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MERGULHAR NAS BERLENGAS Banco de Arguim, o paraíso desconhecido! outdoor www.revistaoutdoor.pt Nº4 MARÇO/ABRIL 2012 Torna-te fã REVISTA BRUNO PAIS Triatlo uma paixão! por José Alberto FOTOGRAFIA com Nuno Sá DESCOBRIR O OESTE ATIVIDADES EM FAMÍLIA GEOPARQUE AÇORES 9 ilhas, 1 geoparque por Aurélio Faria

Revista Outdoor 4

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Mergulhar nas berlengas

banco de arguim,o paraíso desconhecido!

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por José alberto

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por aurélio faria

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PassatempoA tua foto vale prémios! envia uma foto tua que se enquadre com actividades de Desporto Aventura e Natureza... para [email protected] com o assunto “Passatempo revista Outdoor” e ganha uma actividade grátis! As 4 fotos mais votadas ganham prémios! 1º lugar: Rafting2º lugar: Hidrospeed 3º lugar: Bungee Jumping 4º lugar: Bridge Jumping Notas: - passatempo válido até 31 de Março - o prémio é individual.

Desfruta de uma actividade fantástica e divertida com o teu grupo de amigos…

Para além de sermos das poucas empresas licenciadas para fazer Rafting no Rio Paiva, garantindo assim a melhor segurança, possuimos também características únicas que fazem a aventura do Rafting um excelente dia de animação, com uma qualidade inigualável do serviço.Com 16 anos de experiência conseguimos o serviço com mais qualidade e animação do mercado!

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PassatempoA tua foto vale prémios! envia uma foto tua que se enquadre com actividades de Desporto Aventura e Natureza... para [email protected] com o assunto “Passatempo revista Outdoor” e ganha uma actividade grátis! As 4 fotos mais votadas ganham prémios! 1º lugar: Rafting2º lugar: Hidrospeed 3º lugar: Bungee Jumping 4º lugar: Bridge Jumping Notas: - passatempo válido até 31 de Março - o prémio é individual.

Desfruta de uma actividade fantástica e divertida com o teu grupo de amigos…

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Março_Abril 2012 OUTDOOR4

Editorial Ficha técnica

O calor já se faz sentir, assim como a vontade de sair e partir à descoberta… com este mote vem o novo número da Out-door!

A palavra crise está na ordem do dia mas, num país fabuloso como o nosso, ao nível de recursos naturais, ficar em casa não é a melhor opção! Temos uma costa magnífica, um interior re-pleto de pequenos paraísos inexplorados e é isso que queremos desvendar. Venha daí viver e experienciar aqueles pequenos prazeres que fazem de uma aventura, uma recordação para a vida.

Nesta edição, para além das habituais sugestões de atividades outdoor, partimos à descoberta do Oeste… mergulhámos nas Berlengas e explorámos a região. Lá fora, encontrámos um paraíso desconhecido: o Banco de Arguim. Voltando ao nosso país, estivemos à conversa com grandes atletas e aventureiros portugueses, aprendemos novas técnicas para conseguir boas fotografias e deixámo-nos fascinar pelo mundo subaquático. São mais de 110 páginas de partilha de experiências, sugestões, dicas e conhecimentos... Aventure-se!

E, porque a Revista Outdoor é construída para os nossos leito-res, convidamo-lo a participar de forma ativa e a partilhar con-nosco as suas aventuras e sugestões já para o próximo número, em Maio!

Deixe-se contagiar pelo espírito Outdoor e continue a acompa-nhar todas as novidades no Portal Aventuras.

Até Maio e … BOAS AVENTURAS!Nuno Neves

chegou onúmero 4!

Edição Nº4

WPG – Web PortAls ldA

NPC: 509630472

CAPitAl soCiAl: 10.000,00

rua Melvin Jones Nº5 bc – 2610-297 Alfragide

telefone: 214702971

Fax: 214702973

site internet: www.revistaoutdoor.pt

e-mail: [email protected]

reGisto erC N.º 126085

Editor E dirEtorNuNo Neves | [email protected]

MarkEtiNg, CoMuNiCação E EvENtosisA HeleNA | [email protected]

soFiA CArvAlHo | [email protected]

rEvisão CláudiA CAetANo

ColaboraraM NEstE NúMEro:ANA liMA, Aurélio FAriA, bruNo PAis, CArlA

viveiros ,Cláudio silvA, evA AlMeidA liMA,

João CArlos NuNes, João Melo, José

Alberto, José ANtóNio FerNANdes, José

sAleiro, José xAvier, luís diAs, MANuel

PAuliNo CostA, NuNo PereirA, NuNo sá,

PAulo quiNtANs, Pedro Alves, riCArdo

MeNdes, susANA MuCHACHo.

dEsigN EditorialiNês rosAdo

FotograFia dE CapaNuNo sá

dEsENvolviMENtoÂNGelo sANtos

www.portalaventuras.clix.pt

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DiretrizesEDITORIAL 04

GRANDE REPORTAGEM

Mergulhar nas Berlengas 06

EM FAMÍLIA

ATIVIDADE- Rota do Fresco em Guimarães 14

AVENTURA - Buggy off road & Kartcross 18

AvENTuRA

DESAFIO — Preparação de uma viagem em autonomia 22

RELATO — Banco de Arguim, o paraíso desconhecido! 28

EVENTO — Triatlo Internacional de Lisboa 34

ENTREvIsTA

Bruno Pais - Triatlo… Uma paixão! 38

POR TERRA

INDOOR — Preparaçao Indoor para Triatlo 42

CRÓNICA — Pico | Açores | Portugal 44

ATIVIDADE — Bridge Jumping 50

RELATO — Um dia na Natureza 52

POR ÁGuA

ENTREVISTA — Volta Ibérica 58

AR

ATIVIDADE — Paramotor 62

FOTOGRAFIA

TRUQUES E DICAS — Fotografar Ondas - Por João Melo 66

FOTO DO MÊS — Baía de Entre Montes, Faial, Açores 72

PORTFOLIO DO MÊS — Nuno Sá 74

APLICAçãO PARA IPhONE E IPAD — Camera + 82

sOsComo fazer Fogo 86

DEsCOBRIR

GEOPARQUE AçORES, 9 ILhAS, 1 GEOPARQUE 90

EVENTO - MILENIO TITAN DESERT By GAES 2012 94

REGIãO OESTE - Um paraíso aqui tão perto 98

Pousada de Juventude da Areia Branca 104

LIVRO AVENTURA - Açores Whale Watching 106

RECEITA OUTDOOR - Banana caramelizada e Batata recheada 107

kIDs

FéRIAS DA PáSCOA COM AVENTURA! 108

ATIvIDADEs OuTDOOR 112

DEsPORTO ADAPTADO

SALVADOR APROVA “LORD NELSON” 118

EsPAÇO APECATE 122

Turismo Náutico

A FEChAR 126

A ilha da Berlenga e o mergulho apresent-ma-se como tema principal desta grande reportagem. No meio do Atlântico, José Alberto dá-nos a conhecer um paraíso aqui tão perto, onde o Oeste se pinta de laranja e todos os segredos de uma saída de mer-gulho.

