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REVISTA ON-LINE QUADRIMESTRAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSE ANO II – Nº 5 JUNHO A SETEMBRO DE 2013 Fotografia: Jo Stein NAZARÉ DAS FARINHAS - BA Sistema Geográfico Itaparicano

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REVISTA ON-LINE QUADRIMESTRAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSE ANO II – Nº 5

JUNHO A SETEMBRO DE 2013

Fotografia: Jo Stein

NAZARÉ DAS FARINHAS - BASistema Geográfico Itaparicano

EDITORIAL

A Ciência Iniciática das Idades perpassa todo o conhecimento humano. E forçando um

pouco o raciocínio, podemos afirmar que é, inclusive, anterior ao estágio humano, na época em que os Deuses ainda não haviam se manifestado em níveis mais densos de matéria e consciência. Esta Ciência Iniciática nos dias de hoje podemos denominar de Eubiose.

Ora, a Eubiose diz-nos que durante a descida da consciência divina para a face da Terra e o seu retorno como produção, trabalho, experiência humana para os Deuses, numa espécie permanente de sístole e diástole, há o que denominamos de divinização do humano e humanização do divino.

Mas para os seres humanos em geral e o discípulo da Eubiose em particular, apresenta-se uma tarefa espiritual, científica, artística em especial, que é promover o entendimento da miríade de saberes dispersos, provocados pela própria expansão da consciência divina e também pela produção multifacetada da experiência humana. É fundamental organizar estas informações e também, ao mesmo tempo, dar-lhe um sentido cósmico e universal.

Com a evolução do conhecimento humano em forma vertiginosa nas últimas décadas, hoje se sabe muito sobre a genética, o funcionamento do cérebro, do cosmos, da física quântica, dos comportamentos humanos, da robótica e de dezenas de especializações de todo o tipo. Ao mesmo tempo, as pesquisas arqueológicas aproximam-nos como nunca dantes de civilizações praticamente desconhecidas até então.

A capacidade de armazenamento e cruzamento de informações em computadores cada vez mais poderosos e sofisticados é desconcertante.

Entretanto, por mais que a humanidade avance nesses diversos setores da vida contemporânea, mais difícil torna-se dar um sentido a sua vida diária, inserir seu projeto de vida numa construção que se apresente como global, universal.

Daí surge a necessidade de trazer os avanços da ciência, da tecnologia e, porque não, da arte, para o dia a dia das pessoas, sem o que grassa a angústia e a incompletude existencial. Sem isso, o saber especializado fica mais distante da esfera pessoal, enquanto a demanda de conhecimento torna-se cada vez mais rápida, exigente e complexa.

Mas as pessoas não estão indiferentes. Soluções estão surgindo em toda parte. Novos conceitos como pensamento ecológico, sustentabilidade e interdisciplinaridade apontam saídas para essa solidão angustiante do homem frente ao vórtice da ciência e da tecnologia. Estas saídas apontam para a comunicação em rede, equipes interdisciplinares que buscam as complementaridades pessoais e grupais. Tudo isso pela simples constatação que é impossível, numa só pessoa, todas as formas de conhecimento e informação. Daí, o compartilhar de saberes e a multiplicação das melhores alternativas para todos.

Com o compartilhamento dos saberes acontecendo em rede, em vez de estruturas administrativas baseadas em hierarquias rígidas e funcionais, poderemos já antever o fim das angústias existenciais e o aceleramento da humanização do divino e a divinização do humano. Com isso a angústia da incompletude, de sentir-se solitário e alienado do mundo, transforma-se em alegria plena de estar participando de um projeto de evolução em que Deuses e Homens trilham juntos o caminho.

PRAIA DE ITAPARICAFotografia: Associação Cultural Capuêra Angola Paraguassu

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4O MISTÉRIO DOS NÚMEROS, DOS SONS E DAS CORESHenrique José de Souza

“A Evolução é a lei da Vida. O número é a lei do Universo. A Unidade é a lei de Deus”.

(Princípios pitagóricos)

11TRÊS INTELIGÊNCIAS - INTELIGÊNCIA RACIO-NAL QI, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL QE, INTELIGÊNCIA ESPIRI-TUAL QSCláudia Hohl Orsi

A Inteligência Cósmica está em tudo o que existe. Ela sur-ge das duas grandes forças, Purusha (princípio espiritual, alimentado pelo fogo cósmico Fohat) e Prakriti (princípio criativo, alimentado pelo fogo cósmico Kundalini).

13A BUSCA DE ILUSÕESEliseu Mocitaiba da Costa

A vida atual, repleta de distrações e divertimentos e pobre de espiritualidade, vazia de tolerância, amor-sabedoria, verdade e justiça, arrasta o ser humano para fora de si, fazendo-o joguete de seus próprios sentidos em prejuízo de sua qualidade de vida, que deveria ser a essência do seu bem-viver. Essa mesma harmonia como fundamento é a base de nova civilização.

14EUBIOSE, CIÊNCIA ACADÊMICA E CIÊNCIA DAS IDADESAlberto Vieira da Silva

Ciência, Religião, Arte e Filosofia são apenas quatro caminhos para o homem chegar à compreensão do todo, da unidade de que faz parte. Prof. Henrique José de Souza

28O NOVO PARADIGMA ÉTICO-CIENTÍFICOEduardo Búrigo de Carvalho

Paradigma vem do grego paradeigma que significa padrão, modelo.Ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto.Científico é o que tem o rigor científico; método científico.

31OS CÓDIGOS DA ESFINGE: A METÁFORADirceu Moreira

Conta uma antiga lenda que em certa noite de céu muito límpido as estrelas resplandeciam, bailando no ar, como se estivesse acontecendo um grande espetá-culo de incomensurável beleza.

A Ciência dos números e a arte da Vontade, já diziam os sacerdotes de Mênfis, são as duas chaves da Magia, que abrem as portas do Universo.

O número não era considerado pelos antigos iniciados como uma quantidade abstrata, mas como a virtude intrínseca e ativa do Um Supremo – origem da harmonia universal. A Ciência dos números era a das forças vivas, das faculdades divinas em ação nos mundos e no homem, no macrocosmo e no microcosmo.

De fato, se partirmos da “Unidade para a diversidade” – segundo nos ensina uma das Estâncias de Dzyan, isto é, de que “Deus se divide para realizar o supremo sacrifício” – logo deparamos com a sua tríplice manifestação, já com os nomes que lhe dão as várias escolas filosóficas e religiosas, como por exemplo: Vontade, Sabedoria e Atividade; Pai, Filho e Espírito Santo – as Três Pessoas dos cristãos; a Trimurti do esoterismo hindu – Brahmâ, o criador, Shiva, o destruidor, ou melhor, transformador, e Vishnu, o conservador; como forças centrífuga, centrípeta e equilibrante, e até, nas Três Normas ou Parcas mitológicas – Clotho, Lachesis e Atropos, cuja primeira sustinha a roca, a segunda fazia girar o fuso e a última cortava o fio.

A MINHA MENSAGEM AO MUNDO ESPIRITUALISTAQUINTA, SEXTA E SÉTIMA PARTES

ESPIRITISMO, OCULTISMO, TEOSOFIA E MAÇONARIA

“A Evolução é a lei da Vida. O número é a lei do Universo. A Unidade é a lei de Deus”. (Princípios pitagóricos)

Hernrique José de SouzaFundador da Sociedade Brasileira de Eubiose

Essa Causa Una e Trina – Deus ou Logos das principais religiões – é adorada como Ishwara ou Pratyagatma na Índia (o Ser Supremo donde emanaram todas as individualidades; centro de existência imutável, que vive no seio da Existência Única, como Logos Solar, Espírito cósmico, Atmâ etc.); como Tetragramaton (Jod, Hé, Vau, Hé) na Cabala. Considerado em seu papel ativo, é chamado o Demiurgo (o criador do mundo, entre os gnósticos), ou ainda, Viswakarma,

o Deus arquiteto, construtor do Universo. Pouco importa o nome que lhe derem, é sempre o Deus com atributos – Brahmâ-Saguna, proveniente da Divindade abstrata sem atributos – Brahmâ-Nirguna.

Com essa tríplice manifestação, tudo evolui através do Setenário, produzindo os refinamentos infinitos da matéria imponderável – razão, portanto, da multiplicidade das coisas e, desde logo, o fenômeno dos sons e das cores – tal como na arte musical. Harmonia, Melodia e Ritmo através das sete notas da escala.

De fato, nos números, nos sons e nas cores estão contidos os grandes mistérios da Vida.

O MISTÉRIO DOS NÚMEROS, DOS SONS E DAS CORES!

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É como se disséssemos que, números, sons e cores nada mais são do que um fenômeno transcendentalíssimo produzido pela repercussão ou eco (vibração, portanto) da Palavra ou Verbo, através dos vários estados de matéria – cada vez mais densos – até chegar a que conhecemos com o nome de “matéria física”, ou mundo que lhe é correspondente¹¹.

Tal mistério está contido na doutrina do “Verbo-Luz ou Palavra universal e da evolução humana através dos sete ciclos planetários”, seguida daquela outra da “tríplice natureza do homem e do Universo, do microcosmo e do macrocosmo, coroada pela Unidade Divina”; como ainda, na que nos ensinam os Puranas: “O Grande Arquiteto do mundo dá o primeiro impulso ao movimento rotatório de nosso sistema, caminhando alternadamente sobre cada planeta e sobre cada corpo”, cujos planetas, como se sabe, são SETE! ¹²

No homem, por exemplo, através dos seus três corpos, com os quais tem que atravessar – por meio da experiência adquirida em múltiplas existências – os sete estados de matéria, que no caso vertente, melhor será dito, os sete estados de consciência da escala evolutiva dos seres.¹³

O grande Iniciado que foi São Paulo, quando fala de sua Epístola 1 aos coríntios, refere-se à existência de “um corpo material, um corpo espiritual (o ‘perispírito’ dos espíritas) e um espírito”, embora que as religiões vulgares confundam – “com o seu típico materialismo”, como disse o genial teósofo espanhol Roso de Luna – como um só, os dois distintos termos de “Alma e Espírito”.

Por sua vez, Plutarco nos diz que “o homem se compõe de três corpos: o físico, o astral ou anímico e o espiritual”. E acrescenta: “Erram grandemente os que confundem o Espírito ou Inteligência (nous) com a Alma (Psyké). Não menos, os que confundem a Alma (Psyké) com o Corpo (Soma). Da união do Espírito com a alma, nasce a Razão; da união da Alma com o Corpo, nasce a Paixão. Daqueles três Elementos, a Terra deu o corpo; a Lua deu a alma e o Sol deu o Espírito; donde se conclui que, o Homem justo e consciente de todas essas coisas, é, ao mesmo tempo, durante sua vida física, um habitante da Terra, da Lua e do Sol.

Os antigos sábios hindus comparavam o homem a uma flor de Loto: “Sua raiz corpórea está no fundo do lago; suas folhas psíquicas, no seio tranquilo e “lunar” das águas; enquanto, a sua corola – que é a alma já livre da escravidão terrena, e seu perfume, como o próprio Espírito – banham-se sob os vivificantes raios do Sol!”.

O Loto é, de fato, o místico emblema da serenidade budhica... porque, é a planta simbólica que, em sua incomparável alegoria, consta de sete talos. Quatro (tal como os “quatro princípios inferiores” do Budhismo Esotérico) sustêm as respectivas folhas num plano horizontal, determinado pelo nível das águas; dois mais elevados sustêm outras duas folhas no ar, formando os dois vértices inferiores de um triângulo, em cujo vértice superior resplandece a Flor Sagrada, isto é, a “Tríade Superior”, conhecida com o nome de Atma, Budhi e Manas – verdadeiro Eu de cada homem, para não dizer, os pequenos Eus de que é formada a Humanidade inteira, como partículas do grande Eu ou Consciência Universal!

Tudo isso se harmoniza, ainda, com as três forças principais que agem através dos “sete chacras” (centros de força) existentes no homem, porque, de fato, elas são oriundas daqueles três “Aspectos do Logos”; como as “Três Cordas da Vina de Shiva”, ou melhor, as “três gunas” ou qualidades de matéria, conhecidas com os nomes de Rajas, a atividade, a energia, a força centrífuga; Tamas, a inércia, a obscuridade, a força centrípeta, e Sattva, o ritmo ou equilíbrio que daí resulta, donde: Verdade, Pureza e Luz, ou Beleza, Verdade e Bondade, como querem outros, mas, de qualquer modo, divinamente expressas nas exigências musicais de Harmonia, Melodia e Ritmo...!

E é partindo desse princípio – especialmente do que era ensinado nos Colégios iniciáticos do antigo Egito – que a Franco-Maçonaria adotou os Três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre; do mesmo modo que se acha maravilhosamente expresso nas “Três Veredas ou Caminhos” das iniciações bramânicas, isto é, Jnana, o conhecimento; Bhakti, a devoção e Karma, a ação – sendo que os dois (caminhos) laterais condizem perfeitamente com as duas “Colunas do Templo de Salomão” (Jakim e Bohaz) e até... com o de uma famosa Fraternidade trans-himalaia, conhecida

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como dos “Bhante-Jaul” (B e J, portanto), da qual as velhas tradições afirmam ser seu Dirigente “o divino Maha-Chohan” 14

Até mesmo no processo respiratório – ainda hoje desconhecido da Ciência oficial, como muitas outras coisas mais – vemos que é feito através dos três seguintes nâdis (canal, conduto etc.): Ida, narina esquerda ou lunar; Pingala, narina direita ou solar; e Sushumna, ambas as narinas (melhor dito, respiração central ou andrógina), por isso mesmo, o momento em que os verdadeiros Yogis procuram comunicar-se (ligar-se, unir-se, tal como o significado do termo Yoga: união, ligação etc.) com seu Eu divino (seu Pai, seu Cristo ou seu Deus, como querem outros).

Como se viu, a função respiratória ou do “Sopro de Vida” no homem, obedecendo ao transcendental problema do ternário divino, isto é, através de três condutos ou canais (nâdis), sujeita-se, no entanto, ao princípio metafísico do quaternário, porquanto, o processo respiratório obedece a quatro tempos, a saber: período de inspiração, período de conservação do ar nos pulmões, de expiração e finalmente, da conservação do ar fora dos pulmões. Assim acontece com a respiração das marés: enchente, preamar, vazante e baixa-mar; do mesmo modo que nos períodos ou fases lunares de nova, crescente, cheia e minguante, sendo que, neste caso, cada período é de sete dias ou de vinte e oito para os quatro, cujo número (28) encerra grandes mistérios que não podem ser ditos de público.15

A cabala, por sua vez, nos fala de três mundos manifestados e um não manifestado, relacionados com os três sóis físico, psíquico e espiritual e mais um oculto, cuja síntese maravilhosa está expressa no Tetragrammaton sagrado, isto é, no Iod ou Jod, como princípio ativo; o Hé, como princípio passivo; o Vau,

como equilibrante ou Espírito Santo e a repetição do Hé, nada mais do que a quarta fórmula de tão sublime operação mágica, como se disséssemos, a volta ou retorno à Unidade!... 16

A Tríade ou “lei do Ternário” é, pois, a lei constitutiva das coisas e a verdadeira chave da vida, já que ela se nos apresenta em todos os graus da escala da existência, desde a constituição da célula orgânica, até a constituição hiperfísica do homem, do Universo e de Deus – tal como uma Luz Eterna que traspassa as coisas para tornar mais claras ou transparentes, como mui bem expresso se acha em um oráculo de Zoroastro:

O número três reina por toda parte no universoE a Mônada é o seu princípio.

Do mesmo modo que, nos Versos Doirados de Pitágoras:

A Tríade Sagrada, imenso e puro símboloFonte da Natureza e modelo dos deuses.

Assim é que, partindo da Unidade – como dissemos no começo deste estudo, logo encontramos o número Três e a seguir, o Sete, perfazendo aquele misterioso número, que é o 137... de que os Livros sagrados evitam falar aos profanos, quanto mais quem de tal mistério nada conhece.

E com isso terminamos o presente capítulo, que só teve por fim preparar as mentes dos nossos mui caros leitores, para o que vamos tratar no seguinte, pois, além de ser uma explanação mais clara do Um, do Três e, mui especialmente, do SETE – através do mistério das Raças e suas respectivas sub-raças – cada uma delas representando um dos Sete graus de consciência que a Humanidade é forçada a alcançar, durante a sua peregrinação neste planeta – é ainda, a resposta àquela pergunta que fizemos no fim do capítulo publicado no número anterior desta revista. 17

H. J. SOUZAPresidente da S. T. B.

11 - Dizem as escrituras que “o mundo foi criado em sete dias, pelo poder do Verbo”, isto é, da Palavra, do SOM. Foi, portanto, este que deu causa à formação do Universo.

