

Accioli, autora do livro.

estruturava, as conexões comerciais e po-líticas que o sustentavam, e a importância que o antigo Cabo Frio tinha nessa rede, onde o tráfico se acentuou a partir de 1840. Só entre 1844 e 1845, quase 7 mil escravos foram desembarcados em Cabo Frio.

O caso de José Gonçalves é singular, na medida em que o governo imperial o pune como satisfação à pressão dos ingleses, ao sequestrar seu patrimonio em 1851. As denúncias que José Gonçalves faz publi-camente contra o governo, defendendo-se do que ele chamava de perseguição, é que dão subsídios para compreender o tráfico ilegal de escravos.

José Gonçalves desafiava as autorida-des chamando, por exemplo, o ministro de Justiça, Eusébio de Queirós, de prepo-tente e de ladrão.

“E o ministro não reagia. José Gonçal-ves então afirmou: ‘Sou traficante, mas o tráfico não é uma coisa que se faz sozinho.’ Esse homem foi importante para mostrar como o tráfico se estruturava.”

Durante a pesquisa, Nilma Accioli ficou admirada como pessoas das comu-nidades tradicionais de Búzios, Cabo Frio e São Pedro da Aldeia, ainda guardam na memória os caminhos do tráfico ilegal de escravos e os locais em que se davam os desembarques: Peró, Arpoador da Rasa, Barra do Una e Ponta das Emerências. (Texto e fotos: José Correia)

O livro pode ser adquirido pelos telefones (21) 9460-7789 e (22)9859-4619.

Eva Maria Oliveira, 103 anos de idade, vive até hoje onde nasceu, no Quilombo da Rasa, Búzios.

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José Correia

Roland Corbisier: o leitor de São Pedro da Aldeia

Meu Diário

Há 34 anos fazia o que muitos com-pa-nheiros também fizeram até ontem: pegava o jornal na gráfica, colocava os am-arrados em meu carro e saía distribuindo os exemplares. Rodava o jornal “Aqui” na gráfica do Jornal do Comercio no Rio de Janeiro e vinha para a Região dos Lagos deixando-o em muitos lugares até chegar a Cabo Frio, onde morava.

As bancas também recebiam o jornal. Num certo sábado, por volta das 12h30 chegava ao centro de São Pedro da Aldeia, quando o rapaz da banca saudou o meu aparecimento: “Finalmente, o jornal chegou. Tem um senhor que já veio aqui uma porção de vezes procurando esse jornal.”

Eu me senti gratificado porque mo-men-taneamente circulou em mim um sentimen-to de que todo aquele esforço encontrava um reconhecimento. Entreguei os 25 jornais para o rapaz, ele os ajeitou entre outros jor-nais e soltou a expressão: “É esse aqui. É esse senhor aqui que está procurando o jornal”. O rapaz apontava para o homem na capa do jornal “Aqui”, Roland Corbisier.

Havia entrevistado o filósofo em sua casa em São Pedro da Aldeia, à beira da Laguna de Araruama. Dei chamada na primeira página (caixa alta para o nome Roland Cor-bisier, subtítulo “O espólio da ‘revolução’ é um país falido” e foto dele lendo um livro) e toda a contra capa do jornal, com o subtítulo “Ninguém nasce socialista e o socialismo

não se adivinha”. Reconhecia a importancia de Roland Corbisier (o intelectual brilhan-te, como uma vez o caracterizou Tristão de Athayde). Eu era formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Flumin-ense e mesmo sem ter Roland Corbisier na bibliografia dos cursos de Ciência Política conhecia sua história como intelectual e político. Havia lido alguns de seus livros e algumas vezes os consultara. Por isso, quan-do o entrevistei levei meus livros para que ele os autografasse, “Liberdade e política”, “A enciclopédia filosófica” e “Autobiografia filosófica”.

Naquele ano, 1980, Roland Corbisier es-tava com 66 anos de idade, lançando o livro “Os intelectuais e a revolução” e a “História da filosofia”, e esperava reencontrar-se com a história interrompida para ele com o golpe de 1964. O Brasil ensaiava o que se cham-ava de abertura democrática. Na parede da biblioteca de Roland Corbisier julgo ter visto - se não me falha a memória - as fotos de filósofos do idealismo alemão, Fichte, Schelling, Feuerbach, Hegel, e o materialista dialético, o gigante Karl Marx.