Nesta viagem, vamos descobrir os encan-tos deste paraíso desconhecido na Mau-ritânia. Aurélio Faria desvenda-nos algu-mas das curiosidades do Parque Nacional do Banco de Arguim.

Nuno Sá, fotógrafo profissional, especia-lista em fotografia de vida selvagem de temas marinhos, mostra-nos o seu por-tfólio de vida marinha. Entre chachalotes, tubarões e tartarugas é incrível o poder do detalhe de cada uma das fotografias.

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Os textos e imagens presentes na Revista Outdoor são da responsabilidade dos seus autores. Não é premitido editar, reproduzir, duplicar, copiar, vender ou revender, qualquer informação presente na revista.

nº4 Março_Abril2012

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Setembro_Outubro 2011 OUTDOOR6 Março_Abril 2012 OUTDOOR6

Grande Reportagem

Mergulharnas berlengas...

Por José Alberto

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OUTDOOR Março_Abril 2012 7

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sol brilha em Peniche, um dia calmo de outono. As tão faladas alterações climáticas também já aqui marcam a sua posição, os nevoeiros matinais

típicos da Costa de Prata são cada vez mais raros.Check-in no centro de mergulho, vestimos o fato e preparamos um saco com o mate-rial necessário para os mergulhos, dizem--nos que as garrafas estão no cais de em-barque e será lá que vamos montar o nosso equipamento. Tomamos um lugar numa das carrinhas do centro e lá vamos nós para o porto de Peniche, um instante.No cais a azáfama é grande, 3 barcos só do nosso centro estão encostados e a cada um está destinado um programa diferente. Curioso o facto de o nosso centro ter tudo da mesma côr para não haver confusões com o equipamento de outros centros. Há garrafas separadas por barco e dentro de cada barco há diferentes tamanhos e mis-turas, tudo já preparado na véspera conso-ante as reservas que cada cliente fez, sis-tema eficiente. Agarramos nas garrafas que nos foram atribuídas e montamos o nosso equipamento de mergulho. Tudo verifi-cado, tudo OK.

Seguimos então viagem a caminho da Re-serva Natural das Berlengas

A embarcação “Coris” desliza calmamente nas águas do porto, respeitando a veloci-dade limitada até à saída da Barra e é aí que a aventura propriamente dita começa. O motor de 300 cavalos faz-se ouvir e o barco dispara. Curva à direita no fim do molhe e lá vamos a caminho. Com o mar calmo, rapidamente atingimos a velocidade de cruzeiro de 22 nós e em poucos minutos chegamos ao Cabo Carvoeiro.

A vista aqui é deslumbrante, o cabo mol-dado por milénios de ventos e tempestades e o rochedo Nau dos Corvos, resistente ainda, até que um temporal maior se en-carregue de finalmente um dia o vencer e derrubar. Com uma imagem tão forte nem nos lembrámos de olhar em frente. A Berlenga já se nos apresenta com a sua si-lhueta tão característica e marcante. Agora é navegar, navegar, mas como já tinhamos sido informados o nosso destino para já não é a Berlenga. Nós vamos passar ao lado dela e seguimos diretos para os Farilhões.

As Berlengas têm o mais antigo estatuto de proteção integral

existente em Portugal, já em 15 de novembro de 1465, uma carta d’el

Rei D. Afonso V mandatava que “nas Berlengas do mar pessoa alguma vá

caçar”. A Reserva Natural da Berlenga propriamente dita foi criada em 3 de setembro de 1981, inicialmente com

uma área de 1063 ha. Atualmente está classificada como Reserva da Bios-fera da UNESCO, compreende todo

o arquipélago das Berlengas, Estelas e Farilhões e tem uma área total de

9560 hectares.

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Grande ReportagemCorvo marinho de crista

Água-Viva

Peixe-Lua

Há lágrimas de

emoção em al-gumas caras e eu não consigo evitar um nó

na garganta. Não pre-ciso de mais nada por

hoje, o meu dia já está ganho...

A água que começou por ser verde junto ao cabo Carvoeiro foi-se tornando azul-turquesa à medida que nos aproximámos da Berlenga está agora a tornar-se azul-chumbo, um azul mais intenso que se deve à maior profundi-dade e às características das águas já oceâ-nicas em que nos encontramos. De repente, o barco faz uma mudança rápida de rumo e há alguma agitação a bordo. O que se passa, interrogamo-nos? Foi o Skipper que avistou Golfinhos ( Delphinus delphis) e se dirige para eles. Nem tem que ter muito trabalho, ime-diatamente o grupo se acerca da em-barcação para brincar na sua proa e saltar nas ondas da sua esteira. Os Golfinhos adoram acompanhar as embarcações. É a histeria total dentro do barco. Grita-se, assobia-se, acena-se, olha ali, e ali, e há uma cria, olha olha! Há lágrimas de emoção em algumas caras e eu não consigo evitar um nó na garganta. Não preciso de mais nada por hoje, o meu dia já está ganho... Mas há mais, muito mais, vamos continuar. Não estamos a ir bem na direção dos Farilhões, seguimos um pouco mais para a direita destes, Estibordo, dizem nas linguagens de marinheiros.

Mais 10 minutos e estamos a chegar ao nosso spot de mergulho, 3 Picos, diz-nos o guia. Faz--nos um breafing, verificamos parceiros, tudo bem, caímos na água, e nadamos para a frente do barco para descermos pelo cabo do ferro, como combinado. É quando estamos aí, agar-rados ao cabo que temos o primeiro assombro. Conseguimos ver o fundo! Está a 20 metros de profundidade e nós conseguimos ver o fundo, a água tem uma cor linda mas ao mesmo

Ao passar próximos da Berlenga conseguimos perceber a sua cor rosa-alaranjado, o tão fa-moso maciço granítico que aqui se formou há já 280 milhões de anos na mesma altura em que in-

tensos movimentos geológicos deram origem ao Supercontinente “Pangea”. Curiosamente não há mais deste tipo de rocha em milhares de Kms em redor, só mesmo a Berlenga e os ilhéus das Es-telas têm esta composição. Já os Farilhões têm uma história mais recente, 180 milhões de anos, tendo ficado como resultado da deriva dos con-tinentes, quando da divisão da “Pangea” se for-maram a Laurásia e Gonduana. São compostos por Gneisse e xistos sendo a sua côr predomi-nante o cinzento.