E não foi outra a razão porque o grande vidente do século XVIII, Emmanuel Swedenborg já afirmava que “a lei mais essencial da Natureza é a da vibração. Um ponto morto, um ponto imóvel é absolutamente impossível dentro do nosso sistema. Os movimentos sutis, que chamamos de vibrações ou ondas; os mais vigorosos, que chamamos de oscilações; as trajetórias dos planetas, que chamamos de órbitas; as épocas da História, que conhecemos

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como ciclos; tudo, enfim, é um movimento ondulatório, cíclico, de ondas no ar, no éter, na água, na aura, na terra, por nebulosas, pensamentos, emoções de todo o imaginável etc.”.

O próprio termo PESSOA ou PER-SONA nos indica que é “aquilo pelo qual o SOM se manifesta”.

A palavra Som procede do sânscrito swanas, cujo radical swan quer dizer: ressoar, retinir etc.

Swan quer dizer ainda, cisne ou “a ave sagrada”, que ao morrer, entoa um canto misterioso (tal como fazem outras aves)... como despedida da vida. Foi daí que nasceu a frase muito usual de “o canto do cisne na hora da morte”. Mozart afirmou que o seu Réquiem “era o seu canto de cisne...”

O Hamsa é o cisne védico que cria os Universos como veículo do Som eterno, o OM sagrado das tradições.

Este SOM é o Logos platônico, os trovões do Apocalipse, as trombetas das visões de Ezequiel, a “Voz Divina” ou o “Akasha-Vani” dos hindus, o Vach (donde proveio o termo “vaca sagrada”, tão mal compreendido por muitos fanáticos da moderna Índia), que se manifesta como Sarasvati, a deusa da Palavra e da Eloquência.

É, ainda, representado no Swan-Yin dos chineses, ou “A Voz melodiosa”, a Mãe da Sabedoria, donde procederam os nomes Lohans ou Sohans, que tinham os seus sacerdotes – nome também dado aos primitivos Arhats budistas, pelos belos hinos que entoavam. Na mesma razão estão os “11 Dhâranis” ou “mantrans”, usados nas escolas trans-himalaias (de acordo com o “Senhor das 11 Faces!...”).

A própria palavra Lohengrin (Lohan-grin ou gwin, jim ou jina etc.) de que se serviu o grande gênio inspirador da Humanidade – que foi Wagner – é originário do Swan-Ritter brabantino do “Cavaleiro do Cisne” etc., etc.

Nunca se deve esquecer de que “a música é a arte de sentir e de pensar em sons”; daí, ser cognominada de “divina arte”, por ser na Terra o reflexo incomparável da “harmonia das esferas”.

Dizem os livros sagrados: “Entre as cores e sons descansam as chaves para os resultados objetivos dos processos ocultos do pensamento. Não só por eles se produzem os efeitos diretos, como também, por seu uso – consciente ou inconsciente – os poderes elementais da Natureza podem ser captados e guiados pela Vontade”!

Toda a Magia dos antigos consistia em se dirigirem eles aos seus deuses nas suas próprias linguagens, isto é, segundo os ensinamentos ocultos de que “a linguagem dos homens não pode atingir aos Senhores”. Para dirigir-se a tão elevados Seres, mister se faz empregar a linguagem de seu elemento respectivo... “E sobre a natureza da linguagem de tais elementos, são eles, ainda, que nos ensinam: “Ela é composta de SONS e não de palavras; de Sons, de números e formas. Aquele que souber servir-se dessas três coisas conjuntamente, atrairá a resposta do poder dirigente, isto é, do deus, do gênio ou força regente do elemento especial de que tem necessidade.

É a mesma linguagem, pois, das encantações ou dos mantras, como são chamados nas Índias. O SOM é, com efeito, o agente mágico mais poderoso e eficaz e a primeira das chaves que abre a porta de comunicação entre os mortais e os Imortais.

Nos Upanishads se encontra: “No Svara estão os Vedas e os Shastras, e no Svara está a música. Toda a gente está no Svara: Svara é o próprio espírito”.

A verdadeira tradução da palavra Svara é a corrente da onda de vida.

“Esse movimento ondulatório”, diz o grande sanscritista Rama Prasad, na sua obra As forças sutis da Natureza, “é que provoca a evolução da matéria cósmica não diferenciada no

universo diferenciado, e a involução deste no estado primitivo da não diferenciação, e assim por diante, para todo o sempre. De onde vem esse movimento? Esse movimento é o próprio espírito”.

A mesma palavra Atmã contém a raiz at, movimento eterno; pode-se observar, de maneira significativa, que a raiz at se relaciona com as raízes ah, sopro e as, ser, que não é outra coisa, senão, uma variante dele. Todas as raízes têm por origem o som produzido pela respiração dos animaee. (Nota da editora: conforme o original)

Na ciência do Alento, o símbolo técnico da inspiração é sa e o da expiração, ha. É fácil de ver como esses símbolos estão ligados às raízes as e ah. A corrente da onda da vida precipitada chama-se tecnicamente, Hansachasa, isto é, o movimento de ha e sa. A palavra Hamsa, de que se faz tanto uso em muitas obras sânscritas e que se emprega para significar Deus, não é, senão, uma representação simbólica dos dois processos eternos de vida, ha e sa.

A corrente primordial da onda de vida, diz ele ainda, é, pois, a mesma corrente que, no homem, toma a forma dos movimentos de inspiração e expiração dos pulmões e é a fonte da evolução e da involução do Universo, fonte que penetra tudo.

“Foi o Svara que deu uma forma às primeiras acumulações das visões do universo”; o Svara causa a involução e a evolução; o Svara é o próprio Deus, ou melhor, o Grande Poderio (Maheshvara).

Pelo que se vê, Svara, ou aquilo que se pode chamar de “o Hálito de Brahmâ”, não é nem mais nem menos do que a inteligência abstrata, ou se tal expressão for mais compreensível, o movimento inteligente.

E é por isso que no mesmo livro se encontra: “No Svara estão pintados e representados os Vedas e os Shâstras, no Svara, os mais elevados Gandharvas, e no Svara, todos os três mundos; o Svara é o próprio ATMA”.

12 - Maior mistério oculta-se no três e no sete a respeito dos Sons e das Cores! Diremos apenas que, segundo é sabido, as cores do espectro solar são sete, de acordo com os sete raios de Luz, simbolizados nos Arcanjos, Elohim ou Dhyans-Chohans..., onde cada um possui a sua tônica natural.

Simbolizam, ainda, os Sete estados de consciência pelos quais a Humanidade tem de passar para alcançar a sua evolução completa na Terra, dos quais os três primeiros são Atma-Budhi-Manas e os quatro outros, são os chamados “Quatro Princípios inferiores”, que um dia serão esmagados, ou melhor, cavalgados pela própria Humanidade redimida, segundo a tradição antiga do “Kalki-avatara” ou o “Guerreiro descido das nuvens, cavalgando um cavalo branco”.

Como é sabido, as Sete cores do prisma têm como matrizes ou cores primárias: o amarelo, o azul e o encarnado; as outras quatro são complementares, ou melhor, nuances daquelas três primeiras.

Assim é que, o magno problema da vida, comparado ao mistério das 7 cores do espectro solar, está em se fazer desaparecer as cores complementares que são nuances, mistura ou falsas colorações das 3 cores primárias, ou melhor, da Tríade Superior – Atmã-Budhi-Manas – a fim de que esta volva à sua original pureza e luminosidade... É o que se pode chamar a posse completa da Consciência Universal, já que a Tríade Superior, nada mais é do que manifestação da Unidade-Síntese, cuja cor é o branco para a maioria... mas, para os conhecedores dos altos mistérios da Vida, é outra mui diferente!... (Dos nossos “Livros de Revelações”).

O número Sete é profundamente venerado pelos que conhecem o mistério de tudo quanto se manifesta no universo,

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inclusive entre os brahmanes, em cujas escrituras se encontra, por exemplo, o seguinte:

Sapta-Richis, os sete sábios da Índia;Sapta-Pura, as sete cidades celestes;Sapta-Dwipa, as sete ilhas santas (continentes e também

globos das cadeias planetárias, já que uma coisa é sombra da outra, segundo a teoria hermética de que o que “está embaixo é igual ao que está em cima”... Os continentes, segundo os Puranas, são sete: Jambu, Plaksha, Salmali, Kusha, Kraunka, Shaka e Pushkàra);

Sapta-Saamudra, os sete mares;Sapta-Nady, os sete rios sagrados;Sapta-Par atta, as sete montanhas santas;Sapta-Arania, os sete desertos sagrados;Sapta-Vrukcha, as sete árvores celestes;Sapta-Cula, as sete castas;Sapta-Loka, os sete mundos superiores e inferiores etc... Segundo os brahmanes, o número sete encerra em seu sentido

místico, uma representação alegórica do Deus irrevelado, da Tríade inicial e da tríade manifestada: Zyaus, o Deus irrevelado – germe imortal de tudo o que existe; Tríade inicial, Nara-Nari-Viradj, porque Zyaus, tendo dividido seu corpo em duas partes (o Pai-Mãe das escrituras santas), macho e fêmea – Nara e Nari, produziu Viradj, o Verbo Criador. Tríade manifestada, Brahma, Shiva e Vishnu (são as três deusas da Mitologia grega: Cloto, Lachesis e Atropos, uma que fiava, outra que tecia e outra que cortava o fio; do mesmo modo que Brahmâ é o Criador, Shiva o destruidor, ou melhor, transformador e Vishnu, o conservador).

A Tríade inicial, puramente criadora, transforma-se em Tríade manifestada, uma vez o Universo saído do Caos, para criar perpetuamente, conservar eternamente e consumar sem cessar.

Devemos lembrar como um sinal indelével de origem, como os Judeus deram, igualmente, um sentido misterioso ao número sete.

Segundo a Bíblia:O mundo foi criado em Sete dias;As terras devem repousar todos os Sete anos;O ano do jubileu sabático volta todas as Sete vezes, Sete anos;O grande lustre de oiro do templo tem sete braços, cujas

sete chamas representam os Sete planetas (melhor dito, “corpos físicos” dos 7 Planetários!...)

Sete sacerdotes fazem ressoar sete trombetas durante sete dias em volta de Jericó e as muralhas dessa cidade se desmoronam no sétimo dia, depois que o exército israelita deu sete voltas em torno dela.

Encontra-se no Apocalipse de João:As sete igrejas (as sete religiões, embora a de Roma queira ser a única);Os sete candelabros;As sete estrelas;As sete lâmpadas;Os sete selos (sinetes, símbolos etc.);Os sete anjos (Michael, Gabriel, Samael, Raphael, Sachiel, Anael e Cassiel. Seus nomes esotéricos são bem outros);Os sete vasos;As sete chagas.

Do mesmo modo, o profeta Isaías querendo dar uma ideia do brilho da auréola que cerca Jehovah, diz:

“Que ela é sete vezes maior do que a luz do Sol e semelhante à luz dos sete dias reunidos”.

A religião católica, que é uma cópia infiel de tudo isso, pois foi onde arrecadou todos os retalhos de que se compõe, também fala em Três Pessoas distintas e um só Deus verdadeiro, reproduz o que dizem os judeus etc., etc. fala nas Sete profecias de Ezequiel e até possui os candelabros de sete velas, que ela própria ignora ser um símbolo dos Sete Elohim, Arcanjos etc. Sem falar em Jesus, Maria e José, que nunca foram entidades viventes ou pessoas, como ela (Igreja romana) o julga; do mesmo modo que copiou o Padre-Nosso, Ave-Maria e Salve-Rainha etc., etc., do Kodisck hebreu, como também, dos textos hindus – como provaremos no decorrer de nossa “Mensagem ao mundo espiritualista”.

E como acabássemos de comemorar o centenário de Goethe, repetimos aqui estas suas palavras: “Para atingir a perfeição na arte do colorido, o artista deve coordenar os efeitos morais (o grifo é nosso) das cores, os seus efeitos fisiológicos, a sua natureza técnica, enfim, a influência que sobre elas exercem as circunstâncias exteriores. As cores atuam sobre a alma; podem excitar-lhe sensações, despertar-lhe emoções – ideias que nos tranquilizam ou nos agitam e que, ou provocam a tristeza ou as alegrias”.

E é por isso que dizemos: e como “gostos e cores não se discutem”, foi que gostamos ou preferimos a TEOSOFIA, por ser a Cor Síntese donde as demais cores – as religiões e filosofias – se derivaram!

Repetimos esta anotação publicada no número anterior desta revista, no artigo intitulado “Iniciando pelo Rádio”, porque... “água mole em pedra dura...” – pese isso a opinião de muita gente que implica com repetições – inclusive o jesuíta L. Franca, que chega a dizer nas suas Noções de História das filosofias: “Salvo exceções (graças a Deus que existem “exceções”!...) a literatura budhista é quase sempre escrita ‘no mais insuportável dos estilos’ (citando Barth, mui propositadamente, por ser favorável à sua Igreja) e acrescenta por sua conta: “estilo derramado, prolixo, enfadonho e repisado em inúmeras repetições”...

Se com todos esses defeitos o Budhismo não foi compreendido (se é que não foi... pois acima da Consciência está o “Perinde ac cadaver”...!) pelos Franca (sinônimo de lealdade, sinceridade, franqueza e outras grandes virtudes), Barth e outros mais, que dirá se a linguagem obedecesse ao estilo “não derramado...” desses críticos do Ocidente, que se fizeram “filhos espúrios do Oriente” ou o lugar donde procede toda a Luz que se “derrama” (aí, sim, é que tem razão o derramar!) ou reflete por sobre a Humanidade inteira!...

Mas é que, o jesuíta Franca, por exemplo, ignora ou finge ignorar o que disse um outro mais sincero de sua Igreja – que foi Frei Domingos Vieira, à página 845, do seu Dicionário da Língua Portuguesa, quando fala do termo Budhismo: “No Cristianismo existem vários traços do Budhismo na sua formação”... Diante disso... se não presta o Tronco, que fará o resto da árvore, a não ser que desta só existam “as parasitas” (ou “os parasitas”, se o quiserem, como sugadores ou vampiros da “Árvore de Bodhi”, donde provém o termo Budhismo ou Bodhismo, isto é, “Iluminação, Sabedoria perfeita etc., etc.”) Não há como dizer: Traduttore, traditore!”

13 - Muita gente confunde corpos com estados de consciência. Daí o negarem a existência de três corpos e afirmarem que são sete.

Roso de Luna, em La Esfinge (obra que recomendamos aos estudantes de Teosofia, por ser a mais sintética de quantas se conhece), falando das classificações das várias escolas filosóficas,

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diz, a respeito do Homem sétuplo: “As duas classificações de yogis e vedantinos são, no fundo, o precedente histórico da chamada classificação setenária teosófica, que foi dada pela primeira vez ao mundo ocidental na famosa obra de Sinnett “O Budhismo Esotérico”, o qual, seguindo os ensinamentos de então, dividiu o homem em um Ternário ou Tríade Superior, como diriam os pitagóricos, a saber: Espírito, alma espiritual e mente superior ou abstrata (“Atmâ-Budhi-Manas”, ligada pela mesma mente ao Quaternário Inferior (“kama-manas”) ou mente animal e seu invólucro kamarupico: “linga-sharira” ou corpo astral perispírito dos espíritas, corpo glorioso (como diria São Paulo), “prana” ou vida e “sthula-sharira” ou corpo físico”.

Isso importa em dizer que nesse quaternário inferior (os quatro elementos: Sthula-sharira, Prana, linga-sharira e Kama-rupa está o corpo físico, logo sustentado pela Alma, em Manas e pelo Espírito, em Budhi e Atmâ. Na Vedanta, o Sthula-sharira corresponde a Anna-maya-kosha; Prana, Linga-sharira e Kama-rupa a Pranmaya-kosha; parte de Kama-rupa (daí a teosofia falar em Mental inferior e Mental superior) e Manas, correspondendo a Mana-maya-kosha, Vijñana-maya-kosha; Budhi e Atmã a Ananda-maya-kosha e Atmã. Na Taraka-raja-yoga, os quatro princípios inferiores correspondem a Sthula-upadhi; Manas a Sukshma-apadhi e Atmã a Atmã. Extraído do quadro de correspondências dos elementos do Homem, segundo as várias escolas, da D. S. de H. P. B.).