Na entrevista que fiz, Roland Corbisier defendia que qualquer especialista - cientis-ta, operário, técnico, artista - pode-se tornar um intelectual - aquele que tem a visão do real em sua totalidade, o especialista da não especialidade ou do universal, portanto, o intelectual que se torna filósofo - desde que supere ou transcenda os limites de sua especialização e alcance a consciência da totalidade na qual se encontra.

“A partir desse momento em que ad-quirem essa consciência que torna transpar-ente a estrutura, as engrenagens do sistema que os oprime e explora, tornam-se não só intelectuais, mas revolucionários, compreen-dendo que só a destruição do sistema e sua substituição por outro pode libertá-los da opressão e da espoliação”.

Roland Corbisier era natural na forma simples e compreensível de expor seu pens-amento, plenamente certo de um futuro emancipador da humanidade e com a con-vicção otimista da realização da filosofia da história. Sua confiança no projeto racional da história exprimia-se na frase que concluía esta conversa: “hoje não se constróem mais catedrais góticas”. É verdade, embora o ceti- cismo e o niilismo tenham se tornado tão imponentes quanto qualquer catedral.

O importante filósofo brasileiro Roland Corbisier (1914-2005), cujo pensamen-to exibia afinidades com o marxismo, teve casa em São Pedro da Aldeia | Foto: José Correia.

Ninguém nasce so-cialista e o socialismo não se advinha. Roland Corbisier

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O reencontro, 30 anos depois

Depois de ver o neto, ela vai para a Rodoviária embarcar para Cabo Frio, quando alguém lhe chama: “Ro-san-gela!” Rapidamente passa pela mente de Rosa a surpresa pelo nome que era chamada, Rosangela, afinal, só era conhecida assim na adolescencia, na época em que fazia balé clássico. Rosa se vira e reconhece Paulo Roberto, seu primeiro namorado quando era então uma jovem de 16 anos de idade. Trinta anos depois, Paulo e Rosa se reviam. Ela, com dois filhos e um neto. Ele, com três filhos. Ambos separados se reencontravam na Rodoviária de Pe-trópolis, cidade onde nasceram.

“Não esqueço a data porque foi o

Romance

Rosa Demarchi e Paulo Roberto: continuidade de uma história de amor interrompida quando eram adolescentes.

Tudo aconteceu de forma imprevisível. É assim que começa quase toda a narrativa de romance. Rosa Demarchi mora em Cabo Frio, mas naquele dia estava em Petrópolis, onde esta história tem início. Ela havia feito uma apresentação de dança no Rio de Janeiro e, ao invés de voltar para Cabo Frio, foi a Petrópolis visitar o seu primeiro neto, que acabara de nascer.

dia de nascimento de meu neto, seis de setembro de 2009. Foi Paulo que me reconheceu. Ele estava com a filha mais velha. Meu coração disparou. Começamos a nos falar como amigos. Ficamos namorando de longe, por três anos. Há um ano é que decidimos ficar juntos”, conta Rosa Demarchi.

Paulo Roberto é empresário, traba-lha no ramo de representação comer-cial há mais de 18 anos, morou no Rio de Janeiro e no interior de São Paulo. Aquele encontro em Petrópolis estava escrito porque Paulo vinha de vez em quando a Cabo Frio, mas o destino nun-ca tecera seus laços que conduzissem a se realizar aqui o reencontro.

Rosa se instalou em Cabo Frio atra-ída pelos pais que aqui fixaram resi-dência. Acompanhou a doença do pai e para estar mais perto da família acabou ficando. Ela começou a trabalhar no que sabe fazer bem desde os 5 anos de idade, dançar. Criou então a Companhia de Dança Rosa Demarchi. Seu filho, Mairon, dedicou-se também à dança e hoje, aos 18 anos de idade, dá aula. A Companhia tem participado de festivais de dança em Campos do Jordão, Rio de Janeiro, Juiz de Fora e Rio das Ostras.

“Nunca voltamos para casa sem um prêmio, nem que seja um terceiro lugar”, afirma cheia de orgulho Rosa Demarchi.

Neste ponto, Rosa observa que os festivais de dança de Cabo Frio podem adotar o modelo de Rio das Ostras, que analisa os vídeos dos candidatos ao festival e fazem uma escolha criteriosa sobre o valor de cada apresentação.