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OUTDOOR Março_Abril 2012 9

tempo qualquer coisa está estranha, parece haver movimento junto ao fundo... Já estamos todos e o guia dá ordem de descida. Vamos, então, sempre agarrados ao cabo, como com-binado e é à medida que vamos descendo que percebemos o que se movia. São cardumes de Carapaus, milhares de carapaus que circulam à volta destes cabeços, num espetáculo azul e prata, dança sincronizada conduzida pela mão de Neptuno, incrível! Seguimos então o Guia que se desloca calmamente.

O espetáculo é incrível! A parede está coberta de Gorgóneas Azuis, que se tornam roxas e depois avermelhadas à medida que nos apro-ximamos e as iluminamos com as nossas lan-ternas de mergulho; misturadas com estas há também Gorgóneas brancas, um espetáculo que só me faz lembrar das fotos que sempre vemos de mares tropicais, só que nós estamos no centro de Portugal, na Europa,Paralelo 39.

Avançamos então até a um canyon e aqui apre-senta-se-nos o espetáculo mais impressionante de todos. Nós estamos a subir, ligeiramente, a olhar para cima e o número de peixes é ab-solutamente incrível, descem pelo canyon e cruzam-se connosco, calmamente, continua-mente, de onde virá tanto peixe? Fazemos sinais uns aos outros, tentamos inventar sinais para fantástico, assombroso, fazemos simplesmente muitos OK. Agora o cardume ganhou vida, pa-rece uma chuvada intensa, 10 pequenos atuns fizeram um ataque e alteraram a harmonia natural dos carapaus, novamente olhamos uns para os outros, OK, OK, OK. Nunca tinha visto nada assim, não resisto a apertar a mão da minha parceira, estamos felizes. Vamos então seguir para o cabo para subirmos.

O ambiente em cima do barco é de completo assombro e satisfação, todos queremos contar o que vimos, como se não tivéssemos todos visto... Mas queremos contar na mesma.

Vamos agora seguir para a Berlenga para al-moçar, a pequena aragem que corria de manhã parou de todo e agora o mar está absoluta-mente parado, espelhado. Cruzamos mais uma vez a água azul, agora todos com os olhos no horizonte, à procura dos Golfinhos, mas estes não aparecem... Já perto da Berlenga, junto ao Cerro da Velha o Coris imobiliza-se de novo e o skipper grita Luas! Somos então presenteados com mais um dos espetáculos das Berlengas, os cardumes de Peixes-lua que saltam fora de água ninguém sabe exatamente porquê, talvez porque como têm muitos parasitas na pele

vista sobre o carreiro do mosteiro

vista sobre o carreiro do mosteiro

tromba do elefante

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A berlenga chama o Homem desde que há registos de civi-lização. Ainda antes de Cristo a então chamada ilha de saturno era um lugar sagrado onde se celebrava o culto da deusa baal-

-Mekart. de marinheiros há vestígios e relatos de ro-manos e vikings, depois de piratas e corsários ingleses e mouros. em 1513 fundou-se o Mos-teiro da Misericórdia que serviu de retiro aos monges da ordem de são Jerónimo durante 35 anos mas os corsários não lhes davam trégua, inclusive capturando-os para o mercado de es-cravos do norte de áfrica e o Mosteiro acabou por ser abandonado. dele nada ficou estando agora o restaurante Mar e sol construído sob as suas ruínas. No reinado de d. João iv erigiu-se a fortaleza de s.João batista, palco de inúmeras batalhas

setembro_outubro 2011 OUTDOOR10

Grande Reportagemqueiram atrair as Gaivotas para os limparem ou talvez porque simplesmente se divirtam com isso.

É fantástico como estes peixes tão pouco orto-doxos, quase anti-naturais conseguem atingir uma velocidade que lhes permite saltar tão fá-cilmente fora de água, é também marcante o brilho da sua pele refletindo a luz solar pare-cendo assim uns círculos brilhantes.Encostamos então ao cais da Berlenga, na pe-quena e acolhedora praia descansam os já poucos turistas de outono, nós ficamos pelo cais enquanto calmamente deglutimos o piquenique que o Centro de Mergulho nos preparou. Apro-veitamos para conversar com os mergulhadores

que seguiram nas outras embarcações e parti-lhar as experiências que tivemos no primeiro mergulho do dia.Vamos então dar um passeio pela ilha. Mal sa-ímos do Bairro dos pescadores as Lagartixas tornam-se o elemento predominante. Típico dos répteis insulares, as Lagartixas de Bocage, aqui com uma subespécie endémica (Podarcis bocagei berlelengensis) são intrinsecamente confiantes.

Já avisado não deixo de levar um bocadinho de maçã que faz as delícias destes pequenos répteis pois tendo poucos lugares onde beber deliciam--se com o suco açucarado e fresco da fruta. Con-tinuamos a subir, vamos contornando a encosta

Golfinhos

sendo a mais famosa a do ataque, em 1666, da esquadra castelhana composta por 14 Naus e 1 Caravela, comandada por d. diogo ibarra, a que a guarnição de menos de 20 homens, co-mandada pelo Cabo Avelar Pessoa resistiu du-rante dois dias, provocando grande número de mortes aos invasores inclusive afundando 1 Nau e danificando sériamente várias outras, antes de se render.

depois a estabilidade das alianças marítimas tirou-lhe protagonismo até que acabou por ser abandonada de presença militar em 1847.

Já no sec. xx foi ainda usada como Pousada mas a crescente exigência do turismo tornou--a obsoleta sendo agora usada como abrigo de férias para a Associação dos amigos da ber-lenga e encontrando-se num estado muito de-gradado.

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OUTDOOR Março_Abril 2012 11

Quanto mais subimos

mais grandiosa é a vista, todo um mar azul que nos conduz agora o

olhar (...)