Pelo que se viu, esses elementos são o sustentáculo dos três corpos, ou melhor, os veículos que os ligam entre si. Em outro capítulo explanaremos melhor o caso, principalmente o que resta post-mortem; que é o que se apresenta nas sessões de espiritismo; que é o verdadeiro “ego” ou parte encarnante no homem etc.

Agora diremos, apenas que, esse quaternário inferior é o esforço das quatro Raças que já apareceram... (residentes ainda na conformação de nosso organismo) e a Tríade Superior, a parte divina que age interna e externamente no homem... porquanto, a raça ária a que pertencemos, vem desenvolvendo o Mental (isto é, apurando as imperfeições de Manas inferior, para Manas superior, a fim de que este seja banhado por Budhi (digamos, na 6ª Raça-Mãe, mui longe de nossos dias, ainda) e, finalmente, na 7ª por Atmã, ou melhor, redimindo a Humanidade do seu quaternário inferior. Daí, a tradição do “Kalki-avatara” ou Cavalo Branco, isto é, “o guerreiro que cavalga o cavalo branco” (Atmã, Budhi-Manas cavalgando o quaternário inferior etc.)

No próximo capítulo, falando do passado, do presente e do futuro da Humanidade até o final da Ronda, abordaremos o assunto com maior amplitude.

14 - Daí, ainda, a razão porque muitos iniciados adotaram por nome oculto aquele onde figurassem as duas letras misteriosas: J. B. José Bálsamo, por exemplo, (Cagliostro) representando a Maçonaria egípcia, não podia deixar de possuir um nome esotérico nessas condições. Os próprios termos Jerusalém e Belém (nascimento e morte hipotéticos de Jeoshua Ben Pandira, o chamado Jesus pelos ignorantes da vida de tal Ser) se relacionam ao caso. Do mesmo modo, Yokanan ou o mítico João Batista (J. B., portanto), como predecessor do “Messias prometido” – já que todo aquele que falar na Redenção Humana – através de seus “Sete Redentores”, ou melhor, “partículas do Redentor-Síntese”, que só virá no final da evolução humana, como a própria Humanidade salva ou redimida (por seus próprios esforços) – dizemos, tal ou tais Yokanans (ou João Batista), são o símbolo das colunas laterais (J. e B., ou melhor, das duas Veredas ou Caminhos) cujo terceiro – o do meio ou Karma – é Ele, o chamado Messias (o Messiah ou

Sosioh persa, o Maitreia das tradições trans-himalaias, ao qual se tem erguido tantas estátuas no passado e até no presente, “cuja vinda será no Ocidente”, como dizem tais tradições. Tudo isso está ligado ao próprio nome de Shamballah, ou “País do Ocidente”, de que teremos de falar em outro Capítulo). O Caminho central ou de Karma é o de todos os Crestos, ou “homens da dor”, que em Cristos se hão de tornar, quando houverem alcançado a Meta desejada, isto é, o fim de tal caminho: a consciência plena de si mesmo!...

Afora as definições de Burnouf e de outros grandes sanscritistas a respeito da palavra Maitreya, encontra-se em “Fragments extraits du Kaudjour” (Annales du Musée Guimet, tomo V, pág. 84), o seguinte: “Maitreya (ou do amor, Maitreya ou Maitri-samadhi). Em tibetano Byams-pa. Ting-ge-hdzin, é o samadhi ou contemplação. Byams-pa significa compaixão ou complacente e corresponde a Maitri e a Maitreya. Maitri, é o amor distribuído entre todos os seres. Maitreia, é o nome do Budha que deve aparecer quando acabar o período assinalado a Sakya-Musi”. (Nota da editora: conforme o original)

Todas essas definições não deixam de possuir o seu valor. Porém, acrescente-se esta de hoje: Maitri provém de Maya (matéria ou ilusão) e tri (três), que traduzido ao pé da letra, seria “três vezes ilusão”, ou três ilusões, se o quiserem; mas, no seu verdadeiro sentido oculto, é: aquele que venceu as três qualidades de matéria (digamos os três corpos, os três mundos etc., etc.). É, portanto, “o senhor dos três mundos” – o Rei dos Reis, cujo símbolo está maravilhosamente expresso no do “Rei do Mundo”, entre seus dois Ministros ou Colunas laterais (J. e B.) e representado, ainda, por tudo quanto já se falou acima – inclusive os três Caminhos ou Veredas etc. Como ainda, nos “Três Reis Magos”, que a Igreja pensa terem sido reais ou verdadeiros, do mesmo modo que, alguns ocultistas e até, teósofos eméritos.

Esse símbolo envolve, o maior de todos os mistérios, ou seja o do Pranava ou Palavra Sagrada (o A U M), sujeita a sete transformações, algo assim, como já se falou neste Capítulo a respeito do Ternário através do Setenário...!

Em número atrasado desta revista, tivemos ocasião de explicar como tal Palavra deve ser pronunciada e os seus grandes valores ocultos. Porém, sem nos esquecermos de acrescentar que, todos esses valores são nulos, quando semelhante processo é feito (como muito bem disse o Mahatma K. H.), por pessoas de caráter mal formado – principalmente, querendo fazer mau uso da mesma, em benefício próprio, por isso mesmo, em detrimento do próximo (que pela Lei das coisas, é a própria pessoa operadora. “Não faças aos outros o que não queres que te façam”. “Ama ao teu próximo como a ti mesmo”. São frases por demais expressivas para serem aqui comentadas).

15 - O verdadeiro mês lunar é de 28 dias, isto é, sete dias para cada uma das quatro fases lunares. Nenhuma outra ocasião melhor para a reforma do Calendário do que o ano de 1933, pois começa em um Domingo e no primeiro dia da Lua Nova. Tudo se ajustava perfeitamente! Mas, como os anos tivessem de ser de 13 meses, assombrou os adeptos de Gregório XIII – o autor da reforma do antigo Calendário!... E assim, tal reforma ficará para... “as calendas gregas” (donde provém a palavra Gregório)!...

16- São as “Quatro Cabeças”, os quatro sóis Nahoas, os quatro sóis da Cabala etc. Myer’s, na sua incomparável Cabala, diz: “Aziluth: o nome com que se designa o mundo dos Sephirot, chamado mundo das emanações. Olam Aziluth. Aziluth é o grande Selo Sagrado, por meio do qual se copiaram todos os mundos que têm em si impressos a imagem do Selo. E como este grande Selo compreende três graus, que são os três sures (protótipos) de:

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1º - Nephesh: a alma vital, 2º - Ruah: a alma racional,3º - Neshamad: alma suprema, assim os selados receberam

também três sures: 1º - Briah,2º - Yectzirah,3º - Asiah,sendo estes três sures um só no selo.Azilith: o supremo dos quatro mundos de Cabala, relaciona-se

unicamente com o puro espírito de Deus.O mistério do Ternário que se faz quaternário para fundir-se

novamente no Um, está ainda contido nas “Três Faces cabalísticas” (em hebreu: Partzuphim), que são:

1º - Arish – Anpin: o Face Larga,2º - Seir – Anpin: a Face Curta, 3º - Resha-Hivrah: o Cabeça ou Face BrancaEssas três Cabeças, estão numa só cabeça (isto é, três mais um

igual a quatro, mas expresso numa só coisa... que tem o nome de Attikah Kadosha – Santos antigos e as Faces).

Quando tais faces olham uma para a outra, os “Santos antigos” em três cabeças, ou Attikah Kadosha, recebem a denominação de Arikh Appayem, ou seja “Caras largas”.

17 - Tal pergunta, foi: Tendo a Humanidade vencido – na sua longa ascensão para o Divino – o estado de consciência em que se encontra atualmente – pouco importa se longe ainda do término de experiências por que tem de passar até a sua completa redenção – é admissível que a mesma continue agindo segundo os graus de consciência alcançados em épocas remotíssimas de sua História – embora que todos eles, harmônicos ou afins com a infância de sua vida?

Todas as palavras sânscritas, hebraicas etc., conservamos na sua verdadeira grafia.

REFERÊNCIA:Dhâranâ nº 73 e 74, julho a dezembro de 1932.

TEMPLOS DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSE

SÃO LOURENÇO - MG

ITAPARICA - BA NOVA XAVANTINA - MT

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A Inteligência Cósmica está em tudo o que existe. Ela surge das duas grandes

forças, Purusha (princípio espiritual, alimen-tado pelo fogo cósmico Fohat) e Prakriti (prin-cípio criativo, alimentado pelo fogo cósmico Kundalini).

Esta Inteligência possui em si as sementes de toda a vida obedecendo sempre às Leis da Evolução, dos Ciclos e das Causas e Efeitos. A Inteligência Cósmica aparece no ser humano como “Eu Superior”.

Pelo Princípio do Mentalismo deixado pelo Mestre dos Mestres do Antigo Egito, Hermés, temos que “o Todo é Mente; o Universo é Men-tal.”

“O Universo é uma criação Mental do Todo.” O Mundo é a manifestação da ideia pri-mordial e a ideia primordial está na origem e por trás de toda a criação.

Temos então, segundo Henrique José de Souza, que “A inteligência é o espírito de Deus no homem”.

A Eubiose trabalha harmonicamente

TRÊS INTELIGÊNCIAS

Inteligência Racional QI

Inteligência Emocional QE

Inteligência Espiritual QS

com três atributos divinos, para conduzir os discípulos pelo caminho da evolução. São estes: Inteligência – Amor – Vontade (Mente – Emoção – Vontade), através da Escola – Teatro – Templo.

Segundo Danah Zohar, que é diplomada em Física, Filosofia e Religião, formada pelo MIT e Harvard, as inteligências devem ser divididas da seguinte forma:

a) Inteligência intelectual que trata do que pensamos.

b) Inteligência emocional que trata do que sentimos.

c) Inteligência espiritual que trata de quem somos.

Diz ela que a Inteligência espiritual é que mais nos diferencia de máquinas, computado-res e outros animais, porque é a que nos dá o senso de propósito, valor e sentido na vida. Dá-nos o porquê da vida.

Até a década de 90 dava-se muito valor aos testes de QI (Quociente de Inteligência), que é medido através de uma série de avaliações. Acontece que várias pesquisas foram feitas e constatou-se que ter um alto QI não determi-nava o sucesso de uma pessoa. A arrogância, o egoísmo e a timidez poderiam ser os motivos de seu fracasso.

Chegou-se então à conclusão de que os conhecimentos racionais combinados aos emo-cionais em perfeito equilíbrio podem sim levar o indivíduo ao sucesso.

Aparece então o conceito de Inteligência Emocional, sendo que o QE é o quociente de inteligência emocional.

Já nos deixou Henrique José de Souza o seguinte pensamento:

A Inteligência

Cósmica aparece no ser humano

como “Eu Superior”.

“Quem souber colocar sua inteligência ao lado do coração, alcançará na Terra as maiores alturas.”

sCláudia Hohl Orsi

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Aristóteles, o grande filósofo, já conhecia a verdade filosófica da Inteligência Emocional, que é levar em consideração a hora e local para se manifestar. Ter o controle sobre suas emoções.

Palavras de Aristóteles:

O segredo todo está no autocontrole. O primeiro passo para se atingir o autocontrole é

que se faça um trabalho de autoconhecimento. Com a consciência dos erros pode-se promover

sua correção. E com a consciência dos acertos, sua ampliação.

Como alcançar esta inteligência?Entre as aptidões básicas para isso temos o

autoconhecimento, a capacidade de empatia, o reconhecimento das emoções dos outros e o saber se relacionar.

Inteligência Espiritual

Ligada à inteligência Emocional, ela dá-nos o sentido da vida.

Ela une de forma equilibrada razão e emoção.Tem em si a capacidade de ser flexível, ter grau

elevado de autoconhecimento, capacidade de enfrentar a dor e ter um aprendizado com o sofrimento causado por ela, ser relutante em causar danos aos outros, fazer analogias, viver o presente, descobrir a vocação, ter compaixão, humildade, ser positivo.

A inteligência espiritual identifica os problemas e dá ao indivíduo a capacidade e meios para que ele os resolva da melhor forma.

O desenvolvimento desta inteligência independe de crença religiosa.

Quem tem esta inteligência desenvolvida assume mais riscos e age com entusiasmo em tudo o que faz. A palavra entusiasmo vem do grego e quer dizer en+theos, em Deus, sopro divino, inspiração divina. Age desta forma porque tem fé. Tem certeza dos resultados. Persevera.

Segundo alguns psicólogos, filósofos e teólogos, a Inteligência Racional mais a Emocional equilibradas podem trazer crescimento profissional, financeiro e pessoal, mas só com a Inteligência Espiritual desenvolvida o ser humano tem condições de alcançar a paz interior e a verdadeira alegria de viver.

Comprovações científicas

Michel Persinger (neuropsicólogo) no início dos anos 90 e Ramachandran (neurologista) em 1997 identificaram no cérebro humano o “Ponto Deus” ou “Módulo Deus”, que é a necessidade humana de buscar um sentido na vida.

No Brasil o professor de neurocirurgia da Faculdade de Medicina de São Paulo, Raul Marinho Jr, com seu livro A religião do Cérebro faz uma análise da possibilidade da existência de uma área no cérebro, responsável pelo conceito de Deus.

A Eubiose, em seu processo iniciático, trabalha com os três atributos divinos que são:

Trabalhados através de:

E as três inteligências desenvolvidas são:

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA1 - http://www.reocities.com/HotSprings/4630/ayurveda1.htm2 - http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/colunas/boff/2003/12/04/jorcolbof20031204001.html3 - http://quesabemosnos.blogspot.com/2006/08/o-ponto-deus-no-cerebro.html4 - MARSHALL, Ian. ZOHAR, Danah. Inteligência Espiritual. Viva Livros.5 - GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Objetiva6 - MARINHO JR., Raul. A Religião do Cérebro.

“ Qualquer um pode zangar-se. Isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa, não é fácil.”

VONTADE

MENTE EMOÇÃO

TEMPLO

ESCOLA TEATRO

INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL

iNTELIGÊNCIA RACIONAL

iNTELIGÊNCIA EMOCIONAL

v

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Na vida moderna multidões de alucinados apresentam-se em toda parte. A todo instante

os deprimidos, ansiosos, frustrados e insatisfeitos denunciam a má qualidade de vida espiritual que reina em todo lugar.

Grupos de desempregados buscam a todo custo tomar posição entre os menos deserdados sempre primando pelo interesse próprio pela facilidade de ganho e colocação.

Alguns se colocam entre aqueles que governam, esquecendo os momentos difíceis por que passaram e partem para a vida e a posse do que é mais fácil. E, abonados pela facilidade sem o menor vestígio de consciência assumem a postura de defensores dos pobres, envolvendo-se entre corruptos e desalmados.

As salas de bate-papo da internet revelam pessoas desocupadas, vazias de princípios, sem vestígio de nobreza moral, que se mascaram de gênios e intelectuais. Elas acabam atraindo os incautos e levam as crianças, que deslumbradas pelo fenômeno da informática, partem por caminhos duvidosos, sem educação e sentimento, cujo resultado quase sempre acaba em desastres.

Os professores e educadores foram jogados ao ostracismo da educação, justamente, onde deveriam vingar em todas as famílias como referência em toda a sociedade.

EM BUSCA DE ILUSÕES

A vida atual, repleta de distrações e divertimentos e pobre de espiritualidade, vazia de tolerância, amor-sabedoria, verdade e justiça, arrasta o ser humano para fora de si, fazendo-o joguete de seus próprios sentidos em prejuízo de sua qualidade de vida, que deveria ser a essên-cia do seu bem-viver. Essa mesma harmonia como fundamento é a base de nova civilização.

sEliseu Mocitaiba da Costa

v

Famílias inteiras buscam melhor qualidade de vida para criar seus filhos. Sem contar aquelas que, banhadas em soberbia, nutrem a doce ociosidade dos desenganos e incertezas, escondendo-se por trás do poder temporário em aparências, que sem estrutura, com o tempo se desequilibra e cai.

Os governantes de todo o mundo, que não reinam nem a si mesmos, chefiam um planeta desorientado e sem rumo, expressando o fim dos tempos apodrecido e gasto.

Muitos, depois de milênios sem conta, ainda buscam desesperançados, algo que constatam tão distante, lá no céu. Outros, almejando os conflitos ou crises nas reformas sociais, políticas e financeiras para um mundo melhor.

Com certeza a retomada de consciência pela reforma da qualidade de sentimentos e pensamentos é necessária e urgente em todos os recantos, onde, então, será feito o maior investimento, pela própria humanidade, em um novo edifício humano estruturado pela Consciência do terceiro milênio.

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Ciência, Religião, Arte e Filosofia são apenas quatro caminhos para o homem chegar à compreensão do todo, da unidade de que faz parte.