Paulo continua viajando, mas está sempre presente participando de todos os projetos de Rosa, e fazendo o papel do coordenador de despesas.

“Sou muito centrado. Gosto de pla-nejar as coisas.”

“Paulo se dedica a tudo aquilo que faço. Ele cuida de mim”, confirma Rosa.

Podemos concluir como inspiração desta história de romance o nome do programa de Rosa Demarchi na “Cabo Frio TV”, Canal 10: paixão e arte em movimento. (Texto e foto: José Correia)

Rosa Demarchi e o filho Mairon, 18 anos, que já dá aulas de dança.

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Rodapé“Durante a ladainha, na igreja, fizera-lhe

“Todos ficaram suspen-sos. Eram dois valentões que discutiam, um ‘Lira’ e um ‘Jagunço’. Aquilo era comum. Nunca se entendiam adeptos das duas bandas musicais ... Tudo era pretexto para brigas ... Vivia-se em uma época de terror. Os pais brigavam com os filhos, as mulheres com os maridos, noivos se des-manchavam, solteiros não se

Antes que a professora Tereza Ramalho Faria (que escreve uma coluna na página 8) nos puxe a orelha por não colocarmos o hífen em cabo-friense, informamos que escolhemos cabofriense, sem hífen, por acharmos graficamente mais belo.

Trecho do livro “Culpa dos paes” de Pedro Guedes Alcoforado

namoravam se pertencessem a partidos contrários. As pai-xões chegavam a todos os excessos, dividindo, separando por abismos de ódios aquele povo outrora unido numa só família. Ninguém tinha ga-rantia, era o Caos, a desordem, o arbítrio.

(...) A justiça,chamou-se pau; a razão chamou-se bala. Ninguém podia ser neutro.

Ou se era ‘Lira’ ou se era ‘Jag-unço’. O comércio, a proteção aos amigos, os favores, se chamavam ‘solidariedade mu-sical’. Ofensa feita a um ‘Lira’ era feita a toda sociedade. Humilhação feita a um’Jag-unço’ acabava em pau. Tudo era assim.

(...) Aqueles mais pru-dentes ou menos corajosos tra-taram de retirar suas famílias.

O resto, o grosso, ficou. Foram aparecendo rumores, outras discussões. Tudo ameaçava uma tragédia.

(...) Durante muitos anos a vida de Cabo Frio foi assim.

Enquanto esta cena se desenrolava no Largo da Ma-triz, hoje Praça Porto Rocha, uma cena bem diferente po-dia-se ver na rua dos Portões, hoje Bento José Ribeiro.

HOMENAGEM AO POETA > Desde 2010, sempre dia 26 de janeiro, admiradores do poeta cabofriense Waldemir Terra Car-doso (1912-1936) homenageiam o bardo no cemitério da Ordem Terceira levando flores ao túmu-lo dele e lendo algumas de suas poesias. Este ano não foi diferente. Lá estavam: Rose Fernandes, Flávio Peixoto, José Antonio Mendes, José Correia e Márcia Quaresma. “Essa homenagem ainda vai virar uma romaria”, é o que pensam os fãs de Waldemir Terra Cardoso. Nesse dia surgiu a idéia de se criar a Socie-dade da Cultura de Cabo Frio, meio de promover o pensamento e as atividades culturais em nossa terra. A Socuca é uma associação aberta.

O documentário “Reis do Sagra-do: uma história real e centenária à luz de velas”, dirigido por Lucas Müller é de tirar o chapéu. Ele montou uma equipe de primeira, tudo prata da casa, e produziu um documentário sobre Folia de Reis de Cabo Frio e de Arraial do Cabo que é para fazer história. O documentário de 33 minutos traz entrevistas, belas imagens, enfim, a história da folia em Cabo Frio. Roda agora em festivais de cinema do Brasil e internacionais e será exibido em Cabo Frio em setembro, no Curta Cabo Frio. É a nossa tribo de Cabo Frio em atividade.

Folia de Reis

Ditadura do hífen

“A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.”João Guimarães Rosa

{Sob nossa MIRA}

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Quatro perGuntas

um sinal. Ela (Dalita) compreendera.”Como era dia de festa e o

pai festeiro, Dalita ficara em relativa liberdade. Demais, Dakir não havia aparecido na cidade desde a terrível cena anterior.