Garoupa

Polvo

no caminho para o farol. De um lado vemos o vale do carreiro dos Cações e a pujante vista para os Farilhões. Quanto mais subimos mais grandiosa é a vista, todo um mar azul que nos conduz agora o olhar para o Cabo Carvoeiro, Peniche, a imponente serra de Montejunto e se-guindo a linha do horizonte continuamos até à Serra de Sintra e ao Cabo da Roca. A ilha está já bastante seca, reclama as primeiras chuvas do outono que lhe trarão um novo manto verde vivo de Urtigas. Por agora são as espécies endé-micas mais rústicas e adaptadas como a Armeria berlenguensis e a Herniaria berlengiana que lhe mantém algum verde fora da encosta dos inva-sores Chorões.

As gaivotas são omnipresentes, tornaram-se o grande problema da reserva. Pressionam as ou-tras aves, os aparentemente já extintos Sardões da Berlenga terão sido uma das suas vítimas. A situação tornou-se de tal modo preocupante que agora os vigilantes da Natureza tem de partir

anualmente grande parte dos seus ovos. Nós seguimos para o Forte. Disseram-nos que a vista da descida para o Forte é deslumbrante, objeto de inúmeras fotografias e quadros. E é, de facto, uma aproximação fantástica, sempre a serpentear até chegar à escadaria final, du-zentos e não sei quantos degraus, até às pontes com arcos que nos dão acesso ao maciço sobre o qual foi erigido o Forte, obra impressionante de engenharia se nos lembrarmos da época em que foi feito. O atual aspeto degradado não deixa de ter uma certa magia e é fácil imaginar o ambiente de outros tempos, o grito de alerta e a correria para as ameias e bocas de fogo para repelir qualquer invasor.

Voltamos para o cais de embarque. Quando chegamos já o barco se encontra completo, só faltamos nós. Pedimos desculpa aos demais mas não parece haver quaisquer incómodos, isto é para ser levado com calma, estamos cá para nos divertirmos... Constatamos que nos

lírios

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Março_Abril 2012 OUTDOOR12

Grande Reportagemsubtituiram as garrafas, mais um bom serviço do centro. O grupo decidiu, pela usual maioria, ir fazer o segundo mergulho num local emblemá-tico, a Cova-do-Sono. É supostamente uma baía muito calma, onde se faz um mergulho muito relaxante. OK, emoções fortes já tivemos muitas por hoje, vamos lá. No entanto só a simples e pequena viagem para chegar ao spot de mergulho é toda ela um sobres-salto. Afastamo-nos um pouco do cais o que nos permite ter uma visão privilegiada da costa sul da Ilha, toda a rocha re-flete o calor colorido da luz solar. A fortaleza, vista de fora, é uma verdadeira joia, qual Topázio laranja forte. Corvos-marinhos de Crista observam-nos dos seus pontos de repouso, silhuetas de Totem a secar as asas ao sol.

Avançamos de encontro à ilha, parece que vamos mesmo bater nela mas afinal não, entramos por uma gruta dentro, manobra ar-riscada, pensamos, mas não, o skipper governa o Coris graciosamente através do que afinal é uma passagem, o Furado Grande, passagem se-creta que, qual portal, nos faz aparecer noutra dimensão, noutra maravilha da Berlenga, a baía da Cova-do-Sono.

Uma baía mágica com a sua meia-cúpula, de 60 metros de altura. Tão grandiosa é esta abóboda que um casal de Falcões-peregrinos não resistiu

É su-postamente

uma baía muito calma, onde se faz

um mergulho muito relaxante. OK, emo-

ções fortes já tivemos muitas por hoje,

vamos lá.

a elegê-lo como local de nidificação, fortaleza inatingível com vista privilegiada para o pôr do sol.

Mas estamos aqui para mergulhar, a água tem aqui uma côr totalmente diferente de hoje de manhã, azul-turquesa, lindo, qual postal das Ca-

raíbas. É-nos dado o breafing, podemos mergulhar sózinhos se quisermos,

vamos fazer isso mesmo. Ca-ímos na água, aquário multicôr,

peixes, peixes, peixes por todo o lado.

Circulam à nossa volta, car-dumes infindáveis de Sa-lemas e Sargos, Safias que se

entretêm em composições vi-suais, como se nos apontássem

o caminho a seguir, todos os bu-raquinhos nas rochas, tudo está

tapado de vida, esponjas, anémonas, Camarões... Vermelho, laranja, amarelo, se

Paul Gauguin alguma vez tivésse mergulhado o que não teria pintado.

Acercamo-nos de um polvo, testamos a sua curiosidade, nunca falha, de pronto lá vem um tentáculo que nos agarra a mão e nos tenta puxar para o seu buraco. Por ali ficamos um bocado, nem todos os dias se faz um amigo... Mas lá nos resolvemos a seguir, entramos numa pequena gruta, como indicado, para visitar as enormes Abróteas, que vão e vêm, curiosas com as nossas luzes. Voltamos a sair, mais um passe de má-

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OUTDOOR Março_Abril 2012 13

islândia

gica, a incrível luz azul a sair do furado, mi-lhares de peixinhos juvenis que cintilam à nossa frente, já são estímulos demais num só dia, parte destas memórias vão ser per-didas de certeza. Agora é um Choco que se vem meter com a minha companheira, ten-táculos levantados em desafio, um mosaico de cores iridescentes que não param de mudar no seu corpo, o que estará a tentar dizer, ele lá sabe. Mais uma vez voltam as Salemas, qual Zebras douradas, lantejoulas a cintilar ao sol. Estamos cercados, somos nós que estamos no aquário a ser obser-vados... A minha companheira já tem frio, vamos ter de subir, acabaram-se os mergu-lhos por hoje, também já estou satisfeito. Mais uma vez no barco as vozes elevam-se, todos a contar as suas aventuras, viram o Polvo, e o Choco?...

Mas agora é hora de ir embora. Vamos ainda passar junto à Tromba do Elefante, mais um local emblemático da ilha, sempre com o seu grupo de Corvos-Marinhos a apanhar sol. Pena que já não hajam Airos, as alterações climáticas levaram-nos mais para norte, já não fazem da Berlenga a sua base de nidificação. Fica a história dos mi-lhares de casais existentes nos anos 30, fica também o símbolo para a reserva.

Regressamos a terra, o mar é agora um espelho, só recortado pelas esteiras dos barcos que retornam a Peniche, o farol e a Nau dos Corvos cada vez mais próximos, a calma tomou conta do barco, há quem durma. É Morfeu que vem roubar os adora-dores de Neptuno. Só acordam com a curva mais apertada com que o skipper costuma presentear os mergulhadores ao fim do dia, ao entrar no porto....