Prof. Henrique José de Souza

Introdução

Eubiose, Ciência Acadêmica e Ciência das Idades

sAlberto Vieira da Silva

De acordo com o conhecimento iniciático e esotérico tradicional – e a própria Astrologia –,

a época de hoje coincide com a transição de um grande ciclo evolutivo, o de Peixes, para o ciclo de Aquário. Existem, porém, muitos outros aspectos não menos importantes que têm a ver com mudanças determinadas pela chamada Grande Fraternidade Branca – ou Governo Oculto do Mundo – para a dinâmica da evolução, aspectos esses estudados detalhadamente dentro da Escola Iniciática da Sociedade Brasileira de Eubiose, a Ordem do Santo Graal. Há 30 anos ou mais, semelhante informação seria considerada especulativa e até fantasiosa, mas o cenário mundial de hoje não deixa dúvidas de que a Humanidade se encontra num de seus grandes pontos de viragem.

Se bem que o presente artigo constitua não mais que uma abordagem inicial ao tema que seu título anuncia, é de considerar, desde logo, a importância do conhecimento e da descoberta para o presente momento da Civilização. E de tal forma que muitos autores, pesquisadores, líderes de opinião da área das Ciências Sociais não hesitam em chamar esse momento civilizacional de “Sociedade do Conhecimento” e já não de “Sociedade da Informação”, como era comum duas ou três décadas atrás.

Pode-se perguntar como, da informação dispersa ou focada num dado assunto, pode ser gerado conhecimento; e como do conhecimento pode surgir consciência. Trata-se de uma discussão que se encontra além da epistemologia clássica, que trata o conhecimento como algo adquirido de fora para dentro do indivíduo, esquecendo seu potencial interno, potencial esse demonstrado, aliás, por todos os grandes gênios em qualquer dos campos do saber humano. Como se sabe, a Epistemologia é um ramo da

Filosofia que trata da teoria do conhecimento. O que é conhecimento? De onde vem o conhecimento? Quais são as origens do conhecimento? O que é conhecimento válido?

Porém, aquilo a que se chama de consciência constitui uma realidade além do conhecimento. A consciência não despreza o conhecimento, mas não se satisfaz com ele, porque vai mais longe: ela avalia e explora. Por outro lado, o conceito de “consciência” também não se limita, em nossa Escola e na conotação que lhe vem sendo dada no domínio público, à “consciência moral” de que falam as igrejas e religiões. Ela é algo muito mais amplo, é um sentido inerente a cada ser humano que tem a ver com o próprio desenvolvimento interno individual, e com o processo de aprofundamento e alargamento da inteligência e da sensibilidade. Assim, percebe-se que a consciência e sua voz, a popularmente conhecida voz da consciência, é algo muito próximo do que podemos chamar de intuição e, no Oriente de cultura védica e budista chamada buddhi, com o sentido de intelecto superior, inteligência ou razão intuitiva, consciência “desperta”, enfim, a faculdade que torna possível a Sabedoria. O Prof. Henrique José de Souza, fundador da SBE, elabora esse conceito de uma forma particularmente clara:

Manifesta-se no homem, a lei ou força vital, tal como nos demais seres organizados, prin-cipalmente o Instinto, desde seu nascimento. À medida, porém, que vai crescendo, começa a perceber que em si existem duas personali-dades distintas: uma como voz do Instinto, e outra, como Voz da Intuição, ou antes, da Consciência, que é, de fato, o verdadeiro Juiz que nos impele a fazer o Bem e nos condena – através do Remorso – quando praticamos

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o Mal. Desde então, desenvolve-se em nós um fator a mais, que virá despertar os nossos sentimentos ou paixões anímicas. Esse fator é a Inteligência, mediante a qual observamos, analisamos, discorremos, tiramos deduções, formando, portanto, cada vez mais, a sua Consciência, que é, finalmente, a conclusão de tudo isso.1

Segundo os estudos realizados no âmbito da Eubiose, a consciência é desenvolvida por estágios, etapas que variam muito de indivíduo para indivíduo: “estados de consciência” que se vão sucedendo ao longo da evolução da mônada e, para alguns em estágio mais avançado, quando entram no Mágico Triângulo da Iniciação, que é o da Mônada Divina, a Consciência Imortal, o Deus de cada Homem, como sugeria o Prof. Henrique José de Souza, fundador da SBE.

A consciência como forma finíssima e aprimorada de percepção individual, e também como objeto de estudo, possui um sinônimo muito feliz em língua inglesa – awareness2. E “Consciência” tornou-se um tema conceitual que começa timidamente a surgir internacionalmente em debates e pesquisas, inclusive no seio das universidades, apesar de ter sido suscitado ao mundo culto há mais de quarenta anos pelo notável pensador e cientista social Edgar Morin, com a publicação, em 1982, de Ciência com Consciência3. Uma sociedade sustentada em conhecimento, como é a nossa, e em conhecimento que cria permanentemente todo um universo tecnológico, vê também sua responsabilidade muitíssimo aumentada do lado da ética e da aplicação adequada dessa mesma tecnologia, do ponto de vista social e ambiental.

A Eubiose, apesar de sua ligação umbilical com o conhecimento iniciático tradicional e demais expressões da espiritualidade ao longo da História, não se encontra limitada às interpretações reducionistas criadas da deturpação progressiva das religiões e do próprio conceito de espiritualidade, cada vez mais superficial e engessado com adereços formais. O mundo de hoje é um verdadeiro universo em expansão, um Novo Mundo em formação... E os diálogos entre culturas e religiões antes afastados, entre disciplinas do saber anteriormente concorrentes e exclusivistas, geram progressivamente uma consciência coletiva. Essa nova consciência em formação encontra-se acima do predomínio de uma identidade sobre a outra, justamente porque tem base no diálogo e não no predomínio: é a “aldeia global”, ligada por redes de informação e conhecimento, na qual cada vez mais os seres humanos procuram saber, aperfeiçoar-se por esforço próprio e não pedindo a Deus que os ilumine... ou que os favoreça de algum modo. A nova mentalidade procura manter-

se autônoma, independente dos antigos centros e líderes de opinião, predominantemente religiosos ou políticos. Assim, importa que a Eubiose seja considerada no fluxo tendencial do melhor e mais contemporâneo em termos de conhecimentos e práticas, e na perspectiva do melhoramento humano, individual e socialmente entendido de hoje para o futuro, não apenas como um remanescente da Tradição Primordial, de olhos no passado.

A discussão aqui proposta é instigadora e palpitante, na medida em que, se a Ciência acadêmica se mostrou durante os 150 anos anteriores aos meados do século vinte, de um dogmatismo semelhante ao Catolicismo e a outras formas de religião confessional, existem, sem dúvida alguma, profundas mudanças no ar: mudanças essas que definem tendências e práticas que se aproximam muito da orientação da Tradição ou Sabedoria Primordial, hoje quase esquecida e sucessivamente deturpada, a mesma Árvore da Sabedoria Universal, Árvore da Vida, Árvore dos Sefiroth, “Árvore do Bem e do Mal”, a “Bo” ou Árvore de Bodhi, no Oriente – a mesma à sombra da qual, simbolicamente - mas como foi registrado pelos contemporâneos –, o Budha histórico, Sidharta Gautama, obteve a Iluminação.

O processo de franca transformação operado, nas últimas décadas, na Filosofia da Ciência foi gerado, em grande parte, por autores com ligação à Academia. Fato digno de menção e muito a propósito neste contexto, é o de que o Prof. Henrique José de Souza revelou a seus discípulos que, no início do século vinte, vieram para a face da Terra sete misteriosos seres,

Edgar Morin

O mundo de hoje é um verdadeiro uni-verso em expansão, um Novo Mundo em formação...

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Uma época de grandes mudanças

da linhagem do Manu Primordial e portadores dos arquétipos ou da projeção do estado de consciência das futuras humanidades. Nascidos em 1900, cada um dos sete, com a tônica de uma Ciência-Síntese, foram educados e permaneceram em universidades ou com elas relacionados até 1948. O que não deixa de ser curioso, porque tal fato ou evento relatado pelo Mestre muda completamente o eixo da evolução humana, da fase da religião, da superstição e da crendice, para uma nova fase ou era, baseada no saber, no conhecimento, nos diálogos interdisciplinares e interculturais à escala global, e assim por diante. Justamente, a “pós-modernidade” de nossos dias, identificada como “sociedade do conhecimento”, com as universidades e centros universitários literalmente bombando, como se fala popularmente, com jovens e adultos buscando formação ou atualização em suas áreas respectivas.

Graças a esse processo de mudança operado no ambiente das universidades em todo o mundo, tem sido possível, mediante rupturas sucessivas com o paradigma científico clássico, autoritário, materialista e dogmático – processo estudado detalhadamente por Kuhn a partir dos anos 50 – e pela emergência sucessiva de epistemologias e metodologias alternativas no seio da comunidade científica. O próprio Kuhn foi o primeiro a utilizar o termo “paradigma” na Ciência, cuja utilização rapidamente se expandiu para outros campos. Esse processo crítico e transformador ganhou particular intensidade a partir da II Guerra Mundial, com a contribuição de Piaget – grande mestre da Epistemologia Genética entre outras áreas como Pedagogia e Psicologia –, os trabalhos de Bertalanffy (1977), Buckley (1976), Prigogine, Wiener, Morin, Simon, Varela, Nicolescu (2000) – entre muitos outros – também reclamando uma plena cientificidade, senão mesmo uma radicalidade algo indignada em face de uma

objetividade científica mitificada, iludida, perdida, ou talvez nunca encontrada.

Por outro lado, o notável, difícil e pioneiro trabalho do Dr. Mário Roso de Luna no sentido de expor - com uma linguagem credível em qualquer meio intelectual e uma excelente base científica para sua época -, o conhecimento como um tronco único, não fragmentado e sem dogmas limitadores, dentro do desenvolvimento da teosofia blavatskyana, parece ter algum eco a partir dos anos 50, nos desenvolvimentos (entre outros) da Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy e seus desdobramentos na Systems Science, no Pensamento Complexo de Edgar Morin e na Transdisciplinaridade, mais conhecida inicialmente pelas mãos deste autor e, recentemente, de Basarab Nicolescu, físico teórico e fundador do CIRET – Centro Internacional para a Pesquisa e os Estudos Transdisciplinares. A abordagem transdisciplinar ganhou maior impacto a partir de 1996 quando foi lançada, em Portugal, a histórica “Carta de Transdisciplinaridade”4, também assinada por Edgar Morin e outros nomes sonantes da Ciência e da intelectualidade mundiais.

Justamente, parece encontrar-se uma perspectiva visceralmente iniciática tradicional, senão teosófica, se o quisermos, na própria definição de “Complexidade”, que a aproxima também de Vico e de algumas fontes da filosofia grega, chinesa, védica e budista (MORIN, 1994, p. 146):

Complexus é o que é tecido em conjunto; é o tecido obtido a partir de fios diferentes e que

Helena Petrovna Blavatsky, Mario Roso de Luna, Henrique José de Souza, Jean Piaget, Ludwig Von Bertalanffy, Basarab Nicolescu

... o Prof. Henrique José de Souza re-velou a seus discí-pulos que, no início do século vinte, vieram para a face da Terra sete mis-teriosos seres, da linhagem do Manu Primordial e porta-dores dos arquéti-pos ou da projeção do estado de cons-ciência das futuras humanidades.

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se transformaram num só. Por outras pala-vras, tudo isso se cruza e volta a cruzar, se tece e volta a tecer, para formar a unidade da complexidade; mas a unidade do complexus não destrói a variedade nem a diversidade das complexidades que a teceram.

Para alguns autores, é questionável se as propostas do “Pensamento complexo” de Morin podem ou não ser consideradas “científicas”. Contudo, a própria classificação e conceituação de “o que é e o que não é científico” desde o século XVI, não nasceu entre cientistas, mas entre filósofos e pensadores, como podemos encontrar em claramente argumentado em Collingwood (1981). A Epistemologia e a Filosofia da Ciência ocupam-se, normalmente, desses assuntos. A Teoria Geral dos Sistemas de Von Bertalanffy também não é considerada por muitos autores como uma “teoria” no sentido estritamente científico, embora constitua um corpus teórico notável, já com inúmeras hipóteses e teses dentro da Academia, e aplicações práticas que lhe emprestam, no mínimo, objetividade, honestidade e propósito científicos. Por outro lado, a não aceitação universal da abordagem do pensamento complexo na Academia é questão que parece inserir-se mais num sistema de valores e crenças dos próprios cientistas do que na precisão de uma “Ciência” que, absolutamente, não é unânime em muitas matérias, conforme Morin (1994, p. 145):

[…] Como estabeleceram, de formas diver-sas, Popper, Holton, Kuhn, Lakatos, Feye-rabend, há um núcleo não científico em toda a teoria científica. […] Lakatos indicou que há naquilo a que ele chama os programas de investigação um «núcleo duro» indemons-trável e Thomas Kuhn, em A Estrutura das Revoluções Científicas5, revela que as teo-rias científicas são organizadas a partir de princípios que não têm qualquer relação com a experiência, que são os paradigmas.Por outras palavras, e trata-se de um para-doxo espantoso, a ciência desenvolve-se, não só apesar do que há nela de não científico, mas graças ao que há nela de não científico.

Mesmo assim, se a Transdisciplinaridade ainda está sendo digerida – e com alguma dificuldade – pelos mais conservadores, os diálogos entre os saberes acadêmicos e destes com os saberes tradicionais, a descoberta de novas áreas transversais, a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e o pensamento complexo já são pauta corrente nas universidades e nos fóruns e congressos internacionais. Pode constatar-se que os diálogos interdisciplinares vêm crescendo em interesse

nos últimos anos por parte dos estudiosos, em todo o mundo, e muito particularmente no Brasil, dentro e fora do formalismo tradicional das universidades, mas, em qualquer caso, rompendo paradigmas, avançando hipóteses, criando sinapses inéditas entre ramos do saber, desfazendo barreiras.

Neste ponto, convém notar que o termo “disciplina” é usado nas ciências em geral para denominar um campo delimitado e especializado do saber, e não necessariamente uma disciplina escolar ou universitária. Portanto, quando se fala de interdisciplinaridade, trata-se, justamente, da ligação, conexão ou diálogo entre diversas áreas do saber científico, com o propósito de utilizar mutuamente enfoques ou metodologias úteis ou necessárias.

Porém, a interdisciplinaridade não constitui propriamente uma novidade, a não ser no fato, inédito na História, de que ela é ampla e intensamente exercitada a partir das largas centenas de disciplinas científicas atualmente existentes; ao passo que, antes de meados do século vinte, o número dessas especializações era muito menor, permitindo que um único pesquisador pudesse ser polígrafo, como o próprio Dr. Roso de Luna se intitulava, ou um pesquisador multi e interdisciplinar, como se chamaria hoje.

Porém, tais mudanças aceleradas na Filosofia da Ciência não parecem forçadas, impostas por um dogma ou um grupo de pressão: os diálogos interdisciplinares acontecem frequentemente e sucedem-se, diariamente, por motivação espontânea, pela necessidade sentida pelos pesquisadores a partir do momento em que foram percebidos isomorfismos - aspectos em comum – e complementaridades essenciais em áreas tão diferentes como Cibernética e Biologia, Sociologia e Meio Ambiente, Design e Gestão de Empresas e muitas outras. É o Zeitgeist, o espírito do tempo... O que não acontecia antes do século dezessete, quando o fenômeno “Ciência” começou sua explosão disciplinar na Europa pós-renascentista, a partir dos pouco mais de meia dúzia de grandes campos do saber então existentes, descendentes diretos do trivium e do quadrivium medievais. Do mesmo modo, retirando alguns aspectos específicos da Filosofia da Ciência

Pode constatar-se que os diálogos in-terdisciplinares vêm crescendo em inte-resse nos últimos anos por parte dos estudiosos, em todo o mundo, e muito p a r t i c u l a r m e n t e no Brasil, dentro e fora do formalis-mo tradicional das universidades, mas, em qualquer caso, rompendo paradig-mas, avançando hipóteses, criando sinapses inéditas entre ramos do sa-ber, desfazendo barreiras.