Viera naquele dia ao bair-ro de Santo Antonio para ver Dalita, mas tivera o cuidado de se ocultar dos parentes dela. Queria vê-la; não pode-

ria partir sem falar-lhe.Durante a ladainha, na

igreja, fizera-lhe um sinal. Ela compreendera, e ali, estavam juntos, na rua dos Portões.

- É necessário, acredita. Eu não posso viver aqui sem te ver, sem te falar.

- Tu não me esquecerás?- Como posso eu esque-

cer-te, si és a minha própria

vida? Sou eu quem te pede que esperes por mim ... Que tenhas confiança ...

- Juro que esperarei por ti.- Quero confiar. Preciso

confiar. Si não confiasse, morreria.

- Eu te amo, Dakir.- Eu te adoro, Dalita.Abraçaram-se. Suas bocas

instintivamente se encon-

traram num beijo longo. E pela primeira vez suas naturezas sexuais acordaram, vibraram em esplendores pagãos, em crepusculos sanguineos, em auroras doiradas. Foi o pacto perpetuo da carne.

Ao separarem-se, Dalita disse:

- Vai. Serei tua sempre e de qualquer modo.”

Com a palavra, Rose FernandesA professora Rose Fernan-

des acaba de lançar o livro “Cabo Frio: polo colonizador do Brasil”, resultado de 12 anos de pesquisas. Quatro perguntas para Rose Fernandes.

1 O que motivou você a pesquisar e a escrever o livro “Cabo Frio: pólo colonizador do Brasil”?

É o que sempre me move e me motiva: o sentimento nativista, ou seja, o amor à nossa terra e à nossa gente. Levar ao nosso povo o conhecimento de nossa história e a oportunidade de experimentar o orgu-lho de ser quem somos.

Pelo resultado da procura do livro, você acha que há um grande interesse sobre a nossa história?

O resultado foi além de to-das as expectativas. O objetivo principal desse livro era atender a carência de um material peda-gógico nessa área, mas em uma semana, somente a Livraria Ler e Ver, no centro de Cabo Frio, vendeu 24 exemplares para um público heterogêneo, inclusive para turistas. Com isso, eu acho que sim, há um grande interesse.

2

Que mensagem você acredita que fica de seu livro?

Ninguém valoriza aquilo que não conhece. Eu acredito que, quando conhecemos nossa histó-ria, estamos resgatando a nossa identidade e elevando a nossa auto-estima. Isso é mais que uma men-sagem, é o meu desejo. “Cabo Frio: polo colonizador do Brasil” não é só um título, é uma conclusão, o resultado de 12 anos de pesquisa que nos revelou a importância da nossa gente para a construção de uma nação.

Quais são os seus novos temas de pesquisa?O meu projeto é dar continuidade ao “Cabo

Frio: pólo colonizador do Brasil”, retirar os as-suntos mais relevantes que já foram pesquisados e publicar em opúsculos. Paralelamente, estou pesquisando a vida pessoal de Teixeira e Sousa, a fim de atualizar a sua biografia, escrita em 1876. E continuar a busca incessante do documento original do Auto de Fundação da cidade de Cabo Frio, que para mim é o documento mais impor-tante da nossa história. Eu o procuro desde 1998 e, se ele ainda existe, tenho muita esperança em encontrá-lo.

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Odisséia no mercado

Paro o carro, salto em direção ao mercado,Atravesso a rua, depois de me livrarDe uma bicicleta, não, de duas, três, na contramãoDe carros ferozes prontos para o ataque e mordeduraLivro-me por fim de apressados e irados sujeitos/estomago

Este mundo mirabolante, sufocante e ruminanteQue cinicamente rima Lacerda com merdaMas igualmente interessante, ignorante e dessemelhanteQue de fancaria associa forasteiro a embusteiroÉ o que também junta cordial a punhal

Nas prateleiras do mercado retiro café,Vinho e cerveja (preciso da bebida/saída)Mais adiante, uma pimenta/tormentaPuxo uma garrafa de azeite/deleiteO olfato me leva ao queijo, um beijo!