Conduzo já de volta a Lisboa, mil e uma imagens e sensações degladiam-se na minha cabeça. Eu e a companheira revi-vemos todas as emoções, todas as experiên-cias. Fantásticas as Berlengas, fantástico o centro de mergulho, e afinal aqui tão perto. O sol cai já sobre o Atlântico, toda a pai-sagem do Oeste se pinta de laranja, como a Berlenga, a mágica Berlenga, onde nós já só pensamos em voltar. ø

José alberto

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Em Família

rOta dO frescO esPecIal guIMarães

Atividade

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Há uma história por contar, por refazer, de forma inesperada, em monumentos re-cuados do nosso país: na rota do Fresco Especial guimarães, convidamo-lo a ser o protagonista da descoberta de património românico e gótico da região vimaranense; um património outrora preenchido de fres-cos quinhentistas e que circunstâncias ini-magináveis alteraram por completo. duvide do que vê, do que visita e aprenda a reco-nhecer e utilizar as pistas de uma história por contar.

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ati

vida

deEm

Fam

ília

Aproveitando não somente a cir-cunstância especialíssima de Gui-marães ser, este ano, uma Capital Europeia da Cultura, mas também as Festas únicas de Serzedelo e os seus

longos, cheios e coloridos tapetes de flores, pro-pomos uma incursão minhota da Rota do Fres-co, deixando, por uma vez, o nosso território de eleição – o Alentejo.

A Rota do Fresco Especial Guimarães conta a história, num programa de 4 dias, de um con-junto significativo de edifícios religiosos do pe-ríodo Românico ou no advento do Gótico que, por circunstâncias diversas, viram as suas pare-des, originalmente forradas de pintura mural a fresco, despedidas deste seu manto colorido. O que porpomos assim é uma verdadeira recons-tituição da história original de há 500 anos atrás mas, também, daquela que, entre os anos 30 e 70 do século XX, alterou por completo o panorama visual e a imagem que ainda temos destes edí-cios, levando-nos a tomar a sua atual aparência como um dado adquirido.

No primeiro dia do nosso programa, chegados a Guimarães ao final da manhã, poisamos as malas no nosso Hotel e vamos merecidamente almoçar um belíssimo Bacalhau com broa, para inaugurarmos a preceito… Fazemos a digestão a pé, até à Igreja do Convento de S. Francisco onde começamos esta história do património que "afi-nal não é o que aparentava ser"… No final da tarde, liberdade total para desvendar o Centro Histórico e as suas múltiplas lojas de artesanato, gourmet, e outras coisas boas…À noite, espera--nos um Espectáculo Guimarães 2012 "Il Mestie-re dele Armi"…e, por fim, descansamos…

No segundo dia, começamos cedo, com altares amovíveis na Igreja de S. Salvador do Pinheiro e, de lanterna em punho, descobrimos o que se esconde lá por detrás…Continuamos no interior

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Em Famíliarural do concelho com a semi-perdida Igreja de Santa Maria de Corvite e paredes repletas de frescos quinhentistas; avançamos para a Igre-ja de S. Romão de Arões e refazemos a história da intervenção neste edifício. Almoçamos já em Fafe, e descansamos no regresso até Guimarães. Ao início da tarde, agora sempre a pé, visitamos o novecentista Paço dos Duques de Guimarães e terminamos com uma "late visit" ao Museu Alberto Sampaio e à sua absolutamente única Sala dos Frescos. Ao cair da noite, subimos à Pe-nha no Teleférico, vemos as vistas, respiramos

ar puríssimo, e jantamos repousadamente uns filetes afamados.Ao terceiro dia, incorremos noutros territórios que não apenas vimaranenses e descobrimos igrejas pintadas por completo no século XVI mas com diferentes vicissitudes subsequentes: Igreja de Santa Eulália do Mosteiro de Arnoso (Vila Nova de Famalicão) e Igreja de S. Paio de Midões (Barcelos) ocupam-nos a manhã. Almo-çamos em Braga e seguimos para a sempre fe-chada (mas não para nós… ) Capela da Glória da Sé. Terminamos com a belíssima e imponente

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datas: 3 a 6 de Maio de 2012 pela Fes-ta das Cruzes de Serzedelopromotor: Rota do Frescoparceiros: Associação “A Muralha”, Guimarães TurismoContactos: [email protected]

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Igreja românica de Fonte da Arcada (Póvoa do Lanhoso) com pinturas a cobrir todo uma ca-pela-mor, vendo miraculosamente quer as que ainda lá estão, quer as que já não estão lá…E, em jeito de despedida, damos um pé de dança tradicional com o Rancho Folclórico da Corre-doura, em espaço aberto no largo do Santuário de S. Torcato. A noite é ocupada com uns bem leves rojões com papas de serrabulho.Antes de partir, durante a manhã, andamos por Serzedelo, onde há uma festa única que celebra a dedicação, a partilha e a comunidade: assisti-mos à Festa das Cruzes e ao seu infindável tapete de flores, terminando da melhor forma esta rota de descoberta por um património desconhecido pertença de todos nós. A visita à Igreja de San-ta Cristina permite-nos juntar todas as peças do puzzle da nossa história "Rota do Fresco Espe-cial Guimarães". E por fim, um último almoço minhoto com um perfeito cozido à portuguesa.

No final deste caminho, terá sido cada um dos visitantes o verdadeiro reconstrutor da história perdida dos frescos da região de Guimarães. ø

Catarina valençarota do fresco

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Em Família

buggy Off rOad & kartcrOss

Aventura

Um passeio que à partida parece ser apenas indicado para os mais au-dazes e experientes, releva-se uma grande surpresa para muitos.

A versatilidade das viaturas de 2 lugares per-mitem oferecer diferentes tours adequados a diferentes grupos. No entanto, são as famílias com crianças que esboçam os maiores sorrisos

ao experimentar!

Esta atividade é, sem dúvida, muito direciona-da para este público. Quantas vezes ouvimos os pais e encarregados de educação, a confessa-rem o quão difícil é encontrar o tempo e a ati-vidade certa que divirta igualmente um adulto e uma criança de forma segura, pedagógica e em contato com a natureza e os seus elemen-

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tos? Muitas! E, sem dúvida, as famílias

procuram divertimento sem dar cabo do orçamento.

Pois bem, o local onde são realizadas estas aventuras é reconhecidamente uma jóia da na-tureza. Localizado no Parque Natural de Sintra Cascais, a zona da Praia do Guincho e da Serra

de Sintra está recheada de pontos de interesse e de distração para todos. Desde os percursos sinuosos em terra e seus variados obstáculos, às perspetivas sobre o Mar e a Serra de Sintra.