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contemporânea encontramos já o holismo, a perspectiva sistêmica e o pensamento complexo nos teósofos de Alexandria como Amônio Saccas e seus companheiros; do Renascimento como Jacob Boheme; do século dezoito como Giambattista Vico e Isaac Newton, que terminou seus dias como filósofo e místico; nas perspectivas de Humboldt e nos estudos naturalistas e ensaios filosóficos de seu contemporâneo Goethe, na passagem entre o século dezoito e dezenove, resgatados e exaltados por Steiner, fundador da Antroposofia. E, naturalmente, no movimento teosófico liderado por Helena Blavatsky, antes de ser reduzido à condição, ora de “Budismo Esotérico”, ora de “Catolicismo Liberal” como quiseram, ora uns, ora outros de seus mais ou menos acreditados sucessores, o que lhes valeu o afastamento de vultos como Jiddu Krishnamurti, Rudolph Steiner, Mário Roso de Luna, entre outros.

Não esquecendo também que, durante séculos, adeptos da linha hermética e teóricos e práticos da manipulação alquímica se chamaram a si mesmos de “Filósofos da Natureza”, cultivando um conhecimento interdisciplinar – embora sujeito aos horizontes da época – e transdisciplinar, porque se tratava de descobrir aspectos ocultos ou desconhecidos que transcendiam ou se encontravam entre as poucas disciplinas do conhecimento então constituído. A questão principal no estudo e prática da Alquimia, considerando suas raízes herméticas ou egípcias, presentes também nos Rosacruzes originais, não era dominar a Natureza para submetê-la aos caprichos de uma exploração dominadora, como aconteceu e acontece ainda hoje com o desmatamento abusivo e ilegal e com os efluentes não tratados de indústrias e de cidades inteiras: era, bem pelo contrário, inspirar o conhecimento humano pelo conhecimento das leis da Natureza em seus aspectos essenciais, para atingir um grau particular de harmonia com ela, tanto em seu lado visível como invisível. E, então, de posse dos segredos da Natureza, conseguir a transmutação dos elementos pesados (o corpo e a alma no ser humano) alegorizados pelo chumbo, em ouro filosofal, ou o espírito liberto e consciente do caixão de carne em que se encontra encerrado.

Se a Natureza, considerada apenas em seus aspectos biológicos, físicos e químicos, é um todo dotado de uma incrível complexidade – leia-se, por consequência, interação e interdependência – dentro da qual existem trocas de informação permanentes, parece óbvio que, ao fragmentar seu estudo em especialidades cada vez mais autônomas, estáticas e sem articulação entre elas, haja uma progressiva perda da visão do todo e de seu dinamismo. Por outro lado, parece também lógico que, se a Natureza configura um imenso sistema

autorregulado, inteligente, cada uma dessas partes – que são as disciplinas científicas – somada com as demais, não consegue reproduzir o todo. Portanto, o todo é maior do que a soma de suas partes, e o todo não está sendo percebido pela Ciência. Foram essas e outras premissas que levaram, desde o início dos anos 30 do século vinte, o biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy a rejeitar o cartesianismo científico e a criticar a fragmentação disciplinar, passando assim a formular os princípios de sua Teoria Geral dos Sistemas. E como enquadrar as atividades e ciências humanas nesse modelo?

Na mesma linha de pensamento, e mais recentemente, Nicolescu (2000, p. 15), um dos principais teóricos do pensamento transdisciplinar, explica: “A transdisciplinaridade, como o prefixo “trans” indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina.” Segundo Antônio Carlos Gil, especialista brasileiro em metodologia científica, a abordagem transdisciplinar não elimina, nem a abordagem disciplinar clássica, nem as outras duas abordagens mais recentes, a pluridisciplinar e a interdisciplinar, porquanto “Como no caso da disciplinaridade, a pesquisa transdisciplinar não é antagonista, mas complementar à pesquisa pluri e interdisciplinar.” (GIL, 1999, p. 17).

O autor de Teoria Geral dos Sistemas sustinha, já em meados do século vinte, que o enfoque sistêmico não se resumia aos fenômenos físicos e biológicos e, de certo modo, complicava-se na passagem do estudo das comunidades biológicas para as comunidades humanas: “As dificuldades [do enfoque sistêmico dentro dos sistemas sociais] não estão somente na complexidade dos fenômenos mas também na definição das entidades consideradas” (BERTALANFFY, 1977, p. 257). O autor sustinha que uma parte das dificuldades da abordagem sistêmica deve-se ao fato de as Ciências Sociais tratarem de sistemas socioculturais. Com efeito, para este autor (Id., ibid.) “o homem não é um recebedor passivo de estímulos provenientes do mundo exterior, mas em sentido muito concreto cria seu universo”.

Deste ponto de vista, percebe-se que o ser humano, a sociedade por ele criada e seu próprio universo simbólico, se não se encontram fora da Natureza, constituem um aspecto à parte, tanto ou mais complexo do que a Natureza entendida apenas em sua vertente física, química ou biológica. À parte, mas conectados com ela, encontra-se uma complexa rede de interações, visíveis e invisíveis. Na realidade, quando se aprofunda

... o todo é maior do que a soma de suas partes, e o todo não está sendo percebido pela Ciência.

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o estudo da esfera do humano, transgridem-se os limites da visibilidade material e dos dados percebidos pelos sentidos físicos e entra-se no domínio da consciência, ou seja, no domínio do invisível: um invisível apenas perceptível pelos “órgãos” respectivos, assim dizendo, funções como a

inteligência e a sensibilidade e a evanescente inspiração ou intuição, na companhia da qual sempre navegaram os grande gênios, descobridores, os precursores de mudanças. Em suma, uma natureza invisível e em vias de conscientizar-se de si mesma, consistindo nesse processo o que se chama de evolução, do ponto de vista da Eubiose – e sem qualquer prejuízo do conceito com o mesmo nome existente na Ciência acadêmica. Basta entrar no vasto campo das Ciências Humanas e Sociais para perceber que existe, na maior parte dos fenômenos, uma objetividade invisível, percebida através de indícios que falam mais à inteligência e à dedução, do que à observação material, ainda que assistida por tecnologia.

Pode considerar-se, deste modo, uma Natureza global ou integral, que possui sua parte visível e outra sutil, invisível aos olhos do físico. O que, se hoje ainda não é totalmente possível porque o ser humano vive sobretudo para o corpo e para as emoções ligadas ao corpo, certamente fará parte de etapas evolucionais futuras da mônada.

O estudo da Natureza global e, muito especialmente, a harmonização do ser humano com ela – continuamente presente nos ensinamentos do Prof. Henrique José de Souza e também induzida significativamente pela abordagem ambiental contemporânea – não significa, bem entendido, um retorno da Humanidade às matas e ao desconforto de uma vida dura, primitiva e perigosa. Significa, na visão eubiótica, a conquista de um equilíbrio justo entre ambientes naturais e ambientes que reflitam o melhor da própria natureza humana, ou antes, de sua verdadeira identidade que, segundo a Eubiose, é divina

em sua origem e em seu destino final, quando conseguir conquistar essa mesma divina natureza que nela dorme em semente desde a noite da Criação, ou do primeiro momento da evolução – porque evolucionismo e criacionismo não são incompatíveis, embora se encontrem muito mal estudados e explicados, e frequentemente na mão de fanáticos irredutíveis, tanto religiosos, como pretensamente científicos.

Tudo isso pressupõe uma revisão conceitual de toda a nossa civilização e a inserção de reformas importantes, começando pela reforma das mentalidades, como encontramos frequentemente em Morin, por exemplo em “Os sete saberes para a educação do futuro”6 – ou, na perspectiva da Eubiose, começando pelo interior do próprio ser humano, como induziu o Prof. Henrique José de Souza:

O homem moderno, que criou para si tantos instrumentos de conforto, não poderia mais volver ao seio das florestas como os seus an-cestrais, vivendo primitivamente. Seria um retrocesso, e a EUBIOSE não preconiza retrocessos. O homem moderno criou uma literatura, possui teatros, cinemas, rádios, geladeiras, fogões elétricos, aviões, máqui-nas de lavar e passar roupa, telefone, auto-móveis etc. Ser-lhe-ia impossível prescindir de tudo isso. A finalidade da EUBIOSE é tornar o homem feliz, integrando-o harmo-nicamente nessa civilização, com um novo caráter impresso em sua mentalidade: o do homem viver procurando a felicidade alheia. É uma afirmação que à primeira vis-ta parece um tanto utópica, considerando a posição atual do homem em meio das suas próprias contradições internas e externas, que caracterizam o nosso ciclo, e que são os frutos da nossa formação didática errônea, da perda da Tradição, e portanto, do meio social distorcido e, porque não dizer, perver-tido, em que vivemos. 7

E aí vem de novo o autor de O Método, suscitando aos auditórios contemporâneos ansiosos por uma saída para as rotinas da Ciência acadêmica clássica, uma abordagem que não elimina a Ciência e o método científico, mas que lhe permite experimentar roteiros perdidos, esquecidos, ou ainda não encontrados, justamente através de algo chamado consciência:

Antônio Carlos Gil

“Como no caso da disciplinaridade, a pesquisa trans-disciplinar não é antagonista, mas complementar à pesquisa pluri e interdisciplinar.”

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Nós fazemos parte da Natureza e, ao mesmo tempo, estamos separados dela. É um proble-ma epistêmico. Será que o Homem faz parte da Natureza? Sim e não. É preciso saber evi-tar este tipo de questão que nos obriga a uma resposta binária. Nós pertencemos à Natu-reza e ao mesmo tempo estamos além dela porque temos uma cultura, um espírito, uma consciência.8 (MORIN, 2006, p.2).

Voltando à análise dos fundamentos da Ciência acadêmica clássica, observa-se que a sua prática tem base na observação racional e material dos fenômenos, a partir do que passa a induzir hipóteses, a demonstrá-las e, se for o caso, a induzir leis. Trata-se do chamado método experimental-indutivo, que todos aprendem na universidade, especialmente nos cursos mais voltados para a prática da pesquisa. Porém, todos os que já fizeram pesquisa científica testemunharam uma grande dificuldade em encontrar leis ou princípios a partir da observação de um universo amostral, normalmente pequeno se comparado com o universo total a ser pesquisado.

O indutivismo foi dominante na Ciência nos últimos duzentos anos, mas as Ciências Sociais e Humanas, que lidam com fenômenos mais subjetivos e evanescentes, como pensamentos, atitudes e emoções, têm alguma dificuldade em depender unicamente desta metodologia para encontrarem leis e conclusões cientificamente válidas. O indutivismo apresenta outro problema, já identificado por David Hume no século dezoito: ele tem base na probabilidade estatística, ou antes, na falta dela... E quando a probabilidade desce abaixo de certo índice devido à escala reduzida do universo amostral, a generalização não constitui necessariamente uma verdade, porque o universo estatístico não foi totalmente estudado. Karl Popper, conhecido filósofo contemporâneo, chega ao ponto de afirmar que a ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos falseamentos, o que é concordante com as deduções de Kuhn (2003).

Collingwood, por sua vez, denunciou à academia britânica dos anos 40 o processo de afastamento compulsivo da Filosofia dos meios científicos, operado com intensidade acrescida a partir do século dezenove. Processo através do qual os “donos da ciência” foram excluindo e remetendo, para um empirismo desacreditado e conotado com pura especulação ou com devaneios inconsistentes, todos os outros modelos de

observação e de interpretação do mundo, do “real”, do homem e do universo, inclusive a própria Filosofia:

Antes do século XIX, os mais eminentes e prestigiosos cientistas filosofaram sempre sobre a sua ciência, tal como testemunham os seus escritos. E dado que consideravam a ciência natural como a sua obra principal, torna-se razoável admitir que esses testemu-nhos abrangiam o campo da sua filosofia. No século XIX propagou-se a moda de se-parar os estudiosos da ciência natural e os filósofos em dois grupos profissionais, cada qual pouco sabendo do trabalho do outro e alimentando ainda menos simpatia por ele. 9

Na razão inversa do processo histórico de fragmentação do conhecimento e de entronização de uma ciência hiperanalítica, desenvolvida a partir do final do século XVII até uma parte do século XX, encontra-se, desde as últimas décadas deste último, o advento da interdisciplinaridade científica e das propostas sistêmicas e transdisciplinares, conforme já foi exposto acima. Semelhante fragmentação, cuja tendência Giambattista Vico – considerado por alguns autores o precursor do pensamento sistêmico e da epistemologia construtivista – já havia denunciado com sua crítica ao pensamento cartesiano em sua Scienza Nuova, publicada em 1725, entre outros escritos. Um dos princípios nucleares do pensamento do filósofo napolitano é o chamado Verum factum, pelo qual se sustém que a verdade é validada através da invenção, da criação e não, como sustinha Descartes, através de axiomas baseados exclusivamente na observação. Por outras palavras, uma hipótese cientificamente verdadeira tem que mostrar que “funciona” na prática e não através de um critério previamente definido, porque, segundo o autor, a mente humana não pode definir como verdadeiros os critérios pelos quais se define a própria verdade. Ou colocando em forma de um exemplo muito simples e próximo do cotidiano do cidadão: quando as leis são elaboradas por políticos, é de esperar que elas sejam as primeiras a defender a classe política, seus interesses e sua rede de clientes e fornecedores diretos...

Neste ponto, será lícito considerar que as mudanças operadas nas últimas décadas têm implicações múltiplas que atingem igualmente o modo clássico de gerir, estruturar e organizar a pesquisa, a descoberta, e a própria construção do conhecimento dito científico, ou sua epistemologia. Em suma, o mundo de hoje encontra-se num fértil período de nascimento de novas formas de entender e gerar o conhecimento e, também, de revisão crítica daquilo a que se chama de Ciência, incluindo suas aplicações práticas, em forma das mais

Ciência clássica: as brechas epistemo--metodológicas e as novas propostas

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diversas tecnologias. Segundo Sato (2005, conferência), esse processo de ruptura continua nos dias de hoje:

Na época pós-moderna, o conhecimento tem gerado mal-estar e, não raro, a universida-de tem sido objeto de descrédito e modelo de autoritarismo. Parece haver uma ausência de comunicação entre a realidade e o entu-siasmo pela ciência. Construímos pesquisas alienadas da realidade e negamos as inúme-ras vozes silenciadas pelas nossas verdades.

Rauen (2002, p. 36) reconhece que “modernamente […] a exagerada fragmentação [do conhecimento disciplinar] é ponto de empecilho”; e que “O real, pensa-se, deve ser abordado globalmente, como um sistema de fatores inter-relacionados. Tal postura, contudo, esbarra em nossos hábitos disciplinares”. Por isso mesmo é que “Frente a essa realidade, desenvolvem-se pesquisas multidisciplinares, cuja característica é, sem negar, o valor de cada especialidade, romper com suas divisões, para observar o problema complexo de uma forma mais abrangente e completa” (RAUEN, 2002, p. 36).

Ainda segundo o mesmo autor (2002, p. 25), “a ciência possui duas dimensões de estudo: a epistemológica e a metodológica”. Quando se fala de uma abordagem ou de um referencial, o que está em causa é a dimensão epistemológica, ou “compreensiva”, pertinente, portanto, às formas possíveis de conhecer o objeto estudado, ou seja, “os aspectos contextuais e de conteúdo” (Id, ibid.). Por outro lado, a dimensão metodológica “trabalha os aspectos de operacionalização, isto é, como a ciência deve chegar à dimensão compreensiva” (RAUEN, 2002, p. 25).

Assim, as críticas e alternativas múltiplas que vêm sendo desenvolvidas nas últimas décadas relativamente ao método científico clássico, não eliminam sua validade relativa, nem o eliminam, portanto, nas áreas e circunstâncias que lhe são pertinentes; mas permitem uma seriedade e objetividade mínimas em áreas e circunstâncias nas quais o indutivismo não pode ser aplicado para garantir respostas com base verídica. O dogmatismo da Ciência “vitoriana”, que só acredita no que se pode ser comprovado materialmente – como se a lógica e a inteligência humana dependessem apenas de objetos e fenômenos externos – também vem recebendo duros golpes em sua inflexibilidade. Thomas Kuhn, já referido atrás, com seu histórico e perturbador trabalho A Estrutura das Revoluções Científicas – publicado originalmente em 1962 pela Universidade de Chicago, e ainda hoje um best-seller entre docentes e estudantes de todas as áreas científicas em todo o mundo – evidenciou a questão do falseamento na Ciência e pôs em causa a objetividade das deduções científicas clássicas,

introduzindo a importância das influências ou aspectos históricos, sociológicos e até pessoais nas deduções dos pesquisadores, abalando o mito de que a atividade científica é inteiramente lógica e se deve basear exclusivamente na observação empírica.