Passo ao lado do Ladislau, ah, sim, o bacalhauQue disparate, esquecia-me do tomateDirigindo-se a mim, olha só, vem o CastroO eminente poetastro/pulhastroO que reflete em meu joanete, sim, o saboneteEm nossa frente atravessa uma mulheronaBatata, ela me sugere trezentos gramas de azeitona

Castro mete uma conversa sobre tupinambáDesculpe, Castro, lembrei-me do maracujáDescaminha para a filosofia e cita HumeAh, sim, era o que faltava, o legumeSurge então o Ladislau, quem me lembrou do bacalhau,Que junta-se ao Castro e trocamos rastro de conversa

Fui!, esquecia-me, falta-me o pão, o doce, a cavacaChego à padaria, nada encontro, faço a pergunta velhaca:Qual o paradeiro do confeiteiro?

Ó Ladislau, ó Castro, não me levem a mal, sigo às comprasPorque a filosofia da sutileza é a sobremesa!

Poesia/José CorreiaPorque decidi viver aqui!

Mar + ar

Foi na década de 1950, duas semanas de férias, que conheci o mar de Cabo Frio (Praia do For-te). Fiquei de voltar. Aconteceu em 1990, saindo de São Paulo (capital) em busca de ar. Tinha acabado de me aposentar na Câmara Municipal de São Paulo, depois de 35 anos, sendo que nos últimos 15 anos trabalhando diretamente com vereadores e nas comissões (Meio Ambiente e Cultura). São Paulo cada vez mais recebendo carros e as ar-térias viárias, quando modifica-das, apenas transferiam o nó do trânsito. O momento para sair era esse.

Já conhecia a Raquel, que mo-rava no Sana (Macaé). Fomos visitar as cidades da região, desde Maricá até Macaé. A escolha por Cabo Frio já estava na minha cabeça. Mas não deu. O prefeito estava em conflito com os vereadores e havia muito lixo para ser recolhido. A saida foi Arraial do Cabo, recém emancipado (“casa nova, vida nova”). Lá chegando, vi duas “margaridas”, com luvas, limpando a praça de entrada. Vamos morar em Arraial, foi a decisão. Não conhecíamos ninguém na cidade. Ficamos uns 6 anos em Arraial, chegando de São Paulo com um computador, o poderoso XT e dois gatos, “Preta” e “Pitágo-ras”. Sempre pensando na Praia do Forte.

Em Arraial, a conexão era péssima. Um engenheiro da Telerj aconselhou: uma fiação sem emendas de minha casa até o painel da Telerj ou mudança para Cabo Frio. Aluguei, então, uma sala na Praça Porto Rocha, no edífício Mureb, de frente para a Telerj e, todos os dias, após o café-da-manhã, vinha para Cabo Frio retornando à noite. Todos os dias fazendo esse percurso, deve dar uns 26 quilômetros, é dose.

Até que Raquel encontrou uma pequena casa na Ogiva, na simpática Rua Torta. Estamos na terceira casa no bairro da Ogiva, agora com bastante espaço.

A Praia do Forte? Sempre que vou para a cidade passo pela praia e renovo “as baterias” ao admirar o mar. Quando recebo amigos de fora é a Praia do Forte o local escolhido.

Quanto ao “AR”, é preciso dizer alguma coisa?

Foto: Luiz Carlos de Barros, ao lado de sua mulher Raquel Machado Kremer, terapeuta.

Luiz Carlos de Barros

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Uma revistaculturalde qualidade

Teixeira e Sousa: uma nova data de nascimento, dia 30O ano em que Cabo Frio feste-

jou os 200 anos de nascimento de seu mais destacado filho, Antonio Gonçalves Teixeira e Sousa (1812-1861), dia 28 de março, foi também o ano em que se descobriu que a data correta de nascimento do escritor cabofriense, o primeiro romancista brasileiro, é, na verdade, o dia 30 de março.

A descoberta é da pesquisadora cabofriense Rose Fernandes, feita em

outubro de 2012, quando teve acesso ao Livro de Batismo de Escravos e Livres da Freguesia de Nossa Senho-ra da Assumpção de Cabo Frio, no Arquivo da Arquidiocese de Niterói.

O documento revela mais: que Teixeira e Sousa não é filho de um português com uma negra - como descrevem todos os livros que se referem à sua biografia - e, sim, filho de “pardos forros e naturaes desta Freguesia”, como está registrado.

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