Nestes percursos, os mais pequenos, têm a já rara oportunidade de ver formas tradicionais de vida como o pastoreio ou a agricultura. Fre-quentemente irão cruzar-se com rebanhos de

Locali-zado no Parque

Natural de Sintra Cascais, a zona do Praia do Guincho e da Serra de

Sintra está recheada de pon-tos de interesse e de distração

para todos. Desde os per-cursos sinuosos em terra e

seus variados obstácu-los (...)

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Em Famíliaovelhas e cavalos montados por simpáticos ca-valeiros que os cumprimentam à sua passagem.

Se tudo isto não fosse por si só suficiente, surge a alegria de se sentarem numa divertida viatu-ra, descapotável, rodas largas e conduzida pelo pai ou mãe, numa mistura de sensações difíceis de descrever.

A segurança dos participantes é uma óbvia preocupação, e o facto de até ao dia de hoje não ter sido contabilizado um único incidente, per-mite assegurar que pode divertir-se com toda a

segurança em família.O material aconselhado para esta atividade baseia-se na utilização de capacetes, óculos, cinto de segurança e cadeirinha que permite transportar crianças a partir dos 4 anos de ida-de. A caravana é acompanhada por guias, que comandam o ritmo e fazem alusão a todos os pontos de interesse parando sempre para a ses-são de fotografias para mais tarde recordar e partilhar no mural das redes sociais.

É sem dúvida um passeio em família a não per-der. ø

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dificuldade do percurso: Baixaduração: Cerca de 1 hora - meio diaTipo de percurso: CircularSugestões: Roupa e calçado adequados à aventura (poderá envolver lama e pó) pro-tetor solar no verão ou agasalho no inverno. promotor: Guincho Adventours

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PreParaÇãO de uMavIageM eM autOnOMIa

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ricardo Mendes e Filomena gomes realizaram no passado mês de dezembro uma expedição em bicicleta à patagónia. após esta experiência, ricardo dá-nos alguns conselhos fundamentais para preparar uma expedição em autonomia.

PreParaÇãOa) Enquadrar o destino à nossa experiênciaOs sonhos existem para serem concretizados e são eles que nos deviam fazer sair da cama para ir em busca daqueles destinos que muita gente apenas vê no mapa-mundo de papel. Mas uma viagem não se mede em distâncias nem em du-ração, mas sim na intensidade com que se vive e nem é preciso ir para muito longe.

Tudo começou com pequenos passeios que fo-ram evoluindo naturalmente, porque quando se começa a pedalar com entusiasmo e perse-verança, vive-se uma paixão capaz de nos levar até ao fim do mundo. Foi assim que percebi que quando temos uma bicicleta, estamos apenas a

duas rodas de distância de qualquer lugar.

Percorrer a estrada Pan Americana desde o Alaska até Ushuaia pode demorar algum tem-po a ser concretizado, especialmente porque os seus 25000 quilómetros são uma das variáveis a ter em conta dependendo dos dias de que dis-pomos.

b) Converter pedalada em energia positivaPedalar na Patagónia com alguns dias de férias era a realidade à medida de alguém que tem um sonho e o procura cumprir. No entanto, a Pata-gónia é um mundo à parte. Lá tudo é desafio que exige muita experiência, audácia e capacidade de adaptação. O outro desafio era conseguir mu-danças positivas através do envolvimento que a bicicleta promove junto das pessoas, dando um sentido solidário a esta viagem.Estas foram as premissas que nos fizeram es-colher a Patagónia como destino e associar esta nossa expedição à Operação Nariz Vermelho

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Aventurapara angariar 1€ por cada quilómetro através do financiamento coletivo que a plataforma on-line Crowdfunding proporcionou.

c) Entender a regiãoO mundo é muito diverso e fascinante e com a televisão desligada é muito mais seguro. Em todo o lado há pessoas dispostas a partilhar, a ensinar e a confiar em alguém que conheceram minutos antes.

Nesta latitude, as marcas humanas são pouco vi-síveis e a área dispersamente povoada conjun-tamente com os famosos ventos e frios glaciares são fatores a ter em conta quando se prepara uma viagem em autonomia com mais de 2000 quilómetros pelas inóspitas regiões da Patagó-nia e Terra do Fogo, de forma sustentável e eco-lógica com o auxílio da bicicleta e do GPS.

execuÇãOa) Estruturar e planear o itinerárioImporta saber que é preciso muito pouco para se viajar em bicicleta: não necessita de ser caro, não obriga a ser um atleta e também não exige cessar de trabalhar. Quando temos limitação de tempo ou orçamen-to, aí sim o planeamento tem de ser mais rigo-

roso porque a bicicleta só nos leva ao destino enquanto os pedais não pararem de girar. Ela não tem paredes, nem portas nem janelas mas se levarmos a tenda e o fogão podemos ainda ir mais longe, porque há quem diga que quanto mais gastas, menos viajas.Quem organiza e planeia o seu destino já está a viajar desde que começou a delinear o trajeto recolhendo relatos, histórias e locais para aloja-mento. Depois só tem de o ajustar às suas pre-ferências e ambições tendo a flexibilidade como palavra-chave de um bom planeamento. Alguns dias de descanso intercalados no meio do itine-rário são sempre uma salvaguarda para situa-ções não previstas, e não planear ocupar mais do que 6 a 8horas do dia a pedalar.

Durante a nossa viagem, vários episódios alheios ao planeamento podiam ter comprometido o su-cesso da mesma:• Enquanto o vento e o rípio (quantidades bí-blicas de pedras, areia e terra) das estradas nos prendiam ao solo e por vezes nos fazia andar a 4km/h, o isolamento e o frio obrigava-nos a ir buscar conforto a longas distâncias do nosso ponto inicial. O resultado foi diariamente mais de 10h em cima do selim e o dobro das quilome-tragens conjeturadas. • Quando o barco que faz a travessia do Lago O´Higgins apenas o faz a um dia da semana e se descobre que estamos a mais de 600 quilóme-tros, tudo tem de ser revisto e alterado.• Depois de 3 dias na Terra do Fogo, no momen-to em que nos é revelado que a fronteira por onde íamos passar estava destruída pela chuva e que tínhamos de voltar para trás pelo mesmo caminho, não bastava ter de sair dali. Era preci-so tempo.

b) a condição física e psíquicaTer bons hábitos desportivos é essencial para uma boa resistência cardiovascular. Pedalar vá-