Apesar do mito da objetividade no método científico clássico, Kuhn demonstra que existe um enorme grau de subjetividade na construção do conhecimento científico e, portanto, em sua validade relativa. Assim, pode questionar-se até que ponto é que os resultados da pesquisa de um cientista sobre um dado tema são mais ou menos objetivos ou reais do que as deduções de um filósofo brilhante, as visões de um místico, as sensações de um iogue em estado de Samadhi, ou os dados que perpassam na mente de um artista plástico em plena inspiração criativa.

Outra característica da Ciência clássica, derivada diretamente da época em que as Ciências Naturais ocupavam a maior parte dos cientistas, é a de que ela não serve para opinar sobre como a realidade deverá ser, mas sim para perceber e descrever a realidade como ela é. Se essa premissa é válida para as Ciências Naturais até certo ponto, o estudo científico da realidade humana em todas as suas manifestações mostra ou descobre aspectos que, uma vez conhecidos, não podem ficar indiferentes aos pesquisadores, por exemplo: situações individuais e sociais degradantes, exploração de crianças, jovens e até adultos em condições infra-humanas, violação de direitos humanos, hábitos culturais de extrema violência acobertados ou não por impunidade etc. A Medicina, como prática auxiliada por diversas ciências e tecnologias, especializa-se em agir sobre a realidade e melhorá-la. O Direito estabelece como devem ser os comportamentos. A Psicologia

... o mundo de hoje encontra-se num fértil período de nascimento de novas formas de entender e gerar o conhecimento e, também, de revi-são crítica daquilo a que se chama de Ciência, incluindo suas aplicações práticas, em forma das mais diversas tecnologias.

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Thomas Kuhn

Clínica, por exemplo, utiliza seus recursos para aplicá-los nas perturbações do foro mental ou psíquico. Por fim, a Ecologia, ciência que se constituiu como tal por volta dos anos 60, enquanto explora seu objeto, que consiste no estudo das relações ou interações entre os seres vivos e destes com o meio ambiente, também é obrigada a alertar e a prescrever medidas para neutralizar os graves desequilíbrios da chamada pressão antrópica, ou ação humana sobre o ambiente.

Assim, e porque o ser humano, ainda que numa era científica e tecnológica, não é indiferente em termos de afetividade e sensibilidade, observa-se que diversas ciências passaram a conjugar a atividade de pesquisa a uma ação reguladora do próprio objeto de seus estudos. Foi assim que nasceram metodologias de pesquisa científica como a Pesquisa Participante e a Pesquisa-Ação. Portanto, não é surpreendente que o Prof. Henrique José de Souza, quando discorre sobre a Eubiose, descreva essa “vasta ciência futura”10 como algo que ao mesmo tempo estuda, pesquisa, mas visa aperfeiçoar e melhorar a condição humana. Justamente, qualificando a Eubiose de Ciência Universal e dizendo-a sinônimo de um Naturismo Espiritual, o Mestre argumentou que “A nossa civilização afastou e continua cada vez mais afastando o homem da Natureza”, ressalvando, porém, que

Não se trata na EUBIOSE de uma comu-nhão com a Natureza, exclusivamente do ponto de vista da saúde e da eugenia. A EU-BIOSE é um naturismo que atende a estes aspectos, e visa – e isto é que é importante – a evolução interna e espiritual da Humanida-de. Cogita do seu melhoramento; é um siste-ma de vida que pretende orientar a ciência e a educação, estabelecer a harmonia social, a política, a didática, a moral e o bem-estar dos povos, para haver felicidade11.

Por sua vez, Morin (1994, p. 138) não deixa de fora elementos algo imponderáveis – “não científicos” – na abordagem científica clássica:

(...) A complexidade surge como dificul-dade, como incerteza e não como clareza e como resposta. (...) Vemos atualmente que existe uma crise da explicação simples nas ciências biológicas e físicas: desde então, o que pareciam ser os resíduos não científicos das ciências humanas, a incerteza, a desor-dem, a contradição, a pluralidade, a com-plicação etc., fazem hoje parte de uma pro-blemática geral do conhecimento científico.

Muito além de uma perspectiva apenas místico-religiosa, como redutoramente é entendida com bastante frequência, a Eubiose foi apresentada desde o início como uma ciência, cujo conceito o próprio apresentador, Prof. Henrique José de Souza, insinuava mais do que definia no detalhe. Uma ciência com traços algo diferentes e inéditos relativamente face à ciência acadêmica daquela época, dogmática e analítica, que os últimos 70 anos encarregaram de semear de novas e admiráveis tendências muitas delas mostrando conceitos e práticas francamente eubióticas.

A Eubiose, “Ciência da vida bem vivida, isto é, harmônica com a Natureza. É um programa de trabalho, um processo de fazer a Humanidade evoluir e melhorar”12. Porém, não esquecendo uma base fundamental comum aos ensinamentos de todos os Grandes Iluminados ao longo da História, como foi citado acima: “A finalidade da EUBIOSE é tornar o homem feliz, integrando-o harmonicamente nessa civilização, com um novo caráter impresso em sua mentalidade: o do homem viver procurando a felicidade alheia” 13.

O Mestre surge aqui, claramente, transmutando o enfoque religioso da caridade, repetido, gasto, frequentemente inoperante e até desvirtuado por uma estrutura social desigual e por vezes desumana, num traço do caráter a ser desenvolvido daqui para a frente pela Humanidade, bem definido e muito prático: “Viver procurando a felicidade alheia”. Mas será nesse traço do caráter que consiste a cientificidade da Eubiose? – pode perguntar-se. Não só, mas também, poderia ser a resposta. Caráter é alma, faz parte da esfera afetiva e das emoções. Sendo assim, onde se encontra aqui a ciência? A não ser que haja, ou venha a haver uma Ciência do Altruísmo... O que, aprofundando um pouco mais,

Apesar do mito da objetividade no mé-todo científico clás-sico, Kuhn demons-tra que existe um enorme grau de sub-jetividade na cons-trução do conheci-mento científico e, portanto, em sua validade relativa. Assim, pode questio-nar-se até que ponto é que os resultados da pesquisa de um cientista sobre um dado tema são mais ou menos objetivos ou reais do que as deduções de um fi-lósofo brilhante, as visões de um místi-co, as sensações de um iogue em estado de Samadhi, ou os dados que perpas-sam na mente de um artista plástico em plena inspiração criativa.

Uma Ciência das consciências e do melhoramento humano

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não parece descabido porque, sendo o ser humano uma criatura social, que necessita do outro numa relação e interação simbiótica – embora haja os que prefiram uma relação parasitária - não existe razão para que os cidadãos

não vivam para o bem comum com intensidade igual à que vivem para si mesmos, pesquisando e aplicando os fundamentos desse “bem viver” social no cotidiano, numa verdadeira ecologia social. Aliás, a Ecologia Humana já é um conceito hoje existente, como vertente de pesquisa dentro da Ecologia.

Sem dúvida, a dimensão altruísta faltou durante toda a evolução da Ciência moderna, do século dezessete até hoje, uma vez que uma grande parte das descobertas científicas e tecnológicas, pelo menos nos últimos cem anos, foi apropriada por empresas ou governos para daí retirarem os respectivos lucros e predominância econômica, militar ou geoestratégica. Mesmo dentro dos países tecnologicamente mais avançados, o altruísmo social também ficou em falta, na medida em que são os indivíduos ou famílias com maior poder aquisitivo que efetivamente podem usufruir do conhecimento e da tecnologia mais avançados, começando pela Medicina e pela Educação de maior qualidade.

Quando Henrique José de Souza insere uma premissa altruísta numa nova (embora não o seja) “Ciência da vida”, para “fazer a Humanidade evoluir e melhorar”, faz entrar nesse domínio fontes epistemológicas classicamente não consideradas pela Ciência. Por exemplo, elementos intelectuais e culturais do Oriente, relações lógico-dedutivas que se encontram na prática filosófica, e os outros dados que fazem parte da afetividade, da estética, das emoções. Será, porém, que uma Ciência Integral não deve entrar em conta com toda a informação possível? Por exemplo: a música é menos real ou não é verdadeira só porque não entra nela

uma demonstração matemática ou uma série estatística? Porém, a música desenvolve-se em sucessões e séries atemáticas acima, abaixo e ao longo da escala musical... Existirá, assim, uma Ciência da Música? E as artes plásticas deixam de ter valor epistemológico por não se poder delimitar ou definir com exatidão a mensagem pintada numa tela ou expressa numa coreografia de dança? Haverá uma Ciência da Arte? Ou antes, a Lógica, as Artes, a Filosofia em geral deixam de ser fontes válidas de conhecimento pelo fato de não seguirem um método experimental e indutivo? Pelo contrário, porque nas artes existe também experimentação, existem técnicas específicas e existem resultados práticos. Haverá, finalmente, uma diferença tão grande entre Ciência, Arte e Filosofia? E no que respeita à afetividade? Será que o amor fraterno e desinteressado entre pessoas não poderá constituir uma fonte de experiência e de conhecimento? Além da “Ciência do altruísmo” esboçada mais acima, existirá também uma Ciência do Amor? Uma Ciência da ética social, apesar de a Ética já ser uma disciplina da Filosofia? E uma Ciência da felicidade? Existem temas transversais que já se constituíram como ciência, como a própria Ecologia, a Educação Ambiental etc. Certamente, ética, altruísmo, amor, felicidade, são temas chamados de transversais, alguns deles hoje reconhecidos como epistemologicamente válidos e que poderão, num futuro breve, ser estudados cientificamente e aplicados para o aperfeiçoamento individual e social.

Finalmente, pairando acima das demais e com profundas raízes no Tempo e nos Grandes Mistérios, existirá uma Ciência Geral oferecendo uma perspectiva integral, que o ser humano poderá cultivar e com ela progredir individualmente, contribuindo ao mesmo tempo para o melhoramento humano em geral? Sem dúvida: é a Ciência das Idades ou Sabedoria Iniciática das Idades, entre muitos outros nomes, e sempre existiu entre a Humanidade. É a Ciência ministrada desde sempre, de acordo com as respectivas civilizações e suas culturas, pelos mais altos Iniciados, pelos Adeptos, os Grandes Iluminados, Avataras e seus discípulos mais adiantados, dentro ou fora de discretas ou secretas Fraternidades. Dessa Metaciência, Supraciência ou Ciência das Ciências derivaram, ao longo da História, as diversas ciências e movimentos filosóficos, os movimentos relevantes nas artes e na cultura, e as melhores iniciativas libertadoras do ser humano:

Henrique José de Souza - fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose.

Quando Henrique José de Souza in-sere uma premis-sa altruísta numa nova (embora não o seja) “Ciência da vida”, para “fazer a Humanidade evo-luir e melhorar”, faz entrar nesse domínio fontes epistemológicas classicamente não consideradas pela Ciência.

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arquitetura, matemática, geometria, música e todo o avanço real da civilização sempre que foi necessário esclarecer o povo, lançar as luzes da educação, eliminar a tirania, humanizar a cidade. Porém, em função da época e do lugar, seus representantes foram obrigados a dissimular ou até a esconder sua Ciência, devido à intolerância religiosa, à perseguição política - ou ambas em conluio, como aconteceu durante os séculos em que o Santo Ofício legislava sobre o que as pessoas poderiam ou deveriam pensar, fazer ou acreditar.

Nos nossos dias, porém, caídas as mordaças impostas por via política ou religiosa, não existe razão para que essa Supraciência não seja cultivada e progressivamente colocada em prática. Seu caráter integrador não gera qualquer necessidade de oposição à Ciência acadêmica e a quaisquer outras formas de conhecimento e experiência, pelo contrário, a de incentivá-las identificando nelas aspectos importantes e saudáveis para a evolução da consciência humana e da sociedade – desde que não haja fanatismo nem dogmatismo. Para Mário Roso de Luna, eminente teósofo e cientista desaparecido em 1931, correspondente e amigo de Henrique José de Souza e membro da STB (hoje SBE), ela é uma

(...) Ciência integral que penetra no mara-vilhoso e pode responder galharda às três perguntas do enigma da Esfinge: «Quem somos? De onde viemos? Para onde va-mos?» Isso não conseguirá fazer a sua ciên-cia pobre e positivista, porque tão somente aquela ciência integral será capaz de nos ensinar, documentada com o testemunho da sabedoria de todos os povos e idades, que do alto temos descido, do seio do Logos ine-fável, através das infinitas «Casas de devo-ção” de rutilantes astros e de «Moradas», como a que vislumbrou Teresa de Cepeda em seus êxtases de iluminada consciente e inconsciente... 14.

O trecho seguinte pode ajudar no entendimento da linhagem dessa “Ciência da Vida”, que ao longo dos séculos, desaparecidos os que ciclicamente a apresentam ao mundo, sempre vem sendo reduzida e deturpada por discípulos mais fiéis a seus umbigos e tendências individuais do que a sua divina origem, à razão de superficialíssimo “culto esoterista” ou “religião esotérica”:

Espanha Mossarábica, fulgor magnífico durante a Idade Média. Alquimistas!... Ouro Filosofal!... Elixir de longa Vida!... Cristian Rozenkreutz! Que sabem de Ti os

que não leem no passado com os olhos do Espírito, os que não pertencem à Tua linhagem? Tradição de Sa-bedoria perdida e esqueci-da, porém conservada pelos eternos Guardiães da Su-prema Verdade, da Ciência da Vida, da Sabedoria Anti-ga, da Sanatana-Dharma, da Religião-Sabedoria, da Gupta Vidya, enfim, perdi-da e esquecida com o desen-volvimento da ciência mo-derna, objetiva e analítica, ciência de dentro para fora, e não de fora para dentro do homem. 15

Afinal, “Ciência” tem a ver com estar ou tornar-se ciente, consciente, conhecedor etc., de acordo com seu étimo latino Scientia. É de admitir, sem forçar muito o conceito, que qualquer orientação teórica ou prática que proporcione ao ser humano, por esforço e mérito próprio e pelo exercício do espírito crítico e de descoberta, tornar-se ciente, consciente de si mesmo e do universo à sua volta, cabe no conceito de “Ciência”. Desde que o faça abrindo o mais rico ou diverso conjunto possível de abordagens e opções, do qual não ficam de fora a ciência acadêmica, os conhecimentos tradicionais e o próprio aprimoramento estético, afetivo e emocional. Fica claro que semelhante Ciência Geral não se opõe conceitualmente a opção alguma, a não ser à entronização da ignorância, da crendice, da violência como solução dos problemas que afligem a Humanidade, enfim, a rejeição da Inteligência, da ponderação e do bom senso. A Ciência ou Sabedoria das Idades é o ponto de encontro da Revelação proveniente dos Grandes Iluminados ou Avataras com o conhecimento, a sabedoria humana, a súmula da experiência de muitos milhares de anos de evolução.

Fora do seio dos pouquíssimos redutos iniciáticos nos quais essa Ciência-Mater possui reservas e potencial, já existem em nossos dias, como foi exposto anteriormente, propostas e práticas que vêm sendo aprimoradas ao longo das últimas décadas; propostas essas que se encontram dentro de uma linha francamente harmônica com ela e, portanto, com a própria Eubiose, conforme foi exposta pelo Prof. Henrique José de Souza e por seu alter-ego Lorenzo

Finalmente, pai-rando acima das demais e com pro-fundas raízes no Tempo e nos Gran-des Mistérios, exis-tirá uma Ciência Geral oferecendo uma perspectiva integral, que o ser humano poderá cultivar e com ela progredir indivi-dualmente, contri-buindo ao mesmo tempo para o me-lhoramento huma-no em geral? Sem dúvida: é a Ciência das Idades ou Sa-bedoria Iniciática das Idades, entre muitos outros no-mes, e sempre exis-tiu entre a Humani-dade.

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Paolo Domiciani. Elas constituem portas abertas para um novo tipo de abordagem ao conhecimento e ao futuro das sociedades modernas e estão acessíveis por clipes de vídeo, conferências, grupos de pesquisa e livros disponíveis em bibliotecas universitárias e livrarias. Não constituindo um saber iniciático completo, porém, semelhantes modelos orientadores do pensamento contêm uma filosofia de elevado nível e são capazes, justamente, de ajudar a aprimorar a busca humana pelo saber e pelos mistérios até hoje não resolvidos, suscitando objetividade no conhecimento, mas sem dogmas nem preconceito intelectual. Se os que os cultivam forem capazes de entender e transformar os dogmas científicos, religiosos e ideológicos e ajudar a Humanidade a progredir pelo estudo, pelo esclarecimento e pelo altruísmo, já terão feito uma parte importante do que o Governo Oculto do Mundo espera para o futuro imediato da evolução humana.