(...) foi o reviver

de varias emoções e sensações, desta vez num grupo diferente e

com objectivos distintos, mas com um espírito de

coesão e de compa-nheirismo exce-

lentes

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rios dias seguidos com alforges, as várias esta-ções do ano a acontecer numa manhã ou tarde e por vezes não se saber quando o dia vai acabar, requerem também uma boa preparação psico-lógica porque nos é exigida uma determinação mental para continuar. A combinação destes dois fatores foi preponde-rante para suportar o que a natureza nos impôs, fazendo-nos, por força das necessidades, encur-tar o planeamento em 7dias relativamente ao previsto.

c) organizar e escolher o equipamentoQuando viajamos com a “nossa casa às cos-tas” é fundamental dispensar o luxo sobretudo quando temos de transportar tudo na bicicleta. Há material obrigatório e existe todo aquele que

temos de equacionar muito bem se nos vai fa-zer falta, porque na altura de encher os alforges, aparece sempre mais uma justificação. Como regra de ouro, devemos pensar na nossa an-terior aventura e naquilo que levámos. Houve algo que só usámos 2 ou 3 vezes? Então pode-mos prescindir desse material.Seguir uma check-list de equipamento ajuda a não dispersar e a não esquecer de nada. Quem tem roupa para 2 dias, para todas as condições e para qualquer parte do planeta, tem roupa para o tem-po que decidir viajar. Importa que seja confortável, prática e muito versátil, que não ocupe espaço e se possível que pese pouco. As chamadas roupas técnicas conseguem atingir todos estes patamares, e usadas com sabedoria permitem muitas combi-nações que estão acima das questões estéticas.

Sobre a bicicleta e respetivos componentes, res-ta dizer que o peso não deve ser o principal fator de escolha. A fiabilidade e robustez do material estão na sua maioria presentes em componen-

tes de gama média. Convém sempre considerar levar algum material sobressalente como extra (desviador, raios, pneu e câmaras ar).Na tenda e saco-cama devemos investir o me-lhor que podemos, esta pode ser a nossa casa durante várias etapas da aventura e onde pode-mos ser mais independentes e poupar mais di-nheiro.

Em suma, nos dias de hoje a variedade para es-colher é quase infinita e não devemos pensar que a escolha acertada passa pela melhor marca ou pelo produto mais caro. Para isso, bastar estar mais atento ao feedback de outros aventureiros sobre aquilo que utilizam do que ao marketing. O peso e volume são medidas que se devem man-ter no mínimo, sem nunca descurar o conforto e a

segurança.

d) Transporte e acondicionamentoExistem inúmeras caixas estanques pratica-mente inquebráveis onde o material pode ser transportado em segurança para todo o lado. O problema reside quando o fim da nossa viagem é diferente do ponto onde aterramos. Nesta situação há que considerar as caixas de cartão para bicicle-ta que a maioria das companhias aéreas facilita ou então pedir numa loja local. Em último recurso embrulhar a bicicleta em pelicula aderente.Em qualquer dos cenários há que minimizar as partes salientes da bicicleta e retirar os peque-nos componentes para evitar que sejam danifi-cados (ex. desviador, discos) e onde por vezes é difícil arranjar para substituir.É comum haver um limite de peso para a ba-gagem do porão (25kg) e também é habitual que caso haja várias ligações entre voos, a cai-xa nunca pese o mesmo nos vários check-in. A grande ginástica aqui é saber o que colocar

Como regra de ouro,

devemos pensar na nossa anterior aventura e

naquilo que levámos. Houve algo que só usámos 2 ou 3 ve-zes? Então podemos prescindir

desse material. Seguir uma check-list de

equipamento ajuda a não dispersar e a não es-

quecer de nada.

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nessa caixa e naquela que nos é permitida levar como bagagem de mão e onde devemos esgo-tar o peso permitido entre os 8 e 10kg porque qualquer quilo extra é extraordinariamente dis-pendioso. Por exemplo, os artigos higiénicos e as barras energéticas podem bem chegar a um quilo, mas se equacionarmos comprar esse ma-terial no destino, ainda nos sobra dinheiro.Com a bicicleta, a caixa de cartão, os artigos para cozinhar, tenda e pouco mais atingimos ra-pidamente a primeira fasquia do peso e por isso resta-nos encaixar aquilo que decidimos dias antes ser essencial para a nossa viagem. O nos-so corpo pode funcionar como “cabide” e desta forma carregar toda a roupa que conseguirmos vestir.No caso de viajarmos em grupo, toda a logísti-ca fica facilitada. Nem todos precisam de levar ferramenta ou pasta de dentes, se distribuirmos o peso e o material entre elementos, no final a média é que vai interessar para a companhia aé-rea.Desde o dia em que planeamos para depois exe-cutamos algo, a única verdade que sabemos é que um dia a viagem chegará ao fim. As pou-cas combinações da roupa de lycra vão acabar, o saco-cama e a tenda vão ficar arrumados até ao dia em que abrirmos uma porta para estar-mos em casa, e quando acharmos que estamos a ter uma vida normal e que estamos num local

No caso de viajarmos

em grupo, toda a logística fica facilitada. Nem todos precisam de

levar ferramenta ou pasta de dentes, se distribuirmos o peso e o material entre elementos, no final a média é que vai

interessar para a com-panhia aérea. de passagem, aí surge o desejo de voltar para

viver aquele pequeno mundo que é preparar a próxima viagem. Até lá, continuamos a pedalar e a acumular ex-periência. ø

ricardo MendesA viagem teve o apoio de:

Portugal By é a mais recente apli-cação que nos mostra uma visão sobre Portugal através de fotogra-fias tiradas por grandes fotogra-fos portugueses.

Pode descarregar gratuitamente: www.itunes.apple.com

aPP IPhOneporTugal by

Aventura

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bancO de arguIM, ParaísO descOnhecIdO

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bancO de arguIM, ParaísO descOnhecIdO

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Barek é um dos cem habitan-

tes de Agadir, a povoa-ção construída à sombra das ruínas do forte de Ar-

guim que já nada possui do esplendor de outrora e das

sucessivas ocupações de portugueses, holandeses,

ingleses, prussianos e franceses.

• O pescador de tubarões Barek, o primeiro pescador de tubarões de Arguim, abre um sorriso rasgado quando per-cebe que somos portugueses. Num francês macarrónico, saúda-nos efusivamente quan-do desembarcamos da Lancha na ilha onde Portugal erigiu em meados do século XV a primeira feitoria da costa ocidental africana.

Expo, escudo e Tejo são palavras repe-tidas aos visitantes para recordar as se-manas bem passadas na Expo 98 de Lis-boa, onde Barek integrou a delegação da Mauritânia à Exposição Universal or-ganizada pelos portugueses em 1998.

Barek é um dos cem habitantes de Agadir, a povoação construída à sombra das ruínas

do forte de Arguim que já nada pos-sui do esplendor de outrora e das

sucessivas ocupações de por-tugueses, holandeses, in-

gleses, prussianos e fran-ceses. Em pleno século XXI, o cinquentenário pescador mantém ain-da algumas das tra-dições ancestrais dos Imraguen. Entre a co-munidade de dois mil

pescadores-recoletores que habita as nove po-

voações do Banco de Ar-guim, a pesca ao tubarão

nas límpidas águas do Atlân-tico que banha as costas desérti-

cas mauritanas é uma das tradições que teoricamente faz já parte do passado. Barek e os outros pescadores aprovaram a interdição deste tipo de pesca em 2003, e votaram a medida de proteção ambiental, uma das muitas que vigora atualmente no Parque Nacional do Banco de Arguim.

• O português António«Este é um ecossistema de uma produtivi-dade absolutamente extraordinária: tem as maiores densidades de aves limícolas no mundo, em maré baixa, ocupando exten-sas zonas de vaza e areia vasosa, e tem das maiores densidades no mundo de peixes e organismos marinhos que se alimentam nessas mesmas zonas. São áreas de alimen-tação extremamente importantes, águas calmas com muita disponibilidade alimen-tar; entram também aqui fêmeas da maior parte das espécies para as posturas porque é

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a única zona estuarina com estas características entre o Mediterrâneo e a África tropical.»

O português António Araújo é atualmente um dos mais profundos conhecedores desta região costeira da Mauritânia. O ornitólogo é há 10 anos coordenador do programa da Fundação In-ternacional do Banco de Arguim. Fundada pelo patrão do laboratório farmacêutico Hofmman--La Roche, a FIBA financia parcialmente a con-servação da primeira área protegida de África, classificada desde 1989 como património natu-ral da humanidade pela UNESCO. O PNBA foi criado em 1976, ocupa um terço da costa mau-ritana e espraia-se por 12 mil quilómetros qua-drados, equivalentes à área do Baixo Alentejo.

• A capital das LimícolasNo Banco de Arguim, a ilha de Ner ou Nair é justamente considerada pelos ornitólogos como a capital mundial das aves limícolas - do latim limus, que vivem no limo, lodo ou lama. Muitas destas aves da Europa, Sibéria e Gronelândia são conhecidas pelas migrações de milhares de quilómetros, em alguns casos desde o Ártico até às paragens austrais.

Alfaiates e pernilongos, ostraceiros, abibes, ta-rambolas, maçaricos, pilritos, mas também pe-licanos e flamingos são facilmente avistados em numerosos bandos nesta estreita faixa de areia, assim como nas ilhas de Niroumi, Kijji e Arguim.

«Este é um dos sítios do mundo onde existe a maior concentração de espécies limícolas do planeta. Dois milhões destas aves migratórias que frequentam lagunas e estuários passam o inverno no Banco de Arguim. Só aqui na ilha de Ner, temos um dormitório que, na maré alta tem 500 mil aves, o dobro do que alberga todo o estuário do Tejo, - e o estuário do Tejo está en-tre os 10 estuários mais importantes da Europa para invernada de limícolas!» – explica António Araújo, que enquadra regularmente as missões internacionais de ornitólogos que se deslocam à Mauritânia para estudar as migrações destas aves.

«Este é um dos sítios do

mundo onde existe a maior concen-

tração de espécies limícolas do pla-

neta.”

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• Os ImraguenLonge da observação das aves, nas nove aldeias do Parque, os imperativos ambientais estão re-lacionados com o respeito e conservação dos ri-cos recursos pesqueiros.

Na costa onde o deserto encontra o mar, os Imraguen - aqueles que escolhem a vida -, man-têm técnicas de pesca encontradas pelos portu-gueses em Arguim em meados do século XV. A pesca é apenas permitida à linha, e com moto-res proibidos, é à vela que navegam as Lanchas, as velhas embarcações reconvertidas dos pesca-dores das Canárias que frequentaram a região até ao século passado.

Ao largo de Arkeiss, Samba pratica ainda a pes-ca de cerco, e a técnica documentada pela equi-pa de Costeau na década de 70. Atualmente, e sem a ajuda de golfinhos, Samba orienta os 2 ajudantes que, num baixio, vão batendo com um pau na água e “orientando” os peixes para a rede vertical estendida ao largo da Lancha. A captura é de apenas alguns peixes, mas dá para o jantar desse dia…

• as mulheres ImraguenEm Rgueiba, uma das aldeias mais ativas do Parque, as mulheres recebem em festa os raros estrangeiros que por aqui passam… Apesar da batucada que anima a manhã, as mulhe-res de Rgueiba estão preocupadas com o desvio dos homens para a pesca da corvina, e com a paragem da embarcação destinada à captura da tainha e das ovas, essenciais para a sobrevivência do projeto que a FIBA montou na aldeia.Entre as regras e as pressões ambientais num dos países mais pobres de África, o PNBA tenta incenti-var uma economia sustentável que passa também por atrair turistas interessados na beleza natural da região.

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• O futuroPara chegar ao Banco de Arguim a partir da ca-pital mauritana Nouakchott, é preciso espírito aventureiro para umas férias espartanas e uma viatura 4x4 capaz de percorrer as pistas de areia frequentadas à noite pelos coiotes e que desem-bocam nas aldeias do Banco de Arguim.

Em Techkott, Beni Hamdin , que foi pescador da Companhia Portuguesa de pesca durante 4 anos, resolveu mudar de vida aos 50 anos, e ins-creveu-se na formação de guia turístico. Nas aulas, Beni e outras duas dezenas de alunos e alunas aprendem francês, regras da conserva-ção da Natureza e as peculiaridades de pelica-nos, caranguejos violinistas, peixes do mangal e outras espécies com habitat no Banco de Ar-guim. Nas imediações, na escola de ensino básico o fu-turo começou já a ser trabalhado nas salas de aula. Os alunos mantêm uma geminação com uma escola francesa e trocam regularmente correspondência sobre as preocupações quoti-dianas.

À pergunta de adulto «Que queres ser quando fores grande?», Said responde: «Político!» E por-quê? «Para não ser pescador, e poder melhorar a minha vida e da minha família!» - responde o miúdo de 10 anos, habitante do Banco de Ar-guim, onde a sobrevivência tradicional tem ain-da origem no mar e na riqueza proporcionada por um dos maiores parques marinhos do mun-do. ø

aurélio Faria

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