Do ponto de vista do indivíduo e de sua progressão para estados superiores de consciência, não existem realmente modelos, escolas ou instituições que ofereçam o milagre da transformação de homens em deuses, se esse processo não for acarinhado pelo próprio indivíduo. Nenhum mestre ensina quem não pode ou não quer aprender.

E por que será tão importante, desde logo, demarcar a Eubiose apresentada e desenvolvida pelo Prof. Henrique José de Souza das religiões populares ou confessionais, e de atitudes como fé cega, crendice e superstição? Por um lado, porque este estudo trata, seriamente, da essência e raiz da Ciência enquanto veículo de realização humana e de busca pelo saber – não será esta uma das principais e mais nobres aspirações do ser humano desde sempre? Por outro, porque, tanto na citação acima como em inúmeros outros artigos, estudos e ensinamentos ao longo dos anos, o fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose acentuou a inserção da Eubiose na grande corrente chamada de Ciência das Idades, Ciência Iniciática das Idades, Sabedoria Iniciática, entre outras designações semelhantes, que a demarcam da religião comum:

(...) Enquanto os homens não souberem in-terpretar o verdadeiro sentido da palavra “religião” existirão templos, sacerdotes e... até mesmo, Instrutores, sem falar nas ex-terioridades dos diversos cultos que nada mais são do que ensinamentos encobertos pelo véu de Maya, e... que, desgraçadamen-te, nem os seus próprios sacerdotes os sabem

interpretar. Rama, Buddha, Platão, Pi-tágoras etc., etc., nada mais foram do que “seres superiores que nos deram doutrinas eficazes, para que nós outros, por esforço próprio, nos redimíssemos”. Nenhum deles foi fundador de religiões, mas reformador da Verdade única, adulterada pelos seus pretensos discípulos. Buddha, Cristo, Hiram ou outro nome qualquer com que se queira personalizar a Centelha Divi-na, manifestada no homem, só podem ser encontrados, ou melhor, adquiridos, pelo conhecimento de si mesmo, de acordo com as enigmáticas perguntas: “Quem és? De onde vens? Para onde vais?”. O grande erro humano está em procurar fora aquilo que se encontra em estado latente dentro de cada um de nós – a VERDADE ABSOLUTA. Nosce te ipsum... Conhece-te a ti mesmo. 16

Naturalmente, semelhante declaração do grande Mestre não é suficiente para que, imediatamente, a Eubiose seja aceita no rol das disciplinas científicas, no qual, do mesmo modo, não estaria confortável nem bem classificada. A Eubiose é representante única de um tipo de conhecimento e de motivação individual para seu desenvolvimento, que não se enquadram na extrema fragmentação típica do desenvolvimento da Ciência humana ao longo dos últimos trezentos anos.

EUBIOSE é a ciência da Vida. E como tal, é aquela que ensina os meios de se viver em harmonia com as leis da Natureza, e con-sequentemente, com as leis universais, das quais as primeiras se derivam. Pelo que se vê, nenhuma diferença existe entre EU-BIOSE e TEOSOFIA, porque esta, como CIÊNCIA ou Sabedoria Divina, se propõe a mesma coisa, como “Tronco donde se originam as ciências, religiões, filosofias, línguas e tudo mais quanto já existe e há de existir no mundo”. Desse modo, não apenas os “Adeptos da Boa Lei”, mas também, to-dos os Iluminados que a este mundo vieram, pautaram a sua vida eubiótica ou teosofica-mente, ensinando aos demais a que agissem do mesmo modo. E isto, de acordo com a evolução natural da época dos seus vários aparecimentos. 17

Mas o Mestre, absolutamente ciente dos limites e fronteiras entre Ciência acadêmica e Ciência das Idades, adverte:

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(...) A EUBIOSE; não é um amontoado informe de ciências ou de conhecimentos tomados em todas elas, nem tão pouco, um simples sistema de classificação, mas sim; uma orientação especial de cada uma delas, com um fim perfeitamente definido, que de-pende, diretamente, de nosso sistema psico-lógico. Cada faculdade predomina em uma ordem especial de atividades, e estas devem ser eubioticamente encausadas para asse-gurar o melhor funcionamento daquelas, seu desenvolvimento e aperfeiçoamento, ga-rantindo, além disso, como consequência do seu legítimo uso científico e racional, uma benéfica reação de felicidade. 18

Como foi referido no início, este artigo não é senão uma breve introdução aos principais temas gerados pela Eubiose a partir de seu tronco original, sugerido pelo misterioso Adepto conhecido por “Dr. Maurus”, apresentado a partir de 1948 pelo Prof. Henrique José de Souza e depois, elaborado com mais detalhe por seus heterônimos literários e iniciáticos Laurentus e Lorenzo Paolo Domiciani.

As citações aqui perpassadas visam, tão somente, resgatar momentos importantes da apresentação da Eubiose e lançar um desafio para uma abordagem desenvolvida e contemporânea dessa “vastíssima Ciência futura” (DOMICIANI, 1954-1955). Ciência essa que nos dias de hoje, quase 60 anos depois, é menos futura, mas continua carente de uma definição condigna, de uma estruturação capaz de ser percebida por diversos públicos e pelas linguagens intelectuais contemporâneas, bem como do aprofundamento de seus “primeiros materiais construtivos” (Id.), muito especialmente pela prática e pela pesquisa participante.

Em projeto encontram-se estudos mais desenvolvidos sobre esta ampla temática, nos quais o autor se propõe explorar - uma vez que, ainda hoje, “faz-se necessário estabelecer uma constituição científica de um corpo de doutrina eubiótica” 19 - os isomorfismos entre a Eubiose iniciática, a Eubiose científica, a Sabedoria iniciática, a Ciência acadêmica e a Filosofia do Oriente e do Ocidente; enquadrar no escopo da Eubiose as “Sete Ciências Sagradas” reveladas pelo Mestre como elementos-base da arquitetura da evolução do futuro; conceituar com mais detalhe a vertente prática da Eubiose em seu contato com o mundo cotidiano, colocando-a ao alcance de qualquer homem ou mulher que já busque ou sinta em si mesmo, seja qual for sua religião, etnia, cultura ou proveniência, as mesmas características ou princípios cultivados, pesquisados e desenvolvidos pelos membros da Sociedade Brasileira de Eubiose e,

ainda que parcial, empírica ou espontaneamente, por milhares de pessoas em todo o mundo.

A Eubiose, se perspectivada em seu escopo integral, constitui muito mais do que uma instituição humana tendo em seu seio uma escola iniciática e filosófica: essa é apenas uma pequena ponta do iceberg, sujeita socialmente a regras e limites formais e, até, à acidez da ignorância e da incompreensão. Ela constitui o bojo, a matriz de uma civilização inteira, um arquétipo de uma Nova Civilização, faltando ser realizada no mundo objetivo, junto da Humanidade, durante um período que ultrapassa em muito o tempo de vida de qualquer ser humano. Não se trata de um projeto, mais ou menos utópico, imaginado por um grupo de filósofos e intelectuais idealistas, mas, com suficientes motivos para afirmar, uma determinação cíclica, uma criação da Lei que tudo e a todos rege, muito além da vontade humana individual ou coletiva.

E pelos motivos acima, forçosamente, uma parte constituinte de um vasto movimento universal que, pouco a pouco, está e continuará tomando forma, reformando conceitos, práticas e mentalidades em todos os campos da atividade humana. Em suma, criando terreno para desenvolver essa genialidade, essa mentalidade brilhante, criadora, redentora... Não religiosidade, porque a genialidade aliada à genuína espiritualidade, como Fogo Sagrado, desde que naturalmente desperta dentro do ser humano, penetra dentro de tudo e tudo transforma, melhora e eleva. Ou não existiria aquele antiquíssimo hino védico adaptado por JHS para sua Escola Iniciática, que canta:“Fogo sagrado! Fogo purificador! /.../ Centelha divina, que arde em todas as coisas Alma gloriosa do Sol!”

A Eubiose é repre-sentante única de um tipo de conhe-cimento e de mo-tivação individual para seu desenvol-vimento, que não se enquadram na extrema fragmen-tação típica do de-senvolvimento da Ciência humana ao longo dos últimos trezentos anos.

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¹ - SOUZA, H. J. de. O que é Intuição (Terceira e última da série de palestras do diretor-chefe da S.T.B.). Revista Dhâranâ nº 87/88 – janeiro a junho de 1936.

²- Embora os termos de origem latina conscious e consciousness tam-bém sejam utilizados, awareness provém da expressão verbal to be aware, que significa estar ciente, consciente, desperto, alerta, sensí-vel, conscientizar-se etc.

³ - MORIN, E. Ciência com consciência. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1994.

4 - I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade. Convento da Arrá-bida, Portugal, 2-6 novembro 1994.

5 - KUHN, 2003.

6 - MORIN, 2002

7 - SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, agosto de 1948.

8 - Tradução do autor.

9 - COLLINGWOOD, 1981, p. 9.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

10 - DOMICIANI, L. P. O que é Eubiose? (Conclusão). Revista Dhâranâ, nº 5-6, novembro de 1954 a fevereiro de 1955.

11 - SOUZA, H. J. de. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, agosto de 1948.

12 - SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, agosto de 1948.

13 - Idem.

14 - LUNA, 1993.

15 - SOUZA, H. J. Fim de Ciclo. Revista Dhâranâ, nº 136, agosto de 1948.

16 - SOUZA, H. J. Respostas às perguntas dos leitores. Revista Dhâranâ 13-17, janeiro a abril de 1927.

17 - DOMICIANI, L. P. O que é Eubiose? Revista Dhâranâ no. 4, se-tembro-outubro de 1954.

18 - DOMICIANI, L. P. O que é Eubiose? (Conclusão). Revista Dhâranâ, nº 5-6, novembro de 1954 a fevereiro de 1955.

19 - Idem.

1 - BERTALANFFY, L. Von. Teoria Geral dos Sistemas. Petró-polis: Vozes, 1977.2 - BUCKLEY, W. A sociologia e a moderna teoria dos siste-mas. São Paulo: Editora Cultrix, 1976.3 - COLLINGWWOD, R. G. Ciência e Filosofia. Lisboa: Edito-rial Presença, 1981. 4ª Ed.4 - DOMICIANI, L. P. O que é Eubiose? Revista Dhâranâ nº 4, setembro-outubro de 1954.5 - DOMICIANI, L. P. O que é Eubiose? (Conclusão). Revista Dhâranâ, nº 5-6, novembro de 1954 a fevereiro de 1955.GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª Ed. São Paulo: Editora Atlas, 1999.6 - KUHN, T. S. La Structure des Révolutions Scientifiques. Paris: Flammarion, 1983.7 - KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 7.ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.8 - LUNA, M. R de. O livro que mata a morte. São Paulo: Editora Três, 1993.9 - MORIN, E. Ciência com consciência. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1994.10 - MORIN, E. Os sete saberes para a educação do futuro. Lisboa: Instituto Piaget, 2002.

11 - MORIN, E. L’aventure de la science fait partie de l’aventure de l’humanité, aventure inconnue. In: Inter Lettre Chemin Faisant MCX-APC, N° 32, Mars-Avril 2006. P. 2-3. Disponível em www.mcxapc.org. Acesso em 25-06-2006.12 - NICOLESCU, B. Um novo tipo de conhecimento - Transdisciplinaridade. In: NICOLESCU, B., PINEAU, G., 13 - MATURANA, H., RANDOM M., e TAYLOR, P. Educação e Transdisciplinaridade. Edições Unesco: Brasília, 2000.13 - RAUEN, F. J. Roteiros de investigação científica. Tuba-rão: Editora Unisul, 2002. 14 - SATO, M. Ressignificação da educação ambiental nos contextos culturais. In: I ENEA: A formação do sujeito ecológico como desafio da década para o desenvolvimento sustentável. Agosto de 2005. Natal, Anais. Natal: I Encontro Nordestino de Educação Ambiental, 2005, 7 p. [conferência].15 - SOUZA, H. J. de. Respostas às perguntas dos leitores. Revista Dhâranâ 13-17, janeiro a abril de 1927.16 - SOUZA, H. J. de. O que é Intuição (Terceira e última da série de palestras do diretor-chefe da S.T.B.). Revista Dhâranâ nº 87/88 – janeiro a junho de 1936.17 - SOUZA, H. J. de. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, agosto de 1948.18 - SOUZA, H. J. de. Fim de Ciclo. Revista Dhâranâ, nº 136, agosto de 1948.

Notas

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sEduardo Búrigo de Carvalho

O NOVO PARADIGMA ÉTICO-CIENTÍFICO

Paradigma vem do grego paradeigma que significa padrão, modelo.Ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto.

Científico é o que tem o rigor científico; método científico.

No momento atual, a humanidade está entrando num novo milênio com uma perspectiva

diferente, mais humana, mais solidária e mais fraternal. A era de Aquarius apregoa em seu âmago a harmonização de todas as energias.

Rav Kuk, cientista que viveu no início da revolução científica de nossa época e sentiu suas consequências materiais, morais e sociais, disse: “À medida que a ciência avança e torna-se mais forte em sua evolução, o homem também se aproxima da luz divina” (SAFRAN, 1995, p.92). A evolução processa-se do mais simples para o mais complexo, do imperfeito para o mais perfeito, do heterogêneo para o homogêneo.

Entendemos que este é um momento ímpar para refletirmos sobre paradigmas passados, dicotômicos e paradoxais em que havia uma separação insuperável entre ciência e fé, razão e emoção. Hoje se fala com toda a veemência sobre inteligências emocional e espiritual, características indispensáveis das pessoas que querem atingir objetivos mais abrangentes e mais consistentes em suas ações humanas. É o homem buscando o humanismo, perdido ao longo do tempo, a dimensão humana que aos poucos foi se deteriorando.

Neste momento a humanidade está buscando o nexo, a inteligência do científico com o emocional e o espiritual, a razão com o conhecimento esotérico e cabalístico.

O trabalho desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Eubiose busca a conexão com a ciência. Procura nas raízes místicas e esotéricas o caminho para a racionalidade. Nesta busca não se nega, em hipótese alguma, a racionalidade, buscam-se antes os limites conhecidos da racionalidade para, a partir destes, engendrar novas ações e padrões que insiram também no corpo do conhecimento, aspectos novos vindos da emoção e do espiritual, que até então eram eivadas de irracionalidades.

O nosso grande desafio está em estudar

profundamente estes conhecimentos disponibilizados pela ímpar capacidade do Professor Henrique José de Souza ao legar-nos os princípios éticos e morais no comportamento do homem novo.

A ciência é infinita e inatingível em sua infinitude. Da mesma forma a consciência e a liberdade são infinitas e por consequência também inatingíveis em sua infinitude.

O paradigma cartesiano, embora suscetível de nos abrir para a busca da verdade, limita as ações intelectuais do homem em suas dimensões mais abrangentes. Há necessidade de buscar outros parâmetros e modelos que nos assegurem uma visão de globalidade do homem. Esta terá por certo contribuições vindas da teoria quântica, da lei da relatividade de Einstein, e dos conhecimentos esotéricos trazidos por uma nova concepção de Avatara, formando assim, um novo paradigma ético-científico.

O pensamento hodierno pauta-se na busca incessante pela VERDADE, embora sabendo que não a teremos de forma cabal e definitiva. Ela servirá sempre como balizamento nas pesquisas científicas que agora se sedimentam numa gama muito maior de conhecimentos (científicos, metafísicos, esotéricos). A convergência crescente da ciência e ética é também uma característica deste início de século. Onde

““À medida que a ciência avança e torna-se mais forte em sua evolução, o homem também se aproxima da luz divina”

Rav Kuk

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e quando o homem sente suas limitações, crescem os desafios na busca da verdade. Esta busca contínua e inquietante da verdade é que move a mente humana e a faz capaz de desvendar os grandes mistérios que envolvem o ser humano. Como dizia Kafka, escritor húngaro, a verdade faz parte de algumas coisas verdadeiramente grandes e raras desta vida que não se podem comprar. É doada ao homem, assim como o amor e a beleza.

Esta dádiva não ocorre sem o comprometimento do homem em burilá-la, aperfeiçoá-la e vivê-la.

Compete pois ao homem, enquanto ser racional, religioso, social e com emoções, realizar e procurar a sua verdade e disseminá-la. Seu compromisso é com a humanidade a partir das pessoas de suas relações. Não há necessidades de grandes revoluções. Há necessidade sim de uma revolução pessoal, de mudanças de paradigma, e a veiculação através, preferencialmente, da comunicação interpessoal. Se alterarmos padrões de comportamento em nós, no nosso grupo familiar, nos nossos grupos de contato, estaremos promovendo uma

sólida e eficaz revolução cultural, porque as pessoas mudarão seus cânones a partir do convencimento e da persuasão. Será uma mudança profunda, porque pessoal.

Em 1902, Willian James, grande psicólogo americano, redefiniu a descoberta de um novo contexto, uma ordem invisível com a qual o indivíduo pode conseguir harmonia. De todas as criaturas da face da Terra, somente os seres humanos podem modificar seus padrões. “Só o homem é o arquiteto de seu próprio destino. A maior revolução em nossa geração é que os seres humanos, modificando as atitudes mais íntimas de suas mentes, podem modificar os aspectos exteriores de suas vidas”. (Ferguson, 1980).

Ética e CiênciaPode-se afirmar grosso modo que foi a partir de

Sócrates (469 a 399 a.C.) que a filosofia passa a se preocupar com problemas relativos ao valor da vida, com a ética, propriamente dita. Aristóteles trouxe à baila a justiça, a amizade e os valores morais que, segundo

Willian James Aristóteles Sócrates Hobbes

Kant Bertand Russel Ortega y Gasset

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ele, serviam para promover a ordem política.Na Idade Média, com o advento do teocentrismo –

sistema humanístico que coloca Deus como centro das preocupações humanas – aparece a ética cristã que tem seu fundamento no amor ao próximo e o Deus cristão é o princípio da felicidade e da virtude.

Hobbes (1588-1679) com o seu pensamento homo hominis lupus est nega a virtude como dádiva e representação da divindade.

Já nos séculos XVIII e XIX filósofos abrem guerra ao humanismo teocêntrico e colocam em seu lugar o humanismo antropocêntrico – sistema humanístico que coloca o homem como o artífice, a causa e o efeito da humanidade. O homem basta-se a si próprio. O homem é o microcosmo e o mundo o macrocosmo. Todos os componentes do macro estão no micro, apenas em dimensões menores. “O homem nasce bom, a sociedade o perverte” (Jean-Jacques Rousseau).

Em seguida Kant entende ética como obrigação de agir de acordo com regras universais. O homem virtuoso é reconhecido pelos homens e isso o motiva a ser ético. Hegel concebe a ética como consciência do dever (subjetivo) e formada pelos costumes, leis e normas da sociedade (objetiva).

Na filosofia contemporânea a ética reveste-se dos traços de uma moral utilitária e pragmática. Bertrand Russel (1872-1970) diz que a ética é subjetiva. Os indivíduos devem buscar a felicidade e, para isso, fazer as melhores escolhas entre alternativas existentes. Ortega y Gasset, filósofo espanhol, diz que nós somos as nossas circunstâncias...

Vê-se neste estudo diacrônico e despretensioso que o conceito de ética varia em seus aspectos qualitativos e sempre de acordo com o contexto da humanidade, que reflete na filosofia suas tendências, suas angústias e suas conquistas.

Neste momento, tem-se a pretensão de vislumbrar um caminho de esperança para a humanidade, não pautado na linearidade do cartesianismo, nem no relativismo absoluto. O que se quer é pautar in medio virtus est. Sem antagonismo, sem ideologias totalitárias quer de direita, quer de esquerda, o que se quer buscar é o novo e o inaudito que possam descortinar um paradigma mais humanizante. Humanismo este que traga ao debate acadêmico não só o racional, mas o emocional, o mítico, o alternativo...

A Ética segue o curso da água, sempre de cima para baixo: governantes/governados; docentes/alunos; pais/filhos e iniciados/não iniciados.

Os princípios éticos e o novo paradigma da ciência são balizados por valores universais. SPES MESSIS IN SEMINE, princípio eubiótico que fundamenta as ações e

atividades da SBE – Sociedade Brasileira de Eubiose é um deles. As mudanças de comportamento e de paradigmas, que são citados anteriormente, só se processarão se estiveram alicerçados em vontade e no interior dos corações infantis.

A criança de hoje é delegada à missão do amanhã, que se constrói nas ações do agora.

Os conceitos de Beleza, Bondade, Sabedoria, Humildade devem estar presentes na formação do caráter do homem do século XXI. Em entrevista, o sociólogo alemão Claus Offe disse que estamos prestes a não ter mais as grandes ideologias, a vida societária dar-se-á, fundamentalmente, nas comunidades, nas igrejas e nas organizações não governamentais.

A era de Aquarius que se avizinha pressupõe a harmonização entre os homens.

Já foi há muito anunciada. Ela precisa agora ser vivenciada e preparada para que os homens do século XXI possam ter um porvir mais humano, mais solidário, mais feliz. Porque a felicidade é o bem supremo, que todos buscamos e é a razão maior de nossa existência.

Na trilogia de Henrique José de Souza – transformação, superação e metástase avatárica, (transformação do Eu através da mudança das tendências negativas em positivas, superação dos acontecimentos do ciclo que afeta o Eu; e metástase avatárica, isto é, fusão do Eu na consciência do Avatara de Aquarius.) encontraremos os alicerces e a metodologia para o nosso salto de qualidade, para o novo paradigma ético-científico do novo milênio, preparando assim o terreno e as sementes para uma humanidade mais feliz e consciente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1 - MARTINS FILHO, Yves Gandra. Manual Básico de História da Filosofia. Editora LTR. São Paulo.2 - ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Editora Martins Fontes. São Paulo.

Vê-se neste estudo diacrônico e despretensioso

que o conceito de ética varia em seus aspectos

qualitativos e sempre de acordo com o contexto da

humanidade, que reflete na filosofia suas tendências,

suas angústias e suas conquistas.

Se alterarmos padrões de comportamento em nós, no nosso grupo familiar, nos nossos grupos de contato, estaremos promovendo uma sólida e eficaz revolução cultural, porque as pessoas mudarão seus cânones a partir do convencimento e da persuasão.

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Naquele mesmo instante, Deus contemplativamente olhava

para sua criação num ponto bem específico, quando cinco lindíssimas estrelas, formando um pentagrama aproximaram-se Dele e perguntaram:

- O que está acontecendo, por que observa tanto sua própria criação, nosso Pai?

- Estão vendo aquele ponto azul na imensidão de mim mesmo?

- Sim! Já estivemos lá por muito tempo, onde semeamos a essência que nos destes, e o fizemos no coração e na mente de cada um deles, porque também são nossos irmãos.

- Estou sentindo que é hora de lembrá-los novamente, antes da prova final, para que não digam que, como Pai, eu os esqueci.

- Então, nosso Pai e Senhor, o que quer que façamos?

- Quero que levem novamente aquelas mesmas essências, só que desta vez dita de outra maneira, para ver se meus filhos olham um pouco mais para o Céu e não só para as coisas da Terra.

Assim, o Criador, de tempos em tempos, tem enviado seus filhos, mensageiros e anunciadores, como o faz em relação ao Cavaleiro das Idades (que atravessa cada ciclo), mas que passam despercebidos da grande maioria dos homens, porque estão mergulhados na materialidade.

Então Deus, naquele momento, tomou uma decisão sábia e estratégica, e a seguir chamou uma por uma das cinco estrelas, atribuindo-lhes dons, qualidades, desafios e responsabilidades que acelerariam novamente as mentes e os corações de seus filhos na face da terra do planeta azul.

OS CÓDIGOS DA ESFINGE: A METÁFORA(adaptado do livro A Constelação do Mestre)

Conta uma antiga lenda que em certa noite de céu muito límpido as estrelas resplandeciam, bailando no ar, como se estivesse acontecendo um grande espetáculo de incomensurável beleza.

- Aproxime-se, primeiramente esplendorosa estrela, fonte única do conhecimento. Você terá a missão de impulsionar o ser humano para um novo estado de consciência. Chamá-la-ei de Estrela do SABER e será para os homens como um Mestre na arte de ensinar a pensar. Como síntese do Saber, cabe-lhe dar aos homens uma das propriedades da água, para que aprendam a moldar-se diante das mudanças que envio a todo o momento e tenham flexibilidade para o NOVO. A seguir metamorfoseou a estrela num lindo Anjo de brancas asas.

A seguir, olhou para a segunda estrela e disse:- Aproxime-se, luz fulgurante, fonte única da força

impulsionadora da vontade. Terá, entre os homens, a função de motivá-los, despertar-lhes o dom da perseverança, a fim de que possam vencer a inércia da preguiça que os acorrenta ao solo. Chamá-la-ei de Estrela do QUERER, para que os conduzam a tornar-se seres REALIZADORES na arte da ideia posta em prática. Os homens, assim dotados da inteligência do saber, poderão sonhar, planejando seu futuro, porque o seu dom do querer, forçá-los-á a sair da acomodação em que se encontram. Seja para eles o exemplo do espelho que reflete o poder de liderança, para que aprendam a comandar primeiro a si mesmos para que depois possam estar preparados para comandar um grupo, uma cidade, uma nação. A seguir metamorfoseou a segunda estrela em poderoso Leão alado que soltava pelas narinas o poder transformador do fogo.

Cada vez que chamava uma estrela, Deus olhava novamente para aquele ponto azul, parte de si mesmo, na imensidão do seu universo e projetava-se nele, para descobrir as necessidades de seus filhos, a fim de poder

sDirceu Moreira

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doar aquilo que estivesse de acordo com seu estado de consciência. Dessa maneira poderia conduzi-los à descoberta interior do quanto eles fazem parte da própria Divindade.

Depois de um momento de contemplação, Deus voltou-se para a outra estrela e disse-lhe:

- Aproxime-se, luz de inigualável potencial de criatividade. Terá entre os homens a incumbência de não lhes permitir a acomodação e a estagnação. Chamá-la-ei de Estrela do OUSAR, a fim de despertar neles o potencial INOVADOR, a arte da eterna mudança, a arte de sonhar, voar e realizar. Assim jamais viverão estagnados e as inovações farão parte do seu mundo novamente, porque nada pode viver sem movimento. A seguir, metamorfoseou-a com o poder do AR, em uma majestosa Águia.

- Agora, aproxime-se, serena estrela, você que representa a essência contemplativa e o silêncio interior. Terá entre os homens a missão de fazê-los voltar-se para dentro de si, para que possam me redescobrir no recôndito do seu SER. Assim não terão que reclamar tanto, dizendo que estou ausente de suas vidas. Serei então o templo vivo que tanto procuram fora de si mesmos. Chamá-la-ei de Estrela do CALAR, para que os conduza a MEDITAR na arte de buscar o equilíbrio de corpo, alma e espírito. A seguir, como se a terra se erguesse aos seus pés, metamorfoseou-a em magnífico Touro alado.

Deus olhou para as quatro estrelas e chamou aquela dentre as outras de um tamanho menor, mas que pulsava intensamente brilho e fulgor de rara beleza. Então disse-lhe:

- Aproxime-se, pequena e majestosa estrela. Dá-la-ei o nome de a Quinta Essência com o poder Alquímico, para que possa ensinar os homens como alcançar o equilíbrio, a TEMPERANÇA, destes quatro elementos (potenciais), para que os utilize de forma sábia e amorosa, galgando um estado de vida-energia para vida-consciência cada vez mais elevada. Mais do que a inteligência no seu sentido superior, você ensinará os homens que os códigos em forma de potencial das quatro estrelas anteriores mais a que você traz, somente farão sentido se tudo isso for vivenciado de forma pragmática e que produza mudanças em suas vidas. Diga a meus filhos que lhes dou asas novamente para

que relembrem que sabem voar.

Terminado o trabalho, Deus chamou as cinco estrelas para perto de si e disse, alertando-as:

- Cada uma de vocês recebeu seus atributos, valores, dons e qualidades que as dignificam como inspiradoras de meus diletos filhos naquele lindo planeta azul. Agora, resta-lhes apenas cumprir a missão

enfrentando os desafios, para que, gradativamente, meus filhos compreendam que o Bem e o Mal, na grande maioria das vezes, são frutos da forma como eles fazem uso do presente que venho lhes oferecendo, ao longo dos tempos, inclusive, por intermédio de cada uma de vocês e também de outros. Não são mais títeres, porque portadores do mental, estão aptos a voar. Estas são minhas sementes, árvores que um dia darão frutos que eu mesmo colherei e, para tanto, eu as rego com todo amor e sabedoria do Pai-Mãe cósmico.

Assim, aquelas potestades celestes projetaram-se rumo àquele ponto azul no incomensurável Universo, tão distante, mas tão perto como é o universo no seu eterno paradoxo. Conta-se pela boca dos homens que as estrelas, ao aproximarem-se da superfície daquele planeta azul, e ao atravessarem um portal celeste, houve como que uma chuva de estrelas, que se multiplicaram, de tal forma que cada uma delas levava a essência das demais, e em todas elas brilhava o reflexo da ESTRELA MAIOR.

Entre tantos homens que contemplavam este lindo mistério, apenas alguns puderam decifrar o enigma, e um destes, grande sábio, elevou os braços aos céus e disse:

- Bem-vindas cartas celestes reveladoras de grandes mistérios aos homens!

Conta um dos antigos sábios que a quinta estrela era o enigma, porque encontrar o equilíbrio entre corpo, alma e espírito, somente começou a acontecer a poucos, como até hoje. Muitos ainda estavam como aviões sem um comandante experiente, ora conhecendo somente a cabine de comando, pilotando-a cada um do seu modo, conhecendo muito pouco sobre as duas asas e a traseira da aeronave. Havia aqueles que conseguiam levantar voo e percorriam enormes distâncias numa progressão transcendente, como dizia o Mestre Kuthumi. Outros, a uma progressão geométrica e havia ainda aqueles que estavam em uma progressão aritmética, cujo lema era:

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devagar e sempre. Porém, nada agradável aos olhos do Criador, pois permitimos que ainda existam aqueles que nem levantam voo, outros ainda, nem sabem que são aeronaves. Nossa consciência choca-se com o presente, pois não o fizemos no passado, numa atitude de sonegação do direito ao conhecimento. Para se ter ideia de tal feito, uma PA (progressão aritmética), em seu sexto termo e apenas exemplificando, chegaria a 2,4,6,8,10,12, mental concreto. Na progressão geométrica (PG), seria 64, a mente abstrata; e numa progressão transcendente (PT), seria aproximadamente 4.2 bi (intuição). Talvez pudéssemos acrescentar a PI progressão ao infinito (atabimânico), já que por enquanto, desconhecemos até onde vai este potencial. Por isso, Deus disse às estrelas que perguntassem aos homens mais evoluídos, se faria sentido a chegada de alguns, enquanto tantas ovelhas estariam desgarradas, pois o dom foi distribuído a todos. Lembre-os também de que, a quem muito for dado, muito será cobrado.

Cumprida a missão de terem semeado as qualidades no coração e na mente dos homens, as estrelas retornaram ao céu, esperando que os seres humanos percebam que haviam se afastado da fonte que jorra o conhecimento. Deixaram aos homens ainda um dom que Deus lhes presenteou: A esperança, para que não deixassem de sonhar com o amanhã. Assim, quando se sentissem sem forças, com medo, inseguros, provocados pela acomodação, e sentindo-se perdidos no turbilhão de suas emoções e pensamentos, pudessem

olhar novamente para dentro de si e encontrar o potencial de cada uma dessas estrelas brilhando no seu interior, em vez de se postarem ora suplicando demais, ora dizendo que estão abandonados por Deus. Quando isto acontecer novamente e para se sentirem mais confiantes, poderiam contemplá-las também no céu. Mas o enigma da constelação da Esfinge continuará a ser um grande mistério para os seres humanos, e só a roda do tempo lhes dará a oportunidade de decifrar seus códigos. Não espere o amanhã, pois o futuro é aqui e o passado serão seus desafios não resolvidos. Portanto, só restará aos homens, resolvê-los no presente, que é onde tudo acontece. O homem pouco conhece do seu passado, mas muito sofre por causa dele. O futuro veio através dos atributos das cinco estrelas para antecipar, num verdadeiro saque para o futuro, todo seu processo de evolução, desde que o homem os coloque em prática no seu dia a dia, aqui e agora, neste eterno presente.

Para finalizar, cito o professor Henrique José de Souza: “eu falo para homens práticos”. Penso eu, que sermos práticos (pragmatismo) é viabilizar a Eubiose dentro de nós, no seio de nossa família e na sociedade, que em si, é a própria prática em andamento. Ao sermos pragmáticos, que representa o querer, façamo-lo de forma adequada, que é o saber; valendo-nos da criatividade, que expressa o ousar; mas que o façamos de olhos e ouvidos alertas, que é o calar; assim, nossas atitudes terão coerência e equilíbrio que nos é dado pela Quinta Essência ou da temperança.

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Editada pelo Conselho de Estudos e Publicações - Setor Editorial. Ano II – edição 5 – junho a setembro de 2013

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